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A NECESSIDADE DA REFORMA DO DIREITO INTERNACIONAL

PRIVADO NA ORDEM JURÍDICA MOÇAMBICANA E A NECESSIDADE


OU UTOPIA

Abdulcadre Amisse Paulino1

Resumo

O presente artigo científico, aborda matérias relacionadas à reforma do Direito Internacional


Privado na Ordem Jurídica Moçambicana e a necessidade da utopia. O Direito Internacional
privado, consolidou-se na era do século XIX com a codificação. Neste contexto, o Direito
Internacional Privado na ordem jurídica Moçambicana, teve início com a harmonização do
regime do Código Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47 344 de 25 de Novembro de 1966, e
posto em vigor em Moçambique pela portaria n.º 22 869 de 4 de Setembro de 1967. Portanto, a
reforma do direito internacional privado em Moçambique cinge-se no Livro I da parte geral do
Código Civil. Tendo em vista, a consagração de alguns casos omissos que a doutrina discute que
o nosso legislador não consagrou nas normas de Direito Internacional Privado. Como por
exemplo o problema da questão prévia.

Palavras-chaves: Direito Internacional Privado, Reforma, Código Civil.

Abstract: This scientific article addresses issues related to the reform of Private International
Law in the Mozambican Legal Order and the need for utopia. Private International Law was
consolidated in the 19th century with codification. In this context, Private International Law in
the Mozambican legal order began with the harmonization of the Civil Code regime, approved by
Decree-Law no. 47 344 of 25 November 1966, and put into force in Mozambique by ordinance
no. 22 869 of September 4, 1967. Therefore, the reform of private international law in
Mozambique is limited to Book I of the general part of the Civil Code. In view of the
consecration of some omitted cases that the doctrine discusses that our legislator did not enshrine
in the norms of Private International Law. For example, the problem with the previous question.

Keywords: Private International Law, Reform, Civil Code.


1
Licenciando em Direito pela Universidade Católica de Moçambique (Faculdade de Direito) E-mail:
abdulamisse886@gmail.com
1
INTRODUÇÃO

O presente artigo Científico, é da disciplina de Direito Internacional Privado que


tem como tema a Necessidade da Reforma do Direito Internacional Privado na Ordem Jurídica
Moçambicana e a Necessidade da Utopia. Onde irá se fazer menção da reforma do Direito
Internacional Privado em Moçambique e a necessidades da Utopia.

Portanto, para a abordagem do mesmo é preciso compreender o início do direito


internacional privado em Moçambique, que teve início com a harmonização do regime do Código
Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47 344 de 25 de Novembro de 1966, e posto em vigor em
Moçambique pela portaria n.º 22 869 de 4 de Setembro de 1967. Por outro lado, a necessidade da
reforma do direito internacional privado na ordem jurídica Moçambicana, é indispensável fazer
um estudo do Livro I da parte geral do Código Civil. Ou seja, a reforma do direito internacional
privado em Moçambique cinge-se no Livro I da parte geral do Código Civil.

Em Direito Internacional Privado discute-se várias questões, um dos aspectos a


saber é o problema da questão prévia que é discutido em torno de duas teorias, a teoria tradicional
e a teoria dominante. A teoria tradicional diz que o problema da questão prévia é de escolha do
sistema conflitual a que em certos casos deverá pedir-se a resolução do conflito de leis. Enquanto
a doutrina dominante, estabelece se entre duas questões jurídicas pende um nexo de
prejudicialidade e a principal, está sujeita a um direito estrangeiro, surge o problema de saber
como conectar a questão prejudicial, se devemos aplicar à questão preliminar do Direito
Internacional Privado do foro ou da lex caus.

Neste contexto, a doutrina trás duas soluções do problema da questão prévia, a


primeira é da conexão autónoma e a conexão subordinada. Por outro lado, a doutrina e a
jurisprudência têm entendido dever aplicar-se a conexão subordinada. Que estabelece que a
questão prévia consiste em respeitar as normas de conflitos do estatuto da questão principal
fundamentando-se com base o princípio da harmonia jurídica internacional.

Por outro lado, surge a seguinte questão: Diante de um problema da questão


prévia em Direito Internacional Privado, o Juiz deverá julgar com fundamento da sua
convicção? Visto que a lei moçambicana seja omissa em relação a esta matéria.

2
Objectivos gerais:

 Analisar a necessidade da reforma do Direito Internacional Privado na ordem jurídica


Moçambicana.

Objectivos específicos:

 Compreender as fases de evolução do Direito Internacional Privado e


 Analisar o problema da questão prévia e as doutrinas subjacentes.

Metodologia

Importa salientar, para a elaboração do artigo Científico foi empregado


procedimentos metodológicos para alcançar os objectivos gerias e específicos apresentado, serão
de acordo com métodos de elaboração de trabalhos científicos da Universidade Católica de
Moçambique (FADIR)

Quanto a abordagem:

 Pesquisa qualitativa.

Técnica da recolha de dados:

Serão utilizadas as pesquisas bibliográficas que são feitas a partir de materiais


analíticos e já publicados, bem como electrónicos, artigos científicos site da internet e PDF.

Estrutura do trabalho:

O trabalho está estruturado da seguinte forma, Introdução onde temos a


problematização, os objectivos gerias e específicos, procedimentos metodológicos,
fundamentação teórica, apresentação e discussão de dados, conclusão, sugestão e referências
bibliográficas.

3
1. A NECESSIDADE DA REFORMA DO DIREITO INTERNACIONAL

PRIVADO NA ORDEM JURÍDICA MOÇAMBICANA

A reforma do direito internacional privado remonta anteriormente a reforma dos


estudos jurídicos de 1911, pode dizer-se que a teoria dos conflitos de leis constituía um domínio
mal explorado e dificilmente conhecido entre nós2.

Alguns autores, afirmam que o direito internacional privado não se reduz ao mero
problema de conflitos de leis, senão que compreende também a doutrina da nacionalidade e a da
condição dos estrangeiros, anexando ainda a da competência jurisdicional e a do reconhecimento
dos direitos adquiridos no estrangeiro e das sentenças sobre elas proferidas3.

O direito internacional Privado conheceu grandes contributos, que coincidem,


aliás, com o movimento da codificação4. A grande contribuição foi de Mancini, contudo, a defesa
da nacionalidade como critério da determinação do estatuto pessoal5.

Defendia-se a coexistência de três princípios, a nacionalidade, a liberdade e a


soberania como linhas de orientadoras do direito internacional privado. A nacionalidade como
determinante do estatuto pessoal, a liberdade como faculdade dos indivíduos de escolherem a lei
aplicável as relações patrimoniais e a soberania como permitindo ao Estado impor determinados
limites a aplicação de regras estrangeiras no seu território6.

Todavia, a contribuição feita pelo Mancini da proposta da nacionalidade, como


critério para estabelecimento do estatuto pessoal, é que veio a ser acolhido pela generalidade das
leis7.

Por outro lado, essas contribuições doutrinais do direito internacional privado,


buscam alguns fundamentos comuns a toda e qualquer norma de direito internacional privado.
Outrossim, o século XIX conheceu um marco por diversas codificações civilistas nos países
2
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Internacional Privado I, Almedina Editora, Lisboa, 2014, p. 135.
3
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Internacional Privado I, Almedina Editora, Lisboa, 2014, p. 136.
4
RIBEIRO, Manuel Almedina, Introdução ao Direito Internacional Privado, 2ª Edição, Almedina Editora, 2009, P.
23.
5
Idem, P. 23.
6
RIBEIRO, Manuel Almedina, Introdução ao Direito Internacional Privado, 2ª Edição, Almedina Editora, 2009, P.
23.
7
Idem, P. 23.
4
europeus. Os códigos civilistas adoptam a visão de que as instituições essenciais do Direito
Privado devem também contar com regras de regência de fatos transnacionais, consagrando,
assim, a codificação do direito internacional privado em vários países8.

O Direito Internacional privado, consolidou-se na era do século XIX,


vigorosamente influenciado por um capitalismo industrial em expansão, com optimização dos
transportes e trânsito de bens e pessoas. O imperialismo europeu expandiu-se, com a divisão da
África9.

Neste contexto, o Direito Internacional Privado na ordem jurídica Moçambicana,


teve início com a harmonização do regime do Código Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47
344 de 25 de Novembro de 1966, e posto em vigor em Moçambique pela portaria n.º 22 869 de 4
de Setembro de 196710.

Por outro lado, a necessidade da reforma do direito internacional privado na ordem


jurídica Moçambicana, é inescusável fazer uma revisão do Livro I da parte geral do Código
Civil11. Todavia, a reforma do direito internacional privado em Moçambique cinge-se no Livro I
da parte geral do Código Civil12.

Outrossim, o Código Civil de 1966 da República de Moçambique, entrou em vigor


no dia1 de Janeiro de 1968 em todo o território13. Portanto, é preciso fixar que desde o ano de
1968 que o Código Civil entrou em vigor em todo território Moçambicano, o mesmo nunca
esteve em processo de revisão.

8
RAMOS, André de Carvalho, Evolução histórica do direito Internacional privado e consagração do
conflitualismo, Rev. secr. Trib. perm. revis. Ano 3, Nº 5; Março 2015, disponível no site DOI:
http://dx.doi.org/10.16890/rstpr.a3.n5.423 - acessado no dia 8 de Março de 2024.
9
RAMOS, André de Carvalho, Evolução histórica do direito Internacional privado e consagração do
conflitualismo, Rev. secr. Trib. perm. revis. Ano 3, Nº 5; Março 2015, disponível no site DOI:
http://dx.doi.org/10.16890/rstpr.a3.n5.423 - acessado no dia 8 de Março de 2024.
10
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-Lei n° 47 344, de 25 de Novembro de 1966, que aprova o novo
Código Civil, in Portaria n° 22 869, de 4 de Setembro de 1967.
11
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-Lei n° 47 344, de 25 de Novembro de 1966, que aprova o novo
Código Civil, in Portaria n° 22 869, de 4 de Setembro de 1967.
12
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-Lei n° 47 344, de 25 de Novembro de 1966, que aprova o novo
Código Civil, in Portaria n° 22 869, de 4 de Setembro de 1967.
13
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-Lei n° 47 344, de 25 de Novembro de 1966, que aprova o novo
Código Civil, in Portaria n° 22 869, de 4 de Setembro de 1967.
5
Por outro lado, a doutrina discute hoje várias questões relacionadas com o direito
internacional privado, um dos aspectos pertinente é o problema da questão prévia que é discutido
em torno de duas teorias, a teoria tradicional, que diz que o problema da questão prévia é um
problema de escolha de lei, ou seja, de escolha do sistema conflitual a que em certos casos deverá
pedir-se a resolução do conflito de leis14. E a teoria dominante, que estabelece se entre duas
questões jurídicas pende um nexo de prejudicialidade e a principal, está sujeita a um direito
estrangeiro, surge o problema de saber como conectar a questão prejudicial, se será de harmonia
com o sistema de conflitos do foro ou de acordo com o sistema de conflitos da lex cause. Este
problema trata-se de saber se devemos aplicar à questão preliminar do Direito Internacional
Privado do foro ou da lex cause15.

Outrossim, a doutrina trás duas soluções relativamente a questão prévia, temos a


corrente da conexão autónoma e a conexão subordinada. A conexão autónoma estabelece que o
problema da questão prévia deve decidir-se em conformidade com a lei que lhe for aplicável
segundo o sistema de conflitos do foro, como se o ponto surgisse a título incidental, mas
principal16. Para a conexão autónoma invoca-se o princípio da harmonia jurídica interna17.
Enquanto a conexão subordinada, a questão prévia consiste em respeitar as normas de conflitos
do estatuto da questão principal18. E para a conexão subordinada argumenta-se com base o
princípio da harmonia jurídica internacional19.

Neste contexto, a lei moçambicana seja omissa em relação a esta matéria, a


doutrina e a jurisprudência têm entendido dever aplicar-se a conexão subordinada20.

Por outro lado, surge a seguinte questão: Diante de um problema da questão


prévia em Direito Internacional Privado, o Juiz deverá julgar com fundamento da sua
convicção? Visto que a lei moçambicana seja omissa em relação a esta matéria21.

14
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Internacional Privado I, Almedina, 2000, pp. 320-321.
15
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Internacional Privado I, Almedina, 2000, pp. 321-322.
16
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Internacional Privado I, Almedina, 2000, pp. 327.
17
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, Almedina, 2009, P. 52.
18
Obra Cit, P. 327.
19
Idem, P. 52.
20
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, Almedina, 2009, P. 52.
21
Idem, P. 52.
6
Outrossim, o legislador estabelece no n.º 1 do artigo 8 do Código Civil. Que o
tribunal não pode abster-se de julgar alegando dúvida insanável acerca dos factos do litígio22.

Portanto, está omissão do problema da questão prévia, que o legislador não prevê
no Livro I da parte geral do Código Civil23. faz com que haja uma necessidade da reforma do
Direito Internacional Privado na ordem jurídica Moçambicana. Na perspectiva do legislador ter
um posicionamento, ou seja, de consagrar uma base legal no Livro I da parte geral do Código
Civil que visa regular o problema da questão prévia.

Outrossim, outros ordenamentos jurídicos como por exemplo, Governos dos


Estados Membros da Organização dos Estados Americanos, na sua convenção Interamericana
sobre Normas Gerais de Direito Internacional Privado 197924. No artigo 8 da presente convenção
estabelece que as questões prévias, preliminares ou incidentes que surjam em decorrência de uma
questão principal não devem necessariamente ser resolvidas de acordo com a lei que regula esta
ultima25.

Portanto, a lei Moçambicana seja omissa em relação a esta matéria26. Todavia, é


preciso que o legislador Moçambicano possa regulamentar o problema da questão prévia para que
os órgãos jurisdicionais tenham mais facilidade nas resoluções dos litígios em matérias de
problema da questão prévia em Direito Internacional Privado.

2. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÕES DE DADOS

Porque se discute o problema da questão prévia?

O problema da questão prévia é discutido em torno de duas teorias. A teoria


tradicional, que estabelece que o problema da questão previa de escolha de lei, ou seja, de escolha

22
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-Lei n° 47 344, de 25 de Novembro de 1966, que aprova o novo
Código Civil, in Portaria n° 22 869, de 4 de Setembro de 1967.
23
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-Lei n° 47 344, de 25 de Novembro de 1966, que aprova o novo
Código Civil, in Portaria n° 22 869, de 4 de Setembro de 1967.
24
ORGANIZATION OF AMERICAN STATES, Convenção Interamericana sobre Normas Gerais de Direito
Internacional Privado (1979), http://www.oas.org/juridico/portuguese/treaties/b-45.htm acessado no dia 13 de
Março de 2024.
25
ORGANIZATION OF AMERICAN STATES, Convenção Interamericana sobre Normas Gerais de Direito
Internacional Privado (1979), http://www.oas.org/juridico/portuguese/treaties/b-45.htm acessado no dia 13 de
Março de 2024.
26
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, Almedina, 2009, P. 52.
7
do sistema conflitual a que em certos casos deverá pedir-se a resolução do conflito de leis27.
Enquanto a teoria dominante, estabelece se entre duas questões jurídicas pende um nexo de
prejudicialidade e a principal, está sujeita a um direito estrangeiro, surge o problema de saber
como conectar a questão prejudicial, se será de harmonia com o sistema de conflitos do foro ou
de acordo com o sistema de conflitos da lex cause. Este problema trata-se de saber se devemos
aplicar à questão preliminar do Direito Internacional Privado do foro ou da lex cause28.

Por outro lado, a doutrina trás duas correntes que visam resolver o problema da
questão prévia. A corrente da conexão autónoma que estabelece que o problema da questão
prévia deve decidir-se em conformidade com a lei que lhe for aplicável segundo o sistema de
conflitos do foro, como se o ponto surgisse a título incidental, mas principal29. Para a conexão
autónoma invoca-se o princípio da harmonia jurídica interna30. Enquanto a conexão subordinada,
a questão prévia consiste em respeitar as normas de conflitos do estatuto da questão principal 31. E
para a conexão subordinada argumenta-se com base o princípio da harmonia jurídica
internacional32.

Dos mecanismos qua a doutrina trás como resolução do problema da questão


prévia, a lei moçambicana é omissa em relação a esta matéria. Nesta perspectiva, a doutrina e a
jurisprudência têm entendido dever aplicar-se a conexão subordinada33.

Na minha óptica, o problema da questão prévia não pode cingir-se apenas na


doutrina e a jurisprudência.

Visto que, a questão prévia consiste em respeitar as normas de conflitos do


estatuto da questão principal segundo a corrente da conexão subordinada34.

27
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Internacional Privado I, Almedina, 2000, pp. 320-321.
28
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Internacional Privado I, Almedina, 2000, pp. 321-322.
29
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Internacional Privado I, Almedina, 2000, pp. 327.
30
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, Almedina, 2009, P. 52.
31
Obra Cit, P. 327.
32
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, Almedina, 2009, P. 52.
33
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, Almedina, 2009, P. 52.
34
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Internacional Privado I, Almedina, 2000, pp. 327.

8
É preciso que o legislador Moçambicano possa regulamentar o problema da
questão prévia para que os poderes jurisdicionais tenham mais facilidade nas resoluções dos
litígios em matérias de problema da questão prévia em Direito Internacional Privado.

O que seria a reforma do Direito Internacional Privado na ordem jurídica


Moçambicana?

Em princípio é necessário ter em conta que o Direito Internacional privado,


consolidou-se na era do século XIX, vigorosamente influenciado por um capitalismo industrial
em expansão, com optimização dos transportes e trânsito de bens e pessoas. O imperialismo
europeu expandiu-se, com a divisão da África35.

Portanto, é de ter em consideração que o Direito Internacional Privado na ordem


jurídica Moçambicana, teve início com a harmonização do regime do Código Civil, aprovado
pelo Decreto-Lei n.º 47 344 de 25 de Novembro de 1966, e posto em vigor em Moçambique pela
portaria n.º 22 869 de 4 de Setembro de 196736.

Neste contexto, a necessidade da reforma do direito internacional privado na


ordem jurídica Moçambicana, é necessário que seja feita uma revisão do Livro I da parte geral do
Código Civil37. Tendo em conta, a consagração de alguns casos omissos que a doutrina discute
que o nosso legislador não faz menção. Como pro exemplo: O problema da questão prévia. A lei
moçambicana seja omissa em relação a esta matéria38.

Portanto, está omissão do problema da questão prévia e outras situações que será
necessário ser revista, a parte geral do Código Civil. Faz com que haja uma necessidade da
reforma do Direito Internacional Privado na ordem jurídica Moçambicana. Na perspectiva do
legislador ter um posicionamento, ou seja, de consagrar uma base legal na parte geral do Código
Civil que visa regular o problema da questão prévia.

35
RAMOS, André de Carvalho, Evolução histórica do direito Internacional privado e consagração do conflitualismo,
Rev. secr. Trib. perm. revis. Ano 3, Nº 5; Março 2015, disponível no site DOI:
http://dx.doi.org/10.16890/rstpr.a3.n5.423 - acessado no dia 8 de Março de 2024.
36
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-Lei n° 47 344, de 25 de Novembro de 1966, que aprova o novo
Código Civil, in Portaria n° 22 869, de 4 de Setembro de 1967.
37
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-Lei n° 47 344, de 25 de Novembro de 1966, que aprova o novo
Código Civil, in Portaria n° 22 869, de 4 de Setembro de 1967.
38
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, Almedina, 2009, P. 52.
9
Por outro lado, o legislador ao fazer a revisão do Livro I da parte geral do Código
Civil será necessário rever alguns artigos que a nossa lei regula, mas ao mesmo tempo viola um
princípio geral do Direito. Como por exemplo: as relações entre cônjuges consagrado nos termos
do artigo 52 do Código Civil. O legislador já estabelece que salvo o disposto no artigo seguinte,
as relações entre os cônjuges são reguladas pela lei nacional comum. Todavia, não tendo os
cônjuges a mesma nacionalidade é aplicável a lei da residência habitual comum e, na falta da
residência habitual comum aplica-se a lei pessoal do marido39. Portanto, ao aplicar-se a lei
pessoal do marido estaríamos a violar o princípio da igualdade que o legislador tutela nos termos
do artigo 35 da CRM40. Visto que, os cônjuges têm os mesmos direitos e deveres segundo o
legislador no n.º 2 à ultima parte do artigo 3 da Lei da Família41.

Portanto, ao aplicar-se a lei do marido, automaticamente estamos a favorecer


apenas uma das partes, ou seja, o legislador está a favorecer neste caso o marido e não os
cônjuges. Outrossim, na ordem jurídica Moçambicana á uma necessidade da reforma do direito
Internacional Privado. Por causa de certas matérias que o legislador não faz menção na sua
legislação, constituindo por sua vez uma dificuldade aos órgãos jurisdicionais a composição
destes tipos de litígio.

Por outro lado, Governos dos Estados Membros da Organização dos Estados
Americanos, criaram uma convenção Interamericana sobre Normas Gerais de Direito
Internacional Privado42. Está convenção consagra certas matérias que o nosso legislador não faz
menção. Como por exemplo: o legislador Moçambicano não consagrou na sua legislação o
problema da questão prévia.

Outrossim, Governos dos Estados Membros da Organização dos Estados


Americanos, regulamentam o problema da questão prévia nos termos do artigo 8 da convenção
Interamericana sobre Normas Gerais de Direito Internacional Privado. Estabelece que as questões

39
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-Lei n° 47 344, de 25 de Novembro de 1966, que aprova o novo
Código Civil, in Portaria n° 22 869, de 4 de Setembro de 1967.
40
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro.
41
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro, Lei da Família, in Boletim da
República, I Série n.º 239.
42
ORGANIZATION OF AMERICAN STATES, Convenção Interamericana sobre Normas Gerais de Direito
Internacional Privado (1979), http://www.oas.org/juridico/portuguese/treaties/b-45.htm acessado no dia 13 de
Março de 2024.
10
prévias, preliminares ou incidentes que surjam em decorrência de uma questão principal não
devem necessariamente ser resolvidas de acordo com a lei que regula esta ultima43.

CONCLUSÃO

Após a conclusão do artigo científico, constatou-se que a reforma do direito


internacional privado remonta anteriormente a reforma dos estudos jurídicos de 1911. O Direito
Internacional privado, consolidou-se na era do século XIX com a codificação, Portanto, no caso
de Moçambique o direito internacional privado teve início com a harmonização do regime do
Código Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47 344 de 25 de Novembro de 1966, e posto em
vigor em Moçambique pela portaria n.º 22 869 de 4 de Setembro de 1967.

Entretanto, é preciso ter em consideração que a reforma do direito internacional


privado na ordem jurídica Moçambicana é indispensável fazer uma revisão do Livro I da parte
geral do Código Civil, ou seja, a reforma do direito internacional privado em Moçambique cinge-
se no Livro I da parte geral do Código Civil.

Outrossim, a doutrina discute hoje várias questões relacionadas com o direito


internacional privado, um dos aspectos pertinente é o problema da questão prévia que é discutido
em torno de duas teorias, a teoria tradicional, que diz que o problema da questão prévia é um
problema de escolha do sistema conflitual a que em certos casos deverá pedir-se a resolução do
conflito de leis. Enquanto a teoria dominante, que estabelece se entre duas questões jurídicas
pende um nexo de prejudicialidade e a principal, está sujeita a um direito estrangeiro, surge o
problema de saber se devemos aplicar à questão preliminar do Direito Internacional Privado do
foro ou da lex cause. A doutrina trás duas soluções, a corrente da conexão autónoma que
estabelece que o problema da questão prévia deve decidir-se em conformidade com a lei que lhe
for aplicável segundo o sistema de conflitos do foro, como se o ponto surgisse a título incidental,
mas principal fundamentando-se com base o princípio da harmonia jurídica interna. E a corrente
da conexão subordinada, que estabelece que a questão prévia consiste em respeitar as normas de
conflitos do estatuto da questão principal argumenta-se com base o princípio da harmonia jurídica
internacional.

43
ORGANIZATION OF AMERICAN STATES, Convenção Interamericana sobre Normas Gerais de Direito
Internacional Privado (1979), http://www.oas.org/juridico/portuguese/treaties/b-45.htm acessado no dia 13 de
Março de 2024.
11
A lei moçambicana seja omissa em relação a esta matéria, a doutrina e a
jurisprudência têm entendido dever aplicar-se a conexão subordinada. Por outro lado, é preciso
que o legislador Moçambicano possa regulamentar o problema da questão prévia para que os
órgãos jurisdicionais tenham mais facilidade nas resoluções dos litígios em matérias de problema
da questão prévia em Direito Internacional Privado.

SUGESTÕES

No entanto, é de ter em consideração de todos os aspectos pertinentes abordados


no trabalho, que propõem a necessidade da reforma do Direito Internacional Privado na Ordem
Jurídica Moçambicana.

 Para a reforma do direito internacional privado na ordem jurídica moçambicana é


necessário que seja feita uma proposta de revisão do Livro I da parte geral do Código
Civil;
 Outro aspecto, faz referência a restruturação das normas do direito internacional privado
na ordem jurídica moçambicana, e
 A consagração de algumas situações que a nossa lei é omissa, ou seja, a regulamentação
de algumas matérias que o legislador não prevê nas normas do direito internacional
privado moçambicano como por exemplo o problema da questão prévia.

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

Legislações:

 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da


República, 1ª série, nº51 de 22 de Dezembro.
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro, Lei da Família,
in Boletim da República, I Série n.º 239.
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-Lei n° 47 344, de 25 de Novembro de 1966,
que aprova o novo Código Civil, in Portaria n° 22 869, de 4 de Setembro de 1967.
Doutrina:
 CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Internacional Privado I, Almedina Editora,
Lisboa, 2014.
12
 RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, Almedina,
2009.

Internet:

 PORTAL DO GOVERNO DE MOÇAMBIQUE, A Luta Pela Independência, disponível


no site https://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Mocambique/Historia-de-
Mocambique/A-Luta-pela-Independencia, acessado no dia 10 de Março.
 RAMOS, André de Carvalho, Evolução histórica do direito Internacional privado e
consagração do conflitualismo, Rev. secr. Trib. perm. revis. Año 3, Nº 5; Março 2015,
disponível no site DOI: http://dx.doi.org/10.16890/rstpr.a3.n5.423 - acessado no dia 8 de
Março de 2024.
 ORGANIZATION OF AMERICAN STATES, Convenção Interamericana sobre Normas Gerais
de Direito Internacional Privado (1979), http://www.oas.org/juridico/portuguese/treaties/b-
45.htm acessado no dia 13 de Março de 2024.

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