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AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE VARGEM GRANDE/MA

MAURÍCIO ALVES, brasileiro, agente comunitário de saúde, portador do RG nº


024910922003-4, CPF nº 052.167.493-06, residente e domiciliado na R. cesar viana, s/n, Centro,
Vargem Grande – MA, CEP: 65430-000, por seus advogados in fine, com escritório profissional
localizado na Rua 8, quadra 28, casa 5, Angelim, São Luís/MA, CEP 65062-730, nesta cidade,
aonde recebe eventuais intimações e notificações, vem respeitosamente perante Vossa
Excelência, propor a presente

AÇÃO DE COBRANÇA C/ OBRIGAÇÃO DE FAZER E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face de MUNICIPIO DE VARGEM GRANDE/MA, CNPJ nº 05.648.738/0001-83


com sede na Rua Nina Rodrigues s/n, Centro, Vargem Grande/MA – CEP 65430-000, pelos
fundamentos fáticos e de direito a seguir aduzidos:

I – DOS FATOS

O Autor conseguiu o seu primeiro emprego em setembro de 2011, exercendo o


cargo de agente comunitário de saúde, contratado pelo Município de Vargem Grande – MA,
aonde labora até o presente momento, recebendo atualmente como salário o valor bruto de R$
1.711,80 (um mil, setecentos e onze reais e oitenta centavos).
Cumpre ressaltar, que desde a sua admissão em 09/2011 (completado os 5 anos de
cadastro em diante), o Autor nunca conseguiu receber o abono anual PASEP (Programa de
Formação do Patrimônio do Servidor Público).
Durante esses anos, o Demandante buscou incansavelmente resolver o litigio de
forma administrativa. Primeiramente, quando se dirigia até o banco do brasil questionando não
ter recebido o abono anual, era informado pelos atendentes do banco que não havia informação
na sua RAIS, por isso não conseguiam realizar o pagamento.
Então, deslocava-se o Autor até o seu empregador, o Município de Vargem Grande,
chegando lá, lhe era informado que o número do PASEP e todas as outras informações
constavam sim na RAIS e o problema era no sistema do Banco do Brasil.
E assim, por anos, o Demandante sofreu com essa confusa troca de informações,
sem saber o que fazer e a quem recorrer, o Litigante fora atras de outros Órgãos em busca de
respostas concretas.
Assim, deslocou-se até a Caixa Econômica Federal, em uma tentativa desesperada
de tentar receber por lá, quando foi até a caixa e questionou não conseguir receber seu abono
do PASEP, foi comunicado que não havia o ano de cadastramento do PASEP informado na RAIS
e pra conseguir essa informação, seria necessário que o empregador (Município) realizasse um
RDT (Retificação de Dados), onde ocorreria a retificação/inclusão das informações necessárias.
Dessa forma, o Requerente começou a ir a Prefeitura e solicitar a RDT (Retificação
de Dados). Mas toda vez que o Autor requeria a atualização, a administração do Município
empregador arrumava inúmeras desculpas infundadas e pedia pra aguardar.
Excelência, o Autor já está aguardando a milhares de anos e o problema nunca foi
solucionado.
Mas ainda assim, na tentativa de resolver administrativamente, o Autor foi até o
Ministério do Trabalho, aonde foi dada a mesma informação que obtivera na Caixa econômica
e no Banco do Brasil, que falta o empregador (Município de Vargem Grande), informar o ano de
cadastramento do PASEP na RAIS. (Conforme documento comprobatório adquirido no MT)
Dessa forma, tanto na Caixa Econômica quanto no Banco do Brasil e no Ministério
do Trabalho, o Litigante recebeu documentos comprovando as informações dadas de que o
problema para o não recebimento do abono questionado, era a falta do ano de cadastramento
do PASEP na RAIS/não informação do número do PASEP na RAIS. (Conforme documentos
comprobatórios em anexo)
Tais procedimentos são de responsabilidade exclusiva do empregador do Autor,
o Município de Vargem Grande, que deveria ter adicionado todas essas informações
necessárias na RAIS do trabalhador para que o mesmo conseguisse receber o abono.
Assim, desde que completou 5 anos de cadastro no PIS/PASEP (setembro/2011 a
setembro/2016), o Demandante deveria começar a receber o abono PASEP a partir de
outubro/2016 em diante.
Cumpre ressaltar que, o direito ao cadastramento no PIS/PASEP constitui uma
providência acessória da anotação da CTPS, até porque o próprio abono anual do PIS/PASEP tem
feição assistencial, sendo que o trabalhador a ele não tem acesso sem que aquela providência
seja adotada pelo empregador.
Portanto, o registro deve ser providenciado na mesma data de início do contrato
de trabalho, sob pena de ensejar prejuízos financeiros ao empregado.
Frise-se: Não só a falta de cadastramento no Programa, mas também a omissão na
prestação das informações na RAIS, dão ensejo ao pagamento de uma indenização substitutiva
pelos prejuízos causados decorrentes desta omissão, por força dos arts. 186 e 927, do CC, in
verbis:
"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito."

"Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo."

Assim, não há dúvida de que este fato causou imensos prejuízos, na medida em que
impediu o Autor de receber os abonos anuais decorrentes do período de labor não informado
na RAIS.
Assim, depois de inúmeras tentativas administrativas infrutíferas durante esses
anos, é indiscutível a ocorrência de sérios danos causados à parte Autora, condutas danosas
essas que merecem enérgica reprimenda do Poder Judiciário.
Portanto, nada mais justo que este venha a este Douto Juízo clamar por justiça,
como forma de buscar proteção aos seus direitos que foram violados por ato ilegal da parte
Requerida, lhe causando incomensuráveis prejuízos.

II – DO DIREITO
a) Do benefício da Justiça Gratuita;

Primordialmente, requer a parte Autora a concessão do Benefício da Gratuidade da


Justiça, tendo em vista que se apresenta com insuficiência de recursos para pagar as custas, as
despesas processuais e os honorários advocatícios, com base na Lei 1.060/1950, e dos artigos
98 a 102, da Lei 13.105/2015.
b) Da obrigação de fazer:

Conforme explicitado, o Autor tem o direito assegurado por Lei Federal de ter o seu
nome incluído na RAIS, seu ano de cadastramento pelo período em que trabalhou para o
reclamado e demais informações que estejam faltando, na condição de participante obrigatório
do PIS/PASEP.
A Ré não cumpriu com sua obrigação em todo o lapso contratual de informar o ano
de cadastramento do PASEP na RAIS ou o número do PASEP na RAIS, por este motivo o Autor
não recebeu sua bonificação durante esses anos.
Portanto, a parte Autora objetiva, além da indenização pelos danos causados, a
obrigação da Ré em adicionar todas e quaisquer informações necessárias na RAIS do Autor e
a pagar o abono PASEP desde outubro/2016 até o presente ano de 2021, fato que acaba por
refletir consideráveis prejuízos, haja vista que a parte poderia ter todo esse dinheiro investido
ou guardado para emergências.
O art. 239, § 3º, da Constituição Federal, e o art. 9º da Lei nº 7.998/90, estabelecem
que o abono salarial do PIS/PASEP somente é devido aos trabalhadores que estejam
cadastrados há pelo menos 5 anos no PIS/PASEP e tenham recebido remuneração mensal de até
2 salários mínimos.
Além disso, devem ter exercido atividade remunerada, em pelo menos 30 dias e
tenham seus dados informados corretamente na Relação Anual de Informações Sociais - RAIS
do ano base considerado
Com efeito, cabe ao empregador incluir o nome de seus empregados na RAIS e
demais inormações. O descumprimento de tal obrigação legal de fazer enseja o dever de
indenizar o dano causado, nos termos dos arts. 927 e 942 do Código Civil.
Não pode o Réu recusar-se a incluir todas as informações necessárias e essenciais
na RAIS, já que restou comprovado é sua obrigação, MERECENDO DIGNA REPRIMENDA DO
PODER JUDICIÁRIO.
Assim, configurada a obrigação de fazer, nos moldes do artigo 247 do Código Civil
de 2002, a parte Requerida tem a obrigação civil de informar o ano de cadastramento do PASEP
na RAIS, o número do PASEP na RAIS e demais informações necessárias que deveriam constar.

c) Do dano moral e do quantum indenizatório:


É cediço na doutrina e jurisprudência pátrias que o dano, ainda que exclusivamente
moral, deve ser indenizado, pois assim se confere efetividade aos dispositivos constitucionais
previstos no art. 5º, incisos V e X da Magna Carta, norma máxima do sistema jurídico brasileiro,
assim como na legislação infraconstitucional, no art. 6º, VI, do Código de Defesa do Consumidor,
e art. 186 do Código Civil 2002.
O dano moral caracteriza-se como a ofensa ou violação aos bens de ordem moral
ou psíquica de uma pessoa, tais sejam os que se referem à dor, angústia, frustração, desespero,
agonia, revolta, humilhação, liberdade, à honra (subjetiva ou objetiva), saúde (mental ou física)
e à imagem.
Sabe-se que a indenização pelo dano moral, além da sua natureza satisfativa, isto
é, tendente a amenizar a angústia e dor experimentadas por quem sofre a lesão, tem também
um viés punitivo, pelo qual se pretende sancionar o agente lesivo a fim de que o mesmo sinta o
peso pela violação dos direitos alheios.

Partindo desta análise, pondera Carlos Alberto Bittar:


Impera, aliás, a respeito: a) o princípio da responsabilidade
integral, consoante o qual se deve atender, na fixação da
indenização, à necessidade de plena satisfação do lesado,
buscando-se no patrimônio dos lesantes valores que, sem
limites, a tanto correspondam; e b) a técnica da atribuição de
valor de desestímulo, ou de inibição, para que se abstenha o
lesante de novas práticas do gênero, servindo a condenação
como aviso à sociedade; com isso, ao mesmo tempo em que se
sancionar os lesantes e oferecem-se exemplos à sociedade, a
mostrar-lhe que certos comportamentos, porque contrários a
ditames morais, recebem a repulsa do Direito. (BITTAR, Carlos
Alberto. Reparação Civil por Danos Morais, 1994, p. 197)

Verificada no caso em análise a ocorrência do dano moral, tamanhos foram os


aborrecimentos da parte Autora em ter sido claramente prejudicada pelos descuidos e
desdenho da Ré, que desde o inicio da contratação até o presente momento, não incluiu as
informações necessárias na RAIS, a ausência do ano de cadastramento e demais informações
omissas ensejou diversos prejuízos.
Assim, caso o Suplicante tivesse laborado com a situação perante a RAIS
regularizada, poderia fazer uso do benefício em várias situações, a exemplo de doença grave e,
ao final, na aposentadoria, como consta do art. 1º e 7º da Lei Complementar 07/1970, assim
como arts. 2º e 3º da Lei Complementar 26 de 1975, bem como o art. 4º desta última norma
sobre as hipóteses de saques do valor da conta. Ainda, prejudicou o trabalhador na formação
do capital da sua conta individual.
Ora, Excelência, nas palavras da eminente Des. Tânia Rosa Maciel de Oliveira, ao
julgar os processos de nº. 0020608-14.2014.5.04.0124 e 0020051-14.2015.5.04.0020, em sede
recursal, “o não cadastramento do empregado no PIS obsta o início da contagem do prazo de
carência para a percepção do benefício, e a falta de entrega da RAIS por parte do empregador
impede o recebimento da vantagem. Ainda que a empregada atualmente pudesse não fazer
jus ao PIS, quaisquer dessas omissões do empregador ensejam prejuízo futuro.” (grifo nosso).
Pleiteia-se, aqui, a sua reparação, mediante indenização justa e adequada, a ser
arbitrada em patamar que satisfaça seu viés punitivo, e também seu caráter compensatório,
consolando a parte Autora pelas angústias, transtornos e constrangimento suportados.
Inclusive, vale ressaltar que esse entendimento é majoritário perante todos os
Tribunais à fora, inclusive o TST, conforme vejamos nas jurisprudências abaixo:

INDENIZAÇÃO DO PIS/PASEP. AUSÊNCIA DE CADASTRAMENTO E


AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO NA RAIS. DIREITO À INDENIZAÇÃO. A
falta de cadastramento no Programa PIS/PASEP e a omissão na
prestação das informações na RAIS dão ensejo ao pagamento de uma
indenização substitutiva pelos prejuízos causados ao obreiro
decorrentes desta omissão. Recurso conhecido e desprovido.
(TRT-22 - RO: 000021677920165220102, Relator: Thania Maria Bastos
Lima Ferro, Data de Julgamento: 26/06/2017, PRIMEIRA TURMA)

AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014.
INDENIZAÇÃO SUBSTITUTIVA DO PIS. AUSÊNCIA DE CADASTRAMENTO
DO EMPREGADO NA RAIS. O Regional manteve a sentença que
condenara a ré ao pagamento da indenização substitutiva do PIS, por
concluir que o reclamado não comprovou ter fornecido ao MTE, por
intermédio da Relação Anual de Informações Sociais, os dados do
empregado, impedindo, dessa forma, o recebimento do abono
salarial pelo reclamante. Esta Corte Superior tem se posicionado no
sentido de que a falta de inscrição do obreiro na RAIS, e, por
conseguinte, a frustração da percepção do abono salarial, acarreta
direito à percepção de indenização substitutiva. Incide, portanto, o
óbice da Súmula 333 do TST e do art. 896, § 7º, da CLT. Agravo não
provido.
(TST - Ag-AIRR: 2078120145060271, Relator: Breno Medeiros, Data de
Julgamento: 26/09/2018, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT
28/09/2018)

Deste modo, tendo em vista que a parte Autora deixou de receber os abonos anuais
do PASEP correspondentes, em virtude da negligência da Demandada, por não informar a data
do ano de cadastramento, número e por não prestar as informações regulares na RAIS, deve ser
reconhecida a ilegalidade e o direito ao recebimento dos danos morais, impõe-se que a
indenização pretendida não deve ser fixada em valores ínfimos, facilmente suportáveis pela
parte Ré, sobretudo diante de sua vultosa capacidade econômica, mas deve ser fixada levando-
se em consideração os transtornos causados à parte Autora, decorrentes de conduta
amplamente sub-reptícia. OS ABORRECIMENTOS E PERTURBAÇÕES, NO PRESENTE CASO,
EXTRAPOLARAM O LIMITE DO RAZOÁVEL!
Portanto, levando-se em conta o exposto e havendo total nexo de causalidade,
deve a parte Ré indenizá-la em R$ 20.000,00 (vinte mil reais), sendo este valor justo ao ponderar
a gravidade das ofensas, a capacidade econômica da parte Ré, os prejuízos sofridos pela parte
Demandante, e a necessidade pedagógica que o inste a evitar a reincidência de tais condutas
ilícitas.
Ressalta-se, ainda, que nos termos da Súmula 43 do Egrégio Superior Tribunal de
Justiça (STJ) tal indenização deve ser corrigida monetariamente, incidindo tal correção a partir
do ato ilícito.

III – DOS PEDIDOS


Diante do exposto, requer a procedência dos pedidos da ação nos seguintes termos:

1. Requer a procedência do presente pedido da ação, para que o Município de Vargem


Grande - MA, informe/retifique o ano de cadastramento do PASEP na RAIS do Autor, o
número do PASEP na RAIS e todas e quaisquer informações necessárias/essenciais que
deveriam constar;
2. Requer que, o Réu pague ao Autor, todos os valores correspondentes ao abono PASEP
durante esses anos que lhe são devidos, desde outubro/2016 até o presente ano,
corrigidos e atualizados monetariamente;
3. Requer ainda, a condenação ao pagamento de indenização pelo dano moral sofrido, no
valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), ponderando a gravidade das ofensas, a
capacidade econômica da parte Ré, e a necessidade pedagógica que o inste a evitar a
reincidência de tais condutas ilícitas;
4. Conceda em “Initio Littis”, os benefícios da Justiça Gratuita, nos termos do disposto na
Lei nº 1.060/50, e dos artigos 98 a 102, da Lei 13.105/2015 haja vista que sua situação
econômica não lhe permite pagar custas processuais e honorários advocatícios sem
prejuízo do sustento próprio e de sua família;
5. A parte Autora pugna pela NÃO realização da audiência preliminar de
conciliação/mediação, em obediência ao artigo 319, VII, do Código de Processo Civil;
6. Requer que a parte Ré seja citada para responder a presente demanda no prazo legal,
apresentando a defesa que julgar conveniente, sob pena de revelia e confissão acerca
da matéria de fato;
7. Que seja a Demandada condenada ao pagamento das custas e honorários advocatícios
que a demanda venha a ocasionar, nos termos do CPC/2015;
8. A parte Autora requer, por oportuno, a ampla produção de prova, sob pena de confesso,
juntada de documentos e demais provas em direito admitidas, não obstante já provadas
todas as alegações ora aduzidas.

Dá-se à causa o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

Termos em que, pede e espera deferimento.

Vargem Grande - MA, 20 de janeiro de 2021

JOAO BATISTA PEREIRA DE SANTANA FILHO


ADVOGADO - OAB/MA 18.373

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