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A concepção de interesse público exposta, proíbe que incida no erro de se presumir que
o interesse público é único e tão-somente do Estado, o que se faz tangenciar facilmente
para o entendimento de que é possível destaca-lo com quaisquer interesses da “entidade
que representa o todo”, ou seja, o Estado e as demais pessoas de Direito Público
Interno.
Visto que os interesses públicos representam a grandeza dos interesses pessoais dos
indivíduos enquanto componentes da Sociedade, incluído o depósito intertemporal
destes mesmos interesses, põe se o indício de que não há coincidência necessária entre
os interesses públicos e os interesses do Estado e as demais pessoas do Direito Público.
O Estado é uma pessoa colectiva pública que existe e se relaciona na esfera jurídica em
simultaneidade com os demais sujeitos de direito. Desse modo, o Estado pode
apresentar seus interesses particulares ou individuais (que são interesses similares, mas
não iguais), como as demais pessoas de direito. Com isso, o Estado só será permitido a
resguardar seus interesses privados quando estes, não se opuserem aos interesses
públicos propriamente ditos. Isto acontecerá sempre que a conduta de onde deriva, os
caracterizar como instrumentais ao interesse público, tendo em vista que a sua defesa
será, coincidentemente, a defesa dos interesses públicos.
Neste sentido, Renato Alessi expõe com clareza que os interesses secundários do
Estado, "só podem ser por ele buscados quando coincidentes com os interesses
primários, isto é, com os interesses públicos...Como exemplo, Alessi cita que o Estado
poderia tributar a população de forma excessiva, enriquecendo assim o Erário público.
Todavia, isso empobreceria a sociedade.
O interesse público será mutável no tempo e no espaço, pois tem um conceito variável,
mas sempre determinável.
Tomemos como exemplo uma família que deixa sua casa sem ninguém e viaja para fora
de Angola durante dois meses.
Ocorre que, foi constatado por agentes de fiscalização sanitária que há focos de
mosquito da Malária dentro da casa.
Ora, há uma necessidade de arrombar a porta da casa para poder efectuar o combate
contra o mosquito. Há neste caso concreto uma violação de direitos constitucionais
atinentes a violação do domicílio (art. 33.º CRA).
Neste caso hipotético acima, o Poder Público pode, mediante acções dos seus agentes
fiscalizadores, arrombar a casa para fins de combate ao mosquito da Malária, pois estas
acções são realizadas com o fim de resguardar a saúde púbica da colectividade, onde
faz-se necessário infringir um direito fundamental de uma família para que seja
garantido o direito de muitos outros que possam vir a sofrer com a proliferação do
mosquito. Sendo assim, os agentes fiscalizadores se valem do poder de polícia.
Não se pode deixar prevalecer que a tese de supremacia sempre deverá prevalecer, esta
é flagrantemente abusiva e autoritária. Se for assim, seriam excluídos todos os direitos
fundamentais, cujos quais são cláusulas pétreas.
Com esses breves esclarecimentos, percebe-se que em muitas vezes os actos que são
praticados pela Administração Pública decorrem justamente da falta de determinação do
que é interesse público no caso concreto, em consequência disto, gerando um grave
desconforto para os administrados (art. 200.º CRA).
Com efeito, o instituto do interesse público, várias vezes actua sob um manto falso onde
a actividade estatal beneficia determinadas classes políticas.