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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS - UFPEL

Departamento de Economia - DECON

A escolha do consumidor sob


incerteza
Professor Rodrigo Nobre Fernandez

Pelotas
2015 1
Introdução

 A incerteza faz parte da vida, nos


arriscamos cada vez que tomamos uma
decisão;

 Há, porém, instituições financeiras como


os mercados de seguros e de ações que
podem mitigar pelo menos alguns destes
riscos;

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Introdução

 Verificaremos o comportamento individual


em relação às escolhas que envolvem
incerteza;

 A teoria padrão de escolha do


consumidor, pode ser utilizada da mesma
forma para entendermos como o indivíduo
faz suas escolhas com incerteza;

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1. Consumo contingente

 A pergunta que devemos fazer é: O que


está sendo escolhido?

O consumidor está supostamente


preocupado com a distribuição de
probabilidades de obter diferentes cestas
de bens;

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1. Consumo contingente

 O que o consumidor faz quando ele


decide o quanto em seguro de automóvel
comprar, ou quanto investir em mercado
de ações?

 Ele está na verdade decidindo sobre um


padrão de distribuição de probabilidades
sobre diferentes quantidades de consumo;

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1. Consumo contingente

 Suponha que você tenha R$ 100,00 e


esteja pensando em comprar um bilhete
com o número 10.

 Se este número for sorteado, você


ganhará R$ 200,00;

 O custo do bilhete é de R$ 5,00;


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1. Consumo contingente

 Sua dotação inicial é de R$ 100,00.

 Se você comprar o bilhete e for sorteado,


terá uma distribuição de riqueza de R$
295,00 ( R$ 100,00 + R$ 200,00 – R$
5,00);

 Se você não for sorteado, o valor da sua


distribuição de riqueza será de R$ 95,00; 7
1. Consumo contingente

 Agora descrevemos um caso de um


seguro.

 Suponha que você tenha R$ 35.000,00


em ativos, mas você possui uma
possibilidade de perda de R$ 10.000,00.

 Suponha que a probabilidade que isto


ocorra seja p = 0,01; 8
1. Consumo contingente

 Sua distribuição de probabilidades é de


1% de ter R$ 25.000,00 de ativos e de
99% de ter R$ 35.000,00;
 Um contrato de seguro paga R$ 100,00
caso ocorra alguma perda;
 O prêmio do seguro é de R$ 1,00;
 Se você decidir comprar R$ 10.000,00 em
seguro isto lhe custará R$ 100,00;
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1. Consumo contingente

 Neste caso você terá 1% de possibilidade


de ter R$ 34.900,00 ( U$ 35.000,00 de
ativos – R$ 10.000,00 de perdas + R$
10.000,00 de indenização – R$ 100,00
pagos pelo prêmio do seguro);

 E 99% de ter R$ 34.900,00 ( U$ 35.000,00


de ativos – R$ 100,00 pagos pelo prêmio
do seguro) ;
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1. Consumo contingente

 Em geral se você comprar R$K de seguro


e tiver que pagar um prêmio K , você se
deparará com a seguinte aposta:

 Probabilidade de 0,01 de obter:

R $ 25 .000 ,00  K   K
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1. Consumo contingente

 Probabilidade de 0,99 de obter:

R $ 35 .000 ,00   K

12
1. Consumo contingente

 Que tipo de seguro você comprará?

 Isto irá depender de quão conservador


você é, ou se você gosta de correr riscos;

 As pessoas possuem preferências


diferentes frente a distribuições de
probabilidades;
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1. Consumo contingente

 Podemos pensar em diferentes resultados


de um evento aleatório como diferentes
estados da natureza;

 Também podemos considerar o plano de


consumo contingente como uma
especificação do que seria consumido em
cada diferente estado da natureza;

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1. Consumo contingente

 Contingente significa depender de algo


que ainda não é certo;

 Descrevemos 2 estados sendo um ruim


(b) e outro bom (g). A dotação de
consumo contingente no estado ruim é de
R$ 25.000,00 e de R$ 35.000,00 no
estado bom.

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1. Consumo contingente

 O seguro oferece uma forma de sair deste


ponto de dotação:

C g K 
 
Cb K  K 1 

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1. Consumo contingente

Cg


Inclinação  
R$35.000
Dotação 1 

Escolha
35.000  K

Cb
R$25.000 R$25.000  K  K
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2. Funções de utilidade e probabilidade

 Em geral, o modo como uma pessoa


avalia o consumo num estado em
comparação a outro dependerá da
probabilidade de que ocorra o estado em
questão;

 As preferências de consumo em
diferentes estados da natureza
dependerão das crenças dos indivíduos;
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2. Funções de utilidade e probabilidade

 Se dois estados excluem-se mutuamente,


de modo que, apenas um possa ocorrer,
então:  2  1   1

 Dada esta notação podemos escrever a


nossa função de utilidade do consumo nos
estados 1 e 2 como: u ( c1 , c 2 , 1 ,  2 )

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3. Função de utilidade esperada

 Uma forma particularmente conveniente


que a função de utilidade pode adotar é a
seguinte:

u ( c1 , c 2 , 1 ,  2 )   1v ( c1 )   2 v ( c 2 )

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3. Função de utilidade esperada

 Isto diz que a utilidade pode ser escrita


como uma função do consumo em cada
estado v ( c1 ) e v ( c 2 )

 Por isto que nos referirmos a função de


utilidade esperada de forma particular
como uma função Neumann-Morgenstern.

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3. Função de utilidade esperada

 Na escolha sob condições de incerteza há


uma espécie de independência entre os
diferentes resultados;

 Estes resultados devem ser consumidos


de maneira separada – em diferentes
estados da natureza;

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3. Função de utilidade esperada

 Esta hipótese é conhecida como hipótese


de independência.

 Esta hipótese implica que a função de


utilidade do consumo contingente terá
uma estrutura muito especial: ela terá que
ser aditiva nas diferentes cestas de
consumo contingente;

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3. Função de utilidade esperada

u (c1 , c2, c3 )   1u (c1 )   2u (c2 )   3u (c3 )

U(c1, c2, c3) / c1


TMS12 
U(c1, c2,c3) / c2

 1u (c1 , c2 , c3 ) / c1


 2 u (c1 , c2 , c3 ) / c2
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4. Aversão ao risco

 Vamos aplicar o modelo da utilidade


esperada a um problema simples.
 Suponha que o consumidor 1 tenha a
riqueza de R$ 10,00.
 Este consumidor pensa em fazer uma
aposta a qual terá 50% de probabilidade
de ganhar R$ 5,00 e também 50% de
probabilidade de perder R$ 5,00;

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4. Aversão ao risco
utilidade

u(15)
u(10)

u(5)

0 5 10 15 riqueza
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4. Aversão ao risco
utilidade

u(15)
Este consumidor
u(10) possui um função
de utilidade
0,5u(5)+0,5u(15) côncava

u(5)

0 5 10 15 riqueza
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4. Aversão ao risco

 Em suma, o consumidor é avesso ao


risco se ele prefere uma riqueza
garantida a uma riqueza de risco com
o mesmo valor esperado.

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5. Propensão ao risco

 Se o consumidor, “gostar mais” de arriscar


o seu comportamento será diferente;

 A inclinação da curva de utilidade deste


consumidor se tornará mais íngreme a
medida que sua utilidade aumenta;

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5. Propensão ao risco
utilidade

u(15)

u(10)

u(5)

0 5 10 15 riqueza
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5. Propensão ao risco
utilidade

Este consumidor
possui um função
u(15) de utilidade
convexa

0,5u(5)+0,5u(15)

u(10)

u(5)

0 5 10 15 riqueza
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5. Propensão ao risco

 Em suma, o consumidor é propenso


ao risco se ele prefere uma riqueza
incerta a uma riqueza garantida com
o mesmo valor esperado.

 Exemplos: jogos de azar, algumas


atividades criminosas

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6. Neutralidade ao risco

 O caso intermediário é o da função de


utilidade linear;
 A utilidade esperada da riqueza é
exatamente igual ao seu valor esperado;
 O consumidor não tem preferência ou ele
é indiferente entre uma riqueza garantida
e uma incerta com o mesmo valor
esperado.

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6. Neutralidade ao risco
utilidade

u(15)

0,5u(5)+0,5u(15)
=
u(10)

u(5)

0 5 10 15 riqueza
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7. Demanda por seguro (exemplo)

 Agora, vamos analisar o contrato de


seguro do ponto de vista da empresa;
 Com probabilidade  ela terá que pagar
K, e com probabilidade (1   ) ela não
pagará nada.
 Aconteça o que acontecer a empresa
arrecada pelo menos o prêmio K ;

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7. Demanda por seguro (exemplo)

 Então o lucro esperado, P, da empresa de


seguros é:

P  K  K  (1   ).0  0

P  K  K  0
 

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7. Demanda por seguro (exemplo)

 Se inserirmos isto na equação:

u(c1, c2 ) / c1 
TMS  
(1  )u(c1, c2 ) / c2 1 

u(c1, c2 ) / c1 
TMS  
(1  )u(c1, c2 ) / c2 1 
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7. Demanda por seguro (exemplo)

 Então chegaremos a seguinte conclusão:


A utilidade marginal de R$ 1,00 de renda
adicional caso a perda ocorra, deve ser
igual à utilidade marginal R$ 1,00 caso a
perda não ocorra.

u(c1, c2 ) u(c1, c2 )

c1 c2
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7. Demanda por seguro (exemplo)

 Se as utilidades marginais da renda forem


iguais teremos que ter c1  c2

35.000 K  25.000 K  K
 O que implica K = 10.000. Se o
consumidor tiver oportunidade de comprar
um seguro a um prêmio “justo” ele sempre
escolherá o seguro total; 39
8. Diversificação

 Ao diversificar seus investimentos você


pode obter um rendimento mais seguro e,
portanto, mais desejável, se for uma
pessoa avessa ao risco;

 Suponha que tanto ações de uma


empresa produtora de capas de chuva
como de outra produtora de óculos de sol
custam R$ 10,00 a unidade;
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8. Diversificação

 Se o verão for chuvoso as ações da


empresa de capas de chuva dobram e as
de óculos de sombra terão um valor de R$
5,00.

 Se for ensolarado ocorre exatamente o


contrário.

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8. Diversificação

 Se você aplicar todos seus recursos


somente em uma empresa, estará
fazendo uma aposta que tem 50% de
chances de lhe dar R$ 200,00 e 50% de
chances de lhe dar R$ 50,00.

 O retorno esperado seria de R$ 125,00.

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8. Diversificação

 Veja que se você investir metade do valor


em cada empresa você obterá um retorno
de R$ 100,00 pela empresa bem sucedida
de acordo com a estação do ano;
 E R$ 25,00 da empresa que não obteve
sucesso;
 Em ambas situações você garante R$
125,00;

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8. Diversificação

 Ao diversificar seu investimento entre as


duas empresas, você pode reduzir o risco
total, com o mesmo retorno esperado.

 A diversificação foi fácil, pois os ativos são


negativamente correlacionados;

 O valor da maioria dos ativos movem-se


juntos. Ex: Ford e GM. 44
9. Mercado de Ações

 O mercado de ações assim como o


mercado de seguros permite que você
distribua o risco;
 Neste mercado você pode investir numa
diversidade de ativos;
 Os proprietários tem incentivos a emitir
ações, com o propósito de diversificar seu
risco;

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9. Mercado de Ações

 Os acionistas também podem utilizar o


mercado de ações para realocar seus
riscos;

 No mercado de ações há riscos no


agregado;

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Apêndice

 Definição: Loteria
 Suponha que A  a1 ,..., an  é um conjunto finito de
resultados possíveis (por exemplo, o valor monetário
para cada i).
 Uma loteria g   p1  a1 ,..., pn  an  assinala a probabilidade
n
pi
ao resultado ai para todo i=1,...,n onde: pi  0 e  pi  1
i 1

 Adicionalmente, dizemos que uma loteria é degenerada


quando temos um pi  1

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Apêndice

 Definição: Utilidade Esperada


 A utilidade UE : G  R possui a propriedade de utilidade
esperada se, para toda loteria g   p1  a1 ,..., pn  an   G temos
que:
n
UE  p1  a1 ,..., pn  an   i 1 pi u ai 

 Portanto, a utilidade esperada UE é linear nas


probabilidades e é determinada pelos valores que
assume no conjunto dos resultados.

48
Apêndice

 Definição: Comportamento em relação ao


risco:
 Dizemos que o indivíduo é:
 1. Avesso ao risco em g se: u E g   u g 
 2. Neutro ao risco em g se: u E g   u g 
 3. Amante do risco em g se: u E g   u g 

49
Apêndice

 Definição: Equivalente de Certeza


 O equivalente de certeza ECg da loteria g
é o montante de dinheiro dado com
certeza, tal que:

UE  g   UE EC g 

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Apêndice

 Definição: Prêmio de Risco


 O prêmio de risco associado a loteria g é
o montante de dinheiro Pg tal que:

UE  g   UE E  g   Pg 

Pg  E  g   EC g
51
Apêndice

 Teorema: Aversão ao Risco, EC e Prêmio


de risco. As seguintes afirmativas são
equivalentes:
 1. O indivíduo é avesso ao risco;
 2. u(.) é estritamente côncava;
 3. ECg < E(g) para toda loteria não
degenerada
 4. Pg > 0 para toda loteria não
degenerada. 52
Apêndice

 Teorema: Neutralidade ao Risco, EC e


Prêmio de risco. As seguintes afirmativas
são equivalentes:
 1. O indivíduo é neutro ao risco;
 2. u(.) é linear;
 3. ECg = E(g) para toda loteria não
degenerada
 4. Pg = 0 para toda loteria não
degenerada. 53
Apêndice

 Teorema: Propensão ao Risco, EC e


Prêmio de risco. As seguintes afirmativas
são equivalentes:
 1. O indivíduo é propenso ao risco;
 2. u(.) é convexa;
 3. ECg≥E(g) para toda loteria não
degenerada
 4. Pg ≤ 0 para toda loteria não
degenerada. 54
Apêndice

 Definição: Coeficiente de aversão ao risco


absoluto. O coeficiente de aversão ao
risco absoluto de Arrow-Pratt da utilidade
U no nível de riqueza w é definido como:

u w ''
Ra w   '
u w 
55
Apêndice

 Definição: Coeficiente de aversão ao risco


relativo. O coeficiente de aversão ao risco
relativo de Arrow-Pratt da utilidade U no
nível de riqueza w é definido como:

u w  ''
RR w   w '
u w
56
Apêndice

 Exemplo: u w  w
 Dada a loteria g 0.2  10,0.8  0.6  calcule
o valor esperado, o equivalente de certeza
o prêmio de risco e verifique o perfil do
indivíduo em relação ao risco.

57
Apêndice

 Exemplo:
n
E g  i 1 pi ai  0.2  10  0.8  0.6  2.48

UE  g   0.2  10  0.8  0.6  1.25

UE ECg   ECg  UE  g   1.25

ECg  1.25  1.56


58
Apêndice

 Exemplo:
Pg  E g  ECg  2.48  1.56  0.91
' 0.5 '' 1.5
u  0.5w u  0.25w
Ra w  0.5w1 RR w  0.5

 Veja que como a utilidade é côncava o indivíduo é


avesso ao risco. Os coeficientes de Arrow-Pratt são
positivos.
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Referências

• JEHLE, G.; RENY, P. Advanced


Microeconomic Theory. 3.ed. Pearson,
2011.
• VARIAN, H. R. Microecomia, princípios
básicos. 8.ed. São Paulo : Campus, 2012

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