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Capítulo 09

BASES ANATÔMICAS,
MANEJO E CLÍNICA DO
PACIENTE COM
TROMBOEMBOLISMO
PULMONAR
BERNARDO RODRIGUES ROSA DE CARVALHO¹
CARLOS GABRIEL BRANDÃO FONSECA¹
CAROLINNE NEVES RODRIGUES¹
CRISTIANO HUGO SILVA MONTEIRO¹
EDSON FILIPE HOFFMAN DE BARROS¹
JOÃO PEDRO LOBO AZEVEDO GONÇALVES PEREIRA¹
LINO BRENO AZEVEDO ESTEVAM DOS SANTOS¹
MARIA EDUARDA OLIVEIRA CHIAPPANE¹
MATEUS DE JESUS SILVA¹
MATHEUS AUGUSTO BATISTA DE SOUZA¹
PAULO BERILO SILVA MARINHO¹
RAFAEL DA ROCHA QUIJADA SANTOS¹
JOSÉ KAWAZOE LAZZOLI2

1. Discente – Medicina da Universidade Federal Fluminense, Niterói (RJ)


2. Docente – Departamento de Morfologia, Instituto Biomédico, Universidade Federal Fluminense,
Niterói (RJ)

Palavras Chave: Tromboembolismo pulmonar; Tromboembolismo venoso; Embolia pulmonar.

10.29327/5192641.8-9 75 | Página
INTRODUÇÃO gundo as lesões e danos associados presentes;
culminando na otimização do manejo clínico-ci-
O tromboembolismo pulmonar (TEP) surge rúrgico, da diminuição do tempo para diagnós-
em consequência de um trombo originado no tico, uma menor taxa de mortalidade e melhor
sistema venoso profundo que, após desprendi- prognóstico para o paciente.
mento endotelial, atravessa as cavidades direitas
do coração e oclui um ramo ou sub-ramo de uma MÉTODO
das artérias pulmonares. O TEP é a complicação
mais grave da trombose venosa profunda Trata-se de uma revisão integrativa da lite-
(TVP), a terceira causa mais comum de morte ratura atual através da bibliografia relevante na
por doença cardiovascular no mundo, ficando área de emergências vasculares, no que se refere
atrás somente do acidente vascular cerebral à conceituação, ao manejo clínico e preventivo
(AVC) e do infarto agudo do miocárdio (IAM). de TEP. A coleta de dados foi realizada no mês
Segundo estudo epidemiológico realizado no de julho de 2022 em que foram exercidas pes-
Brasil, entre os anos de 2015 a 2019, foram re- quisas minuciosas acerca da temática, tendo por
latadas aproximadamente 43.000 internações consulta às bases de dados: PubMed, SciELO,
por TEP, com maior prevalência no sexo femi- além de livros validados. Foram selecionados
nino (CORREA et al., 2007; SILVA et al., 27 artigos, sendo os descritores utilizados para a
2021). confecção deste estudo: “tromboembolismo
Embora a maioria dos pacientes evoluam pulmonar”, “embolia pulmonar” e “tromboem-
oligossintomáticos ou mesmo assintomáticos, o bolismo venoso”. Foram selecionados artigos
TEP pode ser fatal, visto que em até 25% dos completos, com publicação entre o período de
casos, a manifestação clínica inicial é a morte 2007 e 2021, com grau de impacto e relevância;
súbita. A agilidade na conduta e a abordagem idioma de publicação em português e inglês; es-
interdisciplinar reduzem consideravelmente o tudos do tipo revisão ou meta-análise; disponi-
risco de recorrência e mortalidade. Frente a isso, bilizados de forma integral.
evidencia-se a necessidade do entendimento das Excluíram-se os artigos duplicados, os dis-
causas dessa patologia, além do conhecimento ponibilizados apenas em forma de resumo e os
para aplicação do manejo e medidas preventivas incompatíveis com o tema estudado. A coleta
(BAUERSACHS, 2012; MEYER, 2014; DOU- dos dados foi feita a partir da leitura minuciosa
MA et al., 2010). dos textos supracitados.
Reconhecendo a necessidade de enriqueci-
mento da literatura acadêmico-científica acerca RESULTADOS E DISCUSSÃO
da temática, este capítulo apresenta as bases
anatômicas, manejo e clínica do paciente com Bases anatômicas do TEP
TEP. E ainda corrobora para a compreensão dos O TEP se faz presente a partir da presença
fatores de risco, da probabilidade pré-teste, dos de êmbolos, formados a partir de um coágulo
métodos diagnósticos e dos diferentes tratamen- sanguíneo no sangue periférico, que caracteriza-
tos segundo a clínica do paciente. damente ocluem a artéria pulmonar ou um de
Através do material, é esperado que os pro- seus ramos (MOORE & DALEY, 2014).
fissionais possam realizar o pronto diagnóstico, Os pulmões recebem sangue pouco oxige-
sendo capazes de indicar o tratamento ideal, se- nado do sistema venoso via ventrículo direito
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pelas artérias pulmonares direita e esquerda ori- divíduo. Trombos menores que se alojam distal-
ginadas do tronco pulmonar ao nível do ângulo mente com mais frequência podem levar a dor
do esterno. Cada uma dessas artérias adentra a pleurítica, em decorrência de uma resposta in-
raiz pulmonar de seu lado direcional e se rami- flamatória adjacente à pleura parietal. O êmbolo
ficam em artérias lobares secundárias. As arté- se aloja na circulação arterial pulmonar cau-
rias lobares direita e esquerda, que irrigam os sando um distúrbio ventilação-perfusão, por
lobos superiores, têm início antes da entrada no causar aparecimento de áreas que são ventila-
hilo. Adentro no pulmão, a artéria faz caminho das, mas inadequadamente perfundidas, ou seja,
inferior póstero lateral ao brônquio principal, aumentando o espaço-morto pulmonar (BONI
dando ramos como artéria lobar inferior do lado & LOPES, 2009).
esquerdo pulmonar e a uma artéria intermediá- Na evolução, segue liberação de mediadores
ria, essa dividindo-se em artérias lobares média vasoativos pelas plaquetas, entre eles a seroto-
e inferior do lado direito do pulmão. As artérias nina, causando vasoconstrição e aumentando a
lobares ramificam-se em artérias segmentares resistência pulmonar, com redistribuição do
terciárias. A divisão arterial continua formando fluxo sanguíneo e causando efeito shunt, ou
pares com os brônquios correspondentes, com seja, áreas perfundidas com hipoventilação rela-
ramos próximos e realizando um caminho para- tiva. Essas alterações explicam parcialmente o
lelo a estes. De forma mais comum, a artéria se aparecimento de hipóxia, mas existem outros fa-
localiza anterior ao brônquio correspondente. tores que contribuem para alterações nas trocas
Como consequência, cada lobo é suprido por gasosas, entre eles a broncoconstrição reflexa
uma artéria lobar e um brônquio secundário. As- com aumento da resistência ao fluxo aéreo, a li-
sim, cada segmento broncopulmonar é acompa- beração de mediadores que diminuem a síntese
nhado por uma artéria segmentar e um brônquio e a liberação de surfactante pulmonar com perda
terciário (MOORE & DALEY, 2014; GAR- do volume alveolar e atelectasias. Além desses
DNER, 1998). fatores, o edema pulmonar concomitante dimi-
nui a complacência, piorando ainda mais a ven-
Fisiopatologia tilação pulmonar e as trocas gasosas (BONI &
O TEP é causado pela chegada de um LOPES, 2009).
trombo previamente aderido em algum ponto do
sistema venoso até o lado direito do coração, se- Epidemiologia e Fatores de Risco
guindo para um ramo ou sub-ramo de uma das A partir de dados do SUS, entre 2015 e 2019,
artérias pulmonares, onde provoca sua obstru- ocorreram 42.411 internações por TEP no Bra-
ção parcial ou total. As primeiras alterações ge- sil, com maior concentração na região sudeste
ralmente são: hipoxemia, aumento do espaço (54,7%). Contudo, a maior letalidade ocorreu no
morto, aumento do trabalho ventilatório e pneu- Nordeste (25,38%). O sexo feminino teve mais
moconstrição (CORREA et al., 2007). internações e óbitos, mas a letalidade hospitalar
Após migrarem em direção aos pulmões, em homens foi superior em aproximadamente
trombos volumosos podem impactar na bifurca- 2% (SILVA et al., 2021).
ção da artéria pulmonar ou em ramos lobares, Nos Estados Unidos, em 2 milhões de casos
podendo acarretar no comprometimento hemo- de TEV, cerca de 500-600 mil possuem embolia
dinâmico sistêmico, dependendo do tamanho do pulmonar (EP), com uma incidência de 100-200
êmbolo e da reserva cardíaca e pulmonar do in- casos por 100.000 habitantes e um número anual

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de 100.000 óbitos (GIORDANO et al., 2017). A (80% dos pacientes), hipóxia (68%), taquicardia
idade também foi fator causal de discrepância (65-70%) e dor torácica (65-70%), sendo do tipo
em relação a incidência de TEV, atingindo em pleurítica em 39% dos casos. Também pode
menor número crianças (5 por 100.000 da popu- ocorrer taquipneia, turgência jugular, tontura e
lação) e com um aumento elevado em idosos síncope (essa podendo ser a apresentação inicial
(>75 anos), com 500–600 casos por 100.000 ha- de EP com alterações hemodinamicamente sig-
bitantes. Se não tratado, 25% dos casos podem nificativas). Os sintomas mais específicos de
ir a óbito, porém com tratamento adequado, re- TEP – hemoptise e dor na panturrilha – são en-
duz-se para aproximadamente 8%. A alta mor- contrados em apenas 10% e 42% dos pacientes,
talidade apresentada ocorre devido à presença respectivamente. Entretanto, aproximadamente
prévia de comorbidade, a exemplo de neoplasias 70% são assintomáticos. Em vista da falta de es-
malignas, insuficiência cardíaca (IC), doença pecificidade na apresentação sintomática, doen-
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e idade ças prevalentes podem se apresentar de forma
avançada (ESSIEN et al., 2019). similar, alguns exemplos são: DPOC, asma, in-
Em relação aos fatores de risco, dentre os he- suficiência cardíaca congestiva, lesão osteo-
reditários, os distúrbios na coagulação são os muscular e pneumonia. Sendo assim, a coleta da
mais frequentes. Já para os fatores de riscos ad - história, visando a identificação de fatores de
quiridos podemos dividi-los em: provocadores risco hereditários e/ou adquiridos, somada aos
de TEV que induzem o quadro agudamente e achados do exame físico passa a ser de suma im-
não provocadores, esses que aumentam o risco portância na elucidação clínica (BAUER-
de forma crônica ao longo da vida. Os provoca- SACHS, 2012; MEYER, 2014; DOUMA et al.,
dores são: cirurgia e trauma (com foco para ci- 2010).
rurgias ortopédicas e oncológicas), câncer
(ocorrendo um aumento de 2 vezes no risco de Diagnóstico
TEV e EP, principalmente em adenocarcino- O eletrocardiograma (ECG) é um exame
mas), imobilidade prolongada (como fixações fundamental para todo paciente com suspeita de
externas, hospitalização e viagens duradouras), TEP. Além de ser um exame de baixo custo,
uso de estrogênio (com aumento do risco em as- também pode colaborar para a exclusão de diag-
sociação a progestogênios), gravidez (com 70% nósticos diferenciais, tais como IAM, IC, peri-
dos casos ocorrendo no pós parto) e cateteres de cardite e tamponamento cardíaco. Além disso, é
demora. Já para os fatores não provocadores, possível encontrar anormalidades que indiquem
pode-se citar: idade (exponencialmente em mai- alteração da função do ventrículo direito (VD) -
ores de 70 anos), insuficiência venosa, obesi- principal câmara alterada no TEP - como o
dade, doenças reumatológicas, doença cardio- strain, o bloqueio de ramo direito (BRD) e o pa-
vascular arterial, TEV prévio, síndrome do anti- drão S1Q3T3. O padrão S1Q3T3 é o achado
corpo antifosfolipídeo e doenças obstrutivas mais conhecido do TEP, possuindo relativa es-
pulmonares (DOUMA et al., 2010; GOLDHA- pecificidade, apesar da baixa sensibilidade.
BER & BOUNAMEAUX, 2012). Consiste em uma onda S profunda na derivação
D1, onda Q patológica e onda T invertida em
Manifestações clínicas D3. Vale ressaltar que o achado mais sensível
O paciente com TEP pode ter sintomas no ECG é a taquicardia sinusal (HEPBURN‐
muito variados e inespecíficos, como dispneia BROWN et al., 2019).

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Assim como o ECG, radiografia de tórax Diagnóstico alternativo menos provável do
3
que EP
também é um exame importante, pois tem a van- Probabilidade clínica
tagem de possuir um baixo custo e ser altamente Baixo 0-1
disponível. É uma ótima ferramenta para avaliar Intermediário 2-6
diagnósticos diferenciais, como pneumonia e Alto 7 ou mais
IC. Os achados com maior sensibilidade para bpm = batimentos por minuto, TVP = trombose venosa profunda, EP=
embolia pulmonar
TEP são a elevação da hemicúpula diafragmá-
Fonte: KONSTANTINIDES et al., 2014 (adaptado).
tica e o derrame pleural. Existem achados mais
específicos na radiografia, porém pouco sensí- Dependendo da estratificação de risco do pa-
veis, como a corcova de Hampton – caracteri- ciente, segue-se o algoritmo resumido na Fi-
zado por isquemia em cunha na parede lateral gura 9.1. Em pacientes de baixa probabilidade
do pulmão – e o sinal de Westmark – que é a de TEP, dosa-se o dímero D (DD) sanguíneo,
oligoemia de um ramo da artéria pulmonar em que é o produto da degradação da fibrina e es-
comparação com o ramo contralateral (BAU- tará elevado em grande parte dos pacientes com
ERSACHS, 2012; MEYER, 2014). TEP. Devido ao seu alto valor preditivo nega-
Diversos outros exames mais específicos tivo, é usado para descartar TEP em pacientes
para o diagnóstico de TEP podem ser solicita- de baixo risco, caso o resultado do DD seja ne-
dos, no entanto o uso destas ferramentas deve gativo. Caso o resultado do DD nesse grupo de
ser feito com base em uma avaliação criteriosa pacientes seja positivo, faz-se o seguimento pre-
relacionada a probabilidade pré-teste. O escore ferencialmente com uma angiotomografia (an-
de Wells é um dos mais utilizados para o diag- gioTC) de tórax. Já em pacientes com média ou
nóstico do TEP (Tabela 9.1) devido a simplici- alta probabilidade de TEP, segue-se o fluxo-
dade de sua aplicação, não necessitando de exa- grama direto para uma angioTC de tórax (TRI-
mes complementares. Leva em consideração TSCHLER et al., 2018).
apenas sinais, sintomas e a história clínica do Em pacientes com baixa probabilidade,
paciente. Para cada item do escore, é atribuída pode-se ainda realizar o escore PERC (pulmo-
uma determinada pontuação específica, cujo so- nary embolism rule-out criteria). Caso o paci-
matório final estratifica o risco de o paciente ente apresente escore zero (não atende a ne-
possuir TEP. Os pacientes são divididos em: alta nhum dos itens do escore), pode-se excluir TEP
(>7 pontos), média (2-6 pontos) ou baixa (0-1 sem realizar a dosagem de DD. Os itens do es-
ponto) probabilidade de apresentar TEP core são idade maior que 50 anos, uso de hor-
(KONSTANTINIDES et al., 2014). mônio, frequência cardíaca maior que 100, oxi-
metria de pulso menor que 95%, edema unilate-
Tabela 9.1 Regras de predição clínica de Wells para EP
Pontos de regra de ral de perna ou outro sinal de TVP, história de
Itens
decisão clínica
TEP ou TVP prévio, presença de hemoptise, ci-
EP ou TVP anterior 1,5
rurgia ou trauma recente necessitando de intu-
Frequência cardíaca > 100 bpm 1,5
bação orotraqueal nas últimas 4 semanas (SIN-
Cirurgia ou imobilização nas últimas 4 se-
1,5
manas GH et al., 2012). A Angiotomografia pulmonar
Hemoptise 1 (CTPA) é realizada quando existe uma alta
Câncer ativo 1 probabilidade ou em pacientes de baixa pro-
Sinais clínicos de TVP 3 babilidade cujo resultado do DD foi positivo. O
exame consiste na inoculação de contraste via

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intravenosa prosseguindo com tomografia com- cerca de 83% e uma especificidade de 96%
putadorizada, permitindo a visualização do (HEPBURN‐BROWN et al., 2019).
trombo. Esse exame tem uma sensibilidade de

Figura 9.1 Gerenciamento diagnóstico para suspeita de TEV/TEP.

*Abreviações: TEV: tromboembolismo venoso. TVP: Trombose venosa profunda. TEP: Tromboembolismo pulmonar.
* Utilizar as escalas de pontuação de Wells para suspeita de EP (Tabela 9.1).
† O limiar de DD deve ser ajustado por idade, calculando como a idade do paciente multiplicada por 10 ng/mL (unidades
de fibrinogênio equivalente) para pacientes com mais de 50 anos com suspeita de EP.
‡ Deve-se repetir a ultrassonografia de compressão uma semana após o achado inicialmente normal em pacientes com
alta probabilidade clínica e com níveis de DD positivos se a imagem inicial não foi ultrassonografia de toda a perna.
Fonte: TRITSCHLER et al., 2018 (adaptado).

A CTPA é um importante exame em caso de prevenção do uso das injeções de contraste. A


suspeita de TEP, pois, além de auxiliar no prog- varredura V/Q normal ou de baixa probabili-
nóstico quando positiva, pode indicar outras eti- dade pode ser útil na exclusão de casos de hiper-
ologias responsáveis por desencadear a insufici- tensão pulmonar tromboembólica crônica, en-
ência respiratória hipóxica quando negativa quanto a de alta probabilidade requer maior in-
(ESSIEN et al., 2019). vestigação diagnóstica (ESSIEN et al., 2019).
Já a Cintilografia pulmonar V/Q scanning é Apresenta especificidade um pouco maior do
dada por meio da administração de um radioisó- que o CTPA de 97,7%, porém sensibilidade me-
topo via intravenosa e/ou via ventilatória que, ao nor de 77,4%. É indicado caso o CTPA apre-
decair, emite uma partícula que é captada pelo sente resultado inconclusivo (HEPBURN‐
cintilógrafo, o qual permite observar a obstru- BROWN et al., 2019).
ção do fluxo sanguíneo pulmonar diagnosti- Em pacientes com instabilidade hemodinâ-
cando a embolia pulmonar (EP). Entretanto, é mica, a realização de angioTC pode ser contra-
menos utilizado que a CTPA devido, principal- indicada. Nesse caso, pode ser substituída pelo
mente, ao seu alto custo e por possuir eficiência ecocardiograma transtorácico (ecoTT). Em pa-
um pouco inferior (DI NISIO et al., 2016). É uti- cientes hipotensos, o point-of-care ecoTT é re-
lizada principalmente em casos de pacientes comendado em busca de disfunção de VD. Al-
com contraindicação à CTPA, bem como em ca- terações tais como hipocinesia de VD e strain
sos onde visa-se a menor exposição à radiação e de VD sugerem terapia reperfusional em paci-

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entes com impossibilidade de realização de an- De forma complementar aos biomarcadores,
gioTC, após exclusão de contraindicações a essa também pode-se aplicar o Pulmonary Embolism
terapia (WAKE et al., 2014). Severity Index (PESI), uma ferramenta para es-
Quando disponível, é importante a dosagem tratificação de risco em pacientes diagnostica-
da troponina ultrassensível, que é biomarcado- dos com TEP. Esse escore utiliza-se de dados
res de injúria miocárdica, e apresenta-se elevada clínicos para predizer risco de morte em 30 dias
em TEP grave pelo dano no ventrículo direito (Tabela 9.2) (JIMÉNEZ et al., 2010).
pela sobrecarga pressórica abrupta. Outro bio- A ausência de fatores patognomônicos de
marcador é o peptídeo natriurético cerebral TEP dificultam o diagnóstico acurado. Isso tor-
(BNP), liberado quando há distensão de câma- na essencial a formulação de uma esquemati-
ras cardíacas. Tais biomarcadores favorecem o zação diagnóstica para pacientes com suspeita
diagnóstico e possuem importante valor prog- de TEP (Figura 9.1) (TRITSCHLER et al.,
nóstico, representando importante aumento da 2018).
mortalidade se ambos estão aumentados (VOL-
PE et al., 2010).

Tabela 9.2 Parâmetros utilizados no Pulmonary Embolism Severity Index para a estratificação de risco de
mortalidade geral em 30 dias após um episódio de tromboembolia pulmonar aguda
Parâmetros Versão original Versão simplificada
Idade + n anos 1 ponto (se > 80 anos)
Sexo masculino + 10 pontos -
Câncer + 30 pontos 1 ponto
Insuficiência cardíaca + 10 pontos
1 ponto *
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica + 10 pontos
Frequência Cardíaca ≥ 110 bpm + 20 pontos 1 ponto
Pressão Arterial Sistólica < 100 mmHg + 30 pontos 1 ponto
Frequência Respiratória > 30 ciclos/min + 20 pontos -
Temperatura < 36º C + 20 pontos -
Estado mental alterado + 60 pontos -
Saturação periférica da oxihemoglobina (SpO2 )
+ 20 pontos 1 ponto
< 90%
Estratificação de risco (somatório de pontos)
Classe I < 65 pontos
0 ponto
Classe II 65-85 pontos
Classe III 86-105 pontos
Classe IV 106-125 pontos ≥ 1 ponto
Classe V
> 125 pontos
Fonte: JIMÉNEZ et al., 2010 (adaptado).

Tratamento de anticoagulação: a Fase Inicial dos primeiros


A conduta no TEP agudo em paciente está- cinco a vinte um dias (5 – 21 dias), seguida do
vel hemodinamicamente consiste em três fases Tratamento a Longo Prazo com duração de três

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a seis meses (3 – 6 meses), e há possibilidade de gura 9.2) a trombólise é recomendada, bem
Terapia Estendida (6 meses em diante) baseada como o suporte para estabilização hemodinâ-
na correlação entre benefícios e riscos de anti- mica (Figura 9.3). É notável que muitos paci-
coagulação continuada (TRITSCHLER et al., entes com TVP ou TEP podem ser tratados am-
2018; MAZZOLAI et al., 2018). Na ocorrência bulatorialmente (Figura 9.3) (TRITSCHLER et
de TEV com instabilidade hemodinâmica (Fi- al., 2018; ESC et al., 2020).

Figura 9.2 Definição de instabilidade hemodinâmica presente em TEP de alto risco

SIGLAS: PA = pressão arterial. PAS = pressão arterial sistólica.


Fonte: ESC et al., 2020 (adaptado)

Figura 9.3 Conduta de tratamento de fase inicial de tromboembolismo venoso (5 -21 dias)

Abreviações: TVP, trombose venosa profunda; TEP, tromboembolismo pulmonar.


*Utilização do Pulmonary Embolism Severity Index completo ou simplificado (Tabela 9.2) para estratificação do prog-
nóstico. Pacientes com alta ou intermediária probabilidade clínica de EP (Tabela 9.1) devem ser anticoagulados en-
quanto aguardam o resultado dos exames diagnósticos.
†Iniciar tratamento com novos anticoagulantes orais (rivaroxabana ou apixabana, ou administração de heparina de
baixo peso molecular inicial com posterior etexilato de dabigatrana ou edoxabana). Heparina não fracionada e admi-
nistração de inibidores de vitamina K para pacientes com clearance de creatinina m enor que 30 mL/min, obesos ou
suspeita de tromboembolismo pulmonar de alto risco com instabilidade hemodinâmica. Heparina de baixo peso mole -
cular ou fondaparinux seguido de antagonista de vitamina K em pacientes em uso de inibidores de Glicoproteína -P ou
indutores ou inibidores de citocromo P450 3A4 (ex.: derivados azólicos e antiepiléticos).
‡ Trombólise sistêmica para Tromboembolismo pulmonar e trombólise dirigida por cateter para TVP. Pacientes com
suspeita de EP de alto risco com instabilidade hemodinâ mica devem iniciar anticoagulação com heparina não -fracio-
nada imediatamente.
§ Sangramento ativo, alto risco de hemorragia ou outras contra indicações de anticoaguloterapia.
Fonte: TRITSCHLER et al., 2018 (adaptado)

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Anticoagulantes Durante a fase aguda de TEV, as opções de
O tratamento farmacológico tradicional con- tratamento são HBPM ou fondaparinux subcu-
siste na administração parenteral de heparina de tâneos, HNF intravenosa, ou os inibidores orais
baixo peso molecular (HBPM) ou heparina não de fator X ativado, Rivaroxabana e Apixabana
fracionada (HNF) por um período inicial, com (TRITSCHLER et al., 2018; MAZZOLAI et al.,
transição para administração de antagonistas de 2018; KEARON et al., 2016b). Entretanto, a
vitamina K (AVK) ao longo prazo, dentre os HNF é associada a alto risco de trombocitope-
quais, destaca-se a varfarina (KEARON et al., nia, e possui necessidade de ajuste de dosagem
2016a). e monitoramento laboratorial, e assim, a HBPM
Os Novos Anticoagulantes Orais (NOACs) é a heparina de escolha, por superior segurança
surgiram recentemente como opções válidas e eficácia, bem como por ser administrada em
para o tratamento de TVP (ROBERTSON et al., dose fixa (ROBERTSON & JONES, 2017). Em
2015). Na comparação entre o tratamento con- casos de suspeita ou confirmação de tromboci-
vencional e pelo uso de NOACs, não houve di- topenia induzida por heparina, a anticoagulação
ferença na recorrência de TVP ou TEP. Con- parenteral deve ser continuada por meio de Fon-
tudo, os anticoagulantes orais diretos relaciona- daparinux, Argatroban ou Lepirudin (LINKINS
ram-se à menor incidência de hemorragias (RO- et al., 2012). O tratamento inicial parenteral
BERTSON et al., 2015). Os NOACs devem ser tradicional deve durar por pelo menos cinco
considerados como tratamento anticoagulante dias, associado a AVK desde o primeiro dia de
de primeira linha, dado perfil de segurança su- tratamento, até que a relação de normatização
perior, eficácia similar e facilidade de uso internacional (RNI) permaneça entre dois e três,
quando comparados à AVK. Contudo, devido por dois dias consecutivos (KEARON et al.,
seu alto custo frente a fármacos consagrados, o 2016b). A Tabela 9.3 apresenta as terapias an-
tratamento com NOACs não é oferecido pelo ticoagulantes para TEV. O início da anticoagu-
Sistema Único de Saúde, apesar dos medica- lação para pacientes com alta ou intermediária
mentos Rivoraxabana, Apixabana, Edoxibana e probabilidade clínica de EP ou alta suspeita clí-
Etexilato de Dabigatrana serem registrados para nica de TVP deve ser iniciada enquanto
uso no Brasil (KEARON et al., 2016a; DI NI- aguarda-se a confirmação diagnóstica (DI NI-
SIO et al., 2016). SIO et al., 2016; TRITSCHLER et al., 2018;
MAZZOLAI et al., 2018).
Tabela 9.3 Terapias anticoagulantes para TVP e TEP
Via de admi- Depuração Dosagem em tratamento
Fármacos Meia-vida
nistração renal Fase inicial Longo prazo Estendido
1,5 a 2,5 vezes
~1h 30 o valor do li-
HNF Intravenoso ~30% - -
mins mite superior
de PTTa ¶
Baseado no Baseado no
HBPM Subcutâneo ~80% 3 - 4h Baseado no peso †
peso peso *
Fondapari- Baseado no Baseado no
Subcutâneo 100% 17 – 21h -
nux peso peso

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RNI alvo (2 -3)
em paralelo à
Varfarina Insignifi-
Oral 36h heparinização RNI (2 -3) RNI (2 -3)
(AVK) cante
por 5 dias (mí-
nimo)
Rivoraxa - 15 mg 2xdia
Oral ~33% ‡ 7 – 11h 20 mg 1xdia 10 ou 20 mg 1xdia
bana por 21 dias
10 mg 2xdia
Apixabana Oral ~25% ‡ 8 – 12h 5 mg 2xdia 2,5 mg 2xdia
por 7 dias
5 – 10 dias de
Dabigatrana Oral ~80% § 14 – 17h 150 mg 2xdia 150 mg 2xdia
heparina
5 – 10 dias de
Edoxabana Oral ~35% ‡ 6 – 11h 60 mg 1xdia || 60 mg 1xdia ||
heparina
HNF: heparina não fracionada; HBPM: heparina de baixo peso molecular; PTTa: tempo de tromboplastina parcial ati-
vada; RNI: relação de normatização internacional, e AVK: antagonistas de vitamina K. * Tratamento com heparina de
baixo peso molecular é recomendado para pacientes portadores de câncer ou grávidas, com transição para antagonistas
de vitamina K no puerpério. † Tratamento estendido indefinido com heparina de baixo peso molecular para pacientes
com câncer. ‡ Rivoraxabana, Apixabana e Edoxabana são contraindicados para pacientes com Clearance de creatinina
menor que 15mL por min. § Da bigatrana é contraindicado para pacientes com Clearance de creatinina menor que 30
mL por min. || A dose de Edoxabana de 30 mg 1 vez ao dia é recomendada para pacientes com Clearance de creatinina
entre 30 e 50 mL por min, peso menor que 61 quilos ou em uso de inibidores de Glicoproteína -P. ¶ Heparina não
fracionada é indicada para pacientes com Clearance de creatinina menor que 30 mL/min, obesos ou tromboembolismo
pulmonar com instabilidade hemodinâmica.
Fonte: DI NISIO et al., 2016; TRITSCHLER et al., 2018; MAZZOLAI et al., 2018 (adaptado).

A Sociedade Internacional de Trombose e classificação é justificada pela variação do risco


Hemostasia classificou os eventos de TEV em de recorrência após término de terapia anticoa-
duas categorias: provocado e idiopático (MAZ- gulante entre os subgrupos de cada classificação
ZOLAI et al., 2018; ENGELBERGER et al., (Tabela 9.4). As diferentes condutas dos trata-
2015). A classificação provocada é definida pe- mentos a longo prazo e estendido baseados na
la ocorrência de TEV na presença de fator de estratificação são de extrema importância na di-
risco transitório (dois a três meses antes do di- minuição da recorrência de eventos trombóticos
agnóstico) ou persistente, enquanto a classifica- (Figura 9.4) (ESC et al., 2020; DI NISIO et al.,
ção idiopática é relativa à ausência de fator de 2016; TRITSCHLER et al., 2018; MAZZOLAI
risco para TEV (KEARON et al., 2016a). A et al., 2018).
Tabela 9.4 Categorização dos fatores de risco para TEV baseada no risco de recorrência
Risco estimado de recorrên- Categoria de fator de risco para
Exemplos
cia a longo prazo Embolia Pulmonar
Cirurgia com anestesia geral > 30 mi-
Fatores reversíveis ou transitórios
nutos
associados a 10 vezes maior risco
Baixo (<3% por ano) Trauma com fraturas
de incidência de TEV (comparado
Hospitalizados acamados por 3 ou mais
a pacientes sem fatores de risco
dias por doença aguda
Cirurgia com anestesia geral < 30 mi-
nutos
Hospitalização < 3 dias
Terapia contraceptiva
Fatores reversíveis ou transitórios
Gravidez ou puerpério
associados a menos de 10 vezes o
Intermediário (3 – 8% por Pacientes acamados sem hospitalização
risco de TEV
ano) por 3 dias ou mais com doença aguda
Trauma na perna sem fratura com mo-
bilidade reduzida por 3 dias ou mais
Voos de avião por 8 horas ou mais
Fatores de risco persistentes benig- Doença inflamatória intestinal
nos Doença autoimune ativa

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Idiopático (sem fator de risco iden-
tificado
Câncer em atividade
Síndrome do Anticorpo Antifosfolipí-
Alto (>8% por ano) deo
Um ou mais episódios de TEV idiopá -
tico
Abreviação: TEV - tromboembolismo venoso. *Anticoagulação descontinuada após três (3) meses.
Fonte: ESC et al., 2020 (adaptado).

Figura 9.4 Conduta após a fase inicial de tratamento para TEV

Abreviações: TEV, tromboembolismo venoso; TVP, trombose venosa profunda; e HBPM: heparina de baixo peso mo -
lecular.
* Paciente com sintomas severos de TVP distal isolada ou alto risco de extensão ou recorrência preconizamos o trata -
mento anticoagulante. Pacientes com TVP com baixo risco de recorrência pode ser acompanhados com vigilância por
ultrassonografia ou receber tratamento anticoagulante curto (4-6 semanas).
† O tratamento deve ser realizado por no mínimo seis (6) semanas no período pós-natal no total de três (3) meses de
terapia anticoagulante.
‡ Modelos de predição clínica para recorrência de tromboembolismo venoso foram validados, ent retanto, escores para
risco de hemorragia ainda não obtiveram suficiente acurácia preditiva ou validação para recomendação de uso na prática
clínica. A decisão de descontinuar a anticoagulação ou não também deve levar em consideração a vontade do paciente
e sua adesão ao tratamento. A reavaliação da terapia estendida deve ser feita regularmente, com intervalo máximo de
um (1) ano.
Fonte: DI NISIO et al., 2016; TRITSCHLER et al., 2018; MAZZOLAI et al., 2018 (adaptado).

Trombólise Em caso de contraindicação a agentes trom-


Pacientes com TEP de alto risco ou déficit bolíticos (Tabela 9.5), deve-se considerar a rea-
de perfusão em mais da metade da árvore arte- lização de embolectomia cirúrgica ou dirigida
rial pulmonar possuem recomendação de trom- por cateter percutâneo (MAZZOLAI et al.,
bólise sistêmica associada à heparina não-fraci- 2018).
onada intravenosa (ESC et al., 2020; KEARON
et al., 2016b).

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Tabela 9.5 Contraindicações absolutas e relativas para trombólise sistêmica
Absolutas Relativas
Trauma ou cirurgia importante (excluindo facial, cerebral
ou de cabeça) dentro de 3 semanas.

Trauma/lesão facial, cerebral ou craniana impor- Ataque isquêmico transitório em 6 meses.


tante dentro de 3 semanas.
Grávida ou até 1 semana pós-parto
Hemorragia intracraniana prévia. Pressão sanguínea descontrolada de >180 mmHg sistólico
ou >100 mmHg diastólico.
Acidente vascular cerebral isquêmico nos últimos
3 meses. Acidente vascular cerebral isquêmico a mais de 3 meses a
mais de 3 meses.
Sangramento Ativo
Atualmente anticoagulado.
Doença cerebrovascular intracraniana ou neopla-
sia Ressuscitação cardiopulmonar traumática.

Sangramento gastrointestinal no último mês Pericardite ou líquido pericárdico.

Cirurgia recente invadindo o cérebro ou canal es- Retinopatia diabética >75 anos.
pinhal
Ressuscitação traumática.

Local de punção não compressível.


Fonte: HEPBURN‐BROWN et al., 2019.

Nos TEP de risco intermediário ou TEP sub- tes que possam fazer uso de terapia anticoagu-
maciço – hemodinamicamente estável com si- lante (MAZZOLAI et al., 2018; ENGELBER-
nais de disfunção ventricular e elevados níveis GER et al., 2015).
de troponina – a trombólise não é recomendada
(Figura 9.1), uma vez que os benefícios da re- Profilaxia
perfusão são contrapostos pelos altos riscos de A tromboprofilaxia é a estratégia inicial para
hemorragia intracraniana e hemorragia grave aumentar a segurança de pacientes hospitaliza-
(ESC et al., 2020; KEARON et al., 2016a; TRI- dos. Grande parcela dos pacientes hospitaliza-
TSCHLER et al., 2018). dos possui um fator de risco para desenvolvi-
mento de TEV e aproximadamente 40% pos-
Filtro de Veia Cava Inferior suem três ou mais fatores (KAHN et al., 2012).
A Sociedade Europeia de Cardiologia reco- Entretanto, observa-se que a prescrição pro-
menda o uso de filtros removíveis em casos de filática não é realizada regularmente, e quando
contraindicação absoluta à anticoagulação, uma utilizada é feita incorretamente (FARHAT et
vez que após sua resolução, pode-se retirar o fil- al., 2018). O Colégio Americano de Médicos
tro e iniciar a terapia anticoagulante. Estudos Torácicos afirma que a profilaxia está associada
apontam que o uso do filtro aumentou a sobre- à redução significativa de eventos de TEV
vivência em pacientes com TEP instável hemo- (KAHN et al., 2012; FARHAT et al., 2018).
dinamicamente e pacientes com TEP que rece- É recomendado que a profilaxia seja reali-
beram terapia trombolítica prévia. Seu uso de zada com base nos escores de Pádua e Caprini
rotina, por ser um método invasivo e com risco (FARHAT et al., 2018). Em caso de avaliação
pró-trombótico não é recomendado para pacien- de paciente clínico deve-se utilizar o Escore de

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Pádua (Quadro 9.4), enquanto que na avaliação Após definir o escore de risco do paciente,
do paciente cirúrgico é adequada a utilização do independentemente de ser uma avaliação clínica
escore de Caprini (Figura 9.5) (FARHAT et al., ou cirúrgica, deve-se avaliar se há alguma con-
2018). traindicação. São elas: uso de anticoagulante;
sangramento ativo; cirurgia intracraniana ou
Quadro 9.4 Escore de risco de Pá dua de estratificação de ocular < 2 semanas; coagulopatia (plaqueto-
risco para TEV
penia ou INR > 1,5); coleta de líquor <24h; HAS
Característica do paciente Escore
não controlada (PA > 180 x 110 mmHg); hiper-
Câncer em atividade 3
sensibilidade à heparina. Havendo uma ou mais
História prévia de TEV (excluindo trombose
3 contra indicações o paciente, caso possível,
venosa superficial)
Mobilidade reduzida 3 pode se beneficiar de compressão pneumática
Trombofilia conhecida 3 intermitente (eficaz se >18h/dia) ou do uso de
Trauma ou cirurgia recente (último mês) 2
meia elástica compressiva (FARHAT et al.,
2018).
Idade avançada (>70 anos) 1
Caso não haja contra indicação, o paciente
Insuficiência cardíaca e/ou respiratória 1
clínico de baixo risco deve realizar deambula-
Infecções e/ou doenças reumatológicas 1
ção precoce, enquanto que o paciente clínico de
Infarto agudo do miocárdio ou acidente vas-
1 alto risco pode fazer uso de heparina não
cular cerebral
IMC >29 1 fracionada 5000 U.I. via subcutânea de 8/8h ou
Terapia hormonal atual 1 enoxaparina 40mg via subcutânea 1x ao dia
(FARHAT et al., 2018).
Escore Total: >3: Alto risco ≤ 3: Baixo risco
Fonte: FARHAT et al., 2018

Figura 9.5 Escore de risco de Caprini de estratificação de risco para TEV

Abreviações: TEV, tromboembolismo venoso; IMC, índice de massa corporal; AVC, acidente vascular cerebral; THI,
trombocitopenia induzida por heparina; DPOC, doença pulmonar obstrutiva crônica; MMII, m embros inferiores; IAM,
infarto agudo do miocárdio; ICC, insuficiência cardíaca congestiva; RNI, razão normalizada internacional; HAS,
hipertensão arterial sistêmica; mmHg, milímetro de mercúrio; HNF, heparina não fracionada; UI, unidades
internacionais; mg, miligrama; SC, subcutânea; ATJ, artroplastia de joelho; ATQ, artroplastia de quadril; VO, via oral;
e CFQ, cirurgia de fratura de quadril. Enoxaparina é uma heparina de baixo peso.Fonte: FARHAT et al., 2018

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Já o paciente cirúrgico que não possui con- pontuações preditivas no escore Wells para
traindicações, quando classificado em muito TEV, ou baixa probabilidade, porém com DD
baixo risco ou baixo risco, deve realizar deam- elevado, são fundamentais para fazer o uso ade-
bulação precoce. Se classificado em risco mo- quado da Angiotomografia Pulmonar, exame
derado, este paciente deve utilizar heparina não com alta sensibilidade e especificidade para essa
fracionada 5000 U.I. via subcutânea de 12/12 ou patologia.
enoxaparina 20 mg via subcutânea 1x ao dia. Portanto, o estudo indica que, apesar da evo-
Nos casos em que o paciente cirúrgico sem con- lução médico-científica com os novos meios de
traindicações for classificado como de alto diagnósticos e tratamentos, situações que facili-
risco, a conduta mais adequada é a utilização de tam eventos tromboembólicos no cotidiano são
enoxaparina 40mg via subcutânea 1x ao dia frequentes, como prolongados períodos de re-
(FARHAT et al., 2018). pouso pós cirúrgicos e a presença de comorbi-
dades. Por conseguinte, as políticas de saúde de-
CONCLUSÃO vem ter como foco a redução desses fatores de
risco. Não obstante, o suporte do emergencista,
A clínica diversificada e pouco específica a disponibilidade de atendimento multiprofissi-
apresentada pela TEP é um verdadeiro desafio onal e dos exames complementares, além do
para um diagnóstico rápido e eficaz. A atenção manejo clínico das emergências vasculares são
às manifestações clínicas para identificar uma de extrema importância para um melhor prog-
boa probabilidade pré teste, somado com altas nóstico e qualidade de vida do paciente.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

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