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Temas Contemporâneos

Unidade 1:
O ser contemporâneo e os
direitos humanos

Objetivos
• Conhecer as principais etapas históricas do desenvolvimento dos
direitos humanos e as temáticas atuais pertinentes ao tema;


ideias em voga em nosso tempo.
Unidade 1

Na unidade inicial deste componente, serão abordados dois temas bási-


cos. O primeiro se refere ao questionamento sobre a representação e o sentido
de ser contemporâneo, que nos aponta para a importância do pensamento e
reflexão permanente sobre a situação e os temas que circulam em nosso tem-
po. O segundo tópico aponta para assuntos extremamente importantes e que
necessitam de conhecimento mais aprofundado: direitos humanos. Defender
direitos humanos é reconhecer e se posicionar a favor da humanidade que está
presente em cada ser humano. O desafio é perceber que esse é sempre um ca-
minho a ser trilhado e que requer a participação de todos. Dessa forma, se-
rão abordadas questões basilares que demonstram a luta histórica por direitos,
bem como temáticas dos tempos atuais.

Contemporaneidade
O primeiro desafio ou questionamento que deve ser lançado é referente à
necessidade ou não de estudar “temas contemporâneos”. Pare por um instante a
leitura e tente refletir sobre qual a importância de conhecer melhor assuntos e
ideias que circundam o mundo e a nossa vida.

Para pensar
Como essas questões afetam a vida de cada um de nós? Quais são os principais
temas que tomam a nossa atenção e condicionam nosso modo de pensar e ver
a realidade? Num contexto de infinitas informações e múltiplas versões de fatos, como
se ater ao que é verdadeiro? Como compreender e diferenciar o que é efêmero e o que
é realmente importante para a vida das pessoas? O que caracteriza o tempo contem-
porâneo? O fato de valorizarmos a contemporaneidade nos autorizaria a descartar a
tradição e os ensinamentos dos temas clássicos ou as lições da história e das culturas
que nos antecederam?

Diferentes nomenclaturas são usadas para tentar explicar o que caracteriza


o tempo hodierno. Costuma-se chamar a nossa era de pós-moderna; o que isso
representaria? Também é denominada como modernidade líquida (BAUMAN,
2001), hipermodernidade (LIPOVETSKY, 2016) e modernidade tardia. Ou, ainda,
sociedade do risco ou sociedade do cansaço (HAN, 2017). Com relativa frequên-
cia, outras formas de caracterização ou conceituação de nosso tempo são utiliza-
das. Que sentidos e interpretações servem de base para tais conceitos?

Para saber mais


Para quem tiver interesse e oportunidade de aprofundar os estudos, sugere-se a
leitura e pesquisa na obra de Michel Maffesoli, A ordem das coisas: pensar a pós-
modernidade.

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Temas Contemporâneos

Um dos pensadores que pode nos auxiliar no caminho da compreensão des-


ses questionamentos é Giorgio Agamben. Ao tentar responder às dúvidas “de que
e de quem somos contemporâneos; ou, o que significa ser contemporâneo”, ampa-
ra-se no filósofo alemão Friedrich Nietzsche e afirma que “pertence verdadeira-
mente ao seu tempo, é verdadeiramente contemporâneo, aquele que não coincide
perfeitamente com este, nem está adequado às suas pretensões e é, portanto, nesse
sentido, inatual” (AGAMBEN, 2009, p. 58). Isso não representa o sentimento de
estar preso a um passado pretensamente idílico ou maravilhoso, nem mesmo de
viver na expectativa ou ilusão de um futuro sempre próspero. Significa antes a
proposta de pertencer e viver o seu tempo, mas com a capacidade de saber dis-
tanciar-se, de olhar sob diferentes prismas, de analisar as circunstâncias de forma
crítica, de pensar sobre os acontecimentos presentes, seus resquícios do passado e
suas consequências para o futuro.

Ser contemporâneo ao tempo em que se vive é pensar constantemente sobre


o que está ao nosso redor. Buscar estabelecer conexões claras e racionais sobre os
acontecimentos do mundo, que impactam a vida de cada sujeito. Mas, também,
“contemporâneo é aquele que mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perce-
ber não as luzes, mas o escuro” (AGAMBEN, 2009, p. 62). Ou seja, há necessidade
de olharmos para além dos holofotes, para as penumbras e mazelas que assolam
o tempo presente. É não deixar-se cegar pelas luzes, mas concentrar também o
olhar na sombra, nos bastidores, nas rupturas e inconformidades, sem deixar de
reconhecer os heróis, os astros e personalidades. É também reconhecer a vida, a
humanidade e a dignidade de bilhões de anônimos que constroem a sociedade e a
história de nossos dias.

Se ser contemporâneo é a coragem de olhar para a escuridão e visualizar


os meandros de poder e decisão, não é no sentido de lamentação e melancolia. É
no esforço de tentar encontrar e estabelecer racionalidades e sentidos em meio à
pressa e ao turbilhão de coisas que (quase) nos sufocam. É dar-se conta que as no-
ções de tempo e espaço se alteraram e flexibilizaram, que as relações se tornaram
fluidas e as formas de comunicação estão cada vez mais se – e nos – alterando.

No peregrinar que é a vida em constante mutação, ser contemporâneo é per-


ceber que o presente é composto de um “não mais” e de um “ainda não” (AGAM-
BEN, 2009, p. 68). Embora convencidos de que a nossa era é a da inovação e do
empreendedorismo, viver a contemporaneidade é buscar estar ciente das raízes
que nos alimentam e nos fixam em determinadas ideias, (pre)conceitos, modos de
agir, sentir etc. Os dias presentes nos fazem perceber que o tempo não é necessa-
riamente uma linha reta em direção a um futuro de progresso e de vida promis-
sora. Os tempo/espaço hoje diluídos entre distâncias e aproximações sem fim nos
apontam para a incerteza e a possibilidade que é a vida.

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Unidade 1 1
Unidade

Ser Ser
contemporâneo é colocar-se
contemporâneo em em
é colocar-se atitude de abertura
atitude parapara
de abertura compreender,
compreender,

tempo, dispor-se
tempo, parapara
dispor-se transformar o que
transformar precisa,
o que semsem
precisa, perder ou deixar
perder esmorecer
ou deixar esmorecer
as conquistas humanas
as conquistas humanasao longo da história.
ao longo A contemporaneidade
da história. A contemporaneidade nosnos
mostra a a
mostra
indefectível necessidade
indefectível de sermos
necessidade eternos
de sermos aprendizes,
eternos de aprender
aprendizes, sempre!
de aprender sempre!

Direitos humanos
Direitos humanos
UmUm dosdos
assuntos queque
assuntos apresenta grande
apresenta relevância
grande e constantemente
relevância e constantementeé tema
é tema
de debate na atualidade
de debate diz diz
na atualidade respeito aos aos
respeito “direitos humanos”.
“direitos Muito
humanos”. se comenta,
Muito se comenta,
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sobre temática? PelaPela
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seriedade os assuntos vincu-
os assuntos vincu-
lados à questão
lados dosdos
à questão direitos humanos
direitos humanosrequerem
requeremnãonão
se pode aceitar
se pode queque
aceitar os discur-
os discur-

queque
se aprofundem
se aprofundemas leituras e conhecimentos
as leituras sobre
e conhecimentos o tema
sobre parapara
o tema debater comcom
debater
propriedade, reconhecer
propriedade, as conquistas
reconhecer e seguir
as conquistas no caminho
e seguir de concretização
no caminho de de
de concretização
direitos parapara
direitos todos.
todos.

O propósito
O propósito direitos
dosdos humanos
direitos humanos é aégarantia
a garantiae efetivação de um
e efetivação con-con-
de um
junto de direitos
junto a todos
de direitos os seres
a todos humanos,
os seres humanos, considerados
considerados indispensáveis parapara
indispensáveis umauma
vidavida
de qualidade.
de qualidade.Visam resguardar
Visam resguardar a dignidade da cada
a dignidade da cadasujeito e osevalores
sujeito queque
os valores
são são
preciosos e constitutivos
preciosos e constitutivosde cada ser humano,
de cada ser humano,tais tais
como liberdade,
como igualdade,
liberdade, igualdade,
solidariedade
solidariedadeetc. etc.
PeloPelo
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de que nenhum
de que nenhum ser ser
humano
humano é superior ou inferior
é superior a a
ou inferior
outro humano,
outro humano,tais tais
direitos devem
direitos devemser garantidos independentemente
ser garantidos independentemente de sua con-con-
de sua
dição, ou seja,
dição, nãonão
ou seja, se podendo
se podendofazer nenhuma
fazer nenhumaconsideração
consideração ou distinção de raça,
ou distinção de raça,
sexo, religião,
sexo, nacionalidade,
religião, nacionalidade, etnia, idioma
etnia, ou qualquer
idioma ou qualqueroutra condição
outra individual
condição individual
ou grupal.
ou grupal.

Para compreender
Para compreender
melhor melhor o conceito
o conceito geral
geral dos dos direitos
direitos humanos,
humanos, assista ao
assista ao
vídeo.
vídeo a seguir:

AntesAntes de prosseguir
de prosseguir com acom a leitura
leitura do material,
do material, acesse
acesse o Ambiente
o Ambiente Virtual
Virtual e as-ao
e assista
sista
vídeo: ao são
O que vídeo O quehumanos
direitos são direitos humanos
| Glenda | Glenda Mezarobba.
Mezarobba.

Nossa missão
Nossa é ajudar
missão a pensar
é ajudar e tornar
a pensar o mundo
e tornar um um
o mundo lugarlugar
possível e melhor
possível parapara
e melhor
todos, ou teremos
todos, fracassado
ou teremos como
fracassado humanidade.
como humanidade.

Costuma-se
Costuma-se fazer umauma
fazer distinção conceitual
distinção entre
conceitual direitos
entre humanos
direitos humanose di-e di-
reitos fundamentais.
reitos fundamentais.Quando
Quandose trata de direitos
se trata humanos
de direitos humanos – direitos do homem
– direitos do homem
– busca-se fazer
– busca-se referência
fazer ao estabelecimento
referência ao estabelecimento de certos padrões
de certos padrõeséticos e umbrais
éticos e umbrais
de garantia de direitos
de garantia na ordem
de direitos na ordeminternacional.
internacional.Ou Ou seja,seja,
tais tais
direitos devem
direitos ser ser
devem
garantidos porpor
garantidos normas internacionais
normas internacionais(tratados, declarações
(tratados, declarações etc.)etc.)
celebrados porpor
celebrados
Estados queque
Estados visam à proteção
visam na ordem
à proteção na ordem política, social,
política, econômica,
social, econômica, cultural etc. etc.
cultural
SãoSão
direitos naturais,
direitos inerentes
naturais, a todo
inerentes ser humano,
a todo ser humano,independentemente
independentemente do tempo
do tempo

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ou de previsão legal. Já os direitos fundamentais dizem respeito à positivação de


tais direitos nas normas de determinado país. É a proteção de direitos na ordem
interna, na jurisdição de cada Estado, principalmente em suas Constituições. Di-
reitos que estão vigentes na ordem jurídica concreta de cada país.

Fonte: Mazzuoli (2019, p. 3).

Embora haja essa distinção conceitual, é importante ressaltar que o central


em todas as questões concernentes ao tema é o que visa à efetiva proteção de cada
sujeito humano contra qualquer tipo de violação ou agressão contra sua condição

“Os direitos humanos são, portanto, direitos protegidos pela ordem inter-
nacional (especialmente por meio de tratados multilaterais, globais ou
regionais) contra as violações e arbitrariedades que um Estado possa co-
meter às pessoas sujeitas à sua jurisdição. São direitos indispensáveis a uma
vida digna e que, por isso, estabelecem um nível protetivo (standard) mí-
nimo que todos os Estados devem respeitar, sob pena de responsabilidade
internacional.”

Ou, como leciona Fabio K. Comparato (2017, p. 50), “a dor, o sofrimento


físico e moral tem servido como parâmetros para compreender a necessidade de
estabelecer limites visando garantir a dignidade e os direitos de todos. Diante dos
surtos e episódios de violência, guerra, torturas, massacres, explorações, fomes,
etc. a humanidade tem estabelecido padrões morais e de justiça, bem como exi-
gências de regras para garantir uma vida digna para todos”.

Para compreendermos melhor a relevância do debate em torno dos direitos


humanos na contemporaneidade, é fundamental interpretá-los como verdadeiras
conquistas que foram acontecendo ao longo da história da humanidade. Não se
trata de um viés partidário ou tentativa de resguardar privilégios, mas de verdadei-
ras lutas – regadas com sangue e suor – em busca de melhores condições de vida

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para todos. Direitos humanos são construídos como forma de reconhecimento da


humanidade que é intrínseca a cada sujeito; não nascem todos de uma vez e nem
de uma vez por todas; representam sempre uma espécie de utopia ou caminho a
perseguir.

Aspectos históricos fundamentais


Não seria exagero afirmar que a batalha por direitos humanos também gira
em torno do poder: quem, como e para quem se exerce o poder? Comparato (2017,
p. 53) entende que a consciência histórica da luta pelos direitos se concentra em tor-
no da percepção da necessidade da limitação do poder político. Em suas palavras:

“O reconhecimento de que as instituições de governo devem ser uti-


lizadas para o serviço dos governados e não para o benefício pessoal
dos governantes foi um primeiro passo decisivo na admissão da exis-
tência de direitos que, inerentes à própria condição humana, devem
ser reconhecidos a todos e não podem ser havidos como mera con-
cessão dos que exercem o poder.”

Tal consciência tem diferentes


referenciais históricos, como é o caso
bíblico do rei Davi, que governou en-
tre 996 e 963 a.C. e se notabilizou por
estabelecer um governo que estava sub-
metido ao Direito e não a um impera-
dor que usava do poder para benefício
próprio. Outra conquista se pode ver
estampada na Grécia Antiga, com a
ideia de democracia (poder nas mãos
do povo) quando se buscou estabelecer
Fonte: Foltz (1852).
princípios gerais para o governo e pos-
sibilitar a participação dos cidadãos nas decisões, com a previsão de igualdade
entre os sujeitos e de uma governança para todos e não para determinados grupos
privilegiados.

O século XVII, com a eclosão de uma verdadeira “revolução científica” e de


diversas revoltas políticas, traz à baila a importância do conhecimento, do saber e
da ciência como armas contra o obscurantismo, a violência e os arbítrios do po-
der. Vale ressaltar que o conhecimento e as ciências são formas de impulsionar a
autonomia e a liberdade dos cidadãos, verdadeiras ferramentas contra governos e
sistemas autoritários; o saber é mecanismo de reflexão para afirmação de direitos.

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Na modernidade, merecem destaque especial a Revolução Francesa e a


Independência Americana. Para muitos, tais marcos históricos representam o
verdadeiro nascimento dos direitos humanos, significando o reconhecimento da
igualdade entre os seres humanos e o igual respeito a todos para a busca de sua
própria felicidade. A Declaração de Direitos da Virgínia e a Declaração dos Direi-
tos do Homem e do Cidadão insistem nos aspectos de liberdade e igualdade entre
as pessoas, ressaltando que o poder pertence ao povo e não a determinadas classes
políticas ou econômicas. As duas “revoluções” simbolizam a luta e a previsão do
que viria a ser chamada a primeira dimensão dos direitos humanos. Conforme
as palavras de Comparato (2017, p. 65): “as declarações de direitos norte-ameri-
canas, juntamente com a Declaração francesa de 1789, representaram a emanci-
pação histórica do indivíduo perante os grupos sociais aos quais ele sempre se
submeteu: a família, o clã, o estamento, as organizações religiosas”.
Dica de site
Se quiser conhecer os textos dessas e de outras declarações históricas para os
direitos humanos, acesse a Biblioteca Virtual de Direitos Humanos, da USP.

Confira uma gravura da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,


de 1789, disponível no Museu da Revolução Francesa:

Fonte: Déclaration (2019).

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Com o modelo liberal de produção e organização social, que previa a todos


os mesmos direitos, ao longo do tempo foi se percebendo uma verdadeira explo-
ração e pauperização das classes trabalhadoras e proletárias. Embora houvesse a
previsão formal de direitos iguais a todos, efetivamente, os detentores do capital
-
senfreada pelo progresso e lucro, a história nos mostra que muitos eram levados
(inclusive crianças e mulheres) a se submeter a jornadas de trabalho que duravam
geralmente mais de doze horas.

Essas situações de pobreza e miserabilidade a que eram submetidas grandes


parcelas da população mundial eclodiram em movimentos e lutas por direitos eco-
nômicos e sociais. Tais direitos – considerados de segunda dimensão – vieram a se

Uma importante observação deve ser feita: “O titular desses direitos, com efeito,
não é o ser humano abstrato, com o qual o capitalismo sempre conviveu maravi-
lhosamente. É o conjunto dos grupos sociais esmagados pela miséria, a doença, a
fome e a marginalização” (COMPARATO, 2017, p. 66).

Falar em direitos humanos – de segunda dimensão – é visar à proteção da


vida digna de todos, através da garantia de condições de trabalho, de efetivação
de direitos econômicos, sociais e culturais que atendam a todas as populações,
principalmente as que mais necessitam de apoio. Se na primeira dimensão o alvo
é a proteção dos direitos políticos e civis (liberdade), não permitindo a invasão do
Estado em aspectos de individualidade, propriedade etc., na segunda dimensão
o Estado é conclamado a ser o agente ativo na efetivação de proteção das classes
menos favorecidas, através de políticas públicas que venham atender às dimensões
da saúde, educação, emprego, moradia etc.

-
volvimento e a democracia. Nesse sentido, são contemporâneas, estarrecedoras e

humanos no seguinte contexto:

“Hoje os 15% mais ricos do mundo concentram 85% da renda mun-


dial enquanto que os 85% mais pobres concentram tão-somente 15%.
Para a Organização Mundial de Saúde, a pobreza, pasmem, acima de
qualquer guerra, da somatória das guerras, é a principal causa mortis
do mundo. Por dia há 50 mil vidas desperdiçadas no mundo, sen-
do 34 mil de crianças menores de 5 anos. Nesse contexto desigual, a
nossa região, a América Latina, é a mais desigual, não a mais pobre
mas a mais desigual. E o nosso país é o mais desigual da região mais
desigual num mundo bastante desigual”.

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-
manidade, possivelmente, atravessou um dos períodos mais sombrios de sua his-
tória. Diferentes mecanismos, instrumentos e tecnologias foram utilizados para,
em escala industrial, atentar contra a dignidade da humanidade como um todo,

consciência de que tais atrocidades não poderiam ser esquecidas e jamais toleradas
ou repetidas. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Assem-

como um dos maiores bastiões de proteção dos direitos e dignidade humana.


Antes de prosseguir com a leitura do material, acesse o Ambiente Virtual e as-
sista ao vídeo: LEANDRO KARNAL - Declaração Universal dos Direitos Humanos
(DUDH).
Para saber mais
Confira a Declaração Universal dos Direitos Humanos na página da ONU Brasil.

A trajetória de lutas pela garantia dos direitos humanos também teve um


passo importante no ano de 1966, quando foram aprovados o Pacto Internacional
sobre Direitos Civis e Políticos (prevendo o reconhecimento do direito à vida; a
não ser submetido à tortura; a não ser submetido à escravidão; o direito à liberda-
de; a garantias processuais; à liberdade de movimento, de pensamento, de religião,
de associação; à igualdade política e à igualdade perante a lei) e o Pacto Interna-
cional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (com a previsão de direito ao
trabalho, à liberdade de associação sindical, à previdência social, à alimentação, à
moradia, ao mais elevado nível de saúde física e mental, à educação, à participação

atuais e permanentes na luta por direitos humanos.

Posteriormente à fase de internacionalização, o itinerário de lutas pela ga-


rantia e proteção dos direitos humanos tem também uma face importante que diz
respeito à regionalização. Ou seja, além de um sistema global, a humanidade sen-
tiu a necessidade de adotar sistemas regionais para a facilitação da concretização
da defesa de cada ser humano.

Assim, a partir de 1950, com a Convenção Europeia de Direitos Humanos,


passou a ser instituído o Sistema Europeu de Direitos Humanos. O Sistema Intera-
mericano passou a existir a partir da Convenção Americana de Direitos Humanos,
em 1969. Já o Sistema Africano ganha vida a partir da Carta Africana dos Direitos
Humanos e dos Direitos dos Povos, em 1981. Cada um desses sistemas possui ins-

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tâncias
tâncias
queque
visam
visam
à efetiva
à efetiva
proteção
proteção
de direitos
de direitos
e vem
e vem
se mostrando
se mostrando
muito
muito
atuan-
atuan-
tes. Desafio que ainda precisa ser alcançado no mundo asiático e árabe, conforme
se pode perceber
se pode no seguinte
perceber esquema:
no seguinte esquema:

Fonte:Fonte:
Mazzuoli (2019,(2019,
Mazzuoli p. 146).
p. 146).

O Brasil também
O Brasil tambémfaz parte da rede
faz parte global
da rede e regional
global dos dos
e regional direitos humanos,
direitos humanos,
como a sua
como própria
a sua Carta
própria Magna
Carta expressa:
Magna “Os“Os
expressa: direitos e garantias
direitos e garantiasexpressos nesta
expressos nesta
Constituição
Constituiçãonãonãoexcluem outros
excluem decorrentes
outros decorrentesdo regime
do regimee dos princípios
e dos por por
princípios ela ela
adotados, ou dos
adotados, tratados
ou dos internacionais
tratados em em
internacionais queque
a República
a RepúblicaFederativa do Brasil
Federativa do Brasil
sejaseja
parte” (BRASIL,
parte” (BRASIL,1988). A Constituição
1988). A ConstituiçãoFederal de 1988
Federal é um
de 1988 grande
é um referente
grande referente
no que diz respeito
no que aos aos
diz respeito direitos humanos,
direitos elencando
humanos, elencandoumaumasériesérie
de direitos e garan-
de direitos e garan-
tias,tias,
como se pode
como ver ver
se pode principalmente
principalmentenosnos
seusseus
artigos 5º, 6º
artigos 5º,e6º7º.e Além dos dos
7º. Além direi-
direi-
tos tos
expressamente
expressamente previstos, o Brasil
previstos, adota
o Brasil direitos
adota e garantias
direitos e garantiasqueque
são são
previstos
previstos
em emtratados internacionais
tratados de direitos
internacionais humanos
de direitos humanos dos dos
quais o país
quais façafaça
o país parte.
parte.
DicaDica
de leitura
de leitura

É importante que você conheça os direitos e garantias fundamentais e sociais,


por isso, sugerimos a leitura dos artigos 5º, 6º e 7º da Constituição Federal
Brasileira.

A segunda
A segunda metade do século
metade XX XX
do século marca a luta
marca por por
a luta umaumaterceira dimensão
terceira dimensão
de direitos,
de direitos,
queque
alguns denominam
alguns denominam como dimensão
como dimensãoda fraternidade ou solidarie-
da fraternidade ou solidarie-
dade. Tratam-se
dade. de direitos
Tratam-se coletivos
de direitos e difusos,
coletivos cujacuja
e difusos, titularidade é deécomunidades
titularidade de comunidades
de pessoas, queque
de pessoas, são são
fruto de movimentos
fruto de movimentos emergentes e lutas
emergentes por por
e lutas direitos de ordem
direitos de ordem
ambiental, paz,paz,
ambiental, igualdade entre
igualdade os povos,
entre qualidade
os povos, de vida,
qualidade integração
de vida, de mino-
integração de mino-

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rias sociais, étnicas, entre outros tantos. Para desconstruir preconceitos e seguir
apontando caminhos de compreensão, a seguir serão tratados assuntos referentes
a algumas coletividades para demonstrar a importância da luta permanente por
mais direitos para todos os humanos.

A luta por direitos humanos na era contemporânea diz respeito à condição


de grupos e categorias de pessoas que historicamente foram menosprezadas, ex-
-
ções de vulnerabilidade. Nas palavras de Mazzuoli (2019, p. 256):

“Minorias são grupos de pessoas que não têm a mesma representação política que os
demais cidadãos de um Estado ou, ainda, que sofrem histórica e crônica discriminação
por guardarem entre si características essenciais à sua personalidade que demarcam
a sua singularidade no meio social, tais como etnia, nacionalidade, língua, religião ou
condição pessoal; trata-se de grupos de pessoas com uma identidade coletiva própria,
que os torna ‘diferentes’ dos demais indivíduos no âmbito de um mesmo Estado (v.g.,
os povos indígenas, a comunidade LGBTI, os refugiados etc.). Grupos vulneráveis, por
sua vez, são coletividades mais amplas de pessoas que, apesar de não pertencerem
propriamente às ‘minorias’, eis que não possuidoras de uma identidade coletiva espe-

indefensabilidade (v.g., as mulheres, os idosos, as crianças e adolescentes, as pessoas

Conceito
v.g.

Entre os direitos que merecem ser destacados, há que se ressaltar o direito


humano das mulheres. Apesar de toda caminhada histórica e do reconhecimen-
to formal, ainda hoje é perceptível o preconceito, a discriminação e a violência
contra as mulheres, no mundo e no Brasil. A luta para que se logre plena e mate-
rial igualdade de tratamento é e deve ser permanente, pois várias conquistas de
direitos das mulheres são ainda muito recentes, necessitando de aprimoramento
e consolidação. Diversas são as nuances da luta das mulheres, seja no campo de

contra a violência doméstica etc. No Brasil, um símbolo de luta é a Lei 11.340 de


2006, denominada como Lei Maria da Penha, que cria uma série de mecanismos
para coibir a violência doméstica e familiar contra as mulheres.

Com a melhoria das condições de vida, é fato que a população está vivendo
por mais tempo e temos hoje uma grande parcela de idosos. É um verdadeiro gesto

de proteção aos idosos, pessoas que já batalharam por tantos e tantos anos para
melhorar o mundo e que se encontram, em função da idade, fragilizadas. No Bra-

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sil, além de outras previsões legais esparsas, em 2003 adotou-se o Estatuto do ido-
so (Lei 10.741), que conforme a síntese de Mazzuoli (2019, p. 283), visa aos idosos
“envelhecimento sadio e livre de quaisquer formas de violência ou discriminação;
prestação alimentar nos casos previstos em lei; assistência social; acesso universal
e igualitário no Sistema Único de Saúde (SUS); inclusão em atividades culturais e
educacionais, inclusive para profissionalização”.

Outra categoria que merece especial atenção por sua peculiaridade e fra-
gilidade é a das crianças e adolescentes. Ao se afirmar as especiais condições das
crianças e adolescentes, pretende-se garantir que eles possam crescer e se desen-
volver em condições dignas, longe de abusos sexuais, de exploração do trabalho
e prostituição infantil, das diferentes formas de violência (física, psicológica). Ga-
rantir direitos a essa categoria é prever as reais condições de educação, saúde, pro-
teção social, esportes, cultura para todas as crianças para que possam se desenvol-
ver de forma sadia e alegre.

Falar de direitos humanos é dar o devido reconhecimento a cada sujeito


por sua humanidade, sem jamais desprestigiar sua diferença. São as diferenças em
diálogo que nos complementam e nos constituem enquanto seres humanos.

Antes de prosseguir com a leitura do material, acesse o Ambiente Virtual e


as-sista ao vídeo: “Ser humano é plural. Tanto que na ética falamos em direitos
huma-nos” , diz Cortella.

E isso nos leva à obrigação moral de consideração e respeito às diferenças


e minorias. Uma sociedade minimamente saudável e que se pretende progressista
deve acolher e integrar as minorias e suas diferenças. Por isso, na contemporanei-
dade, é necessário o olhar atento às condições de grupos que historicamente foram
excluídos e relegados ao esquecimento. Em especial, a comunidade humana se
deu conta da importância da preservação dos direitos, ensinamentos e cultura dos
povos indígenas e das comunidades tradicionais.

Para saber mais


“São povos indígenas os vários grupos étnicos que habitam um determinado ter-
ritório desde tempos imemoriais, ali se encontrando milênios antes das invasões
ou colonizações, e que continuaram a se desenvolver da maneira tradicionalmente por
eles conhecida, com suas manifestações culturais e hábitos, mantendo-se distintos dos
outros setores da sociedade que atualmente vive em tal território. Já as comunidades
tradicionais são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais,
que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam, de maneira
permanente ou temporária, territórios e recursos naturais como condição para sua re-
produção cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos,
inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição” (MAZZUOLI, 2019, p. 300).

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Erradicar os preconceitos e discriminações, principalmente referentes às ra-


ças, é uma longa batalha que deve persistir para os tempos atuais. Já em 1965 os
povos se reuniram em torno da Convenção Internacional sobre Eliminação de to-
das as formas de Discriminação Racial para repudiar toda forma de discriminação.
Desde então, diversos movimentos vem fortalecendo a campanha pelo respeito à
diversidade racial e cultural que engrandece a história da humanidade, destacando
que é mais forte o elo de humanidade que une a todos. Em terras brasileiras, há
ainda um longo caminho de esclarecimento e compreensão em relação à história
dos povos tradicionais e da crucial necessidade de respeito às diferenças.

Não há como deixar de considerar também os direitos das comunidades


lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros e intersexuais. A co-
munidade internacional tem lançado mão de diversos mecanismos que visam ao
reconhecimento dos direitos da comunidade LGBTI, incentivando a adoção de
medidas que venham a coibir a violência e superar os preconceitos e estereótipos.

Nos últimos anos também vem se mostrando urgente o debate e a consi-


deração em torno dos direitos dos migrantes e refugiados. O tema vem ganhan-
do atenção em razão do grande número de pessoas que estão migrando e podem
ser considerados refugiados. Tais fenômenos nos desafiam a repensar as relações
econômicas, sociais e políticas que levam as pessoas a migrar e deixar suas terras
e tradições. Mas, igualmente, nos desafiam a criar alternativas para integrar tais
sujeitos às diferentes comunidades humanas.

Mais do que grandes narrativas e afirmações complexas, o nosso tempo exi-


ge a reformulação e o reposicionamento de questionamentos. Entre as perguntas
que se fazem necessárias para a contemporaneidade, cabem as seguintes:

• Por que tantos preconceitos em relação a quem é, pensa e se manifesta de


forma diferente?
• Qual o sentido de difundir tanto medo e ódio em relação àqueles que pos-
suem orientações distintas?
• Se, como afirmado anteriormente, a luta por direitos humanos sempre im-
plica a questão do poder, quem “sai ganhando” e quem “perde” com a dis-
criminação e a violência contra minorias, excluídos etc.?
• Como cada um pode se envolver para tornar o mundo um lugar melhor
para todos?

Univates EAD 13
Unidade 1

Ao longo desta unidade, foi possível refletir sobre o sentido de per-


tencer e sobre o tempo que cada um vive. Para não ser considerado alienado
ou indiferente à realidade, é fundamental o pensamento e a atenção ao que
nos cerca. Igualmente, foram apresentados elementos fundamentais sobre
o grande tema dos direitos humanos. Ainda, buscou-se demonstrar que tal
luta não é uma luta para garantir privilégios de poucos, mas de todos os hu-
manos que possuem iguais condições de dignidade. Todos são conclamados
a abrir mão de preconceitos e se engajar na luta por um mundo mais igual e
justo para todos.

14 Univates EAD
Temas Contemporâneos

Referências
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SC: Argos, 2009.

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FOLTZ, Philipp von. Pericles’ funeral oration, 1852. 1 pintura. In: Wikimedia
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HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.


LIPOVETSKY, Gilles. Da leveza: rumo a uma civilização sem peso. Barueri,
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MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direitos humanos. 6. ed. Rio de
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Publicado pelo canal Casa do saber. Disponível em: https://www.youtube.com/
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PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos: desafios e perspectivas
contemporâneas. Rev. TST, Brasília, v. 75, n. 1, jan./mar. 2009.
“SER humano é plural. Tanto que na ética falamos em direitos humanos”,
diz Cortella. 2015. 1 vídeo (1 min). Publicado pelo canal TV Brasil. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=vDzjSoIwKQc. Acesso em: 18 set. 2019.

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