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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

5 Unidade II
5 A ARTE NA ERA DAS REVOLUÇÕES

10 O período compreendido entre os anos de 1776 e 1848 foi


marcado, tanto na Europa como na América, por importantes
movimentos que conduziram à transformação da sociedade
ocidental. Esses movimentos foram: a Primeira Revolução
Industrial, ocorrida inicialmente na Inglaterra a partir de
15 1750, e que modificou o modo de produção econômico e as
próprias relações sociais na Europa; a Revolução Americana
(1776), da qual resultaram a independência dos Estados
Unidos e o início da derrocada do antigo sistema colonial
no continente americano; a Revolução Francesa (1789),
20 que pôs fim ao sistema feudal na França; e as diversas
revoluções que eclodiram em diferentes regiões da Europa
no ano 1848, com base em ideais como o liberalismo,
o socialismo e o nacionalismo, princípios novos que
conduziram à derrubada das relações políticas, econômicas
25 e sociais que predominavam no continente desde a Idade
Média. A produção artística desse período de intensas
transformações também sofreu modificações importantes,
como será observado a seguir.

30 5.1 A laicização da arte e a Revolução


Francesa

A Revolução Francesa constituiu um dos mais importantes


momentos da história da civilização ocidental, sendo
35 responsável pelo estabelecimento dos princípios humanistas
da igualdade, da liberdade e da fraternidade, que se
contrapunham ao sistema de privilégios do Antigo Regime.

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Unidade II

Fundada nos ideais da racionalidade iluminista, a Revolução


Francesa abriu as portas para uma nova forma de arte, que
não mais expressaria a vontade divina, mas os anseios, dramas
e práticas cotidianas dos próprios seres humanos. Foi neste
sentido que a arte ocidental caminhou, a partir de então,
na direção de sua constante laicização: os temas bíblicos
foram substituídos, na pintura e na escultura, por temas
mitológicos e do cotidiano burguês. Ademais, os artistas
passaram a servir não mais à Igreja, doravante decadente
como centro de irradiação do poder político, mas aos novos
líderes políticos, em especial Napoleão Bonaparte, tornado
imperador francês em 1799, e que pretendeu estender a
toda a Europa os ideais da Revolução Francesa e suplantar a
sua principal rival, a Inglaterra, no campo econômico, como
principal fornecedora de produtos industrializados para
o velho continente e para o Novo Mundo. Em diferentes
obras, a representação de temas da mitologia greco-romana
servia ao propósito de simbolização do caráter eterno do
poder, encarnado na figura de Napoleão. Particularmente,
no que se refere à pintura, predominava o denominado
academicismo, pois os artistas seguiam modelos e regras
que eram aprendidas nas escolas de Belas Artes. Entre os
pintores do período, cabe destacar a atuação de Jacques-
Louis David, artista oficial do Império napoleônico, cujas
obras representam momentos históricos, cenas mitológicas,
paisagens, além de retratos e nus, em geral carregados de
realismo e emoção.

A pintura a seguir, chamada A morte de Marat ou Marat


assassinado, retrata o revolucionário francês Jean-Paul Marat
em sua casa, após ter sido assassinado por Charlotte Corday
em 13 de julho. Note que, na caixa de madeira cuja forma se
assemelha à uma pedra tumular, há uma inscrição, tratando-se
de uma homenagem a Marat, quem o pintor conhecia em vida e
supostamente teria visto um dia antes de sua morte.

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Jacques-Louis David - A morte de Marat ou Marat assassinado (Marat assassiné)


(1793)1
Óleo sobre tela. Musées royaux des Beaux-Arts de Belgique, Bruxelas, Bélgica.

5.2 A arte e a Revolução Industrial

5.2.1 Realismo

A pintura Realista desenvolveu-se principalmente na França,


na segunda metade do século XIX, paralelamente ao contínuo
processo de transformação promovido, sobretudo nas cidades,
pela Revolução Industrial. O Realismo consistiu numa nova
estética, a qual se fundava no propósito de aplicar, no campo
artístico, o mesmo rigor de interpretação e domínio da natureza
conquistado no campo científico. Neste sentido, a arte preconizava
o abandono da subjetividade e da emoção, caracterizando-se
pela busca da objetividade, de modo racional.

1
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_
upload/2007/11/129_1844-A%20morte%20de%20Marat.JPG>. Acesso em
31 jan 2011.

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Unidade II

Resumindo
Principais características da arte realista:
• a pintura apresenta cunho cientificista, pois visa
representar o real com o mesmo grau de objetividade
com que os cientistas analisam fenômenos naturais.
A pintura realista apresentava portanto, caráter
documental;
• os artistas realistas não idealizam a natureza, nem
buscam melhorá-la ao representá-la em suas obras.
O belo está na própria realidade do modo como ela
é, cumprindo apenas ao artista reproduzi-la em sua
verdade;
• as pinturas são marcadas pela sua sobriedade e pela
minuciosidade da representação, revelando os aspectos
próprios da realidade;
• em decorrência da ênfase na objetividade e na
minúcia, as obras de arte realistas caracterizam-se por
expressarem o mais fielmente possível a realidade em
detalhes, adquirindo um caráter descritivo;
• a obra de arte constitui veículo de denúncia das
injustiças sociais, protestando, de forma politizada,
em favor dos oprimidos e desfavorecidos, revelando
a desigualdade existente entre a pobreza do
proletariado e a riqueza dos burgueses. Alçados
a heróis da sociedade industrial, os operários e
miseráveis constituem temas privilegiados das
pinturas realistas, em substituição aos heróis
idealizados da pintura da época do Romantismo.

O principal representante do Realismo, na pintura,


é Gustave Courbet (1819-1877), que retratou em suas
obras, principalmente, cenas da vida cotidiana das classes
trabalhadoras. Courbet era declaradamente socialista. Outro
artista importante ligado ao Realismo é Jean-François
Millet, homem muito religioso, amante da natureza e que

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trabalhara desde jovem no campo. Sua pintura representa,


sobretudo, os vínculos entre o homem e a terra.

Gustave Courbet - Moças Peneirando o Trigo (1854)2


Museu de Belas Artes, Nantes, França.

Além da obra pictórica de Courbet e Millet, cabe fazer


referência, no Realismo, à produção do escultor Auguste Rodin,
que se afastou dos princípios idealistas e procurou criar estátuas
que representavam a realidade no modo como ela é, dando
preferência a temáticas contemporâneas e à busca de registrar o
momento específico de uma atitude, como na sua obra O Beijo.

Na escultura O Beijo, de Rodin, é possível observar as


principais características da obra deste que foi o mais importante
escultor realista. Sua importância reside, entre outros fatores, na
sua ruptura com os padrões clássicos das esculturas, buscando
novas proporções e ensaiando torções e movimentos com forte
inspiração em Michelangelo.

2
Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_SfQPaT_iu0w/SabJ6Ux-
AkI/AAAAAAAABIo/pz6pLuNaz38/s1600-h/764px-Gustave_Courbet_014.
jpg>. Acesso em: 31 jan 2011.

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Unidade II

Auguste Rodin - O Beijo (Le Baiser) (década de 1890)3


Escultura em mármore. Museu Rodin, Paris, França.

5.2.2 Naturalismo

A partir de 1830, surge uma nova forma de representação


da realidade com as inovações que a máquina permitia: a
fotografia. Os artistas perceberam o limite das possibilidades da
arte na mimese do real. Abandonando um pouco as questões
ideológicas (crítica social) do Realismo, os artistas naturalistas
empreenderam uma caminhada em busca da reprodução fiel
das paisagens urbanas ou não, sem o caráter idealizado do
Realismo. Sua prática ocorria ao ar livre, característica adotada
posteriormente também pelos impressionistas para garantir o
contato direto com o real.

Entre os principais artistas naturalistas estão Theodore


Rousseau (1812-1867) e Camille Corot (1796-1875).
3
Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/
c/ce/Baiser_de_Rodin.JPG>. Acesso em: 31 jan 2011.

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Em sua fase italiana, Corot, no início do século XIX, privilegiava


as paisagens elaboradas com volumes, cuja luz construía as
formas a partir do contraste com as sombras. As tonalidades das
cores complementam a construção minuciosa da paisagem.

Jean Baptiste Camille Corot - Forum visto do Jardim Farnese (1826)4


Papel montado sobre tela. Museu do Louvre, Paris, França

5.2.3 Romantismo

No Romantismo, os artistas afastaram-se da representação


do real. O interesse era o de representar valores sociais
simbolizados nas próprias pinturas por figuras humanas, seus
trajes, seus gestos e mesmo os objetos que portavam.

A pintura adquire um caráter eminentemente retórico,


tornando-se um discurso sobre o real, representando as mudanças
sociais e políticas decorrentes da ascensão da burguesia ao
poder. Por esse motivo, as cenas do cotidiano, do povo e seus
costumes são os preferidos pelos artistas.

Um dos artistas mais representativos desse período foi


Eugène Delacroix (1798-1863), autor do primeiro quadro político
da História da Arte, A Liberdade guiando o povo (1830). A ideia
de liberdade estava impregnada de valores nacionalistas e de
independência da pátria.

Disponível em: <http://www.canvasreplicas.com/images/Florence


4

%20from%20the%20Boboli%20Gardens%20Jean%20Baptiste%20Camille
%20Corot.jpg>. Acesso em: 31 jan 2011.

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Unidade II

Delacroix sintetiza nesta obra os principais elementos da


pintura romântica: a sua forte carga emocional e o apelo a
símbolos da nacionalidade e liberdade, que representavam a
ideia de mobilização das camadas populares no caminho da
libertação dos grilhões do Antigo Regime.

Eugène Delacroix - A Liberdade guiando o povo (28 de julho 1830)5


Óleo sobre tela (260 x 325 cm). Museu do Louvre, Paris, França.

6 AS NOVAS FORMAS DE REPRESENTAÇÃO NA


SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

6.1 A síntese da forma na obra pictórica de


Paul Cézanne

Um dos mais importantes artistas do Ocidente, e que


influenciou muitas gerações de pintores, nas quais se incluem
Pablo Picasso e Georges Braque, foi o francês Paul Cézanne
(1839-1906). Ele não considerava que a arte tivesse como
papel a fiel representação da realidade, nem o mero registro
das impressões decorrentes dos sentidos, mas antes, a busca
da interpretação do real. Noutros termos, segundo Cézanne, o

5
Disponível em: <http://www.wga.hu/index.html>. Acesso em: 31
jan 2011.

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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

artista não reproduz, mas interpreta a realidade. Tendo iniciado


a sua carreira com obras de cunho sensual, como A Orgia,
Cézanne destacou-se sobretudo, na História da Arte, pelo rigor
técnico com que buscou a geometrização em suas pinturas,
empregando com maior constância formas cilíndricas, esféricas
e cônicas, tornando-se um precursor do Cubismo.

A Montanha Sainte-Victoire foi pintada por Cézanne em


diversas ocasiões, como se estivesse à procura da descoberta da
estrutura fundamental do espaço tridimensional representado
no plano. Para Cézanne, a natureza deveria ser retratada
pelos volumes puros, o cone, o cilindro, o cubo e a esfera. Essa
perspectiva prenuncia o Cubismo.

Paul Cézanne - Monte Sainte-Victoire, visto de Bellevue.


Óleo sobre tela. Barnes Foundation, Merion, Pennsylvania, EUA.

6.2 A busca da ruptura com os padrões


clássicos: pintura, design e arquitetura

A introdução da máquina como elemento fundamental do


ciclo produtivo propiciou, em meados do século XIX, um debate

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Unidade II

exaustivo sobre a relação entre artesanato versus indústria


e, por conseguinte, entre arte versus artesanato. Na Primeira
Exposição Universal de 1851, realizada no Palácio de Cristal em
Londres, ficara patente a necessidade de adequar as formas
dos objetos produzidos artesanalmente pelo homem aos novos
tempos, agora, os da máquina. Formou-se então na Inglaterra
um movimento denominado Arts and Crafts liderado por artistas
como William Morris (1834-1896) e John Ruskin (1819-1900),
que rejeitavam a forma de produção industrial. Defendiam o
artesanato e buscavam nas corporações e guildas da Idade
Média, uma saída plausível para a organização da produção nos
novos tempos. Mais ao final do século XIX, no entanto, surge
na Europa um movimento antagônico ao Arts and Crafts nos
seus objetivos. Com diversas denominações, a Arte Nova, ou Art
Nouveau pretendia avançar a questão da produção em série a
partir dos novos materiais: o ferro e o vidro. Por isso, era necessário
buscar novas formas, que rompessem com o clássico, já que
produzir nesses padrões implicava no artesanato. No entanto,
as formas e as referências utilizadas pela Arte Nova para romper
com o clássico tinham forte influência da pintura oriental, com
utilização de formas da natureza, portanto linhas curvas e temas
florais. Nesse sentido, a tentativa viu-se frustrada para alcançar
rapidamente uma solução para a produção em série dos objetos,
acessórios da construção e da própria edificação. Rapidamente,
os arquitetos e artistas perceberam que as formas da Arte Nova
não implementariam a produção racional e industrial. O trabalho
manual continuava a ser necessário para obter os resultados
formais pretendidos.

Já na primeira década do século XX, mais precisamente em


1907, na Alemanha é fundada a Werkbund, uma sociedade
de artesãos e artistas com o objetivo de relacionar a arte e a
indústria por meio do ensino e da propaganda. Diferentemente
do movimento inglês Arts and Crafts, a Werkbund concilia a
máquina na produção artística, de forma a abrir terreno seguro
para que Walter Gropius (1883-1969), em 1919 fundasse em
Weimar, também na Alemanha, a primeira e mais importante

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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

escola de arte, design, arquitetura e urbanismo, a Bauhaus


(1919-1933).

6.3 Pontilhismo

O Pontilhismo foi uma iniciativa tomada por alguns artistas


europeus no final do século XIX que se baseava em uma
propriedade do olho e do cérebro humano de reunir certos
elementos visuais – neste caso um conjunto de milhares de
pontos coloridos – e, a partir deles, construir imagens.

Um dos principais artistas desse tipo de representação foi


Georges Seurat, que influenciou muito os artistas chamados de
impressionistas. Até hoje, a obra de Seurat é uma referência e
chama a atenção do observador. No quadro abaixo, o artista
escolheu não apenas representar as cores e formas dos
elementos que compõem o quadro por meio do pontilhismo,
mas também com outras escolhas plásticas: tanto as pessoas
quanto a vegetação e os animais estão representadas de uma
maneira simplificada e geometrizada, quase como bonecos. Não
há uma preocupação em retratar fielmente, do ponto de vista
visual, a cena de lazer e de descanso do quadro.

Georges Seurat - Tarde de domingo na ilha de Grande Jatte (Un dimanche après-
midi à l’Île de la Grande Jatte) (1884-1886)
Óleo sobre tela, 207,6 x 308 cm. Art Institute of Chicago, Chicago, EUA.

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Unidade II

6.4 Impressionismo

A pintura denominada impressionista desenvolveu-se na


Europa no século XIX. Essa denominação tem a sua origem
em uma famosa tela, de autoria de Claude Monet, intitulada
Impressão, nascer do Sol, de 1872. Os artistas vinculados a
esse movimento desprenderam-se da preferência por temas
da mitologia greco-romana e puseram de lado a preocupação
com a reprodução fiel (mimese) da realidade. Conferiam maior
relevância aos próprios quadros, considerados importantes em
si mesmos como obras de arte. O seu interesse central era a
exploração dos efeitos de movimento e de luminosidade, obtidos
a partir de pinceladas soltas, sem traço de desenho. Em geral,
os impressionistas pintavam em meio à natureza e nos espaços
abertos das cidades, visando observar melhor as variações
decorrentes das mudanças da luz incidindo sobre pessoas e
objetos durante o dia e à noite.

A imagem abaixo reproduz o quadro intitulado Impressão,


nascer do sol, de Monet. Exibida em exposição ocorrida no ano
de 1874, foi a partir dessa obra que se nomeou o movimento
impressionista.

Claude Monet - Impressão, nascer do sol (1872)6


Museu Marmottan, Paris, França.

6
Disponível em: <http://www.smashingmagazine.com/2009/08/27/
if-famous-painters-were-web-designers/>. Acesso em: 31 jan 2011.

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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

Resumindo

Características gerais da pintura impressionista:

• considerando que a luz solar é a fonte de todas as cores,


os artistas buscam mostrar as variações de tonalidade
decorrentes das mudanças no modo como objetos e
pessoas são iluminados ao longo do dia;
• os artistas procuram capturar o instante em que
observam a realidade, e, para tanto, empregam, inclusive,
a fotografia;
• o traço do desenho que conferia nitidez de contorno às
imagens não é empregado, mas apenas largas pinceladas,
que geram manchas, as quais criam a impressão de
retratarem objetos e pessoas;
• os artistas também representam sombras, porém
estas são coloridas e plenas de luminosidade, visando
reproduzir o efeito que as mesmas causam às vezes,
quando vistas a olho nu;
• ruptura com o academicismo, por exemplo, no
abandono do claro-escuro, substituído pelo uso de
cores complementares para a obtenção do efeito de luz
e sombra;
• os artistas não misturam tintas em suas paletas, utilizam
apenas cores puras, sendo o próprio observador quem,
por meio do olhar, realiza a combinação das mesmas.

6.5 Fauvismo

O Fauvismo (também chamado de Fovismo) nasceu em 1905,


em Paris, a partir da exposição no Salão de Outono. Naquela
ocasião, certos artistas expuseram obras em que empregavam as
cores puras de forma muito intensa, e, por esse motivo, passaram
a ser denominados fauves (feras, em português).

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Unidade II

Resumindo
Principais características do Fauvismo:
• a obra de arte não é um produto intelectual, nem um
produto da sensibilidade, pois, no ato de criação, o pintor
deve seguir os impulsos instintivos, os seus sentimentos
primários;
• na pintura, devem-se exaltar as cores puras e tanto as
linhas do desenho como o colorido das tintas devem
surgir de modo impulsivo, expressando em sua maior
pureza, as sensações do artista;
• a obra de arte deve ser marcada por pinceladas abruptas,
arrematadas em um colorido intenso de grandes
manchas de cores puras;
• na pintura fauvista não há preocupação com o realismo
da representação nem interessam formas ou figuras
e técnicas de desenho, já que a própria perspectiva é
abandonada em favor do tratamento exclusivo da cor.

Os mais importantes representantes do Fauvismo foram


os franceses Maurice de Vlaminck (1876-1958), André Derain
(1880-1954), Raoul Dufy (1877-1953) e Henri Matisse
(1869-1954). Este último, ao contrário dos demais, transitou
gradativamente em sua obra, para uma composição equilibrada
entre colorido e desenho, em pinturas nas quais a profundidade
está ausente.

7. A ERA DA MÁQUINA E AS VANGUARDAS


ARTÍSTICAS

7.1 Os movimentos transformadores da arte:


os ismos

Entre as principais mudanças ocorridas no campo das artes no


início do século XX estão as denominadas vanguardas artísticas.

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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

A denominação de vanguarda deve-se ao caráter ideológico


e político do período pré-guerra e entreguerras, ao longo dos
quais as mudanças sociais foram bastante acentuadas (como
a Revolução Bolchevique na Rússia em 1917, por exemplo),
não ficando as artes alheias a isso. Os artistas pretendiam e
entendiam que as transformações sociais seriam possíveis a
partir da arte, que, neste sentido, deteria função civilizatória.
O caráter urbano e industrial da vida cotidiana alimentou
as temáticas predominantes no qual a máquina tem papel
fundamental: a velocidade, a energia, o tema da reprodução em
série e a própria guerra constituíram assuntos recorrentes nas
obras dos artistas. A natureza, entendida agora como artificial, é
o novo mundo com o qual a arte presta contas em seu caminho
rumo à abstração.

Saiba mais

Vanguarda

Este termo da História da Arte do século XX foi tomado


de empréstimo do vocabulário militar, no qual designava
as tropas de infantaria que iam à frente dos batalhões
para verificar a situação do inimigo e eventualmente fazer
pequenas ações subversivas (avant-garde). No campo da
arte, passou a significar a luta contra estilos do passado
que representavam os valores burgueses.

7.1.1 Expressionismo

O Expressionismo desenvolveu-se na Europa entre o final


do século XIX e o início do século XX. Os artistas que tomaram
parte nesse movimento privilegiavam os aspectos internos
do processo de produção artística, em detrimento de suas
manifestações exteriores. Por esse motivo, conferiam às suas
obras uma forte carga de subjetividade, tornando-as expressão
direta dos seus universos interiores.

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Unidade II

Embora tenha se manifestado em diferentes campos das artes,


foi na pintura que se inaugurou o movimento expressionista,
tendo constituído, ao lado do Fauvismo, o início das vanguardas
históricas. Ademais, devido às suas próprias características que
conduziam a uma supervalorização da individualidade artística, o
Expressionismo figurou-se por certa heterogeneidade de estilos,
tendo sido, por isso mesmo, sobretudo, uma postura diante
da arte que congregou diferentes artistas, de características
intelectuais diversas.

Há ainda que observar que o Expressionismo originou-se em


contraposição ao Impressionismo, em particular contra as suas
tendências naturalistas e positivistas. Por essa razão, conforme
indicado anteriormente, os expressionistas privilegiavam a
intuição e o personalismo, enfatizando a interioridade de cada
artista. Noutros termos, o Expressionismo deforma o real a fim
de explicitar a subjetividade do artista e da própria natureza,
privilegiando a manifestação dos sentimentos e não a descrição
objetiva da realidade.

A imagem a seguir reproduz a tela intitulada O Grito, de autoria


do pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944). Constitui esta
uma das mais significativas obras do Expressionismo. Nela, um
ser cujo sexo não é facilmente discernível, aparece atormentado
nas docas de Oslofjord, na cidade de Oslo, ao anoitecer, e,
como sugerido pelo título do quadro, solta um grito. O caráter
subjetivo da cena – característico do Expressionismo - é bastante
explícito, sobretudo por não ser demonstrado com exatidão
o que o quadro efetivamente representa. Com efeito, a sua
interpretação depende do envolvimento do espectador, a quem
cumpre buscar compreender o que o artista quis expressar.
Angústia, dor e desespero, são alguns dos sentimentos que se
podem entrever nesta tela, que bem poderia querer representar
o desejo do artista de gritar, ainda que solitariamente, com
a sensação de não poder ser ouvido – nem mesmo por nós -
diante das profundas mudanças que a nova sociedade europeia,
burguesa e industrial, estava provocando.

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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

Edvard Munch - O grito (1893)7


Óleo sobre tela, têmpera e pastel sobre cartão. Galeria Nacional, Oslo, Noruega.

7.1.2 Cubismo

A arte cubista teve início em 1907 e influenciou diferentes


gerações de artistas no transcorrer das primeiras décadas do
século XX. Inspirados, entre outros fatores, pela obra de Paul
Cézanne, os iniciadores do Cubismo, Pablo Picasso (1881-1973)
e Georges Braque (1882-1963) contribuíram de forma decisiva
para uma das mudanças mais significativas ocorridas na arte
ocidental. Efetivamente, o Cubismo rompeu com os padrões de
representação artística do real ao empregar, predominantemente,
figuras geométricas que representavam seres e objetos em
todas as suas partes em um único plano, sem preocupação com
perspectiva ou tridimensionalidade. Assim, nas obras cubistas,
representar o mundo não mais significava apresentá-lo de
acordo com sua aparência real, conforme vista a olho nu. A
realidade se via simplificada às formas geométricas: triângulos,
losangos, trapézios, cubos etc.

7
Disponível em: <http://descompassado.com/wp-content/uploads
/2009/10/ogrito-munch.jpg>. Acesso em: 31 jan 2011.

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Unidade II

A imagem abaixo representa a obra Les demoiselles


d’Avignon (1907), da autoria de Picasso. Essa pintura é
considerada como aquela que deu início ao Cubismo. Nela,
podem-se observar influências da arte tribal africana, bem
como de Paul Cézanne. Obra-prima das artes plásticas do
Ocidente, é perceptível nela a ruptura com todas as convenções
e tradições da arte ocidental. As cinco mulheres do quadro são
apresentadas à maneira cubista, com seus corpos reduzidos a
formas geométricas. Observe ainda a mulher sentada no canto
direito, e que é vista por nós ao mesmo tempo pela frente e
pelas costas.

Pablo Picasso - Les demoiselles d’Avignon (1907)8


Óleo sobre tela. The Museum of Modern Art, Nova York, EUA.

7.1.3 Futurismo

Contrários a toda tendência moralista e passadista, os


futuristas foram artistas que enalteceram, em suas obras, as
conquistas tecnológicas do início do século XX e as mudanças
8
Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_mOMPk3LkR0U/S-
K8vu2EmWI/AAAAAAAAEr4/OdppNL0Pn9Y/s1600/picasso-mademoiselles.
jpg>. Acesso em: 31 jan 2011.

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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

velozes que estas imprimiam na sociedade europeia da


época, tendo também exaltado, no início do movimento, a
própria guerra e a violência. Em decorrência de seu apreço
pela novidade, propunham inclusive a destruição dos
museus e das antigas cidades. Presente nas artes plásticas
e na literatura, o Futurismo foi inaugurado com a redação
do Manifesto Futurista, de autoria do poeta italiano Filippo
Tommaso Marinetti (1876-1944). O texto foi publicado pelo
jornal francês Le Figaro em sua edição do dia 20 de fevereiro
de 1909. Devido ao seu caráter agressivo, o Futurismo
repercutiu internacionalmente, tendo influenciado artistas
modernistas de outros continentes.

Resumindo

Principais características do Futurismo:

• enaltecimento da indústria e das novas tecnologias;

• aceitação da propaganda como mais importante meio


de comunicação;

• emprego de onomatopéias (palavras que expressam


ruídos, barulhos, sons diversos) nos poemas;

• utilização de frases fragmentadas na poesia, visando


significar velocidade;

• na pintura, adoção de cores fortes, vivazes, com


intensos contrastes, além da sobreposição de imagens
e algumas distorções, a fim de representar o dinamismo
do movimento;

• busca por não representar objetos (um carro, por


exemplo), mas significar, em suas obras, a forma
plástica das direções e da velocidade dos movimentos
descritos por eles no espaço.

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Unidade II

Na imagem abaixo encontra-se a reprodução da obra


intitulada Velocità astrata + rumore, de autoria do pintor
italiano Giacomo Balla (1871-1958). Nela acham-se
explicitados alguns dos principais elementos definidores da
pintura futurista: a tendência ao cubismo e à abstração, o
emprego de cores fortes, a simulação de ação, de movimento,
a demonstração de que os diferentes aspectos dos objetos
interpenetram-se simultânea e permanentemente. A obra
de Balla sugere figuras movimentando-se velozmente num
determinado espaço, sem a preocupação com a representação
figurativa bem definida em seus contornos.

Giacomo Balla - Velocità astrata + rumore (1913-1914)9


Óleo sobre tela. The Solomon R. Guggenheim Foundation, Peggy Guggenheim
Collection. Nova York, EUA.

7.1.4 Dadaísmo

Constituiu o Dadaísmo (ou simplesmente Dadá) um


movimento artístico de vanguarda que se iniciou no Cabaret
Voltaire, localizado na cidade de Zurique, capital da Suíça,

9
Disponível em: <http://www.diretoriodearte.com/wp-content/
uploads/2008/05/giacomo_balla-abstract_speed_and_sound__velocita_
astratta_e_rumore-oil_on_board-1913_-_14.jpg>. Acesso em 31 jan 2011.

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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

no ano de 1916. A liderança do mesmo coube ao escritor


alemão Hugo Ball (1886-1927) – autor do Manifesto Dada,
publicado em 1916 -, ao poeta romeno Tristan Tzara (1896-
1963) e ao pintor e poeta alemão Hans Arp (1886-1966).
O emprego da palavra dada para representar o movimento
visa indicar tanto o caráter antirracionalista do mesmo
(uma vez que o termo parece não ter um significado, pois
se trata de uma palavra que lembra o balbuciar de um bebê
humano), quanto evidenciar que a linguagem pode não
fazer sentido ou mesmo remeter a múltiplos sentidos. Devia-
se essa característica à oposição que os dadaístas faziam
à Primeira Grande Guerra e a outras vanguardas artísticas
do período, notadamente o Futurismo, que valorizava o
conflito e as inovações tecnológicas, tidas pelos dadaístas
como demonstrações de irracionalidade. Ao enfatizarem
o non-sense, o não lógico e o não racional, os dadaístas
empregavam a ironia em suas obras e eram radicais na
valorização daquilo que era considerado absurdo. Por esse
motivo, recorreram ao poema aleatório e aos ready-mades,
e, embora tenham encerrado suas atividades no início do
decênio de 1920, suas propostas influenciaram diversos
movimentos de vanguarda que lhe sucederam, como o
Expressionismo Abstrato, o Surrealismo, a Pop Art e a Arte
Conceitual.

Saiba mais

Ready-made

Ready-made significa literalmente já pronto, já


produzido. Esse termo foi adotado originalmente no ano
de 1913 pelo artista plástico francês Marcel Duchamp
(1887-1968), com o qual buscou denominar objetos
manufaturados que são alçados ao status de objetos
artísticos.

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Unidade II

A figura abaixo reproduz a obra Roda de Bicicleta, produzida


no ano de 1912, e que constituiu o primeiro ready-made de
autoria de Marcel Duchamp, um dos mais importantes artistas
dadaístas. A peça é formada por uma roda de bicicleta equilibrada
sobre o tampo de um banco. Com esta obra, Duchamp pretendeu
discutir o próprio conceito de arte, demonstrando que esta não
é definida pelo objeto, pelos materiais ou pelo tipo de suporte
empregado, mas pela atitude do artista, que modifica a própria
natureza do objeto, ao dispô-lo não mais como produto industrial
utilitário, mas como obra artística.

Marcel Duchamp - Roda de bicicleta. (1912)


Museum of Modern Art – MoMA, Nova York, EUA.

7.1.5 Construtivismo Russo

Constituiu o Construtivismo Russo um movimento artístico


de forte conotação político-ideológica e que teve origem na
extinta União Soviética, em 1919. Contrariamente à noção
de pureza artística, o Construtivismo Russo enfatizava as

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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

vinculações entre a produção artística e a realidade cotidiana.


Desse modo, preconizava-se que as obras de arte deveriam
refletir as conquistas sociais da Revolução Bolchevique de 1917,
e também representar o mundo do trabalho e do operariado na
era da máquina e da industrialização. Portanto, a arte serviria
aos propósitos ideológicos, de apoio à construção da sociedade
socialista. A denominação de arte construtivista foi elaborada pelo
artista plástico russo Kazimir Malevich (1878-1935), referindo-se
à obra do seu compatriota, o pintor e fotógrafo Alexander
Rodchenko (1891-1956). Estendendo-se até meados da década
de 1930, o Construtivismo Russo, caracterizado sobretudo
pelo recurso à abstração geométrica, influenciou importantes
movimentos das artes plásticas e do design moderno, como o
De Stijl, a Bauhaus e o Suprematismo.

Na figura abaixo, observa-se reprodução do quadro


intitulado Pintura Suprematista, de Kazimir Malevich, um dos
principais expoentes do Construtivismo Russo. Esse quadro é
representante do extremo abstracionismo a que chegaram os
construtivistas, denominado suprematismo, caracterizado pelo
uso de figuras geométricas e cores primárias.

Kazimir Malevitch - Pintura suprematista (1916)10


Óleo sobre tela. Stedelijk Museum, Amsterdã, Holanda.

10
Disponível em: <http://hcapma.blogspot.com/2009/04/kasimir-
malevich-1878-1935-suprematismo.html>. Acesso em 31 jan 2011.

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Unidade II

7.1.6 De Stijl: o Neoplasticismo holandês

O movimento denominado De Stijl ou Neoplasticismo teve


origem na Holanda e contou, entre os seus mais importantes
expoentes, com o artista plástico, designer, poeta e arquiteto
Theo Van Doesburg (1883-1931), o pintor Piet Mondrian (1872-
1944) e o designer de produtos e arquiteto Gerrit Rietveld
(1888-1964). O movimento teve sua origem na revista intitulada
De Stijl (em português, O Estilo), fundada no ano de 1917 por
Doesburg e outros artistas, incusive Mondrian e Rietveld, que
nela publicavam textos em favor de uma nova estética para a
poesia, a arquitetura e as artes plásticas, tendo como epicentro a
supervalorização das cores primárias e das formas geométricas,
conduzindo ao abandono de toda representação figurativa,
por meio da adoção do completo abstracionismo. Ressalte-se
ainda que a simbiose entre os integrantes do movimento foi
tamanha que as obras de design e arquitetura de Rietveld (como
a cadeira Red and Blue (1917) e as residências por ele projetadas)
praticamente reproduziam os quadros de Mondrian.

A total abstração da pintura de


Mondrian foi obtida por meio de um
longo trabalho de pesquisa plástica que
começa ainda com o figurativismo em seus
primeiros quadros. Posteriormente, o autor
foi criando uma forma de representação
que se volta para si mesma, sem buscar
referências externas, baseando-se na
composição das cores básicas, reveladas
pela ciência da ótica e da física.

Esse tipo de plasticidade também se


estendeu à arquitetura, tanto de edifícios
quanto de interiores.

Piet Mondrian - Composição em vermelho, preto, azul, amarelo e cinza (1920)


Óleo sobre tela. Stedelijk Museum, Amsterdam, Holanda.

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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

7.1.7 Surrealismo

O movimento surrealista abrangeu a literatura, as


artes plásticas, o teatro e o cinema e teve sua origem
em Paris na década de 1920, a partir da publicação, em
1924, do Manifesto Surrealista, da autoria do poeta André
Breton (1896-1966). Essa vanguarda artística foi bastante
influenciada pelas teorias do pai da Psicanálise moderna,
o austríaco Sigmund Freud (1856-1939). Decorre daí a
ênfase conferida pelos artistas surrealistas ao papel do
inconsciente na representação da realidade, o que valia por
uma crítica ao extremado racionalismo vigente na condução
da política e das relações socioeconômicas, à época. Por esse
motivo, os surrealistas buscavam apresentar em suas obras
o real de maneira não racionalista, ao qual se podia captar,
principalmente, nos sonhos, quando o inconsciente se
encontra liberado da repressão racionalista do consciente.

Na imagem ao lado encontra-se


reproduzido o quadro Aparição de
rosto e fruteira numa praia (1938), de
autoria de Salvador Dalí (1904-1989),
um dos principais expoentes da pintura
surrealista, ao lado de René Magritte
(1898-1967). Essa obra de Dalí apresenta
a mais importante característica da arte
surrealista: o mundo é aí percebido como
se estivéssemos em meio a um sonho,
cercados por imagens de seres e objetos
transfiguradas pela ação do inconsciente
quando este se acha liberado do rígido
controle da racionalidade.

Salvador Dali - Aparição de rosto e fruteira numa praia (1938)


Óleo sobre tela, 114,2 x 143,7 cm. Wadsworth Atheneum, Hartford, Connecticut. EUA.

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Unidade II

7.2 A arte abstrata e a Bauhaus

A Bauhaus (1919-1933) foi a mais conhecida escola alemã


de formação de arquitetos, técnicos e artífices especializados
da primeira metade do século XX. Ela começou com uma
definição utópica: a construção do futuro deveria combinar
todas as artes em um ideal único. Isto requeria um novo tipo
de artista, além da especialização acadêmica, para quem a
Bauhaus poderia oferecer educação adequada. Para atingir
este objetivo, o fundador, Walter Gropius (1883-1969), sentiu
a necessidade de desenvolver novos métodos de ensino e
estava convencido de que a base para qualquer arte estava
no artesanato: “a escola se transformara gradualmente em
um workshop”. Assim, artistas e artesãos dirigiram aulas e
produção juntas na Bauhaus em Weimar, Alemanha. Isto
pretendia remover qualquer distinção entre artes puras e artes
aplicadas. Ou seja, o conceito de novo tipo de artista estava
vinculado à ideia de que, somente unindo todas as artes, seria
possível formar um novo profissional, voltado para o futuro.

A realidade da civilização tecnicista no início do século


XX gerou solicitações para a Bauhaus que não poderiam ser
preenchidas apenas pela revalorização do artesanato, que era
a ideia inicial. Em 1923, a escola reagiu com um programa
modificado, o qual marcaria sua futura imagem sob um novo
mote: arte e tecnologia – uma nova unidade. O potencial da
indústria seria aplicado para satisfazer padrões de design,
abrangendo tanto aspectos funcionais quanto estéticos. As
oficinas da Bauhaus produziram protótipos para produção
em massa: desde uma simples lâmpada até uma habitação
completa.

Resumindo

Principais características da Bauhaus:

• a união entre arte e indústria foi necessária para a escola


enfrentar as novas necessidades da sociedade;

56
HISTÓRIA GERAL DA ARTE

• a relação entre funcionalidade e estética nos objetos


desenvolvidos seria resolvida pela aplicação de princípios
industriais;
• o novo objetivo era produzir objetos que abrangessem
todos os aspectos da vida contemporânea;
• uma das consequências do novo programa era criar um
design específico para os novos meios de produção em
massa.

Abaixo, está uma imagem da cadeira Cesca, de 1928, da


autoria do arquiteto alemão Marcel Breuer (1902-1981). Esse
projeto é característico da visão da escola Bauhaus, que buscava
aliar tecnologia a estética.

57
Unidade II

8 AS REALIZAÇÕES DA ARTE PÓS-


VANGUARDAS

8.1 O papel do artista e a crise da


modernidade

O denominado Expressionismo Abstrato ou Action Painting


constituiu um movimento artístico de grande originalidade
e forte repercussão que modificou a cena artística norte-
americana no final dos anos 40. Sua principal característica
era o emprego de largas massas coloridas, com o predomínio
de manchas, não de traços. Ao contrário do Expressionismo
europeu, diretamente envolvido em debates ideológicos,
os expressionistas norte-americanos excluíam totalmente
os temas políticos e sociais de suas obras, privilegiando
questões existencialistas como a miséria humana por
exemplo, buscando expressar emoções de forma intensa e
espontânea. Para tanto, destruíram os meios tradicionais
de pintura, pintando diretamente no chão, na parede, por
vezes sem uso de pincéis. Efetivamente, Jackson Pollock
(1912-1956), maior nome do Action Painting, empregava
verdadeiros jatos de tinta sobre a superfície de telas
deitadas no chão, sem emprego de cavalete. Por meio dessa
ação, Pollock cobria totalmente a tela e eliminava qualquer
possibilidade de percepção figurativa ou de perspectiva por
parte do espectador. Desse modo, criava obras de arte cheias
de instintividade e emoção.

Diferentemente de Pollock, Willem De Kooning (1904-1997),


igualmente representante do Expressionismo abstrato norte-
americano, não se distanciou totalmente do figurativismo.
Adepto do abstracionismo, empregava pinceladas fortes,
violentas, frenéticas em seus quadros, produzindo composições
diferenciadas e muito coloridas, mas nas quais se reconhecem
objetos e seres. Privilegiou em seus trabalhos as figuras femininas,
sendo que a sua obra mais famosa é a série Mulheres, produzida
no início da década de 1950.

58
HISTÓRIA GERAL DA ARTE

A imagem abaixo representa a tela intitulada Nº 5,


de Jackson Pollock. Nela, podem-se notar as principais
características desse artista e do movimento do qual fez
parte: a ruptura plena com o figurativismo, gerada pelo
uso de respingos de tinta lançados contra a tela. A técnica
de gotejamento, por meio de latas de tinta perfuradas, foi
introduzida por Pollock, que chegava a produzir as suas telas
na frente do próprio público.

Jackson Pollock – N° 5 (1948)


Óleo sobre tela, 243.8 × 121.9 cm. Coleção particular.

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Unidade II

8.2 A Pop Art

A Pop Art constituiu um movimento artístico que ocorreu


predominantemente nos Estados Unidos e na Inglaterra,
entre a segunda metade dos anos 50 e 60. Bebendo em
fontes como o Dadaísmo, a Pop Art contribuiu também para
revolucionar o próprio conceito de obra de arte, uma vez
que incluía em seus temas objetos tipicamente comerciais
e de consumo de massa, contrariando a máxima de que
a arte é alheia aos interesses do mercado. Sobretudo, os
artistas representativos desse movimento incorporaram ao
seu repertório objetos emblemáticos da indústria cultural e
do universo da propaganda, como a Coca-Cola e as imagens
de artistas populares como Marilyn Monroe. Devido a essa
mesma motivação, as principais fontes de inspiração dos
representantes da Pop Art eram os programas de televisão,
as revistas em quadrinhos, o cinema e a publicidade. De
certo modo, por incluir imagens plenamente identificáveis
de pessoas e objetos, a Pop Art marcou também um retorno
ao figurativismo, contrapondo-se ao Expressionismo,
dominante desde o fim da Segunda Grande Guerra (1939-
1945).

Entre as principais consequências do movimento da Pop


Art, cabe destacar a elevação à categoria de arte de objetos
que antes eram considerados vulgares, dado o seu caráter de
produtos comerciais.

Dos principais artistas da Pop Art, cumpre destacar os


seguintes:

• Robert Rauschenberg (1925-2008): empregava materiais


diversos, como folhas de jornal, garrafas e outros objetos
industrializados, bem como fotografias, em combinação
com tintas e silk-screen, representando temas da
indústria cultural e da contemporaneidade nos Estados
Unidos;

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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

• Roy Lichtenstein (1923-1997): tinha grande apreço


pelas histórias em quadrinhos. Pintou sobretudo
quadros a óleo e tinta acrílica, empregando uma
técnica muito própria de pontilhismo, marcada pelo
forte colorido e luminosidade, sempre delimitado por
um traço negro. Os temas de seus quadros, muitos dos
quais remetem a uma espécie de imagem congelada
de uma sequência de quadrinhos, não estão porém
vinculados explicitamente a nenhum enredo, que cabe
ao espectador imaginar;

• Andy Warhol (1927-1987): foi o mais renomado


representante da Pop Art. Tornou-se internacionalmente
conhecido por suas séries de retratos de ícones da
música e do cinema, como, por exemplo, Marilyn
Monroe e Elvis Presley. Warhol empregou em suas obras
sobretudo, a técnica da serigrafia, representando, além
dos ídolos pop, objetos de consumo de massa, como
garrafas de Coca-Cola, latas de sopa, carros e cédulas
de dinheiro.

A imagem a seguir reproduz uma das obras mais


significativas da Pop Art, a série de imagens de latas de
sopa Campbell’s, da autoria de Andy Warhol. Produtos
industrializados, ou seja, objetos comerciais eram
convertidos em obras de arte, fator que aproximava a
arte da cultura de massas. Esse emprego de ready-mades,
à maneira do Dadaísmo, possibilitava a reconfiguração
do sentido dos objetos, que, deslocados das prateleiras de
supermercados, das telas de cinema, das bancas de jornal,
adquiriam novo sentido como objetos de arte em galerias,
museus e exposições.

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Unidade II

Andy Warhol – N° 6 de Campbell’s soup cans (1968) – (detalhe)


91.8 x 61.3 x 3.8 cm. Kerry Stokes Collection, Perth, Austrália.

8.3 A Op Art

A Op Art ou Optical Art foi um movimento artístico


caracterizado pelo emprego de formas geométricas
que induzem o olhar do espectador a uma espécie de
ilusão de ótica, gerando sensações de movimento, de
tridimensionalidade, de vibração e de mudança de sentido.
A Op Art parece querer significar a permanente mudança
a que está submetido o mundo contemporâneo, seu
caráter sempre passageiro, mesmo fugaz. Característicos
desse movimento são, por exemplo, os móbiles do artista
Alexander Calder (1898-1976). Trata-se de uma arte de
construção bastante rigorosa, quase científica, dado o seu
caráter sistemático.

Os mais importantes artistas da Op Art são Alexander


Calder, criador dos móbiles, iniciados com a materialização
de quadros de Mondrian, e Victor Vasarely (1908-1997),
criador de composições geométricas de alta complexidade,
coloridas ou não, e que provocam diferentes sensações no
espectador.

62
HISTÓRIA GERAL DA ARTE

Ao criar os seus móbiles, Alexander Calder literalmente


colocou a arte em movimento, como na imagem abaixo,
reprodução da obra Totem, inspirada nos quadros de Piet
Mondrian. As esculturas abstratas de Calder nos remetem às
quatro dimensões da realidade: altura, profundidade, largura
e tempo, uma vez que elas se movimentam, revelando-se
ao espectador lentamente. Acrescente-se que os primeiros
móbiles eram movimentados pelos próprios espectadores.
Posteriormente, Calder decidiu torná-los suspensos,
movimentando-se sozinhos, pela ação do vento. A construção
dos móbiles demanda rigor no estabelecimento de um
sistema equilibrado de pesos, a fim de que o movimento seja
mantido ritmado e prolongado.

Alexander Calder - Totem (s.d.)


Metal pintado. Chrysler Museum of Art, Virginia, EUA.

63
Unidade II

8.4 A pós-modernidade e as perspectivas da


arte no século XXI

8.4.1 Minimalismo

O Minimalismo constituiu um movimento artístico iniciado


no decênio de 1960, nos Estados Unidos, cujos representantes
buscavam expressarem-se por meio do recurso aos elementos
fundamentais – mínimos – das artes visuais. Nas artes plásticas,
os minimalistas opuseram-se ao Expressionismo abstrato
norte-americano. Efetivamente, julgavam a Action Painting
extremamente personalista e carente de substância. Para os
minimalistas, caberia à arte expressar apenas a si própria, e não
a qualquer elemento extra-artístico, não visual. Por esse motivo,
pode-se considerar a Minimal Art como o ponto culminante
do reducionismo nas artes plásticas, tendência que vinha se
manifestando em diferentes campos artísticos no transcorrer do
século XX.

Resumindo

Características principais do Minimalismo:

• rejeição tanto da objetividade como da subjetividade e


do figurativismo na produção artística;
• reducionismo formal das obras de arte, em busca
de sua expressão mais pura possível, tanto na
bidimensionalidade como na tridimensionalidade;
• emprego sobretudo de formas geométricas simples,
como cubos, paralelepípedos, cilindros etc. de modo
repetitivo, para conferir ritmo às obras de arte;
• diferenciação de outras correntes abstracionistas pois
não adota o lirismo nem o matematismo, que considera
muito personalistas;
• a escultura minimalista emprega figuras geométricas
simples e materiais diferenciados, como, por exemplo,
fibra de vidro, metais e plásticos.

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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

Abaixo, reprodução de parte da obra do minimalista norte-


americano Dan Flavin (1933-1996), um dos principais expoentes
da Minimal Art. A obra é uma escultura composta por tubos
luminosos coloridos. Nela é possível notar as mais importantes
características do Minimalismo, ou seja, o reducionismo formal,
a despretensão, a simplicidade e o forte cunho geométrico.

Dan Flavin - Sem título (para Don Judd, colorista) (1987)


Luzes fluorescentes rosa, vermelha, amarela, azul e verde. Cinco partes cada: 121,9
× 121.9 × 15,2 cm. Coleção particular.

8.4.2 Arte Conceitual

O movimento artístico denominado Arte Conceitual


desenvolveu-se particularmente nos Estados Unidos, a partir
da década de 1960. Diferentemente do Minimalismo, na Arte
Conceitual a crítica está presente, embora não de forma explícita,
mas em reflexões filosóficas e linguísticas. Nesta vertente das
artes plásticas, as ideias e os conceitos são considerados mais
importantes do que os meios e materiais empregados na sua
representação. Nesse sentido, o artista torna as suas obras
veículos de pensamentos e teorias, ou seja, busca-se demonstrar
que a arte se origina das ideias, e o planejamento da produção
artística é elevado a uma condição superior à própria execução

65
Unidade II

das obras. Noutros termos, na Arte Conceitual, as ideias são mais


relevantes que os próprios objetos artísticos. Por esse motivo,
um de seus mais eminentes representantes, o norte-americano
Lawrence Weiner (1942), em diferentes obras de sua autoria,
reduzia as mesmas a um simples enunciado de instruções
descritivas, que sequer concretizava. Deste modo, pretendiam os
artistas conceitualistas tecerem a crítica à própria noção objeto
artístico.

Abaixo, apresenta-se reprodução da obra One and Three


Chairs, do norte-americano Joseph Kosuth (1945), que ilustra bem
as principais características da Arte Conceitual. Efetivamente,
nesta obra, Kosuth expõe, conjuntamente, uma cadeira real,
uma foto dessa mesma cadeira e um texto contendo a definição
do que seja uma cadeira. Ao proceder assim, o artista pretende
provocar a reflexão sobre a própria realidade do objeto, ou seja,
uma discussão sobre o próprio ser das coisas.

Joseph Kosuth - One and Three Chairs (1965)


Coleção particular.

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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

Bibliografia básica

ARGAN, G.C. Arte moderna na Europa: de Hogarth a Picasso.


São Paulo: Cia. das Letras, 2010.

CANTON, Kátia. Coleção temas da arte contemporânea. São


Paulo: Martins Fontes, 2010.

JANSON, Antony; JANSON, H. Iniciação à história da arte. São


Paulo: Martins Fontes, 2009.

Bibliografia complementar

ARGAN, G.C. História da arte italiana. São Paulo: Cosac&Naify,


2003.

BELTING, Hans. O fim da história da arte. São Paulo:


Cosac&Naify, 2006.

DEMPSEY, Amy. Estilos, escolas & movimentos. São Paulo:


Cosac&Naify, 2003.

DE MICHELI, Mario. As vanguardas artísticas. São Paulo:


Martins Fontes, 2004.

HEARTNEY, Eleanor. Pós-Modernismo. São Paulo: Cosac&Naify,


2002.

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