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CÔMPUTO DA HORA NOTURNA (22h às 05h)

A hora noturna inscrita no Artigo 73 da CLT é pura ficção legal, de


difícil entendimento. Cumpre ressaltar que “computo” (cálculo) é
um problema, que deve ser resolvido pela matemática, que é uma
ciência exata. Portanto, diante daquela ficção legal, inscrita no
Artigo 73 da CLT, temos que observar também os critérios de
cômputo (cálculo), de forma exata, conforme ensina a
matemática.

Trata-se de uma ficção legal, que merece uma análise criteriosa.


Assim, nos propomos a demonstrar, com exatidão, que o cômputo
(cálculo) da hora noturna (Art. 73 da CLT) deve ser feito, não pela
duração em si, mas pela remuneração, de forma contínua, a cada
52min 30seg – em toda a extensão do horário noturno (22h às
05h), sem nenhuma interrupção, porque de outra forma, a conta
não fecha, visto que 52,5min multiplicado por 8 (oito) horas de
remuneração, corresponde exatamente a 420 minutos ou 7 (sete)
horas de duração (22h às 05h) com remuneração normal – de 8
horas. Este é o espírito da lei, definido pelo conjunto das regras,
estabelecida pelo legislador, conforme o art. 73 da CLT - que não
trata de duração da hora, porque hora é hora (60 minutos); trata-
se de remuneração da hora, no período de 22h às 05h.

HORÁRIO NOTURNO: a "ficção legal" (CLT, art. 73, §1º) é de


muito difícil entendimento para um simples operário. Senão
vejamos: CLT – Art. 73: “§ 1º A hora do trabalho noturno será
computada como de 52 minutos e 30 segundos”. Desta forma,
nos horários mistos, as verdadeiras proporções idealizadas nesse
contexto legal – Artigo 73 da CLT – instituído em 1943, são
facilmente ultrapassadas. Há quem diga que “a duração da hora do
trabalho realizado durante a noite é reduzida”. Cumpre ressaltar que
o Art. 73 da CLT não trata de duração da hora. Hora é Hora (60
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minutos), daí “52min 30seg” não é hora; apesar de ser ficção


legal, tem sua explicação, de forma exata.

Lembramos que computar é contar.

Em princípio, diante dos misteriosos “30 segundos” da imaginária


“duração” da hora noturna, o simples empregado fica perplexo,
não entende nada e torna-se parte vencida na suposta proteção
do trabalho noturno, que acaba por não proteger coisa alguma,
conforme se vê na formulação de determinado horário misto (22h
às 07h) descrito ao final deste trabalho, o qual deveria ter uma
remuneração extraordinária de 2 horas (05h às 07h), mas não
tinha coisa alguma.

A falta de conhecimento do trabalhador é o “fator-chave” que


sempre favorece aos empregadores, que podem extrapolar as
verdadeiras fronteiras da jornada noturna, sem problemas. Eu fui
operador de computadores de grande porte e trabalhei durante 13
anos a noite. Estudei muito bem o assunto e posso explicar como
se faz o cômputo (a conta) da hora noturna, de forma correta.

Da minha parte, nos idos de 1975/1980, após cinco anos de


trabalho noturno, consegui com muito esforço, atingir a fase de
entendimento do segredo da coisa que podemos chamar de
“ficção legal” inscrita no art. 73 da CLT. Em princípio, a intenção
do legislador, era de considerar um horário (22h/5h) reduzido na
sua duração, mas com remuneração normal (8 horas).

Descobri, então o segredo do cômputo, ou seja, a conta que


explica a origem da suposta hora de 52min 30seg:

ESSA CONTA TEM SOMENTE UMA EXPLICAÇÃO: “A duração


das 7 horas do horário de 22h às 05h, multiplicada pela
quantidade dos 60 minutos da hora, resulta em 420 minutos, os
quais divididos pela remuneração normal de 8 horas apresentam
como resultado a remuneração da hora aos 52min 30seg”.
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Esta era a ideia original sobre o cômputo, ou seja, sobre a conta


da remuneração do período – grifo, de forma contínua de 22:00h
às 05:00h, mas o problema, contra o empregado e a favor do
empregador, está na fixação dos horários mistos, que facilitam a
manipulação da jornada de trabalho noturno.

HORÁRIO MISTO – A duração (jornada) de trabalho normal de 8


(oito) horas é de fácil entendimento, mas o problema está na
fixação dos horários mistos, onde predomina o entendimento
empresarial, da duração da hora como sendo de 52 minutos e 30
segundos. Coisa absurda, isto não existe, porque o artigo 73 da
CLT não trata de duração da hora; trata de remuneração.

Trata-se de computar (contar; calcular). Conforme demonstramos,


deveria haver a “remuneração” de 1 (uma) hora a cada 52min
30seg no período noturno, de tal forma que ao fim das 7 horas
contínuas (22h às 05h) teríamos a remuneração normal de 8
horas (52,5min x 8h = 420min).

A explicação do problema da “hora noturna” está na combinação


dos dois primeiros parágrafos do art. 73 da CLT. Veja-se que o
parágrafo §1º está diretamente subordinado ao “caput” do artigo,
que trata de "remuneração" e não trata de duração do trabalho
(noturno).

Por sua vez, o §2º refere-se a um período contínuo (22h às 05h),


o qual não pode ser descontinuado, porque, se a contagem do
tempo for interrompida nesse período noturno (22h às 05h),
perderá sua qualidade de “remuneração”.

Precisamos entender que, para permitirmos a ligação correta


entre os dois parágrafos (§1º e §2º) do Art. 73 da CLT, aquele
período contínuo (22h às 05h), não pode ser descontinuado, sob
pena de haver manipulação de horário, e a prova disso está no
fato de que com qualquer número ímpar de horas noturnas a
conta dos “30 segundos” não fecha. Essa é a verdade!
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Na Grécia Antiga, Aristóteles estabeleceu as Leis da Lógica onde


uma delas é: “A é A” (...). No Brasil, na duração do trabalho
normal, a lei refere-se a hora. Portanto, Hora é Hora (60 minutos).
Consequentemente 52min 30seg não é Hora, e muito menos
unidade de duração do trabalho, porque só podemos medir
duração do trabalho humano em segundos no campo das
competições esportivas. Aqui não se trata disso.

Já vimos que o art. 73 da CLT não estabeleceu outra hora


(noturna) com duração de 52min 30seg porque isto não existe;
não se trata de duração da hora aos 52min 30seg porque isso não
existe, repetimos, trata-se de remuneração.

Senão vejamos o que acontece à noite. Sabemos que, na


duração normal, após 4 horas de trabalho, a lei estabelece um
intervalo para repouso ou alimentação. Mas, se a conta ou
cômputo da “remuneração” de que trata o art. 73 da CLT for
interrompida, pelo intervalo legal - a conta dos “30 segundos” - no
período de 22h às 05h não fecha, conforme veremos adiante.
Provamos isso! Vamos aos detalhes da prova.

Consideramos então, uma suposta jornada do trabalho noturno


fixada pelo empregador, que estabelece um horário misto. Ele
pode organizar cuidadosamente as “horas noturnas” em
quantidade par, porque sabe que, com qualquer número de horas
noturnas em quantidade ímpar (1 ou 3 ou 5 ou 7), a conta não
fecha. Aí está a “brecha” a qual me refiro, que favorece aos
empregadores.

Esta minha afirmação pode ser conferida em números exatos. Por


exemplo, numa jornada de 8 (oito) horas, iniciando-se o primeiro
turno de trabalho no horário (16:00h até 20:00h) podemos contar
4 (quatro) horas “diurnas” de trabalho. A seguir, devendo haver
um intervalo legal, que pode ser de 1 (uma) hora (20:00h às
21:00h). Depois, computamos mais 1 hora de trabalho, hora essa
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“ainda diurna” de (21:00h às 22:00h). Até aqui temos 5 (cinco)


horas de trabalho.

Agora vamos às provas concretas. Portanto, para completarmos a


jornada, faltam ainda 3 horas de trabalho. Acontece que a conta
de 3 (três) horas noturnas (3h x 52,5min = 157,5min) não fecha,
porque medir duração do trabalho humano em segundos, só
mesmo no campo das competições esportivas. Aqui não se trata
disso!

Podemos conferir as contas; já vimos então, que seriam


necessárias mais 3 horas de trabalho noturno (52,5 x 3 = 157,5)
minutos para completar a jornada normal. Na realidade estes
157,5 minutos resultam em 2 horas + 37 minutos + 30
segundos. Eu pergunto então, como poderemos computar o
trabalho de um motorista ao volante de um ônibus em movimento,
nos últimos 30 segundos que restam para completar sua jornada,
conforme o cálculo acima? Impossível! Não há como computar
essa duração do trabalho dos últimos 30 segundos!

Portanto, justifica-se a “remuneração” no período noturno de


forma contínua no período de 22h às 05h, seja qual for, total ou
parcial. Exatamente porque, se não podemos computar duração
de 30 segundos de trabalho, o que existe é a remuneração – que
só pode ser computada de forma contínua – no horário de 22h às
05h – ou seja, de um extremo ao outro do período noturno, para
fecharmos a conta em números exatos de remuneração (e não de
duração) pois é daquilo que trata o Art. 73 da CLT. Portanto, fora
disso, o que vemos é uma oportunidade para imposições
aleatórias da parte do empregador.

No meu caso, em 1975, quando eu era operador de


computadores de grande porte, do tipo IBM antigos, a minha
jornada era de 8 horas de trabalho, entre “horas noturnas” e
“horas diurnas”. Havia um intervalo de 1h 45minutos, porque este
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era o intervalo padrão da Empresa, durante qualquer expediente,


diurno ou de horário misto.

Era obrigatório bater o ponto, mas asseguro que tal intervalo só


servia para estressar ainda mais o trabalhador noturno. A maioria
deles preferia continuar trabalhando normalmente, porque parar
no meio da noite, naquele ambiente, tinha um resultado simbólico
de pura frustração; era melhor continuar.

Os gerentes da empresa, faziam então o cálculo de horas


noturnas sempre em número par, porque já vimos ser impossível
explicar, por exemplo, a duração de 3 ou 5 horas noturnas de
52min 30seg de trabalho. Mas, com 6 horas noturnas de 52,5
minutos, a conta fechava certinho e assim, o empregado ficava
inerte, diante de sua situação de desigualdade.

Devemos observar melhor os termos do Art. 73 § 1º da CLT. Ora,


se computar é contar, computamos (contamos) 8 horas, naquele
período de 7 horas (22h às 05h) – este é o espírito da lei; fora
disso é artifício de cálculo do empregador.

Eu procurei pessoalmente o eminente mestre do Direito do


Trabalho, Dr. ARNALDO SUSSEKIND. Foi ele quem me disse
que a jornada deve ser reduzida, limitada a sete horas, conforme
está escrito num de seus livros: “que a hora noturna seja
computada como de 52 minutos e 30 segundos (art. 73, § 1º),
com o que reduz a sete horas (art. 73, § 2º), o limite da jornada
normal do trabalho noturno, com remuneração correspondente a
oito horas”. Só faltou dizer que esta regra era uma Regra de Três
Simples, como veremos adiante.

PRIMEIRA SITUAÇÃO – A Regra de Três Simples explica: O


eminente mestre, Dr. ARNALDO SUSSEKIND - membro
permanente da OIT, era então Ministro do Trabalho em 1943, no
Governo Getúlio Vargas, quando trabalhou na redação do art. 73
da CLT. Pelos seus dizeres acima, eu descobri que “hora de
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52min 30seg” era resultante de uma regra de três simples e


assim a conta fecha com exatidão, como podemos ver adiante.

Uma regra de Três Simples explica o Cômputo da hora noturna:


– De 22:00h às 05:00h 420 minutos remuneração de 8 horas.
– Pergunta-se: quantos “x” minutos na remuneração de 1 hora
– Resposta: x = (420 x 1) / 8 = 52min 30seg

Mas, a Regra de Três Simples não pode mudar no horário misto:


– De 22:00h às 05:00h 420 minutos remuneração de 8 horas.
– De 23:45h às 05:00h 315 minutos remuneração de “x” horas?
– Resposta: x = (315 x 8) / 420 = 6 (seis) horas de remuneração.

Assim, no exemplo de HORÁRIO MISTO acima, devemos


computar a remuneração de 6 horas no período de 23:45h às
05:00h e para completarmos a remuneração normal bastam duas
horas, de 05:00h às 07:00h, perfazendo assim a remuneração
normal de 8 horas, com a duração total de 07:15h de um
extremo a outro do período de 23:45h às 07:00h.

Este é o espírito da lei que trata de “remuneração” da


hora noturna. Não podemos mudar a regra do jogo. Este é um
exemplo de cálculo (correto), de um horário misto (23:45h às
07:00h), segundo a metodologia do cálculo original, ou seja, não
muda nada na regra, somente os períodos.

Aqui está a grande diferença neste exemplo de horário


de trabalho, que perfaz um total de apenas 07:15h minutos em
toda a sua extensão contados da hora de entrada (23:45h) até a
hora de saída (07:00h), com remuneração normal de 8 (oito)
horas.

A meu ver, esta seria a forma correta do cálculo, nesse


exemplo de horário misto. Portanto, se o empregador não quer ou
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não pode limitar a jornada noturna, conforme previsto na lei (22h


às 05h), poderia compor o seu horário misto, com intervalo legal,
desde que pague a “remuneração” inteira da hora noturna que
deve ser – contínua de 22h às 05h – complementada pelas horas
extras excedentes, conforme demonstrado acima.

Queremos destacar a crítica do eminente mestre do Direito


do Trabalho, Dr. ARNALDO SUSSEKIND: "Merece ser
criticado, a nosso ver, o critério adotado pela legislação
brasileira, no tocante à conceituação das jornadas diurna,
noturna e mista, quando considera trabalho noturno apenas o
realizado após as vinte e duas horas e até as cinco horas da
manhã. Não compreendo, portanto, como se possa
conceituar como diurno o trabalho executado após as
dezenove horas ou, no máximo, após as vinte horas e, bem
assim o realizado antes das seis horas da manhã".

O mestre Dr. Arnaldo Sussekind cita dezenove horas e seis horas


da manhã não por acaso, mas porque sendo ele então membro
permanente da O.I.T., conhecia perfeitamente a Convenção nº 89
da OIT, ratificada pelo Brasil, onde a "noite significa um período
de onze horas consecutivas, pelo menos".

Lembramos que o Art. 73 da CLT e seus Parágrafos não dispõem


sobre “JORNADA” nem sobre “DURAÇÃO DO TRABALHO”, mas
sobre a remuneração de 1 (uma) hora a cada 52,5 minutos do
período de 22h às 05h. Esta é a lei.

É certo que pela CLT – “Art. 71 § 2º - Os intervalos de descanso


não serão computados na duração do trabalho”.

Mas, não estamos discutindo nenhuma “duração do trabalho


noturno”, mas sim, o cômputo da “remuneração” do trabalho
noturno num determinado horário - contínuo - de 22h às 05h. Ou
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seja, nesse horário contínuo (22h às 05h) a lei (art. 73 da CLT)


não estabeleceu nenhuma outra espécie de jornada (noturna),
mas tratou somente da remuneração, no período de 22h às 05h.

SEGUNDA SITUAÇÃO - COEFICIENTE: Também podemos


calcular a “remuneração” no período noturno, pelo coeficiente
encontrado naquela mesma regra de três simples. Podemos
encontrar exatamente o mesmo resultado acima, através do
coeficiente que indica que 60 minutos de duração à noite
(22h/05h) vale um pouco mais, ou seja, cada hora (22h/05h) vale
1,1428571429... em relação à hora normal, para os efeitos de
remuneração.
APURAÇÃO DO COEFICIENTE PELA MESMA REGRA DE TRÊS SIMPLES
DURAÇÃO REMUNERAÇÃO
52,5 min 1 hora
60 min x horas
x = (60x 1) / 52,5 =1,1428571429 = Coeficiente

Conclusão: 1 hora à noite (22h às 05h) vale 1,1428571429 horas.


Nas 7 (sete) horas noturnas (22h às 05h) = (7 x 1,1428571429) =
computamos 8 (oito) horas de remuneração.

TERCEIRA SITUAÇÃO – HORÁRIO MISTO FIXADO PELO


EMPREGADOR: em 1975, acontecia que a minha jornada,
fixada pela Empresa era de oito horas, desmembrada em horas
de 60min e horas de 52,5 minutos, ou seja, algo do tipo de uma
soma de unidades heterogêneas (horas de 60min) + (horas de
52,5min). Muito tempo depois, demonstrei, conforme adiante,
que a premissa da empresa era falsa, mas o lado mais forte
impôs suas decisões e ficou por isso mesmo.

Conforme já demonstrei, não podemos computar “duração” da


hora noturna, porque temos que seguir o critério da
“remuneração” no período noturno, de forma contínua, seja ele
qual for, no todo ou em parte. Acontece que o empregador pode
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usar de um artifício de cálculo de horário e isso aconteceu


comigo, onde a Empresa fixou um horário misto.

Computavam então, no período noturno” de 22:00h às 05:00h


não mais a remuneração da hora, mas a “duração” da hora a
cada 52,5 minutos com a inserção de um suposto intervalo de 1h
45min para esticar o horário até às 7 horas da manhã, com o que
deixavam de pagar corretamente a remuneração de 2 horas
extras (5h às 7h). Havia aquele suposto intervalo para repouso
ou alimentação, na madrugada, com a cidade dormindo e tudo
fechado.

Os gerentes da empresa usavam dessa sutileza; faziam uma


soma de quantidades heterogêneas (horas de 60min) + (horas
noturnas de 52,5min) e assim esticavam o nosso horário de
trabalho noturno, inserindo um suposto intervalo de 1h 45min,
durante a madrugada.

Tal “intervalo” tinha que ser gozado dentro do próprio CPD, onde
não havia, no andar, nenhuma outra sala aberta, separada, para
repouso ou alimentação; todas as demais salas do andar eram
trancadas, com chave, à noite.

Dentre outras máquinas, havia duas impressoras IBM-3211 de


impacto e uma gigante à Laser. Mas, o que merece destaque,
além das leitoras de cartões, que eram extremamente
barulhentas, eram as 3 (três) impressoras de impacto IBM-1403,
nas quais, junto às mesmas, foram registradas três fontes de
ruído de 96 decibéis em cada uma, conforme o “Relatório de
caráter Conf.” (Confidencial) do tempo da Ditadura Militar, ou
seja, na verdade o ruído era muito maior. No dia da medição, eu
reclamei cópia do Relatório com o represente da CIPA –
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, mas este ficou
bem calado.
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Eram máquinas enormes; a CPU era um armário de aço de 2m


de altura por meio metro de largura, afora isso havia leitora de
cartões, discos panelas girando em alta velocidade, com um
barulho ensurdecedor de máquinas pesadas do tamanho de uma
geladeira.

O ar condicionado ficava em torno de 15 a 17 graus centígrados,


havia um fundo falso no piso, com ventilação de baixo para cima
e de cima para baixo. Em resumo, conforme ironizava um dos
nossos colegas de trabalho, era como gozar aquele suposto
intervalo, dentro de uma casa de máquinas de um navio da
segunda guerra mundial, em plena batalha naval.

Voltando ao trabalho noturno, em torno do ano de 1980, eu


procurei o DR. ARNALDO SUSSEKIND, membro permanente da
OIT, ele que fora Ministro do Trabalho de Getúlio Vargas. Eu
sabia que foi ele mesmo quem escreveu o artigo 73 da CLT
sobre o Trabalho Noturno, com base numa Convenção da OIT.
Também procurei o DR. DÉLIO MARANHÃO, professor da
Fundação Getúlio Vargas e Ministro aposentado do TST. Ambos
os mestres eram autores de livros do Direito do Trabalho.

A minha ideia era de contratá-los em conjunto, naturalmente sob


a égide do Sindicato, para não haver o risco de represálias. Eles
escreveriam o conteúdo técnico, embasando a petição inicial ao
TRT, dariam o suporte necessário para a proposição e
andamento da ação judicial, em nome do grupo de operadores,
mas tudo através do papel timbrado do Sindicato, mas
destacando a assinatura dos dois mestres, de modo a cobrar as
diferenças do período de 1975 a 1980, requerendo também a
redução na jornada, além do pagamento dos atrasados. No dia
em que me reuni com os dois mestres do Direito do Trabalho na
casa do Dr. Arnaldo Sussekind, os dois estavam muito animados
e disseram-me que aceitariam a questão, a um determinado
custo.
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Comuniquei aos meus colegas do período noturno sobre os


honorários dos dois advogados e mestres, mas simplesmente
rejeitaram a minha ideia. Não me deram nenhum apoio, com
exceção de um dos operadores, através do qual, mais tarde, eu e
ele redigimos uma petição, que foi protocolada pelo Sindicato em
direção à Empresa. Conseguimos uma certa vitória (sem
pagamento retroativo), pela redução de alguns poucos 45
minutos naquele horário misto que era inicialmente de 22h às
07h, e depois de muita insistência, através do Sindicato, daquela
carta à Empresa, que foi por nós escrita, conseguimos uma
redução desses 45 minutos, mas sem o pagamento dos anos de
atrasados.

Até então, o horário misto imposto aos operadores de


computador, pelos gerentes da empresa, era de uma sutileza
impressionante:

De 22:00h até 01:30h = 210min (210 / 52,5) = 4 (QUATRO)


"horas noturnas"

De 01:30h até 03:15h = intervalo legal de 01h 45min (art. 71 da


CLT).

De 03:15h até 05:00h = 105min (105 / 52,5) = 2 (DUAS) "horas


noturnas".

De 05:00h até 07:00h = 2 (DUAS) horas diurnas.

Assim, trabalhávamos 9 (nove) horas - num horário forjado pela


prepotência do empregador. Devemos comparar com aquele
cálculo anterior, daquela demonstração que fiz, de um horário
misto (23:45h às 07:00h), seguindo a metodologia dos dois
primeiros parágrafos do artigo 73 da CLT, perfazendo apenas
07:15h minutos em toda a sua extensão.

Continuei defendendo a minha causa e em 1980, eu e mais um


colega da operação redigimos a Carta que foi assinada pelo
Sindicato, e dirigida à Empresa. Nessa ocasião houve uma
redução de alguns minutos no horário acima, mas sem o
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pagamento retroativo dos 5 anos de atrasados. Ora, se houve


redução no horário, é porque foi reconhecido, ainda que
administrativamente, o excesso de trabalho, com o que deveria
ser feito um pagamento, retroativo, das horas-extras dos 5 anos
anteriores (1975/1980), mas deu em nada.

PROJETO DE LEI nº 4.796-B, de 1990 – Em 1988, eu mesmo


redigi um projeto de lei, entreguei ao Dep. Lysâneas Maciel. O
mais importante que mostrei é que, a noite deveria ser
considerada como DE FATO AQUILO QUE É A NOITE sem
ficção, ou seja, situando a noite entre 19h e 6h da manhã e a
hora deveria ser computada como de 45 minutos porque
nessa medida, uma jornada de 8 horas daria uma conta exata de
minutos (8 x 45min = 360min = 6h) e acabava com essa ficção
dos 52min 30seg da ultrapassada hora noturna de 1943 (CLT).
Naturalmente que haveria de se alterar o art. 73§1º e §2º bem
como o art. 381§2º e art. 404 da CLT.

A minha sugestão de computar uma hora aos 45 minutos não foi


por acaso;
tem sua explicação, pela mesma Regra de Três Simples:

8 horas ............. 6 horas


60 minutos ....... X minutos
X= (60 x 6) = 360 minutos divididos por 8 horas = 45 minutos

Assim, por exemplo, numa jornada de 8 horas (com remuneração


a cada 45 minutos dentro do horário noturno) de 19h às 6h,
teríamos uma duração de 6 horas. Haveria, desta forma, um
tratamento de uma proteção legal mais humana, porque trocar o
sono da noite pelo cochilo do dia é terrível; experimente fazer isso
uma noite apenas, trabalhe a noite inteira e durma com um
barulho desse durante o dia.
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A redação final do projeto de lei nº 4.796-B, de 1990, foi aprovada


na Sala das Sessões em 14/12/1990 na Câmara dos Deputados e
deveria ser encaminhado ao Senado Federal. Mas, a partir daí,
não entendi mais nada daquilo que se passou no Senado, visto
que o projeto original foi desfigurado nos seus termos, pelo
Senador Paulo Paim.
05/01/1995 SF-ATA-PLEN - SUBSECRETARIA DE ATA - PLENÁRIO
Ação: VOTAÇÃO APROVADA A REDAÇÃO FINAL.
11/01/1995 SF-SSEXP - SUBSECRETARIA DE EXPEDIENTE
Situação: REMETIDA À CÂMARA DOS DEPUTADOS
Ação: REMESSA OF. SM 030, AO PRIMEIRO SECRETARIO DA CAMARA DOS
DEPUTADOS, COMUNICANDO QUE O SENADO APROVOU
SUBSTITUTIVO AO PROJETO.
08/01/2007 SF-SSEXP - SUBSECRETARIA DE EXPEDIENTE
Situação: AGUARDANDO DECISÃO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
Ação: AO PLEG, com destino ao Arquivo.

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