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Adolescência

através dos
Séculos
Psicologia do Desenvolvimento 2
Mariana Tomaz Canjerana
Psicóloga CRP 03/26947
Adolescência através dos séculos

Ao mesmo tempo em que é proposta a


universalidade do estágio da adolescência,
observa-se que ela depende de uma inserção
histórica e cultural, que determina, portanto,
variadas formas de viver a adolescência, de
acordo com o gênero, o grupo social e a
geração (Martins & cols., 2003).
Adolescência através dos séculos

A palavra adolescência vem do latim


adolescere, que significa crescer. Segundo
Melvin e Wolkmar (1993), a palavra adolescence
foi utilizada pela primeira vez na língua inglesa
em 1430, referindo-se às idades de 14 a 21 anos
para os homens e 12 a 21 anos para as mulheres.
Adolescência através dos séculos

A adolescência é uma construção social. Esse


conceito não existia nas sociedades
pré-industriais; as crianças eram consideradas
adultas quando amadureciam fisicamente ou
iniciavam um aprendizado profissional. Foi
apenas no século XX que a adolescência foi
definida como um estágio de vida separado
no mundo ocidental.
Adolescência através dos séculos

Sprinthall e Collins (1999) afirmam que os


componentes psicológicos e fisiológicos
fundamentais desse período sempre existiram
nas pessoas, independente do período
histórico ou cultural, embora nem sempre se
reconhecessem as características específicas
da adolescência.
Adolescência através dos séculos
Grécia antiga
Os jovens eram submetidos a um verdadeiro adestramento, cujo fim seria inculcar-lhes as
virtudes cívicas e militares. A ginástica era bastante utilizada para o desenvolvimento físico e
moral das crianças e jovens. As moças faziam exercícios esportivos a fim de adquirir saúde e
vigor para seu futuro de mães de família. Casavam-se aos 15 ou 16 anos.

Via-se a fase da puberdade como um período


de preparação para os afazeres da vida
adulta: no caso do sexo masculino, a guerra
ou a política; no caso do sexo feminino, a
maternidade. Era possível que alguns jovens se
dedicassem à filosofia, geralmente aqueles de
famílias mais abastadas que não necessitavam
da sua força de trabalho.
Adolescência através dos séculos
Grécia antiga
Platão e enfatizou características negativas dos jovens, advertindo-os quanto ao uso de bebida
alcoólica antes dos 18 anos, mas também considerou que o raciocínio seria uma característica
do homem que só apareceria na adolescência. Por isso, as crianças deveriam passar mais
tempo brincando e os jovens estudando.

Aristóteles (séc. IV a.C.) descreveu os jovens


como apaixonados, irascíveis e capazes de
serem levados por seus impulsos, considerava
que os jovens eram exageradamente positivos e
que se imaginavam oniscientes, embora
considerasse que o aspecto mais importante da
adolescência fosse a habilidade para escolher e
que a autodeterminação seria um indício de
maturidade.
Adolescência através dos séculos
Império Romano
A educação dos mais jovens ficava a cargo dos pais, sendo uma educação bastante prática,
procurando formar o agricultor, o cidadão ou o guerreiro. A partir do século II a.C., as classes
mais abastadas passaram a hospedar em suas casas algum mestre grego para educar seus filhos
e aqueles que não tinham a mesma possibilidade enviavam seus filhos para escolas.

Os meninos romanos da elite, aos 12 anos,


deixavam o ensino elementar e passavam a
estudar os autores clássicos e a mitologia, com o
objetivo de adornar o espírito. Aos 14 anos,
abandonavam as vestes infantis, tendo o direito
de fazer tudo o que um jovem gostasse de fazer.
Aos 16 ou 17 anos, podiam optar pela carreira
pública ou entrar para o exército.
Adolescência através dos séculos
Império Romano
Para os meninos, não existia “maioridade” legal: o indivíduo era considerado impúbere até que o
pai ou o tutor considerasse que estava na idade de tomar as vestes de homem e cortar o primeiro
bigode. Por outro lado as meninas, aos 12 anos, eram consideradas em idade de casar. O
casamento se consumava, no máximo, aos 14 anos, quando então eram consideradas adultas

Ao longo do século II, difundiu-se uma nova


moral que confinava a prática sexual ao
casamento. Época em que os médicos
prescreviam a ginástica e os estudos filosóficos
para tirar dos jovens a “energia venérea”, que
podia englobar tanto o sexo, quanto o consumo
do álcool.
Adolescência através dos séculos
Idade Média
Os papéis, tanto de gênero quanto profissional, eram determinados pela comunidade. Nessa
época as crianças e adolescentes eram considerados adultos em miniatura. necessitando
apenas de crescer em termos quantitativos em todos os aspectos físicos e mentais da espécie
humana.

Assim que a criança superava o período de alto


risco de mortalidade, ela logo era misturada com
os adultos e ia aprendendo as tarefas, crenças
e valores que seriam solicitados quando se
tornassem adultos. O casamento costumava
ser realizado entre 12 ou 15 anos, com a noiva
mais nova que o noivo. A partir do séc. XII, a
Igreja Católica passou a exigir o consentimento
mútuo dos noivos para a união.
Adolescência através dos séculos
Idade Média
Dessa forma podemos observar que os jovens começam a ter algum poder de decisão em relação
à sua própria vida. A ideia de fases, ou idades da vida, começou a ser mais difundida na Idade
Média, observando as diferentes formas de assistência necessárias ao cuidado, sustento e
abrigo dos indivíduos e suas funções sociais no decorrer do ciclo vital.

Sob a influência de Aristóteles, A terceira idade


(dos 14 aos 21 anos) era chamada de
adolescência, porque a pessoa estaria pronta
para procriar. Para alguns, a adolescência
terminava no vigésimo primeiro ano, mas,
para outros, durava até os 28 anos, podendo
ser estendida até os 30-35 anos.
Adolescência através dos séculos
Idade Média
Rosseau (séc. XVIII) em seu tratado sobre a natureza humana e a educação, considerava a
adolescência o período de maior instabilidade e conflito emocional, os quais eram
provocados pela maturação biológica, que o raciocínio era desenvolvido na adolescência. Tanto
as mudanças biológicas quanto as sociais eram acompanhadas por uma mudança nos processos
psicológicos.
Esse filósofo considerava a adolescência como
um renascimento, período em que o indivíduo
recapitula os estágios anteriores da vida,
procurando seu lugar na sociedade. Dessa
forma, sua opinião era de que tanto a criança
quanto o adolescente não eram iguais ao adulto.
Adolescência através dos séculos
Idade Moderna
O Estado passou a interferir com maior frequência no espaço social: formas de agir na família,
comunidade, grupos religiosos e educacionais. O colégio tornou-se, então, uma instituição
essencial da sociedade, local de instrução e educação. Crianças e adolescentes passaram a ser
educados em lugares separados e fechados, mas sem separação por faixa etária.

Não se possuía o conceito do que hoje


chamamos adolescência, embora os meninos
começassem a se organizar em grupos de
jovens, que funcionariam como sociedades
temporárias.
Adolescência através dos séculos
Idade Moderna-Contemporânea
A infância passa a ser encarada como um momento privilegiado da vida, e a criança é identificada
como uma pessoa. Nesse momento, a figura do adolescente é delineada com precisão. Alguns
marcos indicam o início e o fim dessa etapa: esse período é delimitado, no menino, como o que
se estende entre a primeira comunhão e o bacharelado, e na menina, da primeira comunhão
ao casamento.
Ao longo do século XIX, a adolescência passa a
ser reconhecida como um “momento crítico” da
existência humana. É temida como uma fase de
riscos em potencial para o próprio indivíduo e
para a sociedade como um todo. Com a
industrialização e a instituição de sistemas
educacionais obrigatórios, ela pode, finalmente,
ser mais observada. Pode- se, então, dizer que a
adolescência foi conhecida primeiro pelos
educadores.
Adolescência através dos séculos
Idade Contemporânea
Na segunda metade do século XIX, foram organizados os primeiros serviços de saúde
dedicados especialmente aos alunos de colégios. Há o interesse médico voltado para os alunos
dos internatos, provavelmente mobilizado pelas modificações decorrentes do processo biológico
de amadurecimento dos internos (a puberdade) e pelas manifestações decorrentes de seu
comportamento e das transformações sexuais.
Talvez por necessidades de adaptação à escola,
os psicólogos também começaram a estudar a
adolescência. Stanley Hall, que descreveu esse
período como uma época de emotividade e
estresse aumentados. Legitimou a adolescência
como uma etapa que requer estudo e atenção,
inaugurando, assim, o estudo científico da
adolescência.
Adolescência através dos séculos
Idade Contemporânea
Para Hal, a adolescência era entendida como zona de turbulência e contestação, constituindo-se
em uma linha de fraturas e erupções vulcânicas no seio das famílias. A constante vigilância aos
adolescentes e o distanciamento com que eram tratados por suas famílias despertaram a
necessidade de conquista de sua privacidade. Houve o crescimento de diários íntimos e das
amizades com seus pares.
Nos períodos que precederam a I e a II Guerra
Mundial (século XX), a literatura enfatizava a
indolência, indisciplina e preguiça dos
adolescentes. As modificações ocorridas no
interior das famílias trouxeram novas posições
para seus membros, inclusive o adolescente.
Alguns historiadores passam a questionar a
universalidade da adolescência, passando a
entendê-la como uma construção social
Adolescência através dos séculos
Idade Contemporânea
Durante a segunda e a terceira décadas do século XX foram iniciados diversos estudos do ciclo
vital. Havighurst (1957) propôs algumas tarefas evolutivas para o período da adolescência: aceitar
o próprio corpo; estabelecer relações sociais mais maduras com os pares de ambos os sexos;
desenvolver o papel social de gênero; alcançar a independência dos pais e de outros adultos, com
relação aos aspectos emocional, pessoal e econômico; escolher uma ocupação
preparar-se para o matrimônio e a vida em
família; desenvolver a cidadania e
comportamentos sociais responsáveis e outros.
Adolescência através dos séculos
“Juventude transviada”
Nos Estados Unidos, durante a década de 50 do século passado, apareceu o fenômeno
denominado “juventude transviada” ou “rebelde sem causa”. A adolescência está amalgamada na
violência, entretanto esta não é exclusiva dos jovens, embora um determinado nível de violência
seja próprio dessa fase do desenvolvimento.
Já nos anos 60 surge a “contracultura” . Os
jovens começaram a negar alguns padrões
culturais vigentes da sociedade, transformando
a juventude num grupo, com foco na
contestação. Ela se apresenta como um
fenômeno caracterizado esteticamente pelos
cabelos compridos, roupas coloridas, misticismo,
um tipo de música e drogas, significando uma
nova maneira de pensar, viver, agir e se
relacionar com o mundo e com as pessoas.
Adolescência através dos séculos
Século XXI
Na virada para o séc. XXI, apareceu a expressão “onda jovem” para denominar o grande número
de indivíduos que estão nessa faixa etária, devido a explosão da taxa de natalidade que ocorreu
no início da década de 80 do século anterior. Esses jovens se depararam com um cenário
econômico adverso, dificuldades para arrumar e se manter no emprego, incremento dos
problemas sociais, especialmente os urbanos.
Modificações nos valores sociais, falta de
perspectivas, diminuição da influência e
controle tradicionalmente exercida pela família,
igreja e comunidade. Ao mesmo tempo, a criança
e o adolescente passam a ser considerados
sujeitos de direito e em fase especial de
desenvolvimento, afirmando a ideia de proteção
integral do estado.
Com esse histórico da posição dos
adolescentes e da adolescência na sociedade,
através dos séculos, pode-se considerar esse
estágio uma invenção cultural ou um luxo, que
só sociedades ou grupos sociais mais
desenvolvidos se permitem. Esse fenômeno
começou a ocorrer no Brasil a partir de 1900,
dependendo da região geográfica e das
camadas sociais.Ainda encontramos grupos
sociais que compreendem a criança/
adolescente como um ser menos importante,
que ainda não adquiriu o status de pessoa.
Adolescência através dos séculos
Século XXI
Postergou-se o matrimônio, ampliou-se a necessidade de permanecer no lar paterno
(emancipação tardia), aumentou-se o número de nascimentos fora do matrimônio – fatores que
levam o indivíduo a conviver com mais pessoas de diferentes idades e ambientes, sem laços
consanguíneos com a maioria delas, com diferentes escalas de valores, ideias e crenças, e por
mais tempo.
As modificações introduzidas na vida moderna
exigem que os indivíduos tenham mais tempo
para cumprir as tarefas evolutivas propostas
para a referida faixa etária. As mudanças e
continuidades que o adolescente vivencia no
seu processo de desenvolvimento tem relação
com essa fase específica (mudanças físicas e
cognitivas) e também com às modificações que
ocorrem na sociedade em que participa.
Adolescência através dos séculos
Século XXI
A escola também modificou seu papel em relação ao adolescente: até tempos atrás, esperava-se
que ele fosse preparado para assumir uma profissão, portanto, os cursos costumavam ter uma
vertente profissionalizante bastante acentuada.

Atualmente, a educação básica busca somente


fornecer subsídios para o desenvolvimento
pleno do ser humano, sem a preocupação da
profissionalização.
Referência

Schoen-Ferreira, T. H., Aznar-Farias, M., & Silvares, E. F. D. M. (2010). Adolescência através dos
séculos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26, 227-234.

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