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set/dez. 2022
ISSN: 2178-9010
DOI: http://dx.doi.org/10.7769/gesec.v13i3.1319
Resumo
O presente artigo tem por finalidade expor a ética nas organizações familiares, dando ênfase
aos fatores que impulsionam os conflitos. O objetivo principal foi determinar como gerenciar
os conflitos existentes numa empresa familiar dentro de um ambiente ético. A questão que
norteou a pesquisa foi no sentido de responder: o equilíbrio na empresa familiar está em
reconhecer a importância de um comportamento ético diante das demandas conflitantes? Para
tanto, a metodologia adotada foi uma revisão integrativa e o método escolhido foi o dedutivo,
sendo definidas 8 publicações de maior relevância ao tema no período de 2017 a 2021. A
conclusão final foi que o conflito sucessório é o principal fator de conflito dentro da
organização familiar e, por isso exige um forte ambiente de conotação ética, sendo que
conscientizar a empresa familiar da necessidade de profissionalização é determinante para
diminuir esse conflito.
Palavras-chave: Empresas Familiares. Conflitos. Ética. Gestão.
Abstract
The purpose of this article is to expose ethics in family organizations, emphasizing the factors
that drive conflicts. The main objective was to determine how to manage the existing conflicts
1
Graduando do curso de Administração pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) - Campus Frutal.
Av. Escócia, 1001, Cidade das Águas, Frutal - MG, CEP: 38202-436. E-mail: bnunes499@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-3229-7000
2
Graduando do curso de Administração pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) - Campus Frutal.
Av. Escócia, 1001, Cidade das Águas, Frutal - MG, CEP: 38202-436. E-mail: mireleborges_dn@hotmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4804-3160
Ética nas organizações familiares: fatores que impulsionam os conflitos 301
in a family business within an ethical environment. The question that guided the research was
to answer: does balance in the family business lie in recognizing the importance of an ethical
behavior when facing conflicting demands? To this end, the methodology adopted was an
integrative review and the method chosen was the deductive method, being defined 8
publications of greatest relevance to the topic in the period from 2017 to 2021. The final
conclusion was that the succession conflict is the main factor of conflict within the family
organization and, therefore, requires a strong environment of ethical connotation, and making
the family business aware of the need for professionalization is crucial to reduce this conflict.
Keywords: Family Businesses. Conflicts. Ethics. Management.
Introdução
Constitui-se tema desta pesquisa uma análise sobre a ética nas empresas familiares,
sob o enfoque dos principais conflitos que envolvem a complexidade de suas operações.
A maioria das empresas de hoje em dia, nasceu dentro de uma família, das pequenas
as de grande porte, nas empresas familiares as probabilidades de expansão são maiores, quanto
mais os dirigentes orientem suas atividades de forma ética.
Delimitou-se o tema a importância de entender às áreas de cooperação e de conflito
dentro das organizações familiares em abordagens orientadas para o entendimento da ética,
gerando respeito e compreensão mútua.
O objetivo geral desta pesquisa é determinar como gerenciar os conflitos existentes
numa empresa familiar dentro de um ambiente ético. São objetivos específicos: apontar como
é benéfico para a empresa familiar a compreensão de valores éticos; discutir à filosofia da
ética.
Justifica-se este estudo, pois, de acordo com a Revista Brasileira de Administração
(2019) das 19 milhões de companhias brasileiras 80% são empresas familiares e, a ética é um
ponto essencial para beneficiar os interesses da empresa.
Nesse sentido, a pergunta norteadora desta pesquisa foi no sentido de investigar se: o
equilíbrio na empresa familiar está em reconhecer a importância de um comportamento ético
diante das demandas conflitantes?
A hipótese básica formulada foi que as empresas familiares que sobreviveram aos
tempos, souberam de modo ético diminuir e eliminar a influência dos familiares no interesse
da empresa.
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Ética nas organizações familiares: fatores que impulsionam os conflitos 302
Para a compreensão deste tema, este trabalho foi dividido em cinco seções: a primeira
seção, esta introdução, indicativa do conteúdo deste estudo; a segunda seção apresenta a visão
teórica da pesquisa; a terceira seção detalha a metodologia adotada para a pesquisa; a quarta
seção caracteriza os resultados dos objetos de estudo; a quinta seção analisa a discussão desses
resultados; a sexta seção tece as conclusões obtidas. Ao final, são identificadas as referências
utilizadas.
Referencial Teórico
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Ética Moral
Ética é princípio Moral são aspectos de condutas específicas
Ética é permanente Moral é temporal
Ética é universal Moral é cultural
Ética é regra Moral é conduta da regra
Ética é teoria Moral é prática
Quadro 1 – Diferenciação dos conceitos
Fonte: Adaptado de ROSAS (2012)
A ética nas empresas não se difere da ética em outras áreas, que é mudar o
comportamento do indivíduo, melhorar as relações nos grupos sociais e diminuir os impactos
negativos nas decisões (Pineda, Cardenas, 2011).
Dessa forma, através da maneira de agir das pessoas incluídas dentro das empresas é
que se mede “intenções e gestos, discursos e percursos, retóricas e práticas, palavras e ações”
em conformidade com as orientações éticas e morais definidas na organização (Srour, 2009,
p. 279).
De acordo com Tolentino (2020) a ética empresarial envolve dois princípios: os
fundamentos, sistema moral e deveres (deontologia); e as causas finais, especulações e o
conhecimento das finalidades (teleologia), o grande desafio parece ser manter a consciência
ética dentro dessa diferenciação.
A ética empresarial consiste na busca do interesse comum de todos os envolvidos,
sempre agindo “em conformidade com os princípios morais e as regras do bem proceder
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aceitas pela coletividade”, sempre privilegiando a relação entre normas morais e valores
(Valencio, Ngueve, 2013, p. 13).
Esse dever aumenta na vida profissional trazendo a responsabilidade em se ter um
comportamento correto dentro das empresas, pois além da ética da convicção existe também
a ética da responsabilidade, com abordagens, fundamentos e justificação diferenciados, como
bem exemplifica Srour (2009), como mostra o quadro 2:
Aquilo que impulsiona o indivíduo, dentro do sistema ético nas organizações, em face
da atividade profissional deve ser o da responsabilidade ética, que envolve o máximo bem
para o maior número de pessoas que dela se beneficiam, nesse sentido, Cortina, Martinez
(2005) consideram a necessidade de discussão na formação dos seguintes conceitos:
Esclarecer o que é ética e quais são seus traços específicos; fundamentá-la, ou seja, procurar averiguar
quais as razões que conferem sentido ao esforço de se comportar com ética; aplicar aos diferentes
âmbitos da empresa, os resultados obtidos nas duas primeiras variáveis (Cortina; Martínez, 2005, p. 19).
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forma peculiar de organização, por envolver trabalho e laços emocionais fortes, tornando por
vezes o papel da família na empresa confusos (Ricca, 2007).
Ao referir-se a tal assunto, Lopes (2018, p. 53) argumenta que “não é só uma questão
de família e não é unicamente uma questão de empresa”, em algum momento do percurso a
empresa familiar vai esbarrar com questões conflitantes e, para evitar tais conflitos é
importante que seus membros entendam seu papel dentro da estrutura familiar e da estrutura
organizacional.
Uma empresa familiar sempre é vista como uma organização que viverá de gerações
em gerações, nesse cenário, os fatores de conflitos costumam surgir de riscos negligenciados
e, o grande desafio das empresas familiares é construir habilidades que misturem as questões
de gestão administrativa, de relações familiares e de questões emocionais (Lobão, 2019).
Essa questão não passou despercebida de Seabra, Santos e Tajra (2021) quando
sustentam que a empresa familiar navega algumas vezes em mares turbulentos, mas pode se
posicionar de forma positiva, sempre que conseguir gerenciar os riscos com melhores práticas,
novas competências e formas de gerir as organizações familiares.
O maior desafio para uma empresa familiar é resolver de forma ética os possíveis
conflitos existentes.
A ética na gestão das empresas familiares é um fator que pode se tornar um problema
e prejudicar o desenvolvimento da empresa, a esse respeito Bernhoeft, Gallo (2003) reforçam
que para que se estruture uma empresa familiar é preciso o planejamento de ações que
preservem valores éticos vitais para a continuidade da empresa no ambiente empresarial.
Na condução de práticas no gerenciando da empresa familiar a estabilidade e
permanência de boas relações depende de se buscar constantemente meios de elevar o nível
ético das relações Lodi (1998 apud Ricca, Saad, 2012) define parâmetros sobre a ética, que
norteiam essa relação:
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Nesse propósito, para gerenciar uma empresa familiar é preciso entender a necessidade
de regras e normas éticas, isso porque na empresa familiar a cultura e a maneira de atuar está
normalmente baseada em valores éticos explícitos que vêm da própria família, e que quando
não resolvidos podem gerar conflitos (Alvito, 2020).
O processo de gestão de empresas familiares é por vezes mais delicado do que parece
e, nesse sentido, Lucca (2014) observa que a preocupação com a ética dentro das organizações
vem crescendo e trazendo as empresas a necessidade da adoção de um código de ética para
mediar os possíveis conflitos e reger o comportamento dos membros da empresa, familiares
ou não.
Assim, pode-se dizer que administrar a ética dentro de uma empresa familiar é gerir e
monitorar o cumprimento de padrões éticos mediante os conflitos de interesses entre os
familiares e o futuro da empresa (Silveira, 2019).
Nesse propósito, é fundamental relacionar quais são as causas que podem levar a
conflitos éticos dentro da empresa familiar.
Metodologia
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final desta revisão ficou constituída por oito trabalhos científicos sendo seis artigos originais,
uma dissertação de mestrado e uma monografia de graduação.
Verifica-se no quadro 3 os trabalhos selecionados pelos critérios de inclusão
previamente estabelecidos.
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A partir de seus estudos Ribeiro, Valdisser (2017) salientam que a maioria dos
conflitos éticos nas empresas familiares são gerados pelos diferentes interesses entre as
vontades dos familiares e as necessidades da empresa que acabam gerando problemas que
interferem na tomada de decisões. Essa afirmação se comprova em Maia (2018) quando
esclarece que a solução para balancear as necessidades da família com as da empresa é optar
pela profissionalização.
Em suas análises, Castro, Andrade (2017) também consideram a proposta de
profissionalização da empresa familiar, o que permite a implantação de um código de ética e
conduta, com práticas que tem como principal objetivo regulamentar a tomada de decisões
quanto a sucessão, diminuindo os conflitos internos. Em virtude dos fatos mencionados, Lima
(2017) considera interessante verificar que a sucessão é o maior desafio dentro da empresa
familiar e a profissionalização permite a elaboração de um instrumento jurídico com as regras
e critérios validados, para que a mudança ocorra de forma ética.
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Outro aspecto levantado por Silva, Cruz, Barbosa e Machado (2017) é que a sucessão
precisa fazer parte de um planejamento estratégico dentro da empresa familiar, principalmente
para evitar possíveis transtornos que venham a interferir nas atividades operacionais.
Castaldello (2012) acha oportuno lembrar que o planejamento do processo sucessório é
determinante para diminuir os conflitos e elevar os valores institucionais.
Em seus estudos Trovão, Carmo (2018) mostram que nas empresas familiares a ética
deve ser a vetora de todas as ações, principalmente no contexto das práticas econômicas que
envolvem cumprir com as obrigações fiscais e com as normas trabalhistas. Levando-se em
consideração esses aspectos Antloga, Costa (2017) alerta que os conflitos de interesse ético
em relação a dinheiro são bastante comuns e, nesse sentido, uma solução seria entregar a
verificação da contabilidade e das finanças a um terceiro, fazendo com que não haja controle
financeiro por parte dos familiares.
Outro estudo que vale mencionar foi de Pan, Manfroi, Zeni e Pereira (2019)
observando que os instrumentos legais que regem as relações entre os sócios e mesmo o
código de ética com os padrões de conduta e com as ações preventivas não impedem os
conflitos no processo de sucessão na empresa familiar. Em vista dos argumentos apresentados,
Bernhoeft (2019) adverte que uma possível saída é a profissionalização da empresa e/ou a
contratação de um executivo profissional externo à família.
Interessante destacar o estudo de Lima, Silva (2019) aduzindo que muitos fatores
influenciam o comportamento das pessoas e o convívio numa empresa familiar, tudo isto
somado as dificuldades naturais que toda organização tem, torna-se mais desafiador as
relações sem conflitos. Dado o exposto, Gouveia (2013) explica que para que um melhor
desempenho seja alcançado na empresa familiar é necessário separar as relações pessoais das
profissionais e, nessa intenção a empresa deve buscar ampliar os profissionais de carreira.
Numa mais recente pesquisa, Santos, Santos, Moreira e Santos (2020) expressam que
os conflitos entre familiares aparecem no processo que envolve a sucessão, necessitando de
planejamento para que ocorra de maneira tranquila e, um facilitador é a ética e a transferência
na gestão, elementos complementares desse processo. A fim de compreender como esses
elementos estão relacionados Lobão (2019) ressalta que a maioria dos conflitos nas empresas
familiares é possível prever e evitar e, a forte presença de valores estabelece a importante
separação entre a propriedade da família e a gestão da empresa.
Outra pesquisa que merece destaque é a de Leite (2021) quando menciona que a
presença das características emocionais interfere na tomada de decisão da empresa familiar,
principalmente o apego com a sucessão, este fator faz com que nem sempre a melhor estratégia
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seja tomada pensada na organização. Sobre esse assunto, Steinberg, Blumenthal (2011) ensina
que para alcançar equilíbrio a empresa familiar precisa alinhar, de forma distinta, o interesse
da família (emocional) com o interesse dos negócios (racional).
Apresentadas as principais referências desse estudo, foi possível observar comparando
os estudos analisados, tópicos comuns que identificam a ética nas empresas familiares, sob o
enfoque dos principais conflitos que envolvem a complexidade de suas operações, como
mostra o quadro 4:
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Considerações Finais
Este estudo se ocupou da análise da ética nas empresas familiares, sob o enfoque dos
principais conflitos que envolvem a complexidade de suas operações.
Foram verificadas primeiramente o conceito de ética interpretado pela filosofia que
trazem os valores que orientam a conduta humana, estabelecendo também a ideia de moral e
a capacidade de se reconhecer as ações e avaliar seu impacto sobre si e os outros.
Esses conceitos foram expostos em relação a ética nas empresas, mostrando os valores
que devem orientar a conduta dentro das organizações, destacando a possibilidade das
organizações optarem por um código de ética para gerir o comportamento e as normas que
devem ser observadas por todos os envolvidos na administração da empresa.
Outra verificação proposta foi conceituar as empresas familiares, revisando-se
brevemente o conceito de empresa familiares e as condições necessárias para o seu
crescimento, além de determinar os riscos na sua administração.
Consequentemente, foi levantada a questão da ética nas empresas familiares, com
regras e costumes diferentes por envolverem convicções pessoais que podem levar a
problemas que impulsionam e limitam a relação de cada um dos seus membros.
A literatura consultada impulsionou os conhecimentos sobre os principais riscos que
influenciam os conflitos nas empresas familiares, mostrando que o processo sucessório é o
mais complicado nesse sentido e, explicitando que a profissionalização da empresa familiar
se mostra uma alternativa para sanar esses conflitos.
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Nesse sentido, o principal objetivo deste estudo foi atingido, pois, determinou-se como
gerenciar os conflitos existentes numa empresa familiar dentro de um ambiente ético,
estratégico, para as pessoas e para as organizações.
A pergunta que norteou a pesquisa também foi respondida mostrando que à
profissionalização da empresa familiar pode trazer o equilíbrio necessário para se reconhecer
a importância de um comportamento ético diante das demandas conflitantes, como a sucessão
na empresa.
Dessa forma, conclui-se que o conflito sucessório é o principal fator de conflito dentro
da organização familiar e, por isso exige um forte ambiente de conotação ética, sendo que
conscientizar a empresa familiar da necessidade de profissionalização é determinante para
diminuir esse conflito.
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