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APRIMORAMENTO

PROFISSIONAL E
NOVAS TECNOLOGIAS
FICHA TÉCNICA

Preparação de Conteúdo:
Professora Laury Costa

Formatação e Normalização (ABNT):


Ediane Souza

Revisão Gramatical, Semântica e Estilística:


Ediane Souza

Capas: Aporte Comunicação


Folhas de Rosto: Thomas Arraes

Editoração e Revisão Técnica/Final:


Ediane Souza

Diagramação:
Ediane Souza

Impressão:
Provisual Gráfica e Editora

Rua das Ninfas, 243


Soledade – Recife/PE – Brasil
CEP: 50.070-050
Telefone: (81) 4062-9222
www.grautecnico.com.br

Este material é exclusivo para uso do aluno Grau Técnico.


Para dúvidas ou sugestões, envie-nos um e-mail:
contato@grautecnico.com.br

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


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REGULAMENTO INTERNO – VERSÃO 20171
Caro(a) aluno(a),

Seja bem-vindo(a)! Para que possamos desenvolver as atividades de formação


técnica com profissionalismo e excelência, se faz necessário o cumprimento de algumas
normas, as quais estão descritas a seguir.

1 MATRÍCULA
1.1 O(a) aluno(a) deverá, no ato da matrícula, fazer a leitura do regulamento interno e do
contrato de prestação de serviços com bastante atenção, para que possa conhecer seus
direitos e deveres no decorrer do curso.

2 DIAS/HORÁRIOS
2.1 Turmas de segunda, quarta e sexta-feira, nos turnos da manhã, tarde e noite.
2.2 Turmas de terça e quinta-feira, nos turmas da manhã e noite, e aos sábados, pela manhã
e tarde.
2.3 O curso de Enfermagem, exclusivamente, tem turmas de segunda à sexta, nos turnos da
manhã, tarde e noite. Em breve, terá o formato de três dias, assim como os demais
cursos.
2.4 A pontualidade e a assiduidade, bem como a postura pessoal serão pontuadas como
indicadores do processo de avaliação.
Atenção: observe em seu contrato os dias e horários das aulas.

3 ATIVIDADES COMPLEMENTARES
3.1 As atividades extraclasse (palestras, seminários, Visitas Pedagógicas Orientadas (VPOs)
serão obrigatórias para o complemento da carga horária, sendo realizados nos mesmos
horários das aulas, em dias alternados ou de acordo com a disponibilidade da escola ou
da empresa (no caso das VOPs).
3.2 As visitas pedagógicas orientadas acontecerão de acordo com a disponibilidade da
escola e das empresas parceiras. Cabe ao aluno interessado realizar o pagamento da
taxa de transporte na secretaria, se houver.
3.3 O uso do fardamento é obrigatório para todas as visitas e aulas práticas (dentro e fora
da instituição).

4 CERTIFICAÇÃO
4.1 A frequência nas aulas deve ser igual ou superior a 75% (setenta e cinco por cento) em
cada disciplina.
4.2 A média em cada disciplina deve ser igual ou superior a 7,0 (sete).
4.3 O(a) aluno(a) que for reprovado(a) em alguma das disciplinas deverá pagar o valor de
uma parcela para cursar novamente a disciplina, a fim de obter frequência e nota
necessárias para a aprovação e para o recebimento do certificado.
4.4 Estar com todas as parcelas pagas.
4.5 Estar com toda documentação exigida pela Secretaria Estadual de Educação, conforme

1
O regimento em vigor será sempre a última versão, informada no título deste documento.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


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orientado no ato da matrícula.
4.6 Solicitar, por escrito, a emissão do diploma. O prazo de entrega, após solicitação, será de
até 60 (sessenta) dias.
4.7 Os cursos que possuem estágio obrigatório terão os seus diplomas entregues após o
cumprimento da carga horária total, incluindo estágio.

5 REPOSIÇÃO DE AULA
5.1 Em caso de falta justificada, o(a) aluno(a) terá o direito de realizar a aula ou atividade
perdida em outra turma, de acordo com a disponibilidade da escola, sem custo
adicional.
5.2 A falta só poderá ser justificada perante atestado médico ou documento comprovando o
motivo da ausência.
5.3 Em caso de falta sem justificativa, o(a) aluno(a) poderá requerer na secretaria a
reposição da aula ou atividade, efetuando o pagamento referente à taxa do serviço.
5.4 Observa-se que a justificativa não anula a falta, apenas faz valer o direito de reposição
da aula ou atividade.

6 CONSERVAÇÃO
6.1 No caso de danos ao espaço da escola ou a equipamentos pertencentes à mesma, o(a)
aluno(a) ou seu representante legal será responsabilizado pelos gastos com o reparo,
bem como, se necessário, submetido(a) às medidas disciplinares quando for cabível.
6.2 Ao término de cada aula, teórica ou prática, a sala ou laboratório utilizado deverá ser
deixado organizado para a próxima turma.

7 SAÚDE E BEM-ESTAR GERAL


7.1 Não será permitida a utilização de aparelhos celulares ou fones de ouvido na sala de
aula.
7.2 Não será permitida a permanência de pessoas em salas de aula e dependências internas
da escola, a não ser alunos, instrutores ou funcionários em seus respectivos horários.
7.3 Não será permitida a entrada de alimentos ou bebidas nas salas de aula, laboratórios ou
biblioteca.
7.4 Deve-se manter a limpeza, organização e conservação da escola como um todo. Devem-
se utilizar os cestos de lixo disponibilizados em cada ambiente.
7.5 A escola não se responsabilizará por perdas ou danos de pertences dos alunos.
7.6 É obrigatório tratar os demais alunos, docentes e funcionários com respeito e civilidade,
sob pena de aplicação de medida disciplinar de advertência, suspensão ou expulsão, a
depender da gravidade da infração.
7.7 Temos câmeras sendo utilizadas em toda escola, a fim de proporcionar maior segurança
aos nossos alunos.

8 BIBLIOTECA/ACESSO À INTERNET
8.1 A utilização da biblioteca será mediante agendamento com a coordenação pedagógica,
fora do horário normal, com apresentação de documento para uso de livros.
8.2 O uso desta sala é exclusivo para estudo e pesquisa, portanto deverá ser mantido o
silêncio e a disciplina, para não interferir na concentração dos demais alunos.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


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8.3 O uso dos computadores para pesquisa tem o tempo máximo de 30 minutos.
8.4 Não é permitida a retirada de livros para empréstimo.

9 AVALIAÇÃO
9.1 As provas serão realizadas durante o turno que o aluno estuda e sempre na última aula
da disciplina, tendo a duração média de 1h30.
9.2 O(a) aluno(a) que faltar à prova deverá comparecer à coordenação pedagógica da escola
para requerer a avaliação em segunda chamada, agendar uma data para a realização
desta, bem como efetuar o pagamento da taxa na secretaria.
9.3 As provas de recuperação ou segunda chamada acontecem na última semana de cada
mês, conforme informado pela coordenação, no site e nos quadros de avisos.

10 CANCELAMENTO DO CONTRATO
10.1 O cancelamento do contrato poderá ocorrer a qualquer momento, sob autorização da
diretoria da escola, em caso de indisciplina por parte do(a) aluno(a). Quanto a sua
defesa, caberá aos dispositivos legais vigentes.
10.2 O cancelamento por parte do(a) aluno(a) deverá ser feito na coordenação da escola,
mediante requerimento e pagamento da multa de cancelamento, conforme contrato
de prestação de serviços.
10.3 O(a) aluno(a) que cancelar e desejar retornar ao curso poderá reverter sua multa em
pagamentos de parcelas, sendo o valor descontado das últimas parcelas restantes.
10.4 Para o(a) aluno(a) retornar, deverá ser efetuado o pagamento do valor de uma
parcela.
10.5 O aluno que for cancelado por motivo de indisciplina não poderá voltar a estudar no
Grau Técnico.

11 PORTAL ACADÊMICO
11.1 Todos os informativos, notas, oportunidades e materiais extras serão disponibilizados
Portal Acadêmico, no Website do Grau Técnico.
11.2 O acesso ao portal acadêmico é por meio do endereço eletrônico:
www.grautecnico.com.br, no qual o(a) aluno(a) colocará o seu número de matrícula
tanto no campo ‘usuário’, como naquele referente à ‘senha’.
11.3 Para a solicitação de declarações, deve-se respeitar o prazo de até 05 dias.

12 TRANSFERÊNCIA DE TURMA/SALA/INSTRUTOR/UNIDADES
12.1 A transferência de turma estará sujeita à disponibilidade de vagas nas turmas em
andamento.
12.2 A transferência de Unidade terá o valor de uma parcela com desconto. Para tanto, o(a)
aluno(a) tem que estar com as parcelas em dia, bem como a transferência deverá estar
condicionada à confirmação da unidade destino, conforme disposição nas turmas.
12.3 O (a) aluno(a) que requerer transferência de Unidade sem nunca ter cursado na
unidade de origem e desejar outro curso adiantará uma parcela com desconto na
Unidade de origem e efetuará matrícula na unidade destino, se adequando ao plano
de pagamento desta.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


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12.4 Para a otimização do espaço e aproveitamento das turmas, o Grau Técnico poderá
mudar de sala durante o decorrer do curso, bem como unir duas ou mais turmas.
12.5 Durante o decorrer do curso, pode haver mudança de instrutor. Tendo em vista que os
nossos cursos seguem um plano de aula, os alunos não terão nenhum prejuízo em
relação ao aprendizado.

13 DIAS E HORÁRIOS DE RECEBIMENTO DA ESCOLA


13.1 As parcelas do curso terão descontos de pontualidade, para os pagamentos efetuados
até a data de vencimento. Para pagamentos após o vencimento, será cobrado o valor
integral, mais multa acrescida de juros.
13.2 O desconto de pontualidade só será válido para pagamentos em espécie. Para todo
tipo de cartão, a parcela será cobrada em valor integral.
13.3 A solicitação de declarações, diploma e histórico escolar é gratuita para a primeira via.
As emissões extras destes documentos devem ser feitas mediante o pagamento de
taxa de serviços, cujo valor será informado na secretaria da escola.
13.4 No ato da matrícula, será impresso o primeiro boleto do seu curso. Os demais deverão
ser impressos a partir do portal acadêmico, no site www.grautecnico.com.br,
acessando-o com o seu login e senha, no item financeiro, no link ‘Impressão de
Boletos’, ou solicitando a sua impressão na secretaria da escola. O pagamento do
boleto poderá ser realizado em qualquer banco ou caixa de pagamentos diversos.

14 AGÊNCIA DE ENCAMINHAMENTO GRAU TÉCNICO


14.1 Os alunos do Grau Técnico dispõem de uma Agência de Encaminhamento Profissional,
que tem como objetivo realizar parceria com empresas para disponibilizar vagas de
estágio e/ou emprego. Para participar, basta estar dentro do seguinte regulamento:
apresentar nota igual ou superior a 7,0 (sete), ter frequência nas aulas igual ou
superior a 75%, ter idade superior a 16 anos, ter concluído o primeiro módulo, estar
em dia com as parcelas e participar de, no mínimo, 50% do ciclo de palestras
disponibilizadas pela agência de encaminhamento.
14.2 O compromisso de encaminhamento profissional não é garantia de emprego ou de
estágio, visto que a decisão da contratação é da empresa contratante e não do Grau
Técnico.
14.3 Para os cursos de estágio não obrigatório, os alunos terão acesso às vagas disponíveis
por meio da coordenação e por agências de integração entre empresa e escola. O
estágio deverá ser feito fora do horário no qual o aluno esteja estudando.
14.4 Para os cursos de estágio obrigatório, os alunos deverão seguir o planejamento,
conforme orientado pela coordenação pedagógica.

15 ENFERMAGEM/RADIOLOGIA/ANÁLISES CLÍNICAS
15.1 O estágio é obrigatório para os cursos de Enfermagem e Radiologia, podendo ser
realizado no decorrer ou ao final do curso. Ocorrerá, preferencialmente, em turnos no
qual ele esteja estudando, porém em dias diferentes. Pode ocorrer, ainda, de acordo
com a disponibilidade da unidade de saúde (hospitais, postos de saúde, clínicas, etc.).
Caso o aluno não conclua a disciplina do estágio, deverá realizar o pagamento de uma
taxa referente a uma parcela, para poder refazer a disciplina.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


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15.2 O estágio para de Análises Clínicas é opcional.
15.3 Materiais imprescindíveis para as aulas práticas (laboratório) – sob total
responsabilidade do aluno:
 No caso de Enfermagem: luvas de procedimento, luvas estéreis, seringas, agulhas,
gazes, esparadrapo, máscaras, toucas, gorros, jelco calibre 22, scalp calibre 21
(verde), estetoscópio, tensiômetro, garrote, termômetro (digital).
 No caso de Análises Clínicas: luvas de procedimento, luvas estéreis, seringas, agulhas,
gazes, esparadrapo, máscaras, toucas, gorros, jelco calibre 22, scalp calibre 21 (verde),
garrote.
15.4 Materiais Necessários para os estágios curriculares:
 No caso de Enfermagem: todo e qualquer material necessário às atividades práticas
serão de responsabilidade do aluno e deverão ser entregues antecipadamente para
garantia dos campos, tais como: luvas de procedimento, máscaras, propés, toucas,
gorros, capote descartável, toalhas de papel, sabão ou sabonete líquido, ou
quaisquer outros materiais solicitados pela instituição de saúde.
 No caso de Radiologia: dosímetro (disponibilizado pela escola, mas, em caso de
perda, será de responsabilidade do aluno).

Ciente e de acordo.

_____________________________________________
Aluno(a)/Responsável

Para sugestões e informações, enviar e-mail para: contato@grautecnico.com.br

SEJA BEM-VINDO(A)!

Atenciosamente,
A Direção.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 11

2 OBJETIVO DO CURSO............................................................................................................. 11

3 TÉCNICO EM ANÁLISES CLÍNICAS – MÓDULO 4 .................................................................... 12

4 IMUNOLOGIA CLÍNICA........................................................................................................... 15

5 URINÁLISE E FLUIDOS BIOLÓGICOS....................................................................................... 39

6 RELAÇÕES HUMANAS............................................................................................................ 63

7 INGLÊS INSTRUMENTAL ........................................................................................................ 85

8 SAÚDE PÚBLICA ...................................................................................................................135

9 TECNOLOGIA DE HEMODERIVADOS ...................................................................................169

10 EMPREENDEDORISMO ......................................................................................................219

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


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1 INTRODUÇÃO

O avanço tecnológico é inevitável. No mundo todo, ele vem quebrando fronteiras


econômicas, sociais e culturais, trazendo consigo toda uma facilidade no acesso à
informação, à liberdade de expressão e à inclusão social. Ao mesmo tempo, também se lida
com certa desintegração dos valores humanos, com o consumo desenfreado, a
marginalização social e a agressão ao meio ambiente.

É necessário despertar o ser humano para a importância do conhecimento técnico e


suas consequências. Também é preciso conscientizá-lo para a solidariedade, o respeito a si
mesmo e ao outro e o trabalho em equipe.

A atuação do Grau Técnico, portanto, é abrir caminho para oportunidades que


beneficiem tanto o indivíduo, quanto o coletivo. É orientar para a realização profissional e
inserção social, por meio de uma educação estimuladora e operadora de inovações na
sociedade.

2 OBJETIVO DO CURSO

O Curso de Técnico em Análises Clínicas do Centro de Ensino Grau Técnico tem


como objetivo geral formar profissionais aptos para auxiliar e executar atividades
padronizadas de laboratório (automatizadas ou técnicas clássicas), necessárias ao
diagnóstico nas áreas de parasitologia, microbiologia médica, imunologia, hematologia,
bioquímica, biologia molecular e urinálise.

Além disso, em seus objetivos específicos, o curso propicia ao aluno: formação


sólida que assegure o domínio de conteúdos, correspondendo às exigências do mundo do
trabalho; condições para desempenhar o seu papel de agente, tanto para a promoção
individual, como para a transformação social; uma ação educativa, capaz de conectar teoria
e prática voltadas para a percepção das relações entre os contextos, social, econômico,
político e cultural; a sensibilidade para a execução de atividades que atendam às normas de
segurança, proteção ao meio ambiente, saúde, agindo de acordo com os preceitos éticos e
profissionais; a preparação para a correta aplicação da legislação que regulamenta as
atividades pertinentes à área de atuação; a avaliação, o reconhecimento e a certificação de
conhecimentos adquiridos profissionalmente na área da saúde, para fins de prosseguimento
e conclusão de estudos.

APROVEITE BEM O CURSO E TRANSFORME O CONHECIMENTO ADQUIRIDO NAS AULAS EM


OPORTUNIDADES DE TRABALHO!

Atenciosamente,

Ruy Maurício Loureiro Porto Carreiro Filho


Diretor Geral

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


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3 TÉCNICO EM ANÁLISES CLÍNICAS

Este quarto e último módulo habilitará o aluno como Técnico de Nível Médio em
Análises Clínicas, desde que o mesmo tenha concluído o Ensino Médio, tenha sido aprovado
em todos os módulos e obtido frequência mínima de 75% no curso, conforme preceitua a
LDB 9394/96.

As suas disciplinas contemplam as competências e habilidades elencadas a seguir.

3.1 Competências e Habilidades

a) Conhecer o funcionamento e os componentes do sistema imune;


b) Diferenciar os métodos imunológicos de diagnóstico;
c) Evidenciar as principais patologias do sistema imune e o metabolismo hormonal;
d) Conhecer o funcionamento do sistema urinário;
e) Realizar a coleta e conservação de amostras de urina e líquidos biológicos;
f) Aplicar as técnicas de análises da urina e líquidos biológicos e relacionar ao diagnóstico
de doenças;
g) Aplicar conhecimentos teóricos e práticos relativos às Relações Interpessoais no
ambiente de trabalho;
h) Promover a interação interpessoal no ambiente de trabalho;
i) Facilitar a comunicação no ambiente de trabalho;
j) Agir com ética profissional;
k) Escolher, sabiamente, condutas e comportamentos dependendo das situações de
trabalho que lhe são apresentadas;
l) Ler e Interpretar textos em língua inglesa;
m) Entender estruturas gramaticais utilizadas na construção de textos;
n) Conhecer termos técnicos utilizados no laboratório;
o) Conhecer o processo saúde-doença;
p) Compreender o funcionamento do Sistema Único de Saúde;
q) Ficar atento à legislação e às políticas nacionais;
r) Compreender a importância da indústria de hemoderivados;
s) Diferenciar os fatores de coagulação e aplicar esses conceitos na indústria de
hemoderivados;
t) Conhecer a legislação concernente ao uso de hemoderivados no Brasil;
u) Entender o conceito de empreendedorismo;
v) Administrar situações-problema;
w) Planejar um negócio; e,
x) Utilizar o marketing como ferramenta de trabalho.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


IMUNOLOGIA CLÍNICA
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4 IMUNOLOGIA CLÍNICA

Esta Disciplina sobre Imunologia Clínica, do Curso Técnico em Análises Clínicas, tem
como objetivo apresentar ao estudante as principais técnicas imunológicas utilizadas para
auxiliar no diagnóstico laboratorial, seja de doenças causadas por micro-organismos de difícil
isolamento e cultivo, como os vírus da hepatite e HIV, como de bactérias como o Treponema
Pallidum, causador da Sífilis, ou até mesmo de doenças autoimunes cujo gene responsável já
nasce com o indivíduo.

É muito importante que o estudante saiba e valorize a reação entre antígenos e


anticorpos, reforçando o conhecimento já adquirido em disciplinas anteriores, tal como a
Microbiologia.

4.1 Introdução

Nesta disciplina discorrermos acerca das técnicas imunológicas, do diagnóstico


imunológico das doenças infecciosas, da imunologia de doenças autoimunes e dos
marcadores tumorais. Entretanto, antes, e importante abordarmos alguns conceitos
principais.

 Imunidade:

Do inglês immunity, a palavra imunidade tem origem no latim, que significa ‘isento’
ou ‘livre’. Assim, se pode afirmar que, na área médica, imunidade se refere aos mecanismos
utilizados pelo organismo como proteção contra os agentes do ambiente estranhos ao
corpo.

 Antígenos:

Autores como Caldeira Jr.; Teago; Silva (2008) observam que os Antígenos (Ag) são
moléculas complexas, contendo, em sua maioria, proteínas, polissacarídeos ou
lipossacarídeos. Para que uma substância seja reconhecida como estranha, precisa ser muito
diferente de todas as outras existentes no organismo. Os micro-organismos contam com
vários componentes antigênicos, que são capazes de provocar uma resposta imune, como
paredes celulares bacterianas, cápsulas, fímbrias, flagelos e as toxinas, que podem ser
notadas como antígenos, assim como o capsídeo e os componentes internos dos vírus.

 Anticorpos:

Os mesmos autores pesquisaram acerca dos Anticorpos (Ac) e observaram que são
glicoproteínas produzidas por plasmócitos, que são os linfócitos B diferenciados e com a
capacidade de produzir anticorpos ativamente. Os anticorpos são produzidos para aumentar
a capacidade da resposta celular em reconhecer, neutralizar e eliminar o antígeno que
estimulou a sua produção. Os anticorpos também são conhecidos como gamaglobulinas ou
imunoglobulinas, sendo classificados em 5 classes: IgG, IgA, IgM, IgD, IgE.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


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 Técnicas sorológicas:

Quanto às técnicas sorológicas, estas estão destinadas à pesquisa de antígeno e de


anticorpos, conforme descrito a seguir.

a) antígenos: no que diz respeito ao critério de cura, definição de etiologia de


doenças, seleção de doares de sangue e epidemiologias; e,

b) anticorpos: relativos à definição de processos patológicos com sintomas e sinais


clínicos semelhantes; diferenciação entre as fases da doença; indicação de
imunidade recente, devido à presença de imunoglobulina M (IgM) relativa ao
pós-contato com o antígeno, desenvolvendo ou não a doença; imunidade antiga
devido à presença de imunoglobulina G (IgG), que pode ser dividida em doença
antiga (em portador antigo ou crônico) ou vacinação; identificação de doenças
congênitas; seleção de doadores de sangue; avaliação do prognóstico da doença;
avaliação da eficácia terapêutica e suspensão da terapêutica; avaliação da
imunidade específica e agravamento da doença (CALDEIRA JUNIOR; TEAGO;
SILVA, 2008).

4.2 Técnicas Imunológicas

Os imunoensaios são estudos da reação antígeno-anticorpo realizados para detectar


a presença de determinado antígeno, anticorpo ou imunocomplexo (imunoensaios
qualitativos), e também medir a concentração de um dos componentes dessas reações
(imunoensaios quantitativos). Utilizados inicialmente para diagnóstico de infecções, para
detectar a presença do antígeno microbiano ou de anticorpos específicos, os imunoensaios
foram gradualmente assumindo importância em outras áreas, como hormônios, marcadores
tumorais e mesmo drogas, nas quais os métodos enzimáticos utilizados nos testes de
bioquímica não eram adequados (XAVIER; ALBUQUERQUE; BARROS, 2007).

Os autores (Op. cit.), para que os imunoensaios sejam úteis no diagnóstico, o


produto da interação antígeno-anticorpo deve ser visualizado ou medido de alguma
maneira. A visualização direta a olho nu é possível, se o antígeno estiver ligado a células ou
partículas que se aglomeram ou aglutinam na interação com o anticorpo. Podem utilizar
reagentes não marcados, como as técnicas de imunoprecipitação e aglutinação, mas a
maioria dos ensaios utiliza reagentes marcados, pois a amplificação do sinal proporciona um
aumento da sensibilidade de detecção. Os primeiros marcadores foram os radiativos, mas
com o surgimento de marcadores enzimáticos, fluorescentes e quimioluminescentes os
radioisótopos foram sendo substituídos, devido a sua facilidade de uso e automação
(XAVIER; ALBUQUERQUE; BARROS, 2007).

Mesmo com alta especificidade e sensibilidade, resultados falso-negativos e falso-


positivos são relativamente frequentes, e as principais causas são: reações cruzadas dos
reagentes do teste com substâncias não relacionadas; presença de substâncias que
interferem com a formação do complexo antígeno-anticorpo; erros na realização do teste e
outros fatores (XAVIER; ALBUQUERQUE; BARROS, 2007).

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


17
As técnicas mais utilizadas em laboratórios de Análises Clínicas são: aglutinação;
imunoprecipitação; nefelometria; fixação de complemento; imunofluorescência;
radioimunoensaio; imunoensaios enzimáticos (ELISA); imunoensaios de fluorescência e
quimioluminescência; outras técnicas: Western-blotting, as quais serão descritas a seguir.

4.2.1 Aglutinação

De acordo com Xavier; Albuquerque; Barros (2007), a aglutinação se dá quando


anticorpos bi ou multivalentes formam complexos com antígenos particulados insolúveis.
Anticorpos da classe IgM são, em geral, as melhores aglutininas. Os ensaios de aglutinação
são mais frequentes para a detecção de anticorpos no soro, os ensaios podem ser diretos ou
indiretos, dependendo se o analito está presente no estado nativo ou ligado a uma partícula
carreadora (eritrócitos, látex, lipossomas, microcápsulas e outras), para permitir detecção da
reação. É chamado de hemaglutinação quando há aglutinação de eritrócitos pela reação
direta de anticorpos direcionados contra componentes da superfície celular.

A aglutinação é utilizada na detecção de fator reumatoide, anticorpos antinucleares,


proteína C-reativa, antígenos microbianos e testes rápidos de gravidez (hCG na urina).
Exemplos clássicos: VDRL, Waaler-Rose e teste de Paul-Bunnel. Um exemplo de aglutinação
em placa pode ser visto na Figura 1 a seguir ilustrada.

Figura 1- Exemplo de placa mostrando aglutinação no látex positiva no primeiro círculo e negativa
nos outros círculos

Fonte: Disponível em: http://slideplayer.com.br/slide/1625277/ Acesso em maio de 2017

O diagnóstico de doenças infecciosas com testes imunológicos, segundo Trabulsi;


Alterthum (2015), pode ser feito pela pesquisa de antígenos diretamente na amostra clínica
ou para identificação de um dado agente, após ter sido isolado em cultura. Para bactérias,
por exemplo, os testes mais utilizados são os testes de aglutinação com partículas de látex
absorvidos com anticorpos específicos contra antígenos bacterianos de superfície. Esse
método tem sido utilizado na detecção de vários agentes, tais como: Haemophillus
influenzae, Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes,
Cryptococcus neoformans, principalmente em casos de meningites, nos quais o diagnóstico
rápido é fundamental para o sucesso do tratamento.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


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 VDRL:

O VDRL é o método de triagem para detecção de reaginas da sífilis. A combinação


de lecitina, colesterol e cardiolipina possui semelhança imunológica com antígenos do
Treponema pallidum, consistindo em um antígeno não treponêmico. A interação das
reaginas da amostra com este antígeno produz floculação, que pode ser detectada ao
microscópio óptico.

Em relação à técnica, em uma placa escavada, pipetar 50µl do soro do paciente e 20


µl do reagente contendo o antígeno; agitar manualmente com movimentos circulares ou em
um agitador por 4 minutos a 180 rpm; em seguida, examinar no microscópio no aumento de
100x. Além da amostra sem diluição, é recomendado um teste com uma diluição de 1:8 com
NaCl 0,85% (para todas as amostras), a fim de evitar o efeito prozona.

No que diz respeito à prova semiquantitativa, deve-se pipetar em cada cavidade da


lâmina escavada 50µL de NaCl 0,85%; na cavidade Nº1 pipetar 50µL da amostra a ser titulada
e homogeneizar; transferir 50µL da cavidade Nº1 para a Nº2 e assim sucessivamente até a
diluição desejada; desprezar os 50µL em excesso da última cavidade; adicionar 20µL do
Reagente Nº1 a cada cavidade; agitar manualmente com movimentos circulares ou em um
agitador rotativo por 5 minutos a 180 rpm; examinar ao microscópio no aumento 100x, logo
após a agitação. O título corresponde à maior diluição da amostra em que ocorreu a
floculação.

Como resultados, em caso positivo (reativo), ocorre floculação com formação de


grumos de tamanhos variáveis; suspensão de aspecto heterogêneo. Neste caso, proceder à
diluição da amostra e realizar a prova semiquantitativa; em negativo (não reativo), observa-
se ausência de floculação, suspensão de aspecto homogêneo (BIOCLIN, 2013).

 ASO (Antiesterptolisina O):

Trata-se de um método para determinação qualitativa e semiquantitativa da Anti-


Estreptolisina mediante aglutinação de partículas de látex, sem diluição prévia da amostra. O
método fundamenta-se em uma reação de aglutinação de partículas de látex recobertas com
o anticorpo correspondente, especialmente tratadas para evitar aglutinações inespecíficas. A
aglutinação é visível em amostra com concentração igual ou superior a 200 UI/mL, de acordo
com as referências estabelecidas pelos Padrões Internacionais da OMS. A Estreptolisina O é
uma exoenzima imunogênica tóxica produzida por muitos estreptococos ß-hemolíticos do
grupo A.

Quanto à aplicação da técnica, na placa específica para este teste, colocar 20µL do
controle negativo no Círculo nº 1; no Círculo nº 2 colocar 20µL do controle positivo; no
Círculo nº 3 colocar 20µL da amostra; colocar 20µL do reagente nº1 em todos os círculos;
homogeneizar com o auxílio de uma espátula, utilizando toda a extensão de cada círculo da
lâmina; logo após, agitar a lâmina com movimentos circulares por dois minutos; efetuar a
leitura com uma luz artificial, utilizando um fundo escuro para facilitar a interpretação do
teste. Uma aglutinação clara indica a presença de Antiestreptolisina numa concentração
igual ou superior a 200 UI/mL. Neste caso, realizar a prova semiquantitativa, e expressar o
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
19
resultado como negativo ou menor que 200 UI/mL (BIOCLIN,2013).

 Waaler-Rose:

O Waaler-Rose é um teste bastante sensível, que utiliza hemácias de carneiro


revestidas com IgG de coelho purificada e estabilizada. O kit é utilizado para pesquisa de
fator reumatoide em amostras de soro, usando hemácias de carneiro, sensibilizadas com IgG
de soro de coelho, anti-hemácias de carneiro, por aglutinação indireta. Fator reumatoide é o
termo usado para descrever uma variedade de anticorpos (IgM, IgG, IgA e IgE), que podem
se ligar ao fragmento Fc de uma imunoglobulina G. São, portanto, uma anti-imunoglobulina.
Outros métodos têm, também, sido descritos, como o de partículas de látex cobertas com
IgG humana.

Como técnica, observam-se os seguintes passos, para o teste qualitativo: deixar os


reagentes e as amostras chegarem à temperatura ambiente, antes de iniciar os testes;
pipetar 25µl do soro do paciente em uma área do cartão-teste; homogeneizar a suspensão
de hemácias e pipetar 25µl na mesma área da amostra; com uma vareta plástica misturar
muito bem o soro com a suspensão de hemácias, espalhando cuidadosamente; deixar
repousar o cartão-teste sobre uma superfície plana durante 2 minutos; imediatamente após,
inclinar suavemente o cartão, mais ou menos 45º, uma única vez, voltar o cartão-teste para
superfície plana e deixar novamente em repouso por 1 minuto; observar a formação de uma
eventual aglutinação, através de movimentos extremamente suaves de inclinação. Para cada
série de testes, devem ser feitos controles positivo e negativo para verificar a correta
execução da técnica e o estado de conservação dos reagentes.

No que diz respeito aos resultados, em caso de reação de positiva: aglutinação


nítida; concentração igual ou superior a 8UI/mL. Em relação à reação negativa: total
ausência de aglutinação (WAMA, 2012).

 Paul-Bunnel:

A mononucleose infecciosa é uma doença aguda, causada pelo vírus Epstein-Barr.


Geralmente benigna, em crianças e adultos jovens, se manifesta clinicamente por febre,
adenopatia cervical posterior e inflamação da garganta. Hematologicamente, manifesta-se
por aumento de monócitos e linfócitos, com mais de 10% de formas atípicas e
sorologicamente pelo aparecimento transitório de aglutininas de células de carneiro,
hemolisinas de células bovinas e presença de anticorpos contra o vírus Epstein-Barr. O Kit
Imuno-Látex apresenta uma suspensão de partículas de látex cobertas com extratos
antigênicos do estroma de eritrócitos bovinos. A especificidade do teste é conseguida pelo
uso de antígenos purificados, evitando a adsorção de anticorpos interferentes. Para amostra,
usa-se soro ou plasma obtido de sangue colhido com heparina ou EDTA. As amostras devem
ser livres de hemólise, lipemia e contaminação bacteriana.

Enquanto técnica, procede-se da seguinte forma: pipetar 25 µl da amostra do


paciente em uma área do cartão-teste; homogeneizar a suspensão de látex e pipetar 25 µl
na mesma área da amostra; com uma vareta plástica misturar, muito bem o soro com o
látex, espalhando cuidadosamente; através de movimentos suaves de rotação, sob uma boa
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
20
fonte de luz, observar durante 1 minuto a formação de uma eventual aglutinação. Para cada
série de testes, deve-se fazer um controle positivo e negativo, para verificar a correta
execução da técnica e o estado de conservação dos reagentes.

Em caso de resultado positivo, se observará a presença de aglutinação no látex; em


caso negativo, a total ausência de aglutinação (WAMA, 2011).

 PCR (Proteína C reativa):

A Proteína C Reativa (PCR) juntamente com a velocidade de hemossedimentação


(VHS) e as mucoproteínas fazem parte das chamadas “reações de fase aguda”, que quando
alteradas caracterizam atividades inflamatórias inespecíficas, auxiliando o diagnóstico e o
controle evolutivo da inflamação. A PCR aparece muito precocemente no soro de pacientes
afetados por uma variedade de processos inflamatórios e necrose de tecidos, tais como
infecções bacterianas, doença reumática aguda, infarto de miocárdio, certas doenças virais,
tuberculose pulmonar ativa, artrite reumatoide e neoplasia maligna. O aumento da PCR é
uma resposta inespecífica à atividade inflamatória, sendo suas características mais
marcantes o aparecimento precoce, bem como o seu rápido desaparecimento (1 a 2
semanas).

O Imuno-Látex PCR utiliza partículas de látex cobertas com anticorpo monoclonal


anti-PCR, estabilizadas e suspensas em tampão glicina pH 8,2. Quando a suspensão de látex
é misturada, em uma área do cartão teste, com soro contendo PCR, observa-se nítida
aglutinação se a concentração de PCR estiver entre 6 a 400 mg/litro. Não há aglutinação se a
concentração de PCR for abaixo de 6 mg/litro.

Em sua técnica, deve-se: pipetar 25 µl do soro do paciente em uma área do cartão-


teste; homogeneizar a suspensão de látex e pipetar 25 µl na mesma área da amostra;
misturar muito bem o soro com o látex, espalhando-se cuidadosamente com uma vareta
plástica; através de movimentos suaves de rotação, sob uma boa fonte de luz, observar
durante 2 minutos a formação de uma eventual aglutinação. Para cada série de testes,
devem se fazer controles positivo e negativo para verificar a correta execução da técnica e o
estado de conservação dos reativos. Efeito pró-zona pode ocorrer em concentrações
superiores a 400 mg/litro. Se houver suspeita de níveis superiores a este, a amostra deverá
ser diluída.

Em caso de resultado positivo, observa-se aglutinação tênue ou nítida;


concentração igual ou superior a 6 mg/litro; em caso negativo, total ausência de aglutinação;
concentração inferior a 6 mg/litro (WAMA, 2011).

 βHCG (Gonadotrofina Coriônica Humana-beta):

A detecção imunológica do hormônio gonadotrofina coriônica (HCG) é


universalmente reconhecida como um teste de diagnóstico da gravidez. A gonadotrofina
coriônica é um hormônio glicoproteico, com peso molecular de aproximadamente 37.000
daltons, produzido pelas células trofoblásticas da placenta durante a gravidez. Ele é
composto de 2 cadeias diferentes, designadas alfa e beta, sendo a alfa idêntica físico-química
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
21
e imunologicamente à molécula de LH, enquanto a fração beta se diferencia desta por
possuir 30 aminoácidos no carboxiterminal, não presentes no LH. O HCG é secretado 6 a 8
dias após a concepção, aumentando rapidamente até um pico de 50.000 a 200.000mUI/ml
na 6ª a 8ª semana. A partir de então, sua concentração começa a cair atingindo, após a 20ª
semana, um platô de 5.000 a 20.000mUI/ml para o restante da gravidez.

O Imuno-Látex β-HCG é um teste de aglutinação indireta, contendo partículas de


látex de poliestireno revestidas com anticorpos monoclonais anti-β-HCG. Os anticorpos são
específicos da subunidade beta do HCG, reduzindo significativamente os falsos positivos
devido a LH, FSH e TSH em níveis fisiológicos. Quando a β-HCG está presente na urina ocorre
uma aglutinação, a qual é considerada como resultado positivo. A sensibilidade do Imuno-
Látex β-HCG é de 200mUI/ml de b-HCG, nível hormonal encontrado 3 a 4 dias após o atraso
menstrual. Princípio do Método: Quando amostras de urina contendo concentração de β-
HCG superior a 200mUI/ml são misturadas com o reagente de látex, uma aglutinação
macroscópica ocorrerá.

Para a técnica se deve: pipetar 25βl da urina em uma área do cartão-teste;


homogeneizar o reagente de látex (1) e pipetar 25βl na mesma área da amostra; com uma
vareta plástica misturar muito bem a urina com o látex; através de movimentos suaves de
rotação, sob uma boa fonte de luz, observar durante 2 minutos a formação de uma eventual
aglutinação. Para cada série de testes, deve-se fazer um controle positivo e negativo para
verificar a correta execução da técnica e o estado de conservação dos reagentes.

Em caso de resultado positivo, observa-se aglutinação nítida do látex; e em caso


negativo, total ausência de aglutinação. Em caso duvidoso, observa-se a aglutinação tênue
do látex (WAMA, 2013).

 Reação de Widal:

Durante o desenvolvimento de certas doenças infecciosas no organismo humano,


alguns microrganismos patogênicos promovem a formação de uma variedade de anticorpos,
as aglutininas, que combinadas a antígenos homólogos ou aglutinogênios são capazes de
produzir aglutinação dentro de certas condições controladas, visíveis a olho nu. Grunbaum e
Widal foram os pioneiros da aplicação deste princípio imunológico no diagnóstico de
doenças infecciosas. Esta prova ficou universalmente conhecida por Prova de Widal,
posteriormente estendida para incluir outras Salmonelas além de S. typhi mediante o uso de
antígenos de uma variedade de Salmonella O e H. O conjunto Widal L/B emprega 4 antígenos
de Salmonella distintos que são encontrados comumente causando febres entéricas. A
metodologia propõe o uso de uma prova qualitativa rápida em lâmina, que caso positiva, é
complementada com uma pesquisa quantitativa em tubo, na qual se determina o título de
anticorpos (aglutininas) presentes no soro.

Na primeira semana de infecção, o melhor meio diagnóstico é a hemocultura


(positiva em cerca de 80% dos casos). Entre a segunda e a terceira semana, a coprocultura
torna-se o meio diagnóstico mais eficaz (positiva em 50-65% dos casos). Entre a quarta e a
quinta semana, o meio diagnóstico mais eficaz é a pesquisa de aglutininas (positiva em cerca
de 80-85% dos casos).
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
22
Para o seu fundamento, o soro em análise é diluído e as diluições reagentes que
contêm antígenos somáticos (grupo D) e flagelares (a, b e d) de Salmonella. Após 1 minuto
de agitação, o material é analisado pesquisando-se a ocorrência de aglutinação (prova
positiva) ou não. Caso a prova em lâmina apresente-se positiva, deve-se obrigatoriamente
haver confirmação do resultado com a prova em tubo.

No que diz respeito à técnica, observam-se os procedimentos descritos a seguir:

a) prova em lâmina (triagem): deixar que os reagentes e amostras adquiram a


temperatura ambiente; preparar uma diluição do soro em análise a 1:20
(pipetando 0,1 ml de soro e adicionando 1,9 ml de salina); dividir uma lâmina de
vidro plano de 10x20cm em 5 partes usando um lápis marcador de vidro,
reservando cada divisão para uma diluição (1/20, 1/40, 1/80, 1/160 e 1/320) e
em seguida preparar as diluições; a cada diluição, pipetar 0,05 ml do antígeno de
widal; agitar a placa em movimentos longitudinais suaves 15 a 20 vezes e após 1
minuto ler os resultados sobre um aglutinoscópio ou dispositivo similar de
iluminação, pesquisando a ocorrência ou não de aglutinação visível a olho nu
(não usar microscópio);

Como resultado, deve-se observar qual a última diluição que apresentou


aglutinação e, no caso de ter ocorrido aglutinação, confirmar o resultado
mediante prova em tubo.

b) Prova em tubo (confirmatória): identificar 9 tubos de ensaio (1/10, 1/20, 1/40,


1/80, 1/160, 1/320, 1/640, 1/1280 e controle do antígeno), acrescentando a
seguir 0,9 mL de salina ao primeiro tubo e 0,5 mL ao restante dos tubos; pipetar
0,1 mL de soro para o primeiro tubo (1/10) homogeneizando bem, e a seguir,
transferir 0,5 mL desta diluição para o segundo tubo, homogeneizando e
transferindo 0,5 mL da diluição para o próximo tubo e assim por diante até
oitavo tubo, desprezando então a última alíquota; preparar as diluições dos
antígenos para uso, misturando 1 parte de antígeno colocadas em contato com
19 partes de salina formalizada (5 mL de formalina em cada 100 mL solução
salina fisiológica); adicionar 0,5 mL de antígeno diluído a cada tubo contendo a
diluição de soro (partindo do tubo 2 - 1/20 até o tubo de controle) e agitar a
estante; incubar em Banho-Maria, nas seguintes condições: antígeno de
Salmonella O: 16-18 horas a 50 C; antígeno de Salmonella H: 1 hora a 50 C; ler os
resultados observando cada tubo sob um aglutinoscópio ou dispositivo similar,
verificando a ocorrência de aglutinação de forma a obter o título (o último não
deve apresentar nenhuma aglutinação, apenas turbidez): 1:20 (tubo 2), 1:40
(tubo 3), 1:80 (tubo 4), 1:160 (tubo 5), 1:320 (tubo 6), 1:640 (tubo 7) e 1: 1280
(tubo 8) (LABORCLIN, 2006).

A interpretação dos resultados pode ser observada no Quadro 1 a seguir.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


23
Quadro 1- Interpretação dos resultados

Fonte: Elaborado pela autora (2016)

4.2.2 Imunoprecipitação

Como observado em Xavier; Albuquerque; Barros (2007), a imunoprecipitação


consiste na quantificação de precipitados formados pela reação de anticorpos com antígenos
solúveis, resultando em imunocomplexo insolúvel. Quando há excesso de um ou outro, a
formação de precipitados pode diminuir rapidamente, causando o fenômeno de prozona,
que ocorre com concentrações elevadas de anticorpos. Esse fenômeno pode ser a causa de
falso-negativos, sendo necessário que se faça uma titulação do anticorpo com quantidades
fixas de antígeno naqueles pacientes que apresentam resultados negativos que não estão de
acordo com a suspeita clínica.

A formação de precipitinas pode ser simples (antígeno ou anticorpo está fixo no


meio de suporte e o outro se difunde até haver a precipitação) ou dupla (tanto o antígeno
como o anticorpo se movem em direções convergentes para formar o precipitado).
Imunoeletroforese, imunofixação e eletroimunodifusão são ensaios similares, que utilizam
campos elétricos para acelerar a migração (XAVIER; ALBUQUERQUE; BARROS, 2007).

4.2.3 Nefelometria

Os autores (Op. Cit.) afirma que a nefelometria consiste na técnica de quantificação


de dispersão da luz incidente por imunocomplexos em suspensão. É utilizada para
quantificação de imunoglobulinas, fator reumatoide, proteína C-reativa, e complemento.

É utilizada para mensurar concentrações de IgA, IgM e IgG, além de outras proteínas
séricas ou dispostas em outros sistemas biológicos e necessita de padrões conhecidos, assim
como anticorpos específicos (SCUTTI, 2014).

4.2.4 Fixação de complemento

O Sistema Complemento é um importante mecanismo efetor da resposta imune


inata e adquirida que permite remoção rápida e eficaz de bactérias, por exemplo. Cerca de
30 proteínas no sangue formam uma cascata proteolítica chamada de sistema do
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
24
complemento. Sua ativação ocorre por 3 vias: via clássica, via alternativa e a via da lectina.
Essas vias diferem no modo de reconhecimento, mas convergem em uma etapa central:
clivagem do componente C3 do complemento.

A ativação de C3 resulta na deposição de moléculas de C3b à superfície microbiana,


que opsoniza o micro-organismo para a remoção eficiente pelos fagócitos. O componente C5
também está envolvido, pois é dividido em C5a e C5b. O C3 e C5 atraem os fagócitos para o
local da infecção. C5b é o primeiro componente do complexo C5b-C9, também conhecido
como MAC (Complexo de ataque à membrana), que é um complexo que se insere na
membrana citoplasmática da bactéria e leva à lise celular com consequente morte do
patógeno (TRABULSI; ALTERTHUM, 2015).

4.2.5 Imunofluorescência

A imunoflorescência se baseia na ligação de anticorpos monoclonais com


fluorocromos, como a fluoresceína, que têm a capacidade de emitir luz ultravioleta
(microscópio de fluorescência), como afirmam Xavier; Albuquerque; Barros (2007). Pode ser
direta, quando o conjugado de anticorpo específico se liga diretamente ao analito, ou
indireta, quando ocorre primeiro a reação com anticorpo específico não marcado, e depois
um conjugado de anticorpo anti-imunoglobulina com fluorocromo é utilizado. Exemplos de
testes: FTA-ABS, fator antinuclear. Essa técnica pode ser utilizada para diagnosticar parasitos
humanos, como pode ser vista na Figura 2.

Figura 2- Exemplos de diagnóstico de protozoários por imunofluorescência. À esquerda, IFI


(Imunofluorescência Indireta) de Toxoplama gondii, sendo (A) positivo e (B) negativo. À direita, IFI de
Trypanossoma cruzi

Fonte: Disponível em http://slideplayer.com.br/slide/1625277/ Acesso em maio de 2016

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


25
4.2.6 Radioimunoensaio

Este tipo de técnica utiliza marcação de um dos componentes da reação antígeno-


anticorpo com radioisótopos, sendo o I125 e o I131 os mais utilizados.

4.2.7 Imunoensaios enzimáticos (ELISA)

O imunoensaio Enzyme-linked Immunosorbent Assay (ELISA) pode ser utilizado no


diagnóstico das infecções virais por meio da detecção de antígenos e/ou anticorpos
específicos contra o patógeno, isoladamente ou combinados. Em um teste ELISA para a
detecção de anticorpos, um antígeno deve ser imobilizado em uma superfície sólida. O
anticorpo presente na amostra do paciente se liga ao antígeno, ficando preso na superfície
sólida. Acrescenta-se ao sistema um conjugado (anticorpo ligado a uma enzima), que irá se
ligar ao anticorpo preso ao antígeno. A detecção ocorre por meio da incubação desse
complexo enzimático (antígeno + anticorpo + anticorpo-enzima) com um substrato que, ao
ser consumido pela enzima, produzirá um produto detectável (colorido ou insolúvel)
(BRASIL, 2015).

Categorias de ELISA: a) ELISA direto: é o mais básico; um antígeno é ligado à fase


sólida (fundo do poço da placa de poliestireno) e um anticorpo específico marcado é
utilizado para visualização do complexo após reação enzimática; b) ELISA indireto: o antígeno
é ligado à fase sólida e um anticorpo específico é adicionado; após incubação, um segundo
anticorpo anti-imunoglobulina marcado é incubado, e se houver ligação do primeiro
permitirá visualização do imunocomplexo com a cor da reação, proporcional à concentração
do antígeno; c) por captura: um anticorpo específico é ligado ao meio sólido, depois a
amostra é incubada e um segundo anticorpo específico é adicionado; e d) ELISA competitivo:
o soro do paciente é adicionado junto com um anticorpo específico marcado, a concentração
do analito é inversamente proporcional à intensidade da reação com o substrato (XAVIER;
ALBUQUERQUE; BARROS, 2007). Os tipos de ELISA são ilustrados na Figura 3 a seguir.

Figura 3- Tipos de ELISA

Fonte: Disponível em http://www.biomedicinapadrao.com.br/2010/05/elisa.html Acesso em maio de


2016

4.2.8 Imunoensaios de fluorescência e quimioluminescência

Utilizam marcadores fluorescentes ou quimioluminescentes (emissão de luz via


reação química envolvendo compostos sintéticos como o luminol), com posterior detecção
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
26
por fluorômetros ou luminômetros de alta sensibilidade (XAVIER; ALBUQUERQUE; BARROS,
2007).

O evento físico de emissão de luz na quimioluminescência e


eletroquimioluminescência é semelhante ao da fluorescência, pois a emissão de luz ocorre a
partir de um elétron em estado excitado, que retorna ao seu estado fundamental, emitindo
um fóton (BRASIL, 2015).

 Quimioluminescência:

Pode ser qualitativa ou quantitativa; envolve o uso de uma substância luminescente


para a detecção da reação antígeno-anticorpo e anticorpo-antígeno; o resultado é definido
pela emissão de luz, que é captada e analisada em equipamento próprio; o sistema de
detecção por quimioluminescência é muito sensível e específico, mas exige equipamentos
especiais e ainda tem custo elevado, mas existem soluções de automação que aumentam a
confiabilidade do ensaio e reduzem seu custo, quando este é utilizado em larga escala
(BRASIL, 2015).

 Eletroquimioluminescência:

A aplicação de uma corrente elétrica induz uma emissão quimioluminescente a


partir dos complexos imunológicos (antígeno-anticorpo ou anticorpo-antígeno), contendo
espécies químicas altamente reativas presentes em um eletrodo; essas espécies reagem
entre si, produzindo luz; a vantagem do emprego de uma corrente elétrica para o início da
reação é que se pode controlar precisamente toda a reação (BRASIL, 2015).

4.2.9 Outras técnicas: Western-blotting

Western blotting (WB), também conhecido como protein blotting ou


immunoblotting, é um poderoso e importante método em biologia molecular utilizado para
imunodetecção de proteínas após a separação destas por eletroforese em gel e
transferência para membrana adsorvente. Permite detectar, caracterizar e quantificar
múltiplas proteínas, principalmente aquelas que estão em baixas quantidades em
determinada amostra. WB evoluiu da técnica de DNA (Southern) blotting e RNA (Northern)
blotting (MIGUEL; MENEZES; ARAÚJO, 2012).

4.3 Diagnóstico Imunológico das doenças infecciosas

Nesta disciplina, discorrermos acerca do diagnóstico imunológico e das doenças


infecciosas.

4.3.1 Hepatite Viral

As hepatites virais compreendem: a) hepatite A (VHA), durante muito tempo


denominada hepatite infecciosa, mais frequente em crianças e transmitida via fecal-oral; b)
hepatite B (VHB), conhecida também por hepatite por soro homólogo, de transmissão
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
27
parenteral; c) hepatite C (VHC), conhecida antigamente como hepatite não-A não-B, de
transmissão parenteral; d) hepatite D, causada pelo agente Delta; e) hepatite E, de
transmissão oral-fecal (TRABULSI; ALTERTHUM, 2015).

O diagnóstico das hepatites virais é baseado na detecção dos marcadores presentes


no sangue, soro, plasma ou fluido oral da pessoa infectada, por meio de imunoensaios, e/ou
na detecção do ácido nucleico viral, empregando técnicas de biologia molecular. As
principais metodologias empregadas no diagnóstico das hepatites virais, de acordo com o
Ministério da Saúde (BRASIL, 2015), são:

a) Imunoensaios: são baseadas na detecção do antígeno viral e/ou anticorpos


específicos, como as imunoglobulinas da classe M (IgM), que são as primeiras a
aparecer e caracterizam, portanto, uma infecção aguda, e as imunoglobulinas da
classe G (IgG), que surgem após as IgM e podem permanecer indefinidamente,
servindo como marcador de infecção passada, que caracteriza o contato prévio
com o vírus, ou de resposta vacinal. Principais imunoensaios: Ensaio
imunoenzimático (ELISA), ensaios luminescentes (quimioluminescência,
eletroquimioluminescência).
b) Teste molecular: a reação em cadeia da polimerase (polymerase chain reaction-
PCR) em tempo real permite o diagnóstico e quantificação dos vírus que causam
hepatite por meio da detecção da síntese do amplicon durante a reação de PCR,
utilizando uma sonda fluorescente ligada a um neutralizador e anelada à
sequência-alvo. Durante cada reação de PCR, a DNA polimerase, mediante sua
atividade nuclease, libera o fluorocromo repórter, que então emitirá
fluorescência. A quantidade de fluorescência liberada durante o ciclo de
amplificação e detectada pelo sistema é proporcional à quantidade de amplicons
gerados a cada ciclo de PCR e, consequentemente, à quantidade inicial de ácido
nucleico.
c) Testes rápidos: são utilizados para o diagnóstico das hepatites B e C baseiam-se
na tecnologia de imunocromatografia de fluxo lateral. O teste para hepatite B
permite a detecção do antígeno de superfície do HBV (HBsAg) no soro, plasma ou
sangue total. Para hepatite C, o teste detecta o anticorpo anti-HCV no soro,
plasma ou sangue total. A sensibilidade analítica é menor que a dos
imunoensaios de laboratório, influenciando diretamente a janela diagnóstica
desses testes, que poderá ser maior do que a observada nos imunoensaios
laboratoriais, implicando a não indicação do seu uso como testes de triagem em
bancos de sangue.

 Hepatite A:

O diagnóstico da hepatite A é realizado por imunoensaios, que detectam IgM anti-


HAV, que pode se tornar positivo entre 5 e 10 dias após a infecção, desde que existam altas
concentrações de IgM antiHAV. Porém, não é capaz de detectar baixas concentrações,
situação que pode ser observada entre quatro e seis meses após a infecção aguda.
Resultados falso-positivos podem ocorrer e, portanto, o teste sorológico deve ser realizado
apenas em indivíduos sintomáticos. Os testes para anti-HAV total (IgM e IgG) permanecem
reagentes após a infecção ou imunização durante toda a vida do paciente, sendo úteis
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
28
apenas para identificar indivíduos em risco que não tiverem sido previamente imunizados. A
amostra com resultado não reagente no imunoensaio será definida como: “Amostra não
reagente para HAV IgM”. A amostra com resultado reagente no imunoensaio será definida
como: “Amostra reagente para HAV IgM”. O laudo deverá ser emitido com a seguinte
ressalva: “Resultado reagente para o HAV IgM indica infecção aguda pelo vírus da hepatite
A” (BRASIL, 2015).

 Hepatite B:

Na infecção pelo HBV, o HBsAg é produzido em grandes quantidades e pode ser


detectado no sangue da maioria dos indivíduos infectados cerca de 30 dias após a infecção.
A cronificação da infecção é definida pela persistência do vírus, ou seja, pela presença do
HBsAg por mais de seis meses, detectada por meio de testes laboratoriais ou Teste rápido. O
anti-HBc total, isoladamente, indica contato prévio com o vírus, por isso o resultado
reagente desse marcador não pode ser interpretado sem a realização de outros marcadores
diretos da presença do vírus. Além disso, a janela imunológica para os anticorpos contra o
core viral é de aproximadamente 45 dias, posterior ao aparecimento do HBsAg (BRASIL,
2015). Os possíveis resultados e sua interpretação pode ser visto no Quadro 2.

Quadro 2- Interpretação dos resultados sorológicos para hepatite B

Teste Sorológico Resultado Interpretação


HBsAg Não Reagente
Ausência de contato prévio com o HBV.
Anti-HBc total Não Reagente
Susceptível a infecção pelo HBV.
Anti-HBs Não Reagente
HBsAg Não Reagente
Anti-HBc total Reagente Imune após infecção pelo HBV.
Anti-HBs Reagente
HBsAg Não Reagente
Anti-HBc total Não Reagente Imune após vacinação contra o HBV
Anti-HBs Reagente
HBsAg Reagente
Anti-HBc total Reagente Infecção pelo HBV.
Anti-HBs Não Reagente
Fonte: Brasil (2015)

A amostra com resultado não reagente no imunoensaio para detectar o HBsAg será
definida como: “Amostra não reagente para o antígeno de superfície do vírus da hepatite B
(HBsAg)”. O laudo deverá ser liberado com a seguinte ressalva: “Em caso de suspeita de
infecção pelo HBV, uma nova amostra deverá ser coletada 30 dias após a data da coleta
desta amostra para a realização de um novo teste” (BRASIL, 2015).

A amostra com resultado reagente no imunoensaio para detectar o HBsAg será


definida como: “Amostra reagente para o antígeno de superfície do vírus da hepatite B
(HBsAg)”. A amostra com resultado reagente no imunoensaio para a detecção do anti-HBc
total deverá ser definida como “Amostra reagente para o anti-HBc total”. O laudo com
resultado reagente para o HBsAg e para o anti-HBc total deverá ser liberado com a seguinte
ressalva: “A presença do HBsAg e do anti-HBc total é indicativa de infecção ativa pelo HBV”
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
29
(BRASIL, 2015).

 Hepatite C:

Estudos revelados em Brasil (2015) apontam que os imunoensaios empregados


estritamente em laboratório e os Testes rápidos detectam o anticorpo anti-HCV, que indica
contato com o vírus da hepatite C. O antígeno core do HCV pode ser detectado com uso de
imunoensaio e é um indicador da presença de infecção ativa, podendo ser utilizado para
confirmar o resultado da pesquisa de anticorpos. A amostra com resultado não reagente no
TR será definida como: “Amostra não reagente para o anticorpo contra o HCV”.

Na amostra com resultado não reagente no TR, o laudo deverá ser liberado com a
seguinte ressalva: “Em caso de suspeita de infecção pelo HCV, uma nova amostra deverá ser
coletada 30 dias após a data da coleta desta amostra, para a realização de um novo teste”.

4.3.2 Sífilis

Trabulsi; Alterthum (2015) afirma em seus estudos que a Sífilis ou lues é uma
doença sexualmente transmissível e sistêmica, cujo agente etiológico é o Treponema
pallidum, subespécie pallidum, espiroqueta que tem o homem como seu único reservatório,
onde sobrevive e se dissemina. A doença apresenta 3 fases: primária, secundária e terciária.
Caso o paciente não seja tratado na fase primária aguda, a doença torna-se crônica
(TRABULSI; ALTERTHUM, 2015).

Para o diagnóstico da sífilis, podem-se utilizar os testes treponêmicos e os não


treponêmicos. Testes treponêmicos são testes que detectam anticorpos contra antígenos do
Treponema pallidum, são qualitativos, definem a presença ou ausência de anticorpos na
amostra. Testes não treponêmicos detectam anticorpos não treponêmicos, anteriormente
denominados anticardiolipínicos, reagínicos ou lipoídicos. Não são específicos para
Treponema pallidum, porém estão presentes na sífilis. Os testes não treponêmicos podem
ser: qualitativos, rotineiramente utilizados como testes de triagem para determinar se uma
amostra é reagente ou não; e quantitativos, que são utilizados para determinar o título dos
anticorpos presentes nas amostras que tiveram resultado reagente no teste qualitativo e
para o monitoramento da resposta ao tratamento. O título é indicado pela última diluição da
amostra que ainda apresenta reatividade ou floculação visível (http://telelab.aids.gov.br).

No Quadro 3 a seguir, há um resumo das técnicas utilizadas para diagnóstico da


sífilis, enquanto a Figura 4 mostra a característica da floculação vista ao microscópio no teste
de VDRL e as características da bactéria vista no teste FTA-ABS.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


30
Quadro 2- Técnicas utilizadas para diagnóstico de sífilis

Técnica Testes
Afresco em campo escuro Coloração
Pesquisa direta do T.
Microscopia (Fontana-Tribondeaux ou Imunfluorescência
pallidum
Direta)
VDRL (Venereal Disease Laboratory)
RPR (Rapid Test Reagin)
Floculação
USR (Unheated Serum Reagin)
TRUST (Toluidine Red Unheated Serum Test)
Testes não treponêmicos
Aglutinação Testes Rápidos – TR
ELISA (Enzyme – linked immunossorbent
Imunoenzimáticos
assay)
Imunocromatográficos Testes Rápidos – TR
FTA-abs (Fluorescent treponemal antibody
Imunofluorescência indireta
absorption)
MHA-TP (microhemaglutinação para
Hemaglutinação
Treponema pallidum)
TPPA (Treponema pallidum particle
Aglutinação de partículas
agglutination assay)
ELISA (Enzyme-linked immunossorbent
Testes treponêmicos
Imunoenzimáticos e suas assay)
variações CMIA (Ensaio imunológico
quimioluminescente magnético).
Imunocromatografia Testes rápidos
Reação de amplificação do DNA da bactéria
Testes moleculares como a PCR (Reação em Cadeia da
Polimerase)
Fonte: Disponíel www.telelab.aids.gov.br Acesso em janeiro de 2016

Figura 4- Observação de floculação na reação de VDRL. A presença de floculação indica que o teste é
reagente; a ausência de floculação indica que é não reagente. À direita teste de FTA-ABS, mostrando
a espiroqueta vista pela imunofluorescência

Fonte: Disponíel www.telelab.aids.gov.br Acesso em janeiro de 2016

 Fenômeno de Prozona:

Trata-se da ausência de reatividade em uma amostra que, embora contenha


anticorpos não treponêmicos, apresenta resultado não reagente quando é testada sem diluir
ou mesmo em baixas diluições. Esse fenômeno decorre da relação desproporcional entre as
quantidades de antígenos e anticorpos presentes na reação não treponêmica, gerando
resultados falso-negativos. Ocorre nas amostras de pessoas com sífilis, em virtude da
elevada quantidade de anticorpos presentes. O fenômeno de prozona não é observado nos
testes treponêmicos e é observado, principalmente, na sífilis secundária, fase em que há

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


31
produção de grande quantidade de anticorpos. Além disso, o fenômeno é facilmente
identificado fazendo-se o teste qualitativo com a amostra pura e diluída a 1:8 ou a 1:16
(TELELAB, 2015).

4.3.3 HIV (Vírus da Imunodeficiência Adquirida)

O HIV é uma partícula esférica, que mede de 100 a 120nm de diâmetro,


pertencente ao gênero Lentivirus e família Retroviridae, apresentando em seu núcleo duas
cópias de RNA de cadeia simples, encapsuladas por uma camada proteica ou
nucleocapsídeo, capsídeo e um envelope externo composto por uma bicamada fosfolipídica.
O genoma do HIV inclui três principais genes que codificam as proteínas estruturais e
enzimas virais: gag, pol e env.

A nomenclatura das proteínas virais utiliza a abreviação “gp” para glicoproteína ou


“p” para proteína, seguida de um número que indica o peso molecular em kilodaltons (kd). O
gene gag codifica a p55, a partir da qual quatro proteínas estruturais do capsídeo são
formadas: p6, p9, p17 e p24. O capsídeo que circunda o ácido nucleico viral contém p24, p6
e p9, enquanto a p17 se encontra em uma camada entre o núcleo proteico e o invólucro,
denominada matriz proteica, a qual reveste a superfície interna da membrana viral. Os
principais componentes virais com utilidade diagnóstica incluem as proteínas do envelope
viral (gp160, gp120 e gp41), as proteínas codificadas pelo gene gag (p55, p24 e p17) e as
proteínas codificadas pelo gene pol (p66, p51, p31) (BRASIL, 2014).

No Brasil, o diagnóstico da infecção pelo HIV-1, em indivíduos acima de 18 anos de


idade, é regido pela Portaria nº151, do Ministério da Saúde, de 14 de outubro de 2009, que
estabelece que o fluxograma mínimo para diagnóstico laboratorial deve seguir duas etapas:
uma de triagem (Etapa I) e outra de confirmação (Etapa II).

 Etapa I:

Deve ser realizada uma metodologia de triagem sorológica para a detecção de


anticorpos anti-HIV-1, incluindo grupo O e anticorpos anti-HIV-2. Podem ser usados testes
que combinem a detecção simultânea de anticorpos e de antígenos virais: a) Ensaios
imunoenzimáticos do tipo ELISA; b) Ensaio imunoenzimático de micorpartículas-MEIA; c)
Ensaio imunológico com revelação por quimioluminescência e sua derivações-EQL; d) Ensaio
imunológico fluorescente ligado à enzima-ELFA; e) Ensaio imunológico quimioluminescente
usando esferas magnéticas-CMIA; f) Testes rápidos que usam imunocromatografia e
aglutinação de partículas em látex. Se o resultado da triagem for reagente ou indeterminado,
deverá ser solicitada uma nova amostra para confirmação e, persistindo o resultado, a
amostra deverá ser submetida à Etapa II do fluxograma (TRABULSI; ALTERTHUM, 2015).

 Etapa II:

Poderão ser utilizadas as seguintes metodologias: a) Imunofluorescência indireta-


IFI; b)Imunoblot (IB); c)Imunoblot rápido (IBR); d) Western Blot (WB). Para interpretação dos
resultados e liberação do laudo, deverão ser analisados conjuntamente os resultados obtidos
nos testes das Etapas I e II. Resultados reagentes nas duas etapas: a amostra é positiva para
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
32
HIV; resultados indeterminados ou discordantes entre as etapas I e II, como reagente na
etapa I e não reagente na etapa II, a amostra será indeterminada para HIV, sendo obrigatória
a liberação desse resultado (TRABULSI; ALTERTHUM, 2015).

4.4 Imunologia das Doenças Autoimunes

Distúrbios autoimunes são doenças causadas por reações imunológicas


inadequadas contra o próprio corpo. O sistema imunológico deixa de reconhecer um ou mais
componentes do corpo como sendo próprios e produz autoanticorpos que atacam células,
tecidos ou órgãos do próprio corpo, causando inflamação e lesões características desses
distúrbios.

Os distúrbios autoimunes são classificados em dois tipos: os que atingem muitos


órgãos (distúrbios autoimunes sistêmicos) e os que afetam um único órgão ou tecido
(distúrbios autoimunes localizados). Entretanto, a distinção não é clara porque os efeitos de
distúrbios localizados com frequência se estendem indiretamente a outros órgãos e tecidos.
Alguns dos tipos mais comuns de distúrbios autoimunes serão descritos a seguir.

 Doenças autoimunes sistêmicas:

 Artrite reumatoide e artrite reumatoide juvenil (articulações; com menor


frequência, pulmões e pele);
 Lúpus eritematoso sistêmico (pele, articulações, rins, coração, cérebro, células do
sangue, outros);
 Esclerodermia (pele, intestino; com menor frequência, pulmões);
 Síndrome de Sjögren (glândulas salivares, glândulas lacrimais, articulações);
 Síndrome de Goodpasture (pulmões, rins);
 Granulomatose de Wegener (vasos sanguíneos, pulmões, rins);
 Polimialgia reumática (grandes grupos musculares);
 Síndrome de Guillain-Barré (sistema nervoso).

 Doenças autoimunes localizadas:

 Diabetes melito do tipo 1 (ilhotas pancreáticas);


 Tireoidite de Hashimoto, doença de Graves (tireoide);
 Doença celíaca, doença de Crohn, colite ulcerativa (trato digestivo);
 Esclerose múltipla (sistema nervoso; origem autoimune discutida);
 Doença de Addison (suprarrenal);
 Cirrose biliar primária, colangite esclerosante, hepatite autoimune (fígado);
 Arterite temporal, ou arterite de células gigantes (artérias da cabeça e do
pescoço).

4.5 Marcadores Tumorais

De acordo com Almeida et al. (2007), os marcadores tumorais (ou marcadores


biológicos) são macromoléculas presentes no tumor, no sangue ou em outros líquidos
biológicos, cujo aparecimento e ou alterações em suas concentrações estão relacionados
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
33
com a gênese e o crescimento de células neoplásicas. Tais substâncias funcionam como
indicadores da presença de câncer, e podem ser produzidas diretamente pelo tumor ou pelo
organismo, em resposta à presença do tumor. Os marcadores tumorais, em sua maioria, são
proteínas ou pedaços de proteínas, incluindo antígenos de superfície celular, proteínas
citoplasmáticas, enzimas e hormônios.

Entre os principais marcadores tumorais estão: AFP (alfafetoproteína); MCA


(antígeno mucoide associado ao carcinoma); Cromogranina A; BTA (antígeno tumoral da
bexiga); Telomerase; NMP22 (proteína da matriz nuclear); Cyfra 21.1; PAP (Fosfatase Ácida
Prostática); CA 72.4; ß-HCG (gonadotrofina coriônica humana); CA 125; CA 15.3; CA 19.9; CA
27.29; CA 50; Calcitonina; Catepsina D; CEA (antígeno carcinoembrionário); C-erbB-2
(oncogene); LDH (desidrogenase lática); K-ras; NSE (Enolase Neurônio-Específica); PSA
(antígeno prostático específico); p53 e β2-Microglobulina (ALMEIDA et al, 2007).

Organizando os marcadores tumorais por área, a figura 5 mostra como estariam


localizados:

 Câncer de próstata: PSA;


 Câncer de testículos: B-HCG, AFP;
 Câncer de mama: CA-15-3, CEA, MCA, BRCA1 e BRCA2;
 Câncer de ovário: CA-125;
 Câncer do trato gastrointestinal (estômago, pâncreas, fígado, colo e reto): CA-19-
9, CEA, CA 72-4, AFP;
 Câncer de pulmão: CEA, ENE ou NSE (enolase neurônio-específica), Prolactina.

A Figura 5 a seguir ilustra os marcadores tumorais, conforme a área pesquisada.

Figura 5- Marcadores tumorais, de acordo com a area pesquisada

Fonte: Disponível em http://www.biomedicinapadrao.com.br/2011/09/marcadores-tumorais.html


Acesso em maio de 2016

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


34
REFERÊNCIAS

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FLEMING, Tânia Ribeiro do Prado; CARVALHO, Vanessa Henriques de; CARDOSO, Antônio de
Assis Alexandre. Marcadores Tumorais: Revisão de Literatura. Revista Brasileira de
Cancerologia, n.53,v3, p.305-316, 2007.

BIOCLIN. Kit para triagem na detecção de anticorpos da sífilis no soro, plasma ou líquor. Kit
de VDRL pronto para uso (bula). Fevereiro, 2013.

BIOCLIN. Kit para triagem na detecção de antiestreptolisina O no soro, plasma ou líquor. Kit
BIOLÁTEX ASO (bula). Março, 2013. Disponível em:
http://www.bioclin.com.br/sitebioclin/wordpress/wp-
content/uploads/arquivos/instrucoes/INSTRUCOES_BIO_LATEX_ASO.pdf Acesso em maio
2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids


e Hepatites Virais. Manual Técnico para o Diagnóstico das Hepatites Virais. Brasilia:
Ministério da Saúde, 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids


e Hepatites Virais. Manual Técnico para o Diagnóstico do HIV. Brasilia: Ministério da Saúde,
2014.

CALDEIRA JUNIOR, Antonio Marmoro; TEAGO, Christiano Nogueira; SILVA, Luciano


Fernandes. Manual de Biodiagnóstico. Goiânia: AB Editora, 2008.

LABORCLIN. Teste para detecção de anticorpos Anti-Salmonella com a série de antígenos


de Widal L/B (bula). Maio, 2006. Disponível em:
http://www.interlabdist.com.br/dados/produtos/bula/doc/1808448cffaf87c96b.pdf

MIGUEL, Marina Pacheco; MENEZES, Liliana Borges de; ARAÚJO, Eugênio Gonçalves de.
Western Blotting: a técnica e aplicações na pesquisa e rotina diagnóstica em medicina
veterinária. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, Goiânia, v.8, n.15; p. 1704-
1719, 2012.

SCUTTI, Jorge Augusto Borin. Imunodiagnóstico. In: ROCHA, Arnaldo. Biodiagnóstico:


fundamentos e técnicas laboratoriais. São Paulo: Rideel, 2014.

TELELAB. Disponível em: http://telelab.aids.gov.br/. Acesso em: janeiro, 2016.

TRABULSI, Luiz Rachid; ALTERTHUM, Flavio. Microbiologia. São Paulo: Editora Atheneu,
2015.

XAVIER, Ricardo. M.; ALBUQUERQUE, Galton, C.; BARROS, Elvino. Laboratório na prática
clínica: consulta rápida. Porto Alegre: Artmed, 2007.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


35
WAMA Diagnóstica. Imuno-látex Waaler Rose (bula). Kit para pesquisa de fator reumatóide
em amostras de soro, usando hemácias de carneiro, sensibilizadas com IgG de soro de
coelho, anti-hemácias de carneiro, por aglutinação indireta. VI edição, 2012. Disponível em:
http://www.wamadiagnostica.com.br/bulas/diversos/waaler-rose-fator-reumatoide-1.pdf

WAMA Diagnóstica. Imuno-látex. Teste de Paul-Bunnel (bula). Kit para pesquisa de


anticorpos heterófilos da mononucleose em amostra de soro, usando partículas de látex
revestidas com estroma de eritrócitos bovinos por aglutinação indireta, VI edição, Fevereiro,
2011. Disponível em: http://www.wamadiagnostica.com.br/bulas/imuno-latex/mni-
mononucleose-infecciosa-1.pdf

WAMA Diagnóstica. Imuno-látex β-HCG (bula). Kit para diagnóstico da gravidez, em


amostras de urina, usando partículas de látex revestidas com anticorpo monoclonal por
aglutinação indireta. VI edição, Março, 2013. Disponível em:
http://www.wamadiagnostica.com.br/bulas/imuno-latex/%C3%9F-hcg-1.pdf

WAMA Diagnóstica. Imuno-látex PCR (bula). Kit para pesquisa de PCR, em amostras de soro,
usando-se partículas de látex revestidas com anticorpo nomoclonal anti-PCR por aglutinação
indireta. VI edição, Fevereiro, 2011. Disponível em:
http://www.wamadiagnostica.com.br/bulas/imuno-latex/PCR-1.pdf

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


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ANOTAÇÕES: ____________________________________________________________
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MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
URINÁLISE E FLUIDOS
BIOLÓGICOS
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5 URINÁLISE E FLUIDOS BIOLÓGICOS

Nesta apostila será abordado o sistema urinário, sua anatomia e fisiologia, a


formação da urina, as suas formas de coleta, a análise e os exames, além do sistema
reprodutor masculino, a produção de sêmen, suas características, e os principais testes
utilizados para diagnóstico.

5.1 Sistema Urinário: anatomia e fisiologia

O sistema urinário é formado por quatro componentes principais: o rim, onde a


urina é formada a partir da filtração do sangue; os ureteres, que conduzem a urina até a
bexiga; a bexiga, que armazena a urina produzida; e a uretra, que transporta a urina para
excreção (MUNDT, 2012).

 Rins:

São dois órgãos que medem 11 cm de comprimento, 5 cm de largura e 3 cm de


espessura cada um; é o principal órgão do sistema excretor e osmorregulador dos
vertebrados; filtram o sangue e excretam os dejetos (ureia, creatinina, etc.) com água na
urina. Em humanos, os rins estão localizados na região posterior do abdome, atrás do
peritônio, sendo um rim em cada lado da coluna; o rim direito encontra-se logo abaixo do
fígado e o esquerdo abaixo do baço; em cima de cada rim encontra-se a glândula
suprarrenal, conforme ilustra a Figura 1 (CALDEIRA JUNIOR; TEAGO; SILVA, 2008).

Figura 1- Sistema urinário com destaque para as partes do rim

Fonte: Disponível em http://www.prorim.org.br/site/imprensa/releases Acesso em maio de 2016

 Ureteres:

O ureter é um tubo que liga a pelve do rim à bexiga. Cada ureter mede 25 a 30 cm
de comprimento e 3mm de diâmetro; são originados da confluência dos vários cálices renais,
reunindo-se na pelve renal, descem do abdômen superior até a pelve por trás do trato
gastrointerstinal e entram na bexiga posteriormente (CALDEIRA JUNIOR; TEAGO; SILVA,

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


40
2008).

 Bexiga:

É o local onde fica armazenada a urina até ser excretada, apresenta tamanhos
variados, de acordo com a massa corpórea do indivíduo. Em mulheres grávidas tem seu
tamanho reduzido devido à compressão mecânica do útero em crescimento, por isso elas
urinam com mais frequência (CALDEIRA JUNIOR; TEAGO; SILVA, 2008).

 Uretra:

É o canal condutor da urina, que parte da bexiga e termina na superfície exterior do


corpo, no pênis ou na vulva. Na mulher, a uretra fica logo atrás da sínfise púbica e anterior à
vagina, mede 4 cm, o orifício uretral externo localiza-se logo acima da vagina e debaixo do
clitóris, protegido pelos grandes lábios da vulva. No homem, a uretra tem 3 regiões: a porção
prostática (recebe os componentes do esperma vindos do canal deferente, ductos
prostáticos e vesículas seminais), porção membranosa (rodeada por uma camada de
músculo esquelético), e porção esponjosa (mais longa, existem as glândulas bulbouretrais
que secretam lubrificante sexual). A uretra na glande dilata-se, formando a fossa navicular e
termina no meato da glande do pênis (CALDEIRA JUNIOR; TEAGO; SILVA, 2008).

 Funções dos rins:

Os rins apresentam duas funções importantes: eliminar substâncias tóxicas do


organismo, como ácido úrico, ureia, uratos, corpos cetônicos, etc.; e atuar no equilíbrio
hidroeletrolítico do organismo, filtrando o sangue. Ao filtrar o plasma, os rins saudáveis
retêm as substâncias importantes ( aminoácidos, glicose, vitaminas e água) e eliminam as
nocivas, em um processo de filtração seletiva (ROCHA, 2014). Outras funções:

 Equilíbrio acidobásico e manutenção de pH constante: os rins eliminam o excesso


de cátions de hidrogênio (H+) do organismo na urina, controlando o pH, e
reabsorve os íons bicarbonatos.
 Equilíbrio hídrico e eletrolítico: os rins formam mais urina quando precisam
eliminar substâncias ou pode diminuir o volume urinário em casos extremos de
desidratação. Quando é necessário poupar líquido, há a secreção de hormônio
antidiurético (ADH) que diminui o volume urinário. Eletrólitos regulados pelos rins:
cálcio, magnésio, fósforo, bicarbonato, hidrogênio, cloro, sódio e potássio.
 Produção de hormônios: eritropoietina e renina. A eritropoietina é responsável
pela produção de células vermelhas pela medula óssea e o estímulo para produção
pelos rins é a hipóxia tecidual crônica. A renina é responsável pelo controle da
pressão arterial e volemia, sendo produzido devido a diminuição de sódio no
sangue, estimulando a produção de aldosterona pelas suprarrenais.

5.2 Formação da Urina

Os néfrons são as unidades funcionais dos rins. É dividido em: glomérulo e cápsula
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
41
de Bowmann, responsáveis pela filtração do sangue, e região tubular (túbulo contorcido
proximal, alça de Henle, túbulo contorcido distal e duto coletor) responsável pela reabsorção
de substâncias. Sua estrutura pode ser vista na Figura 2.

Figura 2- Os néfrons e suas funções

Fonte: Disponível em cienciasnamosca.wordpress.com/2013/10/25/sistema-urinario-2/ Acesso


em maio de 2016

5.3 Coleta

Nesta seção será observada a composição da urina, os tipos de amostra, as formas


de coleta e demais procedimentos relativos a esta.

5.3.1 Composição da urina

A urina consiste em um ultrafiltrado do plasma. Em geral, é constituída de


substâncias orgânicas, tais como: ureia, resíduo metabólico produzido no fígado a partir do
metabolismo das proteínas e aminoácidos, creatinina e ácido úrico. Também é composta de
água e substâncias inorgânicas, como o cloreto, sódio e potássio. Essas substâncias podem
variar devido à ingestão alimentar, atividade física, metabolismo orgânico, posição do corpo
e função endócrina (STRASINGER; DI LORENZO, 2009).

5. 3.2 Tipos de amostras de urina

A amostra para a realização do exame de urina é a primeira urina da manhã, o jato


médio, após período maior que 4 horas de permanência da urina na bexiga. É recomendado
que a coleta seja realizada após 8 horas de repouso, isto é, antes da realização das atividades
físicas habituais do indivíduo e, preferencialmente, em jejum. Na impossibilidade de se
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
42
colher a primeira urina da manhã, pode-se obter amostra de urina aleatória, em qualquer
momento do dia, porém é mais associada com resultados falso-negativos e falso-positivos.
Para evitar isso, a urina deve ser colhida após 4 horas da última micção. Outros métodos de
coleta de urina incluem: cateterismo vesical, punção suprapúbica e o uso de sacos coletores
pediátricos. Com exceção da punção suprapúbica e do cateterismo vesical, as amostras de
urina são obtidas pelo paciente por meio da micção espontânea. Assim, o laboratório deve
orientar, de forma escrita e/ou oral, ou acompanhar a coleta, para garantir uma amostra de
urina livre de contaminação fecal, secreção vaginal, esmegma, pelos pubianos, pós, óleos,
loções e outros materiais estranhos. Além disso, não se deve recuperar urina de fraldas
(LABTEST, 2005).

5.3.3 Recipiente de coleta

Deve ser utilizado recipiente descartável, limpo e à prova de vazamento, de


material inerte, livre de partículas e substâncias interferentes, como detergentes. O
recipiente de coleta deve apresentar boca larga, com diâmetro de 4 - 5 cm, para facilitar a
obtenção de urina por pacientes de ambos os sexos, e sua base deve ser ampla o suficiente
para evitar que o mesmo entorne facilmente. Tampa de rosca é preferível, pois apresenta
menor chance de vazamento durante o transporte, além de ser facilmente colocada e
removida. O recipiente de coleta deve ser corretamente identificado com etiqueta, cuja
aderência resiste ao processo de refrigeração, a etiqueta deve ser de tamanho suficiente
para conter informações como nome completo do paciente, número de identificação ou
registro, data e hora da coleta; outros dados como código de barras podem ser incluídos.
Para garantir a identificação adequada da amostra, a etiqueta deve ser afixada no frasco e
não na tampa (LABTEST, 2005).

5.3.4 Conservação das amostras de urina

Existem vários tipos de conservantes que podem ser utilizados, como clorofórmio,
formol, ácido bórico, entre outros, mas todos alteram os resultados das análises físico-
químicas e de sedimento da urina. Hoje a refrigeração é utilizada como principal
conservante, pois impede a proliferação bacteriana por até 24 horas, além de não interferir
no exame da urina, desde que a urina esteja na temperatura ambiente antes de realizar a
análise (CALDEIRA JUNIOR; TEAGO; SILVA, 2008).

5.3.5 Alterações na urina mal conservada

Aumento do pH a partir da degradação da ureia em amônia por bactérias


produtoras de urease; diminuição da glicose devido à glicólise pelas bactérias; diminuição
das cetonas devido à volatização; diminuição da bilirrubina devido à exposição à luz;
diminuição do urobilinogênio pela oxidação em urobilina; aumento do nitrito devido à
redução do nitrato por algumas bactérias; aumento do número de bactérias causando
turvação; desintegração das hemácias e dos cilindros em urina alcalina; alteração da
coloração (CALDEIRA JUNIOR; TEAGO; SILVA, 2008).

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


43
 Exercícios Propostos

1) Cite as partes do néfron e suas funções.

2) Quais são as principais substâncias orgânicas e inorgânicas presentes na urina?

3) O que pode causar variação da composição normal da urina?

4) Como pode ser conservada a urina para evitar alterações no exame?

5) Quais são as principais alterações de uma urina não conservada?

5.4 Análise da Urina

Esta seção apresentará as análises física e química da urina e demais tipos de


exames atrelados a ela.

5.4.1 Exame físico da urina

A análise física da urina consiste na verificação da cor, aspecto, odor, volume,


densidade e pH da urina. O pH e a densidade atualmente são medidos na tira reativa.

Em relação à coloração da urina, esta pode variar de acordo com vários fatores,
como ingestão de alguns medicamentos ou alimentos. A primeira urina da manhã apresenta
cor amarelo-citrino pela presença de urocromo, e em indivíduos que urinam em excesso a
urina pode apresentar cor amarelo-claro (CALDEIRA JUNIOR; TEAGO; SILVA, 2008). A Figura 3
mostra as diferentes tonalidades de amarelo dependendo, do nível de hidratação do
paciente.

Figura 3- Variedade de cores que podem ser encontradas em amostras de urina

Fonte: Disponível em
http://www.controllab.com.br/qualifique/pop_ed25_experiencia_compartilhada.htm Acesso em
maio de 2016

Aspecto: Pode ser avaliado quanto à turbidez, refletindo a presença de células


descamativas, leucócitos, hemácias, bactérias, muco, cristais, etc. O aspecto de uma urina
normal é transparente.
O odor pode variar, dependendo da ingestão de alimentos, medicamentos,
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
44
presença de infecção bacteriana (pútrida). O odor característico de amônia encontrado em
urinas normais é expresso com o termo “sui generis”.

O volume urinário depende da quantidade de resíduos que o rim quer eliminar. Em


geral, a quantidade de urina eliminada em 24 horas equivale a aproximadamente 800 a 1500
mL, sendo 2/3 eliminado durante o dia e 1/3 durante a noite. O aumento do volume urinário
é chamado de poliúria, a diminuição é chamada de oligúria, e a ausência total é chamada de
anúria (CALDEIRA JUNIOR; TEAGO; SILVA, 2008). Poliúria pode ser causada por grande
ingestão de líquidos (polidipsia), diabetes mellitus e diabetes insipidus. A oligúria é
observada quando o paciente produz menos de 400ml de urina por dia e pode ser causado
por desidratação, pielonefrite, doenças renais crônicas, entre outros (ROCHA, 2014).

5.4.2 Exame químico da urina

Após a análise física, é realizada a análise físico-química da urina, que consiste no


uso da tira reativa que contém 10 testes: pH e densidade (são testes físicos adaptados),
glicose, cetonas e proteínas (estarão alterados em pacientes diabéticos), bilirrubina,
urobilinogênio (problemas hepáticos), nitrito, leucócito-esterase e sangue (pacientes com
infecção urinária). A tira reativa é constituída por um suporte plástico, contendo áreas
impregnadas com reagentes químicos, que quando em contato com a urina desenvolve uma
reação de cor (Figura 4).

Figura 4- Padrão de cores de uma tira reativa

Fonte: www.alibaba.com/product-detail/Reagent-Strips-for-Urinelysis-10-
paras_1326128964.html Acesso em maio de 2016
Observe que cada teste tem um tempo determinado para ocorrer a reação

A tira reativa é mergulhada no tubo de fundo cônico contendo a urina do paciente,

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


45
o excesso de urina da fita é retirado com uso de papel absorvente ou gaze, e é iniciada a
observação dos 10 testes, de acordo com a tabela de cores que variam de acordo com o
fabricante. Cada tira reagente deve ser utilizada para apenas um paciente e deve ser
descartada após a leitura.

 Glicose:

De acordo com o informativo técnico da Labtest (2005), a glicose é filtrada


livremente pelos glomérulos e reabsorvida pelos túbulos renais. Uma vez a concentração de
glicose no sangue alcança valores entre 180 e 200 mg/dL, a capacidade máxima de
reabsorção dos túbulos é ultrapassada e a glicose aparecerá na urina. Este é o mecanismo de
glicosúria observada no diabetes mellitus. Glicosúria, na ausência de hiperglicemia, ocorre
em função do distúrbio na reabsorção tubular renal da glicose, podendo ocorrer em diversas
condições: desordem tubular renal, Síndrome de Cushing, uso de corticosteroides, infecção
grave, hipertireoidismo, feocromocitoma, doenças hepáticas e do sistema nervoso central.
Glicosúria pode ocorrer também devido à ingestão de dieta com elevada porcentagem de
carboidratos (LABTEST, 2005).

 Proteína:

O teste é particularmente sensível à albumina e menos sensível às outras proteínas.


Observamos no informativo da Labtest (2005) que pode ocorrer uma excreção de proteínas
na urina de indivíduos sadios (até 15 mg/dL). O achado isolado mais sugestivo de doença
renal é a detecção de proteínas. Quando a proteinúria se dá por aumento da permeabilidade
glomerular, ocorre em glomerulonefrites, nefrite lúpica, amiloidose, obstrução da veia renal,
nefroesclerose, pré-eclâmpsia e nefropatia diabética; quando devida a desordens tubulares,
ocorre na pielonefrite, necrose tubular aguda, rim policístico, intoxicação por metais pesados
e vitamina D, hipopotassemia, Doença de Wilson, Síndrome de Fanconi e galactosemia.
Outras condições podem levar à proteinúria: proteinúria ortostática, estado febril, exercício
físico vigoroso, exposição prolongada ao frio ou calor, estresse emocional e insuficiência
cardíaca congestiva.

Em seus estudos, Caldeira Júnior; Teago; Silva (2008) observaram que pessoas com
Mieloma Múltiplo excretam uma proteína chamada de Bence Jones, na qual ocorre um
distúrbio na proliferação de plasmócitos produtores de imunoglobulina, e quando em
excesso passam a ser excretadas na urina.

 Cetonas:

As cetonas englobam 3 produtos intermediários do metabolismo das gorduras


(ácido beta-hidroxibutírico, ácido acetoacético e acetona) e normalmente não aparecem em
quantidades mensuráveis na urina, pois toda a gordura metabolizada é completamente
degradada em CO2 e água. Quando o uso de carboidratos como principal fonte de energia
fica comprometido e os estoques de gorduras do organismo precisam ser metabolizados
para suprimento de energia, cetonas podem ser detectadas na urina. Observam-se as
seguintes razões clínicas para o aumento do metabolismo de gorduras: incapacidade de
metabolizar carboidratos, como ocorre no diabetes melito, aumento da perda de
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
46
carboidratos por vômito e ingestão insuficiente de carboidratos, associada à carência
alimentar e à redução de peso. A cetonúria demonstra deficiência de insulina no caso de
pacientes diabéticos, como observaram Caldeira Júnior; Teago; Silva (2008).

 Sangue:

A presença de sangue na urina pode ser confirmada mediante detecção de


hemácias íntegras (hematúria: 5 hemácias/µL de urina) ou de hemoglobina-livre
(hemoglobinúria: 0,015 mg/dL de urina). A hematúria resulta de sangramento em qualquer
ponto do trato urinário, desde o glomérulo até a uretra, em função de doenças renais,
infecção, tumor, trauma, cálculo, distúrbios hemorrágicos ou uso de anticoagulantes. A
hemoglobinúria pode resultar de hemólise intravascular, no trato urinário ou na amostra de
urina após a colheita. A diferenciação entre hematúria e hemoglobinúria é clinicamente
importante, porém, como as hemácias na urina são rapidamente lisadas, a ausência de
hemácias à microscopia não afasta hematúria ou confirma a hemoglobinúria (LABTEST,
2005).

 Bilirrubina:

A maior parte da bilirrubina deriva da porção heme da hemoglobina, que é oriunda


de hemácias velhas destruídas pelas células do sistema reticuloendotelial do baço, fígado e
medula óssea. Conforme observado no informativo técnico do Labtest (2005), a bilirrubina
não conjugada (ou indireta) produzida é transportada na corrente sanguínea ligada à
albumina, não sendo capaz de atravessar a barreira glomerular renal.

No fígado, a bilirrubina é captada e conjugada com o ácido glicurônico, tornando-se


hidrossolúvel sendo, então, capaz de atravessar os glomérulos renais e aparecer na urina.
Normalmente, a bilirrubina conjugada (ou direta) é excretada através da bile para o intestino
delgado e não está presente na urina. Sua presença na urina é observada em casos nos quais
há aumento da concentração de bilirrubina conjugada no sangue (> 1-2 mg/dL), indicando
obstrução das vias biliares ou lesão de hepatócitos. Assim, a detecção de bilirrubina na urina
é importante na suspeita de doenças hepáticas e na investigação das causas de icterícia.

 Urobilinogênio:

A bilirrubina conjugada liberada no intestino delgado com a bile é metabolizada por


ação de bactérias da microbiota intestinal. A bilirrubina livre é, então, reduzida a
urobilinogênio, estercobilinogênio e mesobilirrubinogênio que são transformados em
pigmentos que dão a cor habitual das fezes (CALDEIRA JÚNIOR; TEAGO, SILVA, 2008).

Parte do urobilinogênio produzido retorna ao sangue, por meio da circulação


enterro-hepática. A maior parte do urobilinogênio reabsorvido é removida pelo fígado e uma
pequena porção é excretada na urina (<1 mg/dL). Quando há produção elevada de
bilirrubina (anemias hemolítica e megaloblástica), observa-se aumento do urobilinogênio
reabsorvido, com consequente aumento da eliminação deste na urina. Nas disfunções ou
lesões hepáticas (hepatites, cirrose e insuficiência cardíaca congestiva), o fígado torna-se
incapaz de remover o urobilinogênio reabsorvido, o que torna a sua pesquisa na urina
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
47
positiva (LABTEST, 2005).

 Leucócitos:

A pesquisa da esterase leucocitária é um método indireto de detecção da presença


de leucócitos na urina. Esta enzima está presente nos grânulos primários ou azurófilos dos
neutrófilos, monócitos, eosinófilos e basófilos. Linfócitos e células epiteliais não contêm
esterase leucocitária, como se observa no informativo técnico do Labtest (2005). Como os
leucócitos podem sofrer lise na urina, a pesquisa da esterase leucocitária é útil na detecção
de enzima derivada de células que não são mais visíveis à microscopia.

A presença de leucócitos na urina em número significativo está relacionada, mais


comumente, à infecção urinária (pielonefrite e cistite). Outros processos inflamatórios do
trato gênito-urinário podem levar ao aumento de leucócitos sem a presença de bacteriúria
(LABTEST, 2005).

 Nitrito:

O teste do nitrito indica presença de bactérias na urina que são capazes de


converter nitrato em nitrito, podendo auxiliar no diagnóstico da infecção urinária. Bactérias
que convertem nitrato em nitrito incluem, principalmente, bactérias gram-negativas do
grupo das enterobactérias, como Escherichia coli, Proteus, Klebsiella, Citrobacter,
Aerobacter, Salmonella, além de algumas cepas de Pseudomonas. Bactérias Gram positivas e
fungos não conseguem fazer essa reação. A conversão de nitrato em nitrito exige um tempo
de no mínimo 4 horas, por isso os melhores resultados são com a primeira urina da manhã
(ALBINI et al., 2012).

 Densidade:

A densidade ou gravidade específica da urina é medida por meio da concentração


de íons e se baseia no fato de que, com o aumento da concentração iônica, ocorre aumento
da densidade. O teste, que sofre influência do pH urinário, está otimizado para resultados
exatos em pH 6,0. A medida da densidade urinária oferece informação limitada sobre a
capacidade de concentração renal, uma vez que sofre grande influência do estado de
hidratação do paciente. A densidade pode variar de 1.001 a 1.035, sendo geralmente
encontrada entre 1.015 e 1.022 em indivíduos com ingestão hídrica normal. Na disfunção
renal, como no diabetes mellitus, diabetes insipidus e hiperaldosteronismo, há perda da
capacidade de concentrar a urina, sendo detectados valores fixos iguais ou menores que
1.010.

pH:

De modo geral, a urina é discretamente ácida (pH 5,0 ou 6,0). A determinação do pH


não constitui, isoladamente, índice da capacidade renal de excreção de ácidos, apresentando
valor limitado na investigação de disfunções renais. Urina alcalina frequentemente indica
que a amostra foi mantida à temperatura ambiente por mais de 2 horas, entretanto, quando
colhida e armazenada adequadamente, pode sugerir infecção urinária.
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
48
 Cuidados com a tira reagente:

Conforme orientado pelo informativo técnico do Labtest (2005), observam-se os


seguintes cuidados com as tiras reagentes: a) devem ser armazenadas no recipiente original,
que deve ser mantido bem tampado. As áreas reagentes são estáveis e mantêm o
desempenho especificado até a data de expiração indicada no rótulo, quando o frasco é
mantido em temperaturas inferiores a 30ºC; b) não se deve armazenar em refrigerador; c)
remover do frasco somente a quantidade de tiras necessária para uso imediato; d) exposição
das tiras à luz solar direta, vapores químicos e umidade ambiental pode afetar as áreas de
reação; e) não tocar nas áreas de reação; f) usar somente urina recente, bem
homogeneizada e não centrifugada; e g) observar o tempo correto de leitura das reações.

5.4.3 Exame microscópico da urina (Sedimentoscopia)

Após a análise química da urina, ela será centrifugada em tubo com fundo cônico,
por 5 minutos, na velocidade de 1500 a 2000rpm (400 FCR). O sobrenadante será descartado
e o sedimento que ficará no fundo do tubo será ressuspendido com 0,2ml da urina restante,
aspira 0,02ml com micropipeta, colocada em lâmina de vidro com lamínula, e levada ao
microscópico óptico, utilizando as objetivas de 10x (para observação panorâmica) e 40x
(identificação e contagem de estruturas) (ROCHA, 2014). As estruturas pesquisadas em um
exame de urina tipo 1 são: células epiteliais, leucócitos, hemácias, cristais, fios mucosos,
cilindros, bactérias, fungos, espermatozoides e artefatos.

 Hemácias:

A presença de hemácias na urina é chamada de hematúria. Alguns laboratórios


consideram normal de 3 a 5 hemácias por campo ou até 10000 hemácias /ml de urina.
Quando há uma quantidade grande de hemácias na urina pode atrapalhar a visualização de
todos os outros elementos figurados (ROCHA, 2014). A estrutura da hemácia é ilustrada na
Figura 5.

 Leucócitos:

A presença de leucócitos na urina é chamada de leucocitúria. A quantidade


considerada normal é de 10.000/ml ou menos de 5 leucócitos por campo. A presença de
leucócitos indica uma infecção ou inflamação do sistema urinário (ROCHA, 2014).

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


49
Figura 5- Hemácias(a) e leucócitos (b) no sedimento urinário

a) b)
Fonte: Disponível em http://es.slideshare.net/graff95/atlas-sedimento-urinario Acesso em maio de
2017

 Células epiteliais:

Como observam Caldeira Júnior; Teago; Silva (2008), as células epiteliais são
originadas de tecido de revestimento do sistema urogenital. Podem ser observados 3 tipos
de células epiteliais, que são classificadas de acordo com o local de origem: células
escamosas (mais frequentes e menos significantes, originam-se do revestimento da vagina e
das porções inferiores da uretra masculina e feminina, são células grandes com citoplasma
abundante e irregular e núcleo central com o tamanho aproximado de uma hemácia);
células transicionais ou caudadas (originam-se do revestimento da pelve renal, da bexiga e
porção superior da uretra; raramente têm importância patológica); células tubulares renais
(são as células mais importantes, pois o número elevado indica necrose tubular e rejeição do
enxerto renal; as células são redondas e um pouco maiores que os leucócitos com núcleo
redondo) (Figura 6).

Figura 6- Células epiteliais descamativas que podem ser encontradas na urina


A) células escamosas; B) células transicionais; C) células tubulares renais

Fonte: Disponível em www.biomedicinapadrao.com.br/2010/05/pequeno-atlas-de-


uroanalise.html Acesso em maio de 2017

 Cristais:

Os cristais podem ser classificados como normais e anormais, de urina ácida e de


urina alcalina. Cristais normais de urina ácida: oxalato de cálcio, uratos amorfos e ácido
úrico, conforme ilustra a Figura 7. Cristais normais de urina alcalina: fosfato amorfo, fosfato
de cálcio, fosfato triplo, carbonato de cálcio, biurato de amônio, de acordo com o ilustrado
pela Figura 8.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


50
Figura 7- Cristais normais de urina ácida
A) Cristais de ácido úrico; B) cristais de uratos amorfos; C) Cristais de oxalato de cálcio

Fonte: Disponível em http://www.biomedicinapadrao.com.br/2010/05/cristais-na-urina.html;


https://br.pinterest.com/pin/474215035739902897/;http://laboratorionossodecadadia.blog
spot.com.br/2013_05_01_archive.html, http://professorwellington.zip.net/ Acesso em maio
de 2017

Figura 8- Cristais normais de urina alcalina


A) cristais de fosfato triplo; B) cristais de carbonato de cálcio; C) cristais de fosfato de cálcio

Fonte: Disponível em www.biomedicinapadrao.com.br/2010/05/cristais-na-urina.html,


http://professorwellington.zip.net/ Acesso em maio de 2017

 Cristais anormais de urina ácida ou neutra:

Cistina, colesterol, leucina, tirosina, bilirrubina, sulfonamidas, corante radiográfico,


ampicilina.

 Cilindros:

São elementos exclusivamente renais, formados no lúmen dos túbulos contorcidos


distal e ducto coletor. A aparência é influenciada por materiais presentes no filtrado
sanguíneo e servem como proteção imunológica. São formados devido ao acúmulo de
mucoproteína de Tamm-Horsfall. Podem ser hemáticos, leucocitários, hialinos, epiteliais,
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
51
granulosos, céreos, gordurosos, bacterianos. A quantidade considerada normal é de até 2
cilindros por campo (ROCHA, 2014) (Figura 9).

Figura 9- Cilindros hemáticos

Fonte: Disponível em http://es.slideshare.net/drecma/sedimento-urinario-2010 Acesso em maio de


2017

 Fios mucosos:

Em seus estudos, Rocha (2014) denominou de muco uma proteína fibrilar produzida
pelo epitélio tubular renal e pelo epitélio vaginal. Não é considerado clinicamente
significativo. O aumento da quantidade de filamentos de muco na urina costuma ser
associado à contaminação vaginal.

 Espermatozoides:

A presença de espermatozoides não tem importância médica, mas deve ser relatada
em exames de urina masculinos e omitida nos exames de urina femininos. Não tem
significado clínico se o achado for casual e encontrado em urinas colhidas após relação
sexual, e ejaculação noturna (ROCHA, 2014).

 Exercícios propostos:

1- Quais são os cristais normais encontrados em urina ácida?


2- Qual é o local onde são produzidos os cilindros e de que são compostos?
3- Quais são os tipos de células epiteliais que podem ser observados na análise
microscópica do sedimento urinário?

4- Qual dos seguintes resultados devem ser reanalisados?

a) Sangue e proteína positivos;


b) pH 5,0 com uratos amorfos;
c) pH 8,0 com cristais de ácido úrico;
d)Glicose e cetonas positivas;
e) Glicose e leveduras

5- Quais são os produtos do metabolismo das gorduras que podem ser identificado
com a fita reativa?
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
52
6- Em que parte do néfron, em pacientes normais, deve ser reabsorvida a glicose?

7- Quais são os principais cuidados para o armazenamento e uso das fitas reativas?
8- Cite a diferença entre hematúria e hemoglobinúria com relação ao aspecto da
urina.

9- Quais doenças estão relacionadas à presença de bilirrubina na urina?

10- Qual é o fundamento de analisar a presença de nitrito na urina?

5.5 Espermograma

O sêmen se constitui de espermatozoides em suspensão no líquido seminal, sendo


produzido pelos testículos e órgãos reprodutores acessórios. A função do líquido seminal é
fornecer meio nutritivo e volume adequado para o transporte dos espermatozoides até o
muco endocervical. O espermograma é o exame que avalia a capacidade de produção
testicular de espermatozoides normais, o principal na triagem para a investigação da
infertilidade masculina, realizado antes de se iniciarem testes mais dispendiosos e
elaborados na mulher.

As indicações para a análise de sêmen são: infertilidade masculina, determinar a


eficácia de uma vasectomia, estudos forenses para casos de estupro, avaliação de doadores
de esperma e casos de paternidade.

5.5.1 Composição do sêmen

O sêmen consiste em diversos fluidos produzidos pelos órgãos reprodutores


masculinos, como ilustra a Figura 10. Os espermatozoides são produzidos nos testículos,
sendo armazenados no epidídimo e nos dutos deferentes. O processo de formação dos
espermatozoides é controlado por vários hormônios: testosterona, hormônio luteinizante
(LH), hormônio folículo-estimulante (LDH).

Em Mundt; Shanahan (2012), observou-se que as vesículas seminais produzem um


fluido que contém ácido cítrico, flavinas, potássio e principalmente frutose, fornecendo
nutrição aos espermatozoides. A próstata contribui com um fluido ligeiramente ácido, que
contém fosfatase ácida, ácido cítrico e enzimas proteolíticas. As glândulas bulbouretrais
contribuem com discreto volume adicional ao sêmen. Durante a ejaculação, os fluidos de
todas essas frações formam uma mistura, o sêmen (MUNDT; SHANAHAN, 2012).

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


53
Figura 10- Sistema reprodutor masculino

Fonte: Disponível http://www.ebah.com.br/content/ABAAABd8IAL/sistema-reprodutor Acesso em


maio de 2017

5.5.2 Coleta da amostra

As normas para coleta do exame, de acordo com a Organização Mundial da Saúde


(OMS) (WHO, 2010), são:

 Colher em sala adequada próximo ao laboratório;


 O paciente deve receber as instruções escritas sobre higienização e a maneira de
colher o sêmen;
 A amostra deve ser coletada por meio de masturbação, em frasco estéril, de
plástico ou vidro, após abstinência sexual mínima de 2 dias e não mais do que 7
dias;
 A amostra é identificada com o nome do paciente, período de abstinência, data e
horário da coleta. O paciente deve relatar qualquer perda de material durante o
ato da coleta ou quadro febril recente. A temperatura ideal para transporte é
entre 20 e 37ºC.

5.5.3 Análise do sêmen

As amostras de sêmen devem ser analisadas no máximo em até 1 hora após a


coleta, e manipuladas com cuidado, pois pode conter micro-organismos transmissíveis, tais
como: HIV, vírus da hepatite B e herpes-vírus. Os procedimentos de análises estão de acordo
com as normas da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010) e citado por Rocha (2014).

5.5.3.1 Análise macroscópica

Na análise macroscópica deve-se observar o volume, a aparência, liquefação,


viscosidade, e o pH, os quais serão descritos a seguir.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


54
 Volume:

O volume deve ser medido com um cilindro graduado de base cônica ou com pipeta
estéril de 5 ou 10ml. O volume considerado normal é de 2 a 5ml. Quando o volume
ejaculado é menor que 2ml, é associado a uma deficiência na secreção das vesículas
seminais; se menor que 1,5ml (hipospermia), pode estar relacionado à obstrução dos ductos
ejaculatórios, ausência da vesículas seminais, ejaculação retrógrada, hipogonadismo ou
processo inflamatório crônico, estresse, abstinência inadequada ou perda da amostra
durante a coleta. Se for maior que 6ml, pode ser varicocele ou longos períodos de
abstinência.

Aparência:

O sêmen normal possui cor branca opalescente (levemente turva) e homogênea.


Quanto mais espermatozoides, mais turva. Pacientes com icterícia podem apresentar
amostra com cor amarelada; cor rosa ou marrom sugere presença de sangue.

Liquefação:

Após a ejaculação, o sêmen coagula quase imediatamente por ação de antígeno


específico da próstata e liquefaz à temperatura ambiente entre 15 a 40 minutos. O valor de
referência é de 10 a 30 minutos. Espermatozoides imobilizados ganham a habilidade de se
mover quando a amostra liquefaz.

Viscosidade:

A viscosidade da amostra liquefeita pode ser estimada por aspiração do sêmen em


pipetas de 5 ml, seguida de fácil gotejamento. O aumento da consistência pode ser devido à
disfunção prostática por inflamação crônica, alto conteúdo de muco ou presença de
anticorpos antiespermáticos, podendo intervir também na avaliação de várias características
do sêmen, como motilidade e concentração. Em caso de viscosidade diminuída, a amostra se
desprende da pipeta em gotas; quando da viscosidade normal, a amostra se alongará em
filetes com menos de 2cm; e em caso de viscosidade aumentada, a amostra se alongará em
filetes com mais de 2cm de comprimento.

pH:

Com a amostra liquefeita e antes de 1hora da coleta, coloca-se uma alíquota sobre
o papel de pH e observa após 30 segundos a cor obtida. O pH é determinado pelas secreções
da próstata (ácida) e vesícula seminal (básica). O valor considerado normal é de 7,2 a 7,8. As
amostras com pH maior que 7,8 devem ser avaliadas quanto à infecção ou anormalidade da
próstata. Quando o pH é menor que 6,5 em amostras sem espermatozoides (azoospermia),
pode-se suspeitar de oclusão ou anormalidade da função das vesículas seminais.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


55
5.5.3.2 Análise microscópica

A análise microscópica da amostra de sêmen consiste no estudo de: agregação e


aglutinação dos espermatozoides, concentração, motilidade, morfologia, vitalidade e
presença de outros elementos celulares.

 Aglutinação espermática:

O valor normal é ausência de aglutinação. A aglutinação é classificada em:


inespecífica ou agregação (espermatozoides imóveis aderidos a outras células) e específica
(espermatozoides aderidos uns aos outros devido à presença de antígenos
antiespermatozoides), conforme descrito a seguir.

 Concentração:

A concentração é definida como o número de espermatozoides em milhões por


mililitro de sêmen (x106/ml), devendo ser determinada por diluição volumétrica. A contagem
deve ser realizada em câmara de Neubauer ou câmara de Makler.

 Normozoospermia: >15x106/ml e < 200x106/ml


 Oligospermia: <15x106/ml (varicocele, alterações cromossômicas, medicamentos)
 Polizoospermia: >200x106/ml (anormalidades cromossômicas)
 Criptozoospermia: Esparsos espermatozoides no ejaculado (falha testicular)
 Azoospermia: nenhum espermatozoide no ejaculado (obstrução, falha testicular,
vasectomia).

 Motilidade:

Os espermatozoides podem ser classificados de acordo com três padrões de


motilidade, de acordo com a OMS (2010), a saber: motilidade progressiva (movimento ativo,
tanto linearmente como em grandes círculos); motilidade não progressiva (outros padrões
de movimento com ausência de progressão, pequenos círculo); imóveis. Na motilidade deve-
se homogeneizar a amostra em temperatura ambiente, colocar 10µL de sêmen em uma
lâmina de vidro limpa e cobrir com uma lamínula. Fazer 2 lâminas (fazer a média entre as
lâminas). A avaliação da motilidade deve ser realizada até 60 minutos após a coleta,
observando os espermatozoides em objetiva de menor aumento, rastreando 4 a 6 campos
para avaliar 100 espermatozoides. Valor de referência: > 32% de espermatozoides
progressivos. Baixa motilidade caracteriza astenozoospermia.

 Morfologia:

A análise da morfologia é realizada preparando-se um estiraço com 5ml de sêmen


liquefeito; após a fixação e coloração, são contados 200 espermatozoides no microscópio,
sob aumento de 1000x e classificados como normais ou anormais (em %). A OMS (2010)
considera como morfologia normal cerca de 30% ou mais de espermatozoides normais. Há 3
tipos de coloração que podem ser utilizados: Papanicolau, Diff-quick ou panótico, e Shorr.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


56
Um espermatozoide normal possui as seguintes medidas: cabeça oval com 2,5 a
3,5µm de largura por 5 a 6 µm de comprimento, deve possuir acrossomo com 40 a 70% do
segmento cefálico e até 2 vacúolos citoplasmáticos; peça intermediária com 1,5 vezes o
tamanho da cabeça; e cauda uniforme, com 45 µm, sem defeitos, como ilustra a Figura 11.

Figura 11- Morfologia normal e anormal de espermatozoides

Fonte: Disponível http://blogs.elpais.com/la-doctora-shora/2011/09/la-idealizada-imagen-de-los-


espermatozoides-humanos.html Acesso em maio de 2017

As formas anormais são:

a) defeitos de cabeça: fusiforme, piriforme, achatada, forma de ampulheta, mais de


2 vacúolos, achatado na implantação da cauda, redonda;
b) defeitos no acrosssoma: pequeno ou grande
c) defeitos do corpo e peça intermediária: peça larga, gota intracitoplasmática,
peça separada;
d) defeitos de cauda: inserção, espiralada, ângulo >90º.

 Teste de vitalidade:

Para os testes de vitalidade, pipeta-se em um tubo o volume de 100ml de sêmen,


adiciona 2 gotas de eosina a 3% (corante supravital), e homogeniza a solução por 30
segundos. Espermatozoides vivos apresentam membrana plasmática íntegra e não permitem
a passagem da eosina para o interior da célula (não corado), porém as membranas dos
espermatozoides mortos não estão intactas e por isso ficam corados de rosa. Avaliar 200
espermatozoides. O valor normal é de 60% de vivos, como se pode observar na Figura 12 a
seguir.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


57
Figura 12- Teste de eosina-nigrosina, mostrando que os espermatozoides vivos estão com a
coloração branca e o morto está rosa

Fonte: Disponível em http://www.um.es/grupo-fisiovet/Im-analisis-seminal.htm Acesso em maio de


2017

 Exercícios propostos:

1- Quais são as estruturas, do sistema reprodutor masculino, responsáveis pela


produção do sêmen?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

2- Cite as partes de um espermatozoide.


______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

3- Relacione com as respectivas funções:

[a] Testículo [ ] Amadurecimento dos espermatozoides.


Produz líquido leitoso que contém fosfatase ácida e
[b] Epidídimo [ ] enzimas proteolíticas, provocando coagulação e
liquefação.
[c] Vesícula seminal [ ] Produção dos espermatozoides.
Produz líquido viscoso que fornece frutose e
[d] Próstata [ ]
nutrientes para os espermatozoides.

4- Quais são as orientações dadas ao paciente para a coleta do espermograma?


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ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


58
5- Espermatozoides viáveis apresentam-se _________ quando corados por eosina-
negrosina:

a) negros
b) laranjas
c) vermelhos
d) brancos

6- A análise de sêmen desempenha importante papel:

a) na determinação da eficácia de uma vasectomia.


b) no estabelecimento de uma causa de infertilidade.
c) em estudos forenses de suspeita de estupro.
d) todas as anteriores.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


59
REFERÊNCIAS

ALBINI, Carlos Augusto Albini; SOUZA, Helena Aguiar Peres Homem de Mello; SILVEIRA,
Alessandro Conrado de Oliveira. Infecções urinárias: uma abordagem multidisciplinar. 1ª
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CALDEIRA JUNIOR, Antônio Marmoro; TEAGO, Christiano Nogueira; Silva, Luciano Fernandes.
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LABTEST. A tira reagente no exame de urina. Informativo Técnico Labtest, Ano III, Número 3,
p.1-8, 2005.

MUNDT, Lilian A.; SHANAHAN, Kristy. Exame de urina e de fluidos corporais de Graff. 2ª
edição, Porto Alegre: Artmed, 2012.

ROCHA, Arnaldo. Biodiagnóstico: fundamentos e técnicas laboratoriais. São Paulo: Rideel,


2014.

STRASINGER, Susan K.; DI LORENZO, Marjorie S. Urinálise e Fluídos Corporais. 5ª edição,


Editora: LMP, 2009.

WHO-World Health Organization. Laboratory manual for the examination and processing of
human semen. 5th edition,Switzerland: WHO Press, 2010.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


60
ANOTAÇÕES: ____________________________________________________________
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MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
RELAÇÕES HUMANAS
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6 RELAÇÕES HUMANAS

A disciplina de Relações Humanas para o Curso Técnico em Análises Clínicas visa


ensinar ao aluno os fundamentos da Psicologia que lhes permitam promover o
desenvolvimento de uma atitude mais crítica em relação à profissão escolhida, mais
participativa em relação ao grupo e à comunidade nas quais vai estar inserido, e mais
sensível em relação a todos aqueles que estarão sob seus cuidados.

Os conteúdos abordados referem-se à prática do profissional no laboratório de


Análises Clínicas e questões dela inerentes, cuja explanação propõe estimular a avaliação
sobre seu papel na esfera da dimensão humana e social do trabalho em saúde.

6.1 História da Psicologia

A Psicologia existiu amorfa e indiferenciada por pelo menos dois séculos, dado que
estava fundida à Filosofia, e tinha por preocupação embrionária o homem enquanto um ser
possuidor de “algo” além de seu corpo material e sensorial. Assim, a primeira grande
definição de Psicologia como estudo da alma perdurou durante muito tempo. A própria
origem da palavra psicologia deriva da mitologia grega (Psyché = alma) (MARIANO, 2009).

Mueller (1978 apud MARIANO, 2009) afirma que o conceito de alma mudou com o
tempo, conforme as teorias que explicam a realidade. Neste sentido, desde os séculos VII e
VI A.C., alguns pensadores como Tales (625-558 A.C.), Pitágoras (580-497 A.C.), Heráclito
(540-470 a.C.), Parmênides (530-460 a.C.), que discutem uma abordagem racional e buscam
um princípio ordenador do universo, entendem que a alma humana é parte da realidade
universal, ou seja, se o homem é capaz de respirar, é porque no universo existe ar; se é
capaz de pensar, é porque existe a razão.

Posteriormente, Sócrates e Platão elegem o próprio homem como a verdadeira


matéria realmente digna de estudo, numa perspectiva moral. Razão, caráter, justiça, virtude,
direito, felicidade, beleza compõem a verdadeira essência do homem, estão dentro dele em
estado puro, e podem ser encontradas se esse homem se dispuser a apreender o verdadeiro
conhecimento. Esta discussão é continuada por Platão (428-347 a.C.), que oferece uma
compreensão de alma diferente da de Sócrates e lança um pensamento que dominará
durante séculos. Platão divide, então, o homem em corpo e alma, o caráter da imortalidade
da alma independe da durabilidade do corpo (MARIANO, 2009).

Seguindo dentro da Filosofia Grega, Aristóteles (384-322 A.C.) considera que a alma
é a causa e o princípio do corpo vivo, ela é a essência presente em cada indivíduo em
particular, desaparecendo com a morte do mesmo. Historicamente, entre os séculos III a.C. e
III d.C., os romanos apropriaram-se da cultura grega e, a partir de várias escolas (estoicismo,
ceticismo), continuaram as reflexões sobre a alma, sua relação com a realidade e seu
significado no ser humano.

Na Idade Média, o cristianismo originou-se como um movimento social e religioso


dissidente do judaísmo, incorporando o pensamento greco-romano. O cristianismo passou,
então, a ver a alma do ponto de vista da redenção: da vitória sobre o pecado e consequente
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
64
redenção. Do pensamento medieval sobre a alma, destaca-se Santo Agostinho e São Tomás
de Aquino. Para Santo Agostinho, a alma está acima da razão, da moral e da ciência. Ela é a
realidade primeira, possui diferentes graus e tem diferentes funções, participando não só do
mundo sensível, mas também possuindo conhecimentos que não passam pelos sentidos; é
capaz, portanto de intuições que a colocam em contato com as coisas eternas, em presença
da realidade espiritual de Deus. São Tomás de Aquino preconiza que a alma humana é de
natureza diversa. Não é corpo, mas o ato de um corpo, o princípio de que dependem os seus
movimentos, suas ações… é incorporal e insubstancial… não se dissolve com o organismo
(ROSENFELD, 1994 apud MARIANO, 2009).

Com o advento do Renascimento, o filósofo Descartes ganha destaque na discussão


do lugar da alma no pensamento do homem, desenvolvendo uma teoria sobre a questão da
divisão corpo-alma, presente desde os tempos da dicotomia platônica, enfatizando que
apesar de alma e corpo serem considerados diferentes a relação corpo/mente, é uma
relação de interação mútua. Para ele, o corpo abarcava todas as funções de sobrevivência, e
a mente tinha somente uma função: o pensamento. A mente possui, então, capacidade de
pensar, e é ela que fornece ao ser humano o conhecimento do mundo externo. No entanto,
essa mente deve ter um ponto de interação com o filósofo simbolizou, na passagem do
Renascimento para o período moderno da ciência (MARIANO, 2009).

A partir de Descartes, o desenvolvimento do pensamento foi muito rico,


extremamente rápido, e é interessante observar a inserção da ideia de “mundo mental”
daqui para frente. Das ideias de Descartes, surgiram as escolas como o Empirismo, que teve
como representante expressivo John Locke (1632-1704), que resume seu pensamento da
seguinte forma: “a mente é um papel em branco, desprovido de todos os caracteres, sem
quaisquer ideias que será provida pela experiência O Empirismo irá fornecer a base teórica e
metodológica para o nascimento da Psicologia”.

Severino (1992 apud MARIANO, 2009) afirma que a partir das ideias de Descartes
surge nesse período uma nova posição, que se opõe radicalmente a John Locke. O filósofo
Gottfried Leibniz (1646-1716) propõe um sistema novo de compreensão do ser. Para ele “o
homem não é uma coleção de atos, nem simplesmente o local dos atos; a pessoa é a fonte
de atos… para conhecer o que uma pessoa é, torna-se necessário sempre consultar o que ela
pode ser no futuro, pois todo estado da pessoa é apontado na direção de possibilidades
futuras”.

No início do século XIX nasce a Psicologia como ciência, e a partir da matriz filosófica
adotada, surgem diferentes posturas de investigação científica, segundo Mariano (2009). As
linhas filosóficas irão definir a prática posterior. Para entender a prática, é necessário
reconhecer a matriz filosófica na qual esta se apoia. Desta forma, se tem, entre outras, a
Psicologia Behaviorista, a Humanista, a Psicologia Cognitiva, a corrente sócio-histórica da
Psicologia, Gestalt, e a Psicanálise, que embora não tenha nascido no seio da Psicologia,
caminha junto com ela na sua preocupação com o homem interior.

São diferentes vertentes da Psicologia que pretendem observar, compreender e


trabalhar o homem, no que diz respeito a seus processos psíquicos, à construção de sua
inteligência e afetos, a suas formas de ser, atuar e se relacionar no mundo, quer nas suas
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
65
expressões normais ou patológicas, quer na educação, na clínica, na empresa.

6.2 Objeto da Psicologia

A Psicologia é derivada de palavras gregas que significam "estudo da mente ou da


alma". Atualmente, é comum que se defina a Psicologia como a ciência que estuda o
comportamento humano. Os psicólogos estudam os mais variados assuntos, entre eles: o
desenvolvimento, as bases fisiológicas do comportamento, a aprendizagem, a percepção, a
consciência, a memória, o pensamento, a linguagem, a motivação, a emoção, a inteligência,
a personalidade, o ajustamento, o comportamento anormal, o tratamento do
comportamento anormal, as influências sociais, o comportamento social, etc.

A psicologia é frequentemente aplicada na indústria, na educação, na engenharia,


na saúde, em assuntos de consumo e em muitas outras áreas. O profissional de saúde, por
exemplo, deve sentir-se bem consigo mesmo se pretende fazer alguém sentir-se bem. Ele
não é um robô, nem tampouco o são as pessoas com quem trabalham: pacientes, médicos,
supervisores, enfermeiras, técnicos e familiares dos pacientes, cada um é um ser humano,
semelhante e ao mesmo tempo diferente dos demais seres humanos. Qualquer pessoa que
queira ingressar na área da saúde precisa conhecer as pessoas e, antes de tudo, a si próprias.

6.2.1 A História da Psicologia no Brasil

Desde o período Colonial no Brasil já havia preocupações com o fenômeno


psicológico. Entretanto, não se pode afirmar que se tratava propriamente de Psicologia. É
possível entender que também no Brasil a Psicologia vai se desenvolvendo como ideias e
posteriormente como ciência. De acordo com pesquisas de Massimi (1990), os
conhecimentos psicológicos foram sendo elaborados ao longo do tempo em várias culturas e
este objeto de estudo se denomina História das ideias psicológicas. Analisando o período
colonial brasileiro, a autora pontua que foram produzidos temas relevantes no que diz
respeito a conhecimentos e práticas psicológicas. Evidencia-se também que durante o século
XIX, principalmente no final, a psicologia esteve presente em várias partes do Brasil,
vinculadas a outras áreas de conhecimento. Havia uma preocupação com os fenômenos
psicológicos no interior da Medicina e da Educação. Para Antunes (2004), este processo vai
aos poucos contribuindo com o reconhecimento da Psicologia como área específica de
saber.

6.3 Senso Comum e Ciência

Psicologia do senso comum ou do quotidiano é o conjunto de teorias que cada


pessoa tem a respeito de como o ser humano funciona. Essas teorias e convicções estão
profundamente arraigadas no ser humano e servem de base para as decisões que as pessoas
tomam no dia a dia.

A psicologia científica se desenvolve sobre o pano de fundo da psicologia do senso


comum e deve tê-la sempre em conta. Porém, a relação entre as duas não é sempre pacífica.
Em alguns momentos a tarefa da psicologia científica é desenvolver e sistematizar a
psicologia do senso comum - afinal a psicologia do senso comum contém um conhecimento

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


66
sobre o ser humano que permite às pessoas que se compreendam mutuamente, o que, de
maneira geral, funciona. Por outro lado a psicologia do senso comum pode ser um dos
grandes obstáculos da psicologia científica, pois a influência daquela acaba por dificultar ou
até mesmo impedir esta de desenvolver novas ideias e conceitos. Existe, pois, uma tensão
entre as duas que permeia toda a atividade da psicologia científica, exigindo do pesquisador
uma redobrada atenção.

Na área da saúde, a psicologia é extremamente importante, dado que o ser humano


se encontra em uma situação de fragilidade e precisa ser compreendido. Além da doença
física, estão envolvidos neste processo também os aspectos psicossociais espirituais. Como
se sabe, estes aspectos estão interligados. Muitas vezes, as pessoas não conseguem lidar
com os seus sentimentos e acabam desenvolvendo alguma doença, ao que se dá o nome de
somatização. Neste sentido, o profissional de psicologia atua, buscando ouvir estas pessoas,
conduzindo-as a exporem seus sentimentos, expressem a sua dor, até então indizível, o que
é de extrema importância, já que o silêncio emocional que está muitas vezes, na origem do
adoecer. Desta forma, é importante ajudar bastante ao paciente/cliente. Ele deve encontrar
no profissional de psicologia alguém que aceite e acolha suas reações, como chorar, gritar,
demonstrar seu medo e sua revolta. Este profissional da área de saúde deve se mostrar
solidário nessas situações.

6.4 Comunicação e Relações Interpessoais

Silva (2002, p. 73 apud ALVES e SÁ, 2008, p. 01) aforma que:

Etimologicamente falando, a palavra comunicar tem origem no latim


“communicare” e significa “por em comum”. Para nós humanos a
comunicação é o meio pelo qual nos descobrimos, criamos relações,
estabelecemos vínculos, contato e ligações com as demais pessoas. É
através da comunicação que emitimos, transmitimos e capturamos
mensagens denominadas também como informações.

Segundo Alves e Sá (2008), antes mesmo de Aristóteles, com seus estudos sobre a
Retórica, o homem já tinha o desejo de se expressar e deixar registradas as suas vivências.
Para tanto, buscaram recursos no sentido de tornar comuns os seus pensamentos e o seu
cotidiano. São exemplos destes recursos as inscrições rupestres (homens da caverna), como
se pode observar na Figura 1, e os hieróglifos (egípcios), ilustrados pela Figura 2, e também
os tambores utilizados pelos povos africanos e os sinais de fumaça, que os índios americanos
faziam para emitir as suas mensagens.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


67
Figura 1- Inscrições rupestres

Fonte: Alves e Sá (2008)

Figura 2- Hieróglifos

Fonte: Alves e Sá (2008)

A invenção do alfabeto se deu no ano 900 a.C., trazendo consigo a linguagem


escrita. A partir de então foi possível o compartilhamento de ideias e informações para os
diferentes povos da terra. O homem passou a escrever as suas histórias, a expor as suas
vivências e ideias, o que antes era feito apenas por meio da linguagem não verbal.
Ferramenta esta de comunicação inerente ao homem, que possibilita a compreensão e
percepção do que as palavras por vezes não conseguem expressar (ALVES e SÁ, 2008).

Como afirmam as autoras, o processo de comunicar não se reduz somente ao


fenômeno da linguagem, dado que a comunicação ocorre também por meio dos
movimentos do corpo e do silêncio. Ainda de acordo com as autoras, a evolução das formas
de comunicação se deu paralelamente à evolução sócio-histórica do homem. Ao longo do
desenvolvimento do saber, o homem aprimorou os modos de comunicação, criando
invenções, tais como: o correio, a imprensa, o telégrafo, o rádio, a televisão, o celular, a
internet, etc. A questão que se põe em cheque atualmente é o quanto tais avanços
tecnológicos têm contribuído para aproximar as pessoas, promovendo uma comunicação
eficaz, criando vínculos, tornando comuns os pensamentos, ideias e comportamentos que se
deseja comunicar (ALVES e SÁ, 2008).

Na área da saúde, é notório o progresso das descobertas científicas associado ao


surgimento de novas tecnologias no campo dos medicamentos e equipamentos em saúde,
que vem proporcionando maior probabilidade de diagnóstico precoce, maior precisão no
tratamento das doenças e, consequentemente, maiores chances de sobrevida aos pacientes.
Ainda assim, de acordo com as autoras, impera a discussão acerca de que até que ponto a
tecnologia presente nos meios de comunicação atual viabiliza a construção das relações

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


68
harmônicas de comunicação social, na saúde, e se a tecnologia tem sido uma aliada ou um
obstáculo no estabelecimento de relações e vínculos para a promoção da saúde.

De acordo com Toralles-pereira et al. (2004 apud ALVES e SILVA, 2008), é


perceptível que com o progresso tecnológico vem ocorrendo o processo de empobrecimento
do vínculo entre profissionais de saúde e pacientes. A anamnese e o exame físico têm sido,
em parte, substituídos por aparelhos que fornecem informações diagnósticas e indicam
terapêuticas, diminuindo a participação do profissional na relação com o doente, neste
processo de levantamento de suas condições de saúde. A atenção dirige-se para a doença e
não para o indivíduo doente.

É importante ressaltar que a qualidade do serviço prestado ao usuário de saúde não


é determinada somente por equipamentos materiais e aplicação dos conhecimentos técnico-
científicos, mas também está intimamente ligada às relações estabelecidas pela equipe de
saúde com o usuário, derivadas das “éticas interativas e comunicacionais”. Aditando à ideia
dos autores, Silva (2002 apud ALVES e SÁ, 2008) afirma que o atendimento das necessidades
humanas básicas do indivíduo doente, quase sempre, do tipo de comunicação que ocorre
entre ele e o profissional de saúde. Outro ponto fundamental é o uso consciente que o
profissional deve fazer de sua comunicação com o indivíduo, facilitando o alcance dos
objetivos da assistência.

Diante do exposto, percebe-se que a comunicação interpessoal se relaciona


intimamente ao tipo de serviço oferecido pelos profissionais de saúde aos pacientes no
contexto da assistência em saúde. Afirma-se, portanto, a necessidade que estes profissionais
possuem de utilizar de forma eficaz a comunicação interpessoal, seja para com o usuário do
serviço ou para com a equipe multidisciplinar, a fim de realizar de forma eficaz suas
responsabilidades profissionais diárias.

O trabalho dos profissionais de saúde está baseado nas relações humanas que
estabelece, sendo o processo comunicativo, portanto, inserido em todas as atividades de seu
cotidiano. Sobre a importância deste fenômeno, de acordo com Silva (2003 apud ALVES e SÁ,
2008), a equipe de profissionais de saúde deve conhecer os mecanismos de comunicação
que irão facilitar o desempenho de suas funções voltadas para o paciente, além de melhorar
o relacionamento entre os membros da própria equipe.

A comunicação interpessoal promove a troca de informações entre duas ou mais


pessoas e cada uma destas pessoas, chamadas de interlocutores, troca informações
baseadas em seu repertório cultural, sua formação educacional, suas vivências e emoções.
Para que o processo de comunicação se dê, exigem-se, minimamente, um emissor e um
receptor. Como exemplo de ferramenta, podemos considerar a fala, a mímica, os
computadores, a escrita, a língua, os telefones e o rádio. Deve-se estar atento aos ruídos
existentes no processo de comunicação. Estes devem ser minimizados, para que o melhor
nível de qualidade da mensagem seja alcançado pelo receptor. Para tanto, deve-se estar
atento à escolha dos meios e ferramentas disponíveis, de modo a facilitar o processo com o
menor índice de ruídos possível. O sucesso na comunicação não depende apenas da forma
como a mensagem é transmitida, mas também da sua compreensão, que é fator
fundamental para que esta comunicação alcance o seu propósito. A comunicação deve ter
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
69
objetivos claros, que garantam que a mensagem transmitida ao interlocutor foi
compreendida.

6.4.1 A Importância da Comunicação

Moscovici (1985 apud CARDOSO, 2004) compara a equipe de saúde a um campo de


forças, onde algumas destas forças contribuem para seu crescimento, enquanto que outras
para o retrocesso ou manutenção de seu status quo. Sendo assim, a comunicação ocupa um
papel primordial para qualquer equipe interdisciplinar. A comunicação permitirá que o grupo
se transforme de um pequeno aglomerado de profissionais, que trabalha com pouco vínculo,
em um grupo de trabalho integrado, atuando num sistema de parceria e
complementaridade, onde a troca de conhecimentos e experiências possibilitará uma
atuação mais rica e condizente com a complexidade, que é peculiar no ser humano. Não é
uma tarefa fácil, de acordo com Cardoso (2004), dado que requererá a cada membro da
equipe que este esteja disponível para se deparar com o novo, o diferente, e, alguns
momentos, com algo diferente daquilo em que ele acredita.

Exercitar a comunicação representa a valorização das perspectivas distintas como


ingredientes para o enriquecimento do trabalho. Para ilustrar esta afirmativa, Souza (1999,
p. 14 apud CARDOSO, 2004) assegura que:

Deve-se ter em vista que um mesmo problema (ou fenômeno) pode ser
compreendido quando abordado por formas complementares de
informações e conhecimentos: um objeto e múltiplas facetas – biológicas,
culturais, nutricionais, políticas e outras. É na interseção destas faces que
está situada a interdisciplinaridade, se contrapondo às formas
fragmentadas/especializadas do conhecimento em saúde.

Diante do exposto, é necessário privilegiar a colaboração entre os profissionais da


saúde, visando integrar esforços, estimular a reflexão e a troca de informações sobre a
população atendida, de modo a facilitar sua avaliação e evolução clínica, bem como o
aperfeiçoamento das propostas para os problemas da comunidade por parte de todos os
profissionais da equipe de saúde (CARDOSO, 2004).

Ainda segundo a autora, alguns profissionais mantêm uma postura dogmática,


preconizando determinada conduta ou perspectiva como a única correta, não permitindo a
troca de informações, o que causa entraves na comunicação. Considera-se esta uma postura
nociva, sobretudo em uma equipe de saúde, cujo objetivo maior é o bem-estar do paciente.
Como bem verbaliza Cardoso (2004, p. 05):

Também se corre o risco de impedir o encontro de uma solução mais


pertinente com a complexidade da situação, pois, por mais científico que
um saber possa ser, nenhuma perspectiva, seja ela da ordem das ciências
biológicas, humanas, política, antropológica ou social, é suficiente para
abarcar a totalidade das problemáticas que envolvem o ser humano.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


70
6.5 Percepção e Interação Social

Em artigo publicado pelo Portal Educação (2013), apreendeu-se que a percepção


social é um processo de interpretação de comportamentos de outras pessoas, que se dá em
diferentes etapas. Na primeira etapa, o comportamento atinge os sentidos, devendo, para
tanto, estar funcionando de forma correta, em um ambiente que lhe forneça as condições
necessárias. Na segunda etapa, o comportamento do outro já atingiu o nossos sentidos,
permitindo que se dê a ação dos nossos interesses, que, segundo Rodrigues (1996, p. 202
apud PORTAL EDUCAÇÃO, 2013), dizem respeito aos nossos “preconceitos, estereótipos,
valores, atitudes e ainda outros esquemas sociais”.

Ainda de acordo com Rodrigues (2007, p. 203 apud PORTAL EDUCAÇÃO, 2013), “a
percepção social é condição para a interação humana. O processo perceptivo é permeado
por variáveis que se intercalaram entre ‘o momento da estimulação sensorial e a tomada de
consciência daquilo que foi responsável pela estimulação’”. Estas variáveis influenciam na
forma como as pessoas percebem determinado comportamento.

Em relação à percepção social, os autores afirmam que quando se ouve uma pessoa
falando de outra, algumas características, sendo mais centrais que outras, permitem que nos
atenhamos a elas, fazendo com que as informações recebidas em primeiro plano se
sobressaiam. Outra variável que influencia na percepção que teremos de determinada
pessoa são os estereótipos, de acordo com Rodrigues (1996 apud PORTAL EDUCAÇÃO,
2013). Tais estereótipos podem ser positivos ou negativos, e consistem em designar
características às pessoas de determinado grupo, ao qual inferimos atributos típicos. Uma
vez interpretamos o comportamento do outro, é comum que tentemos explicá-lo. Para
entender este processo, é necessário atentar para as considerações a respeito da teoria da
atribuição de causalidade. Por esta teoria se compreende como se atribuem causas e
motivos aos comportamentos das pessoas. As causas podem ser internas, por exemplo,
quando se diz que o outro é assim mesmo, ou externas, quando se afirma que a pessoa agiu
daquele modo por outro lhe fizera algo irritante (RODRIGUES, 2007; LEYENS, 1999 apud
PORTAL EDUCAÇÃO, 2013).

Ao tentar comentar os comportamentos, percebe-se a diferença ao se explicar o


próprio comportamento ou quando se explica o de outras pessoas. Segundo Myers (2000
apud PORTAL EDUCAÇÃO, 2013), ao mesmo tempo em que explicamos nosso
comportamento, o fazemos a partir da situação que o desencadeou. Por outro lado, quando
explicamos o comportamento das outras pessoas, tendemos a inferir que esta atitude é uma
característica desta pessoa, não considerando em que situação ela agiu de determinada
forma. Ao fazer isto, incorremos no que é chamado por psicólogos sociais de erro
fundamental de atribuição.

Compreende-se, então, que os julgamentos se dão a partir das características que


são inferidas às pessoas. É importante levantar esta questão, para que se compreenda que
os seres humanos cometem julgamentos em algum momento e nestes é possível que
incorram no erro fundamental da atribuição.

A percepção social é um dos processos que mais interfere nas relações humanas.
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
71
Ela dá ênfase à atribuição de intenções. Nela, o sujeito, além de perceber, também é possível
ser percebido. A percepção em si é um processo que segue uma trajetória que parte de uma
estimulação sensorial e vai até a tomada de consciência, de acordo com Rodrigues (1996
apud PORTAL EDUCAÇÃO, 2013). É algo extremamente complexo, sujeito a uma série de
importantes interferências cognitivas que serão determinantes para o resultado perceptivo
final.

A percepção social se apresenta como uma espécie de pré-condição do processo de


interação social, dado que ela permite uma análise recíproca e inicial dos sujeitos. Ela
começa no instante que a estimulação sensorial chega àquele que percebe e tem seu fim em
uma tomada de consciência. Neste caminho apresenta-se uma série de variáveis e
interferências cognitivas que vão influenciar a finalização do processo (RODRIGUES; ASSMAR
& JABLONSKI, 2002 apud PORTAL EDUCAÇÃO, 2013).

6.5.1 Fatores que Interferem no Processo Perceptivo

De acordo com Rodrigues; Assmar & Jablonski (2002 apud PORTAL EDUCAÇÃO,
2013), alguns fatores interferem no processo perceptivo. São eles:

a) seletividade perceptiva: quando as pessoas são bombardeadas por uma grande


quantidade de estímulos, porém apenas uma parte é captada;
b) experiência prévia: uma vez familiarizada com um estímulo, a pessoa tem maior
disposição de responder a ele;
c) condicionamento: uma vez reforçam-se certos tipos de percepção, colocando
outros tipos em segundo plano, a tendência é de que os sujeitos se tornem
viciados em apenas uma percepção possível;
d) fatores contemporâneos ao fenômeno perceptivo: o estado do sujeito, enquanto
aquele que percebe, frente àquilo que é percebido, no exato momento da
percepção, pode deixar marcas nesta. Por exemplo: cansaço, estresse, sede, ira,
ciúmes, etc. podem alterar a percepção do sujeito em uma direção totalmente
nova; e,
e) defesa perceptiva: diz respeito ao bloqueio na conscientização de estímulos
emocionalmente perturbadores.

Além disso, Rodrigues (1996 apud PORTAL EDUCAÇÃO, 2013) advoga que há
valores, atitudes, tendenciosidades, interesses, estereótipos, preconceito e atribuições de
causalidade, que também são capazes de interferir e distorcer o estímulo percebido
inicialmente.

O autor afirma ainda, que, para a percepção social, todas estas interferências são de
extrema relevância, uma vez que permitem compreender como um indivíduo muitas vezes
coloca significado nas ações de outras pessoas. A maneira como a ação do outro é percebida,
independente do seu significado real e dependente das interferências cognitivas, é que vai
determinar o tipo de resposta que será dada.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


72
6.5.2 Aplicações Práticas do Conhecimento sobre o Fenômeno da Percepção Social

Braghirolli et al., (2003 apud PORTA EDUCAÇÃO, 2013) apontam 7 aplicações


práticas dos conhecimentos relacionados ao fenômeno da percepção social, que serão
descritos a seguir:

a) psicologia da propaganda: a mensagem da propaganda deve ser apresentada de


forma clara o suficiente, que torne difícil a sua distorção pelos processos
psicológicos. “Quanto mais específico for o estímulo distante, aliado a boas
condições mediadoras, maior será a probabilidade de o destinatário perceber o
estímulo distante tal como ele é na realidade”;
b) psicologia do boato: a importância do assunto e a sua ambiguidade caracterizam-
se como as condições essenciais para que o boato se propague. É comum que no
boato ou na transmissão de qualquer informação de caráter ambíguo as pessoas
pertencentes à cadeia de transmissão da informação alterem o conteúdo da
mensagem. Isto se dá em virtude da ação dos processos psicológicos;
c) psicologia das discussões: geralmente, o ser humano não gosta de ser
contrariado em suas ideias, opiniões, sentimentos e julgamentos. Quando duas
posições entram em choque neste sentido, estabelece-se uma discussão, sempre
conduzida num clima de muita emotividade. Durante uma discussão, há muitas
distorções perceptivas advindas da emocionalidade e demais processos
psicológicos destorcidos dos estímulos. Recomenda-se uma comunicação com as
emoções e sentimentos irracionais, de modo que as discussões sejam conduzidas
a algo construtivo e que não gere ainda mais conflitos;
d) psicologia do remorso e do sentimento de realização: o sujeito sente remorso
quando deixa de fazer algo que podia ter feito ou quando comete um ato que
não deveria cometer. Quando algo está além de suas forças, o não fazer o que
deveria ou fazer o que não deveria não gera remorsos. Por outro lado, fazer algo
meritório por razoes outras que não são da própria intenção e habilidade em
fazê-lo não gera sentimento de realização. Neste sentido, percebe-se que os atos
determinam o sentimento de remorso e de realização;
e) psicologia das relações internacionais: é comum que os dirigentes de uma nação
veja as suas ações como sendo as melhores que aquelas dos seus opositores.
Neste sentido, o grau do temor expresso por um país em relação a outro
depende da percepção da capacidade do oponente e de sua intenção em causar
dano;
f) rotulação das pessoas e suas consequências: quando a pessoa é rotulada de algo,
é difícil para ela mudar a sua imagem. A necessidade que o sujeito tem de
simplificar as relações interpessoais, fazendo com que determinados
comportamentos sejam antecipados, leva à rotulação. É comum que se perceba
a pessoa à luz do rótulo que lhe fora imputado. É importante observar que,
embora comum, a rotulação é algo perigoso, podendo levar a erros de
julgamento; e,
g) atribuição de causalidade e suas aplicações a outros setores da psicologia:
atribui-se a fatores internos (habilidade, esforço) ou a fatores externos
(dificuldade com a tarefa, sorte, azar) as causas de sucesso ou de fracasso. Tais
fatores podem ser estáveis ou instáveis. Além destas dimensões, é importante
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
73
salientar também o fator da controlabilidade, posto em determinados aspectos
podem estar fora do controle das pessoas.

Os atores tendem a fazer atribuições situacionais (externas) enquanto aqueles que


observam tendem a fazer atribuições disposicionais (internas). O terapeuta, utilizando os
conhecimentos de psicologia social acerca do fenômeno de atribuição de causalidade, deve
ajudar seu cliente a atribuir seu comportamento as suas verdadeiras causas.

6.6 Feedback e Comunicação

De origem inglesa, feedback é uma palavra que significa realimentar, dar resposta a
determinado pedido ou acontecimento. É um termo muito comum, utilizado, sobretudo, em
áreas como administração, psicologia ou engenharia elétrica.

Em alguns contextos a palavra feedback pode significar resposta ou reação. Neste


caso, o feedback pode ser positivo ou negativo. Ex.: “Apresentei o meu relatório para os
acionistas e o feedback foi muito positivo”. Na área da comunicação, por exemplo, o
feedback é um dos elementos presentes do processo comunicacional, onde um emissor
envia uma mensagem para um receptor, por meio de um determinado canal. A mensagem
poderá ser alterada por algum tipo de barreira (ruído), condicionando, então, a sua
interpretação por parte do receptor. Depois de interpretada, o receptor termina o processo
de comunicação com o feedback – a resposta ou reação do receptor à mensagem enviada.

Na área de administração de empresas, o feedback é utilizado para dar parecer


sobre as pessoas, seja de forma individual ou de grupo, quando da realização de um trabalho
ou avaliação de desempenho. Tal ação revela os pontos positivos e negativos do trabalho
executado, visando a sua melhoria. Na área da Psicologia, o feedback é também descrito
como retroação ou devolutiva, uma vertente da comunicação interpessoal, que pode servir
para minimizar conflitos entre indivíduos.

De acordo com a pesquisa de Silva (2002 apud DAMASCENO et al., 2012),


comunicação é o meio pelo qual as pessoas interagem umas com as outras, compartilhando
mensagens, efetivadas pela compreensão entre o emissor e o receptor. Quando ocorre entre
profissional de saúde e paciente com o objetivo de ajudá-lo a enfrentar seus problemas,
relacionar-se com os demais, ajustar o que não pode ser mudado e enfrentar os bloqueios à
autorrealização, é denominada comunicação terapêutica.

Algumas estratégias de comunicação terapêutica são sugeridas, com vistas a


facilitar a interação entre os profissionais de saúde e os pacientes. Estas estratégias são
categorizadas em três grupos: de expressão, de clarificação e de validação. São técnicas que
devem ser usadas consciente e coerentemente, de forma não repetitiva e, se for o caso,
associadas a outras estratégias facilitadoras do desenvolvimento do relacionamento
terapêutico. Estas técnicas devem prever que o profissional considere os aspectos verbais e
não verbais durante a interação (STEFANELLI, 2005 apud DAMASCENO et al., 2012).

Embora a comunicação seja reconhecida como essencial, estudos recentes de


Noreña-Peña e Cibanal-Juan (2008 apud DAMASCENO et al., 2012) apontam que o processo
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
74
comunicacional ou o relacionamento interpessoal entre pacientes, enfermeiros e demais
profissionais de saúde ainda é considerado pouco efetivo. Na prática clínica, ainda são
observadas dificuldades de comunicação entre os profissionais e os pacientes, o que pode
ter forte influência na satisfação, na adesão ao tratamento e, consequentemente, nos
resultados de saúde, o que sugere a necessidade de preparo técnico e humano dos
profissionais envolvidos.

Em outras palavras, os profissionais de saúde devem aliar o conhecimento técnico à


utilização de novas competências e habilidades para incrementar a comunicação com os
pacientes e, então, auxiliá-los de forma mais segura no enfrentamento das dificuldades
impostas pela doença. Uma comunicação competente pressupõe a prática cotidiana de
estratégias, na qual os profissionais envolvidos no processo comunicativo se apropriam do
uso adequado do verbal e do não verbal nas suas interações, e, deste modo, contribuem
para uma comunicação mais efetiva.

6.7 Empatia

A empatia é a capacidade de compreender o sentimento ou reação da outra pessoa


imaginando-se nas mesmas circunstâncias, ou seja, é a capacidade de se identificar com
outra pessoa ou faculdade de compreender emocionalmente outra pessoa. É a capacidade
que o sujeito possui de entender a emoção do outro. Observam-se exemplos de empatia
quando se tem compaixão pela dor psicológica do outro, quando se ouve sem tecer
julgamentos, com paciência para com o outro, quando se está perto do outro, mas em
silêncio em respeito ao outro, etc. A empatia não pode ser forçada. É preciso que o
sentimento seja natural, saia do coração.

Há alguns fatores que bloqueiam a empatia. Muitas vezes a decepção em um


processo de empatia não compreendida está relacionada ao grau de ilusão do indivíduo que
ultrapassou os limites. Outro fator que bloqueia a empatia são os vícios que levam a pessoa
a se fixar apenas no objeto de desejo, impedindo-a de abrir-se para o outro. A invisibilidade
pública é também um fator em que se percebe o outro de acordo com o status social de
trabalho. De como o cérebro processa a admiração e a empatia. O varredor de rua não
receberá a mesma empatia que o músico, por exemplo.

Em artigo publicado por Stuart (2012), observa-se a importância da dor no processo


de empatia. É comum que o ser humano se afaste de tudo o que incomoda, o que dói, seja
física ou emocionalmente. No entanto, sem o alerta da dor não seria possível piscar para
expulsar o cisco do olho, muito menos saber qual a melhor posição para respirar, não se
compreenderia a dor da perda. A dor é vista, então, como um alerta natural. A empatia se dá
exatamente porque o indivíduo passou pela mesma dor ou dor parecida com aquela que
determinada pessoa está vivendo em certo momento.

Aquelas pessoas capazes de olhar o outro de forma integral, sinfônica e harmônica,


isto é, enxergando o conjunto, possuem uma aptidão chamada empatia. A importância deste
conceito está mudando a área médica de forma mais direta. Segundo pesquisadores, a
bioética já defende que profissionais de saúde mudem o enfoque básico do distanciamento
para o interesse e para a empatia. A comunicação com o paciente com eficiência e empatia
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
75
passa a ser fundamental na formação de profissionais de saúde, facilitando o entendimento
das dificuldades do paciente.

Para a psicologia, a empatia é o poder de entrar na personalidade do outro e


experimentar imaginativamente suas experiências. Quando o profissional, neste caso o
técnico em radiologia, demonstra empatia por seu paciente, deixa-o mais seguro durante o
atendimento e, consequentemente, bem mais confortável. Dessa forma, o técnico
conseguirá realizar o exame de forma mais eficaz, poupando tempo e esforços em exames
físicos ou complementares, otimizando o atendimento como um todo.

Um dos maiores benefícios da empatia na relação entre técnico e paciente – e sem


sombra de dúvidas, o ponto mais relevante para os profissionais da saúde mais pragmáticos
– é que a habilidade de ser empático tem impactos positivos também nos aspectos
fisiológicos, ou seja, ao construir um diálogo empático ajudará bastante os pacientes a seguir
os tratamentos e melhorar rápido, uma vez confiam realmente no profissional a sua
disposição.

Segundo o Cirurgião Clínico Breno Figueiredo Gomes, “precisamos nos policiar


dentro dos hospitais constantemente. E isso é função de todos os colaboradores juntos”. O
bom humor é muito bem-vindo, a falta de empatia não. Colocar-se na situação do paciente
ou dos familiares e identificar seus sentimentos caracterizam a empatia. Empatia é a
característica mais importante de qualquer prestador de serviço. O melhor jeito de aprender
é virar paciente.

6.8 O Cuidar em Saúde

Pinheiro & Mattos (2005 apud PEREIRA; LIMA, 2008) afirmam que cuidar deriva do
latim cogitare, que significa imaginar, pensar, meditar, julgar, supor, tratar, aplicar a
atenção, refletir, prevenir e ter-se. Cuidar é o cuidado em ato. A origem da prática de cuidar
teve seu início restrito ao espaço doméstico, privado, particular. A prática do cuidar vem
sendo exercida nas famílias desde a Grécia Antiga. Para tanto, exigia-se um saber prático,
que era adquirido no fazer diário, passado de uma geração para a outra. Há época, a gestão
do cuidado era uma tarefa apenas destinada às mulheres, que cuidavam da casa, dos filhos,
dos escravos e também dos doentes. Tal responsabilidade se repete até os dias atuais em
alguns contextos familiares.

Os autores advogam que em determinado momento boa parte desse saber foi
concebido como profissão de mulheres para mulheres. Na saúde, a enfermagem foi a
profissão que mais incorporou a prática do cuidar como campo de domínio próprio. Ao longo
dos séculos a prática do cuidar manteve-se histórica e culturalmente ligada ao feminino,
dado que esta atividade sempre esteve atrelada à trajetória desenvolvida pela mulher nas
sociedades ocidentais modernas.

Por outro lado, historicamente, credita-se aos homens a prática de pesquisar, ou


seja, de criar novos conhecimentos. Observa-se aqui uma expressão da divisão social e
sexual do trabalho, onde a sociedade delimita precisamente os campos pertinentes à mulher
e aqueles pertencentes ao homem.
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
76
Ainda segundo os autores acima citados, nos dias atuais é constatado que a prática
de pesquisar é sinérgica à prática do cuidar, e vice-versa, à medida que a vida cotidiana
evidencia cada vez mais a crescente demanda por cuidado. Além disto, observa-se que a
demanda por cuidado vem se complexificando e exigindo cada vez mais a atuação de
diferentes sujeitos, sejam cidadãos comuns, profissionais, sejam homens ou mulheres, onde
o demandante requererá sempre mais atenção, responsabilidade, zelo e desvelo com seus
desejos e especificidades, sentindo-se incluído na tomada de decisão sobre sua vida, sobre
sua saúde.

6.8.1 O Cuidado Integral de Saúde

Para Pinheiro & Mattos (2005 apud PEREIRA; LIMA, 2008), o cuidado em saúde não
deve ser visto apenas como um nível de atenção do sistema de saúde ou um mero
procedimento técnico. Deve, antes, ser entendido como uma ação integral que tem
significados e sentidos voltados à compreensão da saúde como o direito de ser.

Pensar o direito de ser na saúde, como afirmam os autores (p. 112-113):

[...] é ter cuidado com as diferenças dos sujeitos – respeitando as relações


de etnia, gênero e raça – que são portadores não somente de deficiências
ou patologias, mas de necessidades específicas. Pensar o direito de ser é
garantir acesso às outras práticas terapêuticas, permitindo ao usuário
participar ativamente da decisão acerca da melhor tecnologia médica a ser
por ele utilizada.

O cuidado em saúde deve reunir pessoas numa ação integral, como efeitos e
repercussões de interações positivas entre usuários, profissionais e instituições, traduzindo
atitudes em tratamento digno e respeitoso, com qualidade, acolhimento e vínculo. Deve
incluir, ainda, o envolvimento e o relacionamento entre as partes, compreendendo o
acolhimento como escuta do sujeito, o respeito pelo seu sofrimento e sua história de vida.

É importante observar as duas vertentes: o cuidado e a falta de cuidando. Enquanto


o primeiro diminui o impacto do adoecimento, o segundo pode agravar o sofrimento do
paciente e aumentar o seu isolamento social.

O sujeito humano, sofredor, enquanto totalidade viva, foi afastado do modelo


biomédico que orienta o conjunto das profissões em saúde, que permitiu que o diagnóstico
substituísse a atenção e o cuidado integral à saúde. Todavia, tais sujeitos desejam se sentir
cuidados e acolhidos em suas necessidades, mais do que apenas diagnosticados.

Como preconizam os autores referenciados nesta seção, o cuidado em saúde é uma


dimensão da integralidade em saúde que deve permear as práticas de saúde. Ele não pode
se restringir apenas às competências e tarefas técnicas, dado que o acolhimento, os vínculos
de intersubjetividade e a escuta dos sujeitos compõem os elementos inerentes a sua
constituição. O cuidado é uma relação intersubjetiva, que se desenvolve continuamente. Vai
além do saber profissional e das tecnologias necessárias, posto que abre espaço para a
negociação e inclusão do saber, dos desejos e necessidade do outro. Deve abrigar a
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
77
interdisciplinaridade e articulação de profissionais, gestores dos serviços de saúde e usuários
de rede, de forma que todos participem ativamente, podendo ampliar o cuidado e fortalecer
a rede de apoio social.

Deste modo, como advogam Pinheiro & Mattos (2005, p. 114 apud PEREIRA; LIMA,
2008):

A noção de cuidado integral permite inserir, no âmbito da saúde, as


preocupações pelo bem estar dos indivíduos – opondo-se a uma visão
meramente economicista – e devolver a esses indivíduos o poder de julgar
quais são suas necessidades de saúde, situando-os assim como outros
sujeitos e não como outros objetos.

6.9 Alterações Psicológicas Mediante a Proximidade da Finitude

Silva e Wendling (2012), em seu artigo Família, paciente terminal e morte: o


inevitável trajeto frente a dor da perda, realizaram uma fundamentação teórica sobre a
morte e o luto. Citando Campos (1995), lembram que, por vezes, em nossa sociedade, os
indivíduos aparentam não possuir uma estrutura emocional capaz de suportar notícias
referentes a doenças graves, sobretudo sobre a morte, dado que esta é sinônimo de uma
experiência desconhecida, e muitos não estão preparados para este enfrentamento. Na
nossa cultura, especialmente, há uma supervalorização da vida, segundo o autor, e a morte
é, então, encarada como o fim de tudo.

Para Kübler-Ross (2005 apud SILVA e WENDLING, 2012), a morte, atualmente é vista
como um acontecimento trágico. Em sua pesquisa, a autora identificou cinco estágios
quando da tomada de consciência por parte do paciente, de seu estágio terminal, os quais
serão descritos a seguir.

 Primeiro estágio – negação:

Segundo a autora, a negação é uma defesa mental, onde há recusa de um fato que
gera sofrimento emocional. É a fase em que o paciente se defende da ideia da morte e se
recusa a assumi-la enquanto realidade.

 Segundo estágio – a raiva:

É momento no qual o paciente coloca toda sua revolta diante da notícia de que seu
fim está próximo. Neste momento, o paciente não pode mais negar sua doença. É a fase em
que, muitas vezes, o paciente chega a ficar agressivo com as pessoas que o rodeiam, tomado
pelo ódio e tendo muitas vezes condutas violentas, o que evidencia seu inconformismo com
a situação.

 Terceiro estágio – negociação:

O estágio da negociação é o momento no qual o paciente tenta ser bem


comportado, na esperança de que isso lhe traga a cura. Ele aceita a realidade, tentando fazer
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
78
“acordos” para com Deus ou outros seres sobrenaturais, buscando aproveitar melhor o
tempo que lhe resta.

 Quarto estágio – depressão:

A fase na qual o paciente se recolhe, vivenciando uma enorme sensação de perda,


denomina-se de quarto estágio – depressão. É neste estágio que o indivíduo está, ao mesmo
tempo, elaborando lutos.

Quando o paciente tem um tempo de elaboração, o acolhimento descrito


anteriormente atingirá o último estágio, que é o da aceitação, segundo a autora. No quarto
estágio, há superação daqueles descritos anteriormente. Porém, este não deve ser
confundido com “felicidade”. Neste momento, é como se a dor tivesse cessado e a luta se
acabado. É o momento também em que a família necessita de maior compreensão e apoio,
até mesmo mais do que o próprio paciente, visto que é um período muito desgostoso para o
familiar, dado que é quando o paciente se desprende do mundo e da família, preferindo,
muitas vezes, dormir, ficar em silêncio ou evitar muitas visitas. É uma fase de difícil
compreensão para os familiares.

Uma vez que são dependentes do contexto e da história de vida do paciente, estes
estágios podem coexistir em tempos distintos e exercem certa dinamicidade. Pereira; Dias
(2007 apud SILVA e WENDLING, 2012) salientam a importância da família e da equipe
médica, que passam pelas mesmas fases durante o processo da doença até a morte.

O processo de luto se inicia a partir do momento em que o diagnóstico é revelado,


dando origem ao que se chama de luto antecipatório, onde embora a pessoa ainda vida, a
sua perda já é sentida. Há ainda o luto que é sentido em virtude de a pessoa não apresentar
mais as mesmas características de quando estava saudável. Inocenti; Rodrigues; Miasso
(2009 apud SILVA e WENDLING, 2012) referem ainda que o diagnóstico passa a ser sentido
como ameaça à vida, uma vez diante da possibilidade de sua confirmação, o que interfere no
equilíbrio familiar. As pessoas que convivem com tal situação sentem-se marcadas pela
morte antecipada.

Para Campos (1995 apud SILVA e WENDLING, 2012), refere que antes do advento da
tecnologia o homem era mais familiarizado com a morte. A família se fazia mais presente no
leito de morte, as cerimônias possibilitavam maior expressão de sentimentos, como a
tristeza e a dor. Porém, em que pesem os avanços da medicina, como por exemplo, o
surgimento de leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), o paciente passou a ficar
mais solitário e a família menos presente. Tal afastamento contribuiu para que expressões
de dor e tristeza fossem banidas, dificultando, desta forma, a elaboração do luto. Entretanto,
é importante observar que adaptação não quer dizer resolução. A aceitação completa e
definitiva jamais existirá. Apenas se percebe que há diferentes maneiras de seguir em frente
com a vida (WALSH; McGOLDRICK, 1995 apud SILVA e WENDLING, 2012).

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


79
6.9.1 O Paciente Terminal

Segundo os autores, não é simples conceituar o paciente terminal. Gutierrez (2001


apud SILVA e WENDLING, 2012) afirma que o tema central deste conceito é a terminalidade,
dado que é possível considerar um quadro terminal quando se esgotam as possibilidade de
resgate das condições de saúde do paciente e a possibilidade de morte próxima parece ser
irreversível. Para alguns autores, como Angerami-Camon et al. (2003 SILVA e WENDLING,
2012), o contato com o paciente terminal questiona valores da essência humana. As tendem
a ter outro olhar sobre as coisas, as verdades absolutas perdem a sua importância, enquanto
que questões anteriormente significativas passam a fazer sentido.

O contato com o paciente terminal, segundo os autores, ensina uma nova forma de
vida, onde esta passa a ter mais autenticidade. Observam, ainda, que o momento em que se
esgotam os recursos de cura e que o paciente se encaminha para a morte não significa o fim.
Neste instante, abre uma gama de condutas que podem ser oferecidas ao paciente e sua
família, buscando aliviar a dor, diminuir o desconforto e criar a possibilidade de se situar
frente ao momento do fim da vida acompanhado daqueles que podem ouvi-lo. É importante
reconhecer, quando possível, o seu lugar ativo, sua autonomia, suas escolhas, permitindo
que o paciente mantenha-se vivo até o último instante, sem a necessidade de antecipar a
sua morte, com o abandono e o isolamento (GUTIERREZ, 2001 apud SILVA e WENDLING,
2012).

6.10 Reflexão sobre a Morte

Em determinado momento de nossas vidas, seja na juventude ou mais tardiamente,


iremos nos deparar com o processo da morte e do morrer. Trata-se de um momento que
exige de nós uma reação. Para os profissionais da área de saúde, essa reação tem que ser
centrada na compreensão do processo, para que ele possa proteger o seu sistema psíquico e
orientar pacientes e familiares para lidar com esse momento.

Silva (2009) relata que o número de casos de câncer tem se elevado nos últimos
anos, principalmente nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. O aumento da
expectativa de vida da população, a padronização de hábitos e estilos de vida que
predispõem à doença e o desenvolvimento técnico-científico na área de Oncologia, que
ampliou as possibilidades diagnósticas, apresentam-se como as principais causas deste
incremento.

Embora se reconheçam os avanços no diagnóstico e no tratamento, há ainda grande


preocupação com a mortalidade em decorrência desta doença. Além disto, os significados
atribuídos ao câncer ainda são os mesmos do tempo em que a cura era mais rara, segundo a
autora.

Imbaut-Huart (1985 apud SILVA, 2009) afirma que o câncer “é aquele mal que não
se pode olhar de frente”. Diz respeito ao arquétipo da nossa impotência no controle da
doença e da morte. Para o autor, cada época investe numa doença a sua angústia diante da
fragilidade da condição humana, procurando por todos os meios negá-la, ocultá-la, afastá-la
do seu horizonte. Para autores como Kowalski e Souza (2002 apud SILVA, 2009), desde o
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
80
início do século XX, sociólogos e antropólogos demonstraram que a doença, a saúde e a
morte não são somente ocorrências orgânicas, naturais e objetivas, mas elas adquirem
significados relacionados com as características de cada sociedade e que, portanto, a doença
é uma realidade construída e o doente é um personagem social.

6.10.1 Peculiaridades do Trabalho dos Profissionais de Saúde

Citados por Silva (2009), Labate e Cassorla (1999) advogam que o profissional de
saúde se defronta no seu dia a dia com situações que influenciam no emocional, muitas
vezes de forma bastante intensa. Isto dificulta o trabalho dos profissionais da área, além de
confundi-lo diante dos aspectos técnicos, o que pode gerar sofrimento pessoal.

Para Oliveira (2002 apud SILVA, 2009), os profissionais que lidam com pacientes
graves, ao perceberem que estão lidando com seres humanos como eles, parecem
experimentar uma vivência de extrema angústia. Para eles, é difícil defrontar-se com
pacientes adultos utilizando-se de fraldas, imobilizados, conectados a aparelhos, chorando,
às vezes inconscientes, além de outras situações constrangedoras. Os profissionais se veem
diante da precariedade da existência humana. Aproximar-se do paciente que está morrendo,
lembra-o de que ele também é mortal.

Ao identificar as emoções presentes nos técnicos que trabalham com pacientes


oncológicos, é possível observar que no cotidiano dos profissionais de saúde também se
apresentam os sentimentos gratificantes, tais como ver o paciente recuperar-se, ter contato
com ele, ajudá-lo a conhecer a doença e orientá-lo, embora haja fatores difíceis como
conviver com o sofrimento do doente, suas inúmeras internações, a impotência diante da
doença, a revolta pela sua morte (FERREIRA, 1996 apud SILVA, 2009).

Diante do exposto, conclui-se que estando constantemente diante da fragilidade e


vulnerabilidade humanas, os profissionais de saúde que atuam na atenção ao paciente
oncológico estão expostos com mais frequência e mais intensidade diante de sua própria
fragilidade e vulnerabilidade enquanto seres existentes, posto que é no contato com o outro
que o “eu” se constrói, se diferencia e se reconhece. Neste sentido, saber da dor do outro,
da sua finitude é saber da própria dor, da própria morte. E nesta identificação humana com o
doente, o profissional se reconhece como um ser aberto ao sofrimento, pois ele também se
reconhece frágil e vulnerável, passível de todas as possibilidades que a vida apresenta, sendo
a morte a possibilidade mais certa.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


81
REFERÊNCIAS

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bibliográfico. XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Natal, RN – 2 a 6 de setembro
de 2008.

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contribuição aos estudos em história da Psicologia. Tese de doutorado. Psicologia Social, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP, 1991.

CARDOSO, C. L. Relações interpessoais na equipe do programa saúde da família. Revista APS, v.7, n.1,
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MASSIMI, M. História da psicologia brasileira. São Paulo: Ed. Pedagógia Universitária, 1990.

PEREIRA, I. B.; LIMA, J. C. F. Dicionário da educação profissional em saúde. 2ª edição revisada e


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PORTAL EDUCAÇÃO. Percepção social: artigos. Publicado pelo Portal Educação, em 05/02/2013.
Disponível em http://www.portaleducacao.com.br/Artigo/Imprimir/32179 Acesso em setembro de
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SILVA, L.C. da. O sofrimento psicológico dos profissionais de saúde na atenção ao paciente de câncer.
Revista Psicolatina, no 16, junho, 2009.

SILVA, R. T. da; WENDLING, M. I. Família, paciente terminal e morte: o inevitável trajeto frente a dor
da perda. Artigo de pesquisa apresentado ao Curso de Psicologia das Faculdades Integradas de
Taquara (FACCAT). Rio Grande do Sul, 2012.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


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ANOTAÇÕES: ____________________________________________________________
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INGLÊS INSTRUMENTAL
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7 INGLÊS INSTRUMENTAL

A língua inglesa, em seu caráter instrumental, é observada enquanto língua técnica


e científica e/ou de caráter geral, focalizando o emprego de estratégias específicas a
determinadas áreas do conhecimento. O objetivo maior desta disciplina é desenvolver no
aprendiz a habilidade de leitura ativa, de compreensão de textos acerca de manuais e outras
tipologias textuais, escritos em língua inglesa, utilizando para isso estratégias de acordo com
a intuição, aplicadas em língua materna e propondo outras.

No ensino de inglês instrumental, as aptidões da língua inglesa (ouvir, falar, ler e


escrever) se reduzem a uma só: à leitura, pois esta é a habilidade mais imediata que os
alunos necessitam para aplicar ao seu dia a dia.

Desta forma, o inglês instrumental consiste, como a própria palavra denota, no


treinamento instrumental da língua. O inglês instrumental é utilizado para fins específicos,
com o objetivo principal de capacitar o estudante, num período relativamente curto, a ler e
compreender o essencial para o desempenho de determinada atividade.

A sua metodologia está voltada para levar o estudante a desvendar suas


necessidades acadêmicas e profissionais dentro de um contexto autêntico, oriundo do
mundo real. Portanto, o curso típico de inglês instrumental é elaborado a partir do
levantamento de situações em que o conhecimento específico da língua inglesa permite ao
aluno desempenhar melhor uma função linguística específica.

Profissionais que trabalham com relatórios, pareceres, manuais, artigos e outros


tipos de textos em língua estrangeira aprendem estratégias para facilitar a leitura e
compreensão, sem que seja necessária a tradução na íntegra. Pesquisas demonstram que o
ensino de uma língua estrangeira orientada para o desenvolvimento de habilidades
específicas tem apresentado excelentes resultados. Aumenta a motivação do estudante pelo
rápido aprendizado, tornando-o autossuficiente para o desempenho de suas funções e
incentivando-o a buscar o seu próprio desenvolvimento e aperfeiçoamento.

7.1 Lear English

Com o advento das redes sociais, a capacidade de comunicação cresceu ainda mais,
ficou muito mais fácil conectar-se e falar com outras pessoas do mundo inteiro, por isso
aprender inglês, que já era uma coisa importante, tornou-se algo indispensável.

Provavelmente você já deve ter ouvido falar nas vantagens profissionais que o
aprendizado de um novo idioma oferece, são inúmeras. Além de expansão na comunicação e
diferencial profissional, o aprendizado da língua inglesa proporciona o conhecimento de uma
nova cultura, capaz de complementar ainda mais o indivíduo no aspecto sociopessoal. Inglês
é a língua universal, falada em mais de 50 países. A pessoa que o domina é capaz de se virar
em qualquer lugar do mundo.

Assim como no português, o idioma varia de acordo com a região. Entretanto, isso
não é problema, visto que o necessário para a comunicação são dialetos formais, que podem
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
86
ser entendidos e utilizados independentemente de variação regional. Aprender inglês, além
de tudo isso já dito anteriormente, pode ser algo divertido e fácil, tudo depende da maneira
como se ensina. E, claro, do quão você está disposto a estudar e praticar, pois as
informações guardadas com mais rapidez pelo nosso cérebro são aquelas que utilizamos
com maior frequência.

7.1.1 Estrutura e Níveis de Compreensão

Uma sentença ou frase em inglês é composta por três partes: sujeito (subject),
verbo (verb) e complemento (complement). A ordem, tanto de fala quanto de escrita, é
importante. Por exemplo, em perguntas, o sujeito sempre vem depois do verbo.

Exemplo:

Are you single?/Você é solteiro(a)?


Are (verb to be) you (subject)

Nas respostas, o sujeito virá antes do verbo. Ex.: Yes, I’m single/Sim, eu sou
solteiro(a).

Dependendo do objetivo da leitura, observam-se três níveis de compreensão


descritos a seguir:

a) geral ou pré-leitura: em que a compreensão é obtida mediante leitura rápida,


que consiste em passar os olhos no documento todo para captar as informações
genéricas de um texto. O leitor, num primeiro momento, deve procurar entender
qual é o assunto geral;
b) de pontos principais ou focalizada: requer da parte do leitor maior atenção para
localizar as informações principais do texto, observando cada parágrafo sem,
contudo, entrar nos detalhes para identificar os dados específicos que mais
interessam ao leitor; e,
c) detalhada ou leitura completa: enquanto os níveis de compreensão anteriores
visam um entendimento parcial, este visa não somente uma compreensão do
sentido global de um texto, como também de seus detalhes, exigindo uma leitura
minuciosa.

Diante do exposto, apreende-se que, num primeiro momento, faz-se uma leitura
que possibilita a formulação de hipóteses globais sobre o conteúdo do texto e numa segunda
etapa, passa-se a uma leitura integral, linear ou não. Estimula-se, então, a formulação de
hipóteses mais finas, de ordem semântica, que intervêm para ajudar a reconstruir o
significado do texto.

Assim, é importante o leitor desenvolver a habilidade de leitura para,


primeiramente, extrair a ideia geral, e depois entender o texto de modo detalhado. Cada
nível descrito acima corresponde a uma fase da leitura que recorre a estratégias e técnicas
específicas as quais, entretanto, podem ser usadas nas várias etapas da leitura, dependendo
essencialmente do objetivo do leitor. Enfim, é importante ressaltar que para obter uma

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


87
compreensão detalhada e crítica de um texto, é absolutamente necessário o leitor adquirir o
domínio de tais estratégias.

7.2 Recursos para a Compreensão da Leitura

É importante observar e utilizar diversos recursos para compreensão de um texto


escrito na língua inglesa. Os mais utilizados e que auxiliam muito como técnica para tradução
de textos serão descritos a seguir.

 Prediction:

Constitui em entender o conteúdo de um texto a partir de seu conhecimento prévio


sobre o tema (background = experiência, conhecimento); por meio do contexto semântico
(palavras de um mesmo grupo, por exemplo: dose, radiation, doctor, ambulance, hospital);
contexto linguístico (pistas gramaticais); contexto não-linguístico (gravuras, gráficos, tabelas,
números, etc.); conhecimento sobre a estrutura do texto (layout, título, subtítulo, divisão de
parágrafos, etc.).

 Cognates:

Trata-se de identificar palavras de origem grega ou latina que são bem parecidas,
como são escritas em português. Os cognatos podem ser: idênticos (exemplos - chocolate,
crime, vírus, ródio, social, hotel); semelhantes (exemplos - telephone, apartment, industry,
violence); vagamente parecidos (exemplos - activity, drug, responsible, computer); obs:
atenção com os falsos cognatos. Exemplo: pretend não significa pretender, mas sim, fingir; é
importante observar se a palavra se encaixa no contexto.

 Repeated words:

Outro recurso é observar quando uma determinada palavra aparece diversas vezes
no texto. Desta forma, a palavra repetida com frequência terá importância para a
compreensão do sentido do texto.

 Typographical evidences:

Observa a análise dos símbolos do texto, tais como: letras maiúsculas, números,
sinais de pontuação, palavras em negrito ou itálico, etc., que darão dicas e sinais favoráveis
sobre o texto, facilitando a compreensão.

 Dictionary:

Um dos recursos mais utilizados é o dicionário, voltado à descoberta do sentido de


uma palavra ou expressão desconhecida. Entretanto, ele deve ser elencado como último
recurso, posto que a leitura a partir deste instrumento fica muito lenta, desestimulante,
devido a ter que parar a todo momento que encontra palavras desconhecidas, fazendo com
que o leitor desanime para compreender o texto.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


88
7.3 Reading Clues

O texto que inicia esta seção demonstra que, apesar de a língua inglesa ser
disciplina curricular obrigatória nas escolas brasileiras, muito dificuldade ainda existe com a
sua leitura e compreensão de textos. Entretanto, interpretar ou traduzir pode se tornar uma
tarefa simples. Leia as dicas abaixo que facilitam a compreensão:

 Primeiro, você deve observar toda a estrutura do texto: títulos, subtítulos,


imagens, personagens, fonte, autor, etc. De início, não é necessário traduzir
palavra por palavra, pois o importante é o contexto.
 Várias palavras no Inglês também são originárias do Latim, como no português.
Isso explica a semelhança entre palavras em ambos os idiomas. Palavras com essa
semelhança na escrita e de mesmo sentido são chamadas de cognatos, como é o
caso de telephone (telefone), human (humano), mission (missão), future (futuro).
Busque encontrar palavras como essas, pois ajudarão a agilizar o processo de
compreensão.
 Também há os falsos cognatos, palavras de grafia similar ao português, porém, de
significados completamente diferentes, como: realize (perceber), college
(faculdade), library (biblioteca), fabric (tecido). Nesse caso, use o dicionário para
esclarecer suas dúvidas.
 Palavras que aparecem diversas vezes tendem a possuir alguma relevância, assim
como aquelas que se encontram em itálico ou sublinhado. O uso de reticências
também pode indicar o objetivo do autor em relação ao ritmo do texto.

7.3.1 Estratégias de Leitura

As estratégias de leitura são técnicas ou métodos que os leitores usam para adquirir
a informação, ou ainda procedimentos ou atividades escolhidas para facilitar o processo de
compreensão em leitura. São planos flexíveis adaptados às diferentes situações que variam
de acordo com o texto a ser lido e a abordagem elaborada previamente pelo leitor para
facilitar a sua compreensão. Dentre as estratégias de leitura as mais utilizadas são descritas a
seguir.

 Skimming:

Esta técnica possui a função de localizar aspectos importantes em um texto. Não se


trata de uma leitura minuciosa, pelo contrário, essa técnica é utilizada para se efetuar uma
leitura rápida, com a finalidade de identificar o sentido geral do texto.

 Scanning:

Scan vem de escanear. Como o próprio nome sugere, você vai "varrer" o texto à
procura de informações específicas. Utilizando-se dessa técnica, a necessidade de ler o texto
inteiro é dispensada.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


89
 Vocábulo, dedução e contexto:

Outra habilidade muito importante para o desenvolvimento da leitura, visando a um


entendimento geral, é localizar as palavras repetidas, as palavras-chave, as palavras cognatas
- num texto em língua estrangeira - e as palavras derivadas. Muitas vezes, ao ler um texto, o
leitor encontra palavras que lhe parecem totalmente desconhecidas, mas que, na verdade,
são derivadas de outras que já conhece. Recorrendo a seus conhecimentos linguísticos
anteriores e ao contexto no qual aparecem as palavras, o leitor pode inferir um sentido a
elas.

 Flexibilidade:

Uma das características de um leitor experiente é sua flexibilidade no modo e no


ritmo que lê, de acordo com o tipo de texto e o objetivo da leitura. De fato, nem todo texto
requer a mesma leitura. Por exemplo, se o leitor deseja extrair as ideias principais de um
texto, a leitura rápida do primeiro e do último parágrafo, bem como da primeira e última
frase de cada parágrafo do texto pode ajudá-lo. Tal estratégia é importante na medida em
que permite ao leitor ler um texto, e seus parágrafos, numa ordem diferente daquela
estabelecida pelo autor e, sobretudo, lhe permite ganhar tempo. Mas é essencial que o leitor
esteja consciente do modo que lê, para que a esta técnica torne a leitura mais eficaz.

 Seletividade:

Esta estratégia que consiste em selecionar as informações ou textos que interessam


ao leitor, sem precisar ler o texto ou todos os textos na íntegra para obter a informação que
procura. Frequentemente, usa-se essa técnica para ler um jornal. Assim como em relação à
flexibilidade, é importante o leitor se conscientizar de que, conforme seu objetivo de leitura,
não precisa absolutamente fazer uma leitura linear e intensiva, mas, sim, identificar as
partes mais significativas que dão o verdadeiro sentido ao texto.

 Organização textual:

Para facilitar sua leitura, o leitor precisa identificar as várias partes do texto,
introdução, desenvolvimento, conclusão, para depois entender e analisar as relações que
existem entre elas. Em outros termos, o entendimento de um texto pressupõe que se possa
reduzir e organizar seu conteúdo global, recuperando a intenção comunicativa do autor:
descrever, narrar, informar, persuadir, etc. Tal organização do sentido permite ao leitor
obter uma compreensão intensiva e crítica do texto lido.

 Sequência cronológica:

Assim como é essencial a identificação das várias partes de um texto, a observação


da cronologia dos eventos citados nele ajuda o leitor a descobrir e reconstruir a coesão
textual, mostrando a transição de uma ideia para outra, e com isso, conseguir realizar uma
leitura minuciosa e crítica.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


90
7.3.2 Falsos Cognatos

Os falsos cognatos são palavras normalmente derivadas do latim, que têm,


portanto, a mesma origem e que aparecem em diferentes idiomas com ortografia
semelhante, mas que ao longo dos tempos acabaram adquirindo significados diferentes.

Estas palavras causam confusão nos estudantes de qualquer língua estrangeira,


fazendo com que os mesmos façam analogias com palavras parecidas em língua portuguesa,
induzindo-os ao erro. Mas não existe motivo real para se preocupar com os falsos cognatos.
Eles correspondem a uma parcela mínima das palavras em inglês. Contudo, procure não
acreditar em “fórmulas mágicas” para se aprender as palavras via cognatos. O Quadro 1 a
seguir apresenta uma lista de falsos cognatos.

Quadro 1- Falsos cognatos

INGLÊS - PORTUGUÊS PORTUGUÊS - INGLÊS


Actually (adv) - na verdade ..., o fato é que ... Atualmente - nowadays, today
Adept (n) - especialista, profundo conhecedor Adepto - supporter
Agenda (n) - pauta do dia, pauta para discussões Agenda - appointment book; agenda
Amass (v) - acumular, juntar Amassar - crush
Anticipate (v) - prever; aguardar, ficar na Antecipar - to bring forward, to move forward
expectativa
Apology (n) - pedido de desculpas Apologia - elogio, enaltecimento
Application (n) - inscrição, registro, uso Aplicação (financeira) - investment
Appointment (n) - hora marcada, compromisso Apontamento - note
profissional
Appreciation (n) - gratidão, reconhecimento Apreciação - judgement
Argument (n) - discussão, bate boca Argumento - reasoning, point
Assist (v) - ajudar, dar suporte Assistir - to attend, to watch
Assume (v) - presumir, aceitar como verdadeiro Assumir - to take over
Attend (v) - assistir, participar de Atender - to help; to answer; to see, to examine
Audience (n) - platéia, público Audiência - court appearance; interview
Balcony (n) – sacada Balcão - counter
Baton (n) - batuta (música), cacetete Batom - lipstick
Beef (n) - carne de gado Bife - steak
Cafeteria (n) - refeitório tipo universitário ou Cafeteria - coffee shop, snack bar
industrial
Carton (n) - caixa de papelão, pacote de cigarros Cartão - card
(200)
Casualty (n) - baixa (morte fruto de acidente ou Casualidade - chance, fortuity
guerra), fatalidade
Cigar (n) – charuto Cigarro - cigarette
Collar (n) - gola, colarinho, coleira Colar - necklace
College (n) - faculdade, ensino superior Colégio (2º grau) - high school
Commodity (n) - artigo, mercadoria Comodidade - comfort
Competition (n) – concorrência Competição - contest
Comprehensive (adj) - abrangente, amplo, extenso Compreensivo - understanding
Compromise - (v) entrar em acordo, fazer Compromisso - appointment; date
concessão; (n) acordo, conciliação

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


91
INGLÊS - PORTUGUÊS PORTUGUÊS - INGLÊS
Confident (adj) – confiante Confidente - confidant
Contest (n) - competição, concurso Contexto - context
Convenient (adj) – prático Conveniente - appropriate
Costume (n) - fantasia (roupa) Costume - custom, habit
Data (n) - dados (números, informações) Data - date
Deception (n) - logro, fraude, o ato de enganar Decepção - disappointment
Defendant (n) - réu, acusado Advogado de defesa - defense attorney
Dent (n) - amassão (carro batido) Dente - tooth
Design (v, n) - projetar, criar; projeto, estilo Designar - to appoint
Disgrace (n) - vergonha, desonra Desgraça - misfortune, disaster, calamity
Diversion (n) – desvio Diversão - amusement, fun
Editor (n) – redator Editor - publisher
Educated (adj) - instruído, com alto grau de Educado - with a good upbringing, well-
escolaridade mannered, polite
Emission (n) - descarga (de gases, etc.) Emissão - issuing (of a document, etc.)
Enroll (v) - inscrever-se, alistar-se, registrar-se Enrolar - to roll; to wind; to curl
Equivocate (v) - enganar, enrolar, mentir Equivocar-se - to mistake one ting for another,
to unintentionally make a wrong statement
Eventually (adv) - finalmente, consequentemente Eventualmente - occasionally
Exciting (adj) – empolgante Excitante - thrilling
Exit (n, v) - saída, sair Êxito - success
Expert (n) - especialista, perito Esperto - smart, clever
Exquisite (adj.) - belo, refinado Esquisito - strange, odd
Fabric (n) – tecido Fábrica - plant, factory
Genial (adj) - afável, aprazível Genial - brilliant
Graduate program (n) - Curso de pós-graduação Curso de graduação - undergraduate program
Gratuity (n) - gratificação, gorjeta Gratuidade - the quality of being free of charge
Grip (v) - agarrar firme Gripe - cold, flu, influenza
Hazard (n,v) - risco, arriscar Azar - bad luck
Idiom (n) - expressão idiomática, linguajar Idioma - language
Income tax return (n) - declaração de imposto de Devolução de imposto de renda - income tax
renda refund
Ingenuity (n) – engenhosidade Ingenuidade - naiveté / naivety
Injury (n) – ferimento Injúria - insult
Inscription (n) - gravação em relevo (sobre pedra, Inscrição - registration, application
metal, etc.)
Intend (v) - pretender, ter intenção Entender - understand
Intoxication (n) - embriaguez, efeito de drogas Intoxicação - poisoning
Jar (n) – pote Jarra - pitcher
Journal (n) - periódico, revista especializada Jornal - newspaper
Lamp (n) – luminária Lâmpada - light bulb
Large (adj) - grande, espaçoso Largo - wide
Lecture (n) - palestra, aula Leitura - reading
Legend (n) – lenda Legenda - subtitle
Library (n) – biblioteca Livraria - book shop
Location (n) – localização Locação - rental
Lunch (n) – almoço Lanche - snack
Magazine (n) – revista Magazine - department store

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


92
INGLÊS - PORTUGUÊS PORTUGUÊS - INGLÊS
Mayor (n) – prefeito Maior - bigger
Medicine (n) - remédio, medicina Medicina - medicine
Moisture (n) – umidade Mistura - mix, mixture, blend
Motel (n) - hotel de beira de estrada Motel - love motel, hot-pillow joint, no-tell
motel
Notice (v) - notar, aperceber-se; aviso, Notícia - news
comunicação
Novel (n) – romance Novela - soap opera
Office (n) – escritório Oficial - official
Parents (n) – pais Parentes - relatives
Particular (adj) - específico, exato Particular - personal, private
Pasta (n) - massa (alimento) Pasta - paste; folder; briefcase
Policy (n) - política (diretrizes) Polícia - police
Port (n) – porto Porta - door
Prejudice (n) – preconceito Prejuízo - damage, loss
Prescribe (v) – receitar Prescrever - expire
Preservative (n) - conservante Preservativo - condom
Pretend (v) – fingir Pretender - to intend, to plan
Private (adj) – particular Privado - private
Procure (v) - conseguir, adquirir Procurar - to look for
Propaganda (n) - divulgação de ideias/fatos com Propaganda - advertisement, commercial
intuito de manipular
Pull (v) – puxar Pular - to jump
Push (v) – empurrar Puxar - to pull
Range (v) - variar, cobrir Ranger - to creak, to grind
Realize (v) - notar, perceber, dar-se conta, conceber Realizar - to carry out, make come true, to
uma ideia accomplish
Recipient (n) - recebedor, agraciado Recipiente - container
Record (v, n) - gravar, disco, gravação, registro Recordar - to remember, to recall
Refrigerant (n) - substância refrigerante usada em Refrigerante - soft drink, soda, pop, coke
aparelhos
Requirement (n) – requisito Requerimento - request, petition
Resume (v) - retomar, reiniciar Resumir - summarize
Résumé (n) - curriculum vitae, currículo Resumo - summary
Retired (adj) – aposentado Retirado - removed, secluded
Senior (n) – idoso Senhor - gentleman, sir
Service (n) – atendimento Serviço - job
Stranger (n) – desconhecido Estrangeiro - foreigner
Stupid (adj) – burro Estúpido - impolite, rude (Rio Grande do Sul)
Support (v) – apoiar Suportar (tolerar) - tolerate, can stand
Tax (n) – imposto Taxa - rate; fee
Trainer (n) - preparador físico Treinador - coach
Turn (n, v) - vez, volta, curva; virar, girar Turno - shift; round
Vegetables (n) - verduras, legumes Vegetais - plants
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


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7.3.3 Learning Activities

Encontre os falsos cognatos no texto a seguir.

A day at work

In the morning I attended a meeting between management and union


representatives. The discussion was very comprehensive, covering topics like working hours,
days off, retirement age, etc. Both sides were interested in an agreement and ready to
compromise. The secretary recorded everything in the notes. Eventually, they decided to set
a new meeting to sign the final draft of the agreement.

Back at the office, a colleague of mine asked me if I had realized that the proposed
agreement would be partially against the company policy not to accept workers that have
already retired. I pretended to be really busy and late for an appointment, and left for the
cafeteria. Actually, I didn’t want to discuss the matter at that particular moment because
there were some strangers in the office.

After lunch I attended a lecture given by the mayor, who is an expert in tax
legislation and has a graduate degree in political science. He said his government intends to
assist welfare programs and senior citizens, raise funds to improve college education and
build a public library, and establish tougher limits on vehicle emissions because he assumes
this is what the people expect from the government

7.3.4 Greettings

Assim como no português, no inglês também fazemos o uso de expressões para


saudações e apresentações – são os cumprimentos. Vejamos nos Quadros 2 e 3 (1)
pequenos diálogos com algumas expressões comuns.

Quadro 2- Greetings (cumprimentos) – expressões comuns

Expressão Tradução
Kate: Hello! My name is Kate. Kate: Olá! Meu nome é Kate.
Mike: Hello, Kate! My name is Mike. Mike: Olá, Kate! Meu nome é Mike.
Kate: Nice to meet you. Kate: Prazer em conhecer você.
Mike: Nice to meet you too. Mike: Prazer em conhecer você também.
Bob: Hi, Julie! Good Morning! Bob: Oi, Julie! Bom dia!
Julie: Good morning, Bob! Are you ok? Julie: Bom dia, Bob! Você está bem?
Bob: Yes, I am. Thanks. And you? Bob: Sim, eu estou. Obrigado. E você?
Julie: I am fine. Thank you. Julie: Eu estou bem. Obrigada.
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


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Quadro 3- Greetings (cumprimentos) – outras expressões

Expressão Tradução
Good evening / Good night Boa noite (ao entrar). / Boa noite (ao sair)
Good afternoon Boa tarde.
Please Por favor.
How are you? / How are you doing? Como vai você?
You're welcome Por nada.
What is your name? Qual é o seu nome?
Welcome Bem-vindo (a)
Goodbye Adeus
Excuse me Licença
Sorry Desculpe
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

As seções a seguir estarão voltadas ao estudo da parte gramatical da língua inglesa.


Não se trata de um estudo aprofundado, mas de conceitos básicos necessários, que
favorecerão a compreensão e promoverão a prática da leitura.

7.4 Simple Present Tense

Usamos o presente simples para expressar verdades universais, fatos científicos ou


da natureza, e também para falar sobre as ações que fazem parte de nossa rotina. Existem
apenas duas formas básicas para o tempo presente simples, um termina com "s" a outro
não. As regras são:

a) Somente na Terceira pessoa (singular) - he, she e we adicionamos o verbo com


"S". Ex.: He lives/She hugs.
b) Nos verbos terminados com: s, z, sh, ch, o - adicionamos "ES". Ex.: She goes/She
wishes/He watches.
c) Se os verbos terminados em y for precedido de uma consoante, adicionamos
"IES". Ex.: He tries/She estudies.

7.4.1 Present Continuous Tense

O present continuous tense deve ser utilizado para expressar uma situação que está
em curso, uma ação que ainda está a acontecer. A construção do presente contínuo deve ser
dada de acordo com a forma estrutural: SUBJECT + VERB TO BE + VERB WITH "ING" +
COMPLEMENT.

Gerúndios de verbos em inglês são feitos de partículas ‘ING’ no final, seguindo


algumas regras, conforme descrito a seguir.

a) Afirmative form:

a) verbos que terminam com a letra ‘E’, perdem esta letra e ganham ‘ING’. Ex.:
write = writing;

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


95
b) nos verbos monossilábicos, formados por ‘CVC’ (consoante+vogal+consoante),
duplica-se a última letra antes de acrescentar ‘ING’. Ex.: put = putting.

b) Negative form:

a) Apenas adiciona-se ‘not’ depois do verbo ‘To be’ (am, is, and, are). Ex.: I’m not
writing (eu não estou escrevendo).

c) Interrogative form:

a) Muda apenas a posição do sujeito e do verbo ‘To be’. Ex.: Is she crying? (ela está
chorando?).

7.4.2 Learning Activities

1) Complete com a forma correta:

George is __________________. (sleep)

Is your father _______________ at Google? (work)

The Sky ________________ cloudy. (get)

You're always ______________something. (ask)

Is she ________________ my magazine? (read)

We're ______________ piano! (play)

7.4.3 Verb To Be – Simple Present

O verbo “To be” equivale ao verbo ser/estar em português. Para dizer I am a


scientist (eu sou um cientista) ou I am happy! (eu estou em feliz!) deve-se utilizar o verbo To
be. No presente, este verbo se conjuga de três formas: am, is, e are.

 Na primeira pessoa do singular (I), usa-se am.


 Na segunda pessoa do singular (You), usa-se are.
 Na terceira pessoa do singular (He, She, It), usa-se is.
 Na primeira (We), segunda (You) e terceira (They) pessoas do plural, usa-se are.

É comum contrair o verbo To Be, seja na hora de pronunciar ou de escrever. O


Quadro 4 a seguir indica o uso correto do verbo no presente do indicativo.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


96
Quadro 4- Conjugação do verbo To Be no modo afirmativo

Affirmative form Contract form


I am I’m
You are You’re
He is He’s
She is She’s
It is It’s
We are We’re
You are You’re
They are They’re
Fonte: Elaborado pelo autora (2015)

d) Exemplos:

a) You are so beautiful! (Você e tão bonita!);


b) It’s my dog (Ele é meu cão);
c) They are 27 years old, and are brothers (Eles têm 27 anos, e são irmãos);
d) I’m 18 years old and I live in Toronto (Eu tenho 18 anos e moro em Toronto).

Para escrever na forma negativa basta acrescentar not após o verbo, conforme se
observa no Quadro 5 a seguir.

Quadro 5- Conjugação do verbo To Be no modo negativo

Negative form Contract form


I am not I’m not
You are not You aren’t
He is not He isn’t
She is not She isn’t
It is not It isn’t
We are not We aren’t
You are not You aren’t
They are not They aren’t
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

e) Exemplos:

a) I’m not from Brazil (Eu não sou do Brasil);


b) He is not married (Ele não é casado);
c) You aren’t Susan! I don’t know who are you! (Você não é a Susan! Eu não sei
quem é você!);
d) She isn't sick (Ela não está doente).

E para escrever na forma interrogativa basta inverter o verbo, colocando-o no início


da sentença, conforme ilustra o Quadro 6 (1) a seguir.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


97
Quadro 6- Conjugação do verbo To Be no modo interrogativo

Interrogative form
Am I?
Are You?
Is He?
Is She?
Is It?
Are We?
Are You?
Are They?
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

f) Exemplos:

a) Are you still working at IBM? (Você ainda está trabalhando na IBM?)
b) Is he your boyfriend? (Ele é seu namorado?)
c) Are they here for work? (Eles estão aqui a trabalho?).

7.4.4 Verb To Have – Simple Present

O verbo to have no presente simples possui duas formas. Sua utilização é bastante
simples. Com os pronomes "I, You, We, They" utiliza-se “have”. E com "He, She, It", é
utilizado “has”. O verbo To Have significa "ter" em português. Observe no Quadro 7 a seguir
a flexão do verbo To have nas formas afirmativa, negativa e interrogativa.

Quadro 7- Verb to Have

Afirmative form Negative form Interrogative form


I have I do not have / I don't have Do i have...?
You have You do not have / You don't have Do you have...?
He has He does not have / He doesn't have Does he have...?
She has She does not have / She doesn't have Does she have...?
It has It does not have / It doesn't have Does it have...?
We have We do not have / We don't have Do we have...?
You have You do not have / You don't have Do you have...?
They have They do not have / They don't have Do they have...?
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

É importante observar que:

Para sentenças negativas, você deverá utilizar o do/does entre o pronome pessoal e
o verbo have. Para sentenças interrogativas, você deverá usar o do/does antes de cada
pronome. Observe, então, os exemplos a seguir.

a) You have two books (Você tem dois livros.) – Affirmative.


b) Do you have two books? (Você tem dois livros?) – Interrogative.
c) You don't have two books (Você não tem dois livros.) – Negative.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


98
De acordo com a terminação do verbo. Observe a forma estrutural: SUBJECT + VERB
IN THE PAST + COMPLEMENT.

g) Regra geral:

a) Verbos terminados em ‘E’: adiciona-se apenas ‘D’. Ex.: dance = danced; to free =
to freed; like = liked;
b) Verbos terminados em consoante + ‘Y’: perde o ‘Y’ e recebe ‘IED’. Ex.: to dry = to
dried; study = studied;
c) Verbos terminados em vogal + ‘Y’: apenas recebem ‘ED’. Ex.: play = played;
d) Verbos terminados em CVC (consoante+vogal+consoante): dobra-se a última
consoante e acrescenta-se ‘ED’. Ex.: stop = stopped; to plan = to planned.

7.4.5 Interrogative and Negative Form

As frases interrogativas no passado simples usam o auxiliar ‘DID’ para todas as


pessoas. Este auxiliar é o passado auxiliar ‘Do/Does’ que vimos anteriormente. Quando o
auxiliar ‘DID’ aparece na frase, o verbo principal está no infinitivo. Observe a forma
estrutural: DID + SUBJECT + VERB IN INFINITIVE + ? e INTERROGATIVE PRONOUN + DID +
SUBJECT + VERB IN INFINITIVE + ?

h) Exemplo:

a) Did I stop here yesterday (Eu parei aqui ontem)?


b) What did she buy at the mall (O que ela comprou no shopping)?
c) Did you drink (Você tomou)?

Note que quem está no passado é o auxiliar DID, o verbo principal continua em sua
forma básica, ou seja, no infinitivo.

Nas sentenças negativas, acrescenta-se ‘DID+NOT’ ou a sua forma contraída


(‘DIDN’T) após o sujeito, para todas as pessoas. Observe a forma estrutural: SUBJECT + DID
NOT (DIDN'T) + VERB IN INFINITIVE (WITHOUT TO).

i)Exemplo:

a) I did not stop here yesterday (Eu não parei aqui ontem)!
b) This table was not here yesterday (Esta mesa não estava aqui ontem).
c) She didn't sleep (Ela não dormiu).

7.4.6 Simple Past Tense – Irregular Verbs

Em verbos irregulares, não há tipo de configuração da regra. Será formado como no


passado. Tal como no caso de os verbos regulares, os irregulares têm uma única forma para
todas as pessoas. Os três verbos irregulares mais importantes são ‘To be’, ‘To have’ e ‘To do’.
Observe no Quadro 8 a seguir como fica a configuração destes verbos.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


99
Quadro 8- Simple past tense – verbs to, to have and to do

Pronoun To be To have To do
I Was Had Did
You Were Had Did
He Was Had Did
She Was Had Did
It Was Had Did
We Were Had Did
You Were Had Did
They Were Had Did
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

j)Exemplo:

a) Affirmative: Jackie brought his printer this morning (Jackie trouxe sua impressora
esta manhã).
b) Negative: He didn't bring his printer this morning (Ele não trouxe sua impressora
esta manhã).
c) Interrogative: Did Jackie bring his printer this morning? (Jackie trouxe sua
impressora esta manhã?).

Assim como no português, a gramática inglesa possui muitos verbos. Aqui foram
selecionados os mais comuns, aqueles que utilizamos com maior frequência na linguagem
informal (Quadro 9). Pratique elaborando frases e diálogos nas mais diversas situações. O
aprendizado desses verbos será de grande importância nos estudos da língua.

Quadro 9- Lista dos verbos irregulares


Infinitive Past Past participle Translation
Arise Arose Arisen Levantar-se
Awake Awoke Awoke Acordar
Bear Bore Born Nascer
Beat Beat Beaten Bater
Become Became Become Tornar-se
Begin Began Begun Começar
Bend Bent Bent Dobrar
Bet Bet Bet Apostar
Bind Bind Bind Amarrar
Bite Bit Bitten Morder, picar
Bleed Bled Bled Sangrar
Blow Blew Blown Soprar
Bring Brought Brought Trazer
Build Built Built Construir
Burst Burst Burst Estourar, explodir
Buy Bought Bought Comprar
Cast Cast Cast Lançar
Catch Caught Caught Pegar, apanhar
Choose Chosen Chose Escolher

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


100

Infinitive Past Past participle Translation


Cling Clung Clung Agarrar, apegar-se
Come Came Come Vir
Cost Cost Cost Custar
Creep Crept Crept Rastejar
Cut Cut Cut Cortar
Deal Dealt Dealt Lidar, tratar
Dig Dug Dug Cavar
Do Did Done Fazer
Draw Drew Drawn Desenhar
Drink Drank Drunk Beber
Drive Drove Driven Dirigir
Eat Ate Eaten Comer
Fall Fell Fallen Cair
Feed Fed Fed Alimentar
Feel Felt Felt Sentir
Fight Fought Fought Brigar, lutar
Find Found Found Encontrar
Fling Flung Flung Lançar
Fly Flew Flow Voar
Forget Forgot Forgotten Esquecer
Forgive Forgave Forgiven Perdoar
Freeze Froze Frozen Congelar
Get Got Gotten Conseguir
Give Gave Given Dar
Grind Ground Ground Moer
Grow Grew Grown Crescer
Hang Hung Hung Pendurar
Have Had Had Ter
Hear Heard Heard Ouvir
Hide Hid Hidden Esconder
Hit Hit Hit Bater
Hold Held Held Segurar, manter
Hurt Hurt Hurt Ferir, machucar
Keep Kept Kept Manter
Know Knew Known Saber, conhecer
Lay Laid Laid Colocar, pôr
Lead Led Led Conduzir
Leave Left Left Partir, deixar
Lend Lent Lent Emprestar
Let Let Let Deixar
Lie Lay Lien Deitar-se, situar-se
Light Lit Lit Acender
Lose Lost Lost Perder
Make Made Made Fazer
Mean Meant Meant Significar
Meet Met Met Encontrar
Pay Paid Paid Pagar
Quit Quit Quit Desistir, abandonar
Read Read Read Ler

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


101

Infinitive Past Past participle Translation


Ride Rode Ridden Cavalgar
Ring Rang Rung Tocar, soar
Rise Rose Risen Levantar-se
Run Ran Run Correr
Say Said Said Dizer
See Saw Seen Ver
Seek Sought Sought Procurar
Sell Sold Sold Vender
Send Sent Sent Enviar
Set Set Set Ajustar, fixar
Shake Shooke Shaken Agitar
Shine Shone Shone Brilhar
Show Showed Shown Mostrar
Shrink Shrank Shrunk Encolher
Shut Shut Shut Fechar
Sing Sang Sung Cantar
Sink Sank Sunk Afundar
Sit Sat Sat Sentar-se
Sleep Slept Slept Dormir
Slide Slid Slid Escorregar
Slit Slit Slit Cortar, fender
Speak Spoke Spoken Falar
Speed Sped Sped Correr
Spend Spent Spent Gastar
Spin Spun Spun Girar
Split Split Split Dividir, partir
Spread Spread Spread Espalhar
Spring Sprang Sprung Saltar, pular
Stand Stood Stood Ficar
Steal Stole Stolen Roubar
Stick Stuck Stuck Grudar
Sting Stung Stung Picar, ferroar
Strike Struck Struck Bater, golpear
String Strung Strung Amarrar
Swear Swore Sworn Jurar
Sweep Swept Swept Varrer
Swim Swam Swum Nadar
Swing Swung Swung Balançar
Take Took Taken Tomar, levar
Teach Taught Taught Ensinar
Tear Tore Torn Rasgar
Tell Told Told Contar
Think Thought Thought Pensar
Throw Threw Thrown Arremessar
Understand Understood Understood Entender
Wake Woke Woken Acordar
Wear Wore Worn Usar
Weave Wove Woven Tecer
Wed Wed Wed Casar

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


102

Infinitive Past Past participle Translation


Weep Wept Wept Chorar
Wet Wet Wet Molhar
Win Won Won Vencer
Wind Wound Wound Dar corda
Wring Wrung Wrung Espremer
Write Wrote Wrotten Escrever
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

7.4.7 Simple Future Tense – Using Will

O futuro simples é a forma verbal usada para designar ações que ainda não
aconteceram. É formado pelo auxiliar ‘WILL’ com o infinitivo do verbo sem o ‘TO’. Esse
tempo verbal não sofre nenhuma flexão, é usado para todas as pessoas. A forma contraída é
'll. Também devemos utilizar o futuro simples para falar de ações que acontecerão num
futuro não imediato.

Na forma afirmativa, esse auxiliar deve vir sempre após o sujeito. Observe a
estrutura da frase: SUBJECT + WILL + VERB IN INFINITIVE (WITHOUT TO).

k) Exemplo:

a) Will you travel abroad? (Você viajará para o exterior?)


b) Where will she spend her vacation? (Onde ela passará as férias dela)?

 Simple Future Tense – Using Going To:

Diferentemente do ‘will’, o futuro com ‘going to’ é usado para designar ações
imediatas, ou seja, um futuro próximo. Algo que está prestes a acontecer. Observam-se a
seguir as suas formas e usos.

Para formar a sentença afirmativa, usa-se o ‘GOING TO’ depois do sujeito, seguido
pelo infinitivo do verbo. O verbo ‘To be’ posiciona-se como auxiliar, e vem após o sujeito.
Observe a estrutura: SUBJECT + VERB TO BE + GOING TO + VERB IN INFINITIVE.

l)Exemplo:

a) I am going to call you tonight (Vou te ligar hoje à noite).

Na forma negativa, coloca-se o ‘NOT’ entre o verbo ‘To be’ e o ‘Going to’. Observe a
estrutura: SUBJECT + VERB TO BE + NOT + GOING TO + VERB IN INFINITIVE.

m) Exemplo:

a) They're not going to come (Eles não vão vir).

E para formar uma sentença interrogativa, basta colocar o verbo ‘To be’ antes do
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
103
sujeito. Observe a estrutura: VERB TO BE + SUBJECT + GOING TO + VERB IN INFINITIVE.

n) Exemplo:
a) Are they going to see the patients (Eles vão atender os pacientes)?

 Will or Going To?

Em muitos casos podemos usar tanto o ‘will’ quanto o ‘going to’, ambos com o
mesmo sentido. Quando formos nos referir a algo que acontecerá muito em breve, devemos
usar o ‘going to’.

O planejamento prévio da ação também contribui para a distinção entre ‘will’ e


‘going to’. ‘Will’ pode ser usado quando o falante decide a ação no momento em que fala,
sem planejamento prévio. E se a decisão já foi tomada antes da ação, usamos o ‘going to’.

 Learning Activities:

1) Crie sentenças com o verbo ‘to make’ no simple past.

________________________________________________. (affirmative)

________________________________________________. (negative)

________________________________________________? (interrogative).

2) Observe o texto abaixo e destaque os verbos que estão no futuro simples.

4D Ultrasound Transmitted - Live - to Iraq on Christmas Eve

Bel Air, MD, December 19, 2007 -- (PR.com)-- On Christmas Eve this year, Jennifer
Branson will be celebrating her 28th week of pregnancy and having a 4D ultrasound
performed, while her husband, SPC Shawn Branson will be serving his country in Iraq. Thanks
to cutting-edge technology, however, he will not miss a beat of the upcoming ultrasound. He
will actually be able to see his baby boy for the very first time -live- from a computer in
Baghdad as it is being performed on his wife in Maryland.

Last month, Precious Previews Ultrasound, a Bel Air-based, 3D/4D prenatal imaging
center, introduced their newest service for expectant parents and their families. This state-
of-the-art technology, known as 4D UltraShare, enables the secure video transmission of an
ultrasound over the internet to virtually any broadband-connected, Windows-based
computer in the world. The broadcast is password protected to ensure client’s privacy and is
easy for end-users with connections typically made in minutes.

3) Retire do texto:

a) 3 dicas tipográficas
b) 6 palavras cognatas
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
104
c) 1 mês
d) 1 expressão que indique posse
e) O verbo ser no presente

7.4.8 There + Verb To Be

‘There is’ ou ‘there are’ representam o nosso HÁ ou EXISTE/EXISTEM. Usamos ‘there


is’ para dizer que há apenas uma coisa, ou seja, no singular. E ‘there are’ quando há mais de
uma coisa, no plural.

a) There is a computer in the room (Há um computador na sala/Existe um


computador na sala).
b) There are two computers in the room (Há dois computadores na sala/Existem
dois computadores na sala).

Podemos encontrar ou usar a forma contraída do verbo be:

a) There's a computer in the room.


b) There're two computers in the room.

Para sentenças negativas e interrogativas, a estrutura da frase é modificada, porém,


nada diferente do que já vimos anteriormente:

a) There is not (isn't) a computer in the room (Não há um computador na sala/Não


existe um computador na sala).
b) There are not (aren't) two computes in the room (Não há dois computadores na
sala/Não existem dois computadores na sala).
c) Is there a computer in the room (Há um computador na sala?/Existe um
computador na sala)?

 Learning Activities:

1) Complete com ‘there is’ ou ‘there are’.

______________ a police car.

______________ two kids.

_____________ some cherries.


_____________ a butterfly.

_____________ many flowers.

_____________ a monkey.

____________ five pens in the box.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


105
_____________ a car in the garage.

_____________ many birds in that tree.

_____________ a magazine on the floor.

_____________ a drink in the fridge.

_____________ some books on the table.

_____________ four chairs in the room.

7.4.9 Modal Verbs

Os verbos modais (Quadro 10) constituem um conjunto especial de verbos na língua


inglesa. São eles que auxiliam ou completam o sentido dos verbos principais em uma oração.
Sua finalidade é expressar ideias de capacidade, obrigação, possibilidade, conselho,
proibição e desejo. Não sofrem alteração na terceira pessoa do singular (He, She, It), e
também dispensam o uso de auxiliares, e há um tipo de situação diferente para o uso de
cada um deles.

Quadro 10- Verbos modais


Modal verbs Translation
Can Pode
Could Poderia
May Pode, poderia
Might Pode, poderia
Must Deve
Should Deveria
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

o) Can:

É usado para referenciar habilidade.

a) I can get on the computer programming all night (Eu consigo ficar no computador
programando a noite inteira).

p) Could:

Também é usado para referenciar habilidade, só que no passado, e em um contexto


mais formal, é usado no sentido de ‘poderia’.

a) I could swim when I was five years old (Eu conseguia nadar quando tinha 5 anos).

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


106
q) May:

Utilizado quando queremos expressar permissão ou possibilidade.

a) It may arrive tomorrow (Pode ser que chegue amanhã).


b) May I sit here (Posso sentar aqui)?

r) Might:

Usado para referenciar uma possibilidade muito remota de acontecer sobre algo no
passado e no presente.

a) She might have come to the party (Ela poderia ter vindo à festa).

s) Must:

Expressa uma obrigação ou proibição.

a) You must not smoke here (Você não deve fumar aqui).
b) They must write right now( Eles devem escrever agora).

t) Should:

É usado para expressar um conselho.

a) You should see a dentist (Você deveria ir ao dentista).

Na forma negativa, você também pode escrever/ler o verbo contraído Ex.: Can't,
couldn't, musn't, shouldn't...

Há outros modais como: would, ought to, que possuem a mesma finalidade dos
vistos anteriormente, entretanto, estes não são usados com tanta frequência.

Usam-se os verbos no imperativo para expressar ordens, pedidos, avisos e


instruções. Os comandos encontrados nos manuais de equipamentos hospitalares ou nos
próprios aparelhos estão no modo imperativo, porque existe a necessidade de transmitir a
mensagem de forma objetiva e clara.

O modo imperativo afirmativo é composto pelo infinitivo do verbo sem o “to”.


Já o modo imperativo negativo é composto pelo auxiliar “Do+not” ou “Don’t”.
E o modo infinitivo do verbo sem o “to”. Assim, temos:

Verbo TO GO = ir

Modo Imperativo Afirmativo = GO! (Vá!)

Modo Imperativo Negativo = DON`T GO! (Não vá!)


MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
107
 Learning activities:

1) Coloque os verbos abaixo no Modo Imperativo Afirmativo e Negativo:

Verbo no infinitivo Imperativo afirmativo Imperativo negativo


To describe
To set
To print
To have
To connect
To disconnected
To follow
To make sure
To register
To insert
To hold
To press
To align
To wait
To open
To close
To pull
To push
To remove
To repeat
To release
To install
To reinstall
To check
To keep
To adjust
To take
To try
To introduce
To move
To withdraw
To pay attention
To switch
To turno n
To turn off
To turn right
To turn left

2) Leia e traduza as instruções para a realização de exames no laboratório:

Be sure to follow instructions for your exam preparation.


Please bring the following items with you to your appointment:

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


108
 Insurance card
 Physician’s Order (Prescription)
 Prior Imaging / X-ray / Mammogram Examination
 Referral forms from Insurance Company

Please be sure any precertification requirements of your healthplan are met prior to
your appointment.

Please arrive at least 30 minutes prior to your appointment.

Exam results will be sent to your physician within 48 hours.

If you need to check out your x-rays, please call us 24 hours in advance.

If you have any questions about preparation or your exam, please contact us a the
appropriate number.

3) Leia o texto a seguir!

The Radiography Machine

Mary is showing the machine of radiography to her friend, John. She is showing him
what each command means.

- Look, John! There are a lot of commands here, very similar to the commands used
in computers. See: DEL, we use for deleting files; ENTER, we use for initializing something.
Here we use keyboard, mouse, CPU, HD. As you can see, we have to know a lot of computing
and English if we want to operate those machines well.

- Wow! These things are very interesting. And these buttons, what are these for?

- The buttons are the basic ones. If you want to start the process, you will press start
or enter. If you want to save the information, you will press save button just like computer.

- And about the image treatment?

- Well, It is a little more complex. Pay attention! I will not do it in the machine, I will
only suppose. For example: If I used the command “PULL”, “RECEIVE” or “GET”, I would
receive the data.
- But if you had used the command “ACCEPT” or “ALLOW”, what would have
happened?

- If I had used “ACCEPT” or “ALLOW”, I would have accepted the receipt of the data.

- Very good, Mary. You are going to be a great professional. You know everything!

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


109
Explique o assunto do texto lido:
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________

7.5 The Pronouns

Os pronomes são palavras que substituem os substantivos. Tratamos a seguir acerca dos pronomes
pessoais, demonstrativos, relativos, reflexivos e possessivos.

7.5.1 Personal Pronouns

Na língua inglesa, os pronomes pessoais referem-se a pessoas, lugares ou objetos, conforme ilustra o
Quadro 11 a seguir.

Quadro 11 - Personal pronouns

Nominative Objective
I - eu Me - me / mim
You - tu / você You - você
He - ele Him - ele/ lhe
She - ela Her - ela/ lhe
It - ele / ela (objeto) It - lhe / o / a
We - nós Us - nós
You - vós / vocês You - vós / lhes / vocês
They - eles / elas Them - lhes / os / as
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

Como se observou no quadro acima, os pronomes se dividem em duas classes:


nominative – subject pronoum (nominativo) e objective – object pronoum (objetivo). No
primeiro caso, o pronome desempenha o papel de sujeito da oração, por exemplo:

a) She is Brazilian (Ela é Brasileira);


b) I work with computers (Eu trabalho com computadores).

No segundo caso, os pronomes desempenham as seguintes funções, por exemplo:

a) Objeto direto ou indireto - Jordan loves her (Jordan a ama);


b) Objeto de preposição - We talked to him last night (Nós falamos com ele ontem à
noite).

É indispensável que lhe seja absolutamente clara a diferença entre sujeito e objeto.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


110
We saw him at the restaurant
We (sujeito) Him (objeto)
He saw us at the restaurant
He (sujeito) Us (objeto)

7.5.2 Demonstrative Pronouns

Pronomes Demonstrativos Os (Demonstrative Pronouns) servem para apontar,


mostrar alguma coisa, lugar, pessoas ou objeto. Indica uma posição em relação às pessoas
no discurso. Observe mais detalhadamente os pronomes demonstrativos listados no Quadro
12 a seguir.

Quadro 12- Demonstrative pronouns

Pronouns Translation
This Este, esta, isto
These Estes, estas
That Aquele, aquela, aquilo, esse, essa, isso
Those Aqueles, aquelas, esses, essas
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

Usa-se “This” para referir-se a algo que está muito perto de quem fala. O termo
“these” é o plural de “this”. Os demonstrativos estão ilustrados na Figura 1 a seguir.

Figura 1 - This and these

Fonte: Elaborada pelos autores (2015)

Usa-se “That” para referir-se a algo que está longe de quem fala. O plural de that é
“those”, como ilustra a Figura 2.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


111
Figura 2 - That and those

Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

7.5.3 Relative Pronouns

Relative pronouns são aqueles pronomes utilizados para introduzir uma oração
subordinada a uma oração principal. Referem-se a termos que já foram mencionados
anteriormente na frase. Podem exercer a função de sujeito ou objeto da frase. Para o uso de
cada pronome, há uma regra básica, conforme ilustra o Quadro 13 a seguir.

Quadro 13 - Relative pronouns

Pronoun Roule Example


É usado para referir-se a pessoas, e significa There is a man outside who what’s to talk you (Há
Who
QUE. um homem lá fora que quer falar com você).
Também é usado para referir-se a pessoas, I was invited by the professor whom I met at the
Whom entretanto, apenas quando há preposição na conference (Eu fui convidado pelo professor que eu
sentença. Significa QUEM. encontrei na conferência).
Que também significa QUE, serve para This is the book which I'm reading (Este é o livro
Which
designar objetos ou animais, nunca a pessoas. que estou lendo).
Este é usado para referir-se tanto a animais,
This is the book that I'm reading (Este é o livro que
That quanto a coisas ou pessoas. Também significa
estou lendo).
QUE. Usando o exemplo anterior:
Sempre se refere a um lugar físico. Significa Recife is the city where I was born (Recife é a
Where
ONDE. cidade onde eu nasci).
Usado para atribuir ideia de posse. Significa Do you know the girl whose mother is dead (Você
Whose
CUJO/CUJA. conhece a garota cuja mãe está morta)?
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

 Regular and Irregular Plural of Nouns:

Existem 4 regras para a formação do plural em Inglês. A mais comum, é acrescentar


a letra S ou ES no final da palavra. Porém, para sabermos se acrescentamos S ou ES, depende
da terminação da palavra. Observe as regras:

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


112
Em palavras terminadas em ‘Y’ precedido por uma vogal, acrescenta-se ‘S’.

 Exemplo:

a) Key = Keys
b) Boy = boys

Em palavras que terminam com ‘CH, SH, X, O, Z ou S’, acrescenta-se ‘ES’.

a) Wish = wishes
b) Tax = taxes
c) Bush = bushes

Em palavras terminadas em Y precedido por uma consoante, troca-se o ‘Y’ pelo ‘I’, e
depois se acrescenta ‘ES’.

a) Story = stories
b) City = cities
c) Fly = flies

Em palavras terminadas em ‘F/FE’, trocamos ‘F/FE’ por ‘VES’.

a) Life = lives
b) Wife = wives
c) Half = halves

Se não houver nenhuma das terminações citadas nas regras anteriores,


acrescentamos apenas o S.

a) Book = books
b) Hand = hands
c) Wall = walls
Também há aquelas palavras cujo plural é irregular.

a) Foot = feet
b) Louse = lice
c) Man = men
d) Mouse = mice
e) Thoot = teeth
f) Child = children
g) Woman = women

7.5.4 Possessive Pronouns

O Caso possessivo é usado quando queremos, estabelecer, principalmente, uma


relação de posse, podendo também representar uma relação de parentesco, autoria etc. É
representado em inglês por um apóstrofo s (‘s) ou simplesmente um apóstrofo (‘).
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
113
Observam-se no Quadro 14 a seguir os pronomes possessivos e os adjetivos possessivos.

Quadro 14- Possessive pronouns and possessive adjectives

Possessive adjectives Possessive pronouns


My meu, minha mine (o) meu, (a) minha
Your teu, tua, seu, sua yours (o) teu, (a) tua, (o) seu, (a) sua
His Dele his (o)/(a) dele
Her Dela hers (o)/(a) dela
Its dele, dela (neutro) its (o)/(a) dele, (o)/(a) dela (neutro)
Our nosso, nossa ours (o) nosso, (a) nossa

Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

 Exemplos:
The body of the patient = The patient´s body
The bodies of the patients = The patients ` bodies

 Atenção:
O “dono” deverá ser uma pessoa ou animal, nunca uma coisa.
The glass of the window nunca poderá ser The window`s glass

 Outros exemplos:
A mãe de Helen = The mother of Helen = Helen`s mother.
O boné do menino = The cap of the boy = The boy´s cap.
O marido da Mary = The husband of Mary = Mary`s husband.
Os brinquedo das crianças = The toys of the children = The children`s toys.
O uniforme das meninas = The uniforms of the girls = The girls` uniforms.

 Outros exemplos:
My car is gray (possessive adjective).
Meu carro é cinza (pronome possessivo adjetivo).

This is your pen (possessive adjective).


Esta é (a) tua caneta. (pronome possessivo adjetivo).

This car is mine (possessive pronoun).


Este carro é meu (pronome possessivo substantivo).

That house is hers (possessive pronoun).


Aquela casa é (a) dela (pronome possessivo substantivo)

Para empregar corretamente um e outro, é necessário levar em conta, tanto em


inglês como em português, que: enquanto pronome possessivo adjetivo (possessive
adjective) serve para qualificar o substantivo, o pronome possessivo substantivo (possessive
pronoun) tem a função de substituí-lo.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


114
Eis uma regra prática: o pronome possessivo adjetivo está sempre diretamente
ligado a um substantivo.

 my house (minha casa)


 your bicycle (tua/sua bicicleta)
 their relatives (os parentes deles)
 her jacket (a jaqueta dela)

Em português, o pronome possessivo substantivo não está diretamente ligado a um


substantivo.

This bicycle is mine.


Esta bicicleta é minha.

Are these books yours?


Estes livros são teus (seus)?

No, mine are over there.


Não, os meus estão lá.
The shoes are hers, not mine.
(Os sapatos são dela, não meus)

7.5.5 Learning Activities

Traduza:

1) The man’s heart _______________________________________________


2) Mary’s lungs ___________________________________________________
3) The patients’x-rays _____________________________________________
4) The woman’s chest _____________________________________________
5) Bob’s hospital _________________________________________________
6) Children’s examinations _________________________________________

7) Classifique os pronomes grifados e indique as respectivas palavras a que eles se


referem:

1) Radiology technologists and technicians take x-rays and they administer


nonradioactive materials into patients.
_______________________________________________________________
2) Roentgen was working with a cathode-ray tube in his laboratory.
_______________________________________________________________
3) Madona is a great singer. She came to Brazil in 2009.
_______________________________________________________________
4) Getúlio Vargas killed himself with a gun in 1954.
_______________________________________________________________
5) The radiology technologist removes the film and develops it.
_______________________________________________________________
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
115
6) Where are the tickets? I can`t find them.
_______________________________________________________________

7.5.6 Reflexive Pronouns

Há também a forma reflexive dos pronomes. A cada pronome pessoal corresponde


um pronome reflexivo, como ilustra o Quadro 15 a seguir.

Quadro 15- Reflexive pronouns

Personal Pronoun Reflexive pronoun


I myself a mim mesmo, -me
You yourself a ti, a você mesmo(a), -te, -se
He himself a si, a ele mesmo, -se
She herself a si, a ela mesma, -se
It itself a si mesmo(a), -se
We ourselves a nós mesmos(as), -nos
You yourselves a vós, vocês mesmos(as), -vos, -se
They themselves a si, a eles mesmos, a elas mesmas, -se
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

7.6 Indefinite and Definite Article

Existem dois artigos indefinidos no Inglês: A e AN. Estes artigos correspondem a


"Um, Uma". Ambos possuem o mesmo significado, porém são usados em casos diferentes.

Usa-se AN em palavras iniciadas com som de vogal. Usa-se A em palavras iniciadas


com som consoante. Eg.: An apple (uma maçã) / An office (um escritório); a book (um livro) /
a chair (uma cadeira).

Algumas palavras são escritas sendo iniciadas por vogais, entretanto sua pronúncia
não é considerada como um som vocálico, mas semivocálico, como é o caso de University e
European. Seria o mesmo que Y. Para estes casos à parte, usa-se o artigo indefinido A: a
university / a european.

7.6.1 Definite Article

Na língua inglesa há apenas um único artigo definido: THE. Ele é bem versátil.
Podendo ser utilizado para designar feminino e masculino, singular e plural. Significa: O, A,
OS, AS. Observe a seguir quando usar o artigo The.

a) Antes de substantivos que podem ser precedidos (ou não) por adjetivos. Ex.: The
girls (As meninas) / The sweet girl (A menina doce);
b) Antes de nomes de oceanos, mares, ilhas, navios, hotéis, cinemas, teatros,
montanhas. Ex.: The Pacific Ocean (O Oceano Pacífico) / The Titanic (O Titanic);
c) Antes de nomes de instrumentos musicais. Ex.: The drum (A bateria);
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
116
d) Antes de nome de famílias. Ex.: The Lannisters (Os Lannisters);
e) Nome compostos de países. Ex.: The United States (Os Estados Unidos).

Em alguns casos, o The é omitido. Observe:

a) Antes de nomes próprios, de língua e ciência. Ex.: Biology (Biologia) / James;


b) Antes de possessivos. Ex.: His car (O carro dele) / Our country (Nosso país)
c) Antes de alguns substantivos. Ex.: Home (casa) / school (escola) / church (igreja) /
bed (cama) / hospital (hospital) etc.

7.6.2 Learning Activities

1) Write de correct words.

Luiz want to be _____ teacher. (a / an)

Who won the race? It was _____ German. (a / an)

I broke ____ egg. (a / an)

Sara bought ____ umbrella. (a / an)

7.7 Do and Does

Do e Does podem atuar em uma sentença de duas maneiras, como verbo principal,
ou como verbo auxiliar. Como verbo auxiliar no presente simples, para formação de frases
negativas e interrogativas, encurtando a sentença, observe o Quadro 16 a seguir.

Quadro 16- Do and does

Negative form Interrogative form


I do not / I don't Do I... ?
You do not / You don't Do you...?
He does not / He doesn't Does he...?
She does not / She doesn't Does she...?
It does not / It doesn't Does it...?
We do not / We don't Do we...?
You do not / You don't Do you...?
They do not / They don't Do they...?
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

Usa-se Does apenas para He, She e It. E todas as outras pessoas restantes usam Do.
Observem os exemplos a seguir ilustrados pelo Quadro 17.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


117
Quadro 17- Do and does – negative and interrogative forms

Negative form Interrogative form


I don't have to work today. (Eu não Does he work as a waiter at that new
tenho que trabalhar hoje). restaurant? (Ele trabalha como garçom
She doesn’t have to wash the dishes. naquele novo restaurante?).
(Ela não tem que lavar louças). Do you wake up in what time? (Você
They do not go to school on acorda de qual hora?).
weekends. (Eles não vão para escola Does she talk a lot during the night? (Ela
nos finais de semana). fala muito durante a noite?)
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

7.8 Prepositions

Uma preposição liga dois ou mais termos da sentença que estabelecem entre si
alguma relação. Expressa lugar, posição, direção, tempo, modo ou instrumento (Figura 3).

Figura 3- Prepositions

Source: http://www.solinguainglesa.com.br/conteudo/prepositions.php Accessed April 21, 2015

u) Exemple:

a) The keyboard is on the desk.


b) I was in front of you, and you didn't see me.
c) My books are behind the door.
d) The garage is below the groud floor.

7.8.1 Learning Activities

1) Ela não deveria ter feito isso. In English is:


( ) She mustn’t have made it.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


118
( ) She should not have done that.
( ) She couldn't have made it.

2) A sentença "You mustn't take a medicine" expressa:

( ) Um conselho.
( ) Uma obrigação.
( ) Uma proibição.

3) Complete a sentença "We ______go to the club. It depends on the weather":

( ) Might.
( ) Can.
( ) Must.

4) Crie sentenças com as seguintes preposições:

__________________________________________________. (in front of)


__________________________________________________. (behind)

7.9 Adjectives

Adjetivos são palavras utilizadas para qualificar substantivos. No inglês, eles são
utilizados sempre, ou na maioria das vezes, antes do substantivo. O Quadro 18 abaixo
demonstra alguns adjetivos separados por classificação.

Quadro 18- Adjectives – an adjective describes a noun

Color (cor) Size (tamanho) Sound (som) Shape (forma)


blue (azul) big (grande) loud (alto) egg/oval (oval)
red (vermelho) small (pequeno) quiet (silencioso) round (redondo)
green (verde) gigantic (enorme) nice (bom) boxy (quadradão)
black (preto) short (curto) faint (fraco) square (quadrado)
Orange (laranja) tall (alto) pleasant (agradável) triangular (triangular)
Number (número) Taste (sabor) Weather (tempo/clima) Texture (textura)
few (poucos) sweet (doce) cloudy (nublado) smooth (suave)
many (muitos) sour (azedo) windy (ventilado) rough (áspero)
twenty (vinte) bitter (amargo) rainy (chuvoso) bumpy (irregular)
one (um) salty (salgado) sunny (ensolarado) slimy (viscoso)
sixty (sessenta) tangy (picante) mild (moderado) furry (peludo)
Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

7.10 Leitura Crítica

Realizar uma leitura crítica significa ser capaz de analisar um texto em seus vários
aspectos, desde seu conteúdo referencial, suas informações, até sua estrutura e sua
expressão, e, a partir dessa análise, compará-lo com textos anteriores. Em outras palavras,

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


119
ler criticamente é desenvolver sua capacidade de reflexão e abandonar a postura passiva do
simples receptor da mensagem escrita para relacionar essa mensagem com os
conhecimentos já adquiridos.

7.10.1 Habilidades de Estudo

Elencam-se a seguir algumas habilidades estudo.

 Fazer anotações:

No decorrer da leitura, o leitor deve ser capaz de levantar as ideias principais do


texto e suas relações com os detalhes. Geralmente essa leitura se concretiza através de
esquemas, de diagramas e outros artifícios que permitem ao leitor distinguir clara e
rapidamente as informações importantes das complementares.

 Elaborar resumos:

O resumo é uma estratégia que facilita a revisão do texto lido, já que constitui uma
forma condensada e seletiva de suas ideias principais. É necessário respeitar a ordem do
texto original, sua organização e seu sentido. Sem utilizar as mesmas palavras, deve-se
respeitar o sistema de enunciação. Vale lembrar que o resumo, sem ser uma colcha de
retalhos do texto original, deve ser, sobretudo, uma síntese do texto original, clara e concisa,
pois resumir é dizer o essencial.

 Elaborar resenhas:

A resenha visa igualmente a ajudar o leitor a organizar o texto, mas exige de sua
parte uma postura crítica, já que tal exercício consiste não apenas em organizar e condensar
as ideias principais como também em analisá-las minuciosamente.

7.11 Dica Gramatical – Formação de Palavras

Algumas palavras necessitam um pouco mais de atenção para entendê-las e


reconhecê-las durante a leitura. Elas são chamadas palavras derivadas, ou seja, palavras
formadas por afixos. Afixos são sílabas ou letras colocadas antes ou após o radical de uma
palavra, alterando o seu sentido original. Os afixos dividem-se em prefixos e sufixos.

7.11.1 Prefixos

Sílaba ou sílabas que precedem o radical de uma palavra, modificando o seu


sentido.

 Exemplos:

Dis (Oposto) disagree = discordo


Il, ir, im, in (não) illegal = ilegal
Mis (errado) misunderstand = entender errado, equivocar-se
Non (não) non-alcoholic =não alcoólico
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
120
Un (não) unintelligent = não é inteligente
Over (excesso, além) overdose = acima da dose
Pre (antes) prehistory = pré-história

7.11.2 Sufixos

Sílaba ou letras que são colocadas após as raízes das palavras para indicar sua
flexão, ou torná-las derivadas.

Os sufixos podem formar Substantivos:


ance = performance = desempenho
ence = independence = independência
er/or = teacher/operator = professor/operador
ist/yst = typist/analyst = digitador/analista
ation = information = informação
ment = development/management = desenvolvimento/gerenciamento
ity = electricity = eletricidade
ness = happiness = felicidade

Os sufixos podem formar Adjetivos:


ic = economic = econômico
al = logical = lógico
able=comparable= comparável
ous = dangerous = perigoso
y = hungry = faminto

Os sufixos podem formar Verbos:


ize = computerize = informatizar
ate = activate/calculate = ativar/calcular
ify = simplify = simplificar

Os sufixos podem formar Advérbios:


ly = eletronically = eletronicamente
quickly = rapidamente

7.11.3 Adjetivos Terminados em ED e ING

Os sufixos ED e ING formam adjetivos que podem causar uma certa dúvida porque
as duas formas são similares. A forma ED expressa como alguém se sente, como está. A
forma ING descreve a coisa ou a pessoa que faz alguém se sentir daquela maneira.

 Exemplo:

The students are worried because the questions are worrying.


Os estudantes estão preocupados porque as perguntas são preocupantes.

Palavras cuja formação é composta por ING podem apresentar diferentes classes
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
121
gramaticais: LEARNING = Pode significar aprendendo; aprender ou aprendizagem,
dependendo de como é apresentada na sentença.

They are learning how to get more information. = (após o verbo to be)
GERÚNDIO - Eles estão aprendendo como conseguir mais informações.
This is a way of learning about management. = (após preposições)
INFINITIVO - Esta é uma maneira de aprender sobre gerenciamento.
This is part of the learning process. = (parte de um grupo nominal)
SUBSTANTIVO - Isto é parte do processo de aprendizagem.

ED pode indicar passado e particípio. É importante, porém, saber como diferenciá-


los.

Roentgen discovered x-rays/Roentgen descobriu o raio-x.


Após o sujeito o prefixo Ed formará um verbo no passado.

X-rays were discovered in 1895 by Wilhelm Conrad Roentgen/Raios-x foram


descobertos em 1895 por Wilhelm Conrad Roentgen.

O prefixo ED formará o particípio quando for um adjetivo ou o segundo de uma


oração.

7.11.4 Learning Activities

1) Destaque os prefixos e sufixos nas palavras abaixo:

Resulting
Called
Easily
Disagreement
Remove
Uncomfortable

2) Identifique nas frases abaixo se as palavras formadas por ED estão no passado ou


particípio.

a) An alpha is a particle emitted from the nucleus of an atom.


b) The rad is a unit used to measure a quantity called absorbed dose.
c) Roentgen produced a radiography
d) A radiography was produced by Roentgen.
e) They prepared the patients.

7.12 Dica Gramaticam – Plural dos Substantivos

Algumas palavras necessitam um pouco mais de atenção para entendê-las e


reconhecê-las durante a leitura. Elas são chamadas palavras derivadas, ou seja, palavras
formadas por afixos. Afixos são sílabas ou letras colocadas antes ou após o radical de uma
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
122
palavra, alterando o seu sentido original. Os afixos dividem-se em prefixos e sufixos.
Em Inglês, os adjetivos são invariáveis, ou seja, não sofrem nenhuma flexão. Já os
substantivos não só são variáveis, como também, têm algumas regras específicas para a
realização do plural.

 Exemplos:

Radioactive atoms
Átomos radioativos
Radioactive atom
Átomo radioativo

Observe que o adjetivo permanece igual tanto no singular quanto no plural, porém
quando fazemos a tradução para o português é preciso fazer a concordância do adjetivo com
o substantivo.

 Exemplo:

Bad boy
Garoto malvado
Bad girl
Garota malvada

Percebe-se no exemplo acima que, em inglês, o adjetivo ficou igual tanto para o
masculino quanto para o feminino, porém em português, foi feita a concordância
apropriada.

7.12.1 Regra para Substantivar os Plurais

1) Regra geral
Acrecenta-se S ao substantivo
Atom =atoms (átomo)

2) Substantivo terminado em S, SH, CH, X, O, Z


Acrescenta-se ES ao substantivo
Box=boxes (caixa)

3) Substantivo terminado em Y
- Acrescenta-se S se o Y for precedido de Vogal
Boy = boys (garoto)
-Troca-se o Y por IES se o Y for precedido de Consoante
City = cities (cidade)

4) Substantivo terminado em F ou FE
Geralmente troca-se o F ou FE por VES
Shelf =shelves (estante)

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


123
5) Plural Irregular
Man =men (homem)
Woman=women (mulher)
Child =children (criança)
Tooth-teeth (dente)
Foot=feet (pé)
Mouse=mice (camundongo)

7.12.2 Learning Activities

1) Identifique nas orações abaixo os grupos nominais, classifique-os como


modificadores ou palavras principais e em seguida faça a tradução.

a) Radioactivity is the spontaneous transformation of an unstable atom and often


results in the emission of radiation.
b) The unit gray can be used for any type of radiation, but it does not describe the
biological effects of the different radiations.
c) The sievert is a unit used to derive a quantity called equivalent dose.
d) One Becquerel is that quantity of a radioactive material that will have 1
transformations in one second.
e) A Chronic dose means a person received a radiation dose over a long period of
time.

2) Escreva as palavras abaixo no plural:

a) key
b) image
c) injury
d) copy
e) tooth
f) child
g) box
h) screen
i) ray
j) knife
k) wife
l) man

71.13 Dica Gramaticam – Comparativos

Em inglês há, pelo menos, duas formas diferentes de se fazer comparações, que
variam de acordo com os adjetivos que se pretende comparar – se eles são “longos” ou
“curtos”.

Além das formas comparativas comuns, que comparam um objeto, uma situação ou
um indivíduo com outro – She is taller than me (Ela é maior do que eu) – há também a
categoria dos superlativos, que comparam um objeto, situação ou indivíduo ao conjunto
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
124
restante – She is the tallest in the classroom – (Ela é a maior da classe).

 Exemplos:

1) cold = frio
2) as cold as = tão frio quanto
3) colder than = mais frio que
4) the coldest = o mais frio
5) high = alto(a)
6) as high as = tão alto(a) quanto
7) higher than = mais alto(a) que
8) the highest = o mais alto(a)
9) hot = quente
10) as hot as= tão quente quanto
11) hotter than = mais quente que
12) the hottest = o mais quente
13) ugly = feio
14) as ugly as = tão feio quanto
15) uglier than = mais feio que
16) the ugliest = o mais feio
17) intelligent = inteligente
18) as intelligent as= tão inteligente quanto
19) more intelligent than = mais inteligente que
20) the most intelligent = o mais inteligente
21) expensive = caro
22) as expensive as = tão caro quanto
23) more expensive than = mais caro que
24) the most expensive = o mais caro
25) good = bom
26) as good as = tão bom quanto
27) better than = melhor que
28) the best = o melhor
29) bad = mau
30) as bad as = tão mau quanto
31) worse than = pior que
32) the worst = o pior

 Exemplos em frases:

Comparativos:

1) Brazil is bigger than Sweden. (O Brasil é maior do que a Suécia).


2) Portugal is smaller than Brazil. (Portugal é menor do que o Brasil).
3) Mexico is hotter than Sweden. (O México é mais quente do que a Suécia).
4) My friend is younger than me. (Meu/minha amigo/amiga é mais novo/nova do
que eu).
5) The car is faster than bicycle. (O carro é mais rápido do que a bicicleta).
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
125
Superlativos:

1) China´s population is the biggest of the world. (A população da China é a maior


do mundo)
2) Kevin is my best friend. (Kevin é o meu melhor amigo)
3) I think the war is the worst thing that exists. (Eu acho a guerra a pior coisa que
existe)
4) Rio Grande do Sul is the coldest state in Brazil. (O Rio Grande do Sul é o estado
mais frio do Brasil).

Comparativos:

1) Climbing is more difficult than skiing. (Escalar é mais difícil do que esquiar).
2) Boxe is more dangerous than volleyball. (O boxe é mais perigoso do que voleibol).
3) Soccer is more popular than golf. (O futebol é mais popular do que o golf).

Superlativos:

1) In Brazil, soccer is the most popular sport. (No Brasil, o futebol é o esporte mais
popular).
2) I think swimming is the most tiring sport that I practice. (Eu acho que a natação é
o esporte mais cansativo que eu pratico).
3) I think chess is the most intelligent game that exists. (Eu acho que o xadrez é o
jogo mais inteligente que existe).
4) I think horror movie is the most boring kind of movie. (Eu acho que filme de
terror é o tipo mais chato de filme).

Comparativo de igualdade:

1) Bahia is as hot as Ceará. (A Bahia é tão quente quanto o Ceará).


2) Rock is as interesting as Jazz. (O “rock” é tão interessante quanto o jazz).
3) Golf is not as popular as soccer. (O golfe não é tão popular quanto o futebol).
4) Volley is not as dangerous as boxe. (O vôlei não é tão perigoso quanto o boxe)

7.13.1 Learning Activities

Escolha a alternativa correta:

1) Mount Everest measures 8,848 meters, Mount Kangchenjunga measures 8,596


meters and K2 measures 8,611 meters.
a) Mount Everest is the highest mountain.
b) Mount Kangchenjunga is the highest mountain.
c) K2 is the lowest mountain.

2) Anne is 43 years old, Lynne is 40 years old.


a) Anne is younger than Lynne.
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
126
b) Lynne is older than Anne.
c) Anne is older than Lynne.

3) The red dress costs 25,00, the blue dress costs 15,00.
a) The red dress costs less than the blue dress.
b) The blue dress costs less than the red dress.
c) The blue dress costs more than the red dress.

4) Russia is 17,075,000 sqm, France is 544,000 sqm.


a) France is larger than Russia
b) Russia is larger than France
c) Russia is smaller than France

5) Box A is bigger than box B, box C is bigger than box A.


a) Box B is the smallest box.
b) Box A is the biggest box.
c) Box C is the smallest box.

6) I live 2 km from the hospital. The doctor lives 1 km from it.


a) I live nearer the hospital than the doctor.
b) The doctor lives nearer the hospital than me.
c) The doctor lives further from the hospital than me.

7) Jane has 1,633.20, Bill has 1,635.30, John has 1,632.10.


a) Bill has the most money.
b) Jane has the least money.
c) John has the most money.

8) Johnny was bad, Wendy was very bad, Billy was very, very bad.
a) Johnny was the worst.
b) Wendy was the worst.
c) Billy was the worst.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


127
REFERÊNCIAS

ALGO SOBRE. How the computers understands things. Disponível em:


https://www.algosobre.com.br/informatica/bits-e-bytes-como-o-computador-entende-as-
coisas.html Acesso em abril de 2015.

BRADESCO. Microinformática. Disponível em: http://www.fundacaobradesco.org.br/vv-


apostilas/mic_suma.htm Acesso em abril de 2015.

DE LIMA, D. Inglês na ponta da língua. Rio de Janeiro: Ed Elsevier, 2011.

DOWNING, D. et al. Dictionary of computers and internet terms. Ed. Paperback, 2012.

LANGEMEIER, J. Inglês para leigos. Ed. Dummies, 2009.

LOGMAN, P. Longman dictionary of contemporary English. 5th Edition. Ed Paperback, 2012.

MARTINEZ, R. Como dizer e escrever tudo em inglês. Rio de Janeiro: Ed Elsevier, 2012.

MICROSOFT. Parts of a computer. Disponível em: < http://windows.microsoft.com/pt-


br/windows/computer-parts#1TC=windows-7> Acesso em abril de 2015.

MICROSOFT. Introduction to computers. Disponível em: http://windows.microsoft.com/pt-


br/windows/introduction-to-computers#1TC=windows-7 Acesso em abril de 2015.

SK. English idiom. Disponível em:< http://www.sk.com.br/sk-idiom.html> Acesso em


abril de 2015.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


128

APÊNDICE A – GLOSSÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS E EXERCÍCIOS APLICADOS AO CURSO DE


ANÁLISES CLÍNICAS

Este caderno apresenta os termos técnicos em inglês instrumental, voltados para


análises clínicas.

 Aplicando as Técnicas:

Neste estudo do inglês instrumental, é fundamental a utilização de diversos textos


sobre a área específica do curso, visto que é importante para o estudante manter o foco no
estudo aplicado, fazendo aplicação das técnicas do inglês instrumental. Quanto mais textos
forem utilizados para este fim, maior será o domínio das técnicas e o seu desenvolvimento
no curso. Observe-se o texto a seguir e o exercício aplicado.

Common Intestinal Parasites

Intestinal parasites cause significant morbidity and mortality. Diseases caused by


Enterobius vermicularis, Giardia lamblia, Ancylostoma duodenale, Necator americanus, and
Entamoeba histolytica occur in the United States. E. vermicularis causes irritation and sleep
disturbances. Diagnosis can be made using the “cellophane tape test.” Treatment includes
mebendazole and household sanitation. Giardia causes nausea, vomiting, malabsorption,
diarrhea, and weight loss. Stool ova and parasite studies are diagnostic. Treatment includes
metronidazole. Sewage treatment, proper handwashing, and consumption of bottled water
can be preventive. A. duodenale and N. americanus are hookworms that cause blood loss,
anemia and wasting. Finding eggs in the feces is diagnostic. Treatments include albendazole,
mebendazole, pyrantel pamoate, iron supplementation, and blood transfusion. Preventive
measures include wearing shoes and treating sewage. E. histolytica can cause intestinal
ulcerations, bloody diarrhea, weight loss, fever, gastrointestinal obstruction, and peritonitis.
Amebas can cause abscesses in the liver that may rupture into the pleural space,
peritoneum, or pericardium. Stool and serologic assays, biopsy, barium studies, and liver
imaging have diagnostic merit. Therapy includes luminal and tissue amebicides to attack
both life-cycle stages. Metronidazole, chloroquine, and aspiration are treatments for liver
abscess. Careful sanitation and use of peeled foods and bottled water are preventive (KUCIK;
MARTIN; SORTOR, 2004).

 Learning Activities:

1) Identifique no texto todos os verbos que estão no Simple Present.


____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________

2) Utilizando a técnica skimming, qual é o tema abordado no texto?


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
129
3) Identifique as palavras cognatas que podem ser encontradas no texto.
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

4) Utilizando a técnica scanning, quais são os sintomas causados pela Giardia e E.


histolytica?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

5) Circule o pronome ‘they’ no texto e identifique o termo a que ele se refere.


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

6) Relacione as formas verbais corretas:

( a ) Simple present affirmative


( b ) Simple present interrogative
( c ) Simple present negative
( d ) Simple past affirmative
( e ) Simple past interrogative
( f ) Simple past negative
( g ) Simple future affirmative
( h ) Simple future interrogative
( i ) Simple future negative
( j ) Condicional afirmative

( ) The technician collected the patient's blood


( ) The patient will deliver urine to the laboratory
( ) Before collecting the blood, lab technician asks the patient if he is fasting
( ) The patient would be angry at the delay of the examination
( ) Did you organize the material before collection?
( ) Do the biomedical analyze the stool under the microscope?
( ) Will the analyst cultivate bacteria of secretion in which medium?
( ) You do not accept urine in unauthorized container.
( ) The technician will not collect blood without using sterile gloves
( ) The analyst did not see bacteria in the sputum sample

7) Leia o texto abaixo e responda às questões:

Gram staining is a quick procedure used to look for the presence of bacteria in
tissue samples and to characterize bacteria as Gram-positive or Gram-negative, based on the
chemical and physical properties of their cell walls.

Steps: 1. Get a tissue sample for the Gram stain. 2. Add 1-2 drops of the tissue
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
130
sample onto a glass slide. 3. Heat fix the smear, by quickly passing it two to three times
through a flame or heat it on top of an electric slide warmer. 4. Flood the smear with crystal
violet. 5. Gently rinse off the crystal violet with tap water. 6. Flood the smear with iodine. 7.
Gently rinse off the iodine with tap water. 8. Decolorize by adding alcohol or acetone to the
smear while holding the slide at an angle to allow the decoloriser to drain. 9. Gently rinse off
excess decoloriser with tap water. 10. Flood the smear with safranin counterstain. 11. Gently
rinse off excess safranin with tap water. 12. Drain slide and allow it to air dry. 13. Examine
the slide under the light microscope.

The most common bacterial species are classified in four groups: Gram positive
cocci are generally Staphylococci (meaning cocci in clusters) or Streptococci (meaning cocci
in chains). Gram positive rods include Bacillus, Clostridium, Corynebacterium, and Listeria.
Gram negative cocci are most commonly Neisseria spp. Gram negative rods are E. coli,
Enterobacter, Klebsiella, Citrobacter, Serratia, Proteus, Salmonella, Shigella, Pseudomonas
and many others.

8) Qual é o assunto abordado no texto?


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

9) Quais são os corantes utilizados?


___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________

10) Quais os tipos de micro-organismos que podem ser encontrados utilizando esse
método?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

 Glossário:

Existem palavras que irão fazer parte da rotina de trabalho na área de análises
clínicas e que serão fundamentais que o técnico se familiarize com elas e as conheça. No dia
a dia, elas estarão escritas nos documentos (exames) e em programas de computador das
várias técnicas aplicadas na sua atividade laboral.

De acordo com os textos apresentados, observam-se a seguir algumas palavras em


inglês relativas às análises clínicas.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


131
Vocabulary in
Translation
alphabetical order
A
Assays Exame
B
Blood Sangue
Blood loss Sangramento
C
Cell walls Parede celular
Chains Cadeias
Clusters Cachos
Cocci Cocos
Counterstain Contracorante
D
Diseases Doenças
Drops Gotas
F
Flood Cobrir
G
Glass Vidro
H
Hand washing Lavar as mãos
Health Saúde
Heat Calor
Household sanitation Saneamento doméstico
L
Liver Fígado
R
Rinse off Enxaguar
Roods Bacilos
S
Sample(s) Amostra(s)
Sewage Esgoto
Slide Lâmina
Smear Esfregaço
Stain Coloração
Stool Fezes
T
Tissue Tecido
Tissue sample Amostra de tecido
W
Warmer Aquecedor
Water Água
Weight loss Perda de peso

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


132
ANOTAÇÕES: ____________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
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_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
SAÚDE PÚBLICA
135
8 SAÚDE PÚBLICA

A Disciplina de Saúde Pública tem como objetivo apresentar alguns conteúdos


essenciais para o início do estudo da saúde pública/coletiva no Brasil. O material está
dividido didaticamente em quatro momentos: no primeiro, apresentaremos um pouco do
histórico das políticas de Saúde no Brasil, do movimento da Reforma Sanitária e do Sistema
Único de Saúde.

No segundo momento, abordaremos as principais legislações que vigoram e


regulamentam a saúde pública nacional, assim como a participação popular e o controle
social. No terceiro momento, estudaremos especificamente as vigilâncias em saúde,
incluindo a epidemiológica, sanitária e ambiental, assim como explanaremos acerca dos
sistemas de informação em saúde do Brasil.

Finalmente, no último momento, apresentaremos a legislação que define as


diretrizes operacionais dos Laboratórios de Saúde Pública no Brasil.

8.1 Políticas de Saúde, a Reforma Sanitária e o Sistema Único de Saúde Brasileiro

Esta seção abordará acerca da evolução das políticas de saúde no Brasil, com seus
aspectos históricos, a implementação da reforma sanitária no Brasil e a construção do
Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com Cunha e Cunha (1998), deram-se muitos embates políticos e


ideológicos entre os vários atores sociais ao longo dos anos até a implementação do Sistema
Único de Saúde. Os autores afirmam que as políticas de saúde e as formas como se
organizam os serviços são fruto de longa trajetória de formulações e de lutas. Neste sentido,
abordamos aqui alguns aspectos históricos das políticas de saúde no Brasil.

8.1.1 A primeira república (1889 - 1930)

A República Velha (1889-1930) se caracteriza pela forma de governo, advinda das


oligarquias dos estados mais ricos, especialmente São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
O principal setor da economia era cafeicultura, que dava aos fazendeiros paulistas grande
poder de decisão na administração federal. Os lucros desta produção foram parcialmente
aplicados nas cidades, o que favoreceu a industrialização, a expansão das atividades
comerciais e o aumento acelerado da população urbana, engrossada pela chegada dos
imigrantes desde o final do século XIX (BERTOLLI FILHO, 1996).

Naquela época, as epidemias davam conta de promover a matança da população já


tão escassa, diminuindo o número de pessoas dispostas a vir para o Brasil, levando o então
governador a adotar medidas para melhorar a situação, segundo dados do Cefor (2000).

Neste sentido, foram criados os serviços e programas de saúde pública em nível


nacional. Oswaldo Cruz, aluno e pesquisador do Instituto Pasteur ficou à frente da diretoria
geral de saúde pública, organizando e implementando de forma progressiva as instituições
públicas de higiene e saúde no País. Além disso, ele adotou o modelo de campanhas
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
136
sanitárias, voltado ao combate às epidemias urbanas e, posteriormente, as endemias rurais.
Em termos de poder, conforme observado por Luz (1991), o próprio nome sugere que o
modelo campanhista é de inspiração bélica, concentra fortemente as decisões, em geral
tecnocráticas, e adota um estilo repressivo de intervenção médica nos corpos individual e
social.

Em princípio, a intervenção médica nos espaços urbanos foi vista com desconfiança
e medo por parte da população, uma vez que esta era retirada á força dos ambientes a
serem saneados, com o acompanhamento da vigilância policial, para que não houvesse
represália e agressão aos agentes sanitários. Muitas vezes, porém, a polícia agia com
violência desmedida, repetindo as formas repressoras comumente empregadas pelo regime
oligárquico contra os protestos coletivos como passeatas e greves (BERTOLLI FILHO, 1996), o
que fortalecia ainda mais o medo das pessoas.

A oposição ao modo como eram feitas (as campanhas) pode ser evidenciada na
revolta contra a vacina obrigatória (contra varíola), em 1904. A este respeito, constatamos:
Liderados por um grupo de cadetes positivistas que eram oposição ao
governo, que se revoltaram acusando o governo de despótico, de devassar
a propriedade alheia com interdições, desinfecções, da derrubada maciça
de bairros pobres, de arrombamentos de casas para nelas entrarem à
força. A revolta é reprimida, pois a questão saúde ainda era concebida
como uma questão policia (CEFOR, 2000).
Impressionado e desgastado com os acontecimentos, o governo revogou a
obrigatoriedade da vacina, tornando-a opcional para todos os cidadãos (BERTOLLI FILHO,
1996).

No que diz respeito à assistência médica individual, as classes mais favorecidas


continuaram a ser atendidas pelos profissionais legais da medicina, os chamados médicos de
família, enquanto a população buscava atendimento filantrópico em hospitais mantidos pela
igreja e recorria à medicina caseira (CEFOR, 2000).

 Previdência Social:

O marco da Previdência Social no Brasil se deu a partir da promulgação da lei Eloy


Chaves, em 1923, que consolidou a base do sistema previdenciário brasileiro, com a criação
da Caixa de Aposentadorias e Pensões (CAPs) para os empregados das empresas ferroviárias.
As CAPs eram organizadas por empresas de natureza civil e privada, responsáveis pelos
benefícios pecuniários e serviços de saúde para empregados de empresas específicas.

Cunha e Cunha (1998) observaram em seus estudos que as CAPs eram financiadas
com recursos dos empregados e empregadores e administradas por comissões formadas de
representantes da empresa e dos empregados. Cabia ao setor público apenas a resolução de
conflitos. No modelo previdenciário dos anos 1920, a assistência médica era vista como
atribuição fundamental do sistema, o que levava, inclusive, à organização de serviços
próprios de saúde.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


137
8.1.2 A era Vargas (1930 - 1945)

A classe dominante ligada aos exportadores de café teve a sua hegemonia


encerrada com a revolução de 1930. Em 1929 se deu uma crise econômica que provocou
uma enorme queda no preço do café, impossibilitando o governo de continuar a exercer a
política de proteção aos preços do café. Deu-se, então, a revolução de 1930, liderada por
parte da classe dominante que não estava ligada à exportação do café. O movimento ganhou
forte apoio das camadas médias urbanas, como os intelectuais, profissionais liberais e
militares (CEFOR, 2000).

Em seus estudos, Bertolli Filho (1996) observou que, dada a revolução de 1930,
Getúlio Vargas procurou de imediato livrar o Estado do controle político das oligarquias
regionais, promovendo ampla reforma política e administrativa, suspendendo a vigência da
Constituição de 1891 e passando a governar por decretos até 1934, quando o Congresso
Constituinte aprovou a nova Constituição.

O governo Vargas criou o Ministério do Trabalho, atrelando a ele Sindicatos e


elaborou ampla legislação trabalhista. Com base nisto, regulamentou a relação entre o
capital e o trabalho, fazendo com o que o Estado criasse condições indispensáveis para que a
economia enfrentasse uma nova etapa, baseada na industrialização com objetivo de
substituir importações. No que diz respeito à política de saúde, se pôde identificar um
processo de centralização dos serviços que objetivava dar um caráter nacional a esta política.
Uniformizou-se, então, a estrutura dos departamentos estaduais de saúde do País e houve
relativo avanço da atenção à saúde para o interior, com a multiplicação dos serviços de
saúde (CEFOR, 2000).

Esta época foi marcada pelo auge do sanitarismo campanhista, no que trata da
saúde coletiva. Entre 1938 e 1945, o Departamento Nacional de Saúde foi reestruturado e
dinamizado, promovendo a articulação e centralização das atividades sanitárias de todo o
Brasil. Em 1942, foi criado o Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp), que tinha atuações
voltadas para as áreas não cobertas pelos serviços tradicionais, conforme advogam Cunha e
Cunha (1998). Neste período, foram criados os institutos de seguridade social, denominados
Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), organizados por categorias profissionais,
favorecendo as camadas de trabalhadores urbanos mais aguerridos em seus sindicatos e
fundamentais para a economia dominante há época.

Cunha e Cunha (1998) afirmam que:

Diferentemente das CAPs, a administração dos IAPs era bastante


dependente do governo federal. O conselho de administração, formado
com a participação de representantes de empregados e empregadores,
tinha uma função de assessoria e fiscalização e era dirigido por um
presidente, indicado diretamente pelo Presidente da República. Há uma
ampliação da Previdência com a incorporação de novas categorias não
cobertas pelas CAPs anteriormente. Do ponto de vista da concepção, a
Previdência é claramente definida enquanto seguro, privilegiando os
benefícios e reduzindo a prestação de serviços de saúde. Caracterizam esta

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


138
época a participação do Estado no financiamento (embora meramente
formal) e na administração dos institutos, e um esforço ativo no sentido de
diminuir as despesas, com a consolidação de um modelo de Previdência
mais preocupado com a acumulação de reservas financeiras do que com a
ampla prestação de serviços.

Isto fazia com que os superávits dos institutos constituíssem um respeitável


patrimônio e um instrumento de acumulação na mão do Estado. A Previdência se
configurava, então, enquanto 'sócia' do Estado nos investimentos de interesse do governo.

8.1.3 O período de redemocratização (1945 - 1964)

Durante o período de redemocratização, findada a chamada ‘era Getúlio Vargas’, no


campo da saúde pública, vários órgãos foram criados, com destaque para a atuação do
Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp), criado no período anterior, em 1942, em
decorrência de acordo com os EUA, que visava, principalmente, à assistência médica dos
trabalhadores recrutados para auxiliar na produção da borracha na Amazônia e que estavam
sujeitos à malária. Criou-se também o Ministério da Saúde, em 1953. As ações na área de
saúde pública se ampliaram a ponto de exigir uma estrutura administrativa própria.

Naquele período, os sanitaristas discutiam sobre política de saúde, refletindo o


debate que acontecia sobre economia. De um lado, estavam aqueles que achavam que as
condições de saúde melhorariam se fossem utilizadas técnicas e metodologias adequadas,
de outros países. Um exemplo disto era o Sesp, cuja estrutura dos serviços, no início, era
sofisticada e cara, semelhante à estrutura nos Estados Unidos. De outro lado, observavam-se
os sanitaristas, que buscavam uma prática articulada com a realidade nacional. Entretanto,
durante muitos anos, as ideias do primeiro grupo influenciaram a prática do governo,
conforme dados do Cefor (2000).

No que diz respeito aos principais avanços na assistência médica, durante aquele
período, observa-se a luta dos sindicatos para que todos os institutos de seguridade social
prestassem assistência médica aos seus associados. Os IAPs que possuíam recursos
suficientes construíram hospitais próprios, surgindo, então os primeiros serviços médicos
particulares contratados pelas empresas. Este processo deu início aos convênios das
empresas, com grupos médicos, denominados ‘medicina de grupo’, que iriam caracterizar a
previdência social posteriormente (CEFOR, 2000). Outra característica do período, conforme
Cefor (2000) foi: “[...] o investimento na assistência médica hospitalar em detrimento da
atenção primária (centros de saúde), pois aquele era compatível com o crescente
desenvolvimento da indústria de equipamentos médicos e da indústria farmacêutica”.

8.1.4 O governo militar (1964 - 1980)

Bertolli Filho (1996) afirma que, no dia 31 de março de 1964, se deu o golpe de
Estado liderado pelos chefes das Forças Armadas, que colocou fim à agonizante democracia
populista. “Sob o pretexto de combater o avanço do comunismo e da corrupção e garantir a
segurança nacional, os militares impuseram ao país um regime ditatorial e puniram todos os
indivíduos e instituições que se mostraram contrários ao movimento autoproclamado
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
139
Revolução de 64”.

De acordo com o autor (Op. Cit.), o primeiro efeito do golpe militar sobre o
Ministério da Saúde foi a redução das verbas destinadas à saúde pública. Aumentadas na
primeira metade da década de 60, tais verbas decresceram até o final da ditadura. Apesar da
pregação oficial de que a saúde constituía um 'fator de produtividade, de desenvolvimento e
de investimento econômico', o que se via, na prática, era que o Ministério da Saúde
privilegiava a saúde como elemento individual e não como fenômeno coletivo, alterando
profundamente sua linha de atuação (BERTOLLI FILHO, 1996)

Naquele período, se deu também a fusão dos IAPs, com a criação do Instituto
Nacional de Previdência Social (INPS), fato que marcou a perda da representatividade dos
trabalhadores na gestão do sistema. Excetuando os trabalhadores do mercado informal de
trabalho, todos os demais eram cobertos pela Previdência Social. Em relação à assistência
médica, observa-se um movimento ainda mais expressivo de ampliação de cobertura.

Os gastos com assistência médica continuaram a crescer, chegando a representar


mais de 30% dos gastos totais do INPS em 1976. A ênfase foi dada à atenção individual,
assistencialista e especializada, em detrimento das medidas de saúde pública, de caráter
preventivo e de interesse coletivo. Por outro lado, a criação do INPS propiciou a
implementação de uma política de saúde que levou ao desenvolvimento do complexo
médico-industrial, em especial nas áreas de medicamentos e equipamentos médicos. Ao
mesmo tempo, e em nome da racionalidade administrativa, o INPS deu prioridade à
contratação de serviços de terceiros, em detrimento de serviços próprios.

No período de 1968 a 1975, de acordo com Cunha e Cunha (1998), observaram-se


os seguintes acontecimentos:

a) generalizou-se a demanda social por consultas médicas, como resposta às graves


condições de saúde;
b) o elogio da medicina como sinônimo de cura e de restabelecimento da saúde
individual e coletiva;
c) a construção ou reforma de inúmeras clínicas e hospitais privados, com
financiamento da Previdência Social;
d) a multiplicação de faculdades particulares de medicina por todo o país; e,
e) a organização e complementação da política de convênios entre o INPS e os
hospitais, clínicas e empresas de prestação de serviços médicos, em detrimento
dos recursos tradicionalmente destinados aos serviços públicos.

Certamente que tal política teve uma série de efeitos e consequências institucionais
e sociais, dentre elas a progressiva predominância de um sistema de atenção médica 'de
massa' (no sentido de 'massificado') sobre uma proposta de medicina social e preventiva.
Além disso, observou-se o surgimento e o rápido crescimento de um setor empresarial de
serviços médicos, constituídos por proprietários de empresas médicas centradas mais na
lógica do lucro do que na da saúde ou da cura de sua clientela.

Naquele período, deu-se também o desenvolvimento de um ensino médico


ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
140
desvinculado da realidade sanitária da população, voltado para a especialização e a
sofisticação tecnológica e dependente das indústrias farmacêuticas e de equipamentos
médico-hospitalares. Por fim, é importante salientar também a consolidação de uma relação
autoritária, mercantilizada e tecnicista entre médico e paciente e entre serviços de saúde e
população (LUZ, 1991).

Este período ficou marcado também por difundir a medicina comunitária, em apoio
à Organização Mundial de Saúde (OMS) e à Organização Pan-americana de Saúde
(OPAS/OMS). A medicina comunitária tinha como propósito técnicas de medicina
simplificada, utilizando a mão de obra local, os chamados agentes de saúde, e a participação
da comunidade. Dentre os trabalhos que buscaram a participação da comunidade na área de
saúde, observam-se aqueles ligados à igreja católica, os projetos ligados às universidades,
financiados por órgãos externos, e os projetos assumidos pelo governo, como o Programa de
Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (Piass), que objetivava a extensão dos
serviços de saúde à população carente.

De acordo com Cunha e Cunha (1998), após algum tempo de funcionamento, o INPS
enfrentou uma grave crise financeira, o que resultou no aumento de gastos, aumento da
demanda, dando origem a fraudes mediante inexistência de fiscalização dos serviços
executados pela rede privada. Assim, em 1978 houve nova tentativa de racionalização da
previdência e foi criado o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (Sinpas). Esse
período foi marcado pela definição das bases que permitiram a hegemonia do modelo
assistencial privatista, sustentado pelo seguinte tripé:

a) o Estado como financiador do sistema, através da Previdência Social;


b) o setor privado nacional como maior prestador de serviços de assistência médica;
e,
c) o setor privado internacional como o mais significativo produtor de insumos, em
especial equipamentos médicos e medicamentos (CUNHA & CUNHA, 1998).

8.1.5 As décadas de 1980 e 1990

Tendo o modelo econômico do regime miliar falido, a crise brasileira se agravou. Ao


mesmo tempo, a sociedade se mobilizava, exigindo liberdade, democracia e eleições diretas
para presidente. Há época, o presidente era o general João Figueiredo, o último general no
poder, que se viu obrigado a acelerar o processo de democratização do País. Extinguiu-se o
bipartidarismo imposto pelos militares e foram criados novos partidos políticos. Os
sindicatos ganharam maior liberdade e autonomia e as greves voltaram a marcar presença
no cotidiano das cidades brasileiras, como advoga Bertolli Filho (1996).

Esta reorganização, porém, se deu de forma lenta e conflituosa. As negociações


entre as forças políticas mais conservadoras e moderadas se sucederam, a partir das eleições
de 1982, e quase excluíram os sindicatos e partidos de esquerda, recém-saídos da
clandestinidade, apesar do seu sucesso eleitoral nos anos de 1982 e 1984. Durante as
eleições de 1986, porém, as forças conservadoras foram favorecidas, graças aos
procedimentos de corrupção eleitoral empregados desde a Primeira República (LUZ, 1991).

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


141
No que diz respeito à saúde, desde os anos 70 havia certa inquietação no interior do
Estado em virtude dos gastos crescentes voltados a esta. A incorporação de grandes
contingentes de trabalhadores no sistema, o desenvolvimento de novas tecnologias médicas
maios complexas (encarecendo o atendimento) e a má distribuição destes recursos,
tornavam a assistência médica previdenciária extremamente onerosa, como observa França
(1998). O movimento sanitário criticava o modelo hospitalocêntrico e propunha a ênfase em
cuidados primários e a prioridade do setor público. Entretanto, apenas na década de 1980 as
propostas defendidas pelos sanitaristas passaram a prevalecer no discurso oficial (FRANÇA,
1998).

Em 1981 foi criado o Conselho Consultivo de Administração de Saúde Previdenciária


(Conasp), que elaborou um novo plano de reorientação da assistência médica que, em linhas
gerais propunha melhorar a qualidade da assistência fazendo modificações no modelo
privatizante. A partir do que propunha o Conasp, surgiu o Programa de Ações Integradas de
Saúde, que ficou conhecido como AIS, cujo objetivo era integrar os serviços que prestavam a
assistência à saúde da população de uma região. Os governos estaduais, por meio de
convênios com os Ministérios da Saúde e Previdência, recebiam recursos para executar o
programa, sendo que as prefeituras participavam mediante adesão formal ao convênio.

Estes planos tinham como ideia a integração da saúde pública com a assistência
médica individual. Era uma aspiração antiga, que encontrava interesses contrários a sua
concretização nos grupos médicos privados e na própria burocracia do então Instituto
Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps). Cunha e Cunha (1998)
afirmam que em 1986 foi realizada a VIII Conferência Nacional de Saúde, em Brasília, com a
participação dos trabalhadores, do governo, usuários e parte dos prestadores de serviços de
saúde. Esta conferência, segundo os autores, foi um marco na formulação das propostas de
mudança do setor de saúde, já consolidadas pela Reforma Sanitária brasileira, e em seu
documento final:

[...] sistematiza o processo de construção de um modelo reformador para a


saúde, que é definida como 'resultante das condições de alimentação,
habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego,
lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É
assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da
produção, as quais podem gerar desigualdades nos níveis de vida. Este
documento serviu de base para as negociações na Assembleia Nacional
Constituinte (CUNHA & CUNHA, 1998).

Em 1988 a Assembleia Nacional Constituinte aprovou a nova Constituição Brasileira,


incluindo, pela primeira vez, uma seção sobre a Saúde, incorporando, em grande parte, os
conceitos e propostas da VIII Conferência Nacional de Saúde, podendo-se dizer que na
essência, a Constituição adotou a proposta da Reforma Sanitária e do SUS (RODRIGUEZ
NETO, 1998).

De acordo com o autor (Op. Cit.), durante o processo de elaboração da Carta


Magna, outra iniciativa de reformulação do sistema foi implementada, o Sistema Unificado e
Descentralizado de Saúde (Suds). Este sistema, idealizado enquanto estratégia de transição
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
142
em direção ao Sistema Único de Saúde, objetivava a transferência dos serviços do Inamps
para estados e municípios. Enquanto resultante dos embates e das diferentes propostas em
relação ao setor saúde presentes na Assembleia Nacional Constituinte, a Constituição
Federal de 1988 aprovou a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), reconhecendo a saúde
como um direito a ser assegurado pelo Estado e pautado pelos princípios de universalidade,
equidade, integralidade e organizado de maneira descentralizada, hierarquizada e com
participação da população. Acerca do SUS, sua constituição e principais características,
discorreremos na seção a seguir.

8.1.6 O Sistema Único de Saúde (SUS): principais características

O Sistema Único de Saúde foi criado pela Constituição de 1988, e regulamentado


dois anos depois pelas Leis no. 8080/90 e no. 8142/90. Trata-se de um conjunto de ações e
serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicos federais, estaduais e
municipais e, complementarmente, pela iniciativa privada, uma vez que se vincule ao
Sistema (MS, 1998).

Entende-se o SUS como um sistema, posto que é formado por várias instituições
dos três níveis de governo (União, Estados e Municípios), e pelo setor privado contratado e
conveniado, como se fosse um mesmo corpo. Assim, o serviço privado, quando é contratado
pelo SUS, deve atuar como se fosse público, usando as mesmas normas deste tipo de
serviço. É denominado de ‘único’, porque tem a mesma doutrina, a mesma filosofia de
atuação em todo o território nacional, sendo organizado de acordo com a mesma
sistemática. As suas principais características são, de acordo com Rodrigues Neto (1994):

 Deve atender a todos, de acordo com suas necessidades, independentemente de


que a pessoa pague ou não a Previdência Social e sem cobrar nada pelo
atendimento.
 Deve atuar de maneira integral, isto é, não deve ver a pessoa como um
amontoado de partes, mas como um todo, que faz parte de uma sociedade, o que
significa que as ações de saúde devem estar voltadas, ao mesmo tempo, para o
indivíduo e para a comunidade, para a prevenção e para o tratamento e respeitar
a dignidade humana.
 Deve ser descentralizado, ou seja, o poder de decisão deve ser daqueles que são
responsáveis pela execução das ações, pois, quanto mais perto do problema, mais
chance se tem de acertar sobre a sua solução. Isso significa que as ações e serviços
que atendem à população de um município devem ser municipais; as que servem
e alcançam vários municípios devem ser estaduais; e aquelas que são dirigidas a
todo o território nacional devem ser federais.
 Deve ser racional. Para isso, o SUS deve se organizar a partir de pequenas regiões
e ser planejado para as suas populações, de acordo com o que elas precisam. Isso
inclui a decisão sobre a necessidade de se contratar ou não serviços privados; e
quando se decide pela contratação, que o contrato seja feito nesse nível, para
cumprir funções bem definidas e sob controle direto da instituição pública
contratante. É essencial, conforme o princípio da descentralização, que essas
decisões sejam tomadas por uma autoridade de saúde no nível local. É a isso que
se chama Distrito Sanitário.
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
143
 Deve ser eficaz e eficiente. Isto é, deve produzir resultados positivos quando as
pessoas o procuram ou quando um problema se apresenta na comunidade; para
tanto precisa ter qualidade. Deve ser democrático, ou seja, deve assegurar o
direito de participação de todos os seguimentos envolvidos com o sistema -
dirigentes institucionais, prestadores de serviços, trabalhadores de saúde e,
principalmente, a comunidade, a população, os usuários dos serviços de saúde.
Esse direito implica a participação de todos esses segmentos no processo de
tomada de decisão sobre as políticas que são definidas no seu nível de atuação,
assim como no controle sobre a execução das ações e serviços de saúde. Dessa
forma, o SUS, como parte da Reforma Sanitária é um processo que estará sempre
em aperfeiçoamento e adaptação (RODRIGUES NETO, 1994).

8.2 Legislação em Saúde Pública

A saúde resulta das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio


ambiente, trabalho, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra, além do acesso aos
próprios serviços de saúde. O conceito ampliado de saúde diz respeito à qualidade de vida,
não apenas à ausência de doenças. Este capítulo visa objetva apresentar a legislação básica
do SUS para contribuir na formação profissional, mas também, para que o estudante se
empodere e possa orientar as pessoas ao seu redor sobre o direito aos serviços de saúde que
lhes são assegurados por lei, lhes explicando no que consistem e dando orientações de como
garanti-los de maneira efetiva.

Neste sentido, observam-se as principais legislações que norteiam o Sistema Único


de Saúde. Ao final, traremos uma discussão sobre participação popular e o controle social.

 Constituição Federal de 1988:

Os artigos 196º ao 200º são específicos sobre a saúde. A seguir, seguem trechos
destes da Carta Magna, publicada em 1988.

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.

Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder
Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa
física ou jurídica de direito privado.

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;


II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
144
prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.
(...)

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do


sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou
convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.
§ 2º - É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às
instituições privadas com fins lucrativos.
§ 3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais
estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei. § 4º - A lei
disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e
substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta,
processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de
comercialização.

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos
termos da lei:
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a
saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos,
hemoderivados e outros insumos;
II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de
saúde do trabalhador;
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento
básico;
V - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico;
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor
nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano;
VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e
utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

 Leis Orgânicas da Saúde:

As Leis 8080/90 e 8142/90 são chamadas Leis Orgânicas da Saúde (LOS). Trata-se de
leis complementares que detalham a organização e o funcionamento do novo sistema de
saúde estabelecido pela Constituição Federal.

Lei 8080 de 19/09/1990: Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e


recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá
outras providências.

Lei 8142 de 28/12/1990: Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do


Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
145
financeiros na área da saúde e dá outras providências.

 Pacto pela Saúde:

Em 2006, os gestores do SUS assumiram o compromisso público da construção do


Pacto pela Saúde 2006, com base nos princípios constitucionais do SUS e ênfase nas
necessidades de saúde da população. O Pacto pela Saúde define prioridades articuladas e
integradas em três componentes: Pacto pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pacto de
Gestão do SUS (BRASIL, 2010).

O Pacto pela Vida se constitui de um conjunto de compromissos sanitários,


traduzidos em objetivos de processos e resultados, derivados da análise da situação de
saúde do País e das prioridades definidas pelos governos federal, estadual e municipal. O
Pacto pela Vida pressupõe:

 Definir e pactuar as metas locais;


 Definir estratégias para alcançar as metas;
 Instituir um processo de monitoramento.

As prioridades atuais do Pacto pela Vida são (BRASIL, 2010):

I – atenção à saúde do idoso;


II – controle do câncer de colo de útero e de mama;
III – redução da mortalidade infantil e materna;
IV – fortalecimento da capacidade de respostas às doenças emergentes e endemias,
com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária, influenza, hepatite,
AIDS;
V – promoção da saúde;
VI – fortalecimento da atenção básica;
VII – saúde do trabalhador;
VIII – saúde mental;
IX – fortalecimento da capacidade de resposta do sistema de saúde às pessoas com
deficiência;
X – atenção integral às pessoas em situação ou risco de violência; e,
XI – saúde do homem.

O Pacto em Defesa do SUS passa por um movimento de repolitização da saúde, com


clara estratégia de mobilização social vinculada ao processo de instituição da saúde como
direito de cidadania, tendo o financiamento público da saúde como um de seus pontos
centrais. O Pacto em Defesa do SUS pressupõe, conforme Brasil (2010):

 Discutir nos conselhos municipais e estaduais as ações e estratégias para a


concretização desta proposta;
 Priorizar espaços com a sociedade civil para realizar as ações previstas;
 Lutar por um adequado financiamento.

O Pacto de Gestão estabelece as responsabilidades de cada ente federado, de


ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
146
forma a tornar mais claro quem deve fazer o quê, contribuindo, assim, para o fortalecimento
da gestão compartilhada e solidária do SUS. Propõe, ainda, avançar na regionalização e
descentralização do SUS, respeitando-se as especificidades regionais. O Pacto de Gestão
pressupõe (BRASIL, 2010):

 Assumir de maneira efetiva as responsabilidades sanitárias inerentes a cada esfera


de gestão;
 Reforçar a territorialização da saúde, como base para a organização dos sistemas,
estruturando-se as regiões sanitárias;
 Instituir colegiados de gestão regional;
 Buscar critérios de alocação equitativa dos recursos financeiros; e,
 Reforçar os mecanismos de transferência fundo a fundo entre gestores.

8.2.1 Participação e controle social

Em seus estudos, Rolim; Cruz; Sampaio (2013) observaram que a participação


popular na gestão da saúde está prevista pela Constituição Federal de 1998, em seu artigo
198, que trata das diretrizes do SUS: descentralização, integralidade e a participação da
comunidade. Tais diretrizes orientam a organização e o funcionamento do sistema, cujo
objetivo é torná-lo mais adequado a atender às necessidades da população brasileira.

Os Conselhos e Conferências de Saúde são os principais espaços para o exercício da


participação e do controle social sobre a implementação das políticas de saúde em todas as
esferas governamentais (BRASIL, 2009). Os Conselhos de Saúde permitem a participação da
população, para que esta possa intervir no processo da gestão das políticas públicas, de
modo que, em conjunto com o órgão gestor, criem estratégias, controle, fiscalização e
deliberação sobre destas políticas em cada esfera do governo, constituindo-se, ainda, em
espaços democráticos para a construção de uma nova ordem capaz de revigorar o sentido
autentico de liberdade, democracia e igualdade social.

No que tange às Conferências Nacionais de Saúde, observam-se temas centrais,


norteadores das discussões e debates. A exemplo disto se pode citar a 14ª Conferência, cujo
tema central foi “Todos usam o SUS! SUS na Seguridade Social, Política Pública, patrimônio
do Povo Brasileiro”. Este tema englobou vários outros assuntos considerados como desafios
para o sistema, tais como as questões do acesso e acolhimento com qualidade, a
participação da comunidade e o controle social, a política de saúde na seguridade social,
financiamento, e o Pacto pela Saúde e as relações público-privadas, com vistas a fortalecer o
SUS (CONASS, 2011).

Embora esteja prevista na lei, a participação social é um processo, em permanente


construção, comportando avanços e recuos, dependendo, por vezes, de ampla mobilização
da comunidade na defesa de seus direitos. Como observa o Conass (2011):

Buscar fortalecer a gestão participativa, nas três esferas de governo,


contemplando todos os componentes da Política Nacional de Gestão
Estratégica e Participativa, fortalecendo o planejamento estratégico entre
todos os setores e os Conselhos de Saúde, no sentido de contribuir para
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
147
articular, mobilizar e estimular a participação popular na elaboração e
modificação dos termos de compromisso do pacto de gestão, para defender
o SUS, mudança no modelo de atenção e fortalecer a participação popular,
com vistas a uma atenção à saúde universal e de qualidade, são alguns dos
objetivos que devemos pleitear.

8.3 Vigilância em Saúde

Como citado em Brasil (2010), a vigilância em saúde objetiva a observação e análise


permanentes da situação de saúde da população, articulando-se em um conjunto de ações
destinadas a controlar determinantes, riscos e danos à saúde de populações que vivem em
determinados territórios, lhes garantindo a integralidade da atenção, incluindo tanto a
abordagem individual como coletiva dos problemas de saúde (BRASIL, 2010).

Segundo as diretrizes nacionais de vigilância em saúde, os componentes da


vigilância em saúde são as ações de vigilância, promoção, prevenção e controle de doenças e
agravos à saúde. Enquanto conceitos de vigilância em saúde observam-se: a vigilância e o
controle das doenças transmissíveis; a vigilância das doenças e agravos não transmissíveis; a
vigilância da situação de saúde, a vigilância ambiental em saúde, vigilância da saúde do
trabalhador e a vigilância sanitária.

A seguir, veremos as ações de cada componente da vigilância em saúde, segundo a


diretriz nacional (BRASIL, 2010):

 Vigilância epidemiológica:

Trata-se de um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou


prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes da saúde
individual ou coletiva. Tem como a finalidade recomendar e adotar as medidas de prevenção
e controle das doenças ou agravos. A vigilância epidemiológica se propõe fornecer
orientação técnica permanente para os que têm a responsabilidade de decidir sobre a
execução de ações de controle de doenças e agravos. Dentre as suas funções estão:

a) coleta e processamento de dados;


b) análise e interpretação dos dados processados;
c) divulgação das informações;
d) investigação epidemiológica de casos e surtos;
e) análise dos resultados obtidos; e,
f) recomendações e promoção das medidas de controle indicadas.

 Vigilância da situação de saúde:

A vigilância da situação de saúde desenvolve ações de monitoramento contínuo do


País, bem como do estado, região, município e território, mediante estudos e análises que
revelem o comportamento dos principais indicadores de saúde, priorizando questões
relevantes e contribuindo para um planejamento de saúde mais abrangente.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


148
 Vigilância em saúde ambiental:

Tem como objetivo o conhecimento e a detecção ou prevenção de qualquer


mudança nos fatores determinantes e condicionantes do ambiente que interferiram na
saúde humana. Além disso, busca recomendar e adotar medidas de prevenção e controle
dos fatores de risco, relacionados às doenças e outros agravos à saúde, com prioridade para
a vigilância da qualidade da água para consumo humano, ar e solo, bem como desastres de
origem natural, substâncias químicas, acidentes com produtos perigosos, fatores físicos e
ambiente de trabalho.

 Vigilância em saúde do trabalhador:

No que diz respeito à vigilância em saúde do trabalhador, esta se caracteriza por ser
um conjunto de atividades destinadas à promoção e proteção, recuperação e reabilitação da
saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de
trabalho.

 Vigilância sanitária:

Observa-se a vigilância sanitária enquanto um conjunto de ações capazes de


eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários
decorrentes do meio ambiente, na produção e circulação de bens e na prestação de serviços
de interesse da saúde. Engloba o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente,
se relacionem com a saúde, sendo compreendidas todas as etapas e processos, da produção
ao consumo, além do controle da prestação de serviços que, direta ou indiretamente, se
relacionam à saúde.

É importante salientar, como aspecto fundamental da vigilância em saúde, o


cuidado integral com a saúde das pessoas, por meio da sua promoção. Esta política tem
como objetivo promover a qualidade de vida, o empoderamento da população, de forma a
reduzir a vulnerabilidade e os riscos à saúde relativos aos seus determinantes e
condicionantes, que são os modos de viver, as condições de trabalho, habitação, ambiente
educação, lazer, cultura e acesso a bens e serviços essenciais.

Conforme citado em Brasil (2010, p. 21):

Suas ações específicas são voltadas para: alimentação saudável, prática


corporal/atividade física, prevenção e controle do tabagismo, redução da
morbimortalidade em decorrência do uso de álcool e outras drogas,
redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito, prevenção da
violência e estímulo à cultura da paz, além da promoção do
desenvolvimento sustentável.

8.3.1 Sistemas de Informação em Saúde (SIS)

A informação é instrumento essencial para a tomada de decisões, apresentando-se

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


149
como ferramenta imprescindível para a vigilância epidemiológica, uma vez que constitui
fator desencadeador do processo “informação-decisão-ação”. Esta tríade sintetiza a
dinâmica de suas atividades que, como se sabe, devem ser iniciadas a partir da informação
de um indício ou suspeita de caso de alguma doença ou agravo (BRASIL, 2005).

Neste processo, observa-se o dado e a informação. De acordo com o Guia de


Vigilância Epidemiológica, define-se dado enquanto valor quantitativo referente a um fato
ou circunstância ou o número bruto que ainda não sofreu qualquer espécie de tratamento
estatístico ou, ainda, a matéria-prima da produção de informação. No que tange à
informação, se trata do conhecimento obtido a partir dos dados, o dado trabalhado ou o
resultado da análise e combinação de vários dados, implicando na interpretação por parte
do usuário. É uma descrição de uma situação real, associada a um referencial explicativo
sistemático (BRASIL, 2005).

É importante não perder de vista que a informação em saúde é o esteio para a


gestão dos serviços, uma vez que orienta a implantação, acompanhamento e avaliação dos
modelos de atenção à saúde e das ações de prevenção e controle de doenças. Interessam
também os dados/informações produzidos extrassetorialmente, cabendo aos gestores do
Sistema a articulação com os diversos órgãos que os produzem, de forma a complementar e
estabelecer um fluxo regular de informação em cada nível do setor saúde.

No Sistema de Vigilância Epidemiológica ou Vigilância em Saúde, as principais


características que determinam a qualidade da informação e que são fundamentais para que
todo o sistema apresente bom desempenho são a oportunidade, a atualidade, a
disponibilidade e a cobertura.

Definem-se os Sistemas de Informação em Saúde (SIS) enquanto um conjunto de


componentes inter-relacionados, que coletam, processam, armazenam e distribuem a
informação para apoiar o processo de tomada de decisão, auxiliando no controle das
organizações de saúde. Como premissa básica, o sistema deve contribuir para a melhoria da
qualidade, da eficiência e da eficácia do atendimento em saúde, possibilitando a realização
de pesquisa, o fornecimento de evidência e auxiliando no processo de ensino (BRASIL, 2005).

Quando se trata das finalidades principais, conforme observado no Guia de


Vigilância Epidemiológica, pode-se afirmar que um SIS deve servir para gerenciar a
informação que os profissionais de saúde precisam para desempenhar as suas atividades
com efetividade e eficiência, facilitar a comunicação, integrar a informação e coordenar as
ações entre os múltiplos membros da equipe profissional de atendimento, fornecendo
recursos para apoio financeiro e administrativo.

Em síntese, um sistema de informação deve disponibilizar o suporte


necessário para que o planejamento, decisões e ações dos gestores, em
determinado nível decisório (municipal, estadual e federal), não se baseie
em dados subjetivos, conhecimentos ultrapassados ou conjecturas (Brasil,
2005).

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


150
O SIS constituído por vários subsistemas e tem como propósito geral facilitar a
formulação e avaliação das políticas, planos e programas de saúde, subsidiando o processo
de tomada de decisões. Neste sentido, deve contar com os requisitos técnicos e profissionais
necessários ao planejamento, coordenação e supervisão das atividades relativas à coleta,
registro, processamento, análise, apresentação e difusão de dados e geração de informações
(BRASIL, 2005).

Conforme concebe o SUS, um dos objetivos básicos do SIS é possibilitar a análise da


situação de saúde no nível local tomando como referencial microrregiões homogêneas e
considerando, necessariamente, as condições de vida da população na determinação do
processo saúde-doença. O nível local tem, então, responsabilidade não apenas com a
alimentação do sistema de informação em saúde, mas também com sua organização e
gestão. O sistema de informação deve ser hierarquizado e com fluxo ascendente para que os
dados ocorram de modo inversamente proporcional à agregação geográfica, ou seja, em
nível local faz-se necessário dispor, para as análises epidemiológicas, de maior número de
variáveis (BRASIL, 2005).

Entre os sistemas nacionais de informação em saúde existentes, alguns se destacam


em razão de sua maior relevância para a vigilância epidemiológica, segundo o Guia de
Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde (BRASIL, 2005), os quais serão
apresentados a seguir.

8.3.2 Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM)

O Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) foi criado em 1975, iniciando a


sua fase de descentralização em 1991, tendo seus dados informatizados a partir de 1979.
Tem como instrumento padronizado de coleta de dados a Declaração de Óbito (DO), que
deve ser impressa em três vias coloridas, tendo a sua emissão e distribuição para os estados
como competência exclusiva do Ministério da Saúde. No que diz respeito aos municípios, a
sua distribuição fica a cargo das secretarias estaduais de saúde, cabendo às secretarias
municipais a responsabilidade por seu controle e distribuição entre os profissionais médicos
e instituições que a utilizem, assim como pelo recolhimento das primeiras vias em hospitais e
cartórios.

O DO deve ter o seu preenchimento realizado exclusivamente por médicos, exceto


em locais onde estes não existam. Nestes casos, o DO poderá ser preenchido por oficiais de
Cartórios de Registro Civil, assinado por duas testemunhas. A obrigatoriedade de seu
preenchimento, para todo óbito ocorrido, é determinada pela Lei Federal n° 6.015/73. Em
tese, nenhum sepultamento deveria ocorrer sem prévia emissão da DO. Mas, na prática,
sabe-se da ocorrência de sepultamentos irregulares, em cemitérios clandestinos (e,
eventualmente, mesmo em cemitérios oficiais), o que afeta o conhecimento do real perfil de
mortalidade, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste (BRASIL, 2005).

O registro do óbito deve ser feito no local de ocorrência do evento. O Guia de


Vigilância Epidemiológica observa (BRASIL, 2005):

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


151
Embora o local de residência seja a informação comumente mais utilizada,
na maioria das análises do setor saúde, a ocorrência é fator importante no
planejamento de algumas medidas de controle, como, por exemplo, no
caso dos acidentes de trânsito e doenças infecciosas que exijam a adoção
de medidas de controle no local de ocorrência. Os óbitos ocorridos fora do
local de residência serão redistribuídos, quando do fechamento das
estatísticas, pelas secretarias estaduais e Ministério da Saúde, permitindo,
assim, o acesso aos dados tanto por ocorrência como por residência do
falecido.

As informações que são obtidas pela DO também possibilitam o delineamento do


perfil de morbidade de uma área, quando se trata das doenças mais letais e das doenças
crônicas não sujeitas à notificação compulsória, representando, praticamente, a única fonte
regular de dados. Para as doenças de notificação compulsória, a utilização eficiente desta
fonte de dados depende da verificação rotineira da presença desses agravos no banco de
dados do SIM. Deve-se também checar se as mesmas constam no Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (Sinan), bem como a evolução do caso para óbito.

A segunda via deste documento ficará retida no cartório, enquanto que a primeira e
terceira vias devem ser recolhidas pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Nos óbitos por
causas acidentais ou violentas, o médico legista do Instituto Médico Legal (IML) deverá
preencher a DO (nos locais onde não exista IML um perito é designado para tal finalidade),
seguindo-se o mesmo fluxo adotado para os hospitais.

As SMS realizarão a busca ativa dessas vias em todos os hospitais e cartórios,


evitando a perda de registro de óbitos no SIM, com consequente perfil irreal da mortalidade
da sua área de abrangência. Nas SMS, as primeiras vias são digitadas e enviadas em
disquetes para as Regionais, que fazem o consolidado de sua área e o enviam para as
secretarias estaduais de saúde, que consolidam os dados estaduais e os repassam para o
Ministério da Saúde, de acordo com orientações do Guia de Vigilância Epidemiológica
(BRASIL, 2005).

Em todos os níveis, sobretudo no municipal, que está mais próximo do evento, deve
ser realizada a crítica dos dados, buscando a existência de inconsistências como, por
exemplo, causas de óbito exclusivas de um sexo sendo registradas em outro, causas
perinatais em adultos, registro de óbitos fetais com causas compatíveis apenas com nascidos
vivos e idade incompatível com a doença.

A análise dos dados do SIM possibilita a construção de importantes indicadores para


o delineamento do perfil de saúde de uma região. Com base nas informações contidas nesse
Sistema, pode-se obter a mortalidade proporcional por causas, faixa etária, sexo, local de
ocorrência e residência e letalidade de agravos dos quais se conheça a incidência, bem como
taxas de mortalidade geral, infantil, materna ou por qualquer outra variável contida na DO,
posto que são disponibilizadas várias formas de cruzamento dos dados. Entretanto, em
muitas áreas, o uso dessa rica fonte de dados é prejudicado em função do não
preenchimento correto das DO, com omissão de dados como, por exemplo, estado
gestacional ou puerperal, ou pelo registro excessivo de causas mal definidas, prejudicando o

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


152
uso dessas informações nas diversas instâncias do sistema de saúde. Estas análises devem
ser realizadas em todos os níveis do sistema, sendo subsídios fundamentais para o
planejamento de ações dos gestores (BRASIL, 2005).

8.3.3 Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc)

O número de nascidos vivos é uma importante informação para o campo da saúde


pública, uma vez que possibilita a constituição de indicadores voltados para a avaliação de
riscos à saúde do segmento materno-infantil, a exemplo dos coeficientes de mortalidade
infantil e materna, nos quais representa o denominador. Para tanto, foi criado o Sistema de
Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc). Antes da sua implantação, em 1990, esta
informação só era conhecida no Brasil por estimativas realizadas a partir da informação
censitária, como observado no Guia de Vigilância Epidemiológica (BRASIL, 2005).

O instrumento padronizado para a coleta de dados do Sinasc é a Declaração de


Nascido Vivo (DN), cuja emissão compete exclusivamente ao Ministério da Saúde. Tanto a
emissão da DN como o seu registro em cartório serão realizados no município de ocorrência
do nascimento, devendo ser preenchida nos hospitais e outras instituições de saúde que
realizam parto, e nos Cartórios de Registro Civil, na presença de duas testemunhas, quando
o nascimento ocorre em domicílio sem assistência de profissional de saúde. Desde 1992 sua
implantação ocorre de forma gradual. De acordo com os dados do Guia de Vigilância
Epidemiológica publicado em 2005, desde aquele período vem apresentando em muitos
municípios um volume maior de registros do que aqueles publicado nos anuários do IBGE,
com base nos dados dos Cartórios de Registro Civil (BRASIL, 2005).

A DN deve ser preenchida para todos os nascidos vivos no País, correspondendo, de


acordo com a OMS:

[...] a todo produto da concepção que, independentemente do tempo de


gestação ou peso ao nascer, depois de expulso ou extraído do corpo da
mãe, respire ou apresente outro sinal de vida tal como batimento cardíaco,
pulsação do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos músculos de
contração voluntária, estando ou não desprendida a placenta.

A obrigatoriedade desse registro é também dada pela Lei n° 6.015/73. No caso de


gravidez múltipla, deve ser preenchida uma DN para cada criança nascida viva. Os
formulários para a DN, são previamente enumerados, impressos em três vias coloridas,
assim como acontece com a DO, e distribuídos às SES pela SVS/MS. Anteriormente, as SES e
encarregavam de sua distribuição aos estabelecimentos de saúde e cartórios. Preconizou-se,
então que este seria o papel das SMS, apesar de que isto ainda não ocorre em todo o
território nacional.

Estudos revelam que a utilização dos dados deste sistema para o planejamento e
tomada de decisões nas três esferas de governo ainda é incipiente. De modo geral, como
denominador para o cálculo de taxas como as de mortalidade infantil e materna, por
exemplo. Apesar disso, alguns indicadores vêm sendo propostos - a grande maioria voltada à

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


153
avaliação de risco da mortalidade infantil e a qualidade da rede de atenção à gravidez e ao
parto.

Entre os indicadores de interesse para a atenção à saúde materno-infantil, são


imprescindíveis as informações contidas na DN, tais como: proporção de nascidos vivos de
baixo peso, proporção de nascimentos prematuros, proporção de partos hospitalares,
proporção de nascidos vivos por faixa etária da mãe, valores do índice Apgar no primeiro e
quinto minutos, número de consultas pré-natais realizadas para cada nascido vivo, dentre
outros. Além desses, podem ainda ser calculados indicadores clássicos voltados à
caracterização geral de uma população, como a taxa bruta de natalidade e a taxa de
fecundidade geral.

8.3.4 Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS)

O Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) foi concebido com o propósito de


operar o sistema de pagamento de internação dos hospitais contratados pelo Ministério da
Previdência. Posteriormente, foi estendido aos hospitais filantrópicos, universitários e de
ensino, além dos hospitais públicos municipais, estaduais e federais. Nesse último caso,
somente aos da administração indireta e de outros ministérios (BRASIL, 2005).

O SIH/SUS reúne informações de cerca de 70% dos internamentos hospitalares


realizados no País. Neste sentido, se trata de grande fonte das enfermidades que exigem
internação, importante para o conhecimento da situação de saúde e gestão de serviços.
Ressalte-se sua gradativa incorporação à rotina de análise e informações de alguns órgãos de
vigilância epidemiológica dos estados e municípios.

Como instrumento de coleta de dados, o SIH/SUS utiliza a Autorização de


Internação Hospitalar (AIH), emitida pelos estados a partir de uma série numérica única,
definida anualmente em portaria ministerial. Este formulário contém, entre outros, os dados
de atendimento, com os diagnósticos de internamento e alta, codificados de acordo com a
Classificação Internacional de Doenças (CID), informações relativas às características de
pessoa (idade e sexo), tempo e lugar (procedência do paciente) das internações,
procedimentos realizados, valores pagos e dados cadastrais das unidades de saúde, que
permitem sua utilização para fins epidemiológicos.

O banco de dados correspondente ao cadastro de todas as unidades prestadoras de


serviços hospitalares credenciadas ao SUS é permanentemente atualizado, sempre a cada
novo credenciamento, descredenciamento ou qualquer modificação de alguma característica
da unidade de saúde. Os arquivos disponibilizados podem ser de dois tipos: o denominado
“movimento”, no qual constam todos os dados, e o chamado “reduzido”, no qual não
aparecem os dados relativos aos serviços profissionais. De acordo com dados obtidos no
Guia de Vigilância Epidemiológica (BRASIL, 2005):

O SIH/SUS foi desenvolvido para propiciar a elaboração de alguns


indicadores de avaliação de desempenho de unidades, além do
acompanhamento dos números absolutos relacionados à frequência de
AIHs e que vêm sendo cada vez mais utilizados pelos gestores para uma
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
154
primeira aproximação da avaliação de cobertura de sua rede hospitalar, e
até para a priorização de ações de caráter preventivo.

Observam-se algumas limitações enfrentadas pelo SIH/SUS, tais como a cobertura


dos dados (que depende do grau de utilização e acesso da população aos serviços da rede
pública própria, contratada e conveniada ao SUS); a ausência de críticas informatizadas; a
possibilidade de haver informações pouco confiáveis sobre o endereço do paciente; as
distorções decorrentes de falsos diagnósticos; e o menor número de internamentos que o
necessário, em função das restrições de recursos federais – problemas que podem resultar
em vieses nas estimativas.

8.3.5 Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA/SUS)

O Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA/SUS) foi formalmente implantado em


1991, em todo o território nacional, objetivando ser um instrumento de ordenação do
pagamento dos serviços ambulatoriais, públicos e conveniados, possibilitando aos gestores a
informação do gasto por natureza jurídica do prestador. O total de consultas e exames
realizados era fornecido por outro sistema, cuja finalidade era puramente estatística,
trazendo como documento de entrada de dados o Boletim de Serviços Produzidos (BSP) e o
único produto resultante, a publicação Inamps em Dados.

O SIA/SUS sofreu algumas alterações com vistas ao melhor controle e consistência


de dados. Entretanto, pouco mudou desde a sua implantação. Como observado no Guia de
Vigilância Epidemiológica, por obedecer à lógica de pagamento por procedimento, não
registra a CID do(s) diagnóstico(s) dos pacientes e não pode ser utilizado como informação
epidemiológica, ou seja, seus dados não permitem delinear os perfis de morbidade da
população, a não ser pela inferência a partir dos serviços utilizados (BRASIL, 2005). Todavia,
uma que vez que a sua unidade de registro de informações é o procedimento ambulatorial
realizado, desagregado em atos profissionais, outros indicadores operacionais podem ser
importantes como complemento das análises epidemiológicas, tais como: número de
consultas médicas por habitante/ano; número de consultas médicas por consultório; número
de exames/terapias realizados pelo quantitativo de consultas médicas. A partir de julho de
1994, as informações relacionadas a esse sistema estão disponíveis no site
www.datasus.gov.br.

Como importante módulo, observa-se o cadastramento de unidades ambulatoriais


contratadas, conveniadas e da rede pública própria dos estados e municípios, bem como as
informações sobre profissionais por especialidade. No momento da análise de seus dados,
deve-se atentar para as questões relativas à cobertura, acesso, procedência e fluxo dos
usuários dos serviços de saúde.

8.3.6 Sistema de Informação da Atenção Básica (Siab)

Denomina-se Sistema de Informação da Atenção Básica (Siab) todo o sistema de


informação territorializado que coleta dados que possibilitam a construção de indicadores
populacionais referentes a áreas de abrangência bem delimitadas, cobertas pelo Programa

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


155
de Agentes Comunitários de Saúde e Programa Saúde da Família.

A sua base de dados é composta por três blocos, a saber: a) o cadastramento


familiar (indicadores sociodemográficos dos indivíduos e de saneamento básico dos
domicílios); b) o acompanhamento de grupos de risco (menores de dois anos, gestantes,
hipertensos, diabéticos, pessoas com tuberculose e pessoas com hanseníase); e c) o registro
de atividades, procedimentos e notificações (produção e cobertura de ações e serviços
básicos, notificação de agravos, óbitos e hospitalizações).

De acordo com o Guia de Vigilância Epidemiológica, os níveis de agregação do Siab


são: microárea de atuação do agente comunitário de saúde (território onde residem cerca de
150 famílias), área de abrangência da equipe de Saúde da Família (território onde residem
aproximadamente mil famílias), segmento, zonas urbana e rural, município, estado, regiões e
país. Deste modo, o Sistema possibilita a microlocalização de problemas de saúde como, por
exemplo, a identificação de áreas com baixas coberturas vacinais ou altas taxas de
prevalência de doenças (como tuberculose e hipertensão), o que permite a espacialização
das necessidades e respostas sociais, se constituindo como uma importante ferramenta para
o planejamento e avaliação das ações de vigilância da saúde (BRASIL, 2005).

8.3.7 Sistema de Informações de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan)

O Sistema de Informação de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) é um


instrumento de políticas federais, focalizadas e compensatórias. Dados de 2005 afirmam que
a sua atuação compreendia, aproximadamente, 1.600 municípios considerados de risco para
a mortalidade infantil. Este sistema disponibiliza informações sobre o programa de
recuperação de crianças desnutridas e gestantes sob risco nutricional (BRASIL, 2005).

8.3.8 Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI)

Implantado em todos os municípios brasileiros, o Sistema de Informações do


Programa Nacional de Imunização (SI-PIN) fornece dados relativos à cobertura vacinal de
rotina e, em campanhas, taxa de abandono e controle do envio de boletins de imunização.
Além do módulo de avaliação do PNI, este sistema dispõe de um subsistema de estoque e
distribuição de imunobiológicos, para fins gerenciais (BRASIL, 2005).

8.4 Laboratórios de Saúde Pública

Os laboratórios de saúde pública têm como função primordial promover atividades


voltadas para o controle epidemiológico e sanitário de uma população. Suas principais ações
estão fundamentadas em critérios epidemiológicos, tanto no campo da análise clínica
quanto na resolução de problemas prioritários de saúde pública (BRASIL, 2004).

Para cumprir devidamente as suas funções, o laboratório de saúde pública busca


atender àdemanda analítica de produtos afetos à vigilância sanitária, tais como alimentos,
medicamentos e saneantes domissanitários. Além disso, realiza diagnósticos clínicos e
epidemiológicos, a partir de amostras oriundas de pacientes suspeitos de doenças de
interesse sanitário (Brasil, 2004).
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
156
Observa-se a seguir, na íntegra, a legislação que dispõe sobre a organização do
Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública, de acordo com a Portaria n. 2.031 de
2004.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


157
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RODRIGUEZ NETO, E. A reforma sanitária e o Sistema Único de Saúde: suas origens, suas
propostas, sua implantação, suas dificuldades e suas perspectivas. In: MINISTÉRIO DA
SAÚDE. NESP. Incentivo a participação popular e controle social no SUS: textos para
Conselheiros de Saúde. Brasília: MS, p.7-17, 1998.

ROLIM, L. B; CRUZ, R. S. B. L. C.; SAMPAIO, K. J. A. J. Participação popular e o controle social


como diretriz do SUS: uma revisão narrativa. Saúde em Debate. Rio de Janeiro, v. 37, n. 96,
p. 139-147, jan./mar. 2013.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


159
ANEXO A – LEGISLAÇÃO SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE
LABORATÓRIOS DE SAÚDE PÚBLICA

PORTARIA Nº 2.031, DE 23 DE SETEMBRO DE 2004

Dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública.

O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso de suas atribuições, e Considerando o


disposto na alínea b do inciso III do art. 16 da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990; e
Considerando a necessidade da reestruturação do Sistema Nacional de Laboratórios de
Saúde Pública, resolve:

CAPÍTULO I

DO SISTEMA
Art. 1º O Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública – SISLAB é um conjunto
de redes nacionais de laboratórios, organizadas em sub-redes, por agravos ou programas, de
forma hierarquizada por grau de complexidade das atividades relacionadas à vigilância em
saúde - compreendendo a vigilância epidemiológica e vigilância em saúde ambiental,
vigilância sanitária e assistência médica.

CAPÍTULO II

DA ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE LABORATÓRIOS DE SAÚDE PÚBLICA


Seção I
Dos Componentes do Sistema

Art. 2º O SISLAB será constituído por quatro redes nacionais de laboratórios, com as
seguintes denominações:

I - Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância Epidemiológica;


II - Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância em Saúde Ambiental;
III - Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância Sanitária; e
IV - Rede Nacional de Laboratórios de Assistência Médica de Alta Complexidade.

Parágrafo único. As redes serão estruturadas em sub-redes específicas por agravos


ou programas, com a identificação dos respectivos laboratórios de referência, área
geográfica de abrangência e suas competências.

Art. 3º As unidades integrantes da Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância


Epidemiológica executam as seguintes atividades principais:

I - diagnóstico de doenças de notificação compulsória;


II - vigilância de doenças transmissíveis e não transmissíveis;
III - monitoramento de resistência antimicrobiana; e
IV - definição da padronização dos kits diagnósticos a serem utilizados na Rede.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


160
Art. 4º As unidades integrantes da Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância em
Saúde Ambiental executam as seguintes atividades principais:

I - vigilância da qualidade da água para consumo humano;


II - vigilância da qualidade do ar;
III - vigilância da qualidade do solo;
IV - vigilância de fatores ambientais físicos e químicos;
V - vigilância de fatores ambientais biológicos (vetores, hospedeiros, reservatórios e
animais peçonhentos); e
VI - monitoramento de populações humanas expostas aos fatores ambientais
biológicos, químicos e físicos.

Art. 5º As unidades integrantes da Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância


Sanitária realizam análises laboratoriais relacionadas às funções do Sistema Nacional de
Vigilância Sanitária em:

I - produtos, tais como: alimentos, medicamentos, cosméticos e saneantes;


II - imunobiológicos e hemoderivados;
III - toxicologia humana;
IV - contaminantes biológicos e não-biológicos em produtos relacionados à saúde;
V - produtos, materiais e equipamentos de uso para a saúde; e
VI - vigilância em portos, aeroportos e fronteiras.

Art. 6º As unidades integrantes da Rede Nacional de Laboratórios de Assistência


Médica de Alta Complexidade executam atividades de apoio complementar ao diagnóstico
de doenças e outros agravos à saúde.

Art. 7º O SISLAB é organizado de forma hierarquizada e tem suas ações executadas


nas esferas federal, estadual e municipal, em consonância com os princípios do Sistema
Único de Saúde – SUS.

Art. 8º As sub-redes serão estruturadas, sendo observadas as suas especificidades,


de acordo com a seguinte classificação de unidades laboratoriais:

I - Centros Colaboradores - CC;


II - Laboratórios de Referência Nacional – LRN;
III - Laboratórios de Referência Regional – LRR; IV - Laboratórios de Referência
Estadual – LRE;
V - Laboratórios de Referência Municipal – LRM;
VI - Laboratórios Locais – LL; e
VII - Laboratórios de Fronteira - LF.

§ 1º Em situações contingenciais, independentemente da posição hierárquica que


tiver a unidade laboratorial em sua sub-rede, as amostras para investigação de surtos devem
ser encaminhadas diretamente ao Laboratório de Referência Nacional específico da sub-
rede.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


161
§ 2º Os gestores nacionais das redes definirão, por meio de regulamentação
específica, as situações contingenciais e as rotinas para operacionalização das ações
necessárias, conforme previsto no parágrafo anterior.

Seção II
Dos Conceitos e Competências

Art. 9º Os Centros Colaboradores são unidades laboratoriais especializadas e


capacitadas em áreas específicas, que apresentam os requisitos necessários para
desenvolver atividades de maior complexidade, ensino e pesquisa, com as seguintes
competências:

I - assessorar o gestor nacional no acompanhamento, normalização, padronização


de técnicas e avaliação das atividades laboratoriais;
II - colaborar no desenvolvimento científico e tecnológico das unidades da rede,
bem como na capacitação de recursos humanos;
III - realizar procedimentos laboratoriais de alta complexidade, para
complementação diagnóstica e controle de qualidade analítica;
IV - desenvolver estudos, pesquisas e ensino de interesse do gestor nacional; e
V - disponibilizar ao gestor nacional informações referentes às atividades
laboratoriais por intermédio do encaminhamento de relatórios periódicos.

Art. 10. Os Laboratórios de Referência Nacional são unidades laboratoriais de


excelência técnica altamente especializada, com as seguintes competências:

I - assessorar o gestor nacional no acompanhamento, normalização, padronização


de técnicas e avaliação das atividades laboratoriais;
II - coordenar tecnicamente a rede de vigilância laboratorial sob sua
responsabilidade;
III - realizar procedimentos laboratoriais de alta complexidade, para
complementação diagnóstica e controle de qualidade analítica de toda a rede;
IV - desenvolver estudos, diagnósticos e pesquisas, de forma articulada com as
sociedades técnico-científicas sem fins lucrativos e com centros de pesquisa e
desenvolvimento, que reúnam competências e capacitações técnicas em áreas críticas de
interesse;
V - promover capacitação de recursos humanos em áreas de interesse ao desenvolvimento
da credibilidade e confiabilidade laboratorial, estimulando parcerias com os laboratórios
integrantes do Sistema e com centros formadores de recursos humanos com competências
específicas de interesse, visando à melhoria da qualidade do diagnóstico laboratorial;
VI - disponibilizar, periodicamente, relatórios técnicos e de gestão aos gestores
nacionais com as informações relativas às atividades laboratoriais realizadas para os
diferentes agravos, obedecendo cronograma definido; e
VII - participar de intercâmbio e acordos nacionais e internacionais, visando,
juntamente com o gestor nacional, promover a melhoria do Sistema.

Art. 11. Os Laboratórios de Referência Regional são unidades laboratoriais


capacitadas a desenvolver atividades mais complexas, organizadas por agravos ou
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
162
programas, que prestam apoio técnico-operacional àquelas unidades definidas para sua área
geográfica de abrangência, com as seguintes competências:

I - assessorar, acompanhar e avaliar as atividades laboratoriais executadas nas


unidades;
II - desenvolver e realizar técnicas analíticas de maior complexidade necessárias ao
diagnóstico laboratorial de doenças e de outros agravos à saúde, bem como dar o suporte
técnico aos Laboratórios de Referência Estadual, promovendo as condições técnicas e
operacionais na execução das ações;
III - apoiar as unidades laboratoriais realizando análises de maior complexidade,
complementação de diagnóstico, controle de qualidade, capacitação de recursos humanos,
bem como a supervisão e assessorias técnicas;
IV - avaliar, periodicamente, em conjunto com o Laboratório de Referência
Nacional, o desempenho dos laboratórios estaduais;
V - implantar e promover os mecanismos para o controle de qualidade inter e
intralaboratorial; VI - encaminhar ao Laboratório de Referência Nacional as amostras
inconclusivas, bem como aquelas para a complementação do diagnóstico e as outras
destinadas ao controle de qualidade analítica; e VII - disponibilizar as informações relativas
às atividades laboratoriais, por meio de relatórios periódicos, obedecendo cronograma
definido.

Art. 12. Os Laboratórios de Referência Estadual são os Laboratórios Centrais de


Saúde Pública – LACEN, vinculados às secretarias estaduais de saúde, com área geográfica de
abrangência estadual, e com as seguintes competências:

I - coordenar a rede de laboratórios públicos e privados que realizam análises de


interesse em saúde pública;
II - encaminhar ao Laboratório de Referência Regional amostras inconclusivas para a
complementação de diagnóstico e aquelas destinadas ao controle de qualidade analítica;
III - realizar o controle de qualidade analítica da rede estadual;
IV - realizar procedimentos laboratoriais de maior complexidade para
complementação de diagnóstico;
V - habilitar, observada a legislação específica a ser definida pelos gestores
nacionais das redes, os laboratórios que serão integrados à rede estadual, informando ao
gestor nacional respectivo;
VI - promover a capacitação de recursos humanos da rede de laboratórios; e
VII - disponibilizar aos gestores nacionais as informações relativas às atividades
laboratoriais realizadas por intermédio do encaminhamento de relatórios periódicos,
obedecendo cronograma definido.

Art. 13. Os Laboratórios de Referência Municipal são unidades laboratoriais


vinculadas às secretarias municipais de saúde, com área geográfica de abrangência municipal
e as seguintes competências:

I - definir, organizar e coordenar a rede municipal de laboratórios;


II - supervisionar e assessorar a rede de laboratórios;
III - promover a capacitação de recursos humanos da rede de laboratórios; e
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
163
IV - habilitar, observada a legislação específica a ser definida pelos gestores
nacionais das redes, os laboratórios que serão integrados à rede municipal, informando ao
gestor estadual.

Art. 14. Os Laboratórios Locais são unidades laboratoriais que integram a rede
estadual ou municipal de laboratórios de saúde pública, com as seguintes competências:

I - realizar análises básicas e/ou essenciais;


II - encaminhar ao respectivo Laboratório de Referência Municipal ou Estadual as
amostras inconclusivas, para complementação de diagnóstico e aquelas destinadas ao
controle de qualidade analítica; e
III - disponibilizar as informações relativas às atividades laboratoriais realizadas, ao
Laboratório de Referência Municipal ou Estadual, por meio do encaminhamento de
relatórios periódicos, obedecendo o cronograma definido.

Art. 15. Os Laboratórios de Fronteira são unidades laboratoriais localizadas em


regiões de fronteira para a viabilização do diagnóstico de agentes etiológicos, vetores de
doenças transmissíveis e outros agravos à saúde pública, bem como a promoção do controle
analítico para a verificação da qualidade sanitária dos serviços prestados e de produtos, com
as seguintes competências:

I - fortalecer as ações de vigilância epidemiológica, ambiental em saúde e sanitária


no que se refere às ações laboratoriais em áreas de fronteiras;
II - auxiliar nas atividades desenvolvidas pelos Laboratórios de Referência Estadual;
e,
III - colaborar no cumprimento dos Acordos Internacionais, nas áreas de prevenção
e controle de doenças, produtos e serviços.

Parágrafo único. O Laboratório de Fronteira, por se constituir em unidade


estratégica para o País, deve reportar-se, além do gestor estadual, diretamente ao gestor
nacional da rede específica.

CAPÍTULO III
DA GESTÃO DO SISTEMA

Art. 16. Fica criado o Comitê Diretor Interinstitucional, integrado pelos dirigentes
máximos dos seguintes órgãos:

I - Secretaria de Atenção à Saúde - SAS;


II - Secretaria de Vigilância em Saúde - SVS; e
III - Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA.

Art. 17. As atividades administrativas do Comitê serão coordenadas por uma


Secretaria Executiva, com as seguintes atribuições:

I - convocar as reuniões;
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
164
II - manter controle dos assuntos discutidos nas reuniões que demandem
providências por parte dos seus membros;
III - elaborar as atas das reuniões; e
IV - cuidar de outros assuntos relativos a seu funcionamento.

§ 1º No primeiro ano a Secretaria-Executiva estará sob a responsabilidade da SVS,


adotando-se nos anos subsequentes o sistema de rodízio entre os órgãos integrantes do
Comitê.
§ 2º O Comitê reunir-se-á, ordinariamente, a cada três meses, mediante convocação
de sua Secretaria-Executiva, e extraordinariamente, sempre que convocado por um de seus
membros.

Art. 18. Compete ao Comitê Diretor Interinstitucional:


I - estabelecer as políticas e diretrizes do Sistema;
II - definir os critérios de financiamento do Sistema;
III - aprovar o Plano Anual de Investimentos relativo aos recursos federais aplicados
no Sistema; e
IV - estabelecer, anualmente, as atividades, metas e recursos financeiros da
Programação Pactuada Integrada - PPI.

Parágrafo único. As políticas, diretrizes, critérios de financiamento, plano de


investimentos, atividades e metas da PPI serão, anualmente, submetidas à Comissão
Intergestora Tripartite - CIT, para posterior aprovação do Ministro de Estado da Saúde.

Art. 19. Os gestores nacionais das redes são os seguintes:

I - Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS/MS:


a) Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância Epidemiológica;
b) Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância em Saúde Ambiental; e
c) Gestão nacional da sub-rede responsável pelos Laboratórios do Programa de
DST/AIDS, integrante da Rede Nacional de Laboratórios de Assistência Médica;

II - ANVISA: Rede Nacional de Vigilância Sanitária; e


III - SAS: Rede Nacional de Laboratórios de Assistência Médica de Alta
Complexidade.
Parágrafo único. As Redes Nacionais terão como gestores estaduais e municipais as
secretarias estaduais de saúde e as secretarias municipais de saúde, respectivamente.

Art. 20. São atribuições do Gestor Nacional das Redes:

I - coordenar, normalizar e supervisionar as atividades desenvolvidas pelas unidades


integrantes do SISLAB;
II - estabelecer outros critérios específicos de habilitação nas Redes;
III - estabelecer critérios de avaliação de unidades partícipes do SISLAB;
IV - participar e controlar a execução das ações de laboratórios definidas nas
respectivas PPI; e
V - habilitar os laboratórios integrantes das Redes.
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
165
Art. 21. São atribuições do gestor estadual das Redes:
I - coordenar a Rede Estadual de Laboratórios de Saúde Pública;
II - avaliar as atividades desenvolvidas pelas unidades partícipes da Rede; e
III - participar e controlar a execução das ações pactuadas na PPI.

Art. 22. São atribuições do gestor municipal das Redes:


I - coordenar a Rede Municipal de Laboratórios de Saúde Pública;
II - avaliar as atividades desenvolvidas pelas unidades partícipes da Rede; e
III - participar e controlar a execução das ações pactuadas na PPI.

CAPÍTULO IV
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 23. O Comitê Diretor instituído nesta Portaria editará, quando necessário,
instruções complementares para implementação do SISLAB.

Parágrafo único. Cada um dos gestores nacionais tem competência para editar
normas orientadoras no que se refere às redes e sub-redes sob sua responsabilidade.

Art. 24. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 25. Fica revogada a Portaria nº 15/GM, de 3 de janeiro de 2002, publicada no


Diário Oficial da União nº 5, Seção 1, página 59, de 8 de janeiro de 2002.

HUMBERTO COSTA

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


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ANOTAÇÕES: ____________________________________________________________
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MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
TECNOLOGIA DE
HEMODERIVADOS
169
9 TECNOLOGIA DE HEMODERIVADOS

Nesta disciplina, serão abordados temas como o histórico, conceitos e importância


da indústria de hemoderivados no Brasil. Além disto, serão descritos conhecimentos
específicos da tecnologia de hemoderivados, o controle de qualidade aplicada a sua
produção como, também, a Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados.

9.1 Histórico da Indústria de Hemoderivados

Nos anos 40, Edwin Joseph Cohn desenvolveu uma metodologia para precipitação
de plasma por álcool etílico, que consiste na precipitação das proteínas plasmáticas por
diferentes concentrações de etanol a baixa temperatura a partir de ajustes de pH e
constante dielétrica, originando uma fração proteica purificada rica em albumina. A partir
deste método, se iniciou a produção mundial de hemoderivados (ADATI et al., 2009).

Neste período, a Segunda Guerra Mundial estava ocorrendo e, portanto, houve


aumento significativo do desenvolvimento da ciência e tecnologia principalmente para o
tratamento de pacientes acometidos de hemorragias decorridas das guerras (SOARES, 2002).
Várias empresas norte-americanas começaram a produzir a albumina pelo método de Cohn,
que mesmo tendo custo de produção elevado, tornou-se um medicamento eficaz e popular
(CGEE, 2006).

Na década de 70, surgiu outro avanço na indústria de hemoderivados, o


concentrado de Fator VIII liofilizado, purificado e extraído do plasma humano, importante no
tratamento de pacientes hemofílicos, acarretando diminuição na morbidade e mortalidade
destas pessoas (CGEE, 2006).

No ano de 1982, após a descoberta da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida


(AIDS), foi observado o aumento da contaminação pelo vírus HIV em pessoas hemofílicas.
Especulou-se que era devido à transfusão dos concentrados de fatores VIII ou IX, e a partir
disto, as indústrias de hemoderivados começaram a desenvolver métodos para a inativação
viral dos produtos hemoderivados (CGEE, 2006).

Em 1985, o primeiro método utilizado para inativação viral foi por calor seco,
seguido pelo tratamento com solvente-detergente, que diminuiu perdas dos fatores durante
a produção industrial e acarretou um aumento da segurança viral dos produtos
hemoderivados. Além destes métodos, a inativação viral era complementada com a triagem
sorológica do plasma e pela aplicação das boas práticas de fabricação (SOARES, 2002).

No Século XXI, houve crescimento na produção das imunoglobulinas transformando


o Fator VIII e a albumina em subprodutos do fracionamento do plasma– sobretudo porque a
produção e a utilização de Fator VIII recombinante ganha cada vez mais mercado,
substituindo o tradicional concentrado de Fator VIII plasmático (CGEE, 2006).

No Brasil, nos anos 70, a multinacional Hoechst no Rio de Janeiro iniciou a produção
de albumina, e na década de 80 surgiram o Instituto Santa Catarina no Rio de Janeiro e
HEMOPE (Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco) (MONTEIRO, 2013). O
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
170
HEMOPE foi pioneiro no preparo tanto do plasma quanto do crioprecipitado liofilizado,
assim como no fracionamento da albumina (SOARES, 2002). Na década de 90, outros dois
centros surgiram: a Fundação Hemocentro de Brasília (DF) e o Laboratório LIP (RS).

A demanda nacional por hemoderivados é atendida por meio de importações com


custo anual estimado em R$ 500.000.000,00. Como o Brasil dispõe da matéria-prima básica,
o plasma humano, que responde por cerca de 45% do custo de produção dos
hemoderivados, o Ministério da Saúde decidiu criar uma empresa para produzir
hemoderivados, visando à autossuficiência nacional neste tipo de medicamento
(CGEE,2006).

Em dezembro de 2004, foi criada a Empresa Brasileira de Hemoderivados e


Biotecnologia (Hemobrás), uma empresa pública de Biotecnologia, voltada para o
fracionamento de plasma e produção de hemoderivados (Lei de criação da Hemobrás, nº
10.972, 2 de dezembro de 2004). Em setembro de 2005, houve a nomeação de sua primeira
direção. Na fábrica da Hemobrás serão produzidos seis hemoderivados: albumina,
imunoglobulina, fatores de coagulação VIII e IX plasmáticos, fator de von Willebrand e
complexo protrombínico. Além destes, será produzido também o fator de coagulação VIII
recombinante obtido por engenharia genética (HEMOBRAS, 2015).

9.2 Tecnologia de Hemoderivados

Esta seção abordará acerca da diferenciação entre hemoderivados e


hemocomponentes, a importância dos hemoderivados, os fatores de coagulação, os tipos de
plasma, os tipos de hemoderivados, o fracionamento do plasma, a inativação viral e cola de
fibrina.

9.2.1 Diferenças entre hemoderivados e hemocomponentes

Basicamente, estes dois grupos se diferenciam pelo método ao qual foram obtidos a
partir do sangue total ou plasma.

De acordo com a Resolução-RDC Nº 46, de 18 de Maio de 2000 da Agência Nacional


de Vigilância Sanitária (ANVISA), “os hemoderivados são produtos farmacêuticos obtidos a
partir do plasma humano, submetidos a processos de industrialização e normatização que
lhes conferem qualidade estabilidade, atividade e especificidade”. Além disto, de acordo
com a Lei 10.205 de 21 de Março de 2001: Hemoderivados são “produtos oriundos do
sangue total ou do plasma, obtidos por meio de processamento físico-químico ou
biotecnológico”.

Em relação aos Hemocomponentes, segundo a Resolução-RDC Nº 46, de 18 de Maio


de 2000 da ANVISA, como também a Lei 10.205 de 21 de Março de 2001, também são
oriundos do sangue total ou de plasma, entretanto, são obtidos por processos apenas físicos.

Sangue total (ST) é o sangue coletado de um único doador utilizando sistema de


bolsas plásticas, estéreis, apirogênicas e com solução anticoagulante/preservante. Após a
coleta, o sangue total deverá repousar por aproximadamente duas horas à temperatura
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
171
entre +20°C a +24°C, ou deverá ser mantido sob placas frias com butanodiol para posterior
processamento (BRASIL, 2013).

Para a produção de compostos derivados do ST, é necessária a separação deste com


a utilização de metodologias físicas, como a centrifugação, para produção dos
hemocomponentes, assim como, são utilizadas metodologias físico-químicas ou
biotecnológicas para produção dos hemoderivados (Figura 1 e 2).

Figura 1- Separação do sangue total por processo de centrifugação

Fonte: Brasil (2008)

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


172
Figura 2- Hemocomponentes e Hemoderivados produzidos a partir do sangue total

Fonte: Brasil (2008)

9.2.2 A importância dos hemoderivados

Os hemoderivados são medicamentos obtidos a partir do plasma humano que é


proveniente do sangue coletado de doadores não remunerados e voluntários, e
posteriormente estes plasmas são submetidos ao processo de fracionamento na indústria
(ADATI et al., 2008).

Após a coleta, o sangue total é submetido à processos físicos nos Serviços de


Hemoterapia e dá origem a até sete hemocomponentes: concentrado de hemácias,
concentrados de plaquetas, plasma comum, crioprecipitado, plasma isento de crio (PIC),
plasma fresco congelado (PFC) e plasma fresco congelado em 24 horas (PFC24) (BRASIL,
2013).

Os concentrados de hemácias e concentrados de plaquetas são totalmente


utilizados para fins transfusionais atingindo à demanda nacional. Entretanto, em relação ao
plasma, apenas pequena parte dele preparado pelos hemocentros é usado para transfusão.
O plasma excedente é enviado para indústria visando o seu fracionamento e produção de
hemoderivados (CGEE, 2006).

Para a obtenção desses produtos, os serviços de hemoterapia são estruturados de


forma a desenvolver as etapas do ciclo do sangue que englobam desde a captação de
doadores, passando pela coleta, testagem, processamento, armazenamento, até a
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
173
transfusão. Após a etapa da coleta, é iniciado o processamento do sangue total (Figura 3)
(BRASIL, 2013).

Figura 3- Fluxograma do ciclo de sangue

Fonte: Disponível em https://alopeciaareatabrasil.wordpress.com/2010/05/28/doe-sangue-doe-vida Acesso em maio


de 2016

Em relação ao uso de hemoderivados, sua produção a partir do plasma excedente é


de extrema importância, pois, portadores de coagulopatias hereditárias são beneficiários
destes produtos. Sem os concentrados de fatores da coagulação, dependendo do grau, os
pacientes podem ir a óbito por hemorragia (SOARES, 2002).
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
174
O uso terapêutico dos principais hemoderivados é descrito a seguir: concentrados
de Fator VIII utilizados no tratamento de pacientes com hemofilia A, que é a coagulopatia
mais diagnosticada no Brasil, com uma frequência mundial de 1:10.000 homens (SOARES,
2002); concentrados de Fator IX da coagulação utilizados no tratamento das pessoas
portadoras de hemofilia B; albumina é utilizada no tratamento de queimados, pessoas com
cirrose, pacientes de terapia intensiva, entre outros (CGEE, 2006).

A imunoglobulina é o hemoderivado com maior utilização em todo o mundo


principalmente no tratamento de pessoas com AIDS, em pessoas com problemas
imunológicos, para o tratamento de doenças autoimunes e para o tratamento de diversas
doenças infecciosas (CGEE, 2006).

9.2.3 Fatores de coagulação

A coagulação sanguínea normalmente ocorre quando algum vaso se rompe


sucedendo em sangramento, então o processo é iniciado por substâncias ativadoras
provenientes da parede vascular traumatizada, das plaquetas e das proteínas sanguíneas
que aderem à parede vascular lesada. A coagulação é resultado final de uma série de
reações entre várias proteínas plasmáticas, que recebem o nome de fatores de coagulação
(CARLOS; FREITAS, 2007).

O modelo convencional, “cascata da coagulação”, foi proposto nos anos 60 para


explicar a fisiologia da coagulação, segundo o qual a coagulação ocorre por meio de ativação
proteolítica sequencial de pró-enzimas. Neste modelo, a coagulação é dividida em duas vias:
extrínseca (envolve componentes do sangue e que usualmente não estão presentes no
espaço intravascular) e intrínseca (iniciada por elementos presentes no espaço
intravascular), que convergem para uma via comum (FRANCO, 2001).

O fator X ativado combina-se com os fosfolipídios teciduais ou com fosfolipídios


liberados pelas plaquetas, bem como fator V para formar o complexo denominado ativador
de protrombina. A substância ativadora de protrombina inicia a ativação do fator II
(protrombina) em fator IIa (trombina), onde a principal ação da trombina é a conversão do
fibrinogênio (fator I) em monômeros de fibrina, que são interligados pelo fator XIII ativado,
formando polímeros insolúveis de fibrina (Banks, 1991). A transformação ou “estabilização”
da fibrina solúvel em um coágulo de fibrina insolúvel é catalisada pelo fator XIII, na presença
de cálcio, onde o fator XIII normalmente circula no plasma sob a forma de proenzima inativa
e é convertido em sua forma ativa pela trombina (Figura 4) (CARLOS; FRETAS, 2007).

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


175
Figura 4- Modelo clássico da década de 60 da coagulação sanguínea

Fonte: Disponível em http://bioquimicaufjfgv2013.blogspot.com.br/2014/05/modelos-da-coagulacao-sanguinea.html


Acesso em maio de 2016

Atualmente há um novo modelo baseado em superfícies celulares que substitui o


modelo clássico da cascata, pois este não reflete completamente os eventos da hemostasia
in vivo e não conseguia responder questões relacionadas à clínica de pacientes portadores
de alguns distúrbios hemostáticos. Este novo modelo enfatiza a interação dos fatores da
coagulação com superfícies celulares específicas (Figura 5) (FERREIRA et al., 2010).

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


176
Figua 5- Modelo de coagulação sanguínea atual baseado em superfícies celulares

Fonte: Ferreira et al. (2010)

O modelo atual do processo hemostático considera a conjunção de processos


físicos, celulares e bioquímicos que atuam em uma série de estágios ou fases (iniciação,
amplificação, propagação e finalização) e não em duas vias (intrínseca e extrínseca)
(FERREIRA et al., 2010).

Quando ocorre dano vascular, o fator tissular é exposto, liga-se ao fator F VII e F
VIIa, iniciando o processo de coagulação. O complexo fator tissular (FT) – F VIIa – F Xa
desencadeia uma série de reações bioquímicas de ativação e inativação da qual participam
proteínas plasmáticas, células (plaquetas e células endoteliais) e íons (cálcio). Este processo
resulta na formação de coágulo constituído por plaquetas e fibrina. Para que se verifique a
coagulação, é fundamental que haja ativação plaquetária pela trombina, ADP, tromboxane
A2 ou epinefrina e acontece como resposta ao dano vascular e/ou estímulo químico. A
adesão plaquetária resulta da ligação do complexo de superfície glicoproteína (Gp) Ib/Gp IX
(GpIb/IX) (presente nas plaquetas) ao fator von Willebrand (FVW). A agregação plaquetária é
resultante da liberação de grânulos pelas plaquetas, tais como ADP e tromboxane A2, que
ativam e recrutam outras plaquetas para o sítio de lesão. As plaquetas ativadas expressam,
em sua superfície, o complexo plaquetário IIb/IIIa (GPIIb/IIIa), que se liga ao fibrinogênio
circulante, mediando a formação do tampão plaquetário (REZENDE, 2010).

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


177
A “fase plasmática” da coagulação culmina com a geração de trombina e a formação
da fibrina, proteína que ancora o tampão plaquetário. A formação da trombina se dá a partir
de reações bioquímicas de ativação de proteínas inativas (zimogênios) circulantes no plasma,
que são convertidas para suas formas ativas (proteases) por proteólise parcial. Essas reações
de conversão podem ser aceleradas centenas a milhares de vezes a partir da existência de
cofatores, tais como os fatores Va e VIIIa. Esses complexos protease-cofator são formados
nas superfícies celulares (em geral, nas plaquetas e endotélio) que, na presença de íons
cálcio, desencadeiam uma cascata de reações, culminando na geração de trombina e
formação de fibrina. Esta é formada a partir do fibrinogênio pela ação da trombina
(REZENDE, 2010).

Deficiência em algum destes fatores da coagulação pode levar a coagulopatias


hereditárias ou não e, portanto, o tratamento com hemoderivados é realizado nestes. As
insuficiências ou ausências de produção hereditárias mais conhecidas são as Hemofilias e a
Doença de Von Willebrand. Os portadores de déficit de Fator VIII são os hemofílicos do tipo
A e representam a grande maioria no Brasil, enquanto que os portadores de déficit de Fator
IX são os hemofílicos do tipo B. As coagulopatias hereditárias são classificadas leve,
moderada ou grave e seus portadores não podem viver sem a reposição destes produtos,
por isso são considerados medicamentos essenciais (SOARES, 2002).

9.2.4 Tipos de plasma (Hemocomponentes)

Segundo a RDC Nº 46 (18 de Maio de 2000 da Anvisa), o plasma é a “porção líquida


remanescente após separação física dos elementos celulares do sangue total, através de
processos de sedimentação, centrifugação ou obtida por plasmaferese”.

O Plasma é constituído basicamente de água, aproximadamente 7% de proteínas


(albumina, globulinas, fatores de coagulação e outras), 2% de carboidratos e lipídeos.
Entretanto, existem outros componentes como eletrólitos, sódio, potássio, glicose, citrato,
lactato, etc. (ANVISA, 2003).

Apresenta características de grande importância para a medicina transfusional por


manter constantes suas propriedades, se conservado em condições ideais, permitindo o
fracionamento de seus componentes, o que tem proporcionado um grande avanço na
terapêutica de várias doenças (MONTEIRO, 2013).

 Plasma fresco congelado (PFC):

Segundo a RDC 46 (ANVISA, 2000), o Plasma Fresco Congelado (PFC) é o plasma


fresco cujo processo de congelamento se completou em um prazo máximo de 8 horas após a
coleta, devendo ser estocado a temperatura não superior a 20º C negativos.

O PFC consiste na porção acelular do sangue obtida por centrifugação a partir de


uma unidade de sangue total e transferência em circuito fechado para uma bolsa satélite.
Pode ser obtido também a partir do processamento em equipamentos automáticos de
aférese (BRASIL, 2008).

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


178
É constituído basicamente de água, proteínas (albumina, globulinas, fatores de
coagulação e outras), carboidratos e lipídios. O componente assim obtido contém ≥ 70 UI de
Fator VIII em 100ml e, pelo menos, quantidades semelhantes dos outros fatores lábeis e
inibidores naturais da coagulação. A unidade de plasma deve apresentar volume superior a
180 ml, quando utilizado para fins transfusionais, além de não conter anticorpos
eritrocitários irregulares de importância clínica. Por convenção, cada ml de PFC tem 1U de
atividade de fatores da coagulação (BRASIL, 2008).

Em relação ao armazenamento, caso se dê em temperatura entre 18°C e 30°C


negativos, a validade do produto é de 12 (doze) meses; e se armazenado a 30°C negativos ou
inferiores, terá validade de 24 (vinte e quatro) meses (MONTEIRO, 2013). O congelamento é
importante, pois permite a preservação dos fatores da coagulação, fibrinólise e
complemento, além de albumina, imunoglobulinas, outras proteínas e sais minerais, e
mantém constantes suas propriedades (BRASIL, 2008).

O PFC excedente do uso terapêutico, considerado material de partida para


fracionamento industrial, deverá ser armazenado a temperatura igual ou inferior a 20ºC
negativos (MONTEIRO, 2013).

 Plasma comum:

Plasma comum (plasma não fresco, plasma normal ou plasma simples) é o plasma
cujo congelamento não se deu dentro das especificações técnicas de obtenção de PFC, ou
ainda pode resultar da transformação de um plasma fresco congelado, cujo período de
validade expirou (MONTEIRO, 2013).

O PC representa o plasma sem os fatores lábeis da coagulação (fatores V e VIII)


(BRASIL, 2013). É armazenado a temperatura de 20ºC negativos ou inferior e tem validade de
5 anos, além disto, sua produção deve ser justificada, pois a utilização para fins
transfusionais é proibida (MONTEIRO, 2013).

 Crioprecipitado:

O Crioprecipitado (Crio) é a fração do plasma insolúvel a frio (temperatura de 1°C a


6°C), obtida a partir do plasma fresco congelado e reconstituída em 10ml a 40ml de plasma.
Este material é então recongelado no período de 1 hora e tem validade de 1 ano, entretanto,
quanto menor o tempo entre o congelamento do PFC e a produção do Crio, maior é a
recuperação dos fatores de coagulação (BRASIL, 2013).

A estabilidade do Crio é dependente da temperatura e da velocidade do


congelamento, bem como da temperatura de armazenamento. Deve ser armazenado
congelado, em temperatura de -18ºC ou inferior (BRASIL, 2013).
O crioprecipitado contém o Fator VIII, Fator VIII:vWF (fator von Willebrand),
fibrinogênio, Fator XIII e fibronectina. Cada bolsa contém: 15ml de crioprecipitado com 80 a
150 unidades de Fator VIII, 150mg de fibrinogênio e cerca de 20%-30% (50-75 unidades) do
Fator XIII presente na bolsa inicial de PFC, assim como, 40%- 70% (100-150U) do fator de von
Willebrand presente na unidade inicial de PFC é recuperado no crioprecipitado. A principal
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
179
fonte de fibrinogênio concentrado é o crioprecipitado (BRASIL, 2008).

 Plasma isento de crioprecipitado:

O Plasma isento de crioprecipitado é a fração do plasma insolúvel em frio, obtida a


partir do PFC, rico em Fator VIII, VW, XIII e Fibrinogênio. O plasma isento de crioprecipitado
deve ser, armazenado a 20ºC negativos ou inferior e tem validade de 5 anos (MONTEIRO,
2013).

O plasma isento de crioprecipitado (PIC) é aquele do qual foi retirado, em sistema


fechado, o crioprecipitado. Deve ser armazenado à temperatura de, no mínimo, 18°C
negativos, sendo, porém, recomendada temperatura igual ou inferior a 25°C negativos. Sua
validade é a mesma do PFC e seu volume aproximado de 150ml a 200ml. É depletado de
FVIII, fibrinogênio e multímeros de alto peso molecular de Fator de von Willebrand, embora
contenha a metaloproteinase responsável por sua metabolização (BRASIL, 2008).

 Plasma 24 horas:

O plasma de 24 horas (P24) é o hemocomponente separado do sangue total por


centrifugação entre 8h e 24 horas após a coleta e congelado completamente, no máximo em
uma hora, atingindo temperaturas iguais ou inferiores a 30°C negativos. Deve ser
armazenado à temperatura de, no mínimo, 18°C negativos, sendo recomendada
temperatura igual ou inferior a 25°C negativos. Sua validade é a mesma do PFC e seu volume
aproximado de 200 a 250ml. Apresenta uma redução variável de alguns fatores da
coagulação em relação ao PFC, principalmente fatores V e VIII (BRASIL, 2008).

9.2.5 Tipos de hemoderivados

Os quatro hemoderivados que fazem parte da lista de medicamentos essenciais da


Organização Mundial de saúde (OMS) são os concentrados de Fator VIII e de Fator IX da
coagulação, a albumina e as imunoglobulinas poliespecíficas (imunoglobulinas normais)
(CGEE, 2006).

Além destes quatro produtos de base, existem hoje cerca de vinte diferentes tipos
de hemoderivados disponíveis no mercado mundial, que podem ser classificados em três
grandes grupos, de acordo com os Quadros 1, 2 e 3 abaixo (CGEE, 2006).

Quadro 1- Hemoderivados usados para tratamento de coagulopatias (continua)

Proteínas de Coagulação
Produto Indicações clínicas
Complexo protrombínico (Fatores, II, VII, IX, Hemofilia B; reversao do uso de
X) anticoagulantes; cirrose hepatica.
Septicemia; coagulacao intravascular;
Concentrado de fibrinogênio
disseminada.
Concentrado de Fator XIII Déficit congenito de Fator XIII
Concentrado de Fator VIII rico em Doença de von Willebrand

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


180
Proteínas de Coagulação
Produto Indicações clínicas
multímeros de fator von Willebrand
Concentrado de Fator de von Willebrand Doença de von Willebrand
Concentrado de Fator XI Déficit congenito de Fator XI
Concentrado de trombina Uso na preparacao da cola de fibrina
Cola de fibrina Cola biológica para uso em cirurgias
Concentrado de Fator VII Déficit congenito de Fator VII
Fonte: CGEE (2006)

Quadro 2- Hemoderivados à base de proteínas da anticoagulação

Proteínas da Anticoagulação
Produto Indicações clínicas
Concentrado de proteína C Trombose por déficit congênito de proteína C
Trombose por déficit congênito de proteína C;
Concentrado de antitrombina III
septicemia
Efinsema pulmonar por déficit de α-1 anti-
Concentrado de α-1 anti-tripsina
tripsina
Concentrado de inibidor de C1-esterase Edema de Qüincke recidivante
Fonte: CGEE (2006)

Quadro 3- Hemoderivados à base de imunoglobulinas específicas

Imunoglobulinas Específicas
Produto Indicações clínicas
Imunoglobulina anti-D Prevenção da doença hemolítica perinatal
Imunoglobulina anti-CMV Prevenção e tratamento da infecção por CMV
Imunoglobulina anti-hepatite B Prevenção da hepatite B
Imunoglobulina anti-Pertussis Prevenção e tratamento da coqueluche
Imunoglobulina anti-tétano Prevenção e tratamento do tétano
Imunoglobulina anti-raiva Prevenção da raiva
Imunoglobulina anti-varicela zoster Prevenção do herpes zoster
Imunoglobulina anti-hepatite A Prevenção da hepatite A
Fonte: CGEE (2006)

 Fator VIII da coagulação:

O fato VIII é obtido a partir de um pool de plasma humano, com pureza variável e
submetido a processo de inativação viral ou por meio de técnicas de produção de proteínas
recombinantes. Indicado no tratamento de manifestações hemorrágicas ou em uso
profilático em procedimentos fisioterápicos ou cirúrgicos em pacientes portadores de
hemofilia A (Figura 6) (BRASIL, 2013).

O Fator VIII liofilizado é uma fração de proteínas plasmáticas que contém Fator VIII,
glicoproteínas que intervém na coagulação, juntamente com quantidades variáveis de Fator
de von Willebrand. A potência da preparação, reconstituída de acordo com as indicações do
produtor, não deve ser menor que 20 UI de Fator VIII:C por mililitro. A atividade específica,
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
181
previamente à adição de qualquer proteína estabilizante, não deve ser menor que 1 U.I. de
Fator VIII:C por miligrama de proteína total (ANVISA, 2000).

A matéria-prima para a obtenção do Fator VIII de origem plasmática pode ser


plasma fresco, plasma fresco congelado ou crioprecipitado (ANVISA, 2000).

Figura 6- Apresentação do Fator VIII produzido a partir do plasma humano

Fonte: Disponível em http://www.mppeuct.gob.ve/actualidad/noticias/quimbiotec-cubre-necesidad-


de-factor-viii-plasmatico-de-pacientes-hemofilicos Acesso em maio de 2016

 Fator IX da coagulação:

O Fator IX Humano liofilizado é uma fração de proteínas plasmáticas que contém o


Fator IX da coagulação preparado por um método que o separe efetivamente dos outros
fatores do Complexo Protrombínico, Fatores II, VII e X (Figura 7). A potência da preparação
reconstituída segundo as instruções do rótulo, não deve ser inferior a 20 UI de Fator IX/ml. A
atividade específica antes da adição de qualquer proteína estabilizante, não deve ser menor
que 50 UI de Fator IX/mg de proteína total (ANVISA, 2000).

Apresenta as mesmas características do Fator VIII e deve ser utilizado no


tratamento de hemofílicos B (BRASIL, 2013).

A matéria-prima para a obtenção do Fator IX pode ser plasma fresco, plasma fresco
congelado ou unidade de plasmaférese devendo cada unidade ser identificada de maneira
que permita relacioná-la corretamente ao doador e à respectiva data de doação (ANVISA,
2000).

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


182
Figura 7- Apresentação do Fator VIII produzido a partir do plasma humano

Fonte: Disponível em http://grifols.com/en/web/eeuu/bioscience/-/product/alphanine Acesso em


maio de 2016

 Complexo Protrombínico:

O Complexo Protrombínico Humano liofilizado é uma fração de proteínas


plasmáticas que contém Fator IX da coagulação junto com as quantidades variáveis de
Fatores II, VII e X, fatores de coagulação vitamina K dependentes (BRASIL, 2013). A presença
e proporção destes fatores dependem do método de fracionamento utilizado (ANVISA,
2000).

A potência da preparação reconstituída não deve ser inferior a 20 UI de Fator IX/ml


e atividade específica não deve ser menor que 0,6 UI de Fator IX/mg de proteína total
(ANVISA, 2000).

A matéria-prima para a obtenção do Complexo Protrombínico pode ser plasma


fresco, plasma fresco congelado ou unidade de plasmaférese (ANVISA, 2000).

Está indicado em pacientes que utilizam anticoagulantes dicumarínicos com


manifestação hemorrágica grave, na reversão imediata dos efeitos da intoxicação por estes
anticoagulantes (BRASIL, 2013).

 Imunoglobulinas:

Imunoglobulinas são glicoproteínas plasmáticas produzidas pelo sistema imune em


resposta a estímulos antigênicos e funcionam como anticorpos. Segundo suas características
e propriedades, podemos definir cinco classes de imunoglobulinas: IgG, IgM, IgA, IgE e IgD.
Os anticorpos da classe IgG são pequenos, conhecidos como monômeros, por outro lado os
anticorpos IgM são maiores e são conhecidos como pentâmeros (Figura 8) (BRASIL, 2013).

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


183
Figura 8- Representação esquemática de anticorpos: IgG, IgD e IgE (monômeros), IgA (dímero) e IgM
(pentâmero)

Fonte: Disponível em http://pt.slideshare.net/radenovic/transfuzijska-medicina-online-teaj Acesso em maio de 2016

Imunodeficiências primárias são caracterizadas por deficiência de anticorpos e


susceptibilidade aumentada a infecções, sendo a pneumonia a infecção mais frequente.
Esses pacientes devem ser tratados com infusões regulares de imunoglobulina intravenosa
(IGIV), portanto a produção de imunoglobulinas a partir do plasma é importante para suprir
a demanda dos pacientes nesta situação (NOBRE et al., 2012).

 Albumina:

A Albumina é uma proteína e é a mais abundante e estável do plasma com ponto


isoelétrico de 4.8 a 4.9, peso molecular de aproximadamente de 65kD, coagulável pelo calor,
solúvel em água e precipitável por sais neutros e solventes orgânicos (etanol, éter, acetona,
etc.) (Figura 9) (MONTEIRO, 2013).

Ele desempenha funções biológicas diversas, entre as quais a ligação e o transporte


de numerosas substâncias: metais, íons, ácidos graxos, medicamentos, hormônios, enzimas,
bilirrubinas, etc. É também a principal responsável pela pressão coloidosmótica ou pressão
osmótica do plasma, além de desagregar os eritrócitos e reduzir a viscosidade sanguínea,
aumentando o volume plasmático (MONTEIRO, 2013).

A deficiência de albumina pode ser pela deficiência proteica ou alguma falha no


fígado. Baixos níveis também afeta o metabolismo de outras substâncias devido ao papel de

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


184
transportadora e pode causar baixa da pressão osmótica do plasma (GONZÁLEZ; SCHEFFER,
2003).

Figura 9- Apresentação do Fator VIII produzido a partir do plasma humano

Fonte: Disponível em http://aumentesuasaude.com/albumina-humana/ Acesso em maior de 2016

 Produtos recombinantes:

Produtos recombinantes são fatores de coagulação produzidos por engenharia


genética com objetivo de substituir os produtos derivados do plasma. Há cerca de 20 anos,
as indústrias que realizam o fracionamento do plasma começaram a desenvolver estes
produtos (SOARES, 2002).

Uma importante diferença entre os recombinantes e os oriundos do plasma é que a


fonte de obtenção dos recombinantes é abundante. Outra vantagem dos produtos
recombinantes é em relação à segurança viral, pois são isentos de risco de transmissão de
vírus e não precisam passar pela inativação viral a qual são submetidos os produtos
plasmáticos tornando-os seguros. A utilização de Fator VIII recombinante ganha cada vez
mais mercado, substituindo o tradicional concentrado de Fator VIII plasmático (Figura 10)
(CGEE, 2006).

Figura 10- Fator VIII recombinante distribuído pelo Sistema Único de Saúde, Brasil

Fonte: Disponível em http://maxianarellidebemcomavida.blogspot.com.br/2014/09/hemobras-medicamento-da-


hemofilia.html Acesso em maio de 2016

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


185
Os produtos recombinantes têm como desvantagem ainda o alto custo de produção
e sem definição sobre o benefício do seu uso em relação aos fatores da coagulação oriundos
do plasma. Além disto, não é possível produzir a albumina por este meio, dado o altíssimo
custo, nem as imunoglobulinas intravenosas (IGIV) devido à alta complexidade das moléculas
(SOARES, 2002).

9.2.6 Fracionamento do plasma

O termo fracionamento é usado nesta situação para descrever a sequência de


processos para produção de hemoderivados. As etapas do fracionamento são as seguintes:
separação das proteínas plasmáticas (precipitação e/ou cromatografia), purificação
(cromatografia de troca iônica ou afinidade) e uma ou mais etapas de inativação viral com
objetivo de proporcionar estabilidade, eficácia, qualidade e segurança ao produto final
(ADATI et al., 2009).

A produção de hemoderivados é diferente de outros processos produtivos, pois sua


principal matéria-prima, o plasma humano, não pode ser fabricada e nem comprada, mas
sim obtida por meio das doações de sangue (CGEE, 2006).

As tecnologias hoje disponíveis para o fracionamento dos hemoderivados e a


purificação das proteínas são: Crioprecipitação com fracionamento pelo etanol (Método de
Cohn); Purificação por Cromatografia; Purificação por Cromatografia associada a anticorpos
monoclonais (imunoafinidade). Além disto, todas estas técnicas são sucedidas por técnicas
de inativação viral para garantir a segurança do produto final (SOARES, 2002).

A maioria das indústrias fracionadoras usa a precipitação pelo etanol para obter
uma pasta com albumina e imunoglobulinas e o crioprecipitado rico em fatores da
coagulação que são purificados pelo método de cromatografia (SOARES, 2002).

O método de fracionamento do plasma humano desenvolvido por Cohn consiste na


precipitação das proteínas plasmáticas pela combinação de diferentes concentrações de
etanol a baixa temperatura, a partir de ajustes de pH e constante dielétrica, para
precipitação seletiva das diferentes proteínas (ADATI et al., 2009). O agente precipitante
(álcool) diminui a solubilidade da proteína, fazendo com que a mesma não seja capaz de
manter-se em solução e consequentemente ocorre a precipitação (MONTEIRO, 2013).

A fração I contém fibrinogênio, que é o principal componente proteico da


coagulação sanguínea, enquanto na fração II+III está contida a maior concentração de
imunoglobulinas. A fração V é a matéria-prima da albumina humana, e o fator VIII é um
componente da fração crioprecipitado do plasma humano. O fator IX e complexo
protrombínico (fatores da coagulação II, VII, IX e X) são obtidos após a remoção do
crioprecipitado, com etapas de fracionamento semelhantes, assim como o processo de
inativação/remoção viral (Quadro 4 e Figura 11) (ADATI et al., 2009).

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


186
Quadro 4- Distribuição das proteínas plasmáticas de acordo com o método de fracionamento de
Cohn

Fração Proteínas
I Fibrinogênio, Fator VIII, Fator XIII e Fator V W
II + III IgG, IgA, IgM, Fatores II, VII, IX e X
IV Alfa e beta-globulinas, At-III, alfa1-antitripsina, componentes do complemento
IV Alfa e beta-globulinas, transferrina, ceruloplasmina, haptoglobina
V Albumina, traços de alfa e beta-globulina
Fonte: Monteiro (2013)

Em relação à cromatografia, é um método físico-químico de separação, no qual os


compostos presentes em uma mistura são distribuídos entre fase estacionária e uma fase
móvel. A separação ocorre porque os compostos têm diferentes afinidades com a fase
estacionária e com a fase móvel. Existem alguns tipos de cromatográfica como a gel filtração
(separação das proteínas de acordo com peso molecular), troca iônica (leva em consideração
a carga da proteína) e afinidade (dependendo da atividade biológica de cada proteína)
(MONTEIRO, 2013). A Figura 11 a seguir ilustra algumas imagens dos processos realizados no
fracionamento do plasma.

Figura 11- Fotos com a representação de alguns processos realizados no fracionamento do plasma

Fonte: Monteiro (2013)

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


187
9.2.7 Inativação viral

A inativação viral é um processo, ao qual devem ser submetidos os hemoderivados,


validado e autorizado pela Autoridade Sanitária competente e tem por objetivo eliminar ou
inativar vírus infecciosos conhecidos (ANVISA, 2000).

Atualmente os mais difundidos são o tratamento pelo solvente-detergente e pelo


azul de metileno, entretanto, a inativação viral também pode ser realizada através da
pasteurização ou irradiação com UVA (PASSOS, 2005).

Os métodos de inativação viral pelo solvente-detergente e pelo azul de metileno


são eficazes somente contra vírus com envelope lipídico (HCV, HBV, HIV, HTLV). Nenhum dos
métodos altera as propriedades naturais do plasma ou seu tempo de validade (ANVISA,
2003).

Para produção de albumina a partir da fração V pelo método de Cohn, a inativação


viral é realizada em banho-maria com temperatura de 60°C por 10 horas (MONTEIRO, 2013).

As desvantagens que a inativação viral possui é que é necessário pool de 2.500


doadores para sua realização, há preocupação com agentes sem envelope lipídico
(Parvovírus B19, HAV, desconhecidos) e, além disto, o custo é elevado para os
procedimentos da inativação (PASSOS, 2005).

9.2.8 Cola de fibrina

De acordo com Monteiro (2013), a cola de fibrina é utilizada como um fixador


biológico de uso tópico produzido a partir do plasma humano, e é capaz de estancar
hemorragias em procedimentos cirúrgicos. Além disto, pode favorecer o paciente em relação
a diminuição ou eliminação de inflamação pós-operatória e pela diminuição do tempo
cirúrgico (CORAL-GHANEM et al., 2010).

A cola de fibrina simula os estágios finais da cascata de coagulação e é constituída


por fibrinogênio, fator XIII da coagulação, plasminogênio, fibronectina plasmática e trombina
humana (Figura 12) (CORAL-GHANEM et al., 2010).

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


188
Figura 12- Apresentação final da cola de fibrina produzida pela Hemobrás

Fonte: Disponível em http://www.brasil.gov.br/ciencia-e-tecnologia/2012/10/primeiro-selante-


biologico-produzido-no-pais-comeca-a-ser-distribuido/cola-de-fibrina_governo-do-estado-de-
pernambuco.jpg/view Acesso em maio de 2016

9.3 Controle de Qualidade

Controle da qualidade (CQ) é definido como técnicas e atividades operacionais


utilizadas para monitorar o cumprimento dos requisitos da qualidade especificados. O
controle da qualidade do sangue tem a finalidade de prevenir, detectar, identificar e corrigir
erros ou variações que possam ocorrer em todas as fases da produção. Com a padronização
correta dos processos, podemos avaliar e garantir a qualidade desejada (BRASIL, 2013).

9.3.1 Controle de qualidade dos hemocomponentes

Em relação à produção de hemocomponentes pelos serviços de hemoterapia,


segundo a Portaria MS nº 1.353, de 13 de junho de 2011 (cujos trechos principais
compreendem o Apêndice A), estes deverão realizar o controle de qualidade de todos os
tipos de hemocomponentes que produzirem.

Alguns métodos parâmetros e critérios para controle da qualidade de alguns


hemocomponentes e do sangue total (ST) foram estabelecidos pelo Ministério da Saúde e
estão descritos em quadros no Livro “Técnico em Hemoterapia”, 2013.

O Controle de qualidade das bolsas de ST consiste na inspeção visual como


alteração de cor, lipemia do sobrenadante, presença de coágulos, presença de vazamento,
além do tempo de coleta e volume (Quadro 5). Os parâmetros e critérios para o PFC e CRIO
estão representados nos Quadros 6 e 7 (BRASIL, 2013).

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


189
Quadro 5- Parâmetros, critérios de aceitação e número de amostras para controle da qualidade do
sangue total

Fonte: Brasil (2013)


* Portaria MS/GM no 1.353, de 13 de junho de 2011

Quadro 6- Parâmetros, critérios de aceitação e número de amostras para controle da qualidade de


plasma fresco congelado PFC, além do aspecto visual

Fonte: Brasil (2013)


*Deve ser realizado um destes testes no controle da qualidade do PFC, a critério do serviço, em
unidades com até 30 dias de armazenamento.
** As células residuais devem ser contadas antes do congelamento.

Quadro 7- Parâmetros avaliados, critérios de aceitação e número de amostras para controle da


qualidade do Crioprecipitado CRIO, além do aspecto visual

Fonte: Brasil (2013)

Em relação à produção de hemoderivados, a Resolução Nº 46, de 18 de Maio de


2000 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (cujos trechos principais se
encontram no Apêndice B) descreve os requisitos e metodologias para controle da qualidade
dos hemoderivados produzidos desde a matéria-prima até o produto acabado.

9.3.2 Métodos microbiológicos, químicos e físicos para controle de qualidade de


hemoderivados

Na Resolução Nº 46, de 18 de Maio de 2000 da Agência Nacional de Vigilância


Sanitária (Anvisa), estão descritos métodos para o controle de qualidade dos hemoderivados
produzidos pelas hemoindústrias. Nos Apêndices C a G estão descritos os testes para
controle da qualidade do hemoderivado (produto acabado), de acordo com esta Resolução,
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
190
para: albumina humana, imunoglobulinas, fator VIII, fator IX, complexo protrombínico.

9.3.3 Política nacional de sangue, componentes e hemoderivados

O tema Política Nacional de Sangue e Hemoderivados foi considerado de grande


importância na 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986), com a seguinte fundamentação: “É
dever do Estado prover os meios para um atendimento hematológico e hemoterápico de
acesso universal e de boa qualidade sendo dever do cidadão cooperar com o Estado na
consecução desta finalidade” (BRASIL, 2013).

A Política Nacional de Sangue, Componente e Hemoderivados é regida pela Lei


10.205, de 21 de Março de 2001, apresentada no Apêndice I. Esta lei é popularmente
conhecida como “Lei Betinho” ou “Lei do Sangue”, que é relativa à “coleta, processamento,
estocagem, distribuição e aplicação do sangue e dos seus componentes e derivados, assim
como estabelece o ordenamento institucional indispensável à execução adequada dessas
atividades, e outras providências”.

 Albumina humana:

Na Resolução Nº 46, de 18 de Maio de 2000 da Agência Nacional de Vigilância


Sanitária (Anvisa), estão descritos métodos para o controle de qualidade dos hemoderivados
produzidos pelas hemoindústrias. No Apêndice C estão descritos os testes para controle da
qualidade do hemoderivado (produto acabado).

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


191
REFERÊNCIAS

ADATI, M.C.; GEMAL, A.L.; GUEDES, H.C.B. Resultados do controle de qualidade de produtos
hemoderivados - Análise sanitária. Rev Bras Hematol Hemoter, v. 31 (4). 2009.

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2000. DOU de 19/05/2000.

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Consulta Pública nº 25, de 12 de maio de


2003. D.O.U de 14/05/2003.

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC N.º 17, de 16 de abril de
2010. DOU de 21/08/2006, em reunião realizada em 12 de abril de 2010.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei 10.205, de 21 de Março de 2001.


Regulamenta o § 4o do art. 199 da Constituição Federal, relativo à coleta, processamento,
estocagem, distribuição e aplicação do sangue, seus componentes e derivados, estabelece o
ordenamento institucional indispensável à execução adequada dessas atividades, e dá outras
providências. Brasília, 2001.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção


Especializada. Guia para o uso de hemocomponentes. Brasília, 2008.

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Saúde. 292 p. 2013.

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Hemoderivados. Rio de Janeiro, 2006.

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Transplante autólogo de conjuntiva com uso de cola de fibrina em pterígios primários. Arq.
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metabólica e nutricional. Anais do I Simpósio de Patologia Clínica Veterinária da Região Sul
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ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


192
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PASSOS, L. Novas Tecnologias e a Transmissão de Doenças pela Transfusão de sangue.


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REZENDE, S.M. Distúrbios da hemostasia: doenças hemorrágicas. Rev Med Minas Gerais,
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SOARES, B.M.D. Política Nacional de Hemoderivados – Desafios e Perspectivas. Dissertação


de Mestrado. UnB-CDS, Brasília – DF, 2002.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


193
APÊNDICE A - PORTARIA MS Nº 1.353, DE 13.06.2011 - DOU 1 DE 14.06.2011
Aprova o Regulamento Técnico de Procedimentos Hemoterápicos.

[...]
Seção V
Do Controle de Qualidade dos Hemocomponentes

Art. 61. Os serviços de hemoterapia deverão realizar o controle de qualidade


sistemático de todos os tipos de hemocomponentes que produzirem.

Parágrafo único. Devem ser observados critérios técnicos e científicos relativos à


amostragem para o controle de qualidade, como:

I - o controle de qualidade dos concentrados de hemácias e dos concentrados de


plaquetas deve ser realizado em, pelo menos, 1% da produção ou 10 unidades por mês (o
que for maior);
II - o controle de qualidade dos plasmas e dos crioprecipitados deve ser feito em
amostragem definida no Anexo VI deste Regulamento;
III - o serviço de hemoterapia deve ter protocolos escritos, definindo o tipo de
controle a ser feito em cada hemocomponente, a amostragem e os parâmetros mínimos
esperados para cada item controlado;
IV - cada item verificado pelo controle de qualidade deve apresentar um percentual
de conformidade igual ou superior a 75%;
V - com relação à produção de concentrado de plaquetas por aférese e contagem de
leucócitos em componentes celulares desleucocitados a conformidade considerada deve ser
igual ou superior a 90%;
VI - a avaliação da contaminação microbiológica dos hemocomponentes celulares
deve ser realizada utilizando-se amostragem igual ou superior a 1% da produção ou 10
unidades por mês (o que for maior). Todos os casos positivos devem ser devidamente
investigados na busca de uma causa corrigível; e
VII - o Anexo VI deste Regulamento indica os parâmetros mínimos a serem
verificados em cada hemocomponente.

Art. 62. Os serviços de hemoterapia deverão realizar análises periódicas dos


resultados do controle de qualidade, em que tais resultados sejam revisados e analisados, e
ações corretivas sejam propostas para as não conformidades observadas.

[...]

APÊNDICE B- RESOLUÇÃO-RDC Nº 46, DE 18 DE MAIO DE 2000, DOU DE 19/05/2000

A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no uso da


atribuição que lhe confere o art. 11 inciso IV, do Regulamento da ANVS aprovado pelo
Decreto 3.029, de 16 de abril de 1999, em reunião realizada em 10 de maio de 2000,
considerando o desenvolvimento científico e tecnológico na área de produção e controle de
produtos de origem plasmática; considerando a importância de compatibilizar a legislação
nacional com os instrumentos harmonizados no âmbito do Mercosul, Res. GMC nº 33/99;
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
194
considerando a necessidade de regulamentar os processos de Produção e Controle de
Qualidade dos Produtos Hemoderivados de Uso Humano, adota a seguinte Resolução de
Diretoria Colegiada e eu, Diretor-Presidente, determino a sua publicação:

Art. 1º Aprovar o Regulamento Técnico para a Produção e Controle de Qualidade de


Hemoderivados de Uso Humano, que consta como Anexo.
[...]

Além disto, a produção de hemoderivados pelas indústrias também são reguladas


pela Resolução RDC N.º 17, de 16 de abril de 2010, que dispõe sobre as Boas Práticas de
Fabricação de Medicamentos.

[...]

CAPÍTULO I
OBJETIVO

Art. 1º Esta resolução possui o objetivo de estabelecer os requisitos mínimos a


serem seguidos na fabricação de medicamentos para padronizar a verificação do
cumprimento das Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos (BPF) de uso humano
durante as inspeções sanitárias.

[...]

APÊNDICE C - RESOLUÇÃO Nº 46, DE 18 DE MAIO DE 2000 (TESTES PARA CONTROLE DA


QUALIDADE DO HEMODERIVADO – ALBUMINA HUMANA)

[...]

B.4.4.3 CONTROLE DO PRODUTO ACABADO

B.4.4.3.1. Inspeção visual


Uma amostragem do Produto Acabado deve ser submetida à Inspeção Visual contra
fundos claro e escuro. A solução de Albumina deve apresentar coloração incolor, amarelo,
ou castanho esverdeado, deve estar límpida, ligeiramente viscosa e isenta de partículas.

B.4.4.3.2. Determinação Potenciométrica do pH


Uma amostra do Produto Acabado, deve ser submetida a Determinação
Potenciométrica do pH, segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última
edição. O pH deve estar entre 6,7 e 7,3.

B.4.4.3.3. Determinação da Concentração Protéica


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação da
Concentração Protéica pelo Método de Kjeldahl, segundo metodologia descrita na
Farmacopéia Européia, última edição. A concentração protéica não deve ser menor que 95%,
nem maior que 105% da declarada no rótulo.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


195
B.4.4.3.4. Determinação da Pureza por Eletroforese
Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação da Pureza
por eletroforese de zona, segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última
edição. Na análise do eletroforetograma a banda com mobilidade correspondente à fração
Albumina deve corresponder a pelo menos 95% do total de proteínas presentes na amostra.

B.4.4.3.5. Determinação de Polímeros e agregados


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a cromatografia de gel
filtração, com detecção em 280 nm, segundo metodologia descrita na Farmacopéia
Européia, última edição. A área do pico correspondente aos polímeros e agregados está
localizada na parte do cromatograma que representa o volume vazio. A área deste pico
dividida por 2 não deve ser maior que 5% da área total do cromatograma.

B.4.4.3.6. Determinação de Sódio


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Determinação da
Concentração de Sódio, por fotometria de chama, fotometria de absorção atômica,
espectrometria de emissão atômica (589 nm) ou potenciometria com eletrodos específicos.
A concentração de sódio não deve ser maior que 160 mmol/l, e não deve ser menor que 95%
nem maior que 105% do declarado no rótulo.

B.4.4.3.7. Determinação de Potássio


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Determinação da
Concentração de Potássio, por fotometria de chama, fotometria de absorção atômica,
espectrometria de emissão atômica (766 nm) ou potenciometria com eletrodos específicos.
A concentração de potássio deve ser menor que 0,05 mmol/g de proteína.

B.4.4.3.8. Determinação de Alumínio Residual


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação de Alumínio
Residual, por espectrofotometria de absorção atômica, segundo metodologia descrita na
Farmacopéia Européia, última edição. O teor de alumínio não deve ser maior que 200 mg/l,
se a Albumina for indicada para pacientes em diálise ou para recém-nascidos prematuros.

B.4.4.3.9. Determinação de Ativador de Pré-Calicreína


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Determinação de Ativador
de Pré-Calicreína (PKA), segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última
edição. A atividade de PKA não deve ser maior que 35 U.I./ml.

B.4.4.3.10. Determinação de Grupo Heme


Uma amostra do Produto Acabado diluída em solução fisiológica a uma
concentração protéica de 10 g/l deve ser submetida à Determinação de Grupo Heme,
segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. A amostra deve
apresentar absorbância menor ou igual a 0,15 determinada em comprimento de onda de
403 nm, em célula de 1 cm de caminho ótico.

B.4.4.3.11. Prova de Identidade


Uma amostra do Produto Acabado deve ser testada quanto a sua origem, frente a
antisoros específicos e funcionantes de pelo menos quatro espécies diferentes (anti-
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
196
humano, antibovino, anti-eqüino, anti-caprino e anti-porcino), por imunodifusão ou por
imunoeletroforese, segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição.
A amostra deve apresentar reatividade somente frente ao soro anti-humano. Os antisoros
das demais espécies devem apresentar reatividade exclusivamente frente a seus antígenos
específicos.

B.4.4.3.12. Teste de Esterilidade


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida ao Teste de Esterilidade,
segundo metodologia descrita na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição. O
resultado deve ser satisfatório.

B.4.4.3.13. Teste de Pirogênio


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida ao Teste de Pirogênio por
inoculação endovenosa em coelhos de pelo menos 1,5 Kg. Para a Albumina com
concentração entre 15% e 25% inocula-se 3 ml de amostra/kg de peso e, para a Albumina
com concentração entre 3,5% e 5,0% inocula-se 10 ml de amostra/kg de peso. O
procedimento e a interpretação dos resultados devem estar de acordo com os critérios
descritos na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição. O resultado deve ser
satisfatório.

B.4.4.3.14. Teste de Inocuidade (Toxicidade Inespecífica)


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Teste de Inocuidade,
segundo metodologia descrita na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição. O
resultado deve ser satisfatório.

B.4.4.3.15. Prova de Estabilidade Térmica


Uma amostra do Produto Acabado não deve apresentar modificação, após
incubação a 57ºC durante 50 horas, quando comparada, por inspeção visual, contra fundos
claro e escuro a uma amostra do mesmo lote que não foi submetida a este tratamento.

APÊNDICE D - RESOLUÇÃO Nº 46, DE 18 DE MAIO DE 2000 (TESTES PARA CONTROLE DA


QUALIDADE DO HEMODERIVADO – IMUNOGLOBULINAS)

[...]
C.4.7. PRODUTO ACABADO

C.4.7.1. CONTROLE DO PRODUTO ACABADO


As preparações liofilizadas devem ser reconstituídas conforme suas instruções de
uso, imediatamente antes dos ensaios, exceto para os Testes de Solubilidade e Umidade
Residual.

C.4.7.1.1. Inspeção visual


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Inspeção Visual contra
fundos claro e escuro. A preparação liofilizada é um pó ou massa sólida friável branca ou
ligeiramente amarelada. A solução deve apresentar coloração entre o incolor e o amarelo
pálido, deve estar límpida, ligeiramente opalescente e isenta de partículas.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


197
C.4.7.1.2. Determinação do Volume
Uma amostra do Produto Acabado das preparações líquidas deve ser submetida a
Determinação do Volume, por medição direta. Admite-se uma variação de até 5% do volume
declarado no rótulo.

C.4.7.1.3. Determinação Potenciométrica do pH


Uma amostra do Produto Acabado, deve ser submetida a Determinação
Potenciométrica do pH, segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última
edição. Especificações: Imunoglobulina de uso Intramuscular: 6,4 a 7,2, Imunoglobulina de
uso Endovenoso: 4,0 a 7,4.

C.4.7.1.4. Determinação da Concentração Protéica


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação da
Concentração Protéica pelo Método de Kjeldhal, segundo metodologia descrita na
Farmacopéia Européia, última edição. Especificações: Imunoglobulina de uso intramuscular:
100 g/l a 180 g/l, Imunoglobulina de uso endovenoso: no mínimo 30 g/l. O produto deve
ainda apresentar um teor protéico não inferior a 90% e nem superior a 110% do declarado
no rótulo.

C.4.7.1.5. Determinação da Pureza Eletroforética


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação de Pureza
Eletroforética de zona segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última
edição. Na análise do eletroforetograma a banda com mobilidade correspondente à fração
gamaglobulina deve corresponder a pelo menos: Para Imunoglobulinas de uso
Intramuscular: 90% do total de proteínas presentes na amostra, Para Imunoglobulinas de
uso Endovenoso: 95% do total de proteínas presentes na amostra.

C.4.7.1.6. Determinação de polímeros e agregados.


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Determinação da
Porcentagem de Polímeros e Agregados por cromatografia de gel filtração, com detecção em
280 nm, segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. Para as
Imunoglobulinas intramusculares, a área do cromatograma correspondente aos dímeros e
monômero não deve ser inferior a 85% da área total do cromatograma e não mais que 10%
deve corresponder aos polímeros e agregados. Para as Imunoglobulinas endovenosos, a área
do cromatograma correspondente aos dímero e monômero não deve ser inferior a 90% da
área total do cromatograma enquanto que os polímeros e agregados devem corresponder a
não mais que 3%.

C.4.7.1.7. Prova de Identidade


Uma amostra do Produto Acabado deve ser testada quanto a sua origem, frente a
antisoros específicos e funcionantes de pelo menos quatro espécies diferentes (anti-
humano, antibovino, anti-eqüino, anti-caprino e anti-porcino), por imunodifusão ou por
imunoeletroforese, segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição.
A amostra deve apresentar, reatividade somente frente ao soro antissoro humano. Os soros
das demais espécies devem apresentar reatividade exclusivamente frente a seus antígenos
específicos.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


198
C.4.7.1.8. Determinação de anticorpos contra antígeno de superfície do vírus da
Hepatite B
Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação de
anticorpos contra antígeno de superfície do vírus da Hepatite B por imunoensaio autorizado
pela Autoridade Sanitária competente. Deve ser detectado não menos que 0,5 U.I/g de
imunoglobulina.

C.4.7.1.9. Teste de Esterilidade


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida ao Teste de Esterilidade
segundo metodologia descrita na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição. O
resultado deve ser satisfatório.

C.4.7.1.10. Teste de Pirogênio


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida ao Teste de Pirogênio por
inoculação endovenosa de: Para Imunoglobulinas de uso Endovenoso: Injetar 0,5g de
imunoglobulina por Kg de peso, injetando-se no máximo 10 ml por coelho pesando pelo
menos 1,5 Kg; Para Imunoglobulinas de uso Intramuscular: Injetar 1,0 ml da preparação/kg
de peso. O procedimento e a interpretação dos resultados devem estar de acordo com os
critérios descritos na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição. O resultado
deve ser satisfatório.

C.4.7.1.11. Teste de Inocuidade (toxicidade inespecífica)


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Teste de Inocuidade,
segundo metodologia descrita na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição. O
resultado deve ser satisfatório.

C.4.7.1.12. Prova de Termoestabilidade


Uma amostra do Produto Acabado, para as preparações líquidas, deve ser
submetida a prova de termoestabilidade por incubação a 37° C, durante 4 semanas ou 57° C
durante 4 horas. Ao final deste período, a amostra quando inspecionada visualmente contra
fundos claro e escuro, não deve apresentar alterações como gelificação ou floculação.

C.4.7.1.13. Ensaio de atividade (potência) de Imunoglobulinas Normais


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Ensaio de Potência de
Imunoglobulinas Normais, utilizando métodos de sensibilidade e especificidade adequados
autorizados pela Autoridade Sanitária competente. As preparações intramusculares devem
apresentar uma potência no mínimo 10 vezes maior que a da Mistura Inicial que lhe deu
origem.
As preparações endovenosas devem apresentar uma potência no mínimo 3 vezes
maior que a da Mistura Inicial que lhe deu origem.

C.4.7.1.14. Ensaio de atividade (potência) de imunoglobulinas específicas


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Ensaio de Potência de
Imunoglobulinas Específicas, utilizando métodos de sensibilidade e especificidade
adequados autorizados pela Autoridade Sanitária competente.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


199
C.4.7.1.14.1. Determinação da Potência de Imunoglobulinas Específicas de uso
Intramuscular, são estabelecidos os seguintes limites
Imunoglobulina antitetânica: deve conter, no mínimo, 100 U.I./ml de antitoxina
tetânica, determinado por imunoensaio de sensibilidade e especificidade adequada. A
potência estimada não deve ser menor que a declarada. O intervalo de confiança (P=0,95) da
potência estimada não deve ser menor que 80% nem maior que 125%.

Imunoglobulina antirrábica: deve conter, no mínimo, 150 U.I./ml de anticorpos


específicos contra vírus da raiva, determinado por imunoensaio de sensibilidade e
especificidade adequada. A potência estimada não deve ser menor que a declarada, nem
maior que o dobro da mesma. O intervalo de confiança (P=0,95) da potência estimada não
deve ser menor que 80% nem maior que 125%.

Imunoglobulina anti-Hepatite B: deve conter, no mínimo, 100 U.I./ml de anticorpos


específicos contra antígeno de superfície do vírus da Hepatite B (HBsAg) determinado por
imunoensaio, ou outro método equivalente e validado. A potência estimada não deve ser
menorque a declarada. O intervalo de confiança (P=0,95) da potência estimada não deve ser
menor que 80% nem maior que 125%.

Imunoglobulina antivaricela Zoster: deve conter, no mínimo, 100 U.I./ml de


anticorpos antivaricela Zoster, determinado por imunoensaio, ou outro método equivalente
e validado. A potência estimada não deve ser menor que a declarada. O intervalo de
confiança (P=0,95) da potência estimada não deve ser menor que 80% nem maior que 125%.

Imunoglobulina Anti-D (anti-Rh): a potência Determinada por Hemaglutinação. A


potência estimada para as preparações liofilizadas não deve ser menor que 90% nem maior
que 111% da potência declarada. O intervalo de confiança (P=0,95) da potência estimada em
U.I. não deve ser menor que 80% nem maior que 125% da potência declarada. Para as
preparações líquidas, a potência estimada em U.I. não deve ser menor que 90% e nem maior
que 133% da potência declarada. O intervalo de confiança, (P=0,95) da potência estimada
não deve ser menor que 80% nem maior que 148% da potência declarada.

Imunoglobulina anti-Hepatite A: deve conter no mínimo 600 U.I./ml de anticorpos


contra vírus da Hepatite A, determinado por imunoensaio, ou outro método equivalente e
validado. A potência estimada não deve ser menor que a declarada. O intervalo de confiança
(P=0,95) da potência estimada não deve ser menor que 80% nem maior que 125%.

Imunoglobulina anti-Rubéola: a potência é determinada por Inibição da


Hemaglutinação. A potência estimada não deve menor que 4500 U.I.de anticorpos contra o
vírus da Rubéola por mililitro. A potência estimada não deve ser menor que a declarada. O
intervalo de confiança (P=0,95) da potência estimada não deve ser menor que 50% nem
maior que 200% da potência declarada.

Imunoglobulina anti-Sarampo: A potência estimada não deve menor que 50 U.I./ml


de anticorpos neutralizantes contra vírus do sarampo.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


200
C.4.7.1.14.2. Determinação da Potência de Imunoglobulinas Específicas de Uso
Endovenoso
Imunoglobulina anti-Hepatite B: deve conter, no mínimo, 50 U.I./ de anticorpos
específicos contra antígeno de superfície do vírus da Hepatite B por mililitro, determinado
por imunoensaio de sensibilidade e especificidade adequados. A potência estimada não deve
ser menor que a declarada. O intervalo de confiança (P=0,95) da potência estimada não deve
ser menor que 80% nem maior que 125%.

C.4.7.1.15. Provas específicas para imunoglobulinas liofilizadas


O diluente que acompanha as preparações liofilizadas deve cumprir com os
requisitos para Água Estéril para Injetáveis descritos na Farmacopeia dos Estados Unidos
(USP) ou Farmacopéia Europeia, última edição.

C.4.7.1.15.1. Determinação da Solubilidade


Uma amostra do Produto Acabado de Imunoglobulina liofilizada deve ser submetida
a Determinação de Solubilidade, segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia,
última edição, quando adicionado o diluente recomendado pelo produtor. A imunoglobulina
endovenosa deverá se dissolver completamente no máximo em 30 minutos a uma
temperatura entre 20°C e 25°C. A imunoglobulina intramuscular deverá se dissolver no
máximo em 20 minutos, a uma temperatura entre 20° C a 25° C.

C.4.7.1.15.2. Determinação da Umidade Residual


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Determinação de Umidade
Residual, segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. A umidade
residual do liofilizado não deverá exceder a 3%.

C.4.7.1.16. Provas específicas para imunoglobulinas endovenosas


C.4.7.1.16.1. Determinação do Ativador de Pré-calicreína
Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Determinação de Ativador
de Précalicreína (PKA), segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última
edição. A atividade não deve ser maior que 35 U.I/ml com referência a uma solução que
contenha 30 g/l de imunoglobulina.

C.4.7.1.16.2. Determinação de atividade anticomplementar


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação da atividade
anticomplementar, segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição.
O consumo de complemento não deve ser maior que 50% (1 CH50 por mg de
imunoglobulina).

C.4.7.1.16.3. Determinação de Hemaglutininas anti-A e Anti-B pelo Método Indireto


Uma amostra do Produto Acabado, diluída a 3% m/V, deve ser submetida a
Determinação de Hemaglutininas anti-A e anti-B pelo Método Indireto, segundo
metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. Não deve ser observada
aglutinação em diluição igual a 1:64.

C.4.7.1.16.4. Determinação da Osmolalidade


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação de
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
201
Osmolalidade, segundo metodologia descrita na na Farmacopéia Européia, última edição. A
osmolalidade não deve ser menor que 240 mosmol/Kg.

APÊNDICE E - RESOLUÇÃO Nº 46, DE 18 DE MAIO DE 2000 (TESTES PARA CONTROLE DA


QUALIDADE DO HEMODERIVADO – FATOR VIII)

[...]
D - FATOR VIII HUMANO DE ORIGEM PLASMÁTICA
...
D.4.4. PRODUTO ACABADO
O diluente que acompanha as preparações liofilizadas deve cumprir com os
requisitos para Água Estéril para Injetáveis, descritos na Farmacopéia dos Estados Unidos
(USP) ou Farmacopéia Européia, última edição.

D.4.4.1 CONTROLE DO PRODUTO ACABADO


As preparações liofilizadas devem ser reconstituídas conforme suas instruções de
uso, imediatamente antes dos ensaios, exceto para os Testes de Solubilidade e Umidade
Residual.

D.4.4.1.1. Inspeção visual


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Inspeção Visual contra
fundos claro e escuro. A preparação liofilizada é um pó ou massa sólida friável branca ou
ligeiramente amarelada. A solução deve apresentar coloração entre o incolor e o amarelo
pálido, deve estar límpida ou ligeiramente opalescente e isenta de partículas.

D.4.4.1.2. Determinação Potenciométrica do pH


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação
Potenciométrica do pH, segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última
edição. O pH deve estar entre 6,5 e 7,5.

D.4.4.1.3. Determinação da Concentração Protéica


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Determinação da
Concentração Protéica pelo Método Kjeldhal, segundo metodologia descrita na Farmacopéia
Européia, última edição.

D.4.4.1.4. Determinação da Osmolalidade


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação de
Osmolalidade segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. A
Osmolalidade não deve ser menor que 240 mOsmol/Kg.

D.4.4.1.5. Dosagem do Fator VIII


Uma amostra do produto Acabado deve ser submetida a Dosagem do Fator VIII,
segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. A potência estimada
não deve ser menor que 80% nem maior que 120% da potência declarada no rótulo. O
intervalo de confiança, (P = 0,95) da potência estimada não deve ser maior que 80% a 120%.
A potência da preparação, reconstituída de acordo com as indicações do produtor, não deve
ser menor que 20 U.I. de Fator VIII:C por mililitro.
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
202
D.4.4.1.6. Dosagem do Fator von Willebrand
Para produtos indicados no tratamento da Doença de von Willebrand, a atividade
deve ser determinada por um método adequado utilizando uma preparação de referência
calibrada frente a um Padrão Internacional de Fator de von Willebrand em plasma, segundo
a metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. A potência estimada não
deve ser menor que 60% e nem maior que 140% da aprovada para o produto em particular.

D.4.4.1.7. Identificação
D.4.4.1.7.1. Prova de Identidade
Uma amostra do Produto Acabado deve ser testado quanto a sua origem, frente a
antisoros específicos e funcionantes de pelo menos de quatro espécies diferentes (anti-
humano, anti-bovino,anti-eqüino, anti-caprino e anti-porcino) por imunodifusão ou por
imunoeletroforese. A amostra deve apresentar reatividade somente frente ao soro anti-
humano, segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. Os
antisoros das demais espécies devem apresentar reatividade exclusivamente frente à seus
antígenos específicos

D.4.4.1.7.2. Provas Complementares


O ensaio para Fator VIII (segundo D.4.4.1.5) e, quando aplicável, e o ensaio de Fator
de von Willebrand (segundo D.4.4.1.6), contribuem para a identificação do produto.

D.4.4.1.8. Teste de Esterilidade


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida ao Teste de Esterilidade,
segundo metodologia descrita na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição. O
resultado deve ser satisfatório.

D.4.4.1.9. Teste de Pirogênio


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida ao Teste de Pirogênio por
inoculação endovenosa de não menos que 30 U.I. de Fator VIII:C / Kg de peso, em coelhos
pesando pelo menos 1,5 Kg. O procedimento e a interpretação dos resultados devem estar
de acordo com os critérios descritos na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última
edição. O resultado deve ser satisfatório.

D.4.4.1.10. Teste de Inocuidade (toxicidade inespecífica)


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida ao Teste de Inocuidade,
segundo metodologia descrita na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição. O
resultado deve ser satisfatório.

D.4.4.1.11. Determinação de Antígeno de Superfície do Vírus da Hepatite B


Uma amostra do Produto Acabado deve ser testada para Determinação de
Antígenos de superfície do virus da Hepatite B (HBsAg) por imunoensaio de sensibilidade e
especificidade adequados e autorizados pela Autoridade Sanitária competente. O antígeno
de superfície do vírus da Hepatite B não deve ser detectado.

D.4.4.1.12. Determinação da Solubilidade


Uma amostra do Produto Acabado deverá se dissolver completamente, quando
adicionado o diluente recomendado pelo produtor, no máximo em 10 minutos,a uma
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
203
temperatura entre 20°C e 25° C.

D.4.4.1.13. Determinação da Umidade Residual


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Determinação de Umidade
Residual segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. A umidade
residual não deve exceder a 3%.

D.4.4.1.14. Determinação de Hemaglutininas anti-A e anti-B pelo Método Indireto


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Determinação de
Hemaglutininas anti-A e anti-B pelo Método Indireto, segundo metodologia descrita na
Farmacopéia Européia, última edição. Não deve ser observada aglutinação na diluição igual a
1:64.

[...]

APÊNDICE F - RESOLUÇÃO Nº 46, DE 18 DE MAIO DE 2000 (TESTES PARA CONTROLE DA


QUALIDADE DO HEMODERIVADO – FATOR IX)

[...]

E - FATOR IX HUMANO DE ORIGEM PLASMÁTICA


[...]
E.4.4.1. CONTROLE DO PRODUTO ACABADO
As preparações liofilizadas devem ser reconstituídas conforme suas instruções de
uso, imediatamente antes dos ensaios, exceto para os Testes de Solubilidade e Umidade
Residual.

E.4.4.1.1. Inspeção Visual


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Inspeção Visual contra
fundos claro e escuro. A preparação liofilizada é um pó ou massa sólida friável branca ou
ligeiramente amarelada. A solução deve apresentar coloração entre o incolor e o amarelo
pálido, deve estar límpida ou ligeiramente opalescente e isenta de partículas.

E.4.4.1.2. Determinação Potenciométrica do pH


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação
Potenciométrica do pH segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última
edição. O pH deve estar entre 6,5 e 7,5.

E.4.4.1.3. Determinação da Concentração Protéica


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Determinação da
Concentração Protéica pelo Método de Kjeldhal, segundo metodologia descrita na
Farmacopéia Européia, última edição.

E.4.4.1.4. Determinação da Osmolalidade


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação de
Osmolalidade segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. A
Osmolalidade não deve ser inferior a 240 mOsmol/Kg.
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
204
E.4.4.1.5. Dosagem do Fator IX
Uma amostra do produto Acabado deve ser submetida a Dosagem do Fator IX,
segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. A potência estimada
não deve ser menor que 80% nem maior que 125% da potência declarada no rótulo. O
intervalo de confiança, (P=0,95), da potência estimada não deve ser maior que 80% a 125%.
A potência da preparação, reconstituída de acordo com as indicações do produtor, não deve
ser menor que 20 U.I. de Fator IX por mililitro.

E.4.4.1.6. Identificação
E.4.4.1.6.1. Prova de Identidade
Uma amostra do Produto Acabado deve ser testado quanto a sua origem, frente a
antisoros específicos e funcionantes de pelo menos de quatro espécies diferentes (anti-
humano, anti-bovino, anti-eqüino, anti-caprino e anti-porcino) por imunodifusão ou por
imunoeletroforese, segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição.
A amostra deve apresentar reatividade somente frente ao soro anti-humano Os antisoros
das demais espécies devem apresentar reatividade exclusivamente frente à seus antígenos
específicos.

E.4.4.1.6.2. Provas complementares


O ensaio para Fator IX realizado segundo o item nº E.4.4.1.5 contribui para a
identificação do produto.

E.4.4.1.7. Teste de Esterilidade


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida ao Teste de Esterilidade
segundo metodologia descrita na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição. O
resultado deve ser satisfatório.

E.4.4.1.8. Teste de Pirogênio


Uma amostra do produto Acabado deve ser submetida ao Teste de Pirogênio por
inoculação endovenosa de 30 U.I de Fator IX/Kg de peso, em coelhos de pelo menos 1,5 Kg.
O procedimento e a interpretação dos resultados devem estar de acordo com os critérios
descritos na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição. O resultado deve ser
satisfatório.

E.4.4.1.9. Teste de Inocuidade (toxicidade inespecífica)


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida ao Teste de Inocuidade,
segundo metodologia descrita na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição. O
resultado deve ser satisfatório.

E.4.4.1.10. Determinação da Solubilidade


Uma amostra do Produto Acabado deverá se dissolver completamente, quando
adicionado o diluente recomendado pelo produtor, no máximo em 10 minutos, a uma
temperatura entre 20°C a 25° C.

E.4.4.1.11. Determinação da Umidade Residual


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Determinação de Umidade
Residual segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. A umidade
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
205
residual não deve exceder a 3%.

E.4.4.1.12. Determinação de Heparina


Se for adicionado Heparina durante a preparação, deve-se determinar a quantidade
presente segundo metodologia descrita para o ensaio de Heparina para Fatores de
Coagulação, na Farmacopéia Européia, última edição. A amostra não deve conter mais que
0,5 U.I de Heparina por Unidade Internacional de Fator IX.

E.4.4.1.13. Determinação de Fatores de Coagulação Ativados


Uma amostra do produto Acabado deve ser submetida a Determinação de Fatores
de Coagulação Ativados segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última
edição.

APÊNDICE G - RESOLUÇÃO Nº 46, DE 18 DE MAIO DE 2000 (TESTES PARA CONTROLE DA


QUALIDADE DO HEMODERIVADO – COMPLEXO PROTROMBÍNICO)

[...]

F - COMPLEXO PROTROMBÍNICO HUMANO DE ORIGEM PLASMÁTICA


[...]
F.4.4. PRODUTO ACABADO
O diluente que acompanha as preparações liofilizadas deve cumprir com os
requisitos para Água Estéril para Injetáveis descritos na Farmacopéia dos Estados Unidos
(USP) ou Farmacopéia Européia, última edição.

F.4.4.1. CONTROLE DO PRODUTO ACABADO


As preparações liofilizadas devem ser reconstituídas conforme suas instruções de
uso, imediatamente antes dos ensaios, exceto para os Testes de Solubilidade ou Umidade
Residual.

F.4.4.1.1. Inspeção Visual


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Inspeção Visual contra
fundos claro e escuro. A preparação liofilizada é um pó ou massa sólida friável branca ou
ligeiramente amarelada. A solução deve apresentar coloração entre o incolor e o amarelo
pálido; deve estar límpida ou ligeiramente opalescente e isenta de partículas.

F.4.4.1.2. Determinação Potenciométrica do pH


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação
Potenciométrica do pH,segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última
edição. O pH deve estar entre 6,5 e 7,5.

F.4.4.1.3. Determinação da Concentração Protéica


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetido à Determinação da
Concentração Protéica pelo Método de Kjeldhal, segundo metodologia descrita na
Farmacopéia Européia, última edição.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


206
F.4.4.1.4. Determinação da Osmolalidade
Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação de
Osmolalidade segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. A
Osmolalidade não deve ser inferior a 240 mOsmol/Kg.

F.4.4.1.5. Dosagem do Fator IX.


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Dosagem de Fator IX,
segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. A potência estimada
não deve ser menor que 80% nem maior que 125% da potência declarada no rótulo. O
intervalo de confiança, (P=0,95), da potência estimada não deve ser maior que 80% a 125%.
A potência da preparação, reconstituída de acordo com as indicações do produtor, não deve
ser menor que 20 U.I. de Fator IX por mililitro.

F.4.4.1.6. Determinação do Fator VII


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Dodagem do Fator VII,
como descrito na Farmacopéia Européia, última edição, em ensaios validados. A potência
estimada não deve ser menor que 80% nem maior que 125% da potência declarada no
rótulo. O intervalo de confiança, (P=0,95), da potência estimada não deve ser menor que
80% nem maior que 125% da declarada.

F.4.4.1.7. Dosagem de Fatores II e X


Uma amostra do produto Acabado deve ser submetida a Dosagem de Fatores II e X,
por ensaios validados. A potência estimada não deve ser menor que 80% nem maior que
125% da declarada no rótulo. O intervalo de confiança, (P=0,95), da potência estimada não
deve ser maior que 80% a 125%.

F.4.4.1.8. IDENTIFICAÇÃO
F.4.4.1.8.1. PROVA DE IDENTIDADE
Uma amostra do Produto Acabado deve ser testado quanto a sua origem, frente a
antisoros específicos e funcionantes de pelo menos de quatro espécies diferentes (anti-
humano, anti-bovino, anti-eqüino, anti-caprino e anti-porcino) por imunodifusão ou por
imunoeletroforese,segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. A
amostra deve apresentar reatividade somente frente ao soro anti-humano. Os antisoros das
demais espécies devem apresentar reatividade exclusivamente frente aos seus antígenos
específicos.

F.4.4.1.8.2. Provas Complementares


A Dosagem de Fator IX, realizados de acordo com o item n° F.4.4.1.5, e a Dosagem
de Fatores II, VII e X, descritos nos ítens nº, F.4.4.1.6 e F.4.4.1.7, contribui para a
identificação do produto.
F.4.4.1.9. Teste de Esterilidade
Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida ao Teste de Esterilidade
segundo metodologia descrita na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição.

F.4.4.1.10. Teste de Pirogênio


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida ao Teste de Pirogênio por
inoculação endovenosa de 30 U.I. de Fator IX / Kg de peso, em coelhos de pelo menos 1,5 Kg.
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
207
O procedimento e a interpretação dos resultados devem estar de acordo com os critérios
descritos na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição. O resultado deve ser
satisfatório.

F.4.4.1.11. Teste de Inocuidade (toxicidade inespecífica)


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida ao Teste de Inocuidade,
segundo metodologia descrita na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP), última edição. O
resultado deve ser satisfatório.

F.4.4.1.12. Determinação da Solubilidade


Uma amostra do Produto Acabado deverá se dissolver completamente, quando
adicionado o diluente recomendado pelo produtor, no máximo em 10 minutos a uma
temperatura entre 20° C a 25° C.

F.4.4.1.13. Determinação da Umidade Residual


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Determinação de Umidade
Residual segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição. A Umidade
Residual não deve exceder a 3%.

F.4.4.1.14. Determinação de Heparina (se for adicionado Heparina na preparação)


Se for adicionada Heparina durante a preparação deve-se determinar a quantidade
presente, segundo metodologia descrita para Ensaio de Heparina para Fatores de
Coagulação na Farmacopéia Européia, última edição. A amostra não deve conter mais que
0,5 U.I de Heparina por Unidade Internacional de Fator IX.

F.4.4.1.15. Determinação de Fatores de Coagulação Ativados


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida à Determinação de Fatores
de Coagulação Ativados, segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última
edição.

F.4.4.1.16. Determinação de Trombina


Uma amostra do Produto Acabado deve ser submetida a Determinação de
Trombina segundo metodologia descrita na Farmacopéia Européia, última edição.

[...]

APÊNDICE I - LEI 10.205, DE 21 DE MARÇO DE 2001

TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a captação, proteção ao doador e ao receptor, coleta,
processamento, estocagem, distribuição e transfusão do sangue, de seus componentes e
derivados, vedada a compra, venda ou qualquer outro tipo de comercialização do sangue,
componentes e hemoderivados, em todo o território nacional, seja por pessoas físicas ou
jurídicas, em caráter eventual ou permanente, que estejam em desacordo com o
ordenamento institucional estabelecido nesta Lei.
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
208
Art. 2º Para efeitos desta Lei, entende-se por sangue, componentes e
hemoderivados os produtos e subprodutos originados do sangue humano venoso,
placentário ou de cordão umbilical, indicados para diagnóstico, prevenção e tratamento de
doenças, assim definidos:

I - sangue: a quantidade total de tecido obtido na doação;


II - componentes: os produtos oriundos do sangue total ou do plasma, obtidos por
meio de processamento físico;
III - hemoderivados: os produtos oriundos do sangue total ou do plasma, obtidos
por meio de processamento físico-químico ou biotecnológico.

Parágrafo único. Não se considera como comercialização a cobrança de valores


referentes a insumos, materiais, exames sorológicos, imunoematológicos e demais exames
laboratoriais definidos pela legislação competente, realizados para a seleção do sangue,
componentes ou derivados, bem como honorários por serviços médicos prestados na
assistência aos pacientes e aos doadores.

Art. 3º São atividades hemoterápicas, para os fins desta Lei, todo conjunto de ações
referentes ao exercício das especialidades previstas em Normas Técnicas ou regulamentos
do Ministério da Saúde, além da proteção específica ao doador, ao receptor e aos
profissionais envolvidos, compreendendo:

I - captação, triagem clínica, laboratorial, sorológica, imunoematológica e demais


exames laboratoriais do doador e do receptor, coleta, identificação, processamento,
estocagem, distribuição, orientação e transfusão de sangue, componentes e hemoderivados,
com finalidade terapêutica ou de pesquisa;
II - orientação, supervisão e indicação da transfusão do sangue, seus componentes e
hemoderivados;
III - procedimentos hemoterápicos especiais, como aféreses, transfusões autólogas,
de substituição e intrauterina, criobiologia e outros que advenham de desenvolvimento
científico e tecnológico, desde que validados pelas Normas Técnicas ou regulamentos do
Ministério da Saúde;
IV - controle e garantia de qualidade dos procedimentos, equipamentos reagentes e
correlatos;
V - prevenção, diagnóstico e atendimento imediato das reações transfusionais e
adversas;
VI - prevenção, triagem, diagnóstico e aconselhamento das doenças
hemotransmissíveis;
VII - proteção e orientação do doador inapto e seu encaminhamento às unidades
que promovam sua reabilitação ou promovam o suporte clínico, terapêutico e laboratorial
necessário ao seu bem-estar físico e emocional.

§ 1º A hemoterapia é uma especialidade médica, estruturada e subsidiária de


diversas ações médico-sanitárias corretivas e preventivas de agravo ao bem-estar individual
e coletivo, integrando, indissoluvelmente, o processo de assistência à saúde.

§ 2º Os órgãos e entidades que executam ou venham a executar atividades


MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
209
hemoterápicas estão sujeitos, obrigatoriamente, a autorização anual concedida, em cada
nível de governo, pelo Órgão de Vigilância Sanitária, obedecidas as normas estabelecidas
pelo Ministério da Saúde.

Art. 4º Integram o conjunto referido no caput do art. 2º desta Lei os reagentes e


insumos para diagnóstico que são produtos e subprodutos de uso laboratorial oriundos do
sangue total e de outras fontes.

Art. 5º O Ministério da Saúde, por intermédio do órgão definido no regulamento,


elaborará as Normas Técnicas e demais atos regulamentares que disciplinarão as atividades
hemoterápicas conforme disposições desta Lei.

Art. 6º Todos os materiais e substâncias ou correlatos que entrem diretamente em


contato com o sangue coletado para fins transfusionais, bem como os reagentes e insumos
para laboratório utilizados para o cumprimento das Normas Técnicas devem ser registrados
ou autorizados pelo Órgão de Vigilância Sanitária competente do Ministério da Saúde.

Art. 7º As atividades hemoterápicas devem estar sob responsabilidade de um


médico hemoterapeuta ou hematologista, admitindo-se, entretanto, nos locais onde não
haja esses especialistas, sua substituição por outro médico devidamente treinado para bem
desempenhar suas responsabilidades, em hemocentros ou outros estabelecimentos
devidamente credenciados pelo Ministério da Saúde.

TÍTULO II
DA POLÍTICA NACIONAL DE SANGUE, COMPONENTES E HEMODERIVADOS

CAPÍTULO I
DO ORDENAMENTO INSTITUCIONAL

Art. 8º A Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados terá por


finalidade garantir a autossuficiência do País nesse setor e harmonizar as ações do poder
público em todos os níveis de governo, e será implementada, no âmbito do Sistema Único de
Saúde, pelo Sistema Nacional de Sangue, Componentes e

Derivados - SINASAN, composto por:

I - organismos operacionais de captação e obtenção de doação, coleta,


processamento, controle e garantia de qualidade, estocagem, distribuição e transfusão de
sangue, seus componentes e hemoderivados;
II - centros de produção de hemoderivados e de quaisquer produtos industrializados
a partir do sangue venoso e placentário, ou outros obtidos por novas tecnologias, indicados
para o diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças.

§ 1º O Ministério da Saúde editará planos e programas quadrienais voltados para a


Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados, como parte integrante e
específica do Plano Plurianual da União.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


210
§ 2º Para atingir essas finalidades, o Ministério da Saúde promoverá as medidas
indispensáveis ao desenvolvimento institucional e à capacitação gerencial e técnica da rede
de unidades que integram o SINASAN.

Art. 9º São órgãos de apoio do SINASAN:

I - órgãos de vigilância sanitária e epidemiológica, que visem ao controle da


qualidade do sangue, componentes e hemoderivados e de todo insumo indispensável para
ações de hemoterapia;
II - laboratórios de referência para controle e garantia de qualidade do sangue,
componentes e hemoderivados, bem como de insumos básicos utilizados nos processos
hemoterápicos, e confirmação de doadores e amostras reativas, e dos reativos e insumos
diagnósticos utilizados para a proteção das atividades hemoterápicas;
III - outros órgãos e entidades que envolvam ações pertinentes à mencionada
política.

Art. 10. A Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados observará os


princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde.

Parágrafo único. Os serviços privados, com ou sem fins lucrativos, assim como os
serviços públicos, em qualquer nível de governo, que desenvolvam atividades
hemoterápicas, subordinam-se tecnicamente às normas emanadas dos poderes
competentes.

Art. 11. A Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados será


desenvolvida por meio da rede nacional de Serviços de Hemoterapia, públicos e/ou privados,
com ou sem fins lucrativos, de forma hierárquica e integrada, de acordo com regulamento
emanado do Ministério da Saúde.

§ 1º Os serviços integrantes da rede nacional, vinculados ou não à União, Estados,


Municípios e Distrito Federal, reger-se-ão segundo os respectivos regulamentos e normas
técnicas pertinentes, observadas as disposições desta Lei.

§ 2º Os serviços integrantes da rede nacional serão de abrangência nacional,


regional, interestadual, estadual, municipal ou local, conforme seu âmbito de atuação.

Art. 12. O Ministério da Saúde promoverá as medidas indispensáveis ao


desenvolvimento institucional, modernização administrativa, capacitação gerencial e
consolidação física, tecnológica, econômica e financeira da rede pública de unidades que
integram o SINASAN.

Art. 13. Cada unidade federativa implantará, obrigatoriamente, no prazo de cento e


oitenta dias, contados da publicação do regulamento desta Lei, o Sistema Estadual de
Sangue, Componentes e Derivados, obedecidos os princípios e diretrizes desta Lei.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


211
CAPÍTULO II
DOS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES

Art. 14. A Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados rege-se


pelos seguintes princípios e diretrizes:

I - universalização do atendimento à população;


II - utilização exclusiva da doação voluntária, não remunerada, do sangue, cabendo
ao poder público estimulá-la como ato relevante de solidariedade humana e compromisso
social;
III - proibição de remuneração ao doador pela doação de sangue;
IV - proibição da comercialização da coleta, processamento, estocagem, distribuição
e transfusão do sangue, componentes e hemoderivados;
V - permissão de remuneração dos custos dos insumos, reagentes, materiais
descartáveis e da mão-de-obra especializada, inclusive honorários médicos, na forma do
regulamento desta Lei e das Normas Técnicas do Ministério da Saúde;
VI - proteção da saúde do doador e do receptor mediante informação ao candidato
à doação sobre os procedimentos a que será submetido, os cuidados que deverá tomar e as
possíveis reações adversas decorrentes da doação, bem como qualquer anomalia
importante identificada quando dos testes laboratoriais, garantindo-lhe o sigilo dos
resultados;
VII - obrigatoriedade de responsabilidade, supervisão e assistência médica na
triagem de doadores, que avaliará seu estado de saúde, na coleta de sangue e durante o ato
transfusional, assim como no pré e pós-transfusional imediatos;
VIII - direito a informação sobre a origem e procedência do sangue, componentes e
hemoderivados, bem como sobre o serviço de hemoterapia responsável pela origem destes;
IX - participação de entidades civis brasileiras no processo de fiscalização, vigilância
e controle das ações desenvolvidas no âmbito dos Sistemas Nacional e Estaduais de Sangue,
Componentes e Hemoderivados;
X - obrigatoriedade para que todos os materiais ou substâncias que entrem em
contato com o sangue coletado, com finalidade transfusional, bem como seus componentes
e derivados, sejam estéreis, apirogênicos e descartáveis;
XI - segurança na estocagem e transporte do sangue, componentes e
hemoderivados, na forma das Normas Técnicas editadas pelo SINASAN; e
XII - obrigatoriedade de testagem individualizada de cada amostra ou unidade de
sangue coletado, sendo proibida a testagem de amostras ou unidades de sangue em
conjunto, a menos que novos avanços tecnológicos a justifiquem, ficando a sua execução
subordinada a portaria específica do Ministério da Saúde, proposta pelo SINASAN.

§ 1º É vedada a doação ou exportação de sangue, componentes e hemoderivados,


exceto em casos de solidariedade internacional ou quando houver excedentes nas
necessidades nacionais em produtos acabados, ou por indicação médica com finalidade de
elucidação diagnóstica, ou ainda nos acordos autorizados pelo órgão gestor do SINASAN para
processamento ou obtenção de derivados por meio de alta tecnologia, não acessível ou
disponível no País.

§ 2º Periodicamente, os serviços integrantes ou vinculados ao SINASAN deverão


ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
212
transferir para os Centros de Produção de Hemoterápicos governamentais as quantidades
excedentes de plasma.

§ 3º Caso haja excedente de matéria-prima que supere a capacidade de absorção


dos centros governamentais, este poderá ser encaminhado a outros centros, resguardado o
caráter da não-comercialização.

CAPÍTULO III
DO CAMPO DE ATUAÇÃO

Art. 15. A Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados objetivará,


entre outras coisas:

I - incentivo às campanhas educativas de estímulo à doação regular de sangue;


II - recrutamento, triagem clínica e laboratorial do doador, coleta, fracionamento,
processamento, estocagem, distribuição, provas imunoematológicas, utilização e descarte de
sangue, componentes e hemoderivados;
III - verificação e aplicação permanente de métodos e ações de controle de
qualidade do sangue, componentes e hemoderivados;
IV - instituição de mecanismos de controle do descarte de todo o material utilizado
na atividade hemoterápica, para que se evite a contaminação ambiental, devendo todos os
materiais e substâncias que entrem em contato com o sangue coletado, seus componentes e
hemoderivados, ser esterilizados ou incinerados após seu uso;
V - fiscalização da utilização ou estocagem do sangue, componentes e
hemoderivados em todas as instituições públicas ou privadas que exerçam atividade
hemoterápica;
VI - implementação, acompanhamento e verificação da observância das normas
relativas à manutenção de equipamentos e instalações físicas dos órgãos que integram a
Rede Nacional dos Serviços de Hemoterapia;
VII - orientação e apoio aos casos de reações transfusionais e doenças pós-
transfusionais do sangue, seus componentes e hemoderivados;
VIII - participação na formação e aperfeiçoamento de recursos humanos em
Hemoterapia e Hematologia;
IX - ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico em Hemoterapia e
Hematologia;
X - a implementação de sistemas informatizados com vistas à formação e
estruturação de banco de dados e disseminação de informações tecnológicas, operacionais e
epidemiológicas;
XI - produção de derivados industrializados de plasma e reagentes, para uso
laboratorial em Hemoterapia e em Hematologia e autorização para aquisição de anti-soros
ou outros produtos derivados do sangue, essenciais para a pesquisa e diagnóstico.

CAPÍTULO IV
DA DIREÇÃO E GESTÃO

Art. 16. A Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados, cuja


execução estará a cargo do SINASAN, será dirigida, em nível nacional, por órgão específico
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
213
do Ministério da Saúde, que atuará observando os seguintes postulados:

I - coordenar as ações do SINASAN;


II - fixar e atualizar normas gerais relativas ao sangue, componentes e
hemoderivados para a sua obtenção, controle, processamento e utilização, assim como aos
insumos e equipamentos necessários à atividade hemoterápica;
III - propor, em integração com a vigilância sanitária, normas gerais para o
funcionamento dos órgãos que integram o Sistema, obedecidas as Normas Técnicas;
IV - integrar-se com os órgãos de vigilância sanitária e epidemiológica e laboratórios
oficiais, para assegurar a qualidade do sangue, componentes e hemoderivados e dos
respectivos insumos básicos;
V - propor às esferas do poder público os instrumentos legais que se fizerem
necessários ao funcionamento do SINASAN;
VI - organizar e manter atualizado cadastro nacional de órgãos que compõem o
SINASAN;
VII - propor aos órgãos competentes da área de educação critérios para a formação
de recursos humanos especializados necessários à realização de atividades hemoterápicas e
à obtenção, controle, processamento, estocagem, distribuição, transfusão e descarte de
sangue, componentes e hemoderivados, inclusive a implementação da disciplina de
Hemoterapia nos cursos de graduação médica;
VIII - estabelecer critérios e conceder autorização para importação e exportação de
sangue, componentes e hemoderivados, observado o disposto no § 1º do art. 14 e no
parágrafo único do art. 22 desta Lei;
IX - estimular a pesquisa científica e tecnológica relacionada com sangue, seus
componentes e hemoderivados, de reagentes e insumos para diagnóstico, assim como nas
áreas de hemoterapia e hematologia;
X - fixar requisitos para a caracterização de competência dos órgãos que compõem
o SINASAN, de acordo com seu ordenamento institucional estabelecido no art. 15 desta Lei;
XI - estabelecer critérios de articulação do SINASAN com órgãos e entidades
nacionais e estrangeiras de cooperação técnico-científica;
XII - avaliar a necessidade nacional de sangue humano, seus componentes e
hemoderivados de uso terapêutico, bem como produtos de uso laboratorial e propor
investimentos para a sua obtenção e produção;
XIII - estabelecer mecanismos que garantam reserva de sangue, componentes e
hemoderivados e sua mobilização em caso de calamidade pública;
XIV - incentivar e colaborar com a regulamentação da atividade industrial e sua
operacionalização para produção de equipamentos e insumos indispensáveis à atividade
hemoterápica, e inclusive com os Centros de Produção de Hemoderivados;
XV - estabelecer prioridades, analisar projetos e planos operativos dos órgãos que
compõem a Rede Nacional de Serviços de Hemoterapia e acompanhar sua execução;
XVI - avaliar e acompanhar o desempenho técnico das atividades dos Sistemas
Estaduais de Sangue, Componentes e Hemoderivados;
XVII - auxiliar na elaboração de verbetes da Farmacopéia Brasileira, relativos aos
hemoterápicos e reagentes utilizados em Hemoterapia e Hematologia;
XVIII - propor normas gerais sobre higiene e segurança do trabalho nas atividades
hemoterápicas, assim como sobre o descarte de produtos e rejeitos oriundos das atividades
hemoterápicas.
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
214
Art. 17. Os Estados, Distrito Federal e Municípios, por meio de suas Secretarias de
Saúde ou equivalentes, coordenarão a execução das ações correspondentes do SINASAN no
seu âmbito de atuação, em articulação com o Ministério da Saúde.

Art. 18. O Conselho Nacional de Saúde atuará na definição da política do SINASAN e


acompanhará o cumprimento das disposições constantes desta Lei.

CAPÍTULO V
DO FINANCIAMENTO

Art. 19. (VETADO)

TÍTULO III
DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 20. O SINASAN promoverá a estruturação da Rede Nacional de Serviços de


Hemoterapia e Laboratórios de Referência Estadual e/ou Municipal para controle de
qualidade, a fim de garantir a auto-suficiência nacional em sangue, componentes e
hemoderivados.

Parágrafo único. A implantação do SINASAN será acompanhada pelo Conselho


Nacional de Saúde.

Art. 21. Os Centros de Produção de Derivados do Plasma, públicos e privados,


informarão aos órgãos de vigilância sanitária a origem e quantidade de matéria-prima, que
deverá ser testada obrigatoriamente, bem como a expedição de produtos acabados ou semi-
acabados.

Art. 22. A distribuição e/ou produção de derivados de sangue produzidos no País ou


importados será objeto de regulamentação por parte do Ministério da Saúde.

Parágrafo único. O SINASAN coordenará, controlará e fiscalizará a utilização de


hemoderivados importados ou produzidos no País, estabelecendo regras que atendam os
interesses e as necessidades nacionais, bem como a defesa da produção brasileira.

Art. 23. A aférese não terapêutica para fins de obtenção de hemoderivados é


atividade exclusiva do setor público, regulada por norma específica.

Art. 24. O processamento do sangue, componentes e hemoderivados, bem como o


controle sorológico e imunoematológico, poderá ser da responsabilidade de profissional
farmacêutico, médico hemoterapeuta, biomédico ou de profissional da área de saúde com
nível universitário, com habilitação em processos produtivos e de garantia e certificação de
qualidade em saúde.

Art. 25. O Poder Executivo encaminhará ao Congresso Nacional, no prazo de cento e


oitenta dias, a contar da data de publicação desta Lei, projeto de lei disciplinando as sanções
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
215
penais, cíveis e administrativas decorrentes do descumprimento das normas contidas nesta
Lei.

Art. 26. O Poder Executivo, por intermédio do Ministério da Saúde, regulamentará


no prazo de cento e oitenta dias, contados a partir da promulgação desta Lei, mediante
Decreto, a organização e funcionamento do SINASAN, ficando autorizado a editar os demais
atos que se fizerem necessários para disciplinar as atividades hemoterápicas e a plena
execução desta Lei.

Art. 27. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 28. Revoga-se a Lei nº 4.701, de 28 de junho de 1965.”

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


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MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


EMPREENDEDORISMO
219
10 EMPREENDEDORISMO

O termo ‘Empreendedorismo’ é um neologismo derivado da livre tradução da


palavra entrepreneurship. Embora tenha se popularizado a partir da importação do inglês,
sua origem está na língua francesa, entrepreneur, palavra usada no século XII para designar
aquele que incentivava brigas. No final do século XVIII, aplicava-se àquela pessoa que criava
e conduzia projetos e empreendimentos.

Na língua francesa o verbo ‘entreprendre’ significa fazer algo. O que nos leva a crer
que a raiz da palavra empreendedor data de mais de 800 anos, ainda com o verbo francês
entreprendre, que significa “fazer algo”. Entre os economistas modernos, Joseph
Schumpeter foi quem mais versou sobre o tema, que teve grande influência sobre o
desenvolvimento da teoria e prática do empreendedorismo. Para ele, o empreendedorismo
viria ser a “máquina propulsora do desenvolvimento da economia. A inovação trazida pelo
empreendedorismo permite ao sistema econômico renovar-se e progredir constantemente”.
Ele postulava que “sem inovação, não há empreendedores, sem investimentos
empreendedores, não há retorno de capital e o capitalismo não se propulsiona”.

Apesar das várias definições, não há consenso entre os estudiosos que defina o
termo de forma definitiva. O conceito pode variar, de acordo com quem responde a
pergunta acerca dele. Do que se pode apreender, empreendedor é aquele que age, busca o
sonho e o concebe. E nisto entra o papel da educação, que é aquele que visa estabelecer a
congruência para que este sonho possa ser realizado.

Em que pese as várias definições acerca do tema, percebem-se alguns aspectos que
são comuns a todas elas, especialmente no que diz respeito ao comportamento
empreendedor, tais como:

a) iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz;


b) utilização de recursos disponíveis de forma criativa, transformando o ambiente
social e econômico;
c) saber os riscos calculados e a possibilidade de fracassar.

Para Peter Drucker (1987, p. 25 apud SANTOS; MARINHO; MAC-ALLISTER, 2009), os


empreendedores são pessoas que inovam. "A inovação é o instrumento específico dos
empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para
um negócio ou serviço diferente".

Embora nos estudos e pesquisas relacionados com o empreendedor haja muitas


diferenças e disparidades a respeito das exatas definições, pode-se perceber que há um
consenso entre os estudiosos de que o que distingue o empreendedor das outras pessoas é
a maneira como ele percebe a mudança e lida com as oportunidades.

"Um empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões",


segundo o conceito do teórico L.J. Filion (1911). Com base nesta definição, o diretor da
Escola de Administração de Mauá-SP e consultor de empresas, Hazime Sato, afirma que o
empreendedor é um agente de mudanças e inovações, que identifica oportunidades e busca
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
220
recursos para transformar conhecimento em riqueza. Assim, segundo ele, o instrumento
específico do espírito empreendedor é a inovação, a busca deliberada e organizada de
mudanças, as fontes das oportunidades que tais mudanças podem oferecer.

O Escritor Fernando Dolabela, 59 anos, é um daqueles que faz questão de


demonstrar a paixão que devota ao estudo do empreendedorismo, tema dos nove livros que
já escreveu. O primeiro deles, O Segredo de Luiza, de 1999, tornou-se um dos mais vendidos
do Brasil na área de negócios. Dois livros seus deram origem a métodos que estão se
difundindo pelo Brasil: Pedagogia Empreendedora, de 2003, que inspirou o programa
homônimo que já treinou 10 mil professores em 123 escolas, com reflexos no ensino de 300
mil alunos com idade entre 4 e 17 anos; e A Oficina do Empreendedor, de 1999, que gerou o
método que já foi apresentado a 3.500 professores de 350 instituições de ensino superior.
Curiosamente, o administrador Fernando Dolabela pretende – e de certo modo está
conseguindo – mudar um paradigma educacional do qual não tem boas lembranças. “Eu era
o pior aluno da classe no melhor colégio de Minas”, diverte-se, ao falar de sua inadaptação
às regras da escola. Para Dolabela, o empreendedor é um rebelde, um inconformado –
alguém que propõe o novo. Um perfil que ele não vê emergir das escolas e das famílias
brasileiras. “A criança e o adulto aprendem uma só coisa: mandar currículo” (DOLABELA,
1999).

Para ele, um empreendedor:

a) é um sonhador, mas realista;


b) cultiva a imaginação e sabe definir visões do que quer;
c) é orientado para resultados, para o futuro;
d) tem a percepção e a capacidade de descobrir nichos;
e) tem perseverança e tenacidade para vencer obstáculos;
f) tem iniciativa, autonomia, autoconfiança, otimismo, necessidade de realização;
g) considera o fracasso um resultado normal, aprende com os próprios erros;
h) traduz seus pensamentos em ações;
i) sabe fixar metas e alcançá-las;
j) tem forte intuição;
k) tem alto comprometimento: acredita no que faz;
l) dedica-se intensamente ao trabalho e concentra esforços para alcançar
resultados;
m) sabe buscar, utilizar e controlar recursos;
n) aceita o dinheiro como uma medida de seu desempenho;
o) estabelece e cultiva "redes de relações" internas e externas.

Deste modo, configura-se que a ação empreendedora começa com um indivíduo


que tem motivação para colocar em prática seus conhecimentos e competências. Seu
diferencial é sua habilidade de envolver outras pessoas, compor uma equipe de indivíduos
com outros conhecimentos e competências que irão tornar sua ideia realidade.

O empreendedorismo nada mais é do que um sentimento de paixão pela inovação.


É enxergar oportunidades naquilo que muitas pessoas não veem, é ter um sonho, saber a
sua viabilidade, acreditar que é possível transformar ideias em oportunidades, ousar e fazer
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
221
o uso constante, ou seja, o exercício da criatividade e pensar como retorno em algo benéfico
para si e também para sociedade.

Isto posto, se conclui, então, que o empreendedor é aquele que faz as coisas
acontecerem; se antecipa aos fatos e tem uma visão futura da organização. O empreendedor
é uma pessoa inovadora, que introduz novos produtos, serviços, técnicas de produção e até
mesmo novas formas de organização, tomando as decisões que irão nortear o futuro do
negócio. Ele assume não apenas os riscos pessoais, mas também aqueles dos investidores e
de todos os envolvidos em seu negócio.

10.2.1 Classificação dos Empreendedores

De certa forma, e segundo alguns autores, os empreendedores classificam-se em:

a) empreendedores iniciais: são aqueles cujos empreendimentos têm até 42 meses


de vida, três anos e meio, período que a literatura considera capital para a
sobrevivência de um empreendimento. Esses empreendedores compõem uma
taxa de Empreendedores em Estágio Inicial (TEA), de origem inglesa, Total
Entrepeneurial Activity, e subdividem-se em dois tipos:
i) nascentes: aqueles à frente de negócios em implantação – busca de espaço,
escolha de setor, estudo de mercado, etc., que, se chegaram a gerar
remuneração, o fizeram por menos de três meses;
ii) novos: seus negócios já estão em funcionamento e geraram remuneração por
pelo menos em três meses.
b) empreendedores estabelecidos: aqueles à frente de empreendimentos com
mais de 42 meses. Com o propósito de estabelecer o perfil das pessoas
envolvidas na criação de negócios, os empreendedores identificados na pesquisa
do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) são classificados segundo variáveis
demográficas, como gênero, idade, renda familiar e escolaridade.

O GEM classifica, ainda, os empreendedores de acordo com a sua motivação para


empreender:

a) empreendedores por oportunidade: são motivados pela percepção de um nicho


de mercado em potencial.
b) empreendedores por necessidade: são motivados pela falta de alternativa
satisfatória de ocupação e renda.

10.2.2 Circunstâncias que dão Origem ao Empreendedor

Muito se fala que, quando se estuda o surgimento dos empreendedores, pode-se


observar que há um mito de que não é possível desenvolver o empreendedorismo; deve-se
nascer empreendedor. Muitos estudiosos verificam que isso não é verdade, tomando-se por
base uma análise mais criteriosa dos vários empreendimentos existentes,
independentemente de sua etapa evolutiva. Assim, verifica-se, a partir dos estudos
realizados, que existem várias circunstâncias que dão origem a um empreendimento e ao
surgimento de um empreendedor, que podem ou não se relacionar aos traços de

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


222
personalidade, que são:

a) o empreendedor nato – esta figura é a personalização integral do empreendedor


que, normalmente, desde cedo, por motivos próprios ou influências familiares,
demonstra traços de personalidade comuns do empreendedor. O
desenvolvimento de tal vocação tem forte relação com o tipo de autoridade
familiar e o ambiente motivacional familiar, tais como escala de valores e
percepção de negócios;
b) o herdeiro – pode ou não possuir as características do empreendedor. Se
empreendedor por afinidade e vocação, dá continuidade ao empreendimento
em que se encontra desde cedo em treinamento, o que é muito comum. Não
tendo características empreendedoras, mas “treinado”, por imposição, desde
cedo, pode vir a ser um problema para a continuidade da empresa;
c) o funcionário da empresa – podendo possuir características de empreendedor,
sente ao longo da carreira em desequilíbrio e falta de reconhecimento entre suas
contribuições e recompensas, ou então falta de interesse em suas ideias ou
interferência da burocracia da empresa. Frustrado em suas necessidades de
realização pessoal, em algum momento de carreira decide partir para um
negócio próprio;
d) excelentes técnicos – com características de empreendedor, dispõe do
conhecimento, de know-how, sobre algum produto ou serviço e, uma vez
possuidor de experiência no ramo, decide iniciar um negócio próprio.
e) vendedores – usualmente, entusiasmado pela dinâmica de suas funções
quotidianas, como conhece o mercado e tem experiência do ramo, inicia um
negócio próprio em indústria, comércio ou serviços.
f) opção ao desemprego – uma modalidade de empreendimento arriscada que,
por questões circunstanciais, finda por ser adotada. Pode ter dois
desdobramentos: 1) com características empreendedoras, há possibilidade de
sucesso; e 2) sem características empreendedoras, tem chance de sucesso,
dependendo de como a oportunidade é encarada.
g) desenvolvimento paralelo – o funcionário, como alternativa futura, tendo
características empreendedoras, estrutura-se entre amigos ou familiares e
desenvolve um negócio derivado de sua experiência ou não, ou associa-se a
outro ramo de atividades como sócio capitalista.
h) aposentadoria – com experiência adquirida, e devido à idade precoce com que o
mercado marginaliza as pessoas, inicia um negócio próprio, usualmente em
comércio ou serviços, se não for oriundo da área de vendas ou produção.

O empreendedorismo está, em princípio, atrelado à ideia de negócio, de empresa,


mas também pode estar associado a um projeto, uma realização pessoal. Neste sentido,
surgem novas formas de empreendedorismo, tais como as descritas a seguir.

 Empreendedorismo de negócios:

Diz-se empreendedorismo de negócio o comportamento empreendedor, que está


vinculado ao negócio, à empresa, ao empreendimento. É quando se tem uma boa ideia e
esta é transformada em algo lucrativo. Tal comportamento deve envolver planejamento,
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
223
criatividade e inovação.

Uma inovação nem sempre é uma criação de um novo produto ou um novo serviço.
É possível oferecer ao mercado um mesmo produto ou serviço, porém, de forma mais
barata, mais rápida ou de melhor qualidade em relação aos seus concorrentes. Isso é
empreendedorismo.

 Empreendedorismo social:

Embora se assemelhe ao empreendedorismo de negócios, o empreendedorismo


social tem sua peculiaridade atrelada à missão social, cujo objetivo final não é a geração de
lucro, mas o impacto social. Os empreendedores sociais utilizam as mesmas técnicas de
planejamento dos empreendedores de negócio, mas são motivados por objetivos sociais, ao
invés de benefícios materiais.

Para o empreendedor de negócios, o sucesso significa o crescimento da sua


empresa (e dos seus lucros), enquanto que para o empreendedor social o sucesso significa a
transformação de uma realidade social, a melhoria da qualidade de vida das pessoas que
vivem naquele local. É importante salientar, entretanto, que o empreendedor social não visa
apenas o lucro, posto que ele também gera benefícios para a sociedade.

 Intraempreendedorismo:

O intraempreendedorismo teve início a partir do incentivo das próprias empresas,


que sentiram a necessidade de incentivar o empreendedorismo dentro dos seus
departamentos.

Quando uma pessoa apresenta ideias, soluções, projetos e as põe em prática, ela
está demonstrando um comportamento empreendedor dentro da empresa. Isto pode se dar
tanto no âmbito público quanto no privado. O funcionário pode apresentar um
comportamento empreendedor dentro da organização, independentemente do cargo que
ocupa.

É cada vez mais comum se ouvir falar em empreendedor e empreendedorismo. O


indivíduo capacitado, com coragem de se arriscar, de se libertar dos padrões celetistas
tradicionais vem ganhando destaque dentro das organizações. É comum advogar a tese de
que um empreendedor é aquela pessoa que se fez sozinha, em meio às adversidades, e que
logrou êxito, conquistando sucesso individual, sendo reconhecida e admirada. Entretanto, é
importante conceber que ser empreendedor está muito além da simples perspectiva de
sucesso exclusivamente individual.

10.2.3 Características dos Empreendedores

Ser empreendedor se constitui em ser determinado pela autorrealização, pela


aspiração de assumir responsabilidades e ser autônomo. Existem pesquisas para identificar
características em pessoas de sucesso, e a mais simples de todas é o anseio por
concretização. Isso leva as pessoas a confiarem e serem deslumbradas pelo que fazem. Os

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


224
empreendedores estão sempre aflitos por aprimorar nas capacidades menos desenvolvidas
e se aperfeiçoar nas mais fortes.

O que diferencia o empreendedor das outras pessoas é o modo como compreende


a mudança e lida com as chances, tendo iniciativa para gerar um novo negócio, adotando
riscos calculados, criando sempre valor para a sociedade. Alguns autores defendem que há
pessoas que já nascem empreendedoras, mesmo que empiricamente. Outras não têm tantos
talentos inatos, o que não as impede de aprender e desenvolver esses talentos. Esse
desenvolvimento é fundamental para toda pessoa que almeja implantar e gerir um pequeno
negócio.

Na realidade, ninguém nasce empreendedor, pois a vida irá transformando o


indivíduo, com a participação da família, a vivência com os amigos de escola, de trabalho, o
relacionamento com a sociedade, e daí, vai favorecendo o desenvolvimento de algumas
características. Traços da personalidade, atitudes e comportamentos contribuem para
alcançar o sucesso nos negócios.

A preocupação em identificar as características e o perfil dos empreendedores de


sucesso é para que possamos aprender e agir, adotando comportamentos e atitudes
adequadas. Entretanto, vale dizer que ainda não se pode afirmar que uma pessoa dotada de
tais características irá necessariamente alcançar o sucesso como empreendedor. O que se
pode dizer é que as pessoas que apresentam essas características e aptidões mais
comumente encontradas nos empreendedores, mais chance terá de ser bem-sucedida.

Em qualquer empreendimento é necessário ter perseverança, vontade de trabalhar


e liderança. Todo empreendedor deve dedicar ao seu negócio tempo e envolvimento
pessoal.

Desta forma, o perfil do bom empreendedor consiste em possuir características


comportamentais que lhe permitam sucesso constante em suas atividades. Elas devem ser
mantidas para garantir o equilíbrio e a conservação dos negócios, bem como, para a
obtenção de novas oportunidades. São elas:

a) iniciativa - são pessoas que não ficam esperando que os outros (o governo, o
empregador, o parente, o padrinho) venham resolver seus problemas. Pessoas
que começam coisas novas. A iniciativa, enfim, é a capacidade daquele que,
tendo um problema qualquer, age: arregaça as mangas e parte para a solução;
b) autoconfiança - o empreendedor tem autoconfiança. Se não tivesse, seria difícil
tomar a iniciativa. A crença em si mesmo faz o indivíduo arriscar mais, ousar,
oferecer-se para realizar tarefas desafiadoras, enfim, torna-o mais
empreendedor;
c) aceitação do risco - o empreendedor aceita riscos. Ainda que muitas vezes seja
cauteloso e precavido contra o risco, a verdade é que ele o aceita em alguma
medida;
d) sem temor do fracasso e da rejeição - o empreendedor fará tudo o que for
necessário para não fracassar, mas não é atormentado pelo medo paralisante do
fracasso. Pessoas com grande amor próprio e medo do fracasso preferem não
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
225
tentar correr o risco de não acertar - ficam, então, paralisadas;
e) decisão e responsabilidade - o empreendedor não fica esperando que os outros
decidam por ele. Ele toma decisões e aceita a responsabilidade que estas
acarretam;
f) energia - é necessária uma dose de energia para se lançar em novas realizações,
que usualmente exigem intensos esforços iniciais. O empreendedor dispõe dessa
reserva de energia, vinda provavelmente de seu entusiasmo e motivação;
g) automotivação e entusiasmo - pessoas empreendedoras são capazes de
automotivação relacionada com desafios e tarefas em que acreditam. Não
necessitam de prêmios externos, como compensação financeira. Igualmente, por
sua motivação, são capazes de entusiasmarem-se com suas ideias e projetos;
h) controle - o empreendedor acredita que sua realização depende de si mesmo e
não de forças externas sobre as quais não tem controle. Ele se vê como capaz de
controlar a si mesmo e de influenciar o meio, de tal modo que possa atingir seus
objetivos;
i) voltado para equipe - o empreendedor em geral não é um fazedor, no sentido
obreiro da palavra. Ele cria equipe, delega, acredita nos outros, obtém resultados
por meio de outros;
j) otimismo - o empreendedor é otimista, o que não quer dizer sonhador ou
iludido. Acredita nas possibilidades que o mundo oferece, acredita na
possibilidade de solução dos problemas, acredita no seu potencial de
desenvolvimento; e,
k) persistência - o empreendedor, por estar motivado, convicto, entusiasmado e
crente nas possibilidades, é capaz de persistir até que as coisas comecem a
funcionar adequadamente.

Observa-se que, além das características, também merecem destaque algumas


especificidades atribuídas aos empreendedores, conforme descrito a seguir:

a) são visionários: eles têm a visão de como será o futuro para seu negócio e sua
vida e, o mais importante, eles têm a habilidade de implementar seus sonhos;
b) sabem tomar decisões: eles não se sentem inseguros, sabem tomar as decisões
corretas na hora certa, principalmente nos momentos de adversidade, sendo isso
um fator-chave para o seu sucesso;
c) são indivíduos que fazem a diferença: os empreendedores transformam algo de
difícil definição, uma ideia abstrata, em algo concreto, que funciona,
transformando o que é possível em realidade;
d) sabem explorar ao máximo as oportunidades: para a maioria das pessoas, as
boas ideias são daqueles que as veem primeiro, por sorte ou acaso. Para os
empreendedores, as boas ideias são geradas daquilo que todos conseguem ver,
mas não identificam algo prático para torná-la em oportunidade, por meio de
dados e informações. O empreendedor é aquele que quebra a ordem corrente e
inova, criando mercado com uma oportunidade identificada. O empreendedor é
aquele que cria um equilíbrio encontrando uma posição clara e positiva em um
ambiente de caos e turbulência, ou seja, identifica oportunidades na ordem
presente. O empreendedor é um exímio identificador de oportunidades, sendo
um indivíduo curioso e atento a informações, pois sabe que suas chances
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
226
melhoram quando seu conhecimento aumenta;
e) são determinados e dinâmicos: eles implementam suas ações com total
comprometimento. Atropelam as adversidades, ultrapassando os obstáculos,
com uma vontade ímpar de fazer acontecer. Mantêm-se sempre dinâmicos e
cultivam certo inconformismo diante da rotina;
f) são dedicados: eles se dedicam 24 horas por dia, 7 dias por semana, ao seu
negócio, comprometem o relacionamento com amigos, com a família, e até
mesmo com a própria saúde. São trabalhadores exemplares, encontrando
energia para continuar, mesmo quando encontram problemas pela frente. São
incansáveis e loucos pelo trabalho;
g) são otimistas e apaixonados pelo que fazem: eles adoram o trabalho que
realizam. E é esse amor ao que fazem o principal combustível que os mantêm
cada vez mais animados e autodeterminados, tornando-os os melhores
vendedores de seus produtos e serviços, pois sabem como ninguém como fazê-
lo. O otimismo faz com que sempre enxerguem o sucesso, em vez de imaginar o
fracasso;
h) são independentes e constroem o próprio destino: eles querem estar à frente
das mudanças e ser donos do próprio destino. Querem ser independentes, em
vez de empregados, querem criar algo novo e determinar os próprios passos,
abrir os próprios caminhos, ser o próprio patrão e gerar empregos;
i) ficam ricos: ficar rico não é o principal objetivo dos empreendedores. Eles
acreditam que o dinheiro é consequência do sucesso dos negócios;
j) São líderes e formadores de equipes: os empreendedores têm um senso de
liderança incomum. E são respeitados e adorados por seus funcionários, pois
sabem valorizá-los, estimulá-los e recompensá-los, formando um time em torno
de si;
k) são bem relacionados: os empreendedores sabem construir uma rede de
contatos que os auxiliam no ambiente externo da empresa, junto a clientes,
fornecedores e entidades de classe;
l) são organizados: os empreendedores sabem obter e alocar os recursos
materiais, humanos, tecnológicos e financeiros de forma racional, procurando o
melhor desempenho para seu negócio;
m) planejam, planejam, planejam: os empreendedores de sucesso planejam cada
passo desde seu rascunho do plano de negócios, até a apresentação do plano a
investidores, definição das estratégias de marketing do negócio, etc., sempre
tendo como base a forte visão de negócio que possuem;
n) possuem conhecimento: são sedentos pelo saber e aprendem continuamente,
pois sabem quanto maior o domínio sobre um ramo de negócio, maior a sua
chance de êxito;
o) assumem riscos calculados: talvez esta seja a característica mais conhecida dos
empreendedores;
p) criam valor para a sociedade: os empreendedores utilizam seu capital intelectual
para criar valor para a sociedade, com geração de empregos, dinamizando a
economia, e inovando, sempre usando sua criatividade em busca de soluções
para melhorar a vida das pessoas.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


227
10.2.4 Conhecimentos dos Empreendedores

Para operar uma empresa com sucesso, o empreendedor deve possuir alguns
conhecimentos diferenciados, de acordo com cada etapa na qual a empresa se encontra.
Apesar desta diferenciação, é possível fazer uma descrição dos principais conhecimentos,
necessários para o empreendedor, como descrito a seguir:

a) conhecimento dos aspectos técnicos relacionados com o negócio: é


imprescindível que o empreendedor tenha conhecimento a respeito do produto
que pretende produzir e/ou a respeito do serviço que pretende prestar.
Consequentemente, o empreendedor deve pesquisar objetivamente
informações, procurando obter o máximo de dados possíveis, para transformar
estes dados em novos mercados, técnicas, produtos e serviços. Estes
conhecimentos incluem vendas, custos, processos de fabricação, meios de
produção, gerenciamento, dentre outros. Caso o empreendedor não tenha estes
conhecimentos, deve procurar desenvolvê-los rapidamente ou buscar alguém
que os possua;
b) experiência na área comercial: as funções da área comercial dizem respeito ao
enfoque empresarial voltado ao atendimento das necessidades do cliente.
Incluem distribuição do produto, publicidade, pesquisa de mercado e definição e
novos produtos. Esta experiência pode ser adquirida mediante vivência prática
ou a partir de informações obtidas em publicações especializadas, em centros de
ensino ou mesmo mediante referências de outros empresários;
c) escolaridade: o empreendedor deve possuir um nível de escolaridade mínimo,
que lhe permita responder de maneira adequada às exigências impostas por seu
negócio, visto que uma elevada escolaridade ou uma baixa escolaridade pode
prejudicar o andamento das atividades. Isto significa que, os conhecimentos
devem ser buscados e utilizados à medida que cada empreendimento exigir;
d) experiência empresarial: a experiência é um fator diferenciador. O fato de o
empreendedor já ter vivenciado algumas experiências na área empresarial,
torna-se importante, à medida que estas lhe proporcionam um conhecimento
prévio mais profundo e abrangente a respeito do funcionamento de uma
empresa, podendo facilitar a resolução de problemas emergentes;
e) formação complementar: relaciona-se com a aquisição de informações ou com o
aprimoramento dos conhecimentos que o empreendedor já possui. Este pode
partir de um interesse particular ou de uma necessidade gerada pelo próprio
negócio. Contudo, há conhecimentos que aparentemente não têm nenhuma
relação com a vida da empresa e que podem ter participação decisiva no êxito
empresarial. É o caso, por exemplo, do aprendizado de grupos esportivos,
associações, agremiações, viagens, dentre outros;
f) conhecimento de gente: esse é outro erro muito comum dos empreendedores –
não saber ou não se interessar por gente. Herança da Era Industrial. Para montar
um empreendimento há alguns anos, era necessário saber fazer alguma coisa.
Manusear e manipular eram mais importantes do que comunicar e se relacionar.
As habilidades técnicas eram mais importantes do que as habilidades humanas.
Hoje, é fundamental conhecer a natureza humana, quer seja para lidar melhor
com o cliente, quer seja para preparar uma equipe de trabalho;
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
228
g) conhecimento de negócio: esse é um dos principais erros dos novos
empreendedores – sair por aí oferecendo um serviço ou um produto a quem se
interesse por comprá-los. Poucos conseguem conceber um negócio interessante
na forma de produtos e serviços. Poucos focam um público-alvo a quem o
negócio deve ser direcionado. Conhecimento de negócio é fundamental para
começar a carreira de empreendedor com o pé direito;
h) Conhecimento do mercado: o mercado possui suas leis próprias, por meio da
dinâmica da oferta e da demanda. O comportamento da oferta e da demanda é,
por sua vez, influenciado pelas ações dos agentes econômicos – empresas,
famílias, governo, instituições financeiras, etc. Compreender o sistema
econômico é uma maneira de fazer com que o novo empreendimento interaja
positivamente com as forças econômicas;
i) conhecimentos sobre o mundo: o Planeta Terra virou um mundo pequeno. A
globalização uniu os mercados. Se antes era difícil viajar para o exterior, hoje é
muito raro algum empreendedor que já não tenha saído do País. É claro que o
conhecimento do mundo não se consegue apenas viajando. TVs a cabo, Internet,
revistas, etc. ajudam a compreender o mundo. A compreensão do mundo
contribui na ampliação da compreensão da humanidade, dos hábitos, dos
costumes e ajuda a perceber tendências e oportunidades.

10.2.5 Habilidades do Empreendedor

O sucesso de uma empresa também depende das habilidades do empreendedor,


que correspondem às facilidades para utilizar as capacidades. São inúmeras as habilidades
necessárias para a operação de uma empresa de pequena dimensão. Algumas mais
importantes são:

a) identificação de novas oportunidades: relaciona-se com a habilidade de


perceber o que os outros não percebem e de visualizar muito mais longe que os
demais. O indivíduo que possui esta habilidade está sempre atento às
informações que possam aumentar conhecimento relativo ao seu
empreendimento, para que possa criar, implantar e desenvolver novas soluções.
O processo de identificação de novas oportunidades depende fortemente da
criatividade e da capacidade de pensar inovadoramente;
b) valoração de oportunidades e pensamento criativo: é a habilidade de atribuir
valor àquilo que se apresenta como uma oportunidade. A avaliação crítica é
essencial para distinguir entre boas oportunidades e a ilusão das outras. Não
basta perceber o que os outros não percebem. É necessário atribuir valor àquilo
que se apresenta como uma boa oportunidade;
c) comunicação persuasiva: é a habilidade de convencer os outros a respeito da
pertinência de uma ideia. A comunicação pode ocorrer de diversas formas como:
visual, comunicação não verbal (por meio de gestos, etc.), comunicação oral ou
escrita. Os empreendedores geralmente começam com apenas uma ideia na
cabeça. Para transformar esta ideia em realidade precisam, primeiramente,
convencer os amigos, parentes e patrocinadores, a acreditar e investir em seu
novo negócio. Mais tarde, porém, quando estiver à frente de sua empresa, o
empreendedor deverá persuadir as pessoas a fazerem o que ele acredita que é
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
229
importante;
d) negociação: é a habilidade de convencer os outros, por meio da comunicação, a
respeito da pertinência de uma ideia. Os empreendedores geralmente começam
com apenas uma ideia na cabeça, e para transformá-la em realidade precisam
primeiramente convencer os amigos, parentes e patrocinadores, a acreditarem e
investirem em seu novo negócio;
e) aquisição de informações: é a habilidade de coletar, reunir e agrupar
informações. A questão da informação revela-se como um fator diferenciador no
desempenho geral da empresa. A posse de informações sobre mercados,
processos gerenciais e avanços tecnológicos, entre outros, apresenta-se
intrinsecamente relacionada com a posição comparativamente mais sólida e
saudável que o empreendimento venha a adquirir;
f) resolução de problemas: é a habilidade para utilizar sistematicamente operações
mentais, a fim de encontrar respostas para enfrentar os desafios e superar os
obstáculos. Há vários processos envolvidos na criação e desenvolvimento de um
novo empreendimento, criando um conjunto único de problemas, desafios e
crises. Cabe ao empreendedor a tarefa de encontrar o melhor estilo, que lhe
proporcione a forma ideal de revolucionar e gerar soluções inovadoras.

Observa-se que há uma variada gama de habilidades que possibilitam o


empreendedor obter sucesso junto a sua empresa. As citadas acima se constituem num
exemplo de classificação comumente utilizado pelos autores, o que não esgota de maneira
alguma o assunto.

10.2.6 Empreendedorismo e Liderança nas Empresas

O Brasil se destaca pela quantidade de empreendedores. De forma geral, estas


pessoas começam um negócio quando conhecem muito bem um produto, um segmento de
mercado ou um determinado setor de empresas; ou ainda porque estão com alguma reserva
financeira disponível, porque querem ser seus próprios patrões ou estão tendo dificuldades
de voltar ao mercado de trabalho. Entretanto, muitas vezes se esquecem de que terão de ser
bons líderes para conseguir fazer o negócio crescer. Caso contrário, correm o risco de ter
uma empresa com um só funcionário: o proprietário.

Ser líder é diferente de ser administrador, gerente ou chefe. Liderar é lidar com
pessoas; administrar é lidar com recursos, papéis, coisas, processos. Um chefe pode ser
nomeado numa hierarquia, independentemente de possuir ou não as qualidades
necessárias. É possível ser um gerente e não conseguir ser o líder da equipe e pode. Por
outro lado, se pode ser o líder da equipe sem ser o chefe.

A um bom líder algumas virtudes são necessárias, dentre elas: competência


(conhecimento, habilidades e atitude/ação), ética (integridade e honestidade), entusiasmo,
empatia, autoconfiança, sensibilidade, humildade, imparcialidade, saúde,
autoconhecimento, motivação e inteligência acima da média. É fundamental que goste de se
relacionar com pessoas, que saiba ouvir e que seja observador.

O empreendedor precisa atentar para o fato de que a presença de um líder é


ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
230
fundamental para o sucesso de qualquer negócio. Caso não seja um líder nato, é importante
que o empreendedor busque desenvolver habilidades de liderança. É necessário que tenha
alguém para conduzir o grupo de onde está até onde precisa estar, para fazer com que a
equipe faça voluntariamente o que precisa ser feito, para extrair o melhor de cada
colaborador e com isso conseguir obter os resultados positivos.

A falta de liderança, muitas vezes, é a razão pela qual os pequenos empresários


cometem erros na administração de seus negócios. Dentre eles citam-se:

a) não se conhecem suficientemente para saber as competências que lhes falta


para buscar treinamento ou pessoas com tais capacidades;
b) não conhecem o ponto de equilíbrio de seu negócio e gastam mais do que
podem;
c) contratam pessoas que não são adequados às funções. Não é proibido contratar
amigo ou parente, mas é proibido contratar gente incompetente para a função;
d) adiam decisões que precisam ser tomadas rapidamente;
e) não suprem seus colaboradores e a si mesmos com os treinamentos necessários;
f) não têm uma política de treinamentos;
g) assumem compromissos que não têm capacidade de cumprir; e,
h) esquecem-se de que os clientes são o maior patrimônio das empresas. Todos os
colaboradores na organização precisam “servir” o cliente e não “servir” o patrão.
Sem clientes o negócio está fadado ao fracasso.

Assim sendo, para se tornar um bom líder, é preciso procurar estar preparado, ser
proativo e ser reflexivo. É importante ainda se autoavaliar, melhorar continuamente e ter
entusiasmo e otimismo.

Um problema comum é que algumas vezes o empreendedor transfere toda a


responsabilidade de liderança para o gerente de sua empresa. Quanto mais delega
atribuições, mais o líder penetra na essência de sua função: que não é "fazer", e sim "fazer
os outros fazerem". Agora, o empresário não pode ignorar que quando ele delega continua
com a responsabilidade pelo êxito ou fracasso do empreendimento. Nesse sentido, é
importante que ele acompanhe aqueles que recebem a tarefa, e solicite deles a constante
prestação de contas, o controle sobre o uso de todos os recursos, inclusive os recursos
humanos.

10.2.7 O Plano de Negócios

Uma vez que se decide pela criação de uma empresa, é importante que se defina
por escrito quais as principais variáveis do negócio. Estas deverão compor um documento
chamado de Plano de Negócios. Elaborar um plano de negócios é de fundamental
importância para o empreendedor. Além da busca por recursos, é uma forma de o
empreendedor sistematizar as suas ideias, planejar de forma mais eficiente, antes de
adentrar num mercado competitivo. Abrir uma empresa não é tão somente cuidar dos
procedimentos necessários para a sua legalização. É preciso, antes de tudo, que o
empresário tome posse de uma série de conhecimentos fundamentais, tais como: conhecer
o ramo de atividade onde vai atuar, o mercado, fazer um planejamento do que vai ser

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


231
colocado em prática na nova empresa, estabelecer os objetivos que se pretende atingir,
entre outros.

O Plano de Negócios é um instrumento de trabalho fundamental, que agrega e


sistematiza toda a informação prática para a concretização e condução do projeto. Um dos
primeiros passos na elaboração de um plano de negócios é fazer um levantamento de dados
e informações em uma série de órgãos e entidades (IBGE, sindicatos, associações, Sebrae,
cooperativas, empresas já estabelecidas, etc.), para saber como se encontra este mercado,
quanto o futuro empresário terá que vender por mês para não vir a fracassar; quanto poderá
retirar por mês de pró-labore, sem prejudicar o bom funcionamento da empresa; quais os
impostos a pagar e suas alíquotas e quanto guardar de recursos financeiros para fazer frente
aos compromissos nos primeiros meses. É o que se pode chamar de planejamento financeiro
e da estrutura da nova empresa.

Existem muitas atividades a ser exploradas, mas é preciso ficar atento a uma série
de fatores que influenciam e limitam a escolha do seu ramo de negócio. Para se abrir uma
empresa, deve-se levar em conta que o sucesso de qualquer negócio depende, sobretudo,
de um bom planejamento. Embora qualquer negócio ofereça riscos, é preciso prevenir-se
contra eles. Numa visão mais ampliada, o plano de negócio tem as seguintes funções:

a) avaliar o novo empreendimento do ponto de vista mercadológico, técnico,


financeiro, jurídico e organizacional;
b) avaliar a evolução do empreendimento ao longo de sua implantação: para cada
um dos aspectos definidos no plano de negócio, o empreendedor poderá
comparar o previsto com o realizado;
c) facilitar, ao empreendedor, a obtenção de capital de terceiros quando o seu
capital próprio não é suficiente para cobrir os investimentos iniciais.

 Análise dos riscos:

É importante que seja feita uma análise dos riscos acerca de um novo
empreendimento. Há que se ter conhecimento de alguns aspectos da vida das empresas
deve permitir a avaliação do grau de atratividade do empreendimento, subsidiando a
decisão do futuro empresário na escolha do negócio que pretende desenvolver.
Basicamente, os riscos do negócio referem-se a:

a) sazonalidade - se caracteriza pelo aumento ou redução significativos da


demanda pelo produto em determinada época do ano. Os negócios com maior
sazonalidade são perigosos e oferecem riscos que obrigam os empreendedores a
manobras precisas. Quando em alto grau, é considerada fator negativo na
avaliação do negócio;
b) efeitos da economia - a análise da situação econômica é questão importante
para a avaliação da oportunidade de negócio, já que alguns deles são
gravemente afetados, por exemplo, por economias em recessão;
c) controles governamentais - setores submetidos a rigorosos controles do
governo, nos quais as regras podem mudar com frequência, oferecem grande
grau de risco e são pouco atraentes para pequenos investidores;

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


232
d) existência de monopólios - alguns empreendimentos podem enfrentar
problemas por atuar em áreas em que haja monopólios formados por
"megaorganizações", que dominam o mercado, definindo as regras do jogo
comercial. No Brasil, a comercialização de pneus, produtos químicos em geral e
tintas são exemplos típicos de segmentos fortemente monopolizados;
e) setores em estagnação ou retração - nestes setores, há uma procura menor que
a oferta de bens/serviços, o que torna a disputa mais acirrada. Nas épocas de
expansão e prosperidade de negócios, ao contrário, novos consumidores entram
no mercado, promovendo a abertura de novas empresas;
f) barreiras à entrada de empresas - referem-se a obstáculos relacionados com:
exigência de muito capital para o investimento, alto e complexo conhecimento
técnico, dificuldades para obtenção de matéria-prima, exigência de licenças
especiais, existência de contratos, patentes e marcas que dificultam a legalização
da empresa, dentre outros.

 Passos necessários para a montagem de um plano de negócios:

Este é um questionamento comum, especialmente para os empreendedores em


início de suas atividades. Neste sentido, apontam-se alguns caminhos, saber:

a) conhecer o ramo de atividade – é preciso conhecer alguns dados elementares


sobre o ramo em que pretende atuar, possibilidades de atuação dentro do
segmento (ex., confecção é o ramo: pode-se atuar com jeans, malha, linho... para
público infantil, adulto, feminino...);

b) conhecer o mercado consumidor – o estudo do mercado consumidor é um dado


importante para o empreendimento, pois abrange as informações necessárias à
identificação dos prováveis compradores. O que produzir, de que forma vender,
qual o local adequado para a venda, qual a demanda potencial para o produto.
Essas são algumas indagações que podem ter respostas mais adequadas quando
se conhece o mercado consumidor;

c) conhecer o mercado fornecedor – para iniciar e manter qualquer atividade


empresarial, a empresa depende de seus fornecedores – o mercado fornecedor.
O conhecimento desse mercado vai se refletir nos resultados pretendidos pela
empresa. Mercado fornecedor é aquele que fornece à empresa os
equipamentos, máquinas, matéria-prima, mercadorias e outros materiais
necessários ao seu funcionamento.

d) conhecer o mercado concorrente – o mercado concorrente é composto pelas


pessoas ou empresas que oferecem mercadorias ou serviços iguais ou
semelhantes aos que você pretende oferecer. Este mercado deve ser analisado
criteriosamente, de maneira que sejam identificados: quem são meus
concorrentes, que mercadorias ou serviços oferecem, quais são as vendas
efetuadas pelo concorrente, quais os pontos fortes e fracos da minha
concorrência, e se seus clientes lhes são fiéis;

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


233
e) definir produtos a serem fabricados, mercadorias a serem vendidas ou serviços
a serem prestados - é preciso conhecer detalhes do seu produto/serviço.
Ofereça produtos e serviços que atendam às necessidades de seu mercado.
Defina qual a utilização do seu produto/serviço, qual a embalagem a ser usada,
tamanhos oferecidos, cores, sabores, etc.;

f) analisar bem a localização de sua empresa – onde montar o meu negócio? A


resposta certa a esta pergunta pode significar a diferença entre o sucesso ou o
fracasso de um empreendimento. Tudo é importante para esta escolha e deve
ser observado e registrado;

g) conhecer marketing – marketing, como muitos pensam, não é só propaganda.


Marketing é um conjunto de atividades desenvolvidas pela empresa, para que
esta atenda desejos e necessidades de seus clientes. As atividades de marketing
podem ser classificadas em áreas básicas, que são traduzidas nos 4 Ps do
marketing. São eles: Produto, Pontos de Venda, Promoção (Comunicação) e
Preço;

h) processo operacional - este item trata do como fazer. Devem ser abordadas tais
questões: que trabalho será feito e quais as fases de fabricação/venda/prestação
de serviços; quem fará; com que material; com que equipamento; e quando fará.
É preciso verificar quem tem conhecimento e experiência no ramo: você? Um
futuro sócio? Ou um profissional contratado?;

i) projeção do volume de produção, de vendas ou de serviços - é prudente que o


empreendedor ou empresário considere: a necessidade e a procura do mercado
consumidor; os tipos de mercadorias ou serviços a serem colocados no mercado;
a disponibilidade de pessoal; a capacidade dos recursos materiais - máquinas,
instalações; a disponibilidade de recursos financeiros; a disponibilidade de
matéria-prima, mercadorias, embalagens e outros materiais necessários;

j) projeção da necessidade de pessoal – identifique o número de pessoas


necessárias para o tipo de trabalho e que qualificação deverão ter, inclusive as do
serviço de escritório;

k) análise financeira – é necessário fazer uma estimativa do resultado da empresa,


a partir de dados projetados, bem como, uma projeção do capital necessário
para começar o negócio, pois terá que fazer investimento em local,
equipamentos, materiais e despesas diversas, para instalação e funcionamento
inicial da empresa.

Isto posto, observamos que o plano de negócio é um instrumento que visa


estruturar as principais concepções e alternativas para uma análise correta de viabilidade do
negócio pretendido, o que proporciona uma avaliação antes de colocar em prática a nova
ideia, e reduz, assim, as possibilidades de se desperdiçarem recursos e esforços em um
negócio inviável. Além de servir como instrumento de avaliação para solicitação de
financiamentos, também serve como meio de planejamento da expansão de uma empresa já
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
234
existente.

A elaboração de um plano de negócios é uma etapa fundamental para o


empreendedor que deseja criar uma empresa, não somente pela sua utilidade na busca de
recursos, mas, principalmente, como forma de sistematizar suas ideias e planejar de forma
mais eficiente o seu negócio. Um plano de negócios bem feito aumentará muito suas
chances de sucesso.

10.2.8 Contrato de Trabalho – Legislação Trabalhista

No mundo do trabalho, é importante conhecer as práticas que devem ser adotadas


no Departamento de Pessoal, conforme observa a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
que é a principal e mais conhecida norma do Direito do Trabalho, aprovada pelo Decreto
5.542/43, na qual se encontra normatizada a maior parte da legislação das relações
trabalhistas.

Além da CLT há várias outras fontes legislativas que regem o Direito do Trabalho,
sejam elas gerais, como a Constituição Federal do Brasil, sejam elas específicas, como a Lei
do Empregado Doméstico, por exemplo. Observemos a seguir alguns dos mais importantes
conceitos que cercam o empregado, o empregador, os direitos e deveres de ambos.

 Conceito de empregado:

Para que um colaborador seja considerado empregado, é necessário que o mesmo


preencha cinco requisitos básicos, a saber:

a) continuidade: o colaborador prestará serviço de forma contínua, em horário


preestabelecido pelo empregador;
b) subordinação: o colaborador “deve” obedecer às ordens de seu empregador ou
representante legal;
c) onerosidade: vem do ônus, ou seja, o colaborador prestará serviço ao
empregador mediante pagamento de um salário;
d) pessoalidade: apenas o funcionário poderá, em relação ao empregador, prestar
o serviço contratado, ainda que seu irmão ou primo, seja qualificado;
e) alteridade: o colaborador presta serviço por conta, sem assumir qualquer risco
em relação à dificuldade financeira da empresa, ou seja, pode até ter
participação nos lucros e resultados, mas nunca nos prejuízos.

 Admissão:

Após o candidato ter passado pela fase de seleção, responsabilidade esta do


departamento de recrutamento e seleção ou, eventualmente, quando a empresa for
pequena, do supervisor de Recursos Humanos e o supervisor da área, dará início ao
procedimento para contratação do candidato – a admissão. Nessa fase, haverá a solicitação
dos seguintes documentos:

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


235
a) Carteira de Trabalho;
b) Cédula de identidade;
c) Título de eleitor (obrigatório para os candidatos a partir de 18 anos);
d) Certificado de reservista (para os candidatos do sexo masculino com 18 anos ou
mais);
e) CPF;
f) Atestado de Saúde Ocupacional (Admissional);
g) Fotos 3 x 4;
h) Certidão de Casamento (para os casados);
i) Certidão de Nascimento dos filhos de até 21 anos ou inválidos de qualquer idade,
se for o caso, necessária para o pagamento do salário família e dedução do
Imposto de Renda.

É importante observar que, para continuidade do recebimento do Salário Família,


todos os anos, nos meses de maio e novembro, devem ser apresentados novamente os
seguintes documentos:

a) em maio: cópia da caderneta de vacinação dos filhos menores de 7 anos;


b) em maio e novembro: comprovante de frequência escolar dos filhos a partir de 7
anos.

 Registro do empregado:

De acordo com o Art. 41 da CLT, Decreto Lei 5452/43, em todas as atividades será
obrigatório para o empregador o registro dos respectivos trabalhadores, podendo ser
adotados livros, fichas ou sistema eletrônico, conforme instruções a serem expedidas pelo
Ministério do Trabalho. Em seu parágrafo único, dispõe que, além da qualificação civil ou
profissional de cada trabalhador, deverão ser anotados todos os dados relativos a sua
admissão no emprego, duração e efetividade do trabalho, a férias, acidentes e demais
circunstâncias que interessem à proteção do trabalhador.

O empregado deverá ser registrado no momento em que passar a prestar serviço à


empresa. É importante observar que não existe prazo de tolerância para o registro. Não se
deve confundir a ausência de prazo para registro, com o prazo de devolução da CTPS.

O registro pode ser feito em livros, fichas, sistema eletrônico ou informatizado, que
utilize meio magnético ou ótico (neste caso necessário fazer um memorial descritivo e
protocolado junto à Delegacia Regional do Trabalho (DRT)).

O registro deve conter obrigatoriamente as seguintes informações:

a) identificação do empregado, com número, série e Unidade Federativa (UF) da


Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS);
b) data de admissão, e quando o funcionário for desligado a data da demissão;
c) remuneração e forma de pagamento;
d) local e horário de trabalho;
e) concessão de férias;

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


236
f) identificação da conta vinculada ao FGTS e da conta do PIS/PASEP;
g) acidente de trabalho e doença profissional, quando tiverem ocorrido;
h) o registro de empregado deverá estar sempre atualizado e numerado
sequencialmente por estabelecimento.

 Salário:

Denomina-se salário o valor devido e pago diretamente pelo empregador a todo


funcionário pelo serviço prestado. Existem vários tipos de salários. Os mais comuns são:
a) mensalista: o funcionário mensalista é aquele que no momento da contratação
tem seu salário definido por mês;
b) comissionado: é funcionário contratado com um percentual sobre o valor das
vendas. Em alguns casos, os funcionários comissionados podem ter também uma
remuneração fixa.

 Contribuição sindical:

A contribuição sindical corresponde ao desconto de 1/30 sobre a remuneração do


funcionário. Este desconto ocorre normalmente no mês de março de cada ano.

 Vale-transporte:

O Vale-transporte é regulamentado pela Lei n.º 7.418/85 (com alterações trazidas


pela Lei nº 7.619/87.) e Decreto nº 95.247/87.

É um benefício destinado aos empregados regidos pela CLT, assim como às


empregadas domésticas (Lei nº 5.859/72), empregados temporários (Lei nº 6.019/74),
empregados em domicílio (quando necessário deslocamento para a empresa), empregados
do subempreiteiro (art. 455, CLT) e atletas profissionais (Lei 9.615/98) (JUS BRASIL, 2015).

Para os funcionários que optarem pela utilização do vale-transporte, a empresa


poderá descontar em sua folha de pagamento até 6% do seu salário, desde que este não
supere o valor do Vale-transporte entregue ao funcionário.

 INSS:

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é uma autarquia do Governo Federal do


Brasil, vinculada ao Ministério da Previdência Social que recebe as contribuições para a
manutenção do Regime Geral da Previdência Social. O INSS empresta seu nome à
contribuição devida à Previdência Social por todo empregado, inclusive o doméstico. Os
percentuais variam conforme o salário de contribuição, limitado a um teto máximo, podendo
ser de 8%, 9% e 11% (em tabela definida pelo o INSS).

 IRRF:

O IRRF é o Imposto de Renda Retido na Fonte. Trata-se da tributação devida sobre


os rendimentos do trabalho assalariado, tais como: salários, horas-extras, adicionais e outras
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
237
receitas admitidas em lei pela Receita Federal.

 Décimo terceiro salário:

O décimo terceiro salário foi instituído no Brasil pela Lei 4.090, de 13/07/1962,
como uma gratificação de Natal, e que garante que o trabalhador receba o correspondente a
1/12 (um doze avos) da remuneração por mês trabalhado.

Todos os empregados, urbanos, rurais ou domésticos, bem como os trabalhadores


avulsos têm direito ao recebimento do 13º salário, independentemente da remuneração que
fizer jus. O 13º Salário é pago, convencionalmente, em duas parcelas, sendo a 1ª entre os
meses de Fevereiro e Novembro, de cada ano e a 2ª até o dia 20 de Dezembro.

 Direito do trabalho:

Direito do trabalho é um conjunto de regras jurídicas que visam reger as relações


dos empregados e empregadores. São as normas jurídicas que regem os direitos resultantes
da condição jurídica dos trabalhadores. No Brasil, as normas jurídicas que regem as relações
entre empregado e empregador estão na Consolidação das Leis do Trabalho e na
Constituição Federal.

 Contrato de trabalho:

O contrato de trabalho é um acordo tácito ou expresso, pelo qual uma pessoa física,
chamada de empregado se compromete, mediante o pagamento de uma contraprestação
salarial, a prestar trabalho não eventual e subordinado em proveito de outra pessoa, física
ou jurídica, chamada de empregador.

O contrato de trabalho é um negócio jurídico pelo qual o empregado se obriga,


mediante o recebimento de uma remuneração, a prestar serviços, não eventuais a outra
pessoa ou entidade, sob a direção de qualquer das últimas. O contrato de trabalho é um
negócio jurídico entre uma pessoa física, o empregado, e uma pessoa jurídica ou física, o
empregador, sob condições de trabalho.

O contrato de trabalho é um acordo, um trato entre o empregador e o empregado,


que tem por finalidade regulamentar a prestação de serviços do empregado, ou a execução
de obras de forma pessoal, pois o empregado deve prestar seu serviço pessoalmente e de
forma subordinada, cumprindo as ordens pessoais de serviço. O contrato pode ser por prazo
determinado ou indeterminado, por meio de um pagamento de uma remuneração. Esse
trato entre empregado e empregador pode ser ajustado de forma escrita, mas a forma
verbal também é reconhecida pela CLT como contrato de trabalho.

No contrato de trabalho, existe uma relação de credor e devedor entre as duas


partes, empregado e empregador, pois o empregado deverá prestar serviços, portanto,
devendo receber o seu salário. Logo, o trabalhador será credor do seu salário, enquanto que
o empregador deverá remunerar o empregado para, então, receber a prestação de serviços
do empregado.
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
238
São sujeitos do contrato de trabalho o empregado e o empregador. O empregado,
também chamado de obreiro, é toda pessoa física que prestar serviços de natureza não
eventual a um empregador, sob dependência deste e mediante salário. O empregador é
toda pessoa jurídica ou física que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite,
assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços.

O trabalho deve ser prestado por pessoa física, para caracterizar a relação de
emprego, não podendo o trabalhador ser pessoa jurídica. São requisitos caracterizadores da
relação de emprego o trabalho prestado por pessoa física:

a) a pessoalidade: o serviço deverá ser realizado pessoalmente pelo empregado,


que não poderá se fazer substituir por outra pessoa;
b) a não eventualidade: a prestação do serviço deve ser prestada com
habitualidade, continuidade, onde o trabalhador deve fazer parte da cadeia
produtiva da empresa. Mesmo realizando uma atividade meio, caracteriza o
trabalho não eventual;
c) a onerosidade: a principal obrigação do empregado é a prestação de serviços, e
a principal obrigação do empregador é pagar a remuneração do empregado.
Neste sentido, a relação de emprego impõe a onerosidade, ou seja, o
recebimento da remuneração pelos serviços realizados;
d) a subordinação: o empregado é subordinado ao empregador, em razão da
existência do contrato de trabalho, devendo obedecer às ordens do
empregador. Em função da subordinação jurídica nasce para o empregador a
possibilidade de se aplicar ao empregado penalidades, como advertência,
suspensão disciplinar e dispensa por justa causa; e,
e) a alteridade: este é também um requisito caracterizador da relação de emprego,
visto que os riscos da atividade econômica da empresa são apenas do
empregador, não cabendo estes ao empregado.

 Classificação dos contratos de trabalho:

Os contratos de trabalho se classificam em: tácito ou expresso, verbal ou escrito,


por prazo indeterminado ou por prazo determinado. O contrato tácito é aquele em que o
trabalhador presta seus serviços, sem a oposição do empregador. Neste tipo de contrato há
a prestação contínua de serviços pelo empregado, sem haver a oposição do empregador. O
contrato de trabalho expresso é aquele em que houve acordo entre as partes de forma clara,
sendo todas as condições do pacto de trabalho previamente acordada entre as partes. Neste
caso o contrato poderá ser escrito ou verbal.

Contrato escrito é aquele onde as partes firmam um contrato escrito por meio de
assinatura, nele contendo o nome e a qualificação do empregador e empregado, o objeto do
contrato, os direitos e as obrigações dos contratantes, a jornada diária de disponibilidade do
empregado no serviço e a remuneração que será efetuada em troca da prestação de
serviços. A simples assinatura da CTPS já caracteriza um contrato escrito.

O contrato verbal é aquele que não há trato escrito. Em razão de a informalidade


ser uma característica do contrato de trabalho, é admissível o contrato verbal, previsto pela
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
239
CLT, em seu artigo 443. O fato de a carteira de trabalho do empregado não ter sido, no prazo
de 48 horas assinada, gera um simples ilícito administrativo, nada impedindo que o
empregado e o empregador tenham pactuado de forma verbal o contrato de empregado,
combinando o salário, a jornada e etc.

O contrato de trabalho por prazo indeterminado é aquele em que as partes ajustam


apenas a data de início do trabalho, nada mencionando quanto ao término do contrato, a
regra é que os contratos sejam pactuados dessa maneira, por prazo indeterminado, em
obediência ao princípio da continuidade da relação de emprego.

O contrato por prazo determinado, também conhecido como contrato a termo, é


aquele em que as partes, desde o início da contratação, já decidem e firmam o termo do
contrato, ambos sabendo o tempo aproximado para o seu fim. Somente por exceção, em
casos previstos por lei, é que será admitido o contrato por prazo determinado. O contrato
por prazo determinado será válido em se tratando de serviço cuja natureza ou
transitoriedade justifique a razão da predeterminação do prazo, ou se tratando de uma
atividade empresarial de caráter transitório ou mesmo nos casos de contrato de experiência.

O contrato por prazo determinado só poderá durar dois anos, podendo ser
prorrogado uma única vez, e desde que esta prorrogação não ultrapasse este limite. Em se
tratando de contrato de experiência, o contrato só poderá durar noventa dias, podendo ser
prorrogado uma única vez, desde que não ultrapasse este limite. Entre o final de um
contrato por prazo determinado e o início de outro, é preciso que se tenha decorrido mais
de seis meses. Caso isso não ocorra, poderá este segundo contrato ser considerado contrato
por prazo indeterminado.

No contrato por prazo determinado, de regra, há ausência de aviso prévio, pois


desde o início da contratação, as partes já conhecem o termo do contrato. Caso no contrato
por prazo determinado haja uma cláusula assecuratória do direito recíproco de rescisão
antes de expirado o termo ajustado entre o empregado e o empregador, aplicam-se os
princípios que regem a rescisão dos contratos por prazo indeterminado.

 Contrato de experiência:

Nesta modalidade de contrato por prazo determinado, o empregado e o


empregador devem se testar mutuamente. O empregador verifica a capacidade do
empregado, se ele atende as determinações emanadas, se trabalha com zelo, se obedece a
jornada de trabalho e se tem um bom relacionamento com os demais empregados da
empresa, podendo dispensá-lo caso ele não esteja apto para serviço ou contratá-lo por prazo
indeterminado.

O prazo máximo em que poderá durar o contrato de experiência, conforme


mencionado, é de noventa dias, admitindo-se apenas uma prorrogação, dentro do prazo
máximo de validade.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


240
 Alteração do contrato de trabalho:

Os contratos de trabalho somente poderão ser alterados se houver a presença de


dois requisitos indispensáveis para a alteração do contrato de trabalho. O primeiro é o
mútuo consentimento entre as partes, em que ambas devem consentir quanto à alteração
do contrato, enquanto que o segundo requisito é aquele em que esta alteração não deverá
resultar em nenhum prejuízo moral ou financeiro ao empregado.

A alteração do contrato de trabalho só será possível se houver obediência ao artigo


468 da CLT, o qual dispõe que: “Nos contratos de trabalho só é lícita a alteração das
respectivas condições, por mútuo consentimento, e, ainda assim, desde que não resultem,
direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula
infringente desta garantia”.

 Transferência de empregados:

Para haver a transferência do empregado, é preciso que ele concorde com a


transferência. Não é permitida a transferência do empregado para localidade diversa da que
resultar do contrato, uma vez que esta implica na mudança do domicílio. No caso de simples
remoção, em que não há alterações no domicílio do empregado, esta poderá ser feita
unilateralmente pelo empregador, sem, necessariamente, haver a concordância do
empregado.

Empregados que exercem cargos de confiança, e aqueles cujos contratos de


trabalho tenham como condição, implícita ou explícita, a transferência para outra localidade,
nesses casos, havendo a real necessidade do serviço, será considerada lícita a transferência
dos empregados. Outro caso que torna lícita a transferência dos empregados é quando há
extinção do estabelecimento, permitindo ao empregador fazer a transferência para
localidade diversa da que resultar do contrato de trabalho.

Quanto à transferência provisória do empregado, havendo a real necessidade do


serviço, o empregador poderá transferi-lo para local diverso do que resultar o contrato de
trabalho, mas ficará obrigado a um pagamento suplementar, enquanto durar esta situação,
que nunca deverá ser inferior a vinte e cinco por cento do salário que o empregado recebia.

 Interrupção do contrato de trabalho:

Ocorre a interrupção quando o empregado, por razões juridicamente relevantes,


suspende a realização de seus serviços, mas continua recebendo a sua remuneração
normalmente, permanecendo o empregador com todas as obrigações existentes no contrato
de trabalho. O período da interrupção é contado como tempo de serviço.

São hipóteses consideradas para interrupção do contrato de trabalho:

a) até dois dias consecutivos, em razão de falecimento do cônjuge, ascendente,


descendente, irmão ou pessoa que, declarada em sua CTPS, viva sob sua
dependência econômica;
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
241
b) até três dias consecutivos, em razão do casamento;
c) por um dia, em cada 12 meses de trabalho, em caso de doação voluntária de
sangue, devidamente comprovada;
d) até dois dias, corridos ou não, para se alistar enquanto eleitor;
e) no período de tempo em que tiver de cumprir as exigências do serviço militar;
f) nos dias em que estiver, comprovadamente, realizando provas de exame
vestibular;
g) pelo tempo em que for preciso, quando tiver que comparecer em juízo;
h) licença paternidade de cinco dias;
i) encargos públicos específicos (ex.: atuar em eleições, atuar como jurado quando
participar de Tribunal de Júri e etc.);
j) acidentes de trabalho ou em caso de doenças, apenas nos primeiros quinze dias;
k) repouso semanal remunerado;
l) férias;
m) feriados;
n) licença maternidade;
o) licença remunerada em razão de aborto não criminoso;
p) empregado membro da Comissão de Conciliação Prévia, quando estiver atuando
como conciliador;
q) em casos diversos de licença remunerada;
r) pelo tempo que for preciso, quando, na qualidade de representante de entidade
sindical, estiver participando de reunião oficial de organismo internacional do
qual o Brasil seja membro.

 Férias:

Licença anual remunerada, um direito irrenunciável do empregado, garantido na


Constituição Federal em seu artigo 7º, XVII, e assegurado também na Consolidação das Leis
do Trabalho em seu artigo 129. As férias são necessárias para proporcionar descanso ao
empregado. Para o período de férias, o empregado tem direito de receber sua remuneração
com acréscimo de pelo menos um terço a mais do que a remuneração normal. As férias são
concedidas ao empregado após o período aquisitivo, que é de doze meses de trabalho.

Quando as férias não forem concedidas dentro do prazo, será paga a remuneração
em dobro pelo empregador. É permitido ao empregado, com a concordância do
empregador, fracionar as férias em dois períodos, mas nenhum deles poderá ser inferior a
dez dias. É permitido ao empregador conceder aos empregados de determinado setor da
empresa ou mesmo a todos eles as férias coletivas, dando com quinze dias de antecedência,
publicidade sobre esta concessão.

O empregado pode converter um terço de suas férias em abono pecuniário,


devendo requerê-lo com antecedência de quinze dias antes do término do período
aquisitivo. Neste caso o empregador não poderá se opor.

 Repouso semanal remunerado:

O repouso semanal remunerado é um direito do empregado urbano e rural,


ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
242
garantido pela Constituição Federal em seu artigo 7º, XV. É um direito social também
estendido aos empregados domésticos.

Não será devida a remuneração do repouso semanal e dos feriados, nos casos em
que o empregado, sem nenhum motivo relevante ou justificado, não tiver trabalhado
durante toda a semana anterior, cumprindo integralmente o sua jornada, seu horário de
trabalho. Contudo o empregado que apenas faltou ou chegou atrasado sem justificativa não
perderá o direito ao repouso semanal remunerado e ao feriado, apenas a remuneração do
dia em que faltar ao trabalho.

O repouso semanal remunerado deverá ser concedido ao empregado


preferencialmente nos dias de domingo. As empresas que têm funcionamento nos dias de
domingo deverão se organizar numa escala de revezamento entre os empregados, para que
pelo menos de sete em sete semanas este repouso semanal remunerado seja coincidente
com o dia de domingo.

 Jornada de trabalho:

A jornada de trabalho é o período em que o trabalhador se coloca à disposição do


empregador em razão do contrato de trabalho. A jornada é a medida do tempo diário em
que o empregado se coloca a disposição do empregador em virtude do cumprimento do
contrato de trabalho que vincula o empregado e o empregador.

O período de tempo em que o trabalhador estiver à disposição do empregador, em


seu próprio domicilio, para a substituição de empregados ausentes ou mesmo para a
execução de imprevistos serviços é chamado de sobreaviso. A escala de sobreaviso deverá
ser, no máximo, de vinte e quatro horas, e o trabalhador deverá receber um terço da
remuneração normal pelas horas em que esteve de sobreaviso.

O sobreaviso se caracteriza quando a liberdade do trabalhador de dispor do próprio


tempo estiver limitada por meio de um comunicado prévio do empregador, de que este
deverá permanecer em estado de alerta, pois a qualquer tempo poderá ser chamado para o
trabalho. O sobreaviso é diferente da prontidão, pois nesta o empregado fica nas
dependências da empresa, esperando as ordens pessoais de serviço, e este período não
poderá ultrapassar doze horas.

É importante fixar a jornada de trabalho para que seja preservada a saúde dos
empregados, pois todo trabalho realizado em excesso pode gerar doenças profissionais e
acidentes de trabalho. A Constituição Federal, em seu artigo 7º, inciso XIII, fixou a jornada de
trabalho diária em 8 horas e a semanal em 44 horas, sendo possível haver a compensação de
horários ou a redução de jornada, mediante acordo ou convenção coletiva. A Consolidação
das Leis do Trabalho, em seu artigo 58, também fixa a jornada diária em 8 horas.

A jornada daqueles que trabalham em turnos ininterruptos de revezamento é


reduzida. A Constituição Federal, no art. 7º XIV, diz que: “a jornada deve ser de seis horas
para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação
coletiva”. O trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento é aquele onde
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
243
grupos de trabalhadores se sucedem na empresa, sempre cumprindo horários que permitam
que a empresa funcione de forma ininterrupta. Onde houver o turno ininterrupto de
revezamento, os trabalhadores serão escalados para prestar serviços em diferentes períodos
(manhã ou tarde ou noite), em forma de rodízio, para que a empresa funcione sem
interrupção.

O Tribunal Superior do Trabalho admite que haja a escala de revezamento que fixe a
jornada na modalidade de 12 x 36 horas, mas para que isto seja possível, é preciso que seja
estabelecida a jornada por acordo ou convenção coletiva de trabalho.

 Intervalo inter e intrajornada:

O intervalo interjornada é uma pausa que se concede ao empregado entre o fim de


uma jornada diária de serviço e o início de outra nova jornada de trabalho no dia seguinte,
para o seu descanso. Esta deverá ser de, pelo menos, onze horas consecutivas de pausa
entre o final de uma jornada e o início de outra.

O intervalo intrajornada é aquele que ocorre dentro de uma mesa jornada diária de
trabalho, que tem por finalidade o repouso e alimentação do empregado. Se a jornada do
empregado excede de seis horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para
alimentação e repouso do empregado de, no mínimo, uma hora, mas se houver convenção
ou acordo coletivo, este intervalo poderá durar até duas horas, não sendo computado o
intervalo na duração da jornada. Já se a jornada de trabalho exceder de quatro horas, mas
não ultrapassar seis horas, o intervalo intrajornada será de duração de quinze minutos, não
sendo computado o intervalo na duração da jornada.

 Prorrogação de jornada:

A jornada de trabalho poderá ser prorrogada por meio de acordo escrito, individual
ou também coletivo, em tempo que não exceda de duas horas, com o acréscimo no
pagamento do serviço extraordinário superior, no mínimo em cinquenta por cento a mais do
que a hora normal de trabalho. Configura-se, então, como hora-extra, conforme o artigo 7º,
XVI, onde a remuneração do serviço extraordinário deverá ser superior, no mínimo, em
cinquenta por cento à do normal.

A jornada de trabalho também poderá ser prorrogada por meio de acordo de


compensação de jornada, também chamada de banco de horas, disciplinado em acordo
coletivo ou convenção coletiva de trabalho, onde o empregado não receberá o adicional de
cinquenta por cento a mais do que a hora normal, pois todo o excesso de horas que forem
trabalhadas em um dia será compensado em outro dia de trabalho, não podendo ultrapassar
o limite máximo de dez horas diárias de trabalho.

 Horário noturno:

A Constituição Federal garante a todos os empregados urbanos e rurais o adicional


noturno com remuneração superior a do horário diurno, constante em seu artigo 7º, IX, da
CF.
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
244
O horário noturno para o empregado urbano será compreendido entre as vinte e
duas horas até às cinco horas do dia seguinte, sendo que a hora computada será como de
cinquenta e dois minutos e trinta segundos, recebendo o empregado urbano que trabalhar
neste horário o adicional noturno de vinte por cento.

O empregado rural tem horário noturno diverso do empregado urbano, pois, a


depender da sua atividade, seu horário noturno poderá ser das vinte e uma horas às cinco
horas do dia seguinte, caso trabalhe na lavoura. Caso o empregado rural trabalhe na
pecuária, por exemplo, seu horário noturno deverá ser das vinte horas às quatro horas do
dia seguinte. A hora do empregado rural é computada como de sessenta minutos, e o
empregado rural recebe o adicional noturno de vinte e cinco por cento.

É importante salientar que o trabalho noturno é proibido aos menores de dezoito


anos, conforme o artigo 7º XXXIII da Constituição Federal.

 Atividade insalubre e perigosa:

Atividades insalubres são aquelas que, por sua natureza ou pelos métodos de
trabalho, exponham os obreiros a agentes que são nocivos à saúde, como, por exemplo, o
ruído, calor, radiações, pressões, frio, umidades e agentes químicos. O adicional de
insalubridade deve ser calculado em razão de dez por cento, vinte por cento ou quarenta por
cento, para os graus mínimo, médio e máximo, respectivamente.

O empregador deverá tomar medidas que eliminem ou neutralizem a insalubridade,


segundo o artigo 191 da CLT, quais sejam:

a) adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de


tolerância;
b) utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que diminuam
a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância.

O empregado que laborar em atividade no setor de energia elétrica em condições


de periculosidade receberá o adicional de trinta por cento, calculado sobre todas as parcelas
de natureza salarial. O empregado que trabalha em atividade perigosa, como explosivos e
inflamáveis, receberá o adicional de trinta por cento sobre o salário base.

A Consolidação das Leis do Trabalho determina em seu artigo 195 que a


caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade deve se fazer por meio
de perícia a cargo de médico ou engenheiro do trabalho. Contudo, apesar da imposição do
artigo 195 da CLT, se o pagamento do adicional de periculosidade for efetuado por mera
liberalidade do empregador, ainda que de forma proporcional ao tempo de exposição ao
risco ou em percentual inferior ao máximo legalmente previsto, dispensa a realização da
prova técnica exigida pela Consolidação das Leis do Trabalho, pois torna incontroversa a
existência do trabalho em condições perigosas.

Não poderá o adicional de periculosidade ser cumulado com o adicional de


insalubridade, cabendo ao empregado a opção por um dos dois adicionais, não podendo
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
245
receber os dois ao mesmo tempo. O empregado que vier a postular o pagamento do
adicional de periculosidade na Justiça do Trabalho deverá abrir mão do adicional de
insalubridade e vice-versa. O trabalho em condições perigosas e insalubres será proibido ao
menor de dezoito anos de idade, conforme o artigo 7º, XXXIII da Constituição Federal.

 Estabilidade:

O empregado estável é aquele que por algum motivo não poderá ser demitido sem
justa causa. A estabilidade poderá ser de duas formas, a definitiva e a provisória. A
estabilidade definitiva é aquela que vai produzir efeitos por toda a relação de emprego. Ela é
adquirida após três anos de efetivo exercício em razão de nomeação para cargo de
provimento efetivo em função de concurso público. Já a estabilidade provisória é aquela que
apenas produz efeitos enquanto durar, enquanto persistir uma causa especial que a motivar.

 A estabilidade provisória pode ocorrer nas seguintes hipóteses:

a) dirigente sindical, titulares e suplentes: estes terão estabilidade desde o registro


da candidatura, e se eleitos, terão estabilidade até um ano após o final do
mandato;
b) empregado eleito membro da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
(Cipa), titulares e suplentes: estes têm estabilidade desde o registro da
candidatura e, caso sejam eleitos, até um ano após o final do mandato;
c) gestante: a empregada gestante, inclusive a doméstica, tem estabilidade desde a
confirmação da gravidez até cinco meses depois do parto, não podendo ser
demitida sem justa causa neste período;
d) acidentado: o empregado acidentado tem estabilidade, por doze meses, que
serão contados após a cessação do auxílio doença acidentário, recebido pelo
empregado;
e) empregados membros do conselho curador do FGTS, titulares e suplentes, têm
estabilidade desde a nomeação até um ano após o término do mandato de
representação;
f) empregados eleitos membros do CNPS, titulares e suplentes: estes empregados
terão estabilidade desde a nomeação até um ano após o final do mandato;
g) empregados eleitos diretores de sociedades cooperativas: estes empregados têm
as mesmas garantias dos dirigentes sindicais, sendo desde a candidatura e, se
eleitos, até um ano após o final do mandato;
h) empregados eleitos membros da comissão de conciliação prévia, titulares e
suplentes: estes empregados têm estabilidade desde o registro da candidatura e,
se eleitos, até uma no após o final do mandato.

 Trabalhador eventual:

O trabalhador eventual é aquele que não é fixo, que apenas trabalha em uma
ocasião, em um evento específico, para um determinado serviço ou acontecimento. É aquele
trabalho realizado de forma esporádica, temporária, que tenha curta duração, que, de regra,
ocorre em atividades meio e não atividades fim da empresa. Terminando o evento, o
trabalhador é imediatamente desligado, pois não há relação de emprego. A diarista é uma
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
246
trabalhadora eventual, pois, eventualmente, faz uma faxina; o pintor também pode ser
considerado um trabalhador eventual; e também um encanador.

 Trabalhador autônomo:

O trabalhador autônomo é aquele que sempre exerce sua atividade profissional


remunerada, por sua conta própria, sem que seja subordinado a outra pessoa, sem haver
vínculo empregatício com o contratante, assumindo os riscos da atividade econômica que
desenvolver.

O médico, os advogados que têm os seus estabelecimentos próprios, consultórios e


escritórios próprios, são exemplos de trabalhadores autônomos.

 Menor empregado e contrato de aprendizagem:

Para o Direito do Trabalho, o menor trabalhador é aquele que tem de dezesseis a


dezoito anos de idade e que presta serviços subordinados, atendendo às ordens do
empregador, contínuos e remunerados. A Constituição Federal proíbe o trabalho do menor
em locais perigosos ou insalubres e também o seu trabalho em horário noturno. O menor de
dezesseis anos de idade não poderá ser empregado, apenas aprendiz.

A jornada de trabalho do aprendiz será de seis horas diárias, sendo de regra


proibida a prorrogação de jornada, que poderá ser possível se o aprendiz tiver concluído o
Ensino Fundamental, quando a duração da jornada diária poderá ser superior às seis horas e
limitadas às oito horas, desde que nestas oito horas estejam computadas as horas
destinadas à aprendizagem teórica.

O menor não poderá trabalhar em locais que prejudiquem a sua saúde, ao seu
desenvolvimento físico ou a sua moralidade. É proibido o menor trabalhar em boates,
cassinos, dancings, assim como é proibido o trabalho em locais de venda de bebida alcoólica,
o trabalho com produção, composição, entrega e vendas de escritos e outros objetos que
prejudiquem a sua formação moral.

O contrato de aprendizagem será obrigatoriamente um contrato de forma especial,


sendo escrito e por prazo determinado, de até dois anos, entre jovens que tenham entre
quatorze anos a vinte e quatro anos de idade. Em se tratando de um aprendiz portador de
deficiência, este contrato pode ser superior aos dois anos.

O contrato de aprendizagem é extinto quando completar dois anos de duração ou


quando o aprendiz completar os vinte e quatro anos de idade, salvo se o aprendiz for
portador de deficiência, como já mencionado. O contrato de aprendizagem poderá também
ser extinto antecipadamente, quando houver um desempenho insuficiente ou quando
ocorrer falta disciplinar grave. Poderá, ainda, terminar devido à ausência injustificada à
escola, a qual venha implicar na perda do ano letivo. Por fim, o contrato de aprendizagem
poderá ser extinto a pedido do aprendiz.

MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS


247
 Demissão:

Demissão diz respeito ao desligamento do funcionário do quadro da empresa. Nesta


ocasião, dá-se a suspensão do contrato de trabalho, conforme descrito a seguir.

 Suspensão do contrato de trabalho:

Durante a suspensão do contrato de trabalho, o empregado e o empregador


suspendem as suas obrigações contratuais. A suspensão pode ocorrer por diversas razões, a
saber:

a) acidente de trabalho ou doença, após o décimo quinto dia. Neste caso, dá-se a
suspensão pelo fato de o empregado entrar em gozo do auxílio doença, que é
pago pela Previdência Social;
b) durante a prestação do serviço militar obrigatório. Embora o acidente de
trabalho e a prestação de serviço militar obrigatória sejam hipóteses para a
suspensão do contrato de trabalho, haverá contagem de tempo de serviço, e
haverá também o recolhimento de FGTS;
c) empregado eleito para o cargo de dirigente sindical, quando estiver no exercício
das suas funções sindicais. Caso haja cláusula no contrato de trabalho ou acordo
ou convenção coletiva de trabalho, o empregador poderá manter a obrigação do
pagamento da remuneração e das outras vantagens do empregado. Neste caso,
não será mais suspensão, e sim interrupção do contrato de trabalho;
d) afastamento do empregado em caso de prisão;
e) aposentadoria por invalidez.

O contrato pode terminar por iniciativa das partes, sem que nenhuma delas tenha
cometido falta grave, como, por exemplo, na dispensa sem justa causa do empregado, no
pedido de demissão do empregado, no acordo ou distrato que ocorre quando ambas as
partes do contrato decidem em conjunto terminá-lo sem justo motivo, ou quando chegar o
fim do período do contrato por prazo determinado.

O contrato de trabalho também poderá ser encerrado quando uma das partes ou as
duas cometerem falta grave. Se a falta for por parte do empregado, é facultado ao
empregador demiti-lo por justa causa. Poderá ocorrer também de o empregador cometer
uma falta grave, dando razão para o empregado romper o contrato, que é o caso da rescisão
ou despedida indireta. Por fim, poderá ocorrer de as duas partes cometerem falta grave,
ocorrendo a culpa recíproca.

 Aviso prévio:

O aviso prévio é uma comunicação antecipada de uma parte do contrato de


trabalho para a outra, do desejo de terminar o contrato, sendo, então, estabelecido um
termo final à relação jurídica existente entre os contratantes. O aviso prévio é uma
comunicação que o empregado ou o empregador deverá fazer para poder encerrar a relação
de trabalho. Esse comunicado tem por função determinar por quanto tempo o empregado
deverá ainda exercer a função. Ao empregador, caberá pagar ao empregado o salário
ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV
248
integral desse período trabalhado, incluindo as horas-extras que o empregado prestar nesse
período.

De regra, o aviso prévio será aplicado nos contratos por prazo indeterminado, pois,
nos casos de contrato por prazo determinado, o prazo para o término do contrato já foi
anteriormente estabelecido entre o empregado e empregador.

O aviso prévio deverá ser concedido com pelo menos trinta dias de antecedência.
Mas, a depender do tempo de trabalho do empregado, este prazo poderá ser superior a
trinta dias. A cada um ano de trabalho o empregado terá direito a três dias a mais de aviso
prévio, sendo que o limite máximo será de noventa dias.

Se o empregado não cumprir o aviso prévio, o empregador tem direito de reter o


saldo de salário no valor correspondente aos dias em que o empregado deveria ter laborado.
Mas caso o empregador não tenha feito o aviso prévio, ele ficará obrigado a pagar o salário
correspondente ao período que seria trabalhado pelo empregado. O empregador poderá, se
quiser, dispensar o obreiro do cumprimento do aviso prévio, mas, para isso, deverá pagar o
salário referente ao tempo em que seria laborado pelo empregado, e esse período deverá
constar na Carteira de Trabalho do empregado, como tempo de serviço efetivamente
trabalhado.

 Dispensa do empregado por justa causa :

A dispensa por justa causa ocorre pela quebra da confiança, o que prejudica a
continuidade da relação de emprego. É configurada quando a conduta do empregado for
dolosa ou culposa. São hipóteses de dispensa por justa causa:

a) ato de improbidade;
b) incontinência de conduta e mau procedimento;
c) negociação habitual por conta própria ou alheia, sem permissão do empregador
e quando constituir ato de concorrência à própria;
d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido
suspensão da execução da pena;
e) desídia no desempenho das respectivas funções;
f) embriaguez habitual ou em serviço;
g) violação de segredo da empresa;
h) ato de indisciplina ou insubordinação;
i) abandono de emprego;
j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa,
ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa,
própria ou de outrem;
k) ato lesivo da honra e da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o
empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria
ou de outrem;
l) prática constante de jogos de azar.

O contrato de trabalho poderá ser extinto pela prática de faltas graves cometidas
MÓDULO IV ANÁLISES CLÍNICAS
249
pelo empregador, impedindo e dificultando a permanência do empregado no serviço, dando
razão a rescisão ou despedida indireta.

São hipóteses de falta grave cometida pelo empregador, podendo o empregado


considerar rescindido o contrato de trabalho e pedir a rescisão indireta:

a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos
bons costumes, ou alheios ao contrato;
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor
excessivo;
c) correr perigo manifesto de mal considerável;
d) não cumprir o empregador com as obrigações do contrato;
e) praticar o empregador, ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família,
ato lesivo da honra ou da boa fama;
f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de
legítima defesa, própria ou de outrem;
g) o empregador reduzir o seu salário, sendo este por peça ou tarefa.

Por fim, a culpa recíproca ocorre quando, tanto o empregado, quanto o


empregador, cometerem faltas graves, quando as duas partes do contrato de trabalho dão
razão para o término do contrato.

ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV


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ANOTAÇÕES: ____________________________________________________________
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ANÁLISES CLÍNICAS MÓDULO IV

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