Você está na página 1de 10

Apoio

28
Iluminação pública e urbana

Capítulo I Novo!

Conceitos fundamentais I
Por Plinio Godoy*

Nesta edição iniciamos uma série de 12 Este trabalho é um processo vivo, Na história científica, foram
artigos sobre iluminação pública e urbana, assim, sugestões e comentários são bem- formuladas diferentes teorias para explicar
objetivando levar ao leitor uma visão vindas a fim de aprimorar sempre a a luz, sendo a primeira tentativa efetuada
geral dos aspectos técnicos, normativos e informação e a busca pela qualidade da por Isaac Newton no século XVII com a
de soluções, possibilitando melhorar sua iluminação em nossas cidades, visando a chamada Teoria Corpuscular, com base
capacidade crítica e permitindo uma análise iluminação social. em três premissas: 1. Os corpos luminosos
mais embasada nos conceitos fundamentais, Parte do material a ser utilizado nestes emitem energia radiante em formas de
conhecimentos, dicas e detalhes técnicos que capítulos foram desenvolvidos no livro partículas; 2. Estas partículas propagam-se
muitas vezes passam despercebidos dos olhos “Iluminação Urbana”, escrito por mim, em linhas retas; 3. Estas partículas atuam
destreinados. Plinio Godoy, e por Paulo Candura. sobre a retina, estimulando uma resposta
Não temos aqui a pretensão de que produz uma sensação visual.
desenvolver um curso de iluminação, mas Conceitos básicos Já no final do século XVII, o holandês
sim levantar alguns assuntos importantes, Christiaan Huygens lançou a Teoria
aguçando a curiosidade daqueles interessados Define-se “luz” como a energia Ondulatória da Luz, com base nas premissas
para aí sim buscar um aprofundamento. radiante que é capaz de excitar a de que a luz é resultado das vibrações
Como diz o nome deste fascículo, retina do olho humano e produzir, por moleculares no elemento luminoso e de
abordaremos a iluminação pública e urbana, consequência, uma sensação visual, que as vibrações são transmitidas em um
pois entendemos a existência de questões desencadeando o processo de percepção meio denominado “Éter”, com movimento
específicas nestas duas áreas, lembrando o visual. A compreensão completa da luz ondulatório em forma similar às ondas da
entendimento mais abrangente da iluminação implica não somente o conhecimento água. E estas vibrações assim transmitidas
como um todo: a Iluminação das cidades! das leis físicas sobre sua natureza como atuam sobre a retina do olho humano,
Dividimos assim os assuntos a serem também as respostas do ser humano estimulando uma resposta que produz a
discutidos neste espaço: perante esse fenômeno. sensação visual.
Capítulo 1 Conceitos fundamentais I Mais adiante, no século XIX, o físico
Capítulo 2 Conceitos fundamentais II escocês James Clerk Maxwell estabelece
Capítulo 3 Fotometria básica a Teoria Eletromagnética, partindo da
Capítulo 4 Iluminação urbana
ideia de que os corpos luminosos emitem
Capítulo 5 Fontes de luz na iluminação urbana
luz por meio de energia radiante. Esta
Capítulo 6 Luminárias na iluminação urbana
Capítulo 7 Eletrônica na iluminação urbana energia se propaga em forma de ondas
Capítulo 8 Iluminação viária eletromagnéticas, que atuariam sobre
Capítulo 9 Iluminação de áreas verdes a retina do olho humano, estimulando
Capítulo 10 Iluminação de valorização urbana uma resposta que produz a sensação
Capítulo 11 Poluição luminosa
visual. As ondas eletromagnéticas são
Capítulo 12 Plano mestre de iluminação urbana
campos elétricos e magnéticos paralelos
Apoio

se propagando no espaço e têm velocidade século XX, dirigiu sua atenção ao que Unificando as teorias acerca da luz, os 29
c = lf, em que c é a velocidade da luz, l o era, todavia, um problema não resolvido cientistas Louis De Broglie e Heisenberg
comprimento de onda, que é a distância pela física do século XIX, e que consistia estabeleceram as premissas de que cada
entre os picos, e f é a frequência (o na distribuição entre os diversos elemento de massa em movimento tem
inverso do período de uma oscilação). comprimentos de onda da energia associado uma onda cuja longitude é
As diferentes frequências de oscilação calorífica irradiada por um corpo quente. definida pela equação:
estão associadas a diferentes tipos de Sob certas condições ideais, a energia
radiação. Por exemplo, ondas de rádio se distribui de um modo característico. l=h/mv
têm frequências menores, a luz visível tem Planck demonstrou que podia ser
frequências intermediárias e a radiação explicada supondo que a radiação Em que l é a longitude de onda associada
gama tem as maiores frequências. eletromagnética era emitida pelo corpo ao movimento de onda; h é a constante de
A Teoria do Eletromagnetismo foi o em pacotes discretos aos quais chamou Planck; m é a massa da partícula; e v é a
que permitiu o desenvolvimento da Teoria “quanta”. velocidade da partícula.
Restrita (ou Especial) da Relatividade por O postulado de Planck parte do ponto
Albert Einstein, em 1905, descrevendo de que a energia é emitida e absorvida
a física do movimento na ausência de em quantidades definidas (Fótons) e A radiação visível
campos gravitacionais. A noção de que o valor energético de cada fóton é
variação das leis da física no que diz determinado pelo produto de: A energia radiante na parte visível
respeito aos observadores é a que dá nome do espectro está inserida entre duas
à teoria, à qual se acrescenta o qualificativo hxv longitudes de onda, 380-770 nanômetro
de especial ou restrita, por limitar-se (IESNA, 1993). Isso significa que os olhos
apenas aos sistemas em que não se têm em Em que: h = 6,626 x 10-34 (Constante de humanos estão aptos a enxergar a radiação
conta os campos gravitacionais. Plank) e v = frequência da vibração do dentro destes comprimentos de onda, é o
O físico Max Planck, no início do fóton (Hz). que chamamos de luz (Figura 1).
Apoio

30
Iluminação pública e urbana

Figura 1 – Luz visível

Propagação da luz obtém-se a reflexão dita especular.


Com relação ao fenômeno da refração,
A luz se propaga em linha reta em se o raio incidente encontra-se em um meio
um meio homogêneo e a uma velocidade 1, de índice de refração n1, e o raio refratado
menor do que a velocidade no vácuo, encontra-se em um meio 2, de índice de
segundo um fator definido como Índice de refração n2, a relação dos ângulos incidente
Refração do meio. Quanto mais próximo e emergente é expressa pela equação: Figura 3 – Reflexão.
da unidade for o Índice de Refração, mais
próxima é a velocidade de propagação no n1 sen F1 = n2 sen F2 É importante salientar que, sempre que
vácuo (velocidade da luz). se ilumina uma superfície cuja característica
Quando a luz atravessa a interface Esta expressão é conhecida como Lei de Snell. de reflexão é especular, o resultado é a baixa
entre dois meios com distintos índices de percepção de luz; quando se ilumina uma
refração, uma parte da radiação é refletida Reflexão e transmissão difusa superfície com características de reflexão
pelo meio um e a outra parte é transmitida difusa, os resultados são muito mais
pelo meio dois, sofrendo um desvio da Em geral, a distribuição angular da luz expressivos, considerando-se o índice de
direção original, ao que caracteriza que a refletida e transmitida depende do ângulo sua reflexão. Em linhas gerais, sempre que
luz sofreu uma refração (Figura 2). de incidência do raio luminoso em relação há o interesse na iluminação de uma dada
à superfície e da natureza da rugosidade da superfície é recomendada a utilização de cores
superfície. claras e acabamentos foscos (reflexão difusa).

Figura 2 – Refração.

Os raios incidente e refletido, quando


em um mesmo meio, são iguais, ou seja, o
ângulo de incidência é igual ao ângulo de
emergência. Quando a superfície é polida, Figura 4 – Curvas de sensibilidade CIE.
Apoio

32 Fluxo luminoso
Sensibilidade espectral do por E, sua unidade de medida é o Lux e é
olho humano calculada pela relação lm/m2.
Iluminação pública e urbana

O fluxo luminoso F é a parte do fluxo


A sensibilidade do olho humano não é radiante de uma fonte relacionada à resposta 1 Lux = 1 lm/1 m2
uniforme dentro do espectro visível, sendo visual humana, conforme explicitado na
que a variação em relação ao comprimento curva de sensibilidade CIE (Figura 4), entre Caso a área utilizada seja sq.ft (pé
de onda pode ser analisada no gráfico da 380 nm e 780 nm, considerando-se a curva quadrado), o resultado é expresso em fc
Figura 4. de visão fotópica. A unidade de medição (lm/ft2). Pelas relações de área, tem-se:
chama-se lúmen (lm).
A visão fotópica “Um Lúmen é o fluxo luminoso de uma 1 footcandle = 10.76391 lux
radiação monocromática caracterizada por
Em ambientes nos quais há altos níveis uma frequência de 540 Hz x 1012 Hz e um
de iluminação, em geral durante o dia, fluxo radiante de (1/683)W”
a percepção da luz é representada pela De forma resumida, uma energia
curva relativa à visão fotópica, percebida radiante de 1 W proporciona no máximo
completamente pelos receptores chamados 683 lm, quando utilizada uma radiação
de cones. A resposta máxima desses monocromática de 555 nm.
receptores ocorre na região verde amarelada
do espectro, cujo comprimento de onda Eficiência da fonte
está na casa dos 555 nanômetros (nm).
Na prática, o fluxo luminoso de uma
A visão escotópica lâmpada é a soma de toda energia radiante
que sensibiliza o olho humano na visão
Em ambientes nos quais há baixos níveis fotópica, diretamente relacionada com a Figura 6 – Iluminância.
de iluminação, em geral durante o período capacidade de cada fonte em transformar
noturno, e os olhos humanos dispõem de energia elétrica em luminosa. A esta O conceito de luminância baseia-se no
tempo suficiente para se adaptar à escuridão capacidade chama-se de eficiência da fonte observador da superfície iluminada, isto é,
(até 30 minutos), tem-se a visão chamada medida em lumens por watt (lm/W) e pode tudo o que os olhos humanos enxergam pode
escotópica, percebida por outra categoria ser analisada na Figura 5. ser descrito por luminância de determinado
de receptores, os bastonetes. A resposta objeto. A luminância de um objeto
máxima dos bastonetes ao estímulo Iluminância e luminância iluminado depende do ângulo de visão entre
ocorre na região azulada do espectro, cujo o plano e o observador e, por consequência,
comprimento de onda está na casa dos O conceito de iluminância, no passado da superfície aparente do objeto e de seu
507nm. conhecido por iluminamento, caracteriza o índice de reflexão. A luminância é medida
resultado de uma fonte de luz que incide em em candela por metro quadrado (cd/m2) no
A visão mesópica determinada área iluminada. Simbolizada sistema internacional (Figura 7).

Na região intermediária entre as


visões fotópica e escotópica, tem-se uma
interessante visão chamada mesópica, em
que cones e bastonetes interagem entre
si, proporcionando uma visão débil em
reconhecimento de cores, aumentando a
percepção das cores vermelhas em relação
às azuis (motivo pelo qual a luz de freio
dos automóveis é vermelha). Assim, para
cada momento do dia e sua respectiva
quantidade de luz, a curva de sensibilidade
move-se desde a visão fotópica e escotópica,
conforme mostrado na Figura 4. Figura 5 – Eficiência da fonte luminosa.
Apoio

Supondo a existência de duas lâmpadas 33


de dimensões diferentes, porém com o
mesmo fluxo luminoso, se olharmos as duas
fontes luminosas a uma mesma distância,
a lâmpada maior será percebida menos
brilhante do que a lâmpada menor, ou seja,
luminância pode ser também descrita por
brilho. Ou ainda, o brilho de superfícies
escuras é menor que o brilho de superfícies
Figura 7 – Luminância. claras.

Intensidade luminosa

A definição de luminância utiliza


um conceito de intensidade luminosa (I)
medido em candela (cd). O conceito de
intensidade luminosa pode ser descrito pela
unidade de luz, que quando somada resulta
no fluxo luminoso da fonte. Dessa forma, a
integral de todas as intensidades luminosas
emitidas por uma fonte resulta no fluxo
luminoso da fonte.
Por definição: intensidade luminosa (I)
Figura 8 – Luminância e brilho.
Apoio

34 é a luz que se propaga numa dada direção, sendo uma medida relativa à percepção de aparência diante de uma fonte de luz. A luz
dentro de um ângulo sólido unitário e sua luminosidade da luminância. artificial, como regra, deve permitir ao olho
Iluminação pública e urbana

unidade é lúmen/esferorradiano ou candela humano perceber as cores corretamente ou


(cd). O ângulo sólido (w) é uma medida Considerando que na iluminação o mais próximo possível da luz natural.
do espaço tridimensional, assim como o existe o conceito aditivo, ou seja, em que Lâmpadas com Ra igual a 100
radiano é para o espaço bidimensional. a adição de todas as fontes de espectro apresentam as cores com total fidelidade
O esferorradiano é a unidade de um monocromático resulta na luz branca, e precisão. Quanto mais baixo o índice,
ângulo sólido, ou seja, um ângulo no espaço pode-se, com base em três cores básicas mais deficiente é a reprodução de cores.
tridimensional. monocromáticas, o sistema RGB criar a luz Os índices variam conforme a natureza da
com a cor que se deseja. Para cores menos luz, e são indicados de acordo com o uso de
saturadas, acrescenta-se a luz branca, cada ambiente.
obtendo-se como resultado cores pastéis. A
esse sistema chama-se de RGBW. Fatores humanos em iluminação
Dentre as características da luz relativas
à cor, dois aspectos são fundamentais O uso da energia elétrica para produção
para o bom entendimento e definição da de luz artificial foi estabelecido há mais de
fonte de luz: a aparência de cor correlata 100 anos e, durante este período, foram
ou, simplesmente, a aparência de cor. desenvolvidos diversos estudos para se
Quando há necessidade de expressar chegar a descrições e recomendações de
Figura 9 – Esferorradiano. uma determinada cor de luz emitida por como a luz deveria ser melhor utilizada.
uma fonte, utiliza-se esta definição com Inicialmente, as pesquisas buscaram
Medidas colorimétricas frequência, pois ela expressa diretamente a quantificar a luz, ou seja, medir as diversas
cor emitida com base em uma comparação unidades características das fontes de luz,
No que se refere à cor, temos duas com padrão definido. como fluxo luminoso.
situações distintas: a cor na esfera da É sabido que a maioria dos corpos, Chegou-se, assim, à abordagem
impressão e percepção e a cor no âmbito da quando aquecidos a temperaturas suficiente­ quantitativa da luz, para a qual foram
iluminação. A cor percebida pertencente mente altas, emite luz avermelhada e que, à realizadas pesquisas estatísticas com base
a um objeto ou a uma fonte de luz medida que a temperatura do corpo aumenta, na observação de universos de pessoas
refere-se a uma percepção instantânea. Ela a cor da luz emitida tende para o tom azulado. estatisticamente válidas. O objetivo era
depende da interação de fatores como as definir a quantidade de luz necessária
características do objeto e da fonte de luz Índice de reprodução de cores para cada tipo de atividade. Mais
incidente sobre este objeto, dos arredores, (Ra ou IRC) recentemente, as técnicas buscaram não
da direção de visão e capacidades do somente a quantidade correta de luz, mas
observador. É a medida de correspondência entre o desenvolvimento de soluções que visam a
A cor de um objeto é definida pela a cor real de um objeto ou superfície e sua qualidade do ambiente iluminado, ou seja,
cor da luz refletida ou transmitida por ele
quando iluminado por uma fonte de luz
padrão (luz do sol, por exemplo). A cor
pode ser caracterizada por:

Tom: associado a cores básicas como


vermelho, amarelo, laranja, verde, azul ou
roxo.
Saturação: corresponde à pureza da cor que
determina o tom. Uma cor monocromática
espectral tem maior saturação. Por
consequência, como em iluminação, o
branco se dá pela soma das diversas cores
saturadas.
Claridade: refere-se à quantidade de luz,
Figura 10 – Aspectos que influenciam a qualidade de um sistema de iluminação.
Apoio

36 analisar os efeitos psicológicos da luz nas direta ou indireta das fontes de luz em
pessoas – uma abordagem qualitativa. intensidades que possam atrapalhar ou
Iluminação pública e urbana

O assunto relacionado à qualidade da impedir a execução de determinada tarefa.


iluminação foi desenvolvido na Divisão 3 O ofuscamento direto ou indireto
(que trata dos temas ambientes interiores criado por uma fonte de luz está
e lighting design) do Comitê Internacional relacionado à intensidade da luz observada
de Iluminação (CIE), por meio do Comitê e a iluminação existente no ambiente. Neste
Técnico TC 3-34. Ficou estabelecido que caso, estamos nos relacionando com as
a qualidade de um sistema de iluminação luminâncias observadas, e é fundamental
é determinada pelo grau de excelência para o projetista preocupar-se com um bom Figura 12 – Sombras.
alcançado relativo ao bem-estar das balanceamento destas luminâncias.
é causado pela relação espacial entre a tarefa,
pessoas e sua integração com as questões O ofuscamento depende da luminância
o observador e a fonte de luz ou por sombras
arquitetônicas e econômicas. do elemento iluminado ou da fonte, e
indesejáveis criadas por elementos terceiros.
O conforto visual é, na verdade, o como a luminância está relacionada à área
A consideração do uso de iluminação
atendimento de vários quesitos que podem observada, temos maior probabilidade de
localizada para a correção destes transtornos
interferir direta ou indiretamente na ação minimizá-la quando trabalhamos com
é importante, pois é uma ferramenta de fácil
de enxergar objetos e ambientes. Alguns fontes de maior dimensão, motivo pelo
implementação e eficaz para prover a luz
fatores têm possibilidade de interferir na qual o ofuscamento criado por lâmpadas
necessária no local necessário.
qualidade e no conforto visual, e estar fluorescentes é menor quando comparado
No entanto, pode-se interagir com as
diretamente relacionados à iluminação ou ao ofuscamento criado por lâmpadas
fontes de luz e os objetos, criando espaços
com a tarefa em si. incandescentes pequenas.
iluminados em que a presença de sombras
é desejável para a criação de efeitos
Problemas associados à
especiais. A essa técnica dá-se o nome de
iluminação
Shadowlighting.

A variação temporal da iluminação


artificial, também conhecida como
Flickering, é a quase percepção pelo indivíduo
da variação do fluxo luminoso diante da
frequência nominal da tensão de 50 Hz ou
60 Hz. Dizemos quase percepção pelo fato
de, na maioria dos casos, não haver a real Figura 11 – Ofuscamento.
percepção da variação de fluxo, porém há
o indício de que constantes dores de cabeça Sombras
estão relacionadas a este fato. Interessante é
o fato de que, quando se utilizam os reatores A sombra é a consequência da presença Figura 13- Shadowlighting.
eletrônicos de alta frequência (entre 30 KHz e de uma fonte de luz e de um objeto, pois onde
50KHz), o problema relacionado às dores de não há luz, não há sombra. Imediatamente Reflexões veladoras
cabeça diminui drasticamente, aumentando o pode-se imaginar que, quanto maior for o
bem-estar do indivíduo. número de fontes, maior será o número de A reflexão da luz em superfícies
Uma orientação para minimizar sombras, porém com menor contraste. próximas ao observador pode ser
o problema, quando a utilização dos A sombra será mais definida quanto indesejável e causada, principalmente, pelas
equipamentos eletrônicos não for menor for a fonte de luz. Desta relação características de reflexão relacionadas ao
uma opção econômica possível, é o chama-se de luz dura toda luz que produz ângulo de incidência da luz proveniente da
balanceamento entre fases elétricas em sombras definidas, e de luz mole toda fonte ou do grau de reflexão da superfície, se
luminárias próximas. aquela que produz sombras difusas. é uma reflexão difusa, mista ou especular. A
Um problema a evitar com as sombras reflexão é normalmente controlada a partir
Ofuscamento é a diminuição da qualidade de uma tarefa da fonte, anteparo ou mesmo da alteração
pela má visualização causada por uma de posição do objeto, como um livro, por
O ofuscamento é fruto da observação sombra indesejada. Em geral, esse problema exemplo.
Apoio

Fontes de luz 37

Hoje em dia não se pode mais chamar


de lâmpadas as fontes de luz artificial em
uso no campo da iluminação, pois há
fontes de luz eletrônicas em estado sólido
chamadas LEDs (light emitting diode,
diodos emissores de luz, na tradução livre
do inglês). Dessa forma, para entender
a evolução desses dispositivos, vamos
começar a entender as lâmpadas.

Figura 14 – Elementos da lâmpada incandescente.


Lâmpadas incandescentes

As lâmpadas incandescentes produzem somente este fato não conseguia produzir Para uma especificação perfeita, devem ser
luz através da incandescência de um luz por longos períodos de tempo em conhecidos certos aspectos de uma lâmpada
filamento confeccionado a partir dos metais função da queima do filamento. incandescente como potência (W); tensão de
de transição tungstênio e molibdênio. Verificou-se que, inserindo este operação (V); bulbo; e base. A potência de
O inventor e empresário americano filamento em um ambiente sem ar, ou uma lâmpada, definida em watts (W), equivale
Thomas Edison, o precursor da lâmpada seja, no vácuo, ele produzia luz por mais à potência consumida pela lâmpada em uma
incandescente, verificou que, para o tempo. E o desenvolvimento tecnológico da hora de operação. Assim, uma lâmpada de 100
filamento produzir luz, bastava aquecê-lo lâmpada possibilitou chegar no que hoje é watts equivale a um equipamento que consome
utilizando-se da energia elétrica. Porém, uma lâmpada incandescente. 100 watts por hora.
Apoio

38 Determinar somente a potência da bulbo por meio de molde do vidro e da


lâmpada não permite estabelecer um inserção de material refletivo no interior
Iluminação pública e urbana

parâmetro seguro de especificação, pois o do bulbo já formado. A segunda categoria


valor da tensão de operação é importante é formada pelas lâmpadas conhecidas como
para o seu perfeito funcionamento. Assim, PAR (Parabolic Aluminium Reflector), mais
deve-se especificar a tensão de operação da robustas que as lâmpadas refletoras e mais
lâmpada com base na tensão de operação do resistentes à umidade. Esse tipo de lâmpada
local em que ela será utilizada. É necessário apresenta como principal característica um
pesquisar se a tensão de operação é 110 V, bulbo confeccionado em vidro prensado,
115 V, 120 V, 127 V, 208 V ou 220 V. mais resistente em relação às refletoras de
O bulbo, recipiente de vidro que bulbo soprado, permitindo a utilização,
recobre o filamento, difere de lâmpada Figura 16 – Curva Isocandela. muitas vezes, em sistemas sem a necessidade
para lâmpada, principalmente em função de luminárias fechadas. Sendo da categoria
da potência consumida. Quanto maior curva, expressa em Candela (cd), que une
das lâmpadas refletoras, as lâmpadas PAR
a potência da lâmpada, com mais calor as intensidades em diversas direções. A esta
focam o fluxo luminoso produzido pelo
envolverá o filamento e de mais espaço este curva dá-se o nome de Isocandela. Assim,
filamento em direções e intensidades
filamento precisará. O formato de bulbo a soma dos planos formando 360 graus ao
específicas de cada modelo. Nestes casos, o
mais conhecido é o chamado pera, contudo, redor da fonte de luz traduzirá a emissão
valor do fluxo luminoso nominal da lâmpada
outros formatos foram desenvolvidos para total da lâmpada ou luminária.
não é mais importante, mas sim a curva de
facilitar o uso em diferentes luminárias. como o fluxo é direcionado.
Este é o motivo pelo qual as lâmpadas
Fotometria básica refletoras, em geral, devem ser analisadas
pela curva fotométrica ou por simplificações
Como qualquer fonte de luz, a lâmpada práticas, como podemos analisar na Figura 18.
incandescente produz luz de maneira
diferente para cada tipo de bulbo. Por
exemplo, uma lâmpada incandescente cristal
que possui o vidro transparente produz luz
como demonstrado na Figura 15.

Figura 17 – Emissão total da lâmpada.

Importante salientar que este método


de transformar a emissão de uma lâmpada
em planos e curvas (Isocandela) é feito para
qualquer fonte de luz ou luminária, sendo a
Figura 18 – Curva fotométrica de uma lâmpada
maneira pela qual se traduz um efeito físico refletora.
em dados, usados para os cálculos manuais
ou informatizados. A leitura desta curva deve ser feita
Uma categoria importante de bulbos considerando a intensidade máxima, em
é a das lâmpadas refletoras, que diferem candelas (cd), produzida pela lâmpada,
Figura 15 – Emissão de luz por lâmpada das demais por apresentarem uma camada no centro do facho de luz. Duas linhas
incandescente cristal.
interna feita em material refletivo e que são consideradas, mostrando onde
Uma maneira de descrever como a produz uma curva fotométrica específica, estão as intensidades, expressas em
luz é produzida para fins de utilização em focando a luz produzida pelo filamento, candelas, correspondentes à metade da
um software de cálculo é a transformação independentemente da luminária na qual intensidade máxima, chamadas de linha
desta emissão em diversos planos, distintos está instalada. da intensidade de meio pico. Define-se
em suas posições em relação ao centro A categoria das lâmpadas refletoras a abertura do facho desta lâmpada o
geográfico da lâmpada. pode ser dividida em duas subcategorias: da ângulo formado entre estas duas linhas.
Unindo-se as diversas intensidades primeira fazem parte as lâmpadas refletoras Uma utilização prática das
neste determinado plano, tem-se uma de bulbo soprado, obtendo-se a forma do curvas fornecidas pelos fabricantes
Apoio

é a determinação da iluminância um exemplo dos níveis de iluminação e 39


a certa distância da lâmpada em distância: uma lâmpada aqui chamada de
um plano perpendicular à normal R63 de 60 W e abertura de facho de 30
calculada em zero grau, passando pela graus produzirá, a dois metros de altura,
intensidade máxima (cd). Pelas relações um círculo iluminado com diâmetro de
trigonométricas, calcula-se o diâmetro 107 centímetros e iluminância igual a 240
do círculo formado pela emissão de lux. Uma opção de projeto seria que, para
uma lâmpada simétrica, como são as conseguir um espaço iluminado geral de
lâmpadas circulares. 240 lux, deve-se posicionar as lâmpadas
Na Figura 19, podemos analisar neste espaço à altura de dois metros a cada
1,07 metro.
Outra maneira de apresentar a
distribuição de luz de uma lâmpada ou
luminária é a divisão em planos, para o que
se criou uma curva chamada curva polar. Figura 20 – Aspecto de curvas polares.
As curvas polares de lâmpadas ou
luminárias circulares, isto é, cuja fotometria * Plinio Godoy é engenheiro eletricista
é simétrica em relação ao eixo central da especializado em lighting design. É
consultor e lighting designer sênior da
fonte de luz, são apresentadas conforme a CityLights.
curva mostrada na Figura 20. Esta curva
Continua na próxima edição
mostra, para cada ângulo, a intensidade
Acompanhe todos os artigos deste fascículo em
(cd) emitida pela lâmpada – esta curva www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários
específica mostra que a intensidade máxima podem ser encaminhados para
redacao@atitudeeditorial.com.br
Figura 19 – Níveis de iluminação e distância. a zero grau é de aproximadamente 8.700 cd.

Você também pode gostar