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Soneto LXVI

Não te quero senão porque te quero


e de querer-te a não querer-te chego
e de esperar-te quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.

Quero-te apenas porque a ti eu quero,


a ti odeio sem fim e, odiando-te, te suplico,
e a medida do meu amor viajante
é não ver-te e amar-te como um cego.

Consumirá talvez a luz de Janeiro,


o seu raio cruel, meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego.

Nesta história apenas eu morro


e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo.

Nos versos acima Pablo Neruda recorre a um modelo


literário bastante convencional, o soneto. Condenado a
uma forma fixa, portanto, o poeta chileno tenta traduzir
para o leitor como é a sensação de estar apaixonado.

Sublinha, por exemplo, as contradições do sentimento, o


fato do coração passar do frio ao calor e do afeto oscilar
rapidamente entre o ódio e o amor.

Aqui não está tanto em questão a figura da amada, mas


sim a sensação que a sua presença desperta.

Biografia de Pablo Neruda


Pablo Neruda (1904-1973) foi um poeta chileno, considerado um
dos mais importantes escritores em língua castelhana. Recebeu
o Premio Nobel de Literatura, em 1971, pela importância de sua
trajetória e pelo conjunto de suas obras.
Pablo Neruda, pseudônimo de Ricardo Eliécer Neftali Reyes,
nasceu na cidade de Parral, no Chile, no dia 12 de julho de 1904.
Filho de um ferroviário e de uma professora, ficou órfão de mãe
logo ao nascer. Passou a infância em Temuco, no sul do país.
Com sete anos, ingressou no Liceu e, ainda na época escolar,
publicou seus primeiros poemas no periódico A Manhã.

Em 1919, Neruda obteve o 3.° lugar nos Jogos Florais de


Maule com o poema “Noturno Ideal”. Ainda na adolescência,
adotou o nome de "Pablo Neruda", inspirado no escritor tcheco
Jan Neruda. Em 1920 começou a escrever para a revista
literária “Selva Austral”, já usando o pseudônimo de Pablo
Neruda.

Primeiras Publicações
Em 1921, Neruda mudou-se para Santiago,
quando ingressou no curso de francês no Instituto Pedagógico
da Universidade do Chile. Nesse mesmo ano, ganhou o prêmio
da Festa da Primavera com o poema “A Canção da Festa”. Em
1923, reuniu seus poemas em “Crepusculario”. Em 1924
publicou “Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada”,
uma obra repleta de lirismo que fez de Neruda um dos mais
famosos poetas chilenos.

Carreira Diplomática
Em 1927, Pablo Neruda iniciou a carreira diplomática, após ser
nomeado cônsul-geral do Chile em Rangum (hoje Yangon), na
Birmânia (hoje Myanmar). Durante os cinco anos seguintes,
representou seu país no Siri Lanka, Java e Singapura.

Em 1933, Pablo Neruda escreveu uma de suas principais obras,


“Residência em la Tierra", na qual emprega imagens e recursos
próprios do Surrealismo. O tom do livro é de profundo
pessimismo em torno de temas como ruína, desintegração e
morte, exprimindo a visão de um mundo caótico.

Depois de breve estada em Buenos Aires, onde conheceu o


poeta Federico Garcia Lorca, Neruda serviu como cônsul na
Espanha, primeiro em Barcelona e depois em Madri. A Guerra
Civil Espanhola lhe inspirou a obra “España em el Corazón”
(1937) e determinou uma mudança na atitude do poeta, que
aderiu ao marxismo e decidiu consagrar sua vida e obra em
defesa dos ideais políticos e sociais inspirados no comunismo.

Exílio
Em 1938, Neruda retornou ao Chile. Depois de breve período
como embaixador no México, em 1945 foi eleito senador pelo
Partido Comunista. Em 1948 o governo decretou a ilegalidade
do partido. Neruda criticou o tratamento dado aos
trabalhadores das minas, na presidência do Gonzáles Videla,
foi perseguido e se exilou na Europa, inclusive na União
Soviética. Nessa época, escreveu outra de suas obras mais
famosas “Canto General” (1950).

Regresso ao Chile
Em 1952, quando o governo chileno restabeleceu as liberdades
políticas, Neruda regressou ao país e fixou residência em Isla
Negra, no Pacífico. Nessa época, sua obra adquiriu grande
diversidade com a publicação de “Odas Elementales” (1954)
quando canta a vida cotidiana, com “Cien Sonetos de Amor”
(1959) e “Memorial de Isla Negra” (1964), na qual evoca o amor
e a nostalgia do passado. Em “A Espada Incendiada” (1970) o
autor reafirmava seu compromisso com a ideologia político-
social.

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