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DECOLONIALIDADE ou PENSAMENTO COLONIAL

É um programa que tem, em si, um conjunto de categorias explicativas e de categorias


analíticas, cuja função é fazer uma crítica ao modelo colonial, ao modelo moderno-colonial, ou
seja a modernidade e a colonialidade. No entanto, ele não é apenas um programa ou um
modelo que se restringe à interpretação e a crítica. Por isso não é apenas um modelo teórico
ou um programa que se restrinja à academia. Porque este programa implica também em
muitas possibilidades de intervenção no espaço e de ações práticas, ou seja, pode ultrapassar
a teoria (deve ultrapassar a teoria), pode ultrapassar a academia (deve ultrapassar a
academia), mas sem prescindir, certamente, dessas categorias, que orientam.

Falar em decolonialidade só tem sentido se a gente discutir o conceito anterior, que é


o conceito de colonialidade. Esse conceito é um conceito que foi forjado a partir do momento
em que uma série de pensadores e de pensadoras, na América Latina, começam a tentar
entender o que transcendeu, o que permaneceu entre nós, América Latina, mas também em
outros povos que foram colonizados, de formas, de práticas, de discursos, de valores, com o
fim do colonialismo histórico.

Então, acho que o primeiro estranhamento que surge de quando a gente fala em
decolonialidade é justamente dizer “ué, mas nós não somos mais colônia. Nós não estamos
mais no colonialismo, então, o que é necessariamente esta tarefa decolonial?” ou até “o que
seria esta tarefa de descolonização?”.

O conceito de colonialidade é um conceito que parte do seguinte pressuposto: O fim


do colonialismo histórico, o seja, o fim do colonialismo como regime econômico , como modo
de organização da sociedade, dos pontos de vista econômico, político e social, não significa o
fim das soluções coloniais. Não significa também o fim das práticas coloniais porque, a partir
do momento que você tem uma estrutura como essa montada e que organiza a sociedade de
uma dada maneira, você tem uma interferência muito forte na organização do espaço, na
composição da forma como o imaginário social desse povo é constituído, na organização da
linguagem, que tem uma implicação direta na forma como esse povo pensa, ou na forma como
esse povo entende ou elabora os seus critérios estéticos, os seus critérios morais. Na forma
como esse povo entende o que é verdade e o que não é verdade. Na forma como esse povo se
entende, porque, a partir do momento em que você tem uma lógica como essa instaurada, a
relação que você tem com o outro, pauta a própria relação que você tem consigo mesmo.

Então, a tese da colonialidade, esse conceito, que inclusive vai ser adjetivado de
muitas maneiras, “colonialidade do poder”, “colonialidade do saber”, é uma tese que,
justamente, insiste neste ponto: O fim formal do colonialismo, não significa o fim do
colonialismo como conteúdo. E o caso do brasileiro é um caso exemplar. Nós temos uma
estrutura escravocrata em todas as nossas instâncias sociais. O racismo negro é um grande
dispositivo de regulação da desigualdade social no Brasil até o hoje, no século XXI e isso é a
marca do que foi o Brasil colônia.

Então a gente percebe como que essas práticas permanecem entre nós. A defesa de
que a colonialidade não desapareceu exige uma intervenção teórico-prática e é aí, justamente,
que surgem os pensadores decoloniais. Vale uma ressalva de que esse nome engloba
pensadores e pensadoras de matrizes muito diferentes, essas pessoas que fazem parte do que
nós chamamos hoje de pensadores decoloniais não pensam a mesma coisa sobre o mundo.
Elas vêm de influências muito distintas. Muitas vezes elas são de campos epistemológicos
muito diferentes mas elas têm um ponto em comum: elas pautam em suas teorias e em suas
práticas uma crítica contundente e uma intervenção prática contundente contra este sistema-
mundo capitalista, colonial, patriarcal, moderno. Então, a gente encontra esse ponto em
comum e

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