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EPIDEMIOLOGIA E VIGILÂNCIA EM SAÚDE

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Sumário
CONCEITO DE EPIDEMIOLOGIA, PRINCIPIOS, METODOS E
PROCEDIMENTOS BASICOS DE INVESTIGAÇAO. ................................................ 2

INVESTIGAÇÃO DE SURTOS ........................................................................ 4

QUANDO INVESTIGAR UM SURTO, QUAIS PROCEDIMENTOS USAR ...... 6

PLANEJAMENTOS E AÇÕES USADOS NA SAÚDE PARA EPIDEMIOLOGIA


................................................................................................................................. 10

MEDIDAS DE PREVENÇÃO ......................................................................... 16

TECNOLOGIA DE EDUCAÇÃO EM SERVIÇO NA VIGILÂNCIA EM SAÚDE


................................................................................................................................. 17

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 21

REFERÊNCIAS: ............................................................................................ 24

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CONCEITO DE EPIDEMIOLOGIA, PRINCIPIOS, METODOS E
PROCEDIMENTOS BASICOS DE INVESTIGAÇAO.

“Epidemiologia é o estudo da frequência, da distribuição e dos determinantes


dos problemas de saúde em populações humanas, bem como a aplicação desses
estudos no controle dos eventos relacionados com saúde. É a principal ciência de
informação de saúde, sendo a ciência básica para a saúde coletiva.”

A epidemiologia descritiva estuda o comportamento das doenças em uma


comunidade, em função de variáveis ligadas ao tempo (quando), ao espaço físico ou
lugar (onde) e à pessoa (quem).

O seu objetivo é responder onde, quando e sobre quem ocorre determinado


problema de saúde, fornecendo elementos importantes para se decidir quais medidas

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de prevenção e controle são mais indicadas, além de avaliar se as estratégias
utilizadas diminuíram ou controlaram a ocorrência de determinada doença.

1. E a segurança das ações isoladas dos programas de serviço de saúde. O objetivo


geral da epidemiologia é reduzir os problemas de
saúde na população. Na prática, ela estuda
principalmente a ausência de saúde sob as formas de
doenças e agravos. Aplicações da Epidemiologia

2. Informar a situação de saúde da


população: Determinar as frequências, o estudo da distribuição dos eventos e o
diagnóstico consequente dos principais problemas de saúde verificados, identificando
também as partes da população que foram afetadas, em maior ou menor proporção;

3. Investigar os fatores determinantes da situação de saúde: Realizar estudo


científico das determinantes do aparecimento e manutenção dos danos à saúde na
população;

4) Avaliar o impacto das ações para alterar a situação encontrada: Determinar a


utilidade.

Quanto aos estudos de campo pode ser definida como a aplicação dos princípios e
métodos da pesquisa epidemiológica para o estudo de problemas de saúde
inesperados, para os quais é demandada uma resposta imediata e uma intervenção
oportuna na população.

A demanda por uma resposta imediata significa que o estudo opera no terreno
onde ocorre o problema; o imperativo pela intervenção oportuna significa que essa
investigação tem duração e extensão limitadas no tempo.

A investigação epidemiológica de campo utiliza uma variedade de princípios,


métodos e aplicações das ciências básicas, clínicas, sociais, estatísticas e
epidemiológicas.

Entre estas últimas, a investigação de campo, incluindo a investigação de


surtos, costuma aplicar um desenho descritivo (estudo de caso e série de casos,

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estudo de prevalência, ou ambos), seguido de um desenho analítico (em geral um
estudo caso-controle), habitualmente de caráter exploratório.

Portanto a investigação epidemiológica de campo, pelo seu procedimento ágil,


rigoroso, eficaz e tecnicamente simples, está estruturada para oferecer respostas
urgentes que são requeridas pelos tomadores de decisão, especialmente os de nível
local, perante situações de surto ou epidemia.

INVESTIGAÇÃO DE SURTOS

A investigação de surtos e epidemias é o exemplo típico e mais frequente de


uma pesquisa epidemiológica de campo. A investigação de um surto em curso é, em
geral, um trabalho que demanda uma atuação rápida e uma resposta correta da
equipe local de saúde, a fim de mitigar e suprimir oportunamente os efeitos do mesmo
sobre a população.

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A capacidade local de atuar perante um surto, incluindo a investigação do
mesmo está relacionada diretamente a dois aspectos gerais da equipe local de saúde,
que compõe se:

 Sua capacidade de identificar um alerta epidemiológico, em função do


nível de desenvolvimento do sistema local de vigilância em saúde
pública (quando investigar?)
 Sua capacidade de resposta epidemiológica, em função do nível de
organização da equipe local para aplicar uma abordagem sistemática
do problema (como investigar?)

O exemplo desse Módulo revisa com detalhe os elementos básicos requeridos


para responder apropriadamente às perguntas de quando e como investigar, no
contexto dos serviços locais de saúde.

É importante ter em mente que qualquer suspeita surgida no nível local sobre
a possível ocorrência de um surto na comunidade deveria ser comunicada sem atraso
ao nível sanitário imediatamente superior, seja esse o nível local de vigilância em
saúde pública ou o próprio nível intermediário do sistema de saúde.

Tal precaução justifica-se diante do risco para a saúde da comunidade. Mais


concretamente, a comunicação de toda suspeita de surto é importante, dado que:

 O possível surto diante do qual nos encontramos poderia ser a primeira


manifestação de uma epidemia de amplas dimensões que supere o
nível local.
 O possível surto diante do qual nos encontramos poderia ser a primeira
manifestação em nossa comunidade de um surto que está efetivamente
ocorrendo em outro lugar.
 É possível que as medidas de controle já estejam disponíveis e já
tenham sido tomadas por um nível superior ao local e seja necessária
sua implementação na nossa comunidade.
 É possível receber assessoramento epidemiológico dos níveis
superiores incluindo recursos para a investigação epidemiológica de
campo.

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Sua simplicidade técnica não implica que a mesma seja simplória; pelo
contrário. O cumprimento sistemático de suas diferentes etapas requer a aplicação
racional dos princípios de epidemiologia para o controle de doenças.
A investigação de surtos representa uma das atividades básicas do trabalho
epidemiológico de campo em qualquer sistema local de saúde e trata-se de um
excelente modelo para estimular e exercitar o desempenho das equipes locais de
saúde.

QUANDO INVESTIGAR UM SURTO, QUAIS PROCEDIMENTOS


USAR

Na ocorrência de um surto ante a situação epidêmica limitada a um espaço


localizado, torna se o um aumento não esperado na incidência de uma doença. Como
situação limitada, um surto implica a ocorrência num espaço especificamente

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localizado e geograficamente restrito, como por exemplo, uma comunidade, um
povoado, um barco, uma instituição fechada (escola, hospital, quartel, mosteiro).

Um surto baseia-se em evidência sistematicamente coletada, em geral, a


partir dos dados de vigilância em saúde pública e eventualmente seguida de uma
investigação epidemiológica que sugere uma relação causal comum entre os casos.

Em teoria, um surto seria a expressão inicial de uma epidemia e, portanto, a


identificação oportuna de um surto seria a maneira mais precoce de prevenir uma
epidemia subsequente.

Colocando em prática, a identificação de surtos é uma atividade básica dos


sistemas de vigilância e a investigação de surtos, um requisito importante para a
implementação de medidas de prevenção e controle oportunas e efetivas no nível
local. Um surto é uma situação epidêmica limitada a um espaço localizado.

Concluindo a situação epidêmica, porem, um surto é o aparecimento súbito e


representa um aumento não esperado na incidência de uma doença.

Na prática, a identificação de surtos é uma atividade básica dos sistemas de


vigilância e a investigação de surtos,
um requisito importante para a
implementação de medidas de
prevenção e controle oportunas e
efetivas no nível local.

Geralmente a capacidade de
identificar potenciais situações que
requerem investigação de surtos,
depende do nível de
desenvolvimento do sistema local de vigilância em saúde pública, ou seja, da
capacidade local de alerta epidemiológico.

É importante identificar as circunstâncias gerais nas quais se recomenda


realizar uma investigação epidemiológica de campo, especialmente, porque essa
decisão acarreta o investimento de recursos e a dedicação da equipe local de saúde.

Citando uma lista quando as condições recomendam realizar a investigação:

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 Quando a doença é prioritária.
 Quando a doença excede sua ocorrência usual.
 Quando a doença parece ter uma fonte comum.
 Quando a doença parece ter uma severidade maior do que a usual.
 Quando a doença é nova, emergente ou “desconhecida” na área.
 Quando a doença é de interesse público.
 Quando a doença está relacionada a emergências em situações de desastre.

Um dos elementos fundamentais da vigilância da saúde é a intersetorialidade,


pois busca uma unidade do fazer, e está associada à vinculação, reciprocidade e
complementaridade na ação humana, pois a ação completa não ocorre num setor
singular, mas exige a solidariedade de distintos setores

A confirmação da ocorrência de um surto se faz com fundamento na


comparação dos dados atuais de incidência de uma doença em questão com aqueles
registrados nas semanas ou meses anteriores, ou mesmo, se disponível, com a
incidência relativa ao período correspondente, nos anos anteriores, na população
exposta ao risco.

A investigação implica
no exame do doente e de
seus contatos, com
detalhamento da história
clínica e de dados
epidemiológicos, coleta de
amostras para laboratório,
busca de casos adicionais,
identificação do(s) agente(s)
infeccioso(s), determinação
de seu modo de
transmissão, busca de locais contaminados e o reconhecimento de fatores que
tenham contribuído para a ocorrência do(s) casos(s).

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O desenvolvimento de uma investigação de surto de determinada doença
infecciosa implica no cumprimento das seguintes etapas (Goodman et al 1990; Kelsey
et al 1996):

1) Confirmar a existência de uma epidemia.

2) Verificar o diagnóstico.

3) Definir, identificar e contar os casos.

4) Analisar os dados disponíveis.

5) Desenvolver hipóteses.

6) Testar hipóteses.

7) Avaliar medidas de prevenção e/ou controle.

8) Comunicar os resultados a todos os interessados.

Até que seja possível cumprir integralmente as etapas acima, a investigação


epidemiológica de campo implica na repetição da seguinte sequência de
procedimentos:

1) Consolidação e organização das informações disponíveis de forma que


possam ser analisadas.

2) Análises preliminares a respeito dessas informações.

3) Apresentação das análises preliminares e formulação de hipóteses.

4) Identificação das informações específicas necessárias à comprovação da


hipótese.

5) Obtenção das informações necessárias ao teste da(s) hipótese(s),


retornando ao procedimento no, sempre que necessário.

O exame cuidadoso do caso e de seus comunicantes é fundamental, pois,


dependendo da moléstia, podemos encontrar pessoas com quadro inicial da doença
e instituir rapidamente o tratamento com maior probabilidade de sucesso, ou proceder
ao isolamento do paciente, evitando a progressão da doença entre os contatos.
Concluídos todos os procedimentos de análise dos dados levantados durante a
investigação, o próximo passo é a formulação de hipóteses. Estas devem estar

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voltadas a identificação da fonte de infecção, modos de transmissão e tipos de
exposição associadas ao risco de adoecer.

PLANEJAMENTOS E AÇÕES USADOS NA SAÚDE


PARA EPIDEMIOLOGIA

No decorrer da trajetória da evolução histórica do planejamento de saúde,


desde o método Cendes-OPS (OPS, 1965), até o mais recente debate no âmbito do
chamado "pensamento estratégico", a epidemiologia comparece como uma
disciplina subsidiária, basicamente instrumental.

Isto é, era utilizada na elaboração dos diagnósticos de saúde ao lado de outras


disciplinas como a economia, a administração e as ciências políticas, bem como na
formulação dos objetivos e metas, expressos em forma de redução de taxas e
coeficientes de morbimortalidade, na programação de ações e nas propostas de
acompanhamento e avaliação.

No Brasil, a utilização da epidemiologia no processo de formulação de políticas


e estratégias no plano de "macro-sistemas" vem, recentemente, se expressando no
debate sobre a utilização de critérios epidemiológicos para repartição de recursos
federais no âmbito do SUS (Ugá,1994).

No plano operacional, o desenvolvimento de experiências de reorganização


de serviços e implantação de distritos sanitários vem contribuindo para uma reflexão
crítica acerca dos "Modelos Assistenciais" do SUS (Gonçalves, 1986, Schraiber,
1990, Mendes,1993, Paim,1994) colocando-se a possibilidade de construção de uma

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nova prática sanitária entendida como uma forma de organização e operacionalização
do sistema que enfatize as ações intersetoriais de promoção da saúde e as ações e
serviços de prevenção de riscos e agravos junto a grupos populacionais priorizados.

Nesse perspectiva, vários avanços metodológicos e instrumentais vêm sendo


propostos e aperfeiçoados, notadamente no que se refere aos Sistemas de
Informação em Saúde (Tasca, 1993; Morais, 1994) aos processos de análise da
situação (Castellanos,1991, 1991b, 1994) ao planejamento de ações da chamada
vigilância da saúde (Teixeira, 1994; Sá & Artmann, 1994).

Portanto a reorientação da gestão, do financiamento, da organização e, em


última análise, do "modelo assistencial" do sistema são processos que não podem
prescindir da epidemiologia, enquanto saber científico e prática instrumental que
confere especificidade aos objetos de conhecimento e de intervenção no âmbito da
saúde em sua dimensão populacional, ou seja, coletiva.

Se este pressuposto é válido para países que já atravessaram a chamada


"transição epidemiológica" e enfrentam uma situação de saúde em que prevalecem
problemas derivados das modernas condições de vida típicas das sociedades urbano-
industriais.

É ainda mais pertinente em países como o Brasil, em que a situação de saúde


reflete as extremas desigualdades sociais diante das condições de vida, definindo
padrões heterogêneos no adoecer e morrer.

É colocada no âmbito deste trabalho como uma hipótese geral, a ser testada
pelo confronto com o debate científico e com a prática social e histórica que vem
sendo desenvolvida, principalmente no período mais recente, no qual, enquanto a
implementação do SUS caminha para um cenário em que predominam as propostas
basicamente racionalizadoras.

Em consonância com os processos de "reforma da reforma" (Almeida, 1995)


que se desenvolveram nos países centrais nos anos 80, a epidemiologia apresenta,
enquanto campo de saber e práticas, um grande dinamismo, expresso no crescimento
da produção científica na área (Teixeira, 1996).

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De acordo a perspectiva, a redefinição das funções e competências das três
esferas de governo do SUS ganha transcendência, constituindo-se um espaço de
reflexão e experimentação política-organizacional em torno da nova "missão" do
Ministério da Saúde, das SES e das SMS, por referência ao processo de
descentralização e reorientação dos modelos assistenciais.

A nova missão das instâncias de governo do SUS deveria como assinala


Mendes (1996), contemplar o desenvolvimento da capacidade de análise da situação
de saúde e da intervenção sobre problemas e grupos populacionais prioritários, em
uma perspectiva territorializada.

Ou seja, com ênfase


na montagem de sistemas
de vigilância da saúde cujas
ações fossem
operacionalizadas a partir
do "mapeamento
inteligente" de danos e
riscos que afetam a
população ao nível local, em
regiões, municípios e
distritos sanitários
delimitados.

Pode-se considerar,
todavia, a possibilidade de articulação das distintas contribuições a um processo de
recomposição política e operacional da prática de P&G no âmbito do SUS, que
contemple, tanto os aspectos políticos quanto técnicos, voltados à construção de
novas bases na definição do sujeito, do objeto, dos métodos, técnicas e instrumentos
de planejamento, programação, organização e gestão, em todos os níveis do sistema
de saúde.

A epidemiologia, nessa perspectiva, é um campo de saber e práticas


necessário ao processo de formulação de políticas, definição de prioridades,
organização de serviços e avaliação de ações, tanto ao nível de "macro-sistemas"

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quanto e principalmente, ao nível "micro", nos sistemas locais, especialmente no que
diz respeito à redefinição dos "modelos assistenciais" do SUS e reorganização dos
processos de trabalho em saúde.

Considerando o nível "macro", o grande desafio, sem dúvida, é a formulação e


implementação de políticas de financiamento e gestão do SUS que tenham como
propósito a promoção da equidade, isto é, a redução das desigualdades sociais
expressas em termos de indicadores epidemiológicos e sócio-sanitários.

Do ponto de vista político-institucional este seria um movimento "contra


hegemônico", na medida em que iria de encontro às tendências predominantes na
atual política de saúde, que privilegia a reprodução de um sistema em que a
distribuição territorial da infraestrutura de recursos reforça as desigualdades no
acesso aos serviços e na quantidade e qualidade da atenção recebida pela
população.

Conforme perspectiva, algumas propostas já vêm sendo elaboradas e


discutidas, embora sem alcançarem grande repercussão a ponto de influenciar as
decisões políticas dos gestores do sistema.

Com relação à utilização de critérios epidemiológicos para repartição de


recursos no SUS, por exemplo, chegou a ser realizada uma Oficina de Trabalho
durante o Congresso da Abrasco, em julho de 1994, e outra semelhante durante o

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terceiro Congresso de Epidemiologia, sem que, entretanto, tivesse sido formulada
uma proposta consensual entre os participantes.

Recentemente, com a implementação da Norma Operacional Básica 001/96,


foi estabelecido o PAB - Piso Assistencial Básico, calculado a partir de um valor
mínimo definido por habitante e transferido aos municípios que ingressam no
processo de municipalização, que, entretanto, privilegia o aspecto demográfico.

Lembrando que, a formação de epidemiologistas privilegia tendencialmente, a


qualificação de "epidemiologistas do singular", especializados no campo da
investigação causal ou na vigilância epidemiológica e controle de problemas
singulares.

Uma nova formação e capacitação, que implicasse em um outro perfil dos


epidemiologistas, ao tempo em que enfatizaria o conteúdo da prática epidemiológica
na formação de todo e qualquer profissional de saúde, implica em mudanças no
processo formal de ensino universitário, técnico e, principalmente, no curto prazo, nos
programas de educação continuada ou permanente dos profissionais e trabalhadores
de saúde.

Em relação à redefinição das funções e competências de cada esfera de


governo do SUS, algumas Secretarias de Estado, a exemplo da do Paraná, Minas
Gerais, Ceará e outras, vem avançando na reorientação de sua estrutura político-
organizacional e da sua missão estratégica.

Enquanto isso, o próprio MS não se reatualizou, pelo contrário, fortaleceu um


processo de centralização das decisões de caráter financeiro na atual Secretaria de
Assistência à Saúde, responsável pelos pagamentos dos serviços prestados através
do sistema SIA-SUS e AIH.

Sendo assim, consolidou a utilização de uma lógica de mercado ao interior do


próprio sistema público, que passou a se reger pelas mesmas regras da relação do
SUS com o setor privado contratado e conveniado, reproduzindo o modelo médico
assistencial de alto custo e baixa eficácia, no qual aproximadamente 70% dos
recursos são gastos com atenção hospitalar (Buss, 1995).

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Relatando a relação à redefinição das funções e competências de cada esfera
de governo do SUS, algumas Secretarias de Estado, a exemplo da do Paraná, Minas
Gerais, Ceará e outras, vem avançando na reorientação de sua estrutura político-
organizacional e da sua missão estratégica.

Ou seja, consolidou a utilização de uma lógica de mercado ao interior do


próprio sistema público, que passou a se reger pelas mesmas regras da relação do
SUS com o setor privado contratado e conveniado, reproduzindo o modelo médico
assistencial de alto custo e baixa eficácia, no qual aproximadamente 70% dos
recursos são gastos com atenção hospitalar (Buss, 1995).

À medida que ocorra a expansão e consolidação de um processo com estas


características pode vir a acontecer a redefinição das práticas de vigilância
epidemiológica e sanitária, numa perspectiva renovada.

Isto pressupõe a ampliação e capacitação das equipes profissionais e a


reorganização do processo de trabalho em si, com o desenvolvimento de métodos e
técnicas adequados à especificidade dos problemas e dos grupos populacionais
sobre os quais se exercerá o trabalho de vigilância.

Necessária também seria a institucionalização da prática de avaliação de


tecnologias, programas e serviços, tanto visando a melhoria da qualidade da atenção
médica assistencial ambulatorial e hospitalar, quanto e principalmente como
subsídios ao aperfeiçoamento permanente das ações de vigilância da saúde sobre
problemas e grupos populacionais prioritários.

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MEDIDAS DE PREVENÇÃO

À luz dos princípios da epidemiologia revisados nos módulos anteriores, é


importante distinguir os enfoques estratégicos básicos para a prevenção e o controle
de doenças: o enfoque de nível individual e o enfoque de nível populacional.

Essa distinção fundamental em saúde pública, originalmente proposta por


Rose (1981), ganha importância sob o modelo de determinantes da saúde, no qual,
como vimos, a doença na população é um produto de uma complexa interação de
fatores proximais e distais ao indivíduo, em interdependência com seu contexto
biológico, físico, social, econômico, ambiental e histórico.

Como o próprio nome indica, o enfoque individual enfatiza a prevenção e o


controle das causas da doença nas pessoas, em particular, naquelas com alto risco
de adoecer, enquanto o enfoque populacional enfatiza as causas das doenças na
população.

Isso implica em reconhecer que um fator que seja causa importante de doença
nas pessoas, não é necessariamente o mesmo fator que determina primariamente a
taxa de doença na população.

Rose fez a distinção entre as “”causas dos casos e as “causas da


incidência” de uma doença na população.

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No enfoque individual, a intervenção de controle está voltada a esse grupo de
alto risco e seu sucesso total envolve o truncamento da distribuição de risco em seu
extremo, conforme ilustrado esquematicamente .

A frequência de exposição e o risco de adoecer do resto da população, que é


a grande maioria, não se modificam. Por outro lado, no enfoque populacional, a
intervenção de controle está voltada a toda a população e seu sucesso total envolve
o deslocamento para a esquerda da distribuição em conjunto, frequência de
exposição e o risco de adoecer do resto da população diminuem coletivamente.

Esse momento é, também, quando se dá o empoderamento da população


sobre os determinantes e condicionantes socioambientais de sua saúde, com o
controle de alguns fatores por parte dela, modificando, por sua vez, os indicadores de
saúde.

Essa nova tecnologia permite o desenvolvimento das ações de vigilância


integradas no território, entendendo que os problemas de saúde se apresentam de
forma integral e que os fatores condicionantes deles não estão dissociados, e que a
atuação em vigilância em saúde deve pautar-se num conhecimento abrangente com
perspectiva do desencadeamento de ações interdisciplinares e intersetoriais,
inclusive em um foco de promoção à saúde.

TECNOLOGIA DE EDUCAÇÃO EM SERVIÇO NA


VIGILÂNCIA EM SAÚDE

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O desafio de operacionalizar o projeto PET-Saúde/VS propiciou o surgimento
de uma nova ‘tecnologia’ pedagógica representada, que se denominou de tecnologia
de educação em serviço na vigilância em saúde, apoiando-se no conceito de
tecnologia leve de Merhy (2002).

Trata-se de cinco momentos pedagógicos que obedecem a um fluxo e que se


retroalimentam, além de se intercomunicarem com as ações de vigilância em saúde
e com as ações da atenção básica, tendo a pesquisa científica presente de modo
transversal durante todo o processo.

Os estudantes iniciam a atividade fazendo a análise situacional por meio do


estudo dos bancos de dados dos sistemas de informação, de relatórios da vigilância
epidemiológica do município e de investigação direta de campo, com o objetivo de
conhecer e analisar o comportamento epidemiológico das condições de saúde do
município, buscando sempre fazer comparações nos âmbitos regional e nacional.

O segundo momento pedagógico consta da busca de referencial teórico –


manuais documentos ou normas técnicas – que permita um embasamento teórico

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para a operacionalização da vigilância do território de abrangência das unidades de
saúde selecionadas, uma vez que a análise situacional não contempla só doenças,
agravos e mortes, mas também as necessidades de saúde da população
(Castellanos, 1997).

Em seguida, os estudantes vivenciam a realidade das ações de vigilância em


saúde no município, desde investigações e inquéritos epidemiológicos até o
processamento de dados.

Porém, é fundamental que esse momento não seja estritamente técnico, mas
que seja acompanhado de uma análise crítica das ações de vigilância do município,
com base no referencial teórico já estudado.

O quarto momento pedagógico é a elaboração de um projeto de intervenção


local mediante as análises realizadas nos momentos anteriores – voltado para
diferentes atores do processo de vigilância compreendidos desde a atenção básica
até o setor de vigilância em saúde – ou um projeto de intervenção voltado para a
população de forma a empoderá-la das informações de saúde e dos principais
agravos e riscos a sua saúde.

O quinto e último momento consta da operacionalização do projeto de


intervenção que visa à transformação da realidade local.

Uma vez que se reorienta o processo de trabalho dos atores envolvidos,


ocorre melhora na qualidade das ações de vigilância em saúde; com isso, obtêm-
se indicadores de saúde mais confiáveis que realmente expressem a realidade das
condições de saúde da população, capazes de subsidiar o planejamento em saúde e
o desenvolvimento de políticas públicas de saúde.

O processo de trabalho desempenhado no PET-Saúde/VS de Sobral visa à


integração entre as universidades e o serviço com uma carga horária de oito horas
semanais, compreendendo três eixos estruturantes que se intercomunicam,
constando: vivências teórico-conceituais, vivências no serviço e vivências de
pesquisa.

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As vivências teórico-conceituais dizem respeito à formação e à qualificação
teórica entre estudantes de graduação, preceptores e tutores no que tange aos
conceitos, práticas e ações da vigilância em saúde.

Considera-se também o conteúdo didático dos módulos/disciplinas dos cursos


de medicina, enfermagem e odontologia, o qual se articula com as vigilâncias
(Epidemiológica, Sanitária, Ambiental, Nutricional, dos Fatores Biológicos de Risco,
Saúde do Trabalhador), análise de situação em saúde e promoção da saúde.

As atividades teórico-conceituais ocorrem de forma processual orientada com


base nas demandas do serviço e nas necessidades dos integrantes do PET-
Saúde/VS, já que estes trazem consigo um conhecimento prévio sobre vigilância em
saúde que será ressignificado com as vivências proporcionadas pelo projeto.

As vivências no serviço compreendem todas as ações de vigilância em saúde


realizadas pelos acadêmicos em conjunto com os preceptores nos serviços de saúde
e no seu território de abrangência.

Essas práticas foram distribuídas de acordo com a estruturação física e com


cenários das práticas da vigilância em saúde do Sistema Municipal de Saúde de
Sobral, abrangendo prioritariamente a vigilância epidemiológica e a vigilância dos
fatores biológicos de risco.

Os trabalhos produzidos também foram publicados em periódicos com


classificação no Qualis Capes. As vivências proporcionaram uma reflexão sobre as
práticas em serviço dos integrantes do PET-Saúde/VS, possibilitando uma avaliação
de tecnologias desenvolvidas, além da divulgação no meio científico das ações de
vigilância em saúde realizadas.

Nesse processo de ensino-aprendizagem, tutores, preceptores e estudantes


desempenharam papéis importantes para o êxito do Programa PET/VS em Sobral.
As vivências do PET/VS têm sido desenvolvidas considerando uma tecnologia leve
de educação descrita a seguir.

Para Mendes (1996), quando a vigilância à saúde é focada no território, ela


representa a possibilidade de se organizar o trabalho da equipe de saúde da família
para enfrentar os problemas em diferentes períodos do processo saúde-doença.

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Círculo tecnológico de educação em serviço na Vigilância em Saúde

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No processo de implantação do programa, percebe o interesse e a facilidade
dos estudantes na apropriação sobre o funcionamento dos sistemas de informações
em saúde e sua utilização como fonte de recursos para a obtenção de informações
em saúde para a tomada de decisão.

Eles identificaram as fontes e os instrumentos de coletas para os bancos de


dados dos sistemas de informações, bem como fluxogramas e protocolos utilizados
na vigilância em saúde.

É notória a compreensão dos estudantes sobre os conceitos utilizados na


prática diária da epidemiologia e o reconhecimento da importância do monitoramento
e da avaliação de indicadores pelos serviços de vigilância em saúde de forma
integrada com a atenção básica.

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A perspectiva do PET-Saúde/VS é a de promover a ampliação do
entendimento das ações de vigilância em saúde nos serviços da atenção básica do
SUS.

Isso poderá implicar mudanças na forma de pensar e agir dos trabalhadores


da saúde, uma vez que a organização das práticas ocorre na ‘ponta’ do sistema de
saúde, isto é, no espaço onde eles interagem com a população e procuram atender
às suas necessidades de saúde de forma integral.

Evidenciou também que o processo de trabalho da vigilância, quando


destacadas as peculiaridades em territórios específicos, conduz um planejamento
racional e efetivo num território determinado, especialmente em microáreas da
Estratégia Saúde da Família.

Com o desenvolvimento desse projeto, espera-se estimular o raciocínio e a


sensibilidade dos alunos que participam do PET-Saúde/VS, de modo a utilizarem o
conjunto de ferramentas e ações disponibilizadas pela vigilância em saúde em suas
rotinas, principalmente de atenção à saúde coletiva (Pinto, 2008).

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REFERÊNCIAS:
Buss P, Labra E 1995. Sistemas de Saúde: Continuidades e Mudanças.
Hucitec/Fiocruz, São Paulo, Rio de Janeiro.

CASTELLANOS, Pedro L. Epidemiologia, saúde pública, situação de saúde e


condições de vida: considerações conceituais. In: BARATA, Rita B. (Org.). Condições
de vida e situações de saúde. Rio de Janeiro: Abrasco, 1997. p. 31-75.

- Centers for Disease Control and Prevention. Principles of epidemiology. An


introduction to applied epidemiology and biostatistics (self-study programme). 2 nd
edition,1992

Goodman RA, Buehler JW, Koplan JP. The epidemiologic field investigation: science
and judgement in public health practice. American Journal of Epidemiology
1990;132(1):9-16.

MENDES, Eugênio V. Uma agenda para a saúde. São Paulo: Hucitec, 1996.

MERHY, Emerson E. Saúde: a cartografia do trabalho vivo. São Paulo: Hucitec, 2002.

PINTO, Vicente P. T. et al. Análise do Processo de educação permanente para


profissionais do SUS: a experiência de Sobral-CE. Sanare: Revista de Políticas
Públicas, Sobral, v. 7, n. 2, p. 62-70, 2008.

Rose G. Individuos enfermos y poblaciones enfermas. En: El Desafío de la


Epidemiología. Problemas y lecturas seleccionadas. Organización Panamericana de
la Salud; Washington DC, 1988

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