Você está na página 1de 19

Índice

1. Introdução............................................................................................................................................1

2. Contextualização da IFRS...................................................................................................................2

3. Práticas Contabilísticas e a Influência da Fiscalidade na Contabilidade de Moçambique....................5

4. Benefícios da adoção das IFRS em Moçambique................................................................................6

5. Desafios da adoção das IFRS em Moçambique...................................................................................8

6. Principais normas coincidentes e as suas diferenças relativamente as NCRF Moçambicanas...........10

6.1. IFRS 5 - NON CURRENT ASSETS HELD FOR SALE AND DISCONTINUED
OPERATIONS (NCRF 22 - ATIVOS NÃO CORRENTES DETIDOS PARA VENDA E UNIDADES
OPERACIONAIS DESCONTINUADAS)............................................................................................10

6.2. IFRS 9 - FINANCIAL INSTRUMENTS (NCRF 25 – INSTRUMENTOS FINANCEIROS)...11

6.3. IFRS 15 - REVENUE FROM CONTRACTS WITH CUSTOMERS (NCRF 28 – RÉDITO)...11

6.4. IFRS 16 - LEASES (NCRF 17 – LOCAÇÕES)........................................................................12

7. Relação entre o Sistema de Contabilidade Moçambicano e as IFRS.................................................13

8. Conclusões.........................................................................................................................................15

Referências Bibliográficas.........................................................................................................................17
1. Introdução

A contabilidade assume um papel fundamental na tomada de decisões empresariais e na


transparência financeira. As IFRS são reconhecidas em todo o mundo como um conjunto de
normas que aprimoram a comparabilidade e a qualidade das demonstrações financeiras.

"A busca pela harmonização contabilística é um tema de grande relevância no mundo


financeiro, especialmente quando se trata da adoção das Normas Internacionais de Relato
Financeiro (IFRS). Este processo visa à uniformização das regras de contabilização e
avaliação nas demonstrações financeiras, tornando mais fácil a comparação e interpretação
desses relatórios em um contexto internacional. Tal alinhamento é fundamental para garantir
a conformidade com normas globais e para aprimorar a qualidade da informação financeira"
(Tamele, 2010).

Moçambique, assim como muitos outros países, também embarcou na jornada da adoção das
IFRS como uma forma de integrar seu sistema de contabilidade com padrões internacionais
e, assim, melhorar a comparabilidade e transparência de suas demonstrações financeiras.
Neste contexto, esta pesquisa tem como objetivo principal explorar a relação entre o sistema
de contabilidade moçambicano e as IFRS, identificando as implicações dessa transição.

A análise das mudanças nas demonstrações financeiras e das implicações para o setor
financeiro moçambicano é fundamental para compreender a relação entre o sistema de
contabilidade moçambicano e as IFRS.

Ao longo deste estudo, também se explorará a IFRS 1, que fornece diretrizes para a adoção
inicial das IFRS, reconhecendo a necessidade de reduzir as dificuldades na transição e
elaboração das demonstrações financeiras iniciais (Tamele, 2010). Isso destaca os desafios e
nuances envolvidos na convergência para normas internacionais.

Este trabalho visa lançar luz sobre como a adoção das IFRS influencia o sistema de
contabilidade moçambicano, enfatizando as mudanças nas políticas contabilísticas, na
apresentação das demonstrações financeiras e nos resultados financeiros.

1
2. Contextualização da IFRS

As IFRS, sigla para Normas Internacionais de Relato Financeiro (International Financial


Reporting Standards, em inglês), constituem um conjunto de normas contabilísticas
internacionais que estabelecem princípios e orientações detalhadas para a preparação,
apresentação e divulgação de demonstrações financeiras. Estas normas têm como propósito criar
uma base uniforme para a elaboração de relatórios financeiros em âmbito global, permitindo que
empresas de diferentes países possam apresentar as suas informações financeiras de forma
consistente e passível de comparação.

As IFRS são desenvolvidas e mantidas pelo International Accounting Standards Board (IASB),
uma organização independente de alcance global composta por especialistas nas áreas
contabilísticas e financeiras. O IASB é o responsável por estabelecer e atualizar as IFRS com
base em padrões internacionais de contabilidade e nas melhores práticas contabilísticas.

Uma das características distintivas das IFRS é a ênfase na apresentação de informações que
sejam úteis para um vasto leque de utilizadores, como investidores, credores, analistas
financeiros, reguladores, agências de notação de crédito e o público em geral. Isso implica que as
demonstrações financeiras preparadas de acordo com as IFRS devem oferecer uma visão clara e
fidedigna da situação financeira de uma entidade, do seu desempenho e das variações financeiras
ao longo do tempo.

As IFRS adotam uma abordagem de princípios baseados em julgamento, em contraposição à


abordagem mais orientada por regras que é seguida em algumas jurisdições. Isso proporciona às
empresas a flexibilidade para aplicar julgamento e estimativas na preparação das suas
demonstrações financeiras, desde que essas estimativas sejam razoáveis e baseadas em
informações disponíveis na data do relatório.

A convergência com as IFRS tem sido um objetivo relevante para muitos países e organizações
em todo o mundo. A finalidade subjacente a esta convergência é criar um conjunto único de
normas contabilísticas que possa ser amplamente aceite, tornando mais fácil a comparação e
avaliação das demonstrações financeiras de diferentes empresas e países. A convergência é
também vista como uma maneira de aprimorar a transparência e a integridade das informações
financeiras, contribuindo para a estabilidade dos mercados financeiros globais.

2
No entanto, é importante notar que a adoção das IFRS pode representar um desafio para as
empresas, uma vez que requer uma compreensão profunda das normas e pode resultar em
alterações significativas nas práticas contabilísticas existentes. Além disso, as IFRS estão em
constante evolução à medida que o IASB revê e emite novas normas para se adaptar às mudanças
nas práticas de negócios e nas condições económicas globais. Portanto, a conformidade com as
IFRS exige um compromisso contínuo de atualização e adaptação às mudanças nas normas.

De acordo com Pablo Luiz Martins et al. (2012), o mundo está em um processo de convergência
contábil em direção à adoção das Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS). Essas
normas, emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB), têm ganhado adoção
em mais de 100 países e introduzido um paradigma contábil baseado em julgamento, em
contraste com regras detalhadas.

Segundo os autores, no Brasil, esse processo de convergência para as IFRS impactou fortemente
as companhias abertas e instituições financeiras. A partir de 2010, essas entidades tiveram que se
ajustar às IFRS, apresentando demonstrações financeiras de acordo com esse novo padrão.
Contudo, essa transição representou não apenas uma obrigação, mas também uma oportunidade
de integração à linguagem internacional contábil.

Apesar das vantagens da convergência, é crucial refletir sobre os desafios que essa transição
impôs às organizações. As normas IFRS exigem um julgamento mais aprofundado na preparação
de demonstrações financeiras, o que pode resultar em interpretações diversas e dificuldades na
comparação de relatórios entre empresas. A adoção das IFRS demandou investimentos em
treinamento e comunicação de médio e longo prazo.

Martins et al. (2012) destacam ainda a experiência da União Europeia, onde a aplicação das
IFRS se mostrou um processo demorado. Isso se deve, em parte, à necessidade de demonstrações
financeiras comparativas e à implementação de natureza retrospectiva. Essas considerações
sugerem que, embora a convergência contábil seja inevitável, ela não está isenta de
complexidades e desafios.

De acordo com Amena Mahomed, Baruc Francisco, Elton Magazique, Eunice Soares, Eunice da
Cunha, Gabriel Saué, Juelma Meque, Lais Nicolau e Tatiana Santos (2023), a implementação das
Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS) nas empresas moçambicanas é um desafio

3
significativo. Segundo esses autores, poucas empresas adotam plenamente essas IFRS. Isso é
especialmente evidente nas empresas que não têm exposição internacional e não buscam acesso
aos mercados de capitais globais.

Mahomed et al. (2023) também destacam que a adoção das IFRS é mais comum entre empresas
que possuem operações internacionais, investidores estrangeiros ou buscam acesso a mercados
financeiros internacionais. As IFRS são vistas como uma maneira de garantir a comparabilidade
e transparência das informações financeiras dessas empresas no cenário global. Conforme
afirmam, "A adoção das IFRS ajuda a garantir a comparabilidade e a transparência das
informações financeiras dessas empresas no cenário global" .

Segundo a pesquisa de Mahomed et al. (2023), algumas das empresas em Moçambique que
provavelmente utilizam as IFRS incluem:

1. Empresas multinacionais: Empresas multinacionais com operações em Moçambique


geralmente seguem as IFRS para manter a consistência em suas demonstrações
financeiras em todo o mundo. Segundo os autores, "empresas como a MOTRACO,
SARL, Grigdrod Mozambique, Lda., e o Banco Internacional de Moçambique - BIM"
são exemplos disso.

2. Empresas listadas na Bolsa de Valores de Moçambique (BVM): As empresas listadas


na BVM, especialmente aquelas com investidores estrangeiros, são incentivadas a seguir
as IFRS para aumentar a atratividade para investidores internacionais.

3. Bancos, instituições financeiras e seguradoras: O setor financeiro tende a adotar as


IFRS devido à necessidade de conformidade com padrões internacionais de contabilidade
e relato financeiro.

4. Empresas com acesso a financiamento internacional: Empresas que buscam


financiamento de instituições financeiras internacionais, como bancos multilaterais de
desenvolvimento ou investidores estrangeiros, muitas vezes precisam cumprir as IFRS
como parte de seus requisitos de empréstimo ou investimento.

4
5. Grandes empresas exportadoras: Empresas que exportam produtos ou serviços para
mercados internacionais podem optar por adotar as IFRS para simplificar a comunicação
financeira com parceiros comerciais estrangeiros.

Conforme notam Mahomed et al. (2023), "É importante observar que a adoção das IFRS pode
variar entre empresas, dependendo de fatores como o tamanho da empresa, sua estrutura de
propriedade, seus objetivos de negócios e a regulamentação local". Algumas empresas menores e
de âmbito mais local podem continuar a usar as normas contabilísticas locais, ao invés das IFRS.

Portanto, a adoção das IFRS em Moçambique pode não ser universal, mas é mais comum entre
empresas que têm exposição a contextos internacionais ou que buscam maior transparência em
suas demonstrações financeiras.

3. Diversidade de Práticas Contabilísticas e a Influência da Fiscalidade na


Contabilidade de Moçambique

O sistema de contabilidade moçambicano sendo um conjunto de normas contábeis que regem as


práticas financeiras no país, suas principais funções centram-se em:

 Mecanismos Nacionais: O sistema de contabilidade moçambicano é regulado por leis e


regulamentos locais que visam atender às necessidades contábeis dentro do país.
 Relatórios Financeiros Padrão: As empresas moçambicanas geram demonstrações
financeiras de acordo com as exigências do sistema contábil nacional.
 Foco em Práticas Locais: O sistema de contabilidade moçambicano é adaptado para
atender às especificidades e características do mercado local.

A informação sobre a harmonização contabilística e as práticas contabilísticas em Moçambique é


praticamente inexistente, conforme observado por Nobes & Parker (2008). A contabilidade em
Moçambique é baseada no PGC para as Pequenas Empresas e o PGC-NIRF para as Grandes e
Médias Empresas, com influência da legislação governamental e fiscalidade, demonstrando a
forte influência desses fatores sobre a contabilidade.

Como mencionado por Nobes & Parker (2008), a diversidade de práticas contabilísticas em
diferentes países pode ser atribuída a fatores como o efeito do imperialismo. A contabilidade de
muitos países africanos e asiáticos é influenciada por seus antigos colonizadores. Essa influência

5
é evidente nos sistemas contabilísticos, que podem ser agrupados em dois grupos, de acordo com
os mesmos autores.

O Sistema Anglo-saxónico, adotado por países com influência inglesa, é orientado para o
investidor, a imagem verdadeira e apropriada, com grande divulgação e separação entre as regras
contabilísticas e fiscais, conforme apontado por Nobes & Parker (2008).

Por outro lado, o Sistema Continental, baseado no direito romano, é orientado para o credor e a
forma legal, com pouca divulgação e forte influência da fiscalidade sobre as regras
contabilísticas, de acordo com os mesmos autores.

Em relação aos países de língua oficial Portuguesa, incluindo Moçambique, Santos (2006)
observa que eles apresentam um sistema de contabilidade orientado para a fiscalidade, com
informações relativas às práticas contabilísticas predominantemente de caráter governamental.

Niyama (2005) argumenta que a estrutura legal dos países desempenha um papel crucial na
diversidade contabilística. Em países de common law, como a Grã-Bretanha e os Estados
Unidos, a flexibilidade na preparação das demonstrações financeiras é maior, enquanto em países
de code law, como Alemanha e França, as normas são mais detalhadas, o que reduz a
flexibilidade.

Em relação à adoção das IFRS, Emeni (2004) acredita que a harmonização contabilística global é
uma resposta à integração dos mercados de capitais. No entanto, Murphy (2000) conclui que a
adoção das IFRS pode não ser o fator principal para aumentar o nível de harmonização. Segundo
Carlson (1997), os métodos usados para alcançar a harmonização variam em forma e eficácia, e a
União Europeia, por exemplo, utiliza um grupo de peritos para impor normas.

Esses estudos refletem a complexidade da harmonização contabilística e a influência de diversos


fatores, incluindo a história colonial, a estrutura legal e a fiscalidade, sobre as práticas
contabilísticas em diferentes países. As IFRS desempenham um papel significativo na busca pela
harmonização global, mas não são a única variável influente.

4. Benefícios da adoção das IFRS em Moçambique

A implementação das IFRS (Normas Internacionais de Relato Financeiro) em Moçambique


representa um passo relevante no contexto do desenvolvimento económico e na inserção do país

6
nos mercados financeiros globais. Este processo oferece benefícios substanciais que contribuem
de forma positiva para a transparência e eficiência das práticas contabilísticas no âmbito
moçambicano. Os benefícios da adoção das IFRS segundo Madawaki (2012) que estuda a
adoção das IFRS em países em desenvolvimento concretamente na Nigéria incluem:

1. Harmonização de Práticas Contabilísticas: A adoção das IFRS contribui para a


harmonização das práticas contabilísticas entre os países que as adotam. Isso, por sua vez,
facilita a comparabilidade das demonstrações financeiras.

2. Maior Comparabilidade: A harmonização das práticas contabilísticas resulta em maior


comparabilidade das demonstrações financeiras, o que é fundamental para investidores,
credores e outros stakeholders.

3. Redução de Custos de Transação: A maior comparabilidade das demonstrações


financeiras leva a menores custos de transação. Isso pode beneficiar as empresas e os
investidores, tornando o processo de análise financeira mais eficiente.

4. Aumento do Investimento Internacional: A harmonização contabilística e a maior


comparabilidade das demonstrações financeiras podem atrair mais investimento
internacional para Moçambique.

5. Melhoria da Qualidade da Informação Contabilística: As IFRS são vistas como de


alta qualidade para o processo de tomada de decisão. Sua adoção tende a melhorar a
qualidade da informação contabilística, beneficiando investidores e credores.

6. Informação Credível para Credores: A adoção das IFRS fornece aos credores
informações credíveis sobre a qualidade da preparação das demonstrações financeiras das
empresas e sua capacidade de pagamento de dívidas.

7. Compilação de Dados Significativos: A implementação das IFRS pode promover a


compilação de dados significativos sobre o desempenho de entidades em relatórios
financeiros, tanto do setor público quanto do privado. Isso facilita a comparabilidade,
transparência, eficiência e confiabilidade dos relatórios financeiros em Moçambique.

7
8. Atração de Investimento Estrangeiro: A adoção das IFRS pode atrair investimento
estrangeiro direto, uma vez que os investidores podem comparar os resultados das
empresas e tomar decisões de investimento com maior confiança.

9. Acesso Mais Fácil ao Capital Externo: Empresas locais podem obter um acesso mais
fácil ao capital externo, facilitando o financiamento de projetos e expansões.

10. Redução de Custos nas Transações Internacionais: A adoção das IFRS também pode
reduzir os custos das empresas ao fazer negócios através das fronteiras, pois as regras
contabilísticas são padronizadas.

11. Facilitação da Consolidação de Informações Financeiras: Empresas com operações


em diferentes países podem consolidar informações financeiras de forma mais eficaz, o
que é importante para grupos empresariais multinacionais.

12. Melhor Qualidade da Informação Financeira: Os acionistas e autoridades de


supervisão se beneficiam com uma melhor qualidade da informação financeira.

13. Facilitação da Regulação Contabilística: A implementação das IFRS pode simplificar a


regulamentação da informação contabilística.

14. Acesso aos Passivos Fiscais de Empresas Multinacionais: O governo pode ter um
acesso mais fácil aos passivos fiscais de empresas multinacionais, auxiliando na
arrecadação fiscal.

A adoção das IFRS em Moçambique representa um avanço significativo na contabilidade e na


divulgação de informações financeiras, com benefícios substanciais para investidores, credores,
empresas e o governo. Ela desempenha um papel crucial no desenvolvimento económico do país,
promovendo a transparência e a integração nos mercados financeiros globais.

5. Desafios da adoção das IFRS em Moçambique

A adoção das IFRS em Moçambique, embora repleta de benefícios, não está isenta de desafios
que merecem uma análise cuidadosa. Esses desafios são multifacetados e podem afetar a
implementação eficaz das IFRS no contexto moçambicano.

8
Uma questão crítica a ser considerada é a resistência das práticas contabilísticas profundamente
enraizadas em Moçambique, que são influenciadas por fatores históricos e culturais, como Nobes
(2011) destaca. A transição para as IFRS pode encontrar resistência, pois as práticas
contabilísticas locais tendem a ser fortemente arraigadas e de longa duração. Isso pode exigir um
esforço prolongado de conscientização e capacitação para superar essa resistência.

Além disso, a implementação das IFRS pode não ter um impacto significativo na relevância e
periodicidade das informações das demonstrações financeiras, como observado por Hung &
Subramanyam (2007). Isso levanta a questão da eficácia das IFRS em atender às necessidades
específicas do mercado moçambicano. Pode ser necessário adaptar as normas para melhor se
adequarem ao contexto local.

A qualidade da informação financeira é um tema complexo, e a sua avaliação pode variar de


acordo com as características específicas de cada país, como apontado por Ball et al. (2003). A
diversidade no uso da informação contabilística pode influenciar a perceção da sua qualidade.
Portanto, é fundamental considerar como as IFRS se encaixam na realidade moçambicana e se
atendem às necessidades dos utilizadores locais.

O nacionalismo e a soberania nacional podem ser obstáculos à harmonização contabilística,


como mencionado por Carlson (1997). O receio de que as IFRS possam ameaçar a autonomia
nacional pode gerar resistência à sua adoção. Especialmente em países em desenvolvimento ou
que foram colónias de potências imperiais, a sensibilidade à interferência externa pode ser
acentuada.

Assenso – Okofo et al. (2011) ressaltam que as práticas contabilísticas são influenciadas por
regulamentos institucionais, bem como por fatores legais, políticos e económicos. Isso implica
que a implementação bem-sucedida das IFRS não depende apenas da adoção das normas em si,
mas também de reformas institucionais e legais para garantir que as políticas contabilísticas e as
práticas de divulgação estejam alinhadas com as normas internacionais.

Madawaki (2012) identifica desafios práticos específicos para a adoção das IFRS na Nigéria, que
podem ser relevantes para Moçambique. O conhecimento limitado, o sistema legal, o sistema de
impostos, a educação e formação, bem como a execução e cumprimento das normas, são
obstáculos que devem ser superados.

9
A análise de diversos estudos sobre a implementação das IFRS e seu impacto na qualidade da
informação contabilística em diferentes contextos, incluindo países africanos, oferece
informações importantes para a compreensão da relação entre as IFRS e o sistema de
contabilidade moçambicano.

Navarro-García & Bastida (2010) identificam que, mesmo entre países com sistemas jurídico-
legais semelhantes, existem diferenças significativas na forma de relato contabilístico. Isso
destaca a importância de considerar as caraterísticas únicas de cada nação ao avaliar a adoção
das IFRS e seus impactos.

Ames (2013), em seu estudo sobre a África do Sul, observa que a adoção das IFRS varia de
acordo com as caraterísticas legais, culturais, económicas e políticas de cada país. Isso sugere
que a aplicabilidade e eficácia das IFRS podem ser afetadas por fatores contextuais específicos.
Além disso, Ames ressalta que as IFRS podem não melhorar a qualidade de todas as
componentes do relato financeiro, destacando a necessidade de avaliar o impacto de forma
abrangente.

Stainbank (2016) argumenta que fatores como crescimento económico, nível de educação,
abertura económica externa, cultura e tamanho do mercado de capitais podem influenciar o
impacto da adoção das IFRS. Isso indica que a relação entre as IFRS e o sistema de contabilidade
moçambicano deve considerar esses elementos contextuais para uma avaliação completa.

Chamisa (2000) destaca que a relevância das IFRS em países em desenvolvimento depende do
ambiente específico em que as normas são aplicadas. Em países onde o setor público domina a
economia e não existem mercados de capitais desenvolvidos, as IFRS podem ser consideradas
irrelevantes. Isso levanta questões sobre a pertinência das IFRS no contexto moçambicano, onde
características semelhantes podem estar presentes.

Alp & Ustundag (2009) mencionam a necessidade de adoção das IFRS na Turquia, um mercado
emergente, devido à internacionalização dos mercados de capitais e ao aumento dos
investimentos internacionais. Isso sugere que, à medida que Moçambique busca atrair
investimentos internacionais, a adoção das IFRS pode se tornar uma necessidade para fornecer
informações financeiras de alta qualidade.

10
6. Principais normas coincidentes e as suas diferenças relativamente as NCRF
Moçambicanas
6.1. IFRS 5 - NON CURRENT ASSETS HELD FOR SALE AND
DISCONTINUED OPERATIONS (NCRF 22 - ATIVOS NÃO CORRENTES
DETIDOS PARA VENDA E UNIDADES OPERACIONAIS DESCONTINUADAS)

Desafio 1 - Mensuração ao justo valor: Conforme destacado por Deloitte (2023), a


mensuração ao justo valor pode ser afetada por mercados voláteis. Isso implica em
desafios na determinação de valores precisos de ativos mantidos para venda. É
fundamental que as empresas desenvolvam métodos confiáveis de mensuração que levem
em consideração a volatilidade do mercado.

Desafio 2 - Documentação adequada: A documentação adequada é crucial para


justificar decisões e cumprir os requisitos das IFRS. A conformidade com essas normas
exige uma documentação detalhada para garantir a aderência aos padrões contabilisticos
internacionais. A Deloitte (2023) ressalta a importância da documentação robusta.

Desafio 3 - Impacto na performance: Conforme apontado pelos autores, o impacto nas


demonstrações financeiras pode afetar o valor dos ativos financeiros registrados no
balanço. Isso, por sua vez, pode influenciar o patrimônio líquido e os índices financeiros
das empresas. É necessário compreender como as mudanças nas demonstrações
financeiras impactam a performance e a apresentação aos investidores.

A implementação bem-sucedida da IFRS 5 em Moçambique envolve abordar esses desafios por


meio de estratégias de mensuração sólidas, documentação minuciosa e uma análise cuidadosa do
impacto na performance financeira.

6.2. IFRS 9 - FINANCIAL INSTRUMENTS (NCRF 25 – INSTRUMENTOS


FINANCEIROS)

Desafio 1 - Impacto nas demonstrações financeiras: A IFRS 9 trouxe mudanças


significativas na contabilização de instrumentos financeiros. Isso impacta diretamente as
demonstrações financeiras, como ressalta Deloitte (2023). É crucial compreender como
essas mudanças afetam o valor dos ativos financeiros registrados no balanço.

11
Desafio 2 - Volatilidade do valor justo: Instrumentos financeiros mensurados ao valor
justo por meio do resultado podem resultar em maior volatilidade nas demonstrações de
resultados, como indicado pelos autores. As mudanças no valor justo são registradas no
resultado do período, o que pode afetar a análise de desempenho e as decisões de
investimento. É fundamental entender e gerenciar essa volatilidade.

Desafio 3 - Documentação e divulgação: A IFRS 9 exige documentação robusta e


divulgação detalhada sobre a metodologia usada para avaliar perdas esperadas, bem como
informações sobre a gestão de riscos de crédito e exposições a risco. A conformidade
com esses requisitos é essencial para garantir relatórios financeiros precisos e em
conformidade.

A implementação da IFRS 9 em Moçambique requer uma análise cuidadosa dos instrumentos


financeiros, ajustes nos sistemas contabilísticos e processos, e um cumprimento rigoroso dos
requisitos de documentação e divulgação.

6.3. IFRS 15 - REVENUE FROM CONTRACTS WITH CUSTOMERS (NCRF


28 – RÉDITO)

Desafio 1 - Revisão de processos e controles internos: Os autores destacam a necessidade de


revisão de processos e controles internos para garantir a integridade das informações
contabilísticas. Essa revisão é crucial para assegurar que as organizações estejam em
conformidade com os novos requisitos contabilísticos.

Desafio 2 - Impacto nas métricas financeiras: A IFRS 15 pode afetar as métricas financeiras,
impactando a análise de desempenho e as decisões de investimento. É importante compreender
como essas mudanças nas métricas financeiras afetam a interpretação do desempenho financeiro
da empresa.

Desafio 3 - Divulgações exigidas: A norma estabelece requisitos rigorosos para a divulgação


das políticas contabilísticas relacionadas à receita, bem como informações adicionais sobre os
contratos, riscos e incertezas. Cumprir esses requisitos é fundamental para atender aos padrões
contabilísticos internacionais.

12
A implementação da IFRS 15 requer uma revisão minuciosa dos processos internos,
compreensão do impacto nas métricas financeiras e conformidade rigorosa com os requisitos de
divulgação.

6.4. IFRS 16 - LEASES (NCRF 17 – LOCAÇÕES)

Desafio 1 - Reconhecimento de ativos e passivos: A IFRS 16 exige que as empresas


reconheçam um ativo de direito de uso e um passivo de obrigação de pagamento futuro para
praticamente todos os arrendamentos. Isso impacta os balanços das empresas, aumentando os
ativos e passivos reportados, como destacado pela Deloitte (2023).

Desafio 2 - Efeitos nos indicadores financeiros: A IFRS 16 pode impactar


significativamente os indicadores financeiros das empresas, como dívida líquida e índices de
solvência. Isso pode afetar a avaliação do desempenho financeiro e a análise de risco por
parte de investidores e credores.

A implementação adequada da IFRS 16 em Moçambique requer uma análise cuidadosa dos


contratos de arrendamento, ajustes nos sistemas contabilísticos e processos e uma compreensão
profunda do impacto nos indicadores financeiros.

7. Relação entre o Sistema de Contabilidade Moçambicano e as IFRS

O sistema de contabilidade moçambicano e as IFRS são dois conjuntos de normas contábeis que
regem as práticas financeiras no país

A relação existente entre o sistema de contabilidade moçambicano e as IFRS surge por meio da
harmonização das práticas contabilísticas. O sistema de contabilidade moçambicano, ao longo
dos anos, desenvolveu suas próprias normas e regulamentos contabilísticos que atendiam
somente às necessidades locais. No entanto, a adoção das IFRS requer que essas normas locais se
ajustem aos padrões internacionais. Isso implica em alinhar terminologia, requisitos de
divulgação e métodos de mensuração com as diretrizes das IFRS.

Os desafios da harmonização não devem ser subestimados, uma vez que envolvem uma mudança
profunda nas práticas contabilísticas. É necessário um esforço considerável para que as empresas
possam cumprir os requisitos das IFRS. Isso requer investimentos substanciais em treinamento,

13
tecnologia e processos para garantir que as empresas estejam devidamente preparadas para
fornecer informações financeiras em conformidade com os padrões internacionais.

A implementação bem-sucedida das IFRS traz consigo a promessa de uma melhoria na qualidade
da informação contabilística. As IFRS estabelecem princípios contabilísticos que buscam
fornecer informações mais precisas e comparáveis, tornando o ambiente de negócios mais
transparente e confiável. A transição para as IFRS é uma oportunidade para as empresas
moçambicanas elevarem o padrão de suas demonstrações financeiras, tornando-as mais
relevantes e confiáveis para investidores e outras partes interessadas.

Os benefícios da adoção das IFRS não se limitam apenas à melhoria da qualidade da informação
contabilística. A harmonização das práticas contabilísticas permite uma maior comparabilidade
das demonstrações financeiras entre as empresas moçambicanas e as empresas internacionais.
Isso, por sua vez, pode atrair investidores estrangeiros, facilitar o acesso ao capital externo e
melhorar a transparência e a confiabilidade dos relatórios financeiros. Essa maior atratividade do
mercado de capitais moçambicano pode ser um fator importante para o crescimento econômico
do país.

As empresas moçambicanas devem enfrentar mudanças significativas na forma como relatam


suas informações financeiras devido à adoção das IFRS. Essas mudanças requerem adaptação
nos processos internos, sistemas de informação e treinamento de pessoal. As empresas também
devem considerar como a adoção das IFRS afetará a análise de desempenho e as decisões de
investimento. A capacidade de atrair investidores estrangeiros e atender às expectativas do
mercado internacional se torna um fator crítico para o sucesso das empresas moçambicanas.

14
8. Conclusões

A relação entre o sistema de contabilidade moçambicano e as International Financial Reporting


Standards (IFRS) apresenta desafios e oportunidades significativos para as empresas em
Moçambique. Ao longo desta discussão, analisamos como a implementação das IFRS afeta
diversos aspectos do contexto contabilístico em Moçambique, citando autores, refletindo sobre
suas contribuições e destacando as áreas críticas de preocupação.

Primeiramente, a implementação das IFRS em Moçambique traz benefícios em termos de


harmonização das práticas contabilísticas com padrões internacionais. Como citado por Navarro-
García & Bastida (2010), as IFRS podem melhorar a qualidade da informação contabilística,
tornando-a mais útil para a tomada de decisões e atrativa para investidores.

No entanto, os desafios associados à adoção das IFRS não podem ser ignorados. Autores como
Nobes (2011) e Hung & Subramanyam (2007) ressaltam que as práticas contabilísticas são
profundamente enraizadas em contextos nacionais e podem ser resistentes à harmonização
internacional. Além disso, como observado por Ball et al. (2003), a qualidade da informação
financeira é influenciada por fatores políticos e culturais específicos de cada país.

Analisando as normas específicas, as IFRS 5, IFRS 9, IFRS 15 e IFRS 16 trazem desafios únicos
para as empresas moçambicanas. Os desafios incluem a mensuração ao justo valor, a volatilidade
do valor justo, a documentação adequada, a revisão de processos e controles internos e a
divulgação exigida. Essas questões, como destacado pela Deloitte (2023), exigem uma análise
minuciosa e ajustes nos processos contabilísticos e de relatórios financeiros.

No contexto moçambicano, a relação entre as IFRS e o sistema de contabilidade local também é


influenciada por fatores econômicos, culturais e legais específicos do país. Moçambique é um
país em desenvolvimento, e, como observado por Stainbank (2016), o crescimento econômico, o
nível de educação, a abertura econômica externa e o tamanho do mercado de capitais afetam o
impacto da adoção das IFRS. A falta de mercados de capitais desenvolvidos, como mencionado
por Chamisa (2000), também influencia a relevância das IFRS em países em desenvolvimento
como Moçambique.

A implementação das IFRS exige esforços significativos de adaptação e compreensão, não


apenas para cumprir os requisitos das normas, mas também para garantir que as informações

15
contabilísticas sejam úteis e representem fielmente as transações das empresas. Essa transição
envolve não apenas conformidade técnica, mas também uma mudança de mentalidade na forma
como as empresas moçambicanas abordam a contabilidade e a geração de informações
financeiras.

Em relação ao sistema de contabilidade moçambicano, é importante destacar que a adoção das


IFRS não implica na completa eliminação das práticas locais. Como observado por Santos
(2006), os países de língua oficial portuguesa, incluindo Moçambique, têm sistemas
contabilísticos orientados para a fiscalidade, o que indica a continuação da relevância das
práticas locais em paralelo com as IFRS. Portanto, a harmonização não significa
homogeneização completa.

A relação entre as IFRS e o sistema de contabilidade moçambicano é dinâmica e desafiadora. A


implementação das IFRS traz benefícios em termos de maior comparabilidade, acesso a
investimentos internacionais e melhoria da qualidade da informação contabilística. No entanto,
os desafios são evidentes, incluindo a resistência às mudanças, a adaptação a normas rigorosas e
a necessidade de documentação robusta.

Para concluir, a implementação das IFRS em Moçambique representa uma jornada rumo a
práticas contabilísticas mais transparentes e internacionalmente reconhecidas. No entanto, essa
jornada requer não apenas conformidade técnica, mas também uma compreensão profunda dos
desafios e oportunidades que as IFRS trazem consigo. As empresas moçambicanas devem estar
preparadas para enfrentar esses desafios, buscando não apenas a conformidade, mas também a
melhoria contínua na qualidade da informação contabilística e na tomada de decisões financeiras.

16
Referências Bibliográficas
Alp, E., & Ustundag, Z. (2009). A survey of Turkish professional accountants' views on IFRS.
Accounting Forum, 33(4), 271-282.

Assenso – Okofo, M., Effah Nyamekye, G., & Adu, G. (2011). Institutional factors influencing
the adoption of International Financial Reporting Standards in developing countries: The case
of Ghana. International Journal of Business and Social Science, 2(15), 41-50.

Ball, R., Kothari, S. P., & Robin, A. (2003). The effect of international institutional factors on
properties of accounting earnings. Journal of Accounting and Economics, 36(1-3), 261-286.

Carlson, J. R. (1997). International harmonization of financial reporting: The limitations of IASC


standards. Ashgate.

Chamisa, E. (2000). The relevance of value relevance studies in the Zimbabwean context. The
European Accounting Review, 9(3), 381-391.

Deloitte (2023). Financial Reporting Framework in Republic of Mozambique. Recuperado de


https://www.iasplus.com/en/jurisdictions/africa/mozambique.

Deloitte (2023). International Financial Reporting Standards. Recuperado de


https://www.iasplus.com/en/standards/ifrs.

Emeni, F. K. (2004). Foreign Direct Investment and IFRS adoption in developing countries.
Paper presented at the American Accounting Association Annual Meeting, Orlando, FL, USA.

Madawaki, A. (2012). The benefits of adopting International Financial Reporting Standards in


Nigeria. International Journal of Business and Social Science, 3(22), 294-299.

Mahomed, A., Francisco, B., Magazique, E., Soares, E., da Cunha, E., Saué, G., Meque, J.,
Nicolau, L., & Santos, T. (2023). Os desafios da implementação das IFRS nas empresas
moçambicanas. Universidade Católica de Moçambique.

Murphy, T. (2000). The impact of the adoption of International Accounting Standards on the
harmonization of accounting practices. University of Dundee.

17
Navarro-García, A., & Bastida, F. (2010). The IFRS adoption in Spain and the United Kingdom:
Effects on accounting numbers and relevance. Advances in Accounting, incorporating Advances
in International Accounting, 26(1), 54-62.

Niyama, J. K. (2005). The influence of culture on accounting development: A comparitive study


between Brazil and Japan. The University of Memphis.

Nobes, C. & Parker, R. (2008). Comparative International Accounting 10th ed. P. Education,
England.

Santos, J. (2006). International accounting differences: Impact on foreign analysts. International


Journal of Accounting, 41(1), 1-24.

Stainbank, L. (2016). Factors influencing IFRS adoption in African countries: Evidence from
Zimbabwe. Journal of Business and Economic Development, 4(4), 25-35.

18

Você também pode gostar