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EFEITO DO USO DA ÁGUA NO FEIJOEIRO DE INVERNO SOB DIFERENTES DOSES

DE NITROGÊNIO NO ECÓTONO CERRADO-PANTANAL


Gabriel Queiroz de Oliveira1, Adriano da Silva Lopes1, José Maria do Nascimento1, Sebastião Nilce
Souto Filho1, Renato Jaqueto Goes1 (1Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Rodovia
Aquidauana CERA, Km 12, Caixa Postal 08223, 79200-000 Aquidauana, MS. e-mail:
gabrieluems@yahoo.com.br)

Termos para indexação: irrigação, adubação, feijoeiro, recursos hídricos

Introdução
Uma das grandes dificuldades dos produtores do Cerrado encontra-se no manejo da
irrigação, já que, na maioria dos casos, a água é aplicada sem nenhum critério de monitoramento,
resultando no uso inadequado dos recursos hídricos. Vários são os procedimentos que podem ser
utilizados como critério para o manejo de água da irrigação, em que teoricamente, o melhor critério
seria aquele que considera o maior número de fatores que determinam a transferência de água no
sistema solo-planta-atmosfera (ROCHA et al., 2003).
De acordo com LOPES et al., (2004), o conhecimento da quantidade de água requerida
pelas culturas, constitui-se em aspecto importante na agricultura irrigada para que haja uma
adequada programação de manejo de irrigação. Contudo, a qualidade da irrigação pode ser avaliada
pelo conhecimento da sua efetividade e da eficiência do uso da água pelas plantas (SAAD &
LIBARDI, 1994).
Segundo ANDRADE et al. (2002), o coeficiente de cultura (Kc) tem sido usado para se
estimar a necessidade hídrica das culturas, e seu conhecimento em distintos estádios de
desenvolvimento é importante para o manejo da irrigação. De acordo com FARINELLI et al.
(2006), a utilização de nitrogênio em cobertura, com sistema de preparo convencional de solo
promove maior produtividade e qualidade fisiológica das sementes de feijão em relação ao plantio
direto e, aumentos nas doses de nitrogênio em cobertura proporcionam acréscimo na produtividade
e no potencial fisiológico das sementes de feijão. Este trabalho teve por objetivo avaliar a influência
do manejo da irrigação e da adubação nitrogenada de cobertura sobre a cultura do feijoeiro de
inverno, irrigada por aspersão convencional, no município de Aquidauana - MS.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Área Experimental de Agricultura da Unidade Universitária
de Aquidauana (UUA/UEMS), Estado de Mato Grosso do Sul, com coordenadas geográficas
20°28’ Sul, 55°38’ Oeste e altitude média de 207 metros. O clima da região é classificado como
tropical-quente, sub-úmido. O solo da área foi classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo
Distrófico (EMBRAPA, 1999) fisicamente profundo, moderadamente drenado e com textura
arenosa (ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, 1990).
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com parcelas
subdivididas, composto por três blocos e duas repetições dentro de cada bloco (BANZATTO &
KRONKA, 1989). As parcelas foram constituídas pelo manejo de água, baseados na leitura diária
do tanque Classe “A”, com lâminas de irrigação de 16,5; 27,6 e 30,5 mm os quais correspondiam a
50, 30 e 27% de reserva de água no solo, com o cálculo da evapotranspiração da cultura estimada
segundo ALLEN et al. (1998). As subparcelas, apresentadas em duas replicações, foram
constituídas pelas doses de adubação nitrogenada (0, 50, 100 e 150 kg ha-1 de N) cuja fonte
utilizada foi à uréia. A semeadura ocorreu no dia 1º de julho de 2005 e, a adubação de semeadura
foi a partir da análise química do solo e de acordo com AMBROSANO et al. (1996). A irrigação
utilizada foi à aspersão convencional, onde as subparcelas coincidiam com a sobreposição dos jatos
de água aplicada pelos aspersores, cujas áreas úteis das unidades experimentais compreendiam
cinco linhas de plantas com 5,0 m de comprimento, correspondendo a 11,25 m2.
Para verificar a resposta do feijoeiro, foi analisada a produção de grãos (g planta-1), número
de grãos por vagem e eficiência do uso da água (kg de grãos mm-1 de água), sendo os valores
submetidos ao teste de variância e as médias comparadas com teste Tukey ao nível de 5% de
probabilidade. Utilizou-se o procedimento de Regressão nas doses de nitrogênio para cada lâmina
de irrigação para verificar o estabelecimento de uma relação de causa e efeito.

Resultados e Discussão
O estande final médio de plantas foi de 12,95 plantas m2. A lâmina de irrigação total foi de
447,4; 448,6 e 452,9 mm para 50, 30 e 27% da reserva de água no solo. Não houve interação
significativa entre as lâminas de irrigação e a doses de nitrogênio para produtividade de grãos,
número de grãos por vagem e eficiência no uso da água. A reserva de água no solo em relação à
produtividade (g planta-1), número de grãos por vagem e a eficiência no uso da água, não foi
verificado diferença significativa ao nível de 5% de probabilidade (Tabela 1). Os resultados
encontrados em relação a doses de nitrogênio e os componentes de produtividade, somente o
número de grãos por vagem diferiu estatisticamente, com o valor máximo de 4,74 grãos por vagem,
sendo encontrado aplicando a dose de 100 kg de N ha-1.

Tabela 1. Produção média de grãos (P.G.), Número de grãos por vagem (N.G.V.) e Eficiência
no uso da água (E.U.A.) em função das lâminas de irrigação.
Reserva de água no
P.G. (g plant-1) G.N.P. E.U.A (kg mm-1)
solo (%)
50 19.23a 4.17a 5.02a
30 17.48a 4.30a 5.37a
27 18.24a 4.36a 4.61a
*Médias seguidas de letras distintas, na vertical, diferem entre si, ao nível de 5% de
probabilidade, pelo teste de Tukey.

MEDEIROS et al. (2000) relataram que houve diferença significativa para a produção de
grãos (g planta-1) e que foi encontrado o maior valor com o tratamento de 14 plantas m2. Porém foi
observado que a menor produção por planta do tratamento de 28 plantas m-2 foi compensado por
sua maior densidade populacional em relação ao tratamento de 14 plantas m-2. Na Figura 1 observa-
se a relação da produção de grãos com doses de nitrogênio para a reserva de água no solo de 27% e,
verifica-se que a variação entre as doses 50 e 100 kg de N ha-1 é quase nula.
A maior produção de grãos foi encontrada com a associação entre 50% da reserva de água
no solo e a dose de N 100 kg ha-1 (22,42 g planta-1). Dessa forma, explica-se a maior produção na
cultura para o tratamento 50% onde, tendo o solo disponibilizado água sem restrição ao demandado
pela planta, a possível ocorrência de interrupção no fluxo normal de absorção de solutos do solo foi
menor que nos demais tratamentos.
O número de grãos por vagem em relação à reserva de água no solo de 50% e as doses de N
mostrou tendência linear (Figura 2). Verifica-se na Figura 3 que a eficiência no uso da água com a
reserva de água no solo e as doses de nitrogênio, cresceu até a aplicação de 100 kg de N ha-1. A
melhor eficiência no uso da água foi alcançada com reserva de água de 50% e dose de 100 kg de N
ha-1 (5,71 kg mm-1).

22,0
Produção de grãos (g planta )
-1

21,0
20,0
19,0
18,0
17,0 2
y = -0,0009x + 0,1205x + 16,77
16,0 2
R = 0,99
15,0
14,0
0 50 100 150
-1
Doses de nitrogênio (kg ha )

Figura 1. Relação entre doses de nitrogênio e produção de grãos com


27% da reserva de água no solo.
4,7
2
y = 0,0061x + 3,707; R = 0,99
-1
Numero de grãos vagem

4,5

4,3

4,1

3,9

3,7

3,5
0 50 100 150
-1
Doses de nitrogênio (kg ha )

Figura 2. Relação entre doses de nitrogênio e número de grãos por


vagem com 50% da reserva de água no solo.
5,6

Eficiência no uso da água (kg mm)


-1
5,5
5,5
5,4
5,4
5,3 2
y = -2E-05x + 0,0043x + 5,202
5,3 2
R = 0,8656
5,2
5,2
0 50 100 150
-1
Doses de nitrogênio (kg ha )

Figura 3. Relação entre doses de nitrogênio e a eficiência no uso da


água com 30% da reserva de água no solo.
PEREIRA et al. (2002) com o objetivo verificar o efeito de níveis de cobertura do solo sobre
o manejo de irrigação do feijoeiro encontrou que a melhor eficiência no uso da água (9,9 kg mm-1),
foi encontrada com 100% de cobertura com lâmina de irrigação de 190 mm.

Conclusões
As lâminas de irrigação não influenciaram a variáveis estudadas. O estudo com a aplicação
das doses de nitrogênio em cobertura influenciou apenas o número de grãos por vagem. A
associação entre a reserva de água no solo de 50% e doses de 100 kg de N ha-1 mostrou os melhores
resultados. A produção média de grãos do feijoeiro em plantio convencional no município de
Aquidauana foi de 18,32 g planta-1.

Referências bibliográficas
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evapotranspiration: guidelines for computing crop requirements. Roma: FAO, p.78-85, 1998.
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