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A GESTÃO DO TRABALHADOR E O MARXISMO

1. Introdução
Se o socialismo quiser sobreviver, ele deve superar sua
agorafobia congênita – que significa, literalmente,
‘medo de mercados’. Tem que aprender a habitar
sistemas e espaços abertos.—Hodgson (1999: 61)

A queda das experiências socialistas centralmente planejadas do


século XX é, muitas vezes, invocada como uma evidência da derrota do
marxismo – mais especificamente do socialismo – e da vitória do capitalismo
liberal. Mas isso está longe de ser aceito. Desde o surgimento de um artigo
seminal de Benjamin Ward, em 1958, os economistas vêm teorizando um
sistema de firmas geridas por trabalhadores como uma possível alternativa
ao capitalismo, e a viabilidade desse sistema pode justificar a afirmação de
que Marx, ao contrário do que aconteceu no século passado, teria seu nome
não mais associado a um sistema burocrático opressivo, mas democrático e
participativo (Bensaïd, 2002: XI).
É bem conhecido que Marx não forneceu qualquer escrito detalhado
sobre a futura sociedade pós-capitalista, mas é possível fazer uma construção
hermenêutica com bases em trechos e fragmentos, ou até mesmo com base
em suas críticas negativas ao capitalismo (Lavoie, 1985: cap. 2). Baseando-
se no primeiro método, entretanto, a autogestão em seu sentido mais amplo
pode ser vista como a base estrutural de uma sociedade socialista em termos
econômicos, políticos e culturais em Marx (Elliott, 1987). Em outras
palavras, a gestão do trabalho pode ser o melhor esquema organizacional
possível para uma transição do capitalismo para o comunismo em sua
configuração teórica original, se caso for possível (Jossa e Cuomo, 1997).
Como Marx descreveu o fim do capitalismo como o ponto de partida para a
criação de uma economia verdadeiramente democrática na qual as
preferências individuais e dos consumidores receberiam a mesma atenção
que na teoria neoclássica, parece claro que ele era a favor de um sistema de
empresas cooperativas como a forma organizacional para a ordem social de
transição, embora com suas evidentes limitações.
Apesar disso, é importante esclarecer que a questão aqui não é o
pensamento marxiano original, mas o básico de uma nova visão ou
interpretação do marxismo. Eu sei que muitos marxistas se opõem a um
sistema em que as firmas concorrem nos mercados por ser incompatível com
a abordagem geral de Marx à revolução. Porém, acredito que o método de
Marx eliminou as limitações dos sistemas padrões, de definições rígidas de
conceitos que são inaplicáveis. Os princípios marxistas da investigação são
flexíveis, adaptáveis, sempre modernos. Não é algo que pode ser aprendido
memorizando citações e formulações de livros densos. Pode ser dominado
apenas pelo “estudo crítico das condições e resultados gerais da evolução
social real” (Marx, 1955), e certamente não pela repetição das palavras de
um mentor, mas repetindo – por assim dizer – uma atitude ativa em relação
ao mundo em que atuamos. Sendo assim, através dos pontos de partidas e
insight que Marx nos deu de uma suposta sociedade socialista, devemos
sempre adaptar nossas teorias sobre ela, eliminando e corrigindo os erros,
buscando uma solução sempre viável, que contribua para a libertação da
classe operária e o controle de suas próprias condições e atividades.
Se o marxismo é uma teoria da revolução, todas as questões
associadas devem ser abordadas com um olhar atento sobre uma revolução
praticável e com ênfase nas formas e meios de enfrentar e, se possível,
resolver as contradições do capitalismo. E a melhor maneira de sair do atual
impasse é voltar nossa atenção para um sistema de cooperativas de
produtores autogeridos. No momento em que aceitamos a ideia de que um
sistema de cooperativas de produtores é a verdadeira base de uma ordem
socialista, perceberemos que a diferente perspectiva que essa nova teoria
reflete sobre o Marxismo exige um novo esforço de teorização. Nesse
sentido, o objetivo deste texto é oferecer sugestões para algumas novas ideias
sobre o marxismo que fluem da opinião de que a verdadeira base do
socialismo não é o planejamento centralizado, mas a gestão do trabalhador.

2. A firma gerida por trabalhador e o movimento


cooperativo
Na teoria econômica da cooperativas de produtores usa-se a chamada
LMF, abreviação de Labour-managed Firm (Firmas gerida por
trabalhadores) (Vanek, 1971a; 1971b), como uma firma de referência,
especialmente nas análises microeconômicas. Porém, sua popularidade
inicial na literatura mainstream e neoclássica se deu com o artigo seminal de
Benjamin Ward (1958); depois passando por Evsey Domar (1966),
Branko Horvat (1967; 1986) e, então, com economistas mais notáveis,
como James Meade (1972; 1979), Jacques Drèze (1976; 1985; 1989) e
Saul Estrin (2008; 2012 cap. 11). A LMF é, no geral, uma firma onde o
controle sobre a produção e as decisões microeconômicas básicas repousam
sobre os próprios trabalhadores enquanto trabalhadores por meio de votos
democráticos de eleições gerenciais. Os detalhes técnicos de como isso deve
prosseguir vai variar de acordo com o teórico em questão. Bruno Jossa
(2012) fornece um resumo geral que considero útil para formar uma imagem
geral deste modelo organizacional:
(I) LMF’s são firma de propriedade social (ou dos próprios
trabalhadores em questão) cujos gerentes são eleitos pelos
membros da firma de acordo com os procedimentos
democráticos.
(II) As pessoas podem ser contratadas e demitidas livremente.
(III) Cada firma autogerida é livre para distribuir seu
excedente para os membros ou mantê-lo para acumulação de
capital.
(IV) Dada a proibição da emissão de ações, as LMF levantam
recursos de capital através da contratação de empréstimos com
bancos ou outras instituições de crédito ou pela emissão de
títulos que podem ser livremente colocados no mercado.
(V) A divisão do trabalho ainda é aplicável, mas como é
governada pelas decisões tomadas pelos trabalhadores em
firmas individuais, será menos rigorosa do que nas firmas
capitalistas, onde é enquadrada pelos capitalistas.
(VI) O juros que os detentores de títulos, os “capitalistas” deste
sistema, pagam em seus empréstimos é determinado de acordo
com os métodos consistentes com a teoria ortodoxa.
(VII) Até mesmo as empresas financeiras podem ser
autogeridas pelos trabalhadores.
(VIII) Na abordagem de padrão de Ward e Vanek, as LMFs
tendem a maximizar a renda média dos membros; por outro
lado, em outras abordagens teóricas, diz-se, apropriadamente,
que o objetivo de uma LMF é maximizar os benefícios de todo
tipo para os membros através de resoluções majoritárias da
firma, tais como a renda total.
(IX) O Estado é autorizado a intervir na economia com o
objetivo de reparar as disfunções do mercado em plena
conformidade com as regras que governam as democracias
parlamentares em geral.
(X) Tanto por uma questão de simplicidade quanto porque não
é fácil combinar mercados com planejamento, supõe-se que a
política pública não será planejada centralmente, mas
descentralizada para órgãos estaduais, municipais e etc.
Em suma, uma LMF pode ser denominada uma entidade cujos trabalhadores
contratam o capital, remuneram-no a uma taxa pré-fixada e repartem os
ganhos da firma entre si (ou acumulam para retornos maiores).
Marx estava ciente das potencialidades desse modelo organizacional.
Mesmo em seu contexto limitado, onde o movimento cooperativo ainda
estava ascendendo, Marx forneceu alguns comentários interessantes sobre
ele. No “Discurso Inaugural”, ele argumentou:
Mas, estava reservada uma vitória ainda maior da economia
política do trabalho sobre a economia política da propriedade.
Falamos do movimento cooperativo, especialmente, das
fábricas cooperativas erguidas pelos esforços, sem apoio, de
algumas ‘mãos’ ousadas. O valor destas grandes experiências
sociais não pode ser superestimado. Mostraram com fatos, em
vez de argumentos, que a produção em larga escala e de
acordo com os requisitos da ciência moderna pode ser
prosseguida sem a existência de uma classe de patrões
empregando uma classe de braços; que, para dar fruto, os
meios de trabalho não precisam de ser monopolizados como
meios de domínio sobre e de extorsão contra o próprio
trabalhador; e que, tal como o trabalho escravo, tal como o
trabalho servo, o trabalho assalariado não é senão uma forma
transitória e inferior, destinada a desaparecer ante o trabalho
associado desempenhando a sua tarefa com uma mão
voluntariosa, um espírito pronto e um coração alegre. (Marx,
1864: 759–60; ênfase minha)
Já no Volume III do Capital, também lemos:
As fábricas cooperativas dos próprios trabalhadores
são, dentro da antiga forma, a primeira ruptura do
modelo anterior, apesar de que, em sua organização
real, reproduzam e tenham de reproduzir por toda parte,
naturalmente, todos os defeitos do sistema existente. Mas
dentro dessas fábricas está suprassumido o
antagonismo entre capital e trabalho, ainda que, de
início, apenas na forma em que os trabalhadores, como
associação, sejam seus próprios capitalistas, isto é,
empreguem os meios de produção para valorizar seu
próprio trabalho. (Marx, 2017: 549–50; ênfase minha)
Ambas as citações são uma evidência de que Marx classificou um
sistema de cooperativas como um todo não apenas como viável (dentro dos
seus limites), mas também como promissor na história, como um possível
novo modelo de produção que eliminaria o trabalho assalariado e como um
sistema em que os meios de produção (o que os economistas ortodoxos
chamam de capital) não seriam mais usados para escravizar os trabalhadores
(veja Jossa, 2014).

3. A reversão da relação capital-trabalho


Decorrente de uma análise comparativa, podemos estabelecer dois
modelos de firma em contrastes: firmas capitalistas versus firmas
autogeridas. Na primeira, os capitalistas ou seus representantes contratam
trabalhadores, pagam-lhes uma renda fixa (a taxa salarial) e apropriam-se do
residual ou excedente do trabalho (que pode ou não ser convertido em lucro
da firma). Já na firma democrática, cooperativa ou autogerida, os
trabalhadores (ou seus representantes) “contratam” o capital (capitalistas),
remuneram-no a uma taxa fixa de juros e apropria-se do residual ou
excedente do próprio trabalho (para um diagrama adicionando a firma estatal
na comparação veja Horvat, 1979). Assim, é possível descrever as firmas
democráticas como entidades não-capitalistas que reverteram a típica
relação capital-trabalho dos sistemas capitalistas. Essa reversão é
desencadeada por dois fatores principais: (i) as decisões repousam sobre os
trabalhadores, em vez de sobre os capitalistas (como é a regra nas empresas
capitalistas); (ii) capitalistas e trabalhadores trocam de papéis, em termos de
que os capitalistas tomam o lugar dos trabalhadores como assalariados de
renda fixa e as rendas variáveis tradicionalmente associadas aos capitalistas
são conquistadas pelos membros das firmas democráticas. Como argumenta
Tronti, o único meio de “subverter a sociedade burguesa de dentro da
produção capitalista [é] reverter as relações de produção social dentro das
relações sociais nas fábricas” (Tronti, 1962: 24, 30).
Uma implicação importante dessa relação capital-trabalho revertida
é o direito dos trabalhadores de se apropriarem do que produzem. O poder
de gestão democrática nas firmas para reverter a relação capital-trabalho é
sustentado pelo fato de que os trabalhadores das cooperativas de produtores
literalmente trocam de papéis com os capitalistas e os limitam a um papel
subordinado. Tanto esta afirmação quanto a definição de Marx da oposição
capital-trabalho como a principal contradição no capitalismo podem explicar
a crença de que o estabelecimento de firmas autogeridas equivale a realizar
o socialismo, e a preocupação com as implicações que uma solução dos
conflitos entre capital e trabalho em uma economia de mercado pode ter para
a teoria marxista.

4. A teoria do valor-trabalho
Diante disso, como o preço da mercadoria é determinado em um
sistema de cooperativas de produtores que não usam trabalho assalariado e
cuja produção é apropriada pelos trabalhadores? A teoria do valor-trabalho
pode explicar o processo de precificação em um sistema de cooperativas de
produtores? Antes de responder esta questão, vale a pena mencionar que os
estudos comparativos de Drèze sobre economias capitalistas e geridas por
trabalhadores em contextos perfeitamente competitivos mostraram que os
preços de equilíbrio em ambos os sistemas seriam idênticos no longo prazo
(Drèze, 1976, 1985, 1989). Uma afirmação que é sustentada por Estrin em
seu manual de Microeconomia (2012, cap. 11).
Um dos efeitos das características organizacionais de um sistema de
cooperativas de produtores é que a força de trabalho não é mais uma
mercadoria por duas razões principais: (i) porque não são os capitalistas que
empregam trabalhadores, mas os trabalhadores que empregam capital; (ii)
porque os trabalhadores com habilidades específicas de produção são
remunerados de maneiras diferentes em firmas individuais (trabalho
concreto, não abstrato). Assim, a teoria do valor-trabalho (que mede tudo em
unidades de força de trabalho abstrato socialmente necessária) não se aplica
a um sistema de firmas do tipo LMF, porque nesse sistema a força de trabalho
não é tratada como uma mercadoria e, portanto, não têm valor: e mesmo
onde o valor da força de trabalho deve ser fixado em seu nível de
remuneração, a renda atribuída a determinadas categorias de trabalhadores
não tenderia a nivelar em pontos de equilíbrio subsequentes em firmas
individuais (Vanek, 1970, caps. 2–6). Em outras palavras, na abordagem de
Marx, é o contrato de emprego (a suposição para a existência de força de
trabalho contratado) que desencadeia a transformação do valor adiantado na
forma de dinheiro em capital (uma quantia adicional de valor), e isso explica
por que a teoria do valor-trabalho não explica como os preços são formados
em um sistema com firmas geridas por trabalhadores.
Além disso, a adequação da teoria do valor-trabalho para explicar os
preços em um sistema de firma gerida por trabalhadores também pode ser
negada por pelo menos um motivo adicional: os diferentes níveis de
remuneração de trabalhadores particularmente qualificados em firmas
individuais descartam a possibilidade de que o trabalho concreto seja
reduzido a trabalho abstrato. Em Marx, o trabalho abstrato é igualado ao
trabalho contratado como tal. Segundo Kozo Uno, é apenas no capitalismo
que o trabalho abstrato se transforma em trabalho gerador de valor
(Ishibashi, 1995, 48). Já Fineschi observou que, como em Grundrisse, “o
trabalho vivo de um trabalhador contratado é descrito como trabalho
abstrato ‘em formação’”, a base do trabalho abstrato é a “subsunção real do
trabalho sob o capital” (Fineschi, 2005: 245, 147; 2006, 99–103). Isso
reforça a afirmação de que a teoria do valor-trabalho, que está associada ao
trabalho abstrato, não se aplica a um sistema de firmas geridas por
trabalhadores, onde o trabalho contratado é algo estranho ao sistema
(Miconi, 1981, 163). Arthur (2009, 150) também argumentou que em Marx
o trabalho é reduzido a uma certa quantidade de trabalho abstrato quando há
controle do capital sobre o trabalho (Marx, 1861–63: vol. 30, 71, 93).

5. A exploração do trabalho e a firma gerida por


trabalhadores
Numa definição sútil de exploração do trabalho, é bem evidente que
ela é abolida em um sistema de firmas gerida por trabalhadores. A
exploração do trabalho ocorre, grosso modo, quando um não-produtor se
apropria do valor total ou parcial do produto produzido por produtor(es)
particular(es). Para entender porque não há exploração em um sistema de
firmas gerida por trabalhadores, é preciso entender o que é apropriação.
Stephen Resnick e Richard Wolff, por exemplo, definem apropriação
como significando “receber ... diretamente em suas mãos” (Resnick e
Wolff, 1987: 146). Sua definição pode ser expandida como “tornar-se o
primeiro detentor do título de um ativo”. Nessa definição, a apropriação não
ocorre como resultado de uma troca, pois durante a troca os direitos de
propriedade já-definidos são transferidos entre duas partes. Assim, a
apropriação e consequentemente a exploração vai se concentra em como o
processo de produção é organizado, e não o processo de troca (circulação) –
ou seja, a apropriação ocorre na produção. Falar de apropriação de todo o
produto refere-se a ser o primeiro possuidor de todo os produtos ou ativos
criados no processo de produção, bem como ser o possuidor final de todos
os passivos de insumos, especialmente o tempo de trabalho, consumidos no
processo de produção. Embora Marx aparentemente não ofereça uma
definição clara do conceito de apropriação, a noção de David Ellerman
(1992) é capaz de capturar duas características do processo de trabalho
capitalista que Marx notou serem particularmente importantes: que os
trabalhadores não possuem nenhum produto que seu trabalho cria em
conjunto e que os capitalistas são os proprietários finais do tempo de trabalho
dos trabalhadores (Marx, 1976: 291-2).
Oras, se o argumento da exploração diz que uma relação é
exploradora quando envolve a transferência sistemática do valor excedente
criado pelo trabalho para as mãos de não-trabalhadores-ativos, que é então
capaz de usá-lo para seus propósitos particulares, abolir a exploração
envolve acabar com a apropriação do trabalho excedente exclusivamente por
não-produtores, e Marx acreditava que isso poderia ser realizado por meio
da “abolição final do sistema de salários” para todos os trabalhadores
(Marx, 1965: 79). A conclusão de Marx se encaixa perfeitamente com a
defesa de Ellerman do que ele chama de autoemprego universal – a
contratação independente ou o trabalho em uma empresa democrática,
cooperativa e dirigida por trabalhadores – por meio da proibição do contrato
de salário por tempo de trabalho, com base que o trabalho assalariado é
incompatível com um suposto direito inalienável de autogoverno. Mas,
como ressalva Burczak (2017: cap. 26), a abolição do sistema de salários
faria mais do que acabar com a apropriação de trabalho excedente por não-
produtores; também proibiria a troca de salário por tempo de trabalho de
forma mais geral, o que encerraria a apropriação da responsabilidade pelo
tempo dos trabalhadores por uma parte contratante não-produtora.
Assim, com esta concepção de apropriação, uma forma de conceituar
o socialismo é como um sistema em que os trabalhadores se apropriam de
seu próprio produto do trabalho, em termos de possuir quaisquer mercadorias
que possam gerar com seus esforços e em termos de ser os proprietários
finais de seu tempo de trabalho. Entendido assim, é óbvio que o socialismo
seria compatível com um sistema de firmas geridas por trabalhadores
organizados de forma cooperativa, em que todos os trabalhadores (e apenas
os trabalhadores) da firma participassem do processo de produção e
apropriação. Um sistema de firmas cooperativas gerida por trabalhadores é
capaz de abolir a exploração do trabalho na medida em que os trabalhadores
tem controle sobre a produção e a apropriação, além de que, como já
mencionado, o sistema de trabalho assalariado é abolido. Vanek, por
exemplo, propôs uma emenda constitucional proibindo o aluguel de
humanos como um método de alcançar esse objetivo:
Sempre que as pessoas trabalham juntas em uma empresa
comum (qualquer que seja o seu número), são elas e somente
elas que se apropriam dos resultados de seu trabalho, sejam
eles positivos (produtos) ou negativos (custos e passivos), e que
controlam e administram democraticamente com base na
igualdade de voto ou peso as atividades de sua empresa. Esses
trabalhadores podem ou não ser proprietários dos bens de
capital com os quais trabalham, mas em qualquer caso, essa
propriedade não confere nenhum direito inalienável de
controle sobre a firma. (Vanek, 1996: 29)

6. Considerações Finais
Para finalizar, acredito que todos esses tópicos, além de outros
importantes que não foram tratados aqui (como a questão da alienação), são
muito mais complexos e mereceriam ser abordados em textos separados. No
entanto, deixo aqui essas reflexões metodológicas que oferecem pistas para
uma compreensão de como podemos repensar o marxismo à luz das
cooperativas de trabalhadores como ponto de partida para uma ação prática-
efetiva de libertação da exploração dos trabalhadores e da reivindicação da
responsabilidade de sua própria vida produtiva. Gostaria também de lembrar
que vários artigos foram traduzidos e feitos no meu blog sobre autogestão,
marxismo e firmas geridas por trabalhadores, que podem servir de
complemento para a leitura e de questões aparentemente sem justificações.
Esses textos estarão disponíveis nas referências. O livro de inspiração para
esse texto, que considero mais um editorial, foi “Producer Cooperatives as a
New Mode of Production” (2014) de Bruno Jossa.

Referências
Em breve!

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