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PERMANECER NO

ÚNICO MINISTÉRIO
NEOTESTAMENTÁRIO
NA ECONOMIA DE DEUS
SOB A LIDERANÇA
ADEQUADA
EM SEU MOVER

© Witness Lee
PERMANECER NO ÚNICO MINISTÉRIO NEOTESTAMENTÁRIO NA
ECONOMIA DE DEUS SOB A LIDERANÇA ADEQUADA EM SEU MOVER

I. ABANDONAR O MINISTÉRIO
VERSUS GUARDAR A PALAVRA

Permanecer no Ensinamento dos Apóstolos,


O Ministério Neotestamentário

Em suas epístolas, especialmente em 2 Timóteo, Paulo falou de maneira completa sobre a


degradação da igreja. Ele disse que todos os que estavam na Ásia o haviam abandonado
(2Tm 1:15). Isso significa que as igrejas estabelecidas por Paulo na Ásia o abandonaram.
Os santos naquelas igrejas não abandonaram o próprio Paulo; em vez disso, eles se
desviaram do seu ministério do Novo Testamento, o ensinamento dos apóstolos que ele
pregava. Tudo o que Paulo pregara a eles, tudo com o que ele os havia alimentado, tudo o
que ele lhes havia ensinado, e tudo o que ele lhes havia mostrado foi totalmente
abandonado por eles. A primeira coisa que aconteceu na degradação da igreja foi o fato de
eles abandonarem o ensinamento dos apóstolos. Se todos nós hoje, na restauração do
Senhor, não nos importarmos com o ensinamento dos apóstolos pregado pelo irmão
Watchman Nee e por mim, a igreja e a restauração do Senhor cairão em degradação.
Permanecer no ensinamento dos apóstolos é uma tremenda graça. (Presbíteros e
Cooperadores — Quem São Eles?, p. 54, Witness Lee)

Em 2 Timóteo 1:15, Paulo diz: “… todos os da Ásia me abandonaram.” A Ásia Menor era
uma província do Império Romano, longe de Roma onde Paulo, que estava na prisão,
escrevia a epístola a Timóteo. Quando disse que todos os que estavam na Ásia o haviam
abandonado, Paulo não queria dizer que tinham abandonado a sua pessoa porque Paulo
estava longe deles. Esse versículo indica que eles abandonaram o seu ministério. Entre as
igrejas na Ásia estava a igreja em Éfeso, que fora totalmente estabelecida pelo ministério
de Paulo, como está registrado em Atos 19. Eles receberam o evangelho, o ensinamento, a
edificação e o estabelecimento do ministério do apóstolo Paulo, mas na época que ele era
prisioneiro em Roma, todos eles abandonaram o seu ministério.

A segunda epístola de Paulo a Timóteo deve ter sido escrita em 68 d.C. Aproximadamente
trinta anos mais tarde, o Senhor usou João para continuar Sua revelação divina. O Senhor
voltou a todas as igrejas na Ásia que haviam abandonado a Paulo. Por terem abandonado
o ministério de Paulo, essas igrejas caíram em uma situação de total degradação. A
degradação delas, como está registrado em Apocalipse 2 e 3, foi devido ao seu abandono
do ministério adequado, e essa degradação começou com a perda do primeiro amor para
com o Senhor, o que aconteceu em Éfeso (2:4), e terminou com a mornidão (3:16), a falta de
Cristo. O Senhor como Cabeça da igreja está à porta da igreja degradada, batendo (3:20).

Nessas sete epístolas em Apocalipse 2 e 3, o ponto mais marcante da degradação das


igrejas foram os três ensinamentos: o de Balaão, um profeta gentio (2:14), o dos nicolaítas
para construir uma hierarquia (2:15), e o da mulher, a assim chamada profetisa Jezabel,
cheia de heresias e fornicação (2:20). Esses três ensinamentos penetraram sorrateiramente
porque as igrejas haviam deixado o ensinamento do apóstolo. Por que o cristianismo se
tornou degradado? Porque abandonou o ensinamento do apóstolo. Assim, todos os
ensinamentos diferentes apareceram.

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Em 1 Timóteo 1:3 e 6:3, Paulo advertiu a não ensinar diferentemente. Os santos deviam
ensinar segundo o ensinamento de Paulo. Os da Ásia, definitivamente abandonaram o
ensinamento de Paulo, e o resultado foi que receberam três ensinamentos heréticos. O
ensinamento de Balaão (para adorar os ídolos), o ensinamento dos nicolaítas (para
construir a hierarquia, até mesmo o sistema papal), e o ensinamento de Jezabel (para
introduzir o fermento das coisas malignas, heréticas e pagãs na fina flor de farinha, que é
Cristo — Mt 13:33) penetraram porque o ensinamento correto fora rejeitado. Trinta anos
depois da última epístola de Paulo a Timóteo, as igrejas tinham atingido tal ponto de
degradação. É perigoso deixar ou abandonar o ensinamento do apóstolo, a revelação
adequada.

O Senhor veio nessas sete epístolas julgar as igrejas degradadas. Seus olhos eram como
chama de fogo (1:14) para observar, sondar e iluminar, e de Sua boca saía uma afiada
espada de dois gumes (1:16), que é Sua espada discernidora, julgadora, e aniquiladora (Hb
4:12; Ef 6:17). Eles abandonaram a palavra certa, de modo que o Senhor veio com essa
palavra julgá-los. Os pés do Senhor eram como o bronze polido, como se tivessem sido
refinados numa fornalha (1:15). Bronze prefigura o juízo divino (Êx 27:1-6). A vinda do
Senhor às igrejas dessa maneira ajusta-se ao fato de terem abandonado o ensinamento do
apóstolo e terem adotado diferentes ensinamentos.

Uma igreja era única, e foi altamente louvada pelo Senhor: a igreja em Filadélfia. O Senhor
a elogiou muito e até a apreciava porque guardara a palavra (3:8). Isso quer dizer que ela
não abandonara o ensinamento correto do apóstolo. Embora fosse fraca, o Senhor ainda a
elogiou bastante, dizendo-lhe que tinha pouca força e que tinha guardado a palavra.

Abandonar o ensinamento correto é terrível, e resultará em degradação e em receber


outros ensinamentos. Digo isso como advertência aos amados que não quiserem adotar o
novo caminho. Rejeitar a revelação adequada, o ensinamento correto, dos líderes entre
vocês é perigoso. Vocês estarão abrindo a porta para outros ensinamentos e sofrerão
degradação. Espero que todos na restauração não se tornem seguidores daqueles da Ásia,
que abandonaram o ministério de Paulo. Antes, espero que sigamos o padrão da igreja em
Filadélfia: guardar a palavra do Senhor embora com pouca força. Guardemos a palavra do
Senhor, que é permanecer nos ensinamentos do apóstolo, nas palavras saudáveis, na única
revelação do Senhor com a liderança adequada. Então estaremos seguros. (Treinamento de
Presbíteros, Volume 7: Unanimidade para o Mover do Senhor, pp. 148-151, Witness Lee).

Ser Nutrido e Abençoado por Seguir o Ministério

Em Paulo e Timóteo vemos excelentes modelos. Como já ressaltamos, Paulo disse a


Timóteo que expusesse “estas coisas aos irmãos”, referindo-se às coisas que escreveu nessa
Epístola. Mas antes de expô-las aos outros, Timóteo precisava alimentar-se delas. Ele tinha
de digeri-las, assimilá-las e ser saturado delas interiormente. Então ele seria capaz de
expô-las aos irmãos. Hoje devemos seguir o exemplo de Timóteo e expor aos santos as
coisas de que fomos alimentados pelo Senhor por meio do ministério. Como seria
maravilhosa a vida da igreja se todos fizéssemos isso! Porém, se deixarmos de lado o
ministério e buscarmos produzir algo diferente, poderemos dar lugar a ensinamentos
diferentes. Timóteo não tinha intenção de ensinar nada além do que Paulo ensinava. Ele
expunha aos irmãos o que recebera de Paulo.

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A essa altura eu gostaria de dizer algo sobre meu encargo de publicar as mensagens dos
Estudos-Vida. O alvo dessas mensagens é produzir mantimentos para as igrejas. Meu
principal encargo não é “cozinhar” esses mantimentos espirituais; é produzi-los e fornecê-
los às igrejas para que cada igreja seja um mercado bem abastecido, repleto de grande
variedade de alimentos nutritivos. Se os líderes numa igreja expuserem aos santos as
riquezas contidas nos Estudos-Vida, os santos serão nutridos em abundância. Tenho
recebido muitas cartas testificando que isso realmente ocorreu.

É fato na história da restauração do Senhor que toda igreja que segue o ministério é forte e
abençoada. Mas as que negligenciaram o ministério e tentaram fazer algo por si mesmas
fracassaram. Contudo, ao dizer isso, quero deixar bem claro que de modo algum insisto
que as igrejas ou os santos leiam as mensagens dos Estudos-Vida. Repito, meu encargo é
produzir mantimentos. As igrejas e os santos são livres para usá-los ou desconsiderá-los.
Mas se os santos desprezarem os alimentos encontrados nessas mensagens, eu me per-
gunto de que eles se alimentarão. Somos o que comemos. Se comermos os “mantimentos”
produzidos na religião, seremos parte da religião. Permita-me dizer com franqueza e
honestidade que os líderes precisam tomar “estas coisas” e expô-las aos santos para
alimentá-los. (Estudo-Vida de 1 Timóteo, pp. 85-86, Witness Lee)

II. FALAR A MESMA COISA SEGUNDO


O PALADAR DA RESTAURAÇÃO DO SENHOR

Falar a Mesma Coisa

Estamos aqui pela restauração do Senhor. Não estou fazendo o meu próprio trabalho nem
vocês o seu. Todos estamos dando um único testemunho; todos temos os ombros sob os
“varais” da “arca”. Uma vez que todos estamos dando o único testemunho, todos
devemos falar a mesma coisa (1Co 1:10). Mas, em determinados lugares, o falar está
levando os irmãos para longe da restauração do Senhor. Tal falar pode não ser errado ou
antibíblico. Talvez seja correto e bíblico, mas por fim guiará os santos na direção errada.

Se seguirmos uma linha reta, atingiremos um objetivo correto. Mas se a nossa direção
estiver errada, atingiremos o objetivo que não é o da restauração do Senhor. Mesmo
depois de curto tempo, podem sobrevir problemas à restauração por meio de sua maneira
de falar coisas bíblicas, ou seja, pelas boas mensagens que vocês liberam. Embora não haja
nada de errado com seu falar, ele pode guiar os outros na direção errada. Se for assim, por
fim isso se tornará um problema para toda a restauração.

A restauração não é meramente uma questão local. Apesar de a restauração estar em sua
igreja local, a restauração é universal. Se você levar os que estão em sua cidade em uma
direção diferente daquela tomada pela restauração, haverá duas direções: a direção na
restauração como um todo e a direção em sua cidade. Se você ensinar algo de maneira que
os outros sejam levados numa direção diferente, alguns talvez recebam seu ensinamento,
mas muitos dos que estão na restauração do Senhor irão rejeitá-lo. Eles não irão “engolir”
seu ensinamento.

Pela experiência, sabemos que aquele que ensina diferentemente é o primeiro a ser
sacrificado. Isso significa que se ensinar diferentemente, vocês correm o risco, não de
sacrificar a restauração, mas a si mesmo. Todos precisamos praticar a palavra de Paulo a
Timóteo: “Quando eu estava de viagem, rumo da Macedônia, te roguei permanecesses

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ainda em Éfeso para admoestares a certas pessoas, a fim de que não ensinem
diferentemente” (1Tm 1:3 — RV). Em vez de ensinar diferentemente, devemos todos falar
a mesma coisa.

Uma vez que fui eu que dei as mensagens de Estudo-Vida, para mim é bem embaraçoso
falar sobre elas. Entretanto, posso dizer que a restauração do Senhor tem prosseguido pelo
ministério. Se o ministério não tivesse vindo a esse país, a restauração não seria tão
prevalecente aqui. Ela veio por meio do ministério e tem prosseguido pelo ministério. Se
vocês, então, falarem alguma coisa que é fora do ministério, certamente a restauração não
seguirá esse falar. É um sonho pensar que toda a restauração siga o falar que é diferente do
ministério. Por isso, se falarem diferentemente, vocês excluirão a si mesmos da restauração
pelo seu próprio falar. Ninguém os excluirá; vocês serão excluídos por seu próprio falar,
seu próprio conceito e sua própria atitude.

Sem dúvida é verdade que a igreja em cada cidade tem sua própria jurisdição. Entretanto,
temos categoricamente ensinado que cada igreja não é um Corpo de Cristo; todas as
igrejas, juntas, são o único Corpo. Por causa disso, o que acontece num lugar afetará
outros. Isso significa que o que vocês fizerem em sua cidade afetará a igreja em outras
cidades. As notícias correm. Além disso, os irmãos que agora estão em sua cidade mais
tarde se mudarão para outra.

Os que ensinam diferentemente não são capazes de deter o ministério na restauração do


Senhor. Ele trouxe a restauração a este país e ainda a está conduzindo. Como pode o
ministério receber ensinamentos dissidentes? Os que ensinam diferentemente causarão
problemas primeiro para si mesmos e depois para os outros e para a restauração. Causarão
danos a outros e depois à restauração. Tal dano é responsabilidade dos que ensinam
diferentemente.

Todos precisamos ponderar sobre o que ministramos, pregamos e ensinamos. Isso


significa que precisamos cuidar de todas as igrejas. Diante do Senhor, posso testificar que
essa era a minha prática na China, e é minha prática hoje. Quando estava na China,
falando em certa cidade, ponderava sobre como as outras igrejas poderiam ser afetadas
pelo meu falar. Perguntava a mim mesmo: “Será que isso causará problemas às igrejas?
Como isso as afetará? Será que toda a restauração será capaz de aceitar isso?” Percebia que
se não refletisse sobre o que eu falava, poderia causar problemas. Poderia falar algo que a
restauração como um todo não haveria de receber. Poderia falar algo que os outros iriam
rejeitar porque era contrário ao seu paladar.

Um Paladar pelo Ministério

Assim como as pessoas têm diferentes gostos por comida, também a restauração do
Senhor tem um paladar pelo ministério que a tem edificado através dos anos. A
restauração foi levantada com certo sabor. Aqueles que foram levantados com esse sabor
rejeitarão qualquer sabor contrário. Isso significa que se vocês disserem algo contrário ao
sabor da restauração do Senhor, o seu falar será rejeitado e vocês serão os primeiros a
sofrer perda. Vimos muitos exemplos como esse no passado.

Em 1964, convidei certo irmão para compartilhar uma mensagem por dia em uma sessão
de um treinamento. O ensino daquele irmão era muito bom, senão eu não teria pedido que
viesse partilhar aquele treinamento comigo. Entretanto, o falar daquele irmão foi contrário

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ao paladar dos irmãos. Um irmão me disse que aquele ensinamento era muito filosófico.
Isso indica que embora a restauração estivesse neste país a menos de dois anos, os irmãos
já haviam adquirido o sabor da vida.

A respeito de uma questão como essa, é inútil argumentar sobre quem está certo e quem
está errado. O importante aqui é que os santos têm um paladar e não aceitam o que é
contrário a ele. Deixem-me dar uma ilustração do que quero dizer com paladar pelo
ministério da restauração do Senhor. Uma vez, encorajei um irmão a comer pepino do
mar, um prato chinês que aprecio muito. Embora o pepino do mar tenha sido preparado
por um especialista e eu o tivesse recomendado enfaticamente, o irmão recusou-se a comê-
lo porque era contrário a seu paladar. De semelhante modo, você pode pensar que o seu
falar é bom, mas não é de acordo com o paladar da restauração.

Se você for sábio, conhecerá o paladar daqueles para os quais você está falando. Todas as
igrejas na restauração foram levantadas por meio do ministério e os santos têm “comido”
o ministério por anos a fio e têm um gosto por ele. Embora as igrejas tenham sido
produzidas pelo seu falar, vocês agora começam a “servir” aos santos algo diferente do
ministério, com alguma coisa que não está de acordo com o paladar deles. Se fizer isso,
vocês causarão problemas para si mesmos. Assim como os pais terão problemas com os
filhos se os forçarem a comer comida contrária ao gosto deles, também vocês terão
problemas se esperarem que os irmãos “comam” algo contrário ao paladar da restauração
do Senhor.

Os que ensinam diferentemente não são sábios porque não conhecem o ambiente, a
situação, e a condição da restauração do Senhor. A restauração foi levantada de forma
específica. Os que ensinam diferentemente, na verdade estão tentando introduzir um
elemento estranho; estão tentando inculcar uma partícula estranha no “corpo” da
restauração. A restauração não aceitará nenhum elemento ou partícula estranha. Como já
enfatizamos vigorosamente, o motivo é que os santos têm o seu paladar.

Embora a restauração não seja controlada por ninguém, há nela um fator controlador, que
é o paladar. A restauração tem um paladar específico porque tem certa vida que vem
desde o nascimento. Assim como um ser humano nasce com uma vida que lhe dá certo
paladar, também a restauração do Senhor nasceu com a vida que tem seu próprio paladar.
Esse paladar é o fator controlador na restauração do Senhor. Ninguém consegue subverter
esse fator controlador. Se tentarem subvertê-lo, vocês mesmos serão subvertidos. Isso quer
dizer que vocês na verdade subvertem a si próprios, separando-se da restauração do
Senhor.

Não insisto que todas as igrejas usem as mensagens de Estudo-Vida. Entretanto, desejo
enfatizar que este ministério trouxe a restauração a este país e a tem ajudado e nutrido. A
restauração tem crescido com a “comida” fornecida por este ministério. Agora é
impossível que os santos mudem de paladar. Se vocês tentarem mudar o gosto dos irmãos,
serão tolos, desperdiçarão seu tempo, e causarão danos. Se vocês sentem que o seu
ensinamento é melhor que o da restauração do Senhor, vocês devem servir sua “comida”
aos que têm gosto por ela. Os que foram criados com certa comida podem ocasionalmente
comer algo diferente. Mas em longo prazo, no viver diário, eles comerão o que combina
com seu paladar e rejeitarão o que é contrário a ele.

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Uma vez que essa é a situação entre os santos na restauração do Senhor, devemos ser
sábios e aprender as verdades básicas para então servi-las aos santos. Se fizermos isso,
todos ficarão felizes, e teremos uma situação de paz, não só entre os irmãos
individualmente, mas também entre as igrejas, e no relacionamento das igrejas com o
ministério.

A Natureza do Ministério Neotestamentário

Se vocês puderem dar mensagens que combinem com o paladar da restauração do Senhor
sem usar os Estudos-Vida, isso será maravilhoso. Tais mensagens serão proveitosas à
restauração. Mensagens que combinam com o paladar da restauração realmente são parte
do ministério neotestamentário. Ninguém deveria pensar que somente o que eu ministro é
o ministério neotestamentário. Paulo, é claro, ministrava esse ministério; Martinho Lutero
também ministrou parte dele. Muitos entre nós também o ministram.

Seja o que for que ministremos, tem de ser da natureza do ministério neotestamentário. Se
determinado ministério é ou não parte do ministério neotestamentário, isso pode ser
provado aplicando-se os princípios governantes: 1) o princípio do Deus Triúno processado
dispensado ao Seu povo escolhido; 2) o princípio de Cristo e a igreja; 3) o princípio de
Cristo, o Espírito, vida, e a igreja. Se o seu ensinamento pode passar por esse teste tríplice,
ele é parte do ministério neotestamentário. Qualquer ministério que seja parte do
ministério neotestamentário será bem vindo pelos santos na restauração do Senhor.
Qualquer outro ministério, entretanto, somente causará problemas. (Treinamento de
Presbíteros, Volume 3: A Maneira de Cumprir a Visão, pp. 157-164, Witness Lee)

III. ENSINAR COISAS DIFERENTES


DO ÚNICO MINISTÉRIO DA ECONOMIA DE DEUS,
CRIANDO DIVISÕES E DESTRUINDO A RESTAURAÇÃO

Através dos vinte séculos de história da igreja, as divisões, confusões e problemas que
ocorreram entre todos os cristãos foram devidos a algum ministério. Seja o que for que
vocês ministrem, isso produzirá algo. Se ministrarem coisas terrenas, certamente o
resultado, o fruto, será terreno. As muitas divisões e confusões entre os cristãos hoje vêm
todas de uma única fonte: ministérios diversos. A denominação ou divisão presbiteriana
surgiu do ministério do presbiterado. A divisão batista surgiu do ministério do batismo
por imersão. Todos os diferentes grupos cristãos surgiram de diferentes ministérios. Um
ministério é principalmente um ensinamento. Precisamos perceber que o ensinamento
dado por um cristão ministra algo. Pode ministrar algo certo, ou errado, algo elevado ou
inferior. Um ensinamento sempre resulta em algo. Com base no resultado do ensinamento,
ele pode ser considerado um ministério. Ministério, na terminologia bíblica, significa
servir algo a alguém, assim como um garçom num restaurante serve comida às pessoas.
Servir algo aos outros é ministrar. Ministrar não é pregar, ensinar ou falar sem servir algo
a alguém. Talvez certo ministro fale por uma hora e nada ministre às pessoas. Isso
significa que, segundo Cristo, ele nada ministrou, mas, segundo os fatos, realmente
ministrou alguma coisa. Ministrou algo errado, ruim ou inferior. Espero que vejamos que
o ministério pode produzir problemas, divisão e confusão.

Não Ensinar Outra Doutrina

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É por isso que Paulo escreveu 1 Timóteo em meio a um ambiente confuso e depois de anos
de trabalho com os cooperadores. Essa Epístola é totalmente um antídoto. Muito veneno
foi injetado na igreja enquanto ela avançava. Na conclusão do seu ministério epistolar,
Paulo escreveu 1 Timóteo para vacinar a igreja contra todos esses venenos. Na introdução
dessa Epístola, entretanto, Paulo escreveu não para que pensássemos que fosse tão sério:
“Quando eu estava de viagem, rumo da Macedônia, te roguei permanecesses ainda em
Éfeso para admoestares a certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina” (1:3).
[A frase “não ensinem outra doutrina” também pode ser traduzida como “não ensinem
diferentemente”]. Isso pode parecer muito simples. Se vocês meramente lerem essa frase,
não sentirão a seriedade de um ensino diferente. Podemos não pensar que é sério, mas na
verdade é mais que sério. Ensinar diferentemente mata as pessoas, demole a edificação de
Deus e anula toda a Sua economia. Todos precisamos perceber que até mesmo um
pouquinho de ensinamento diferente destrói a restauração. Há um provérbio que diz:
“Uma frase pode edificar a nação e uma frase pode destruir toda a nação”. Vocês não
precisam dar uma mensagem inteira; apenas uma frase que contenha o seu conceito
demole tudo. Precisamos perceber que ministrar é “terrível”. O que vocês falam pode
edificar ou destruir. É possível que o que vocês falam destrua, mate e anule.

O Único Ministério

Como vimos, Paulo disse a Timóteo em 1 Timóteo 1:3 que o deixara em Éfeso para
admoestar alguns a que não ensinassem diferentemente. Qual é então, podemos
perguntar, a única coisa que todos os mestres cristãos deveriam ensinar? Eles hoje
ensinam muitas coisas tais como presbitério, batismo por imersão, a maneira episcopal,
santidade, como pregar o evangelho e o modo de ensinar a Bíblia. Todos concordamos que
ensinar à maneira do judaísmo é certamente errado, mas e quanto a ensinar a pregar o
evangelho? Que há de errado com a pregação do evangelho? Precisamos perceber que até
mesmo ensinar a pregar o evangelho cria divisão. Isso está errado. Há um único ministério
que sempre edifica, constrói e aperfeiçoa, sem absolutamente nenhuma destruição. Há
somente um ministério que é justificado, incentivado e até mesmo glorificado no Novo
Testamento. Em 1 Timóteo 1:4, Paulo ainda disse a Timóteo que aqueles que estavam
ensinando diferentemente deveriam ocupar-se com a economia de Deus. Por meio do meu
contato com alguns de vocês, tive encargo e tomei uma rápida decisão de convocar este
treinamento. Não gosto de ver a restauração destruída por ensinamentos diferentes.
Percebo a verdadeira situação. Que o Senhor me cubra. Vocês podem não saber sobre o
que estou falando porque não conhecem todos os fatos. Meu contato com vocês me
impressionou com um fato terrível. Percebi que vocês iam ensinar coisas diferentes para
causar problemas e criar divisão. Há somente um único ministério, que sempre edifica e
nunca destrói: a economia de Deus.

Precisamos perguntar a nós mesmos o que havia de errado em ensinar o judaísmo na


época dos apóstolos. Não era budismo ou gnosticismo. Ensinar judaísmo é ensinar
segundo a Palavra Sagrada no Antigo Testamento. Alguns poderiam ter dito ao apóstolo
Paulo: “Que há de errado com ensinamento da lei? Estou ensinando a Bíblia”. Será que há
algo de errado em ensinar a Bíblia às pessoas, em ensinar teologia ou como pregar o
evangelho? Não há nada de errado, mas precisamos perceber que esse ensinamento cria
divisão. Em 1 Timóteo, Paulo não afirmou que aqueles que ensinavam diferentemente
ensinavam heresias ou coisas impuras. Se tivessem ensinado coisas impuras, nenhum
cristão lhes teria dado ouvidos. O motivo por que seus ensinamentos foram recebidos é
que eram coisas bíblicas dos trinta e nove livros do Antigo Testamento. Nessa época, o

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Novo Testamento ainda não existia e a Palavra Sagrada era somente o Antigo Testamento.
Os que ensinavam diferentemente podiam ter pensado: “Se você não me permite ensinar o
Antigo Testamento, então que vou ensinar? Estou sendo muito autêntico e bíblico em
minha intenção.” O ensinamento deles, entretanto, criou divisão. Há algo errado em
estabelecer uma missão e enviar missionários ao campo? Precisamos perceber que não é
questão de certo ou errado, mas de “cortar em pedaços o Corpo de Cristo”. Por um lado,
trazer pessoas a Cristo por meio de missionários é muito positivo. Inconscientemente,
entretanto, essa obra despedaça o Corpo de Cristo. Devemos ser cuidadosos porque
podemos fazer a mesma coisa. Podemos insistir, enfatizar e ressaltar um item bíblico
aparentemente correto, ainda assim ele corta o Corpo de Cristo, divide a restauração.
Precisamos ser cuidadosos. Convoquei esta reunião porque li o coração das pessoas pelas
atitudes e espírito ao falar. Temo que alguns ensinamentos diferentes estejam a ponto de
aparecer.

O Ministério Neotestamentário

Só há um modo de nos preservar na restauração: o único ministério. Se dissermos que


estamos na restauração, e ainda assim ensinamos algo tão leviano, de forma oculta,
diferente da economia do Senhor, estamos semeando algo que redundará em divisão. Por
isso, a única maneira de ser preservado na unidade eterna é ensinar a mesma coisa na
economia de Deus. Esse ensinamento é chamado de ministério neotestamentário, o
ministério da nova aliança. O ministério da nova aliança é somente ministrar o Deus
Triúno processado, para ser dispensado ao Seu povo escolhido como vida e suprimento de
vida, a fim de gerar os membros de Cristo para formar o Corpo que expressa o Deus
Triúno. Essa é a economia neotestamentária. Ensinar outras coisas, mesmo boas e bíblicas,
que estejam, ainda que um pouquinho só, fora da economia do Novo Testamento de Deus,
resultará em divisão e isso será muito usado pelo sutil, o maligno. Precisamos, por isso,
estar alertas. (Treinamento de Presbíteros, Volume 3: A Maneira de Cumprir a Visão, pp. 52-56,
60, Witness Lee)

As Divisões Provêm de Ministérios Diferentes

Precisamos estar bem cientes de que o fundamento de todas as denominações e o fator que
as produz são os ministérios diferentes. Se todos os cristãos hoje estivessem dispostos a
que o Senhor tirasse seus diversos ministérios, todos eles seriam um. O fator básico de
todas as divisões, sua própria raiz, são os diversos ministérios. Os diversos ministérios
podem ser muito saudáveis e até bem segundo a Bíblia, mas, segundo Paulo, já se
entremetiam na época de Gálatas 2 (v. 4). Eles se entremeteram muito cedo. Paulo, Pedro e
Tiago estavam todos lá, e outro ministério tentava penetrar. Em 1 Timóteo 1, Paulo
exortou Timóteo a que permanecesse em Éfeso para cuidar de uma coisa: exortar
determinadas pessoas a não ensinar diferentemente, o que significa não ensinar segundo
outro ministério (vv. 3-4). Naquela época o ensinamento diferente era o ensinamento da
lei. Em Gálatas 2, o que tentava entremeter-se era a lei.

Em época posterior, veio o ensinamento herege do gnosticismo. O gnosticismo era uma


heresia, mas não se pode dizer que ensinar algo do Antigo Testamento era heresia. Aqui
precisamos considerar cuidadosamente toda a situação. Paulo estava executando o
ministério neotestamentário de Deus e seu ministério seguia o de Pedro, que era
continuação imediata do ministério do próprio Senhor Jesus. Nos quatro Evangelhos,
Jesus Cristo executou o ministério de Deus, ao qual Pedro deu continuidade na primeira

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parte de Atos. Então, na segunda parte de Atos, o ministério de Paulo foi continuação do
de Pedro, para levar a cabo o ministério neotestamentário de Deus. Contudo, quando os
crentes judaizantes se fortaleceram no ensino da lei, Pedro enfraqueceu. Ele temeu os que
desceram da parte de Tiago (Gl 2:11-12). Isso indica também que Tiago era uma figura
marcante, um personagem forte, na tolerância do ensino da lei na era do Novo
Testamento.

Você pode imaginar Paulo enfrentando aquele problema? Em Antioquia, Paulo enfrentou
o apóstolo número um, Pedro, e os representantes do apóstolo mais influente, Tiago. Não
foi fácil enfrentar aquela situação. Duas influências fortes estavam lá, a de Pedro e a de
Tiago. Pedro poderia ter dito a Paulo: “Quem é você, Saulo de Tarso? Quando eu pregava
em Jerusalém, você ainda era um jovem opositor. Quem você pensa que é?”

Além disso, Paulo estava enfrentando os representantes de Tiago, um homem piedoso que
orava tanto, dia após dia, até há registros de que seus joelhos eram calejados. Tiago era
famoso por sua perfeição piedosa e muito influente. Tornou-se até mais influente do que o
grande primeiro apóstolo, Pedro. Pedro temia sua influência. Em Antioquia, Pedro comia
em paz com os gentios. Contudo, quando chegaram representantes de Tiago, Pedro
tornou-se hipócrita e fingiu que não havia comido com os gentios. Isso indica a força da
influência de Tiago.

Paulo, como jovem apóstolo, que havia chegado depois de Pedro, enfrentou tal situação.
Sem dúvida, foi difícil. Entretanto, por amor à verdade, Paulo não tolerou aquela situação.
Ele não permitiu tal coisa. Antes, cortou os diversos ministérios, fechou a porta para que
não se entremetessem, e Deus honrou o que ele fez naquela situação.

Segundo o Novo Testamento e a história da igreja, daquele momento em diante, Pedro já


não desempenhava papel tão importante na economia neotestamentária de Deus, como
nos primeiros doze capítulos de Atos. Esse ponto é crucial. Logo depois, em 70 d.C. Deus
destruiu Jerusalém (Mt 24:1-2), que era a base da obra de Pedro e da influência de Tiago.
Ele demoliu tudo, não deixando pedra sobre pedra, destruindo-a. Isso foi não só um
julgamento sobre a rebeldia de Israel, mas também a destruição da base da obra de Pedro
e da influência de Tiago. Não obstante, após aquela data, o ministério de Paulo e sua
influência continuaram. Deus não permitiu ministérios diferentes e outras influências.

Precisamos ver esse princípio no decorrer de toda a era cristã. Todos os problemas,
divisões, e confusões vieram da tolerância aos ministérios diferentes. Muitos mestres
cristãos conheceram o perigo desses ministérios; contudo, os toleraram. Tem havido
tolerância a ministérios diferentes. Não devemos crer que, na restauração do Senhor, em
longo prazo, eles nunca mais penetrarão sorrateiramente. Pelo contrário, devemos estar
alerta. Tal perigo está à nossa frente. Se não formos vigilantes, se formos descuidados, de
um modo ou de outro o inimigo usará sorrateiramente alguns meios ou maneiras de
introduzir ministérios diferentes. Tal coisa terminaria com a restauração do Senhor.

Se olharem para a situação de hoje, vocês perceberão que há muitos outros ministérios,
além desse único ministério neotestamentário. Se vocês pudessem tirar todos os outros
ministérios e deixar somente o ministério neotestamentário, todas as denominações, todos
os grupos e todas as divisões desapareceriam. Não haveria divisão nem confusão.

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Todos precisamos aprender essa lição sóbria e estar alertas para não nos desviarmos do
ministério neotestamentário. Se levarmos a cabo algo novo, algo diferente desse ministério
único, estaremos terminados quanto à restauração do Senhor. Na verdade, a restauração
do Senhor é levar-nos de volta ao ministério único do Novo Testamento. (Treinamento de
Presbíteros, Volume 1: O Ministério do Novo Testamento, pp. 18-20, 84, Witness Lee)

IV. LIÇÕES SOBRE A UNIDADE


DO MINISTÉRIO NEOTESTAMENTÁRIO

Precisamos gastar aqui algum tempo para penetrar no ministério neotestamentário a fim
de vê-lo do começo ao fim do Novo Testamento. É crucial ver o que é o ministério neotes-
tamentário. Já mostramos que ele começou com João Batista. Contudo, não deveríamos
considerar seu ministério como algo separado e individualista; ao contrário, era parte do
ministério neotestamentário. Era um serviço do ministério neotestamentário, a saber, o
primeiro serviço. Precisamos pesquisá-lo de modo especial a fim de escolher um tópico
crucial.

Quando chegamos ao elogio que o Senhor faz ao ministério do Seu precursor, em Mateus
11, podemos ver que até mesmo aquele primeiro serviço, aquela primeira parte do
ministério neotestamentário era único. O ministério de João, de arrependimento, o
caminho do arrependimento, foi um ministério que causou muito impacto, que traçou a
linha entre o Antigo e o Novo Testamento. Foi um marco na economia de Deus.
Entretanto, não deveria ser considerado um ministério separado, independente,
individualista. Se pensasse assim, você se tornaria o que os Evangelhos chamam de
discípulos de João.

Uma Concorrência com o Ministério do Senhor

Em Mateus 9, os discípulos de João vieram questionar o Senhor Jesus, e incluíram os


fariseus nas suas perguntas (v. 14). Segundo Lucas 5, os fariseus que perguntaram (v. 33),
e segundo Marcos 2, parece que os discípulos de João e os fariseus perguntaram juntos (v.
18). Antes disso, os fariseus eram uma seita, e havia outra seita, herética, chamada dos sa-
duceus. Contudo, na época de Mateus 9, os discípulos de João tornaram-se outra seita.
Com isso, podemos ver que, provavelmente menos de dois ou três anos depois que João
começou a pregar, seu serviço causou problema e fazia concorrência com o ministério do
Senhor.

Deus não queria que o serviço de João se tornasse um ministério separado. Na intenção de
Deus, o serviço de João era simplesmente o começo do ministério neotestamentário, um
serviço que recomendava e dava início ao ministério do Senhor. João nos disse claramente
o que era seu ministério (Jo 1:23; 3:28-30), mas seus discípulos entenderam de maneira er-
rada. Pensavam que seu mestre, João Batista, era grande e seu ensino, único. Eles o
seguiram, e seguiram seu ensinamento. Talvez inconscientemente e involuntariamente,
fizeram concorrência com o ministério do Senhor. Por fim, aquela pregação substituiu o
ministério do Senhor.

Com muita freqüência falhamos não reconhecendo a soberania do Senhor nas coisas que
acorreram com João Batista. Primeiramente, Herodes o pôs na prisão, e depois, por ser
Herodes indulgente para com a concupiscência, ele o decapitou. Contudo, precisamos
perceber que o fato de João ser preso foi soberania do Senhor, e até mesmo decapitado

11
também o foi. Não quero absolutamente dizer que Deus se alegrou em ver João preso, e
muito menos decapitado. Contudo, devemos crer que Deus é soberano, e precisamos con-
siderar sobriamente por que Deus permitiu esses dois fatos.

A prisão e a execução de João ocorreram porque alguns se importavam com outro


ministério. O ministério de João e seus discípulos causaram alguns problemas. Primeiro,
Deus, por meio de Herodes, impediu a pregação de João. Depois, mesmo na prisão, João
enviou discípulos ao Senhor Jesus com certas perguntas. Logo a seguir, João sofreu o
martírio. Deus foi soberano em pôr fim ao que estava com João naquela época. Sem
dúvida, esse fim não foi bom nem positivo.

O caso de João Batista mostra-nos que há o perigo de recebermos um ministério genuíno,


um serviço genuíno da parte de Deus, e não estarmos dispostos a ver esse serviço ter fim.
Isso é crucial. Deus pode usá-lo, e pode usar-me. Pode usar-nos para determinado serviço
com vistas ao Seu propósito, mas depois de usados por Ele, provavelmente nenhum de
nós esteja disposto a ver a terminação desse serviço.

O mesmo princípio pode ser aplicado no caso de Moisés. O relato da face resplandecente
de Moisés em Êxodo 34 não nos diz por que ele a cobria com um véu (vv. 30-35). Contudo,
segundo a interpretação de Paulo em 2 Coríntios 3:13, Moisés temia que o povo visse o tér-
mino de seu ministério. Moisés não queria que as pessoas vissem o brilho de seu min-
istério desvanecer. Até mesmo no caso dele, havia uma preocupação com o término do seu
ministério. Todos ficamos contentes ao ser usados pelo Senhor em determinado serviço,
mas nenhum de nós está disposto a ver esse serviço terminar.

Foi esse problema que forçou Deus, o Soberano, a permitir que João fosse preso e, até
mesmo, morto. Precisamos considerar cuidadosamente toda essa questão. Se a soberania
de Deus não permitisse que essas coisas assim acontecessem, com certeza, o ensinamento
de João teria continuado por meio de seus discípulos e gerado grande problema. Aqui pre-
cisamos aprender uma lição. Deus não permite que ministério algum, serviço algum, con-
corra com Seu ministério neotestamentário. O que aconteceu no caso de João Batista, clari-
ficou soberanamente toda situação. Todo o restante do ministério do Senhor não sofreu
concorrência alguma, mas sofreu oposição. É mais fácil lidar com a oposição do que com a
concorrência.

Deus tolerou a oposição dos fariseus por muito mais tempo, até, pelo menos, o ano 70 d.C.
quando Jerusalém foi destruída. O Senhor até mesmo profetizou que não seria deixada pe-
dra sobre pedra do templo de Jerusalém, por causa da oposição deles, porque eles O re-
jeitaram, e mostrou que o templo de Deus tornara-se a casa deles, porque o tornaram um
covil de salteadores (Mt 24:1-2; 23:38). O Senhor tolerou a oposição por vários anos, mas
não tolerou a concorrência. Imediatamente João foi posto na prisão, e sua vida teve fim.
Precisamos aprender a lição desse caso. Esse assunto diz respeito à soberania do Senhor.

A Continuação do Ministério Neotestamentário com Pedro

Depois de João Batista, o Senhor Jesus continuou o ministério neotestamentário, e cumpriu


cabalmente a Sua parte. Então, chegou o dia de Pentecostes. Naquele dia Pedro foi forte, e
era puro em tudo. Nos capítulos 2 a 5 de Atos podemos ver um jovem, talvez em seus
trinta e poucos anos, limpo e muito puro em todos os aspectos, em intenção, desejo,
motivação, coração, espírito e entendimento. Não valorizava nada além do ministério do

12
Senhor, nem mesmo sua vida. Com ele, naquela época, não havia problema em ponto
algum.

Pedro e a Maneira do Antigo Testamento

Contudo, em Atos 10, a atitude de Pedro causou problema para Deus; ela O incomodou.
Em Mateus 16 o Senhor lhe disse que lhe daria as chaves do reino. Há pelo menos, duas
chaves, porque a palavra está no plural. No dia de Pentecostes, Pedro usou uma delas para
abrir a porta para o povo judeu entrar no reino neotestamentário de Deus. Contudo,
quando Deus ia usá-lo com a segunda chave, para abrir a porta para os gentios, isso con-
trariou o passado e a tradição de Pedro. No dia de Pentecostes, bastou que o Espírito Santo
descesse sobre Pedro, mas na casa de Cornélio, Deus usou duas visões, uma para Pedro e
outra para Cornélio. Isso indica que Deus estava incomodado, porque foi forçado a tomar
maneira de sonhos e visões do Antigo Testamento.

A maneira do Novo Testamento é seguir a unção interior, seguir o espírito interior. Pedro
tinha o Espírito em seu interior, mas não pôde entender esse habitar por causa de seus an-
tecedentes e tradição. Ele tinha o derramamento exterior e também o habitar interior do
Espírito, mas não pôde entender o habitar interior. Isso é crucial.

Para levar a cabo o ministério de Deus, é necessário uma pessoa limpa. Quão limpo era Pe-
dro no dia de Pentecostes e nos capítulos 2 a 5 de Atos! Não havia nenhum véu a cobri-lo,
e ele era absolutamente puro como cristal. Mas, depois de algum tempo, até mesmo
quando estava orando em Atos 10, havia um véu que o cobria. Esse véu eram a tradição e
seu passado judaico, que o cobriam e impediam de ver a maneira do Novo Testamento.
Contudo, Deus o venceu, subjugou, e até mesmo o convenceu a ir à casa de Cornélio para
usar a segunda chave a fim de abrir a porta para os gentios.

O Término do Ministério de Pedro em Atos

Precisamos ler e reler Atos com muita reflexão. Depois que Pedro usou a segunda chave,
Atos 12 nos diz que ele foi preso, e depois libertado. Entretanto, depois de Atos 12 não há
coisa alguma a respeito de Pedro. Os capítulos 13 a 28 dedicam-se a Paulo, e já não há
capítulos para Pedro em Atos. O ministério de Pedro terminou no ministério neotestamen-
tário de Deus em Atos. Pedro era bom, e creio que escreveu suas epístolas depois dessa
época. (Se 1 Pedro foi escrita antes ou depois de Atos 13 é incerto). Foi muito bom Pedro
ter escrito as duas Epístolas. Especialmente na segunda, ele foi muito genuíno e ousado,
porque recomendou alguém que o tinha repreendido face a face (2Pe 3:15-16).

Depois de Atos 12, não vemos Pedro até o capítulo 15. Contudo, em Atos 15 Pedro não era
mais o primeiro entre os apóstolos nem mesmo entre os presbíteros em Jerusalém.
Naquela época, o ambiente, a tendência e a influência em Jerusalém não estavam a favor
de Pedro, mas totalmente a favor de Tiago, que, de certa maneira, podia ser considerado
um “semi” apóstolo neotestamentário, com grande parte do Novo Testamento e certa
parte do Antigo.

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Elementos de Mistura

O cinza pode mesclar-se com o branco ou o preto. Tiago pode ser comparado a algo cinza,
que pode encaixar-se em qualquer lado. Pedro seria comparado a algo branco puro, mas
não ousou ser o que era. Em meio a tal ambiente, influência e tendência, o que Pedro era
não seria bem recebido. Contudo, Tiago foi bem-vindo porque podia encaixar-se nos dois
lados ao mesmo tempo.

Nos Estudos-Vida de Tiago e Marcos, podemos perceber que até mesmo a situação em
Atos 15 não foi totalmente pura. Precisamos ver a decisão tomada em Atos 15 à luz do que
ocorreu em Atos 21. Embora tenha “parecido bem ao Espírito Santo” (At 15:28), a decisão
foi tomada principalmente sob a influência de Tiago, e não puramente segundo a econo-
mia neotestamentária de Deus. O que ocorreu no capítulo 21 foi decorrente da decisão
tomada no capítulo 15. Em outras palavras, poderíamos dizer que a fraqueza do capítulo
15 foi exposta no capítulo 21. Em Atos 21, Tiago foi muito ousado ao declarar que havia
dezenas de milhares de crentes judeus em Jerusalém zelosos da lei (v. 20). Tiago foi tão ou-
sado que aconselhou Paulo a fazer o mesmo.

A Virada do Ministério de Paulo

Podemos dizer que Paulo enfraqueceu em Atos 21 e seguiu o conselho de Tiago. Alguns
podem argumentar que ele não foi fraco, mas, sim, foi muito forte a ponto de manter sua
palavra de que para com os judeus ele procedia como judeu (1Co 9:20). Eles podem des-
culpar a Paulo, mas o Senhor não reconheceu essa desculpa. Sabemos que o Senhor não o
desculpou, porque no último dia do voto do qual Paulo concordara em participar, Ele pôs
fim a tudo, Paulo havia pago as taxas dos pobres que fizeram votos e, com mais um dia
apenas, teria completado o voto. Contudo, o Senhor não permitiu tal coisa. Como resul-
tado, toda Jerusalém foi alvoroçada, e Paulo foi detido e colocado na prisão.

Esse assunto é muito sério. Até mesmo o ministério de Paulo sofreu uma virada nesse
ponto, porque houve certo envolvimento ali. Não deveríamos deixar-nos envolver com
coisas desse tipo. É sério enfraquecer a economia de Deus ou torná-la cinzenta. Quanto a
Paulo, ele era puro, portanto, Deus teve como usá-lo de outra maneira para escrever as
Epístolas. Foi muito bom que Paulo escrevesse as Epístolas, como Efésios, Filipenses, e as
outras que escreveu enquanto estava preso. Entretanto, escrever essas Epístolas foi todo o
ministério de Paulo depois de Atos 21. Essas questões são sérias.

O Caso de Barnabé

Precisamos voltar e considerar algo sobre o caso de Barnabé. Ele era fiel, e foi alguém que
introduziu Paulo (At 9:27). Também era um apóstolo companheiro de Paulo. Contudo,
teve uma opinião. Para nós, isso não foi sério. Com certeza, Barnabé não era um
judaizante, mas por causa de sua opinião, tomou seu caminho para levar a cabo o assim
chamado ministério. Esse foi o fim do registro a respeito de Barnabé no livro de Atos. Não
somente na Bíblia, até mesmo na história é difícil encontrar algum registro sobre Barnabé
depois disso. Que palavra sóbria para nós hoje!

O Problema do Ministério de Apolo

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No final de Atos 18, surge Apolo, Ele não veio de Pedro nem de Paulo, mas de outra fonte.
Não podemos dizer de que fonte Apolo veio, mas ele apareceu no capítulo 18, ensinando
as Escrituras e conhecendo somente o batismo de João (At 18:24-28). Era necessário que
Apolo fosse absorvido pelo ministério de Paulo, quanto mais, melhor. Embora possa ter
sido bastante um com Paulo, seu caso tornou-se um problema.

Em Corinto, Apolo tornou-se um problema, e Pedro também se tornou um problema. Não


pude descobrir se Pedro foi ou não a Corinto alguma vez. Contudo, seu ministério tornou-
se um problema ali, não por causa de Pedro, mas simplesmente porque havia tal coisa
como o ministério de Pedro. Havia quem seguisse o ministério de Pedro, uma vez que al-
guns diziam: “Eu sou de Pedro” (1Co 1:12). Apolo também esteve lá, e alguns diziam “Eu
sou de Apolo.” Não creio que Apolo tivesse intenção alguma de causar problemas, mas o
problema veio, não por causa de Apolo, mas por causa do seu ministério e daqueles que o
seguiam. Paulo era alguém que vivia no espírito e não condenou a Pedro nem Apolo. Em
vez disso, ao falar negativamente dessas coisas, ele mencionou primeiramente seu próprio
nome (1Co 1:12). Precisamos considerar essas coisas cuidadosamente para ver o perigo di-
ante de nós hoje. Em Corinto, o ministério de Pedro e seus seguidores e o ministério de
Apolo e seus seguidores criaram um problema que quase causou divisão.

Suponha que eu fosse Apolo. Nesse caso, você pensa que o Senhor iria usar-me mais e
mais? Se eu tivesse um ministério que foi usado como foi o de Apolo, vocês acham que
minha utilidade ao Senhor iria crescer cada vez mais? O ministério de Paulo nunca foi us-
ado dessa maneira. Seu ministério era o item principal na economia neotestamentária de
Deus. Não era esse o caso do ministério de Apolo.

De qualquer maneira, em Corinto havia problemas devido a esses três tipos de serviço, o
de Pedro, o de Apolo e o de Paulo. Não creio que, ao agir, Apolo tenha sido totalmente um
com Paulo na economia neotestamentária de Deus (ver 1Co 16:12). Ele não era faccioso, e
não se apartara da economia neotestamentária de Deus. Contudo, não podemos ver nas
Escrituras que fosse cem por cento um com Paulo nessa economia.

Um Testemunho Pessoal

Deixem-me testificar um pouco da minha experiência com o irmão Watchman Nee. Tra-
balhei com ele por mais de dezoito anos. Há alguns entre nós que estavam lá naquela
época e viram a situação. Desde o começo da obra do irmão Nee, muitos cristãos proemi-
nentes, que mais tarde tornaram-se pregadores famosos, estiveram por algum tempo com
ele. A primeira reunião do partir do pão na restauração do Senhor ocorreu com o irmão
Nee, outro irmão e sua esposa. Foram esses três que iniciaram as reuniões de partir o pão
na restauração do Senhor. Por fim, aquele irmão tornou-se um problema para o irmão
Nee, porque não era um com ele no mover de Deus naquela época na China. A partir
daquela ocasião, entraram diversos irmãos proeminentes, um após o outro. Quase todos
tornaram-se “problema” para o irmão Nee. Se eu tivesse tido a mesma atitude que os out-
ros, com certeza também me teria tornado um problema para ele. Contudo, todos perce-
biam que eu era mil por cento um com ele em seu ministério, porque minha posição, ati-
tude e espírito eram totalmente um com ele. Não foi deixada nenhuma brecha para al-
guém dizer que eu era um problema para o irmão Nee. Não havia base para tal acusação.

Se alguém chegar a perguntar-lhe se você é um comigo ou não essa pergunta é uma indi-
cação de que você não é cem por cento um comigo. Se, quando chove, a água vaza pelo

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teto, isso significa que há rachadura no telhado. Se não houver rachadura, a água não vai
entrar. Se vocês forem cem por cento um comigo, seremos como um telhado sem
rachadura. Quando chove, a água testa e prova se há ou não rachaduras no telhado.
Goteira é prova de rachadura.

O Problema em Corinto e o Perigo Hoje

Precisamos ler os fatos na Bíblia, e não meramente as letras preta no papel branco. Havia
uma razão para o problema em Corinto, onde alguns diziam: “Eu sou de Cefas”, “Eu sou
de Apolo” e “Eu sou de Paulo.” Se Pedro tivesse agido e trabalhado na atmosfera, cor, e
sabor de Paulo, sendo absolutamente um com ele, ninguém em Corinto teria dito que era
de Pedro e não de Paulo. Se Apolo tivesse trabalhado, pregado, agido, e vivido de maneira
tal que o sabor, a cor, e a atmosfera se encaixassem totalmente com a maneira de Paulo,
ninguém teria dito que era de Apolo e não de Paulo. Havia três esferas de influência ali.
Uma era de Pedro, outra de Apolo e outra de Paulo.

Quer você os chame de três ministérios, três líderes, três encabeçamentos, ou três tipos
diferentes de ensinamentos, o fato de haver três criou uma rachadura para a chuva entrar,
e, de fato, ela entrou. Alguns estavam dizendo: “Eu sou de Pedro, não me importo com
Paulo.” Outros diziam: “Eu sou de Apolo, não me importo com Pedro nem com Paulo.”
Outros ainda diziam: “Eu sou de Paulo.” Portanto, em Corinto havia contenda de sabor,
cor e atmosfera diferentes entre os irmãos por causa dos “chamados” ministérios. Se Pe-
dro, Apolo e Paulo estivessem trabalhando, movendo-se e caminhando em uma só atmos-
fera, cor e sabor, não creio que tivesse ocorrido algo em Corinto que levasse as pessoas a
dizer que eram deste ou daquele outro. Isso ocorreu ali simplesmente porque a atmosfera,
sabor, cor, e espírito entre os três não eram um.

E a nossa situação hoje? Precisamos considerar a situação atual com sobriedade segundo
essa luz das Escrituras. Digo novamente que eu teria muito mais liberdade para falar sobre
essas coisas se o irmão Nee estivesse trabalhando entre nós. Se fosse esse o caso, ele seria o
alvo em vez de mim. Pelo fato de eu ser o alvo agora, é-me difícil falar de certos assuntos,
para que o que eu fale não seja considerado justificação própria.

Contudo, todos precisamos perceber que estamos na restauração do Senhor. A primeira


característica da restauração é unidade. Se a perdemos, estaremos acabados. Se perdermos
a unidade, não estaremos mais na restauração do Senhor. Portanto, precisamos ver que há
perigo de ensinamentos e opiniões diferentes destruírem a unidade. Sou grato ao Senhor
por Sua misericórdia, porque desde o começo de Sua restauração neste país, nunca fui tão
cuidadoso em qualquer outro assunto como o da unidade. Nestes vinte e três anos, tem
sido minha prática exercitar-me a nunca debater com irmão algum a respeito de doutrinas
ou opiniões. Seis anos atrás, surgiram entre nós alguns problemas muito sérios. Naquela
ocasião, talvez vocês não me tenham ouvido falar nada sobre aqueles problemas porque
não queria dar impressão alguma de estar aberto para discutir opiniões e doutrinas dos
outros. Todavia, isso não significa que concordava com aquelas opiniões e doutrinas.
Agora percebo que, quanto mais prosseguimos, mais estamos numa tendência de que
opiniões e ensinamentos diferentes penetrem, o que é um grande perigo. As opiniões po-
dem ser boas e os ensinamento, bíblicos, mas podem ser diferentes. Cedo ou tarde, esses
assuntos criarão uma divisão oculta. A benção que sempre desce de Deus para Sua restau-
ração baseia-se na unidade (Sl 133). Se perdermos a unidade, perderemos a bênção.

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Creio que podemos aprender com o caso de Apolo, que há a possibilidade de existirem sa-
bores, atmosferas, cores diferentes, embora possamos mover-nos, ministrar, trabalhar e es-
tar juntos na restauração do Senhor. Apolo não era dissidente de Paulo, mas seu ministério
tinha cor e sabor diferentes do de Paulo.

Não estou dizendo que algo já aconteceu entre nós para criar um problema. Nenhuma
tempestade chegou, mas há uma previsão do tempo. No clima da restauração do Senhor
hoje, há alguns sinais de que poderão ocorrer algumas tempestades se não formos
cuidadosos. Por esta razão, tenho o encargo de apresentar a verdadeira situação a vocês
para que possam perceber que há um perigo diante de nós. Embora ainda não estejamos
em tempestade alguma, sinto que precisamos dar a previsão do tempo, para que todos
saibam da possibilidade de sobrevirem tempestades nesse clima, se não formos
cuidadosos. Espero que não tenhamos uma repetição das tempestades que vieram há seis
anos. Creio que todos temos boa intenção. Não creio que haja nenhum mal-intencionado
entre nós. Contudo, as coisas que fazemos podem ser erradas, mesmo que a intenção não o
seja. Todos precisamos ser cuidadosos. (Treinamento de Presbíteros, Volume 1: O Ministério
do Novo Testamento, pp. 23-36, Witness Lee)

V. NENHUM SOM INCERTO DA TROMBETA


NO MINISTÉRIO DO SENHOR

“Pois também se a trombeta der som incerto, quem se preparará para a batalha?” (1Co
14:8).

O Ministério do Senhor: o Soar da Trombeta para o Exército Ir à Guerra

Na palavra de Paulo aos crentes em 1 Coríntios 14:8, ele se referia à questão de falar em
línguas com interpretação clara. Ele disse que se não houvesse interpretação clara do falar
em língua de uma pessoa, isso seria como tocar a trombeta com som incerto. Podemos
pensar que um item como falar em línguas é pouco significativo para nossa reflexão.
Como vimos, outro item ressaltado é o de que há duas linhas na restauração. Podemos
pensar que essas duas coisas são pouco significativas, que não estão relacionadas com a
Pessoa do Senhor, com Sua deidade, com a Sua divindade. Falar em línguas com ou sem
interpretação clara e sentir que há duas linhas na restauração do Senhor podem ser
considerados por alguns como tópicos pouco significativos, não são relacionados com os
itens principais na revelação divina. Eles nada têm a ver com o encabeçamento do Senhor
ou Sua obra redentora. Eles não são algo do movimento modernista, que nega a
autoridade da Bíblia ou a existência de Deus.

Alguns dos assim chamados obreiros, os líderes, gostam de pensar que podem adotar
outra linha, não seguindo a linha única do ministério. Talvez considerem isso e o falar em
línguas sem interpretação clara como questões sem importância, às quais não precisamos
dar atenção. Até certo ponto, eu mesmo tive esse conceito no passado. Embora tenha dado
uma palavra séria, que minha tolerância tinha acabado, alguns irmãos podem sentir, não
de forma negativa, mas muito positiva a meu respeito, que me amam e não preciso ser tão
radical sobre coisas pouco importantes tais como essas. Tive o mesmo conceito no
passado, mas mediante meu estudo, percebi que no Novo Testamento, a ilustração da
trombeta soada para preparar os outros para a batalha só é usada em 1 Coríntios, e não é
usada com relação à pessoa de Cristo em Sua Divindade ou à Sua redenção crucial e
eterna, e, sim, a respeito de um item menor: a interpretação de línguas.

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Vamos ler 1 Coríntios 14:6-9 para ver o contexto dessa ilustração: “Agora, porém, irmãos,
se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos aproveitarei, se vos não falar
por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina? É assim que os
instrumentos inanimados, como a flauta ou a cítara, quando emitem sons, se não os derem
bem distintos, como se reconhecerá o que se toca na flauta ou cítara? Pois também se a
trombeta der som incerto, quem se preparará para a batalha? Assim, vós, se, com a língua,
não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? Porque estareis
como se falásseis ao ar.” É a respeito da questão de falar em línguas, algo que
consideramos tão insignificante, que o apóstolo Paulo inseriu esse versículo com o termo
“batalha” nele. Ninguém entre nós consideraria uma batalha algo insignificante. Ao travar
uma batalha, um exército precisa de moral, de união para a luta. A fim de manter esse
moral, é preciso eliminar até mesmo uma pequena dissensão sobre a menor coisa. Se a
pequena conversa dissidente não for eliminada, o moral será anulado. Não haverá mais
moral e com certeza o exército perderá o combate, a batalha. Isso me adverte sobre a
seriedade do ministério do Senhor: é como o soar da trombeta para o exército ir para a
guerra (Nm 10:9; Jz 7:18), é também uma questão de batalha (2Tm 2:3 e nota 1 — RV).
(Treinamento de Presbíteros, Volume 7: Unanimidade Para o Mover do Senhor, pp. 88-89,
Witness Lee)

O Exército Combatente de Deus

Temos de perceber que a igreja do Senhor hoje é um exército combatente. Estamos fazendo
uma coisa mais séria do que qualquer batalha na terra. Estamos lutando contra o inimigo
de Deus, Satanás. A igreja é o exército de Deus, e isso é plenamente revelado e ilustrado
em muitos aspectos em Efésios 6. Efésios é um livro que fala sobre o Corpo de Cristo, a
igreja. Ele nos diz que o Corpo de Cristo, a igreja, é a plenitude Daquele que a tudo enche
em todas as coisas (1:22-23). Também nos diz que essa igreja é o novo homem criado em
Cristo na cruz (2:15-16). Além disso, ela é o reino de Deus, a família do próprio Deus
(2:19), e a esposa de Cristo, Seu complemento (5:24-25). Paulo posteriormente nos diz em
Efésios que a igreja, o Corpo de Cristo, com essa posição tremenda, é um guerreiro para
lutar contra o inimigo de Deus. Tudo o que Cristo é e fez deve ser usado e aplicado como
aspectos da armadura de Deus. Temos de vestir Cristo como nossa couraça (6:14) e como
nosso escudo (v. 16). Temos de ter os lombos cingidos com Cristo (v. 14), e calçá-Lo como
sandálias a fim de estar firmes para lutar a batalha (v. 15). A igreja não é um mero grupo
de pessoas reunidas. Ela é um exército universal e divino lutando por Deus com Seu
inimigo no universo.

Na história moderna houve duas guerras mundiais, mas precisamos perceber que a igreja
hoje está travando uma guerra universal, cujo espaço é muito mais amplo do que o espaço
estudado pelos cientistas. A maior parte do seu estudo está confinada a uma única galáxia,
mas muitos, muitos milhões de galáxias e muitas coisas além disso formam o espaço no
qual estamos combatendo. Estamos combatendo o inimigo nas regiões celestiais, o espaço
universal. Nossa batalha ultrapassa em muito qualquer medida. Não estamos travando
uma pequena batalha, meramente pelos Estados Unidos ou pelo mundo. Nossa batalha é
universal. No falar de Paulo a respeito da matéria de interpretação de línguas, ele
considerou que ela estava relacionada a esta batalha universal que nós estamos
empreendendo. Em sua conversa a respeito da interpretação de línguas, ele usou a
ilustração - do soar de uma trombeta para a batalha.

O Ministério e as Igrejas

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Acatar ou não o ministério não define se uma igreja é autêntica. O título desta mensagem
não diz “nenhum som incerto da trombeta na restauração do Senhor”, mas “no ministério
do Senhor”. Não estou falando sobre alguma coisa da restauração do Senhor, mas sobre o
ministério. Os cidadãos dos Estados Unidos podem dizer muitas coisas para criticar o
governo e o comandante chefe das Forças Armadas, mas quando entram no exército e se
tornam soldados, eles perdem o direito de dizer qualquer coisa. É possível discutir,
debater e até brigar no Senado, mas até mesmo os senadores, quando entram no exército e
se tornam soldados, têm de ficar quietos. Não há som incerto no exército. O ministério não
é como o Senado; não é o Congresso, em que qualquer pessoa chega e expressa sua
opinião. O ministério não tem espaço para isso. Ele está totalmente preenchido com um
espírito de luta. Não controlo nenhuma igreja. Todos os santos que deixaram as
denominações, as seitas facciosas e permanecem na base correta é uma igreja em sua
cidade. Eles podem expressar suas opiniões, mas talvez não tenham nada a ver com este
ministério.

Paulo nos disse que todos os da Ásia o abandonaram (2Tm 1:15). Os crentes na Ásia, que
antes haviam recebido o ministério do apóstolo, agora o abandonaram. Eles não perderam
a sua posição de igrejas locais por terem abandonado o ministério de Paulo, mas ao lutar a
batalha, o ministério de Paulo não podia depender deles. Para o ministério de Paulo eles
não podiam ser considerados. Dizer que o ministério não pode depender de certa igreja
não quer dizer que ela tenha de ser eliminada, que não seja mais a igreja numa cidade. Ela
ainda o é, mas precisamos perceber que o ministério é uma unidade de combate, na qual
não há espaço nem tempo para sua opinião.

Eu levo a sério o interesse do Senhor. Tenho sacrificado a vida toda pelo ministério do
Senhor. Desisti de tudo para tomar o caminho da Sua restauração. Agora tenho de ser fiel
a mim mesmo. Além disso, por meio do meu ministério, milhares de santos entraram na
restauração, por isso tenho de ser fiel a eles. Muitos dos santos têm renunciado a elevados
títulos para seguir ao Senhor em Sua restauração, contudo parece que aquilo em que eles
são tende a ser uma decepção. Isso me pesa. Alguns dos santos são o que são, na
restauração do Senhor, cem por cento por causa do meu ministério, e não quero que meu
ministério desperdice o tempo deles. Tenho de fazer alguma coisa para assegurar o
investimento de todo o ser deles na restauração do Senhor. Eles renunciaram a um futuro
no mundo, mas podem não ter tido muito encorajamento na restauração do Senhor. Tenho
de ser fiel ao Senhor, fiel a tantos de vocês que foram muito afetados pelo meu ministério,
e fiel a mim mesmo. Por esse motivo, este ministério não pode permitir que ninguém finja
estar nele e ainda assim dizer algo diferente. Isso não quer dizer que estou pedindo que
vocês se afastem da igreja em sua cidade ou que ela não seja mais a igreja ali. Estou tendo
comunhão sobre o impacto do ministério para a luta pelos interesses do Senhor em Sua
restauração.

Tudo o que disser sobre as reuniões de casa, os irmãos que servem em tempo integral, as
lições da verdade, e a expansão do evangelho não é para qualquer pessoa que não se sinta
bem com meu ministério, que discorde dele, que finja estar debaixo dele, mas, na verdade,
não está. Ainda amo todos os queridos santos que se encaixam nessa categoria e ainda os
considero irmãos em Cristo, mas precisamos ter um exército cheio de impacto e nele não
há espaço nem tempo para que se expresse qualquer opinião. Estamos travando uma
batalha. O exército já começou a luta em Taiwan. Agora queremos vê-lo crescer para lutar
não só nos Estados Unidos, mas também no Canadá, América Central, Ámérica do Sul,
Europa, África, Australásia e em todo o continente asiático. Isso é o que quero ver. Não

19
estou falando sobre igrejas. Estou falando sobre o ministério. O ministério é uma coisa, e
as igrejas são outra. Essas duas coisas podem ser diferenciadas nas epístolas escritas por
Paulo. O ministério de Paulo é uma categoria e as igrejas são outra. Ele nunca as forçou a
segui-lo em seu ministério, mas com certeza tinha um ministério para elas.

Sair à Luta de
Forma Desesperada e sem Opiniões

Alguns santos vieram a mim muitas vezes com relatórios sobre situações graves e até
negativas. Eles podem ter entendido mal o fato de eu não ter reagido a eles com certa
seriedade. Creio que não reagi dessa forma não só devido à minha paciência e tolerância,
mas também por causa da sabedoria do Senhor. Sinto que é totalmente sábio ser paciente.
Quando o fruto de certa árvore está crescendo, o fruto em si vai mostrar o que ela é.
Quando o fruto fica maduro, ele cai da árvore. Neste ponto, entretanto, não sinto que deva
tolerar mais determinadas situações porque um dano já foi causado. Não quero ver mais
danos causados à restauração do Senhor. Já não tenho tempo, queridos santos, para
brincar mais com as pessoas. Vamos lutar a batalha. Quem vai lutar? Os que são
desesperados e sem opiniões.

Nos dezoito anos em que estive envolvido na obra na China continental, fiz muito, mas
ninguém nunca ouviu qualquer opinião de minha parte. Só se ouvia minha voz dando
mensagens, todas segundo o irmão Nee. Alguns podem testificar que entre todos os
cooperadores do irmão Nee naqueles dezoito anos, eu fiz o máximo. Mas laborei sem
emitir qualquer opinião. Nas conferências de cooperadores, algumas vezes o irmão Nee
perguntava: “Witness, que você diz?” Eu nada tinha a dizer. Minha atitude era que tudo o
que o irmão Nee me dissesse para fazer, eu o faria. Era simplesmente assim. De 1932 até
1950, ninguém me ouviu expressar qualquer opinião sobre a obra na China continental.

Na verdade, quase não há nada diferente entre minha compreensão e a do irmão Nee,
exceto por uma coisa. Nunca disse a ninguém o que era isso, nem mesmo a minha esposa
ou à família, até que vim para este país e o irmão Nee partiu para o Senhor. O item
doutrinário que eu senti diferente do irmão Nee era sobre as duas testemunhas no livro de
Apocalipse (11:3-12). Essa era a única diferença entre minha compreensão e a dele. Minha
intenção é mostrar a vocês que não fui totalmente o mesmo em tudo com irmão Nee.
Nessa única coisa, eu não pensava igual e ainda não penso. O que quero dizer é que, a
despeito dessa diferença, nunca manifestei nada em meu ministério que o irmão Nee não
pregasse e não ensinei nada que ele não tivesse tocado.

Um Único Fluir

O Senhor abriu meus olhos para perceber, como lhes disse no passado, que na Bíblia,
principalmente no Novo Testamento, há somente uma corrente fluindo do trono (Ap 22:1).
Em Pentecostes, a corrente começou a fluir de Jerusalém através da Judéia, de Samaria, e
subiu para Antioquia. Lá, o fluir dirigiu-se para a Ásia Menor, para a Europa oriental, para
Roma, provavelmente até a Espanha, que naquela época era considerada os confins da
terra. Havia um único fluir. Vocês não conseguem ver duas correntes no livro de Atos.

Barnabé foi um excelente irmão, que na verdade introduziu Saulo de Tarso no ministério
(At 11:25-26). No início, ele assumiu a liderança. Em sua primeira jornada, entretanto, o
Espírito registra que Paulo começou a assumir a liderança e o Espírito começou a referir-se

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a Saulo como Paulo (At 13:9). A mudança de nome pode indicar a mudança de vida. Desse
ponto em diante, Paulo, cheio do Espírito Santo, assumiu a liderança do ministério
apostólico de todas as maneiras, e Barnabé aceitou isso. Barnabé era um com Paulo
quando foram a Jerusalém à procura da solução do problema da circuncisão. Logo depois
que a solução foi definida como decreto para todas as igrejas, houve contenda entre
Barnabé e Saulo (At 15:35-39). Essa contenda não foi sobre algo de grande importância,
mas sobre algo insignificante. Eles não se separaram por causa de opiniões diferentes
sobre a fé ou o encabeçamento de Cristo. Foi uma separação por coisa pequena, pessoal e
íntima. Barnabé queria levar seu primo Marcos junto com ele na viagem e Paulo disse não.
Para nós, isso é pouco importante, mas depois que Barnabé junto com Marcos deixou
Paulo, não há mais registro dele no mover do Senhor no livro de Atos. O motivo disso é
que o Senhor se importava apenas com um único fluir.

Vi isso claramente em 1933, quando o irmão Nee pediu-me que me juntasse a ele na obra
em Xangai. Naquela época, eu estava fazendo uma obra no norte da China que era bem
prevalecente e até promissora para mim no ensino da Bíblia. Porquanto meus olhos foram
abertos, disse ao Senhor que iria a Xangai para me juntar ao irmão Nee e à obra. Percebi
que o fluir do Senhor, a Sua corrente na terra, tinha sido somente uma. Se o norte da China
tivesse de ser tomado pelo Senhor, Ele com certeza faria isso por meio do mesmo fluir. Eu
tinha de mergulhar nessa corrente e ser um com ela para permitir que o Senhor fluísse.
(Treinamento de Presbíteros, Volume 7: Unanimidade para o Mover do Senhor, pp. 98-99,
Witness Lee)

A Liderança no Mover do Senhor

Vamos agora considerar Apolo. Não há registro longo sobre Apolo na Bíblia. Ele não era
dissidente, mas permaneceu em outro fluir (1Co 16:12). Não há indício de que ele
tencionava executar outro fluir, mas tudo o que ele foi e fez deu às pessoas uma impressão
diferente. É por isso que depois que ele trabalhou em Corinto, alguns puderam dizer que
eram de Apolo (1Co 3:4) e alguns eram por Apolo em detrimento de Paulo (4: 6). Apolo
não foi sábio, caso contrário nunca teria agido daquela maneira.

Pela misericórdia do Senhor, posso declarar que naqueles dezoito anos em que estive
envolvido na obra na China continental eu fui sábio. Nunca levei ninguém a pensar que
poderia optar por mim em detrimento do irmão Nee. Não houve tal coisa. Tudo que os
santos viram em mim, meu comportamento, maneira de viver, ações, maneira de
trabalhar, mensagens e palavra, todos consideravam totalmente um com o irmão
Watchman Nee. Não deixei quaisquer brechas para se pensar que eu era diferente do
irmão Nee. Creio que foi a sabedoria do Senhor por meio de Sua misericórdia dada a mim.
Nossa história desde aquela época fala muito. Entre tantos cooperadores do irmão Nee,
onde está a restauração? Não tive qualquer idéia de ser aquele que leva a cabo a
restauração do Senhor. Mesmo quando fui a Taiwan, eu definitivamente fui enviado. Foi a
proposta do irmão Nee aos cooperadores. Nunca tive a idéia ou sentimento de que estava
indo para ser o líder. Mesmo quando cheguei aos Estados Unidos, não tinha a idéia de ser
o líder da restauração do Senhor no mundo ocidental. Mas onde está a restauração hoje e
sob que liderança? Alguns dos assim chamados cooperadores reivindicam que eram tão
próximos de Watchman Nee, mas quase nenhuma igreja foi levantada por qualquer um
deles.

21
É totalmente insensato permanecer na restauração acatando este ministério por um lado e,
ainda assim, por outro, dizer algo mais. Isso não é sábio. Não é proveitoso para vocês nem
para o seu futuro. Vocês podem dizer que têm um ministério, mas fazer isso não é
proveitoso para o seu ministério, se de fato tiverem um. Vocês nunca poderão tirar
proveito dele no futuro dessa forma. Antes, estarão comprometendo o seu futuro por
pouca coisa. A maneira sábia é permanecer, sem qualquer opinião, com a restauração que
é única.

Quero ser fiel e franco, e esclarecer a situação a todos vocês. Não creio que o fato de eu
estar aqui é totalmente por causa de minha vontade. Antes, creio que é do Senhor. Quero
ver muitos de vocês se levantarem para fazer a mesma coisa que estou fazendo. Eu nunca
teria ciúme. Gostaria de ver isso e sou a favor disso!

A Diferença Entre o Exército e os Cidadãos

Agora vocês compreendem minha posição, meu coração e onde eu estou. Irmãos,
precisamos ser sábios. Somos um exército formado pela misericórdia e graça de Deus para
lutar a batalha pelo reino dos céus! A ilha de Taiwan tem de ser evangelizada e a verdade
tem de espalhar-se ali por meio desse exército nos próximos quatro anos. Para o
cumprimento desse propósito, não quero tolerar nenhum conceito dissidente. Ser cidadão
de um país é uma coisa, mas lutar no exército desse país é outra. Quando Gideão foi
convocado para levar o exército a travar a batalha por Jeová, o Senhor lhe disse que ele
tinha muita gente (Jz 7:4). Por fim, o Senhor escolheu trezentos homens e disse a Gideão
que mandasse os demais para casa. Isso não quer dizer que quem voltou para casa não
fosse mais Israelita. Ainda era israelita, mas nada tinha a ver com o exército de
combatente.

Vocês podem ser membros da igreja numa cidade e ainda assim não ter nada a ver com o
ministério de lutar a batalha pelo interesse do Senhor na terra. Todos vocês são
presbíteros, cooperadores e aspirantes a presbíteros, os líderes na restauração. Estou
falando a todos vocês como a soldados na restauração do Senhor, e não a cidadãos. Estou
falando aos soldados do exército. Vocês vão permanecer no exército? Vocês têm de
perceber o que é o exército e o que ele quer fazer. O exército não tem espaço para acatar
opinião. Não há tempo para brincar. A situação é muito urgente. A intenção desse exército
celestial é evangelizar Taiwan e espalhar a verdade ali primeiro e depois nos Estados
Unidos.

Um irmão recentemente me perguntou se eu poderia ir àquela parte do mundo para


ministrar uma conferência. Sua comunhão comigo deu-me a sensação de que ele não está
lutando conosco. O meu encargo é tomar Taiwan primeiro e depois os Estados Unidos.
Não me importo com nenhuma região específica na terra. Sou pela restauração do Senhor
e tenho a visão de elaborar essa estratégia. Segundo minha observação, a melhor estratégia
é tomar Taiwan primeiro. Se vocês forem a favor apenas da sua parte do mundo, isso pode
desapontá-los. Mas se vocês são pela a restauração do Senhor dirão: “Amém!” Vocês
podem até ter encargo de enviar alguns soldados que se juntem ao exército para
evangelizar Taiwan!

Ser Sábio em Reconhecer o Líder no Mover do Senhor

22
Está claro no Novo Testamento que Paulo estava assumindo a liderança no ministério
neotestamentário do Senhor na terra naquela época. Quando trabalhei com o irmão Nee na
China continental, nunca me reputei como alguma coisa. Eu somente me reputava como
um cooperador para levar a cabo o encargo do irmão Nee. Fiz o máximo para não pregar
qualquer evangelho não pregado por ele e não dar quaisquer mensagens que não fossem
as dadas por ele. Fiz o máximo para não usar qualquer terminologia ou eloqüência para
pregar, falar, ensinar, que ele nunca tivesse usado. Tenho de declarar que recebi a bênção e
louvar ao Senhor por isso. Nunca me arrependi do que fiz. Ninguém jamais ouviu alguma
coisa de minha boca sobre o irmão Nee de forma negativa. Ainda lhe sou muito grato. Sem
ele, sem o seu ministério, nunca poderia estar aqui como estou. Somente laborei, somente
labutei e nunca causei qualquer problema na restauração do Senhor.

Pouco antes do governo da China continental mudar para o comunismo, o irmão Nee
propôs uma conferência urgente dos cooperadores líderes em Xangai. Ele teve comunhão
conosco sobre como enfrentar a situação futura. Ele propôs enviar-me para o exterior, e
disse que ele e os outros se sacrificariam na China continental pelo propósito do Senhor.
Não me senti bem quanto a isso. Parecia-me que eu era descartável e que todos
permaneceriam, exceto eu. Depois da reunião, o irmão Nee e eu demos um passeio e eu
lhe perguntei por que todos os irmãos podiam se sacrificar pela obra do Senhor, mas a
mim era pedido partir. Nunca poderei esquecer o olhar no rosto do irmão Nee quando se
voltou para fitar-me. Ele me disse que devemos ser desesperados e até mesmo dispostos a
nos sacrificar pelo mover do Senhor e que percebia que havia uma grande possibilidade
de o inimigo nos eliminar. Disse-me que, no caso de sermos eliminados, eu tinha de sair de
modo que ainda nos restasse alguma coisa. Então eu disse que acataria sua palavra e iria.
Dos muitos cooperadores, eu fui o único designado por ele para sair no caso de sermos
eliminados, de modo que ainda nos restaria alguma coisa. Tudo o que ele disse foi
totalmente cumprido e se tornou história. Louvado seja o Senhor, ainda nos restou alguma
coisa.

Nós, irmãos, precisamos perceber que não estamos fazendo qualquer obra de nós mesmos.
Você não está fazendo a sua obra e nem eu estou fazendo a minha. Estamos todos fazendo
a única obra pela única restauração do Senhor. Há mais de seiscentas igrejas no mundo e
nenhuma está “no meu bolso”. Os líderes em Anaheim podem testificar que nem mesmo
conheço seus horários de reuniões. Se eu quiser ir à mesa do Senhor, preciso telefonar para
descobrir aonde devo ir. Quaisquer igrejas que eu tenha edificado foram todas “para o
bolso de alguém”. Devemos perceber que não estamos fazendo uma obra por nós mesmos,
mas pela Sua restauração. Não importa quantas pessoas tenham criticado o irmão Nee, ele
foi mais que fiel ao que viu. Ele com certeza trabalhou pela restauração do Senhor e lançou
para ela um fundamento bom, adequado e apropriado. Estou continuando a edificá-la e
estou fazendo a mesma obra. Espero que todos vocês estejam cientes disso. Não pensem
em ser alguém. Todos somos ninguém! Apenas Cristo tem um Corpo.

Sinto, de fato, que minha palavra franca deve deixar a situação clara para vocês e tornar
clara a necessidade a todos. Precisamos de um exército combatente e nele não precisamos
meramente de um líder. Precisamos de um comandante para lutar a batalha! Não temos
tempo a perder. Muitos de vocês, que renunciaram a altas graduações e elevadas posições
pela restauração do Senhor, têm que ser fiéis a seu sacrifício. Também têm de ser fiéis a
muitos que foram influenciados por vocês, senão, vocês os estarão enganando. Precisamos
ser fiéis ao nosso Senhor. Nós O servimos e levamos isso a sério. Não estamos fazendo um
trabalho para nos alimentar e ganhar a vida. Isso é vergonhoso. Se vocês quiserem ganhar

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a vida, não permaneçam na obra do Senhor. Vão para outro campo melhor, para ganhar
melhor a vida. Precisamos levar o Senhor a sério, com os santos, e com nós mesmo. Essa é
a única maneira de prosseguir no ministério do Senhor. Agora vocês sabem onde eu estou
e onde vocês devem estar. Também sabem o que todos devemos fazer: lutar como um
exército e no exército. (Treinamento de Presbíteros, Volume 7: Unanimidade para o Mover do
Senhor, pp. 87-90, 93-97, 99-104, Witness Lee)

VI. SER RESTRINGIDO A UMA ÚNICA OBRA DE PUBLICAÇÃO PARA


O CUMPRIMENTO DO COMISSIONAMENTO DO SENHOR
PARA SUA RESTAURAÇÃO

Restringidos a uma Única Publicação

Uma coisa que tem causado problemas à restauração do Senhor é o fato de termos difer-
entes publicações. Se quisermos levar a sério a restauração, precisamos evitar qualquer en-
volvimento em problemas. Quando estávamos na China Continental, somente o irmão
Nee tinha uma publicação, e a Editora pertencia única e exclusivamente a ele. Ele me
pediu que ajudasse na obra de publicação. Eu escrevi alguns livros, um dos quais era so-
bre a genealogia de Cristo, uma tradução de parte do livro de Pember: As Eras Mais Primi-
tivas da Terra, e alguns livros sobre o reino dos céus. Nunca publiquei nada por iniciativa
própria. Sempre encaminhava meu manuscrito à Editora, que estava sob os cuidados do
irmão Nee e de seu auxiliar. Dependia do seu discernimento se o meu manuscrito devia
ou não ser publicado. Eu gostava que meus escritos fossem conferidos para ver se con-
tinha alguma inexatidão na verdade. Escrever um livro que expõe o reino dos céus é um
grande projeto. Gostava que meu material passasse pela verificação dele. Isso me ajudou e
protegeu. O irmão Yu, que era oftalmologista, traduziu alguns dos livros místicos, mas
não publicou nada. Tínhamos apenas uma publicação. Tudo era publicado por meio da
Editora do irmão Nee, porque uma publicação corresponde realmente a tocar a trombeta.
O som de nossa trombeta não está simplesmente na forma de mensagem verbal, mas
muito mais na forma de publicação.

Detesto ver que alguns dos irmãos querem tentar publicar algo, copiando meus tópicos
misturados com seus “condimentos” e sua “cor”. Por que eles precisam publicar alguns
tópicos dos meus escritos dessa forma? O irmão Nee nos ensinou sobre o reino dos céus.
Recebi o conhecimento básico do seu ensinamento, mas ele nunca expôs muito sobre isso;
ele simplesmente deu um esboço. Fui eu que a partir de 1936 comecei a explanar sobre o
esboço que ele me dera. Depois que publiquei a minha explanação, o irmão Nee a admirou
e disse-me pessoalmente que era muito boa.

Espero que alguns de vocês, irmãos, desenvolvam e explanem muito mais todas as men-
sagens que eu dei. Não meramente falem sobre alguns pontos, acrescentando a sua
própria “cor” e “tempero”. Isso muda o gosto, prejudica as minhas mensagens. Vocês pre-
cisam adquirir a habilidade de explanar todas essas coisas. Não sou rígido. Gostaria de ver
todos vocês se tornando grandes servos usados por Deus. Quão maravilhoso isso seria,
porém não gosto de ver que alguns meramente repetem o que eu tenho dito, fingindo que
essa obra é sua, com seus condimentos e cor.

Aborrece-me o fato de que alguns irmãos entre nós ainda editam as próprias publicações.
Segundo minha observação fiel, não há nenhuma luz nova ou suprimento de vida ali. Elas
podem conter algumas doutrinas bíblicas, mas qualquer tópico sobre vida ou luz foi tirado

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das publicações do Living Stream Ministry. Quase não há nenhum item de vida ou luz que
não tenha sido abordado pelas nossas publicações. Com base nesse fato, qual é a necessi-
dade de esses irmãos editarem suas publicações? Porquanto todas as publicações são min-
has, falar tal palavra é difícil para mim, mas sou forçado a dizer a verdade. Ao publicar
seus próprios escritos, vocês desperdiçam o seu tempo e dinheiro. Vocês desperdiçam o
dinheiro dado pelos santos e o tempo deles para ler o que vocês publicam. Onde está a co-
mida, o suprimento de vida e a verdadeira iluminação nas outras publicações em nosso
meio? Tenham certeza de que há definitivamente pelo menos uma grande revelação em
cada publicação do Living Stream.

Tive encargo de publicar as mensagens de Estudo-Vida para enfatizar a questão de vida


porque esse tópico foi totalmente negligenciado, escondido e até perdido no cristianismo
de hoje. Na maioria dos comentários e exposições, não há muita vida. Até mesmo o termo
Estudo-Vida é novo. Usei esse termo trinta e dois anos atrás. Em 1954 e 1955, terminei o
Estudo-Vida de toda a Bíblia, de Gênesis até Apocalipse, em Taipé.

Isso não quer dizer que sou tão capaz ou erudito. Tudo depende se o nosso Senhor sober-
ano deu ou não a vocês essa porção. Embora eu tenha escrito alguns livros na China,
nunca ousei publicar nada por mim mesmo. Não gosto de ter outro som. O nosso som tem
de ser um só, de modo que precisamos ser restritos a uma única publicação. A minha in-
tenção em convocar uma conferência de escritores foi para encorajá-los a escrever algo,
mas não da forma que tem saído. Essa comunhão pode preservar-nos e proteger-nos de
fazer coisas desregradamente.

Se algumas cidades tivessem trilhado o caminho correto da restauração, usando todo o


material do ministério, o seu número teria aumentado grandemente. Alguns estão des-
perdiçando tempo escrevendo e publicando seu próprio material. Essa não é a porção que
cabe a eles. Gostaria de ver que muitos irmãos tiveram essa porção com as riquezas da ver-
dade. Isso seria maravilhoso e esplêndido, mas esse é o nosso problema hoje. Advirto to-
dos vocês a tomar cuidado com essa questão. Vocês têm de aniquilar a dissensão. Não per-
mitam que ela os aniquile.

Espero que essa comunhão proporcione alguma ajuda a todas as igrejas. Tomem esses
princípios, orem diante do Senhor e ponderem sobre a verdadeira situação em sua cidade.
Então vocês poderão fazer alguns ajustes no presbiterato.

Cumprir o Comissionamento do Senhor com vistas à Sua Restauração

O comissionamento do Senhor é Sua restauração, e Sua restauração hoje é restaurar Cristo


como vida, a igreja como nosso viver, o desfrute de Cristo como tudo para nós e todos os
significados da vida da igreja com o objetivo não só de pregar o evangelho, mas também
divulgar a verdade. Creio que esse é o único motivo pelo qual Ele nos tem dado quase to-
das as verdades no cristianismo de hoje. Ele nos deu Suas verdades para que as divulgue-
mos, não só aos cristãos, mas até aos incrédulos. Todo o mundo está em trevas. Todo ser
humano na terra precisa ouvir a verdade, mas nossa divulgação das verdades preciosas
que recebemos foi fortemente limitada. Tem havido muitos testemunhos contundentes so-
bre pessoas atraídas e capturadas pelas notas da Versão Restauração, mas quem tem o en-
cargo de sair e divulgar essas verdades?

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Alguns irmãos que estão conosco não usam essas verdades quando ensinam e pregam.
Eles ensinam e pregam o que sentem que é bom, contudo não percebem quão pobres são
as suas mensagens. Alguns irmãos em nosso meio continuamente editam publicações. Fui
honesto em dizer-lhes que não havia luz e nada de novo no que publicam. Os tópicos em
nossas publicações são cheios de vida e luz, mas esses irmãos não os apresentam como
tais. Não consigo compreender por que eles têm de mudar as mensagens que publicamos
para apresentar algo em seu próprio estilo e à sua própria maneira. Não há novos tópicos
de vida ou luz no que eles publicam. Qualquer vida ou luz no material deles foi total-
mente adotado deste ministério. Tenho observado a situação em nosso meio há anos.
Gostaria de ver se alguns irmãos mais jovens entre nós poderiam ser levantados pelo Sen-
hor para falar algo. Se eu pudesse ver isso, louvaria o Senhor. Por outro lado, tenho visto
alguns que gostam de edificar algo ao redor de si mesmos.

O Senhor nos comissionou com Sua restauração e com certeza abriu o Novo Testamento
para revelar-nos as muitas verdades preciosas e queridas. O que o Senhor precisa é de mil-
hares dos Seus queridos santos que O amem, vivam para Ele e de nada saibam exceto Sua
restauração, para tomar um caminho só. Não importa se os santos são do Brasil, Austrália,
Nova Zelândia, Taiwan, Inglaterra, Tailândia, Indonésia ou Estados Unidos; todos assumi-
mos o mesmo encargo, tomamos o mesmo caminho e divulgamos as mesmas verdades.
Dispensamos as verdades corporificadas na “barra de ouro”, a Versão Restauração. Não
temos outra mercadoria! Se formos assim, a terra inteira será conquistada!

Parte-me o coração ver alguns praticando ter outro ministério, usando material do min-
istério. Todos temos de orar: “Senhor, salva-me da minha ambição de ser alguém na
restauração”. Devemos somente conhecer as verdades da economia neotestamentária de
Deus. Tomamos um só caminho: unanimidade, oração, Espírito e Palavra. Isso é o que cre-
mos que o Senhor busca, e é o que todos esperamos profundamente. Todos ficarão con-
tentes com isso.

Quando sairmos, não vamos cheios de ambição ou discórdia. Se vocês saírem com am-
bição para edificar a si mesmos e eu sair com ambição para edificar o meu ministério,
estaremos acabados. O Senhor terá de procurar outros. Todos precisamos sair de um
modo só, como um exército. Então, teremos moral e impacto.

Não precisamos fazer muito, basta sair com o coração puro, sem qualquer coisa para nós
mesmos, mas tudo para Ele. Simplesmente saiam com todas as verdades e a Versão
Restauração para ler às pessoas. Asseguro-lhes que irão capturar alguém todas as sem-
anas. Não precisam pregar o seu ensinamento ou doutrina com a sua terminologia. Temos
de ver o que é a restauração do Senhor. Ela foi comissionada com o grande empreendi-
mento de divulgar as verdades do Senhor. Ele nos tem dado as verdades que estamos sus-
tentando, mas precisamos dos fiéis de coração puro, sem qualquer intenção de viver para
nós mesmos, mas para Ele, para sair a divulgar essas verdades da “barra de ouro”. Não há
necessidade de que vocês preguem ou ensinem à sua maneira. Abram a Versão Restau-
ração e leiam algumas notas com os que estão “famintos”.

Na verdade, embora eu não me importe muito com aumento, importo-me com a divul-
gação das verdades para que penetrem nos corações necessitados. Se as divulgarmos,
tornar-nos-emos os servos fiéis para servir o sustento ao povo de Deus a seu tempo (Mt
24:45). Então cumpriremos o comissionamento da restauração do Senhor. É aí que está o
meu coração. Morrerei por isso. Disse aos irmãos no Extremo Oriente que não pararei até

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que todo o meu ser esteja exaurido por esse ministério. Espero que todos vocês digam a
mesma coisa.

Se o Senhor puder ganhar dez mil santos que sirvam em tempo integral nos Estados
Unidos, com um só ensinamento, uma só pregação, um só material, uma só publicação,
uma só maneira e tudo de um único tipo, esse será nosso moral! A maneira sábia é que to-
dos adotemos o caminho de servir em tempo integral e falemos, pensemos, apresentemos
e ensinemos a mesma coisa, tendo a mesma essência, aparência e expressão. Então teremos
o moral, o impacto para derrotar o inimigo. É disso que o Senhor precisa! (Treinamento de
Presbíteros, Volume 8: A Vitalidade do Mover Atual do Senhor, pp. 199-202, 151-156, Witness
Lee)

VII. ENTRAR NO MINISTÉRIO DO SENHOR NA ERA ATUAL

Acerca de Seguir o Ministério da Era

Ver o Ministério da Era

No Antigo Testamento, tanto Salomão como Davi representavam o Senhor. As duas


pessoas representavam o único ministério de duas maneiras separadas. No Antigo
Testamento havia muitos ministros. Depois de Moisés, os juízes foram levantados. Após
aquilo, existiu Salomão, os reis e os profetas. Após isso os israelitas foram levados em
cativeiro, os vasos para a restauração foram levantados. O Antigo Testamento é repleto de
diferentes tipos de ministérios. Em cada era há o ministério daquela era. Esses ministérios
das eras são diferentes dos ministérios locais. Lutero foi um ministro de sua era. Darby
também foi um ministro de sua era. Em cada era o Senhor tem coisas especiais que Ele
deseja cumprir. Ele tem Suas próprias restaurações e Suas próprias obras para fazer. A
restauração e obra particular que Ele está fazendo em uma era é o ministério daquela era.

Abandonar os Ministérios Passados

Jônatas estava entre Saul e Davi. Ele era um homem entre dois ministérios. Ele deveria ter
seguido o segundo ministério, mas, por ser a relação de Jônatas com o primeiro ministério
profunda demais, este não conseguiu se desligar. Para alcançar o ministério da era, há a
necessidade de termos a visão. Mical era casada com Davi, todavia ela não via nada. Ela
somente viu a condição de Davi diante de Deus e não pode tolerar aquilo. Como resultado
ela foi deixada para trás (2Sm 6:16, 20-23).

Tudo é uma Questão da Misericórdia de Deus

É misericórdia de Deus que uma pessoa possa ver e entrar em contato com o ministério
daquela era. Ainda assim, é uma coisa totalmente diferente um homem tomar coragem
para renunciar a um ministério passado. É algo precioso ver e também uma coisa
abençoada entrar em contato com algo. Ainda assim, se alguém pode ou não pôr de lado
seu ministério passado é algo que depende totalmente da misericórdia de Deus. (The Col-
lected Works of Watchman Nee, vol. 57: The Resumption of Watchman Nee’s Ministry, pp. 260-
261, Watchman Nee)

O Ministério no Antigo Testamento

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Ao longo das gerações tem havido a obra do mover do Senhor. No Antigo Testamento,
durante a era de Noé, o mover do Senhor era a edificação da arca. Essa obra de edificação
da arca foi o ministério da era de Noé. Ele era o ministro líder naquele ministério.
Contudo, somente por Noé sozinho não havia maneira de edificar a arca. Naquele tempo,
deve ter havido alguns que edificaram a arca junto com Noé. A obra de edificação da arca
era o ministério naquela era. Você acha que naquele ministério havia duas ou mais
diferentes obras, ou dois ou mais grupos de diferentes pessoas, ou duas ou mais lideranças
diferentes? Certamente não; do contrário, a arca nunca poderia ter sido edificada.

Os problemas do cristianismo nos últimos dois mil anos devem-se à existência de tantos
“ministérios”. Todas as denominações e seitas dizem que estão edificando a igreja de
Cristo. Muitas capelas têm uma pedra fundamental inscrita com as palavras: “Jesus Cristo,
nosso fundamento.” Um único Jesus Cristo está dividido em muitos fundamentos. Esse é o
ponto crucial de todos os problemas.

A Bíblia nos mostra muito claramente que na era de Noé havia um único ministério;
todavia, muitos ministros estavam lá juntos, edificando a arca. Isso não significa que cada
ministro era um arquiteto. Somente Noé era o líder no ministério da edificação da arca.

Durante a era de Moisés, Deus desejava edificar o tabernáculo com seus móveis, dentre os
quais o mais importante era a arca. O próprio Moisés sozinho não poderia ter edificado
todas aquelas coisas, mas ele tinha o ministério da edificação do tabernáculo, que era a
obra para cumprir o único propósito de Deus. Nesse ministério, não havia apenas o
próprio Moisés; ele era um dos muitos ministros e, inegavelmente, era o líder naquele
ministério. Se tivesse havido outros líderes além de Moisés, haveria confusão naquela
situação.

Durante a era de Davi e Salomão, Deus desejava edificar o templo. Essa edificação não era
meramente uma obra, mas um ministério. Naquela época, não havia dois diferentes
ministros edificando o templo; conseqüentemente, não havia duas diferentes lideranças.
Na era de Davi, foi ele quem tomou a liderança. Após Davi falecer, Salomão foi o que
tomou a liderança. Entretanto, qualquer um que tivesse parte no ministério da edificação
do templo, inclusive os cortadores de pedra e os que moviam as pedras, era um ministro
naquele ministério.

O Ministério no Novo Testamento

No Novo Testamento, o Senhor Jesus veio e disse: “Sobre essa rocha edificarei a Minha
igreja” (Mt 16:18). O primeiro a participar do ministério da edificação da igreja foi o
Senhor Jesus. O ministério do Senhor era para edificar o Corpo de Cristo. Para isso, Ele
escolheu doze apóstolos e os introduziu no ministério da edificação da igreja. Depois, Ele
também introduziu outros apóstolos, dentre os quais o mais destacado foi Paulo.

Visto que em cada era tem havido a obra do ministério, é razoável que nesta era deva
haver também a continuação do ministério do Senhor. Não podemos negar que na terra
hoje há a edificação do Senhor. Ele tem edificado ao longo das gerações, e Ele continuará a
edificar até que Sua obra de edificação esteja plenamente completa, quando a Nova
Jerusalém descer do céu.

A Necessidade de um Cristão Estar no Ministério do Senhor Nessa Era

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Agora já vimos claramente que o ministério falado na Bíblia não se refere a uma pessoa,
mas à obra de edificação de Deus. Além disso, no ministério de edificação de Deus, há
aqueles que tomam a liderança naquele ministério em cada era. Que o Senhor abra nossos
olhos para ver que, já que somos seres humanos, devemos ser cristãos; já que somos
cristãos, devemos entrar no ministério do Senhor nesta era.

Hoje existem milhares de pessoas que crêem no Senhor Jesus e são salvas, mas não muitas
entraram no ministério do Senhor de edificação da igreja. É exatamente como a situação na
era de Noé. Havia milhares de pessoas na terra, mas somente um pequeno número delas
estava edificando a arca. É por isso que Filipenses 2:12 diz: “Desenvolvei a vossa salvação
com temor e tremor.” O que Noé e os que edificavam a arca estavam fazendo era
desenvolver sua própria salvação. Sim, foi Deus quem os salvou, mas a arca que os livrou
foi edificada com suas próprias mãos pela graça do Senhor. Hoje, também precisamos
estar no ministério de edificação de Deus para desenvolver nossa própria salvação, ou
seja, levar nossa salvação à sua conclusão final e máxima de modo que possamos ser
exaltados por Deus em gloria como o Senhor Jesus foi.

Um Testemunho Pessoal

Quando fui salvo há mais de sessenta anos, havia cristãos em toda parte ao meu redor;
todavia, eu não tinha nenhum conhecimento do mover de Deus na terra. Agradeço ao
Senhor por ter-me dado um coração que ama a Bíblia. Eu a li continuamente e inclusive
colecionei muitos livros de referência. Depois, obtive muita clareza de que, sendo um ser
humano, devo ser cristão; e, sendo cristão, devo estar no mover de Deus. Dessa forma,
abandonei tudo e mergulhei na restauração do Senhor. Naquela época, embora eu não
pudesse liberar a mensagem que estou dando nesta manhã, a visão dentro de mim estava
muito clara. Vi que havia a comissão de Deus sobre o irmão Nee, a qual é o ministério.
Também reconheci que o irmão Nee era o escolhido e comissionado pelo Senhor nesta era
para introduzir Sua restauração. Desse modo, eu o reconheci como o líder nesta obra.
(Words of Training for the New Way, Volume Um, pp. 21-24, Witness Lee)

Os Líderes no Mover de Deus:


Aqueles que Conhecem a Economia Neotestamentária
de Deus e o Seu Falar Atual

Devemos crer que o nosso Deus é vivo (1Tm 3:15). Uma vez que Ele é vivo, Ele deve estar
sempre se movendo. Ele ainda se move hoje. Onde está Ele se movendo? Deus sempre se
move falando. Sem falar, Ele não se move. Precisamos perguntar a nós mesmos onde está
o falar de Deus. Será que está na Igreja Ortodoxa, na Igreja Católica, nas denominações
protestantes, nas igrejas estatais, nas igrejas particulares ou nos grupos livres? O nosso
Deus, que é vivo e se move, sempre se move falando. Temos de admitir que Seu falar atual
está entre nós. Ele não diz respeito ao presbitério, ao batismo por imersão, ao falar em lín-
guas, dons, curas,ou movimentos evangelísticos. Seu falar hoje diz respeito à Sua econo-
mia neotestamentária. Espero que todos sejamos iluminados. Sou forçado a ser ousado em
recomendar a mim mesmo desse modo a todos vocês. Sou forçado a ser tolo. Aquele que
pode ser o líder no mover do Senhor hoje é o que conhece a economia neotestamentária de
Deus, aquele que sabe o que Deus está falando hoje.

Pedro foi certamente o apóstolo líder do mover do Senhor no dia de Pentecostes porque
conhecia o falar de Deus. Ele foi até mesmo a boca de Deus. Quem quer que seja a boca de

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Deus em sua época, é o líder. Aqueles a quem Deus está falando são os apóstolos líderes.
Tudo o que eles ministram será a orientação adequada para todos os santos. Essa definição
é correta.

Ser uma pessoa que pode proporcionar a liderança adequada e apropriada aos crentes se-
gundo o pleno conhecimento da economia neotestamentária de Deus não é questão de
competição. Ninguém pode competir com outro. Tudo depende de Sua misericórdia e
compaixão. Paulo admitiu isso em Romanos 9:16. Deus deu a ele sua porção no Corpo de
Cristo e ninguém podia competir com ele.

Se crermos na soberania do Senhor e que Ele está vivo, move-se e fala, temos de descobrir,
honesta, humilde e fielmente, onde Deus fala hoje. Quem quer que tenha o falar de Deus
sobre todo o ensinamento da Sua economia do Novo Testamento são os líderes em Seu
mover.

Todas as igrejas devem ser idênticas, e os que podem proporcionar-lhes a liderança são os
que têm o conhecimento adequado do ensinamento da economia neotestamentária de
Deus e o passam a toda à terra. Seguimos aquele que está ensinando e seguindo o Cristo
todo-inclusivo, encarnado, crucificado, ressurreto e ascendido, que hoje ministra nas
regiões celestiais para levar a cabo a economia neotestamentária de Deus. Temos de seguir
tais pessoas e acatar sua liderança. Sua liderança é a liderança adequada para todas as
igrejas. (Treinamento de Presbíteros, Volume 7: Unanimidade Para o Mover do Senhor, pp. 81-82,
86, Witness Lee)

VIII. A MANEIRA ATUALIZADA DE CUMPRIR O MINISTÉRIO DO SENHOR:


MUITOS IRMÃOS SERVINDO JUNTOS DE UM MODO ENTREMESCLADO

Enquanto o Senhor suprir-me força e tempo, pretendo continuar a servir e falar nos dias
vindouros. O Senhor me mostrou que Ele preparou muitos irmãos que servirão como co-
escravos comigo de uma maneira entremesclada. Sinto que isso é a provisão soberana do
Senhor para Seu Corpo, e a maneira atualizada de cumprir Seu ministério. (A Letter of Fel-
lowship with Thanks, 24 de março de 1997, Witness Lee)

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