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UNIVERSIDADE DE COIMBRA

FACULDADE DE PSICOLOGIA E CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO


Mestrado em Educação e Formação de Adultos e Intervenção Comunitária

EXCLUSÃO/INCLUSÃO NA ESCOLA DE HOJE -


“Por trás dos bastidores…”

Julho 2010
Mara Cristiana Galante
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Resumo

Em conformidade com as novas políticas educativas, promove-se cada vez mais a inclusão
nas escolas de hoje, procurando “abolir” o fenómeno de exclusão.
Contudo, da teoria à prática, encontra-se uma ponte por atravessar…
Os intervenientes, que vão desde os pais, filhos, professores, responsáveis pelas Direcções
Regionais de Educação, Conselho Executivo, Assistentes Operacionais. Entre cada um deles,
há divergências.
A Declaração de Salamanca (1994), dá uma definição de escolas inclusivas, como
acondicionadoras de todas as crianças, independentemente das suas condições físicas,
intelectuais, emocionais, linguísticas ou outras…
O Centro de Estudos em Educação Inclusiva, define inclusão como “crianças – com ou sem
deficiências ou dificuldades – aprendendo juntas no sistema regular de ensino, inclusive pré-
escola (…) com uma rede de apoio apropriada para responder às suas necessidades”
(Ainscow, M. et al, 2003).
Palavras-Chave: exclusão, inclusão, escola de hoje, intervenientes, crianças, deficiências.

Abstract
In accordance with the new educational policies to promote more inclusion in schools today,
seeking to "abolish" the phenomenon of exclusion. However, from theory to practice, is a
bridge to cross. Actors, ranging from parents, children, teachers, responsible for regional
education, Executive Council, Operations Assistants. Between each, there are disagreements.
The Salamanca Statement (1994) gives a definition of inclusive schools as packagers of all
children, regardless of their physical, intellectual, emotional, linguistic or other problems.
The Center for Studies in Inclusive Education, defines inclusion as "children - with or without
disabilities or difficulties - learning together in the regular school system, including pre-
school, with an appropriate support network to meet their needs" (Ainscow, M. et al, 2003).
Keywords: exclusion, inclusion, today school, players, children, disabilities.

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Résumé
Selon les politiques d'éducation nouvelle, elle-même encourage de plus en plus l'inscription
dans les écoles aujourd'hui, qui cherchent à «abolir» le phénomène de l'exclusion. Cependant,
la théorie et la pratique, est un pont à traverse. Acteurs, depuis les parents, enfants,
enseignants, responsables de l'éducation régionale, le Conseil Exécutif, assistants aux
opérations. Entre chaque, il ya des désaccords. La Déclaration de Salamanque (1994) donne
une définition des écoles inclusives que les emballeurs de tous les enfants, indépendamment
de leur développement physique, intellectuel, affectif, linguistique ou autre problema.
Le Centre d'études sur l'éducation intégratrice, définit l'inclusion comme des enfants, avec ou
sans handicap, ou des difficultés de l’aprendizage en commun dans le système scolaire
ordinaire, y compris des préscolaire avec un réseau de soutien qui répondent à leurs besoins"
(Ainscow, M. et al, 2003).
Mots-clés: d’ exclusion, d’ integration, l’ école aujourd’hui, enfants, hándicap.

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COMPONENTE TEÓRICA

A exclusão toma um rumo mais persistente, com a “nova era das desigualdades”, agudizando
as desigualdades já existentes.
A exclusão acaba por se representar, como um fenómeno multidimensional, um fenómeno
social ou um conjunto de fenómenos sociais interligados.
O conceito de exclusão social é relativamente recente. A sua abordagem torna-se dificultada
pela expansão, que vai tomando, nos vários discursos políticos e intelectuais. À medida que o
conceito se generaliza, vai tomando forma como uma noção mais consensual e mais comum.
É pertinente, construir uma abordagem que resulte numa definição mais completa e
operacionalizável.
Numa situação de exclusão, verifica-se uma acentuada privação de recursos materiais e
sociais, “arrastando para fora ou para a periferia da sociedade”, todos aqueles que, “não
participam dos valores e das representações sociais dominantes” (Fernandes, R., 1995).
É como se a exclusão social, evocasse, uma ruptura de laços entre o indivíduo, que se
encontra em situação de deficiência e a sociedade.

Actualmente, levantam-se algumas questões no campo da exclusão social, nomeadamente,


quando falamos de deficiência:
- falamos em agregados familiares maiores, mas as instituições sociais de apoio, começam a
não conseguir fundos suficientes, para apoiar estas famílias;
- falamos de privação e injustiças sociais múltiplas (económica, cultural, associativa), mas
falta-nos modelos de intervenção mais eficazes;
- falamos da insuficiência e da desadequação das políticas sociais, mas falta-nos mais
investigação a este nível.
“O desafio da exclusão social”, é o termo utilizado pela Comissão Europeia na sua
comunicação (COM 2000 79 – final), subintitulada “Construir uma Europa Inclusiva”.
Nesta reflexão, julgo que ao interesse da sistematização dos campos estruturais de
interferência na exclusão social, e a subsequente construção de indicadores adequados, se
deve associar um interesse mais aprofundado, no campo das medidas de intervenção social
sobre estes problemas.

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Hoje em dia, são múltiplas as formas de exclusão fabricadas na escola, pela escola.
“A problemática da exclusão, circunscreve um conjunto de situações resultantes de
comportamentos impróprios, produzidos nos bastidores, que acaba por se impregnar nos
cérebros “mestres da ignorância” e que se expande para a esfera pública, instalando-se na
precariedade da sociedade…” (Galante, M., 2010).
Define-se inclusão como:
“A educação inclusiva, visa a equidade educativa, sendo por esta se entende a garantia de
igualdade, quer nos acessos, quer nos resultados.” (Decreto-Lei n.º 3/2008 de 7 de Janeiro).

Os aspectos referentes ao apoio à família na área das necessidades educativas especiais,


inserem-se num movimento internacional mais alargado de apoio familiar, que teve por
objectivo reforçar o papel tradicional da família, num momento em que questões como as
taxas elevadas de divórcio, problemas económicos, mobilidade geográfica, emprego das
mães, etc., criaram novos desafios complicados para os papéis a desempenhar pela mesma.
Daí que muitos países tenham vindo a desenvolver políticas de apoio familiar (Turnbull, H. et
al, 1991).
O que é pretendido, perante a realidade que se nos apresenta, é envolver os pais com menos
referências, com insuficientes competências parentais e torná-los elementos capazes de
intervir activamente e de forma positiva na educação e desenvolvimento do filho com
necessidades educativas especiais.
A importância do envolvimento dos pais na vida dos filhos com necessidades educativas
especiais, apresenta um papel importante na evolução em termos de desempenho físico,
psicológico e social. O diálogo entre a família, os técnicos envolventes na intervenção precoce
tende a contribuir para capacitar a mesma de competências, que esta possa carecer.
Contudo, quando a criança portadora de deficiência chega à escola, depara-se com
dificuldades que, muitas vezes, tornam-se difíceis de ultrapassar.
Embora pareça simples receber uma criança com deficiência numa escola, frequentemente tal
não acontece. O mais comum é a recepção não ser a mais adequada, provocando no aluno
com deficiência, sentimentos de inadequação, dando-lhe a sensação de não ser bem-vindo à
escola e provocando nos pais comportamentos por vezes hostis (Giangreco, 1997).
No entanto, o professor, a comunidade educativa, com o intuito de minimizar situações de
mal-estar, pode considerar um conjunto de actividades que ajudem a criar verdadeiras

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comunidades de apoio que permitam que todos os alunos aprendam um pouco sobre cada um,
se sintam bem-vindos e inseridos na escola e em conformidade com o estipulado na
legislação.
Sabemos que, a teoria nos aponta para uma escola que deve promover a justiça e
solidariedade social, da não discriminação, do combate à exclusão social, da igualdade de
oportunidades, como tão bem se encontra descrito no artigo 2º da Lei 3/2008 de 7 de Janeiro.
Mas a prática mostra-nos que esta realidade está muito longe de ser alcançada.
Se a sociedade está longe de ser inclusiva, pode a escola sê-lo? Poderá ser uma “ilha de
inclusão num mar de exclusão”? (Rodrigues, D, 2003).
Conforme salienta este autor, é como colocar no domínio educativo, o dilema dos
revolucionários marxistas, quando debatiam se seria possível existir socialismo num só país.
Uma escola numa sociedade que não o é, parece pouco provável e pouco desejável uma vez
que, a escola mantém valores sem expressão no exterior, que exigem significado e
sustentabilidade.
A inclusão depara-se hoje conceptualmente, situada entre grupos que a consideram como
utópica, outros retórica e outros uma manobra de diversão, face aos reais problemas da escola
(Rodrigues, D, 2003).
Neste sentido, a escola foi, é e continuará a ser uma fonte de exclusão, para muitos alunos.
Parece-me que situar a escola como emergente de uma experiência de inclusão, na linha da
frente de combate à exclusão, quando esta não é pela sua história, valores e práticas, uma
estrutura inclusiva e foi ela própria criadora de exclusão, é “um fechar de olhos” às
verdadeiras dificuldades vivenciadas, por alunos portadores de deficiência e os seus pais.
Falar de prevenção da exclusão social, quando esta se encontra enraizada na sociedade, na
escola, em vez de se falar em tratamento da mesma, é fomentar o fracasso dos serviços
educacionais e o perfomance dos profissionais que trabalham em prol da terapêutica de uma
escola inclusiva.
Ainscow, M. et al, 2003, fala do desenvolvimento da educação especial na Inglaterra. No caso
de Inglaterra, ao longo de dois séculos, a política, a prática e as crenças educacionais, foram
mudando. Profissionais da área, implementaram medidas, serviços e somente depois, o
Governo reconheceu o lugar e importância dessas mudanças para a educação de crianças e
jovens portadores de deficiência.

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Pedagogos especiais, práticas de educação especial, foram gradualmente reconhecidos como


actividade e categoria profissional no campo da educação.

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METODOLOGIA

Para a elaboração deste artigo, foi realizado estudo de caso, com vista a uma melhor
compreensão da dimensão dos problemas aqui reflectidos.
Assim, nesta pequena bordagem, tentou-se compreender o significado de determinados
acontecimentos na vida de pais com filhos portadores de deficiência, nomeadamente situações
de inclusão/exclusão.
A análise deste caso, teve em conta a sua riqueza, procurando respeitar, tanto quanto possível,
a forma como foi registado.
Procurou-se interagir com o sujeito de uma forma natural, não intrusiva. Neste sentido, optou-
se por realizar a entrevista e filmagem num ambiente acolhedor, que permitisse ao sujeito,
sentir-se confortável para responder às questões que lhe foram colocadas.

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COMPONENTE PRÁTICA

O caso de E1
Sérgio, pai de Andreza. Uma adolescente de 16 anos, portadora do Síndrome de Autismo.
Estudante de uma Escola Secundária do Distrito de Aveiro, que tem sido vítima de exclusão
social e de uma escola que não dispõem de recursos físicos, materiais e humanos, para dar
respostas adequadas a casos como o de Andreza.
Este pai, vestiu a camisola da deficiência pela sua filha Andreza.
Tem lutado, ao longo destes anos, por uma melhor qualidade de vida da sua filha.
Durante este ano lectivo, Sérgio encontrou um conjunto de obstáculos ao bem-estar da sua
filha e tentou lutar pelos seus direitos.
Como pode ser visualizado no vídeo em anexo, a situação mais problemática, foi quando uma
Professora de Cidadania, numa “suposta actividade”, “colocou minha Andreza, a tomar conta
de um caixote do lixo” (Sérgio).
Quando o pai, tentou pedir esclarecimentos, foi confrontado com uma reunião, em que se
encontrava presente um elemento da Direcção Regional do Centro, que lhe dirigiu a palavra,
proferindo palavras, como as descritas pelo pai Sérgio: “(…) de leis percebo eu (…) quem
melhor que um autista, para tomar conta de um caixote do lixo (…).

Caminhamos para uma sociedade inovadora e transformadora, em termos tecnológicos, que


promove a criatividade, o dinamismo e fomenta a competição.
Caminhamos para uma sociedade desprovida de afectos, em que as pessoas, são olhadas como
números.
Se nos mantivermos presos a esta sociedade robótica, acabamos por nos perder nas malhas do
superficialismo e utopias.

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PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO

• Rede de Pessoas e Organizações


Existe na Europa um grande número de organizações de pais dedicadas a este campo
de acção. Estas organizações actuam como grupos de interesse organizados em rede, numa
base transnacional de e para pessoas com deficiência de modo a melhorar as suas condições
de vida e qualidade de vida.
Em Portugal, existe desde 2008 a Associação sem fins lucrativos, já reconhecida,
actualmente como IPSS e tendo como um dos grandes objectivos alcançar o estatuto de ONG
– “Pais em Rede”.

 Actividades integradoras e dinamizadoras:


◦ Círculos de escuta;
◦ Círculos de cultura;
◦ Conversas em Rede;
◦ Escola de pais;
◦ Oficina de Professores;
◦ Debates televisivos, com apresentação de testemunhos reais.

 Público-alvo:
▶ Conselhos Executivos e Professores;
▶ Assistentes Operacionais;
▶ Pais de alunos não portadores de deficiência e pais de alunos portadores de
deficiência;
▶ Sociedade em geral.

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CONCLUSÃO

“Uma criança não é um vaso que se enche, mas um fogo que se incendeia”
(Citado por Closets, 2002)

As inúmeras transformações económicas, políticas, sócio-culturais, científicas e tecnológicas,


que acontecem a um ritmo acelarado, promovem anseios, angústias, inquietações, no seio de
muitas famílias com filhos portadores de deficiência e de todos os técnicos que “vestem a
camisola”, por aqueles, que mesmo não sendo seus filhos, são amados como se o fossem.
É urgente, que pais, técnicos e outros intervenientes na comunidade educativa, trabalhem em
rede, compreendam a dimensão do problema da exclusão, da incapacidade da escola para se
trasformar numa escola de todos, para todos e se mobilizem, no sentido da mudança de
mentalidades, na procura de soluções.
O afecto, o amor pode mover montanhas. O caminho é esse.

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BIBLIOGRAFIA

Ainscow, M. et al (2003). “Compreendendo a educação inclusiva”. In R. David (org.),


Algumas reflexões sobre experiências internacionais. Porto: Porto Editora, Lda.

Barroso, J. (2001). “A escola como espaço público local”. In A. Teodoro (org.), Educar,
promover, emancipar. Os contributos de Paulo Freire e Rui Grácio para uma pedagogia
emancipatória. Lisboa: Edições Universitárias Lusófonas.

Canário, R. (1999). “Exclusão Social e Exclusão Escolar”. In R. David (org.). Porto: Porto
Editora, Lda.

César, M. (2003). “A escola inclusiva enquanto espaço-tempo de diálogo de todos e para


todos”. In R. David (org.). Porto: Porto Editora, Lda.

UNESCO (1994). Declaração de Salamanca e enquadramento da acção na área das


necessidades educativas especiais. Lisboa: UNESCO.

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