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JOSE CARLOS DE AZEREDO

GRAMÁTICA
HOUAISS
da Língua Portuguesa

Redigida de acordo
HCham.: 469.5 A993 2014 com a nova ortografia
Autor: Azeredo, José Carlos de
IBitulo: Gramática Houaiss da língua portuguesa.

5 5 Í2 9 1

N. Pat.;723027

b ------ d PUBLIFOLHA
HOUAISS

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Instituto -Antônio Hou:uss
Coordenação editorial
Rodrigo Villar
Projeto gráfico e editoração eletrônica
Suscin Jnhnson
Re\’isão
Isabel Neiolands
Elaboração do índice
Vera Lúcia Coelho Villar

Publifolha
Editor assistente NOTA PRELIMINAR 19
Rodrigo Villela
Coordenadora de produção gráfica .AGICADECIMENTOS 21
Soraia Paidi Scarpa
^Assistente de produção gráfica PRIMEIR.V PARTE 23
.jMfínana Metidieri I Apresentação....................... .... 25
Capa IFF/SD C II gramática e seu estudo... .... 29
Malcriül Livro
'ÍRita da Costa Aguiar 20I6.\E8004.SI Pregão 18/16 III A gramática no Brasil: subsídios históricos... .....12
Item Cfg Unidade
I Revisão Firma E\ l IO C.omcrcio de Livros
ví Mareia Menin Noia FiscalCC0 CiO36Cj Prevo-RJ
SEGUNDA PARTE
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIPl
(Câmara Brasileira do Liero. SP, Brasil) L MA FOR.MA DE CONHECIMENTO,
*ÍAzeredü, José Carlos dc DE EXPRESSÃ O E DE COMUNICAÇÃO 37
Iramática llouaiss da Língua Portuguesa / José Carlos de
) Az/redo. - Sào Paulo: Publiíolha. 2014. Primeiro Capítulo: Na Fronteira do Universo Humano.......... .3 9

723027 1.1 Atribuição e troca de significados..................................... .3 9


y 5í reimpr. da ed. de 2010.
' ISBN 97 vS-«.v7402 -939-9 1.2 Palavras e instrumentos...................................................... .47
j xt i

J
I, Fonugués - Gramática - Esiudo e ensino. I. Título.

< I l 0-0963 S CDD-469.307


vFP 1.3
1.4
Palavras e espelhos...............................................................
Uma forma de conceber, de designar e de predicar......
.44
.47
_
>\, ^ _______________________________________________________________ _
1.5 Uma forma compartilhada de conhecimento................. .48
t ; índites para catálogo sistcniáticü;
; 1. (iramática ; Português ; Estudo e ensino 469.507
' r ' 2. Língua portuguesa ; Gramática : Estudo e ensino 469.507
Segundo Capítulo: O Conhecimento da Língua........................ .52
Este livro segue as regras do /Wordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 2.1 A fala - traço exclusivo do ser humano............................ .52
]2 de janeiro de 2009. 2.2 Língua, situação e significação.......................................... ..52
Direitos desta edição reservados à: Sob licença de: 2.3 Conhecimento da língua como conhecimento
Publifolha - Divisão de Publicações Paracatu Editora sociocultural.......................................................................... .56
da Empresa Folha da Manhã S.A, R, Voluntários da Pátria, 89, sala 702, 2.4 Conhecimento da língua como conhecimento
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Tel.: (11) 3224-2186/2187/2197 Tel.: (21) 2246-3688
Fax: (11)3224-2163 Fax: (21) 2535-3457 Terceiro Capítulo: Variação, Mudança e Unidade da Língua . .61
3.1 Linguagem e mudança: sincronia e diacronia................ .61
Todos os direitos desta edição reser\'ados à Publifolha - Divisão de Publicações da Empresa 3.2 Unidade e variedade da língua: o uso padrão.................. .62
Folha da Manhã S.A. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada ou trans­ 3.3 Sistema, uso e norma........................................................... .62
mitida de nenhuma forma ou por nenhum meio sem a permissão expressa e por escrito da
Publifolha. 3.4 As várias normas e a variedade padrão............................ .63
Q u a r t o C a p í t u l o : L í i i t i i i a ^ c i i i . D i s c u r s o o T e x t o ................................................................ 6 7

- 1.1 Funções da liiuíuaiíom I: coiilicecr e coiuiiniear.. .67 4.5.6.4.2 Rcelahoraç.ão


4,2 Funções da lin,í*uajícm 11: eoniponontcs do 4.5.6.4.2.1 Parãfra.so.........
4.5.6.4.2.2 Tradução........
4.3 O s ato s de fala e a fra se ................................................................ ......................71 4.5.6.4.2.3 Paródia.............
4.3.1 Frase de situação c frase elíptic:i.......................... 4 .5 .6 .4 2 .4 Plágio...............
4.3.2 Mod.ilidades declarativa, e.xclamativa, 4.5.6.4.2.5 Retificação.............................................................. ..............
interrogativa, imperativa e optativa..................... 4.5.6.5 Integração........................................................................................... 99
4.3.3 Atos de íaIa................................. .............. 4.5.6.5.1 Coerência.......................................................................................... 100
4.3.4 A fra.se de situação e 0 vocativo............................ 4.5.6.5.2 Coerência e coesão textuais........................................................100
4.3.4.1 Atos assertivos................................................ 4.5.7 Dois exemplos...................................................................................107
4 .3.4.2 Atos diretivos.............................................. 4.6 Conclusão geral.. .105
4 .3 .4 3 Atos coniprom issivos..........................................
4 .3 4 .4 Atos expressivos..................................................
4 .3.4.5 D eclarações................................................... TFJlCi:iR.\ PARTI-:
4.3.5 In te rje ição .................................... CONCEITOS BÁ SICO S DA D ESC RIÇ Ã O GRA.M.ATICAE W>>
4.4 N eg ação .. Quinto Capítulo: A Dupla Articulação da Linguagem............................ 111
4.5 O te x to : a s p e c to s g e r a is ......................................... 70 5.1 Expressão e conteúdo na linguagem................................................. 17 7
4.5.1 Condição discursiva..........................................
5.2 Sons e significados................................................................................. 1 11
5.3 Relações paradigmáticas e relações sintagmáticas....................... 114
4.5.2 Domínio discursivo.....................................
5.3.1 Relações sintagmáticas.........................................................774
4.5.3 H eterogeneidade enunciariva /n
5.3.2 Relações paradigmáticas...................................................... 115
4.5.4 Gêneros textu ais........................................ 84 5.3.3 Interdependência dos eixos paradigmático
4.5.5 Modos de organização do te x to ...................
e sintagmático........................................................................116
4.5.5.1 N arração...........................................
5.4 Arbitrariedade/opacidade e motivação/transparência.................. 117
4.5.5.2 D escrição......................................................... RI
5.5 Unidades e construções.......................................................................... 718
4 .5.5.3 A rgum entação...........................................................
5.6 Graus de estabilidade das construções............................................. 120
4.5.5.4 Injunção..........................................................................
4.5.6 Constituição interna do texto............................................... 59 Sexto Capítulo: Unidades e Categorias da G ram ática............................ 122
4.5.6.1 Sinalização.............................................................................. 89 6.1 O texto e a gramática.............................................................................. 122
4.5.6.2 Estruturação da intbrmaçâo....................................................89 6.2 Gramática - lugar das regularidades da língua............................... 124
4.5.6.2.1 Referenciação......................................................................... 90 6.3 Lexicologia, morfologia, sintaxe, morfossintaxe............................ 127
4.5.6.2.2 Predicação............................................................................... 90 6.4 Concepções de gramática; universal, latente,
4.5. Ó.2.3 Balizamento............................................................................. 90 explícita, teórica, descritiva, norm ativa...........................................128
4.5.6.2.3.1 Modalização............................................................................. 91 6.5 Gramática e léxico...................................................................................j j j
4.5.6.2.3.2 Hierarquização....................................................................... _.91 6.5.1 Categorias lexicais e categorias gramaticais..................... 132
4.5.6.2.3.2.1 Informação conhecida e informação nova..........................91 6.5.2 Categorização lexical............................................................ 134
4.5.6.2.3.2.2 Informação implícita e informação pressuposta................93 6.5.3 Categorização determinativa............................................... 134
4.5. Ó.2.3.2.3 Tópico e foco..................................................................... 94 6.5.4 Categorização combinatória.................................. 735
4.5.6.3 Perspectiva................... -...........................................................95 6.5.5 Categorização morfossintática............................................ 736
4.5.6.4 Transtextualização................................................................... 96 6-6 Frase, oração e matriz proposicional.................................................. 136
4.5.6.4.1 Incorporação.............................................................................96 6.7 Formas marcadas e formas não marcadas....................................... 138
4.5.6.4.1.1 Citação......................... ............................................ -.............. 96 6.8 Hierarquia da estrutura gramatical................................... 139
4.5.6.4.1.2 Alusão.................................................................................... 98 6.9 A estrutura gramatical: tipos, classes e funções.............................139
SIMÃIIIO

().<). 1 Palavras c sintagmas............................................................. 7 . 1.3 .2 .1 Regra geral da fic.xão de número ..........................165


6.'). 1.1 Palavra, loxema, palavra gramatical e vocábulo...............J 4i 7 .1.3.2.2 Regras especiais.................................... .......................... 165
6.0.1.2 Palavras variáveis c palavras invariáveis.......... .................. 7 .1.3.2.3 Plural das Ibrinas dimimitivas......... .........................166
6.9.1.3 Kstnicura das palavras..........................................................14j 7 . 1 .3.2.4 Plural dos substantivos com postos . ...................... 166
6.9.1.4 O inorfeiiia gramatical e seus tipos......................................444 7.2 Atijetivo-................................................................................................. 169
6.9.1.5 Classes de palavras e respectivas características............. 244 7.2.1 Classificação do adjetivo.....................................................170
6.9.1.5.1 Classes de palavras segundo o modo de significar...........I 44 7.2.2 Locução adjetiva..................................................................170
6.9.1.5.2 Classes de palavras segundo o perfil morfossintático....... I 45 7.2.3 Flexão do adjetivo simples................................................... 171
6.9.1.5.3 Classes de palavras segundo o contexto sintagmático.....746 7.2.4 Flexão do adjetivo composto............................................... 17J
6.9.1.6 Formação e classificação dos sintagmas.............................146 7.2.5 Graus do adjetivo.................................................................. 172
6.9.1.6.1 Sintagma nominal (SN)........................................................147 73 Numeral....................................................................................................... 17.1
6.9.1.6.2 Sintagma verbal (S\').................. .......... ............................. 148 7.4 A categoria de pessoa e sua expressão pronominal.......................174
6.9.1.6.3 Sintagma adjetivo (SAdj.)............................... ...................148 7.4.1 Pronome pessoal....................................................................175
6.9.1.6.4 Sintagma adverbial (SAdv.)..................................................149 7.4.2 Pronome posse.ssivo............. 176
6.9.1.6.5 Sintagma preposicional (SPrep ) . ...................................... 149 7.4.3 Pronome demonstrativo....................................................... 177
6.9.2 Subordinação e coordenação............................................. 149 7.4.4 Pronome indefinido...............................................................179
6.9.3 Funções sintáticas.............................. ................................. 150 7,3 Artigo............................................................................................................ 180
7.6 Verbo..................................................................-....................................... ISO
6.10 Colocação, regência e concordância......................................... 150
7.6.1 As categorias de pessoa e número no verbo.......................180
7.6.2 As conjugações do verbo.......................................................ISO
7.6.3 Formas rizotónicas e formas arrizotônicas........................ 182
QU.\RTA PARTE
7.6.4 Estrutura da forma verbal padrão........................................182
MORFOLOGLV FLEXIONAL E SINT.AXE 753
7.6.5 Verbos regulares e verbos irregulares..................................182
Sétimo Capítulo: As Palavras:
7.6.6 Verbos irregulares fracos, fortes e anômalos...................... 183
Classes, Variação e Significação........................... ..... 155
7.6.7 Verbos defectivos........................................ 183
7.1 Substantivo..................................................... ..... 155
7.6.8 Quadro geral das desinências verbais................................. 183
7.1.1 Classificação do substantivo............................................... 755
7.6.9 Formação dos tempos simples............................................. 185
7.1.1.1 Substantivos concretos e abstratos...................................... 755
7.6.9.1 Tempos derivados do presente do indicativo...................... 185
7.1.1.2 Substantivos comuns e próprios.......................................... 756
7.6.9.2 Tempos derivados do pretérito perfeito do indicativo...... 186
7.1.1.3 Interconversão de nomes próprios e comuns................... 756 7.6.9.3 Tempos derivados do infinitivo não flexionado..................186
7.1.1.4 Substantivos coletivos e partitivos...................................... 756 7.6.10 Formação dos tempos compostos....................................... 186
7.1.1.5 Substantivos primitivos e derivados..._............................... 757 7.6.11 Particularidades flexionais dos verbos portugueses..........187
7.1.1.6 Substantivos simples e compostos.................... ................. 757 7.6.11.1 Verbos com alternância vocálica........................................ 187
7.1.2 A categoria gramatical de gênero— ................................... 7.6.11.2 Verbos irregulares fracos......................................................188
7.1.2.1 Conceito de gênero.......... .158
7.6.11.3 Verbos irregulares fortes...................................................... 189
....159
7.1.2.2 Convenção e motivação... 7.6.11.4 Verbos em -air................ 189
7.1.2.2.1 Gênero por convenção.... ...159
7.6.11.5 Verbos em -ear e -ia r........................................................... 189
.....160
7.1.2.2.2 Gênero por referência..... 7.6.11.6 Verbos em -uar......................................................... .190
7.1.2.2.3 Gênero por elipse... ...161
7.6.11.7 Verbos em -tíir...................................................................... 190
7.1.2.3 Formação do feminino: flexào ou derivaçãoV.......-....... - 7.6.11.8 Verbos com ditongo..............................................................191
7.1.2.4 Nomes de gênero variável..............................................-..... 7.6.11.9 Verbos do tipo raptar...........................................................191
7.1.3 A categoria gramatical de número...................................... 7.6.11.10 Verbos de infinitivo monossilábico.....................................191
7.1.3.1 Outros significados do número............................................. 7.7 Classes invariáveis...................................................................................192
7.1.3.2 A flexão de número..............................................................
/.7.1 22»
7.7.M .Xdx-érbios dc tempo: ocasião, duração e frequência.. .....Í9J 9.6 Subclasses de verbos transitivos diretos 221
7 7 1^ 9.7 \'crbüs transitivos sem eomplemento e.\pliei(o 221
7.7 1 3 9 ,8 .Subcla.s.ses de verbos transitivos rel.itivos
7.7.1.4 9 .9 Verbos de predicação dupla 2 23
9,10 O sujeito................................................................ 224
7.7.3 Conjunção subordinativa............................. ......... .. 9.11 Da ocultação do sujeito ao sujeito inexistente 224
7.7.4 Coniuncào coordenativa..... .......................... ........ 9.11.1 Elipse do su jeito .................................. r ’.5
7.S Pronome relativo ....._. ._............... . ... ______ ____ 9.11.2 Cancelamento do .sujeito
7.9 Advérbio relativo .............. ... ............................ 9.11.3 Sujeito indeterm inado..........................
..198 9.1 2 Concordância verbal...................................................
O itavo C ap ítu lo : O P e río d o S im p les I; 9.12.1 Regra geral............................. .....
9.13.2 Regras especiais........ .........
A P red ica çã o e as C a teg o ria s d o ^ e rb o ___ — 199 2.12
9.1 3 \erbos impessoais e orações sem su jeito.................
S .l O s in ta g m a v e r b a l e a p r e d i c a ç ã o __ ...... 199 213
9.1 4 Significados relacionais dos termos adjacentes ao v e r b o
5 .2 \ e r b o — e ix o e s tr u tu r a i d a o r a ç ã o _________
— 200
5.2 G r a m a tic a liz a ç ã o d e v e r b o s ____________________ 217
- .... 200 D écim o C ap ítu lo : O S in ta g m a N o m in a l.
S.4 E s tr u tu r a d o n ú c le o v e r b a l; v e r b o p rin c ip a l e 217
10.1 Sub stan tivo, p ro n o m e e sin ta g m a n o m in a l..............
t e r b o s a u x i l i a r e s _____________________________ 213
------------------------------------------------------------- 202 10.2 O .sintagma n om in al e a r e f e r e n c ia ç ã o ...................................
S-5 N ú m e ro e p e s s o a d a ío r m a v e r b a l: a c o n c o r d â n c ia __ __________ oqj 10.3 Proced im en tos de re í'e re n cia çã o .„........
219
5.6 A dêLxis e as r e la ç õ e s d e te m p o e x p r e s s a s p o r m e io do verbo.._2W 24»
10.4 N úcleo re feren cia l e n ú cle o s in tá tic o ...
5 .7 O a s p e c to \ e r b a l_________________________________________ _ ____ 24»
10.5 F u n çõ es a trib u tiv as e c ir c u n s ta n c ia is d o SN' .................
S .T .l C onceito de a sp ec to _________________________________ 5^ 242
10 .6 F u n çõ es coesiv as do sin ta g m a n o m in a l
S.T.2 D istinções asp ectu ais em português_____________________ 10.7 F u n çõ es d iscu rsiv o-te.xtu ais d o s d e te r m m .- in t e s ................... 243
S .S .Modaüdade. m o d o s d o v e r b o e v e r b o s m o d a is _______________ J09 10.7.1 Determinação qu antitativa..... 24.^1
5.5.1 O modo.. 1 0 .7 .2 D eterm inação identificadora e rem i.ssiva; o :irtig o 24 0
...... ....209
5.5.2 10.7.3 Determinação remissiva: outro e m e sm o I 247
Indicativo. subjunti\ o e im perativo..._ ------ 2J0
10.7.4 Determinação dêitica e rem issiva: os demonstr:itiv< 24H
10.7.5 Determinação vinculativa: os possessivos.................... 2.5Í1
.Vono C apítulo; O P erío d o S im p le s II:
10.7.6 Deteniiinação focalizadora: próprio e me.sm o 2 251
Tipologia S in tá tica do \ e r b o ______ _____ __________ ^212
10.7.7 Determinação vinculativa: o relativo c7i)o ............ 257
9 .1 E s tru tu ra do p r e d ic a d o ; v e r b o s in tr a n s itiv o s .
10.7.S Grade dos determ inantes e respectivos traços 252
verbos transitivos e verbos de l ig a ç ã o ___ _________ ___ 212
10 .8 O SN' a p o sto ............................................................................................. 2 .S.1
9.2 \erbos intransiti\'os........................ ............................................. 213
10 .9 P ron o m es qu e fu n cio n a m c o m o S N ................................................. 256
9.3 \erbos de ligação (copulativos ou predicativos)........... ..... 213
10.9.1 Pe.ssoais. po.sses.sivos e dem on strativo s................... 25 h
9.4 \erbos transitivos.^ ............................. ..................................... ......... 214
10.9.2 Indefinidos..................................................................... 257
9.5 O verbo cransiti\ o e seus tip os......... ......... .........................................215 10.9.3 Formas rem issivas......................................................... .257
9.5.1 \erbos transitivos diretos (TD)................... ......... ............216 10.9.4 Emprego do.s pronom es oblíquos tô n ic o s .......... 257
9.5.2 \erbos transitivos indiretos (Tl).............................. ....... ...216 10.9.5 Emprego dos pronom es oblíquos átonos .258
9.5.3 \erbos transitivos relativos {TR).._........................... -......._217 10.9.5.1 Colocação dos pronom es oblíquos :ito n o s.......... 258
9.5.4 Verbos transitivos diretos e indiretos (TDI)................. 217 10.9.5.1.1 Pronomes atrelados ;í forma sim ples do verbo. 260
9.5.5 Xtrbos transitivos diretos e relativos (TDR)... ..... 21S 10.9.5.1.2 Pronomes titonos atrebidos às sequên cias
9.5.6 \erbos transitivos birrelativos (TRR)............... ................219 de verbo finito + infinitivo, gerúndio ou particípio 261
9.5.7 \erbos transitivos diretos e predicativos (TDP)............... 219 10.9.6 Pronomes pessoais e form as dc tra t:iin e iu o ........ ..... 264
9.5.S \erbos transitivos relativos e predicativos (TRP).............220
■iiM.Md,, /.I
Dccinio l*rinu.“iro (lapíliilo; O Sinlarinin Adjetivo....................................
11.1 Formaçrio do sintaíínia adjetivo........................................................ 266 14.10.4 Omjiinçõcs - c adjtinUt.s conjiimivo.s -
11.2 Posição do sintagma adjetivo no SN.................................................. 266 de conclusão e de explicação.............................
307
11.3 Sinta}jnias adjetivos derivados por meio de preposição............... 267 14.11 Orações substantivas....................................................... 310
11.4 O sintajjma adjetivo nas timções predieativas e apositivas......... 26>fi 14.11. 1 Características formais.......................................... 310
11.5 Sintajjmas adjetivos derivados por meio de pronome relativo ...266 14.11.2 Características funcionais................................... 3/0
14.11.3 Orações subjetivas................................................. 3/0
14. M.4 Orações objetivas diretas....................................... 31/
Déeimo Sefjundo Capíttdo: Vozes do Verbo e
14.11.5 Orações completivas relativas.............. y ^
Questões Correlatas.......................................................................................270
14.11.6 Orações completivas nominais......................................... j ^
12.1 Introdução......................................................................................... 270
14.11.7 Orações predieativas........................................................j /5
12.2 A construção sintática do significado.............................................27/
14.11.8 Oniçôes apositivas......................................................................
12.3 Os significados relacionais do sujeito............................................ 272
14.12 Orações adjetivas..................................................................... 2 I6
12.4 Construções de voz passiva..............................................................273 14.12.1 Orações adjetivas restritivas e não restritivas.............. 2/9
12.5 Vozes do verbo e inferência..............................................................276 14.12.2 Outras formas de oração adjetiva........................... jji
12.6 Pronome reflexivo, \'crbo pronominal e voz média..................... 277 14.12.3 Conteúdos circunstanciais das orações adjetivas.............,32/
12.7 Verbos pronominais.................... ..................................................... 27H 14.12.4 Repetição e supressão de pronomes relativos..................222
12.8 Pronominalização de verbos psieológicos.................................... 279 14.13 Orações adverbiais................................. .322
12.9 Uma proposta de síntese................................................................. 279 14.13.1 Causalidade.......................................................................32J
14.13.1.1 Causa................................................................................224
Décimo Terceiro Capítulo; O Sintagma Adverbial..................................282 14.13.1.2 Condição................................................. .725
13.1 üm termo periférico..... ....................................................................282 14.13.1.3 Consequência.......................................... 228
13.2 Propriedades sintáticas dos sintagmasadverbiais........................ 283 14.13.1.4 Finalidade —.................... ... .............. ........................... 329
13.2.1 Adjuntos oracionai.s..........................................................283 14.13.2 Temporalidade....... .Ijp
í 13.2.2 Adjuntos verbais.............................................................. 284 14.13.3 Proporção............................ J J2
13.2.3 Adjuntos secundários.......................................................287 14.13.4 Contraste....................... — .............. .......... 333
13.2.4 Adjuntos focalizadores..................................................... 287 14.13.5 Um par à parte: adição epreterição...... ...... ,336
13.2.5 Adjuntos conjuntivos...................... 288 14.14 Qualificação, quantificação e orações modais — .336
14.14.1 Comparação..................... ....... ..................... ................. 337
Décimo Quarto Capítulo: O Peníodo Composto.....................................289 14.14.1.1 Comparação modal................................... 338
14.1 Relações de sentido entre segmentos do texto............................. 289 14.14.1.2 Comparação intensiva ecomparação assimilativa.......... 338
14.2 A articulação de orações....................................................................290 14.14.1.3 Comparação conformativa............................................ -340
14.3 Anáfora e conhecimento prévio....................................................... 291 14.15 O infinitivo.......................................... ............................................... 341
14.4 Ligação de orações por meio de conectivos.................................. 292 14.16 Gerúndio e particípio................. ............................... -.................. 344
14.5 Processos de conexão oracional; 14.17 Particípio e adjetivo.................................................. .......— .....— 447
14.18 Coordenação de orações subordinadas.............................. - 448
coordenação e subordinação.............................................................294
14.19 Balizamento de compreensão e construção do enunciado..— 348
14.6 Subordinação............................................................................. -.........294
14.20 Omissão e elipse de conectivos..........................-.................... -
14.7 Transposição e transpositores........................................................... 296
14.21 Correlação.......................................................................................
14.8 Subordinação de orações....................................................................297
14.9 Orações textualmente articuladas semvínculo sintático.............29S
Décimo Quinto Capítulo: Articulação Textual dos
14.10 Coordenação de orações independentes.........................................299 352
Tempos e Modos do Verbo...............................................
14.10.1 Conjunções aditivas e alternativas: c e ou........................ 300 .352
15.1 Marcos temporais ou pontos de referência (PR)
14.10.2 Aspectos semânticos das orações aditivas e alternativas.....303 ... 753
15.2 As três variáveis das relações de tempo........... -
14.10.3 Conjunções adversativas.................... 30S
15
V.ri wão mnJ:.n.ont:.l l’R: r>cso.uo X passado 35^
I5-’ 16.11 Neutralização c arquifonema............
\'.,rtic'nhK'âo dos ioinii.'s vorhais cm trcs Iraamontos narrativos ..355
15-1 16.12 .17')
A sílaba......... ...................................
As tdriiias do \crbo c os respectivos tempos...................................J5^ 37')
I5.5 16.13 A intensidade silábica e o sistema dc vogais do português
Tempos dir indicativo (t('rmas simples)............................. .............. ,tVl
l5.o 16.14 Traços distintivos das vogais__
I5,tvl Prcsoiue J5S .181
16.15 O sistema voctílico.................................................
15.P.- Pretérito perieito ...................... ..359 .182
16.16 Vogais nasais......................................................
15-Ò-’ Pretérito in iperloito................ 360 .1,8.1
16.17 Hiatos, ditongos c tritongos......................... .............
15 ò.4 Pretérito niais-que-perleito . .360 .i,sq
16.18 Ditongos nasais decrescentes e crescentes
15.t>.5 Futuro do presente..................... ........ ....................................361 386
16.19 Tritongos orais c nasais..............................................
15.6t) Futuro do pretérito ....................................... .....................361 .186
16.20 Encontros consonantais................................... ............
.386
15.7 Tempos do indicativo (toraias com postas)... ....................................362 16.21 Processos fonológicos............................. ..........
.187
15.7.1 Pretérito perteito .................................................................... 362 16.21.1 Harmonização vocálica...... ...........................
,187
15.7.2 Pretério niais-que-perteito__ ___________ J6.3 16.21.2 Vocalização............ ....... .............. ........
,187
15.7.0 Futuro do presente.................... J6 J 16.21.3 Palatalização.................................................
, ,188
15.7.4 Futuro do pretérito......................... 364 16.21.4 Aférese........................................................... ,,.188
15.S Tempos do subjuntivo (formas sim ples)............................................ 364 16.21.5 Apócope.......................................................
. ,188
15.5.1 Presente.... .......... 364 16.21.6 Síncope............. .................... ..................... ,188
15.5.2 Pretérito imperfeito^................................................................ 364 16.21.7 Haplologia......
.188
15.5.3 Futuro................... J6 5 16 .2 1 .8 jVssimilação...
. ,18'J
15.9 Tempos do subjuntivo (form as com postas).......................................365 16.21.9 Prótese...... —
...18<)
1 6 .2 1 .1 0 Epèntese.........
15.9.1 Pretérito perfeito....................... ......J65 38'4
16,21.11 Paragoge......... . .VJO
15.9.2 Pretérito mais-que-perfeito........................................... - 365
16.21.12 M etátese......... 3W
15.9.3 Futuro............... .......................................... ........ ...... -....-... -...>366
15.10 Afinidades e diferenças entre alguns tempos do verbo.................366
15.10.1 Presente (subjuntivo) X imperfeito (subjuntivo)...............366
SEXTA P.\RTE
15.10.2 Imperfeito (subjuntivo) X
O 1.ÉXICO: FORMAÇÃO E SIGNIFICAÇÃO DAS P.M.AVRAS .t)i
futuro do pretérito (indicativo)............................................367
Décimo Sétimo Capítulo: O Léxico Português.................. j.y^
15.10.3 Presente (subjuntivo) X futuro (subjuntivo)..............- 36S
17.1 Fundamentos históricos..... .......................................................... .
17.2 Composição e derivação............................................ . .395
17.3 Mecanismos de produção e de compreensão dc palavras 3')6
Ql INTA PARTE 17.4 Análise estrutural e formação de palavras................................ .397
A E STRI T I R.VÇÃO SÜNOR.V 369 17.5 Produtividade e criatividade lexicais........................ .................jus
Décimo Sexto Capítulo: Fonética e Fonologia..........................................371 17.6 Neologia............................................................................................J99
16.1 Introdução............................................................................................... 17.7 Outros aspectos da criação lexical............................................. 403
16.2 O plano da expressão; fonética e fonologia...................................372 17.7.1 Antropônimos...............................................................403
16.3 Produção articulatória dos sons vocais...............................................372 17.7.2 Oneônimos.............................................. ................ .... 404
16.4 O fonema: conceituação e tip os.................. ................... .................... 374
16.5 Fonema e alofone.............................................. >374 Décimo Oitavo Capítulo: O Significado Lexical: Conceitos Básicos 405
16.6 O fonema e a escrita................................................................................. 375 18.1 Introdução.................................................................. 405
16.7 Convenções de transcrição: o alfabeto fonético..............................375 18.2 Referência e denotação........................................... ..
16.8 As consoantes do português................................................................... 376 18.3 Conotação.................................................................- ...406
16.9 Traços distintivos das consoantes........................................................ 376
18.4 Composição dosignificado lexical: traços semânticos................408

I 16.10 Quadro das consoantes e respectivos traços distintivos........... 37S


.si,'.M.tU]t) !7
18.5 (kmliücimento de inundo e conliceim ento da líniiiiíi................... -<09
18.6 (iomo se estrutura o léxieo: famílias lexicais e Vigésimo Friineiro Capítulo: Relações Morfo.sscniânticas
campos sem ânticos.................................................................................. 4 lo no Léxico II: A Derivação.....................................................
18.7 Polissemia e homoníniia.........................................................................412 21.1 Derivação e ílcxão................................................. ... ...........................
18.8 Polissemia dc três verbos dc movimento............-.............................414 21.2 Derivação................................................................. ...............................
18.9 O léxico c a interação de domínios coneeptuais............................ 417 21.2.1 Derivação sobre forma já derivada.................................... 450
18.10 Metáfora e metonímia...................................................-........................418 21.2.2 Derivação prefixai................................................................45;
21.2.3 Prefixos.................................................................................452
18.10.1 Produtividade metafórica..................................................... 419
21.2.4 Derivação sufixai................................................ 454
18.10.2 Criatividade metafóriea.................................... —............... 420
21.2.5 Sufixos.......................................... .1....................................437
18.10.3 Produtividade nietonímica................................................... 422
21.2.6 Derivação regressiva............................... 464
21.2.7 Parassíntese (ou circunfixação)......................................... 465
Décimo Nono Capítulo: Relações Semânticas no Léxico:
21.2.8 Derivação imprópria ou conversão........................ 466
Traços Semânticos e Relaçõesde Sentido..................................................... 423
21.2.9 Abreviação...........................................................................46 7
19.1 Aspectos gerais......................................................................................... 423
21.2.10 Representação lexical dos conceitos numéricos...............468
19.2 Linguagem e realidade............................................................................426
21.2.11 Os processos lexicais e as funções da linguagem.............. 470
19.2.1 Segmentar para conhecer e reconhecer.............................428
19.2.2 Sucesso................................................................................... 429
19.2.3 Valor semântico..................................................................... 429
SLTI.MA PARTIi
19.2.4 Aprovação e desaprovação................................................... 430 A LÍNCI A E SEUS USOS EXPRESSIVO S 473
19.2.5 Escalonamento................. 4J J Vigésimo Segundo Capítulo: Estilística....... ............................... ......... .475
19.2.6 Principal e subordinado.................................................................. 432f 22.1 Ob.servação preliminar............. ........ 475
19.2.7 índices da situação comunicativa...................... 432 22.2 O texto como objeto de interpretação..............-........................... 476
19.2.8 Marcadores semânticos.........................................................432 22.3 A força padronizadorada linguagem.......... ......... 477
19.2.9 Função distintiva.......................... 433 22.4 O estilo.................................................................................................478
19.2.10 Ambiguidade inerente.......... .................................................434 22.5 Estilística....................................... 479
19.3 Relações entre significados........................ 435 22.6 Recursos estilísticos........................... ..................... -...................... 481
19.3.1 O geral e o específico.............................................................436 22.7 Figuras de linguagem......................................................-............ — 483
19.3.2 Sinonímia................................................................... 436 22.7.1 Figuras de palavras....... ............................................. ..... 484
19.3.2.1 Variantes regionais ou geográficas.......................................437 22.7.1.1 Metáfora..........................................- ................-..............484
19.3.2.2 Variantes estilísticas ou discursivas.............................. -.... 438 22.7.1.2 Metonímia...........................................................—.......... 485
19.3.2.3 Variantes psicológicas ou expre.ssivas.................................439 22.7.1.3 Catacrese...................... ............................ -.....................487
19.3.2.4 V^ariantes etárias ou históricas........... .... -.................... ......440 22.7.1.4 Antonomásia............................................................—....487
19.3.3 Antoníniia................................................................ 440 22.7.1.5 Diáfora ou antanáclase...........-........................................488
22.7.2 Figuras de sintaxe.................... -........................................488
Vigésimo Capítulo: Relações M orfossem ântícas 22.7.2.1 Hipérbato...............................................................-......... 488
no Léxico I: A Composição................................................. -..............................444 22.7.2.2 Anástrofe................................................................. -........488
20.1 Aspectos gerais........................................................................................... 444 22.7.2.3 Pleonasmo.........................................................................489
20.2 Aglutinação e justaposição..................................................................... 445 22.7.2.4 Anacoluto..........................................................................490
20.3 Estrutura semântica das palavras com postas...................................445 22.7.2.5 Anadiplose.................. 490
20.4 Modos de referência das palavras com postas...................................446 22.7.2.6 Elipse..................... 490
20.5 Recomposição............................................................................................. 448 22.7.2.7 Assíndeto...........................................................................4^-
20.6 Amálgama lexical....................................................... 448 22.7.2.8 Polissíndeto............................................... 49_
22.7.2.9 Quiasmo.. ..................492
IS

22.7.2.10
Anáfora.........................................................
22.7.2.12 Ilipálage........................................................
22.7.2.1,1 Silepse...........................................................
22 7.1 Kigurji.s do poiisíinionto..............................
22.7..1.I Sínúlo............................................................. NOTA P K E E IM IN A K
22.7..1.2 Panuloxo.......................................................
22.7..1..1 Aniítc.so.... ....................................................
22.7..1.4 Oxínioro........................................................
22.7.3.5 Ilipérbolo.......................................................
22.7..1.Ó (inidação.............. ....................
22.7..1.7 Eufemismo.................................................... Rsta obra cstíí díviditla cm oito partes. A primeira reúne três textos, nos
22.7.3.H Di.sfcmismo................................................... cpiais se revelam as motivações e os propósitos do autor, e ê dada uma bre­
22.7..1.9 Antífrase....................................................... ve notícia sobre a história do estudo da gramátiea no Urasil. A segunda -
22.7..1.10 Lítotos............................................................ intitulada Uma fo r m a da aonhecim ento, de exprenHúo a da comutiitvtç-õo
22.7..1.]] Frosopopoia.................................................. - reúne quatro capítulos, que tratam da natureza da linguagem humana,
22.7..1.12 Enálage.......................................................... de sua relaçílo com o conhecimento e de alguns conceitos relativos à inter-
22.7..1.1.1 Preterição...................................................... locução e ã construção dos textos. A terceira parte - intitulada Conceitos
22.7.3.Í4 Sinestesia...................................................... b á sico s d a d es c riç ã o g ra m atical - soma dois capítulos. O objetivo central
22.7.4 Figuras fônicas.............................................. desta parte é delimitar o alcance da gramática, caracterizá-la como um co­
22.7.4.1 Aliteração...................................................... nhecimento que todo usuário tem de sua língua e, naturalmente, fornecer
22.7.4.2 Assonância.................................................... ....................... 508 uma síntese dos conceitos que permeiam a análise. A quarta parte - intitu­
22.7.4.3 Paronomásia.................................................. .........................509 lada M orfolog iaflex ion ai e sin tax e - é o miolo mesmo da obra, desdobrado
22.7.5 Paralelismo.................................................... ......................... 509 em nove capítulos em que se detalham temas como as classes e variações
22.7.5.1 Paralelismo sintático.................................... ......................... 510 morfossintáticas das palavras, a oração e sua estrutura, a estrutura dos sin­
22.7.5.2 512 tagmas e seu funcionamento na construção do enunciado e do texto, os me­
22.7.5.3 ....................... .514 canismos de coordenação e de subordinação. A quinta parte restringe-se ao
22.7.5.4 Rupturas com o paralelismo........................ ........................ 515 enfoque da organização sonora da língua, apresentada em suas linhas bási­
cas no capítulo intitulado F o n ética e fo n olo g ia . A sexta parte - intitulada O
OITAVA P.VRTE léxico: fo r m a ç ã o e sig n ific a ç ã o d a s p a la v r a s - abarca cinco capítulos. Esta
A PÊ N D IC ES 517 parte é dedicada aos aspectos formais e semânticos do léxico da língua, um
I Pontuação...... ........519 subsistema em expansão contínua, formado basicamente por substantivos,
II Crase.— ...... ....:...5J1 adjetivos e verbos, bem como pelos advérbios derivados com o sufixo ‘-men­
III Português brasileiro: um tema e alguma polêmica..................... - ^ te’. A sétima parte - intitulada A lín gua e seu s u sos expressivos - é forma­
da de um só capítulo - E stilística - , que recobre conceitos de estilo, figuras
B IB L IO G M F IA 553 de linguagem e alguns aspectos relacionados ao rendimento expressivo das
escolhas linguísticas, tendo em vista variados fins da comunicação verbal.
ÍNDICE REM ISSIV O 571 A oitava e última parte é formada por apêndices {Pontuação, C rase e Por­
tuguês b r a s ileir o ).
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I - AIMUÍSKNTAÇÃO

0 objeto desta gramática é a variedade padrão escrita do português em


uso 110 Brasil. Identificamos assim um conjunto sistemático de formas e
construções da língua portuguesa empregadas razoavelmente em comum
por escritores / jornalistas / autores brasileiros, desde a segunda metade
do século XIX até os dias atuais, em obras literárias, técnicas, científicas e
ensaísticas em geral, assim como na maior parte dos textos impressos nos
principais jornais e revistas dos grandes centros urbanos contemporâneos.
A fixação do início deste período não é arbitrária; é na segunda metade do
século XIX, no contexto histórico do Romantismo, que ganha força o debate
sobre a identidade da expressão literária brasileira (ver texto em apêndice),
que nos séculos anteriores tinha sido uma réplica do padrão lusitano.
Ainda que do ponto de vista estritamente linguístico se trate de ‘uma
variedade da língua entre outras’, importa reconhecer que ela se distingue
das demais por sua condição de ‘modelo de uso’ de âmbito nacional e, em
virtude dessa condição, por ser uma competência basicamente adquirida
pela intervenção da escola e pela via da leitura.
É certo que muitos usuários da língua portuguesa pertencentes à am­
pla comunidade culta - e sobretudo os detentores de um conhecimento es­
pecializado sobre os assuntos de uma gramática - terão opiniões diferentes
sobre a representatividade da amostra de fatos reunida nesta obra e sobre
a análise que nela se empreende. Será uma reação natural, porque, nessa
matéria, Jam ais houve consenso - entre dois indivíduos sequer - sobre to­
dos os aspectos da língua.
Nosso objetivo vai um pouco além da aferição de um uso e sua descrição.
Enfatizando sempre o dom da palavra como traço singular da espécie huma­
na, empenhamo-nos em refletir sobre o funcionamento da ünguagem verbal
no seu tríplice papel (a) de forma de organização do conhecimento (concep-
tualização e categorização da experiência do mundo), (b) de meio de eodi-
ficação do conhecimento em enunciados/textos (expressão) e (c) de forma
de atuação interpessoal (comunicação). A gramática não é evidentemente o
único, mas é o mais sólido supx)rte dos papéis exphcitados nos itens ‘a’ e ‘b’.

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rHIM
KIKAr.VUTK
I - .\l'KKSKNrAi;.V> 27

Diga-se ainda que esta obra iião pocleria deixar de ser resultado da
Perfilhamos o ponto de vista de que a atividade comunicativa por meio
atividade de seu autor como professor de Língua Portuguesa em duas uni­
da palavra é sempre um acontecimento sociocultural, c ipic as formas da
versidades públicas - ao longo de 26 anos na Faculdade de Letras da UFRJ,
linguagem empregadas para cada fim são parte fundamental do respectivo
desde que ali se formou eni 1970; e a partir de 1997 no Instituto de Letras
acontecimento, .seja na comunicação face a face típica da conversa, seja na
da UERI, onde ainda trabalha. Eni nossa opinião, a formação de um pro­
comunicação a distância, como a que se pratica por meio da escrita. Nosso
fessor é constmída mediante a soma de pelo menos três coisas: o que lhe
objetivo, repetimos, vai, desse modo, um pouco além da aferição de um
ensinam, o que ele passa a saber em virtude de seu empenho e curiosidade, uso e sua descrição. Para tanto, detivemo-nos muitas vezes na explicitação
e, principalmente, o que aprendeu no ato de tentar ensinar. Esta gramática do percurso do raciocínio; adotamos aqui e ali uma metalinguagem não
expressa, no conjunto de sua concepção, a formação de seu autor assim convencional; realizamos, justificando-as, algumas inovações de.seritivas,
constmída. e, como não podia deixar de ser, buscamos na filosofia da linguagem e na
Pelo menos cinco fatores nortearam o planejamento e a redação final psicologia cognitiva alguns fundamentos do enfoque dado à natureza sim­
deste trabalho: bólica da linguagem.
a) a análise e o ensino do português escrito no Brasil ao longo do Goerentemente com essa opção, o sistema gramatical da língua c
último século estão amparados numa tradição descritiva que ob­ tratado como um meio de organizar sentidos, tanto do ponto de vi.sta de
viamente precisa ser revista, mas nunca ignorada; quem fala/escreve, quanto de quem ouve/lê. Assim, o painel de unidades,
b) continuam a ser indevidamente estigmatizadas como ‘erros gra­ regras e construções é diagnosticado no papel de recursos da organização
maticais’ muitas formas e construções regularmente empregadas do significado, o que vale dizer, em suas funções textuais. Os exemplos são
) em textos formais de circulação pública em território brasileiro majoritariamente derivados do uso culto corrente do português do Brasil,
escritos em português; especialmente em sua modalidade escrita. Buscamos uma abordagem não
c) a maioria dos compêndios escolares disponíveis Já reconhece a dogmática em que, vale repetir, se explicita o percurso mesmo do raciocí­
língua de jornais, revistas e obras não literárias como expressão nio analítico. Buscamos o tom da exposição oral sem afetação de oralidade,
do uso padrão, mas ainda se revela tímida para a renovação con­ de sorte que o texto seja acessível ao leitor médio e que esse leitor, convida­
ceituai e descritiva; do a participar da construção do raciocínio, se sinta estimulado a tirar suas
d) algumas vertentes da linguística contemporânea, muito influentes próprias conclusões mediante a observação dos fatos da língua.
nos meios acadêmicos brasileiros, colocam a atividade discursiva As considerações que acabamos de fazer ajudam a desenhar o perfil do
- e 0 texto em que ela se materializa - no centro das preocupa­ público a que esta gramática se destina: usuários da língua portuguesa em
ções dos pesquisadores; e geral, cuja formação requeira, por motivos socioculturais diversos, com­
e) consequentemente, a tradicional unidade máxima da análise - a petência produtiva (expressar) e receptiva (compreender) na modalidade
oração - perdeu este statiis e passou a ser descrita no contexto escrita padrão.
maior de sua ocorrência. Ninguém há de acreditar, porém, que esta competência seja uma soma
de preceitos para uma suposta ‘arte do uso correto da língua’. A língua é a
Respaldados nessas premissas, buscamos com a presente proposta um soma de todas as suas possibilidades de expressão, e só existe nas varie­
ponto de equilíbrio entre a tradição e a renovação, seja na ordenação e ar­ dades de uso que a concretizam como meio de intercompreensão de seus
ticulação dos assuntos, seja nos conceitos teóricos e descritivos, seja ainda falantes. Em outro lugar, ponderamos que “todo uso tem sua faixa de vigên­
na seleção dos exemplos. O enfoque adotado é essencialmente descritivo, cia, vitalidade e funcionalidade; o que varia é a amplitude de cada uma"’.
sem prejuízo, contudo, de considerações de ordem normativa, sempre que Não resta dúvida de que é por essa amplitude que se mede a importância do
oportunas, tendo em vista a vocação desta obra para ser também uma fonte domínio da variedade padrão da língua.
de informações sistematizadas sobre o português padrão do Brasil. Por isso, '
fazemos o registro da oscilação de usos correntes no co rp u s , deixando a
escolha a critério do leitor/usuário que busca a informação. ' AZEREDO [2007: 27-28).
2 f{ IHIMEIiU l>Ar)TF.

A Al‘TIDÃf) 1'AIU A LKITURA DE TEXTOS VARIADOS, COM ITNALIDADE ESTIIITA-


ME.VTE IN’Ff)RMATIVA Oli COM OI),IETI\'OS l■ROEISSI(5^’AIS, MOR/\IS, ESTÉTICOS OU
DE I.AZER, ASSIM COMO A CAPACIDADE PARA CONCEDER UM TEXTO ADEaUAÜO A
SEUS FINS - E PORTANTO NO CÉNERO APROPRIADO E PKNSADAMENTE URDIDO NOS II - A G R A M A T K JA E se i EST E D O
ASPECTOS GIUMATICAIS E EEXICAIS - FAZEM PARTE DA FORMAÇÃO PEENA DE QUAL­
QUER CIDADÃO PERTENCENTE A SOCIEDADES COMPLEXAS, E SÃO UMA CONDIÇÃO
PAIU O DESEN\'OLVLMENTO CONTÍNUO DO WITENCIÃL INTELECTUAL E CULTUIUL
DE QUALQUER PESSOA.

Por outro lado, essa form ação não se dá de m odo m eram ente recep­ Os sinais sonoros ou gráficos com que se materializam nos.sos discursos
tivo. Ela requer uma relação crítica de cada um de nós com suas fontes de veiculam sentidos que elaboram os durante o processo de falar/cscrever e
inform ação e de formação. Requer capacidade de ju lgam en to, de discerni­ ouvir/ler. Gomo tudo o m ais que constitui nossa herança cultural e pla.sma
m ento c de seleção. Para tanto, é indispensável explorar e desenvolver a nossa identidade histórica e social, estes sinais - manifestação da língua que
sensibilidade à natureza da linguagem e ao seu fun cionam ento na interação falamos/escrevemos - são uma propriedade coletiva extraordinariamente
dos homens, fazendo da palavra um objeto de perm an ente atenção, estudo maleável e adaptável às circu n stân cias com unicativas, aos interesses dos
indivíduos e aos cap rich os do tem po e da história. Conhecê-los para fins
e reflexão.
interativos c um requisito da vida em sociedade, mas descobrir e explicitar
como são e a que leis estão su jeitos em seu funcionam ento é tarefa adicio­
nal, nem sem pre de efeitos práticos evidentes, m as pertinente à aventura
histórica do hom em em busca do autoconhecim ento.
Entre os objetivos do estudo da linguagem está, portanto, a descober­
ta dos m ecanism os e procedim entos que utilizamos tanto para produzir os
sintiis sonoros e gráficos que constituem nossos discursos quanto para atri-
buir-liics sentido. Uma parte desses m ecanism os e procedimentos recebe o
nome de gram ática, tanto na acepção de ‘conhecim ento intuitivo e prático da
língua’ que qualquer usuário possui, quanto na acepção de descrição formal
desse conh ecim en to m ediante uma term inologia especializada (ver b.4).
Ao estudarm os uma língua com o objetivo de explicitar sua gniinútiea
na segunda acep ção acim a - isto é, com o d escrição formal do conheeinien-
to socialm ente constru ído bascam o-nos necessariam ente em um modelo
teórico, (iom o é im possível ter acosso ao processam ento da linguagem no
cérebro das pessoas, este m oilelo co n stitu i, na verdade, uma h ip ó tes e so­
bre com o essa língua ,se organiz;i estriituralm ente para tornar pn,ssíveis a
expressão e a eon ip reen são de .sentidos. O modelo teiirieo que se adota
para ileserever o português eom preontle, por exem plo, a ideia de elasses de
palavras, com o ad jetiv o, verb o e prepo.sição; as noções fmieiouais de .sujei-
lo e o b jeto ; a op osição en tre p re térito perfeito e pretérito imixirfeito; os
eoiieeitos de sílab a tòiiiea e sílab a álo iia ; a ilistinção entre fni.se «leelanitiva
i' lra.se iiiiperativa, en tre diversos ou tros conceitos.
Nenhum modelo poilc scr rígido, mas .sempre preci.sa ser coneebido
como uma forma homogênea e eoeivnle. niferentemenie. entrelaiUo. do
JO l•nlilm^ r.\KTE
II - A r.R.\,M.tTIC.\ F. .SEU E.STUIK> J1
modelo coerente e homogêneo em que o estudioso se baseia para descre-
a língua se apresenta, na realidade de seu uso concreto, como algo O grande desafio assumido pelos que se ocupam cientificamente do
dinâmico e flutuante, só parcialmente redutível ao modelo de que estamos estudo da linguagem verbal é esclarecer como os seres humanos estabele­
falando. Enquanto as categorias e regras que constituem o modelo de des­ cem correspondências entre sequências sonoras e sentidos. As respostas
crição nos parecem reconhecíveis como dados discretos e bem distintos variam, mas há pelo menos dois mil anos as hipóteses diversas e as diferen­
tes explicações não foram suficientes para alterar a seguinte convicção:
entre si, os fatos reais do uso efetivo da língua parecem muitas vezes resistir
a uma rotulação precisa e bem-sucedida.
Por que isso acon tece? Uma resposta possível é a seguinte: por ser ao As LÍNGUAS SÃO FORMAS íALmiENTE ORGANIZADAS DE ELABORj\ÇÂO, EXPRESSÃO
E COMUNI&VÇÃO DE UM ELENCO INFINITO DE CONTEÚDOS MEDLUJTE O EMPREGO
mesmo tempo um meio de expressão de todos os conteúdos que a mente
DE UNID/VDES DE SOM E DE SIGNIFICADO QUE SE ARTICULíUI SEGUNDO REGR/\S E
humana pode con ceber e um meio de com unicação desses conteúdos
PROCEDIMENTOS COMDINATÓRIOS DE EST/VBILIDADE RELATIVA, XL\S NECES.SARIA-
nas mais diversas situações e para os mais variados fins, a língua tem a
MENTE FINITOS.
natureza de um sistem a extraordinariam ente versátil e adaptável, que se
pode resum ir numa palavra: criatividade. Ao apontarmos a criatividade
A história dos estudos gramaticais é, também, a história da insatisfa­
como um traço essencial da linguagem, não estamos nos referindo ape­
ção dos estudiosos da linguagem com os modelos descritivos construídos
nas ao potencial expressivo explorado pelos artistas da palavra - como
por eles. Toda verdade é provisória - esta é, talvez, a única certeza que
os poetas, os cronistas, os rom ancistas, os publicitários, os grandes ora­
fica quando observamos a maneira pela qual o conhecimento humano é
dores. A criatividade linguística é inerente ao conhecim ento da língua,
construído no curso da história. Não pode ser diferente quando o assunto
pois seus usuários não são meros repetidores de frases prontas. Embora
é a linguagem: nenhum modelo de análise, por mais refinado e comple.xo
se reconheça que a rotina de nossos atos diários propicia a repetição de
que seja, consegue abarcar toda a sua complexidade. Desta constatação
expressões verbais, a verdade é que os conteúdos que a mente humana
derivam necessariamente dois postulados: (a) uma análise abrangente do
está apta a processar são ilimitados: tanto produzimos e compreendemos funcionamento da língua sempre dependerá da conciliação de conceitos
frases banais com o emprestados a diferentes perspectivas teóricas; (b) qualquer modelo des­
• Feche a porta, por favor! critivo tem limitações; portanto, é natural que encaremos qualquer análise
• Parece que vai chover. como um corpo de afirmações sujeito a reformulação.

quanto enunciados insólitos como


• Meu vizinho sueco cria um jacaré que se põe a rezar toda vez
que ouve a Pastoral de Beethoven.
• Descansando na Polinésia, a única coisa que perturbava o
sono de Napoleão era o temor de que as tartarugas desovas­
sem no seu famoso chapéu.

ou poéticos como
• “soprando esse bambu / só tiro / o que lhe deu o vento” (LE-
MINSKI, 2001: 56].
• “Não faz mal que amanheça devagar, /as flores não têm pressa
nem os frutos: / sabem que a vagareza dos minutos / adoça
mais o outono por chegar.” [CAMPOS, 2003: 103]
- A «IUAMATICA N'(J Htasil,; M USÍI)K»S MI.STÓhICOS

Alguns de seus primeiros íiutorcs eram homens de grande erudição,


os quais estavam atualizados com a ciência linguística de .seu tempo e
punham esse saber e um certo sentimento de orgulho n.acional a serviço
UI - A (IK A M Á T IC A NO B R A S IL : do conhecim ento da língua e de seu ensino. Era como se a proclama­
S I B S ÍD IO S H IS T Ó R IC O S ção da República, coroando o processo da autonomia política e cultural
desencadeado ao longo do século XIX, propiciasse à nação a definitiva
legitimidade para construir seu futuro e ratificar, sem .sentimento de vas-
salagem, um padrão de uso literário ‘à altura da melhor tradição da lín­
gua’. Esta expressão vai aqui entre aspas para dei.xar claro que traduz
o sentimento da corrente mais conservadora do tempo, a qual, movida
Quando se fala em gramática, geralmerite se pensa em um conjunto de por um ideal purista de língua, defendia um modelo de escrita padrão
ensinamentos sobre a maneira correta de falar e escrever uma língua, ou uniforme entre Brasil e Portugal (ver, sobre essa questão, texto em apên­
em um livro que contenha esses ensinamentos (ver em 6.4 as concepções dice intitulado “Português brasileiro: um tema e alguma polêmica”). Uma
de gramática). Trata-se de uma imagem construída ao longo de pelo me­ proposta consistente de renovação da expressão escrita para a literatura
nos vinte séculos, desde que os gregos - e, continuando-os, os romanos brasileira só teria lugar com o Movimento Modernista de 1922, inspirando
- conceituaram gramática como a arte do uso correto da língua, segundo um debate recorrente ao longo do século passado sobre a identidade da
a prática dos ‘bons autores’ {gram ática é palatTa de origem grega, e se língua padrão do Brasil e seu lugar no conjunto da sociedade brasileira.
liga a gram m atu [letras e sons]). Esta história abriga um extenso capítulo Em que fontes ela é reconhecida, como sistematizá-la e como proceder
escrito a partir do final do século XV e recheado de episódios decisivos no para ensiná-la às novas gerações eram - e ainda são - algumas das ques­
curso dos séculos XVI e XMI, quando se consolida o perfil das gramáticas tões levantadas.
normativas das línguas europeias modernas-. Como conceito técnico da moderna ciência da linguagem, gramática
0 sentimento que desde a antiguidade animava os autores de gramáti­ refere-se ao sistema de regras que permite aos falantes de iimti língua cons­
cas era o de que a língua alcança, na obra dos poetas e dos oradores/prosa- truir e compreender suas frases''. Ninguém aprende a falar uma língua sem
dores, uma forma de beleza e perfeição que precisa não só ser protegida e adquirir sua gramática. Ela está presente no modo de pronunciar as pala­
preser\'ada, mas imitada pelas novas gerações de usuários. Tivemos, assim, vras, na ordem em que estas ocorrem na frase, nas variações de forma a que
de um lado, a gramática, como prescrição de um modelo de língua e, de estão sujeitas quando se combinam para a expressão de algum signific.ado
outro, complementando-a, a retórica, como um conjunto de preceitos para em uma situação interlocutiva. Uma língua só é uma forma de comunicação
tornar a palavra um meio de convencimento, de persuasão e de sedução. 5. porque seus falantes conhecem e empregam - mesmo sem estar conscien­
O estudo da linguagem humana assumiu o caráter de uma verdadei-;^ tes disso - as mesmas regras para construir frases e atribuir-lhes significa­
ra ciência no curso do século XIX sob o rótulo de Gramática Histórí( do. Este sistema de regras é a gramática.
-Comparativa e como tal contou com muitos adeptos no Brasil. Os estu( No curso dos anos 1960, a Linguística, que já havia revolucionado
gramaticais então realizados entre nós beneficiavam-se dessa reorientai a compreensão da estrutura e funcionamento da linguagem humana nas
científica, mas nem por isso abandonaram as motivações normativas universidades europeias e americanas, se tornou disciplina obrigatória nos
sua origem greco-romana. Com efeito, as décadas finais do século XIX e cursos de Letras no Brasil. Desde então, a produção de conhecimento .sobre
iniciais do século XX foram cenário da produção de inúmeras gramáticas*. a língua portuguesa, em seus múltiplos aspectos, tem crescido num ritmo
alucinante entre nós, como se comprova nos bancos de teses dos centros de
• Para tletalhe.s, ver PADLEY, G. A. “A norma na tradição dos gramáticos”. In: BAGNO 12001:55-95). pesquisa do país e nos sites de órgãos de fomento como o CNPq.
Ver especialmente toda a primeira parte de NE\T5S |2002J.
' São atores notáveis dessa história: Júlio Ribeiro, Mtinuel Pacheco Jr., Lameira de Andrade, Maxi- ‘ K.ste é o conceito geralmentc .ntlotado pelos liii)>ui.stas }íerativisia,s. Para uma vis.io comparativa
mino Maciel, Manuel Said Ali, João Ribeiro, Sousa da Silveira, Mário Pereira de Souza Lima e Edu­ tle conceitos, ver TRtWAGLLV (1995), especittlnientc o terceiro capítulo; KISSENTl |2tK)3j. e.spe-
ardo Carlos Pereira, entre outros. Para detalhes, ver CÂMARA JR. [1972: 197-232), ELIA )197S; cialmente a segimtla parte.
117-176), NARO 11976: 67-114), ORI.ANDI, Eni P. e GUIMAlUlíS, Eduardo. “Formação de um
espaço de produção linguística: a gramática no Brasil”. In: ORLANDl )2001: 21-38).
fiUMViiHA l^\nTl•:
in - A I pK a m At ic a no miv.sii.: si unim os iiisto kicí .75

Entre nós, o pioneiro dessa renovação toi .loai|uiin Mattoso Câmara


sempre, porém, de forma benéfica, devido a uma certa pressa cm abandonar
■Ir. nos anos 1950-19Ó0, As descrições que empreendeu dos subsistemas
alguma ideia mal assimilada em proveito da última novidade. Os linguistas
ionolótiico c Ilexional do portuiiuês, reunidas nos volumes P ro b lem a s de pros.seguiam em suas investigações, publicando análises .sobre temas de sin­
Linguística D escritiva e Estrutura da Língua P ortuguesa, este publicado taxe, morfologia e fonologia, mas ainda não parecia chegado o momento de
postumamente, não for:nn suiieradas, ixi.ssados quase ciuarenta anos, por alguém produzir uma sínte.se com abrangência análoga à das chamadas gra­
nenhuma proiiosta posteritír. O rigor dessas análises não chegou, porém, máticas tradicionais. Com is,so, aprofundava-se o abismo que habitualmente
ao terreno da sintaxe, que, cm compensação, ganharia destaque nos anos separa a produção de conhecimento no e.spaço da academia e a elaboração
1970-1980, período em que um expressivo ,segmento do pensamento lin­ de obras para atender ao mercado do ensino. A bem da justiça, registre-se
guístico nacional é guiado pela teoria da gramática gerativa^. que os pesquisadores não podem ser responsabilizados por este estado de
A produção de compêndios de gramática destinados ao ensino secun­ coisas; é .sabido que as novidades científicas sempre precisam de um tempo
dário (ou médio) prossegue ao longo do século XX. Algumas dessas obras de amadurecimento para dar frutos na renovação do trabalho escolar.
lograriam sucessivas edições, como a G ram ática E xposítivu (em 1942 ti­ O de.safio de propor uma primeira síntese foi enfrentado pelo profes.sor
nha alcançado a 59’ edição), de Eduardo Carlos Pereira, e a popularíssima Mário Perini, da UFMG, que em 1995 publicou sua G ram ática D escritiva do
G ram ática Metódica da Língua Portuguesa, de Xapoleão Mendes de Al­ Português’'. Doze anos antes, em Portugal, onde os professores também se
meida, encarnação exemplar do normativismo gramatical ultraconservador engajavam em um projeto de renovação, o mais significativo esforço de sín­
e intransigente. Outras duas obras sempre lembr<adas, antes pela consistên­ tese, segundo creio, resultou numa obra cuja primeira edição data de 1983,
cia teórica c pela modernidade das análises que empreenderam, .são a Gro- a G ram ática d a L ín g u a P ortuguesa, da autoria de quatro linguistas: .Maria
■ jk inática Expositíva (19,17), de Mário Pereira tle Souza Lima, e a G ram ática Helena Mira Mateus, Ana Maria Brito, Inês Silva Duarte e Lsabel Hub Faria^,
Secundária (também dos anos 19,10), de Manuel Said iUi. Em 1957, Carlos Trata-se de duas propostas com perfis teóricos e metodológicos bem
Henrique da Rocha Lima publica sua G ram ática N orm ativa, que seria re- distintos, mas igualmente de alto nível. A gramática das autoras portugue­
f fundida a partir da 17" edição em 1972 e que é, até hoje, referência dos que sas ampara-se fundamentalmente no modelo gerativo, e requer do leitor
cultuam um padrão de linguagem mais ettnservador. razoá\’el familiaridade com alguns de seus conceitos teóricos e com os respec­
Em 1959 entra em vigor a Nomenclatura Gramatical Brasileira, Escri­ tivos procedimentos analíticos. Por sua vez, a gramática do professor Mário
tas em consonância com a no\'a terminologia, duas obras avultam no perío­ Perini é antes uma revisão crítica, autoexplicativa, do modelo descritivo
do subsequente: :i Moderna G ram ática Portuguesa, de Evanildo Bechara vigente no ensino escolar, a qual o obriga a estender-se na problematização
(1961), e a G ram ática do Português C on tem porân eo, de Celso Cunha e justificativa das análises e a criar uma terminologia bastante peculiar.
(1970). A Celso Cunha caberia ainda a tarefa de escrever uma G ram áti­ Creio que estas duas obras alcançaram com maestria o objetivo de propor
c a da Língua Portuguesa para a Fundação Nacional do Material Escolar procedimentos de análise do mecanismo gramatical do português padrão, con­
(FEN/\i\IE). A G ram ática do Português C on tem porân eo passou a se cha­ forme as variantes europeia e brasileira. Nenhuma das duas, contudo, baseia a
mar N ova G ram ática do Português C ontem porâneo eni meados dos anos descrição apresentada em co rp iis recolhido para tal fim. As autoras portugue­
1980, quando, em eoautoria com o lilólogo português Luis Filipe Lindley sas não chegam a dar qualquer informação sobre este aspecto metodológico;
Cintra, a obra teve edição simultânea no Brasil e em Portugal. A M oderna e Mário Perini, embora expresse com toda a clareza o que entende por hngua
G ram ática de Evanildo Bechara alcançou a ,17" edição em 1999, em versão padrão e a identifique na variedade escrita de jornais e revistas das capitais
ampliada e renot'ada nos fundamentos teóricos. brasileiras, parece ter optado por um exemplário de sua própria autoria.
A consolidação de uma política de pesquisa nos anos 1970-1980 e a Entre nós, a primeira análise moderna e abrangente dos aspectos mór-
expansão dos programas de pós-graduação em Letras e Linguística pelo país ficos e sintáticos do padrão escrito apurado em c o r p u s de uso real não ne­
afora tiveram um impacto montimental na produção de análises sobre o fun­ cessariamente literário foi levada a cabo por Maria Helena de Moura Neves.
cionamento e a estrutura da linguagem. Nos últimos vinte anos, a atividade
PERINI (1995). O modelo de descrição sin tática adotado nesta obra já tinha sido delineado em
de pesquisa deu novas guinadas e se diversificou de forma estonteante, nem ^
um trabalho surgido .seis anos antes: Sintaxe Portuguesa: Metodologia e Funções (1989).
' MATEUS (198.1). A obra chegou à 5" edição, revista e aumentada, em 2(K),1, pela Editorial Cami­
’ São repre.sentalivos dessa tendência e dessa fase os trabalhos de PONTES 1197.1), PERINI 11976], nho, de Lisboa.
LE.MEE 11W4) e LOBATO (1986).
M, riíiMKiUA

Sua G rain ú tica d c i'sn s d o P ortuffucs descreve a»s categorias linguísticas


segundo “seu comportamento iia unidade maior - o texto t|ue é a real
unidade de função"'*.
Por outro l:ido, a investigação dos usos falados do português do Brasil
vem produzindo uma massa monumental de dtidos e um conjunto expressi­
vo de estudos. Boa parte deles, realizados por pesquisadores brasileiros de
grande prestígio, se acha reunida em oito \'olumcs. publicados no âmbito
do Projeto Gramática do Português Falado, coordenado pelo |irofessor Atniiba
Teixeira de Castilho. A abrangência de seu c o r p u s e o espírito renovador de
suas análises fazem da G r a m á tic a do Portutiiíês F a la d o ;i mais consistente
referência da renovação dos estudos descritivos da língua portuguesa tal
como a falam brasileiros considerados cultos.
SEGUNDA
Cabe ainda ressaltar o iutluxo das abordagens do texto e do discurso. A
este respeito, destaque-se a contribuição pioneira de Othon Moacyr Garcia,
cuja C o m u n icação cm P rosa M o d en ia (vinte e cinco edições desde 1967)
PARTE
apontou o rumo de uma autêntica abord.-igem da língua em função de sua
concretização textual. As contribuições mais modernas começam a surgir,
no Brasil, já no miolo dos anos 1970. provavelmente por influência da obra UMA FORMA DE COXHECLMENTO.
de Émile Bent eniste". e se inspiram na seguinte premissa: o fundamento da
linguagem é a signifioação, e esta só se constitui plenam ente na atividade co­ DE EXPRESSÃO E DE COMIMCAÇÃO
municativa. em circunstâncias determinadas, sob a forma de enunciados. 0
texto toma-se um conceito-chave. e o tradicional sta tiis da oração (união de
sujeito e predicado I. como unidade máxima da análise sistem ática da língua,
rica seriamente abalado. Entram em cena os conceitos de a to s d c /a la e mo­
d a lid a d e . p o lifo n ia e in te n ex to . c o e s ã o e c o e r ê n c ia , entre muitos outros.
O português falado e escrito no Brasil tem sido. portanto, objeto de
pesquisa intensa e contínua. Também produtivo e diversiricado. conforme
várias correntes de pensam ento, vem sendo o esforço de pesquisadores e
docentes em geral no sentido de divulgar e.sse conhecim ento e integrá-lo i
formação e à prática didática dos professores de português nos diferentes
níveis de ensino. Que as repercussões desse esforço na política de ensino
da língua materna e nos instrum entos da ação pedagógica ainda sejam tími-^
das é uma situação que se lamenta e de\ e ser contundentem ente posta em 1
destaque. São vários os fatores que contribuem para este estado de coisas,
sobretudo relacionados à deficiência da form ação profissional, motivada
crucialmente pelo desestimulo à atividade de m agistério.
• NEVES [JlllHI: l.S|.
Pn>b/êmt-..í líc Liíigtiisticíuc G énérulc. Paris: G:illim:ird. lUoo tTnídução hnisilcira: Probfemíw lic Lin-
£uúsri«i GiTul. 4” tíd. S:'io P:iulo: Pontes, l ‘)U5). Ver também o.s ensaios "ISéiniuIo/iie de Ia Lantiuc" (Semioti-
ea. Ibobi, 'j,v Ltn^iée et rExpérieiice Humaine" (DlOtlÈNE. fUU.õ) e "Uappareil Formei tie rÉnonciutioii"
(L\NG.\GE.S, 10711) reunidos posteriomionte em ['m blèm cs tic Unguitítitiui: (hiném lc. J . Paris: GttlB-
raard, 1074. |Tradu(,‘.io bnesileira: 1‘rublenuix d c I.inguisiicci G rnil II. S:'io P:mlo: Pontes. lOMO).
-ÍO >u;r\iv\ v m v - io iiu \ p i,,

1 r.i.NTiTir s s H<Msn f"» i víVf.H*-»' m it


olicazmcmc a dirc(;rui c a distância dc uma foiitc tlc iicctar ntcdiaiue uju
solisticado riuiat dc moviiiicmos. A vida, em qLiali|Uer tie .suas niaiiifestações, pressupõe, no eiiu iilo,
Tiiilo (az crcr, porem, que o elenco lie nieii.sajteiis produzida.s/exprcj. uma uouiplexa rede de intcrdepeiidêiicias. O melhor exemplo di.s.so é a
sas por alielhas. hienas, pássaros ou ártlhiihos é limitado â.s demandatt do cadeia alimentar. Nada é autôminio para viver. Toda vida é uma Inisea e
/mtjítoí natural dc cada espécie, o urditiariaitiente reiacioiiadas coni o ins. uma doação. O ser humano c parle da c.xtraordiuária e.-iileta energética
tinto de solirevivêneia, |)reserva(;ão e reprodttção. O que iiiier t|uc possa­ que constitui a vida na 1'aee da terra. Biologioaniente falando, ele é apenas
um ser vivo entre trxlos os outros. Nem superior nem iiilérior. iieiii mais
mos chamar de conitmioação animal c uma ativitiade scntpre intcjjrada ao
nem menos importante. Entretanto, ele só assume n comando tia própria
espaço em que acontece c no (pial se esgota. Conm não tran.scendcm o ea-
soltrevivência depois de um longo processo de maturação fisiológica, men­
paçu imediato em <|itc são produzido.s, esses sinais da coniiiiiicação animal
tal e psicológica.
jamais podem scr substituíilos por outros segttndo itljiuni critério dc como­
Essa lentidão deveria deixá-lo em desvanttigcm, mas a realidade prova
didade ou cticièricia. A comunicação animal não sc realiza com o transmia-
o contrário. Ele foi o único animal capaz de se afastar da natureza para
são dc mensagens cm cadeia. No caso cspecíftco d.-ts abelhas, em tudo e
tornar-se algo mais do que uma parte dela. É esse afastamento que tios
por tudo c.\cmplar, sonieiue aquela que localizou a fonte dc néctar e voou
dá a eltar e para compreender o que o torna diferente de todos os outros.
quilômetros pode ‘pa.ssar a informação’ às oiiiras. A aliellta não escolhe oa
Separando-se, ele pôde observar a natureza, percebê-la na sua e.xuberaiite
movimentos que e.sceiita; a velocidade e ti frcquênciti desses movimentos, totalidade, dei.\ar-.se desafiar por seus mistérios o tentar desvendá-los.
embora signiticalivas, são, na verdade, determinadas pelo estado do oorpi- O primeiro efeito desse afastamento tem um preço alto: a consciência
nlio da aliellia, mais ou menos cansado segundo a extensão do percurso'®, da imperfeição. Para superá-la. ele imita seu Criador. Criando pela imitação,

I
Uma extraordinária diversidade dc sons é gencralizadamente empre. ele supera os próprios limites. Coneelte o aroo e dá â flecha ni:tior ímpeto
gada no universo animal. Entre aqueles cuja funcionalidade comunicativa e velocidade; abate animais e protege-se com sua pele; inventando a roda,
mais tem de.sperlado a curiosidade dos cicitlistas estão os produzidos por empresta pernas aos objetos, Embora ropresemem um nível bem primário
goltinhos, baldas e gorilas, mas não foram encontradas nesses sinais ca­ de afastamento, o arco, a pele e a roda são manifestações de um dom que
racterísticas ei|uivalentes às da fala huniana, como a dupla articulação (cf, ele irá explorar ao longo de sua aventura sobre a terra a fini dc trttnsformar
quinto capítulo). Só o hnnicm organiza a substância sonora produzida por todo espaço, por mais hostil que seja, em um lugar onde possa viver, criitr e
seti aparelho vocal em uniditdes separáveis e recombináveis, que a c.xperi- truiisinitir ãs gerações o legado de sua presença e de seu trabalho.
cncia escolar nos ensinou a ciiainnr de foneniit.s, sílabas, vocábulos, frases.
Por outro lado, a simples observação da realidade também nos ensi­ 1.2 1V\1..V\TI.\S E INSTKVMENTOS
na que o ser humano é o mais intperfcito e o mais dependente dos seres Assim é o homem. Gabe-nos agora perguntar se a palavra desempenha
VÍVO.S. Calirilos, girafas e bezerros são capazes dc põr-se de pé e, mesmo eni nossa vida um papel sentelhaiite ao desses artefatos e in.strumentos.
tropeganiente, eaminiiar depois de alguns minutos dc na.scidos. Tartarugas O próprio termo íúiguct autoriza esta associação, já que a língua - ntús-
marinhas di.sparam cm direção ao ntar assim ípie rompem a casca do ovo. ciilo sensitivo do italadar - é o principal instrumento dc transformação e
Vários pássaros e.stão aptos a vo;ir eoni poticas sem anas de vida à liiz do sol. multiplicação dos sons vocais. Seria, portanto, a palavrii uma espécie de
Com alguns meses, leopardos e ursos já aprenderam a caçar e não depen- i utensílio, como a roda ou o arcoV Um ripo dc ferramenta, como o serroteV
dem tnais dos pais para comer. Desde t|iie deixa o ventre m aterno, porém, o 1 As ferramentas, os utensílios valem pela utilidiide que têm. E ess;t utilidade
iinmcm precisa normalniente de dez a doze meses para eam inhar sozinho. determina a forma que apresentam. Quando se trata de ferramentas e uten­
Aos doi.s anos de idade, provavelmente niorreria de fome se tivesse de iTà sílios, forma e função são inseparáveis.
hiiu eni Ini.sea do alimento. Será que, também na natureza, a aparência, a anatomia, a forma dos
seres estão a serviço ila função t|ue eles desempenham no eoiijimto da vida r
A resposta não é simples. Doemuentários solire plantas, insetos, pássaros,
'■ SiJwc as rilinOts inire a lill|■ll,l|!etll liLiniaii.-i l- as («rnia-s tlu viiiiiuiilL-avãi> iinlimil, ver “Co-
miiriÍL-.-n-jie ;iii|niiil e liuiiuaíL-ai liuni.-ma". Iii: JIKNVKNISTK |IW.S: 00-071, l‘ara (iL-tiilhes iol)« pei.xes eosuiniiim nos deslumbrar com unia extraordinária diversidade de
tUvL-tw.s .sisieiiias de «aiiniiieavão animal, ver “Animal Lsmiimiiiieiicion Systems” lii: AWiIAJIAN t formas e cores, l-eigos, tpiase sempre admiramos o es|iotáeiilo sem eiieoii-
el iilli ||07')|, i
[||; COVlltXlMKNTit. IIKI.X|-[íl;NíAn linroMl^NUlK.V'»

H iiM U lnx.vllT ivi: f bi iMhk.\ib i i x i w m i iii -uvvi) ■/.l


trar para ele outra explicação além da criatividade caprichosa c incoiitro-
lável da iiaturexa, Lciiios, preferimos acreditar c|uc a iiaiure/.a nos oferece, i
A l'AI..VVR,\ TEM, EOBTieNTO, fELO MENOS DU.VS irTIUII>,\l)ES: A l>E ‘l)AH XO.Me ’ .M>S
muitas ve/.es, sessões de puro exibicionismo, atribuindo a eia uma intenção t:üXTElriK)S IlA CONSCIfiXCIA - HW(MO ÜLT; a IIIKSTiniU COMO AlTf.STICO Sl.MIIO-
Hue é. contudo c de fato, cxcliisivamente nossa. If por isso que compomos l.t> (Oit .SIONO, CO.MO HtKFEItEM O.S UNOir|ST.es) - F. A 1)K VEUlll.lZ.MI A TRIk :.\ UK
jardins, montamos aquários, ensjaiolamos ]5;issaros. INFOIE\IU;OES, SENTIMENTOS E IDEIXS RNTIffi .VS PE.S.SO.VS - l'KOI'IIIRI).U>E OIT; EIA
Os especialistas jjarantem, todavia, qiie, na natureza, todas as formas l>ARTII.IL\ COM ÜS SIN,\IS EM OEIUL.

c cores se justificam pela função :i que senem : locomoção, eonuinicaçào,


nutrição, defesa, ataque, atração, reprotiução etc. A evolução das espécies Tmlo isso é verdade, é muito óbvio, mas não é suficiente para oferecer
é pródijja em exemplos de órijãus que se desenvob eram ou se modificaram uma resposta à pergunta: que forma - ou formas - a palavra precisa ter para
anatomicamente para atender às novas exi.éCmeias tio meio. A eventual per­ .servir a tais funções?
da progressiva da função de uni órgão, tornando-o inútil para as demandas Lembremos inicialmente que em um aspecto fundamental palavras e
adaptativas do nieio, resulta ordinariamente em sua atroliti e con.sequente ferramentas são bem diferentes: a relação entre a forma que apresentam
alisorção pelo conjunto do corpo. e a utilidade ou função que têm.
Se 0 universo luimano fosse regido exelusivamente pelas leis da bio­ •íá dissemos tpie a forma das ferramentas é determinada pela função
logia, tudo .se passaria desse mesmo modo. Acontece tpie o homem não - ou funções - íi que se destinam. Em se tratando de palavras, a realidade é
esperti que a natureza o modifique para adaptá-lo às exigências do meio; ele outra. PalavTas são sinais cuja função é ‘dar corpo’ a significados; no corpo
adtipta 0 meio ;ios seus propósitos c necessidades. A lâniin:i de um serrote cie uma palavra, o significado circula da minha boca (que a pronuncia) para
lembra muitos objetos naturais, como a fieira de dentes tie uni tubarão ou o seu ouvido (que a escuta), da minha mão (que a escreve) para o seu olho
(que a lê).
üs bordas d;is folhas de certas plantas, São formas parecidas que servem
Até que ponto o corpo de uma palavra, isto é, a sequência de sons c|ue
a funções semelhantes. Mas só o serrote é um utensílio, imia ferramenta,
a constitui, é condicionado pelo seu .sentido? Não é difícil identificar es.sa
porque ê obra do homem.
relação em palavras como stm z u m , su ssu rra r, sig u esn g u e, tique-taque.
Mas voltemos à palavra. As fernimentas. os utensílios valem pela uti­
Por outro líido, não c raro que a face sonora de alguma palavra nos sugira
lidade que têm. E qual ê a utilidade da palavraV ‘As palavras’, diria alguém
uni significado muito diferente do que os dicionários lhe dão, como revela
movido tão só pelo .senso prático, ‘servem para pôr nomes nas coi.sas: sa­
a seguinte pas.sagem de uma crônica de Luis Fernando Verissinio: “Cer­
pato, peixe, estrela'. iXIgumas palavras até imitam o que nomeiam: o w , por
tas palavras dão a impres.são de que voam ao sair da boca. ‘Sílfide’. por
exemplo. Em qualcpier direção que sc olhe a palavra ou o objeto, a gente
exemiilo. Diga ‘sílfide’ e fique vendo suas ei oluções no ar, como as de unia
vê a mesma forma, a mesma coisa. iVlguém mais detalhista diria provavel­
iiorboleta’’" . Mas tanto esta forma quanto aquelas estão longe de represen­
mente que a palavra não põe nome só nos objetos que alcançam os pelos
tar a natureza das palavras em geral e, em particular, dos enunciados que
sentidos, mas ainda, e prineipalmente, em um rol eclético de entidades e con.struímos com elas.
noções que parecem ganhar nitidez no nosso entendim ento som ente t|uan-
A regra geral para a associação entre o corpo sonoro de uma palavra e
do são nomeadas: alegria, m a io ,a liv io , b c le sa , v e r g o n h a , j u s t i ç a . Munidas
o que ela significa é a convenção, o acordo espontâneo, só episodicamente
das palavras - que tomaram o lugar das coisas, entidades e noções as pes­
questionado, graças ao qual os membros dc unia sociedade se servem das
soas tran.sformam o conjunto de suas experiências e saberes eni conteúdos palavras para se coinunicarcni entre si (ver 5 .2 ).
coniunicdvei.s, passíveis de troca. Expressões como Bom d i a ! , P o r fav or., No entanto, temos de considerar um outro fator decisivo na associação
Parabéns!, O brigado., Vci/eii., Que jk i i u ! certam ente não têm a natureza entre as formas da linguagem e os conteúdos que elas expressam. Keftro-nie
material das ferramentas, mas desernpenlium papéis análogos aos das fer­ à hipótese de que o sentido global de um enunciado ou dc uni texto po.s.sa
ramentas, visto que por meio delas modificamos ou criam os situações e ser descrito com o a soma dos significados particulares das partes que o
atingimos objetivos. constituem.

Apuil IIENRIQUKS |2007íi: 126|.


“j-í SV.C.IMU l'ARTK - lUWOUMA UK Cl^SUtCIMi-NT'’ . I‘F- LXPl^rsSAO l'. OK COMlfSlCAÇAo

IHI.MEIlMMlAllTn.ti: NA fTMJNTEmA IXi IMVEHSO lirM.VM» *Í5


Com efeito, p.ireee óbvio c|ue um;i Irnse como E f :t a f i r m a fccou stru jj^
u poiue em diio.s scmoiirts expressa um sentido c|uc d ecorre, se nâo tot^j o C|ue percebemos, queremos, sabemos, .sentimos, pensamos. Repetimos;
monte, pelo menos pareialmentc da soma dos si^nilicados das oito palavjjj tudo muito natural.
(pie entram em sua composii;,ão. Dizemos 'parcialm ente’, porque não ter(. A naturalidade com que as pe.ssoas se comunicam cotidianamente em
amos sií,nilicado alíimi se, ainda mantendo as mesmas palavras, as dispi,. sua língua materna leva-as a crer que falam c trocam idéias graças ã mesma
séssemos numa ordem aleatória, como em E s ta e m ponte a recon struir^ I aptidão e destreza motora que lhes permitem respirar, mastigar ou engolir.
semniKis./irmn duos, Claro que podemos ter variações; E n t d u a s serna. Estes atos, é claro, decorrem dc impulsos biológicos e se realizam mediante
nos, e,sto firmo acomsmiírd n ponte, A ponte, e s t a f i r m a r e c o n s t r u ir á eiti uma combinação de movimentos fisiológicos, que só se alteram por uma
tinas semanas. Esta firm a em dnas s e m a n a s reconstruirá a p o n te . A or. exigência ou acomodação orgânica natural. A linguagem .segue outra ordem
dem possieci de cada variante não é uma simples ordem d;is palavras, mai de estímulos - os quais têm de ser procurados no universo social - e ,se inte­
uma ordem de constituintes às vezes maiores que as palavras: lÊsta^irmaj gra numa outra ordem de fenômenos: a dos fenômenos culturais, portanto
IreconsmiiiTÍl [o ponfc| \em tinas ,s'cmon(is], aprendidos. A mais clara prova di.sso está na aprendizagem da escrita, que
nada tem dc espontânea.
Podemos, portanto, dizer que a construção do enunciado e do texto
Leigos mas práticos, somos quase sempre tentados a tratar as palavras
manifesta na ordem de seus constituintes não é aleatória ou convencional;
como se pertencessem a um estoque guardado na memória, como uma lista
ela retlcte a organização do conteúdo eni termos do recorte interno das por.
de etiquetas distintas e independentes que aplicamos às entidades do mundo
çfies de sentido e da relevância de cadtt uma no signifteado global (ver 1 2 .2 |
real c do mundo imaginário. Segundo este ponto de vista, cada vez t|ue preci­
Esta constatação não quer dizer cpie o sentido de um texto, mean^ '
samos mencionar alguma coisa ou exprimir alguma ideia, Iniscamos naquela
sob a forma do mtiis simples enunciado, possa ser inteiram ente apreendtâi^' |
lista as palavras ou etiquetas apropriadas e as combinamos umas com as ou­
com hase nos constituintes que o estruturam. O significado do todo nâoí
tras conforme um ordenamento lógico que seria um reflexo d;i maneira como
mero resultado da combinação dos significados particulares de suas parte». a própria realidade e o pensamento que a apreende estão constniídos,
Os enunciados - c os textos - não são portadores absolutos de signifio». Esta crença derit'a, na verdade, de uma outra, mais ampla porém me­
dos únicos e estáveis, mas partes constitutivas de eventos comunicativt», nos óbvia; a de que o mundo a que nossas palavras fazem rcfcrênciii se acha
que se desenrolam sob coordenadas sociais, culturais e históricas. É nesta organizado como uma estrutura autônoma e separada d:i linguagem, como
condição que qualquer texto - seja uma simples saudação, seja uma long» um 'conjunto de coisas, fatos, sensações’ prontos para receber a respectiva
narrativa de peripécias - promove o encontro de duas subjetividades: a etiqueta. De acordo com essa crença, os conteúdos do nosso pensíimcnto se­
seu autor e a de seu destinatário, ouvinte ou leitor (cf. quarto capítulo). riam apenas reflexos do mundo e nossa linguagem não passaria de um sim­
ples meio de pôr rótulos nesses reflexos ou de propiciar sinais para eles.
l.,d PALAVIDVS E ESPELHOS A comparação com ferramentas ou instrumentos não faz justiça ã
As questões focalizadas acima evocam uma reflexão mais básica e profun». complexidade da linguagem. Por sua vez, a metáfora do espelho é aiiula
da. Seriam as palavras e frases que proferimos um espelho do que se passa menos adequada, já que reduz a linguagem a uma entidatle estática, a um
em nossa mente? Não é simples responder a esta pergunta, porque, na decalque do mundo de objetos e fenômenos externos à consciência ou,
verdade, só temos clareza do que pensamos quando pomos nossas idela» mesmo embalados pela consciência, capazes de ser concebidos iiuiepen-
em palavras, ainda que estas palavras não cheguem a ser vocalizadas. D» dentemente da palavra.
uma coi.sa, porém, temos certeza; a palavra é o mais completo e ver O mundo da natureza, bem o sabemos, está organizado em si de uma
til instrumento das relações humanas. Sua presença na vida cotidia certa maneira. Ele constitui uma realidade dinâmica, regida por leis pró­
é tão constante, e seu emprego na interação social aparentemente ! prias, que as chamadas ciências naturais procuríim desvendar: a textura
espontâneo e natural, que a maioria das pessoas não vê nela nada (St 1 e durabilidade dos materiais, a serventia recíproca dc .seus elementos, os
especial. Todos reconhecem que as palavras são sím bolos, mas em geral dispositivos de sobrevivência e de adaptação, o ciclo da vida etc. Mas este
as encaram como simples nomes das coisas, recursos usuais com que mundo e a língua que o traduz em palavras e enunciados/textos significati­
rotulamos idéias, entidades, objetos para com unicarm os, uns aos outros. vos não se relacionam como uma coisa e o seu substituto.
■ iò SF.OIMW IWRTK - l'M.\ Fíir m ,\ i;nN1IKaMKNT(). liK F.Xl’ilF,SS.\0 K HK

l■l{IMKIIlíl CAPlTri.O; \A moNTUlIU I 47

A LlNTilWC.EM NÃO RETMTA o MONTO). SIMPU-SMENTE 1’OUUI'F. O MUNDO EXPRESSO


1.1 VMA FOIbMA DE CONCEBEU, DE DESIGNAR E
PE1.A LINGUAGEM NÃO É UM MUNDO DE SERES E OWETOS, MAS UM MUNDO DE SIGNI­
DE PREDICAR
FICADOS, S f, a linguagem fosse um RETRATO DO NRINDO, A EICÇÃO E A MENTIRA
Detalhemos um pouco mais a concepção de linguagem como forma dc co­
SERI.AM impossíveis .
nhecimento. Para tanto, imaginemos a seguinte situação: iini professor leva
seus alunos para um passeio científico, escolhe um trecho dc vegetação
Por outro lado, o que quer que reconheçamos como sendo o mundo como objeto de observação e coleta dc dados, e pede ao grupo qiic faça
captado pelos sentidos c uma realidade múltipla e inesgotável, que não cabe uma lista dos seres e coisas que vá vendo ou descobrindo. É bcni provável
inteira dentro da língua que falamos e nem mesmo dentro das linguageia (liic essa lista venha a conter referência a terra, plantas, tlorcs, borboletas,
dos cientistas'-. Ou sc.ja: por mais que emimereinos tudo o que vemos, pof aranhas, formigas, lagartas - coisas que podem estar presentes no objeto de
mais que enunciemos tudo o ciuc percebemos, jamais conseguimos esgotô' ohsciTação escolhido. Imaginemos agora que, feita a lista, os alunos sejam
0 conjunto das experiências do mundo passíveis de nomeação, pois semprí orientados a fazer comentários sobre o que viram, mencionando o estado
se pode especificar mais o ohjeto de nossa atenção, acrescentando algum desses seres e coisas e o que acontece com eles. Alguns desses comentários
detalhe, ignorado pelo leigo mas apreendido pelo especialista, preterido poderão ser declarações do tipo; (a) A terra é p re ta , (b) Tem u m a ro.scira
pelo iardineiro, mas relcxanto para o amante dc ílores. v erm elh a qu e es tá c h e ia d e botões, (c) E ssa p lan tin h a a q u i tem cheiro
As coisas SC passam assim port|ue toda percepção c finita, por máH de lim ão, (d) U m a p eq u en a a r a n h a es tá co n stru in d o a teia nesta roseira
que seu alcance \;irie entre os seres animados segundo a estrutura biol6 | a m a rela , (e) As fo r m ig a s es tã o ca rre g a n d o u m a b o rb o leiin h a m orta.
ca dc cada um (as baleias captam sons que o omádo humano não alcançi O conjunto dos elementos que formam aquele trecho de vegetação c
as águias veem de longa dist.ância detallies que a visão humana, nas m( dos pequenos animais que o habitam ou o visitam é uma realidade concreta
mas condições, só percebe por meio de instrumentos; ursos polares maol que pode ser comprovada por qualquer pessoa. E claro que está tudo lá,
farejam uma fèniea a quilômetros de distância). É fato bem sabido qui que aquele trecho de vegetação e seus vários componentes constituem uma
ser humano sempre encontrou meios de superar suas lim itações físici parte do m u n do independente de nosso testemunho, de nosso conheci­
biológicas. As múltiplas formas dessa superação fazem parte da culi mento e de qualquer juízo que façamos a respeito dele.
dimensão da existência ciue só os homens conhecem e na qual ingressí Vamos supor agora que alguém dê um nome àquele segmento de vege­
graças à capacidade de se relacionar simbolicamente com o mundo, crii tação, algo como ‘jardim’. Nomeada, essa p a r te d o m u n d o assume um status
do e recriando sem limite as próprias condições de vida. simbólico: o que era apenas ‘um objeto do mundo dos sentidos’ se torna ‘um
Na dimensão da cultura, o homem detém uma bagagem de conhecí'; objeto de meu conhecim ento’ e assunto possível de minhas conversas.

mentos/informações (competência enciclopédica) e atua comunicativi^,


j\s ‘ c o isas do mundo ’ , r ea l o u inl\gin Ar iü , s õ s e tornam ‘o iu e t o s de nosso
mente segundo papéis que assume no meio social e graças aos instrumen^
co n h ecim en to ’ UUANDO adquirem o STATirs DE ‘ c o n c eit o s ’ , o u s e ja , quando
tos interativos pertinentes (competência socioconiunicativa). Estas duaí’
S,\0 APREENDIDAS NAS M,\LIL\S DE UM SISTE.\L\ SIMRÔLICO, CO.MO A ‘ l InGI .v’ QUE
espécies de competência são balizadoras da ação humana: a competênctt
enciclopédica embasa os conteúdos comunicáveis e inteligíveis, e a compè
tência soeiocomunicativa é que provê os recursos de uma interação social
Voltemos aos itens do trecho de vegetação, seus aspectos e os respec­
bem-sucedida.
tivos com entários. Os itens presentes nele são designados por meio de ex­
pressões referenciais que os categorizam como objetos {a s fo r m ig a s , es s a
p lan tin h a) e os com entários são realizados por meio de expre.ssões pre-
"Toda a significação se dirige para a realidade, que o sujeito que maneja os sinais conhece e (tf (Ucadonis que os inserem, também mediante categorizaçôes, em eventos
cunlicccr a outros. Mas a \aricd:ide sciii limites do nuindo do real - do mundo das res, de tudo-p
ou situações { d e v o r a r a m , p a r e c e ). A seleção de uns e outros, bem como
que c susceptível de se tornar objeto de conhecimento - pode ser cognitivamente apreendidfti^l*
logo sigiiiíicaiivaniente inanifesüida, sob diversas perspectivas, não ilimitadas em número e os referidos com entários, podem variar basttinte segundo as motivações e
cia eomo os objetos a captar, nias pelo contrário bem limitadas e mais ou menos claramente defint* 0 perfil de cada observador. É bem .sabido ipie cada pessoa traz dentro de
il:is. de modo n pemiiiir .1 sua apreensão ordunada e ímtliÉivd.'' CARVALHO [1967: 198-199],
l'MA roUMA l)K COMIEOMKSTn. IH; KNilU NSAo l•\l^Nll:At.:.VI
•fS SKM Mrv l‘.\tlTK
■'KIMKIItni!.\|-|n-|o: S\IKi»MI.IIL\IHlfSIMHSOIIIMAS*' •/9
si iinui ‘experiência cie nuintio' e uma predisposição cognitivo-perccptiva
mente para quem o percorre, a língua revela o nuiiulo eonio nina cstruiii-
íliie baii/.am suas expectativas c seus interesses". Cada ser humano detém
ra dotada de .signlfieatl()s eonipartílhados por seus falantes, recortando o
uma diterenie soma de inldnnaçòes sobre o mundo (coiilieeimento oncielo.
universo de nos.sas experiências e percepções em jiorçõe.s de sentido cujo
pêclieo). c a motivação eoimmieativa eotii tpie cada um de nós toma parte
reeonliecliiiento c distinção a eomnnitiade a que pertencemos eonsidera
eni uin evento ou situação é necessariamente induenciada por tal condi,
relevantes. A metáfora do mapa faz justiça à natureza cstiueinaiizadora e
ção. 0 jardineiro, o (imclonário que zela pelo jardim , uma criança de sete
entegorizaiUc da língua, mas padece tios outros dois ineonveiiientes da me­
anos de idade, uni bióloi^o, imi pintor do paisaiicns ou o turista padrão nào
táfora do espelho: é estática e implica que o objeto significado e revelado
prestam atenção nas mesmas coistts, e tampouco ‘percebem’ cxatamcnie as
e.xiste por si, pronto para receber os respectivos rótulos.
mesmas coisas, quando observam o jardim.
Insistamos, pois. em um ponto, graças à elaboração e articulação de A l-ÍNtíUA (í UMA rORMA StMIlALMENTE ADQUIRID.X DIC taiNI-iaUlt .SKNTIMO As NOS­
expressões leferenciais e exi^ires.sõcs predicadoras, a experiência humana SAS EXPERIÍCNCIAS DO .MUNDO E DE TORNAR KS.S.\S EXI‘EKIÍN( :i.\S .\SSUNTO DE
dos objetos do mundo torna-sc uma ‘expcricMicia interpretada’. NOSSOS ATOS DE COMUNICAÇAO.

1.5 l ’MA rOKMA CO.MPARTILIIAÜA l)K CO.MUCCIMKNTO Graças à língua, o lionicm libcrta-sc das eircunstãiielas imetliatas, o
íiqiil e ag<»ra’, e expande para o pa.ssado e o futuro o cenário em tpie se
A LÍ.VGCA t UMA 1-OHMA DS CONIlliOEIt E UE OKC.VNIZAU OS CONTEÚDOS QUE OS
passam os episódios de sua vida. Ou seja: graças à língua, o homem nomeia
INDIVÍDUOS CO.Ml^'IC,UI ENTRE SI. nu evoca seres não presentes na situação de fala; reporta-.se a situações e
experiências pas.sacins, revive-as e provoca ein seu ouvinte oii leitor sen­
Sua função como mediadora das relações do (lonicm com seus seme­ sações íinálogas às que expcrimeiuou; projeta experiências futuras mi cria
seres i|ue compõem cenários imaginários c participam de acontecimentos

f
lhantes e com o mundo que eles eoabitam é bcni óbvia e ratihca a analogia
entre palavras e ferramentas. O que não é tão óbvio, porem, 6 a extraordi* imaginários.
(iraças à língua, os conteúdos expressos cm nos.sos eniineiados nào
nária quantidade c sutileza dessas relações, o que exige da linguagem uma
preeisain, portanto, ser reíle.xos de dados presentes na situação eomniii-
versatilidade, uma maleabilidade que excede de forma extraordinária as
eativa, mas sempre hão de ser conceitos potenchilmente significativos,
características das ferramentas.
aptos a compor eiuinciado.s/tcxtos que podem ser produzidos ein lugares
Na verdade, o mundo que nos cerca, o que sentim os, pensamos ou
c épocas distintos do espaço e tempo em que as cui.sas relatadas ou refe-
imaginamos não circula entre os homens e se transfere de um Indivíduo
riJa.s ocorreram.
a outro .senão pelo filtro da palavra, (|uc não ó um condutor neutro de
conteúdos, inas um gerador c modelador de .sentidos. Nos termos de uma
P e I.A LINOUA o IIOME.M EXERCE UM I-ÜDER DE SICNIUCAÇAo QUK TRANSCENDE A
concepção ainda ingênua, embora mais refinada do que a da linguagem
EUNÇÂO DE NOMEAR OS DADOS ‘olilETIVOS’ DE SUA EXNí UIENCIA COTIDIANA: O
como espelho, pode-sc pensar n linguagem com o uma espécie de mapa
l‘AI'EL DA l.lN(5UA<iE.\l NA EXRKESSAo DE ‘CONCEITOS |■OTENCIAI.M^:STl■: SICNIH-
que se coloca entre o homem e o mundo.
CVTIVOS’ TORNA O SER HUMANO CAI'AZ DE CRIAR OS líNlVERSOS Dlv SENTIDO UUE
Um mapa fornece uma visão redutora e esqucm átlca do território a ser
CIRCUI.AMNASOCIEDADE SOW A I-XIUNLVDE ENUNCIADOS/TEXTOS.
percorrido, demarcando o que importa ver, con hecer e comunicar, tanto :W
que diz respeito ao contorno das coisas como às relações entre elas. Assim
Pode ser um recado, uma notícia, um relatório - expre.ssões de fatos
como o mapa define os limites de um território e o organiza esquematica* reais mas também pode .ser uma obra de ficção, como as fábulas e os ro­
mances, uma prece - expressão da espiritualidade e da fé ou um tratado
" ‘'Na e n x u r r a d a dc informações i|ue c h e fia à retina, o cérchro seleciona - cfni.sciciite ounüo'
apena.s aquela que é mai.s iniporiaiUc ou que interessa niai.s, e concentra aí toda a atençflo, irons' filosófico sobre a lilicrdadc ou o amor.
íoriT iandü o olho n u m a poderosa teleobJeCiva.” KUHRIJSLY [ 1D84; 69-7ú|. Uma lliistraçílo ekxiucBií A língua c parte da capacidade simbólica exclusiva do ser humano,
desse fato esul na diferença entre dois modfjs possívci.s dc anujicíar o resultado da deeisflo lieu*" dom que o provê de um sétim o sentido (o rótulo ‘sexto sentido’ está re­
títu lo olímpico: A equipe òro.s«7e/m fiuuliou a m edalha de p ra ia c A a/uí/Jc hmsilcira pcnkii«
tnedaí/ja de ouro. servado para a intuição). Este sétimo sentido resume todos os outros e a
;rMiA |>\imi'I'MAH)RMAl)Kí:« íNIIKCIMKNTO, 1)K I-XI-|li;S.S.\o K IIK C(I>M'XH:ai;A o
50
i;Ai‘lTn.(i: s'A mnNTKHu iMi rNivi.uso iírM,\Nn 5/
eles se sobrepõe cm um universo de conlieciniento c sií^niíicadoa qucsóse
tem acesso através do símbolo, dn imaí^cm, da palavra. Esse universodeco. e é clclc que o ciuinciado parte. Por sua vez, o verbo a rra ? ic a r eonota garra,
nheeímciito e si^ínirteado se expressa ordinariaineiite numa diversidade de 0 verbo ceder carrega um juízo de decepção. São pontos de vista revelado­
domínios - n cujo conjunto damos o nome ;^onérico de cultura - segundoo res do envolvimento afetivo do enunciador eom n situação relatada. CUia-
modelo dc organização convencionalm ente adotado pela sociedade: sen«o memos a esse conjunto dc fatores o context(» cognitivo da ciuiiieiavrio.
com um , ciên cia , rc/ígícío, p o lítica ^ fo lclo r e, d ireito , jomaliHmOt literatura, Além do ponto de vista, é também por melo da palavra que se define o
Inw ior, a rtes, té c n ic a s etc. lüiti do relacionamento entre as pessoas - direto ou dissíimibulo, cerim o­
Neste amplo espaço dominado pela utilização de símbolos, a palavra nioso ou informal, autoritário ou cooperativo - e se configura o con texto
tem lugar de destaque pela versatilidade e universalidade de suas funções, soeíocoiiumicativo da cm inciação em que elas interagem. Com efeito, esse
A linguagem verbal é o mais abrangente, elaborado e adaptável recurso de contexto não é um dado real ‘externo e objetivo’, mas uma construção
mentíil dos interlocutores, cuja participação no processo com unicativo,
criação, assimilação, circulação e transmissão de representações do con­
atravessado muitas vezes por uma dinâmica imprevisível, se manifes-
junto de nossas experiências da realidade. Mais que isso, ela é o próprio
tn como papéis sociais. É com referência a estes papéis que ajuizamos a
espaço simbólico que torna possíveis essas representações. Sua diversidade
relevância de uma informação ou de um com entário, a oportunidade ou
de formas e de usos não é, portanto, um fenômeno periférico e acidental
pertinência dc um assunto, a adequação e funcionalidade das formas de
nas relações humanas: ela é a própria expressão dessas relações.
expressão com que construímos nossos discursos. Em suma, “para o ani­
A versatilidade da palavra é a face externa da versatilidade da mente
mal, 0 mundo é fiindamentalmente o que os sentidos lhe oferecem ; para o
humana - essa espécie de ‘central de processamento’ de toda a nossa vida
homem, o que lhe dizem as palavras ditadas pela história”" .
interior, responsável por nossa capacidade de atribuir sentido ao que se
passa conosco e de dar respostas ao ambiente em que vivemos.
A com unicação de qualquer parcela de nosso conhecimento das coisas
sempre se realiza de um certo ponto de vista, mesmo que esse lugar seja de
natureza escritamente topográfica. Assim, uma mesma árvore ganha sfatus
de um objeto diferente
a) se a observo do alto, vendo sua copa fechada como um grande
bojo verde;
b) se a vejo como um objeto erguido a partir de um tronco enraizado
no chão; ou
c) se a percebo no momento em que me alojo em uma de suas rami­
ficações, recolhido à sombra de sua folhagem.

São percepções diferentes, que implicam diferentes testemunhos pela


palavra. Do mesmo modo, posso me referir a uma transação comercial en­
tre duas pessoas dizendo algo como J o ã o v en d eu u m relógio a Paulo ou
P au lo c o m p r o u um reló g io a J o ã o . O resultado de uma partida de futebol
entre um time gaúcho e um carioca pode ser enunciado como Grêmio ar­
ran ca em p a te n o M a r a c a n ã ou F la m en g o c e d e e m p a te no M aracanã. A
^ t a c o lh a de qualquer desses enunciados revela uma diferente conceptuali-
como uma ação de João ou como uma ação de Paulo; como um exito
Grêmio ou como uma debilidade do Flamengo. E é obviamente motivada
^ ^ e lo ponto de vista. Para um Jornal gaúcho, o tópico discursivo é o Grêmio, ” PINILLOS DU\Z,José “Coniiinicación, Lciif^iiaje y Pciisamicnio". lii: C.XSTRO G fBELL S
i.‘t alli. 11974: 139-1551.
SKr.l'NI>U»l\|'ln'I.o; 0«:itNIIK<;iMKNT0 1>,\ i.isurA 5.3

Gon.sideremos uma frase como


S K Í i l M K ) C A P IT l L O :
• O marceneiro fabricou a mesa com peças tlc uma eonstruçAo
O C O X lll-C I .M K N T O D A \ Á \ U { \ demolida.

O significado de m arcen eiro cobre um referente de existência oiyctiva


inconfundível, a que corresponde a seguinte definição: profi.ssional tiuc .se de­
dica no ofício dc construir móveis e artefatos dc madeira ein geral. Potle-sc
dizer qiic ele é o mesmo em qualquer situação e em qualquer frase. No entan­
to, mesa, construção e peça são palavras de significação Jiiais abrangente e
2.1 A FALA - TR.\ÇO E X C L U SIV O DO S E R HUM.VVO variáx cl, como se pode comprovar em qualquer bom dicionário. O uso des.sas
A funçíio mais evidente de qualquer lín£un é tornar possível a coinunicaçáo paiaNTrus cm relação a um certo domínio dc conhecimento limita, porém, e.ssa
entre pelo menos duas pessoas por meio de sons vocais. A posse tia lín­ variação: como estamos falando do ofício de marcenaria, ficíi claro t|uc, na fra­
gua materna parece resultar de um processo desencadeado naturalmente, se cni questão, me.srt designa um objeto feito de madeira e constituído dc uma
eomo uma habilidade motora entre outras. A fala seria simplesmente uni superfície plana apoiada sobre pés; construção se refere com certeza a algo
dom natural do homem, um traço que o particulariza no reino animal, tan­ como uma casa com partes feitas de madeira, e p eç a s denota essas parles.
to quanto o dom dc voar distingue os pássaros. Eis a voz do senso oomum:
A ISTEICNÇÃO DAS 1'ES.SOA.S, CO.M VISTA À TKOOA DE CONTEÜDÍXS E A RESl’RUTIVA
o homem nasceu para falar.
IMiOin çAO HK .SENTIDO, UEQÜER, l*ORT.VNTO, iVNTES DE QUAUIUER COISA, QUE
Mas as coisas não são exatam ente assim, A semelhança entre homens
II.AIA ENTRE EL.\S TM .\(:OUI)() OU ENTRO.S.VMENTO SORRE A REl’RESENTA(;ÃO yUE
e pássaros consiste em que cada espécie dispõe de um equipamento bio­
E.\ZKM 1)0 EVENTO E.\l QUE ESTÃO TOXLVNDO PARTE. ESTB ACORDO E DECISIVA)
lógico nato específico para o de.senvolvimento do respectivo ‘dom’. Mas
PAR.\ UMA l)EHNT(,:.\0 DOS UMITE.S ÜA SIUNIFIGAÇÃO QUE ATRlULfEM .\S PALA\’IU\S E
para por aí: o voo inaugural do pássaro c apenas uma questão de tempo e
E.XPRESSOES QUE E.MPREGAM*'^.
de maturação biológica, ósse:i e muscular. A fala também depende de ma­
turação biológica e de tempo, mas só pode surgir quando é estimulada pelo Lste acordo ou entrosamento sustenta-se na premissa de que o sentido
meio social onde os outros também falam, ünia língua é como é por causa das formas c razoavelmente estável, que não vive mudando ao sabor de cada
de seu caráter simbólico c interacional: ela incorpora a cultura no homem evento, mas ao mesmo tempo adapta-se a ele dentro de uma margem de
à medida que o incorpora ao melo socioeultural. compreensão compartilhada pelos interlocutores. Esta estabilidade do sen­
tido confero ãs formas urna importância central na geração de compreen-
2 .2 L Í\(U .\. SITl .\ÇA() E SKLMI* ICAÇÃO sões pertinentes á situação comunicativa. iVfinal, a experiência do mundo é
A língua é um bem coletivo, e a interação social, sua principal razão de ser. um acoiUucimento individual; e cada experiência que viveiiciamos, uni fato
O que cada pessoa sente, sabe, imagina, quer, sonha é uma e.vperiência único. Por isso, no.ssas frases não podem ser retratos fiéis da singularidade
individual, subjetiva e imiea. Por mais que seja um hem coletivo, porém, de cada experiência, mas formulações esqucmáticas t[ue desencadeiam cm
a língua que falamos não repassa tal e.xperiOncia, na sua integridade e com­ nosso interlocutor compreensões possíveis ou plausíveis na situação.
plexidade, a um iiucrlociitor; ela reprocessa essa experiência, reorganizan­ Podemos tornar mais clara esta formulação com um episódio fictício.
do-a nos termos de iiin códigí> coletivo cie representação c coniunicação. \V)u à casa dc um amigo. Sei que ele tem dois cachorros ferozes. Eu ine apro­
Suas formas são como nioeda.s, que cireulam como meio de trocas. Assim ximo do portão e toco a campainha. Os cachorros começam a latir, mas pelo
como as moedas são portadoras de valor, as palavras são portadoras dc circuito interno de voz eu mc identifico c ele me dá um recado: E m p u rre o
sentidos. Tanto o valor quanto o sentido precisam ser compartilhados, ou
'' llsic rci|uisito c o iT c s p o n J u (|uc .se ch<iiua ‘eiu|undre incerniivo’. Um mesm o palavrão p<Kle ser
a troca não pode aeonieecr. E.s.se ‘denomíiiador ccmiiim’ é a garantia da in- proÍLTiJo como uin insulto ou um eloj^io maIÍcu>.so. A diíureiivu depende do enquadre interativo.
tcrcompreensão e persiste por força dc uma espécie de acordo tácito entre ((;f TANNEN, Heborah e WALLAT. ('yuiia. ''Entiuadrcs interativos e v.s(|ucnias dc conhecim ento
os falantes da (íngua. cm jiULTavâo". In: R IIÍE IR O e G A K C E Z | 2 U()2 : 1 8 3 - 2 H I ) .
5-1 MH i I’» ‘ I‘»- I XI‘H»N.s.\o t ,:nM i xi<;Ai.:.\n

.‘>K«ii*N]H) r,\riTn.o o rosiiKu&usTn i>\ i im;i \


;Njrí(i(i; (.s n a/ iom ís fsfdo /jiv .s o s . O cm inoiatlo c cla ro c mo informa oqi^.
cii preciso saber. Kiiteiulti o rccatlo c faço o qiic tcni d c sor feito.
T oim ) .vni IH-; i. in’<;u .m ; km }’ie\TK:.\no sKKrs in*M.\st>s rKKssrn^r - n r l•Ko•
Aeticièiieia clesie emineiatlo resulta de um complexo conjunto de fatorts .iKT.\ - r,M.\ sit u a ç Ao s í )(:i( m:o .\u *n k ;.\t iv .s .
ei>iiiiitiailos. Nele mobiliza-se todo o sistema da interação humana por nicioda
liiuinajiem verbal, tudo o que faz dela a fonna mais ainplainentc usíula pelos Atciucinos agora para o fator ‘b’. Ele enuncia um pré-rcqiiislto da in-
.seres humanos para a comunicação, ncstatjiienios alí;»uns desses fatores: tcrcomprecnsãü, mas pas.sa ao largo de uni fato lK‘in conheeído. que mui­
a) esse enunciado intetíra iini breve episódio - ou um evento - que tas palavras tCin mais dc um sentido. () próprio verbo cmpnm ir cxpre.ssa
envohe dois atores (enunciador c destiiiatãrlo) numa intcrlocu- outra informação em /Cm/nirreo carro; cie só pega no frrmcf). Por sua vez.
ç:u». Podemos facilmente imaginar o cenário que o torna possí. prc.sfj quer dizer uma coisa ipiando sc refere a cachorros, outra (|iiando sc
vel como peça comunicativa, assim como temos uma ideia muito refere a indivíduos privados da liberdade numa penitenciária, c outra ainda
clara tlc como o episódio - e o evento que o contém - podem st quamlo sc refere á situação dc alguém metido cin um engsirrafamento de
desenrolar: a aproximação do visitante, sua entrada no quintal, o.s trânsito. O fator ‘b’ nos dá a seguinte lição:
cumprimentos, as palavrinhas afetuosas etc.;
b) as palavras proferidas pelo enunciador - c as frases constituídas As l’,\[..\Vie\S N.\0 SU;NIKIC-VM .SOZINILVS; sua (aU*A(;it)AI)K l)K hXriUMIK SKINIHCA-
1*1 i:OMI*M .\OS INTKI<L(K:i"roW->i NÃO l)KI*ES'1)K Sí') DKl.VS, M,\S TA.MUfAI U.VS COMUi-
por elas - si^niticani ‘a mesma coisa’ para ele, para o destinatário
NAÇrJlvS UI’K .VS K.WOIVKM K IX) CONTBXTO SITUACIONAL ¥M S.V> ITIMZADAS.
e. seéurameiUc, para quaisquer outras pes.soas que participassem
desse episódio; Fixemo-iios agora no fator ‘c ’. Ao produzir uma mensagem verbal, o
c) :i primeira frase funciona como um comando (nao é uma pergun­
enunciador sempre sc coloca numa posição diante de seu interlocutor; ele
ta nem uma e.xclamação) e a secunda como uma declaração que
tem uin propósito e emprega a forma dc expressão que lhe parece adequada
confere credibilidade ao comando; para atingi-lo. Uma pergunta ou uma exclamação certamente não faria o
d) o comando, no entanto, diz al^o mais que não está explícito; ele inierlocuior entrar. O comando (frase imperativa) foi a alternativa eficien­
é. também, uma permissão para o visitante entrar. te. Por outro lado, o enunciador está ciente dc que seu inierlocuior tem
motivos para cautela, e acrescenta ao comando uma informação que neu­
Examinemos mais do perto cada um desses fatores, começando pelo traliza esses motivos. De nada valería acrescentar algo como 'ele está sem
fator 'a'. A condição típica da comunicação humana é a que se dá na situ­ o cadeado’ ou ele está só encostado’. Tiramos daqui uma importantíssima
ação face a face. envolvendo pelo menos dois atores: um enunciador e um lição sobre a elaboração dos enuncludos;
destinatário. É graças a ela que cada ser humano aprende a falar e desenvol­
ve suas habilidades comunicativas básicas. Todo ato de fala assim caracte­ ü Tt;XTO .U>Kt-SKNTA A FÜUXL\ QUE V .O S V tM A INTENÇAo DE QUE.M O KNITíUlA E
rizado desenrola-se numa situação e é motivado pelos mais variados fatores KKÚNE AS INKOKXLXÇÓKS RELEV.NNTES ES.H.\ INTENÇAo.
ou circunstâncias sociocuUurais, em que os interlocutores desempenham
o que chamamos de ‘papéis soeiocomunicativos’. Acrescentemos que, no Cuidemos agora do fator ‘d’. Em purrar é uma palavra que significa atos
relacionamento face a face, a altura e a velocidade da voz, a entoação, os com diferentes intenções, como já vimos. O que queremos mostrar agora é
gestos e as variações da fisionomia sào decisivos para os efeitos de signifi­ que o interlocutor compreende perfeitamente o recado; não só modifica a
cação que nossas palavras sào capazes de produzir. Quando dirijo a palavra posição do portão (sentido explícito do comando), mas ainda se sente auto­
a alguém ou quando alguém se dirige a mim pela palavra, um complexo rizado :i penetrar no quintal (sentido subentendido). Outro detalhe interes­
conjunto de dados entram em ação; quem é essa pessoa, que tipo dc rela­ sante é que, na situação, o ato de em purrar fará o portão abrir, significado
cionamento possibilita nossa aproximação, que assuntos podem ou devem que o verbo não expressa mas pode fazer entender. Com efeito, o portão
ser tratados etc. Todos esses dados compõem o que chamamos um contexto
impedia a entrada; logo, só podia estar fechado. O mesmo comando podería
sociocomunicativü. no qual se definem as coordenadas da interação verbal.
ser dado no caso dc o portão estar aberto e seria uma instrução para íechá-
Seguimos essas coordenadas para tomar decisões sobre a forma adequada
'lo. 0 fator ‘d’ nos dá outra lição sobre o funcionamento da linguagem;
de expressão. Podemos resumir o fator‘a’ da seguinte maneira* * ^
56 SKU-NHA l-AHTH - V\l\ ^OU.\IA O t CnNlIUClMKNT.). I>K KXPM^^sAo K l)K COMIJNIc a ç AO

SKc;irNi>o i:\HTri.o; II r,i*NiiKr.iMKNTn i>.\ 57


A vSITuac Ao (:().Ml.^’Ií:ATlVA i-odk tkr iNRirf.NciA RKctsivA NA intkiu -i« : tação
IKXS SENTIDOS. Jes comunicativas e competências verbais específicas. Como nem todos os
membros tlcscnipenliuni as mesmas tarefas c funções, fica claro que as liahi-
liJades comunicativas inerentes a cada tarefa ou função não fazem parte do
O exemplo comentado iios deixa concluir que as frases que enunciamos
conhecimento de todos.
não reproduzem os pormenores e a inrepetível singularidade das situações ou
Nas sociedades democráticas c socialmentc justas, qualquer iniiivíduo
estados de coisas do mundo que ser\'em de assunto aos nossos discursos. A
pode íLspirar a desempenhar qualquer função c executar qualquer tarefa; a
língua que falamos é um sistema de formas e construções colctivamente dis­ única condição é que se prepare para isso, adquirindo, entre outras coisas,
poníveis e coletivamente significativas. Nossos atos comunicativos, por sua as técnicas da função e, dependendo da tarefo, as habilidades verbais apro­
vez, são, antes de mais nada, episódios da vida social, e as palavras c fra.ses priadas, O conhecimento da língua sempre abrange, portanto, uma represen­
que empregamos só produzem sentido quando integradas nesses episódios, tação dü vida dos homens em sociedade. Em termos ideais, conhecer uma
conforme procuramos deixar claro na análise do par de frases acima. língua significa ser capaz de ser\'ir-se dela para executar, com desembaraço
e êxito, as múltiplas tarefas comunicativas inerentes ao convívio social.
2 .^ CO N IIECIM KN TO DA LÍNGI A COMO A atividade intelectual e cognitiva de que depende a interação huma­
CON H ECIM ENTO s o c M o c r iT r ic u . na por meio da palavra é universal na espécie e obedece a processos inde-
A linguagem articulada em sons vocais é unia propriedade exclusiva das jK.’iuicntes desta ou daquela língua. Já nossos universos de referência e a
sociedades humanas, onde toma a forma de línguas aprendidas. Estas nao respectiva simbolização/verbalização nos particularizam como membros de
sâo m eros m eios de comunicação - a qual existe em muitas outras es­ grupos, classes, comunidades, sociedades. No seio desses universos, interio-
p écies m as, principalmente, fomia.s de conhecínieiito do mundo como rizamas o mundo por meio de conceptualizações simbólicas, somos prota­
significação e de expressão de valores culturais c hábitos coniportanientais gonistas dc eventos de variada espécie, tomamo-nos seres sociais, humani-
in trín secos à respectiva sociedade. zamo-nos enfim.
O mnís versátil repositório dessas conceptualizações é a língua que
A MEDIDA QUE APKCNDE SUA I.INUL’A .MATRKNA, TODO INDIVÍDUO AUKENDE COM falamos, e esta é um corpo com plexo de formas, regras e estratégias de inte­
ELA UM\ KOILSLV DE CONHECER O Ml^NDO E HE .'<E RELACIONAR SOCIALMENTE. ração. Resumindo, é certo afirmar que a linguagem humana é um fenômeno
de natureza múltipla, no qual interagem fatores biológicos, psicológicos,
Toda comunidade formada por sere.s humanos, por menor que seja e afetivos, culturais, sociais e formais.
por mais simples que sejam .seus hábitos de i'ida, se define, entre outras
coisas, pelo compartilhamento de um universo de referências (no nosso A I.INU.UA (: UMA FÜRNL\ DE CONHECIMENTO E UM MEIO DE CONSTRUIR, EST.VHK-

exem plo, a existência de portões c o uso de cães como recurso de segurança I.KOER, M.VNTER E MODIFICAR REI^\Ç0ES COM OS OUTROS. FoR ISSO MESMO, USL\

em certas residências), de onde seus membros tiram o conteúdo de todas as MESMA PESSOA É CAPAZ DE UTILIZAR DIFERENTES ‘ e STILOS’ OU RECilSTROS DE

suas práticas comunicativas rotineiras ou eventuais. l.lNCUA, CONFORME O CONTEXTO OU AS FINALIDADES DA COML^TC.\ÇAO: QU.VNDO

A língua que falam não só está a seniço dessa função fundamental, SE DlRir.E A UM ADULTO OU QUi\NDO FAL/\ A UMA CRLVNÇA, UU.VNlK> FAL\ A PESSOAS

com o a desempenha com absoluta eficiência, na medida em que tudo o que REUNIDAS EM UM AUDITÓlUO OU QU^\NDO CON\'ERSA DE MOIK) DESCONTlUllM)
NUSL\ RODA DE .\MIC.OS, QUANDO ESCREVE UXL\ CARTA DE C.\NDlDATO A UM EMPRE-
pertence ao universo sociocultural da comunidade pode ser dito e compre­
GU OU QUANDO COMPARECE PARi\ UXL\ ENTREVISTA COM ESSE MESMO ORJETIVO,
endido por meio dessa língua. A luz desse ponto de vista por assim dizer an­
QU,\NDO RELMA UM ACONTECIMENTO OU QUi\NDl> DA UM CONSELHO A ALGltM.
tropológico, o que significa ‘conhecer uma língua’? Significa tão som ente es­
tar apto a ser\’ir-se dela para tomar parte na rotina social da comunidade.
Também é verdade, porém, que nenhuma comunidade, por m enor que 0 conhecim ento que as pessoas têm de sua língua materna integra cm
seja, é cem por cento homogênea: seus membros se distinguem pelos pa­ uma só e ampla com petência as form as, as construções e o discernimento
péis que desempenham, pelas tarefas que lhes são destinadas ou que eles para lUilizá-las/reconhecê-las em função das características do evento co­
assumcni por livre escolha. A uns e outras podem corresponder habilida- municativo em curso e dos efeitos de sentido pretendidos/periincnies.
5S SK r.i7.-iu -i-M A koílma i . f; lu; f:xiitK^s.vo k t^r.
K K r.lT ílx u lV I-lln ii
59

Por outro lado, a aparente naturalidade do uso cotidiano da paia^ ,.i c o m i e c i .m k n t o d a i,iN (;r .\ c o m o
para a com u n icação imediata canudla a complexidade e o potencial ia ' COMIECIMKNTO 1)K l .M .SISTKMA
giia: tem -se a im pressão de que as situações cotidianas se repetem scn, piíseinos na seção p reced en te que a língua que falamos ê um corpo
novidade, e que podemos lidar com elas valendo-nos de fórmulas já conhe. (^Iiiiple.xo de formas, regras e e stratég ias de interação. Estes aspectos
cid as, p raticam en te prontas, num entrosamento perfeito entre a rotina dj I serão tratados detalhadam ente ao longo desta gramática. Por ora, adiaii-
realidade e a rotina de nossos discursos. Neste caso, a língua atua fone. i,ireino.s alguns pontos relativ os ao con hecim eiu o da língua como uma
m en te com o uma forma de conlieeimento que estabiliza noss.is pereepi;í;p, estrutura.
naquilo que podemos cham ar de .sen.so co m u m . A língua se torna um o b jeto m aterial pronunciável e audível graças
Mas há outras dimensões do uso da palavra, onde o mundo não tst,i aos sons vocai.s; na escrita, sua m aterialidade é conferida pelas letras e pe­
pronto m as precisa ser criado, onde as frases e os sentidos não cst.io dis­ los sinais diacríticos e de pontuação. Cada língua utiliza uma determinad.-i

poníveis com o produtos nas gôndolas c prateleiras do supermercado, mas. porção de sons vocais, com binand o-os segundo regras que permitem al-
pelo con trário , precisam ser elaborados. Esta é a dimensão em que se nus íiimas sequências e impedem outras, e contrastando esses sons dc modo
vim entam todos aqueles que têm desahos pela frente, que precisam ir alím que por meio deles as palavras se distingam entre si (c a /o / cam , ocilo !
da realidade já construída e aparente, bu.seatido, sob a superfície confona- ^ ih .c iilo / c o lo , c a l o /c a l a ) . É a fun ção distintiva que faz deles unidades
.'e lm en te con stan te da fala de todos os dias, as pistas, as brechas, os atalhos iniogradas no sistema da língua. Com binando-os em sequêneias reguladas
que nos dão acesso a territórios e objetos que aguçam nossa percepção, pdü sistema obtêm-se as palavras possíveis. Tanto o elenco de .sons fun­
renovam nossa.s em oções e estendem nossos horizontes de compreensàoe cionais como as regras que d eterm inam suas combinações possíveis para
de com unicação. É nessa dimensão que a palavra assume o caráter de uma a ohteiiçâo das palavras fazem parte do conhecim ento que os falantes
sohsticnda tecnologia a .ser adquirida e dominada. nativos cêni de sua língua.
As e.xperiêticias dc vida dc toda ordem (no cotidiano, nos grupos dc in Voltemos agora ao enunciad o que com entam os anteriormente. Ele é
teresse com um , no contato coni outras culturas e com outros estilos de vida| divisível em partes trad ioionalm ente conhecid as como palavras, e estas
e a convivência com le.xcos de variada espécie (crônicas, lendas, receitas, re­ pertencem a determinadas classes, segundo as formas que podem assumir
portagens, poemas) e encontrados em fontes variadas (livros, eiioiclopêdiiLs, e .IS posições que podem ocupar: e m p u r r e + o + p o r tã o + os + eu chorroa
jo rn ais, revistas, x iie s ) eotitríbueni signiôcativamente para :t construçãodt +estão + presos.
nossa com petência enciclopédica (o conjunto de tudo o que sabenias), nus mais óbvia verdade a respeito das palavras é que boa parte delas
só a o b se n ítção desses di.scursos/te.xtos como objetos elaborados eoni pahi- serve para nomear o mundo com seus seres, objetos e situações: em purrur,
vras e a reíle.xão sobre as condições, os mecanismos e procedimentos desM ponüo. ca ch orro , p r e s o . De acordo com esta função das palavras, distin-
elaboração perm item que se trave com a palavra uma relação mais teiisar guimos diferentes ações { e m p u r r a r / a f a s t a r / a b r ir / en costar), diferen­
quase sem pre desafiadora, a qual resuira na recriação e ampliação dos recur­ tes objetos (portão / p o r ta / j a n e l a ) , diferentes animais {ca ch orro /goto /
sos da linguagem —s'ocalnd;írio, construções sintáticas, alternativas eslílísti' tabrítn); diferentes situações { p r e s o / s o lto ). O conjunto das palavras que
cas - e numa compreen.são enriquecedora do fenômeno xerbal. e.xpressam esse tipo de significado con stitu i o léxico da língua (cf. 6.5.2).
O título desta seção - eonliccimcmo d.n língua como conheeimcnio As palavras le.xicais pertencem basicam en te a três grandes classes: verbos
socioeultural — se revela, em grande medida, redundante: conhecer uma (empurrar, a b rir, c^ a star, e n c o s t a r ) , substantivos {portão, p orta. Ja n ela ,
língua é, necessariam ente, saber servir-sc dela, compreendê-la e viveneiá-la cachorro,gato, cab rito ) e ad jetiv o s (p reso , solto).
com o expressão da vida em sociedade, com sua diversidade, sua complexi­ Sobraram as palavras ‘o’ e ‘o s’, que nada signibeam no mundo das de­
dade, suas con\'enções, seus ritos, suas crenças, seus valores. signações. Independentem ente, porém , da diferença entre estas duas espé­
cies, cada uma dessas palavras reú ne um conjunto de informações:
E m k e .s u m o , m u K M o s d iz e ii u i e o homem vive d en tro t x i .m lpsdo o » io a) em empurre há, além do significado mesmo do verbo (compare-o
CORVO, XLXS o MO.MXJ n v E DEXTKO Ixj HOMEM CO.MO I■A1..\VR.^ com a b r a , a fa s t e , en co ste , que significam outras ações), as noções
de ordem (com pare com e m p u r r o , que expressaria uma mer.i
óO s K c .o n A P A im : - i ^ma fo u .n u dk c*>Mi>:»nMKsn np. KXi'KKS«s,\o p DK

d ec la ra ç ã o ), de núm ero s in g u la r (re fe re -s e a uma pesso^


co m p are com c m p io re m ). e de s e g u n d a p esso a {você, e não*^
ou n ó s); t e r c e ir o C A P ÍT I LO :
b) em o/os as noções de definido (c o m p a re c o m um portão), va IUACÃO. m u d a n ç a E IT sID A n i: D.\ LÍN W A
u ero m ascu lin o (com pare com a p orta / a s cachorras) o dei*,i
m ero (com pare com os portões í o ca ch o rro );
c) cm esíd o a noção de tempo p resen te (co m p are com estacam/
e s ta r ã o ), de número plural (com p are com esrtí) e de terceira
p e sso a (com pare coni estamos / estás).
ã.l !JN(iUAGEM E M I DANÇA: SINCRONIA K DIACRONIa
O n ú m ero das formas lexicais é ilim itado, porqu e não hã limite para o Toda língua sofre alterações ao longo do tempo. Já houve uma época cni t|iic
ro l d e co isa s e situações do mundo que precisam os n o m ea r Ao situá-las em as línguas eram comparadas a seres vivos, que na,sciam, cresciam, tlavam
c la s s e s , porém , indicamos que elas estão su jeitas às propriedades caracte­ íruios, envelheciam e morriam. Expressões correntes como Ííngua-inãc’ c
rís tic a s da respectiva classe. língua morta’ são vestígios desta concepção. Outra ideia muito difundida
no passado, também hoje superada, é que as línguas ‘evoluem para uin
PòR os OBJETOS Ql^ COMI*('>EMNOSSA EXPERIÊNCIA L>0 MUNDO EM CUVSSES OU estado dc perfeição’, ilustrado na maneira como a praticam seus grandes
CATEG01U.VS Ê A 1’NICA M.\NElie\ DE 'ARRI^MAR -VS COISAS 1’AR-\ QUE TOSSiVMOS, DE oradores e poetas, e que, atingido este estágio, elas precisam ser defendidas
FATO, MEMOUIZ.t-l..\S E F.VZER DEl-\S ASSUNTO DE NOSSOS ATOS DE COMUNlCAÇitü. da corrupção daqueles que a utilizam mal’, e, portanto, de toda nuidança
que as afaste daciuele ideal de perfeição. Sabemos hoje que, no papel de
A n o ção de ‘classe de palavra’ é o conceilo-cliav e de nosso conheci­ meios correntes de expressão e de comunicação, todas as variedades
m e n to da língua como um sistema. É assim que o verbo varia para expressar dc uma língua são dotadas de estrutura complexa em qualquer fase dc sua
te m p o e pessoa (estão /estamos /estacam )* o substantivo apresenta um gê­ e.xistência histórica, funcionalmente adequadas aos objetivos iiueraclonais
n e ro (o portão ! a porta) e varia para a expressão de núm ero (o cachorro / de seus usuários, c perm aneniem ente adaptáveis às novas necessidades dc
o s ca ch o rro s / a cachorra /as cachorras), características que ele repassa expressão da comunidade.
ao ad jetiv o que o acompanha (preso /presos / pre.sa / presas). A mudança na língua é causada por fatores diversos, mas é certo cjue
O s conteúdos mencionados acima e as formas que os expressam me­ nenhum deles opera independentemente e que, para que atuem e produzam
d ian te variações da palavra fazem pane da inorfolo^a da língua portuguesa. seus efeitos, c indispensável uma condição; que a língua esteja em uso c inte­
Tam bém por pertencer a classes, as palavras ocupam certas posições grada no cotidiano dos que a falam. Uma língua não muda ‘dc vez cm quando’,
n a s co n stru çõ e s eni que tomam parte (empttrre o portão, mas não portão mas coütinuamente. Algumas mudanças podem ser notadas ein curtos perío­
e in p u r r e o). Essas consmições expressam significados mais complexos, le­ dos, como o surgimento de certas palavras e o desuso de outras; mas mudan­
van d o as palavras a exprimir relações dc sentido que elas nao exprimem ças coletivas de pronúncia c de construções gramaticais são Ixnn mais lentas
fo ra da con stru ção, como agente e paciente em Pedro [agente] empurrou e praticanieiite imperceptíveis ao longo da vida de uma pes,soa. As mudanças
o p o rtão (p acientei. Chamamos sintaxe ao sistema de regras que deter­ linguísticas só nos parecem evidentes (piando comparamos formas de épocas
m in a m com o as palavras são combinadas para a form ação de unidades dc distintas; no século XIII, escrevia-se - e seguramente também so talava - migo
sig n ificad o m aiores que elas. (português atual com igo), frem osa (port. atual ^/bmiosa) perdcrdii (port.
As form as do léxico só participam da construção dos enunciados ao íUiial perderão), giolho (port. atual joc/ho) a mar (port. atual o mar). Verlxis
s e r e m subm etidas às regras da morfologia e da sintaxe, cu ja com binação como ter, ver e pôr, que atualmente não possuem vogal temática no inhmtUo.
c o n s titu i um a das acepções do termo gramática. tinham-na explícita na Idade Média: teer, vcer, pf>cr
Mudanças significativas, capazes de transformar sensi^ehiienie a
fisionomia de uma língua, atingem a fala de toda a c o m u n id a d e , a qua ,
6 J Si:.ii-N|IA rv iiT f - i m k iu m a i » ; u i m i k c i m i s t h , iik ^;xl■l:^.^sA^l t: mk aiMi-Nr«-vg.Ai.

TKHCEIHO V'AHIAí;ACi, MI'1>.3Si;AKI SIP-MiKl'Al.lNtiCA


por isso, experim enta eni cada etapa da iti.stória n sen.sação de que to-
dos os seus mem bros partilliam os mesmos Ii,-il>itos linguísticos. Noutras Uma língua é um si.stenia abstrato rceonhecível nos muitos usos, orais
palavras, os m em bros da comunidade lingiiísticn entendem-se ecomuni- 011 escritos, qiie seus falantes fazem dela. Os indivíduos concretizam c,sse
sistema, seja como eminciadores, ,scja como destinatários, nas miiltipiãs si­
eam -se porque participam de um mesmo 'estado dc língua' estruturado
tuações de liso. Por isso, o uso da língua é, em princípio, um alo iiulividiiiil.
numa dada sin cron ia.
Mesmo individuais, porém, es.ses atos são iiormalmenie acontecim entos
A história interna de uma língua - ou mellior, sua diaeronia - pode.
iiHursnbjetivos, visto que sc realizam na e para a com unicação entre indi-
assim , ser e.xplicada como uma sucessão de ‘estados da língua’, uma pas­
1'íduo.s on sujeitos, que precisam, para compreender-se, estar ‘de acordo’
sagem ininterrupta de uma sincronia a outra. A mudança, embora ira-
.sobre o que significam os sinais que estão usando.
perceptível, é incessante, o que é o mesmo que dizer que, na realidade, o Esse ‘estar de acordo' referc-sc à dimensão social e histórica da língua;
'estado de língua’ - isto é, a captação de sua estrutura numa sincronia-é sociol porque pertence a todos, e h is t ó r ic a porque é tr.ansniitida de geração
tão som ente um ponto de vista cm que nos colocamos para anali.sarou a geração, através do tempo. O fato de pertencer a todos exerce sobre o uso
d escrever a língua (ver COSERIU |197d: 23S-283|). uma pressão padronizadora, cujo efeito é a semelhança ou mesmo a identi­
dade de uso entre os membros da mesma comunidade. E.sse modo coletivo
3 .2 IM O A D E \: V.MíIKD.VDK D.\ I.ÍM il O I SO l'.\l)K.\<) de usar n língua constitui uma norma, isto é, um
Para melhor caracterizar o conceito que sainios apresentar nesta seção, fa­
rem os uma comparação entre a língua e a música. Imaginemos uma can­ OlXirNTf) IlE HE.ALIZAÇÕICI FOXIíTlt'.,VS, MORFOl/lCIClS. LOIC,VIS E SINT,\TK'..\.S l'H(>-
ção qualquer que já tenha sido interpretada por três diferentes cantores IS ZIIX) E .MXJT.lIXl MtllLVvTF. la l .«XIRDO T.tclTO PELOS ME.VU1ROS lU eo.AnNIDAllE.
ou conjuntos musicais. Por maiores qiie sejam as diferenças entre as três
interpretações, sempre seremos capazes de reconhecer nelas a n iesin c can­ Temos aí. portanto, três conceitos:
ção. Viimos chamar de \ ao conjunto de características estruturais que per­ a) a língua como estrutura abstrata, uma espécie de denominador c o ­
mitem reconhecer nas três interpretações a m esm a canção, e de An (isto mum de Iodos os seus usos: o sísterna;
é, A l, :\2. \ 3) cada uma d.as interpretações. Agora vamos imaginar que a b) o ato concreto dc falar/ouvir ou escrever/ler a língua; o uso; e
interpretação ,\ 2 se torne uma espécie de modelo de interpretação copiado c) a soma dos usos histórica e .socialmente consagrados numa com uni­
por vários outros c.nntores ou conjuntos musicais, de maneira que ao ouvi­ dade c adotados como um padrão que se repete; a norm a.
dos possamos facilnieme dizer que esses novos intérpretes estão repetindo
uma interpretação anterior, que por alguma razão, não necessariamente Voltando à nossa comparação inicial, podemos, resguardadas as de­
musical, se tornou a preferida deles. .-\2 é agora algo mais do que A l e A3; vidas diferenças, dizer que o .sistema corresponde a A, o discurso a An e
,-V2 tornou-se uma interpretação padrão De tal sorte que muitas pessoas a norma a ,\p.
passam a considerar .\2 a forma ideal de .\. Vamos batizar esta noA'a con­
cepção de j\2 como ,\p (p = padrão). Isto não impede, é claro, que outros .l.-l ,VS \ ,\|{|AS NOIIMAS E A VARIEDADE P.\DR.\0
intérpretes iiiot em n.i maneira de executar ou cantar a canção, realizando Essas normiLs podem scr características do uso de toda uma região - nomiírs
com as no\'as interpretações novas variantes de ,Vn (A4, AS, A6 ...), dentre regíonai.s - , do uso de diferentes classes socioeconômicos - normas s o c ia is
as quais algumas poderão ser obras dc boa qualidade estética. dos US0.S em família - normas^anií/iares dos usos típicos de certas profts-
sões - iionnris proJi.Ksionais dos rnsos das gerações - n o rm a s e tá r ia s - etc.
.SI.STK.MA, I SO i: \OK.\|.\ O importante na conceituação de norma são o seu caráter coletivo e sua con­
Se th-ermos a precaução de não tomar ao pé da letra a presente comparação dição de modelo de iiso’, que os membros da comunidade seguem, por escolha
entre a música e a língua, ou mais especificamente, entre a estruturação das ou por força da herança sócio-histórica. Isto não significa que a norma é rígida
notas que definem uma dada obra musical e uma língua particular - pois esta c invariável; o sistema oferece aos usuários da língua meios dc renová-la. É
tem uma natureza extraordinariamente mais complexa que a primeira - pode­ verdade, no encanto, que essa renovação é lenta, pois as forças sociais de con-
mos dizer que as obsen ações feitas acima se aplicam, no geral, à linguagem. .sen-ação são mais poderosas do que as iniciativas individuais dc estilização.
M 5 tc.i-si\\ i.vR tt - IM VIIIIUU IIF. i:iiMir.riMt.vnh, nr. rxi'Hts.s,\ci i; n r a a i i M c A r t i i

UKiaaHti iLMITian; mi ' iM iuei i-a u s i.fs *'•


O que cham am os de língua comum ou língua padrão, dialeto regional
ou dialeto social não corresponde, porem , a um a entidade homogênea • Mais uma percri, voeO sai do jogo.
e estável, dc lim ites por si mesmos definidos, integrada na vida social ,i • Ele comeu um pão eom niurlum icld.
espera de que o pesquisador a encontre e a revele. E stes lim ites são con­ • Se ela p ro p o r esse acordo, eu aceito.
cebid os no domínio da teoria, a fim dc que o pesquisador disponha dc um
São formas que pertencem à língua como iini todo. mas niio e.stão ni-
guia, de um roteiro dc investigação. Sc esses lim ites são em geral fluidos,
cliifd.as no ‘modelo de uso’ referido acima. Pelo menos por eiiqn.iiilo'", as
tam bém c verdade que os falantes nativos da língua têm intuiçôes que
foniias padr.ão correspondentes .são;
os habilitam a reconhecer, na fala dc outro usuário dessa língua, traços
• Nós eo/tcinios da praia tarde.
característico s dc outra região - dialeto geográfico - ou de outro .segmen­
• A gente voUou da praia tarde.
to social - dialeto social. Entre os dados que norteiam a pcsqui.sa e.stão
• Mais uma p erd a , você sai do jogo.
essas intuições e as atitudes relativainente à linguagem Isaseadas ne.s.s:is
• Ele comeu um pão com m ortad ela.
mesmas intuições. Dc um modo geral, seja por influência da escola - no • Se ela prop u ser esse acordo, eu aceito.
caso de indivíduos escolarizados - seja por certos condicionam entos so-
oiolõgicos, os usuários da língua constroem alguma imagem sobre a fomi.i Por outro l.ado, as seguintes construções emparelhadas
mais conveniente ou mais correta de utilizar a língua, seja na prominci.i • Eles assistiram o jogo pela televisão / Eles a.ssistiram ;io jogo
das palavras, seja na seleção do \’ocabulário, seja ainda nos meios de ex­ pela tclevi.são.
pressar suas combin.ações na ír.ase. • N'at|uela época, importava-sc todas essas mercadorias / Nai|ucl:i
Portanto, quando falamos cm 'língua portuguesa' como uniíi entidade fa­ época, importavam-se todas e.ssas mercadorias,
miliar a brasileiros e portugueses, e comum a milhões de pessoas em quatro • Deixem cie entrar / Deixem-no entrar.
Continentes, estamos, na verdade, referindo-nos a uma grande abstração. Eni • .Vão sai agora daí, porque está chovendo muito/ Não saia agora
um ensaio lúcido e teoricamente atualíssimo. Mário de jVndrade ponderava daí, porque está chovendo muito.
que “A língua, no seu sentido, digamos, abstrato, é uma propriedade de todo
o grupo social que a emprega. Mas isto c uma meni abstração, essa língua são eonsiderad.as variantes no mesmo padrão geral; o que as distingue é algum
não existe. O tempo, os acidentes regionais, as profissões se encarregani de fator ligado ao contexto de u.so, como o grau dc formalismo ou a finalidade do
transformar essa língua abstrata numa quantidade dc linguagens concretas tc.xto cai proccs.so. Minha intuição é c|uc as formas emparelhadas nos dois pri­
diversas’""’. De falo, sõ tomamos conhecimento de uma bngua através de seus meiros pares são pemuitávcis no mesmo nível de linguagem; já nos pares se­
usos, manifestação mais límpida dc sua natureza essencialmcntc instrumen­ guintes, a forma à estiuerda é corrente na fala espontânea (registro informal)
tal na vida das pes.soas. Se uma língua só existe cm seus usos, concluímos que e ;i fomia ã direita pertence a um di.scurso mais tenso e elaborado (registro
suas formas se legitimam no simples fato de existirem e de tomarem possíveis fomial). Ou seja, a v:iriedade padrão é elá-stica e comporta usos alternativos.
a expressão individual e a comunicação no seio de um grupo social. ü que dizer, por exemplo, das escolhas feitas pelo autor do seguinte
Repetimos que, ao escrever esta obra, procuramos traçar imi perfil da fmgmcnto inicial dc uma crônica?
modalidade padrão escrita eomemporànea do português do Brasil” . Esse Aquele carro que invadiu um supermercado arrastando até a esposa do
padrão não é um corpo de limites rígidos nem, tampouco, um conjunto motorista mc lembrou a minha, cada vez mais distante, infância. Morei
uniforme dc meios de expressão. Consideremos, por exemplo, as seguimes
formas ou construções empreg.ad.as por muitos brasileiros; '' Todos Sanhcnios que ii-s lín^iuos {ipresentiim varkições souiaíü. rvíiloniiis, estilísciuíis uic. e (|uc,
* Nós vo/fcmo(,s) da praia tarde. juNfíirneiitL' por enusa du^sns variiiÇ(Vf$, esiiio sujeitas n niuüaiiçus que nlieram a fisiononiiii Jelas
nu Jvwrrvr Ji> tempo. A liistórin de quniqiier Ifngu» voni tradivikt> cserila ú repleta de exuiiip!(»s de
• d Éciitc wUantn(s) da praia tarde.
íorrtuet que purderum o scuíwt de padrilo e foríim subsiltuidas por outras. S<) um iiutur arcaizuiitv
cscrevcri.1 hoje dcMe modo: os sclvogtjns ernm havidos em wntw de hruios, vstninhos grêmio
"• ANDILSHE 1107’ : ’ ()7-2llS|. da humanidade, c crelivamente eram tratados como tais. .sendo mister para rebuicr eslns vsirnnh.ts
" uma di.seu.-Aãa ilus coiiivitus ili: nurnia i- padrão. eunio pai.i uma l isiln Ids.AHo,, i Vodiosas pretensões, que por bula du papa fossem eles declarados verüadeiramente deseumlenlcs
(uma no Braúl, vtr CUNHA |IMS,S| i- FAK.\CO jZims j. ' ' ' '"'■■oriea do dv Adão e Eva, e com Igual direito aos furos dos mais homens". |LISbOA, lV7fi: 15N|.
i'.\HTK - i MA r o íu u mí ia inhm .im ».nt'». hk ft;xm:s.s.Ui i;
I'K OiMrNK-,\ca«

Iiainichi ãrc;l (iu:iiulo l t :í iiiLtiliio. N,i Opocn cli.-iituivamos o il,


Marrfio. cm Niicrrti, de “l.a río do Morrom”. Nuiicii coiilieel uni sujdi,,
m arrom (|iie fosso dono do largo, m as ora assim m ie as crianças clianu. OI AIITO C .V P ÍT ri.O i
l ani o largo. Hem no lugar dai|iielc m ercado tinha iim cinem a iigc.idenn I.1.NGI U IS C l K.SO lí T líX T O
ch am ad o Maiularo l>ara atrair fregueses. pas.sav.i dois filmes de segunda
i\ cmivrla c in:ns dois dc :i doinliiílo, O su jeito entríiv,i íis duas c s*»
snía ;is sois da tarde. Ivo c meus vivíam os !á. Bastava ectniomiMi
no lan ch e c v o lu r a pc da escola pra jiim n r c su ticiciite pro iiiíircsso. 7i-
iilia sem an a eni (.pie assistíamos a t{uatro tilmes. Tudo lixo. O mais
ilc u k Ios loi *\\ voUa tio espadacliiiu dc uiu hra^o só ", .lim» que alUiicin I.l II NÇÕBS DA UN<;UAGEM !: O O M IB C B R E C O M I
ólm oii isso, K eu a.ssistl! [PAIVA. Cliíudio. Revista O Gíitho, l,Ví'^2onSl Diseorrciido sobre a língua no primeiro capítulo, cn tatizan ios seu papel
com u íorma de conhecimento, e em 1.4 referim o-nos e sp ce ifica m o iu c ãs
O discurso é intormal. como convém à natureza do tc.xto. O voen- operações de rcicrcnciaçdo {recorte das coisas dc que falam os, ou o b je to s
Indário c dc domínio corrente c tipicíimemc coloíiuial: o verbo fer com do conhecimento) c dc predlcação (expressão, situada no tem ptí, d o q u e
sentid o de c.vísfir, o substantivo si<;ctto siiínidcando />c.sswi, cUkulâo, n se pílssa com essas coisas), essenciais ã expressão verbal de um ra cio cín io .
contr.^çào p r a por p aru o, .Mas iinia consiniçào pnrcoc nao acompanhar Temos nesta propriedade das línguas uma de suas fu n ções fu n d am en tais,
essa iníornialidadc: (Tinlia) “semana cm tpic assistíamos a quatro blnics’', a que o linguista britânico M.A.K. Ilalliday cham ou,/iinçno íí/cíi£íca, v x p e -
As prcposí^‘òes cui c ii iorani cmprct^atlas conforme o modelo coiiscnador ricncial ou cognosc/ríeíi.
dc uso píulrào: a primeira precedendo um pronome relativo, a segundn it verdade que nem todo conhecim ento hum ano depend e da língua ou
introduzindo o coiiipiciiicnio do verbo«ssísíiT. O cronista poderia até» icr de qualquer outra espécie de recurso sim bólico; boa p arte do qu e co n stitu i
optado por altio como “Tinlia .semana que a ^ente a.ssistin quatro ftJnics”- no.ssa competência paro a vida e nos provê de talen tos esp e cíü c o s d e co rre
form a que ohviaiiicntc tanibêni faz parte de sua conipelência gramatical dc iini programa biológico inato destinado à ad aptação ao m eio e à so ­
—. m as prclcriu a tnitra construção - que ele adquiriu nos bancos escola­ brevivência. Insistimos, contudo, em qwe é por m eio de sevi e q u ip a m e n to
res c o fez sem prejuízo da n.nuralidade du texto. Tudo se encaixa hem simbólico - que inclui a língua - que o se r hum ano organiza o c o n h e e i-
n e le. B o co n ju iu o da peça qiie importa. memu para efeito de expressão pessoal e de trocas co m u n ica tiv a s e n tr e o s
de sua espé*cie. Além de organizar o co n h ecim en to co m o um bem so cia l-
( ' am k a r ..\ iy \ i s i a k k i \w u n c c a .w a i .iak <» ih is t k v t o i »k r s o k K.so«>i.m:K mente compartilhado ou compartilhável (/iinçào i d e a t i v a , e x p c r i c n c i u l o u
A ro ítM .v OK .u a j s A iw r ia .s ti.v . .\ i i x a i ., f.u u i.h i.u íK N T K .V sr.\ (.•fjgMoscífííTci), a língua dá o tom da Interação social na m edida em qu e é
<;{>M *U .A o 1‘ K S I s m t A l)K rM U.\hi;> I. l a .iJ U S Cm SUHS.NTOKJ.VS. a I.IS íifA L l)a.sicaniciiic por meio dela que construím os, e sta b elecem o s, n im u e m o s e
r.M -tlK.^íSAo UA IMAOKM CH K ON INTKIU.Oi r ji» H tS K\/KM PA .S I T lX A u S1K:IAI. moiliticamus relações com nossos scnaelhantes. É o q u e a c o n te c e n o s a to s
FM K N ':'’NTK.\M - » 'l' SKJ.V, l'MA H HIMA li»; Ci »MI^ HtT.VVtKMO K «;oM<» J v ‘pedir’, perguntar’, ‘sugerir, ‘aconselhar’, ‘in s in u a r , ‘c o m p ro n ic tc r-se ’ ,
T\l KKumt tu. |•S|•AI(H»^ iiiM:iatMMi\-ro i-via .ua.gf.xH as umn.is ‘de.süulpar->se’ ctc., integrantes do que o m esm o M.A.K. Ib illid ay ch a m o u
FMfKKOAM S rrrA C Ã * ' * MN.M.IPAPK .M u i:o«lM ^LU lV O . R m j .s , , ./imçdfj ínterpessoní.
iVN.si.sTF A .:o .M rt:rfN < v ritiu i. la: im aiK w Sn.__________________ Por força da vida familiar e da convivência eni espaço.s diversos da ro tin a
diária, das atribuições prohssionais e das escolhas cu ltu rais, das p rá tica s dc
laztírc dos rituais de toda sorte (solenidades, celeb ra çõ es), o fluxo da vida cn i
sociedade geralmente requer dos seres hum anos - ou pelo m en o s lhes propi­
cia - a participação constante em atividades coniunicattA-^as. A palavra pode
estar presente em todas cias, em umas desem penhando papéis p eriférico s oii
suplementares, em outras ocupando posição cen tra l, m as co n stitu in d o em
/kS iwKTt - t u \ Fo rm a r>E Cm SIIF.UMKM o . itK EXI-KF-S-sAí* F. IIK COMI-n ic a ç Ao

UIVMlTn i:,M'ITn.l IL LIN.ir.M-KM, hlStilUSnH TKM‘ >

gualqucr caso um modo dc transformar cxpcricncin.s .subjetivas do mund


em siiiniiicados socialm entc compartilliados através do discurso. iiitcrativiL; lá em b' a inierlocuç.ão é assimétrica, pois .são di.stimos os papéis
do paciente e do médico, oaltendo a este maior controle sobre o niiiio tio
Que diferença há, por c.xcmplo. no uso da linguagem verbal nas sc
<li.sciir,so em nome de um objetivo que nece.ssariamente vai além da situação
guintes situações:
imerativa: o rcstaljelecimeiito da saúde do paciente. O controle do rumo do
.a) conversa de duas pessoas que rteam lado a lado pela primeira vez
diseur.so é absoluto cm ‘o' e ‘d’, mas a semciliança entre o.s dois para aí.
no trajeto dc uma condução, Em todas e.ssas situ.-ições os interlocutore.s e.xeroitani o i|iie llailíday
b) conversa entre o médico e o p.aciente durante uma consulta, eliama./iíiiçõo u-xrtial da linguagem, que consiste no emprego de recursos
e) transm issão radiofônica de uma partida de futebol, da língua para combinar ou encadear palavras e frases em uniilades de sig­
d) escrita dc uma obra de (ieç.ão - um conto, por exemploV nificado di.seursivamente relevantes: os textos.

Podemos dizer que em 'a' a função social do discurso se .sobrepõe n 4 1 I r\ (.:òi;.s unoi .\g e m ie
qualquer outra. Neste ca.so, o silêncio das pessoas é aceito com o normal, f COMPO.NENTES 1 )0 P R O C E SS O CO.MI NIC.ÇTIVO
o ato de falar para se dirigir ao outro - ou, como se diz popularmcnte, ‘pu­ ■\e.xpressão ‘funções da linguagem’ tomou-se muito dilundídn nos meios
xar conversa' - tende a scr visto como um sinal de apreço pela oonvivê-ncia escolares bra.silciros nos anos 1960-1970 em virtude da Incorporação, pelas
social. O assunto brota do acaso, é escolhido aleatoriíimente c. por mais instruções oficiais para o ensino dc Língua Portuguesa, do modelo de aii.nli-
que possa tornar-se algo de \'ivo interesse dos interlocutores, pode altcrar- sc proposto pelo liuguista russo Roman Jakobson, baseado nos conceitos da
-se sem aviso ao sabor das eircunstâneias. Est.a é a mais genuína função Teoria da Comunicação. As ‘funções’ de .Jakobson referem-se ao realce par­
do discurso, pois é ele que. nessa situação, cria ou, pelo menos, modifica o ticular que cada um dos componentes do processo da comunicação recebe
acon tecim ento social. 110 enunciado: o assiuito, o em iasor, o d estin atá rio , o c ó d ig o , a m en sag em
Em b' e 'c'. o discurso está atrelado a fatos e sitimções que lhe são ü 0 eonfoto. Daí a distinção de seis funções:
externos, de sorte que há um .acordo entre os interlocutores sobre a pre- a) fiin ç ã o in form m ica, em que se destaca o conteúdo ou assunto;
m editação e espeeirtcidaile do conteúdo. E por meio da interlocução que o b) .fii/içõo em otiv a, que dá vazão aos sentimentos e singularidades
m édico recolhe os primeiros d.idos para um diagnóstico do que aflige seu afetivas do enii.s.sor;
paciente; é por meio do relato do locutor esportivo que seu ouvinte toma c) ./tiiiçíio c o n a tiv a , que realça a interlocução, explicitando a parti-
conhecim ento do de.senrolar da partida de fuielrol. O di.scurso tem em am­ cip.ação do destinatário;
bos os eventos uni papel elaraniente insmimcntal, pois o foco da ativid.ade d) J i m ç ã o f d t i c a , que elege o meio de contato utilizado com o objeto
com unicativa está no conteúdo pas.sado por meio dela. Eni 'd', por fim. a da atenção;
escolha do a.ssuiito tem niotiv.ação estritamente pessoal, ordinariamente e) Jim ç ã o m etalin g u istica, que coloca em evidência o código de
ocorre à revelia do leitor, e o discurso opera em outro patamar. comunicação; e
Se em 'a' o diseur.so é antes um meio de socializ.ação e vai criando - f) .fitnção poética, qne transfere para a orgtinização mesma da
mais do que intermediando - o evento social, em b' e ‘c ’ ele é um instru­ mensagem a atenção dos interlocutores.
m ento de enteridimeiiio sobre a.ssuiito inerente ao evento comunicativo
(uma consulta médica, tuna partida de futebol), e em 'd' o di.scur.so ,se Usamos ordinariamente a língua para a comunicação de conteúdos de
apresenta eonio objeto atiiôiiomo e independente de seu criador: é a partir etai.seièneia. É nisso que consiste a f u n ç ã o in form ativ a. São e.xetnplos tí­
dele - sem qualquer consideração da situação "aqui e agora’ em t|ue é gera­ picos de.sse nso o ato de dar ou receber um recado, o ato de descrever uma
do - que, pelo ato da leitura, .se realiza o proce.s.so conninicativo. paisagem, o .ito de contar uma história. A função informativa está em toda
Nas situações 'a' e 'b' o discurso se desenrola como interlocução e em ’c parte e em todos os atos de linguagem, pois não existe ato verbal desprovido
e ‘d como aloeução (ver 4.5.1). A interlocução em ‘a’ é sim étrica, uma vez dc informação. Costuma-se, entretanto, considerar que certos usos da língua,
que não há dilerença de papéis six;iai.s entre os interlocutores, e eni larga como 0 dos noticiários, o da redação das leis, o dos ensaios, são partieuhir-
medida o di.scurso aí produzido não tem desdobramento além da situação mente representativos da função informativa, por se presumir que. sendo im-
SK*U‘N‘l>A TARTi; - I-MV nu i:os'MHi;iMK.VTu. w . EXi‘ kKsx.V (5 K m : (; o .m i -s i c \ç .Vi >

l AI-ln i l» I.IM il .M.IM, lll.M l H.bll 1. I! XH* ' *

pessoais, neles prevalece o conteúdo a ser comunicado. A função iníomiativj


tem na frase declarativa (ver 4.3.2) seu meio mais típico de e.xprcs,são. pos,sibilidadc dc predomínio de (|ii,alqiier função .sobre ;is outras; as três são
A .íiiiiçã o e m o tiv a é a que predomina nas frases com que um ‘eu enun- nects.sariamentc interligadas c .simultâneas cm qiiaUiuer ato ilc di.scurso.
ciad or’ e.xprime o próprio estado em ocional, com o nas reações de surpresa
4..J OS ATOS n i: k a i .a e a f r a s e
e n can tam en to , ódio, impaciência, decepção, euforia etc. A função emoiiva
N,i percepção das pe.s.soa.s cni geral, a utilidade da língua como iiistniiuciito ilc
da linSua^em tem nas frases e.xclamativas (ver 4 .3 .2 ) seu meio mais lípia,
intercâmbio de informações c dc reiacionamento humano c iiilcrpc.s.soal c se­
de e.xpressão.
guramente a face mais evidente da linguagem. Xérlios como itcrüntidir, aeim -
.\./iinçõo cotiritít.-fi é própria dos enunciados com que o emi.ssorelt^js
.seWiíir, cumprim entar, prom eter, orden ar, fxtdir c rc.s;K)ur/cr rcfcrciii-.sc. cs-
o d estinatário como principal fator do processo de comunicação, .ai^ndo dis-
pecifie.inieiiie. a cs.sa função das línguas. I*or outro latlo, os atosde agir c reagir
cursivam ente sobre ele, como nas pcrjiuntas, nos conselhos, nas ordens. ,i por meio da pabavra não expressam somente conceptualizações tias ciititlatlcs
função conativa perpas-sa o nosso quotidiano, já que boa parte de nossos atrs do nnindo, mas ainda atitudes subjetivas de quem fal.Veserevc, como cerrea a ,
de linguagem se destina a produzir comportamentos dos nossos inlerlocuio. sufxisiçãn. desejo, descon fiança, desaletu o, curiosídeule, sitrjm esa etc,
res. Um dos domínios técnicos mais propícios ao e.xercício da função conati- Na comunicação oral, essas nuances são ordinariamente inarcatlas
va da iinguagcni é a publicidade, cujo alvo é o cliente ou o consumidor. pela entoação. Fret|uentemcntc evitamos afirmar catc-goricanicntc alguma
A f u n ç ã o f á t i e a está presente nos atos com unicativos cuja únalida. coisa e abrandamos a certeza de nossos enunciados com e.xprcssõcs do tipo
de pode ser uchii <iue.... é possível que...; ou damos a entender que aquele pen.sameiito
a) testar a e.vistência ou não de contato durante o processo de co­ n.ão é Í10S.SO, que vem de outra fonte, e dizemos eu s o u b e <pie ... (duo nie
municação (como o atô dito ao telelone e as miniirases típicas da dic f/iie..., secundo Fulano, .segundo B eltrano... etc. (Ju ainda, volt.iinlo-
conversação como S a b e r. A'é /lYõo é.^), nos .sobre o próprio discurso, realizamos retificações e ratificações intivitlos
b) manter um antbiente de relacionamento afetiva ou socialmcnte pela necu.ssiiladc de clareza e entremeamos o texto com cxpre.ssões do tipo
favoráacl (como as saudações em geral e a comunicação verbal como eu csfíifo disen d o, p en sa n d o bem, ou m elh o r etc. At> lado das 'ca te ­
da mãe com o bebe). gorias tia representação', temos também, portanto, os ‘motlt)s - ou catego­
rias - de emmciação'''’.
Na ./tmçtío m etabn^utsríea. muito comum no discurso quotidiano, o Ou seja, as pe.ssoas dirigem a palavra umas às outras movidas por algiiin
usuário toma o próprio código de comunicação para assunto: é a função pre­ propósito; petiir ou dur uma informação, fazer um convite, dirigir uma stiuiln-
sente no ato de falar sobre a lingu.agem, como perguntar sobre o significado ç;lo, prometer algo, dar uma ordem, agradecer um favor, expressar uma cen­
de uma palaa ra ou comentar as preferências linguísticas de uma pessoa. Gra­ sura ou um elogio, dcsculpar-se, iniciar, continuar ou encerrar uma conversa
ças à função nietalinguísticíi podemos elaixrrar dicionários, conceituar clas­ CIO. Ksie comportamento verbal, com que e.vpressamos alguma intenção co-
ses de palavras, fomiular regras de acentuação e de eoncordâneia verbal. mimiciiciva. é o que ,sc chama um ato de fala, e a menor unidade linguística
Finalmente, entende-se por.fiiiiçõo p oetiea a utilização da língua para gue o realiza diseursívamente constitui uma frase. A lista des.ses atos é nii-
produzir mensagens i|uc se impõem à atenção do interlocutor pela fumia nierosa, mas é possível, com base em certos critérios, propor tipologias tanto
como estão constmídas: é o que acontece com vários .s/ogmi.s publicitários pan eles quanto para as frases, como veremos nas seções seguintes.
e. de modo particular, com o chamado discurso poético (ex.: ‘VVs folhas en­
chem dc ff as s ugais do vento") |QUINT.\NA, 3005: 169|.
A ilíMin^*ni> c-iitrv vsmis duas ordens du c :itc^ ria s lum u inuoitveniuntv dv su^*rir t]uc u orjUiiii-
Estas seis funções discriminadas por R. Jakobson correspondem, por­ iu(,-:iu çkLs ideias é ülfio separado dc sua formulação m> ato üu com unicar (daro que não penicimos
tanto, a opções do enunciador dc acordo com o fator eleito como foco do xviMii Nãd (eiiKM acvsKo ao síguifieado senão quando ele se manifesta por niuio dos recursos sim-
IhíIícos de (|iie fazeni parte as formas linf^uísticus, e estas só ^nhiim rejJistnj nos dicionários, luu
processo comunicativo. Por is.so mesmo, segundo Jakobson, um enuncia­
ftnmáiiens e tk »s manuais dc estilo c retórica depois que figuram cni texios « ser\'eni n eomimlca-
do caractcriza-se pelo preãoinOiiu dc uma função sobre as demais. Não Vãíi eatetH^rias enuncintivas taml)éni são represciiiaçi^es, u toda represenuivãt* corresponde a
se pode pensar assim, eoiitudo, em relação às funções de M.A.K. Ilailiday um significado comum nos interlocutores. O que ai|ui estiimus dusiflnando *caie^)rias emineiativus'
üàtt aquuics conteiiiios ostenslvanieiiie relacionados com o aU» dc dirijiir paJaXTa a alguém ou de
discriminadas na seção precedente. A análise de Hailiday não implica a
reconhecer n intenção cum que alguém nos dirige a palavra.
r.\Kn. - i m .\ koioia ok íx íM iK a s irs T í), dr RxnnK.ss,\o k iik <:o.Mits-ic:.\g.u>
UCAHTo «i.\Hrri.o: i.iN«a'Ai:RM. i>is«:n«sn k rRxl«>

1 l-nisc tic sí(ii;u;ri(» c fnise cliptiai • Ele desperdiçava scii talento musical numa haiultiiha (frase
Xa comunicação falada circunstancial típica, cm que OvS interlocutores sü dechirativa).
acham cm interação face a facc, as iVascs tendem ã fragmentação, tornan­ • Onde ele desperdiçava seu talento musical? (fra.se iiucrrogativa).
do-se formalmeiitc incompletas, sem que, entretanto, a compreensão fique • Não desperdice seu talento musical mima baiuiiiiha (frase
prejudicada: a troca dos turnos de fala (a vez de cada interlocutor no diálo- imperativa).
ijo), o contexto global da fala dos interlocutores e a situação cm que estes • Quanto talento musical ele esta desperdiçando nuiiia baiuli-
SC acham fornecem pistas para o preenchimento dos vazios próprios dos Ilha? (frase exclamaiiva).
enunciados incompletos. • Toninra que ele não desperdice tanto talento mima haiulinha?
Por outro lado, no discurso dc um locutor único, que o produz para um (frase optativa, com que se expressa um desejo).
destinatário que apenas o recebe, a organização gramatical das frases é mais
rígida, já que o enunciador, assumindo unilateralmeiitc a responsabilidade Se tivermos em mente seus usos típicos, certanieiuc diremos (|iic as
pela seleção e encadeamento dos conteúdos na construção do texto, vai to­ frases interrogativas e as imperativas implicam a existência dc um inter­
mando nesse percurso precauções que garantam o sucesso da comunicação. locutor, a t|ucm a mensagem dessas frases é dirigida. Por sua vez, no em­
As duas condições de discurso mencionadas acim a (ver *4.5.3) estão prego dc frases declarativas, exclamatívns e optativas dá-se a conhecer um
na raiz de duas ordens de enunciados tradicionalniente reconhecidas pclo.s conteúdo de consciência sem necessariamente fornecer qualquer pista do
gramáticos: numa ordem acham-sc as fnises de situação e as fniscs elípti­ suposto destinatário do aco verbal.
cas, em outra, as frases fornialmcnte completas ou períodos (ver 6 .6 ). Po­ O lugar conferido ao interlocutor pode opor de forma radical as frases
de-se dizer que estas duas ordens representam graus extrem os de aderência e.xcianiativas c as imperativas. As primeiras são usuais nos atos de expres-
das frases ao contexto em que ocorrem. Em um polo, mais aderentes ao .são eni que o enunciador, pcrple.xo ou embevecido diante de alguma situa­
contexto situacional. figuram as frases dc situação e as frases elípticas; no ção. fala de si para sí; as segundas se caracterizam pela presença regular de
formas verbais referentes ã pessoa do interlocutor {você /fu /fo ces /vds).
outro, ficam as frases formalmeiite completas ou períodos, que, em teoria,
Sabo-se, por outro lado, que é possível combinar dois valores na mes­
são internamente dotadas das partes necessárias à sua compreensão. Fra­
ma frase. Diante de um fato insólito na seção de perdidos e guardados de
ses dc situação c fra.scs elípticas cmprcgani-sc ordinariamente na conversa.
uma estação de trem, uma pessoa pode fazer de si própria o destinatário
Na sua forma mais sintética o aderente à situação, as frases de situação
de urna pergunta, e produzir unia interrogação exclamativa; Q uem po d ería
assumem a forma de iiitcijeiçôes (ver 4.5.5).
perder um p a r d e d en tad u ra s? ! Fazemos pedidos por meio de perguntas
{Pode me em p restar su a ca n eta ? ), ou damos ordens por meio de declara­
4.,5.2 .Modalidado deelanuiva. cxclaniativa. jiitcrn»galíva.
ções (liicé v a i d ev o lv er a g o ra o din heiro qu e pegou emprestado).
iiuper.itiva e optativa
A tipologia mais tradicional c abrangente distingue três espécies fundamen­
-1.5.5 Atos de fala
tais - ou modalidades - de frases, segundo a finalidade de quem fala/es-
É óbvio que a tradicional classificação das frases em cinco padrões está
creve: declarativas. inierrognii\as e imperativas’*'. A e s m a g a d o r a m aioria
muito longe de esgotar o rol de atitudes ou intenções da pessoa que fala.
d u s /r a s v s que figuram neste texto sào^frases d ec la ra tiv a s, inclusive esta
(]ada modalidade se desdobra em um variado leque de possibilidades: ‘de­
em itálico, que acabamos dc produzir. A estas três espécies fundanientais
clarar é simplesmente manifestar p>ela palavra um conteúdo de consci­
acrescentam-se coniuinente outras duas: exclamatívns e oprativas.
ência; ‘perguntar’ é colocar o interlocutor no papel de fornecedor de uma
Esta distinção baseia-.se em traços formais tipificadores d as frases,
informação; p ed ir /o r d e n a r consiste em comprometer o interlocutor eoiii
como entoação, seleção le.\ical e ordem das pala\Tas. As seguintes frases
uma ação futura, imediata ou não. Certas declarações, perguntas c ordens
são exemplos típicos dessa diferença:
podem ser expressas sucintamente, por meio de interjeições: O ba! (de­
Nào JcJxa d« str .surprucnduiitu o íato dc que j nuioria das Jínüua.s aprusema tres tipo.s bíLsíuos
claração de alegria, felicidade), H em ? (pergunta de queni nao entendeu
tk- íra-scN com /unv«» e rccurso-s dc cxpressilo muiio scniclh.nnics. Traui-.su d,i.s fra.scs declnratlva 0 que ouviu), P siu! (ato de chamar alguém ou pedido de silêncio). As
imcrrogiiiiva v imperativa SIIOI'KN (2002: I6í)|

X
“ •í l'.\nn - I MV I» < n» K\m.VSA«> K HH CUMJ-NKACVo oi MiTo I A rirn íkm, i'is« I K.’»ii 1 n \ri>

interjeições, porem, são nccessariameitte empre^iíidiis apenas para a co- (Muito iiltri/ímlfi.'. Vtticti.'). SeUimtlo .lolin Sciirlc-'-, liti h:isÍL';miciilc cinco
municação tace a lace, e como quase sempre ocorrem sozinhas, à mari^crrt especivs ilc :itos dc fala: íi Iils assertivos, lilits (lireliviis. <tri>s co m ia iw iíssi-
das construções sintáticas, não contrihuem para expressar analíticanicnit i-os. aros e.epressivos c declarações.
um dado conteúdo.
Qualquer enunciado um pouco mais elaborado ,se constrói, contudo, .(„V I A frase dc íiiliiavão o o vociitivo
por meio de uma combinação dc formas necessariamenie sujeita à sintnxt; Ksisteiii 1111 líntíiia recursos diversos para indicar qiie estamos diriiiliuio a pa-
da língua. É o que acomecc quando nos sen. imos dc declarações para fazer linrn 11 iini imurlociitor ou destinatário: .Ifonvit).', Com liecnçti!. Einrem l. Ke-
perj^unias ou dar ordens (cf. GosfanVi dc suber .se o m edico Já che^ou - loniar!. .Mio!. Cam amifioC Prezarias .senhores!, Mtijestade!, íicii sion-ver/ía-
declaração que equivale a unia perí^unta -, Conwm w ees írcr?] eoibom iilia!. Porfavor!. Psia!.J(i pra dentro!, Alô!, Hem?, Protuinho!. Por tiivar!.
- declaração que equivale a uma ordem). A pista para a interpretação ade­ ■\eiiiinciaqfio de qualquer desses seííiiicntos se retiliza oliriiiaioriameii-
quada de cada um desses ciumeiados é juscamonte o verbo inicial: Gosforid it mediante uma modulação da voz - ou cnto,ação - que sin.aliza a intenção
fíc .sfífjcr indica um pedido dc informação, como nas pcrjiLintas; Contcin enni que são proferidos: alerta, convite, .saudação, apelo, rcpreen.são, elia-
indica uma orientação à ação de outrem, como nos pedidos ç ordens. iniuminto, ordem ete,
Pelas razões expostas acima, ê necessário distinj^uir n modfihdoí/c .\combinação de itens lé.vicos e entoação dá conta do estado mental ou
cnmicíafícn - ou tipo dc frase - e a./drçíi ilocutóría - ou propósito comuni­ aletivii lio LMumci.qdor. ,lá pra dentro! é sempre proferido em tom cnérj>ieo e
cativo - que ela expressa. O enunciado Goncem coces irem em bora ú uma eoimiiuleme, revelando uma relação de dominação/autoridíidc do enuneia-
declaração secundo a modalidade eiiuiiciatíva, mas tem a força ilocutória dur snhre o destiniitãrio Prontinho, por sua vez, c um modo geniif e informal
de um comando/conselho/suftestfiü. A força ilocutória do enunciado esiá pelo<|ual. éeralmeitte nas relações comerciais, alguém cminoia a conclusão
sujeita a nuances ou vari.ições de j^radaçãtt. Variando a energia da voz e da prestação de um serviço. Curo ainifio! / Presados senhores! f M ajestade!
a duração da eiiunciação. Cüm-lvim i'ocê.s* irent em bora pode ser proferido são fómndas cordiais de saudação usadas para d.ar início a uma mensagem
como ameaça, aviso, conselho, pedido ou suj*estào. dirigida, respectivamente, a um conhecido, a diretores de uma instituição e
O tipo de frase é reconlieeido por critérios éramaticais objetivamente
110 rei ou à rainha.
demonstraveis, uma vez que está associado .à entoação melódica e, muitas
Toilos esses enunciados constituem fr.i.ses de situação. Podemos distribuí-
vezes, à presença c à ordem de certas pn!a\ ras; por sua vez, o propósito
las em quatro gnipos. segundo a natureza formal de seus elementos léxicos:
comunicativo nem sempre pode ser reconlieeido por criicrios estritamcnie
a) formas que nomeiam a ação que o enunciador espera de seu in­
linguísticos, pois pertence à ordem do di.scurso. Ou seja, o propíisito co­
terlocutor: Entrem! J Retom ar!,
municativo envolve algumas variáveis d:is condições .socioconiunícativjis,
I)| furmas <|iie nomeiam o próprio interlocutor ou lhe concedem um
como o perfil Jos inierloeutores e a representação que estes tazem do as­
tratamento: Meu caro Vinicius! /Prezados senhores! / Mujesuule!,
sunto e/ou evento eni que estão envolvidos, aspectos que dizem respeito à
prai^niiitiea''. Só desta perspectiva podemos saber se uma frase como ‘Ksic e) interjeições apelativas; .Wô,' /Psiu! /Hem?,
anel é de ouro maciço’, ainda que proferida em tom Impcssotil. é uma ava­ d) e.xpressões heterogêneas. Alto! / Atenção! / Crmi licen ça! / Seu
liação técnica (se dita pelo ourives que examina a peça) ou um artíuniento seiii-i-er^onha! /Por fa v o r! /J á pra dentro! /Prontinho!.
comercial (se dita pelt» vendedor na joallieria).
O ato de fala é, |>oriaii(o, a unidade comunicíiiiva por excelência. Por Atendidos certos requisitos pragmáticos, os elementos do gnipt) ‘b’ po-
meio dele mu ciiuiieiador converte em discurso tuna íncenção, de .sorto dtni ser eunibinados com as expressões dos outros grupos; Entrem, p rez a ­
i|ue a frase que o realiza é ao mesmo temjx» um modo dc dizer e uni modo das .senhores! / Com licença. M ajestade! / Alô, ca ro am ifiol.
de aíiir, de que são exemplos típietts os atos de despcdir-.sc (/líe amwtlui!. Perteneeiido :i classe do verbo, as formas do grupo ‘a’ podem indicar a
A f^cnic .se ccf). de deseulpar-se (iSínfo onofo,', Foi oud!) e de agradecer pessoa e o número gramaticais atribuídos à ligura do interlocutor {Entrem
lv.iccs|); o exemplo Retornar constitui um caso especial de emprego do
f" l"-'''' i"i.ri.rtiav,lii ,Uis „„ »,,i
Tiiw lüAtuiioiiilii (Ins iliii.'UCÍ(Hiiiri(>.‘í". lii: SKAKl.K 1 KAKIA. Lsiilicl lliil» "l's« (.In lín-
I I- SN.M.IM , IIKSTKS 4 ;.l.« h SILVA |:(KJ5|. KAIlIA u ,.lil ||■l■«,: A.SA-4 l'l|.
ínit,murnt,íin%crlKil c Iii: MATKVSvt nlli [:iK).q,

A
76 ív»i;i-Mw PAHTr - l u s »owi,\ nr. avNm«n>^^:vT^>. i»r kxpw^>w.\o k ok
OPARTOa\rlT1’I.O; LISl»'.MirAI. t>ISi:i'R.HOKTKXTO 77

iiitiniiivo ciii frase inipontiva. usual iios atos du comando (normalmentc ialcHocutor, daí a distinção entre promessas (Am anhã eu lhe tc7çfi>iio, sem
praticados por chefes de pelotAo, instrutores de exercícios físicos etc.). falta.) caincaças (f?ssn o/en sa não vaí.ficrtra.ssíni.')-
As formas do |*njpo ‘h’ tC*mo papel iliscursivo de ^'ociitívo, íerrno com
ípie o cmmcindor ií/etiff^ca « líiíeWociifor /í/csfinafríno - p e s s o a ou an i­ An»s expressivos
m al - ípinndo u d c sc ditific (Mnría, (juc h o r a s sã o ?, l^ assa j á p r a í/entn). iSerxem para verbalizar sentimentos e se praticam a propósito do pedido de
S u ltão!. (lat\ om . rnte. n cí)nfíi, /mr rtivor., O q u v d isso, c o m fx t n h c ir o ? ) . desculpas, das expressões dc congratulação e de condolências etc. Kles sc
Uniilade incrciue ii atividade intcrlocutívn, o vocativo mio pertence asseinelhani aos atos comproniíssivos nn medida em que o enunciador se
ü estnitura da oração. .\ semelhança do que se passa com ns interjeições, empenha cni fazer o destinatário levá-los a sério. A diferença entre um c
a entoação o individualiza na cadeia da fala. É comum seu emprego iso­ outro c que enquanto a realização do conteúdo do ato compromissívo se si­
lado como frase impemtiva. como no ato de cham ar alguém que esteja tua em momento posterior ao ato mesmo dc fala, n realização do eontciido
distante (o substituto desse vocativo ú a interjeição P siu !) ou ausente do ato expressivo se confunde com sua emissão.
(quando não sc sahc o nome da pessoa a ser chamada, este vocativo dd
luiiar ao ato de 'halcr palmas’), ou ainda nos atos de repreender ou saudar •1.3.4.5 Declarações
o interlocutor. São atos por meio dos quais se cria ou se niodüica um estado de coisas do
Isolados em íniscs exclamatívas. al^Juns vocativos cristalizarnm-se mundo. Pindu o julgamento, o juiz profere sua sentença: A bsolvo o réu
como locuções inierjetivas {Minha Xossa Senhora!, D eus d o céu !). da acusação q u e lhe im putam . O menino abre a portinha da gaiola e diz
ao pássaro: Você está livre. Nestas duas situações a frase tem o poder de
-I.A.-Í.l Atos assertivo?. mudar ou de criar uma situação: a inocência do róu/a liberdade do pássaro.
São aqueles que se usam para representar fatos ou situações que o inter­ Kssas duas frases são declarações típicas.
locutor pode comprovar. Por isso. o criicrio de reconhecimento de um ato
de fala como asserção é apurar se a predicaçâo atribuída a um certo objeto 4.3.5 liiteijeição
de c(»nhecimento llie corresponde ou não. As á r w r e s /lo r a s c c m u a prim a- Chaiiia-se inteijeiçuo a espécie de p a la v ra q u e s e em p reg a ex clu siv am en te
vem , Gmeiliano Rumos iioscvw em Alaé^His. Os sh op p in fis n ã o «õnrdo como^frase de situ a çã o (ver 4.3.4), realizando típicos atos de fala direti­
neste .fim de semana .são attxs assertivos. A propósito de cada um se pode vos ou expressivos (ver 4.3.4.2 e 4.3.4.4). Elas pertenoem, por sua função
dizer se o respectivo conteúdo c faiso ou verdadeiro. coiniinicatívn, ã classe dos substitutos oracionais, designação que abrange
ainda os advérbios sim e não, que também perfazem atos de faia expressi­
-I.3.-Í.2 At<»s diretivíís
vos (|uaiido são empregados como forma condensada de resp>ostn.
São aqueles que dão ao interlocutor indicações para proceder de uma deter­ Dc acordo com a intenção de quem as enuncia, as interjeições po­
minada maneira. Sãu diativos tanto os atos expressos com frases interro- dem ser:
^tivas e imperativas ((jiaintos anos você tem?. G u arde e s s e se fire d o com a) siiitonmtícus - Traduzem estados emocionais como admiração, sur­
txKv), como aqueles que. \tsandu a uma ação do interlocutor, se realizam presa, desalento etc., sem implicar a participação do interlocutor
por melo de fntses declaralivas iniciadas por expressões do tipo G ostaria {UH, Oh!, !h!, E p a!, Chi!, Ufa!, O ba!). São formas condensadas de
que..., pL\o que.... Sugiro que..., Coneém qne..., ou modalizndns por meio frases exclamatívas;
de certos verbos auxiliares, como a do exemplo já aqui mencionado: Vbcê b) íntenití>’as - Implicam a participação do interlocutor, exprimindo
vai ílevolver agora o dinheiro que f>egou em prestado. comandos verbais na abertura do processo interativo (Olá!, Psfw.',
Ei!) ou atos responsivas na continuação desse processo (Htim-hum!,
Ato.s eoiiipniniÍs.sivu> U em ?,A hn?). Formas como Oi! e O lá! servem íis duas funções me­
São os que revelam um eoinpromisso/disposição do enunciador em agir diante mudança de entoação;
ou proceder em conformidade com o conteúdo preposicional da frase. Os c) onomatopaicas - Quando representam sons não linguísticos
atos eompromissívos podem ser realizados no interesse ou em prejuízo do (Pou!, P á!, Z um !, Vape-vupe!). Não obstante a natureza exclama-
7H SKCilM.A |■ AHT1. - I MA FnBIA HK I J V M IH A M F.SI.I,i; . t |„; O «H S|,
ui'\HriMvi'itnn
tiva, cscas interjeições são formas condensadas de declarações c
chejiaiii a ocorrer iio liiftar da predieação-'. l.õ O TKVrO: ASrKCTOS (;KKA1 S
No curso cic í|ualt|ucr iitivícinilc comunioativ;i rcnllzíiJii pela palavra, poilc-
iiios (ielímítar iVa^iniciitos qiic pasííanins a consklcrar tuiklades - ovi K»rali-
4 .4 m : ( . a (,'..\o
tlíulcs - ele sentkio, a giie cliamamos üiuimcIíhIos, frases, textos. Delimitar
As frases variam i|iianto ã polaridade, tpie pode ser afirmativa (O.s eaeãor.
11111 desses fragmentos e eoiisiderá-Io uiii texto tlcpentle tão si> tio recoiihe-
ro.s c.síõo nottos) oii negativa (O.s cncfiorros iiõo e.stõo soltos), listes exem­ eiinciito de t|iie, para os propósitos que tenu»s em m ente - seja eoiiu) einiii-
plos ilustram o mecanismo sintático típico de expressão da neftação eai üiailor, seja como destiiiatãrio esse fraji^mciut) é onia totalidade somàiitl-
portotfiiês: posicionamento da palavra ‘não' imediatamente antes da forma tíix. Pode ser a totalidade da conversa ou uma parte dela, a totalidade tie nin
verhal. Podemos, todavia, produzir frases em polaridade nejjativa portárir)!, conto, lie uma reporta^iicni, ou um segmento dcle/dcla
outros meios, como o emprcfio de nem (fifc ntlo teu nem devolveu o livw). Km 1-4,.1.5 discorremos sobre o conceito dc frase e seus tipos. Vor
de pronomes indefinitios (.Vrirín ti c o n so la v a / \int!uiíin saiu (/«/estol, eitiiiicíado entende-se
de adAérhios (/i/es nuuea/jainais tocaram n esse assu n to), de preposi(,-.v)
(Sttiu seni ,se desiiedir). de prefixos (Fú/uei in cou ldn n a/lo, lista é uma .vTo RK.M, iiK <:o m i 'n ii :.m;A o vkiuiai , I'IUTk : auo ii m i m .\ i*k sso a i:\\ tm a

s itu a ç ã o anonntil, Atiin deson esíam ente). siTr.\<;.\o rviCA sotkmis) k no RsrAço.
As eonstmçtões tie neíaç-ão são frec|uentenicnte empregadas eom o
prop<')sito de declarar, de forma branda ou sutil (lítotcs), o conteúdo O.Vfó' dito ao telefone pode ser sempre a mesma frase, mas cada ve/,
frase afirmativa: que unia pessoa a eiiiincía, produz um novo enunciado.
• Ela uíro é hoha (= Kla é esperta). O que nos ocupa at^ora, contudo, 6 o conceito dc texto, que pniviso-
• Não tenho m edo (= Tenho eoraícin). riamente podemos definir como qu alq u er scfim ento v erh al (fue fin ic ia u e
ci>mo \mUUule d e sentido na in tcrcom u n icação h u m an a. Os conceitos de
Como recurso de argimientação, é comuni t|ue uma proposição afir­ enuneiado e de texto apresentados aqui parecem referir-.se ao mesmo obje­
mativa seja realçada pelo contraste com outra, neíativa, que a antecede: to. N:i wrdade, o enuncindo origina um texto, e o texto é a eristalizavã<> de
• Auo ctm d a r minha opin ião, s(") vou c.scutar. um eminciado. O que sc reproduz, o que se .submete à análLse é o texto, c
• Aõo trabalhava isir n eeessidu de. mas por simples prazer. nimea o eminciado. Nesta obra, entretanto, não seremos fiéis a esta distiii-
e algumas vezes usaremos ‘enunciado’ como o equivalente de ‘texto’
Os dois últimos exemplos diferem quanto ao que se chama o 'escopo A definição dada acima permite que chamemos dc texto tanto a inter­
da iieiJação'. N'a primeira, nejja-se toda a proposição; na scífunda, nao se jeição aí mencionada, com qiic atendemos a um chamado telefônico {Alô!),
quanto uma fábula, uma receita de bolo, um capítulo de um livro mi o con­
neiía o verbo, mas tão só o adjunto adAerb.-d por n e c essid a d e (cf. a versão
sinônima T rabalhava n ão l>ar necessidade, inas p o r sim p les prazer). Essa junto da ol>r.'i de um autor.
possibilidade de variar o e.seopo da neíJação pode deixtir ambíjfuos os enun­ Os limites c a constituição interna de um texto baseiani-se, algumas
ciados t|ue a contêm, como se pode obsers.ir em vezes, cm critérios formais. Certo.s textos de que nos valemos para realizar
• Eiles não brigaram por causa da herança. atns eomunicativos padronizados, inerentes aos papéis que desempenha-
mo.x mi engrenagem social, contêm marcas muito nítidas dos gêneros (ver
ü n ão pode incidir em todo o predicado (= não ocorreu briga entre adiame) a que pertencem: E ra u m a v e z c £/ om m .^éhse.s para .sempre
eles), apenas no verbo (= a herança evitou unia briga entre eles) ou ainda maream claramence o início c o fiim do conto dc fadas tradicional; Aos vínfe
apenas na expressão causai (= não foi por causa da herança que eles hri- ccínco dias d o mês de mnío é um típico começo de ata, e Dè lembrtau^u a
garam). Os diferentes processos de expressão da pol.-iridade negativa serão iodos ou Ficanu?s a ssim cmno são fórmulas de encerramento dc uma eon-
abordados oportunaineiite nos capítulos dedicados ã sintaxe e ao léxico. \ersa a que geralmcntc se segue o afastamento dos interlocutores. Muitos
dos enunciados quo produzimos se ajustam a esses modelos um tanto tixos
AclíJlo a classirtosiCj-no pro]>osi!i poí ALAKCO.S I.LOItVCII f
u ríuialízados.
80 SKi.l-NOA tVVUTK - \M
.\FOiLSIA HK C.OSUKC.IMKNTO, l)K KXl’KKSS.\l> K UK
QiAHTci c;APlnu>: i. i m h 'A(;k m . u isci r m i r. n ,.\io SI
O que nos importa destacar, porém, é a extraordinária criatividaj
expressa na atividade discursiva que resulta nos textos novos, nos te?ít ^ quire também traços dc espontaneidade (discurso espontâneo). Já o debate
possíveis, nos textos com que o ser humano exercita sua capacidade ^ se desenrolará sob condições discursivas tim pouco cliferenies. A interação
transformar experiências de mundo em objetos de conhecimento que deixa de ser pessoal, os interlocutores ficam menos ‘ã vontade’, sujeitos a
acrescentam à cultura de um povo pelo poder da palavra. regras mais rígidas cm nome dos interesses coletivos c das círcuiistâiieias
públicas de sua atuação discursiva. Estas Mializas dísciplínaüoras’ conferem
Q uer reouzioos .\ extensão de nt siMri.Es .monossílmr), quer mipuw e cdm- ao discurso sua condição de ‘discurso monitorado ou planejado’. Por outro
l'LEXOS K m CONTA DE \TM(’tR.\NDE NITMEUO DE ElUSES INTEUCONECTADAS K)» VA­ lado, a pluralidade de enuneiadores e a razoável Imprevisibilidade ile runir)
RIADOS MOIXXS, OS TEXTOS - RE1*ETIIX)S OU IN\T-:NTAIX)S - DEVEM ü t>UE SÃO A (fM do debate lhe podem conferir traços de ‘discurso espontâneo’.
CON.IUNTO DE l*ROrRlED.\DES Q\T- PODESKXS RESUMIR EM TRES l*klNCÍITOS llAsiCOS, Km termos amplos, o discurso alocutivo monitorado se caracteriza
QUE ATU.VM DE F01U\L\ ENTROSADA: IAT«K.\L\TA7Ü.Vl)E. a)l)IFlC.\ÇÃO E .\l>EQrAÇ\o.
pela continuidade temática e por um encadeamento lógico mais rígido do
raciocínio; já o discurso interlocutivo espontâneo sc caracteriza pela possi­
bilidade de mudanças imprevistas do assunto, de interrupções das frases e
O princípio da ín/bníiatíuídac/e é o que faz do texto o lugar dos conteú­ por indícios diversos de hesitação. Temos aqui exemplos dc duas condições
dos mentados por seu autor; o princípio da cor/i^cftçfío diz respeito a sons
discursivas extremas e de uma condição que constitui um meio termo en­
aspectos tipológicos c linguísticos; e o princípio da a d eq u a çã o referc-seà tre uma c outra.
relevância e eficácia das formas de linguagem em função da intenção do O direito à palavra’ regula, portanto, a oportunidade e a relevância da
enunciador e da natureza do evento em curso. participação e inter\'enção verbais dos interlocutores durante o processo
da comunicação. Muitas vezes esse ‘direito’ é instituído por uma relação de
4 .5 .1 Condição discursiva poder. Numa cerimônia de casamento, por exemplo, cabe ao celebrante - e
Por condição discursiva entendemos o não aos .seus auxiliares ou a qualquer convidado - dizer em certo momen­
to Antóu/o f/e iSousn, é dc su a espontânea vontade receber Ana de Jesu s
COMEÜNKNTE DA INTEICNÇÃO VEUUAl. OL E REUVI.A O 'DIREITO À PALAVIU • como sufi /cgíííma esposo.^. Em casos como este, o valor do enunciado
provém, antes de mais nada, da legitimidade de quem o profere.
Esse direito pode ser exercido, em termos extremos, de dois modos: Nas conversas entre amigos e nos debates, cujos participantes têni as
a) o enunciador ‘tcni a palavra’ e dispõe dela como lhe convém, con­ mesmas condições de fala, não é raro que duas ou mais pessoas falem ao mes­
trolando o desenvolvimento de seu texto segundo sua vontade mo tempo. Já nas entrevistas, o ‘direito à faia’ é regulado eom certa rigidez,
(discurso aloeutívo ou iiionológico); de modo que o entrevistador e o entrevistado se alternam no papel de eiuin-
b) o discurso é assumido por pelo menos dois enuiiciadorcs, que sc eiador. Seja como for, o sucesso de qualquer evento comunicativo requer que
alternam e assumem nessa condição o controle do desenvolvi­
n interação de seus participantes seja regulada pelo propósito de mútuo cu-
mento do texto (discurso iiitcrloeiitivo ou dialogado).
tendimeiuo (cooperação) c pelo sentido de oportunidade social e relevância
informativa dos conteúdos e formas dc seus discursos (pertiiiêneiu).
Iniagiiie-se um encontro de pessoas que vão debater uni assunto qual­
São exemplos típicos de textos produzidos nas condições do discurso
quer. Digamos que este encontro consiste na apresentação de uma palestra
alocutivo monitorado: conferências e aulas em que somente o expositor tem
à qual se seguirá um debate, e que após o debate os participantes fazem um
lnter\'alo para um lanche. Podemos dizer que a palestra se desenrolará como a palavra, os discursos dos oradores, os artigos de jornais e revistas, as obras
discurso alocutivo (exposição controlada por um único enunciador, com literárias. O discurso interlocutivo espontâneo se eorporifica tipicamente
unidade de assunto, apresentação de argumentos, enunciação de conclusões na modalidade de conversação conhecida como bate-papo, já as entrevistas
etc.) e que as conversas durante o lanche se desenrolarão como discurso in- fornecem o exemplo padrão do discurso interlocutivo monitorado.
terlocutivo, uma vez que as pessoas poderão se agnipar segundo afinidades t Estas duas ordens representam extremos, como dissemos, já que elas
interesses diversos, que podem ou não estar relacionados com o tema do en­ se inierpenetram na atividade linguística concreta, sujeitas que estão a va­
contro. Podemos dizer que, além de interlocutivo, o discurso neste caso ad­ riáveis como a personalidade dos interlocutores, ou mesmo de apenas uni
PARTK - \W
\Umi\l'K ítOMlF.CIMF.NTU. UF K.\rHFS.sA<1 K DF.
e«'.\KTt> MSlUAi.KM. DIMrK.So F TFXFO .S.1
deles. Além disso, mesmo considerando a situação de produção escrita sa
bemos que quem escreve laz estimativas ou previsões sobre as reações de como um idadf rd a tiv a d o a r, m assa dc ctr^frio c s c c o d c orifiem p o la r. O
seu leitor potencial e, às vezes, simula um diálogo com ele. Por outro lado assunto é o njosnio, mas a representação verbal cm catla caso c peculiar
mesmo em situações face a face não é raro que uma pessoa discorra por lon­ ao próprio domínio discursivo; leigo ou popular na con\’crsação. téciilco -
go tempo sobre um assunto qualquer sem a interA^enção de seu ouvinte. -cicntífico no boletim meteorológico. Por isso m esm o, certa s formas dc
composição (ver gêneros textuais em 4 .5,4) são típicas dc uni datlo domí»
Esta distinção entre discurso alocutivo e discurso interlocutivo, com­
nio discursivo, como o com ercial no domínio publicitário, a a ta no dom ínio
binada com as modalidades ‘espontâneo’ e ‘monitorado’, nos parece mai.s
administrativo, a sciiícnçci no domínio jurídico, a p rccc no dom ínio religio­
abrangente e precisa do que a tradicional distinção entre discurso escrito e
so. a receita no domínio arte culinária.
discurso falado, já que. enquanto o discurso escrito ordinariamente c pro­ t claro que o conceito de domínio discursivo, assim com o outros co n ­
duzido mediante planejanienco e emendas/retificações que ‘desaparecem' ceitos de.senvolvidos nesta obra, não é estanque. Pode haver maior ou m enor
do texto final, o discurso falado tanto pode obedecer a um plano - como n rigidez nas fronteiras que os delimitam em função da própria dinâmica da
conferência, mesmo quando não c lida - quanto transcorrer livremente, a« vida síxíial (ver 2.3) e das características da rotina do domínio. O domínio
sabor do capricho dos interlocutores - como na conversação usual. que ciiamamos adm inistração, por exemplo, atravessa muitos outros, porque
O penúltimo segmento deste capítulo (-4.5.7) será dedicado à análise ioda atividade institucional se desenvolve segundo rotinas admiiHStratí\’as.
do processo dc coitstrução de dois fragmentos de discurso que chamare­
mos de textos segundo a caracterização proposta cm 4.5, O primeiro delc.s -Í..Í.3 neter<igciiciiladc ciuinciatíva
exemplifica unin situação interlocutiva, o segundo uma alocuç.ào. .Vo.s.sa condição de seres históricos, nascidos e criados numa dada cultura,
faz dc cada um de nós uma espécie de arquivo de imagens e modos d c co-
4 .5 .2 Diuiiíiiio tlisciir>ix'<» nheeer c dc dizer pertencentes a toda a sociedade. O que quer que expresse-
Passemos agora a um .segundo conceito, o de domínio discursivo, que é mo.s sempre carrega em sua formulação verbal sinais de sua vinculaçâo cu l­
como chamamos tural e histórica (geralmente, somos parte de um grande corpio social cu jas
representações do mundo assimilamos) e de sua contextualização social (há
i'M iv).s n.\.M(is u<) s,u?r;i<. E d e .\Tr.\i,;.\o s o o i .m . m e n t k ct;N.s.\ciR.\iMA.s - o r uma estreita relação entre nossas formas de expressão e a representação
SIN>I’LES.MKNTK lHK\TIU<:,\|ins - CO.Mn lnlU!.\.S DE COM IECKK E DK DISCOltKER í|ue fazemos da situação comunicativa). Assim é que nossas experiências

soH U E .\ E.v:rKiiiEsi:i.', i ; i i T i i a i..


de imiiulo, por mais que as consideremos íntim as e particulares, são organi­
zadas para fins comunicativos em formas de representação com partilhadas
Ilã formas de comix>sição, palavras, expressões c construções grama­ pela comunidade, a fim de que o outro, amparado em sua própria bagagem
ticais que são próprias de certos campos de eonhecíiiiento c dc atividade, c euliural e discursiva, possa interpretar e com preender o que lhe dizemos.
que o profissional/especialista da respectiva área ou membro da respectiva Kssa herançíi impregna nossa fala e contribui para a arquitetura de nos­
classe ou grupo utiliza quando aborda um assunto ijualtiucr do ponto de sa personalidade. Com efeito, por muitos modos, explícitos ou dissimulados,
vista desse campo oii entre seus pares. cun.sdcnies ou inconscientes, outras falas, palavras e idéias de outros indhndu-
É graças aos diversos domínios discursivos ijiie reconhecemos as abor­ os entram no enunciado/texto atra\’és da voz daquele que o escreve ou fala.
dagens ou pontos de vista técnico, jornalístico, publicitário, administrativo, É por isso que, por mais que um texto seja produzido por uma única
pedagógico, científico, religioso etc. dos variados conteúdos de nossas dis­ pessoa, ele jamais pode ser considerado invenção radical dc um cérebro
cursos. E em função do domínio discursivf) que se distinguem, por exem­ inigualavelmenie criativo, ou mesmo obra cem por cen to hom ogênea, ex-
plo. o discurso polêmico de uni ensaio .sobre os benefícios e os riscos do elusiva de um só enunciador. Quando produzimos nossos enunciados/iex-
forno dc micro-ondas e o discurso linear e prático do nianunl dc instruções cos. ativamos, mesmo sem nos dar conta disso, nossa m em ória textual e
dc sua utilização. O estado do lenqx)' é um assunto habitual dc nossas con­ procedemos a ‘colagens' discursivas. Constitui-se, assim , o que se conhece
versações mais despretensiosas, nia.s não nos referimos a ele com a impes­ eoino heterugencidade eiuinciativa, responsável por fazer de nossos dis­
soalidade e as expressões que se encontram nos boletins meteorológicos. cursos um tecido entremeado de vozes.
,S’-/ SU llM lA rAHT>: - lAÍA 1>K l'.0 \[tM:iMKNT0 . I>K KXI'UKS.S.\n K HK COMl-\n:.\(;.\i)

Ul'.\HT«n:\HTI I.n; l.l.Si.l .míIM. l'isn K.sii l 1l.Mli .S."'

Estiis vozes podem vir indicadas por al^iumn m arca textual ou incor-
Em outro texto, obser\’ei c|ue “uma lemia c unin ata tlc reunião .são tloi.s
fx>rar-se ao tecido do discurso sem revelar pistas formais de sua presença
gêneros textuais l^em distintos, caraeteri/ados. cada i|ual, por um formato t|iic
É comum que nos apropriemos de uma fala i^eral e anônim a, eniprcgando
faz de cada um ‘um texto próprio pani um certo rtm’. Por scr a lace concreta
um ditado ou uma expressão cristalizada (Em c a s a o n d e /a lta pão, uhíos
tlc um te.xtt). pode-se dizer que o ftêncro predispõe o ouvinte ou leitor para o
reclam am e Miníiiiem fci?t rrtcòo; Fiquei a c e r n avios), que usemos aspas
proce.s.sanicnto adequado do que o texto comunica. Noutras palavras, se tiin
para esclarecer que uma frase ou expressão do texto não c nossa; que nos
tcxtoeonicça com a frase‘Era uma vez unt rei que tinha duas hlhas', reconhe­
laçamos de porta-vozes de outras pessoas usando expressões conio./íxw> a»e
ço nele um po.s.sívcl como de/a d a s , c isto me predispõe at> deleite ile uma
f/ísse que.... Como dií o.fi/ósqfo etc., ou ainda que inscrevamos na lala/escri-
irani:i fama.siosa com rtnal feliz. Se. no entanto, a frase inicial for ‘Seu Mala-
ta comentários auiorretlcxixos. Mais adiante, analisando os procedimentos [|iiia.'i tinlia um papagaio muito beato que não perdia linta missa', provavel­
de incorporação do discurso, voltaremos a este assunto (ver 4.5.6.-J.1). mente c.siarei diante dc uma anedota, e isto me predispõe a achar tíríiça”**'.
.\s palavras existem para a expressão das ídeíns c não para seu aprisio-
4.Õ.4 (ièn cn is textuais** naincmo cni fôrmas; lojio, os j^êneros textuais não podem ser modelos rítíi-
Nossas nccessidade.s conuinieaii\’as são múltiplas c os conteúdos de nossos dos: de.s .se alteram, se mí.sturam, se renovam, se criam, tanto porque acom­
atos verbais ilimitados. No entanto, a vida cm conuinídade se caracteriza panham a contínua renovação da vida na dimensão cultural e a dinâmica
pela repetição e padronização das situações interativas e pela previsibili­ interna de certas situações sociais, quanto porque respondem à varietlade
dade dos atos verbais que realizamos nessas situações. Noutras palavras, tlc fatores envolvidos no processo de comunicação verbal, A propósito, de­
a maior pane de nossa atividade discursiva se proce.ssa como um ritual: vemos nus perguntar: tjue ínlliicncia o cnunciador e o destinatário exeroeni
em situações que se repetem para o conjunio da comunidade e para cada sobre a produção do texto em um dado écnero? Isso depende de que se itlen-
pessoa em particular, i^ualamo-nos nas necessidades comuns pelo uso das tl(it|ue a quem a mensagem interessa. Normas e regulamentos, por exemplo,
mesmas frases c pela construção de textos que realizam tareias comunicati­ são mensagens de interesse coletivo, com estrutura padronizada e impes­
vas ‘comuns'. A \ida em comunidade presstipõe liábito.s c práticas comuns; soal, e informação objetiva e clara. Por sua vez, mensagens que interessam
a orijjinalidade absoluta da expressão é inipossí\‘el quando o objetivo é fa­ antes de qualquer coisa àqueles C[ue as enunciam vêm sempre construídas
zer-se entender para conferir dinâmica ã convivência sociocullural. metiianie recursos destinados n conquistar afetivamente o destinatário.
Eis por que produzimos textos seftundo modelos social e historicamen­ c.xemplo mais óbvio disso se encontra no discurso publicitário (propaganda
te construídos a que damos o nome de jjêneros textuais. De certo modo, comoreial. política, religiosa, esportiva etc.). No domínio da publicidade, o
eles nos são impostos por uma espécie de eonveiição eonsaíJrada, Inerente Liuineiador tem um produto a oferecer num mercado disputado por coneor-
ao ritualismo da vida social. Em aljiuns casos isto c muito claro: requeri­ renii-s. Para tanto, este produto tem dc garantir, agregados a seu consumo,
mentos. atas. bulas de remédio, anúncios funerários, jiiranientos, receitas licnefíeios t|ue os concorrentes não oferecem. E aí entram as estratégias de
culinárias são j^êneros te.xtuais inerentes a atos ou eventos discursivos pró­
comencimemo, de persuasão e até de sedução, gerando um cntrosanicnto
prios de certos domínios-'.
de formas discursivas capaz de produzir gêneros novos ou mesclados.
-* So hrt o cuncviln. miu hiMiiri:* c i)rohlcm;itiz:iV'^‘>. ' lt UR.\.XL).\0 |le W J, .\IKl'KE|{, 1U)S'1N’I c Vivemos todos divididos entre o impulso criativo com que aftrniamos
.MOTTA-KUTII |2(J(i5|, HAZKILM.VX K.\KKO\VSKI alíi |2(X>(i|, nns.sa individualidade c a necessidade de observar normas e convenções

“ A ilístinvüo ÜI-- iJcntTo.s ou di.cuursivo.s [cm lutuja ir:idi(,fio, ma.s .so ;ic|iuv:i li;i íilc pouua.s
(jccüdas circuiiNcriu aos domínios dj litvniura e da rccórícii. Na (nidiçQo dos estudos lltcriiríos. para não licarmos à margem da vida social. É verdade que a linguagem nos
üislinâuoni-sc basicamente três ftéiieros o líneo - típico da e.vpre.ssàu do eu’ na poesia; t» épico - impõe .sua gramática, seu vocabulário, suas expressões socialm cntc con-
próprio üo relaio de avviitunLs. e o draiinítieo —earaeteríMieo üa enceii.i^*:lo de uontlitos {Xir meio
de diálojjos- S<) reevniementv a linéuíMica vetn se iiiiercss;iiidij pelo vsliiJodos Jlèncro.s. Os mode­ .solidadas, suas normas de uso e seus modelos textuais. Este é o preço da
los irudieíuiiais de deserii,-ào do íenõnictlo linüuíMieu. üiiitu n:i pe-rspectiv.-i cscniluriilista quanto vida em sociedade: sem essas convenções, nada diriamos que pudesse ser
na ótiea Jn Aminátiea ^-rativa. pararam na fra.se A miijanva do |Vk.*o dc aii.-ilLse - do .sistema d.n
língua para « «venio interaeional - implica a eleivãu de outro objeto; o texto. ConeretanieiUe. o fompreenditlo; e se não formos compreendidos, jamais poderemos revelar
que se imp<‘>ulofio ii atenção du analista é o fato de que a unidade a que ehainamos ‘texto’ .se deline
ante.s ptir s«u pa|K-l soeioinierativo do que por sua esiniturav-ãn léxic.i efirsini.nliual Daí a inodema nossa individualidade c fazer valer nossas ídeias c nossas opiniões.
preocupaçs^o com uma tipoloftia dos le.xu» em leniitis Je fiéneros sefiuiido sua pertinêneiii coiiiuiii-
cativa. Uma síntese esclarecedora do a.ssunio pode ser lida no capítulo “Texto, fiúiieros do discurso
u eii.sino". da autoria de llelen.i Nafiamine brandão IHfUUNUAo. 19*W; I7-45] AZEREW). J. C. tlc '•() Tcxio: Sua.«t Formas c Seus U.sos”. In: PAÜUUKONIS c WEKNECK |2(H»b|
S í. - I M\ M>HMA D». » i iMJH IVirNH >. UI K .X m .S S A o K |,v. 4;oMI '\|f.A<.:\il
ur.M(Tn iiAPin in ; i i m ; i m ; km , )>iNt;nis(i k rK X m S7

(^onliccinKMitos mais com plexos, qiic u ltra p a ssa m as nccessidadospr^ O jiii^iiincnto da ovellia
ticas do dia a dia, rap icrcm no\ as form as dc linjiua>icm, novos niccanismí Uin cachorro de maus bofes acusou uma pobre ovclliioha de Nic haver
Icxico-iiramaticais dc associa^ào dc idéias c ilc c n c a ilc a m e n to do raciocínj,, furtado iiin on,s o .
c, cspccialnicmc, novos c mais elaborados íiOneros textu ais. É no manejo - Í*ara i|uc furtaria eu esse osso - alet^oii ela - ,se sou herbívora e um
os.so para niim vale tanto quaiito uin pedaço de pau?
deles ipic SC revela c se eontirma o eo n lie cim o n to efetiv o dc uma líniíua.A
- Não quero saber de nada. \'ocè fiirtoti o o.s.so e vou já levá-la aos
escoiba do vocabulário ailcipiado, o (.lomínio dos n ieean ism os jíramaticais
trílniiiais.
da líujiua c o emprego dos sinais do pontuaí^âo p ertin en tes constituem ha-
K assim fez.
Itilidadcs que só se adquirem pela o b se n açao , an á lise e prática dc iíêneros
Queixou-se ao j^aviào [Kaiacho c tK'diu-llie justiça. O gavião reimiu
textuais iute«jirados t\os eventos im eraoionais respeoti\’os.
o irilmnal para Juljj^ar a caii.sa, .sorteando para is.so do/e urubus ile papo
va/io.
•l.S.â Modos de oriiaiiiza^xio do texto-'
Oornpíireee a ovelha. KaJa. Defende-se ile forma cahal, com razões
Os lièneros textuais sào múltiplos e teoricam ente iium ierávcis. mas o enc.i-
iniiíio irmãs das do eordcirínbo que o lobo cm tempos comeu.
deameuto das \inidades de iitíormai^ão no interior dos iexl<»s seiiiie padròes
Mas o Júri, eom|K>stc> dc carnívoros jiiilosos. nâo cjuis saber de natlii
que variam euirc uus poucos modos de orj^aiiizaçao. Tratlicionaliiieiuc. dis-
c deu a .sentença:
liu^uem-se três deles trotulados às vezes com o tipos textuais ou, eiii epeta
- Ou entrejia o osso já c jâ, ou condenamos você ã morte!
mais remota, j^èneros de composição ou de estilo); iiairuçãu , d esenj^ v
A ré tremeu: nâo havia escaimtória!... Osso não tinha c nfio poilia.
dissertação. A narração e a descrição entram na urdidura ile texto.s cujos
portanto, restituir; nias tinha a vida c ia emre|Já-la ent pagamento do
eonievidos podem ser representados por meio de outras liiií^uaíJens. como o
que não furtara.
cinema e a pintura. Por meio da dissertaçfm. por sua vez. urdimos .sentidos
Assim aeoiueceu, O caoliurro san^rou-a, espostejoii-a. reser\’ou para
que só |x>dem ser produzidos por palavras.
eoueeiio de dissertação como modo de dcseii volviiiicnto de uni Iciiia si uni cpiarto e dividiu o restante eoni os juizes famintos, a título de eus-
la.s... lU m A T O . l ‘W 2:4IO|
em torno do qual articulamos idéias e ponttss de xãsia prcsta-so mellior a
defmição de um gênero textual - o ensaio, (am i a evolução dos estudos
textuais, outras categorias i Cmu sido pro|x>sias. Duas delas já parecem con­ I.5..S.2 Deserição
sensuais: a iiT^umeiilação e a injuiição. (liamamos descrição ao

•l.5.,S.l Narração TlfO OK i:0NSTm\U\O TKXTO.M. K.M QIT: se KNt:.\OKI.\M o s TH.\goS yVE skkvkm

(.'hamamos iiarr.içào à l‘AIL\ i;AK.\orEK[/!.\ll A t;oMI'OS1Ç.\U UE VM .VMIMKNTK. I>K l’M .SKK VIVO, UK CM
oiui;r«í. DE r.\i i :oxokito . uk vst evento .

Si.gvi.M:i.\ç.\o ruoruiA ua KNrNaA»;.\o \w. r,\Tos ksvui.vkm I'KK.s<is .u : kss


M uviiM ís it iií < a :u m s v: i u s i -u í t u a s a c õ k s KN(:.\nK.\o.\s x.\ i . im i a
Na descrição, cm que prodoniinani o,s vcrlws dc situação c as expres-
IH. TKMIX.. SI.1.X O .K S1MI-U.S siv.Ls.vM . , : h o n o i . . h ; k : a , .s tiA T.v.vmKM h . u
sr>es qualiíieativas cm licrai, o cnunciador se concentra uo tema do di.sciirso
ia.LM.:nrs w. o..\r.sA k rruTu, c ordinariaiuetue não faz referências a si ou ao interlocutor. O princípio
orjianizador do texto abaixo c a descrição:
Nela predoiniuatn os verbos de ae-in \ n..rr .»r. , ' . , .
mzador predoimname da tabula •() iuliianieiun J., n - ' r.asa da ('.uUura de Paraty. O .sobraxlo. reeéiu-restauradu. {luarda a niem<W
. .mu,.miuuo Ua oi eilia , tramscr ta a
se^oir: ria tia cidade em uma ex|>t>sÍção euu>eionante. idealizada iKla eenójírafa
llia Ixr.ssa. As paredes do salão principal são lorradas de fot«>.s tie perso-
•• Sol>rc o icíWii. ver Ol.lVKlk.\, UlU uí,, V ■('.Oiu.r, t tinjicns de Paraty, Kstá tmlo mundo lá: o |xscador. a arte.sà. a iiuliazinha.
VAI.KNTK ptHl7: ^ .. Vm » ckí , us .\n,is: Teoria-. In a iloua do alainbiqiie, o estraiiiíeiro que veu» c ficou, .\biiins eoiiiain suas
SKC.l S m r.VUTK - r s u VORMA DF. f.OSIIKCUMF.NT»>, |)K KXmKSSAO K l»K «:OMltNU:,M;,\o

UVAHTtt (iM'iTi’i.u: i*isi:rii.'%»i»: tkxto


histórias dc vida L*m depoinientos que o visitante ouve em fones. Do teto
pendem caixas de vidro com objetos do cotidiano paratiense - cestas feíu^ (üozínhc n abó bo ra com litro de água e sal por uns 15 m in u to s, ou até
pelos índios, máscaras de caniaval. [M atic C (a ire. Juiy2004, p. 30j ficar m acia. Reserve alguns pedaços. Kefoguo a cebo la em um |X)iu|iiinho
de água. Ju n te á ceb o la a abóbora c a água do co z im en to , ('o z in h e m ais
um pouco. Depois, bata no liquidificador c volte ao fogo. .lu iu c a pim en ta
4 .5 .ã .d .Xr^iimentavào
e a mni.sena dissolvida no leite e m exa acc ferver. R etire do fogo, eol<H|ue
A aréumentaçào consiste no
o qu eijo cottage, a salsa, os pedaço.s dc abó bo ra reservad os, salpU|ue o
parnteSrão ralado e regue com 1 co lh e r de a z eite. Sir\'a im ed iatam en te.
E s CAOE.VMKNTO de pr o p o siç õ e s com VÍSTA .\ DEFESA DE ITMA OPINIÃO E AO
[O G/oòo, 16/9/20071
COSAT-NCIMENTO IX"» INTERUXrCTOR.

4.. 5.6 (à)i).stituiçfio iiitcn ia do texto


São característicos deste tipo sequen cial os co n e ctiv o s condicionais A codificação do texto envolve procedimentos formais/estruturais relativos
(sc, c o so ), concessivos ou contrastivos {e m b o r a , m a s , j n e s m o q u e , por ou­ ã representação, disStribulção e organização de seu conteúdo. Oistinguirc-
tro la d o ), conclusivos (portanto, por isso ) e tc. A a réu m en ta çã o é o princí­ nios cinco desses procedimentos ou mecanismos;
pio org-anizador do seguinte trecho; a) .sin a liz a çã o ,
O scm b/rintc «cren o de uma vaca, aq uele a r ‘bovino c i>npertur6f«.x’/ b) estruturação da informação,
de Qucni csíd semprejí/o.so/h/tdo. lhe é s ín ip fe s m e n r e inevitável, pois c) perspectiva.
m esm o que pudesse querer, a vaea não po deria s o m r , nem chorar. Siw d) transte.xtualízação e
m áscara facial é rígida e ine.vprcssiva, co m o a dí» m a io r ia dos animais. 0 e) In te g ra çã o .
que se assem elha a uma paz interior, fru to de e.v trem a sabed o ria, é ape­
nas fatalidade. Só os mamíferos su p erio res, em p a r tic u la r os primatíLs. 4.. 5.6.1 .Siiialíxação
são capazes de usar o rosto para m an ifestar e m o ç õ e s oti sentim entos, e A sinalização constitui o
esta linguagem visual atinge seu d esen v olv im en to m á x im o n a c.spécie
hum ana- 1KL'1ÍRL'SLY, 108-í: 3 1 J C onjunto ik >s .m e io s p e l o s q u a is o l o c u t o r d e sig n a n ü d js c u r w j a s va -

1U.U‘EIS IX> CONTEXTO SITUACIONAL E DO CONTEXTO \'ERDAL (COTEXTO):


Kste tc.xto está organizado mediante a articulação de uma opinião ou OE.M
t,S.SON,OlATlCKLOLTTOfí, OTFJUPO,OESPAÇO,O.USSl'ATO.
tese (eni negrito e itálico) c uma sequência de arguniciitos para sustentá-la.
O primeiro desses argumentos é))joí,v me.smo qitc p u d e s s e ( f u e r e r , a vaea A sinalização é uma componente da codificação. São recursos sinali-
n ã o p o d e ria .sorrir, ?ieni chorar.] zadores agora / a n tes / dep o is / en tã o , a q u i / a i / a li, e u / ‘cocê / e le, isco /
í.s.so /af/ui7o. Também com apoio no contexto sinalizam -se as épocas eni
4 . S .S .4 liiíuiição que se situa o conteúdo da frase, rtexionalmente expressas através do ver­
A injunção consiste no bo: pre.sente, p a ssa d o c fu t u r o . Os instrumentos e procedim entos dc sin a­
lização serão detalhados especialm cnte nos capítulos em que se analisam
EMintKtiO DE Hiiesus da I.INOV.VIKM CUM qVE I) ENrNClADOK EXPLICITA SDA
as classes’de palavras c seu funcionamento textual, com destaque para ar­
ISTKNÇÃu ÜK I.EV.VK «) DtSTIN.\T.\Ul<», OlVl.STL OV LKITOH, A P10\T1C.\1< ATOS Ol*
tigos, pronomes e advérbios {ver sétimo c oitavo capítulos), e as categorias
TKK ATITDDKS. dc pessoa e tempo dos verbos (ver sétim o e décimo quinto capítulos).

srio comuns neste tipo sequencial a.s formas verbais imperativas. ■' I.5.6’.2 bstruturação da informação
in ju n ção é o princípio orftíinizador do seguinte treolio, e.\traído de imv' As informações expressas por palavras são codificadas e ordenadas nos li­
re ce ita culinária: mites do enunciado segundo um requisito fundamental: a compreensão,
por parte do interlocutor, do conteúdo pretendido pelo enunciador. Para
90 SV.(U SIi\ IWKTF.- CMA HtHMA HK COSllKl lMKSTn, DK KX11UU<SA<» K Í>K COXM-NICAÇAo
(jr.\UT(i i;.\i’iTn.o: iiist:ri>s<i i i>xro

conseftiiir isso, o cminciador submeto os conteúdos inrormndo.s em um 4.5.6.2.3.1 Modalízaçã(»


enunciado a três cstratcíias básicas de codificação: a referenciação, a pre- A niodalização diz respeito à e x p re s s ã o d a s in ten çõ es e p o nto s c/c eisíu
üiciiçno c o hnlÍ7.aiiieiito. do emincíador. É por intermédio da modalização que o eium ciador ins­
creve no enunciado seus julgamentos e opiniões sobre o conteúdo do que
4.5.6.2.1 Kcícrcnciíição di/Vcscreve, fornecendo ao Interlocutor ‘pistas’ ou Instruções do rcconheci-
Ao construir o cnunciado/texlo, o usuário é guiado pela iiUençao/necessí- niemo do efeito de sentido que pretende produzir. As frases ‘a’, ‘b’ e ‘c* dc
dade de tornar as entidades dc que fala siifícientem cnte intellgíveis/reco> cada grupo de exemplos abnixo diferem quanto ã modalização, conform e
nhecíveis para o interlocutor. Nas palavras dc M. TomasSello, “as escolhas SC depreende das formas ou procedimentos cm itálico, ciue são marc:is do

são determinadas cm grande medida pela avaliação que o falante faz das modalização:
necessidades comunicativas do ouvinte c do que ajudaria a lograr o inten­ la) É possível que chova no Carnaval. (Suposição)
to comunicativo - que tipo dc descrição, em que nível de detalhamento e lb) É necessário que chova no Carnaval. (Necessidade)

a partir dc qual ponto dc vista é necessário para uma com u nicação bcni- lc) Vai chover no Carnaval. (Certeza)

-sucedida e efetiva,..”-^. O recurso mais preciso nesse sentido é o emprego 2a) Garanto que eles foram ao cinem a. (Certeza e em penho ou com ­
dc um substantivo próprio (Acabei (/e ler Os S e r tõ e s ), o m ais vago é o promisso)
2b) Acho que eles foram ao cinem a. (Dúvida)
uso de expressões como isso, iim trcco, uma p a ra d a , q u a l q u e r co isa etc.
2c) Está na ca ra que eles foram ao cinema. (Certeza e comprovaçã<i)
{Difi,a q u a lq u er coisa). O tema dn referenciação é retomado e desenvol­
3a) Seria conv eJiiente que essa porta ficasse fechada. (Sugestão)
vido nos itens 10.2 e lO.A, dedicados à construção do sintagma nominal.
3b) Essa porca p recisa ficar fechada. (Obrigatoriedade / Necessidade)
No seguinte exemplo transcrito do item 4.5.5.3 - esta lin g u a g e m ‘oisual
3c) Deixem essa porta fechada. (Ordem com que, conform e o tom ,
atinge seu desenvolvimento lyidxitno na esp écie h u m a n a —são expres­
!az-sc uma exigência, um pedido, uma sugestão)
sões referenciais ‘esta linguagem visual', ‘seu desenvolvimento máximo’ e
4a) Ela conhece o segredo do cofre. (D eclaração que denota uma co n ­
‘a espécie humana’
vicção pessoal do enunciador, mas que, conform e o tom, pode
expressar convicção, suspeita, apreensão etc.)
4 .5 .6 .2 .2 Predieação
4b) Dizem q u e ela conhece o segredo do cofre. (D eclaração com que
Compete à predieação informar o que se passa com as entidades referen­
o enunciador abdica da convicção pessoal)
ciadas. Ao unir-se a uma expressão referenciadora, a predieação dá origem
4c) Por a ca so ela conhece o segredo do co fre? (C eticism o)
a uma proposição - ou seja. ã união de um sujeito e um predicado num
enunciado dcclarativo. Também no exemplo transcrito do item 4.5.5.3, a
4.5.6.2.3.2 Hierarquização
predieação é representada poraríngcscii desenvolvimento m á x im o Jia es­
A hierarquização é responsável pela d is trib u iç ã o d o s c o n t e ú d o s n o in t e r io r
p é c ie h u m a n a . Este assunto é retomado e desenvolvido em 8.1.
dos enunciados s e g u n d o a r e le v â n c ia in fo rm a c io n a l a t rib u íd a a c a d a um .
4 .5 .6 .2 .3 Bali/ainento ü enunciador pode conferir às entidades referenciadas e às predicaçoes
A função do balizamento é explicitar no texto as pistas indicativas do efeito diferentes staíus, que discrim inarem os com o inform ação dada/coiihecida,
de sentido pretendido pelo enunciador O balizamento se expressa por duas informação nova, informação recuperável, inform ação inferível, inform a­
estratégias principais: a iiiodalização, por meio da qual o enunciador ex­ ção implícita, informação pressuposta, tópico e foco.
pressa atitudes e opiniões relativamente ao conteúdo proposicionnl; e a
h ie ra rq u iz a ç ã o , responsável pelo -síatas ou relevância das parcelas dc in­ 4 5.6.2.3.2.1 Inform ação ctm ltccida c inform ação nova
form ação contidas no texto. Um enunciado é uma unidade interlociitiva de inform ação, m as a totali­
dade dessa informação nunca é cem por cen to nova para seu destinatário,
l^ara conter cem por cen to de inform ação nova, um enunciado precisaria
ser lotalniente imprevisível no co n texto de sua ocorrência, a ponto de se
Tí>MASKbM> f2íK)3; 2331
<0 S ) j,n n A MKTK - 1 MA m HM \ [>F. OOSIIF.1'.IMK.S7 (), I n F X m ;S M .\n n , n «)M I-XICM;^\ i i

Ül'.\H T ot;vPlT l'l,0; I>ISU U.M> E TK.KTn

tornar absurdo c. conseqiientcnioiitc, incapaz de com u n icar qualquer coisa


que lizesso sentido. Todos os enunciados a que atribuím os sentido estão 4 Contratei tlai.t piiiíore.s é informação nova, introdiitora do tema da
alguma maneira 'situados' em um contexto ou em um cam po de inteligibili- conversa Em eíe.s •oíeram c.sta m an h ã pura o r ç a r o ticrviço temos duas
dade do interlocutor, apoiados em al^o que este ouvinte ou leitor já conhe- ações (eíernm e nrçnr), um agente (e/e.s), uma circtinstãneia de tem p o re­
ee ou que ele pode deduzir do contexto. Por isso, as informações reunidas lativa ã primeira ação (esta m an hã), uma relação de finalidade ( p a r a ) e um
ohjeto tia segunda ação (o serv iço ). Kles significa d o is p in to res (informação
no sentido jlobal de qualquer enunciado tC>in s r a n is variados para o interlo­
reeu|x;rável); vieram e orçor são tições (predicações) atribuídas a e/e.s, nias
cutor iiifontwição nocfi, íiiíbn noção con/iecído, in fo r m a ç ã o reciípcnk-d.
orçar' não possui qualquer marca de terceira pes.soa do plural. Como o lei­
íiifontmçõo ínfenccl, ín /o n n a ç ã n prvK sn posm e in fo r m a ç ã o implícita.
tor capta corretameiite a referência do pronome ‘eles’ e lhe atribui a ação
0 conteúdo de um texto é lierenciado pelo seu enunciador. Este deren-
de rirçorV Claro; ele a recupera 110 contexto do enunciado.
eiainento consiste na detinição do sta tu s de cada informação secundo asea- i’or sua vez, o tempo de eicm m - passado - está explicito na formti do
tesiorias discriminadas acima. É o enunciador que decide se um.a infomiaçâti verlio, mas orçar não possui <|iialquer indicação morfológiea dc tempo. O
é nova, eonbecida, recuperável, inferível ou pressupostti, e cm função de.s,sa leitor não preeis:i dis.so para saber que a ação de o r ç a r é posterior à de vir.
decisão, escolhe os recursos conipatú eis com o respcctis o sfnni,s. O enun­ Kle se vale de outro ftmdameiuo. amparado na relação expressa por p a r a :
ciador não decide sozinho, porém, sobre o statu.s implícito das iniomiaçõe.s imiti ação que cumpre ;i finalidade de um ato é logioanientc posterior a esse
Viste yiertenee ao circuito da interação e é pros ido por latores pradtnáticos. ato. Se. no eiit:mto, em Itigtir de p a ra tivéssemos c - C on tratei d o is pin-
Uma iníorinação é nova quamlo. do ponto de \ista do enunciador, elp tore.s; cies vieram e... poderiamos completar o enunciado com nma d;is
está sendo apresentada pela primeira vez ao interlocutor. Por sua vez, unu seguintes alternativas: orçaram / estão o rçan d o / v ã o o rça r. Não podendo
informação é dada se, de altiunia maneira, ela já está integrada à niemória ser inferida do eontexto, a ocasião de o rça r teria de ser indicada na forma
do interlocutor. do próprio verbo (orçfirttm) ou de .seu auxiliar (estão, v ã o).
Uma iníonnação é iratadti como esmhecida em três casos principalnienlc: Vejamos agora outras duas expressõe.s: esta m an h ã e o .serxjíço. E sta
af se ela aponta para um dado que, a juízo do enunciador. faz parte sinaliza uma ocasião (mnn/in) eonnim ão enunciador o ao destinatário
da culturti pessoal do interlocutor (inlormaçao arquivada), (informação reeuperãvel); já o serciço contém um artigo definido indi-
h) se ela já foi introduzida em alíiiiu ponto precedente do discurso eandti i|ue a ideia de ,serx'íço está contida (informação acessível ou inferi­
em proce.sso ou está disponível na situação eonumicativa (ínlur- da) n;i situação (tram e / enquadre) menta)mente ativada pela declaração
mação recuperável I, Coim aiei dois fiim ores.
e) se ela pode ser inferida de alifuiit saher mais ijeral compartilhado laiagiaemos agora que o interlocutor c a pessoa que terá de desembol­
pelos ititerloeutores (informação inferível). sar os recursos para pagar pelo sen iço; qualquer sentido que o enunciado
poss;i desencadear em relação a isso pertencerá ã ordem dos implícitos.
Por sua vez, uma mforinação se diz. implícita quando pode ser deduzi­
da de outra graças a aituma espécie de associação, ipie ê- determinada mi, l..s.(i.d.,V,2.2 Iníonnação iiiiplíeita c infonnação pre.ssuposta
pelo menos, favorecida pelo eome.vto soeioeomunicativo. Ciiui inforiuaçãu se diz prcs.suposla em imi cntincindo se ela é uma con ­
Tanto as inlorinaçòes novas quanto as iladas ou conheeitlas recebem dição lógica da validade desse mesmo enunciado. Assim, ao dizer P erdí
aljiuma espécie de eodifieação nu texto; o que as tlistinéue é a forma des­ mwfui carteira - 011 sua negação N ão p erd i m in ha c a r te ir a - a pcs.soa
sa eodirteação. Informações novas sempre estarão manifestas 110 te.xto, ao tiuiibém está informando que posstiía/possui uma carteira. A informação
passo que informações tiue u iiiterloeutor pode ignorar, prever ou recupe­ da posse da carteirít é ‘pressuposta’. Sc isso não fosse verdade, o enun-
rar reeelrerão alguma eodiúeaçâo compatível eoiit cada situação, podendo eiado seria absurdo. Perguntas que focalizam uma parte do eiuiiicisidu
mesmo ser omitidas (()iic'iii iiie.veu no m inha fiavetuP. C o m a v o c ê a tra v e ss o u o rio? ) pres­
Vamos ob.servar o seftuime texto supõem uma declaração (Aígiiéiii me.veu na m in ha g a v eta , Você íttra e e .s-
• ( à ) ilt r a t e i dois p in to res, eles v .soii 0 rio). Do ponto de vista do enunciador, trata-se de uma informação
■lerani esta manhã para orçar 0
s e r x iç ü
pressuposta; do ponto de vista do ouvinte, uma informação inferida. E iiiu
94 SEi*.lM>A PARTF. - R1RJU DE COSJIECIMESTO, OE EXPRE-SSAO E DE COMl^SK-^Ç-XO

UtURTO(iU’lTVLo: uxt;t'.w;ra<. i>isa R.M»»: texto 9.Ç


enunciado como Quando você v o lta a t r a b a lh a r ? traz embutidos pelo
menos dois pressupostos; 'você não está trabalhando neste momento’ e Por outro Indo, dispomo.s de recursos para .subtrair ou subestimar nl-
voce trabalhará em algum momento’. jíiini conteúdo ou, ao contrário, para torná-lo o centro do atenção tio in­
O significado pressuposto é óbvio e, portanto, coletivamente acessí­ terlocutor. Decisões dessa natureza podem levar o cnunciador a escolher
vel. As informações implícitas, por sua vez, pertencem à ampla esfera das entre;
condições pragmáticas do discurso e dependem de variáveis socioculturais a) xMaradona fez o gol da vitória argentina
quase sempre subjetivas. São sentidos motivados por fatores paratextuais. b) Maradonn fez o gol da vitória argentina com a mão (enunciados
em frase declarativa padrão, com tópico e foco neutros)
sentidos que os textos insinuam ou autorizam, de sorte que seus autorc.s
c) Maradona fez o gol da vitória argentina COM A MAC) (foco mar­
não podem ser responsabilizados de os ter expressado.
cado por alguma ênfa.se enuncíativa) e
Na maior parte dos casos, trata-se de comportamentos ritualtzados,
d) Foi com a mão que Maradona fez o gol da vitória argentina (foco
que não deixam qualquer dúvida sobre a intenção com que se manifestam
marcado por recurso sintático: Jb i... q u e ).
(por exemplo, a pergunta É d a c a s a d o P au linho? feita ao telefone. A even­
tual resposta Ele deu um a s a íd o m as ftão d em o ra revela a percepção do
A informação com a m ão é subtraída em ‘a’, simplesmente adicionada
sentido implícito). Outras vezes, porém, as pistas do sentido não sâo com­
cm b’. e posta em destaque (marcação de foco) em ‘c ’ e ‘d’ por meio de
partilhadas. O humor e a ironia, por exemplo, extraem sua força signitica- nl^um recurso especial.
ii\ a de fatores paratextuais. Anedotas são textos cuja correta interpretação Entre os procedimentos de subtração ou subestimação de informações
(percepção do efeito humorístico) depende quase sempre do prévio conhe- se destacam a escolha da voz passiva do verbo em lugar da voz ativa (Cf.
cintemo de dados - geralmente cristalizações ideológicas ou estereótipos Á Câmara MurUciped afiístou o prefeito d e s u a s fu n ç õ e s e O prefeito f o i
conceituais - compartilhados numa determinada cultura. afastado de suas f t n ç õ e s ) e o emprego de nominalizações de verbos (Cf.
Outras vezes os enunciados são simples pretextos para significar men­ Os m«ni7l’sffmfcs ociiparom a p ra ç a d u ra n te c in c o h o ra s e A o c u p a ç ã o
sagens subentendidas*"'. Incluem-se na conta dos subentendidos dados da (ia pmçc/ durou cin co h o ras). Em cada um desses pares de frases, a segun­
competência cultural, como referências históricas, crenças, tabus etc. e.x* da sempre omite uma informação presente na primeira.
pressos tantas vezes por pro\érbios o frases feitas, assim como por certas
metáforas de validade muito restrita. P ersp ectiv a
Perspectiva é o
Tíípico e foco
A combinação de informação dada (rópteo. pane inicial da frase declarativa CoMIX»SXNTE v o TE.STO POR MEIO DO QV.\L SE IDE.N‘TIFia\ O f SE RECONHECE
padrão) e informação nova {foco, pane final da frase declarativa padrão) yl Eil o F..MNCIA 01- E.M NOME DE QLX.M ELE É ENl^NCLMX^.
é um requisito fundamental da progres.são temática do texto. O tópico é
o pomo de partida da frase declarativa, a unidade de informação sobre a A tradição descritiva sempre se referiu a duas dessas fontes: uma, de
qual se faz a declaração: o foco é a informação acrescentada, a no\'ídade do um cnunciador interno, marcada formalmente pelo pronome da primeira
enunciado. -\s frases seguintes apresentam versões para a informação de pessoa; eu (perspectiva interna); e outra, sem marca formal, atribuída a um
um fato nas quais varia o tópico, destacado em negrito: cnunciador externo (persp>eciiva externa). Esta distinção revela, porém,
a) Os manifestantes ocuparam a praça durante cinco horas. muito pouco sobre a complexidade do envolvimento daquele(s) que fala(m)
b) A praça foi ocupada pelos manifestantes durante cinco horas, airavé.s de um lexto.
Cl Durante cinco horas, os manifestantes ocuparam a praça. Na.s cartas entre amigos ou familiares, é comum que o autor do texto
se assinale todo o tempo como 'eu‘. Já em cartas comerciais encontramos
Como na histonnfu Jy garoto, inicmo cm um colégio religioso onde só eram admitidas reclama- frequentemente um ‘nós’ genérico e um tanto impessoal, às vezes acompa­
zo interesse «io próximo Quando certa vc 2 encontrou no prato de leijáo um inseto bem co­
nhado do nome da instituição, que é o cnunciador intelectual. Artigos de
nhecido. te%c impelo de protcMar. ma.s. lembrando-se da norma, chamou o in.speior e. apontando
o prato do colega ao lado. denunciou: - O Fedrinho nâo ganhou barata l jornal, embora a.ssinados. sâo construídos da perspectiva da terceira pessoa
X
'>6 skViiM '.\ !*.\k ; k - M»HMA w . i:oSM t<.'.MFSTo. [sv. Kxrur.ss.U^ e hr. «:<vsii-n u i \<;.So

Ul AKTlUlM-lTn.ri; I INtll .MlMl, |»|s»;|-|t.Sii ». TK\To *h

(perspectiva externa); por sua natureza tantas vezes intimista. a orôni«


por sua vez, tende para a perspectiva interna, tio ‘eu’. A citação pode se aprc.scntar como transposição direta ilo iliseiirso
-\ variedade de situações é ampla, e não é raro que, ao assumir a pa. citado ou como transposição adaptadti deste. Na transposição dircl;i empre-
gani-.sc procedimentos gráficos como travessão, aspas (gr.áfica.s ou simdiza-
lavra, uma pessoa se apresse em d izer iitío f a l o a q u i c o m o mtWfco, nta*
das porgc.stos) ou recuo da margem a.s.sociado a mudança do tamanht) e/ou
como nmiuo. São duas perspectivas diferentes, mesmo que o locutor, falan­
tipo de letra. Essas m.ircas gnálicas podem ser dÉspensadas t|uando o objeto
do como médico ou como amijio. se nomeie sempre com o 'eu'.
da citação é uma c.xpressão facilmente identificada como tal c a fonte vem
perspectiva se formaliza no te.xto através dos recursos do citação, mencionada, como no terceiro entre os exemplos abai.xo;
que desenvolvemos mais ã frente, no item 4 .5.6 .4 .1.1. • “Sc eu fos,se rei ou prefeito teria mandado erguer-lhe uma es­
tátua. Mas, do jeito que falava, ele pedia apenas que no .seu
4..S.6.4 Tr.mstextualizaeão túmulo eu escrevesse: 'Aqui j a s um homem que amou c fi»
Chamamos trjnstcxtualização ao am ado'. ” (S/VNT%VNA, 200,1. 1511
• “Por mim, gostaria de dizer com o poeta Carlos Dniiumond de
P riX’.ES.SO PEl.O ql VL o ESrSr.lAtKlR constr Oi seu t e .x to ( tk .x to .u et.\) me- Andr.Tde:£cr»mo./ifouc/i£(to.sermorfenio/.-lgora.sereíeíenio. “
UI.VNTE IXCOKISiR-tC.Vo O f TR-V\SF0R.M.\l.L\0 l).\ TOT.VLID.XUE O f t)E P.VRTE DE |.\IACII.\DO. 1999: 131|
o n R o TEXTO ( texto fo st e )
• “O país começa a existir quando a cidade e o campo se con­
frontam. (...) Nesse confronto, os homens tocam, pela primei­
Pode-se idemificar preliminarmente dois procedimentos amplos de ra vez, limo a on a d e p ele a in d a intata d a h istória, para usar
transtextualização; a incorporação c a rcclaboração. Uma e outra se subdi­ a c.xpressão de Ortega y Gasset.” (MOURÃO, Gerardo Melo.
videm; a incorporação, cm ciia çâ o e u/u.síio; e a reelaboração em paráfra­ Apresentação. In: NLMA, 2002|.
se. tra d u çã o , punidiu. p/déío c rctificrição.
Sob a forma de d iscu rso direto, a transposição consiste em dar ;i pa­
lavra ao personagem na cena enunoiativa. A situação típica de uso do dis­
4.. 5 . 6 . 4 . 1 liicoqToração
curso direto é o diálogo, como na seguinte passagem transcrita dc “O julga-
Chamo incorporação ao processo pelo qual. tipicamente, o te.xto fonte e o tex­
niciiti) da ovelha" (4 .5 .5 .1);
to meta guardam uma relação de parte e todo, respectivamente. Seus tipos bá­
• “- Para que furtaria eu esse osso - alegou ela - se sou herbívo­
sicos. que idcntilicamos como citação e altcsão, são procedimentos de incorpo­
ra e um O.SSO para mim vale canto quanto um pedaço de pau?
ração dc um discurso segundo, que pode ser alheio ou do próprio enunciador.
- Não quero saber de nada. Você furtou o osso e vou já levá-la
aos tribunais.”
4.. Õ .6 .4 .1.1 Citação
.-\ eitaçãío consiste na reprodução de um te.xto ou de parte dele, medianiv
transposição adaptada se realiza por meio do discurso indireto e
o uso de marcas (gestuais. prosódicas, gráficas), verbos d icen d i e/ou verba­
do discurso indireto livre, Nas duas passagens seguintes da mesma fábula,
lizações (como nas expressões .segundo (i Con.sticuição, na.s ptdcivras dofi-
icnios discurso indireto, em que se reproduz a fala do cachorro adaptada
lúsíi/a. conhecido como etc.) sinalizadoras dessa reprodução, com finalid.i-
pela voz do narrador:
des discursivas variadas, como conferir credibilidade ao que se diz/esereve.
• “Um cachorro de maus bofes acusou uma pobre ovelhinha de
como nos ensaio.s acadêmicos c teses em geral, e nas pregações religiosas
lhe liax’er furtado um osso.”
de sacerdotes e pastores. Quando procede a uma citação, o enunciador
dei.xa claro que o te.xto/trcclio citado est.á sendo trazido de outra fome e • “Quei.xou-se ao gavião penacho e pediu-lhe justiça."
vem normalmente acompanhado da identificação de sua origem/autoria. A
origem pode ser uma obra anônima (como um livro sagrado ou um texto re- 0 di.scurso indireto é textualmente assinalado por verbos ou substanti­
^mental), um texto de autoria conhecida, que pode ser filosófico, literária, vas caracterizadores de um discurso segundo, alheio ou próprio (d ecla ra r.
científico ou técnico, entre outro.s, ou ainda um cidadão qualquer pcrgunííir, .segundo o B íb lia , nos palnuros d o filó so fo etc,). Têm tal função
•JN íM ,l N[>A IMKrh - I MA H®MA IM.1J KilI lIMlATl I, hl. f XI1(|S.1.M l t HH.l Vl
y r.M U i«I ,\ n n m n v ti niM rií.-u I I i i \ i i *

no irccho :iiHcriiir os verlios ucusttr. qucixíir-nc c im iir. As palm nisuíttiva.


-í.s.fi. Í.2 .Í rjinUVíihc
muntu üinprcaailas pdo personagem podem aparecer no texto do n.irr.id(,r A piinífntse eon.siste em refazer um texto fonte em função de seu conten­
precedidas por verhets como ilK cr, /jcrjiiintíir, rcs/ioiu kr, ponderar «c do lí uma categoria t|tie abrange restiinos, coiKlen.s;ições, alas, atla(iiaçoes,
chamados verbos dicviidt' [diccm li = de dizer). He o narrador tive.sscdatl, relatórios.
à 1'ala do cachorro acima transcrita a tbrma de di.seurso indireto, o trcchn
ptulcria liear assini: O cachorro retru cou c/uc iiõ o í/iicriti aaher de luuh -I..S.Ó. (.2.2 liadução
D ieiu <fiic a ovct/ia tinha fu rtado a a.sso c tpte ia lev á -la nos trihmuiix. Tbiduçâo é uma variedade de rcc.serita de um texto, em que o texto meta é
OIrsenciiios afíora o .seguinte trcclio da mesma fálnila; reelaliorado em uma língua diferente d.aquela eill que loi produzido o tex­
• "... não havia c.seapatóri,il.., Os.so não tinha e não podia, to fonte. Traduç.ão e paráfrase niesclaiii-.se no gênero tradiiçtio adaptatia ,
comum <|uando ,se trata de traduzir obras literárias niiiito exieii.s.-is para o
portanto, restituir; mas tinha a \ida e i,’i entrc(>á-la em p,i(,i
público infantil oii infantojtivcnil.
mento do tine não furtara."

1.. 5.Ó. I.2..1 Parótiia


O narrador dá prosseguimento ao relato, in.serindo agora no t«in
A paródia é a recriação dc viés crítico, com intenção cômica oii satírica.
os sentimentos da personagem. Trata-.se de discurso do narrador para rt- Na paródia, o te.vto fonte não é apenas o ponto de partida. Ele periii.-meec
s elar conteúdos pensados pela personagem, niiis sem as mareas íormaix entrevisto no e.spaço do texto recriado, .sem o tpie se perde o efeito tie
do discurso indireto Este último trecho ilu.stni o c|ue se chama diseursu sentido da paródia
indireto livre,
1.. 5 ó, l.ê I Plágio
4 .,õ,6 .4 1 . 2 .Viiisão 0 plágio eonsi.ste na apropriação ou imitação, esseiicialinente ilícita, de
A alusão consiste em evocar um te.vto ou discurso anterior (de outro gOni'- texto alheio. Pode ser parcial ou total, distinguindo-sc da paráfrase e ela pa­
ro. de outra época, de outra cultura), para produzir, no presente, um efeito ródia por ocultar .seu proee,s.sode criação. A facilidade, criada pela internet,
de sentido autorizado ou lugitinuido pelo texco/di.scur.so evoeado. Diíercn- do acesso a textos alheios aumentou consideravelmente a prática do plágio
temente da cit.ição, cuja incorporação o interlocutor identifica graças às nos meios acadêmicos.
mareas, u alusão só é percebida se o te.vto guc eia evocti faz parte da cultun
do interlocutor. N'u conto "O Diplomático", dc V árias H istórias, .Macliatiíi 4..s,ti. Í.2..S Retificação
de Assis alude a um texto do poeta itidiano Petrarcti para retratar como a ti­ retificação consiste no ato discursivo pelo qual o eniinciador corrige ou
midez do personagem Rangel obstruía seti pitino de fazer ,à jovem .loaniiilu niiiditíca uma palavra, uma construção, uma formulação com o propósito
uma declaração de amor; de tornar a expressão mais precisa ou mais adequada. O alvo da retificação
• "Ü pior é que emre u espiga e a m ão, há o tal muro d o poeta, f é normalmente um fragmento de texto, e pode ser extraído de um discurso
0 Rangel não era homem de .saltar muros.” |ASSIS, 2(K)4; l.sJ| alheio ou do discurso em processo do próprio enunciador, como nesta pas­
sagem de Nelson Rodrigues:
A alusão se expressa muitas vezes por meio de fra.ses feitas que evo­ • “(O pintor) punha no colarinho uma gravata feérica ou, mc-
cam situações públicas ou fatos históricos, como em zlgora, liw s é morto Ihor d isen d o , umo gravata que era um rep o lh o m uU icolori-
- ahi.são a uni episódio da História de Portugal. d o .” (RODRIGUES, 1993; 22,S|

4..Õ.6.4.2 Keelaboração -Í..S.6 ..Õ Integração


A reelaboração consiste em produzir um texto (texto meta) derivado de Adotamos o termo integração para nomear o
outro (texto fonte). A relação entre os dois é gcralniente de todo e todo
C1IN.IIJNTO DE fltOCEUlMESTOS iNEf.ESSáRlOS .\ .VHTI(;UI,.VÇ.9 • S10Ninc..\TlV,\ UAS
Entre os modos de reelaborar uni texto, cinco são bem conhecidos, como
segue. UNIOAtiES t)E lNFORXt\v..\o IX) TEXTO EM FtWÇ.\0 UE SEU SIONIEIOAIX) (a.l)ll.a.
/ íK J M I.IN IIA r.VKU. - l'M> KnH.MA HK i;i 1MIKi;iMV.\T'>. |ll. KMHK.NSAn K HK i:«»MrNli;A(,',\.0

urAKTM ilAHTrl.u; I tNtifVtiKM. l'IM :nisn ». j j u n Ku

Ciniviis à üs iViisos q iiu c o m p õ e m o t e x t o se tlistrib iieiiiu sc


íeríainos, todavia, nni caso de IncoerOiieia se o etm neiado fosse algo eoino;
e o iie iite n a m a tim do re a liz a r um a e o m liin a v ã o aceitávcl/possível/plausívul
do e o iito ú d o s. A iiu o )ira çã o re co b o o u o m o o sp o e ia l d e c o e rô iio Í!i i|unnd»a
Cmiiratei dois iiiiitores; o/guii.s d eles vierom esto im iidiã fMiro v o e im ir o s
f(ie/i«rn>.s. Não podemos ii.sar o/gun.s para seleeioiuir parte de iim eimjim-
a rlie u la (;ã () siín ilie a ti\ a depondo do aldum e o n h o e in ie n to e x te r n o ao texio.
to lómiado por aixtnas dois elem entos; a m enção de voci)i<ir o s eiieh o rro s.
e o m o a o iilu ira d os in to rlo o m o re s c a s itu a r ã o e o m im ie a tiv a - o rceoboti
por .sua vez, também é incoeren te no texto, pois esta não é tarefa atribuída
n o m e do oitosrio t|uaiido essa a rtio id a çã o se b a s e ia tã o s õ n o eonheeim enio
a pintores. A expressão foriiial tie coesão .será decalli.-ida ao longo tia des­
o u ro e o n lie e im e n to das u n id ad es p re s e n te s n o te x to . S e e.sse princípiojicral
crição gnimatieal, segundo a especificidade de cada capítulo. Na .setpuêneia,
é in frin tíid o , e r ia -s e um a c o m b in a ç ã o in e o e r e n te o u , n o m ín im o , iniperíeit.i aplicaremos alguns co n ceitos exam inados até .agora ao com entário dc dois
d e c o n te n d o s . íoigniciitos dc texto O prim eiro exeniplitiea um 'diálogo frustrado': um tios
iiltcrloeutores procura dar um recado e o outro interpreta o enuiieitulo que
('.o e rè n e ia ouve .segundo .sna eonveniênci.a. O .segundo e.veniplo é uni texto construído
O c o n c e it o de c o e rê n c ia assim ío rm u lad o fo r n e c e a p e n a s um pon to de p.it- pior um úuieo autor, que tem o controle de todo o seu desenvolvimento.
tid a p ara su a o p e ra e io n a liz a ç ã o c o m o um c o m p o n e n te da ativitladc dis­
c u rs iv a e da a trilm iç ã o de sen tid o ao s te x to s. Hde p re ssu p õ e um a espécie I..ã.7 Dois excinpilos
ile ‘n o rm a lid a d e ' co n se n su a l do fiin cio n tn n en to d.as e ttisa s d o m undo. t|iie. l*rínieir<> texto
o ln â a m e n ic . é tão .só um a re fe rê n c ia . .\ in te r p rc ta b ilid íu ic d o s eiuinciadtw Pai, vó c.aiu iia piscina.
q u e p ro d u z im o s e ouviino.s/leinos é. n a tu r a lm c n te , um rcq ui.sito da inte­ - Tmio bem. blho.
r a ç ã o ben i-su eed id .a, m as :i eo m im ica çã t) h u m a n a n ã o s c dá sem p re sem (...>
im p rc\ 'isu ts e sem riiítlos. I’:ira c o m p re e n d e rm o s o cpie n o s dizem c piiM - Kseiitou o cpiic eii íalei, paiV
fa z e rm o -n o s c o m p reen d er pelos que nos ouvem ou leem p reci.sain os ajustar ' Kscutei, e daí? Tudo bem.
c o n s ta n ie m e n te n o sstjs etkii^os eu ln irtiis e s im b ó lic o s a o s d e n ossos inter­ - t!c não vai lá?
lo c u to r e s . r r e e is a in o s dis.so para a adequ ada in te r p r e ta ç ã o d c metálora.s e - NTk) c s I o u com vontade do cair na piscina.

m e to n ím itis. pani o re co n h e c im e n to da iro n ia e a p e r c e p ç ã o d e seu s eleitos - .\las ela l;i Irí...


d e seiu id t). pttra a leittira tio diseurst) poêtietr, d os tc.xtos tn ític o s c reli^lio- - Kn sei. vncê Já tno contou. Agor.a deixe seu ptii fumar um cigarrinlio
sü s. e p ara a intcliiiihilidad e das p eça s h u m o rís tie a s. O c o n c e it o de eoe- tlcscansado."
rê n e ia re c o b re , p o rta n to , utn am plo e o n jn m o de fa to re s tp ic coiidiciunani. [iti coiii no pí.sciíio. In: .-VNDILVDE, 1987: 216|
d ire ta ou in d ireta m eiite. a re cep çã o dos te x to s e a e lie iê n e ia c o m que eles
e u m p re n i o papel qu e llies d estin am seu s a u to res. biiiborti não se tr a te d e um d iálogo tran.scrito d c um ep isó d io re a l, e ste
frtigiiietuo ilustra e x e m p la r n ic n tc u m a situ a ç ã o üialógieu c o m u m em tpue
4..>.í».ã.2 t ’oerêiicía c coesão le.xtiiais ocorro um m a l-en ten d id o o c a sio n a d o p ela am b igu id ad e de u m a e x p re ssã o .
A in fo rm a ç ã o eoiuidti em um te x to ê d istrib u íd a e o rg a n iz a d a e m .seu in­ K po.ssivel titie, n um ep isó d io r e a l, o m e n in o estis’e s s e agitad o e re v ela sse
te r io r gruças ao em prego dc c e rto s re eiirso s lé x ic o s c gram titicai.s. A ar­ 110 tom de voz e na p re ssa do re c a d o a gravidad e q u e a trib u ía ã situ a ç ã o .
tic u la ç ã o d esses recu rso s cm b c ilc líc io da e x p re ssã o do s e n tid o e dc sua .Mas. se fosse assim , a c r ô n ic a n ã o te ria o e n re d o q u e lh e dá a g ra ça , O qu e
c o m p re e n s ã o d á-se o n o n ic dc c o e s ã o te x tu a l. C o n s id e r e m o s a in d a nni.‘i nos interes.sa aqui é m o s tr a r o,s c o m p o n e n te s de um p ro c e s so eo m u n ie a tiv o
s e z o en uirciado O m íriiíci í /o í .s pinrore.s; cica v iem m estri riuniJiã ptirti face a face: o c e n á rio s o c io e o m u n ic a tiv o q u e s e d e s e n h a , o s p ap é is a ssu ­
o r ç iir o serviço. O u.so da te rc e ira pes.soa do plural, m a te r ia liz a d o no pro­ midos pclü.s in te r lo c u to re s c o s p ro c e d im e n to s e e s c o lh a s d e c a d a um para
n o m e e/es e na Ilexão do verbo, é um re cu rso d e c o e s ã o te x tu tll, pois é por levar a cabo o re sp e c tiv o p r o je to d e s e n tid o .
m e io dele que sc co n e cta m as p artes do en u n cia d o se p a ra d a s p elo p o tito c Temos um d iálo g o e n t r e p a i e tilh o . -Na fala d e c a d a p e rso n a g e m e x i s ­
v írg u la. Tam bém coesiva é a ex p ressã o re feren cia l o se rv iç o , eo tii a rtig o de­ tem pistas q ue p o d e m o s u t iliz a r p a ra v is u a liz a r a c e n a . O p ai e s tá a c o m o -
fin id o : a ideia de .screíço é inferida da in fo rm a çã o C oiierarei d o is /dníores. ilatlo em algum lu g ar e o filh o s e a p r o x im a p a ra d a r-lh e u m a n o tíc ia . E le
/O J SM11-N1'A PAUTE - l'MA PI )bl\tA llF. O »NIIKf.lMRVTO, |>K EXPlUCSsAo E J>E «:0M|'Nh :.vC.V< »
ur.MíTo cU 'TTn.ti: l ím íiw u em . i>i.s«;rK.so k Ti;.\ro /ÍJL?

respondo à in te r p c la ç à o d o h lh o , m a s n a s e q u ê n c i a do diíUo^o fica claro A cena ccrtam ciite se repetiu imimcra.s vezes, e qiiciii pnr acaso a
que o m e n in o e s tá te n ta n d o lh e d iz e r u n ia c o is a e e le e s tá entondendo presenciou saiba que assistia ao trabalho de um tios niainre.s foteSgrafos
outra. dc nossos tempos: Irxdng Penn. As pontas abandonadas, com marcn.s ilc
Todo o eq u ív o c o c é^rado pela a m b ig u id a d e d a e x p r e s s ã o c a ir na pis- dentes e batom, amassadas» pi.sadas, cnipoeiradas, .somide.striiídas, eram
vina: pode s e r um m erg u lh o d e lib era d o (in te r p r e ta ç ã o d o p a i) ou uma que­ lcvaJa.s com cuidado para o estúdio, para que não se perdesse o eventual
da a cid en ta l (in fo rm a ç ã o do m e n in o ). A s fra se s d o m e n in o revelam que ele bo de cabelo nem o,s grãos de poeira a elas gnidndos. Lá, eram fotogri-
está co b ra n d o u m a p rov id ên cia do pai (sa lv a r a a v ó d e u m possível afoga- fiiJas com a mesma mescria que celebrizou as fotos dc Penn de moda
n ie n to ), m as o pai» que atribui à ex p re ssã o cciir n a p i s c i n a ou tro scntidf>. ou publicidade. As imagcius muito ampliadas, já no imenso negativo,
revela a in te n ç ã o de n ã o agir. nio.stravani com irritante minúcia cada farclínho daquela porcaria, sem
Ohser\’an d o a seq u ên cia dc frases do m e n in o , n o ta -s e q u e ele vai mu­ esquecer, junto ao filtro, os .símbolos e marcas dos fabricantes. Perfeição
dando de estra tég ia para a lca n ça r seu o b je tiv o : p rim e ir o produz uma sim­ absolut.a: é possível contar cada grão de pó. Im a^ n s exuberantes, ricn.s,
ples d e cla ra çã o (P a i, cri c a iu na p ís c ííia ), d ep o is um a p erg u n ta dc verifica­ K-Iíssimasf [KUBRUSLV. 1984 : 65 -7 }
ç ã o (E scu ro u o qu e cu/a/ci, p a i r ) , em seguida u n ia p ergu n ta m ais incLsiva
(C e n ã o í.'aí lá ? ) , c fin alm cm e um c o m e n tá rio e n i q u e c o n te s ta o moiivç Kstamos dian te de um te x to con stru íd o p or um só en u n ciad or, em
do pai (A'ão esff>u com v o tu c td c ) eoin um a rg u m e n to (A fa s c /a lá lá...) que .se relata c sc exalta o proce.s.so cria tiv o de um fotógrafo fam oso. Para
A .sequência de frases do pai tam bém revela m u d a n ça d e atitu d e, sempre f.mto, seu cnu nciad or realça o c o n tra s te e n tr e a banalid ade c in sig n ificân ­
com a in te n ç ã o de deixar as coisas co m o e stã o , h a ja s'ista a reincidência cia dos elcm cn íos reco lh id o s na m a pelo fotógrafo (p on tas de c ig a rro ) c o
da expre.s.são nulo hem: uma sim ples c o n c o rd â n c ia , um a conrirm ação, um resultado final da transfigu ração a rtístic a (im agen s), alcam ente valorizado
arg u m eiu o a favor de sua tiecisão dc não se m e x e r do lu g ar em que estava, pelo mercado dc arte. Não .sc trata, p ortan to, de uma ex p osição té c n ic a ,
e ftn alm eiu e um apelo (ou uma ordem ) eni prol do seu .sossego. em loni formal, dirigida a esp ecia lista s. T rata-se de um te x to de di\'uIgaçao,
Todo diálogo é um tc.vto constru ído p or pelo m en o s d o is participan­ destinado ao leito r com u m (a c o le ç ã o a que p e rte n c e a p u blicação c h a m a -
tes t|ue ,se rev’ezani no papel de cnu nciador. c o q u e c a d a um diz tende a - ii íP r í fn c i r o s p a . s f t o s ) , o qu e fav orece o tom cú m p lice de co n v ersa, o ap elo
se r con d icio n ad o p d a situat^ão interativa ou ativado p ela laia do outro. No a uma espécie de in tim id ade co n fid en cial com esse le ito r (sa iòa q u e cussís-
fragm ento dc discurso em qiicsiào tcnios dois p a rticip a n te s. O q u e motiva a ífri). que podería até te r pre.scnciado a c en a d escrita.
fala do m enino c sua atllção diam e da queda da a\'ó na p isc in a . Esta ailiçâo 0 tópico c e n tra l de.ste te x to está resum ido na ex p ressã o um a cen a
c um a exp eriên cia em ocional do faui. i|ue ciii .sua m e n te é representado ãifímiiim. que s c n 'c de c o m p le m e n to a tenha p re sen cía rfo . Ela introd uz
c o m o uma situ arão de ri.sco que prcei.sa ser alterad a. E le leva o lato ao co uma informação nova n o te x to , h a ja vista o artigo indefinido (u m a ): por
iilie eim ciito do pai com a intenção de a lcrtá-lo . m as ao la z e r isso por meio sua vez, o adjetivo (ín c o n iu m ) pred isp õe o leito r para o c a rá te r su rp re e n ­
dc um a frase declaraiíva. perm ite ;n> pai in terp retá-la c o m o unia íiifornia- dente dc.ssíi iiiforn iação, d etalh ad a a seguir. O d etalh am en to q u e se segue
ç â o e não com o um alerta. A m esm a frase foram atriln iíd as d iferen te s forvas privilegia ilois outros tó p ico s: o fotógrafo e as pon tas de cig arro . A re fe­
iloeutórias ,scgiiiido o ponto dc vista dc cada uni. rencia a uma eventual te ste m u n h a da c e n a relatad a {quem p o r a c a s o ci
prcíítmimi) a c re sc e n ta ao te x to um ele m e n to pieriférico ao assum o» ou,
Segundo tc.xto conturme propusemo.s a n te r io r m e n te , um a estratég ia de c ria ç ã o de um
Q u cin virciihiva ihíIus ru;ts d c Nova lort|iie. n o c o m e t o d a d é c a d a de 7li. icim tie conversa’ n o te x to . T am b ém o a m b ien te h istó ric o é apena.s um
ta h e z icniva prc.seneiadu u n ia c e n a in c o in u m : u n i r c s p e iiá v c l senhor, pan» dc fundo» c todos o s d e m a is e le m e n to s citad o s p articip am de algum a
lieirandu us .scssetiia atii>s, iru jad o cm ii n u iilo h o n i gi>sto, p a ru r. a b a ix a r maneira da re p rese n tação dos trê s tó p ico s fu n d am en tais. O q u a rto tó p ico
se nu itieiu do in irb u rin lio . para c a t a r n o c h ã o . c o n i o c u id a d o J c quem íunü.ameiunl são as fotos.
peiiu um a rosa prestes a ruir. unia p on ta d e c ig a rr o fu m a d o , in iiiiid a . unu Os tópicí)s introd uzidos n o d e talh am e n to da 'c e n a in co m u m ’ sã o apre-
guiiiiba n o jen ta. D epois, dc p o sse do troféu*, d e s a p a r e c ia o u tr a v e i cm stmudos m ediante c a ra c te r iz a ç õ e s q ue os co n trastam railicalm en te : um
iiic io ã iiiuliiUAo. rcsfKitáíel senhor, j á beircim io os »se,sserifa nnos» trajado co m m u ito bom
VARTV - í"NL\ FtvRMA I«K rOMIKClMKNTO, l>F. KXI'KKSS.'iii K DK c:i »MI-NU„m;.\<)
C'1'McTti <;\iiri’i<): i'i'- i un > 11)5

cabelo nem os grãos tie |«>oir,i a elas griKlados. I.á. ,sõo íotogr.ilailiis eoiii
fiosti) versus u?iia fjoiiKj de cííiarro.fimiíido, iim iiida, iíni« fiuim lm nojen­
a mesma niestria qiic celebrizou as fotos de l’enn ile inuila mi piiblicida-
ta . Na soiiuência, u m a !>uimba n ojenta torna-se o troféu . Note-se a impor­
de. -Vs iniaguns imiito ampliadas, jã no imenso negallMi, mostram com
tância dessa mudança; são dois ‘olijetos de conhecim ento' (ver 1 . 4 e 1 .5 i
irritante mimieia cada 1'arelinbo J.iqiiela porcaria, .sem esi|neeer. junto
Cíida qual correspondendo a um ponto de vista diferente, um depreciativo
ao filtro, os síinlwlos e mareas tios labrieanies.
e outro valorativo. No seiiundo par.iSrafo, o tópico já introduzido como um
retip citá eel se n h o r é recategorizado como um ilo s m a io res f)róf!ra/o.’i ile
.\s formas que estavam no passado passaríim ao pre,sente, com exec-
lio.s.sos tempo.s. Km sua primeira identificação te.vtual, esse tópico é apre­
i,rio dc uma, celeb riz ou lí que a informação ( ‘Penn foi um mestre eni fotos
sentado pela ótica do senso comum, nos termos dc um;i tipificaç.ão social
Je moda ou publicidade’) contida no segmento cm que ocorre es.sa fornia
- um rc.spcítíirc! .sen/ior - . na secunda identiiicação, contudo, cie é .apre­
^erb:ll faz parte dc tini conhccinlcnto mais amplo que o enunciador tem da
sentado segundo o julgamento profissional do eminciador, tamhóm ele um
irte de Irving Penn. Como não pertence ao epi.sódio relatado, esta infor-
lotógralo. A rcl‘ercnciaç.io restringe-se em seguida ã sua e.vtcns.ão mínima,
niação ii.ão está sujeita à sua temporalídade, marcada pelo teiii|)o |ra.s.sado.
a individualizaç.ão pcrsoniticada no nome próprio {!reinf> Penn).
Kesta acrescentar duas palavras sobre a rede tc.xtual, isto é, o modo
O segundo tópico volta à cena, minuciosamente caracterizado na sua
pelo qual se organiza o conjunto de ‘pistas e nós' lé,\icos c gramaticais -
condição de li.vo, mas desta vez com forma definida e plural (cl. f«i fKail(i.s
coesão - qiie cncadciam/iineni a,s proposições no interior do te.vto. Kis
e umo ponta); As r>onras olunulam utas, com m a r c a s d e d en tes c batom,
algiiinas das marcas da cadeia semântica ou llu.\o informacional no te.vto
a m a s s a d a s , p isa d a s. em i>ociradas. .setn id estm id a s. Definida, porque já
que estamos comentando;
era conhecida: plural, porque :i cena certam en te s c repetiu inúm eras w- a) o advérbio d e p o is , que ordena o ato de d e s a p a r e c e r em relação
se.s. Por fim. aparece o terceiro tópico - as imagens - que, na verdade, aos dem.ais atos;
resulta de uma transfiguração do segundo tópico, comprovada em Lá, (as
h) o artigo em a c e n a , que remete esta expressão à anterior u m a
pontas) eram /otog ra/ad as. cena in com u m ;
Podemos dizer que o te.vto em questão nos põe a par de um episó­
c) o pronome « em a p re sen c io u , que reitera textualmentc ;i m en­
dio cujo personagem central é o totógraío liaáng l’enn. Seu enquadramento
ção da cena; o artigo a s em a.s ponta.s, também reiterativo;
temporal está evidente desde o início (no começo d a d é c a d a d e 70) e í
d) o pronome ela s , que retoma a s p o n ta s cm u ela s/jn id a d o s -,
marcado ao longo do te.vto [K‘las formas verbais, quase todas no passado:
e) 0 advérbio tá, que reitera no estú d io;
circu iceea. desufHireciu. repetiu, eram leeu d as, m ostra v am , llá uns pou­
ij o pronome m esm a , em a mesma m estria , apontando para a in-
cos verhos no tempo presente, mas eles não dizem respeito aos fatos relata­
forniação contida em que cele b riz o u a s /o t o s ;
dos. Dois deles - pega e é - participam de afirmaçõe.s vãlidtis eni qualquer
g) a expressão a.s im a g en s, que informa uma decorrência lógica do
ocasião; o outro - .saiba - denota um ato siniiiltânco ao momento da eseri-
fato de as pontas serem Jb to g r a fa d a s ;
ta/lcitura: c uma ponderação dirigida ao leitor.
lil a expressão d a cp iela p o r c a r ia , que retoma depreciativaniente a.s
Alguns te.\tüs apresentam um mapcuniento temporal bastante complu-
pontas; u
.\ü. na medida em que seja neeess.ário estabelecer relações temporais especí­
i) a expressão a o filtr o , detalhe da extremidade dos cigarros.
ficas no interior deles. Tomaremos apenas um exemplo do te.vto que estamos
eoinemaiido. visto que já justificamos o emprego do tempo presente em três
de seus verltos: pega, e e saiba. Consideremos .agora a po.ssibilidade de en­ I)estatiuc-sc o alcance referencial da expressão a cen a, que cnglobíi,
quadrar este texto no tempo presente, redigindo seu segundo parágrafo as.sini: além tia parte reiterada, todo o detalhamento que se segue íi ela.
Acena eertamente sc repete ítnimeras vezes, e quem por aeasu a pRcseu-
•I.fi (:0 .\ (;iA S .\ O (IIÍR A L
e-ie saiba que ussi.sre ao traltallio de iini dos maiores fotógrafos dc nossos
Kaisimia, iio.ssas percepçõe.s, .scn.sações, iiituições, ideias - tudo çnfim que
tempos: Irving l'cnii As pontas abandonadas, eoni mareas de dentes o
eonstiuii 0 conteiído dc nossos enunciados/textos - só ganham um contorno
batom, amassadas, pisadas, empneiradas, seiiiidestruidas, .são levadas
elaro p.ira t|ucm a.s experim enta e chegam ao conhecim ento do interl«)cutor
e-om cuidado para o estúdio, para que não se /jcrca o evuntual fio de
pelas lormas da linguagem, listas estão razoavelmente consagradas pelo uso
SWIl-SDA VAKTK - 1’MA HK O )\ |lM m ST(> . ti»: KXPiaxvU ) I. Uh i:nMi*M<;AgA<i u i AHTo CAflTi i.ti; r.isi;rA<ifvi, t«iM h rh.sMi H í7

c representam valores/sentidos compartilhados na comunidade. Mais dr, d) te.vtiial - relativa ao tlomínio dos gêneros (e\lii:its e aos respecti­
que reproduzir o que vai na caheça do autor, o papel dessas formas c o dt vos modos de organização e procedimentos de construção: c
dcllaérar no emendinicnto do leitor um conjunto dc a.ssociações nas quais e) inleraeioiiiil - relativa ao reconhecim ento e m anejo da língua
este leitor busca reconhecer o conteúdo que o enutteiador lhe transmite. 0 eomo forma dc convívio e interação .sociais.
sentido não está no te.vto, ;wrtanto, para ser descoberto ou resgatado; tlt
é produto de uma con.strugão na qual toma parte a experiência de ntundn O fator ‘,i’, vinculado à aptidão do conhecim ento, é geral e ineren-
préviíi do leitor. () enunciador assume a pahivra não sú para exprimir utti le tio pertil biológico da espécie humana; já os fatores ‘b’ a ‘e ’, vinculatlos
conteúdo, nias para tornar esse conteúdo compreensível e interpretávtl ã emiumietição, são particulare.s, pois estão a.ssociados à cultura e à vitia
para seu interlocutor. Mste ,se orientará pelas pistas di.seursivas plant.idns. sneiíd, Bstes .sereem para balizar nos.sas escolhas na medida em qiie .são
conscientemente ou não, na pele do texto. lulqiiiridos pelos membros da comunidade com o um sistema coletivo de
I.iiiguistas de diferentes tendC*nci.a.s destacam esse papel das língu.i.s, repte.sentações e fazem do que dizemos/escrevemos um meio de contato
chamaiulo-lhe./roivõo rcprcsL-nicitmi (lUihler),.rttnpõo coííiio.sctfíiYi (llcr- qiic viabiliza o entendimento entre dois sujeitos culturalm cnte con.stituídos
culano de Carvalho), ú iiiç íio idcadvti (llailiday). O próprio ato dc percelKT c soeialniente situados,
coisas e fatos n.ào é uma experiência puramente sensorial, mas um proces­ Na condição dc símbolos coletivam ente disponíveis, as palavras e as
so interpretativo levado a eaho sob múltiplos condicionamentos histórico- construções sintáticas são formas potencialmente signilicativas .irm aze-
-culturais. A medida i|ue se iransforniam em conteúdos de nossos te.ttos, nadn.s na memória de seus usuários, mas é no ato interativo socialm ente
estas coisas e fatos se submetem a um processo de liltr.igem c model.ição .situado í|iie os .sentidos que de fato interessam são gerados/percebido.s/iro-
inerentes ã capacidade cognitiva humana e vineul.adas às categorias da lía- c.idos eomo discurso e sob a forma de textos. Neste caso, o que prevalece
gua em que esses inesiiios te.vtos são eonstruído.s. não i o que ‘está no mundo’ ou mesmo o que ‘está na minha cabeça’ com o
(àmheeer e eoimiiiiear são aptidões inerentes ã organizaçtão e à eoa-
compreensão do mundo e conteúdo a comunicar, mas o sentido (|iie meu
liiniidade da vida ein grupo, ,sej;i este formado por pessoas, abelhas ou
interlocutor ê capaz de construir com base nos símbolos - ou signos - que
chimpanzés. Salieinos lainbéia. no enlaiito, que na lamilia humana es.sas
emprego e nos sinais com ejue busco roteirizar sua compreensão.
aptidões se aiireseiitani bem mais eomple.vas e potencialmente em es-
ptinsão eominii;i. No ser biiinano, t.iiuo o eoiiheeiinento quanto a coma-
Cji.S-llECKU HL\ LiSIUI.V É KST.VK .MTO LIUAR CO.M ESSES SKi.VOS E <:0.\l E.S.SK.S
niea(,‘ãi) são niai.s do que 'ei|uipanientos e dispositivos de sobrevivência':
M.s.us n.vi i)K i:ossTRi!ii( .se.stidos i>or .meio of.i.es, j A ove e;s,s.\ covsTnrçAo
ambos .são eoiiteiidos po.ssíveis da eonseíência e objetos passíveis de rt-
É r.vvTii iiE QVEM e.\l.\/es(:re;vf. qu.vNTo uE QUE.M oia-tyLf,. S er usuAmo
tlexão e análise.
l‘nMI'ErENTt;i>El'.M.\U.N(ai.Vfi ESTARAtro.VnEaWIIECEROV.UOKllEtrMAESCOLIU
A aptiUrio do eoiibeeiniemo .se eoiislitiii eomo eognivão e como siniholi-
t.Miietrimi;nto iie outil\ e a i' eiu;eher o iarel ixis sinais ove okcj.vxiz.vm k
zayão; e a aplidãu da eonnmieayão se coiisliliii eomo língua e eomo discursa
linTEIRlZ,V\l (I SENTIIK) I'OR .MEIO IK)S E.NTNCI.VDOS/tEXTOS. É .S<XS E;.NVN(;|A1K)S/
A.ssim. |■H)denlIls entender que iio.s.sos atos etaiimtiealivos realizados |rornieio
TE.\Ti ISUVEIIS UNTVF.H.SI IS IIKEXI‘EW£.'«;l.\S l■.\I^TICII|_\RES DOS INTERI.(M:IT< >RES-
d;i p.-davra emobeni iieee.s.s;iri;mieme eineo gr.imies classes de eont|X.’lêneia
ISTO E. .VS RESI’EC:TIV.\S .SUBJETIVIIUDES - SE EX»:t)NTR.VM, ou SEJA, SE TORNAM
a ) eogiiitiia - relacionada .àaptidão ment.al do ser luiniano para trans­
E.XI>:illt.N<a,\S IXTERSnuF.TIV.VS.
formar suas e.v|ieriêneias de iiiuiidt> em objetos de eonheciiiiemo
sujeitos ;i armazenagem e etilegorizayãü;
b) lii.stõrieo-eultunil - referente à fiuii^.ão da lingua eomo meio de in­ .lá ê longo - mas provavelmente nuncti será conclusivo - o debate so-
tegração de seus usuários na eomiiiiidade em (|iie compartilham hre a uiílidacle e os benefícios da reflexão sobre u língua no processo de
eonheeimeruos, ereiu,‘a.s e valores; aquisição de suas múltiplas formas e usos. Pergumamo-nos muitas vezes
e) siiiibóliea (lO.xieo-grauiatie.il) - referente .ao domínio dos signos, SCo conhecimento de gram ática’ é um alicerce necessário de nossas h:i-
ou .seja, ã eaptieidatie de reeoiilieeer e utilizar, graças ,à assiKáa- bilid.ides tlü e.xpressão c com preensão numa língua. A resposta pode ser
ç;iü som/seriticJo, uiiid.'iJcs de u.xteiisao vari.ada, eomo morfcni.is. iiáo 011 .síiu, dependendo do c|ue cham am os de gramática. A resposta é
])al;u ra,s, .sintagmas, frases; «HO (|iiaiKlo por ‘gram ática’ nos referimos à nom enclatura gram atical ou a
r\ lü N siiii-siiA f .w T i.- n L u i* > i-U 'K u iN ii« :iv » ,N t i) . iii: k i >k

:i\ftvmin tóiíniuii clc análise para a expliuaçáo J c eom o a líiiíiia está estrutu.
raila e 1'nnciuna ((gramática expUcita ou descritiva). Este 6, aliás, o conceito
difundido pela escola. Mas a resirosta í siiri sc estiverm os cientes de qut
n»irNK'.\gA>p

todo uso de unia línána como meio de intcrcoiiiprcens.áo, em c|ualquerde


suas modalidades - ftdada ou e.scrita, coloquial ou ccriiiionio.sa - implica o
emprego, consciciitemcnte ou nSo, de regras gram aticais (gramática implí­
cita ou inicmaliznda). Ou como nos diz Carlos Franclii, “antes de ser um
livro de etiquetas sociais ou um manual descritivo, a gramática é, de Início,
esse salicr linguístico que todo falante possui, em um elevado grau de domí­
nio c perfeição"'". Noutras palavras, n.ão existe língua .sem gramática, pois
mesmo o mais espontântH) uso falado de unia língua sc baseia no emprego
lie formas organizadas em um sistema de regras, ainda que a estnbIlidaiJt
dessas regras .seja relativa. p TCr t e
Nossa posição ú ipic o ensino da gramática como uma tdcnica de des*
colxirta e de tomada de consciência dos re-cursos estruturantes dos enun­
ciados e dos textos aguça a sensibilidade linguística do estudante, de sorlc
qiic se desenvolve nele uma espécie de discernimento e de capacidade cri­
^O.NCEÍTOS b ASICOS DA j
tica c avalialiva Ixtnêficos ao dcseiiípcnlio da leitura o da express,1o. W.SCRIÇÃO GR-VMATÍCAL

í A
. , KVI>m:SSÃO K C O .V I Ki n O N -' c n irc: SCM.S
’v ■■' ' r p r c c u l c co ip p r.r.ill*:-'- c m

s„ podun L I *:
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suhstMii‘.'i-' L-omo ííl-s I - s . LorcN.

i : r r r i e r f M . v *::■- - - -
„,L'iili)S pruLisiiin scr protc-riclo.s . ,„;„,irust:i com o

Z t c . d . L P ím iícn ,, L „ „ c r .m ..n m ividadc co n u -m o m iv n n c c c s s ,.n ..


....:;-:;■
■i]L'rirc tlc iiioi!{) liitL‘^rtitlo - • ••
SL.rL-;,p:,. dL. rL.di.M r. asso ciação c .u r c e sta s d u as la c e s c o r c t | „ .s .„
|«isica .1.. UNO de ua.a Imriua viva, A ía c c do siftiiiticad o, p e r c e p tív e l pe ..
ineeiMiisiiii) da coiii]ireeiisão, ch am am os p riiiícira firticu / oçor» o u /ihiiio il»
loateiidre ,à lace sonora, p erceptível pelo se n tid o da a u iliç ã o , c l i a i l ...... m s
xifliiiulií (irtietdoçõo ou pltitio da e.vpressõo.

.ã.2 .SO.VS i; .SKi.Vll lCADO.S


tlssoas voeais são a iiiatéria-prima tias líti^iias naturais. .Mtis iieiii itidos os
raídos iiiie saem de nossa hoea são eonslitutivos de íorm as da líiidiia: pi|íar-
ros, assohios e elit|ues (produzidos com os láhios iio ftesto do hei jo ou com
a poma da lín;iua contra o céu da hoea) não lazeni parte do sistem a de so n s
distimivos tia línriua ptirliirine.sa, ptir mais t|uc po.ssaiii ser m ilizatlos para a
eoiminieação entre as pessoas: o pij^arro eomti alerta ou ccn sn r:i. t> assoiiio
enaio torma tie elianitir al|i|iéin.
A siiiisiàiicia sonora por meio da t|uai as miidatles tie seiilitio - palavras,
enaneiados-semauilestaiii tem uma realltlatie li.sica evidente, mas não Icm !
" CIIAUJ |l'l'í.S; ISI|

:;;::r;;;z = ;:;;T i;:L = r::z r-r:;r


"O f rlnii..» ,||1 iala s.1,, rfp rt ti,,i(„il,,:, |i.ir s m a l,
j'<'nU'i|i,riiu-n(i- limlifi.» lan simi . ih,, t -v ,lla .
\
I ÍJ M im 1'^ n n > I I I " '' í'i *•* m i ; \ " «.lU M viii m
IVIl) <M'l|l ii: A|Ml‘l \ ANHl <M M.l

(■■in pi luelplit, liiinlUliHlc cm si m csm ;i"; su« ra/,üo ili- t-xisiir c, |>riiiii(ri-mn.,| romenms agora o seginoiib> |veyu). 1'otlemos siibsiiiiiir |v] por |f| e
Ic , ilm corpn aos sliliiilWailos para tnn iá-los acessíveis ao imerl.ieaior Ifel tcrcinns líeyu|, nrtograrieuineivlc <i'eio>, |el por |a| e terem os |v:iyu|. or-
iiios, por isso, une, emUora se]ao> separáveis oa análise, estes áoisplaumj,, ti>gra('ieamciue do \erbn VínVir. |u| p<ir |a| e lerem os |vcya|, orto-
iioiloaiiem - o sensível e <i m eitlal - só íiineionani ile inotio solUlárii). llraticanienio <veia>.
Tente ean neiar eoin a e.spomaneiilatie ila fala eorrenie as áais eiinm Agora iião teinus unidades providas de significado, mas iinklades sono­
óiiiloftos abaixo, a bm tle observar o fim eionaaiento sollilário ile.sses pbius ras que, pernnitadas entre si, originam «mtras palavras. Kstas unidades so­
IVimeil-o tUiílo^o; noras tèni função apenas distintiva, já ifiie nenhuma delas nada sigiiiMea por
A, - Oiuic você os(:'iV si São íonernas, unidades do plano da expressão: /v/ X /í/, /c/ X /:i/. A*/ X At/.
li; - IV-rio il;« cstíiví^‘v (laila plano se organiza cstruturalineiite eoino uma forma ou sistem a,
Sct^iimlo iliúluj^u: L*<mstitnído ilc unidades e de regras ijue as combiriíim. Iv a esta divisifdlitia-
.\; - (In im i \’i)cC' \ cln'r' Jc tios segiiiciuos de iima língua em unidades meitores capazes de várias
11; - V ím ;i |>c, rccoiiihinações t/ue eli.imamos arlíciihição. Ao piam» do ctniteiUlo ch am a­
IVk Ic icr saíilo silj^o ci>nm *- oiulccstjíV* (‘ôtscfi'ta| /- pcrciasinvím mos primeira articulação; at» da expre.ssão, segunda articulaçfu).
(loino asiiáriosde uma língua, produzímos sequências de sons sem , con-
|'pi’lu la sl;rsã u j’ p:ir:i \) primeiro iliáloi^o; c - coiiiocuvcin? ['kônuisc‘viyti|/
ukIo, iKfS tl.irriios e<mta de que estamos operando eoni unidadc.s e regras.
- viiihapé |vin:rpr| para o sc>iuiulo. As rcspnslas inosimm que o iiilurlo-
Miamos agora, em um segmento isolado, com o se distinguem as tiiii-
ouitir lí c sia b e k c e pcrrciliunoiUe a associavAí» en tre o plano da expressAu
tlatks tic.sscs dois planos, mediante duas divi.sòes po.ssívcis do vocábulo
e o plano do eom cúilo. ^r:ii;as :io reoonlieeiincnio (a) díi seí|iiOnela son<»r.i
l]K.SnN-K.STIl>AI)l*;:
eoiim um pedido de iiildrmavão e (h) de por<,*ões sonoras portadonis du
a) |)i: - SO - NKH - TI - DA - DK
si^níheados ipie se somam no siji^nííieado íilohal: (õtj/(kõnui| = om/c/címifi.
l>) DKxS -ON KST-IDA IH :
|se|/(sej = fotv/eíKv. |S*lal/|veyu) s csfíi/ec/o,
Amiios os inierloentores prodiixcm eadeias contínuas de sons qiic vd- A divi.são c(»ristaiue em ‘a’ bascow-sc na possibilidade de pronunciar
ciilain si^nitieados. (k>niparando as duas eadeias de sons produzida» por A, aquek' voe:íi»iilo fazendo ‘pausas naturnis' nos pontos a.ssinnlados por uin
percebem os que bá nelas iiiii sejiniento conuini (sej. no qual B recoahe.*- trii(,’o ; ;i tli\ isão adotada em b’ iião consíderti as pausas pocenciais, mas o
ee lima relerênela a ele no papel de destinatário da perriunia. B tamkém sitjnitícado de cada parte; DKS- (a mesma que se encontra em f/ea/co/),
reconlieee na cadeia sonora as unidades relativas a Judiar - |otí niodü -ONKST- (íi mesma que se encontra eni h o n es tís sim o ), e -IDADE (a mesma
—Ikuiiuil estado - ls‘la] - e Uieoinoí^ão - (veyu|. IJ ainda peredK' que.i (|uuSL‘ eiiermcra em tiíilidíule).
)oealíza<r*ao sobre a qual é ioda^ado no primeiro iliálofio se situíi ito tcnipo Oii sela, as unidades dc ‘a’, conhecidas com o sjVoòos, tanibêm sào
presente, e que a loconuK^fio referida no sedmcJf) tIi;íl<J)io se situa no passa­ Jesprcívidas de significado no contexto daquele vocábulo; já as unidadc.s
do. Sua resposta é viin (passado) e iião een/jo (presente). dc b'. eonliueldus eonu» niorfcmos, são unidades portadoras de significadt».
Todos esses sijf^nitíeadus reconhceulí>s por Mfazem parte do plaiK» do l’;KÍa sílaha pode, |x>r sua vez, apresentar uma estrutura com plexa, com o
conteúdo da iiii|iiiia;^em estruturado por suas formas lexicais e gramaticais. uscqueiieía de con.soantc e vogal, que se representam na escrita, ás vezes
Mas eles nào sào intuídos por B mediante um ato de adivinliavào; cada uai sviii inaior rigor, por meio de letras. Na língua, portanto, não há conteúdo
deles está de alj^uin modo manifesto no plano da expressão, colado, por as­ sem expressão e vice-versa, por mais que cada plano seja esiruturalm ente
sim dizer, a pequenos sejimentos, que transcrevemos entre colchetes. organizado segundo regras específicas de cada um. Na realidade, esses dois
Cud;i um desses scf^nicntos corresponde a pelo menos uma unidade no pla­ planos se associam graças a uma relação necessária entre o corpo sonoro
no do conteúdo e pode ser rccoml>iiiado - como o |.se| dos exemplos - com ou sígmyicuníc - a face aparente - e o .signírtcfído - a face nieiical.
outros segmentos para a produção de um sein-númcro de frases da língua, Esta relação tendo o ser encarada como ‘fato natural’ pelos membros
nativos da cuiiiunidndc linguística. A verdade, porém, é que a associação
Níio cstaino.*.. u h vjiin iciu c. toiiisuido ciii c*>nsid«rín,*ílo onnirisunpuiiis, ns ritniis ou « n sihit.Ttk'-
Võv-'!, proccdiniuniü.s i|iiu, por suii sinftuliiridiitJc cxprcMívii. cluimjim ;i ;Uuiivilo «.Io oiivijuv jviri a entre o signilicante e o significado das formas linguísticas não se baseia em
tiiiiiiid ji honorii da linmimlLm. ncnliimin lei da natureza, nias, tão somente, numa convenção socialm en-
iw n n - »;i iv« ( u a >u n> l u t»KM:nu;,\o
yi ISTII «■vnrrii I Vlu I'i ».Atirii «l u. yn i' \1iNi.rv.fM /is
tc firm iidii. H á -sc *> n o n ic dc siiin o liiij^ iiístic o iiiiiã
:u) en tre o síj^nlficanit sc(|uC'iieia linear, um após o outro; niorfemas qiic se sucedem na eimsiru-
c* o si^ n itica d o . S ó o o arátcr co n v en cio n al dessa união explica o empregit
i^'ào das palavras, e palavras tpie se stiecdcm na eoiisiruçfu» ile frases. Kssa
d e d ito r e n te s si^ n ió ca m o s para o m esm o si^nirteado. íju e podemos ilus­ liiieariiladu da fnta - e ordinariam eiiie da escrita - é o fuiidamentí» do (|ue
tr a r c o m a s d iíe re n v a s rojiionais de um a líiiííua ou com a própria difcrcm,-a SCchama o eixo sinta^inátieo da liiij^iiaécni. Por is.so, dizemos <pic as uiii-
e n tr e a s U nftnas. Ou se ja . nào há nada no c o n c e ito ahertura na parededc iliulcs assim dispostas podem form ar sequências ou comhluaçòes m» que
u m e d iííc io p ara d e ix a r cpie en trem nele o a r e a Uiz’ que faça do slènili. chatnamo.s uma relação .siiita^mátiea, com o as dua.s sflahas de moro (mu +
c:\ n ic J a n e l a u m a dcsií;tnaçrio m ais on m enos apropriada do que qualíiuer t«)oii os foneiiias que entram cm eaila sílaba (/m/íi/t/u/), os morfcinas t|ue
o u tra . T a n to q u e . oiu inicies, esse co n ce ito é expresso por ivítidcnv, em es­ entram na formação do verbo de.smofíir {d es + m at -f ri + r) ou as pala\ ras
p a n h o l p o r c e n t a n a , o cm francês por./cnêírc. D iz-se que o síi^no liiijíuísiico Hiic lorniarii a frase o ie n h u d o r d e s m a to u o terren o (o fen/iudor ♦ de.s-
c ‘a rb itrá rio * ou inioiivado, no sen tid o e slritam e iu e técn ico de ijue nâo h.-i MWiínu + o + íerreno). Ilá. portanto, relações sinta^iniáticas entre fonemas,
q u a lq u e r a s s o c ia ç ã o naturnl ente a sequCncia de sons - ou siíJntrtcnnie- ciitrc sílabas, entre niorfemas, entre palavras. Kstes cxcmplo.s nos revelam
e o c o n te ú d o qu e se expressa por m eio dela - o st.4niócado. i.iHihcm que há em c;ida plano diferentes níveis estruturais, o das unidades
constituinies - de luVcl m ais bai.xo - e o das unidades constitiiúlas - de
nível mais alto: fonemas são eoimtítuiiUes de sílabas, inorfenias .sà<» eonsti-
S .d U K L A g Õ K S P A R A D IC .M Â T IC A S b K K K A Ç Õ K S SÍN TA tiM A tlCA S
üiiiUcs dc palavras, palavras são constituintes de frases.
T od o o itc n i 5 .2 foi desenvolvido para mostrar que a compreensão c pnxliiçílo
de fra se s nu m a língua requer, entre outras com petências, que o falante seja |
Kelavõc-. p a r a iliê m á tic a .s
ca p a z de asso cia r corretam eiite sequências sonoras e siílniücados. Nos itens
A kL-mifieação das unidades em qualquer desses planos e iios diferentes
5.1 e 5 .2 referim o-nos ao plano sonoro - e corre.spandente foniia gníncsi -
iiivvis depende de ilois fatores:
c o m o jylafU} d a e x p r e s s ã o , e ao plano sijínifieaiivo eoiiio pU m o d o eouteúdo.
a) que elas possam ocorrer em outras construções em que sejam
U m a pessoa que tenha facilidade para nieinorizar frases de uma linííun
reconhecíveis com o 'a mesma unidade’ (ex.: o foneina /t/ é o
e s tra n g e ira co m a respectiva pronúncia e o respectivo sentido não pode, só mesmo em /macu/, /tudii/, Aiater/; o sufixo -eiro é o m esm o em
p o r isso , p orém , se r considerada capaz de falar essa língua. Kla ‘conhece leiteiro, oçoi<^‘i/eiro, s u fx u e ir o ) , c
d a d o s isolad os, produtos ‘já prontos’, que ela apenas repete. Quem címiIic- h) que elas sejam permutáveis por outras unidades com eoiKsequcii-
c e a Im gua c o n h e c e as unidades constitutivas de cada plano c é capaz de le mudança de significado. Por exem plo; o /m/ por/p/ em rnuío /
c o m b in á -la s e rccom hiná-lns. seijundo suas neeo.ssidades coniuiúcativas. puto, o /.V por /i/ em metro / miro, o /t/ por /s/ eni m ato / tm iço , o
O u s e ja , a pessoa domina a língua não com o uma 'lista de frases pré-fabri­ Al/ por AV em n u tio / mctcci\ o -e ir o por -crio em ieíreíro / /eifcfííi,
c a d a s ’. niíis co m o um sisten u t a r d c t ila d o d e u n id a d e s . o teií- por síip oí- em íeífeíro / safHtteiro-, ou ainda as espeeifica-
D izer t|ue existem em cada plano unidades com hinávcis e recoiiibiná' çõe.s singular (aiisC*neia de -.s)/plural (presença de -s) em en.sit /
s e is sig n ifica afirm ar que cada plano é articulado, isto é, dotado de unidades tvisfitS e a oposição en tre adjetivos (/lomem a l t o /fiomem Init.vo),
r e c o n h e c ív e is pelo seu valor ou função dentro desse plano. A articulaçãü
entre \erbos (o a v i ã o c a i u / o a v i ã o p o u s o u ) , en tre preposições
c o n sc itu í a principal característica dc um s is te m a , e é jjraças a essa carie-
(c/c t r a b a lh o u />or m im l e l e frabci//ioir p a r u m im ), en tre subs­
tc r ís tic a qu e podem os dizer que a língua qiie falamos c iim .si.síemu.
tantivos (o a v i ã o p o u s o u / o h e l i c ó p t e r o pousím ), entre advér­
R e to m am o s nos parágrafos acim a algumas <»h.ser\açôes feitas desde o
bios {v o lta r e i c e d o / v o lt a r e i a m a n lt ã ) .
in íc io píira afin al introduzir unia distinção teórica decisiva no entciidiincii-
to d e um a sp e c to fundamental da estruturação da línj^ua. Keferinio-nos aas
üs fatores ‘a’ e ‘b’ acim a explicitad os constitu em as relações paríuliji-
c o n c e ito s de relação sijitaji*mátiea e relaçat» panidi^inática.
nintíciis entre as unidades da língua.
5 .A .I R e la çõ e s stn(a(.{iiiá(iea.s /Vs unidades assim iden tificadas af^rupani-se cm classes cham adas p«-
nitlignias. O que as ca ra c teriz a é o fato dc ocuparem ordinariam ente a nics-
T o d os sa b em o s que uma língua é, antes de qualquer coisa, unut forma ora!
d e co m u n ica çã o . Quando falamos, produzimos sons que se combimuii um nia posição - isto é, terem a m esm a d istrib u ição ~ e estarem em optisiçao
no sistema da língua: -ciro c - c r ia têm a m esm a d istribuição, p crien eem a
1J ft TtK«;tlK \ rAKTF - COXiIKIToS lUV^lCos (i.» r)K X :«n ;.U K
IJflN ftj IL\l'lTri.O: A i>l »t.\ AHTIi.n.\i;.\ti liA I.ISIiI .MiFM 117
um m esm o parridigma u op õem -se no .sistema niorfolóeico do ponuíuiX
icil. /ííiu/, como em urtttau / uníf«u,s, t* Aai/, como cm meditai / mcdífrti.s.
/t/ e /s/ têm a m esm a d istrib u ição, p erten cem a um mesmo paracliimj e
.\;lo há po.ssihilidadc de ocorrerem sequências como /tap/, /tat/, /tab/. /lak/.
opõc*ni'So no sKstcnia fo n o ló g íco do português.
/ta!/. Aav/. /tad/. /tag/. O contexto ‘final de sílaba’ ou ‘final de palavra' reduziu
dm.scicnincme as escolhas. Este condicionamento é do tipo fonológico.
5.3..^ In tcn lcp ciid ê n o ia d o s eix o s píim diginátieo c síiitagiiiático
O que ncabam os de d izer p erm ite co n cíu ir que as unidades sê exisuím pf,r- SA .\RHITRAKIEDADK/OPACIDADK K
que são cap azes de d istinguir conteú d os com unicados pela lítiíju.i. Toda MOTI\.\(,;.\0/T|{.\NSI>.\RÉ.\CIA
unidade im plica n e x istê n cia de pelo m enos uma outra h qual aquda Viilicnios agora ao assunto do item 5.2. A arbitrariedade do signo linguís­
opõe d entro de um paradigma e pela qual pode ser substituída para guç tico às vezes intriga os artistas da palavra. Certo poeta popular cscranhaia
SC exp resse ou tro sentid o. A co n stru ção formal dos enunciados baseia-sc que a palavra a/ofiado scr\issc para significar ‘que/quem morreu na água’,
portanto, n e sses dois procedim entos: n ea co lh ci das unidades cm diícrcnits “por que não qguodo?" perguntava-se o poeta. “.V/ogado deveria sc chamar
paradigm as e a c o m b i n a ç ã o delas na cadeia do discurso. nquelu c|ue morre no,/bgo”. O poeta desconhecia a origem do verbo ajb-
S e ria , p orém , um erro supor que es.ses dois eixos são indcpcndcrjtts í(tr'\ quL* ele acreditava ter algo a ver com fogo. O que importa, porém, c
e n tre si. Ao co n trário: nenhum a escolha o corre por acaso. Quando «irirma- que SU.1 estranheza revelava uma expectativa; que o significante de um sig­

m os qu e os indi\'íduos ‘escolhen r as unidades dentro de um paradigma, nào no fo.sse determinado pelo seu significado, que um e outro .se unissem gra­
qu erem os dizer que o fazem com absoluta liberdade. Sempre existem con­ ças n algum princípio de imitação ou iconicidade. Esta não é a percepção
d icio n a m en to s. restriçôe.s; o que varia é a força com que eles atuam sohre i^eral hasenda no .sen.so comum. Para a maioria dos usuários de uma língua,
os indivíduos e tornam as ‘e.scolhas’ mais ou m enos previsú ei.s. Ao atenda cia SC revela, sobretudo, como nomenclatura de objetos e idéias, como um
um tele fo n e, uma pessoa se encontra numa situação comunicativa que tor­ di.spositi\'o que nos provê de rótulos distintos e independentes apíicxiveis às
na altam eritc previsn el o que ela pode d izer Seja A/ô!. T im u raria Píitís. íl^ cntid;idcs do mundo real c do mundo imaginário.
siicis orcietts. ou Cotistthório m édico, boa m n lc, seu ato \’erbal tem sempre De fato. essa intuição da natureza da linguagem faz justiça a conceitos
o m esm o .significado: um sinal para a pe.ssoa do outro lado anunciar o que corrc.spoiiJenies a objetos, ações e qualidades em geral. Isso acontece com
d eseja. Este é um condicionamento que a situação comunicativa e.vercv ho;i parte das palavras, mas nâo com codas. Qualquer usuário da língua
so b re o indivíduo, ao qual chamaremos condicionam ento pragmático (ver portuguesa nprende ou aprendeu palavras comoc/iocc ou c a p a z indepen-
n ota ao item 4 .3 .3 ). ilenteinonte do conhecimento de qualquer outra palavra, ou seja. graças a
Se. agora, o leitor t»h.stír\;ir como se dá o condicionam ento dc iiiiu iinni as.s<x.'iação. exclusiva em cada caso, entre uma sequência de sons ou
palavra sobre outra, percelierá que este condicionam ento Canto p <mJ c .sc fi- Ictrus e o respectiv o .significado. Não há na forma sonora {ou gráfica) dessas
fe rir ao .significado - pt»r i.sso dizemos rrícii goro b ch eu o iciur cíi/f/ífíuitn/t. palíivra.s qualquer pista que nos conduza ao significado delas. Esta relação c
m as não meu re/ógío bchcii a ahó(H)rci eubm/menfe (condicionamento h*- op.ic.i, Jã cíiuccím e in c a p a s , mesmo aprendidas como formas já feita.s. po-
iiiú iitico) - quanto à cia.sse e foniia das palavras - por is.so dizemos wki. Jem ter u respectivo significado deduzido da associação com as primeiras
iiciro. mas não m in h a gíi/í>. hebeu o icirc, mas não b ch eu o valm<wh't\h ou com outr:i.s palavras da língua que apresentam relações análogas entre
(eon d ieion am en io gniiuatical). furma e sentido, como /eireiro. supateíro. in fIcxiccL insenm ito.
\ a m o s raeiiK ánar agora ».‘om os lonem as. S c q iú sem io s ío n n a r palavrtt'' Dizemos que c h a v e e c a p a z são ibmias opacas - já que sào indivi.síveis
ix»ssn ei.s cn i ponuguês panindo da . s e q u ê n c i a t e r e m o s iiiii leque inicti- un parte.s significativas menores e que c/inivirtJ e ÍMCup<is são formas
s o d e t>i>ções { i t d h c r , r a n t l . u t h i u d . l a i H i r c u . í a f ) t i r , r a i t t , í ( t r r < L \ a , [ n f K ' n t . ru- (r;in.*vp;irericcs. Som ente nas duas últimas podemos ‘entrever' o significado
/i.s-íini. fíiíuViu. í u i f k i . fostvir. fuuriiio e m uitas outras lonujs
C a lc o , c a c e m a , através da forma.
re;ii.s OU iiiveiit:id;i.<(. eiurccaiKo. ilis.soniios guc /c;i/ dove o co rre r m;i iil- Os no.ssos exemplos Jusiíficaríam uma .separação radical entre íoniULs
tiiiio .síl:d':i J*-' palavra.- o.M.ona.s. o Icqiic do po.-.súvi.s c.> iiib in aç,V - a'duj:-H opacas e forma.s transparentes, nias, na verdade, essa distinção não é ab~
siÇ ,.iric a tiv a m c m c a u... co iiju m o d e a|viias c in co .scgiiências /tV ca.mocni
,„ r c f u . A aR õ cH.mo cm m i l U a r . /<a.V. co.m , cm c ,, r , a i . /m(y. ■ pntvvni J c '«i/Hx-tin.-, íomia ty^pular Jo p^'r .vua vej sc prvnJc ã mi/ 4c
iiK-b. iijnianu' icí .s-N/i>».xir).
IIS TK KCEtR.\ TARTE - CONCEITOS KSSICOS OA nEM;HU;.\,0
U iTSTo i:.vT lrn .n ; a n m .A A iirii:i i .a ç Ao i »a i .in i .« \ ' . o i

s o lu t a . N ã o ó n e c e s s á r io q u a lq u e r esfo rço para se perceber o siijniticado dt j;i fain 01' escrita. Por q u e, n o e n ta n to , e s tr a n lia n io s a s fo r m a s iina-
i n c a p o s ; j á u m a d je tiv o c o m o ín fa c fo nào pode ser associado a seu contrário oiiu).>:rd<u/t’ e pmtndore.s* (c o n s tru íd a s n o p ro ce.sso da e s c r i t a ) , ma.s nãt»
( n â o e x i s t e f a c í o ) . e coro, fo rm a a qu e im n cfo se relaciona, é uni substantivo, c>tr;iiih:mios curíos/dm/e e caçíif/ore.s (d is p o n ív e is p ara ti.so e m nos.so vo-
M e s m o a s s im , p c rc c b e > s e a a sso cia çã o en tre as duas formas, o que i^arancv oal'uIári(i ativo)? Por que a e x c la m a ç ã o tio p o e ta , e m b o r a tle s e íu ic e r ta n te .
u m razo áv el d e tra n s p a rê n cia . Com pare-se aftora iutacto com ínóspifo ociicarada como uma c o n stru ç ã o n o rm a l tia línt^iia, ao pas.so tp ie im n tíitu t-
( = in n b iiá v e l) o u tii,sipú/r> (= sem salxir). A transparência é mínima, pois sühuk c píufíif/ore.s. ap esar da s e m e lh a n ç a c o m c u r i o s i d a d e e c a ç a d o r e s ,
p o u c a s p e s s o a s co n se g u e m recu p erar a associação entre *(/i Ví.spíco ou •.ví- IU1.-Í inct)inodam?
pif/o — f o r m a s q u e n ã o e x iste m —e os nom es e sa h itr. Partcc <jue n o sso s e n t im e n t o d a n o v id a d e d e u m a c o n s t r u ç ã o lín iiu ís -
O v o c a b u lá r io é form ad o , portanto, dessas duas lirandes ordens dc (ivacoriliiiariam ente a tiv a d o a o d e p a r a r m o s c o m p a l a v r a s (<|ue c l a s s i r i c a -
p a la v r a s : fo r m a s o p a c a s e form as transparentes. O lírau máximo de trans­ nu*so^1 nlOfloo/o^>^s'mos, e s t r a n ^ e ir is m o s , a r c a í s m o s , refíú fricilisrn o s e t c . ) —
p a r ê n c i a d a s fo rm a s lináuístiea.s é alcançado por aquelas que são produzi­ pnrqiiv esperamos q u e e la s ,se ja m ‘p e ç a s p r o n t a s ’ e s t o c a d a s nti m e m ó r i a e
d a s m e d ia n t e a a p lic a ç ã o d c retíras para com binar unidades de sentido cm JispomVcis em d ie io n jírio s - m a s n ã o d i a n t e d e f r a s e s q u e e s t e j a m o s o u v i n -
c o n s t r u ç õ e s d e n iv el m ais altci «ui siniple.smcnte maiores (in c a fH ts fnão Jomí (endo pela p rim e ira vez.
c o p r t s j , fu is - o fH jr a t ó r iu |postcTÍor à o/x t íiç ík j |. u tifid a d e (condição do que llá uma dupla e x p lic a ç ã o p a r a i s s o : a ) a s f r a s e s n â o c o s t u m a m .s c r t r a -
é iífr/|. íw piccer/ or |qiic <«/iivcel. Uuaiido isso acontece, osi^inificado da for- como o bjetos p r é -fa b r ic a d o s q u e a r m a z e n a m o s n a m e m ó r i a ; s e e s t ã o
n ia liii|^u}stie;i c NÚstti e<uiu> f> resultailo da .soma dos siêniticados potenciaLs áramacicalnientc bem e s tr u tu r a d a s , s ã o ‘a c e i t a s ’ s e m p r o b l e m a ; b ) c o m o j á
d a s u n id a d e s m e n o re s tpie :i e«*mrH*cni c das relações que se estabelecem e.ti.-itcm as birmas im c t0 n a ç c lo e p i n t o r e s , t e n d e m o s a r e p e l i r u m a f o r m a
e n t r e e s s ;ts u n id a d e s na e o iisiru ção da |orni;i maior. ilicmaiiva eoni o m esm o s i^ n itio a d o ( v e r o c o n c e i t o d e b l o q u e i o e m 1 7 . 6 ) .
mvsíuoque e.steja lira n ia tic a lm e n te b e m c o n s t r u í d a .
õ . s r N m A i ) i : > i: < < tu t o i . ^ 0 princípio ííeraJ q u e a c a b a m o s d e e n u n c i a r p r e c i s a , p io r é m , s e r c o i i s i -
c a p a z e .s d e r e c í u i h c c e r s c t p i c ii c i a s «.ioi;idas dc* s e n tid o e n i nossa iín- JiTadocom cautela. C o m e fe ito , u t il i z a m o s c o c i d i a n a m e n c c u m s e m - n ú m e ­
í i u a m a t e r n a p<»r m a i s q i i c m in c a a s te n lia n io s o u v id o a n te s , co m o esta ro ilcenimciados qu e s e re p e c e m . p o s s i v e lm e n t e e m v i r t u d e d a r e p e t i ç ã o e
e x e l a n i a ç ã t í t i o p i» e ta M á r io O u im a iia : ( J u c im u!i\nui^'ãtt d c p r u v u d u (cm (ts padmnização das s itu a ç õ e s e m q u e n o s e n c o n t r a m o s : s a u d a ç õ e s d i v e r s a s
ortpíú/eíi.s*.''' iftmi diii'.. Lcmbruuç<is a t o d o s f ). p e d id o s d e i n f o r m a ç ã o (P o d e m c t/ ê c e r
l l í i n e s t a I r a s c alii<» t lc l i c s c o n c c r i a i u c . ruas s e tiu ra iiie iiie n a d a nos sur­ as/H;rii.v.'). eo iiieiitãrios ( P o r c\s\s« e it tuto e s p e r a ^ a f , m a s n ã o P o r e s s a e u
p r e e n d e r í a n e s s a o u t r a : ‘( J i i c in u ié u ia ç ã o d e p ra v a d a tê in e s s e s pintore.s'’ Q u e r d iz e r: n o s s o c o n h e c i m e n t o d a l ín g u a a b r a n g e u n i
E s t ; i n o s * s o a n o r m a l '. |V)r m a is n u e n ã o poN sainos ê a r a n tir tê -la lido «lU miplo eumiiuiente d c c o n s t r u ç õ e s s i n t á t i c a s c r i s t a l i z a d a s o u , p e l o m e n o s ,
o u \ 'i d o a n t e s . .S u p o n h a iiic » s a é ‘ *ra lu n a te r c e ir a ir a s e : O n e in in iiin o síd iu k M.inipriiiu:is, ipie iião n os d a m o s a o t r a b a l h o d e e l a b o r a r n o a t o d c f a l a r o u
t c n i e s s e s p í n t í i i / o n s ' K.st;i fra s e tainl>ém iu»s ix .rtu rb a , ina> JetM.Tcvcr. Sfio elas q u e n o s d ã o a i m p r e s s ã o d e q u e o u s o d a p a h tv r a t e m
p o r o i i t r : i r a z ã o : iti u i i i i n u s i d i t d e e p tiih u lu r e s n ã o s ã o fo rm a s disjxm íveis in.nurczadc um c o m p o r ta m e n to e s p o n t â n e o e a t é m e c â n i c o , a n á l o g o à
eni n o s s t » v o c a b u l á r i o i l c u s iu in o s nati\i>s ilo (x irtu ê iiê s. D ig a m o s que a jn\kj;ulv de andar ou de re s p ira r.
e x e l a n i a v ã o d o p o e t a iio s M ir p re e m lc ;s » r c i u it r a r ia r lu is s o c*«KibeeimL'iit'* K>sa natureza ‘p r é - f a b r ic a d a ’ d e b o a p a r t e d a s f o r m a s q u e e n i p r c g a -
d o m u n d o ( s a b c i m t s t|iic a iiiia ê in a ç ã o n ã o é um a tr ib u to tia s llo re s). :•«' a principal ra z ã o p e la q u a l m u i t a s d e l a s n ã o o s t e n t a m a t r a n s p a r ê i i -
p j i s s o q u e ;i t e r c e i r a f r a s e n o s c a u s a e s ir a n h e / a |>or e o n i r a r ia r m»sso e<>- aaaquu nos referim os e m 5 . 4 , d e s o r t e q u e s e u s s i g n i h e a d o s i i ã o p o d e m
n l i e e i m e i i t o d a línt^ua e m us«i U n u ii:ín n s íd a d e e p fu tia / o re s sãt> substitutos explicados pela s im p le s u n iã o d o s s í g n i b e a d o s d a s r e s p e c t i v a s p a r t e s ,
i n e s p e r a d o s d e ntuuiituti^ ãtt e /n u o trest ^•'jquese passa eo n i c o r t a r o pont<», c o m p a r a d o a c o r f í i r o p ã o ; d a r u iii
N <>sso c o n l i e c í n i c i u o d a lín ê u a iio s p e r m ite . p<»rtantt». distiiu^iiir for- Pa'M.io. com parado a d a r u m p re se n te : c o r r e r u m r is c o , c o m p a n id o a
m a s * q u e e s t ã o p r o n t a s p a r a u.so e lo r iiia s tju e s ã o c o n s t r u íd a s n o prt>cesso •^rrer luíiu lista.
K impossível r e c o n h e c e r n o s i g n i f i c a d o d c c a d a e x p r e s s ã o e m i t á l i c o
u .l in t a n a |J« ^*s^imnp.arcela de s e n tid o q u e lh e t e n h a s i d o a c r e s c e n t a d a ' ih :I o r e s p e c tiv o
120 TKRC,k iii .\ r.MlTK - i :o S [: f.i k w ii \ s i i :í i s IIA liK.si:nig.V)
u r iN T in ’- \p lT rU i: l>i vi.\ M iu i I l-M,’ \n |i\ J |s«;i’ \t.f\i Ul

v erb o . E stão eni situ a çã o análoga os nomes o u r o e p r a ta nas cle,siÉnai^v.s


coiisiiuiiiUes. Kstas 1’orniíLs sâo em íienil Iocuí^^jus m etíifón cas ou n icto iiím i-
í)fitia n « -o n ro e b a n a n a - p r a t a . Estes casos são bem conhecidos e classifica^ c;is. Srio exemplos típicos dcssíis lo eu çõ es: Utbua dv su/vtivuo (» su enrro).
tio s c o m o e sp é c ie s de loeu ção idiomática (co rta r o ponto) ou composição nuirx.'mtmso (= ócio, d e so cu p a çã o ), p a u p r a axUt o 6 m {= pcsst>a p restaliv a
le x ic a l ( b a n n n a - o i i r o ) .
n versátil), prato che»> p re tex to ).
D istin to - n ã o d iverso porém, é o caso de cttrrer i/ma lista, como sc Coiuam-sc nessa ampla classe as frases feiras e os provcrliins: O ím»
co m p ro v a na rclati\'a p crsistcn cia de um aspecto do signihcado de ‘correr’ siiíii pvla vulatra, F oi b u s c a r !ã e s a iu tosqitiado-, ('a s a í/e./l*rrcíro. e.spefr»
c m c o r r e r o s o l h o s , c o r r e r um a m a r a to n a , c o r r e r a f e i r a . Nestas constru- (/ofioií: Dv firão em firu o a g a lin h a e n c h e o papo.
ç õ e s , o v e rb o revela um a pluralidade semântica (polissemia) c|ue se enraiza Todos esses casos sâo bem conhecidos c rc^ulnrmeiue eitad<»s <.|iiaiulo
num fun do co m u m d e referência a ‘movimento’. A acepção e.xata do verhrr s« aborda o tema das construções orístalizadas. São diversas as explicações
em ca d a e x p re ssã o d ecorre da espécie de referente de .seu complcmcnlo: q oriliiianamonic apresentadas para o fenômeno da cristalização. I)cstm|iie-
l i s t a ‘p a ssa ’ de m ão em m ão; os o lh o s são ‘direcionados’ eontimianiciue cIc mus rròs delas: (n) o fato de as unidades combinadas na expressão cristalb
m od o a r e c o b r ir um a área e.vaminada; a m a r a to n a é o evento que o aticla, 2ad<i ocorrerem Juntas no discurso com «alta frequência devido ã tipihcação
u m c o rre d o r, ‘disputa’; a f e i r a é uma extensão física que alguém, deslrxian- sodocultiiral do ol)jeto designado {iis ta d e compras,/esfri d e cin iv crscth o,
d o -se , ‘p e r c o rr e ’. Deduz-se desse conjunto de e.xpressões que o verbo não (iwifii)de in^aricía), (b) a condensação sem ântica efetuada pela metáfora
é ‘p ro vid o’ por si só de um leque de acepções acrescentadas a oonstmçãD {h(Hur pilhu |a incentivar, estim ular], c o lh e r d e c h á [= oportunidade co n ­
seg u n d o no ssas escolh as, mas, ao contrário, que cada acepçao é produzidq cedida nícnorosaniente), luf^ar a o s o l |s posição de destaque conquistada
p e la re la çã o do verbo com o respectivo complemento. com empenho pessoal 1), (c) a propensão das pessoas para com eiuar situ-
nifòes que cipítieam a conduta humana {F oi b u s c a r lã e s a iu tostfuiudo-.
5 . 6 G R aU ’S d e ESTAISII.IDADE DAS CO.NSTIU Ç Õ E S Casa dcferreiro, es p eto d e pau; Fscre^ieu n ã o leu , o pau com eu).
V o lte m o s ao verso de Mário Quintana, “Que imaginação depravada têm Produzimos e compreendemos enunciados/texcos graças a uma certa
a s o rq u íd e a s !’’. .lá dissemos que esta frase só é perturbadora porque seu dose de previsibilidade de suas formas c construções e dos sentidos tjue eles
eonteüU o co n tra ria nosso conhecimento do mundo. Podemos con.struir veiculam, Toda novidade, tudo o que contraria uma expectativa requer um
v a ria çõ e s para ela: Que tlcp rav atla imrigíiiaçãtj têm a s o rq u íd e a s!, Qur csíorço mental maior no ato da assimilação/compreensão. O resultado pode
slt umto o conhecim ento de uma experiência nova (assim ila-se um novo
d e p r a v a d a im a g in a ç ã o a s o r q u íd e a s têm ! Mas essas variações têm um
lim ite : Q u e d e p r a v a d a têm im aginação a s o rq u íd e a s! á uma construção objeto que altera nosso conhecim ento das coisas) quanto n pura e sim ples
g ra m a tica lm e n te imperfeita. E se dissermos Que im a g in a çã o a s orquídeas rejeição da novidade (descarta-se o novo objeto por conta da incom preen­
d e p r a v a d a s t ê m ! , modificamos o sentido da frase, já que a depravação dei­ são üii por alguma resistência de ordem cultural, ideológica etc.).
x a de se r da imaginação e passa a ser das orquídeas.
Noss.v KKl..V;.VO COM AS COISAS DO MUNIX) EM OERzVL E COM A UNOUAOEM EM
É óbvio, portanto, que quando construímos nossos enunciados oricti-
l‘,MtTU:n.AU NOS TROPICIA Tz\NTO CONTATOS UEPETIWS COM UM COTIDUVNO SEM
ta m o -n o s, ainda que ineonscieniemente, por certos princípios que deter­
.SIWKESAS, üUí\NTO EXPERIENCIAS QITE DESEQIUUUR.VVI SO.SSO USIVKIW) DE C(>-
m in am a possibilidade de certas combinações/sequências de unidades e
im pedem outras. Por outro lado, é certo que niuitas construções se acham S11E(;I.MF.XTOS F. VALORES. A LÍNGUA QUE FALAMOS t FONTE DESSAS DtiAS MANEI-
RVS DF. CONHECEU E DE EXISTIR. O U SEJA, 1'ÜDEMOS TER COM A LINGUAtlKM l^M
esta b iliz a d a s - ou mesmo cristalizadas - a tal ponto que ficam disponíveis
REUCION/LMENTO DF. SUJElÇAO AS KÓRMUUVS PRONTAS, CONTENT.\NDO-NOS COM
para uso co m o unidades memorizadas. Alguns e.\emplos: lista d e cum pras,
AHEI*ETIÇ.^Ü DE UM DISCURSO APRENDIDO, t)U WM^EMOS «\CEITAK O DESAFIO DF.
c a r r o d o a n o , ro u p a d e a n d a r e m c a s a , la ç o d e fit a , q u eijo com g o ia b a d a ,
IN'\T-STiriAn O FUNCIONzVMENTO DESSE MESMO DlSCUHSt» E DESCODKIR OS MKloS DE
u t i l i d a d e s d o m é s t ic a s , p r a ç a d e a lim en ta ç ã o , c a m a e m es a etc.
A pesar de estáveis, estas construções ,são portadoras de significados COLOCAR A LInC
iÜAA SERVIÇO DE NOSSA CKIATINTDADE. E s TE t. UM DOS PROPÓSI­
que podem ser compreendidos como a união dos significados particulares TOS DA IU*FLEXA0 SOHRE a GRAMATKLV da LINCUA, que Pz\SSz\REMOS a d etalh ar

de seu s elem entos. Há, contudo, um amplo contingente de formas cujo sig- SOS PRÓXIMOS Ci\PlTUU)S.

• 'M a ^ o b a l é inexplicável pela .soma dos significados privativos de seus

\
SK.NTo c.vPirn.n: i ’m ii .mii:s »: ih t m .«hiian i »a JJJ

Jv C|iniilquer te.vio depende de alguma lógica expressa na conc.vão ile suas


ji.irte.s. Lonferindo-lhe coerêiieia; .sem i.s.so, não pas.sarj.-i de um aimmcoailo
S E X T O C A P IT rE O :
•iluitório de palavr.as, e consequentemente não seria tini texto.
U N ID A D ES E C A TEG O R IA S DA GR.\MA t ICA 0 pr6 |irio texto que estamos focalizando, cmboni e.x.alte a libertlatle ila
livreiis.sociação dc idéias, 6 um texto construído de forma imiiiitoratl.i: ele
óiiin te.xro .sobre o modo de compor iini texto. Para tornar clara sua itiei.i, o
iiiiiür persegue uma continuidade lógica do raciocínio, pois tem 'inii.-i ohrí-
íação a eiiniprir'.
Olwcrveiiios dctid.-imente a oonsmição de.s.se fragmento: liã nele três
6 .1 o T K X T O E A G1Í.V.m A TICA svjiiieiito,s de sentido bem delimitados c distribuídos numa se<(uêiieia co ­
Tom em os um fragmento de texto para começar nossa reflexão sobre o lujiar erente; 0 primeiro vni de Vmci até idciaii-, o segundo vai de-l.ssocúíÇfío até
da gram ática no conjunto da língua. Imgiaiço: o terceiro compreende o restante. O segundo .segmento desenvol­
ve-o primeiro, c o terceiro conclui tudo, por meio de uma espé-cie de tese,

Uma brincadeira divertida c deixar-se levar pela as.soeiação de idete. Fic.i claro (|ue o texto foi construído ‘como uma marcha’ - com cada ideia
/Vssociação de idéias é assim; a geme está no de\'nneio, flutuando, .sem oiipen.saiiienio rigorosaniente atrás do outro numa progressão lógica (ver ;i
querer ir a lugar algum, aí aparece uma ideia. essa ideia chama outra, íunçãodn.s elenicnios destacados em negrito) —apesar de seu autor parecer
essa outra chama unia outra e logo elas estão díinçando, sem que a genie deatiiialitícareste procedimento. O d e v a n e i o de que ele fala é só uni estado
tente pôr ordem na b.agunça. Quando os pcn.samenlos est.ão livres, eles criativo; eoino 'efeito de sentido’, o devaneio será uma construção textual
dançam. Quando têm uma obrigação a cumprir, eles marcham cm or­ Ha-urada euitiadosamente, portanto sujeita à consciência com que o autor
dem unida, um atr.ás do outro'*’. tciii,i dei.rar a impre.ssão de que tudo se passa no mais absoluto estado de
Ük-niade.
O autor se vale de du.a.s metáforas para contrapor duas maneiras de Todos os elementos constitutivos do texto entram em sua construção
u n ir en tre si as ideins; a dança, que representaria um modo de livre a.sso- porconta de alguma intenção de sentido e de algum fator combinatorio, que,
cia çã o dos pensam entos, e a marcha, na qual estes seriam submetidos a uni cmcL-rl;! medida, toma previsível ou mesmo obrigatória uma forma ou eate-
plano rígido de encadeameiito. (aríi em lugar de outra. A posição e a forma assumidas pelas peças do texto
Não há dúvida de que a construção de nossos enunciados revela grtius licani, as,sira, à niereê de uma cadeia de influências e condicionamentos.
variados de com prom isso com a unidade dc assunto. Por outro lado, as con­ Sina-iins de e.itemplo o seguinte segmento: Q u a n d o o s p e n s a m e n t o s e s t ã o
d içõ es com unicativas têm influência não só sobre o fluxo das idéias quanto k m . e/c-s dan çam . Temos aí duas idéias ‘os pensamentos estão livres’ e
sobre os m eios pelos quais esse íluxo se materializa no te.vto. Na conver-ni cIcsdançam’. O cnunciador atribui â primeira o papel de uma circunstância
esp on tânea, por e.veniplo, é comum que ‘uma ideia pu.ve outra’ e o discurso Je k-mpoda .segunda, e e.xpressa este .sentido com o q u a n d o . Ele poderia ter
elaborado ‘a várias bocas’ se tome muito heterogêneo. Já tratamos de.s.sa MriloQnrmr/o e.síão liv re s, o s p e n s a m e n t o s d a n ç a m , ou Os p e n s a m e n t o s ,
c a ra cte rística dos te.\tos em 4.1, ao comparar quatro eventos eonuinieati- ilimilíi estão livres, d a n ç a m , ou Os p e n s a m e n t o s d a n ç a m q u a n d o e s t ã o
vos, e em 4 .5 .1 , onde, referindo-nos íis condições discursivas, distingtiinios km . mas não 'Os p e n s a m e n t o s e s t ã o q u a t id o liv r e s , d a n ç a m e le s . E se
os estilos espontâneo e monitorado. «creresse£fcs csrãt) liv r e s q u a n d o o s p e n s a m e n t o s d a n ç a m , seguramente
E n tre a ‘espontaneidade niá.xinia’ e o ‘monitoramento máximo’ do dis­ «kitor não interpretaria c ie s como um substituto de os p e n s a m e n t o s .
curso e.xistem m eios termos, mas cm nenhuma hipótese o discurso se torna Também a categoria e a forma das unidades não são livremente sele­
c a ó tico , um ajuntam ento sem ordem. Para cumprir sua função, todo dí.s- cionadas; Os pensamentos d a n ç a m q u a n d o e s t ã o liv r e s e não o s fje n s a -
cu rso é dotado de alguma organização, ainda quando ele c produzido a duas XKmns dançam .sem p re e s t ã o liv r e s , o s p e n s a m e n t o s e não o p e n s a m e n -
bocas, com o numa conversa ao telefone. Com efeito, a conninieatividadc oa as p en sa m en to s, e s t ã o l i v r e s c não e s t a m o s liv r e s , e l e s d a n ç a m c
’>ia elas dan çam ou e le s d a n ç o . Não usamos livremente s e m p r e no lugar
AIA-ES |20 (K*i. 59|.
TtKi:M R.v I-Aitre - ii.VRi,aK da l> t « :K r c V ii,;i> .v ,iu „ i„ ,
|•M|l.\ll^.S J, l:.\TKr,4WJA.S II.V /-A

d e q u a n d o , o no luftar d e o s, a s no dc o,s, e.sínnios no de esrã». e/a,


no A iKrccpção, mesmo intuitiva, desses processos c dos .signirtcatlos das
o/cs, d a n ç o n o d e d a n ç a m .
giiíJxiiles neles envolvidas permite que, cm muitos casos, adívinliemos ou
àduml>rciiios o significado de palavras (juc estejamos encontrando |’>cla jirí*
A í^ONSTIU’ÇAO l>0 TEXTO KSTA AS,SIMSIUEITA FATOltES a»MmN.\T6R|(tS (jix
nwira vez. como certos iieologisnios (m ícrcím , (/t',sfo«//íor). Km um nível dc
TANTO ESPECtFir..VM A.S t:.\TE(50KIAS/i:i_VSS|-:i; K FOICMA.S DAS IT^IDADRS Q(T. (i
rxilo-vin mais profundo, tal percepção permite que compreendamos como
t:oNSTrTi’EM. Q r .v s T o imih *>e m l im it r s a o i’o s u : h ix .vmf.\‘To dk .s sa s i ’niiiadía <
(is.-siijnificatlo.s SC formam e como as palavras aparentadas pela forniík tecem
NoirTICVS l*AU\VR-\S, á) TKXTO S t lUCAl.lZA IS)» MF.K) I>E lAIA crONSTRl CAc» Ft)R-
Hiiiia.s uina rede complexa e ã.s vezes surpreendente dc significados. Ilustra-
MAL, SF.M A QI AL O SKNTllK) SKIUA IMISjSv
S M :!.. K st A CO\.STIU (;.Vo H»!IM\L. 1’OR
Miios cs-^e fatí) obsen aiido um conjunto de verbos derivados de ;x>r.
SUA \T.Z. nASEIA-vSE NO SISTEMA DE l-NIDADES K RE(]K.\S COMIIINATOr ia S A yCK
Vamos começar examinando quatro dos seus derivados: aníefxjr, pos-
IKVAUIS O NOME DK r,ILVMATItLV, CONCEITO (JLE DKTAUlAKEMOS EM SEíUIDA.
|iir. úucrywir e .sobre/wzr. A diferença de significados entre eles c eni parle
JcviJ;r aos respectivos prefixos: arifcpor é ‘pôr (algo) antes de (outra coisa)’,
ix«i;»or é pôr (algo) depois de (outra coisa)’, interpor á ‘pôr (algo) entre
6 .2 C.R.\M ATICA - IA ( ; Alt DAS KIAU I.AItlDADKS DA LÍNGI A (dua.s coisas)' e sührc’por é ‘pôr (algo) sobre (outra coisa)’. Um caso análogo
A transparên cia das formas lini^uísiícas (ver 5.4) c um falor dc ccononiÍR cüdcrcíxir ( p<ir riovnmenie’, formado por um prefixo (re-) que não corres­
no funcionam ento da lin^ua|!tcm: cia loma possíveis o acesso ao significado ponde a nenhuma proposição ou advérbio). É claro que a diferença sem ânti­
das palavras c a crlaçfio de novas palavras graças ao conhecimento prévio ca entre essas formas vai além do que se deduz do simples acréscim o do sig-
do sen tid o associado a cada uma de suas partes (ín-Ki‘apai5. c/iavc+eíro). iiiíicado de cada prefixo, até porque o próprio verbo pôr expressa sentidos
T rata-se de um mecanismo análogo ao que permite o reconhecimento dos uiriado.s. Umi(emo-nos, por eiU|unnto, a reconhecer que há nesses verbos
nú m eros no sistem a decimal: conhecemos os conteúdos de 1 0 algarismos umecrtograii de correspondência entre forma e significado.
e a s regras conibinntórias parxi atrihuir-lhes os valores relativos como uni* 0 princípiu da transparência das formas linguísticas se torna ainda
dade, dezena, centena, milliar. milhão, bilhão... Uns c outras nos habilitam nnis cvídeiuc quando observamos segmentos maiores, a que cham am os
a produzir e com preender qualquer número. O eonheciniento de unidades uRiVÒcs Na constniçâo de uma oração (ex.: As lagartas dev o ra ra m a s
e regras com bínacórias poupa a memória da solírecarga de uma lista de / o í l i e . s ' d o ;Vrsr?jífieira), eada forma lexical (/agnría, devorar,/a//ux,
signos diversos entre si. rfwa. jusDiõiLíro) acrescenta ao todo uma especificação qualquer de seu
Desse modo, a mcmóriíi precisa annazenur apeiixs unia parte do estoque slÉRitic;iJü püieiicial (ver 2.2). As especificações gram aticais a que as unida­
de palavras —que inclui cfu tvc c ca/joc pois a outra píirte - que inclui ehatvi- des dü lé.xiL'o ticam sujeitas nos lim ites da oração (gênero, número, pessoa.
ro e in cap asL - pertence a um conjunto dc unidades criadas ou interpretáveis iLJiiiM), modo. voz. deierniinnção etc.) são da responsabilidade dos demais
por m eio dc regras de formação de palavras, eni que se destacam os processtw sisTcmii.s de categorização (ver 6 .5 .3 -6 .5 .5 ); determinativa, conibinatória e
de prehxação (cd /x u s - í«ca;xtc,./íc7 - ititíc/, afivo - inafiw) e suh.xação (c/miix' murlossiiitátioa.
—c /ta v e ir o , p(jrra —porreim. açYjugue- íiçfiiigtxeíro). Aos menores constiluin-
ces da palavra providos Je significado damos o nome de inorfenius. OcílNJl NTOIKÍS I*KCX:ESS0S que REtílIL.VMACORRESPONUftSCIAENTHF. ACONS-
Os m orfenias conhecidos eonio prefixos (colocados antes da base) c 11,VS FOk.M.\S I.INGUt.STItLVS R OS UESi^ECTIVOS SIGNIFIC-VOOS (TICVNSFA-
sufixos (colocados após a hítse) fazem parte da construçílo de muitas pala­ Kf.saA)OoN.STinri A(|R-VM.U1C.\ DE U.MALÍNC5UA. A GR.\.Xb\TIO,\ f. RESI>ONS.U’EI..
vras do português. Uns e outros se ane.xam à base da palavra, que pode ser lOIlT.VNTO. l'.MA FAilTE DO SltlNIPICADO IX)S ENUNCIALKíS - .VQUKI.E QDE
o rad ical ou o tenia (ver 6 .9.1.3). Alguns são dc tiso frequente e geral (ex.: KLSILT.VIXJ.S MEIUS PEI.OS QUAIS AS UNID.VDES IH)RT.\IKílL\S DE SIGNIFICADO SF.
d e s - eni d e s t r a v a r , d es p rep a ra d o ; -ciro eni ca/oreírrj, sapaCeim , cajueiro} LOMIIIN.VMPAIUCONSTRIUR ,VS FlLXSES.
O utros são dc usa muito restrito ( e x . : í /l s - em d issociar, d issa b o r, disjor-
rnc; -íc ie em p ia n fe ie , ca ieície). Afixos como des- e -eiro servem mesniü Suponhamos que uma dessas frases seja A avó ífe Jo á o z in h o jKirecia
para c ria r novas palavras, são altamente produtivos, ao passo que a ocor­ jdisçjiíiiif/o d e a visitou. Sua representação escrita nos revela dez unida-
rên cia dc d is - e -fcic está limitada as palavras Já em uso na língua. independentes (palavras graficas). Cada palavra desta frase detém um
/-V* im ;« i i k \ **N» I U«»V n x su II X 1»»M litvM» VI SI \rur.M *iM i«». i MM.Mtis» 4 s iiiií* m \ s it \ í . h v m m k a

\jiUu .s o n iA iiiio i (tu ro tcro iic iiil iitio m oHuirl/iim us im iiprciu)lzii(v„| „al e eoiiumiealiva pcriliieiile (ver quarto capítulo). Estas c.speci-
(Ia llili*u a. Ao (.■iiiiiK-iá-lit, iiro d u z in io s mii so iiild o ', tnu.' tlcpcaule, cm pl|r^^. ' i lailio revelam esse coiileiido quanto dão as pistas para o ato iiller-
d o ic o o iilio o liiv o n io d o (pu,. c a d a (talavra dcslilua oii sljiiiilic a (c ipic iis dicí,,. .loxio iilierloeutor.
n a r io s it r o o iir a m r o í ll s i i a r i , C ad a palavra c s iá . p or a ssim dizer, aripilvaU;,
n a n io m o r ia d o s t a l a u ie s o o iu o tm ia id a i,'à o c i it r c im ia form a sonora c uniu '^'^^]^rn:,\, l•oln■,^NTo, s.io í ivi.r .\ioi.vim'h.( ert kxiii,iki:i: ,\husk. m.is I'm
p o s s ib ilid a d e d e s iilu ilio a d o . l'l. MKIOS q l ’K rolISX IU.SSlVKIS ,v KI..U10K.U,:.\0 K .( tiio<;.\ lu; s io .s iri-

1 'u l r a p a r l e d o .se n iid o da<piela frase nos e- d ad a. p o rcin , pela Cranmii. luii UMO Iii: 1'M.\ I-I.viiiu. .v.ssm comikhiiu, iiii.vM.tTiiK. I•,U1T^: oo
e a d a liiii^ iia . a s a b e r ; ,,iviin:iui Mo e>i'Kue.u.orKii isiuvineo rr.Moi: si:.t i.lvur.r. UmensiiKiaMK.s-
a) a e n u ta v d o n o s re v ela rpie e.siainos d ia n ie de um a deelaraeãu. ,.,iei I F.UIV.M10 xoniocF.sso ok l■uolll■Zln Ki:i),uriiKKMiKii .(s l■ll.vs^:.s/rK.\Tos
i,ins U IM . i A ( u :i i â .,\ . _______________________________________________________
u A i' d e u m a p e rjlu m a ;
bl p o r s e r n in v e r b o , e í s i t o r pode a ssu m ir a lo riiia ei.siam ;
ed p o r s e r e m s iilts la iu iv o s . doiioc-fo/io e o e d oeu|tam posieocs cin Tiiiilieiii usamos o termo gramática, porém, para designar a descrição
I tt r n o d it v e riu t v is ir o r . e em rela v ã o a e s ie v e rb o atiiain . rc.spco- iviiír i eoiilieeimeiiio. .Vesta ace|ição, a gramática é um eoiijuiico de
l i v a i n e n t e . n o s p a p é is de a iíeiite e p a e ie iu e , p ap éis (lue itodcin viKviios e de afinnaçfies .sobre o funeionamento das línguas. E o eonecilo-
s e r p e r m iiia d o s se e sse s sultslauii^ats m u d a rem d e posii^ao (,i . li-iieila analise gramatical, tal como se pratica tradieioiialmente. é a uni-
(i-eíi ■fi.sintii ./oiioviii/io); liilceiialieeid;i como paliivni.
d) p o r s t 'r s iib sla u lita * pnSprio. ,/oiioc.iii/l(> o rd iiia ria iiie iu e se man’
céin U(t síu iiu la r i,,i I iMCOMKdA. .M 0U I'0l,0< ;iA . .SINT.VXE. .MOKKOS.SIAT.XXE
Uniiil:ide lexieo-gramalical que eliamamos de ‘palavra’ é o íuiidamentu da
C o m o s e t è . h á n o em iueiad o um sem ido q ue pode ,ser apreendido cev- ,fciiiii,Çio tradicional entre niorfologia - que aiiali.sa e e.vplica a ‘Iransparèn-
p l i c i l a d o e o i n o p ro d m o da eoiuposi(,'ao d os si,iinitieado.s ou valores relercii> ai'lrel;is‘ão motivada entre forma o sentido) das [laltu-ras; e a sintaxe, que
c i a i s d a s in iid a d e s le.xieais e dos valores e.vpressos pelo sistem a tíraniatieal. iiulisaee.\plie:i a 'Iransparèneia' (relação motivada entre fonna e sentido)
Q u al (é o paix^’! da lir.unáriea? láiiu o a iJnnuátiea eoiiiribui pani ae.xprcs- ilsorações ptilavra é o liinitc entre esses dois domínios; a morfoiogin vai
s ã o e citn u m ica e ã o de eomeiidiesr ,\ eoilsinivão de uiii emiueiado ha.seia-.<c alóda. a siiitti.xe começa nela e termina n:i oração.
e m |Tclo u ie iio s dois fiiiulamemos fim eioiialineiue imerlitíados: (a) unia nus Oeorre. (loréui, ([ue a forma da paltivra também é sensível aos fenô-
liv a v ã o c o in u n iea tiva e (li)a inlerjtreiavào de uma e.\|teriê'ueia (ver priniciru iiimo,'; siiiliítieos. Em EVes csnuhirn Ju n tos, temos três palavras no plural,
c:i|titu lo l. A iiiterpreiavão ila c.\|\.‘riCaieia ir rualerializada em reeursos foniwis iiiassoiiieate em K k s o plural nos dá uma informação sobre a ‘entidade do
d iv e r s o s —selesífio elas palavnis e das e'onsim<,ax.'s situáiiea.s - eoin ipie elalvt niuiulo'. i.sio é, que se trata de ‘mais de um elemento"; em estu d am e Ju n tos
r a m o s e.vpressões referenciais e e-vpre.s,S(H.‘s pretlieadoras ( ver 1.d). Lãnas e ou­ j pliiraliz.ição e.vpressa uma reltição puramente gramatical, de iiutureza
tr a s , e a res|teeti\a artieul;u,'ão no te.vto. esião jxtr sua \ez sujeitas ã motivavãe sliil;ilie:i - ;i eoneordâiieia. Xo uso de falantes não escolarizados o normal é
(eom iinioativa de .seu emiueiador. Ao em ineiador eoiii[K'te, [XirtaiHo, a prer- Bíftsmilii junto, eom indicação de phirtd apenas no pronome. O plural de
roiJativa d e atribuir uin talor .semântico relacionai -itfic n tc . eoii.sd. /xieíeair do ejaiifos é expresso pelo mesmo recurso - a adição de -s - embora te-
íii.stm in e n ro , /n^i<ir - (ver 6 Õ.-4 ) a cada entidade de (|ue queira lálar. É o eimn nluni iiioiiv;ições, on funções semióticas, diferentes; o pliir:il em cs'ni<f(tm
ciad o r ejuc distribui esses ptipéis sem âiitieos entre os seres, coisas e ciuidíidc; (C.vpresso por um recurso privativo dos verbos (cf. estu d a / estu d a m ).
q u e to m am parte no objeto de seu di.scurso. .-Vlcm disso, caixt-lhc ainda e‘se.s \ inorfologiti, segundo sua coiiceituação tradiciouul. trata, portanto,
Ih c r a estratégia comunicativa (ver q u an o capítulo) que, a seu juízo, levará r Jc latos que dizem respeito ora ao léxico ora à siiltitxe. Ao primeiro ela au-
in te rlo c u to r ou leitor a interpretar a mensagem que lhe dirige, ■tiliacom os conceitos de derit ação, composição e cltisses de palavras (ver
O que faz, então, a gramática? Ela provê o enunciado e cada uiiu «stoe sétimo capítulos); :i segunda, com o conceito Ue tlexão (ver sétimo
de suas panes das especificações categoriais {ver 6 .5 ) necessárias tantoà apiiulo). ;\s variações da forma da palavra detidas às condições sintáticas
, “ ''■ '^ a ç ã o da experiência interpretada (ver 1.4 e 1 ,5 ), quanto à função Jí svu emprego na frase dizem respeito à morfossintaxe. O objeto próprio

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12 S TKRllF.IRA r.VKTE - i: t ) S ( :E m w ILVSkHK lU I>Em :IU(;.Vo <;K.\»UTt(L^L
.<«r.XTn c.srtTnx>: r. <;\tm x »ri.vs iu r.itwuriru» Í2 V
da m orfoloèia 6 a cstn itu ra niórftca da palavra quando a consideramos 4
Podemos agora contrapor a gramática geral (c sua versão explícita, a
um ponto de vista cstritam ente paradigmático (ver 5.3), compreendendo ^inllica teórica) e a gramática particular, própria de cada língua. Tam-
os co n ce ito s dc afixo, radical, vogal temática, tema, desinência, assunim no domínio restrito do cada língua temos uma gnimátíca Intente. 011
que serão abordados no sétimo capítulo. O sistema de meios e proce?isos internalizada, e iima grainátioa explícita. A gramática Intente corresponde
em pregados na fomiação/críação das palavras diz respeito propriamente à aoconhecimento que cada usuário tem do uma língua específica qualquer
lexicologin, e tam bém serão estudados nos capítulos 17, 20 e 21. - m língu.i materna - e que o torna apto a produzir e compreender fra.ses
nossa língua. A gramática explícita é o corpo de informações c afirmações
í».4 C O N C K F Ç Õ K S 1>E GRAMÁTICA: IM \ 'K R SA L , LATKNTK. com(|iie SC busca explicitar, com base nos princípios do uma gramática
KXIMÁCITA. TKÓ RICA . DESCRITIVA. NOR.MATIVA toórica, 0 conhecimento que cada indivíduo tem dc sua língua materna. A
A aptidão para organizar os sons vocais ^ 0 11 os gestos - com o objetivo de gramática explícita chamamos tecnicamente gramática de.scrítivu.
e xp rim ir significados é universal na espécie humana (náo há grupo huinímo Toda tentativa dc empregar alguma teoria da linguagem para tomar
que não fale alguma língua), e só os seres humanos podem adquirir os habi­ czplícito o conhecimento que as pessoas têm de sua língua materna fnz
lidades relacionadas a tal aptidão. Isso nada tem a ver. porém, com 'seríme- pare da <3Íaboraçáo dc uma gramática descritiva. Logo, se nos.so objetivo é,
lig cm c' no sentido corrente desta expressão, pois cães, elefantes, golãnho&c por exemplo, descrever (isto é, explicitar por meios técnicos) cerco uso da
chim panzés são reconhecidamente animais inteligentes. Só não falam por­ língua, precisamos dc quatro coisas pelo menos: (a) delimitar um objeto de
que não cstào biologicamente equipados para essa função. Por outro lado. análise, (b) selecionar um corpus, (c) apoiar-nos numa teoria c (d) classificar
sabe-se que todas as línguas conhecidas e estudadas sc sen ’cm dos me-smos as unidades e enunciar as regras de seu funcionamento.
princípios básicos de organização estrutural, isto é, são formadas dc signos Dignmos que queiramos analisar o funcionamento das formas ele/ela/
que associam signifienntes a significados (\'er 5.2), e apresentam em cada ola {objeto) no seguinte conjunto de oito frases (corptis)i
um desces planos unidades hierarquizadas cm diferentes tipos (ver 6.9) e re­ al - Traz sua namorada aqui pr'a gente conhecer ela,
gras oomhinatórins que integram classes (ver 6.9) no interior dc cada tipo. a2 - Traz sua namorada nqui pr’a gente conhecer;
Ao conjunto de princípios organizacionais próprios da linguagem hu­ bl - Fegucí o dinheiro c guardei ele no bolso,
m an a. e portanto inerentes a cada língua particular, chamamos gramática b2 - Peguei o dinheiro e guardei no bolso;
g e ra l ou gramática universal. Adniite-se, com efeito, a existência dc uma cl - Traga sua namorada aqui para nós a conhecermos,
e sp écie de gramática geral ou universal que .se concretiza por meio de gra­ c2 • Traz sua namorada aqui para nós conhecermos;
m áticas particulares nas diferentes línguas. Ou seja, o que explica as dife­ dl - Peguei o dinheiro e guardei-o no bolso,
re n ç a s radicais entre o português, o áraix.*, o tupi e o japonês é «1 di\'ersídade Ü2 - Peguei o dinheiro e guardei no bolso.
in e re n te às convençcws sockiculturais historíeaniente adotadas iins dife­
re n te s com unidades de seres humanos que fnlnni essa.s línguas. Por serem lilstns frases não foram colhidas em nenhuma situação real de fala, mas
e xp ressõ es dn cognição humana, elas - c quaisquer outras línguas - são veí­ é inegável que são perfeltamente aceitáveis como frases do português usado
cu lo s eficientes de conceptualização do mundo em que aquelas sociedades no Brasil. Todos sabemos que as frases a l, a2, b l, b2 e d2 (formalmente
vivem c das múltiplas necessidades eomunicacivas de seus falantes. idêmiea a b2) têm maior probabilidade de ocorrência na fala espontânea do
A existên cia dessa gramática universal c uma hipótese que inspira queas resianies. Há entre elos, portanto, diferenças de grau de formalidade
uni am plo con ju n to de investigações e escudos com o objetivo de produ­ (ver 4.5.2) que vão do mais coloquial (a l) ao mais cerimonioso (c l). Esta
z ir um a teoria geral do funcionamento dns línguas, n que damos o nome diferença sociocomunicativa é muito importante e precisa ser levada em
d e graniátíeu teórica. A gramática geral é latente, implícita; a gramática coma na metodolo^a. Mas vamos encurtar o caminho de nossa reflexão.
te ó r ic a é um corpo de afirmações que hipoteticamente revela, de modo 0 que queremos explicar é a variação entre o uso de "elc/ela' e de ‘o/a’ e a
e x p líc ito , a natureza do conheeimento humano que chamamos gramática variação entre a presença e a ausência dessas pequenas formas.
g e ra l. A exp licitação da gramática teórica é o objetivo maior da ciência Podemos presumir, de antemão, que eÍe/cUi são empregados na fala
da linguagem . mais coloquial e que o/a são próprios da comunicação mais tensa e formal.
«R-STiJCAMírri.o rstK.^iiK-i »

l^sla liip<t(c.sc, •inipaniil:i ciii nossa Íntniv*^o, |>4h1(-'scr faeiliiiciue coinpnnvi* Sit\ riiNntçAn i »k M<H>Kro r>K M.so r.\z n.v i.f.suuA i*.vnH.\o uma KKmtf.Mri.x
t .1 . U cdiixtrcnios ilaí uma rcjira; Wc/Wn/o/n são lorniastjtic podem funejnjijir lfM--\I.MK.VTK IM).\|n<jfiNKA, U-WA ESÍ-ÍClK HE W7'A‘AP'W íJ 0171 I.Via.ni l'.S{ í.S UK
com o con ip leniciito de verbos t»o poriiitiiics cio Hrasíl. com a dlícreiiça de I V! t>'»‘F-ÕTHO UK TKMI‘<» A^ÍI'1A^ E EATOS FKEOUK.VTKMKSTf: CnVmT.Uf COM
ipie as iliias prim eiras são tU» iiso es|'H>TitãiiL'o e ^eral e as duas úUimas m.iK TFM»fN«:rAS riA i.lNurA kai.aua usuAt., COMO A n.KxAo rw m k a n u ti ko i>o
com u n s na escrita, por isso normaliiieaic adciniridas pela vtn do ensino cS’
,\l IÜl’NTIVO IHÍ VKKIO» VA7/ (Sfi K l’ V/k ) , í ) ( íENKKO M.V.SCII|.ISn I^MCA (» Sl'|l.s-
colar. Q uan to ã variavào entro preseiK,‘a e ausêneín, percebe-se <|iicse [fara
r.vNiJ' '» VA .m:ki'<;Ao i >k nNU)Ai)K de pe -s o U>rxKS T<is í . h w ia s i >k n.vv-
tic um a possibilidade }ieral na sintaxe brasileira, desde cpie o referente do
r/i/frM). A KOKMA 1’l.iniAI, PAILV O POS.SE.SSfVO M Krs UIANTK IM) SUMSTANT|V( i
pron om e suprim ido (sno noniorm/o /od/n/íeim) possa ser rceuperaiiudo
l> / 7.0 .s-, Ol' A PKOVr'Sf:iA (E KKSPECTIV.V CieVKlA) DE .MOKnDA7_C A i.i.scrA
co n te x to .
rAliR-to I« v r E.STE PEKKII. CON.SEKVAIHMt A U.Sf PODEHOSÍV AUAIH»; A i:o|irMC.V-
O que fizemos acima foi siniplcsineiue, ainda c|ue de iiiaiieira sueíma
çtd tSCHlTA- N a ílfSTÕRIA DE TODAS AS SCM^IEIUDES, A ESCHITA ATI A COSUí
e superficialíssinia. ífescrever iiiii astK*cfo da sinia.xc pronoinínal do porin-
1« rsSTMim.VTl > UE rSIDADE ÍHíUÍTICA E I.STEKCAMUIO CULTI IK.M, NA MEurUA EM
íiues brasileiro.
(jrn;.\K.VSTK a peioianíscia da mensaufaí a tilw Es do TE.MI'0 e promov e si a
A^ora. se dissermos que o cinpreUo de clv/vlu como coinplcmenio
riM.sAo KSPAÇO,
de\'c rtear restrito ãs situações infoniiais de eoiminicação, e giie o eniprc-iío
de oAi é o cr»rreto na comunicação iieutr.i/formaJ tanto escrita (jiianto falít-
d a, cniAo já nào eslareinos uus tiniitrindo a descrever o fuiieíonamento üj
Ütcniíi dn norma padrão envolve, porém, que,stões complexas quando
lini^ua 'tal com o ela é’. mas atuando cm nome de uni juízo de valor com o
o bietiv o pedari<)íiii-'u de controlar seu tiso por critérios dc adequação soci-ii aplicado íto uso da língua, uma vez que entram em jogo aspectos caros ã
Kste é o ciiíoqtte do t|iie cbaiiiamos ^nmiáüca prescrítiva ou normativa, ixindiç*Jo hiiniatia, como o direito ã identidade cultural e ã expressão iiidi-
perfil predoniinaiue do ensino da língua, avassaladoramente persistcnic lUual Porc.imo. o lugar da língua (ou norma) padrão não é o de substituca
em nossa tradição escolar, c. em muitos círculos sociais, o unico conceito dcqualquer variedade conhecida c empregada pelos cidadãos, mas o de uni
.gbera mais, uma competência adicional, necessária ou, pelo menos, útil a
de ji^raiiiadca.
A prescriçàt* liné^íf^^dea c tarefa inerente à atividade pedaíSó^ica, mas lunus e.tpvricncia.s culturais.
convem que se enfatize - não se resume ao ‘ensino de gramática’. O aleancí .N
’uni.i palavra final sobre o assunto desta seção, deixemos claro o
do ensin o da língua com finalidade normativa compreende ainda protuin seéuinto: qualquer gramática normativa é necessariamente também uma
cia , ortografia, vocabulário, lipos de texto, técnicas de leitura e de consiru gnmdtíca descritiva, pois só se pode prescrever uma forma da linguagem
ç ã o textual etc. Knfini. um conjunto de competências e instrumentos qu (prescrição) sc cia foi prcliminarmente identificada mediante uma descri-
podemos aüc|uirír por ncrésciniü a tudo o que Já se aprendeu espontânea ^'io. Arigor, unia gramácícn normativa não passa de uma descrição ün va-
m en te em toda espécie dc convívio S(x;ial. ritfdndc padrão da língua apresentada a seus usuários como um modelo de
A função desses acrésciriios' é habilitar os usuários da língua para par- luosupradialcíai e socíalmente prestigioso.
tíeipar de um universo de ben.s culturais mais amplo e complexo, iio qual mt
produz c circula uma grande massa de conteúdos e informações tanto por u (;ha.mAt k ;.\ e i . é .m c o
m eios escritos quanto, embora cni menor escala, por meios falados, tlsi»; Em5,1 e 5.2discorremos sobre a dupla articulação da linguagem. De acor-
ú o universo da mídia em geral e da maioria das obras impressas. Nesse Jocotn este conceito, o signo linguístico consi.ste na a.ssociução entre dois
universo, as pessoas monitoram o uso da língua em nome de uma espé­ planos. 0 plano da c.\pre.ssão, constituído pela camada sonora da lingua-
cie de modelo caracterizado pelo **apag:imento de marcas dialetais muito jetn.coplanodo conteúdo, correspondente aos significados. Estes, por sua
salientes”*’’; a língua padrão. vet, .eio con.sensualmente agrupados em duas orden.s, segundo a natureza
ila respectiva .série paradigmática-, significados gramaticais e significados
lexicais.
l>c«m hjnivandD Aieuiis NA.". In^
Para ilustrar a distinção, consideremos que quiséssemos descrever
lana cena e que, para tanto, nos fo.sse necessário combinar numa frase as
.SEXT<Ml\rlTI M>; l'NII>AI>E.S E (ATK(HM<I.\.S tiAlilaVI.Uli A /tH
u: TKKt;WK-\ PAKTE - CONCEITOS tLVSlCOS UA l)tUSCil|(;.\o <-,R.\MATIl--\l.

Estas categorias (classes de conceitos ou operações conceituais) or-


palavras l a g o a , p e ix e , in seto , c o m e r c cair. Muito provavelmente pensarí-
am os a lagoa com o um lugar e atribuiriamos ao peixe a ação dc comer e ao Hiiizam nossas experiências do mundo cm níveis diversos que vã» tiesde
in seto a dc cair. Diriamos algo como Os insetos caem na lagoa e os pcives ^,j.g,itinas dc situações ou eventos amplos (uma competição esportiva, uma
v ã o c o m e n d o ou O s pei.vcs cometn c a d a inseto qiie c a i na lagoa. M pala­ <c)lciiidadc dc formatura, um julgamento em um tribunal) até atos mais
vras foram postas numa dada ordem c certos elementos foram acrescenta­ simples como o de descascar uma fruta ou apertar uma campainha à porta
dos para produzir uma autêntica frase da liiigiia. As cinco palavras com que* jeiima residência. Tanto aqueles como estes se caracterizam como totall-
n om eam os os dados da cena expressam signilicados lexicais; por sua vez, jailcsconiportamcntals.
a ordem em que foram colocadas e os elementos que foram acrescentados Entre os seres humanos, nào há outra forma de inserir os objetos dc
para produzir uma frase bem construída são de natureza gramatical. >u:ispercepções nesse amplo arquivo mental que se chama ‘conhecimento’;
Suponham os agora que a cena nào é percebida no momento cm quu ()s dados do inundo’ ingressam nesse domínio sempre assimilados a es-
é enu n ciad a. Nesse caso, eia pode corresponder a um fato lembrado (Os «juvnias. classes, categorias conceptuais. Noções como evento, estado, ação,
p cL v es c o m i a m o s in s e to s q u e ca ia m na lagoa) ou a um fato antevisio pcln siihstânoin, qualidade; propriedades como mineral e vegetai, natural c cul-
e n u n cia d o r (O s pcLvcs c o m e r ã o o s insetos qite cafrem na lagoa). A dife­ iiirai. real c fictício, concreto e abstrato, passado e presente, singular e plu-
re n ç a e n tre c o m e m , c o m ia m e comerão, assim como entre caem, caiarn e nil. iJeral e específico, profundo e superficial, erudito e popular, sagrado
c a ír e m tam bém é gramaticai. c mundano, correto c errado são categorias, ou seja, modos dc organizar
P rovisoriam ente diremos que os signiíicados lexicais estão associados no(vs.isexperiências do inundo e de fazer delas assunto de nossos discursos.
ao s dados do m undo externo ã linguagem; naturalmente numerosos devido Uma frase simples como Uma p eq u en a a ra n h a está cx)nstntíndo a
à sua fun ção de ‘nom ear o mundo’, eles formam conjuntos extensos e po­ iciíi nesta roseira am arela reporta um fato unitário; seus compK>nentes são
te n c ia lm e n te ilimitados. Os significados gramaticais, por sua vez, formam percebidos ao mesmo tempo no seu entrosamento significativo: o animal,
paradigm as de um número limitado dc elementos e dizem rc.speilo à orga­ seutamanho, o c|ue faz, como faz e onde o faz. Cada frase que produzímos
n ização estrutural da língua. iraduz unia seleção e um recorte, e cada pessoa pode construir ou recons-
lituir, a partir dela, uma referência subjetiva, baseada em sua experiência
6 .5 .1 C ateg o rias lexicais c caicgoria.s gniinaticais particular de mundo, na qual cada coisa ganha uma cspécíe de ‘realidade
R eto m em o s um a ideia desenvolvida cm 1.3 e 1.4 para reafirmar que “os ti,^urativa': a espécie da aranha, o volume da roseira, o trançado da teia. A
e n u n ciad o s com que comunicamos nossas percepções, experiências e in- frase pode evocar, para cada indivíduo, uma experiência concreta subjetiva
tu iç õ e s não são um ‘espelho fiel’ delas, mas a forma pela qual estas ‘percep­ cúnica, mas do ponto de vista simbólico - que é o que faz dela um enuncia­
ç õ e s , e xp eriên cias e imuiçoes’ se transformam cm conteúdos que podem doda língua - a frase ostenta um sentido comum aos usuários da língua e
s e r o bjetiv ad o s e partilhados com o interlocutor”. Em resumo, nossos dis­ subjacente aos preenchimentos particulares ou subjetivos de referência.
c u rs o s não expressam ‘decalques’ do mundo real ou do mundo imagináriu. Este ‘sentido comum subjacente’ equivale, naturalmente, a um com-
m as sen tid o s organizados graças aos materiais c recursos simbólicos cons­ pie.xoconjunto de informações partilhadas por quem enuncia a frase e por
titu tiv o s de um a língua natural. Esta é uma tarefa levada a calK> graças ao (|ucma interpreta: a língua como forma coletiva de codificação do conhe­
papel desem penhado pela linguagem luimana na constituição e organiza­ cimento. Estas informações se distribuem por uma variada rede de tipos,
ç ã o do co n h ecim en to humano. entre os quais, conforme se viu no item precedente, destacaremos dois: in­
formações de tipo lexical, relativas aos seres, seus atributos e suas ações (o
C o n s t it u iu o irsivEuso di- n{>.s.sas ‘i'£ua:i\:òES, £.\EERjfixt:L\.s e iNTni;OE,s’ conhecimento compartilhado pelos interlocutores rclalivamente ao signo
SKJNIEICA, l*OKTANTO, CUNCHUÊ-LO E ASSIMIEA-EO ATU-WÊS DE Wl SlSTLMA SI.M- uraniui c aos signos pequ en o, ceia e construir quando aplicados a aranhas),
n ó u c f j ; U.MA <:O.MI‘LE.\A m\.M\ DE C\TE(j<)lU.\S (oU CLASSES DE CONCEITOS) 1’OR e informações de tipo gramatical, relativas à organização da frase como
MEIO DAS QUAIS - E G1íA(;aS AS QUAIS - A l’ERCE(\:.\0 E A 01'ER.ÜI, uma forma linguística dc comunicação.
OKO.VNIZjVNDO o s SENTIDOS TIUXL\DOS NA COÍIIINICAÇ.VO. Essa forma coletiva de codificação do conhecim ento permite a seus
usuários reconhecer na frase um conjunto de informações pertencentes
134 t e íu : f. ik .\ p a r t e - c o m t j t o s il\ s u :<»s da ors4:kh.-\4»
.sE.VTo rsiDAiiK.s K «;.\TV:r.nRiA-s i'.\ * íkam vtii :,\ I3 S

a d iv e rs a s e s p é c ie s de cate^orizações subjacentes aos atos verbais, a sa­ desempenham na con.striição da referencia (ver 10.2 - 10.7)
b e r : q u e s e tra ta de um a declaração, c não de uma pergunta ou dc uma ,,|vradii pclo sintagma nominal (ver 6.9.1.6.1 c todo o décimo capítulo).
o rd e m , q u e o a c o n te c im e n to se desenrola no momento em que o enun- iios.so e.xeniplo liá três determinantes: um a (artigo nulcfinid«>),
c ia d o r fala, e n ã o a n te s ou depois desse momento; que a roseira é um j|iKí« da aranha, no evento relatado, uma informação í ju c está sendo
o b je t o s itu a d o p ró x im o ao enuncíador, e não ao eventual interlocutor, jpa’.'ientada ao leitor; o (artigo definido), que caracteriza teia como um
e n t r e o u tr o s a s p e cto s . liiJoativado na mente do leitor graças ao seu conheeiiiiento do t|iic lazcni
D e s ta c a re m o s a seguir quatro dessas espécies, que denominaremos jsaranh:is;ee.sm (pronome demonstrativo), que localiza a roseira cni rcla-
(a ) c a te g o riz a çâ o lexical, (b) categorização determinativa, (c) catcgorízaçào ^'ioàpcs.voa que fala. O emprego dos determinantes e os respectivos papéis
c o m b in a tó r ia e (d ) categorização morfossintática. icmântico-tc.xíuais serão abordados em detalhes no décimo capítulo.

6 . 5 . 2 C a te g o riz a ç ã o lexical h.vl (.'alcéorí/acão c o m b in a tó r ia


B s ta é a fu n çã o das formas que simbolizam, nomeando-os, os dados sensí­ .Ucaieíoria.s conibinatórias podem ser sintáticas ou semânticas. Chamam-sc
v e is ou in te le c tu a is (objetos, entidades, propriedades, estados, processos, qniiticas a.sque se referem aos mecanismos formais de construção do enun­
s e n tim e n to s , idéias e tc.) do mundo real ou imaginário, tratados como ‘obje­ ciado(tradicionalmentc conhecidas como fu n ç õ e s sin táticas), e .semânticas
to s d e c o n h e c im e n to ' (ver 1.4). N'o exemplo reapresentado no item anterior ssquese referem às relações de sentido (também chamadasfu n ç õ e s sem á n -
h á s e is d essa s form as: aranhci, peifucna, teia, co n stru ir, roseira, amarela. ticügov temáticas). Sos enunciados Ana levou o s so brin h os p a r a pa.s,sear,
T ra ta -s e d e unidades do léxico da língua, cujos significados, tipicanienle biscbí^olcva uma cam ada d e crem e e outra d e c h o cola te e O p u gilista le-
a rro la d o s n o dicionário, se chamam, por isso mesmo, lexicais (por oposição coH ^1}K que o desacordou, os termos i-\na, Esse bolo e O pu gilista icm
a o s g ra m a tic a is, que, por pertencerem a estrutura ou organização formai da amesma função sintática (sujeito), mas diferentes funções semânticas: A n a
lín g u a, são d escrito s nas gramáticas). éumagente que tem o processo sob seu controle; E sse bolo é uma entidade
As unidades lexicais correspondem fundamentalmente a três amplas estáticareceptora da ação. e O pugilista é um paciente do processo.
c a te g o ria s: (a ) seres/entidades, (b) ações/processos, (c) propriedade.s/atribu- Também e.xpressam funções comhínatórias o p a r a em p a r a p a s s e a r
to s. E m n o sso exemplo, há três da categoria ‘a’ (a ra n h a , ceia e roseira), uma llinalidade) c o de cni d e creme e d e c h o co la te (matéria).
d a ca teg o ria ‘b ’ (con stru ir) e duas da categoria ‘c’ (p eq u en a e amarela). Voltando ao no.sso c.xemplo, reparamos que suas unidades se articu­
T ip ic a m e n te , as unidades da espécie ‘a’ ,se classificam como .substantivos, a.s lamna c.xprcssão dc iini evento ou fato. O enuncíador representa-o com o
d a e sp é c ie ‘b' com o verbos e as da espécie ‘c’ como adjetivos. umaatividade (eonsfnnr) situada eni um espaço (roseira) e na qual estão
envolvidas duas entidades: a a r a n h a e a teia. Ou seja, o evento é concebido
6 . 5 . 3 C ateg orização dcteniiiiiativa pebcnunciador como a articulação de quatro categorias: ‘ação’, expressa
C h a m a m o s categorização determinativa a um amplo espectro de noções (Kirtvn.smiír; 'agente’, conferida à aranha-, ‘paciente’, conferida à te ia ; e
e x p r e ss a s pelas palavras que ordinariamente precedem o substantivo nn 1u^r’.conferida à ro,seíra. Chamamos ‘agente’, ‘paciente’ e ‘lugar’ (expres­
c o n s tr u ç ã o dos enunciados: os (leíerm inaJites. As noções expressas pelos sooum0 em de m\sm) categorias combinatórias —ou funções - sem âiui-
d e te rm in a n te s formam conjuntos restritos de oposições c não se referem tís porque, no contexto do enunciado, esses papéis são reconhecidos cm
a en tid ad es estáveis no ‘mundo das coisas’, mas a informações apreendi­ tcbçào ao verbo consfruir. Por outro lado, u m a pequ eru i a r a n h a , a te ia
d as nã situação discursiva ou rio espaço do texto. Esta característica dos t nwí« roseira são, respectivamente, sujeito, complemento e adjunto do
d ete rm in an te s só nào é obsen ada nos numerais, que, embora ocorram na 'erboeon,srnar. Sujeito, complemento e adjunto são categorias - ou fun­
m e sm a posição dos determinantes, têm natureza lexical e significam quan­ ções-sintáticas. Trata-se, em ambos os tipos, de valores sintagmáticos - ou
tid ad es constantes e precisas. combinaiórios - que as unidades contraem no contexto da frase, na medida
Muitos desses determinantes apresentam forma variável para se adup- tmque cada uma se acha na presença da outra: ‘agente de’, ‘paciente de’,
a ir ao genero (masculino/feminino) e ao número (singular/plural) do nome lu^rde, ‘sujeito de’, ‘complemento de’, ‘adjunto de’. Vamos chamá-los,
que^com panham . A importância deles está, porém, nos papéis semântico- poris.so, de ‘categorias combinatórias’.
/ ,K .
SKXIO CAHTn.O: rNIIlADKS E CATEíJOKCXS l*A * íKANL\TU:a IX
TK1U-.MK.N l-AKTK - <:OM ;K lT<W ll.\ su :O S l>.\ r.R.\MATM-\L

pr;isu c oração são, portanto, conceitos de natureza diversa. hascatk»s


A ticscrição dctallincla dos meios í^ramaticais dc expressão das categorias
coio b iiiíitó rias será objeto dos capítulos nono, décimo e décimo segundo. ^.fiicrios distintos: a frase é um meio de ação comunicativa, Já a ora-
unidade reconhecida por sua constituição formal. Nada impede,
Í>.5.S ('atciiorizíivrio morfi>ssiiiuUica certos segmentos sejam ao mesmo tempo classificados como
Hlnquanto íi categorização lexical compreende todos os sígniãeados que re­ e frases. A estes segmentos damos o nome de pcriod<»s.
presentam entidades, propriedades e fatos do mundo percebido ou Imagínudo Um outro conceito útil ã nossa reflexão é o de proposição, corrente-
(conoeptualizaçno ou significação externa), as categorias morfossinuiticas cons­ definida como en u n ciado declaratxvo cu jo con teú d o p o d e s e r von-
tituem um sistem a de noções estruturais obrigatórias, inerentes ã organização <úkmih verdadeiro ou fa ls o . Expressões como a a r a n h a , ,sua teia c a
in tern a da língua. Estas se caracterizam, tanto quanto as noções constitutivas empregam-se tão só para designar certos objetos dc conhccimentf)
da oaiegorização dctemiinativa, pelo elenco restrito e fechado de elementos em iroícrcnte.s). Para explicitar um raciocínio articulando estes ‘objetos’, c nc-
op o sição , com o os pares masculino/fcminiiio (um / uma), ação habitual/açâo ocs.drio construir uma proposição, ou seja, uma unidade dc informação
progressiva (cf>nsrròí / esta construindo), presente/passado (estó consímindo ,|uepodemos Julgar verdadeira ou falsa; A a r a n h a tece s u a teia n a á rv o re.
/ esírt-cxi c o n s tr u in d o ). As categorias morfossintáticas são expressas por meio \proposição é sempre uma declaração cm que se associam uma expressão
de variações da forma das unidades lexicais e dos determinantes. Diversamente reícrcncial no papel de sujeito c um comentário no papel dc predicado.
tiíis categorias relacionais —que são valores definidos no interior da frase - as Lo,i|o,ordens c perguntas não são proposições.
categ o rias m orfossintáticas se organizam como escolhas que se excluem e que Empregaremos o termo matriz proposicional para identificar uni nível
realizam os no processamento do enunciado (relações paradigmáticas): mascu­ maisalwtrato de representação do conteúdo da proposição. A matriz proposi-
lino X fem inino, presente X passado, contínuo X pontual, singular X plural. íional reúne as noções essenciais à estrutura conceituai (referenciação pre-
E assim por diante. .íVs categorias morfossintáticas do português são: pessoa, (lic3çào)daoraçào, representadas por palavras da língua, mas é desprovida dc
g ê n e r o , n ú m e r o , m o d o , fcmpo e aspecto. A moríblogia dessas categorias .será lempo- Enunciados, ou orações, como A a ra n h a tece su a teia na á rv o re c A
d escrita no sétim o capítulo, que trata das classes dc palavras. tcmdojardim era fo fa baseiam-sc, respectivamente, nas seguintes matrizes
proposieionais: [aranha, teia, árvore, te c e r \e (terra, iardim . As for­
6 .Õ F R .V S E . o r - v ç A o e m a t k iz p r o i *o s k : io n a l massublinhadas denotam as noções que, sujeitas à temporaJidade, articulam-
\ 'im os n o q u arto capítulo que as unidades fundamentais que empregamos seàsrestantes para realizar uma declaração sob a forma de oração.
n a c o m u n ic a ç ã o interpessoal, eni situações concretas e únicas, por meiode Estes três conceitos se referem a três níveis operacionais da anãli-
p alav ras, ch am am -se frases. Perguntas, respostas, ordens, declaraçòe.s, u.\- si*; umabstrato e latente {m atriz p ro p o sicio n a l), um concreto e evidente
cJan iaçÔ es, prom essas, pedidos são atos comunicativos pniticados por meio (iwirtcíní/o oii./rn.sí.') e um intermediário {o ra ç ã o ). A matriz proposicional
d e fra se s. Tanto a pergunta Você a ceita outro p ed a ço d e bolo? quanto a res­ a*iínL' (IS icens le.vicals c as respectivas categorias relacionais sem ânticas
p o sta S im o u A c e ito são frases. Para termos uma frase, é suficiente, portan­ id. 6.5.-1), mas sem a noção de tempo; a oração acrescenta as funções sin-
to , q u e a unidade linguística empregada represente um ato comunicativo títicase as categorias morfossintáticas, com destaque para o tempo; a frase
ca p a z de exp rim ir uma intenção ou motivação interlocuciva. Dizemos, por éaunídadeda Instância interpessoal, ou ‘unidade do discurso’, caracteriza-
isso , q u e a frase é a unidade fundaiiieiital do discurso, isto é, dn atividade (bpor uma certa modalidade enuncíativa (ver 2.3), pela realização dc um
co m u n ic a tiv a que se realiza por meio da palavra. Jado atode fala’ (ver 4.3.3) e, no discurso falado, pela entoação.
O u tra coisa é a oração. Chamamos oração à u n id ad e gram atical cen­ Üma vez que só a oração possuí uma caracterização formal precisa
t r a d a e m u m v er b o fle x io n a d o em um d a d o tem p o e constituída, tipi­ letigència dc tempo expresso em um núcleo verbal que lhe serve de eixo),
c a m e n t e , d e d u a s partes: su jeito e predicado. Ordinariamente, a função énointerior dela que podemos, com clareza, distinguir as palavras segundo
‘s u je ito é exercida por um substantivo ou pronome substantivo, e a função asrespectivas clasvses, reconhecer em cada classe as respectivas subclasscs,
p red icad o é exercida por um verbo; J o ã o / E le (= sujeito) ‘Uiajbu (5= predi­ eidentificar como se articulam sintaticam ente entre si.
c a d o ). Uma oração 6 , portanto, uma construção identificada por sua forma:
c u m a u n i^ d e da gramática da Ungua. ' Cf.ownceito dc mokie du prcdicnçfio |ing. p r e d iv a tv jr(im e\ de DIK ( I W ? ; 77-07|. Ver ib.
hVTO|19‘M;3,V27|.
J3 H TKiicKiRA i‘.\KTE - a)srK lT < > s liA.sicus u.\ i »»-s <:hh;.Vi m ; r .\matui\i . sKXT«> i s n v \ i» r s r i * ' i í k a M '** » '

f>.7 !O U M A S MAUCADAS T. IOKM AS NÃO MARCADAS M .ls tiiA i‘K o v f. K K c . i ' K . s ( > s i' . \ K . \ o r K . \ i s m K M . x ç . V o u m v . w i » : Vs \ o n a v is iu i-
No item 5 .2 discutim os a relnçfio entre as expressões linguísticas e os res­ su.\ lUDA u m K l.K M K N T O .\«;UKS« : K N T . \ lH ) r S H í l S S .^ O . V.NC« ' N r » * t t M ' '
pectivos conteúdos. Ali deixamos claro que esta relação pode ser arbitrá- xsiTH iM m iH » T t :.\ T n in h ic ;a i m )R í :.s k o u m .u s d k c n x T K r n o s o n o ro N n x n *
ria, cstritnm en te convencional, ou motivada de alj^unia maneira. As formas TIIHNA m K V IS ÍV K lS . Í L mA KOR.M A S A o f. .M A K C A D A l l t U S l . M A S s r M I ’in I.M K t l A(.:A<*
opacas baseiam -se cin uma relação arbitrária e exclusiva entre a estrutura A tA t« :.\D A fc N K C K S S A J t lA M K S T K M A IS C O .M I T K X A l>t > q i K •' N A ‘ '
do sif^nifícante e o respectivo sij^nificado. Por sua vez, a evidência de moti- MAIHAHA M ) |•|.AS^ 1 )0 S K N T I I X ) . K A K S T A M A lO K CH » .\ ll'I.K X ll )A I >»: I S I - O H M \> M O -
vação da relação entre estes dois planos aponta para o reeonheeinienio de SW d .xn Ú vriCA COKUKSIH j NOKK VM\ MAIOK C O M r i.K X ID A U K r o K M A l. .
um sistem a.
Vamos nos deter agora cni um nsj>ecto relacionado ã motivação da
relação en tre expressão e signiticado: a noção de marca eomo conceitoam- íis liifK.uiCin.x i>A i:sri< i TrR.\ <;k a .m a t k ;.\i .
p lam cn tc operacional na análise das formas da linguagem. Apriniciraimpres.são de (|iieni obserx a uma frase ou um texto ó tpio as uin-
Dizemos que duas unidades da língua podem <.listinguir-sc pelo fatode iulcsfônicas - ou gráficas - vêni umas após outras como objetos colocados
um a delas apresentar uma particularidade que a outra não tcni. A t|uc apre­ bJniilacio niinia prateleira ou como livros arrumados niinia estante.
sen ta a particularidade ú a forma marcada, a outra é a forma não mareada. t.xsa linearidade c apenas aparente, porém; na verdade, os sinais loni-
A ssim , as formas \’crbais do passado e do futuro são marcadas - pois con­ cis-niigrálíeos - não se sucedem na emi.ssão vocal ou no espaço <la ft>lha
têm m orfem as próprios desses tempos - ao passo que as do presente, de.s- Je mnneira alcaiória. Ilá por trás dessa sucessão uma lógica distrihuti\’a
providas de desinências espeeííicas de tempo, são não marcadas. A forma ijucaènipa unidades menores (os morfemas) no interior de uniilades niaio-
fem inina de certos nomes —por exemplo autora, capanhola - é marcada, n-slis palavras), que agrupa palavras no interior do sintagmas, sintagm as
ao passo que as respectivas formas masculinas - autor e espttnhol - são não noinUTiorde oraç4H:s. A estruturação gramatical c, portaiito, uma eom po-
m arcad as. As frases declarativas são não marcadas, ao passo que as frases híerarquizada dessas unidades, graças à qual construím os e aprccii-
interrogativas e as imperativas são marcadas. E eni cada uma dessas mo­ (Irnios0 significado dos enunciados. Morfemas, palavras e orações são três
dalidades, as frases negativas são mareadas, ao passo que as positivas são úposoiijaJilercnça se baseia, esscncialm ente, na posição hierárquica (|iie
não m arcadas. A construção E sse problciua cu nào posso resolver, eni que (vupamn:i csmiuira gramatical; o morfema ocupa a base, a oração ocupa o
um a unidade pós-N’erbal —esse problem a - é trazida para o início da frase, c Ujpodfss;i hierar<.|uia. No esquema abaixo pode-se visualizá-la:
m arcad a, ao passo que Eu n ã o posso re.so/vcr esse prob/em« - coni ordem
sin ta tíca m e n te previsú el —é uma construção não mareada. Estas noites passam Icntamente
O c o n ce ito de iiiíirca não é de fácil aplicação em todos os domínios
iioites I passam le n t a m e iU e
da arqu itetu ra da língua, mas ó de extrema efic.ácia na explicação de uma
só rie de fatos. Em primeiro lugar, porque exi.stc uma persistente relação t I lent , a mente
e n tre a caracterização de uma unidade como niareada e a presença, nela.
d e um asp e cto formal au.sente na íbrnia não mareada, como o morfenta do Nü.si;ç.ioseguinte há outros detalhes relativos ao reconhecim ento des-
passad o (em português, não existe morfema de presente), o morfema dc
fem in in o (em português, não existe murfenia dc masculino), o morfema
de plural (em português, não existe morfema dc singular), a partícula de '■' AKSTIím RA (ÍRAMATICAI.: T IP O S . C L A S S E S K M N<;(')KS
n eg ação (em português, a frase afirmativa não c identificada por i|ua)quer palavra será detalhado no sétim o capítulo c ao longo de totla a
m arca esp ecífica). Ou seja: parte. Por ora. liasta-nos reconhecer, com o ficou dem onstrado no
anterior, que a gramática opera com unidades menores do tiiie a pala-
^^^'Osmorfema.s- e com unidades maiores que ela ate o lim ite da oração.
palavras, sintagmas e orações são quatro tipos de unidade.s for-
‘“'^poriadora.s dc significado.
srXTl» íl\imi.o; ». iw iiH.UL\ri«L\ Ni
NO THRi:F.tK.\ fAKTE - a » s c ^ iT u s hAMctxs n.v nh:«:RK;.Vo i ; r.vm.\tu : nl

Jailcsdo iiicsmo tipo (sintagmas), nuis pertencem a classes tMicreiUcs


Considerem os inicialnicnte a seguinte frase: O artóo pousou «uote- iiiii'
fiicn fc. Tem os aí uma oração formada por quatro palavras. Duas des.saspa. ./l-=sintiigniíi nominal, ptJUífoii = sintagma verbal); na palavra c h a v e i m ,
lavras - o c uüiâo - são indivisíveis eni unidades significativas menores; já t - f t í i c c são do mesmo tipo (morfemas), mas pertencem a classes ilife-
pou sou e suflücm cntc podem ser divididas: pous+o+u (cf. pousava, desceu) rcriitó (cimv- = mdical, -ciro = sufixo). Ao se com binarem na con stru ção
e su av + e+ m en íe (cf. su avidade^ calm am cn te). yVssim como tiina paLma jnccnia tltí tipo qualquer, duas classes contraem uma relação, ile sorte
pode ser dividida em morfemas, uma oração pode ser dividida em palavras. Jdas passa a ter uma função cm relação ã outra. No espaço da
Todavia, tam bém teríam os uma oração se disséssemos apenas Ele poujwai. oração, cada sintagma ocupa um lugar funcional: o u v iâ o / clv / o av iíío
ond e cie ocupa o lugar de o a^íâo e poitsou o de pousou «ucfoemeníc. i|tícrroiux* cs atícías é o sujeito, p o u so u su a v e m e n te / pou,sou é o pre-
Admitamos agora que a oração fosse O nuíõo que rroiwc os luletas pou- jiesdo. Sujeito e predicado são funções. Por sua vez, a estrutura de cada
sou siía^jcm cm e. Contando as palavras de cada exemplo, podemos concluir sintagma compreende um constituinte básico ou nuclear ( a v iã o / p tm so u ),
que um a oração pode conter um número variável delas: duas, quatro, oito oy cumconstituinte adjacente (o /c fu e tro u x e o s a tle ta s , ad jacentes ao m ieleo
m ais. O núm ero dc palavras presentes numa oração não serve, porém, como irciiwj, c suavcmeiife, adjacente ao núcleo p o u so u ). Nuclear e ad jacen te
c rité rio para n análise de sua estrutura, simplesmente porque não existe |;.idjumo) também são funções.
Umite para esse número. Voltemos então aos nossos exemplos, propondo
v ariantes para eles: O avído pousou, Ele pousou suavemente, O avião í/uc h.M.I P-Jüvr.is c siiitagnia.s
tro u xe o s atíeto s pousou. Temos agora dois novos tipos dc unidades, corres­ Palavrnsesintagmas preenchem os ou tros dois níveis da h iera rq u ia g ra m a -
pondentes às partes em que a oração poderá ser dividida. Uma dessas partes tic;)l dn língua. Trata-se dc unidades que nem sem p re podem os d e lim ita r
pode ser o a ü íão, o ctvião q u e trouxe os atletas ou simplesmente c/c; a outra comprecisão, porque pode haver ‘palavras d en tro de palavras' —c o m o iio
pode ser pousou suavemente ou simplesmente pousou. Podemos dÍ2er ago­ casodas palavras eompOvStas (beija-Jlor, c a r tã o -p o s ta l) —e sin ta g m a s d e n ­
ra que a oração não é formada diretamente pelas paIa\Tas, mas pela união trode sintagmas. Mesmo assim , são co n ce ito s o p era cio n a lm e n te ín d isp e n -
d esses dois tipos de unidades, conhecidos como sintagmas. sivets à du:^cri<;no gramatical. A principal d iferen ça form al e n tr e p alavras
Direm os, então, que entre o nível da palavra c o da oração existe o osíntngmas e&tá na estabilidade estru tu ral d aquelas p o r o p o siçã o à m o b ili-
nível do sintagma. Os tipos são identificados não apenas por suas carac­ ibde imema dos sintagmas: os elem entos form adores d e um a palavra n ã o
te rísticas formais, mas, sobretudo, pelo nível hierárquico que ocupam: o podiammudar de po.sição, não adm item se r sep arados pela in te rc a la ç ã o de
m orfem a ocupa a base, a oração ocupa o topo da hierarquia gramatical uma unidade autônoma, nem podem se r suprim idos p o r elip se. T ud o isso

Logo acim a do nível do morfema situa-sc o da palavra; logo abaixo do nível podeacontecer com as partes constitu tivas de uni sin tag m a. E ssa d is tin ç ã o
da oração situa>se o do sintagma. Os quatros niVeis vão explicitados no temsuas limitações: expressões cristalizad as co m o p ro vérb ios (Q u em j á f o i
esquem a abaixo: n-í nunca penie a m ajestade) tam bém não podem s e r d esm o n ta d a s, m a s
iuosãupaIavra.s. Em cese, porém , é nela que tem os de n os b asear. No item
69,1.6 trataremos das diferences esp écies de sin tagm as.
í ~ ~ Estas nuítes pa.ssam Icniamenie
E stas noites passam luntam entu
6.9.U Pnhivni, le.vema. pahn ra gniniutical e vociibulo
E scas noite.s paj:.Hani lemanieniu .liéaqui empregamos o termo ‘palavra' sem maior preocupação com o fato
E st 1 a s noit v s p.iss a 1 ni lent 11 nientc desetratar de uma designação tecnicam ente imprecisa. Qualquer pessoa Já
iniciada nas convenções da escrita contaria vinte palavras na primeira frase
Cada tipo subdivide-se em classes. As classes se distinguem pelo lu^ar deste parágrafo, usando como critério o espaço em branco que as separa.
relativo na construção da unidade pertencente a um dado tipo. O tipo é Leniualmcntc alguém poderia entender que, por se repetirem, o o d e devem
um con ceito hierárquico, a classe é um conceito combinatório. Assim, o strcontados apenas uma vez. Quem está com a razão? Eista dupla interpreta-
e a v iú o são unidades do mesmo tipo (palavras), mas pertencem a clas­ íâodoconceito de palavra é bastante para comprovar a imprecisão do termo;
ses diferentes (o = artigo, a v iã o - substantivo); ele e pousou também são porisso, precisamos de mais elementos para oferecer uma resposta.
.SE.XTO r-\ H TTU >: l-NiaNM-S K DA 4-.K.\kUT1t’_\ /-/.I

I ■ #.' T ¥ fc:n « .\ r\ R T € - r t W lim v 4 da íí€SH'MÇ\0 OR.\>»ATlC\l.


veis. Já no grupo dos Icxemas, todo verbo é variável, mas pode haver -
Nossa idoia com um do que seja palavra foi construída ao longo da alfa- umtanto raras - formas invariáveis entre os adjetivos (simp/e.s) e entre os
bctiza«,'ão c reforçada nas atividades ligadas à escrita. As convenções adota- substantivos (ídrax, p ires, b ô n u s).
d:is na represcntaçõo grdfica nem sem pre refletem as intuições dos falantes Quando a variação formal de um lexema é inexplicável por meio de
cm face da realidade oral, h a ja vista casos com o d e re p en te c dcpre»«a. rvgrasgerais, é natural que os dicionários registrem os vocábulos que con­
Tom em os, p o rtan to , m ais p reciso e ste co n ce ito ao mesmo tempo táo cretizam essa variação como sc fossem formas léxicas distintas. È assim
n ecessário e tâo fluido. O que ch am am o s de palavra é a m en or unidade que procedem em relação às formas do pronome pessoal - cii / mc* / m im /
s ig n ific a t iv a a u t ô n o m a c o n s t i t u i d a d e u m ou m a is m o r /em a s disposto» camigo, para a primeira pessoa do singular; elc/o, para n tcrecira pessoa
num a ordem CxStdvc/. O que n este caso se entende por autonomia cor­ Josingular;se/sí, para as formas reflexivas da terceira pessoa. Na análise
responde a um a de duas possibilidades: um a unidade signifícativa é uma que empreendemos, as formas eu , m e, m im e comigo são consideradas
pala\Ta se en tre ela e ou tra qu e a acom panha é possível intercalar uma diferentes vocábulos morfossintáticos para a primeira pessoa do singular
terceira unidade autôn om a (na frase E s t a c a s a é p eq u e n a existem qua­ (EU), c não Icxemas diferentes.
tro palavras porque podem os in serir unidades autônomas entre cada uma
delas e a seguinte: E s t a o u t r ít c a s a n o v a é m u ito p eq u e n a ), ou se pode íi.').l.ã Kstnitura das palavnis
mudar de p osição relativ am en te às outras da frase (Na frase Eles con/ic- Jásabemos que uma palavra - entendida como equivalente de vocábulo - ú
c ia m -sc há trê s palavras sim p lesm ente porque podemos também dizer uma unidade autônoma constituída de um ou de vários morfemns. Um de­
E le s s e c o n h e c ia m ) . lesser\'e necessariamente de base mórflen - ou raiz —da palavra e responde
Em pregarem os, no en tan to , os term os Icxem a (palavra lexical) c pa­ peloseu núcleo semântico. Os demais ocupam posição periférica. Algumas
lavra gram atical — que transcreverem os em letras maiusculas para evitar palavra.ssào constituídas dc um único morfema aparente, que lhes serve de
qualquer confusão en tre e stes co n ceito s e qualquer forma textual concreta base: mnr. cupim, fe lis , c a p u s. Comparadas a estas, m arin h o, c a p in s a l,
—para nos referirm os à palavra com o unidade de citação (ex. ‘o verbo DI­ infeliz e encapusar revelam morfemns periféricos: (m ar)in h o, ic a p in )s a l,
ZER’, ‘a preposição PO R’) e de registro no dicionário; por outro lado, usa­ ínf^/ls), en(capus)ar. ^\gora vamos acrescentar outra característica das

rem os o term o v o cáb u lo para designar as diferentes formas que um lexema palavras: os morfemns que a integram ocorrem numa ordem fixa c não po­
ou uma palavra gram atical assum e no texto em virtude de sua especificação demser separados para a intercalaçâo de uma nova palavra.
m orfossintática (ver 6 .5 .5 e 6 .9 .1 .5 .2 ). Desse modo, existem um lexema Os morfemas pertencem a duas ordens principais: morfema lexical
LER e uma palavra gram atical O (form as dicionarizadas] que no texto po­ e morfema gramatical. O morfema lexical serve sempre de base a um le-
dem assum ir várias form as (vocábulos}: ler, le r e i, lia , leia , lesse etc;o,u, lema; já o morfema gramatical pode ser base de um palavra gramatical
o s , a s . Com o se vê, o term o palavra tanto equivale a lexema ou palavra (ex.cada, oiirn>, inin/iu, ela ) ou ocupar posição periférica (outro, m in h a,
gram atical quanto a vocábulo. ettcapuzarjelic itlade).
Os morfemas gramaticais podem ser de quatro tipos: (a) bases, (b)
6 .9 .1 .2 Pahivras variáveis e palsivnis invariáveis ali.xosou morfemas derivaclonaís, (c) vogais temáticas e (d) dcsinências uu
Os Icxem as e as p alavras g ram aticais apresentani-se nos textos sob for­ morfemas flexionais.
mas co n cre ta s a que d am o s o nom e de vocábulos. Estes podem ser inva­ São bases os morfemns gramaticais que funcionam como vocábulos,
riáveis ou variáveis. Diz>se invariável a palavra que se emprega no texto seguidas ou não dc vogal temática ou desinêncin. Preposições, conjunções
sem pre sob a m esm a form a (c x .: c a d a , d c , a lg u é m ) c variável quando epronomes como eu, tu, o, a , m eu , c a d a funcionam por si sós como vocá­
pode ap resen tar m a is de um a forma textu al de acordo com a respectiva bulosgramaticais; por outro lado, formas como ‘o«’, *a/gwcm’, 'este', 'esta',
esp ecificação m o rfo s s in tá tic a : o /a f o s l a s , a lg u m k ilg u m a / alguns/algu- minhu', outrci são constituídas de uma base (em itálico) seguida de outro
m a s , le r / lc r e i / l i a / l e i a / l e s s e . Uma palavra invariável apresentará semprea morfema afíxado.
m esm a form a no d ic io n á rio e no texto . No dicionário eia é um lexema; no Osaáxos ou morfemas dcrivacionais juntam-se a bases léxicas (mnrfe-
texto, um v o cáb u lo . No grupo das palavras gram aticais, preposições, con­ maslexicais) para a criação de novos Icxemas. Dividem-se em:
ju n çõ e s e ad v érb io s s ã o sem pre invariáveis; artigos e pronomes suo vaiiã-
J-l* / t k i « : kik .s 1’a ktk - c o s c k it o s ií As k :<»s i >a <;h.\m .\tkl \i . sE.tTo iL \ r íT r u i; k (:.\t k (;u u i .\s m .\ N .>

p re fix o s - m orfem as derivacionais que se colocam antes do radical: tjuesliu.im no tempo ações, processos c atributos), adjetivos (palavras
itt/eliZy c n c c i p u s a r , t r a n s fo r m a r , siif>so/o; e ^jUürcprc.sentnm atributos, estados e qualidades dos objetos c entidades
s u fix o s — m orfem as derivacionais que se colocam depois do radical: niífiicidos pelos substantivos), p ron om es (palavras que se referem aos
m a rfn iio ,/ e / íc ííííiílc , trans/brm ciçào, 7nacies. sercssemdiscriminá-los no universo designado), numeroi.s (palavras tpie
Jenotani quantidades exatas), a d v é rb io s (palavras que expressam elr-
6 ,*> .1 .4 O n io rfcn ia ^nim atical c seus tipos cuiistáncias ou imensidades dc atributos c ações), arrfgo.s (palavras (|iie,
A e.xp ressão m orfossintática das categorias gramaticais de gênero, número, jniepostns nos substantivos, apenas informam sc as cntídadc.s/coiieeitos
p e s so a , tem p o , modo e aspecto pode ocorrer por adtçào dc elemento fôni­ i|uedes designam Já sào conhecidas ou não), con ectivos (palavras (|nc sc
c o , a u s ê n c ia dc elem ento fôníeo ou alternância de elemento fônico. No par interpõemn outras para exprimir relações dc sentido), in terjeições (pala­
m e s a / m e s a s , o plural (m esas) c indicado pela adição de -s (morfema adi­ vrasque sc empregam c.xclusivamente para exprimir atos comunicativos
tiv o ou se g m e n ta i) e o singular (ríiesa) por sua ausência (morfenia zero); no circimstnnciais).
parycLC /je s i, a diferença entre o presente (.fac) e o passado (/bjc) é indicada
p e la a lte rn â n c ia das vogais /a/ c /e/ (morfenia alternativo). ÍIl:i.s.scs dc palavms segundo o perfil iiiorfossíiitátiuo
Secundoeste critério, as diferentes palavras se enquadram cm classes am-
6 .*> .1 .S Calasses dc palavras e respectivas caraeíerislicas plasoup.iradignias morfosslntátlcos. O paradigma moribssintático é a soma
V o lte m o s à frase inicial, l'm a p eq u en a aran h a esuí con stm in do a teia ikumcerto subconjunto de categorias - dentre as categorias dc gênero, mi­
n e s t a r o s e i r a a m a r e l a , formada por onze palavras: wma pequena + ara­ mem.pessoa, tempo, modo e aspecto —e respectiva expressão mórfica, às
n h a + e s fá con.srniinf/o a + teia + em + esta + roseira + amcire/íi. Por quaisns cin.sses de palavras estão sujeitas. Há em português quatro grupo.s
v á ria s ra z õ e s, esta s palavras têm de ocorrer na frase nesta ordem. Por razão ouparadigmas morfossintáticos.
ló g ica , a r a n h a e t e ia não podem trocar de posição: a primeira 6 o agentec 0 primeiro grupo se caracteriza pelo conjunto das categorias de tem­
a seg u n d a , o p a cien te. Também por motivo lógico, roseira ó a única palavra po(mrjrrj (prescMiie) X moraca (passado)), aspecto {m orava (imperfeito)
q u e pode vir após o cm , representando o lugar. Seria muito estranho dizer Xmomi (perfeito)), modo (morava (indicativo) X m orasse (subjuncivo)),
U m a a r a n h a e s t á coiKsfnnnr/o a roseira am arela nesta teia, e mais estra­ número(moro (singular) X moram (plural)) e pessoa (moro (1“ pessoa) X
n h o ain d a d izer U m a teia e s tá con.sfnnMí/o a ro.scíra am arela nesta ara­ mmt (3’ pe.ssoa)). Este grupo reúne exclusivamente os verbos.
n h a . T udo isso é m uito estranho do ponto de vista lógico, mas, do pontodv 0.segundo grupo é caracterizado pelo conjunto das categorias de núme-
v ista da form a gram atical, nada impede a construção destas frases, porque fulgdío/gíifo.s, braneo /bran cos, o /os, algum /alguns, cu jo/cu jos, o qu al /
a q u e la s trê s palavras pertencem à mesma classe: substantivo. wqiiHÈs) c gênero (gafo/g a ta , bran co / bran ca, o / a , algum / algum a, cujo
’aiju,<iquat/a (fual, duzentos / dussentas). Este grupo reúne o substantivo,
U aU CL.\SSE de I'.\L.VVIt\ f. .\ SO.M.N »E TMÊS IlUU*KIKh.\DES: .\) TM Mn|X» |)K 0adjetivo, o artigo, o numeral c os pronomes indefinidos e relativos.
s m ; n i f k :.\ r . n) i *m tro s jrs T o ij e (:.\K.\CTKHí.sTit:.\s n»iu!.\is E t : ) i*osk ,lmi 0 terceiro grupo c caracterizado pelo conjunto das categorias de pes-
ESTI<rT fK .\ l. NO íNTEIUí)lt IM OIUÇ.Vu. ( ) .VSI^KCTO Ci in»KSI‘OSI)K .V MA xKj(eu/c/c. mcii /sen, este / aq u ele), gênero { e le / e la , meu / m in ha, este /
N.\Tl'RKZA L(rKa(:o-SKM.\NTI<:.\ <H* SEMIÓTIC.V (VEK Ô..S.2), H .\SI*Kt;Tu ‘U* Dl^ isfíi) enumero {ele/eles, m eu / m eus, este / estes). Este grupo compreende
H ESfEITO AO SEI* PERFIL .MOKKO.SSÍ.VT.ÍTICO (VKR 6.5.,S) E I) .VSPECTO ‘C .M ! «pronomes pessoais, demonstrativos e possessivos.
REFERE Af» SKl.' CONTK.XTO .SI.NT.Ui.M.ÁTICO (VKU 6.5.4). Os pronomes pessoais ocupam um lugar à parte no terceiro grupo de­
lidoà e.xistência de unidades morfossintáticas distintas para os papéis sin­
táticos do sujcito/prcdicativo (eu, ele, nós), do complemento adverbial (mc,
6 . 0 , l . S . l (Jia.sscs dc palavras segundo o modo de signíHear wíAe.no.s) e do complemento preposicional (mim).
T r a d ic io n a lm e n tc , de acordo com o critério lógico-seniântico (ou motli’*** Oquíirtogrupo é caracterizado pela invariabilidade morfológica de seus
íiicmbros c reúne a preposição, a conjunção, o advérbio e a interjeição.
s ig n if ic a r ) , distinguim os,subsíanfivo.s (palavras que designam, de
g e n é r ic a ou e s p e c íl^ a , seres, objetos, entidades, ideia.s), v erb o s {paU'ri>
J-/ 6 t f -r «:e i r .\ p a r t e r t w :r . m > 8 n .\ s u íis l u ovus^-.r ic Ko sKXTu *;.\i'iTn.o: v i;.\rKnuki.\s l u hhamatica N7

('> .*> .1 .5 .3 (.la s í^ o s d e p a la v r .is s e c u n d o o c o n t e x t o sin taüim ítieo ;\|óni tios sintagm as p re p o sicio n a is, sã o d eriv ad os o s sin ta g m a s n o iiii-
D o p o n t o d e v i s t a s in t a g m á t ic o , a s p a la v ra s são n o rn cs, txTÒos, adjetivos, jjjjctivais c adverbiais fo rm ad o s ta m b é m p o r tra n s p o siç ã o de o ra ç õ e s
a d lv y é r b io s , d e t e r m i n a n t e s ^ c o o r d e n a t u e s e su b o rfin ictn ícs. Estas classes sc
d i f e r e n c i a m p o r s u a s c a r a c t e r ís t ic a s c o m b in n tó ria s e pela posição que ocu-
p a m n a h i e r a r q u i a g r a m a t ic a l in te r n a da o ra çã o . O n om e é a base do sujeito, ^ij.l.íi.l Sintagma iioiiiiiial (SN)^'*
e o v e r l w a b a s e d o p r e d ic a d o { J o ã o /E le (n o m e) v ia jo u Iv erb oj). A mnioiia \oconstmlroSN, o en un ciad or se le c io n a as in fo m ia ç õ c s q u e são n eees.sárias
d o s n o m e s p o d e v ir p r e c e d id a d e o u tra s palavras, o s determ inantes, e se­ piritoniar aquilo de que fala s u ficie n te m e n te id entificáv el |x>r p arte d o iiiter-
g u i d a d e a d je t i v o s (a r/ u e fo o u tr a (d ete rm in a n te s) d r e o r e (nomciyW>níioí« livuior Sc coisa que o en u n ciad or q u er d a r a c o n h e c e r a seu leitor/ouvinte c
( a d je t i v o ) ) . O s a d v é r b io s s e r v e m p a ra a co m p a n h a r verbos (Joâo/E le |nome| jniLvao objeto que m arca h oras, esta c o is a pod e s e r designada co m o tx7í>gio.
v ia j o u ( v e r b o ) o n t e m (a d v é r b io )), a d jetiv o s (Jo d o esfd im iiío (advcrbio)/dú i uma pergunta com o Pixle m e d iz er a s h o ra s? , o in terp elad o res|x>ndcssc
( a d je t i v o ) ) , o u o u t r o a d v é rb io (J o ã o a c o r d a m uito (advérbio) ced o (advér­ etí Mrto uso refógío., e sta ria id e n tifican d o o o b je to ap en as em sua
b i o ) ) . G o o r d e n a n t e s lig a m p a la v ra s ou c o n stru çõ e s da m esm a função {Joào íjiswiiciaconctíitiuil. aquilo que e le tem d e co m u m ít ttxlo.s os relógios, reais
( s u je i t o ) c P a u l o ( s u je i t o ) v i a j a r a m ) . Sulx>rdinantes dão orijjem a sintajirn,Ts c pa^iVeís. Neste caso. o co n teú d o lé x ic o d a palavra é su ficie n te para a oo-
d e r i v a d o s , h a b il i t a n d o - o s a n o v a s fu n çõ es (d o ce (base) d e Icita [modilic.i- fliunicação. Se. entretanto, o en u n cia d o r m e n ta liz a ssc um a re fcrô n ciíi m en o s
d o r ) ; C fu c r o ( b a s e ) a u e v o c ê v o lt e (c o m p lem en to )) (cf. d écim o capítulo). íeralcaquisesse com unicar ao-in terlocu tor, seg u ram en te teria de fazer c e rta s
tíOíilhas para delimitar m elh or o a lc a n c e d e su a re ferên cia :
(>.*>. l.f> 1 'o m ia ç ã o c cla ss ifica çã o dos sintatimas a) qualquer relófíio,
T e m o s v i s t o q u e o s c o n s t itu in te s da o ra ç ã o sã o o s sin tagm as. iVssim como b| meu re/ógro,
a s p a l a v r a s s e d is t r ib u e m e m c la s s e s segundo a p o siçã o que ocupam no in­ c) este rc7í)gío.
t e r i o r d o s s i n t a g m a s , a s s im ta m lié m o s sin ta g m a s sc d istrib u em em classes d) 0 outro re/fJgio,
s e g u n d o a p o s i ç ã o q u e o c u p a m d ire ta m e n te n a o ra ç ã o ou em outros sintag­ c) um rt7óg/o de p arede,
m a s m a is a m p lo s . I) u relógio da parede,
D is t i n g u i r e m o s c i n c o c la s s e s d e sin tagm as: o sin tag m a nominal (SN), $) aquele relógio h erd ad o d e m eu^avô,
o s i n t a g m a v e r b a l ( S V ) . o sin ta g m a ad jetiv al (S A d j.), o sintagm a adver­ h) -.ilguni relógio q u e m e d e sp e rte à s 7 h o ra s.
b i a l ( S A d v . ) e o s in ta g m a p re p o sicio n a l (S P re p .). E sta é um a classificação
a o m e s m o t e m p o n ió r fic a , b a sea d a n a c la sse d e palavra q u e tipicamente Tanto a unidade form ada d e u m a só p alav ra — relógio > q u a n to a s
p r e e n c h e o s in ta g m a o c u p a n d o seu n ú c le o , e fu n c io n a l, por dizer rcspciiu ivnstruçôes relacionadas d c ‘a’ a ‘h ’ sã o sin ta g m a s n o m in a is . O p rim e ir o
à p o s i ç ã o d o s in ta g m a n a e stru tu ra da o ra çã o . rc&univ-se u .seu núcleo, todos o s d e m a is re su lta m da e x p a n s ã o d e sse n ú -
O s s i n t a g m a s p o d em s e r b á sic o s ou d erivad o s. C h a m am -se básicos«« dcü. que. .sendo um nom e (s u b s ta n tiv o ), p ro je ta su a c la s s e p a ra a c la s s e du
s i n t a g m a s f o r m a d o s p o r u m a c la s s e d e palavra a p ta a co n stitu ir por si.sóo consirução: sintagma n om in al. M as e m c a d a u m d e le s o c o n c e it o g e n é r ic o
r e s p e c t i v o s in ta g m a . S ã o b á s ic o s , p o rta n to , o SN fo rm ad o de substantivo ou MújJjV) participa de uma re fe r e n c ia ç ã o d is tin ta , d e s o r te q u e a 'c o is a d esig-
p r o n o m e s u b s t a n t i v o , o SA d j. fo rm ad o por a d je ti \ '0 e o SAdv. formado pot aaila' passe a ser um o b je to d e c o n h e c im e n to p a ssív el d e id e n tific a ç ã o p elo
a d v é r b i o . C h a m a m - s e d e riv a d o s o s sin ta g m a s c ria d o s p o r m eio de transpo­ interlocutor.
s iç ã o (v e r 1 4 .7 ). Construir uma re fe rê n c ia - s e ja a m p la e g e n é ric a (r e ló g io ), s e ja r e s tr i­
O s s in ta g m a s p r e p o s ic io n a is sã o se m p re sin ta g m a s derivados, visto ta c específica (o relógio h er d a d o d e m eu a tr ô ) - é , p o rta n to , a fu n ç ã o c u -
q u e n ã o p o d e m s e r fo rm a d o s s o m e n te pela p re p o siçã o , em b ora devam a municjitiva do SN. As v ezes e s ta r e fe r ê n c ia é re a liz a d a c o m o m á x im o grau
e l a a r e s p e c t i v a c la s s e . E le s se fo rm a m re g u la rm e n te na lín gu a, e estão ap­ «leprecisão por uma ú n ica p alav ra c a p a z d e c o n s t itu ir p o r si s ó um SN e
t o s a o c u p a r p o s iç õ e s v a ria d a s n a c o n s tr u ç ã o d o s e n u n c ia d o s - e.xcetoo-’‘
n u c l e a r e s d e s u je ito e p r e d ic a d o —, e s p c c ia lm e n le n as m e sm a s funções HF.KN.V.N7.Maria Lluisiiv URUCART, Josc Mana. “Kl Sinuiftma Nominal". In: IIKKN;\N/. c imiJCAKT
s i n t a g m a s a d je tiv a is e d o s sin ta g m a s a d v erb ia is. 11'a; UltKR.VTO. Vara Govdart. “A Ksmnura Inicmn do SN cm PoriuÉucs". lii: DKCAT ct
HKITO. Ana Maria “O Simagma Nominal". In: .MATKUS ct alll i2tNt3. A28-A7(»|.
NN T M U t m \ r .M U I - l:^^N^■.HTOS HASUtOS HA liU.N M ATliLM . N O
SK.XTM i:.\l'ITI l.n : I sin.uiKS I, (:,\n,i:oH r\s 11.1 illI.V M .U iei

iloiiotiir imi rcIcrciUL' iniliviiliuil, concreto c tlcliniilo: o suItMnnlivu próprj,, iiniitavàt' consiste em fazer do seu núcleo o ponto de referência de nma
(l.Vicjíuríiin (ic Porrtijíof).
^„nipirai;ào. na (|iial o adjetivo vem precedido dos inteiisitieadores lã o ,
Os exem plos oprescntiulos na lista acima são típicos de eonníura. iiiiiis mi meiio.s (,Jiiào e s ta v a iiiiiis / m e n o s íran m ii/n ( d o ) (/ue sett irm ão;
voes tio SN cu jo núcleo é preencliirlo pela siibclassc tlc nomes eoahecidui juiiic.itiieu tão tram iiii/o qiiam o sett irm ã o ).
eonio substantivos conuins. Kxisteni outras subclasses de nomes, cuj,n
d ileren ças acarretam diferentes eonliiíurações do SN, como se ver.i nri (Çl.l.ti.J Simaiima adverbial (!S.\dv.)
d écim o capítulo, 0 siiiuínia adverbial tem por núcleo um advérbio. Sua construção se as­
semelha em vários aspectos .à do SAdj. Por ora nos referiremos .-ipenas atis
l .h .2 Siiilatiiiia serbal (S\ ) S.\Jvs i|ue funeionam como recurso de e.xpansão de um SV: .lo ã o v i a i o a
O sinta,ijnia verbal é a btuse da estrutura oraeional. Sem ele não lei omçãíi. Micm/.liMU) ueordou e e d o ! .loiio t r a b a lh a v a a q u i / J o ã o en tro u tr a itfiu i-
e as variações de molde estrutural da oração (cf. abaixo), que detalharem<s loíiie‘n(c 1111 iilreja). Certos adverbio.s são passíveis de intensificação (,/não
no nono capítulo, são det idas às diferentes sulxilasses do núcleo fomi.il èi iiiipriliiii HiHÍfii e e d o / .lo ão acordava iiini.s eedo que seu ím iíio ).
S\': o verbo, .\ssim como o SN pode ser formado apenas por ,seu núclm.
tam bém o SV pode .ser constituído t.ào somente pela forma verbal: ./«õ«tw. li.q.l.fi .S Siiilaéiiia p re| )osieioiial ( S P r e p .)
J o u . As expansões do SV também dependem da natureza sintátieo-semin- Osintiiíina preposicional é desprovido de um núcleo, já que a unidade
tica do verbo que lhe serve de núcleo. Verbos como viajar, vemlcr.eumri’ que II earacteriza - a preposição - jam ais ocorre isolada. O SPrep. é uma
d v ix a r têm características sintãtieo-scinânticas bem diversas, rcspüiis.ivcis eonsmiçío extremamente versátil do ponto de vista sin tático (pode o cu ­
por diferentes moldes estnitiirais para as orações que integram, CQmo.tc par ;is posições tanto do SAdj. tpianto do SAdv.: Jo ã o t r a b a l h a v a d e n ia -
pode com provar a seguir: tilurífu/o; Este vinho é d o C h ile / c h ile n o ) c do ponto de vista senuintico,
a) .loão-eiqfoií por conta das diferenças entre as preposições e da polissem ia de c erta s
h) Jo ão e-etií/e» seu carro pttpiisiçõe.s (\í)/fei d e P etró p olis / Voltei d e ô n ib u s / Vbítcí d e m a n h ã ) . A
c) João L‘ntav(( em casa iomiiição padrão do Sl’rep, consiste na com binação entre uma preposição
d) .loão estucu tranquilo eum.SN. E.xeepeiomilmente com bina-se a preposição de com um a d je ti­
e) Joãocstcieíi viajando vo, para a expressão de uma causa (C a iu d e p o d r e , D orm iu d e c a n s a d o
f) .loàü í/eí.votí a cidade [cí Diiniiíu ile eon saçn |).
Ji) .loão f/eí,Yotí os documentos no carro
h) j 4)ão d eix ou o cachorro fuf>ir (i'l.2 Subordinação e c o o r d e n a ç ã o
i) .loão f/eí.vou dinheiro para as compras Opriiioipit) fundamental da estruturação sintática é a com binação dtis uni­
dades livres - palavras, sintagmas e orações. A coordenação con siste em
1 .b „ J SiiitaUma adjetivo (S.\dj.) oinibinar duas ou mais unidades livres sintaticam ente equivalentes ( J o ã o
O sintagma adjetivo tem por núcleo um adjetivo: J o ã o e.stucu tnim/uilai eftiiifíi. (jiier o ca fé e o m a ç ú c a r ou com ad o çan tep . Com prou a roupa
Seiifi ,filhux ,s-ão crfíiiiçtis trmitfiiilas. Percebe-se por estes e.vemplos qw miumlijii ii.siiii). A subordinação consiste em com binar duas unidades li­
o SAdj. pode ser constituinte de um S\' (e.s-fawi traiK/itilo) ou de uni fiS vres, ^eralmente de classes diferentes, dc modo que uma delas sirva de base
(fri«)iça,s tranqui7o.s). O S,\dj. pode .ser expandido por meio de consii- á toastruçào e a outra seja sua expansão (Areia brattea. Com prei Ih ita s ).
tuintes anextidos a sen núeleo. O tipo de expan.sãu depende da niiurcri
Nestes e.vemplos, respeotivamente um SN e um SV, a classe da construção
léxico-siiuátiea do núcleo do SAdj. Por exemplo, certos adjetivos adniittni
íJeliiiiáa pela parte sublinhada (are ia Inom e], com prei [verbo)), que lhe
f*radação, de sorte que a expansão do SAdj. pode se realiz.ar pelo acré.scinw
sencúe base, enquanto a parte em itálico, dc classe diferente da base, scrv-c
de intensificadores: ,/oão eatava m uito / lutiKtíute iratv iu iio. Ilá adjetivos
para e.\paadir o sinttigma. Este lem a será desenvolvido no .segmento que
porém , que reeeliem eompleinentação: .Ajõo es ta v a eo>i/i<»ife titi ciíóríii
'ai do iiiiavü ao décimo quarto capítulo.
d e s e u tim e, Um se^juiido tipo de e.xpansão do S;\dj, por meio de eonipie
T E K i ;E1R.\ PA KT E - C ( INCKIT í IS ILL s UXVS 1»A SKXTl»r_\rlTll.n; rNlUADk.s K«aTMíoKIAS li\ ii UAMAUV-A 15 í

6 . 9 . Fu nções sinUíticus substantivo, um adjetivo ou um advérbio, temos regência nominal. O


Palavras e sintagmas são as únicas espécies tic unidades aptas a dosempt. I i^ntpltntcnto do verbo se chama objeto direto, objeto indireto ou coin-
jilcnioiKo relativo. O complemento dos demais termos se chama com-
nh ar uma função sintãtica. Para tanto, é necessário que estejam comidas
numa construção maior a cuja base se anexam. Se esta construção 6 uma pIcnKHto nominal. O ponto de vista normativo na abordagem granialioal
oração, sua base é o SV, que funciona como predicw lo {Este relótib per­ Jftlicaespecial atenção ã seleção da preposição que estalieleee o elo entre
te n c e u (IO m eu a v ô ), e o SN anexo a esta base funciona como sujdtolKite oumio Ae o termo B: ser p assív el d e p u n ição , ter in teresse em /fm r <in-
rcfó gto pertenceu cio m eu a v ô). Sc a construção é um SV, sua ba.<icéo tiüiiu/(i(/c.s. ineumbir al/iuém d e um a tarefa.
verbo e os sintagmas anexos a esta base podem scr cotnp/cmenro.s (obje­ •Mgumas dessas preposições são previsíveis graças ã relaçã<» de sentido
to direto, objeto indireto, predicativo) ou adjuntos (adjunto adverbial dt (juec.xplicitam, mas o mais comum é que elas ocorram associadas a<» verbo,
modo, de tempo, de lugar etc.). Se a construçãoc um SN,sua hascpock-set aoadjetivo ou ao substantivo {consistir em, índcpetideníc d e, p referem
um substantivo comum a que sc pode anexar um «djunfo (adjunto adno- cíd|K>r). aos quais se agregaram como uma espécie de apêndice. Por isso,
m inai) ou um comp/emento (complemento nominal). As funções sintáticas noss-is gramáticas normativas optam por listar esses verbos, atljotivos e
são, portanto, posições estruturais preenchidas por palavras c sintagmas na aibswmivos seguidos das respectivas preposições. Este procodíniciuo tem
hierarquia interna da oração (ver 6 .8 ) . Com exceção do sujeito, todas as yirias limitações, já que nenhuma listagem poderá ser e.xaustiva, mesmo
funções sintáticas constituem expansões de um núcleo, tal como foi descri­ porquenào compete ã gramática prover informações idiossincráticas sobro
to no item anterior ao tratarmos do conceito dc subordinação. oasoda língua. Ksia tarefa compete aos dicionários.

6 . 1 0 COLOCAÇ-.U). KK(;ÊNCIA K CONCORDÂNCIA


No item 6 .9 .2 defini subordinação como o processo que “consiste cm
com binar duas unidades livres, gcralmcnte de classes diferentes, de modo
que uma delas sir\'a de base à construção c a outra seja sua c.xpansão ,A
unidade que ‘expande’ a base da construção c uma unidade subordinada.
A condição de unidade subordinada expHcita-se de três maneiras: pela
posição, pela variação morfossintática c pelo uso dc concciivos. Diz-se
que a base da construção rege a unidade que a expande. Segundo esta
acep ção ampla dc regência, o substantivo rege seus deicrminaiues bem
com o os adjetivos que se referem a ele, impondo-lhes seus ir:iço.s dc gC-
nero e número (concordância nominal); o verbo, quando transitivo, rege
seus complementos, impondo-lhes um certo posicionamento (.1 tnetimw
leu a c a r t a , c não M memn« a ca rta leu) ou uma dada forma, como a
da alternância clu/a em A m en in a |= cia] leu a carta / O rtienino òcijoij
u rrienimi |= u). I^or sua vez, a preposição rege sintagmas nominais.que.
representados por pronomes pessoais, assumem formas propícias aessj
posição: e u ;^a.s.seí por clu, mas ela po.s.sou p or mim. Segundo n formu­
lação que acabamos do apresentar, um termo A rege um termo B sempre
que a presença de B no contexto da oração depende da presença de .V.
em muitos casos, a própria forma dc B é determinada por sua relação
com A. Em sentido estrito, ocorre regência quando A requer a ane.xação
dc B. de .sorte que B exerce o papel sintático de complemento de A. Se.\
ó um verbo, temos regência verbal, c o verbo se chama transiii\o; sc Ac
parte
lO RFO l LO G IA F L E X IO X A L
1E SIN E V X E i

N
^ .....
a)

b) ....-
o)

„ s : ' ; x t : : " ; - • *■ * ■ " ‘“~'"-

r r :'i :s “ °p^"“ ‘-o - ” • '-t " "


primitívos ou derivados, sim ples ou co m p osto s.

7.1.1.1 Subsmntivos ^ X t s e a dois m od os de re p re s e n ta r


A distinção entre co n creto e ab str „ ..n in n d o s ou in a n im a d o s,
os conceitos denotados pelos sub stantivos, s ere ^ m „ n d o ’ c o m o s e re s
reais ou criados pela im aginação, m as qu e e stã o n o c o n c re to s
reconhecíveis pelos sen tid os, são nom eados por su b sta n ttv o s '
(Ama, csrre/a, c r ia n ç a , c a p im , m ã o . prédio, fa d a , f a n ta s m a , [ob‘S o m u n .
saci-percréy, noções que denotam propriedad es a b s tr a í as os s e r
eretos, e não estão sujeitas às distinções anim ado X in a n im a o , rea - ima
nário, são nomeadas por substantivos abstra to s {a sp e re za , ju s tiç a , te n u i ,
àdio, perdão, alegria, le v eza , p eso, e sc u rid ã o , te m p e r a tu r a , m is té n o , e v i­
dência, co rren a , queda, d ecepção, v itó r ia ). E stá c la ro , p o rta n to , (lue esta
distinção é de natureza sem â n tica , pois se re fere à c o n ce p tu a liz a ça o do
'Hundo. Os substantivos a s p e r e za , ju s tiç a , p e rd ã o e v itó r ia , por ex e m p lo ,
não se referem a entidades que existam em si m esm as e por si m esm a s, m as
a noções a b stra íd a s - por isso n om es a b s tra to s - co m o p rop ried ad es ou
atos dos seres: de algo qu e é ásp ero, de alguém que é Ju sto , de alguém q u e
I5f» o » 'u t i \ |-\Klt I MM\\| . A H l'Al A V U \ H ( \ MHM. V,» » V V>

poriU^íi. iW iiljiiiôm tuic voncc. IV>r esta ra/.:1o. os siilisuiiulvos ubstratns vi,, ..iiwilcniclos'■■III L-imJiinto. c sc cliiuiiiiiii p iiriiliv .is iis siilv ítm iliv o s
larjianioivtc cioprciijulos ipiaiulo *> oiuinciailor iptcr sliuctUar um ci>muuiI„ iispiirics '.ni 'Hiu' ."U iliviilc :i m;u.;Tin <>ii m n
oxprcssi> por lucio ilc oina priíj-MisivAo. í\»r exemplo: o imicíc» da |v/(i d,, W miIisiiiuiívs c"lotlvi)S niiriiiiilm cm c 'I i. sí)>míii' i m ii e o iijiin to ilo s .-t i -,'.
.4í<ifo por o ; k’Ií » í /ií ^«iío e iMncío. o NiiiMÍv<»4/<iNjoi(fs poros foãis siiiíiíni»» i.iiiiio c iir ( / i( iiii' ( i l c ix ;i x c .s ) . m iiniitlii ( i l e 1'oi.s o i i I t iiliiln s 1.

SoiiiiniU> estes exem plos, u ci>nstmvào t\»rmaila pelo siibsraiitívo al»Mraiu rjiullui'- Iliircx), m olho ( d c c liiiv c .'') . '.ii.v iiiiic - ( i l c a h c l l i i i s ) , t- (J iis r '7 (n ,'iii)
ottmiu/. neeessarlam eiu e liií*»rmavãt> expressa na )’>roi'Misi^*ilti. w/ ;Jíi>iix.'Lisl, " il'.','* '" Idi-’ s o lo s , ilc i n i n i i i t t i r .i s L-te ), h ih lin iccn (ili.- l i v r o s ) , t )s
vpie a pressupõe (ver «ilsi.iniiuis ivirtiiivos |k h Io iii i l c i i o d i r m v r iic liis c x i i l i i s ( i i i i - f m , i/ n i7 o , lò n i.
K wH^ntmu a aliera^ no sem àm io a lU» sobsiautivo abstrato pam Jvsiiiiru l..Ví.ul.i, iili| ii'i'v. l i i v M i v ) <m iii'.-x iit:is ( ; m o v <<». i> n M / i< « / o .y ó "o . Inic, ;)i--
tu n a eniUUu-le e tm c r e ia . K o easo ».le se eb ain ar c‘«msmí\*ii<> uti eJi/ioipin !,ViU >eviii|'i'vilaiii seiinivlus vln pru iT u siv ão< / e e n i n .s u b s t a n t i v o r e t e r e n t e ii
a o p iv tíã i» e n rrm b i ou siiá/ii aos lo^iares j>or «oule se entra «ni sal. mi Itsfn- ::iwsuiutcria (ex.; nx\s iiierms We /h/íju . í /uí.s qitih>ü i/c /c tjã n . um /t f»*>rç<Í4>
ü eiíi p a ra o e tm jim to i>r<.leii:w.li» t-le nom es inipress^»s. Tainl»ém c t>ovváclu .icLvc.ihns ix-íiavuK </v /Ki*>. tícz h»U‘Md c rerreno. um a/ utiii »/e íp/epo).
e in p re iio ü o su b sta n tiv o eon oreto para ilesii^nar tuna eiuUlatic absiraiji. Ku IW JcMilnareni etàsas eapa/.es vle ‘evmtcr outras, nuiitos outros .siib.s-
easi» vle r‘t»n>4i para vleiu»tar i> |Hnlcr iU> rei oii 1.I0 Ínti>e^railor. ita tic /uc p.ir.i urini^eu» empteiiiulos exaiatncm c 4»s partiiivus. cum a hiialícbule vle
sitittlh ea r eseltnxxnrueuro. Trata-se ilc nntnav«'»es tio sentMo rect»lKTta> te- L-xliv.ir nunliila tex nnui ; hí vle terra, u iu a jíim i ile vinho, unia hntt^uula vie
lo s pn»eess»»s iueti.n\iinlex»s e meiíU’ori».*eis (ver IS .IO ). .^ipiiuimpilnH' vle lariiura. iluas.vícíuns tlc leite, um ;><ic*n/e vle biscoitos).

7 . 1 . 1 . ' Sol^statttixo?» v.'iMiuMis e pn»prit»s Siib>t;iiilio»s primiiiví» c tlcrivailt^s


( ts serx's a ^pie la/.eint's reíerèneia lU' ,.Useiirs»» |HKleni ser euieiululi»s o>int' ^Timum-ve iiriinilbus os .su/»sfaí)fie<f.s q u e mlu /míx.'êm </e o u rm s pci-
e la s s e s i\e tib\el>»s —ymi.s. esfrv/o. /»i/oio. e/iiÍK*. rvrneiíío t»t> ciatu» aiciu- «triMiv i>ni.vu, fKiIru. txWrfiii. me.sii./ííiíu. U tnm jit, chtifK 'u, ^ tic r n t).
br»xs i'tiile«>s em suas elasses - /'orrui^o/. \eim s. .VvrfOfi iSiaiiia. /■fiifiiratfti. [’i'í>iu uv. os ,|uc |m»vOm vle tniiras palavras se cham am ileriviuius. O s
.\fe//iorxi/ i Üiatnant-se etxmuiis i»s soh.siautlxxis i|oe. eoino dciioliiiu ns vaSumaos âerivavlos j-Kalem sc tormar a partir tlc oulrv»s substanti\ v>s
sv'res na e^^nilisNl*» ^le meiitbn»s ile elasses »»u es|K'cics; e eliainam-sc iwv v\ linoíinii. ív</»víru. ;xt/mo</<i. ínes(irio,7Í»i*ur\ãi. liiru n id i, c/uif>cluit.
p riits t»s so listaiiiix os »|oe. e^'iuo PoiTifj^^a/. ser\‘eiu para Lsmlerir lilciltUI:n.li.* :uv;;iKmí. üia nvin»), vle juljetivivs (ex.: /iir^tjiirci jvle /<irOo], iiieí^uicv Ivlc
exeliisix';i a tnn utem bn» vle mit:i elasse 1*0 es|X.vie. l^iii sobsianlivi> oiuio -;viO>l.oA'/'n,íu,íe [vle vvM»re) ). ou vle vcrbi>s {e lc iç u o [vle e/eiierl. </e^*u-
^Hiis e tona vlesii*oavâo etiintíin a varias cntivlavles: H ntsil. /*orfii^‘o/. |Je ,Kx*«)kvr|. ,.*iiS(iiaeiifo |vle etis<ir|. sa â k i |tle s u ir], cumiu/iu<ki
/»!. ludvvU» l\>r Mia ve/ /V»mie»W x* a ^lesiiinavAo ;»n»pri<i e exclusiva ilc inn [i^oirruMÍuirj, emiviío [vle enrrviftirj).
uuioe* p a is. W rm s e a vU*sitina,,'jlo jm jp 'ao e exelosíva vle uma liníea estrela,
e .Í/v7/ioni/ e a vlesiiioas’-**'» pn»pttu e exeUislva ilc um únks» analiS^siov I I.() >ubst;mtivu«>. s im p le s c evm i)v>st«ks
'hMtl'M.imivos ilotavios tlc um .sõ ravlical se obam ain sim ples (ex.: bo/u.
7 . I . I .,t liUeix*ou\ersiu» vle u«»mv‘Npi*oprio'» e ev»muu'» •".Lx.su.vfn. vs4|a»ji. lios. bie/io). Tur sua vez. v>s substantivos vlucavltis vIe
.\s palax ras |XHlem miular s.le elawc ou ^.le salviaw c no âmbito via rv^siKviix.i uix lIc uin ratlieal sc chamam c4mi|>ostus (ex.: .hint-bu/u, b í(ln m u 4.s.<(|.
elassv' Kstw' pixw.vsiv e vsuibvvâvlo vsnno vlcnvavâo impmprla pvT i' .' I rHJ|S(-^'iipii}K •»usiH/iiro. bíebu-(fti-seiíu).
ixvssivel, |>'r exem plo, ijue um nv>me evaman tenha seu seutulo nuvliheub
|v:tra to m a r-se nom e propriv» (eí os nonios e st>biviumie.s Woíeai.(.'<vWio, Wvsi. . ! 1 \v.iivj;una Ummalieal vle i^ciient
/.«'ifiio, . Aíik 7 io«/o . ou v)uaiulo um mane pn»priv» tem s^*u seiitr •«'uKuniivos sen em para vlesijinar uma vasta e vtiriavla serie vle m>v;ões
J o invKlilieaJv) teira toni.ir-se lumtevsanum (et. .wnvv. i.:í/efv. o m . <Mii.vufvl or..vhhU.v |»elo liueleeu» humano, cuja sisteniatizavtiu evnni^etc prv»pria-
“tnica M.m.uuioa lexical. Oo pvuUo vle vista liram atleal. travlieionalm ente
7 . 1 . 1 . 1 .Su bM aiilixos LntUaixvvs e partilôoH sxvnxKknim relevames vlistim;:ues eonio eimoretu X abstrato , prupriu X
S n b sta n ^ i^ o s es»lelivos e partitlvos tèm em otanum ama relerCmela wmiim. .míuiiivU^ X inanímavlo. Na siil>classe vios siibstaiuivi>s animavlos
ru/ovív' lio s se re s tU tainain-se evilotivos os Mibstaaiixus v|ue se reíerxni aw' txvmum cneoninirmos pares ev^mo bumeiii/imWber, ;lí4i Iu/;.^u (u , eíiniein í/
IS 8 Q l‘ARTA P.VHTE - M ílUPOtOC.JA FL E ltO N A i. E H S T .U E
MCTlMOClAHTtrui: AS riU.W SAS: d JU tSC S. V.UU.\CA<» R SKLNirhUC-t« I 15‘Í
f^üc/ha, r e i / r a i n h a , qu e nossa tradiçao escolar transformou na rosõopor
e x c e lê n c ia d a a n á lise gram atical do gênero. A verdade, porém, é que lodoe
I i-e é motivadn pda - distinção de conteúdos lexicais. O mesmo não se
leiWdizer, contudo, dos demais exemplos. O gênero de vru lcm o, m u ro , ca~
q u a lq u e r su b sta n tiv o p erten ce a um gênero, e nflo apenas os que dcnourn
fíuncio,soi,(iia e brilho não tem qualquer fundamento além da convenção
s e r e s a n im a d o s. O e x ce sso de im portância tradicionalmentc concedida a
sociii;es(cêt:mil>érn oca.so de b o r r a c h a , p a r e d e , b a la , lu a e n oite. Quanto
e s s a s u b c la s s e se exp lica pela confusão que se fez entre gênero -queé
jciondudc e cscuriilão, são femininos por força de uma regra morfológi-
u m a c a te g o ria lin gu ística - e a noção biológica, portanto extralinguísiica, ca-a que nos diz que são femininos todos os substantivos formados dc
d e s e x o . £ s t e equ ívoco Já estava resolvido desde os trabalhos pioneiros dc al>ítivos com .icrêscínio das terminações -id a d e e -id ã o (cx.r v e r m e lh id ã o ,
M an u el Sa id Ali (1 8 6 1 -1 9 5 3 ), m as ainda resta uma certa confusão cm obras arnp/tdào.aptidão.Jelicidade, p o n tu a lid a d e,fa c i l i d a d e , formados respec-
r e c e n te s d estin ad as ao ensino médio. cnm‘nte a partir tie verm elho, a m p lo , apto,^'/fs, p on tu a l e / á c i l ) .
C o m o m em bros de uma comunidade que fala a língua portuguesa, nos­ 0 masculino é o membro não marcado (sobre este conceito, ver 6.7)
s o c o n h e c im e n to do português incluí a informação de que cada substantivo -i5toé, inespecíhco - da oposição. Por isso, é ele o escolhido para designar
te m um g ênero. Sabem os, por força desse conhecim ento, que soí é mascu­ acüsMou a espécie em sentido amplo: o b ra s ileir o (isto é, *o povo brasi-
lin o e q u e lu a é fem inino. Por isso dizemos o s o l é redon do, e não *a ao/d kifo), o trabalhador (isto é, ‘homem ou mulher que trabalha'), o a r tis ta
r e d o n d a ; m as dizem os a lu a é r e d o n d a . r^uemproduz ane'). o sem -terra (isto é, ‘habitante da zona rural que não
N ou tras palavras, o gênero é um traço inerente à classe dos subs­ («monde plantar'), o g a to (isto é, ‘animal felino doméstico'). Também por
ta n tiv o s, um a ca ra cterística quase sempre convencional, razão por que xro membro não marcado, é a forma masculina do adjetivo a que se usa
v em ob rig acoriam en te informada nos dicionários. Não é por outra razio (ftundonão hã referência clara a um substantivo (ex. : e s tá f r i o n esta s a la ,
q u e m e sm o falan tes natiV'os de português têm dúvidas sobre o gênero que comparadocom esta sala está fid a). Também por isso empregam-se como
n o s d icio n á rio s se atribui a alguns subscantJv^os, como ca i, personagem c niscuiinos os vocábulos que servem de substantivação a conceitos diver-
d ia b e te s . Jos(«I.; o .rúr - cf. este é o x is d o p ro b lem a o a g á ~ cf. h erói sc e s c r e v e
<nm olhe - cf. o lhe qutisc sem p re é objeto indireto).
7 .1 .2 .1 ConeetCo d e gêncrr»
Cà^nero é u m a p r o p r ie d a d e A ra m a tica l in eren te a o s substantieos c qiu: 7.1J.2 ümuciiviu» c iii<>livaçã<i
se rrjc p a r a d is t r ib u íd o s cm d o is f^randes g ru p os: n om es masculinos (car­ Rüsiuuindocsia introdução ao estudo do gênero como categoria gramatical
n e ir o , p o rco , c c u ie m a , m u ro, c a r a m e lo , so l, d ia . brilho, clarão) e nome» tm ponuguês. acreditamos que a distribuição dos substantivos nos dois
j e m i n i n o s (oecf/ia, p o r c a , b o r r a c h a , p a r e d e , b a la , /ua, noite, claridtuie, inndcs grupos - norties masculinos e nomes femininos —obedeça a três
e s c u r i d ã o ) . Todo substantivo pertence, portanto, a um gênero, que orüÍn«’ trandes ordens dc fundamento: (a) gênero por convenção, (b) gênero por
ria m e n te vem indicado nos dicionários. reA;rência c (c) gênero pior ellpise.
O gênero é, de um modo geral, uma característica convencional
d os su bstantivos historicam ente hxada pelo uso. Isto explica por que algiuu «•1.3.2. l (tcncro ixir coiivuiição
su bstan tiv o s mudaram de gênero ao longo do icmpK) {ex.:Jim e mor, queji to fundamento geral. Diz respeito aos nomes de seres inanimados {biscoi-
foram fem ininos e hoje são masculinos) ou apresentam gêneros diferentes tb.peãru, espinho, sol, lua, nuvem, venco, m ar, ponte, pen te, m ilag re) e a
co n fo rm e a variedade de língua (ex.: graina [unidade de peso] e caJ, cujus muitos nomes de seres animados (ex.: gírqfa, borboleta, b esou ro, d u en d e,
g ên eros variam conform e os usos da língua: coloquial c Informalmeme diz* fudu.aiunça, pessoa, cônjuge), cujo gênero é imanente e consolidado pelo
-se e cscrev e-se du jeen tas g r a m a s , o c a l é branco', enquanto nos usos téc­ ■ao. Enconiram-se nessa categoria três Cipos:
n ico s e form ais prefere-se riicjcetitasgramas e a ced é bran ca). Nos casos de 1) nomes cujo gênero vem explicitado tão somente nos seus de­
c a m e ir o / o s í e l h a e p o r c o Jp o r c a , o falante dc português se vale da oposição
terminantes: o sof, a nuvem, es ta pon te, o u tra b o rb o le ta , uma
de significados en tre m acho e fêmea para identlâcar corretamente o gênero
crúinça, o cônjuge);
d esses substantivos. Pode-se, portanto, dizer que, nestes últimos c.temp]os.
2) nomes cujo gênero é especificado no sufixo: b ele sa , claridátde,
o g ên ero , que é uma classlftcação eminentemente gramatical, corresponde
escuridão, espes8u r a ,/a b r ic a ç ã o , crescim en to, viuves;
160 p u ii t - u o B r< ii.o i;u r e x i o s a l t s in t .u <e SF.TIHO A.S i -.m . v v r a .s : c: i . « v1 í ,s , V A R U iitn k s i i í S i m u e U ' Iftl

3) nomes de bnse mórfica com um e sig n ificad o s afins, mas lexicali- ;,|,’.23 Gênero por elipse
zados de maneira arbitrária no m ascu lin o c n o fem inino: espinho! [oiunJamento do processo pelo qual o gênero do substantivo base de
espin ha, ja r r o /ja r r a , ba rco /b arx M , c e s c o / c e s t a , en co sto (costas da ®)constniçüO é estendido ao nom e que, com a elipse da ba.se, passa a
cadeiraVencosto (face dc um a m o n ta n h a ), r a m o (galho de plan­ .jnificar 0 todo. Acham-se n este caso nom es com o r á d io , feminino com o
ta, punhado de florcs)/rania (c o n ju n to d e ram o s), (enfio (pedaço í^catlodc ‘emissora de rádio’; A m é rica , m asculino com o significado dc
de madeira)/Ienfia (punhado de p ed aços d c m ad eira), m adeiro (o ihe$portivo’;yi/fi, m asculino com o significado de ‘cão de fila’.
mesmo que lcn h o )/m a d e ir u ( m atéria-p rim a c m q ue se transformam
as ánores abatidas), v ít d io M n h a (áre a plantad a d c pés de uva) Fomuiçãi) do fem inino: flexão ou derivação?
.iiínmitica.s do português em geral ensinam que em pares de substantivos
7.1.2.2.2 Gênero por referência MKoluno/alunu, m e s tr e lm e s tr a , c o e lh o / c o e lh a , ele/a n te/ele/a n ta ocorre
É o fundamento da atribuição de gênero aos n o m e s d e s e r e s animados sem­ aalleião de gênero. Embora m uito difundida e consolidada em nossa
pre que a Ifngua oferece ao falante palavras de g ê n e ro d iv erso para nomear niçào dcscritivista, esta análise precisa de uma reformulação. Damos a
o macho c a fêmea da espécie (ex.: c a m e i r o / o v e l h a , h o m e m / m u lh e r , fialol «iúrtrés razões para analisar estes exem plos não com o flexão, mas sim
tíaJinha. ca v alo/d g u a , p o r c o /p c ir c a , g a la /jg a ta , l e ã o / l e o a ) ou de classifi­ «soiknração.
cações socioculturais variadas (ex.: 1 - re la çõ e s de p a re n te s co : sobrinho! 1 ) 0 conceito de fiexão é incom patível com a quantidade de ‘exce­
sobrin ha, irm ão/irrn ã, p a i/m ã e , a v õ / a v ó ; 2 - o o iin a çõ e s s o c ia is : o artista! ções' ohsen’ada na classe dos substantivos. Para muitos substan­
a artista, o tenista/a rcn isai, o atlcta/a a t le t a , p i n t o r / p i n t o r a , autor/auto- tivos em -o não existe contraparte feminina em uso (ex.: m os­
ra, im p eru d or/im p era triz, r e i/r a in h a ). quito, besou ro, p a p a g a io , la g a r t o [la g a r ta é um inseto), v e a d o ,
Essa motivação referencial observa-se em três c a so s : camundongo)-, em outros pares de nomes, a fêmea é designada
1 ) quando existem dois nom es co n stitu íd o s d c rad icais distintos - o por meio de um lexem a que nenhum a regra é capaz de produzir
masculino para o m acho c o fem in in o para a fêm ea de uma es­ (e.\.: h om cm h n u lh er, c a m e ir o l o v e l h a , c a v a lo /é g u a etc.).
pécie natural ou dc uma relação d c p a re n te s c o —, sem que entre 3) A flc.xão expre.ssa a variação formal da m esm a palavTa (feio!feia !
um c outro haja qualquer relação g ram atical. T rata-se do ‘gênero ftíos!feias, s a b er!sei!sa b en d o !so u b csse, Icão/leões). C oelho e coelha
por heteroním ia’ da tradição d escritiv a (e x .: c a o a lo / é g u a , bode! não são duas formas da mesma palavra, mas palavras lexicais distin­
e a b r a , h ttm e m /m u lh e r ,/ie n r o /m tr a , t o u m / v a c a ) ; tas, que os dicionários registram separadamente. A atribuição de um
2 ) quando existem dois nom es dc rad ical co m u m , um para designar gênero diferente a uma unidade lexical substantiva é uma forma de
o macho c outro para designar a fêm ea, sen d o q u e normalmenie criar um novo substandvo, isto é, um processo de derivação.
o feminina é formado por algum tipo de d eriv ação (e x .: sobrin ho! 3) Aeriação e o emprego de certo s nomes femininos (c/ie/b, sargento,
s o b r in h a , a lu n o h d u n u , c o e i h o / e o e l h a , p e r u J p e r u a , txurãoípa- presidenta), ou m esm o de certos nomes masculinos {borboleta,
tro a, leitã a /te ita a , e s c r i v ã o / c s c r i o ã , a v ô / u v ó , ga(o/go/i'nfin, ma- fonnigo, p u lg o , possíveis nas histórias infantis), são frequente­
estro /rn a estrin a , c o n d e/c Y m d c sa a , d t u fu c /d u t fu e s a , rvi/rainhtt}: mente encarados com o opções pessoais ou escolhas estilísticas
3) quando se trata de substantivo c u jo g ên ero so m e n te se define no dos falantes, o que não acon tece quando estamos diante dc uma
ato de designar o indivíduo, co n fo rm e s e ja hom em ou mulher ílc.vão regular.
l e x .:o a tle ta /a a tle ta , o p u tíU ista/a p u g i l is t a , a ^ e r e r ic e /a g e r e n te , IX-vemos, entretanto, reco n h ecer que para nomes derivados como
o sem -terra /a sem -ferra, o t e n e n te /a t e n e n t e , o a r n a n te /a anian- rAiehãti, beberrão, t r a p a lh ã o , f r a n c ê s , p o rtu g u ês, ita lia n o , am ericano,
te). São os nom es ‘com uns de dois g ê n e ro s’. ‘!Wir,professor, e m b a ix a d o r , v e r ü u r e ir o ,fa x in e ir o existem contrapartes
^ininas regularmente formadas por fle.xão { s a b i c h o n a , f r a n c e s a , ittdia-
Também são referencial m ente m otivados o s p ro n om es c le / e la , ou por­ *>.ammra, fa x in e ir a ). E xplica-se este fato, seja porque estes nomes são
que operam como os substantivos aqui citad os, ou p orqu e se referem, no fãencialmcnte substantivos c adjetivos, seja porque contêm ‘sufixos que
texto, a nomes ou expressões categorizados co m o m ascu lin o s ou femininos. tflcilonam’. Com efeito, os sufixos de grau -(a:)ão e -{z)in ho variam cm
Í<i2 I jl VRT.V r.VRTt. - MOUrnURií-V H>.XU'SM. V. MNT.NXr. SUIMt > (•\ ru i 111; \ sl'\l\ \lt\s n \ S N ls .\ I .ski\UK \i;\n /Íkí

gênero. O sutixo -ão apresenta no fem in in o o alom orfe -o n (a ). Isto explica a í.l-.l .Vcalcgoría gramatical <lc ntiincro
existência t\c form as tip icam en te popvilares e coloqu iais com o mulluirtmu, IHÍtruiUcniciUe do gênero, a categoria tio luiincrt» diz rcspcii4» finulamcn-
bo/sonn, cin fu ro ita , bo/oiia, portoncí, criad as para recuperar o valor de ‘au- ulmcrttc a iiMia oposição d c sígni/ictitlos - ti op osição cm ro o s ifiKiiirúhi-
m eiuativo’ de ce rto modo perdido pelas form as em - ã o : m u llicrão, bolsâo, UHi (singular) e m ais d c imi { p lu r a l) - , e x p r e s s a sisfetfU íficam en te
c in tu r ã o , bolão, porfõo. piruni m ceanistnoflexionai: a u s ê n c i a X p r e s c fiç a tia m a r e a d e p /u r a l -s
O sufixo -(c')fn/ío/-(s)inba tam bém se com porta com o unidade auicV ia.:iKrva/i>(jrnas,flor/florcs, anc7/anei.v). Por outn» lado. assim com o na
noma em relação ao gênero. É ele, c não o substantivo como um todo, dprcssào do gênero, o artigo, o pronom e, o adjetivo <|iie acoinpaiiliam o
que se ftexiona em nom es com o pontcsiíi/ta c pc/eciu/ia, já que os nomes mbsiannvo tanibéiii variam cm núm ero por força da regra sintática ila con-
poiuc e pc/c são de tema em -a. O -a dos dim inutivos 7>ortiíi/i«, niozin/ta, cordjncia (cx.: a 7>cma/as ;>cm as, c.sta y/or/estas //ores, »ncii an e//m eu ,s
pontcs:in/ui e p cícsín h a é d csincncia de gênero própria do siitixo. A regu­ iíuü). No verbo, o luimero também expressa a distinção entre singular e
laridade da presença do -a nos substantivos fem ininos derivados por meio plural nus o fnz através das desinências de pessoa (-o em chego, -s cm eh e-
do suftxo aum entaiivo -ão e dos suftxos -ês, -rir e -círo também é uma prova íoi.auscncia de desinêneia cm ch eg a, respectivam eiite para a 1". a 2" e a A’
de que esse -a é uma desinêneia de gênero anexa ao próprio suftxo (ex.: pessoasdo singular; -mo.s cm ch egam os, -is cm chcgttis e -m em chegam ,
,snbicfioíi«. solteirona [subst. ou adj.],./rançoso Isubst. ou adjetivo], bur­ riápcctivamenie para a 1", a 2" e a 3 “ pessoas do plural), por exigência do
guesa fsubst. ou a d j.j, escrito ra, perdedora, la v a d o r a , leiteir a , íaroiijcira, pnxxssosintático da concordância verbal (ver 8.5).
sa p a te ira , ba n h eira). Em todos os demais casos em que à distinção dc Nos pronomes pessoais, a diferença de número restringe-se, como pro-
gêneros não corresponde uma distinção sistem ática de signifteados. como ctssoikxional, às formas da terceira pessoa - ele /e le s , elti/ela s - o dos prt»-
a oposição 'macho/íêmea’, os substantivos, em bora formados com base no nomesdetratamento - você/vocês —, já que nas primeira e segunda |H.*ssoas
m esm o radical, apresentam relações de signifícado bastante variáveis ou osin^ularc o plural são representados por formas Icxiealmente Jlstintas:
m esm o de sistematizaçno impossível. Estes pares de substantivos podem íu/riós(para a primeira pessoa), tii/v ós (para a segunda pessoa).
ser distribuídos em dois grupos; 0 conjunto dos indivíduos de uma dada espécie ou classe pode ser
apresso tanto pelo plural como pelo singular. Esta distinção de números
GRUPO A: Nomes que diferem no gênero e na fom ia pcfüesua importância referencial em frases de valor genérico e atemporal,
balanço - balança, Ixireo - barca, b a rr a co - b a r r a c a , b ich o - bicha, bol.sí>- jjque as írascs ‘a’ c ‘b’ de cada um dos seguintes pares denotam o mesnu»
bolsa, braço - 6raçíí,cíinecí>-cancca, ce rco -ccrcft, cesto -cc.sta, cinto-cin­ ihdoda realidade;
ta. c u n h o - c u n h a, en costo - encosta, espin ho - esp in h a,/o,ssa - /ossa,,fruio la) 0 homem é mortal.
—fr u t a , f*rito - g r it a , horto - horta, ja r r o - ja r r a , lenho - len ha, nuulciro- ma­ lb) Os homens são mortais.
d e ir a , jxílm o - p alm a, j>oço - jx)ça, ramo - ra m a , sa c o - sa c a , v eio -v e ia .
2a) Aar\’ore respira pelas folhas.
GRUPO B: Nomes homônimos de gênero diverso 2b) ;\s árvores respiram pelas folhas.
o ca b e ça —a c a b e ç a , o g u a rd a - a g u a rd a , o c a ix a —a caiara, o lente - «
lente, o m oral - a m oral, o r á d i o - a rá d io , o ca p ita l - a c a p ita l, o rosa (cor) 3a) 0 legume faz parte da boa alimentação.
—a rosa (dor), o cinsa - a cinztt, o v ioleta - a v io leta , o g u ia - <i guia. 3b) Os legumes fazem parte da boa alimentaçãão.

7 .1 .2 .1 Nomes ile gênero variável '-13.1 Outros significados do número


i\Jguns substantivos pertencem aos dois gêneros sem qualquer diferença dc ^ lorma simples como foi conceituada acim a, a noção dc número é cem
significado; o /a sen tin ela, o/a s a b iá , o/a luringe, o/a o r d e n a n ç a , o/n perso­ cento evidente apenas quando se refere a seres que é possível qiianlifi-
n ag em , o /a a v e stru z , o/a groma (unidade de peso), o/a ca l, o/a milhar. '^por melo dc numerais: um livro /d o is liv ros, u m a estrela /cinco estre-
*“*iUma imogcm /duos imagens, u m a á r v o r e / d u a s á r v o re s, um p a is /
‘^poises. No entanto, quando nos referimos a entidades como:
164 QÜAKTA l'AUTK - MOHFOUM.IA KI.KXION.M. K SISTAXK

7.1..1.2.1 llcgni g en il da flcx ã o tic iiiiin e ro


a) « r , t e r r a , á t í i ia , c é u , m a r , h o r is(m te ; Acresccntíi-sc -s ao final dos n o m e s Ccnirinados por \’i\gal. |ior d ito n go oral
b) iin p r e s ,s ã o , c e r t e z a , l e m b r a n ç a , v is ã o , m entira, a/c^ría; oii pelo ditongo nasal «c:./c.sf« -^ fe s ta s, c n q iii - c tiq iiis , tlcg ra n - ilc g r a u s,
c) ^V>tío, p r a t a , cain x e, m a d e ir a , c in z a , p a p e l, f^ás. c/iapéii - chapéus, m ã e - m ã e s.
Obs.: Como a ortografia do p o rtu gu ês não a d m ite a .seq iiêiieia /ns. <>
a tU s tin ç fio e n t r o siu }> u lar o p lu r a l p a s s a a s e r v ir para exprim ir nuancessemân­ m tinal é substituído por n na grafia do plural; re/em - rcVen.s, h o m e m - h o ­
t i c a s p a r t i c u l a r e s . N a s ú v ic ‘a ’ , p o r e x e m p lo — fo n n atla de designações de espa­ mens, selim - selin s, b a to m - b a to n s , á lb u m —á lb u n s .
ç o s in tliN 'iso s — o p lu r a l s e r v e p a r a r e a lç a r a id eia de amplitude ou abundância
ít r e s » f e r r a s , <í# *iias, c é u s , m a r e s , h o rizo n te s-, n a s é r ie ‘b ’, |x>r sua vez,-formada 7.1.3.2.2 Uegnis espeein is
p o r n o m e s a b s t r a t o s e m jgcral — o p lu ra l p a ssa a d en otar necessariainciite aljjn Os nomes terminados |xjr r ou z re ce b em -cs: a m o r —a u íitre s, in á r d r —nuir-
c o n c r e t o , p a s s ív e l d e e n u m e r a ç ã o : v is ã o é u n ia faculdade dos animais, tnwjc.s iires,bar- Ixires, v e z - v e z e s , c a r ta z —c a r fíc s e s , a c e s tm i’: - a v e s tr u z e s .
s ã o i m a g e n s q u e a c a p a c i d a d e d a v isã o c r ia ; ce rfecct é um certo estado da coas- Os nomes term inados p o r s e s tã o s u je ito s a du as regras;
c i ê n c i a , c e r te s s a s s ã o o s p r ó p r io s fa to s re a is . Na s érie V , por último - formada íi) os oxílonos e os m o n o ssíla b o s re ce b e m -es: p a ís - lu tis e s , f r e ­
p o r n o m e s d e s u b s t â n c i a s o u m a té r ia e m g eral —o plural faz uinn referência3 guês —^frcgtieses, m ê s — m e s e s , c ó s —c o s e s ;
u m a e s p e c i a l i z a ç ã o d o s e n tid o o u n u m a diversidade de tipos rcunidí» cm um b) os paro.xítonos, o s proparo.xíton os e o s m o n o ssíla b o s c o n s t itu í­
c o n ju n t o : J o j^ o s ( d e a r t if í c i o ) , p r a t a s (d in h e ir o ), c a rn e s (vcmicllia, seca, dcsol dos dc ditongo são in v ariáv eis: um p ir e s —d o is p ir e s , alguiii h ip is
c t c . ) , m a c i e i r a s (.ja c a r a n d á , p in h o , c e d r o e t c .) , cim sa s (restos mortai.s), fwpiw - vários lá p is, e s te a tla s - e s te s a tla s , um ô n ib u s — d o is ô n ih tts ,
o cais - o.s ca is.
( d o c u m e n t o s ) , g a s e s (v a p o r e s d o e s tô m a g o e dos intestinos).
G o m e s p e c i a l i z a ç ã o d o s ig n ific a d o e m p reg a m -se também no plural:
Os nomes term inados por .v
c o s t a s ( p a r t e p o s t e r i o r d o t ó r a x ) , ó c u lo s (p a r d c le n te s unidns por uniu ar­
a) são in\’ariáN’cis qu and o são paro-xítonos: o tó r a x —o s ró n tx ;
m a ç ã o q u e s e a p o i a s o b r e o n a r iz e g e r a lm e n te s e prende aos pavilhões itis
b) são facultativam ente flexio n ad os qu and o sã o m o n o ssíla b o s ou o xí-
o r e l h a s p o r m e i o d e h a s t e s ) ,y c r i a s (p e r ío d o d c d e sca n so anual do tnibalha-
tonos: um f a x - dois f a x (ou fa x e s ) , um te le x —dois te le x (ou tele-
d o r ) , m e t a i s ( i n s t r u m e n t o s d e m e t a l n u m a o rq u e s tra ), esprtf/fis (naipedo
.ve»), o box (lugar de parada dos ca rro s de co rrid a d u ra n te a c o m ­
J o g o d e c a r t a s ) , e c o n o m i a s ( d i n h e i r o p o u p a d o ).
petição) - os tx)x (ou h o x e s), um p ir e x - dois p ír e x (ou pi/v.ves).
O p l u r a l p o d e re fe r ir -.s e a s u c e s s ã o d c a to s q u e constim eni a totalidade
d e c e r t o s e v e n t o s o u u m a e títp a d e le s , c o m o em exéquias,fiinaniis.núft-
Os nomes term inados por c o n so a n te la te ra l, grtifada co m a letra
c i a s ( u s a d o s s e m p r e 1 1 0 p lu r a l), c o r r i d a s , j e s t a s (ju n in a s, dc fim dc aim
perdem esta consoante d ian te da m a rca do p lural, q u e pode s e r ‘-s ’ ou ‘-is ’,
e t c .) , p a l m a s , d e s p e d id a s , c u m p r im e n to s , hom enagens.
conforme segue:
a) se a vogal que p rece d e o l é um i tô n ic o , a m area de plural é -.s:
7 . 1 .3 . 2 A n c.x ã o d e n ú m e ro funil/fiuiis, barril/b a rris;
A v a r i a ç ã o d e n ú m e r o c o n s i s t e n a o p o s iç ã o e n tr e a form a do singular (cx. b) se a vogal que p rece d e o l é um t á to n o , e s te /i/ se to rn a /e/ d ia n te
p e i x e , h o m e m , a n e l , f u z i l , r é p ti l, c a n t o r ,f r e g u ê s , p o rftio ) o a forma doplu* dn marca dc plural -is: rép til/ré p c e is, e stê n e il/e stên c e is-,
r a l , a s s i n a l a d a p e iu n io r fe n ia g r a m a tic a l in d ic a d o na escrita pcln lotnisou c) se o / é precedido por q u a lq u e r o u tra vogal, a m a rca de plural é
p e l o s e g m e n t o e s o u is (c.x .: p e i x e s , h o m e n s , a n é is ,fu s i8 , répteis, vnntorif- -ís: c a n a l/c a n a is, p a p e l/p a p é is , le n ç o l/Ie n çó is, a z u l/a z u i s , álco-
J r e g u e s e s , p o r tõ e s ). ol/álcoois.
N o s d o is p r im e ir o s e.x e n ip lo s — p e ix e s e h o m e n s - , o signífietintc ila
m a d o s in g u la r n ã o s e a lte r a q u a n d o s e a c r e s c e n ta o m orfem a de plural: fl**" Os nomes tem iínados pelo ditongo nasal ào seguem duas regras básicas:
d e m a i s e x e m p l o s , n o e n ta n to , o c o r r e m alg u m as a lte ra çõ es fonéticíus pordd' Ji) 0 ditongo -âo passa a -ôe- d ian te da m area de plunil. E sa i regra in­
t o d a p l u r a líz a ç ã o ; a n e l p a s s a a a n d - ,fia s il p assa a réptil piLssa a clui todos os aum cntjicivos c n i -õ o e os substantivos derivados de
c a n t o r ( c o n i /IV p o s t e r io r ) p a ssa a c a n to r (c o m /r/ d en tal siniples).^^*''^'' verbos por m eio de sufixo em -(ç)ão: lim ã o - lim õ e s, co ra çã o -
| fre‘g cy s| o u |fre‘ges| p a s s a a /ra M u e s- |fre‘gez|, ,jo r tã o passa a pom>-.
s Rtimii (LvHin.o: ,\s k m .\vk.\s : riAssr.s. vahim.Ao k su .simiai. \i. Jtt7
I6f> oi arta r.vKrt - mortolu-.ia n.E.\iox.\i. k sint.vxf.

2) Ambos os elem entos vão para o plural (o/jm-príma - nlmts-pri-


corações, cam in hão - c a m in h õ e s , e x c e ç ã o - ejcceçõcs, caldeinh
mas),
-ca ld eirões, cinturão - cínrn rôcs, coii/íssão - co n fis sõ es , reunião
1 ) Apenas o primeiro deniLMito vai para o plural (e.sírc/d-f/o-mur
- reuniões, coíKsíniçtio - co u sín içõ e s, c o m ilã o - co m ilões, apela­
- estrelas-d o-m ar),
ção - ape/oções.
b) os monossflabos e os paroxítonos receb em -s: flr ã o - Hrãos, 4) Nâo há diferença formal entre singular e plural (o sa()e-tudn - os
niòo - mãos, vdo - v ão s, b en ção - b ê n ç ã o s, ór^ão ~ tír/}ào«, subc-tudo)
sõíão - sòfãos, a c ó r d ã o - a c ó r d ã o s . As únicas exceções são
pão (pl. pães) e cão (pl. c ã e s ). prinieln) grupo (apenas o último elemento vai para o plural):
n) compostos por aglutinação:
Obs.; Há um é^ipo de nomes em - ã o cu jo plural, por ser irregular e im­ /líí/rwiíi - h id r o v ia s
previsível, vem intormndo nos dicioiiíirios e precisa ser memorizado pelos liasoduto - fia so d u to a
usuários da língua. Fazem parte desse grupo form as com o p ã e s , cães -já m otosserra - m otos,sc7Tas
mencionadas - e ca p itã es, s a c r is tã e s , c a p e l ã e s , a le m ã e s , irm ã o s, rejruoa, (ifiuardente - af^ u ardentes
anciãos, artesãos, entre outras. Estas e outras inform ações inexplicáveis
por meio de regras encontrani-se nos bons d icionários e nas gramáticas h) compostos por Justaposição em que não se usa hífen;
normativas em geral. jxm tapé - p o n ta p é s
nm hnequer - m a lm e q u e r e s
7.1.3.2.3 Plural díLs fonnas díniiiuitívas
0 plural dos nomes derivados pelo sufixo -zinho (e mais raramente -zito) vem
c) compostos formados de verbo e substantivo;
expresso simultaneamente na forma primitiva do substantivo e após o sufixo:
sí(cfi-ro//i« - s a c a - r o lh a s
coraçãosín/io - coraçõesín/ios
barrilsinho - ba rrisirih os beija-flor - b eija -flo res
cãozinho - cã ez in h o s tíra-fcima - n'ra-£ciím<s
colherzinha - co lh e rez in h a s bíiíe-csfuca - b a te -e s ta c a s
lençolzinho - /cnçoícin/ios qucbra-í^alho - qu ebra-f^ alhos
colarzinho - co la re z in h o s baíc-bocíi - bnte-boens
pitvrt-saco - piívVa-sacos
Obs.: O plural do tipo c o la r e z in h o s s ó resiste no uso brasileiro por
influência da tradição gramatical escolar. No Brasil, a fala distensa e mes­
compostos formados por palavra invariável seguida de palavra
mo a língua escrita informal e semiformal (da c rô n ica social, por exemplo]
variável;
já consolidaram a formação do plural dos substantivos terminados em -r
(i/fo-^h/atuc - alto-/aíaíUes
mediante o simples acréscimo de -s ao sufixo: c o lh e r z in h a - colherzinhas.
barsinho - barzinhos etc. Encontra-se em BRiVGA ( 1 9 6 3 a : 168) “duas mu- abflúxo-assínado - abaixo-assinados
lherzinhas clássicas”. Já os plurais p a p e iz in h o s , a n z o iz in h o s ainda resis­ víee-govem odor - více-govem adores
tem, mesmo nessas variedades de uso. av e -m a m - a v e -m a n a s
sempre-viva - sem pre-vivas
7.1.3.3.4 Pluml dos substantivos com postos
Distinguem-se quatro grupos na formação do plural dos substantivos com­ compostos formados por palavras repetidas ou onomatopaicas.
postos, segundo as seguintes características:
mexe-mexe - m exe-m exes
1 ) apenas o último elemento vai para o plural {vice-prefeito - uia’-
pula-pida - p ida-p id as
•pre/eítoa),
corre-corre - c o r r e -c o r r e s
p is c a -p is c a - p is c a - p is c a s
/frS 0» VR1A r.Ml.TK - MOUrut.» r i K.XlOS.M. Y. SIST AXt
sf.Tiai n :\ r lIv i- o ; v s p.\uwh ,\s ; c u v sse s, v a k ia c Vo t,

|niiéuc->)oiií*iic - |)iní>wc-jj()ii4 ut's Se, no entanto, o segundo substantivo do conipo.sto serve ptira denotttr
R‘co-rec() - rc c o - rc c o s uma lipilicavão qiiakiuer do objeto ou entidade designados pelo prim eiro
tcco-fcco - tc c o -íc c o s substantivo, somente este costum a ir para o plural:
b cm -tc-ci - í)cin-tL’-tJÍs saUtrio-fiimUia - s e d á r io s -ja m ília
iK inanu-prata - h u n an as-p ra cu
Surtindo {impo (ainlxís os clsm cntos vão parn o plural): sa lá r io -e d u e a ç ã o - s a lá r ío s -e d u c a ç ü o
Esic í;mpo rcCmc os substantivos com postos dc duas palavras variáviá fn ita -p ã o -fr u ta s -íT ã o
(substantivo + adietivo, adjetiv o + substantivo, numeral + subsiamivol; p o m b o -eo rreio - p o m b o s -en r re io
obrn-pnnin - oljra,s-pn'iii«,s nn m pu-espuda ~ m ta ifia s-c s p a d a
fiucinta-fíorcKMl - Jiu a r d a s -flo r e s ta is p eixe-boi - p eix es-Im i
boi(i-./rifi - òoíns-.fhVts bom ha-relágio - b o m b a s-re ló g io
or-cvjnfiiciV»if«/o - a r u s -c v ttd ic io n a d o s .snmbn-enreclo - s a m lia s -e iir e d o
ponra-tdrcíia - /m n tas-clircitu s gu ardti-m aritilia - g u a r d a s -m a r in h a
carcõn-poauil - ccircõcs-postaix
li^rc-arbítrio - /icre.s-cirbftnos (juarto gnipo (o com posto c morlicamente invariável):
ciirto-íncrrn.ííem - ciirto.s-ntetrftóftts II) compostos dc verbo e palavra invariáv'el:
tLT^‘(i-/airn - terç a s -fc in is o salx^-tudo —o,s s a b e -tiid o
prim ciro-niiuistrn - p r im e ir o s -m in is tr o s o bota-foru - o s bo ta -Jo ra
p eso-pcsailo - p e s o s -p e s o d o s compostos rcpresentíidos por frases substantivadas:
o d isse m e d is s e - o s d is s e m e d is s e
Terceiro jjrupo (apenas o primeiro elem ento vai para o plural): o elw ve n ã o m o lh a - o.s c h o v e n ã o m olh a
Esta rejíra somente é geral para os compostos formados por substanti­
vos liijttdos por preposição: 7.2 AIUETIX O
p ão d e m el - p ã e s d e m el São adjetivos os lexenias que ,se empregam tipicamente para .significar atri-
m ala sem a lç a (pessoa incômoda) - m a l a s sem a lç a Imtnsoii propriedades dos .seres e coisas nomeados pelos substantivos. l’or
cn tz-de-m alta - en ts e s -d e -m a lta isvo, a |)resença do adjetivo no discurso sempre pre.ssupõe um substantivo
IKilma-dc-sutUa-rita - p u lm a s -d e-sa tita -rita i«j pronome substantivo ao (|ual esteja ,se referindo. O adjetivo está sujeito
JMU d e sebo - fx iu s d e s e b o i-i niesiiias alterações mórficas t|ue caracterizam o substantivo: ejnpregn
J l' -.s - eoni as respectivas mudanças morfofonétieas —para a e.xpressão
Ohs.; Os eoni|X)stos de dois substantivos podem seguir a regra ili) plural ((looiem v a le n te - h o m e n s c«/enre.s. «lenfno e h o r ã o - m en in o s
gundo grupo ou a regra do terceiro gmptt. Os ilois elementos vão newss-*' íhiiriivs. en eon tro e n s iio l - e n co n tro s c a s u a is , o b ra útil - o b r a s ú te is ), e
riamente para o plural se o signilietido tottil do composto eorrespoiit^'-' ' foipregí) de -a - eoin as respectivas mudanças morfofonétieas - para a e.\-
simples união dos signilieados p:irtieulares de seus elementos (ver preswio do feminino (goto o reto - g a ta iirera. es erir o r fra n c ê s - e s e r ífo r a
diretor-presidente - d ir e to r e s -p r e s id e n te s irtiueesa. m enino c h o r ã o - c r ia n ç a e h o r o tu ú . Os fatos regulares iia forma­
m édieo-professor - m ê d ie o s -p r v /e s s o r e s do Jo gênero e tio número do substantivo se aplicam a<is adjetivos.
iKir-restaiiranie - b a r e s -r e s ta iir a n te s Embora seja form alm ente sem elhante, a atribuição ile gênero e nu-
stk-iü p roprietárío - s ó e io s -p r o p r ic lú r io s mt-ro aos siih,staiuivos e adjetivos é motivada por fatores bem distintos
eem itério-parque - cem itêrío s-jK irq ties tmeada classe. Como vimos em 7.1 .3 , o gênero de uin substantivo é um
irago gramatical que o individualiza em face dc outro substantivo (ef.
trciiio-fc.ste - íreínos-testes
aicními em face dc meníiirt,.f(imi em face tle ju m t); e o número (ver ( l ã )
rádUi-relúHU) - rá d ios-reléiiio s
s t r i u o ,:.\i‘ lT r i.o : a s i.A i-tc ie ss : u .t s - s K s , v,\n iA i,:.tt' t M i . s i u r . v / t i > Í7f

cordinariamenie escolhido de acordo com o p o ssib ilid ad e de nos referir­ ,aiiJainsossa). homens com b a r b a {= h o m en s b arb ad o s), h o m en s .sem
mos ao universo dcsiílnado na lini^ungcm com o e x p e r iê iie ia repetida (dia homens imberbes), telhado d e v i d r o , clfiu a tic b e b e r (= .idiia ptv-
i um conceito unitário, diíi.s rcferc-.se a d ia eo n io e x p e r iê n c ia repetida; juonoriecnjjomnr Assim com o os ad jetivos, as lo cu çõ es ad jetiv as ox-
pedra é o nome dc uma matéria, p e d r a s é essa m esm a m até ria repetida -^vjtnatributo.sou classes dos s e re s, coisas e entidad es a q iie se re lcrcm ,
em unidades separadas). snníinJo .1 referência das e xp ressõ es integradas por elas. Nem sem p re,
No adjetivo, porém, o jiênero c o luim ero não têm (|tialquer relação ,vn, a sequência formada por p rep osição + substantivo c o n stitu i im ta
eom a realidade dcsiénada; n jíêiicro e o núm ero de um ad jetiv o apenas re- .•çãoadjetiva. Em .vfcarci cie c a f é . por exem plo, d e c a f é pode sig n ilicar
lletem o (Sênero c o número do subsl.antivo ou p ron om e a qiie ele se refero ,,awdo d.i xícara ou uma e sp écie de xícara. S om ente nesta segunda
no déscunio (dia fondo - d ia s lonftos, p e d r a d u r a - j> ed ra s d u r a s , ela é de valor restritivo, há um a locu ção adjetiva.
rnadrii - e/ns ,s(io innírrui),
■;,) lletão do adjetivo sim ples
7.2.1 (ilassitieação ilo adjelito inais clara ilustração das regras gerais de llexão do adjetivo sim ples
Os adjetivos pertencem a duas subclasses fu n d am en tais se^Jundo a na­ .-.'iiura-se n.is lormas que term inam em -o átono no m asculino. Estes
tureza da respeeliva siénitie.aç.ão. (Jertos ad jetiv o s exp ressam conteúdos lifthos perdem o -o ftnal diante da d csin ência -a do feminino e, no pki-
de existência idijetiva. que funeiunam com o pro p ried ad es elassifteatórias i lícebcm um -.s: niutíro / tn ag ra / m a c r o s / m a g r a s , b o n ito / b o n ita /
dos seres t coisas a que se referem; peí.ve f iu v ie il, eu cr^ iia s o l a r ,/ e s t a s ••mm/himíias.
milalinas. viíii>eii< irnintiiiui, e';>oeu i m p e r i a l , p a s s a f i e m b í b l i c a . Estes Seguem ainda estas regras geríiis:
adjetivos derivam de substantivos e são cltam ad o s .ndjetivos de relação a) os adjetivos formados pelos subxos -õo, -inhu, -íssim o (de grau):
ou el.is.sitieadores'". Outros e.xpre.vsam n o çõ es re fe re n e ia lm e n te variáveis bebê c h o r ã o - bebé.s c h o r õ e s ! c r i a n ç a c h o r o n a - c r ia n ç a s cbo~
ou decorrentes de opinião: fMiss<iiiem e s t r e i t a , a l i m e n t a ç ã o nutritw ti, ronus, bmico bcii.xfnfio - b a n c o s b a ix in h o s / me.sa b a i x in h a -
deiilc.s fortes, roítptt.s e s c a n d u lo s a s . b a n c o s c o n f o r t á v e i s . São os adje- iiicsti.s baixin lu is-, c h ã o / ertifissín io - ter ra fc r tilis s im u ,
livo.s qualirteadores. Os adjetivos qualitieadores são passív eis de (írada- b| os adjetivos lõrm ados pelos sufixos -és e -or: v in h o J r a n c ê s - v i­
ção iKis.sitiiem m uito e.síreifa, ile n tc s f o r t í s s i m o s , b a n c o s ;>oiico eoii- nhos fr a n c e s e s / b e b i d a f r a n c e s a - b e b id a s fr a n c e s a s ; a s e ite jjor-
/ortúvei*. Os adjetivos do primeiro ünipo, c la s sib c a d o re s , não .■leeiliim tugiié.s - a z e ite s p o r t u g u e s e s /s a r d in h a p o rtu g u esa - s a r d in h a s
iiiiensilieação; são anõnial.is eotistniçòes com o ‘ enerzfia In is ta n te solar. im rtugu esas;/ato r e v e l a d o r - f a t o s r e v e la d o r e s / norteia re v ela -
"iHissiicem um ton to b íb lic a , c p iic a im i t e r iu ii s s i m u . S o lire a sinia.xe do dorn - iiotíeia.s r e v e l a d o r a s . fio c o n d u t o r - f o s co n d u to re s;
•adjetivo, ver o capítulo décimo priineiro. e) os adjetivos nionossilãbicos em -lí: couro cru - couros cru s /
,\ pu.ssihilidade de esiiTe.spoiidéncia en tre c o n stru çõ e s do tipo as jK)l- Hinie c r u a - c u m e s c r u a s , h o m e m n u - h o m en s n u s /m u lh e r mm
tnin.Ls .s;io ta/iií<in(kví.s'/'o txjíiríjnii tias [soltronas'. ’a pas,sariein ê e.streiui - m ulheres n u a s ;
/ aisfíureod dapa.s.saíein'.'osdentes s iio / o r t c s ’/ ':t/o r ç a dos ile iile s'é re.stri- dl us adjetivos term inados polo ditongo en : h o m em etiroircu / h o ­
[a aos adjetivosqu.'ilirteadores. São anôm alas oon.stnições com o °u iiufK-ria- mens e u r o p e u s / m u lh e r e u r o p e i a / m u lh eres e u r o p é ia s ; / h o ­
lidiukdu efsKit. ’ti b ib lie id a d e d a /si.s.saíicm , “a s o l a r i t l a d e d a eneroãi. mem p le b e u / h o m e n s p l e b e u s / m u lh er p ic b c ia / m u lheres p le ­
béias.
7.2.2 l.tKiição iidjeiita
t'lijnia-.se locução adjetiva a eoinbinavào de p re p o siçã o + .snbslantito ou bbs. 1: Conforme se observíi nos últimos exemplos, a vogal base do
verln no iiitiniiivo apta a ocupar o Ilibar de iiiii ad je tiv o : c o m i d a .sem sul linaleu torna-se aberta no fem inino |eul > Ifiaj. tionstituem c.xce-
'■'íudeu e sa n d eu (= louco), cu jo s femininos sãojiufm e .saru/fa.
• i.lM tt s U.VTK.Í |1‘<S5| cluiiuin-tlies ■;rdJtIi^.>s ,1c rejavão'. já ,|oc -^cr^eln (>.m, s s i - ã s l ^ r
."«a „Mii,Sjjuioi unu rvL^õn iJc- tcinisf, dc c s ( u ç e d c liiiali,l:i,lc. ilc pro|iricda,lc. ,tc p oc-tt ,o u . 2 : ,\ vogal tônica do sufixo -o.so, feeltada no masculino sin),ul-m
c .. a s j n x o M l l s n ,K a rcl.i[o.iaonlcs). iiooinicilOJ c s l m t a i o i l { = M O J c j m c o o , ( c i t o | S 'r

p etm ai.acn .aJc h.il<iuiii ,«> palcj. linlio isirlo e o c c ( = ciiilio p ro v c ilic o lc d c I ortoea
^^■se .aberta nas form as do fem inino o do plural: cann/io.so /k.iri no
''"fiii.sH /kari’na/.a/, c a r i n h o s o s /kariTm/.uS/
í72 ytAKTA r\RTt - MOWXH.IX.LX n-EXUtS-U. t SIVT.VXE Sf.TiMo <-M‘lT n .«*: AS l•Al..\VK.\.s; r.L\s.sK.s, VAKlAeAo» s u ;s ijU A«. \o 17,1

Sâo, porém, invariáveis em é^ n ero: Como processo morfoló^ieo, o íiiríiu do adjetivo rostrin^c-sc ã formação
.1 ) os adjetivos corres, d c s c o r tc s , p e c ir ê s , m o n t e s , a p e s a r <le formados Josuperlativo absoluto sin tético , m ediante o acréscim o do stihxo -issinjo
coni o sufixo -és (rom c o r íc s —p a l a v r a c o r t ê s , f i a l o p e t i r ê s -ficili- iHide,suas variantes -é r r im o e -ím o h forma do adjetivo. Trata-se, de fato,
riha |>cdrcs); Jcumiiso restrito ã variedade culta formal e mesmo uliralórmal da lín.éua
hj os demais adjetivos terminados em c o n s o a n te , o s ad jetiv o s oxítonos lMí,s\sjmo./«r^iii.ssimo, s im p a t ic ís s im o , pcrifiosís,sim o; p a u p érrim o , ni-
e os adjetivos tcmiinados eni -o ou -c : (e u r s o p€trticu l< tr —aula iérrimo, nsperrimo - superlativos de p o b r e , ne^^ro e áspero - hum ílitno,
IKirficii/nr, tralxilho s e r v il —n rín id c s e r v i l , s a p a t o c o im im —ro«- fadlimo, dificílim o - superlativos dc h u m ild e , f á c i l e difícil). A Iin^éna eo-
|)a comiiin, menino trisCc — m e n in a t r i s t e , c o m p o r t a m e n t o m a­ kx|uial faz amplo uso dos sufixos - ã o e -in h o : bonírão, A*o.sfo.sáo, .ám>i/io.
chista - atitude m a c h is ta ). ijitreími/io, p eq u en in in h o . Na lini^uagem dos Jovens a superlativação é nor-
nnilinentc expressa por meio de .super, misto de prefixo e advérbio de in­
Obs. l: São exceções no 6 nipo ‘IV e s p a n h o l —e s p a n h o l a e a n d a lu z - tensidade {su perhficd, s u p e r c h e io , ,su p ertra n q u ilo, .super hem traus(ulo).
andahtza. Sobre os demais graus de com paração, veja-se a sequência relativa à estru-
[iiração sintática da com paração cm 14.14.1.
Obs. 2: Só é invariável em jièiiero: b o m , s u o , m a l s t i o (= doentio) e
ehuí) i= lisoi iazeni rcspcclivamciite b o a , s ã , n u d s ã c c h ã n o feniiniiio. T..1 M.MKKAI,
Chamam-se ntiineraís a s p a l a v r a s le x ic a is d c n a tu rez a suò.sfanfíCíí ou
7.2.4 K1cx:m>do adjetivo c4»inp<»sto üJjcatYi que p o s s ib ilita m a r e fe r ê n c ia a c o n c e ito s c o b jeto s c o m o d a d o s
F. invariável cm iiC*nero e luiniero o adjetivo c o m p o sto c u jo secundo ele­ {Xíssíveis de q u a m ifie a ç c io e x a t a : tlo is gatos, quirtse dias. c en to e v in te
mento é um substantivo; rou/xi.s a m a r e lo - U m ã o , t e c i d o s v e r d e - t d /t t e e , ob- baia, mil so ld a d o s. Este c o co n ceito primário ou absoluto de número,
jcftw einM-ehiinibo. l^o mesmo modo ,se em pregam v e r d e - b a n d e i r a , azul-
Jcnoiado pelos nuniercus c a r d i n a is . Desses números primários - e a eles
■piseinu. ivnnc/iiíi-síiniíne, h ra tico-fielo, a m a r e lo - p ê s s e ^ o .
rekreiites - derivam-se outros con ceito s que envolvem a relação todo-
Quando o adjetivo c composto de dois ad je tiv o s, o p rim eiro tende a
parie. Trata-se do valor ‘relativo’ dos numerais: o r d e m , m u ltip licaçã o c
aprcsciuar-se .»;oh lonna ooiitracta c son ieiite u sejiiiiid o se ílexiona: rela-
ihdstm. Daí a distinção en tre n u m e r a is o rd in ais (prim eiro /ugar, ,segun-
luiKhhrftsilcirus.hlmcs i t a l o - f r a n e e s e s , a c o r d o s Jr<tncO ‘S ittços, im -
íiodiVi. íercciro c a n d i d a t o ) , m u ltip lic a tiv o s (o c/o6 ro d o s can</it/afo,s.
jmlm^-ães (mgli>-saxònivas, e m p r e s á r io s n if t o - t t m e r ic a n o s .
Mx’s qiiintiip/os) c.ÓYicií)nário,s (m e ia p o r ç ã o , d o is rpimtos d o terren o,
Kaz-sc dc dois niixlos a llexão dos ailjetiv os co m p o sto s de nom e de cor
mais as palavras e/ani ou e.-^c-iirrí. Variaiulo-se o.s dois e lem e n to s; íJarrít/ii.s flofcaeos) - que expressam valores relativos. Em 21.2.10 encontra-sc um
Kxrdes-cscunts.olhos a^ u is-v laras: ou apenas o sei^undo: ^ arra jtu s verde- i^uadro-resunio dos num erais, precedido de obser\’açôes sobre alguns de
-eseurtts. olhos a^ul-elaros. sviLsaspectos léxicos.
.\o uso falado corren te em pregani-sc as perífrases formadas pelo mi­
7.2.,^ do adjetivo neral ordinal seguido do substantivo p a r te para o sentido fracionário («
.Vs Jiraniátieas do portuiiuês. orieiitam lo-se pela N o in en elaiu r;i Graniatical í/iiin/u ptirfe d a tu r m a , a v ifie s im a p a r t e d o liv ro), e o numeral cardinal
em viiit)r. reícreni-se aos líraiis do adjetivo elassirieando>os em duas ordens - vituido do substantivo vexses para o valor miiltiplicativo (írés vc«cs o ,salá-
a Jü ónm eomiHtrtttivo ( í /c itiu a h la d e . d e s u p e r i o r i d a d e e t i e in /e rio r i- bti.cinco v es cs o p e r c u r s o ).
dude\ - e a do su p erla tiv o (r e la t i v o e a b s o l u t a , o p rim e iro suhdivi- Sum eraí é uma propriedade sem ântica de uma siibclasse dos m»-
diJo semaiuieaniente em tle su fH ír io r id a d e e t le i n / e r i o r i t l a d e , o sciiiiiido 'nt.s. Do ponto dc vista gram atical, mio há nenhuma razão para conlcrir
subdividido íomiainiente em a n a lí t i c o e s i n t é t ic o ) . ürn.i classe à parte a essas palavras que expressam í|uaiitidade exata. Na
Não seguiremos aqui esta lição. Com efeito , os íirau s a q u e so faz nien- •Jelinição proposta, os nu m erais são substantivos ou adjetivos, segundo a
Vào no parágrafo precedente não são exclu sivos do a d je tiv o . C om exceção NMçãoque ocupam no sintagm a. Gom efeito, o numeral é sempre cons-
do superbtivo absoluto sintético, que além do ad je tiv o só a fe ta o advérbio htuinte dc um sintagm a nom inal, ora ocupando a posição de núcleo - mi
tmpidúvvimo.evdéís-mio etc.), os denmís ^raus irioidem ain d a n o verlx>. Atrais fracionários e m ultiplicativos - ora ocupando a posiçã
1 74 Ü UARTA rA R T K - M O RH )LO T.1A H .tlS IÍíS A L K SINTAXE SÉTIMO t:Ai’íT n .o : A.S 1'ALWit.vs-. c iA s s K s . v a u i .k A'* *. s u i M i - u ' I

a d ja c e n t e - n u m e r a is c a r d in a is c o rd in a is. Por outro lado, numerais«stàn /.4.1 l’niiiome pessoal


s u je it o s a p r o c e s s o s de c o m p o s iç ã o e de derivação, como autênticossuhs- jíP«lut'r(i.sgr«»io£ie«is eiiju f i m ç à o re/crencífi/ ê i d e n t i f i c a r a s p e s s t n t s
la n tiv o s : d e d es:, d e r iv a m -s c dessena, d écim o , ddeada; décimo primemj ,liMÍí.scursf) se chamam pronom es pessoais.
é u m c o m p o s to p o r ju s ta p o s iç ã o e tre s e m o s é composto por a^luiina^àci .Vssim conceituada, a classe dos pronom es pc.ssoais af>range a rigor os
( t r e s + c e n t o ) . A fo rm a m u U ipU cativa criad a com o substantivo vesexfun­ (tniiionitís pessoais cm sentido restrito. o,s pronom es d em onstrativos e os p ro­
c io n a e x c c p c i o n a l m e n t e c o m o uni advérbio frequentativo. nomes po.ssessivos, \’isto que estes três subtipos fazem referên eia ã.s pessoa.s
L e n ib r e -s e , a in d a , q u e n ão se cinssiticam como numerais íisdcnomi Joilisciirso. De acordo com a nom enclaturn oficial, porém , a expres.são 'p ro­
n a ç õ e s d o s n ú m e ro s o u de su as rep resentações, como nos exemplos omi nomes pessonis’ aplica-se apenas às formas com qiic se assinalam :
m e r o c i n c o c ím p a r , o d o i s p a re c e u m p a t o u a d a n d o , desenha um 100 ;i) o indivíduo que fala - prim eira pessoa do singular (ett),
b e m íS ra iid e n e s s a p l a c a . h) o conjunto de indivíduos em que o eu se inclui —prim eira pessoa
C o lo c a d o ap ó s o su b sta n tiv o , sem pre na mesma forma, o numeral car­ do plural (nós / a gente),
d in a l p ro d u z s e n tid o o rd in al: página s e is (= sexta página), itemdcc(= déci­ c) 0 iiidivítluo ou indivíduos a que o eu se dirige —segunda p essoa,
m o it e m ) , c a p ítu lo v in te e um (= vigésimo primeiro capítulo). do singular ou do plural (fu / •eó.s, co c ê / você.s), e
d) o indivíduo ou coisa a que o eu se refere —terceira pessoa do sín -
7 . 1 A C .A T K tiO K lA DK P K S S O A K S l A KXPKKSSÃO PKONOMIXM. éiiiaroii do plural (ele /efe.s).
V a m o s obscr\ 'ar, n a s duas situ açõ e s imaginadas abaixo, o c|iic si^inllivamas
As iornias ila terceira pc.ssoa .são as ímieíis qiic variam em gênero ( e / e /
u n id a d e s d cstn ca d íis em itálico;
dii.c/c.s/c/íi.s).
D. S u e li, s e c re tíiria do dr. Aluísio, chega à sala de espera do consultório
,Vs ibrnias eu / uó.s' e você /vocc.s* / tu / vó.s referem -se aos seres ct>nio
e av isa a .lo ão e L ú c ia , c lie n te s do dentista:
3(ori‘.s d.n intcrlociição; por isso, só podem referir-se a seres liiinianos ou
1) E u p e ç o q u e v o cê s aguardem só mais um p o u q u in h o . A/c vai
-como ricontccc nas fábulas - a seres personiticados. E le / e l a / e le s f e l a s
íitcn d c r, tanto scres uaiinados como seres inanim ados.
E n i o u tr o lugar. M auro, lilho do sr. Osório, atende noclianuidodeJíilif Aclasse dt^s pronomes pessoais é a única que apresenta form as dis-
e A rn a ld o , q u e a p a re ce m para cobrar uma dívida de seu p:ii; limaspara trè.s grupos de funções: (a) os reU)s, para as funções de .sujeito
2) E u p e ç o q u e v o c ê s voltem amanhã. Ele não está cm ca.s:i. cprcdicativo; eu / fu / eoeC f ele / e la / nó.s / v ó s t oo cês / e le s / e l a s , (b ) os
obiiqiins úti»iios, para as funções advorbais dc objeto c adjunto (rue / no.s,
E m 1 e 2 ap a re c e m as m esm as formas ca. voec.s e c/c. qne (c/oí.s.o/o.s,íi /íis. lhe f lh es, se), e (c) os oblíqu os tôn ico s, para as fun-
e n i ca d a s itu a ç ã o indi^■íduos diferentes: cii = l). Sueli/Mauro; i,i\'Mlveoinplcmemo e adjunto necessariam ente precedidos de preposição
L ú c ia / Jú lio , A rnald o; c/c = dr. Aluísio, sr. Osório. imírii /ctaMÍgo. mks /eoiui.seo, ft /eoncigo, e le /elu /efes / e l a s , v íjs / eon-
SucU , M auro, L ú cia, Arnaldo, Aluísio ser\em para idemibour Ciísttj. .<í /con.sígo).
o s c o m su as c a ra c te rís tic a s particulares, são nomes próprios;
n ã o o s id e n tifica m co m o indivíduos distintos, mas apenas como ‘‘ Obs.l: A.s formas o. u. os, <is, quando cnelíticas, apresentam as seguin-
d i s c u r s o (eii = p rim eira pessoa, o emissor, quem produz o discurso. tvbvariantes coinhiitatórías;
- segunda p esso a, o d estinatário, a quem o discurso é dirigido;e/c = a) I(». hí, íos. Ias, quando a forma verbal term ina por consoante, q u e
p esso a, aq u ele a quem o discurso se refere). ^ desaparece diante do pronome: co rta r ■♦■« > corf«-/a. írouA*enm.s
E stas form as representam a categoria gramatical de posstwi. ‘ + o > irouxenu)-li),Jea os > Jê-íos;
p r o p r i e d a d e í/iie re/>i a iin ^ iu tfien i d e p e r m itir q u e o cnunciudarscrap^\ b) íjo. Míx, no.s, ria.s, quando a forma verbal term ina ein ditongo na­
s i p r ó p n o c a o s p erso n u f^ eu s d o a t o eo n u u tica tiv o , nuo eoino sal: dãt) + o > t/ílo-uo, viKÍícui + a > v isitetu -n u , e o m p r a r a m + a s
m a s a p c 7ia s com o p a rtic ip a n te s d o discurso. > com pn irctn i-M os.
r / 7 fi U '’A'‘ T,\ l•.\IU|• - »l ».XhtS.M. i; SIVT.UK

O h s. 2 ; As ío n u as sc/M7(coM)si>íf> são próprias tia coiisinivã» rdkxlva


(v e r tlcoiiiu) sciiundo uupüulo) c orilhiariamciUt! remuicm para (» siijciio
c/c7t.'occ e varia«;õcs.
SKIIMO I A i m i o ; V* rvl \VH.\S « I \SM s. » \<> I MiAIIII-.M, \n

Pc tmio o modo, |iode-sc falar em dois su bsistcin as básicos tlc prtino.


^^^.^ixísscssivos cm porniíiuês: nm , c a ra c te rístic o ila motialitiatlc escrita
.j,is reiii.sin>s formais (siilísistom a I), cin que as formas .si-ii. .smi. st-u.s.
SCreterem ã terceira pessoa {ele, cUt, ele s, e la s); e outro, pn»prio da
jiiiAilitIade lal.itla (siibsistenia II), em q ue as form as seu . sim , sviin . sim.s
O h s. A: O s brasileiros enipreiiam em íeral a forma tt 4crííc. u.spccial-
.j^íerem sobretudo ao in terlo cu to r o sen/íor).
m e n te na lin^^ua falada scm ilbrm al c informal, como et|uivalcnte tio ms.
Scstcea.so, os ri,seos de ambi^niilade são eontornatios pelo uso ite <leU\
sc j;i et>m uni valor ^cllc^ieo/tndoterminado (com o o do pronome sc: iiíiosc
j;ki.tlck's,<lclus como 'possessivos”de terceira pessoa, Nas varieilailes eolo-
s n h v l íi jíiciuc /ítitJ síí/>c). seja [lara a referência dcitíca (vcr.S.6) siluacio-
.j-juiseitiformaís, ser\'itl:is pelo subsistem:i II, é eonium a uiilixavão combi-
n aim en ce ideiuUieada.
-jJ.iJcíoraiasd(is dois grupos de sefiuiuia |x;.ssoa. o tiue possibiIii:i eonsini-
7 .4 . 2 P r o n o m e pt>sscssivt» .Vscotuo Ukv .stibííí (/ue h o je c o íinjvcr.sdrío tio seit (ou fcii) írmtio.^. I*t»r
O s p ro iio iu cs ditos possessivos c.vprv.s.sur?! nnt vitivulo quttlífucr, coii.sam- ,,uirnlaJti. se o interlocutor ü plural, o pronome pess«ia! ê iieec.ssariaineiiic
fc (íi< c^eciifna/. c n írc o oó./cífj <m n ssuntit d c <pio sc JaUí c ciuht uniu dus :>oN-j:iiniet’õ.s é forni;i restrita a modelos textuais crisialíxados e a cx-
p e s s a a s d n tlis c u r s o . Os pronomes possessivos se tlexioinm em gêneroc -rtssiopos.ses.siva preferida é d c v o e c s . Kra.ses como í.>m/e t'.srtio ,seii.x
m in ie ro . concordan do com o siibstanib’o (a 'coisa possuída ) tpie deter- ti(rtw/i7 i/iiíim do s u a c id a d e são dirigidas a um interlocutor no sintíiilar.
in tn a n i. et)m e x ce çã o das formas tlclc. dcUi. d ele s, ilelas u de vikx-s (ver viimicrlocutor é mais de um indivíduo, a construção usual é O iule esíât»
a d ia n te ), que concordam com o possuidor. ,fíii.sdc voeê.v.^, C/osrcf m u ito d a c id a d e tlv v o cês.
.\s Airamátieas escolares brasileiras cm /icral apresentam um paradiii- Subsisteina I
nia de form as pronominais possessivas (\'cr iiuadro aliaixo") í|iie iiao c<ir- 1'pe.ssoa do siiiii. (ci/): m eu , m m h a . meti.s, mitiluis
resp on d e, com o conjum o. nem mesmo ao uso padrão escrito corrente du 1' pessoa do sinj*. (f»i): teu, tu a , teu s. tuas
portuj^uês ilo brasil. -V )H.‘.ssoa. do sinij. (c/e, e la ): seu , s u a , se u s, siuts
l ■pc.ssoa do pl. (iió.s); no.sso, mo.s .s <i , « o.s\sos . mo.s*.syi.s
2' pessoa do pl. (eri.s); eo.s\s*o. t.'o.ss«. w.s.so.s. t,‘o.ssí<.s
b m |>os.suiilor 1 \'árlos p«Kssiii<loix-s
.Vpcs.soa do pl. (eles, ela s ): se u . su a , se u s, .suas
l'n i objeto Vários objetos L'iii objeto \'ãri«s olijci*»

1* |x*ss. ina.se. ineu nieiis 1 nosso DO.S.SOS Subsisiuiiia II


ícm . m inha iníiilias nossa I1i ».s.s:ls 1'pessoa do sín^t- (eit): m eu. m iu h a, m eu s, m iu h as
2' pessoa do sin^. (tu): feu, fu«, fcii.s, fuu.s
2 “ i^Hís.s. nia.se. feu ICIIS vovso vossos 2' pessoa do sin^. (c o c e ); seu , .suci, seu s, su as
teiii- tua m as vossa \nssa.s
2' pessoa do singi. (c/e, e/«); d ele , d ela
.X* 1H.-SS. inase. seus seu svus I' pc.ssoa do pl. ( m ós ): i»o.s.so, mo.snsíi. mos.s o s . mo.s .s«.s
seu
íein. stia suas sua .suas 2* pessoa do pl. (v ocês): d e v o c ê s
.V pessoa do pl. (eles, e la s): d e le s , d ela s
K sic q u a d ro o fe rece uma estniturav âo sim étrica formal t|ue não rellcti:
>.4ã Pniiumie d e m o n s tra tiv o
a rc iilid a d e do ust); eo.s.sfi c variações têm emprego restrito c riiualizado.
‘Spmnomes dcimmsCratívos serv em parti lo c tilís a r.e u i re/«v<M>às jjesso-
n ã o c o n tra s ta n d o co m as dcniíiis na líntí»a co rre n te; .sen c variavões dãolu-
l»ar. so b re tu d o na interloeuç.ão. a d elcA iela/deles/delas. c passam a dcsif*iiur üiíío(/i.scur.so.o,s objetos (se re s, c o is a s e n o çõ e s) que en tram no eonteiítbí
o d e s tin a tá r io (= d e -eocê/cocês). J«.’nn.s.s7jsemuieiíit/os. As pessoas do discurso passam a ser unidades refe-
ftncinis do que cham arem os dc ‘âmbito.s”, cm cu jo s liniiies o enuneiaüor
Cunformv CrNIl.V K CINTICV | .1|<)| ^luaos objetos, O em ineiador pode situ ar os ob jeto s no .seu próprio âm bito
t7 S Lí* «*«ri - U4IHHMIHÍIA H.t.\l«».VAL KMM.WE
sCTr^ki íL\i'im.n' ,y«. r,u-LVR.i.v: ri.tssi>. vaw.sc;.Uí c 1 7 9

- a primeira pessoa - por meio de este / e s ia / estes /estas /isto; im do in. T.4.d Proiioiiie iiideliiiido
terloeuior/ leitor - a secunda pessoa - por meio de esse /essa /esses /e,v,sav Chaniani-se pronomes indehiiidos as p a la v r a s firn n iaticais d e sifín ifíca -
/isso; ou no âmbito d;i não pessoa - a terceira pessoa - por nieio de aqudt pio imprecisa e n ã o d èitic a - v a ra eterístiea q u e o s s e p a r a d o s p r o n o m e s
/a((itcla /ftttite/es /a q u e la s / a q u ilo . Os pronomes denionstr.itivus adieir> IK\s.nxiis. /M issessivos e d em on strativ as - e t/iie, como estes, ítite/lram o
nani jios substantivos o mesmo conteúdo que os advérbiosat/ití/atíara,oi/ .sintagma nom inal. Trat.i-se de um conjunto de unidades heterogêneo tan ­
en tão e /(í /eiitütj acrescentam aos verbos. Essa equivalência é respon.sáivl to pcln lugar que ocupam n.a estnitura do 8 X quanto peios signiticados que
por com binações ‘redundantes’ com o este a q u i, esse o i e miucle tílillá láo i;.vpre.s,sani. A noção mais ób\ ia. e com certeza a que justifica a classiticação
comuns na lingua da conversação. do 'indefinidos', é o traço 'quantidade indeterminada' associado a unidades
oonio tim. a/gnm, p o u co , m uitos, v á rios, ba sta n te etc N'o entanto, a al-
Quadm-resumo: íun-s deles se associa, ãs vezes eumuiativamente com o traço quantitativo,
ov.ilorde renii.s.s.ão' (tnais. m enos, outro, m esm o, d em a is), o de distribui-
I (padrão, exclusivo da m odalidade escrita ftimial) ç,io {cada, c a d a um . c a d a q u a l) ou o de 'ênfase' {próprio, m esm o ).
Masculino Feminino Neulm ,\lguns pronomes indefinidos resultam da reeategorização de outras
Sinfi. PI. Sing- Pl. disses de palavras; certos adjetivos, como o vocábulo certo s que acabam os
!• p. Eslc* Estes Esta Estas ]st<; do empregar e seu sinônimo d eterm in ad o , equivalentes de a lg u n s, d iv e r -
Esse Esses Essa Essas ISM) ,«)s e inúmeros, sinônimos de vários-, o numeral terceiro no plural, com o
-■ P-
,V p. Aquele gXqucies Aquela .\quelas Aguila cm.lgia no in teresse d c terceiro s. A seguir se apresenta o quadro tradicio­
nal dos pronomes indefinidos:
II (próprio da nuidididade falada)
• São variáveis em gênero e número: utji. algu m , c e r to , d e t e r m i­
n ado, m uito, nenhum , outro, p ou eo, p ró p rio , q u a n to , ta n to ,
Âitibitti da interação face a face;
Ma.seuliiio Feminino Neutni rodo, vário.
• São variáveis apenas em número: q u a l e q u a lq u e r (pl q u a i s ­
Siníl.(IM.) Sinfi.{FI.)
I“ p. Ivste(s) / e.sse(s) (aqui) Esta(s) / es.sa(s) (aqui) l.sU)/i.sM»(aquil qu er).
• São invariáveis; c a d a , d em a is , m a is, mcno.s, q u e e todos os
2" p. Ksie(s) / esse(s) (aí) Esta(s) / essa(s) (aí) Isto/íssiiijí)
pronomes qiie são núcleos de SN. a saber: a lg o , a lg u é m , n a d a ,
■V p. Aquele(s) (lá/ali) Aquela(s) (lá /ali) Aqiiilii (Ifi
ninguém , ou trem , qu an to, qu e. qu em . tu do e as locu ções
Obs. I ; Por sua função reniissiva (anaíórica ou catafóriea), o pranonie o qu e c qu em q u e r qu e.
foi .se cla.ssiliea como demonstrativt), .sem, no entanto, distinguir a.s pessoas
Obs. 1; Os pronomes indefinidos qu al, q u an to, q u e, o q u e e q u e m in-
do discurso:
Itgrani frases interrogativas parciais, introduzindo a parte do enunciado so­
• "De maneira muito abreviada, podemos lemlirar que ttidouqiiL'
bre a qual incide a pergunta [Q ue/O q u e q u eres a q u i? . Q u a l d e v o c ê s p o d e
surge no mundo luta para perm.inecer, e que a eli:uu p:m lal
mi’ acom panhar?. Q u a n to v o c ê p o d e ine e m p r e s ta r ? , Q u em é v o c ê ? ) .
(= i,s.so) se encontra na capacidade de produzir continuiiltidi''
for isso vêm cla.ssificados com o pronomes interrogaiiN'OS nas graniáticíis
|K,\T/. Helena “A danç.i, pensamento do corpo" In: XO\',\tS.
fscolarcs. Para sermos coerentes, deveriamos, então, classificá-los com o
J(K).V- Jtió)
pronomes e.vclamativos em fra.ses como Qiies,'e.vame.', Q u a l n ã o / o i m in h a
suqtre.va qu an do a v i!. Q u a n ta to lice!, Q uem d ir ia ! Crem os t)ue :i m elhor
Obs. 2: (]|;i.ssilic;l-.se iradiciorialmente com o pronome deinoiistratiio
solução é classificá-los como pronomes indefinidos que têm a p articularida­
a forma neutra o empregada em substituição a uma oraç.ãtj siihordínada de de .servir de indicc formal de fra.ses interrogativas e e.vclamativas.
objetiva direta ou ,i um prcdicatlto;
• '‘.\os |soiicos levantei, sem o nottir, a minueio.sa eorogr.ilia desw Ohs. 2: H idhnfas e )}ata v in a são formtis coloquiais e ocorrem sem pre
trecho do mundo." (o = que fazia i.s.so). |HRUi.\, l"J(),1 b: Kd) tomo complemento verbal em frases negativas.
ISO UI AHTArAKTi: - MIliatUAMilA (LKXKlSAI. KSINXUK .'<r.TIU<Ml\NT1'Mi:A.SP.\UW
K.\S: i:uvwr_s. v.muaçAoESICeíIfHl\e.\0 Itil

7 .S a k t k ;o 1) fi primeira conjugação, caracterizad a pelo tem a (rad ical + vogal


C h a n ia -s e artif^o a p a la v r a fir a n n itic a l v a r iá v e l em gênero c núnicm (fjjj, temática) em -r; da m aioria de suas form as (ta p a r, füpas.se, tapa~
no íc*.v£o, Kc' a n te p õ e a o s u b s ta n ti v o q u a n d o o e n u n cia d o r «c refere a ntnu mm; olhar, olhttsse, olharam)-,
e n tid a d e d e te r m in a d a , j á c o n h e c id a d o in terlo cu to r. O artigo tem, po, 2) a segunda conjugação, caracterizada pelo tem a em -e da m a io ria
isso , iin ia fum^ão rc n iis s iv a n o d is cu rs o : o re fe re n te do substaiuh o determi­ de suas formas (heber, bebesse, beberam-, v en c e r, v e n c e ss e , v e n ­
n ad o p e lo artif^u o c u p a n e c e s s a r ia m e n te um lugar na memória do Interlocu- ceram): c
tor. ( ) a rtig o a p r e s e n ta -s e s o b q u a tro form as textu ais, segundo o géneroeo ,1) a terceira conjugação, caracterizada pelo tem a em -f da m aioria
n ú m e ro d o s u b s ta n tiv o q u e e le d e te r m in a : o a n e l / a a lk in ç a /osíinm/ji* de .suas formas (;Ktrfir. partisse, p a r tira /n ).
ri/í«riv'o.s. S o b r e a s p ro p rie d a d e s te x tu a is do artigo, ver 10.3 e 10.7.2.
Aconjugíiçãü constitui a rigor o paradigma formal em que o v erb o se
O b s .: O c h a m a d o ‘a rtig o in d ch iiid o ' é , na realidade, unia v.iriLdadcdt tiiqiuidra. O paradigma da primeira conjugação é bem m ais dcfijiid o do q u e
p r o n o m e in d e h n id o , e c o m o tal 6 tratad o no item 7.4.4. 0 Ais outras duas: no pretérito im perfeito do indicativo, por c.xeniplo, os
u-rhüs da primeira conjugação (ta p a va , olhítvti) ca ra cteriz a m -se p ela vogal
7 .í> V K K I U ) tcniática a e pela desinência m odo-tcm poral v a , ao passo qu e os v erb o s das
llíí p o n to d e v is ta e s tr ita m e n te n iorfoló gico , v erbo é « e.speeíc* dc |Hj/acru segunda c terceira conjugações se flexionam igualm entc em -ia (to r c ia (2 * ).
í/uc o c o r r e n o s c n u n c ia c / o s s o b d is tin ta s ^bnna.s {vocábulos wor/ossintú- lawíi (,V)), desaparecendo, nessas form as, a distinção de co n ju g a çõ es.
tící^ s) p a r a a e x p r e s s ã o d a s c a te g o r ia s d e tem p o , ospecío. mixlo. miwicni Uns poucos verbos apresentam particularidades relativas ao re sp e c tiv o
e p e s s o a . D e s ta s c in c o c a te g o r ia s , o tem po é a que caracteriza mais oh- enquadramento numa dada conjugação, deixando claro que n em s e m p r e se
Jeti\’a i iie n te o v e r b o , g ra ç a s à a s s o c ia ç ã o sim ples c|ue se pode fazer entre pode asar a forma do infinitivo com o critério . V ejam os o q u e se p a ssa co m
s u a s fo r m a s — v.g. c7jc.tía, c h e g a v a , c h e g a rá - e as noções cronológicas du os verbos ir. pôr, vir, que nâo possuem s ogal tem á tica , e e sta r. O sig n ifi­
p r e s e n te , p a s s a d o c fu tu ro (p a ra a a n á lis e das categorias do verlio. especial- cado léxico de IR está contido cm sua única vogal; classificá -la c o m o vogal
n ie n te a s d i s t in ç õ e s te m p o r a is , v er o itavo e déeínio quinto capítulos). ;\s (eraãlica equivale a admitir que esse verbo é desprovido de ra d ica l, o q u e
n o ç õ e s d e n ú m e r o e p e ss o a n ã o são in e re n te s ao \'crho, ma.s são nlirígaiu- seria um absurdo. PÔR é sabidam ente um verbo da segunda c o n ju g a ç ã o , já
ria iiie iite e s p e c iH c a d a s q u a n d o e s te s c flexiona cm tempo. Na maioria dis quesua vogal temática é /e/ (cf. pu.scsíc, p u s e r a , p u s e s se , p u s e r ); p e lo m e s ­
c a s o s , e s s a e s p e c ific a ç ã o s e fa z de a co rd o com a pessoa e niinicro do sujeito mo motivo, à segunda conjugação p erten ce o verbo A'IR (cf. v ie s te , v ie r ,
da o r a ç ã o (c o n c o r d â n c ia v erb a l). ries.se, citTííj, que as gram áticas trad icion ais, sem e x c e ç ã o , e n q u a d ra m
naterceira eonjugíição. O verbo ESTAR, por sua vez, a p resen ta form ias da
7 .6 .1 .\s c a te g o r ia s d e p cs s o íi e iiiíiiie ro n o ^erbo primeira (e.sfmnos, estava, estore/) e da segunda co n ju g a çã o (e s tiv e s te ,
A c a te g o r ia d e iHfsstHt d o d is c u r s o ( l " pessoa, 2" pessoa e 3‘ pessoa), que csfjwü. csíieer, esfjves.se; esteja, cstcjayyws).
c o iie c ilu a tn o s n o ite m 7 .4 , c a r a c te riz a a ciasse dos pronomes pes-soaisfin. Tor outro lado, a distinção en tre as três co n ju g a çõ es, a in d a q u e n e u ­
ri( / tv jtv . e le / e la ), d e m o n s tra tiv o s (e.sre, cs.se, aquele eic.) e possessivos tralizada no plano nióríico, pode vir exp ressa no plano fon o lóg ico . E s te é o
(m e u , rcit, s e u e l e . ) e a c a te g o r ia d e tn ím e ro diz respeito especialmenieaos casoda primeira pe.ssoa do presente do indicativo, quo n ão a p r e s e n ta vogal
pronoine.s p e sso tiis (cn / /lõs, tu / v f i s , We /c7e.s) e aos substantivos. l’or força lemátiea, ma.s euja vogal tônica, sendo a n terio r ou p o sterio r m éd ia , pod e
tia regra s iiilá tie a ile c o n c o r d â n c ia v crh o -siijeito , essas mesmas categorias ítusar a distinção de conjugações. Na prim eira co n ju g a çã o e ssa \ogal te n d e
se e x p re s s a m la m b é in n a form a v erbal, através das desiiiêneia.s número- awraberta {(eu) olho, (eu) gosto, (eu ) ytego, (e u ) ò e rr o , (t*n) a r r e t r jc s s o ) ) ;
-p e sso ais (\‘e r 7.6.ÍS). Mbegunda, tende a ser média fechada ((czt) torço, (c u ) Cfdho, ( e u ) 6 c b o ,
(iii)estremeço)); e na terceira, tend e a s e r alta ((e n ) tu s s o , (e u ) p u lo , do
7.(>.2 As e o iiíiig a ç õ e s d o v erb o ri-rboixilir, (eM)jím, (ett) siyuo, (eu ) d ív trío , do verbo d / v ertír)).
('h a iiia -s e c m iju g a ç â o a e ta s s e nuirfica a q u e pertence o verbo. .As conju- Contam-se como ex ceçõ es chegar, acuyichegar, a c o n s e lh a r , d e s e ja r ,
gsiçuies do p o rtu giiês ,sâo três: .fcMqor, íí/mejar, rastejar, esp elh a r e sim ila res, v erb o s c u jo /e/, seg u id o d c
IK 2 lh akta pahtk - vioR»ni.<«ii.\ n.k.XiiiN .u,»; s in t a x k
I A|'|TVli«: Vi l-M AMtV«- I lAWKA. V»K|\.,.Vi. j, SH.SIH«'A*.A«»

cx>nsi>aniL* palatal, penniinoco íechado cm totias as silalias tônicas doprv- N erbos Írre i*n la rc s In ieos. furics u anôm alos
scmo do indicativo (cf. a pronúncia do c dc rastvjo, rcuttcjns, nistaju. ms. VltIhís im íiJu la r e s fnieo.s ,são o s íp<e podem tnudar de n aiictd. sem ti/wi-
uconsW/io. (jc*oii?tcí/ui>'. <ic<i»isc//i<i. <ico}Usv//umt); e pedir, inifKiíir, rcrííc c.vp/fcnvòo, tio ftm V ir u ; k *s ,s<hi ( c.x .: ;>erder. qiic ap re sen ta ;>ercfí e
m vdir, cuja vo^ial tônica é aberta (;)c\'o. iinpvçi) e nn.\'o). fk^niie; m ei/ir, <|ue a p re seiila mt*^‘o e m etfel; irreiiularv.s ftirles s ã o i>s q u e
{jpresentum tw prcrcríft> jK'rfeito uni nidiecd dreer.sv» </o presen te (o x .: t/i-
7.Ú.Ô Konims rí/.otimicas c formas arri/.otônicas cvr. une ap re sen ta (Íi£.es e </is,s‘c.síe; Síi/>er, cpie apresenta saftvs e ,s o iib c s ft’i
A vo^ial sobre a qual incide o acento tônico pode pertencer ao radical du nr. que apre.senla vcii.s e viVsfe). In v^ iiliircs aiiôiiiulos. ou s im p le s m e n te
vertw (cx,; prisso, c.sfre?íic\*o, t/wrimini) ou a um de seus eínisliiuiiitcsiira. uiiônialos. sã o o.s t v r ô o s (pie op resen íom diversidaile total d e m d iC íii.s
maticais (posscí, estrcmecercnios, doivrtiomos). As íornias do primeiro oifrc fcmjKKs oii m e sm o c m tv tK'ss<His </<» fiiesmf» íem po. Sãt» c ic s a p e n a s
tipo se chamam rízotônicas (com toiiicídadc na raiz): as do sedumlo. arri- os vcrlx».s se r e ir (c f. s o n . c.s./ui; c<ii, if/e.s./lii)^-.
zotônicas (eoni tonicidade fura da raiz).
í.a.T V erb o s ile fc e liv o .s
7.f>. I r.stniciir:i da forma verbal padnlo (Üi.iniani-sc defeetivos os cc/Vais a < iu e fit lu ir n ( t l e m n a s J i t n t u t s do
A forma verbal padrão plena c dotada de um luorfema lexical - sim l\^^e dii^mtf- Kssa defasa^eiii ftiniial 0 sistematicamente dev ida à ausCMicia da li>r-
ou radical - e um conjunto dc noções liramaticais dispostas imiii:i m;i ila primeira pessoa ilo singular tio presente do indicativo, acarretando a
ordem fixa após esta hase: a x^o^ril teiinítica (VT). a desineneia iiunlo-iciii- iiie.vísièiieia de todo o prc.sente tio siil>jnmivo .\ehani-.se neste easiv vários
l>«ra! (I)MT) e a desinência número-pessoal (ONI’). coiiibrinc a sciínimc verlH>s da terceira eoiijin*avâo. de que são exemplos c n l o r í r c d em rdir. A
sej^niciuação de trcthaihuvus, correrei e./íM^‘ísser?ms: riníorlíi tle.s,scs verlx>s não faz pane do v<x.alnil:ir»t> eorreiuc; t»s u.siiários da
lin^iia que os eoiiheeem íKltiuiriram*m>s. em lieral. em eomato ei>m texttvs
c.-icritívs e jíraniátieas imrmativas. jumaTiieiite e‘t)tn a informarão tie que
(loiijui^Vão RADUIAL \T D.MT D.M»
Vio ilcfcclivos'. I.istam-se cnirc eles os vcrl>os <dH»fir. t‘u»7 >ír. om dxi/ir,
1- TILMJALII A VA s c.vuiinr, e.vft>rqtiir,./7v;uir,/id.rfr. hau rír e íVíor<piir. Tm ou outro tradieio-
i CORK K KK 1 iialineiite ineluúlt) nessa ela.s,se. mas tie uso corrente, aparece na laia na pri-
FINO í SSK .MUS nieira pHíssoa do síiiiiidar d<v presente do indicativo- I'. t>easi> do e.Y/dotfir.
Coiii|X)Hain-,se co m o ilcicciiv os. |X'l:i oaiiireza de sua sijiinificarat), tvs ver-
Nis que denotam Icn òm eiios da natureza. i|uc no sciUidti prtiprio sât> imjx.\s-
7.(».ã \erbos roíiulares e verbos irregulares
Miai.s e se empreiiam ai>eiias na terceira |V.‘sso:i tliv siujiular (chtK\.'r, tnrv\’j ot\
(íin verho se chama rejiiilar qu an do se^Jue o jHímdiíitna dc si«i e«inn<i'.f
«cair. tx‘«far e le ), e os que notneiam vozes dos anim ais (/tifir, iii-ctir, tnutr,
^lio. <) imnlelo. ou par:idi|*nia. da primeira oonju^iavão é o ^e^Ul eamar.o
tmuiir, v t i c a r e j t i r , e r s u e a r , r x U n c l u i r e lo .), aptos a tKXvrrer a|X'iias na icT v ein i
da setíuiula é o vcrlx> fwifer, e o da terceira eonju/iavãti é <» xoríxí /xirfrr Krii
pesseu do singular e do plural, jm r isso ta n ilx m chamadtvs v crlio s uiii|>ess4k:iis.
imlas as formas destes três verNis, o radical i>erinaiieee inalterado l*ani :i
sc^inda eoiijiiíiavào. no entanto, devemos .admitir um .sc^uiulo paradiiima "
7.íkS (^iiatlro lien il d as tie s iiiê n e ia s v e rb ais
dos verU)s Cíirrer (rorxxr. cíj//ier, coser, m order, so/cer ele ) e Mfever
[X‘síiiências iiiím em *|>es.soais
ivr. cre.scvr./erxvr. meter, fK'her etc.), t|ue aprcseiitain rejiularincatc
fccliad4)s iiti sílaba tônica da I" pessoa do .singular do pre.scmc do indicaii'*' l)is(in^iiem-se tlois jinipos de desinêMieias número-pcssoais: as dcsi>
nCneins padrão e as desinêneias especiais:
(cí»m> e mt'.vo), e /a / e /t*/ na mesma silaha tias 2 " e y pe.ssoas ilo siii;íiíh^
UNínv.s e me.ves) e da ô" |>ess<)a do plural (correm e /ne.vem). íi) nesiiiC*iicias padrão:
Irreiiiilar é. ao etjiiirário. iodo verho (fue apresen ta aljiium í/csvmm»* * zero , para 1" p s. (= e ii);
rv/<ivõo oo iixxfe/o, ou </e su a c{mjutí(t<t'(~f*r São Irrcjkiularcs v«.t- • -s. -cs. para 2 “ p .s. (= fti).
bus cuino íôir (cf. <ô>i<. t/esfe ein face de can to, can taste), pcr</er (cf.
//H-Tí/i- ein face de Inito f bote) e co/>cr (ef. cuifH> /ea h e /enidK’ cru hicci'‘
ÍMifo /Imíe /ÍMifi í- cai.U. Ire, vcrt„» |,i|„..s; ..
n /
U«AkTAl•.^KT»; - M«HU«>L<>«;iAH.KXHWAI. KSIST.WK
•M
tiín. cufnto; .vslAumv <lwm.
• zero, para 2 “ p.s. (= t’occ) c 3' p.s. (= ele /e/ti);
Dcsinénciu,s aspcetuaís
• -mos, para 1 “ p.pl. (= rifís);
• -i». para 2 “ p.pl. (= txís); • in fn itiv o: -r;
“ -ni, -cm para 2 * p.pl. (= coces) y p.pl. (= eles / elas). • gerUndio: -ndo;
• p articipio: -do.
h) Dcsincncias especiais;
• -« (^cral no presente do indicativo dos verbos rcíJularcs), -u Formação dos tempo.s síinplc.v
(verbos dar, estar, ir e ser), -i (futuro do presente e pretérito () mccantvsmo flexionai do verbo combina, dc um modo gcnl, o u.so das
perfeito do indicativo), para 1 * p.s. (= eu); dcsincncias niodo-temporais com o tema das formas que não as possuem,
• -ste (pretérito perfeito do indicativo), zero (imperativo abmia* a saber, o p resen te do indicativo, o pretérito jK-ifeito do iudicatieo e o
tivo), para 2 * p.s. (= m); in^Mifiuo n ã o flex io n a d o , por issti chamad:is íorm.ns primitiv.is dn verbo.
• -u (pretérito perfeito do indicativo), para 2" p.s. (= coce) e 3'
As demais formas, criadas pela adição das respectivas dcsincncias modo-
p.s. (= ele /cia );
• -des (futuro do subjuntivo, infinitivo flexionado e presente dos •Icmporais ou número-pessoais - c muito e.xccpcionalmcntc pela supressão
verbos de infinitivo monossilábico - com exceção de dar e ser - e destas —. chnmam-sc formas derivadas
respectivos derivados), -i (imperativo afirmativo em fteral), -de (im­ O tema do pretérito perfeito é o que se encontra na segunda pessoa
perativo afirmativo dos verbos de infinitivo monossilábico - com do singular ,scm a respectiva desinênein número-pc.ssoal (c.\.: aairíifsfei.
exceção de d a r - c respectivos derivados), para 2 * p.pl. (= tví.s); disse(ste), v i(ste), dorm i(síc)): o tema do intinitivo corresponde à sua for­
“ -ram (pretérito perfeito do indicativo), para 3“ p.pl. (= c/cs /c/m) ma .sem o *-r’ (ca m a (r), dis:c(r). celr). </ormi(r)). () presente do indicativo
e 2 " p.pl. (= COCC.S). fornece quatro variantes dc .seu tema para a úirmação dos tempos deri­
vados: a primeira pessoa do singular - b:Lse da lomiaç:lo do presente do
Obs.: Indicamos as desinênci.as por meio de suas repre.seniaçOcs grá­ subjuntivo (c«iií(o), f/íg(o), cc;(«). í/unn(o)l as seguuJas pess«>as do sin­
ficas convencionais. O u de 1* p.s. no presente do indicativo c de 3* p.s. no gular e do plural —bxise da fomiação do imperativo afinnativo (LYinai(.':|
pretérito perfeito do indicativo representa a semiNogal Av/ (cf. doii, eou, f canta(is). d ize(s) / dtce(í,s). cê(s) /vedeis), donneis) /domuís) - e a
cutuou, vendeu). Na 3" p.pl. a desinéncia é. na fala. a nasalidade adicionada primeira pessoa do plural - bn.se da formação do pretérito imperíeiio do
ao /c/cm sa h em . cantem etc., c a .scmivo;5al nasal Av/que forma ditoné<>cm indicativo (canf«(mos). </Lce(mo.s), ce(mos). í/ün;ii(mo.s*)).
vajuam e cantarão.
7.b.*>. I Tempo.s deris ado.s ilo |>reseiite dt» iiidic;iti\o
ücsinênciu.s iitodo-tcinporais
a) Pretérito imperfeito do indicativo Fomia-sc mediante o acrés­
• presente do indicativo: zero;
cimo da respectiva desinéncia modo-temixiral ;io tema b.ise; -va-
• pretérito perfeito do i>ií/ic(ifi<co; zen>;
• pretérito imperfeito do indicativo: -va- ( l* conjujíaçào). -w- pani a primeira conjugação, -ia- pani a segunda e terceira con-
(2‘ e 3" conjugações), -a- (verbos /M>r, *cr. ícr. cír e respecti­ jugíiçõcs (ex.: cuMfu + va. cic(e) + tVi. ptínií) ♦ i«) l-otiscituem
vos derivados); exceção os \XTbos cuja desinêMieia modtvtemixiral é -a -' pé>r (pu-
• pretérito m ais-que-perfeiio do indicativo: -ni- /-rc- ent sílab;i u/i«), .s'cr (ern), fcr {tinlui). vir (vinlui) c respectivos derivados;
átona;
• fttu r o do }>resente: -re- /-ni- em sílaba tônica; l> ) linpertitivo iifimiatívo. Foniia-sc do tema da segunda pessoa
• f m t r o do pretérito: -ria- /-ric-; do singular e do plural, com desinéncia númen.>-pcssoal zero
.V con-
• />rc.s-t'«fe d o subjuntivo: -c- ( 1 “ conjugação), -a- (2 'c no singular (couro (tYiuro + 0). cicc (ckv + 01 disa.* (titee +
jiigaçõcs); 0), d om n c {d o rm e + 0) e desinéncia -i ou -de no plural («.Yiritai
• pretérito im perfeito do subjuntivo: -ssc-; (couro + i); v iv ei (i'k v -h i ); ide (f + dc). leridc (fem + de). A
• .fitfurn do subjuntivo: -r-. única exceção é o verbo ,scr, cujo hiiperaiivo afirmativo é ,<é
(tu) / s e d e (vós);

yn
TlUn I íi; .\.s I■ Al„^^x^.s: i i .\s>i s. VAKiAr.Vo r SK.MFUIU.lU»
I S fi 1^'AHTA l’AHT». — kh iKFl U.l HilA M.KX|«>S.M, |; SISTAXK

IVelérito niuis-qiiu-perfeito.Verbo auxiliar no preíériff) ínq>er/éifo: íí-


e) Presente do subjnntivo. Porinii-sc do raüicul da prinicir:i f>cssoa
,éiii. nillMis. (itilm, tinhatnos, titihds, fiidmrn viajado.
do sinftular do presente do indicativo, mediante o aeréseimoila
Klitum do presente, \crbo auxiliar no Inrurri^/o preseme: ferei, feros,
resjHíetiva desinC‘neia; -e- para a primeira conjuSayàe (cíiníc.
;,tii.ícn‘nn)s.íereís. ferôo virvodo.
eoiífciFíoN). -II- para a segunda e a terceira (cresçei,
futuro do pretérito, \erlio auxiliar no/ionro dn preférifo: ferio, fc-
pcirui, portam os). Uni grupo dc verbos apresenta no presente
Tit-j.tmd. feríomrjs. ferieis, ferioni v ia ja d o
do subjiiiuivo radicais aloniórftcos exclusivos: esíur
sal>cr (sdíbn), í/nr (dc), ir (v á), ha^ver {haju), str (.m /íi ) e (ptínr
{q u eira ). .Uofio stiòjifiifivo
l*a'tcrílo perfeito. Verbo auxiliar no presente: tenha, tenhas, tenha,
riidifimíw. reit/fois. ferdiom viojVo/o.
leiiip os derivados do pretérito períeito d<» indiealiui
a) Pretérito iiiais-que^pcrfeiCo do iiidieiitivo. Korma-se medi.inie o Pretérito mnis-que»pcrieito. \’erbo auxiliar no prcíérifo imperfeifo; ti-
cwxi.utvsvse.s, titvsse, licé.s.senios. ficésseís. fivessem crojodo.
acréscimo da rcspectn'a desínência modo-temporal ao tema hast;
-ra- / -re- (cmifo + r«, cancú + re ^ ís; dímac + ra. (lissn + re +i5). Futimi. Verbo auxiliar no.rtunro: rieer. dccre.s, tiver, fivcmios, tiver-
b) Pretérita imperfeito do siibjiiiitívo. Korma-se mediante o acrés­ Jvs.íKvri-m vUdndo.
Infinitivo impessoal. \érlw auxiliar no in.fimtivo inq)ess(Kd: ter v iajad o.
cim o da respectiva dcsinência inodo-ieniporal ao tema base; -ssC'
(cí/nfa + sse, oanfd + ss e + mos; disse + sse. dísse + sse + irroa); Iiibiiitivo pessoal. \érl>o auxiliar no ÍM/inifieo ;>essoíd: ter, teres. ter,
c) Futuro do subjuntívo. Forma-se mediante o aeréseinií) Ja res­ kvnos.terdes, terem vhtjado.
pectiva dcsinência niodo-tcntporal ao tema hase: -r- le«nm + r.
j.Ml Particiihiridade.s tlcxíoiiais dos verbo.s poriuéneses
criiifa + r + mos\ disse + r, í/isse + r + mns)
Nasequência, distinguiremos nove sulipadrões verbais caracterizados por
'lempos deríMulos do iidinitivo não flexionado panicuíaríüaücs morfofonológicas do mecanismo flexionai.
n) Futuro do presente. Fomia-sc mediante o acréscimo da respcciika
dcsinência modo-ieniporal ao tema base; -re- /-ni- (ann« + re +í, Verbos eoiii altenuineia vocáliea
cnnni + r« + s; vitH? + rc + i, t íe c rá + s; se + re + i. sc + rá +,d; .itiliima vogal do radical de muitos verbos da segunda e terceira conju-
h) Fiitum do pretérito. P^orma-sc mediante o acréseimoda respcciiu ta(fôesépassível de alternância quando nela incide o acento tônico, Es-
desinência modo-tempornl ao tema base; -ria- /-rie- (eanfa ♦ riu. usverbos pertencem a quatro subclasscs. representadas pelos seguintes
cíinía -f rtc + is; vjixí riVí, vive + ríe + is-, sc + riVi, ,se -f nV +fs). vtrbo.s: a) me.vcr e correr, b)/érir e cobrir, c ) subir e d) progredir.

São exceções os verbos d izer, fasicr e tm zcr c respectivos derivados, Subclasse a’: mexer e correr
cujos radicais nos futuros do presente c do pretérito são, respeetivamente. üs verbos da subclassc ‘a’ apresentam vogal média fechada, / d ou /o/.
(uprimeira pessoa do singular do presente do indicativo e, consequen-
IÜ-. fii- e tni-r d irei, f a r ã o , traríam os.
lemeiitu, em todas as formas do presente do subjuntivo - ?ncA’o. mtwci,
7.Í». 10 l oniiavão dos tempos eoiiipo.stos mexas, mexanv, corro, c o rra , co rra s, corram - e vogal média aberta, /e/ ou
Os tempos eoiiipostos são formados pela combinação do verlw auxiliarrcr nas demais formas rizotônicas - nic.vc. m exes, mc.vem; corre, corre.s,
/hiiver eoin o particípio do verbo principal. Como exemplo, loniaremosos cfirrem.
tempos eoiU|Kistos do verbo São eles:
Nubclasse ‘b’: ferir e cobrir
.Worfo in d ic a tiv o Os verbos da subclasse ‘b’ apresentam vogal alta, I\J ou /u/. na pri-
Pretérito (>erfeito. Verlx) auxijiar no presente. íen/uf, tens. tem, remf»', fiitira pessoa do singular do presente do indicativo e, consequeiuemenie,
fendes, fêni v ia ja d o . todas as formas do presente do subjuntivo -/iro,.^r«,/rfl.s,./iramos,
]S S gl AKTA l*AKTK - MDKKOl.» KlIA H.KXIUNAl. K SISTAXF. .Sf.TIMM <L\|'lTri,n; AS C.M.WKAS: CLASSKS. V.\KIAÇ-\(> K HUIVIFICAC-'*»

,/írai«../iríim; c u b r a , c u b r a s , c u b r a m o s , c u b r a is , cufarani - c vogal abtria 7.6.1 l*d Verbos irregulares fortes


iiiis dcMiiuis formas rizotônicas, exceto »sc esta vogal é nasal csiber índyprCvS. caíbí>, eal)cs\ indyprct. perf. coube, coubeste, coube; pret.
/crem; co òres, co òrc, coòrcni. iii. M-pvtl. coubera; .subjyprcs. caiba; subj./ímp. coubc.ssc; subj./ful. c o u b er.
Seguem este modelo os verbos a d e r ir , com p elir, competir, cY)ii/c'rir. compnizcr: indypres. compraso; ind./pret. perf. com prou ve, com p rou -
convergir, d efe rir , d e s p ir , d ig er ir, d iv erg ir, divertir, ingerir, pre/erir. rc- a\síc: subj./pres. com praza; subj/imp. comprouvesse; subj./fut. com p rou v er.
Jletir, seg u ir, su g e rir , vestir. dizer: indyprcs. digo, dizes; ind./prct. perf. dis.se, dússeste; pret. m. cj.
perí. dissera; fut. do pres. direi, dtrá.s, direm os; fut. do pret. d iria , d iria s .;
Suhclasse ‘c ’: subir siibj/prcs. diga. digas; subj./pret, inip. disse.s.se; subj./fut. d isser.
Iv uma variante de c o ò n r, apenas com a particularidade da gralia u estar: ind./pres. esíou, estás; ind./pret. perf. estive, estiveste, csfc'vc; pret.
nas formas arrizotôniens. Pres. do iiid. subo, so b es, sobe, subimos, aubis, ni. q- porf. estivem; subj./pres. esteva; subjyinip. estívc.s,se; subj./fut. estiv er.
sobem; pres. do subj. stiba, s u b a s , vsuba, subnníos. subais, submn. Seguem íazer: ind./pres.yáço,yáises,yáj:; iiul./prci. p er i.,fiz ,fz cste,/ez ; pret. m.
este modelo os verbos a c u d ir , co n stru ir, cu sp ir, desentir, entupir, iscíi/hi- (|, perf./icera; fut. do pres.yárei,./árás, ete.; fut. do pret.yána; subj./pres.
l i r ,f t g i r , sa cu d ir. ete.; subj./iilip../ísosse; subj./fut../iser.
haver; ind./prcs. hei, hás, há, havem os, haveis, hão; ind./pret. perf. hou-
Suhclasse ‘d'; pnigrcdir w, /imiveste; subj./pres. haja, hajas; subj,/imp. fumvesse; subj./fut. h ou v er.
Apresenta uniform emente /if nas formas rizotônicas: progrido, /jrogn- |SKlcr: ind./pres. posso, podes; pret. perf. pude. pu d este, p ô d e , ptt-
d es , ;>ro;ün</e, prri^riWa, prognd as, progridam . dm<Ks; pret. ni. q. perf. pu dera; pres. do sul>j. possa; subjyinip. pudesse;
Seguem este modelo os \’erbos ag red ir, cerzir, transgret/ir. ivgrcí/ír. suhjyíut. puder.
prevenir e d en e g h r. querer: pres. do ind. quero, queres, quer; pret. perf. q u is, q u ise ste,
r/HW ; pret. iii. q. perf. qu isera; subj./pres. </uciríi, tpieiros; subj./pret. qui~
7.Í». I 1.2 \vrbos irregulares fraeos .scssc'; subj./fut. ípiíscr.
Kste tipo de irregularidade é restrita h primeira pessoa do singular iln pre­ saber: pres. do ind. sei, .sabes, sabe; pret. perf. soube, soubeste; pret.
sente do indicativo c demais formas daí derivadas. ni.q. perf. soubera, soubercts; pres. do subj. sa ib a, sa ib a s , saibam os.-, inip.
medir: índ./pres. m eço, m ed e s etc.; subj./pres. »ieç*íisctc. dosubj. soubesse, soubesses; fut. ilo subj. souber, soubcivs.
ouvir: incl./pres. ouço, ouves etc.; subj./pres. ouça, ouç‘u.s cic. tnizer: iiul./pres. trago, traaes, traz; ind./pret. perf. írou.vc, troUvVcsfc;
parir: iiid./pres. jHtiro, p a r e s etc.; subj./pres. paira, ixiiiu.s otc. Priíi. in, q. perf. troUvVerti, iroii.w ras. trouxêram os; fut. do pres. tríiroi. cru-
pedir: Índ./pres. peço, p e d e s , etc.; subj./pres. peça. peças etc. ^'‘«i fut. do pret. traria, trarias; subj./pres. traga, tragas; subj./imp. trou-
perder: ind./pres. perco, p e r d e s etc.; subj./pres. perca, cie. vi's,sc; sulij/fut, rroUvVer.
pm ver: iiid./prcs. p ro v ejo , prové.s, provê etc.; subi./pres, pimvja.pnf-
v eja s, p ro v eja clc. Regular nas formas restantes: pret. perf. proví, pnrrtx-
Verbos eiii -a ir
re. etc.; pret. in. tj. perf. provera, p ro v er a s, ete.; inípcrf. ilo subj. pnjvf.ssL'.
^^verlx).s cni -air (sair, contrair, refr<tir, dístríjir ctc.) têm a particularida-
etc.; fiit. do subj. p n sv e r clc.
^cünscr\'ar a vogal temática - ‘i’ - , na primeira pessoa do presente do
ivtnierer: pres. do ind. rcípieiro, req u eres, ete.; pres. do subj. ra/iiií-
ru. re<pieir<is\ ctc. Regular nas formas restantes: j)rct. perf. re<pierí, ni/m’- e, eon.sequentenicnie, em todo o presente do subjuiuivo. Todos
resíe. etc,; pret. ni. t|. perfeito req u er er a ; iniperf. do subj. rerpiercssc; ftii. 4ue iiâo sejam defectii'os se llcxionam como sair: pres. do ind. stiio, stiis,
do subj. iví/uerer. saís, saem; pret. perf. saí. saíste etc.; pret. imperf. saúi, sa ia s.
•'‘■(Uíimos, saíeis, saíam-, pres. do subj. saía, saias, saíam os etc.
valer: pres. do ind. vallu), v a le s, ete.; pres. do subj. valhu. valhas ctc
Obs.: Im p ed ir e d e.sp ed ir seguem a eonjugaçâo do /lodir.
•*'■11.5 Verbos em - c a r e -ía r
vtírbos com surtxo \crl)al -e a r passear. Quando a tonicídade
‘'*1 vogal do radical, /c/, acrcsccnta-sc após cia a scniivogal /i/: pas-

d
J9 0 UVARTA 1‘ARTE - M0RF«H.(K;U KLEXIONAl. F. SINT.VXE
SÉTIMOC.VMT1U.: .vs l•AUVR.^.s: (:u^^SF.S. VMtlAI-Ul l: SI(.S'IFI(1V'\C) m
scío, passeiaUy passeia, passeia, passeie, passeies, passeiem, ao lado de 7.Ô.I l.«S Nerbo.s etiiii ditongo
passeava, passeei, passearei etc.
Apoiar tem /o/ aberto quando tônico: apoio, apoias, a p oia, apoiam; a p o ie ,
(ipoics. apoiem .
Obs.: Os verbos idear (= idealizar) e estrear (= atuar pela primuira Os verbos dotados de ditongo seguido de consoante - inteirar, per­
vez) apresentam, excepcionalmente, vogal aberta - /e/~ em sílaba lònica; noitar, açoiüir, confeitar - mantêm fechada a vogal do ditongo em todas as
ideio, idéias, idéia, ideiam; fdeie, id eies, ideiem-, estreio, estreias, mrm. suas ocorrências: p ern o ito , pernoitas, pernoite etc.; açoito, a çoitas, a ç o ite
estreiam; estreie, estreies, estreiem . cic.;esunm), esto u ra s, estoure etc.; inteiro, inteiras, inteire etc.; con /cito,
cfm/eitas. con/eice etc.
Modelo dos verbos em -iar: confíar. É inteiramente regular: caii/io.
cot\/ias, coTffia^a, co n fiei, co n fia rei, c o r fie , confiasse. Obs.: A redução dos ditongos /ou/ e /ei/ diante de /r/- estourar, intei­
rar. peneirar, maneirar - é tendência nos registros coloquiais e regra nos
Modelo misto: odiar (mediar, ansiar, remediar, incendiar, orfiar), ü.s- dialetos sociais não cultos. Com isso. os verbos tríssilnhicos da primeira
tes cinco verbos - cujas letras iniciais formam o nome própriu Mario - wo conjugação tendem a apresentar vog;»l tônica aberta, conforme o paradig­
regulares nas formas arrizoCônicas, mas seguem o modelo do passear n.is ma: esfora (ó). in tera (é), penera (é). m an era (e).
formas rizotônicas; o d eio, o d eia s , o d eia , od iam os, odiais. of/eja?ii; wícít’.
odeies, odeie, o d iem o s, o d ieis, odeiem . 7.6.11.9 \erbos do tipo ra p ta r
Pronúncia exclusiva do uso culto padrão, o acento tônico dc verbos como op­
7.í).11.6 \'erbo.s cm -ii«r tar, obstar, dignar-se, indignar-se, raptar incide na vogal do radical nas três
Os verbos averiguar e apaziguar têm /u/ tônico nas três pessoas do singular pessoas do singular e na terceira pessoa do plural do presente do indicativo e
e na terceira pessoa do plural do presente do indicativo e do presente do do presente do subjunti\ o: op to (ó), optas (ó). opta (ó). opami (d), op te (ó);
subjuntivo, e na segunda pessoa do singular do imperativo afirmativo; «w- í/ig?io-mc (f), dignas-cc, digna-sc, digne-T7w, digne-se.
riguo, averiguas, averigu a, a v erig u am ; apaziguo, apazif^uas, apazi^m.
apaziguam ; averigue, av erig u es, averigu e, averiguem, apazi/^uc, apazi­ 7.6 .1 1 . 1 0 \erbo.s de iiifiiriti' «i monossihibieo
gues, apazigu e, apazigu em ; ap az ig u a (íu). Dar
Nesses mesmos tempo,s e pessoas, os verbos uguar (s molhar, produ­ Presente do indicativo: d o u , d á s, d á , dam os, dais, dão
zir água), desaguar e enxaguar recebem o acento tônico no IvJ du rndíe.il Pretérito perfeito do indicativo: dei, deste, deu, dem os, destes, d eram
CTurdguo, ertvdguas, en xágu a, en xágu am ; enxágue, enxágue.^í, wi.víííJiíc, Presente do subjuntivo: d ê, d ês , d ê, dem os, deis, deem
cruvóguem.
Crer (e descrer)
7.Ô. 11.7 Xerbo.s c iii-uir
Presente do indicativo: creio, crês, crê, erem os, credes, creem
O.s verbos em -uir são geralmente regulares. Uma particularidade a ser no­
tada ú a grafia com i da voga) temática nas segunda e terceira pessoas do Pretérito perfeito do indicativo: cri, creste, creu, crem os, crestes, crera m
singular do presente do indicativo: concluo, concluís, conclui, eonehiimos.
concluís, concluem. Uns poucos verbos desta subclasse nâo sâo empre­ Ir
gados na primeira pessoa do singular do presente do indicativo c, conse­ Presente do indicativo: vou, v a is , v a i, v am os, ides, vão
quentemente, cm lodo o presente do subjuntivo; os mais conhecidos são Pretérito imperfeito do indicati\'o: ía, ias, ia, íam os, ícis, iani
ruir. puir e deliiu|uir. Somente dois verbos apresentam variayão dc radic:d Pretérito perfeito do indicativo, f iii,fo s t e ,fo i,fo m o s ,/ o s t e s ,fo r a m
destruir e coiistniir, que trocam u por 6 nas segunda e terceira pessoas do Presente do subjuntivo: v íí , vãs, vri, vamos, vades. vão
singular do presente dt) indicativo: destróis, destrói; coustróis.wmtm.
Ix;r
conjuga-se como crer
1<Í2 urA ItTA l'AKTF. - MOHHHAMilA H.KXIONAI. K KINTAXK
.SÉTIMO t a iT l fU l: .vs I-.IUVIIIS; CLISSES, V.\RI,\l.ll(l E .SIÜ.VIF10.\lAO 193

P ô r (e derivados: co m p o r, d isp or etc.) mobilidade posicionai em relação ao termo que ele modifica. Existem vá-
Presente do indicativo: p o n h o , p õ es, p õ e, pom os, pondes, põem riíis subclasses semânticas e sintáticas de advérbio. A maioria delas, porém,
Pretérito perfeito do indicativo: p u s, puseste, pôs, pusemos, pusesics, empreéa-.se para localizar no tempo ou no espaço os objetos a que fazemos
p u sera m referência nos nossos discursos. Exprimem basicamente posições temporais
Pretérito imperfeito do indicativo: pu n h a, punhas, punha, púnlia- (advérbios de tempo) relativamentc a um ponto convencional na linha do
m//s, p ú n h eis, puniuxm tempo: cedo, tarde, ontem, hoje, amanhã, antes, a^ora, depois, então, ai,
héo,,iá. ainda, sem pre, nunca; exprimem basicamente posições espaciais
Rir (e sorrir) Presente do indicativo: rio, ris, ri, rimo,s, rides, riem (advérbios de lugar) relativamente a um ponto convencional no espaço, físi­
co ou textual; aqui. aí, ali, lá, aeotã. acima, abaixo, além, aquém , dentro,
Ser fora, (tfhra, atrás, alhures. São menos numerosas as subclasses dos advér­
Presente do indicativo: so u , és, é, som os, sois, são bios de Intensidade; muito, pouco, bastante, a.ssas, mais, menos, apen as,
Pretérito perfeito do indicati\’o:./uí,/oste,.tbí,.tbmo.s,_ti).stf,s'.,/óraiii quase, dem ais; de modo: assim , bem, mal, como (nas frases interrogativas);
Pretérito imperfeito do indicativo: cra , eras. era. éramos, éreis, eram de dúvida: talvez, quiçá, porventura; de adição/inclusão: também, inclu.si-
Presente do subjuntivo: seja , s e ja s , .seja, sejam os, sejais, sejam ve, até, ainda; de focalização: só, apenas, sobretudo, até; de negação: não.
Imperativo afirmativo: sê (tu), .sede (vós)
7.7.1.1 .\d\ érbio.s de tempo: ocasião, duração e frequência
Ter (e derivados: conter, entreter, suster etc.) As formas que nossas gramáticas e dicionários tradicionalmente classificam
Presente do indicativo: ten h o, ten s, tem , tem os, tendes, têm como advérbios d e tem po se organizam, quanto ao sentido que e,\pressam
Pretérito perfeito: tiv e, tive.ste, teve, tivem os, tivestes, (iterniii no discurso, em pequenos subgrupos, a saber:
Pretérito imperfeito; tin h a, tin h as, tinha, tínhamos, tinheis. linlum
a) ontem / hoje / amanhã. Este subgrupo refere-se a uma ocasião
Ver (e derivados; prever, antever, rever) - mais e.xatamente, o dia - reconhecível pelos interlocutores re-
Presente do indicativo: v ejo , v ês, v ê. vem os, vedes, veem lativaniente ao momento (ou dia) em que acontece a enunciação.
Pretérito perfeito; v i, v iste, viu . v im o s, vistes, viram Trata-se de um caso típico de dêixis:
• A loja não abriu ontem ! não abre hoje / não abrirá am anhã.
Vir (e derivados que não .sejam defeetivos: provir, intenir, voiivir)
Presente do indicativo: v en h o , v en s, vem , vim os, vindes, vim b) agora /tuites / depois / então. Este subgrupo refere-se a uma oca­
l^retéritt) perfeito: v im , v ieste , v eio , viem os, viestes, vieram sião arbitrária, reconhecível pelos interlocutores relativamente ao
Pretérito imperfeito: vin ha, vin has, vinha, vndiamos, vínheis, vinimn momento da enunciação (função dêitica) ou a um ponto de refe­
rência instituído no próprio discurso ou texto (função anafórica);
7 .7 CI..\.SSi;,S I.NVARI.^VKIS • Agora / Antes /Depois quero lhe apresentar um amigo (dêixis)
<) firiipo das classes invari.-íveis compreende o advérbio, a preposivão, ax • Pediu primeiro um copo d’água e depois um café (anáfora)
eoiijunções subordinutiva e eoordenatixai, e a interjeição. A imálisv distas • Entrou apressado no carro, e só então reparou que os sapatos
classes, que não ,se di.stinttuem pela morfolofiia, está eoniplcmviiiada cm não formavam um par (anáfora).
outras seções, seja secundo seu funcionamento como unidade d» di.scurso
- a interjeição - (ver 4..1..S), seja como constituintes dos sim.ifimasc ara- Por não ,se referirem a momentos pontuais, mas a inten’alos de tempo
ções (ver décimo quarto capítulo). de duração variável, antes e d epois têm a singularidade de poderem ser
intensificados: muito antes, pouco depois.
7.7.1 .Vibérbio
( ) ailvérbio é a mais lietero)íênea das cla.s.ses de palavras. .Suas caraoicris- Obs.: Além de corresponder <ao momento do ato enunciativo, os inten a-
tieas típicas, além da Invariabilidade formal, s.ão a tunção iiioditicadorac o,sde tempo recortados pelos advérbios agora e hoje são compatíveis com as
194 i^I:a RTA pa r te - M0RP0L(K’.1A f l e x io n a l k sin ta xe
sfTtMM i:\m i l/i: vs t’,M WRAs: f l.^xs^s, \AK(Ai^K«> * SM.MF?r_\(^Vf> 195

formas de pretérito perfeito e de futuro {E le c h ec o u agora/hoje, Ele chetíani Estes advérbios não são indispensáveis ao conteúdo objetivo de.ssas
agora/hoje, E le c h e g a r ia a g o r a /h o je). Note-se que um enunciado como Ele fra.ses; a função deles é. sobretudo, argiimentativa, uma vez que servem
ch eg a v a h o je só é possível quando c h e g a v a equivale a cheguriu. Por outro para realçar premissas ou su.scitar inferências (ver em 4 .3 .d o conceito de
lado, um enunciado como H oje e r a d ia d e so lta r balões pode ser proferido, torça ilivutória). A.ssim. dizer E.stas bananas es tã o m a d u r a s ou C) jo g o
por exemplo, no dia consagrado a algum santo festejado no mês de junho 0 eslfi no segundo temptt pode ser uma mera constatação; por sua vez. E sta s
advérbio tem, assim, um emprego especial de datação histórica (= o dia de bananas j á estão m aduras ou O jogo J á está no .segundo tem p o implica
hoje), coincidente com a informada no calendário no dia cm que ocorre a obrigatoriamente um juízo, no caso das bananas, sobre a oportunidade de
enunciação (cf. A n tigam en te, h o je e r a d ia d e so ltar balões). A poli.ssemia do lazer u.so delas; no ca.so do jogo. sobre, entre outras coisas, a impossibilida­
advérbio h o je inclui uma outra acepção - atualm en te, cujo antônimo eotiti- de de mudança em um certo resultado. I) mesmo se observa em exem plos
g a m en te - significado também expresso pela locução boje cm dia: com ainda'; basta comparar Estas Uinanas e.stão v erd es e E sta s Ix in a n a s
• H oje {em d ia ) é fácil ter um telefone. ainda e.stão verdes. O jogo e.std no pnm eini tem po e O jo g o a in d a e s tá no
primeiro tempo.
c) sem pre / nunca. Este subgrupo expressa a polaridade - positiva .lá também sc emprega em frases imperativas, afirmativas ou negativas
v er su s negativa - da fr e q u ê n c ia do fato independentemente de [Desça j á daí! / Não desça j á dai!). .Va fornudação negativa, alterna sem
qualquer eixo referencial, isto é, não tem qualquer implicação Viiriação relevante de sentido eom ainda tXão d esça a in d a d a i!). Na for­
dêitica ou anafórica: Ele n u n ca a ten d e / sem pre atende o telefo­ mulação afirmativa, sozinho na fra.se. funciona como interjeição e alterna
ne - E le nu nca a te n d ia / s e m p r e aten dia o telefone - Ele mitico com agora (Um, dois, três... Já!/.\gora!).
a ten d e rá / s e m p r e a ten d e rá o telefone. Por outro lado. o advérbio logo . cujo sentido pritmirit) é 'sem dem ora’,
não forma par opositivo com nenhum outro; o oposto de A chei lo g o um lu ­
d) cedo / tarde. Este subgrupo expressa uma polaridade temporal gar para sentar se expressa normalmente por (iustei/D em orei a a c h a r um
qualitativa sem qualquer implicação dêitica ou anafórica. E qua­ lugar para sentar ou Depois de ulgum/nmito temjM). a ch ei um lu g a r p a r a
litativa porque ordinariamente implica juízo favorável para ado sentar. Ao lado de um verbo, nas frases imperativas, pode alternar com ;á e
e desfavorável para ta rd e, numa escala cujo meio termo é umpa­ agora (Desça logo / j á / agora dai!).
drão muito variável, segundo o evento ou situação a que se refere:
A cord ei ta r d e / c e d o hoje. S a í d a fe s ta ced o t tarde. Ca.wi cedo/ 7.7.1.2 O advérbio eni -nienfe
ta rd e. Assim como a n tes e d ep o is, prestani-se à gradação: mais ü uso dn sufixo adverbial -mente junto a adjetivos (p ro v a v elm en te, u n ic a ­
c e d o / m a is ta rd e, u m p ou co ced o /um pouco tarde. mente, tardiam ente) estende sem limite cada uma dessas séries, além de
criar outras séries. Se o adjetivo base é variável em gênero, o sufixo adver­
e) já /ainda / mais. Este subgrupo é o mais complexo; não .se relere bial se Junta à forma feminina: turdio/tardiamemte. s o n h a d o r /s o n h a d o r a -
a épocas, mas a representações do processo na sua duração (a.s- mente; mas, sutil/sutilmenie, vulgur/vulgannente.
pecto). Pode exprimir graus de proximidade do aconteeimeiiio A noção ‘de modo' foi eleita f>ela tradição escolar como característica
em relação ao momento da enunciação (O m édico Já euickxor semântica típica dos advérbios em -mente. Sabemos, porém, que os valores
/ O m éd ico a in d a v a i ch eg a r), caracterizar o contraste ema' semânticos desses advérbios são variáveis de acordo com o funcionamento
consumação (Já) e não consumação (ain da) de um processo|.' dos adjetivos de que derivam. Eis algumas dessas outras possibilidades:
ch u v a j á p a sso u /A c h u v a a in d a não passou, A.s l(jtis jii estu" a) tempo/frequêneia: Ia raram ente à escola. Visitava a mãe d i a r ia ­
eiifeita d a s p a r a o N atal ! As lojas a in d a não estão eiifeitíiil» mente, Pagou regularmente suas dívidas;
p a ra o N atal, E le n ã o tra b a lh a m a is aqui /Ele ainda rnilKilli» b) ponto de >ista/opiiiião: Provavelm ente eles já se conheciam; F r a n ­
a q u i), ou firmar o contraste entre as etapas inicial e ftiial deum camente, não sei o que dizer; Estava visivelm ente embriagado;
processo (O jo g o a in d a está no prim eiro tem po / O jogo já c) deliimtação/enquadnuiiento: Este fato está cien t(fican ien te com ­
no segun do tem po). provado, Cumprir esse prazo é hunuauxm ente impossível;
796 QI ARTA t‘AKTK - MOKtDUXílA KLF.XIONAL K SIST.WE SF.TI^r'* I M-ÍTI I f i \<v rAIA\T.\.s: 79*

d) cxtensão/intensidadc: A cidade ftcou parcialm cn te submersa. mais uma v itó r ia , d e r r o ta d o fH>rum adversário). Diversa é a situ ação da
Saiu do hospital inteÍT*amentc recuperado; preposição eni v ia jo u sem destin o, viajou com a fa m ília , v ia jo u p t t r a o
e) focalização: Chegava potítua/mente às 10:30 h.. Vim aqui unjou- Sordeste. viajo u f>elo lito n d . viajou en tre os tneses de a b ril e ju n h o , c a i x a
m c7ite para cum prim entá-lo. dcixipeláo, c a ix a fta r a ch a ru to s, ca ix a eom alça.
No primeiro conjunto, a preposição ane.xa ao verbo - enfraquecida ou
7 .7 .1 .3 O advérbio e a no<;ào de grau mesmo esvaziada de sentido próprio - constitui um apêndice dele. m ar­
Alguns advérbios que não indicam situação ou posição deftnida no espat^n/ cando sua classe sintática (ver 9.5.3). () SN' regido pela preposição fun­
tempo são passíveis de gradação, exatam ente como os adjetivos; por isso. ciona como complemento (relativo ou nominal) desse núcleo. No segundo
podem vir precedidos de um advérbio de intensidade (miitfo cedo. íxw- c«>ninnto. ela forma com a unidade seguinte um sintagma preposicional dc
ta n te tarde^ m ats íonge, pouco perto) ou receber um sutixo dc i»rau - a mnçào adverbial ou adjetiva, além de .se destacar pí>r ser uma escolha entre
exem plo do coloquial -ín/io (oedín/io, p ertin h o) e do formal -íssimo. de uso autras, pelo significado que acrescenta à construçfui.
restrito a alguns advérbios (tard issím o, cedissimo). Chama-vSe U>cução prcpositiia a combinação estável de jxtlavra,s ip ie
úfuicídc a unia p r e p o s iç ã o . As locuções prepositivas são finalizadas por
7 .7 .1 .4 L o cu ção adverbial preposição e originam sintagmas preposicionais para funções adverbiais ou
Os lugares sintáticos ocupados pelos advérbios podem ser preenchidos por adjetivas (cf. D eixei o liv ro s o b r e a mes<i - Deixei o livro crii cíinri d a mes<i -.
sintagmas fixos conhecidos com o locuções adverbiais. Muitas delas se pres­ ciogcm p elo sertã o - v ia g em em to rn o d a lua) llã dois tipos de locuções
tam à expressão de variações aspectuais do verbo (de cei5 cm quando, ás prepositivas; o que consiste na sequência preposição + substantivo (ou ad­
tíeses, d e h o r a em h o r a , p o u c o a p o u c o , p o r p ou co, de reperirc. dc supe- vérbio) + preposição’ (em cim a d e. em vez de. u mx.y> de. a resp eito d e . p o r
cõo), intensificações do processo verbal, muito comuns na língua talada dmtrode, p o r v o lta d e ) e o formado por 'advérbio + preposição’ [p erto d e .
informal (à b e ç a , p r a b u rr o , p r a c a c h o r r o ), modos do processo verbal (de íongede./ora d e, a lé m d e). O primeiro destes dois modelos é alcamcnte pro­
binAços, d e la d o , d e m ã o em m ã o , em p é, com p ressa, aos trancos, por dutivo, uma vez que, valendo-se de substantiv os. ser\ e à e.xpressão de um va­
m ila g r e ). As formas diniinutivas à ta rd in h a , d e manhãxiii)ha são típicas do riadoleque de conteúdos. aJém das noções espaciais e temporais caracterís-
registro informal, falado ou escrito. tícas do segundo modelo: cYin.sa (cm virtu de d e. p iirfo rça de, ;x>r cm rsa d e ,
Abordaremos no décimo terceiro c.apítulo as subclasses sintáticas do.s por motivo de, em f u n ç ã o d e), referên cia (cm rela çã o u, a respe*ífo d e . em
advérbios e das locuções adverbiais. ícT7nosí/c, a p ro p ó sito d e ), co n ce,ssão [u despeito de, em (pte p e s e a ), cori-
truste.suh.seituição ou p r e te r iç ã o (em v ez d e. em lugar dc. d c p r e fe r ê n c ia a .
7 .7 .2 Preposição m detrimento d e), m eio ou in stru m en to [p o r m eio de, fX)r in term éd io d e ).
Chama-se preposição a pa/avra in v a riá v e l Cfue precede uma unidad< iiudüUule [de m odo a , d e m o ld e a. a f i m d e), pn/veito ou p reju ízo {a f a v o r
n o m in a l —su b s ta n tiv o , p r fm o m e su b stan tiv o , inftniiiv<t convcrtcndini >lc.emfiinção de, em p ro v eito d e . em preju ízo d e. em dcfrimcmo d c ) etc.
em c o n stitu in te d e u m a u jxidade m a io r. Por estar sempre apta a originar
construções ou locuções de caráter adjetivo ou adverbial, a preposi^ào e. Obs.: .Vlgumas preposições ocorrem combinadas - sem que con stitu ­
sobretudo, do ponto de vista sintático, um traii,spositor (ver 14.7). amiwuçâo prepositiva - na expressão de noções locativas mistas. São c o ­
Tanto quanto as demais espécies dc conectivos, as preposições eoiiiri- muns as combinações p o r e n tr e , p o r s o b r e , d e so b e d c en tre:
huem de forma mais ou menos relevante para o signítieado das eonstruçt^c^ • “Essas festas m arcam momentos em que a religião transborda
dc que participam. Essa maior ou menor relevância está relacionada aa< p o r s o b r e a \'ida social mais ampla e daí volta a retluir para a
graus de liberdade do eiiunciador iia seleção da preposição. Em muitos esfera do privado...” (H\’PB 4, 1998: 1(>2|
casos, a preposição não é escolhida pelo que significa, nias imposta ao usu­
• ‘Pé ante pé dirigi-me i\ cômoda, abri a gaveta e retirei d e s o b
ário da língua pelo contexto sintático; isto é, ela é selecionada pela palavn»
a roupa dobrada o pequeno revólver." |(lVRDOSO. 2 0 0 2 : 297|
c|iie a precede, seja um verbo, uni substantivo, um adjetivo ou iini ad\êrbio
(c.\. d e p e n d o tle v o c ú , c o n c o r d o c o m v o c ê , rcfiro-m c a voeC\ confiante cm
198 01'AKTA l*AKTf. - M0HF01AK;IA K1.KX10NA1. K MNT.AXK

7.7..'^ Cí>iijun(;ão siih<>r*.Uiiati\ a


C ham a-se co n ju n çã o su b o rd in ativ a a p a la v r a in v a riá v el que. unapiis.
O IT W O C .V !‘ Í T r i , 0 : O P E R Í O D O S I .M P L E S I :
ta a u m a o r a ç ã o c o m v e r b o fl e x i o n a d o e m tem p o , fo rm a c(im dii um
s in t a g m a d e r iv a d o . As co n ju n çõ e s subordinativas são de duas espOtn.\ A i>i u : d k : a (.; ã o e a s c a t e g ü k i .\ s d o v e r b o

segundo a classe do sintagm a que originam : c o n ju n ç õ e s ímcgniiitcs (uu


nom in alizad ores), quando originam sintagm as nominais, e ci<níuiu,'/ts
a d v e r b ia is , quando originam sintagm as adverbiais (Para delalhes. vu
décim o qu arto ca p ítu lo , esp ecialm en te os itens 14.7 e 14.H). INirsuatn-
pacidade de origin ar sintagm as, as co n ju n ções subordinativ as íorm.im an
lado das p rep osiçõ es um a am pla classe de conectivos de subordina<;ã(i. t
com o estas, atuam com o transpositores. A maioria das conjunções suNir- S.l O SlN TAíiM A VKKBAL K A BKKDU:A<:Ã<)
dinativas adverbiais é form ada por com bin ações estáveis linalit.adas pd» Épí)r meio do verbo que se realiza a predicarão. I*c1 í >ato dc p red icar, o s e r
co n ectivo padrão q u e , co n h ecid as com o locuções conjuntivas (.sempre humano associa um atributo a um objeto, circunscrevendo essa as.so ciaçâo
q u e , à m e d i d a q u e , p a r a q u e , c o n ta n to q u e , a in d a q u e etc.). .1 alguma fase da linha do tempo, rcspcctivam ente atual, a n te rio r c p o s te ­
rior ao momento da fala em:
7 .7 .4 C o n ju n ção coord enatis a • A rua e.*fUí deserta.
Cham a-se co n ju n çã o eoordenativa a e s p é c ie d e palavra grumalieul que • A rua escavei deserta.
u n e d u a s o u m a is u n id a d e s (p a la v r a s , s in ta g m a s ou orações) riu mesma • A rua estarei deserta.
c la s s e f o r m a l e m e s m o v a lo r s in tá tic o . As conjunções coordenaiivas típi­
cas são e (aditiva), o u (alternativa) e m a s (adversativa). Para uma .análise Este modelo de união de uma entidade —a n i a - e seu atrib u to —d e s e r ­
detalhada, ver 14 .1 0 . ta-constitui uma proposição. A ru a é um sintagma nom inal na fu n çã o d c
sujeito, está d es erta é um sintagma \erbal na função de pred icad o. (Jrnçxis
à predicação, não apenas isolamos uma parcela de nos.sa e x p e r iê n c ia re fe -
7.8 PRO.NO.MK RKL.VTIVO renciando-a num sintagma nominal (ver 1 0 . ma s tam bêni ‘p ro n u n c ía m o -
Cham a-se p ronom e relatívo a c la s s e d e p a la v ra s gramaticais que raiue •nos’ sobre essa parcela, formulando um pensam ento, em itin d o um ju íz o ,
a s c a r a c t e r ís t ic a s a n a /ó r ic a s d o p r o n o m e pesso a l e a flaição emieenea
relatando um fato. Os sintagmíis nominais recortam as e n tid ad e s a q u e
d a c o n ju n ç ã o s u b o r d in a t iv a . O pronome relativo empregado em tudasas
estanio.s nos referindo, mas só os sintagmas verbais —graças à fu n çã o p re d i-
variedades da língua é q u e ; as form as c u jo e o q u a l ~ e respectivas varia­
cadora que o verbo os habilita a e.xercer —possibilitam que e.ssas e n tid a d e s
H' [ornem tema de xdgum com entário e fiquem su jeitas à te m p o ra lid a d e
ções - pertencem às variedades form ais da língua. Para detalhes, ver 11.’
que caracteriza a oração c viabiliza a expressão da dinxlmica p ró p ria d o s
e 1 4.12.4.
acontecimentos e do fiuxo da vida:
• O pitbull nunca y e n ra ninguêni, mas c e r to dia citciau ii o s
7.y ADVÉRBIO RELATIVO
p ró p rio s donos*.
Assim se classificam os advérbios o n d e , co m o e q u a n d o sempre que .itiiaitt
com as propriedades anafóricas e conectivas do pronome relativo.
Para cumprir esse papel, o sintagma verbal c o n ce n tra em su a c o m p o ­
• “Desde os idos da colonização, q u a n d o Portugal aplicava nu
sição um complexo conjunto de inform ações; t e m p o , a s p e c to , m u d o , ‘v o s
Brasil suas O rdenações, o corte de árvores sem autorittivãoj-i
número e pessoa - categorias gram aticais associadas ao c o n c e ito m e s m o d e
era tratado com o crim e.” (O G lobo, 4/4/2008: 7) Verbo e expressas, com exceção da voz, m ediante suas v a ria çõ e s d e fo rm a
• “Pelo je ito c o m o a locomotiva entrou na estação, já podin *' (vocábulos morfossintííticos (ver 6 .9 .1 . 1 e 6 .9 .1 .5 .2 1 ).
pretisentir a decepção e, o que é pior, o caos.” (CON)', C. II 1'^-' À extraordinária maleabilidade morfológica - um a vez q u e p o d e a s s u ­
55] mir pouco mais de sessenta variações flexionais - o v erbo a lia a in d a u m a
2 0 0 Q V .\H T .\ l■.\nTE - M{>RFl>UX;i,\ F1.KX10NA1. KSIST.WE •-M in |«» M It.RJulK. siM ril> I V 1'hM-li M..\. •F ÍW» \ KKJUI

variada tipologia sintática e semântica (ver nono capítulo) que t‘az dele um a assoeiaçao semantica com os verlios de que .xe originam, essas palavras
elemento decisivo tanto para a dcíinição do padrão formal da oração quan também se tomaram ini ariáveis. pas.sando de adjetivos a preposições. Este
to para a construção sintática de seu significado. lenòmetio evolutivo é‘ eonhecido como gniiiiatíealiznção. São caracterís­
ticas das formas gramaiicíilizada.s: esvaziamento ou enfraquecim ento do
S .2 V E R B O - E IX O E S T R L T E R .\ L DA OR,\CÃO sentido léxico, tendência ã invarial>ilidade métrfiea. mudança de classe,
O verbo é, assim, a garantia formal da existência do predicado e. ptínante, cíimportamenlo auxiliar nas construções.
da própria oração, pois é por meio de sua variação morfossintntieaqiK. se Por ser um conceito relacionado à mudança histórica de uma língua, a
exprimem o tempo, o modo, a pessoa, o número e a distinção nspcaual Érnmaiiealização apresenta graus. <>verbo, por exemplo, tjue c uma palavra
entre o pretérito perfeito e o imperfeito. N.iriávcl |K>r excelência, é submetido à gramaiiealização em graus variáveis
Retomando o exemplo que vimos comentando, notamos que seus íris segundo conscr\e ou perca, na lornia gramaiicalizada. a p<»ssibiUdade dc
constituintes - i/?7ia p e q u e n a a r a n h a , a teia e ?iesrn ío.seira íuíian/u- víiriar: durante e devidi). tais como empregados em nossos exemplos, estão
se articulam ao segmento verbal e stá c o n str u in d o , respeetivaniemc eonio em e.stágio bem avançado de gramaiiealização. Em muitos casos, porém ,
‘agente’, ‘paciente’, e ‘espaço'. ‘Agente*, ‘paciente* e ‘espaço* são papéis se­ nota-se oscilação do uso, com<í acontece na variaçãi) hú /hu via que se pode
mânticos (cf. 6.5.4) compatíveis com \’crbos como con.stníõ. Por oeuparem registrar em Ele nào apítrceín acfui lui/havia dnis m eses.
certas posições e serem submetidos a alterações formais bem dcfinida.s. os O Fui! das despedidas e o \h/eu.' como fórmula de agradeeim onto,
constituintes que expressam aqueles papéis exercem, em relação no vcrKx usuais na linguagem dos jovens, consagraram formas do pretérito perfeito
as funções sintáticas de ‘sujeito* (i/mn p e q u e n a a ra n h a ), de ‘objeto'(afc*la| (aspecto concluído/consumado) para realizar, em fi)rnias gram aticali/adas.
e de ‘adjunto’ (7íesf« r o se ir a ). atos de fala brevíssimos com que se encerra um turno de fala ou. m uitas
Excetuados uns poucos casos que vêm listados em qualquer ;^ramáticj vezes, 0 próprio evento convcr.saclonal. São formas erí.stalizadas, aptas a
(ver o conceito de ‘verbo impessoal' |9.13| e, no âmbito desta elasse. os funções de rotina (pragmaticamente previsíveis), prontas para uso cm fases
verbos referentes aos fenômenos da natureza; am a n h ecer, tmeejur eteX bem marcadas do processo ooimmieaiivo.
o verbo ordinariamente se articula a outro constituinte para compor a ora­ 0 gerúndio de alguns verbos também se vai cristalizando em o.xpros-
ção. Este constituinte ocorre coinumente sol^ a forma do substantivo (P««- sões introdutoras dc ‘balizamentos de compreensão’ (ver 4.5.(>.2.3 e 14. ID):
/o e s tá f e l i z , A b o m b a e x p lo d iu ) ou pronome ( £ 1/ viajei). Por serem iJen- (IcfKmdendo de, p en san d o hem . m udando d e assu n to.
tificadas graças às suas características formais, tamo a oração ajmo siia-s • "D ependendo di\ embarcação, no entanto, esse núm ero pode­
partes são unidades ou classes da gramática. Como \’imos no sexto capítulo, ría ser muito maior. ' [GOMES. 2007: K>2|
estas partes sao coniiecidas como sintagmas. Desse modo. a estnitnra pj*
drào da oração em português comporta dois lugares funcionais: 0 .sujeito Uns poucos verbos entraram, pola via da grnmaticalizaçào, em locu ções
{P a u lo , a b o m b a , eu) e o predicado {está fe l i z , e xp lo d iu , viajei): snieiUH que funcionam et>nio autênticos conectores discursivos ou advérbios mpdali-
predicado não são classes, mas funções exercidas pelas partes - simaiimii-'^ zadores; ou seja, isto é, sei Ui. quem sabe. \s vezes dois vcrlx)s. seguidos ou
- que constituem a oração. O lugar funcional do sujeito é preeneliidopelo intercalados por outra expressão, gramaticalizani-sc com o uma dessas lo cu ­
sintagma nominal (SN) e o lugar funcional do prcdictido é oeupadoiKjo ções; quer dizer, vale d izer (conectores discursivos), seja c o m o f o r . hcija o
sintagma verbal (S\^). Este é formado pelo que chamaremos núelcti wrbal que /imiivr, ctisfe o q u e cu sta r, doa a quem d o er (locuções adverbiais).
(NV) acompanhado ou não de termos adjacentes (sintagmas nominais.sin- A previsibilidade pragmática e simagmática é uma das principais c a ra c ­
tíigmas adjetivos, sintagmas adverbiais, sintagmas preposicionais). terísticas do emprego de uns poucos verbos que tendem para a gram aiicaliza-
Vão. seja como mero lugar niórfico das categorias m orfossintáticas (o exem plo
<;r a m a t k :a m z a ç ã o de verbo s lipicü c o dos verbos ter/hav er como auxiliares na fom iação dos ch am ad os
J’alavras como d e v id o (do verbo d e v e r) c d u ra n te (do verbo (inmr) têm tempos compostos), seja com função modalizadora {E la p o d e / d ev e / v a i
scii sentido léxico dc verbo esvaziado em construções como Xâo ímlxil/w* dispuíur o fítu/o), seja com função aspectual (Eies e stõ o /.ficam / v à o tno-
</cví</o a imí^bríc resfria d o c Viajou d u ra n te as féria s. Além dc pordcai*' ^mdo íiqui até a ca sa f i c a r pro n ta ), O efeito mais óbvio da gram atieaU zação
a ü

J 0 2 Ol’A«TA l‘AHTK- MOHHHAHilAH.KXIONAI. V. SINTAXK •1 iiiiijHiMvtci ».si- Arnrim:,\r.:,S'j i. .csi..\rH/"iuAs i ja ?

dc certos verbos c u passagem deles a verbos aiixilisires (ef. 8.^) c ;i verbos c) O agricultor conicça u colher hananas.
de ligação (ef. 9.v^). Também estão grnmaticalizados os verbos .ser c./íiütrcni d) () agricultor conrímm a colher bananas.
função vieãria ou sulxstitutiva, semelhante à de eertos pronomes pcssoíils. Na lorma ‘a', que podemos considerar a ninis básica c nào m arcada
• Se um dia ele voltasse, s eria para ftear. (ver 6.7 para o conceito dc marea), as noções gramaticais .são tem p o pre-
• Pisou no meu pé, mas sei que nfio./es (isso) por innl. .scriíc, m odo itidieativo, pessfxí u .si';ign/ar. ICm ‘b’ ocorrem as noções
• “Sem pre calculei que um dia voltaria a eserever-llic, v svo gramaticais dc ‘a* acrescidas de nova especlHcação da estrutura interna do
/ a ç o agora, eom olhos enevoados, é que tenho a almn tnuwdn processo; p rojiressiva . Kni ‘c’, o ato dc c o / / ic t c focalizado em uma fase de-
pelo que me a co n tece.” |CAIU)OS(). 2002; 02.11 icrmínada - o início; c cm ‘d’ colher é um ato que tcrii Início cm m om ento
• “Acredito que o autor do artigo não tenha lido o íintcrior ao presente c so estende até o presente.
tivoou, se o / e z j o i de modo muito siiperrtcial." (HITTAK,.lf)ri,V Em ctdhe/colhia/eolhcrá, varia-se o tem po; ein ctjlhc/colha o u c o lh ia /
O G lo b o , 9/5/2008). colhesse, v a ria -s e o m od o; já ein volhe/estú co//iení/f>/comcv« <i cf>//icr/t.'ofío
acolher, o te m p o é o m esm o (p re sen te ), o que varia é o a s p e c to ( c o n s t a n t e
Outros verbos - notadam ente d a r e te r - tendem a grnmaticulizar sc /progressivo / in co a tiv o / roiterativ o). O utras v ariaçõ es a s p e c tu a is ;./ ic « c o -
em constru ções transitivas cujo objeto, geralniente um suhsiantívoabstra­ //icndo, p a ra d c colh er, volta a colher, está para colher, a ca b a d e c o lh e r ,
to de ação ou processo, sobressai como núcleo inionnacional do prcdicadn fxissu a co lh er, vam colhendo, tem colhido, vem u colher.
(cf. E le s d e r a m u m pas.seio [ * E le s pu.s.searom|). Ksse modelo estrutural A atitude enunciativa, por sua vez. recobre as noções de p o ssib ilid a ­
tem amplo uso, seja porque supre alguma lacuna lexical (duruni mmcooii de, pen n issã o , oòrígaçdo c necessidade - ordinariamente expressas pelos
t e r j e i t o nào têm correspondentes eni um vcrlx) simples), .seja portílvracr verbos poder, d e v e r e ter {dc/que):
alternativas de sentido que os verbos simples não CMmsegueni expressar • O agricultor pode co//icr bananas (possibilidade/pemiissão).
d a r v o l t a não é o m esm o que v o lta r , d a r u m e w jn trr â o pode significar • O agricultor í/ece a d h er bananas (possibilidadc/obrigação),
‘em purrar’ ou ‘favorecer’ |cf. d a r u m e m p u r r ã o z iu lu )\, acepção em qiic i • O agricultor rem de colher bananas (obrigaçüo/necessidadc).
insubstituível pela forma simples do verlw; d u r jyulos exprime um aspato
diferente de /jw/ar*'. llá um terceiro gmpo de verbos com íunçãogramatical na formação do
núeleo verbal: ter/haver, s e r e ir. Tcr//i«cer ocorre sempre seguido de um
8 .4 K S T K rT rU A 1 )0 N rC b K O VKKBAL: partlcíplo invariável (íín/ia / havia colhido), s er ocorre sempre seguido de
VKKHO PKIN CIPA I. IC VIÍU BO S AI XIUA RKS uni particípiü variável (eru colhido / colhida) e ir ocorro seguido dc um in­
O núcleo verbal (N\’) consiste na combinação de unia unidade léxica c um finitivo, exprimindo fuiuridade/posterioridade (caí / ia c o lh er), ou seguido
conjunto de conteúdos gramaticais. A unidade léxica é reprc.semada |x>riitn de gerúndio. exprimindo continuidade (caí /í« colhendo).
verbo chainado ‘principal’, e os conteúdos gramaticais são e.vpressos pormiii' Chama-se principal o verbo que fica mais à direita no núcleo verbal e
dc variações m orfossintãticas (ver 6 .5.5) do ver!x> principal (VI') mi iiiodiunu auxiliares os verbos que precedem o verbo principal com a função de expri­
outro(s) vcrbo(s) antcposto(s) ao VP, chamado(s) ‘vcrbo(s) auxiliarlei)' mir os conteúdos gramaticais acima referidos.
conteúdos gram aticais abrangem as noções de tempo/modo, núnieru/iKwti
e outras duas ordens dc variações: a ‘estrutura interna' do processo (aspcon' 8.5 NrMKUO K PBSSOA ÜA KOKMA VKRBAL: A CONCÜRIXVNCIA
e desdobramento da ação) c a ‘atitude enunclativa’ (modalidade) ü verbo apresenta variações formais para a expressão das categorias üe
( loiisidcrem os quatro enunciados possíveis com o verbo nu'‘ número (singular X plural) c de pessoa (primeira, segunda, terceira) do res­
tenham por su jeito o SN o a g r ic u lt o r c por objeto o SN humams pectivo sujeito ou, em construções exclusivas do verbo ser, do predicativo.
a ) O agricultor co lh e hananas, Trata-se do fenômeno da concordância: cu quero/cía quer/nús querem os.
li) O agricultor e stá c o lh e n d o bananas, I^ara a descrição do mecanismo tlexional do verbo, consultar o sétimo capí­
tulo (7.6); para a descrição dos processos dc concordância verbal, consultar
0 nono capítulo (9.12 e 9.13).
* NI \ I' S. Maria I k-lviia dc Moiiru. “KsinJo ilas cunstruvões com \’crlio-sup**fi'-' |x*auíi'i-
Koril
204 Ü»'ARTA 1'ARTE - MORFOI.»K',l.\ n.KXI»>SAL K SIXTAXK 205

S .6 A DÊIXIS K AS RKLAÇÕKS l)K TEMPO EXPRESSAS situados om época simultânea, anlcritir ou posterior a esse mareo tenipornl-
POR MEIO OO VERUO'^ llizemos tradicionalmenle ipie o que se situa em época anteritír ao m om en-
o tempo e o espaço são partes substanciais das relações do liomein aim n 1 to da enunciação está no ; hi,s.s«(/o
mundo. Ambos são medidos: o tem po, cm minutos, horas, dias, niesus. sé­ j • O Brasil conqttisani a tiopa do Mundo no .lapão.
culos; o e.spaço, em centímetros, metros, quilômetros, milhas. Um e nuiru
são referências necessárias na vida social de cada um de nós. Por isso. a Vque o que se situa em épixta posterior ao momento da enunciação esrrí
língua que falamos está repleta de recursos para que possamos situar nos­ no ftitiim
sas ações em relação aos dois: agora, antCH, depoia, ainda - para ti iL-mi». j • () homem d escerá em .Marte.
a q u i, a c im a , a b a ix o , a lém - para o espaço.
As formas destacadas acima em itálico são advérbios cujo eomciido só Tudo o que o falante não precisa, não ipier mi não pode situar cni
pode ser objetivamente identificado pelos interlocutores envolvidos notvtnio uma des.sas duas épocas - anterior ou posterior ao momento da enunciação
comunicativo. Todo evento é situado no tempo e no espaço, e sc desenrnlia j -vem representado, por exclusão, eoino pre.seme
partir de um ator central: aquele que fala, o qual assume a palavra e a diníc • O Oceant) Atlântico banha a cost;i lirasileira.
a outro ator. Na situação típica dc comunicação - o diálogo -, o indiWduuquc • r\s mangas .são frutas tropicais
fala refere-se a si mesmo como eu e designa seu om inte como íu/txjcc. Aort- • O sol ua.scc para todos.
ferir-se ao espaço em que se encontra, o indivíduo que fala identifica-o como
a q u i; e ao referir-se ao momento em que fala, pode dcsi)^á-lo comorigoru. A noção dc presente como tempo gramatical não pode. portanto, ser
Eu, v o c ê , a q u i e ag o ra não nomeiam indivíduos, lugar c época deter­ definida como ‘momento em que .se fala’ Este é, apenas, o m om ento da
minados e constantes, mas apenas ‘o indivíduo que fala’, 'alguém a quemele enunciação. Quando alguém diz A água.terve a cem graus ou () .sol lu isc e
se dirige’, e o ‘lugar’ e a ‘ocasião’ em que ocorre o diálogo. Seus conteúdos para todos, enuncia fatos que são verdadeiros em qutdt|ucr época, seja por­
não são, portanto, objetivos e externos à fala (com o Paulo. Maria, na sabe que 0 falante tem essa opinião sobre eles, seja port|uc são vertiadcs c ie n ­
à s 10 h o r a s ), mas situacionais c exclusivos do ato de falar, fora do qual não tíficas ou aceitas como gerais. O que importa, nestas proposições, é que a
podem ser reconhecidos. Esta maneira dc significar recebe o nonicdedêi- pessoa que as enuncia o faz de maneira genérica, sem precisar situá-las n;i
xis (termo derivado de uma palavra grega que significa ‘indicar, mostrar), linha do tempo.
e as categorias gramaticais de pessoa c tempo - por tomarem o enunciador Já quem diz
e o momento da enunciação como referência - se dizem categorias dciii- • Os soldados v o lta ra m da guerra.
cas. “A dêixis é, portanto, um processo de incorporação significativa, pela • Minha mãe t r a b a lh a v a na lavoura.
linguagem, de elementos reais acessíveis pela sua proximidade, pela sua • ü homem d e s c e r á em Marte.
evidência, no campo perceptivo comum ao locutor e interlocutor"*’
A pessoa que fala - ou escreve - ‘comanda’, por assim dizer, a atividade está referindo-.se a fatos que têm uma localização temporal, sc não e sp e ­
discursiva, normalmcnte transformando-a - ou colaborando para transíor- cifica, pelo menos necessariam ente anterior ou posterior ao m om ento da
má-la - numa complexa rede de atos de significação que têm nora, noíii|UÍ enunciação.
e no a g o r a do discurso seus pontos de referência. A representação do aiiip' Tudo isso é muito óbvio e simples. Mas a linguagem tem seus c a p ri­
como categoria da linguagem verbal é parte dessa atividade discursiva, qui­ chos. como veremos no décim o quinto capítulo, dedicado ao em prego dos
tem no momento da enunciação (ME) seu ponto de referência principal tempos e mudos do verbo.
Esse a g o r a - momento da enunciação - é o marco temponil básictido
falante, c os fatos e idéias relatados pela pessoa que fala/escrcvc podcntsi S-7 O .VSBECTO VERBAL
0 conceito de aspecto, diferentem ente das noções de tem po e de m od o, n ão
*' Consultar ÜENVKNIiSTK, Emílo. "O Aparelho Formal da KnuncinçAo". In: llENVliKISTt 11**’’'*
Nl-Olil o FIÜKIN l i m | .
c tradicíonalmente m encionado com esse nome nas gram áticas e sc o la re s.
*‘ FON.SlíCA ( l ‘AM: I.S9|. Apesar disso, é ao aspecto verbal que os gramáticos se referem quando ex-
u r SIUA MuHMH.tH.IA H IM ilN AI t. MNIAXV

i. Ini \MM|i.i.|t|,s I
pllcíim, soja a ilil'oroni;a cio sidiiilioacli) onlio O ccii ousii/oO irii
soja a (liforoiiva do siftnilioado onlio as forinas vorlials assinaladas biremos inieialmente cpie h;i tinas maneiras de eoneeber o p ro cesso
expresso pelo verbo: eoinpleto ou eoutduâ/o. eoino em O Jo ix Iin eir o c it r t o ii
cornou <{<)is ik I cs ito c q lc tid iiunthã (avflo porfooliva, omioliiida v iiaiiáriu
111,'nuna, e ineom|rleto ou uõo eoiie/uú/o, como ein ( f iitrd in eiro eorí/i-
0 l ' a i ih c o in iíi d o is pões ito 0((/'c d o imiului (a(,‘ão imporíooliva, iiãnmu.
ni II .érmiKi. Tanto o processo eonelnído como o não eoneinido podem ,
oliiída o liabllual).
pir sua vez. .ser espeeitieados eoino pn iiiressiv o on mio p r n iir es siv o . (ib a -
NornialinoiUo, oiuonclomos cpio om O ocii d u u d , a u il 0 ama i|iialiJ,nli-
iiiamos progressivo o proees.so t|ue é iiee es siih n m eiite repre.sentado eoin o
pormanonio do oóii, jií om () oóu csíõ osu/, «sid c; iinia c|ualidailo adiiniriilnc-
alio ipie ,se estende no tempo', como em t> jiirdiiieíro c.srõ eorfuiufo <i
(oniporária, rosidtanto do aliiiima nuidaiiva. () vorixi ser limila-so a asMiciat irroiiii (processo não eonelnído, proére.ssivo) e não progressivo o [rroee.sso
o atributo (eteu/) ao sor do c|uo so fala (oóu); o vorboosmr,omrolanln.ivdm simples de O /iirdímiro eoríii u íininui (processo não eonelnído, não pro-
nas prodio;n;<'>os para indicar t|iio iim atributo oii prooossn roprcscaiia mm tres.sivo). No eonjunto proee.sso eoneliiido. temos <>jo r tlin e in i c o r t o u ii
1'aso (inicial, intofniodiária ou bnal) do inn ovoiito maior. As diias íoriu.i.ses­ liniimi (proee.sso eonelnído. não proére.ssivo), () iu n liiieiro tem c o r t o d o
tão no prosonto, o a oposivão poniiimonto X lonipor.irio (soliro a sciníiiuia iijlmmii (processo eonelnído, |>roí>ressivo) e ( i jiirílin eiro e s t e v e e o r t u i u l o o
dos verbos do liftat^ão, vor ').,)) ó oonsidorada nina distini,‘ão a,s|K‘c'liial, l)s imimi (proees.so eonelnído, proéressix o). O ipie distinéne os dois últim os
outros dois exem plos nos inforinain sobro dnas :n;õos situadas an passaiia: exemplos é c|ue a ai;ão do primeiro 'reiiete-se' desde um ponto no passado
■noineiitâiioii o oonoliiíclii om cimictt, mas babitiial o não ooiicliiicbi ciiicis atéiipre.sente (proee.s.so ile n a iv o ) . ao passo cpie a ai;ão do .seiimulo é repre-
tniii. Trata-.so também do nina distini,'ão do aspectos. seiitíida como de duravão eontínna (processo eiir siv o ).
■Miai.xo apre.sentainos nin c|iiadro esipiem átieo das v ariaçõ e s a.sp eetu ais
N .7 .1 (à iiio o ilo elo a sp e cto lendo como ponto de referên eia ( l ’K) o pre.sente:
A cato tío ria do a.spooto roforo-so, portan to , ã diiraeõo do imiccssii ixrliul.
iiiilcpciidetu cvicn tc tht cpovti om (pw e s s e proooseso oooriv. Kssa (iurai;;io c u rsiv o : ( cní c^v o o r-
podo ,sor roprcasoiitada c o m o m oinoiilãnoa ou oontímia, ovoimial mi liaiii- ío»u/o (I i»romn
tu al, o o in p lo ta ou ino o n ip lo ta. Kslas olassitioavõos, é claro, não cséiuain iis pn*iircsN. ^
v ariav õ o s do a s p e c to c|iio o p ro cesso verbal podo aprosonlar; serveni lãci.sá \

para ilu s tra r o o o n o o ito .


itcnitivo: OJarilitu irn unt c*írrii-
K im p o rta n te c|ue não n o s e.sc|iievanios de cpie o lenipo e o niiHlosfia
o a to íío rias o o n tn id a s na (itíiira do en un eiad or, elas e.spressani relavncsdes­ coiicl. ^
se o iiiin o ia d o r ooin a sitna(r'ão o on nm ioatíva. () aspecto, |Hir siia vez. é uma
/
o a ra o to riz a i;ã o da e x te n s ã o do fato na linha do tempo, e nada tein :i vereum
/ iião pi-oftrevs.; ( >ianlineim eormii ti tlnimti
o p o n to do vist.a do eiuin oiador.
Kcprc.Hciitaviit» /
A sislom ati/ .avão C|iio p rop om os .ab.-nxo .servirá de base para nossas elas-
üo processo /
sitieav õ o s das n u a n o es su tis t|uo a oato;toria do aspeelo é eapaz de exprimir
i|iuiito à iJimivAo /
(asjKcto)
H.7.2 D ísiíiivõo.s a s p e e liia is ein p o rtiitiiiê s
ll'K: prcsciuc)
( )s lueio.s de repre,sentai;ão do aspecto om portuíiiiês cpie são pa.ssíveisdees-
posi«,'ão ra/.oavelineiite objetiva dizem respeito a três itens: a opo.si(,ãoenirv pmftress.: O Jíinlineim esui eorttmdo
0 oonlondo perfeotivo - pretéritos perfeito o inals-c|iio-perfeilo-e oeonteúdi' j II ííriiiiiii
iinporfoolivo - pretérito iniperfeito (ex.: ji>0m/jo/iaríi X./ocíaea), a oisisii,»’
entre ;is loruias perifrástioas d e eslu r + tíernndio e as respectivasíorinassiur não
pies (ex.: eslii iofiínido jiitííi) e a oposiyão entre as formas eompo.stasdemr eoiicl.
1 parlieípio e ;is formas iinperfeetivas simples (ex.: íem jo/iodo X foílal.
não profiress.: O (urdiiie-iro eortii ii ünim u
208 Ur.\kT.\ 1‘ARTK - MORFIHAKIIA KLEXIONAL E HINT.AVE • si.MPi.Fs r: A i ,\.s rATK*k >Ki.\s i<<» \tr im i

Nós sabemos que o signiticado preciso de uma frase depende quase sem­ v.s M O n.M .ID AD K. M O DO S 1 ) 0 VKKBO K VKKHOS M O D A IS
pre do contexto em que a utilizamos. Por isso, uma simples frase eonio 0 jar­ Ima tradição descritiva que remonta à Idade .Média e que ,sc inspira na
dineiro está cortan do a g ra m a pode ter diferentes interpretações aspccluais (ilosofia escoldstica nos ensina a reconhecer dois componentes na constru­
conforme a expressão adverbial que a acompanhei ção dos enunciados: o dictum - aquilo que é objeto da comunicação - e o
• O jardineiro está cortan do a grania desde às sete /toras, (as­ modus - a atitude ou ponto de vista do emmciador rclativamentc ao objeto
pecto cursivo) de sua comunicação. A exprcs.são do m odus (cf. 4.5.6.2..V 1) c realizada de
vári.is maneiras. Uma delas consiste em variar a entoação da fra.se para ex­
primir certeza, .admiração, dúvida, ceticismo etc. Também se pode recorrer
• O jardineiro está cortando a grama todos os sábeu/os. (aspec­ a verbos que expres.sam atitudes, como saber, du vidar e .supor, e a advér­
to iterativo) bios. como talv es, sin cera m en te, ohviam ente etc. Tr:ita-se de recursos tlc
raodaliz.ação ou modalidade.
O exemplo acima signiAca o mesmo que Ao produzir um enunciado, o falante inscreve nele. portanto, algumas
• O jardineiro tem cortado a grama todos os sábados. marcas que servem para balizar a compreen.são a .ser realizada pelo interlo­
e cutor, como na diferença entre
• O jardineiro tiem cortando a grama todos os sábados. ♦ Vocês podem sair agora, (permissão)
e
Por outro lado, certas interpretações aspectuais são inerentes ao (ipo • Vocês p recisam sair agora, (olirigatoriedade)
de significação do próprio verbo: criar, por exemplo, é compatível comuma
interpretação progressi\’a em qualquer de suas formas
Estas duas frases se distinguem quanto à modalidade. A análise clássica
• Meu pai criou cabras durante dez anos..
da modalidade distingue quatro pares de eonteúdos contrastantes: possível/
impossível, certo/contestável, obrigatório/facultativo, permitido/proibido.
ao passo que q u eb ra r tende para uma interpretação não progressiva, oque
explica a estranheza da frase
S.S. 1 O modo
• “O galho em que ele se pendurava qucbnm durante lUminutos
.\oanalisar a categoria do tempo (cf. S.6 ). mostramos que o cnunciador expres­
A e.xpre.ssão de outros conteúdos aspectuais. nuanees muitas vezes sa, por meio de mudanças fle.xion.ais do \erbo, uma série de relações, às vezes
sutis, realiza-se por meio do emprego de verbos auxiliares. .\ diferença »- sutis, entre o momento em que ele fala c as épocas em que se situam os fatos
pectual entre c r ia r e qu ebrar, nos temios apresentados acima, é análoga aque ele se refere. O enunciador é, de fato, quem comanda variados tipos de
à distinção entre se r e estar, comentada no início desta seção. Trata-.se de relações que a língiui permite exprimir, .\ssim é que. quem diz, por exemplo
uma distinção devida ao significado lé.xico desses verbos, e não de uma dife­ 1) A porta está fechtida.
rença e.xpressa por algum mecanismo formal regular na língua, eoniii se tem 2) A porta esta v a fechada.
em c ria v a X criou, qu eb ra v a X quebrou, quebra X está quebrando, cnii X 3) porta estará fechada.
tem criad o. Independentemente do tipo de significação léxica i(ue os verbs
denotem - pontual, du rativa, incoativa, iterativa - todos estão sujeitos i' emqualquer ca.so está referindo-se a situações que retrata como reais. Sua
oiKJsições aspectuais indicadas pelas variações fomiais a que estamos no> relação com o que enuncia é. nestes casos, de certesa. S o entanto, se diz
referindo nesta seção. Por isso, os linguistas que se ocupam doas|iecioierhal -1 ) E possível que a porta e.steja fechada.
preferem distinguir os conceitos de aspecto gram atical - expressão gramaii- 5) Acreditavamos que a porta estiv esse fechada.
cal do desenrolar do processo verbal - e aspecto lexical - que diz respeitoã 6 ) Toque a campainha se a porta estiv er fechada.
conceptualização do ‘estado de coisas’ - evento ou situação - realizada pdo
próprio verbo. De.sse modo, .ser e estar ou criar e quebrar se distinguem, nã'’ rr 'estado da porta’ não é mais uma informação concebida como um dado
em função do aspecto, mas da ‘conceptualização do estado de coisas'. ãü mundo, mas a representação da possibilidade desse dado. .\gora. sua
.• ir.v M M .xfín iii n r: .\ nRF.in«-.\ç.^it k rw» v » k, 211
2 1 0 QUARTA PARTE - MORFOUHIIA Kl-EXIONAL E SINT.VXE

relação com o que enuncia é de d ú v id a ou su posição. Esta secunda atitude Há duas iniportíintcs diferenças entre o modo imperativo e os outros
vem expressa duplamente em cada frase: de um lado, por meio dos itens dois:
É p o s s ív e l q u e, A c r ed ic á v a m o s e se; e, de outro, por meio das formas ver­ as formas verbais dos modos indicativo c subjuntivo variam para
bais es te ja , e s tiv e s s e e estiv er, variações morfossimáticas (ver 6,5 5| do situar os fatos cm diferentes inten alos dc tempo (ÍT). já as for­
verbo e s ta r . Em cada série expressa-se uma diferente atitude do labnie mas do imperativo são invariáveis quanto ao tempo:
em relação ao conteúdo proposicional do enunciado: ccrícza na primeira, 2 ) as fonnas do indicativo e do siibjiimi\ o sc empregam cni todas as
suposição na segunda. funções da linguagem, já as do modo imperativo .são exclusivas
A variação da forma do verbo —está/esceja, cstovíi/estivc.ssc, c.^nará/ dos usos da língua cm que o enunciador sc dirige explicitam ente
e s tiv e r — para a expressão da atitude do enunciador - ou modalidade da ao seu interlocutor e frcqucntcnieiitc o nomeia pelo emprego de
frase —constitui a categoria gramatical que denominamos mcxlo um vocativo (ver 4.3.4), o que limita a ocorrência do imperativo
Em alguns casos, a variação morfoíógica do \erho ú a única indicavào ;i.fiinç«o connfívti (ver 4.2) da linguagem.
formal das diferentes atitudes do falante, como nos exemplos
7) Procuro uma casa que tem uma ampla varanda na frente. O modo c o tempo são oxpre.ssos eni píírtiiguês por meio dos mesmos
8 ) Procuro uma casa que ten ha unia ampla varanda na frente. morfemas, denominados d esin cn cias moc/o-rempomis, já detalhadas no
sétimo capítulo.
Em 7, o falante revela ter certeza da existência da casa que procura ia
existência da casa é um pressuposto (ver 4.5.6.2.3.2.2) do enunciado), mi';
em 8 ele representa essa existência como mera hipótese ou suposição

8 .8 .2 Indicativo, subjuntivo e inipenitivo


A diferença acima exemplificada corresponde à tradicional distinção de
dois modos do verbo: in d ica tiv o (exemplos 1,2, 3 e 7) e subjuutivo (c.\em-
pios 4 , 5, 6 e 8 ).
O modo indicativo (que ser\'e para iiid icar fatos de existência objeti­
va) é próprio dos enunciados declarativos simples, eni que ocorre apenas
um verbo ou uma locução verbal; já o modo subjuntivo (que serve para
representar fatos como d ep en d en tes do ponto de vista pessoal do cnuncia-
dor) é o usual nas formas verbais de dois grupos principais: as estruturas
dependentes de alguma expressão que exige o subjuntivo, como o £ /xxs.si-
v el q u e e o s e dos exemplos 4 e 6 , e as construções que expressam hlpóte.-^e,
como a do exemplo 5.
Além dos modos indicativo e subjuntivo, há um terceiro, omodnmi*
p e r a tiv o , que se usa em frases com que o enunciador expres.sa uma ordem,
uma exortação, um pedido:
• “Astros! noites! tempestades! / Rolai das imensidades' iúmi
os mares, tufão!...” |AL\TÍS, 1986: 2811
• 'A corda, meu bem, a co r d a /e aju da teu maUnijí^ar: /nmãoJi'
dia transborda /de coisas para te dar!” (CAMPOS. 20ú3:
• "P enetra surdamente no reino das palavras."
1971a: 77]
(_\mi LH: l> rf Ml II" I MMfl I " M III" ||I".n ''IVT.Vni \I"I V I Hiu1

adjacente ocorrem no predicado por implicação oti e.iíigência mútua. Oii


seja, o verbo es ta r seleciona uma e.xprcssão locativa, c esta pre.sstipõc
NOXO CAPÍTI LO: O Pi:RÍODO SIMPLES II: algum verbo.
TIPO LOG IA SINTÁTICA 1)0 VERBO •
* Tradicionalmente chamamos de iiilran.sitivos (oii de preilicação com ­
pleta) os núcleos verbais que dispensam - não selecionam oti não implicam
-um termo adjacente. Os demais (de predieação incompleta), cpie trav;im
com o termo .adjacente uma relação de implicação mútua, reeebem ela.ssi-
lic-aç^ões variadas na tradição descritiva. Distinguiremos dois tipos deles; os
verbos de Ugação (copulativos ou predieativos) e os verbos transitivos.
9 .1 ESTRUTURiV DO PREDICADO: VERBOS INTRANSITIVOS.
VERBO S TRíVNSITlVOS E VERBOS DE UGAÇÃO '1.2 VERBOS INTRX.N.SITnOS
Nas frases declarativas formadas de sujeito e predicado. di.spo.s(os 0 verbo intransitivo típico é aquele que constitui por si .sii o predicado de
ordem, o conteúdo do predicado constitui unia informação a rcspciludo uma oração; so b r a r (o dinheiro s o b r a v a ). n ascer (seu filh o n a s c e u ). siirnir
sujeito da oração. Esta informação pode ser dada inteSralmentu por meia (n mancha su m irá ). Poderiamos dizer o dinheiro .sobrava etn seu b o ls a ,
de um núcleo verba! (em itálico) seu filho nasceu n o ex terior, c a m ancha sumirá com a segun tla l a v a ­
• O avião decolou /está decolando. gem, mas nenhum des.ses termos ane.vados àqueles verbos alteraria a cla.sse
sintática deles. Vier mais adiante (9.9) outras espeeies de veriios geralmente
ou ser repartida entre o núcleo verbal (em itálico) c algum outro termo classificados como intransitivos.
adjacente (sublinhado), vinculado a este núcleo
• O avião transportou /está transportando orisioneiros de |!ucrra. 9.3 VERBOS DE LIGAÇ.IO (COPl l..\TI\OS OI PREDIC.VnVOS)
• Ana é / tinha sido profe.ssora. informação contida no predicado pode resultar, ainda, da união obrigató­
• Ana g u a rd a v a /tinha gu ardado suas ioias em um coire. ria do núcleo verbal (em itálico)com uma propriedade qualquer (qualidade,
estado, atributo, identidade) e.xpre.ssa no termo adjaeente (sublinhadu):
Este vínculo pode indicar que o núcleo verbal e o termo adjacente • As crianças .são inteligentes.
são necessariamente coocorrentes - como na relação entre irunspurtar • Os legumes esfão frescos.
e p rision eiros d e gu erra ou entre ser e professora - ou que o termo adja­ • A água do mar e salgada.
cente implica a presença do núcleo verbal, mas este não implica a menção • O céu fico u nublado.
daquele - como na relação entre òs d es horas e decolar na frase 0 ntitio • Estas pegadas parecem de tigre.
decolou à s dez horas.
A construção resultante da união entre o núcleo verbal e o(sl tcrniol.i) Estes verbos, que jamais e.vpriniem ação, denominam-se ‘verbos de
adjacente(s) apresenta uma grande variedade de padrões, .sobretudo se o ligação’ (também conhecidos como ‘verbos copulativos’ ou ‘verbos prediea-
núcleo verbal for do tipo que ocorre necessariamente acompanhado de ter­ tivos‘), mas em alguns pontos se assemelham aos verbos au.\ili:ires; formam
mo adjacente, Se compararmos as orações umconjunto limitado de elementos e indicam basicamente diferenças ; ls-
a) Os gatos corriam no telhado, ptetuais no sentido de ‘conceptualização do estado de coisas’ (ver S .7.1).
e Comparem-se as frases a seguir, em que a conceptualização do estado de
b) Os gatos estavam no telhado. coisas - indicado nos parênteses —varia segundo o verbo selecionado;
• -i\s águas são turvas, (atributo constante)
percebemos que em ‘a’ o termo adjacente no telhado implica a preseiiç» i • As águas estão turvas, (atributo adquirido)
do núcleo verbal - corriam - mas a referência ao ato de correr não im- i • j\s águas^eam turvas, (atributo resultativo)
plica a necessária menção do lugar; já em ‘b’ o núcleo verbal e o lernw • As águas continuam tur\'as. (atributo persistente)
J14 Ol!AKTA VARTK - MOKFOUKUA R.EXIONAI. E SINTAXE NONO CAllTlT.O; ( i |'ERK HKI SIMIT.F.S ||: TIH>l.<M,K SISTATI«:.\ l>o VT-RIP • 215

O verbo p arecer difere dos demais porque seu papel não é aspectual; umcontínuo, cm cujos extremos se encontram o verbo que sempre recusa
ele é empregado para exprimir uma atitude ou ponto de vista do cinmcia- complemento (ex.: n ascer) e o verbo que sempre seleciona complemento
dor, funcionando, desse modo, como um recurso de modalização, haja vista lex.:.líiser).
seu uso como auxiliar: parece ser, p a rece estar etc. Na ampla faixa que medeia entre estes dois tipos temos uma rica varie-
Sintaticamente, os verbos de ligação se parecem com os verhos tran­ Xide de casos. Nota-se nessa faixa uma gradação do vínculo entre o verbo
sitivos, uma vez que podem coocorrer com termos adjacentes típicos dos enstemios que o acrmipanham na construção do predicado. Este vínculo
predicados cujo núcleo é um verbo transitivo. Comparem-se; pixlescr muito estreito, como o que liga o termo « ciirTíi ao verbo/ftcer na
• Sua ftlha está uma bela moca, trasc O trcm fasia a cu rva dcvufiar-. ou um tanto frouxo, como o que liga o
e icrmo peixes ao verbo d esen h ar na frase £st« m enina desen ha p eix es m ui-
• Seu filho escolheu uma bela moça. inlxTíi. Só na segunda frase a complementação é facultativa. A frase Esta
menina desenha muito hem ó tão bem construída quanto a outra, ao passo
Tal como acontece com os verbos transitivos, estabelece-se entre o que *0 trem fasia d ev a g ar é sintaticamente incompleta.
verbo de ligação e o termo adjacente uma relação de implicação mútua. É
este fato que distingue, sintaticamente, o verbo dc ligação de outros verbos ■).,i O VERBO TR-\NSlTlVO E SEI\S TIEOS
(intransitivos) seguidos desse mesmo termo adjacente. Comparem-sc: Os verbos transitivos pertencem a duas subcla.sses .segundo venham segui­
• Os pássaros voatn livres. dos de um termo adjacente (transitivo objetivo) ou de dois termos adjacen­
• A mulher parou assustiftla. tes (transitivo biobjetivo).
• Os pássaros estão livres. Os transitivos objetivos se subdividem em:
• A mulher./icou assustada. • transitivos diretos (TO), quando seguidos de objeto direto
(OD) (O agricultor colhe a s b an an as, Não con h eço e s s a p e s ­
b.4 VERBOS TR.\NSITlVOS soa)-,
Postos à parte os verbos caracterizados em 9.1. todos os demais verbos de • transitivos indiretos (Tl), quando seguidos de objeto indireto
prcdicação incompleta classificam-se como transitivos. A classe dos ver­ (Ol) (O film e agradou a o p ú b lico Jov em ); e
bos transitivos é, contudo, bastante complexa, uma vez que existem várias • transitivos relativos (TR), quando seguidos de complemento
espécies de termos adjacentes (ou complementos). A mais eonheeida sub- relativo (CR) (Eles precisam d e n ossa aju d a).
classificação dos verbos transitivos, amplamente adotada nas Srantáticas
escolares e nos livros didáticos em geral, consiste na distinção entre verbos Os biobjetivos são seguidos de dois termos adjacentes. Eles se subdi­
transitivos diretos (resumirei a história, descasque e.ste abuetr-vi) e verbos videmem cinco subtipos;
transitivos indiretos (gostei d esse film e, não acredito eiii.luma.stii(t.s|. eujo • transitivos diretos e indiretos (Tü l), seguidos de OD + Ol
complemento —e.sse film e, fa n tasm as - se vincula ao verbo por meio dc
(Entreguei o se rr o te a o m arcen eiro):
itma preposição. Estes complementos são ordinariamente noirres «u prono­
• transitivos diretos c relativos (TDR), seguidos de OD -e CR
mes substantivos. Em 9.5 detalharemos a tipologia dos verbos transitivos c
(Ali.sture o f e i j ã o com a fa rin h a . Colotpici o liv r o na estan te
introduziremos outras distinções na ampla classe dos verbos cujo eoinplv-
mento é regido por preposição. Transformou o p r ín d iie em um sa im . T ran sferim os a reii-
Assim como tantas outrrrs distinções que fazemos ao analisar nesim- iiiãoixiru a m a n h ã . O g u a rd a au torizou o c h o f e r a estacion ar
tura da línguti, a distribuição dos verbos em transitivos e in t r a n s it iv o s nos tui c a lç a d a ):
termos expostos acima c simplista, visto que iguala, com prejuízo paraJ • traii.sitivos diretos c predicativos (TDP), seguidos dc OD -e
descrição, uma grande variedade de tipos. Isto não é uma crítica, atepor- Cl* (complemento predicativo) (Nom eou o ir m ã o (com o/
ipie todos os nossos mestres do passado reconheciam esse fato. Nãoliánnw pura) seu se cre tá rio . Viu o la d r ã o m ilar o niiim l:
(ronlcira rígida entre verbos transitivos e verbos intransitivos; o que liáv • transitivos relativos e predicativos (TRP), seguidos de CR + CP
(/’rt'ci.so d e s s a s a la lim pa (= P reciso d ela lim pa); c
216 QU,\RTA r.KRTE - MORFí>U>í'.l.\ Ft-EXION.U. E SINTAXE N«iN»i i.v r n T iv ) mOMTtt m m x s a «ivM nrA r o x a v a o

• transitivos birrelativos (TRR). sej^uidos dc ('R + CR (/ioíi ()bs.: O emprego de Ihc/lhcs reícridos à terceira pes.so:i iclv/cla/vlcs/
com o jo e lh o no meso. Ele passou d e tenente a camuin) ckis) pratieamente se restringe, no uso hrasileirtí. ;i modalidade escrita íor-
mal. Na tala corrente, lhe/lhcs. com esse valor, d.ào lugar a a cU/ehi/elcs/chts
Seguem-se grupos de exemplos para cada tipo, seguidos de indicaçíK> Sohre a sintaxe corrente dn verlv) (igmdiir. veja ohser\avâo constante no
sobre as características estruturais de cada um. item abaixo Sobre a sintaxe de Ihc.lhes. ver lu ^ 5

9 .5 .1 Verbos transitivos diretos (TD) VeHx»'» tninsiiÍTos rvlati^n'» iTRl


1) a- Lavar a roupa / Lavá-/a. d) a - Depender dii (f/uf/u Depender dt/<i
b- Resumir a história / Resumi-/a. b- Insistirem vttltar / Insistir ni.s.«n
c- Declarar qu e é ínoccncc / Declarar ser fnoceme /Declará-/'- c- (loncnrdar o íuh\Tstirio / ('nneordar o»m e/e
d— Saber qu e é inocente / Saber ser inocente i Saber ísímí d - Morar mi c o sa /.M«>rar ne/u
e- Preferir v o lta r cedo / Preferir que os filhos w/tem ado /
Preferir isso. Nos exemplos acima, a ligação também e mediada |>>r uma prej>osi-
f- Saber v o lta r pa ra c a s a /Salnír (falar) ing/és /Saber issn çào. E^ta preposição pode ser semanticamente vazia (a. bl, estar enfraque­
g- Saber p erd er um jo g o / Saber ís.so. cida do ponto de vista do sentido (c). nu mesmo ser >emantieamente plena
(d), mas. em qualquer c ; lso . ocorre .sempre por c.xigència do verl»o Mesmo
Nos exemplos acima, os complementos, em itálico, ligam-sc direta­ quando representados por prt>nonies. os complement».>s desses \erl>os s.’io
mente aos verbos e são substituíveis pelas formas átonas o/a/os/asfisso introduzidos por preposição.
Os verbos dos exemplos ‘I c ’ a ‘Ig* têm. contudo, características diferen­ O esvaziamento semànticH) dess;Ls preposiçs»cs tem ia\<'rceulo o desapa­
tes dos outros. Os dois primeiros não podem ser complementados por um recimento delas junto a alguns verlx>s Je u.so frequente na lal.i - orilinana-
infinitivo ou por uma construção iniciada por que. Por sua vez. o verbo inente os seguidos de a —que se tomaram iransiiivi»s diretos. SíM) exemplos
s a b e r tem particularidades sintáticas em cada caso: em 'd' signitica ‘es­ no português corrente do Brasil: agrm/vxxT, <u:nuiar. u,s.sestir. ohn;tUxxT e
tar informado/consciente de’ e admite as três formas de complemento, perdoar {^Xgntdeçtí sou ímuio istr miin.EUi fttv nui/o </e us.sMfiro tiiui/ ilo
como o verbo de ‘c*; em T e em ‘g’ tem características sintáticas seme­ filme, RecusoU'Se a o b e d e c e r us orí/en,s </o u tuire.s-
lhantes (ambos rejeitam eomplemeiuo iniciado por que), mas diferem sor). (^ando o verbo é seguido da ciinjunção integrante «pie. a prep»>siçao
semanticamente: T significa ‘estar apto a' e ‘g’ expressa uma atitude de emgeral é suprimida (cl. ÍVscon/itmi deunln mwult> e /V.seTiqfiiivu qu e mio
aceitação. Em ‘e\ por outro lado, temos um verbo cujo objeto pode ser iupossurde ano). Nos registros ínIonnai.s da lingii.i lalad;k. e Irequeiueniente
um infinitivo, um pronome ou uma construção iniciada por que. Ne.^te da escrita, esta supressão tunibêm aci>niece diante do pnmome relativo que
caso, porém, o sujeito da oração objeto tem de ser diferente do .sujeiin da ICkwící tmiis d e s s e film e e E ssefin o fi/me qu ecu m ois giestei)*^ E importan­
te enfatizar que essiis preposiçOies luii» coiuribiiem para a reUç;u> de sentido
oração anterior.
cnia* o verbo e o compleiiienio; a função dcLis e meranienie eoneciiva. e siu
supressão diante de (p4C pode ser explicada pela redundância concciiva* da
9 .5 .2 Verbos transitivos indiretos (TI)
sequência ‘prcpivsiçâo + conjunçruw^prononic relativo’
2) a- Pertencer a o tra b a lh ad o r / Pertencer-//ic.
b“ Agradar a o s am igos / Agradnrdhes. ^>.,S.4 Ncríx>s transitivos diretos e indiretos (TDh
c~ Referir-se aos antepassados / Reíerir-se-//ics. 4) a - Dcvolwr o diriheiri} at> dono,
b- Revelar um seg red o ao aniigt>.
Nos exemplos acima, os complementos se unem aos verbt^s |x»r mcio. c- Oferecer emipre'go aos jovens.
tipicíimente, da preposição a; substituídos jwr pronomes átonos, i‘sIc.n
mem a forma dativa, que na terceira pessoa tem forma especial: Ihcflha^ Dunic J c pmnomc rclauvo. a Nuprvv\ai< üc prvp(»Meàt* c amüa nuiiN abr.nus.iuc lu» istrtui^ucN
alcanvaiiJo im-sino a.H prv|sw«iç«>CN que h u n slu icm ctrvuuAláucia.> u i rteafu
^unui /£*iu <•u cumu que We (/onuiti \
M IV I ( l U l n i n ! II (TR|,t[i,. M Vnr.S II n h U lR IlA SINTATICA IR 1 VERRO 2 /0
218 Ql'ARTA PARTE - MORFOLOtílA FLEXIOXAL E RISTAXE

jeito cm monitorar o comportamento de alguém. São protótipos


Nos exemplos anteriores, o verbo transitivo ocorre combinado com deste sulieonjunto os verbos ajudar (Pedro q ju d o u o n ai (OD) (l
dois complementos, um direto (em itálico) e outro preposicionado (subli­ se levantar (CR)) e iin/iedir (O porteiro im iK iliu a m o ca (OD)
nhado). Este grupo combina as características sintáticas de 1 c 2, por isso d e entrar no elevador (CR)). Pertencem a este .subconjunto, en ­
seus verbos são classificados como verbos transitivos diretos e indiretos. A tre outros: autorizar, pnnhir, convencer, fo r ç a r , o b rig a r, c o n v i­
este subtipo pertencem muitos verbos dicen dt (dixer, declarar, revelar, d a r. incentivar. i>ersuadir. dis.suiulir.
c o m u n ic a r , ir\/brmar), bem como os que expressam ou implicam altjiini.r
d) Verbos heterogêneos, que não apre.sentam um traço semântico
espécie de ‘transferência’ ou 'mudança de posse’ (dar, entpreatar. moxtrur.
comum, como resismsabilizar (resiH tnsahilizartdguém prrr a l ­
en treg a r, a p r e s e n ta r , en v ia r, o ferecer etc.).
gu m a coisa), envtdver (envolveuo lio na briga), tro c a r (tr o c o u
a bicicleta por um relógio), preferir (preferiu o p in ilito a o p ic o ­
9 .5 .5 Verbos transitÍA'os diretos e relativos (Tl)R)
lé), intrigar (intrigou o sindico eom o vizinho).
5) a- Convencer o irm ã o a estudar,
b- Confundir u m a c o is a com outra,
U.S.ó Verbrr.s tnmsitivos birrelativos (TKK)
c— Colocar os brin qu ed os na caixa,
6) a - Reclamar do vizinho eom o .síiulieo.
d- Transformar um príncifre em sano.
b - Bater eom o carro no muro.
Os verbos deste grupo combinam as características de I c 3. São ver­ c- Passar de diretor a nresideiite.
bos transitivos diretos e relativos. E.ste subtipo tem alguma afinidade com o
subtipo 4, mas, diferentemente deste, é heterogêneo. Podemos discriminar Este grupo é uma variante do 3. eom a diferença de que admite dupla
nele quatro subconjuntos: complementação,
a) Verbos denotadores de ação que culmina num estado (miii.s--
f o r m a r , m u d a r, p rom ov er), numa situação espacial (eoloeur, 9..S.7 Verbos tnmsitivos diretos e predieallvos ( ri)P)
g u a r d a r ) ou numa situação temporal (transferir, passar) üo 7) :i - Nomear o fin eion ário eliefc da seeão.
respectivo objeto: A f a d a tra n sfo rm o u a a bóbora niima linda b- Considerar o eam iidato preparado.
c a rru a g e m , E la m u d ou a c o r d o s ca b elo s p ara castanho, 0 di­ c- Declarar o reái iiioeente.
r e to r p ro m o v e u su a sec re tá ria a su pervisora do deptinamenui. d- Tratar alguém por .senhor.
N ão c o lo q u e o s p és no c h ã o fr io . G u ard ei o s talheres naquela e- Deixar o cachorro fiiãir.
g a v e ta , E les v ã o tra n s fe rir a reu n ião paru am anhã, A linivei- f- Mandar o guroto eoniprar não.
s id a d e m a r c o u o v estib u la r p a ra jan eiro . g- Escutar o golo çautar
b) Verbos cujo objeto se refere a partes ou a uma entidade cuia h- Sentir o sangue correndo nas veias.
constituição interna seja divisível em partes: d cosinheira mis­
tu rou a m an teig a com a fa r in h a . Esta construção ú, na venlade, O sentido expre.sso na articulação desses dois complementos corres­
variante d e outra em que os complementos são objetos diretas ponde, de fato, ao da articidação entre o sujeito e o predicado de uma mes­
coordenados por ‘e’: A co z in h eira m istu rou u manteiga e aja- ma oração (ef. o fu n cion ário tumou-se chtfe d a seçã o , o réu é in ocen te, o
rin h a . Integram este subconjunto os verbos combinar, jiiniur. cachorro fu giu , o sangue corria nas veitis). Daí chamar-se predicativo', e,
a r tic u la r , un ir, c o rfu m lir , sejx ira r, distingidr, diferençar, eoin- por referir-se ao objeto, predicativo do objeto. Em ‘a’ a ‘d’, o predicativo
p a r a r , fu n d ir , h a rm o n iz a r , as.sociar, disstxjiar, entre outros. pode ser um SN (a), um SAdj. (b, c), um SPrep. (d); em ‘e’ a ‘h’, o predica­
c) Verixjs cujos complementos - objeto direto (OD) e complemento tivo pode ser um infinitivo (e, f, g) ou um gerúndio (h).
relativo (CR) - são, respectivamente, um substantivo ou pronome Em e-h, temos verbos transitivos causativos/faetitivos (d eix a r, m a n ­
referente a seres humanos e uma oração geralmente sob formti dar) ou sensitivos/factivos (sentir, escu tar) ordinariamente seguidos de
infinitiva. São verbos que expressam a intenção do respectivosii- ilois complementos.
220 Ul'AKTA PAHTK - klOKFOIXXilA FLF.XIOSAI. K SINTAXK
SOSfi CaUtI W.; t , n u l o i x i S IU K L - i II: TlKHyr.LVSlSTJtTirj. no VTIUri 22/

‘Í.S.H Vcrhos traiiMÍtivos relativos e predieativos (TRP) > Subclasse 6


H) a - Sonhar co m o riais livre dos invasores,
É formada por verbos que se referem a uma propriedade fdimen,sâo,
b- Gostar d o b\fe bem passado, valor etc.) ou estado a serem explicitadc^ no complemento. Pertencem a
c- Pensar n os fiU ws ainda crianças. esta subclasse verbos como custar, medir, pesar, quando vêm seguidos da
expressão especificadora da respectiva propriedade ÍO quadro cu stou 500
Este étupo, por fim, só difere do anterior porque seu primeiro eompit- reais, Esta ,sala m ed e 16 m^. Os porquinhos jú pesam dois quilos). Deta­
mento vem reijido de preposição. lhes sobre esta subclasse são apresentados no item 9.9.

<>.6 SU BCLA SSES DE VERBO S TR,\NSlTIVOS DIRETOS 9.7 VERBO,S TR.\.N.SITIVOS SE.M CO.MPLEMENTO E.XPLÍCITO
>• Subclasse 1 .Muitos verbos transitivos podem ocorrer sem o respectivo complemento.
Compreende os verbos de ação/movimento em geral, que são comple­ Isto acontece em dois casos:
mentados, em seu sentido básico e próprio, por substantivos referentes a .se­ a) quando, por sua redundância ou generalidade, a informação a ser
res concretos, e em acepções derivadas por substantivos de referência hera expressa no objeto é considerada irrelevante; Ele só fu m a a p ó s
variada. Adotaremos dois verbos-tipo para esta subclasse: comprar (£/a to m a r um cafezin ho; Ainda não comí hoje; Parei de g astar; ago­
co m p n m d o is vestid o s) e lev a r (O ônibu s lev a v a trinta /Mssajíeiros). r a estou eco n o m iz a n d o ; Cuidado, que esse pó cega.
> Subclasse 2 b) quando a situação comunicativa ou o contexto verbal permitem
Compõe-se dos verbos cujo objeto se refere a partes ou a uma entida­ que o objeto seja reconhecido ou recuperado: Leia! (dito por al­
de cuja constituição interna seja divisível em partes. Por exemplo, o verbo guém que oferece ou aponta a coisa a ser lida); Ele ofereceu o
m istu rar, como em: A co zin h eira m istu rou a m assa / a munteiÉu e u d in h eiro, m a s eu não aceitei (em que o objeto de aceitar - o
fa r in h a / a m an teiü a com a fa r in h a . Estes verbos têm uma variante sintá­ dinheiro - já foi mencionado).
tica, em que se empregam como tninsitivos diretos e relativos, como vimü.s
acima (TDR, .subconjunto b). Obs.; O verbo c eg a r tem uma variante combinatória intransitiva -
>■ .Subclas.se ergativa - (cf. Meu ca n iv ete cegou, isto é está sem corte) em que se carac­
Compreende os verbos que denotam conbccimento inteleetual/iiuuili- teriza o sujeito como ser afetado ou tema (ver logo abaixo). Não é o caso
vo, e ocorrem complementados por proposições (orações substantivas) ou do exemplo C u id a d o , q u e esse pó cega, em que o verbo é transitivo sem
substantivos capazes de condensar conteúdos preposicionais. O verbo-tipo complemento explícito.
dcs.sa cla.sse pode ser perceber (ef. 1‘er celto qu e v ocê está aJUto /Percebo
su a t^ lição). 9.N .SUBCLASSES DE VERBO S TRvVNSlTlVOS RELATIVOS
'r ,SulK;la.s.se 4 Esta classe sintática é formada pelos verbos que são necessariamente acresci­
Compreende os verbos que denotam atividade comunicativa, e, ana- dos de uma preposição quando a eles se anc.xa um complemento sob a forma
logaiiiente aos verbos da subclas.se .1 , ocorrem complementados por propo­ dc substantivo, pronome substantivo ou infinitivo (cf. Ela estava sonhando
sições ou substantivos capazes de condensar conteúdos proposicionais. 0 eEla estava .son han do c o m um prêm io da loteria). Neste e.xemplo. a prepo­
verbo-tipo desta stibclasse pode ser d e c la r a r (cf. E/e declarou que iifxiiu sição não contribui decisivamente para a relação de sentido entre o verbo e
n o ssa id eia / Kle d e c la r o u iijuno u luisstt ideia). seu complemento. Obrigatória, mas geralraente esvaziada de significado, esta
r- Sulrelasse S preposição se tomou arbitrária e é acionada mecanicamente na presença do
É formada |ior um amplo conjunto dc verbos que denotam, em geral, complemento, razão por que as gramáticas - sobretudo as normativas, me­
uma 'mudança dc estado’ á qual a entidade designada pelo complenieino diante listagem - c muitos dicionários a informam como se fosse um apêndi­
c submetida. () verbo-tipo dessa subcia.s.sc pode ser sectir (O vento secou ce do verbo. O verbo s o n h a r é um típico verbo transitivo relativo.
a n n i/ta n o v a n d ) . D ctalbcs srtbrc esta subclasse são aprc.sentiidos mi Um conjunto numero.so de verbos transitivos relativos, porém, reúne
item unidades que formam ordinariamente pares de antônimos, como c-o/icor-
222 QUARTA 1'ARTE - MORFOUXllA Fl.EXIONAL E SINT.UCE Sl*\n c.\plTn,o: |> PERUUWI MMri-E-S ll: TllT»l.nr.IA SIST.ATIllA 223

dar/discordar, insistir/desiscir, confundir/distinguir, confiar/desconfiur. Integram esta classe; crescer, encolher, engordar, e m a g r e c e r , d i m i ­
Não é por acaso que o complemento de coiKordar/insistir/confimdirlcon- nuir. inchar, se ca r , engrossar, afinar, entortar.
fia r recebe a preposição com ou cm (aproximação, assimilação), ao passo Estas mesmas características são apresentadas por outra num erosa
que o complemento de discordar/desistir/distinguir/desconfiar recebe a classe de verbos que exprimem experiências ou sensações afetivas ou em o ­
preposição d e (afastamento, dissimilação). Estas preposições não são arbi­ tivas variadas. Alguns deles são magoar, alegrar, abo rrecer, in d ig n a r, e n ­
trárias, mas também não são selecionadas pelo usuário. São tão obrigató­ tusiasmar. Esses verbos ocorrem em eonsmição transitiva ou intransitiva,
rias quanto o com de sonhar. e. a.ssim como os anteriores, apresentam, na primeira, um .sujeito que defla­
Enquadramos ainda na classe dos verbos transitivos relativos dois gru­ gra ou causa o processo verbal, c. na segunda, um sujeito afetado pelo pro­
pos de verbos ordinariamente seguidos de expressão locativa. São verbos cesso (Minhas p a la v ra s m agoaram Flora /Flora se m agoou (com m in h a s
de movimento (ir, chegar, vir, p a ssa r, entrar) e de situação (morar, estar, palavra,s): O d esem p en h o d a equipe entusiasm ou o técnico /O té c n ic o s c
ficar, continuar, residir, habitar) que não reúnem as características dos entusiasmou (com o dcs-cmpen/io da equipei).
verbos predicativos ou dos verbos auxiliares (cf. 8.4): ir ao cinema, c/icgnr A diferença formal entre este segundo eonjunto de verbos o o anterior
à/da rua, v ir ã o baile, p a s s a r à v aran d a, morar na roça. residir no bair­ está no surgimento do clítico sc retlexo da pessoa do sujeito na constm ção in­
ro, h a b ita r no bosque. transitiva (ver 9.2). O termo que designa a eau-sa ou motivo do proeesso, sujei­
Os verbos destes dois grupos estão sujeitos ao processo geral de disper­ to na constmção transitiva, figura tia eonsmição intransitiva ctimo um com ­
são semântica (cf. primeiro capítulo) que os habilita ao vínculo com outros plemento preposicionado. Se o sujeito é um ser humano, pode-se interpretá-lo
lugares (situação ou noção), numa acepção mais ampla e abstrata, frequen­ como um deflagrador consciente ou um causador involutttário do proce.s.so
temente metafórica: ir a o âm ago da questão, ch eg a rá conclusão, pamr (Ele assustava a s cria n ça s só de perversidtule /Ele assu stava tus c r ia n ç a s
a chefe, fic a r à esp era, e s ta r com pressa, continu ar em forma. quando gritava com elas). A segunda pode ser parafraseada pela variante .A.s
O efeito extremo dessa dispersão pode resultar no reposicionaiitento crianças se a ssu sta v am com os gritos dele. A primeira só podería ser pa­
estrutural (recategorização sintática) desses verbos por efeito de gramati- rafraseada por As crianças eram assu stadas /xir ele st> d e perversidtu le. É
calização (cf. 8.3); uma parte deles passa à periferia do núcleo verbal e se notável a anomalia de ’As crianças ,sc assustavam com ele .st» d e p e r v e r s i­
toma verbo auxiliar; vou voltar, ch eg u ei a m e inscrever, passei a levan­ dade, versão passiva que, no entatuo. não é usual com esta ela.sse de verbos.
tar cedo, fiq u e i esp eran d o; outra parte passa a introduzir um estado e se
toma verbo predicativo ou de ligação; fico u feliz , ficou à espera, contíiiiia- 9.10 O S U E IT O
va pobre, con tin u av a em fo r m a , esta v a com pressa. 0 conceito de sujeito já foi fomiulado (ver 6 .6 .6.9 e 6.9.3) e várias vezes reite­
rado nos capítulos iniciais desta gramática. Retomo-o aqui para algumas con­
9.9 VERBOS DE PRED1C.\ÇÃÍ) siderações que serão feitas no item .subsequente, em que se focaliza a concor­
Muitos verbos se empregam articulados a um mesmo substantivo que. no dância verbal. Convém sempre ter clara a distinção entre função sintática e
papel de entidade afetada ou tetrm, tanto lhes pode senúr de objeto como função semântica (\'er 6.5.4 para o conceito de categorizaçãocombinatória). t\s
de sujeito. Esta classe é numerosa e abrange, com poucas exceções, verbos funções sintáticas são conferidas a palavras e sintagmas pela posição estrutural
que expressam processo com mudança de caracterí.sticas materiais, tipica­ que estes ocupam no respectivo contexto gramatical (ver 6 .8 e 6.9). Portanto,
mente exemplificado por qu ebrar: J o ã o qu eb rou o espelho (transitivo)/O é um equívoco identificar sujeito com ‘agente do verbo’ e objeto direto com
espelho q u eb ro u (intransitivo). Outros verbos; Os bancos subiram iioco- 'paciente do verbo’, haja \ista o que se pode obser%'ar na comparação entre as
tnente a s tarifas (transitivo) / As tarifa s ban cárias subiram novurneme formas ativa e passiva de uma oração, em que os termos têm a função sintática
(intransitivo). A ssei a ca rn e n a c h u rrasq u eira / A carne assou em poucas alterada, mas mantêm a respectiva função semântica (cf. M arcelo d e s c a s c o u o
minutos. Na construção intransitiva, o ser afetado (objeto na construção
abacaxi / O a b a c a x ifo i d e s c a s c a d o p o r M arcelo). Tampouco é correto definir
transitiva) se toma o tópico da frase e, recategorizado como sujeito, passa
sujeito como ‘termo sobre o qual se faz uma declaração’. Esta definição é váli­
a determinar o número e a pessoa do verbo (cf. O espelho quebrou I os
da para a noção textual de tópico, que nem sempre corresponde ao sujeito da
espelhos qu eb ra ra m ).
oração. Com efeito, em O c o r p o d o p a rd a lsin h o. S a c h a encerrou no ja r d im .
224 QUAKTA PAKTE - MURKOUKilA FLEXIONAI, E SINT.VXE
NONO r^MlTI LO: o retUt »SIMPLES H: TIIN»L4K.l,\SINTATIO-VDONTRBO 225

Ocorpo do pardalsiidio é 'o termo sobre o qual se faz a declaração', mas nãoí
a forma verbal estranhei indica, pela desinènoia, que seu sujeito é eu , a
o sujeito da oração. Houve aí um deslocamento do objeto direto - o coqxjrffi pessoa que fala. Por outro lado. em
pardahsinho - para o início do enunciado, de modo que seu sujeito - Sudui -
• Cansado, eu dormia logo, embalado pela certeza de que,
ficou na segunda posição.
nos pró.ximos dias e noites.^ficaria ao lado dele ajudando-o nos
Tradicionalmente se distinguem várias espécies de sujeito segundo sun balões...” jCONT', G. II. 199.=i: 99]
realização formal, como o sujeito constituído de um só núcleo, representado
por substantivo ou pronome substantivo (O /xirduísínfio cooii/Efccrmii), co dormia, que não é provido de dcsinência de pessoa, recebe o sujeito eu .
sujeito composto, constituído de dois ou mais núcleos representados por subs­ Previsível, porém, como sujeito de.ficariít. o cu é suprimido. Situação dife­
tantivo ou pronome substantivo (O p a rd a h in h o e a rolinlm voamm/Ele c rente temos nesse outro e.xemplo:
ela voaram ). De um e de outro se diz que podem estar claros (O pardahinlio
• “O pai cantava as maravilhas de Piracicaba, combinava com o
voou, O p a rd a h in lio e a rolin ha v oaram ) ou ocultos (O pardnhinlioimii
amigo passarem uns dias lá..." ICONl", C. 11. 1995; 160)
e f ] não voltou, O pardabsinho e a rolin ha voaram e / /não vollamm). Ou­
tras classificações dizem respeito à ocorrência ou não de sinmgnias nominais
em que ocorre elipse do sujeito de passarem. No plural, o verbo refere-se
com a função de sujeito no espaço da oração, como se verá a seguir.
obviamente a o p a i e o amigo, dispensando qualquer palavra ou expressão
que retome o antecedente sem acrescentar alguma informação nova.
9.11 DA OCULTAÇAO DO SIUEITO AO S l JEITO INE.XISTE.NTE
Sabemos que em sua estruturação mais frequente, a oração é provida de
9.11.2 Cancelamento do sujeito
sujeito e predicado. O lugar sintático do sujeito pode, porém, estar vazio.
Um sujeito cancelado é o que já não conta sequer com as pistas desinen-
Muitas vezes, esse não preenchimento se deve à elipse do sujeito, cuja exis­
ciais do verbo, mas pode ser recuperado no contexto, como é o caso do
tência sintática continua assinalada na flexão verbal. Outras vezes, o não
sujeito dos verbos cu m prim en tar e enfrentar nas frases
preenchimento é devido a uma regra de cancelamento do sujeito sintático:
• Meu irmão e eu estávamos proibidos de / / cu m p rim en tar
neste caso, o verbo não apresenta marca desinencial, mas isso não impede
qualquer pessoa daquela família
que o interlocutor identifique a coisa ou ser a que ele se refere:
• Os moradores foram obrigados a / / deixar suas casas. • “Diferentes grupos humanos sempre reconheceram a neces­
sidade d e I ] celebrar de forma solene esses momentos...”
O terceiro caso é o do não preenchimento devido à impossibilidade de [HVPB 4, 1998; 157]
se estabelecer qualquer correspondência entre o sujeito da oração e algum
item léxico da língua. A esta situação chamamos tradicionalmcnte sujeito Nos exemplos acima, os verbos cumprimentar e celebrar não apre­
indeterminado. Por fim, o não preenchimento dessa posição se deve à pró­ sentara qualquer marca desinencial compatível com os sujeitos meu irm ão
pria impessoalidade do verbo e, portanto, à inexistência de sujeito, consti­ e eu e diferences g ru p os hum anos. Esses sujeitos foram cancelados. Se os
tuindo o que chamamos tradicionalmente oração sem sujeito (ef. 9.11). respectivos sujeitos tivessem sido simplesmente suprimidos por elipse, es­
sas construções apresentariam o verbo no plural: proibidos de cumprimen­
9.11.1 Elip.se do sujeito tarmos e a n e c es sid a d e d e celebrarem . A possibilidade desta oscilação da
A elipse ou omissão de qualquer constituinte da frase é um fato gramati­ concordância é focalizada em 14.15.
cal relacionado ao princípio geral da economia linguística, segundo o qual
cada unidade de informação requer apenas uma unidade de e.xpressão, e a 9.11..1 Sujeito indeterminado
informação previsível sequer necessita de algum material linguístico que a Oistinguem-se as orações sem sujeito das orações de sujeito indeterminado.
expresse. No enunciado abaixo Umas e outras diferem tanto pela estrutura quanto pelos efeitos de sentido
• “Houve ano em que estra n h ei tanto roxo e o pai logo me reba­ capazes de provocar. Orações de sujeito indeterminado são empregadas
teu, deixando-me perplexo.” (CONY, C. H. 1995: 97|'' por motivos cognitivos ou discursivos variados, e a língua oferece a seus
“ A iiii.sêncín ttn pronunie iil‘.s.sii.s üun.struçõe.s é frequente no escrita. Na fala, o iiiais coniiini i' * usuários diferentes meios para indeterminar, dissimular ou mesmo ocultar
|)rcscny:i do pronome* (cf. texto vm (ipciiüice Kohre o Portiigti&f do Brnsil).
22b UCARTA PARtt - MCmrCíUXlU rLEXKWAL E SIXT.VXE
'!oNo C A ftnto. o a w u ü ■: n r o t o o is s iv ta tii :.\ p o v t » " * — /

a identidade do ser humano a quem o sujeito da oração se refere. Araião • * Cacarejava-sc muito cedo no quintal.
cognitiva ób\ia é o desconhecimento da identidade do ser de que se fala. .\s • * Brota-se da terra em três dias e em duas semanas se está
razões discursivas, por sua vez, são variadas; a conveniência ou oponunida- ' pronto para ser colhido.
de da omissão da identidade do sujeito é uma delas, o registro de linguagem
empregado ou o gênero de texto produzido é outra. 9.12 CONCORD.VNCIA VERB.U.
O exemplo seguinte ilustra os dois processos mais comuns de inde- 0 verbo se flexiona em conctrrdància com o número e a pessoa do sujeito
terminaçào do sujeito em textos escritos formais em português: o uso do il‘ , 2* e 3" pessoas, no singular ou no plural, como na distinção entre eu
pronome se e o emprego de infinitivos. trabalho / tu trabalhas /txrcc trabalha /dc trabalha / nós trabalham os /
• “A constatação a que se chega é de que é preciso utilmor txis trabalhais /vocês trtibalham /des trabalham).
esses dez anos da lei parareoê-la...” (ROCCO, Rogério. 0 Glo­
bo, 4/4/20081 9.12.1 Regra geral
> O verbo apresenta-se no número e pessoa atribuidos ao núcleo do
Também se emprega a terceira pessoa do plural para indetemimar o sintagma nominal que serve de sujeito à oração
sujeito. • “A maioria das pessoas íimigiiui que o importante, no diálogo.
• E stão anunciando na televisão um tratamento infalível para é a palavra." [RODRIGUES. 1996: 223[
a calvície. • “Carla um de nós tem na memória da vida que vai sobrando
• “Uma vez eontoram-me como se matam gansos na Kraiiça.’ seu caminhão de lixo." [BRr\GA. 1963b: 143-6[
[SANTANNA, 2003; 791 • “C hegaram às mãos do ministro da Defesa [...[ os nroietos de
lei que mudam o Código Brasileiro de Aeronáutica." [Revism
Esta construção parece aplicar-se a um seleto grupo de verbos que É p oca, 6/12/1999: 32[
ainda não foram objetivamente caracterizados, não obstante ocorra amiú- • “Poucos de nós suportariam as frustrações sentimentais que
de com verbos de ação como rou bar (R ou baram minha curteira c eu não os amantes medievais eram obrigados a sofrer..." [Jurandir
pcrcebi), de comunicação verbal (Dixetn que elefictm louco) e de cogniçSo Freire Costa. In: QUATRO AUTORES, 2000; 391
(Aqui a c h a m qu e ela é viúva).
No registro informal típico da conversação espontânea, a indetermina- Obs.: Se o sujeito da oração é o pronome relativo 'qué, o verbo varia
çâo do sujeito faz raro uso do .se, dando preferência ao emprego da tereeini de acordo com o número e a pessoa do antecedente do pronome
pessoa do plural ou mesmo do singular. Em qualquer variedade da língua, o • A metade dos onerários que fizeram (ou/cs) greve de fome
uso do pronome se como recurso de indeterminação permite que o enun- passou mal
ciador se inclua, não como indivíduo mas como parte do grupo .social, na Neste exemplo, já que o antecedente do que pode ser operários ou
referência genérica e indeterminada do sujeito. metade, o verbo ocorre tanto no plural como no singular.
• “Fixara-se em mim a ideia de que se fica menor quandose tem
perto alguma colina ou montanha.” [MACHADO, 1976; 124| O verbo vai à terceira pessoa do singular se
a) o núcleo do seu sujeito está no singular, representado por um subs­
A verdade, porém, é que, na interação espontânea, a omissão da iden­
tantivo, um pronome de 3“ pessoa ou um pronome de tratamento;
tidade do sujeito se exprime correntemente mediante o emprego de sinliig-
• O vento so p r a v a forte.
mas nominais de significação genérica ou indeterminadora como a geiiie.
muita Sente, todo m undo no papel dc sujeito simples. OIrserve-se, ainda, • Alguém es q u eceu um chapéu na sala.
que só é possível a indeterminação do sujeito quando o predicado se refere • Yossa Excelência govern a o maior país deste continente.
a algum ser humano no papel de sujeito. Ou seja, empregadas literalmcnte, b) seu sujeito é uma ‘oração substantiva’:
seriam anômalas frases como • Até hoje não se sa b e o oue realmente aconteceu em 31 de agos-
• • Latiram na rua. IP dc 19S3. quando dois caças da URSS derrubaram com mísseis
o Boeing 747 da Korean AirUnes." [O Globo, 12/12/1999; 693 j
.SONn (l\rtTITO: » sivincN it: nmnv.1.4 sivr.\ni-.A no \>:rho
228 QUARTA TARTS - MORFOLÜO.IA FLEXIONAL E SIKTAXE

• “Fas parte de um certo modelo brasileiro negar e camuflar n • “A industrialização acelerada e a urbanização ránirl.i (= elas)
conflito antes mesmo que ele se apresente de forma enden- tendem (...) a quebrar a relativa homogeneidade da classe mé­
te.” ISCHWARGZ, 1998: 225] dia.” ISCHWARGZ, 1998: 597]
• “Jorge Ben (...) apresentava um som de marca forte, original, • Não sei se vocês sabem o que aconteceu com o velho Confú-
pegando o corpo de questões que nos interessava atacar...' cio.” [RODRIGUES. 1993: 57]
[VELOSO, 1997: 199]
c) a oração não tem sujeito: Obs.: O conjunto de regras enunciado acima indica que o verbo fica
• “Trata-se de um capital político imenso mas instável c pe­ no plural quando seu sujeito contém pelo menos dois núcleos ligados pela
rigoso, como todos os analistas do conceito reconhecem." conjunção e. Pode acontecer, porém, que esses núcleos ,se refiram ã mesma
[SCHWARGZ, 1998: 533] entidade e somente o primeiro deles vem precedido de artigo. A forma é
• “Há, no Gongresso, mais de cem projetos de combate ã pobre­ de uma coordenação, mas o sentido c o de uma aposição (figura de sintaxe
za.” [ALVES, Márcio M. O Globo, 5/12/1999: 4] conhecida como hendíadis). Neste caso. o verbo fica no singular:
• “Fazia meia hora que eu vinha obsessivamente repetindo, de • “O educador e autor de vários livros sobre o tema (autocontro­
esquina em esquina, a mesmíssima pergunta.” [RODRIGUES, le alimentar) esteve no Rio tia semana passada para uma série
1996: 248] de palestras." [O Globo. “Jornal da Família”, 31/10/1999: 3]
d) a indeterminação do sujeito da oração vem expressa pelo prono­
me se: 9.12.2 Regras especiais
• “Assim como ss. nasce poeta, arquiteto, flautista ou domador, Sujeitos ligados por nem
Glementino teria nascido barbeiro de necrotério.” [RODRI­ Levam o verbo ao plural
GUES, 1993: 136] ^ na primeira pessoa, se um deles é o pronome eu
• Nem gu nem você podentos sair daqui agora
> O verbo vai à primeira pessoa do singular se seu sujeito é ou pode
na terceira pessoa, nos demais casos
ser representado pelo pronome eu:
• Nem síla nem a imia sabiam o que estava acontecendo
• “Às vezes, quando vejo uma pessoa que nunca vi, e tenho al­
• “Só a morte arrancou o segredo que nem o pai, nem o filho
gum tempo para observá-la, eu nie eruiamo nela e assim dou
coníariam jam ais.” [RODRIGUES, 1993: 137]
um grande passo para conhecê-la.” [LISPEGTOR, 1984: 457]
^ O verbo vai à segunda pessoa do singular se seu sujeito é ou pode • “O que eu dizia é que nem Roda Viva nem Rei da Vela con­
ser representado pelo pronome tu: seguiram a homenagem de uma incompreensão.” [RODRI­
• “Não leves nunca de mim /A filha que m me deste...” ]M01W- GUES, 1993: 128]
ES, 1986: 189]
> O verbo vai à primeira pessoa do plural se seu sujeito é ou pode Sujeitos ligados por ou
ser representado pelo pronome nós: O verbo que tem sujeitos ligados por ou segue as mesmas regras váli-
• “ Desde que nos casáramos, Mafalda e eu (= nós) já tínhamos ‘las para as construções com nem enunciadas acima.
mudado de casa cinco vezes.” (VERÍSSIMO, E. 1974: 265] Quando os sujeitos unidos por ou são da terceira pessoa, o verbo
> O verbo vai à segunda pessoa do plural se seu sujeito é ou pode tende a ocorrer no plural se o ou exprime inclusão, equivalente a
ser representado pelo pronome oós: ‘tanto uma coisa quanto outra’:
• “Vós ides subindo, orgulhosos, as armações que armais, e • “Trocar subitamente o dia nela noite ou deixar de fazer refeiçõ..Q
breve estareis vendo o mar a leste e as montanhas azuladas a
nas horas costumeiras inteticrem na digestão, na respiração e na
oeste.” [BRAGA, 1963a: 110]
renovação celular.” [O Globo, “Jomal da Família”, 31/10/1999: 6 ]
> O verbo vai à terceira pessoa do plural se seu sujeito é ou pode .ser
representado pelos pronomes eles, elas ou vocês: • 0 autoritarismo ou a crueldade dos nais evidentemente não .são
suficientes para explicar o fato.” [DEL PRIORE, 1997: 236]
.VO.S«i r_iprm.ít; o l-ERÍtirx) SIMP1.E.SII: TIPOLOOIA.SINTATICAUOVERBO 23J
230 QUARTA PARTE - MORFOLOaiA FLEMONAL E SINTAXE

• “Neste terremoto político, que teve seu epicentro em Paris,


• “O cast.i^ violento ou até mesmo o chamado crime passional
tiveram papel de destaque um número enorm e de e.scritores e
contra a mulher - real ou supostamente - infiel eram comumente
intelectuais". \Jomal do B rasil, “Gademo B ”, 9/10/1999J
perdoados pelas autoridades da lei.” (DEL PRIORE, 1997:634|
• “A maioria das máquinas anreendidas. procedentes da E spa­
Todavia, há exemplos com verbo no singular: nha e dos Estados Unidos, en traram regularmente no B rasil.”
• “O relato dos cronistas nos exibe um quadro em que a menina (Jornu/do Brosí/, "Gademo Cidade". 10/10/1999)
ou a mulher candidata ao casamento é extremamente bem I • “Parte expressiva de nossos jovens, amontoados em bairros
cuidada.” [DEL PRIORE, 1997: 235] I de periferia, sentem -se continuamente am eaçados.” [ J o r n a l
• “A mistura ou quase indefinição de espaços entre o trabalho e I d o B rasil, 1° caderno, 8/11/1999]
a vida privada (...) p a r e c e ter se mantido nas margens urbanas
das grandes cidades.” (SEVCENKO, 1998: 318) No próximo exemplo, dois predicados coordenados, um com verbo no
singular e outro no plural, referem-se ao mesmo sujeito formado f)or ex-
S u jeitos co m n ú cleo s sem anticam ente afins I pressão partitiva (um a série d e postais se in tegrava / c o n fig u r a v a m -s e ):
> O sujeito formado por substantivos de significação afim emprega­ • “Uma série de postais se integrava num tempo que podería
dos no singular, e geralmente ordenados numa gradação, tende a I ser denominado de futuro do presente, isto é, c o n fig u r a v a m -
com binar com verbo na terceira pessoa do singular: I -se em imagens que deveriam ser consumidas com o o novo
• “Todo conhecim ento, toda ciência, toda tecnologia se baseia I cenário da cidade remodelada." (SEVCENKO, 1998: 4 4 3 ]
no conhecim ento de relações entre causas e efeitos.” (ALITIS,
1981: 120] Observa-se a mesma oscilação da regra quando o núcleo do su jeito é
umsubstantivo numeral no singular:
• “A riqueza, a exuberância, a diversidade da vida inanimada d
mostrada de tal forma que humano e inumano parecem com­ I • “No início de abril, um milhão de pessoas se reúne em frente
à Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, e no encerram en to
por um magnífico concerto, uma magnífica sinfonia.” (Juran-
da campanha, outro milhão volta a se reunir na Praça da S é .”
dir Freire Gosta. In: QUATRO AUTORES, 2000; 52]
(O G lobo. 12/12/1999]
S u jeitos fo rm ad o s p o r exp ressão partitiva em geral
Também variável é a concordância quando a parte se acha no plural e
> Se o sujeito é formado por expressão partitiva do tipo a maioria
«conjunto é designado pelo pronome nós:
d o s c a n d id a to s , o verbo concorda ordinariamente com o núcleo
• Muitos de nós a com p an h am o s (ou a c o m p a n h a r a m ) o debate
sintático da construção.
• Uma parte dos bois.^cou ilhada depois da enchente. i pela televisão.
• A maioria dos candidatos o b tev e menos de dez votos.
• A maior narte de vocês r e c e b e r á o convite em casa. ' Se o SN do sujeito é quantificado por expressão de ptorcentagem.
• “A maioria das mulheres v iv ia relações conjugais consensu­ o verbo vai regularmente à terceira pessoa do plural se esse per­
ais, sem uma presença masculina efetiva no lar.” (SEVCENKO, centual é maior que 1 %;
1998: 400) • “Em 1996, 70% do capital proveniente dos Estados Unidos e
• “Grande narte dos telespectadores conhece as convenções dra­ Japão para investimento na Comunidade Européia a c a b a r a m
máticas das novelas em detalhe...” (SCHWARGZ, 1998:483] na Grã-Bretanha.” [O G lobo, n° 29: 690)
> Gomo opção estilística faz-se a concordância com o substantivo • “Estima-se que, em 1920, 35% dos habitantes da capital h a ­
(núcleo referencial) que, no plural, denota o conjunto: viam nascido no exterior.” [SEVCENKO, 1998: 286]
• Pelo menos um terço dos vestibulandos entregaram a prov» • “Apesar de 89% dos brasileiros d iscrem haver preconceito de cor
em branco. contra negros no Brasil, só 12% a d m item tê-lo.” [SCHWARGZ,
1998:180]
X
Ql’ARTATARTE- KRmiA^UX;iAEl.EXR>NALESINT.VXE iONO (-ATITITO: i> ITRRRNi II: niAillHItV MNTATIi \ IR» U

• “...a maior parte da água (...) ser\’irá para a produção agrícola do substantivo, requer a anexação de nm preilicado. que p:iss;i a ser lugar
e industrial de exportação e anenn.s 4% dessa ■■ii'iia st-mn des­ dc uma grande variedade de alternativas estilísticas:
tinados ao consumo humano.” |0 G lobo, 2/12/20071 • A noite cobriti/ínvadia/euvolviidocidtavu a lloresta.
• A chuva atraves.':tm o dia/mio deu tWfiua o dia toilo.
mas pode, opcionalmente, ficar na terceira pessoa do singular se • O vento xopra/aitsoviaJntmoreja.
o substantivo que denota a coisa quantificada estiver no singular;
• “Até os anos 40 cerca de 20% do seu como funeional (= do Os verbos empregados como sinônimos também eosiumam ser empre­
Mappin, loja de departamentos de São l'nulo) erri eomposio dc gados impessoalniente:
empregados aparentados.” jSEVClíNKO, lOOS: 2S7| • Leve a sombrinha, portpie está c/nfcí.svnm/o/está pcneírnndo/
está ptngnnt/o.
‘>.1.2 V E R B O S IM PESSO A IS E OK.\(,'.ÕES SEM SI .IKITO
As orações desprovidas de sujeito formam um conjunto ,ã parte na sintaxe Os verbos que denotam uma propriedade ou atributo do fcnòmciut
do português. Elas são formadas pelos verbos chamados 'impessoais', inte­ podem .ser empregados como pes.soais
grantes de uma lista finita. • O horizonte clareava.
A única subcla.sse desses verbos em que ,se pode reeonlieeer algum • O tempo e.scnreceii de repente.
perfil é a dos que denotam 'fenômenos da natureza’, eonio mioiteivr, tvii-
tar e chover. Trata-se de estados ou processos que, em nos.sa eiiltura, nilo oucomo impessoais:
são atribuídos a um dado ser, indivíduo ou entidade. • Já está clareando.
• Anoitecia na Aoresta. • No inverno e.sciireee cedo.
• Está vetU ando muito na praia.
• C h ov eu a noite toda. 0 atributo dt> fenômeno pode .ser expresso por sidistantivo. adjetivo
ou advérbio; o atributo representado por substaittlvo ou advérbio vem In­
É obviamente excepcional o caso do verbo om onhecer, que admite o troduzido por um verbo gr.amatieal, que também fica na terceira pes.soa do
sujeito d ia , numa construção pessoal: singular, constituindo uma oração sem sujeito;
• O dia am an hece com uma algazarra de pássaros. • Já era m adru/iada.
• Ainda está cedo.
Construções análogas com os verbos anoitecer, eiilanleeer, (ilvanar • Está calor.
são nitidamente literárias. • Está muito escuro aqui.
• “Na tarde que vai anoitecendo tem alguma coisa tocante cs.se
casal que anda em silêncio na rua vazia.” |BKACiA, IWb: Ud|
Se, no entanto, o atributo for um adjetivo, a oração pode -ser pe.s.soal
• A noite .serádrtu.
Muitas vezes referimo-nos ao fenômeno com uma estrutura liiincm-
• O tempo andadrc.scfuín/io ultimainente.
bre de sujeito e predicado, objetivando-o em um substantivo (noílc.
vento, c h u v a ) e deixando o processo propriamente dito para um vcrl»
nu impessoal:
pertinente:
• Está niuitofr io lá fora.
• A noite chega.
• Na varanda está mais fresq u in h o .
• O vento sopra.
• A chuva cai.
Uma variante dessas orações .sem sujeito relativas ao estado da natu-
teza pode ser construída com o verbo/iiccr seguido de sintagma nominal
A conceptualização do fenômeno como uma 'coisa .sobre a qu.il (ubjeto direto) associável ã polarização quente/frio:
pode dizer algo’ (ver 10.2 para o conceito de referenciação), graças ao uso • Vai fa z e r sol nesse fim de semana.
so s m :.T M T n x i; o rer Ii i ix i .siu n r.s ii: rmiLiH.iA six -tAticL
.aU ífl VKRIKI 5-
234 QUARTA PARTE - MORFOUWIA Fl.EXlONAL E SINTAXE

• “D eve h a v e r alguns entre vocês que ainda .se lembram do


• F ez muito calor ontem. tempo em que se falava em reformas de base." [RIBEIRO, .1. U.
• F a z ia um inverno rigoroso. O G lo bo , 15/7/20071
• Não escav a fa z e n d o frio.
• “Uma brisa amenizava os 40 graus que devia estar/asendo e
b) os verbos h a v e r , f a z e r e ir (seguido de ix ira ) empregados na indi­
lá no horizonte preparava-se a chuva que está se repetindo
cação de tempo decorrido:
todas as tardes.” I\^NTURA,1999; 155)
• A aula terminou não.fiis; nem 10 minutos.
O SN os 40 g ra u s é retomado pelo pronome relativo que, e e.stc sene • H avia muitos me.ses que não tínhamos uma conversa tão
de objeto direto a d ev ia es ta r fa z en d o . franca.
• “Era uma pasta encardida, que ele não usava lu ivia muito
O modelo da ‘oração sem sujeito’ é também adotado para enunciar tempo.” [CONV, C. H. 1995; 127|
datas, épocas históricas, estações e meses do ano, horas; • “Veio-me à mente uma earta dtira que eu lhe escrevera h a v ia
• E ra no tempo do Rei. alguns anos...” [VERÍSSIMO. E, 1974: 2,111
• E ra no outono. • Já v a i para 20 anos que e.s.sa fábrica fechou as portas.
• Já é Natal.
• Já p a s s a de meia-noite/de 11 horas. I Obs.: Há uma clara tendência para que, nesta acepçãr), o verbo h av er
secristalize na forma há. superando havia nos contextos cm que o tempo
Neste caso, se o verbo gramatical for o verbo ser este pode ficar no ' dofato relatado é um pas.sado:
singular ou no plural, conforme o número do atributo: • Há muitos meses i|uc não tínhamos uma conversa tão franca.
• Hoje s ã o 10 de março.
• Ainda não e r a meia-noite.
Esta cristalização é definitiva na IcK-ução d e há seguida de expressão
• Pensei que fo s s e m 1 horas da manhã.
lemporal (de h á m uito, d e h á dois dias) e í|iie .ser\'e como modificador no­
minal:
O verbo ser também se emprega impessoalmente em orações princi­
• “Naquele momento de há 4d an os, convém anotar. Severo
pais a que se segue uma subordinada condicional, cujo conteúdo é interpre-
(Severo Gomes) e Ulysses (Ulysses Guimarães) optaram pelo
tável, do ponto de vista lógieo, como o de uma oração subjetiva:
partido paulista, ou seja, pelos interes.ses econômicos de São
• “S eria uma injustiça se eu nie esquecesse de falar nos presti-
digítadores da minha infância.” [VERÍSSIMO, E. 1974:1141 Paulo...” [Santayana, M.niro. Jo rn a l d o B ra sil, 12/10/2007)

Além desses casos por assim dizer gerais na língua padrão, outros três c) o verbo pronominal tratar-se, .seguido de ‘de’, empregado para
usos merecem destaque. São impessoais: introduzir uma informação:
a) o verbo h a v e r (ou ter, no uso coloquial brasileiro) empregado nas • T ratava-se de dois capangas do coronel.
acepções de ‘existir’ e de ‘acontecer’:
• Não h a v ia alunos suficientes para a formação de uma tunna. '/14 .SIG.VIKIGADOS KEL.XCION.MS DOS TER.MOS -VD.IAGE.NTES
• H ouve pelo menos dois acidentes na estrada. .\0 \'EKB()
• “Aqui luí escândalos que terminam antes de começar: ou en­ Sdo termos adjacentes ao verbo todos aqueles que se a.ssociam a ele na es­
tão começam e, misteriosamente, desaparecem pelo cami­ trutura da oração, excetuado o sujeito. A tradição gramatictd os distingue
nho.” [VERÍSSIMO, L. F. O G lobo, 15/7/2007) com plem entos (necessários) e adju n tos (acessórios). Seus significa­
dos relacionais também são numerosos. Em todo o caso, pelo menos uma
Obs.: A impessoalidade é da oração, logo o verbo auxiliar também fica limitação existe; o termo adjacente que, na voz ativa, serve de com ple­
no singular; mento ao verbo jamais terá o papel de agente do processo expresso nesse
J J 6 y»'AHTA l-AKTK - Mí i RFOUKHA f l e x i o n a l e s in t x x e

verbo. Ao apresentar valores semânticos de certos termos adjacentes, nos­


sas gramáticas escolares dedicam alguma atenção aos que expressam cs-
pcciftcaçôcs variadas do conteúdo verbal, mas nâo apresentam um elenco
uniforme delas. Eis algumas dessas especlbcações; tcm;x> {CheUuci on(cin),
lutíar (T rabalho a q u i), m od o (D escia lentam ente),frequ ência (Comparece
ra ra m en te), d ireç ã o (Viajou p a r a o S o rd este), orifiem (Brotou da pedr»),
causa (TVemúz d e m ed o ), co m p a n h ia (Afora corn a avò) etc.
Quase nenhuma atenção tem sido dada, porém, às relações de senti­
do que ligam os verbos aos complementos tradicionalmcnte chamados ob­
jetos diretos, tipicamente identUicados, do ponto de vista sintático, pela 10,1 SUBSTANTIVO. PRONOME E SINTAGMA NOMINAL
possibilidade de serem representados na variedade escrita padrão pelas Vimos em 6,9.1.6.1 algumas possibilidades estruturais na composição do SN
formas o/a /o s/a s (D esenhou a f l o r / Dese7ihoU‘U, coiw idava os e observamos que sua função comunicativa fundamental é tomar possível a
c o n v id a v a -o s). construção de uma referência. Se tomarmos para exemplo as frases
Este objeto pode ser; • Estrelas são corpos providos de luz própria.
a) um ‘alvo’ (procurar um em lcreço, ajK drejar imi animal, ohiar- • Contrate uma babá para cuidar dos seus filhos.
v a r utna escu ltu ra), • O am olador de faca s é figura rara nos bairros agora.
h) uni ‘produto’ (d esen h a r u m a flo r , prtfvocar um íieWeriíe.eíícn'-
v er u m a ca rta ), veremos que os 8 Ns assinalados remetem para conhecimentos integrantes
c) um ‘continente’ (oeu;>ar um terren o, encher uma i^arra/a. m'0- de nossa conceptualizaçâo do mundo (o que significam estrela, corpo, luz
zi€tr u m a /*aveta), própria, ba bá , am olador de fa ca s e bairro). Eles não direcionam a per­
d) uma ‘extensão’ ou ‘escala’ ({/escer a es c a d a |s pela escadaI.;K’r* cepção do interlocutor/leitor para seres/objetos integrados em um evento,
e*frrer u p r a ia , medir um terren o, ler um a eurfu), a uma situação vivenciada ou imaginada. Trata-se de referências genéricas
e) ‘medida, volume' (erujordar d o is tfuilos, crestvr de» cenfínietrtw). ou indeterminadas, de natureza estrítamente conceituai.
0 o ‘destinatário de um ato comunicativo' (eoncidar os rimijíoí. A esta cspéeíe de referencíação comrapõc-sc aquela em que o SN serve
.viTuJar o € u lversário, cu m prim en tar o s e/eitore«). para direcionar a percepção do intcrlocutor/leitor para objetos específicos.
g) uma ‘entidade que muda de forma, estado ou estrutura umvirtu­ São, de fato, dois meios de referenciaçâo, reconhecidos por DIK [19971,
de da ação verbal ’ (rasgar a rrfUfMt, consertar o carro, pintuTo respectivamente, como ‘construção de referência’ e ‘identificação de refe­
rtjstf}, en ch er a txda, esqu en tar u er^mida), rência’. Empregado como meio de identificar um referente, o SN pode até
li) unia 'entidade sensorialmentc percebida ou experínieniadu'(ou­ ser constituído de uma única palavra. Isto acontece em dois casos: se seu
vir uma mú«ica. saborear o sorv ete, eruvergar o cmiiiii/io,/euir núcleo é um substantivo próprio (Poríímirí na,sceu ern J9 0 J) ou um prono­
um tom lxi), me substantivo (E le tutsceu cm 1903). Se quiséssemos empregar um subs­
i) uma 'entidade eniocíonalmente experimentada’ (w>/n*r uma der- tantivo comum, seguramente cic não podería por si só realizar a referência
n>ta, a d m ir a r u m a ftesso a , lev ar um Aunto), indivlduallzndora, e deveriamos dizer ou escrever algo como: Este pin tor
J) 1111111 ‘entidade cognitiva* (con hecer a s (fuatro ofK^raçòcê. n\t>- nasceu ern J 9 0 J ou O artista que ptniou Café nasceu cm J903.
u/ieLvr uma /K'«Noa, a d m itir um erro, esífuecer o eiidercço). Dentre estes quatro exemplos, apenas no primeiro (Portinurí nasceu
k) 'algo passível de desloeamenio no espaço/tempo' (rmiis/xirtiir cm 1903) c no último (O ardata qiic pintou Café nasceu em J903) o SN
IH issufieirns, caireg ar a nuwhiUt, trutuiferir a reunião, utirur denota um referente definido, um ser único nu mundo. Nos outros dois, no
u m a ftedru ). entanto, essa Identificação se dá indiretamente, graças ao contexto. Para
que este pintor ou ele denote Portinarí, é necessário que a pessoa assim
identificada tenha sido mencionada nnteriormente.
2M üTAirTA I*A|IT». - WmrtAJMiíA »f.r.XIOMAI. r. KINTAXE
fjf/jmft o■ z r/

No último exemplo, por fim, valemo-nos de outro substantivo comum - I ou peculiaridades comunicativas do ev-enft; di%cur%ívo - c dr/ texto - em
artwta - c foram acrescentadas à composiçílo do sintat^a informav^s.sqiic I questão. A seleçáo dr/s elementr/* form adores <Uj sintagma n'/minal <A>ede-
eontiibufram para rcstrin^r o alcance da rercrência atú o limite que u dei­ I ce. assim, â necessidade de tornar o c'/nteúd'> rcferenciadt) p>>r m eio tlcle
xasse inconfundível: o artíM a qu e pintou Cafú e l'ortinarí são a mesma acessível ao interlocutor A isto darn'/s o nome de referenc-uiçá/t Vam'/s
pessoa. observar como o» sintagmas nominais que ocorrem em um texto realizam
Em tese, o nome próprio (próprio quer dizer cxcluMÍml tem auto­ essa tarefa.
nomia referencial: ele se basta como meitt de apontar para seu referente • “O pithull Seném nunca ferira ninguém até ontem , q u an d o
(Portinari). Já o substantivo comum (com um quer dizer cxfensíco) et;m- ' atacou seus dtmos, em ./uearepagtui. Eles cham aram o s fsirnttei-
preende um raio denotativo que acolhe um número variado de individiiw ros, mas o s vizirduis decidiram linchar o cachorro a g o lp e s tle
ou objetos (artista, pintor), sem apontar para qualquer um deles em par­ I h a rra d e ferro." |í) (Uolsi. .10/.S/2(XK))
ticular. O substantivo comum tem propriedade cate^tarial e elassifleatária
seu significado. Ele não faz uma referência por si só (diferentemente do As formas em itálico neste trecho são sintagmas nominais liuas de.s-
substantivo próprio e do pronome pessoal), mas participa da construção de sas cxprc.ssões í|0 pithull] Nettém e .Iticarejsigtui) têm uma referência
uma referência na composição do SN. constante, já que designam entidades únicas e inconfundíveis. São nomes
Ele e este, por sua vez, apresentam diferentes propriedades sintátiea» próprios. Outra.s duas (seus donos c os vizinhos) não designam entidade.s
e textuais: ele é sempre o próprio núcleo do SN (Falavam de Portímri, c especificada.s individual e objetivamente, mas relações entre entidades, e
referiam -se a e le com a d m ira ç ã o ), mas não informa nada além d.-ese.spceifi- como tais reconhecívei.s no texto í.sc-us donos quer dizer 'd»>nos d o pit-
cações morfossintáticas de pessoa (terceira), gênero (masculino) e número buir, e o s vizin hos, ‘vizinhos dos donos do pitbull'). Duas outras formas
(singular); este, todavia, vem normalmcnte associado a um núcleo lexical- (Eles e o ca ch o rro ) também têm referências dependentes do texto, uma
claro ou suprimido —do SN (Falavam d e Portinari, e referiam-se a este pin­ vez que ocorrem em substituição respeetivamente a o s d o n o s d o p ith u ll
tor (núcleo lexical] com a d m ira çã o), expressa o gênero e o número desse c a o pitbull Neném. Duas expre.ssões (os bom beiros c g o ljics d e h u rra
núcleo e pode ocorrer seguido de algum modificador (O vendedor mostrm de ferro) são objetivamente acessíveis e independentes do texto, mas de
dois anéis, e ela escolheu e s te d e p ed ra azul). natureza genérica. Finalmente, uma forma faz referência a um conjunto
vazio (ninguém ).
10.2 O SINTAÍJ.MA NO.MI.NAL E A KEKEKE.\(;iA(;ÂO
Servimo-nos de sintagmas nominais, portanto, para designar parcelas de I0..Í I'R( m ; e i }|.m e .\t o ,s d e k e f e k e .\c i .\(.:.\o
nossa experiência de mundo concebidas como unidades reais ou imaginá­ Os casos comentados acima .são exemplos dos três procedimentos básicos
rias, naturais ou culturais, únicas ou genéricas, concretas ou abstratas. de refcrenciação: o emprego de nomes próprios (Ja c a r ep a g u ú ), o uso de
Consideremos ainda o conteúdo da frase Agora j á tenho roupa paru nomes concretos comuns (cachorro, vizinhos) acompanhados de alguma
ir a es sa fe s ta . Temos aí duas palavras —rou pa e festa - cujos conceitos especificação, e o uso de pronomes (eles, ninguém ).
são bem familiares. Contudo, enquanto es sa fe s ta designa uma entidade do Os nomes próprios têm o poder de ativar na memória enciclopédica do
mundo, cuja identidade é acessível ao interlocutor, roupa corresponde ape­ leitor um referente único e inconfundível. Já os nomes comuns se referem
nas a uma classe de objetos, um conceito. Tomando-a por base, podemos, a classes de seres ou a noções gerais, por isso a construção da referência
todavia, elaborar textualmente inúmeras referências à medida que criamos por meio deles depende sempre de condições ou procedimentos com ple­
diferentes sintagmas nominais: u m a rou pa, a roupa, esta roupa, minhu mentares, como o uso de seus, que vincula d on os ao pitbull. Quanto aos
roupa, (jutra rou pa, algu m as rou pas, a rou pa que vesti ontem, aquela pronomes, há os que realizam uma referência independentemente do tex­
su a roupa de a n d a r em c a s a etc. to, como ninguém , que é um quantificador absoluto negativo, equivalente a
Um dado objeto do mundo real ou imaginário pode, portanto, ser de­ ‘nenhuma pessoa’; e os que dependem de alguma informação já disponível
signado por uma infinita variedade de representações, segundo as relações como a forma eles, que tem função estritamente remissiva, pois apenas re­
do enunciador com esse objeto e segundo as motivações e as necessidades cupera uma refcrenciação já construída no texto: se u s d o n o s.
0#*
240 Q l’.\RT\ PARTt - M*»RF1>UK;I.S n,EXK>NAI. t MNT.KXI.

Sâo os soíiuintes os casos fipic'»>s Jc us«» atnhutixo Jo S\


O artigo definido é um típico recurso de vinculação da infurmaçãf.
1 ) (> niiclcti Icxico do SN cxprcss;i uni ci>ncct(i> cni vof do um ohjdo
nova a alguma informação já disponível para o interlocutor (função tqu:
ou um ser. ínxorcccndo .1 cnavno dc nK’í.Uor.is
valente à de eles), seja na sua memória (os bomírejrfts). seja em um pmin
• Klc íoi um í>ui para mim
anterior do texto (o c a ch o rro ). Assim, em os óomfxnros. o artigo earaeitn-
• Esvsc menino \alc onni
za bom beiros como uma instituição socialmcnte conhecida (disponível na
• O homem e o lohn do liniiiem
memória de longo prazo); em o.s vizin hos, o artigo institui uma relação de
• Ela vai hcar fimu/cni comuio
posse entre o termo vizinluys e o termo don os do pitbull: em o cachtirrn. n
artigo indica que cach orro reativa uma informação já dada no texto e dis­
ponível na memória de curto prazo; a menção do pitbull. Golpes, por su.i 2) O núcleo do SN e um substantivo abstrato, uormalmeiue deriva­
vez, modificado pela especificação do instrumento, integra uma locução de do de adjeflvo qualiheador. ile teor a\ iltafivo
sentido modal (a fíolpes d e b a rra d e ferr o ). • O que ele te/ com \«»cè íoi rimo m/ii.sti\’u
• esfytnttuncuUitlc do seu liesto cativm a.s |Hssoas
10.4 NI CLEO REFERENCIAI, E NTCI.EO SINT.^TICO • Trazia 110 rosto miiifo si renií/od»’
Já vimos que o sintagma nominal refere-se a conteúdos de consciência cujos • “...o embrulho estava Ivem kito. revelav .i tuK(u'ulnshUuU‘ nos
objetos podem ser entidades reais ou imaginárias, concretas ou abstrai.is menores, iiílsilobrns do paix*l v|ik m,*teehav.1111 para tras. nolusatii
A unidade léxica que as representa, e com a qual o predicado mantêm uma díts ponULs. nu e/icit'Mc«i ilo barbante [t i>NVi' II l'***.*^ .\*>]
relação de compatibilidade semântica, constitui seu núcleo referencial. m.as
pode ou não constituir seu núcleo sintático. Nos exemplos abaixo o núcleo Analogamente íi hinvào ainbiiuva. o SN i .iiiiIkiu exeree papeis cir­
referencial, sublinhado, coincide com o núcleo sintático do SN. cunstanciais. coníorme a iiature;ta lexiea ile seu uueleo ,\ siiiiav^áo mms
• Os galos cantavam na madrugada. comum é a dos SNs que denotam iemi>o. espeeialmeuie os iioines doA dias
• Duas nedras rolaram do morro. da semana desacompanhados de artigo defnmlo
• O gato bebeu muito leite. • .Vs aulas comeram scUumla-tviru
• O lobisomem rondava minha fazenda. • “Eabiaiio estrenieeeu (dieijaria a la/eiula noife /ec/iin/o '
• Uma saudade imensa corroía o coração IR.VMOS. lúM a .í‘>l

Nos e.xemplos que se seguem, porém, o núcleo sintático está em negri­ Também tem fundão circunstanciai o SN integrado |x»r MilvMantívo
to, enquanto o núcleo referencial ocorre sublinhado dentro de um SPrep que expressa medida/quantidade e vem anexo a verlxis eoiiio creseer. en-
• Duas das nedras rolaram do morro. tíordar, p esiir. m edir. Trata-se de objetos diretos de extensão ou medida.
• O gato bebeu a metade do leite. • () pezinho de teijão cresceu cinco ccntimefro.s
• Derramei um copo de vinho. • ( )s porquinhos eni>ordarani riioxairos íimrnu.s
• Este queijo pesa mais que frés qui/r>.s
10..S F I NÇÔES ,\TRIin'TIV.\S E C IR C l NST.Wr.lAIS DO S.V • O quarto mede I J m-
O SN tem função atributiva quando, geralmente precedido de verlw de lipiçáv
seus aspectos oonotativos (ver 18.2 e 18.3) prevalecem .sobre seu papel reíe- Essas expressões ix;orreni também com valor circuiisianeial. especi-
rencial; A d efesa d esse time é um a roch a. Neste exemplo, os traçxxs de pe.v t tieando medidas, distâncias e atributos que envolvem situarão no temjK) e
solidez próprios do significado denotativo de rocha são valorizados em sua p^- no espaço, como em:
sível função como ‘barreira resistente’, que é o sentido captado pela met.Hlur.i • Eia está dois quitns acima do peso ideal
(ver 18.10). Empregado atributivamente, o SN se confunde conceitualmenii • Eles cheiraram meia horu depois de mim.
com o SAdj. e chega a aceitar intensificação própria de adjetivos qmiliriixidoa-? • (3 médico che^>u só quirusc minutos atrasado.
(ver 7.2.1): E la é m uito m u lher p a ra en fren tar essa situação. • A bala penetrou três centim etrvs na parede.
242 ÜUARTA PARTE - fcH)RFOU«»A FLEXICWAL E SIKTAXE t:\ffn v v o srvru.u.s sítmin m. 2-

10.6 Fl^NÇÕES COESIVAS DO SINTAGMA NOMINAl. • “Segundo especialist.Ts do mcrc.ido imnbiii:inn. um apartamen­
Por serem inerentes à prática textual, os procedimentos de repetiç.in e to com vista para o mar vale de 15% a 20% mais do que unia
retomada - isto é, a ativação da memória textual do interlocutor - ocu­ unidade semelhante .semc.sft privilégio " jf) (ilobo. 11/<V20081
pam um lugar de destaque no sistema de meios conhecido como,hinç‘âo
textual d a linguagem (ver 4.1). Retoma-se outro texto, retoma-.se parte Um dispositivo anafórico de alto rendimento nivs textos escritixs é o
do próprio texto que se está produzindo. Por esse meio estabelcccm-se procedimento da nominalizaçáo (substantivaçáol de verbos e ailjetivos, re­
ligações relevantes entre ‘o já dito’, ‘o já escrito’, ‘o que já se conhece' curso que viabiliza a condensação de proposiçtães/predicados por meio ile
e o que se está dizendo/escrevendo e dando a conhecer no texto ein substantivos para explicitar a cadeia semântica do texto, ao mesmo tem­
processo. po que ser\’e para exprimir avaliaçtles ou interpretaçi')es que o cniinciador
A retomada de uma parte do conteúdo do texto por meio de um realiza a respeito das atitudes ou atos de fala' de outros indivíduos cujo
sintagma nominal (anáfora) é sempre um meio de encadear o raciocínio, discurso esteja comentando ou citando Trata-se dc sintagmas nominais
unindo informação conhecida e informação nova, e fazendo o texto avan­ ordinariamente constituídos do nome condens;idor precediiio dc algum de­
çar. A estrutura formal e o significado deste SN anafórico se explicam, terminante, geralmente pronome demonstrativo ou artigo
respectivamente, como sempre, pelos princípios da coesão e da coerência Os trechos seguintes oferecem exemplos elucidativos dc ;dguns papéis
(ver 4.5.6.5.2). No trecho abaixo, o SN o cartão corporativo é reiterado textuais desempenhados por esse tipo de nominalizaçáo Os segmentos su­
por outros dois SN que o recategorizam por sua utilidade: o instrumento blinhados contêm as informações que vêm condensadas adiante pelas for­
e o r^ can ism o. mas nominais em itálico:
• “Existe uma regra constitucional impedindo que se jam feitas alte­
• “As denúncias de mau uso do cartão corporativo no governo
rações no proce.s.so eleitoral no periodo de um ano anterior à elei­
federal deixaram o instrum ento na berlinda. Especialistas,
porém, defendem o rrtecanismo desde que haja ainda mais ção. O artigo 16 da Gonstiuiição diz i|ue leis não nodem alterar
as reêras eleitorais, mas há uma diiviila se c.s.so límítuçxui apliea-
transparência e critérios mais rígidos para o uso." |AL\TS,
Marcelo. O Globo, 8/2/2008] -se a emendas constitucionais." |./on«d do Hrusil, .s/ln/PWT]
• “Três bandidos entraram pelo saguão (do aeroporto) c ren­
O conteúdo léxico do substantivo escolhido pode revelar ainda, no en­ deram um .segurança que estava no portão de desembarque de
tanto, motivações discursivas e estilísticas variadas, como se verá nos dois cargas. Na pista, onde era de.scarrcéado o dinheiro para abas­
trechos seguintes. No primeiro, o narrador retoma parcelas do conteúdo tecer a rode bancária, houve troca dc tiros com os vigilantes
textual por meio de duas anáforas associativas - o SN o desolado escãiulaiu que protegiam <i operação." |0 (J/o/mj. ll)/5/1998)
e o SN os coin cidên cias. No segundo, a escolha do SN este privilégio re­ • “A manipulação da opinião pública só é possível por causa
toma, conotando um juízo de valor praticamente consensual, a expre.>«ão da falta de informação. Gomo se fosse posto em debute sç
atributiva com v ista p a r a o m ar. um menino diahéticr) n<xle ou não eoiiier hriáitdeiros numa
• “Há três dias, falei num gordo que tinha a papada de .Neru de festinha de criança. Antes dc levarmos em conta os traumas
Gecil B. de Mille. No dia seguinte, falei num segundo sujeito psicológicos de.s.su privação, existe um fato cientítico funda­
que tinha a papada de Nero de Gecil B. de Mille; e no terceiro mental para e s s a discussão: a ingestão deseontruluda de açú­
dia, falei em mais um sujeito que tinha a papada de Neru de car poderá levar à sua morte.”]Eo/hu d e S.l‘uulo, “caderno
Gecil B. de Mille. Perguntará alguém; Mas todo mundo tem .Mais!’’, 8/2/1998].
uma papada de Nero de Gecil B. de Mille?’ Entendo o desola­
do escân d alo dos meus escassos leitores. Lembro apenas que 10.7 FUNÇÕES DI.SGI RSIVO-TEXTUAIS DOS DETER.MIN.VNTES
não nos cabe discutir, mas simplesmente aceitar os cttínci- Mmos, acima, ao comentar o texto sobre o pitbull, que nos sintagmas .seus
dên cias." [RODRIGUES, 1996: 158] donos e o c a c h o r r o , o pronome possessivo e o artigo definido instruem
o leitor para identificar no próprio texto as entidades referenciadas por
244 UfAKTA fAHTF. - M0RF01,(KIIA FI.KXIONAI. V. HINTAXK ItfJUUO i^ArtTVl/K n M.VTA(.MA NtfMIMAI. 245

aquelas expressões. Essas palavras s3o determinantes (ver 6.5..1) e, embora fl) Vuríávcl uiii ininiero (VN): indica que a unidade cm questAo sc
não denotem entidades do mundo, são decisivas no fornecimento de pistas flexiona em ntámero para concordar com <i núcleo do SN.
para o reconhecimento delas como ‘informações comunicãvels’, intet<railas b) Variável em gênero (VG): indica que a unidade em questâr) se
ft rede textual (cf. 4.S.7). flexiona em gênero para concordar ctrm o núcleo do ,SN.
Na construção do SN, reconhecemos trCs posições: a bane, llpleamen- c) Pliinil (PI): indica que a unidade em questão combina com siibs-
te preenchida por um substantivo comum (roíipn); a porção qoe preeede tantivo no plural mesmo que não se flexione.
a base, preenchida pulos detcrminatucH (utna/a/minhíi/eMu nai;ai); e a d) Singular (Sg): indica que a unidade em (|iie.stão combina com
porção subsequente à base, ocupada por modificadorcH (rou/Ki qiic vcaíi .substantivo no singular mesmo <|ue não se fleximte.
ontevnJde a n d a r eni caaa). e) Siibordinante (Stibte): indica que o SN Introduzido pela unidade
A ampla classe dos determinantes inclui as .seftuintes espécies de pala­ em questão Integra uma oração subordinada.
vras de nossas gramáticas: artigos definidox e imiçfiuiWns; pronoiiwx ixis-
Hcssivox e dem onu trativos; pn m om cx irufç/initios, .'ilgiins tidjclivns que 10.7.1 Deteniiiiiação qiiaiitilalira
sofrem um processo de gramaticalização e num erais curdimiis e iirdinuin Aquantificação pode ser u n iversal, glolm l, du al ou jsircial. A (piantifica-
Os determinantes tõm funções discursivo-textuais realizadas pela combina­ çâo é universed (|uando vem expressa pelo (|uantifieador uhIo / tod a / to d o s
ção variável dos seguintes traços: /todas, No singular, todo tem .sentido universal .se incide diretamente sobre
a) dditico (Deit: informa que o que o SN designa tem alguma rela­ osubstantivo (to d o h o m em é m ortal), mas significa ‘inteiro‘ (quantificação
ção com as pessoas do discurso: este /íorrj, m inha roujM, aque­ global), sc o substantivo é precedido de artigo (tm lo a gru po, t o d o u e é u ,
la árvore)-, toda a sala, to d o um conjunto de questões). No plural, todo precede obri­
b) idenüiicador (Id: informa que o conceito, objeto ou ser designado gatoriamente artigo definido ou pronome demonstrativo c é sempre cjuanti-
pelo substantivo é conhecido do interlocutor ou faz parte da si­ fioador universal {to d o s qs hom ens, tod as essas ab elh as). A quantificação
tuação comunicativa); dual é expressa pelo pronome am lsts, que ocorre necessariamente scguidr>
c) vinculativo (Vin: informa que a relação déitica é também uma de artigo definido ou pronome demonstrativo no plural ( a m b o s e s t e s p a í ­
relação de ‘vínculo, participação, envolvimento’; minlui escolu, ses, am bas a s m ãos).
n o s s a c h eg a d a , m in h a dúvida)-, Diz-se parcial a quantificação expressa pek» demais quantificadores. A
d) remissivo (Rem: informa que o conceito, objeto ou ser designado quantificação parcial ptxle ser absoluta - quando o determinante incide dire-
pelo SN é conhecido do interlocutor ou faz parte da situação co­ lamente sobre o substantivo quantificado (dois cavalos, v á r io s liv ros, p o u c a
municativa ou do texto: o cachorro)-, luz) -, ou partitiva - quando a parte quantificada é extraída de um todo expresso
e) focalizador (Fo: confere ao SN relevância especial na sua relação por SN precedido por de ou, mais raramente, (d )entre ( V ários d o s c a n d id a t o s
com o restante do enunciado; Denunciem o próprio filho); desistiram /Três d a s em b a rca çõ es afu n daram /Alguns d e (ou d en tre) v o c ê s
f) indefinido {Jnd; informa que o que o SN designa tem uma refe­ precisam fic a r a q u i /P ou co d o leite p ôd e ser aproveitado). Na quantificação
rência imprecisa; alg u m am igo, cer ta s palavras, várias joias); partitiva, são diferentes o núcleo referencial e o núcleo sintático do SN.
g) quantiíicador (Quan; representa a quantidade massiva ou enumerá- U quantificador universal todos, o quantibeador global to d o , o quan-
vel, ou ainda a posição numa escala, do conceito expresso pelo subs­ tificador dual a m b o s e os substantivos e pronomes que expressam quan­
tantivo: p o u c a águ a, algu n s soldados, d es tijolos, quintodiu); tificação partitiva são, por si mesmos, núcleos de um sintagma nom inal.
h) interrogativo (/nt; informa que algum aspecto do que o substan­ Podem ocorrer antepostos a outro SN ( to d a ela , t o d o s tids, a m b a s a s m u ­
tivo nomeia é objeto de uma pergunta/dúvida: Não sei quantos lheres, todo esse tra b a lh o ), a que servem de aposto. Daí a jxjssibilidade
d ia s fa lta m ).
das construções: Todos o s p a s sa g e iro s s e sa lv a ra m / Os p a s s a g e ir o s s e
saham m todos /Os passageiros todos se s a lv a ra m /T odas a s r o u p a s e s t ã o
A par dessas especificações semânticas, os determinantes incorporam
molhadas /As roupas estão to d a s m o lh a d a s /A m b as e s s a s p a l a v r a s s ã o
os seguintes traços morfossintáticos; esentas com x /E ssa s p a la v r a s s ã o a m b a s es crita s co m x.
J4 6 (XIARTA PARTE - UORFOUXÍIA FLEXIORAL E SINTAXE
n E O IW n u rm iO í) SI\TMAI.\ VIMINAI. J4 7

Por sua vez, sintagmas nominais como um p ed a ço de pão e duwi dú- dado preWsível no conte.\to do comunicação, como a relação entre c a s a c
sia s d e laran jas são constituídos de um SN cujo núcleo - jK-duço, ditóíis telhado em (jom prvi uma casa em ótimo esaultt: só o telhtulo precisa d e
- é complementado por um SPrep - d e p ã o , d e laran jas. uma pequcTta reform a, ou a relação entre ctusar-sc c ctmvite em Luis se
Resta examinar a estrutura de SNs do tipo m uitos dos soldcutos evú- casa am an hã; o convite e/iegoi< (h7o correio.
rios d e nós. É evidente que m uitos equivale a m uitos soldados e que eárim
significa um subconjunto de nós. Ainda assim, não podemos ailmitir iima I0.7..1 Detem iinação renii>sÍAa; ou tro e m esm o I
elipse das formas correspondentes a essas informa^mes implícitas, poi.s não Os pronomes me.smo e outro enipregam-.se no discurso em virtude de uma
é possível dizer vários nós. A estrutura destes SNs é paralela à dos ante­ atitude comparativa por parte do eniineiador. que tem sempre em mente
riores, com a particularidade de que o núcleo do SN maior - niuims / /, uma base referencial comum As [lorções de sentiilo eonsiderailas: a iden­
vários í I - é informacionalmente idêntico ao do SN contido no SPrep - dos tidade total .se exprime com mesmo, a parcial, eoni outm .Vssini. quando
soldados, d e nós. dizemos o mini.stério usou o m esm o slotian ila ctinquinha iiiirerior. não
Lembre-se, por fim, a possibilidade da ocorrência dc cxpre.s.sõc,s es­ sá classificamos as mensagens das duas campanhas eomo sloiitat. como
timativas como quase, n a d a m ais qu e, n ad a m enos que, pc/o menos, «té dizemos que o ministério usou na segunda campanha uma mensagem iilOn-
aproxim adam en te, perto d e, cerca d e antes do quantificador ou do ,sintaí- tica A primeira. Em contrapartida, se dizemos i|ue o ministério ii.son mi
ma nominal partitivo: q u a s e a m etade d o s cam lidatos, nada menos que sefiunda c a m p a n h a o u tm .slotian. apenas reafirmamos o gênero - slotian
trinta pessoas, a t é qu aren ta alu n os p o r sa la, ftelo m enos uni rcrcsi dos - propriedade partilhada pelos elementos em causa, e introduzimos a no­
pães, c e r c a d e cim nienta operários. Alguns desses constituintes .são adeír- vidade (o conteúdo) na e.spéeie. .\nibos os enuneiados l>a.seiam-.se iniiu ato
bios ou locuções adverbiais {até, q u ase, aproxim adam en te. fK-lti meno,s), de comparação.
outros são locuções prepositivas que ocupam unicamente a posição de iiin Mesmo e outro integram o eomple.xo sistema de meios referenciais
prê-quantificador {cerca d e, m ula m en os qu e etc.). do discurso e constituem instrumentos de coesão textual e ile coerência
eonceptual. Ambos .senem para retomar porçfies de sentido (anãíora) ou
10.7.2 Determinação ideiitifieadoni e reiuissiva: o artigo antecipar porções dc .sentido (catãlora) na cadeia do discurso, razão por
O artigo é variável em gênero e número {o/aJostas) c representa qualquer que lhes chamamos detennim intes reiiií.s.síisi.s.
unidade conceituai - coisa, ideia, ser - como parte do eonlieelnieiito priívíu Outro pode significar 'semelhante, análogo, adieiomil’ (valor de inclu-
do interlocutor (cf. 4.5.6.2.2.2). Esse conhecimento prévio tanto [xideser .são ou quantificador: outro 1 ). ou 'diferente, oposto, alternativo (valor de
partilhado pela comunidade nu mais amplo .sentido possível - eomo em
exelu.são ou indefinidor: onrm 2). Uma fni.se eomo TVugii oiitni Avrcepi é
O elqfante é um paqu iderm e, Ncwton descobriu a lei da tiravidtule - quan­
ambígua, poi.s tanto pinle significar 'Traga mais uma eerx cja' (outro 1. quan-
to pode ser restrito a uma situação particular - eomo em O evinqjiiiiiiim
tifieador) quanto 'Traga uma cerveja ile tipo ou marea dilerente da anterior'
Lvm eçará a m a n h ã , ponlui o peixe na íieladeira, Paulo achou u indsemi
(outro 2 . indefinidor).
d e A tui. Nestes exemplos, presume-se que elefante e lei da tiravidtule se
MesmiT a.ssinalu no di.scurso o fenômeno da eoineídência referencial,
referem não a dados presentes numa situação irurticular, mas a iioçik-.s pir-
e significa o o|josto de oiitni J. Seu mecanismo referencial apre.senta dois
tilhadas pela sociedade ampla; por sua vez, campeormlo, ;H'i.ve e pulsemi
suhli|ios, i|uc vamos chamar eoircfcrêneia sintética - se os elementos cuja
denotam objetos específicos, conhecidos nos limites de situações particula­
identidade se declara estão unidos numa .só função sintática (cx.: Vix.x'' e
res de interloeução. É a disponibilidade desse conhecimento prévio que ga­
rante naturalidade ã frase Arui piTtíou a s un has - já que Ano imssui imlais. tu luio assistim os a o mesmo_filme-, meu pai deu a mim e ti meus íniitios
por outro lado, Ana pintou a s e.scama.s pode causar estranheza. \'isto que u mesimi cdu ctição) c correfcrêiicia luiulíticu - sc esses elementos estão
Anu não p ossu i escan u is. Esta frase se tornaria natural numa situação em distribuídos cm sintagmas distintos, ainda que desempenhando a mesma
que. por exemplo, se estivesse conversando sobre uma tela ipic retratas,se função (cx.: Voeé luio assistiu ao m esm o film e qu e cu: '‘O TRE disi>ôs do
um |K'ixe pintado a quatro mãos. A pertinência do artigo definido ixxle mesmo tem/s) d o s o u tm s trib u n a is rcgíomiís ixira oggantcur o pleito"
depender, portanto, de que ele ative no conhecimento do interloeutor ura \Jomal d o B rasil. ).
ntoiMí) CArfnxor o sixTAtau nowix.u 249
248 QUARTA PARTE - UORPO UX j IA PLEXIONAL E SIKTAXF.

Brasil. A do cinema deve relegar ao plano pioneiro, a uma


10.7.4 Determinação dêitíca e remissíva: os demonstratívos
espécie de proto-históría, tudo o que, aqui, antecedeu a fase
Sabemos que os pronomes demonstrativos servem para localizar, em rela­
do desenvolvimento das relações capitalistas. Requer esse de­
ção às pessoas do discurso, os objetos (seres, coisas e noções) que entram
senvolvimento um nível mais avançado do que aqxiele exigido
no conteúdo de nossos enunciados. Em 7.4.3 discorremos sobre os prono­
mes demonstrativos e os sistematizamos em dois quadros-resumos segundo pela imprensa, para mudar sua qualidade e passar ã segunda
são empregados na modalidade escrita formal (quadro-resumo I) e na mo­ fase.” [SODRÉ, 1978: 81)
dalidade falada (quadro-resumo II). • “O Modernismo, nas artes plásticas particularmente, reflete
A localização efetuada pelos pronomes demonstrativos pode operar aqui, nos primeiros momentos, a mistura dessas influências
em dois contextos; (a) o espaço-tempo físico-social-cronológico de comuni­ externas, geradas por condições inteiramente diversas, c das
cação ou (b) o próprio texto em construção. influências internas, que começam a se impor, tuiuelas predo­
A situação típica de ‘a’ é a do discurso falado, na qual o instante e o minando e até indispensáveis, na forma e nas técnicas, e es­
espaço da enunciação são comuns ao enimeiador e ao destinatário. Neste tos manifestando-se principalmente nos motivos, nos temas,”
caso, são grandes as chances de os demonstrativos desempenharem fun­ [Idem: 58]
ção d êitica. Já a situação típica de ‘b’ é a da modalidade escrita, espaço
de comunicação em que prevalece a função anafórica ou remissim dos Na primeira passagem, o demonstrativo esta dei.\a claro que o enun­
demonstrativos. ciador se refere à (fase) industrial, antecedente imediato, e não à (fase)
O quadro-resumo 1 (7.4.3) é mais teórico do que real, visto que a dis­ artesan al; o demonstrativo esse - que poderia ser também este - está reto­
tinção entre este/esse, mesmo na língua escrita formal, só se observa com mando um tópico que acabou de ser mencionado no texto (= desenvolvi­
rigor quando é necessário deixar clara a referência a um objeto situado mento), e que, por isso, é mantido no âmbito da interlocução. Por sua vez.
no âmbito do enunciador (este) por oposição ao que se situa no âmbito aquele (= a q u ele nível) refere-se a uma noção que, por já fazer parte do
do interlocutor (esse), como no seguinte trecho de uma carta de .Mário de conhecimento do leitor, está fora do âmbito da interlocução.
Andrade a Graça Aranha: Na segunda passagem, o jogo dos demonstrativos assinala, pela locali­
• “Graça Aranha, sei que se queixa dos modernistas de São zação no espaço da página, o contraponto entre as itifíuências extenuis ( =
Paulo terem se afastado de você. Como esses lamentos aquelas) e as Í7\fluências internas (= estas).
(= os lamentos do interlocutor) não trazem endereço nem
assinatura e não sei que ouvidos os escutam, esia (= a carta Obs.: A expressão este/esse ou aquele emprega-se sem valor anafórico
que o enunciador escreve) vai aberta.” [KOIFMAN, 1985:185| ou dêitico em referências genéricas:
• “São matreirices, espertezas como as da cozinheira que sabe
Usualmente, portanto, emissor e destinatário constituem um só âmbi­ como dar este ou aquele sabor à comida.” |SANT'ANNA, 2003;
to —o da interlocução - por oposição a um segundo - o da terceira pessoa, 212 ]
externo à interlocução. A perda da distinção entre este e esse é compen­
sada, na fala, pelo reforço dos advérbios a q u i e aí, respectivamente {esUil Os demonstrativos posicionam-se ordinariamente antes do substan­
e s s a c a m is a a q u i é m in ha: o. sua é es sa /es ta a í no seu arm ário). O quadro- tivo que determinam e podem vir seguidos de outros determinantes, com
-resumo do subsistema 11 também pode ser visto em 7.4.3. exceção do artigo (estas cartas, estas outras cartas, estas m in has cartas,
No discurso planejado, e especialmente na modalidade escrita, os de­ estas m in h a s o u tra s cartas, estes seus v ários amigos). A reiteração de
monstrativos participam da chamada função textual da linguagem, expri­ um referente por meio do mesmo substantivo na função de aposto será
mindo relações coesivas, como se demonstra nos seguintes trechos: sempre marcada por uma expressão modificadora e, opcionalmente, por
• “A história da nossa imprensa só pode ser bem compreen­ um demonstrativo colocado após o substantivo:
dida sob a divisão em duas fases, a artesanal e n industrial. • Mandei-lhe uma carta registrada, carta esta que jamais íoi
esca peculiar ao desenvolvimento das relações capitalistas no respondida.
2S0 QIIARTAPARTE- M
ORFOKXRAFLEXIONALESIN
TAXE DET.UK)CAPÍTtV): o StNTA(;MANOMINAL 251

Os demonstrativos também são identificadores, mas podem apresen­ 10.7.ô Detenninação focalizadora: próprio e mesmo 2
tar esse traço de maneira mais atenuada do que o artigo. No discurso dia­ Como determinante, próprio acrescenta ao enunciado uma tomada de po­
logado, é comum que se faça nova menção a algum referente empregando sição do enunciador a respeito da relevância do que está dizendo:
uma ordem livre da combinação entre possessivo e demonstrativo, o que • O próprio prefeito supervisionou os trabalhos de socorro aos
não é possível com o artigo (esse seu am igo/esse amigo seu, mas não ‘o flagelados.
am igo seu alternando com o seu am igo). A forma esse é frequentemente
empregada no plural para exprimir uma referência genérica: A intenção do enunciador é impressionar o interlocutor. Com esse
• Nessas horas é preciso ter paciência. mesmo viés, emprega-se o pronome mesmo posposto ao substantivo (O

6
prefeito mesmo supervisionou os trabalhos de .socorro aosflagelados). Tra-
10.7.5 Oetcnninação vinculativa; «s possessivos ta-.se de unidades que servem aos propósitos argumentativos do discurso,
Os pronomes ditos possessivos expressam um vínculo qualquer, constante já que, por meio delas, o enunciador expressa, sobre o fato relatado, uma
ou eventual, entre o objeto ou assunto de que se fala e cada uma das pes­ avaliação que espera ver compartilhada pelo interlocutor. Uma frase sem
soas do discurso. Este vínculo pode ser de posse (meu relógio, isto é, ‘o próprio tende para a neutralidade do enunciador; com próprio expressa
relógio que me pertence’), de origem (nossa cidade, isto é, 'a cidade etn sentimentos de simpatia ou de repulsa. i\ssim é que, ao dizer a frase O pre­
que nós vivemos’), de uso (m inha sa la, isto é, ‘a sala em que estudo', meu
feito supervisionou os trabalhos de socorro aos flagelados, o enunciador
ônibus, isto é, o ‘ônibus que costumo pegar’), de parentesco (meus tios), de
reporta o fato de forma impessoal e neutra; ao introduzir, porém, o determi­
autoria (m eu d iscu rso, isto é, ‘o discurso que proferi’; teus quadm.s, isto
nante próprio (ver acima), o enunciador agrega à frase um tom de simpatia
é, ‘os quadros que tu pintas’), de compromisstt/dcstinação (stia missão.
isto é, ‘a missão que foi confiada a você’), de afetroidade (meu clube, isto pelo gesto do prefeito.
Em seu papel remissivo - prossível apenas nas construções em que
é, ‘o clube pelo qual eu torço’), de grupo social (meus clientes, isto c, us
determina um SN distinto do SN sujeito - próprio (próprio 2) dá realce à
clientes a quem presto sersiços profissionais’, rwssos prt)fessorcs. isto é, os
professores que nos ensinam’ —se dito pelos alunos - ou 'os professores que relação de posse expressa pelo pronome:
trabalham na escola que eu dirijo’ - se dito pelo diretor), e assim por diante • Ele pagou a conta do seu próprio bolso.
Esta lista é interminável, e pode abarcar ainda, praticamente, todos os con­ • Ele ofereceu seu próprio casaco para agasalhar a criança.
teúdos expressos pela relação sujeito-predicado; eu passeei > meu pasídii.
eu c a i > m in ha qu ed a, cu gaguejo > m inha gagueira, eu odeio > meu ódio. acabando por absorver esse valor e dispensar o pronome:
eu so u fe lis > m in ha felic id a d e, eu fu i derrotado > minha derrota, cu .sou • Ele pagou a conta do próprio bolso.
inocente > m inha itw cência. Ou seja: o que era uma predic.ição (gtiguijo. • Ele ofereceu o próprio casaco para aga.salhar a criança.
.sou inocente, ver 4.1) se toma uma refereneiação (gagueira, iiUKvncia. vet
4.1) operada por substantivo abstrato (ver 7.1.1.1), e o que era um con.sti- 10.7.7 IX-tcniibiação vincidatíva: o relativo cu jo
tuinte oraeional (o sujeito eu) se toma uma parte do SN (o determin.intc Exclusivas das variedades formais da língua, as formas cujo/cmja/cujos/
minlui), sem perder a condição de protagonista do evento/situação. cujos são as únicas que o pronome relativo apresenta na posição de deter­
Anteposto ao substantivo - sua posição mais frequente - o possetesi- minante. Seu valor semântico é equivalente ao dos pronomes possessivos,
vo tem propriedade identiíicadora, de sorte que tanto se pode dizer mcu.s mas do ponto de vista sintático é um conectivo de subordinação como os
irrnuos quanto os m eus irm ãos. Posposto ao substantivo, no entaniu. o demais pronomes relativos, originando, no papel de transprositor. sintagmas
po.ssessivo perde esse traço; meu dinheiro é uma expressão de reíercncin adjetivos oriundos de orações. Cujo vem imediatamente seguido do subs­
definida, dinheiro meu exprime apenas um conceito genérico. Por iw»), tantivo ou de grupo nominal formado por adjetivo + substantivo (A árvore
proiioines indefinidos podem ser seguidos de substantivo + pos,sessivo (mn ciço tronco apodreceu jcf. seu trontu) /O problema cuja solução encon­
cisin/io meu. algu m a rtntpa sua, nenhum amigo nosso, outro cheque trei (ef. sua .so/ução| /Os siiuiis cqja origem inveshgueí (cf. .suu origem) /
meu). tuas nunea da ordem po.ssessivo + substantivo (*1011 meit vidnho. 0 píiuor cqjas/amosas telas rvpmdussi [cf. stuisjam osas telas]).
'algum a sua roufxt, 'nenhum nosso.fílho, 'outro meu cheque).
252 QIARTAP.KRTt- M
ORPOUXUAFl£XION.\LCSIN
TXXE nCfHM) íivfTnio: o asTUiMA STMccu. 2S3
10.7.8 Grade dos detcmiinantes e respectivos traços -------- 1 !-----------;------------
V/X n ' Fo Dcit
' Id ) M n \ Rem Ind Quan Im Subce
1
Ira 1 * 1 *
1 _ +

Todo ■f + 1 + _ - 1 -^ '------------ 4 4
^
+
* 1 .J 4 _
- 1 - ; -
. 4
\ -----------
Cetto j ^ I
4- 4 U
i 4

Detenniiuuio ' + 4 - 4 1 4
Qu»l + . 1 + 4 _ 1 - - 1 , 1 - i + 1 4 4
Que ( + 1 4 1 I 4 4 4
Cujo ■+ ' + 1 + ' 4 _
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TYês 1 i ! 1 4
- - _ _
.1 . _ '
1
Duzentos 1 . _ 1 . 1 . 1 _ 1 _ 4 - . 1
Primeiro 4- 1 + ♦ 4 1 1 i _ _ ' 4 4 !
Ambos -
1 _ i - 1 _ ^ 4
1
: - 1 - 1

10.8 O SN .VPOSTO
Os exemplos abaixo ilustram o processo conhecido como aposição, por meio
do qual o núcleo primário ou fundamental de um SN (romance, número, pla-
neta,cidades, doutor, igreja) vem acompanhado de um segundo SN. seu nú­
cleo secundário {Vidas S ecas, cinte. Vênus, Friburgo e Teresópolis, Fenuxn-
do, Candelária), que particulariza a referência classificatória do primeiro;
• O romance Vidos S ecas é da autoria de Graciliano Ramos.
• O número vinte é par.
• O planeta Vênus é a estrela mais brilhante.
• Visitamos as cidades de Friburgo e Teresópolis.
• O doutor Fern an do está de férias.
• Eles se casaram na Igreja da C an delária.

Nestes exemplos, o aposto individualiza ou particulariza a referência


do SN, cujo núcleo primário tem função classificatória, visto que apenas
serve para enquadrar o objeto da referência (Vênus, vinte, Fern an do. Can­
delária) numa classe genérica {plan eta, nú m ero, doutor, igreja). Por ser
também núcleo na construção, o aposto pode dispensar o núcleo primário e
constituir por si só o SN. Comparem-se as frases acima com suas variantes
em que o aposto - núcleo secundário - substitui o SN maior;
OÉCUIO CAPmn.O: o .SINTAGMA .NOMINAL 255
254 QUARTA PARTE - M O RFOU XilA FLEXIOSAL E SIKTAXF.

pesquisadores. O instrumento, um a fla u ta d e 22 centím etros


• Vinte é par.
d e com prim en to (aposto explicativo), é feito de osso de uma
• Visitamos Friburgo e Petrópolis.
ave chinesa, a garça-de-crista-verm elha (aposto explicativo).
• Fernando está de férias.
A llauta feita há nove mil anos tem .sete orifícios e é capaz
• Vênns é a estrela mais brilhante.
de produzir sons elaborados, o que surpreendeu os cientistas
• Eles se casaram na Candelária.
(aposto atributivo).” |0 Globo, 23/10/1999)
“O Brasil vai virar o século amargando um desempenho ma-
Nestes exemplos, o aposto, de caráter eminentemente descritivo, .ser­
eroeconômlco ainda pior do que o registrado nos anos 80, pe­
ve aos propósitos da função informativa da linguagem. No uso coloquial, e
ríodo qu e passou à História conut a década perdida (aposto
com efeito de sentido próprio da função emotiva, é comum o emprego de
atributivo).” [Jornal do Brasil. 10/10/1999]
um aposto - ou epíteto - antecipado, de nítido conteúdo de(a)preciativo,
anexo ao SN base por meio de preposição: “Uma simples técnica de controle biológico que utiliza o
• A bo ba da Lucinha ainda acreditou nessa lorota. coco, fru ta abundante e barata das zonas tropicais (aposto
• O sonso do seu primo pensa que somos idiotas. explicativo), poderia se converter em uma alternativa con­
• O d iab o da dúvida atormentava o marinheiro. tra a malária, doença erulcmicu em muitas partes do mundo
(aposto explicativo).” [Jornal do Brasil, 2/8/1999)
Outra variedade de aposição baseia-se na correferência dos sintag­ “O consumo frequente de cebola pode reduzir o ri.sco de os-
mas, como em: G racH iano Ram os, a u to r d e V idas Secas, nasceu em teoporose, doença que atinge um terço das imdtieres ap ós a
A lagoas uma vez que os termos G raciliano R am os e au tor de Vidas Secas m enopausa (aposto atributivo).” (O Globo. 23/10/1999]
referem-se ao mesmo indivíduo. A correferência garante a manutenção “Jorge Luís Borges bgura o paraíso sob a fomia de uma biblio­
do valor referencial do enunciado com qualquer dos dois sintagmas no teca, imagem que eu subscrevería desde o início da m inha
papel de núcleo primário, esteja ou não seguido do núcleo secundário. adolescência (aposto atributivo)." )ME.NDES, 1994: 1103)
Ao passar a núcleo primário do sintagma, o substantivo comum ocorre “Até fins do século passado os rapazes e moças se cobriam da
precedido de artigo: cabeça aos pés, evitando sair nos horários mais ensolarados,
• O autor de Vidas Secas, Graciliano Ramos, nasceu em Alagoas. a fim de preservar um tom pálido, macilento, funéreo, sin al
• O autor de Vidas Secas nasceu em Alagoas. de distinção daqueles que não precisavam trabalhar sob o
• Graciliano Ramos nasceu em Alagoas. sol (aposto atributivo).” )SEVCENKO, 1998: 560-1]
“A obsessão pela ideia de modernização produziu duas pala­
O aposto serve, portanto, para: vras essenciais no vocabulário da segunda metade do século
a) reiterar, por força de algum interesse ou necessidade discursiva. XX: perestroika (algo como reconstrução ou reestruturação)
a identidade de um ser ou objeto (aposto explicativo); eglasn ost (transparência).” [O Globo, 12/12/1999: 706).
b) introduzir um comentário com que se avalia ou se esclarece uma No trecho acima, as formas em itálico, um aposto enumerativo,
informação (aposto atributivo); vêm seguidas por apostos explicativos, colocados entre parênteses.
c) particularizar a referência genérica de um substantivo (aposto es- “Olho para trás e fico espantado com a quantidade de coisas
pecihcativo); que fui recolhendo no caminho, meus suvenires d e viagem
d) detalhar (aposto enumerativo) o conteúdo do SN fundamental. (aposto atributivo): um jeito de sorrir, um suspiro con form a­
do, um a voz forte no momento de perigo (aposto enume­
A funcionalidade destes tipos é comprovada nos seguintes trechos to­ rativo).” [Miguel Falabella. O Globo, 2A0/1999)
mados aos discursos Jornalístico e ensaístico: “O homem que dorme é Ariano Suassuna. Nada o afeta: nem
• “O mais antigo instrumento musical capaz de ainda ser toca­ os passageiros que arrastam a bagagem , nem os en g ra v ata ­
do foi descoberto na China por uma equipe internacional de dos que, bem ao lado, se acotovelam p a ra um c a fé (aposto
enumerativo).” [CASTELLO, José. O G lobo, 16/6/2007]
256 Ql'ARTA PARTE - MORPOUXÍtA FLEXIONAL E SINTAXE ('.A P tn x o: o »rr.\nM.A snMiN.u. 2S7

É normal que o aposto enumerativo preceda o termo cujo conteúdo Entre os demonstrativos, preenchem o lugar de um SN as formas neu­
explicita, principalmente se esse termo é representado pelos pronomes in­ tras isto, isso e aquilo. Por sua vez, os pos.sessivos só equivalem a SNs cm
definidos tudo, todos, nada. certos usos estereotipados (Como vrio os seus?, isto é. ‘seus familiares';
• “Os demais grão-duques e barões da República, como os /}o- 0 meu e.stíí garantido, isto é, ‘o meu sustento', 'a minha parte').
•oemadores (aposto explicativo) Mário Covas, Tosso Gercis-
sati e Ja rb a s Vastxmcelos (aposto especificativo). estav.nm 10.9.2 indefinidos
todos lá, com uma multidão de deputados, senadores e mi­ São eles alguém , ninguém, ttada. nido. tudo i.s.so. algo, cada um, qual­
nistros." [ALVES, Márcio M. O Globo, 2/10/1999) quer um. ca d a qual, que, o que. quem. quem quer que. o que quer que e
quanto (Ele crjrneu tudo, nada lhes fultuni. não conheço ninguém, algo
10.9 PRONOMES Q l'E FITVCIONAM COMO SN está errado, alguém abriu a jrorta, cario qu al levou seu travesseiro, qu al­
A nomenclatura oficial brasileira distingue pronomes substantivos (e/e. al­ quer um pode participar do concurso, luio stibíamiKs que/ascr. não sabía­
guém, isto) e pronomes adjetivos (algum amigo, esta rua, minha coso). mos o que faz er, quem viver verã, quem quer que vivti veni.Jã stibemos
Aqueles ocupam o núcleo do SN, estes precedem o substantivo no papel quanto vam os gastar).
de determinantes (ver 6.5.3). Na sequência estão destacados os pronomes
ditos substantivos por constituírem, por si sós, um SN. iO.9.,1 poniiii.s remis.si> as
0 pronome outros, como núcleo de um SN, vem sempre precedido de os.
10.9.1 PesMjais. posscs.siv«s c deiiionstnitivos substituindo a forma desusada outrem (Aão/tiça aos outros o ipte cocè mio
A classe dos pronomes tradicionalmente chamados pessoais é a única que quer que lhe façam).
apresenta formas distintas para três grupos de funções:
a) pronomes retos (eu, tu, vocâ, ele/ela, nós, vós, vxKês, elcs/clas), iü.9.4 Em prego dos proiionies oblir|iios tônicos
b) pronomes oblíquos átonos (me, te, o/a, lhe, se, nos, vos, os/as. (guando são regidos por preposição, os prtttiomes pessoais se classificam
lhes), e como oblíquos tônicos e podem apresentar-se sob formas especificas ((xis-
c) pronomes oblíquos tônicos (mim, tf, si, ele/ela, comigo, coniigu, sou por mim, falou de ti, comprou para si). M formas ele/elu/ele.s/ehis/nós/
consigo, nós, conosco, vós, convosco, cles/elas). vós são foneticamente idênticas às variantes da função sujeito, chamadas
pronomes do caso reto. Excepciotialmcntc, !«p<'>s a prepttsiçAo com se em­
As formas do grupo ‘a’ servem às funções de sujeito e de prcdicativo; pregam as variantes migo, tigo. sigo, nosco e eo.sco, que na escrita vcin
as formas do grupo ‘b’ servem às funções de complemento do verbo (objeto unidas à preposição: comigo, contigo, consigo, cono.sco, coneosco (;H'nsu-
direto, objeto indireto e adjunto adverbial); as formas do grupo 'c' servem vu em ti, mas sonhei contigo, ixtssou (xir mis, mus virá cono8er>). A forma
às funções de complemento precedido de preposição. conosco, de registro muito formal, é suhstituida na fala corretitc |x>r com u
As formas ele/elaJeles/elas/nós/vós servem, no registro formal, tanto às gente (Nós queríam os que ele viesse com a geti(e); cttnoosco, por sua vez,
funções de ‘a’ como de ‘c’. No registro informai, ele/ela/elcs/elas cumprem encontra-se nu mesma situação sociolingiiistica de tsís e co.sso, restrito,
os papéis sintáticos dos três grupos. A forma oblíqua átona da terceira pe.s- portanto, a empregos rituniizados, cumt> a linguagem religiosa c u oratória
soa - o - emprega-se sem marca de gênero c número, no registro formal, uitraformal. Empregados como complementos de verlx) transitivo direto -
para substituir sintagmas nominais provenientes de orações e sintagmas objeto direto - os pronomes oblíquos tônicos são precedidos de preposição
adjetivais: u (Foi a mim que ela ctmvidou).
• Perguntei-lhe se gostaria de nos acompanhar, mas ele nào o
quis (= não quis nos acompanhar). Obs. 1: Construções como entre mim e oocé, entre ela e mim, entre ti e
• Estes vinhos são muito apreciados nessa região, e o são (= são mim, tradicionalmente recomendadas |K'lu preceptiva gramatical, são cada
apreciados) com todo o merecimento. Vez mais estranhas ao uso brasileiro, mesmo na modalidade escrita. As for­
mas praticadas no Brasil pelos próprios usuários cultos sAoentiv cti e ox-é.
A
’ .S8 0< -'KTA PAKTt - lIO U roU XllA FlIXIONAL E SINTAXE
nc«iMo cvpfnijv o sprr\(ut.\ si)uiN.a 35*^

entrv cia e cu, entre você e eu, com o tu no lugar de você nas variedades em Do ponto de vista prosódico, é necessário considerar duas variáveis:
que o ni é a forma usual. a) o padrão que determina a distribuiç.ào dos acentos de intensi­
dade: e
Obs. 2: Muitos gramáticos entendem que em eonstruções como Até cu b) de que modo os vocábulos átonos se subordinam aos que contêm sí­
.(nria esse gol e Tbdos tinham visto o film e, exceto eu ocorrem e.xcepcional- laba tônica para a formação dos vocábulos fnnokigieos (ver 1 6 .1 2 ),
mete preposições seguidas de pronome reto. Nossa opinião é outra; ne.xsas
eonstruções, até e exceto não são preposições mas advérbios (ver Do ponto de vista sociocomunicativo, é relevante considerar a relação
substituíveis respectivamente por m esm o e menos. entre a seleção e posicionamento dos pronomes átonos. os fatores discursi­
vos (condições e situação do discurso) e a variedade de língua utilizada.
Obs. 3: A construção ‘para mim + infinitivo’ (para mim faser. para Na variedade culta da língua - adquirida por força da educação fomial
mim beber) é usual no registro informal, inclusive dos falantes mais esco­ veiculada na instituição escolar, quer nas condições que requerem discurso
larizados, e é como tal que convém ser descrita. A recomendação da forma planejado, quer nas condições da conversação formal - enipreg:im-se uxios
"para eu + infinitivo’ não pode ser feita em detrimento da outra, mas como os pronomes átonos. com e.xceção da forma da segunda pes.soa do plural
opção a ela nas variedades formais. - eos - exclusiva de usos muito especiais Nos registros mais informais,
porém, como a conversação descontraída de pessiias intimas, mesmo os
10.9.S Kmprego dos pn>iuunes oblíquos átoiios falantes mais escolarizados tendem a substituir as formas obliquas aton:is
O funcionamento dos pronomes oblíquos átonos está sujeito a um conjunto ola/os/as por ele, ela, eles, elas. quando relativas ã pessoa de quem se fala.
complexo de fatores. O único traço que todos têm em comum é o po.sioio- e por te (mais raramente lhe) voeè. «xvs. quando relativas ao interlocu­
namento obrigatório junto a uma forma verbal. As formas o/u/os/us leor- tor. aproximando-se assim do sistema vigente nas demais variedades, que.
rem obrigatoriamente junto a verbos transitivos diretos, a que scrsent de adquiridas sem a intervenção da escola, ignoram as formas pronominais
complemento. As formas meJtcMos/vos/, por sua vez. podem desempenhar átonas oJaJos/as.
função acusativa (complemento de verbo transitivo direto) ou função d,ui- O fator prosódico é seguramente o mais comple.\o Notemos micial-
va (na expressão dos papéis semânticos de destinatário - EUt meticvokcm mente que a próclise do pronome e a posição mais favorecida pelo ritmc> da
o livro -, e de experienciador ou ser afetado - Otxjrmi-no» umu i/ueúlii / frase no português do Bnusil, onde a raridade vias formas (Wo.vis.os - mas não
X asceu-lheentão a segundafilha). das formas -/(w'-/a^-/os'-fos - e responsável por uma situaç.\o peculiar vvs
As formas IhcJlhes têm hinção dativa na escrita fonnal, referindiKse tan­ pronomes átonos mais conums são iniciadvvs ix'r uma eonsoante - pik-, tc.
to à pessoa de quem se fala quiuito ã pessoa do interlocutor, no ilso coltK|itial Uie. se (reflexivo). A posição proclitiea em que ('rdinariaraente sàv' coloca­
em geral e na escrita informal, porém, são empregadas, via de regra, pani in­ dos favorevie o relevo fonético desses pronomes. t('niando-vvs semitvvuieos
dicar a pessoa do interlocutor - vocéAxicOs - e podem, tilcm da função lUtita Nas frases coloquiais Me lurgii. Te pcgiici. ,'ve rmiiidd duqiii fica lutivla a pro-
(correspondendo a <i vocè/a «K-és). assumir ainda a função acusativa t.Vià' mincia semitônica dos pronomes, Não e outra a raião do evvnheeido h.abvto
lhe itm/ieço / tãuero lh es ctmvidttr fxtra imui .fivsui. cimto allentativa .ã.< brasileiro de ‘começar fra.se ev»m pronome atvvno', fato qiu.' em e\xvas n,ãv'
construções Xão e<mht.\ti coeê /CíiiiTt» ctiiicirfor eocés /ami nnai á-sru'*' tio remotas causava horror aos gramaticws purist.-is,
.\ adoção da ênclise vlo pronv>me em cenas situações de fida vhi cm
10.9..S. 1 Colocação dos pronomes oblíquos àtonos eenos textos (fíç/irv>-nie. à'nvío-fe. Kctírvsse) e um traço do fivnnalismo
.\ cokH.'ação ilos prtmomes oblíquos átomvs (ou 'sínclise pronominal'1 esta oat- exigido pelos princípios do resjxvtivw contrato de eonuinícaçiv' - fiitvvr so-
dicionada a fatores de três ordens: sintática, pnistidica e sivuKvmunicatúa eiocummiicativo ou svviollngmstieo, portaiitv' - e não um fator de grama-
** t >rmprvjio lUb c\nito vUix*u» ivwln uma i^v^o Ntun-im ík» tiealidade. Por sua vez. no entanto, s.ão anifici-ai.s, se n,ão irreais, luicios
mriuii NUIníÍo \U' hh*. rt* v m' um ^\mjumo kmcilcNmcmc hNrmAukv ('t nnsuuw uiu
de irases vroino O e'oirx'í(ft'i e .ã,s c.s|v*v>. (xvrquc as formas aronas (Vvwosos
hiiu'iáaiNl c iUrrIo • i|uc |á ivrlcikv A» mitriM f«\nuAN A C9>u
ta unha Aniciuu ^'tMthmnc \’v r im cumíu nào pertenexim ao registro de lut,gna - o uso corrente mais cstxvtttãiKV - cm
lUanir lu NASOKNTI-US que se pratica a próclise do pronome tu» começo de frase.
1
260 yUARTA PARTE - MORPOUXIIA KLEXIONAL E SINT.VXE nfíiitociuiTixino .sisT.\r.u.\.voutx.u, 261

Do ponto de vista sintático, é necessário considerar três aspectos: “A moça espera disciplínadamente que o sinal abra. ainda que
a) se o pronome átono está atrelado a uma forma verbal simples ou não venha nenhum carro que a impeça de avançar.” (NTNTU-
a uma locução verbal; Ri\, 1999: 159]
b) se o pronome é complemento/parte integrante do verbo, ou se. Quando Uie ofereci ajuda, ele recusou.
na forma de se, participa de uma construção inüetorniinadora do O ônibus Que nos transportou era confortável.
agente/sujeito;
c) se há alguma particularidade sintagmátíca ou morfossintáticn que 3) As formas -/o. -/a, -los. -Ias. variantes de o/a/os/as, são necessa­
imponha um posicionamento único do pronome. riamente enciftiens ao infinitivo e ãs formas temiimidns em -s e -c
(perder + o > perdê-lo. dizes + o > dise-lo,/es + o >/c-lo):
Integrando-se estes três fatores, podemos considerar fundamentais as • Vim aqui para convidá-los,
seguintes regras: • Não é justo acusá-la sem provas.
• Visitamo-lo assim que ele deixou o hospital.
1()/>.S.1.1 Froiioines atrelados à forma simples do %erl>o
Distinguiremos seis casos, partindo do reconhecimento consensual d e qiic 4) As formas -no, -na. -nos, -nas, também variantes de o, a. os, as e
a colocação do pronome obUquo átono antes do verbo que o rege - próclise exclusivas dos registros formais, são necessariamente enclíticos
- é a posição mais comum nas variedades de português faladas no Brasil.
às formas verbais terminadas por vogal ou ditongo nasal:
A opção pela ênciise na fala pode re^'elar alto grau de monitoramento
• Levem-nos com vocês.
(Ajudei-o a levantar-se), quando nào certo artiíicialismo do discurso. Nos
• Os soldados trouxeram-no à presença do rei.
exemplos abaixo, as construções com me, cc e se são gerais, e as constru­
t ções com o. lhe e nos são características de registro formal.
5) Quando a forma verbal está no futuro do presente ou do pretérito
• Me espere aqui.
• Os donos da casa nie convidaram. e seu sujeito está explícito, coloca-se o pronome em prócUse:
• Nós o estimamos muito. • A corrente marinha nos arrastará.
• Não te peço nada. • Eu lhe escreverei assim que puder.
• Quando llie ofereci ajuda, ele recusou. • Se ele não confessasse, os policiais o torturariam.
• O ônibus que nos transportou era confortá\ el.
• Nunca se sabe o dia de amanhã. 6) 4\s frases do item *5’, que já estão sujeitas aos princípios socio-
comunicativos próprios do registro formal, apresentam variantes
1) A colocação do pronome antes do verbo constitui uso padrão íe- em um registro ultraformal. restrito à modalidade escrita. Trata-
neralizado na variedade culta se a palavra que o precede imedia­ -se da colocação do pronome em mesócUse:
tamente é um advérbio ou pronome de significação negativa: • A corrente marinha arrastar-nos-á.
• Não te peço nada. • Escrever-lhe-ei assim que puder.
• Ninguém nos viu. • Se elc não confessasse, os policiais torturá-lo-iam.
• Nada o consolava naquela hora.
• Nunca se sabe o dia de amanhã. Fnmonies átom» alrvlados à> >cquèneia> dc \crbo finito +
infinitivo, genindio ou particípio
2] Se a palavra que precede imediatamente o verbo é um coiieclivo ^^^nguiremos quatro casos:
de siil>ordiiiação (conjunção integrante, conjunção adverbial ou 1) As formas átonas mc. ít*. lhe. se. nos. lhes. complementos do
pronome relativo), a colocação preferida é a prócilse. especial- verbo, ocorrem normalmente proclíticas ao verbo principal, que
incntc SC o vxtIh) se enetnitra no modo subjuntivo: pode ser um infinitivo, um gerúndio ou um particípio:
• Eles vão se arrepender.
\ "

2 62 OTARTAPARTK- MORFIXaViU FL£XK1N.U. E SIST.VXE «fiTUO CArtm .tv |> MIUINVI 26ki

• VocC*s mio o podum acusar.


• Nós deWamos nos prevenir.
• Passei a me interessar pela música barroca, • Eu o« estou preparando para o torneio,
• N(Vs nflo iis tínhamos convidado.
• Vocês não podem me acusar.
• Ele veio se arrastando. • ”() autor (Ncil Postinan) sustenta ipie assim como a prensa
• Estamos nos preparando para o torneio. tipo^rdhca criou n infância, a mídia eictrfinica a estâ dcsiniín<
do.’* |Kc0na /appa. Jornal tÍo fím.si7, •I/12/IW*>|
• Eles tinham se preparado para o torneio,
• Temos nos visto pouco ultimamente. • “A morte dcsia semana em Brasília foi de um homem tpic
• “Cada aspecto da vida privada das famflias devia se pnwo.ssar brlftnva pelo seu cmpa*>5(>. Um empmjSo jjarantldo u teria evi­
em seu espaço correto...” |SEVCENKO, 1W8: 177] tado.” (VERÍSSIMO. I., F. O (ríoho. 5/12/I'm|
• “Não podemos nos contentar em ser escolhidos eomo plnln-
forma de exportação de (>raiides imiltinaelonais." \Jomnl do ou cnclítlcas ao^cniiulio
Brasil. iyi2/19<)9] • Eu estou prcparando>os para o torneio.

A ênclise ao gerúndio ou no inhnitivo eonota um maior rornialisnm liv 3) As formas -h). -Ia, -/os, -/«s, variantes das preceilenies, sAo neces­
expressão: sariamente enelftlcas ao inhnitivo:
•1 • Ele veio arrastando-se. • Eu vou convidâ-lo.
• Passei a intere.ssnr-nie |>ela música 1>arroea. • Nós nilo podemos acusâ-la sem provas.
(I
.,.^1 • Vocês não podem acusar-me. • Nós devíamos tO-la prevenido.
• “Os resultados das reformas de Antônio Prado aeahnrimi ns- • Temos de veiulô-h» urUentemenie.
• Devíamos reparti-las com os emprestados.
“ ‘í semelhando-se aos obtidos na mesma década no Kio de Janei­
ro.” jSEVGENKO, 1998: 179| • Passei a admirâ-lo ainda mais.
,1
Nas formas compostas do verbo, esses pronomes podem estar prneifti- 4) Cluando o pronome âtono ú o sv indcterininador do sujeito ou o
cos ao verbo principal no particfpio, colocação usual em todas ns vnrietlnJes Kc apassivador. seu posicionamento na locuvâo verbal tem parti­
do português do Brasil ITinham me convidado / Etc tem se dcdiccuto). Nos cularidades i|uc o distlnftuem di>s demais. Km primeiro luttar, essa
registros mais formais, e em especial na variedade escrita, marea-se eoni forma de indeterminarão do aftente (con.struçAo eom se apassiva-
hífen a ênclise do pronome ao verbo auxiliar (Tinluxm-me convidtulo / Klc dor) ou do sujeito (construvAo eom pronome indctcrniinador se)
tem-se dedicado). A próelise ao verbo auxiliar 6 restrita aos usos formais cin confere um certo distanciamento e neutralidade A enunciarão.
língua, com presença ainda marcante na escrita. Autores que trunsilani com Na comunicarão cotidiana, 6 usual em fórmulas estereotipadas de
grande versatilidade pelos muitos registros linguísticos servcni-se às vezes placas anunciatlvas cm que o vcrls) inicia a frase:
dessa colocação para produzir efeito irônico com a camuflagem de estilo so­ • Acclta-se aterro.
lene, como na seguinte passagem de uma crônica de João Ubaldo Rllieiro; • Vende-se ovos.
• “O telefone, se bem que eu costume fugir dele para poder • Troca-se bateria de relóftio.
trabalhar, também me tem rendido momentos singulares."
lO Globo, 5/12/1999] Esse fator sociocomunicativo explica a ostensiva ocorrôncia da Cnclise.
For outro lado, se o pronome se, quer na funrãu indeterminadora do sujeito,
2) As formas o, a, os, as, típicas dos registros formais, ocorrem proclíti- quer no papel de pronome apassivador, vem integrado numa sequência de
cas ao verbo em forma finita, se este não vier seguido de preposição: verbo finito + forma verbal no infinitivo, gerúndio ou particípio, 6 ao redor do
• Nós a devíamos prevenir. verbo finito que o pronome se coloca prefercneialmente, ora procHtleu ora
• Nós a devíamos ter prevenido. enclícico, segundo as regras que enunciamos para a forma verbal simples:
A I
264 QUARTAPARTR- MORPOLOGIAFLEXIONAL ESINTAXE DÉCIMOCAFÍTULO: ORINTAfSMASOMÍNAI. 265

Devia-se esperar que a chuva passasse. USOde vós pode ser um meio de caracterização de situações e de personagens
Não se deve jogar lixo na via pública. a que se dispensa um tratamento aristocrático, como em textos dramáticos
Começou-se a plantar soja aqui no início da década. de reconstituição de época. Na linguagem literária moderna não é comum, o
Tinha-se publicado o edital em vários jornais. que não impede um ou outro cronista de resgatá-la num arremedo de soleni­
Estava-se discutindo futebol naquela hora. dade, às vezes irônico, como nesta passagem de Rubem Braga:
Carta a uma jovem que, estando em uma roda em que dava aos presentes o
10.9.6 Pronomes pcs.soais c formas de trataiiiento tratamento de ‘você’, se dirí^u ao autor chamando-o de ‘o senhor:
Uma pessoa pode dirigir-se a seu interlocutor de diversas maneiras segundo a Senhora
imagem que faz da relação social ou afetiva que os liga no momento em que Aquele a quem chamastes senhor aqui está, de peito magoado e cara
acontece a interação (cf. 3.4): você, tu, vós, o senhor/a senhora-, presado triste, para vos dizer que senhor ele não é, de nada, nem ninguém.^’’
cliente, caro colega, companheiro, doutor, senhores, gente, galera. Estas
expressões são formas de tratamento. Com elas o enunciador geralmente As formas de tratamento sen'em à função vocativa ou às funções de
fornece a primeira pista do registro de linguagem em que pretende se situar. sujeito e complementos/adjuntos. Na função vocativa vêm desacompanha­
Algumas são protocolares ou ritualizadas (prezado clierue, senhores c senho­ das de artigo {Colegas^ Meus amigos, Presado dierue, Hmo. Sr. Diretor),
ras), usadas apenas como vocativos dirigidos a um público indiferenciado; nas demais funções ocorrem precedidas de artigo ou, no caso das expres­
outras revelam que o enunciador identifica o perfil social do interlocutor e o sões protocolares cristalizadas, introduzidas pelo possessivo vossa ou sua
individualiza (doutor, colega). Também ritualizadas - mas não protocolares (0 colega, O prezad o cliente. Vossa Senhoria. Sua Santidade). No quadro
- são as formas geralmente empregadas por oradores, cantores etc. quando a seguir relacionam-se as formas de tratamento reverente e cerimonioso
se dirigem à ‘massa’ presente em comícios e show s (pessoal, gente, galera).
mais conhecidas e respectivas abreviaturas;
7' Distinguem-se as formas de tratamento - empregadas como vocativos -e
os pronomes pessoais combinados ao verbo nos papéis de sujeito e de comple­ r ----------------------- — 1------------------------------------------ 1
Abreviatura IVatamentu ‘ Vsado para: |
mento: tuJte/tiJcontigp, você/vocês, vós/convosco. A língua corrente ignora o
pronome pessoal ods e as formas verbais e possessivas que lhe correspondem. V.A. Vossa .Mteza ^ Príncipes e duques \
Você/oocês é a forma pronominal característica da interlocução coloquial na V. Em." Vossa Eminência ' Cardeais i
maior parte do território brasileiro: em alguns estados do Nordeste e na região V. Ex.- .Mtas autoridades do Ciovemo e |
\’ossa Excelência
Sul prevalece o uso de tu. Em algumas regiões - notadamente o Rio de Janeiro 1 oheiais generais, eventualmente
- fu ocorre de par com você combinados sempre com o verbo na terceira ' extensivo a qualquer pessoa dig­
pessoa (tu/você ainda não viu nada), possibilitando ainda sequências como na de grande respeito
Se você quiser, eu te em presto o carro. VocêJvocês podem ser empregados V. Mng." , Vossa Magnihcência Reitores das universidades
em todas as posições sintáticas. Essa versatilidade reduz drasticamente a fre­
. V. M. 1 Vossa Majestade ' Reis e imperadores
quência, na fala, das formas obhquas átonas correspondentes o/aJt>s/as, e em
certa medida a ocorrência das formas dativas lhe/lhes (í^ ero lhe devolveras Ex.‘ Rev.““ 1 Vossa Excelência I Cardeais, arcebispos e bispos
I
livrosêquero devolver os livros a você). Por outro lado, a tentativa de erítar 1 Re\erendíssima
a formalidade associada ao emprego de o/aJos/as e n informalidade íusociada Kev,“ [ Vossa Reverência Sacerdotes de um modo geral
ao emprego de tuJle leva muitas pessoas a optarem pelo uso de lhe/lhes como v.s. Papa
' Vossa Santidade
complemento direto do verbo (Não lhe/lhes conheço). V. S.‘
! Vossa Senhoria Funcionários púl4icos gradtiados.
A forma da segunda pessoa do plural - tris - e as respectivas variações militares de alta patente (exceto
flexionais do verbo - sabeis, contem plai, trouxestes - são, como se sabe, de generaisl e pessoais de ceriroò- ,
emprego altamente restrito e fortemente rítualizado. Um ou outro orador se * nia em geral. especiaUnente na
vale delas para conferir imponência ao discurso, quando este é proferido em correspondência escrita
tribunais ou em solenidades extremamente cerimoniosas. .Modemamente. o
nreiwi ikiuitud c.Aitnxo: n sivr.vau .initm ii 267

porém, v e lh o s passa a qualificar a totalidade dos sapatos. Longos, nas duas


posições, e v elh o s, anteposto ao substantivo, têm papel não restritivo, ou
melhor, são explicitadores.
O papel restritivo do adjunto adnominal só se manifesta, portanto,
quando ele se pospõe ao substantivo. Anteposto, o adjetivo tem sua função
restritiva esvaziada, e assume plenamente o potencial afetivo-conotativo de
seu caráter puramente explicitador, como se vê em os velhos sapatos d a
rainha e a m o d e s ta c a s a d o artista. Essa característica semiótica do adjeti­
vo anteposto - ou epfteto - revela que. de fato, a qualidade por ele expressa
11.1 FORMAÇÃO DO SINTAG\L\ ADJETIVO nessa posição é irrelevante para o reconhecimento da referência realizada
O sintagma adjetivo pode ser básici) ou d eriv a d o . Diz-se básico quando por meio do substantivo ou do conceito por ele denotado. Eis por que adje­
seu núcleo é um adjetivo, precedido ou não de advérbio de intensidade tivos que não têm esse potencial - como os adjetivos de sentido meramente
(os ároores a n tig as / a s árvores m a is an tig as). Alguns adjetivos, assim descritivo ou classificador (cf. 7.2.1). v.g. m ensal, parlamentar, asiático.
como certos verbos, oeorrem seguidos de complemento prcposicionado, colonial, têxtil - jam ais se posicionam antes do substantivo. São anômalas
chamado ‘complemento nominal’ (As c ria n ça s sã o d ep en d en tes de seus construções como ‘ m en s a l boletim, “parlam en tardiscurso, “a siá tic o ter­
pgtsl. O sintagma adjetivo diz-se derivado quando assume a forma de um ritório, “c o lo n ia is c a s a s e “têxtil ituiústriu.
sintagma preposicionado (um an el d e ouro, a s árv o res d a rua) ou de uma Por sua vez, a presença de dois ou mais adjetivos referidos ao mesmo
oração convertida em sintagma adjetivo por meio de um pronome relativo substantivo na composição do SN está sujeita a certas regras de colocação.
(os árvores q u e eu nlarueii. Os tipicamente descritivos se colocam imediatamente após o substantivo, e
os que possuem potencial afetivo-conotativo se colocam antes do substan­
11.2 POSIÇÃO DO SINTAGMA ADJETIVO NO SN tivo ou após o adjetivo descritivo (cf.: uma operação p o licia l gigan tesca,
Incorporado ao sintagma nominal, o sintagma adjetivo exeree, sintatica- uma g ig a n tesc a o p era ç ã o p o licia l, mas não *iimu operação gigan tesca
mente, a função de adjunto adnominal, e, do ponto de vista semântico, sen e p olicial; d u a s c a s a s c o lo n ia is con/ortáveis. duas con fortáveis casas c o ­
para delimitar, graças ao seu papel restritivo, uma parcela da compreensão loniais, mas não “d u a s c a s a s con /ortáv eis coloniais).
ampla de um substantivo comum: as expressões ro sa s verm elhas, saputon Também se pospõem obrigatoriamente ao substantivo os adjetivos a
v elh o s e m ulher m ag ra significam, respectivamente, delimitações da com­ que se siga um complemento; os pássaros úteis à lavou ra, dois atletas
preensão ampla dos substantivos rosas, sa p a to s e m ulher. confiantes na v itó r ia , mas não “dois confiantes na v itória atletas ou ‘ os
Nem sempre, porém, o adjetivo cumpre essa função restritiva e delimi- úteis à la v o u r a pá ssa ro s.
tadora. Observemos o que fazem os adjetivos lon gos e velhos nas seguintes
construções: os sapatos v elh o s d a rain ha e os d ed os lon gos do pianista. 11.3 SINTAGMAS ADJETIVOS DEIUVADOS POR MEIO
Se considerarmos que a rainha também possui sapatos novos ou apenas DE PREPOSIÇÃO
usados, o adjetivo velhos cumprirá um papel delimitador, e a expressão se Ocorrem obrigatoriamente após o substantivo: ca sa d e tijo los, bola d e
referirá a uma parte dos sapatos. Dificilmente, entretanto, faríamos uma b o r r a c h a , c a fé c o m leite, terra sem lei, cesto d e lix o, viagem p elo Nor­
leitura delimitadora do adjetivo longos, numa referência à distinção en­ deste. A coocorrência de sintagma adjetivo básico e sintagma adjetivo
tre dedos longos e dedos curtos. Aquela expressão nos diz que todos os derivado moditicadores do mesmo substantivo - vg. um carro d e p a sseio
dedos do pianista são longos. Esta percepção não se deve a nenhum fator ita lia n o - está condicionada à estruturação do significado do SN. En­
sintático, mas a certos condicionamentos discursivos que ainda não com­ quanto c a rro italian o d e passeio varia livremente com carro de passeio
preendemos muito lK*m. É certo, porém, que a colocação do adjetivo antes Ualiaru), o mesmo não acontece com um pedaço de cabrito assado e um
do siibstantit'o produz efeitos distintos em eada frase. Não há alteração do pedaço a s s a d o d e ca b rito , já que um pedaço de cabrito assado tem duas
sentido cm os lon gos tledos do pian ista; em o s v elh o s sapatos da rainha. leituras - ([um p ed a ço ] [de cabrito assado]) e ([um pedaço de etibrítoj
V
268 ÜIIA«T* PARTE - WWPOUXMA n.EH »N .U . E SINT.AXE r í r n * ' í>sivTicdMi ifurmn

[assado]) - ao passo que um pedaço assa d o de cabrito só admite a seíun- (3s adjuntos predicativos icm uma ínindc versatilidade semântica, se-
da leitura. iuramente devida ao parentesco que i^iiardam com os .'idjiintos adv erbiais.
Os atributos que expriniem são sempre circunstanciais, visto que Indicam
11.4 O S1NT.\GM.\ .\D.IET1V() N.\S KI NÇÕES I>UE1)IC.\TIV.\S 1 estados ou qualidades eventuais localiz.ados em tase anterior, .simultânea
.\POSITI\'AS 'TUposterior à predicaçâo realiz.ada pelo SV da oração a que se anexam.
Integrado no SN, o sintagma adjetivo serve ordinariamente para especificar Nos dois últimos exemplos acima, os adjuntos predicatmvs tèm ctvm os
a referência de sua base na função de adjunto adnominal. Separado do S\ complementos predicativos uma rciaçãt» de eaiisa e eíeil»>. e equivalem a
cuja base modifica, porém, o sintagma adjetivo ora desempenha função verdadeiras orações adverbiais {eaus^iis. temp«>rais on condicionais). Na
predícativa —quando é um constituinte obrigatório do SV (cf. ^.1) -, ora forma de particípios. e.sses adjuntos são tradieionalmente analisadiKs como
atua à maneira de um aposto - assinalado por pausa maior - ou de um orações adverbiais reduzidas, o que implica atribuir descriçtVs dlíereiiies
adjunto adverbial - caracterizado pela mobilidade. Devemos, por isso, dis­ às construções dos exemplos seguintes;
tinguir duas funções segundo o caráter obrigatório ou acessório do SAdj, • Aba/iuUis em jornais, as bananas ainmlurecerain rapiilamente
Para não nos afastarmos muito da nomenclatura consagrada, chamaremos • Sempre simfxitÍL'i> com os íreiiueses. o jornaleiro conhecia
complemento predicativo ao SAdj. que, como termo obrigatório, é intro­ cada um pelo nome
duzido por um verbo de ligação (ver 9.3) e adjunto predicativo ao SAdj.
acessório, marcado seja pela pausa maior, seja pela mobilidade. São típicos Sobre a sintaxe dos particípios e a amihse das oraçoes adverbiais re­
complementos predicativos: duzidas, ver 14.16.
• As árvores são antigas.
• O anel era de ouro. 11.5 s in t a ( ; m .\ s a d j k t i v o .s i ) k k i \ \1)o s r o u \ii l o di
• O café estava muito quente. PRONOMK KKLATIVO
• As portas vão ficar sem tranca. Ocorrem obrigatoriamente upos o .substantivo ou pronome a que se reterem:
• casas que o engen/ieíro e»>n.sfniiu.
O adjunto predicativo é sintaticamente opcional e, beneficiado pela • ü menino cujo pai e púiíor,
versatilidade posicionai, expressa uma circunstância na qual ou em virtude • Dois amigos que me visitaram
da qual se desenrola o processo significado pelo verbo: • iMguém em quem fMtssumos citrifiar
• Os peixes foram devobidos ain da vivos ao rio. (circunstância
de modo) Se no SN coocorrem sintagmas adjetivos biLsicos. sintagmas adjetivos
• D esfalcado de seu goleador, o time não conseguiu sair do reru derivados por preposição e orações adjetiva.s, estas sempre virão nu última
a zero. (circunstância de causa) posição (cf.: Os carros de passeio í£ulturio.s que vi nu cxpriMiçâo. mas não
• “Esperemos que um dia todas as moças possam crescer bekis *0 s curros qu e vi na exposição de pusseu) ituiiututs ou *Os carros de
e sadias...", (circunstância de modo) [BRAGA, 1963a: 1-llj passeia que vi nu exposição ítaõunos).

A distinção entre complementos e adjuntos predicativos se mostra


Para o detalhamento das orações adjetivas, ver 14.1-.
operacional ainda na descrição de estruturas como
• Cerveja é b o m ,g e la d a .
• Pintada, a casa parecerá nova.

em que bom e rwva são sintaticamente obrigatórios; gelada e pintiuia.


acessórios.
nfi D*» «tíiuNT»! t»< vtrw»kuit.st«V.s u*R*»iAn.> J7 i

por um recurso gramatical particular; nela o papel de agente atribuído


ao sujeito é um entre outros pttssíveis voz :itiva é. pitr isso. a forma
D K C IM O S r .d l N D O C A IM T ri-O ;
não mareada' do sistema de vozes (para a noção de marea, ver (>.7) Por
\ ( ) z i : s 1)0 M . R i u ) i: q i i : s t õ i : s c o k k k l a t a s
sua vez, a voz passiva ((.7un.s,se e fteníeiiríd fxir /aiiirul se earaeteriza
lormalmente pela presença do verbo auxiliar .ser .seguido de txirríeípio e
semanticamente por atribuir ao sujeito, regularmente, o papel de pacien­
te ou ser afetado pelo proee.s.so que o verbo exprime, já a voz reflexiva
(Laura se p en teia) se earaeteriza lormalmente pela anexação ao verbo
de um pronome - se - que. no papel de eoinpleniento. 'rellete' a pe.s.soa
12.1 introdução e 0 número do sujeito, e semanticamente pela eontiuêneia possível, no
Temos visto que, ao se vincular a um verbo, um sintaíJma nominal con­ mesmo referente, dos papéis de agente Ino exemplo. Laura) e paciente
trai com ele uma relação sintática (sujeito, completnetuo) e uma relação (no exemplo, L au ra).
semântica (agen te, p a cien te, instrum ento). O que chamamos de voi é a
forma sintática que o predicado assume para atribuir um papel semântico 12.2 AGONSTRrç.\().SINT.\TU:.\ 1)0 SKiM UCAIX)
ao respectivo sujeito. Nossa definição deixa claro que a voz. diferentemen­ As palavras não se distribuem livre e aleatoriamente na construção d.-is
te das noções de tempo-modo e número-pessoa, não se expressa por meio orações, mas segundo três fatores interligados:
de flexões do verbo e, portanto, não faz parte de sua morfologia. Qualquer 1 ) as classes a que pertencem em virtude de ,seu enqiiadrameiuo
verbo é susceptível de variação mórfica para a expressão de tempo-modo sintagmático (cf. 6.Ú.1.5.J);
e número-pessoa, mas somente os verbos transitivos diretos participam de 2 ) os lugares a elas destinados pela hierari|uia iníormaeional interna
construções do predicado relacionadas com distinções de voz. dos enunciados;
A voz é expressa por um sistema de recursos sintáticos que definem 3 ) os significados relacionais que, devido a essa hier.-irqiiia, deverão
certos padrões formais do sintagma verbal. Distinguem-se tradieionalniente exprimir (cf, 6.5.4).
três vozes - a tiv a , p a s s iv a e reflex iv a - , que se exemplificam típica e re.s- Tais possibilidades posicionais .são em parte previstas pela categoria
pectivamente nas frases: sintática da voz, conforme definimos em 1 2 .1 .
• Laura penteia Glarisse. Voltemos ao nosso enuneitido para demonstrar o que ehaniu 'hierar­
• Glarisse é penteada por Laura. quia informacional interna’. Gom o enunciado (a) l'm a petiuenu uraniut
• Laura se penteia. está construirulo a teia nesta roseira anutrela expressa-se um evento em
que se destaca um personagem central nomeado pelo substantivo aruniui.
Gostuma-se dizer que na voz ativa (L au ra penteia Clurisse) o sujeito Ele foi escolhido para desempenhar o papel de sujeito da oração. Lsta po­
pratica a ação, é o agente. Isso vale para o nosso exemplo, mas não é o que sição marea um lugar proeminente na hierarquia informacional. Se preen­
acontece na frase chéssemos esse lugar com teia, a oração poderia ser (b) ,\ teia está sendo
• João conhece um bom restaurante. eonstruída nesta roseira a m arela por uma pequena aran ha. Se o preen­
chéssemos com roseira, poderiamos ter (c) Esta roseira a m a rela abriga
Neste exemplo também temos um verbo transitivo numa constnição uma pequena a ra n h a qu e constrói .sua teia. O segmento uma pequeiui
de voz ativa, mas o sujeito da oração é mais um lugar ou suporte da predi- uranha ocupa nos três enunciados, respectivamente, o lugar destinado ao
cação - um experienciador - do que agente do respectivo verbo, já que a sujeito (a), ao adjunto (b) e ao complemento (c).
situação relatada na frase independe de qualquer atividade do sujeito. Digamos que o verbo é um lugar de referência para o preenchimento
O paradigma da chamada voz ativa é comum à ampla classe dos ver­ ilessas posições sintáticas: o sujeito ocupa a posição 1 , o objeto ocupa a
bos, sejam eles transitivos ou intransitivos; já as formas passiva e refle­ posição 2, e o adjunto, a posição 3. No terceiro enunciado, a construção
xiva são típicas apenas dos verbos transitivos. A voz ativa não é e.xpressn fla teia deixou de ser o ato central do evento e passou a ser 'um detalhe’
272 UUARTA PARTE - MORPOLOOIA PLEXIONAL E SINTAXE

(propríedade) característico da aranha, daí o lugar de adjunto que passou a


ocupar {que constrói su a teia). O substantivo roseira foi posicionado como
DÉCIMO SEGUNIXl CAPITULO: VOZES DO \TRBO E OLTESTOES CORRELATAS

E ste elev a d o r transporta vinte pessoas de cada vez.


O co fre guardava os documentos mais preciosos.
273 l
sujeito, mas manteve, graças ao verbo de estado abrigar, seu significado O lixo entupiu o bueiro.
relacionai de lugar. A organização sintática do enunciado, associada aos
significados léxicos das palavras, reflete, desse modo, a relevância iníorma- Muitos verbos de ação, por sua vez, tomam parte em construções cujo
cional atribuída a cada uma de suas partes. sujeito, mesmo animado, não é o agente, mas o experienciador do fato ex*
presso na frase, uma vez que o paciente do processo é parte dele:
12.3 OS SIGNIFICADOS RELAÍMONAIS DO SIUEITO • P edro quebrou o braço numa queda.
Em 6.5.4, referindo-nos às categorias combinatórias, vimos que cada cons­ • (Eu) Arranquei um dente hoje.
tituinte que se vincula a um verbo não só trava com ele uma relação sintáti­ • O ca ch o rro feriu a orelha no arame farpado.
ca (sujeito, complemento, adjunto), mas ainda desempenha na oração, por • O ca n á rio está mudando as penas.
meio dele, um papel semântico (agente, paciente, espaço).
Verbos que denotam ação envolvendo um sujeito e um objeto referen­ Nestes casos, o experienciador do processo denota o todo {P edro, eu ,
tes a seres animados atribuem ao primeiro o papel de agente e ao segundo cachorro, ca n á rio), e o objeto ou alvo da ação denota a parte (braço, den te,
o de paciente, como em: orelha, p en as), relação que é extensiva a qualquer coisa, que só não chama­
• O cão perseguiu o gato. remos experienciador por não se tratar de ser animado. Daí frases como
• O gato perseguiu o cão. • O carro furou o pneu.
• O sapato gastou a sola.
em que cã o e gato trocam de papéis semânticos em virtude da troca de fun­ • O livro manchou a capa.
ções sintáticas. Os papéis semânticos, também chamados temáticos, são • A máquina rebentou a correia.
categorias concebidas mentalmente que aplicamos às entidades designadas
pelos termos componentes do enunciado: agente, paciente, instrumento, cujo sujeito sempre denota o todo, e o objeto a parte. Não por acaso, suas
situ ação, d ireção , origem , ca u sa , m eio, atributo, identidade, beneficiário paráfrases podem ser:
são alguns deles. • O pneu do carro furou.
O verbo é uma espécie de eixo que articula os papéis semânticos entre • A sola do sapato gastou.
si. A agentividade ou a instrumentalidade de um constituinte são categorias • A capa do livro manchou.
mentalmente construídas e que se expressam formalmente na oração por
• A correia da máquina rebentou.
meio de um verbo (O cã o f a r e j a ratos), de uma preposição (Os ratos síÍo
fa r eja d o s jxílo cão), de um sufixo (O c ã o é fa r efa d o r de ratos). A obriga­
Por não poder scr exaustiva, uma análise dos significados relacionais
toriedade sintática de sua presença junto ao verbo faz do sujeito, porém,
do sujeito que procurasse discriminar todas essas sutilezas pulverizaria
iiin lugar sintático capaz de abrigar uma grande variedade de papéis sü-
nosso assunto. O que está claro é que o sujeito não sc caracteriza por seu
mântieos: agente (O menmo descascou a laran ja), paciente (A lurai\ja
significado relacionai (ou papel semântico) na frase, mas por ser um lugar
f o i d esca sca d a f>elo m enino), instrumento (E sta ch a v e abre todas as por­
sintático de preenchimento obrigatório junto aos verbos pessoais, o que
tas), lugar {E sta atila abriga qu aren ta alunos), meio {Esta estrada leva ao
vale dizer, junto à esmagadora maioria dos verbos.
m ar), entre outros.
1^ coimim. por isso, que se dé a um verbo de ação um sujeito que, por 12.4 GONSTRITÇÔES DK VOZ PASSIVA
iiiV) SC referir a um ser animado, não terá o papel de agente: A voz passiva é a forma que damos ao SV quimdo queremos atribuir ao pa­
• A chu va alagou a cidade. ciente da ação verbal, de forma explícita, o papel dc sujeito dn oração:
• A pedra está bloqueando a entrada do túnel. • As roseiras [sujeito pacientei serão podadas pelo jardineiro.
• A con vtite d o relógio feriu meu pulso. • Elstas crianças [sujeito paciente] foram abandonadas pelos pais.
274 Ui'ARTA PARTR - UORPOLOGIA FLEXIONAI. E SINTAXE DtrXMO NEia-xixi r.APTnxn-VnTM no \-ERINi E OLENTOts irfHUIELATAS 275 y

Estas frases ilustram a formação tfpíca da voz passiva, constituída pelo período, fizemos uso duas vezes desta construção: se indetermina e dix-se),
verbo auxiliar (serão, foram ) seguido do particípio do verbo principal (po­ com o qual o verbo passa a concordar:
dados, enviadas). Estes exemplos comunicam conteúdos que poderíam • “Sob a 'capa da raça' introdiisiam-se consid erações de ordem .
ser expressos pelas correspondentes formas ativas: cultural, na medida em que à noção se associavam c re n c a s e
• O jardineiro podará as roseiras. valores. " [SCHWARCZ. 1998: 183]
• Os pais abandonaram estas crianças. • " As uualidades pessoais não são inatas, adquirem -se n a so ­
ciedade, através da sociedade, da família, da igreja, da e sc o la ,
Quando as comparamos descontextualizadas, as construções ativa e no trabalho e tc." (SCHIVARCZ. 1998: 614)
passiva podem ser tomadas como formas diversas para o mesmo conte­ • “Nas formas de vida coletiva podem assinalar-.se dois n rin c í-
údo objetivo, mas a escolha de uma delas nornialmente tem motivações nios que se combatem e regulam diversam ente as ativ id ad es
discursivas ou pragmáticas que precisam ser obsers’adas. Uma importante dos hom ens.” (Sérgio B, de Hollanda. In: IN T É R P R E T E S DO
diferença a ser destacada é que a construção passiva realça o paciente e BRi\SIL 3, 2002: 9.S5)
permite a omissão do agente [cf. CÂMARA Jr., 1941, p. 100):
• As roseiras serão podadas. A mesma fonte do primeiro dos três exemplos acim a tam bém fo r n e c e
• Estas crianças foram abandonadas. esse outro, em que não se observa a concordância preconizada pelas g ra­
máticas normativas tradicionais:
• “Afirma-se de modo genérico e sem questionam ento u m a c e r ­
O conteúdo do último exemplo acima pode também ser expresso por
ta harmonia racial e joga-se para o plano pessoal os p ossív eis
meio de outra formulação da voz passiva, chamada passiva sitiaítiva ou
conflitos.” (SCHWARCZ, 1998: 179)
proiumxinal (indicada pelo emprego do pronome se apassit ador):
• Abandonaram-se estas crianças.
Neste último exemplo, o sentim ento da indeterm inação do ag en te p re ­
valece sobre o caráter passivo da construção. O verlx), m esm o tra n sitiv o
Trata-se de uma construção que deixa o agente do processo verbal
direto, é recategorizado sintaticaraente com o os dem ais verbos, ju n t o a o s
obrigatoriamente indeterminado. Por isso, este exemplo só pode ser inter­
quais o se é um ‘índice de indeterminação do sujeito', com o n os e x e m p lo s
pretado como a versão passiva de Abandonaram estas crianças, forniula-
mais acima com os verbos «ssístír e iToseer.
ção bem conhecida de construção de sujeito indeterminado.
• Aos 30 anos já .se aprendeu os limites da ilha, já se sa b e de
A língua escrita padrão faz amplo uso das construções com se paru a
onde sopram os tufões e, com o o náufrago que se salva, é
expressão da indeterminação do agente, especialniente no discurso ens,iís- hora de se autocartografar." (S j\NT'ANNA, 2 0 0 3 : 1 4 7 )
tico ou acadêmico:
• Mesmo que se aceite todas as teses sobre o desvirtuamento
• “Quinhentos anos após a viagem de Colombo, assiste-ín a do movimento dos sein-terra (,..), a dimensão do movimento é
um recuo da Europa sobre si mesma, em movimento de sis- uma evidência literalmente gritante do tamanho da iniquidade
tole oposto à diástole que marcou a era dos descobrimentos ' fundiária no Braisl." (VERÍSSIMO, L. F. O Globo, 3/7/2008)
(CARVALHO, 1999: 274)
• “Assim como sç nasce poeta, arquiteto, flautista ou domador, Esta construção dissemina-se na variedade escrita do português bra­
Clementino teria nascido barbeiro de necrotério.” (RODRI­ sileiro, de tal sone que o paciente do verbo, codificado como objeto direto
GUES, 1993: 136) pode ocorrer sub a forma de pronome átono:
• Há sempre muito barulho e a voz humana tornou-se débil
Se o verbo da oração cujo agente se indetermina é transitivo direto, demais nas cidades grandes; para se ouvi-la, é preciso ampli­
diz-se que o .se é pronome apassivador e que a construção, na voz passiva, ficá-la. (BRITO, Ronaldo Correia de, “O silêncio das cidades"
atribui ao paciente da frase o papel sintático de sujeito (aqui mesmo, neste Disponível no portal Terra).
276 QMARTAPARTR- MORFOLOOIAFLEXIONAL E SLNTAXE llECttlOSECVSDI. CAMlfUl. VOZESDO\XR»0 EQCEaiÒES (XWEELATAS 277

12.5 VOZES DO VERBO E INFERÊNCIA O sujeito de derrubar é sempre o agente ou causador da ação, o su­
Sabemos que as frases o gato perseguia o rato e o rato era perseguido pelo jeito de ca ir é sempre o paciente da ação. A exemplo do que se passa com
gato são formulações verbais de um mesmo acontecimento, por mais que aconstrução passiva, também nos casos de esfriar (transitivo)/e.s/Har (in­
elas não sejam cem por cento equivalentes quanto à intenção comunica­ transitivo) e derrubar/cair a inexistência de agente ou sua simples omissão
tiva de quem as enuncia. O que as distingue é o ponto de vista do cnun- pode levar ao emprego da construção intransitiva.
ciador, que ora fala do gato, ora fala do rato. O que importa aqui, porém, Em todos esses casos, quem declara o conteúdo da frase transitiva/ati-
é isto; quando ouvimos uma delas, inferimos automaticamente a outra. vaestá declarando necessariamente também o conteúdo da frase intransiti­
Dizemos que há entre essas frases uma relação de inferência recíproca. va, pelo menos no que diz respeito ao que se passa com o paciente. Diz-se,
Isto equivale a dizer que elas são sinônimas. Uma importante particulari­ então, que há entre elas uma relação de causatividade. Por extensão, dize­
dade da construção passiva é a possibilidade de supressão do agente, como mos que derru bar é ‘causativo’ em relação a cair, que matar é ‘causativo’
vimos na seção anterior. Gomo a voz passiva é a construção que faz do pa­ em relação a morrer. Também nestes casos infere-se o conteúdo da frase
ciente o assunto da frase, sua escolha pode ser motivada pela irrelcvâneia Intransitiva (a com ida esfriava /o pugilista caiu /as baratas m orrerão)
da identidade do agente do processo verbal (Coloca-se batería cm relógio) a partir do conteúdo da frase transitiva (o vento esfriava a com ida / um
ou pela impossibilidade de identificá-lo (Os^os de cele/one/oram rouba­ golpe na ca beça derrubou o pugilista /o in,scticú(a m atará as baru(a.s).
dos). Se a forma passiva apresenta o verbo estar, o que a frase expressa
não é mais a ação (O dinheiro f o i guardado no cofre), mas o resultado dela 12.f> PRONOME REFLEXIVO. VERBO PRONOMINAL E VOZ MÊDI.\
(O dinheiro está gu ardado no cofre), de sorte que o agente deixa de ser 0 pronome reflexivo revela o papel de ser afetado ou paciente assumi­
sequer subentendido. do pelo indivíduo ou coisa designados pelo sujeito da frase. É claro que
Esta mesma variação de efeito de sentido (explicitação/apagamento 0 sujeito de muitas orações pode receber o papel de paciente indepen-
do agente) produzida pela diferença entre a construção ativa e a passiva dc dentemente dc o verbo dessa oração vir seguido de pronome reflexivo
resultado é frequentemente realizada por outro tipo de variação sintólioa, (A com ida esfriou, O co p o quebrou, O pneu esvaziou, O g elo derreteu, A
tipicamente exemplificada pelo verbo esfriar no seguinte par dc frases: 0 porta abriu). Nestes exemplos, contudo, não há qualquer índice formal da
vento esfriou a com ida / A com ida esfriou. atribuição de papel semântico ao sujeito. Nas construções com pronome re­
Esfriar pertence a uma classe de verbos - ehamados ergativos ou ina- flexivo, pelo contrário, isso é revelado justamente pelo pronome. Portanto,
cusativos - que expressam tipicamente um processo de mudança de esta­ uma construção integrada por um pronome reflexivo sempre nos informa
do (muitos deles são derivados de adjetivos: esfriar, envelhecer, remoçar, que a pessoa ou a coisa designadas pelo sujeito gramatical é um ser afetado
am arelar, cfrouxar, escurecer, m urchar, esquentar, alegrar, afinar, cti- ou paciente do fato/prucesso expresso pelo verbo:
grossar-, outros de substantivos: enrugar, em pedrar, esfarelar, des/Kíla- • Os turistas .SCperduram na floresta.
çar, enlarruiar, aprum ar). Estes verbos empregam-se geralmente ora como • (Eu) Ratizei-me nesta igreja.
transitivos (O vento esfriou a com ida) ora como intransitivos (A comida • Ana SC assustou com o cachorro.
esfriou). Esta variação produz uma relação de sentido análoga - embora • A praia estendc-sc por vários quilômetros.
não idêntica - à da oposição entre as construções ativa e passiva: o obje­ • Ele se declarou inocente.
to direto, complemento da construção transitiva (Algo esfriou a eomida).
passa a sujeito da construção intransitiva (A comida esfriou), conservan­ Na posição de sujeito, certos substantivos - especialmente os que de­
do, porém, a condição de paciente do processo expresso no verbo. notam seres animados - também podem ter o papel de agente; por isso,
f Ibservemos agora o seguinte par de frases: Um golpe na cuIk^çu der­ uma construção como Pedro cortou-se pode ser ambfgun. ;\s construções
rubou o pugilista / O pugilista caiu. Estas fra.ses exemplificam a me.sma reflexivas padrão seriam, portanto, aquelas eujo sujeito acumulasse o papel
relação de sentido que notamos no par anterior formado pelo verbo cs)Har de agente e o de paciente conferidos pelo pronome reflexivo (perceptfvei na
Agora, porém, não temos variações do mesmo verbo, mas dois verlios ilb- paráfrase Pedro cortou a si mesmo). Por outro iado, em construções como
tlntos: derrubar e cair. Pedro ulegrou-sc com u volta do filho, formada por um verbo de sentimento
21H UUARTA PARTC - MORFOUHSIA FLEXIONAI. £ SINTAXE

e não de ação, a situação é outra. Nas construções pronominais formadas


por verbos desse tipo - de que são exemplos, entre outros, indigmr-se,
desesperar-se, aborrecer-se, entusiasm ar-se, enfurecer-se, entediar-se
DÉCIMO SEOL^ItXã CAPiTlIlO: VOZES DO \TRfiO E QITJSTOe s CORRELATAS

O caso referido acima não deve ser confundido com a ocorrência de


variação geográhca, como acontece com o verbo a co r d a r , pronominal em
certas regiões do Brasil (A cordo-m e cedo todos os d ia s /.Acordo cedo todos
279

(
ao sujeito só resta o papel de ser afetado.
os dias). Também diferente é a situação da língua em outras repões que
A flutuação do papel semântico do sujeito nas construções ditas pro­ tendem a empregar alguns verbos sem o pronome reflexivo: A r r e p e n d í /
nominais gera grande controvérsia em tomo do caráter da chamada voz JWe arrependí, Ele não qxseixa /nõo se qu eixa m ais d e n a d a , M inha f i l h a
reflexiva. De fato, somente numa parte dos casos - e exclusivamente eom form ou /se fo r m o u no ano passado.
os verbos de ação - a construção pronominal reflexiva contém um sujeito
que acumula os papéis de agente e ser afetado do processo verbal, dando 12.H PR0N0MINAUZ.\Ç.\0 DE VERBOS PSICOLÓGICOS
fundamento à classificação da voz como reflexiva. Nos demais casos, emque Caso bem particular é o que se observa no tipo exemplificado pela fra­
o sujeito não deflagra o processo - e portanto não é agente - a constnição se A m ãe se em ocion a a o ler a ca rta do filh o . Estamos agora diante de
pronominal realiza o que muitos linguistas chamam de ‘voz média'. Esta uma classe muito ampla de verbos, chamados psicológicos: e m o c io n a r ,
designação tem a vantagem de caracterizar a construção pronominal como alegrar, exaltar, intim idar, en corajar, a b o rre c er , en tu siasm ar e tc. Na
um meio termo entre a voz ativa e a voz passiva, e será adotada itqui como construção pronominal, o sujeito desses verbos é necessariam ente —e tão
um rótulo mais amplo do que “voz reflexiva’. Esta passa a ser vista como uma somente - um ser afetado; a fonte ou causa do estado descrito pelo verbo
variedade de voz média. São exemplos de voz média: está, em qualquer caso, fora do sujeito e, quando é mencionada na frase,
• Ela não se incomoda com nada. vem sempre identificada numa expressão introduzida por algum con ectiv o
• As crianças se divertem com as piruetas do macaco. (preposição ou conjunção): Em ociona-se a o le r a c a r t a . E x a lto u -se c o m
• Ele se em baraçou nas próprias palavras. a ofensa, Entusiasm a-se com o q u e vê, A legrou-sc q u a n d o o s a m i g o s o
• As nuvens se desfazem rapidamente. visitaram . A expressão que denota o motivo pode, desprovida do c o n e c ­
• A praia estende-se por vários quilômetros. tivo, ocupar o lugar do sujeito (cf. A leitura d a c a r ta a em ociona, A o fe n s a
• A cortina rasgou-se de velha. 0 exaltou, O que v ê a entusiasm a, A visita d o s amigos o a le g r o u ). A o p ção
pela construção reflexiva permite que o ser afetado assum a, no lugar s in ­
12.7 VERBOS PRONO.MINAIS tático do sujeito - início da frase - o papel textual/discursivo de tópico do
Chamamos pronominal ao verbo que se emprega obrigatoriamente com­ enunciado (cf. 4,5.6.2.3.2.3).
binado com um pronome reflexivo; arrepeitdcr-se, comportar-.se (= ter
comportamento), d espedir-se (= cumprimentar na hora de sair),^tr(ar-.st' 12.9 UMA PROPOSTA DE SÍNTESE
(= evitar, fugir a), orgulhar-se, qu eixar-se, sair-se (= atuar, comportar-se).
A classe dos verbos pronominais representa a cristalização de estru tu ras
Note-se que existem na língua os verbos com portar, despedir,fiirtar e s«ir
originalmentc constituídas como formações de voz m édia. D escriçõ es tra ­
dc.sacompanhados de pronome reflexivo, mas trata-se de outros verbos,
dicionais chamam ao pronome que as integra ‘parte integran te do verbo’.
transitivos diretos (cf. A c a ix a c o m p o rta todos os disquetes, Ela despediu
Como essa forma é idêntica à dos pronomes reflexivos que se agregam
o jard in eiro . F u rtaram m inha carteira) ou intransitivos (cf. Nós sairemos
ao verbo cm virtude de regras sintáticas, considerarem os as co n stru çõ es
am an h ã).
integradas pelos verbos pronominais um subtipo das con stru ções de voz
l’or outro lado, há um grupo de verbos intransitivos ou transitivos que,
média cm geral.
sent variação do papel semântico desempenhado por seu sujeito, enipre-
gam-se ora acompanhados de forma reflexiva, ora sem ela, São casos típicos Podemos distinguir, desse modo, construções de voz média em que
o ptir lem brur/esquecer em construções como I^embrei-me de você e Ela houve ou tende a haver cristalização estrutural e construções de voz média
se esqu eceu do clutpéu, que variam com L em b rei d e você e Ela esqueceu explicáveis pela atuação de regras sintáticas do sistem a de vozes. As pri­
(d)o chafjcu, e o de uns poucos verbos intransitivos, como ir (cf, Eles se meiras compreendem os verbos discriminados a seguir nos itens 1 c 2 . M
_fttrum diuiui fm ra sem pre). demais abrangem a reflexividade (itens 3 , 4, 5, 6 e 7 ), a reciprocidade (item
8 ) e a ergatividade (itens 9 e 10).
2S0

1)
UirARTA PARTK - M«RP<>I-IK'.IA FLEXIONAI. E íJINT.AXE

Verbos exclusivamente pronominais. Sào combinações obrigató­


rias de verbo e pronome para constituir uma unidade léxica:
5)
nÊCI^Kl NECÍIINDO CAPITI^O: vozes do verbo E tH’ESrOE.S a)KR£LATAS

Verbos ativos que envolvem ou afetam fisicamente o respectivo


sujeito (com ou sem controle do processo). Distinguem-sc dois
281 (
• Eles qu eix av a m -se do calor. subgrupos:
• Eu nào tive do que me arrepen der. a) o verbo expressa apenas o processo:
• Fu^iu es^ ueirando-se pelo corredor. • Não parava de sc coçar.
• Nâo nos a trev ía m o s a fazer qualquer pergunta. • Morden-se toda de tanto ner\’oso.
• Tive de me ausentar por dois dias. • Belisquei-me para ter certeza de que estava vivo.

2) Verbos que adquirem staíu s lexical novo em virtude da pronomi- b) o verbo exprcvssa processo ou resultado:
nalização. Distínguem-se dois subgrupos: • Passou pela cerca e arran/ion-sc nos espinhos.
a) há perda de vinculo semântico entre n forma pronominal c a for­
• Molhou-se enquanto lavava a roupa.
ma sem pronome:
• D escabelou-se na agitação da dança.
• Saiu sem se despedir.
• C om portou-se como um verdadeiro líder.
6) Verbos que denotam ‘cuidados’ pesvsoals (o sujeito controla a exe­
• Fiquei desempregado e tive que me virar.
• D esfizeram -se de algumas roupas quando \iajaram. cução e os efeitos da ação):
• (Jalçou-se depressa.
b) resta algum vínculo semântico entre u forma pronominal c a for­ • Penteava-se na varanda.
ma sem pronome: • Levava horas para sc vestir.
A braçou -se a uma árvore para nflt) ser arrastado.
Vai SC a p resen ta r esta noite abrindo o festival. 7) Verbos de atitude:
Nâo SC aprr>i>cítc da Ingenuidade dos outro.s. • Quando lhe perguntaram pelo dinheiro, ele sc ca lo u .
C om prt)m eto-m e a devoh’er todo o dinheiro. • Ninguém sc julfiou culpado de nada.
Nâo reencontraram a trilha e sc perderam na ílorcsta
Tivemos a sorte de nos h o sp ed a r no melhor hotel da cidiuJe «) Constmções de reciprocidade:
A praia sc esten d ia por muitos quilômetros. • C) mestre e seu discípulo sc rcs/K.'ifavam.
È rico, mas sc w ste como um mendigo. • As crianças sc abraçaram depois do susto.
Duas colunas sc erf^uium á nossa frente.
'^) Verho.s pruuos,suiii.s qiio denotiim mudnnçii dc estado físico:
A) Verbos que denotam movimento corporal .sem translaçrio: • AJ^iiiis copos .sc (luehrantm no transporte.
• Ele sc sa c o d e todo quando ri. • l’as.se uni protetor .solar para nilo se q u eim a r muito.
• Ele sc a^»ífou muito dunmte a noite.
• Ela sc m exeu na liora da foto. 10) Verhos processuais que denotam mudança de estado psicolój^eo-
• L ev an tei-m e e fui embora. • Assustava-sc com a buzina dos automóveis.
• iSentem-se, por favor. • Nflo .sc im pressione com o que ele lhe disser.
• Bm ocionou-se ao ler a carta.
4) Verbos que denotam movimento corporal translacional: • Você se irrica por quali|uer bobaftem.
• da fogueira.
• Tentei m e u f)roxim ar do palco.
• Eles em hren haru m -se no mato.
i«t«II*»riKi um»t-um1“ \i«Tnmu

A q u i, m u ito , a in d a , tuio. tlc p ressa , suri> rcendcntcm cnte, n a tu r a l­


m e n te , c tim p le ta m e n r e . e .six m ta n ea m e n te , /M ipulannenre. .s-ini-erainente,
ig u a lm e n te , s o b re tu d o e a p e n a s são advérbios; d c fn-mi. <lc m ã o e m m ã o e
pelo m e n o s são Ittcuçõics adverbiais, comi> v ik c fMxte v e r e m e s m o ifiie n ã o
s i n u i/o m e .são onições adverbiais. TihIos entram na estrutura dos enimeia-
dos como unidade aees,sória. e alguns deles - eomo as formas em -m e n te
- podem variar de posição.

1 3 .2 l‘ R ()I*R IK I).\ l)E .S ,S|\T.^TU:.VS DO.s siN T A tiM A .S A l)\ F .U m .M .s


13.1 UM TERMO PERIFÉRICO Do ponto de vista sintático, um advérbio ou um sint.agma .adverbi.-il desem ­
O sintagma adverbial (SAdv.) participa da estruturação gramaticnl do enun­ penha cinco .subfunções conforme a estnitiira maior que integram;
ciado, na maioria das vezes, como um típico termo aces.sório, isto 6, um a) a d ju n to nra eio n a l: co n stitu in te do perúnlo ou e iu m e ia d o . a d ja ­
termo que pode ser removido da oração sem afetar sua integridade gramati­ c e n te a um a oração (exem plos 8 |mirnr(i/menre|. 9 . III e 1 2 );
cal. Alguns advérbios/sintagmas adverbiais - aqui reunidos sob a rubrica dc b) adjuntouerbri/: co n stitu in te do SV. a d ja cen te ao verlso (e x e m p lo s
‘adjuntos livres’ - são até irrelevantes para o conteúdo da proposição; sua 1, 2 (dcpre.s.sa1, 3 , 6 e 8 |uím/u. m io. d e /h tto ) );
importância está nos efeitos discursivos que produzem. c) a d ju n to secuntlário: co n stitu in te do S.\dj e do ,S.\dv., a d ja c e n t e
As frases abaixo contêm, em itálico, exemplos das três formações típi­ ao adjetivo ou a outro .advérbio. inteiisifieandi>-os (e x e m p lo s 2
cas do SAdv.: ad v érb ios, locu ções a d v e rb ia is e orações adverbiais. [m u ito ], 4 e 7 ), m odalizando-os ( 5 ) ou d elim ita n d o o a le a n e e d e
I) Vamos passar a noite oqut. su a referên cia (1 1 );
2 ) Vocês estão andando m uito depressa. d) a d ju n to Jbcalisculor: a d ja cen te a q u a lq u e r e s p é c ie d e s in ta g m a ,
3) A garrafa de cachaça circulava d e m ão em m ão. se rv e para particu larizar uma in fo rm a çã o em n o m e d e u m p r o ­
4) Vocês estão com pletam ente enganados. p ó sito argu m entativo ou en fá tico do e n u n c ia d o r (e .x e m p lo s 1.1,
5) Ela estava surpreendentem ente calma. 1 4 e 1 5 );
6) Os invasores desocuparam a fazenda espontaneamente. e) ad ju n to eonjuntivo: a d jacen te ao SV. e s ta b e le c e a lg u m tip o d c
7) Essa derrota deixou a equipe muito abatida. relação lógica com a parte p reced en te do e n u n c ia d o (e .x e m p lo s
8 ) N aturalm ente, ela ainda não tinha visto o mar dc perto. 1 6 e 1 7 ).
9) Como v ocê pode v er, desisti de viajar.
10) Procure se alimentar m esm o que n ão sinta fom e.
1 .1 .2 .1 .V djuntos oraeionais
I I ) Esse inseto é conhecido popularm ente como ‘joaninha’. A p o siçã o típ ica do adjunto oracional é o in ício do e n u n c ia d o , c o m o ilu s ­
12) Sinceram ente, não confio nesse governo. tram o s exem p los 8 , 9 e 12. Por ser um c o n stitu in te do p ró p rio e n u n c ia d o ,
13) Meu pai comprou ap en a s os livros de português e de história. e n ão da o ra çã o , o adjunto oracional tem um a g ran d e m o b ilid a d e , p o d e n d o
14) Pelo m enos uma parte do dinheiro foi recuperada. o co rre r, ainda, no final do enu nciado ou na fro n teira d e s in ta g m a s , c o m o
15) “Ao longo do Império, sobretudo na segunda metade do século en tre o su je ito e o predicado, ou en tre o v erbo e seu c o m p le m e n to . V e ja n i-
XIX, os capoeiras foram elementos indispensáveis nos pleitos -se as seg u in tes variaçOes do e.xemplo 12:
eleitorais das cidades do Nordeste.” [SEVGENKO, 1998: 125-6| • Eu siricem m en te n ão co n fio n e s s e g ov ern o.
16) Eles trabalhavam na escola e conheciam, portanto, a diretora. • Eu não confio, s in c e r a m e n te , n esse g o v ern o .
17) “Cora a ampliação da gama de produtos dirigidos às criímça.s. • Eu não confio nesse governo, s itu e r a m e n te .
cresceu igualm ente o espaço a elas destinado nos supermercadas
e lojas de departamento.” [Jorn al d o Brasil, 10/10/1999) A im p ortân cia do adju nto o ra cio n a l para o s e n tid o d o e n u n c ia d o e s t á
em q u e , por m eio dele:
1 -y
284 QUARTA TARTE - M ÜRniLnúlA RJUaONAL E SLSTAXE [«ElTMll T E R lT n n i t .A T f m i) OSlVTVCAtX \I>VTRRI.U 288

a) O enunciador retrata o grau de seu comprometimento com a ver­ -\ primeira p<KÍc ser parafm.seada por í nnmuti que <is a u las co m ecem
dade do fato expresso na oração: cm mornT). em que o adjetivo norm al qiialitica o fato expre.sso na propo­
• Ninguém atende o telefone. Provavelmente / Com ecrtesu. sição as aulas come^tim em mai\o .\i temos um adjunto oracional. .lá na
eles estão viajando. segunda frase, a qualidade expres,sa no adjetivo caracteriza a ação de cam i­
• Evidentementey contra esses fatos não há argumentos. nhar Trata-se de um adjunto verbal
Semanticamente. o adjunto verbal ptnle referir-se ao significado ilo
b) o enunciador define o ponto de vista ou domínio de conhecimen­ verbo como:
to do qual depende a validade do conteúdo da oração: a) uma característica da ação ou do agente (adjtintos verbais de
• Biologicam ente / Em termos biológicos, estes insetos perten­ modo e de intensidade):
cem à mesma famflia. Ele caminh.avn nonnalmente pelo ipiarto
• Na m inha opinião, o que ele está fazendo com você é chan­ A estrela brilhava intenstimente.
tagem. ('.hovia torrencialmente
• Segundo o Velho Testamento, o homem e a mulher viviam ino­ Ele dirige perígo.sunicnre.
centes no Paraíso. Ela trabalhava assim
Ela chorou muito
c) o enunciador exprime o efeito psicológico que o conteúdo da ora­ i\giu como um cavalheiro
ção lhe causa: Voltou .sem o clutpéu.
• Felizmente /Por sorte, o menino se escondeu dos ladrões no
cesto de roupas. b) uma época ou um lugar reconhecíveis pelos interlocutores rclati-
• P ara nossa surpresa, ele abriu mão do prêmio. vamente ao momento ou ao espaço cm tpie acontece a ciuincia-
ção (adjuntos verbai.s dèiticos de tempo e ile lugar):
O subtipo exemplificado em ‘b’ é de uso generalizado na linguagem
• Chegam hoje.
acadêmica, sobretudo nos gêneros ensaísticos. É comum que venha ini­
• Estão dormindo ogoru.
ciado pela expressão Do ponto de vista seguido do adjetivo pertinente: Do
• \'oltarão unmnliõ.
ponto de vista técnico, Do ponto d e vista religioso, Do ponto de vista literá­
• Foram contratados ontem.
rio etc. Também é comum seu deslocamento para a órbita do adjetivo que
• iVguardem tuiui. (referindo-se ao lugar em que se encontram)
funciona como predicativo:
• Trabalhamos lá. (apontando para um lugar)
• Esta peça é artisticam ente pobre. (cf. Artisticamente, esta
• Desçam daí.
peça é pobre)
• Eles estavam fin an ceiram en te quebrados, (cf. Financeira­
e) uma época ou um lugar reconhecíveis pelos interlocutores rclati-
m ente, eles estavam quebrados)
vanicntc a um ponto de referência instaurado no próprio discurso
13.2.2 Adjunto.s verbai.s ou texto (adjuntos verbais textuais |endofóricos| de tempo c dc
Chamamos adjunto verbal à função do sintagma adverbial que pertence au lugar: aí, aqui. lá. agora, então, ain d a, depois, a n tes, logo, nes.se
instante, naquela époext, em outro Itqiar):
SV. Este lugar restringe sua mobilidade no interior da oração. Pode-se per­
ceber a diferença entre o adjunto oracional e o adjunto verbal comparando • Sabem que a casa está caindo, mas se recusam a sair de lá
o funcionamento do advérbio norm alm ente - que pode ser uma coisa ou • “Extraviei-me pela cidade na tarde de sábatlo. e en tão me dei-
.\ei bobear pela Cinelândia." 19(j3a: 155)
outra - nas seguintes frases:
• "Era verão e soprava uma brisa tépida. Sentei-me junto da
• Normalmente, as aulas começam em março.
cama do agonizante. Agora podia observá-lo m elhor” IVTi
• Ele caminhou norm alm ente pelo quarto.
RISSIMÜ. E. 1974: 206]
quarta parte - UORFOUXjIAflexional e sintaxe

d) uma época ou um lugar indefínidos, percebidos como polos de O bs.: Aláuns advérbios e Iocih^V-s adverbiais que e x e rcem ft fitnqào dc
um ponto de referência arbitrário partilhado pelos interlocutores adjuntos verbais acrescentam redundantem ente seu sen tid o a ccrtiw \er-
(adjuntos verbais polares de tempo e de lugar): bos. com os quais formam expressões cristalizadas de am plo uso co lo q u ial
• Acordamos cedo /tarde. cfrrtar^fiíyra. deixar ptirci m is. vfdtar tirnis [ = mudar de opiniA oi. An-Xir u
• Moravam longe / perto. sério, rm xcr dc w/tn. pi*dir dc v*dta. pussur lufumrc etc
• Olhem agora para ctma /para baixo.
• Passem para dentro / para fora. 1.1.2.d Adjunt«>s seciinilárioH
São todos de conteúdo avnliativo. podendo exprimir
e) a frequêncla/duração do processo verbal (adjuntos verbais as- a) intensidade- muito Uiríio. um pouco forutffi..fruoi dcm iiia, bo«-
pectuais): tante /om2c. demciaindamente nipido. rã«> tfinfc,
• ChoravaTrequentemeute. b) apreciações subjetivas diversas: oaiiuatculonim cnle pn>/ijrufo.
• Chegou de repente. admiravelmente q/iruulo. sedutonirnente Edi^guntc, antitN iticri'
• Aparecia aqui raramente. mente sério;
• Caminhava de vez em quando. c) compamçàcVsemelhnnça: rom an ticam en te son/nulor. buri|iicmtien>
• Procurava sempre os amigos. te/eliz. nuKhadUtnamente ir6nii.'it. nuufuUiveíietnnente nstiito

f) a causa ou a coparticipação (companhia, meio, instrumento) no 1.1.2.4 .\djuiitos foculizadores


processo verbai (adjuntos verbais de causa e de coparticipação): A subclasse dos adjuntos focalizadores é a mais versátil do ponto de vista
• Morreu de velhice.
í: • Quebrou com o peso da carga.
sintático, já que seus membros estão aptos a ueonipanhar quaU|iier espé--
cie de sintagma. Quase nada acrescentam ao conteúdo da proposição, mas
• Acordou com o ronco da máquina. atuam na dimensão iloeutóiia do discurso (ef. 4 .J ), com a finalidaile de
• Saiu com os amigos. transformar certa parcela do enunciado em ftieo da informação. () enuncia­
• Entrou na garagem com uma motocicleta. do que os contém é envolvido em relações com algum outro enunciado ou
• Veio de ônibus. informação latente. Em enunciados como
• Desceu de paraquedas. • Eles trouxeram apenas os agasalhos.
• Comprou os livros por vinte reais. • Gastãu não pagava sequer cafezinho.
• Pagou a divida com o próprio trabalho. • Vim aqui unic.amenre para cumprimentá-lo.
• Cortou a corda com o canivete.
• Ele foi agredido a socos. os adjuntos openas. sequer e unkxmieníe também introduzem no discurso
juízos de valor sobre certas situações ou fatos e implicam outros enunciados:
g) o termo, a direção ou a finalidade do processo verbal (adjuntos • Eles náo trouxeram tudo que precisam.
verbais de direção e de finalidade): • É normal as pessoas pagarem cafezinho.
• Caíram no chão. • Náo tenho outro objetivo aqui.
• Chocou-se contra o muro.
• Chegaram à cidade. Pertencem a esta subclasse algumas palavTas que. deixadas à margem
• Voltaram para casa. das classes de palavras, são genericamente batizadas de 'palavTas denotativas'
• Apontavam para as estrelas. Duas delas, muito comuns, são só e até. conforme ocorrem nos exemplos:
• Fizeram uma festa para nós. • Ela só parava para beber agua / Ela parava só para beber água.
• Recolheram donativos em bengfício dos flagelados. • Comprei até roupa nova para ir à festa / Até comprei roupa
nova para ir à festa.
288 QUARTA PARTE - HORFOLOGIA FLEXIONAL E SINTAXE •/V ,

13.2.5 Adjuntos conjuiitivos


Os adjuntos conjuntivos são utilizados como recurso de coesão textual (ver
4.5.6.5.2). Estes sintagmas pressupõem alguma porção de sentido prece­ ni-CIM O Q l .MlTO C A PÍTl I.O:
dente no discurso ou texto, em relação à qual a porção a que eles se unem O PKRÍOOÜ CO.MPO.STO
expressa;
a) uma conclusão, uma inferência, um resultado {ponanto, pois.
; 1 por isso, por conseguinte, em consequência);
b) uma oposição ou ressalva (ainda assim, apesar disso, contudo,
em compensação, entretanto, não obstante, na verdade, no en­
tanto, porém, por outro lado, todavia); 14.1 RKLAÇÜE.S DE a SENTIDO E.NTRE SECí MENTOS 1 )0 T EX TO
o) uma retificação (na verdade, ou melhor, |ou| por outra, pelo con­ Os trechos abaixo apresentam segmentos ou unidades de inlorm açao
trário, aliás); conectados entre si de algunm maneira, lia» porém, uma diferença fun­
d) uma confirmação (com efeito, e/etivamente, realmente, de/ato); damental entre os dois quanto aos processos que tomam explícita essa
e) uma paráfrase ou explicitação (noutras palavras, isto é, a saber; conexão. Para melhor visualização, indicamos com o sinal # a íronteira
quer(o) diser, ou seja, em suma, ei\fim, por exemplo); entre tais segmentos.
f) um acréscimo ou adição (além do mais. além disso, igualmente,
também, inclusive, outrossim). Segm ento 1:
O cam po especiticx) díi ciê n cia é u realidade e m p íric a . # Elu te m e m
mira os fenôm enos que se podem ver. .sciuir. u x ía r e tc . # D al a im p o r­
tância que tem u observação # Devemos co n .sid erá4a c o m o pHinto d e
partida pura lodo estudo cleniííict» e m eio para v e ritíc a r c v a lid a r o s c o -
nhecimeiitiks adquiridos. # Nâo se pixle. /xirranto. falar e m c iê n c ia s e m
fazer referência à obseix açâo. IR ED IO . 2 0 0 2 ; 3*)1

Segm ento 2:
O desequilíbrio d;i K ilan ça co m ercial e n tre Portugal e In g la te rr a fu i.
por nuiitiwi aiu^. com pens:ido pelo ouro vindo do B r is ü . # O s m e fu is
prwáeitks realizanim iis.«ím um circu ito trian gular; # urrui parte tíci^u
no PrisíI. dando origem â relativa riqueza di\ rvgiâo d as m in a s ; # o u r ru
seguiu Portugal, onde foi C4)iisumida no longo re in a d o d e l\>m .loâi>
V ( I7(k>-1750). em especial mvs gastos da (.'o n e c e m o b ra s c o m o o g i­
gantesco Palâcio-(.^>nvento d c Mafnt; # n f e n v i n i p a rre.^ H n airficm c, d c
foniia direta, via ctm iRibando. ou in d ireta, foi p a ra r e m m âu s b r it â iiic a s
acelenindo a acumulação de capitais da Inglaterra. IFA U ST O , q<)|

o siiiiil # vni iiulieando poiiuxs ilo te x to em q u e puUeiuu.s fa z e r puu-


sns relutivaiuente loiiga.s sem eo m p ro n ieter ii naturaliduAle ila e in m e ia ç ã o
oral. tiailu um des.ses segm entos tem .stiinis de um a d e c la ra ç ã o c o m p le ta
por mais que ptxssa depender de algum a in fo n n a ç ã o a n te rio r. N o te -se q u e
a partir do segundo ix t ú k Io de amb«K as s eg m en ta s en e o n tra n u x s s e m p r e
J 90 Q(*ARTA PARTt - MOWOUXIL^ nXMONAL E SDfT.VXE
h • * > OI t . t K n t i * »»

alguma pala\Ta ou expressão - em itálico no texto - que conecta o respec­ /)íino cin/tai m» hrxts'^* t'Stjucr\U*
tivo período a algum outro que o precede. Estas palavras ou expresMVs do^rrrni Q fXino tiiminiiiii o /)un<> /Vino
são responsáveis por ligações de sentido através das quais o raciocínio vai à parvíif de iim<i f.si^orrcifou-í»!* i'«*'**<*
sendo construído. No segmento 1, os pronomes (El« = a ciência, -líi = a í ) a n * i s c n to u -se rwi lairiá/ii umiiiii d e e h u v tt IM iru * i/c.HoaMíW»M ra«a
observação), e os advérbios (.Daí. portanto). No segmento 2. além de unida­ pedra n c’«c'/iimhn
des como estas - os advérbios assim ejinalmcntc também se empregam
recursos lexicais: a expressão os metais preciosos retoma a referência ao l ’m a .1 mai*»r u n u U Jv via cj»tn m »ra ilraiiiHCiojil
ouro, e as expressões uma parte, outra e a terceira parte introduzem o dc um a lin^ua Por isso. cia é autom um i por n a ttitv ia c |i«h.Ic <»v't»rrL*r lu» vlis-
detalhamento de um circuito triangular. O advérbio assim retoma a in­ cu rso realizando um ato eiu m ciativ o co m p leto . iiulci^ viuU ntc vlc vpiali|iier
formação do modo ou meio contida em pelo ouro cindo do Brasil-, e final- seitm entn verbal p reced en te ou suhsev)uente N io tic«m cUm» n a vers*b> l
mente serve para arrematar a enumeração do circuito triangular. Trata-so acim a, em c|ue toda.s as oraytV s têm esta s caracteri.sticrts. A niaH»ria d a s
de recursos de coesão textual (ver 4.5.6.5.2), semelhantes aos nós com que o raçõ es que o correm em um tex to iiAo tem . e n tr e ta n to , e s te ih -t í U r m a
unimos as linhas para tecer uma rede. Não é por acaso que as palavras texto solução para to m a r a verxAo 1 m ais av'eitave). inais parecivla c«»in um t e x t o
e tecido tém a mesma origem no latim: o verho téxére (tecer). n orm al, poderia ser a .seiiuinte. que ch a m a re m o s de %er»Ao 2

14.2 .\ .\RTlCrL.\(,;.\0 DE OR.\(,:ÕES Darin vinha apressiuin. tituínUi-chuvii tu* hnu,'** efutuerdn
Na seção acima, usamos pausas longas para delimitar unidades de sentida a esquina, diminuiu o pcisso e b ru fisn m <1 |mreí/t lie n»ruj

que convencionamos considerar declarações completas. Nosso critério é c por ela se escnrretíau. SenPnt-fic rui eiiiçru ia . (iiru/u iim iciu d e ehttva. e
intuitivamente funcional, mas não é muito objetivo. Vamos agora operar dcscanstm rwi pedru o vachimbo.
com outro critério: a oração como unidade construída em tomo de um
Comparemos at^)ra a,s versr»es 1 e 2 para uleniihcar **s incion utili/ii*
núcleo verbal (ver 8.1, 8.2 e 8.4). Para tanto, utilizaremos o primeiro pa­
dos para conectar as orações na secunda versA<» .Ia ol>ser\amoH tpie cada
rágrafo do conto “Uma vela para Dario", de Dalton Trevisan [SALES, 1969:
oração contém um verbo e que este cxpres.sa um ato praticado iktso -
243-245], no qual se narra uma cena de rua em que um transeunte subita­
nagem. Também registramos que a ordem da.s orações reproduz a onlcin
mente se sente mal.
cronológica das ações do personagem
A cena é uma sequência de oito atos, todos atribuídos ao mesmo per­
A primeira versão deixa claro que, para se construir avle(|uadatneiite
sonagem —Dario - expressos por meio de verbos e mencionados no texto um texto, não é suhciente pnxluzir uma oração para cada uleia ou fali» que
exatamente na ordem em que o personagem os pratica. Vamos listá-los. queiramos informar. A segunda versão n<»s oferece uma forina ra/oãvcl,
reconstituindo as respectivas orações e numerando-os na ordem em que obtida mediante algumas alterações. Ficou claro, principalniente, que algu­
acontecem: mas partes que se repetem podem ser substituídas por outras ou Himplcs-
1) Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo. mente suprimidas. Por outro lado. o encadeamenio dos fatos e das idéias
2) Dario dobrou a esquina. pode tomar necessária a tiiclusáu dc alguma palavra E.stas ulteruçrK;s foram
3) Dario diminuiu o passo. feitas segundo alguns princípios da gramática textual, recursos de coesão
4) Dario parou. que podemos denominar, respectivamente, anuthra prittutmiruil, eltpne e
5) Dario encostou à parede de uma casa. emprego de cotwvtivos
6 ) Dario escorregou-se pela parede de uma casa.
7) Dario sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva. 14.A .V\AKOR.\ K COMIKCIMKNTO PKK.VIO
8 ) Dario descansou na pedra o cachimbo. A anáfura é um recurso formal que permite reter ou recuperar uma infur-
maçào no fluxo do discurso7texto^‘ Como temos visto, realiza-se de várias
Esta sequência pode formar um texto compreensível, embora monóto­ ^ E»b: « u Mmuão guc dâ au tonno ofkVuru ca» UnCuiMica textual, ik» otutiu» ii« Kci6ri
no e deselegante. Vamos chamá-lo de versão 1: Estilística. uoudwdc un^>bru a uma hj^irs òc cuostrue^ tver 22 7 2.11 ) ^
292 QUURTA PARTS - MORKOUXIIA FLEXIONAL E SINTAXE
DfeUR» Ul ARTt» rAPím »»: O ITRUiDO

formas; no campo da gramática, por meio de pronomes pessoais de terceira


pessoa, artigo, pronomes demonstrativos, pronomes relativos; no campo do Agora, porém, só temos acesso ao conteúdo pleno d.asegunda oraç.lo através
léxico, geralmente por meio de substantivos que reiteram algum conteúdo do conhecimento da primeira, pois é aí qne se encontra a identidade objeti­
mediante condensações ou classificações (ver 10.6). Em qualquer desses va indicada pela forma o. ou seja. Dario. A forma o, um pronome pessoal, é
casos sempre há a possibilidade de o interlocutor não fazer a relação cor­ um recurso de coesão (ver 4.5.6..S.2), isto é. um mecanismo de articulação
reta entre o recurso anafórico e o conteúdo que ele reapresenta. Em 10.7, entre duas porções de sentido no texto, de tal sorte que a eompreen.são de
referimo-nos a diversas funções textuais desempenhadas pelos determinan­ uma depende do eonhecimento da outra. Pet/m o cmnprímentoii cxim um
tes. Todos os que são empregados como recurso anafórico podem servir para gesto conserva o scatu.s de oração gramaticnlmcnte autônoma, mas perdeu
retomar mais de uma informação já dada. Em Ana perguntou a Clara ondv a autonomia como unidade de informação, jã que o o não denota por si um
ela tinha com prado aquele chapéu, ela tem muito maior probabilidade de 'ser do mundo'.
se referir a Clara do que a Ana. Este vínculo passaria, no entanto, a favorecer Suponhamos agora que essas mesmas orações vies,sem eneadeailas
Ana se a frase fosse Ana não disse a Clara onde ela tinha comprada aquele assim; Dario vinha apressado e Pedro o cumprimentou com um gesto. .\s
chapéu. A alta previsibilidade do vínculo anafórico nestes dois exemplos duas orações estão agora interligadas por um seguiulo reourso. a fonua e.
faz de ela uma forma redundante e, portanto, suprimível sem prejuízo da conhecida como cotifiuiçcio. Digamos, por enquanto, que a ooujuução é um
informação: Ana perguntou a Clara onde [ ) tinha com prado aquele cha­ elo através do qual duas orações .se articulam no texto. Neste exemplo, e.ssa
péu /Ana não disse a Clara onde ( ] tinlui com prado aquele chapéu. Se, articulação serve a um propiisito de sentido; aere.scentar uma iiifoniiação.
entretanto, a frase for Ana deixou Clara perto d a escola onde ela trabalha, Numa terceira versão, essas orações poderíam vir eneadeadns assim:
obviamente ela pode se referir tanto a Ana quanto a Clara. A ambiguidade Dario vinha apressado quando Pedro o cumprimentou com iini ge.slo. .\s
deste exemplo só pode ser desfeita mediante alguma informação externa duas orações estão novumente interligadas por uma conjunção: quando.
Uma vez mais temos um elo através do igual a.s duas ornçi'íes se articulam no
ao texto. Se o interlocutor tem a informação de que apenas Clara trabalha
texto. Há, contudo, uma diferença fundamental entre a segunda e a terceira
numa escola, o vfnculo anafórico é realizado sem problema’^.
versão: podemos também dizer IJuanilo Pedro o cumprimentou lxiim tun
gesto, Dario vinha apressado, mas não ganlemas dizer *E Pedro o cumpri­
14.4 LIGAÇÃO DE ORAÇÕES POR MEIO DE CONECTIVOS
m entou com um gesto, Dario vinha apressiulo. Se a articulação gior melo
Voltemos ao item 14.2. Se tivéssemos que combinar naquele texto a se­
de e é apenas uma variação dti primeira versão, assinalando redundaiue-
quência de informações contidas em ‘Dario vinluz apressado. Pedro cum­
mente que os fatos acontecem na mesma ordem em que são enuneiadus, a
primentou Dario com um gesto’, seguramente diriamos ou escreveriamos
articulação por meio de quando scn'e a outro progiósito de .sentido; indicar
algo como ‘Dario vinha apressado; Pedro o cumprim entou com um gesto'.
a incidência de um fato - o cumprimento de l’edro - num momento pontu­
A compreensão do seguinte trecho de uma matéria de jomol requer informação (conhuclnienio enci­ al do decorrer de outro - a vinda de Dario. Esta informação indegTende du
clopédico) sobre o que faziam alguns personagens da política nacional no segundo governo do presiden­ posição relativa das duas orações.
te Lula: PT estâ revoltado com a fritura a que vem sendo submetido o ministro da Saúde, llumberiu Há sempre uma intenção de sentido na origem de qualquer articulação
Costa (...) Setores do PMDB também não aceitam que se atribuam problemas de gestão ao ministru
Amir Lando. AAnal, é e l e o autor do plano de reestruturação prcNldenciária que serã implementado. Sc de duas unidtides de informação no discurso, .\lgumas vezes essa inten­
dependesse do FCdoB, Aldo Rebelo já tería chutado a Coordenação Política há tempos. Mas seu sangue ção transparece como um valor lógico inerente aos conteúdos combinados
frio irrita muito mais o PT. Ontem Lula conversou com o deputado João Paulo. £/c ou qualquer outro
(ex., o contraste em Os cães Iculrarn, u caruvatia pas.sa). Na maioria das
que venha a substituir Aldo heará com o carimbo de algoz. E, no entanto, foi Lula, e ninguém mais, que
fez dele um coordenador político desprovido da caneta de nomeações, que ficou na Casa Cínü." [OGlo­ situações, porém, precisamos de conjunções que explieitem essa intenção:
bo, 10/3/20051.0 texto é sobre assessores e aliados do governo federal - llumiierto Costa, i\mir Laiuk>, a d içã o (Dario vinlui apressado efez sinal para um tó.vi), tempo (Dario
Aldo Rebelo c João Paulo. Não há dúvida sobre a referência onafórica operada pelo primeiro e/c c |xir
seu. O s^^ndo ele, porém, tanto pode se referir a Lula quanto a João Paulo; esta dúWda só é desfeita
vin ha apressado, quando Pedro o cumprimentou}, causa (Dario ‘cínhu
pelo contexto hístórico^polftico. Lula é o presidente; logo, a substituição só pode calier a João Paulo. I\tr a p ressad o p orqu e tinha perdido a hora), contraste (Dario vinha apres­
sua vez, dele também pode ter dois antecedentes numa leitura desatenta - João Paulo ou /Mdo Relielo. sad o, m as mantinha a elegância de sempre), consequência (Dario vinlut
Só quem sabe que o coordenador político é Aldo pode, sem hesitação, recuperar a referência dodde. A
última Informação é ainda mais sutil; q u e/ico u n a Cosa Cioi7 significa, por metonímla, sob o comm/c ap ressa d o, p o r isso tropeçou no meio-fio).
do C/iç/b da Cosa Civil, na época o deputado José Dirccu.
294 UCARTA PARTE - MORFOLOGIA FLEXIONAI. E SINTA.XE ríU H II (/ AIITII fl n k l n t , < -W

14.5 PROCKSSOS DE C0N EX.\0 0R.\C10NAL: COORDENAÇÃO E denação porque as partes que elc liga (sernou-.sc na calcada / dcscani^u na
Sl4$ORDINAÇÂO p e d r a o c a c h im b o ) se situam no mesmo nível e são equivalentes; não há entre
O texto original de Dalton Trevisan, a versão 3, é outro, porém: elas relação de continente e conteúdo. O .segundo é um conectivo de .subordi­
nação porque uma das partes é diferente da outra: diminuiu o pfts.so é um.-i
Dario vin ha ap ressad o, gu arda-chuva no braço esquerdo e, assim declaração e poderia ocorrer no texto por si .só, ao pa.s.soque parar é parte de
que dobrou a esqu in a, dim inuiu o passo até p arar, encostando-se à pa­ uma unidade maior, não ocorre por si só «mio declaração (ptxle ocorrer como
rede de um a casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçad a, ainda ordem, de.sde que na presença do interlocutor: Parar!. equivalente a Parem!).
úm ida de chu va, e descan sou n a p ed ra o cachim bo. Referimo-nos em 6.9.1 .,^.3 à distinção das ela.s.ses de palavras segundo
suas caractensticas sintáticas, isto é. conforme suas propriedades combina-
Comparando agora a versão 2 com a original, percebemos, porém, ou­ tórias e a posição que ocupam na hierarquia interna da oração’ Estas clas.ses
tras diferenças: foram introduzidas as palavras assim que e até, e três verbos são: n o m es, verbtts, adjetivos, determinantes, adv&bins. coardenuntes e su-
mudaram de forma: parou tomou a forma parar, encostou tomou a forma b ord in an tes. Repetimos o que está e.scrito naquele panigra/o: O nome é a K-i.se
encostando, e escorregou tomou a forma escorregando. As palavras intro­ do sujeito, e o verbo a base do predicado Uoãn/Ele (nome| vitijou (verho|). .\
duzidas são conectivos que explicitam a noção de tempo: assim que assinala maioria dos nomes pode vir precedida de outras palatras. os determinantes, e
um ato que precede outro; até, pelo contrário, assinala um ato que vem após seguida de adjetivos (aqu ela outra (determinantes) árvore [nome] frorulostt
outro. Já as formas parar, encostando e escorregando distinguem-se das (adjetivo]). Os advérbios serv-em para acompanhar verbos (Joào/Ele (nome)
correspondentes na versão 2 por não terem autonomia ou independência, v ia jo u (verbo] on tem (advérbio)), adjetivos (João está muito (advérbio)_/é-
isto é, por não poderem por si sós informar algum ato do personagem. Nou­ lix (adjetivo], ou outro advérbio (João acorda muito (advérbio) cedo (ad­
tras palavras, todas as orações da versão 2 se acham ligadas entre si por coor­ vérbio]). Goordenantes ligam palavras ou construções independentes ou da
denação (ou parataxe), ao passo que algumas orações da versão 3 se acham mesma função (O gato come o pieixe [oração itulepcndcnte[ /e/ocachorro rói
relacionadas a alguma outra por subordinação (ou hipotaxe). o osso [o ra çã o independente}, João (sujeito) !eJ Paulo (sujeito) viajaram).
Coordenação (ou parataxe) e subordinação (ou hipiotaxe) são, portan­ Subordinantes dão origem a - ou são indicadores de - funções novas (doce
to, dois processos de construção: a coordenação une partes do texto - pala­ (base] d e leite (modificadorj; quero (base) nue você volte (complemento)).
vras, sintagmas ou orações - formal e funcionalmente equivalentes ísentnu- Vamos insistir na última afirmação acima; subordinantes são indicado­
-sc na calçada e descansou na pedra o cachim bo), a subordinação une par­ res de funções novas. O principal efeito da subordinação é este; a unidade
tes formal e funcionalmente distintas (diminuiu o passo a té p arar). A cha­ subordinada adquire uma função sintática. Aestmtura padrão da oração em
ve desta distinção é a noção de ‘hierarquia’. Com isso estamos dizendo que português consiste na combinação de um constituinte nominal (N) na função
!io se combinarem numa construção, as unidades gramaticais - palavras, de sujeito e um constituinte verbal (V) na função de predicado'-. Sujeito e
sintagmas, orações - se associam por dois modos básicos distintos: ou elas p re d ic a d o são as funções destes dois constituintes imediatamente subordi­
se situam no mesmo nível de modo que a presença de uma independe da nados à oração. 'Y' pressupõe sempre uma oração a que vem diretamente
presença da outra (coordenação ou parataxe), ou elas se situam em níveis vinculado, o que quer dizer que sempre e.xerce a função de predicado'-’. ‘N’,
distintos, imediatos ou não, de modo que uma delas é a base e a outra serve contudo, pode ocorrer em mais de um lugar na hierarquia interna da oração.
de eomplemento ou de termo adjacente (hipotaxe ou subordinação). Essa versatilidade posicionai confere a ‘N’ a faculdade de exercer funções sin­
táticas diferentes conforme a posição que ocupa. Determirumtes, adjetivos *
I i.<> srnoui)iN.\ç.\o
Kulxirdinação - ou lii|X)taxe - significa ‘dependência’ {hipo-/sub-, ‘abaixo de’) ^ C on fom ie n tradição descritiva brasileira, a existência üe orações sem sujeito > ou dc sujeito
zero (C h o w u , Não há peixes oífui, Fct fiio esta noite) - constitui uroa excepcionalidade no sis­
e implica uma diferença hierárquica entre as unidades relacionadas. A unidade tem a siiitdtico ^ r n l do português, comprovada por um elenco ánito de verbos empregados com
suixtrdinada sempre vem contida numa unidade maior, que lhe é superior na acepções bcin específicas (cf. 9.13).
*V’ refere-se aqui ao verbo dotado de uma especificação temporal: presente, passado ou futuro.
hienirquia gnimatieal interna da oração. Nos exemplos do parágrafo preceden­ Infinitivos, gerúndios e particípios equivalem, respectivamente, a nomes, advérbios e adjetivos,
te destacamos dois conectivos: e e até. O primeiro é um conectivo de coor- cstnndo por isso sujeitos no regime gramatical característico dessas classes.
DÉCIMO UOAItTO CAflTIfU): O 1'RRlOlM) CMMhINTn
J9 6 QlIARTA rARTF. - MORFOURllA FlJ;!CIOSAL K SIST,\XK

• misturou a massa com a s m ãos /misturou a massa mtinual-


e adxíérbios são constituintes de segundo grau na hierarquia oracional, pois inente
o papel deles é sempre o de ‘acompanhante’ de outro constituinte. Isso quer
dizer que a presença de um deles na estmtura oracional implica necessaria­
> Coqjunções adverbiais (ou conjunções). Juntam-se a orações pa­
mente n ocorrência de outro constituinte - a base da construção - que o rege
ra formar sintagmas adverbiais:
e com o qual partilha, conforme o caso, certos traços morfossintãtleos me­
• Ela interrompeu a viagem porque as crianças ficaram doentes.
diante o mecanismo da concordância (de gênero, de número, de pessoa).
• Se o sapato estiver apertado, calce uma sandália.
14.7 TILVNSPOSIÇAO E TR íVNSPOSITORES • O muro de pedra balança quando o vento sopra muito forte.
Chamamos de transposição o procf.s.so pelo qual se formam sintagmas de­
rivados d e outras unidades, as quais podem ser sintagmas básicos ou ora­ > Conjunções integrantes (ou nom inalíeadores). Juntam-se a ora­
ções. Trata-se de uma mudança categorial realizada por meio de unidades ções para formar sintagmas nominais:
pertencentes a uma lista finita, chamadas transpositores. Graças à transposi­ • Ela descobriu que os bem-te-vis faziam o ninho na am endo­
ção obtém-se um número inhnito de construções a serAÍço da expressão dos eira. (cf. ‘Ela descobriu o lugar dos ninhos')
conteúdos que o ser humano é capaz de eomuniear e de eompreender. • Ainda não verifiquei ,se as torneiras estão fechadas, (cf. ‘Ain­
Para melhor esclarecer este fato, recordemos o que dissemos em 5.2 a da não verifiquei a situação das torneiras')
respeito dos processos de formação de palavras. Referimo-nos ao emprego
de sufixos e prefixos (ex.; chave/ebaveiro, capas/incapas) como um recur­ > Pronomes relativos. Introduzem orações que funcionam como
so de economia que toma possível a associação sistemática entre as formas sintagmas adjetivais;
da língua e os respectivos significados. Podemos usar o mesmo processo de- • Ainda não usei os sapatos que comprei no Natal. (cf. ‘os sapa­
rivacional um número ilimitado de vezes e produzir um número ilimitado tos com prados no Natal’)
de novas palavras. • A loja recusou as mercadorias cujas em balagens estavam
A transposição tem essa mesma capacidade. O número de orações da rasgadas, (cf. ‘mercadorias danf/icadas’)
língmi a que podemos juntar qiuindo ou embora para criar sintagmas adver­
biais é infinito, assim como é infinito o número de orações aptas a receber > Advérbios interrogativos e pronomes indefinidos. Introduzem
um qu e para tomar-se objeto de um verbo como saber. A transposição cons­ orações que ocupam o lugar de sintagmas nominais:
titui, portanto, um mecanismo que pemtite expandir infinitamente os enun­ • O guarda multou quem estacionou sobre a calçada, (cf. ‘mul­
ciados, mediante a utilização de um mimem limitado de meios - os transpo­ tou os carros estacionados na calçada’)
sitores —e de um número limitado de relações semânticas fundamentais.
• Ela quis saber quanto custavam os brincos de ouro. (cf. ‘sa­
ber o preço dos brincos de ouro’)
Espécies de transpositores
• É admirável como a aranha constrói a teia. (cf. ‘É admirável
> Preposições. Funcionam eomo transpositores quando originam
a construção da teia pela aranha’)
sintagmas (sintagmas preposicionais) que ocupam o mesmo lugar
dos sintagmas adjetivais;
V Desinências aspectuois. São o -r, o -ndo e o -do, formadores,
• leite sem gordura /leite magro
• noite de lua /noite enluarada respectivamente, do infinitivo, do gerúndio e do particípio dos
• café com açnícíir /café doce verbos. Estes afixos habilitam o lexema verbal para as funções
• viajar com os amigos /viajar acompanhado substantiva, adjetiva e adverbial.

e dos sintagmas adverbiais: U .8 SUBORDINAÇÃO DE ORjVÇÕES


• moravam nesta casa /moravam aqui Comecemos este item enfatizando uma posição que vimos assumindo ao
• acordavam au meio-dia /acordavam tarde longo desta exposição: a oração é a unidade máxima da estrutura gramati­

1
298 QUARTA PARTE - MORIQUOTiIA PUEXIONAL E SINTAXE
nél.TMO QUARTO CAPÍm .O ; o PERÍÍ íl« l Cl )MIX WITl) 299

ca l; os sintagm as, seus constituintes, desempenham funções sintáticas (su­


• “Depois porém ela falou: agora me siga até a cozinha.” |PINON,
je ito , com plem ento, adjunto) em virtude das posições que ocupam dentro
Nélida. In: BOSI, 1997: 284]
dos lim ites da oração. A estrutura de uma oração não a habilita a desempe­
nh ar um a função sintática; para ocupar o lugar de sujeito, complemento ou
adjunto, uma oração tem de ser convertida em constituinte de outra ora­
Na exposição em geral, é usado com uma variedade de funções, como
ção. Para tanto, uma oração precisa ‘se tomar’ um sintagma. Este sintagma, as duas a seguir:
criado pela com binação de um transpositor e uma matriz proposicional, é a) o enunciador explicita, mediante uma oração com verbo de
o que tradicionalm ente chamamos oração subordinada. elocução ou de elaboração mental, a autoria de um fragmento
Uma ‘oração subordinada’ é, portanto, um sintagma derivado, capaz qualquer de discurso:
de ocupar a posição de um substantivo, de um adjetivo ou de um advér­ • “Para o empregador moderno - assinala um sociólogo norte-
bio em outra oração, que chamamos oração superordenada ou principal. -americano - o empregado transforma-se em um simples nú­
O transpositor tem o poder de conferir uma classe à constmção por ele mero.” [HOLLANDA, 1977: 102]
introduzida, a saber: substantiva, se o transpositor é uma conjunção inte­ b) o autor une uma informação fundamental e outra subsidiária, à
grante; adjetiva, se o transpositor é um pronome relativo; e adverbial, se o guisa de comentário ou ressalva:
transpositor é uma conjunção adverbial. • “...ofereci-lhe o cachecol que o pintor Garybé comprou para
Tomemos para exemplo a matriz proposicional [cachorro, carteiro, mim em Buenos Aires, onde - isso me ocorreu na ocasião -
a u a n ç a r j, que, especificados os papéis relacionais, está na base de orações um cachecol tem o nome bastante pitoresco de bufanda...”
com o O c a c h o r r o av an çou no carteiro. Precedida de uma conjunção inte­ [BRAGA, 1963a: 32]
grante, a oração toma-se parte de um SN: Ela teme que o c a ch o r ro av an ce
n o carteiro-, iniciada por um pronome relativo, ela se converte num SAdj.: 14.10 GOORDENAÇÃO DE O R,\ÇÕ ES INDEPENDENTES
O c a c h o r r o q u e a v a n ç o u n o c a r te iro está solto; e encabeçada por uma Duas orações podem estar coordenadas sem que qualquer conectivo as una.
conjunção adverbial, ela entra na composição de um SAdv.: Eu chegava à Trata-se de coordenação assindética.
j a n e l a q u a n d o o c a c h o r r o a v a n ço u no carteiro. São estes sintagmas, e r O conteúdo de cada oração pode ser simplesmente adicionado ao
não as orações contidas neles, que desempenham funções sintáticas. Nos da oração anterior:
exem plos acima, temos, res|rectivaniente, um objeto direto (que o cachor­ • “Uma chuva de pedras cortou-lhe a palavra; alguém lhe pas­
r o a v a n ce no carteiro), um adjunto adnominai (que avançou no carteiro) sou uma rasteira; seus óculos voaram .” [BRAGA, 1964: 94]
e um adjunto adverbial (qiuindo o cachorro avançou no carreiro). • “As emissões de gases poluentes aumentam, o verde míngua,
os desertos avançam, as geleiras derretem.” (MINC, Carlos.
14.*.) O K A Ç Õ E .S T K X T I AI-.MENTK A U TICI LADAS SE.M V IN C Tl-O O Globo, 30/10/2007]
s i n t At i c o
Gom binam-se no texto orações sintaticamente independentes para a ex­ O conteúdo da segunda oração pode contrastar com o da primeira:
pressão de atos Uiseursivos diferentes do mesmo enunciador ou atribuídos
• “O telegrama chama-lhe mania, eu digo convicção.” [ASSIS,
a enunciadores diferentes. Trata-se, pt)rtanto, de um procedimento em que
1962: 742]
se explicita a coexistência de vozes (ver 4.5.d). Emprega-se muito no dis­
• “Agora já não éramos pequeno rebanho a escorregar num de­
curso narrativo para justapor o discurso do personagem e a explicitação de
clive: constituíamos boiada numerosa.” [RAMOS, 1953: 125]
sua autoria pelo narrador:
• “É engano, proferiu seeamente a interloeutora." |^L\Gll.íVDO,
1976: 39) p- O conteúdo da segunda oração pode ser um efeito do conteúdo da
• “Não quero é dar trabalho - murmurou tia Olívia dirigindo-se primeira:
ao quarto." (TELES, I,. K. "As cerejas”. In: BüSI, 19*17: 146] • “Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam can­
sados efam intos.” [RAMOS, 1981a: 9]
300 yi'.MlTAPARTE- >RíRFOLOGlAfLEXKíS.U. E SINTAXE níciMouü.íBTdlAUriij'; i>n.MiMiiii r.nvinviii> ■tOt

> O conteúdo da segunda oraç3o pode justificar o conteúdo da pri­ 'r Um ou associa dois fatos, duas ideias, negando a união deles:
meira: • Iremos a pé ou tomaremos um ônibus?
• “...hoje não há passageiro que não esteja lutando contra o re­
lógio: todos querem estar em casa á meia-noite." [GABEIRA, Embora radicalmente distintos quanto ã relação de sentido (lue esta­
1981b; 142], belecem, e e ou apresentam muitas características sintáticas comuns:
> Ligam sintagmas que exerçam a mesma função sintática, qual­
A relação de sentido pretendida pelo enunciador pode, porém, vir ex­ quer que .seja ela:
plícita em um conectivo; • O porteiro ou o zelador conhece o dono do apartamento,
a) de adição (conjunção aditiva): (sujeitos)
• O motorista avançou o sinal e o guarda anotou a placa do • O porteiro e o zelador conhecem o dono do apartamento,
carro (sujeitos)
• Entregue a encomenda ao porteiro ou ao zelador, (objetos
b) de contraste (conjunção adversativa): indiretos)
• O lutador era magrinho, mas derrubava todos os seus adver­ • Ofereça café a o porteiro e ao zelador, (objetos indiretos)
sários • O condomínio não pode funcionar bem sem porteiro ou sem
zelador, (adjuntos adverbiais)
c) de o p ção ou alternância (conjunção alternativa); • O condomínio não pode funcionar bem sem porteiro e sem
• Iremos a pé ou tomaremos um ônibus? zelador, (adjuntos adverbiais)

d) de esclarecim ento (conjunção explicativa); r- Ligam orações que estejam subordinadas a uma mesma oração
• “O navio deve estar mesmo afundando, pois os ratos já come­ principal;
çaram a abandoná-lo.” [WRISSIMO, E. 1975: 59] • É possível que ele volte am anhã e nos procure.
• Tenho certeza de que ele virá pessoalmente ou m andará al­
e) de conclusão; guém para representá-lo.
• Nossa equipe está bem treinada; portanto, não há motivo para
preocupações A única diferença sintática entre e e o u é que somente ou pode intro­
duzir ambas as unidades coordenadas:
Para melhor compreensão do funcionamento desses conectivos, va­ • Tenho certeza de que ou ele virá pessoalmente ou mandará
mos distribuí-los em três grupos: Grupo 1 - Conjunções aditivas e alternati­ alguém para representá-lo
vas; Grupo 2 - Conjunções adversativas; Grupo 3 - Conjunções conclusivas • Ou eu estou ficando surdo, ou você está falando baixo demais
e explicativas. • “(...) a dimensão do movimento é uma evidência literalmente
gritante do tamanho da iniquidade fundiária no Brasil, que
14.1U.1 Conjunções aditivas e alteniativas; e e ou Ou é uma ficção que milhares de pessoas resolveram adotar
A este grupo pertencem as duas conjunções coordenativas mais típicas; só para fazer barulho ou é uma vergonha nacional.” [VERÍS­
elas expressam sentidos opostos, mas são sintaticamente muito parecidas. SIMO, L. F. O Globo, 3/7/2008)
O e expressa adição ou união; o ou expressa alternância ou escolha.
^ Um e expressa a união de dois ou mais fatos, duas ou mais Nem
ideias; Emprega-se como equivalente de e não quando a primeira das orações
• O motorista avançou o sinal e o guarda anotou a placa do já se acha negada pelo advérbio
carro • Eles não nos procuraram nem (= e não) nos telefonaram.
m

DZCIMO q u a r t o CAPÍTULO; O PRRiODO COMPOfiTO 303


JO J CH’ARTA PARTE - ÍK>RP<lUir.lA Fl.RXIONAL E SINTAXE

(4.10 . 2 .\spectos semânticos das orações aditivas e alternativas


c como equivalente de ou, se a negação vier representada na primeira ora­
> E pode ligar orações que representem fatos coexistentes ou simul­
ção por um pronome indefinido como nada, nenhum, ninguém:
tâneos:
• Ninguém se inscreveu no concurso nem (= ou) pediu qual­
• Os cães ladram e a caravana passa.
quer informação.
• Era madrugada e o guarda noturno fazia a ronda.
• Os manifestantes gritavam palavras de ordem contra a polí­
A conjunção nem pode, no entanto, a.ssinalar cada uma das orações
tica econômica do governo e eram vigiados à distância por
coordenadas quando estas possuem sujeitos diferentes:
soldados da PM.
• "Nem <iN,Hociedudeii ,se constituem em uma soma de indivíduos,
nem <ui jK-ssaas tem um destino traçado pela sociedade a que per­
tencem ." I FARIA, .lenmvTuo B. de. ,lom al do Braitil, 11/5/1998|
> E pode ligar orações que expressem fatos cronologicamente se-
quenciados, associados ou não numa relação de causa e efeito:
NAo Hõ ... niHs tumhéni. não afienas... mas ainda • O sinal heou verde e os carros arrancaram em alta velocidade,
São adjuntos eonjunlivos (ver 1.1.2..“il de valor aditivo e se empregam (fatos em ordem apenas cronológica)
assinalando cada um dos slmnginas ou oraçf>cs coordenados, a fim de dar • A fumaça invadiu o quarto e as crianças começaram a tossir,
realce a amfwis (fatos em sequência de causa e efeito)
• “Fmi lais oeasifies. participavam das festixidades não apenas os • “O corpo a corpo com as amendoeiras se ativa, e temos de
morailores ilo luíeleo urliano. mas taml>ém aqueles dos sítios e fechar a janela para que o tropel do combate não se instale
fazendas dos arredores " |MELI,()e SOUZA, 1997; 113] em nosso peito.” (ANDRADE, 1973: 992] (fatos em sequência
• proliferação dos ean(‘>es-|v>stais não somente estava asso­ de causa e efeito)
ciada ã diliisão de novas léenieas de reprodução, mas, sobre­
tudo. iniegrava-se ás conquistas advindas da revolução tecno- > E pode ligar orações entre as quais haja uma relação de contraste
eientiliea " ISKVCKNKO. UWK: 429] ou oposição, geralmente com a presença de um não na segunda;
• IV|siis do iiaseiiiiento da criança, os dois velhos arqui-inimi- • “...o diabo do cachorro mal acabara de nascer e já me âtava
gos não u|X'iiiis \oiiarani a se falar, mus ainda criaram o cos­ com um jeito tão carinhoso que seria impossível abandoná-
tume de toiear presentes no Natal -lo.” (ANDRADE, 1973; 670]
• "Santiago de ()oin|sistela e eertamente um dos lugares onde • “A natureza precisou de milhões de anos para formar esta ca­
não Ml se rexvlH' o mipaeio do mito. nias onde se pude tam- verna e o senhor pretende destruí-la em poucos instantes; não
ÍH'm i.sinstatara sua xerdaile ” |.MK.NI>E.S. 1994: 1124] posso tolerar esta contradição.” (MENDES, 1994: 1103]
• "Nes.ses ilias de liorí/onies tão mais acanhados, quando não • .Minha mãe fez o bolo e eu não comi sequer uma fatia
Mi os grandes autores e s tã o esea.ssiKS. mas em que a própria • "Falta cerca de um mês para o início do maior evento esporti­
arte esta sol> sies|X'ita ( ). tahez não seja de.seabido encon­ vo do mundo e o público francês ainda nõo parece contamina­
trar iia pnip.-iganda aquilo que Sartre procurava na literatu­ do pelo vírus da bola.” (Jomaf do Brasil, 14/5/1998]
ra " |F'o//iii il»-.V/iiuío I4/Iw'l'»iqj
'' Quando a primeira oração é modalizada como ordem, advertên­
No ultinui e.veiuplii. os ctaistrui,sVs qianu/o os grtiruíes un/orv.s e.srõo cia. desejo, a segunda oração, introduzida por e, exprime o efeito
ç.setj.s.so.s- c em qiic o pnqina o n c esia .sob sustKtta são sintagmas adjetixos adicional que se quer produzir:
ou . oxiiiio se diz tradieioiialinente. oraç«V-s axijetixas coorxlenadas entre si • Tome uma medida desse xarope de oito em oito horas, e essa
lucxliaiile xes axljuntos eMiiiiuitixos (xer 1.1 2 .s) rkãi .so . . nuis - xisto que
tosse vai desaparecer em três dias.
a m bas tèiu como antwedente a expressão circunstanciai .Vcsst’s* d ia s de
• "Dessem-lhe carinho, e o homem cheio de alfinetes e nava­
h n n a u tu e s uio iikiis ai.xtnluuUis
lhas se aveludava.” (tVNDRADE, 1973: 975]
I>^:iu<i m .«HTII I ,1 0 5

> Introduzida por ou, no entanto, a segunda oração exprime o efei­ 14.10.3 Conjunções adversiitivas
to ■alternativo’ que se quer evitar: Aconjunção adver.sativa típica é m as. Ela expressa basicamente iiinn re­
• Molhe as plantas todos os dias, ou elas vão morrer secas. lação de contraste entre dois fatos ou idéias. Este valor contrastivo pode
• Essa chuva precisa passar logo, ou teremos de dormir aqui. consistir:
• Ele mandou que molhássemos as plantas todos os dias, ou a) em uma simples oposição de dois conteúdos:
elas morreríam secas. • A secretária dele é antipática, mas competente.
h) na quebra de uma expectativa criada pela primeira proposição:
Com este valor, ou não coordena orações subordinadas. É agramatical • O lutador era magrinho, mas derrubava todos os .seus adver-
a construção: *£fe m andou qu e m olhássem os a s plan tas todos os dias, ou
que elas m orreriam secas.
O fato ou ideia introduzido por m as recebe um realce em faee da ideia
No primeiro exemplo, a oração vem modalizada pela forma imperativa anterior e se impõe à atenção do ouvinte ou leitor, funcionando como ar­
{Molhe); no segundo, pelo verbo p recisar. gumento para os efeitos de sentido que o enunciador pretende produzir.
Comparem-se os efeitos de sentido extraídos das frases abaixo:
> Ou ocorre precedendo cada uma das orações quando a primeira • Ela é antipática, mas competente.
delas não contém qualquer elemento responsável por sua mo- • Ela é competente, mas antipática.
dalização:
* Ou eles se agasalhavam bem, ou morreríam de frio. Enquanto a primeira frase, de efeito positivo, realça e valoriza a com­
• “Ou se estabelece de uma vez por todas que a prerrogativa de petência e a retrata como uma compensação para o defeito-, a segunda, de
emitir moeda é exclusividade da autoridade monetária, ou o efeito negativo, realça a antipatia, desmerecendo a qualidade.
Brasil jam ais se livrará do fantasma do déficit público.” [Jor­ Consideremos agora a relação expressa por m as em:
n a l d o B rasil, 27/4/1998] • A bola bateu no espinho, mas não estourou.
• Meu vizinho tem três filhos, mas nenhum é médico.
Ora ... ora, qu er ... quer, seja ... seja, quer ... ou, seja .,. ou
Estes adjuntos conjuntivos empregam-se para dar realce a todas as Certos contrastes parecem mais óbvios do que outros. Seguramente,
alternativas do enunciado: 0 contraste efetuado pelo mas no primeiro dos dois exemplos anteriores é
• “Na zona árida há matutos que ... ora se dedicam a misteres mais óbvio do que no segundo. O primeiro se sustenta no pressuposto con­
pacíficos, ora aderem aos grupos de bandoleiros.” [RAMOS, sensual de que ‘os espinhos normalmente perfuram as bolas’, já o segundo
1981b: 133] aciona um subentendido que pode variar de interlocutor para interlocutor.
• “As autoridades procuraram evitar a formação desses núcle­ Um deles é o de que meu vizinho é médico.
os solidários, quer destruindo os quilombos, (...), quer repri­ Em um exemplo como
mindo os batuques e os calundus promovidos pelos negros.” • “A polícia não tem pistas dos ladrões, mas as falhas na segu­
[MELLO e SOUZA, 1997: 342] rança do museu são evidentes.” [O Globo, 14/2/2007],
• As cons podem voltar a transportar passageiros, seja para aten­
der a uma demanda real de pessoas insatisfeitas com os ônibus, 0 conteúdo da oração adversativa não se contrapõe à afirmação de que a
seja para reduzir o número de motoristas desempregados. polícia não Cem pistas; na verdade, ela oferece um argumento para atenuar
0 pressuposto de que compete à policia encontrar pistas para esclarecer o
No terceiro exemplo, seja... seja pode ser substituído por qualquer dos delito. Noutras palavras: a polícia não tem pistas - e nem poderia ter - por­
demais pares de conjunções alternativas. que 0 sistema de segurança é incapaz de produzi-las.
306 QUARTA PARTE - MORPOUXIIA F1.EXIOSAL E SINTAXE DÉCIMO QUARTO UArtTUIO: o PERIono (TlMhWTO 307

5^ Para ftns de ênfase, utiliza-se após o m as uma ou outra expressão • Comprei os ingressos para o cinema, entretanto dei.tei-o.s no
com que se acentua uma ou outra variação daquele significado bolso do paletó, (entretanto = infelizmente)
básico: em c o m p e n s a ç ã o , a p e s a r disso, ain d a assim , de fa to , na
v e r d a d e , p o r ou tro la d o ,felizm en te, ir^elizmente etc. A confusão entre os papéis conectivo e adverbial dessas formas talvez
• Comprei os ingressos para o cinema, mas infelizm ente deixei- e.tplique o emprego redundante do conectivo e do advérbio, como nos .se­
-os no bolso do paletó. guintes exemplos:
■ Eles já estão velhos, mas ain da assim têm um fôlego de Jovens. • Eles já estão velhos; apesar disso, contudo, ainda têm um
• Os assaltantes levaram todo o dinheiro que tínhamos, mas fôlego de jovem.
felisrm en te não nos maltrataram. • comprei os ingressos para o cinema; infelizmente, entretanto,
• Peguei o primeiro táxi que encontrei, mas, a p esa r disso, che- deixei-os no bolso do paletó.
guei atrasado à cerimônia.
Nos seus empregos puramente adverbiais, essas unidades podem ocor­
> Tanto quanto e e ou, m as pode ligar orações que estejam subordi­ rer no interior da oração, mesmo que esta seja precedida por um e ou por
nadas a uma mesma oração principal: umconectivo adversativo:
• É provável que esses animais sobrevivam em cativeiro, mas • “Manuela era uma dessas mulheres desiludidas do amor, e
(que) não se reproduzam nessas condições. que, entretanto, se guardam toda a vida para um homem des­
conhecido.” [MACHADO, 1976: 215]
> O nuxs pode ser usado como meio de focalização (cf. 4.5.Ó.2.3.2.3) • “Vivemos num mundo curioso. Tudo o que nele ocorre é glo­
de uma circunstância: bal, universal e uniforme e, no entanto, os eventos que mais
• Entre, mas sem fazer barulho (Compare com ‘Entre sem fazer chamam a atenção são os que têm um feitio único, singular,
barulho’). especial.” [DAMATTA, Roberto. O Globo, 23/1/2008]
• Sabíamos que ele voltaria à cidade e que, todavia, jamais pro­
> Antecedido de não, o m as - e sua variante mais formal, senão - curaria os velhos amigos.
expressa uma focalização contrastiva: • “Mais de um terço do que se pagou com o uso do telefone vai
• “Contrariamente ao que se pensa, (a águia) não mata com o para os cofres estaduais sem que o estado tenha, no entanto,
bico, mas só com as garras que funcionam como punhais.” qualquer responsabilidade, interferência ou participação nes­
[BOFF, 1998: 58J se tipo de serviço.” [O Globo, 29/3/1998]
• “Deve ser um suplício para aquele asmático andar de elevador. • “(Dom Hélder) amou de todo o coração essa igreja que tanto
N ão porque tenha fobia desse meio de condução, senão pelo quis ver renovada e que, no entanto, jamais concedeu-lhe o
terror que sua asma causa aos outros.” [MACHADO, 1976: 82] merecido título de cardeal.” [Frei Betto. O Globo, 31/8/1999]

P orém , contudo, entretanto, no entanto, todavia Estas unidades também não podem ligar orações subordinadas, como faz
Estas palavras são tradicionalmente elassificadas eomo conjunções, 0 mas. Por isso, é anômala a construção *É provável que esses animais sobre­
mas têm características que as assemelham a advérbios - como a mobilida­ vivam em cativeiro, entretanto qu e não se reproduzam nessas condições.
de posicionai na frase —e comportam-se como verdadeiros equivalentes de
‘ainda assim’, ‘infelizmente’, ‘pelo contrário’, ‘apesar disso’ etc. Para outros l-l.lü.4 Conjunções —e adjuntos eonjuiitivos - de conclusão c
detalhes sobre estes advérbios, ver 13.2.5, onde se discriminam os adjuntos de explicação
conjuntivos. Os adjuntos conjuntivos (ver 13.2.5) portanto e logo expressam uma rela­
• Eles já estão velhos, eontudo ainda têm um fôlego de jovem. ção diversa de m as, já que introduzem uma oração que exprime a continu­
(contudo = apesar disso) ação lógica do raciocínio iniciado com a oração anterior:
O f ARTA PARTT. - MtWt>LCK'.IA FI.EXIOSAL E SISTAXE
DÉCIMO Ül'ARTO CAPÍTlJUi: O PEkkilM) (X)klIX)8TO JOO

• As águas baixaram um pouco; logo (ou portanto), já podemos No uso ainda mais coloquial, a forma usual é aí:
atravessar. • A polícia já chegou atirando pro alto, (e) aí a confusão foi geral.

O uso de mas nos obrigaria a dizer exatamente o contrário:


Obs.: A natureza adverbial dessas formas - tradicionalmente classiíi-
• As águas baixaram um pouco, mas ainda não podemos atra­ cada.s como conjunções - permite que a elas se junte uma autêntica con­
vessar.
junção, como no seguinte exemplo:
• “Se os piratas lotam o mercado de falsificações, a indús­
Se invertermos agora a ordem das orações, o raciocínio formulado no
tria não consegue vender muito, não refaz seu caixa e, por­
primeiro exemplo será expresso pelo conectivo pois ou porque, que são
tanto, não pode continuar investindo em pesquisa.” [Vefa,
conjunções explicativas:
26/11/1997]
• Já podemos atravessar, pois (ou porque) as águas baixaram
um pouco.
De modo que, de sorte que, de maneira que, dai que
Estes conectivos são de coordenação quando, anunciando um efei­
P ortan to (ou íogo) introduz a conclusão que se tira de um fato ou ideia;
to ou conclusão do fato anterior, introduzem uma oração com verbo no
pois/porque introduz o próprio fato. Pode-se também dizer que pois/porque
modo indicativo. Diferentemente de formas como então, por isso, portanto,
inicia um argumento para uma tese/opinião ou uma atitude expressa na
consequentemente - que, como advérbios, podem deslocar-se e combinam
oração anterior:
livremente com e - aquelas unidades são conectivos puros, ocorrendo obri­
• Tínhamos obrigação de ganhar o jogo (opinião/tese), pois nos­
gatoriamente antes da oração:
sa equipe estava mais preparada, (argumento)
• No alto da serra fazia muito frio, de sorte que os montanhistas
• Levem agasalhos (atitude), porque no alto da serra a tempe­
decidiram vestir os agasalhos
ratura é muito baixa, (argumento)
• “Ao crermos no catecismo da Terceira Via, a nação é um dado
Se começarmos o período pelo argumento, a oração seguinte - que cultural e não econômico-político, de sorte que a questão da
contém a tese/opinião ou expressa a atitude - virá introduzida pelo advér­ soberania do Estado-nação não pode mais ser tratada como
bio conjuntivo de conclusão: soberania política e como regulação econômica.” [Marilena
• Nossa equipe estava mais preparada (argumento); logo, deví­ Chauí. Folha de S.Paulo, 19/4/1999]
amos ganhar o jogo. (opinião) • “O enterro foi no Chile, após o golpe, de modo que nossos
• No alto da serra a temperatura é muito baixa; portanto, levem livros e discos possivelmente caíram nas mãos da polícia.”
agasalhos, (atitude) (GABEIRA, 1981b: 141]
• “Empurradas para o mercado de trabalho, as mulheres não
P or conseguinte, consequentemente, por isso e então aceitavam mais ser posse passiva de seus maridos, daí que a
Estes adjuntos conjuntivos também expressam conclusão e podem primeira bandeira de sua luta foi contra a violência em casa.”
substituir portanto e /ogo nos exemplos precedentes. A diferença entre eles [Veja, 26/11/1997]
está no grau de formalismo: por coM.scguítite e consequentemente só ocor­ • “Atualmente é difícil encontrar rua que não tenha sequer um
rem em usos ultraformais da língua, e praticamente só se encontram na problema de asfaltamento, de forma que dá para fazer um
modalidade escrita; por sua vez, então e por i.sso são coloquiais. mapa da cidade tendo apenas como referência os buracos das
Por ÍS.SO e então são usuais no discurso narrativo, opcionalmente pre­ ruas.” [KRAMER, Dora. Jornal do Brasil, 16/2/1998]
cedidos da aditiva e. para a associação de fatos que se sucedem no tempo e
se relacionam como causa e efeito: Tanto (assim) que
• No alto da serra fazia muito frio, (e) por isso (ou então) ves­ Trata-se de um conectivo explicativo, introdutor de um fato que serve
timos os agasalhos.
de argumento para uma opinião ou tese:
DtílIUO QUARTO CAPÍTULO: O PERÍODO COMPaSTO J I I

31 0 quarta PARTE - M ORFOLOGIA FLEXIONAL E SINTAXE

a) com predicados do tipo É possível (que + oração):


• O menino encantou Berlim —tanto que os jurados mais en­ • É possível q u e P edro e Ana tenham viajado.
tusiasmados chegaram a cogitar seu nome para o prêmio de • Parecia evidente q u e eles não devolveríam o dinheiro.
m elhor ator.” [Veja, 4/3/1998] • Não é justo q u e eles ganhem m ais do que nós.
• “O cuidado do poeta com a filha extrapolava sua carreira de • É verdade Cfue a s p ra ia s d a ilha vão ser despoluídas?
escritora, tanto que os ciúmes a perseguiam mesmo depois • Não ficou claro s e o s trabalhadores terão reajuste salarial
que ela se tomou uma mulher madura.” (O Globo, 1/3/1998] este mês.
• “O processo é inusitado nos meios forenses do país, tanto que • “É incrível q u e m ais um a vez um patrimônio público tenha
o caso Já foi incluído para análise e provas em cursos e con­ sido destruído pelo fogo." [Jom al do Brasil, 15/2/1998]
cursos jurídicos do Brasil.” [Jom al do Brasil, 11/5/1998]
• “Nenhum povo ou raça é por definição melhor ou pior do que b) com predicados do tipo Acontece (que + oração):
outro, tanto assim que é indiferente para as costelas apanhar • Acontece q u e nem todos os em pregados tinham carteira
de um inglês ou de um invasor do Leblon.” [RIBEIRO, J. U. assin ada.
O G lobo, 28/6/1998] • Consta q u e o Novo Código d e Trânsito j á está em vigor.
• Não parece q u e eles tenham pressa desse serviço.
1 4 .1 1 OR.\ÇÕE,S .SI BST.\NTI\'.\S
C ham am -se orações substantivas os sintagmas nominais resultantes de c) com verbos na voz passiva:
transposição de uma oração. • É sabido q u e o hom em não conviveu com os dinossauros.
• Foi noticiado q u e a s m oedas antigas sairão de circulação.
1 4.1 1.1 Características fiimiais • Não se pode permitir qu e os deputados nomeiem seus pró­
Podem vir anunciadas por um transpositor e apresentar o verbo em forma prios parentes.
finita —‘orações desen\’olvidas' • “Estava previsto q u e o avião d a FAB abastecería duas vezes
• Ela descobriu tptc os bem-te-visJasdam o ninho na amendoeira.
durante o percurso. ” [O Globo, 15/2/1998]
• Pergunte ao guarda se podem os deixar o carro estaciem ado
OifUi. > Desenvolvidas, introduzidas por pronomes indefinidos ou advér­
• Q u e m sa isse por último apagaria as luzes.
bios interrogativos:
• Quem g osta d e cin em a não pode perder esse filme.
ou apresentar o verbo no infinitivo - "orações reduzidas’:
• Quem n a sce n a G u atem ala chama-se guatemalteco.
• Eles preferiram voltar d a /esta a pé.
• O qu e c a i n a red e é jjeixe.
• ^Vinda não foi definido quantas cidades o governador vea visitar.
1 4 .1 1 .2 ( àirueterístieas funcionais
• Já está decidido qu an d o serão a s próximas eleições para
Exercem as mesmas funções que o sintagma nominal é capaz de exercer,
prefeito.
a saber; sujeito (oração subjetiva), objeto direto (oração objetiva direta),
• “Quem j á acu m u la h oje aposentadoria com cargo público
v om pletn cn to relativo (oração cximpletiva relativa), com plem ento predica-
tiv o (oração predicativa), complemento nom inal (oração completiva nomi­ tem direito adquirido.” [O Globo, 15/2/1998, p. 11]
nal) e a p osto (oração apositi\’a).
•A1 1 . 4 Orações objetivas diretas
1 4 .1 1 .3 Orações subjetivas Distinguiremos os seguintes tipos;
Distinguiremos os seguintes tipos; Desenvolvidas, introduzidas pelos nominalizadores que ou se:
f' Desenvolvidas, introduzidas pelos nominalizadores qu e e se: a) complementos de verbos transitivos que expressam atitude, ver­
balmente manifesta ou não (pedir, declarar, proibir):
312 QUARTA PARTE — MORFOLOQIA FLEWONAL E SINTAXE
ÜÍCIMO QUARTO CAPÍTULO: O PERÍODO COMPOSTO 313

• J ú li a p e d iu q u e a a c o m p a n h ú ssem o s até a estação.


14.11.5 Orações completivas relativas
• C> P re fe ito d e c la r o u q u e c o n clu irá todas as obras até o fim
Asorações completivas relativas servem de complemento a verbos que vêm
d e s e u m a n d a to .
necessariamente seguidos de preposição (duvidar de, confiar em, insistir
• O s e r v iç o d e m eteo ro lo gia an un ciou que as chuvas de Janei­ em, gostar de, corresponder a etc.). Esta preposição ocorre obrigatoria­
ro c a u s a r ã o transtornos à cidade. mente se o complemento relativo tem como base um substantivo, um pro­
• O p o rte iro p e rm itiu q u e vá ria s pessoas entrassem na festa nome ou um irifinitivo :
s e m c o n v ite . • Não duvide dos m inhas palavras.
• O I B A M A p r o i b i u q u e o s turistas visitassem a reserv a m a ­ > Sonhei com m eu pai.
rin h a . • Nós só confiamos em você.
• V á r io s b a n h is ta s eW tarani q u e o filhote de baleia encalhasse • Pensei em v o lta r m ais cedo.
n a p r a ia . • Eles insistiram em fic a r mais tempo.
• P e rg u n te i ao guarda se podemos estacionar deste lado da rua.
> Se, entretanto, o complemento relativo é uma oração precedida
h) c o m p le m e n to s de verbos transitivos que expressam percepção do nominalizador que, podem ocorrer três situações distintas:
in tu itiv a , scn so rial ou intelectual (saber, supor, perceber, desco­ a) as preposições de e em são opcionais no registro formal, e não
b r i r , v e r ific a r, im agina r, verificar): ocorrem no uso coloquial;
• E la p e rc e b e u q u e faltavam dois pães na cesta. • “Insisto em qu e o problem a de níveis é um problema muito
• O b s e r v a m o s tpie o .sol ainda não tinha se posto com pleta- rruxis sério do que se pensa.” (RODRIGUES, 1996: 233].
rn en te. • “Gregório Bezerra, líder comunista pernambucano (...) lem­
• Im a g in e i q u e os gerãnios estivessem florindo. bra-se qu e seu patrão, um senhor de engenho que vivia em
• D e s c o b ri q u e gatos c cachorros podem viver em harm onia. Recife, com prou um a casa com muitos cômodos.” [SEV-
• O s alun o s não sabiam se as aulas seriam suspensas. CENKO, 1998: 404).
• A n t e s de sair. sem pre verifico se todas as ja n ela s estão f e ­ • Duvido (de) qu e eles nos encontrem aqui.
chadas. • Eles insistiram (em) qu e estavam com a razão.
• Não se esqueça (de) que am anhã é meu aniversário.
c) c o m verb o s transitivos que expressam vontade (desejar, querer, • “Os entusiastas do ideal científico se esquecem, muitas vezes,
esperar): que não existe um a ciêruria, m as uma pluralidade de ciên­
• N ós esperavam os q u e v<K‘ês pa,ssassem o Natal em nossa
cias.” (MELO, 1963: 8 8 ]
casa.
Obs.: A preposição em é obrigatória, contudo, junto a uma classe de
• D esejei q u e aquela fa s e d e adaptação fo sse muito breve.
verbos cujo complemento significa algo como um atributo do sujeito:
• A s crian ças prvfciem q u e o lanche seja servido na v a ran da.
• O defeito desse projeto está {reside, consiste etc.) em que ele
só beneficia os grandes latifundiários.
> Desen\'olvidas, introduzidas por pronomes indefinidos ou po r ad­
vérbios interrogüti\’os;
b) a preposição a permanece antes do nominalizador se o verbo é
• Encontrei t/uem eu estava procurando.
pronominal
• Não pudemos saber q uan to s aviões fo ra m abatidos d u ra n te
a batalha.
• O treinador opôs-se a que o repórter entrevistasse os jogadores.
• Eles não re\'elaram onde o presidente passou o fim de semana.
mas pode ser suprimida nos demais casos
• “O inchaço abrupto e insalubre sofrido por São Paulo não obs-
tou que os setores sociais m ais abastados e médios fossem
314 QUARTA PARTE - MORPOLOOIA FLEX10SAL E SINTAXE n e c ru o u u A R m i'.Armn.(i: (>PF.HI(ini>mui^>>mi ,t / .t

agregando-se (...) em novos e amplos bairros." [SEVGENKO, Obs.: Creio que devem ser incluídas entre as completivas nominais as
1998: 175] orações introduzidas pelo pronome indefinido quem que complementam
umparticípio na voz passiva;
c) as demais preposições desaparecem diante do nominalizador: • “Não existia nenhum retrato de Tíradentes feito por quem o
• Ela sonhou que tinha ficado rUxi. (desaparecimento sistemá­ tivesse conhecido pessoalmente." [CARVALHO, 2003: 65]
tico da preposição com)
• “Quem se apaixona por ópera tenta sempre o proselitismo. Não 14.11.7 Orações predicativas
se conforma qu e outros sqam hostis ou indiferentes a esta Aoração substantiva exerce a função de predicativo quando se relaciona ao
fo r m a d e arte tão poderosa.” [COLI, Jorge. Folha de S.Paulo, sujeito da oração maior por meio do verbo ser:
6/4/2008] (eliminação sistemática da preposição ‘com’) • Minha desconfiança é que os ingressos ja terminaram.
• O último boato é que a empresa encerrará suas atividades
1 4 .1 1 .6 Orações coniplctivas iiominai.s antes do fim do ano.
Uma oração substantiva pode servir de complemento a certos subs­ • A hipótese da polícia é que o assassino tenha entrado pela janela.
tantivos abstratos, adjetivos e advérbios, aos quais se une por meio de • “Outra convenção do cinema desmentida pela realidade era que
uma preposição opcional. Trata-se das orações substantivas completivas um golpe atrás da cabeça nocauteava qualquer um." [VERÍS­
SIMO, L. F. O Globo, 29/5/2008]
nominais;
• Temos certeza (de) que eles voltarão logo.
• Estou desconfiado (de) que os ingressos já terminaram. Obs.: Dois períodos tendem a exprimir a mesma ideia, apesar da dife­
rença sintática das respectivas orações substantivas, se as bases a que estas
• A esperança (de) que eles estejam vivos me consola.
se ligam forem semântica e formalmente relacionadas:
• “O artigo 16 da Constituição diz que leis não podem alterar as
• Esperávamos que eles voltassem antes do anoitecer.
regras eleitorais, mas há uma dúvida se essa limitação aplica-
• Tínhamos esperança de qite eles voltassem antes do anoitecer.
se a emendas constitucionais.” \Jorruzl do Brasil, 5/9/1997]
• Estávamos esperançosos de que eles voltassem antes do
• “Não pretendo entrar no debate se Tíradentes era líder ou
anoitecer.
mero seguidor...” [CARVALHO, 2003: 57]
• “A cada chegada da reforma à pauta de votações houve uma
^ É comum que a preposição selecionada pelo nome ressurja opcio­
razão diferente para quefosse derrubada.” [Jornal do Brasil,
nalmente entre o verbo ser e a oração predicativa, quando aquele
22/11/1999]
nome funciona como sujeito:
• Minha impressão era de que os cavalos estavam dopados.
> Substantivos como ideia,fato, hipótese, boato servem para mo-
• O alerta do salva-vidas foi para que os banhistas evitassem o
dalizar o conteúdo das orações completivas:
local das pedras.
• A polfeia trabalha com a hinótese de qtie o assassino tenha
• “Por qualquer ângulo que se observe, a conclusão g de que o
entrado pela janela.
programa de privatíxação não avançou este ano.” [Jomal do
• Corre um boato (de) qrue a empresa encerrará suas ativida­
des antes do fim do ano. Brasil, 29/11/1999]
• “...a previsão lógica é de que o número encolhajbrtemente quan­
• “Não nos ocorre Jamais a ideia de que para nós a com preen­
são do fenôm eno romântico se reveste de uma im portância do as empresas espelho da telefonia fixa entrarem no mercado
capital.” [MELO, 1963: 143] oferecendo aparelhos fixos...” [Jomai do Brasil, 29/11/1999]
• “Não deve constituir motivo de surpresa o fato de qu e a s nos­
sas elites jam ais tenham podido transmitir ao povo a s idéias A versatilidade do verbo de ligação ser permite, até mesmo, que
que receberam da Europa." [MELO, 1963:142] um mais variado grupro de estruturas participe da relação sujeito-
predicativo:
316 o i ’.krta ta r te - m o r f o u x ; e\ r ^ io n a l e juxt.vxe
lifrlM t» UI AHTii lA T lT n » 1
I IT.RI t|M> M iMTiMnt

• Estas fotografias são de quando meu avô era alfaiate. c as especificações morfossintaticas (gênero c luimcro) do termo iintece-
• O prêmio é de quem possui o bilhete. dente. Na fala espontânea, nas variedades populares da língua e na e.serita
• Minha maior preocupação é quando preciso dirigir à noite. de pessoas com baixa cscolarização, porém, praticamente só se emprega a
• “Acho que o verdadeiro risco é quando cessar o qfeito da forma que, que tende a perder a condição de forma substituta - pronome
n ovidade e tudo voltar ao normal." (VENTURA, Zucnir. O anafórico - de um antecedente em proveito da função piiramente eonec-
Globo, 9/7/2008] tiva'*. Daí variações como O vestido que ela gostmUO vestido de que (do
qual) ela gostou. Tenho um am igo que o f)ai (dele) é rruirceneim/Tenho um
1 4 .1 1 .8 Orações apositivas amigo CUJOpai é m arcen eiro, O cam in ho que eu vim é tranquilo/O cam i­
Nominalizada por um que ou um sc, ou sob forma infinitiva, uma oração nho pelo qual (por on de) eu vim é tranquilo.
pode servir de aposto a um sintagma nominal da oração principal: Trata-se de um uso que já migrou definitivamente para a e.serita menos
• Ele só pediu um favor: que o tirassem daquele hospital. formal, como a da crônica jornalística e da literatura mcmorialística:
• “A mim contaram-me o seguinte: que um grupo de bons e • “...(o mais político dos intelectuais) havia escrito uns livros e
velhos sábios ... começaram a reunir-se todas as noites para era membro de uma dessas academias que eu já não me lem­
olhar a lua." [MORAES, 1986: 520] bro d o nom e." (Roberto DaMata. O Globo, 25/10/2006]
• “...tive vontade de escrever sobre um gigante (...) Um gigante
Obs.: As orações apositivas desenvolvidas são muito menos frequentes que fazia coisas terríveis que me amedrontavam mas que eu
do que as demais substantivas, e empregam-se com a intenção de dar realce gostava d ele porque, no final de tudo, ele sempre tirava de um
à informação que elas contêm. alforje de couro um brinquedo...” (CONY, C. II. 1995: 110]
• “Ilá circunstâncias da vida que só quando passam nos pergun­
1 4 .1 2 ORAÇÕES .ADJETIVAS
tamos como foi possível conviver com elas." (Rosiska D. de
Uma matriz proposicional pode ocorrer no texto sob a forma de um sintagma
Oliveira. O G lobo, 2/7/2008]
adjetivo, tradicionalmente conhecido como ‘oração adjetiva’. A respectiva
• “Na falta de uma linguagem universal talvez se deves.se buscar
transposição é efetuada por um pronome relativo, uma espécie de palavra
um gosto universal, neste momento em que o que a Huma­
que preenche cumulativamente três funções: anafórica (retoma ou reite­
nidade mais precisa é d e algum a coisa, qualquer coisa, em
ra um antecedente), conectiva (insere a oração transposta na construção
comum.” (VERÍSSIMO, L. F. O Globo, 23A)/2004]
maior) e sintática (é sujeito, complemento ou adjunto na oração transposta):
O cachorro está solto / O cachorro atxinçou no carteiro. O cachorro que
avan çou no carteiro está solto. Este que retoma o antecedente o cachorro. São as seguintes as funções que o pronome relativo pode desempenhar:
Insere a oração o cachorro avançou no carteiro na construção O cachorro Sujeito:
qu e avançou no carteiro e exerce nesta construção a função de sujeito. • O guarda multou os carros que estacionaram na calçada, (que
A construção mencionada acima exemplifica uma forma muito comum = os carros)
de relativização, de função restritiva. Sua importância na interlocução con­
siste em contribuir para delimitar o raio de referência do antecedente; por Objeto direto:
m eio da oração adjetiva especifica-se o cachorro (que avançou no car­ • As frutas que comprei na feira estão guardadas na geladeira.
teiro) e se aduz uma informação pertinente para a informação contida no (que = as frutas)
predicado da oração maior (está solto). Pragmaticamente, esse enunciado
pode servir para realizar um ato de fala destinado a produzir um alerta. Complemento relativo:
No uso escrito padrão, os pronomes relativos podem apresentar uma • Ainda não juntei todo o dinheiro de que preciso para comprar
variedade de formas (cujo, quem, quanto, o qual/a qual/os quais/as quais), a bicicleta, (que = todo o dinheiro)
pre^e;<|yjas ou não de preposição, segundo as respectivas funções sintáticas
“ Cf. BEGUARA 11990: 2011, <lu® Ih® cham a 'relativo universal'.
31H Ul'ARTA PARTE - MORFOUXIIA TEEXIONAL E SIST.VXE n íciM ii o iiA im i d rKKIiiiKi c iim iiw t o ■7J0

Complemento nominal: Observa-.se que estas formas não são empregadas quando vêm imedin-
• A pessoa com quem fiz o primeiro contato não trabalha mais tamente precedidas pelo antecedente, a menos que entre elas c este ocorra
na empresa, {quem = a pessoa) preposição ou alguma pausa, como nas orações adjetivas explicativas:
• “42% da população mundial enfrentam os efeitos dessa corro­
Agente da pa.ssiva: são na renda das pessoas, a qual o Brasil conhece tão bem.”
• A velhinha ainda se recordava do nome do bombeiro por (LEITÃO, Míriam. O Globo, 2/7/2008]
quem tinha sido salva, (quem = o bombeiro)
3) O pronome cujo ocorre sempre antes de um substantivo com o
Predica tivo: qual concorda em gênero e número:
• Ninguém se esquece do jogador extraordinário que Garrincha • O governo indenizará as famílias cujas (fem. pl.) ca sas (fem.
foi. (que = o Jogador extraordinário) pl.) a enchente destruiu

Adjunto adverbial: 4) A forma o que tem dois empregos típicos como pronome relativo:
• O cofre em que ela havia guardado as joias estava vazio, (que a) em substituição opcional ao que quando o antecedente é o prono­
= o cofre) me indefinido tudo:
• A casa onde o e.scritor viveu é hoje um centro de pesquisas. • “De maneira muito abreviada, podemos lembrar que tudo
(onde = a casa) o que surge no mundo luta para [>ermanecer, e que a chave
• Ficamos revoltados com o modo como ele nos tratou, (como para tal se encontra na capacidade de produzir continuida­
= o modo) de.” [KATZ, Helena. “A dança, pensamento do corpo”. In NO­
• Eles embarcam na sexta-feira, quando saem de férias, (quan­ VAES, 2003: 266)
do = na .sexta-feira)
b) dando início a uma oração adjetiva explicativa, na qual se comen­
Adjunto adnoniiniil: ta o conteúdo de uma proposição, em geral precedente:
• U carro ci</o pneu estava furado continua no estacionamento. • “Os americanos, através do radar, entraram em contato com a
(cujo = (d)o carro) lua, o que não deixa de ser emocionante.” [BRAGA, 1964: 49]
• “A (lauta feita há nove mil anos tem sete orifícios e é capaz de
Obs.: produzir sons elaborados, o que surpreendeu os cientistas.”
1) O pronome relativo quem só pode ocupar o lugar de um substan­ [O Globo, 23/10/1999]
tivo referente a um ser humano, mas por vir sempre precedido de
preposição, jamais exerce a função sintática de sujeito. Isto não I I.I2.I Oraçõe.s adjetivas restritivas c iião restritivas
o impede, contudo, de, precedido em geral pela preposição a, ser As orações adjetivas cujo conteúdo é relevante para a identificação da en­
complemento de um verbo transitiva direto (objeto direto): tidade, ser ou objeto a que se refere o antecedente do pronome relativo
* O advogado que (ou a quem) consultei me deu esperança de chamam-se restritivas:
ganhar esta causa. • Ainda não li as cartas que recebi ontem.
• O médico com quem conversei me deu boas notícias.
2) As formas o qual, a qual, os quais, as quais são escolhidas em
concordância com o gênero e o número do antecedente; Nestes exemplos, as orações adjetivas (que recebí ontem e com quem
• Recuperei pelo menos os óculos (masc. pl.), sem o s q u ais conversei) delimitam a parte de um conjunto (conjunto de cartas, conjunto
(masc. pl.) eu não podia trabalhar. de médicos), restringindo a essa parte a referência do sintagma nominal an­
tecedente. Quando, entretanto, o conteúdo da oração adjetiva não contri-
330 CHAUTA r.urre - morfoux -.ia flexionai, e sintaxe DÉCIMO UUARTI) ILUNTCLO: O TENlOlH» IXIMIXVSTO «D t

bui para essa identificação, dizemos que a oração adjetiva é não restritiva 14.12.2 Outnis forma.s de oração adjetiva
(ou explicativa): É comum a oração adjetiva assumir a forma de um sintagma preposicional.
• O Diretor do Hospital, com qu em conversei, me deu boas Há dois tipos:
noticias. a) A preposição introduz uma oração reduzida dc infinitivo:
• Fui ontem visitar minha mãe, que fe z 70 anos. • Já está na hora de voltarmos para casa.
• Pedi emprestada ao vizinho a máquina de cortar gram a.
Nestes dois exemplos, as informações contidas nas orações adjetivas • Estas são questões a serem esclarecidas a p ós a pesquisa.
(com quem conversei e qu e com pletou 70 anos) são irrelevantes para o lei­ b) A preposição introduz orações iniciadas por certos pronomes e
tor ou ouvinte saber a quem os sintagmas nominais O Diretor do H ospital advérbios:
e m inha m ae se referem, visto que o conhecimento da realidade partilhado • Estes são retratos de quando meu avô trabalhava na Bahia.
pelos interlocutores assegura, em cada caso, a identificação do respectivo • Um depoimento de quem tivesse testemunhado a briga muda­
referente. ria o rumo das investigações.
É por esse motivo que nomes próprios e pronomes pessoais são nor­ • “Aos 25 anos, (a artista) mergulha no trabalho com a devoção
malmente modificados por orações explicativas: de quem sai para um retiro espiritual intensivo." [Jotu al do
• Nós, q u e som os seus amigos, estamos aqui para lhe dar apoio Brasil, 15/2/1998)
• A História finalmente fez justiça a Tiradentes, qu e m orreu por • “Não cumpriu as promessas, virou a casaca, alisou o cabelo,
u m so n h o d e liberdade. beijou a mão de quem antes julgava m erecedor d e cad eia...”
• “Antígona decidiu ignorar as ordens do poderoso Greonte, rei [RIBEIRO, J. U. O Globo, 22/6/2008)
de Tebas, e deu sepultura a seu irmão Polinices, cujo c a d á v er
o g ov ern an te exigira perm anecer insepulto...” [Frei Betto. 14.12..3 Conteúdos circunstanciais das orações adjetivas
“Duas mulheres, uma tragédia”. O Globo, 22/6/2008) As orações adjetivas podem apresentar cumulativamente um conteúdo cir­
• “Chama atenção na Europa o exagerado culto aos artistas, cunstancial de causa, concessão, condição, finalidade, resultado (cf. item
mesmo na França, onde proliferam livrarias a c a d a esqui­ seguinte):
na. ” [BRITO, Ronaldo Correia de. “O artista e seu legado”. a) com valor concessivo:
Disponível no portal Terra). • “Coitada de minha avó. (...) Logo ela, que am a v a tanto a
vida, (...) ia morrer.” [NAVA, 1973: 75) (= embora amasse
O bs.: Uma vez que se referem a entidades individuais e não a classes, tanto a vida)
os nomes próprios vêm normalmente modificados por apostos e/ou orações b) com valor condicional:
adjetivas explicativas, que se assemelham aos apostos. Contudo, em ex­ • Eles contratariam qualquer pessoa que lesse histórias p a ra
pressões do tipo o Rio de Janeiro daquele tempo, o Alencar dos rom ances a s crianças. (= desde que (essa pessoa) lesse histórias para
in d ian istas, o nome próprio vem modificado por expressão de valor restri­ as crianças)
tivo, que distingue o Rio de Janeiro em várias épocas ou mais de um roman­ c) com valor final:
cista, conforme o gênero ou estilo, em um só autor. Nestes casos, o nome • Desde que publicou a obra, o autor reuniu material com que am ­
próprio vem determinado por artigo definido ou pronome demonstrativo, e pliasse a segunda edição. (= a fim de ampliar a segunda edição)
a oração adjetiva que o modifica tem valor restritivo: d) com valor consecutivo:
• O Rio de Janeiro que m ostraram a o P apa era uma terra de • Cuidado para não fazer declarações que possam nos com pro­
paz. meter. (= (tais) que possam nos comprometer)
• Não reconhecíamos no Fernando Henrique qu e g ov ern av a o e) com valor causai:
p a is o sociólogo que tínhamos lido na Universidade. • Meu primo, que conhece bem esta cidade, pode nos servir de
guia. (= já que conhece bem esta cidade)
J22 OIUKTA rARTF “ MORMUAXilA n.RXH>SAL E SWTAXE
IlECIMO ütlA R Td ÍUWTUIA); n ri.RlIHM I d O M Ilw T d ■UI
Os exemplos ‘n’ e 'e' contêm orações adjetivas explicativas, que, em­
As orações adverbiais típicas estão sujeitas a esse deslocamento cm
bora niio contribuam para a identiüeaçêo dos referentes de m in ha a o ó e
relação à oração principal. Por serem sintaticamente acessórias, tornam-se
de men primo, sêo, contudo, discursivamente importantes como respaldo
relevantes no discurso pela informação que acrescentam ao texto, ou, nou­
para o conteúdo dos predicados que se seguem. Repare-se que podemos
tros termos, pela importância que assumem na organização coerente ou
exprimir os conteúdos desses exemplos com variantes em que a informação
lógica do raciocínio. É por isso que certas relações se expressam por meio
da oração adjetiva assume a feição de Justilicativas;
tanto de conjunções subordinativas adverbiais quanto de conjunções coor-
• Lamentei a morte de minha avó, pois ela amava muito a vida.
denativas (ver 14.10). Algumas conjunções estão exclusivamente a serviço
• Meu primo pode nos servir de guia, pois conhece bem a cidade.
da construção do raciocínio lógico, tanto que são conectivos característicos
dos textos dissertativos de opinião; outras indicam basicamente relações
Id.13.4 Repetição e supressão de pronomes relativos
circunstanciais próprias do discurso narrativo, mas podem assumir cumu­
Pronomes relativos com um antecedente comum podem desempenhar a
lativamente papéis relacionados à construção do discurso de opinião. Os
mesma função sintática ou funções sintáticas diferentes. Com a mesma
sentidos expressos pelas orações adverbiais podem ser agrupados em qua­
função sintática, é comum que o pronome relativo seja suprimido na segun­
tro tipos gerais: (a) relação de causalidade, (b) relação de temporalidade,
da ocorrência. Com função sintática diferente, o normal é a repetição do (c) relação de contraste, (d) relação de modo/comparação.
pronome, sobretudo se um deles vem precedido de preposição:
• “...analisando a si próprio e aos homens, Conrad sentiu os 14.1.1.1 Causalidade
limites dessa inteireza a que aspirava e qu e se esfuma a cada Do ponto de vista estritamente lógico, dois fatos se articulam pela relação
passo numa ‘linha de sombra’.” (CÂNDIDO, 1964: 62) de causalidade se a realização de um deles depende ou decorre da realiza­
• "A novela é como um fio invisível d o qu al poucos se orgulham ção do outro. Desse modo, a causalidade é uma macrorrelação que se espe­
mas qu e perpassa a sociedade e aponta um universo de segre­ cifica por meio de quatro valores: causa, condição, consequência e finali­
dos íntimos compartilhados.” [SCHWARCZ, 1998: 484) dade. Está claro que a um deles se atribuirá valor de ca u sa ou co n d ição, e
ao outro o de consequência ou fin alid ad e, visto que causa e efeito não são
No exemplo abaixo, o pronome relativo foi suprimido em sua segunda idéias opostas, mas complementares. A associação causai entre dois dados
ocorrência, apesar de exercer função sintática distinta do primeiro. Isto pa­ de nosso conhecimento é, obviamente, um ato de percepção e de compre­
rece possível apenas quando nenhum dos pronomes é regido de preposição. ensão, que podemos codificar de formas variadas na linguagem.
O primeiro que 6 objeto direto e o segundo - suprimido - é sujeito. Nesta exposição, estou particularmente interessado na codificação por
• “(Andrew) Jackson (...) ganhou sua popularidade (...) e aca­ meio de conectivos. Um exemplo: Passando pela ru a j á tarde d a noite,
bou um senhor rural, dono de escravos, como os aristocratas posso perceber que a luz da sala de m eu vizinho está a cesa e concluir: ele
qu e desprezava e (que) o desprezavam.” (VERÍSSIMO, L. F. ainda está acordado. Temos aí uma relação de causalidade entre dois da­
O Globo, 9/8/2007) dos: a luz acesa (causa) e a vigília de meu vizinho (efeito). Essa relação de
causalidade é uma construção do raciocínio que reflete uma compreensão
14.1.1 OILIÇÕES .IDVERBI.MS da situação: a luz acesa me leva a fazer uma inferência. Posso, então, dizer,
Uma matriz preposicional pode ocorrer no texto sob a forma de um sintagma ou simplesmente pensar: Ele ain da está acordado, pois (Já que, porqu e)
adverbial, tradicionalmente conhecido como ‘oração adverbial’. A respecti­ a luz d a sala está acesa, ou, numa formulação variante: Se a luz d a sa la
va transposição é efetuada por uma conjunção adverbial, uma espécie de está acesa, ele ain da está acordado. Do ponto de vista do discurso, causa
palavra gramatical que, colocada antes de uma oração, forma com ela uma ou efeito não é, portanto, um valor inerente a um fato na sua relação com
unidade apta a um posicionamento flexível em relação à oração base: O c a ­ o outro, mas uma possibilidade de sentido segundo a necessidade de com­
chorro avançou no carteiro /O cachorro estava solto. O cachorro avan çou preensão - e de verbalização - do evento que se está testemunhando. O
no carteiro quando estava solto - Q uando estava solto, o cachorro a v an ­ emprego do coneotivo tem a função de explicitar esse valor, balizando a
çou no carteiro - O cachorro, qu an do estava solto, avançou no carteiro. compreensão da respectiva oração.
Ol-ARTA l-ARTE - M ORRU*V.lA O.RXRWAL E SINTAXE
DÉCIMO (ÍDARTO CAPlTDDO; O PERÍODO COMPOSTO J25
14.1,^.1.1 ('.aiisa
Obs.: Posicionada antes da principal, a oração causai exprime um fato
A causn é indicada coircntemente pelas conjunções porque, pois, com o e
que o locutor presume já conhecido do interlocutor. Sendo assim, esse tipo
j á qu e. Porque introduz a oração causai que vem após a principal; como
de causa é utilizado como uma evidência que não fica sujeita à sua contes­
introduz a oração causai que precede a principal; Já que introduz a oração
tação. Nesta posição, a oração adverbial atua como um balizador de com-
adverbial colocada antes ou depois da principal:
preen.são (cf. 14.19):
• Decidimos voltar da festa a pó porque não haxia mais ônibus
• “Uma ves que não se saneavam os problemas em sua origem,
de madrugada.
a derrubada dos cortiços e a interdição dos domicílios (...)
• Como não havia mais ônibus de madrugada, decidimos voltar
prox'ocaram tão somente novos deslocamentos e a formação
da festa a pé.
de novos antros de miséria.” [SEVCENKO, 1998: 107J
• J á qu e as estradas estão interditadas, o socorro às vftimas
• “Visto que a cidade tinha se transformado num lugar de inte­
será feito com helicópteros.
resse público (...), muitas pessoas tiveram de mudar não só
• O socorro às vítimas será feito com helicópteros, Já que as
do local de residência, mas também as formas de diversão de
estradas estão interditadas.
raízes populares e grupais.” [DEL PRIORE, 1997: 226]
• “As comparações internacionais de salários são perigosas, yá
• “Uma vess que a política é a linguagem do nosso tempo, o artista
que os tipos de contratos de trabalho variam enormemente.”
tem de sair de sua solidão criadora.” [RODRIGUES, 1993: 226]
\Folhti deS .P auh, 7/6/199N. 3° caderno, p. 1]
• “Posto que os criminosos de colarinho branco não são puni­
• “Ele (o morto) nào podia .ser deixado só. pois solitário tomava-
dos pelos tribunais, passam a ser pelos leitores e telespectado­
-sc pre.sa fácil de maus espíritos.” (ALENCASTRO, 1997:114).
res.” [VENTURil. Zuenir. O Globo, 4/7/2007J
Obs.: Entre as conjunções causais, apenas porque pode ser precedida
14.1.1.1.2 Condição
dc um vocábulo focalizador (ver 1 ,1 .2 .4) ou de realce como só, até, m esmo,
A diferença entre a causa propriamente dita e a condição baseia-se numa
Justam en te cic.:
distinção de atitudes do enunciador em relação à ‘realidade’ da informação
• Decidinios voltar da festa a pé juslamente porque não havia
contida na oração adverbial: a atitude de certeza se expressa com os co­
mais ônibus de madrugada.
nectivos causais (porque, com o, visto que, d ad o qu e) e normalmente com
• O socorro às vítim.as será feito com helicópteros, a té (ou m es­
verbos no modo indicativo; a atitude de incerteza, de suspeita, de suposição
mo) jtorque as estradas estão interditadas.
se expressa com os conectivos de condição (se, c a so , d esd e qu e, con tan to
que, a menos qu e)e com verbos em geral no modo subjuntivo; o modo indi-
Nos registros formais, tanto orais quanto, principalmcnte, escritos,
catix'o ocorre em uma subclas.se de orações iniciadas por se.
empregam-se os conectivos visto que, vústo como, uma ves que, d ad o que,
Ao contrário do campo da certeza, que é objetivo, o campo da hipó­
na medida em que, ixirquonto:
tese é subjetivo, amplo e difuso. Por isso, há para a expressão da hipótese
• O socorro às vítimas era feito através de helicóptero, visto
uma gradação de matizes de sentido que compreendem:
que (ou vi,sro como) as estradas estaxam interditadas.
a) dados já conhecidos ou pressupostos (x’er 4.S.6.2.3.2.2), expres­
• 0 socorro às vítimas era feito através de helicóptero porquan­
sos por meio do modo indicativo;
to as estradas estaxam interditadas.
• S e você sa b ia o caminho, por que não nos ensinou?
• “.Vs expectativas mais otimistas no meio empresarial voltam-
• Se a casa tem três quartos, dá para abrigar todos nós.
-se agora para a próxima reunião do Comitê de Política Mone­
b) fatos possíveis/prováveis, expressos no futuro do subjuntivo;
tária, lüulo que as elevadas taxas de juros inibem a retomada
das vendas." [Jornat do Brasil, 15/2/1998) • Se você sou ber de alguma novidade, telefone-rae.
• " 0 tema da raça é ainda mais c-omplexo tui medida em que ine- o) fatos remotamente prováveis, expressos no pretérito imperfeito
xistem no país mgras lixas ou modelos de descendência biológi­ do subjuntivo;
ca aceitos de forma consensual.” |MELL0 e SOUZA, 1997: 182) • Se eles chegassem agora, ainda conseguiríam pegar o ônibus.
m u
336 QI'ARTA p a r t e - klORFOLOCIA FLEXIONAI. E SINT.\XE
OVARTO c a p ít u l o : o PEH ionO c o l c p o s t t t ,U7
• “A figura de Ariano está aí, como sintoma da riqueza brasilei­
ra. Vivéssemos em um país apaziguado, e não lhe daríamos A condição expressa pelos conectivos a m enos que, a n ão se r qu e e ex ce­
atenção." [CASTELLO, José. O Globo, 16/6/2007) to se é imperiosa. O enunciador se serve da oração condicional para indicar a
d) situações irreversíveis, expressas por meio do pretérito mais-que- única situação capaz de reverter o que vem expresso na oração principal:
-perfeito do subjuntivo: • O senador não aceitará o cargo de ministro, a n ã o s e r q u e
• Sc eles tivessem chegado cinco minutos antes, teriam pegado disponha de dinheiro para novos investimentos.
o ônibus. • “...não há velhice que nos detenha, a n ão s e r q u e tenhamos,
por vontade própria, deixado de usar o cérebro.” [MEDEIROS,
A conjunção condicional típica é se. Ela geralmente introduz um fato Martha. O Globo, 27/4/2008]
(real ou hipotético) ou uma premissa, a que se associa uma consequência • “A advogada disse que seu cliente não tem nada o que fazer do
ou uma inferência. Pode-se, assim, distinguir duas espécies de construções ponto de vista jurídico, a m enos qu e o laudo técnico o respon­
hipotéticas com se: sabilize nominalmente pelo desabamento do prédio.” [Jorrutl
a) aquelas que expressam a típica relação entre uma causa e um do Brasil, 19/5/1998]
efeito hipotéticos e apresentam correlação obrigatória entre o • “Com certeza até o diabo terá que reciclar sua retórica neste
tempo da oração subordinada e o da principal (neste grupo, se é fim de século, a m enos qu e depois de velho tenha virado um
substituível por caso)-, e anarquista capaz de encantar o Terceiro Mundo." [SPÍNOLA,
b) aquelas que apresentara liberdade na combinação dos tempos Noênio. Jorn al do B rasil, 25/5/1998]
verbais e cuja oração principal contém uma inferência do que se
declara na oração subordinada. A conjunção se pode ocorrer com todos os tempos dos modos indica­
tivo e subjuntivo, exceto o presente do subjuntivo; as demais conjunções
Os conectivos desde que, contanto que, com a condição (de) que são condicionais só ocorrem com as formas do presente e do pretérito imper­
de uso formal e, embora não tenham a variedade de sentidos expressa por feito do subjuntivo.
se, possuem um valor condicional contundente e impositivo: Construções hipotéticas iniciadas por se servem ainda para exprimir
• Vocês podem usar o saião para o ensaio, desde qu e deixem a relação entre dois conteúdos que se contrapõem mas não se anulam, fun-
tudo arrumado novamente. eionando o segundo como atenuação ou compensação do primeiro;
• O senador aceitará o cargo de ministro, contanto que dispo­ • “Se são justas as reivindicações das empregadas, também é
nha de dinheiro para novos investimentos. verdade que as donas de casa não são empresas.” (O G lo b o ,
17/5/1998]
Para exprimir condição com a mesma eontundência destes exem­ • “Se a existência de espaços e de uma sociabilidade privada já
plos, a conjunção se tem de vir reforçada por palavras que acentuem sua era difícil de ocorrer na Europa dos séculos XVI e XVII, mais
exclusividade: complicado era vê-los surgir na precária colônia portuguesa
• Vocês só podem usar o salão para o ensaio, se deixarem tudo da América.” (ALENCASTRO, 1997: 224]
arrumado novamente. • “Se nas dietas dos italianos do Norte predominava a polenta
• O senador aceitará o cargo de ministro somente se dispuser no Sul oontava-se basicamente com o pão de farinha de ceva­
de dinheiro para novos investimentos. da ou de centeio acompanhado de verduras ou cebolas cruas.”
(SEVCENKO, 1998: 228]
0 conteúdo da oração condicional nem sempre expressa a causa hi­ • “É saudável que o novo ministro assuma com propostas que,
potética do conteúdo da oração principal; em um enunciado como Se você se não resolvem o problema e até reabrem polêmicas antigas,
mudar de idáa, aqui está meu telefone, a oração condicional projeta uma ao m enos permitem que se inicie uma reflexão mais aprofun­
situação que legitima a mensagem implícita no conteúdo da oração princi­ dada.” [Folha d e S .P aulo, 14/4/1998]
pal: telefone-me.

A .
3 2 S o t ARTA TARTE - SH lR F O U X iU ELEXInSAL E SINTAXE
DficiMo yuA RTti nAi»fTiii.o: o c o m po sh )

Às vezes estas construções vêm reforçadas por pares correlativos do o efeito, indicado pela preposição p a ra , é objeto de censura ou de estra­
tipo por um lado... por outro, como na seguinte variante de um exemplo Já nheza do enunciador, que, na realidade, faz um comentário, que pode ser
aqui apresentado; parafraseado como conclusão; ‘por isso, não devia/deviam... .
• S e, p o r um la d o , são justas as reivindicações das emprega­ A oração principal expressa, de fato, um argumento - v o cê está hem
das, p o r o u tro também é verdade que as donas de casa não grandinho - contrário ao efeito - precisar d e u m a b a b á . Estas orações que
são empresas. expressam efeito contingente ou não proposital, quando subordinadas, se
chamam consecutivas.
Recorrendo ao modo indicativo, o enunciador assume o conteúdo da
oração condicional como um fato. 1 4 .1 3 .1 .4 Finalidade
Também empregadas na expressão do efeito, as orações finais são as úni­
1 4 .1 3 .1 .3 Consequência cas que podem preceder a oração base, o que faz delas autênticas orações
Consequência e finalidade são duas espécies de efeito. A expressão gramati­ adverbiais. Elas expressam um efeito visado, um propósito, e nisso diferem
cal típica da consequência se concretiza na conjunção que, ordinariamente das consecutivas típicas, que expressam um efeito contingente;
antecedida de uma expressão de intensidade; • Estão trabalhando em dobro p a ra compensar os dias parados.
• Estava tão cansado, que dormiu de sapato e tudo. • Para compensar os dias parados, estão trabalhando em dobro.

O verbo desta forma padrão da construção consecutiva fica geralmen­ Somente as orações finais admitem a ‘focalizaçâo’ por meio de só , s e r
te no modo indicativo que, apenas:
• Aquela equipe era tão boa que m erecia o título de campeã. • Eles só estão trabalhando em dobro p a r a compensar os dias
parados.
mas assume forma subjuntiva se o %'erbo da oração base vier negado; • É para compensar os dias parados qu e eles estão trabalhando
em dobro.
• Aquela equipe não era tão boa que m erecesse o título de
campeã.
Quando em forma finita, o verbo da oração final ocorre no modo
subjuntivo;
A preposição p a ra e a conjunção para que - que sempre rege verbo no
• Fechou as janelas p a ra qu e o pássaro não fugisse.
modo subjuntivo - também assinalam simples efeito quando é impossível
perceber no conteúdo da oração principal um fato intencional, como nos
O meio ostensivo de expressão adverbial da finalidade na língua cor­
seguintes exemplos;
rente é a preposição p ara. O uso de conjunções finais (p a r a q u e, a f i m d e
• “Bastou a primeira briga no pátio da escola p a ra descobrir­
que, d e m an eira que, de m olde a qu e) é bem menos frequente;
mos que soco de verdade não era como soco em filme.” [VE­
• Fechou as janelas p a ra o pássaro não fugir.
RÍSSIMO, L. F. O Globo, 29/5/2008]
• “Basta uma simples chuva para qu e do Borel desçam tonela­
O uso de p a ra seguido de construção infinitiva é a prática corrente,
das de lixo e areia” \Jomal d o Brasil, 16/2/1998]
sobretudo quando a oração final e a oração principal têm o mesmo sujeito;
• Os jogadores interromperam a partida p a r a socorrer o colega.
Por sua vez, em enunciados como
• Você já está bem grandinho p a ra precisar de uma babá.
Compare-se o exemplo acima com este outro, cujas orações têm su­
ou
jeitos distintos;
• Eles se empenharam muito p a ra se contentarem com uma
• Os jogadores interromperam a partida p a r a q u e o colega fosse
simples menção honrosa.
socorrido.
Ü*‘-VRTA TARTi: - FliXIONAL E SIVT.VKE
llfiriMII 01'AKTI1 (UrlTl MI: (I reRIOIH) . VMIMSTO

A identidade de sujeitos não impede, porém, o emprego de p a ra que


• Manuela costurava as roupas qu an do a filha estava dormindo
quando o núcleo verbal da oração subordinada contém uma locução verbal;
(enquanto).
• Subiu na mesa p a ra qu e nudesse ver os artistas no palco.
• Entraram rápido no carro a fim de que não fossem linchados
Sempre que não especifica a ocasião, mas, ã semelhança tio atlvcrbio
pela multidão.
sempre, denota a frequência ou regularidade de uma ação;
• Ele se hospedava naquele hotel sem pre qu e ia a São P.aido.
14.1 A.2 Tcinporalidudc
A temporalidade define a posição, na linha do tempo, do fato e.\presso pela Também aqui podemos usar quando:
oração base. Essa linha - ou cxmtínuum temporal - pode ser segmentada em • Ele se hospedava naquele hotel quando ia a São Paulo.
três etapas ou intervalos - anterior, concomitante ou posterior - aptos a serem
preenchidos pelo fato ou situação expressos na oração adverbial. Exemplifi­ Com agora que introduz-se geralmente um fato que serve de argumen­
quemos com o par de matrizes proposicionais [Aíamíc/n, roupas, c ostu rarja to para uma conclusão;
e [/i/fia, domn'r/adormcccr|p, em que a corresponde à oração base e P ocupa, • Agora que você aprendeu o endereço, esperamos sua visita (cf.
na forma de oração adverbial, um intervalo na hnha do tempo. Podemos ter; Você já aprendeu o endereço; portanto, esperamos sua visita)
• Manuela costurava roupas ejiquanto a filha dormia (em que a • “Agora que todos dizem que o CD está com os diíis contadtKS,
e p são concomitantes). eu, que ainda guardo meus LPs, conclamo a todos que resis­
• Manuela costurava roupas depois que a filha adormecia (em tam.” [PAIVA, Cláudio. O Globo, 15/7/2007]
que a é posterior a P).
• Manuela costurava roupas antes que a filha adormecesse (em Obs.l: Q u a n d o é a conjunção temporal padrão, apta a exprimir uma
que a é anterior a P). variedade de valores que, quando necessário, são especificados por outras
conjunções;
É grande a variedade de conectivos adverbiais para a relação temporal, • Q uando (= sempre que) chovia, as aulas tinham que ser suspensas
o que permite especificações refinadas da temporalidade (assim que, d esde • Só saímos do cinema quando (= depois que) o temporal passou
q u e, a té qu e, fogo que, apenas):
• Saltou da cama assim que o despertador tocou. Obs. 2: Exprimindo concomitância de dois fatos ou idéias, qu an do é
• “Dario vinha apressado, o guarda-chuva no braço esquerdo passível de substituição por enquanto e ao passo que, que se empregam
e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar...” com valor muito semelhante ao das proporcionais (ver 14.13.3). Nesta si­
|TREV1S/\N, Dalton. In; SALES, 1969; 243| tuação de simultaneidade, frequentemente o que sobressai é o caráter con-
• \lvem nesta ca.sa modesta desde que se mudaram para cá. trastivo dos fatos e idéias (ver 14.13.4), de modo que a relação temporal se
• Ttxlos devem pennanecer sentíidos até que a cerimônia termine. toma secundária ou mesmo se esvazia.
• Ele despachará as malas logo que obtenha a permissão. • “Eu digo que muito veículo parece estar conduzindo passa­
• Ela interrompeu a viagem apenas soube da morte do avô. geiros apanhados ao acaso, quando na verdade estão levando
verdadeiras combinações de passageiros.” [MACHADO, 1957;
A.ssim q u e, logo que e afKnas se equivalem na especificação da tem- 211-2 1 2 ]
poralidadc; d esd e que e até que indicam, respectivamente, os limites inicial • “Enquanto a Espanha dobra a população com o ingresso de
e final de um percurso. As diferentes especificações expressas por e n q u a n ­ turistas nas temporadas (...), o Brasil recebeu apenas 2,3 mi­
to, d ep o is que. assim que, logo q u e e apenas sc neutralizam no uso de lhões de estrangeiros em todo o ano de 96.” [Jornal do Brasil.
q u a n d o , que é, de longe, a conjunção temporal mais frequente; 16/3/1998]
• Ele despachará as malas quando obtiver a permissão, (d ep ois • “Meu pai era um sonhador, minha mãe uma realista. Enquan­
que. logo que, assim que, apenas) to ela mantinha os pés firmemente plantados na terra, ele se

\
g i ARTA PAHTE - MORTOIAXSIA FLEXIO SA L E SIKTAXE
i)£ai>tO ÜIJAWTí» t-VPÍTULO: ÍI í'ERÍOI)0 COUlfWTí» ,U1

deixava erguer no balão iridescente de sua fantasia...” [VE­


RÍSSIMO, E. 1974: 33] 14.13.4 Contniste
Distinguiremos o contraste adversativo e o contraste concessivo. Estabclc-
• “No hemisfério conhecido, Europa e África ocupam sempre
ce-se o contraste adversativo —íjue assim chamo por tratar-sc de variante
a metade inferior, a o p a sso qu e a Asia se situa acima dos de­
das estruturas adversativas (ver 14.10.3) - por meio da conjunção sem que
mais continentes.” (IIOLLANDA, 1977]
seguida de oração no modo subjuntivo ou da preposição sem seguida de
infinitivo, ambas de valor necessariamente negativo:
14.13.3 Pnípon^âo
. Ele saiu da sala sem que dissesse uma única palavra, (cf. Ele
A proporção é, a rigor, uma especihcação da temporalidade. Consiste no saiu da sala, mas não disse uma única palavra.)
desenrolar paralelo de dois fatos, entre os quais pode haver uma relação de • O policial prendeu os assaltantes sem que desse um só tiro.
causa e efeito. As conjunções proporcionais mais comuns são à m edida que . Ela viajou pelo interior do país sem que fosse necessário gas­
e à proporção que. Também são comuns as variantes à m edida cm que e tar um centavo.
71G m edida em que: . “Mais de um terço do que se paga com o uso do telefone vai
• À m ed id a qu e se aproxima o verão, a cidade recebe mais para os cofres estaduais sem que o estado tenha, no entanto,
turistas. qualquer responsabilidade, interferência ou participação nes­
• Os moradores retomavam à cidade à proporção que os gafa­ se tipo de serviço.” |0 Globo, 29/3/1998)
nhotos eram exterminados. . “Nessa época, o adensamento de populações nas grandes ci­
• “A seca que castiga de forma inclemente o Nordeste é real dades ocorreu sem que houvesse uma correspondência na ex­
e tende a piorar u Jiiedida que os efeitos da perda da safra pansão da infraestrutura citadina e na oferta de empregos e de
se ftzerem sentir nos próximos meses.” [Jornal do Brasil^ moradias.” [SEVGENKO, 1998: 91]
9/5/19981
• “ A m edida qiic D. Pedro se ideiUitica com os anseios brasilei­ Assim como o uso de para na expressão da finalidade (cf. 14.13.1.4),
ros no Rio Grande do Sul o sentimento a favor da inde­ também a preposição sem tem preferência sobre a locução serji que na lín­
pendência cresce." jPICGOLO, Helga. In: MOTA, 1972: 365] gua corrente quando as duas proposições têm o mesmo sujeito:
• “Pouco a pouco. íi m edida em que vão sendo retiradas as res­ . Ele saiu da sala sem dizer uma palavra.
taurações anteriores (...). vão se revelando detalhes desco­ . O policial prendeu os assaltantes sem dar um só tiro.
nhecidos." [Joma/do Brasil., 11/5/1998]
• “A autoridade moral que as mulheres exerciam dentro de casa Na variante concessiva da expressão contrastiva, um certo fato ou
era o susientáculo da sociedade e se fortalecia mi m edida em ideia é representado como um dado irrelevante para o conteúdo do restan­
(ftie o lar pass:iva a adquirir um conjunto de papéis de ordem so­ te do enunciado;
cial. política, religiosa e emocional." [DEL PRIORE. 1997: 454] . O lutador derrubou todos os seus adversários em bora fosse
magrinho.
Obs.: Nos textos dissenativos. sobretudo com caráter argumentativo, . Embora os bombeiros agissem com rapidez, o incêndio amea­
é comum que a noção de causa-efeito sobressaia em relação ã de parale­ çava destruir toda a floresta.
lismo; neste caso, a Uxjução rui m edida em que passa a indicar a razão ou . "Embora as aves da China não estejam mais proibidas, os
justihcativa do que se declara na oração principal: consumidores continuam optando por produtos importados
• “A maior vinculaçâo à política mercantilista afetou a sobre­ coni medo da gripe do frango.” [Jornal do Brasil, 10/2/1998[
vivência das línguas gerais, rui Tiiedída ein que implicava um
aumento da participação de indivíduos de origem portugue­ No primeiro exemplo, o aspecto físico do lutador - que pelo senso
sa e africana no conjunto da população." [ALENGASTRO, comum seria determinante de seu desempenho - perde tal importância
1997:338] e é informado como conteúdo de uma oração concessiva; no segundo, a
,IW
DfXHMOUCAHTOCArlTTLO: O 1'HKlolNi «inMhWH'
ação rápida dos bombeiros é retratada como um dado irrelevante para o
que se diz na segunda parte do enunciado; no terceiro exemplo, por fim, a Por mais que, por muito que, por pouco que, por pior que etc.
suspensão da proibição das aves nacionais é irrelevante para a opção dos Estas locuções trazem embutida uma expre.ssão intensiva, que c o foco da
consumidores chineses. concessão. Elas são empregadas quando parte do conteúdo da oração otai-
A conjunção/locução prepositiva concessiva esvazia a força causai ou cessiva é pa.ssível de quantificação ou de gradação:
argumentativa do fato que ela anuncia, de modo que o conteúdo da oração • “A culpa desta tragédia não é do seu governo, p or m ais qu e se
principal passa a representar o contrário do que se espera. critique sua demora em dar-se conta dela.” (VERÍSSIMO, L. F.
Jornal do Brasil, 28/3/1998)
,'\inda que. mesmo que, ainda se, mesmo se • “Por m aior que tenha sido a paixão inicial (....), a simples
A relação concessiva é correntemente expressa pela locução prepositiva apesar assinatura do contrato já muda tudo.” (GULLAR, Ferreira. In:
SANTOS, 2007: 280)
d e e pela conjunção concessiva em bora, que introduzem sempre uma informação
• Por pouco que tenha chovido nos últimos dias, já temos espe­
\ista como fato real. A representação da concessão como hipótese ou irrealidade
rança de não perder as sementes.
costuma ser feita por meio de ain da que. mesmo que. mesmo se, ainda se:
* “...ele prefere ser lançado contra as pedras, ain d a qu e se ar­ Qualquer que. onde quer que
rebente todo.” [BRAGA. 1963a: 52| Trata-se de um pronome indefinido e de um advérbio que eventualmente enca­
• “Desastres naturais como este costumam ser frutos de impre-
beçam omções adverbiais. O caráter conce.ssivo dessas orações está em que elas
vidência acumulada, fica difícil fixar a culpa, mesmo que se exprimem a au.sência absoluta de restrições ao conteúdo da oração principal:
identifique o autor de uma fagulha específica.” (VERÍSSIMO, • Esse cachorro mc acompanha aon de qu er que eu va.
L. F. Jo r n a l d o Brasil. 28/3/1998) • Qualquer que seja o resultado da partida, os torcedores vão
• “Na Grécia antiga (...) poeta e adirinho têm em comum o dom comemorar.
da vidência, m esm o que sejam emblematicamente cegos.”
[WISNIK. .losc Miguel. In: NOV/VES, 1988: 284] Se bem que
• “No Rio, em seis meses (um policial) já é considerado apto a en­ Equivale a embora. Geralmente precedida de pausa, que na escrita é assina­
frentar bandidos, mesmo se não tiver disparado um único tiro lada com vírgula, esta conjunção emprega-se para introduzir uma ressalva e
na academia, por falta de balas.” [Jomaf do Brasil, 26/5/1998) tem a peculiaridade de poder ocorrer com verbo tanto no modo subjuntivo
quanto no indicativo:
Não é raro o emprego de ainda que introduzindo fato: • “Vou ganhar uma bermuda e um par de sandálias, se bem que
• “Ainda que boa parle da carreira tenha sido dedicada ao judô, minhas camisas de ir à Academia estão uma vergonha.” [RI­
llermanny conta que um dos fatos mais marcantes de sua car­ BEIRO, J. U. O Globo, 8/7/1999)
reira foi a participação na equipe de preparadores físicos da • "Comparar a vida a um filme não é dizer, como quer o clichê,
seleção brasileira de futebol, de 1964 a 1966.” (MARINHO, que a vida imita a arte, se bem que exista um fundo de verda­
Antônio. Revista O Globo, 15/7/2007] de nisso.” [Jornal do Brasil, 14/4/1999]
• “As mulheres e homens da esquerda alemã, se bem que vives­
É comum que a hipótese contida na oração concessiva se refira a um sem até certo ponto o mesmo processo de negação do corpo,
obstáculo incapaz de impedir que .se realize o que vem expresso na oração resplandeciam naquele verão.” [GABEIRA, 1981b: 113)
principal:
• Conseguirei os ingres.sos para a decisão do campeonato, ain- Não obstante, nada obstante, conquanto, posto que
da que tenha de dormir na fila. Significam o mesmo que em bora, mas são expressões conectivas praticamen­
• A polícia tinha decidido entrar na fortaleza, m esm o se fosse te restritas a usos acadêmicos formais, como os discursos solenes e os textos
preciso dinamitar a porta de aço. jurídicos. Os dois primeiros são advérbios conjuntivos. Os dois últimos são

y
.1.16 Or.\KT.\ VAhTt. - Mimmi.iXilA m .xxkinal k sintaxk
hftCIMO QUARTO C.N«'lTU1.0: O 1'KKfolX» COMFIiSTO

conjuru^õcs subordinativa.s adverbiais. Um detalhe, porém 6 notável: é cada


ve/ mais comum na variedade escrita contemporânea o emprego de posto A‘qualificação’ c a ‘quantificação’ também podem ser construídas a partir
qiic com valor causai, haja vista o célebre verso do “Soneto de Fidelidade”, de matrizes preposicionais, dando origem a ‘orações subordinadas’ adverbiais
de Vinícius de Moraes: “Que não seja imortal, posto que |= já que| é chama”. modais e comparativas: Conhecia as árvores da floresta com o (conhecia) a
A propósito, veja outro emprego de posto que eau.sal em 14.13.1.1 p<dma da própria nuiO. Neste exemplo temos uma qualificação comparativa
(cf. Conhecia as árvores da floresta muito bem im elhor d o cpie seus co m ­
14.1.3.3 1 'iu par à parte: adii,'ão e preleri«;ão panheiros). A expressão verbal da qualificação pura, de base não comparati­
Adivão e preterição são os conteúdos adverbiais expressos pel.as locuções pre- va, utiliza comumente gerúndios {Enriqueceu com erdaívean do antiguida-
des) ou infinitivos precedidos da preposição sem {Saiu sem se despedir). Por
positivas ítlém de e em •oez de/em luftar de, respeetivamente. Além d e estabe­
serem lormas de expre.ssão de polaridade negativa (ver 4.4), as construções
lece a mesma relação expressa pela dupla mio só...com o/mas tam hém :
do tipo ,sem + infinitivo implicam sempre algum subentendido (no caso deste
• Além de xingar o adversário, desa(iou-o para um duelo.
exemplo, a ideia de que, em nossa cultura, as pessoas costumam despedir-se
quando se ausentam). Assim, a oração modal de Prendeu os assaltantes sem
dom em vez de pretere-se ou descarta-se algo:
que desse um só tiro extrai .sua relevância informativa da ideia corrente de
• Km vez de chutar em gol, preferiu p.assar a bola, que, nessas oeasioes, é babituai a polícia atirar. Estas informações pertencem
ao domínio dos impiíeitos e subentendidos’ (ver 4 .5 .6 .2 .3 .2 .2 ), às vezes mais
A nature/a adverbial dessas construções é comprovada pela possibili­ decisivos para a construção dos sentidos do que as partes explícitas.
dade de deslocamento:
• Desafiou o adversário para um duelo (dém de xingá-lo. 14.14.1 Conipanição
• l’referiu passar a bola em vez de chutar cm gol. As frases Paulo parecia um gato qiuimlo pulou o muro. Seu (= de Paulo)
• “Ktii /ligíir de retirar os obstáculos, de instituir o facilicário, é modo de pular o muro lembra um gato, Paulo usou um a habilidade felin a
melhor ensinar as erianças a vencê-los e a serem recompensa­ para pular o muro e Paulo pulou o muro como um gato são todas compara­
das por isso.” |VENTi:il,\, Zuenir. O Globo, 2.3/5/20071 tivas quanto à seleção vocabular, quanto à intenção e quanto ao sentido, mas
• “Por que o Ixurrinho teimava em ficar naquele sol queimando em só na última a comparação é expressa por um recurso tipicamente gramatical:
ccí; de ficar :igasalhado na .sombraV” (DOURiVDO, 197.3: 53) a conjunção como. Temos nes.se exemplo o que chamamos tradicionalmente
uma ‘oração subordinada comparativa’: como um gato (pula um muro).
14.14 QrAi.iFi(;.\(,;.U). q i .v\Tii ic.\(,:.\o i; o r .\ç õ k s m o d a is Estes quatro exemplos seriam suficientes para demonstrar que o racio­
Esta seção tem um lugar à parte em função díLs peculiaridades das re.spectivas cínio comparativo se materializa numa grande variedade de formas. O ato de
estruturas, como se verá. Uma ‘ação’ {caminhar), ‘um processo’ (brotar) ou um comparar permeia boa parte das atividades de reconhecimento e compreen­
‘estado’ (m aeio) são eoneeptualizações passíveis de quantificação {cam inhava são de tudo o que está à nossa volta, porque em geral tentamos enquadrar o
fxtueo: brotou em excesso; a,ssento muito maeio), ou de qualificação (camí- novo e desconhecido em categorias já conhecidas. Tomemos o exemplo em
nhuva eíegantemente; brotava raramente; assento suriJreemlentenumte questão: fala-se aí do pulo de alguém. Não há novidade no fato de pessoas
maeio). A ‘qualificação’ de verlxjs é ordinariamente opcional, com raras exce­ pularem; a novidade está na agilidade, na destreza com que o pulo foi reali­
ções, como o verbo jxissar {João ]xtssou bem a/jós a cintrgia). .lá a ‘quantifi­ zado por um ser humano. Essa novidade é então concebida e expressa nos
cação’ é sempre acessória, seja junto a verbos, a adjetivos ou a substantivos. termos de algo já assentado em nosso conhecimento de mundo: a notória
A ‘qualificação’ apresenta uma subdivisão de .sentidos: meio {/a para agilidade/habilidade do gato. Aí está a essência do processo comparativo em
o trabalho d e bicicleta), in,strumento {Cortou o papel com um canivete), geral, bem como da criação de certas metáforas®'^ (ver 18.9 e 18.10).
m edida {Comprou banamis a quilo), companhia {Sempre p a sseav a com o Em sua realização mais explícita, o raciocínio comparativo opera com
cach orrin h o), frequência {Saía raram ente de casa), m odo (O balão caía quatro elementos: o termo comparado (a), o termo comparante (b), o objeto
lentam ente). ‘Quantificação’ e ‘qualificação’ se imbricam por influência do da comparação (c) e o produto informado (d). Em nosso exemplo, Paulo é ‘a’,
conteúdo, por si intensivo, de certos adjetivos {Era m on stru osam en te feio! gato é ‘b’ e pidar é ‘c’. O que chamo ‘produto informado’ é, no caso, a igual-
Falou en ergicam en te com o filho). ” Cf. LAKOFF e JOHNSON |20021.
,I W 01 .« T » PARTI - MORfl lU ir.lA PLKSIONAl. t SINT.VXF.

DÉCIMO ÜIARTO CAPlTVU): 0 PÍRlODO COMPOSTO J J 9

dadc com que o objeto da comparação é percebido cm ‘a’ e ‘b’. Ijo ponto de
vista da interação, porém, o mais importante 6 o efeito de sentido, a informa­ Pode acontecer, no entanto, que a comparação de igualdade não se re­
ção que o próprio enunciador trata como prioritária; a a^lidade/habilidade fira ã quantificação da propriedade comum aos conteúdos comparados, mas
do termo comparado. Esta informação pode estar explícita, mas comumente apenas à semelhança existente entre eles (com paração asaim ilativa):
é produzida por inferência, daí sua força ar^umentativa^' (ver 4 .5.5.3). • “Como costuma ocorrer com as celebridades genuinamente
I’odemos distinguir quatro tipos de comparação expressos por meio de inimitáveis. Zózimo Barroso do Amaral acabou copiado no
conectivos: comparação modal, comparação intensiva, comparação a.ssimi- Br.isil inteiro por colunistas sociais.” (CORRÊA, Marcus Sá.
latlva e comparação eonformativa. Veia, 26/11/1997)

14.14.1.1 ( '.oiiiparação modal Esta forma de comparação é construída geralmente por meio da con­
(.) instnimento sintático típico da comparação modal ê a conjunção como: junção como, precedida ou não do advérbio assim , e expressa uma relação
Elu ruuluva c o m o um j>cixc. .íofiou h oje c o m o cm ncuti m elhores d ia s. Cor­ semântica e sintática muito próxima da coordenação aditiva (ver adiante):
tei a s l>atatas c o m o v o cé fx;diu: em culxjs. Um tipo especial de comparação • Fernando trabalhava no corte de cana, (assim /hem ) com o a
modal é a que se expressa mediante a conjunção composta crjmo se, segui­ maioria dos jovens de sua idade.
da de verbo no pretérito (imperfeito ou mais-que-perfeito) do subjuntivo
(comparação hipotética). ( a>m ela indica-se que o conteúdo da oração com­ Algumas vezes, a comparação assimilativa é expressa por meio das
parativa é tomado como coisa irreal ou hipotética: locuções da mesma form a que e Canto quanto :
• () santo falava aos pássaros co m o se estes o entendessem. • “Da mesma form a que se acabou com a escravidão por mo­
• I'assado o susto do acidente, o sapateiro voltou ao trabalho tivos econômicos, vamos ter de acabar com a ignorância
cortio se nada tivesse .acontecido. para sobreviver numa economia globalizada e cada vez mais
• “Tudo se píLssa curno se ele estives.se sendo impelido a atuar como competitiva.” (DIMENSTEIN, Gilberto. Folha de S.Paulo,
porta-voz di>s milhiV-s de brasileiros destituídos que assistem seu 7/6/1998)
proÉranut" j.MK ;EEI. Seréio. Follui de S.Faulo, 1.3/4/1Ú98) • “Pensar na censura como solução (para a permissividade do con­
• “Estamos acostumados a falar em 'cultura brasileira’, assim, sumo) é nocivo, Canto quanto achar que o mercado deve decidir
no sim>ular, corno se existisse uma unidade prévia que agluti­ a questão.” |VENTLIRi\, Zuenir. Jornal do Brasil, 6/6/1998]
nasse todas as maiiiíestaç('ies materiais e espirituais do povo • “Hoje é comum encontrar nos terreiros de candomblé ima­
brasileiro " jlWiSl. 1W2 .VlS) gens de santos com nomes de orixás, da m esm a form a que o
atabaque e o berimbau se incorporaram às festividades cató­
1 1 . 1 1 . 1 . 2 t .omp;inivão iiitA*iisi\a e eompanivão assiiiiilati\a licas." jVeja, y7/1998|
Normalmente utilizamos a construção sintática da comparação para quan-
titicar uma propriedade comum a dois ou mais objetos Itompuruçwj in- A presença das locuções da mesma form a que e assim como no início
le n s K a ). Neste caso. tanto se pode destacar a igualdade da quantilicaçãu do período pode ser reforçada pelos advérbios assim ou assim também na
- expressa por meio de tanto^uio .. quutiro - como a diferença - expressa oração principal:
por meio de mais^nurtuis ... d o qu e l'or isso é que a comparação pode ser: • “Da mesma form a que o negro passou a ser visto como um
al de úluulíluíle ItJ coc/arrro é tíu> esjten o qu an to o guro, ÍJ leopar­ ser a-histórico, assim também passaram a ser vistas suas ma­
d o etirre ta n to q u a n to o le ã o ) nifestações, seus padrões de organização, suas velhas tradi­
b) de suiierioridutle Iti cach orro é nuiía esperto d o q u e o gutu, ções.” (SEVCENKO, 1998. 97)
(J leofturdo co rre nuti» do q u e o leão)
c) d e inferioridade- ((J ca ch orro é m enos esperto d o qu e o ifato. A oração comparativa tende a ser uma construção elíptica, uma vez
O leãt) eo rre m en os d o q u e o leo p a n lo ). que as partes do significado da frase que ela e a oração principal têm em
1 77)
Fara uma a>K.»rdajbL'm artuxntrntaUNa «Ia comparatj^i. v«r V( MíT ( ^
c<imum só vém explícitas na principal:
r M o VP *«T»


«*” **' * * ^ ^

“A chnm a clf> paviu ra n fo d c p tiu lc d<» n zc itc q ue a alimenta


(fiutnrn iUi \'€’nto que
p <kJ c apaitn-ln.** ( isto é; q u a n to depcruiei
(M A C IIA IW ». I*/57 M |
n «ow » yi \«To<:.vm iTo: í> n W o o o com posto

Níxs reiiismKs formais, espccialmente na modalidade escrita, também


se cniprciiam com este valor os eonectivos scíiundo e. mais raramente,
J4 I

tsirijíixirifi'
• “Nenhum <«ifro ae»»nteom ento cicntjfkr» tc>e tanta rcpercus- • "Heitor \'ilIa-Lobos. se^Jwru/o nos informa a direção do es­
srif» m» «níi passíiíírífpi//ii/íi a cUmaiSem de lV)Ily " ( i.«toé quanto
tabelecimento. costumava hospedar-se aqui.” |RIBEIRO, J. U.
n clo n aiie m ile iKiIK n7»tTene«4!^>> IVç k í . 1 1/2/l^^^Sj
O c;/obo. 2*>/d/lWSl
• "N em tíK los a c r e d ita m q u e o de‘ talta d e e n e n jia s e ja • Para curar-se de uma úlcera, minha tia ,se submeteu a uma
hniXM n«» pr«'»ximt> s é c u lo tp m n fo e s tim a a K le tro h rá s " \JftrrutJ dieta rigorosa durante dez meses, constxtntc lhe prescrevera
th t liru H ii, AO/,Vl't*JN| o velho médictí da família.
• K ste m é s <» Ixit ijà o d e lias d u rou memoa d n q u e n o m ês pa.ssadr»
íis|(» é dr» q u e fiu r tiu n o nii*s p assad o ) Por serem também preposiçiVs acidentais, c«rri/t>r7 ne, consoante e se-
• “( ) n la s ta m c u to d o i>ramado d eix ou e v i d e n t e q u e o problem a íiundn t>correm nomialmente seguidos dc substantivos c|ue exprejwam atos
d o )o (^ d o r e r a m o i« crôm cí» d f tn*< su p u n h a m o s leit^ ís." (isto comuiiicativas ou (luc dc.siénum entidades envolvidas nesses processos (con-
ê díf (|ii( ok ii ii>os Hupunliam tp u ít u c r ô n i c f í ) {.fnrrutJ d o Brn- ^Yinticu pnmwssa, contHHtntvo rv/iutíutwtin>, setium loo entrevistado).
Hd
• "A in d u s ir m b r a s ile ira passa ja ir um a d u ch a d e renovaçãocv/m o 1 I IS O INFINITIVO
lu iu c n SI \ lu ’ ( istíi e co m o n u n ca se viu u im /ií.sfrúi h rusilci- O inhnitivo ocorre em duas fxisições principais: em locuções verbais, arti­
ttí /MfAAiir /Hu uru/i dui.‘htt </«.• rim oiví^tio ) ] 1/2/1 culado a um verbo auxiliar resp<»ns;ivel, entre outras coisas, pela indicação
do tempo da oração (K/u votie sa ir a4»ora/.V<«» intde c h e c a r m ais cedo),
Km m u ito s c a s o s , a e lip st p r is liir um a c o n s t r u ç ã o a n á lo g a à de um a
e como base de um sintagma nominal, atuando com funções próprias do
e s t r u t u r a iS M irilem u la
substantivo {Elu desistiu de vudttr/Suvetíar é preciso). Referido a seu su­
• "< »s tornais brasiUaros tsiiiKvaram a m udar de ío m in io na se- jeito sem a mediação de verbo aiLXitiar, o inhnitivo pode se tlexíonar em
m am i passaila dcs|K naiido maiti i Iiscusmkts no nieío jumalés- número e pessoa secundo as redras de concordância verbal.
tKs» i/o tf tu ciiiKai.s dos leitores " |SIM\( )|.A. Noêiiio. Jo n u d do O sujeito do inúnitivo pode;
/tnísi/ I |/7/I'*‘>*>i a) estar claro:
• "Enquanto não houver rejiras rígidas para as alterações em
N esli- t \i'U iplo. a v su icati uaçao «.sirrelaiu u iiiiro d u / d o is o b je t o s díre*
carros feitos aqui, o éoverno continuará culpado por serem os
to s </lSi'U.SS< HS i ('M/KM.s
carros brasileiros piores e muito mais carexs que seus simila­
res estrangeiros.” |OG/obo, 15/*)/2(M)7|
I I 11 l .A ( .«•inpamsao tsMihiniiMlua
i » \idot a s s iiiiila tu o da tsuiiuiiçao corra» e o qu e ix r n iile e sta b e le c e r uma
b) estar oculto, mas indicado na desinência verbal:
LMMUpaiação etitie ilois íalos, iiidKando que o ssiiueudu da o ra çã o subof-
• “Inútil querermos destruir a ordem natural.” IR^VMOS, 1981b:
ilim uhi t ^Huifiritiado |k Ic ».s»iileudo lia o ra ç ã o prin cip al (a»ni este valor, o
looj
is m io . si in p ie stilvstituuel |s»r ix»rf/i*rTru.. iiitr is iu i unia o ra çã o cim íorm ati*
\a. q u e (tid in an atiiem i rc(s»rta uni a to cxoiiu nicativ o
c) estar indeterminado;
• A c‘t|ui|x vx>nqujsti»u o liluU». txirno (<.»u ttiriíiirm*, ) prometeu
• "/^ereorrer essas fíito^atias é como rnertiulhar no rei^istro vir­
seu Iev*iiivs' tual da memória familiar.” [SEVCIENKO, 1998: 457]
• 'H) (.k> iiiaridt» lU prm^-dor da laniilia. cx»m o direito a
auii>nxar ihj nài» o iral^alho da m u lh er K»ra do Lar d) estar suprimido (cancelado) mas recuperável:
Jetertiunav ain as leis v ijje n te s n»» cxrmcçx» do scx*uk>. levou a • "K.scapamos da vida ao escaptir (sujeito tmís suprimido) para
Je|ViidciK'ia ts.xuiõiiuca da esfHisa a s e f não a^^nas estimula* formulas narrativas concisas, dentro das quais quase todo en­
da, mas M>brx‘(udi* K in -v i> ia " | S E \ i:t\ K O . iv ^ s -115) tretenimento vem embalado.” \Jom ai ilo B rasil, 4/12/1999|

'\
342 ur,UlTA M R TE - «ORFOLOOIA F liX IO S A L f. SINTAXE
aceiMo üiiARTo oAPlTti.»: o rEMlimo mHiTwmi ,U»
e) n ão e x istir:
• F o i n e c e s s á r io ch ov er d u ra n te tr ê s d ia s p a ra q u e o n ív el do rio autor flexiona o infinitivo para deixar claro que .seu sujeito é nrí.s. Tanibéni
v o lta sse a o n o rm a l. recebe flexão o infinitivo que serve de predicativo a um SN - representmio
por substantivo - que serve de objeto a verbos transitivos diretos como
A situ a çã o do in ü n itiv o referid a e m ‘d ’, e m q u e o s u je ito pode estar
xar, mandar, fazer, ver, obrigar, sentir e análogos;'^
suprim ido m as é re c u p e rá v e l, c o n stitu i um d o m ín io d e reg ra s flutuantes,
• Senti as carnes tremerem.
que ora produzem elip se , o ra c a n c e la m e n to . No p ró p rio e x e m p lo citado, há
• Ouvimos os cavalos se aproxim arem .
possível o s c ila ç ã o e n tr e e s c a p a r e esca p a rm o s.
• Deixem as crianças brincarem no quintal.
O infinitivo é in variável: • Yi meus livros serem devorados pelas chamas.
• “...a pressão ameaça fazer saltar os nervos e obríáar os ratos a
a) quando é parte de uma locução verbal:
emergirem enraivecidos dos bueiros...” (BRAGA, 1963a: 122)
• Eles não podiam trabalhar.
• Nós acabamos de chegar.
Obs.: A posposição do objeto ao predicativo, contudo, toma facultati­
va a flexão:
b) quando, servindo de complemento a um verbo transitivo, seu su­
• Senti tremer as carnes.
jeito é suprimido por cancelamento em virtude de correferência
• Ouvi se aproxim ar os cavalos.
com o sujeito desse verbo:
• “...a pressão ameaça fazer saltar os nervos e obrigar os ratos a
• Tentamos em vão p eg ar um táxi.
emergirem enraivecidos dos bueiros...” (BRAGA, 1963a; 122)
• Esperávamos receber o salário no fim do mês.
• “Os pregadores coloniais não se cansavam de repetir que aco­
0 mais comum, porém, quando se flexiona o infinitivo, é a oscilação
lher enjeitados representava uma extraordinária demonstra­
entre forma flexionada e forma não flexionada, muitas vezes presentes no
ção de fé.” IDEL PRIORE, 1997: 194]
mesmo enunciado:
• “Os pratos italianos - as ma.ssas em particular - levaram al­
c) quando forma sintagmas adjetivos Itarefas p o r f a s e r , água para
gumas décadas para serem socializados, até transform ar-se
beber, f a c a d e co rta r p ão, ferro d e p a ssa r rou p a, problem as a
resolv er): em itens triviais dos menus das casas de família de qualquer
etnia.” (SCHWARGZ, 1998: 55)
• Estas cenas são de arrepiar.
• “A cama ainda persistia meio irreal, mas era agora como uma
ponte sem margens para ligar." (MACHADO, 1957: 6 8 ] É comum que a flexão se imponha por necessidade de clareza, espe­
cialmente se o infinitivo se distancia do termo a que, por anáfora ou cauifo-
d) quando serve de complemento predicativo ao objeto - expresso ra, seu sujeito gramatical se refere:
por pronome oblíquo átono —do verbo que o precede; • “Obrigados a recrutarem criadeiras por preço inferior ao co-
• O porteiro imnediu-nos de entrar. mumente pago, os .administradores e vereadores expunham
• A recepcionista mandou-me esperar um pouco. os recém-nascidos à amamentação artificial.” [DEL PRIORE.
• Não a§ \i passar por esta porta. 1997: 196]
• “Tendo vencido o primeiro desafio - de seform arem como mé­
e) quando, precedido de preposição e com valor passivo, integra a dicas. engenheiras, advogadas, entre outras profissões liberais
significação de certos adjetivos:
Airaçli«,'ftuduscrltiva bnisUelni rufere-st: (i concordfkncin ün predicativo com o objeto apeciuK i)unu-
• Essas moedinhas são fáceis de perder. do nqiuHe é expresso por adjetivo (cx.: Dcivnram acewi somenre n /tm Hn mmmitM / Rtx<o//ii ctwLtt
tx*Lws nu fuáío (lindu cteoa). A anAllse desse emprego do infinitivo como predicativo no espanhol
tem 0 respaldo de ALVRCOS LLORACll J1994: AU-3121. DECUARA [IW í: 4Al-tA2| cita o mesmo
A lle.xão do infinitivo depende de que a ele seja atribuído sujeito pró­ M.<\RCOb LLORACIi e endossa a opinião do linguista espanhol, embora nada dign sobre n questão
prio. No exemplo já citado “Inútil querermos destruir a ordem natural", o dd eonuurddnelii. Sobre a onAUso desse emprego do iiibnitlvo como predicativo. w r alndn ^.5.7.
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sv.MÍMi«<it«-»t |M\\(\ssl\mrtlt<)v'<tlv " |MKI. 1'UIOUK, \'*'17 5'«>1 ISm' muit» liulo, 0 Jíoluprt* olr\'un«t«uoli»! tm uuulnll/iiilor »»\nlor \\\>par-
MoípU» K\\\«lo %\\\K\ooiuloustuuUt uma o.'»iruluia oraoloual (luvos-
i ' n \'wmpkvN * \\'S\U( »-m >|\k' |hhIímii Htuiantouio pasNiva, iio vnimo ilo parilolplu), |Hk.sMt>naiU'NO antcN ^la otaviV>
vSNVOV» UHUh'«>'>»U'>«V>U\' I* rt»'\U>«rt<U >M> II llIVUlil IU\il l)l'\tl>l\ll>lll pUuolpal IVaia-.Ho lU' auii'^mUNU« oias'tVs nnliuUlas. \i\ \{\w imhIoiu apn'suu
• uiH\\'i>M vlii NviKiilrt, m> \lv\Mmii ns iiiitlU'liMiiil!< Uiilintii'ii!‘ t*u MvIoUo íUmU\Io lU» ila oras'An prluoipal. Nt»s oxiMUphKs »pu' sc koiÍuciu
itilIlNIIIHN, V'1'IHÍV'II >VS VN|H\>V\ 11 IVIIItVtKill' tllllllllN lU- \lllll Irt- louavH as «Uui.s NUims'^os
miU<ii“ ll'K I m v ^ K , ,HM1 • o hisit^rUnt ilo pai, mou iniiAn altcixm o iiluera*
• »tiN\'mü\i UlvmlUiiiiU' iliiN iVmtiiIsliis i'i>iisl>U'iiivii, xiihn'- i Iim Io pasNvio." |IU'NY, U. 7*S|
Uh(>', iiN i>llWiiUliiiU\s >|iio iis iimlIuMv.v il>' Hirtis iiliii i'im>lls'Ao • .\nuivt\uiiKs vHun no lurvm amarratUtN), ívn pas^oio.s

s\h'I aI i'iil'iviilA\<im |vini nu mmK\« ilo (iitl>tilli». \hhIoiu abrir uo oamlubt^


i'i'ini\>l.i>k> (vliVN liiMiioiiN “ |1'KI l'KIOKK, l'i'>7 5**01 • .Víviu» o oiubrullto (• tptamlts^ilo|HA»N «pio abrhi/ab rtrauU , Ana
• "jH-KviiMiiinnvN .xljiims mwntiiiUvs |Min .<i-s\>>f>»iftiiiw « vtil* lov«m um su.stu
in.-*iv'iii»l i'in >111»' s»' »'n\»'l\vn cssa innUi»'r »U' »'Ui»' »l» wnA» >1»
NvnvWu- “ l\*Kl 1'HIOKK. l*>>*7 .'70) c 'oii/uxviaío iHVNMtl s\pobo cxarvforvnio do ii/ron»ii: moi4 inmb». Amur-
• ",Vs niA»\s nA>* »MMi>l;iM svniiMv Onliiim a ivvislMIUtml»' >U- m' t\hí»vN ix'íor\' xNo a um tonuo ipio ó tamlvm sr\K'bi» «.Ia %»ms'Ao prinoi^vil «xs
»\v\)in»Mf >Ia 1*1 i>»0>Ia>I»' i\n»-inrt »(»vlinnn»K> svus IlUuw '>1»' im I .\ívit4»» \x»r sua \vi, sorvv do prvxUotido a o om bn i//io, oiupianto o
i,iin»»i»>l>'' " (OKI l'KU*RK, l'*'*7 5411 sua'l(o ^la oittytU' prtiK'i|vd o mitrxv Arai Kiu \puiUpior oasOx a ora^Ao n x b u l-
• '\>s i5»'mt>'i\\N >x>nlA\Am >>iili-!i IOs(»»nA: no >ifinr uiAo >U' s»'ii>i via jsxU' sor |Hvslv'b'nada, ontrx* |■^^us<^N. u\mví xsrdcito ila princl|>al-
tiUuvN, (.«•lAm inn n>»l'iv sji»'uhv'io ivnxi )itti>^o <v>i ivits mlott- • Ana. u/H*ito o om bndbtv lovuu un> snsuv
• i Vs iVKxaoN. (iMMimNlivs vxau Kirtvmto. |Xxlom abrtr m> cam inho
»^v» "l»'^■> l'RH'RR. I**'*7 5,"*!
• Mon InnAo. ixtn /u w n tlo o hisiPrkx^ do ^xal. aU cro n o itlnorárir>
11 if» l a Kí M ' i o K l■ \ K rl^ U 'u » iK' CVissolo
V o(VV»lv\V> »'IIHV A >\MK'lllN.k' >k> IXWWV»' »' ,1 IVpiX'!*'l«A\'Ao »l»'StO UA SVIA»hi-
lAx^sk» »\yv'(HinnA >U »vii»ií »i\a w-iKaI >k' iisiyx^fo - »* >» niAÍs ixl*»*» tniivlA- Nt\ssrts oiMuana,xVs. lanU' i' iSonmdU' ^nanu^ o \xutloipio abea'‘r w m cortsxi
IIKAll»' >kl >llN'IVII\\» »A«IV >' |vmK'H>l»> I t^nTkim »AW)l|tnHll> o s iiiijivaaos ■»ís xal\'i\'s ou\am»NtAiK'iais ipio. misxTiriantos om iV^nua
im:n-ss>vs sifiio »x>Mi|«xHÍo.\-.mt>mA>iK'o ií>'mn»U»iKsíirtxim »>wnimiiHfciivs àmta iHi om tonna inhnUiMi. \'Cm n:s|xv<b'anKanc cxprvss^is |X'Uis CMujimv^^cs
Nx^ios i-xi-iniikvi, o i\h ik 'I|'i»' »•o i!»-mn>li>> >vinvim » »vnu\> »k> ini' o|X'Us i^^xisisVles qiM im ^iubrinim . x%r,rii»x'm om arriM los. |>or
v-kx» \viK»l |x»A S.41, o ix-inix». >> in>vk>, o mmH'ix»»' A ivns>vi inuxifniuxxx »kx i>iv- lam hm didi^ nas tonnas do participlo o vlo i^'nuHUo. õ c o m u m quo
>lK\«>k> sA>» c\ix(x'ssos m» vxn i» >k< xx'i4x> aum Iiai ifinÍMm, sx-ixio »' »'»krxxiiM V Oxssos ditoTvnios x^aloros clrcm istan cials saS (xissam s c r roou|XMiulos (x^la
lix-ixnnlK» »■ |V»ni»'ipit> Aprx-soulAin xAnAs Altni»lA>U's s íii (AIí»'an. m.is sx' imu»v\^\» ik' iiuorliX'utor, soja omn haso nos taiorvs p ro sem o s n a siuiavAo
>iisin\i»KAn rA>h»-Alui»'nK- jx-k» |viix'l >iik ' xU-sx-inivnliAin iia oxprvssAo iIas vvmimtoati\'a (.cxm tcxto pra^m ãticiA. sojia om funv^o da natUTVsa m e sm a
xxvj\-s »k» x\'i<>' I ' !i»'mn>lk» »' imiA roniiA mvAnAxcl o\»'lnsix a »Ia \\»i aox a. ownti» klosijinxavki jxdo onunctaiks.
A>* ivxvxv »iiK' >' iMitK'nyo o morlokxi5i»'Am»'nU' xx-rsAlil ixvisui lonuA invA- iAMihiiulom^o' iu\xVs com o hhmío e mo#o. O ^ n m d io que as expressa
nAvx'l, sx-nipix' prx\xxluÍA >k» AiixiliAr rv» h>KX-». ivini a xxx» aiíx a . »• lonuAs vkaiotxi um lato sinmliAne\> ao kk> w rN i usado em forma trnita:
AnAkx<AS As »k' AvIm ix x » ixaia a oxprx^ssAo >U xxxi |xassixa. • Subia o morro caiimiido. ^.modo>
SA»' vxymuts A»» (VirtK'i|xi»» c a»> ij»'nni»li»' vx-has fiiiivxVs A>txvrhiAis c • Sobreiiw ram no m ar hcbemfo li^ua da ohu\'a. ^meio)
l'»xxlh.'Atix AS. N»vs cxcm|>Kvi aKxix »». >J>uxm »«k's»'n{>hkts sx'rxx'ui vlc prxxü-
oauxx» a»' SN >»s »'n>i»*yx»s !.> liorundio ^pio kWnota \mi falo aiuerior ao do w rb o em form a Ànita
• k'iKxyure-1 AS onAivAs >k>itNm»k> ua ».'Ak,'A»lA temk' a exprimir fomjx». cuusu e coiuifçôo. frequentem ente m esd an d o e s­
• K»xx*mx'i v-nAivAS s>xir.KÍ.xs ha x-aK-Ai Ía. tas m v V s. Comparem^se as s i.^ im e s N^ariantes do exem plo acim a:
J4 6 t íl’ARTA PARTE - MORFOUXilA FLEX10NM, R SINTAXE
e í:iH o o e A R n » í:A P lT iii.o : o i>RHrnij<i c o m p o -s t o ,W7

• Bebendo água da chuva, eles sobreviveram no mar. (causa)


a alegada culpa, o suposto envolvim ento, o dito en con tro, o e s p e r a d o su ­
• Bebendo água da chuva, eles sobreviverão no mar. (condição) cesso, o citado com prom isso, o tem ido fr a c a s s o , a p r o p a la d a c o ra g em , a
presumida inocência.
Por sua vez, o gerúndio que denota fato posterior ao do verbo usado
em forma finita tende a exprimir ad ição, con clu são e conseqtiência, fre­ 14.17 1’ARTIGfPIO E AUIETIVO
quentem ente mesclando estas noções: O particípio é uma forma erainentemente verbal quando, invariável, vem
• Parte do teto da igrejinha desabou, ca u sa n d o pânico entre os precedido do verbo auxiliar ter/haver na formação dos chamados tempos
fiéis, (consequência) compostos. Quando, porém, é variável em gênero e número - como na
• Os preços anunciados são promocionais, poden do ser altera­ construção passiva (as cartas fo r a m en v ia d a s) - o particípio se apro­
dos ao final do estoque, (conclusão) xima dos adjetivos, de tal sorte que, era muitos casos, migra para esta
classe (cf. calado em uma criança calada-, p r e p a r a d o em fu n cioru írios
A oração reduzida de gerúndio possui geralmente sujeito correferentc preparados-, salgado em com ida salgada). Alguns verbos - conhecidos
ou relacionado ao da oração principal. A diversidade de sujeitos entre essas como abundantes - apresentam, como alternativa ao particípio regular
orações é um tanto rara na escrita corrente. Os exemplos seguintes foram em -do, uma forma irregular - por exemplo, en xuto (de en xugar), a c e s o
colhidos em narrativas literárias: (de acender), corrupto (de corrom per), im erso (de im ergir) - que sempre
• “...meu coração bateu adiWnhando quem poderia estar ga­ se emprega nas ‘passivas de estado’ (ver 12.5) e que tende ao uso tipi­
lopando sozinha a cavalo, ao longo da praia, na manhã fria. camente adjetivo - roupas ervcutas, lâm p a d a a c e s a , p olítico co rru p ta ,
Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus [....] corpo imerso.
mas parou, o animal resfolegando e ela respirando forte..." Um particípio preserva sua característica verbal se a construção em
[BRAGA, 1963a: 149| que ocorre é uma típica construção passiva, reconhecível graças a pelo me­
• “Voltava aos cálculos, até que, já no fim da primeira sessão, su nos um dos seguintes aspectos: possibilidade de integração de um agente (a
cam balean do de sono e fadiga, ele tinha uma ideia aproxima­ floresta é habitada por lobos /floresta h a b ita d a nor lohnsi. equivalência
da de quantos balões faria...” [GONY, G. H. 1995: 99] entre o termo a que o particípio se refere e o objeto direto do verbo corres­
• “...no sexto dia levantei-me, e só então soube que o canário, es­ pondente (floresta habitada por lobos /os lobos habitam aflo resta ):
cando o criado a tratar dele, fugira da gaiola.” [ASSIS, 1990; 69) • “Seguiam-se os coches da casa imperial, la d ea d o s por seus
lacaios e aparados pelos homens de serviço, logo atrás.” [GO­
As afinidades já referidas entre o particípio e o adjetivo se revelara, MES, 2007: 295]
principalmente, na aptidão de ambos para desempenharem função atribu-
tiva (adjunto adnominal) e predicativa (núcleo nominal de um predicado). Os exemplos seguintes, por sua vez, contêm ex-particípios, integrados
O exemplo a seguir reúne particípios nessas duas funções: à classe dos adjetivos;
• “Alguns de meus colegas traziam escon didas nos bolsos ba- • “Os fazendeiros de Nanuque reclamavam contra esse homem
ganas apanhados na rua, roubadas a seus pais ou ganhas de estranho, em brenhado no mato...” [ANDRADE, 1985; 21-23)
amigos." [líTlRlSSIMO, E. 1974: 8 6 ] • “Assiste-se assim, nos países mais a v a n ça d o s tecnologi-
camente, à perda do monopólio estatal de violência legíti­
Os particípios apanhadas, roubadas e ganhas coordenam-se modi­ ma (...) em proveito de empresas p riv a d a s de segurança...”
ficando a base baganas no interior do mesmo SN, ao passo que o SAdj. [SCHWARGZ, 1998; 256]
e s c o n d id a s nos bolsos atua como adjunto predicativo desse SN, função que • “E respiramos aliviados como quem tira um sapato a p e r ta ­
lhe dá a mobilidade facilmente atestável no exemplo. do." [OLIVEIRA, Rosiska D. O Globo, 2/7/2008]
Registre-se, por fim, o caso das construções em que o particípio or­
dinariamente se antepõe ao substantivo para aludir a um discurso prévio:

A J
34S 0«tARTA fAKTK - MORKILOtUA Ff.eXIONAL E SINTAXE
01'ARTO o r»Bl«M *o t .uMlN « T i i .•*# *

14. IN COORDKN.XI.XO 1 )K OU.VÇÕES SIUIORDINADAS


dem. Es.ses verlros tCm uma iníluCncin direta no efeito de sentiilo proiliizido
Em 14.10 referimo-nos .tos conectivos dg coordenaçiio. Voltamo.s a^ora a pela enunciação; são autõnticos halizadores do grau ou tipo ile releviinola
ole.s para mostrar algumas importantes diferenças distribucionais que apre­ que o interlocutor 6 induzido a atribuir ao conteúdo proposleional (cf f>.r>)
sentam: como meios de conexiío, pois, entreianto e portanto só associam da oração cm foco. Eles ocupam na estnitura do enunciado a posição do
orações independentes; e, ou e mas, por sua vez, podem coordenar orações que estamos propondo chamar ‘halizadores de compreensão'.
subordinadas; Vamos ampliar a demonstração do funcionamento de.sses halizadores.
• É estranho que ele tenha vindo aqu i e não ten ha m e pro­ Tomemos para exemplo a matriz (cf. 6 .6 ) \vi/>ia, dorm ir] e comparemos
cu rado. variações para dizer i.s.so, ora repre.sentando a situação como um dado real,
• É estranho que ele tenlm vindo aqui m as não tenha me pro­ ora como uma po.ssibilidade. No primeiro caso, podemos exprimir ilesa-
curado. lento (Eu Já im aginava que o vigia e.stuva dorm indo), rep ro v a çã o (É um
• É possfvel que ele venha pessoalmente ou m ande aluuém em absurdo o vigia estar dorm indo), ironia (É co m p reen siv cl qu e o v igia e s ­
seu lufiar. teja dormindo), surprestt (N ão éq u e o vigia estava dorm in do?), ex td ta çã o
(Ainda bem que o vigia está dorm indo!) etc.; no segundo, ca u tela (IVjii
14.19 BALIZ.VMENTO 1)E CO.MPREE.VS.W) IC(;0.\NTRlf(,;.\() 1)0 verijieur.se o vigia está dorm indo), suposição/descifio (A /m sto q u e o vigúi
EM N CIA IX) estd dormimlo), indignação (É in ad m issív el que o vigia esteja dorm in do),
As escolhas lexicais e as opções estruturais do enunciador estão condicio­ suposição (O vigia s ó p o d e estar dorm indo!).
nadas ao efeito de sentido que ele busca alcançar. Ele escolhe entre uma Esses sinais halizadores se posicionam, tipicamente - mas não neces-
construção ativa e uma construção passiva, entre uma ordem e uma per­ .sariamente antes da oração que contém n matriz proposicional a ser
gunta, entre a afirmação direta e crua Você já está velho e a branda e insi- interpretada.
nuante Você j á não é tão moço. Dispomos de uma grande variedade de meios para sinalizar essa orien­
Há muitos modos de fornecer ao interlocutor pistas para o processa­ tação no discurso, representados especialmente por a d v érb io s/lo cu ções
mento do sentido daquilo que lhe dizemos. São recursos inerentes à função tulverbiais (felismente, pessotdm ente, d e fa to ), con ju n ções (m as, p o rtan ­
interpessoal da linguagem (cf. 4.1). Um deles constitui o que vou chamar to), luljetivos e substantivos de teor opinativo em g era l (claro, natural,
‘balizamento de compreensão’ (cf. 4.5.6.2.3). Por meio dele, o enunciador impossível, justo, imprudência, verdade, hipótese), ortjções su b o rd in a d a s
enquadra o objeto do ato comunicativo, definindo a perspectiva ou con­ tulverbiais (ver 14.13) e por algumas subclasses semânticas de verbtis:
dição sob a qual pretende que o interlocutor o processe. Em 4.3.3 obser­ verbos de com unicação (anunciar, declarar, dizer, exigir, negar, p ed ir,
vamos que a enunciação em tom impessoal pode assegurar à proposição ixrmitir, proibir), verbos de p ercep ção intuiciva/em otiva ou intelectiu d
Este anel é de ouro maciço o status de uma declaração objetiva. Esta frase (acreditar, achar, imaginar, ignorar, reconhecer, sentir, su por, su sp eitar,
tem o formato gramatical do que chamamos ‘oração’. Essa oração pode vir constar, duvidar, temer, estranhar, lam entar) entre outros. No caso dos
inserida no texto de modo que a compreensão de seu conteúdo passe a de­ períodos integrados por orações substantivas, a regra é que a oração princi­
pender de outra informação na qual esteja gramaticalmente ancorada. Esta pal funcione como balizador de compreensão, como nestes exemplos:
informação, que serve de âncora para o conteúdo central do enunciado, • Parece que esses animais estão com sede.
funciona como balizamento de compreensão. • É possível que esses animais estejam com sede.
Suponhamos que inseríssemos a referida proposição nos seguintes • É evidente que esses animais estão com sede.
contextos sintáticos; • Ele pede que vocês fiquem mais um pouco.
• Parece que este anel é de ouro maciço. • Ele espera que vocês fiquem mais um pouco.
• O ourives garaníe que este anel é de ouro maciço. • Ele sugere que vocês fiquem mais um pouco.
• Consta que este anel é de ouro maciço.
Também nos grupos de enunciados a seguir, o conteúdo das proposi­
O processamento da informação expressa pela proposição depende ções em itálico vem informado em segundo lugar nas versões ‘c ’ c ‘b’ a fim
agora do ‘contexto mínimo’ produzido pelos verbos em itálico que a prece-
J5 0 TARTE - MORfOUKUA FLEXIOX.U. E SINTAXE

DÍCIMOyiMRTO í-U'(Ti;U): o PERfoiK) tMMhWTO .Wf


de que sua interpretação seja antecipadamente influenciada pela informa­
ção balizadora. em negrito e itãlico nos seguintes exemplos: Diferentemente dos exemplos ‘b’, as orações dos exemplos ‘a’ e 'c ' po­
la) Ele me pediu que d irigisse porque sua carteira de habilitação dem trocar sintaticamente de posição. Isto acontece porque n conjunção
estava vencida. está agregada à oração subordinada para lhe conferir o sentido (motivo,
lb) Sua carteira de habilitação estava vencida; p o r e s s a r a t ã o , ele
concessão ou tempo) que, qualquer que seja sua posição, eln exprime rc-
lativamente à oração principal. Seu posicionamento antes da principal, na
me pediu qu e dirigisse.
versão ‘c', topicaliza-a, fazendo dela um balizador de compreensão.
lc) C om o su a c a r te ir a d e h a b ilit a ç ã o e s ta v a v en c id a , ele m e pe­
diu qu e dirigisse.
N .20 OMISS.AO E E U P SE DE CONECTIVOS
Obviamente, o que justifica a omissão de qualquer unidade linguística ó,
2a) Os fis c a is recolh eram a s m ercad orias embora elas ainda estives­ em primeiro lugar, o fato de sua função estrutural ou informativa ser redun­
sem no prazo de validade. dante no contexto em que ocorre: O m uro e r a fe ito d e p ed r a e c im en to (cf.
2b) As mercadorias ainda estavam no prazo de validade; m esm o a s­ O muro era/eito d e pedra e d e cim ento).
sim , os fis c a is a s recolheram . A omissão da conjunção subordinativa - integrante ou adverbial - res­
2c) £m bora os m e r c a d o r ia s a in d a estivessem n o p r a t o d e v a lid a ­ tringe-se às orações constituídas de verbo no modo subjuntivo, que já é de
de, os fis c a is a s recolheram . si uma marca de subordinação, e cumpre função estilística. Além de ocor­
rer no modo subjuntivo, o verbo se antepõe ao respectivo sujeito, recurso
3a) Pedro e A na a in d a não tinham filh o s quando se mudaram para que contribui para realçar a informação expressa na oração subordinada:
São Paulo. • “Jamais permitiría que seu marido fosse para o trabalho com
3b) Pedro e Ana se mudaram para São Paulo; n essa o c a s iã o , eles a roupa mal passada, nõo d issessem o s co leg as que era esposa
a in d a nõo tinham filhos. descuidada.” [COLASANTI, 1999: 63]
3c) Q u an do P ed ro e Ana se m udaram p a r a S ã o P au lo, eles ainda
não tin ham filhos. A omissão da conjunção integrante q u e é um traço de alta formalidade
dc certos gêneros textuais, especialmente na linguagem administrativa e
Os enunciados ‘a’, ‘b’ e ‘c’ era cada grupo acima são alternativas es­ forense:
truturais para comunicar o mesmo fato objetivo, o mesmo conteúdo refe­ • O diretor determinou fo s sem anexados à prestação de contas
rencial. Em ‘b’ tem-se sempre uma construção de coordenação, em ‘a’ e ‘c’ os comprovantes de despesas com alimentação. (= determi­
nou que fossem).
o processo é de subordinação. A segunda oração dos exemplos ‘b’ começa
sempre por uma locução que converte e condensa o conteúdo da primeira
14.21 f:0RREI..\Ç.\0
num balizador de compreensão: motivo em 1, concessão em 2, tempo em
A união sintática de dois sintagmas ou de duas orações pode ainda ser ex­
3. Esses balizadores são formados por palavras de função anafórica, o que
pressa por um p ar d e pala v ra s ou locu ções qu e s e p a ra d a m en te a s s in a la m
faz deles verdadeiros elos sintáticos - são autênticas locuções adverbiais
cada um dos termos conectados. É o que se passa com a construção ta n to
conjuntivas (ver 13.2.5). A natureza adverbial lhes faculta certa mobili­
eu quanto ele, comparada a eu e ele'. Trata-se da correlação, processo usual
dade (As m ercadorias ain da estavam no prazo de valid ad e; o s fis c a is,
na linguagem da argumentação, utilizado para dar idêntico realce às uni­
m esm o assim , a s recolheram ), mas a condição anafórica impede que a
dades conectadas. A maior parte das palavras gramaticais que a realizam
oração integrada por elas ocorra na primeira posição (‘ P or es sa r a z ã o
é emprestada de outras classes, como os advérbios tanto e q u an to, m a is e
ele m e pediu que dirigisse, sua carteira d e habilitação estava ven cida). também. A correlação é um expediente retórico, de rendimento enfático no
A obrigatoriedade dessa ordem é característica das construções de coor­ discurso, e não um processo sintático distinto da coordenação e da subordi­
denação, nas quais o instrumento da conexão se interpõe às orações (As nação. As estmturas correlativas da coordenação são abordadas em 14.10.2
m erc a d o ria s ain d a estavam no prazo de v alidade, mas os fis c a is a s e 14.10.3; as estruturas correlativas da subordinação se acham menciona­
recolh eram ). das em 14.13.1.3 e 14.14.1.2.
ütcaio QUINTOCArtTULO: ART1CULAÇAOTXXTUAI- VXa TEM POS E MOIXJS D ÍJ VERBO 353

Nos exemplos citados, em ‘a’ um narrador reconstitui uma experiên­


O EC IM O Q H N T O C A IM T n X ): A U T IC I LA Ç Ã O T K X T I AI cia passada, empregando, para tanto, verbos no tempo pretérito; em ‘b ,
D O S t i : m i *ü s i: m o d o s d o m : r i k ) o uso da forma escava situa o fato narrado no passado, mas as formas
ria, iria e descan saria dão conta de ações que, embora também preté­
ritas, são, no entanto, posteriores ao momento retratado em e s ta v a . Em
‘c’ uma pessoa dá orientação a outra para localizar um endereço, e em ‘d’
alguém enuncia três fatos por acontecer (ir p a r a c a s a , d e s c a n s a r e a c o r ­
dar), sendo que o terceiro deles (a cord ar), mais remoto que os outros,
constitui uma circunstância futura para outro ato (telefon ar).
15.1 M.XRCOS TEMPOR.MS O f PONTOS DE REFERÊNCIA (PR)
Os exemplos ‘a’ e “b’ referem-se a eventos situados no passado, e os
■\.s pessoas não vivem somente de suas relações com a circunstância ime­
exemplos ‘c’ e ‘d’ a eventos situados no futuro. Em ‘b’ temos quatro ações
diata: o oífui e afiora do discurso. Elas são dotadas de imaginação e de
sucessivas localizadas no passado, sendo que a primeira (a partida para São
memória, (acuidades que lhes permitem afastar-se mentalmente do aqui Paulo) serve de ponto de referência para as demais, todas subsequentes. Por
e níJora, da experiência imediata do mundo. Esse afastamento mental do outro lado, em ‘c’ o falante transporta-se mentalmente para um momento
aqu i e ugora desloca-as para outros lugares e momentos que passam a ser futuro - Quando você pegar a estrad a p rin cip al. Esse momento futuro é o
outros pontos de referência. É o que fazem quando contam casos e histó­ ponto de referência das ordens observe, d obre e siga. Por fim, em A m a n h ã ,
rias, reais ou fictícios (ver abaixo o exemplo ‘a’), ou ainda quando im a^ am assim que você acordar, a cord ar denota um ato futuro relativamente ao
uma situação, certa (ver exemplos ‘b’ e ‘c’) ou hipotética (ver exemplo ‘d’). momento da fala, e em com o p a sso u a noite temos um verbo no pretérito,
a) “,\s sobras da fonte^onturoam o riacho que p a ssa v a pelos fundos que denota um fato ainda não ocorrido no momento da fala, mas anterior
dos diversos terrenos da rua, inclusive o nosso. O pai fico u fasci­ e concluído em relação a um ponto de referência futuro, assinalado pelo
nado por ter um rio em seus domínios. E antes mesmo de deixar­ advérbio Amanhã. Note-se que, por isso, não há incoerência em se dizer
mos Niterói para tomarmos posse da nova casa, ele já com eçara a como passou a noite para enunciar algo que, no momento em que se fala,
construir uma harr.agem a fim de obter um pequenino lago. Nele, ainda está por acontecer.
chcÉou a pensar em criar peixes.” jCONl', C. H. 1995: 661 Temos, portanto, três pontos de referência para a ordenação temporal
b) "A ida para São Paulo no trem especial estava marcada para as dos fatos e idéias que constituem o conteúdo de nossos discursos. Um é o
nove horas da noite, .\ntes de recolher-se ã sua cabina, o sobe­ aqui e agora, presente em todos os enunciados. É um marco temporal ou
rano/aríti uma ceia no carro-restaurante e írín para seu vagão, ponto de referência básico e necessário. Os outros dois, dependentes do
onde d escan saria até a chegada à capital paulista.” |CONl’, C. primeiro porque se apoiam nele, têm em comum o deslocamento mental
11. 199.5 1,111 do falante para um ponto no passado (exemplos ‘a’ e ‘b’) ou para um ponto
c) Quando você iiegar a estrada principal, observe o primeiro sinal. no futuro (exemplos ‘c’ e ‘d’).
ÍJoòrv à esquerda e sifia em frente uns 5(K) metros. Você txií ver
um posto de gasolina. Eu cou esmr lá esperando. 1.S.2 .VS TRÊS VARI.U EIS DAS REL.VÇÕES DE TEMPO
d) Agora vá para ca.sa e descanse. Amanhã, assim que você acordar O detalhamento apresentado acima revela que precisamos de três variáveis
me telefone para me dizer como pa.s.soii a noite. para compreender as relações de tempo expressas na frase em português:
a) o momento da enunciação (ME), isto é, a ocasião em que se dá o
Esses deslocamentos mentais não significam que, ao assumir a pala­ ato de faia ou de escrita;
vra, uma pessoa pode ocasionalmente abandonar o ponto de referência da b) o ponto de referência (PR), isto é, cada uma das etapas (presente,
enu nciação-otjqu f e agora. Na realidade, o que ela faz é eleger um segundo passado, futuro) nas quais se divide a linha do tempo e a partir das
ponto de referência não coincidente com o momento da enunciação, o qual quais situamos o fato expresso pelo verbo. É o PR que possibilita
também funciona como um marco temporal de certos fatos e situações. os deslocamentos mentais do enunciador: como ‘fato já aconteci-
.1 5 4 Ql-VRTA P.KRTÍ - UORFOLOGU n XXÍÜ SA L E SINTAXE

llíC U IO QUINTO CAPÍTUI.O: ARTICUI-XÇAO TEXTUM . POH TEMPOS E MODOS IX» VERW ) .155
do’, típico das narratívas tradicionais, ou com o ‘evento prospecti-
vo’ (Am anhã eu telefono e d ig o se c o m p r e i o s in g resso s); - estas, aqui, desta, ag ora, este - deram lugar às formas correspondentes
c) por fim, temos o intervalo de tempo (IT ), ou seja, o segmento da da ordem do passado - oquefos, lá, d a q u ela , en tão, a qu ele. As formas ver­
linha do tempo representado com o anterior, contemporâneo ou bais que expressam posterioridade ao presente deram lugar a outras; estas
posterior ao PR. É no intervalo de tempo que os fatos expressos mantêm a ideia de posterioridade, mas ao passado: p o d ería m , p o u sa sse,
pelos verbos são situados. adiantaria, p en sasse e lem brasse. Ou seja, os intervalos de tempo em que
se situam os eventos têm sempre, nas duas versões, as mesmas relações de
l.i.â V.\R1.\Ç.\0 Kl-ND.\MENT.\L DO PR: P R E SE N T E X PASSADO simultaneidade e posterioridade com o respectivo PR. E é isso que determi­
Comecemos pela comparação de dois trechos que se distinguem pela varia­ na a mudança das formas verbais e dos advérbios.
ção do ponto de referência; presente em 1 e passado em 2. O texto original e sua versão adaptada exemplificam a base geral do
1) 0 enunciador coloca-se na perspectiva do presente, fazendo coin­ funcionamento dos tempos no discurso, com dois pontos de referência fun­
cidir o ME e o PR: damentais: o presente e o passado.
As substituições realizadas não são, porém, mecânicas, como pode fa­
• “Ao deixar escritas esta s memórias, minha intenção não é, como
zer supor o exemplo, pois é comum que outras variáveis intervenham no
muitos poderão julgar, a de justificar-me - e nem de parecer
processamento temporal do texto, como se verá na sequência, em que exa­
melhor após a minha morte, não. Mesmo porque, se algum olhar
minaremos três textos organizados como narrativas.
humano p ou sar a q u i após o meu desaparecimento, pouco ou
nada ad ian tará o que se p e n s a r a meu respeito, pois já estarei
I.4.4 ARTICULA(;A0 DOS TE.MPOS VERBAIS EM
desfeita em cinzas, e talvez ninguém se lem bre mais d esta que
TRÊS FRAGMENTOS NARRfVTIVOS
agora se debru ça sobre este papel.” [CARDOSO, 2002; 154]
Os textos comparados a seguir estão estruturados da perspectiva do pas­
sado, conforme o modelo narrativo usual. O primeiro deles exemplifica a
O ponto de referência (PR) que ordena a temporalidade do conjunto estruturação típica das narrativas populares, com um enunciador externo.
da.s açòes é o presente, segundo se comprova nas formas verbais é e debru­
ça e no .advérbio agora-, as demais formas verbais situam o que denotam em
l^xto 1: O sapo « o coelho
momento posterior a este PR: p o d erã o , a d ia n ta r á e es ta r ei são formas de O coelho vivia zombando cio sapo. Achava-o preguiçoso e lerdo, incapaz
futuro do presente; pou sar e p en sa r são formas de futuro do subjuntivo; e de qualquer a^lidade. O sapo heou zangado:
lembre é forma de presente do subjuntivo. - Quer apostar carreira comigo?
- Com você? - assombrou-se o coelho.
2) O enunciador desloca-se mentalmente para o passado, que possa -Justamente! Vamos correr amanhã, você na estrada e eu pelo mato,
a ser ponto de referência (PR): até a beira do lio...
* Ao deixar escritas tuiuelas memórias, minha intenção não O coelho riu muito c aceitou o desaho. O sapo reuniu todos os seus
era. eoino muitos fxtderiam julgar, a de justificar-me - e nem parentes e distribulu-os na margem do caminho, com ordem de respon­
de parecer melhor após a minlia morte, não. Mesmo porque, der aas gritos do coelho.
se algum olhar humano /xm.sosse /<i/ne/«s após o meu desa­
Na manhã seguinte os dois enhleiraram-se c o coelho disparou como
parecimento, pouco ou nada ailian taria o que se pensasse
um ralu, perdendo de vista ao sapo, que saíra aos pulos. Correu, correu,
a meu respeito, pois Já estaria desfeita em cinzas, e talvez
correu, parou e perguntou:
ninguétn se lem brasse mais d aqu ela tiue etitão se dehrw,iiva
- Camarada-Supo?
,sobre tuiuele papel.
- Oi? - coaxava um sapo. Debalde o coelho corria e perguntava,
sempre ouvindo o sinal dos sapos escondidas, ("heguu ã margem do rio
Agorti o ponto de referência passado é Indicado pelas formas de pretéri­ exausto, mus Jã encontrou o sapo, sossegado e sereno, esperando-o. ()
to Imperfeitotro etlebnu,-ava. Pronomes e advérbios da ordem do pre.sente
coelho declarmi-se vencido. (tlASCUDO, IHlj

i
356 ü ('-«T A PARTX - W lR R llO r.lA nXXtO S.AL E SIAT.AXE
UETJMOqUlNTU CAPÍTUIA): ABTICULAÇAO TEXTUAL W«í TEMl-OS E HOnOS DO VERIMJ 357

Os verbos da narração propriamente dita se acham nos pretéritos im­


Ibxto 3:
perfeito e perfeito. Há nma forma no pretérito mais-que-perfeito - saíra
Tarde de domingo. O céu era de um azul absoluto, esmaecido pelo ex­
que informa uma ação do sapo anterior a perden do d e vista. O pretérito im­
cesso de luz do sol. O calor abafado cobria o rosto com gotas de suor que
perfeito dá conta das informações que traçam o pano de fundo em que se de­
escorriam. Nem uma única nuvem que desse sombra. Nenhuma pro­
senrola o episódio ou que são narrativamente secundárias, e o pretérito perfeito
messa de chuva que apagasse aquela fogueira no meio do céu . O carro
assinala as ações que se sucedem na linha do tempo e estruturam o enredo.
corria pela estrada em meio a um cenário triste. As árvores eram raras,
O segundo é um fragmento do conto “O enfermeiro”, de Machado de
perdidas naqueles campos pobres onde crescia um capim vagabundo e
Assis, com narrador em primeira pessoa.
teimoso. Se o calor contintmsse também as árvores e o capim m orre­
ríam Nenhuma vida resiste ao calor por muito tempo. Lembrei-me da
Ttxto 2: O enfenneiro
palneira e das profecias de Am do mundo da minha infância. Percebí que
Quando percebí que o doente e.\pirava, recuei aterrado, c dei um grito;
nossas imagens estavam equivocadas. O mundo não term inaria com
mas ninguém me ou\iu. Voltei à cama. .agitei-o para chamá-lo à vida, era
uma chuva de fogo que fa r ia tudo arder numa fogueira. O fogo de fim
tarde; arrebentara o aneurísma, e o coronei morreu. Passei à saia contí­
do murulo seria mais cruel, como aquele daquela tarde: fogo d e forn o
gua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto. Não posso mesmo
baixo, que assa vagarosamente. [ALVES, 2003: 100[
dizer tudo o que passei, durante esse tempo. Era um atordoamento, um
delírio vago e estúpido. Parecia-me que as paredes tinham vultos; escu­
Este texto relata um episódio, identihcável na sequência de enunciados
tava umas vozes surdas. Os gritos da Wtima, antes da luta e durante a
que contêm verbos no pretérito perfeito e no pretérito imperfeito do modo
luta, continuavam a repercutir dentro de mim, e o ar, para onde quer
indicativo. Ei-lo como Aca, reduzido à sua estrutura básica; “Tarde de
que me volta.sse, aparecia recortado de comnilsões. Não creia que esteja
domingo. O céu era de um azul absoluto, esmaecido pelo excesso de luz
fazendo imagens nem estilo; digo-lhe que eu ou\ia distintamente umas
do sol. O calor abafado cobria o rosto com gotas de suor que escorriam .
vozes que me bradavam: a.ssassino! rVssassino! [ASSIS, 2004; 141]
O carro corria pela estrada em meio a um cenário triste. As árvores eram
raras, perdidas naqueles campos pobres onde cre scia um capim vagabundo
O episódio narrado é curto: vai de Quando p ercebí até a o qu arto. Este
e teimoso. Lem brei-m e da paineira e das profecias de fim do mundo da
trecho é estritamente narrativo; as ações estão representadas por formas de
minha infância. Percebí que nossas imagens estavam equivocadas.”
pretérito perfeito, seqtienciatÜLS segundo a ordem dos fatos que exprimem.
Os enunciados restantes, destacados em itálico, são reflexões, ponde­
Uma única forma de pretérito mais-que-perfeito - a rreb en tara - assinala
rações, comentários a propósito da experiência relatada, mas que não fazem
um fato anterior a pelo menos uma das ações expressas pelo pretérito
parte do episódio, como se vê na versão acima. Dois desses comentários estão
perfeito. Na sequência, o narrador emprega o presente do indicativo para
no tempo presente (“Nenhuma vida resiste ao calor por muito tempo” e “fogo
comentar o próprio ato narrativo (Não posso m esm o d iz er tudo o que
de forno baLxo, que a ssa vagarosamente”) e os demais contêm verbos no
p a ssei). Daí atéctmi-u/.sõe.s ele emprega formas de pretérito imperfeito para
pretérito imperfeito do subjuntivo e no futuro do pretérito (“Nem uma única
descrever o que se passa nas dtuis horas que permanece na sa la contigua.
nuvem que desse sombra. Nenhuma promessa de chuva que a p a g a sse aquela
O narrador arremata o trecho com novo deslocamento para o PR presente
fogueira no meio do céu”, “Se o calor continuasse também as árvores e o
(creia, este/a, digo) para comentar o ato narrativo, ou, mais exatamente, o
capim marreriam”, “O mundo não term inaria com uma chuva de fogo que
discurso com que relata o delírio vago.
faria mdo arder numa fogueira”, “O fogo de Am do mundo seria mais cruel”).
Como se vê. há uma mudança de pontos de referência que marca
Este texto é construído, portanto, em três planos - um predominante e
claramente os limites entre o relato (identificado nas formas verbais de
dois coadjuvantes - que se integram no sentido geral: o da realidade evocada,
pretérito) e o comentário (identificado nas formas de presente: imperativo, o das verdades permanentes e o das hipóteses. Cada um desses planos
subjuntivo e indicativo). contribui de modo diferente para o sentido geral do texto. É como se seu
O terceiro texto também apresenta uma estrutura complexa. enunciador se desdobrasse em três; um que relata um episódio recuperado
pela memória, e o faz empregando formas do passado; um que se vale do
•IS S OIWIITA rARTf. - UORTOLOOIA nXXIONAL E SIXTAXE
DÉCIMO QUWTO CAPlTlXO: .«TICUIAÇAO TEXTUAL DOS TEMPOS E MODOS DO VERBO J5 9

senso comum para ponderar, e o faz empregando formas do presente; e • Eu m oro na rua das Acácias.
um que formula hipóteses para tirar conclusões daquela experiência, e o • Vende-se esta casa.
faz empregando formas do futuro do pretérito e do pretérito imperfeito do • Esta palavra se escrev e com J .
subjuntivo. Estes três planos, aqui formalmente identificados pela variação
dos tempos do verbo, comprovam a natureza heterogênea da enunciação O presente é o único tempo que expressa situações e propriedades
(ver o conceito de heterogeneidade enunciativa em 4.5.3). permanentes, de validade ilimitada, como as verdades científicas, as
Podemos dizer, assim, que todo texto se organiza, entre outras eoisa.s. crenças, os dogmas, os provérbios:
por um mapeamento temporal, assentado em três variáveis: momento da • Cometas sã o corpos de luz própria.
enunciação (ME), ponto de referência (PR) e intervalo de tempo (IT). • L^ua mole em pedra dura tanto bate até que^ura.

15..5 ,\S KOR.M.\S 1)0 VKRUO E O S lUÍSPECTIVOS TEMPOS Obs.: Nos registros semiformal e informal, o presente do indicativo
A estas três variáveis deve-se acrescentar uma quarta, que diz respeito à emprega-se regularmente com o mesmo valor do futuro do presente:
perfectividade X iniperfectividade (concluído X não concluído) do processo • Os pintores voltam amanhã para terminar o serviço, (v o lta m
denotado pelo verbo. Trata-se do único conteúdo aspectual expresso por por voltarão)
meio de mecanismo flc.xional (chcgou /cheflam /chegava). • Depois conversam os. Venha depressa, estão nos cham an­
Como são três os pontos de referência e também três os intervalos do de outras galáxias!” (con versam os por c o n v e r s a r e m o s )
de tempo, pode-se dizer que, matematicamente, deveria haver nove [ANDRADE, 1985: 21-23j
conteúdos temporais; anterior, simultâneo ou posterior ao presente (Pre);
anterior, simultâneo ou posterior ao passado (Pass); e anterior, simultâneo l.S.6.2 Pretérito perfeito
ou posterior ao futuro (Fut). (DMT = não há; DNP = no singular, primeira pessoa -i, segunda -ste, terceira
-u; no plural, primeira pessoa -mos, segunda -stes, terceira -ram).
.Momento da Enunciação (ME) Representa o fato como concluído e o situa num intervalo de tempo
(PR) Passado Presente Futuro anterior a um ponto de referência presente
(IT) Arif. CoTU. Pose. Am. Com. Pose. Am. Com. P osl • Eu morei nesta rua.
• Eles voltaram ontem.
Acontece que não temos na língua portuguesa formas distintas para ou futuro :
estas nove noções. Os 'segmentos do tempo’ recobertos pelas diversas Assim que você desembarcar, telefone para nos dizer se c h e ­
formas verbais variam em extensão segundo diferentes fatores discursivos. gou bem.
Algumas formas, como o pretérito mais-que-perfeito, marcam o tempo de
maneira praticamente invariável; outras - e a situação mais clara é a do O pretérito perfeito é o tempo característico da narração de ações que
presente do indicativo - apresentam razoável dispersão temporal. compõem um episódio situado em época anterior ao ME.
• Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama,
1 5 .6 TE.MPOS 1)0 1M)K;.\TIV0 (FORM.VS Sl.MPLES) correu para o banheiro,/ez a barba e lavou-se." [SGLIAR,
Moacir. Pausa. In: BOSI, 1997: 275].
15.6.1 Presente
Obs.: O amplo uso do pretérito perfeito no discurso narrativo é favorecido,
(DMT = não há; DNP = -o na primeira do singular e padrão nas demais
antes de mais nada, por sua associação com o aspecto concluso do processo.
pessoas).
Obviamente, o que é visto como consumado no momento da enunciação
Representa o fato como não concluído, simando-o num intervalo de tempo
pertence cronologicamente ao passado. Mas enquanto uma frase como Seu
do qual faz pane o próprio momento da enunciação. No caso do presente, a
filho nasceu pode reportar um fato coincidente com o ME, Seu filh o n a s c ia
expressão ‘intervalo de tempo’ só se aplica aos fatos de existência limitada:
.3 6 0 QliARTA 1’ARTK - MOHFOlAXilA Kt.EXKlNAI, E SINTAXE
DECÍMO q u in t o UAPfTULO: ARTIUULiAÇAO TEXTUAE n o s TEMPOS E MOINW |K) AT.ÍUtO .7 6 i

necessariamente o distancia desse momento. Com o pretérito perfeito, esse seguinte apresenta um estilo semiformal, que combina harm oniosam ente
distanciamento tem de ser explicitado numa circunstância adverbial: Seu os dois USOS:
filh o n asceu oncem. A prevalência do aspecto sobre o tempo fica patente em • “Em novembro de 1521, (...), Cristóvão Jaques partia de Lis­
expressões coloquiais como Bateu, levou, Achou, gan hou , assim como em boa para sua segunda viagem ao Brasil. Desta vez, sua mis­
enunciados informais do tipo Quando você ch eg a r lá, a chu va j á parou. são era explorar o grande estuário que Estêvão Fróis e .loão
de Lisboa h a v ia m d escob erto sete anos antes e no qual Ju an
Pretério imperfeito Dias Solis m orrera de forma tão trágica, em jan eiro de 1 5 1 6 .”
(DMT = -va- na primeira conjugação e -ia- na segunda e na terceira; DNP = [BUENO, 1999: 135).
padrão).
Representando o fato como não concluído, situa-o num intervalo de 1.5.6.5 Futuro d«) pre.sentc
tempo simultâneo a um ponto de referência passado ou ainda anterior a um (DMT = -re- tônico na primeira pessoa do singular e na primeira e segunda
pessoas do plural, -ra- nas demais; DNP = -i na primeira pessoa do singular
ponto de referência futuro:
e padrão nas demais).
• “Em novembro de 1521, (...), Cristóvão Jaques partia de Lis­
Representa o fato como não concluído e o situa num intervalo de tempo
boa para sua segunda Wagem ao Brasil.” (BUENO, 1999: 135|
posterior ao presente (modalidade asseverativa ou categórica) ou sim ultâneo
• “Rosa, pela janela,./!^™ um pássaro no galho mais alto da tan-
ao momento da enunciação (modalidade hipotética ou dubitativa):
gerineira, em frente, e silvava imitando os gorjeios e trinados
• Eles saberã o que eu estive aqui. (posterior, categórico)
da sabiá que, diariamente, cantava perto da casa.” [OLIVEIRA
• Os trabalhadores não pagarão essa dívida, (posterior, categórico)
NETO, 1996: 82]
• Q,uem estará acordado a esta hora? (simultâneo, dubitativo)
• Amanhã, ele saberá que eu estava aqui hoje
15.6.6 Futuro do pretérito
Obs.: Nos registros semiformal e informal, o pretérito imperfeito do indi­ (DMT = -ria- em cinco das seis pessoas, -rie- na segmida pessoa do plural;
cativo emprega-se regularmente com o mesmo valor do futuro do pretérito: DNP = padrão).
• Como foi que você adivinhou que eles chegavam hoje? (che­ Representa o fato como não concluído e o situa num intervalo de tem ­
gavam por chegariam) po posterior a passado (categórico), simultâneo a passado (possível) ou, re­
lativamente a um universo hipotético, num intervalo de tempo simultâneo
1.5.6.-1 Pretérito iiiais-qiie-perfeito a presente:
(DMT= -ra- átono em cinco das seis pessoas, -re- átono na segunda pessoa • O ministro comunicou ao presidente que r e n u n c ia r ia ao car­
do plural; DNP = padrão). go. (posterior, categórico)
Representa o fato como concluído e o situa num intervalo de tempo • Recebi um telegrama avisando que os móveis c h e g a r ia m hoje.
anterior a um ponto de referência pa.ssado. (posterior, categórico)
• Perguntei-lhe se ele enviara todas as cartas. • Imaginei que eles esta ria m me esperando para o jantar, (si­
• Fomos informados de que, dias antes, o ministro pusera o multâneo a passado, possível)
cargo à disposição do presidente. • Quem e s ta r ia acordado àquela hora? (sim ultâneo a passa­
• “Gravamos cinco horas de depoimento e, na segunda-feira, do, possível)
me telefonaram comunicando que a gravação se p erd era, por • Se seus credores lhe pagassem o que lhe devem, e le ^ c a r ía
um defeito do gravador.” (GABEIRA, 1981a: 97) rico. (simultâneo a presente, hipotético)
• “Se não havia um território para mim no Brasil, possivelm en­
O pretérito mais-que-perfeito simples é uma forma restrita aos usos
te não h a v eria também em parte alguma do mundo.” (sim ul­
formais da língua escrita. Na língua escrita informal e na fala só se emprega
tâneo a presente, hipotético) [GABEIRA, 1981a: 121 [
a forma composta (ex.: tinha com prado em vez de com prara). A passagem

í
362 QTARTA parte - morfolooia f le x io n a l e s in t a x e
DtCUIO ÜUINTO CAPiTUU): ARTrCUUAÇAO TEXTOAI. IVW TE.MPas E MOIKW l«) VEHIln

• “Alguns escritores acreditam que suas ficções nada devem a


temporal presente. Trata-se de uma forma peculiar no grupo dos cham a­
ninguém. Filhas da invenção e do arbítrio, elas não guardariam
dos tempos compostos e exclusiva da língua portuguesa no conjunto das
laço algum com a verdade.” (simultâneo a presente, hipotético)
línguas romãnicas:
ICASTELLO, José. O G lobo, 3/4/2008]
• Tenho v ia ja d o pouco nos últimos meses.
• O jardineiro cem m olh a d o as plantas todas as manhãs.
Obs. 1: Os conteúdos expressos acima pelas formas do futuro do pre­ • “Ao longo de mais de um ano, as idéias contidas no substitu­
sente e do pretérito ganham - ou podem ganhar - nos registros menos for­ tivo têm sid o d eb a tid a s e enriquecidas em reuniões e audiên­
mais em geral - incluindo a maioria dos usos falados - outra expressão: os cias públicas...” [BITTAR, Jorge. O G lobo, 9/5/2008]
conteúdos categóricos são regularmente expressos pelas locuções com ír t • “O homem cem escado envolvido num processo permanen­
infinitivo, e os conteúdos hipotéticos ou dubitativos tendem a ser expressos te de coevolução com a natureza.” [KATZ, Helena. “A dança,
pelo verbo auxiliar poder : pensamento do corpo”. In: NOVAES, 2003: 261]
• Os trabalhadores não w o p a g a r essa dfvida. (categórico)
• Recebi um telegrama avisando que os móveis ia m chegar 15.7.2 Pretérito mais-quc-perfeito
hoje. (categórico) Tem o mesmo conteúdo da forma simples: representa o fato como concluí­
• Quem p o d e escar acordado a essa hora? do e o situa num intervalo de tempo anterior ao marco temporal passado.
• Quem p o d ia escar acordado àquela hora? A forma composta do pretérito mais-que-perfeito é uma alternativa à forma
• Se seus credores lhe pagassem o que lhe devem, ele podia simples na escrita, mas a única empregada na fala corrente:
f i c a r rico. • Perguntei-lhe se ele tinha en v ia d o todas as cartas.
• Fomos informados de que, dias antes, o ministro tin h a p o sto
Obs. 2; Como se deduz de sua utilização frequente, nos registros for­ o cargo à disposição do presidente.
mais, para a representação de situações prováveis ou hipotéticas, as formas • “Resolvi ir para casa levando na mão o buquê de flores que
do futuro do presente e do pretérito expressam, muitas vezes, conteúdos pu­ alguém h a v ia deix ad o na mesa.” [GABEIRA, 1981a: 124]
ramente modais, responsáveis pela sinonímia entre Q uem e s ta r á acordado
a es s a h ora? e Quem p o d e escar acordado a es sa h ora? . Por outro lado, o 15.7.3 Futuro do presente
distanciamento instituído pela adoção do marco temporal p a ssa d o favorece Eni sua função estritamente temporal e aspectual, representa o fato como con­
sua utilização como meio de expressão do ficticio/imaginário (cf. o uso de A( cluído e o situa entre o momento da enunciação (ME) e um ponto de referên­
eu era.... Aí eu vin ha..., Ai você me apaniuiva em c a s a no discurso do ‘faz cia (PR) futuro. Ao prevalecer sua função modal, expressa atitude de cisma,
de conta’ e da representação de cenários alternativos hipotéticos). Por força hipótese, dúvida relativamente a um fato concluído no ME {terá = p o d e ter):
desse distanciamento, formas do futuro do pretérito podem ser duplameme • Amanhã, a esta hora, eles já terão em b a rc a d o para a Europa.
modalizadoras da bipócese, oferecendo-se como opção ao futuro do presente • “De hoje até terça-feira, os transatlânticos que atracam no Por­
para intensificar a expressão da dúvida. Comparem-se; to do Rio terão despejado na cidade nada menos que 13 mil tu­
• Quem escará ouvindo rádio a essa hora da madrugada? ristas estrangeiros.” [TARTAGLIA, Cesar. O Globo, 2/2/2008]
• Quem estaria ouvindo rádio a essa hora da madrugada? • Nem quero pensar no que as crianças terão fe it o com a pobre
tartaruga.
15.7 TEMPOS DO 1ND1C.\T1V0 (FOICMAS COMPOSTAS) • Quem terá escrito essa carta?

15.7.1 Pretérito perfeito Estas construções são usuais nos monólogos e no chamado discurso
Distintamente da forma simples, a forma composta retrata o processo indireto livre. Compare-se o último exemplo com Quem escrev eu esta c a r ­
verbal como fato que se consuma (concluso) e se repete (iteratlvo), ou ta? - forma apta à expressão de uma pergunta dirigida a um interlocutor
prossegue, com regularidade, num intervalo de tempo anterior ao marco (discurso direto).
VJI AHTA PAKTK - MORr<H/)r,|A nj.XHISAL l StNTVXr.

DEOJMO ÜÍ LVTt» C V P trrU ); ART«XX,\ÇAo TEXTTAL IXW ■ reMPíMÍ E MODOS DO \'ERBO 365
I S .7 .4 V utiiro tio p re térito
R ep resen tand o o fato com o concluído, situa-o num intervalo de tempo ante­ • Acreditávamos que eles conhecessem os donos da casa. (si­
rior aos m arcos tem porais passado ou presente. No primeiro caso, equivale multâneo a passado, possível)
ao p re térito m ais-que-perfeito composto: no sei^undo. ao futuro do presen­ • “Pensava comigo mesmo numa letra que sim bolizasse o que
te cíím posto. Km qualquer destes casos, portanto, ocorre a neutralização digo." (simultâneo a passado, possível) (GABEIRA, 1981a: 96]
das respectivas oposiç<*>es temporais, em favor de uma intensificação do • Se seus credores lhe pagassem o que lhe devem, ele ficaria
conteú d o modal de hipótese (ferio = jmhIúi íct ): rien. (simultâneo a presente, hipotético)
• A c o m p a n h ia aérea info rm ou que àquela h o ra todí>s os passa- • “A figura de Ariano (Suassuna) está aí, como sintoma da ri­
lieirns jã t e r ia w í /c ia -ím /o o aeroporto. queza brasileira. Vivássemos em um país apaziguado, e não
• N ã o im ai^ino q u e m (v ru i esL-ríto essa carta. lhe daríamos atenção." (simultâneo a presente, hipotético)
|C.\STELLO, José. O Globo, 16/6/2007]
N o p r im e ir o e x e m p lo , t» fiitun» d«) pretérito denota o m e s m o intervalo • “Estamos acostumados a falar em ‘cultura brasileira*, assim, no
d e te m p o de ftu/iíim í/eivu/Zo. im seiiiindo. equivale te m p o ra lm e n te a feni singular, como se existisse uma unidade prévia que aglutinasse
v s r r it t í todas as manifestações materiais e espirituais do povo brasilei­
• N ã o im a iíino quem lerá escrifí» essa carta. ro." (simultâneo a presente, hipotético) (BOSI, 1983; 141]

1 5 .s T IM P O S IM) S I lUI \ r i \ 0 (HíUM AS SIMIM.KS) 15.8.3 Fiitun)


As formas ilo modo siihiutuivo iiào sào atitótuunas para situar o conteúdo (DMT = -r-; DNP = padrão em quatro das seis pessoas, -es na segunda do
ilo verl>«» tui linlui do teiu(>o I tízenios qu e m e iiju d e s c Vffcc pu der singular, -des na segunda do plural).
e t\uti-Ute tfue m e ujuihtMMe se ele pm lvsse, eiiipreúandí» as formas aju de e Representando o fato como não concluído, situa-o num inter\'alo de
ftitiler, presente e futuro do Mih|niitiv<j. por exi^étieia do ponto de referência tempo simultâneo ou posterior a presente:
presente i\e e iijiu Íussí e pu desse, pretérito imperfeito do subjuntivo, • Voltem vSempre que vocês desejarem , (posterior a presente)
pt»r extiiêneia do |M»iit<i di referência passado represeiitxido por • Quem não souòer o caminho deve aguardar o guia. (simultâ­
neo a presente)
I 5 .S . I PlVM.'llt('
(UNIT ■ -e- lui primeira ct»niu>iaçâo. -a- na secunda e na terceira; DNP = I5.*> TE.MPOS DO Sl aU NTIVO (FOR.MAS COMPOSTAS)
piulrào)
Kepr\*seiitaiiiio o tato lsuiio nao (.stncluido, situa-o n u m inter>*alo de 15.^>.1 Pretérito perfeito
te n q x » M iiu iltàiieo tui (v»sterior a presente Rcpre.sentando o fato como concluído, situa-o num inter\'alo de tempo an­
• Acredito que eles os donos da casa (simultâneo a terior a presente uu a futuro:
presente. jv»sM\ d | • Todas as pessuxis que tenham recebiWo uma senha serão aten­
• Kla quer que nos n «unim/Hai/ii rnos (jx ís ie rio r u presente. didas ainda hoje. (anterior a presente)
|m.vsi\el) • Espero que os ingressos nào tenham se esgotado quando che­
gar a nossa vez. (anterior a futuro)
1 5 .S .2 Pn.'lento iiu)Hrléii4i • "Acredito que o autor do artigo ruio tenha lido o substitutivo
tl>M r • -sse, ONl’ * [ladr.-io) ou. se u fez. foi de modo muito superhcial." (anterior a pre­
Kepix*seiitaiidi» o lato «.smu) nào Lx»neluidi>. siiua -o n u m in te rv a lo de sente) (BITTAR, Jorge- O G/obo, 9/5/2008]
teni|H> simultàius» ou (xvsteru>r a (vi.vcido (u n ive rso possível), ou ainda, re-
la tivum en te a uiu uim e rso hnH>ielie\>. n u m intervalo J e lempt^ in d e á n k lo 15.9.2 Pretérito uiai>-que-perfeito
• Kla quis que uos a ui.'omfKiri/uissi'movS. (posterior a passa­ Representando u fato como concluído, situa-o num intervalo de tempo an-
do. |HlSMVel) tenor a pxissado ou a presente:
i1 6 6 UTARTA PARTÍ - W W FOLOtlU FtEXKW AL E SIKTAXE

8
DfUSUOQinKTO r-VPlTIlU); ARTICCLAÇAo TRXn/AL IMWTKMWI K MOItOS fW) VKHW»

• Todas as pessoas que tivessem recebido uma senha seriam


atendidas ontem mesmo, (anterior a passado) mas se é a noite do dia anterior, a única paráfrase possível é:
• Esperava que os ingressos não tivessem se esgotado quando • Ele pediu que a gente v oltasse à noite.
chegasse a nossa vez. (anterior a presente)
Por fim, se 0 enunciado for Ele pediu p ra gente v oltar n o d ia seguinte
15.9.3 Futuro a única alternativa de paráfrase é:
Representando o fato como concluído, situa-o num intervalo de tempo an­ • Ele pediu que a gente v oltasse no dia seguinte
terior a presente ou a futuro. Tem, portanto, o mesmo conteúdo temporal
do pretérito perfeito, do qual se distingue apenas pelo contexto sintático. Estes exemplos comprovam a funcionalidade da distinção entre os po-
Repete-se aqui a mesma variação já descrita entre o presente e o futuro do los presente e passado na organização básica da oposição dos tempos do
subjuntivo simples: verbo.
• Se eles não tiverem enchido (= Caso eles não tenham enchi­
do) o tanque, podem hcar sem combustível no caminho, (an­ 15.10.2 Imperfeito (subjuntivo) X fiitum do pretérito (indicativo)
terior a presente) As gramáticas escolares nos ensinam que voltasse é uma forma de tempo
• Quando você tiver localizado (= Tão logo você tenha locali­ passado. De fato, a comparação entre
zado) todas as notas fiscais, vamos iniciar o relatório com a • Ela sabia que eu trabalh av a aqui.
prestação de contas, (anterior a futuro) e
• Ela duvidava que eu trabalhasse aqui.
1 5 .1 0 AFINIDADES E DIFERENÇAS ENTRE ALGITNS TEM POS
DO VERBO deixa claro que estas duas formas expressam o mesmo tempo e se distin­
guem pelo modo (trabalhava, indicativo; trabalh asse, subjuntivo). Mas a
1 5 .1 0 .1 Presente (subjuntivo) X imperfeito (subjuntivo) possibilidade de combinar voltasse com o advérbio a m an h ã
Dizemos coloquialmente: • Ele pediu que a gente voltasse am an hã.
• Ele pediu pra gente voltar amanhã
indica que há nessa forma algo mais que a toma diferente de voltava. De
Se quisermos iniciar a oração que completa o verbo p e d ir com a con­ fato, voltasse pode exprimir o mesmo conteúdo temporal de voífana, como
junção integrante que, tanto podemos dizer comprova o exemplo:
• Ele pediu que a gente volte amanhã. • Ele prometeu que voltaria amanhã.
quanto
• Ele pediu que a gente voltasse amanhã. A explicação para isso está em que, enquanto o modo indicativo dispõe
dc um futuro do pretérito ao lado de um futuro do presente (voltaria X vof-
Como se explica isso? A resposta não está na sintaxe da língua, mas tarei), o modo subjuntivo só dispõe de um futuro, cujo ponto de referência
na superposição dos p>ontos de referência. Empregamos volte quando to­ coincide obrigatoriamente com o ME - um ‘futuro do presente’, portanto
mamos o momento mesmo da enunciação (ME) como ponto de referência (sc/qtiando ela voltar). Como o ponto de referência da frase em questão é
(PR) da ação de voltar; voltasse é a opção quando esse pK>nto é o passado, o passado, e o verbo pedir requer uma complementaçào no modo subjun­
inscrito na forma pediu. Nas três variantes, o momento (IT) da volta, assi­ tivo, voltasse é a única opção possível. Ou seja, o pretérito imperfeito do
nalado pelo advérbio am anhã, é posterior ao ME. subjuntivo ‘acumula’, por assim dizer, o papel que caberia a um inexistente
Suponhamos agora que disséssemos Ele pediu p ra gen te voífar á noite. futuro do pretérito do subjuntivo.
Nada nos diz que à noite é um tempo por vir relativamente ao ME. Se é a A equivalência temporal entre pretérito imperfeito do subjuntivo e fu­
. ^ noite do dia mesmo em que a frase é proferida, podemos parafraseá-la com- turo do pretérito vai ainda mais longe. Um e outro também se empregam
A • Ele pediu que a gente volte à noite. para exprimir hipótese ou probabilidade remota:
•ICkS OrAKTA r.MlTK - MOlUAil.mílA M KXinSAl. K XINTAXH

• Q niim lo a n ià c a abaiulonou. a cria n ça tctiti pouco niais j


ilois aiUAS.
• Q u aiiilo a niAo a abaiulonou, a cria n ça talvez fífc.s.se
pouco
m ais aIc ilois anos.

ICsta noçãiA ilo 'probabilidailc remota ileriva, ob\'iam ente, da iiniào


na m esm a torm a \erb al. de ilois traçi's sem ân ticos asso ciad o s â ideia dç
alastam enitA: tem|Ao passaxio e irreaIiiiaAÍe. K eoim im que o tra ço 'irrealj.
vlaile' p rev aleça e a forma seja empregada para form ular racioeinio,s eni
c e n á r io s ou situaçfÂes aIternati\'os â realiibule - su p o siçõ es, enlini - eonio
niA exeunpU' xpie em piviianios mais aeiiua - ,s'u;H>n/uinio,s<ií‘o m tfuc
# 11 »
■«lunos... - ou em forinulaçtVs tipieas do discurso c o rre n te : Ne eii lianhofutc
»>i /oren<i...
A m e s m a e x p lic a ç ã o \;ile pani o em p a-i^ ' ilo lu tu m d o p a -te r ito eonio
p S r t e
ixvm^Ai aIc |x'livle/ aui aiAMUi.açfu' iie xviae/.a.
• A> s e n h o r .K v ifiin .i um m ais d e s'a le r
• Ku .fin .i .pu' ess;i u â.' e ,i uK'Ilu>r siilu çaii. A E S T R lT r R -\ Ç Ã O SONOR-\
• "S o ain d a hou\ er alcuem que dm ide d isso , ( . ,,1. eu .uxmsWAa-
n ,i um a sim ples me\iiA'iiia eascâra (.VI.M Kin.V. -IH M ; 145|

l.ã 1(1..' P iv s e u te I s u b ju iu b o i \ liiiiim isu b jim líA o )


a' fuiuiAA d.A subjuiuivx' e amplaiiuMiie u.s;ido na tala ssiin o n a e.scrita p,ara
c x p n m i r i'\vni.vs hi|V'ieiicvs i>vsierioa-s - .>u iiu-sm o siim iltàncA is - a o mo­
m e n to kla em m ciaç.io
• O iuiiu IaaS .' aas-V i\\\4vr esse dinlieirx' tixA sierior a o M E l. piv
.k ra vximprar .'sai carrv'
• l,^K'm quiss'*' Air isimuItàiKSA a.. MKl jXKle nie' acAUiipeinhar.

Kstas sàvA ranilvan ,ts caraeten sticas ni.\l.A-temiAiAniis .K a p a 'S t'n le .Io sub-
nuitiAA', exAUíA' v\xvqAjxA\am >>s seqium es exeinjAlAAs. siiu'ninuxs xUvs a i i i e r i o a s
• i je x ' Avvè a w A i is-ss- dinhemA, lAAxIera cvAiiipixir s e u c a r r o
• iVjsv' aíiiK-m j t u m i vir. (xvle m e a^SAiiiiMiihar.

lAx-seme d.' subiiuuuvA e fiuuaA -le subjuntiAV se slistin íu en i. |XAa'ni.


jx-ÀvAs CAntcxt.AS smtJtKXAS em que .xxAirem (Jtum»ío e .se ,são seouiiKiS aK'
furua' Á ' suí^antmA, a sXAnimiçãAA sXAiKiivnonal ext-so e a exAníimxAão intesiran-
te ct.» SÃ' ss-suivús à ’ presente ãa subiiuitiAXA (/\-\x>-/fie qiu' «>/fe
i'' r.;mn.A ãa sahjuiitno tem preferênci.a sxAbre va presente diA subjnntiAX’ m
expressíÃA à ’ evetito hifXAtetuxA [xesterior a»u sinmltâiKXA a .' .MK (Si-fHire «x'
.'"'•-■--s c:.e esfttvTvfH A-srefum .!."kiss»uk»s).
n l ' C I ' I O S I - X T O CA IM TI I.O :
lO N l ÍT IC A li 1 O . N O l . O íi l A

16.1 IN T R 0D IÇ .\ 0
Ao longo de quinze capítulos desta gramática vimos focalizando o signifi-
oado na linguagem e as formas que o estruturam nos domínios do texto, da
morfologia e da sintaxe. Chega agora o momento de olhar mais de perto
para a camada sensível da linguagem: os seus sons.
O som da voz é em si mesmo um elemento da natureza, já que é pro­
duzido por uma conjunção de órgãos e energia biológicos e se materializa
como onda que se propaga graças a leis físicas. Mas ao se transformar na
matéria de que são feitas as palavras, modelando-as e distinguindo-as, o
som vocal migra para o mundo da cultura, que é o verdadeiro mundo dos
homens, o mundo criado pelo homem e no qual o homem se cria. O pre­
sente capítulo destina-se ao reconhecimento dos sons da fala, à descrição
de suas características e à anáUse dos modos pelos quais eles se organizam
como um sistema na gramática do português. Recordemos, para início de
conversa, os dois primeiros parágrafos do item 5.2, no qual nos referimos às
duas faces do signo - a sensível e a abstrata. Reproduzo-os:
Os sons vocais são a matéria-prima das línguas naturais. Mas nem todos
os mídos que saem de nossa boca são consütuüvos de formas da língua:
pigarros, assobios e cUques (efeito sonoro do üpo que se produz com os lá­
bios no gesto do beijo ou eom a ponta da língua contra o céu da boca) não
fazem parte do sistema de sons distinüvos da língua portuguesa, por mais
que possam ser utilizados para a comunicação entre as pessoas: o pigarro
como alerta ou censura, o assobio como forma de chamar alguém.
A substância sonora por meio da qual as unidades de sentido - pa-
avras, enunciados - se manifestam tem uma realidade física evidente
mas não tem, em princípio, finalidade em si mesma; sua razão de existir
é, pnmanamente, dar corpo aos significados para tomá-los acessíveis ao
interlocutor. Dizemos, por isso, que, embora sejam separáveis na análi-
7 : to o ,
vJUSTV PV R n - \ ÍSTK\T\ *.V CV" HVWMtN J7 J
DÍCIMO SKXTO C M iT ll.O : rnNRTH*.\ E

lt.,2 n.ANO IV\ KXrRKSSAO: FONÉTICA E EONOI.OC.IA O conjunto dos órgãos que participam da fonação divide-se em três
A fala é unia ativUIaJc quo onvoli^o proooilimentos ilo ilivcmu natureza, res- partes (fig. 1);
ivvnsíiwis tanto |xTa pixHliu,'ào Jos sons e .sua combinaçSo na constmçflo das 1) cavidades infraglotais (pulmões, brônquios e traqueia),
jsalavras e frases quanto pela atribuirão de sentido a essas unidades. A aniilise 2) cavidade laríngea (laringe) ou órgão fonador,
lio plano da expressão consiste, portanto, não só na identiticarão e ol.issifiea- ,)) cavidades supraglotais (faringe, boca e fossas nasais).
rão dos sons vocsiis. m:is. ainda, no tveonhoeimento ila função comunicativa
desses mesmos sons, l\ir isso. é comum nuxieniamentc distin)iuir-se a Fonó- Eig. 1
tic» - que se ocupa lia produção e chissilicação dos .sons ixxxiis - da Eonolo-
ftia - que se ocupa da estruturação desses sons em um sistema linjiuistico.
.\ Eonctictt estuda a substância, a materialidade dos sons vocais. Ela
1. Fossas nasais
ê uma parte da bsiolo^ia ou da física aciistica. não se ocupando, ixirtanto.
2. Palato duro
lia função linguística ou comunicativa dos sons. O estudo da função lin­
3. Palato mole
guística. isto é. da esmitunição dos .sons da fala em um sistema de relações
4. (Jvuln
opixsitii^as e combinatórias para a cimstituiçào dos si$>nos de uma língua 5. Alvéolo
compete à Eonoloflia. 6. Lábio sujierior
niíamos. por exemplo, que a única diferença fonética entre as pala- 7. Lábio inferior
\T!is runro e ronro está no som nasal que ocorre no contexto (t...ta] (sobre
8. Dentes superiores
o uso dos sinais | |e //. ver 10.7). Como se trata de dois signos, podemos ó. Dentes inferiotes
dizer com segurança que a diferença entre (ã) e |õ] tem uma função lin­ 10. Língua
guística. Fjitanios diante de uma diferença ao mesmo tempo de sons vocais 11. Faringe
(fonética) e de fonemas (fonológica). 12. Epiglote
Se agora substituirmos o (õ) por 1 t i. obteremos tinta, outro signo. 13. Laringe
Ainda aqui h:i uma oposição fonológica; |õ| e 11] representam dois fonemas. 14. Glote /cordas vocais
Para muitas falantes de ponuguès (por exemplo, cariocas e fluminenses), no 15. Esôfago
entanto, ixxine em tíiuu uma diferença fonética adicional: o som que prece­
de u [i] não é o mesmo que precede o |ã| e o |õ|. Temos agora algo como um O ar contido nos pulmões passa, através dos brônquios, à traqueia,
tch (compare rcnie/rimc. tapo/tipo). que será representado aqui com o sinal tubo formado por anéis que vai até à cavidade laríngea. Na laringe, órgão
duplo |tã|: |tã|ime. |t.^]inta. |tã|ipo. Em português. |t5| e [t] não distinguem fundamental na fonação. há uma passagem - a glote - formada por membra­
palaiTas; são dois sons vocais diferentes, mas não dois fonemas. nas conhecidas como cordas vocais. Quando essas membranas —ou co rd a s
vocais - se aproximam, a corrente de ar pode fazê-las vibrar, produzindo o
16..1 i>RODl Ç.U) .\RTICIT..\TÓR1A DOS SONS VOCAIS ruído que, ao ressoar nas cavãdades supraglotais, constitui o som vocal.
Os sons vocais são produzidos graças a uma coordenação de movimentos Ao deixar a laringe e atingir o início da faringe, a corrente de ar, sono­
de órgãos e peças dos sistemas respiratório e digestivo para a função da fit- rizada ou não, pode;
n a çã o . Compõem este conjunto - que nessa função se chama aparelho fi>-
a) penetrar a|)enas na cavidade bucal - quando o véu palatino está
n ad o r- os pulmões, os brônquios, a traqueia. a laringe, a glote. a epiglote, a colado à parede faríngea,
b) penetrar nas cavidades bucal e nasal - quando o véu palatino ape­
farínge. a únda (campainha), o véu palatino (ou palato mole), as caiidades
nas se descola da parede faríngea,
nasal e bucal. a língua, as arcadas dentárias superior e inferior, os lábios.
c) penetrar apenas na cavidade nasal - quando a parte posterior da
O estudo da produção desses sons e a classificação de seus diferentes tipos
língua se une ao véu palatino e impede a penetração do ar na
constituem o objeto de uma disciplina auxiliar da linguística chamada Fo­
nética .Articulatória. boca.
374 onXTA P.WTt - A E jiT O -m u ç io soxoilv

neemo sextotaplruto; FosEncAEfonoum-.ia ,775


Os sons utilizados na língua portuguesa são efeitos de modificações ou
obstruções sofridas p>ela corrente de ar na cavidade bucal, com ressonância fonema /t/, usual em certas áreas do Brasil, como o Rio de Janeiro, quando
nasal (situação 'b') ou com ressonância apenas oral (situação ‘a’). Essas /t/precede /i/, oral ou nasal. Diremos, então, que o fonema /t/é realizado, na
modificações e obstruções serão descritas em 16.9. variedade padrão do português falado no Rio de Janeiro, por dois alofones:
|tã|, sempre antes de /i/, e |t] em qualquer outra posição.
16.4 O FONEMA: CONCEITI AÇÃO E TIPO S
Mmos em 5.1 e 5.2 que o plano da expressão - o significante - é analisá- 16.6 O FONEM.V E A ESCRITA
vel em unidades desprosidas de significado, mas capazes de distinguir os Tenhamos sempre o cuidado, porém, de não confundir o plano sonoro da
signos da língua. Por exemplo, podemos demonstrar que o vocábulo par é língua - seus sons, fonemas e sílabas - , percebido pelo ouvido, com sua re­
constituído, no plano da e.\pressão, de três unidades: /p/, substituível por presentação escrita, que inclui sinais gráficos diversos, como letras e traços
/b/ (cf. 6ar), /a/, substituível por /o/ (cf. pôr) e /R/, substituível por /S/ (cf. (' em cqfé, * em pântano), percebidos pelo olho.
pas). As m enores u n idades son o ra s qu e p o d em os iso la r n a ca d eia da Jala A representação gráfica das palavras é realizada pelo sistema ortográ­
e que scrsxm pa ra distinguir signos sã o eixam adas d e fon em as. fico, que apresenta peculiaridades responsáveis por frequentes discordãn-
Os fonemas integram um sistema: o sistem a fon oló g ico . Formam, por­ cias entre a forma oral e a forma escrita da língua. Por exemplo, usam-se
combinações de letras - chamadas dígrqfos - para representar um só fone­
tanto, um elenco bnito de unidades que se relacionam numa bem trançada
ma (cf. achar em face de mexer, quUo em face de calo, carro em face de
rede de oposições e entram na construção da parte sonora - significante
rato, santo em face de irmã); usam-se letras diferentes para representar o
- de todas as palavras da língua, reais ou possíveis.
mesmo fonema (cf. o fonema /zJ em exato, rexar e pesar) ou a mesma letra
Há em português, basicamente, duas espécies de fonemas: vogais e
para representar fonemas distintos (cf. a letra x em próxim o, exato, roxo e
consoantes. Esta distinção baseia-se em dois critérios: o modo de produzir
■sexo); usa-se o mesmo sinal' para indicar tanto a maior intensidade de uma
o som (critério articulatóriof e a situação deles na sílaba (critério combi-
sílaba (cf./tíbrica em face defa b rica ) quanto a vogal aberta de um ditongo
natório). De acordo com o critério articulatório, chamam-se vogais os fo­
(cf. anzóis e papéis).
nemas em cuja produção a onda sonora é modificada na cavidade oral sem
que haja obstrução à passagem da corrente de ar proveniente dos pulmões;
16.7 CONVENÇÕES DE TR.\NSCRIÇÂO: O ALFABETO FONÉTICO
e se chamam consoantes os fonemas que, ao contrário das vogais, são pro­
Para representar os sons da fala graficamente de maneira precisa, evitando
duzidos mediante alguma obstrução à passagem da corrente de ar. Do ponto
■as armadilhas da ortografia convencional, recorre-se a um conjunto de sinais
de vista combinatório, as vogais do português são indispensáveis à existên­
que recebe o nome de alfabeto fonético. Alguns dos sinais são iguais às letras
cia da sílaba, podendo constituí-la sem a companhia de consoantes; já as do alfabeto convencional. Por isso, para diferençar bem os dois tipos, os si­
consoantes ‘soam com’ as vogais, só ocorrem na sílaba acompanhando-as.
nais do alfabeto fonético vêm entre colchetes (11). Por outro lado, a diferença
Há ainda em português as semivogais. que possuem as características arti-
entre .sons da fala e fonemas, base da distinção entre fonética e fonolo^a,
culatórías das vogais (passagem livre do ar) e as características combinató- representa-se graficamente por meio de colchetes (11) para a transcrição fo­
rias das consoantes (acompanham a vogal na sílaba). nética e de barras (/f) para a transcrição fonológica. O sinal ‘ colocado antes
de uma sílaba indica que ela é acentuada. As consoantes que fecham sílaba
16..S FONE.M.V E AI.OFONE
(ver 16.12) são fonologicamente transcritas como /IV, /R/ e ISI. Os símbolos
Comentando em 16.2 as diferenças fonéticas entre tonta e tinta, obsetva-
novos que utilizo são: ItS] para o som do ‘t’ de tio, e (di) para o som do ‘d’ de
mos que somente a reiação entre [õl e [ T1 é distintiva. A diferença entre o
dia, na pronúncia carioca; 15] para o som do ‘x’ de mexe, (í] para o som do ‘j ’
(tl de tuntu e o ItS) de tinta não tem o mesmo valor da diferença entre [õ]
de caju, (X) para o som do ‘Ih’ de galho, (ft! para o som do ‘nh’ de ganhar, (x)
e 11 ]. ItSl e (tl são unidades diferentes para a fonética, pois são sons pro­
para o som constritivo e (RI para o som vibrante velar múltiplo do ‘r’ de rato
duzidos diferentemente, mas não correspondem a elementos distintos no
e carta, (e) para o ‘e’ de pedra, (ol para o ‘o’ de porta, (yj para o ‘i’ de boi, (wl
sistema fonológico do português, porque não estabelecem oposição entre
para o ‘u’ ou o ‘T de céu e mel. Um t i l s o b r e a letra vogal indica nasalidade,
signos: em português, [tS] é apenas ‘outra pronúncia’, isto é, um alo/ime do
e um ponto ‘.’ serve para indicar o limite de sílaba.
vHTNTV flATf - \ A\V^>IL^
»vaw> *.-no c.vrmxo rovar».» i o< <
ICI-S AS rON Si>\N TF.S IH ^ R iru rÈ S
bf Constritivo - Caracteriza as consoantes articuladas com um
Ha em \v>rt\i^uès Je ie m n v eonseantes. exemplincadAs por meio dos se-
esfivifumetifo (constrição) dos órfãos da articu lação, que pres­
^ lim es psres mininKss:
sionam a corrente de ar sem. no entanto, impedi-la de passar.
/i\ /jJ. /sJ.
'taj-vi X 'tAK\ r.ifxi - r.ííxj 'sap u X *tapuí - mpo
laitenü - Caracteriza as consoantes articuladas oom escapam ento
X M I a ,»»ia - íã Ai Üalar' X ía"tJíTf^níktr- iaüur
livTV da corretite dc ar pelos Ituios da Ifn^iui. enquanto outra parte
■Íasu X 'tajsi ."SM' 'pam x X .'panluí p a n o - pani.
desta obstmi o ar em al^um ptinto do eêu da boca: A/. RJ.
'beU X .Ny Ia linHla' X 'n iu ia mikln - mu.<B
Ji Nasal - l^iracteriza as consoantes articuladas jiraçtis ao abtiixa-
'se lu X 'íc lu ' seit> - sWi> /ardera X /a‘S.ira/ ixioni - i^irn
mento dvv vt5u ptilatino. que tissini permite a ressonância na
Xa'iA r X VaNar pensar/ X /pe'karr' f « í a r - pivur
CiK-kf«k/e ikisiif: 'm/. /iV.
1fa'kada X 1fci'Ja«.la ,XK\ki>i -,»i>>.VKkí.i 'síraSa' X 'fSrasa' ^nxwi -
'k am X .'kaRu' itm> - comí cl \1bnuite - Caracteriza as consoantes articuladas, quer com um
'kaiu X 'k a m ixik' - «.Mn»
'líAi/ X 'nrsi,' íoiv - rKxx- 'kana X .'karna/ ixi»ki - imjhü tn<K'i»K'iiti> rapülo [flap)dii ponta da língua em direção aos dentes
'p e n a X pcA a |vfw - ' aSa' X 'a ia / ik Vhi - httja incisivos - /r/ quer com ribruçvMi do véu palatino pressionado
pelo dv>rs«v iki hti^ua - /H/.
Ití.n TR.\kH>S niSTl\TIVt>S 1V\S l t>NSOANTKS
Ha mnenias mais jvireeid^xs entre si vk> i|ue outros: /pr é ohxiamenle mais .Vs zonas de articulação são très:
parveidsx ooni 1v J o que e»'in rs.. as semelhans'as entre A/ e M são pro- .tf Ijibial (dividid;( em bilabi.al e labkkleiit:ill - Ciuxioteriza os sons
vavelnieiue uma ntr:io para as mvas trequentes entre os dois (pran/n. produzidtvs mediante a união dos lábios - |p|. |ml (.bilabiais) - ou
jxxr fWiirirtik e a ítainteira ãs xeies tracil entre /a* e RJ permite imitações o contacto do lábio inferior com a areachi dentária superior - Iv|
earieaturais da liivéua^-in iniantil tef. .wifkirttiAri. em \x’í de stipulíiiAo), ilabiodontall.
A ohstrtição tinal dies lahios e a marea es'nuim de fp/ e /fv'; /!/e /r/ se pns bl .Vnieroliii^ual ou anterior (dividida eni lin^uodental e alveolar)
lumeiam amKw no mesmo In^ar. oom a (k>nta da liii^ua. ohstruindo e - Cáraoteriza os .sons produzidos com a articulação da ponta da
lilrerandi) a passrijíem do ar lin^ua contra os dentes incisivas - |t| (lín^uodental) - ou da fren­
lonem as luVi são hloexes unitários lla redações eoniuns a vários pa­ te da lin^ua com a faixa (itlvéolo) situada U^v acima dos incisivos
res de lonemiLs. A que o|xve /K a d . p tr exemplo, e a m esm a que d i s t in ^ - |n|. lr| (alveolares).
/m / de /n /. e a que oiVie !\J c AJ ^ a mesma que distingue h J e RJ. c) Posierolin^ual ou ptvsterior (dividida em palatal e velar) - Caiao-
,\s semelhanças e dilerenças ioneiieas entre os lonemas destaca­ teríza os sons piodiuidos com a articulação do dorso da Ifn^ua
das acima se explicam (xir serem eles, na verdade, unidades eomple- com o céu da boca ou o véu palatino: |ã|. |n| (palatais). (k|. (R|
.\as. evmjiintos de traçvs que ivs aproximam ou os distaneiam. Os fone- (velares).
tnas distinjiuem-se uns dos outros, portanto, jior meio dos traçvw que
»)S oonstiluem. Em relação ãs consoames, estes traços se cia.ssitieam de ■\ fiuição das corvhts vocais (FCV) é responsável pela distinção entre
acordo oom três fatores; o iiuhIo de articulação, que se refere à naliireia foneni.as sonoius e surdos. Chamam-se sonoros os lonemas produzidos me­
dv> ohsliioiilo: a aitnu de articulação, que se refere ao l(K'al eni que itcorre diante a vibração das eorvlas vocsiis; A7. /d/, /i/; e surdos os fbnemas produ-
a obstrução; e a função das cordas vtK-ais. ouja vibração dã ori,ileni ao liJos sem essa vibração: Al. AJ. /s/.
som da vox.

São cinco ivs modivs de articulação:


a) t>clu,sivo - t.'.aracieriía as evmsoantes prvxluiidas com ohsmtçvio
total ioclusãof diw óniãas articuladores: /p/. /V. /t/, /d/, /k/ /i^
378 QUINTA PARTE - A ESTRlTTltRAÇAO SONORA

DScuio sRXTo fonF-th-x k minoijxíi .\ ,)7U


16.10 QUADRO DAS CONSOANTES E RESPECTIVOS
TRiVÇOS DISTINTIVOS 16.11 n e u t iu v l iz a ç Ao e a r q u ie x jn e m a
Veja no quadro abaixo as dezenove consoantes do português e os traços A distinção de signos se faz ordinariamente no plano .sonoro da língua por
distintivos de cada uma: meio da oposição entre os fonemas. Pode acontecer, no entanto, que dois
ou mais fonemas deixem de se opor em determinadas posições, geralnien-
te sem que isso cause confusão. Sabemos, por exemplo, que e r a e e r r a se
] ÍX3NEKUS ip i /h/ 1 /nV 1 /» ] A-/ 1 /V 1 AV /s/ /!/ A/ /r/ /i/ / !/ /rt/ A/ /R/ fk/
distinguem pela oposição entre a vibrante simples /r/ e n vibrante múlti­
M 1 OCL * 1
4 7
pla /R/. Já em rua, rád io, .só empregamos a vibrante múltipla, e em o b r a
O CONST -1 ! - ♦ oufraco, só empregamos a vibrante simples. Os exemplos mostram que
- -
D LAT * .somente entre vogais pode haver oposição entre a vibrante simples (era)
\1BR !
' ^
*
e a vibrante mútipla (erra). Nas demais posições, a oposição fica neutra­
i !
— — lizada, ou porque só ocorre uma delas (vibrante simples em o b r a , p r a to ,
S NAS 1 F
lavra; vibrante múltipla em rua, rá d io ), ou porque a possível ocorrência
z L \B \ BIL + +
* i ! ! 1 de uma ou outra não tem valor distintivo (porta (‘porta] - [‘p oR taj, co r
— ^—
0 1 LDD ' 1+ ! 1 h asul [ko.ra.‘zuwj - |ko.Ra.‘zuwj). Chama-se arquifonema a unidade fo-
1 '
N ANT LND 1 1 1
- r q r ^ nológica que resulta de uma oposição neutralizada (ver em 16.14 os casos
1 ^
A , 1ALV ' 1 j 1 4 de neutralização vocálica).
---------- ^ ^ ^ ------ ------ 1 1
* 1
' 1
S POST PAL 1 1 1 * 4 4 *
1 ' _____L _
----------------- ^ ^ 1 1 j 1 6 .1 2 A S ÍL .V B A
4 4 •
! 1 i ' 1 1 I '
As consoantes não são pronunciadas sozinhas-, elas se apoiam nas vogais,
FC\' SUR 1 + * *
1 ao lado das quais formam unidades maiores chamadas sílabas: o vocábulo
SON * + 4 ♦ 4 * 'trapaceiros', por e.xemplo, divide-se em quatro sílabas (tra-pa-cei-ros),
ou seja, em quatro segmentos mínimos isoláveis por meio de pausas. j\s
O sistema fonológico não se caracteriza, porém, apenas pelo conjunto sílabas são unidades do plano da expressão - desprovidas, portanto, de
particular de fonemas e suas relações opositivas. Ao lado disso, temos (a) significado.
um conjunto de regras que determinam as posições e as combinações pos­ A sílaba tem um núcleo - ocupado sempre por uma vogal (V) ou um
síveis dos fonemas em unidades de nível mais alto - como as sflabas - ou ditongo (ver abaixo) - e duas margens, que podem estar vazias — V- (cf.
expressam influências de uns sobre outros, (b) o fenômeno prosódico da in­ é-po-ca, sa-ú-de) - ou preenchidas por consoante (C) - CV, VC ou CVC (cf.
tensidade, responsável pelo contraste entre sílabas fortes (tônicas) e fracas ra-to, lu-ar, par-do). A posição pré-vocálica pode ser ocupada por qualquer
(átonas), e (c) os fatos fonológicos causados por este contraste. As regras consoante, mas a posição pós-vocálica só admite três consoantes: uma la­
referidas em ‘a’ compreendem tudo o que acontece na representação foné­ teral, como em sal, volta, p a p el, transcrita fonologicamente como /L/; uma
tica dos fonemas em virtude de suas combinações na cadeia da fala, como vibrante, como em p a r, porto, rez a r, transcrita fonologicamente como /R/,
a variação [t] / [tS], já aqui comentada, e as formações permitidas pelo sis­ e uma constritiva, que resulta da neutralização da distinção entre [s], [S],
tema (cf. o caso do fonema /r/, por exemplo, que pode ocorrer no contexto (zj e (i|, como em fe z , p a sta , m esm o, transcrita fonologicamente com o
[t...a], trav e, mas nunca no contexto ls...a| ou no contexto [õ...a]). Quanto /S/,® Três consoantes, porém - as palatais là / e OJ e a vibrante simples
a ‘b’, serve como exemplo a distinção entre pegaram [pe‘garãw| e pegarão /r/ - não ocorrem em posição inicial de vocábulo, ressalvadas, natural-
[pega‘rãw| ou entre cáqu i |‘kaki|, uma cor e caqui, [ka‘ki], uma fruta. En­
^ Segundo a análise de J. Mattoso Câmara Jr. [1953), seguida pela maiorta dos fonólogos que
tre os fatos referidos em ‘c’ podemos citar as pronúncias coloquiais manhê
estudaram ou estudam o português, a nasalidade vocálica de palavras como som, lã, vim, vento,
e p a iê na função vocativa, em que a (semi)vogal átona /i/, desdobrada numa mundo se explica por influência de um travamento nasal pós-vocálico - um arquifonema nasal
sRaba tônica, se transforma num ditongo crescente [ye]. de sorte que a transcrição fonológlca dessas palavras seria: /soN/, /laN/, A^iN/, A^eNtu/, ^muNdu/.
Por esta análise, não existem vogais nasais em português, e as consoantes pós-vocállcas nfio seriam
três, mas quatro: /S/, /W, Í\J e /NA
BH

3 8 0 QHNTAPARTt - ^ ESTRlTllWÇAo SOSORA ÜÈCtMO.srXTOCAPÍTUU): PONfiTt<i\ R Pf)NOf.fXitA .W/

mente, crês ou quatro unidades marginais, como Ihama^ empréstimo do Note-se que ao enunciar essa frase de forma natural, pronunciamos os
espanhol, o pronome //le, a forma de tratamento n h on h ô e a onomatopéia monossílabos como se fossem sílabas ínacentuadas das palavras em que se
nhen/ien/iém. .ipoiani. Este fato induz algumas pessoas a erros ortográficos como derre-
Por ser uma unidade delimitâvel por pausa no corpo do vocábulo, a pente, em lugar de de repente.
sílaba cem uma importância fundamental no eixo sintagmátíco da língua. É No português brasileiro, normalmente o vocábulo átono encontra
.i|X)io no outro que vem após ele, como acontece com os monossílabos em
na sequência das sílabas, por exemplo, que podemos perceber o fenômeno
da intensidade, responsável pelo contraste entre sílabas fortes - tônicos - e itálico do exemplo anterior. Chama-se prócUse a esta colocação das formas
fracas - áconas. átonas. Menos comum é a ênciise, situação da forma átona que se apoia no
vocábulo precedente. A ênciise praticamente se restringe à colocação de
De acordo com o número de sílabas que contêm, os vocábulos se cias*
pronomes pessoais átonos (ver 10.9.5.1), como o se empregado na terceira
siúcam em:
linha deste parágrafo (verc/iama-se).
a) monossílabos - de uma só sílaba: p é, qu em , sou;
A próelise é responsável pela redução da extensão fonética de alguns
b) dissílabos - de duas sílabas: cosa, p ortal, deixou ;
vocábulos dissílabos (como são por santo, em São Pedro; pra por p ara, em
c) trissílabos - de três sílabas: sapato, f a r m á c ia , cortam os;
tjou pra casa; seu por senhor, em seu Jorge) e por variações fonéticas das
d) poUssílabos - de quatro ou mais sílabas: sa p a tin h o, belíssimo,
vogais, como veremos a seguir.
despertávam os.
16.1.1 A /,\TE\.SII).\DK .SIL.UlIf-A E O SI.STE.IU DE VOGAI.S
De acordo com a posição do acento tônico, os vocábulos classificam*
DO PORTlT.l fi.S
se em:
0 conceito de intensidade é também decisivo para compreendermos o fun­
a) oxítonos ou agudos, quando a intensidade recai na última sílaba:
cionamento do sistema vocálico do português, pois somente na sílaba tônica
ca ju , trabalhar, jaca ré:
se encontram suas sete vogais orais; /a/, /e/, /e/, /i/, /af, /o/e /u/, conforme se
b) paroxítonos ou graves, quando a intensidade recai na penúltima
pode deduzir dos pares m ala/m ela, m echaím exa, vesgoM sgo, pode/pôde,
sílaba: gaveíu, trabalham os, inútil;
pôde/pude. Na posição tônica, qualquer vogal pode estar em oposição com
c) proparoxítonos ou esdrúxulos, quando a intensidade recai na an­
as seis restantes.
tepenúltima sílaba; pântano, tra b a lh av a m o s, esdrúxulo.
16.1 1 TR.\(,;OS DISTI.NTIVO.S D.\H \ OG.\l.S
Os vocábulos de uma só sílaba - monossílabos —podem ser tônicos,
Os traças articulatórios que distinguem as vogais são devidos aos movimen­
se pronunciados ooni acento próprio, ou átonos, quando são inacentua-
tos da língua e dos lábios. A língua pode estar em posição por assim dizer
dos e vêm. por isso, apoiados cm uma palavra vizinha portadora de acento
neutra, como em [a] (tig. 2), avançar na direção da parte anterior do céu da
próprio e junto à qual formam um vocábulo funológico. Na frase P or favor,
boca, como em |e|, [e], |i| (tig. 2), ou recuar na direção da região posterior
p a s s e por lá sem pôr o pé no tapete há oito monossílabos —p or, por, lá,
do céu da boca, como em (o], |o|, |u| (fig. 3). Esses dois movimentos, como
«em, pôr. o, p é e n o - dos quais cinco - em itálico - são átonos, e três - em
se percebe, se dão em três níveis: quanto mais avança ou recua, mais a lín­
negrito - são tônicos. Sem acento próprio, os monossílabos átonos apoiam-
gua se eleva. Quando a língua está em repouso ou avança, os lábios, apenas
-se nos vocábulos \’iziiihos portadores de acento próprio, formando com
.separados e relativamente distensos, não têm qualquer participação ativa
eles segmentos que se pronunciam como grupos coesos de sílabas: os vo­
na pronúncia das vogais; quando ela recua, porém, os lábios se arredondam
cábulos fonológicos. Na reescrita seguinte, os vocábulos fonológicos vêm
e se tensionam cada vez mais, num processo de estreitamento que atinge o
separados entre si por duas barras inclinadas (//).
ponto máximo na pronúncia do |u).

Por favor. //passe //por lá //sem pôr //o pé //no tapete.


M í ^ t

Nn prr tônkM iU«i«|Hircir » rn iri h\ Ué%U* r


rn a ter ctnv-41 c«»nínrmr |Mrr«
rmiriirMiiirur

rtfilcrW»rr% c'enrriil («t*«irrh»rf-^


I
nu'il(n«

h.ni :iiilnnui<« lln t^ ii. c o m o o R»o iW l i i t i n r o4 lU-


|r| c l."»! c m i>o^i(;Ao p r c - t o n k ’ii v i m c i i l c é po^^kd %m íorim c« ilr r iv iü U * tn „.
oMiMTN um o H m h fc n K r t o i\n%rc ^ p c c n v n ^ foriiM « p rtm ih v it« m |m « in A o
«lim tm irtvn ilc |h\ |>*»r op«»^i«^*»li» m ilirm n iitlv n tU- |m « * t"»rip<iriyMi
c«‘m ( o j tVi mj»'« tMiri/tiin/in^. c o m I***! « b i r t o nvUtnfv» c-oni |.>| « ( n r
Vamos situar |a| na base - posiçAu contrai baixa -. |i| na rctiAn an­
to ih m im ittv o lU' rno/á-, c ttutlhmh» - c*<»m (o| ícch^Abí illm tm ih v ti ilr
terior alta c |u| na reUiSo posterior alta. O caminho que vai ilc |a| para ||| vtH4/lO I • tcttkKTol)
scrã (Knipado. primeiro, por jt) e depois p<ir Ic], e o caminho que vai lU- |a|
para |u| será ocupado, primeiro, por InJ e depois por jo] l‘or isso, essas (^ lá u ln » > o fk iu «fniUM 5 n a i« :
vo£ais intermediárias se chamam médias, e se distinguem |«>r dois (>taiis
de abrimento bucal responsáveis pelo fenômeno auditivo chamado tinibrv N.t 4101U1 riiM l. o tiH tc n iJ IK'd rctJu / k io « irc^ - /«/,
liberto xftx-hudo. O gráAco abaixo permite visualizar esses inosimeutos ciMiíormc «M cwtiiploH /i4pu/ rufHi. /*i4pW rdfj«i. /*upi/' (4jf«-

avani,-o d a lín gu a recuo da Kngua a n c c r u ir e n tra i ptnicrkir


u al(«L> I
o baua
a

li. Kl \tM.\|s N\n \1n'


Ha cm |)ortuiiué?k ctiico vo i^ is cm cuja produção c» vcu paUtim » K c r hi^ 1)
H, i.s O sisTKM A \ í h :\\ m :u uhmxti. |H.*rmitinil<i a rc^MinAncta na c a u Ja ilc nac^al. ^ o a» > o ^ ia imasl*
/iV, /c/, /i/. AV c AV. i|uc üciluiinitM dtn Hci^utntcH parc« minmi<M pnim u/
Q u ad m dtt.H vof^iabí em p«»«iiçftu tònícu: /miti). .HcruAi/Ki‘cAi, m iiiro/m itu. tmm|ai/tni|ai. mtimio/muiAi .Mcm ilu rc«
Minância iulsu I, c M u .s distliii^ucm-M.' %\as orai» cm outroa iloi» a«|ii'c-
tos (u ) uAo Nc iJlIcrcilclum quanto ao timbre, que e qua.»e «empre íechailo.
ameriore« central potituiiorcH
allAH I (h) sAo altas - /!/ e /ú/ - ou medias - /&/. /&/ e /à/ Ksta» in^» diMiii^ikrm »^'.
res|K‘otivumeiUe, com o aiuertor. posterior c cXMiiral A v«4al nasal /«/ rrex-
nicilia*» ícchadoN
Ik* a iornia loneticu de um ditoni^> - l o ) ' qttando ocs>rrc cm posi^âá» tmal
mcüia6 alK*rtu» f
Ivuxa a * Vet rv4« 4|i«.'tuk« «M iirm U> l .
nfriKio8KXTtM*uUln'm' nwilTHtAknwnMtuu
rr
^lo vwalnilo ^ol', ss (i>n«as ncni*. v.vm voftal imil. e m'Mi‘»i, com vojial nasal).
,V' eaw):
Esia ilitoivíaifio Ja U'íal nasal /&/ cm \X)SÍi,'Ao tônica é característica da pro­
llii variação livre entre ditongo e vogal simples: entre |kwo| e |ko) para
nuncia iwulista icf. as pronuncias rtêÍTuil c [V cítul ptira ic m fx i c vento).
11 primeira sílaba dc vocábulos ctnno qiiocícntc; entre |ow| e |o| para totlos
Kni iwlavras como cnimi, fxmo, scn/ui. nflo liá vogais nasais do ponto
os vocábulos que contêm o ditongo ‘ou’, com o desaparecimento dc oi>o-
de \ista fimológicií. Nesses castw, a nastdidade tKxirrc por int1uC'nciii da con­
sição como (mço/os.so, poupa/fyopa, cotirn/coro; entre |kyr| e [kr] para a
soante nasal seguinte. Neste ctmte.xto. nentroliza-sc. no português corrente
primeira sílaba de ipiieto; entre |ey) e |e) para vocábulos em que no ditongo
do Bnisii, a oposição entre vogai oral e vogal nasal, bem como entre vogal
se segue jr), |ã) ou |í| Ibcira. sapateiro, peL\c, dei.\ar, beijo,_fcyão).
.aberta e vogal fechada.
4“ caso:
anteriores central posteriores
O ditongo é uma unidade que não oscila e se opõe à vogal simples: lei/
altas í
lè. pai/pii, mau/má. mói/mó, céu/Só (= igreja), quase/ca,se, quanto/can-
médias ê
10 (estes dois são exceções ao 2° caso). Estão nesta situação os ditongos
decrescentes do português (vogal + semivogal): /au/ de jaula, /ai/ de gaita,
/fu/de chapéu, /ei/de papéis, /eu/de perdeu, /ei/de peito, /iu/de viu. /oi/dc
I h .i: lil.MOS. niTONdOS K TRITONOOS
moita, /ni/ de anzóis, /ui/de cuidar.
Hiato é o encontro de vogais em sílabas diferentes no interior da palavra
(e.r.; sa-ída, hi-ato); ditongo é a união de uma vogal e uma semivogal na
Obs.: A vocalização do /!/ em posição pós-vocálica (|saw|, para sol,
mesma sílaba (ex.: lei-te. á-gua): e tritongo é a sequência de semivogal.
ln'zuwl, para asnd) dá origem a mais dois ditongos: [ow] e (uw). Essas
vogal e semivogal na mesma sílaba (ex.; l.’-ru-giiai).
realizações não estão consolidadas como ditongos do tipo que acabamos
As dcAnições que apresentamos acima fazem referência ao conceito
de mencionar. Se admitirmos que há nessas formas ditongos verdadeiros,
de sílaba. Por isso. para compreendermos bem como esses encontros fun­
cionam no sistema fonoiógico do português, espeoialmente quando uma teremos de reconhecê-los também em pardal, anel, perfil, voltar etc. São
dessas vogais é átona e se pronuncia |i] ou |u], precisamos mais uma vez as seguintes as consequências des.sa decisão;
recorrer ao conceito de intensidade. a) itea restabelecida a oposição entre [ow] e |o| em alguns casos
A intensidade da síiaba - e, portanto, da vogal que ocupa o seu núcleo (ex.: voltar/votar)
- e a velocidade que imprimimos à frase são responsáveis por alguns fatos b) formas terminadas no mesmo ditongo terão plurais diferentes
relacionados com a formação de ditongos, tritongos e hiatos. íex.:jirau/jiraus, pardal/pardais)

l°caso: 3 caso:
Constitui necessariamente hiato o encontro das vogais |a|, [e| e [o| Há flutuação entre hiato e ditongo no encontro de duas vogais átonas
átonas com qualquer outra vogal tônica; caótico, saída, caolho, saúde, Sa­ em final de palavra, se a primeira delas for /i/ou /u/: história, óleo, tênue,
ara, jaes, maestro,/olia, cotia, perua, egoísmo, conteúdo. lírio, vácuo, série.

Obs.: Nas pronúncias li‘g\viímul, para egoísmo e |kõ‘tãyudu], para 6° caso:


conicúí/o, temos, é claro, ditongos; mas isto só foi possível porque o |o| e o Há queda da semivogal dos ditongos crescentes átonos finais quando a
le| deram lugar ao |w) e ao (y]. vogal base pertence à mesma zona articulatória da semivogal (ex.: (‘vakwu)
|ê‘ãagwu|, pronúncias tensas, ou |‘vaku] [ê‘ãagu|, pronúncia distensa, para
2° ea.so; tidcuo e enxáguo, [‘seryi], pronúncia tensa, ou I‘ssri], pronúncia distensa,
ilá possibilidade de flutuação entre hiato e ditongo crescente se a vogal pata série).
átona é /u/ou N e vem posicionada ames da vogal tônica; piada, coentro,
puído, jiKlho, tocuia, cíiíva, cueca, miolo, criança, suéter, m oela, miúdo.
3fi6 (j K U rv »T t - »tsm-n-R.w;(< i « i w i n
lAÀ.m) sKXTí/tjwiTii/): FtiNtncA c 3H7

16.1S l)ITO M K )S N.VSAIS D ECRESCEN TES E C R ESC E N TE S


16.21 PROCE.SSOS FO.NOLÓGICOS
Do ponto de vista fonológico, há em português quatro ditongos nasais de­
Vimos mais de uma vez neste trabalho que a língua não é uniforme no seu
crescentes: /z\J, em m ã e , c ã ib r a , c a p itã e s ; /ãu/, em m ã o , s a lm ã o , capitão,
uso. Há variações de diversos tipos, como a do plano sonoro, que envolve a
(irjãti. c h ec a m : /õi/. em sa lm õ es , p õ e; e /üi/ em m u ito. Geralmente, cita-se
realização fonética dos fonemas.
um quarto ditongo nasal. |èy], exemplifícado por ta m b ém , a lg u ém , sabem .
Observ'amos mais acima que os fonemas estão sujeitos a alterações
O ditongo |èy) é apenas a pronúncia da vogal nasal /é/ em sflaba hnal (na
fonéticas pelo simples fato de virem combinados na cadeia da fala. Tais
maior parte do Brasil) ou em qualquer posição (na região de São Paulo).
alterações podem envolver tanto fonemas em contato - seja na mesma síla­
S ão há entre lêy) e |è] oposição como há entre /ãu/ e /ã/ {irm ãtiH rm ã), en­
ba, .seja na fronteira de duas sílabas ou de dois vocábulos - quanto fonemas
tre /ãu/ e /ãi/ Im ãtílm ãe), entre /õi/ e lõl (veja o que acontece se pronunciar­ distantes no mesmo vocábulo. São exemplos desse fenômeno a variação
mos Ipõs-tij em lugar de |põti): põe-te / p on te), ou entre /üi/ e /ü/ (cf. |Ru| entre |tj e |tá| nas palavras tonta e tinta, ]ã aqui comentada, e a queda da
rum - uma bebida - e a pronúnica coloquial |Rüy| de ru im ). vogal pós-tônica em vocábulos comofósfo ro e abóbora, de que resultam as
C>s ditongos nasais crescentes são l* ã ) (ex.: q u a n d o ), |*ê) (ex.;aguen- pronúnciasfo sf(r)o e abobra.
tar) e |»il (ex.; pinguim ). Essas e outras alterações provenientes das relações sintagmáticas re­
cebem o nome de processos fonológicos. São basicamente de três tipos:
lõ .l' } T R IT O N W S Í)R.\IS E N.\S.MS (a) alteração da pronúncia de um fonema por influência do contexto fono-
,\qui também é precisti separar os encontros estáveis, como acontece em lógico, (b) perda de uma unidade fonológica, (c) surgimento de uma nova
IjTuéuai |way|, enxaguei lwey|, delirufuiu [»iw| e en x aéu m t (wow], e os unidade fonológica.
casos em que pode haver oscilação (cf. |pa.‘syowl - |pa.si.‘ow| parapasseou ,
|díií.‘vyey| - |díiJí.vi.‘ey| para desv iei, |a.‘twey) - [a.tu.*ey] para atuei). Alterações por influência do contexto fonológico;
São tritongíjs nasais os encontros vrxiálicos de en x ág u am [wãw), «o-
éu ã o |*ã«'l c sagu ões |*õyl e delin qu em lüêy). 16.21.1 llamioiiização vocálica
Na fala espontânea, a vogal pré-tônica dos verbos crescer /kre‘ser/ e m order
íib s.: \'eja o que di7.emm> do ditongo |êyl em 16.18. /moR‘deR/ passa respectivamente a |i| e |u| nas formas cuja vogal tônica é
/i/: crescíam os /kri‘siamus/, crescido /kri‘sidu/, cresci /kri‘si/, m ordíam os
16.20 ENCONTROS CONSO.N.S.NT.MS /muR‘diamus/, m ordida /muR‘dida/, m ordi /muR‘di/. Este fenômeno não
(J contacto entre consoantes pfxle ocorrer em duas situações: (a) na fronteira é geral, mas é amplo na fonologia do português, e ocorre também quando
de duas sílabas (ex.: ver-de, fe»-ta) ou (b) na mesma sflaba (bloco, sempre, a vogal tônica é /u/; costu ra /kuS‘tura/, coruja /ku‘ruía/, veludo /vi‘ludu/,
frito). São caracterfsticíjs do tipo ‘b’ os encontros cuja segunda consoante é /r/ peruca /pi‘ruka/. Fenômeno análogo percebe-se na pronúncia das mesmas
ou /!/, e que eventualmente formam pares mínimos opositivos (clave/crave). vogais átonas de p eteca e bodoque. Aqui as vogais pré-tônicas tomam-se
abertas por influência do timbre aberto da vogal tônica. Chama-se harmo­
Obs.: Convém alertar mais uma vez para a importância de não con­ nização vocálica esse processo que toma a altura e timbre das vogais mé­
fundir a realidade oral da língua e sua representação gráfica e visual. Multas dias /e/ e M pré-tônicas iguais à altura e timbre da vogal da sílaba tônica.
palavras escrevem-se como se contivessem encontros consonantais (ex.:
rupto,dignrj, ubsofum, pneu, psicologia, am n ésia, ritm o etc.). Na realidade 16.21.2 Vocalização
oral, que é a que interessa para a fonética e a fonologia, esses vocábulos É a passagem de uma consoante a vogal. O exemplo típico em português é
apresentam um som víxálico, ordinariamente |i), que ‘separa’ as consoan­ a realização do /!/ pós-vocálico como [w]; papel, lençol, sal (ver 16.17). A
tes (epéntese); o que pronunciamos e ouvimos é rápito, diguino, abisso- vocalização do /!/é responsável pela criação, na variedade carioca, de homo-
luto, peneu, pissicologia, am inésia, rítimo. Algumas pes.soas se esforçam fonia entre o adjetivo m au e o advérbio mal, o substantivo caUia (de doce)
para evitar essa vogal e realizam uma pronúncia um tanto artificial, conhe­ e o substantivo c a u d a (rabo). A mesma vocalização induz a certas confu­
cida como ‘pronúncia alfabética’. sões, com a hipercorreção que leva alguns falantes a tratarem a semivogal de
388 UUINTA PARTE - A E.STHimmAÇA«í SONORA Ha:Ultt.SEXTtMLO'lni./l WINtT«L\ t .W V

de/imu, chapéu ou de bacalhau como um alofone do /!/, donde a alteração 16.31.H Assimilação
morfofonêrnica dos plurais 'errados' durais, chapéis e bacalhaia. Em certas É 0 processo pelo qual as propriedades articulatórlos de um .som são traii.s-
regiões, o /R/ pós-vocálico se vociüiza em /y/: [poyku| porco, Ipoyta) porta. feridas para outro som vizinho ou próximo: ao dizer trinta e um, um falante
íle português pode pronunciar o ta e como [tayl, |teyl ou [te), de modo que
ltt.21.d Palatalização a vogal central |a| absorve a anterioridade do [y] e pa.ssa a |e|. Formas como
Em contato com a vo^al alta A/, chamada também ‘palatal’ por ser pronun­ colega e relógio podem apresentar uma vogal aberta - (a|, |e| na primeira
ciada na região mnis alta do céu da lioca. algumas consoantes anteriores - sílaba por assimilação ao timbre - aberto - da vogal tônica. Este último tipo
/t/, /d/, /!/e /n/- e velares - /k/c /g/- apresentam alofones palatalizados. É o dc assimilação também é conhecido como hamionização vneálica.
que se passa com o/t/de tinta, em face do/t/de tonta, ou com o primeiro/d/
em face do segundo /d/de divida. A palalalização do /!/diante de /U neutra­ Alterações que consistem no surgimento de uma unidade fonológica:
liza a oposiçtão entrc/l/e A/, tomando fonetieamente equivalentes as forma.s
molinho - diminutivo de mole - e molhinho - diminutivo de m olho (cf, um IÔ.21.9 Prótese
molho dc couve) e as fomias óleo (lubrificante) c olho (verlx) olhar). É 0 acréscimo de fonema no início de uma palavra. É comum o surgimento
do uma vogal anterior criando uma sílaba com o /s/ a que se segue uma
/Mterações que consistem na perda de uma unidade fonológica: consoante ociusiva ou nasal, como em esporte e esnobe (respectivamente
do ing, sport e snob).
1(>.2l,d ,Uére.se
É a queda de um fonema ou sílaba no início do vocãbulo. No uso coloquial 16.21.10 Kpêntese
brasileiro mais infomial as foraias do verbo estar perdem a primeira sílaba: É a inserção de um fonema no interior do vocábulo; o contrário da sínco­
td, t(), tão, tece, tava (por e.std, estou, e.stõo, e.s-teoe, estava). pe, portanto. Por epêntese de um |i| desfazem-se encontros consonantais
artificiais como (gn| (digno), [bs] (absoluto), |tm] (ritmo), [pt| (rapto),
lfi,21„S A|v>eope (ps| (psicologia), |kt] (aspecto). Em certa pronúncia enfática de Absoluta­
É a queda de um fonema no final do vocábulo. Na fala espontânea, até mes­ mente'.. com conteúdo negativo, aquele |i] chega a receber um acento de
mo das variedades padrão, é eomum a queda do /R/final da forma infinitiva intensidade secundário (Abissolutam ente). Comum na métrica da poesia
dos verlws: olhii. líisê, <fã, ptTt/è, tfonní (por olhar, dizer, dar, perder, popular, a inserção dessa vogal também é verificada entre os poetas român­
dontiir). ticos e os modernos, como no terceiro verso do seguinte terceto:
• “ó sereio (Narciso) quem se encanta / por sua voz-sem-voz
I 6 . 2 I . f > .''íneo|H ' sob a garganta /ou guelras desse mar tão absurdo..." (ACCIO-
É a queda de um fonema no interior do vocábulo. Nu fala espontânea, e LY. 1984: 229). Istoé: “ou/guel/ras/de/sse/mar/tão/a/6i/sur/do"
partieulannente nas variedades populares da língua, desaparece u vogal
pós-tõniea não final .seguida de /r/: .vítvira pas.sa a xicra.JÓ sforo passa a E também comum em certas variedades do português, como no Rio
msiTv, abóboru p.issa a alxthru. Os diniinutivos abobrinJia, xicrinha e dc Janeiro, o surgimento de uma semivogol [y] imediatamente após a vogal
eosquinha{s) (etK\'ííumhas, deetieega + inha) são, de resto, as únicas for­ tônica final seguida de /S/: m ês [meyá|, ca rta z [cax‘tayS|, crus [kruySl. É
mas possíveis na fala coloquial. ainda por epêntese que surge um [w] após a vogal posterior tônica - /o/,
/u/-e a vogal/a/ (ex.: bo a |bo\va], lua |luwa|). O mesmo fenômeno ocorre
K).21.7 llaplologia na sequência Aa/: c ia |viya). O iode - [y] - , no entanto, acabou ganhando
É a supa‘s.são de uma sílaba em contato com outra idêntica ou fonetieamente representação gráfica quando a vogai tônica era /e/ ou /e/ - cf. p a s s e ia e
muito parecia: pamlepipedo (por paralelepípedo)-, v aid oso (vaidade+oso: passear - , haja vista a oscilação gráfica de nomes próprios como L é a /L eia,
cf. cuidadoso): consnicíonal [porconstinicional). A ndréa/A ndreia.

\
K o ;iotvsciiiu> iIo lonom a no limil da palavra. O.s oinpróstinuw , majorim.
riaiiu-ntc do iniilòs, term inad os em ettnsoante diterente ilas i|iic aeahan,
proniineiadas e^mio vi\iial on e»n\u> r - s jx ir f. s n iilt. sfiv s s - sem pre a-eelK-tii
nina loiial tiiial: es;x)rfe. es-no/H’. esíivsse. Muitas dessas palm-ras aiiuln nju
reeeK-rain jíratia em CHirtnjinès. mas a eirenlas'Ao delas na tala se dii eom „
aixirtniíne.sam ento sejíim do essa R'iira, liaja vista o easo de loiifi-Uí-ck, pro,
mineiado co m o /oiiiíiie-iietfne.

lti.21,1’ Metátese
K o deslocamento de íonemas tio interior ila palavra: tu u h u (ef. uihuti)^
/iilc u iii u lc ( c ( ./a c u id a d e ) , c r id o (ef. v id r o ) . iH iríiuillia (cf. h r a ^ u ilh a ). \
S E - X O iA '
metãtese decorre de um:i jierda (síncope) iinediatamente compensada por
nni acréscimo (epentese). Os exemplos arpii arrohulos são típicos de ii.stxs
populares.
PARTE
O L É X IC O : F O R M A Ç Ã O E
S IG M F IC A Ç Ã Ò T d a s F A irW R A S
T

1 7 . 1 FLINDMIENTOS UrSTÓRICOS
A língua que falamos é mais que um meio de comunicação com nossos
semelhantes. Não conhecemos conteúdos que eventualmente optamos por
traduzir em palavras e enunciados de uma língua; tais conteúdos só passam
a e.xistir objetivamente na sociedade como conhecimento circulante ao se­
rem postos em palavras. Não é por acaso que a língua é o único meio uni­
versalmente empregado pelos homens para fazer da cultura o assunto de
suas interações, seja na conversa face a face, seja nos muitos registros - ti­
tãs discos, livros, jornais, revistas, impressos, cartazes - que a tomam pro-
p.igável no espaço e transmissível através das gerações. O que um indivíduo
vê, pressente, imagina, descobre ou inventa pode ser nomeado pela palavra.
Uma vez nomeado, o conhecimento pode ser socializado e integrar-se à
cultura coletiva. A língua cumpre essa tarefa graças, especialmente, ao seu
lé.xico, que, no dizer de Edward Sapir, reflete com maior nitidez o ambiente
físico e social dos falantes"'.
A constituição geral do léxico de uma língua reflete, por meio de seus
subconjuntos, as circunstâncias históricas vividas pelas comunidades às
quais ela serviu e às quais serve como meio quotidiano de expressão. No
caso da língua portuguesa, este léxico é fundamentalmente de origem la­
tina, já que o latim é a língua que, modificada pelo uso ao longo de vários
séculos na Península Ibérica, deu origem ao português. Esta base latina foi
ampliada por palavras pertencentes às línguas de povos que, como os cel­
tas, habitavam a Península antes das invasões romanas, ocorridas no século
II a.G. Posteriormente, contatos diversos dessa população falante de latim,
primeiro com povos de origem germânica, depois com povos de origem ára­
be, serviram para expandir e diversificar aquela base lexical.
Quando a língua portuguesa começou a ser escrita - nos fins do sé­
culo XII ou início do século XIII - seu léxico reunia cerca de 80% de pa­
lavras de origem latina e outros cerca de 2 0 % de palavras pré-romanas,

’ S/tPIR11969: 45|.

s:
S«TA PARTt. - O IXAUM; P«RM.\<.-KO t SUiNIFK-\C.VO U.VS P.M_V\H.V5
h t c a if l .sfTIMO ('.UlTVLO: o LC.\KXi r o R T n H f s

íSemiânicas e árabes. Pertencem às línguas faladas na Península antes da


;\s palavras estão organizadas em subconjuntos conhecidos como clas­
chegada dos romanos; barranco, b c ser ro , bru x a , c a m a , carrasco, mato,
ses de palavras (ver sétimo capítulo), tradiclonalmentc identificadas segun­
m orro, •cársea. São de origem germânica; b a n d o , es p o r a , luva, guerra,
do o modo como significam os dados de nossa experiência do mundo, as
fiu ard ar, j a r d im . rico, s a la , trégu a. As palavras recebidas do árabe for­
vari,ições formais que podem assumir e as posições estruturais que ocupam
mam um accr\’o muito amplo. Designam principalmente (a) cargos/ocu-
na frase, Nas seções seguintes trataremos dos recursos a que se refere o
pações; a lfer es, almo.xari/e\ (b) plantas/alimentos; a ç ú c a r, a lecrim . algo­
item ‘c’ do parágrafo precedente; as palavras formadas com os recursos
d ã o , a r r o s , la r a n ja ; (c) profissões; a lfa ia te, a lm o crev e; (d) unidades de
morfológicos produtivos da língua.
medida; a lq u eir e, a r r o b a ; (e) animais; atu m , ja v a li; (f) artigos de luxo,
instrumentos musicais; a lm o fa d a , m arfim , alfinete, ra b e c a , alaúde; (g)
17.2 (;0MP()SI(.:.\0 E DERIVA(;.\0
produtos do campo e da indústria; a seite, a lc a trã o , á lco ol; (h) conceitos
Em geral conhecemos o significado das palavras como se cada uma fosse
matemáticos; a lg a rism o , cifra.
independente da outra. Nossa primeira impressão é que as palavras perten­
No decorrer dos séculos XIII, XIV e X\^ o português se tornou o meio cem n um estoque guardado na memória. De fato, isso acontece com boa
de expressão de um vasto conjunto de obras escritas. Mas foi no curso dos parte delas, mas não com todas. O lexema cabide, por exemplo, é do tipo
séculos X^^ X\T e XVII, como sintoma da revolução cultural do Renasci­ que precisa ser memorizado como uma associação exclusiva e cem por cen­
mento, que poetas, cronistas, historiadores e naturalistas, entre outros, en­ to arbitrária entre forma e significado. O caso de guarda-roupa é diferente;
riqueceram o português escrito com as formas chamadas eruditas, funda­ mesmo uma pessoa que jamais tenha ouvido esta palavra encontrará em
mentalmente latinas e gregas, tomadas aos textos clássicos. São dessa época sua forma aparente - que combina o verbo guardar e o substantivo roupa
o influxo dos superlativos nigérrim o, acérrim o, paupérrim o, nobilíssimo, - uma pista para a significação.
bem como os n o m esfia m a , plaga e procela. presentes n’Os Lusíadas. Gomo fatos independentes aprendemos, também, o significado defrio
Ainda no século X\l, por influência do Renascimento, o português e de quente, de raso e defundo, de abrir e de fechar, formas que significam
recelieu um grande número de palavras de origem italiana, partioularmente opostos, isto é, que são antônimas. Ciuando se trata, porém, de capaz /in­
relativas às artes (vide tenor, violoncelo, harpejo, arlequim ); nos séculos capaz, útil /inútil, leal /desleal, tampar /destampar, a relação entre os
XVII e XMII coulre à língua francesa emprestar ao português um razoável antônimos não .se dá apenas no sentido, mas também na forma; uma regra
contingente de verbos, substantivos e adjetivos (vide abandonar, blusa, morfológica nos diz que o acréscimo de in- ou des- a um lexema dá origem
en v elop e, coqu elu ch e, cham pan ha). O contato do colonizador europeu a um segundo le.xema que serve de antônimo ao primeiro.
com as populações naturais do Brasil e com os negros trazidos da África foi Analogamente, podemos formar substantivos a partir de adjetivos pelo
decisivo para a renovação do léxico do português do Brasil com palavras acréscimo de sufixos; de macio, maciez; de branco, brarumra; de suave,
como a r a p u c a , jab u ti e m oqueca, de origem tupi, e m olam bo, quitute e suuvidíule; de esperto, esperteza; de nranso, mansidão, -ez, -ura, -idade,
c o c h ila r, de origem africana. Desde o século XIX, e sobretudo ao longo do -eza, -idão ocorrem em muitos outros substantivos formados pelo mesmo
século XX, a língua que mais empréstimos vem legando ao português é o proce.sso.
inglês, devido à internacionalização dos produtos da tecnologia americana, A possibilidade de combinar morfemas para criar novos lexemas tor­
(v id e.fran q u ia , tradução de fran chisin g; deletar, de delete (apagar); laser na bem menos penosa nossa necessidade de memorizá-los. De fato, a me­
(sigla de light am plification o.f stimuluted em ission o f radiation), stress. mória armazena apenas uma parte do estoque de lexemas - que inclui ca­
fe e d - b a c k , knove-htrw etc.). pas, tampar, esperto, macio, roupa, guardar - , pois a outra parte - que
O conjunto das palavras do português - isto é, seu léxico - consiste, inclui incapaz, destampar, esperteza, maciez, guarda-roupa - pertence
portanto, na união de três grandes grupos de formas; (a) as palavras herda­ a um conjunto de unidades criadas por meio de regras de formação de
das do latim, (b) as palavras provenientes de outras línguas antigas e moder­ palavras.
nas - os empréstimos, entre os quais se incluem os xenismos (ver 17.6)-. A união de morfemas para a construção das palavras está, portanto,
e (c) as palavras formadas com os recursos morfológicos produtivos da lín­ sujeita a regras.
gua em cada fase de sua existência.
.1 9 6 stX T » P.UITI - o ItM C I): FOMlAÇAll E Slf.M nC A ÍiV O D.\S P.\U\H.\.S

OECIMO .s étim o CAPfnXO: o LÉXICO PORTlIOltS J9 7

0 a iN jrv ro nos morfe .vi.vs, .vs reor .vs q u e a s combinam f. m f .vl \vra .s e as
1'ROrRl.VS r.M_\VK\S n.vl r e six t .vvte.s f.víe .m w r t e d o q i t s e c ii ,vma a ‘compe - re- (movimento para trás) e pro- (movimento para frente). Entretanto, nem
produzir nem inteligente são formados sobre outras palavras, como acon­
Tf-Sa.V lexical ’ de I^VLV pesso a E.M UVL\ DETER.VIIX.VDA LlNGUA.
tece com m aciez, com in ca p a z , com resisten te (formado sobre resistir).
Mas isto não nos impede de reconhecer que inteligente e p rod u zir são ana-
É preci.so. contudo, ter clareza sobre a diferença entre a natureza d»
li.sáveis em intelig- + -ente e pro- -f -duzir.
refiras do léxico e a natureza das regras da sintaxe. As primeiras produzem
Temos, portanto, de reconhecer que nem todas as palavras que con­
palavras que se associam na perspectiva paradigmática (b ra n co , bmnca.
têm um morfema lexical e um morfema derivacional provêm obrigatoria­
bran cura, bran qu ear, es b r a n q u iça r. branco-ge/o), as últimas produzem
mente de unidades autônomas menores. É comum que a relação se dê, não
fra.ses em cujo interior as palavras se associam na perspectiva sintagmática entre uma palavra derivada e uma forma básica (isto é, primitiva), mas
(ver para os c-onccitos de relação paradigmática e relação sintagmática). entre duas palavras portadoras de prefixo ou sufixo, como os exemplos de
l’or mais que seja analisávcl em partes significativas menores - os morfe- pmdiizir/reduzir, inteligente/inteligênda.
mas uma palavra tende a ser sentida como uma unidade pronta, ‘arma­ Os e.xemplos que acabamos de comentar mostram que às vezes é di­
zenada na memória dos falantes, razão pela qual reagimos frequentemente fícil decidir se uma palavra é ou não divisível em dois ou mais morfemas.
às criações novas com julgamentos do tipo ‘essa palavra não existe, você a Quando temos certeza dessa divisibilidade, dizemos que a palavra em ques­
inventou . .lamais dizemos isso a respeito de frases. A maior evidência desse tão apresenta um alto grau de transparência (ex.: irifeliz, g u ard a-rou p a);
sentimento é a existência mesma dos dicionários. Dicionários de frases sá quando temos certeza de que a palavra é indivisível, é porque a palavra é
têm sentido como compilação de ‘frases feitas’ (ex.: Agua m ole em pedra opaca (ex.: feliz , ca b id e); quando, entretanto, temos dúvida, é porque o
dura tanto Itate até qu e fu r a . Coxa de ferreiro, espeto d e p au ). grau de transparência é baixo (ex.: proferir).
Existem fundamentalmente dois processos de formação de palavras:
derivação e composição. Por definição, uma palavra é formada por deri­ 17.4 :\XALISE E STR l’T l’R.\L E FORMAÇAO DE PALAVRAS
vação quando provém de outra, dita primitiva (ex.: ja r d in eiro deriva de Nosso conhecimento da estruturação formal do léxico comporta, portanto,
jiirdim , iiifurxis deriva de cafxis. desfile deriva de d esfilar). Também por vários níveis de complexidade, que detalharemos na seção seguinte. Pro­
definição, uma palavra é formada por composição quando resulta da união visoriamente, distinguiremos apenas dois mecanismos que fazem parte de
de outras duas ou mais palavras, ditas simples (ex.: g u a rd a -ro u p a , porco- nossa competência lexical: (a) Regras de análise estrutural - RAE (neces­
esp in h o. aeu l-m arin ho. fotom ontagem (formado de/oto(grq/ia) -f monta­ sárias para reconhecer os morfemas, especialmente nos casos de grau baixo
gem ), moto.s.serra (formado de moro(r) -f .serra), eletrodom éstico (formado de transparência, e interpretar a contribuição deles para o significado da
de elétr(ieo) + í/imié.sríeo) palavra), e (b) Regras de formação de palavras - RFP (necessárias para
explicar a produção e a compreensão de palavras novas).
17..X MKC.AMSMOS DE PROIH Ç.^O E DE COMPREENS.AO Vimos acima que pares de palavras como penitentejpenitência e oons-
DE PAE.W RAS truir/destruir são e.xemplos de formas que, embora sejam constitmdas de
Nem todas as palavras que podemos considerar formadas pela união de dois elementos mórficos menores (penit- + -éncia, penit- -f -ente, con- + -struir,
morfemas lexicais ou de um morfema lexical e um morfema derivacional des- + -struir), não provêm de outras palavras. Isto é, podemos analisar
apresentam es.sa simplicidade em sua estrutura fomial c semântica. O que essas formações segundo as regras de análise estrutural (RAE), mas não po­
dizer, por exemplo, de palavras como inteligente e inteligência, reduzir demos explicá-las como formas criadas a partir de outras mediante regras de
e protiuzirr llü entre elas diferenças que encontramos em outros pares formação de palavTas (RFP). Formas como estas, numerosas, foram produ­
de palavras: gervnteJgerência. urgenre/urgência. resistente/resistência: zidas em geral em época remota, quase sempre ainda no latim, tendo sobre­
reclumur/pnx;Uinuir. remeter/prom eter. ixferir/proférir. Este fato pode ser vivido às formas primitivas das quais procediam. Com efeito, existiam em
suficiente para nos convencer de que a diferença de significados entre in­ latim os verbos poenitere (= arrepender-se) e struere (= reunir, juntar), que
teligente e inteligência, reduzir e pasluzir se explica, por um lado, pela não permaneceram no português. Apesar disso, a exemplo do que vimos no
oposição entre os sufixos -(e)nte e -(ê)ncia, e. por outro, entre os prefixos início deste parágrafo, não precisamos desses verbos para analisar aquelas
»AT\ r \ n n - lÉXhxv K.sn4Mrh-_\v;:Vt»iws r.\l.\VR.\s
Díoun stTIun i;APIm,n. n I f.xn:o nmlrulfH .IW

iwlavras cm luiidiuics menores. Noiilnxs cnsns, porém, ii semelhiinçn fontial glieef passou do sentido 'u(|UÍlo (|ue tião se pode pagar’ para o de 'engraçado
nflo vem .icompanhailn de ntinidnde semAntien. Este 6 o enso de pnifcrir, ou exeêntrieo’, e Constituição não é o ‘ato de eonstitulr'. mas o nome do
conlitir. i\IÍTÍr. di^fcrir. qiie só eom muitn )iinAstio:i consejjulrínmos rea- conjunto das leis máximas da nação. A criatividade é o fundamento da
énipar a partir de um denominador semflntico comum. cimtribuIçAo cireunstancial, ordinariamente partieularlzadora e fretiuen-
Os fact>s destacados acima nos mostram que a distinção entre sincro­ teniente expre.ssiva, que os falantes adicionam ao signilieado da.s formas
nia c diacronia (ver terceiro capítulo), tão pertinente e clara na abordagem eriadas pelos mecanismos regulares que constituem a produtividade.
do funcionamento dos sistemas fonológico, sintãtico e morfossintãtico do Ao institucionalizar-se o produto da criatividade lexical e eristallznr-se
português. SC revela menos óbvia e menos explicativa quando tratamos da.s idiossineraticamente seu signilieado, como ocorreu com os (|uatm últimos
estruturações do léxico. No domínio do léxico, deparamos com palavras exemplos, o elo entre esse produto e sua ba.se tende a desaparecer da eom-
herdadas do latim (e.\.: transferir, perm anecer) e palavras formadas na petência lexical dos falantes, e consequentemente do sistema da língua.
atual sincronia do português (transportar, per/asxr). Considerar derivadas Numa distinção radical entre estes conceitos, pode-se dizer que a produti­
por prefíxação somente as duas últimas formas é passar ao largo da comple­ vidade é sistemática e coletiva, ao passo que a criatividade é idiossincrática
xidade do modo próprio de estruturação do léxico, deixando sem explicação e particular.
o fato de muitos falantes intuírem, em face dessas quatro formas, por força Um ato de criatividade pode, contudo, gerar um modelo produtivo. Foi
dos segmentos trans- e per-, respectivamente, os signihcados ‘movimento 0 que ocorreu com a palavra sam bódromo, criativamente formada com a
para além’ e ‘processo que se estende’. terminação -(ó)dromo (= corrida), que figura em hipódromo, autódromo,
cartódromo, formas que designam itens culturais da alta burguesia. Não de­
l/.-S PRODl TIVin.XDE i: CRl.\TIVlD.\OE l-E.\IC.\IS'' moraram a circular, a partir de então, formas populares como rangódromo,
\'imos cm 17.4 que é variável o grau de correspondência entre a estrutura beijódromo, camelódrom o etc.
mórtica de uma palavra e seu significado. Vários fatores contribuem para Os prefixos super- e hiper- têm sido abundantemente utilizados na
que uma palavra se tome menos transparente. Um deles é a mudança que a formação de superlativos: superbacana, superimportante, hiperlegal, hi-
língua sofre nt) seu u.so e através do tempo: em barcar, por exemplo, embora pennodemo, superlegal, supercheio, supertransado. O sufixo -ês, tirado
derivado de Itarco, ampliou seu raio conceptual, passando a designar o ato de da designação das línguas, tomou-se altamente produtivo na formação de
tomar qualquer condução - trem, ônibus, avião; ônibus, por sua vez, que ori- neologismos jocosos, como econom ês (a língua incompreensível dos econo­
ginariamente signilica ‘para todos’ (do ablativo latino om nibus) modificando mistas); na mesma linha, pedagogês, banques e politiquês.
uma base substantiva (algo como ‘veículo’), a.s.sumiu com o tempo o lugar da Ainda a título de exemplo de um mecanismo derivacional produtivo
constmção inteira e o significado exclusivo de 'veículo rodoviário para uso no português atual, lembre-se a construção dar + SN derivado de verbo por
coletivo’. Estes ilois exemplos ilustram dois movimentos contrários no léxi­ meio do sufi.xo -ada/-ida, usual sobretudo no registro informal da língua fa­
co; a gcnerall/.ação {em barcar) e a restrição do significado (ônibus). lada (ex.: dar uma m ordida, d a r uma Jitgida/fugidinha, dar uma olhada,
Esses mecatiismos de ampliação e restrição semânticas são comuns na uma procurada, uma cochilada, timt» bicada, um a petisada, uma mexi­
língua, imis c im|H>.ssível prever quid palavra terá seu significado ampliado da, uma consultada, uma perguntada etc.)“ .
ou cm >|uc direção o signiticado dc uma palavra será reorientadu. O que
levou a coimiiiidadc a (.sm.sagrar em barcar c ônibus nus significados que 17.Ô NKOl.OCIA
coiiliccciiios liojc foi o princípio ila criatividade. S«'> em virtude da criativi- K fato bem sabido que qualquer língua em uso se modifica constantemen­
dmlc (ios 1'alanles. íi{ilai,tia não significa simplesmente 'ação de inflar’, mas te. O item anterior reúne alguns exemplos ilustrativos dessa propriedade
'media ila elevação tli>s preços’ (restrição ile signilieado (xir metonímial; d;i linguagem humana: criação de novas formas lexicais ou acréscimo de
oivf/iiio não é iitna ‘orelha gratide’. tuas uma e.s|H.*eie de capacete que prote­ novas acepções a formas lexicais já existentes. Ao conjunto dos processos
ge os telelones públicos (e.s|H'ciali/ação lUi significado (Hir metáfora); íntpa- de renovação lexical de uma língua se dá o nome de neologia, e às formas e
*■' Carlus OnimmmuI .Vnünuk* rvtiisti\>u ininui crônica - “Eni IJa. Em AUa" - esse íemVmeno
•' ,s«qtiv v su ã o a i i ç a o . l l v f K R |u esil
hiKuiMuvANnR.\nK \\^Sh
D ír.iM o s t n a i i r jim w : o i . e x im m R T U o e t.s 401
m u\ rorrt - «> * '« •w» .kcw> ivvs ru-v\i.v»

b) criações vernáculas semãntícas (ou neologismos semân­


nccpçõcs criadas ou ahsonidas pelo seu líxico, neologismos. A introdw^o.
ticos): la ra n ja (pessoa cujo nome é usado em transações
assimilavân e circularão dos neoloíisnios eslão sujeitas, principalmente, a
fatores históricos e socioculturais. mencionados mais adiante. Do ponto de financeiras ilegais para ocultar a identidade do verdadei­
vista do sistema mesmo da liníua. que norteia os procedimentos de deriva­ ro beneficiário), s e c a r (causar má sorte, azarar), cu rtição
rão e dc composirão, cilc-sc um fator esmitural que contribui para reijular (prazer, coisa que está na moda), torpedo (mensagem curta
n prcxlurão dc neoloiiismos; o hloqueio'*' por meio de telefone celular).
Trata-se dc uma condirão ilcral do funcionamento das línguas que pode
ser assim resumida não sc cria uma palasTa ts>m um dado radical e um dado 2) Estnulgeirismos
siiiniticiido SCja existe na liniiua outra p.aLa\Ta com o mesmo radical e o mesmo a) xenismos. em que o estrangeirismo conserva a forma gráfica
sifiniticado <) iiloqiicio ê um princípio aiuiiliar de outro princípio mais geral: de origem; m ouse (acessório manual para guiar o cursor na
a is-ononiia linguística |v>ssihdidadc de coexi-stirem substantivos abstratos tela do computador), ca rp a ccio (carne bovina, peixe, berinje­
ilcritados do mesmo verito - estmo tsinairxio e crmximcntn, com petição e la servidos em fatias finíssimas temperadas com limão e azei­
<sirnt« fincto - explica-se pela diferenra de signiticados que denotam. Por sua te), ro ck (móvel para acomodar aparelhagem de som), p a p er
vc7 . a coexistência de àiiitor e foKo ou de motociclista c mototfueiro encontra (ensaio ou artigo da autoria de um especialista para apresen-
apiio da dnersiibule sociolmguistic;i expressa por essas formas. E a possibili- tação/circulação e debate em fóruns científicos), drive-in (sis­
daile Ile um iirasilein i chamar tie cxzviluinçu ou de ‘cisindário o mesmo grupo tema de atendimento em estabelecimentos comerciais pelo
ile vi/inlios dc|xiKÍe de ele ser um carioca ou um gaúcho, respectivamente. qual o freguès/cliente é servido no próprio carro), coiffeur
.\ nvologin isimpreeude enarsx-s vernáculas e empréstimos a outras lín­ (cabeleireiro), personal trainer ou personal (profissional que
guas. os estnulgeirismos São cnar<V-s xemáeulas os substantivos metisa- programa e executa um treinamento físico personalizado);
Iwi (su|sista propina paga ineiisalmenie a políticos) e lxifí>metro/etiIómetn>
(aparelho que aialia. no ar exix-lido |Kla Itoca, a concentração de álcool no b) adaptações, em que o estrangeirismo se submete à morfolo-
organismo), o verlsi </i.s(Himhi/isor (tornar disponível); são empréstimos a gia do português: ch ecar (apurar a verdade, conferir, do ing.
outras línguas tii.sl-lissl (mglés). aggioniameiito (italiano), ttnitiami (Japo­ ch eck), randôm ico (aleatório, fortuito, do ing. (ar) ramdom),
nês) e IoI i Iki (araU ) .\s enassies icrnáeulas |SH.leni ser morfolúgicas ou se­ in icialisar (dar início a, por influência do ing. initialize),
mânticas t )s esirangemsmos sao em sua esmagadora maioria unidades for­ barula (do ing. band, no sentido de conjunto instrumental);
mais e estão siijeitos a t .inados proswsos de incorporação. O primeiro fator
a esinsiiierar e o sistema gratissi eiii|iregado na língua de origem. Se o sistema
c) decalques, em que há uma tradução literal do estrangeiris­
gratissi lia língua diuidora e igual ao do isirtiiguês. é comum que a palam
mo: alta costu ra (fr. haute couture), centroavante (termo
ou ex|ires.sao consine a representarão grãtica de origem: mou.se, mise-ett-
do futebol, equivalente ao ing. center-forward);
■siviii. iuii«ii\'io .\s \eies esiiisagra-se iiinii adaptação gráfica que reflete a
ah-virção da |iala\ ra estr.mgeini |k Io sistema fonològicsi do ponuguês: eopir-
d) siglas/acrimimos, em que se empregam as iniciais das pa­
luiíi (mg isipvrxglit). mii.s.si tfr moii.s.st). Iievuix (iiig. Ixick-up).
l'odeni-se distinguir os se-gtiinte-s processos fundamentais | lavras constitutivas da expres,são estrangeira: PC (person al
Computer), CD (com pact d isk ), RSVP (répon dez s ’il vou s
I) ( IríuçsW.s teniaeulas I plait, responda, por favor.).
a) críiiçsK-s xeniaculiLs foniutis (ou neologismos moriolúgi-
tses). em que se ohsenant regras produtivas de formaçãu ' A vida dos neologismos é governada pelo mesmo princípio fundamen­
ile |ialai ras ixifómctro. .setn-femi, ,sem-teto. dchUoUU:. uti- | tal válido para o léxico como um todo: qualquer palavra só se mantém em
riiiiotii. dciiltiniair. uso se é necessária para designar uma ideia, um objeto, um conceito circu-
bnte iiu comunidade que a emprega. A debilitação ou esgotamento dessa
o | 'a u Je -ls llia ille -llliM Í,t esM levIlo. l e r N.\i*t IL) I l*tsi, 2Jt*-*l|. Kl K.iLX I )s*>s l.tX-)45| senentia tem por consequência a raridade de uso ou mesmo a obsolescên­
SEITA TARTE - 0 Lt.TKO: fORSUCAO E SlOSinCAÇAO DAS TAUAKAS
DÉCIMO.SÉTIMO CAPiTUU): O LÉXICO PORTUCltS 403

cia da palam. Os termos que designam itens da moda em todas as áreas


àquele episódio. Situação diversa é a do verbo d ispon ibilizar, neologismo
do comportamento humano - vestuário, música, esporte - dão exemplos
que se difunde sem carregar qualquer marca das circunstâncias de seu sur­
abundantes desse fato: o termo rocfe, por exemplo, abreviação de rock-and-
gimento. Uma solução frequentemente adotada pelos pesquisadores é con­
roll. se difundiu a partir de 1954 e persiste dando nome a um conjunto de
siderar neologismos as formas e acepções criadas que ainda não lograram
estilos musicais capazes de magnetizar o gosto da juventude em todos os
registro em um dicionário bem conceituado. É claro que não se trata de
continentes. Por sua vez, variações conhecidas como hully gully e tteist
uma definição, mas de um critério de pesquisa e análise.“
nào tiveram a mesma sorte. Natural, portanto, que muitos neologismos du­
rem apenas uma temporada, enquanto outros se enraizam na língua.
17.7 OUTROS ASPECTOS DA CRIAÇÃO LEXICAL
Às vezes o estrangeirismo é substituído por uma formação vernácula
Os diversos domínios de conhecimento e de atividade constitutivos da am­
ou adaptada. Foi uma adaptação que tirou crooner (cantor) de circulação,
pla massa da experiência humana são delimitados ou identificados pela so­
substituído porcocoíista (também do ing. vocalist). Uma substituição como
ciedade em geral graças às designações aplicadas a conceitos, produtos,
esta pode ocorrer por força da conotação: o c ro o n er - um tanto secundário
seres e objetos que os integram. A par das designações arbitrárias típicas
na formação dos conjuntos instrumentais - geralmente não era conhecido
do léxico, esses domínios nomeiam seus conceitos e objetos por meio de
por .seu nome, diferentemente do vocalista, que passou a ser figura central
formas compostas, derivadas e sintagmas fixos. Trata-se de nomenclatu­
no s/iotc. No futebol (do \ng. foot-ball) muitos termos cederam espaço ou
ras. reunidas sob rubricas gerais eruditas, algumas bem conhecidas, como
deram lugar a formações vernáculas, mesmo depois de um período em que 'topônimos/toponímia’ (nomes de lugares) e ‘antropônimos/antroponímia’
circularam como formas adaptadas: beque (do ing. b a c k ) foi substituído por (nomes de pessoas), outras de uso raro e especializado, como ‘axiônimos/
saguciro, có m cr (do ing. comer) convive com escan teio, e centeral/e (do axionímia’ (expressões de reverência, como Vossa E xcelên cia, M eritissim o,
ing. cenier-half) deu lugar ao m édw -volante. Ainda mantendo-nos na área 0 senhor/a senhora), ‘nosônimos/nosonímia’ (designações das doenças) e
.semântica do futebol, é notável a criação de novos termos, às vezes por exi­ epônimos/eponímia (cognomes ou epítetos de pessoas e lugares famosos,
gência de concepções modernas do posicionamento tático dos jogadores no como Poeta dos E scravos, para Castro Alves; C idade M aravilhosa, para
campo. São criações recentes: apoiador, libero (emprestado ao italiano), Rio de Janeiro). Segue uma listagem de algumas delas, com destaque para
lateral, volante e ca b eça d e área. os antropônimos e os oneônimos.
Identificar uma forma em uso na língua como neologismo nem sempre
é tarefa simples, pois não há para isso instrumentos de medida e avaliação. 17.7.1 .Intropôninius
.As criações neológicas são mais comuns em certos domínios discursivos, Compreendem amplamente os nomes de pessoas. São muito variadas as
como o que implica o uso artístico/expressivo da palavra (literatura, publi­ fontes históricas dos nomes próprios. Em algumas sociedades antigas acre-
cidade, humor) e o que envolve inovação conceituai ou técnica (ciência, ditava-se que, ao escolher o nome de uma criança, seus pais ajudavam a
religião, esportes, atividades especializadas diversas). Ao criar seu texto, o definir sua personalidade e a traçar seu destino: B eatriz (a que traz felici­
autor pode produzir conscientemente uma forma, e muitas vezes explicitar dade), Celina (filha do céu), R icardo (chefe poderoso). H elena (tocha, luz),
essa consciência com um recurso gráfico qualquer, como aspas ou itálico, Lúcio (provido de luz), H ortênsia (a que cultiva jardins). Muitos nomes são
ou com um alerta epilinguístico (ex., quando diz algo do tipo ‘aquilo que tomados, por derivação imprópria, às designações de flores e plantas: D ália,
os mexicanos chamam...'). Uma vez posta em circulação, porém, a forma Margarida, Magnólia. Os sobrenomes são, nas sociedades em geral, uma
neológica pode ser notada como tal por muitos usuários e nào o ser por designação de família. Nesse domínio é comum a utilização, por derivação
outros, e à medida que seu emprego se repete e se expande, é possível que imprória, de nomes de animais e de árvores: C oelho, L o b o , L a ra n jeira ,
a consciência da neologia se tome cada vez menos clara. Mas também pode Carvalho. Têm especial papel nesse vínculo familiar os patiônimos, que
acontecer que a referida fomia se mantenha restrita à circunstância de seu
uso inaugural, e assim persista por muito tempo na condição de neologis­ Fara uma análise de criações morfoió^cas no português contemporâneo, ver S4\NDMANN
mo. Foi o que aconteceu com o adjetivo im exível, criado por um Ministro |1‘Í8H1 e HENRIQUES [2007b). Sobre o conceito de neolo^smo. ver BIDERMAN [1978), Qí\R-
de Estado no início dos anos 1990, e eventualmente usado de foraia alusiva \.\LHO (1984) e ALX^ES 11990). Em um conto - “Hipotrélico" - Guimarães Rosa deu tratamento
lúdico. Jocoso e irônico ao tema do neologismo (ROSú\, 1967),
404 SRXTA PARTK - O iXXiat: FORUNÇAO F. SI(iN'IFl(l\Ç.Vo r.\LA\%\S

derivam do nome de algum ancestral: Fernandes (de Fernando), Álvares


(de Álvaro), N unes (de Nuno). No português do Brasil há alguns nomes pró­
prios de origem indígena: B a n ira , Cauâ, Iraci, Ju ran dir. A imigração, o ci­ nílCI.MO O IT .W O C .V r ÍT l L O : O S K i.M l IC A D O L i:\ IC .\ L :
nema e a mídia - especialmente as novelas de televisão - também são meios c o . \ a :i T o s B .v s i c ü .s “
de ingresso de muitos antropônimos. Seguramente se deve à popularidade
do pop s ta r americano Michacl Jaekson a origem do nome próprio Maicon.
Também tipicamente brasileira é a tendência ,à criação de antropônimos
por meio de amálgama ou aglutinação dos nomes de outras pessoas da fa­
mília: Vanfíson (Vânia e Nilson), Gildésio (Gilda e Edésio), Francineide
(Francisco e Neide). l.H.l INTRODUÇÃO
Dissemos em 6.5.2 que as formas que simbolizam os dados e fatos do mun­
17.7 .2 Oncônimos do são meios de categ orização lexical. A categorização lexical é expressa
Chama-se oneonímia (de onéo 'comprar' + -ânimo ‘nome’) a criação de por unidades significativas - lexemas - que servem de base à construção
lex em a s e locu ções referentes a m arcas industriais ou artigos comerciais. de referências e de predicações. Essa base é tipicamente preenchida por
Muitos desses lexemas estruturam-se como palavras compostas (inclusive substantivos, adjetivos, verbos e advérbios derivados de adjetivos (como
amálgamas lexicais) ou derb'adas, guardando, dessa maneira, uma relação os advérbios em -rttente), considerados palavras lexicais por excelência. Os
morfossemântica entre o nome ou marca do produto e suas aplicações ou substantivos, verbos, adjetivos e advérbios acima especificados fazem par­
área de atividade. Dois domínios fecundos em oneônimos são o dos medica­ te dos recursos de expressão de nossas experiências categorizadas como
mentos ‘populares’ e o dos produtos de limpeza doméstica. Os oneônimos seres, atributos, estados, eventos e circunstâncias. Deixemos bem claro,
podem ser formas derivadas, como Dietil (diet(a) + il), Tensil (tens(õo) porém, que a seleção dos recursos léxicos com o objetivo de dar a conhecer
+ il), Aerolin (aer + ol + in), Pervitin (per + vit(a) + in), B aralgin (bar + os conteúdos de nossa consciência é apenas uma parte de nossos atos co­
alg + in). M elhorai (melhor + al), Gelol (gelo + ol),A n ador (an(a) + dor); municativos (cf. quarto capítulo).
formas compostas, abreviadas ou não, como Aeroflux (aero +flu (xo) + itx), Neste capítulo e no próximo, faremos uma análise dos significados
B rilu x (bril(ho) + lus + ux), Reproarte (reproduzir + a n e),N esca fé (Nestlé lexicais. Para tanto, focalizaremos, primeiramente, diferentes aspectos da
+ ca fé), S a n a d o r (.sanar + dor), Paratos.se (parar + tosse), Lim ppan o (Um- significação das palavras, como a den otação, a con otação, a polissem ia e a
1 >ar + pano); ou sintagmas fixos: Biotônico Fontoura, C asas B ahia, Café metdfora. O capítulo seguinte será dedicado à decomposição do significado
P ilão, A talaia Jurubeba. le.xical e às relações semânticas que os usuários da língua são capazes de es­
tabelecer entre as formas lexicais. Estas relações são um requisito tanto da
adequada compreensão dos enunciados quanto das escolhas que os usuá­
rios fazem segundo o que pretendem exprimir e comunicar.

1S.2 REKERÊNCLV E DENOTAÇÃO


No primeiro capítulo desta gramática, observamos que para os usuários da
língua em geral o mundo percebido pelos sentidos ou intuído pelos senti­
mentos estaria organizado em si mesmo como uma estrutura autônoma, e
as palavras nada mais seriam do que etiquetas para seres, coisas, fatos, sen­
sações. Muitas paiavras de fato têm esse papel; é assim que elas funcionam
na etapa inicial de aquisição da linguagem pelas crianças. E o exemplo bí­

1
blico se baseia nessa ideia, conforme as primeiras linhas do Gênesis: “Deus
chamou à luz dia, e às trevas chamou noite.”
406 S PARTE - O L t x i c o ; FORMAÇAO E S lO N IR C A a o DAS P
DÈCIMÍJ OITAVO CAPiTUU): O SKíNinCVDO LMICAL: OONOEITON R.L*aCOfJ 407

No entanto, o simples fato de dispormos de uma mesma forma para com os termos ca lv o e careca-, cada qual presta-se a exprimir conotações
designar coisas diferentes (planta= ( 1 ) árvore, (2 ) de.senho da estrutura de peculiares, mas só o segundo, típico da linguagem coloquial, é usado no tra­
uma casa, (3) sola do pé) ou de dispormos de formas diferentes para desig­ to afetuoso ou na referenciação jocosa. Dizemos que o trânsito está lento,
nar a mesma ideia (coragem , destem or, valentia) compromete a tese da mas quando nos referimos à habitual lentidão de uma pessoa podemos ex­
relação direta entre as palavras e as coisas do mundo. primir nossa reprovação/depreciação dizendo que ela é lerda ou que é um a
Uma explicação muito difundida ao longo do século XX dava conta de lesma, valendo-nos de uma metáfora. É por força da respectiva conotação
que a significação das palavras envolve três entidades: um símbolo, um re­ que uma palavra ou expressão despertam nos usuários da língua reações
ferente e um conceito'^'. O símbolo é a própria palavra na sua materialidade afetivas diversas, por conta do simbolismo das experiências culturais evo-
fônica ou gráiica; o referente é o objeto, ser ou entidade do mundo (real cad:is pela linguagem. O tabu é um domínio de significação profundamente
ou ima^nário) nomeado pelo símbolo; e o conceito é a imagem mental (o impregnado pela conotação, haja vista o modo como as pessoas lidam com
significado propriamente dito) construída pelos interlocutores. Esta pro- palavras e expressões relativas às crenças religiosas, aos atos fisiológicos e ã
posta não difere muito da hipótese de uma correspondência entre palavras sexualidade. É, enfim, a sensibilidade ã conotação que nos leva a fazer uma
e objetos do mundo. escolha; entre ro u b ar e a fa n a r, entre sen sibilidade efeelin g , entre dirig ir
O ponto central da questão é esclarecer em que consiste o significado. e pilotar, entre refeição e rango, entre m otivo e pretexto.
Para tanto, fixemo-nos iniciaimente em uma distinção mais básica: refe­ O efeito conotativo depende também das combinações utilizadas.
rência e denotação. Chamamos referência à relação entre uma expressão 0 próprio adjetivo lerdo pode ser empregado sem qualquer carga afetiva
linguística presente no discurso/te.vto —ex.: este cluxpéii, m eu chapéu, utn quando se diz que uma pessoa ficou m eio lerda após tomar um remédio
c h a p éu d e a b a larga - e um dado qualquer reconhecível numa situação tranquilizante. Assim também, o adjetivo m agro é estritamente denotativo
concreta de comunicação. Já denotação corresponde ao potencial de sen­ quando o empregamos para nos referir à compleição do corpo humano,
tido que faz da palavra chapéu uma forma apta a participar de qualquer mas assume feição nitidamente conotativa na expressão tem po d e v a c a s
daquelas expressões referenciais. Referência é o meio pelo qual as pessoas magras, com que nos referimos a uma era de escassez e dificuldades de
empregam uma expres.são comunicativamente bem sucedida no discurso. ordem financeira.
Trata-.se de um conceito ligado ao texto. Denotação é o conhecimento par­ A conotação responde, portanto, pelo efeito de sentido causado pela
tilhado por elas independentemente da situação comunicativa“ ; trata-se de possível associação entre uma palavra e uma experiência cultural que ma­
um conceito ligado ao trabalho dos dicionaristas, que procuram desorevero tiza sua significação. Esta experiência cultural pode ser um fato histórico
conhecimento lexical da coletividade falante de uma dada língua. ou discursivo, um domínio de conhecimento ou de pensamento. Em “Gato
gato gato”"’, em meio ao tenso e silencioso confronto entre os personagens
1S..3 C()N()T.\(,:.U> centrais, um menino e um gato, repentinamente surgem duas rolinhas. Eis
Um conceito complementar ao de denotação é o de conotação. A conotação é 0 trecho: “Por um momento, foi como se o céu desabasse de seu azul: duas
uma componente suplementar da significação por meio da qual se expressam rolinhas desceram vertiginosas até o chão. Beliscaram levianas um grãozi-
nossas atitudes de apreço, desprezo ou repulsa; de tranquilidade ou de pâni­ nho de nada e de novo cortaram o ar excitadas, para longe.” O verbo d e­
co; de distanciamento ou de aproximação; de valorização ou de depreciação. sabar, concreto e visual, é empregado para sugerir, conotativamente, uma
Ela recobre os aspectos culturais e ideológicos do significado da paiatra, e ruptura brusca e violenta da harmonia; na sequência, três adjetivos - v er­
desempenha papel especial na diferenciação dos sinônimos. A conotação é, tiginosas, levian as e ex cita d as - acentuam, também pela respectiva carga
assim, o lugar em que ecoam as experiências culturais da comunidade. afetiva - o contraste entre a presença inocente das aves e o clima tenso e
Certas palavras são conotativamente mais marcadas do que outras, na silencioso do confronto.
medida em que revelam juízos de valor de maneira mais ostensiva. Reíe-
rimo-nos, por exemplo, à carência de cabelos, notadamente nos homens.

Ver OGDEN & RICIUKÜS ( I923/I972|


KRE1ÜLER1199S:43|. RESENPE, Oito Loro. G»to guio guio. In: MORICONI (2(KX): 220-223).
. o isxhx*; í suiNimuc-Vi* iv\s r.xu\u\M iificiMo omv«> «'-xplTinj); u W(iNini:Arx> uxicu.; lUNiaw -tW

I S .4 i : o m i h >s u ,:A<> i x ) su ;m k u «m k ) l k x ic a k : IS..S COMIKCIMKNTO DE MIINIK) E CONHECIMENTO


T R A Ç O S S K M A N T IC O S DA bÍNíU A
0 mio cliamanuwí si,iinitic:ulo lexical pode scr compreendido como a união hir sim condição de seres socloculturnis c usuárias de uma língua, as pes­
do componoiues somanticas derivados de duns fonies: a denotaçflo e n co. soas carregam consigo um 'conhecimento c interpretação do mundo' ()uü
notav'ão. No sijinilicado lexical estilo presentes tanto aspectos intelectuais SC materializa nas palavras. Estas são, desse modo, recursos coletívamen-
qiunto ju5|xvt(xs afetivas, tanto os elementos semânticos mobilizados na ro- ic disponíveis para n objetivação de um estoque de significação potencial
ferenciaçâo objetiva - et>mo chamar chafKu a um artefato ordinariamente meiitalmente processado pelos usuários da língua. Ao mesmo tempo que
constituído de uma parte ceninil côncava c uma parte periférica, a aba, para resultam de uma acumulação sóclo-hlstórica no seio dos grupos humanos,
cobrir a cabeça - quanto os vários Wnculas que levam os usuários da lín^Sua ,is palavras e o a^spectivo potencial de significação estão sujeitos a altera-
a :ussoeiar uma dada palavra a uma regifio. a uma classe social, a um domínio <;ôes relacionadas a mudanças e inovações culturais desses gnipos. Esse
profissional, a uma situação comunicativa, a um certo estado de espírito. potencial de sentido faz parte, portanto, da memória dn comunidade de
Os lermosc/i«;xhi, ÍKmc, boina, qu epe, touca, fiorro, barrvtc desl^innm falantes.
diferentes objetos com a mesma função: artefato de uso individual para co­ Essa memória é um arquivo monumental de dados que se organizam
brir ou ornamentar a cabeça. O que os toma denotativamente diferentesV como eventos (uma festa de aniversário, a compra de um par de sapatos,
Podemos nos concentrar na forma ou no uso, e até na matéria com que são uma reunião de trabalho), como classes de objetos (os insetos, os signos
feitos. Ocorro é sempre de tecido bem flexível, como linha ou lã; o boné é do Zodíaco, as ferramentas, os calçados, os legumes), como habilidades/
prosido apenas de uma aba frontal para reduzir a claridade sobre os olhos e técnícas/ofícios ete., experiências diversas que fornecem conünuamente a
destina-se a um uso geral e informal; a boina é despro\ida de aba ou copa, matéria dos enunciados/textos construídos por esses mesmos falantes.
mas possui um bojo e. em alguns modelos, um apêndice central no topo; Qualquer ação ou sequência de ações dirigidas a um firo (tarefas pro­
tanto pode ser um apetrecho de uniforme de aspirantes militares como um fissionais OU domésticas, atividades de lazer, cerimônias) depende da reten­
componente do vestuário feminino, muito associado hoje à elegância do in­ ção de informações organizadas de alguma maneira; sem isso, a respectiva
verno. mais comum entre as jovens. O quepe, como o boné, é provido ape­ atividade não teria um sentido, não atingiría sua finalidade, não Cería êxito.
nas de aba frontal, porém mais rígida, e é usado principalmente por oficiais IJm lavrador tem conhecimentos específicos sobre a oportunidade da se-
militares em solenidades ou, menos regularmente, por profissionais como meudura, sobre a contribuição do sol e da chuva, sobre a época da colheita
condutores de trem; a touca parece o mais doméstico e informal desses e 0 modo de realizá-la. O velejador tem conhecimentos específicos sobre
utensílios, ora semelhante ao gorro, ora ligado, segundo a cultura, ao vestu­ orientação no mar, a velocidade do vento, a serventia dos instrumentos de
ário de dormir. O barrete é o chapéu dos cardeais, a carapuça vermelha do navegação da espécie de barco que utiliza etc.
Saci-Pereré, e símbolo da República entre os franceses: o barrete frígío. O homem é um ser que conhece e que é capaz de revelar ou acessar
Tomemos agora a seguinte série de verbos: tirar, retirar, remover, 0 conhecimento das coisas mesmo quando este não está sendo posto em
arrancar, extrair, sa ca r. Trata-se de sinônimos que denotam em comum prática. Esta aptidão é um produto direto do domínio da palavra. Nosso
'fazer que algo saia de seu lugar ou posição'. Arrancar e sa ca r (a arma) conhecimento do léxico de uma língua reproduz em certa medida o modo
envolve o emprego necessário das mãos. Extrair tem usos ordinariamente pelo qual estruturamos as diversas experiências socioculturais, como jogar
técnicos (extrair um dente, extrair um cálculo renal) e pode ter por si­ •\adrez, preparar um prato, cultivar e reconhecer plantas, usar um progra­
nônimo, na língua popular, arrancar. Tirar e arrancar podem denotar o ma de computador etc. A cada experiência sociocultural corresponde nor­
mesmo ato, com a diferença de que em arrancar este é realizado ‘com mais malmente um conjunto particular de termos/expressôes. Uma expressão
energia’ (cf. tirar um espirüio e arrancar um prego). como eozinhar em banho-m aria tem muitíssimo mais chances de ocorrer
Todos os elementos de significação comuns e distintivos das ‘espécies numa receita culinária do que numa lição sobre xadrez (a menos que seja
de chapéu’, bem como os elementos de significação comuns e distintivos usada metaforicamente), e o adjetivo medicinal é mais previsível em um
dos verbos que acabamos de comparar, são seus traços semânticos. Este comentário sobre a utilidade de uma erva do que de um recurso de corre­
assunto voltará no décimo nono capítulo em abordagem mais detalhada. ção ortográfica.
DÉCIMO OITAVO c a p ít u l o : O SKWinCADÍI LEXICAL: CONCErXOíí ILLSICOH 4 If
410 SEXT.V r .lR I t - o L í n c o : FOIUIAt.«) E SIGNinC.\Ç»0 DAS rALAAKAS

Por outro lado, consideremos a possibilidade de empregar os verbos b) termos relativos a objetos, seres, ações inerentes a alguma ativi­
retirar, extrair, arrancar e rem over - que expressam ações análogas - se­ dade (bola, gol, chu tar, impedim ento, área, jogador, atacante,
guidos de complemento expresso pelo substantivo p ed ra. De um lado, tere­ zagueiro, ju iz , ban deirin ha, gram ado, escanteio);
mos a polissemia de pedra (cf. retírar/extrair u m a p ed ra d o rim e redrar! c) combinações textuais estáveis (correr os olhos, d rar fotos, cum ­
remover uma pedra do caminho)-, de outro, teremos a propriedade combi- prir um d ev er, lata d e lixo, ca fé com pão, samba-enredo, missão
natória {extrair/redrar/rem over um a pedra d o rim , mas não a rra n ca r uma im possível, sol escaldante).
pedra do rim); por último, teremos uma variação de uso (cf. extrair um
dente - uso técnico - e a rra n ca r um dente - uso popular). Quando, entretanto, comparamos o conjunto das preposições (17 uni­
dades) ou o dos pronomes demonstrativos (17 unidades), com o dos subs­
1S.6 CO.MO SE ESTRI TI^R-V O LÉXICO: tantivos, dos verbos ou dos adjetivos é que percebemos o desafio que é a
E.VM(L1.\S LEXIC.\1S E C.VMPOS SE.^L\^TICOS compreensão do léxico como um sistema organizado. De fato, tendo por
Qualquer substantivo, verbo ou adjetivo representa uma parcela de algum tarefa recobrir os dados inesgotáveis e heterogêneos que constituem a ex­
conhecimento estruturado. A simples palavra peixe evoca outras segundo periência humana de mundo - seja ele real, possível ou fictício - é natural
o sistema de relações que ela é capaz de ativar no conhecimento de cada que 0 léxico seja teoricamente ilimitado e essencialmente heterogêneo.
pessoa. Eis algumas possíveis associações, no interior do léxico português, No seu conjunto, o léxico de uma língua como o português compreende
com o substantivo peúce. Pode lembrar: camadas de palavras de idades diversas (vide a diferença entre arcaísmos
e neologismos) e procedências variadas (ver capítulo 17). Uma ampla faixa
a) tartaruga, siri, polvo, m arisco - pela propriedade comum ‘ani­
do vocabulário é conhecida de todos os seus usuários (vocabulário comum)
mal marinho’;
e empregada na fala corrente, mas existem palavras de emprego restrito a
b) c a rn e verm elha, ca ça, fran go, porco, como parte do conjunto
certos ofícios e atividades, vocabulários regionais e termos/expressões ca­
‘alimentos de origem animal’;
racterísticos de grupos organizados em tomo de interesses socioculturais
c) sardin ha, anchova, robalo - aos quais serve como designação
e/ou de lazer específicos.
genérica;
Muitas palavras podem servir a setores diversos e a diferentes espécies
d) ansol, rede, isca, molinete - instrumentos/recursos de sua captura;
de atividades. Geralmente, quando isso acontece, a palavra apresenta va­
e) frito, cozido, assado, cru, variedades de sua preparação culinária;
riações de significado denotativo (sobre o conceito de polissemia, ver 18.7)
f) guelra, escam a, barbatana - componentes de sua estrutura; e, sobretudo, de referência, conforme as especificidades da respectiva área.
g) agilidade, fertilidade,fartu ra, sen su a lid ad e, em função de asso­ Um caso exemplar é o da palavra p eça , com diferentes significados deno-
ciações culturais diversas. tativos nos domínios teatro (uma peça em dois atos), vestuário (algumas
peças de roupa), co m ércio d e tecidos (uma peça de cetim) e m ecânica de
Em cada série de elementos associados temos uma espécie de mi- automóveis (uma peça do sistema de câmbio).
crossistema lexical revelador de uma certa estruturação do conhecimento. Por estes e outros aspectos, de que já nos ocupamos no capítulo 17, a
Cada substantivo, cada verbo, cada adjetivo que conhecemos extrai dessas análise do significado lexical só pode ser empreendida mediante o recorte
variadas constelações associativas sua significação e sua relevância na es­ do léxico da língua em muitos subconjuntos razoavelmente homogêneos,
truturação de nossas experiências de mundo. constituídos segundo critérios variados.
Em geral, portanto, conhecemos os significados das palavras de acordo Eis três deles razoavelmente consensuais:
com procedimentos associativos diversos, graças aos quais a informação de a) famílias lexicais - agmpamento de palavras segundo sejam forma­
uma lembra ou limita a informação contida em outras. Eis alguns desses das a partir de um radical comum (ex.: mover, móvel, movimen­
procedimentos: to, m ovim en tar, m ob ília, m ovente, m oção, remover, rem oção,
a) reunião em conjuntos ou campos conceituais (os nomes das cores, m ob ilid ad e, im o b iliz a r, com over, dem over);
as peças do vestuário, os nomes dos planetas, os cinco sentidos, ad­ b) campos semânticos - agrupamento de palavras da mesma classe
jetivos que expressam tamanho/dimensão, verbos de movimento); gramatical associáveis segtmdo relações semânticas variadas - si-

Ú A
Sixt\ P.VRTt - O UXKa>; rORU\Ç.U) E SKVVmCAÇAO OAS PALWTIAS u é í : u.K) o i t a v o c A P iT U U i: o s io v ifiC A n o i .r x k :a i .: t :o w ;E m w n A w u w 413

nonímía, antonímia, hiponímia, complemencarídade etc. (ex.: ver- • O carro estava estacionado com a chave na ignição.
bos/substantívos que significam movimento, verbos/substantivos • Tranque! o cadeado, mas não sei onde guardei a chave.
que significam percepção sensoríal, adjetivos que significam tem­ • Se a chave geral for desligada, ficaremos sem luz.
peratura. adjetivos que expressam estados emocionais etc.); • O doce tinha um sabor acentuado de cravo.
c) terminologias - agrupamento de substantivos, adjetivos e verbos • O cravo é uma espécie de ancestral do plano.
designativos da organização conccptual de um campo de ativida­ • Fixou a ferradura no casco do cavalo por meio de cravos.
de ou de conhecimento (ex.: léxico da pesca, léxico da música,
léxico do futebol, léxico da cultura da cana ctc.).
Ao comparar, porém, os três primeiros exemplos, notamos que, embo­
ra designe objetos com funções diferentes {chave de porta, chave de carro,
Ao constituir esses subconjuntos, é necessário reconhecer que muitos chave de luz), a palavra chave tem o valor geral de um instrumento ou
deles apresentam um elenco dc termos que designam entidades objetivamente recurso para acionar algum mecanismo (de abertura da porta, de atividade
diferentes. Trata-se dos domínios de conhecimento recobertos por nomencla­ do motor, de iluminação). Esse valor geral corresponde à denotação (ver
turas ou terminologias (ex., a designação dos planetas, dos meses do ano, das 18.2) de chave, sobre a qual se erige a polissemia (= variação/dispersâo dc
partes da planta, dos talheres, das ferramentas etc.). Nos casos mais extremos sentido). Já nos três exemplos seguintes, não se identifica qualquer traço de
e característicos (como o das nomenclaturas científicas), pode-se dizer que significado comum às três designações de cravo (respectívamente, planta
um dado campo de conhecimento é representado por uma lista de termos aromática, instrumento musical, variedade de prego curto). Trata-se de um
que ser\'em para rotular entidades/conceitos objetivamente distintos entre s exemplo típico de homonímia (= uso de um só significante para significados
(ex.: a nomenclatura das espécies de formigas ou das espécies de orquídeas). distintos e não relacionados).
Quando nos referimos, porém, a uma estruturação conceptual do léxi A principal causa da dispersão políssêmica está nas transferências de
CO. estamos pensando em algo bem menos óbvio do que distas de termos sentido operadas pela metáfora e pela metonímia (ver 18.10). Já a homoní-
cm que a uma pala\Ta/expressão supostamente corresponde um ‘dado da re mia tende n ser explicada como resultado da convergência, em um mesmo
alidade' por si mesmo ídentihcãvel. A estruturação conceptual diz respeito significante, da evolução histórica de étimos diferentes (ex.: pregar, resul­
antes, ã transformação de nossas experiências em um conhecimento organi tado da transformação fonética de dois étimos latinos, plicare {pregar =
zado que nos guia na compreensão/expressâo de situações/fatos concretos dobrar’ donde ‘unir, fixar’) e praedicãre {pregar = ‘dizer em voz alta’, ‘profe­
Tal organização é, mesmo com lacunas ou imperfeições, recoberta pelas pa rir’). ,\s vezes a diversidade de origens é apagada na pronúncia mas mantida
lavras mediante relações de sentido no interior de campos semânticos. na escrita; trata-se de homônimos simplesmente homófonos (ex.: empossar
.\ssim, as designações dos planetas ou dos meses do ano são nomencla­ |s dar posse n| e empoçar [= formar poças)). O mais famoso exemplo dessa
turas. ao passo que os verbos que significam ‘atividade comunicativa com c.spécie de homonímia consiste nas formas seção (segmento, parte), sessão
uso da palavra’ - /alar, diser, declarar, anunciar, insinuar, negar, qfirmar, (evento) e cessão (ato de ceder). O caso mais conhecido de homofonia com
assegurar etc. - expressam significados que se delimitam reciprocamente homograiia é o de são, conforme os exemplos Eles são irmãos (verbo ser).
no interior do respectivo campo semântico. Essa delimitação recíproca se Em dia de São Pedro (santo) e Umfruto são {sadio).
expressa como relações de semelhança (sinonímia), de oposição (comple­ Estes exemplos foram escolhidos para ilustrar inequivocamente os
mentaridade e antonímia). de inclusão (hiperonímia/hiponímia e meroní- conceitos, mas a fronteira entre homonímia e polissemia está longe de ser
mia), entre outras. Digamos, no entanto, que esses dois tipos representam uma coisa simples. Nos dicionários de médio e grande porte, a homonímia
situações extremas típicas e que entre uma e outra existem meios-termos. serve às vezes de critério para a separação de verbetes. Pena, por exemplo,
registra-se ordinariamente em duas entradas, uma para a acepção de uni­
18.7 POUSSEMIA E IIOMONÍ.MIA dade da plumagem das aves e outra para lástima, piedade, punição, castigo.
O emprego da ‘mesma palavra’ para ‘significar coisas diferentes’ é uma ex­ Um rápido exame do verbete dedicado a alguma palavra de uso corrente é
periência cotidiana de qualquer usuário de uma língua. Os exemplos se­ bastante para mostrar que, por mais que o dicionarista esteja seguro desta
guintes, com as palavras chave e cravo comprovam este fato: distinção, ele não pode definir a fronteira que separa uma dispersão polisse-
rr. - o LfiXITO; FORM.SC.k0 E s ic s if ic a c Ao d a s p.slantws
414
DÊCIM O O ITAVO C.\P lTin ,f): r» SI0^^FUlAÍ)O L E X IC A L : íV íN C E IT O S llA.SU:<».S 415
mica de uma cisão homonímica. Em Ele colou (= íbcou) o selo no envelf
e £íe colou (= copiou) duas guescõcs da prova de matemática temos u,jj çào', sem implicar ‘experiência anterior’. É com este mesmo sentido que se
caso de polissemia ou de homonímia? Qualquer dicionário reúne as diz 0 mnesíro se voltou p a ra o público e agradeceu oa aplausos. É o senti­
acepções na mesma entrada, sem deixar claro se vé nela um caso de poij^, do que aplicamos a qualquer objeto, como o parafuso, que dá uma volta em
semia ou de homonímia. Dificilmente, contudo, se achará uma ligação jç tomo do próprio eixo: também movimento - mas nâo deslocamento - em
sentido entre as duas acepções. No entanto, colar (verbo que significa ‘unj^ direção a uma posição anterior.
por meio de cola, grudar') e colar (substantivo que significa ‘adorno do pes.
Levar:
coço’) constituem um claro exemplo de homonímia, haja vista a diferença
2a) Ele fevou o filho ao colégio.
de classes gramaticais.
2b) Leve essas malas para a garagem.
As eventuais dificuldades na operacionalizaçào da dicotomía polisse,
2c) Por que você não leva um pedaço de bolo para seu avô?
mia X homonímia não podem ser, contudo, um argumento decisivo para 2d) Vou fevar boas lembranças daqui.
0 abandono da distinção. Á homonímia em português é um fenômeno até 2c) Não levo desaforos para casa.
esporádico quando comparado à polissemia. Pode-se dizer que ela está pre- 20 Ele levou a platéia ao delírio.
sente sempre que um mesmo significante serve para exprimir duas formas 2g) Os assaltos levaram a empresa a contratar mais seguranças.
distintas do léxico. Por este critério, temos homonímia toda vez que as for* 2h) ^Vna levou um susto quando o carro freou.
mas foneticamenie idênticas correspondem a classes gramaticais diferen­
tes (ex. são [verbo ser), são [= santo] e são [= sadio]). A distinção precisa Nos exemplos 2a-2e está claro que levar significa algo como trans­
então ser refinada para a descrição dos casos de pluralidade semântica de portar, carregar, com a diferença de que a coisa que se leva pode ser con­
um significante enquadrado na mesma classe. Devemos firmá-la nos se­ creta (seres ou objetos) ou abstrata (sensações, sentimentos). Já em 2f e
guintes termos: há polissemia se os sentidos puderem ser agrupados em 2g, levar exprime uma causa. Apesar dessa variação de sentidos, podemos
tomo de um núcleo de significação comum, e homonímia quando nenhuma relacionar os empregos de levar nos exemplos 2a-2f. Digamos que nestes
afinidade semântica for atestada. Diante dos casos obscuros, a solução é o exemplos levar sempre indica que, por ação ou atitude de alguém, algo
recurso à etimologia. Étimos distintos, não há dúvida: homonímia. muda de posição (2a-2e) ou de situação (2f-2g). Aparentemente, porém, o
exemplo 2h é muito diferente dos demais, já que o sujeito de levar -A n a - é
ÍS.H PO USSKM IA DE TRÊS VERBOS DE MOVIMENTO apenas paciente de um fato (cf. levar um susto, levar um a bronca, levar
um tombo). Contudo, se compararmos 2h com 2i e 2j
Vamos agora acompanhar a polissemia ou ‘dispersão semântica' de três ver­
bos empregados basicamente para a expressão de movimento no espaço:
2i) Este bolo leva uma camada de creme e outra de chocolate.
voltar, levar e passar. Consideremos o funcionamento deles nas seguintes
2j) Fiz tudo por amizade; juro que não estou levando nada.
frases, começando pelo verbo voltar:
la ) Ele voltou à fazenda.
tiea claro que levar, construído com um sujeito não agente, pode significar
l b) As cartas uo/íaram.
“receber’, ‘conter’, ‘ser aquinhoado com’, que é o sentido que está na origem
l c) Ele voltou à infância.
de 2h. A única diferença é que em 2i e 2j o sujeito de lev ar é beneficiário
l d) Ele voltou a frequentar as aulas.
da ação, ao passo que em 2h o fato ocorre em prejuízo do sujeito. Nestes
le ) Ele voltou ao assunto.
e.xemplos a ação se passa sem a intervenção do sujeito sintático. Correlato
lO Ele voltou as costas para nós.
a este emprego é o que se observa em

Nos exemplos la-le, o verbo voltar significa ‘movimento para trás’


2k) Ele leva a vida que pediu a Deus.
(em que trás é o ‘lugar’ de uma experiência anterior), respectivamente no
21) Levei duas horas para encontrar essa rua.
espaço - exemplos ‘a’ e ‘b’ no tempo - exemplos ‘c’ e ‘d’ - e no discurso
- exemplo ‘e’. Em ‘f , porém, voltar significa ‘posicionar algo em dada dire-
em que levar exprime a ideia de ‘duração’.
4 tò stxT A rvRTk - o iX XK Xv m >m lní ;A o e s i r . s i r n A C \ n o .\ s p a i a v r a s

D tC U IO OITAVO (A P t n J U ): O .S|(lW ri(AfXl irJC K A L - < í) S ( a m w 11^ 110)8 417


Vejamos agora o verbo passar;
3a) Passei pela praia hoje de manha. ISA) o UvXICO E A INTERAÇÃO DE DOMÍNIOS CONCEIMTAIS
3b) Agora, sua febre vai passar. Um joninl carioca muito lido por torcedores de futebol estampou no dia
3c) Os cües ladram, a caravana possa. lQ/12/2007 a seguinte manchete: ‘Peixe vai para o congelador por 120 dias’.
3d) Pnsscí pela porta dos fundos. Peixe é um tratamento carinhoso que o jogador Romário, ex-craque da se­
3e) Passamos da sala à varanda. leção brasileira de futebol, dá a alguns de ,seus interlocutores e que estes
3f) Ele passa de um assunto a outro com facilidade. também lhe dão. O jornal referia-se à suspensão do atleta, posteríormente
3g) Ele passou rapidamente de caixa a gerente do banco. inocentado, por uso de uma substância proibida no esporte profissional.
3h) Ela paSvSou a frequentar a igreja. Naturalmente, para os falantes de português que não disponham des-
3i) Passe a salada, por favor. stis informações na respectiva memória cultural, a frase, estampada no
3j) .loào passou no vestibular para medicina. jornal c endereçada ao público interessado em futebol, faz pouco - ou ne­
nhum - sentido, já que só podería ser interpretada em sua acepção literal
3k) Ele já passou o irmão.
- obviamente absurda nesse contexto - na qual peixe é um ser aquático
31) Carlos píis,sa a própria roupa.
e conge/oí/or um lugar em que se conservam alimentos por longo tempo.
3m) i\s Wtimas do acidente passam bem.
Já os falantes de português familiarizados com o mundo do esporte fazem
3n) Passei a noite toda acordado.
a leitura figurativa. Nesta, peixe é uma referência a Romário e ir para o
3o) Eles não passam sem uma cer\'ejinha depois do trabalho.
congelador é ressignificado para ser coerente com essa referência e com a
situação relatada: 'ficar imobilizado’, ‘impedido de atuar’.
Passar e voltar têm em comum a possibilidade de serem empregados Esta espécie de associação é muito comum e fornece mais uma prova
desacompanhados de complemento (verbo intransitivo: A chuva voltou/A de que a atribuição de significado às palavras baseia-se na organização de­
chuva passou) ou seguidos de complemento (verbo transitivo: Ela voltou las em conjuntos correspondentes à organização de nossas experiências do
o rosto jxira a janela / Passe a farinha na peneira), ao passo que levar é mundo em esquemas ou enquadres. Nosso conhecimento de mundo é com­
sempre transitivo. Isso faz de passar e voltar verbos sintaticamente mais posto de esquemas que nos ajudam a enquadrar as situações que vivemos
versáteis que levar. Podemos agrupar estas frases segundo os significados- no quotidiano, permitindo-nos, pela assimilação de experiências novas a
critério semântico - ou segundo as construções - critério sintático. e.xperíências anteriores, compreender o que se passa à nossa volta, a prever
Passar a roupa, passar a tropa em retJista têm uma singularidade: o atos e fatos e a adequar nossas próprias ações ao contexto.
objeto é estático (cf. jxissar um /ax, passar um recado, passar um^me, /Vssim, ao decidir comprar um par de sapatos, sei que tomarei parte
em que o objeto se desloca), enquanto o sujeito, agente ou instrumento, se num conjunto de ações e de elementos envolvidos no evento: o espaço da
desloca. Diferente é o caso de passar a noite, passar um fim de semam. sapataría, o vendedor, informações trocadas sobre o objeto da transação, o
passar as férias, que denotam deslocamentos no tempo. Nestes casos, o pagamento da mercadoria e seu recebimento etc. Tudo isso faz parte de um
período de tempo se completa como resultado do processo expresso no ver­ esquema ou enquadre que assimilamos em virtude de nossas experiências
bo. A frase Passe as roupas pra mim é ambígua. Em um sentido, o objeto socioculturais e que, arquivado mentalmente, é recoberto por palavras, ex­
mupos, estático, muda, entretanto, de estado; no outro, muda de posição. pressões e enunciados. Nesse evento, são altamente previsíveis perguntas
Observ ando os subconjuntos de frases com o verbo passar, percebe-se como Que número você/o senhor calça? ou observações do tipo Tbn/io um
que tanto no uso intransitivo como no transitivo passar exprime dois sig­ outro modelo mais esportivo, produzidas pelo vendedor.
nificados básicos, movimento (3a-31) e estado (3m -3o), distinção que tera Entender ou expressar uma conceptualização qualquer - de natureza
raízes históricas; o sentido de movimento (cf. passo) se prende ao étimo intelectual, sensorial ou afetiva - com base em outra ex[>eríência já se­
paíidere (= abrir, esticar, desdobrar) e o de estado (cf. passivo) a pati (= to­ dimentada é um procedimento rotineiro na vida dos seres humanos. Se,
lerar, sofrer, submeter-se). Esta diversidade de étimos autoriza a separação apalpando o rosto de um paciente febril, posso dizer que sua febre bai­
entre dois verbos pas.sar, tratados como um caso de homonímia (ver 18.7). xou, estou, obviamente, aplicando a uma sensação térmica percebida pelo
tato (quente/momo/frío) um conceito relativo à verticalidade dos objetos.
4 ÍS S K T * PASTE - O ItX IC O : TORMA(;*A> E SlfiSIFICA ÇAO IlAS PAEASTU9
DECIEIO o it a v o ÍM PÍTÜ U ): o fllONinCAUO LEXKLU.; ÍTANOEITOS liOlllTAS -/ IO

apreendido pela visão (alto/médio/baixo). E quando alguém sugere jogar , duas horas para escrever um simples bilhete. Irritado, o motorista rosnou
uma pá dc cal sobre um assunto, está, com certeza, dizendo que é hora de I «m palavrão, Aplicou no paciente uma dose cavalar de antibiótico.
esquecê-lo, de tratá-lo como ‘algo que já não importa, porque está morto’. 0 que se passa, contudo, com a lexicalização de conceitos conhecida
Em ambas as situações, formulamos algum sentido mediante a con- como metonimia? Imaginemos que alguém pergunte ao porteiro do prédio
ceptualização de uma situação (a intensidade da febre; o debate de utn onde mora: Seu Antônio, o correio já veio hoje? Claro que a pessoa quer
assumo) nos termos em que conhecemos outra (um objeto visualizável na | saber se a correspondência já tinha sido entregue naquele dia. Ela sabe que
sua posição vertical; o ato de cobrir de cal um caixão baixado à sepultura). 0 entregador da correspondência no domicílio do destinatário se chama
Trata-se, em cada caso, da imbricação de domínios conceptuais que ,se es. carteiro, mas ao referir-se a ele, designa-o com a palavra referente à insti­
truturam, total ou parcialmente, de modo análogo, fazendo que a compre­ tuição pública que presta o serviço. Correio e carteiro pertencem ao mes­
ensão de um se tome possível nos termos do conhecim ento do outro. ' mo dominio conceptual: serviço de mensagens postais. O uso do termo que
Na fala corrente já não nos damos conta da maioria dessas imbrica- ' designa o primeiro - correio - para identificar o segundo - carteiro baseia-
ções de domínios conceptuais, pois dizemos naturalmente cortar as despe- ' -se na pro-ximidade ou contiguidade - e não numa semelhança - conceituai
sos, colher resultados, comprar briga, ruminar pensamentos, quebrara i entre os dois. Trata-se de um típico exemplo de metonimia. Enquanto a
silêncio, não engolir uma desculpa. Em outros campos da atividade verbal, f metáfora requer a associação de dois domínios inteiros distintos, a me-
contudo, como o da publicidade e o da poesia, as aproximações de domínios f tonímia opera a associação entre elementos do mesmo domínio"*. Outros
conceptuais podem ser surpreendentes e até insólitas, como nos seguintes exemplos: Após a festa, guardou os cristais de novo na caixa, O Brasil é
versos de Geir Campos: “Janto a minha migalha de silêncio / tirada ao pâo pentacampeão de futebol. Bota aí outra dose da purirúia. Cristais designa
da noite sem fatias..." [CMÍPOS, 2003; 140). Por isso, é inegável que a es- ' copos, taças e cálices feitos de cristal. Brasil nomeia o time de futebol que
colha da expressão verbal que estabelece esse vínculo pode ter motivações representa o Brasil; purinha rotula a bebida (= cachaça) por meio de uma
e finalidades muito variadas. j de suas qualidades.

IN.IO MET.^F()R.\ E .METONÍ.MIA ' bS.lO.l l’rodutivida(le metafórica


A metáfora consiste no emprego de palavras ou expressões convencional­ Certos domínios conceptuais fornecem em profusão insumos lexicais para
mente identificadas com um dado domínio de conhecim ento para verba­ outras áreas. Um deles é o domínio espacial.
lizar experiências conceptuais de outro domínio. Consideremos a expres­ 0 vocabulário referente à estruturação conceituai do espaço é fonte
são uma exjilosõo de alegria. Usa-se aí uma metáfora típica. O usuário vigorosamente fecunda de transferências metafóricas. A maioria delas nos
íala de um sentimento - alegria - mas para dizer o quanto ele é intenso passa despercebida, como o uso de fonte duas linha acima. Com efeito,
e repentino, recorre a outro domínio de conhecim ento - o da reação de a conceptualização do espaço é um dos pilares da organização do pensa­
matérias sujeitas à combustão, de onde traz a matéria-prima de sua me­ mento humano; graças a ela delimitamos territórios e assuntos, situamos
táfora: explosão. objetos e fatos, e definimos direções e objetivos. Aqui, atrás, à frente, ao
A metáfora é um recurso de expressão amplamente usado no discuiso lado, acima, abaixo, longe, perto, dentro e fora são categorias constituti­
cotidiano, por mais que seja tradicionalmente tratado como característico da vas de nossa conceptualização do espaço. Outro pilar da organização do
linguagem da poesia. Os exemplos da linguagem corrente lembrados na seção pensamento é o tempo, cuja conceptualização se dá de forma análoga à
anterior - colher resultados, ruminar pensamentos, quebrar o silêncio - do espaço, haja vista o paralelismo das séries aqui/atrás/à frente e agora!
são tipicamente metafóricos, haja vista a ocorrência desses mesmos verbas antes/depois. No domínio das preposições, poucas são as que se usam ex­
em O lavrador colheu abacaxis. As vacas ruminam o alimento. Quebre clusivamente para tempo ou para espaço. Também os verbos, os adjetivos e
esse coco para mim. Por sua vez, substantivos, verbos e adjetivos basicamen­ os substantivos - especialmente os relativos a volume e extensão - confir­
te relacionados ao universo animal são correntemente transferidos - por força mam as afinidades entre as construções conceptuais do tempo e do espaço:
do processo metafórico - para o universo dos seres humanos, suas caracte­
rísticas e atitudes: Esses politicos são velhas raposas, Aquela lesma levou ■ EVANS & GREEN (2006: 3 1 4 ).
SEXTA PARTE - O U X K X V R^WLV;.VO C S k iX ir U -\ {;.\ 0 D AS PALAATtVS
DÉCmo OITAVO (L\P|TITX>: o SIOyiPICADO LEXHL\L: cx>
ní;eitos */J/

dizemos que o tcnjpo é curto ou que alguém vai e s d c a r o^im de semana,


Essas idéias estão hoje superadas, pois está provado que o uso de me­
e nos referimos à proximiílade dc duas datas ou de dois corpos. E o que
táforas - além de ser um traço inerente à linguagem - nada tem a ver com
dizer de expressões como en fm r num osvsuruo, ch eg a r a um a conclusão^
imprecisão conceituai. É norm al que se recorra à metáfora como alternati­
descera detalhes? Aqui se empregam verbos de m ovim ento no espaço para
va à não disponibilidade de um term o próprio para verbalizar um conceito
significar movimento no domínio das idéias.
novo. Por outro lado, é por m eio de metáforas que vários conceitos rigoro­
Podemos entender, por hipótese, que a conceptualização do espaço
samente novos ganharam expressão em muitas áreas de conhecimento.
seja a base das outras conceptualizações que envolvem as idéias de situa­
Esta certeza não está em contradição com o reconhecimento de que o
ção. posição e movimento, conceitos por si espaciais. Quando dizemos Este
discurso poético, especialm ente em sua feição moderna, é domínio de usos
uoso caiu daquela janela, estamos empregando o verbo c a ir em um con­
metafóricos que não se deixam trespassar de imediato pela compreensão.
texto de upica conceptualização espacial. O que dizer, porém , do emprego
Integradas ao conjunto do texto e em aliança com outros recursos que dão
desse mesmo verbo nas frases Este ano, meu anivcrscÍTio c a i num sábado
feição insólita à linguagem, essas metáforas requerem do leitor uma aten­
e A moda do brinquinho custou, mas acabou c a tW o no gosto de muitos
ção que 0 obriga a captar a palavra através de sua pele, a experimentar sua
munnanjos. Na segunda frase, o emprego do verbo c a ir apela para a visua­
materialidade plástica, com o neste poema de João Cabral de Melo Neto: “O
lização do encontro, ou encaixe, eventual entre um elem ento fixo - a data
coqueiral tem seu idioma: l não o de lâmina, é voz redonda: //é em curv'as
constante do registro de nascimento - e um ponto em movimento (segundo sua reza longa, / decerto aprendida das ondas, // cujo sotaque é o da sua
nossa conceptualização do tempo). Na terceira frase temos, em relevo, a fala, /côncava, curva, abaulada: //dicção do mar com que convive / na vida
ideia da culminação de um processo e a estabilização do que era apenas alísea do Recife.”'"'*
uma tendência comportamental. Uma via possível de leitura deste poema consiste no estabelecimento
Fica claro pelo exame dos exemplos citados acima que a metáfora sem­ de três domínios conceptuais: a natureza (coqueiral^ ondas, mar, alíseo),
pre envolve a justaposição de dois domínios conceptuais, de sorte que um de­ a linguagem (tdfoma, voz, reza, sotaque, fala , dicção) e as formas geomé­
les - domínio fonte - fornece termos para a verbalização do outro - domínio tricas (redonda, em curvas, côncava, curva, abaulada). O termo-chave
alvo. () ponto de partida da formulação metafórica é a semelhança de papéis do poema é idioma. Trata-se de uma primeira metáfora, deilagradora de
que os conceitos em foco desempenham, cada qual, no respectivo domínio. outras, tiradas do domínio conceptual iinguagem’. O domínio "formas ge­
Mas sua verdadeira motivação é um aspecto (ou no máximo uma parcela) -e ométricas’, por sua vez, fornece as características "visíveis’ da linguagem.
não a totalidade - da significação ori^nal que se sobressai aos outros. No caso Aintegração destes dois domínios é decisiva, porque é aí que se encontra
do verbo ctiír, esta parcela diz respeito à eventualidade do fato e à permanên­ a propriedade comum ao coqueiral e ao mar: uma linguagem ""côncava,
cia pn)visória do objeto deslocado na nova posição. Este sentido é comum às curv'a, abaulada”. Ou seja, os domínios "linguagem’ e "formas geométricas’
situações evocadas pelos três exemplos comentados acima. se fundem metaforicamente para originar um novo domínio, complexo, nos
termos do qual se compreenderá a harmonia no domínio "natureza’ graças
I S .1 0 . 2 ( ‘.riiitiAidade metafórica à assimilação, pelo coqueiral, das características do mar.
A obsessão dos estudos retóricos e literários tradicionais pelo efeito ex­ Resumindo, a metáfora não é um fenômeno marginal no conjunto da
pressivo - ou de estranhamento - das chamadas figuras de linguagem, or­ língua, mas um recurso inerente a todo o processo de verbalização dos con­
dinariamente consideradas a pedra de toque do discurso poético, talvez teúdos processados pela mente humana. Enfim, um traço do princípio geral
explique a tradicional associação entre este e a metáfora. Já vimos que a de economia linguística. Um fato precisa, no entanto, ficar muito claro: em
metáfora está avassaladoramente presente na linguagem cotidiana, segura­ todos os seus aspectos, a língua exibe usos mais corriqueiros e usos mais
mente porque o raciocínio se constrói também pela projeção de analogias surpreendentes. A metáfora não é exceção: existem as metáforas cotidia­
entre domínios da experiência. Alguns cientistas repudiaram o emprego de nas e coletivas, que em sua maioria nos passam despercebidas, e existem
metáforas na linguagem da ciência por considerá-las formas subjetivas ou as metáforas episódicas e individuais, sempre destinadas a produzir efeitos
imprecisas de expressão, coisas que só ficariam bem na "dicção visionária e
sonhadora dos poetas’.
".MELO NETO [1980; 321.
4^2 SKXTA r.vRTT: - O UXKX>: »x>RU.\c.Vvi r. su;smi-.\c.ktx iv^s r.vuwicxs

comunicativos especiais, frequentem ente - m as não com obrigatória exclu-


snidade - no domínio da criação poética.
pfClMONONtí CAPITI LO: RKLAÇOK.S .S1:.M.\.\TI(:a ,S \ () L
IS.iO .d l'nKluti\niUidc inctoniinie:i ihXico: T it.\ ç o s S1:.NLV\T1CÜS i: k e l .\c õ l s o i -: s l .n t id o
A pnxiutividade metonimica é tão avassaladora quanto a produtividade
metafórica. É esscncialm cntc m etoním ico o processo de identificação dos
indivíduos por qualquer expressão que sintetize uma predicação, tipifican­
do aquele ou aquilo de que se fala por svia função, posição ou ocupação.
iVssim as designações profissionais: p o rteiro , d ig ita d o r , et\ fcrm cira, pintor,
fr e m is ta . d ia r is ta , s a p a te ir o , p ia n is ta , ettf^enheiro. Com qualquer desses 1>).1 .VSPKCms GElbU.S
rótulos idcntilicamos um indivíduo não por seu nom e, mas por sua ativida­ N.1 .seção introdutória desta obra referimo-nos à conhecida analogia entre
de, pelo lugar ou período em que trabalha, pelo instrum ento ou objeto de pal.ivTas e instrumentos, destacando que os significados não apenas ‘fluem’
seu oficio. por meio delas, mas, .sobretudo, existem graças a elas. Também enfatiza­
-A metonímia é às vezes empregada com o um recurso de classifica­ mos em outra seção que a construção de sentidos globais não resulta da
ção. dando origem a hiperônimos (ver A linguagem da música, por mera soma dos signilicados acrescentados ao texto pelas palavras que o
exemplo, faz amplo uso da metonímia na designação dos instrumentos de compõem. Aquilo que as pessoas expressam e põem em circulação por
uma orquestra. V ioloncelo, v io lin o e c o n tr a b a ix o são rotulados como 'cor­ meio dos sinais linguísticos - e que chamamos ‘significado’ - não é apenas
das'; c la r in ete , olxtê e/ngote pertencem à categoria das ‘madeiras’; e sovo- a parte ‘oculta’ desses sinais. Por ganhar vida em atos efetivos de interação,
.ãme. pistão, trombone, tro m p a e tu b a integram a classe dos ‘metais’. Assim 0 signilicado é uma entidade heterogênea e mutante, à mercê de fatores
como a metáfora, também a metonimia está na base de um sem-número situacionais e contextuais variados.
de alcunhas, apelidos ou simplesmente expressões identibeadoras, geral­ .Mergulhar no universo de significações que se abre a partir do lé.xico
mente baseados em um aspecto fisico {Ali p er to d a q u e le careca-, Ela está iaiplioa lançar um olhar sobre a palavTa tendo como pano de fundo suas
n a m oran d o um ba rb ich a-. B ig o d e, tr a s o u tra c e r v e ja ) ou comportamental po.s.sibilidades associativas e evocativas, e, como foco, o contexto comu-
(s a p a lã o |lésbica|, e s p a d a (macho), garganta |fanfatTão|). Na linguagem nieacional - e mais especilicamente discursivo - de sua ocorrência. Em
dos esportes é comum identilicar um jogador pelo número de seu uniforme: outros temios. mais do que os significados potenciais, devem-se buscar os
o cumisii 10: e o auxiliar do árbitro de futebol é muitas vezes chamado de scatidos autorizados ou atualizados pelo contexto, emersos do contato en­
ba tid cirin h a . Para m.tis detalhes .sobre a sem ântica e a estilística da meto­ tre as palavTas que compõem o discurso, e averiguar elementos cuja parti­
nímia. ver 22.7.1.2. cipação seja decisiva para a construção do sentido global.
Como caminho para ilustrar a distinção entre significado e sentido,
leia-se o poema “Rios sem discurso”, de João Cabral de Melo Neto;

Quando um rio corta, corta-se de vez


o di.sciirso-rio de água que ele fazia;
cortado, a água se quebra em pedaços,
em poços de água. em água paralítica.
Em situação de poço. a água equivale
a uma polavTa em situação dicionária:
í.solada. estanque no poço dela mesma,
e porque assim estanque, estancada:
e mais; porque assim estancada, muda,
e muda porque com nenhuma comunica.
43-4 - o LÉXtCO : F X )» U (.lU ) E SIG N IFIC A Ç A O DAS PA LW H A S

PÍCIUII NONO ('.vrrmo: IIELAÇÔ ES 8EMA.VTICA8 n o (.EXJC ü : THAÇOS SE U ^ V T la J!i E REU ÇÒ E.8 DE .SENTIDO 425
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
0 Í10 de água por que ele discorria. natárío uma mensagem e ensejar que este construa um sentido compatível
0 curso de um rio, seu discurso-rio, eomas intenções comunicativas do emissor/enunciador É verdade que, em
chega raramente a se reatar de vez; alguns casos, as escolhas feitas funcionam mais como signos despistadores
um rio precisa de muito ho de água Jíis reais intenções do falante do que como elementos reveladores destas,
para refazer o fio antigo que o fez. mas, como nos casos clássicos de comunicação interpessoal, o papel atri­
Salvo a grandiloquência de uma cheia buído à linguagem é o de veicular sentidos, sendo natural tomá-los como
referência inicial para, mais adiante, discutir os aspectos decorrentes dos
lhe impondo interina outra linguagem,
não ditos do ato comunicativo.
um rio precisa de muita água em fios
Da parte do receptor/destinatário, igualmente, são feitas escolhas, se-
para que todos os poços se enfrasem:
fiimdo paradigmas análogos aos já mencionados para o emissor/enunciador.
SC reatando, de um para outro poço, Assim, também o receptor ativará seu repertório lexical, bem como o domí­
cm frases curtas, então frase e frase, nio que tenha do sistema linguístico, e aguçará sua percepção dos aspectos
até a sentença-rio do discurso único para receber e processar a mensagem, atribuindo um valor.
em que se tem voz a seca ele combate'". A escolha constitui princípio fundamental para a semântica, sendo
mesmo condição necessária da significação^*. Dessa forma, o sentido toma-
O registro do significado de uma palavra em dicionário, embora impor­ -se revelador de um e de outro participante, bem como das experiências e
tante por esquadrinhar possibilidades significativas e registrar usos possí­ dos quadros sociais em que o ato comunicativo se inscreve.
veis, apresenta a inércia da água no poço - tem profundidade, mas carece 0 significado pode ser abordado de muitos pontos de vista, e um de­
de movimento. É possível encontrar um leque de significados para uma pa­ les, muito familiar entre os filósofos, é o da lógica, que optaremos por não
lavra - e cabe à Lexicologia fazê-lo - , mas isso não será suficiente para que aprofundar aqui. Justifica-se: a lógica tradicional se dedica a averiguar as
se apreenda o sentido em que ela se apresenta neste ou naquele contexto. condições de verdade das proposições, ou seja, as condições pelas quais
Parada, descontextualizada, a palavra emudece, não comunica. É na sinta­ uma proposição realmente representa o mundo, determinando se o que um
xe do discurso que ela, movimentando-se, encontra seu sentido: enunciado comunica é falso ou verdadeiro. O recurso à Vealídade objetiva
dos fatos* como critério para o juízo de relevância do conteúdo dos enun­
isolada, estanque no poço dela m esma, ciados é, seguramente, decisivo em certos domínios da atividade humana
e porque assim estanifue, e.sraficoda; nos quais se trabalha com a prova documental. Mas na imensa variedade
c m ais: porque a.ssirn estancada, muda, das situações comunicativas a atribuição de significado não é amparada
e muda porque com ncfihuma comunica, emsuportes extradiscursivos. Realmente, não é a Verdade dos fatos* o que
porque cortou^sc a sintaxe desse rio, interessa à pesquisa linguística, mas a verdade ideológica, muitas vezes em
o.áo d e á^ua p or que ele discorria. relação dicotômica com a verdade da sentença, bem como as manobras
discursivas feitas pelo enunciador para atender às suas intenções comuni­
O sentido de uma palavra, portanto, é construído em situação discur­ cativas, explícitas ou não. É exatamente esse lapso entre a lógica da sen­
siva, no ato comunicativo, e resulta da interação subjetiva entre emissor/ tença e u lógica contextual que fragiliza discussões sobre o valor de verdade
enunciador e receptor/destinatário ou, em outros termos, as instâncias de dos enunciados. Acrescente-se a isso mais uma variável, a da recepção (na
produção e de recepção da mensagem. qual as vivências, as crenças e os valores do interlocutor/ouvinte/destina-
Em função de suas intenções comunicativas, o emissor/enunciador lárío entram também em jogo, colaborando dinamicamente para conferir
lança mão de seu repertório lexical, faz escolhas ao produzir seu enunciado, autenticidade ou não aos enunciados, atualizando verdadeiramente a mo­
escala palavras, fazendo combinações entre algumas e preterindo outras. dalidade) e teremos um complexo de elementos a permear a organização
As escolhas feitas visam, primeiramente, a fazer chegar ao receptor/desti- discursiva (ver o texto introdutório desta gramática).
” *1 I a uücolha, uu a possibilidade de seleção entre alternativas, é uma condição necessária, se

MELO NETO (1996: 350-3511. nàosulicicnie, da si^irteação.” LYONS [1980: 36].


42*> ciTi n m ^ o LÉiMr nmtiíjiíi i uu rAU\xu WBO UUd/KÃ WMiUmrju %t, \JXHJr TM/m I %UJá/0AMEitXTM» 427

Em nossa abordaí^em. inccrcssa discutir a sem ântica em sua pr/ipria» jt; linguagem que aprendemos e/ou que escolhemos, ( h mesmos indivíduos
inerente subjeti\idade - a mesma que tão frequentem ente é aleijada wjffy, ^ pegam em armas para defender uma causa prxiem ser chamaxJos de revfj-
elemento desabonador dessa análise, frente a outras abrjrda^ns. tidas /iitionáriíi.s. rcfeeWcs ou terrfm atO H . Essa diferença não está na ‘coisa em sí\
mais ‘cientílicas'. É fato que a lin^ua^em encontra na veículaçãri de senri. gijb no ponto de vista. E é isto que importa para a significaçârj.
dos sua própria razão de ser, o que autom aticam ente cokx;a a «emánui^ A consciência dr>s processos linguísticos pode abranger o funciona-
como via ncoessária à elab^iração do pensamento sobre lin^ua^^m Interev 0icnto das categorias gramaticais, ainda que sem a correspondente nomea­
sa a^is estudos de semântica, especialmente, a forma pela qual o si^iâcait, do letra de uma famosa canção popular brasileira diz: “Tire o seu sorriso
de uma sentença se estabelece. Sabe-se que pressupõe a existência dc al|^, cnminhoy que eu quero passar com a minha dor7 líoje pra vrx;é eu sou
no mundo cxtralin^uístico. num dado momento, e a relação desse ekmien copinho: / espinho não machuca a flory Eu só errei quando juntei minha
u> com pc*sM>a.s, qualidades e objetí»s especíbcvis. Desse cfinjunU) c de lu} alma à sua; o sftí nãft pode v iver peno da lu a ” (Aflor e o atpinhf), de Nel-
reprc*seniação emeri^^m os si^ibcados. sfm (àvaquinho. Guilherme de Brito e iMcides Gamínhaj. Para exprimir
poeticamente a incompatibilidade entre ele e sua amada, o letrista valeu-se
Ví.2 U N til AÍ.KM K RKAUDADK da analogia com o síjI e a lua, não apenas companheiros impossíveis, mas,
Todíis nós lemíH», em al^um étau, cH)n.sciéncia dos processos lín^Uiicriv cspecialmcme. diversr>s graça.s ao respectivo gênero gramatical.
que empre^^mos na c*<jmunicação por meio da palavra. Ainda que apenav Acrescente-se o seguinte episódio para ilustração do tema: o pai chega
iniuitivamente. danio-nos conta de que existem diferentes espécies de pa­ do trabalho e pergunta aos dois filhos, entretidos com um vídeogame: Vbcês
lavras e de que a estas diferenças c*orrespondem diferentes maneiras de jíí jonfurcim.^ A resposta vem em uníssono: Jamos. Criatividade expressa
representar as siiuaçõc^s experínieniada.s. isto é, de fazer que *o munâ> por meio de um prodígio de síntese.
dc nossas experiências' se tome 'objeto de significação’ em nossí» discur­ Os exemplos comentados ou mencionados revelam a mesma proprie­
sos Experimente tj leitor apreender a siéniíicaçào sugerida pelo seguinit dade da linguagem verbal: uma forma ao mesmo temp>o convencional e
“enunciado”: ÍUinhuis csc7ícca.s rcTxinacam moí/anamentc HubUinteiipaT‘ criativa de conferir sentido às experiências de mundo e de compartilhar
cosNciK. É claro que este “enunciado" nâo nos remete, sequer, para uma esta.s experiências.
cena inusitada. .Vs formas que inie^am nâo estão disponíveis nos nossos Estudando o modo como a realidade é compreendida e representada por
dicionários c. tampouco, no léxicH) nienial de cada um de nós. Elas foram meiode unidades linguísticas, ou ainda, o modo como os signos, que são nume­
inventadas aj^ora, mas ali^t) aí já c conhecido e condiciona a c^ompreensáo ricamente limitados, podem vir a representar a realidade, em seus infinitos e
de um esquema siénificalivo: graças às diferentes espécies de palavras~ um mutáveis aspectos, Bolinger 11968| enumera condições para que isso ocorra:
fato éramaiical - rcc‘onliecemos nesse “enunciado" uma ação (expressa tm a) segmentação - a realidade precisa ser segmentada para ser repre­
rcjMíiuicam. obvianiente um verlvo). um modo (m n ilu n am en te, um advér­ sentada, ou seja, é preciso destacar um elemento de seu contexto,
bio), duas qualidades (c.st7fWíi.s c su blan tes. c‘í)ni certeza adjetivos) c dois individuaiizando-o, para que ocorra sua nomeação (cf. primeiro
seres (;>artóia.s c pfjriY^.s.scts. substantivos), que são portadores daquelas capítulo);
qualidades e que desempenham, respectivamente, os papéis de agente edtr b) repetítividade - os elementos da realidade precisam ser repeti­
paciente (ef. em b.SA o CHmeeilo de eaiegorizaçào eombinatória). dos, precisam ocorrer diversas vezes para que haja o seu reconhe­
Eni várias passagens de.sia gramática vimos insistindo nesse pomo; a lín­ cimento e a fixação de sua representação linguística;
gua que falamos nâo espelha o mundo, mas lhe confere uma organização para u) ambiguidade - havería uma ambiguidade inerente à representa­
que ele possa ser jcssunto dc nossos enunciados/iextos. A seguinte definição ção, já que, a cada evento representativo, algo é diferente, ainda
de a ’í/e exemplifica espirituosamente o núcleo da questão: “Uma porção dc que o nome dado seja o mesmo;
buracos, amamidos com barbante...". Recordemos ainda o exemplo da abelha d) memória - os elementos linguísticos precisam ser armazenados
(cf. 1 .1 ); ela nâo tem meios de alegar cansaço em alguma etapa de seu per­ para uso futuro (essa função depende de processos cognitivos ex­
curso e passar seu recado a alguma companheira que o leve à eolmeia. Na> ternos à linguagem).
sociedades humanas, ao contrário, é comum a situação resumida no seguinte
provérbio; quem wmu um ajuío uumenm um pomo. Nossa percepção do Seguindo essa abordagem, faremos uma apresentação mais detalhada
mundo é. sobretudo, um ato de atribuição de sentido manifesto nas fornu» de tais condições.
42S SFJCTA P.UlTt " O U X ia » : FOMLXCAO E SIGMOlUÇAí» DAS PALA^TUS iV,:nin .«wii avrinM.[); rel .v .a e .s aKMANTic,w n o l ê x k n ): tra co n sew Antn ;í « k iiEucr)E.s d e se .v t i k i '129

19.2.1 Segmentar para conhecer c reconhecer hdijo, numa imagem escalar. Esses são exemplos de traços semânticos mui­
Para que um elemento da realidade seja designado, ele precisa estar discrimi­ to (requentes, cuja análise por isso se justifica.
nado dos demais elementos que o circundam, ou seja, ele precisa ser indivi­
dualizado. Isso implica a percepção de características, cm primeira instância, l‘).2.2 Suces,so
c n oposição entre estas e outras, que lhes são estranhas. Em outros termos, 0 traço de .sucesso é muito comum nas palavras; gradações desse traço
implica segmentação. Decorrem daí relações dc identidade c de oposição que podem ser observadas nos vocábulos a r r a n ja r , con segu ir, con qu istar. Eli-
contribuirão para se designarem da mesma forma elementos semelhantes minnndo-se a hipótese de que a r r a n ja r seja lido como distribu ir, d isp o r,
(como carros, ainda que de modelos diferentes) e se criarem designalivos encontraremos nos três verbos uma ideia de sucesso, mas cora nuances
diferentes para elementos cujas características dchnam sua pertinência a significativas. Vejamos:
outro segmento da realidade (como ca m in h õ es, que, mesmo tendo rodav, • Ele a r r a n jo u um emprego.
motor, carroceria. chassis, tal qual os carros, têm características, como tama­ • Ele co n seg u iu um emprego.
nho, utilidade, formato, que os distinguem das destes). Tanto carros quanto • Ele co n q u isto u um emprego.
caminhões precisam ser apresentados e reapresentados ao falante repetidas
vezas, para que sejam reconhecidos, discriminados uns dos outros e nome­ Arranjar e cttnsegu ir têm com o sinônimos, entre outros, ‘obter, alcan­
ados adequadamente. O mesmo se dá com as palavras usadas para designar çar'. Conquistar tem com o sinônim o 'submeter, subjugar, alcançar à força
carro e c.-uninhão, que também precisam ser vistas e revistas até que passem de trabalho'.
a integrar o repertório do falante - isso comprova a repetítividade necessária Na frase com arranjar, temos dupla possibilidade de leitura: ele ar­
ao processo de constmção e hxação de significados. A cristalização de sig­ ranjou um emprego para si ou para alguém. Em ambas, o traço semântico
nificados permite lidar cont a ambiguidade, já que será possível, mediante |r.succ.sso| está presente, mas não se deixa subentendido qualquer traço
a identiticaç.ão de determinados traços básicos, reconhecer um elemento, relativo tentativa de arranjar um emprego, como em conseguiu, que pres­
ainda que ele seja apresentado cm condições diversas. Por fim, a associação supõe a ocorrência de tentativas antes do sucesso, bem como a existência
de.ssas condições a uma saúde neurooognitiva produz as condições necessá­ de alguma dificuldade (E le ten tou a r r a n ja r u m em prego e conseguiu). Já o
rias ao armazenamento adequado do signo (Icxema/conceito/signilicado) na uso do verbo co n q u ista r reúne o traço semântico de ‘empenho/esforço’ e o
memória, o que permite venha a .ser reutilizado em situações futuras, com o associa ao de sucesso, com ênfase, uma vez que só se conquista algo que se
máximo de aprovcittimento semântico, c que esteja disponível para as esco­ desejou e nu qual se investiu, superando dificuldades. A frase, nesse caso,
lhas do falante, em relação paradigmática com outros signos. resulta numa unidade sem ântica positiva.
A complexidade semântica não está relacionada diretam ente á com­
plexidade morfológica - palavras niorfologicamente simples podem arma­ 19.2.,1 \'iüor seiiiãiitico
zenar um complexo conjunto de traços sem ânticos, não havendo limites Por vezes, constroem-se valores sem ânticos positivos, negativos ou neutros
para os elementos que, por assim dizer, compõem a receita de uma palavra. para as palavras e expressõe-s e eles ,sc cristalizam junto à palavra, de modo
Desse modo, além do signifteado básico, é possível apreender uma série de que seguem com constância, não dependendo do contexto para se realizar,
componentes do signilicadu a formar uma espécie de segundo plano, que issü pode ser e.xemplificado com a palavra defasado que, a rigor, significa
não deixa de ser percebido e que resulta nos valores sem ânticos de uma fura de fase’. Considerando que a palavra tem seu uso enraizado na física,
palavra ou expressão. Alguns desses traços significativos assumem função mais especificamente na eletricidade, fica claro não haver, originalmente,
distintiva, tal como fazem os fonemas nos pares mínim os. Outros selecio­ marcação positiva ou negativa no uso da palavra, já que estar ou não numa
nam a interpretação, bem como assinalam a subjetividade do enunciadur íase elétrica não implica julgam ento nem resulta dele. Contudo, ao migrar
acerca daquilo que é nomeado, conforme comuniquem valores semânticos para o uso leigo, a palavra agrega um valor semântico negativo e o cristaliza
positivos, negativos ou neutros, llá ainda os indicadores de -sucesso numa de tal modo que só é utilizada em contextos cuja avaliação é negativa. Assim,
palavra, apontando a consecução ou não de um intento, e os traços de es­ a íriLse Esta turma e.stá defasada jam ais será usada em referência a uma tur­
calonamento, que direcionam a leitura do interlocutor para cim a ou para ma adiantada em relação às dem ais, mas apenas para indicar o inverso.

\
KKugOfcs .hkjuAntícah n o i,Rx k ; o : TRAf;oa hemAn t ic o s r. m r u (/»r.s dk .sE vrin o 431
.S|.\TA rARTE - O LÉXICO: RÍRUAÇAO E SiaSlFlCAÇAn D.\S PAUVRAa
430

Importante assinalar que o valor semântico advém do significado so- • Fernando larg ou a mulher.
ciocuJtural agregado à palavra pelos falantes. Assim, um termo pode ser • Fernando a b a n d o n o u a mulher.
neutro num momento histórico ou num dado contexto c tornar*se negativo
ou positivo em momento subsequente ou contexto diverso. O lexcma es­ Nfl primeira, o fato da separação é apresentado com neutralidade e não
querdo, Wnculado originalmentc a uma posição espacial e, portanto, com $0 pode inferir qual membro do casal desejou a separação ou se ela aconte­
valor semântico neutro, assume valor semântico que pode ír de positivo a ceu de comum acordo. Não há ju ízo sobre o ato de separar-sede alguém. Na

negativo, conforme a orientação política de um país. Assim, Minha cajta si^undfl frase, o verbo d eix o u indica que Fernando saiu de casa ou motivou
fica à esquerda certamente não tem o mesmo valor semântico que Meu jseparação. Não se percebe, contudo, um indício de Julgamento, o que não
candidaco é de esqu erda, restando averiguar o contexto político para deter­ ocorre nas duas frases seguintes. O uso de largou sugere julgamento, mas
minar se esquerda, na segunda frase, agregará valor positivo ou negativo. nàoodcíine; tanto pode indicar desaprovação quanto à atitude dc Fcrnan-
0 mesmo acontece com o lexema direita, quando aplicado no campo da liocomo aprovação desta, com consequente desaprovação de sua relação
política - seu valor semântico fica sujeito aos ‘vaivéns' da história e das coma mulher. Por fim, ao construir a frase com a b a n d o n o u , o enunciador
ideologias dominantes. monta sublíminarmente uma imagem de vítima para a mulher, já que o ato
Naturalmente, a valorização semântica pode ocorrer difcrentemenic J e abandonar sugere desconsideração por qualquer coisa relativa à mulher,
de indivíduo para indivíduo, mas então seriam necessárias Informações bomcomo o .seu desamparo. Nesse último exemplo, percebe-se que a atitu­
muito específicas para determiná-la e o caráter científico desta discussão de(ic Fernando é julgada incorreta pelo enunciador.
ficaria comprometido.
19.2.5 Ksealnnafiieiito
19.2.4 Aprovação e dcsapnmição Não são apenas i\ aprovação ou a desaprovação os traços semânticos que
A atitude de aprovação ou desaprovação do enunciador pode ser detectada colaboram para a .segmentação da realidade; há informações subjacentes
não apenas pela sua declaração explícita, mas pelo valor semântico da pa­ quo atuam de modo determinante nn compreensão de um enunciado. O
lavra selecionada por ele. Ao escolher entre dizer que A s a la está com um iraço do escalonamento, mencionado anteriormente, aparece em um rol
peifiume ou A sa la está com um cheiro fo r te ou A s a la es tá com um afra- aniplo de palavras, cujo significado implica olhar acima ou abaixo. Estas
^rância, o enunciador inevitavelmente elabora um juízo sobre o ambiente, contrastam eom outras, em que tais direções estão simplesmente ausentes.
colocando cheiro como indicação ambígua, que tanto pode referir-se a uma Issopode ser ilustrado com as palavras a p ro x im a d a m en te e q u a s e (H avia
impressão positiva quanto negativa; ao usar o termo p erfu m e, o enunciador aproxim adam ente/quase cin q u en ta m il p e s s o a s no estád io ), cujo signifi­
subiu na escala avaliativa, sugerindo impressão positiva; por fim, ao usar cadoaponta para o nível acima (ainda que seja possível aproximar para bai­
fra g râ n cia , ele dá mais um passo acima na escala avaliativa - embora per- xo, eni termos matemáticos, e ainda que q u a s e indique não se ter atingido
./ume efr a g r â n c ia sugiram, ambas, impressões positivas, há um acréscimo uma meta, o foco fica estabelecido no nível superior). A m a io ria (A m aio­
de valor ao termofra g rá n c ia , que é (+agradável| e [+sofisticado|. ria dos comprof/ores lisa carfâo ) e a m in oria (A m in o r ia d o s eleitores
A percepção desses traços é sutil. Ao se dizer, por exemplo, ‘Seu corte deseja iier mesário) apontam, respectivamenie, em direção superior e infe­
de cabelo não ficou ruim’, na verdade se expressa uma desaprovação nào rior. 0 mesmo se dá com as expressões n ã o tem nem (Ele n ã o tem n em um
assumida, que se tenta disfarçar. A frase N ada m al, por sua vez, aponta a real no banco) e no m áx im o {C o m erei no m á x im o d o is ch o co la tes), que
superação de uma expectativa e o desejo do enunciador de disfarçar sua conduzem o olhar para o nível inferior, uma vez que são entendidas como
aprovação ao feito. Indiscutivelmente, é carregada de subjetividade a lei­ indicação de que algo fica abaixo do patamar enunciado (contrariamente
tura desse traço, o que dificulta a abordagem mais científica. No entanto, aoque ocorre com a expressão no m ín im o , lida como ‘tem mais que’, cujo
alguns exemplos permitem uma leitura um pouco mais segura. Vejam-se, sí^ifícado aponta a ultrapassagem do patamar enunciado). Há, no eiitan-
por exemplo, as seguintes frases: 10, aquelas como em to m o d e e em m é d ia , que nào definem uma direção.
• Fernando separou -se da mulher. EmiVa viagem a L on dres, p r e te n d o g a s t a r e m t o m o d e c em libras, nào
• Fernando deixou a mulher. fica claro se o enunciador toma cem libras como seu teto e nào pretende
s»xTA r.vKTh: - O i.R x ia v niRM.vc~^o E sh ; n>k i c \ç .Vo h.VS l^\I^VU,\.S
J |1 WiSnCAPlTlILO: KKl.A»;rihUS SKMANTKLVS N(» LP.XICO: TkAf;o.S Hf.MAVTIf n s I'» SKNTUxi •/.U
ultrapass!Í-lo ou se ele admite ultrapassar, ainda que não exageradamenti.
scmrintica das palavras, pois é a própria dinâmica do ii.so pela comimidaiie
o jiatamar de eem libras. ISiial interpretação poderia ser feita, substituindo!
em face das necc.ssidadcs emergentes de ‘nomear o miindo‘ em conlíiuia
-se cm tonto tlc porciti m ed ia.
mudança que impulsiona aquela dispersão. Os múltiplos domínios cmicep-
tuais.se t(K'am, se interpenetram, sc afastam segundo a capacidade mental
l ‘).2 .6 Principal e subordinado i
do homem para ordenar os dados do mundo em função de sua compreen­
Essas noções são mais algumas a frequentar a ‘receita' de inúmeras pa. '
são c orientação. O mundo seria um simples amontoado de coisas desco-
lavras. Aqui, são tomadas como opostas e é fãcil encontrar palavras qu(.
no.\as sc a mente não o organizasse em classes e categorias, procedendo a
as exemplifiquem, isoladamente ou aos pares; (|uando se fala em cidiuk. ,
gciicridizações e especificações. As palavras materializam esse ordenamen­
-sotéliíc, o segundo termo pressupõe a existência de um núcleo, uma cidadt '
to para a função social da interação humana. Seus significados não são blo­
nuclear. Na frase Você m ora longe!, encontramos com nitidez a oposição '
cos compactos, mas composições de traços, graças aos quais elas revelam
entre principal e subordinado no julgamento aplicado ao local de moradia aliiiidades c diferenças. Os traços de menor ocorrência são, preci.samente,
do interlocutor. Considerando a existência de dois pontos no espaço c a os que estabelecerão limites entre uma palavra e outra, permitindo sua
idêntica distância de A para B e de B para A, conclui-se que a avaliação dc diferenciação.
um desses pontos, digamos, de B, como lon ge só pode ser feita se o ponto.^ h possível conceber o universo dos significados como uma infinita
for tomado como referência, ganbando importância. A seria o ponto prin­ e multidimensiontil rede, composta de fios de sentido que, como os fios
cipal. nuclear, e B, o subordinado ou satélite. O mesmo ocorre quando .sc | dágua do poema de João Cabral de Melo Neto, se inter.sectam e, nos pon­
trata de hierarquizar elementos: quando se usa, por e,xemplo, a palavrac/ir. tos de eneontro, concretizam significados que serão diferentes. Não have­
/c, sabemos que ela implica a existência de su lm rd in ad o s ou comandados | ría. portanto, traços isolados, mas tramas semânticas a produzirem est:i ou
Inversam ente, a palavra em pregado pressupõe a existência de um patrãi aiiuela significação. por isso tiue empreender um trabalho e.xaustivo de
identificação dos traços semânticos existentes toma-se impossível e inútil.
l ') .2 .7 índices da .situação comunicativa Mais importante é estudar os ‘nós significativos’ que resultam do entreem-
Retomando os estudos de Bolinger [1968] sobre o significado, encontra­ zameiuo de infinitos fios semânticos e buscar entender como esses nós
mos uma divisão entre tipos de componentes semânticos. Haveria os que participam de uma produção global do sentido. Os chamados marcadores -
participam do ‘significado real’ da palavra, como os que discutimos aqui.e ou pontos de interseção de traços semânticos - cumprem essa função.
outros, que se referem às circunstâncias comunicativas, significando-as. Os Tomemos v iolã o, v io la , v iolon celo - todas as palavras pertencem ao
pronomes de tratamento participariam dessa última categoria, bem como campo semântico de ‘instrumentos musicais de corda’, todos têm caixa de
as seleções lexicais indicativas dos registros linguísticos. Por esse caminho, ressonância, todos são feitos de madeira e têm laterais arredondadas. Não
se estabeleceríam as diferenças entre N ão poaao f a l a r com o senhor no .são esses traços comuns que permitirão sua distinção, mas justamente os
m om en to e N ão posso f a l a r com v o cê a g ora, em que é possível vislumbrar que não pertencem à interseção dos três; assim, [-ttocodo com arcoj é um
as cenas comunicativas e o grau de formalidade de cada uma (maior m traço que colocaria o violão de um lado e o violoncelo de outro, deixando-
primeira, menor na segunda). Nas frases, a preferência por senhor e no -nos com uma ambiguidade quanto à palavra v iola, que designa tanto um
m om en to, de um lado, e por íxicê e agora, de outro, permite delinear o con­ instrumento popular, tocado com os dedos, quanto um instrumento erudi­
texto em função do grau de formalidade linguístico, partindo da premissa to, tocado com arco. Para discriminá-la em seus tipos, precisaríamos ainda
de que haverá, em condições normais, uma correspondência entre o grau do traço |-scaipiral, que, por si, já exclui o traço [-ftocado com arco|, pro­
de formalidade da cena comunicativa e o da linguagem usada. duzindo a diferenciação necessária entre viola caipira e viola erudita.

19.2 .8 Marcadores semânticos 19.2.9 Função distintiva


Os dicionários fornecem informações valiosas sobre as possibilidades se­ Aexpressão lev ar d e novo, por exemplo, poderá ou não ser substituída por
mânticas das palavras, mas a função deles é registrar usos, de preferência devolver, dependendo do elemento a ser levado/devolvido, de sorte que, em
abonados em algum texto real. Eles não captam o potencial de dispersão Levei meu filh o d e v olta a o m useu, o entendimento seria o de que um filho
^-TTA r\KT\ - o IJJO O • f* l . D^* PU.«\-|Uft
íH> LtXITOr TRAÇíi » SRMA.VT1COíÍ t R£l-\çOE.S DC SESTIDfi 435

cM ivcssc scndíi Icxado outra vez a um mtkseu anieríormcnte visitado, mas .isii csiií estendendo o sijinifleado de deslifiaT, relativo ao fogo, ao produto
definilivam cnte nào se entende t^ue ele seja parte do acervo ou Ojiic per- que cst;í sendo preparado. Conquanto nenhum falante natural do português
lenva a<i espaço, sendo impstssivel reescrever a frase cí>m o verbo devnkvr iusse estranhar ou deixar de compreender o pedido incluso na frase, ‘desli-
í/kTv^/ti rmii.rt//w»<■*/* rrm-seij I Já em/xTviram o rpujWm deiW/o uo íaiulo' o foiio. é indiscutível que o feijão nào é passível de ser desligado. Até
entende-se que um quadro leria saido do museu por alii^im motivo c seria mesmo o íoiío estaria fora. a rigor, do conjunto de elementos ‘desligáveis’. Já
restiruidn ao liit^'ir. sendo pf»vsivel reescrever a frase com o verbo dexoKcr que o tenno adequado seria apagar.
(/>evv»/is*ríjtn o qu/ü/m tui niUMH ) 0 lato dc se saber qual o contexto ou a temática envolvida no ato co-
( ihserv fim<»s. nesses exemp!c»s. que. embíira ambos os elemento» « imiiiieativo colabora igualmente para que se íaça o adequado recorte dentre
mostrem passív eis de ser levados n um liuiar. a diferença entre os conteúdos ;is |s>ssihilidades .semânticas dc uma palavra, reduzindo ou eliminando sua
sem ânticos das palavras fi//io e qtuuirr». em função de seus scma.s respecti­ unhiiiuidade: por exemplo, a palavra balanço a.ssume signiticado distinto,
vos I -parte do aeer\ti| e j +parte do acervo), sclecirma a leitura de tevarde ooníonne o contexto seja o da atividade lúdica, o da dança ou o da conta-
tHdt/i eotno lev ar ninis iimn vez ou cs»mo restituir, excluindo a permutação bíliiluile (respectivanicnte, signihcando brinquedo, movimento corporal e
|xir dexs»/tH*r para o caso do filho Note-se que não é o fraç*o l-fhumanol o ilomonstrutivo rtnanceiro), No entanto, se um contador de uma empresa
fator que im{xvle o uso de devolver para o filho, mas a falta dc pertinêncí.1 Iníomiii i|ue ii Ixilanço está quri.se pronto, não se pensará em outra coisa
ilo tillio no espaiySi museu, tanto que o mesmo não se ohserv'aría na fra.se que nilo o demonstrativo financeiro. .Vnalisemos as formas verbais adquirir.
o pnwioTmm oo pn-aú/io. em que prisioneim |'rtnimano|. por per­ Iktíir. emimiir. conquistar. Todas incluem a noção de 'passar a ter’ e todas
tencer ao espas'o presidio. [xkIc adequndamente ser devolvido (levado d« pressupõem a inexistência de um elemento num momento anterior ao de re-
volta I ao ItK^at de otulc tetilui snido ou sido retiradri. tal como ocorre com lerOiieiii. As três primeiras podem .ser usadas para designar 'passar a ter uma
** qtiadn • iluença'. mas o mesmo não ê po.ssível para o verbo corufuistar, marcado pelo
.V.ssiMi < v(ue iq/esfiir. ti|K*sar de su^nificar 'invadir devastando, causar [nii,'upositivo de 'realizar um esforço para ter algo que se deseja’, o que não
esingios. inliH*uit uni or^miisiiio . iiào será u.sado na frased tnrvUia ir\fentnu se aplica ás doenças. Por outro lado. o destinatário saberá que o sentido de
t Hhiiittf. M'U> q^iv ttiti sentido |K*|ora(ivo seja ativado, na aproximação com a IKíliir em iViiiqJiiém /regou .surumpo é diferente de Xin^uém pegou brigadei-
iilt iM niUs-vao ou di prese^iiça aiiiiual. revelando uni JuUtanicnto por parte m III) fim(la festa. A simples aproximação entre pegar e doença seleciona e
do eiuiiK'iad«ir (ele entica (oreidas ern ^Tal ou aquela, especifieamente). Ja restriiiije os signiticados n serem atualizados na deendilicação.
as fias4's \ ittn^uUi i/i ;nvWou o e.sna/io (»u torxidu irKxuiiu o astôdu} tm- Km outras palavras, a eongnièneia física e de significado entre for­
rein rvs|H «.iiv aiiietite. iins veriMss (fe;»re<iur e ínviuiir. os traços üe deslnu* mas carrega eni si iiina ambiguidade, cujos efeitos são reduzidos pelo Jogo
çao I dt pM seiiçii iiueiça. seiii que iiiiia vi.sào subjetiva seja revelada. que emmeiiidiir e destinatário fazem entre enuncindos c dados contextuais
lai ineluidos elementos concretos, temátiea.s, papéis). Os falantes demon.s-
I •> J |t* \ iu b i i ;* u » h è iK - i i i e i v i i l e irani. portanto, a habilidade de usar não só os mesmos códigos, mas estra­
1 I iisii da iuii:oaji:ein im plan o da realidade e pcr|>assad<» p o r variaveis pró­ tégias semelhantes na eoditieação e na deecKlilieação de mensagens, evi-
p ria s ilo i.s»(iJia iio . q iK d l (e rin itia iii u ne cessidade de ev^uiojiua. de rapidei lanclii. com ls.so. o 'engessamento’ iln linguagem e dando-lhe a plasticidade
alia d a s a efii aeia is u m iiiic a u v a .Vssim. iu> dia a dia . m u ita s vezesuenun* neee.s.saria ao trato eonuinieutivo.
c ta ilo r s iU s'h M ia un ia palavra (»u iiina Lxn islruçáo q u e ira ra auibii^uidadi;
|iaiM sua trasi m. analisada isn u r i^ » r. luas se evsa ajiibii>uHlaáie aàu eheitiU Pi .l IIKI At DKS KNTRK SIO M U CA D O .S
a is m ip io iiie le r u tra to is m iu n ic a tiv u . eui fuiiçá«.> dc elem en tos conteitUMa Apercepção liiimana esl.i espeeialmente estruturada para o registro de di-
q u e o ile s iu ia ia rio |x»ssji usar |vara vk‘slaze-la. não h avera tn in c a n K n to Ja lereiivas e de semelhanças. Não se truta de aspectos antagônicos da reali-
iiieiisaAieiu rii iii pfe|uiao a cv>niuj 1 1 cação K usada u m a palavra ou e ip r w JaJe mas Je aspectos assoeiáveis e interdependentes. O que nos leva em
sãi* alii»’ fvarecida ».x*ni v» qiK* elctiv anieiite se des^>ana d i/ e r «ai. eoi u u in » uou direção ou em outra é o foco escolhido, o dado relevante no contexto
le n ih » u m q u a > « . '- s i i K a i i m o ( s i a m f A u w - f i A e . d e B o lin i^ T . cumunieativo ptale-se dar maior importância ao que distingue e separa
^ W ia iiH ís u m exeni|4o ao fHxlir a aiitiK n i que dc Wu^iM.’ o M > u o . um a dofu ik doHoii|etos ou ao que os aproxima e icssemelha.
•1x16 SEXTA PARTE - O LEXÍCAV. FORXIAÇAO E SU'.NIFK1M;.\0 DAS l*.\IJ^Vlt\8
l<A.mosOSHllAlHU^U); relações SF>LVNTK’-A8 no lExicí); traços SEM<VNTIí ’A>He relações oe sesthh> *1.17

o espaço do texto é uma espécie de arena onde as palavras dispu- bos esconder e (xnUtar em: Ele e s c o n d ia su a v e r d a d e ir a id en tid a d e e Ele
tani a preferência do enunciador, a quem oferecem os respectivos espec- 1 ocultava sua verdadeira id en tid a d e. Os sem anticistas costumam enfatizar
tros semânticos, intemamente analisáveis em traços básicos de sentido, j que, por mais que a troca de uma palavra por outra mantenha inalterada
Um m artelo e um setrote diferem quanto à função (fixar X cortar), mas se ,1 informação, é inadmissível a existência de sinônimos perfeitos. Sempre
assemelham pela classe; ambos são fe r r a m e n t a s de carpintaria. Maneio e 1 haverá entre os sinônimos algum traço que os diferencie e impeça que um
serrote lexicalizam a diferença,/erranienta lexicaliza a semelhança. Cami- oeupe o lugar do outro em todas as ocorrências de ambos. A esse respeito,
ii/inr e passear podem ser\ãr para denotar o mesmo movimento de loco- [ c interessante a seguinte reflexão de Rubem Alves; “Quem fala ‘retrato’ já
moção {aiídar), mas p a sse a r , diferentemente de c a m in h a r , acrescenta ao 1 eonfessou a idade. É velho. Hoje se diz ‘foto’. Segundo o Aurélio as duas pa­
referido ato de locomoção a ideia de um ato de lazer. C a m in h a r e passear ! lavras são sinônimas. Não são. Os dicionários frequentemente se enganam.
lexicalizam a diferença entre modos ou finalidades dc a n d a r- este, com seu j ‘Retrato’ e ‘foto’ são habitantes de mundos que não se tocam’’’-.
sentido mais genérico, lexicaliza o que há de comum aos outros dois. De fato, o que garante a sobrevivência dos sinônimos na língua é ju s­
tamente a possibilidade de exprimirem conteúdos diferentes, por mais sutil
O geral e o específico que seja esta diferença. A sinonímia é, portanto, um fenômeno que deve ser
Quando ignoramos o traço que distingue semanticamente dois significados, descrito preferencialmente em função da variação linguística. Muitos sinô­
nossa opção é unificá-los sob uma designação abrangente. Assim é que aos nimos são variantes regionais e outros são variantes etárias. Distinguiremos
atos de cam in h ar e p a sse a r chamamos genericamente a n d a r e aos objetos quatrosubtipos de sinônimos; (a) variantes regionais ou geográficas, (b) va­
conhecidos como m artelo e serrote chamamos genericamente/erramenta. riantes estilísticas ou discursivas, (c) variantes psicológicas ou expressivas
Ferram enta e a n d a r são termos gerais; m artelo, serrote, cam in har e pas­ e (d) variantes etárias ou históricas.
sear são termos específicos. O significado de fe r r a m e n ta é um componente
semântico genérico dos significados de m artelo e serrote, assim como o sig­ 19..1.2.1 Variantes regionais ou geográficas
nificado de a n d a r é um componente semântico genérico dos significados de Trata-se de sinônimos usados em diferentes áreas geográficas. Os vocábu
cam inhar e passear. Na descrição das relações lexicais, adotam-se os con­ losapressado e v exado (comum no Nordeste) ilustram bem essa variaçãc
ceitos de conjunto e subconjunto e diz-se que o termo geral é um hiperônimo considerando-se para v ex a d o o sentido de a p r e s s a d o e não o de en verge
dos termos específicos, e que estes são liipôniraos do termo geral. Os termos nhado, que por vezes apresenta. Situação semelhante ocorre com relaçã
específicos, por sua vez, são co-hipónimos um do outro. A estruturação do aos vocábulos bala, bom bom e ch o cola te. No Centro-Sul, o vocábulo b a l
léxico em termos de hipônimos e hiperônimos é uma propriedade fortemen­ designa “pequena guloseima de açúcar em ponto vítreo, ao qual se acre
te presente nas linguagens técnicas e científicas, caracterizadas pelo uso os­ centamcorantes e/ou ingredientes ou essências de vários sabores” (cf. D
tensivo dc terminologias cinssificatórias. Na língua corrente, especialmente cioiiáriü Eletrônico H ouaiss), sentido atribuído no Nordeste ao vocábu
usada na conversação mais espontânea, os termos genéricos têm uma ampli­ bombom. Este, por sua vez, significa, no Centro-Sul, “confeito ger. de ch
tude ainda mais elástica que os hiperônimos propriamente ditos, haja vista a colate, por vezes com cobertura de glace ou caramelado, podendo ou ni
frequência de termos como coisa, parte, negócio ete. A técnica da definição rir com recheio (de fruta, amêndoa, licor etc.)” (ibidem); no Nordeste,
inclui largo uso de hiperônimos, eomo se eomprova nos dicionários (atoou mesmo elemento é chamado c h o co la te. Isso significa que, no Nordeste
u ç ã o d c, a n im a l da fa m ília dos, q u a lid a d e ou c o n d iç ã o de). Pode haver re­ frase Você quer um a ba la ou prefere um bo m bo m ? não teria muito sentit
lações de sentido variadas, tanto entre hipônimos quanto entre hiperônimos. diferentemente do que aconteceria no Centro-Sul. Também se pode p
entre as quais se destacam a sinonímia e a antoniniia. sumir que um falante do Sudeste, por exemplo, ao receber a oferta de i
bombom, pudesse ficar frustrado quando recebesse uma bala.
l ‘^.,â.2 .Sinoiiímiu E.xemplos desse tipo de sinonímia aparecem em quase todos os liv
relação de sobreposição de espectros semânticos resulta, sobretudo, na didáticos e são de conhecimento geral, como as correspondências en
relação de sinom'iiiia. Para o senso comum, chamam-se sinônimas duas ou
mais formas da língua que codificam a mesma informação, como os ver­
.ÍLVES 11097: ,%1.
-Í.W SFATA PARTF. - O UXKX»: lt>R>UÇ.\(' E Sir,NIFICí\<;.U> l>.Vt rALANTUíl
NONi) i-splniu): rri-açOes sem ,\nticas no i,Exk :o : Tfc\<;of» sfaiAnthios k KKi-S(.;Oiij,s ok nkntiih)

m a ca x cira e a ip im , tati^eritta c m e x e r ic a , b a c a c a -b a r o a e m andioquinha. monitoramento linguístico do falante, sendo a primeira ocorrência dc eaila
a ip o c s a ls ã o . Não por acnso tais exemplos vêm da culinária - atividade e par representativa de maior monitoramento em relação ã segunda, de uso
campo de conhecimento essencialm ente marcado pela cor local, o que se mais popular. O uso de uma ou outra forma assinala a intenção comuni­
confirma na terminologia adotada. cativa do enunciador em situar seu ato de fala num patamar mais ctiidado
(como no uso de o b seq u io so por p re sta tiv o ) ou de incorporar as marcas
19..^.2.2 \ariantes estilística.s ou discursivas linguísticas de um dado grupo (como no caso de se usar requ isito , termo
Trata-se de sinônimos usados em diferentes domínios da atividade discur­ jurídico, em vez de ex ig ên cia ) ou, ainda, revela a extensão do vocabulário
siva. Caracterizam não apenas registros linguísticos diferentes, mas identi­ Jo enunciador.
ficam grupos sociais em seus jargões. Tomemos como exemplos operação e
cfntrgía, bandido e m e lia n te - é possível identificar, no segundo elemento Variantes psicológicas ou e.\pressivas
de cada par, termos típicos dos jargões médico e policial, respectivamente. Trata-se de sinônimos que revelam diferenças afetivas ou emotivas. Nos
Exemplo análogo é o dos vocábulos crave, p o ste e p a ii, considerando-se o vocábulos tento e lerdo, v en c er e d er ro ta r é possível observar um compo­
contexto do futebol. Todos indicam os suportes que delimitam o espaço nente de julgamento por parte do enunciador no uso de lerd o e d erro tar,
do gol, da m eta, mas tra v e é mais comum no uso leigo, enquanto poste c que agrega valor depreciativo ao contexto. Ser ou estar lento indica a velo­
p a u são mais facilm ente obser\’áveis em narrações esportivas e situações cidade com que algum processo é desenvolvido; ser ou estar lerd o implica
discursivas afetas à tática futebolística, em frases como O jo g a d o r acertou que 0 processo ou elemento em questão está provocando algum incômodo
a b o la no p o s te ou A b o la resvalou no prim eiro p a u e o atacan te, cindo ouprejuízo, pelo fato de ser lento.
d o seg u n d a p a u , f e z o g o l. Obseiva-se que o termo p a u tem uso preferen­ Os pares de vocábulos m a ta r e a s s a s s in a r , p e d ir e ex ig ir, im ita r
cial em situações de escanteio, quando a ordenação espacial das traves e remedar. ousadia e temeridade revelam, igualmente, potencialidades
ganha significância, sendo frequentemente acompanhado do numeral or­ expressivas na sua distribuição, sendo o segundo termo de cada par o ele­
dinal. Fora desse contexto, crave e poste são mais comuns, distribuindo-se mento marcado em termos psicológicos ou expressivos. Partindo de um
apenas conform e o grau de envolvimento do enunciador com a matéria. sentido comum, verifica-se reforço de intencionalidade e de gravidade do
Ainda no cam po semântico de futebol, encontra-se o termo pato, sinônimo ato em a.ssassinar e reforço de autoridade em exigir. Note-se que o uso
de p r in c ip ia n te , para designar os jogadores recém-chegados ao time. Igual deas.<ifissinar se atém normalmente a pessoas, sendo incomum o uso do
processo se dá com os pares prin cip ian te e/ o c a , especialmente na área do verbo para tratar, por exemplo, do ato de matar uma barata, exceto se o
jorn alism o, em que o segundo termo é de uso corrente, diferentemente do enunciador pretender carregar na expressividade, conferindo ao ser mor­
que se dá no cotidiano leigo. Registre-se que/oca, nesse sentido, é substan­ to um .srams superior - o que só confirma ser a s s a s s in a r uma variante
tivo masculino: “Em geral, o foca não é contratado logo de cara. Passa por psicológica de matar. Por seu turno, o uso de r e m e d a r por im ita r subli­
um período de experiência na empresa e, .se der certo, tem grandes chances nha o traço de deboche, de ridicularização do outro, que integra o espec­
de integrar o time da redação.""' Deixando-se o campo de atuação do jorna­ tro significativo do vocábulo. Com isso, fica excluída a possibilidade de
lism o e retomando o da atividade policial, é possível encontrar análogo par se usar remedar quando a intenção seja assinalar o lado positivo de uma
de sinônim os, configurado em p rin cip ian te e pipoca. Em diferentes áreas prática imitativa, como na frase P ara a p rim o ra r seu estilo, ele ‘ rem ed av a
de atuação, é possível detectar sinônimos específicos para principiante, pintores consagrados.
com o se a nomeação linguística compusesse um rito de passagem e, de al­ Consideremos, agora, os vocábulos o u sa d ia e tem erid ad e - vê-se que
guma forma, viabiliza.sse a inclusão do novo elemento naquele grupo. eni ambos encontram-se traços relativos a fazer-se algo que exige coragem
Nos pares co m id a e rango, Jr a g r â n c ia e p erfu m e, o r a ç ã o e reza. e irreverência, mas em tem erid a d e o risco envolvido em tal conduta ganha
r e q u is ito e ex ig ên cia , ru id oso e bartd h en to, d e s p o ja d o e sim p les, obse- Jestaque; isso revela que o enunciador, de certa forma, teme pela seguran­
q u io s o e p resta tiv o , a distribuição do uso se dá em função do grau de ça lie alguém.
*•’ VOMKRO. Maria Kemanda, “Vida dc* Foca". In; Folha Online, 2 2 /1 0 /2 0 0 4 , DisponiwI em http//
No par de adjetivos p o b re e m iserá v el, que aparecem como sinônimos
w w w l.íolha.uol.com.br/folha/treinamento/2(MH1022-vÍda_de_foca.shtml. Aeesiío em 2^5/2008. nos dicionários, verifica-se, a partir do uso, uma gradação, com intensifi-
440 K PARTE - O LÊXK:0: Ft)Rkl.\Ç.^O E }n(íNII’T l’A<;AO OAS PAI^VILVI j^fliiiMiNnc\plm.<»; HF.uçõr.s 8F.m,\.n t k :ah s t» i.P..xi<;o: t r .m; oh <>s v r m m.'''» n i'f N tsH in 44/

caçüo do traço de pobreza no vocábulo m iserá v el. Disso decorre que, no Hifj atribuir sentido ao meio-termo, ãquela zona de no.s.sa expcrièneiii ein
uso corrente, os falantes acabam produzindo uma dessemelhança entre tais coisas geralmente carecem de designação ou mesmo tle ilefiniçAo.
vocábulos, com base na componente psicológica ou expressiva, a ponto do tliigiralcxiealiza ostensivamente no.ssa experiência dos opo.stos, mas ten-
fazerem seleção excludente. No uso formal, contudo, os vocábulos são per­ j(.nleixar sem e.\pressõe.s específicas as zonas interm ediárias, que (piase
mutáveis, como se comprova pela chamada para notícia publicada no portal ititipre conceptualizamos, genericam ente, pelo recurso ar> adjetivo 'nor-
PNUD Brasil, em que eles se alternam, sem divergência de significados, mas mjl ouaos circunlót|uios nem u m a coisct n em o u tra , m a is ou m en o s etc
com impacto maior a partir do vocábulo m is é r ia , haja vista sua escolha lsioc.tplica a e.\traordinária variedade de formas para exprim ir conceitos
para a manchete principal: B r a s il v e n c e m is é r ia c o m s a l á r io s m e lh o r e s - conscnsualmente contrários; so r te /a z a r ,fe io /b o n ito , gan har/i> erder, .subir/
Escudo in d ica q u e p a ís é um d o s p o u c o s d a A m ér ic a L atiica e m q u e trans­ iisca. longc/perto, donnir/actyrdar, lim p o /su jo , ric o /p o b re , c h e io /v o z io ,
fe r ê n c ia d e r e n d a n ã o f o i p r in c ip a l c a u s a d a q u e d a d a p o b r e z a [San .losé, pftlo/brmico, duro/mnle, d o c e/a m a r g o , d o c e /s a lg a d o , d o c c /a z e d o .
2V5/2008]’^ \ primeira vista, pode parecer ser necessário encontrar uma oposi-
çioradic.al para que um par de lexemas funcione antonim icam ente. Na
19..1.2.4 Variantes etárias ou liistóríeas realidade, a antonfmia se estabelece quando, considerado um determinado
Trata-se de sinônimos que revelam diferença de idade/geração. Usados BiBicsio, oque está em foco é a substituição de um traço sem ântico rclc-
como elogios à beleza masculina, p ã o e g a t o , em frases como E ste c a r a é um vjBic pelo seu contrário. A rigor, se duas palavras forem estranh.as uma ã
p ã o e E ste c a r a é u m g a to , conquanto sejam ambos compatíveis com usos niiraeai todos os traços, o que se observará será uma total falta de nexo
coloquiais, identllicam-se, respectivamente, com uma geração mais antiga entredas, .sem qualquer rcl.ação. Um par de antônimos apresenta, obriga-
e outra mais recente. Os vocábulos sestro so e es p erto , tomados como sinô­ loriatnente, algum traço semântico compartilhado, para que se monte uma
nimos, identificam usos compatíveis com diferentes momentos da história relaçãode identidade contrastiva.
da língua e não são mutuamente substituíveis, na atualidade, sem que ad­ Tomemos os le.xemas n avio e a v iã o . Ambos participam do campo sc-
venha do uso de s e s tr o s o uma certa sensação de anacronismo. Já nos casos mmiieo'meios de transporte’, ambos incluem transporte coletivo, de cargas,
em que s e s tr o s o se identifica semanticamente com m a la n d r o , no contexto mas0 primeiro tem o traço l-rpor mar) navegação m a r ítim a , enquanto o
específico da capoeira, indicando aquele que é dado à sua prática, perde- sejundotem o traço )+pelo ar) n a v e g a ç ã o a é r e a . Nem por isso esses termos
-se o referencial histórico por um regional ou geográfico (ver 19.3.2.1). Em serão\istos como antônimos, porque não há na realidade objetiva relação
sua distribuição discursiva, su rp reso e b o la d o mantêm relações marcadas deoposição entre mar e ar, relativamente aos meios de transporte. Ou seja;
pela identificação com uma faixa etária mais madura [su rp reso ) e outra. osfaemas eontrastam, mas não chegam exatam ente a se opor. Exemplo
Jovem [ b o la d o ) , com o se observa em frases como Vi um v íd eo incrível na inversopode ser dado com as expressões p re sen c ia l e à d istâ n c ia , em frases
in tern et —f iq u e i su rp reso /b o la d o . Entre os Jovens, o termo b o la d o chega a como: £rr/aço urn curso p resen cial, m a s m eu ir m ã o f a z u m curso à distãn-
adm itir outras significações, indicando preocupação e atê medo, em frases cin. Neste contexto, presen cial tem o traço (+presença), que o curso à dis­
com o F iq u e i b o la d o c o m o resu lta d o d a p ro v a e O uvi um b a ru lh o estranho tancianão tem. A reiação opositiva está estabelecida. Já que o mesmo traço
n a c a s a —esto u b o lad o . Iptesença) é positivo )+presença) para um e negativo (—presença) para outro.
Issocaracteriza a antonímia entre essas expressões, nesse dado contexto.
1 9 .3 .3 iVntoníniia Claro está que, mudando-se os contextos, mudam-se também as rela­
O s opostos estão por toda parte, segundo categorias em que situamos as ex­ çõessemânticas entre as palavras, de modo que pares de sinônimos ou de
periências do quotidiano; d ia e n o ite ,fr io e c a lo r , v e r d a d e e m en tira , vício ffliònimos podem simplesmente desaparecer. A respeito da determ inação
e v ir tu d e , v e r d e e m a d u ro , rico e p o b r e , g r a n d e e p eq u e n o . Eles são os li­ ilocomexto sobre as relações sem ânticas entre lexemas, veja-se o exemplo
m ites referenciais idealmcnte específicos ou precisos em que nos apoiamos sejuinte.
Analisemos as palavras h o m e m e g a r o to , nas frases N asceu m eu filh o ;
In PNUD Brasil - Pr<»4rania das Nações Unidas Para o Desenvolvimento - Reportagem de C<\M-
l*OS. O sm ar Soares de. Disponível em http://www.pnud.org.br/pobrezn_deslgunldnde/reportagcns/
f umliomem c Nasceu m eu filh o ; é u m g a ro to . No contexto dado, h o m em
index.php'r'id01*29548& layapde. Acesso em 25/5/2íK)H. tíanxo funcionam como sinônimos. O traço diferencial ‘idade’ foi neutra-
SEXTA TARTK - O l EXliX»: ►A^RXÍAC-Vt» K SK;NIKICAV-\i í Pj^S PAI-\>%VS Kfnuii snx<M-vrlTi'to; Hki.A(.:«'íe .s sem .^n t ic a s no i . í x i m : t k .\ç o s s k .mAntn :n s k k m .aí.:*^ ^ s e n t i I'» *
^4J

Uzado, mantendo-stí todos os demais traços semânticos. Nessas frases, o dooutro. Os antônimos complementares são dicotôm icos o oon tn u litó rio s:
traço semântico mais importante é relativo ao sexo, |+mnsculino|, presente deo/m orto,/alar/calar^falsa/verdadeiro, o b e d e c e r /d c s o h c d c c c r , c n ttd c tia r /
eni ambas as palavras. \’ejanios, a^ora, o que se passa na frase seguinte: £fe absnkvr.direiío/esquerdo. Sc algo não está vivo, obviam ente está nutreo\
fem J l anos. é um homem; não e ticnhum ^amío. Nela, homem e garoto SCOjuiz absolve o réu, obviamente ele n ã o o condena.
apresentam-se em oposição semântica, já que, no contexto, o traço |adul- iiá polaridade entre antônimos quando eles são expressões dos polos
to|, presente em homem e ausente em garoto, é de vital importância para a mmm c.scala. Eles se referem a atributos, estados e situ ações co n trá rio s,
compreensão da frase. mas nfio contraditórios: a lto /b aix o, jrio /q u en c e , c a lm o /n c r v o s o , larjg<f/cs~
Wjamos agora em que consiste a oposição de significados observada ía’í/o. ff)/rgt7perro, d ep ressa/d ev a g ar. Os antônim os polares não são co n i-
na seguinte série dc verbos: m atar, m orrer, tuuicer e sobreviver. Seriam i patívcLs- é ilógico afirmar que algo é ao mesmo tempoJ id o e q iic u t c mi <|iie
niaíar/moíTcr, nosccr/niorrer, m orrer/(sobre)vivcr pares antonímlcos? 0 aliiuém.sv rtpre.s.sou devagar - mas podem ser sim ultaneam ente negados
que opõe matar a morrer é o papel de ‘agente’ ou de ‘paciente’ do respec­ (Esííi n«i não é larga nem estreita, O c a r r o n ã o a n d a v a d e p r e s s a nern d c -
tivo sujeito; o que opõe n ascer a morrer é a ideia de ‘início’ c de ‘fim’ da wiíJar.â escola nãoJica longe nem p erto) e são passíveis de gradação: rruiis
vida; o que opõe morrer a sobreviver é a ideia de ‘interrupção’ e de ‘con­ iiím, menos quente, muífo perto, tão d e v a g a r q u an to.
tinuidade’ da xida. Estamos diante de significados que contrastam como [ Dois termos ,se acham em relação de antoním ia d istrib u tív a ou c o n ­
autênticos antônimos, mas em cada caso o contraste assenta numa variável I versa $e. mesmo exprimindo conteúdos diversos, um deles d enota um fato
diferente. ousituação que pressupõe ou implica logicamente o outro. C ham o d istribu-
E o que dizer, também, das relações de sentido que se estabelecem en­ civoa este contraste de significados porque cada term o se refere a um a e n ­
tre o verbo perder, dc um lado. e. de outro, os verbos ganhar (perdi/ganiiei ! tidade diferente: oferecer/aceitar, d a r/r ec e b er , p e r g u n ta r /r e s p o n d e r . Cada
iu)i amigo), a c h a r {perdi/achei meu anel), vencer {perdih)e7ici o concur- I umdesses verbos significa algo que pressupõe { r e s p o n d e r pressupõe p e r ­
,so), pegar/tom ar {perdi/pc^uci o ônibus)? Trata-se de um caso típico de guntar) ou implica (derru bar implica c a ir) o outro. Tam bém é d istributiva
políssemia do verbo perder, que forma diferentes pares antonímicos. arelação antonímica que opõe p a i e filh o , p a t r ã o e e m p r e g a d o , p r o f e s s o r
É razoável, portanto, admitir que a antonímia expressa uma das estra­ en/»no.aeô e ncío.
tégias fundamentais de apreensão do mundo como exp>eríência concepiu- .\quarta espécie de relação antonímica aqui identificada —e que c h a ­
almente organizada. Não é por acaso que, além de estar presente em várias mamos reversa - diz respeito à relação entre movimentos em d ireção c o n ­
classes de palavras, n antonímia dispõe de um mecanismo morfológico al­ trária no espaço e no tempo: en tra r/sair, s u b ir /d e s c e r , a v a n ç a r / r e e u a r
tamente produtivo - a prefixação - para gerar uma grande quantidade de aumeníar/dímím/?r, aprojamar/q/*as£ar. A prefixação com d e s - é um m eio
pares:.ãe//í/ídc7, tem or/desremor, arm ar/desarm ar. de criação de uma série aberta de antônimos reversos: ooòrir/ descoòrtr
Nos casos om que haja lacuna de formas derivadas por prefixação, monrar/rfesmonrar, o cu p a r/d eso cu p a r etc.
pode-se. ainda, contar com o uso prefixa) do advérbio não que, anteposto
a um radical, inaugura termo antônimo, atendendo a necessidades comuni­
cativas ainda não lexicalizadas.
Percebe-se, então, que os estudos acerca da sinonímia e da antonínuu
não podem ntcr-sc, em absoluto, a um catálogo ou listagem, mas devem
se desenvolver nos contextos, obser\’ando os ingredientes semânticos em
suas relações de sobreposição e de oposição e seus desdobramentos sobre
a construção dos significados.
A antonímia se realiza por quatro modos principais, que podemos cha­
mar: complementar, polar, dístributivo e reverso.
Diz-se que os antônimos são complementares ,se a afirmação ou ne­

\
gação de um deles corresponde necessariamente à negação ou afirmação
VUIÊSÍMOCAPlTUUi: Míi NFO.SHBMANTIOA.HNfl I.RXICo I: Ac:nMPí»sn;Ai> 4 4 5

repentina de curta duração - , significado inexplicável como mera .soma dos


significadas de pé e vento. E, melhor ainda, o caso de p é d e c a b r a , nome de
^ k i: l a ç õ e s .m ü r i ()s s l .m A \ t i (;.\ s umaferramenta que tem do pé da cabra apenas a semelhança de forma.
1: A C O M P O S I Ç Ã O
0 exemplo e modelo de p é d e c a b r a multlplíca-se de forma extraor­
dinária no léxico corrente do português p>or meio das criações de natureza
metafórica, isto é, baseadas nas relações de semelhança: por relações de
secnethanva mais óbvias ou menos óbvias, criam-se (a) nomes de plantas
ellores: orelha-de-burro, es p a d a -d e-s ã o -jo rg e , bo ca -d e-leã o, d in heiro-cm -
•penca. malmequer-, (b) nomes de doces: f i o s d e o v os, olh o d e s o g ra , b eiji­
2 0 .1 A SP E C T O S G E R .U S nho dc coco, baba d e m oça , q u eb ra -q u e ix o ; (c) nomes de insetos: ‘üíiiüa-
Cham a-se com posição à unioo d e d o is ou m ais iex em a s p a r a a criação de •nigra. foiica-a-cfeiis; (d) nomes de pássaros: bem -te-vi, trin c a -/erro ,jo ã o -
u m a n o v a u n id a d e fix a : bom ba-relógio, g u ard a-rou p a, p é d e vento, corre- -ik-bam); (e) nomes de doenças: m a l d e lá z a r o (= lepra), m a l d o s peífo.s
- c o r r e , a £ u l-p iscin a ,fo co m o n ta g em , piscicultura. A palavra composta tem 1=tuberculose), (0 bebidas: á g u a q u e p a ssa rin h o n ã o b e b e (= cachaça),
características gramaticais e semânticas que a tomam diferente de certas mbo(/ego/o (= mistura de conhaque e vermute); (g) características huma­
com binações regulares de Iexemas no discurso, comofiuncionúrio público, nas: pc dc valsa (= dançarino habilidoso), p er n a d e p a u (s mau jogador de
c a l ç a c o m p r id a , tem o egratjacci, noite d e lua, s e c retá ria bilingue, loção de futebol), pc de boi (= pessoa que tabalha muito), braço -d ireito (« auxiliar
b a r b a , p e ix e d e á g u a d oce, m orte siíbita, barriga d e alu guel, que sâo cons­ principal üe um chefe), bich o d o m ato pessoa antissocial), c a r a d e p a u
truções sintáticas estáveis, mas não palavras compostas. (s pessoa cínica e sem escrúpulos); (h) brincadeiras: ch ico te-q u eim a d o ,
lYifira-ccga. entre muitos outros tipos.
a) Características gramaticais:
Uma pala\Ta composta é \ista como uma estrutura fixa, um sintagma 20.2 .\0U TINAÇ.VO E ,11’STAPOSIÇÃO
bloqueado gramaticalmente reinterpretado como uma unidade lexical nova. Os lc.\emas que p a rticip a m d e um co m p o sto p o d em co lo ca r-se la d o a
Seus componentes não sofrem elipse-por isso, pode-se dizer este carro tem lodo. conservando a c en tu a ç ã o p ró p ria . A esta forma de composição cha-
ma-se justaposição; 6em-te-t?i, v iú v a -n eg ra, p a ssa tem p o , fo to m o n ta g em .
u m a m p lo jxyrta-luvas e um m inúsculo p o rta-m a la s, mas não este carro
Quando, porém, n in tegração d o s Iex e m a s n o co m p o sto c a u s a a p e r d a d a
tem u m a m p lo porta-lu vas e um m inúsculo m a la s, com elipse da segunda
acentuação própria d e um d eles , diz-se que a composição é por aglutina-
ocorrência de porta-, nem podem ser adjetivados de modo independente -
yâo: Jioroesíc (norre + oeste), A/ercosuí [m erca d o + comum + sul), a g rid o c e
por isso. enquanto o sintagma estável noite d e lu a, pode receber um adjetivo
Iflgro +doce), narimorto [n ato + mortoY^.
modificando apenas lua ou apenas noite - noite d e / lu a ch eia ; noite clara
/ d e lu a isto não acontece com pc d e vento; no caso do substantivo com-
20.d KSTRI TI R V SEMÂNTIC.V DAS PALAVIUAS COM POSTAS
f>osto, qualquer adjetivo só pode se referir ao conjunto - p é d e v en to /a r ra ­
Distingulremos dois modelos principais de representação do significado nas
s a d o r , e não p é d e /cento arrasador ou p é a r r a s a d o r /de vento.
palavras compostas, de acordo com a relação semântica de cada lexema
oom0 tudo;
b) Características semânticas;
Tipo 1: O que a palavra composta denota é entendido como a simples
Uma palavra composta é interpretada como uma nova unidade de signi­
união- ou 'coordenação* - dos significados particulares dos Iexemas que a
ficado. Este significado novo pode ser entendido, muitas vezes, como a soma
imegram: infantojiivenil, s ó c io -p r o p r ie tá r io , d ireto r-g eren te, rá d io -g r a v a -
dos significados particulares dos Iexemas componentes. É o caso, por e.xem-
dur. ediior-che/e.
plo, de natMo-est*o/a - navio em que os candidatos a tripulantes realizam
o aprendizado - e de socioeconómico - relativo à sociedade e à economia. ’ AtlLiünvão entru justaposição c aglutinação pertence ao campo da fonolo^a. Portanto, tem
ruãoJusv Lemos Monteiro quando a aplica também aos processos derivacionais: em poiidamen-
Em muitos outros casos de composição, porém, a palavra composta tem um
(c e emsabiu£ín/ui - que pode ser dimunitivo de sábia tanto quanto de sabkí. com variação da
significado que não pode ser explicado simplesmente pela soma dos signili- inciJêiKu do primeiro ocento - ocorre justaposição, ao passo que em rwtonho - riso + onho - c
cados parciais dos Iexemas componentes. É o caso de p é d e v en to - ventania l í f f n i í Mo + o.so - ocorre aglutinação. Ver MONTEIRO (1987; 169].
I 446 SEXTA PARTE - O LÉXIO); FOR>L\çAO E SlQNinCAÇAO DAS PAUANTIAS

Tipo 2 : 0 significado total do composto é distribuído de forma desigual


entre seus componentes, de sorte que um deles figura como base (B) do
significado e o outro exprime uma especificação qualquer (E). Os lexemas
vicfiaiM O c ,s f(T i)i.(): R R u g ò E S m o r k o s .s k .«A n t j c a s s o l é x k x > t: a

(cnte nn língua um significado novo graças a uma relação de proximidade


os conceitos associados: diz-se ^papéis’ para significar ‘documentos’,
e n tr e

jii que 0 documento é feito de papel; diz-se que uma pessoa p erd eu u c a b e ç a
447

componentes podem ocorrer na ordem B + E (base + especificação), mais para significar que ela ‘agiu sem pensar’, já que na cabeça está a sede da ra­
comum e única no uso popular, ou na ordem E + B (esj>eciftcaçâo + base), zão e do entendimento), ou como metáfora (quando se dá a um significante
própria dos usos técnicos e científicos da língua. j,í existente na língua um significado novo graças a uma relação de seme­
a) Ordem B + E: m atéria-p rim a, sa lá r io -m in im o , peça-chave. lhança entre os conceitos associados: diz-se que alguém é um tou ro para
tíquete-refeição, segu ro-saú de, seg u ro -d esem p reg o , porco-es. si^ificar que é ‘corpulento e forte’, diz-se que o tempo v o a para significar
pín/io, sam ba-en red o, a zu l-cla ro, v er d e-es c u r o , axul-piscina, que se desloca em grande velocidade’, como um pássaro).
verde-garrqfa, a m a relo -ca n á rio , c a rro -b o m b a .
b) Ordem E + B: ciclov ia, v iv is s e c ç ã o , ec o s s is te m a , kidromassa- Tipo 1 (metonímia): A entidade referida pelo composto é identificada
gem , lip o a sp ira ção , m oto sserra, g en ^ flex ã o , a p icu ltu ra, fisiote­ por sua utilidade, função ou qualquer característica tipificadora:
ra p ia, qu im ioterap ia, a g ro in d ú stria , fo to m o n ta g em , oleoduto, a) pela utilidade ou função: s a c a -ro lh a (um utensílio de cozinha),
radiodifu são, telejo m a lism o ,Jito ssa n itá rio . porta-voz (uma pessoa que fala em nome de outra), ííra-feim a
(um teste para sanar dúvidas), p a ssa tem p o (qualquer ocupação
20.4 MODOS DE REFERÊNCIA DAS PAl.AVRAS COMPOSTAS para distrair); g a n h a -p ã o (ocupação regular da qual uma pesvsoa
Temos visto a todo momento que as palavras não são criadas do nada.Tanto retira seu sustento); q u eb ra -m a r (construção que serve para con­
as palavras derivadas quanto as compostas resultam da combinação de par­ ter a arrebentação do mar), b a te-esta ca (aparelho que serve para
tes significativas menores: os morfemas. Tudo isso já deve estar bem claro. cravar estacas no solo);
O que nem sempre é muito claro, porém, é como as palavras passam a signi­ b) por uma característica tipificadora: m ão -a b erta (pessoa generosa,
ficar o que significam. Por que chamamos p ã o-d u ro a um indivíduo que faz que gasta dinheiro com facilidade), c ara d e p a u (pessoa sem es­
tudo para não gastar dinheiro, e carteiro ao indivíduo que entrega não só as crúpulos, que mantém as feições inalteradas mesmo diante de si­
cartas, mas tudo o que é remetido através dos correios? Está claro que nem tuações embaraçosas), dedo-duro (pessoa que delata outra, como
sempre podemos explicar o si^ificado de uma palavra comp>osta ou derivada quem aponta com o dedo), bo ia -fria (trabalhador rural, que leva
pelo simples conhecimento do significado particular de seus constituintes, o almoço para o local de trabalho e não tem como esquentá-lo
como acontece com os exemplos de 20.3. É fácil perceber o que significa para comer), p a p a -h ó stia s (católico excessivamente beato, que
motosserra; efetivamente, trata-se de uma serra movida a motor. Carteiro, comunga com grande frequência).
no entanto, entrega outras coisas além de cartas. Ainda neste caso, todavia, a
ligação entre forma e significado é um tanto óbvia. Estamos diante de formas Tipu 3 (metáforu): A entidade referida pelo composto é nomeada
transparentes. O que dizer, porém, de p é d e g a lin h a (rugas do olho), pente- combase numa relação de semelhança: orelha-de-bu rro (uma planta cujas
fin o (fiscalização minuciosa), bode expiatório (pessoa sobre quem recai ale­ íolhas lembram as orelhas de um burro), d in heiro-em -pen ca (planta de
atoriamente a culpa de algum erro ou desgraça) p ã o-d u ro (avarento)? Só ^Ihos delicados e pendentes cheios de folhinhas redondas semelhantes a
chegaremos a saber com precisão o que significam essas palavras compostas moedas), cspada-dc-sôo-jorge (planta de talos semelhantes a espadas), p é
se tivermos acesso às coisas a que elas se referem. Mesmo assim, teremos da^alinha (rugas localizadas na extremidade externa do olho), p é d e c a b r a
uma explicação para p é de g alin ha e para pente-fino, mas não para bode (ferramenta que tem uma extremidade curva e bifurcada como um par de
expiatório (uma alusão bíblica) e pão-du ro. íleilos), boea-dc-íeão (planta cuja flor lembra a goela de um animal), viú va-
Vamos, em seguida, formular alguns princípios gerais da formação des­ •»egm(espécie de aranha de cor negra, que costuma devorar o macho após
ses significados. 0 acasalamento), porco-e^tn/io (mamífero cujo corpo é coberto de cerdas
Por dois modos principais as palavras compostas se referem às entida­ semelhantes a espinhos), m ico -leã o (espécie de macaco com juba), g o ela
des que designam: como inetonímía (quando se dá a um significante já exis- depato (massa alimentícia em forma de canudos largos e curtos), peixe-
-i-ts l*ARTF. - n l.tAlCX>; FOR>L\C.^Ü E 8KiN lFK'-\(;.\0 l».VS PALAMIAS

-afiulha (peixe de corpo fino e alongado), p a p o d e a n jo (doce fofo, de forma


arredondada, à base de ovo), o lh o d c so g ra (ameixa recheada com doce dc
fsiMO p r im i:I llO C A P Í T I L O : R i:L .V Ç Õ i:,s
coco), b a b a d c m o ça (calda doce e grossa à base de coco e ovos), peifo de
p o m b o (grade ovalada como um peito, que se instala em janelas), pulo do X U ma
g a io (solução habilidosa para superar uma situação difícil), m a la sem alça
(pessoa inconveniente ou que só causa transtorno).

20..S R K r.0 M P 0 S lÇ .\ 0
Citamos acima o le.xema/otoitjontíigcm como um exemplo dc composição.
Mas há uma diferença en tre/o to m o n ca g em c./btogrq/ia; no composto/o- ;|,1 DKRIV.\(,:.\0 E K1.EX,\0
rografía, o elemento .foto- significa ‘luz’, ao passo que em focom ontagem o liicsile detalhar os processos mórficos de derivação, vamos distinguir de-
elemento .foto- faz referência a ‘fotografia’. Pode-se dizer, portanto, que em n\»(ãoe llexão, A derivação é um processo que dá origem a novas pala-
.fotomotitogcm o composto.fotogrq/ia participa de uma nova composição - ms-ou lexemas -, conforme a conceituação apresentada em 6.9.1.1 - ,
ou recomposição - por meio de sua forma abreviada/oto (ver 21.2.9). Ou­ íHiunio a llexão produz variações da forma de um lexema, dando origem
tros exemplos de recomposiçâo:.foto»iox>ela (novela por meio de fotografias), aoquechamamos vocábulos morfossintáticos.
a u to p e ç a s (estabelecimento que vende peças para veículos automotivos), 0 dicionário registra os lexemas, e não os vocábulos morfossintáticos.
íe/ecur.so (curso pela televisão), autódromo (pista para corridas de automó­ bits incorporam categorias específicas (gênero, nú m ero, tem po, m odo) de
veis), v id e o lo c a d o r a (locadora de fitas/discos para videocassete/DVD). sBocorrência nos atos enunciativos que originam o texto. A derivação pa-
tóoseíaz por meio de afixos (prefixos ou sufixos), ao passo que a flexâo
2().f. .\M.^L(;.\M.\ LKXIC.M, l»Jrãoéexpressa por meio de desinênoias. Flexiona-se uma palavra para que
Chama-se amálgama lexical ao tipo d e co m p o siç ã o em q u e se misturam íb apresse os conteúdos obrigatórios e sistemáticos da língua (categorias

d e f o r m a a r b itr á r ia e im p rev ista d o is ou m a is lexem as. Este processo DKufossintáticas), como ,ns distinções de tempo nos verbos (trabalho X traba-
também é conhecido como ‘cruzamento vocabular’ (SANDMAN, 1992: 58|. Jiii)eadistinção de número nos artigos e substantivos (a c a s a X a s c a s a s ).
O amálgama lexical constitui um recurso da função poética da linguagem, Por tudo isso, somente um lexema derivado pode pertencer a uma
quase sempre com finalidade expressiva particular e circunstancial, e en­ ctssegramatical distinta da classe da palavra primitiva. De substantivos e
contra-se tanto no discurso literário, como nos discursos humorístico-satí- ilieiivos derivam-se verbos (ex.: p edrajpetrificar, rea l/rea liz a r, terra/en-
rico e comercial-piiblicitário. São exemplos de amálgama lexical expoesia imir), de adjetivos derivam-se substantivos (ex.: feio/feiu ra , belo/beleza),
(exposição de poesia), a b o rre sce n te (mescla de a b o rrecer e adolescente) e ií substantivos derivam-se adjetivos (ex.: cheiro/cheiroso, p re sid ên cia /
dem ocradura (mescla de d em o c ra c ia e ditadu ra). imsúleiitmvl), de verbos derivam-se adjetivos (ex.: dizer/dizível, que-
Millôr Fernandes criou vários desses amálgamas, todos de caráter hu­ irur/i/uebrável, insistir/insistente), de adjetivos formam-se advérbios (ex.:
morístico: velhociíU ulc (= pressa do ancião), repulgtum te (= pulga nojenta), ítlW/elisraeme, mbito/subitamente). Nem sempre, porém, a derivação re­
c a lig ra /e ia (= letra ruim), a n ã o /a b eto (= pequenininho que nem sabe assi­ sultaemmudança de classe gramatical; mas é certo que, se há mudança de
nar o nome). Guimarães Rosa criou, entre outras formações,.foiiebri//lo (= cbssc. estamos diante de um novo lexema e, portanto, do resultado de uma
enfeite de caixão, composto de.fiíiiebre + brilho), diligentil (diligente * gen­ Jeiiração(c(. 21.2.8).
til), co p o a n h e ir o s (companheiros de copo) e em briagatin hava (engatinhava
embriagado). Pertencem à linguagem comercial-publicitária A^escau (Nesllé 11.2 D E R IV A Ç Ã O
+ c a c a u ) , c h o c o lic ia (ch o cola te + d elícia), show m ício (show + comício), Osprocessos de form ação de pa la v ra s p o r m eio d e afixos ch am am -se
F la -F lu (F lam en go + Flu m in en se), G renal (Grêm io ■+Internacional). Jenvação prefixai e derivação sufixai. Na derivação prefixai o afixo vem
(«locadoantes do radical (ex.: destam par, su bsolo, projetar, percurso,
imimnitir). Na derivação sufixai, o afixo vem colocado após o radical
•I.Síl ■u M \ l'M m I I r Xh l l \* I I nll iNIIK N<. Si • ÜAH l'At AVUAH vM iriitiii l■lmlMNM t a H i t m i an nm i M u >• ti « i> i miv m i

l»'X : i< rfü i(iifft',/rrriiitfiii, r(i((iiK(o«, iiiim riu ir((i, iv iilltiir ). Num iIoIn prim eiro co m o deriviivilo prehxril (<Icm * eiirreiijir) e
si*nn>M', II \mliivrit nuu uiiiuií‘tu lUixii priiv<^m ili* iniirii piilnvni iiiiiIh ei)irio tlerlviiv^o Niilixtil (ileNetirrei2iir > iiieiiln).
HhiipIrN. 1^. II i'iiiiii ilt* riiiíNÍfÍ€*ii, oii.lii Niilixii HiiliNlIliil oiiírii Hultxii II -Ixinii Sr <IÍN.scriiioN (|ue unIii pnlíivrii ó imi exem plo ile derlvjiv^lo prerixal.
ili' Mii/iiifiNMin, ú II eiiHii iU* m iiriviiiiríii, tuvlii Mitixii HUliHllliii iiiitrii mitixii urriiioHtk' (ulniliir tpie o prelixo deM- pode Nor liereNeeiUfido n iini
II ili- iiiiiivi'iirírii; u liiiiiliC'iii ilu MiiiiNiiitrfr, uiijii prollxii niiIihIIIiiI iiiilni liv" iiit iiiiiiil Nliicroniü (deN f eiirreitiiineiito), eom o noNre exem plo, a iiin
pri*ÉWii piir rxiMiiplii, II u- lU' i'iiiífír‘. l'or iiiurii Uulii, Ui^ iitú iiiohiihi piiliivriiH
xrliolox di'N f iiioii(iir) 011 a um adjedvo (ex.: dea > lioiieafo). TeríamoN
iliU' oimlOni imi iiüxii pri'Nn ii iim riulk<iil i‘Xi'liiNtvii i IuIiin. 1*. ii ipiu iiuiirn*
iiAslimi reí^ra para a Idrmavilo de uma palavr/i por melfi «!<►aerés-
1'in /iiiri'fíi'ii I' iMii iiirili'ii/iiNii, ipu' xn i'liiNNirK'iiiiinN i'iiiiiii (iirniiiN ilurlvmliiN
diiliMln prelixo den*!
|<ii|ipu' piiiliMimx pniviir i|iu' -luo i- -imo hAu hiiI\xiin fiiriiimlorfx ilc iiiljullvm
I: Ao Nei neivNeeiifado a um ailjedvo, a um verlMt ou a um Niihataii
U'!' iiiiitítc n , sinifH itU ut, r h r in m n , rihi/iii/oNii).
m», o prelixo'(IfN *da orl^i'Ui a um lexem a ijiie Nl^iiHiea o o|Kiih(o deNNe uie.siiio
C.llimi m' Vlll llll lll-lll pil'lH'llcllU'. II llIlXII pillU' MT rUNpilllKltVul |H'lll
MilhiiHiilvo, verlm ou ad|e(lvo (ex. lumcHiti / tlvmmcHUi, niimfar / (IfHmntKtir,
oliiNKi' ttrimmlli'iil dii imliivni lU-i lviulii iliiiU' fnrimi miliNliuilIvim, -iiwi (iirniii
oiniiioaiena» /di'.Hconr;i>(OMeM(o, t ^ e u f u m / ilc H V c iu u r a ^ f v fu iu / (U s i c i f i m ),
iiilItTiviiN. -l/iir 1'iiriiiM v it Iiiix , - iiu ti U' Inrmii mlviTliliiH, u iihnIiii piir illiiii'
uiiui V 1)011. ponpie desereve eorreiam eiile a «lerlva^rto duN |»a-
U' Nni iiiiilimTilt', XII iix xiilixiix lOm cxxi' iiiipul Kiii iilAiiiix i.'iixiix, pim'ni, n
lafH'iieliiin exeniplilieadaM .\e»MUeee, iNiréiii, tpie iia palavra i/e a co n v -
4* i'iinxliuvi\i> 'pri'piixlx'Aii i xiilixliiiillvir i Iiti iirltliTii ii mljullviix (uf 1'mmilii
i;iimen/i) lu) (amheiii um niiIix o , -iiiiMilf», o iiie.smo <pie ap are ce em (Viui'e-
NtTM-Niif. iiiiiii iirliiii/i' x>Tii-x'frijiml)ii. iiiii ni(i'tni xiTti-(Nir) Kxlu iniiiluliiú
liumfiiM ili'iiViido de c í t n c f h i r , / n n t i ‘í ' U i n ‘ H t o derivado de./íirricíur .
II liiixt' ili' iilt>iiiiiiix riimiiiviVx ii'1'i'iili'x cm ipii< iiiii prHixii xcimilliimUi ii iimn
/iiu,'imeaío derivmio de./íuAiir A lejira cpie de.sereve a eNlruitira e o Noiitiilo
pr>'piixlx'i\ii íiHiuH mlliTlviix i Ii t IviiiIiix i U- xiilixliintlviix (uf. ix'ii(iii
tliwH AtiltxiiiiiiivoH é uials ou menoM aNNim.
(/iiiMiimTiroK, riiiii/iiiii/iii iiiiiiiift'xlii priliNhi (xtii.
J; Ao Ner iiereseeiitaiio a um vertm, o miIÍxo ‘-meuto’ forma um
■|iiiiT<i. in xiiim iirn ílH«Tx-xj«V/fx |\'KUlSSIMt), ( ) ( j/iiliii, (i/J/^(l(HI|
MitiKiinUvii *|ue Mi^ulliea ’aio de X'. em cpie X etpilvale ao verbo (ex. yíuj,'»-
Niiririi • iKo ile liii^lr, iViucekom^Uo • alo ile eaiicelar).
J I . J . I I )iT'ix 111,'iPi Mitiix- íiiriiiii )ii i Ut ím ii Iii
Kmíi re^ni é boa para analisar a estrutu ra e o si^iiHieailo de
lí fiin iiim i|iK- iiipii piiliivrii i Iit IviuIii u t v Iiii iiiii imvii nllxii; ilu i'imi|xir, (ii|.
i/i'ioa'rei'orm'M/0 (/esAxineifomemo ■ alo de desearre^iar. (loiu tpial ilas
inm lii lU' xnmi i p iir, i Ii t Ivii xr m x iiiip o r ; ili> íiiiitll, liirinmlii ilu lu ♦ lUH.ili'
iliiiwviimoH liearV 1’iel'iro a re^ra J . por ilois motivos: 1") a reíJra J ò ueees-
i lvii Kl' im i(i7 iiliii^ ': ilc mi/ivMir, Inriiim lii ili' m i l ■* Ixiir, (Iit Ivii-xu milfuiplii,
vitlii imia analisar a esm ituni de fonuas eoitioyíruUmeiUo e ctim v/om eM -
lU- il(\ iciin x 'f!iir, liin n iiilii lU- ilfx + i'iiiiv itn r, ilirlvii-xii i(i'xixim'<iiiiiii'mii rii.ixmi ela aitallso laiubéu) a estrutu ra ile (fesi'<imx'omef)ro; J " ) adotatulo
Ni'sU'x i'X(.'iMpliiN II i Kt IviivAii iumiiUuoi' oni iliilx oxirtiiliix. Km mxmi|mi, iu't)ni J. ixfileiims slniplHiear a re^ra I, i|iie deixa de fa/o r referOiicia ii
p iir i'x i'tiip lii, iii.'1 1 'xi.'i.'nlii-xi.' prliiu.'lrii o prulixii oim i- iin luxumii pAr, u ii (uniin MiKiimtlvoH A rejira ipie originou substantivos eom o desfimm*. í/iseíxk/ífo,
ix'Niillim li' - ít iiiiim h - - ifO flii' n prulixn iv -. iliiiulii m x iiiip iir, Km mi/ltiiplii, ilrstvmum c(/4's;e;iim, formmios vie des + sub stantivo, ó na atuai sluom n ia
p iir Niiii voz, hrt ilim s xiilixiiviV x: ilorlvii-xo p rln iolro ii vorliii - tvnl + li«r t uiimlUK (re)*ni ile aiuillse estrutu ral) e tiAo um a UFI* (rejini de foniuivAo
oin xoftiililii iioroxoon(n-xo ii xu lixn -vA*i. piirii n lu or m ijfsii^xlo. Nim iIuimIu (Icpiiliivras) A reii^ni t passa a ter a se^ulute redav>)o;
oiiNiix, II 11111 III.S0 ó luoiu ix xImploK. (Im n ii ilovoiniix mmllxar fiiiKlIfiliiili': lu i UciJm li Ao ser aercseeiitm lo a mu verbo ou a um adjetivo, o p reb xo
u lilU lm lo , liiiilit + UIik Io ini In -t- iitll -f liliiiloV K i/oxoiinv^iimomo: iluwiim" (Ivv ilil orijicni ii um lexema ()tic sifltiilica o oposto desse m esm o verbo ou
Üiir iiio n lo . ile x + o n iT u itiiin on lo m i dox + oarruitiilr) + lUuntoV luljcilvo (cx.: iMoumr/í/esmoMfíir, /iouesío/r/es«meíífo).
A rosposla 11 osln.s port*iin(ax iiAii i ximplox. A xolm,'Ao miilx uAiikhIii
Norla acoKar (pialquor ilax IrCs aiiAll.sox. Mullox proforom a (urculrii, 0 Ik •1.12 Derivavrto prelixal
ilAo o nonio <Jc ‘ilcrlva(;flo proltxal o sulixar. lista C uma xnluvAii dlilnllctt- Nili) ,sfl« claros os limites em re derIvavAo preftxnl c coiii|^>slvno. Vilrios pre-
iiionlo uAinncla o scrrt proforlvul As outras duas, sc uAo tivurmas um liom tixossilo variantes de prc|X)sivíSes toom , sem , cntiv), e m uitos adjetivos e
arAuinonto a favor <Jo uiua das duas rostanlos. Vou uprosoiuur a scíulr ura moríuinas de slíinUieavflo numeral se uiUopõem a bases léxicas co m um
arAuniuntu a favor da atiAIlso do dcsctirTOííomonto como um caso üu Jcrivu- vumportnmciUo ^rninatieal auAlof^o no dos prefixiKs (avrocspucUil, b im otor,
4S^ K »M A l‘\ m K o I SMíM ; H NIllNirk'.\«.lAo H.NK l'.M.SVUAH VHil HIMO CUIMHUn C AlIrCM i; NKI.A(;OKN MiMIM »mKMANTK:.\N NO | (X tl o M A t•»'HI^'A•;Ao /5 .I

Vor isso existem lM)ns argumentos a 1'avor de Ineluir ii prdi< Kein» (aimimeiiio para trrt.s): tx^nvngir, tv tm e d im c n fa ç d o , retrnsfH^r-
xaçAo nos |m>oessos gerais de eomposlyjltt, assim eomo tamin^m é defeiiNilvd (Ka. n*fnHVS.sí»,
tratiida como mu processo lutermedldrio entre a eomposIvAo e a satíxiivilo Siihn:, su|>er. siipni (|s»slçAo acima, no espaço 0 11 nuiiin e.scala; ptKsIção
1'onto nAo estamos certos dos si)^nit\eailvos ÍK'nel7eios descritivos destas nl- |Kftiirlor): Hiihn‘i.'our, sttbn^fxn', sobrvMHtdr, .H»ptT-/iomem, ,su fh T m e n '(td o , sii-
ternativas, optamos pela priltlea corrente. IdentMieada no título desta sevAu )HTi«piarr. .sii/mçxirfã/dr/o, s«pmt*/fado: .soòrvr/itwa, s o b t w i v e r , sí)b revir.
Sal), so (posIçAí» abaixo); srdmtarí/io, s u b iin g tia f, ,si/6rm(nf/o. s u b e s -
2 1 .2 .d l*reti\os fiip«»..sii/»*n*ímr, H u b lite m tu m , subhK utr, H oterm r.
A maior parte dos pretWos expressa Idelas relaelomidas eoni ioenlIzavAo' ThiHH, tni.H(|)oKiçi1o além mi através de): mm spor, tr a n s c e n d e r , tr a s -
- pttsIvAo ou movimento ~ seja no e.spavo, no tempo ou muna e.seala ilc ím/iiri fma.sí/íseíp/ÍMíir, (rrmsar/ia.córirco.
valores. Os principais sAo: ritni (|s>slçilo além): itltra ss o m , n lír a v io le ta , u U ra vo n H etvftd ttr, nf-
Ante (imsl^'Ai> anterior): uiire/inivo, (4m ii'0sper((, 0 0 (17 x0 *. mueanrem. m}Hissar.
Aniiil (posl^Ao acima); (irrpn'-ímmt^<o. onrnípd/ci^*o, unfiiimí/íoiairío Mee ||s»siçAo abaixo); t'í<.x*-c’fimpcdo, více-^oveniíu/or, v ic c -d ir e « fr .
(Ureum (poslvAt» em torno de): eítx*unseri*tHT. cítx*imvti*|<ir, cmiais-
eítX'mi/(M(iiío.
Outro ilrupo importante pola produtividade da maioria dc seus olo-
(U)m. eo (p^^í^lvAo junto a, ao Imio de): c'<Kd)tr(ir eoopemr. c'OMviivr,
imntns ú o dos prcAxos (|iie expressam as noçócs abns de ausência, nc^n-
tx)i*n.*/ííiií»mino. t*oínmio.
^iln.sitiuivAo/aiovimeiito eoiurãrlo. Os principais são:
Kntru/inter (posi^Ao mediai, reciprocidade): enrresstt/ni, etUaTístu,
Aiiti (condição eontniria); anfãiéreo, arift.s.sép(icy), ari(ía6or(o, art(t.s-
enííxx'hiKíiie. en(reí>//i«r. t^níreciònr. ínferíuíír, íii(eixxíiMf)io, ín(ea's(í«/j«i/.
.«itfiicsrro.
Ex. c (movimeiuo para fora, posiçAo externa ou estado anterior):
(lonini (po.sição oposta ou eontniria): coriím-aíarp/e, cy;ri(mmà«, oori-
e.v/io.sí^xMi. e.vc/uír. e.veomariííur, exorbitantv, exibir, emiflrar, e»icr/}ir,
mK’.\v»ip/o. naimi/Kír.
eX’preHÍ(tcme, e.v-rminVA>.
Dc» (nciíação, ação contrária); deson esto, dcsmcdiWo, d estem or, de-
) Kxtni (posiçAo exterior; sÍtua(,'Ao alúiii de um limite); e.Yrmcott;ia!(i/,
mlm, ilcsiK.'tit>ar, desviar.
e.Y(ríifem\s(iv; e.vfríion/íruírío, e,v(nic«.s<ir.
Iii, im. i (negação); irripim), it\/vliz, inútil, im berbe, insone, ilegal, ír-
IIi|K'r (posivAo acima, numa escala dimensional): /iípcnaeax«/o,/a)K'-
rv x c ita d o . h ifK^rtensão. mnúuvivci
Ilipo (p<Ksi<;Ao abaixo, c.scassez): hijxUénnico, hi}x)fiUcemin, hiixnemh
In. i (movimento pnrn dentro); ínc‘onxo-, indu&ir, importar, v\f\hnir. Knzem parte do estoi|ue lexical passivo - e se limitam prnticamentc A
im ifirar. cMnipi‘(i}iicín lexical dos falantes mais CvHcolarízados - os seguintes prefixos:
Iiitni. íiitro (posição interior; niovimento para dentro): ín(mmu.si'ii- A.uu (ausência, negação): a m o ra l, am orfo, ariarrpira, ateu.
la r, iíitra v cn o so , in tram u ros, ínínx/iisír, ÍMfm/erar, ínmwpecvôo. Dl», di (separação, negação): dissociar, d ila cera r, discordar, dissim e-
Paru (posição ao lado, posição miir/íiinai); pr/rrimí/iíar, ;xirn/íriTa(uru. (na.ilmidcnte, disforme, distrato.
p arad ox o.
Per (niovimento ‘atnivds de’); percorrer, perfurar, penioUur, ;H*ram6ii/or Sào também alcamente produtivos os seguintes prefixos (ou prefixoí-
Pós, pos (posição posterior): póa-clcitoral, p<5.s*-o(x*míório, íxís-^nirfiw* ^).quc formam uni grupo heterogêneo;
ç ã o , p o sp o r, p o sterg ar, postôn ico. \co(novo, recente); neonoaisfa, n eoclá ssico , neoposificismo.
Pré, pre (posição anterior): pré-eleitoral, pré-iwirn/, premedirnr. pre­ Pseudo (falso): pseudônim o, pseu dochgfe, pseu do-herói.
p arar, p re v er. Sem(privação): sem -vergonha, sem -terra, sem -sal, setisab or.
Pro (movimento para diante): projetar, protelar, prosseguir, procla­ Vâo (negação): não licença, não in terven ção, n ã o ser.
m a r , procridr, p ro g ra m a , p ro sp e cçã o . Auío(si próprio); autoestim a, aufoòiQgrq^, autodí^fesa.
Re (movimento para trás; repetição): recorrer, refluir, recordação: re- Bem: 6ençuerer, bem -aventurado.
n a s c e r , rea ta r. Mal: mal-educado, m alform ação, m al-estar.
4 5 4 HIXTA PAKTF - O LÉXirj); E SHVVinr.^í^VO DXS P.KLA\1U5 pRDtEIRO ( j« l T U U > : RKLAÇÔE.S MORPÍ)SSEJ» í A.VTK:A.‘í no L tX K y ) ri: A DERr\'AÇ.tO 4 5 5

2 1 .2 .4 Dcrivílvão Mifixal \ dgun está conramfnoría ~ a contaminação da água


Também cíibc d istin ^ ir os .sufixos capazes de dar orí^ m a nwas paÍ3^>.^ .\s praias ficaram sujas - a sujeira das praias
(isto é. que sào instrumentos de n ^ a s de formação de pala\Tas - RFp |g
17.4|) daqueles que. em bora reconhecíveis com o sufixos, fijhiram aptt* p) \crbo > Substantivo (predieação > designação)
nas palavras historicam ente incorporadas ao léxico (e, portanto, sàour» .Meus sapatos sumiram * o ^umiço dos meus sapatos
dades mórficas apenas do ptmto dc vista das redras de análise estruturai. Corisermram meu relógio - o conserto do meu relógio
RAK |cf. 17.41). Sâo do prim eiro tipo sufixos com o -eiro . <ção.-dadee-ow, O dinhetro./bi devolvido - a devolução do dinheiro
(cf.: mofoí/iicíro, ;M)/uíçôf>./ac*i7w/íidc. pcryjo.so); pertencem ao se^n<v (íraham Bell inventou o telefone - a invenção de Graham Bell / a
tipo sufixos com o -ícic, -e<» e *u^em (cf.; ca Jv ície, em face de co/ro; nwr invenção do telefone
morco, cm face dc m árm orc;/ crnoícrn, em face de/crm).
A possibilidade d c co n ferir um a nova classe à palavra derivada íazi j;) Substantivo > Verbo (designação > predieação)
M ifixaçào um processi» de extrao rd in ária versatilidade na línjttua. Enquan’ Usar a cabeça para impulsionar a bola ~ cabecear a bola
a p refixaçâo co n trib u i o rd in ariam en te para a am pliação do léxico, a suiiia- U.sar pedras para agredir o cachorro - ap ed r^a r o cachorro
çà n , além d essa fu n ção, tem um papel im portante na construção sImitMa Usar cimenío para unir os tijolos - cimentar os tijolos
dos siiitnf^mas. das í>raçõcs e até m esm o do texto .
Usar pente para dar forma aos cabelos - pentear os cabelos
KxpresM Hís c o m o (a ) a utilúiacic d o s a n im a is ou (b ) o .sumiçodoá-
íiiic íro d e n o ta m relaç<')es s e m â n tic a s c o r re s p o n d e n te s às contidas em con*'
J) .Vdjetivo > Verbo (qualificação > predieação)
tru ç^ ícs (trn e io n a is c o m o ( c ) o s a n i m a i s s ã o ú teis e (d ) o dinãctm sumtu
Tomar(-se) um objeto torto - entortar um objeto
P o r is s o . nâí» se a p lic a m a s e re s í >u o b je to s (n ã o tê m valor referencial).eu»
Tomar(-se) uma pessoa pálida - empalidecer uma pessoa
a Nittia«,*é»es o u e w n t o s I\MÍemos d iz e r q u e ‘a ' eq u ivale a ‘c ’ e ‘b’ equúaki
'd ' q u a n to a o s d a d o s d o mund<t\ m a s d ife re m q u a n to à conceptualiiaçàoe. Tomar(-se) a águaJr ia - esfriar a água
c o n s e q u e n t e m e n te , q u a n to a o m o d o c o m o s c in se re m n o discurso. Enquan­ Tomar(-se) a comida quente - esquentar a comida
to *c‘ c \\' sAo fo rm a s m a n ife sta s d c d e c la r a ç ã o - isto é , são construqòes Jc
p re d ie a çã o ‘a* e ‘b ’ tr a ta m e.s.sas m e s m a s d e c la r a ç õ e s com o informatjXo e) üraçào adjetiva > Adjetivo (predieação > qualificação)
p r e s s u p o s t a s - isto é , c o m o r e fe rê n c ia s s o b re a s qu ais se realiza umaoiAi Copos que podem ser descartados - copos descartáveis
p re d ie a çã o E c o m o in fo m ia ç â o p re s su p o sta q u e ‘c ’ e 'd' participam iÍa Bonecas que não quebram - bonecas inquebráveis
eiiu n c ia d o .s .\ tnctntut i’.siTt.t.via utiuj r e d a ç ã íí sttbre u utilidaiiedosunimau Chefe que tolera - chefe tolerante
(p re s s iq x i.s to & o s « riim u is s^ão u teis) e O s'iimiç'(a d o dinheiro /o i nomiuen .Vlãe que compreende (os erros dos filhos) - mãe compreensiva
o .s ^onuiis (p re s s u p o s to s o diri/iW ro s u m iu ). Tijolo que quebra com facilidade - tijolo quebradiço
D entre os pri»cessos de fo rm ação de p alavras, a sufixaçáo é a rc!>piiD- Tecido que escorreéa - tecido escorregadio
sável pela w rs a tilid a J e dos recu rso s de co n stru ção dos sinta^a^cj»
o ras'ò es, Ja que |vir m eio dela nào só se en cu rtam ix>nstruçôes sinuoui f) Substantivo > Adjetivo (designação > qualificação)
( c f os exem p los d<»s e *d'), m as ainda se condensam unçjc ü nuris grande do boneco - boneco narigudo
q ue. sob a form a de sintagm as n om in ais, pcnlem oco rrer como pane a \ febre do paciente - paciente feb ril
ora^HWs m ais co m p le x as (c f os exem p los dos grupos a' e b’). Oseic» 0 Ciúme do marido > marido ciumento
pios ab aixo ilustram algum as a lte ra çõ e s desses modos de repreMfQLi:
(J barro das águas -* águas barrentas
co im in ica r concciii>s: 0 am/urto das poltronas -- poltronas coifortáveis
II) Adjetivo > Sul>stanti\'o (qualificação > designação)
O sa|X) e uri/ - a utilUiaiie do sapo í c(.>mum. porém, que, sendo o termo base um substantivo concreto,
A c erca é - a sc4>urunç*u da cerca de formas derivadas que partem dele sejam motivados sobretudo
necessidade de dar nome a objetos, ofícios, espaços etc. de nossa
•/5ít ShVTA t'AKT^ - «) I.F.XU:*»: H>UMAC.kO K ítUlNIKICACAu H.\M I’AI^VIIAH
VHir.AlMU nOMMHI) (ÚMlTITI.O: MOHFOW.M.^KTKlCS N o I f.AIt o II \ DMIIN M..ii > 4S7

cxpcrtôncin ila njallJiiiie, nilo constituindo cm t|ualqiicr hipótese um con- Kstes exemplos furam tomados aleatoriamente para mostrar ipie a
junto unilorine. (riaçdode palavras derivadas de um substantivo eonerelo não .segue ipial-
Tomemos para exemplo cinco dcsltinnçõcs de frutas: larar\ia, hanu- ijiior plano estrutural da língua - eomo ocorre com os nomes derivados de
na. lioUtlm, j a c a c m antía. De la r a n ja , derivam-se laran jeira, laranjula, vcrlsis e de adjetivos - , mas é motivada sobretudo por iiuimeros fatores
la ra n jeira e la r a n ja l; de b a n a n a , b a n a n e ir a , ban atu u la, bananeim, hn- $oci(ieullurais, dos quais apenas uns poucos .são estáveis e gerais, eomo a
n an al; i\e /ia ia b a , /io ia b e ir a , /ioialn u la; i l e j a c a j a q u e i r a ; de maiiíJa.TOn- fdereneia .Aárvore, para o caso de frutas, c a referência ao ofício, para o
tíueira. Vê-se que la r a n ja e (xinaiia estflo em situaçAo anAlof*n, mas^Hent oasutle palavras que denotam matéria-prima das atividades profissionais.
inan/ia só contam com os derivados ipie denotam as respectivas Arvores. Do |->iecaráter d:i produção lexical é inerente ã função de designação própria
ponto de vista do sistema ile rej*ras de formaçSo de palavras, nada impede Jas substantivos; dar nome.
que sejam criadas as formas jio ia b eira e / ia ia b a l;ja e a d a ,ja c a l e Jaqueim;
Distinguiruiuos, desse mod<i, (a) sufixos que derivam substantivos de
n ia n fia d a , m atifial e m aiifineirt). Só duas razões podem ajudar a esclarecer
nuirus sahslaiitivos, (h) sufixos que derivam substantivos de adjetivos, (e)
por que estas formas niio foram promovidas a pidavras efetivas da llním;
Milixns i|ue derivam substantivos de outros substantivos e de adjetivos,
a existência de alf^uma outra palavra que jó designe o que elas poderíam
(J)suli,xos (|ue derivam substantivos de verbos, (e) sufixos que derivam
denotar, ou a pouca ou nenhuma ser\’entia delas eomo siftnn de um dado
silislantivos de adjetivos e de verbos, (f) sufixos tjue derivam adjetivos de
econômico ou socioeidtural relevante. A inexistência de manual expliea-.se
siilisianiivos, (g) sufixos t|ue derivam adjetivos de verbos, (h) sufixos que
pela primeira razão, pois existe m a n fiu em d . Quanto ao não uso de jaca-
derivamverbos de substantivos e de adjetivos, (i) sufixos de grau e aspecto,
d a , m a n /ia d a , ja q u e ir a e m an fiu eira, provavelmente se explique por aJo
lji.sub.xii adverbial.
terem a jrie a e a m a n g a o uso industrial e comercial que têm a íaralijaea
Ixiiuina. Ou seja, por mais que existam pessoas que vendam manga ejaca,
'I.l.ã Sufixos
suas atividades com erciais não têm relevância econômica suficiente para
(inipoa: Derivam substantivos de outros .substantivos:
justificar o emprego regular e generalizado de m an gu eira e jaqueim .
.\du: ul /and / açal; (z)eiro / (z)eira; arin / erio; agem; árío; edo. Kx-
l’ode-se dizer que para cada substantivo concreto existem as-soclaçôcs pres.-ianu|iiantifieação ou ideia coletiva, tomando-se como base tanto a coi­
lógica ou culturalmente motivadas, segundo o conhecimento que temos da
saquanlitíeada (goíníxi - g o ia b a d a ) quanto o espaço/tempo ou objeto que
inundo dos objetos, do papel sociocultural e utilidade do conceito designa­
aconlóm (mate - noitada, co lh er - c o lh era d a):
do pela base.
■ iieétada, mnenrronoda, c h u r r a s c a d a ; bananaila, g o ia b a d a ,
Para uma palavra como la r a n ja , as experiências culturais de um bra­ eaju ada; pu p elatla, p o e ir a d a , b o ia d a ; tem p o ra d a, jo r n a d a ,
sileiro médio incluem conceptualizações relativas a: uso alimentar (loraii- noitada; b o c a d a , c o lh e r a d a , n in hada;
j a d a ) , ár\'ore {la r a n je ir a ), conjunto (la ra n ja l), quem vende (laranjeim), • bananal, a rro z a l, c ip o a l, m ilh a ra l, la m a ça l;
tamanho (la r a n jin h a ), noção qualificadora (a la ra n ja d o ). Para uma palavra • iieeociro, p es q u eiro , g a lin h e ir o , fo r m ig u e ir o , cu p in z eiro ,
e o m o f lo r . nossas conceptualizações sistemãticas dizem respeito a: utilida­ a g u lh eiro ./a q u eiro , c in z eiro , Ivceiro;
de (flo rir), manifestação natural (flo rescer/floraçã o), quem vende/oomer- • cavalaria, tn a q u in aria, p e d r a r ia , fu z ila r ia , p ío w a d a r ia ;
cializa (flo rista ), tamanho (ftorsin h a), função qualificadora (floral). Para vozerio, m u lherio;
v id r o , nossas conceptualizações se referem a; característica material dos
• pcuitagem, plu m agetn , fo lh a g e m ;
objetos (tjftreo), recipiente feito de vidro (um v id ro , um oidrinho), janela
■ m aquinário, r e lic á r io , h e r b á r io , c o lu m b á rio , a p iá r io , clav i-
fixa feita de vidro (v id r a ç a ), profissional que trabalha com vidro (uidrciro).
ctdário, m o slru á rio ;
passagem da luz ornamentada com desenhos (vitral), conduta de quem fi.xa
• vinhedo, la jed o , p a s s a r e d o .
o olho ou a atenção movido pela admiração (v id ra d o ) etc. Para máquina,
conjunto de peças que funcionam interligadas para determinado firo (ina-
Eiro; ário; ista. Derivando substanti\'os referentes a seres humanos,
q u in ism o ), característica de atos próprios da rotina (m aquinai), conjunto
ájjnificam genericamente 'agente’ e servem para indicar indivíduos que
(m a q u in a r ia ), ofício (m aq u in ista ).
‘exercem uma profissão ou ofício’, que ‘praticam esportes ou têm certas

'\
r ■ 156 SEXTA TARTE - O LÉXICX»: M'KM.\Ç.VO E SKWIFIC-KCXO t U « PALAVUVH

experiência da realidade, nfio constituindo em qualquer hipótese um con.


v irtó m c i NUMF.1WI r jM ln n x ) ; RKUAçOr.s iK ia r< iiw K .\ a N T iiu s n u u « i a > ii ; iit« iv .\ v Jti i -i.t?

Estes exemplos foram to m ad o s a le a to r ia m e n te p ara m o s tr a r t|tic a


junto uniforme.
oriação de palavras derivadas d e u m s u b s ta n tiv o c o n c r e to n ão se g u e q tial-
Tomemos para exemplo cinco designações de Frutas: laranja, battu.
(juer plano estrutural da Kngua - c o m o o c o r r e c o m o s n o m e s d e riv a ilo s de
na, g o ia b a , j a c a e m an ga. De la r a n ja , derivam-se la ra n jeira , laranjada
verbos e de adjetivos - , m as é m otiv ad a s o b r e tu d o p o r in ú m e r o s fa to re s
laran jeira e laranjal-, de banana, bananeira, b a n a n a d a , bananeira, ha.
sucioeulturals, dos quais ap en as u n s p o u co s sã o e s tá v e is c g e ra is, c o m o a
nanai, d e g o ia b a , g o ia b e ir a , goiabada-, d c ja c a ,ja q u e ir a -, de manga, man.
referência à árvore, para o c a s o de fru ta s, e a re fe rê n c ia a o o fic io , p ara o
gueira. Vê-se que la r a n ja e banana estão em situação análoga, masjaea t
caso de palavras que d en otam m a té ria -p rim a d as ativ id a d e s p ro fissio n a is.
m anga só contam com os derivados que denotam as respectivas árvores. Do
Este earáter da produção lex ica l é in e r e n te ã fu n ção d e d e sig n a ç ã o p ró p ria
ponto de \ista do sistema de regras de formação de palavras, nada impede
Jos substantivos: dar nom e.
que sejam criadas as formas g o ia b eiro e g o ia b a l\ ja c a d a ,ja c a l ejaquein,
Distinguiremos, desse modo, (a) sufixos que derivam substantivos de
m an gada, m an gai e m an gueira. Só duas razões podem ajudar a esclarecer
por que estas formas não foram promovidas a palavras efetivas da língua: outros substantivos, (b) sufixos que derivam substantivos de adjetivos, (c)
a existência de alguma outra palavra que já designe o que elas poderiam sufixos que derivam substantivos de outros substantivos e de adjetivos,
denotar, ou a pouca ou nenhuma sen’entia delas como signo de um dado (d) suluos que derivam substantivos de verbos, (e) sufixos que derivam
econômico ou sociocultural relevante. A inexistência de m angai explica-se substantivos de adjetivos e de verbos, (f) sufixos que derivam adjetivos de
pela primeira razão, pois existe m angueiral. Quanto ao não uso de jaca- substantivos, (g) sufixos que derivam adjetivos de verbos, (h) sufixos que
d a . m an g ad a, ja q u eir o e m an gueira, provavelmente se explique por não derivamverbos de substantivos e de adjetivos, (i) sufixos de grau e aspecto,
(j|sufixo adverbial.
terem a ja c a e a m an ga o uso industrial e comercial que têm a laranja e a
ban an a. Ou seja, por mais que existam pessoas que vendara manga ejaca.
21.2..S Sufixos
suas atividades comerciais não têm relevância econômica suficiente para
justificar o emprego regular e generalizado de m an gu eira e jaqueiro. Grupo o: Derivam substantivos de outros substantivos:
Pode-se dizer que para cada substantivo concreto existem associações .\da; al /arai / açal; (z)eiro / (z)eira; aria / erio; agem; ário; edo. Ex­
lógica ou culturalmente motivadas, segundo o conhecimento que temos do pressam quantificação ou ideia coletiva, tomando-se como base tanto a coi­
mundo dos objetos, do papel sociocultural e utilidade do conceito designa­ sa quantihcada (goiaba - g oiabada) quanto o espaço/tempo ou objeto que
do pela base. a contém (noite - noitada, colher - colherada):
Para uma palavra como laran ja, as experiências culturais de um bra­ • peixada, m acarron ada, churrascada-, ba n a n a d a , g o ia b a d a ,
sileiro médio incluem conceptualizações relativas a: uso alimentar (laran- cajuada; papelada, p oeirada, boiada; tem porada, jo r n a d a ,
ja d a ), árvore (laran jeira), conjunto (laran ja l), quem vende (laranjeira). noitada; bocad a, colherada, ninhada;
tamanho (laran jin ha), noção qualificadora (a la ra n jad o ). Para uma palavra • bananal, arrozal, cipoal, m ilharal, lam a çal;
com o flo r, nossas conceptualizações sistemáticas dizem respeito a: utilida­ • nevoeiro, pesqueiro, galinheiro, form igu eiro, cu pin zeiro,
de (florir), manifestação natural (florescer/floração), quem vende/comer- agulheiro, faq u eiro, cinzeiro, lixeiro;
• cavalaria, m aquinaria, pedraria, fussilaria, p a n ca d a r ia ;
cializa (florista), tamanho (fíorzinha), função qualificadora (floral). Para
vidro, nossas conceptualizações se referem a: característica material dos vozerio, mulherio;
• postagem, plum agem ,folhagem ;
objetos (vítreo), recipiente feito de vidro (um v id ro , um cidrinbo), janeb
• m aquinário, relicário, herbário, colum bário, a p iá rio , clavi-
fixa feita de vidro (vidraça), profissional que trabalha com vidro (cidreiro),
cuMrío, mostruário;
passagem da luz ornamentada com desenhos (vitral), conduta de quem fiia
• vinhedo, lajedo, -passaredo.
o olho ou a atenção movido pela admiração (-oidrado) etc. Para máquina,
conjunto de peças que funcionam interligadas para determinado fim (ma-
Eíro; ário; isto. Derivando substantivos referentes a seres humanos,
quinismo), característica de atos próprios da rotina (m aquinai), conjunto significam genericamente ‘agente’ e servem para indicar indivíduos que
(m aqu in aria), oficio (maquinista). ‘exercem uma profissão ou ofício’, que ‘praticara esportes ou têm certas
VKIÉSIMO PRIMEIRO CAPÍTlfLO: RELAÇOES M 0RF0S8EM AN TICA.S NÍ» LÊXK X ) II: A ü ERIVAÇAO 4 5 9
StCTA r.VRTt - o LÊXH:o : FORMAÇAO B SIGSIFICAÇAO d a s PALANTIAS

ocupações regulares’, ou ainda 'que são adeptos ou seguidores de sistemas Ite. Deriva substantivos que significam inflamação:
ou mo\imentos políticos, artísticos, socioculturais, filosóficos etc.’; • flebite, sin u site, b r o n q u ite , e s to m a tite , p er ito n ite, con fu n -
• cngcrdicíro, m annheíro, patruíheíro, leiteiro , porteiro, eo* tivite.
petro, livreiro, ro u p e ir o , tin tu reiro , c h a v e ir o , violeiro, ban­
q u eiro, fa z e n d e ir o ; Grupo b: Derivam substantivos abstratos de adjetivos:
• seroenmário, b o tic á r io , o p e r á r io , b a n c á r io , secretário; Dodc /idade. Este sufixo é o mais produtivo em sua classe. Com ele
• TTUxquíniata, /ogutata, d e n tis ta , g a r a g is ta , pecu arista; ro- críiimtodos os substantivos derivados de adjetivos formados pelo sufixo
TTiancíata, oíofontato, tr a p e z is ta , cu rta-m etrag ista , cartu­ .ai’ou terminados em ‘-z’ ou ‘-r’:
nista; u m b a n d ista , m a r x is ta , m eto d is ta , getu lista; tenista, • a m a bilid a d e (de a m á v e l), v o lu b ilid a d e (de v o lú v el), pere^
a lp in ista , v elo c is ta . cibU idade (de p e r e c ív e l); fe r o c id ít d e (de fe r o z ) , c a p a c i d a d e
(de c a p a z ),fe lx c id a d e { á e fe liz ) , fa m ilia r i d a d e (de fa m ilia r ) ,
Obs.: O sufixo agentivo eiro (zeiro), aplicado a substantivos que de­ m enoridade (de m en o r), s in g u la r id a d e (de sin g u lar), p a r i ­
notam frutos, designa a árv’ore que p ro d u z tal fruto, e adota regularmente dade (de par). Diante do sufixo, *vel passa a -bil- e •z passa a
a forma masculina ou feminina segundo o gênero do nome primitivo: aba- -C-. Outros exemplos: bondade, ruindade, perenidade, obesi>
cateiro, mamoeiro, cajueiro, sapotisieiro, a lg o d o e ir o —derivados de subs­ dade, utilidade, praticidode, efemertdode, enormidade.
tantivos masculinos; m a c ieira , ja q u e ir a , g o ia b e ir a , a m o re ir a - derivados
de substantivos femininos. Existem as formas in g a zeiro e in gazeira porque Obs.: Em prático/praticidade, há mudança de |k] em (s).
ingá pode ser masculino ou feminino.
Ez /eza. Os substantivos derivados com ez empregam-se de prefe­
la; aria. Derivam substantivos referentes a ocupações, profissões, ofí­ rência no registro formal da língua. Já os substantivos derivados em eza
cios, bem como aos lugares respectivos em que são exercidos: pertencema todas as variedades da língua:
• ad v o cacia, che/ia,,fiíoteHa, a b a d ia , reito ria , procuradoria; • honradez (de h o n ra d o ), a ltiv ez (de a ltiv o), m esq u in h ez (de
* e n g e n h a r ia , a lfa ia ta r ia , teso u ra ria , ca rp in ta ria , tapeçaria, mesquín/io), viuve» (de viúvo), p eq u e n ez (de pequeno), p o li­
o u r iv e s a r ia , m arm o ra ria, m a ç o n a r ia . dez (de polido) p a lid e z (de p á lid o ), liv id ez (de lívido).
• beleza, tristeza, m o lez a , p o b r e z a , bo n itez a (uso corrente);
Ado / ato. Indicam titulaturas e instituições, o território subordinado avareza, a s p e r e z a , sin g elez a , e streitez a (de uso mais restrito
a um titular ou o período de aquisição ou vigência da titularidade: tanto quanto os adjetivos de que derivam: a v a r o , á s p e r o , s in ­
• p rin c ip a d o , em ira d o, c o n d a d o ; p a p ttd o , rein ad o , noviciado; gelo, estreito). A forma m a lv a d e z a , derivada de m a lv a d o , é
b a c h a rela d o , m estrad o, d ou toratio; b a ro n a to , cardinalato. variante popular de m a ld a d e .

Ada; aria; agem. Derivam substantivos que significam atos ou movi­ la; ura. Formam substantivos de uso corrente, mas são de produtivida­
m entos, segundo o meio ou o agente: demédia no português atual:
• f a c a d a , p ed rad a , b o rd o a d a , p c m a d a , ba rrig a d a , dentada, • alegria, valentia, cortesia; largura, doçura, feiura, brandura.
saraivcuia (atos segundo o meio ou instrumento com que são
praticados); q u artelad a (ato segundo o agente); \ee. t um sufixo de alta produtividade, especiaimente para a formação,
• p a tifaria, p ira taria , v e lh a c a r ia (atos segundo o agente que 'U)uso coloquial, de substantivos que expressam conceitos de conotação
os pratica); pejorativa:
• ca m a ra d ag em , lad roag em , p ica reta g em , v adiagem , apren­ • maluquice, esquisitice, pieguice, burrice, sem-gracice. Com
d izag em (atos segundo o agente que os pratica). sentido neutro ocorre em v e lh ic e , to lice, m eig u ic e e mais uns
poucos substantivos.
460 SKXTA PARTE - O I .Ê X ia > : f o r m a ç Ao k s k j n i f h i a ç Ao t)AS l-ALAVRAS n u ts ix io ITUMElHfl C A T lT liu i: «E U C O P-S MORf(»S,NKMÀ.VTH:Vl NO l.F .x ii:o II; A |iEn|VA<..At> 461

Or. É um sufixo de produtividade média, típico da lín;Eiua escrita epra- • Aíki/ida (dc uso coloquial, espccinlmente nas pcrífrascs cr>m
cicamente inapto á criação de novos lexcm as: 0 verbo DAR): pisttd a, cortcula, c a m in h a d a , p e n e ir a d a , p a r ­
• tern or, vcrdor,./iiror, p a lo r ^ Jr e s c o r ,/e r v o r , trem or,fedor. tida, d o rm id a ,fiig iiia , m ord itia.
• /Vgcni: contagem, pilhagem , ven dagem , piloutgem , an corag em .
Dão / idão. É um sufixo de produtividade média, que já não oii^na • Anço / ãiicia / én cia: le m b r a n ç a , p o u p a n ç a , m a ta n ç a , m i-
novos substantivos: litâtwia, o b serv â n cia , re le v â n cia , a flu ên cia , c o n v en iên cia ,
• escu rid ão , solid ão^ r e t id ã o , m o m i d ã o , t>erme//iídâo, nwin- inferência.
s id ã o , a p t id ã o , podridão.
Obs.: 0 léxico do português abriga uma grande quantidade dc subs-
Tilde / itude. É o sufixo m enos produtivo de sua classe. Une-sc a adje­ laniivos e .idjctivos derivados graças à correlação dos sufixos •cncíu /-ente,
tivos que significam ^dimensão*: provenientes dc verbos latinos que nào têm formas correspondentes na sin-
• a ltitu d e , a m p litu d e , p len itu d e, m ag n itu d e. crom:i atual do português. Isto não impede que os consideremos palavras
(ierivadas na gramática do português, visto que a correlação dos sufixos
G r u p o c : Derivam substantivos abstratos de outros substantivos c do permitequo clescodifi(|uemos o significado de um deles com base no conhe­
adjetivos: cimento do outro (Qi.Jreífuôncia /fre q u en te , d ec ê n c ia /d ecen te, d o c ê n c ia /
Ism o. Sufixo de alta produtividade, deriva substantivos que designam: íloaTiíe. indolência /indolente, d em ên cia l d em en te, pcnitêncU i / p en iten te,
• sistem as ou correntes de pensamento (religioso, político, filosó­ mKl\^'nc\a / inteligente) (ver abaixo, grupo ‘e’). Todos são interpretáveis
fico): b u d is m o , m a r x is m o , id e a lis m o , socialistn o, anarquis^ graças a uma regra de análise estrutural (RtVE).
mo, c a to lic is m o , p ro testan tism o , u m b a n d ism o , positivismo;
• atividades e estilos artísticos: R o m a n tism o , Concretismo, • Çüo. üo: a rm a ç ã o , co n tem p la çã o , a b e r r a ç ã o , d e m o liç ã o , dU
S u r r e a lis m o , Im p res sio n is m o , cartun ism o-, luição, p red ição , a b s o lv iç ã o ; ex to rsão , su b v e rsã o , a b s o r ç ã o ,
• conduta ideológica, forma de pensar e/ou de proceder: popu- agressão, a rra n h ã o, p u x ã o , esco rreg ã o , reu n ião, em p u r rã o .
lis m o , m ilita r is m o , re v a n c h is m o , ten en tism o, cx>ronelismo,
7nac/if«mo,/emtnf»mo, m a n iq u e ís m o , m aterialism o, sadis­ Obs.: Enquanto a variante -çâo é acrescentada ao tema verbal, a va­
m o , n a r c is is tn o , en creg u ism o, terro rism o , denuncism o,m - riante -âo vem unida diretamente ao radical. O sufixo -ão acrcscenta-se
p r e g u is m o , p u x a -sa q u is m o ; (lireumente ao radical do verbo, que pode ocorrer sob um alomorfe (cf.
• formas de expressão culturalmento característicos: modismo, uÁmliriagressâo, su bverter/su bversão, mas a r r a n h ã o /a r r a n h a r , esco rre-
p r o v in c ia n is m o , d ia le ta lis m o , a n g lic ism o , rmologismo,ara­ ^ào/esconvgar). As únicas exceções são untão e reu n iã o . Em formas como
b is m o , c u ltis m o , b r a s ile ir is m o , galicism o-, pK/ôüecliorão. também derivadas de verbos, há outro sufixo, relacionado
• terminologia científica: tr a u m a tis m o , a lco olism o, raquitis­ ànoçàodc grau (ver 7.1.2.3).
m o , im p a lu d is m o , c a te te r is m o , b o tu lism o.
• Dura, tura, sura, ura: tnx^csridura, b e n s e d u r a , ligadu rtt, f e r ­
Agem. Sufixo de alta produtividade, deriva substantivos abstratos que radura, a tad u ra, fo r m a tu r a , to n su ra , so ltu ra .
designam atos ou com portam entos passíveis de censura: • Mento. Tanto quanto -ção, este é um sufixo dc alta produtivi­
• p o litic a g e m , b o b a g e m , b a r b e ir a g e m , m olecag em , libidina- dade. É o sufixo usual nos substantivos derivados dos verbos
g e m , p ila n c r a g e m , p ic a r e ta g e m , m alan drctgem . terminados em -ecer e dos verbos parassintéticos em geral:
acovardam ento, a c a m p a m e n to , en c o r a ja m e n to , eru fu adra-
G r u p o d : Derivam, de verbos, substantivos que significam a ação, o mento, reqiterímento, eri/brcamento, cs/are/amento,/a/ccí-
resultado dela ou ainda o instrum ento ou meio da ação. São os seguintes os mento, esquecímento,^ría/ecimento.
sufixos usuais:
P.VRTE - o U X i a i : rORW-NÇAO E «O K IF IC A Ç A O IM S PAUVTIAS \K;ESIM0 p r i m e ir o c a p i t u l o : r e l a ç õ e s MORPOSSEMANTICAS S O L£XH'/> I): A nP.KO'AÇAo
462

G n ip o e: De verbos, derivam nom es p o tencialm en te substantivos g • Ivo (característico de registro form al): im pulsivo, recessivo.
adjetivos com significado agentivo, instrum ental ou locativo: • Udo (de alta produtividade, especialm ence nas variedades co ­
• Dor, tor, sor, o r. co m prador, jo g a d o r, portador, vendedor loquiais): narigudo, cabeludo, posudo, pontiído, peitudo.
sofredor, com petidor, d em oliedor, a b rid o r, ralador, pich^,
dor, ator, agrim ensor, propu lsor, im postor, tradutor, disjun^ Grupo g: Derivam ad jetiv os de verbos e pertencem a dois su b co n ­
tor, e;etor. juntos
• Douro, tório: d u rad o u ro, m igratório, dormitório, bebedou. 1) Denotando passividade do ser a que o adjetivo se refere:
ro, desaguadouro, n ascedou ro, laboratório, escritório. • Vel; adorável, corru ptível, corrigível.
• Ão. Intensificador e depreciativo, é usual nas variedades ín- • Iço: quebradiço, alagadiço, encontradiço.
formais da língua:./ujão, p id ão , chorão, m ijão, &eòerrão,/a. • Io: escorregadio,fugidio, arredio.
lastrão, com ilão.
2) Denotando atividade do ser a que o adjetivo se refere:
G rupo f : Derivam adjetivos de substantivos e pertencem a dois sub­ • Nte: insinuante, atuante, i7\fluente, maldizente, penetrante.
conjuntos. • Ivo: apelativo, pensativo, curativo, deliberativo, m editati­
1) Sufixos formadores de adjetivos que significam ‘relativo a, proce­ vo, corrosivo, ilustrativo, pu n itivo, perm issivo, rem issivo,
dente de’; proibitivo, agressivo, seletivo.
• Al. ar: m en saí, sem anal, conjugal, escolar, anelar, tutelar • {T)ório: cn can fafó río , preparatório, vexatório, satiqfatório.
• M io (de alta produti\1 dade): peruano, machadiano, aquariano.
• Ario; portuário, bancário, ro d oviário, missionário. Obs.: 0 sufixo -nte, de alta produtividade, forma nomes potencialm en-
• E iro (de alta produtiWdade): p assag eiro , brasileiro,festeiro. (e adjetivos e substantivos: cam inhante, reclam ante, m anifestante, coníli-
• Eno: terreno, chileno. unte, requerente, com batente, afluente, ouvinte, pedinte.
• E nse (de alta produtividade): piauiense, friburguense, ma-
detrense. Grupo h: Derivam verbos de substantivos e de adjetivos:
• Ê s (de alta produtividade): português, montanhês, libanês. • ec(er) / esc(er): florescer, apetecer.
• E o (de produtividade restrita à língua escrita em registro for­ • ej(ar): velejar, verd ejar, porejar.
mal): férreo, m armóreo, pétreo, funéreo. • iz(ar): suavi*ar, concrefí»ar, íe rc e im a r, irfem isar,fulanixar.
• íc io (im produtivo na língua contem porânea): alimentício, • fic(ar):ybrtjyicar, beatificar, am plificar, modificar, petrificar.
píitHcio. • e(ar); clarear, bran qu ear, m apear, passear, tourear, coxear,
• le o (de alta produtividade): metálico, erfático, mágico, pentear, barbear, prantear.
sim pático. • (0ar): ventar, peitar, azeitar, rodar.
• 11 (de produtividade restrita ao registro formal): /abn7, pas-
íon7,/ebríI. Obs.: Os verbos da última série são obviam ente derivados respecti-
• Ino: caprino, sibilino, londrino, m arroquino, equino, bovino. vamenie de veiiío, peito, azeite e roda, ainda que lhes falte um sufixo seg­
mentai como nas séries precedentes. Por isso, propomos que se atribua à
2) Sufixos formadores de adjetivos que significam 'provido de, abun­ teimlnaçào verbal ar a função cumulativa de m arca verbal (vogal tem ática
dante em ’: +des. de infinitivo) e sufixo derivacional.
• E nto (de média produtividade): p io lh en to , poeirento, ctu-
m en ío, p eç o n h e n to . Grupo i: Exprimem variação de grau e/ou de aspecto do sentido da base
• O nho: r is o n h o , e n fa d o n h o , m e d o n h o . 1) Derivam adjetivos de outros adjetivos:
• O so (de alta produtividade): lic o r o s o , p e r ig o s o , cheiroso, ca* • fssimo, imo (eruditos): contentfsaim o, am abilissim o, misér-
p r ic h o s o , m a n h o s o , m e d r o s o . rimo, paupérrim o.

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MdÉSIMO PRIMEIRO CAPÍTUU í : RELAÇ Õ ES MORFfíSSKM ANTICAS NO L tX I C O II: A D ERIV A Ç A o 4(u*>
-164 SEXTA PARTF. - O I.ÊX1CO: POWWÇAO E SIOSIFICNÇAO DAS PALA\’RAS

• (Z)inho (z)ão (populares): docinho, pobrinho, limpinho, nu- ^^'onto;defuéir,fuga; de m orrer, morte. Nos dois últim os exem p lo s, o
osin/ux, lin dão .Jèião , ío ríâ o , qruenCão. ^TibstJintivo apresenta um alomorfe do radical: [fug], pura fu g a , e (m oRt|,
pjniiHorte.
2) Derivam substantívos de outros substantivos: De alguns verbos originam-se também adjetivos derivados regressiva-
• Ao (e variantes), a ço , inho, e co podem adicionar uma refe­ iiicnte. De verbos da primeira conjugação derivam -se: a c e iío , de aceitar;
rência à dimensão física ou um ju ízo de valor: paredão, pa- jTifn^uc, dc entregar; enxuto, de enxugar; expresso, de exp ressar; exp u l-
nelõOy casarão (referência ao tam anho), bolerõo, sambôo, j». de c.vpu/sar; ganho, de ganitar; isento, de isentar; sa lvo , de s a lv a r;
papelão, film eco , jo m a le c o (juízos depreciativos) jo^ão,yi(. joiro.deso/tar; vogo, devagar. De verbos da segunda con ju gação derívam -
m a ço (juízos positivos). .seifloeso, de acender; 6enío, de benzer; eleito, de eleger; corrupto, de cor-
forupcr; incurso, de incorrer; morto, de m orrer; preso, de p ren der; roto,
3) Derivam verbos de verbos, aos quais acrescentam a noção mista Áemmper.suspenso, de suspender; torto, de torcer. De verbos da te rc e ira
de grau (ação branda) e aspecto (repetição): conjugação derivam-se: aflito, de qflígir; correio , de corrigir; direto, de d iri-
• Isc(ar), ilh(ar), it(ar), ul(ar): m ordiscar (de morder), lambà- fir,emerso, de emergir; expresso, de exprim ir; extinto, de extinguir; fr it o ,
oar (de lamber), chapiscar (de chapar), fervilh a r (deferver), kfri^ir; imerso, de imergir; im presso, de im prim ir; inserto, de in serir;
saltitar (de saltar), dorm itar (de dormir), pulular (de pular). }, de omitir; submerso, de subm ergir; tinto, de tingir.

O bs.: C huviscar é uma exceção a esta regra, pois deriva de chuvisco, Obs.: /Mguns linguistas já observaram que, nesse processo, não há a
diminutivo de chuva. F ervilh ar tem valor metafórico. Dedilhar não pro­ ri^ruma simples supressão da term inação verbal, visto que o nom e ap re­
vém de outro verbo, mas do substantivo dedo. M ariscar deriva de marisco, sentacom frequência uma vogal tem ática distinta da do verbo (cf. p erd er!
que por sua vez deriva de mar. ^stãxyjngirífuga, saltarisalto). Admitindo-se que a própria vogal te m ática
(azaqui a vez do suhxo, teríamos nesses exem plos um processo de d eriv a­
G ru p o j : Forma advérbios: do suAxal, análise que se tom a plausível por perm itir que se expliquem
• M ente: calm am ente, docemente, felizm ente, afetuosamente. ümbémformações como rodar, ven tar e livra r, derivados resp ectiv am en ­
tederoda, vento elivre (ver 2 1 .2 .5 , gm po h).
2 1 .2 .6 Derivação regressiva
As observações feitas em 21.2.1 vão nos ajudar a resolver uma outra questão: 21.2.7 Parassíntese (ou circuntixaçâo)
Como se analisa a estrutura de lexemas como desconto, desmonte, despiste? (lideremos agora o verbo descontar. Poderiam os an alisá-lo c o m o um a
Não pode ser des -i- con to , des 4- monte ou des 4- piste, porque desconto não palavraderivada por prefixaçâo, com o desm ontar e descarregar"? S e p en -
é o oposto de com o , nem desmonte o oposto de monte, e piste não existe. saraios a.ssim, estaremos dizendo que descontar é o op o sto d e co n ta r, o
Além disso, já sabem os que o prefixo des- não se une produtivamente a ba­ queé discutível. Se a frase for Descontei o din h eiro qu e lhe em p restei, é
ses substantivas na atual sincronia do português. Nossa alternativa, aqui, é daroque ílescontar não é o oposto de contar. Tam bém n ão d eriv arem o s
relacionar desconto, desmonte e despiste aos verbos descontar, desmontar ílesconíar do substantivo desconto, pois, com o se viu no item a n te rio r,
e despistar. Estam os diante do que tradicionalmente se chama derivação desconío é que é um derivado regressivo de descontar. No ex e m p lo d ado
regressiva, isto é, um processo que consiste em criar uma palavra mediante aqui, descontar significa ‘retirar parte de um créd ito ou d e c o n ta b a n c á ­
a supressão de um elemento fin a l de outra palavra. ria, e nada tem a ver com qualquer acep ção do verbo contar. P o r isso ,
E ste processo é particularmente produtivo na formação de substan­ temos de derivar descontar, no sentid o em que e stá em pregad o n e ssa
tivos derivados de verbos. Suprime-se a term inação verbal (-ar, -erou»ir) irase, diretamente do substantivo c o n ta . E sta d e riv a ç ã o , q u e se f a z p o r
e acrescen ta-se diretamente ao radical uma das vogais temáticas nomi­ acréscimo simultâneo de elementos m órficos antes e a p ó s o r a d ic a l d a
n ais -o, -e ou -a: de comprar deriva-se compra; de desmontar, desmon­ hma primitiva, se chama d erivação p arassin té tica, c irc u n h x a ç ã o o u ,
te-, de atacar, ataque; de perder, perda; de saltar, salto; de descontar, simplesmente, parassíntese.

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466 SEXTA PARTE - O LÉXICO: FORklAÇAO E SOÍÍIFICAÇAO D.\S PALAVRAS
vuiÉsiMo PRIMEIRO ca Htulo : r eu ç ô es uorpossem Anticah no léxico n: A derinaçAo 467

Por parassíntese derivam-se muitos verbos. O tipo mais produtivo é^, Aderivação imprópria é responsável por alterações de signíãcado rela­
que acrescenta ao mesmo tempo um dos prefixos a-, en- ou es- e a termi. cionadas com o modo de significação da classe em que a palavra passa a se
nação verbal, precedida do sufuo -ec-, quando o verbo é da segunda conju. enquadrar. Em O s ^ é ts ^ e r a m um a procissão, fiéis, um adjetivo, passa a
gaçâo (ex.: entardecer^ derivado de tarde; anoitecer^ derivado de noite; cm. jesignar. como substantivo, ‘as pessoas que têm fé'; em Esse menino não é
prcíecer, derivado de preto; esclarecer, derivado de c/aro), ou sem sufixo, tiurro. burro, um substantivo, passa a significar, como adjetivo, uma carac­
quando o verbo é da primeira conjugação (ex.: apontar, derivado de ponta. terística. cujo antônimo só pode ser um adjetivo: inteligente.
enfiar, derivado de^io (= Unha); afiar, derivado de^io (=: lâmina); emonar, /Mguns casos de conversão consistem na cristalização de unidades
derivado de torto; es/arelar, derivado de/arelo). A prova de que o acréscimo {e.ncaús e até de orações, que se tom am unidades gramaticais, fenômeno
dos afixos é simultâneo - e não sucessivo, com o no exemplo de descansa- conhecido como gramaticalização (ver 8.3). São exemplos de gramatlcali-
mento - é a inexistência do lexema desprovido de apenas um dos aftxos: nâo laçâo a passagem de adjetivos a advérbios (ex.: Vbava baixo, Falava alto,
existem csclaro nem clarecer, nào existem empreto nem pretecer. Awínra rápido), de ‘verbo + advérbio’ a interjeição (ex.: Vqfa só!), de ad­
Há também muitos verbos derivados por parassíntese com os prefi. jetivos a conectivos (ex.: Ele não bebe durante as refeições, Interrompí
xos des-, ex- e re-: destronar, de trono; despistar, de pista; desfigurar, de a viagem decido ao avançado da hora), de orações a locuções adverbiais
figura; expropriar, de prdprio; expatriar, de pdtría; expectorar, de peíto; {e.\.; quem sabe, que equivale a ‘provavelmente*, quer dizer, ou seja etc.).
repatriar, de pátria; reciclar, de ciclo; refinar, de fino. Em seu uso metalinguístico (ver 4 .2 ), em que a linguagem trata a si
A parassíntese tem -se revelado também produtiva na derivação de ad­ mesma como assunto, a derivação imprópria tom a substantivos quaisquer
jetivos, com o desalm ado e desbocado. palavras, construções e enunciados, pois, para que possa ser citada, toda
expressão assume o caráter de substantivo. Em cheguei é uma form a ver­
2 1 .2 .8 Derivação inipm pria ou conversão bal no passado, cheguei não é verbo, mas uma citação da forma verbal, ou
Chama-se derivação im própria ou conversão ao processo de ampliação seja. umsubstantivo.
do léxico pela m udança de classe ou de subclasse de um lexema. Nesse
tipo de derivação nâo há qualquer alteração formal aparente, daí chamar-se 21.2.9 Abreriação
im própria. Por derivação imprópria ou conversão, criam-se substantivos Aabre\iação consiste em c ria r lexemas mediante a reduçõjo da form a
de adjetivos (ex.: os m ortais, os humanos, os fiéis, um visto de entrada, de uma construção que funciona como unidade lexical. Há três modelos
o p resid ente), criam -se substantivos de advérbios (ex.: o amanha), principais de abreviação:
criam -se substantivos de verbos (ex.: o poder, o dever, o passar do tempo), a) redução, geralmente ao primeiro elemento, da forma lexicalmen­
criam -se adjetivos (variáveis em gênero e número) do partícípio (invariá­ te complexa: foto (por fotografia), micro (por microcomputa­
vel) dos verbos (ex.: fingido, partícípio era ele tinha fingido, que se toma dor), pré (por pré-natal, pré-vestibular), pós (por pós-gradtux-
adjetivo em eles são fingidos; comprado, partícípio em ele tinha comprado çâo), quilo (por quilograma), vice (por vice-presidente), ex (por
os bilhetes, que passa a adjetivo em os bilhetes foram comprados por de), ex-namorado, ex-marido etc.), extra (por extraordinário), lipo
expressam -se novos conteúdos com a mudança do gênero (o atleta (acep­ [poT lipoaspiração), tetra (por tetracampeão, tetracampeonato),
ção geral)/a atleta (exclusívam ente para m ulher), a cobra (réptil)/o coòra moto (por moíocic/eía), m íni (por m in issaia), bi (por bilhão),
(grande especialista numa atividade)), substantivos comuns tomam-se pró­
máxi (por maxidesvalorização), vídeo (por üidcocosscíe), táxi
prios (ex.: Rosa, M argarida, nomes de flores empregados como nomes de
(por taxímetro);
pessoas; Pinheiro, Carvalho, Pereira, Coelho, Raposo, Pinto, nomes de ár­
b) supressão de uma parte fonética, inicial ou final, sem significa­
vores e de animais empregados como sobrenom es), substantivos próprios
do próprio: Bonsu ça (porB onsucesso),A íengo (por Flamengo),
tom am -se comuns (ex.: gari, varredor de rua, derivado do antropônimo
Flu (por flu m in en se), Tina ou C ris (por C ristin a ), Bel ou Isa
A lelxo Gary, antigo incorporador de empresa que fazia as limpezas das ruas
(por Isabel), Edu ou D uda (por Eduardo), Zé (por José), Tião
do Rio de Janeiro; odisséia, viagem cheia de peripécias, derivado do título
{por Sebastião), Bete ou E lis (por E lisabete), Filó (por fí/ome-
do poema épico Odisséia, atribuído ao poeta grego Homero).
na), Cida {por A parecida), estranja (por estrangeiro), portuga
RU.AÇÔr-H MOKrc»WtMAKTK:A.H U X K JI II: A r>F.iu\’A*;Ao -Í6 9

4t>s
Oiirdiiiiil ordinal bucionério mulHplicatívo
(por porfiu‘Mi*s)..|<i?M»?ui mi /íipo (p or /íi;>o«i\i). rc(u,'a (por rcu. seis sexto sexto Kêxtiipln
oiiiii/ino). (• sele sétimo sétimo .sépttiplo
c) r(.‘prcM nl:is*Ao ilc tim iiomc composto ou dc tinin cxpressi^n 1 oito oitavo oitavo (k:tuplo
% IIIOC nono nono
niclo dc Mms liniiliuics inictiiis (toncmns. Ml/ihns ou. até mcsnv. nAnuplo
ú dez décimo décimo
os noim-s lias Ictrns), prtKvsso cMinhcciilo tnmlKm como «i|(la(ci|| décuplo
iMiacTominin /'f l/*orfiWo</os TrulHtifuulnrv.s), IWfDfUhtnííiiid,, 1'' on/c undécimo / undécimo undéciiplo
n/o /K »iocni/K*o /^iist/ctni). l SI* {t 'utwrHúUulc dc .Vr, |l décimo primeiro (nu onze avos)
/'un/o). Euihuti*! iE m p n s a lin tsílcira dv TvUx'ítmunívaç('iai doze dutHlécimo / duodéeimo
iK trufi ( m.pnrinnifiilo J c TrânsUo). (;ícp ( í ’«*nm» lnti’S*mfii> ik décimo sciiundo (ou doze avos)
hhu'tn,-un h ífd h tt), (!TI (Centro de Tnitaniento Intensivo). Jfí ire/e décimo terceiro
1.'
t./iimo/ tin Hrasil). FM (/•'mpiêfuni M inluladit), //x»;>e {Inntuutu vinte vigésimo
ítrusi/cim i/v <t|nnmo /‘uMicti). àS.O.N (niensnfiem de wieorm y vinte v um viáésimu primeiro
ein inules .smv onr soii/s « salve nossns aliniis). SUdu (porA/rmd trinta triitc^inio
l.utsii. Mtinu l.uí'ut). MtiU I (j>or A/íin<i lsidH'l).ÍAiUrítv (porí>ir. quarenta qtiadrnáésimo
his ). 7'Wíinv i(vir fc/cfi.Híío). ('.!) (por cr>m;ííiol í/wlti. v
diu|uenta (|UÍnquaácsimo
\~T (|'*»r eií/e«»feits ) sessenta .sexa^simo
Aerõninios v'<»ino I SI', l’T. I’HT e outros pMKiem ninda receber sufixos M' _
Hcicnia septuagésimo
u.spxiMi*. ts'tts(o, fhilcftstii oitenta octo^éslmo
Sl> —
noventa nonagésimo
2 1.2 l(t Kepresi*ti(as‘ào lexieiil dos c^oiiecitfis iium éríeos —
]i)ii cem centésimo centésimo céntuplo

;
<>ojiinp» svin.imiss) das m v V s num éricas apresenta particularidades quv
Sll duzentos diicentésimo
liisiitieam uma sevAn à parte Keoorre-se a e\press(‘»cs num éricas pnraquan-
,,*1 trezentus treceniésimo
ntiear cstin exaiutáo eoisas i|iie poilemos contar, enum erar, dimensionar. A
i|iiaiuine(is'Ao piile sei aiisoliila. <|uando toma a lom ia dos chamadOvS nu­ ü * ) _____ quatrocentas quadrin^entésimo
5(11) ____ quinhentos quing^ntésimo
merais eariimais (im i. duis. rré.s). ou relativa A i|uantHicaçAo se diz relativa
se sua «.stinprxs.ais^^o se a|>oia ein uma nov’ão quantitativa ul>soluta. .\ssim. W"l seiscentas .sciseentésim(^

rerisam . rer\'o e tn/Wo sao i|uannneuvx>es rclatí\ ns porque sua eompreetisáu sexcentésimo
presMii^W o ilommio tio csuRvitii de ‘três' |>osi^.'ão numa ordem ou escak TiW suteceiicos septin^ntéaimo
que «.siniem p«.io menos ‘três elem entos, parte em uina di\isãu Nll uitocemos octingentésiroo
|H>r ‘Ires’ e prtKlulo de uma niuliiplicuvâo por ‘três’ { t r i p l t t ) . Forbsu novecentos nongentéstmo
siio eliainados. res|Hvii\uiiieiite. num erais ordinal, fracionário e multjpü- lilOI) mil milésimo
cuti\o Aprvsentarcnuts em seguida uU^uns deles, tia seiiuinie ordem: al^i- 2iju) dois mil dois milésimo
risiito urabico. eardinai. ordinal, fracionário, m uliiplíeativu cem mit cem milésimo
llljKINNI milhão milionésimo
amNiti e«rdiiuU ordiiud frocMNiáriu fniilfjpÜi|i«ri«n liÜJfJOCXONN) bilhão bilionésimo
I uni pnmemi
dllis meuytiK-tode dobruduplu É aiuplii 0 rol de lexemas quantifícadores que denotam agrupamento
tix*> terceiro tei\x) tnpéo Jc seres homogêneos. Alguns desses lexemas aplicam-se a grupos variados
4 quJtn> quariu quarto quáiiniplu i eoisas (pur. du pla), outros se especializaram quanto à designação, apli-
5 emex) quinto quinto qtiintuplu _ jndo-se a determinadas atividades, como a música (di*o, írio, q u a n e to ,
i/utmeíüi. jo^ s diversos (remo, ín n e a , q u a d r a , q u in a , se n a ), a religião
4 70 SKXTA PARTK - O LÉXICO : F«R M A Ç .\0 R SiaV lFIG ,\Ç A O D,\8 l‘A U V R A « VK.ÉSIMO riUMF.IKO C A P ÍT irU ): R E U (;O R .S UORFOSHRUÀNTKUM NO I.RXICO II: A l>CIUVA<;.M> 471

(decíííívJo, rfísimo, P en íafeu co ), a versificação (d ístico , qfuodra, quartcui ^^0. na língua coloquial, os principais responsáveis pelas variações de grau
tcrceto, oitava). É tam bém com um o emprego de num erais como primeiro j^jidjeiivas e advérbios (bonitinho, docin hojein ho, bobinho,fininh), gor-
radical de certas palavras corren tes no esporte, na geometria e na desig. jiii/io.íigorin/ia, ccdin/io, cansadão, lindão,/odão, hobão, gordão, cedão).
nação da extensão silábica de palavras e de versos: unlcelular, bimotor Na esfera conativa/apelativa, destaca>se o uso publicitário dos oiieõ-
trícampeão, tetracam peonato, /lexocam peòo, heptatlo\ triângulo, hexú. nimos(ver 17.7.2) - particularm ente na designação de remédios e de pro-
gono\ trissilabo, pentossí/abo, heptassilabo, eneassilabo. jutos de alimentação e de limpeza - criados por meio de derivação e de
^gonia lexical (ver 20.6). No domínio da função poética, sobressaem os
{icolo^smos criados por amálgama lexical.
2 1 .2 .1 1 O s processos lexicais e as funções da linguagem Substantivos abstratos derivados de verbos e de adjetivos são utilí-
Os processos de form ação de palavras servem regularmente à produção de ydos como recursos de encadeam ento textual - coesão (ver 4.5.6 .5 .2 )
efeitos em otivo-afetivo, conativo-apelativo e poético (ver 4.2 ), assim como especialmente no discurso planejado (ver 4.5 .1 ), para introduzir, retomar
participam dos m eios de coesão textual (ver 4 .5 .6 .5 .2 ). Na esfera afetiva, é ouantecipar, de forma condensada, informações que podem ser inferidas
bem conhecida a tend ência da língua coloquial para abrigar formações du- Ja situação discursiva ou vir expressas por meio de proposições em outros
plicativas e derivações de grau ou equivalentes para a expressão de juízos pontos do texto (ver 10.6). É o que fazem os substantivos prom essa, hra-
de valor, positivos ou negativos. As formas duplicativas pertencem a dois nim c noeií/oíle nos seguintes exemplos: 1- O governador declarou que
tipos básicos: ínccsiira mais em educação, mas pouca gente se ilude com tal prom essa,
a) form as de uso aíetivo-familiar, com duplicação silábica perfeita 2- 0 soWftf/o arriscou a própria vid a para salvar a criança e fo i condeco­
ou não; p a p a t, titío , votx5, dindinha, d in d a (relações de família); rado píjrsuíi bravura, 3- O atual modelo desse carro vem com bancos de
G uga, Zezé, L ili, L u la , Vivi, Didi, D uda (antropônimos hipocorís* couro, novidade que fez seu preço subir muito.
tico s); dodói, totó, p a p a (r), m im iir), x ix i (diversos);
b) rep resentação im itativa de qualquer repetição: vaivém, entra e
sa i, sobe e desce, vira-vira , corre-corre, quebra-quebra, puxa-
-p u xa, zigue-sague, vapt-vupt (repetição de movimentos); reco-
-reco, zum -zum , tique-taque, píopto, plim -plim , bangue-bangue,
(rep etição de ruídos ou onom atopéia); oba-oba, lesco-lesco, nhe-
-nhe-nhém (repetições de vária natureza).

O grau é norm alm ente expresso por suhxação. O sufixo -issimo, por
exem p lo, deu lugar a -érrimo/-ésimo (bacanérrim o, lindésimo)‘, o sufixo
-â o tam bém produz nom inalizações de verbos (beberrão, mexilão, pidão,
bicão , fu r ã o , chorão, mijão)\ o sufixo -udo origina adjetivos que valorizam
a fo rça bru ta (peitudo, raçudo), mas geralm ente são pejorativos (narigudo,
ca b eçu d o , chifrudo, bundudo, linguarudo); o sufixo -aço, de valor aumeri-
tativo (cf. golaço, cracaço), tem-se prestado especialm ente ã formação dc
substantivos de valor coletivo-aumentativo que significam ‘manifestações
populares barulhentas’ {panelaço, apitaço, buzinaço).
D estacam -se nesta variedade de uso, caracterizados pela informalida­
d e, a aplicação carinhosa, intimista ou depreciativa dos dimínutivos [dar
um p u íin h o , d a r um jeitin h o , ter um cantinho, pegar uma caroninha,
oferecer um Jantarxinho) e os casos de duplicação. Os sufixos -ão e -mbo
w m m

^ iU S L s o s E X P R E S S IV O S
SH,LsiMf» .s e / ,l> T »rífjU ^ T 1V »: E.ST1Ü-STK.\ 477
476 K T I I I A CAIITÍ, - ^ Uwa A f. HO'A l ' » " U n t t - W A I I A

: : . . 1 A KORÇ.V P.\DR()MZ.\D()R.\ DA LI.NOr.AGE.Vf


numa superfície - os s i^ ilica d n s movem as interavões humanas. (>>tn vm» .\ língua de um.i comunidade é um corpo complexo de formas, regras e
ou riscos m aterializam -se os textos otratcgias intcracionai.s a serviço de uma variedade infinita de finalidades
,A'niiinic,ntiv,is. Em seu uso ostensivamence instrumental, a serviço das ta-
2 2 .2 O TKXTO COMO OIUKTO l)K INTKKI*KKT.\Ç.\0 n.'f.LAJc rotina, as formas da linguagem tendem para uma tal previsibilida-
1’ara o senso com um , um texto 6 um objeto feito de palavras or^nizadai Jf dc ocorrência que praticamente não prestamos atenção nelas. É como
segundo regras e estratégias para expressar algum significado pretendK^ •ic C.S.S.1 S formas fica.ssem invisíveis. O que as organiza assim é o sistema.
por seu enunciador. f^sta defini(;ão de texto aparentemente dispensa et- 0 oonjiinto coerente de oposições e associações entre as unidades, a es-
plica(;õcs. mas há no interior dela duas palavra.s-chave que precisam tnitur.1 que propriamente constitui a língua naquilo que ela tem de mais
melhor esclarecidas; .sigtijficat/o e enuncifuior Dizer que um signifteadri j reconhecidamente espontâneo, segundo uma forma legitimada pela habitu-
■pretenditlo por alguém implica admitir que ele preexiste ao texto, e que liiAiJc do seu uso e pelo reconhecimento dos seus usuários.
este nada mais é que um veículo do significado .lá ponderamos na seção F..ssa fomia corrente ou familiar da linguagem insere o homem no com­
anterior ipie o significado não se confunde com a intenção da pessoa que plexo de uma cultura coletiva, e o faz pela previsibilidade do seu uso, pela
fala ou escreve; nem mesm o é uma face abstrata do texto, guardada em seu csiahiliAide de siuLs referênciiLs, pelo senso comum da significação de suas
interior. () signifiendo é parte do es ento discursivo que envolve o produlw iorma.s. F..s,se uso comum e previsível da língua cria uma ilusão de naturalida­
do texto e seu destinatário, fiuvinte ou leitor (iada palavra escolhida, a en­ deque reduz a imponância da parte significante e material da linguagem em
toação m anifesta na fala ou intuída na leitura, cada construção empregada pmveito dos sentidos expre.ssos por meio delas. (Quanto mais espontâneo e
realizam - m ais que transportam - a significação. irrelletido for o comportamento linguístico das pes-soas, tanto menor será a
Por sua vez. o term o cn u u ciiu ln r denota diferentes entidades no es­ perevpção da face material das forma.s de linguagem que elas empregam.
tudo do d iscurso Duas delas são o autor físico do enunciado (aquele que E com esse perfil que a linguagem toma parte na maioria das situa­
o profere com sua voz ou o escreve com seus dedos) e o autor intelectual ções comunicativas, aparentemente servindo tão só de meio para que as
ou institucional (aquele que de falo esincebe menlalmente o conteúdodu mensagens trocadas pelos interlocutores 'tluam'. Incorporada pelos grupos
enunciad o e em cu jo interesse este é proferido). Ksta distinção apliea-se sociais como hábito, a linguagem ganha a força de um automatismo. um
exem plarm ente nas situaçiV s cm que um texto é concretamente emíudj eomportamemo que não .se escolhe. Ganha o stacus de 'parte da natureza’.
por uin porta-voz (autor fisico). que verbaliza um recado de outra pessa Naturaliza-se', enfim. Desse mtxlo, a linguagem de nos.sa.s práticas cotidia­
(au to r in te le c tu a l) Kste a.ssiinto ja foi aliordado a partir do item 4.5.b.4 .( nas está para o IIulxo das relações comunicativas como u leito e as margens
adequada atríln iição de sentido a um te.\to requer do ínterliKiutur a capai.1' do riu estão para u rolagem continua de suas águas na mesma direção.
dade de distinguir entre a autoria física e a autoria intelectual. Já que nen Prestamos atenção ao movimento das águas sem nos darmos conta de que
sem pre o enu nciad o traz explicitas as marcas dessa diferença a direção delas é dada sobretudo pelo leito e pela.s margens.
an álise interpretativa de um texto pode ser realizada em nume d: Olhar o texto na dimensão de sua elaboração estilística significa apre­
in te re sse s cu ltuniis diversos (educativo, econômico, religioso, puliúeu o- ender sua significação de maneira consciente, como obra da escolha e do
téticA) e tc ). Suivmdo, irorem. que a meta comum às \árías abordagens>ea arranjo das formas cm jogo. Só desse modo podemos ir além da conduta cõ-
e.xplicar tm esm iu çar o 'conteúdo' do texto para o leitor comum ou uk QKxla c superficial de típica pa.ssividade leitora, quando normalmence nos
esp ecializad o, todo o processo de anali.se consistirá em ideniüicar us pro eontentamos com um suposto recitnhecimento do sentido. O que quer que
ced im en to s \erbais que ancoram a significação percebida. Para tanto, saúi am texto nos comunique é produto de uma construção que mobiliza a pa­
abordagem terá de satisfazer dois requisitos fundamentais apoiar-se nunu lavra em todos os .SCU.S aspectos; classe, significado, forma, sonoridade. Só
teo ria da constrtiçào do sentido e servir-se de uma metodologia desenDu assim a palavra se toma plástica e visível. Para recuperar sua vi.sibilídade e
adequada. plastieidade na construção do significado, a palavra precisa superar o papel
de mera coadjuvante da comunicação e se impor à atenção do interlocutor
em outra dimens.ão: o estilo.
47S JvfTtMA r \ n n - s i -Niü a i ! ■ » « rüPHW«t>i**

"Ter iim L-^lilo ndn é |xt%siitr u m a t e e n i e a d c Itn g im g t lu . iiuim p t i i u i |wiI


22.-4 O K STIL O
mcnic (vr um a v ImI o p r ó p r ia d o m u n d o c h a v e r c iu 'o n l r a « lt i u m a InM U a
Uniu dns qiicMões iniiis in.stl^untcs nn confronto com n llnftiiflllcm é a uir.
.uli.-(|ii.ula p ara c x p r c » a r c « « a p iii« a g c m i n t e r i o r A m p u ia v ra n « á o . iMtia.
I^rín do cutílo, princípnlmciUc pcl» difictildndc <{uv tcmofi cm dcíiní lournn
.ilfium.i co isa maiM ip ic o v e ic u lo d c c< im u n ic n v A o a ir a v tf» lin q u a l o a i t u
precisão. /\s nuiltipins detiniv<H.‘s que este conceito rceeix.* de tcórtcoico-
ta n«M tra n sm ite Mtia m ciiM ;igcm Í’o r lrá.H d v lii I m p l í c i t a . m lM ic rlo M a iu c iU c
crítores nos conduzem n caminhos tüo dí.stintos, que cheitflmrM a dtmdar
prcMc-iitc. CMiá Miia vím I o to ta l d a r e a lid a d e . %ua a t i l i u l c M ia l. » im i.'o o
que seja possível sístenintlzd-lo por vias se^urns. Estilo deriva do Inilmiet/tu
ceitvilii M iiqetivn lio m u n d o , « iia m a n e ir a p a r t i c u l a r d e M im p llh c a Io . <lt-
‘haste de planta', ‘ferro pontudo com que os n m if^ c.screxiam na.%táhua«en­
ceradas', ‘maneira ou arte dc escrever, de fninr', Mas a cvoluçüo dos conedim iranMÍnrniá-io. adaptatulo-<» á Miia p i'rM > n a lld a d e. wiia m a m -ir ti d c M cu iir

tomou variações que nos conduzem a noçtVs distintas, dcpcndcndfi do m<dr> I) mutulo, de p eiiM i-lo'. piM lerianuM d i/ e r S o b o e x t llo v e r b a l c u t a a miii

como cada escritor ou teórico interpreta a arte de escrever íhi falnr tcMc iniranM Íerivcl da.> reaç('>c« in ie le c tiv a M e e m o e -lo n a ia (|iie ii rc a lld iu U -
É naturai. portanto, que deparemos, ao lontio da hUtórin. com lirru pro>oco no cM crltor”^',
grande variedade de modos dc conceituar esrí/o. () i|ue aviilta comoctimun
às várias concepções é o esforço do homem para imprimir no prndiiin dr> l’.ira <*s pro|smitos dcM c cap ítu lo , c h a m a m o s e s tilo a o cort/ u nro tU m
seu trabalho uma marca individuallzante ou particular .Vcmc «vmidn. r» niiífsoM idiouuiriuM que e.struru rom c.rp rcasív arm *n ri' tt r n e n t u a i e m
estilo está em tudo o que o ser humano cria: um imnlelo de sapato nuJt mttíor rendim ento senuintivft. K sla é um a c o iic e t tiia ç á o lor-
fu n {ú m iv Htru
chapéu, a habitação dos esquimós ou a dos xavantes, a pintura de Kl md qiic implica três outros n o çõ es: o a to individual d e e x p re sn â o . a
ou a de Portinari. Pelo estilo se distinguem uma página de horóscopo cuin ilc um fíeilo de senlidu c a op ção por um re c u rso e n tr e o u tro s p la u s ív e is
boletim meteorológico, a escritura dc um imóvel e uma ata de reimíio. unu
estrofe d’Os L u sía d a s (século XVI) c uma estrofe dtj S avio Xegmnj (steu- 22 is m .iv n (.A
Io XIX). Cada qual tem suns expressões e sua sintaxe. Ainda quv o rrMnn- Ac>tili.'«iicu ptKle ser c«msulerada uma teoria da construção do scntUto, na
jamos ao âmbito da linguagem verbal, o conceito de estilo que se dcprwmk mciliJa cm i{ue se bn.Hcia na premissa de que o que um texto signttica é mo­
da aplicação a esses casos é muito amplo, Já que compreende qualquvr con­ delado pelas escolhas linguísticas - de ordem léxica, gramnticiil. fonética,
junto de traços linguísticos capazes de típlhcar um texto .segundo o |$(hKnj ífáhca e nimica - feitas por seu cnunciador.
ou o período literário em que foi produzido. Nessa linha de pensanurmu .Vssim como é variável a abrangénuia do conceito de estilo, variável lia
podemos conceituar o estilo como o conjunto d o s tro^xxs de /irigtuigvnn/uc de ser a própria concepção de Ksrdisrú.xj. llá. de fato. uma estilística eni
correrem uma e x p r e s s ã o d istin tiva e p ecu lia r a o s íe,xfo« cie um ciutor, <ic sentido amplo o uma estilística em sentido restrito. Em suii iice|>ção ampla,
u m a é p o c a , d c u m a tendôncüi estética ou d e um d a d o génen> cie conipos- eniende-se pt>r Estilística o estudo dos diferentes usos - isto é. cNtiloN da
ç ã o . É nesse sentido que se pode falar no estilo de José de cMencar, no ostilu Uui^ua segundo a situação e u finalidade do ato comunicativo'*'. /Vislm e n ten ­
medieval, no estilo impressionista ou no estilo narrativo. dida, iratn-se de uma disciplina que consiste cm um método de tmállse de
Para o poeta Manuel Bandeira, “O estilo não é o enfeite: o estilo na^cc textos e pode ser considerada uma variedade dc AnáUsc do Discurso rm a
do caráter mesmo do escritor e é a marca dc sua personalidade": e já no ohra que encarna lal concepção intiiula-sc Jrivestígating KugliNh tStvIe.
século XVIII, o filósofo francês D'Alembert observava que “Ü estilo Jii- dos linguistas britânicos Duvid ('rystal c Dcrek Duvy, que, eminisndos im
-se das qualidades mais particulares do discurso, mais difíceis e raras, que proposta (uncionaiista de M.A.K. llnlUday. empreenderam üescriçrK.‘s ile
denotam o gênio ou o talento de quem fala ou escreve”. Na íormulai^oáo textos religiosos, jornalísticos e jurídicos, entre tmlros'"*
linguista brasileiro J. Mattoso Câmara Jr., “Bstilo - Lato .sensti, a manein Neste capitulo, a Estilística tem pt>r objetivou estudo d<» estilo de acordo
típica por que nos exprimimos llnguisticamente, IndividualizandcHnoscin com a definição formulada na seção anterior. For isso ela é uma teoria do
função da nossa llnguagem"^^. B refcrindo-se especlficamente ao estilo ds
obra literária, Ernesto Guerra da Cal observa que " r.UERRM>At-M.D'H*‘> Ml
>• Vanum« «IntB»*.- li**»w»nwjiu» d« n««íi pcopvuilva. vt-r o L-Mpituli> Inniutwd» IKM/tvt,
JccírtUo-.acCUireUlcbvrc tn 2<».\.2.vq
CRYSTAi. h bAVY ll‘i7Sl
'• CÂMARA Jr. |I977|.
•ISO SÉTISLK P.KRTF. - A UMM^ A E SEl-S l^SOS EXPRESSíVí^S V|(}É.SIMfí SEOirNDOflAPÍTIl-O: E.STÍL].«fTtCA ‘ÍS I

m odo pelo qual o sentido é expressivam ente construído nos textos. Uma i£o- nieiüs de expressão de aspectos afetivos do psiquismo humano. A esta face
ria da expressividade da com unicação verbal incorpora a seguinte premissa Josigno ciiamamos conotação. Ela agrega à significação uma camada infor-
considerados com o ocorrências alternativas em um certo contexto comuni­ niacional suplementar, capaz de densos efeitos de estilo.
cativo. dois enunciados podem se reportar à mesma experiência a ser comu­ E.xaminando cuidadosamente o tema, verífica-se que o conceito de ex­
nicada; um deles, porém, pode faze-lo de forma pre\isível, neutra ou banal pressividade pela via da conotação se correlaciona com a noção de es c o lh a .
ao passo que o outro pode distinguir-se justam ente por se impor à atenção drj Eietivaniente, o código linguístico é um sistema de signos mulcifacetados.
in terlocu tor em \irtude de suas particularidades - ou mesmo excentricidades Isso implica que um mesmo conceito pode ser referido de modos diversos,
- form ais. Dizemos então que o texto (ou um segmento dele) pre\isível. neu­ mediante estruturas idiomáticas que veiculam a mesma denotação, mas
tro ou banal é estilisticam ente não marcado, e que o texto (ou um segmento que atualizam no discurso conotações variáveis. Isso possibilita ao emissor
dele) particularizado por algum traço formal é estilisticamente marcado. iLi mensagem, no nível da sua com petência linguística, uma seleção ou es­
E sta é uma form ulação m uito esquem ática, mas útil como ponto de colha de formas que expressem não somente seu pensamento mas também
partida para o desenvolvimento dos con ceitos de estilo e de estilística. A 5ua sensibilidade e a adequação ao tema, à finalidade do ato de comunica­
e stilística focaliza, portanto, a forma específica do enunciado. Os recursos ção e ao contexto no qual ele se realiza. A operação que envolve a seleção
verbais - sons. formas e construções —que interessam à investigação esti­ e a combinação funcional dos signos, a partir dos recursos disponíveis no
lística são. especialm ente, aqueles que retêm a atenção do interlocutor peb idioma, dá especificidade à forma do discurso e, em última análise, confere
m aneira singular com que realizam a tarefa de exprimir um sentido. aele 0 que se denomina iinguísticamente estilo.
A nova disciplina surge a meio cam inho da linguística e da literatura, Como existem vários modos de expressão de uma mesma ideia, a esti­
sendo ainda h o je tem a de discussão se é necessário delimitar o seu campo lística considera o conceito de d e s v io a partir do que é mais frequentemen­
de atuação ou se é necessário que lhe seja atribuída uma existência autôno- te utilizado e, por isso, no âmbito da ‘normalidade* em relação aos outros.
^ ma. De qualquer m aneira, o fato é que a estilística é imprescindível para a Essa consideração da n o rm a se estabelece a partir do uso de marcas for­
I cap tação dos efeitos de sentido que em anam do movimento e da ínter-reU- mais que se representam no idioma mais conformes ao valor de base, pelas
ã ção de estruturas e processos sígnihcantes na atividade discursiva. quais a dita forma é ‘naturalmente' reconhecida. Por exemplo, considera-se
m Assim com o a linguística propriam ente dita, a estilística se diversifica des\ioa semântica da transposição das relações naturais de dois elementos
em quatro especialidades segundo o plano do sistema linguístico íocallzado; cmuma proposição, na qual a conexão que logicamente se faria com uma
fônica, lexical, m oilológica e sintática. Mas é preciso deixar claro que, ao das palavras presentes é feita com outra, constituindo o que se convencio­
e.xuminar a cadeia verbal produzida num ato discursivo, a estilística o foz nouchamar de hipúla^e, tal como ocorre em O ch eiro v er d e d a fo lh a g em ,
sob ângulo diverso do da linguística. O objeto da linguística são os meca­ emvez da expressão O cheiro d a fo lh a g e m v erd e, naturalmente aceita.
nism os form ais sistem áticos que os falantes de uma língua empregam para Esse desvio pode ser considerado em relação a uma ‘norma’ geral ou em
exp rim ir e com unicar significados. A estilística ser\'e-se da teoria linguísd- rebçàü a uma ‘norma’ estabelecida no universo do texto.
c a e das d escrições realizadas pelo linguista, mas seu foco são os recursos
v erbais que conferem singularidade estética ao enunciado e constroem es- 22.6 RECURSOS E ST ILÍST IC O S
p ressiv am ente n significação. Tixio texto deve apresentar a forma que convém às intenções de quem o
N osso conceito-cha\'e - expressividade - precisa agora ser melhor ca­ enuncia. Segundo este postulado, a linguagem de um texto não é uma mera
racterizad o . Trata-se de uma noção correlata a outras três. que passamos roupagemde um conteúdo, mas a única possibilidade de que esse conteúdo
a d etalhar. Referím o-nos aos con ceito s de n o r m a , d esv io e esooUia. Sabc- V apresente’ ao leitor. E para tanto contribuem todos os dados do evento
-se qu e, con ven cíonalm en te, os signos linguísticos possuem um senüiloik )ociocomunícatívo: quem enuncia, a quem o enunciado interessa, o que
b ase ou d en o tação . e é graças a esse sistem a de convenções semânticas que é relevante dizer, que efeitos de sentido são pretendidos, que estratégias
a língua pode levar a term o a sua função precípua de tomar possível o in­ íliscursívas e textuais podem conduzir a esses efeitos. Isso provoca uma va-
te rc â m b io das idéias numa com unidade cultural. .Mas os signos linguísDcos naçãu da modalidade da linguagem, em consonância com as funções que
fazem m ais do que ‘propiciar o intercâm bio das idéias’; eles são, também. 3 ela atribuímos no processo da comimícaçâo. Sob esse prisma, podemos
482 SÉTULK r.VRTE - A L tX lílW E SEU S L*SÍW EXPRESSl\ t>S VKiiUustn s W ilc ílK ) n A l-IT n .í): e .s t i i . in t ii :.\ -í *S.7

reconhecer três modalidades linguísticas que estão intimamente relaciona­ telia (propriedade do texto cuja finalidade é sua própria estruturação), que
das com os objetivos dos seus usuários; a linguagem intelectiva, a linguagem confere ao texto um valor poético, um caráter de literariedade, tornando-o
afetiva e a linguagem estética. É claro que não existem fronteiras bem deli. ummonumento sobre o qual recai um olhar de apreciação estética. No
nidas entre essas modalidades linguísticas, mas é possível estabelecer alguns teito poético, a palavra não vale tanto pelo que ela proclama; o seu valor
princípios básicos capazes de caracterizar a predominância de uma delas. relev,nnte reside no que ela é capaz de provocar esteticamente no espírito
A linguagem intelectiva liga-se a uma referencialidade racionalmenie Jo interlocutor, na medida em que se impõe à atenção dele pela própria
concebida, isto é, realizada sob os domínios da lógica e da razão, tendendo materialidade da enunciação verbal, pelo modo, enfim, como as coisas são
a uma objetividade marcada pela atitude de neutralidade do falante diante Jitas. Lsso significa que a sua função referencial se submete aos arranjos
do fato ou objeto que lhe ser\'e de referência. Essa modalidade da lingua- quecaracterizam a função poética.
gem é a que estabiliza o senso comum das nossas referências pelo processo Mas é necessário compreender que os valores afetivos e estéticos da
da denotação - significação básica e objetiva de uma palavra, um signo, um linguagem são realçados em função de certos procedimentos de organiza­
símbolo etc. sem derivações ou sentidos percebidos como figurados. A çãoda matéria verbal que a caracterizam. Esses procedimentos - denomi­
rv imagem que consensualmente se tem dessa linguagem corresponde a um nados recursos (ou traços) estilísticos - se observam em todos os planos
u.so que idealmente reúne estabilidade sem ântica, neutralidade enunoiativa eníveis da arquitetura da língua. São recursos fônicos, arranjos sintáticos,
e observância do padrão linguístico formal habitual. Com este perfil, é a modulações rítmicas, criações mórficas, combinações insólitas, paralelis-
que tem maior aderência ao grau z e r o d a e s c r ita , de que nos fala Roland mos. notações gráficas etc. Todos esses, além de outros, recursos de estilo
Banhes. Em geral a linguagem denotativa é o alicerce dos textos de comu­ amplificamo sentido da frase, fazem do ‘modo de dizer' a pedra de toque de
nicação cuja referenciação não apresenta elevados graus de subjetividade. lodo0 processo de interpretação e compreensão de um texto.
\isto que sua decodificação é naturalmente realizada na esfera de uma per­
cepção do mundo partilhada pela comunidade cultural suprarregional. .As­ 22.7 FIGI R-AS DE LI.NGr.VGE.M
sim, na linguagem intelectiva, os esquemas conceptuais e os processos de Memos definir figuras de linguagem como formas simbólicas ou elabora­
cognição -são sustentados por uma estruturação linguística mais ou menos dasde exprimir idéias, significados, pensamentos etc., de maneira a confe-
previsível, sem grandes surpresas ou maiores sobressaltos, garantida pela tir-lhes maior expressividade, emoção, simbolismo etc., no âmbito da afeti-
sua estrutura, ou seja, pela representação impessoal da língua. liàde ou da estética da linguagem. Portanto, é interessante ter em mente
Mas existe outra dimensão do uso da linguagem, na qual a realldaè que as figuras de linguagem não valem por si mesmas, como elementos
não é percebida e concebida com o algo cristalizado. Esta dimensão desesn- autônomos sem qualquer relação com a semântica do texto. Assim, nossa
biliza a ‘representação neutra’ da realidade e a distorce pelo olhar das ma­ intenção vai muito além de expor uma relação exaustiva desses recursos;
nifestações psíquicas ou estéticas. Aqui a linguagem oscila em consonância nosso intuito é observar sua funcionalidade no fio do discurso e perceber
com as em anações do espírito ou as configurações de formulação artística. 0 quanto elas são valiosas no processo de construção do sentido da men­
Estam os, respectivam ente, na esfera da linguagem afetiva e da linguagem sagem. Como as palavras, as figuras de linguagem não significam isoladas,
estética. A linguagem afetiva apresenta-se sob uma forma capaz de reforçar independentes; .sua significação emana das combinações de que elas parti­
a expressão dos sentim entos de simpatia, paixão, euforia, entusiasmo ou cipamnos contextos situacional e linguístico de sua ocorrência. Como elas
repulsa despertados pelas idéias enunciadas. Nela, o uso da língua com for­ estãoinseridas na macrossemântica do texto, sua capacidade de expressar
mas linguísticas específicas provoca os efeitos de afetividade e deixa trans­ tunasignificação não depende só delas, o que toma inócuo o seu inventá-
parecer, por meio dessas formas, os meios pelos quais o sistema impessoal no, 0 seu mero reconhecimento sem que se tenha a devida competência
da língua é convertido na m atéria viva da fala humana. A linguagem este- linguística para perceber a sua funcionalidade no amplo complexo da textu-
tica, por sua vez, passa por uma elaboração que visa a um efeito impressi- ilidade. Desse modo, é preciso ver a terminologia que as identifica - e que a
vo provocado pelas formas criativas da linguagem com finalidade artistici muitas pessoas causa justificado desconforto, quando não perplexidade ou
Nesta modalidade, a linguagem obedece a uma conformação ditada pch rejeição- um instrumental para o reconhecimento técnico do fato estiiísti-
estrutura interna do texto, e sua finalidade é, antes de tudo, garantir a auto- eo. e não o objetivo da análise.
nr.llMA AI.IMiCAKSHm HXha.SNlVlKS
WJÉ.SIM0 s b íh w k ) (L^pfnxo: e» t ii .í.s t ií ;a 4 fi5

As tiÉurns tle linÊunAi-‘m poilcm ntiiar nn íírca dn scmflntica lexical A metáfora resulta dc uma operação substitutiva; a associação semân­
(lii eonslmviV) íiriunnticnl, dn associaçAo cognitiva do pensamento ou da tica .SCarticula no clxo paradi^imático. Trata-se de um processo que envolve
cimimla fftnien dn linAu«ícm. Assim, tem os o que tradieionninieme sede- termos de domínios eonoeptuais distintos, entre os quais promove uma
noniina de fifturas de palavras, tifturas de eonstruvflo (ou de sintaxe), figuras assimilação mental. A eficiência do seu efeito de sentido está atrelada à
dc pensamento c li^uras fftnleas. Dlclondrlos de arte poética e manuais de intensidade dessa assimilação. Se a expressão linguí.stica que caracteriza
retórica dAo conta da grande variedade dessas douras, As vezes apartadas 11 mcí.-ífora for interpretada cm sua Iltcralidade, torna-se incompreensível
por diferenças multo sutis. KxpAe-se na seqiiOneía uma seleçAo das ninis pela Impertinência semântica. Em seu socorro, a metáfora atua como o
eonheeidas e, em certa medida, de rendimento mais óhvio. Para um estudo cleniciilo redutor do desvio.
mais detalhado, suj^ere-se ao leitor a consulta de um diciondrio ou de um
nianuai espeeiail/.ado‘^'. Ohs.: A uma sucessão de metáforas dá-se 0 nome de aJegoría:
• “A Infância é uma ca n o a que naufraga / e a bordo não traz
22.7.1 l'iiiunis de palavnis senão fantasmas." I.IUNQUEIRíV, 1994: 82|.
As tifturns de palavras (ou m»/K>s) referem-se A si^nitioaçilo das palavras. • “Na p a red e da memória / Essa lembrança é o qu adro que dói
des\iando-se da sijinitiençAo que o consenso identihca como normal. lintrc mais." (Belchior)
elas, destueamos;
Por meio da alegoria, idéias ou realidades abstratas ganham represen­
22.7.1.1 Metúfoni tação concreta, geralmente por meio de narrativas, como na seguinte pas-
É um ‘princípio onipresente da lin^uaílem', pois ó um meio de nomear um .sagem do conto “O Diplomático”, em que Machado de ;\ssis, desdobrando
ei»neeiio de um dado domínio de eonheeimento pelo empre^io de uma pa­ um verso do poeta italiano Petrarca, retrata a indecisão que afasta o perso­
lavra usual em mitro domínio. Kssa versatilidade faz da metáfora um re­ nagem Rangel de sua amada:
curso de eeoiíomia lexienl, mas com uni potencial expressivo muitas vezes • “Desta vez, o muro não era alto, e a espiga era baixinha; bas­
surpreendente. .\s metáforas esiAo por toda parte, oriííinando expressões tava esticar o braço com algum esforço, para arrancá-la do pé.
cristalizadas (0 //10 d Vyíiwi, fitr o d c re}X)rtíifiem, /«* d a ín.spíravõo, engolir Rangel andava neste trabalho desde alguns meses. Não estica­
imui (íesctthwi) ou dando expressão concreta a conceitos abstratos (torcer va 0 braço, sem espiar primeiro para todos os lados, a ver se
os fHikivnis, u rratihar u reputação, volinâo d c «pímV3c,s, e x p l o s ã o de aic- vinha alguém, e, se vinha alguém, disfarçava e ia-se embora.”
ílrio). (Umio eomponenie da função estética da liniiuaíiem, a metáfora ten­ lASSIS, 1989: 961.
de para unia fusão de imagens que se aii^ura rara, imprevisível ou mesmo
anômala. Daí sua força expressiva: 22.7.1.2 Mctoiiíniia
• “A Noiie é uma enorme Esfinge d e gran ito n egro / Lá fora.” Consiste na transferência de um termo para o âmbito de um significado
(“A noite”. In: UDINTANA. 2005; 205| que não é o seu, processado por uma rçjação cuja lógica se dá, não na se­
• “O sol vinha es^orçumío devagar o véit de bruma que cobria melhança, mas na coniiguídade das idéias. Diferentemente da metáfora, na
as vserras tranquilas.” l**Via}ieni aos seios de Duflín”. In: MA­
metonímia a associação semântica se realiza pela supressão de termos sin­
CHADO. 197():441
táticos; logo sua articulação se dá no eixo sintagmático. Sua atuação ocorre
• “Lua de SAo .lorôe / lua soberana /noòrc p o rc ela n a / sobre u
em apenas um domínio conceptual, pois os termos que se relacionam per­
seda íccuí.” IVKLOSO. 1981:
tencem ao mesmo campo sêmico, de maneira que um substitui o outro. A
• “Muitas vezes julgamos ver a aurora /e sua m.sa d c /o g o à nos­
relação metonímica pode indicar interdependência, inclusão, implicação
sa frente.” I“Mas viveremos”. In; .VNDIL\DE, 1973: 197)
etc., como ocorre nos exemplos abaixo:
• “Dc repente do riso fez-se 0 pranto." (“Soneto de Separação".
"" .Mljuma.*» suftgHtÍK.'» uin obro». Impri:!>.sa.s; (: a .MI*OS ll% 51 iamvkvu / ' i , .. .
^Y^2\ 119(,6|; MOUNl
INl£ In: MORAES, 1986: 226-7|

^ 9
4Sb SfrOíA PARTK - A USCÜA E SEUS ItSOS EXPHESSr\'O.S
VKifc.HÍMOHEÍM.-NlKMIAllTll.O: BSTIl.tSTir.N 4 8 7

• "Uma velha que trazia a ^ m e nos ombros e nos olhos /E tra- OUpelo contrário, designar uma de suas partes pela palavra que nomeia o
zia a seca no ventre e no seio.” (“Fábulas de João da Tarde”
iodo:
In: GARDOZO, 1971 :7 2 -7 4 ). • O B rasil vai às urnas para escolher seu novo Presidente.
• "Na zona da mata o canavial novo / É um d e s c a n s o verde que • O colégio conquistou o bicampeonato de futebol.
faz bem...” (“Poemas da Negra". In: ANDRADE, 1966: 189)
Nos exemplos anteriores, um ca n tin h o é parte de um cômodo, assim
Observa-se que as palavras riso e pronto, no verso de Vinicius de Mo­ como bronze é a matéria de que é feito o sino e v ela é parte da embarcação;
raes, vão além de uma simples representação mental que corresponde a 0 Brasil designa os eleitores brasileiros, assim como o colég io referc-se à
cada um desses signos; convertem-se na significação mesma da alegria ou equipe de futebol formada por seus alunos.
da felicidade - campo semântico de riso - e da tristeza ou da situação infe­
liz - campo semântico de pranto. Trata-se de uma amplificação da área de 22.7.1.3 Cíitacrese
si^iheação de uma palavra usada em lugar de outra, tomando p>or base uma Éa metáfora já incorporada à língua, geralmente para suprir a falta de um
relação de coexistência ou contiguidade: menciona-se o efeito para evocar icrmo específico no vocabulário corrente. Trata-se, portanto, do resultado
a causa. Nos versos de Joaquim Cardozo ocorre o contrário; a fome e a seca de um processo de lexicalização da acepção metafórica, razão por que os
significam seus efeitos: a excessiva magreza e a desnutrição que extingue a dicionários, aproximando-a das ^expressões idiomáticas’, geralmente a re­
capacidade de gerar e manter a vida. No exemplo de Mário de Andrade, a cor gistram. O significado assim constituído passa a fazer parte da competência
sobressai (parte pelo todo) e sugere a sensação de descanso. lexical dos falantes, firmando-se como um traço característico da inserção
Outros exemplos e suas respectivas relações de contiguidade: destes numa comunidade linguística, que pode ser regional, profissional etc.
• o abstrato pelo concreto: Olhei o corpo no chão e fechei / Mi­ Por isso, o conceito de catacrese deve estar intimamente relacionado cora a
nha janela de frente pro crime”. [Aldir Blanc] cultura da comunidade discursiva em que ela circula. Nada impede, porém,
• o continente pelo conteúdo: A c h a le ir a e s tá ferv e n d o . que um uso já consumado como catacrese em uma comunidade possa ser
• o atributo pelo ser: Estão destruindo o v e r d e d a ctdade; Ca~ interpretado como metáfora em outra. São casos típicos de catacrese: bar^
sou-se com essa m orena depois d e um lon go n am oro com rígo da perna, c a b e ç a d o a{/inete, tisa d a x íca r a , céu d a b o ca , c o r a ç ã o d a
uma loura. cidade, b a r b a o u c a b e l o d o m ilho.
• o efeito pela causa; Víw do meu tra ba lh o e d o s u o r d o meu
rosto. 22.7.1.4 .\ntonomásia
• 0 autor pela obra: Adquiriu outro P o r tin a r i em um leilão em É um recurso de referenciaçào (ver 1 0 .2 ) por meio do qual se emprega um
Sova Iorque. nome comum em lugar de um nome próprio e vice-versa. Na antonomásia,
• a marca pelo produto: Depois de algu m as A n tú rtíca s, Andre- ocorre a substituição de um nome de um ser pelo de uma sua qualidade.
zinho decidiu não dirigir seu velho F u sca. Assim, ela constitui uma variedade da metonímia, pois discursivamente
• 0 lugar pelo produto típico do local: D eixou-se fo to g r q fa r com há uma relação atributiva inconfundível entre os termos relacionados no
um vistoso panam ú na cabeça. domínio conccptual eleito. A antonomásia pode ter intuito descritivo, lau-
• o singular pelo plural: O b a ia n o é am istoso e hospitaleiro. datório, pejorativo, eufêmico ou irônico:
• O P oeta d o s E scra v o s escreveu poemas condoreiros. (p o eta
Obs.: Denomina-se sinédoque a variedade de meconímia que consiste d o s e s c r a v o s s Castro Alves)
em designar a totalidade de algo por meio de alguma palavra que nomeia • No interrogatório, o ju d a s apontou os companheiros da revo­
um de seus componentes ou uma de suas partes: lução. (ju d a s traidor)
• Procurava um cantinho onde pudesse passar a noite.
• O bronze repicava na torre da igreja. A substituição de um nome comum por um nome próprio tem impli­
• "As velas do Mucuripe vão sair para pescar.” (Belchior) cações discursivas relevantes. Os nomes próprios são aplicados a um único
•ÍSS SÊTOIKPARTI - A UNt;i A E SEl^S l*SOS EXPRESSI\’aS
VIOÉSIMO SEOPSUO <i\plTn.o: F.s-mi.sTi(U 4S9

ser; logo não se enquadram, em princípio, em uma categoria de seres e não • “De tudo, ao meu amor serei atento / Antes, e com tal zelo, e
são. ria de regra, dotados de significação. Por isso mesm o não figuram nos sempre, e tanto [....]. (Duas anástrofes; “De tudo ... antes” =
dicionários, cuja finalidade é registrar o que as palavras significam. O ren­ Antes de tudo, “ao meu amor serei atento” = serei atento ao
dimento discursivo do nome comum em lugar do nom e próprio não está no meu amor) [MORAES, 1986; 183)
simples fato de identificar o mesmo referente, m as de revelar uma situação
relevante para a situação comunicativa, visto que estabelece entre ambos Obs.: r\s inversões sintáticas realizadas no hipérbato e na anástrofe,
uma relação de predicação^'. além de atenderem a uma necessidade técnica da versificação (métrica,
ritmo etc.), podem promover a fo c a liz a ç ã o do elemento deslocado. No hi­
22.7.1.S IMáfora ou antanáciase pérbato de Fagundes Varela, por exemplo, o deslocamento do termo objeto
É uma espécie de trocadilho, que consiste em empregar a mesma palavra direto A dor para o início da frase, além de evitar a inconveniência técnica
- no sentido de 'mesma forma fônica ou gráfica’ - com sentidos diferentes, da cra.se ou do hiato {A bran dará a dor...), põe em foco o sofrimento do
a fim de tirar efeito de sua ambiguidade, com o no seguinte exemplo de .sujeito poético, por sua posição privilegiada no verso"’.
.Machado de .\ssis:
• “L'm deles, ouvindo apregoar sete ações do Banco Pontual, 22.7.2.3 Pleonasmo
disse que tal banco foi realmente p o n tu a l até o dia em que Repetição de um constituinte oracional ou da significação de algum termo ou
pa.ssou do ponto à reticência.” [ASSIS, 1990: 156] expressão. O pleonasmo é parte do amplo e variado quadro de fenômenos da
linguagem em que alguma informação é oferecida de maneira redundante,
22.7.2 Figura.s de sinta.\e como na seguinte passagem em discurso falado:
O desvio estilístico nas figuras de sintaxe ocorre na organização sintática • “Só um tio só que casou e que tem filho. Em compensação,
da fra.se. ele disparou, teve nove! Agora, Já m inhas tias, tod as ela s ca­
saram, todas elas tiveram filhos, né?” (exemplo colhido em
22.7.2.1 Ilipérhato (VASCO, 20061)
.Mteração da ordem de algum termo da oração ou de alguma oração do
período, de sorte que a construção resultante se torna atípica: A redundância é um traço comum do discurso, especialmente na mo­
• "Onda e amor. onde amor. ando indagando / ao largo vento e à dalidade oral, na qual funciona quase sempre como um recurso de refor­
rocha imperativa, /e a tudo me arremesso, nesse quando /ama­ ço ou de retomada da informação. Há pleonasmos que são característicos
nhece fre.scor de coisa viva.” (nense q u a n d o a m a n h e c e frescor de certa variedade da língua, como a dupla negação presente em não sei
de cuisíí c ic a = nes.se frescor de coisa viva, quando amanhece) luio ou ninguém n ão veio. Como recurso retórico e estilístico, o pleonasmo
(“Entre o ser e as cfjisas". In: .\.VDRí\DE, 1971a: 175J pode produzir efeitos expressivos de impacto, como o conhecido “Vi cla­
• “.Minh'alma see.xacerha. O fel d’/Vrábia/Coalha-se todo neste pei­ ramente visto o lume vivo”, de Luís de Camões. No uso escrito em geral, e
to agtjra. /.\i! nenhum mago da Caldeia sábia /A dor abrandará no literário em especial, o pleonasmo tem geralmente a função de retomar,
que me devorai" (A dor ahrarulará qu e m e d ev o ra = Abrandará mediante um pronome, um sintagma nominal que serve de tópico à frase.
a dor que me devora) ("Ira de Saui". In: \'ARELA, s/d: 76-77) Os exemplos seguintes revelam este procedimento:
• “O corpo Sacha enterrou /No jardim; a a lm a , e s s a voou /Para
2 2 .7 .2 .2 ,\iulstn>fe o céu dos passarinhos! [BANDEIRA, 1967; 312)
Deslocamento de algum «mstituinte do sintagma para uma posição não usual: • “TUos p alav ras antigas / deixei-os todas, deixei-os, / Junto
• “.\mo do nauta o doloro.so grito / Em frágil prancha sobre mar com as minhas cantigas, desenhadas nas areias.” [MEIRELES,
de horrores, (do nauta o dttloroso ^rito —o doloroso grito do 1967: 213)
nauta). (“Tristeza”. In: VARELA, s/d: 32]
Mário Perini chama esse artifício de deslocamento sintático de tópico sentenciai. Diz o linguista:
---------------------------------------------------------------------------- I
“Trata-se (...) de uma funçáo comunicativa, cujo conteúdo aproximado é aquilo sobre o qual se fala;
Vãire a Mil»«iluisá., dij n.mK próprio pck, nome oimum. ver o t-nsain - n v ~ , . i
In .\ZRRf.WJ 1201.71 « « IntertMlo essa funçáo comunicaüva se expressa formalmente através da colocação do elemento no início do
periodo (...).“ Ver PERINI 121X16; 189-190|.
7-2-4 \nA>»hlto saem da toca. Quer ir de batelão, na ilha. comer ingasV ( )u
X ç:>e<^ »ii íSiruturi loçico-ániinatieaJ. que d eixa sem ^imção sintitijj vamos hcar bestando nessa areia onde o sol doiirad<i atrav e.ssa
rxn jocstirm nte i a oração; a água rasa?" |BR.\GA, 1964; 41)
• ( T^Xis lAiKx^rrus que íuíx /i Í íkxi Lurxis d o ^uoTxio-Trjtípa, 3
:e bràKsn'! com eíos. de tão imprestávxíis.” (REGO. I9^>: 72] No rragmenio acima, ocorre a omissão dos pronomes nds (txxmos. pe-
• "Fot arenas um instante antes de se abrir um sinal numa tv cam os) e v o c ê (quer), redundantes não só por virem indicadc»s
cuira. dentro de um éraikie carro ne^ro. u m a jx ^ r a de mu/^ 03 ilexáo verbal, mas. príncipalmente. porque se trata de uma situação
que nesse instante me niou e sorriu com seus grandes ofl»i àt de iala interlocutiva. Tecnicamente, podemos dizer que o termo em elipse
i z d límpido e a boca tresca e \i\-3 _” [BR.\G.\. 196Ja; 197-r^j caracteriza a substituição de outro termo por uma entidade abstrata deno-
reinada zero' eritando assim repetições enfadonhas que em nada contri­
Ohs-: EmesadesDC*s que o primeiro termo da estrutura pleonisuca e buem para a semântica do texto. A elipse pode ser total ou parcial. A elipse
er:n: marca o anacobito ccmtribuein rivam enie para a íorça de n- total elimina completamente o termo na sua retomada, substituindo-o por
frase. p:*í5 criam na mente do receptor da mensa;gem um cenirr. zero. como no exemplo acima, e a elipse parcia] suprime apenas parte da
em que se prxcessam as ínionnaoões contídas no enunctadr expressão, tomando o texto mais dinâmico e exitando o cansaço tedioso
cães estabeieceCL 0 0 âmbito da pragmática, o d om ín io concepcua do leitor. Fora da coesão referencial, a elipse parcial conta às vezes com o
=m que sc3 :s representações se articulam^’. c^;>nhvcimento de mundo do leitor. Observemos o exemplo a seguir:
• “A frente do modernismo de 22 está, ainda, a tigura imprudente
2Í-TJL5 .\iacfpir^ j de OswaJd de .\ndrade que, em 1916, já se declarava futurista’.
Vrflxacã: cxs palr-ras 0 0 sequências de pstlavras no tuial e noioh j De fato, como sintetizou o critico Benedito .Vunes, o coração
cá: ie frases ou versos ^raím enie coou^uos: do modernismo é a ‘c o n l^ ç a no futuro'. Ainda assim, um ano
• ~0 córreáo é o m esm o. / S íesm a. aijuela árvore. / A casa. 0 antes da Semana de 22, Mário de Andrade já protestava quando
.arimL ;B.\.VDEIR.\. 1967: J1 2 J Oswald o chamava de futurista. .Mário, o prudente, e não Oswald.
o ansioso, se tomou a ãgura central do modemisrao.” [CASTE­
Obs_- .V>jderrtiócar 0 córre^. o poeta retém o atributo - m esm o qiK LO. José. "O modernista pnidente". O G lobo. 19/1/2(X>8J
rerKscc t jçícalfzado como uma ideia rixa a en^obar tudo o que se segue.
Há no texto duas elipses parciais, representadas pelos nomes abre­
22.7J-6 viados Ostro/d e 3/íirio com os quais se retomam, sem diiiculdade. as ex­
' .'meisã: Je ur: renso numa enunciação linguística. \o enunciado, o termo pressões O siculd de A ndrade e .Síúrio d e A ndrade. Entretanto, a expressão
é fâcilmenre- sufaeniendído porque está p resen te em nosso espirito Nc'niana d e 22 pode apresentar alguma dihculdade na decodihcação do tex-
c íca .j^cpreensào sc depreende do contexto geral ou da situação. Em cer- co. se o leitor não souber que ela é uma elipse parcial de 'Semana de Arte
u uredjda. a elipse é o contrário do pleonasmo: -Moderna, de 1922'.
• 'Jamais permitiria que seu marido íosse para o trabalho com .\lguns poetas modernistas hzeram uso abundante da elipse em nome
a roupa mal passada, não dissessem os colegas que era espo­ do estilo propício à captação dos elementos essenciais de uma cena. com o
sa descuidada-’ (elipse da conjunção linal p a r a q u d a fim de no poema “Cidadezinha Qualquer", de Carlos Dnimmond de Andrade;
(n^el ICOL\S.'cVTI. I W : 63 j • “Casas entre bananeiras /mulheres entre laranjeiras / pomar
• “Frimeiro vamos lá embaijo no c-órrego; pegaremos dois pe­ amor cantar" [ANDRADE, 1971a: 17]
quenos carás drmrados E c*<jmo íaz c*alor. veja, os lagostins
Obs.: À supressão de ura termo anteriormente expresso dá-se o nome
.^nmucle ritópkx.dttciifsivo i«n ima iimçio particular de z e u ^ a .
u m q u a d r o c 5 p a « a J . t c m p ^ o u in d h i d u a l

c a t ó - j ^ o m si, d a t n a c ism u m
, .Ifcp.~<Joqu«ln,der<.*rí.nciao™epKr
p a s u e d o t n t r a a TI ' ' O L l\ 'E J iL M 2 0 0 3 1 .
w*TCTUe - \Vr PERINJ I97.i.,sj
'« 'T V " v n - » * r c ^ r r . v . : tP * ^ iy n L a

*A ^ _ U era iS-Aivie e |v íh v Ofcs alures^ h u m iU es.' |\.Vt»R.V bvvnendo a ordem do<s lermocs. o quiasmo cria uma nosTi dimensã» pa-
r « . I 'í 7 1 i 1SI| -airfcíKa, causando no leitor, pela estrutura inesperada, um senòmento de
.iXTfvs»- era consequência da rupaira tia coesão recorrencial (rvçvòçào sis-
dc cstruiunisi. Os seus eteitos de sentido def^mdem da natureza
jt rxxsttcm. No exemplo de Machado de Assis, a kcciicidade da linguagem
r4tir«r:es. j í r c s ^ .^ ò í u = ii o r» ^ -» oti J e o r» ç ic ^ cw ^n ien ad as <j5tiv o movünento desordenado do \w do inseto; no dístico de Drummood.
• *.\s- « = 2S5»Â» sie ibfcí^ çvhietices auzaectam. o ^■çnJe pííi’^^ 1 c=;x>siHdd»de - ou proibiçãor - ê dizpbuzieiue enunciada, a uma proibi-
cxs ie s e r :r « * xt-aEO çar:. a s f ie Je tr a s d e r r e c e m * (M IN C C M rjf ;i.' qae rurece normal contrapôe-se outra - realçada pda inversão - que soa
O üi^he, escria. na passa^m de G. Rosa. a construção retraia os mosimemees do ca-
rrh ir de um l^bado q w . aparentexuente. a>'ança e recua ao mesmo hiâar

^ ccoecíT''c> c»>:?çiiesanvo m im a C3deta d e paia^ xas. termc* de I2T.2-10 Epiieuxe


mra xaçâL x rcai'?^ .vcçetkKv de paIa\Tas ou érupo de polavTas em uma sequência imediata:
• " E 5e m s í « r çi: fe à s>o«e não c o o s i ^
sequer adorzDecer • “Teus olhos são negrus. ne^rus. / Oxno as noites sem hxar.”
x : à im a ã e c que de tí em v Jo p e r s i^ r / Pc« |.\L\"ES. 19S6: 9SJ
es* .rae o . im^rrr E í o ^ esbarro em m a ausêDcia - es&i • “CqTe com pôo ' C o^ com põo /Cq^ com pão //Mr$e Maria
Jrrrra exala cue m r p^aetra e fere e sanara e m ata-' [Jl*N- que loi isso maquinistar~ (BANDEIRA. 1967; 261]
^_-'.TrR,*L. 51: • “No rundo do m a r e s tã o entretidos / os náufragos. / Tão en-
*L#:ote dc- esccTt! nrrbOsão da rua. ' Beoeditino. escreve* So rrendos. tão entretidos. / que nân sentem a á$ua pelos seus
acr-.Cíii^^. Do ctanstro. na paciêncta e d o so sse^ . / Trafca- vestidos.* (MEIRELES. 1967: A6 6 )
. é àoóe. £ sua!” fBIl_\C. 1996; 26SJ
22-7-2.11 .Vnáfom
Ec »ctti3ê 2iLta ie temyjs cocffdenados. é nãtural que o cooectívo twpetiçào (k: vocábulo no início de verso, trase ou membro da brase:
aãnro ses:re spena» antes do úliiiiK/ termo, estabelecendo uma noção • “Lá nxis areias innndas. / Das palmeiras do país. /Nasceram ->
J e lãstitfc tal csAOfj na frase ^y/mp/rei cadem fjfi. làpúf. c tm e ta s e hcfrrachoê crianças lindas. / Viveram - moças gentis... / Passa um dia a
Tanr/. ao asAíndecry quanto ík» priJi^síndeio. es&a noção de limite se antib caravana / Quando a vingem da cabana / Cisma da noite nos
para <iar rele^ i r^na a VtáfA os tenzK/s da sequência. ,\Jém disso, de acordo véus... / ....Adeus! Ó choça do monte!.../ ...-Adeus! palmeiras
^j(3 o cj>ctex£r> esses recurvA estilísticos ír^mecem ao leitor um sentido da fonte!... / ... -Adeus! amores... adeus!... //Depois o arruai
♦upíersentar de dmami.%m/> ntmo. esfV^çrj. esmero etc., cí^^mo fjcorre nw extenso... / Depois o oceano de pó... / Depois no horizonte
i^vtadrA vxtet/A de Ivan Junqueira e <'>Íavo Bilac. imenso /Deserto®,.. desenos só...” (AL\*ES. 1966; 262)
• “Ccjmo caíram tantas á^uas. /nuhUm-se o horizonte. /nublou-
2 2 .7 . 2 . 9 (^ la ^ m o s e a floresta. /nu6 íou-*e o vale." (MEIRELES. 1967; 340)
^jxiMxnfà/1 Inmembre cm que «jc-í/rre uma inversão da ordem nas partes
stmétncas d^A «e|^rnent/A envrj)vulrA .\ repetição das palavra.s. seja na epizeuxe, seja na anáfora ou em qual­
• ‘ Kra uma m^Aca azul. asas tk* ouro e granada/(...>/ fc zumbia, quer outro reeur.sr> estilístico (epífora/epístrofe - repetição ao hm do versr>
c vf/ava. e vf/ava, e zurnlha " jA-SSI.S. 1962. ver ílí; 1611 ou da frase; símploce - repetição no início e no flm do verso ou da frase;
• ‘ Jánãoií^Kk íum ar./í.uspirjãnàopoae " (,\NIj HAI>E, 1971a: diácope - repetição com altcrnação de palavra), é um recurso de modaliza-
70| çüt> que mobiliza o envolvimento do enunciador com a matéria enunciada.
• “K íot de zíÉuezaítuc, veio dc zaeiiezii-uc ” (l<í;SA . 1 9 6 7 : IÍM| So exemplo dc cplzcuxe dc (!astro jMves, a repetição do adjetivo traduz
noção superlativa (nctí^oa, neiJroH = niftérrimos); no exemplo de Bandeira,
MOtsiMO SEOtMK» E.STILÍ.STU1A
4*^ sfnu.\ r\RTT - a UN\a*At srt’s expre^ x>s

a repetição da expressão iconica Cq/i? com pão! sugere a iniermitência da „oia o bamlho produzido por ela: a lg a s a r r a . Por sua vez, r á p id o é, objeti-
torça mecânica da locomotiva. Nas anáforas de Castro Alves (em Navio vTimentc falando, o tráfego. Deslocado, o adjetivo passa a qualificar n t a em
.Vcganro) a organização sintática \isualiza a dor da separação dos a/ricanos coordenação com outro atributo - estreita . A coordenação é heterogênea,
(..Adens.* LAdetts! L A deus!) e a sequência de sofrim entos que se seguem i) que cria um inesperado efeito de síntese entre as duas características,
imediaiamente à sua prisão {Depois.../Depois.../Dcpois). rVssim, nota-se que uma estática e outra dinâm ica, do espaço descrito. Por fim, o exem plo de
esses recursos estiUsticos. além de cham ar atenção do receptor da mensa­ L\*cílía: a tristeza da ave é identificada no ruído, para o qual se transfere a
gem pelo artifício da repetição em si. acrescentam a ela novas sígnííicações cor de suas penas.
ou um sentido suplementar de ênfase, superlativaçâo ou amplificação.
22.7.2.13 Silepse
Obs.: O conceito de anáfora aqui apresentado corresponde ao da ãgu- É a concordância ideológica, isto é, a concordância que se faz com a ideia.
ra de construção tradicionalmente reconhecida nos manuais de retórica e com o elemento que se tem em mente e não com o elemento expresso na
de estilística. Modemamente, tem-se empregado o mesmo termo no âmbito frase. A silepse pode ser:
da linguística textual, ao lado de seu cognato c a tú /b r a , para designar um
mecanismo de remissão referencial no interior do texto: a anáfora é um a) degenero;
recurso de retomo a uma informação dada ou sugerida no texto, a catáfora • “E pela minha lei /A g en te era o b rig ad o a ser feliz.” (Chico
aponta para uma informação que será especificada mais adiante. Buarque de Hollanda)

22.7.2.12 Hípálage b) de número:


É a associação de um termo determinante a um termo que não é, logica­ • “A/uim g en te se irrita com a ópera; as vozes lh es parecem po­
mente. o seu determinado correspondente: derosas demais e os sentimentos, excessivos...” fCOLI, Jorge.
• “À passagem do menino, uma galinha sacudiu no ar parado “Paixões sonoras”. F o lh a d e S.Paulo, 6/4/2008]
suâ üi^asarra histérica-" (RESENDE. Otto Lara. “Gato, gato,
gato". In: BOSI. 1997: 133| c) de pessoa:
• “1.... 1depois ainda moveu de leve os lábios [.... J e se perdeu, a • '^Brasileiros e latincham ericanos fa z e m o s constantem ente a
um arranco do carro, na confusão do tráfego da rua estreita e experiência do caráter postiço, inautêntico, imitado da vida
rúpida." (BR.\GA, 1963a: 196-198J cultural que levamos.” [SCHWARZ, Roberto. In: BORNHEIM,
• “Essa é a glória do jardim. / com ro x o s q u e ix u m e s de rolas.” 1987: 93}
(MEIRELES. 1967: 337-338]
A silepse é um recurso de estilo cujo efeito de sentido está no proveito
Como a hipálage é uma figura que consiste na transferência de um que o enunciador pode tirar no jogo de relações entre o que um referente
atributo de um ser a outro, seu efeito de sentido apraia-se na impertinência tem no seu aspecto geral (explícito) e no que ele tem de particular (im ­
semântica provocada pela associação inadequada dos termos no fio da sin­ plícito). No exemplo Feito o gol, a torcida levantou-se co m o u m a o n d a ;
taxe. Esse expediente desloca a atenção do leitor para o objeto que o enun- em seguida, f o r a m sen tan do-se a o s pou cos, “a torcida” é um elem ento
ciador considera o de maior importância para o seu discurso — o termo coletivo que forma um todo indiviso e como cal reage ao gol do seu time. A
determinado ilógico deixando o termo determinado lógico em um plano euforia do gol vem a um só tempo para todos os membros da torcida, mas
secundário. Esse determinado lógico pode estar subentendido, aumentan­ sua dispersão depende da reação particular de cada indivíduo. A dicotom ia
do a complexidade semântica da expressão e concentrando mais intensa­ entre o sentimento coletivo e o sentimento individual é revelada no jogo
mente a atenção sobre o ser que se torna o principal objeto da referência. que se faz entre a concordância lógico-gramatical (a to rc id a íevantou-se)
Ü adjetivo histérica exprime um atributo próprio de seres animados - no e seu desvio, em razão da concordância ideoló^ca {foram se n ta n d o -s e ),
caso. a galinha - mas o autor deslocou-o para junto do substantivo que de- reforçado pela expressão partitiva aos poucos.
M CESIM í» SW ilTiU O C M H TH U í: W TlU .STK^^ -/ U "
•196 SÊTttU PARTÍ - A L^T.l•A F. S E I S U »\S F X rR £ j)S A 'O S

22.7.3 Figuras dc pensamento • “A falta q u e m e fa z e s n ã o é ta n to / à h o ra d e d o rm ir, (jiia n d o


d izias ‘D eu s t e a b e n ç o e *, e a n o ite a b ria em so n h o . // É q u a n ­
0 des\io se dá no sentido geral da frase, no entend im ento total da mensa­
gem. Essas figuras manifestam seu rendimento no desacordo da relação dc acumuUula dc
do, ao d e sp e rta r, r e v e jo a u m c a n to / a n o ífc

verdade entre o que se diz Uteralmente e a realidade da qual se fala. Assim, meus d ia s, í e s in to q u e e sto u v iv o, e q u e n ão s o n h o .” (^VN-
é fundamenta] o conhecimento do referente, para a perfeita apreensão do DRADE, 1 9 7 1 a : 2 7 0 ]
sentido que se pretende atribuir ao enunciado.
No verso de Noel Rosa, o verbo a c h a r significa ‘supor’, ‘estar em dúvi­
22.7.3.1 Símile da'; daí o perder-se. No texto de Geir Campos, o instante é exaltado como
Comparação assimilativa por meio da qual uma coisa é cxplicitamcntc a oportunidade de uma experiência amorosa intensa e única. No verso de
equiparada a outra. Essa comparação, em geral, é realizada mediante o Carlos Dnimmond de Andrade, o tom de desencanto diante da velhice, na
uso da conjunção como ou equivalente {tal com o, cal q u a l etc.): ijual 0 tempo da vida (dias) se resume no seu contrário {noite). O paradoxo
• “Como um a c a sca v el qu e s e c n r o s c a v a , / A cidade dos láza­ pode ganhar diferentes formas, como se vê nas duas figuras seguintes.
ros dormia." |“Os doentes”. In: íVNJOS, 1976: 92]
• “À brisa a vela grande tatala\'a / c o m o q u em a n u m h ec e / com 22.7.3.3 Antíte.se
uma can ção na boca." [“Derroteiro”. In: CAMPOS, 2003; 263J É a relação entre duas unidades de significado - palavras, sintagmas ou
enunciados - que expressam conteúdos opostos:
Para maior efeito de sentido em uma enunciação linguística, o símile • “Até agora, estou entre o elogio, que me d esv an ece, e a restri­
realiza, mediante uma expressão conectiva, o cotejo de formas de significa­
ç ã o , que me d ep rim e." (RODRIGUES, 1996: 219]
ção diferente, de sorte que o receptor da mensagem é induzido a projetar,
• “O primeiro efeito dessa lei antifumo, radical e cheia de furos,
no termo comparado {cidade dos lá s a r o s / a g r a n d e v e la ) , propriedades
não foi a p a g a r os cigarros, mas a cen d er uma grande polêmi­
relevantes do termo comparante (ume c a s c a v e l / a m a n h e c e r c o m uma
ca.” [VENTURA, 1999; 30]
canção na íxxxi). Não chamam atenção comparações lógicas e usuais tais
como Ela cra magra com o sua m ãe, porque elas carecem de qualquer fun­
Por meio da antítese se realiza uma contraposição simétrica de pala-
ção expressiva singular. A finalidade do símile é orientar o pensamento do
\T üsou expressões de significação oposta, para dar relevo a uma noção de
receptor da mensagem, tomando mais perceptível a relação que se preten­
contraditoríedade que se manifesta no espírito do enunciador. O seu efeito
de estabelecer entre os fatos ou seres envolvidos no processo de compara­
de sentido advém da tensão latente entre as forças opostas dc^ campos se­
ção. O símile de maior rendimento é, obviamente, o que ativa a associação
mânticos envolvidos no processo antitético. Essa noção de oposição muitas
de domínios concepiuais aparentemente sem correspondência; só assim o
vezes só pode ser apreendida a partir de um determinado contexto, e sua
enunciador consegue delimitar o alcance singular de sua percepção e de-
compreensão depende muitas vezes do conhecimento enciclopédico do re­
senundear uma experiência equivalente no receptor.
ceptor ou da situação comunicativa em que ela se manifesta.
22.7.3.2 Paradoxo
2 2 . 7 . 3 . 4 O x ím o r o
Espécie de enunciado que vai de encontro â opinião geral ou que sugere a
Em sentido amplo, qualquer combinação de idéias contraditórias. O oxímo­
falsidade de seu próprio conteúdo. Eis um dos mais conhecidos: No m undo
ro é uma variedade formal do paradoxo e pode ocorrer no interior de um
só /id menífms. É um paradoxo p>orque, para que este enunciado seja ver­
sintagma ou no âmbito de uma construção coordenada;
dadeiro, é preciso que seu conteúdo seja falso. Na escrita literária em geral,
• *‘E, continuando, com segura incerteza, deu consigo noutro
o uso do paradoxo é sempre uma aposta na legitimidade da incoerência;
locai, onde se achavam os copoanheiros, com método iam
• “Quem acha vive se perdendo." (Noel Rosa)
com beber” l“Nós, os temulentos". In: ROSA, 1967; 102]
• “Nada a perder, senhora; não percais /o ínsmnte que em eter­
• “Mas justiça se lhe faça; - Café Filho foi um corrupto honesto.
no se dilata / pondo em relevo, sobre uma hora chata, / o
Fez o diabo para servir ao patrão.” (RODRIGUES, 1996; 188]
amor com seus prodígios naturais." (GAMPOS, 2003: 179|
■19S s e m v PAIITt - A USOCA E SE IS I S I S EXntESSIATW
TOltóUIOSEOlWlKICAPm LO: ESTIlISIHa 4W

íundeza era dessas que um a form iguinha atravessa a pé,


Nào se trata aqui do mero registro da c o e x istê n cia dos contrários a fim
com água pelas canelas.” (RODRIGUES, 1996; 215]
de dar realce a ambos, como às vezes se expressa m ediante a antítese, mas
da integração deles no processo de percepção. O oxím oro é a explicitação,
em sua formulação mínima, da diferença en tre pontos de vista contraditó­ 22.7.5.6 Gradação
rios. Na pa.ssagem do conto, a incerteza produz o acaso feliz do encontro Reuniào de palavras ou expressões que se sucedem segundo uma lógica
com os amigos de copo. Tem algo em com um com o popular es c r e v e r certo scniânticn progressiva;
fxtr linhas tortas, provavelmente o mais universal dos oxím oros. O exem­ • “A folha / Luzente / Do orvalho / Nitente /A gota / Retrai: / Va­
plo de Nelson Rodrigues é autoexplicativo: o personagem citado é corrupto cila, / Palpita; / Mais grossa,/H es ita , / E trem e / E c a í . ” (DIAS,
de um ponto de vista, e honesto de outro. 1959; 584]
• “Não podia acabar de crer que essa figura esquálida, essa
22.7..V.S llipérbole barba pintada de branco, esse maltrapilho avelhentado, toda
Figura de linguagem com que o enunciador se serve do exagero - quase essa ruítui fosse o Quincas Borba.” (ASSIS, 1962: 571)
sempre inverossímil - do sentido para conferir especial relevo a alguma • “E se eu disser que à noite não consigo / sequer adormecer
informação. .Muitas hipórboles constituem uma variedade da metáfora; porque me agarro / à imagem que de U em vão persigo? / Pois
• “Perguntaram-me, certa vez, a minha opinião sobre d. Hélder. eis que o digo, amor. E logo esbarro / em tua ausência - essa
(...) Disse eu que nosso arcebispogatopaoa, a r q u e ja n te , atrás lâmina exata / que me p en etra e f e r e e sa n g ra e m a ta .” (JUN­
de uma platéia." [RODRIGUES, 1993: 2 2 9 J QUEIRA, 1994: 51)
• “Durante uns quinze dias o Aúsitante saturou-se a t é o s ossos • “Quero rever-te, pátria minha, e para / Rever-te me esqueci de
de euforia paisagística.” [RODRIGUES, 1996: 244) tudo / Fui cego, estropiado, surdo, mudo / Vi minha humilde
• “.Menino, me diziam; tens o olho /m a io r q u e tu a b a rrig a , e com morte cara a cara / Rasguei p o em a s, m u lh eres, h o riz o n tes /
as pupilas/eu comia alhos e bugalhos/e não me satisfazia,” [Mal Fiquei simples, sem fontes.” (MORAES, 1986; 267-9).
de vista. In: S.-\NTVVNNA, 1980; 157)
• “NVm m esm a todo o o cea n o p o d e r ia / L a v a r e s te p a d r ã o de Por se realizar dentro de um processo paulatino, a gradação é mna
covardia" [.\L\T;S. 1986; 121) forma perifrásloa de hiperbolização de uma ideia que habita o espírito do
enunciador. Seu efeito está em fazer o interlocutor perceber, no fio do dis­
A llipérbole é. por excelência, uni recurso estilístico de modalização, curso, as várias etapas na operação de intensificação. Há gradações cujo
pois explicita o grau de envolvimento e o interesse que o enunciador tem efeito se concentra na substituição de lexemas de sentidos aproximados,
pelo fato enunciado A expressão exagerada amplia o seu ponto de vista sinônimos ou quase sinônimos, como no exemplo Tbm ou-lhe p o r f im a n ti­
sobre a matéria apresentada, revelando seu juízo passional do fato. A asso­ patia, raiva, ojeriza, ódio..., em que as palavras que compõem a sequência
ciação com 0 ideia de grau aumentativo propícia a presença ostensiva de gradativa pertencem ao mesmo campo sêmico de sentimento negativo. Há
liipérbolcs no discurso coloquial, em que se cristalizam, a exemplo do que gradações, contudo, de maior efeito e de maior complexidade, cujo valor só
acontece com as metáforas. .Mguns exemplos: Contou um c a m in h ã o de Sé manifesta por conta do contexto em que se encontram e da relação se­
camogeius, Perdetí rio s de dinheiro, Estou m orto d e fo m e . mântica que se manifesta entre os signos no fio do discurso. Essas relações
não raro envolvem conotações metafóricas que só podem ser decodificadas
Obs.: N.ÃO há uma designação especifica para o que seria o oposto no confronto entre o universo textualmence concebido e a realidade que
semániicti da liiperhole, isto é, para o uso de uma expressão que reduz a lhe serve de referência. No exemplo de Gonçalves Dias, os verbos denotam
imensidade ou grandeza de algo, seja com intenção depreciativa, seja por três etapas da efêmera vida de uma gota de chuva; já no texto de Vinícius
(afewda) modéstia, como nesta passagem de Nelson Rodrigues; de Moraes, a sequência em itálico reúne entidades heterogêneas - papéis,
• -Em uma hora e meia de perguntas e respostas, não fui pro- pessoas, projetos - que o poeta 'deixa para trás’ em nome da ideia do re­
lundo uma única e escassa vez. Ou por outra; - a minha pro- gresso à pátria.
v n .ts iM i»s tijM M M a r m v o : t a m is r ir j 50/

J J T..V7 l-nú’mi**mo
Mviiüde n:i Uniiiuiílom. O estilo romAntico, por exemplo, idealizador por
Alcnunvào dc um tain traúioo. CrosNcin. ou dcs.-uiradavcl p»»r meto de
cvivlcnoia. traz no seu projeto certos tabus tin^uísiicos que evitam expres-
prev^KA o«insiilcr/ul.is mai'» amenas
nWs desailnidãveis. i^inorados pelo Naturalismo, que busca nas expressões
. -K, mais três pasM>s. pem iham K .. tapava o caminho a uma m.iis enins. mais atinadas com a ium^Ao de verossimilhança, n transparência
si-nhura J t r*'í»í*‘'mnuiíi/WvVH-N " |“\os. (ts lernuícnfm'
inuv a liniiuaiiem e as realidades sociais mais deprimentes. Em qualquer
In KOSA. l*»t»7 lo ll
cianmstància. mediante a escolhíi das palavras, ocorre, propositadnmente.
• \.huiru/i> t-m meu jH ifo rv/nTinir-st* a fihru / t ^ e o espirito uni ctuiajamenio lexical que sc subordina a um ato de fala por meio do quaJ
enlnsH ■ ih»r \ivente. / Nào derramem p«»r mim nenhuma U- 0 ciumciador. ao mesmo tempo que revela seu envolvimento com a matéria
ijnnia >Krn palpehrn ilenu nie" |A/K\'KI>( V Ah ares de "Lem- cmmciada. busca seusíbiliznr i> destinatário.
hrnnv'* dl M*•rrvr" In IlANI>KIÍ^\. l'*A7 1-II|
Mas ê preciso atentar para as relações entre os fatos linguísticos e os
t.itivs six.Mais, pois as variações linguísticas no interior de uma comunidade
22 7 A s I hslem isitio
são cinulictnnadas por fatores sociológicos, culturais e econômicos, como
l *11 iU pala>Ta «m expressão ismsidiTada i‘n>sseirn. tínuesca. nauseante ou K’m oumpmva a sooiolin^uística. Os preceitos sociais süo dinâmicos e. em
sjntt'h'*nienfi iU*saa*rndaNel em hii^nr ile «uitra ninis hrnnda ou neutra. í o nt/Ao dis.so, os conceitos ile eufemismo e üisfemísnio varinrn de acordo com
«tpiMiu do iniiemismo n esi.âilio cultuml da comunidade discursiva. .Assim como a sociedade, as
• it qtiiiandeiro assentado sohn* o halcâo. c<K‘hilavn a sua palavras têm sua própria história. EntAo. pela frequência do uso. o eufemis­
poi;ios'ij trM imnh« ti/ii. «leanciando o seu inienst» e espalma* mo ou o disfemismo podem perder o seu efeito, por acabar identílicando-se
ilo ]x devalvs» ( > as fvixetnis. quase todas neiirns. muito scmaniicamente com o nome que proeuru disfarçar ou explicitar, e, em
líoidas o inlnik in* na ealKvi. n iMUuruUt tts iintssits ifuatíns outros casas, o objetivo do disfarce ou da cxplicitaçáo pode desaparecer.
rn'friMli»*i t o * t t l o s nt»uí<*»iltw |A/K\ h I H > . J ( M l 5 2 ( kA-|| ciíliKando ambtxs no érau de neutralidade.
• ' liana im ^•asa um mieo. tra/idn do sertão p«»r meu avô. I ni
dia nt«*fdeu «i prini** hoi cstiuleiiad»* a ser pcMtdurado pelo pes* 2 2 .7.A.O .Vucífnisc
cs\st ^lu que a mon». si»hre\iesse lK*j>»us. joitndo pelo rabo l*so da liii)4ua}»ein com que. por superstição, malícia ou sarcasmo, se leva o
num eann.da ehaeara I »i seiiii a iiunte do inacuquinhu como ouvirue/leitor a compreender o oposto do que se declara;
a dl tíiiiu I iUsidi dai-lhe sepultura enslà U*\ei-o para u • “Quarenta e um anos. Mas isso ê velhice, meu lAeus:' Pelo
muro laii.. d.* naelio dos mluiines, ahn um huraot». íorrei dc contrário: - é a mulher em llor. a mulher na sua mais delicio­
fti a »*l'ra de iiuserii.s>rdia e ws»hn ct*ni ladrílhus ve- sa plenitude. E <»s exixlvntes rufxiacs da imprensa põem-se a
llios hias ik|*us tui \er i'onio estava c re cu e i de huirur e contar as nif^is da atriz e, mais, põem-se a inventá-las. IRÜ-
n o to dianii da i k IhaUí . csín h u ia. sk.’tn tutttu: DRUIUES. IWh: 210|
i ^-nVluiruli^ (iu vuiu de mii tx*r?ue,s ik iifro liu (fr^ucsiru^-úu • "Isso é que dá encanto ao costume da ^ n te ter tudo desar­
lios naMsxis &unihiiaJo " l^Td («Jj rumado. Tenho uma secretária que ê um zjènío nesse seriíí-
tio Perdeu, outro dia. einqueiua páíiinas de uma tradução.”
ISit enquadrarem o eiiuiwiadt»! eni uni delenuiiuuk» o im te x io situacio- 1BR.U1A, li>ll
ual (vlas \I4.S da Im^uai^iii u eulcnusiuo e u disleciusm u sàu rev'urseis csU*
iisUvs» ti)'toanii-nte Jtseu rsu o » ^..sse cixquadramenii> o ltcd e ce à liHiaikiadc A atiiífrase é um recurso típico do discurso irônico, dissimula-se o
dl- 1-xj'iX'SMK's jsUiUeaiiKiiie i\»rre*tas ou iiKxirretas para um a d eterm in ad a pensamento - e mesmo o sentimento - com a expectativa de que o desti­
Mtuaváie setiuudo u pom lt» dc cSMUumeatiào du enunciadi»r. q u e pode estar natário os ciimprecnda. ditos embora por meio de expressões que deno­
leUcKiiiado a luua atitude dipiomaiica tctdiemiMiKil ou d c e illre n ia m e m o tam u cíinirário A ironia corresponde a um ato de fala necessariam ente
tdistitm saiot Na ivc\dus*ào Uicraoa o cuicimaiiio c o di&lem ism o servem piáilõmco uma voz manifesta é secundada por outra voz, em q^f' mas
a uiu proKio e^uUsUwv qut eu>a. rcspccUvanKnte. delicad eza ou aüres- dominante, que desacredita e desautoriza a primeira. ^Assim, o conteúdo
r 50’ stniu rARTS - a lKiii'a e seiu isos ExrRESsr\'os
VIUÉ-SIMO SECITIDO C U lr n A I: rSTlU STIlA

e o samba pra distrair. //Deus lhe pague / Pela cachaça, de gra­


.s a i

manifesto, desacreditado pelo ato irônico, dá lugar a um segundo con­


teúdo, implícito, que equivale ao contrário do primeiro. Fenômeno que ça, que a gente tem que engolir / Pela fumaça, de,sgraça, que a
extrai sua graça da sutileza, a ironia é, por excelên cia, um procedimento gente tem que tossir / Pelos andaimes, pingentes, que a gente
de distanciamento crítico, que envolve, porém, um alto risco: seu sucesso tem que cair" (Chico Buarque de Holianda)
depende da cumplicidade cooperativa do ouvinte/leitor. Este precisa do­
minar e operar as regras do jogo, por mais que elas não estejam combina­ Ironicamente, o texto faz referências implícitas a uma época social-
das de antemão com ele“ . mente marcada - o período da ditadura militar no Brasil. A partir de,s,se co­
Por pertencer à retórica da dissimulação, a ironia produz ambigui­ nhecimento, que transpõe os limites frásticos do texto, podemos entender
dades que a interpretação no nível puramente cotextual não é capaz de adimensão poética do sentido textual. O poema nos remete a um confronto
sanar. Para captá-la. é necessário recorrer à situação enunciativa ou ao e.xcludente entre o mundo da vida e do prazer, de um lado, e a esfera da
interdiscurso, o que a situa numa fronteira entre a heterogeneidade mos­ repressão, de outro. Perpassa o texto a ideia básica da ironia cortante de
trada (presença de vozes identificadas) e a heterogeneidade constitutiva que 0 único prazer que restou foi o ‘prazer de ehorar’.
(presença de vozes não identificadas). Por conta disso, ela é passível de
interpretações e análises diversas, cuja e.xtensão é difícil de circunscrever 22.7.. 1. 1 0 Lítotes
por mais que estejamos próximos de exemplos antifrástioos cristalizados. Declaração de algo pela negação do seu contrário:
/\ssim, sua compreensão plena só é possível a partir da m em ó r ia discur­ • Por favor. Nina - gemi. - Ninguém a detesta n esta c a s a ,
siva do leitor, onde se armazena o conjunto das informações relevantes aqui você só conta amigos." [CARDOSO, 2002: 123[
para a análise textual. Na verdade, o desvendamento do texto e a apreen­
são dos seus efeitos de sentido dependem de uma interação entre os in­ Sob certos aspectos, a lítotes pode provocar a atenuação da expressão
terlocutores, o que nos conduz aos P rincipias d e C o o p e r a ç ã o postulados do pensamento sem prejudicar, na sua essência, o seu intento, como ocorre
por Paul Grice - “Que sua contribuição conversacional corresponda ao no exemplo acima. Mas não se pode desprezar a noção pressuposta que a
que lhe é exigido para a meta ou para a direção aceitas da troca falada na lítotes evidencia, na medida em que, com a negação, ela faz indiretamente
qual você está engajado”'". referência a uma normalidade, que é negada, ou a um ponto de vista con­
Como em análi.se de texto não deve haver gratuidade, é conveniente sensual, do qual o enunciador discorda. No exemplo de Lúcio Cardoso, a
que se entenda a ironia como um gesto destinado a um destinatário, não e.\pressão Ninguém a detesta nesta casa nega a rejeição que a personagem
uma atividade lúdica, desínteres.sada e desprovida de um fim perlocutório. acredita inspirar.
Assim, é preciso que se leve em conta o efeito de sentido que uma ironia
engendra. Pelo conflito entre a voz do enunciador locutor e a voz implícita 22.7.. 3.11 Prosopopeia
do outro enunciador, estabelece-se uma relação polêmica sobre a qual o Consiste em transportar para a cena enunciativa seres que logicamente não
discurso se constrói. podem dela participar, tomando-os instâncias interlocutivas:
Em se tratando de um texto poético, deve-se levar em consideração • “— Que foi? Balbucia o poeta /E a rosa : - Calhorda que és! /
como a ironia pode contribuir para a constituição da poetícidade do texto, Para de olhar para cima! /Mira o que tens a teus pés! (...)// —
a partir da dissonância entre o que .se diz e o que se quer dizer. Afinai, no São milhões! - a rosa berra /Milhões a morrer de fome! / E tu,
processo antifrástico, a tensão provocada pelo conflito das vozes acaba por na tua vaidade, /Querendo usar do meu nome!...” [MORAES,
se transformar na tensão poética do texto. Vejamos o fragmento abaixo: 1986: 348[
• “Deus lhe pague /Pelo prazer de chorar e pelo estamos aí /Pela • “Ó mar! por que não apagas /Go’a esponja de tuas vagas / Do
piada no bar e o futebol pra aplaudir /Um crime pra comentar teu manto este borrão? //Astros! noites! tempestades! / Rolai
das imensidades! / Varrei os mares, tufão!” [Afaoto N egreiro
*' O Trrjloêo dc PAOLIARO (1V67| é uma ruiluaão não lE-cnica. ma,s muiio esclarecedora .sobre u In: ALVES, 1986: 281)
naturvza da ironia.
- Apud CIL\IC\UDEAIJ t(t ALMNÍÍL^ENEAI^ \2<tti4\. ______
Motsum sEtjVNuo r.Mtnio: e.stu.i.str:.\ 505
.ÇfM .SÍTtU-k r.VRTF. - A I.IS(U’A E SEtV l'^S^W EXPRESSINt»

• “Se você fosse sincera, /ô, ô, ô, ô. Aurora. / Veja só que bom


Secundo Nilcc Sant’Anna Martins, a prosopopcia é uma figura retórica
que era, /ô, ô, ô, ô, A urora!” (era por seria) (Mário Lago)
que diz respeito aas papéis da enunciação”^ Assim, ela põe em cena seres
ausentes, sobrenaturais ou inanimados, fazendo-os ouvir, falar, responder.
Aenálage constitui um mecanismo linguístico de substituição, pelo t|unl
Para Pontanier, não se deve confundir prosopopeia com personificação nem
se desvia uma forma de sua função significativa mais regular e congruente - e
com apóstrofe, que normalmentc a acompanham'''*. A personificação con­
por isso mesmo neutra - para um uso menos congruente - e por isso mes­
siste na transferência de atributos humanos a seres inanimados ( “Rio lento
mo mais apta a impressionar o leitor. Esse artifício linguístico redireciona a
de vãrzea, /vou aflora ainda mais lento, / que agora minhas aguas /de tanta
menção do receptor da mensagem para o campo de Interesse do enunciador.
lama me pesam" IMELO NETO, 1994: 1391); o apóstrofe à a figura na qual
No Lwcmplo dc Gelr Campos, o emprego do pretérito maís-que-perfeito em
0 enunciador dirige-se a um ser distante no tempo e no espaço, tornando-o
lu^ir do futuro e do pretérito impierfeito do subjuntivo anula a noção de fu-
seu interlocutor imediato (“Andrada! Arranca este pendão dos ares! /Co­
mridade c dn situação condicionante do imperfeito. Transplantando o evento
lombo! Fecha a porta dos teus mares!” (ALVES, 1986: 284|.
pam um passado irrecuperável, representado por um tempo verbal remoto
Preferimos dar aqui uma noção mais ampla de prosopopeia, consi­
de aspecto concluído, o enunciador anula completamente sua possibilidade
derando que 08 papéis intcrioeutivos de enunciador e enunciatãrio estão
de ocorrência. No exemplo da Machado de Assis, por sua vez, o emprego do
numa relação dialética, já que um só se constitui como tnl diante do outro
presente do indicativo em lug^r do pretérito imperfeito do subjuntivo traduz
(todoeii pressupõe imediatamente um fw), compondo as instâncias da cena
uma noção de certeza para aquilo que seria apenas uma condição hipotética.
enunciativa. Por considerar que a prosopopeia está ancorada na cena dis­
No e.\emplo da canção popular, a forma era atende à necessidade de rima
cursiva, obser\'amos que o seu rendimento está relacionado com o imedia-
(com KÍiiceru), ao mesmo tempo que acentua a perda.
tismo na escolha do enunciador, que prefere pôr em cena os seres distantes
ou imaginários como seus interlocutores a tomá-los apenas como referen­
22.7.3.13 Preterição
tes dentro do seu contexto histórico-discursivo.
Consiste na afirmação de um fato, sugerindo pela forma do enunciado a sua
negação:
22.7.3.12 Enálage
Desvio gramatical que consiste em atribuir a um termo uma aplicação di­ • “Não direi que assisti às alvoradas do Romantismo, não direi
versa da que lhe é típica. que também eu fui fazer poesia no regaço da Itália.” (ASSIS,
Segundo Mattoso, a retórica greco-latina considerava a enálage no âm­ 1962: 541-21
bito das figuras de linguagem'**'. É assim que vamos considerá-la, e o faze­ • “Não rimarei a palavra sono /com a incorrespondente palavra
mos primordialmente em relação ao emprego dos modos e tempos verbais, outono. / Rimarei com a palavra carne / ou qualquer outra,
como ocorre no uso futuro com valor modal, no emprego do presente his­ que todas me convêm.” [ANDRADE, 1971a: 751
tórico etc.'":
• “Eu bem pudera, meus filhos, levantar para vocês novamente Na preterição, o enunciador negaceia com o receptor da mensagem por
/o que tive, tudo isso e algum sonho com destino omisso: mas meio da linguagem, procurando disfarçar algo a que ele está se referindo, ao
se eu lhes desse agora fragmentos do meu assado / não fo r a sugerir a negação de sua aderência ou engajamento em relação ao objeto de
como dar-lhes um presente usadoV” {pudera ef o r a por p<KÍe- sua referência. No exemplo de Machado de Assis, autor notadamente antir-
ria e seria) (CAMPOS, 2(M)2, v.l: lÜO). romântico, é conveniente sustentar, ainda que aparentemente, a rejeição
• “Se entrega a carta, não teria remorso.” {entrega por en tre­ às alvoradas do Romantismo, para o qual/o2 er poesia no regaço d a Itá lia
gasse) [ASSIS, 1962: 687] representa uma atitude própria do seu programa poético. É interessante
notar que o autor não só finge rejeitar o falo em si, mas também, numa
\L\RTINS 12000).
FONTANIER, Pierru, "L«s Figuies <lu Díscours". Paris: Flnmnrinn, 1968. Apud MARTINS {2(X)Ul atitude de ironia, sugere sua recusa em relação às formas de expressão do
CÂMARA Jr. 11977). discurso poético do estilo romântico, fato que se pode notar na ‘nobreza’
Para maíur aculdaUv cai assumo, ver ii scyáo sobre emprego dos tempos verhai» dcKta
obra
declamatória das metáforas alvoradas do Romantismo e regaço d a Itólia.
506 Strau P.IRTK- ALlMll'A E SEUS US<»I E!íl'l(ESSIVOS VinÊSIM(l«Er,IWI)(ICM1TI'l.(l: IMTII.I.NTIIA 507

Com essa atitude, Machado reafirma sua opção declarada pela estética do Em busca da criatividade, fugindo ao rigor lógico da previsibilidade, a
Realismo. É análogo o procedimento de Dnimm ond, colocando a liberdade iinguagem poética promove associações semânticas desconcertantes, à pri­
de construção do texto, em nome do sentido pretendido, acima dos precei­ meira vista inadequadas, criando, a partir daí, sentidos surpreendentes que
tos fomiais da arte poética. .só são perfeitamente compreendidos à luz da sensibilidade do espírito. Es-
.sns operações se baseiam na descoberta imaginativa de diferentes tipos de
22.7..1.H .Siiieste.sin vínculos associativos que atuam permanentemente em nosso espírito sem
É a associação de sen.sações que pertencem a registros sensoríais diferentes.' que muitas vezes tenhamos consciência, como resultado de cruzamentos,
• “Músicas passam, perpassam finas, diluídas, finas, dilufdas, e elipses mentais, contaminações e associação de idéias. Esses arranjos suge­
delas, como se a cor ganhasse ritmos preciosos, parece se des­ rem certos sentidos aparentemente distanciados do seu conteúdo objetivo,
prender, se difundir uma h a r m o n ia a z u l, a z u l, d e tal inalte­ ativando certas relações que estão ocultas em nosso subconsciente. Mas as
rável azul, que é ao mesmo tempo colorida e sonora, ao me.s- representações ou sensações suscitadas por esses enlaces não se encon­
mo tempo cor e ao mesmo tempo som ...” (“Região In; tram nos elementos que as compõem. Elas vêm por meio de uma técnica
CRUZ E SOUSA, 1995: 558J deliberada que atua na propriedade linguística, desenvolvida com acurado
• ”... pestanas eriçadas e negras, pálpebras d e um ro x o vaporo- instinto estético e psicológico. Esses arranjos são, na verdade, hábeis subs­
so e úm ido ” (AZEl^EDO, 2005; 289] tituições do termo apropriado por outro, nas quais aquele está contido por
• “O silêncio_fh;sco desfolha das árvores.” (“Noturno d e Belo associações metaforizadas que não raro provocam representações adicio­
Horizonte”. In; ANDRADE, 1966; 125] nais de caráter psíquico, dando à expressão uma multiplicidade de planos.
• “Essa é a glória do jardim, / (...)/ débil queda de folhas secas, Essas associações mostram uma tendência a apoiar-se em valores di-
/ murmúrio de gota de água / na u m id a d e v e r d e dos tanques. fu.samente emocionais. Seu tom e seu propósito são eminentemente psí­
(MEIRELES, 1967: 337-8] quicos, e seu efeito resultante é essencialmente poético. Se a sinestesia
pertence à esfera da cognição, a hipálage pertence ao âmbito das relações
A integração de domínios sensoríais faz da sinestesia um processo as­ sintáticas. E é aqui que ambas se entrecruzam, uma a serviço da outra,
sociativo análogo ao da metáfora. A construção de sentido operada pela si­ tomando-se difícil distingui-Ias, já que, em dados momentos, aquela é ope-
nestesia sempre mobiliza, porém, duas experiências concretas, ao passo que racionalizada por esta por meio do afrouxamento dos vínculos sintáticos.
a metáfora pode associar dois domínios concretos, dois domínios abstratos, Para sermos práticos, podemos dizer, grosso m odo, que enquanto a sines­
ou ainda combinar o concreto e o abstrato. Os domínios conceptuais da si­ tesia se realiza no plano paradigmático, a hipálage se configura no plano
nestesia não são associáveis por força de analogias estruturais. Uma metáfora sintagmático, pela associação formal dos termos envolvidos. De qualquer
como Seu sorriso é uma estrela cadente, a despeito da impertinência semân­ forma, os efeitos poéticos são incontestáveis, e sua atuação é fundamental
para a construção das impertinências que representam estados psíquicos
tica da expressão, pode ser captada por associações psíquicas motivadas por
nem sempre explicáveis à luz da lógica.
atributos lógicos dos elementos envolvidos: o brilho do sorriso (dos dentes)
pode ser associado ao brilho da estrela, a beleza do sorriso pode ser associada
22.7.4 Figuras fônicas
à beleza do morimento cadente da estrela. Por outro lado, numa expressão
O desvio ocorre na organização da camada sonora da linguagem, exploran­
sinestésica do tipo Gela o som, gela a cor, as associações psíquicas não têm
qualquer motivação lógica perceptível, visto que os elementos direta ou indi­ do o potencial expressivo dos fonemas.
Os sons da linguagem, assim como outros sons, podem provocar sensa­
retamente envolvidos já são, pela sua natureza volátil, altamente subjetivos e
ções agradáveis ou desagradáveis. Não é por outra razão que Charles Bally
completamente distintos. A metáfora sinestésica, portanto, corresponde a um
máximo de impertinência, em virtude do principio segundo o qual a grandeza afirma a existência de “uma correspondência entre os sentimentos e os
da dissonância é proporcional à grandeza da mudança de sentido necessária efeitos sensoríais produzidos pela linguagem’”'.
para que a impertínéncia seja reduzida, ou, em outras palavras, proporcional
à distância que separa o sentido denotativo do sentido eonotativo BALLY 119411.
\10É.SUKí SEGUNDOGAPÍTUU): ESTII.Í.STIGt 5m
sos stm» PAUTI-.( LNiXAESEI-Sl^SOSexpressiub

22.7.4.1 .Mitcnivâo tleamplidão e liberdade do mar aberto ao qual a caravela se lança. Assim, a
Repetição sistemática de uma consoante - ou encadeamento de unidades matéria fônica da linguagem pode desempenhar uma função expressiva que
cnnsonãnticas muito parecidas - na sequência do enunciado; sedeveàs peculiaridades articulatórias dos fonemas, quais sejam , seu modo,
• “Auriverde pendão da minha terra, /Que a brisa do Brasil bei­ suazona e seu ponto de articulação, seu timbre, sua altura, sua intensidade
ja e balança." [AVicio Negreiro. In: ALVES, 1986: 283) etc., contribuindo para a feição estética ou afetiva do enunciado.
• “.\spera guitarra rasga o ar da praça.” (SECCHIN, 2002; 30)
• “Esperando, parada, pregada na pedra do porto, / Com .seu 23.7.4..1 Piiruiioniásin
único velho vestido cada dia mais curto.” (Chico Buarque de Consiste no emprego de palavras que se aproximam pela similaridade fônica:
llollanda) • “Na terra da imprevidêrtdcij em que só se tomam p rossidên -
• “E as cigarras agarradas aos troncos /ensaiam na sombra suas cias depois da porta arrombada, foi preciso mais uma tragédia
rc.sina.s sonoras" [MEIRELES, 1967; 337-8] para que as autoridades vissem o óbvio e pensassem em agir.”
[VENTURA, Zuenir. O G lobo, 2/7/2008)
22.7.4.2 .Vssonàiieia • “Quando ele nasceu nasceu de b irr a / B a r r o ao invés de in­
Repetição sistemática de uma determinada vogal tônica na sequência do censo e mirra / Cordão cortado com gilete.” (BLANC, Aldir.
enunciado: “Gênesis”. In: FERRAZ, 2005: p. 115]
• “A cidade inteira retinia com o retin tim das enxadas lim pan­
• "Vírge Maria que foi isso maquinista?” (“Trem de Ferro”. In:
BA\DEIR-\. 1967: 281) do o mato dos quintais das casas que perm aneceram fechadas
durante o ano.” (ÉLIS, 1974: 105]
• "És tul e qual a nau quando ao mar alto larga.”’^ (ALMEIDA,
196.'i: 72]
0 rendimento expressivo da paronomásia é devido ao realce proposital do
possível conflito entre a realidade do plano da expressão - onde as formas se
Somada ao etidente efeito lúdico produzido pela sonoridade das pala­
apro-timam{imprevidêncút/ptxroidências, birraJbarro') —e a do plano do con­
vras, n aliteração e a assonáncia participam da construção do sentido se­
teúdo-onde elas se afastam. O e.\emplo de Zuenir Ventura põe foco no erro
gundo as especilicidades temáticas de cada texto. Antes de mais nada, elas
clássicodos remédios tardios, que optam pela cura em detrimento da preven­
constituem recursos que chamam atenção para o dito, pela própria matéria
ção. No trecho de Aldir Blanc, p>or outro lado, o jogo dos substantivos ‘barro’
fônica do enunciado. É relevante observar que a expressitidade assume valor (matéria) e birra (comportamento) cria a oportunidade para uma inesperada
verdadeiramente poético quando não é aleatória, mas participa da solidarie­ ossociação entre um fato corriqueiro e um episódio bíblico. A paronomásia se
dade entre o signiltcante e o signihcado, romp>endo com a neutralidade carac­ manifestacomo se cada palavra penetrasse no seu parônimo pela repetição dos
terística da arbitrariedade do signo, nos termos da formulação saussuriana. fonemas e, consequentemente, pela similaridade da pronúncia, criando assim
Tatuo a aliteração quanto u assonáncia atuam no propósito do enuncia- umatensão entre seu aspecto fônico e sua referência semântica.
dor por meio da iconicidade da linguagem, produzindo harmonias imitati-
vas que ratificam e ampliam de forma suplementar o sentido da mensagem, 12.7..Í l‘arjlelisino
como nos e.vemplos acima. Na aliteração de Castro Mves, a repetição do Éa correspondência ou simetria entre duas idéias, estruturas verbais ou
fonema |b| sugere o som do vento e, por extensão, o som do beijo na ban­ segmentos textuais coordenados numa sequência enunciativa. O paralelis­
deira; a repetição do fonema [p| no exemplo de Chico Buarque, pelo seu mopode ser sintático, semântico ou rítmico’ ^.
aspecto oclusivo, amplílica a ideia da imobilidade da mulher à beira do cais. Acoerência diz respeito ao nexo entre os conceitos; e a coesão à e x ­
No e.xemplo as.sonântico de Bandeira, a repetição da \x>gal (i) imita o apito pressãodesse nexo no plano linguístico. Para que as noções de co erên cia e
prolongado da locomotiva; e no último exemplo de assonáncia. a repetição ojcsãosejam levadas a termo, é necessário que se considerem as operações
da vogal |a| remete, pelo seu grau de abertura articulatória, o leitor à ideia mm0 princípio do paralelismo na produção textual, pois elas podem con -
iribuir efetivamente para o rendimento expressivo do texto
*- Este exemplo é recriação lie um verso ão poeta francês Charles Baudelaire - TU,ruix /'çtlêt dun
b%:tiu eutsseuu qui ptvrtd fe turfie - realizada pelo poeca brasileiro Guilherme de rVlmeida. VerfLiRCiA |2(IU4|.
510 SÊTlMA PARTE - A LiNOUA E SEl^S U S 0 8 EXPKESSIVUK
512
sfA ifM x » t^ \ p fT n .o ; c m u s n c A

22.7.5.1 Paralelismo siiitátíoo dade que não chama atenção do receptor da mensa^m. No entanto, o enun-
É a perfeita correlação na estruturação sintática da frase. Como a coordenação ciador pode apelar para uma coordenação oorrelativa, .adotando o uso de certas
é um processo que encadeia valores sintáticos idênticos, presume-se queos fórmulas correlatas (não só... nuis tam bém , não .somente... s e n ã o ta m b ém .
elementos sintáticos coordenados entre si devam apresentar, em princípio, es­ tanto... quanto, tanto... com o, não o;x’na.s... m as a in d a etc.). Es-sas fórmulas
truturas gramaticais similares. Isso significa que a coordenação sintática deve funcionam estrategicamente como operadores argumentativos que encadeiam
comportar constituintes do mesmo tipo. dois ou mais argumentos orientados no mesmo sentido e assinalam cada um
Mas não podemos levar essa teoria às últimas instâncias, pois o parale­ dos sint.agmas conectados envolvidos, atribuindo a ambos uma tonalidade de
lismo não se enquadra em uma norma gramatical rigida, já que a lináua ad­ realce e expres-sividade na fra.se'*: Não ando a cav alo n ã o s ó p o rq u e ten h o
mite outros padrões sintáticos na construção frasal. Quando dizemos Eve medo mas tam bém porque não tenho roupa a d equ ad a ou ainda; N ão a n d o
é u m ca rro po ssa n te e qu e a lca n ça grande rxlocidade, embora a con.smi- a cavalo não s ó por ter m edo m as tam bém p or não ter rou pa a d e q u a d a .
ção seja gramatical, não estamos operando com o principio do paralelismn, A correlação constitui um processo usual na linguagem da argumen­
pois coordenamos termos de naturezas distintas: um sintagma adjetival tação. Assim, não podemos encará-la apenas como utn simples processo
básico (p ossan te) e um sintagma adjetivai derivado (que alcança grande sintático de coordenação. Mais que isso, ela constitui um importante recur­
v elo cid a d e). O princípio do paralelismo seria respeitado se déssemos à (ra­ so estilístico de rendimento enfático na estrutura paralclísticn do discurso
se as seguintes estruturas: E ste é um carro que tem muita força e que pode e, quando os elementos correlativos são bem utilizados, atuam no espírito
a lc a n ç a r graruie velocid ad e - coordenando dois sintagmas adjetivais deri­ do receptor da mensagem, despertando nele a atenção para as referências
vados - ou E ste é um c a rro possante e velos - coordenando dois sintagmas contidas nos pares coordenados.
Não podemos deixar de assinalar no paralelismo sintático o processo
adjetivais básicos. Qualquer dessas formas é perfeitamente aceitável, pois
não fere a integridade sintática do sistema linguístico. da coesão recorrencial, que se faz por repetição de estruturas sintáticas, ou
Não sendo, como se viu, uma operação obrigatória, o paralelismo pode seja, por uma série de frases que apresentam estruturas gramaticais idên­
ticas. A repetição dessas estruturas sintáticas constrói no texto um padrão
constituir um interessante recurso expressivo do qual o enunciador pode
fomal que afirma e reafirma o dito, num processo de amplificação que vem
lançar mão para ordenar e orientar, segundo suas intenções, as idéias do
em socorro dos valores expressivos do texto. É preciso considerar, porém,
receptor da mensagem, fazendo corresponder idéias similares a formas ver­
que o sentido suplementar da repetição não é previamente estabelecido,
bais similares. Isso não significa, contudo, que qualquer estrutura parale-
como se fosse cristalizado na sua própria forma; ele emana do próprio tex­
lística surta um efeito significativo para a expressividade da linguagem. A
frase N ão a n d o a ca v a lo p o r ter m edo e porque não tenho roupa adequada to, adere ao seu conteúdo, criando uma semântica circunstancial que am­
contraria o princípio de paralelismo sintático, pois apresenta orações co­ plifica as operações de referenciação.
Tomemos este exemplo de Manuel Bandeira:
ordenadas de estruturas diferentes. A primeira (por ter medo) é reduzida
de infinitivo e é introduzida por preposição; a segunda (porque não lenho
ro u p a a d eq u a d a ) é desenvolvida e introduzida por conjunção. Propomos Canção do vento c da minha vida
as seguintes soluções para atingir o princípio do paralelismo: Não ando a O vento varria as folhas, / O vento varria os frutos, / O vento varria as
c a v a lo p o r ter m edo e (por) n ão ter roupa adequ ada e Não ando a cavalo flores... /E a minha vida ficava /Cada vez mais cheia / De frutos, de flo­
p o rq u e tenho m edo e (porque) não tenho roupa adequada. Especialmen­ res. de folhas. //O vento varria as luzes, /O vento varria as músicas, /O
te como recurso sintático, “o paralelismo não constitui propriamente uma vento varria os aromas... E minha vida ficava /Cada vez mais cheia / De
regra gramatical rígida. Constitui, na verdade, uma diretriz de ordem esti­ aromas, de estrelas, de cânticos. //O vento varria os sonhos /E varria as
lística - que dá ao enunciado uma certa harmonia - e constitui ainda um amizades... /O vento varria as mulheres... / E minha vida ficava / Cada
recurso de coesão - que deixa o enunciado numa simetria sintática que é vez mais cheia / De afetos e de mulheres. II O vento varria os meses /
por si sõ articuladora." (ANTUNES, 2005: 64], E varria os teus sorrisos... /O vento varria tudo! /E minha vida ficava /
É certo que as fórmulas acima propostas não traduzem expressividade Cada vez mais cheia /De tudo. (BANDEIRA, 1967; 302(.
significativa no processo coordenativo. Elas apresentam um grau de neutrali-
512 SÉTIM
APARTE- ALIN
OUAESEUSUSaSEXPRESSIVOS
ESTll.l.'5Tír..\ 5/J
Note-se que todo o texto se vale de estruturas paralelísticas paraa a campos conceptuais distintos, não traduzem uma noção de exclusão,
construção do seu sentido poético. Em obediência à temática do teito.o já que um carro a gasolina pode ser também um carro importado. Isso
autor alcança a forma poética por meio de uma macroestrutura mcmon- traduz uma ideia de impertinência semântica para o texto. Propomos a
tiva. A repetição de estruturas coordenadas em todas as estrofes sui^re princípio as seguintes soluções: Ana tem um carro a gasolina e ou tro a
iconicam ente o transcorrer da existência em instâncias sequenciais, mi- álc<H)l e Anu tem um carro nacional e outro im portado. É evidente que
metizando a construção da plenitude da vida, â medida que o tempo % 0 princípio do paralelismo nas soluções encontradas obedece tão somen­
esvai. Valendo-se do paralelismo, o autor cria um padrão recorrenclal que te a uma regra do sistema semântico da língua e nâo contribui para a
identifica a estrutura particular do texto. Por meio das recorrências - e m expressividade do texto. Isso porque na maioria dos casos o paralelismo
texto elas aparecem em vários níveis: repetição de termos, de estruturas, está apenas a serviço de uma lógica que estabelece os limites do campo
de conteúdos, de recursos fônicos e tempos verbais - ele demarca, nosirts perceptivo do interlocutor.
primeiros versos de cada estrofe, o movimento incessante do vento c, nos Para que o efeito de sentido do pamlelismo tenha expressividade
três últimos, o efeito constante da ação do vento. O conjunto dessas estru­ relevante, é necessário que a estrutura paralelística seja evidenciada no
turas contribui peculiarmente para a semântica do texto, acrescentandoao enunciado. Isso pode ser feito por intermédio de estruturas previstas na
seu conteúdo um sentido suplementar que categoriza a existência humana gramática da língua, que estão à disposição dos seus usuários, para as es­
como um ininterrupto vir a ser. colhas que melhor convierem ã sua intcneíonalídade discursiva. Uma das
O paralelismo pode atuar também em certos proi'érbios populares que possibilidades de evidenciação da estrutura paralelística é a construção
se notabilizam exatamente pelo enríjecimento da simetria de uma determi­ apositiva****. A aposição constitui uma estrutura hinuclear em que o núcleo
nada estrutura sintática. No provérbio Rei morto; rei posto, a estrutura pa- primário ou fundamental de um sintagma se associa a um outro sintagma
ralelística se constrói com a repetição do substantivo (rei) e de uma forma nominal que constitui o seu núcleo secundário. Em outro lugar, já ob­
participial (m orto/posto), associada a ele. Em Casa de ferreiro, espeto de servei que a aposição nâo é apenas uma estrutura redundante do ponto
p a u , o paralelismo se realiza pela justaposição de dois sintagmas nominais de vista sintático. O aposto constitui um recurso decisivo como peça do
intemamente estruturados de forma idêntica ((substantivo) + (preposição^ componente retórico dos textos (AZEREDO, 2007). Na frase A/ia tem um
substantivo]). Nesses tipos de frase, o paralelismo funciona como uma téc­ carro nacional e outro im portado, como já vimos, não há valor relevante
nica mnemônica para a fixação do dito. É de se notar que as elipses mentais no paralelismo entre os adjetivos nacional e importado, pois ambos estão
que ocorrem nesse tipo de provérbio promovem a associação imediata, quase inseridos na adjunçâo a um núcleo nominal sem qualquer destaque. Mas
automática, entre as realidades expressas em cada uma das partes simétriais na estrutura apositiva Ana tem dois carros: um nacional e oucro im por­
de cada frase, reforçando a função edificante da filosofia popular. tado, o núcleo primário ganha relevo, concentrando em si a atenção do
interlocutor, e os núcleos secundários, em consequência do seu enfraque­
2 2 .7 .5 .2 Panüelisiiio semântíeo cimento referencial, heam a servâço das especificações do referente, que
É a perfeita correlação entre as ideias coordenadas, considerando o aspecto são evidenciadas.
lógico-semântíco na frase. A ausência de correlação semântica constitui A estrutura apositiva distribucional à qual a frase se submeteu propor­
uma espécie de ruptura do sistema lógico da língua que resulta da associa­ ciona a fusão de duas estruturas que, isoladas, têm o seu grau de importân­
ção de ideias desconexas. O paralelismo gramatical não garante a lógicado cia. Esse grau de importância é reavaliado no resultado dessa fusão:
texto, pois há casos de paralelismo gramatical que não apresentam corre­
• 1* estrutura - Ana tem dois carros.
lação de sentido ou adequação à semântica do texto. Assim, em obediência
• 2* estrutura -A n a tem um carro nacional e outro im portado.
aos princípios do paralelismo, deve-se levar em conta a natureza dos ele­
mentos citados no enunciado, a fim de que se possa garantir a homogenei­ • Fusão das estruturas - Aíia tem dois carros: um nacíorui/ e
dade morfológica e funcional dos termos em coordenação. outro im portado.
A frase A n a tem um ca rro a g asolin a e outro importado rompe os
princípios do paralelismo, pois os elementos citados, por pertencerem
|2007| **‘'**‘^“ ‘discursivo do npusio, vor o ensuio "O Aposlo o o liucrtcxio’'. In: íVZEREDO
5 Í4 1‘AHTK - A LlN <;rA V. S F .l'S l'W JS KXFRESSIVOS
sEorstifí e.stilI.sttí:a 5/5

A fusào das estruturas proporciona uma posição de destaque paraopa­ 22.7.5.4 Rupturas com o paralelismo
ralelism o existen te entre os adjetivos que especiftcam o carro. Os núcleos Afalta de paralelismo pode ocasionar incongruências que provocam estra­
secundários —um e o u tro aos quais esses adjetivos sintaticamente se re­ nhamento na frase, em face de coordenações logicamente inaceitáveis. Mas
lacionam , tornam -se term os endofóricos de natureza nnafóríca, isto é, cuja há casos em que a ruptura do paralelismo, seja pelo seu aspecto inesp>erado,
signifícação depende de porções textuais que eles recuperam no processo seja pela forma surpreendente da expressão, constitui um poderoso recurso
da coesão referencial. A perda de sua função como elementos exofóricos- expressivo, mormente em textos literários, como nos seguintes exemplos:
que apontam para um ser do mundo - faz que as especificações indicadas • “Eduardo e Mônica eram nada parecidos - /Ela era d e L eão e
nos adjetivos que os acompanham ganhem relex^o. Essas operações retiram ele tinha desesseis.^ (Renato Russo)
a frase de sua neutralidade e acrescentam um sentido suplementar que
em ana do paralelismo sem ântico entre as expressões adjetivas. Nesses versos, rompe-se o paralelismo semântico, pois o autor asso­
cia o signo de um personagem à idade do outro. A natureza distinta dos
2 2 .7 .S .3 Purulolismo rítm ico fatos postos em coordenação amplifica a dessemelhança de caráter entre
É a sim etria na construção da frase, considerando seu aspecto ntniico. 0 con­ 05 personagens.
ceito de sim etria envolve atmbém a regularidade de decemiinadxis proporções. • “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de
vVssim sendo, no paralelismo rítmico, os segmentos fônico.s fra.se on dover­ réis; n a d a menos." (ASSIS, 1962, v. 1 : 534J
so devem apresentar uni certo isocronismo, que pro\xx.*a um padrão pn»(ídi- • “Tivesse aceitado d e entrar e um café, calmava-me.” (ROSA,
co cadente. Essa similicadéneia, quando empregada eom precisão, constitui 1969b: lOJ
recurso de estilo de rendimento considerável, por dar relevo ao pensamento: • “O temporal previsto no boletim da véspera - baixa de tem­
• “Se você gritasse, /se você gemesse, /se \’ocê toca.sse. /a vaLsa peratura, rajadas de vento - é hoje dia límpido, teoricamente
vienense. / se \'ocê dormisse. /se \tx.'ê cansa.s.se. /sc você mor­ erra d o, m as soberan am en te azul." (MACHADO, 1957; 115]
resse... /Mas você não morre. /você é duro. .losé!” l.V.\l)R.\l)E.
1971a; 70] Nos exemplos acima, a íálta de simetria é devida à natureza heterogênea
dos membros coordenados. O narrador machadiano coordena a noção de
A duração prosódica dos versos acima envolve o leitor em um ritmo tempo e a noção de dinheiro, sugerindo ironicamente uma relação amorosa
que rem ete ao compasso tem ário da v u isa ciefiense. redupllcando o senti­ centrada no interesse financeiro: o tempo de duração do amor foi o tempo
do da mensagem. Este expediente ú fartamente u.sado na poesia meiritica- dadumçâo do dinheiro. O narrador do conto, por sua vez, dá ao verbo acei­
da, mas seu efeito ú tamhêm notável na prosa, onde naturalmeiUe nãii .se tar dois objetos coordenados, mas pertencentes a classes mórficas distintas.
ob.ser\’a a preocupação ritniícn. Vejamos este exemplo de (juimnrães Rosa:
Apavorado com a ameaçadora presença de um bando de jagunços à porta de
• “As ancas balançam, e as vagas de dorsos, da.s vaca.s e touros,
sua casa, o médico atropela-se cm gentilezas. Já no último exemplo, as e.x-
batendo com as caudas, mugindo no meio, na mussa enitx>-
pressôes cm itálico retomam o conteúdo inicial para explicitar um contraste
lada, com atritos de couros, estralos de guainpas. estrondos
entre o prognóstico e a realidade. O rendimento estilístico é alcançado pela
de liaqiies, e o lierro c|ueixoso do gado jiinqueira. de chifres
heterogeneidade dos advérbios e dos adjetivos contrastados.
imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querOncia
Fora do texto literário, o paralelismo também tem atuação marcante:
dos pastos, dc lá do sertão..." |KOSA, 1969a: 23|
• Palmeiras perde o jogo e a cabeça na Argentina.
() autor explora um ritmo frasal no qual ressoa a cadência |X)pular
da redoiulillui. captando assim um momento em que se fundem realidade 0 exemplo acima põe em correlação um fato do mundo exterior e
material c iiillexão psicológica. () ritmo das redondilhas sugere o caminhar utnestado psicológico. A supressão da segunda ocorrência de perder dei­
compassado da boiada, entremeado de incidentes que a fonna da liníufl- xa lado a lado objetos (jogo e c a b e ç a ) heterogêneos, o que configura a
gem provideiieialiiiente denuncia. perda de simetria. Tendo interpretado a expressão perder o jogo, o leitor
depara com um objeto inesperado e é obrigado a ressemantizar o verbo
5 J6 SÍIIMA M IIK. - A IINI.IA l M1'S I SI K ►XIIIISSIUW

ii liin dc Mprccndcr, n:i oxprcssAo siiitétiu!i do ciumuiiid», a iiluia de que n


dcNcoiurolL- emocional envolve a equipe ainda durante o .iodo como efeii,,
da derrota.
• ( ír u n o fn iit - cereais e frutas. Use puro, com Iciíu, ioiimc.mi
com .sua im u /iiu u i;ã().

Ks.se exem plo publieiUírio .-i.ssoeia referentes que nos remetem a ele­
m entos perteneetites a áreas semântie.-is distintas. De uni lado. elementos
m ateriíiis que perteneem á área da nutriSjSio —leite, iodtaíe - que destaeam
o valor as.sociativo da preposição co n i: de outro, inn elemento .distraioque
á propriedade da natureza luimana - a imrrííínavõ” . adreiiada a<i le.vtocoaio
© LT A V A ^
um recurso. Kssa com binação inusitada caracteriza a possiliilidade de a-
alização do livre desejo do consumidor cm relação ao |ir(Hloio nauneiado.
su íerindo a versatilidade positiva do seu uso
m
I
( ibserx em os adora como a quebra do paralelismo ntmie-o pr..v,e.i um
efeito de sentido na estrutura pmsódica do texto; ^ é im m >
• "No m eio do cam inbo tinha uma pedra / im i.i ■
„ ,.io do catninbo / tinha u.na pedra / no me„. d,,
tinha uma |x,-dra '■ |.\NI)KAl)K. I ‘t7 la l-’ l

( '.onsiderando cada verso um perimlo iV.nies. de


percebem os que o terceiro verso da estrole .leim.i | [xli
te o ritmo prosiklico da estrole. esmio a suiierir o ^ „„ traicwd'
prese.iça incõm.KÍa da pedra, <p.e me.afon/a mu ohs.a
cxisiôlíciíi )uiiiíün:i
v sp k c to s <;e r .\ is .
elaboração do texto escrito envolve uma súrie de decisões relativas ao
émpreío dos sinais ftráfieos: espaços, letra maiuscula, pontos, vírgula, pon­
to e vírfiiila. dois-pontos, travessão, parênteses, colchetes, reticencias. as­
pas neárito. itãlieo etc. Estes sinais têm papéis variados, seja para hns pro­
priamente estéticos - como os espaços e o modelo de letra - . seja para a
indicação de pausas - como a vírgula, o ponto e as reticências - . seja para
sinalizar a entoação da frase - como os pontos de interrofciçao e de excl.i-
mnção - 0 ,1 ainda para individualizar algum segmento - como as aspas, o
negrito e o itálico.
A entoação é um recurso da fala que serse para exprimir. jHir exem
pio, II diferença entre uma declaração, uma pergunta, uma or em. um.i
vxelamação. Ser\'imo-nos ordinariamente da entoação para express.ir eon
'ú\ão. sunire.sa. desalento, incredulidade, otimismo, malícia, indignação
vie A entoação é. portanto, um signo: uma e.xpressão portadora de algum
sentido. .Vs pausas, por sua vez. são de dois tiptis: as que marcam fronteiras
'«áitáticas - e por isso são pistas para o processamento do sentido - e as que
‘■'dicaiii atos diversos de hesitação ou pn>cedimentos intencionais de retar-
‘Janieiito do thixo da itifortnação. geralmeiite a.ssinalados por retieeiieias
Tiiiito us pausas quanto os torneios da entoação exprimem uma v.iriedade
Mguificados impossível de .ser coditicada pelos sinais grátieos es,iiveiiei.>-
"“i.s, ol)vinfm.,nj. limitados.
Acredita-se que certos sinais de pontuação, tais etimo a vírgula, o tsiii-
du'^'' l^ottto e iKS dois-|Kmtos. correspondem a uma pausa na cadeia
'"•‘i Não liá dúvida de que o leitor faz iiaturalmeiite uma pausa orieiita-
,” sinais de |Hiimiação tio de.seiivolvimeiito da leitura de um u \
^.,‘ ,|^’''‘'*"'‘l’‘'l'"e n te se essa leitura se realiza em voz alta Evsa realidade, no
'•ilii [*"' *'ompre se coiilirm a iia es|Hiiitaiieidade de um moiiologo que
•J" vscrita Isso |M>rqiie. no de-seiivolvimeiito da (ala. oesareni
inIlexiVs advindas de he‘Mtave>e-s ou maniie'tass>e'
“ ■•«ileas uni,. ,„i„ reqiistrailas eiii um texto íoniial eserilu
I - p«»vn v<;.Vo 52 /
520

• quando os concotivos estiverem repetidos niinin sequ êncin


A ssim , nvim processo üc comunicai^^o distenso. podemos cncfintrar vtr» emimerativa. earaeleri/aiido o |>o/í,s,siMí/efo. os elem en to s
pavisas qvic niio seriam assinaiadus no tcxio escrito. mi ausência òv p*uvi
cííordenados devem ser separados puir vírgula:
ond e a UnfS^uaÊem formal da escrita ecrtaniciuc assinalaria
• “(Knipados et»mo quem lavra a e xislên eia. e planta, e c o lh e , e
Ve.la-se t> scfimeiUo scèuinie:
mala. c vive. e morre, e eom e " [ M SI’K< IT( )K. I I : '*-1
• *‘A frágil vida intelectual que o pnjíessor prctenilt c<ímmnT
n e sta p lan ície varrida pelos tufões cmocinnais csUima-^
c o m o aqu elas casinhas de madeira usadas para us (.xptrKn- h) apitsição explicativa ou eireu n sta n eia l ein g eral:
c ia s a tô m ic a s.” jLIMA. 10f>7: IhOj • “Fant.asma de tantos ho m ens na faixa do.s 4 0 a 5 0 a n o s , o c o -
lestcml já não pmie ser o u isid e ra d o a caii.sa p rin cip til ile e n ­
l lá u m a ligeira pausa natural entre emocíomns e esfxmxi-si'. mas. fartes ” |n aposto p recede a vírgiilal I Wi*x*i-sío /i /m kvi . 4/í >/200 1)
g u in d o a n o rm a m od erna, ela nâo vem assinalada jxir víri^ul.a por traur-s • “Um de nieiis m ais estim ad os coiiipaM iieiro.s ile iiilà n c ia e ra
d a fro n te ira e n tr e o su jeito e o predicado díi oração. o mulato Estêvão, filho da e«)/ínhcira d os A n iiijo ” - a vírgu la
P a ra a e x p o siçã o deste tem a. optamos por ijuiíj nieiodolosíia diícrcnic precede o apí)Ntr> )V K R IS SIM í), K. |o74: .SOj
da co n v e n cio n a lm e n te adotada nas olíras didáticas; expõcni-sc alíuns con­
te x to s típ ico s de uso dos sinais de príiituação c. em seguida, apresentam- c) .sepanição do voeativo;
-SC fra g m en to s variados ac<jmpanhados de conientários sobre as suluçóo • Gomo vai ;i sua pes,so.'iV
d ad as p elos respectivos autores. Como se \erá. Iiá marjíeiii par.i oscilação O retinto curv’ou o hiisto c retribuiu rc.speito.so;
e n tr e o uso do p onto e t*ír;iíula e o dos dois-pontos. por cAenipIo. l'm icito - (^omo Deus c .scrxádo, c o r n n v i E com<» pa.s.sa No.s.sa S e n h o ­
b e m p ontuad o liá de ser. é claro, aquele cm que a pontuação cfjnsiiiui uma
ria, meii píifrrMjr'" |(JAK\’A L IK ). |97tf: I.tO/
p ista se cu ra para a apreensão do .sentido pretendido por seu íiutor.
á) .separação de adjunto ad\*erhial anteposto. O p cio n a l (|uandr> o ;iii-
C A S O S G E R iV ÍS
junto é um advérbio ou SRrep. estrita m en te c ircu n s ta rie ía J id e
1 ) \ ^ R G U LA
tempo, lugar ou modo), a vírgula .se torna. p<írém. n e c e s s á r ia s e o
A \’ír^ u la é tip icam en te empregada nos casos de:
adjunto tem função modali/udora ou ê um a oraçãci. deserivvdviüa
a) sep aração de orações ou termos coordenados sem a utilizaçàudt
ou reduzida:
co n ectiv o (coordenação assindétíca):
• “Três semana.s depoi.s. receb í um postal de D ira c ic a b a .”
• “Na índia, há milhões de sujeitos que nunea moraram Januu>
(GONY, C. II IW 5 : 157]
tiveram um teto, uma saia, um quarto, unia cama. uma
uma cadeira.” [RODRIGUES, 1W6: 73] • “Excetuando alguns problem as e.speciais. fazer fotografia é
• “De repente um traço ligeiro rasguru o céu para os laJibib muito fácil e não exige co n h ecin ietu os profundos de n e n h u m a
ca b eceira do rio, outros surgiram niais claros, o troiào ronca­ ciência." [KUBRUSLV. I9 S 4 : 12]
ra perto, na escuridão da meia-noite rolaram nuvens oorJe • “Se a loteria é imprevisível c a so rte difícil, o ú n ico je i t o c
sangue.” [RAMOS, 1981a: 63] trapacear." (SEVCENKO. 1998: 554]
• “Quando o cninsul se retirou, tiquei a fazer refle x õ e s so b re a
O b s.: Nas orações introduzidas pela conjunção e. podc-sc cmprqiara inesperada visita." [VERÍSSIM O. E. 1 9 7 4 : 2 7 7 ]
vírgula:
• quando apresentam sujeitos diferentes, principalniciuc si- te­ Obs.; Pode-se separar ou í.sc^lar por vírgula o ad ju nto ad verbial na su a
m os a intenção de enfatizá-los; natural, quando se quer rcíilçá-lo:
• “Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário nci’“ • “Uns. uprí.s f/umxs. lavavam a cara. íric‘í>mociamenfe. d e b a ix o
mudo.” |TREVISi\N. Dalton. In: BOSI. 1907: IW) do fií> de água que escorria da altura de uns c in c o p alm o s ”
l.VZEVEDO, 1957; 42]
i )1TAVA l*.\RTK - A1‘ftNhU>-S

e) antecipação (topionlização) dc um termo tpie scrii rctoniado pur j) em prego de coordeiinções por processo correlm lvo em geral;
• M io .só |tor observação direta e pc.ssoal, corno prrr en treo u v ir
pronome;
com entários de parentes c amigos, fiquei salrendo titie a Farm á­
• “O corpo Sacha enterrou /No jardim;« alma , essa V(«m/Para
cia Brasileira ia de mal n pior." |VEKISSIMO, K. 1974: 1491
o céu dos passarinhos!” (BANDEIRA, 1%7: .Ml)
k) separação dc orações reduzidas que não sejam constituintes ime­
0 uso de palavras c locuções que expressam conexões discursivas
diatos dc um termo da oração principal:
em geral (adição, explicação, contraste, compensação, retifica­
• “Os m ais ido.sos, depois da Ja n ta , faziam o qu ilo, sain d o para
ção, encadeamento, conclusão, ratificação etc.):
to m a ra frc.sca." |ANDRí\DE, 1 9 7 1 b : .11
• “Vivemos num mundo curioso. Tlido o que nele ocorre c í Iih
• “S em p re q u e via a q u e les c o n d a d o s n a g e o g ra fia , e sp re m id o s e n ­
bal, universal e uniforme e, no ctttanto, os eventos que mais
tre gran d es p aíses, m e lem b ra v a do S a n ta FY.” (R E C 10, 1 9 8 0 : 761
chamam a atenção são os que tCnn um feitio único, slniJuiar.
• “Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos .sem objetivo, a
especial.” [DA MATTA, Roberto. O Globo, 2,V1/2(K)H1
maltratar-me e a maltratar os outros." (RAMOS, 1970: 2411
• “Se os piratas locam o mercado de falsificações, a indústria não
consegue v’ender muito, não refaz seu caixa e, imnanlo, não
2) PONTO E V ÍRG U EA
pode continuar investindo em pesquisa.” IFcín, 26/11/1997:
0 ponto e vírgula é nornialmente empregado;
1141
a) para separar partes coordenadas de um período quando pelo m e­
• “Um produto que se destina, príncijxilvtente, ao nieroatlo
nos uma delas apresenta divisão interna indicada por vírgula:
feminino deverá ter, p or exem plo, embalagem em que pre­
• “Como são poucos os que .se lançam ao pioneirismo, poucas são
dominem cores ‘femininas', isto é, que lembrem suavidade c
as experiências inovadoras; e cs.sas, quando vingam, sofrem o pro­
delicadeza.” [\^RDUSSEN, 197«; 142)
cesso da imitação, que as esmaga.” (nEIR vl, R.A. Amaral. Redu­
ção dos custos griifloo-editoriais. In: \L\GALUí\ES, 1975: 2121
g) elipse do verbo eni estruturas de coordenação:
• “O incêndio é a mais im paciente das catástrofes; a explosão, a
• “Uns param e vão rezar nos oratórios dos caminhos: outros,
mais impulsiva e lacônica; o abalroam ento, a m ais co lé ri­
para se reabastecerem nos postos de gasolina.” |Mv\CIL\DO,
ca; a inundação, a mais fem inina e m ajesto sa.” (\D\GlL\DO,
1957: 25)
1957: 189)
h) separação de oração coordenada que não seja aditiva:
b) para separar orações coordenadas que tenham certa extensão em
• “De repente, chega na livraria alguém que não vinha para
um período longo cujas partes constituem um todo significativo:
comprar livros, pois ignorou as prateleiras repletas de novida-
• “Talvez espante o leitor a franqueza com que lhe exponho e
des.” [GABEIRA, 1981a; 127)
realço a minha m ediocridade; advirto que a franqueza é a pri­
meira virtude de um defunto.” [A SSIS, 1978: 54[
i) acréscim o de oração justaposta para o registro de algum ato de
fala (neste caso, também se usa o travessão):
.1) DOIS-PONTOS
• “As coisas eram sem vida, diziam, sem nenhum mistério, de­
Os dois-pontos marcam uma suspensão do discurso a que se segue;
vassadas.” [DOURADO, 1973: 52)
a) a reprodução, como discurso direto, da fala de alguém:
• “Uma família brasileira típica, poderiamos dizer." [MORAES.
• “O leitor tem vontade de b ater para o D epartam ento de Pes­
1986: 6031
quisa do Jo rn a l do B rasil e lem brar-lhe; - ‘Vocês estão falan­
• Não quero nada, bradou o Pestana.” [ASSIS, 2004: .S91
do de um estudante, um m enino, um ser hum ano’.” [RO D RI­
GUES, 1993: 199]
- p o sn :A ç.to 525
524 OITAVA TARTK - APÊSlMCeS

b) a especificação, comprovação ou detalhamento de uma informa­ 6) TRrWESSÃO


ção (como aposto enumerativo, ex.): 0 travessão tem três empregos básicos:
• “O homem só não foi o primeiro tema da fotografia por razões a) indica a fala do personagem em discurso direto:
técnicas: os primeiros materiais sensíveis à luz (....) otiríga- • ~ Ah! O senhor é que é o Pestana? perguntou Sin hazinha
vam a uma exposição na câm ara obscura extremamente lon­ Mota, fazendo um largo gesto admirativo. E logo depois, c o rri­
ga.” IKUBRUSLY, 1984: 37] gindo a familiaridade: —Desculpe meu modo, m as... é m esm o
• “Todos os lugares conhecidos eram bons: o chiqueiro das ca­ o senhor?” [ASSIS, 2004: 57 [
bras, o curral, o barreiro, o pátio, o bebedouro...” [RAMOS.
1981a. 561 b) indica o ato de fala do narrador (neste caso, também é com um o
uso de vírgula):
c) a transcrição de discurso alheio, como citação: • Posso saber o que houve? - indagou a mulher.” [RUBIÃO,
• “Machado, uma vez mais, anteviu com surpreendente aigúcia 1998: 209[
o que estava por vir: ‘Quem põe o nariz fora da porta, vêque
este mundo não vai bem’.” ISEVCENKO, 1998: 557) c) serve para delimitar um adendo, um comentário, uma pondera­
ção que se intercala no discurso (função opcionalmente expressa
d) uma informação ou comentário a título de conclusão oujustifica­ com o uso dos parênteses):
tiva (neste caso, também se usa ponto c vírgula): • “Pouco antes do Natal —do seu último Natal —ele me pediu
• “Não se deve exigir heroísmo para ser virtuoso: a virtude deve que o ajudasse a arrumar algumas coisas que se amontoavam
resultar justamente do processo psicossociológico que regea no quarto dos fundos.” [CONY, C. H. 1995: 185[
vida em comum.” [LIMA, 1967: 168] • “Os casamentos e uniões dentro das mesmas etnias — vale
• “Creio que Hamiet encarna o próprio intelectual: sahc agirmas lembrar que a consciência étnica era forte - acotovelavam-
não à medida do homem comum.” [MENDES, 199-4: llOSj -se com os que reuniam africanos de origem diferente.” [DEL
PRIORE, 2005: 61)
4 ) PONTO
O ponto assinala normalmente o fim de uma sequência deolarativa de sen­
Obs.: É comum o emprego do travessão antes do aposto enumerativo,
tido completo sob a forma de período sintático. No exemplo a seguir há três
dessas sequências: como opção aos dois-pontos;
• “Ninguém dormiu na véspera da partida. A s sete e meia Ja • “Não pertence aos limites deste estudo a análise da etapa an­
manhã estávamos todos na Central do Brasil. Ao que constava terior díLs três correntes humanas que vão concorrer na tarefa
nos anais da humanidade, nunca ninguém partira para Konia da chamada ‘colonização’ - o índio, o negro, o jiortuguês.”
daquelas plataformas.” [CONY, G. M. 1995: 154[ [SODRÉ, 1978: 5|

5) RETICÊNCIAS 7) PARÊNTESES
As reticências assinalam interrupções e hesitações em geral: Os parênteses têm emprego específico:
• Com certeza assaltaram o banco, e... a) na indicação de uma fonte bibliográfica.
—Que banco? Não está vendo que não tem banco ncniuiin 01?"
[ANllKAUE, 1971a: 132[ b) nas indicações cênicas (das peças de teatro, por exem plo):
• “Quando eu o mandar fazer os Jardins de meu palácio, ditei • “J oaquim : (Enquanto ensaia o voo) Ninguém tem essa ligei­
Burle, aqui sobre esses manacás, quero uma borboleta itma- reza. Essa força não é minha, é a força do Cristo. Do Cristo
re... Mas o sinal abriu e atravcs,sei n rua correndo, pobjáb que está em mim! É preciso saber pular pr’a alcançar o céu .”
perdendo de vista a minha borboleta." [BRAGA, 1963a: 190| (ANDRADE, 1970: 277)
526 orTAVA PARTE - APÊNDICEA I _ P i * v n -VCVO

c) para esclarecer algo ou para informar o significado de alguma pa- • **N*aquelü tempo, n imprensa, quando mencionava o Sexo,
lavra ou expressão; pluralizava e chamava de ‘baixos instintos*.*’ |FU)DRKil^ES.
• “A obsessão pela ideia de modernização produziu duas pala­ IWf,. \^S\
vras essenciais no vocabulário da segunda metade do stcul<i
XX: p e r e s tr o ik a (algo como reconstrução ou reestnituraçãoi d) expres.sôos que o enunciadr>r decida destacar por ali^uma nutra
e g la s n o s c (transparência).” |0 Gíobtt. ]2/12/lW)l razáo discursiva
• "Se por um lado toda esta flexibilidade proporcionava ao fotó­
Em pregam -se, ainda, como alternativa ao travessão, quando o enun- grafo unia liberdade dc criarão muiti» maior, p<ir outro, ficava
ciad or insere no discurso um comentário, uma ressalva, uma ponderação muito mais fácil falsear a natureza' “ (KrBRrSLY. I‘>S4: S5)
• “Na véspera de minha partida (eu iria passar um ano semvir
em casa) fui me despedir do balão,” ICOM'. C. H. IW.õ 116] 9) PONTO DE I\TEKR(Ki.\(.;.’\ 0
0 ponto de interro^ção indica unia pausa com entonação ascendente
8 ) A SPA S para expressar uma interro^v^o direta;
As aspas —especialm ente as duplas —têm a função dc delimitar: • "Vocé nào vai larèar es.sa mala- perguntou minha mulher, tira
a) trechos que estejam sendo citados textualmentc: essa roupa. l>ebe um iiistjuinho, v«k.*v precisa aprender a rela­
• “ ‘ O riso nasce de uma anestesia momentânea do coração', xar." IFONSECA. l‘>75: 47]
escreveu Bérgson, referindo-se ao humorista." |SEVCE.N'Kn. • "A jjurizada a.ssastada espalhou a noticia na noite
1998: 364| - Sabe o (iaetaninhoV
• “Lá está escrito: - ‘Rosa, pura contradição / Volúpia de sei - Que é que temV
o sono de ninguém / Sob tantas pálpebras'. É o epitáfio que -Amassou o bonde!" IMaVCIIADO. 1‘>7V 11-131
Rainer Maria Rllke escreveu para si mesmo.” (RODRiGTO.
1993: 183] 10) PONTO DE EXCLXMAQÃO
• “Peguei meu filho no colo (naquele tempo ainda davaI. aper­ OpcHito de exelamavào marca cntona^*ão variável para um variado espectro
tei-o com força e disse que só o soltaria se ele dissesse a pala­ de sentimentos - tristeza, surpresa, espanto, ale^a. entusia.smo. súplica,
vra mágica. E ele disse a palavra ‘mágica'." (I^ERISSIMO, L F decepção, dor elc. - que sí) podem ser reconstituídos ^aças ao contexto:
O G lo b o , 22/6/2008) • "Cinquenta anos! Quantas horxs inúteis’ Consumir-se uma
pessoa a \ida inteira sem saber para quê' Comer e dormir
b) a fala de algum personagem (cumulativamente ou não comotta- como um porco! Levantar-se cedo todas as manhás e sair cor­
vessão): rendo. procurando comida* E depois guardar comida para os
• “Tratava-se dum emissário das tropas de .Milton e nas tnuu filhos, para os netos, para muitas ^Taçôes. Que estupidez*
um ultimato lacônico; ‘Declaramos guerra a vocês .\cdtani' Que porcaria!" |R.\MOS. 1970: 241]
Respondi; ‘Aceitamos. Para quandor. - ‘Para hoje. às seurfu • “O Nino veio correndo com a bolinha Je meia Chei^u bem
ponto.’ - ‘Elstá bem. Diga ao seu comandante que esunxs perto. Com o tnmc*o arqueado, as p>emas dobradas, os braços
prontos’.” [\T)RlSSIMO, E. 1974; 58) estendidos, as mãos abertas. Gaetaninho ticuu pronto para a
• “Um turista que por aqui passasse e visse a m>ssa evr more» defesa.
havia de anotar no seu caderno: - ‘O brasileiro ê ura harxiais' - Passa pro Beppino!
de film e’.” [RODRIGUES, 1993; 143) Beppino deu dois passos e meteu o pé na bola. Com todo
muque Ela cobriu o guardião sardento e foi parar no meio
c) expressões que o enunciador, embora incorporando-as aoseu da rua.
curso, queira caracterizar como de autoria alheia: - \ á dar tiro no inferno!
5 ’ « « >ITAVA PA RTE - AI’ÊSD1CR.S
I - p n v n AÇ .40 S39

- Gala a b o ca, palestrino! Comentário: Este texto está pontuado rigorosamente de acordo com
- Traga a b o la !” [MACHADO, 1979: 11-13) as normas expostas em obras de perfil normativo. Chamo aten ção para
as vírgulas (1) e (2); elas delimitam uma oração adjetiva explicativa (cf. a
O b s.; Podem aparecer, em uma mesma frase, a exclamação, a interro­ oração adjetiva seguinte - qxic mobUisxiu a in telectu alid ad e d a é p o c a de
gação e as re ticê n c ia s, num a conjugação de sentidos: natureza restritiva, portanto sem vírgulas). Em (3). a virgula precede um
• “Mas que é isso ?!... Um baque?...” [MACHADO. 1980:157| aposto; em (4), assinala o adjunto adverbial antecipado; em (5 ). encadeia
termos coordenados assindeticamente. Notem-se ainda as expressões en ­
III - F R A G M E N T O S CO M ENTADO S tre parênteses. Trata-se de informações de fundo, suplementares. Poderíam
1) “Perguntaram -m e certa vez a minha opinião sobre d. Hélder. (1) também ser assinaladas por travessões.
Respondí im ediatam ence, como se tivesse a resposta na pomatb
língua. (2 ) Disse eu que o nosso arcebispo era um ator que íalofM- 3) “Quando o fazendeiro pretende enviar rês ao mercado 0 11 mudã-
va, arqu ejante, atrás de uma platéia. (3) Sim, d. Hélder trocará 0 -la dc pasto, (1) a primeira coisa de que cuida é de colocar nela a
paraíso por um único e escasso espectador. (4) Precisa de alguém, ‘máscara’. // Vendados os olhos que mal percebem lateralm entc
e repito, de alguém que o assista, e o carregue, e brigue pelo .seu os obstáculos do caminho, (2) o touro, (3) altivo e dominador,
autógrafo.” (RODRIGUES, 1993: 229] (4) reduz-se a ridícula besta desorientada, (5) tímida, (6) tre­
mula, (7) cujos cascos tateiam o caminho a medo. //O vaqueiro
C o m entário : O ponto (1) pode dar lugar a uma vírgula, após 3 qual ganha, (8) então, (9) falsa superioridade que nunca tivera ao
deveriam os inserir um e. O ponto (4) é substituível por ponto c vírgula, já tratar com o rei dos campos, (10) altaneiro em sua força selva­
que a oração que se segue a ele contém um esclarecimento da anterior e gem. //Assume o controle da caminhada. //Deixa o pobre animal
possui o m esm o sujeito desta: d. H élder. As dua.s últimas \irgulas reforçam levar-se, (11) cedendo ã situação humilhante para sua fama de
as pausas estilísticas requeridas pelo polissíndeto. valente e autônomo.” (LDLV, 1967: 128|

2) “Violonista fará recital na Escola de Música da UFRI. Essa notí­ Comentário: Este texto contém cinco pontos e onze vírgulas. Os pon­
cia, (1 ) que m erecería não mais que uma notinha nos jornais dc tos, destacados pelo sinal //, têm a mesma função: assinalar uma sequên­
h o je, (2 ) foi motivo de artigos extensos e inflamados em 1908. cia declarativa de sentido completo sob a forma de período sintático. Já
O escândalo que mobilizou a intelectualidade da época íaz cem as vírgulas têm diferentes papéis: em (1) e (2), sua função é separar a
anos no próximo dia 5 de julho. Foi quando o violonista popular expressão circunstancial da oração principal; cm (3) e (4), delimitar ad­
Catulo da Paixão Cearense .se apresentou no Instituto Nacional jetivos coordenados eni situação apositiva; em (5) e (6), encadear três
dc Música (atual Escola de Música da UFRJ) a convite de .seu atributos que sc coordenam assindeticamente; em (7), assinalar o início
então diretor, (3) o compositor erudito Alberto Nepomuceno. cie uma oração adjetiva explicativa; em (8) e (9) intercalar um advérbio
Naquele tempo, (4) havia uma separação clara e intransponí­ conjuntivo; cm (10), separar outro atributo em situação apositiva; em
vel entre o mundo da música popular e o da clássica. 0 violão (11), marcar o início de uma oração gerundial frouxamente vinculada ã
era um instrum ento ligado à malandragem, (5) à Iwemiae mes­ oração principal, que a precede. As vírgulas (8) e (9) realçam o advérbio,
mo â criminalidade. Há relatos de que a polícia circulava na mas são facultativas do ponto de vista sintático; nos demais casos, são
Lapa à procura de homens com unhas compridas na mão direita necessárias. Alternativas; o penúltimo ponto podería dar lugar à conjun­
(usadas para dedilhar as cordas do violão) e calos na esquerda ção aditiva ‘e’; também a vírgula (6) é substituível por um e; o e de altivo
Não ora raro serem levados à delegacia para ‘averiguação’. Vio­ e dominador poderia dar lugar ã vírgula. A oração Assum e o <xmtrole da
lão ora sinônimo de vadiagem.” [FRADKIN, Eduardo. O GÍ060. eaminhada possui o mesmo sujeito da anterior e poderia estar unida a ela
2*Ví)/2()0H. “2“ Caderno”! por ponto e vírgula.
5.10 tllTAVA PARTB -* APÊSDICKS

4) “As mudanças no comportamento feminino ocorridas ao


das três primeiras décadas deste século incomodaram conscna*
dores, (1) deixaram perplexos os desavisados, (2) estimularam
debates entre os mais progressistas. Afinal, (3) era muito receme
a presença das moças das camadas médias e altas, (4) as chama-
das ‘de boa familia\ (5) que se aventuravam sozinhas pelas ruas
da cidade para abastecer a casa uu para tudo o que se tizcssc
necessário. Dada a ênfase com que os contemporâneos interpre­
taram tais mudanças, (6) parecia ter soado um alarme.
Se as novas maneiras de se comportar tinham se tomado corri­ Crase é palavra de origem grega ícTou-ns). Sign ifica, etim o lo g ican ie n ce. ‘m istu ­
queiras em menos de duas décadas, (7) a ousadia. (8) no entanto. ra*. ‘fusão*, ‘contração’. No escudo gram atical, o te rm o apU ca-se e s p e citica m e n -
(9) cobrava seu preço; que a senhora soubesse conseivar um ar te à enunciaçâo. em uma única vogal sim ples, d e d u as \'Ogais igiiaLs p o stas em
modesto e uma atitude séria, que a todos imponha o deWdo res­ contato, seja no interior da pala\ra ( l e e r [form a a r c a ic a j > l e r [form a m od er­
peito’. E mais: que a mulher sensata, (10) príncípaJmentc se fosse na]), seja na fronteira de duas palavras (E la m oiri a q u i > E la m o m q u i^
casada, (11) evitasse ‘sair à rua com um homem que não seja oseu A crase no in te rio r da palavTa se a p re se n ta , a m p la m e n te , c o m o u m fe ­
pai, (12) o seu irmão ou o seu marido*. Caso contrário. Í1.1) iria nômeno d iacrôn ico co n solid ad o, d ife re n te m e n te d a c r a s e q u e env’o h 'e fi'on -
expor-se à maledicência. (14) comprometendo não s<5a sua honra teira sintática ou m orfoldgica. Na fala. v’e r ific a -s e o s c ila ç ã o e n tr e c o n t r a ç ã o
como a do marido, (15) conforme se lia na Revista Feminina. (16} e enunciaçâo seq u en cial, p o r ex e m p lo , em fo rm as c o m o r e e s c r e v e r , c o o p e -
importante publicação do período." (HATB. 3, p. 36S-J69| rar, c o n t r a - a t a c a r ^ c o n t r a - a t a q u e , e s c r ita s , c o n tu d o , co m d u as lecra s vo­
gais em contato. Q u and o s e tra ta de fro n te ira s in tá tic a , é c o m u m a c r a s e s e
Comentário: As vírgulas (1) e (2) separam predicados coordenados ambas as v'ogais estã o em p o siçã o á to n a . c o m o n o e x e m p lo E l a m o r a a q u i .
assindecicamente; a vírgula (3) marca a pausa entre um adtérbio conjunri- Se. no encanto, a vc^aJ n ão a c e n tu a d a c o n s titu i o p ró p rio v'ocábuJo — c o m o
vo —que expressa ressaiva —e a informação que é objeto da ressalva; (4) e os artigos o / a e a p rep o sição a e ste s p od em s e r ab so rv id o s p ela palavTa
(5) delimitam uma aposição; (6) separa um segmento adveibiaJ anteposto precedente, m as n u n ca pela q u e s e seg u e. A ssim , em um a c o n s tr u ç ã o c o m o
à oração príncipaJ. No segundo parágrafo. (7) marca o limite de uma ora­ S e^ tx i a a l ç a d a b o l s a , o c o rre c r a s e n o c o n ta to d o a d e s e g u ra c o m o a r t i­
ção adverbial anteposta, enquanto (8) e (9) isolam um advérbio conjumivo go a , mas não no c o n ta to do a rtig o c o m o a d e a l ç a .
adversati%'o; (10) e (11) ladeiam uma oração adverbial realçada por umad­ Ainda no dom ín io d as fro n te ira s s in tá tic a s , n o ssas g ra m á tica s p e d a ­
vérbio focalizador e colocada entre o sujeito e o predicado; (12) separa dois gógicas dão ate n ção esp e cia l ao fe n ô m e n o d a c r a s e q u an d o e s ta é in d ic a d a
termos coordenados assindecicamente: (13) marca a pausa após ura advér­ graâcamente pelo sin al grave [ ' | c o lo c a d o so b re a le tra a . E le é u sa d o s o b r e
0 0 quando e ste in d ica, na e s c rita , a c o n tr a ç ã o da p re p o siçã o a c o m o a rtig o
bio eonjuntivo que expressa oposição (cf. 3); (14) precede uma iniormavão
aJas ou com a prim eira vogal d a s é r ie d e m o n stra tiv a a q u e l c / a q u e l a j a q u e -
adicional sob a forma de gerúndio, e (15) assinala uma pausa sensível antes
(esíaq u eU ts/a q u ilo : F o i à p r a i a . A l o j a a b r i r á à s 9 h .. .Vão r e t o m a r e i à q u e l e
de começar a oração adverbial conformaüva.
lugar. -\ p resença da p re p o siçã o c o m p ro v a -se n a c o m p a ra ç ã o d e s s a s fr a s e s
com estas outras: F o i a o t e a t r o . A l o j a a b r i r á a o m e i o - d i a e \ ã o r x x o m a r e i
a este lu ^ ar.
Está claro qu e o u so do sin a l grav*e so b re o o/os q u e im e d o is s e g ­
mentos sin táticos do te x to s ó s e ju s tific a s e o p rim e iro d e ste s s e g m e n to s é
seguido de p reposição a (e x ; tr a [ a l g i a n / u g arj, s c r c o n m ir íü a [u íg u m a
c o is a \ ,d e v o lv e r [a(go| a | a(gu cm ]. a s s is r ín io s a la^gtinui o o is u ]) e o s e g u n ­
do é precedido do artigo a / a s . de um a d as fo n n a s i u f u e l e / a q u e l u j t t q u e l e s / '
II - CICVSE 533
532 OITAVA PARTE - AI*ftNI)l<:E.S

b) após a preposição até usada para significar limite de um movi­


a q u e la s ou é o próprio pronome a q u ilo (ex.: ir a a praia, ser contrário a a
mento (no tempo ou no espaço): Cam inham os o iá à (ou a ) p r a ia ;
c o m p r a do c a rro , d e v o lv e r a m erc a d o ria a a loja, assistimos a aquelejil-
A loja fic a r á a b er ta hoje o£á à s (ou as) dez h oras;
m e). Terem os, assim: ir à p r a ia , s e r con trário à compra do carro, dcvolm
c) na locução à d istân cia (ou a distância) quando não vem especi­
a m e r c a d o r ia à lo ja , a s s is tim o s à q u e le film e.
Desse princípio geral deduz-se que o a representa apenas a preposição ficada pela expressão de medida: Ficaram nos o b se rv a n d o à (ou
—e portanto não recebe o sinal grave - quando vem seguido dc: a) d istâ n cia (cf. o uso obrigatório em Não conseguiu ler a p la c a
a) pronom e pessoal: Eu n ã o m e refiro a vocês: Vamosficar bem pró- à d istân cia d e d ez m etros).
x im o s a e l a :
b) verbo no infinitivo: C u staram a com nreender minhas palavraa, 3) Usa-se o sinal grave indicativo de crase em um amplo conjunto de
Voltou a fr e q u e n ta r o clube; locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas constituídas por
c) pronom e demonstrativo da série este/esse: Ainda voltarei a esta substantivo feminino: à vista, à p restação {cf. a p ra z o), à d e r i­
c id a d e ; F ico u in d iferen te a essa s críticas; va, à fren te, à s c la r a s , à qu eim a-roupa; à g u isa d e, à c u sta d e ,
d) pronom e indefinido: E la tem alergia a alúuma substância?; Res­ à m od a d e, à m erc ê d e; à m ed id a que, à p ro p orção qu e. A lista
p o n d eu a to d a s a s n o ss a s perguntas; Acho que tenho dirciío ü é numerosa; por isso, a fonte de informação mais adequada ao
U im íjo lg u in h a ; assunto é o dicionário.
e) formas de tratam ento (salvo no caso de scn/ior/sen/iora): So/teíro
prouidéncios a V.S“. ; E stes p a p éis podem ser líícís « V.E.\a. :
4) A expressão à m o d a d e pode ser representada pelo uso simples de
0 os pronomes relativos que e quem: A pessoa a quem entregucio
à, originando a possibilidade da *crase diante de nome masculi­
d in h e ir o ; A s c a r t a s a q u e f i z referência;
no’: bife à O sw ald o A ran h a, estilo à Rui B arbosa.
g) nom es de lugar que não sâo precedidos de artigo: Che^mos a
M aru iiis: E le re to m o u a N iterói: Pretendia ir a Pari.K.
h ) numeral não acompanhado de artigo. Acamparam a (tois quilô-
?7ietros d a c id a d e ; E sta m o s a d u a s h oras da capita/.

O valor indefinido mencionado no Item ‘d’ pode ser expresso apenas


pela au sência de artigo, sem necessidade do pronome indefinido umui
u lg u m a /q u a lq u e r . Neste caso, é óbvio que não ocorrerá crase c. conse­
q u en tem en te, não se usará o sinal grave: N ão conte essa história u pessoas
estra n h a s.

O h s .:

I) Não se emprega o sinal grave indicativo de crase:


a) nas expressões cristalizadas formadas pelo adjetivo tneia: a mein
Itiz, u m e ia v o z , a m e ia a ltu ra ;
h) nas locuções formadas por palavra repetida: ^ota a gora, cam a
c a r t i ./ a c e a f a c e , d e p o n ta a pon ta.

2) fí. porem , facultativo o uso do sinal grave indicativo de crase:


a) antes de pronomes possessivos, já que estes são opcionaJnieme
precedidos de artigo: O c o lég io f i c a próxim o à (ou a) nossa cusa:
m - KíKTl l A t S BRAHll.F.ÍKO: «"M TRMAEAWil«AKU,fiMK-\ 5 .? 5

III - P ()U T v c n :s uuasilkh ^ coisas só é possível porque elas se apresentam não como coisas, mas como
imagens, como ícones, como símbolos. Enquanto o homem conhecia ape­
IM T1:M.\ E ALdlMA TOLÊMICA nas o código de sinais (gestos, palavras, desenhos) de seu grupo de convívio
diutumo, o mundo era um só e cada símbolo o próprio rosto da realidade. E
ele só passou a perceber que existem outros mundos quando deparou com
códigos simbólicos distintos do seu. Foi aí que ele descobriu que a ‘rea­
lidade’ do seu mundo não é uma oferenda da natureza, mas uma imagem
construída pelos símbolos —em particular pelas palavras —aprendidos no
convívio sociocultural. No mundo contemporâneo - um corpo cujas veias e
INTRODUÇÃO
artérias são a internet - vivemos à mercê de um universo profuso de infor­
Todas as c iê n c ia s que têm o homem como objeto de obsenação e análise
mações que é preciso selecionar, organizar, interpretar e entender, a fim de
o cu p am -se h o je do que faz dele um ser vivo distinto de todos os demais: sua
reconquistar o equilíbrio.
linguagem . E ste fato expandiu consideravelmente as perspectivas de enten­
As reflexões e a teorizaçâo .sobre os fenômenos simbólicos, com des­
d im en to da cu ltu ra e das formas simbólicas da interação humana, graças
taque para a linguagem humana, passaram, assim, a ocupar espaço em
à in te rfa c e e n tre , por um lado, a linguística e, por outro, a antropologia, a
etn o lo gia, a psicologia, a sociologia, a história, a psicanálise, a biologia, a inúmeros ramos do conhecimento: da matemática à filosofia, da história
neu ro lo g ia e tc . Pode-se dizer que, se o século XIX ocidental privilegiouo i biologia, da física à psicanálise. Nos últimos duzentos anos, a análise do
o lh a r h is tó ric o e evolutivo na compreensão da natureza e dos bens simbó­ fenômeno linguístico assumiu pelo menos três feições, caracterizadas, res­
lic o s, o sécu lo X X , ‘era dos extrem os’ segundo a expressão de Eric Hobs- pectivamente, pelo predomínio de um enfoque:
bawm'''’, distinguiu-se pelo debate sobre a ‘legitimidade da diferença'. Esu a) evolutivo - que domina o panorama do século XIX,
diz resp eito fundam entalm ente ao eixo eu / outro (neste incluídos o tueo b) estrutural - que compreende as reflexões e análises desenvolvidas
e le ), m as se expande, a partir desse eixo, para outras polarizações, a saber: sob a influência de Ferdinand de Saussure e Noam Chomsky. e
unidade v e r s u s diversidade, sistema v ersu s uso, padrão versus desrio. c) enunciativo —que tem na sociolinguística e nas análises da con­
A relatividade domina a cena e corrói os pilares que, petrificados ao versação e do discurso suas e.xpressões de maior realce.
longo de sécu lo s, sustentavam visões de mundo centradas em conceiios,
form as de exp ressão e estilos de vida considerados modelares e muitas re­ Pode-se dizer que, antes desse longo período, o conhecimento da natu­
zes definitivos. Para o hom em moderno, os valores não são absolutos, mis reza e funcionamento das línguas estava impregnado de ‘certezas’ fundadas
produzidos por relações dadas em cada momento da história, e esta écapit emmitos e dogmas, que se foram diluindo à medida que ficou comprovado
de su bv erter essas mesm as relações de um momento para outro. .\instabi­ que a variação e a mudança são inerentes à rída das Unguas, que os usos
lidade dos co n ceito s e dos valores deixa-o inseguro, e o leva a buscar novo
orais, tanto quanto os escritos, se organizam segundo regras de gramática e
equ ilíbrio no desenvolvim ento de uma certa ‘arte’ de compreender essa
estratégias interativas, e que não há línguas superiores e línguas inferiores.
com p lexa rede de coisas que se interpenetram e se interinfluenciam, con-
sen su alm en te denom inada ‘realidade’. Para tanto, é necessário estar a par Como decorrência dessas descobertas e fruto das pesquisas que se desenvol­
de tudo, te r à m ão a qualquer momento e em qualquer lugar uma ferramen­ verampelo mundo no último século, várias certezas perderam fôlego, entre
ta que, num passe de mágica, exibe o mundo na sua totalidade e urgência, as quais se destacam, no que diz respeito ao estudo e ensino da língua, três
con stru in d o-se e transform ando-se. Acontecendo, enfim. tópicos: (a) a imagem de uma língua literária uniforme no papel de modelo
( ) jo r n a l, o rádio, a televisão e agora a rede de intercomunicação por áe escrita, (b) o conceito de eorreção na linguagem apoiada nesse modelo e
com putad ores são correias de transmissão da história moderna, que nos (c) 0 lugar da modalidade de ensino que o reproduzia: a gramática norma­
últim os duzentos anos transformaram a vida das sociedades noquej.-ilbi tiva, prescritiva e proscritiva. O direito à diferença cultural e à palatTa que
cham ad o de ‘aldeia global’. Tudo está por toda parte, e esta onipresença Ji' traduz essa diferença tomou-se bandeira das ações pedagógicas. Em um
ensaio em que analisa aspectos da política de ensino da língua materna, a
llon su A W M IIW .S ].
professora Ana Maria Stahl Zilles assim resume a situação brasileira;
536 O ITAVA I*ARTK - ArftND ICKN UI - oiun iu ts SK.vuif imi: vn tí m.\ k l-ol.fiMlr.e

Entramos no século XX com 85% da população brasileira analíahtia Outro personagem de destaque nesse eeniirio cnlonial foi o negro airic.a-
estigmatizada por nüo saber falar português cofreimucnle. eoncvmrada no. São obviamente distintos, porém, ns papéis desempenhados pelas línguas
em grande medida no campo. População * nân é demais reforçar - ínr. indígenas e iielas línguas de origem :iírie:iiin n:i formação linguística do povo
mada de múltiplas etnias, falantes de muitas línguas utambémüc muiu^ brasileiro. As línguas africanas trazidas para o Brasil padeceram do m esmo
variedades do português. Bem sabemos como o êxodo rural foi imer- processo de desenraizaniento ipie vitimou seus lalanles: "para os africanos
tendo a distribuição da população, espccialmente de 1950 emdiajiit desl(x:ados. o sentido das palavras lornoii-se bnitalmente obsoleto ou pas­
Bem sabemos dos intensos movimentos migratórios c de tantas wiir». sou a ‘girar em falso', portiue elas não relletiam mais a realidade africana,
transformações sociais no país. No final do século XX, a maioria dipí>- mas an mesmo tempo aind:i não tinham apoio na nuv:i retilidade. constituída
pulação se concentra nas grandes cidades onde predomina grrxssomodo de noções diferentes e de denoniiiiaçi")e,s nov.-i.s (plantas, fiirnuieopeia, caça,
o português - ainda que não seja o português preconizado comopadrão animais, novas técnicas e novos produtos de consumo)’"". Por outro lado.
Serão as variedades da língua infensas a tudo isso? Ccnnnientc nào. t “o fato é que, aqui chegados. |os negros] er:ini .sep:irados, de modo que não
possível prever o rumo dessas mudanças? Talvez sim, sc eominiurem fíca.s.semjuntos nem por língims, nem por etnias, nem mesmo por familins, a
a existir as injustiças sociais, pois as grandes diferença.s línguístiensno fim de serem quebrados nos seus eventuais ímpetos de relieldia""'".
pafs são ligadas às oportunidades desiguais, à estrutura social ínjusu.c Praticamente restrita à intereomunie:ição de seus usuários nativos,
tendem a sc aprofundar com a ampliação da exclusão, com a exacerba­ que eram minoria, a língua portuguesa foi minoritária nos dois primeiros
ção do individualismo e a ausência de projetos coletivos signilicamiis .séculos da colônia. Por sua .serventia na eatet|uese e no desbnivamento
Essas grandes diferenças, cuja existência os projetos de lei emquestão bandeirante da terra e nas trocas comerciais, as línguas gerais foram domi­
negam ou diminuem, são cruciais para a formulação de uma novapolíti­ nantes, e as línguas africanas tinham pouca chance de sobrevivência pelas
ca linguística para o Brasil, que deverá, entre outras questões, enfremar razões já aduzidas. A di.sseminação da língua portuguesa pelo território bra­
a imperiosa necessidade de redefinir, em bases realistas, o padrãoaser sileiro cresce, todavia, a partir da segunda metade do século X\TI. Segundo
ensinado nas escolas^'. Caio Prado Jr., “o empobrecimento de Portugal, privado do comércio asiáti­
co que durante mais de um século lhe fornecera o melhor de seus recursos,
A N T E C E D E N T E S H ISTÓ R IC O S: O CONTEXTO COLONUL força o êxodo em larga escala de sua população que procurará na colônia
O êxito dos interesses m ercantis da Coroa portuguesa e da ação missio­ americana os meios de subsistência que já não encontrava na niãe pátria.”
nária dos Jesu ítas na América dependia, evidentemente, da comunicação E conclui: “Em um século a contar de 1650, os portugueses terão ocupado
verbal en tre os representantes dessas instituições e a população nativa.0 efetivamente, embora de forma dispersa, todo o território que ainda hoje
que de in ício moveu o colonizador foi a perspectiva de fazer do território constitui o Brasil""". Nessa época, as poucas escolas que havia eram admi­
ocupado uma fonte de produção de alimentos e de obtenção de recur­ nistradas pelos Jesuítas, gerulmente empenhados em aprender as línguas
sos natu rais e m inerais destinados ao mercado europeu. A interação do nativas em prol da catequese. Na segunda metade do século XVIll, falada
hom em branco com as comunidades diversas de nativos só foi possírel, por um contingente maior de indivíduos provenientes da metrópole e de
in icialm en te, graças à atuação dos lín guas, geralmente indivíduos que outras colônias, a língua portuguesa entra em outra fase, como consequên­
tinham sido trazidos à colônia como condenados e que aqui, tendo apren­ cia, também, das medidas administrativas do marquês dc Pombal, ministro
dido as línguas dos índios, atuavam como intérpretes. Posteriormente, de D. José 1 (1750-1777). Ele expulsou os Jesuítas, consolidou a obrigato­
essa com un icação se deu principalmente por meio da língua geral onde riedade do uso da língua portuguesa nos espaços e documentos públicos e
lín g u a s g e r a i s , designação com que tradicionalmente se identifica uinu
criou uma primeira rede leiga de ensino. “No Grâo-Pará e Maranhão, área
língua franca de base tupi ou guarani, utilizada tanto nas transações co­
em que esta política foi mais incisiva, procurou-se difundir o português
m erciais quanto na catequese™.
" BÜN\'1N1, Emílio. L{n^uas j\frícanas e Português Fnludo no Brasil” . Int FIORIN c PETTEK
ZILLK 8. Ann M. Stalil. “Ainda os equívocos no com bate oos estrangeirismos". In; FARACU 12Ü0S; 331.
12001 :
IIOUAISS (1985: 71-72]
Cf. l''KKIItE e KOSA |2(H)3|. HRADOJr. |2(X)4: 50|.
538 OITAVA PARTE - APÉNDKJES
Itl - PORTira-e.S BR.\SILEIRf>: VM TEMA E ALGUMA POLÊAIICA S J9

para legitimar a posse da terra e, inversamente, coibir o uso do nheengatu, Não só brasileiros nacionalistas acreditavam nesse fatalism o; p ortu ­
visto como um obstáculo e, principalmente, temido como meio de controle gueses e brasileiros lusóhlos temiam de tal sorte os efeitos da irrefreável
dos índios pelos missionários”’"’ .
mudança histórica, que trataram de exercer cautelosa e contínua vigilância
A vinda da corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808 expande e
sobre o uso brasileiro, denunciando os desvios e perseguindo as inovações.
acelera o processo de ensino da língua portuguesa nos centros urbanos. No
Alencar foi a vítima mais famosa entre os nossos escritores rom ânticos, e
entanto, ao preterir os professores nativos em favor de outros trazidos da
Gonçalves Dias chegou a escrever uma obra em estilo arcaizante, as S e x ti-
metrópole, as autoridades antes contribuíam para aprofundar o fosso que
Ihas de Frei A ntão, para provar, segundo a opinião de Antônio Henriques
havia - e ainda há - entre o uso falado brasileiro, com sua deriva própria,
Leal, que a língua dos velhos trovadores também lhe era familiar.
e a forma escrita modelada ao longo de três séculos sobre a prática escrita
consagrada em Portugal.
LÍNGUA FA1.ADA E LÍNGUA ESCRITA
Estas duas modalidades já foram tratadas como realidades estanques. Estu­
PORTUGUÊS ESCRITO NO BRASIL
dos modernos, entretanto, recomendam cautela na operacionalização dessa
A sorte da língua portuguesa na boca e na pena dos brasileiros tem sido,
desde as primeiras décadas do século XIX, tema de controvérsia e deba­ distinção conceituai, uma vez que tanto a prática oral como a produção escri­
tes entre dois grupos: tradicionalistas e progressistas'". Estes geralmente ta comportam instâncias de uso - gêneros textuais - e consequentes carac­
defendendo o direito à inovação e à diferença, aqueles condenando uma e terísticas estruturais (sínalizadores do encadeamento das unidades de infor­
mação, seleção de substantivos e verbos, construção dos enunciados, flexões
outra coisa em nome do que consideram uma prerrogativa ‘dos mais anti­
gos e verdadeiros donos da língua’. É bem verdade que hoje, iluminada pelo nominais e verbais) que ora as distanciam (compare-se ensaio escrito por um
desenvolvimento dos estudos da linguagem, a questão se coloca em termos cientista para uma revista especializada a uma conversa sobre tema trivial,
bem diferentes dos que, em pleno Romantismo, deram o tom da polêmica numa festa de aniversário de criança), ora as aproximam (comparem-se dois
entre o romancista José de Alencar e o crítico português Pinheiro Chagas. discursos, um oral e outro escrito, por meio dos quais uma pessoa investida
Ainda assim, o testemunho de uma escritora brasileira contemporânea, Ra­ de algum poder de comando passa a um grupo instruções para a execução de
chel de Q ueiroz'", recusando-se a consentir que, a pedido de um editor alguma tarefa que envolva uma coordenação e/ou sequência de atos).
português, a linguagem de seus textos fosse alterada, revela que ainda há No caso do português do Brasil, a abordagem desse tema não podia
um resquício de brasa sob o silêncio aparente das cinzas. deixar de ser contaminada pelo \iés polítioo-ideológico que opunha con­
Na primeira metade do século XX, Monteiro Lobato puxou o cordão servadores e progressistas. Por longo tempo, prevaleceu o ponto de vista
dos que estavam convencidos da fatal transformação do português embra­ conservador, segundo o qual a escrita é encarada como uma espécie de
sileiro"’’’, a exemplo do que ocorrera com o latim em face das línguas ro- formato em que se petríhca o uso da língua para fins solenes em espaços
mânicas. Era um raciocínio determinista, nutrido na teoria segundo a qual intelectualmente prestigiosos, enquanto a fala seria uma atividade trivial,
tudo .se transforma inevitavelmente em outra coisa graças tão só à ação do praticada sem outro objetivo que a satisfação de interesses circunstanciais
tempo e à passagem dos séculos. da comunicação social mais espontânea. Segundo essa concepção, a fala se­
ria fragmentária e desprovida de regras de gramática, e só por meio da ela­
VILLALTA, Luiz Curlas. “O Que 5>e Faln e o Que Sc L6; Lfngua, instrução e Leitura". In; MEU) boração escrita uma língua podería atinar sua forma perfeita e verdadeira.
E SOUZA (1997; 3 4 0-341].
Uhlólo/lo Clóvls Monteiro nK.sifH rcêfuzniu o embate dfls opiniões: “Assim, tem esüido uproblema O interesse pela lingua falada como objeto de estudo Umitou-se por
d/i Ifn^uii nacional no 13rasi) à m crcú d as p a ix õ e s dc duas correntes que nflo se harmonizam, nem muito tempo à recolha de ‘curiosidades’ e ‘preciosidades’ lexicais e fonéti­
Hc podem entender. Umn, c.stimulada pela convicção de que Jd nflo é ii mesma, em nossos dias.
li l/nj^uii aqui implantada pela {{ente lusa, Jul^a-se com o direito dc aceitar e defender iiidooqiKi
cas de variedades da lingua empregadas por grupos étnicos ou sociocultu-
tende ii iifii.stii-la do padrão portu^uCs; pelo contrãrio, aferradn ri cflnonus clflssicos c zelosa rais homogêneos, em geral vivendo sem contatos regulares com os centros
dii pureza do idioma, a outra «e mostra prevenida contra quaisquer aquisições novas, induslvcdc
urbanos. Por muito tempo, pelo menos até os anos 1960 segundo o que
vociibulãrio. eoiiio «e nflo fosse morta a Un^uu que nflo nconipnnhe n evolução espiritual e sociu! do
|M>vo a que pertença.” MONTEIRO 11959: 13). se apura com base nas propostas dos manuais didáticos, o interesse pela
Cf. “Curta du um udllur poriuau0.s” QUEIROZ |19.SH: 280-283|. oralidade nas aulas de lingua materna se resumia à leitura em voz alta de
Apiid CA1U)0,S() u CUNHA 11<)78: 2.10).
textos escritos, com destaque para a expressividade na recitação dos tex-
540 OITAVA PA RTE - APÊNDICES m - n i R n x H t s UR.vqi.EJRi >; i v r a i. \ z p o l £ w u -\ S4I

tos poéticos. Nos anos 1960, J. Mattoso Câmara Jr.”* publicou o quetie \ Q l EST.\0 D.V LLNGL A LITEIL^RLV
mesmo chamou de ‘despretensiosa obra’, com quatro capítulos destinados O Brasil não teve o que poderiamos chamar, numa consentida e percloável
à ‘exposição oral’, ou seja, ao discurso oral planejado, modalidade que se metáfora, uma infância literária. .\ língua em que se escreveram nossas
aproxima muito do discurso escrito. Estes registros apenas indicam quea primeiras produções já tinha sido o meio de e.vpre.ssâo de João dc Barros,
língua falada não era objeto de observação e análise. Noutras palastas. 3 humanista, historiador e gramático, e de Luís de Camões, nome maior da
fala não era estudada como atividade discursiva (até porque não se di.spu- literatura portuguesa no século XM. Não tivemos um período de trovado-
nha de aparato teórico-metodológico para isso), mas, no e.spaço da escola, rismo, como ocorreu na França e no próprio Portugal da Idade Média. Neste
como uma técnica para vocalizar o discurso de um único indivíduo (leitura como naquela, o latim, principal veículo dc expre.ssão escrita —o grego, o
em voz alta, exposição oral); e no espaço da academia, como repositóriode árabe e o hebraico ocupavam posição secundária - , fora pouco a pouco
formas em risco de desaparecimento. Compiladas e detúdaraente registrada abandonado em proveito da língua que era falada pela população em geral,
sua dispersão no espaço, tais formas dariam subsídios ao desvendamenio a mesma língua em que se convertera o próprio latim ao cabo de séculos. A
do itinerário histórico da língua e da formação histórica da nacionalidade. língua trazida para o Brasil durante a colonização, desde a segunda metade
O grande prestígio da forma escrita não era su/icientc, porém, para do século XÂT e especialmence no curso dos dois séculos subsequentes,
encorajar análises mais detalhadas, certamente porque as motivações prá­ encontrou aqui um conte.xto histórico diverso daquele em que floresceram
ticas —estimuladas pela urgência de análises para atender a propósitos pe­ as línguas neolatinas. Aqui, mercê de uma política que não dava a menor
dagógicos —tinham prioridade. É nesse quadro que Júlio Ribeiro publicaem chance aos grupos nativos, impôs-se a língua do colonizador português. Por
1881 a G ram m atica Portugiieza'"'', que, segundo historiadores da gramati- isso, o período colonial de nossa história literária é, em parte, um apêndice
cografía brasileira, marca o início de seu ‘período científico’"'*. da história literária de Portugal, não obstante a obra de Gregório de Mattos,
O cenário contemporâneo é bem outro. Desde que, nos anos 1960, a assinalada pela rebeldia.
Linguística se tomou disciplina obrigatória nos cursos de Letras, o estudo
da língua portuguesa se ampliou e se diversificou de modo extraordinário. A RONL\NTISMO E N.\CION.\LlS.MO;
análise da língua falada conta hoje no Brasil com uma pluralidade de esfor­ A c o n t r ib u iç ã o d e ALENC.VR
ços e projetos em que se articulam diversos centros de pesquisa do país"". A renovação, no Brasil, da língua literária só se toma objeto de um pro­
Tanto se estudam as peculiaridades lexicais, fonético-fonológicas, morfo- grama no Romantismo. Por um lado, a independência política inspirava
lógicas e sintáticas, como se descrevem os procedimentos de organização o anseio de romper com a tradição portuguesa em vários níveis — entre
do texto na interação a distância e face a face. Oferecer um panorama do eles o da expressão literária por outro, o cardápio temático e estético do
português falado no Brasil, seja nas áreas urbanas seja nas zonas rurais, é Romantismo - que valorizava o nativo, o peculiar, o original, o popular em
hoje o principal objetivo das pesquisas geo- e sociolinguísticas promovidas detrimento, respectivamente, do estrangeiro, do universal, do canônico, do
pelas universidades brasileiras. aristocrático - encontrou no Brasil um ambiente propício ao desenvolvi­
mento de um projeto de afirmação nacional'"’.
José de Alencar foi o principal realizador dessa obra. Procurando re­
CÂMARA Jr. (106] |.
iiflo faz leis e regras pnrn a linguagem-, expõe os factos Jclla, ordenados tk-modo
tratar a vida brasileira no campo, na selva e na cidade, elaborou, a despeito
t|ite possam ser aprendidos com facilidade. O estudo da grammatica não tem por principal objec-
to a currevãu dn linguagem. Ouvindo bons oradores, conversando com pessoas instruídos, lendo “A Independência importa de maneira decisiva no desenvolvimento da Ideia rom ântica, para
artigos c üvrtiK hem escriptos, muita gente consegue fallar e escrever correctamunte sem ter feito a qual contribuiu pelo menos com três elementos que se podem considerar como redetiniçâo de
estudo espcciiil de um curso de grammatica. Não se póde negar, todavia, que as regras do ix>mu»n posições análoga do zVreadismo; (a) desejo de exprimir um nova ordem de sentimentos, agora
da linguageni. expostas como ellas o são nos compêndios, facilitam multo tal aprendizagem; atii reputados de primeiro plano, como o orgulho patriótico, extensão do antigo nativismo; (b) desejo
mesmo o estudo dessas regras 6 o único meio que tòm dc corriglr-sc os que na pueríciai aprvmlcniD de criar uma literatura independente, diversa, não apenas literatura, de vez que, aparecendo o
niiit Msua liiiguu.” UIBKIRO |IH85: 1]. ClasNlcismo como manifestação do passado colonial, o nacionalismo literário e a busca de mode­
KUA 121. los novos, nem clássicos nem portugueses, davam um sentimento de libertação relativamente à
Ver, entre outros, A(jini,,KKA, Vunderei de Andrade. “Caminhos da Dialetolt^a: os Adas Lín* mãe-pátriu; hnalmente (c) a noção (...) de atividade intelectual não mais apenas com o prova de
guístletis dí. Hra.sH“ MKNKlUlIKS e PKHKIltA |2()02: 77-92|; MATTOS e SIbVA 11995); C.j\STIUI0 valor do brasileiro e esclarecimento mental do país, mas tarefa patriótica na construção nacional.*'
I Kstes liuilos cuiiiõm hlbliogrnhns representativas. CÂNDIDO 11964: 11].
542 OITAVA PARTE - APÊNDICES III- K)nTtIOlt.s
BIU.SILF.ian: VMTEiUEAuaiu,\POLÊM
ICA 54J

da visão idealizadora própria da Escola, uma literatura de ficção em que a diferença se dá unicamente na forma e expressão; na substância a lingua­
paisagem, os costumes, os üpos brasileiros ganharam espaço em nome de gem há de ser a mesma, para que o e.scritor pos.sa exprimir as idéias de seu
um programa de realização literária sistemático, inaugurado com Joaquim tempo, e o público possa compreender o livro que se lhe oferece”-’.
Manuel de Macedo, autor de A M oreninha. O gênero em que se exprimiu
artisticam ente - o romance - triunfou no Romantismo devido às peculiari­ Alencar, com efeito, foi fiel ao conceito de língua literária que formulou
dades da sociedade que se organizava nos grandes centros urbanos a partir nesta passagem, e em nenhum momento fez concessão a uma dicção colo­
do segundo quartel do século X IX '’' . quial e distensa. Sua retórica literária, calcada na comparação, no símile, na
Recém-saído o Brasil de um período de vassalagem política, literária metáfora, tem uma impostação solene, formal, respaldada na seleção do vo­
e cultural, nossos escritores que aspiravam a uma renovação da expressão cabulário, sempre culto, às vezes precioso e arcaizante, e no disfarce sutil da
linguística enfrentaram o obstáculo representado por forças conservadoras, polidez da expressão e dos eufemismos. As ousadias linguísticas de Alencar
tanto nacionais quanto lusitanas, que apregoavam um culto nostálgico ã não chegaram a ser radicais como fez crer a celeuma que recheia páginas e
época de ouro da literatura portuguesa e à tradição linguística com ela iden­ páginas de ‘questões filológicas’ e pós-escritos. A nosso ver, a contribuição
tificada. Alencar reagiu repetidas vezes às críticas que lhe foram feitas, sem­ de Alencar está em ter ele produzido uma obra que consumaria o prestígio
pre justificando suas inovações, ora em nome das qualidades do estilo, ora à do romance como gênero literário entre nós, e em ter esgotado de forma
luz da tradição escrita clássica e do perfil estrutural da língua. Assim é que, brilhante o que o Romantismo havería de fazer pela literatura brasileira. A
estimulado pelo ideário político e romântico, mas freado pelo que certamen­ originalidade do estilo de Alencar, fulcrado em imagens e símiles inspirados
te reputava como responsabilidades intelectuais e cívicas, empenhou-se em numa visão mítico-idealizadora da natureza americana, tem seduzido gera­
provar que inovava com um pé nas fontes clássicas e pré-clássicas da língua ções de leitores que nele identificaram o mais brasileiro de nossos romancis­
e com outro no compromisso de escrever numa língua em que a sociedade tas do século XIX. Além disso, o Romantismo tinha proposta antiacadêmica
a que se dirigia e da qual falava pudesse identificar a própria personalidade e anticlássica. Talvez por isso, “as gerações modernistas e pós-modemistas -
cultural. Com efeito, no pós-escrito ao romance Diva, escreveu: no sentido era que empregamos a expressão desde 1922 - estão muito mais
Compromete-se o autor, em retribuição desse favor da crítica, a rejeitar próximas de Alencar que a dos seus sucessores imediatos”"'.
de sua obra como erro toda aquela palavra ou frase que se não recomen­ O ideal de uma solução dialética para a fingua literária brasileira seria
de pela sua utilidade ou beleza, a par da sua afinidade com a línguapor­ mais tarde defendido também por Machado de Assis na última parte - A
tuguesa e de sua correspondência com os usos e costumes da atualidade: Língua - do célebre artigo intitulado “Notícia da atual literatura brasileira:
porque são estas condições que constituem o verdadeiro classismo, e instinto de nacionalidade””-’ . Sabemos, porém, que no período que se segue
não o simples fator de achar-se a locução escrita em algum dos velhos à fase destes dois depoimentos, mais exatamente as duas últimas décadas no
autores portugueses”^. século XIX, entrariam em cena alguns atores que, sem serem romancistas
ou poetas, acabaram tomando-se arautos da reação ao projeto brasileirista
Seu ideal de língua literária acha-se resumido noutra passagem do re­ dos românticos. O Brasil \ivia a transição do regime imperial para a expe­
ferido i>ós-escrito: riência republicana e se imaginava ingresso em um tempo de modernidade
A língua literária, escolhida, limada e grave, não é por certo a linguagem institucional, cujo modelo ainda era, porém, a Europa. A figura de Rui Bar­
sediça e comum, que se fala diariamente e basta para a rápida pemiuia bosa acabou encarnando esse ideal purista e relusítanizante, que o levou a
das idéias: a primeira é uma arte, a segunda é simples mister. Mas essa travar com gramáticos dura batalha para provar quem era capaz de ostentar
maior número de reUquias - ou, como preferiam dizer - lonçanias da hngua.
...... o advento da burguesia (...) criava novos problemas de ajustamento da conduta. £ ao delinit Curiosamente, a boa literatura continuava a ser produzida ao arrepio dessa
uma ctaaae mais culta, irrequieta e curiosa (ao contrário da rude obtusidade das elites tutais).
detemtinava condições objetivas e subjetivas para o desenvolvimento da análise e o confioniotla querela, que muitas vezes confundiu qualidade literária com ornamentação
indivíduo com a sociedade. Acompanhando de perto as vicissitudes do nacionalismo literário, e
atendendo de certo modo às necessidades c aspirações desta nova classe, o romance se desdotira ' ALENCAR 11977:169).
desde logo numa larga frente, que náo cessaria de se ampliare refinar." CÂNDIDO [1964:13|. ‘ LIMA, Alceu Amoroso. “José de Alencar, Esse Desconhecido?" ALENCrVR (196s: 71j.
AI.KNCAK 11977: 1711.
‘ ASSIS 11962: 801-809].
544 OITAVA PARTE - APÊNDICES lu - poRTvrats BteesieciRo: i *m tzíl \ e ALGia^Lc p o l ê m ic a S4S

retórica do discurso, e linguagem literária com consen-adorismo gramatical. Ressalvado o que me parece uma depreciação injusta da produção
Basta registrar que o melhor da ficção de Machado de Assis, produzido eia- imediatamente anterior ao Modernismo, não podemos dei.\ar de reco n h e­
tamente nessa fase, não foi contaminado por ela. cer que, a partir de 1922, radicalizam-se, em proveito de nossa identidade
Em todo o caso, é nesse embate que se forja a primeira imagemde uma literária, as propostas românticas, incorporando-se ao veículo da literatura
expressão escrita para os chamados ‘altos produtos do pensamento naeional'. vocábulos, expressões, construções antes marginalizados como ‘indignos
Obras diversas são produzidas para ensinar a escrever segundo esse espíri­ da gente educada’ ou ‘estranhos à vemaculidade do idioma’.
to conservador, e não se faz qualquer distinção entre escrever literatura e O Movimento Modernista (expressão que, conforme a vontade de Má­
escrever obras de ensaísmo em geral. Nessa época, tomava-se a expreísão rio de Andrade, deve designar o elenco das obras efetivamente renovado­
‘língua literária’ ao pé da letra, como o equivalente de língua escrita. Desse ras que se produziram em vários pontos do país a partir de 1922, mais do
modo, a língua literária, supostamente uniforme na concepção idealizadora que o conjunto de ações irreverentemente ruidosas da respectiva Sem ana
dos filólogos e gramáticos, era o modelo de toda a escrita. A tese de uma dife­ de Arte Moderna) ampliou e consolidou o programa romântico de culto
renciação inevitável entre os usos brasileiro e europeu da língua portuguesa à liberdade de expressão linguística. Tenhamos presente, porém, uma di­
era partilhada por muitos filólogos e gramáticos, mas esse reconhecimento ferença fundamental entre os dois movimentos; o Romantismo defendia
não foi capaz de afetar o consenso sobre a ‘unidade de uma express.ão escrita' um Brasil nativo em oposição a um Brasil pintado com tintas europeias;
comum a Brasil e Portugal, comprovada especialmente na sintaxe de autores 0 Modernismo opunha um Brasil multicultural, multirracial, democrático
como Rui Barbosa - brasileiro - e Camilo Castelo Branco - português. Até e moderno a um Brasil monocultural, aristocrático e arcaico. Resgatando
pelo menos os anos 1950, os autores de obras didáticas e gramáticas escolares de certo modo o projeto romântico, o Modernismo se insurgia contra a
estigmatizavam as inovações da expressão linguística da modenia literatura solenidade e o elitismo da expressão literária cultivados no cenário da
brasileira. E mesmo algumas pesquisas ‘bem intencionadas' minimizarama
Primeira República e pregava a máxima liberdade para o uso artístico da
representatividade dessas inovações'"’.
língua, superando a associação tradicional entre uso literário e modali­
dade escrita. Os poetas, especialmente, buscaram caminhos variados em
O MODERNISMO E A EXPRESSÃO LITER,S,RIA BRASII.EIIU
que se destaca a legitimação literária da língua falada. A prova disso está
A preocupação com a nacionalidade literária e o viés antiacadêmico são,
na extraordinária pluralidade de faces linguísticas adotada pela literatu­
porx'entura, os elos que ligam, a Alencar e aos românticos, a geração que
ra brasileira no curso de todo o século XX. A revolução capitaneada por
a partir de 1922 estrenieceria o panorama artístico e literário brasileiro,
desta vez com um ímpeto muito mais radical, tanto nas palavras quanto Mário e Oswald de Andrade teria desdobramento algumas décadas depois
nas ações e nas realizações. A preocupação Já não era, então, com o vestígio na inventividade lexical e sintática de Guimarães Rosa (G ran de S ertão:
colonial, mas com o percurso do projeto literário brasileiro. No diagnóstico Veredas [1956]), de José Cândido de Carvalho (O Coronel e o L o b iso ­
do crítico literário Affonso Ávila, mem [1964)) e de Manoel de Barros (C om pêndio P ara Uso d o s P á s sa ­
Fazendo rev erter eriticam en te ao eur.su do projeto :i noção de lilicrJa- ros [1961]). Esta produção caracteriza-se pelo artesanato e singularidade
de formal e a co n scien tização diante de nossa realidade, o Modemísrao estilísticos de seus autores, em certa medida se contrapondo ao período
aeabou por distinguir, nu côinpiito daquilo que a história da lilcrauira dos anos 1930, marcados por uma produção menos interessada na forma
nos doeum entava eoiiio po.ssívels virtualidades, o que aí eonsistiria num linguística do que na relação conflituosa do homem com os meios social e
fulcro inipifcitu de in tuição própria e o que até então tinha sido, uo con­ natural. Sabe-se que especialmente a produção poética situada na segun­
trário, m ero iinpre.ssiunismo tem ático ou repetição ingênua de modelos da metade dos anos 1940 e no decorrer dos anos 1950 revela um retorno
im p o rtad o s'". de temas e, sobretudo, de formas tradicionais, haja vista a produção dos
"" Kaimumin narbadliilio Nctii, qtie pes(|tiismi u cxpres,snn literária imKlernlsta nu Itnisll, conclui
poetas da chamada Geração de 45, a opção métrica de João Cabral de
ijiie " i ) siMeiaa da Ifniíiia Ui* liraail, no seu eoiijnaio, ainda á o niesiiio da de 1’nrtaáal, sem embunio Melo Neto e a poesia de Drummond em C laro Etii^ma (1951)"". A ora-
das le\ e.s dUereiivas de imriiia e da iiilida e.NlalCneln de tnil estilo aneioilal nnierienao e lall cslllo
naeional i«iriiiun0.s.'' IIAKII.MIINIIO NKTO (1072: l-i.ll.
lidadc perde espaço na poesia, mas se reafirma, altamente estilizada, na
....... l>o liarmeo no MiKleralMiio: o deaeiivolvimenlo eíelleo do projeto lilenlrio Itraslleln)" AVIU
II 07.S 2o-.to| "" Ver, II propósito, o ensaio ‘'l’onnnn0ncla tio tllscurso tia Tradição no MiKlornismo". dc Silvlaiio
Saiillaeo. In: IIOItNIIKIM et alll IIVN?; m - U .S ).
S4h O ITAVA l'A R T K - A P ^ n lC K K
Píl - f(W Troiia.S IIHA.-fll.Kmf>: l-M TKHA K A l J i l t í A n il J M ir .A ^ 4 7

pena de Guim arães Rosa, e, bem mais realista, no discurso dc Oswaldo


França Jú n io r {Jo r g e , u m B ra sile ir o ) e João Ubaldo Ribeiro (Sorícmn área dita carioca. A essa altura, .loaquim Matto.so Cãmnrn Jr. já tinlin dado
O etú lio ). Nestes, a dicção oral da narrativa se sustenta em construçõesc a público resultados de suas pesquisas .sobre a rima na poesia brasileira"'',
formas que a tradição do ensino escolar sempre estigmatizou. evidenciando, em correspondências desconhecidas no português europeu,
Por sua vez, um vasto grupo, cujo estilo não se destaca por traços traços peculiares à pronúncia brasileira incorporados por no.s.sos poetas
românticos (ex., rima entre lus c azuis).
mais fortes de singularidade linguística, reúne os autores empenhados
O interesse pelo desvendamento das particularidades do português
em co n tar histórias ou ‘dar seu recado’. A maioria deles ambienta suas
brasileiro cresce impulsionado não tanto por certas veleidades nacionalis­
narrativas no espaço urbano, com preferência pelo foco em questões so­
tas, mas, sobretudo, pelo prestígio que os estudos dialetológicos alcança­
ciais e políticas do período da ditadura militar no país. Trata-se dos qw
riam entre nós logo após a fundação da Geografia Linguística, que, reagindo
escolhem a via pela qual a língua da literatura e a do jornal se toeameis
à onda neogramática do final do .século XIX, se firmara como ciência. Pres­
vezes se confundem, seja como reportagem, seja como crônica, seja como
tigiada como estudo científico, animada numa metodologia de trabalho de
ficção. Alguns de seus representantes são Antônio Callado, Carlos Heitor
campo considerada rigorosa, a Dialetologia imprimia ã pesquisa linguística
Gony, Rubem Fonseca e Antônio Torres. Se é verdade que o Modernismo
um rumo novo e promissor. O mais célebre resultado dessa reorientação
con stituiu uma busca crítica coletiva, embora não necessariamente ho­
no cenário brasileiro é o Atlas Prévio dos Falares Baianos, elaborado sob a
mogênea, de uma identidade nacional - fato que o irmana ao Romantismo
orientação de Nelson Rossi e publicado em 1963. A este seguiram-se outros,
- a fase que a ele se segue, seja como movimento de algum grupo, seja
como o Atlas Linguístico de Sergipe, o Adas dos Falares M ineiros, o Atlas
com o pura produção individual, já não revela, todavia, aquela preocu­
Lijjguístico d a P araíba e o Atlas Linguístico do Paraná'^'.
pação. Foi com o se a questão da identidade linguística e literária tivesse
Paralelamente a estes esforços, c em larga escala inspirados por eles,
saído tem porariam ente de cena.
outros pesquisadores, não necessariamente dialetólogos, deram importan­
tes contribuições para o conhecimento das peculiaridades lexicais do por­
A Q U ESTÃ O NO RUMO DA IW ESTIGAÇÃO DIALETAL
tuguês brasileiro: são vocabulários regionais, léxicos de variados ramos de
As considerações precedentes dão conta de que os escritores mais conscien­
atividade econômica, glossários diversos, como os que acompanham edi­
tes de sua importância social sempre se pronunciaram sobre a questão daiin-
ções de obras literárias que retrataram regiões e costumes do Brasil'-'.
gua de que se serviam/se servem para comunicar-se com a sociedade deque
falam e à qual se dirigem. Alencar, Machado de Assis, Monteiro LobatoeMário
A QI ESTÃO NA PERSPECTIVA DA ESTRUTUIL\Ç.\0 SOCLVL
de Andrade são exemplos clássicos dessa atitude na literatura brasileira. Con­
É bem conhecida a afirmação do linguista francês Paul Teyssier, recente-
tudo, seguramente não trataram do assunto com a devida isenção e método
raente falecido, para quem les divisions ‘dicdectales’ sont au Brésil m oins
apropriado. A palavra deles foi importante como alerta e como programa, mas
géographiques que socioculturelles. Segundo ainda Teyssier, les differences
a elucidação objetiva do assunto ficaria a cargo dos pesquisadores.
dans les fa ç o n s d e parler sont plus grandes, en un lieu donné, entre un
O início do século encontrava no Brasil um espaço intelectual propício
kom m e eultivé et son voisin analphabète q u ’e ntre deux brésiliens de même
ã retomada da discussão sobre as peculiaridades do português do Brasil.
niveau d e culcure origiruxires de deux regions éloignées Vun de Vautre. La
Assim foi que, em 1920, Amadeu Amaral inaugurou a autêntica dialetologia
dialectologie doit être m oins horieontale que verticale'~.
brasileira com O D ia leto C a ip ira , Antenor Nascentes deu a conhecer suas
Elsta hipótese é, com certeza, partilhada por vários pesquisadores brasi­
investigações sobre O L in g u a ja r C a rioca em 1922, texto que teria uma
segunda edição em 1953, e Mário Marroquim, com a ediçâodeAiínguado leiros, a julgar pela multiplicação das investigações dialetais de viés sociolin-
N o r d este (1 9 3 4 ), consolidou essa etapa. Em 1937, por iniciativa de Mário
CAMARfi 11953; 117-1651.
de Andrade, e com ativa participação de Antenor Nascentes, se realizava o Para informações dc projetos já realizados e projetos em andamento, ver AGUILERA (2005|.
Congresso de Língua Nacional Cantada; dezenove anos depois se realizaria São muitas as contribuições desse gênero. A título de exemplo, registrem*se as seguintes edi­
o I Congresso de Língua Falada no Teatro, no qual Antônio Houalss apre­ ções de obras literárias: LOPES NETO 11961); PAI\’A |1965); .UMEIDA |1978); CCXILA 12001).
t e y s s ie r ) 1980: 100] Thiduçào minha: “as di\isÔes ‘dialetais*, no Brasil, são socloculturais maet
sentou sua tentativa de descrição do sistema vocálico do português cultoda do que geográficos. (...) “as diferenças nos modos de falar são maiores, num dado lugar, entre um ho­
mem culto e seu vizinho analfabeto do que entre dois brasileiros de mesmo m'Nvl cultural proceden­
tes de duas regiões distantes uma da outra. A dinleiolc^n de\x* ser vertical mais do que horizontal.
S<Í8 otTAVA PARTK - APÊNDICES 549
III - KJRTiroLta brasileiríj : i i i te »u e Aua.iriA KJLÊMiav

guístico em nossas universidades. Projetos como o NURG, o PEUL e o CENSO relações entre língua, sociedade e cultura e os rumos da política idiomática
são exemplos, no Rio de Janeiro, do que acabo de dizer. O NURC, em espe­ que convém aos brasileiros.
cial, tem alcance nacional (Rio de Janeiro, Salvador, Recife, São Pauloe Porto
Alegre) e é responsável por um volume respeitável de estudos dos diversos ALOI NS TILVÇOS CAILACTERÍSTICOS
aspectos da linguagem - fonético-fonológico, morfológico, sintático, textual, 1)0 PORTUGUÊS BR.\SILEIRO
interacional - haja vista o elenco de oito volumes de uma Gramática do Por­ São habitualmente arrolados como característicos do português brasileiro —es­
tuguês Falado, publicados em São Paulo pela Unicamp'-', Com efeito, é tãosií pecialmente por distingui-lo do uso lusitano corrente —os seguintes aspectos:
da perspectiva da estruturação social que se apreende o espectro de unidade a) a construção estar/ficar etc. ■¥ gerúndio’; estam os a p r e c ia n d o ,
do português do Brasil: ao se olhar para a mesma classe social situada no topo fic a v a m conversando;
da pirâmide-a classe escolarizada, com acesso a jornais, re\istase livros-ao b) a preferência pela colocação proclftica dos pronomes átonos: m e
uso escrito enfim - flagra-se uma inquestionável unidade, que, todana, está solta (em vez de solta-m e), posso te a ju d ar (em vez de p o sso -te
longe de se poder identificar como a língua da maioria dos brasileiros. a ju d a r ou posso ajudar-te);
Esta ê uma unidade assegurada, de um lado, pula ação padronizadora e o) o uso de ele e respectivas variações como complemento direto do
‘corretiva’ da escola e, por outro, pela tendência niveladora dos meios de co­
verbo: gu ardei ele (= o chapéu) no anruírio, eu sem p re en con tro
municação, que, não obstante abram espaço para outras variedades dalín^ua-
e la (= sua prima) na feira ;
de forma episódica, frise-se lx;m jamais deixam de reforçar o chamado ilso
d) a tendência para a eliminação das estruturas proparoxítonas: cos-
culto como ideal a imitar graças a seus aditivos de prestígio .social.
c a (por cócegas), a bobra (por abóbora), m e irrita (por irrita-
Só recentemente, em função da proposta contida nus Parâmetros Cur­
-m e), m e lem bro (p>or lembro-me);
riculares Nacionais (PCNs), a política educacional vem .sendo reorientaiia
e) a dupla negação: não quero não (por não qu ero), ele a in d a n ão
no sentido de tomar a diversidade de usos regionais e sociais da língua um
saiu não (por ele ain da não saiu);
tema de alcance e interesse pedagógicos'-’.
f) o uso do presente do indicativo nas frases imperativas: peg a outro
p ed a ço d e bolo (por pegue outro pedaço de bolo); não chora não
.\ IJ.NOI A Q I E E.MEIUiE D.\S PESQI ISAS .XTUAIH
(por não chore não);
O fato ê que, à medida que a realidade linguística brasileira aflora nas pes­
g) a redução do sistema de pessoas do verbo à oposição entre duas
quisas que se expandem aceleradamente nas universidades espalhadas pelo
país, ressurge o debate sobre a identidade linguística nacional esuasóinias formas - uma para pessoa que fala (eu) e outra para as demais
repercussões na política de ensino da língua materna'-'. Uecememenle. pessoas, sem distinção morfoló^ca entre singular e plural: eu
movido pelo propósito de ‘promover e defender a língua portuguesa', um p lan to X tuJvocêJcle/nós (a geníe)/vocés/eles p lan ta;
deputado federal elaborou um projeto de lei destinado a disciplinar o uso h) o uso de a gente como expressão genérica ou indeterminadora da
de estrangeirismos no português do Brasil'-''. Linguistas de várias universi­ pessoa do discurso que inclui o enunciador: a gen te qiu ise não
dades brasileiras se pronunciaram destacando o equívoco da iniciativa do sa i d e c a s a , n ão con v id aram a gen te não;
parlamentar'-’ e reacendendo o debate sobre dois tópicos interligados: as i) o uso de em para reger o complemento verbal que designa o limite
de um movimento; f o i na cid ad e, chegou em ca sa ;
A sc^ric icvc início cm IW I com o volume coordenado por Aialiha Teixeim dc CaMilh<»
j) o uso da forma pronominal tu com o verbo na terceira pessoa; tu
TIUIO ( I W l j . Ac>iuirnni-sc os volumes IIaAKI |1W2]. C.\ST1IJIC) a\STlLIIO c B.\SÍL10
11‘^Xi). K<m:I1 I l« m l. Ki\TO NKVKS i r m ) e xUUUKRK c KOimKírKeS |2íKp21 s a b e on de f i c a o cin em a?;
KOJO |2<MI1| k) a mistura de formas relativas a você e n r .s e ela te con v id ar, v o c ê
SAo iiumcrosiih as c<mtnhulv<V‘s no a.vsunto. Alóm do já mencionado conjunio dv oiin vulum»
lia <«nimciricti dti ;>ortuj;oaV/iihuUt. ciCem*se. entre outros títulos, MONTKIKO |IW4|. TAUVU-H a ceita? ;
I lW í j . ( íALVK.S HA(;N0 12002 ). IUí RTONI-RICARIK) |2(KI5|. LKMLE 11«í7H1, ILMUc l) o uso de lhe como objeto direto: não lh e (= v o cê) vi na fe s ta .
RASSt) [2»MKi|. CAa STII.IK) I IWh). (RjRííKI e COKUR) ptMWj). KUTTOS E SII.VA
l‘r»)jet«»de Ia'I 1 <»7<í/lWJ. da autoria do deputado Aldo RcIk-Io.
'• K \IU i:o 12001) Na sequência, dou uma notícia sobre quatro aspectos que têm ooupa-
vários pesquisadores nos últimos anos: (1) o sujeito pronominal redun-
550 OITAVA PARTE - APÊNOICES III - PO R H T A tS nRVUEEIItO: IVI TEJEI E . O a V n POLEMIC.A 552

dante, (2) as construções de relativização, (3) a reorganização do sistema de ‘cortadora’ a estrutura relativa do tipo ‘c’ /T, uma vez que resulta do corte
de clíticos pronominais e (4) o emprego dos possessivos. do pronome anafórico e da preposição que o rege. É este corte que particula-
rlza o português brasileiro, caracterizado como uma língua de ‘objeto nulo’,
SU JEITO PRONOMINAL REDUND.VNTE diversamente do português europeu, que é uma língua de objeto manifesto.
As gramáticas normativas sempre recomendaram a supressão do pronome
sujeito quando a forma verbal - especialmente de !■ pessoa do singular - Convidaste o João? - Você convidou o João?
e do plural - já traz a marca pessoal: chego, por eu chego-, dissemos, por
- Convidei-o. - Convidei.
nds dissem o s. Efetivamente, a ausência deste é o uso típico no ponugués
europeu, de que se distingue o português brasileiro. Pude verificar isso na Português de Portugai Portuguê.s do Bru.sU
leitura do poema “Cântico Negro”, do poeta português José Régio'“. Há aí
um verso que se reitera ao longo do poema -N ã o vou p oral. Na leitura da CLÍTICOS PRONO.MINAIS
cantora brasileira Maria Bethania*” , porém, quase todos os eus foram es­ As gramáticas normativas brasileiras ensinam que, na 3’ pessoa, o portu­
pontaneamente recolocados. Isto revela que o português do Brasil, mesmo guês dispõe das formas o/a/os/as para o papel de objeto direto e lh e/lh es
em sua variedade culta, está dando ampla preferência ao resgate do sujeito, para a função de objeto indireto. O português falado no Brasil em geral des­
ao contrário do que se passa em Portugal. Esta é a conclusão da pesquisa conhece esse sistema: conforme as condições sintáticas apropriadas, as for­
de Maria Eugênia Lamoglia Duarte, que investigou o assunto em um vasto mas o/a/os/as são correntemente substituídas por ele/elaJeles/elas (De d ia
corp u s de peças teatrais brasileiras desde o século XVll até a primeira me­ ela prendia o ca ch orro , m as à noite deixava ele solto no qu intal), ou ficam
tade do século XX’“ . subentendidas (objeto elíptico ou nulo, como em Leve o g u a rd a -c h u v a ,
mas cu idado p a r a não esqu ecer [ ] na condução. Quanto a lhe/lhes, em­
CONSTRUÇÕES DE RELATIVIZAÇÃO pregam-se correntemente apenas para designar o interlocutor (vocé/cocês,
Fernando Tarallo é o autor de uma tese de doutoramento em que expôs a você/a oocês); para a 3* pessoa, emprega-se normalmente a ele/ela, a ele s /
peculiaridades sintáticas do português brasileiro relativamente ao processo elas, com a preposição a servindo para marcar a função de objeto indireto.
de relativização. Ele comparou estruturas dos seguintes tipos: Por outro lado, o emprego comum de a gente em substituição a ruis contri­
a) Conheço um rapaz cujo pai é marceneiro. bui para que as variações pessoais do verbo se reduzam à oposição entre
b) Conheço um rapaz que o pai dele é marceneiro. três formas, duas do singular - (eu) sou, posso X (a gente, você, ele/ela) é,
c) Conheço um rapaz que o pai é marceneiro. pode - e uma do plural - (vocês/eles/elas) são, podem . O estudo de maior
d) A casa em que eu moro é antiga. abrangência sobre pronomes pessoais no português do Brasil é o de Mon­
e) A casa que eu moro nela é antiga. teiro [1994). Omena (1996J‘“ analisou a variação nós/a gente e Vandresen
f) A casa que eu moro é antiga. [2000]'“ as formas de tratamento na região Sul do país. A reorganização
do sistema de clíticos pronominais na fala brasileira é o tema central dos
Tarallo revela que a construção ‘b’ /‘e’ é conhecida dos portugueses (Má­ ensaios de Galves [2001).
rio Barreto mostra que ela é encontradiça em escritores lusitanos dos séculos
XVII, XVIII e XIX“ ') tanto quanto a construção ‘a’ /‘d’. Somente a construção FUNCION.VMENTO DOS POSSESSIVOS
‘c’ / T é tipicamente brasileira. Para ele, este fenômeno não é exclusivo da Há basicamente dois subsistemas de pronomes possessivos no piortuguês
construção relativa, por isso não pode ser descrito como uma reanálise, pela em uso no Brasil: um (subsistema 1) restrito aos usos formais, predominan­
qual o relativ'o teria se convertido em um complementizador. Tarallo chamou te na língua escrita e próprio do discurso em que não se explicita qualquer
RÉGIO (1985: 50-IJ. OSÍENA, Nellze Pires de. “A Referência à Primeira Pessoa do Discurso no Plural”. In: SILVA e
NíiBttoH momentoH {Philips, 1982(. 8CHERRE (1996: 183-215(. E ainda. "As Inlluências Sociais na Variação Entre NÓS e A GENTE na
DUARTE, Maria Eugõnia L. “Do Pronome Nulo no Pronome Pleno: a Trajetória do Sujello no Função de Sujeito”. [Idem: 309-323].
Portuíuís do Brosll". In: ROBERTS e KATO (1996: I0M 24|. “* VANDRESEN. P. “SooiollnguisUca e Ensino: o Sistema Pronominal e a Conoordânoia Verbal no
BARRETO (1980: 251-261). Português falado na Região Sul”. In: FORTÍLVMP e TOMITCH (2000: 229-243|.
552 OITA\^\ PARTE - APÊNDICES

referência ao interlocutor, no qual as formas seu/sua/seus/suas se referem


à 3" pessoa; e outro (subsistema II) em que as formas seu/sua/seus/siias sc
referem sobretudo ao interlocutor. Neste caso, os riscos de ambiguidade BIBLIOGR.\FIA I
são contornados pelo uso de dele/dela/deles/delas como ‘possessivos' de .V (Títulos dc teoria em geral e descrição do português)
pessoa. Nas variedades coloquiais e informais, ser\'idas pelo subsistema II.
é comum a utilização combinada dos dois grupos de 2* pessoa, o que pos­
sibilita construções como Você sa b ia que hoje ê o aniversário do seu (ou
teu) irm ão? . Por outro lado, se o interlocutor é plural, o pronome pessoal
é necessariamente txjcês - já que tx5s é forma restrita a modelos textuai.s
cristalizados - , e a expressão possessiva preferida é de vocês. Frases como rVBAURRE, Maria Bemndete M.; RODRlGliES. .Angela C. S. (orgs.). G ram ática do
O nde estã o seu s p ais? ou G ostei muito d a sua cidade são dirigidas a um Português Falado. São Paulo: Gnicamp. 2002. (Novos estudos descritivos, v. 8).
interlocutor no singular. Se o interlocutor é mais de um indivíduo, a cons­ ABRALIN. Bo/ctim da í\ssix:iação Brusilcim de Linguística. São Paulo: FFLGH-
trução usual é O nde estão os p a is de vocês?, Gostef muito da cidade de USP, 1993.
v o cês. A substituição de seu - possessivo de 3' pessoa - por dele foi tema de rVBREU, íAntônio Suárez. A Arte de Argumentar. 10. cd. São Paulo: Ateliê
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