Você está na página 1de 77

Exame Microscópico da Urina:

Sedimentoscopia

Profa. Dra. Deisy Vivian de Resende


deisy@ufu.br
Sedimentoscopia
Introdução

Ø Terceira parte do exame de urina

Ø Detectar, identificar e quantificar os materiais insolúveis na urina

Ø Elementos figurados: sangue, leucócitos, células epiteliais, cilindros,


cristais, muco, leveduras, bactérias...

Ø Os achados devem correlacionar-se com dados físico-químicos

Ø Variabilidade de resultados: falta de padronização


(ABNT NBR 15268 – 2005)
Sedimentoscopia
Urina Tipo I, EAS
Primeira etapa Segunda etapa Terceira etapa

Análise física Análise química Sedimentoscopia


pH Células epiteliais
Volume Glicose Leucócitos
Cor
Corpos cetônicos Hemácias
Odor Proteínas Cilindros
Aspecto Hemoglobina Cristais
Depósito Bilirrubina Muco
Densidade Urobilinogênio Bactérias
Nitrito Leveduras, etc...
Esterase leucocitária
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento urinário

q Células epiteliais:

- Frequentemente encontradas no sedimento

- Representam descamação natural do aparelho genitourinário

- Em alguns casos podem indicar processos inflamatórios e doenças


renais

- Podem ser escamosas, transicionais


ou tubulares
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Células epiteliais escamosas

- Frequentemente observadas
- Provenientes da vagina, uretra feminina e porção inferior da uretra masculina
- Maiores células do sedimento
- Núcleo pequeno e proeminente
- Citoplasma abundante e irregular
- Não apresentam significado clínico
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Células epiteliais escamosas


Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Células epiteliais transicionais (B)

- Provenientes da pelve renal, ureteres, bexiga


e porção superior da uretra masculina

- Menores que células epiteliais escamosas (A)

- Forma arredondada

- Núcleo nítido e central

- Presentes em menor número no sedimento

- Presente em grande número e com


morfologia alterada: carcinoma renal
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Células epiteliais transicionais
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Células epiteliais tubulares

- Morfologia variável
- Provenientes dos túbulos, principalmente TCP
- Um pouco maiores que leucócitos
- Núcleo redondo
- Em grande número podem indicar glomerulonefrite, rejeição a transplantes,
necrose tubular...
Renal Tubular Epithelia
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Células epiteliais

- Resultado semiquantitativo

- Raras: até 3 por campo (100×)


- Frequentes: 4 a 10 por campo (100×)
- Numerosas: acima de 10 por campo (100×)
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Hemácias (hematúria)

- Discos bicôncavos, lisos, anucleados


- Menores que leucócitos

- Urina hiperestenúrica: hemácias crenadas

- Urina diluída e alcalina: lise

- De forma geral: tamanhos variados, mas menores que leucócitos

- Podem aparecer na urina após exercício físico extenuante, infecções, nefrolitíase,


malignidade, etc
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Hemácias (hematúria)

- Discos bicôncavos, lisos, anucleados


- Menores que leucócitos

- Resultado semiquantitativo:

- VR: até 3 células/campo (400×)

Raras: até 3 por campo (400×)


Frequentes: 4 a 10 por campo (400×)
Numerosas: acima de 10 por campo (400×)
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Hemácias (hematúria)

- Resultado quantitativo (câmara de Neubauer)

VR: < 5.000 cels/mL

- Acima de 1×106 : limite de contagem


Sedimentoscopia

Componentes do sedimento - Hemácias


Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Leucócitos

- Maiores que os eritrócitos

- VR: < 10.000 céls/mL ou até 5 células/campo (400×)

- Piúria: presença de leucócitos degradados na urina

- Lisam-se rapidamente em urina alcalina e diluída

- Principalmente neutrófilos

- Indicativos de infecções/inflamações

- Ex: cistite, pielonefrite, nefrolitíase, tumores de

bexiga, glomerulonefrites, etc


Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Leucócitos
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Leucócitos e microbiota aumentada


Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Leucocitúria e hematúria
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cilindros

- Formados exclusivamente no néfron - TCD e DC

Excreção de proteínas na luz


do túbulo renal

Solutos presentes no filtrado

Diminuição do fluxo urinário


Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Fatores que favorecem a formação de cilindros:

- Estase urinária

- pH (geralmente baixo)

- Aumento na produção de proteína de

Tamm-Horsfall

- Descamação celular

- Alta concentração de sais (sódio e cálcio)

- Presença de certas proteínas (Bence-Jones,

hemoglobina, albumina...)
Sedimentoscopia

Formação dos Cilindros no Néfron


- Material intratubular e células aderem-se à matriz
do cilindro em formação

- O material aderido pode fornecer “uma pista”


da patologia renal:

- Infecção: bactérias e leucócitos

- Doença glomerular: gordura e eritrócitos

- Necrose tubular aguda: células epiteliais tubulares


Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cilindros

- Todos os seus componentes têm origem nos rins

- Descritos com relação ao tipo e avaliados de acordo com os seguintes


parâmetros:

- Raros (média de até 3 por campo - 100×)


- Frequentes ( média de 4 a 10 por campo - 100×)
- Numerosos (média > 10 por campo - 100×)
Sedimentoscopia
Componentes do sedimento

q Cilindro Hialino

- Tipo mais frequente de cilindro


- Formado basicamente por proteína de Tamm-Horsfall
- Semi-transparente e incolor
- Lados paralelos, pontas arredondadas
- Examinar sob pouca iluminação
- Estresse emocional, exercício físico intenso, desidratação...
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Cilindros Hialinos
Sedimentoscopia
Componentes do sedimento

q Cilindro granuloso

- Desintegração de cilindros celulares nos túbulos (estase urinária)

- Agregados proteicos, bactérias, lisossomos de células tubulares...

- Estase do fluxo urinário, infecção do trato urinário, estresse e


exercícios físicos intensos
Sedimentoscopia
Componentes do sedimento

q Cilindro granuloso
Sedimentoscopia
Componentes do sedimento

q Cilindro granuloso
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cilindro céreo

- Etapa posterior ao cilindro granuloso


- Largo, fendas laterais, rígido
- Estase do fluxo urinário (extrema),
insuficiência renal crônica
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cilindro céreo
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cilindro hemático

- Hemácias e matriz proteica


- Indica hemorragia no interior do néfron
- Refringente (amarelo ao marrom)
- Glomerulonefrite, lesão de túbulos e capilares renais, exercício físico
extenuante
Sedimentoscopia
Componentes do sedimento

q Cilindro hemático

Geralmente encontram-se hemácias livres e reação + para Hb


Sedimentoscopia
Componentes do sedimento

q Cilindro hemático/hematúria
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Cilindros hemáticos em desintegração


Sedimentoscopia
Componentes do sedimento

q Cilindro leucocitário

- Matriz proteica e leucócitos (núcleos multilobulados)

- Indicam infecção ou inflamação no interior do néfron (pielonefrite,


nefrite intersticial)
Sedimentoscopia
Componentes do sedimento

q Leucocitúria/Cilindro leucocitário

Geralmente encontram-se leucócitos livres e reação + esterase leucocitária


Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cilindro de células epiteliais

- Matriz proteica e células tubulares renais


- Avançada destruição celular
- Relaciona-se com a necrose tubular aguda, exposição a substâncias
nefrotóxicas como o mercúrio, etilenoglicol, drogas, rejeição a
transplantes, etc
- Coloração facilita a diferenciação com GBs
Sedimentoscopia
Componentes do sedimento
q Cilindro de células epiteliais
Sedimentoscopia

Relevância clínica dos cilindros urinários

Cilindro Condições associadas


Hialino Indivíduos saudáveis, exercício físico
intenso, desidratação, febre

Granuloso Exercício físico intenso, doença renal


crônica, pielonefrite

Céreo Doença renal crônica severa


Hemático Pielonefrite, glomerulonefrite, nefrite
lúpica

Leucocitário Glomerulonefrite, pielonefrite,

Epitelial tubular Necrose tubular, rejeição a transplante,


doença viral
Sedimentoscopia

Cilindros urinários

Cilindros céreos
Sedimentoscopia

Cilindros urinários

Cilindro hemático
Sedimentoscopia

Cilindros urinários

Cilindro hialino

Cilindro granuloso
Sedimentoscopia

Cilindros urinários

Cilindro céreo

Cilindro granuloso

Cilindro céreo
Sedimentoscopia
Componentes do sedimento
q Cristais

- Formação: - Supersaturação de solutos na urina (oxalato de cálcio, ácido


úrico, fosfato, medicamentos)
- Baixa ingestão de água
- Temperatura (refrigeração)
- pH
- Substâncias inibididoras (Mg+2, Al+3, citrato, Tamm
Horsfall) × promotoras (oxalato, fosfato, Ca+2)

- Formados nos túbulos ou bexiga (mais raramente)


- Podem ser encontrados em urinas normais (urina concentrada)
- Somente alguns tipos apresentam importância clínica
- Não são contados
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Cristais normalmente encontrados em urina ácida

- Urato amorfo

- Grânulos amarelo-castanhos
- Comuns em urinas refrigeradas
- Formam sedimento róseo
- Pouco significado clínico
- Desaparecem quando a amostra é aquecida
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cristais normalmente encontrados em urina ácida

- Ácido úrico

- Várias formas

- Incolores ou amarelo-castanhos

- Leucemias, gota, estados febris

- Na maioria dos casos não apresenta


significância clínica
Sedimentoscopia
Componentes do sedimento
q Cristais normalmente encontrados em urina ácida

- Ácido úrico

Limão Roseta

Diamante Barril
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cristais normalmente encontrados em urina ácida

- Oxalato de cálcio

- Também observados na urina neutra


- Octaedros incolores (mais comuns)
- Alimentos com grande teor de ácido
Di-hidratado
oxálico (tomates, aspargos)
- Grande dose de vitamina C
- Em grande quantidade: indicativo de
litíase renal

Monohidratado
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cristais normalmente encontrados em urina ácida

- Oxalato de cálcio

Halter

Ovóide

Alongado

Envelope
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cristais normalmente encontrados em urina ácida

- Oxalato de cálcio
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cristais normalmente encontrados em urina alcalina

- Fosfato triplo (estruvita ou fosfato amoníaco magnesiano)

- Prismas incolores em forma de “tampa de caixão”


- Na maioria das vezes sem significado clínico
- Podem indicar ITU (produção de amônia) ou cálculo renal
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Cristais normalmente encontrados em urina alcalina

- Fosfato triplo (estruvita ou fosfato amoníaco magnesiano)


Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cristais normalmente encontrados em urina alcalina

- Fosfato amorfo

- Aspecto granular, semelhante ao urato amorfo

- Em gde quantidade: sedimento branco que dissolve-se com ácido


acético

- Diferenciação realizada pelo pH urinário

- Geralmente não apresenta significância clínica


Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Cristais normalmente encontrados em urina alcalina

- Fosfato amorfo
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cristais normalmente encontrados em urina alcalina

- Fosfato de cálcio

- Prismas finos e incolores


- Não apresentam importância clínica, embora sejam constituintes de
cálculos renais
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Cristais normalmente encontrados em urina alcalina

- Biurato de amônio

- Cor castanho-amarelada, aparência de esfera com espinhos


Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cristais normalmente encontrados em urina alcalina

- Carbonato de cálcio

- Pequenos e incolores
- Forma de esfera ou de halteres
- Sem significado clínico
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento

q Cristais anormais

- Cistina

- Presentes em urina ácida


- Placas hexagonais incolores
- Alteração genética: não ocorre reabsorção de cistina
pelos rins (tendência a formar cálculos renais)
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cristais anormais

- Leucina: alterações hepáticas


- Pode vir acompanhado de reação positiva para Bb no exame
químico
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cristais anormais

- Tirosina: alterações hepáticas


- Pode vir acompanhado de reação positiva para Bb no exame
químico
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cristais anormais

- Bilirrubina: alterações hepáticas


- Deve vir acompanhado de reação positiva para Bb no exame
químico
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Cristais anormais

- Colesterol: distúrbios relacionados com lipidúria (síndrome


nefrótica)

- Em associação com corpúsculos ovais gordurosos


Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Leveduras

- Observar a presença de formas em brotamento


- Geralmente a espécie encontra é Candida albicans
- Indivíduos diabéticos (presença de glicose)
- Infecção verdadeira: presença de GBs
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Leveduras
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Bactérias

- Microbiota normal da uretra e vagina


- Amostras que ficam à T ambiente por muito tempo
- Infecção do trato urinário: acompanhada de leucócitos
(porém requer cultura)
- Caso positivo, deve-se fazer bacterioscopia

- Ausente
- Rara: 1 a 10/campo (400×)
- Moderadamente aumentada: 11 a 99/campo (400×)
- Aumentada: acima de 99/campo (400×)
Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Muco

- Material proteico: glândulas e células epiteliais do trato


genitourinário

- Proteínas de Tamm-Horsfall

- Estrutura filamentosa com baixa refrigência (luz baixa)

- Geralmente não está associado a patologias

- Grande quantidade: pode sugerir processo inflamatório


Sedimentoscopia

Componentes do sedimento
q Muco
Sedimentoscopia

Correlações no Exame de Urina Tipo I

Microscopia Exame físico Exame químico


Hemácias Turvação, cor Sangue
Cilindros hemáticos vermelha

Leucócitos Turvação Proteínas


Cilindros leucocitários Leucócitos
Nitrito

Células epiteliais Turvação -


Cilindros epiteliais
Cristais Turvação pH
Bactérias Turvação Nitrito
pH aumentado
Sedimentoscopia
Correlações entre os exames físico, químico e sedimentoscópico

EXAME FÍSICO EXAME QUÍMICO EXAME SEDIMENTOSCÓPICO

Odor Cristais

Cor Hemácias, cilindros hemáticos

Aspecto Leucócitos, cilindros leucocitários


Odor Bactérias

Odor
Cor
Procedimentos Técnicos

1. Identificar tubos

1. Homogeneizar bem a amostra

2. Transferir 10mL de urina para o tubo identificado

3. Realizar o exame químico


Procedimentos Técnicos
5. Centrifugar a 2.000×rpm por 5 min (padronização – ABNT)

5. Desprezar 9mL do sobrenadante

6. Análise microscópica

7. Anotar os resultados e digitá-los no sistema


Sedimentoscopia

Metodologia – Câmara de Neubauer

Ø Ressuspender o sedimento com leves batidas no fundo do tubo;

Ø Transferir a amostra homogeneizada para a câmara de Neubauer


(cuidado para não extravasar amostra)

Ø É possível realizar a leitura de duas amostras/câmara

Ø Uso da câmara de Neubauer


Contagem em Câmara de Neubauer
Características (profundidade)
Contagem em Câmara de Neubauer
Sedimentoscopia
Características da Câmara de Neubauer

Ø 4 quadrantes ( L ) são subdivididas


em 16 áreas com 0,25 mm de cada
lado

Ø Volume de cada quadrante (L): 0,1mm3

Ø N° céls/mL=Contar elementos de 1 quadrante e


multiplicar por 1000 ou 4 quadrantes
e multiplicar por 250
Contagem em Câmara de Neubauer

Algumas regras a serem seguidas:

Células sobre as linhas: contar limites superior e esquerdo


Metodologia – Contagem em lâmina

- Após centrifugação, retirar 9,8mL do sobrenadante

- Homogeneizar o sedimento

- Transferir 20µl para a lâmina de microscopia

- Colocar uma lamínula de 22×22mm

- Realizar a leitura de 10 campos e obter a média/campo

- Leitura de 10 campos, média e multiplicar o valor encontrado por 5040


(fator de multiplicação): células/mL

Você também pode gostar