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DOI: 10.5747/ch.2022.v19.h525
ISSN on-line 1809-8207

Submetido: 21/10/2021 Correções: 11/02/2022 Aceite Final: 24/02/2022

AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: UMA ANÁLISE


DOCUMENTAL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO
Mirella Horvatte Pacitti, Heitor Perrud Tardin, Luiz Rogério Romero

Universidade Estadual Paulista – UNESP, SP. E-mail: heitor21perrud@gmail.com

RESUMO
Busca-se com este artigo, identificar na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio, como as
Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) estão sendo mencionadas e discutir se estas
menções são suficientes para contemplar a educação midiática crítica para o Ensino Médio. A linguagem
digital está presente na sociedade e deve ser explorada como meio de comunicação, de informação, de
interatividade e principalmente como forma de conceber novos dispositivos. Sendo assim, é esperado que
o Ensino Médio ofereça subsídios para utilizar e refletir sobre essas tecnologias visto que elas estão cada
vez mais presentes no cotidiano dos jovens. Como metodologia, foi aplicada a análise documental da BNCC
a partir da utilização do software Adobe Acrobat Reader DC, usando o comando de Busca de Palavras “Ctrl
+ F”. A busca resultou em apenas onze menções na parte destinada ao Ensino Médio, sendo que a maioria
destas menções estão localizadas na Área de Linguagens e suas Tecnologias. Baseado nas evidências
fornecidas pela literatura, pela importância do documento e pela relevância das TIDC's na sociedade atual,
conclui-se que o tema escolhido necessita de expansão qualitativa e quantitativa na BNCC. As tecnologias
são partes importantes da realidade contemporânea e tem seu valor comprovado cada vez mais, seja
cientificamente ou no próprio uso cotidiano, porém este estudo limita-se ao campo documental, visto que
não foram realizadas pesquisas de cunho observacional.
Palavras-chave: Tecnologia da informação e comunicação; Ensino Médio; Educação Midiática; Conteúdos
da Educação.

THE DIGITAL TECHNOLOGIES OF INFORMATION AND COMMUNICATION: A DOCUMENTAL ANALYSIS IN


THE NATIONAL COMMON BASED HIGH EDUCATION CURRICULUM

Abstract
The aim of this article is to identify in the National Common Curricular Base (BNCC) of High School how the
Digital Information and Communication Technologies (TDIC) are being mentioned and to discuss whether
these mentions are sufficient to contemplate critical media education for Teaching Average. Digital
language is present in society and should be explored as a means of communication, information,
interactivity and especially as a way of conceiving new devices. Therefore, it is expected that High School
will offer subsidies to use and reflect on these technologies since they are increasingly present in the daily
lives of young people. As a methodology, the document analysis of the BNCC was applied using the Adobe
Acrobat Reader DC software, using the Word Search command “Ctrl + F”. The search resulted in only eleven
mentions in the part destined to High School, and most of these mentions are located in the Area of
Languages and its Technologies. Based on the evidence provided by the literature, the importance of the
document and the relevance of TIDC's in today's society, it is concluded that the chosen theme needs
qualitative and quantitative expansion in the BNCC. Technologies are important parts of contemporary
reality and their value is increasingly proven, whether scientifically or in everyday use, but this study is
limited to the documentary field, since no observational research was carried out.
Keywords: Information and communication technology; High school; Media Education; Education Contents.

TECNOLOGÍAS DE INFORMACIÓN Y COMUNICACIÓN DIGITALES: UN ANÁLISIS DOCUMENTAL EN EL


CURRÍCULO DE BASE COMÚN NACIONAL DE LA ESCUELA SECUNDARIA

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 19, p. 34-45 jan/dez 2022. DOI: 10.5747/ch.2022.v19.h525
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RESUMEN
El objetivo de este artículo es identificar en la Base Curricular Común Nacional (BNCC) de la Enseñanza
Media cómo las Tecnologías Digitales de Información y Comunicación (TDIC) están siendo mencionadas y
discutir si esas menciones son suficientes para contemplar la educación en medios críticos para la
Enseñanza Media. El lenguaje digital está presente en la sociedad y debe ser explorado como medio de
comunicación, información, interactividad y sobre todo como forma de concebir nuevos dispositivos. Por lo
tanto, se espera que la Escuela Secundaria ofrezca subsidios para utilizar y reflexionar sobre estas
tecnologías, ya que cada vez están más presentes en el día a día de los jóvenes. Como metodología se
aplicó el análisis documental de la BNCC mediante el software Adobe Acrobat Reader DC, utilizando el
comando de búsqueda de palabras “Ctrl + F”. La búsqueda dio como resultado solo once menciones en la
parte destinada a Bachillerato, y la mayoría de estas menciones se ubican en el Área de Idiomas y sus
Tecnologías. Con base en la evidencia proporcionada por la literatura, la importancia del documento y la
relevancia de los TIDC en la sociedad actual, se concluye que el tema elegido necesita expansión cualitativa
y cuantitativa en el BNCC. Las tecnologías son parte importante de la realidad contemporánea y su valor
está cada vez más demostrado, ya sea científicamente o en el uso cotidiano, pero este estudio se limita al
campo documental, ya que no se realizó una investigación observacional.
Palabras clave: Tecnología de la información y la comunicación. Escuela secundaria. Educación en médios.
Contenidos educativos

INTRODUÇÃO Base Nacional Comum


O presente artigo tem como objetivo Curricular (BNCC) é um
central descobrir como as Tecnologias Digitais da documento de caráter
Informação e Comunicação (TDIC) estão sendo normativo que define o
conjunto orgânico e
abordadas na Base Nacional Comum Curricular
progressivo de
(BNCC), do Ensino Médio. Muitas alterações aprendizagens essenciais
ocorreram nas políticas públicas relacionadas à que todos os alunos
educação básica no Brasil desde a implementação devem desenvolver ao
da primeira LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da longo das etapas e
Educação Nacional) em 1961, sendo que esta modalidades da Educação
passou por alterações em 1971 e finalmente Básica, de modo a que
assumiu sua forma ainda vigente em 1996. A tenham assegurados seus
LDBEN de 1996, normatiza a educação em todo o direitos de aprendizagem
território nacional desde sua homologação e e desenvolvimento, em
conformidade com o que
implementação. Por meio de Emenda
preceitua o Plano Nacional
Constitucional nº 59/200926, foi determinada a de Educação (PNE).
obrigatoriedade da Educação Básica para crianças (BRASIL, 2017, p. 7)
a partir de 4 anos e para adolescentes/jovens de
17 anos. Neste sentido, a BNCC normatiza os
Contudo, várias outras mudanças foram currículos educacionais em todo o país,
implantadas no sistema educacional, tanto em colocando uma base para o ensino básico,
esfera nacional quanto estadual e municipal. A partindo do Ensino Infantil e chegando ao Ensino
mais atual, e provavelmente, a mais importante Médio. Apesar de o documento apresentar alguns
entre essas modificações é a Base Nacional conceitos que aparentemente buscam a evolução
Comum Curricular. Esta, foi redigida pela primeira da educação, muitas críticas são feitas em relação
vez em 2014 e foi levada para consulta pública ao documento. Segundo Neira (2018, p.216):
em 2015. Por fim, a BNCC foi homologada pelo As teorias tradicionais
MEC, e teve como prazo máximo para ser priorizam questões
implementada em todo o território nacional no convencionais e técnicas
início do ano letivo de 2020. A BNCC, segundo seu na construção e
próprio documento BRASIL (2017), se caracteriza organização curricular,
como: empregando uma
cientificidade

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desinteressada das as competências


questões político-sociais. desejáveis são aquelas
Na sua vertente clássica, o aplicáveis a ele, que
conhecimento é tido como recebem o nome de
verdadeiro, inquestionável competência.
e constituinte das virtudes
humanas. A vertente Neste sentido, para a própria BNCC, seu
progressivista tem como objetivo é promover uma educação integral,
foco a aprendizagem dos crítica e com continuidade, partindo do Ensino
alunos baseada nas suas
Infantil até o final do Ensino Médio, contando
experiências e interesses.
também com o ensino de Jovens e Adultos. Sendo
assim, busca-se também, quebrar a fragmentação
Segundo o documento oficial da BNCC, a
do sistema educacional e garantir um patamar
principal característica de ensino se dá por meio
mínimo para o ensino em todo o Brasil. Porém, o
de competências e habilidades, isso sem dúvida
documento sofre críticas de vários pesquisadores
provoca divergências entre educadores, pois
na área da educação, que afirmam a existência de
lembra-se de um método tradicionalista de
lacunas entre outros problemas.
ensino, voltado ao tecnicismo e reprodutivismo.
Destaca-se neste contexto, o uso de
Porém, ainda neste documento, mostra-se que a
tecnologias dentro da escola, tanto para
intenção, é de tentar se afastar desses conceitos
aplicação pedagógica quanto para uso cotidiano,
e se aproximar de uma educação integral e crítica
buscando alcançar isto de forma crítica e
do aluno. No entanto, para Marsiglia et al. (2017)
consciente, assim como no documento PNE 2014-
quando a educação tem por base competências e
2020 (Plano Nacional de Educação), a BNCC busca
habilidades previamente definidas, pouca
promover o uso de tecnologias.
flexibilidade e ênfase nos interesses voltados para
No presente estudo, destaca-se a seção
o grande capital esse ensino se relaciona com
do Ensino Médio, onde existe um tópico
visões não críticas mas sim reducionistas.
específico para falar das Tecnologias Digitais da
Esta ideia de ensino pode ser comparada
Informação e Comunicação também conhecidas
com o que Freire (2021) chama de “educação
como TDIC’s. Apesar de contar com um número
bancária”, formando alunos para memorizar
limitado de menções, as TDIC’s são de extrema
certos conteúdos, muitas vezes pouco
importância no mundo contemporâneo e por
significativos para eles, e continuar o ciclo de
isso, busca-se aqui interpretar a visão que a BNCC
desigualdades oferecidas na sociedade
no Ensino Médio tem sobre o uso de tecnologias.
contemporânea.
A presente pesquisa tem como objetivo
Portanto, Gonçalves e Deitos (2020 p.14)
analisar o contexto em que as TDIC’s estão
defendem que:
Percebe-se que o perfil
inseridas na BNCC, verificando a quantidade de
desejado do indivíduo que menções encontradas e principalmente como o
se pretende formar com documento supracitado explicita sua
base nas dez compreensão sobre o tema.
Competências Gerais da
BNCC expressa uma busca As TDIC’s na contemporaneidade: caminhos
de conhecimentos para uma educação midiática crítica
necessários para a Segundo Castells (2019) a sociedade
sobrevivência no século passou por uma transformação da cultura
XXI que se pauta no
material, para um novo padrão envolto da
âmbito das necessidades
econômicas. Não
tecnologia da informação, no final do século XX.
distanciando-se dos “Entre as tecnologias da informação, incluo, como
objetivos do CCR, a BNCC todos, o conjunto convergente de tecnologias em
define que o microeletrônica, computação (software e
conhecimento ideal é hardware), telecomunicações/radiofusão, e
aquele que pode ser optoeletrônica.” (CASTELLS, 2019, p.67). Com
aplicado em situações que isto, houve a criação de uma linguagem digital em
requerem decisões que as informações são criadas, armazenadas e
pertinentes a esse âmbito transmitidas.
específico da vida social;

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Castells (2019) afirma que a tecnologia da Desde cidadãos comuns, até políticos e
informação, não é apenas a centralização da empresários, utilizam da interconexão digital para
informação, mas sim, o uso desses criar e relacionar-se. Essa conexão digital oferece
conhecimentos para gerar novos dispositivos de possibilidades que objetos analógicos podem
processamento e novas aplicações desses limitar, como a movimentação de informações e
dispositivos. Ou seja, ao mesmo tempo em que as conhecimentos, a articulação das mídias e
pessoas são consumidoras de uma tecnologia, linguagens. “Por isso, hoje, grande parte da
também podem ser criadoras. Isto provoca população, especialmente os jovens, buscam
mudanças na maneira como a sociedade produz, conexão e serviços que possibilitem trabalhar
sonha, consome ou morre. com essas múltiplas linguagens potencialmente
Sobre a sociedade da informação, Castells disponíveis na sociedade.” (BONILLA; PRETTO,
(2019) conduz às seguintes reflexões: 2015, p. 500)
A primeira característica Bonilla e Pretto (2015) acreditam que os
do novo paradigma é que jovens hoje, não desejam apenas serem
a informação é sua consumidores da tecnologia, mas sim, querem
matéria – prima: são produzir e socializar os próprios produtos.
tecnologias para agir
Portanto, a educação sobre a tecnologia não deve
sobre a informação, não
apenas informação para
ser apenas baseada em preparar para o mercado
agir sobre a tecnologia, de trabalho, como ocorre para os estudantes de
como foi o caso das baixa renda através de cursos técnicos. Também
revoluções tecnológicas não deve ser uma estratégia para ensinar os
anteriores. O segundo mesmos conteúdos escolares, tendo em vista que
aspecto refere-se à os estudantes com maior poder aquisitivo,
penetrabilidade dos efeitos podem navegar no mundo digital e produzir
das novas tecnologias. colaborativamente informações.
Como a informação é uma Outro caminho para educar sobre o
parte integral de toda
mundo digital “implica processos formativos
atividade humana, todos
os processos de nossa
amplos, provocadores de novas aprendizagens,
existência individual e de colaboração, de autoria, tanto por parte dos
coletiva são diretamente alunos como dos professores, responsáveis pela
moldados (embora, com formação da juventude.” (BONILLA; PRETTO,
certeza, não 2015, p. 502). Assim, os jovens poderão produzir,
determinados) pelo novo criar, inovar e socializar as produções, além de
meio tecnológico. A poderem se conectar com outros estudantes,
terceira caraterística independentemente de onde estejam.
refere-se à lógica de redes À luz dessas ideias, sabe-se que a infância
em qualquer sistema ou
atualmente assume uma nova definição, já que as
conjunto de relações,
usando essas novas
crianças vivenciam outros comportamentos, pela
tecnologias da informação. interação com as tecnologias e mídias eletrônicas.
(CASTELLS, 2019, p.108) O número de crianças com acesso a
equipamentos eletrônicos aumentou nos últimos
Além das três características, o autor anos, onde utilizam a internet para interagir nas
complementa sua ideia com mais duas reflexões redes sociais, para ver notícias ou ler (SPINELLI;
acerca do paradigma da tecnologia. A primeira se SANTOS, 2020).
refere à flexibilidade dos processos, instituições e Apesar das tecnologias digitais
organizações que podem se reconfigurar de representarem um avanço na sociedade, há de se
acordo com as mudanças na sociedade. E a atentar com a propagação da desinformação,
segunda ideia sobre a revolução tecnológica, é a fenômeno que está cada vez mais presente nas
“crescente convergência de tecnologias redes do mundo todo. A desinformação é
específicas para um sistema altamente repassada pelo uso de algoritmos e perfis
integrado” (p.109). Ou seja, as tecnologias são robotizados, e compartilhada por milhares de
integradas de informação. usuários, sendo eles também, crianças e jovens
Portanto, atualmente, a sociedade tem (SPINELLI; SANTOS, 2020).
sua relação organizada pela codificação digital.

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Para Spinelli e Santos (2020), estudos das escolas básicas,


demonstram que crianças e jovens recebem as abrindo um espaço de
notícias e a grande maioria foca apenas no diálogo entre educadores,
conteúdo e não verificam a fonte dessas jornalistas, governo,
grupos de mídia e
informações. O que pode ser perigoso, já que a
universidades, para que
desinformação ocorre nas áreas da economia, possamos transformar a
política, saúde e nos campos sociais, podendo escola em um espaço de
acarretar em consequências negativas para a discussão do tema, e
população. Além disso, segundo os autores, proporcionar aos alunos a
pesquisas apontam que o brasileiro confia mais base necessária para que
nas redes sociais como fonte de informação e eles cresçam preparados
menos nas instituições de imprensa escrita. para lidar com a avalanche
A desinformação é propagada com de informações da nossa
rapidez e chama a atenção por seus títulos era. (SPINELLI; SANTOS,
2020, p.160)
polêmicos, onde o conteúdo, pode promover
ódio e preconceito. Uma alternativa para
Seguindo o mesmo pensamento dos
preparar a população a compreender e
autores da citação anterior, Pretto (2008) diz que
diferenciar o que é informação, e o que é a
vivemos em uma pirâmide social e econômica,
desinformação entendendo a intenção dos
onde uma grande parte da população, apesar de
conteúdos, para Spinelli e Santos (2020), é a
marginalizada, sustenta os privilegiados situados
educação básica de qualidade.
no topo. E no mundo do digital, ou seja, na
A educação básica deve oferecer
cibercultura, isto não é diferente. As
subsídios para formar um ser humano crítico,
desigualdades sociais excluem o direito de uma
capaz de receber a informação e checá-la. Se faz
parcela da sociedade, em acessar a internet,
necessário, para além do consumo midiático,
ainda que o mundo globalizado seja caracterizado
buscar o conhecimento e produzir suas próprias
pelo avanço tecnológico.
mensagens para socializar com outras pessoas.
Segundo Pretto (2008) o termo rede,
“Um estudante que tem consciência do processo
proveniente do objeto de tecido usado para se
de produção da notícia, opta por uma dieta
deitar e balançar, se refere a uma ligação entre
informativa plural, que abarque diversos
fios interdependentes, que organizam os sistemas
posicionamentos e visões de mundo.” (SPINELLI;
das redes tecnológicas, redes acadêmicas e redes
SANTOS, 2020, p.153). Esses autores denominam
sociais. Já o sistema midiático “o qual, articulando
as ideias supracitadas, como alfabetização
de forma intensa produção de cultura, produção
midiática.
simbólica e de discursos, se apropriou de modo
Há iniciativas no Brasil e no mundo, sobre
magnânimo das tecnologias de informação e
a alfabetização midiática nas escolas,
comunicação e, com isso, domina o mundo.”
principalmente, nas escolas particulares.
Outro ponto importante é
(PRETTO, 2008, p. 77). Isto significa que pequenos
que este conhecimento grupos de famílias, com grande aquisição
deva ser levado em econômica, detêm poder da maior parte dos
consideração e não fique meios de comunicação, ligados a mídias,
restrito aos colégios resultando da conservação dos valores
particulares. Crianças e capitalistas de poder.
adolescentes de famílias No cenário da educação pública, onde a
de baixa renda, que são maior parte dos estudantes são pertencentes de
frequentemente excluídos camadas sociais baixas da população, a
do acesso à informação,
incorporação de computadores e internet nas
mídia e tecnologia, devem
receber as mesmas
escolas públicas, foi concebida por Políticas
oportunidades de Públicas responsáveis também por implantar as
formação no tema. [..] É tecnologias digitais para a população brasileira,
possível utilizar projetos em 1990, com apoio do Ministério da Ciência e
como base para criar um Tecnologia e com Instituições Públicas de Ensino
curso adaptável às Superior do Brasil. Contudo, houve a privatização
necessidades do currículo do sistema de telecomunicações, e o Fundo de

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Universalização dos Serviços de As práticas em rede


Telecomunicações (FUST) ainda não foi podem tirar os professores
devidamente regulamentado. (BONILLA; PRETTO, da “zona de conforto”,
2015) pois exigem romper com
algumas hierarquias,
No campo da educação, de modo geral,
tornando professores e
apesar de haver vários programas para a conexão alunos,
das redes, ainda se encontra muito frágil a colaborativamente,
infraestrutura e o suporte técnico para a produtores de
utilização das máquinas, resultando quase informações,
sempre, na pouca funcionalidade dos conhecimentos e culturas.
dispositivos. (BONILLA; PRETTO, 2015). É Mudanças de posturas e
fundamental que o professor não seja instruído de concepções não são
para operar os computadores e usá-los de processos simples, nem
maneira técnica com os estudantes. Bonilla e tampouco podem
acontecer em um curto
Pretto (2015, p. 508) dizem que as instituições de
espaço de tempo. No
ensino superior “[..] lócus da produção do entanto, a marca das
conhecimento, da inovação, da pesquisa, ainda redes é a velocidade. E os
não incorporaram nos cursos de licenciatura, de jovens acompanham e
forma plena, o debate sobre o contexto requerem essa velocidade.
tecnológico contemporâneo [..]”. Eles querem e pedem para
O Programa Nacional de Tecnologia a escola estar em rede,
Educacional (PROINFO) é responsável por sejam elas as redes físicas
possibilitar aos estudantes do Ensino Regular ou as redes sociais.
Público, o uso da sala de informática para fins (BONILLA; PRETTO, 2015,
p. 513)
educativos. Segundo Bonilla e Pretto (2015) o
PROINFO foi criado em 1997, sem a inclusão da
Neste contexto, pode-se assumir a
internet. Apenas em 2008 no Governo Lula, foi
importância das TDIC’s na vida da criança e do
difundido o Programa Banda Larga nas Escolas.
jovem no mundo contemporâneo e se infere por
Em 2010, foram distribuídos 150 mil laptops
meio disto, a vitalidade de entender a tecnologia
advindos do Projeto Um Computador por Aluno,
como uma nova realidade, na qual, deve ser
porém, nem todas as escolas receberam a
inserida na escola de modo que os alunos possam
quantidade certa para todos os estudantes e uma
compreender, questionar, estudar e se
internet que comporte o uso concomitante das
desenvolver da melhor maneira possível
máquinas, portanto, o projeto teve fim em 2013.
utilizando estes recursos. Isto se torna
Ainda hoje, há escolas sem acesso de qualidade
indispensável pois acredita-se que em um futuro
às redes de internet ou computadores que
próximo as tecnologias irão estar presentes na
funcionem.
vida das pessoas cada vez mais.
Atualmente, a um grande número das
crianças e jovens que estão conectadas à
DELINEAMENTO METODOLÓGICO
internet, seja por celulares, tablets ou
Para realizar este estudo, adotou-se a
computadores. Esses sujeitos chegam na escola e
pesquisa de natureza qualitativa que segundo
encontram barreiras de acesso à rede, e são
Poupart et al (2014) como um tipo de estudo que
submetidos a um processo de ensino-
apresenta flexibilidade na coleta e análise dos
aprendizagem tradicional. Para Bonilla e Pretto
dados, contando assim com um grande escopo de
(2015) a educação ainda é linear e não se
informações passíveis de interpretação.
relaciona com as linguagens da sociedade, pois a
A presente pesquisa conta também com
formação de professores não ofertou o uso das
características de estudo documental e de
tecnologias digitais no meio educacional, e por
pesquisa bibliográfica, segundo Sá-Silva, Almeida
conseguinte alguns professores mantêm o uso
e Guindani (2009), se caracteriza por utilizar
engessado dos computadores, já que não foram
fontes primárias para sua própria interpretação
bem formados para a utilização desses, porém há
sobre o documento (estudo documental) e usar
professores que conseguem ter como aliado a
fontes secundárias como artigos e teses sobre o
internet para se aproximar das culturas dos
documento em questão.
estudantes, como o uso de blogs, por exemplo.

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O documento em questão se trata da autoria na vida pessoal e


versão estabelecida em 2017 da Base Nacional coletiva [...] Competência
Comum Curricular (BNCC). Mais especificamente, 7: Argumentar com base
aborda-se o documento destinado em fatos, dados e
informações confiáveis,
exclusivamente para o Ensino Médio, encontrado
para formular, negociar e
no site oficial da BNCC1. defender ideias, pontos de
Com o intuito de verificar a importância vista e decisões comuns
das TDIC’s na BNCC, promoveu-se uma busca no que respeitem e
software Adobe Acrobat Reader DC, usando o promovam os direitos
comando de Busca de Palavras (Ctrl + F). humanos, a consciência
Inserimos o termo “TDIC”, onde através deste socioambiental e o
processo, podemos averiguar quantas menções consumo responsável em
ocorreram no documento inteiro e mais âmbito local, regional e
especificamente na parte destinada ao ensino global, com
posicionamento ético em
médio.
relação ao cuidado de si
mesmo, dos outros e do
RESULTADOS E DISCUSSÕES planeta. (BRASIL, 2017, p.
Quando se utiliza a busca de palavras no 9).
documento da BNCC, por meio do software
Adobe Acrobat Reader DC, empregando como O documento cita a partir das
palavra-chave "TDIC", aparecem um total de 11 Competências Gerais da Educação Básica, a
menções sendo que todas pertencem ao importância de uma educação midiática, para
documento destinado para o Ensino Médio. significar, compreender, refletir e argumentar,
Considera-se que o uso deste termo foi pouco mesmo que o termo não esteja explícito no texto.
utilizado para o Ensino Médio, visto que esta faixa A primeira menção da palavra "TDIC" diz
etária está conectada às redes e possuem respeito a Área de Linguagens e Suas Tecnologias,
informações em tempo real, sendo assim, uma contempladas pela Língua Portuguesa, Língua
educação crítica, que segundo Freire (2021) se Inglesa, Educação Física e Arte. O documento
define como uma educação ligada a significação relata que o objetivo do ensino desta área é
do aluno, onde este possa utilizar os promover a participação de jovens, por meio do
conhecimentos em seu cotidiano e estabelecer uso das linguagens, em práticas sociais. Sobre as
uma linha de pensamentos relacionados a TDIC, é dito que estão presentes nelas formas
criticidade de seu ambiente, preparando para variadas de signos, portanto, é necessário educar
conviver e melhorar a sociedade. para as múltiplas linguagens existentes na
Apesar de não haver o termo “educação sociedade, além de priorizar o ensino sobre a
midiática” no documento da BNCC, o texto cultura digital “Sua utilização na escola não só
apresenta na sessão de “Competências Gerais da possibilita maior apropriação técnica e crítica
Educação Básica” as seguintes afirmações: desses recursos, como também é determinante
Competência 5: para uma aprendizagem significativa e autônoma
Compreender, utilizar e pelos estudantes” (BRASIL, 2017, p. 478).
criar tecnologias digitais
A segunda menção da palavra TDIC, ainda
de informação e
comunicação de forma
na seção da Área de Linguagens e Suas
crítica, significativa, Tecnologias, aborda como as formas de gêneros,
reflexiva e ética nas ações e procedimentos são modificadas na mídia
diversas práticas sociais digital. Ou seja, há novas maneiras de obter
(incluindo as escolares) informações pelas redes, como há também novas
para se comunicar, acessar formas de interação, como curtir, compartilhar,
e disseminar informações, comentar, seguir, etc., e isto provoca a aquisição
produzir conhecimentos, de novas habilidades e constroem novos
resolver problemas e sentidos. Também é mencionada a possibilidade
exercer protagonismo e
de não apenas receber informações, mas sim
1
produzi-las e publicá-las, gerando a participação
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/image
s/historico/BNCC_EnsinoMedio_embaixa_site_
do sujeito (BRASIL, 2017)
110518.pdf

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A informação supracitada do documento, da sessão de Competências Específicas e


não requer apenas a vontade dos estudantes em Habilidades. Esta competência é dedicada a
produzirem informações no meio digital, segundo linguagem no meio digital, que segundo o
Pretto (2008) é necessário ademais aos documento, tem modificado a atuação social do
computadores, o acesso rápido e de qualidade da sujeito, portanto, é necessário que os jovens
internet nas escolas, para que os estudantes tenham “uma visão crítica, ética e estética, e não
utilizem de maneira criativa os meios digitais. somente técnica das TDIC e de seus usos, para
A terceira citação, presente ainda na Área selecionar, filtrar, compreender e produzir
de Linguagens, faz alusão às habilidades criticamente sentidos em quaisquer campos da
necessárias tanto para produzir, quanto para vida social” (BRASIL, 2017, p. 489).
checar informações, tendo em vista que a A quinta e sexta menção, é continuação
circulação de fake news é um fenômeno cada vez da sessão de Competências Específicas e
mais presente no mundo digital. Portanto, são Habilidades e complementam o parágrafo
necessários “critérios de curadoria e de anterior, contudo, estão situadas no campo das
apreciação ética e estética” (BRASIL, 2017, p. 479) Habilidades. (BRASIL, 2017). A seguir, iremos
nas habilidades dos estudantes. apresentar as duas menções em formato de
A quarta menção da palavra TDIC, imagem, já que o campo das Habilidades foi
também presente na mesma Área, porém dedicado ao ensino digital.
localizado na Competência Específica 7, no campo

Imagem 1. retirada do Documento BNCC, situado na Área de Linguagens e Suas Tecnologias da sessão de
Competência Específica 7.

Essas habilidades retratam como as TDIC conhecimento produzido e pensar em possíveis


devem ser trabalhadas, no campo de explorar novas pesquisas científicas. (BRASIL, 2017).
essas tecnologias de maneira responsável e ética, A oitava e nona menção no documento,
avaliar as tecnologias digitais como um fator se refere ao campo de Competências Específicas
preponderante na construção social do sujeito, de Ciências da Natureza e Suas Tecnologias para o
utilizar as mídias na produção autoral em Ensino Médio, onde retoma as informações do
ambientes virtuais, e apropriar-se de maneira parágrafo supracitado. A BNCC diz que é
crítica, da busca de informações encontradas na necessário:
rede. (BRASIL, 2017). Analisar situações-
A sétima menção da palavra TDIC está problema e avaliar
localizada na Área das Ciências da Natureza e aplicações do
suas Tecnologias. Nela consta que os estudantes conhecimento científico e
tecnológico e suas
devem se pautar no conhecimento e evidências
implicações no mundo,
científicas, utilizando também as TDIC, já que é utilizando procedimentos
uma linguagem decorrente no mundo atual, para e linguagens próprios das
comunicar os diferentes públicos sobre o

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Ciências da Natureza, para dispor de internet, expressando as desigualdades


propor soluções que sociais e de aprendizagem entre estudantes de
considerem demandas baixa renda e de renda alta. Quanto menor a
locais, regionais e/ou renda, menor o acesso à internet e a
globais, e comunicar suas
computadores. Por conseguinte, os autores
descobertas e conclusões
a públicos variados, em
admitem que a escolas públicas não deveriam
diversos contextos e por depender exclusivamente de operadoras de rede
meio de diferentes mídias privada, mas sim haver políticas públicas que
e tecnologias digitais de propiciem o acesso à internet por parte de todos
informação e comunicação os estudantes, sejam por equipamentos
(TDIC) (BRASIL, 2017, p. eletrônicos da escola ou de uso próprio, afinal:
539). [..] os jovens não estão
mais presos
Portanto, os estudantes são instigados a exclusivamente ao modelo
investigar situações-problema regionais ou “laboratório de
globais e propor intervenções científicas, para informática”, o modelo
então comunicar as suas descobertas nas que organiza o uso das
tecnologias de forma
diferentes mídias, inclusive nas mídias digitais.
excludente: enquanto um
(BRASIL, 2017). grupo usa, os outros estão
A décima menção se refere ainda na fora. O sujeito social, com
sessão de Competência Específica 3. Ela discorre seus dispositivos móveis,
sobre as Tecnologias Digitais da Informação e pode não estar na rede o
Comunicação, que devem ser um meio essencial tempo todo, mas deve ter
para que os estudantes dialoguem com diferentes a disponibilidade da rede
públicos da sociedade, e por consequência, todo o tempo; e esta é
estabeleçam conhecimento com pesquisas uma diferença
científicas, no sentido de coletar e analisar dados. fundamental para a
educação, uma vez que
Na décima primeira, e última menção da
nesse processo, as redes
palavra TDIC no documento da BNCC, ela se sociais e a produção do
encontra no campo das Habilidades, ainda na conhecimento, de forma
Área de Ciências e suas Tecnologias. Nesta colaborativa, são
citação, ela retoma os preceitos das citações intensificadas (BONILLA;
anteriores: PRETTO, 2015, p. 504).
Comunicar, para públicos
variados, em diversos É importante que a população se aproprie
contextos, resultados de das tecnologias digitais, já que elas agora moldam
análises, pesquisas e/ou aspectos da vida humana, como, ideias, relações
experimentos –
amorosas, a escrita, os costumes, entre outros.
interpretando gráficos,
tabelas, símbolos, códigos,
Um caminho para a conscientização do uso das
sistemas de classificação e mídias, é produzir conhecimento e ocupar
equações, elaborando espaços por meio das redes. A produção de
textos e utilizando conhecimento, deve ser um fenômeno
diferentes mídias e incentivado por políticas públicas, que apoiem
tecnologias digitais de grupos sociais, na apropriação criativa das
informação e comunicação tecnologias digitais, ou seja, produzir mais e que
(TDIC) –, de modo a se diferenciam do comum (PRETTO, 2008).
promover debates em Infelizmente, não se tem material
torno de temas científicos
suficiente no documento analisado para uma
e/ou tecnológicos de
relevância sociocultural
reflexão crítica a respeito de organizações locais
(BRASIL, 2017, p. 545) para ampliação do acesso a essas tecnologias, tal
fato potencializa ainda mais a exclusão social e
Apesar da Base Nacional Comum digital, focaliza o problema de acesso aos meios
Curricular, falar das TDIC, Bonilla e Pretto (2015) necessários apenas no indivíduo e dificulta a
afirmam sobre as dificuldades das escolas em sistematização de propostas coletivas,

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participativas, interdisciplinares e de organização Neste contexto, para amparar


social para encaminhamentos de resolução, visto educadores do Ensino Básico, algumas
que cerca de 12% da população de estudantes do instituições promovem projetos de formação
Estado de São Paulo não possui acesso à internet, continuada e publicam artigos relacionados a
em termos percentuais esse número pode não capacitação sobre educação midiática nas
assustar, mas traduzindo isso para cerca de 126 escolas. Alguns exemplos de associações que se
mil estudantes pode mudar essa interpretação destacam são a Nova Escola, a EducaMídia e o
(SEADE SP TIC, 2020) e esses números se agravam CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em
ainda mais nas regiões norte e nordeste (PeNSE, Educação, Cultura e Ação Comunitária):
2015). A Nova Escola é um negócio social de
Devemos também, considerar a intenção Educação, financiado principalmente pela
real do documento da BNCC, segundo Silva Fundação Lemann, que auxilia professores por
(1999), o currículo não se trata apenas de uma meio da plataforma digital, a criar aulas e
sequência de exercícios ou competências a serem melhorar a Educação Pública (NOVA ESCOLA,
seguidos, além desta questão também abrange a 2021, p.1).
identidade de quem está sendo formado e quem A EducaMídia é o programa do Instituto
o construiu. Neste cenário, a política brasileira Palavra Aberta, apoiada essencialmente pelo
está caminhando para o Neoliberalismo, Google.org, com a finalidade de capacitar
produzido pelo capitalismo, em que há a educadores sobre a educação midiática dos
minimização do Estado e aumento das jovens. De acordo com o site, a educação
privatizações, gerando o desmonte do serviço midiática se define como: “Conjunto de
público. A Base Nacional Comum Curricular foi habilidades para acessar, analisar, criar e
realizada com pouca participação pública, sendo participar de maneira crítica do ambiente
criado pela Fundação Lemann. A BNCC começou a informacional e midiático em todos os seus
ser discutida em 2015 e foi debatida ao longo de formatos — dos impressos aos digitais”
diversos governos e gestões, recebendo milhares (EDUCAMÍDIA, 2019, p.1). Na plataforma Digital,
de contribuições em consultas e audiências é possível encontrar materiais, recursos e
públicas. A sociedade participou com mais de 12 conteúdos de apoio aos professores. “ Educar
milhões de contribuições na 1ª versão, sendo que para a informação é um jeito de formar cidadãos
metade delas vieram de 45 mil escolas. Em 2016, livres e aptos a fazer escolhas conscientes. É
a 2ª versão viajou por todos os estados. Através mudar a relação dos jovens com o conhecimento,
de seminários estaduais, organizados pela Consed para que saibam aprender a aprender. É educar
(Conselho Nacional de Secretários de para a vida em um mundo cada vez mais
Educação) e Undime (União Nacional dos conectado. ” (EDUCAMÍDIA, 2019, p.1).
Dirigentes Municipais de Educação), cerca de 9 A CENPEC Educação é uma organização
mil pessoas, entre educadores e alunos, da sociedade civil, que visa a melhoria da
debateram o documento em detalhes. Em abril educação pública, por meio de projetos,
de 2017, a 3ª versão foi entregue ao Conselho pesquisas e ações nos espaços educativos. Na
Nacional de Educação (CNE) que ouviu a opinião plataforma digital se encontram artigos que
do Brasil em uma nova rodada de seminários discorrem sobre a educação midiática. Para eles,
regionais. Por fim, em dezembro de 2017, a BNCC apesar das crianças, nativos digitais, terem
foi homologada pelo MEC e passou a valer em habilidades com certas funções dos celulares e
todo o Brasil. tablets, é necessário desenvolver outras
Neste sentido, apesar de apresentar uma habilidades no campo da informação provinda
intenção de avanço e de igualdade para todos os das tecnologias. Ou seja, crianças e jovens
brasileiros, a BNCC pode representar um precisam ser capazes de produzir conhecimento
processo de massificação da educação baseada advindo das informações. (STEPHANIE KIM ABE,
em uma linha de produção industrial (SILVA, 2020).
1999). Nesta perspectiva, os retrocessos não se Em uma análise breve sobre o sistema de
apresentam somente em termos de metodologias ensino finlandês, Lyytinen e Hölttä (2011)
e conteúdo, mas principalmente em relações afirmam que desde a reforma legislativa de 2003
sociopolíticas, acentuando e perpetuando cada foram ampliadas as opções de funcionamento
vez mais as desigualdades já encontradas em das politécnicas, com a nova Lei das Politécnicas
ampla escala na sociedade brasileira. (nº351/2003) seus objetivos foram expandidos,

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colocando as atividades de pesquisa aplicada e de entender que as TDIC’s devem ser expandidas
desenvolvimento tecnológico no mesmo patamar para mais áreas da educação, pois representa
das atividades de ensino, esse processo valorizou uma nova realidade, na qual já está sendo vivida
cada vez mais as TDIC’s dentro do contexto por grande parte dos alunos, desde o Ensino
escolar. O governo finlandês percebeu Fundamental. Salienta-se ainda que essa
rapidamente as evoluções que ocorreram e que ampliação deve ser realizada de forma
ocorreriam no mundo em relação a tecnologias e quantitativa e qualitativa, e ainda mais
implementou o mais cedo possível programas de importante que isso, essas melhorias devem
incentivo à produção e implementação no abranger toda a população nacional.
cotidiano da população, e isto inclui a escola, pois O presente estudo, limitou-se em analisar
assim formar novos cidadãos familiarizados com apenas documentalmente como as TDIC são
a nova realidade tecnológica se torna mais eficaz mencionadas na BNCC focalizando o Ensino
e rápida (LYYTINEN; HÖLTTÄ, 2011). Médio, isto restringe esta pesquisa ao âmbito
Neste sentido, o Brasil tem um atraso teórico, reduzindo a quantidade de informações e
crucial tanto educacional, quanto em termos de interpretações que cada instituição escolar tem
infraestrutura para que cada aluno possa ter sobre o tema. Logo, um estudo com
acesso as TDIC’s de maneira fácil e de qualidade. características práticas de investigação de campo,
Claramente existem enormes diferenças nas ampliando a questão para o contexto de mais de
realidades dos dois países e não se pode apenas uma instituição de ensino básico, poderá ser feito
“copiar” o que está sendo feito, mas basear as para analisar mais profundamente o uso das
futuras políticas públicas nacionais em ações que Tecnologias Digitais da Informação e
já se provaram eficazes em outros países pode Comunicação, no contexto educacional e
representar um bom avanço. socioeconômico brasileiro.

CONCLUSÃO REFERÊNCIAS
As tecnologias da Informação e BONILLA, M. H. S.; PRETTO, N. de L. Política
Comunicação (TDIC) estão presentes nos educativa e cultura digital: entre práticas
ambientes empresariais, residenciais, públicos e escolares e práticas sociais. Perspectiva,
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crianças e jovens sejam cidadãos críticos e BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional
participativos no mundo digital. E para isto, é Comum Curricular: ensino médio. Brasília: MEC,
direito do estudante, o acesso à internet e a 2017. Disponível
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linguagem na sociedade. es/historico/BNCC_EnsinoMedio_embaixa_site_1
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menções da TDIC estão mais concentradas na
Área de Linguagens e Suas Tecnologias, sendo BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014.
abordadas para informar a importância de Plano Nacional de Educação - PNE. Brasília, DF:
trabalhar com as tecnologias digitais, seja como MEC, 2014. Disponível em:
uma nova habilidade de linguagem ou como meio http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
para pesquisar e demonstrar resultados para a 2014/2014/Lei/L13005.htm. Acesso em: 14 dez.
população. 2020.
Baseado nas informações obtidas na
literatura, no número de menções encontradas BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
na documentação brasileira e na rápida 1996. Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
comparação com um país muito bem- Brasília, DF: MEC, 1996. Disponível em:
conceituado em termos educacionais, pode-se

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