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Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

Ano lectivo 2007/2008 Aula desgravada de Anatomia I

Músculos e fáscias da pelve e do períneo.


Sua vascularização e enervação.
Aula leccionada pela professora Drª Maria Dulce Madeira

Esta aula pretende estudar não a cavidade pélvica propriamente dita, pois ela será onde
se encontram as vísceras, mas sim os músculos que revestem as suas paredes.
Esta zona está compreendida entre o estreito superior da bacia, dirigindo-se
inferiormente até ao diafragma pélvico. Além disso debruçar-se-á sobre o estudo do
períneo, que se localiza desde o diafragma pélvico até à superfície do corpo,
inferiormente.

Aula desgravada por Joana Gomes e Joana Espanhol, em 2002, e revista por Álvaro
Moreira, em 2007.
Pelve
É certo que a cavidade pélvica se vê melhor num feto que num adulto. Quando olhamos
para a cavidade pélvica desde a abdominal conseguimos ver o diafragma pélvico.

Limites da cavidade pélvica


O esqueleto da pelve é formado pelos dois ossos coxais, sacro e cóccix.
O limite do estreito superior da pelve é a linha terminal, sendo esta descrita através de:
promontório sagrado, rebordo interior da asa do sacro, linha arqueada, iminência
iliopúbica, linha pectínea, crista púbica e sínfise púbica.
Inferiormente não existe um limite ósseo, sendo a cavidade limitada neste local pelo
diafragma pélvico de que falaremos mais à frente.
Será de referir que enquanto o diafragma tem convidade interior, o diafragma pélvico
tem concavidade superior.

1 - Sacro
2 - Ílio
3 - Ísquio
4 - Púbis
5 - Sínfise púbica
6 - Acetábulo
7 - Buraco obturador

Nota: a vermelho
representa-se a linha
terminal.

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Músculos
Na pelve podemos considerar dois grupos de músculos: um formado pelo piriforme e
obturador interno – que encontram as suas inserções fora da cavidade pélvica e são por
isso descritos como músculos do membro inferior – e outro formado pelo elevador do
ânus e coccígeo.

1) Elevador do ânus

Dispõem-se horizontalmente no assoalho da pelve, para cima temos cavidade pélvica e


para baixo temos períneo.
Anteriormente fixa-se na face pélvica do corpo do púbis, posteriormente, na superfície
interna da espinha isquiática, tendo outra inserção na fáscia obturadora. Esta inserção
consiste num espessamento fascial filogenético ao nível da fáscia do obturador interno,
formando aquilo a que se chama arco tendinoso do elevador do ânus.

Nota: a fáscia que reveste o obturador interno pertence à fáscia pélvica parietal e apenas
tem o nome de fáscia obturador porque reveste o músculo.

Temos a considerar um elevador do ânus direito e um esquerdo, que se unem na linha


média.
Este músculo possui orifícios que dão passagem ao recto e à uretra em ambos os sexos
e, na mulher, também à vagina.
O elevador do ânus tem fibras com orientações distintas e que por isso tomam diferentes
designações. Estas porções têm ainda diferenças a nível sexual.

1.1) Pubococcígeo
Situa-se no plano antero-posterior e as suas fibras dirigem-se posteriormente para o
cóccix. Origina-se na parte posterior do corpo do púbis (acima do bordo inferior da
sínfise púbica), correndo posteriormente para se inserir numa aponevrose na parte
anterior do cóccix e um pouco para o sacro, continuando-se com o ligamento sacro
coccígeo anterior. Este músculo não dá fibras para a uretra no caso da mulher.
Por sua vez o pubococcígeo divide-se em pubococcígeo propriamente dito,
puborrectal (que forma uma ansa à volta da junção anorrectal), puboanal e elevador
da próstata (no caso do homem) ou pubovaginal (no caso da mulher).

Pubovaginal e elevador da próstata


Na mulher, as fibras mais mediais do pubococcígeo fundem-se com as fibras
mais laterais da vagina formando o pubovaginal que funciona como um esfíncter
vaginal.
No homem estas fibras inserem-se na cápsula da próstata.

1.2) Ílio-coccígeo
Situa-se num plano antero-lateral. Origina-se na espinha isquiática e parte
posteriormente do arco tendinoso do elevador do ânus. Insere-se no ligamento
anococcígeo.

2) Coccígeo ou ísquio-coccígeo
Este músculo situa-se posterior e superiormente ao elevador do ânus, na face anterior do
ligamento sacroespinhoso. Aliás, visualmente estas duas estruturas são “mais ou menos

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a mesma coisa”, ou seja, olhando pela face externa vemos ligamento sacroespinhoso e
olhando pela face interna vemos coccígeo.
O ligamento sacroespinhoso existe nos bípedes, pois não necessitamos de movimentar
tanto esta zona, devido à ausência de cauda. Além disso, confere a estabilidade
necessária, uma vez que todo o nosso peso se encontra sobre os membros inferiores.

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Fáscias
Na pelve podemos considerar uma fáscia parietal, que reveste os músculos, e uma
fáscia visceral, que reveste as vísceras pélvicas, os seus vasos e nervos.
A fáscia parietal está dividida em fáscia superior e fáscia inferior. A fáscia superior
reveste a superfície superior dos músculos e encontra-se espessada no colo da bexiga,
formando os ligamentos pubovesicais (na mulher) ou ligamentos puboprostáticos (no
homem). A fáscia inferior reveste a superfície inferior dos músculos, formando a parede
medial das fossas isquiorrectais.

Diafragma pélvico

O diafragma pélvico é a estrutura que delimita inferiormente a pelve, sendo formado


pelo conjunto dos dois músculos elevadores do ânus, dois músculos coccígeos e pelas
fáscias superior e inferior, descritas anteriormente.

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Períneo
“O períneo é constituído por músculos, fáscia, tecido adiposo, vasos e nervos (sendo de
importante relevância a abordagem desta região, no homem e na mulher, mas
especialmente na mulher sob o ponto de vista obstétrico)”

O períneo tem a forma de losango/diamante, cujo vértice anterior é a sínfise púbica e o


vértice posterior é o cóccix. Os seus dois vértices laterais são as tuberosidades
isquiáticas.
O ramo anterolateral do períneo é o ramo isquiopúbico (ramo inferior do púbis e ramo
do ísquio) e o ramo posterolateral é o ligamento sacrotuberoso (da tuberosidade
isquiática até ao sacro, cóccix e superfícies dorsais adjacentes).

“Se passarmos, um plano coronal pela linha que une as tuberosidades isquiáticas, o
períneo é dividido em dois triângulos”:

- Triângulo anal (triângulo posterior) – contém a terminação do canal anal


- Triângulo urogenital (triângulo anterior) – contém as estruturas urogenitais externas.

Triângulo urogenital
Fáscia superficial do períneo – de superficial para profundo é constituída por: tecido
adiposo, componente areolar e folheto membranoso da fáscia superficial (que se
continua com o folheto membranoso da fáscia da parede abdominal). Tem como função
a conteção das vísceras abdominais.

Fáscia profunda do períneo

Fáscia inferior do diafragma urogenial – delimita inferiormente o diafragma


urogenital.

Fáscia superior do diafragma urogenital – delimita superiormente o diafragma


urogenital.

Espaço superficial do períneo – é o espaço delimitado superficialmente pelo folheto


membranoso da fáscia superficial do períneo e profundamente pela fáscia inferior do
diafragma urogenital. Contém a seguinte musculatura urogenital: bulbuesponjoso,
posição mediana, isquiocavernoso e transverso superficial do períneo.

Espaço profundo do períneo – é o espaço delimitado profundamente pela fáscia


superior do diafragma urogenital e superficialmente pela fáscia inferior do diafragma
urogenital. Contém a seguinte musculatura urogenital: esfíncter da uretra e o transverso
profundo do períneo.

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Nota:
Não esquecer
profundo
que no caso
Fáscia superior do diafragma urogenital do períneo
Espaço profundo do períneo uma
estrutura
Fáscia inferior do diafragma urogenital
mais
Espaço superficial do períneo profunda é
Folheto membranoso da fáscia superficial superior.

Componente areolar
Tecido adiposo

MÚSCULOS INERVAÇÃO ORIGEM INSERÇÃO AÇÃO


m. transverso ramo estabiliza o centro
tuberosidade centro tendíneo
superficial do perineal do tendíneo do
isquiática do períneo
períneo n. pudendo períneo
centro tendíneo fáscia do bulbo
do períneo e rafe do pênis e corpos
superficial esvazia a uretra
mediana do bulbo esponjoso e após a micção ou a
ramo
m. do pênis (sexo cavernosos (sexo ejaculação (sexo
perineal do
bulboesponjoso masculino) ou masculino) ou masculino) ou
n. pudendo
centro tendíneo fáscia do bulbo esfíncter vaginal
do períneo (sexo do vestíbulo (sexo feminino)
feminino) (sexo feminino)
fixa os ramos do
pênis (ou do
ramo tuberosidade túnica albugínea clitóris). Auxilia a
m.
perineal do isquiática e ramo dos corpos ejaculação (sexo
isquiocavernoso
n. pudendo do ísquio cavernosos masculino) e a
ereção do clitóris
(sexo feminino).
estabiliza o centro
tendíneo do
m. transverso ramo
centro tendíneo períneo, fecha o
profundo do perineal do ramo do ísquio
do períneo hiato urogenital e
períneo n. pudendo
participa da
contenção visceral
centro tendíneo
do períneo
(fibras
ligamento
superficiais),
transverso do
continuação nas
períneo (fibras
fibras
ramo superficiais),
m. esfíncter da contralaterais, participa do
perineal do continuação das
uretra envolvendo a controle da micção
n. pudendo fibras
uretra (fibras
contralaterais
profundas). Além
(fibras
disto, no sexo
profundas)
feminino, também
nas paredes
vaginais

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Diafragma urogenital – é o “conjunto de músculos” forrado superiormente pela fáscia
superior do diafragma urogeniral e inferiormente pela fáscia inferior do diafragma
urogenital (ou membrana perineal). O diafragma urogenital é o reforço muscular que
compensa o espaço aberto deixado pelo elevador do ânus.

Corpo perineal – “é uma estrutura nodular, muscular, tendinosa”, localizada num plano
mediano entre o canal anal e o diafragma urogenital, com o qual se funde. O elevador
do ânus, os transversos superficiais e profundos, bulboesponjoso e esfíncter externo do
ânus são músculos que contribuem para a formação deste corpo. Assim, também se
prendem ao nível deste: a fáscia superficial do períneo e dáscias superior e inferior do
diafragma urogenital.
O corpo perineal, na mulher, poderá ser rompido durante o parto. Assim, para evitar esta
lesão aumenta-se a abertura para a passagem da cabeça do feto através da episitomia
(incisão na parede postero-lateral da vagina). A lesão no corpo perineal se não for
evitada pode conduzir à incontinência fecal.

Músculos do espaço perineal superficial


Transverso superficial do períneo –
tem origem na face medial e anterior
da tuberosidade isquiática, inserindo-
se no corpo perineal e encontra-se
colocado medialmente. É um músculo
rudimentar e pequeno. Pode ajudar na
fixação do corpo perineal. Na mulher
e no homem o músculo é semelhante,
sendo apenas diferente a sua
orientação.

Isquiocavernoso
- Homem: tem origem na face interna
do ramo do ísquio e insere-se no
corpo cavernoso e pilares do pénis,
recobrindo-os.
- Mulher: tem origem na face interna
do ramo do ísquio e insere-se ao nível
do clitóris.

Bulboesponjoso
- Homem: tem origem tanto no corpo perineal, como ao nível de um rafe mediano, face
inferior do bulbo do pénis. Algumas fibras inserem-se na fáscia inferior do diafragma
urogenital, outras na face superior do corpo esponjoso e, ainda, na fáscia profunda do
dorso do pénis.
- Mulher: tem origem no corpo perineal e as suas fibras dirigem-se anteriormente,
circundando a vagina, até aos corpos cavernosos do clitóris.

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Músculos do espaço perineal superficial
Transverso profundo do períneo – tem origem na face medial do ramo do ísquio e
insere-se no corpo penineal. Tem como função a fixação do corpo perineal.

Esfíncter da uretra – tem origem nos ramos do ísquio e vai circundar a porção
membranosa da uretra tendo diferentes inserções no homem e na mulher. Tem como
função comprimir a uretra.

Triângulo anal
A região anal (num corte coronal), de superficial para profundo, é constituída por pele,
fáscia superficial do períneo (espessa, areolar e adiposa) e diafragma pélvico.
As fossas isquiorrectais surgem também nesta região, estando tanto à direita como à
esquerda preenchidas por tecido adiposo entre o elevador do ânus e os obturadores
internos. A fáscia profunda, que reveste a fossa isquiorrectal trata-se da fáscia inferior
do diafragma pélvico e parte da fáscia obturadora abaixo da inserção do elevador do
ânus.

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Limites das fossas isquiorrectais
- Superiormente: diafragma pélvico (contém elevador do ânus)
- Inferiormente: pele
- Lateralmente: fáscia obturadora e tuberosidade isquiática
- Medialmente: esfíncter externo do ânus e fáscia inferior do diafragma pélvico
- Posteriormente: glúteo máximo (fossa parcialmente limitada por esta estrutura, mas
estende-se profundamente a ele e até ao ligamento sacrotuberoso).
- Anteriormente: face posterior do diafragma urogenital (fossa parcialmente limitada por
esta estrutura, mas é contínua acima deste, alcançado quase a face posterior do púbis)

As duas fossas comunicam entre si posteriormente e superiormente (em relação ao canal


anococcígeo).
O canal pudendo encontra-se entre a fáscia obturadora e a fáscia lunar, sendo o canal
onde passa um feixe vasculonervoso.

Esfíncter anal externo – encontra-se na região anal, envolve dois terços do canal anal e
é voluntário. É constituído por três porções:
- Porção subcutânea: parte mais baixa, é delgada e envolve o ânus. Possui fibras
anulares, sem fixação óssea, que cruzam o ânus à frente e atrás.
- Porção superficial: tem forma elíptica ou oval. As fibras estendem-se para a frente a
partir da extremidade do cóccix e ligamento anococcígeo ao redor do ânus até ao corpo
perineal, fixando o ânus no plano mediano.
- Porção profunda: é anular, envolvendo o canal anal como um colar. Parte das suas
fibras cruzam para se unirem ao músculo transverso superficial do períneo do lado
oposto. Tem origem no corpo perineal, fundindo-se com o músculo puborrectal.

As fibras do esfíncter anal externo partem do corpo perineal até ao cóccix e ligamento
anococcígeo. Além deste esfíncter, há também o esfíncter anal interno involuntário
(ambos pertecem ao canal anal), que ocupa os dois terços superiores do canal anal, que
são sustentados pelos elevadores do ânus.

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Vascularização do períneo

Artéria ilíaca interna – ramo da artéria ilíaca comum, que passa anteriormente à
articulação sacroilíaca, aproximadamente ao nível da 5ª vértebra lombar e da 1ª vértebra
sagrada (sacro). A artéria é cruzada anteriormente pelo uréter e está separada da
articulação sacroilíaca, posteriormente, pela veia ilíaca interna e pelo tronco
lombossagrado. Esta artéria tem ramos viscerais e parietais, sendo ramos parietais: as
artérias iliolombar, a sacral lateral, a obturatória, a glútea inferior e a pudenda.

Artéria pudenda ou “vergonhosa” interna – “ramo da divisão anterior da artéria


ilíaca comum”. Circula no canal pudendo. Sai da cavidade pélvica pelo grande buraco
isquiático, entre o piriforme e o coccígeo, aparecendo na região glútea, cruza a espinha
isquiática e entra pelo pequeno buraco isquiático na parede lateral da fossa isquiorrectal.
É acompanhada pela veia pudenda interna e nervo pudendo.

Ramos:
- Artérias rectais inferiores – “formam com as artérias rectais superiores e médias uma
rede anastomática (em redor do esfíncter externo do ânus) importante para a irrigação
desta região, quando necessário uma circulação colateral”
- Artéria perineal – “dá ramos musculares para todos os músculos do espaço perineal
superficial e ramos superficiais para a pele dessa região. Esta artéria é acompanhada por
veias com o mesmo nome”
- Artéria dorsal e artéria profunda do pénis ou clitóris
- Artérias posteriores escrotais ou labiais – dirigem-se anteriormente, passando no
espaço perineal superficial entre o isquiocavernoso e o bulboesponjoso.

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Enervação do períneo
Nervo pudendo – é parte do plexo sagrado, sendo formado pelos ramos anteriores do
2º, 3º e 4º nervos sagrados, fornecendo a maior parte da enervação do períneo.
Atravessa o grande buraco isquiático, dirigindo-se para a região glútea e entra no
pequeno buraco isquiático para a fossa isquiorrectal, onde vai circular no canal
pudendo, juntamente com a artéria pudenda.

Ramos:
- Nervo perineal – enervação cutânea dos lábios ou escroto e ramos musculares para
todos os músculos do períneo, auxiliando a enervação do elevador do ânus e esfíncter
externo do ânus
- Nervos rectais inferiores – enervam o esfíncter externo do ânus
- Nervo dorsal do pénis ou clitóris

Para se oferecerem para desgravar uma aula ou para corrigir eventuais erros que
encontrem: alvarosoaresmoreira@gmail.com

Bom estudo 

Álvaro Moreira
CC 07-13

Mais material em www.cc07-13.med.up.pt

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