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UTILIZAÇÃO DE

LIMPADORES
AURICULARES
na rotina clínica
ÍNDICE
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1 ANATOMIA DO OUVIDO............................................. 03

2 FISIOPATOLOGIA DAS OTITES.................................. 08

3 PROCESSO DE AUTOLIMPEZA DOS OUVIDOS...... 09

4 PRODUÇÃO DE CERA................................................... 11

5 MIGRAÇÃO EPITELIAL................................................. 12

6 ESCOLHA DOS LIMPADORES OTOLÓGICOS........... 13

7 DIAGNÓSTICO DAS OTITES........................................ 15

8 PREVENÇÃO DE OTITES............................................. 17

9 DICAS DO EXPERT....................................................... 18

Você pode voltar ao índice clicando em “VOLTAR AO


ÍNDICE” no rodapé de cada página, ao lado direito.
R E V I S Ã O D E L I T E R AT U R A

ANATOMIA
DO OUVIDO

A estrutura anatômica da orelha dos cães O conjunto formado pela orelha externa e
compreende três partes distintas, sendo elas a média desempenha um papel crucial como
orelha externa, a orelha média e a orelha interna. um aparelho coletor e condutor do som.
Na orelha externa, destacam-se duas porções Por sua vez, a orelha interna é um órgão
principais, a saber, o pavilhão auricular e, em multifuncional, associado às funções auditivas
sequência, o meato acústico externo, ou canal e de equilíbrio. De maneira coordenada, essas
auditivo externo. A orelha média encontra-se no partes possibilitam ao animal a capacidade
osso temporal e engloba a cavidade timpânica, os de localizar sons, determinar a direção dos
ossículos auditivos e a tuba auditiva. Já a orelha mesmos, orientar a cabeça em relação à
interna compreende estruturas como a cóclea, gravidade e avaliar a aceleração e rotação da
o vestíbulo e os canais semicirculares (LOPEZ; cabeça (GOMES, 2015).
FERNANDES, 2015).
A influência da seleção genética em cães
se reflete em modificações notáveis no
tamanho e na forma dos componentes da
orelha externa. Dependendo da raça, o
pavilhão auricular pode apresentar-se ereto
ou pendular. Não obstante as variações
anatômicas, incluindo forma e posição do
pavilhão auricular, diâmetro, quantidade
de pelos e tecido mole do meato acústico
externo, destaca-se a constância na relação
entre as diferentes partes da orelha externa,
média e interna (FONSECA, 2018).

A parte mais evidente da orelha, conhecida


como pavilhão auricular, exibe uma estrutura
flexível que varia em forma e posição entre
as diferentes raças de cães, podendo
apresentar-se ereta ou pendular. Sua função
primordial é localizar e receber as ondas
sonoras, direcionando-as para o canal auditivo
(FONSECA-ALVES et al., 2015).

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ANATO MI A DO OUV IDO • 4
O pavilhão auricular destaca-se na face
lateral da cabeça, assemelhando-se a um
funil, com uma abertura distal para captar
o som e uma ondulação proximal que
forma um tubo curvado medialmente,
conectando-se ao meato acústico ex-
terno. Em animais, as aurículas direita e
esquerda têm a capacidade de mover-
se independentemente, permitindo
que cada uma foque em sons isolados
(FERRARI, 2015).
A cartilagem auricular de sustentação
determina o formato da aurícula, sendo
suficientemente rígida na maioria dos
mamíferos para mantê-la sempre ereta,
mas flexível em algumas raças de cães
e outros animais, possibilitando que a
aurícula se dobre quando necessário.
A maioria dos cães pode empinar as
orelhas e movê-las para melhorar a
atenção ao som (CARVALHO, 2017).
A pele que reveste a orelha externa está
firmemente aderida à cartilagem auricular
por meio da tela subcutânea, em que se
encontram as veias e artérias auriculares,
percorrendo a superfície auricular
externa. Um sistema complexo de
músculos auriculares, todos voluntários,
desempenha um papel crucial nos
movimentos da orelha (AZEVEDO, 2017).
Esses músculos têm origens diversas no
crânio e em fáscias adjacentes, inserindo-
se na base da aurícula. A cartilagem
escutiforme, palpável e rostral à orelha,
atua como ponto de apoio, redirecionando
a tração de alguns músculos e melhorando
a mobilidade da cartilagem auricular. A
inervação da superfície côncava da orelha
é predominantemente feita pelos ramos
do nervo facial, enquanto a face convexa
recebe inervação do segundo nervo
cervical (ALVES, 2016).
O meato acústico externo do cão apre-
senta características específicas, sendo
um tubo longo (com aproximadamente
5 a 10 cm) e estreito (com cerca de 4 a
5 mm). Composto por uma porção ver-
tical e outra horizontal em formato de
“L”, esse tubo cartilaginoso cônico tem a
função crucial de transmitir os sons cap-
tados pela orelha para o tímpano, além
de atuar como câmara de ressonância,
ampliando algumas frequências sonoras
(CUSTÓDIO, 2019).

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A N ATO MI A DO OUV IDO • 5

Este meato acústico externo possui uma vital na proteção do canal e na manutenção
porção cartilaginosa mais extensa, ocupando da umidade e maleabilidade da membrana
cerca de dois terços de sua extensão, e uma timpânica (CARVALHO, 2017).
porção medial óssea, curta e tubular, ocupando
o terço restante, situando-se lateralmente ao No que diz respeito à composição do cerúmen,
osso temporal dos cães (SATO, 2015). a quantidade de conteúdo lipídico nos cães
pode variar, assim como o tipo de lipídio
A porção óssea é recoberta por uma pele fina presente. Entre os mais comuns estão os ácidos
e delicada, desprovida de tecido subcutâneo, graxos esteárico, margárico, oleico e linoleico.
em que a derme mantém contato íntimo com o Destes, os ácidos oleico e linoleico possuem
periósteo, uma membrana ricamente inervada propriedades antibacterianas, embora seus
que reveste o osso. Essa particularidade efeitos em algumas bactérias e na Malassezia
torna a região extremamente sensível, sendo pachydermatis sejam menos evidentes
suscetível a dor intensa com o mínimo de (LUCAS; CALABRIA; PALUMBO, 2016).
inflamação ou toque (MOMMA et al., 2014).
A inervação do meato acústico externo
A pele que reveste o meato acústico externo é é notavelmente específica, com a porção
caracterizada por epitélio escamoso, presença vertical e parte da horizontal sendo
de folículos pilosos e a presença de glândulas inervadas principalmente pelo ramo lateral
sebáceas e ceruminosas. A combinação auricular do nervo facial. A maior parte da
das secreções dessas glândulas resulta na porção horizontal, por sua vez, é inervada
formação do cerúmen, que reveste o meato pelo ramo auriculopalpebral do nervo
acústico externo, desempenhando um papel trigêmeo (ELIA, 2016).

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A orelha felina é composta por diversas A cartilagem auricular, situada entre essas
estruturas, incluindo o pavilhão auricular, superfícies e formando os meatos acústicos
o meato acústico externo, a orelha média e vertical e horizontal, é substituída pela
a orelha interna. Compreender a estrutura e cartilagem anular à medida que se aproxima
fisiologia da orelha em seu estado saudável da membrana timpânica. Esta última marca o
é crucial para identificar anormalidades que início do meato acústico ósseo externo, uma
possam envolver ou originar-se em uma ou extensão do osso temporal. A orelha média,
mais dessas estruturas (SILVA, 2014). composta por diversas estruturas, inclui a
membrana timpânica, a cavidade timpânica,
O pavilhão auricular, desempenhando um o nervo timpânico, a abertura para a tuba
papel crucial na captação de ondas sonoras auditiva e os ossículos auditivos: martelo,
e na comunicação não sonora, especialmente bigorna e estribo (SAMPAIO, 2014).
entre gatos e outros animais, apresenta, em
sua maioria, pavilhões auriculares eretos, A membrana timpânica, fundamental na
triangularmente configuradas, com uma audição, é uma membrana semitransparente
superfície côncava e uma convexa, ambas com três camadas. Sua posição angular a divide
revestidas por pele e levemente cobertas por entre as orelhas externa e média. Dividida
pelos (SCHERER, 2014). em pars flácida e pars tensa, a membrana
timpânica possui camadas específicas que
desempenham papéis distintos, sendo anexada
ao manúbrio do martelo (PEIXOTO, 2016).

A orelha média, predominantemente cheia de


ar, é delimitada por diversas estruturas ósseas e
membranosas. A cavidade timpânica, localizada
entre a membrana do tímpano e a orelha interna,
é subdividida em partes dorsal, média e ventral.
Os ossículos auditivos, como o manúbrio
do martelo, são cruciais na transmissão das
vibrações da membrana timpânica para a orelha
interna (MOMMA et al., 2014).

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A N ATO MI A DO OUV IDO • 7

A tuba auditiva, canal que se estende da naso- As estruturas da orelha interna formam um
faringe à cavidade timpânica, equaliza a pres- sistema complexo no labirinto membranoso e
são durante bocejos ou deglutições, liberando ósseo, compreendendo a cóclea, o vestíbulo e
a secreção produzida na cavidade timpânica. os canais semicirculares. A cóclea é essencial
Os nervos que acompanham a orelha média na recepção dos estímulos auditivos,
incluem os nervos simpáticos envolvendo um eixo central oco, o modíolo.
pós-ganglionares, o ner- O vestíbulo, situado entre a cóclea e os canais
vo facial e seus ramos, semicirculares, desempenha papel importante
além de um ramo do na manutenção do equilíbrio (FONSECA-
nervo glossofaríngeo ALVES et al., 2015).
(FONSECA, 2018).
O sistema vestibular, responsável pelo
equilíbrio, pode ser dividido em periférico e
central. A metade caudal da porção petrosa
do osso temporal abriga o sáculo, o utrículo
e os canais semicirculares, orientados vertical
e horizontalmente, respondendo à percepção
da aceleração linear e à posição estática
da cabeça. O nervo vestibulococlear, VIII
nervo craniano, consiste em porções coclear
e vestibular, responsáveis pela audição e
equilíbrio (SATO, 2015).

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• 8

FISIOPATOLOGIA
DAS OTITES
A fisiopatologia das otites em cães e gatos
é um processo intrincado que abrange
diversas causas e processos inflamatórios.
A investigação desses elementos é
fundamental para compreender e abordar
adequadamente essa condição auricular
comum em animais de estimação (LUCAS;
CALABRIA; PALUMBO, 2016).

As otites em cães e gatos podem ser


desencadeadas por uma variedade de fatores,
incluindo agentes infecciosos como bactérias
e leveduras, bem como causas não infecciosas
relacionadas a alergias alimentares, alérgenos
ambientais ou sensibilidades a substâncias
presentes no ambiente. Além disso, fatores
predisponentes, como conformação
anatômica da orelha, presença de pelos
no canal auditivo, alergias subjacentes e
condições dermatológicas, podem aumentar
a suscetibilidade desses animais a desenvolver
otites (ELIA, 2016).

Logo abaixo, no bloco “Dica do Expert”, o


médico veterinário Felipe Rosa Cunha, traz
uma classificação propostra por Griff (2010),
onde o autor classifica a etiologia das otites
como: 1) Fatores primários - causas, 2) fatores
secundários - infecções, 3) predisponentes e 4)
perpetuantes. Confira na seção “Dica Prática”.

Os processos inflamatórios desempenham


um papel central na fisiopatologia das otites.
A resposta imunológica do organismo é
acionada pela presença de patógenos ou 2014). Confira no bloco “Dica do Expert” na
irritantes, desencadeando uma série de seção CRONICIDADE a dica prática do Dr.
eventos que incluem a liberação de mediadores Felipe Rosa Cunha.
inflamatórios, aumento do fluxo sanguíneo e
migração de células do sistema imune para a A compreensão detalhada desses processos
área afetada (SILVA; SANTOS, 2017). é crucial para o diagnóstico preciso
e a implementação de estratégias de
Essa resposta imunológica, quando repetitiva, tratamento eficazes. A abordagem integrada,
pode resultar em danos progressivos aos considerando tanto as causas quanto as
tecidos auriculares, incluindo alterações consequências das otites, é essencial para
na integridade da pele do canal auditivo, garantir o bem-estar auditivo dos animais
proliferação de tecido fibroso e, em casos de estimação e prevenir recorrências dessa
graves, deformidades anatômicas (SILVA, condição clínica (SCHERER, 2014).

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• 9

PROCESSO DE
AUTOLIMPEZA
DOS OUVIDOS

O processo de autolimpeza dos ouvidos no ouvido, prevenir o ressecamento da pele do


é uma função fisiológica intrínseca que canal auditivo e criar uma barreira protetora
desempenha um papel crucial na manutenção contra a entrada de corpos estranhos, poeira
da saúde auricular. Este mecanismo, presente e micro-organismos (SCHERER, 2014).
tanto em cães quanto em gatos, é projetado
para remover de forma natural detritos, cerúmen O processo de autolimpeza inicia-se com
e partículas estranhas do canal auditivo, a produção contínua de cerúmen pelas
contribuindo para a prevenção de infecções e glândulas ceruminosas. À medida que esse
preservação da audição (SILVA, 2014). cerúmen é secretado, ele se mistura com
as partículas indesejadas, formando uma
Em condições normais, as glândulas substância pegajosa. O movimento natural
ceruminosas, localizadas no canal auditivo da mandíbula do animal durante atividades
externo, secretam cerúmen, uma emulsão como mastigação e movimentação da
composta por células epiteliais descamadas cabeça contribui para a migração gradual do
e secreções lipídicas. Essa substância viscosa cerúmen em direção à abertura do ouvido
tem a função de manter a umidade adequada (SANTIN et al., 2014).

Ilustração da migração de cerúmen e células superficiais do canal auditivo.


Atlas of Infection in Dogs and Cats. Wilmington, DE: The Gloyd Group, Inc; 2008

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P RO C ESSO DE AUTOLIMPEZA DOS OU V ID OS • 10

A presença de pelos e a anatomia específica No entanto, é importante destacar que


do canal auditivo também desempenham um certos fatores podem interferir no adequado
papel importante no processo de autolimpeza. funcionamento desse mecanismo. Condições
Os pelos presentes no canal auricular ajudam como otites recorrentes, inflamações crônicas
a capturar e direcionar o cerúmen para fora ou alterações anatômicas podem comprometer
do ouvido. Além disso, o formato do canal a migração epitelial e, consequentemente,
auditivo, muitas vezes tortuoso e angular, aumentar a susceptibilidade a problemas de
favorece o movimento ascendente do saúde auricular (LOPEZ; FERNANDES, 2015).
cerúmen, facilitando sua expulsão natural
(SAMPAIO, 2014).

É essencial compreender e respeitar esse


mecanismo de autolimpeza, evitando
Manter a higiene
interferências desnecessárias que possam adequada do ouvido,
comprometer o equilíbrio do ambiente respeitando o processo
auricular. Intervenções inadequadas, como
a introdução de objetos estranhos no canal
de autolimpeza, é
auditivo, podem prejudicar o processo natural crucial para prevenir
de limpeza, aumentando o risco de lesões e complicações.
infecções (PEIXOTO, 2016).

No bloco “Dica do Expert”, o médico


veterinário Felipe Rosa Cunha, deixa uma
dica prática muito importante sobre uso de Evitar a introdução de objetos pontiagudos
algodões no banho. Confira na seção 4 - ou cotonetes no canal auditivo, além de
Limpeza inadequada. realizar a limpeza externa quando necessário,
são medidas que contribuem para preservar
Além do movimento natural da mandíbula a integridade desse mecanismo autolimpante
e da presença de pelos no canal auditivo, a (GOMES, 2015).
migração epitelial desempenha um papel
fundamental no processo de autolimpeza dos
ouvidos. As células epiteliais que revestem o
canal auditivo externo estão constantemente
em renovação, com as células mais antigas se
deslocando em direção à abertura do ouvido.
Esse movimento contínuo impulsiona o
cerúmen e as partículas indesejadas para fora
do canal, contribuindo para a limpeza eficaz
(MOMMA et al., 2014).

A migração epitelial é um fenômeno essencial


para manter a integridade e a saúde do
ouvido. À medida que as células epiteliais
mais antigas migram, elas carregam consigo
resíduos, detritos e cerúmen, promovendo
um ambiente auricular autolimpante. Esse
processo contínuo é uma resposta natural
do organismo para garantir a funcionalidade
e a proteção dos ouvidos (MAGALHÃES;
MORAES; DRESCH, 2017).

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• 11

PRODUÇÃO
(IgG, IgA e IgM). Outra função importante é a
manutenção da umidade e maleabilidade da
membrana timpânica (SAMPAIO, 2014).

DE CERA Estudos detalhados revelaram que a


proporção em peso do conteúdo lipídico nos
canais auditivos externos de cães saudáveis
varia significativamente, com uma média
O cerúmen, uma emulsão que reveste o meato de 49,7%. Essa variação é influenciada pela
acústico externo, é formado por células individualidade na concentração e atividade
epiteliais descamadas e pelas secreções das glândulas ceruminosas, podendo haver
lipídicas provenientes das glândulas sebáceas disparidade entre as orelhas esquerda e
e ceruminosas da orelha. Sua rica composição direita (SATO, 2015).
lipídica desempenha um papel crucial na
manutenção da queratinização da epiderme Em casos de otite externa, observa-se uma
e facilita a captura e excreção de detritos que redução média no conteúdo lipídico do
podem ser produzidos ou entrar no canal cerúmen para 24,4%, em comparação com
auditivo (CUSTÓDIO, 2019). o encontrado em orelhas normais. Essa
diminuição pode ser indicativa da hipertrofia
Além de sua composição, o cerúmen das glândulas ceruminosas, levando a uma
desempenha diversas funções protetoras. maior produção de cerúmen, além do aumento
Ele atua como uma barreira defensiva, da umidade relativa no canal auditivo externo.
protegendo o epitélio de revestimento do Essas alterações podem ser significativas
canal auditivo e a membrana timpânica no contexto da saúde auricular, destacando
contra detritos, parasitas e micro-organismos. a importância do estudo do cerúmen na
Adicionalmente, contribui para a imunidade compreensão das condições otológicas em
local passiva, pois contém imunoglobulinas cães (FONSECA-ALVES et al., 2015).

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• 12

MIGRAÇÃO
EPITELIAL
A migração epitelial é um processo A migração epitelial ocorre em diferentes
fundamental no contexto da fisiologia e da contextos, como durante a cicatrização
manutenção da integridade dos tecidos de feridas, em que as células epiteliais
epiteliais. Este fenômeno refere-se ao migram para cobrir a área lesionada e
movimento coordenado e direcionado das promover a restauração da integridade da
células epiteliais, desempenhando um papel pele ou membrana mucosa. Além disso, no
essencial na renovação, reparo e na resposta revestimento do ouvido, a migração epitelial
a estímulos ambientais nos tecidos revestidos é essencial para a autorregulação do cerúmen
por epitélio (FERRARI, 2015). e na manutenção do equilíbrio e homeostase
do ambiente auricular (AZEVEDO, 2017).
No contexto da migração epitelial, as
células epiteliais deslocam-se de maneira Este processo é coordenado por sinalizações
organizada, mantendo a arquitetura e a químicas e físicas que orientam as células
função do tecido. Esse processo é vital em direção ao local apropriado. A migração
em diversas áreas do organismo, como no epitelial é crucial para a renovação constante do
epitélio cutâneo, gastrointestinal, respiratório epitélio, garantindo a substituição das células
e, especificamente, no revestimento do canal envelhecidas ou danificadas por células recém-
auditivo em animais de estimação, como cães formadas, contribuindo assim para a função
e gatos (CARVALHO, 2017). adequada dos tecidos (ALVES, 2016).

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• 13

ESCOLHA DOS
LIMPADORES
OTOLÓGICOS
Na seleção dos limpadores otológicos para Sendo assim, a formulação do produto deve ser
cães e gatos, diversos fatores devem ser suave o suficiente para não causar irritações ou
cuidadosamente considerados, visando a reações adversas na delicada pele do ouvido
eficácia do tratamento e a segurança do dos animais. Evitar ingredientes agressivos e
animal. A escolha adequada desses produtos optar por fórmulas balanceadas é essencial
é crucial para garantir a limpeza do ouvido, para assegurar a segurança durante o processo
prevenir infecções e manter a saúde auricular de limpeza (ELIA, 2016).
dos pets (CUSTÓDIO, 2019).
Um dos principais aspectos a serem avaliados Outro ponto relevante na escolha dos
na escolha dos limpadores otológicos é limpadores otológicos é a presença de
a composição do produto. Deve-se optar substâncias emolientes, que auxiliam na
por soluções que ofereçam propriedades remoção do cerúmen e detritos acumulados.
ceruminolítica e adstringente, visando Esses agentes facilitam o processo de limpeza,
combater possíveis infecções bacterianas tornando-o mais eficiente e minimizando o
e fúngicas no canal auditivo. Substâncias desconforto para o animal (MAGALHÃES;
como ácido salicílico e ácido láctico estão
MORAES; DRESCH, 2017).
comumente presentes em limpadores
otológicos veterinários (SATO, 2015).

A indicação do veterinário é fundamental para a correta do produto é essencial para garantir


escolha adequada do limpador otológico, levando sua eficácia e minimizar qualquer desconforto
em consideração as características específicas para o animal (SILVA, 2014).
do paciente, como a presença de condições pré-
existentes, a gravidade da otite e a possibilidade
de alergias (SILVA; SANTOS, 2017).
Antes de iniciar o procedimento,
No bloco “Dica do Dermato”, o Dr. Felipe Rosa é fundamental que o tutor esteja
Cunha deixa a dica prática: “Não tenha um ciente da importância de manter o
‘limpador otológico de estimação’. Utilizar animal calmo e confortável durante
sempre o mesmo limpador te levará ao erro, pois a aplicação do limpador otológico.
cada otite tem as suas características. A escolha do Em muitos casos, a colaboração do
produto e frequência deve ser baseada conforme pet pode ser alcançada por meio de
a condição clínica existente (diagnóstico bem recompensas e estímulos positivos,
feito), a anatomia da orelha e a composição do proporcionando uma experiência mais
produto.” Confira na íntegra! agradável (SCHERER, 2014).

Além da escolha cuidadosa do produto, a


técnica de aplicação do limpador otológico
também desempenha um papel crucial no Aponte a
processo de limpeza e manutenção da saúde câmera do seu
auricular em cães e gatos. A administração celular aqui!

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E S CO L HA DOS LIMPADORES OTOLÓ GICOS • 14

A técnica de aplicação deve levar em consideração


a anatomia específica do ouvido do animal.

Geralmente, recomenda-se elevar a orelha animal, sendo determinada pelo veterinário.


para facilitar o acesso ao canal auditivo. Com o Em alguns casos, a limpeza pode ser parte do
auxílio de um aplicador apropriado, o limpador tratamento de otites recorrentes, enquanto
otológico deve ser suavemente introduzido no em outros, pode ser uma prática regular de
ouvido, seguindo as orientações do médico prevenção (MOMMA et al., 2014).
veterinário (SANTIN et al., 2014).
Após a aplicação, é recomendável permitir que Desta forma, a aplicação de limpadores
o animal sacuda a cabeça, ajudando a expelir o otológicos em cães e gatos requer não
excesso de líquido e resíduos do ouvido. Vale apenas a escolha adequada do produto, mas
ressaltar que o excesso de umidade no ouvido também a adoção de uma técnica cuidadosa
deve ser evitado, pois pode criar um ambiente e personalizada. Com o acompanhamento
propício para o desenvolvimento de infecções veterinário e a atenção do tutor, é possível
(PEIXOTO, 2016). manter a saúde auricular dos pets de forma
A frequência da limpeza otológica varia eficiente e confortável (MAGALHÃES;
conforme as necessidades individuais de cada MORAES; DRESCH, 2017).

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• 15

DIAGNÓSTICO
DAS OTITES

Para o diagnóstico, é possível realizar O otoscópio é uma ferramenta essencial para


diferentes procedimentos, como “avaliação o diagnóstico, permitindo a detecção de
direta de cerumen” para pesquisa de ácaros, corpos estranhos, a avaliação da integridade
biópsia de pele para investigar doenças da membrana timpânica, a identificação de
autoimunes, neoplasias ou hiperplasia de otite média e a análise de lesões, exsudato e
glândula ceruminosa, cultura de exsudato, alterações patológicas progressivas. No caso
exame microscópico do exsudato auricular de otite bilateral, recomenda-se examinar
(considerado uma ferramenta diagnóstica primeiro o ouvido menos afetado para reduzir
fundamental após um exame completo do a resistência do animal ao exame do outro
canal auditivo) (LOPEZ; FERNANDES, 2015). ouvido e minimizar o risco de transmitir agentes
infecciosos ao ouvido saudável (FONSECA-
Em casos crônicos, a repetição do exame ALVES et al., 2015).
do exsudato auricular após o tratamento é
Em situações em que os ouvidos estão muito
necessária, pois as infecções dentro do canal
doloridos, ulcerados ou edemaciados, a
podem se alterar com terapia prolongada ou
sedação ou mesmo a anestesia podem ser
recorrente (GOMES, 2015). necessárias. Em alguns casos, mesmo com
anestesia, o exame de um canal extremamente
A biopsia do conduto auditivo é raramente
edemaciado pode não ser possível, sendo
realizada, a menos que haja suspeita de
recomendado tratar o animal para reduzir o
tumoração. A histopatologia da otite revela edema e a inflamação por 4-7 dias antes de
uma dermatite perivascular espongióide e/ realizar o exame otoscópico (FERRARI, 2015).
ou hiperplásica, com hiperplasia epidérmica,
formação de cristas interpapilares e ulceração É fundamental fazer anotações detalhadas sobre
epitelial. A derme apresenta-se fibroplásica o caso, incluindo a quantidade e o tipo de exsuda-
e as glândulas sebáceas são pequenas e to presente, a presença de úlceras ou eritema e o
deslocadas pelos dilatados ductos das exame cuidadoso da membrana timpânica. A ob-
conspícuas glândulas ceruminosas, podendo servação do grau e da localização da estenose do
conter um material coloidal eosinofílico canal também é importante para auxiliar na moni-
(FONSECA, 2018). torização do tratamento (CARVALHO, 2017).

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• 16

O diagnóstico de otite tanto em cães quanto proporcionando informações detalhadas sobre


em gatos requer uma abordagem minuciosa a presença de bactérias, leveduras ou outros
e cuidadosa por parte dos profissionais micro-organismos (SATO, 2015).
veterinários. Inicialmente, a observação
clínica dos sinais apresentados pelo felino, O aspecto do exsudato também desempenha
como coçar excessivo das orelhas, sacudir um papel fundamental no diagnóstico, pois
a cabeça frequentemente e a presença de infecções por leveduras tendem a produzir
secreção auricular, pode levantar suspeitas da um exsudato castanho-amarelado espesso,
condição (AZEVEDO, 2017). enquanto infecções bacterianas geralmente
resultam em um exsudato ralo e negro-
amarronzado. Essas características são
Uma etapa crucial envolve a utilização do
frequentemente confirmadas através do
otoscópio, uma ferramenta especializada,
exame microscópico. Em casos crônicos, a
para examinar o canal auditivo do gato e
repetição do exame do exsudato auricular
do cão. Esse exame permite a detecção
pode ser necessária devido às possíveis
de possíveis corpos estranhos, lesões,
alterações na infecção ao longo do tempo
inflamações e a avaliação da integridade da
(LUCAS; CALABRIA; PALUMBO, 2016).
membrana timpânica. O procedimento deve
ser realizado com delicadeza, especialmente Em situações em que há suspeita de
se o animal estiver apresentando dor, edema tumoração, a biopsia do conduto auditivo
ou outras complicações (ALVES, 2016). pode ser considerada, revelando aspectos
histopatológicos como dermatite perivascular
A cultura de exsudato auricular pode ser espongióide e/ou hiperplásica, hiperplasia
reservada para casos de infecções persistentes, epidérmica, formação de cristas interpapilares e
sendo a citologia auricular uma ferramenta ulceração epitelial. A análise detalhada e coesa
importante para identificar agentes infecciosos desses diversos aspectos clínicos e laboratoriais
e determinar a natureza da inflamação. O é essencial para um diagnóstico preciso e a
exame microscópico citologico do exsudato implementação do tratamento adequado para
auricular é considerado uma etapa crucial, otite em gatos (ELIA, 2016).

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• 17

PREVENÇÃO
DE OTITES

PR E VE N Ç ÃO D E OTI TE S

A prevenção de otite em cães e gatos é atentos a sinais de vermelhidão, inchaço, odor


um aspecto crucial para garantir o bem- desagradável, coceira excessiva e secreções
estar auricular desses animais de estimação. anormais, que podem indicar problemas
Diversos cuidados e práticas podem ser auriculares em estágios iniciais (SATO, 2015).
adotados pelos tutores para minimizar o risco
de desenvolvimento dessa condição comum Desta forma, manter a imunização do animal
(CARVALHO, 2017). em dia e proporcionar uma alimentação
balanceada contribuem para fortalecer
Em primeiro lugar, a higiene auricular
desempenha um papel fundamental na o sistema imunológico, auxiliando na
prevenção de otites. Realizar a limpeza regular prevenção de otites relacionadas a condições
e cuidadosa dos ouvidos, utilizando produtos imunossupressoras. A escolha cuidadosa
específicos e sob orientação veterinária, ajuda de materiais de limpeza, como cotonetes, é
a remover o acúmulo de cerúmen, detritos e relevante, uma vez que seu uso inadequado
micro-organismos que podem predispor à pode empurrar detritos para o canal auditivo,
infecção (ALVES, 2016). causando danos e predispondo a infecções
(LUCAS; CALABRIA; PALUMBO, 2016).
Evitar a exposição excessiva à umidade também
é crucial, especialmente em cães que têm o Sendo assim, a prevenção de otite em cães e
hábito de nadar. Após atividades aquáticas, gatos envolve práticas de higiene, controle da
secar adequadamente as orelhas pode prevenir exposição à umidade, monitoramento regular
o acúmulo de umidade, criando um ambiente da saúde auricular e atenção aos hábitos diários
menos propício para o desenvolvimento de do animal. Com uma abordagem proativa, os
infecções (CUSTÓDIO, 2019).
tutores podem contribuir significativamente
A inspeção periódica das orelhas é outra para a manutenção da saúde otológica de seus
prática preventiva. Os tutores devem estar companheiros de quatro patas (ELIA, 2016)

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• 18

DICAS DO
EXPERT
com Felipe Rosa Cunha
CRMV RS 13750

Médico Veterinário com atuação exclusiva sos, diplomados, especializações, pós-


em dermatologia. Formado pela Universi- -graduações e eventos latino-americanos.
dade Federal de Pelotas. Residência em Criador e professor do curso DermatoLó-
Clínica Médica de Animais de Companhia gica. Único brasileiro integrante do grupo
pela Universidade Federal de Pelotas. Pós- CEP, realizando estudo, pesquisa e publi-
-graduado em Derma-tologia Veterinária cações internacionais. Associado SLDV
pela Universidade Anhembi –Morumbi – (Sociedade Latino-americana de Derma-
São Paulo. Realiza serviço de otoendos- tologia Veterinária), SADeVe (Sociedad
copia na região sul do Rio Grande do Sul. Argentina Dermatologia Veterinaria) e
Já deu aula para 13 países e para mais de SBDV (Sociedade Brasileira de Dermato-
20 mil alunos através de palestras, cur- logia Veterinária).

Confira dicas dermatológicas do Dr. Felipe Rosa Cunha


sobre o diagnóstico e tratamento de otite externa:

1) Felinos: 2) Cronicidade:
A incompreensão da fisiopatogenia das oti-
a. Alguns gatos naturalmente produzem tes é um dos maiores erros encontrados na
muito cerúmen. otologia veterinária. A falta de diagnóstico e
tratamentos adequados conduz à cronicida-
b. Nas otites ceruminosas em gatos, sempre é de da doença e alterações irreversíveis.
importante pesquisar otoacaríase e investigar
a malasseziose na presença de inflamação
e prurido. 3) Migração epitelial e processo
de autolimpeza:
c. Alguns gatos alérgicos manifestam A migração epitelial é um mecanismo natural
otite, porém, isto não é tão comum de reparo e limpeza do canal auditivo e
como em cães. membrana timpânica. Ela ocorre a partir do
umbigo do tímpano para fora, ocorrendo
d. Felinos podem ter otite média, sem em um movimento espiral e radial da
que isto seja uma complicação de otite remoção de cerúmen. Qualquer condição
externa, e sinais neurológicos podem ser que cause alteração neste mecanismo pode
o primeiro sinal de otite. desencadear uma otite. Entre os exemplos
clássicos estão: doenças alérgicas, parasitas,
e. Pólipos devem ser considerados como doenças autoimunes, infecções secundárias e
causas de otites em felinos. desordens seborreicas.

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D I CAS DO EXP ERT • 19

4) Limpeza inadequada: a. Visão: que características você consegue


perceber a olho nu? (eczema, cerúmen,
O uso de algodão nos banhos, limpeza com
hiperplasia, estenose, pus, pólipos,
hastes de algodão (“Cotonetes”) ou limpeza
sangue, etc.)
com frequência excessiva podem alterar o
mecanismo natural de limpeza da orelha,
b. Olfato: o odor incomum da orelha
alterando a fisiologia e empurrando a cera
pode iniciar a formulação de suspeitas
em direção ao tímpano, predispondo a otites.
diagnósticas que serão confirmadas com
exames complementares.
5) Diagnóstico:
O diagnóstico das otites começa pela c. Palpe: através de uma gentil massagem
resenha e histórico, em que poderemos ter externa ao longo conduto auditivo,
informações sobre predisposição racial, observe se as orelhas apresentam sinais
etária, bem como condições subjacentes de fibrose ou calcificação, indicando
(exemplo: se o tutor se refere a uma otite alterações anatômicas crônicas e
unilateral que começou em um cão de 11 configurando um mau prognóstico.
anos, você pode pensar em um pólipo ou
corpo estranho. Mas se ela começou aos 2 d. Escute: antes de realizar a otoscopia,
anos de idade, de apresentação bilateral, e alguns sons observados durante a
em um paciente que coça o corpo e lambe palpação podem indicar a presença de
as patas, você pode pensar em dermatite conteúdo líquido dentro do conduto
atópica. Após isto, use os seus sentidos: auditivo.

Após passar por todos estes itens, você irá facilitar a entrada do seu
enfim, realize a otoscopia. O otoscópio equipamento na orelha. Lembre-se
utilizado deve ser obrigatoriamente de que o conduto auditivo é em formato
uso veterinário, que possui um espéculo de “L” e a passagem do ramo vertical
maior do que aqueles utilizados na para o horizontal poderá gerar dor
medicina humana, permitindo uma no paciente. Nem todos permitem
avaliação completa do conduto auditivo. esta observação detalhada e, por
Por meio de uma suave tração do este motivo, nem sempre é possível
pavilhão auricular em sua direção, visualizar a membrana timpânica.

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D I CAS DO EXP ERT • 20

O QUE OBSERVAR NA OTOSCOPIA?

Em uma orelha Em uma orelha Em uma orelha


saudável: inflamada: cronicamente
• Epitélio aparentemente • Epitélio eritematoso alterada:
“fino”, liso e pálido • Epitélio de aspecto
• Excesso de conteúdo
• Pouco cerúmen ceruminoso e/ou pus rugoso (semelhante a
paralelepípedos)
• Membrana timpânica • Descamação em pavilhão
translúcida, tensa e auricular (eczema) • Epitélio ulcerado
ligeiramente côncava (nem
sempre é possível avaliá-la!) • Hiperplasia ceruminosa

• Cistos e pólipos

• Espessamento do epitélio
Após o exame de otoscopia, a avaliação microscópica e estenose
direta e imediata do conteúdo ceruminoso poderá auxiliar
• Fibrose – calcificação
o clínico na avaliação de parasitas auriculares, como o
Otodectes cynotis e Demodex spp. A mesma lâmina • Aumento da quantidade
poderá ser usada para coloração e avaliação citológica, de cerúmen
onde você poderá avaliar a qualidade e quantidade de
• Espessamento e
micro-organismos (Malassezia spp., bactérias do tipo
inflamação da membrana
cocos e bacilos), células epiteliais, presença de hemácias, timpânica (miringite),
células inflamatórias e/ou biofilme. O exame citológico é ruptura e aumento da
fundamental para o diagnóstico e escolha do tratamento. opacidade.

Devo fazer cultura e antibiograma na suspeita de otite externa?


• Nem sempre. Lembre-se que a orelha cas podem superar a aparente resistência
não é estéril, e a cultura sempre acusará a in vitro por proporcionar altas concentra-
presença de micro-organismos, ainda que ções (Nuttall, 2013).
residentes da microbiota normal. A cultura e
antibiograma deve ser reservada para casos • Em um estudo, as concentrações de um
agente tópico polivalente foram 100 a
onde há suspeita de organismos resistentes a
1000 vezes maiores que o MIC para S.
antimicrobianos e/ou suspeita de otite média.
pseudintermedius e M. pachydermatis
• Os tratamentos convencionais costumam (Nuttall & Foster, 2015).
ser muito eficazes (+90% eficácia) para o • O resultado não refletirá fatores locais
tratamento de otites externas (Nuttall, 2023). que podem afetar a eficácia (por exemplo,
• Os pontos de corte usados para determi- inflamação contínua, secreção, biofilme,
nar sensibilidade e resistência pressupõem estenose do canal auditivo e outros fatores
primários, predisponentes e perpetuantes).
tratamento sistêmico e estão em faixas de
micrograma por mililitro: isso não reflete • Antibióticos de terceira linha não costu-
tratamentos tópicos, que podem atingir mam ser necessários e os tratamentos con-
concentrações de miligrama por mililitro vencionais utilizados de maneira adequada
nos canais auditivos. Ou seja, terapias tópi- costumam ser muito eficazes.

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D I CAS DO EXP ERT • 21
Em casos difíceis ou quando há necessidade A inflamação e infecção da orelha média em
de avaliação mais detalhada, o uso de cães pode acontecer especialmente em casos
recursos de imagens avançados podem ser de otite crônica e na presença de infecções por
mandatórios. Dentre eles, os mais utilizados bactérias gram-negativas. Em gatos, a otite
são a otoendoscopia (vídeo fibroscopia média costuma acontecer por via ascendente,
ótica), ressonância magnética e tomografia na existência de infecções respiratórias e
computadorizada. Eles são úteis em casos pólipos nasofaríngeos. Segundo o livro “Otitis
crônicos e recidivantes, ou quando há suspeita Externa – An Essential Guide to Diagnosis and
de corpos estranhos, infecções resistentes e Treatment – R. Harvey & S. Paterson, 2014, a
suspeitas de otite média/interna. otite média poderá acontecer em até 80% dos
casos de otite externa.
A otoendoscopia, além de um importante
exame para simples avaliação do conduto Atenção aos sinais clínicos
auditivo e do tímpano, também permite a sugestivos de otite média:
realização de procedimentos, como a limpeza
Fique atento! Além da coceira, dor, odor
profunda da orelha (lavagem ótica), extração,
fétido ou pútrido, otorréia (ceruminoso,
cauterização ou biópsia de massas, coleta
purulento e/ou sanguinolento), meneio
de material para miringotomia e coleta de
cefálico, perda de audição, dificuldade
material para cultura e antibiograma.
de abrir a boca e mastigar alimentos,
“head tilt”, andar em círculos, síndrome de
horner, xeromicteria, anisocoria, nistagmo,
paralisia facial e ceratoconjuntivite seca.

DICA
PRÁTICA P: Fatores Primários:

São geralmente o verdadeiro agente


desencadeante ou etiologia que causa
diretamente dano ou inflamação na pele
Para compreender melhor a abordagem do canal auditivo. Estes podem ocorrer
diagnóstica das otites, o professor Craig Griffin isoladamente e induzir otite externa sem
propôs, em 2010, um sistema de classificação qualquer outra causa ou fator. A causa primária
das otites chamado de “sistema PSPP”. pode ser muito sutil e muitas vezes não ser
reconhecida pelo proprietário ou mesmo pelo
Causas primárias e secundárias: causam veterinário até que ocorra um fator secundário.
diretamente inflamação no ouvido.
Exemplos: alergias, parasitas, neoplasias,
Fatores predisponentes e perpetuantes: pólipos inflamatórios, endocrinopatias, corpo
contribuem para a doença persistir. estranho e atresia congênita.

S: Fatores Secundários:
Ainda hoje, vemos que muitos colegas
Os fatores secundários não criam doença direcionam seu esforço para o diag-
em um ouvido normal. Eles contribuem ou nóstico e tratamento dos fatores se-
causam patologia apenas no ouvido anormal. cundários, erroneamente tratando-os
Infecções bacterianas (Staphylococcus spp. e como se fossem a verdadeira causa da
Pseudomonas spp.) e fúngicas (Malassezia spp.) otite (ou seja: “otite por Pseudomo-
são os exemplos clássicos de fatores secundários nas” ou “otite por Malassezia”).
e ocorrem em conjunto com causas primárias ou
fatores predisponentes. Após diagnosticadas,
geralmente são fáceis de eliminar. Porém, Ainda que seu tratamento seja importante, as
quando são crônicas ou recorrentes, geralmente verdadeiras causas (fatores primários) devem
estão associadas a causas primárias ou fatores ser procurados e corrigidos. Em alguns casos
perpetuantes que não foram adequadamente a simples correção do fator primário poderá
diagnosticados e tratados. resultar na resolução do fator secundário.
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D I CAS DO EXP ERT • 22

FIGURA 1: Exame citológico da orelha de FIGURA 2: Exame citológico da orelha de


um cão com otite eczematosa (aumento um cão com otite ceruminosa (aumento de
de 1000x com zoom digital): Grande 1000x): Grande proliferação de Malassezia
proliferação de bactérias do tipo cocos e spp. em meio a células descamativas.
pequena presença de Malassezia spp., em
meio a células descamativas.

FIGURA 3: Exame citológico da orelha FIGURA 4: Exame citológico da orelha de


de um cão com otite purulenta (aumento um cão com otite purulenta (aumento de
de 1000x com zoom digital): Grande 1000x com zoom digital): Presença de
proliferação de bactérias do tipo bacilos, células inflamatórias realizando fagocitose
em meio a células descamativas. de bactérias em formato de bastão
(bacilos).

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D I CAS DO EXP ERT • 23

P: Fatores Perpetuantes:

São alterações patológicas crônicas ad- Exemplos:


quiridas nos canais auditivos que impedem
• Hiperplasia glandular e epitelial
a resolução da otite. Uma vez presentes,
• Ulceração
acentuam ou permitem o desenvolvimento de
• Otite média
infecções (fatores secundários), favorecendo
• Estenose – fibrose - calcificação
um ambiente favorável para sua persistência.
Estes fatores podem ser sutis no início, Quando os tratamentos são direcionados
dificultando sua observação. Com o tempo, apenas às causas primárias e secundárias,
podem evoluir para o componente mais grave os fatores perpetuantes podem impedir a
da doença crônica. Estas alterações devem resolução de um quadro de otite, causando
ser estudadas e revertidas o quanto antes, frustração nos médicos veterinários e nos
portanto, quanto mais cedo diagnosticar e responsáveis pelo paciente.
tratá-las, melhor!

P: Fatores Predisponentes:
Estão presentes antes do desenvolvimento da doença do ouvido, mas por si só não causam otite
externa, ainda que aumentem o risco de seu desenvolvimento. Estes fatores trabalham em con-
junto com causas primárias ou secundárias para se tornarem um problema significativo.

Categoria Fator
• Orelhas peludas

Anatomia e • Orelhas pendentes


• Densidade aumentada e fisiologia alterada das
conformação glândulas ceruminosas (Cocker Americano/Spaniel)
• Canais auditivos estreitos (Shar pei) ou atresia

• Natação
Estilo de vida • Limpeza excessiva (umedecimento, maceração,
do cão impactação de material profundamente no canal
auditivo, danos iatrogênicos)
• Arrancamento de pelos rotineiramente
• Ambientes quentes e úmidos

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D I CAS DO EXP ERT • 24

Além da classificação das otites externas proposta por Griffin (2010), os autores brasileiros Larsson
& Lucas (2015) propuseram uma classificação conforme as características físicas e morfológicas,
permitindo uma compreensão prática e objetiva das otites externas e nos levando ao raciocínio de
sua etiologia para posterior tratamento. A versão brasileira divide-se em:

Otite Otite Otite Eczematosa


Ceruminosa Bacteriana/Purulenta normalmente relacionada a:
normalmente normalmente relacionada a:
relacionada a: • Alergias
• Malasseziose
• Excesso de produção • Infecções que evoluíram
• Otoacaríase
de cerúmen com o tempo
*Mais comum!
• Otoacaríase • Neoplasia, cistos,
pólipos
• Otomicose
• Hiperplasia
• Hipotireoidismo
• Alterações em tímpano
• Seborreia idiopática (perfuração, ausência)
primária
• Corpo estranho
• Adenite sebácea
• Estenose
• Dermatose Otite Hiperplásica/
responsiva ao zinco • Malformações (em jovens Estenosante:
ou depois de miíase)
Costuma ser a evolução
• Úlcera (imunomediada) das outras/cronicidade

Exemplo da evolução das otites

Aguda: Crônica:
a. Ceruminosa a. Hiperplásica
b. Eczematosa b. Estenosante
c. Purulenta c. Purulenta

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D I CAS DO EXP ERT • 25

Dicas de Tratamento outros instrumentos. Caso necessário, pode-


se limpar o excesso novamente após 15 a 20
Após uma avaliação precisa dos fatores primá- minutos. A frequência, número de dias e o
rios, secundários, predisponentes e perpetuan- produto escolhido serão dependentes da
tes envolvidos em cada caso atendido, o clínico necessidade de cada caso e da preferência
terá um diagnóstico preciso das “causas e con- do profissional.
sequências” da otite diagnosticada e poderá
Nas otites ceruminosas, convém a utilização
estimar o prognóstico e propor um tratamento.
de produtos com maior poder ceruminolítico
Para fins didáticos, abordaremos as etiologias e ceruminossolvente. De maneira geral os
mais rotineiras dentro do consultório veteri- limpadores de pH neutro são mais seguros,
nário e seguiremos a classificação de Larsson porém, a depender da escolha terapêutica,
& Lucas (2015). pode-se optar por produtos de baixo pH
ácido, que acidificam o meio e dificultam a
O primeiro tratamento, de maneira geral, presença de leveduras (ainda que possuam
deve ser a limpeza, visto que os tratamentos maior risco de ototoxicidade).
otológicos tendem a não ser tão eficazes
na presença de conteúdo ceruminoso, Para as otites eczematosas normalmente
detritos celulares ou pus, por exemplo. Após são escolhidos os produtos de pH fisioló-
uma avaliação detalhada e confirmada a gico, com ou sem a propriedade hidratan-
necessidade de limpeza da orelha, o clínico te e/ou recompositora de barreira, como
a fitoesfingosina.
deverá escolher o limpador otológico baseado
em sua preferência e conforme a composição Nas otites purulentas, de forma geral, convém
do produto. Deverá ser realizada uma limpeza a utilização de produtos com maior atividade
cuidadosa, sempre preenchendo o conduto surfactante e detergente. É importante, sempre
auditivo completamente com o líquido de que possível, o recurso da lavagem otológica
limpeza, massageando com delicadeza por (preferencialmente por meio da otoendosco-
30 a 60 segundos e removendo-se o excesso pia), sendo extremamente útil na remoção de
com auxílio de algodão ou gaze, sem introduzir micro-organismos, potencializando as chances
pinças, hastes de algodão (cotonetes) ou de sucesso na terapia antimicrobiana.

NÃO TENHA UM
OTOLÓGICO DE
ESTIMAÇÃO!
Ao escolher um produto oto-
lógico de tratamento, o clínico
deve estar ciente de que não
existe um produto que servirá
para todos os casos.
A escolha deverá se basear na neces-
sidade de cada caso e na fórmula
escolhida, já que cada produto possui
um determinado anti-inflamatório,
antibiótico e antifúngico, com diferentes
ações e potências. Quanto mais
personalizado for seu tratamento, mais
seguro e eficaz ele será.

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D I CAS DO EXP ERT • 26

As otites parasitárias tendem a ser soluciona- (cloranfenicol, florfenicol), Ácido fusídico e


das com a terapia de limpeza local (para remo- Polimixina B são escolhidos como terapia
ção de cerúmen, ácaros e ovos) somada a um empírica. Para otites bacterianas crônicas,
bom acaricida (sistêmico ou tópico) no pacien- recorrentes, complicadas e na suspeita de
te e seus contactantes. Porém, na presença de resistência bacteriana, a utilização do exame
inflamação e confirmada infecção secundária de cultura e antibiograma pode ser útil para
na citologia, pode optar-se por um otológico guiar o clínico na escolha das melhores opções,
que possua as propriedades desejadas, como ainda que possua as limitações já mencionadas
anti-inflamatórios, antifúngicos e antibióticos. anteriormente. Nestes casos, antibióticos de
segunda e terceira linha podem ser cogitados,
Independentemente da etiologia, a escolha
como as Fluorquinolonas (Enrofloxacina,
do anti-inflamatório dependerá da gravidade
Orbifloxacina e Ciprofloxacina – seguras nos
da doença. De maneira geral, opta-se pelo casos de rompimento timpânico), Mupirocina,
uso de corticoides tópicos mais potentes Amicacina e Tobramicina (sendo esta última
para reduzir a inflamação presente na maioria com maior ação ototóxica, evitando-se seu uso
dos casos. Exemplos são: a Betametasona, em casos de ruptura timpânica).
Dexametasona, Furoato de Mometasona
e Aceponato de hidrocortisona, sendo os Vivemos em uma era onde a preocupação com
últimos mais seguros por serem menos a resistência antimicrobiana cresce a cada dia
absorvidos sistemicamente. A depender e faz-se necessário evitar ao máximo o uso
da gravidade de inflamação e estenose, o de antibióticos sempre que possível. Além
clínico poderá utilizar corticoides sistêmicos disso, sabemos que a disbiose (desequilíbrio
ou imunomoduladores, como a Ciclosporina, de microorganismos com proliferação
de maneira a desinflamar e/ou controlar a acentuada de agentes patogênicos) tende a
inflamação crônica. ser secundária a inflamação.

A escolha antimicrobiana dependerá daqueles Por este motivo, especialmente nos


micro-organismos identificados na citologia casos iniciais de otite (ex: eczematosa ou
realizada no momento da consulta. Antifúngicos ceruminosa) temos tentado rumar para o
como o Clotrimazol, Miconazol e Cetoconazol (1 controle da inflamação e disbiose apenas
a 2%) utilizados por 2 a 3 semanas são úteis para com o uso de anti-inflamatórios, somados
ou não aos uso limpadores auriculares com
otites fúngicas (Malassezia pachydermatis),
atividade antisséptica em sua composição,
ainda que tenhamos outras excelentes opções
como o Tris EDTA ou própolis, por exemplo.
disponíveis no mercado.
A terapia antimicrobiana sistêmica costuma
Já na escolha do antibiótico e não havendo ser longa e reservada para casos de otite
suspeita de infecção resistente, especialmente média confirmada através dos exames de
nos primeiros quadros de otites do paciente, imagem, sendo escolhida com base na
o uso de produtos contendo aminoglicosídeos cultura e antibiograma do material colhido
(ex: gentamicina, neomicina), anfenicois da bula timpânica.

Terapia sistêmica
ou tópica?
Terapia antimicrobiana tópica é mais
eficaz pois o tratamento sistêmico pode
não penetrar adequadamente nos canais
auditivos inflamados. Além disso, os
tópicos atingem altas concentrações no
sítio de ação, apresentando melhores
resultados de maneira geral.

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D I CAS DO EXP ERT • 27

Controle de dor:

Analgésicos sistêmicos devem ser cogitados como parte do tratamento, quando o médico
veterinário suspeitar de otalgia, e a escolha dependerá da estimativa de dor observada pelo
médico veterinário e do fármaco de sua preferência.

Biofilme:

Os biofilmes são populações complexas e Estão associados à resistência bacteriana e,


dinâmicas de micro-organismos que aderem uns em sua presença, a dificuldade de resolução
aos outros e a um substrato (incluindo a pele e da infecção aumenta drasticamente. Além
pelos dentro e ao redor dos pavilhões auriculares do biofilme, os micro-organismos que vivem
e canais auditivos). As células microbianas dentro dele podem ter susceptibilidade baixa
estão inseridas em uma matriz extracelular ao antimicrobiano (resistência), e por isto é
viscosa composta por uma complexa matriz de tão comum que a infecção volte mesmo após
polissacarídeos, proteínas, lipídios e DNA. os procedimentos adequados.

Quase todos os micróbios podem formar


biofilmes; eles são mais comuns com
Pseudomonas spp na otite, mas podem ser
observados com Staphylococcus spp, outras
bactérias e Malassezia.

Nas otites em que há a evidência macroscópica


ou microscópica de biofilme, a lavagem
otológica torna-se essencial para o sucesso
da terapia.

Biofilme em orelha. Acervo Prof.


Dra. Renata Novais Mencalha

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D I CAS DO EXP ERT • 28

Tris EDTA

O Tris EDTA (Tris EDTA: Tris-HCL (cloridrato de trometamina) e EDTA dissódico (ácido etilenodiami
netetracético) é uma associação com propriedade potencializadora de antimicrobianos, auxiliando
em casos difíceis e na presença de biofilme.

• Bloqueia a bomba de efluxo de • Inibe efeitos de enzimas


Pseudomonas bacterianas ulcerantes
• Rompe paredes celulares de bactérias • Possui atividade calmante em
gram-negativas, quelando íons metálicos orelhas purulentas ulceradas
• Torna a célula bacteriana mais porosa,
permitindo a eficácia antimicrobiana

O seu uso é recomendado, inclusive, em casos


de Pseudomonas aeruginosa multirresistente
(Buckley, L. et al, 2013) e pode ser realizado
juntamente ao antimicrobiano escolhido ou
20 a 30 minutos antes. Devido à ausência de
produtos otológicos contendo a associação
de antibióticos associados ao Tris EDTA, tem-
se optado pela manipulação em farmácias
magistrais, utilizando-o como veículo.

N-acetilcisteína (NAC)

A NAC também vem sendo utilizada por


diversos profissionais na tentativa de
potencializar o efeito de antimicrobianos
(diminuindo a concentração inibitória
mínima), especialmente na presença de
micro-organismos multirresistentes e
produtores de biofilmes.
• Foi recomendada para a remoção física do • Em concentrações maiores que 2% pode
biofilme com ou sem limpador de ouvido causar perda auditiva em cobaias (Saliba,
antes da aplicação do tratamento ótico El Fata, Ouelette, & Robitaille, 2010).
tópico (Griffin & Aniya, 2017; Nuttall, 2016). • Há autores que associam NAC somado a Tris
• Alguns estudos relatam eficácia em EDTA (utilizados juntos ou em momentos
concentração de 1% e 2% (May, et al, distintos) à tentativa de rompimento de
2016). Outros estudos relatam que requer biofilme. Ela pode ser utilizada antes ou em
altas concentrações contra Pseudomonas associação com o antibiótico escolhido.
(chegando a 80mg/ml).

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D I CAS DO EXP ERT • 29

“Por que a otite sempre volta?”

• Os tratamentos convencionais costumam • “A repetição do tratamento com o mesmo


ser muito eficazes (+90% eficácia) para produto ou com um produto diferente
tratamento de otites externas. proporcionará apenas um alívio de curto prazo:
isso não alterará o padrão de reincidência da
• Porém, “a recorrência não significa que o inflamação e infecção. É essencial que os
tratamento falhou, mas significa que os gatilhos subjacentes sejam diagnosticados e
gatilhos subjacentes para a otite e infecções gerenciados para um resultado bem-sucedido
de ouvido não foram controlados”. a longo prazo.” (Nuttall, T. 2023).

Terapia proativa nas doenças alérgicas

Assim como as terapias sistêmicas devem ser o objetivo de promover a estabilidade do


realizadas de maneira proativa (preventiva) paciente, eliminando completamente o processo
nos pacientes com doenças alérgicas crônicas inflamatório e infeccioso, bem como reversão
(como a dermatite atópica e alergia alimentar), das alterações anatômicas crônicas, quando
as terapias tópicas não devem ser diferentes, possível (ex: estenose).
inclusive nas orelhas. A falta de entendimento Em um segundo momento, sabendo-se do
e execução do controle de uma doença crônica caráter inflamatório crônico da doença e a
acentuará o caráter inflamatório da doença, sua associação com a disbiose local, deve-se
levando a quadros de complicações e difícil buscar a utilização de medicamentos tópicos de
resolução. Além disso, tratar apenas as crises maneira preventiva (proativa) visando controlar
levará a frustrações por parte do médico a inflamação. Para isto, a utilização de limpadores
veterinário e seu tutor, além de contribuir auriculares, bem como anti-inflamatórios
com o desenvolvimento de micro-organismos tópicos (como o aceponato de hidrocortisona)
multirresistentes. 1 a 2x por semana em uso contínuo, costumam
Em um primeiro momento, a terapia deve ser ser eficazes para evitar recidivas de quadros de
concentrada para eliminação da crise e com otite externa alérgica.

Terapia reativa Terapia proativa

Terapia regular de longo prazo (manter


Tratamento de lesões agudas e/ou sem crise); controla causa primária (seja
crônicas existentes e/ou infecção até alergia ou outra); gestão da inflamação
remissão clínica. e produção de exsudato; equilibra o
microbioma; reversão de alterações
crônicas (se possível).

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DI C AS DO EXP ERT • 30

A inexistência da terapia proativa na dermatite atópica é um


dos maiores erros encontrados na otologia veterinária! Ela
conduz à cronicidade da doença e alterações irreversíveis.

Terapia reativa Terapia proativa

Severidade da dermatite
Severidade da dermatite

Inflamação subclínica Inflamação subclínica

Pele normal Pele normal

Tempo Remédios anti-inflamatórios Exacerbação Tempo Remédios anti-inflamatórios Exacerbação

Adaptado de: Katoh, et al. - Clinical Practice Guidelines for the Management of Atopic Dermatitis 2018

Terapia Terapia de
Estabilidade
de ataque manutenção
Escolha baseada Anti-inflamatórios
na fórmula!
Limpeza?
Limpeza?
1 a 2x por semana

Revisões

Para manter a saúde da pele e orelhas, é tório para avaliação de possíveis infecções
essencial que o clínico solicite revisões cons- que estejam surgindo. Além disto, a revisão é
tantes para reavaliar o paciente e suas orelhas. o momento em que o clínico poderá reafirmar
Este é o momento em que o clínico deve reava- as orientações da terapia proativa (quando em-
liar macroscopicamente e microscopicamente pregada) e verificar se o tratamento proposto
as orelhas, sendo a citologia um exame obriga- está sendo bem executado.

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R E F E R ÊN C I AS • 31
ALVES, S. Identificação de otite externa em cães apresentados à consulta vacinal. Tese (Dissertação) Mestrado em Medicina Veterinária,
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