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BENGUELA/OUTUBRO/2022
INSTITUTO SUPERIOR UNIVERSITÁRIO MARAVILHA DE BENGUELA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
COORDENAÇÃO DE HISTÓRIA
BENGUELA/OUTUBRO/2022
PENSAMENTO
AGRADECIMENTO
DEDICATÓRIA
SÍNTESE DO TRABALHO/MONOGRAFIA
ÍNDICE DE TABELAS
INTRODUÇÃO
Hoje, e desta feita é quase incomum dissociar o processo cultural aos saberes que as
instituições endógenas tradicionais trazem consigo. A compreensão da realidade
histórico-política das comunidades etnolinguísticas que compõem o Estado angolano
está diretamente relacionada com as instituições de poderes tradicionais, por se
assumirem como os guardiões da identidade cultural dos povos e administradores da
organização, princípios e normas quem regulam conduta social das referidas
comunidades. Segundo Pacheco (2002), estas instituições detentoras dos chamados
poderes tradicionais são entidades de linhagem aristocrática que norteiam a organização
social, fundado no parentesco e cujo substrato filosófico-religioso se baseia no culto dos
antepassados, mas também nas relações económicas que se estabelecem principalmente
pela gestão do acesso à terra.
As instituições endógenas tradicionais têm uma razão de ser, são por si só bastantes
expressivas, existe a impressão que aos olhos de muitos a cultura tradicional é uma
qualquer coisa como antiquada e obsoleta, destinada aos museus e ao folclore. A cultura
identifica-nos, mostra a nossa autenticidade no concerto das nações. Ela exprime o
nosso modo de ser e de estar, o nosso modo de pensar e agir no mundo, muitas das
vezes ela, define-nos. Por isso, ela, por si própria, deve ser valorizada, fazendo parte da
vida quotidiana, quer em moldes individuais ou sociais, em instituições publicas ou
privadas, pois como se refere Caetano, (2002) citado por Filipe, (2018, p.7) ela é o
fundo que constitui a nossa mentalidade. Assim sendo, na mesma senda, todo um
conjunto cultural assente nas instituições endógenas tradicionais, constituem um pilar
preponderante na aquisição, transmissão e interação social do indivíduo, podendo o
mesmo ser fulcral para aquilo que o homem de um determinado espaço geocultural se
vai tornar nas mais diversas castas da vida. Portanto, a preocupação com a temática
referida, reveste-se no desígnio de preservar o passado, vivendo da melhor forma o
presente e almejando um futuro melhor. Tudo isto, passa pela educação. Deve-se ter em
conta a sabedoria presente na cultura dos nossos ancestrais, as conquistas já alcançadas
em busca do verdadeiro progresso humano.
Ora, assim, o referido trabalho focar-se-á de forma específica em vários aspetos que
envolvem os mesmos fenómenos, desde a relação das instituições endógenas
tradicionais com a sociedade, o papel que as mesmas levam consigo, no que tange ao
processo de transmissão e preservação de valores culturais aos indivíduos que compõem
o leque do processo de ensino-aprendizagem de História, suas vantagens e
desvantagens, formas de transmissão e preservação, vias de inovação, até aos mas
diversificados processos de maximização do poder tradicional e do conhecimento
cultural destes mesmos indivíduos, e no decorrer de todo processo, procurar obter
informações únicas da tradição oral de maneira a proporcionar aos alunos, professores e
todo mundo que revê-se nesta realidade novos e ricos saberes relativamente ao tema a
ser abordado.
Além disso, é necessário compreender o negro sobre outros aspectos que não se centram
unicamente na escravidão, devemos ir para as escolas e formar negro s politicos, capazes de
olhar seu passado de opressão como fato a ser lembrado sim, mas não como motor de
condução para suas lutas. Viver sobre as marcas da escavidão é continuar cativo, mas romper
com esses estigma é visualizar sua imensa rede de formação cultural.
Para Cervo & Bervian, (2005), o problema é uma questão que desenvolve
intrinsecamente uma dificuldade teórica ou prática, para a qual se deve encontrar uma
solução.
A respeito da mesma temática Rudio, (1978 p.75) encara o problema da pesquisa como
a capacidade de:
Toda pesquisa deve ter um objetivo determinado para saber o que se vai procurar e o
que se pretende alcançar. Deve partir, segundo afirma Ander-Egg (1978:62), "de um
objetivo limitado e claramente definido”.
Gonsalves, (2001) afirma que eles são a “espinha dorsal” do processo de pesquisa, por
expressar claramente os caminhos a serem percorridos.
Nesta mesma senda, com o fim de encontrar respostas a questão em estudo, no presente
trabalho, pretender-se-á alcançar os seguintes objetivos:
OBJECTIVO GERAL
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS
PERGUNTAS CIENTÍFICAS
Relativamente a perguntas científicas, Quivy, (2005), citado por Valério & Favinha
(2010/11, p.6), “uma pergunta de partida constitui normalmente três qualidades
essenciais: clareza, exequibilidade e pertinência, pois através da pergunta de partida
consegue-se ter uma ideia clara acerca do objetivo a alcançar. Além disso deve ser
precisa, realista e compreensível. (modo CCC – curta, clara e completa): “(…) com esta
pergunta o investigador tenta exprimir o mais exatamente possível aquilo que se procura
saber, elucidar, compreender melhor. A pergunta de partida servirá de primeiro fio
condutor da investigação.”
FUNDAMENTACAO TEORICA
Segundo Pedro, L. T. & Mussili, P. L. (2022) referem que a adoção do pluralismo cultural,
influencia significativamente para por termo a assuntos ligados a segregação racial ou étnica.
Nesta perspetiva, a via mais apropriada consiste em fomentar o desenvolvimento plural, onde
seja reconhecida a igual valia de numerosas subculturas diferentes. Uma abordagem pluralista
considera os grupos étnicos minoritários como iguais na sociedade, o que significa que, estes
desfrutam dos mesmos direitos da maioria da população. As diferenças étnicas são respeitadas
e celebradas, enquanto componentes vitais da vida
CONCEITO DE OTCHOTO
NOTAS: Otchoto é a primeira escola, talvez a mais antiga entre os ovimbundos (G.C,
Pg.12).
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Muitos confundem o ondjango com o otchoto, tal como já foi referido, otchoto tem
como tónica “escola noturna” onde as novas gerações tinham a sua iniciação a volta da
fogueira; ao passo que ondjango, tem como voz, um “espaço de reunião, usado no
período matinal com o intuito de resolver os problemas pontuais da comunidade”.
Ondjango era e é usado durante o dia, muitas vezes pelos detentores do poder politico,
governantes e religiosos, quando se convoca a população, a fim de tratar assuntos
importantes antes que o mesmo vá ser tratado em lugares de alçada governamental, na
mesma senda, o mesmo era tido como um lugar de tratamento de assuntos preparatórios.
Dai a importância do provérbio: kopitule yu walalele ko, isto é, alguém participa de
forma segura num movimento se for avisado com antecedência sobre a magnitude.
A informação no ondjango era recebida o mais tradicional possível, pois, todos aqueles
discípulos assíduos e responsáveis ao longos das sessões ondjangonianas, tornavam-se
membros ativos na busca de soluções dos problemas que assolem o equilíbrio
social(Pg.17). Assim sendo, o ondjango pode ser encarado como um espaço-lugar onde
se reuniam os dirigentes para a deliberação de assuntos de impacto social, dai a
necessidade de estender os termos, em comunicado para todo o território, o mesmo
funcionava para tratar assuntos relacionados com apoios as famílias desfavorecidas,
ajuda mútua, situações que têm a ver com solidariedade agrícola, festas curativas,
iniciações tanto masculinas como femininas, combate a estiagens, cheias, queimadas,
questões ligadas a princípios de companheirismo nas caças, enfim, todo um conjunto de
atividades que desembocassem transtornos e visavam perigar os moradores daquela
região.
EVULA, possui uma função similar a do otchoto, isto porque, enquanto os rapazes se
acumulavam a volta da fogueira a receberem ensinamentos, as raparigas ficavam na
cozinha. E aí também se transmitia educação puramente feminina, pois as mulheres
possuíam talentos e dotes exclusivamente femininos e por esta perícia também os
transmitia as jovens. Enquanto no otchoto estavam os anciãos, no evula estavam as
anciãs de destaque social orientando as raparigas.
O evula
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Ondjango é uma instituição, é um modo de vida, ou melhor é uma escola de vida que
plasma a pessoa para a sociedade, inserindo-a como parte deste povo que tem uma
determinada cultura, uma organização sociopolítica, uma conceção de vida individual,
familiar e social. Filipe, (2018, p.7) chama atenção para um importante pormenor,
relativamente ao ondjango, afirmando que o mesmo, por si só, é um valor, cuja
preocupação é a de conservar e transmitir os valores enquanto constituem o bem do
povo que vive nesse espaço geocultural.
Dulley (2010), salientou que as etnografias do começo do século XX, apresentaram o onjango
como o lugar que ocupava centralidade na vida da comunidade, destacava-se por ser o espaço
da sociabilidade masculina, também local sagrado para as famílias. Após as refeições
cotidianas, os grupos se encontravam para o momento de afabilidades, onde o ato de contar
histórias, caracterizava o onjango
O tema em questão remonta os tempos antigos, visto que Guedes, A. & Lopes, M.
(2007) afirmam que, as instituições endógenas tradicionais constituem o símbolo dos
valores que mantêm coesa a comunidade, desempenham um papel crucial no complexo
mágico-religioso e como principais representantes e guardiões do sistema sociocultural
angolano, as mesmas podem ser entendidas como, entidades indissociáveis da realidade
histórico-política da vida das sociedades africanas, em geral, e angolana, em particular.
Estas representam simplesmente a espinha dorsal do mosaico político-organizacional
das referidas comunidades, ou seja, a fonte primária da organização dos povos, anterior
à existência do Estado moderno.
A cultura bantu representa a marca específica das populações da África Negra e tem grande
infl uência na vida comunitária em Angola, em particular no meio rural, ainda relativamente
preservado da influência cultural decorrente da colonização, da modernização e da
globalização. No geral, essa cultura caracteriza-se por: regime de patriarcado e gerontocracia,
que pressupõe a prevalência do poder dos anciãos, sendo estes considerados fonte normativa
da comunidade Silva, A. E (2011, pag. 23)
A cultura tradicional africana foi sendo alterada por introdução de elementos decorrentes da
colonização e, agora, da globalização cultural. Essas alterações repercutiram-se nos vários
domínios da vida social, mas a persistência dos rituais de iniciação ajudou a reafirmar os
valores culturais tradicionais, o que contribuiu para a preservação dos traços essenciais da
identidade local, ainda que sacrifi cando a integração cultural e a coesão social. A insistência
nas tradições tornou os rituais num fenómeno cultural sólido no meio rural e contribuiu para a
preservação das tradições, entre as quais os rituais iniciáticos a que os jovens de ambos os
sexos se submetem. A vivência desses rituais pressupõe a incorporação de novos
comportamentos, pelo que se constituem como verdadeiras “escolas da vida”, ou seja,
mecanismos de inculcação com os quais a comunidade vai moldando o comportamento dos
mais novos. Enquanto instâncias de propagação de valores, alguns desses rituais integram
práticas que, à luz dos princípios da dignidade humana e da igualdade, podem ser
consideradas indignas, merecendo, por isso, crítica e repúdio como é o caso da excisão
feminina. Assim, há que preservar certos valores mas combater os que atentam contra a
dignidade humana pois nada justifica que, numa sociedade de direito, este seja atropelado em
nome da tradição.
No meio rural angolano predomina uma cultura tradicional com as suas práticas socializadoras
tendentes à preservação da identidade. A socialização das crianças, em particular a das
meninas, faz-se no contexto da tradição, apoiada em ritos iniciáticos Silva, A. E. (2011)
No meio rural, a educação escolar pouca influência tem exercido na vida da comunidade,
restringindo a sua acção à transmissão de um currículo ao qual nem sempre se reconhece
utilidade, ou seja, a construção da cidadania no meio rural pouco tem benefi ciado da
escolarização e da educação estatal, cuja missão tem a ver com a inculcação dos valores da
igualdade e da dignidade, sendo interferida pelos cânones da tradição baseados na
diferenciação sexual, na desigualdade entre os géneros e, como consequência, na
inferiorização da mulher. Para entender esta relação contraditória é preciso regressar ao
passado. Em Angola, o conhecimento era tradicionalmente transmitido às novas gerações
através dos ritos de iniciação e de outras formas de educação tradicional asseguradas pelos
“mais-velhos”. Esta transmissão foi alterada pela colonização que, com as políticas de
assimilação, tratou de impor o modo de vida europeu aos africanos.
d) Confunde-se com a vida comunitária, sem horários ou dias específi cos, integrando rituais
para se aceder a novos estatutos sociais;
h) Promove uma dupla integração, fazendo com que o indivíduo se reconheça no grupo e na
cultura;
O isolamento do meio rural, reforçado pelo seu fechamento às infl uências de fora,
favorece o conservadorismo. Esta condição conduz a que o comportamento individual e
social tenha de se reger pela cultura considerando que isso é o melhor para o indivíduo e
para a comunidade. Qualquer comportamento à margem dos cânones da cultura é
socialmente censurado pelo “conselho dos anciãos”. Por isso, a socialização das crianças e
jovens no meio rural obedece aos padrões impostos, processando-se segundo práticas que
visam prepará-las para a vida adulta, numa diferenciação de papéis sexuais, exigindo-se
que actuem em conformidade.
A estrutura social no meio rural está concebida para induzir nos indivíduos atitudes e
sentimentos congruentes com os padrões culturais, accionando práticas socializadoras
como os ritos de iniciação. Estes visam “fixar os neófitos na tradição, mentalizá-los para a
guardar e defender contra qualquer investida inovadora” (Altuna 1993: 295). A
socialização comunitária cumpre assim a função de integração nos padrões de vida,
gerando uma conformidade do comportamento com a tradição cultural, o que contribui
para a preservação da identidade cultural.
A comunidade rural enquanto sistema cultural impõe uma cultura, estabelecendo papéis
e gerando hábitos e modos de pensamento e acção. Este sistema assume uma dimensão
simbólica com que se atribui sentido à vida social na base dos mitos unifi cadores que
perduram na memória colectiva, daí surgindo a necessidade dos ritos de passagem e dos
mecanismos de controlo social, a cargo dos “mais-velhos”. É no âmbito da cultura bantu
que muitas práticas sociais são justificadas, particularmente as representações sobre o
género e o lugar e função social de homens e mulheres.
A socialização das crianças neste meio processa-se segundo regras e códigos estritos,
esperando-se que elas respeitem as tradições e actuem como agentes da sua preservação.
Assim se estabelece o habitus (Bourdieu 1983: 65) enquanto conjunto de disposições,
gostos e preferências dos indivíduos, produtos de um processo de socialização nas
mesmas condições contextuais, permitindo estabelecer a coerência entre acção individual
e colectiva, ou seja, uma certa homogeneidade e continuidade na acção social de um
grupo, em função das quais os membros se reconhecem.
A hegemonia cultural estabelece um complexo sistema de relações e mediações, visando o
desenvolvimento e a concretização de um modo de conduta, ou seja, a institucionalização
da tradição. Para Gramsci (1996), a hegemonia é concebida como influência e domínio,
actuando sobre o modo de pensar, de conhecer e de agir e sobre a conduta social, no
âmbito da qual o comportamento dos membros é aceite ou censurado, constituindo a
capacidade de unifi car padrões e de conservar unido um sistema social.
Entretanto, reconhecemos que nossa escola pública, aquela em que deve proporcionar a
educação popular de qualidade, não traz em si as possibilidades de ensinar os conteúdos
produzidos pelos diferentesgrupos sociais, sejam eles, oriundos da diversidade multiplural ou,
especificamente construídas pelos grupos indígenas e negros (Reis , 2005).
A escola está a desgastar este ensinamento tradicional. As novas idéias recebidas da Europa
não deixam desenvolver no negro “desclanizado” esta literatura tradicional oral. No entanto,
ela esta espalhada na população rural. Se não surge quem continue, recolha e guarde o
tesouro da sabedoria negra, acumulada durante milênios, há o perigo de a perder pois
conserva-se apenas em alguns homens que brevemente vão desaparecer para sempre.
(Altuna, 2006). Citado por Fernandes, et al. (2008)
O modelo vigente de educação colabora para a segregação dos saberes. Isso se dá pela busca
da racionalidade e da necessidade de cientificar a vida. A academia precisa sobrepor sua razão
e sua metodologia em detrimento dos modelos milenares de construção do saber. Quantos
dos saberes populares africanos foram perdidos, e quantos desses saberes foram submetidos
às severas regras de enquadramento e perderam a sua naturalidade. Na tentativa de manter
esse regime de produção mecanismos de respostas sustentáveis, éticas, com unitárias, locais,
e principalmente, coletivas foram deixadas de lado. No fim de contas, essa ciência é
responsável por esconder ou desacreditar as alternativas. Para combater o desperdício da
experiência social, não basta propor um outro tipo de ciência social. Mais do que isso é
necessário propor um modelo diferente de racionalidade. Sem uma crítica do modelo de
racionalidade ocidental dominante pelo menos durante os últimos duzentos anos, todas as
propostas apresentadas pela nova análise social, por mais alternativas que se julguem,
tenderão a reproduzir o mesmo efeito de ocultação e descrédito. (Santos, 2001 ) Citado por
Fernandes, et al. (2008)
Essa hierarquização de saberes construiu uma educação homogenia, valorizando uma ótica
cultural em detrimento de outra que emerge das relações co tidianas de construção de
saberes. Esse cotidiano que é classificado como senso comum, está fora da escola, é
classificado como secular e não deve ser “ensinado”, pelo contrário, precisa ser combatido
com as verdades propaga das pela ciência. Nesse ciclo, o educando é visto como sujeito vazio,
que necessita ser preenchido com os saberes legitimados pela estrutura de poder, poder esse
exercido pela intelectualidade, seja ela local, regional ou global. Ora, o que os intelectuais
descobriram recentemente é que as massas não necessitam deles para saber; elas sabem
perfeitamente, claramente, muito melhor do que eles; e elas o dizem muito bem. Mas existe
um sistema de poder que barra, proíbe, invalida esse discurso e esse saber. Poder que não se
encontra somente n as instâncias superiores da censura, mas que penetra muito
profundamente, muito sutilmente em toda a trama da sociedade (Foucault, 1999).
A socialização das crianças neste meio processa-se segundo regras e códigos estritos,
esperando-se que elas respeitem as tradições e actuem como agentes da sua preservação.
Assim se estabelece o habitus [Bourdieu 1983: 65] enquanto conjunto de disposições,
gostos e preferências dos indivíduos, produtos de um processo de socialização nas
mesmas condições contextuais, permitindo estabelecer a coerência entre acção individual
e colectiva, ou seja, uma certa homogeneidade e continuidade na acção social de um
grupo, em função das quais os membros se reconhecem. A hegemonia cultural estabelece
um complexo sistema de relações e mediações, visando o desenvolvimento e a
concretização de um modo de conduta, ou seja, a institucionalização da tradição. Para
Gramsci [1996], a hegemonia é concebida como infl uência e domínio, actuando sobre o
modo de pensar, de conhecer e de agir e sobre a conduta social, no âmbito da qual o
comportamento dos membros é aceite ou censurado, constituindo a capacidade de unifi
car padrões e de conservar unido um sistema social. A hegemonia cultural inclui uma
distribuição específi ca de poder, de hierarquia e de infl uência pressupondo coerção sobre
os opositores na base de um processo de violência simbólica [Bourdieu 1989] uma vez que
está sujeita à luta, à resistência e à confrontação. Por isso, quem a exerce, tem de adoptar
mecanismos de imposição e coerção como também neutralizar ou cooptar a oposição. Ela
tem a função de impedir qualquer resistência interna, o que gera condições para bloquear
qualquer mudança na comunidade, residindo aqui a raiz da preservação da tradição. No
contexto rural angolano, relativamente apartado do contacto e da infl uência da cultura
urbana, a hegemonia cultural, enquanto mecanismo através do qual os anciãos impõem a
tradição, ajuda a reforçar a cultura dominante. Isso conduz a que as crianças interiorizem e
respeitem a tradição por ser essa a expectativa social.
O modo oral de aprender, ensinar e se comunicar na cultura africana, não é um fator limitador.
No contexto local as vozes não soam apenas como um veículo de comunicação, é através dela
que são pronunciados os saberes ancestrais, elevam -se lideranças políticas e religiosas, ou que
um jovem é promovido a um lugar de importância. Não existem avaliações pautadas nas
capacidades de escrita, mas sim, no modo como eles constroem seus conhecimentos pautados
no saber ancestral. A cultura oral é uma tradição que permeia todos os ritos da comunidade é
uma comunicação cultural. É uma cultura própria e autentica porque abarca todos os aspectos
da vida e fixou no tempo as repostas às interrogações dos homens. Relata, descreve, ensina e
discorre sobre a vida (Altuna, 2006).
FUNDAMENTAÇÃO METODOLOGICA
TIPO DE PESQUISA
Pesquisa explicativa
Segundo Gil, (2008) pode ser vista como aquela que identifica os fatores que
determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. É o tipo que mais
aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas.
Por isso, é o tipo mais complexo e delicado.
MÉTODOS
Gil, (2008, p.8), refere que pode-se definir método como “caminho para se chegar a
determinado fim. E método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e
técnicos adotados para se atingir o conhecimento”.
Não muito distante de Gil, Marconi, & Lakatos, (2003), definem o método como um
conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia,
permite alcançar o objetivo e conhecimentos válidos e verdadeiros, traçando o caminho
a ser seguido, detetando erros e auxiliando as decisões do cientista/investigador.
Método histórico-lógico;
Assim, Para, Marconi, & Lakatos, (2003), o método histórico consiste em investigar
acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na
sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual através de alterações
de suas componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular
de cada época. “E a unidade do histórico-lógico, compreendida ao modo materialista,
ajuda a resolver o problema da estrutura interna da ciência”, de facto como afirma
(Ramos & Naranjo, 2014, p.110).
Indutivo-dedutivo;
Para, Marconi & Lakatos, (2003), Indução é um processo mental por intermédio do
qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade
geral ou universal, não contida fias partes examinadas. Portanto, o objetivo dos
argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o
das premissas nas quais se basearam. E “dedução é um procedimento que se apoia nas
asserções generalizadoras, a partir das quais se realizam demostrações ou inferências
particulares”, isto com base na ideia de (Ramos & Naranjo, 2014, p.107).
Nesta perspetiva o mesmo método será utilizado com o propósito de, com base a
informações e uma data de conteúdos singulares, referente ao objeto da pesquisa inferir
conhecimentos e submete-los numa espécie de balança e verificar a autenticidade dos
mesmos, de maneira a proporcionar aos alunos do Colégio 22 De Novembro BG-1061
Massangarala, conhecimentos que durante o processo de investigação apresentar-se-ão
como um todo fidedignos e relevantes.
Analítico-sintético
O mesmo, será utilizado com o intuito de perscrutar as mais diversas formas que o
objeto de investigação apresenta e em seguida descobrir as relações e características que
possibilitarão uma maior e melhor sistematização do conteúdo a ser abordado.
Estatístico-matemático
MÉTODOS EMPÍRICOS
Observação científica
A respeito desta mesma temática, Gil, (2008, p.100) “A observação constitui o elemento
fundamental para a pesquisa. Desde a formulação do problema, passando pela
construção de hipóteses, coleta, análise e interpretação dos dados, a observação
desempenha papel imprescindível no processo de pesquisa. É, todavia, na fase de coleta
de dados que o seu papel se torna mais evidente. A observação é sempre utilizada nessa
etapa, conjugada a outras técnicas ou utilizada de forma exclusiva”.
Entrevista
Borges e Silva (2011, p. 43) frisa que A entrevista é uma técnica que se constitui em um
instrumento eficaz na coleta dos dados.
Já segundo Cervo & Bervian, (2002), a entrevista é uma das principais técnicas de
coleta de dados e pode ser definida como sendo a conversa realizada face a face pelo
entrevistador junto ao entrevistado. Desta feita, a utilização deste método permitira que
o investigador entreviste de forma direta os membros que compõem o processo de
ensino-aprendizagem e de forma particular algumas figuras da tradição oral, para
constatar alguns pressupostos e obter informações primárias do tema da pesquisa.
Consulta/pesquisa bibliográfica
Para Manzo, (1971,p.32), a bibliografia "oferece meios para definir, resolver, não
somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os
problemas não se cristalizaram suficientemente" e tem por objetivo permitir ao
pesquisador "o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de suas
informações" (Trujillo, 1974:230). Dessa forma, a pesquisa bibliográfica não é mera
repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um
tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras.
Não distante da temática, Marconi & Lakatos, (2003), realçam que a pesquisa
bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em
relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros,
pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de comunicação
orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua
finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou
filmado sobre determinado assunto, inclusive conferencias seguidas de debates que
tenham sido transcritos por alguma forna, quer publicadas, quer gravadas.
Portanto, este método de nível empírico servirá, de forma simultânea, como uma das
maiores bases para a obtenção de conteúdos e comparação de referências com o objeto
de encontrar a verdade científica e obter resultados inovadores no que tange ao tema a
ser abordado.
INSTRUMENTO/TÉCNICA DE PESQUISA
A utilização do questionário no corrente trabalho será mas do que óbvia, visto que o
mesmo fornecera uma chuva de respostas as perguntas outrora colocadas aos inquiridos
e o mesmo auxiliara de forma direcionada a apurar factos relevantes sobre o tema, e
sobre o problema da investigação, facilitando assim de antemão a atividade do
pesquisador em obter dados referente ao tema em questão e de indivíduos que de
alguma forma estão ligados com o assunto a ser tratado.
POPULAÇÃO E AMOSTRA
POPULAÇÃO
AMOSTRA
Referente a mesma situação, Marconi & Lakatos (2003,p.163) faz alusão que “a
amostra é uma parcela convenientemente selecionada do universo (população); é um
subconjunto do universo”.
A prevalência da tradição no meio rural difundida por práticas socializadoras que diferenciam
os papéis sociais em função do género contribui para diminuir o estatuto social da mulher cuja
dignidade depende da sua condição de “casada” e da sua relação ao esposo e ao lar. A força da
tradição no meio rural em relação à qual a mulher se encontra aprisionada, reforçada pelas
crenças místico-religiosas sobre as consequências nefastas do seu incumprimento faz com que
a sua identidade de género se construa por referência a uma situação de submissão às lógicas
de dominação masculina.
SUGESTÕES/RECOMENDAÇÕES
A mulher rural angolana, enredada na tradição, tem levado uma existência penosa na medida
em que: carrega os fi lhos no ventre; depois, carrega-os às costas; carrega os alimentos à
cabeça; carrega a responsabilidade de gerir o lar; carrega o ónus de educar as crianças; carrega
a obrigação de agradar ao marido; carrega a marca da submissão; carrega o peso da
ignorância; carrega o estigma da vergonha; carrega o fardo de ser mulher, pois num mundo
confi gurado pelas lógicas masculinas, vigora o provérbio que diz que ‘homem é homem,
mulher é sapo’” [Melo 2005]. Perante este quadro, compete ao Estado, em nome da igualdade
de direitos e da cidadania democrática, desenvolver acções de promoção social da mulher
rural para que ela não viva carregando o peso da inferioridade. Pela dignifi cação da mulher,
justifi ca-se uma estratégia educativa que articule os diferentes agentes educativos e concilie
os valores e processos educativos inerentes à educação ofi cial e à educação tradicional para a
tomada de consciência do que signifi ca ser cidadão numa sociedade africana democrática. Por
isso, resgatar a educação tradicional em Angola, despindo-a dos seus elementos retrógrados,
torna-se um imperativo ético e cívico visando a construção de uma cidadania plena, da qual
ninguém seja excluído.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRACAS
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São Paulo: Annablume, 2010.
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Mozambique. Coimbra: Edições Almedina.
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(khoisan) do Cunene.Njinga & Sepé: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e
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Fontes, 2000.
BIBLIOGRAFIA
ANEXOS
Nota importante: pesquisar quando possível
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Junta de Investigação do Ultramar. ESTERMANN, C. (1983). Etnografia de Angola (Sudoeste e
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