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A discussão das formas de governo, segundo Norberto Bobbio (2001), se inicia com uma
análise das visões de Heródoto, Platão, Aristóteles e Políbio. Heródoto apresenta um debate fictício
entre três personagens persas, cada um defendendo uma forma clássica de governo: democracia,
aristocracia e monarquia. Platão, por meio de suas obras, delineia uma república ideal,
contrastando-a com formas corrompidas de governo. Aristóteles e Políbio, por suas tipologias,
estabelecem uma classificação hierárquica das formas de governo, diferenciando o bem comum dos
interesses privados. Contudo, Maquiavel inova ao reduzir as formas de governo a dois modelos
fundamentais: principados e repúblicas, baseando-se na concentração do poder. Sua análise reflete a
observação direta dos Estados de sua época, modificando a abordagem teórica das estruturas
políticas. Por fim, Bodin e Hobbes destacam a noção de soberania, divergindo sobre a extensão do
poder absoluto do Estado e seus limites em relação aos direitos individuais. Essas perspectivas
variadas, desde a antiguidade até as análises contemporâneas, fornecem um panorama complexo
sobre as formas de governo que seram analisados nesse artigo.

Introdução

Ao longo da história da filosofia política, a questão das formas de governo tem sido um
ponto central de reflexão, suscitando debates e análises profundas sobre as estruturas políticas.
Norberto Bobbio em sua obra seminal "A Teoria das Formas de Governo", 2001, oferece uma
abordagem abrangente e meticulosa, explorando as percepções de uma gama diversificada de
pensadores ao longo dos séculos. Desde as civilizações antigas até as teorias contemporâneas, a
busca pela compreensão das formas de governo tem sido uma constante, revelando não apenas a
evolução das estruturas políticas, mas também as diferentes perspectivas filosóficas que moldaram
nossa compreensão do poder, autoridade e organização social.
Este trabalho se propõe a mergulhar nesse panorama, examinando as contribuições de
pensadores fundamentais como Heródoto, Platão, Aristóteles, Políbio, Maquiavel, Bodin, Hobbes,
Montesquieu e mesmo a visão crítica de Marx e Engels em relação ao Estado. A análise minuciosa
desses pensadores revela uma riqueza de ideias e concepções sobre as formas de governo,
fornecendo não apenas um entendimento histórico, mas também uma apreciação das nuances e
complexidades que envolvem o exercício do poder político.
Neste contexto, examinaremos as diversas abordagens e divergências entre esses filósofos,
suas interpretações sobre as estruturas políticas ideais e reais, assim como as implicações éticas,
sociais e históricas de suas teorias. Este estudo se propõe a oferecer uma visão abrangente das
concepções das formas de governo ao longo do tempo.

Discussão

A discussão sobre as formas de governo, como apresentada no texto de Norberto Bobbio


(2001), é um convite para explorar as perspectivas dos pensadores abordados e suas análises sobre
as estruturas políticas. Heródoto introduz um debate fictício entre três personagens persas - Otanes,
Megabises e Dario - discutindo sobre a melhor forma de governo após a morte de Cambises. Cada
um defende uma das três formas clássicas de governo: democracia, aristocracia e monarquia,
delineando os aspectos positivos de uma forma e os negativos das outras duas.
Otanes propõe o governo do povo, destacando os perigos da monarquia, onde o monarca
detém um poder ilimitado e pode cair na prepotência e na inveja. Megabises, por sua vez, advoga
pela confiança na oligarquia, temendo a prepotência da plebe descontrolada em uma democracia.
Dario, ao defender a monarquia, critica tanto a democracia quanto a oligarquia, argumentando que a
liderança de um único indivíduo virtuoso é superior.
Platão, por meio de suas obras como "A República" e "O Político", apresenta uma tipologia
das formas de governo. Ele descreve uma república ideal composta por governantes-filósofos,
guerreiros e trabalhadores, mas ressalta que os Estados reais são corrompidos, não alcançando essa
perfeição. Platão identifica formas corrompidas, como a timocracia, oligarquia, democracia e
tirania, cada uma refletindo vícios predominantes nas classes dirigentes. O filósofo aborda a
mudança de uma constituição para outra, enfatizando a importância do revezamento das gerações e
a influência da corrupção do princípio que inspira todos os governos.
A análise desses pensadores revela diferentes visões sobre as formas de governo, destacando
preocupações com a corrupção, a influência das classes dirigentes e a busca por uma constituição
ideal. Enquanto Heródoto apresenta um debate prescritivo, onde cada forma é defendida por um dos
interlocutores, Platão, de maneira mais descritiva, aponta para a corrupção e degradação das formas
de governo reais em relação à república ideal.
A teoria das formas de governo, desde a Antiguidade clássica, foi um tema de extrema
importância no estudo da política. As obras de Aristóteles, especialmente sua obra "Política", e o
livro VI da História de Políbio, fornecem fundamentos sólidos para a compreensão das várias
estruturas políticas e suas qualidades inerentes.
Aristóteles, em sua "Política", apresenta uma tipologia clara das formas de governo,
centrada na noção de politeia, ou constituição. Para ele, a constituição é a estrutura que organiza a
cidade, estabelecendo o funcionamento dos cargos públicos e da autoridade soberana. Ele identifica
seis formas de governo principais, baseadas na relação entre quem governa e como governa. São
elas: monarquia, aristocracia e politeia como formas boas, e tirania, oligarquia e democracia como
formas más.
Por outro lado, Políbio, no livro VI de sua História, expande essa tipologia ao afirmar que
existem fundamentalmente seis formas de governo, três boas e três más. Ele enriquece a discussão
ao introduzir a ideia de um ciclo histórico das constituições, onde estas se sucedem em determinada
ordem previsível. Além disso, Políbio propõe a ideia de uma sétima forma, a constituição mista,
exemplificada pela constituição romana, como a melhor síntese das três formas boas.
Uma divergência entre Aristóteles e Políbio reside na terminologia. Enquanto Aristóteles
utiliza termos como monarquia, aristocracia e politeia, Políbio identifica a terceira forma como
democracia, atribuindo-lhe uma conotação positiva. A diferença de critérios para distinguir as
constituições boas das más também é notável: Aristóteles enfatiza a distinção entre interesses
públicos e privados, enquanto Políbio parece adotar critérios baseados na força versus consenso e
no governo legal versus ilegal.
A teoria de Maquiavel sobre as formas de governo representa uma mudança substancial em
relação à classificação clássica de Aristóteles e Políbio. Norberto Bobbio (2001) ressalta essa
inovação ao afirmar que Maquiavel substitui a tripartição clássica por uma bipartição, reduzindo as
formas de governo a dois modelos fundamentais: principados e repúblicas. Esta nova classificação é
uma ruptura significativa com a tipologia anterior, onde as formas de governo eram divididas em
três categorias distintas: monarquia, aristocracia e democracia.
A transição de uma forma de governo para outra implica uma mudança na natureza da
vontade política. Enquanto no principado a vontade é representada por uma única pessoa física, nas
repúblicas, essa vontade é coletiva, expressa por um corpo político. Maquiavel enfatiza que a
vontade coletiva requer o respeito por regras e procedimentos específicos para sua formação, como
a maioria em decisões democráticas. Essa distinção entre a vontade singular do soberano e a
vontade coletiva dos governados é crucial na teoria maquiaveliana das formas de governo.
Essa nova classificação proposta por Maquiavel reflete a realidade política de sua época. Ao
contrário dos antigos filósofos gregos, cuja teoria das formas de governo derivava da observação
das constituições das cidades helênicas, Maquiavel baseou sua teoria na observação dos Estados de
sua própria época, como os regna europeus e as civitates italianas. Essa mudança na realidade
política exigia uma nova abordagem na teoria das formas de governo.
No entanto, surge uma aparente contradição na obra de Maquiavel ao mencionar os "Estados
intermediários", que não se encaixam na bipartição proposta entre principados e repúblicas. A ideia
de que esses Estados intermediários são instáveis e propensos a transições entre as formas de
governo sugere uma incompatibilidade com a teoria do Estado misto, defendida por Maquiavel ao
se referir à república romana.
A análise de Bobbio (2001) destaca que, para Maquiavel, nem toda combinação entre
diferentes formas de governo constitui um governo misto verdadeiro. Enquanto algumas
combinações podem ser uma síntese eficaz de constituições opostas, outras podem resultar em uma
mistura inadequada e instável de formas de governo. Contudo, é crucial considerar que a obra de
Maquiavel reflete tanto uma análise teórica das formas de governo quanto a observação direta e
contextualizada dos Estados de sua época. A compreensão da teoria maquiaveliana das formas de
governo demanda uma análise cuidadosa das circunstâncias históricas e das nuances políticas da
época em que foi elaborada, destacando-se como uma abordagem revolucionária e contextualizada
das estruturas políticas.
Bodin, autor de "De la Republique", e Hobbes, conhecido por "Leviatã", destacaram-se ao
abordar a noção de soberania e suas implicações na estrutura e no funcionamento dos Estados. No
livro de Bodin, a noção de soberania é central em sua teoria política. O conceito de soberania como
um poder absoluto e perpétuo do Estado é enfatizado. Bodin (2001) define soberania como "o poder
absoluto e perpétuo que é próprio do Estado". Esta visão destaca a necessidade de um poder
supremo, não subordinado a nenhum outro, para a existência do Estado.
Ambos os pensadores refutam a ideia de distinção entre formas boas e más de governo.
Bodin e Hobbes negam a viabilidade dessa distinção com base na absoluta natureza do poder
soberano. Para Hobbes, especialmente, a ausência de limites no poder do soberano torna
contraditória a distinção entre um bom soberano e um tirano. Ele argumenta que tal distinção é
subjetiva e baseada em opiniões pessoais, não em critérios racionais.
Montesquieu, em sua abordagem, distingue claramente entre as leis naturais universais e as
leis positivas que variam de acordo com diferentes sociedades. O autor parte do pressuposto de que
todas as coisas, incluindo seres humanos, são governadas por leis. Essa premissa, no entanto, não
implica que o mundo esteja sujeito a uma "cega fatalidade", mas sim que existem relações
necessárias entre seres, o que Montesquieu define como leis. Ele destaca: "Há portanto uma razão
primitiva, e as leis são as relações entre ela e os vários seres, bem como as relações destes últimos
entre si" (BOBBIO, 2001).
Aqui, Montesquieu inicia a distinção entre o mundo natural, regido apenas por leis naturais,
e o mundo humano, influenciado tanto pelas leis naturais quanto pelas leis positivas, as quais
variam de acordo com a organização social de cada sociedade. A diversidade das leis positivas entre
diferentes sociedades é fundamental para compreender a complexidade das estruturas sociais.
Montesquieu enfatiza que a elaboração de uma teoria geral da sociedade depende do estudo dessas
sociedades particulares, pois a multiplicidade das leis é explicada pela variedade das condições
sociais e culturais.
O autor argumenta que a investigação sobre a multiplicidade das leis não é inexplicável ou
irracional, mas exige um método de estudo rigoroso e uma abordagem observacional. Montesquieu
propõe que a variedade das leis pode ser compreendida por meio de uma investigação semelhante à
dos físicos em relação ao universo natural. Assim, a observação e a aplicação de métodos de estudo
racionais são cruciais para desvendar a complexidade das leis que regem a sociedade.
Diferentemente de outros filósofos políticos, Marx não demonstrou um interesse explícito na
tipologia das formas de governo. Em suas obras, não se encontra uma investigação direta sobre essa
questão. Isso pode ser atribuído à sua visão extremamente negativa do Estado, caracterizada por sua
concepção negativa do papel do Estado na sociedade. Marx via o Estado como uma superestrutura
que refletia as relações sociais determinadas pela base econômica, sustentando que "a vida material
dos indivíduos, seu modo de produção e a forma de relacionamento [...] constituem o poder que cria
o Estado" (BOBBIO, 2001).
O Estado, segundo Marx, era um instrumento de domínio utilizado pela classe dominante
para manter seus interesses específicos, não sendo um veículo para o bem comum ou justiça, mas
sim uma representação dos interesses da classe que governa. Essa concepção contrastava fortemente
com a visão predominante de filósofos anteriores, que frequentemente glorificavam o Estado como
o ápice da civilização e da racionalidade.
Em sua obra "O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte", Marx identifica a república burguesa
como o "despotismo absoluto de uma classe sobre outras classes", evidenciando sua visão de que
qualquer forma institucional do Estado servia como um mecanismo de dominação. Nessa
perspectiva, a distinção entre formas de governo, boa ou má, perdia relevância, pois todas as formas
estatais eram consideradas como expressões de despotismo resultantes das relações de poder
subjacentes na sociedade.
Bobbio (2001) discorre sobre Friedrich Engels e as considerações do autor na obra "A
Origem da Família, da Propriedade e do Estado", em que discute a formação histórica do Estado,
enfatizando mais esse aspecto do que a organização do poder político. Essa obra trata mais da
formação histórica do Estado do que da análise das formas de governo, destacando a ligação
intrínseca entre o Estado e a classe dominante.
Assim, Marx e Engels apresentam uma visão crítica das formas de governo, enfatizando que
qualquer forma institucional do Estado reflete as relações de dominação entre classes. Essa
concepção negativa do Estado influencia sua compreensão das formas de governo, despojando-as
de sua importância intrínseca, já que todas são vistas como expressões de um mesmo despotismo
subjacente às relações sociais.

Conclusão

A análise das diferentes perspectivas filosóficas sobre as formas de governo, como abordado
no texto de Norberto Bobbio, revela um panorama rico e variado das estruturas políticas ao longo
da história. Desde as discussões fictícias de Heródoto até as concepções críticas de Marx e Engels,
cada pensador oferece uma visão particular, enfatizando aspectos distintos das organizações
políticas.

A compreensão de Heródoto, por meio do debate entre Otanes, Megabises e Dario, ilustra as
preocupações recorrentes sobre as vantagens e desvantagens das formas de governo clássicas -
democracia, aristocracia e monarquia. Esse diálogo prescritivo ressalta as tensões inerentes a cada
estrutura política, evidenciando os perigos da concentração de poder.

Platão, em sua obra, delineia uma tipologia das formas de governo, contrastando a república
ideal com as formas corruptas. Sua visão detalhada das corrupções inerentes a cada forma de
governo, além de suas reflexões sobre a mudança constitucional e a degradação das sociedades,
contribui significativamente para a compreensão das dinâmicas políticas.

Aristóteles e Políbio, embora apresentem abordagens distintas, fornecem uma base sólida
para a compreensão das estruturas políticas. Suas tipologias das formas de governo, destacando a
distinção entre formas boas e más, influenciaram profundamente o pensamento político
subsequente, estabelecendo critérios para a avaliação das constituições.

A inovação proposta por Maquiavel, ao reduzir as formas de governo a principados e


repúblicas, representou uma ruptura significativa com a classificação clássica. Sua análise se baseou
na observação direta dos Estados contemporâneos, refletindo uma nova realidade política que
demandava uma abordagem contextualizada das estruturas políticas.

Bodin, Hobbes e Montesquieu contribuíram com visões distintas sobre a soberania, as


relações entre os indivíduos e o Estado, bem como a diversidade das leis e suas influências na
organização social. No entanto, é na crítica contundente de Marx e Engels que se encontra uma
visão profundamente negativa do Estado, considerado um instrumento de dominação da classe
dominante. Sua concepção influenciou a compreensão das formas de governo, despojando-as de sua
importância intrínseca, já que todas refletem, segundo essa perspectiva, um despotismo subjacente
às relações sociais.
REFERÊNCIA

BOBBIO, N. A teoria das formas de governo. Brasilia: Unb, 2001.

ENGELS, F. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. [s.l.] LeBooks Editora,


2019.

MARX, K.; KONDER, L. O 18 Brumário De Luis Bonaparte. 1975.

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