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UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL

CURSO DE PSICOLOGIA

ADRIANA FERREIRA DA SILVA


JÉSSIKA MARIZ HUNGER

Compreensão dos professores do Ensino Fundamental I, de escolas públicas e


privadas, sobre transtorno opositor desafiante (TOD)

São Caetano do Sul


2019
ADRIANA FERREIRA DA SILVA
JÉSSIKA MARIZ HUNGER

Compreensão dos professores do Ensino Fundamental I, de escolas públicas e


privadas, sobre transtorno opositor desafiante (TOD)

Trabalho de Conclusão de Curso depositado


em formato de artigo científico, como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Psicologia.

Orientadora: Ms. Irene Cantero Barone

São Caetano do Sul


2019
RESUMO

Este estudo objetivou compreender o entendimento dos professores do ensino


fundamental I sobre o Transtorno de Oposição Desafiante (TOD) relacionado à
prática docente. O TOD tem início na infância e se manifesta nas relações
interpessoais pelos comportamentos desafiador e de oposição, principalmente. É
caracterizado por graus de gravidade segundo a recorrência desses
comportamentos em diferentes ambientes. O DSM V classifica o transtorno no grupo
de transtornos disruptivos como intolerância a frustração, impulsividade e
desregulação do humor, podendo ser leve, moderado ou grave. A pesquisa foi
realizada em dois momentos, um quantitativo, por meio de um questionário online, e
outro qualitativo com a aplicação de entrevistas semiestruturadas pessoais para
aprofundamento dos dados iniciais. Os resultados apontaram que os professores
conhecem o transtorno, alguns por experiência e outros de ouvir falar, mas, há uma
percepção inicial de que os comportamentos são resultado de educação permissiva,
que a família tem dificuldades de impor limites. O manejo de crianças com TOD na
escola requer capacitação dos professores. Contudo, a formação de professores
não provê essas necessidades específicas. Desta forma, os professores buscam
conhecimentos para uma prática assertiva nesses casos. Ainda em relação à
formação de professores, evidenciou-se a necessidade de acolhimento dessas
demandas para preparar os educadores para definir estratégias para casos de
crianças com necessidades especiais. Constatou-se escassez de estudos sobre o
transtorno e que seu diagnóstico é clínico, multifatorial e complexo, o que dificulta o
acesso a informações mais precisas. Este estudo propôs iniciar a discussão sobre o
TOD no âmbito escolar, suscita-se então, a continuidade de estudos para ampliar as
discussões sobre o transtorno e desenvolvimento infantil.

Palavras-chave: Transtorno Desafiador Opositor; Capacitação dos professores;


Formação de professores.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................4
2 METODOLOGIA.....................................................................................................10
2.1 Participantes da pesquisa....................................................................................10
2.1.1 Critérios de inclusão......................................................................................... 11
2.1.2 Critérios de exclusão........................................................................................11
2.2 Local.................................................................................................................... 11
2.3 Instrumentos........................................................................................................11
2.4 Procedimento.......................................................................................................11
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.......................................12
3.1 Primeira etapa – Quantitativa..............................................................................12
3.1.1 Análise dos resultados – Etapa 1.....................................................................13
3.1.2 Entrevistas pessoais – Etapa 2.........................................................................15
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................18
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 19
4

1 INTRODUÇÃO

Este estudo está na área da Psicologia Escolar e focalizou os


comportamentos de escolares do ensino fundamental, sob a óptica do professor,
relativos ao Transtorno Opositor Desafiante (TOD).
A psicologia é uma ciência que estuda os processos mentais dos seres
humanos constituída por uma diversidade de objetos de estudo. Nesse sentido
envolve sensações, pensamentos, sentimentos, transtornos mentais,
desenvolvimento humano, personalidade, comportamento, em diferentes contextos.
As áreas da psicologia são abrangentes e existem diversas abordagens e teorias
para auxiliar na compreensão do indivíduo, a área de interesse nesta pesquisa será
a Psicologia Escolar, com foco no Transtorno Opositor Desafiante (TOD).
Entendendo que os comportamentos específicos do transtorno opositor
desafiante aparecem na grande parte das vezes no ambiente escolar, uma vez que
é uma experiência da criança, fora do âmbito familiar, com regras, figuras de
autoridade e convívio social, crianças com o diagnóstico podem vir a ter mais
dificuldades do que as outras no âmbito pedagógico.
Desta forma, é importante compreender a percepção dos professores
sobre o TOD, pois os profissionais da escola precisam ter uma compreensão ampla
dessa questão, para que possa garantir a aprendizagem da criança, além do
desenvolvimento do bom convívio social com as outras crianças e com outras
pessoas que trabalham na escola. Assim configurou-se o seguinte problema: Qual é
o conhecimento e significações de professores, de escolas públicas e privadas,
sobre o transtorno opositor desafiante? Foi levantado como hipótese para entender
se os professores confundem crianças questionadoras e desafiadoras com
comportamentos do Transtorno Opositor Desafiante. Os professores compreendem
que os comportamentos de um possível Transtorno Opositor Desafiante são
comportamentos decorrentes da educação permissiva e, portanto, relativa à falta de
limites. Como objetivos essa pesquisa propõe-se: compreender como os professores
do ensino fundamental I, das escolas públicas e privadas entendem o transtorno
opositor desafiante e como objetivos específicos: identificar quais comportamentos
são associados ao Transtorno Opositor Desafiante pelos professores; Levantar as
5

estratégias dos professores no processo de aprendizagem das crianças com


diagnóstico com Transtorno Opositor Desafiante; Analisar as representações dos
professores sobre o Transtorno Opositor Desafiante; Verificar se há percepções que
relacionam os comportamentos associados ao TOD à educação permissiva.
Segundo o DSM-5 (2013), o TOD é caracterizado por comportamentos
específicos que se mantêm por mais de 6 meses, como humor raivoso ou irritável,
implicando em perda da calma facilmente e sensibilidade a ressentimentos, o
comportamento questionador/desafiante, no caso das crianças, se manifesta diante
de figuras de autoridade, com recusa a seguir regras determinadas por figuras de
autoridade, como os pais e o professor. Frequentemente incomodam outras pessoas
deliberadamente, transmitindo a culpa de outros por seus erros ou mau
comportamento, com índole vingativa, conta se a criança foi malvada ou vingativa
duas vezes ou mais nos últimos seis meses. A manifestação do transtorno é definida
em graus de gravidade.
DSM-5 (2013, p.463) define o grau de manifestação do transtorno:
O transtorno pode ser considerado leve, moderado e grave. Leve quando o
comportamento se limita a um ambiente específico, como casa, escola ou
com os colegas, no caso das crianças, moderado se os comportamentos se
apresentarem em dois ambientes e é considerado grave quando os
comportamentos se apresentam em três ou mais ambientes.

Além disso há transtornos que possuem comorbidades em relação ao


TOD, como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e o transtorno de
conduta (Assumpção Jr., 2014) e, ainda, associados ao transtorno bipolar,
transtorno de ansiedade e transtorno de depressão maior. Estudando o DSM-5
(2013), é possível compreender que o transtorno de oposição desafiante é mais
comum em crianças no início da infância e existe uma prevalência de 1 a 11% com
média de 3,3%, podendo ser variada de acordo com a idade e o gênero. Geralmente
os indivíduos com transtorno de oposição desafiante têm possibilidade maior em
desenvolver transtornos de ansiedade e transtorno depressivo maior. Também, pode
ser associado o transtorno de conduta em adolescentes e adultos com o uso de
substâncias que acabam desencadeando uma série de transtornos, incluindo o
transtorno desafiador opositor.
De acordo com Barletta (2011), do ponto de vista do diagnóstico, pode
ocorrer um conflito entre transtorno opositor desafiante, transtorno de conduta e
transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, sendo necessária uma avaliação
6

bem detalhada dos sintomas para iniciar o tratamento de maneira correta. Para
Barletta a entrevista clínica ocorre nas primeiras sessões, após a coleta de dados é
iniciada uma análise com presença obrigatória do responsável e é indispensável a
presença do cuidador nessa análise, pois é desde o nascimento que começa a
ocorrer os primeiros contatos com fatores psicossociais, portanto, importante para a
elaboração de um diagnóstico. Feita a análise, inclui-se nas sessões instrumentos
avaliativos para crianças e adolescentes. Em relação ao tratamento, normalmente é
realizado com a criança e com os pais auxiliando e moldando os comportamentos e
ensinando novas táticas para relação entre a criança e o responsável, eliminando os
comportamentos hostis. As técnicas mais utilizadas na terapia são fundamentadas
na abordagem comportamental e cognitiva, contudo, é necessário um levantamento
de informações completo para identificar qual a melhor técnica para tratar a criança
ou o adolescente.
Para Assumpção Jr. (2014), o uso de exames psicológicos é importante
para identificar falhas nos mecanismos do ser humano, porque é entendido que as
interações com o meio são feitas pelo sistema nervoso central. Quando uma criança
realiza um teste é possível identificar alterações cognitivas, cerebrais e sociais e isso
possui relevância para auxiliar no diagnóstico da criança.
Do ponto de vista da psiquiatria, conforme Assumpção Jr. (2014), o
cuidado multidisciplinar com a pessoa com TOD é apontado em cinco
procedimentos terapêuticos: prescrição de medicamentos; psicopedagógico;
psicoterapia comportamental; orientação escolar e orientação familiar.
Uma contribuição da neurociência é oferecida por Velasques e Ribeiro
(2014) que ressaltam que a etiologia do TOD é multifatorial e complexa, portanto,
seu diagnóstico implica na análise de fatores genéticos, ambientais e emocionais.
Contudo, chama a atenção para os aspectos neurobiológicos do transtorno, no que
diz respeito à possíveis desorganizações em relação aos comportamentos
disruptivos. Há estudos, segundo os autores, que indicam alterações no córtex pré-
frontal e no funcionamento de neurotransmissores. As alterações têm sido atribuídas
principalmente a fatores biológicos exógenos, como presença de substâncias tóxicas
no útero ou deficiência nutricional. Os autores ressaltam, ainda, que até o momento,
não há exames laboratoriais ou de imagem que possam auxiliar na evidência do
TOD.
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Em geral há poucos estudos relacionados ao TOD, é necessário que novas


pesquisas sejam levantadas para melhor entendimento sobre o transtorno. Existe
uma lacuna a ser preenchida para compreender quais fatores são indispensáveis
observar quando a criança apresenta o transtorno. Os professores das redes de
ensino acabam não sabendo lidar com criança com TOD devido à pouca
disponibilidade de estudos sobre o transtorno opositor desafiante e a apresentação
do transtorno em formação superior.
Em Paulo e Rondina (2010, p. 2-3) podemos verificar:
Há relativa escassez de trabalhos sobre o Transtorno Desafiador Opositor,
de forma geral e a literatura sugere que fatores diversos podem contribuir
para o aparecimento do problema. Em especial, é possível afirmar que
ainda há poucos estudos direcionados a investigar os fatores determinantes
que contribuem para o aparecimento do problema.

É importante ressaltar que a escola é um dos ambientes que a


manifestação dos comportamentos relacionados ao TOD é observada. Salienta-se,
conforme Assumpção Jr. (2014) que esses comportamentos podem ser atribuídos à
falta de educação e limites, embora seja relevante a condição diagnóstica. É comum
o TOD ser confundido como falta de educação. Para Tavares (2018), o TOD existe
e precisa ser falado, mas não devemos esquecer da falta de educação, uma vez que
os pais são responsabilizados por não impor regras no dia-a-dia da criança, o que
prejudica as relações com a criança de maneira geral. Os comportamentos relativos
ao transtorno geralmente são identificados por um professor com conhecimento
básico e que pode até perceber fatores orgânicos e emocionais da criança. Contudo,
o professor despreparado pode contribuir para um diagnóstico tardio e,
consequentemente, para a ausência de um tratamento adequado e a quebra do
rótulo de uma criança sem educação. Ainda, quando identificado é necessário o
manejo com a criança de forma clara e objetiva, com argumentos válidos para que a
criança não possua a chance de se opor.
Em relação à educação básica, entende-se que tem papel fundamental na
vida e formação da criança, portanto, este trabalho propõe-se a entender como é a
compreensão dos professores em relação ao TOD. Um professor necessita do
conhecimento sobre o transtorno para adotar estratégias com a pessoa com TOD,
relativas ao processo de aprendizagem e de convivência com os outros. Quando um
professor identifica que há um comportamento diferenciado na criança é importante
que seja feito um encaminhamento para profissionais especializados, mas de
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maneira assertiva evitando a rotulação da criança. Para Assumpção Jr. (2014),


após avaliação do quadro de acordo com os procedimentos de trabalho dos
profissionais, pode ser estabelecido um projeto terapêutico utilizando alguns
recursos como uso de medicamentos, acompanhamentos com psicopedagogos,
psicoterapia com bases comportamentais, orientação escolar e orientação familiar.
Segundo Paulo e Rondina (2010), embora não haja tantos estudos sobre
o transtorno, existe um conjunto de fatores que contribuem para o bom
entendimento das características, frequentemente relacionadas a fatores biológicos
e psicossociais. É importante salientar que crianças possuem comportamento de
desobediência e birra e é considerado típico da idade, mas, regularmente crianças
opositoras tendem a confrontar os adultos e apresentam dificuldades na adaptação
a ambientes diversos. Se este comportamento persistir é indício de um transtorno
relacionado. No que diz respeito à família, a falta de regras pode ser um fator de
agravamento dos sintomas. Ainda, as relações que ocorrem dentro de casa, bem
como discussões dos familiares, agressividade, linguagem chula, entre outros,
contribuem para a manifestação do TOD, quando há predisposição para ocorrer o
transtorno.
Segundo o DSM-5 (2013), o transtorno opositor desafiante prevalece
entre crianças e adolescentes que possuem diversos cuidadores ou convivem em
famílias que possuem um histórico de agressividade ou negligência. Vale ressaltar
que grande parte das características do transtorno opositor desafiante fica mais
intensa durante o período escolar. Desta forma, é necessário que ocorra uma
atenção maior no comportamento desses indivíduos e os profissionais devem fazer
uma avaliação dos níveis em que esses comportamentos se manifestam para pode
concluir se realmente está ocorrendo uma manifestação do transtorno.

Teixeira (2014), fala sobre o tratamento psicossocial da criança opositora,


que engloba estratégias que tem como finalidade aumentar a qualidade das relações
sociais das crianças. As estratégias são feitas através de psicoeducação nos
contextos familiar e escolar. A psicoeducação no âmbito escolar é fundamental para
o tratamento psicossocial da criança opositora, segundo Teixeira (2014),
possibilitando aos professores, orientadores, diretores e outros funcionários da
escola o manejo adequado dos comportamentos do TOD no ambiente escolar,
entendendo que a gestão adequada é muito importante para o sucesso do
9

tratamento. Além disso, a psicoeducação escolar possibilita que a escola possa ter
estratégias escolares adequadas que permitam a reintegração da criança no
contexto de sala de aula, recreio e outras atividades, e que aprendam técnicas
comportamentais para extinguir comportamento de negativismo, agressivo e
desrespeitoso e estimular comportamentos que queiram ser introduzidos.
Para Siqueira e Gianetti (2011), a educação formal no Brasil tem um
importante papel na questão sócio cultural, porque uma boa educação é sinal de
sucesso social. Quando começou a ocorrer muitos casos de queixas escolares em
consultórios de saúde, passou-se a questionar a educação fundamental nas escolas.
Desta forma, capacitar profissionais da área escolar é de extrema importância para
entender o funcionamento neurológico de aprendizagem da criança. Nesse sentido,
um professor do ensino fundamental deve identificar se há dificuldade de
aprendizagem ou se há outros fatores comportamentais que estão prejudicando o
desempenho escolar. Uma criança com transtorno opositor desafiante pode
apresentar comportamentos agressivos diante de situações em que ela não
consegue aprender e ter dificuldades em realizar tarefas.
Em alguns casos a criança que possui transtorno opositor desafiante
pode ser considerada uma criança que oferece risco para si e para os outros. Para
Caponi (2018), é extremamente importante identificar o transtorno e realizar um
diagnóstico logo no início da infância, porque se uma criança com o diagnóstico de
TOD atingir a idade adulta sem o devido tratamento e a devida atenção, é possível
que seja desenvolvido um transtorno de personalidade antissocial. A escassez de
estudos sobre o TOD é preocupante, ainda não há confirmação sobre a criança
desenvolver um transtorno de personalidade. Caponi (2018), acrescenta que se for
comprovado que o TOD tem relação com transtorno de personalidade antissocial é
necessário, juntamente com a terapia, um tratamento medicamentoso. Um indivíduo
que cresce e se desenvolve sem entender sua condição também não compreenderá
algumas frustrações que podem ocorrer ao longo de sua vida. Se de fato o
transtorno for caracterizado, vários âmbitos da sua vida podem ser influenciados
negativamente como vida amorosa, acadêmica, profissional. A dificuldade de
sucesso pode gerar desapontamento, frustração, e desmotivação para novas
conquistas.
No que diz respeito à assistência educacional, no Brasil existe a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) e as Diretrizes Nacionais
10

para a Educação Especial na Educação Básica (Resolução CNE/CEB nº 2/2001),


preconizadas na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva (BRASIL, 2007), que tem por finalidade garantir que alunos que
apresentam necessidades especiais possam ter acesso a escolas regulares de
ensino básico. Apesar da legislação que assegure a matrícula da criança, no Brasil
ainda há muitas crianças com necessidades especiais que ainda não tem acesso a
escola regular e a educação especial não tem muitos recursos para que seja efetiva
(Leal & Lustosa, 2015).
Diante disso, é muito importante que os professores saiam formados e
preparados para questões de educação inclusiva, pois a legislação determina
inserção de alunos com deficiência em salas regulares de ensino. Isso implica no
reparo dos professores na graduação e na atualização continuada. Leal e Lustosa
(2015) discorre criticamente sobre a matriz curricular de pedagogia, pois diante da
educação especial estar garantida por lei nas escolas de educação básica de
escolas regulares, os professores precisam sair da graduação já capacitados.
As questões sobre formação de professores e da educação inclusiva,
embora importantes, não serão discutidas no presente estudo, mas tem foco o
conhecimento do professor sobre o TOD na escola as características
comportamentais que são, por vezes, confundidas com educação permissiva.

2 METODOLOGIA

2.1 Participantes da pesquisa

Professores que atuam do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental I, de


escolas pública e privadas.

2.1.1 Critérios de inclusão

Professores que lecionam no Ensino Fundamental I, de escolas públicas


e privadas.

2.1.2 Critérios de exclusão


11

Professores que trabalham com educação infantil, fundamental II, ensino


médio, ensino superior e outros profissionais que atuam na escola.

2.2 Local

O local foi escolhido juntamente com o entrevistado após o


preenchimento do formulário online (Google Forms).

2.3 Instrumentos

Foi utilizado questionário online (Google Forms) e entrevista


semiestruturada, especialmente elaborados para esta pesquisa. O primeiro
instrumento foi utilizado na primeira fase com duração aproximada de 20 minutos
para preenchimento. A entrevista semiestrutura foi realizada no segundo momento
da pesquisa, com aplicação individual e pessoal. Para registro foi usado a gravação
em áudio e teve duração de 60 minutos aproximadamente.

2.4 Procedimento

O estudo foi constituído por dois momentos. Primeiro foi elaborado um


questionário na plataforma online (Google Forms) para os participantes convidados,
juntamente com o termo de consentimento, que foi enviado e assinado via e-mail.
O resultado da primeira etapa apontou que praticamente todos os
participantes conheciam ou já tinham ouvido falar do TOD. Assim, todos os
participantes da primeira etapa foram convidados para a segunda etapa do estudo e
apenas três aceitaram.
Novamente os participantes foram contatados até que mais um aceitasse.
Desta forma, foram aplicadas quatro entrevistas pessoais semiestruturadas,
conduzidas mediante um roteiro, para aprofundamento de dados e responder aos
objetivos propostos.
Em relação à amostra, é não probabilística. Os participantes selecionados
para comporem o estudo foram solicitados a convidar novos participantes da sua
rede de amigos e conhecidos, ao final do questionário online. A princípio foram
selecionados professores por indicação de pessoas conhecidas que trabalham no
12

ensino fundamental I como docentes. Foram solicitadas novas indicações ao final do


questionário online.
O estudo foi submetido ao Comitê de Ética e aprovado sob o número.
3.505.366.

3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1 Primeira etapa – Quantitativa

A primeira etapa, de natureza exploratória, buscou identificar as


experiências com inclusão e a experiências com o TOD, especificamente sobre
aspectos comportamentais de um estudante com TOD. Essa primeira coleta de
dados foi quantitativa, mediante envio do formulário online (Google Forms). Um total
de 20 professores do Ensino Fundamental I participaram do estudo. O questionário
contava com dez questões e possibilitou a caracterização da amostra. O conjunto de
respostas e as variáveis pesquisadas estão sintetizados na Tabela 1.

Tabela 1
Resultados da primeira etapa da pesquisa

Características Resultados

Idade média dos participantes 42,5 anos

Tempo médio de docência 17,2 anos

Tipo de escola 65% escola pública; 30% escola privada; 5%


em ambas

Função Técnica Direção de escola; Orientação pedagógica

Disciplinas ministradas/atividades Ciências; artes; informática educacional;


complementares matemática; teatro; orientação alimentar,
higiene, recreação, linguagem oral e escrita

Experiências com Inclusão 85% dos professores relataram que atendem


crianças em condições de inclusão; maior
frequência é para os casos de TDAH com
64,7% de indicações

Capacitação profissional para atuar com 80% realizaram algum tipo de capacitação
inclusão

Tipo de capacitação Promovido pela escola, cursos a distância e


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online, cursos presenciais, grupos de


estudos, estudo sozinho/autodidata

Conhecimento sobre o Transtorno Opositor 95% já ouviram falar de TOD; 29,5%


Desafiante trabalharam com TOD

Aspectos comportamentais apontados pelos Não sabe esperar, quer tudo na hora
professores em relação ao transtorno indicado por 89,5% dos participantes;
agressividade indicado por 78,9% dos
participantes, acredita que tem sempre
razão, que está sempre certo indicado em
73,7%; birra/falta de limites indicado em
63,2%

Nota. Resultados da primeira etapa da pesquisa e elaborado pelas pesquisadoras.

3.1.1 Análise dos resultados – Etapa 1

Os resultados da Tabela 1 demonstram que o conjunto de professores


respondentes têm experiência acima de 15 anos e a grande maioria já atendeu
alunos em inclusão. As deficiências são diversas e incluem: deficiência física,
deficiência auditiva, deficiência intelectual, Síndrome de Down e outras. A maior
frequência é para os casos de TDAH (64,7% de indicações). Para o TOD, 29,4% dos
participantes já tiveram experiências com crianças com o transtorno. Esse
percentual instiga a considerar que, de fato, os professores precisam de preparo
para o manejo da criança com TOD.
Contudo, os professores participantes, em sua maioria relataram buscas
alternativas fora da instituição de formação superior. Esses professores realizam
capacitação realizando leituras de artigos científicos, cursos, compartilhamento de
informações para atender os casos de inclusão. Essa capacitação se dá, de
maneira significativa, pela busca dos professores, caracterizando-se como
autodidatas (53%).
Isso pode resultar na busca de fontes não confiáveis, não validadas ou
desatualizadas.
As participantes em sua maioria relatam ter conhecimento sobre o TOD,
porém cerca de 30% tiveram contato efetivo com o transtorno. Esses relataram a
experiência como desafiadora, por se tratar de um transtorno recente e pouco
estudado. Nesse sentido, a busca por informações sobre o assunto e capacitação
para o TOD pode ser mais difícil, pois existe uma escassez de estudos sobre o
14

transtorno, o que dificulta o entendimento sobre o transtorno e alternativas para


auxiliar no tratamento (Paulo & Rondina, 2010)
Entre as características assinaladas pelos participantes houve
predominância em: não sabe esperar, quer tudo na hora (indicado por 89,5% dos
participantes); agressividade (78,9% dos participantes); acredita que tem
sempre razão, que está sempre certo (73,7%) e birra/falta de limites (63,2%).
Os comportamentos hostis, vingativos e ataques de fúria também foram
indicados por pelo menos metade dos participantes. Lembramos que em uma lista
de dez características foi solicitado a apontarem pelo menos 4. São
comportamentos preocupantes que, de fato, requerem da escola preparo para o
manejo, pois trata-se de um ambiente social, de relações interpessoais. O Gráfico I,
demonstra esses resultados na íntegra.

birra/falta de limites 12

ataques de fúria 10

acredita que sempre tem razão, 14


que está sempre certo

predominância de agressividade 15

chora para conseguir as coisas 4

não sabe esperar, quer tudo na sua


17
hora

pessimismo 5

dificuldades na aprendizagem 7

comportamento vingativo 11

hostilidade com tudo e todos 10

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Figura 1
Características do TOD apontadas pelos participantes

Sobre isso, Assumpção Jr. (2014) aponta que esses comportamentos


podem ser atribuídos à falta de educação e limite. É comum o TOD ser confundido
como falta de educação, denotando uma educação permissiva. Para Velasques e
Ribeiro (2014), o diagnóstico é complexo, pois é multifatorial. A questões ambientais
15

compõem um fator importante para a manifestação do transtorno, mas há de se


considerar os fatores genéticos e emocionais.

3.1.2 Entrevistas pessoais – Etapa 2

Todas as participantes da primeira etapa da pesquisa foram convidadas


para participar da segunda etapa de entrevista, apenas quatro participantes
concordaram em participar da segunda fase do estudo, sendo três professoras de
escola particular e uma professora de escola pública. As entrevistas ocorreram em
local escolhido pelos participantes, que foi o local de trabalho, em salas reservadas
para entrevista. As participantes serão identificadas por numerais de 1 a 4.
Sobre o entendimento do TOD, três das participantes tiveram contato com
crianças que possuem o transtorno, as participantes 1 e 2 mostraram compreender o
transtorno e as dificuldades que ele traz para a criança. Ambas tiveram o
conhecimento sobre o transtorno de forma autodidata. A participante 3 não se
aprofundou e mostrou resistência para responder mesmo estimulada, já a
participante 4 mostrou conhecimento, por ouvir relato de outros professores.
Referente ao conhecimento do professor sobre o transtorno, todas as
participantes apresentaram características de agressividade, dificuldade em atender
regras, falta de limite, agitação excessiva. Uma das participantes trouxe mais
informações referente ao transtorno conforme fala a seguir:
“...esse transtorno eu acho que tem que ser algo sequente né, todos os
ambientes, seja na escola, seja na igreja, em todos os ambientes que ele frequenta
ele apresenta esse transtorno de desafiar, não cumprir regras” (participante 1).
Para lidar com esse transtorno na escola é necessário que os professores
utilizem estratégias que facilitam a comunicação (Teixeira, 2014). As participantes 1
e 4 relataram que aguardam a criança ficar calma, para depois tentar uma conversa
e apresentar tarefas para a criança executar. Já a participante número 2 utiliza
estratégias de recompensas com a criança, por exemplo, se criança fizer alguma
lição solicitada a criança recebe um reforço positivo. A participante 3 mantem-se
convicta durante a entrevista e diz que a criança precisa cumprir com as obrigações.
Essas considerações corroboram com a necessidade da psicoeducação
escolar, porque capacitam os professores de maneira adequada a lidar com crianças
que possuem transtornos desafiadores. É de extrema importância que o professor
16

entenda sobre o assunto para poder fazer diferença na vida da criança de maneira
mais eficaz, tanto na aprendizagem escolar, como nas relações sociais. Professores
que não compreendem boas estratégias sobre o tratamento do TOD podem utilizar
recursos que dificultam a eficácia das estratégias (Teixeira, 2014).
Em relação a manifestação do TOD, as participantes 1 e 3 relataram que
o transtorno está relacionado com educação familiar, principalmente por falta de
experiência dos pais que, sem saberem identificar o transtorno e lidar com as
manifestações, encontram dificuldade em impor regras e, por vezes, aumentando o
grau do transtorno. As participantes 2 e 4, relatam manifestações comportamentais,
como fatores desencadeantes que estão relacionados aos comportamentos
característicos do TOD, como quando a criança é contrariada. Já as participantes 1
e 3, acreditam que a manifestação do transtorno está relacionada a educação e
base familiar que a criança possui. Para Paulo e Rondina (2010), a birra e a
desobediência existem, por isso é importante entender o conjunto de características
que apontam a presença do transtorno.
“Acredito que começa na família, muitos pais têm uma fase de negação,
principalmente em famílias que tem o primeiro filho, eles depositam muitas
expectativas nessas crianças e quando elas não vêm do jeito que eles queriam o
tratamento acaba sendo diferente, então o meio que a criança está inserida
desperta esse transtorno.” (participante 1)
“Tinha dias que eu achava que tinha um fator desencadeador, por
exemplo, ele não queria fazer a lição, e você insisti pra ele fazer a lição, tanto que
descobri estratégias pra ele fazer lição e fui fazendo combinados.” (participante 3)
Existe o grau de manifestação do transtorno como leve, moderado e
grave, quando o transtorno vem ocorrendo em mais de dois ambientes já é
considerado como moderado (DSM-V, 2013). Por isso, é importante que família e
escola se integrem nas estratégias para o manejo do transtorno.
Uma educação permissiva dos pais pode agravar os comportamentos dos
sintomas, mas não é considerada a causa para a manifestação do transtorno (Paulo
& Rondina, 2010).
As participantes de maneira geral relatam que os professores não
possuem preparo específico pelas instituições e em relação ao que tiveram durante
a graduação. Apenas a participante 2 declarou ter tido mais contato com assunto em
pós-graduação. Porém, as participantes relatam estar sempre pesquisando e se
17

aprofundando em temas que aparecem na escola, se preparando de forma


autodidata a trabalhar com os alunos de inclusão. Assim como as participantes 1 e 2
que tiveram experiências diretas com o TOD buscaram informações de forma
autodidata.
“Infelizmente não há nenhum curso que prepare o professor.”
(participante 3)
Existe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996)
e as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (Resolução
CNE/CEB nº 2/2001), preconizadas na Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2007), para falar sobre o direito dos
alunos estudarem em instituições de ensino básico, mas apesar da inclusão ter
amparo legal, os professores ainda não têm capacitação suficiente durante a
graduação. Crianças que precisam de atenção especial e especializada possuem o
direito de estarem matriculadas em redes de ensino básico, por isso é importante
ressaltar que é necessário que o professor conclua a formação já preparado para
lidar com crianças portadoras de necessidades especiais. Alguns relatos das
participantes em relação a formação:
“...eu não tenho nenhuma formação especifica nisso, mas o meu
conhecimento é a partir de leituras e compartilhamento de amigas mesmo, a escola
também oferece alguns auxílios também nesse sentido, com pequenos momentos
nós temos encontros onde a nossa orientadora, ela traz algumas coisas pra gente e
a gente compartilha informações” (participante 1).
“Durante a formação eu não tive nada, olha na época que eu tive
formação já faz muitos anos” (participante 4).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo buscou compreender o entendimento dos professores do


ensino fundamental sobre o TOD. Os resultados apontaram que os professores da
amostra estudada conhecem o transtorno, mas não o identificam com as
características próprias do quadro clínico. Partem dos comportamentos da criança
que, a princípio, são interpretados como como birra, falta de limites e educação
permissiva. Entendem que para manejar esses comportamentos é necessário
estudar, capacitar-se, para que estratégias assertivas sejam aplicadas, para
promover aprendizagem e boas relações interpessoais.
18

Além disso, a regulação desses comportamentos deve ser discutida com


a família, pois, para os professores, essa relação escola-família é fundamental, não
podendo, esses atores, se colocarem de lados opostos.
Finalmente, este estudo revelou que os professores são ativos em relação
à sua capacitação, pois concordam que a graduação ou formação de professores é
limitada sobre informações de transtornos de qualquer natureza, no âmbito da
inclusão. A alternativa para lidar com crianças em situações de inclusão é adotar
medidas alternativas em internet, compartilhamento de experiências, leituras de
artigos científicos, cursos presenciais e a distância.
Por outro lado, no caso do TOD os estudos são escassos e o diagnóstico
complexo, portanto, ainda é preciso falar mais, contribuir mais com estudos
científicos, principalmente no âmbito escolar. Acreditamos que esta pesquisa
contribui para isso, embora tenha limitações. É necessário ampliar os estudos, não
somente sobre o TOD, mas sobre outros transtornos, articulando escola e saúde
para a melhoria do cuidado das crianças, dos professores e da família.
É sabido que novos transtornos surgem durante a formação dos
professores ou após a conclusão da mesma, portanto, tanto as instituições de
ensino quanto os professores devem manter-se atualizados sempre que possível
para que haja melhor entendimento sobre novos transtornos para obtenção de
auxílio eficaz em classe.
19

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