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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Psicologia dos Grupos II

Esboço Relato de Observação - Material de Registro

Observadores: Félix, Leonardo e Luiza


Técnica de Registro: Escrita no papel
Observados: grupo de jovens com dependência química do CAPS AD, composto por 4
jovens, os quais serão identificados por B.A, E.V, F.V e I.G
Orientador do grupo: N.A psicólogo
Local: Comunidade Terapêutica PACTO para Adolescentes
Data: 15/09/2023
Hora: 15:20
Breve descrição do grupo observado:
O grupo utilizado como objeto de observação é um grupo composto por quatros
adolescentes, que serão identificados por B.A, de 17 anos, membro do grupo há 7
meses, quase finalizando o período de tratamento de 9 meses. F.V adolescente de 15
anos, ele se encontra na sua segunda recente institucionalização, F.V chegou a relatar
que se “abrigou” na comunidade terapêutica após sofrer ameaças. I.G membro do
grupo há um curto período de tempo, possui 16 anos de idade. E.V de 17 anos, que,
assim como, os demais membros do grupo, não é o seu primeiro contato com
tratamentos de dependência química. A frequência de encontros do grupo é sistemática,
ocorrendo semanalmente todas as quartas-feiras. O mediador/terapeuta do grupo será
nomeado em nossa observação como N.A, ele está acompanhando o grupo desde julho
de 2023, um “novato” no grupo.
Relato na perspectiva dos observadores sobre os membros integrantes do grupo e
do funcionamento do grupo em si:
Na dinâmica grupal entre os membros do grupo observado foi notado

Para os observadores foi passado um grupo


O grupo observado foi percebido como um grupo de pouca intimidade, os membros do
grupo raramente interagiam entre si
Fica fácil chegar na hipótese de que grande parte dos membros dos grupos se eram
“desconhecidos”, eventualmente se mencionavam nas conversas ou interagiam entre si.
E.v demonstrou diversas vezes dificuldade nomear quais eram os seus prazeres e
desejos de vida. Tais observações contribuem para uma perspectiva de um quadro
deprimido

não é seu primeiro contato com instituições que tratam de dependência química
Hipoteses em cima das descrições
B.a compromissado com o processo, Ig. Provalvelmente em estado de luto,
F.v relato da perda do corre,

Esboço do diagrama do ambiente da dinâmica grupal:


As inferências da observação estarão em itálico.
Tivemos dois encontros com a Comunidade Terapêutica. Tivemos um pequeno
encontro no dia 13/09 com a coordenadora da instituição, com o objetivo de fazer as
“combinações” da observação. O dia da observação ocorreu no dia 14/09. Quando
chegamos ao local da Comunidade Terapêutica, fomos recebidos pelo Orientador do
grupo e psicólogo, N.A, o qual nos dirigiu até a sala em que ocorreria a observação e
conversamos brevemente, ele nos contou sobre as abordagens teóricas as quais utiliza
no processo terapêutico deste grupo e suas intervenções enquanto orientador psicólogo
daquele espaço e, nós, esclarecemos a ele o propósito de nossa atividade e nosso papel
como observadores. Em seguida, N.A saiu da sala e chamou os 4 jovens do grupo para
se juntarem a nós em um círculo de cadeiras, ao entrar na sala cada um dos jovens nos
cumprimentou com um aperto de mão antes de se sentarem.
N.A deu início a sessão do grupo pedindo que os jovens se apresentassem a nós
e falassem qual era a droga que mais dava prazer a eles, e assim o fizeram em sentido
horário da roda. B.A disse que tinha 17 anos e gostava de usar “coca”, que gostava
muito de ir em baile e festa, ele disse que hoje entende que não é só um vício, é uma
doença que vem do comportamento, ele falou enquanto olhava profundamente no
nossos olhos, primeiro de um de nós, depois do outro. E.V também disse que tinha 17
anos e usava cocaína, F.V disse que tinha 15 anos e é sua segunda vez na comunidade,
usava maconha, sucesso de cocaína, f.v passou a maior parte do tempo da sessão,
movimentando suas pernas. I.G se apresentou por último, ele estava com uma das
pernas quebrada, enfaixada em gesso, ele falou com tom de voz baixo, quase não
escutamos seu nome, mas não falamos nada, ele tem 16 anos e fumava pedra
principalmente
N.A então começou a falar que tenta muito ali com os meninos, resgatar a
questão da subjetividade e espontaneidade deles, se afastando da sensação de culpa que
é o histórica do uso de drogas; em seguida, disse para os jovens contarem o que eles
fazem ali na sede e B.A logo começou dizendo que não era nada forçado, mas também
não tão livre, que “é um treinamento na verdade, para o que a gente faz aqui dentro,
fazer lá fora também”, e nos explicou resumidamente como se dão suas rotinas dentro
da comunidade. Depois da fala de B.A, ocorreu um breve silêncio dos integrantes do
grupo se olhando e olhando para N.A principalmente sem falar mais nada. N.A, então,
pede aos meninos que contém um pouco de suas histórias se se sentirem à vontade:
desta vez, F.V foi o primeiro a responder espontaneamente, disse que perdeu seu tio,
irmão da mãe com 4 tiros, ele também era dependente, ele ficou muito mal com isso e
começou a fumar maconha com a namorada, depois passou a cheirar quase todos dias
da semana e roubar, ele procurou ajuda e se internou ali, mas logo depois desistiu e
ficou 5 meses na rua e recaiu, ele voltou porque arrumou uma confusão com umas
pessoas de fora que o ameaçaram. B.A disse que desde pequeno idolatrava coisas sobre
armas e drogas, eu roubava telefone no centro, depois traficou e depois começou a
roubar carros, até que uma vez que um carro capotou ele teve que fugir. E.V disse que
perdeu 2 irmãos, desde pequeno foi criado em clínicas, toda sua família, ele usava
drogas porque ficava muito triste de pensar nos irmãos. I.G iniciou contando uma
história sobre uma vez que foi assaltar com seu primo e o primo morreu, mas parou de
contar a história, disse “não vou nem falar, se não vou ficar triste de novo”, e baixou a
cabeça. N.A o respondeu, disse que estava tudo bem ele não falar sobre.
Logo depois, N.A questionou o grupo sobre o que eles pensam sobre o uso de
drogas hoje em dia e F.V prontamente respondeu, disse que não quer, pois só o trouxe
coisa ruim, N.A perguntou a ele se ele tinha perdido muitos bens, e F.V respondeu que
não, que eram coisas emocionais; B.A disse q sai dali em novembro, e que sente que
tem uma base boa para sair, disse que o tratamento vem o guiando, ele contou que
trabalha como chapista em uma hamburgueria da cidade baixa, que a sogra o conseguiu
este emprego, que quando sair vai morar com a sua namorada na parte de cima da casa
da sogra; ocorreu também de B.A perguntar aos observadores se eles o conheciam o
local; além disso, B.A trouxe a conversa os 12 passos com um tom de voz animado,
disse que eles estudam muito o livros sobre os 12 passos escrito por dois homens que
passaram por tudo o que eles passaram.
N.A olhou para o grupo e disse “Vamos construindo caminhos juntos”, e
perguntou as jovens quais são seus sonhos, F.V respondeu que gostaria de juntar um
dinheiro e comprar uma câmera quando sair da comunidade, que já fez um curso de
fotografia e quer tirar umas fotos, ser fotógrafo. N.A questionou diretamente o I.G, que
disse que seu sonho era jogar bola, F.V sorriu e disse para ele que por enquanto não
dava, se referindo a perna engessada e todos deram uma risadinha. B.A disse que o
sonho dele era abrir um negócio e fazer gastronomia, construindo aos poucos seu
próprio lugar, e ressaltou que já teria 18 anos quando saísse, que vai morar com a
namorada. E.V disse que não tinha muitos planos, N.A disse a ele que tudo bem, que ele
via que o menino estava estudando bastante, fazendo todas as leituras que tudo no seu
tempo, e E.V riu e disse que “mais ou menos”.
Depois, N.A perguntou para eles o que era o mais importante quando eles
saírem, e todos responderam quase que ao mesmo tempo “Ir a reunião”. Logo após,
passou alguns segundos de silêncio com todos se entreolhando e então N.A encerrou a
sessão, disse que era isso por hoje, nos despedimos dos meninos os quais foram muito
educados, apertando a mão de cada um de nós novamente e fomos embora. A
observação durou em 1 hora e 10 minutos.
Gostaríamos de acrescentar uma ponderação importante. A observação do grupo em
questão não transcorreu exatamente como o planejado, mesmo após explicarmos ao
coordenador do grupo nosso objetivo e orientações para realizar a observação de forma
discreta e neutra como observadores passionais, o mesmo insistiu que nos sentássemos
na roda de conversa junto ao grupo e conduziu o encontro de forma que os participantes
entenderam que deveriam apresentar-se para nós, nos deixar a par de suas histórias e
explicar diretamente para nós os temas trazidos pelo orientador no dia (mantivemos
nossa postura passiva ao decorrer). Por tal razão, a dinâmica do grupo se deu um pouco
comprometida, porém, trazemos nossos registros desta particular observação, pois, de
qualquer modo, acreditamos que serão enriquecedores para a realização do nosso
protocolo de observação. O fato de termos sido “empurrados” para a dinâmica, contribui
como conteúdo da observação a ser refletido.

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