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Semiologia do

adolescente
SUMÁRIO
1. Definição................................................................................................................. 3

2. Síndrome da adolescência normal.......................................................................... 3

3. Estágios da adolescência........................................................................................ 4

4. A consulta do adolescente...................................................................................... 6

5. Exame físico.......................................................................................................... 11

6. Avaliação puberal.................................................................................................. 15

7. Avaliação musculoesquelética.............................................................................. 17

Referências.........................................................................................................................19
Autor: Isabelle Cristine Barbosa Pereira

1. DEFINIÇÃO

A adolescência é definida por limites cronológicos que podem variar de acordo com
o país, a cultura ou as organizações de referência na área da saúde.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência compreende o
período entre 10 anos e 19 anos, 11 meses e 29 dias de idade (ou 20 anos incompletos).
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), por sua vez, considera a adolescên-
cia o período entre 12 anos e 17 anos, 11 meses e 29 dias (ou 18 anos incompletos).
A adolescência é um período da vida caracterizado pela transição da infância à vida
adulta que acompanha uma série de alterações físicas, psicológicas e sociais.
As modificações físicas, decorrentes da puberdade, incluem o desenvolvimento
de características sexuais secundárias, aquisição de plena capacidade reprodutiva e
crescimento ponderal.
As modificações mentais ocorrem pela transição do raciocínio operacional concreto
para o raciocínio operacional formal. Com isso, o adolescente refina seu pensamento
lógico e dedutivo e desenvolve o pensamento abstrato, sendo capaz de refletir sobre
aspectos políticos, éticos, filosóficos e afins. Além disso, é nessa fase que o adolescente
começa a ter entendimento sobre as implicações futuras de suas escolhas.
As modificações psicossociais compreendem uma série de alterações que carac-
terizam a Síndrome da Adolescência Normal.

2. SÍNDROME DA ADOLESCÊNCIA NORMAL

A Síndrome da Adolescência Normal é marcada por uma sintomatologia de origem


biológica, social e psicológica.
É ponto primordial dessa Síndrome a busca da identidade, marcada por autonomia
crescente e tendência a contestar as atitudes e condutas dos pais. O distanciamento
dos pais acompanha certa “hipervalorização” dos amigos e colegas. Além disso, o
sentimento de invulnerabilidade e o desejo de experimentação aumentam a suscetibi-
lidade do adolescente a fazer uso precoce e abusivo de álcool e/ou drogas, bem como
a morte por causas externas e acidentes. O desenvolvimento da sexualidade (marca-
do pela evolução do autoerotismo à busca pelo parceiro ou parceira) é característica
marcante da adolescência e está associado a maior risco de gravidez e transmissão
de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). É comum ocorrerem flutuações de
humor, como ansiedade ou estados deprimidos.

Semiologia do adolescente 3
Figura 1. Adolescência e alterações emocionais.
Fonte: fizkes/shutterstock.com.

3. ESTÁGIOS DA ADOLESCÊNCIA

A adolescência pode ser dividida em inicial (10 a 13 anos), média (14 a 16 anos) e
final (17 a 20 anos).
A adolescência inicial é caracterizada pela redução do interesse em realizar ativi-
dades com seus pais ou responsáveis, diminuição ou flutuações de autoestima com
forte insegurança em relação à aparência, vínculos afetivos fortes com amigos do
mesmo sexo, desejo de privacidade, impulsividade e aumento do “mundo da fantasia”
com forte idealização da vida.
A adolescência média é reconhecida pelo crescimento dos conflitos com os pais
ou responsáveis, aceitação do corpo, comportamento e decisões definidos ou influen-
ciados de acordo com os valores dos grupos de amigos, início das atividades sexuais
e experimentação, desenvolvimento de um comportamento de risco e sensação de
onipotência.
A adolescência final é identificada pelo amadurecimento do adolescente e consequen-
te reaceitação e valorização dos valores parentais, aceitação das mudanças puberais,
importância reduzida aos valores dos pares, vocação realística e prática (redução do
idealismo e da fantasia), refinação dos valores sexuais, religiosos e morais, capacidade
de assumir e honrar compromissos, aceitação de seus limites. É um período caracte-
rizado pela adaptação à vida adulta que se iniciará.

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Mapa mental: estágios da adolescência

Afastamento Desejo de
Impulsividade 10 a 13 anos
dos pais privacidade 10 a 20 anos
OMS
incompletos

Problemas de
autoestima 12 a 18 anos
ECA
incompletos
Adolescência
Vículos inicial
afetivos com Puberdade
amigos do Idealismo e Modificações Características
mesmo sexo fantasias físicas
Estágios Definição sexuais
secundárias

Conflitos com Crescimento


14 a 16 anos Capacidade
pais ponderal
reprodutiva

Adolescência ADOLESCÊNCIA
Atividades
sexuais e média Pensamento
experimentação lógico

Onipotência Raciocínio
Decisões Modificações Pensamento
operacional
influenciados mentais abstrato
formal
pelo grupo Aceitação do
corpo Pensamento
dedutivo
Adolescência
17 a 20 anos tardia
Desenvolvimento Flutuações de
da sexualidade humor
Valorização
dos valores Refinação de
parentais valores Desejo de
Síndrome da
Modificações experimentação
Adolescência
psicossociais
Vocação Capacidade normal
Amadurecimento realística e de assumir
Distanciamento
prática compromissos
dos pais

Hipervalorização
Invulnerabilidade
dos amigos

Mapa mental 1. Definição e estágios da adolescência.


Fonte: Elaborado pelo autor segundo informações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

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Se liga! O entendimento dos estágios da adolescência é de fun-
damental importância para reconhecer atrasos ou grandes discrepâncias no
desenvolvimento do adolescente e devem ser considerados na semiologia do
adolescente. Deve-se entender, todavia, que algumas características podem se
antecipar ou se manifestar de forma tardia, o que vai estar diretamente associado
à personalidade do adolescente, bem como ao ambiente externo que o influencia
(como família, amigos, condições socioeconômicas, religiões e espiritualidade).

4. A CONSULTA DO ADOLESCENTE

Anamnese
A primeira consulta do adolescente geralmente é feita com a presença dos pais e/
ou responsáveis. Isso ocorre porque algumas queixas ou informações importantes
de antecedentes pessoais e familiares são comunicadas de forma mais precisa pelos
pais/responsáveis. Apesar disso, é de fundamental importância reservar um momento
para conversar a sós com o adolescente.
No primeiro momento, quando os pais ou responsáveis estão presentes, alguns
aspectos devem ser coletados, seguindo os seguintes tópicos da anamnese:

1. Identificação: nome completo, idade, data de nascimento, orientação sexual, es-


colaridade, filiação, ocupação (se houver), raça/etnia/cor, religião, escolaridade,
naturalidade e procedência;
2. Queixa principal ou motivo da consulta: pode ser um sintoma físico ou sinais,
como “timidez acentuada”, “introspecção”, “redução no rendimento escolar” e afins;
3. História da doença atual: sinais e sintomas associados à queixa principal, início
e evolução do quadro clínico, fatores de piora e de melhora, fármacos ou outras
terapias utilizadas;
4. Interrogatório sintomatológico: revisão de sistemas de forma craniocaudal;
5. História patológica pregressa: doenças do período neonatal e da infância, doen-
ças infecciosas e contagiosas (como sarampo e rubéola), presença de alergias,
ocorrência de acidentes e submissão a cirurgias;

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6. Histórico gestacional: complicações gestacionais (como eclâmpsia, oligoidrâmnio
e descolamento prematuro da placenta), idade gestacional (parto a termo, prema-
turo ou pós-termo), comorbidades maternas (como diabetes mellitus gestacional,
HIV e doença hipertensiva específica da gravidez), parto normal ou cesáreo, teste
de Apgar 1 e 5, necessidade de reanimação neonatal, entre outros;
7. História fisiológica: menarca, pubarca, sexarca;
8. Hábitos alimentares: observar padrão alimentar (frequência, quantidade e qua-
lidade). Avaliar presença de sinais de alerta para transtornos alimentares, como
compulsão alimentar, anorexia nervosa, bulimia nervosa, sobrepeso e obesidade,
ortorexia, Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (Tare), entre outros;
9. Hábitos de vida: avaliar prática de exercícios físicos, sedentarismo, tabagismo
e etilismo;
10. Situação vacinal: verificar esquema de vacinação de rotina e os casos não va-
cinados ou incompletamente vacinados.

Se liga! Deve-se incluir na anamnese as condições de habitação do


adolescente e pesquisar cuidadosamente exposição a ambientes violentos, uso
excessivo de tecnologias e redes sociais. Perguntas sobre qualidade do sono,
lazer e cultura, religião e espiritualidade não devem ficar de fora!

O segundo momento da anamnese ocorre quando o médico está a sós com o ado-
lescente. É um momento rico e de extrema importância para a expressão do paciente.
Nessa etapa, deve se permitir que o adolescente fale à vontade sobre os tópicos le-
vantados pelo médico. Esses tópicos são: autoestima e percepção corporal, vínculos
afetivos e relacionamentos, potenciais situações de risco e/ou vulnerabilidade, sexu-
alidade, crenças, percepções acerca de ambientes, como escola, igreja, lar, trabalho e
afins, uso de álcool, drogas ilícitas, cigarro e/ou narguilés.
Nesse momento, deve-se orientar o adolescente acerca dos hábitos de vida e das
formas de prevenção de ISTs e gravidez, apresentando os métodos anticoncepcionais,
seus riscos, indicações, contraindicações e efeitos colaterais.

Se liga! Deve-se cancelar o atendimento a sós com o paciente em casos


de: adolescentes com déficits intelectuais e incapacitantes, transtornos psiquiátri-
cos graves, ou adolescentes que não desejam ficar sozinhos durante a consulta.

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O vínculo médico-paciente é um desafio dentro da consulta do adolescente, de-
vendo o profissional médico utilizar-se de ferramentas de comunicação e escuta para
desenvolver essa relação e conquistar a confiança do adolescente. Assim, este se
sentirá confortável e seguro para exprimir suas queixas, dúvidas e demais demandas,
reconhecendo o consultório como um espaço livre de julgamentos e preconceitos.

Saiba mais! O sigilo médico é direito do adoles-


cente! O Código de Ética Médica em sua resolução CFM n° 2217,
de 27 de setembro de 2018, determina que é vedado ao médico:
Art. 74 - Revelar sigilo profissional relacionado a paciente criança ou adolescente,
desde que estes tenham capacidade de discernimento, inclusive a seus pais ou re-
presentantes legais, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente.
O médico deve saber identificar as situações em que o sigilo deve ser mantido
ou quebrado legalmente durante uma consulta à adolescente.

O último momento da anamnese ocorre apenas com os pais e/ou responsáveis e des-
tina-se às situações que impliquem o manejo de conflitos e violência ou vulnerabilidade.
Esse momento é utilizado, ainda, para discutir as hipóteses diagnósticas e condutas.

Abordagem HEEADSSS
A abordagem HEEADSSS é um método de triagem psicossocial do adolescente.
Inicialmente, o método proposto por Dr. Harvey Berman, em 1971, era conhecido por
HEADSS. Em 1988, o método foi refinado por Dr. Eric Cohen e Dr. John M. Goldenring.
No ano de 2004, uma nova atualização, feita por Goldenring e pelo Dr. David S. Rosen,
acrescentou duas áreas de análise e, então, a sigla foi consolidada como HEEADSSS.
Cada letra da sigla determina uma das áreas a serem avaliadas na anamnese do
adolescente:

• H (home): lar;
• E (education/employment): educação/emprego;
• E (eating disorders): transtornos alimentares;
• A (activities): atividades com outros adolescentes;
• D (drugs): drogas e álcool;
• S (sexuality): sexualidade;
• S (safe): segurança e violência;
• S (suicide/depression): suicídio e depressão.

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• Com quem você mora?
HOME (LAR/MORADIA) • O ambiente é calmo? Agitado?
• Quem briga mais na sua casa?

• Você estuda em que ano, atualmente?


EDUCATION/EMPLOYMENT
• Qual é o seu trabalho? Qual é o horário do seu trabalho>
(EDUCAÇÃO/EMPREGO)
• Existe algo que interfira em seus estudos?

• Como é sua alimentação? Você já fez dieta?


EATING DISORDERS
• Você gosta do seu corpo?
(TRANSTORNOS ALIMENTARES)
• Você está contente com o seu peso?

• Quais suas formas de lazer?


• O que você faz nos tempos livres?
ACTIVITIES (ATIVIDADES)
• Você sai com seus amigos?
• Quem são seus amigos?

• Você bebe? Com que frequência? Qual é a quantidade?


DRUGS (DROGAS) • Você fuma ou já fumou?
• Você já experimentou alguma droga?

• Você já teve algum relacionamento?


• Você namora?
SEXUALITY (SEXUALIDADE)
• Você já teve relações sexuais? Com pessoas do mesmo sexo
ou de sexo diferente?

• Você já foi vítima de bullying?


• Você já foi agressivo com alguém?
SAFE (SEGURANÇA E VIOLÊNCIA)
• Como é seu ambiente escolar? Você se sente vulnerável ou em
risco?

• Você se sente triste? Como você lida com a tristeza?


SUICIDE/DEPRESSION
• Você já desejou se machucar? Já se machucou?
(SUICÍDIO E DEPRESSÃO)
• Você já desejou perder a vida? Você já tentou tirar a própria vida?

Quadro 1. Abordagem HEEADSSS e perguntas para avaliação de suas áreas.


Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de HEEADSSS 3.0 Contemporary Pediatrics, January 2014.

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Mapa mental: anamnese do adolescente

Lar HOME Situação


vacinal
Educação/ EDUCATION/
Emprego EMPLOYMENT Sinais e sintomas associados

História da
Fatores de piora ou melhora
Transtornos EATING Doença Atual
alimentares DISORDERS
Início e evolução

Atividades ACTIVITIES
Abordagem Identificação
HEEADSSS
Drogas e alcool DRUGS Doenças infecto-contagiosas

História Alergias Sarampo


Sexualidade SEXUALITY Patológica
Pregressa Cirurgias Rubéola
SEMIOLOGIA DO
Segurança e
violência
SAFE ADOLESCENTE Acidentes
ANAMNESE Presença
Suicídio e SUICIDE/ dos pais/
depressão DEPRESSION responsáveis Comorbidades maternas
Primeiro
momento Complicações gestacionais

Histórico
Idade gestacional
gestacional
A sós com o Segundo Terceiro
adolescente momento momento Teste de Apgar

Queixa Características do parto


Autoestima Principal
A sós com
os pais/ Menarca
Relacionamentos
responsáveis
História
Pubarca
Fisiológica
Situações de risco
e vulnerabilidade AVALIAR
Sexarca
Manejo de
Discutir
conflitos e
Crenças hipóteses Interrogatório
situações
diagnósticas e Sintomatológico
de risco/
conduta
vulnerabilidade
Sexualidade Anorexia

Transtornos
Hábitos de vida Bulimia
Uso de drogas e alimentares
álcool Compulsão
Alimentar
Mapa mental 2. Anamnese do adolescente e abordagem HEADSSS.
Fonte: Elaborado pelo autor segundo informações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

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5. EXAME FÍSICO

O exame físico é uma etapa fundamental dentro da semiologia e busca conectar


os achados físicos às questões abordadas durante a anamnese. Sua realização deve
ser, preferencialmente, em sentido craniocaudal para que nenhum sistema ou apare-
lho seja esquecido. O médico deve avaliar todos os sistemas, ainda que não estejam
relacionados à queixa principal, para identificar alterações que não foram percebidas
ou descritas pelo adolescente.
O exame físico pode ter alto valor educacional, servindo como momento de orienta-
ções ao adolescente, como autoavaliação das genitais e pilificação excessiva.

Dicas importantes
Antes de realizar o exame físico do adolescente, o médico deve garantir um ambiente
confortável e sigiloso, evitar exposições desnecessárias (manter, sempre que possível,
o adolescente vestido durante o exame) e deixar o exame genital para o final e apenas
com a permissão do adolescente. O exame físico deve sempre ser supervisionado por
outro adulto, seja o pai, a mãe, o responsável legal ou outro médico. O médico deve
explicar ao adolescente quais procedimentos serão realizados e o porquê.

Roteiro do exame físico


O médico deve realizar:

• Inspeção geral: verificar se o paciente está em bom estado geral, hidratado, eup-
neico, normocorado, anictérico e acianótico;
• Avaliação antropométrica: curvas de crescimento (podem ser organizadas em
percentil e/ou escore z) e cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC);
• Aferição da Pressão Arterial (PA): pode ser feita uma vez por ano. Algumas curvas
de PA por idade podem ser utilizadas como ferramenta de avaliação a longo prazo;
• Avaliação da acuidade visual: pode ser feita pela tabela de Snellen;

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Figura 2. Tabela de Snellen para exame de acuidade visual.
Fonte: Vectorzz/shutterstock.com.

• Exame da tireoide e cavidade oral: pode ser feito pela inspeção e palpação
detalhados;
• Otoscopia;
• Avaliação musculoesquelética: é realizada para avaliar a existência de escoliose;
• Exame neurológio: avaliar nível de consciência (pode ser feito pela Escala de
Glasgow), realizar Miniexame do Estado Mental, avaliar os pares cranianos e os
nervos motores e sensitivos (testes de coordenação e equilíbrio), avaliar a mar-
cha, a motricidade e os reflexos (como o reflexo patelar). Testes de sensibilidade
também devem ser realizados;
• Avaliação puberal: deve ser a última etapa do exame físico, ocorrendo apenas
após o consentimento do adolescente.

Curiosidade! Caso o adolescente se recuse a realizar o exame


puberal, o médico pode dispor de alternativas que evitem a exposição do paciente,
a partir de ferramentas visuais que utilizem os critérios de Tanner. Dessa forma,
o paciente pode ver as etapas do estadiamento puberal em uma imagem e deter-
minar em qual estágio de desenvolvimento puberal ele se enquadra.

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Antropometria
Durante a adolescência, ocorre o fenômeno de estirão puberal em que as meninas
tendem a crescer entre 8 e 9 centímetros por ano e os meninos tendem a crescer entre
10 e 11 centímetros. Além disso, a adolescência pode acompanhar um processo de
ganho de peso, por alto consumo de alimentos calóricos e sedentarismo. Devido a isso,
é de extrema importância realizar a avaliação antropométrica para avaliar o peso para
a idade, o peso para a estatura, o IMC e a estatura para a idade.

Figura 3. Gráfico de estatura por idade de 10 a 19 anos (escores-z).


Fonte: Ministério da Saúde, 2018.

VALORES CRÍTICOS DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL

≥ Escore-z -2 Estatura adequada para a idade

≥ Escore-z -3 e < Escore-z -2 Baixa estatura para a idade

< Escore-z -3 Muito baixa estatura para a idade

Quadro 2. Valores críticos de estatura por idade para diagnóstico nutricional.


Fonte: Ministério da Saúde, 2018.

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Figura 4. Gráfico de IMC por idade de 10 a 19 anos (escores-z).
Fonte: Ministério da Saúde, 2018.

VALORES CRÍTICOS DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL

> Escore-z +2 Obesidade

> Escore-z +1 e < Escore-z +2 Sobrepeso

> Escore-z -2 e < Escore-z +1 Eutrofia

> Escore-z -3 e < Escore-z -2 Magreza

< Escore-z -3 Magreza acentuada

Quadro 3. Valores críticos de IMC por idade para diagnóstico nutricional.


Fonte: Ministério da Saúde, 2018.

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6. AVALIAÇÃO PUBERAL

A avaliação puberal busca acompanhar a puberdade de acordo com os Estágios


de Marshall e Tanner. Para isso, são examinados os “PMG”: pelos pubianos, mamas e
genital masculino.

Avaliação dos pelos pubianos


No sexo feminino, o estadiamento dos pelos pubianos evolui de P1 a P5:

• Estágio P1: fase pré-púbere. Há ausência de pelos pubianos;


• Estágio P2: pode ocorrer entre os 9 e 14 anos. Os pelos alongam-se e são macios
e mais pigmentados ao longo dos grandes lábios;
• Estágio P3: pode ocorrer entre os 10 e 14,5 anos. Os pelos escurecem e ficam
mais ásperos sobre o púbis;
• Estágio P4: pode ocorrer entre 11 e 15 anos. A pelugem é do tipo adulto, porém
a extensão é menor;
• Estágio P5: pode ocorrer entre 12 e 16,5 anos. A pelugem é do tipo adulto e es-
tende-se por todo o púbis e a virilha.

No sexo masculino, o estadiamento dos pelos pubianos evolui de P1 a P5:

• Estágio P1: fase pré-púbere. Há ausência de pelos pubianos;


• Estágio P2: pode ocorrer entre os 11 e 15,5 anos. Os pelos alongam-se e são
macios e mais pigmentados ao longo da base do pênis;
• Estágio P3: pode ocorrer entre os 11,5 e 16 anos. Os pelos escurecem e ficam
mais ásperos sobre o púbis;
• Estágio P4: pode ocorrer entre 12 e 16,5 anos. A pelugem é do tipo adulto, porém
a extensão é menor;
• Estágio P5: pode ocorrer entre 15 e 17 anos. A pelugem é do tipo adulto e esten-
de-se até a face interna das coxas.

Avaliação das mamas


No sexo feminino, a avaliação das mamas evolui de M1 a M5:
• Estágio M1: fase pré-púbere. Mama infantil;
• Estágio M2: pode ocorrer entre os 8 e 13 anos. Broto mamário, elevação da mama
e aréola com pequeno montículo;

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• Estágio M3: pode ocorrer entre os 10 e 14 anos. Aumento da mama, sem sepa-
ração dos contornos;
• Estágio M4: pode ocorrer entre 11 e 15 anos. Aréola e papilas projetam-se, for-
mando o montículo secundário acima do contorno da mama;
• Estágio M5: pode ocorrer entre 13 e 18 anos: Fase adulta. Elevação somente nas
papilas.

Avaliação da genitália
No sexo masculino, a avaliação da genitália evolui de G1 a G5. O orquidômetro de
Prader deve ser utilizado para mensuração do volume testicular.
• Estágio G1: fase pré-púbere. Genitália infantil. O volume do testículo é de 1 a 3 ml;
• Estágio G2: pode ocorrer entre os 10 e 13,5 anos. A bolsa escrotal e os testículos
crescem. O volume do testículo é de pelo menos 4 ml;
• Estágio G3: pode ocorrer entre os 10,5 e 15 anos. O pênis cresce em toda a sua
extensão. O volume do testículo é de 5 a 10 ml;
• Estágio G4: pode ocorrer entre 11,5 e 16 anos. O pênis e a glande aumentam em
diâmetro, os testículos e o escroto crescem e as suas peles escurecem. O volume
do testículo é entre 12 ml;
• Estágio G5: pode ocorrer entre 12,5 e 17 anos. Pênis tipo adulto. O volume do
testículo é de 15 a 25ml.
O atraso puberal é considerado quando há ausência de caracteres sexuais secun-
dários em meninas com 13 anos ou mais e em meninos a partir de 14 anos.

Figura 5. Estágios de maturação sexual das mamas, dos pelos pubia-


nos e das genitálias segundo os Critérios de Marshall e Tanner.
Fonte: Acervo Sanar.

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7. AVALIAÇÃO MUSCULOESQUELÉTICA

O aparecimento de escoliose na adolescência é muito comum e esta pode ser lombar,


torácica, toracolombar e combinada. Por isso, algumas manobras semiológicas devem
ser utilizadas para a sua avaliação. Inicialmente, deve-se fazer a inspeção estática
(com o paciente em posição ortostática e sem camiseta) para pesquisar assimetrias.
Em seguida, é realizada a inspeção dinâmica com o teste de inclinação de Adams (o
médico fica atrás do paciente e pede que ele encoste as mãos na frente de seu próprio
corpo. Escoliômetros podem ser utilizados para avaliar o grau da escoliose).

Coluna saudável Escoliose lombar Escoliose torácica Escoliose Esco


toracolombar comb

Escoliose lombar Escoliose torácica Escoliose Escoliose


toracolombar combinada.

Figura 6. Tipos de escoliose.


Fonte: artbesouro/shutterstock.com.

Semiologia do adolescente 17
Mapa mental: exame físico do adolescente

Pelos pubianos P1 a P5
Tabela de Acuidade
Snellen visual Mamas M1 a M5
Critérios de
Exame da Genitálias G1 a G5
tireoide e Marshal e
cavidade oral Tanner
Atraso no
Ausência de caracteres
Exame desenvolvimento
secundários
neurológico Avaliação puberal
geral
Otoscopia
Meninas a Meninos a
partir de 13 partir de 14
Aferição de PA anos anos

SEMIOLOGIA DO Avaliação
Inspeção geral ADOLESCENTE Última etapa do
puberal exame físico
EXAME FÍSICO

Avaliação
musculoes- Dicas Ambiente
confortável
queletica Avaliação
Posição Inspeção antropométrica
ortostática estática Evitar exposição
do paciente
Estirão Sobrepeso/ Pais ou
Teste de Inspeção puberal obesidade responsáveis
inclinação de dinâmica Supervisão de
Adams adulto
Segundo
Curvas de Cálculo de IMC médico
crescimento para idade
Teste de Avalia
inclinação de ocorrência de
Adams escoliose

Percentil Escore-z

Mapa mental 3. Exame físico do adolescente.


Fonte: Elaborado pelo autor segundo informações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

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REFERÊNCIAS
Bickley LS. Propedêutica médica. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005.
Campos JDB, Burns D, Lopez FA. (orgs). Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira
de Pediatria. 4 ed. São Paulo: Manole; 2017.
Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Orientações básicas de atenção integral à saúde de ado-
lescentes nas escolas e unidades básicas de saúde / Ministério da Saúde, Secretaria
de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. 1. ed., 1
reimpr. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013. 48 p.: il. Disponível em: https://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacao_basica_saude_adolescente.pdf.
Acesso em: 18 abr. 2023.
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Departamento científico de adolescência. Manual
de orientação. Consulta do adolescente: abordagem clínica, orientações éticas e legais
como instrumentos ao pediatra. Rio de Janeiro: SBP, 2019. Disponível em: https://www.
sbp.com.br/fileadmin/user_upload/21512c-MO_-_ConsultaAdolescente_-_abordClini-
ca_orientEticas.pdf. Acesso em: 18 abr. 2023.

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