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Legislação Laboral–Contrato de
Trabalho/Direitos Individuais
UFCD 5457
7. Retribuição ............................................................................................................................ 47
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8.1. Disposições Gerais ......................................................................................................... 55
8.4. Extinção por despedimento com justa causa (art. 351º e ss) ......................... 63
Anexos................................................................................................. …………………………………….104
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1. Princípios e bases fundamentais do contrato de trabalho
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1.1. Noção e Formação do Contrato
1.1.1. Fase pré-contratual e o “direito à mentira”
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Fase pré-contratual e o “direito à mentira”
Quem negoceia com outrem para a conclusão de um contrato de trabalho deve, tanto nos
preliminares como na formação dele, proceder segundo as regras da boa fé, sob pena de
responder pelo danos culposamente causados” – Art. 102º do CT
E se o fizer?
DIREITO AO SILÊNCIO..
Mas…
Direito à mentira:
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ao emprego e de prevenir práticas discriminatórias consiste em o trabalhador não se
calar, antes dando ao empregador a resposta que ache que este pretende ouvir (e
assim eventualmente, mentindo).
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Prática contrária à boa-fé? Comportamento doloso do candidato?
A boa-fé não manda responder com verdade a quem coloca questões ilegítimas e
impertinentes.
E o dolo na negociação não corresponde a uma anulação, pois incide sobre aspetos
que o próprio ordenamento jurídico considera não poderem relevar na decisão de
contratar ou não.
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2. As diversas modalidades contratuais: Contratos a Termo Certo e
Incerto
2.1. Formalismo negocial e as exceções
Exceções
Estão sujeitas à forma escrita, sendo por isso uma exceção ao princípio da liberdade
de forma os seguintes contratos de trabalho:
• Contrato a termo:
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• Trabalho a tempo parcial
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2.2 Contratos a Termo (Certo e Incerto)
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definido e não duradouro;
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incluindo a execução, direcção ou fiscalização de trabalhos de construção civil, obras
públicas, montagens e reparações industriais, em regime de empreitada ou em
administração directa, bem como os respectivos projectos ou outra actividade
complementar de controlo e acompanhamento.
✓ Requisitos materiais
Art. 140º, n 1 CT: “ O contrato de trabalho só pode ser celebrado para satisfação de necessidades
temporárias (...)”
Art. 140, nº5 CT: “ (...)cabe ao empregador a prova dos factos que justificam a
celebração de contrato de trabalho
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✓ Requisitos formais
• Admissibilidade
Pode sim! Por via de convenção coletiva de trabalho. P. ex. alargar a lista
exemplificativa de situações em que se considera existirem necessidades temporárias
da empresa!
• Duração
(Ex: um contrato celebrado pelo prazo de 6 meses, que se renove automaticamente no final do prazo,
por mais 6 meses, não poderá ser objeto de uma segunda renovação, pois isso implicaria que a
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duração total das renovações excedesse o período inicial)
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A ultrapassagem dos prazos de duração máxima do contrato ou do número máximo
de renovações admissíveis ou da respectiva duração total–produzem as mesmas
consequências!
• Renovações
Resulta do art. 149º, nº 2 CT -“Na ausência de estipulação que se refere o número anterior
e de declaração de qualquer das partes que o faça cessar, o contrato renova -se no
final do termo, por igual período se outro não for acordado pelas partes.”
Razão?
• Caducidade
15 dias–empregador
8 dias–trabalhador
1 - O contrato de trabalho a termo certo caduca no final do prazo estipulado, ou da sua renovação, desde que o empregador
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ou o trabalhador comunique à outra parte a vontade de o fazer cessar, por escrito, respetivamente, 15 ou oito dias antes de o
prazo expirar.
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2 - Em caso de caducidade de contrato de trabalho a termo certo por verificação do seu termo, o trabalhador tem direito
a compensação correspondente a 18 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de antiguidade, calculada
nos termos do artigo 366.º, salvo se a caducidade decorrer de declaração do trabalhador nos termos do número anterior.
Porque razão?
• Período Experimental
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2 - Tendo o período experimental durado mais de 60 dias, a denúncia do
contrato por parte do empregador depende de aviso prévio de sete dias.
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3 - Tendo o período experimental durado mais de 120 dias, a denúncia do
contrato por parte do empregador depende de aviso prévio de 15 dias.
No entanto …
c) Actividade sazonal;
d) (Revogado)
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3 - Constitui contra-ordenação grave a violação do disposto no n.º 1.
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Nota: Sobre este tema encontram uma tentativa de luta pelos direitos, que, salvo
melhor opinião, acredito que possa, a seu tempo, contribuir para evitar esta “brecha”
na lei laboral na sucessão dos contratos a termo, junto a este manual como ANEXO
II.
• Admissibilidade
• Duração
5 - A duração do contrato de trabalho a termo incerto não pode ser superior a quatro
anos
• Caducidade
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actividade, tarefa ou obra para que foram contratados.
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➢ Contratos sem Termo
• Admissibilidade
• Período Experimental
Importante:
O contrato a prazo (Sem Termo) não pode ser banido do nosso ordenamento, mas
também não pode ser amado (contrato a prazo = paraíso da flexibilidade) ou, sequer,
ser concedido como um mecanismo normal/trivial de constituição da relação de
trabalho.
O contrato sem prazo deve ser a regra geral, o contrato a prazo deve ser a
exceção!
1
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3. Distinção entre Contratos de Trabalho e Prestação de
Serviços
Contrato de depósito–Contrato pelo qual uma das partes entrega a outra uma
coisa. A obrigação dominante passa, pois, por receber a coisa para a guardar.
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4. Prestação do Trabalho: categoria profissional, polivalência
e mobilidade funcional, mobilidade geográfica
➢ Categoria Profissional
No entanto...
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➢ Mobilidade Funcional / Polivalência
Não! A lei atende, às exigências da flexibilidade empresarial, o mesmo será dizer qie
ess s mesm s exigênci s recl m m que o o tr b lh dor sej “funcion lmente
móvel”.
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Chega de mobilidade?
Não!
O legisl dor pensou que não… E, se bem pensou, melhor o fez!!
“A GRANDE DEMISSÃO”: Muitas pessoas têm uma ideia errada sobre A Grande
Demissão, ou A Grande Saída, ou como você lhe quiser chamar. É verdade que um
recorde de 38 milhões de trabalhadores deixou os seus empregos em 2021. Vamos
considerar, porém, que The Great Resignation não é sobre o trabalho que estão a
deixar, o stress de que estão a desistir ou o trajeto que já não querem fazer. Olhando
de uma perspetiva diferente, percebe que não é sobre o que as pessoas estão a
afastar-se. É sobre para o que as pessoas se estão a encaminhar. Elas estão a
caminhar para a vida que querem viver. O que as pessoas querem é um trabalho que
se encaixe na vida que querem viver - não uma vida em que têm que se encaixar no
trabalho que têm. As pessoas querem trabalhar onde for melhor para elas. Arrisco-
me a dizer que, na maioria dos casos, há mais uma oportunidade aqui do que uma
ameaça. A chave é entender o que o seu público-alvo mais valoriza e alinhar-se a
isso.
➢ Mobilidade Geográfica
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A entidade empregadora visa obter a disponibilidade da respetiva mão-de-obra num
certo local.
O trabalhador, ao celebrar o contrato, obriga-se a laborar sob autoridade e direção
do empregador, em certo tempo e em certo lugar.
N dúvid …
Mas atenção,
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contrário à lei ou indeterminável.
2. É nulo o negócio contrário à ordem pública, ou ofensivo dos bons costumes.
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• A garantia de fixação do trabalhador
1 - É proibido ao empregador:
(…)
f) Transferir o trabalhador para outro local de trabalho, salvo nos casos previstos
neste Código ou em instrumento de regulamentação colectiva de trabalho, ou ainda
quando haja acordo;
Transferência coletiva
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Com efeito, o interesse sério do empregador decorre, precisamente, da decisão de
mudar ou encerrar o estabelecimento. Por seu turno, o prejuízo sério do trabalhador,
a existir, não justifica que toda a estrutura produtiva deva ficar paralisada em prole
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de interesses individuais, prevalecendo nesta situação o direito constitucional de
liberdade de iniciativa económica em detrimento do direito à estabilidade do local de
trabalho.
O trabalhador poderá resolver o seu contrato conforme resulta do artigo 194º, nº 5
CT:
Artigo 194.º–Transferência de local de trabalho
Transferência individual
Importa ter presente que apenas mediante o confronto dos interesses concretos em
jogo–o interesse do empregador que fundamenta a transferência e o interesse do
trabalhador em manter o seu local de trabalho–será realmente possível aferir se o
prejuízo provoc do é suficientemente intenso p r ser qu lific do de “sério”.
• Quais as regras:
Procedimento:
Despesas:
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O empregador deve custear as despesas do trabalhador decorrentes do acréscimo
dos custos de deslocação e da mudança de residência ou, em caso de transferência
temporária, de alojamento.
Estas cláusulas de mobilidade geográfica caducam ao fim de dois anos se, durante
esse prazo, não forem activadas.
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• Transferência a pedido do trabalhador
O Código do Trabalho prevê, ainda, no seu art. 195º a concessão aos trabalhadores
vítimas de violência doméstica de um direito a ser transferidos para outro local de
trabalho. Nesta situação, a transferência decorre de um interesse do trabalhador e
não de uma necessidade do empregador, ficando este obrigado a transferir aquele.
i) Apresentação de queixa-crime;
ii) Saída da casa de morada de família no momento em que se efectu e a
transferência.
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5. Organização do tempo de trabalho
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Artigo 199.º - Período de descanso
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❖ Organização Temporal
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horas por dia e 40 horas por semana, e ao horário de trabalho, que determina as
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horas de início e de termo do período normal de trabalho, do intervalo de descanso
e do descanso semanal.
Todavia, estes limites estabelecidos por lei podem ser alargados, nomeadamente, em
relação a trabalhadores que prestem trabalho exclusivamente em dias de descanso
semanal da generalidade dos trabalhadores da empresa. E mais, além da duração do
trabalho poder ser definida em termos fixos (sempre o mesmo número de horas por
dia e por semana), pode ser estabelecida de forma variável através dos regimes de
adaptabilidade, em que o período normal de trabalho é definido em termos médios,
num período de referência, do banco de horas, que confere ao empregador o poder
de alargar o período normal de trabalho até certo limite, de acordo com as
conveniências da empresa, e do horário concentrado num número mais restrito de
dias.
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• Descanso Semanal
e) Em exposição ou feira.
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• Trabalho Suplementar
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O trabalho suplementar, ou seja, o trabalho que excede o período normal de trabalho
está sujeito a limites de horas:
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6. Interrupção do Contrato de Trabalho
6.1. Fé rias:
3 - O direito a férias é irrenunciável e o seu gozo não pode ser substituído, ainda
que com o acordo do trabalhador, por qualquer compensação, económica ou outra,
sem prejuízo do disposto no n.º 5 do artigo seguinte.
• Duração
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4 - (Revogado.)
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5 - O trabalhador pode renunciar ao gozo de dias de férias que excedam 20 dias
úteis, ou a correspondente proporção no caso de férias no ano de admissão, sem
redução da retribuição e do subsídio relativos ao período de férias vencido, que
cumulam com a retribuição do trabalho prestado nesses dias.
6 - Constitui contraordenação grave a violação do disposto nos n.os 1 e 5.
• Marcação
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consecutivos.
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9 - O empregador elabora o mapa de férias, com indicação do início e do termo dos
períodos de férias de cada trabalhador, até 15 de Abril de cada ano e mantém-no
afixado nos locais de trabalho entre esta data e 31 de Outubro.
10 - Constitui contra-ordenação grave a violação do disposto nos n.ºs 2, 3 ou 4 e
constitui contraordenação leve a violação do disposto em qualquer dos restantes
números deste artigo.
• No ano de admissão
• No ano da cessação
Como, em regra, as férias devem ser gozadas no ano civil em que se vencem, isso
significa que, em princípio, as férias que o trabalhador goza, por exemplo, em Agosto
de 2022, se reportam ao trabalho prestado ao longo de 2021, tendo-se vencido esse
direito em 1 de Janeiro de 2022.
Agora, supondo que o contrato cessou em Outubro de 2022, o trabalhador que ainda
não gozou férias, tem direito a receber retribuição e subsídio correspondente às férias
vencidas e não gozadas (referentes ao trabalho prestado em 2021), bem como um
montante proporcional ao tempo de serviço prestado em 2022.
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se a um critério de proporcionalidade.
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6.2. Fa ltas
As disposições relativas aos motivos justificativos de faltas e à sua duração não podem ser
afastadas por instrumento de regulamentação coletiva de trabalho, salvo em relação a
situação prevista na alínea g) do n.º 2 do artigo anterior e desde que em sentido mais
favorável ao trabalhador, ou por contrato de trabalho, nem por Contrato de Trabalho!
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3 - Constitui contra-ordenação grave a violação do disposto neste artigo
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Resumindo...
1 - O trabalhador tem direito a faltar ao trabalho até 15 dias por ano para prestar
assistência inadiável e imprescindível, em caso de doença ou acidente, a cônjuge ou
pessoa que viva em união de facto ou economia comum com o trabalhador, parente
ou afim na linha recta ascendente ou no 2.º grau da linha colateral.
2 - Ao período de ausência previsto no número anterior acrescem 15 dias por ano,
no caso de prestação de assistência inadiável e imprescindível a pessoa com
deficiência ou doença crónica, que seja cônjuge ou viva em união de facto com o
trabalhador
3 - No caso de assistência a parente ou afim na linha recta ascendente (bisavô, avó,
p i, p drinho, etc…), não é exigível a pertença ao mesmo agregado familiar.
4 - Para justificação da falta, o empregador pode exigir ao trabalhador:
a) Prova do carácter inadiável e imprescindível da assistência;
b) Declaração de que os outros membros do agregado familiar, caso exerçam
actividade profissional, não faltaram pelo mesmo motivo ou estão impossibilitados de
prestar a assistência;
c) No caso do número anterior, declaração de que outros familiares, caso exerçam
actividade profissional, não faltaram pelo mesmo motivo ou estão impossibilitados de
prestar a assistência.
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• Comunicação e prova das faltas justificadas (art.º 253º e 254º)
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imediatamente anteriores ou posteriores aos dias ou meios dias de descanso ou
feriados, considera-se que o trabalhador praticou uma infracção grave.
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No caso de a apresentação do trabalhador, para inicio ou reinício da prestação de
trabalho, se verificar com atraso injustificado superior a trinta ou sessenta minutos,
pode o empregador recusar a aceitação da prestação durante parte ou todo o período
normal de trabalho, respectivamente.
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Quando?
Em caso de violência doméstica, quando não exista outro estabelecimento da empresa para
o qual possa ser transferido;
Em caso de impedimento que se prolongue por mais de 1 mês ou que seja previsível que se
prolongue por esse período (ex: doença, acidente);
No caso de falta de pagamento pontual da retribuição por período de 15 dias sobre a data
do vencimento, o trabalhador pode suspender o contrato de trabalho. (art.º 325º CT)
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As reuniões de negociação são reduzidas em ata, que contem a matéria acordada, as
posições divergentes, as opiniões, sugestões e propostas, de ambas as partes.
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Fase de decisão: celebrado o acordo ou, na falta deste, no prazo de 5 dias a contar da
comunicação da intenção de suspensão do contrato de trabalho, o empregador comunica,
por escrito, a cada trabalhador a decisão de aplicação da suspensão, com menção expressa
do fundamento e das datas de início e termo da suspensão.
Sob pena de praticar uma contraordenação grave, o empregador tem de comunicar por
escrito a intenção de suspender a prestação de trabalho, por crise empresarial:
À comissão de trabalhadores; ou
À comissão intersindical; ou
Às comissões sindicais da empresa representativas dos trabalhadores a abranger; ou
A cada trabalhador a abranger.
Caso a comunicação seja feita diretamente a cada trabalhador a abranger, estes, no prazo
de 5 dias a contar da receção da comunicação, podem designar de entre eles uma comissão
representativa:
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Número e categorias profissionais dos trabalhadores a abranger;
Prazo de aplicação da suspensão;
Áreas de formação a frequentar pelos trabalhadores, caso frequentem cursos de formação
durante a suspensão.
O empregador deve ainda disponibilizar a consulta dos documentos em que se suporta para
alegar a situação de crise empresarial, designadamente documentos de natureza
contabilística e financeira.
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oCessação de contrato de trabalho a termo;
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oDespedimento por facto imputável ao trabalhador.
o Frequentar ações de formação profissional (se for o caso), sob pena de perder o
direito à compensação retributiva e praticar uma infração disciplinar grave.
Auferir mensalmente um montante mínimo igual a dois terços da sua retribuição normal
líquida ou o valor do salário mínimo nacional, correspondente ao seu período normal de
trabalho, consoante o que for mais elevado–durante o período da suspensão, o trabalhador
tem direito a compensação retributiva na medida do necessário para, conjuntamente com a
retribuição de trabalho prestado fora da empresa (se for o caso), assegurar esse montante,
até três vezes o salário mínimo nacional;
Manter as regalias sociais ou prestações da segurança social a que tenha direito e a que a
respetiva base de cálculo não seja alterada por efeito da suspensão;
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➢ Encerramento e diminuição temporário de atividade
Sendo devido a facto imputável ao empregador ou por motivo do interesse deste, à totalidade
da retribuição.
Caso o trabalhador tenha passado a exercer outra atividade por efeito do encerramento ou
diminuição da atividade da empresa, o que o trabalhador receba por essa atividade, no
período da suspensão, é deduzido ao valor da retribuição.
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oconstituir caução que garanta o pagamento:
odas retribuições em mora, se existirem;
odas retribuições referentes ao período de encerramento;
o das compensações por despedimento, exceto se dois terços dos trabalhadores
abrangidos declararem expressamente por escrito dispensarem da caução
para este fim.
A prática de qualquer destes atos proibidos pelo empregador dá lugar à sua responsabilização
criminal, com pena de prisão até 3 anos, sem prejuízo de pena mais grave aplicável ao caso.
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7. Retribuição
O trabalhador tem, também, direito a receber subsídio de Natal, de valor igual a um mês de
retribuição, e subsídio de férias, que podem ser pagos de uma vez ou então de forma
distribuída por cada mês de salário. Como se compreende, a retribuição é uma componente
fundamental, não só da própria relação laboral, mas para a vida pessoal do trabalhador, pois
a sua qualidade de vida depende em larga medida do salário que aufere.
A retribuição é um dos temas mais sensíveis do Direito do Trabalho, desde logo, pelo caráter
alimentar que lhe está subjacente, pois é o salário recebido pelo trabalhador que permite a
sua subsistência e a da sua família, e que determina, maioritariamente, a sua qualidade de
vida.
Quanto a este ponto cumpre, ainda, referir que ossubsídios de férias e de Natalintegram
o conceito de prestações regulares e periódicas, pelo que são considerados retribuição. O
subsídio de Natal é uma prestação retributiva de vencimento anual que deve ser paga até 15
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de dezembro de cada ano, embora nada impeça que, mesmo na falta de acordo, seja paga
em duodécimos, em conjunto com o salário. Já o subsídio de férias, salvo acordo escrito,
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deve ser pago até ao início do período de férias e proporcionalmente, caso o gozo de férias
seja interpolado.
✓ Aretribuição certaé aquela que mais segurança traz ao trabalhador, por não ser
dependente do êxito da empresa e de flutuações do mercado.
4
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No mesmo sentido, na determinação do quantum a pagar ao trabalhador, que é feita
poracordo, também se observam certoslimites. Assim, há que ter em conta o valor do
salário mínimo n cion l, os Instrumentos de Regul ção Coletiv de Tr b lho e o princípio
“tr b lho igu l, s lário igu l”, nos termos do qu l todos os trabalhadores, sem distinção de
idade, sexo, cidadania, religião, convicções políticas ou ideológicas, têm direito à retribuição
do trabalho,segundo a quantidade, natureza e qualidade.
Por fim, não é lícita adiminuição da retribuição, nem por decisão unilateral do
empregador, nem por acordo entre as partes, salvo em determinados casos, como na
mudança para categoria inferior (Art. 119º CT).
Quanto aosubsídio de férias, o trabalhador tem direito a receber, no período de férias, não
só a retribuição que receberia se estivesse em serviço efetivo, mas, também, uma prestação
complementar que compreende a retribuição base e outras prestações retributivasque sejam
contrapartida do modo específico da execução do trabalho, no valor correspondente à
duração mínima das férias (22 dias úteis).
Em regra, o subsídio de fériasdeve ser pago antes do início do período de fériase, salvo
acordo em contrário, de forma faseada em caso de gozo interpolado de férias.
4
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Ainda, há certas situações em que o subsídio de férias é pago ao trabalhador de forma
distinta, designadamente:
4
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• No ano de admissão do trabalhador, o subsídio de férias será proporcional ao tempo
de serviço efetivamente prestado, sendo que o trabalhador tem direito a 2 dias úteis
de férias por cada mês de trabalho efetivamente prestado;
• No ano de cessação do contrato, o trabalhador tem direito a receber a retribuição de
férias e respetivo subsídio correspondentes a férias vencidas (vencem-se a 1 de
janeiro, reportando-se ao ano civil anterior) e não gozadas e proporcionais ao tempo
de serviço efetivamente prestado no ano de cessação.
2 - A parte pecuniária da retribuição pode ser paga por meio de cheque, vale postal ou
depósito à ordem do trabalhador, devendo ser suportada pelo empregador a despesa feita
com a conversão do título de crédito em dinheiro ou o levantamento, por uma só vez, da
retribuição.
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Artigo 787.º Código Civil - (Direito à quitação)
1. Quem cumpre a obrigação tem o direito de exigir quitação daquele a quem a prestação é
feita, devendo a quitação constar de documento autêntico ou autenticado ou ser provida de
reconhecimento notarial, se aquele que cumpriu tiver nisso interesse legítimo.
2. O autor do cumprimento pode recusar a prestação enquanto a quitação não for dada,
assim como pode exigir a quitação depois do cumprimento.
1 - A retribuição deve ser paga no local de trabalho ou noutro lugar que seja acordado, sem
prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo anterior.
2 - Caso a retribuição deva ser paga em lugar diverso do local de trabalho, o tempo que o
trabalhador gastar para receber a retribuição considera-se tempo de trabalho.
1 - O crédito retributivo vence-se por períodos certos e iguais, que, salvo estipulação ou uso
diverso, são a semana, a quinzena e o mês do calendário.
2 - A retribuição deve ser paga em dia útil, durante o período de trabalho ou imediatamente
a seguir a este.
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5 - O empregador fica constituído em mora se o trabalhador, por facto que não lhe seja
imputável, não puder dispor do montante da retribuição na data do vencimento.
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7.5. Meios de Proteção da Retribuição
➢ Privilégios Creditórios
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➢ Fundo de Garantia Salarial;
Finalidade:
Requisitos:
1) Para que o Fundo de Garantia Salarial possa ser acionado é necessário que:
- tenha sido proferidasentença de declaração de insolvênciada empresa;
- tenha sido proferido despacho de designação de administrador judicial provisório
noprocesso especial de revitalização (PER); ou ainda,
- tenha sido aceite o requerimento de abertura do procedimento extrajudicial de recuperação
de empresas.
2) Para que possa beneficiar do Fundo de Garantia Salarial exige-se também que o
trabalhador, pessoalmente ou através de Advogado, apresente umareclamação de
créditosno âmbito de qualquer dos processos acima referidos. Na verdade, no
requerimento que for dirigido ao Fundo de Garantia Salarial, o trabalhador requerente, para
além de ter que juntar um conjunto de documentos de identificação pessoal, terá também
que apresentar uma certidão comprovativa da sua reclamação de créditos no âmbito do
processo deinsolvência de empresasou outro processo.
3) O trabalhador titular de créditos laborais terá ainda que apresentar um requerimento junto
dos serviços da Segurança Social no prazo máximo de12 mesesa contar da data da
rescisão do contrato de trabalho.
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8. Formas e Mecanismos de Cessação do Contrato de Trabalho
A relação laboral entre empregador e trabalhador, idealmente, só veria o seu fim com
a caducidade por reforma do trabalhador. Contudo, há diversos casos em que tal não
acontece, desde logo, quanto aos contratos de trabalho a termo, que caducam
verificando-se o teu termo.
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8.1. Disposições Gerais
Artigo 339.º
1 - O regime estabelecido no presente capítulo não pode ser afastado por instrumento de
regulamentação coletiva de trabalho ou por contrato de trabalho, salvo o disposto nos
números seguintes ou em outra disposição legal.
3 - Os valores de indemnizações podem, dentro dos limites deste Código, ser regulados por
instrumento de regulamentação coletiva de trabalho.
Artigo 341.º
56
Artigo 342.º
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8.2. Extinção por Caducidade
Artigo 343.º
Artigo 344.º
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o Por impossibilidade superveniente, absoluta e definitiva, de o trabalhador
prestar o seu trabalho ou de o empregador o receber;
Com efeito, ainda que se entenda que um contrato a termo“ nasce para caducar”um contrato
sem termo, de duração indeterminada, também poderá extinguir por via da caducidade, a lei
estabelece que o contrato de trabalho (qualquer contrato de trabalho) caducará por
impossibilidade superveniente, absoluta e definitiva, seja de o trabalhador prestar o seu
trabalho seja de o empregador o receber.
Artigo 346.º
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anteriores, o trabalhador tem direito a compensação calculada nos termos do artigo
366.º, pela qual responde o património da empresa.
5
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Artigo 347º
5
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Com a reforma do trabalhador, por velhice ou invalidez.
Artigo 348.º
2 - No caso previsto no número anterior, o contrato fica sujeito ao regime definido neste
Código para o contrato a termo resolutivo, com as necessárias adaptações e as seguintes
especificidades:
b) O contrato vigora pelo prazo de seis meses, renovando-se por períodos iguais e sucessivos,
sem sujeição a limites máximos;
c) A caducidade do contrato fica sujeita a aviso prévio de 60 ou 15 dias, consoante a iniciativa
pertença ao empregador ou ao trabalhador;
d) A caducidade não determina o pagamento de qualquer compensação ao trabalhador.
60
8.3. Extinção por mútuo acordo (Revogação) (art.349º e ss)
Artigo 349.º
2 - O acordo de revogação deve constar de documento assinado por ambas as partes, ficando
cada uma com um exemplar.
4 - As partes podem, simultaneamente, acordar outros efeitos, dentro dos limites da lei.
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Direito ao arrependimento,nesse mesmo sentido, o trabalhador pode fazer cessar o
acordo de revogação do contrato de trabalho mediante comunicação escrita dirigida ao
empregador, até ao sétimo dia seguinte à data da respetiva celebração, acompanhada da
entrega ou colocação à disposição do empregador da totalidade das compensações
pecuniárias que tenham sido pagas em consequência da cessação do contrato, garantindo,
deste modo, que o trabalhador não se precipite e que se controle a prática do despedimento
dissimulado.
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POR VONTADE DO EMPREGADOR
8.4. Extinção por despedimento com justa causa (art. 351º e ss)
8.4.1. Noção
Para que o despedimento por facto imputável ao trabalhador seja lícito deve, além de
assentar num motivo justificativo, resultar de uma decisão proferida no âmbito de um
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processo disciplinar, que oferece a possibilidade de defesa ao trabalhador.
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Quando a entidade patronal entende que uma infração foi cometida, por conhecimento
pessoal ou porque lhe foi comunicado por um superior hierárquico, por norma, determina a
instauração do processo disciplinar e consequentemente nomeia um instrutor externo, que
no fundo será o responsável por analisar as provas apresentadas pela entidade patronal e
pelo trabalhador e pela elaboração da decisão final.
Importa ainda referir que a entidade patronal dispõe de 60 dias para instaurar o
processo disciplinar desde a data que o representante legal ou superior hierárquico teve
conhecimento da ocorrência.
Convém referir, que o processo disciplinar prescreve (ou seja, não pode avançar, nem ser
tomada qualquer decisão) se decorrido um ano contado desde a data em que o processo foi
instaurado não for comunicada (notificada) a decisão final ao trabalhador.
O empregador pode suspender o trabalhador, mesmo sem nota de culpa, se a presença deste
se apresentar como uma força de bloqueio para o normal funcionamento da empresa.No
entanto este ato de suspensão não implica a suspensão do pagamento da retribuição (salário
e demais direitos).
O Processo disciplinar, pode iniciar-se com a fase do inquérito disciplinar, que embora não
sendo obrigatório é por vezes utilizado. O recurso a esta prática visa a recolha de elementos
para a fundamentação da nota de culpa sempre que a apresentação da participação não seja
suficientemente fatual e fundamentada para a apresentação de uma nota de culpa.
Em bom rigor, será altamente recomendável recorrer a esta prática quando se adivinha um
processo disciplinar complexo e de dificuldades na recolha de prova.
65
66
Nota de Culpa
A nota de culpa é um documento escrito no qual a entidade patronal descreve os factos e
infrações que são imputadas ao trabalhador, assim como as normas legais (laborais) que no
seu entender foram violadas. A entidade patronal deverá ainda indicar ao trabalhador de que
dispõem de 10 dias úteis para consultar o processo e apresentar a sua resposta.
Defesa
Instrução
Decisão
67
Caso não exista comissão de trabalhadores e o trabalhador não seja representante sindical,
o prazo 30 dias para proferir decisão conta-se a partir da data da conclusão da última
diligência probatória.
Sanção
Neste momento do processo, a decisão deverá identificar o tipo de sanção disciplinar que a
entidade patronal irá aplicar, a qual deverá ser aplicada até 3 meses após a decisão, de forma
a evitar o efeito surpresa e eventuais constrangimentos que possam estar associados. Nesta
sanção não serão considerados factos relativamente os quais o trabalhador não tenha tido a
oportunidade de se defender.
• Repreensão(advertência oral ou até escrita, mas que não fica registada nos livros);
• Perda de dias de férias (não podem pôr em causa o gozo de mais de 20 dias úteis)
68
Ilicitude de despedimento por facto imputável ao trabalhador
Caso o trabalhador entenda que foi despedido ilegalmente, desde logo, por ter sido
despedido sem justa causa ou então por preterição de regras procedimentais, poderá:
o Faltar a nota de culpa, ou se esta não for escrita ou não contiver a descrição
circunstanciada dos factos imputados ao trabalhador;
69
8.5. Despedimento Coletivo (art.º 359 e ss)
Caso o despedimento se consume, este deverá ser comunicado, por escrito, a cada
trabalhador abrangido, com a antecedência mínima, relativamente à data de cessação, de:
6
10
anos;
75 dias, no caso de trabalhador com idade igual ou superior a 10 anos.
6
11
Está, ainda, previsto o direito do trabalhador a uma compensação pela perda do emprego
correspondente a 12 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de
antiguidade.
6
12
8.6. Despedimento por extinção de posto de trabalho (art.º 367º e
ss)
O despedimento por extinção do posto de trabalho só pode ter lugar quando se verifiquem
os seguintes requisitos:
70
o Maior onerosidade pela manutenção do vínculo laboral para a empresa;
o Menor experiência na função;
70
o Menor antiguidade na empresa.
Está, ainda, previsto o direito do trabalhador a uma compensação pela perda do emprego
correspondente a 12 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de
antiguidade.
71
8.7. Despedimento por inadaptação (art.º 373º e ss)
Ainda, o despedimento por inadaptação só pode ter lugar desde que, cumulativamente, se
verifiquem os seguintes requisitos:
72
o 75 dias, no caso de trabalhador com idade igual ou superior a 10 anos.
73
Está, ainda, previsto o direito do trabalhador a uma compensação pela perda do emprego
correspondente a 12 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de
antiguidade.
a) Não cumprir o disposto nos n.ºs 3 e 4 do artigo 374.º ou nos n.ºs 1 a 3 do artigo
375.º;
74
POR INICIATIVA DO TRABALHADOR
O trabalhador tem a faculdade de fazer cessar o contrato de trabalho livremente, por sua
iniciativa unilateral, sem necessidade de para o efeito invocar qualquer causa ou motivo.
Em relação aos contratos a termo incerto, atende-se à antecedência mínima prevista para os
contratos a termo certo, considerando a duração do contrato já decorrida.
Se o trabalhador denunciar o contrato sem respeitar o dever de aviso prévio, terá como
consequência o dever de pagar ao empregador uma indemnização de valor igual à retribuição
base e diuturnidades correspondentes ao período de antecedência em falta, visando-se
ressarcir os danos gerados pela rutura brusca e inesperada do contrato.
Direito ao Arrependimento
75
Uma figura equivalente à denúncia do contrato sem aviso prévio é o chamado abandono
do trabalho, ou seja, a ausência do trabalhador do serviço acompanhada de factos que,
com toda a probabilidade, revelem a intenção de não o retomar, sendo que se presume em
caso de ausência do trabalhador do serviço durante, pelo menos, 10 dias úteis seguidos, sem
que o empregador seja informado do motivo da ausência.
O abandono do trabalho vale como denúncia do contrato sem aviso prévio, tendo o
empregador direito à respetiva indemnização, após comunicação ao trabalhador dos factos
constitutivos do abandono ou da presunção do mesmo, por carta registada com aviso de
receção para a última morada conhecida deste.
76
8.9. Resolução (Artº 394º a 399º)
O contrato de trabalho pode cessar por iniciativa do trabalhador, desde logo, por justa causa
de resolução, nomeadamente:
Para resolver o contrato por justa causa,o trabalhador deve comunicara resolução ao
empregador, com indicação sucinta dos factos que a justifiquem,nos 30 dias
subsequentes ao conhecimento dos factos.
Ainda, verificando-se uma situação de justa causa subjetiva, isto é, com fundamento em
comportamentos culposos do empregador,o trabalhador terá direito a uma
indemnização, a determinar entre 15 e 45 dias de retribuição base e diuturnidades
por cada ano completo de antiguidade, atendendo ao valor da retribuição e ao grau de
ilicitude do comportamento do empregador, não podendo ser inferior a 3 meses de
retribuição base e diuturnidades.
Por outro lado, caberá ao trabalhador fazer prova dos factos constitutivos da justa causa de
resolução do contrato, sob pena de, caso contrário, ter que pagar uma indemnização ao
empregador pelos prejuízos causados.
77
9. Regimes Especiais
78
O que é uma empresa de trabalho temporário (ETT)?
Pessoa que celebra com uma ETT um contrato de trabalho temporário ou um contrato de
trabalho por tempo indeterminado para cedência temporária.
O que é um utilizador?
Pessoa singular ou coletiva com ou sem fins lucrativos que ocupa, sob a sua autoridade e
direção, trabalhadores cedidos por uma ETT.
Contrato de trabalho a termo celebrado entre uma ETT e um trabalhador, pelo qual este se
obriga, mediante retribuição daquela, a prestar a sua atividade a utilizadores, mantendo-se
vinculado à ETT.
Contrato de prestação de serviço a termo resolutivo entre um utilizador e uma ETT, pelo qual
esta se obriga, mediante retribuição, a ceder àquele um ou mais trabalhadores temporários
Vejamos,
Artigo 172.º
Considera-se:
79
retribuição daquela, a prestar a sua actividade a utilizadores, mantendo-se vinculado à
empresa de trabalho temporário;
Artigo 180.º
7
10
3 - Caso a nulidade prevista no número anterior concorra com a nulidade do contrato de
utilização de trabalho temporário, prevista no n.º 2 do artigo 176.º ou no n.º 5 do artigo
177.º, considera-se que o trabalho é prestado ao utilizador em regime de contrato de
trabalho sem termo, sendo aplicável o disposto no n.º 6 do artigo 173.º
Artigo 181.º
b) Motivo que justifica a celebração do contrato, com menção concreta dos factos
que o integram, tendo por base o motivo justificativo do recurso ao trabalho
temporário por parte do utilizador indicado no contrato de utilização de trabalho
temporário, sem prejuízo do disposto nos artigos 412.º e 413.º, com as necessárias
adaptações;
c) Actividade contratada;
e) Retribuição;
g) Termo do contrato;
h) Data da celebração.
80
2 - Na falta de documento escrito ou em caso de omissão ou insuficiência da indicação
do motivo justificativo da celebração do contrato, considera-se que o trabalho é
prestado à empresa de trabalho temporário em regime do contrato de trabalho sem
termo, sendo aplicável o disposto no n.º 6 do artigo 173.º
3 - O contrato que não contenha a menção do seu termo considera-se celebrado pelo
prazo de um mês, não sendo permitida a sua renovação.
Artigo 182.º
Duração de contrato de trabalho temporário
81
8 - Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, a duração de contratos de trabalho
temporário sucessivos em diferentes utilizadores, celebrados com o mesmo empregador ou
sociedade que com este se encontre em relação de domínio ou de grupo, ou mantenha
estruturas organizativas comuns, não pode ser superior a quatro anos.
9 - Converte-se em contrato de trabalho por tempo indeterminado para cedência temporária o
contrato de trabalho temporário que exceda o limite referido no número anterior.
Antes de mais, é nulo qualquer contrato com vista ao trabalho temporário celebrado por uma
empresa de trabalho temporário que não tenha uma licença válida para este tipo de atividade.
Nestes casos considera-se que o trabalhador tem um contrato de trabalho efetivo com a
empresa de trabalho temporário.
A lei também não permite que uma empresa de trabalho temporário contrate com outra para
a cedência de trabalho a uma terceira empresa. Aqui considera-se que o trabalhador tem um
contrato de trabalho sem termo com a empresa que o contratou.
82
83
9.2. Teletrabalho (artº 165º a 171º)
Tal como em regime presencial, quem presta serviço à distância deve ter um horário
de trabalho definido. Fora deste horário, não poderá ser contactado pela empresa, a
menos que exista um motivo de força maior, devidamente justificado. A entidade
empregadora deve abster-se de contactar qualquer trabalhador no período de
descanso, quer esteja ou não em teletrabalho.
84
A entidade patronal não pode esperar que o trabalhador esteja disponível 24 horas
por dia, sete dias na semana. Pode visitá-lo para controlo da atividade e dos
instrumentos de trabalho, mas apenas durante o horário laboral, com pré-aviso de
24 horas e com o acordo do trabalhador.
A lei permite, ainda, que o empregador envie alguém responsável pela segurança no
trabalho, a fim de verificar as condições em que é exercida a atividade. Mas, também
aqui, existem regras: a visita só pode ocorrer entre as 09h00 e as 19h00, num período
acordado com o trabalhador e dentro do horário de trabalho. Se por exemplo, o dia
de trabalho terminar às 17h00, a deslocação não pode decorrer entre as 17h00 e as
19 horas.
85
No entanto, também deve ser tido em conta o que consta dos contratos de trabalho,
de eventuais instrumentos coletivos de trabalho ou até de regras em vigor na
empresa e que tenham sido aceites pelos trabalhadores. Se estiver estabelecido que
o subsídio apenas é devido quando o trabalhador se desloca às instalações da
empresa ou a outro local por esta determinado, então é legítimo que o subsídio de
alimentação deixe de ser pago.
O subsídio de transporte, pela sua natureza, pode não ser pago. Não há deslocação,
e o trabalhador não tem de suportar qualquer despesa.
E o que pode ser considerado um acidente de trabalho? É todo aquele que se verifique
no local e no tempo de trabalho. Por local de trabalho entende-se o lugar em que o
trabalhador se encontra ou deva dirigir-se em virtude do seu trabalho e em que
esteja, direta ou indiretamente, sujeito ao controlo do empregador. Por sua vez, o
tempo de trabalho, além do período normal de laboração, inclui igualmente o que
preceder o seu início, em atos de preparação ou com ele relacionados, e o que se lhe
seguir, em atos também com ele relacionados, e ainda as interrupções normais ou
forçosas de trabalho. Estando o trabalhador em casa, qualquer incidente que se
verifique dentro do horário de trabalho, ou no que o antecede em tarefas de
preparação ou conclusão, poderá ser considerado um acidente de trabalho.
Trabalho remoto por tempo determinado ou indeterminado
86
O teletrabalho pode ter duração determinada ou indeterminada, ou seja, ficar ou não
definido à partida quanto tempo durará. Nos primeiros 30 dias, tanto a empresa como
o trabalhador podem pôr fim a este tipo de regime. Se determinada, a duração não
pode exceder seis meses, havendo renovação automática por igual período, desde
que nenhuma das partes declare o contrário, por escrito, até 15 dias antes da data
da mesma. Quando não tenha duração determinada, qualquer das partes pode fazer
cessar esta forma de prestação do trabalho, avisando a outra, por escrito, com 60
dias de antecedência. Terminado o regime de teletrabalho, o trabalhador retoma as
tarefas nas instalações do empregador ou noutras com ele acordadas.
Empregador não pode recusar o teletrabalho em três situações
Quem tem crianças até três anos pode ficar a trabalhar em casa. Este direito é
extensível até aos oito anos da criança–exceto para funcionários de empresas até
dez trabalhadores–, no caso das famílias monoparentais. Nos agregados com dois
progenitores, se só um tiver funções compatíveis com teletrabalho, pode pedi-lo; já
se ambos puderem desempenhar as funções à distância, só terão direito a esse
regime se o repartirem entre si, em períodos iguais, tendo como referência máxima
12 meses. Por exemplo, fica o pai em teletrabalho três ou seis meses, a mãe, no
trimestre ou semestre seguintes e assim sucessivamente.
Vítimas de violência doméstica podem exigir teletrabalho
87
• Teletrabalho para cuidadores informais não principais
88
9.3. Pré-Reforma
O que é a pré-reforma?
A pré-reforma consiste num acordo feito entre o trabalhador e a entidade empregadora que,
caso apresente uma idade de 55 ou mais anos, poderá passar a trabalhar menos horas, ou
deixar mesmo de trabalhar, mantendo o direito a receber mensalmente o salário.
O acordo terá de ser feito por escrito e assinado pelas duas partes, sendo que deverá conter:
90
Na maior parte dos casos, após terem passados 30 dias desde a entrega do pedido, caso
estejam reunidas todas as condições necessárias, este será aprovado pela Segurança Social.
O valor atribuído a este acordo é baseado na última remuneração prestada pela entidade
empregadora. A prestação de pré-reforma não poderá ser inferior a 25% do último salário
auferido pelo trabalhador, tendo como limite máximo o respetivo valor desse último
vencimento.
91
9.4. Proteção da Parentalidade
"Contrato de Parentalidade”
Aceito não ser dona da minha mama, nem do biberão. E de não me importar que tu mames
sempre que precisar e quiser.
Aceito que a minha linda mala se transforme em um trocador de fraldas, cheia de fraldas,
lencinhos e brinquedos.
Aceito conversar com as mães e pais mais chatos do mundo, só para tu brincares com o filho
dela ou dele.
Aceito trocar qualquer passeio ao cinema, shopping ou teatro, por uma volta ao parque da
esquina de casa.
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Aceito engolir o meu orgulho e vergonha, quando tu te desesperares por um brinquedo no
supermercado
Com amor,
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Artigo 40.º
Licença parental Inicial
1 - A mãe e o pai trabalhadores têm direito, por nascimento de filho, a licença parental inicial
de 120 ou 150 dias consecutivos, cujo gozo podem partilhar após o parto, sem prejuízo dos
direitos da mãe a que se refere o artigo seguinte.
2 - O gozo da licença referida no número anterior pode ser usufruído em simultâneo pelos
progenitores entre os 120 e os 150 dias.
3 - A licença referida no n.º 1 é acrescida em 30 dias, no caso de cada um dos progenitores
gozar, em exclusivo, um período de 30 dias consecutivos, ou dois períodos de 15 dias
consecutivos, após o período de gozo obrigatório pela mãe a que se refere o n.º 2 do artigo
seguinte.
4 - Em caso de opção pela licença parental inicial com a duração prevista no n.º 1 ou no n.º 3,
os progenitores podem, após o gozo de 120 dias consecutivos, cumular, em cada dia, os
restantes dias da licença com trabalho a tempo parcial.
5 - Na situação de cumulação prevista no número anterior:
a) Os períodos diários de licença são computados como meios-dias e são adicionados para
determinação da duração máxima da licença;
b) O período da licença pode ser gozado por ambos os progenitores, em simultâneo ou de
forma sequencial;
c) O trabalho a tempo parcial corresponde a um período normal de trabalho diário igual a
metade do praticado a tempo completo em situação comparável.
6 - No caso de nascimentos múltiplos, o período de licença previsto nos números anteriores é
acrescido de 30 dias por cada gémeo além do primeiro.
7 - Em situação de internamento hospitalar da criança imediatamente após o período
recomendado de internamento pós-parto, devido a necessidade de cuidados médicos especiais
para a criança, a licença referida no n.º 1 é acrescida do período de internamento, até ao limite
máximo de 30 dias, sem prejuízo do disposto nos n.os 3 e 6.
8 - Nas situações previstas no número anterior, em que o parto ocorra até às 33 semanas,
inclusive, a licença referida no n.º 1 é acrescida de todo o período de internamento.
9 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, nas situações em que o parto ocorra até às
33 semanas, inclusive, a licença referida no n.º 1 é acrescida em 30 dias.
10 - Em caso de partilha do gozo da licença, a mãe e o pai informam os respetivos
empregadores, até sete dias após o parto, após o termo do período do internamento referido
nos n.os 7 e 8 ou do período de 30 dias estabelecido no número anterior, do início e termo dos
períodos a gozar por cada um, entregando, para o efeito, declaração conjunta ou, quando
aplicável, declaração do outro progenitor da qual conste que o mesmo exerce atividade
94
profissional.
11 - O gozo da licença parental inicial em simultâneo, de mãe e pai que trabalhem na mesma
empresa, sendo esta uma microempresa, depende de acordo com o empregador.
12 - Caso a licença parental não seja partilhada pela mãe e pelo pai, e sem prejuízo dos direitos
da mãe a que se refere o artigo seguinte, o progenitor que gozar a licença informa o respectivo
empregador, até sete dias após o parto, da duração da licença e do início do respectivo período,
juntando declaração do outro progenitor da qual conste que o mesmo exerce actividade
profissional e que não goza a licença parental inicial.
13 - Na falta da declaração referida no n.º 10, a licença é gozada pela mãe.
14 - Em caso de internamento hospitalar da criança ou do progenitor que estiver a gozar a
licença prevista nos n.os 1, 2 ou 3 durante o período após o parto, o período de licença
suspende-se, a pedido do progenitor, pelo tempo de duração do internamento.
15 - O acréscimo da licença previsto nos n.os 7, 8 e 9 e a suspensão da licença prevista no
número anterior são feitos mediante comunicação ao empregador, acompanhada de declaração
emitida pelo estabelecimento hospitalar.
16 - A situação de suspensão da licença em caso de internamento hospitalar da criança, prevista
no n.º 14, não se aplica às situações nem durante os períodos previstos nos n.os 7 e 8.
17 - Constitui contraordenação muito grave a violação do disposto nos n.os 1 a 4, 6 a 10, 12
ou 13.
Artigo 41.º
1 - A mãe pode gozar até 30 dias da licença parental inicial antes do parto.
2 - É obrigatório o gozo, por parte da mãe, de 42 dias consecutivos de licença a seguir ao parto.
3 - A trabalhadora que pretenda gozar parte da licença antes do parto deve informar desse propósito o
empregador e apresentar atestado médico que indique a data previsível do parto, prestando essa
informação com a antecedência de 10 dias ou, em caso de urgência comprovada pelo médico, logo que
possível.
4 - Constitui contra-ordenação muito grave a violação do disposto nos n.os 1 ou 2.
95
Artigo 63.º
96
Artigo 65.º
1 - Não determinam perda de quaisquer direitos, salvo quanto à retribuição, e são consideradas como prestação
efectiva de trabalho as ausências ao trabalho resultantes de:
a) Licença em situação de risco clínico durante a gravidez;
b) Licença para deslocação a unidade hospitalar localizada fora da ilha de residência para realização de parto;
c) Licença por interrupção de gravidez;
d) Licença parental, em qualquer das modalidades;
e) Licença por adopção;
f) Licença parental complementar em qualquer das modalidades;
g) Falta para assistência a filho;
h) Falta para assistência a neto;
i) Dispensa de prestação de trabalho no período nocturno;
j) Dispensa da prestação de trabalho por parte de trabalhadora grávida, puérpera ou lactante, por motivo de
protecção da sua segurança e saúde;
k) Dispensa no âmbito dos processos de adoção e de acolhimento familiar;
l) Dispensa do acompanhante da mulher grávida, que se encontre numa das ilhas das regiões autónomas sem
unidade hospitalar, nas deslocações desta à unidade hospitalar onde decorrerá o parto.
2 - A falta por luto gestacional, bem como a dispensa para consulta de PMA ou pré-natal, amamentação ou
aleitação não determinam a perda de quaisquer direitos e são consideradas como prestação efetiva de trabalho.
3 - As licenças por situação de risco clínico durante a gravidez, para deslocação a unidade hospitalar localizada
fora da ilha de residência para realização de parto, por interrupção de gravidez, por adoção e licença parental
em qualquer modalidade:
a) Suspendem o gozo das férias, devendo os dias remanescentes ser gozados após o seu termo, mesmo que
tal se verifique no ano seguinte;
b) Não prejudicam o tempo já decorrido de estágio ou acção ou curso de formação, devendo o trabalhador
cumprir apenas o período em falta para o completar;
c) Adiam a prestação de prova para progressão na carreira profissional, a qual deve ter lugar após o termo da
licença.
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4 - A licença parental e a licença parental complementar, em quaisquer das suas modalidades, por adoção, para
assistência a filho e para assistência a filho com deficiência, doença crónica ou doença oncológica:
a) Suspendem-se por doença do trabalhador, se este informar o empregador e apresentar atestado médico
comprovativo, e prosseguem logo após a cessação desse impedimento;
b) Não podem ser suspensas por conveniência do empregador;
c) Não prejudicam o direito do trabalhador a aceder à informação periódica emitida pelo empregador para o
conjunto dos trabalhadores;
d) Terminam com a cessação da situação que originou a respectiva licença que deve ser comunicada ao
empregador no prazo de cinco dias.
5 - No termo de qualquer situação de licença, faltas, dispensa ou regime de trabalho especial, o trabalhador
tem direito a retomar a actividade contratada, devendo, no caso previsto na alínea d) do número anterior,
retomá-la na primeira vaga que ocorrer na empresa ou, se esta entretanto se não verificar, no termo do período
previsto para a licença.
6 - A licença para assistência a filho ou para assistência a filho com deficiência, doença crónica ou doença
oncológica suspende os direitos, deveres e garantias das partes na medida em que pressuponham a efetiva
prestação de trabalho, designadamente a retribuição, mas não prejudica os benefícios complementares de
assistência médica e medicamentosa a que o trabalhador tenha direito.
7 - Constitui contraordenação grave a violação do disposto no presente artigo.
98
10. Conclusão
Aqui chegados, gostaria apenas de frisar que tal manual deverá funcionar como um simples
guia, capaz de orientar a vossa pesquisa, uma vez que, quando“falamos” de Direito
necessitamos de verificar se a legislação que aqui encontram em determinado momento está
devidamente atualizada.
Pois bem, após esta observação gostaria de vos deixar umas breves palavras...
Mais do que a teoria dada, deverá ser a prática que melhor vos irá formar no mundo laboral.
Apenas quero e desejo que não se esqueçam de algo que abordei ao longo deste percurso,
nomeadamente, não se esqueçam que o Contrato de Trabalho é acima de tudo uma relação
bilateral.
As relações bilaterais só funcionam quando são trabalhadas e cuidadas juntas. Ninguém tem
“faca e o queijo na mão” simplesmente podemos juntos usufruir dos melhores prazeres da vida
que é viver na plenitude das relações, principalmente as laborais.
O mundo laboral está a mudar, nós estamos a mudar e é aí que fazemos a diferença, a partir
do momento em que nos vemos de “igual por igual”.
Deixo-vos aqui um pequeno excerto desta história maravilhosa que é capaz de uma forma
simples dizer tanto e tudo sobre a vida laboral…
"O quarto planeta era o do homem de negócios. Estava tão atarefado que nem sequer
levantou a cabeça quando o principezinho chegou.
- Três e dois, cinco. Cinco e sete, doze. Doze e três, quinze. Bom dia! Quinze e sete, vinte e
dois. Vinte e dois e seis, vinte e oito. Não tenho tempo de o voltar a acender. Vinte e seis e
cinco, trinta e um. Uf! Portanto, tudo isto soma quinhentos e um milhões, seiscentos e vinte e
dois mil, setecentos e trinta e um!
- Ah? Ainda aí estás? Quinhentos milhões de... Olha que já nem sei... Tenho tanto que fazer!
Eu, eu sou um homem sério, não perco o meu tempo com ninharias! Dois e cinco, sete...
- Quinhentos milhões de quê? - repetiu o principezinho que, uma vez que a fizesse, nunca em
102
dias da sua vida desistia de uma pergunta.
- Vivo neste planeta há cinquenta e quatro anos e ainda só fui incomodado três vezes. A
primeira vez foi há vinte e dois anos: era um besouro caído sabe Deus de onde. Fazia tanto
barulho que me enganei quatro vezes numa soma. A segunda vez foi há onze anos: era um
ataque de reumatismo. Tenho falta de exercício. Não me sobra tempo para andar por aí a
vadiar. É que eu, eu sou um homem sério. A terceira vez... é esta! Mas, ia eu dizendo,
quinhentos milhões...
- Milhões de quê?
O homem de negócios percebeu que não havia esperança de que ele o deixasse em paz:
- Moscas?
- Abelhas?
- Não, nada disso. Coisitas douradas que dão a volta à cabeça dos párias e dos vagabundos.
- Ah! Estrelas!
-Sim.
- Nada. Tenho-as.
- Tu tens as estrelas?
102
- Tenho.
"Este", comentou o principezinho com os seus botões, "este só parece o meu bêbedo a
raciocinar."
- E isso basta?
- Claro que basta! Se tu achares um diamante e ele não for de ninguém, passa a ser teu. Se
tu achares uma ilha e ela não for de ninguém, passa a ser tua. Se tu fores o primeiro a ter
uma ideia, tiras-lhe a patente: é tua. Pois eu tenho as estrelas porque, antes de mim, nunca
ninguém se tinha lembrado de as ter.
- Olha, mas eu, se tiver um lenço, posso pô-lo à volta do pescoço e levá-lo comigo. Eu, se
tiver uma flor, posso apanhar a minha flor e levá-la comigo. Mas tu, tu não podes apanhar as
tuas estrelas!
102
- Pois não, mas posso pô-las no banco.
- Quer dizer que pego num papelinho e escrevo o número das minhas estrelas. E depois
guardo o papelinho numa gaveta e fecho-a à chave.
- E mais nada?
- Mais nada.
"E bastante poética. Duvido é que seja tão séria como isso…"
É que, para o principezinho, as coisas sérias eram muito diferentes daquilo que as coisas
sérias são para as pessoas grandes. Ainda disse:
- Eu, cá por mim, tenho uma flor. Rego-a todos os dias. Tenho três vulcões. Limpo-os todas
as semanas. Porque também limpo o que está extinto. Nunca se sabe... É útil para os meus
vulcões e é útil para a minha flor que eu os tenha. Mas tu não és útil para as estrelas!
O homem de negócios ainda abriu a boca mas não foi capaz de encontrar resposta de jeito. O
principezinho foi-se embora.
Moral da história…
Sem dúvida… em vez de pensarmos em possuir e não sermos donos de nada é preferível
termos utilidade para as coisas verdadeiras…
102
O Principezinho
Antoine de Saint-Exupéry
102
Bibliografia
103
ANEXOS
hdgdggfsdgfhdsgfsd
NOTA TÉCNICA N.º 7
TEMA:
INTRODUÇÃO:
familiar
- A morte de familiar adia ou suspende o gozo das férias?
ANÁLISE / DESENVOLVIMENTO:
O início de contagem das faltas por falecimento de familiar inicia-se no dia do falecimento,
podendo ser acordado momento distinto ou ser estabelecido outro momento por
instrumento de regulamentação coletiva de trabalho (artigo 250.º conjugado com o artigo
3.º do CT).
1
Sobre a questão da contabilização ou não dos dias de descanso e feriados intercorrentes na
contagem das faltas por motivo de falecimento de familiar, destaca-se o entendimento
perfilhado por João Leal Amado e João Reis1 que consideram o seguinte:
Também Menezes Leitão2 analisou a questão relativa à contagem das faltas por falecimento
de familiar, entendendo que na questão de saber se deverão ou não ser abrangidos os dias
de descanso semanal ou dias feriados, a melhor posição parece ser ade que os dias que
não sejam de trabalho não integram o período de dias consecutivos referidos na lei, dado
que em relação a eles não se poria nunca a questão da falta.
Sobre esta matéria também a jurisprudência3 entende que não se pode deixar de atender,
para a contagem dos dias seguidos, ao conceito de falta ínsito na norma legal, sendo que
esta, por força do artigo 248.º do CT, pressupõe a ausência de trabalhador do local em que
devia desempenhar a atividade durante o período normal de trabalho diário. Os dias
seguidos têm de ser de reporte a dias de trabalho para que se possa falar em falta.
Tendo em atenção que, nos termos do disposto n.º 1 do artigo 248.º do CT, considera-se
falta a ausência de trabalhador do local em que devia desempenhar a atividade durante o
1
InQuestões Laborais, Ano XIII, n.º 27, 2006, pág. 129 à 137–Nótula sobre as faltas justificadas por motivo de falecimento
de parentes ou afins (art. 227.º do Código do Trabalho).
2
InDireito do Trabalho, 2.º Ed. Almedina, 2012
3
Videsentença do tribunal de 1.ª instância de Viana do Castelo - Processo n.º 3519/15.5T8UCT
2
período normal de trabalho diário, na contagem das faltas por motivo de falecimento, não
podem ser contabilizados os dias de descanso e feriados intercorrentes.
Para o efeito, o trabalhador deverá cuidar de cumprir o dever de comunicação das faltas
ao empregador (artigo 253.º n.º 2 do CT), bem como ter em conta que lhe pode ser exigido
pelo empregador, nos 15 dias subsequente à comunicação da falta, prova do motivo (artigo
254.º, n.º 1 do CT).
familiar
A doutrina que se tem debruçado sobre este assunto, nomeadamente, Milena Rouxinol 4,
refere o seguinte:
4
InO direito a férias do trabalhador, Almedina, 2014, pág. 81 a 83
3
Deve equiparar-se-lhes a situação prevista na alínea b) do mesmo preceito
(falecimento de cônjuge, parente ou afim), bem como a situação contemplada na
alínea e) (prestação de assistência inadiável e imprescindível a filho, a neto ou a
membro do agregado familiar).
Destaca-se, ainda, o entendimento perfilhado por Isabel Vieira Borges, na sua tese de
doutoramento5, que analisou a questão nos termos seguintes:
A referência à doença funciona como uma cláusula geral que abrange todas as
hipóteses atendíveis idóneas a impedir o gozo das férias por parte do trabalhador
e que produzam efetivamente esse efeito. Por comparação, são análogos, todos os
impedimentos que impliquem a equivalente impossibilidade de gozo ferial e de
prossecução dos fundamentos de repouso e lazer;
Os impedimentos relevantes não podem ser equiparados aos impedimentos não
imputáveis ao trabalhador que constituam facto suspensivo do vínculo nos termos
gerais previstos no artigo 296.º do CT. A impossibilidade de gozo ferial é um
resultado distinto da impossibilidade de cumprimento da prestação de trabalho;
Nem todos os motivos que justificam as ausências previstos no artigo 249.º, n.º 2do
CT podem constituir impedimento para efeitos do artigo 244.º;
Podem-no concretizar, as situações de, v.g. “falecimento de cônjuge, parente ou
afim”, bem como as situações de “observância de prescrição médica no seguimento
de procriação medicamente assistida, doença, acidente ou cumprimento de
obrigação legal” e de “assistência inadiável e imprescindível a filho, a neto ou a
membro de agregado familiar de trabalhador” conforme previsto no artigo 249.º,
n.º 2 als. b), d) e e).
5
Férias Laborais: Dever de gozo efetivo e margem de liberdade–Universidade de Lisboa - Faculdade de Direito–
Doutoramento em Ciências jurídicas)
6
InBreves considerações sobre alguns aspetos do regime do Direito a Férias (arts. 219.º, 212.º, n.º 4 e 215.º; 213.º, n.º 3 do
Código do Trabalho) Memórias do XIX Congresso Nacional de direito do Trabalho, Almedina, Coimbra, 81-114
4
desânimo, a saudade e até as diligências, preocupação e tempo que envolvem a preparação
e participação nas cerimónias fúnebres, não criam as condições adequadas ou sequer
mínimas para o exercício de disponibilidade pessoal e do repouso físico e psíquico.
Quanto a esta matéria, Maria do Rosário Palma Ramalho7 aponta que a justificação deste
regime reside no objetivo de descanso e de recuperação física do trabalhador que subjaz ao
direito a férias. Se o trabalhador estiver doente ou impedido de descansar, o tempo para
tal descanso e recuperação física deve interromper-se.
Reza o artigo 244.º, n.º 1 do CT que o gozo de férias não se inicia ou suspende-se
quando o trabalhador esteja temporariamente impedido por doença ou outro facto
que não lhe seja imputável, desde que haja comunicação do mesmo ao
empregador;
O busílis da questão está na interpretação a conferir à última parte do preceito,
concretamente, saber a que é que se referia o legislador quando falou em “outro
facto que não lhe seja imputável”;
O legislador refere taxativamente que o facto não pode ser imputável ao
trabalhador (a morte de um irmão não é um facto que possa ser imputável ao
trabalhador) mas também exige que o trabalhador esteja temporariamente
impedido de gozar férias.
7
InTratado de direto do trabalho, Parte II- Situações laborais individuais–5.ª Ed, Almedina, 2014
8
Vide sentença do tribunal de 1.ª instância de Santa Maria da Feira- Processo n.º 683/14.4T8VFR.
5
2. Impossibilitam o gozo do direito a férias que visa o descanso e recuperação física
do trabalhador.
Findo o impedimento o gozo das férias terá lugar na medida do remanescente do período
marcado, devendo o período correspondente aos dias não gozados ser marcado por acordo
ou, na falta deste, pelo empregador, sem sujeição ao período de férias estabelecido no
n.º 3 do artigo 241.º do CT.
CONCLUSÃO:
A contagem das faltas por falecimento de familiar inicia-se no dia do falecimento, podendo
ser acordado momento distinto ou ser estabelecido outro momento por instrumento de
regulamentação coletiva de trabalho.
6
II - Adiamento ou suspensão do gozo das férias por falecimento de familiar
O falecimento de familiar adia ou suspende o gozo das férias, na medida em que não
depende da vontade do trabalhador e impossibilita o gozo do direito a férias que visa o
descanso e recuperação física do trabalhador.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DATA:
Agosto de 2018
7
Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa
Processo: 26263/16.1T8LSB.L1-4
Relator: LEOPOLDO SOARES
Descritores: TEMPO DE TRABALHO
CUIDADOS DE SAÚDE
SEGURANÇA
HIGIENE
Nº do Documento: RL
Data do Acordão: 06-12-2017
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: N
Texto Parcial: S
Meio Processual: APELAÇÃO
Decisão: CONFIRMADA A SENTENÇA
Sumário: I–“Os períodos que se mostrem indispensáveis à preparação do
exercício da actividade laboral , nomeadamente o tempo gasto
com especiais cuidados de saúde, segurança e higiene no trabalho
exigidos pela sua própria natureza ou pelas normas legais ou
convencionais aplicáveis integram-se no conceito de tempo de
trabalho.
Relatório:
A Ré contestou.[3]
Registe.
A Ré recorreu.[10]
Concluiu que:
“I– A douta sentença recorrenda enferma de manifesto erro na
apreciação da matéria de facto.
(…)
Concluiu que:
“1.–O tempo necessário a efectuar o percurso desde a entrada nas
instalações da empresa, a recolher e envergar o vestuário e
calçado de protecção necessário à laboração na linha de triagem e
seu abastecimento e as tarefas de retirada do equipamento de
protecção individual, de guarda e acondicionamento de vestuário
e calçado, higiene pessoal, colocação do vestuário comum e saída
das instalações da empresa é tempo de trabalho, consumido no
cumprimento e execução do contrato de trabalho, sendo aqueles
actos imprescindíveis ao desempenho das funções para que os
trabalhadores adstritos a praticá-los foram contratados.
2. –Quando, por determinação da empresa, tal actividade deva ser
efectuada fora do horário de trabalho dos trabalhadores a ela
adstritos, deverá ser retribuída como trabalho suplementar.
3. –A douta sentença recorrida faz expressa menção das normas
aplicáveis e doutrina pertinente, encontrando-se suficientemente
fundamentada, de facto e de direito.
4. –A factualidade assente encontra-se devidamente suportada na
prova produzida, não tendo os meios probatórios apresentados
em recurso a virtualidade de impor alteração da mesma, antes a
confirmando.
5. –Decidindo como se decidiu, nenhuma ofensa se fez ao legislado,
antes foi feito cuidado e criterioso apuramento dos factos e
judiciosa aplicação do direito, pelo que a douta sentença
recorrida não merece censura. – fim de transcrição.
Recorrida.
Edição provisória
No processo C-392/21,
que tem por objeto um pedido de decisão prejudicial apresentado, nos termos do artigo
267.° TFUE, pela Curtea de Apel Cluj (Tribunal de Recurso de Cluj, Roménia), por Decisão de 12
de abril de 2021, que deu entrada no Tribunal de Justiça em 24 de junho de 2021, no processo
TJ
contra
advogado-geral: T.Ćapeta,
vistos os autos,
Acórdão
1 O pedido de decisão prejudicial tem por objeto a interpretação do artigo 9.° da Diretiva
90/270/CEE do Conselho, de 29 de maio de 1990, relativa às prescrições mínimas de segurança
e de saúde respeitantes ao trabalho com equipamentos dotados de visor (quinta diretiva especial
na aceção do n.° 1 do artigo 16.° da Diretiva 89/391/CEE) (JO 1990, L 156, p. 14).
2 Este pedido foi apresentado no âmbito de um litígio que opõe TJ à Inspectoratul General
pentru Imigrări (Inspeção-Geral da Imigração, Roménia) (a seguir «Inspeção-Geral») a respeito
do indeferimento, por esta última, do pedido de reembolso das despesas relativas à aquisição de
óculos, apresentado por TJ.
Quadro jurídico
Direito da União
Diretiva 89/391/CEE
Diretiva 90/270
5 O artigo 1.° dessa diretiva, sob a epígrafe «Objeto», prevê, no seu n.° 1:
«A presente diretiva, que é a quinta diretiva especial, na aceção do n.° 1 do artigo 16.° da Diretiva
89/391/CEE, estabelece prescrições mínimas de segurança e de saúde respeitantes ao trabalho
com equipamentos dotados de visores, tal como são definidos no artigo 2.°»
6 Nos termos do artigo 9.° da referida diretiva, sob a epígrafe «Proteção dos olhos e da vista
dos trabalhadores»:
«1. Os trabalhadores beneficiarão de um exame adequado dos olhos e da vista, efetuado por
uma pessoa que possua as necessárias qualificações:
– quando surgirem perturbações visuais que tenham podido resultar do trabalho com visor.
4. As medidas tomadas em aplicação do presente artigo não devem em caso algum ocasionar
encargos financeiros adicionais para os trabalhadores.
5. A proteção dos olhos e da vista dos trabalhadores pode fazer parte de um sistema nacional
de saúde.»
Direito romeno
7 O artigo 7.°, alínea i), da Legea-cadru nr. 153/2017 privind salarizarea personalului plătit
din fonduri publice (Lei-Quadro n.° 153/2017, relativa à remuneração do pessoal pago através de
fundos públicos), de 28 de junho de 2017 (Monitorul Oficial al României,parte I, n.° 492, de 28
de junho de 2017), tem a seguinte redação:
[...]
8 O artigo 12.° do capítulo II do anexo VI dessa lei, sob a epígrafe «Grupo profissional das
funções orçamentais “Defesa, ordem pública e segurança nacional”, prevê:
«[...]
[...]
[...]
9 Nos termos do artigo 12.° do Hotărârea Guvernului nr. 1028/2006, privind cerințele
minime de securitateși sănătate în muncăreferitoare la utilizarea echipamentelor cu ecran de
vizualizare (Decreto do Governo n.° 1028/2006, que estabelece prescrições mínimas de
segurança e de saúde respeitantes ao trabalho com equipamentos dotados de visor), de 9 de
agosto de 2006 (Monitorul Oficial al României, parte I, n.o 710, de 18 de agosto de 2006):
«Os trabalhadores beneficiarão de um exame adequado dos olhos e da vista, efetuado por uma
pessoa que possua as necessárias qualificações:
a) antes de iniciarem o trabalho com visor, mediante exame médico de entrada em funções;
b) depois disso, periodicamente;
c) ou quando surgirem perturbações visuais que tenham podido resultar do trabalho com
visor.»
«Os trabalhadores devem receber dispositivos de correção especiais, concebidos para o seu tipo
de trabalho, se os resultados do exame referido no artigo 12.° ou do exame referido no artigo 13.°
demonstrarem a sua necessidade e os dispositivos de correção normais não puderem ser
utilizados.»
«As medidas tomadas em aplicação dos artigos 12.° a 14.° não devem, em caso algum, ocasionar
encargos financeiros para os trabalhadores.»
«A proteção dos olhos e da vista dos trabalhadores pode ser assegurada, no que se refere aos
respetivos custos, no âmbito do sistema nacional de saúde, em conformidade com a
regulamentação em vigor.»
15 TJ afirma que o trabalho com visor e outros fatores de risco, como a luz «visível
descontínua», a falta de luz natural e a sobrecarga neuropsíquica provocaram uma forte
deterioração da sua vista. Por conseguinte, mediante recomendação de um médico especialista,
teve de mudar de óculos graduados, a fim de corrigir a diminuição da sua acuidade visual.
16 Alegando que o sistema nacional de seguro de saúde romeno não previa o reembolso do
montante de 2 629 leu romenos (RON) (cerca de 530 euros), correspondente ao contravalor do
custo dos óculos graduados, a saber, o custo das lentes, da armação e da mão-de-obra, TJ pediu
à Inspeção-Geral que lhe reembolsasse esse montante. Esse pedido foi indeferido.
18 TJ interpôs recurso dessa sentença na Curtea de Apel Cluj (Tribunal de Recurso de Cluj,
Roménia), que é o órgão jurisdicional de reenvio, pedindo a anulação da mesma e a reapreciação
do mérito do litígio.
19 O órgão jurisdicional de reenvio considera que, para se pronunciar sobre o litígio que lhe
foi submetido, há que interpretar o conceito de «dispositivos de correção especiais», que figura
no artigo 9.°, n.° 3, da Diretiva 90/270, o qual não é definido por esta. Esse órgão jurisdicional
considera que o referido conceito deve ser interpretado no sentido de que inclui os óculos
graduados, na medida em que são necessários ao trabalhador que sofre de uma deterioração da
vista causada pelas suas condições de trabalho.
«1) Deve a expressão “dispositivos de correção especiais”, que figura no artigo 9.° da [Diretiva
90/270], ser interpretada no sentido de que não pode abranger os óculos de correção?
2) Deve a expressão “dispositivos de correção especiais”, que figura no artigo 9.° da [Diretiva
90/270], ser entendida apenas como um dispositivo utilizado exclusivamente no posto de
trabalho ou no exercício das funções laborais?
4) É compatível com o artigo 9.° da [Diretiva 90/270] a cobertura dessas despesas pela
entidade patronal sob a forma de um aumento geral da remuneração, pago de modo permanente
a título de “aumento por condições de trabalho difíceis”?»
Quanto à admissibilidade
26 No caso em apreço, há que sublinhar, no que respeita à alegação relativa à clareza das
disposições da Diretiva 90/270 que é objeto da segunda a quarta questões, que um órgão
jurisdicional nacional não está de modo nenhum impedido de apresentar ao Tribunal de Justiça
questões prejudiciais cuja resposta, no entender de uma das partes no processo principal, não
deixa lugar a nenhuma dúvida razoável. Assim, mesmo admitindo que seja esse o caso, o pedido
de decisão prejudicial que comporta tais questões não se torna, por isso, inadmissível (Acórdão
de 24 de fevereiro de 2022, Viva Telecom Bulgaria, C-257/20, EU:C:2022:125, n.° 42 e
jurisprudência referida).
29 Nos termos do artigo 9.°, n.° 3, da Diretiva 90/270, os trabalhadores devem receber
dispositivos de correção especiais, concebidos para o seu tipo de trabalho, se o resultado do
exame adequado dos olhos e da vista, previsto no artigo 9.°, n.° 1, dessa diretiva, ou o do exame
oftalmológico, previsto no artigo 9.°, n.° 2, da mesma, demonstrarem a sua necessidade e os
dispositivos de correção normais não puderem ser utilizados.
30 Há que observar que a Diretiva 90/270 não define os «dispositivos de correção especiais»,
que figuram no seu artigo 9.°, n.° 3.
32 Em primeiro lugar, importa sublinhar que a Diretiva 90/270 foi adotada, como resulta do
seu título, como quinta diretiva especial, na aceção do artigo 16.°, n.° 1, da Diretiva 89/391,
tendo esta última sido, ela própria, adotada com base no artigo 118.°-A do Tratado CEE (que
passou, após alteração, a artigo 153.° TFUE), destinado a promover a melhoria da segurança e da
saúde dos trabalhadores no trabalho.
33 Em segundo lugar, resulta do seu título e do seu artigo 1.° que a Diretiva 90/270 tem por
objeto fixar as prescrições mínimas de segurança e de saúde respeitantes ao trabalho com
equipamentos dotados de visor. Por outro lado, em conformidade com o seu quarto
considerando, a observância das prescrições mínimas destinadas a assegurar um maior nível de
segurança dos postos de trabalho em que são utilizados visores constitui um imperativo para
garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores.
34 Em terceiro e último lugar, impõe-se salientar que o artigo 9.° da Diretiva 90/270
concretiza o objetivo desta no que respeita ao imperativo de proteção dos olhos e da vista dos
trabalhadores, especialmente o direito destes últimos a receberem dispositivos de correção
especiais, concebidos para o seu tipo de trabalho, se o resultado do exame referido no n.° 1 desse
artigo 9.° ou o do exame referido no n.° 2 do referido artigo 9.° demonstrarem a necessidade
desses dispositivos.
35 A este respeito, importa sublinhar que o artigo 9.°, n.° 3, da Diretiva 90/270 faz uma
distinção entre, por um lado, «dispositivos de correção normais» e, por outro, os «dispositivos
de correção especiais, concebidos para [o] tipo de trabalho», isto é, o trabalho com equipamento
dotado de visor.
39 Por outro lado, o caráter especial do dispositivo de correção pressupõe que este tenha uma
relação com o trabalho com equipamentos dotados de visor, uma vez que serve para corrigir ou
prevenir perturbações visuais especificamente relacionadas com tal trabalho e verificadas na
sequência dos exames previstos no artigo 9.°, n.os 1 e 2, dessa diretiva.
42 Com efeito, resulta nomeadamente do artigo 9.°, n.° 1, primeiro travessão, da Diretiva
90/270, que o exame referido nesse número pode ocorrer antes de o trabalho com visor se
iniciar, o que implica que as perturbações visuais que conduzem a que um trabalhador tenha
direito a beneficiar de um dispositivo de correção especial, ao abrigo do artigo 9.°, n.° 3, dessa
diretiva, não devem necessariamente ter sido causadas pelo trabalho com visor.
47 Por outro lado, o facto de esse médico especialista ter recomendado ao recorrente no
processo principal que mudasse de óculos graduados e, mais especificamente, lentes de
correção, a fim de corrigir a forte deterioração da sua vista, parece igualmente indicar que as
suas antigas lentes de correção já não podiam ser utilizadas para exercer funções com
equipamentos dotados de visor, nomeadamente devido às perturbações da acuidade visual que
tinham sido diagnosticadas ao interessado. Todavia, incumbe ao órgão jurisdicional de reenvio
verificar se os óculos graduados em causa servem efetivamente para corrigir perturbações
visuais relacionadas com o seu trabalho em vez de perturbações visuais de ordem geral não
necessariamente relacionadas com as condições de trabalho.
48 Por outro lado, o facto de os «dispositivos de correção especiais», na aceção do artigo 9.°,
n.° 3, da Diretiva 90/270, deverem ser, por força dessa disposição, «concebidos para [o] tipo de
trabalho» não pode significar que devem ser utilizados exclusivamente no local de trabalho ou
no exercício de tarefas profissionais, pois que a referida disposição não prevê nenhuma restrição
quanto à utilização dos referidos dispositivos.
2. Não se conformando com o assim decidido, apelou a Ré, tendo rematado as suas
alegações com as conclusões seguidamente transcritas:
“1– O fenómeno designado deius varianditraduz-se na possibilidade da entidade
patronal, em determinadas condições, exigir unilateralmente ao trabalhador a prestação
de outras funções que não as correspondentes ao objeto da atividade contratada,
prerrogativa esta designada pelos artº 341º do CT de 2003 e artº 120º do CT de 2009,
como demobilidade funcional, e antes da legislação codicista regulada no artº 22º, nº 7
do antigo RJCIT de 1969 (na versão que lhe foi dada pela Lei nº 21/96 de 23/7);
2– Quando a alteração temporária de funções, para além de se dar por acordo das
partes, e não de forma unilateral e ao abrigo do princípio determinativo da função e
conformativo da prestação da entidade empregadora (i), se verifica dentro do âmbito de
funções afins ou funcionalmente ligadas ao objeto da prestação para a qual o trabalhador
foi contratado (ii), não estamos perante nenhum fenómeno de mobilidade funcional, mas
ainda e só, de prestação de funções que cabem noobjeto da atividade contratada(artº
118º, nº 1 e 2 do CT);
3– A Clausula 8º do CCT do sector da segurança privada, sob a epígrafeMobilidade
funcional, invocada na decisão em crise, e que prevê no seu nº 3 o direito à aquisição por
parte do trabalhador da categoria profissional exercida temporariamente pelo mesmo
(reclassificação profissional), reporta-se ao regime daqueleius variandireferido supra;
Ou seja, e como a própria Clausula afirma no seu nº 1, às situações deprestação de
serviços não compreendidos no objeto da atividade contratada(ou para além desta);
4– Correspondendo as funções deOperador de Valores, temporariamente exercidas
pelo A, por via de Adenda (acordo) entre as partes celebrado, a funções da mesma
carreira ou grupo profissional de operacional de segurança privada a que pertence a
categoria de Vigilante (para o qual o A havia sido contratado), estamos perante
prestações correspondentes a funções afins ou funcionalmente ligadas (artº 118º, nº 2 do
CT);
5– Neste caso, e ao invés do sentenciado, não existe nenhuma situação de alteração e
exercício temporário de funções que estivessem para além doobjeto da atividade
contratada, e que justificasse areclassificação profissionaldo A passados que fossem
seis meses seguidos, ou nove meses interpoladas, comoOperador de Valores, nem de
passar a receber, daí em diante, a correspetiva retribuição de base e valor de subsídio de
alimentação;
6– Nem se alegue o princípio do tratamento mais favorável contido no artº 476º do CT
porquanto, como resulta do exposto, a matéria em causa não se situa no âmbito doius
variandiregulado por aquela Clausula 8ª do CCT do sector (e do artº 120º do CT), mas
simplesmente no âmbito de prestação que cabe no objeto da atividade contratada a que
se reporta o artº 118º do CT;
7– E se nada impede á entidade empregadora exercer unilateralmente semelhante
determinação ao abrigo do poder determinativo da função e conformativo da prestação
que lhe assiste (artº 1º e 11º do CT), também, e por maioria de razão, nada preclude que
não possam as partes, á cautela e por uma questão de certeza jurídica, regular por
acordo os termos e condições de tal alteração de prestação de funções dentro da
atividade contratada (artº 1152º, 405º e 217º e segs.do Código Civil, e artº 3º do CT);
8- Assim sendo, como de facto e de direito é, para além de não proceder a condenação
da R a atribuir e reclassificar o A com a categoria de Operador de Valores, também não
procede a consequente condenação da R no pagamento dos valores pecuniários
alegadamente devidos no montante total de 3.182,51 euros (mais juros de mora), a título
de diferenciais de retribuição de base e de subsídio de alimentação, de Maio de 2010 a
Maio de 2015, entre os correspondentes aos da categoria deVigilantee aos deOperado r
de Valores;
9 –Isto para além de, face aos termos e condições do acordo objeto daAdendaao
contrato individual de trabalho celebrado entre as partes, semelhante pretensão do A
falecer de legitimidade por manifestamente abusiva à luz do previsto no artº 334º do
Código Civil e artº 126º, nº 1 do CT;
10– Termos nos quais considera a ora recorrente que a decisão em recurso violou o
direito na interpretação e aplicação que fez das regras contidas nas normas legais e
contratual coletiva citadas ao longo das presentes conclusões.
Nestes termos, e nos demais de direito, deve a presente Apelação ser considerada
procedente e provada e a Sentença do Tribunal a quo ser anulada e revogada, e
substituída por superior decisão desse Tribunal de recurso, que decreta a absolvição da
R desta condenação, conforme é de inteiro Mérito e Justiça!..”
2.1 Contra - alegou o Autor, apresentando ainda recurso subordinado, arguindo ainda
nulidade da sentença.
Referente à nulidade da sentença, refere:
“Sempre com o devido respeito, o Autor reproduz aqui a arguição da nulidade que
oportunamente fez, no suposto de que não iria ser interposto qualquer recurso.
A nulidade em causa era a prevista no art.º 615 n.º 1, c) do CPC, uma vez que o Autor,
na alínea b) do pedido final, em que peticionou o pagamento de 3.182,51€, refere que a
liquidação daquele valor está feita “até ao presente” e resulta claro do artigo 21 da p.i.
que as contas em causa foram feitas até ao mês de maio de 2015, inclusive. Por outro
lado, na alínea c) do pedido foram também reclamadas as diferenças que se vencerem
até à decisão final. Ora, a sentença limita-se a condenar a Ré à classificação do Autor
como operador de valores e a estabelecer que são devidas a este as diferenças na
retribuição e subsídio de alimentação no valor global de 3.182,51€, acrescidos de juros
moratórios desde a citação até ao pagamento.
Assim, parece claro que houve omissão de pronúncia quanto ao pedido das referidas
retribuições vincendas, ou seja, as que se venceram desde o início de junho de 2015 até
à data da sentença. Para suprir esta omissão, deverá conhecer-se da invocada nulidade
e alterar-se a condenação em conformidade, ou seja, condenar-se a Ré também a pagar
as diferenças salariais que se venceram desde a propositura da ação e se vencerem até
à decisão final, nos valores que se apurarem em liquidação de sentença.”
2.2 Com data de 16 de fevereiro de 2018, foi proferido, no Tribunala quo, despacho com
o seguinte teor:
“Veio o autor invocar a nulidade da sentença proferida nos autos, apoiando tal invocação
arguindo a ausência de pronúncia sobre parte do pedido por si formulado,
nomeadamente aquele que se refere às diferenças salariais de retribuição e subsídio de
alimentação entre as categorias devigilanteeoperador de valoresvencidas entre maio
de 2015 até decisão final, reclassificação que foi pedida nos autos (e que se determinou
procedente por esta instância).
Retorquiu a ré, apelando à inadmissibilidade desta arguição, em suma, atendendo à ao
estabelecido no art.º 615.º, n.º 4, do CPC e à circunstância de ser este processo
suscetível de recurso ordinário pelo seu valor, e de não se conhecer o valor da
sucumbência subjacente ao pedido do autor, por ilíquido, restando o valor da ação como
única referência.
Ora, entende o tribunal ser de admitir o pedido formulado pelo autor, porquanto para si a
ação não é suscetível de recurso – mas tão-somente para a ré, e nessa medida, a única
via que o autor tem de ver atendida a sua pretensão é a que seguiu, por requerimentoad
hoc.(cfr. art.º 77.º, n.º 2, do CPT).
Nessa medida, cumpre decidir, o que o tribunal faz aceitando por manifestamente
patente a omissão em causa e a nulidade que daí decorre, atento o previsto no artigos
615.º, n.º 1, al. d) do CPC, e 77.º, n.º 2, do CPT.
Em conformidade, e em suprimento da nulidade apontada, determina o tribunal corrigir a
sentença em causa, acrescentando em conhecimento do pedido formulado ao respetivo
dispositivo a seguinte determinação – como consequência do reconhecimento da valia da
pretensão do autor à sua reclassificação, já sustentado na motivação da sentença em
causa:
Mais se condena a ré a pagar ao autor as diferenças salariais de retribuição e subsídio
de alimentação entre as categorias de vigilante e operador de valores vencidas e
vincendas entre junho de 2015 (inclusive) até decisão final.
Anote em conformidade.
Notifique.”
2.4 Admitidos que foram os recursos, principal e subordinado, com subida imediata nos
próprios autos, o da Ré com efeito suspensivo após prestação de caução, nos termos
então ordenados, subiram após os autos a este Tribunal da Relação.
*
3. Nesta Relação, pela Exma. Procuradora-Geral Adjunta foi emitido parecer,
sustentando a improcedência do recurso interposto pela Ré, estando ainda prejudicado o
conhecimento da nulidade da sentença invocada pelo Autor no recurso subordinado face
à decisão já proferida pelo Tribunal recorrido em que supriu tal nulidade.
[1] RAMALHO, Maria do Rosário Palma,Tratado de Direito do trabalho, Parte II,6ª ed.,
Almedina Editora, 2016, p. 447 e ss.
[2] In www.dgsi.pt, que nesta parte se segue de perto.
[3] Sem inclusão das respetivas notas de rodapé, Relator Conselheiro António Leones
Dantas, in www.dgsi.pt.
[4] Relatora Desembargadora Paula Leal de Carvalho, in www.dgsi.pt.
[5] Ainda seus artigos 1.º e 3.º, ao estabelecer, dentro da hierarquia das fontes, a
aplicação da convenção coletiva.
[6] cfr. artigo 334.º, do C.C.
[7] Do Abuso do Direito: Estado das Questões e Perspectivas – Revista da Ordem dos
Advogados, ano 2005, II, Setembro de 2005
[8] obra Dispersa, Volume I, Scientia Jurídica, Braga, 1991, p. 416 e segs.
[9] www.dgsi.pt