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Síndrome do Intestino curto Fatores interferentes

Desenvolvida com a ressecção de uma O intestino que antes possuía 7 metros, agora
extensa porção do intestino onde a porção possui 2 metros, por isso o quimo passará 3x
remanescente for insuficiente para manter mais rápido visto que a extensão do intestino
uma nutrição adequada. Se o indivíduo perder está reduzida.
até 50% da extensão do ID ele consegue fazer A gravidade das alterações dependerá do
adaptação fisiológica, mimetizando as local, da extensão da ressecção, se preservou
funções e compensando a ausência da parte ou não a válvula íleo-cecal, o grau de
perdida. Contudo, se o intestino residual for adaptação do intestino remanescente e a
menor ou igual a 2 metros já é considerado presença residual da doença intestinal.
síndrome do intestino curto, pois o intestino O primeiro fator a ser observado é que parte
residual não é capaz de absorver todos os do intestino foi resseccionada (duodeno,
nutrientes. A principal causa é a doença de jejuno ou íleo?), se a ressecção for proximal
Crohn, mas existem outras causas como (duodeno) ocorre uma maior resposta
ressecção de tumores e aparição de feridas. hiperplásica na porção distal ou seja, o íleo vai
conseguir de forma eficiente compensar a
Adaptação Intestinal falta do duodeno, o íleo passará por várias
alterações morfológicas e funcionais a longo
Tempos após a ressecção e a apresentação prazo, e com isso compensará a falta do
da Síndrome do Intestino curto, as vilosidades duodeno. Se a ressecção for do íleo, que deve
do intestino remanescente apresentam-se ser preservado ao máximo pois é a porção
maiores, mais altas, mais próximas mostrando mais importante do ID, visto que consegue
que houve uma hiperplasia da mucosa compensar a falta do duodeno e jejuno. Sua
intestinal, para aumentar a área de absorção retirada leva a menor resposta adaptativa, o
e compensar a área de absorção que foi duodeno e jejuno não são capazes de
perdida. Entre 12 e 48 horas após a ressecção mimetizar de forma eficiente. O íleo compensa
(cirurgia), esse paciente começa a produzir absorção de Ca, Zn, Fe do duodeno, porém
alguns fatores de crescimento e alguns sua retirada aumenta o risco pois nele começa
hormônios que promovem essa proliferação, o a absorção de água, absorção de
processo de adaptação demora pelo menos 1 macronutrientes. Se a ressecção do íleo for
ano após a cirurgia. mais de 1 metro (2,5 a 3m), tem-se perda
A adaptação intestinal ocorre através da maciça de sais biliares pois nele encontra-se
produção de hormônios entéricos (gastria e a circulação enterohepática, que é utilizada
enteroglucagon) e fatores de crescimento para fazer reaproveitamento de sais biliares
(fator de crescimento epidérmico (EGF), (gasta-se muita energia e colesterol para sua
hormônio do crescimento (GH), fator de produção), esses sais voltam ao fígado
crescimento semelhante a insulina (IGF), fator através dessa circulação, porém se o
de crescimento do hepatócito (HGF), peptídeo indivíduo perder o íleo essa circulação fica
YY, fator de crescimento queratinócitos comprometida e por isso ele terá perda de sais
derivado dos fibroblastos (KGF)) que vão biliares o que o obriga a sempre estar
promover a hiperplasia das células intestinais, produzindo através de sua reserva e quando
além disso alguns nutrientes podem favorecer essa reserva acabar não haverá mais a
esse processo como arginina, glutamina, produção de sais biliares e
triglicérides, AGCC e fibras, por isso existe consequentemente a absorção de gorduras,
uma parte da terapia nutricional que pode observando esteatorreia (gordura nas fezes) e
favorecer esse processo de adaptação menor absorção de AG e vitaminas
intestinal. lipossolúveis. O íleo é o único sítio de
absorção da vitamina B12, por isso é
obrigatória a suplementação intramuscular.
Outro fator é a válvula íleo-cecal (entre o íleo
e o ceco) é um esfíncter entre o ID e o IG, é
um regulador de fluxo (o que passou para o IG
não deve voltar), ela vai dar ritmo a passagem
do conteúdo do ID para o IG, sem ela essa
regulação de entrada e saído dos fluidos no ○ Alimentos contendo lactose e sacarose
intestino é perdida (passagem muito rápida do devem ser evitados (puxam água para a luz
conteúdo presente no ID para o IG – pode intestinal e aumentam a diarreia);
levar o indivíduo a ter mais diarreia, por conta ○ Preferir líquidos à temperatura ambiente
da reabsorção de água). Proliferação porque extremos de temperatura alteram a
bacteriana – pode ter refluxo do conteúdo motilidade;
fecal no ID, as bactérias do IG passam para o ○ Ingerir pelo menos 1,5 L de água ao longo
ID e elas vão absorver os nutrientes, entram do dia;
em competição com o organismo. A ○ Evitar ingestão de bebidas carbonatadas ou
preservação válvula íleo cecal está alcoólicas;
relacionada a melhor prognóstico, e menor ○ Se necessário fazer suplementação de
incidência de complicações – menor vitaminas e inserir suplementos nutricionais
incidência de sepse (infecção generalizada) com maior densidade calórica para facilitar
no pós-cirúrgico. Deve-se sempre questionar recuperação desse paciente.
a parte resseccionada e sua extensão.
Esses pacientes também podem perder o Dietoterapia
cólon, síndrome do intestino curto o indivíduo
pode perder tanto o ID quanto o IG. No cólon A ingestão oral deve ser de 200 a 400% maior
normalmente ocorre a fermentação dos que o gasto energético basal para manter o
carboidratos formando os AGCC. Em equilíbrio nutricional adequado em pacientes
pacientes que realizam a colectomia (retirada com intensa má absorção.
do cólon) a quantidade de substratos residuais Necessidades energéticas totais diárias: 0,85
será maior, sendo ainda mais importante a a 1,5 x GEB (Herris Benedict). Proteína 1,0 –
ação das bactérias colônicas, pois nessa 1,5 g/KgP.
região devemos ter a maior fermentação dos A dieta deve ser hipercalórica, hiperproteica
carboidratos residuais, se ele perde essa pois esses pacientes necessitam de mais
região essa formação de AGCC é nutrientes. Iniciar via oral quando a diarreia
atrapalhada. Esse paciente terá muita estiver mais controlada, antes disso deve ficar
diarreia, aumento das secreções no trato em via enteral ou parenteral, pois com essa
gastrointestinal (saliva, muco, suco gástrico, diarreia de difícil controle ele não terá
bile, suco pancreático) e a capacidade de condições de absorver.
reabsorver o líquido próprio das secreções Fase intermediária – Não oferecer uma dieta
estará reduzida - Aumento da motilidade tão hipolipidica priorizar a melhora da
intestinal e gástrica. É importante que ele faça qualidade dos triglicerídeos oferecidos (TCM
uma reposição intravenosa (soro no pós- ao invés do TCL, pois o TCM não depende
operatório por conta da grande perda dos sais biliares para serem absorvidos, não
diarreica). precisam ser emulsificados ao contrário do
TCL, porém o TCM não oferece AGE).
Recomendações para controle Oferecer óleo de coco piora a diarreia (50%
TCM o resto é TCL), TCM oferecido deve ser
da diarreia através da dieta produto farmacológico. Inicia-se a introdução
○ Aumentar o nº de refeições porque fraciona do lipídio pelo TCM em pequenas quantidades
mais os alimentos e nutrientes e não provoca (30g/d), bem fracionadas durante o dia
uma hiperosmolaridade; aumenta gradativamente até atingir valores
○ Mastigar bem os alimentos; aproximados de 50 a 60g/d de TCM para
○ Evitar os alimentos flatulentos pois vão realimentação do paciente, introduzindo em
causar maior desconforto; seguida o TCL sempre associado com o TCM,
○ Evitar alimentos que estimulem o após 2 – 4 anos da cirurgia o indivíduo tende
peristaltismo intestinal (como as fibras a tolerar um pouco melhor o TCL. Caso o
insolúveis); paciente não apresente esteatorreia, boa
○ Aumentar o consumo de fibras solúveis, parte do VET da NE deve ser suprido com
○ Preferir pães, carne vermelha e brancas, lipídeos.
ovos pois são alimentos proteicos que não Nessa fase intermediária deve-se priorizar
estimulam a peristalse; carboidratos que são mais hidrolisados como
a maltodextrina, amido hidrolisado e
dissacarídeos. Suplementação de fibra Recomendações
solúvel para estimular a produção de AGCC Carboidratos 60% das calorias totais
pois eles estimulam o processo de Preferir carboidratos
fermentação das bactérias. complexos ricos em fibras (se
A absorção dos nutrientes no intestino curto é paciente tiver cólon)
de 65% do que é ingerido por isso, faz-se Evitar carboidratos simples
necessário a compensação com o aumento da Proteínas 15% - 20%
ingestão. Recomenda-se começar com a Gorduras 20 – 25% (combinar TCM com
oferta com 32 Kcal/KgP/dia, esse valor pode TCL)
ser 2x maior, se a redução for > 50% do Oxalato Evitar alimentos ricos em
tamanho do intestino, por esse motivo as 35 oxalato como: chocolate, chás,
Kcal/KgP é pouco para esse paciente, é o refrigerantes a base de cola,
ponto de partida, existem pacientes que cerveja, Ovomaltine, sucos
podem precisar do dobro dessas kcal por com bagaço, limonada, suco
conta da grande perda intestinal, alguns de tomate, café instantâneo,
pacientes precisam de 70Kcal. manteiga de amendoim, tofu,
Pode colocar parte da dieta via oral e caso o feijões, beterraba, cenoura,
paciente não consiga consumir tudo aipo, couve, alface, batata frita,
complementar por via enteral ou parenteral. alho-poró, amora, uvas, batata-
A TNE está contra-indicada na presença de doce, tangerina, farinha de
vômitos intratáveis, obstrução intestinal ou milho, pipoca, biscoitos de
diarreia refratária ao tratamento. soja, gérmen de aveia, cereais
Nessa fase de adaptação pode-se também matinais, nozes, Pretzels,
considerar como valor energético ideal para pimenta, sopa de vegetais
compensar as perdas oriundas da má- Água Consumo deve ser elevado
absorção intestinal 60Kcal/KgP/dia. As
necessidades proteicas podem variar de 1,5 a
3g/KgP/dia, pois o paciente tende a ser
desnutrido.
Fase tardia – Final do processo adaptativo
intestinal. 1 ano e meio após a cirurgia, já
passou pelo processo adaptativo, já teve uma
recuperação dessa mucosa, já houve uma
adaptação do intestino residual, com
recuperação ou manutenção do peso corporal
e suprimento das necessidades VO, com boa
tolerância.
Reposição de fluidos e eletrólitos, vitaminas
ADEK, B12 e ácido fólico, oligoelementos
(zinco e selênio).
Exames laboratoriais seriados: Na, K, Cl, Fe,
Zn, Cu.
○ Recomendação energética para
manutenção do peso 25-30 Kcal/Kg
(limitações);
○ Proteína 1,5-2,0g/KgP/dia;
○ Utilizar TCM combinado com TCL;
○ Maior fracionamento da dieta e refeições
pouco volumosas;
○ Soluções de hidratação oral – volumes
pequenos e frequentes 600-1000 ml/25h.

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