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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES


CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

JAILTON BISPO DE JESUS FILHO

Psicologia da Música: Neurociência e o estímulo musical

Feira de Santana-BA.
2020
Novas tecnologias geralmente trazem com elas mudanças significativas em
todos os ramos, principalmente para o da ciência. Tamanhos avanços têm,
atualmente, permitido pesquisas na área da neurociência e por tabela, dos
efeitos gerados pela música/som no cérebro humano.

De fato, o cérebro comanda todas as nossas ações por meio de processos


químicos (hormonais), processos que podem ser alterados por meio do
convívio social/familiar ou simplesmente estarem presentes em nossos genes
desde o nosso nascimento.

Grande parte dos efeitos da música no cérebro acontece no neocórtex, onde


estão localizados os lobos e hemisférios. Hemisférios estão relacionados aos
lados esquerdo e direito do cérebro.

Localizados nos hemisférios, os lobos são estruturas que levam os nomes dos
ossos que o protegem na caixa craniana (frontal, parietal, temporal e occipital).

A atividade musical acontece no cérebro ativando principalmente os lobos


temporais, cerebelo e sistema límbico, sendo esse último responsável pelas
emoções.

Uma das mais intrigantes áreas de pesquisa no campo “neuromusical”, tenta


entender como funciona o cérebro de possuidores de ouvido absoluto.

Costumava-se acreditar que detentores de ouvido absoluto tinham maior área


cinzenta em ambos os hemisférios cerebrais, mas estudos recentes mostram
que, na verdade, eles têm uma má formação no plano temporal, causada pela
redução da densidade celular do plano temporal direito. Isso infere que a
aquisição de habilidades nem sempre aumenta a atividade cerebral e/ou
tampouco seu tamanho, na verdade, o cérebro parece se mostrar mais
eficiente na ausência da densidade celular.

Oliver Sacks em seu livro Alucinações Musicais (2007) sugere que nem todo
detentor de ouvido de absoluto terá todos os atributos de um exímio músico, e
isso fica comprovado pelo exemplo de Cordélia, exposto no livro. Cordelia era
uma jovem oriunda de uma família bastante musical, sendo ela a única
detentora de ouvido absoluto, contudo, ela mal conseguia entonar seu violino.
O livro segue mostrando que o contrário também se aplica ao demonstrar que
mesmo por meio de extensivo treino, as devidas competências de um músico
nem sempre são adquiridas de forma acadêmica. Um paradoxo que pode
culminar em musicalidade tardia ou excesso da mesma.

A neurociência também busca estudar o comportamento humano frente a


lesões cerebrais (acidentes, AVC’s e etc.).

Tem-se observado uma mudança de comportamento quando determinadas


áreas do cérebro são afetadas.

Talvez a área mais estudada seja nas lesões no lobo temporal. Essa parte é
responsável entre outras pelo “freio moral”, memoria objetiva e
reconhecimento de objetos.

Pessoas com lesão lobo temporal tendem a ficar desinibidas quase que de
maneira incontrolável, despudoradas. Ainda não se sabe se isso tem ligação
com disfunção hormonal.

De fato, mesmo pessoas que nunca foram “ musicais”, acabam desenvolvendo


alguma manifestação musical, as vezes exagerada, quando tem uma lesão
frontotemporal. Tais situações podem chegar a níveis demenciais.

Doenças neurodegenerativas também tem se mostrado capazes de ativar ou


desativar manifestações musicais em indivíduos.

Talvez devamos nos debruçar mais no que não foi feito e ao que não sabemos
oriundo de analises cerebrais. De onde vem os “insights” que leva a magnificas
composições? Performances com forte expressão, de onde elas vêm? Seria
uma atividade neural? Se for, o que inicia essa atividade?

Essas são profundas questões que muito provavelmente, as respostas não


serão encontradas em locais escaneados no cérebro ...

“ Quem canta, seus males espanta”. Cervantes.

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