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À Performance Habilidosa
Processamento de Feedback
· , no Controle Motor
PALAVRAS-CHAVE
Aparelho vestibular
Arranjo óptico
Comparador
Corrente dorsal
Corrente ventral
Efeito do olho quieto
Exterocepção
Feedforward
Fluxo óptico
Fuso muscular
M1
M2
M3
Órgãos tendinosos de Golgi
Propriocepção
Receptor cutâneo
Receptores articulares
Sistema de controle de circuito
fechado
Tau
Visão cega
PERFIL DO CAPÍTULO
Fontes de informação sensorial
Informação sensorial do processamento
Princípios de controle visual
Audição e controle motor
Resumo
OBJETIVOS DO CAPÍTULO
,• .e db k sorial no controle motor humano. Este capítulo irá ajudá-lo
o capítulo descreve os papeis do ,ee ac sen
a compreender
os tipos de informação sensorial disponíveis para controle motor,
o controle motor como um sistema de processamento de circuito fechado, .
· f de "eedback e feedforward funcionam no modelo conceituai, e
,1
N
como m ormaçoes
os papéis da visão no controle motor.
~;ções consideram essa variedade de sensações mdaneiras; mas uma maneira comum ocorre quan-
o vo ,. tr
corno um único grupo, co~centrando-se nas ma- .st ce en ª com um estado desejado ou meta do
eiras comuns em que o sistema nervoso central si ~ma, como a temperatura desejada em sua casa
;rocessa esta informação para a performance ha- no inverno. A informação sensorial sobre a saída
bilidosa. (output) do siS tema (a temperatura real do ambien-
te) é medida por um termômetro e é comparada
com a temperatura esperada. Qualquer diferen-
ça entre a temperatura esperada e a temperatura
PROCESSAMENTO DA rea~ repr~senta um erro (p. ex., a temperatura está
mmto baixa); esta informação errada é transmiti-
INFORMAÇÃO SENSORIAL da para um executivo para decidir que ação tomar
para eliminar ou reduzir o erro. O executivo en-
via um comando para um efetor, neste caso ligar
Urna maneira importante de pensar sobre como a
o aquecedor, que realiza a ação. Esta ação eleva
informação sensorial é processada durante o movi-
a temperatura ambiente até o estado real igualar
mento é por analogia com sistemas de controle de
o estado esperado (em que o erro na temperatura
circuito fechado, uma classe de mecanismos usada agora é zero); esta informação é enviada para o
em muitas aplicações na vida diária. A Figura 4.1 executivo, e o executivo envia uma nova instrução
fornece um exemplo de um sistema de circuito fe- para desligar a produção de calor. Esse processo
chado simples. continua indefinidamente, mantendo a temperatu-
ra próxima do valor desejado durante todo o dia.
Esse tipo de sistema é chamado de "circuito fecha-
Sistemas de controle de do" porque o circuito do executivo para o efetor
circuito fechado e de volta para o executivo novamente é comple-
tamente "fechado" por informação sensorial, ou
O sistema de controle de circuito fechado simples feedback, formando um "circuito" que sustenta o
ilustrado na Figura 4.1 pode ser iniciado de várias mecanismo na regulação do sistema para atingir
uma meta em particular.
Os mesmos processos gerais operam na perfor-
Estado desejado mance humana, como conseguir pegar uma xícara.
Erro
A informação visual sobre a posição da mão em
relação à xícara representa o feedback. Diferenças
entre a localização da mão e a localização desejada
são sentidas como erros. Um executivo determina
uma correção, modificando o sistema efetor para
trazer a mão para o local adequado. Evidentemen-
te em habilidades mais complicadas, o feedback
c~nsiste em uma coleção de diferentes tipos de in-
Estado formação sensorial que surge de uma variedade de
esperado receptores tanto dentro como fora do corpo. Cada
. de informação é comparada com um-nível de
t ipo -
ferência correspondente, e os erros sao en1ao
re . .t
processados pelo nível executivo no sis ~ma:
Todos os sistemas de controle de circuito fe-
Sistema chado têm quatro partes distintas:
efetor
1. Um executivo para tomada de decisões sobre
erros
2. Um sistema efetor para executar as decisões
Estado real 3 Uma referência de correção contra a qual o
· feedback é comparado para definir um erro
I FIGURA 4.1 Sistema de controle de circuito fechado
básico.
68 Richard A. Schmidt e Timothy D. Lee
a! da performance humana apresentado no Capítu- terna recebe feedback sobre forças bem como sobr
lo 2, que introduz os estágios de processamento da pressões exercidas sobre objetos em cantata co;
informação (ver Figura 2.2). No entanto, agora são a pele. Os músculos em contração causam movi-
adicionadas as noções de controle de circuito fe- mento e, corno resultado, o feedback das articula-
chado vistas na Figura 4.1 para atingir um sistema ções em movimento e as mudanças na posição do
mais completo que complementa nossa discussão corpo com relação à gravidade. Finalmente, o mo-
de performance motora humana. vimento, em geral, produz alterações no ambien-
Esse modelo conceitua! é útil para compreen- te, que são sentidas pelos receptores para visão e
der os processos envolvidos não apenas em mo- audição, gerando ainda mais feedback. Esses estí-
vimentos relativamente lentos (p. ex., posiciona- mulos produzidos pelo movimento, cuja natureza
mento lento de um membro na fisioterapia) em é criticamente dependente da produção de uma
que compensações podem ser feitas durante a ação em particular pelo executante, são compara-
ação, mas também em movimentos relativamente dos com seus estados antecipados no comparador.
rápidos (p. ex., balançar um machado) em que a A diferença computada representa erro, que é re•
correção do erro deve esperar até que os movimen- tornado ao executivo. Esse processo refina e man·
tos tenham sido completados. tém o comportamento do executante, mantendo os
O sistema executivo consiste nos processos de erros em níveis aceitavelmente baixos.
tomada de decisão discutidos no Capítulo 2 - a Observe que os estágios de processamento são
identificação do estímulo, a seleção da resposta e criticamente importantes no modelo de circuito
os estágios de programação do movimento. O exe- fechado na Figura 4.2. Toda vez que o feedback
cutivo, então, envia comandos para um sistema
de uma ação vai para o executivo para correção,
efetor que consiste em várias partes. Urna é o pro-
ele deve passar pelos estágios do processamento.
?1"am~ motor, que produz comandos para centros
Os vários estágios do processamento são todos ~u-
mfenores na medula espinal, que finalmente re-
jeitos aos mecanismos de atenção, como discutido
sultam na contração dos músculos e no movimento
no Capítulo 3. No entanto essa não é a única ma·
das ~iculações. Ao mesmo tempo, a informação é
espec1fi~ada para definir as qualidades sensoriais neira na qual o feedback ;ode ser usado, e discu·
do movimento correto, como a "sensação" de um timos vários circuitos de nível mais baixo, seme·
balanço efetivo do machado. Essa informação re- lhantes a reflexos mais adiante no capítulo. ,
presenta o fee~back sensorial antecipado do exe- O modelo de circuito fechado na Figura 4·2 e
cutante, ou seJa, as sensações que deveriam u't"l
1 para compreender a manutenção de um esta·
geradas caso o movimento fosse realizado cor::~ do ~m particular, assim como é necessár~o P:0~
tamendte., Um e_xemplo é o estado do termostato realizar muitas atividades de longa duraçao. e
quan o e configurado para 21 º; o feedback que exemplo, simplesmente manter a postura, em q~r
cheg~ da temperatura ambiente (o feedback real)
0 0 b. .
Jehvo e, uma posição natura1, ere ta ' requ er
? e~tao comparado com o feedback previsto (Z l O , feedback. Várias posturas aprendidas deve1? sar
mdicado pelo estado do termostato) e um erro é contra1adas da mesma maneira, como Pº sic10Il las na
0
computado, o que é então entregue ao exec t· corpo em uma parada de mão nas argo_d des
eorno tal , a m1ormação
• E U lVO.
que especifica que O ter- gm. ástica.
· Além disso, a maioria das h ªb"h
1 8bros
mostato deve estar prevendo uma temperatur d de movimento
· que envolvem os vanos, · IllemuIJlª
21 º é frequentemente chamada de informaçã~ d: requerem uma postura precisa estável comO .,,o
" P1ataforma". Sem essa base, o' moviment °• cow
Aprendizagem e Performance Motora 69
Erro
Identificação
do estímulo
Seleção de
resposta
Programação do
movimento
Feedback antecipado
Comparador
Programa
motor
Medula espinal
Feedback proprioceptivo
Músculos t
Feedback exteroceptivo
Movimento
1 FIGURA 4•2 . - de componentes de circuito
Modelo conceituai expandido com ad1çao . . fechado.
!7~0- ~R~ic~h~ar~d~A~.~S~ch~m~i~d~te~Ti~m~o~th~y~D~-~L~ee:..__ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _~~~-------------
de arremessar dardos ou atirar com uma piSíola, Sern dúvida, os modelos de controle de e·
to fechado: co~o aque 1e mostrado na Figuraircui.;
0
seria inconsistente. Acredita-se que O comp~a~or
define e mantém as posições relativas deseJa asl a- 0 os mais eficazes para compreensão de 4
s A . sses
dos vários membros assim como a onen · taça~o gera tipos de comportamento. ss1m, compreend
como esse modelo opera fornece uma ideia co ~r
no espaço. . A • p exem- &
derável sobre a per1orrnance h umana e possibilita
n~
Outras tarefas são mais dmamicas. or
plo em uma habilidade de fazer trilhas, um_ ex_e- muitas aplicações importantes. Compreender as
cut ~te tem de seguir algumas trilhas de variaçao limitações do modelo para co~trol~ do movimento
. · · u m carro
constante movendo um contro l e. Dmg~r também é importante, corno discutido em seguida.
é um exemplo clássico, em que os movimentos da
direção resultam de erros visualmente detecta~os
na posição do carro na estrada. Existem o~tr?s m- Limitações do controle
contáveis exemplos, pois essa classe de atividade de circuito fechado
é uma das mais frequentemente representadas no
funcionamento do mundo real. A inclusão dos estágios do processamento da infor-
mação no sistema, corno detalhado na Figura 4.2,
1 Foco na
PRÁTICA 4.1
Controle proprioceptivo
back (o chamado circuito Ml) do músculo P
. 1 d lta
medula espma e e vo para o_mesmo músculo
----- ara a
Esse circuito é um componente importante d ·
de circuito fechado ' á' E ore.
flexo de extensão monossm tipca. sse circuit d
Até aqui, apenas uma espécie de processos d:;;~- eedback está em um nível relativamente baixo e
cuito fechado foi considerada: controle volun . 1'
fimedula espm . al .
,ára~sim as ~espostas não envolvem
ºna
· f rmação sensona • controle volunt 10 consciente e refletem res
consciente de ações pe 1a m o . sen-
Mas há outras maneiras em que a mforma~ao · d as, mvo
tas estereotipa . 1un tár'ias, gera1mentemPos..
u~
sorial está envolvida no controle do. mov~m:;:~ to rápidas a estÍmu1os.
especialmente considerando os mmtos tlp h
correções modificações e mudanças sutis nas a-
bilidades 'que ocorrem automaticamente (sem per-
Agora, suponha que você é um sujeito em
experimento simples. Você está em pé, e sua
é manter um de seus cotovelos em um ângulo reto
tar~:
cepção consciente). . ara suportar uma carga moderada em suam~
Há um número de mecanismos reflexiv_os q~e P .
tal como um 11vro. Voce t em um mostrador em ªº '
A
8
operam abaixo do nosso nível de consciência. frente para indicar a altura do livro, e você é in~~
Um dos mais bem conhecidos é chamado refl~xo truído a segurar o livro em alguma posição alv
patelar. Se alguém senta em uma maca com o Joe- De repente, sem poder prever isso, o experime~:
lho dobrado e a perna livremente suspensa e, e,?1 tador acrescenta outro livro para a carga. Sua mão
seguida, uma pequena batida é aplicada no tendao
começa a cair, mas depois de um atraso você com-
patelar (normalmente com um pequeno _martelo de
pensa a carga adicionada e traz a sua mão até a po-
borracha, como feito por um neurologista), ares-
sição alvo novamente. Em toda a probabilidade, a
posta ao toque é uma breve contração do músc~-
lo quadríceps (na coxa) e uma pequena extensao sua resposta foi quase imediata e involuntária, mas
(alongamento) do joelho. O tempo desde o toque dessa vez mais de um reflexo estava envolvido.
até que o quadríceps seja ativado é de apenas 30 a O reflexo monossináptico que acabamos de des-
50 ms. Essa resposta reflexiva ocorre sem qualquer crever era responsável por uma resposta inicial,
controle ativo, voluntário e ocorre muito rapida- muito breve, à carga adicionada. No entanto, levar
mente para vir por meio das etapas de processa- a mão de volta para a posição de destino provavel-
mento da informação. mente envolveu um ou mais reflexos adicionais.
Aqui está o que acontece. Nessa posição sen- A resposta ligeiramente mais lenta (latência
tada, um toque no tendão patelar, que liga a patela 50-80 ms) ocorre porque o músculo bíceps esten-
à tíbia da parte inferior da perna, aplica um breve dido distribuiu um sinal (neurônios da via aferen-
movimento descendente da patela. Em seguida, te dos fusos musculares) para a medula espinal.
pelo fato de a patela estar ligada ao músculo qua- Aqui, no entanto, esse sinal também é enviado até
dríceps, que (juntamente com os fusos musculares a medula espinal, e esses neurônios fazem sinapse
no quadríceps) é um pouco alongado também, os com vários neurônios de nível superior. Em segui·
fusos musculares respondem, enviando um sinal da, o sinal é enviado de volta para baixo da via na
para a medula espinal por meio de neurônios afe- medula espinal em que faz sinapse com os neurô-
rentes (sensoriais). Esses neurônios fazem sinapse nios motores que conduzem ao músculo bíceps,
(conectam) com neurônios aferentes (motores) que causando um segundo disparo de atividade do
levam de volta ao mesmo músculo que foi alonga- bíceps. Esse segundo disparo de atividade (rotu·
do (aqui, quadríceps), causando uma breve contra- lada de M2 na Figura 4.3) é mais forte e mais pro·
ção. Isso ocorre muito rapidamente, e, involunta- longado do que o primeiro (a monossináptica, Mt,
riamente, em parte porque os neurônios aferentes resposta), mas chega com um atraso ligeiramente
e aferentes trafegam em uma distância relativa- m~or (50-80 ms) porque o sinal teve de trafe!:.
me~te curta e são ligados por uma única sinapse. mais_ longe e porque várias sinapses est~vammús·
Assrm, esse reflexo foi denominado reflexo de ex- volvidas. O circuito Ml na Figura 4.3 vai do 585
tensão ~onossináptico. Quase todos os músculos culo para níveis superiores no SNC. Juntos, e~
esqueléticos do corpo podem exibir esse reflexo , • 'ptlC05
reflexos monossinápticos (Ml) e multlssina a.·
operando da mesma maneira geral. ' (M2) são apenas dois dos muitos tipos de me~er
D~ uma olhada na Figura 4.3, que é outra ex- nismos reflexivos pelos quais as ações podem tel,
P8:11sao do nosso modelo conceitua!. Dentro da modificadas rapidamente (e automaticamro de
cai:ra "efetora" (programa motor-medula espinal-
levando ao atingimento do objetivo em mo
-musculos), nós adicionamos um circuito de feed-
circuito fechado.
______ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __!_A~p~r.:
e~n~
di~z~
ag~e
~m~ e~ Pe
~ rf
~o~ r~m
~a~n~c=e=-M~o~t ~
o~ra~ - 7~3
Erro
Identificação do
estímulo
Seleção da
resposta
Programação do
movimento
Feedback antecipado (
..::=======:;;::;:3fs[=J:::::J:~J:::::z:====) Comparador
,J
M2
1
u
Progr~;a
mot= - . J
Medula espinal
Músculos
Feedback proprioceptivo
Feedback exteroceptivo
Movimento
1FIGUDa
IV\ 4.3
.çao
Modelo conceituai com ad1 - d e c1rcu1
. "t os M1 eM2 ·
. S~c~h~m~id~t~e~T~im~o~t~h[y~D'.;_,~Le=e:_,____________________
7~4~~R~ic~h~a~rd~A~ ____
(Ungerleider & Mishkin, 1982; observe
PRINCÍPIOS DE também têm sido referidos como os sist que eles
• ernas
CONTROLE VISUAL biente e foca 1, respechvamente). Inforrn. ani.
b açoes ·
suais em amhas as correntes tr~fegam pritneiro vd1-
· um pouco dife- retina do o1 o para o c 6rtex visual prirn, . a
A visão parece operar d e maneira entanto, naquele ponto pensa-se que O pano. No
rente do que os reflexos proprioceptivos que acaÍ • & - rocess
bamos de ver. A visão, naturalmente, t~m um pape mento d: 11~.1~rmaçao .torn~-~e e~pecializado. a-
infonnaçao ut1l para a 1dentificaçao de urn ob· A
muito importante nas atividades diárias, .e as pes-
é enviada para o córtex temporal inferior p Je~o
soas privadas de visão têm um tempo relativam~nte . & or via
da corrente ventra1. A m1ormaçao que é esp 'fi
_
Olho
•1 Foco na
•
"Visão cega" revela processamento de corrente dorsal e ventral
O termo "visão cega" pode, a princípio, soar autocontraditório mas este fenômeno
curioso levou muitos à descoberta do sistema visual dorsal (ambiente). A visão cega
é geral1?1ente defini~a como uma condição médica na qual a pessoa pode responder
aos estimulas v1sua1s sem percebê-los conscientemente. De acordo com Weiskrantz
(2007), a ideia originalmente resultou de trabalho sobre o córtex visual dos macacos,
em que foi demonstrado que o animal, embora tecnicamente "cego", podia ainda res-
ponder a vários tipos de estímulos visuais. Estudos posteriores demonstraram o fenô-
meno em humanos também (p. ex., Humphrey, 1974;. Weiskrantz et al, 1974).
Talvez, o mais surpreendente, e mais convincente, a evidência veio do estudo de
dois pacientes neurológicos humanos, TN e DB (iniciais dos pacientes; de Gelder et
al., 2008; Weiskrantz et al. , 1974). TN havia tido dois AVCs sucessivos, que causaram
grandes danos neurológicos em seu córtex visual, o que lhe deixou "cego" dos dois
olhos por todas as medidas tradicionais de visão. Depois de considerável estudo, os
pesquisadores levaram TN para um corredor, pedindo-lhe para andar pelo mesmo sem
sua bengala habitual. Sem o conhecimento de TN, os pesquisadores colocaram vários
objetos no corredor os quais ele teria de superar. Para o espanto óbvio dos pesquisa-
dores, TN evitou todos eles, mesmo pressionando-se contra a parede para evitar uma
lata de lixo. O paciente DB, cujo córtex occipital havia sido removido cirurgicamente
devido a um tumor, também estava "cego" de acordo com as medidas tradicionais de
visão. Os pesquisadores usaram testes de escolha forçada, ~os qua~s s_e pedia a DB
para adivinhar onde, entre dois locais na ~ente d~le, um ob1eto havia sido colocad_o.
Seus palpites foram consideravelmente mais precisos d? que~ acaso, embora ele nao
pudesse "ver" os objetos. Ele também se mostrou sens1vel a mt~rvalos de te1:1~~ de
apresentação do objeto longos ou curtos, a cor, contrbaste, a~ md~v~mdento, e ao m~,c10 e
término da presença do alvo. Muito clara~ente, am os os m 1v1 uos estavam ven-
do" os objetos dos quais não estavam conscientes. . , ,
Esses ac h a d os em seg uida foram interpretados no sentido de que nos possmmos
d "f l") · t
• sistemas
d 01s • • · . um s1·stema ventral (também chama o oca ,)com o s1s
visuais. . ema
de acesso à consciência (que DB e TN tinham perdido ~ompletameTnNte ' De Bum) (sA1ste1:1a
- , 'ência (que estava mtegro em e . s vias
dorsal que nao tem acesso ª consci d Fi'gura 4 4) o fenômeno de visão
• t as são ilustra as na · ·
anatômicas para estes sis em d nder a obJ' etos em nosso ambiente de
nte que po emos respo
cega d emonstra c1arame . e _ • suais das quais somos completamente
modo inconsciente, guiados por miormaçoes vi
inconscientes. f am algumas das evidências mais fortes
. 1 b d es (1981) ornecer . ,
Bridgeman e co a ora or tr le de movimento. Ind1v1duos senta-
. t dorsal para o con o
para o papel de um s1s ema t obre a qual foi projetado um retangu1o
A
(como uma moldura) com um ponto e uz e a trás ligeiramente alguns graus, com o
•
divíduo , a moldura f 01 movi
'da para frente e par . s b as
d tro do quadro em movimento. 0 ess
1
ponto ficando em posição fixa sobre a te a enimentou a ilusão de que o ponto estava
condições, o indivíduo confiavelm:~:re:~~rquadro, em vez do inverso, que foi,re_al-
se movendo para frente e para n:_ás d dois sistemas visuais, o sistema ventral(~ umco
mente o caso. Em termos da ~oçao e do" 1'ulgando que o ponto estava em movimento
eia) foi "engana ,
com acesso à conscien d
• A
> continuação O t
Em seguida Bridgeman e colaboradores tentaram manipular siS ema dorsal. Os
indivíduos for~ instruídos de que, se a moldura e O ponto fossem subitamente des-
ligados, deixando a sala em escuridão total, eles teri'!"' de •~ontar uma alavanca para
a última posição do ponto O mais rapidamente possivel. Evidentemente, a percepção
consciente do indivíduo era que o ponto estava se movendo para trás e para frente. As-
sim, se sistema ventral estivesse sendo utilizado para controlar a mão, os movimen-
tos de apontar
O
deveriam variar da direita para a esquerda também, em coordenação
com os "movimentos" (conscientemente) percebidos do ponto. Pelo contrário, quando
as luzes eram apagadas, os indivíduos apontavam para onde o ponto realmente estava,
não para onde eles percebiam que ele estava. A interpretação foi que a informação
visual para a localização do ponto estava sendo usada pelo sistema dorsal inconscien-
te, e este sistema não foi enganado pelos movimentos da moldura. Essa evidência sus-
tenta a existência de dois sistemas visuais distintos: o sistema ventral para consciência
com viés pelos movimentos da moldura e o sistema dorsal para controle do movimen-
to, que não era influenciado pelos movimentos da moldura.
Exploração adicional
1. Pa?ient?s com ata~ia óptica e agnosia visual têm sido foco de estudo por neuro-
fisrnl~gi,sta_s. ~u: mformações esses pacientes forneceram aos pesquisadores em
relaçao a distmçao entre correntes visuais ventrais e dorsais?
2· Que outros tipos de ilusões visuais foram utilizadas em pesquisas para separar
processamento de corrente dorsal e ventral?
na ~~s~uisa 4.1). Claramente, uma razão ela ual ~sso ?bvio. Você pode olhar e conscientemente
é difícil r:co1;1iecer a existência de visã: dor!J é identificar um carro vindo o que então levaria à
que ela nao e consciente Sua função é f ~ecisão de tentar evitá-lo. À visão ventral está cri-
;.espostas às perguntas: ;'Onde está?" ouº~:fcer tl~~ente envolvida aqui, e falhas para identificar
Onde eu estou em relação a ele?" vez 0 18 os de modo adequado podem levar a erros gra-
ves.. Isso é part1·cu 1armente importante
. ao d'mg1r
.. a,
:mte, ~uando a precisão do sistema ventral (acui-
Controle visual de habil"d
1 ades motoras ade visual) é degradada de modo considerável.
Como a informação visual é utT Antes de perceber que poderia haver um sis·
trole do movimento e f I izada para o con- tema dorsal d e controle de movimento os c1en · t'is·
eficácia? É útil d1' '.d. que atores determinam sua tas acredit ' · te
vi ir essa di - , . aram que um sistema ventral consc1en
separadas, em especial s_cussao em partes era a umca
. . m aneira• pela qual a informação visu· ai
distintos dos sistemas dpoorrq_ue lida com os papéis po d eria mflu enciar· a ação Nessa visão u1trap as·
sais e ventr ·
Apesar da caracteriza - . ais. . . observando um 1,,11-
sa d a, um bate d or d o be1sebol
um sistema de identifi ç~o dde visão ventral como (1>•
a. ~rthoz, 1978). Esses experimentos sugerem que Reproduzida, com autorização, de Lee e Aronson 1974
0
/ armação de fluxo óptico e o sistema dorsal es-
ao critic amente envolvidos no controle d as ativ1-
..
dades no . d
E rma1s e balanceamento. didas. Ao realizar uma parada de mão nas argolas,
tanib sse papel da visão no controle do equilíbrio em que é importante manter-se tão imóvel quanto
ém tem fortes implicações para posturas apren- possível, o sistema visual pode sinalizar mudan-
80 Richard A. ::,chm1dt e 11momy u . Lo.:o.:
, a ..
"-~.!.S../.::.;;..
1 FIGURA
.
4.8 A corrente ventral identifica as pro · d d .
pne a es vis · d
•- -,..~ .... · -- ·
·
1
o p a-
ne1amento da preensão de objetos a até d. No enta t u~is e um objeto com a finalidade de antecipar _ . ,
• - b _ , n o, as propned d • . d h1stori"
- rntençoes so re que açao sera realizada com um b '
• o Jeto também d t
ª es visuais
.
de obJ·etos não contam to a a
1
1
pe1 •
se em como voce pegaria o objeto d se estivesse plan . d e erm1nam qual preensão usar. Por exernP o, 10
d .
· b' eJan o escrev
pegaria O o Jeto se p lane1asse usá-lo para furar uma caixa de e! com e 1e, e compare isso com a mane ira
· co11
papelao (ver Rosenbaum et ai. 201 3).
-
P
nsão com a mão toda. Um pegar com quatro
ree é necess ár'10 para a caneca d e cerveJa
dedos , (ob'Je-
Aprendizagem e Performance Motora
60
verbal sobre seus TMs após cada tentativa de ajudá-
g
·los a mover no TM adequado. Uma característica
clinicamente importante do projeto de pesquisa foi
.g
40
-..o••-·-
que os indivíduos concluíram algumas das tentati-
vas no escuro - luzes ambiente foram subitamente 1
li
extintas em 50% de tentativas aleatoriamente sele- Ili
.a 20
cionadas apenas no início do movimento. A previ- e
D.
são era simples: se o feedback visual fosse utilizado
Para guiar o movimento sobre o alvo, então, ter as 200 250 300 350 400 450
luzes acesas deveria produzir objetivos mais preci- TM real(ma)
sos do que quando as luzes ambiente estavam apa-
gadas. Mas, se o movimento era feito muito rapida- 1 FIGURA 4.9 Movimentos concluídos em tempos infe-
riores a 200 ms não apresentaram melhora em precisão
mente para usar feedbackvisual, então, não seria de com as luzes do ambiente acesas (em comparação com
se esperar nenhuma diferença na precisão. luzes apagadas), mas os movimentos feitos em tempos
Os resultados de Keele e Posner são apresen- de mais de 250 ms realmente se beneficiaram de ter as
tados na Figura 4.9. A primeira coisa a observar é luzes acesas.
que, à medida que o TM ficava mais longo no tem- Dados de Keele e Posner 1968.
Aprendizagem e Performance Motora 83
de certo modo ~ápido inflexível, aliment~do de mediários do sistema fazendo ajustes mínimos nas
lta para níveis relativamente baixos no sistema ações já programadas, como compensação do mo-
vorvoso central , consi·d erave lmen t e " a Jusante
· " a vimento da cabeça no balanço do golfe e alterações
ne . . ..
artir dos processos que se 1ec10nam e miciam o na postura para manter o equilíbrio nas argolas
~ovimento, mas "a montante" a partir dos mús- paradas. Por essa razão, adicionamos um circuito
los e medula espinal. Assim, pode-se pensar na de feedback a partir do movimento resultante até o
cu
visão dorsal como fu nc10nan
· d o em n í veis· mter-
· nível do programa motor na Figura 4.10.
Erro
Input (estím
Identificação do
estímulo
Seleção da
Resposta
Programação do
Movimento
Feedback antecipado
Comparador
Programa
Motor M2
Feedback exteroceptivo
Movimento
1 FlGU~ 4 1 ..
- 0 Modelo conceituai com a adição de circuito de corrente dorsal.
84.__IR~ic~h~a~rd~A~-~S~c!:hm~id~t:_e~T~im~o~t~h'!,_Y~D':,_~Le: e: .,___----===:::::::::::
- ·, Foco na
PRÁTICA 4.2
ºd ntes noturnos carro-caminhão
Visibilidade em act e .
ocorre à noite - o motonsta de um carro indo
_ . um de autom Óve1 / d
Um acidente nao mcom . d-e um veículo que esta para o ou movendo-se
. de ve 1oci.dade bate na traseira
no limite . h- em uma colina). O motonsta. d o carro não teve
. t (talvez um camm ao / 1 .
mmto lentamen e tr ei'ras na parte de tras do veícu o estac10nado ou
ver as lanternas as . - .
probl emas para E disso O problema era que o motonsta nao sabia O que
movendo-se lentamente. m vez ' d
do " o que poderia estar aconteceu o aqui.
'?
.. e
as luzes estavam•t 1 azen ·motorista provavelmente consegue ver as 1uzes traseiras · a
Em uma n01 e cara, 1 0 d' )
. d l di'sta"nci'a (talvez uns 2 km ou algo em torno isso . Presumível-
partir e uma onga .
mente, a taxa de expansão visual (neste caso, as luz~s parece~do moverem-~e mmto
mais além) do fluxo óptico sobre a retina fornece a 1nformaçao de que o veiculo da
frente está parado (ou indo muito lentamente), e não está na mesma velocidade que
o carro. Mas o problema é ilustrado muito claramente na Figura 4.11 (de Ayres et al. ,
1995) - a taxa de expansão é tão pequena (menor do que o limiar para a detecção de
qualquer expansão, sendo que a taxa de limiar para ser capaz de detectar qualquer ex-
pansão é de 0,2 graus/segundo). A partir da Figura 4.11, isto significa que o condutor
atrás não consegue perceber que a expansão até o carro está a cerca de 122 m do objeto,
em que é imediatamente possível detectar que o arranjo óptico está em expansão. O
problema é que 122 m é muito próximo da distância a que um carro a 95 km/h pode
ser levado_ª. u~a frenagem completa, e isto está abaixo das condições ideais (ou seja,
um~ boa v1s1~1hdade). P?rtanto, o motorista que está atrás não percebe que o caminhão
esta em movimento mmto mais lento do que ele até que seja quase que demasiado
~arde. A men~s. que O motorista que está atrás esteja extremamente alerta, o carro pode
ater com fac1hdade no caminhão em movimento lento.
(J)
:::1
3.0
2.5
w
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-~ 2.0
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e: 1.5
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ãi
1.0
0.5
w
-183 -152 -122
Dist" · - 91 -61
FIG~RA 4.11 A taxa de ex - . anc1a de visualização (m) -30
caminhão em movim pansao visual de u
limiar até . ento lento (supond 0 m carro a cerca d 9
que O caminhão esteja . um veículo d e 5 km/h que se aproxima de urn
1
Reproduzida, com autorização, de A apr~x1madamente a e e ,80m de largura) permanece abaixo do
yres, Schm1dtetal., 1995. erca de 122 m de distância.
- Aprendizagem e Performance Motora
Outra questão é que, a uma distância muito longe, a visibilidade das luzes traseiras
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não necessariamente indica ao motorista que aquilo do qual ele está se aproximando
seja realmente um caminhão. Poderiam ser luzes sobre dois objetos separados, como
os sinais de trânsito (espaçados por uma pequena distância) , ou duas luzes traseiras de
uma motocicleta, ou algo diferente de um veículo. Alguns proponentes de segurança
de veículos defenderam a colocação de material retrorefletivo adicional em caminhões
para torná-los mais visíveis ou ostensivos. Mas isso realmente não reduz o problema
de percepção visual criado aqui, porque a taxa de expansão visual do material retrore-
fletivo é essencialmente a mesma que a das luzes. Portanto, quando você está a cerca
de 150 m do caminhão, tem o mesmo problema de não ser capaz de identificar o que o
objeto está fazendo, de acordo com a velocidade.
1 Foco na
PRÁTICA4.3
N
oé
eªPítulo 3' discutimos as várias propriedades
f' é
da atenção. Levar a atenção de al-
'd d .
em direção a uma fonte externa especf 1ca consi era o um importante me-
gu m
canismo e a visão pode fornecer m . formaçoes
- cruciais
. . para a per f ormanece ef'icaz.
No ent~to os executantes frequentemente descobrem que o controle visual domina
os outros s~ntidos e que a informação visual conduz a uma captura inevitável de aten-
ção. Na verdade, muitos acreditam que a visão tende a dominar todas as ou~r~s fontes
para nossa atenção, e este predomínio nem sempre produz desfechos positivos. Em
muitas atividades, os executantes têm a opção de escolha dos modos de controle que
eles usam, como o motorista do carro de corrida ou o piloto que pode monitorar os
sons do motor ou informações cinestésicas do "improviso", em oposição à informação
visual fornecida pelos inúmeros indicadores na cabine ou à informação vista pelo
para-brisas. E, por vezes, essa informação não visual é mais confiável do que as infor-
mações fornecidas pela visão.
A informação visual é obviamente muito importante em muitas situações, mas
em outras um excesso de confiança na visão pode resultar em performance ineficaz.
Um bom exemplo vem da corrida de veleiro, que é muito rica em informação visual
sobre as formas aerodinâmicas das velas e a maneira como o vento está soprando sobre
elas. Essa informação visual pode render performance relativamente boa. No entanto,
concentrar-se na visão é ignorar outras formas de informação, tais como os sons que
o barco faz quando atravessa a água, a ação e a posição do casco sentida pela "in-
tuição" e forças no leme, sendo que tudo fornece informações adicionais úteis sobre
a velocidade - mas somente se a pessoa no comando estiver atendendo-as. Alguns
marinheiros de corridas usaram métodos de treinamento com os olhos vendados, em
uma tentativa de aprender a diminuir a sua dependência na visão e compartilhar os
recursos de atenção com outras metas internas (sentidos) para otimizar o desempenho.
A ideia é que quando a visão é evitada por um longo período de tempo, os marinheiros
desenvolvem a sensibilidade para as fontes de informação menos dominantes.
Ilusões visuais fornecem uma poderosa demonstração de efeitos visuais de domi-
n~cia. Na ilusão de tamanho-peso, por exemplo, dois recipientes opacos, um muito
~a10r do o _outro, s~o. preenchidos com quantidades de areia, de modo que eles
tem pesos i~e~hcos. Sol~:lta~se ~ue o indivíduo levante ambos e julgue qual está mais
pesado. A v1sao (e experiencia) diz-nos que o recipiente maior é geralmente mais pesa-
do do que O menor, e quando a propriocepção não confirma isso naturalmente concluí-
mo~ que O ~po~to - que O recipiente menor deve ter mais peso nele do que o recipiente
ma10r. A~m, a mformação visual está substituindo a propriocepção.
, O ~feito McG~~ revela uma interação visão-audição. Por exemplo, um indivíduo
e convi?.ado a ,assistir e ~uvir um vídeo de alguém falando uma palavra repetidamente
(p. ex., blow' ). Se voce fechar os olhos e ouvir a part d , d' d 'deo é evidente
que t, diz d 0 " e e au 10 o v1
ª pes~•ºª es,a e~ blow''. Mas o vídeo na verdade é de al uém murmurand o
a palavra flow'_ repetid~ente, com "blow'' sendo fornecido no á!dio. A maioria das
pessoas que assistem ao video e també pes-
soa está dizendo "fl w'' b m ouvem o relatório de áudio relatam que a
, o 'em ora o que realmente se ouça se·a "blow''. E, às vezes , as
p~s_soast~ted~tesmo rdelat81:1 algo completamente diferente de J.flow" ou "blow". Aqui. a
visao es a is orcen O as mformaç ~ ( d d . . _
Esse efeito McGurk ·1 - oes ver a eiras) fornecidas pela aud1çao. o
domínio visual tende a ~~;c::~ tama~o:p~so s~o apenas dois exemp_los de colllº
contribmçoes feitas pelos outros sentidos.
Aprendizagem e Performance Motora 87