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INSTITUTO SUPERIOR CIÊNCIAS E TECNOLOGIA ALBERTO CHIPANDE

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS

Curso de Licenciatura em Administração e Politicas Públicas

Cadeira de Ética e Políticas Públicas, 3º ano, Período Vespertino

TEMA: ÉTICA CRISTÃ E ÉTICA KANTIANA

DESCENTE:

Micália Albertina Cumbe

DOCENTE:

Dr. Naveresse

MAPUTO, AGOSTO DE 2021


Índice

1 CAPÍTULO I................................................................................................................. 1

1.1 Introdução ............................................................................................................... 1

1.2 Objectivos do Estudo .............................................................................................. 2

1.2.1 Objectivos Geral .............................................................................................. 2

1.2.2 Objectivo específicos ....................................................................................... 2

1.3 Metodologia ............................................................................................................ 2

1.4 Justificativa ............................................................................................................. 2

2 CAPÍTULO II: REFERENCIAL TEÕRICO.................................................................. 3

2.1 Ética Cristã ............................................................................................................. 3

2.2 Ética Kantiana ......................................................................................................... 6

2.2.1 As influências sofridas pelo pensamento ético de Kant ..................................... 8

2.2.2 Alguns Elementos da Ética Kantiana .............................................................. 10

2.2.3 A boa vontade em Kant .................................................................................. 10

2.2.4 A primazia do dever para Kant ....................................................................... 11

2.2.5 Formas do Dever Kantiano............................................................................. 12

3 CAPÍTULO III: CONCLUSÃO E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................... 14

3.1 Conclusão ............................................................................................................. 14

3.2 Referência bibliográfica ........................................................................................ 15


1 CAPÍTULO I

1.1 Introdução

Neste presente trabalho da cadeira de Ética e Políticas Públicas irei abordar acerca da Ética
Cristã e Ética Kantiana, uma das distinções fundamentais para compreender a ética kantiana é
a distinção entre autonomia da vontade e heteronomia da vontade. Kant define vontade como
“(...) a faculdade de se determinar a si mesmo a agir em conformidade com a representação de
certas leis.”

Defende que o princípio que leva o ser racional a agir é o fim em vista do qual age, sendo o
princípio da possibilidade dessa acção o meio. Se o fim for um princípio objectivo (do querer),
dado pela razão e logo válido para todo o ser racional, é um motivo (bewegungsgrund),
enquanto se for um princípio subjectivo (do desejar), que não é dado pela razão mas por outras
dimensões do ser humano (como as inclinações naturais, e não racionais) trata-se de um móbil
(triebfeder).

É também preciso notar que, para Kant, um princípio prático (isto é, um princípio que rege a
acção humana) é formal quando abstrai de todos os fins subjectivos, e material quando contém
fins subjectivos. Esta distinção deve ser utilizada em conjunto com outra distinção, entre dois
tipos de imperativos: os imperativos hipotéticos, e o imperativo categórico. Os imperativos
hipotéticos são, de certo modo, paralelos ao que em lógica se denomina por proposição
hipotética (as proposições do género “se p, então q”), onde caso se verifique uma dada
condição, então algo deverá daí decorrer.

Para Kant, quando o ser humano age impulsionado por um móbil está-se necessariamente
perante o caso de um imperativo hipotético, pois existe uma dada condição (aquilo que
“desperta” a inclinação natural do ser humano, o móbil, o que é desejado) que leva a fazer algo.

Convém salientar que o princípio prático que corresponde a esta aplicação que Kant faz do
imperativo hipotético é material, uma vez que embora logicamente se pudesse pensar em
qualquer condição (qual quer “p”, para usar a notação do exemplo da proposição hipotética “se
p então q”), à qual corresponderia a consequência prevista (designada por “q”), nos casos
considerados por Kant a condição (qualquer “p”) tem sempre origem num fim subjectivo (é
um móbil proveniente da faculdade de desejar).

Palavras-chaves: Ética Cristã, Ética Kantiana.

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1.2 Objectivos do Estudo

1.2.1 Objectivos Geral

 Desenvolver principais abordagens da Ética Cristã e Ética Kantiana.

1.2.2 Objectivo específicos

Como objectivos específicos traçou – se o seguinte:

 Compreender as Ética Cristã e Ética Kantiana.


 Conhecer as Ética Cristã e Ética Kantiana.
 Analisar e perceber as Ética Cristã e Ética Kantiana.

1.3 Metodologia

Segundo Marconi e Lakatos (2008, p. 223) metodologia “responde, a um só tempo, às questões


como?, com quê?, onde?, e quanto?”. Trabalho permite nos desenvolver o tema da Ética Cristã
e Ética Kantian, neste período com o tempo determinado levou que fosse possível na realização
do trabalho, com base nas referências bibliográficas encontradas em Manuais, recorri a
brochura, site online e PDF.

1.4 Justificativa

Este estudo criou me curiosidade e motivação, para além do interesse pessoal com o tema que
aborda acerca da Ética Cristã e Ética Kantiana, nota se que a Crítica da Razão Prática, Kant
considera que a religião se baseia, não na ciência e na teologia, mas sim na moral. Mas para
isso a base moral da religião deve ser absoluta e não derivada da experiência sensorial ou da
dedução. É preciso encontrar uma ética universal e necessária. "Os princípios a priori da moral
são absolutos e certos como os da matemática. Devemos mostrar que a razão pura pode ser
prática, isto é, pode por si mesma determinar a vontade, independentemente de qualquer coisa
empírica e que o senso moral é inato e não derivado da experiência.

Kant coloca o problema da moralidade de uma forma profundamente inovadora. Respondendo


à questão sobre as origens da bondade de um acto, Kant afirma: "os sistemas anteriores de ética
procuraram a moralidade no fim dos actos, quer dizer, fizeram radicar a bondade na sua
adaptação a um fim concreto, determinado.

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2 CAPÍTULO II: REFERENCIAL TEÕRICO

2.1 Ética Cristã

A moral cristã deve ser combatida em suas origens, tal como se apresenta entre os mesmos
seguidores de Jesus, entre seus apóstolos, porque sufoca a prática de vida inaugurada por Jesus
de Nazaré. É claro, no entanto, que toda a prática, na medida em que não se sujeita a uma norma
e que responda a um propósito sempre acidental ou contingente, resulta irracional.

Se Jesus age com segurança e liberdade, é porque compreende a razão de seu agir e essa razão,
por sua própria inteligibilidade, pode ser formulada como um princípio capaz de regular o agir.

O Cristianismo, na sua essência, contém a ideia fundamental de que a realidade é um todo


inseparável, onde é possível identificar partes nesse todo (como o lado inteligível, as ideias da
razão, ou o lado sensível, por exemplo), mas essas partes não têm existência autónoma, como
defendem as teorias que separam o sensível do inteligível, só conferindo realidade ontológica
a este último. Denominou-se estas últimas teorias por “platónicas”, pensando mais nos
seguidores de Platão (a que Santo Agostinho se refere como “platónicos”, na sua obra A Cidade
de Deus) do que no próprio Platão. Vai-se agora sugerir que, após a divisão do Cristianismo,
em catolicismo e protestantismo, o protestantismo passou a ser interpretado nos círculos
filosóficos como mais próximo do mundo inteligível do que do mundo sensível.

Em seu livro «The Folly of Fools. The Logic of Deceit and SelfDeception in Human Life»
(2011), Robert Trivers, ao tratar da religião e o autoengano, recorda que a deificação do profeta
Jesus (o mito evangélico de Cristo) não tem paragão na concepção dos profetas no islamismo
e o judaísmo. Não há nessas outras duas religiões nada similar ao seu insólito nascimento, nada
parecido aos milagres que lhe atribuem, nada que se assemelhe ao sofrimento de uma morte
cruel que expia o pecado da humanidade e posterior ressurreição três dias mais tarde, e
definitivamente nada que implique uma sorte de transformação de Jesus, enquanto Deus
encarnado, em um terço (1/3) do espetáculo constituído pelo Pai, o Filho e o Espírito Santo.

E quanto mais os cristãos deificam o mito de Cristo e maior é o delírio da imaginação ou “fé
cega” em uma divindade arquitetada pelo judeu helenizado Paulo de Tarso (e elaborada pelos
evangelistas teologicamente ex post e, a sua vez, com a tergiversação ominosa do Jesus
histórico), menor é a atenção que prestam à doutrina que, segundo os Evangelhos, predicou o
profeta em sua breve travessia pela terra. A “cristomania” e o “jesuismo”, esse amálgama de

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crenças sui generis centrado na secular convicção e eufórica exaltação da deidade de Jesus,
estão de moda, um fenômeno cada vez mais extremo e difuso, consumível por todos e a todas
as idades, à gosto do consumidor, em todo momento, em casa, fora de casa, à distância e on-
line. De fato, a ideia de Jesus como um exemplo de excelência moral é um tópico cultural que
se dá por firme e iniludível, inclusive entre mentalidades agnósticas e não crentes. Consiste em
crer que a vida de Jesus (supondo que existiu, pois sua existência real segue sendo objeto de
polêmica) oferece um modelo de comportamento ético que deve ser emulado, e suas doutrinas
éticas umas regras de conduta que devemos seguir - quer dizer, que temos que residir aqui
abaixo segundo as leis de outro mundo.

Nada obstante, Michael Martin, filósofo e autor do livro The Case Against Christianity (1991),
propõe certos argumentos morais que questionam a exemplaridade do mitológico “fundador”
do cristianismo. Partindo do juízo de que não está claro quais foram exatamente os princípios
morais que ensinou, do discutível ideal ilustrado supostamente por sua conduta e de que a moral
cristã é de duvidosa valia, confusa, contraditória e difere de outros sistemas aceitáveis de ética
profana, este professor emérito da Universidade de Boston questiona que a ética proposta por
Jesus resulte desejável ou (inclusive) praticável desde algumas (entre outras) particularidades,
a saber:

1. O principal mandamento de Jesus é amar a Deus (Mt. 22, 37-38). Na firme crença da
iminência do Reino de Deus, Jesus, tal como aparece nos evangelhos sinópticos, não se
interessou pelos problemas mundanos (como a família, a própria vida, a liberdade e a
propriedade - Lc. 18, 22), se desentendeu de sua família por seu evangelho (Mt. 12, 46-
50), sustentou que seus discípulos deviam odiar aos membros de sua família e sua
própria vida (Lc. 14, 26), disse que quem não renunciara a todas suas possessões não
podia ser discípulo seu (Lc. 14, 33), e também ameaçou com terríveis castigos a quem
rechaçara seus ensinamentos (Mt. 10, 14- 15).
2. As práticas morais de Jesus contrastam com as imagens pacifistas idealizadas e com
sua suposta perfeição moral. Predicou, por exemplo, o castigo eterno para quem
blasfemasse contra o Espírito Santo, empregou a força para expulsar os que vendiam e
compravam no templo, valorou a obediência cega, ensinou o dever de humilhar-se e
rebaixar-se (Lc. 18, 14; Lc. 9, 48), a não enfrentar-se ou opor resistência aos malvados
(Mt. 5, 39-41), e no que se refere às virtudes intelectuais importantes tanto suas palavras

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como suas obras parecem indicar que depreciou e não valorava a razão e os
conhecimentos (Mt. 18, 3).
3. Embora muitos cristãos declarem encontrar nos ensinamentos de Jesus respostas à todas
as questões morais da vida moderna, as preocupações da sociedade atual abordadas por
Jesus de maneira explícita foram poucas. Por exemplo, não disse nada diretamente
sobre a moralidade ou imoralidade do aborto, da pena de morte, da guerra, da
discriminação racial ou sexual e da escravidão, tão comum no mundo antigo (e não está
claro que se possa deduzir de suas máximas e suas práticas algo a respeito desses
temas). Também parecia advogar pela pobreza material quando afirmava que “un rico
no puede entrar en el reino de los cielos (Mt. 19, 23-24), y, según la versión de la
bienaventuranzas de Lucas, los pobres son dichosos y el reino de los cielos les pertenece
(Lc. 6, 20)”.
4. A mensagem de Jesus está tão condicionada pela iminência do Reino de Deus que
desprezou a preocupação e provisão pelo futuro (característica de qualquer civilização
ou ética), guardou silêncio contra (e praticou) o trato inumano dado aos animais (Lc. 8,
28-33) e nunca ofereceu uma justificação racional para suas afirmações (aliás, um
aspecto sumamente desagradável na prédica de Jesus: a contínua ameaça com o fogo
infernal - ao castigo eterno no lugar mais horrível, para sempre -, muito distante da
persuasão racional).

E por último, mas não por isso menos importante, embora exista aspectos louváveis na ética
cristã, esses não são originais do cristianismo, já que a “novidade” da mensagem de Jesus não
consistiu em postular novas normas ou adicionais preceitos. Na verdade, já se despejou toda
dúvida sobre seu rigoroso respeito à Lei (Torah). Em Mc. 12, 28-34, Jesus, em amigável
diálogo com um escriba, formula os dois mandamentos básicos do judaísmo: amar a Deus sobre
todas as coisas, e amar ao próximo como a si mesmo. Nenhuma novidade. Na aplicação prática
dos preceitos, Jesus foi um observante da Lei (Torah) e um judeu leal. Sua religião foi o
judaísmo, e sua fé se baseava na Bíblia judia. Não se lhe ocorreu pensar-se a si mesmo como
uma figura divina. Tal crença haveria sido, para ele, uma transgressão direta do primeiro dos
Dez Mandamentos.

Assim as coisas, parece que são cinco os aspectos relevantes da mensagem de “urgência e
radicalidade” do Nazareno: a perspectiva messiânica, o Reino de Deus como utopia religiosa-
política, a iminência do Reino e a exigência urgente da reconversão pessoal, o radicalismo da

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ética escatológica (de uma moral de entrega total e incondicional de controverso valor universal
para o tempo brevíssimo que precederia à eclosão iminente do Reino), e o cumprimento das
promessas de Deus ao povo de Israel (G. Puente Ojea, 2000).

2.2 Ética Kantiana

A Ética Kantiana vai apresentar-se, assim, como a sucessora da antiga Metafísica. O propósito
de Kant, portanto, é “reinstaurar a Metafísica como Ética” (IDEM). É nesta ética que consagra
o fim da metafísica do ser, inicia-se a metafísica do logos, ou metafísica da subjetividade, que
é propriamente a metafísica moderna, sendo base para a ética da época. Percebe-se, portanto,
que o pensamento ético-filosófico de Kant também é fruto de seu tempo. O filósofo alemão
soube, com uma nova roupagem, dar uma guinada na maneira de pensar e agir eticamente,
contudo, não se deve concluir que este intento fora realizado sozinho, mas sim que é fruto de
um conhecimento prévio e uma experiência intelectual vivida.

Esta ideia de que é possível uma vontade santa está de acordo com o pensamento cristão, pois
como vimos o Cristianismo opôs-se à desvalorização do sensível e da natureza como parte do
todo que é a criação divina, não separando esta parte do Ser. Por conseguinte faz todo o sentido,
para o Cristianismo, que seja possível ao ser humano, criado “à imagem e semelhança de
Deus”, alcançar pelo menos algum grau de santidade ainda na vida terrena, ao contrário do que
Kant defende, dizendo que tal é impossível e justificando daí a imortalidade da alma (note-se
que Kant fala da alma e não da totalidade corpo e alma, o que mais uma vez parece levar a
semelhanças com o platonismo), para chegar à virtude.

Assim, é este o modo de representar o agir humano quando este está sob a heteronomia da
vontade: há um objecto exterior que provoca uma inclinação natural do ser humano para que
este aja de determinado modo, ou seja, esta acção humana é determinada por uma causa
exterior.

Deste ponto de vista, o ser humano estaria sujeito a um esquema determinista, onde todas as
suas acções seriam apenas reacções a impulsos exteriores, em função das suas inclinações
naturais, explicada de acordo com um uso material do imperativo hipotético.

A categoria do entendimento (verstand) que permite compreender este esquema é a categoria


da causalidade, que corresponde ao juízo hipotético. O imperativo hipotético é um paralelo
deste em termos lógicos, e é através desta representação que concebemos a ideia de causaefeito,

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que neste caso concreto corresponde ao facto de algo determinar o ser humano a agir de dado
modo. Isto ocorre no que Kant designa por mundo sensível, onde o ser humano é só mais um
ente cuja acção é provocada deterministicamente pelo mecanismo da natureza.

Neste caso, o ser humano é um fenómeno, sujeito às condições do espaço e do tempo e às leis
da natureza que nele operam. No entanto, quando o ser humano age em função do seu querer
(e não em função do seu desejar), assente na sua razão e em princípios objectivos desta
decorrentes, isto é, assente em motivos, consegue sair deste mecanismo da natureza, e aí temos
a autonomia da razão. Neste caso, o ser humano procura saber como deve agir em virtude da
sua natureza racional.

Todavia, no caso dos imperativos hipotéticos apenas se sabe o que eles poderão determinar em
função da condição particular que o determina, que poderia ser qualquer condição, pois tais
imperativos correspondem à forma lógica da proposição hipotética (se p então q) – isto é, são
apenas uma forma lógica vazia que carece do conteúdo material para ser aplicada (o fim
subjectivo, o móbil, que vem da inclinação natural), não impondo qual será esse conteúdo.

Já no caso no imperativo categórico, a sua própria forma leva à necessidade da universalidade


do seu conteúdo, e da máxima da vontade a ser adoptada. Existe um critério a ser seguido por
qualquer conteúdo do imperativo categórico – a universalidade. Kant estabelece o imperativo
categórico do seguinte modo: “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo
tempo querer que ele se torne uma lei universal.”

Kant realça como este imperativo vem unicamente da razão, pois a própria forma do que será
um imperativo categórico contém esta necessidade da máxima: a própria forma do que seria
um imperativo categórico já diz que será algo universal e necessário.

Daqui decorrem dois tipos de deveres, o dever perfeito, segundo o qual não podemos seguir
máximas que não sejam universalizáveis sem que se entrasse em contradição lógica, e o dever
imperfeito, segundo o qual só deveremos seguir as máximas que desejamos que sejam
adoptadas como lei universal. Então, pode-se dizer que a simples noção do que seja um
imperativo categórico já nos diz o que ele deve conter: a necessidade e universalidade de
qualquer máxima que o ser racional adopte, pelo que o imperativo categórico é inteiramente
um produto da razão humana, não dependendo de uma condição prévia exterior, como as
inclinações naturais no caso dos imperativos hipotéticos.

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Antes de avançar, convém referir que, para Kant, uma máxima é um princípio
subjectivo da acção, contém uma regra prática que leva o ser humano a agir em função
das suas condições (que podem ser as suas inclinações naturais). Ao equacionar as
várias possibilidades e determinar a acção, a razão pode aqui estar a atender a um móbil,
isto é, a condição que determina decisão da razão pode estar baseada em fins
subjectivos. Já um imperativo é um princípio objectivo da razão, que em si não contém
nada proveniente das inclinações naturais, e representa o dever, a lei moral, logo é
válido para todo o ser racional. É de frisar que isto não contradiz o que foi mencionado
acerca do imperativo hipotético, pois não se disse que este contém necessariamente fins
subjectivos: formalmente, é um imperativo inteiramente racional, paralelo ao juízo
hipotético e à categoria da causalidade, explicadas na Crítica da Razão Pura. O que se
disse foi que, para ser aplicado, o imperativo hipotético carece de uma dada condição
(o “p” na notação do exemplo “se p então q”), e que essa condição, nos casos abordados
por Kant, é que tem raiz nas inclinações naturais.

Já a máxima é um princípio prático que para determinar a acção humana tem de conter algo, e
esse algo é subjectivo (proveniente das inclinações naturais), pelo que uma máxima é
necessariamente um princípio subjectivo da acção, enquanto um imperativo é um princípio
objectivo. A simples noção de um imperativo categórico, de um dever objectivo, a ser seguido
por todo o ser racional, implica já a sua fórmula. Assim, é esta a lei moral, que para Kant está
presente em todo o ser racional, pois é um produto da própria razão.

Este aspecto é fundamental, pois permite ao ser humano a liberdade. Para Kant, como esta lei
moral é derivada de um modo puramente racional, não está relacionada com as inclinações
naturais.

2.2.1 As influências sofridas pelo pensamento ético de Kant

O ponto de partida do seu pensamento situa-se na moral de Leibniz, tal como Wolf a expusera,
e cuja fórmula geral era a de que o homem tem a obrigação de querer toda a perfeição de que
é capaz. Tema este que fora defendido por Kant em 1759, na sua obra Ensaios de algumas
considerações sobre o otimismo. E o próprio Christian Wolff que exerceu, por certo período
de tempo, verdadeira ditadura cultural na Alemanha, onde se originaram muitos seguidores e
estudiosos de seus pensamentos, foi um grande influenciador da filosofia kantiana.

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A partir de 1760, sob a influência dos moralistas ingleses de tendência empirista Kant foi
levado a confrontar-se com os paradigmas alternativos à ética racionalista. Hutcheson
(fundador do utilitarismo), Hume e Rousseau, começaram a abrir em matéria de moral um
espaço importante ao sentimento e, paralelamente, vão mostrando a insuficiência dos conceitos
de obrigação e de perfeição, que constituíam a base da moral Leibniziana.

David Hume influenciou muito o início do pensamento crítico de Kant. Como ele mesmo cita
na sua obra Prolegômenos: “Confesso francamente: a lembrança de David Hume foi
justamente o que há muitos anos interrompeu pela primeira vez meu sono dogmático e deu às
minhas pesquisas no campo da filosofia especulativa uma direção completamente nova”
(1980, p. 10).

Percebe-se que a moral de Kant não é uma moral do sentimento, mas, durante esse período,
Kant pelo menos toma consciência da fraqueza e da não absolutização dos fundamentos
racionais em que se pretendia basear a moral. Depois de Kant terminar a sua primeira crítica a
“Crítica da Razão Pura” ele aplicará toda a sua atenção ao problema moral, procurando
formular seu pensamento mais claramente sobre o tema.

Outra influência sofrida pelo filósofo alemão foi a forte marca pietista vinda de sua primeira
formação religiosa na infância e na adolescência, fortemente marcada pelo exemplo de Martin
Knutzem, seu primeiro professor na Universidade. “O pietismo é um movimento religioso no
seio do luteranismo alemão que floresceu nos fins do século XVII e no século XVIII a partir da
Universidade de Halle ... Acentuava a dimensão interior, a dimensão ética do Cristianismo”
(IDEM). O pietismo significava: “a) polêmica em relação à ortodoxia dogmática luterana
dominante; b) afirmação da liberdade de consciência de cada pessoa em relação às cadeias
da teologia oficial; c) primado de uma fé prática, ao invés da teologia escolástica” (REALE;
ANTISERI, 2005, p. 320).

Sem dúvida, o pietismo deixou alguns traços nas convicções morais de Kant. “É impossível
compreender a doutrina ética de Kant se não tomarmos em consideração as convicções e a
inspiração profunda que ele recebera de sua formação pietista” (MARITAIN, 1973, p. 118).
Os pontos característicos da sua ética derivam desta religiosidade: seu absolutismo; o
privilégio, por ela atribuído à moralidade, que chega a ser manifestação do absoluto; o signo
do absoluto com que marca a moralidade e a santidade de que é revestida.

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Outra profunda influência se fez sentir na formação da Ética kantiana foi a de J.J.Rousseau,
sobre a distinção entre ciência e moral. É a origem do pensamento da experiência da moralidade
como constitutiva da essência do homem, enquanto ser livre e, a superioridade da moral (razão
prática) sobre a ciência (razão teórica), e ainda o conceito kantiano de autonomia implícito no
conceito de liberdade moral. Para Rouseau, a liberdade é uma exigência ética fundamental e
renunciar a ela é renunciar a própria qualidade de homem, pois ele viu nela o bem supremo do
homem. “Ninguém como (Rousseau) afirmou o princípio da liberdade como direito inalienável
e exigência essencial da própria natureza espiritual do homem” (KANT. Vida e obra. In: Os
pensandores, 1987, Vol. 1 p. XVIII).

2.2.2 Alguns Elementos da Ética Kantiana

A preocupação de Kant, na construção de sua ética puramente formal, é libertar o homem das
amarras das realidades empíricas e colocá-lo somente sob a guarda da lei. Por isso analisaremos
primeiramente a boa vontade na ação moral para Kant, para assim perceber a primazia do dever
em sua ética.

Sua preocupação é encontrar as condições de possibilidade da lei moral em relação à qual se


julga a moralidade do agir humano, procurando estabelecer o que permite a possibilidade do
imperativo categórico, isto é, possibilidade de uma lei moral universal. A ética formal que Kant
elaborou constitui uma vasta reflexão, contudo, nós aqui, dedicar-nos-emos à análise do Dever
kantiano, tendo para isto que realizar uma pequena exposição da boa vontade como pressuposto
e os princípios práticos como execução de seu rigorismo ético.

2.2.3 A boa vontade em Kant

Na sua obra Fundamento da Metafísica dos Costumes (1785), Kant propõe quase todos os
elementos essenciais da sua moral. Como afirma Pascal: “Não se trata, para Kant, de inventar
uma nova moral, mas tão-somente de deslindar pela análise o princípio supremo da
moralidade” (2005, p. 118).

A boa vontade é a condição indispensável para a consecução da felicidade. Contudo, há


qualidades favoráveis a essa boa vontade as quais podem facilitar a sua obra, porém não há um
critério absoluto, mas sim um valor interior da pessoa, subjetivo. Esta vontade não é boa pelo
que realiza (mesma que nada realize), mas sim pelo querer, é boa em si mesma. Ela é a base do
bom uso de todas as tradicionais características da virtude.

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Kant concorda que somente com a razão pura não é suficiente para dirigir a vontade para a
realização de nossas necessidades, as quais seriam melhor conduzidas por um instinto natural.
A razão deve influir sobre a vontade, sendo que o destino verdadeiro da razão deve ser produzir
uma vontade boa, sendo boa em si mesmo.

Para se compreender o conteúdo desta boa vontade que seria boa em si mesma devemos estudar
um conceito de dever para Kant. “A boa vontade é a vontade de agir por dever” (IDEM p. 119).
Assim como afirma Vaz, a boa vontade “é o ponto de partida de toda reflexão ética, pois sem
a boa vontade, que é tal em si, sem nenhuma limitação, nada mais pode ser dito bom
moralmente” (1999, p. 337).

A boa vontade é boa sem limites. Mas em nós, seres finitos: “ela não representa uma vontade
santa ou inteiramente perfeita como a de Deus, por estar sujeita às influências das paixões e
inclinações sensíveis” (PATON, apud MARITAIN, 1973, p. 121). A boa vontade só é boa
quando se submete a uma educação e lei que coage essas inclinações dos sentidos e da nossa
natureza empírica. Enfim, só a vontade humana é boa ou má. “Toda matéria, conteúdo das
ações em si não podem ser consideradas nem boas e nem más, pois só os princípios podem ser
considerados dessa maneira” (SILVEIRA, 2004).

Kant afirma, nos Fundamentos da Metafísica dos Costumes, que: A boa vontade não é boa pelo
que efetivamente realize, não é boa pela sua adequação para alcançar determinado fim a que
nos propusemos; é boa somente pelo querer; digamos, é boa em si mesma. Considerada em si
própria, é, sem comparação, muito mais valiosa do que tudo o que por meio dela pudéssemos
verificar em proveito ou referência de alguma inclinação e, se quisermos, da suma de todas as
inclinações (1981, p. 38).

2.2.4 A primazia do dever para Kant

O dever é uma necessidade prática, incondicional da ação, a qual deve ser válida para todos os
seres racionais, os únicos a quem um imperativo é inteiramente aplicável, e que, por essa razão,
também pode ser uma lei para todas as vontades humanas.

Kant distingue entre a ação feita de acordo com o dever e a ação por dever, a única que tem
valor moral. Ele afirma que só tem conteúdo moral a ação conforme ao dever feita por dever.
Estabelece uma distinção entre as ações que são feitas contrárias ao dever, logo imorais e fáceis
de serem percebidas, das ações que são realizadas conforme ao dever. A seguir distingue entre

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as ações que são realizadas conforme ao dever, essas sim, mais difíceis de distinção. “Uma
ação praticada por dever tem o seu valor moral, não no propósito que com ela quer atingir,
mas na máxima que a determina” (KANT, 1981, p. 46).

Por fim, Kant define “o dever como a necessidade de uma ação por respeito à lei (IDEM). O
dever é identificado como o que faz a vontade agir na ação moral, é o motor da vontade e
consequentemente o motor da moralidade, mas não como seu fundamento. O que vai
fundamentar a moralidade é a lei, ou a máxima que se reconhece na lei universal. “O respeito
é o efeito da lei sobre o sujeito, é um sentimento que não tem ligação às inclinações sensíveis,
pois objeto do respeito é a lei, aquela lei que nos impomos a nós mesmos necessariamente”
(SILVEIRA, 2004). O dever contem a boa vontade, e ele é pressuposto de uma vontade boa,
digna de ser estimada. Há ações contrárias ao dever, apesar de serem úteis e outras às quais o
homem não está inclinado imediatamente.

2.2.5 Formas do Dever Kantiano

Os princípios práticos dividem-se em dois grandes grupos, que Kant chama de Máximas e
Imperativos.

a) As máximas são princípios práticos que valem somente para os sujeitos que as propõe,
mas não para todos os homens e, portanto, são subjetivas. “Máxima é o princípio
subjetivo do querer” (REALE; ANTISERI, 2005, 386).
b) Os imperativos são princípios práticos objetivos, isto é, válidos para todos. A
representação de um princípio objetivo que obriga a vontade a agir chama-se
mandamento e sua fórmula chama-se imperativo. “Os imperativos exprimem-se pelo
verbo dever (sollen) e estabelecem a necessidade da obediência a leis do querer a uma
vontade imperfeita” (SILVEIRA, 2004).

O imperativo diz o que é bom e determina a vontade pela lei da razão. Uma vontade
inteiramente boa, quer dizer, uma vontade santa, aderiria à lei sem se sentir obrigada e, por
isso, para ela não há imperativos. A uma vontade que não está objetivamente determinada pelas
leis, como é o caso humano, essas leis surgem como obrigações que se expressam sob a forma
de imperativos.

Kant diferencia os imperativos nestes termos: se a ação é boa só como meio para alguma outra
coisa, então é o imperativo hipotético; mas se a ação é representada como boa em si, isto é,

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como necessária numa vontade conforme em si mesma com a razão, como um princípio de tal
vontade, então é o imperativo categórico (1981, p. 64).

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3 CAPÍTULO III: CONCLUSÃO E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

3.1 Conclusão

Neste presente trabalho conclui que, segundo Kant, a ética não é enquanto tal, adjetivável, nem
de cristã (católica, luterana, calvinista), nem de budista, de confucionista, ou de qualquer outra
forma que seja. No pressuposto de que todos os seres humanos são racionais e de que a razão
neles opera e se manifesta da mesma maneira, também há apenas uma ética, da mesma forma
que há uma única religião. Ética e religião podem, por certo, assumir diferentes adereços
étnicos ou aderências históricas, a tal ponto que, por vezes, ficam irreconhecíveis e abafadas
na sua originária e essencial identidade sob as camadas das sobrevenientes prescrições
estatutárias, acessórias e espúrias, que a exteriorizam e lhe dão expressão cultural.

Por certo, a leitura que Kant fazia do Cristianismo e da ética cristã não coincide com a que
temos hoje, nem sequer com a que tinham os cristãos na sua época, fossem eles de que
confissão fossem: católicos, luteranos, calvinistas, ou outros. E, se alguma expressão de
experiência ético-religiosa pessoal do filósofo importaria ter aqui em atenção, seria, em
primeiro lugar, a do pietismo luterano, em que foi formado desde a infância e na adolescência.

Ética kantiana e a ética cristã que antes as considera como sistemas morais antagônicos:

 O Cristianismo e a sua moral, caracterizados pela heteronomia dos respetivos


princípios, fundados que são numa revelação divina exterior ao homem e que a esse se
impõe a moral kantiana por sua vez, caracterizada pela autonomia da legislação da
própria razão humana incondicionalmente legisladora e imperativa.
 O Cristianismo que todo parece condensar o seu ethos característico na lei do amor,
enquanto a moral kantiana parece reduzir-se ao respeito incondicional à lei ou
imperativo categórico da razão prática.

Para Kant, o Cristianismo tem essencialmente um significado como doutrina moral, e os


ensinamentos de Cristo fazem dele o mais qualificado mestre da “pura lei moral”.

Para Kant, Cristo é, acima de tudo, um mestre de moralidade, pela sua vida e doutrina, e o
Cristianismo é significativo precisamente pelo seu conteúdo moral e não pelos seus mistérios,
e mesmo aqueles seus mistérios, cuja compreensão ultrapassa a razão, são interpretados pelo
que neles possa ser moralmente relevante para a razão humana.

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3.2 Referência bibliográfica

 Immanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70,


1995, p.67 (BA 63)
 KANT, I.. Gesammelte Schriften (Akademie Ausgabe – AA). Berlin: Walter de
Gruyter, 1900ss. Bd.1-22; Preussische Akademie der Wissenschaften; Bd. 23, Deutsche
Akademie der Wissenschaften zu Berlin; Bd.24 ss, Akademie der Wissenschaften zu
Göttingen.
 LEMA-HINCAPIÉ, Andrés. Kant y la Biblia. Principios kantianos de exégesis bíblica.
Barcelona: Anhtropos, 2006.
 www.hpp//Kant,suainterpretaçãomoraldoCristianismoeraízesbíblico-
cristãsdasuaética.com
 SILVEIRA, Denis Cotinho. A fundamentação da ética em Kant. In: Revista
Filosofazer, 24., ano XIII, 2004/I, Passo Fundo. Disponível: . Acesso em: 02 ago. 2007.
 KANT, Immanuel. Critica da Razão Prática. (Trad. Rodolfo Chaefer). São Paulo:
Martin Claret, 2005. (Col. Obra-prima de cada autor)
 www.hpp//ALGUNSELEMENTOSDAÉTICAKANTIANAESEUSRASTROSNAED
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 www.hpp//AÉTICACRISTÃAtahualpaFernandez.com
 _____, O Anticristo, maldição do cristianismo e Ditirambos de Dionísio. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
 RICOEUR, Paul. Ética. Da moral à ética e às éticas. In: Dicionário de ética e filosofia
moral. Vol I, São Leopoldo: Editora Unisinos, 2003, p. 591.
 TORRES, João Carlos Brum. Hegel e o destino. In: Hegel: a moralidade e a religião.
Filosofia Política, série III – n. 3, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.
 VATTIMO, Gianni. Depois da cristandade. Por um Cristianismo não religioso. Rio de
Janeiro / São Paulo: Editora Record, 2004.

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