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Filosofia da

Educação

Licenciatura em Letras
Prof. Thiago Fonseca
IFSP - Cubatão
Aula 1
Filosofia a partir de problemas
Capítulo 1: A filosofia na formação do educador

“A filosofia da educação entendida como reflexão sobre


os problemas que surgem nas atividades educacionais,
seu significado e função”.

Palavras-chave
Capítulo 1: A filosofia na formação do educador

1. O que é “problema”?
a. Não é uma simples questão/pergunta (“quantos
anos você tem?”); não é necessariamente uma
questão/pergunta complexa (“quantos
segundos você já viveu?”). Nesses casos, já se
sabe a resposta ou já se tem o instrumento para
nela chegar.
Capítulo 1: A filosofia na formação do educador

b. Não é somente uma incógnita, um mistério,


algo desconhecido (“Quais os nomes das luas
no sistema solar?”). Inclusive, em muitos casos,
não saber é a solução de uma questão, como,
por exemplo, a fé, que aceita o mistério, o
desconhecido ou mesmo o incognoscível.
“Os últimos séculos da história europeia abusaram
levianamente da denominação “problema”;
qualificando assim toda pergunta, o homem moderno,
e principalmente a partir do último século, habituou-se
a viver tranquilamente entre problemas, distraído do
dramatismo de uma situação quando esta se torna
problemática, isto é, quando não se pode estar nela e
por isso exige uma solução”.
(Julián Marías, apud Saviani, p. 16).
Capítulo 1: A filosofia na formação do educador

“Se o problema deixou de ser problemático, cumpre,


então, recuperar a problematicidade do problema” (p.
16).
Existência > Problema > Reflexão
A apreensão do problema precisa ser concreta, precisa
capturar a essência.
Capítulo 1: A filosofia na formação do educador

Concreto: A palavra concreto deriva do latim


concrescere, que significa “formar-se ou crescer por
agregação, condensar-se” (dicio.com.br).
Capítulo 1: A filosofia na formação do educador

“A essência é um produto do modo pelo qual o homem


produz sua própria existência. Quando o homem
considera as manifestações de sua própria existência
como algo desligado dela, ou seja, como algo
independente do processo que as produziu, ele está
vivendo no mundo da ‘pseudoconcreticidade” (p. 16).
Capítulo 1: A filosofia na formação do educador

Qual é, então, a essência do problema?


“No processo de produção de sua própria existência, o
homem defronta-se com situações ineludíveis, isto é:
enfrenta necessidades de cuja satisfação depende a
continuidade mesma da existência. (...)
A essência do problema é a necessidade. (...)
Uma questão cuja resposta se desconhece e se
necessita conhecer, eis aí um problema”. (p. 17)
Capítulo 1: A filosofia na formação do educador

Observações
Por existência, não se quer dizer somente subsistência.
Por necessidade, não se quer apontar apenas o caráter
subjetivo (“cada um com seus problemas”), mas também
o caráter objetivo, que é como o mundo está configurado
para que uma situação específica se apresente como
problema a um sujeito.
“Problema”, apesar do desgaste determinado pelo uso
excessivo do termo, possui um sentido profundamente vital
e altamente dramático para a existência humana, pois
indica uma situação de impasse. Trata-se de uma
necessidade que se impõe objetivamente e que é assumida
subjetivamente. O enfrentamento, pelo homem, dos
problemas que a realidade apresenta, eis aí o que é a
filosofia. (...) Ao desafio da realidade, representado pelo
problema, o homem responde com a reflexão”. (p. 19)
Capítulo 1: A filosofia na formação do educador

2. O que é “reflexão”?
Do latim re flectere, dobrar para trás; com o pensamento,
é dobrar o pensamento para trás, re-pensar, pensar
sobre o pensamento.
Toda reflexão é pensamento, mas nem todo
pensamento é reflexão: “esta é um pensamento
consciente de si mesmo, capa de avaliar-se, de verificar
o grau de adequação que mantém com os dados
objetivos, de medir-se com o real”. (p. 20).
A reflexão Radicalidade
filosófica Rigor
3 características
inseparáveis entre si Globalidade
Radicalidade
A reflexão é radical quando vai à raiz dos problemas, ou
seja, não pára na superfície do fenômeno e vai atrás do
fundamento.
Rigor
A reflexão é rigorosa quando é feita com método e
sistematicidade, indo além de respostas imediatistas ou
aleatórias.
Globalidade
A reflexão é global ou de conjunto quando não se abstrai o
fenômeno de outras elementos que o compõem, como o
seu contexto. É o que garante a compreensão do que há
de concreto do problema.
Abstrato: a palavra abstrair vem do latim abstrahere, que
significa “retirar”, “extrair” ou “distanciar”. (dicio.com.br)
O aprofundamento na compreensão dos
fenômenos liga-se a uma concepção
geral da realidade, exigindo uma
reinterpretação global do modo de
pensar essa realidade. (p. 22)
Capítulo 1: A filosofia na formação do educador

3. O que é “filosofia da educação”?


“Uma reflexão (radical, rigorosa e de conjunto) sobre os
problemas que a realidade educacional apresenta” (p.
24).
Capítulo 1: A filosofia na formação do educador

Observação
Essa definição vale quando estamos falando de uma
atitude. Quando nos deparamos com uma “filosofia
pronta”, ela pode ser só um instrumento ou o senso
comum se não estiver relacionada com problemas. Por
exemplo: a filosofia da educação do governo de São
Paulo. Aí a expressão pode significar “receituário”. Há
uma dinâmica entre essa filosofia pronta e a que resulta
da reflexão na hora de pensar os problemas.
Problemas que a realidade
educacional apresenta
Professores abandonam a sala de aula
Gizele dos Anjos, 40 anos, é um caso em que o adoecimento
mental levou a decidir por deixar de ser professora depois de
16 anos de atuação na rede. Desde maio deste ano, ela está de
licença médica. A cada dois meses, vai à consulta, que a
encaminha a um perito para renovar o afastamento por mais
60 dias: “Essa escola me fez chegar ao fundo do poço”, contou.
Enquanto isso, faz cursos de vendas na internet, pois não quer
mais estar em sala de aula. A professora relata que
desenvolveu síndrome do pânico, depressão grave e teve
ideação suicida depois de ter sofrido assédio moral por parte
da direção da escola, em Niterói.
Professores abandonam a sala de aula
O ano de 2018, que registrou pico de exoneração, também foi
quando Rafael Navarro Costa, de 41 anos, desistiu da rede
após oito anos de desgaste. Ele contou que sempre quis ser
professor de história, mas a direção estava preocupada
apenas com metas: “As condições estruturais das escolas, em
sua maioria, são péssimas. Não havia a possibilidade de usar
espaços como sala de informática, biblioteca. Você fica
limitado ao quadro, a poucos recursos tecnológicos que, na
maioria das vezes, dependem do seu próprio equipamento”,
desabafou.
Professores abandonam a sala de aula
Já Romã Neptune, 35 anos, e Giovanna Antonaci, 37, preferem continuar
enquanto não aparece uma oportunidade melhor na área fora da rede. Ambas têm
dez anos de estado. Neptune lecionando sociologia enquanto Antonaci ensina
história. A primeira dá aula no Largo do Machado, na Zona Sul do Rio, e critica
fortemente as condições de trabalho, como a falta de água frequente e de
ar-condicionado: “Não tem um dia que eu não pense em desistir, obviamente”.
Enquanto isso, a professora de história ensina em Belford Roxo, na Baixada
Fluminense, e lamenta mais o valor do salário: “O meu único motivo para querer
sair da rede estadual é financeiro. Eu adoro dar aula, adoro a educação pública,
acredito de verdade nela como elemento formador e revolucionário para a classe
trabalhadora”, analisa Antonaci, que está prestando concursos para nível médio.
Apagão de professores
O futuro da educação básica está ameaçado pela falta de professores. Ao menos
58% dos alunos de cursos de licenciatura, destinados à formação docente,
abandonaram a universidade antes de receber o diploma, revela o Censo da
Educação Superior de 2022, o mais recente levantamento sobre o tema divulgado
pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o
Inep, vinculado ao Ministério da Educação. Esta é a maior taxa de desistência da
década. Se a tendência persistir, em apenas 15 anos o País não terá profissionais
suficientes para lecionar na educação básica. O apagão revela-se ainda mais grave
no segundo ciclo do ensino fundamental e no ensino médio, cujos alunos mais
pobres passarão a receber uma bolsa-permanência criada pelo governo Lula. E
também em áreas do conhecimento específicas, como física, matemática e
química.
Apagão de professores
Em um país no qual o acesso ao ensino superior ainda é um privilégio para poucos,
chama atenção o fato de sobrarem cadeiras vazias nos cursos de licenciatura. Nas
universidades públicas, 26,4% das vagas estão ociosas, porcentual que atinge
32,45% nas instituições privadas – um claro sintoma do desprestígio da carreira
docente no Brasil.
Apagão de professores
“Os profissionais mais experientes não veem a hora de se aposentar, e muitos
novatos pulam fora do barco por não enxergar boas perspectivas em trabalho tão
massacrante como é hoje o magistério no País”, lamenta Afonso Celso Teixeira,
secretário-geral do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro,
Sinpro-Rio. O problema não são apenas os baixos salários, algo que acabou
naturalizado pela sociedade brasileira. “O professor costuma trabalhar das 7h30
às 17h30. Em muitos casos, estende a jornada até as 22 horas. Isso, só em sala de
aula. É uma rotina extenuante.”
Apagão de professores
Aumento nas demandas dos profissionais (EaD, por exemplo)

Precarização na formação (EaD, por exemplo)

Afastamento por estafa, pânico, depressão, ansiedade

Precarização nos contratos (categoria O, por exemplo)


Apagão de professores
O presidente da CNTE [Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação] acredita, porém, ser possível
reverter esse quadro e valorizar a carreira docente, desde que
haja vontade política. Para isso, o primeiro passo deve ser a
ampliação dos concursos públicos. “Todo o quadro de pessoal
dentro da escola precisa ser concursado, do porteiro ao
diretor da escola. Isso é fundamental para garantir a
estabilidade desses profissionais e atrair o interesse dos mais
jovens.”

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