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PSICANÁLISE II

AULA SOBRE A TEORIA DA SEXUALIDADE: CONCEITOS

“Os Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade nos falam não do instinto sexual, mas da pulsão
sexual (trieb)” (Garcia-Roza, p.98).
“Enquanto a sexualidade animal é regida pela reprodução, a sexualidade humana é regida pelo
princípio do prazer” (Garcia-Roza(b), p.30)

Sexualidade Genitalidade

- Regida pelo princípio do prazer - Relacionada aos órgãos


- Desvio do instinto/natureza genitais (sexuais), ao ato
- Toda uma série de excitações e de atividades presentes desde a infância que sexual e a reprodução
proporcionam prazer irredutível à satisfação de uma necessidade fisiológica - Atividades e prazer que
fundamental (fome, respiração,função de excreção, etc) dependem do funcionamento
- Apresenta grande variedade qto a escolha de objeto sexual e qto ao modo de do aparelho genital.
atividade utilizado p/ obter satisfação.
- Atua desde o início da vida (sexualidade infantil)
- Inscreve-se a partir da história de cada um. (Laplanche e Pontalis, 1994)
(Laplanche e Pontalis, 1994)

PULSÃO x INSTINTO
(Garcia-Roza)
INSTINTO: padrões de comportamento fixado por hereditariedade/genética, característico da espécie, pré-
formado no seu desenvolvimento e adaptado ao objeto. Ex: sugar-alimentar-se. É da ordem da natureza.
Objeto e objetivo específicos (fixados):
- Fome: Objeto (leite/alimento). Objetivo (satisfação de uma necessidade: aplacar a fome).
- Atividade sexual: Objeto (ser de quem procede a atração sexual). objetivo (satisfação de uma
necessidade: reprodução da espécie).

PULSÃO (trieb): “Os Três ensaios sobre a teoria da sexualidade nos falam não do instinto sexual, mas da
pulsão sexual” (Garcia-Roza, p. 96).
Freud substitui o termo instinto pelo termo Pulsão (trieb) para designar aquilo que se desviou do instinto.

“Há uma fase na qual a pulsão se satisfaz por ‘apoio’ na pulsão de autoconservação e essa satisfação se dá
graças a um objeto: o seio materno. [...] o termo apoio designa a relação que as pulsões sexuais mantém
originalmente com as funções vitais que lhe fornecem uma fonte orgânica, uma direção e um objeto. O
apoio [...] da pulsão sexual em outro processo não-sexual, “sobre uma das funções somáticas vitais”
(Freud). O modelo desta função somática vital tomado por Freud é o da amamentação do lactente. Nesse
primeiro momento, o “objeto específico” é o leite que satisfaz a fome da criança. Portanto, em termos
instintivos, a função de sucção tem por finalidade a obtenção do alimento e é este que satisfaz o estado de
necessidade orgânica caracterizado pela fome. Mas, ao mesmo tempo em que isso ocorre, ocorre também
um processo paralelo da natureza sexual: a excitação dos lábios e da língua pelo peito, produzindo uma
satisfação que não é redutível à saciedade alimentar apesar de encontrar nela o seu apoio. O termo apoio
designa precisamente essa relação primitiva da sexualidade com uma função ligada à conservação da vida,
mas ao mesmo tempo assinala a distância entre essa função conservadora e a pulsão sexual. O objeto do
instinto é o alimento (leite), enquanto o objeto da pulsão sexual é o seio materno. [...] A pulsão sexual deve,
portanto, ser entendida como o desvio do instinto” (Garcia-Roza (a), p. 99-100)

Pulsão: Processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética, fator de motricidade)
que faz o organismo tender para um objetivo. Segundo Freud, uma pulsão tem sua fonte numa excitação
corporal (estado de tensão); o seu objetivo ou meta é suprimir o estado de tensão que reina na fonte
pulsional; é no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir a sua meta. (Laplanche, pulsão, p. 394).

Pulsão é definida por Freud como sendo o “representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do
organismo e alcançam a mente” (Freud, v. XIV)

Estímulos constantes provenientes do próprio corpo. (Garcia-Roza (b), p.30).

Objeto e objetivo da Pulsão:


- Objetivo: ou meta é sempre a satisfação, sendo que ‘satisfação’ é definida como a redução da tensão
provocada pela pressão (Garcia-Roza (a), p.121). A satisfação realiza-se através da descarga de energia
acumulada, regulada pelo princípio de constância.

Nota: o alvo da pulsão é a satisfação, mas essa satisfação já foi obtida um dia, na pré-história individual. A
busca de satisfação procura reeditar uma satisfação primeira, busca essa que se repete infindavelmente
através dos objetos que se oferecem como pretendentes a ocupar o lugar da coisa (Ding),
irremediavelmente perdida pelo simples fato de que nunca foi tida. Cada objeto apropriado pela pulsão
revela ao mesmo tempo que não é ele ou por ele que ela encontrará a satisfação, embora uma satisfação
parcial seja obtida. (Garcia-Roza (b), p. 91)

- Objeto: “é aquilo no qual ou pelo qual a pulsão é capaz de atingir seu objetivo [...] é o que há de mais
variável na pulsão [..] a pulsão sexual é independente de seu objeto” (Freud, v XIV).
O objeto é inespecífico. O objeto é um meio pelo qual a pulsão encontra satisfação (Garcia-Roza (a), p.
122).
“A pulsão não possui objeto específico, a satisfação não pode ser senão parcial, o que faz com que persista
numa procura indefinida” (Garcia-Roza (b), p.31)

LIBIDO
Freud é levado a conceber o aparato psíquico como um aparato de captura, de contenção, de
transformação de algo que lhe chega a partir da exterioridade (do aparato). Esse aparato pode ser pensado,
em seu funcionamento, analogamente a uma usina hidrelétrica, isto é, a um grande aparato que captura,
armazena e transforma a ´pagua de um rio gerando eletricidade (Garcia-Roza (b), p.33).
A libido é concebida por Freud como uma energia psíquica, como a expressão anímica (psíquica) da pulsão
sexual (Garcia-Roza (b), p. 34)

Nota:
Libido: termo latino que significa vontade, desejo, inicialmente utilizado por Moriz Benedik e, mais tarde
pelos fundadores da sexologia (Albert Moll e Richard Von Kraft-Ebing) para deseignar uma energia própria
do instinto sexual, ou libido sexualis. (Roudinesco, libido, p. 471)
Éé como energia nitidamente distinta da excitação sexual somática que o conceito de libido é introduzido
por Freud nos seus primeiros escritos sobre a neurose de angústia (Laplanche, libido, p. 266)

LIBIDO: Num primeiro momento, Freud definiu a libido como uma energia, isto é, a manifestação dinâmica
do impulso (ou pulsão) sexual na vida psíquica. (Roudinesco, libido, p.473). A libido – homóloga, em
relação ao amor, da fome em relação ao instinto de nutrição – mantém-se próxima do desejo sexual em
busca da satisfação, e permite seguir as suas transformações; é que nesse caso trata-se apenas de libido
objetal; vemos esta concentra-se em objetos, fixar-se neles ou abandoná-los, deixando um objeto por outro.
(Laplanche, libido, p.267).
“É a energia sexual que parte do corpo e investe os objetos” (Nasio, p. 48)
Na medida em que a pulsão sexual representa uma força que exerce uma “pressão”, a libido é definida por
Freud como a energia dessa pulsão. (Laplanche, libido, p.267)
- É de natureza masculina (ativa), quer se manifeste no homem ou mulher.

O AUTO-EROTISMO
Estado em que as pulsões se satisfazem cada uma por sua própria conta, sem que exista qualquer
organização de conjunto. A excitação sexual nasce e se apazigua ali mesmo, ao nível de cada zona
erógena tomada isoladamente (prazer de órgão).
Estado original da sexualidade infantil no qual a pulsão sexual, ligada a um órgão ou à excitação de uma
zona erógena, encontra satisfação sem recorrer a um objeto externo. (Garcia-Roza, p.99)

PULSÃO PARCIAL
- Introduzida nos “Três ensaios...”
- A pulsão sexual não está unificada desde o início, mas que começa fragmentada em pulsões parciais cuja
satisfação é local (prazer de órgão, zonas erógenas), em cada parte do corpo (o auto-erotismo), não há um
objeto externo (Garcia-Roza, p. 33).
- Na criança o funcionamento das pulsões parciais são observadas em atividades parcelares (“perversidade
polimorfa”) e, no adulto, sob a forma de prazeres preliminares ao ato sexual e nas perversões. (Laplanche,
Pontalis).
- A sexualidade só encontra a sua organização no momento da puberdade, enquanto que na infância o
conjunto da atividade sexual é inorganizado, anárquico (pulsões parciais).
- A idéia de organização pré-genital infantil leva a recuar mais no tempo essa fase de livre jogo das pulsões
parciais, fase auto-erótica “...em que cada pulsão parcial, cada uma por si, procura sua satisfação de prazer
no próprio corpo”. (Laplanche, Pontalis).

FASES DE ORGANIZAÇÃO DA LIBIDO


- Etapa do desenvolvimento da criança caracterizada por uma organização, mais ou menos acentuada, da
libido sob o primado de uma zona erógena e pela predominância de uma modalidade de relação de objeto.
(Laplanche, Pontalis, fase libinal).
- A noção do primado de uma zona erógena é insuficiente para explicar o que há de estruturante e de
normativo no conceito de fase: esta só encontra o seu funcionamento em um tipo de atividade, ligado a
uma zona erógena, é claro, mas que se reconhecerá a diferentes níveis da relação de objeto.
- A noção de fase libidinal designa uma etapa do desenvolvimento sexual da criança caracterizada por uma
certa organização da libido determinada ou pela predominância de uma zona erógena ou por um modo de
relação de objeto (Garcia-Roza, p.103).

FASE ORAL (canibal)


É a primeira fase da evolução sexual pré-genital. Nela o prazer ainda está ligado à ingestão de alimentos e
à excitação da mucosa dos lábios e da cavidade bucal. O objetivo sexual consiste na incorporação do
objeto, o que funcionará como protótipo para identificações futuras como, por exemplo, a significação
comer-ser comido que caracteriza a relação de amor com a mãe.
Na organização oral, a fonte é a zona oral, o objeto é o seio e o modo de relação de objeto é marcado pela
incorporação (Garcia-Roza, p.104).
O objeto está ligado a nutrição.
Fantasias posteriores que vão além da nutrição (“comer com os olhos”, etc).

FASE ANAL-SÁDICA
É a segunda fase pré-genital da sexualidade infantil. Essa fase é caracterizada por uma organização da
libido sob o primado da zona anal e por um modo de relação de objeto que Freud denomina “ativo” e
“passivo”.
Esta fase está impregnada de valor simbólico, sobretudo ligado às fezes. Tal é o caso da significação de
que se reveste a atividade de dar e receber ligada à expulsão e retenção das fezes. É na fase anal que se
constitui a polaridade atividade-passividade que Freud faz corresponder à polaridade sadismo-masoquismo.
(Garcia-Roza, p.105).
A fonte é a zona anal, o modo de relação de objeto é caracterizado por atividade-passividade (em referência
à expulsão-retenção das fezes) (Garcia-Roza, p.104).
Fase impregnada de valores simbólicos de dádiva (dar) e de recusa. Freud põe em evidência, a
equivalência simbólica fezes = dádiva = dinheiro.

FASE FÁLICA
Essa fase foi apontada por Freud em 1923 em seu texto “A organização genital infantil”. Corresponde á
organização da libido que vem depois das fases oral e anal, na qual já há um predomínio dos órgãos
genitais. Essa fase apresenta um objeto sexual a alguma convergência dos impulsos sexuais sobre esse
objeto. O que se distingue fundamentalmente da fase genital madura é que nela a criança reconhece
apenas um órgão genital: o masculino. Nela a oposição entre os sexos é caracterizada pela castração, isto
é, pela distinção fálico-castrado. Há o primado do falo. (Garcia-roza, p.105).
A fase fálica assinala o ponto culminante e o declínio da Complexo de Édipo pela ameaça de castração. No
caso do menino, a fase fálica se caracteriza por um interesse narcísico que ele tem pelo próprio pênis em
contraposição à descoberta da ausência de pênis na menina. É essa diferença que vai marcar a oposição
fálico-castrado que substitui, nessa fase, o par atividade-passividade da fase anal. Na menina, essa
constatação determina o surgimento da “inveja do pênis” e o conseqüente ressentimento para com sua mãe
“porque esta não lhe deu um pênis” o que será compensado com o desejo de ter um filho. (Garcia-Roza, p.
106).
Nessa fase, Freud já reconhece a existência desde a infância de uma verdadeira organização da
sexualidade, muito próxima daquela do adulto que já merece o nome de genital onde se encontra um objeto
sexual e uma certa convergência das tendências sexuais sobre esse objeto, mas que se diferencia num
ponto essencial da organização definitiva por ocasião da maturidade sexual, a questão do falo. (Laplanche,
178)
Falo = na antiguidade Greco-latina, representação figurada do órgão masculino. Na psicanálise, o uso deste
termo sublinha a função simbólica desempenhada pelo pênis na dialética intra e intersubjetiva, enquanto o
termo “pênis” é sobretudo reservado para designar o órgão anatômico masculino. (Laplanche, p.167)
Nas sociedades patriarcais, o falo foi transformado em símbolo de poder e completude. Possuir o pênis, não
quer dizer possuir o falo. Este é da ordem simbólica. Ninguém é possuidor do falo, Freud concebe o
indivíduo como sendo marcado pela falta, incompletude fundamental que o lança a uma procura infindável.
O falo é aquilo que a nível simbólico vem preencher o vazio e organizar as relações entre os sexos. (Garcia-
Roza, p. 220).

PERÍODO DE LATÊNCIA
Período que vai do declínio da sexualidade infantil até o início da puberdade, e que marca uma pausa na
evolução da sexualidade. Observa-se nele, deste ponto de vista, uma diminuição das atividades sexuais, a
dessexualização das relações de objeto e dos sentimentos 9e, especialmente, a predominância da ternura
sobre os desejos sexuais), o aparecimento de sentimentos como o pudor ou a repugnância e de aspirações
morais e estéticas. O perído de latência tem origem no declínio do complexo de Édipo; corresponde a uma
intensificação do recalque – que tem como efeito uma amnésia que cobre os primeiros anos -, a uma
transformação dos investimentos de objetos em identificações com os pais e a um desenvolvimento das
sublimações. (Laplanche, p. 263).

FASE GENITAL (OU ORGANIZAÇÃO GENITAL)


Fase caracterizada pela organização das pulsões parciais sob o primado das zonas genitais; compreende
dois momentos, separados pelo período de latência: a fase fálica (ou organização genital infantil) e a
organização genital propriamente dita que se institui na puberdade. (Laplanche, p. 180).
Todas as tendências sexuais convergem para uma só pessoa e procuram nela a sua satisfação. Assim se
realiza nos anos da infância a forma de sexualidade que mais se aproxima da forma definitiva da vida
sexual. A diferença reduz-se ao fato de que na criança não está realizada a síntese das pulsões parciais,
nem a sua submissão completa ao primado da zona genital. Só o último período do desenvolvimento sexual
trará consigo a afirmação de primado. Porém, a única diferença que de fato importa entre as 2 fases é que
na fase fálica, para os 2 sexos só um órgão genital conta = o falo. (Laplache, p. 181).
Freud acentuou também o fato de que a organização genital infantil se caracteriza por uma discordância
entre as exigências edipianas e o grau de desenvolvimento. (Laplache, p. 181).
A polaridade nesta fase é a masculino-feminino (relação de objeto).

Referências:
- Garcia-Roza, A (a). Freud e o Inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
- Gracia-Roza, A(b). Introdução à metapsicologia freudiana – Artigos de metapsicologia – vol 3 – Artigos de
metapsicologia – vol 3. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
- Laplanche, J. E Pontalis, J.B. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins fontes, 1994.
- Nasio, JD. Édipo: o Complexo do Qual Nenhuma Criança Escapa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
- Freud, S. Pulsões e seus destinos. ESB das Obras Completas de Sigmund Freud, Rio de Janeiro: Imago,
1996, vol. XIV.
- Roudinesco, E; Plon, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

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