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RISCO E

INCERTEZA
“Porque afinal, o que é o homem na natureza? Nada em relação ao infinito,
um todo em relação ao nada, um meio entre nada e tudo, infinitamente longe de
entender os extremos; o fim das coisas e seus princípios são para ele
invencivelmente escondidos em um segredo impenetrável.
… Este é o nosso verdadeiro estado. Isso é o que nos torna incapazes de saber
com certeza ou absolutamente ignorar. Estamos navegando em um vasto
ambiente sempre incerto e flutuante, empurrados de uma extremidade à outra;
em algum termo onde pensamos que iríamos nos apegar e nos fortalecer ”.

Blaise Pascal - Pensamentos, 1670.

“É um mundo de mudanças em que vivemos ... surgem os problemas da vida


do fato de que sabemos tão pouco.”

Frank Knight - Risk, Uncertainty and Profit, 1921.


“Se os resultados das ações humanas fossem instantâneos e determinísticos
seria fácil prever o futuro. [...] Contudo, todas as ações na vida humana estão
ligadas à incerteza e ao risco.

Dos comportamentos e decisões humanas não se pode afirmar, com


certeza, quais as consequências que se verificarão. Não existe a omnisciência
de perfeito conhecimento quanto ao passado, ao presente e muito menos
quanto ao futuro.
O conhecimento com perfeita certeza é impossível de atingir. Dado o
irrealismo da decisão dos seres humanos em situação de certeza, a teoria
econômica caminhou no sentido de considerar as decisões dos indivíduos em
situações de incerteza.”

(DONÁRIO e SANTOS, A Incerteza e o risco, 2016)


Pascal e o Valor Esperado

◦ “O conceito de valor esperado remonta a Blaise Pascal (1623-1662), o qual foi, juntamente com
Pierre Fermat (1601-1665), um dos primeiros a colocar a questão de como as pessoas escolhem
entre alternativas incertas.” (1)
◦ Deverá um indivíduo comprar, por 50,00 u.m, um bilhete de loteria que tem a probabilidade de
50% de ganhar 200,00 u.m, ou não deve comprar o bilhete e ficar com os seus 50,00 u.m.?
◦ A resposta de Pascal a esta questão foi a seguinte: deve-se multiplicar a probabilidade de ganhar
pelo montante que se espera ganhar que dá uma média, ou valor esperado para essa ação do
indivíduo. A conclusão é de que se escolherá a opção com o maior valor esperado. (1)
Resultado
Apostas
Cara Coroa
A Ganha R$100,0 Perde R$2,0
B Ganha R$200,0 Perde R$100,0
C Ganha R$20.000,0 Perde R$10.000,0

◦ Para ilustrar a influência da incerteza* sobre as decisões econômicas, pode-se utilizar um exemplo
com três apostas simples, que envolvem resultados associados com o lançamento de uma moeda .
◦ Embora nas três apostas cada um dos possíveis resultados (cara ou coroa) tenha 50% de
probabilidade de ocorrer, poderá haver diferentes atratividades, por parte dos jogadores, em
relação a participar de cada uma das apostas.
◦ Possivelmente, a opção A será a preferida por expressiva parcela, visto que, além de envolver as
menores quantias em dinheiro, em caso de acerto, o valor recebido pelo jogador é 50 vezes maior
que aquele em caso de perda.
◦ Por outro lado, a aposta C, em relação a B, será rejeitada por grande parte dos jogadores, pois o
valor das possíveis perdas é muito alto, envolvendo, também, uma grande probabilidade de
ocorrência.

* Será mantida a notação do autor, mesmo quando estiver designada a probabilidade de ocorrência de cada evento.
Resultado
Apostas
Cara Coroa
A Ganha R$100,0 Perde R$2,0
B Ganha R$200,0 Perde R$100,0
C Ganha R$20.000,0 Perde R$10.000,0

◦ Pode-se obter, ainda, o valor esperado (VE) de cada uma das apostas. Essa medida constitui um peso médio de todos os possíveis resultados, em
que os pesos representam as probabilidades associadas:

◦ Adequando a probabilidade de ocorrência de 50% a cada uma das possibilidades associadas, tem-se:
n
VE    i xi
i 1

◦ Poderia se supor que, quanto maior o VE, mais atrativa seria uma determinada aposta. Entretanto, dos três casos analisados, embora o último
apresente um valor positivo muito superior aos demais, essa aposta provavelmente será a menos atrativa, devido à possibilidade de grandes perdas.

   
VE1  1  100   1   2   R$49,00
2 2
   
VE 2  1  200   1   100   R$50,00
2 2
   
VE3  1  20.000   1   10.000   R$5.000,00
2 2
Valor Esperado (VE) X Utilidade Esperada (UE)

◦ Na teoria econômica tem-se inserido a teoria da utilidade


esperada (UE), que é amplamente utilizada para modelar o
comportamento dos agentes econômicos.
◦ A teoria da UE, tem como premissa central que os agentes
econômicos, em vez de considerarem a opção que gera o maior
VE, escolhem a opção que possibilita maximizar a UE.
◦ Nesse caso, a utilidade pode ser escrita como uma soma
ponderada de alguma função de consumo em cada estado
de natureza, em que os pesos são as probabilidades de
ocorrência de cada evento possível. (2)
Preferências dos agentes relacionadas com o risco

◦ Ao se discutir a tomada de decisão sob condições de


incerteza, deve-se dispensar atenção especial às
preferências dos agentes econômicos frente aos
possíveis riscos associados com suas escolhas.
◦ Nesse contexto, os tomadores de decisão podem ser
classificados em três tipos básicos: avessos, propensos e
neutros ao risco.
Preferências relacionadas com o risco
(consumo)

◦ Um agente é considerado avesso ao risco se ele prefere o valor


esperado dos prêmios de uma loteria com prêmios monetários, a esta
loteria.
◦ Um agente é propenso ao risco, se ele prefere uma loteria com prêmios
monetários ao valor esperado dos prêmios dessa loteria.
◦ Um agente é neutro ao risco se ele é indiferente a uma loteria com
prêmios monetários e o valor esperado dos prêmios dessa loteria.

(Guena, 2010 - http://robguena.fearp.usp.br/anpec/riscoHND.pdf)


Na agricultura, quais são os riscos?

RISCOS EX-ANTE RISCOS DE RISCOS EX-POST


PRODUÇÃO
RISCOS NA AGRICULTURA
◦ A atividade agrícola tem uma diferença importante em relação a outros setores: ela depende fortemente
de recursos naturais e de processos biológicos. Plantas, animais e microrganismos não se comportam
com a precisão de máquinas. O clima não se repete da mesma forma de um ano para o outro e um solo
fértil pode, com manejo equivocado, perder suas propriedades em alguns ciclos de produção. É uma
atividade de risco.
◦ Atualmente, esses riscos são maiores pois a agricultura contemporânea se caracteriza pelo uso intensivo
do capital. Pode ser gigantesco o prejuízo financeiro com uma seca inesperada, uma geada forte, uma
quebra de safra ou uma baixa repentina nos preços.
◦ O que produzir? Como produzir? Para quem produzir?

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20/03/2024
RISCOS NA AGRICULTURA
◦ Os agricultores precisam decidir qual cultivo ou criação adotar, qual tecnologia empregar, qual
a forma de financiamento e até mesmo que estratégia de comercialização adotar. Ao tomar
essas decisões, os agricultores levam em conta, consciente ou inconscientemente, os riscos.
◦ A gestão do risco é inseparável da gestão da produção agrícola. Com a mudança do clima e o
processo de intensificação dos sistemas produtivos, cada vez mais os sistemas de gestão de
risco ganham importância nas diferentes cadeias produtivas da agricultura.

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20/03/2024
◦ Estudo realizado em 48 países em desenvolvimento indica que 25% dos danos advindos de desastres naturais
ocorridos entre 2003 e 2013 recaíram sobre a agropecuária, causando prejuízos de US$ 70 bilhões. Estima-se que 44%
dessas perdas foram causadas por secas e 39% por enchentes.
◦ Atualmente, 75% dos alimentos do mundo são gerados a partir de 12 espécies de plantas e cinco espécies de animais.
Isto torna o sistema alimentar global altamente suscetível aos riscos inerentes à atividade agrícola, como pragas e
doenças em animais e plantas, problema agravado pelos efeitos da mudança do clima. Eventos climáticos podem
determinar:
• Perdas relevantes na produção e queda das exportações.
• Redução da ocupação direta e indireta.
• Maior volatilidade na produção e renda dos produtores, e elevação de preços para os consumidores.
• Insegurança alimentar.
• O fato de a maior parte da produção agropecuária nacional situar-se na faixa tropical demanda sofisticação nas práticas
de gestão de risco. Considerando que a mudança do clima em âmbito global já é perceptível pela intensificação de
estresses térmicos, hídricos e nutricionais nos sistemas produtivos, pode-se afirmar que a agricultura brasileira é uma
ilha em um mar de riscos.

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20/03/2024
Riscos associados
◦ É comum lembrar de problemas climáticos quando se pensa em riscos da atividade agrícola, mas existe uma
série de riscos associados, nem sempre evidentes, que precisam ser levados em consideração. Especialistas
propõem a seguinte classificação de riscos:
• Riscos de produção.
• Riscos sanitários.
• Riscos de gestão dos recursos (em especial dos recursos naturais).
• Riscos de crédito e comercialização.
• Riscos relacionados ao mercado externo.
• Riscos decorrentes da infraestrutura.
• Provisão energética e de água.
• Riscos do ambiente institucional relacionados a direitos de propriedade mal definidos, mudanças nas regras
de comércio e mudanças nas regras relacionadas à própria produção.

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20/03/2024
Soluções para a gestão do risco
◦ As soluções para gestão do risco envolvem uma combinação de medidas e de atores. A definição da
estratégia e a escolha das políticas são influenciadas por duas dimensões-chaves dos riscos: a
probabilidade de ocorrência dos eventos e a severidade dos impactos. Com base nessas dimensões, é
possível segmentar os riscos da seguinte forma:
• Riscos frequentes, os quais ocasionam perdas pequenas.
• Riscos cuja frequência e impacto não podem ser negligenciados e nem assumidos pelos próprios
produtores, que buscam proteção via operações de mercado.
• Riscos que, mesmo tendo uma frequência pequena, geram grandes perdas e por isso são classificados
como catastróficos. Estas perdas não podem ser assumidas pelos produtores e, portanto, justificam-se
ações governamentais.

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20/03/2024
Três frentes principais
◦ Prevenção ou mitigação: visa reduzir a probabilidade de ocorrência de eventos adversos ou reduzir o
impacto dos eventos. O zoneamento de áreas próprias para cultivo de determinadas culturas é um
exemplo. Agricultores e agentes financeiros sabem que financiar algo não recomendado para
determinada região é mais arriscado.
◦ Transferência: visa diluir os efeitos econômicos negativos entre um grupo de atores. O seguro rural é
um exemplo. Por meio dele, o produtor transfere uma despesa futura e incerta (dano), de valor elevado,
por uma despesa antecipada e certa de valor relativamente menor. É como o seguro de um automóvel.
◦ Enfrentamento ou resposta: objetiva aliviar os efeitos negativos provocados pela ocorrência dos
eventos. Um bom exemplo é o Programa Garantia Safra, que disponibiliza um benefício em dinheiro
para pequenos agricultores de municípios que sofrem com a perda de pelo menos 50% do conjunto das
produções.

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20/03/2024
Visão Integrada da Gestão de Riscos Agropecuários

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20/03/2024
Os desafios da gestão de riscos de preço

20/03/2024
Estratégias
◦ Públicas
◦ Seguro
◦ Preços Mínimos
◦ Garantia de Compras
◦ Subsídio casado
◦ Etc.
◦ Privados
◦ Contratos de longo prazo
◦ Integração
◦ Parceria
◦ Participação a futuro para hedging
20/03/2024
Iniciando o conhecimento da B3 por meio de uma atividade prática

◦ Acesse http://www.b3.com.br/pt_br/
◦ Depois, Produtos e Serviços e, Commodities,
http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/negociacao/commodities/
◦ Escolha um produto (uma das commodities), clique em saiba mais
◦ Analise os dados disponíveis sobre o contrato e do produto.
◦ Pesquise as cotações deste ano do produto escolhido.
◦ Faça um resumo
◦ Envie para per.eru305@gmail.com até o dia 25 de setembro. Esta atividade vale 2 pontos, a
serem utilizados na nota da primeira prova.

20/03/2024
20/03/2024

OBRIGADA

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