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Leitura de Verão se junta com Teto para Dois nesta

comédia romântica de estreia super engraçada e


deliciosamente afiada sobre uma jovem, sem sorte que faz
uma confusão confundindo um aplicativo de namoro por
um aplicativo de colega de quarto em uma nova chance de
amor.

Depois de ser surpreendida por não ter sido promovida — que


era algo muito necessário —, Sadie Green precisa
desesperadamente de três coisas: uma bebida forte, um novo
lugar para morar e um caso de uma noite. Quando um dia bebe
demais, Sadie confunde um aplicativo de namoro há muito
ignorado por um aplicativo de colegas de quarto e se encontra
na porta do lindo brownstone de Jack Thomas no Brooklyn.
Pena que ela se sente mais atraída por sua propriedade
impressionante do que pelo próprio homem.

Jack, ainda de luto pela morte inesperada de seus pais, aprendeu


a encontrar conforto em videogames e maratonas de filmes em
vez de amigos. Então, embora ele não saiba exatamente o que
fazer com a vivaz e prolixa Sadie, ele está disposto a oferecer a
ela seu quarto extra enquanto ela se recupera. E com o aluguel
imbatível, Sadie pode finalmente seguir seu lado florista em
tempo integral. Os dois são pessoas opostas, mas quando a
presença de Sadie começa a transformar o seu brownstone em
um lar, ambos começam a perceber que podem ter acabado de
fazer o negócio de suas vidas.
Para Matt, por me mostrar o significado de felizes para sempre
Sinopse
Tabela de Conteúdos
Aviso — bwc
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Epílogo
Agradecimentos
Guia de Discussão
Essa presente tradução é de autoria pelo grupo Bookworm’s
Cafe. Nosso grupo não possui fins lucrativos, sendo este um
trabalho voluntário e não remunerado. Traduzimos livros com
o objetivo de acessibilizar a leitura para aqueles que não sabem
ler em inglês.
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feitas de forma construtiva e sem desrespeitar o trabalho da
nossa equipe.
Eu coloquei o número final na minha planilha Consiga Aquela
Promoção, Vadia. Mesmo tendo feito cálculos mentais
suficientes para saber que o resultado final será positivo, ainda
prendo a respiração, cruzando os dedos enquanto aperto o
enter.
— Pode ser isso. A chance de finalmente pagar os malditos
empréstimos estudantis e viver confortavelmente — na
verdade, não há mais ninguém em meu escritório, mas, como
sempre, mantenho uma conversa unilateral com a planta que
está sobre minha mesa, alojada em um vaso de concreto
pintado com uma tinta rosa brilhante. Nem a planta e nem seu
vaso neon são aprovadas por uma empresa financeira, mas é a
única coisa que traz alegria em meu pequeno escritório.
Quando finalmente me forcei a olhar para a tela do
computador, minhas suspeitas se confirmaram. Lá está,
irradiando através de milhares de raios nocivos de luz azul: um
orçamento completo. Um orçamento baseado no aumento de
salário que estou prestes a ganhar. Um orçamento que me
permite pagar o aluguel do meu apartamento em Kips Bay e, ao
mesmo tempo, pagar meus empréstimos estudantis. Em outras
palavras, brilhando sobre a tela do computador e em meu
pequeno escritório neste grandioso arranha-céu está o Santo
Graal da vida de um millennial: uma chance de ser livre de
dívidas. Eu mal consigo segurar um grito de alegria.
Agora, tudo o que resta é realmente garantir essa promoção.
Eu vou conseguir essa promoção. E entrarei nessa reunião
com confiança.
Assim que eu conseguir um pequeno reforço. Empurrando
minha cadeira para trás e me levantando, pego meu telefone,
toco na tela e abro o FaceTime. Nosso bate-papo em grupo está
predefinido, então eu ligo, verificando minha maquiagem
enquanto espero minhas melhores amigas, Gemma e Harley,
atenderem.
Além de uma pequena espinha se formando sob a pele que
seria-pálida-se-não-fosse-pelo-bronzeador em minha testa, meu
rosto parece impecável. Eu retoco meu lábio rosa pálido fosco
de qualquer maneira e afofo meu cabelo castanho-claro-mas-
com-luzes-a-dois-centímetros-da-raiz.
Gemma atende primeiro.
— Ok, eu tenho dez minutos até que meu quarto seja
inundado com garotos de 12 anos e seus hormônios suados
pós-almoço. Manda.
— Primeiro, não precisava daquela imagem. Segundo, onde
está Harley? Só tenho tempo para fazer isso uma vez.
— Estou aqui, estou aqui — o rosto de Harley aparece na
minha tela e, a julgar por sua saudação levemente ofegante, ela
teve que sair de seu escritório antes de atender minha ligação —
Estamos esperando por Nick?
— Como se ele fosse sair de sua mesa para ter uma conversa
interessante — Gemma bufa. — Sadie, pare de tocar seu rosto.
Eu olho para ela, mas também sigo seu conselho.
— Primeiramente, verificar a aparência.
Seguro o telefone o mais longe possível do corpo, girando
devagar de um lado para o outro, como se fosse uma bailarina
em uma caixa de música. Ou uma galinha no espeto. Aprendi
muito cedo que uma perfeita aparência pode fazer muitas
coisas por uma mulher, e eu estou me esforçando muito para
manter a minha. A confiança em minha aparência acima da
média geralmente ajuda a mascarar a dúvida em minha mente.
— Você parece bem — Gemma nem está olhando para
mim, atualmente rabiscando algo em seu quadro branco em vez
de se preocupar em olhar na minha direção.
Harley fala antes que eu possa atacar Gemma.
— Você está perfeita como sempre, Sadie. Você consegue.
Eu empurro meus ombros para trás, minha mão que não é
a que está segurando o telefone fica cerrada em um punho
apertado, descansando no meu quadril. — Eu sou uma deusa
guerreira forte.
— Você é uma deusa guerreira forte! — ambos cantam
comigo, Harley reunindo muito mais entusiasmo do que
Gemma.
A confiança externa se infiltra, abafando meus incômodos
pensamentos negativos. — Vou conseguir aquela promoção e
mostrar a esses filhos da puta quem é que manda.
— Sim, não estou dizendo isso no meio da minha sala de
aula, quando uma criança pode entrar aqui a qualquer minuto.
Mas, sim. — Gemma se joga em sua mesa e enfia uma batata
frita na boca. O barulho alto percorre o telefone, fazendo meus
ombros ficarem tensos.
Eu deixo cair a máscara por um breve segundo.
— Gente.
— Sadie, sério. Você consegue. Você ganhou essa promoção
três vezes, e ela será sua — Harley me dá um sorriso calmo e um
sinal de positivo — Você está linda, mas mais importante, você
tem uma puta experiência nisso — Harley raramente xinga,
então ela deve estar falando sério, e suas palavras me dão uma
força muito necessária.
Gemma move o telefone para mais perto de seu rosto para
que seus olhos dominem minha tela.
— Eu tenho certeza que você vai conseguir, vadia — Ela
abaixa a voz para seu termo de carinho, então verifica
ansiosamente para se certificar de que não há pessoinhas
ouvindo-a falar um palavrão, embora Deus saiba que seus
alunos do ensino médio já ouviram muito pior. E
provavelmente disseram muito pior.
— Envie-nos uma mensagem assim que for oficial — Harley
faz um toca aqui na tela.
— Você consegue — Gemma atira em mim uma arma de
dedo.
— Amo vocês, gente — eu mando um beijo para ambas e
desligo depois do coro de “eu também te amo”.
Minha máscara de vadia durona está no lugar e reforçada
pela confiança de minhas amigas em mim, eu retomo minha
pose de super-heroína, desta vez inclinando minha cabeça para
cima e empurrando meu peito para o efeito total, ambas as
mãos firmemente plantadas na minha cintura. Nunca fiquei
tão agradecida por não ter janelas em meu escritório.
Depois de sessenta segundos de pose de poder, dou uma
olhada no espelho que mantenho escondida na gaveta da
escrivaninha. Ajeito minha saia listrada cinza e afofo as mangas
de minha camisa de seda branca. "Você consegue", digo ao meu
reflexo antes de colocar o espelho de volta em seu esconderijo.
"Eu vou conseguir", repito para minha planta. Depois de uma
última respiração profunda, coloco minha cara de trabalho -
um nível acima da cara de vadia em repouso. Um rosto que diz,
eu sei o que estou fazendo, mas também sou totalmente acessível!
Um rosto de mulher-trabalhando-em-finanças.
Meu telefone apita com uma mensagem quando abro a
porta do meu escritório.

NICK: Mostre a esses filhos da puta quem


manda, baby!

Ah, eu vou.
Desço o corredor do prédio alto, caminhando em direção à
sala de conferências.
Eu sou uma chefona na contabilidade. Eu faço planilhas,
vadia. Vou chutar o traseiro dessa promoção.
O mantra se repete em minha mente enquanto passo pela
porta aberta da sala de conferências. A maior parte da equipe já
está aqui, descansando em cadeiras de rodas ao redor de uma
longa mesa com tampo de vidro.
Sento-me ao lado da minha melhor amiga de trabalho,
Veronica. Além de Veronica e eu, há apenas uma outra mulher
na sala, minha supervisora e mentora, Margo. Ela me contratou
assim que saí da faculdade e desde então me guiou pelas fileiras
do mundo dos analistas financeiros. Eu dou a ela um pequeno
sorriso, mas ela não encontra meus olhos. Merda. Meu
estômago deu uma volta em um carrossel.
Por que ela não olha para mim? Margo sempre me
reconhece, mesmo que seja com um simples aceno de cabeça.
Isso não pode ser bom. Puta merda.
Qualquer confiança construída por meus amigos foge de
mim.
Não. Eu não vou fazer isso. Pode haver muitos motivos para
Margo não querer olhar para mim. Ela provavelmente não quer
mostrar favoritismo. Ou estrague a grande revelação. Eu tenho
essa promoção, vai ser minha. Venho trabalhando pra caramba
— estou falando de horas extras não remuneradas, fins de
semana e feriados — nos últimos seis anos, e finalmente estou
prestes a ser recompensada.
A ideia de não viver de salário em salário, algo que poderei
fazer pela primeira vez na vida com o aumento que acompanha
meu novo cargo, quase me leva às lágrimas. Mas tenho certeza
que não vou conseguir a porra da minha promoção chorando
no meio da sala de conferências.
Então, abro meu sorriso de menina descontraída e coloco
minhas mãos juntas sobre a mesa.
Os homens na sala, vulgo a maioria das pessoas presentes,
endireitam-se em seus assentos quando vemos nosso sócio
sênior caminhando pelo corredor. Bill Stevens me lembra meu
avô, e sei que sorte devo ter de trabalhar com uma gerente que
realmente se importa com seus funcionários e ninguém nunca
deu em cima de mim. Só o fato de pensar nisso, como trabalhar
com ele e não para ele o coloca muito à frente de qualquer outro
chefe que já tive, e trabalho desde os quatorze anos. Bill está
acompanhado por um cara de trinta e poucos anos que eu
nunca vi antes, vestido com um caro terno sob medida e uma
gravata da Escola de gerenciamento da Yale. Silêncio.
Veronica aperta meu cotovelo, mas não me viro em sua
direção, meus olhos grudados em Bill quando ele se senta na
cabeceira da mesa, gesticulando para o recém-chegado ocupar
a cadeira à sua direita.
— Obrigado a todos por terem vindo — Bill leva um
minuto para olhar ao redor da sala. — Sei que vocês estão
ansiosos pelo grande anúncio e prometo não deixar vocês
ansiosos. Mas antes de tornar qualquer coisa oficial, quero dizer
algumas palavras sobre uma de nossas estrelas em ascensão, a
Sra. Sadie Green.
Veronica aperta meu cotovelo novamente e, com o canto do
olho, vejo os lábios de Margo franzidos, como se ela estivesse
tentando conter sua alegria. Ou evitando vomitar. Um ou
outro.
— Sadie está na empresa há mais de seis anos, e sei que não
sou o único que notou a frequência com que ela vai além do
dever — Bill faz contato visual direto comigo, com um sorriso
caloroso no rosto. — E porque ela teve sucesso em todos os seus
projetos anteriores, agora é hora de ela gerenciar seu maior
projeto até hoje…
Eu respiro fundo e apenas por um segundo fecho meus
olhos, ouvindo meu novo título antes que ele realmente saia da
boca de Bill.
— …treinando nosso novo analista financeiro sênior, Chad
Thompson.
A sala fica em silêncio e meu estômago revira como se eu
estivesse em um elevador em queda livre. O que, francamente,
seria melhor do que estar sentada nessa sala neste exato
momento. Minhas mãos apertam os braços da minha cadeira
como se eu pudesse realmente estar caindo.
Ninguém fala por pelo menos um minuto. É como se
estivéssemos em um episódio de Saved by the Bell e Zack Morris
pediu um tempo de pausa. Meu peito dói porque tenho certeza
de que parei de respirar completamente.
— Quem diabos é Chad Thompson?
As palavras saem rapidamente da minha boca em uma
lufada de ar antes que eu tenha tempo de compreender
totalmente o que estou dizendo. Tudo o que sei é que isso deve
ser algum tipo de piada de mau gosto.
Bill me encara como se nunca tivesse me visto antes.
— Chad é meu futuro genro. Ele acabou de se formar em
Yale com seu MBA e acho que ele será uma grande agregação
para a empresa. Com sua ajuda e orientação, não tenho dúvidas
de que ele será um grande líder.
Minha boca se abre, meu cérebro lutando para processar as
palavras que saem da boca estúpida de Bill.
— Com minha ajuda e orientação? — Minha voz é baixa e
estrondosa, uma oitava acima de Exorcist. — Você realmente
quer que eu treine o homem que vai roubar meu emprego?
Veronica puxa meu cotovelo, disfarçadamente tentando me
acalmar, mas não estou entendendo absolutamente nada.
— Sadie. Você é uma trabalhadora muito esforçada e uma
mulher inteligente, mas não está pronta para responsabilidades
de alto escalão.
A voz de Bill goteja intolerância, e mentalmente retiro todas
as coisas boas que já disse sobre ele.
— Mas um cara que nunca pôs os pés nesse prédio até hoje
está? Sua principal qualificação é que ele fode sua filha?
A sala inala um suspiro coletivo. Veronica rola a cadeira para
longe de mim, como se não quisesse mais afirmar que
estávamos juntas.
Minhas bochechas queimam e, oh meu Deus, eu disse isso
em voz alta.
— Todo mundo fora — Bill ordena, seu tom quieto mas
mais aterrorizante do que se ele gritasse essas palavras.
Eu fecho minhas mãos com força, focando em meus dedos
perfeitamente cuidados, respirando lenta e profundamente.
Não acredito que acabei de perder minha cabeça em uma sala
cheia de pessoas. Na frente do meu chefe. Em seis anos, nunca
levantei minha voz, sabendo que basta uma explosão para ser
rotulada como sentimental. E em cinco minutos, passei do
sentimental para ser irracional e agressiva.
Eu ainda permaneço imóvel como um daqueles caras
pintados imitando estátuas na Times Square, não me movendo
até que a multidão de ternos passe por mim, a sala se esvaziando
em segundos. Eu empurro minha própria cadeira para trás e
começo a me levantar, mas Bill me impede.
— Sente-se.
Fechando meus olhos por um breve segundo, eu me
recomponho. Sento-me direito. Sorriso brilhante. Contato
visual confiante. Fria. Calma. Recolhida. Eu posso consertar
isso.
— Quando você gostaria que eu começasse a trabalhar com
Chad, senhor? — se eu fingir bastante, ele vai esquecer tudo
sobre isso, certo?
Bill junta os dedos, batendo no queixo, pensativo.
— De todas as mulheres deste escritório, nunca esperei que
você reagisse de maneira tão inapropriada.
— Ah? — eu apenas consigo evitar que minha voz falhe. Ou
de revidar como nunca esperei ser vítima de seu nepotismo
direto. — Peço desculpas pela minha linguagem. Não vou
mentir, estava esperando essa promoção. Dados meus anos de
serviço à empresa e as muitas, muitas horas e trabalhos não
remunerados, que não apenas assumi de bom grado, mas
também as realizei com sucesso.
— Coordenar algumas planilhas não significa que você está
pronta para gerenciamento de nível sênior — seus olhos se
estreitam. — E uma das suas maiores qualificações até hoje tem
sido sua atitude, nunca se recuando ou fazendo bagunça.
Meus ombros começam a se erguer em volta das orelhas,
meu corpo se encolhendo, minha raiva e descrença se
transformando em algo muito mais sinistro, um refrão repetido
que está em um loop constante em minha mente desde que eu
era criança.
Por que você acha que é boa o suficiente? Você sabe que nunca
será boa o suficiente.
— Peço desculpas pela minha explosão. Não vai acontecer
de novo — minha voz é tão baixa quanto eu sinto. Eu empurro
minha cadeira para trás da mesa.
— Receio que seja tarde demais para isso — Bill empilha
seus papéis antes de se levantar. — Vou ter que te despedir,
Sadie. Esse tipo de comportamento é inaceitável em um local
de negócios. Reúna suas coisas e não deixe de passar no recursos
humanos para assinar a papelada.
Meu sangue gela, congelando a respiração presa em meus
pulmões.
— Você está me demitindo?
Ele caminha até a porta, nem mesmo olhando por cima do
ombro para falar comigo diretamente.
— Não precisava ser assim. Você deveria ter mantido suas
emoções sob controle — ele empurra a porta, deixando-a se
fechar atrás dele com um baque.
Sento-me por pelo menos um minuto antes de sair correndo
da sala de conferências. Correndo o mais rápido possível pelo
corredor pelo qual passei menos de uma hora antes, entro em
meu escritório sem encontrar nenhum olhar de bisbilhoteiro.
Os poucos itens pessoais que mantenho em minha mesa — um
planejador codificado por cores, meu diploma universitário —
são jogados às pressas em minha bolsa. Eu carinhosamente
embalo minha planta em meus braços, tentando obter até
mesmo um sopro de consolo do meu amigo verde espetado.
A porta do meu escritório se abre antes que eu tenha a
chance de escapar de volta para o corredor.
Por um minuto, apenas olho para Margo. Minha mentora,
a mulher que me colocou sob sua proteção e sempre me apoiou
— até hoje. Eu seguro minha bolsa de pelúcia na minha frente
como um escudo.
— Você sabia?
Ela suspira e puxa o punho da manga direita, seu tique
nervoso.
— Ouvi um boato, mas não achei que fosse verdade.
Espero que ela diga alguma coisa, qualquer coisa, para
oferecer uma pequena palavra de conforto, embora eu saiba
que conforto não é o estilo dela.
— Por que você não disse nada lá dentro? Você me fez ser
despedida, Margo.
Ela se irrita com a acusação.
— Você se fez ser demitida com sua explosão de emoções,
Sadie. Você sabe o quão ruim você me fez parecer? Você
pensou em como seu comportamento refletiria em mim como
sua mentora? O quão egoísta você é?
Quase rio porque sei exatamente como sou egoísta. Margo
com certeza não é a primeira pessoa na minha vida a me dizer
isso.
Mas egoísta ou não, sei que acabei de me ferrar.
— Eu vi um homem que não esteve aqui nem por cinco
minutos assumir a posição que eu merecia nos últimos seis
anos. E minhas palavras foram indesculpáveis? — eu me movo
para passar por ela, além de estar pronta para sair deste lugar.
Ela bloqueia meu caminho.
— Às vezes você tem que pegar o que lhe foi dado e fazer o
melhor.
Eu a encaro por um segundo, não acreditando totalmente
no que estou ouvindo. Balançando a cabeça, abro a porta do
meu escritório pela última vez.
— Foda-se.
Eu praticamente corro para o elevador, meu dedo pairando
sobre o botão do saguão antes de pensar melhor e apertar o do
próximo andar, onde fica o escritório dos recursos humanos.
As chances de eu deixar isso fora das minhas referência são
poucas, mas pelo menos vou tentar ter alguma esperança de
encontrar outro emprego em finanças.
O representante dos recursos humanos não perde tempo,
me explicando o contrato de rescisão que tenho que assinar. Eu
provavelmente deveria ter Harley, que trabalha como meu
advogado pessoal, para dar uma olhada nisso primeiro, mas eu
não quero ficar neste prédio nem por mais um segundo do que
o necessário. Rabisco minha assinatura no final da página e
corro de volta para o elevador.
Assim que as portas se abrem no andar do saguão, corro o
mais rápido que meus saltos permitem para a saída do prédio,
empurrando para fora e sugando uma grande lufada de ar
fresco na cidade de Nova York. Eu compro um pretzel de um
carrinho próximo e me afundo em uma das mesas de bistrô que
pontilham o pátio do prédio ao lado. Pego meu telefone no
bolso da minha bolsa, e abro nossa conversa em grupo.

EU: Blueprint às 7:00.

HARLEY: Lugar perfeito para comemorar!

EU: Acho que você quer dizer para se


lamentar.

NICK: Porra. O que aconteceu? E nós


realmente precisamos ir até o Brooklyn?

EU: Vou contar a vocês esta noite. E sim. Eu


não posso sair e ser cercado por pessoas de
finanças reclamando esta noite.

EU: Sem ofensa, Nicky.

HARLEY: *abraços*

GEMMA: Merda, acabei de ver isso. Que porra


é essa, Sadie? Além disso, Nick, lembre-se
gentilmente que quem trabalha de nós mora
no Brooklyn.

NICK:

Eu não me incomodo em responder. Depois de engolir meu


pretzel, consigo voltar para casa, movendo-me no piloto
automático, indo direto para a loja de bebidas do bairro assim
que subo as escadas do metrô na minha parada. Pegando duas
garrafas de vinho, vou até o caixa antes de voltar para pegar uma
terceira ou quarta garrafa. Pego uma cesta, também jogo um
saco de Cheetos e um pacote enorme de M&M.
Meu apartamento fica a apenas um quarteirão da loja, mas
carregar para casa minhas compras faz com que pareça muito
mais longe. Subo os cinco lances de escada em meu prédio de
tijolos indefinido, minha sacola reutilizável cheia de bebida e
comida não saudável batendo na parte de trás da minha perna
a cada passo, as batidas pontuando os pensamentos negativos
correndo pelo meu cérebro.
Claro que você foi demitida.
Quem gostaria que você trabalhasse para eles?
Não é como se você trabalhasse tanto.
Por que você acha que é muito melhor do que todo mundo?
Parando em um patamar para recuperar o fôlego, fecho os
olhos e tento empurrar a voz para o fundo do meu cérebro.
Moro nesse prédio há quase um ano, uma das minhas
residências mais longas desde que me mudei para Nova York
para fazer faculdade, dez anos atrás. É a primeira vez que moro
sozinha, o que é possivelmente minha característica favorita do
espaço. O apartamento em si é limpo e chato, nada nem perto
de um digno Instagram. Tenho uma cozinha, um banheiro e
um quarto com porta, mais do que já tive antes. Mas não tenho
espaço externo, nem mesmo uma pequena varanda, e como
sempre fui uma entusiasta de plantas seriamente dedicada e
quase superzelosa, é uma grande desvantagem.
Então, enchi o interior com plantas que não precisam de
muita luz solar e gasto mais do que gostaria de admitir em flores
frescas do mercado dos fazendeiros todas as semanas. Mas
minha alma ainda anseia por um quintal, ou mesmo um pátio.
Crescendo no sul da Califórnia, o espaço ao ar livre era
abundante e sempre encontrei consolo no jardim da casa dos
meus pais. É uma das únicas coisas que senti falta desde que me
mudei para a Costa Leste.
— Agora você nunca será capaz de comprar nada com um
quintal — murmuro para mim mesma quando finalmente
chego à porta da frente, suada e sem fôlego. Você pensaria que
depois de subir essas escadas todos os dias durante um ano, eu
estaria em melhor forma. Você pensaria.
Coloco minhas garrafas de vinho na geladeira, abrindo
tanto Cheetos quanto os M&Ms, alternando punhados de cada
um em algum tipo nojento de salgado e doce, queijo e
chocolate. Tirando os sapatos, abro o zíper da saia e me jogo no
sofá.
Realmente, no que diz respeito às situações de vida na
cidade de Nova York, poderia ser muito pior. Merda, já estive
muito pior. Mas quando me mudei para este apartamento, uma
promoção garantida estava por vir. Portanto, fosse um pouco
exagerado em termos de orçamento, pensei que seria um
alongamento de curto prazo. Agora, mesmo que eu encontre
um novo emprego, não tenho ideia de como vou continuar a
pagar por este lugar.
Balanço meus pés sobre a mesa de centro, desejando ter
pensado em me servir de uma taça de vinho antes de me sentar.
Tecnicamente, meu aluguel vence daqui algumas semanas. E,
tecnicamente, se eu quiser sair da dívida do empréstimo
estudantil a qualquer momento antes da aposentadoria,
provavelmente devo me mudar. De novo. Mas a ideia de me
mudar para outro apartamento, carregando caixas por cinco
lances de escada até uma van alugada em um estacionamento
duplo, me dá vontade de vomitar meu estômago cheio de
açúcar e queijo processado. Desbloqueio meu telefone e baixo
novamente o aplicativo de localização de colegas de quarto que
usei no passado. Mas mesmo o simples ato de fazer login na
minha conta inativa me faz querer me enrolar como uma bola
e morar permanentemente nesse sofá.
— Foda-se. Vou ter que me contentar em ser pobre —
Embora eu pare e me pergunte se investir em um colega de
quarto pode me impedir de falar com minhas plantas.
Meu telefone toca com uma notificação por e-mail e eu
deslizo automaticamente para abri-lo, apesar do fato de que
esse sinal provavelmente é spam e não um e-mail urgente de
cliente. Já que não tenho mais clientes. Ou um e-mail de
trabalho.
— Não! — eu falo para mim mesma, jogando meu telefone
para o lado oposto do sofá. — Não estou mais presa em meu
celular.
E como o lado oposto do sofá significa apenas uns 30
centímetros de distância de mim, estendo a mão e pego o
telefone novamente, desativando todas as minhas notificações
do e-mail. Eu tenho visto aqueles estúpido e-mail nos últimos
seis anos, como um cão velho de Pavlov. São encontros e
horários interrompidos com meus amigos e incontáveis horas
de sono. Não mais.
É noite de quinta-feira. Vou me dar um bom e longo fim de
semana de três dias para lamentar, reclamar e resmungar. E
então, na segunda-feira, vou para a calçada. Serei contratada
por algum lugar novo e fabuloso em pouco tempo.
— Agora — eu digo para a minha sala cheia de plantas —,
vamos ficar bêbados!
O projeto está sendo feito quando saio do carro que pedi pelo
Lyft duas horas depois. Eu deveria ter pegado o metrô? Sim.
Paguei uma taxa gigantesca só para economizar meia hora?
Também sim. Valeu a pena não ter que caminhar dez
quarteirões em saltos matadores em várias direções?
Absolutamente sim.
Harley espera por mim na frente, parecendo que veio direto
do escritório. Ela está com uma saia justa preta muito longa e
blazer combinando, acompanhado por uma camisa branca de
botão e sapatilhas pretas. Ela abre os braços e me puxa para um
abraço no momento em que me aproximo, e apesar de eu me
erguer em meus calcanhares sobre ela, é o melhor abraço que já
tive em muito tempo.
— Preciso de boas notícias. Diga-me que você chutou
alguns traseiros de advogados hoje — eu me contorço para sair
de seu abraço antes que se torne embaraçoso, piscando
rapidamente para dissipar qualquer lágrima que possa ter
brotado em meus olhos com esta demonstração de pura
bondade.
— Hoje foi apenas em papelada, desculpa amiga — ela me
dá um sorriso triste, e eu me pego piscando novamente.
Harley tem um daqueles sorrisos que toca seus grandes
olhos castanhos, como se realmente significasse algo. Ela é
incrivelmente linda, com pele marrom escura impecável e
bochechas que poderiam cortar vidro, mas também é de longe
a pessoa mais compassiva e empática que já conheci, e
realmente não tenho ideia de por que ela é minha amiga. Seu
trabalho como defensora pública — que ela escolheu
especificamente para ajudar aqueles que não podem pagar uma
representação legal, apesar de receber ofertas de todos os
principais escritórios de advocacia — realmente importa no
grande esquema da vida, ao contrário da fossa elitista que é meu
trabalho. Era o meu trabalho.
Ela coloca suas longas box braids pretas sobre o ombro.
— Quer conversar sobre isso agora?
Franzo os lábios e balanço a cabeça.
— Acho que só poderei dizer isso uma vez. Além disso,
devemos colocar nosso nome na lista, parece que vai ter uma
espera.
Ela estende o braço para eu passar o meu ao redor.
— Fiz uma reserva.
Eu me abaixo para poder descansar minha cabeça em seu
ombro.
— Claro que você fez.
Harley nos leva até o bar, e um anfitrião nos leva até o pátio
dos fundos. Nós deslizamos em assentos um de frente para o
outro, e eu imediatamente pego o menu de bebidas. O ar da
noite de abril está frio na medida certa, mas vou precisar
começar a beber ou vestir minha jaqueta, e realmente não
quero prejudicar minha roupa fofa: calças cargo verde militar
ajustadas nas panturrilha e solto em torno de meus quadris,
combinado com um top preto e muitas jóias de ouro.
Então beber é a opção. Peço dois coquetéis diferentes
enquanto Harley pede uma água com gás.
Eu atiro a ela um olhar mortal.
— Eu tenho que trabalhar amanhã. A justiça não serve
sozinha — ela me dá um encolher de ombros apologético. —
Tenho certeza que Nick ficará feliz em ficar bêbado com você.
— Falando no diabo — eu levanto minhas sobrancelhas
sugestivamente para Harley enquanto levanto minha mão para
acenar para Nick.
Nick é tudo que eu normalmente gosto em um homem:
alto, musculoso, cabelos castanhos soltos, rico por causa da
família e um sorriso lindo. Ele parece um anúncio da
Abercrombie de 2005 escarrado, bronzeador e tudo mais.
Infelizmente, ele também é o cara mais legal que já conheci, o
que acaba com todos os meus arrepios sexuais. Felizmente, o
que ele queria não ficou imediatamente óbvio quando
compartilhamos uma aula juntos no primeiro ano da
Columbia, caso contrário, eu nunca teria feito uma proposta a
ele. Quando ele educadamente pediu para me conhecer melhor
primeiro, eu sabia que não havia futuro para nós, e ele
rapidamente se tornou um dos meus melhores amigos no
mundo, o complemento perfeito para o trio Harley, Gem e eu
automaticamente formando colegas de quarto.
— Como estão duas das minhas três melhores amigas? — ele
se inclina e beija cada um de nós na bochecha antes de se sentar
ao lado de Harley.
— Obrigado por vir até o Brooklyn, Nicky — ele odeia esse
apelido, então é claro que esse é o único jeito que eu o chamo.
— Eu só precisava ficar longe de qualquer coisa remotamente
conectada ao trabalho — o que inclui meu apartamento bem
no meio do centro de finanças.
— Acabei de passar uma hora no metrô lotado quando eu
poderia estar em casa relaxando, bebendo uma cerveja e
assistindo beisebol, então sim, de nada — ele sinaliza para o
garçom e pede educadamente uma cerveja e três aperitivos
diferentes. Ele não nos pergunta o que queremos, já sabendo
exatamente o que pediríamos.
— Ah meu Deus, eu juro, adolescentes são os piores! —
Gemma faz essa declaração do outro lado do pátio enquanto
caminha por uma multidão em direção à nossa mesa,
empurrando as pessoas pelo caminho. — Sério, quantos dias
faltam para a escola acabar, porque estou prestes a matar alguns
desses filhos da puta hormonais — Gemma mantém sua boca
suja sob controle o dia todo em sua sala de aula e, por causa
disso, ela tende a xingar como uma verdadeira dona de casa de
Nova Jersey sempre que está livre dos pré-adolescentes
emotivos. Ela se jogou na cadeira ao meu lado, batendo a cabeça
na mesa, seu cabelo preto grosso e liso caindo em uma cortina
brilhante em volta do rosto. Pequena, coreana-americana e
atrevida como o inferno, Gemma nunca teve vergonha de
expressar seus sentimentos. Eu basicamente quero ser ela
quando crescer.
Harley estende a mão sobre a mesa e dá um tapinha na
cabeça dela suavemente.
— Mais algumas semanas, Gem. Você consegue.
Enquanto Harley move o braço para trás para tomar um
gole de água, ela roça nos enormes bíceps de Nick. Ela morde o
lábio e desvia os olhos enquanto ele não tão sutilmente move o
braço para ainda mais perto dela.
Eca. Eu gostaria que aqueles dois já estivessem juntos. Mas
os dois são muito legais para simplesmente se assumirem, então
a coisa toda provavelmente acabaria se transformando em
algum festival de amor nojento, resultando em mim vestindo
um vestido de dama de honra rosa mal ajustado.
Hum. Talvez se eu começar a ser mais legal com Nick, ele
considere me tornar sua madrinha de casamento. Eu
definitivamente poderia usar um terno.
— De qualquer maneira. Chega de histórias tristes de sala de
aula, Sra. Kwon. De volta para mim. — puxo o braço de
Gemma até ela se sentar. Então eu entrego a ela meu segundo
coquetel. Porque eu sou generosa.
Nick toma um longo gole de sua cerveja.
— Nos conte tudo, Sadie.
Não consigo olhar nenhum deles nos olhos, então me
concentro na pequena peça central — uma suculenta plantada
em um vaso de vidro pequeno — em vez disso.
— Não consegui a promoção. Bill deu a seu futuro genro —
doeu. Doeu antes, mas dizer as palavras em voz alta é um soco
no estômago.
Eles puxam uma respiração coletiva.
Nick se recupera primeiro.
— Que porra é essa, Sadie — ele estende o braço por cima
da mesa e aperta minha mão. — Eu sinto muito. Isso é foda.
— Bill disse alguma coisa? — Harley pergunta. — Deu
algum tipo de explicação?
Gemma joga o braço em volta do meu ombro.
— Que explicação existe além do nepotismo e do
patriarcado?
Eu me deixo afundar em seu abraço por um segundo, então
me levanto.
— Isso não é tudo — tomo um gole do meu coquetel. — Eu
meio que explodi na reunião, falei tudo o que não deveria e ele
me demitiu.
Suas bocas se abrem em perfeita sincronia.
Gemma fala primeiro.
— Que idiota.
— O mais louco é que, até hoje, ele não era totalmente um
idiota. Ele me deu um emprego assim que saí da faculdade. Ele
sempre me apoiou. Ele nunca deu em cima de mim.
Nick zomba de sua cerveja.
— Ele não é um idiota porque nunca deu em cima de você?
É tão baixo assim?
— Sim — nós três respondemos em uníssono.
Nosso garçom traz uma braçada de pratos, carregados de
aperitivos, salvando Nick de uma palestra sobre os males dos
homens. O cara empilha tudo no meio e todos nós
mergulhamos, com tudo. Peço outra bebida porque toda essa
comida vai diminuir o leve zumbido que criei entre meu
primeiro coquetel e o vinho que tomei em casa, e não podemos
aceitar isso de forma alguma.
— O que você vai fazer? — Harley me entrega um pedaço
de frango frito, como se soubesse que vou precisar de alguns
carboidratos para absorver o álcool que estou planejando
beber.
Eu enfio metade do pedaço que desliza na minha boca em
uma mordida, evitando responder a sua pergunta. Uma
pergunta que venho me fazendo desde o momento em que Bill
me demitiu. Eu finalmente engulo e dou de ombros, como se
toda essa situação não fosse a coisa mais devastadora que já
aconteceu comigo desde que saí de casa para a faculdade.
— Tenho um pouco de dinheiro na poupança, então, entre
isso e os cartões de crédito, ficarei bem por alguns meses
enquanto procuro outro emprego — porque em vez de
finalmente me livrar das dívidas, agora vou cair mais fundo no
buraco.
Gemma bateu com o punho na mesa, fazendo os talheres
pularem e os copos chacoalharam.
— Foda-se isso. Sério, Sadie. Foda-se isso. Pense em quantas
horas você deu a essas pessoas. Deu a eles, porque eles com
certeza não pagaram a você por todas elas. Nem mesmo passou
perto. Pense em quantos encontros você recusou e férias que
não tirou, indo para o escritório doente e nunca dormindo o
suficiente, e é assim que eles tratam você?
— Eu sei, Gem. Confie em mim, eu sei. Mas ele me demitiu.
O que mais posso fazer além de encontrar um novo emprego e
começar de baixo com uma empresa totalmente nova? — eu
levanto meu copo para Nick. — Onde o chefe provavelmente
vai me promovendo.
— Devo aplaudir isso? — Nick bate cautelosamente seu
copo no meu.
— Com seu currículo incrível, tenho certeza de que você
terá muitas ofertas — Harley mais uma vez ganha sua reputação
de otimista.
Bebo a última metade do meu coquetel antes de levantar a
mão como um dos alunos de Gemma para que eu possa pedir
outro.
— Sim, talvez. Não sei. Desliguei as notificações do meu e-
mail para o fim de semana. Vou levar os próximos três dias para
digerir e ver como me sinto.
— Imagino que amanhã você vai sentir vontade de vomitar.
Bastante — Nick empurra um copo de água na minha direção.
— Esse é o objetivo — passar o dia com a cabeça no banheiro
parece melhor do que passar o dia remoendo as coisas fodidas
que devo ter feito para que isso acontecesse.
Harley pega o copo de água e o ergue para mim como se eu
fosse uma criança, sem movê-lo até eu revirar os olhos e beber.
— Você sabe, tomar esses três dias pode realmente ser um
bom primeiro passo. Talvez seu próximo emprego deva ser um
que te trate de forma justa e realmente pague pelo trabalho que
você faz.
— Trabalhar todas aquelas horas extras foi minha escolha
— minhas defesas aumentam junto com meu nível de álcool no
sangue, graças a esse tópico de conversa muito popular. Meus
amigos estão sempre me incentivando a trabalhar menos e viver
mais. Namore mais, viaje mais, durma mais. Blá blá blá. Mas
nunca fui o tipo de funcionário que pode dizer não,
presumindo que, se o fizesse, estaria dando adeus às minhas
chances de ganhar uma promoção. A promoção que eu não
consegui, apesar de nunca ter dito não.
E agora que ela mencionou isso, não consigo me lembrar da
última vez que tirei férias ou tive um encontro real. Eu sempre
fui o tipo de garota, ou melhor, mulher que pega um cara
gostoso em um bar e leva ele para casa por uma noite.
Os três trocam um olhar. Harley inclina a cabeça para Nick.
— Foi sua escolha porque ficou claro que você seria
recompensada com uma promoção, Sadie. Isso não conta
como uma real escolha — Nick dá essa notícia, pois também
trabalha com finanças e aparentemente sabe como funcionam
essas coisas.
Abro a boca para continuar a discussão, mas Harley levanta
a mão para me impedir.
— Não precisamos ter essa discussão agora. Esta noite é
sobre celebrar o quão durona você é, quer seu chefe idiota
decida reconhecê-la ou não.
Gemma segura seu copo no centro da mesa.
— Podemos dizer muitas coisas sobre você, Sadie Jane, mas
a única coisa que ninguém pode discordar é que você é uma
vadia durona.
Nick encontra seu copo.
— Eu não vou te chamar de vadia, mesmo como um termo
carinhoso, mas você sabe que eu acho você incrível.
Harley completa seu triângulo.
— Nós te amamos.
Eu relutantemente levanto meu copo, tilintando contra o
deles.
— Posso, por favor, ficar bêbada agora?
Duas horas depois, jogo meu braço em volta dos ombros de
Gemma enquanto passeamos pelas ruas do Brooklyn em busca
de um bar de karaokê. Quão clichê podemos ser? Ficar bêbada
e ir cantar no karaokê.
No entanto, nós fomos em um lugar de karaokê.
Harley desistiu da extensão de nossa “celebração”, nos
dando abraços e entrando em um carro para ir para casa. Tenho
99% de certeza de que Nick também queria paz, mas ele sabe
que não deve deixar Gemma e Sadie bêbadas sozinhas. Então
ele fica atrás de nós, perto o suficiente para intervir caso um de
nós caia no caminho, mas andando longe o suficiente para
poder alegar que não nos conhece.
— Eu não tenho que ir trabalhar amanhã! — eu grito a
plenos pulmões, atraindo olhares divertidos das pobres almas
que passam por nós.
— Adolescentes são uma merda! — Gemma anuncia ao
mundo como se já não soubéssemos dessa informação.
Nesse ponto, Nick nos alcança, agarrando meu braço e
empurra nós duas para o lugar mais próximo que vemos. Que
é uma lanchonete, mas a lanchonete Park Slope, então, você
sabe, ainda é moderna.
— Gem, talvez queira relaxar gritando o quanto você odeia
seu trabalho no bairro onde você ensina.
— Mas adolescentes são péssimos — ela estica o lábio
inferior por meio segundo antes de ir direto para o bar.
Nick suspira.
— Eu não recebo o suficiente por essa merda.
Passando meu braço no dele, inclino minha cabeça em seu
ombro para confortá-lo. E me manter de pé.
— Eu sei que não digo isso o suficiente, Nicky, mas você é o
melhor. Se você fosse um pouco maldoso, talvez eu gostasse
mais de você. Mas isso seria ruim, porque provavelmente eu iria
querer transar com você, e não acho que poderia transar com
você. Não que você não seja transável, porque você é. Eu
realmente gosto muito de ser sua amiga, sabe?
Nick me dá um sorriso confuso e um beijo no topo da
minha cabeça.
— Eu também gosto de ser seu amigo, Sadie. A maior parte
do tempo.
Nós vamos até Gemma, que pediu uma rodada de shots,
que nós bebemos antes de imediatamente pedirmos outra.
Tenho certeza de que peguei Nick dando ao barman algum
sinal super secreto, pedindo que sua dose fosse água e não
tequila, mas honestamente, quem tem tempo para se
preocupar com isso quando há mais bebida para ser feita?
Shots foram tomados, pedimos alguns coquetéis e
encontramos uma mesa alta escondida em um canto dos
fundos.
— E outra coisa que realmente me irrita, — Gemma
começa, como se estivéssemos no meio de uma conversa, que
eu não acho que estávamos. — é que você poderia ter tido
tantos encontros. Tipos tantos encontros, Sadie. E você já foi a
muitos encontros?
Eu levanto minha mão, meus dedos formando um 0,
trazendo-o para perto do meu olho como se fosse um
telescópio.
— Eu tive zero encontros. Muita foda. Zero encontros.
Nick engasga um pouco com a cerveja, mas como o sábio
que é, evita fazer comentários.
— Você deveria ter encontros! Você viu você? — Gemma
gesticulou freneticamente em minha direção, mal conseguindo
não cair do banquinho.
Entortando meu dedo no movimento Vem cá, eu a trago
para mais perto de mim para que eu possa “sussurrar” em seu
ouvido.
— Você também deveria estar saindo porque eu vi você e
você é super gostosa, minha amiga.
Ela se afasta de mim, muito levemente, com lágrimas nos
olhos.
— Você acha mesmo?
— Óbvio que sim. Duh.
Nick ri.
— Você fica tão californiana quando está bêbada.
Eu o soco no ombro. Tipo. Eu posso ter errado seu braço
completamente, mas a intenção está lá.
— Cala a boca, Nicky — eu pulo do banco do bar. — Peçam
outra bebida para mim, vadias! Eu vou fazer xixi!
Gemma está pedindo mais bebidas antes mesmo de eu sair
da mesa, e é por isso que a amo. Tropeço até o fundo do bar,
entro no banheiro e me junto à multidão de mulheres
igualmente embriagadas esperando por uma cabine.
— Adorei seus sapatos — alguém me diz.
— Ah meu Deus, muito obrigado! — eu falo. — Você tem
o cabelo mais perfeito. Sério, eu mataria para ter isso.
— Por favor, você é como uma boneca Barbie ganhando
vida se ela não fosse toda plástificada e na verdade fosse super
legal e feminista.
Eu coloco uma mão sobre o meu coração.
— Essa é literalmente a coisa mais legal que alguém já me
disse.
Uma descarga soa e uma das cabines se abre para minha nova
amiga. A mulher lavando as mãos na pia me chama a atenção
no espelho.
— Garota, seu homem é super gostoso.
— Ele não é meu homem, então olhe o quanto quiser!
Ela sacode o excesso de água das mãos e pega uma toalha de
papel.
— Sua namorada também não é tão ruim assim.
— Também não é minha, então, por favor, faça isso! —
Deus, se ao menos meus amigos soubessem o quanto eu os
estava promovendo enquanto tentava segurar meu xixi.
— Ela gosta de garotas?
— Ela gosta de todo mundo — eu dou a ela o que tenho
certeza que é uma piscadela muito sutil.
Ela me dá um polegar para cima e sai, e finalmente uma
cabine se abre. Entro correndo e tranco a porta.
Enquanto me alivio, uso o precioso tempo para pensar nos
destaques da noite. Como meu trabalho me roubou minha
vida social, uma vida de encontros, uma vida romântica e uma
vida de dona de casa. Eu poderia estar casada e com filhos se não
fosse por aquele trabalho idiota.
Ai credo. Definitivamente não quero isso.
Mas sério, meus amigos estão certos. Sacrifiquei muito pela
minha carreira. E para quê? Ver minha promoção suada ser
entregue a um homem chamado Chad? Foda-se isso.
Com a embriaguez, como sempre, vem a clareza.
Dou descarga, lavo as mãos, cumprimento as novas garotas
que estão esperando na fila e volto para a mesa. Faço uma pausa
no final do corredor escuro, um sorriso crescendo quando vejo
Nick e Gemma conversando com um par de garotas super
gostosas, embora Nick esteja mantendo um pouco de espaço
entre ele e a loira olhando para ele. A garota do banheiro desvia
sua atenção do flerte com Gem e me dá uma saudação quando
ela chama minha atenção.
Contornando a mesa para evitar os novos casais felizes, vou
até o bar. Depois de outro short, tiro o telefone do bolso da
calça, grata pelo reconhecimento facial, porque não tenho
certeza se conseguiria colocar minha senha no momento. Abro
o aplicativo de namoro que não abro há meses. Minha última
data de login aparece na tela. Caramba.
— Ok, Sadie. Vamos falar sério. Vamos a um maldito
encontro — tenho certeza de que o cara sentado ao meu lado
pensa que estou bêbada ou maluca, mas estou bêbada demais
para me importar.
Encontro um botão que me direciona para solteiros locais.
Um monte de fotos borradas aparece para eu olhar.
Honestamente, não tenho certeza se as fotos estão embaçadas
ou se minha visão que está, mas isso realmente não importa. Eu
passo para a direita alguns caras que não parecem
completamente patéticos, muito orgulhosa de mim mesma por
dar esse passo mínimo.
Depois de arrastar algumas fotos para direita, meu telefone
toca com um alerta.
Alguém fez um match comigo! Na minha primeira
tentativa! Ok, provavelmente houve umas vinte tentativas no
total, mas ele me escolheu!
O aplicativo quer que eu faça algum tipo de seleção;
aparentemente esse cara já quer um encontro. Eu jogo meu
cabelo por cima do meu ombro, porque olhe para mim, isso
não foi tão difícil. Aperto os olhos até distinguir a palavra
“café”. Sim. Um encontro em um café. Bom. Eu toco na caixa,
então escolho Sábado às duas horas. No meio do dia, sem
expectativas. Fácil-fácil.
Viu. Não sei do que todos estão reclamando. Sair com
alguém na cidade de Nova York é muito fácil!
A palavra “confirmado” aparece na minha tela, e eu solto
um pequeno grito. Eu pego outro shot, volto para a minha
mesa e seguro meu telefone vitoriosamente sobre minha
cabeça.
— Gente! Eu marquei um encontro!
Nick, Gemma e nossos novos amigos torcem por mim
como se eu tivesse acabado de ganhar um Oscar.
Não me lembro muito depois disso.

Sexta-feira passa em um borrão e uma névoa alimentada por


vômito. Como meus amigos são incríveis, café e um sanduíche
gorduroso de café da manhã aparecem na minha porta à uma
da tarde, bem na hora em que consigo sair do chão do banheiro.
Pego o café da manhã que foi entregue por um cara que
parece muito presunçoso sobre toda essa situação, se você me
perguntar, e faço uma nota mental para agradecer a Nick e
Harley na próxima vez que eu conseguir focar meus olhos na
tela do telefone. Eu realmente não os mereço.
Mesmo que seja abril e não esteja tão frio, eu me enrolo no
sofá sob meu cobertor macio favorito, lentamente dando
algumas mordidas no sanduíche, certificando-me de que vão
ficar no meu estômago antes de comer o resto.
— Estou velha demais para essa merda — digo ao meu
filodendro, que não oferece nem uma palavra gentil de
compensação.
E com aquele olhar vazio da minha planta, de barriga cheia
e no conforto do meu cobertor, finalmente deixei a tristeza
tomar conta de mim. Não apenas decepção ou raiva, mas
tristeza pura e não filtrada. Certamente não sou estranha em
me sentir inútil — não atender às expectativas foi uma das
minhas poucas frustrações enquanto crescia — mas ser
demitida veio do nada. Não tive tempo de me preparar
mentalmente para um ataque de emoções. E todas essas
emoções me inundaram agora, como uma espécie de tsunami
fodido.
Passo o resto do dia no sofá, bebendo água e comendo
salgadinhos, Netflix e um maço de lenços para conter minhas
lágrimas, minha única companhia. Por volta das oito da noite,
consigo me arrastar para fora do sofá e tomar um banho. Eu me
sinto quase como um ser humano real quando saio do vapor e
visto meu pijama.
Estou indo dormir quando meu telefone toca com um
alerta.
Lembrete: Café amanhã às 14:00. Gran Café de Martini.
Não sei se devo ficar super impressionada comigo mesmo
por definir um lembrete ou super aborrecida por ter marcado
um encontro em primeiro lugar. Acho que é um pouco dos
dois. Eu considero cancelar, com certeza.
“Eu estava muito bêbada quando marquei esse encontro” é
uma desculpa justificável o suficiente. Mas falando sério, já faz
muito tempo e a data já está marcada. Nada mais vai me
impedir de passar o dia inteiro lamentando.
— Esqueça isso, Sadie. Um encontro não vai te matar.
Eu poderia estar oficialmente enlouquecendo, mas tenho
certeza que a dracaena no canto do meu quarto concorda com
a cabeça.
Eu estou definitivamente atrasada para este encontro, mas por
que diabos eu dei match com um cara no Brooklyn? Ah, sim,
porque eu estava completamente bêbada no Brooklyn na hora.
Idiota. Eu finalmente consigo encontrar o café e estou pelo
menos parcialmente apaziguada porque é fofo demais. As
paredes são de um azul claro e há um mural de flores salpicado
no tijolo.
— Tudo bem, Park Slope, você pode valer a pena o tempo
da minha viagem até aqui.
Entrando no café, procuro um homem gostoso e bem
vestido, porque mesmo que eu não consiga me lembrar de
como esse cara é, eu definitivamente tenho um tipo. Eu
caminho até o fundo do pequeno espaço, depois volto para o
pátio, depois volto para dentro, verificando todos os cantos da
loja.
— Sadie?
Eu seguro o gemido enquanto me viro para a esquerda.
Bêbada, eu devia estar muito bêbada.
Mas aqui estamos. Abro um sorriso radiante e passo pelo
oposto literal de todos os caras com quem já saí.
Seus olhos estão escondidos por óculos de plástico preto que
provavelmente nem contêm lentes prescritas. Entre isso e seu
cabelo escuro encaracolado rebelde, apenas uma lasca de seu
rosto tão pálido que provavelmente não sai de casa há meses é
visível. Ele está vestindo jeans rasgados e um Converse velho e,
meu Deus, uma camiseta do Senhor dos Anéis.
E ele nem se levanta enquanto eu caminho até a mesa,
aproveitando o tempo para balançar minha saia floral
totalmente apropriada para o primeiro encontro.
— Você quer pedir uma bebida primeiro? — ainda sem se
incomodar em se levantar e me cumprimentar, ele aponta para
o balcão.
— Ah sim. Certo — eu giro em meus calcanhares e caminho
até o caixa, certificando-me de que ele possa apreciar
totalmente quanto esforço alguns de nós realmente colocamos
em nossa aparência para este chamado primeiro encontro. E
quero dizer, certamente estou bem em pagar meu próprio café,
mas poderíamos pelo menos ter dado um abraço introdutório
primeiro.
Que seja. Peço meu latte gelado de baunilha e o levo de volta
para a pequena mesa de mármore. Depois de passar uma hora
caminhando aqui, com certeza não vou voltar para casa em
menos de cinco minutos. E tenho ainda mais certeza de não sair
sem beber um café primeiro.
Deslizo para a cadeira aberta e estendo minha mão. Não vou
mentir, definitivamente não me lembro do nome desse cara,
mas estou achando difícil me importar muito neste momento.
— Prazer em conhecê-lo oficialmente.
Sua mão envolve a minha, tremendo firmemente.
— Meu chamo Jack, Jack Thomas.
— Jack — pelo menos ele é legal o suficiente para não me
envergonhar por esquecer. — Sadie Green.
— Sim, eu sei — ele enfia a mão na bolsa carteiro e tira uma
pasta de arquivo. — Então, por que você não me conta um
pouco sobre você?
Minha testa franze quando ele abre a pasta e puxa uma
caneta de algum lugar escondido nas profundezas de seu
cabelo.
Hum, o quê? Isso é um encontro ou uma entrevista de
emprego?
— O que exatamente você gostaria de saber, Jack? — eu
levanto uma sobrancelha, um truque que passei muitas horas
aperfeiçoando no espelho, e tomo um gole do meu café.
Ele nem olha para mim.
— Vamos começar com o de sempre. Trabalho,
passatempos, etc.
Eu deveria ter escolhido a opção de coquetéis no aplicativo
de encontros, porque apesar de ontem ter jurado parar de beber
para sempre, vou precisar de uma bebida para passar por isso.
— Bem, eu sou uma analista financeira — as palavras saem
antes que eu perceba que não são exatamente verdade. Mas de
qualquer forma. Elas serão verdadeiras novamente em breve. —
Fui para a Columbia, blá-blá-blá. Mas honestamente, isso é a
coisa menos interessante sobre mim.
— Seu trabalho é a coisa menos interessante sobre você? —
ele rabisca uma nota em um papel que tenha em sua pasta,
finalmente tirando o olhar do referido papel para olhar para
mim, embora ele ainda não encontre meus olhos, focando em
algum lugar atrás de mim.
Mas uau. Mesmo sem contato visual direto, minha
respiração ainda fica presa no meu peito. Jack pode ter muito
pouco a seu favor no departamento de apresentação, mas seus
olhos são mágicamente discretos, os mais verdes que já vi em
um ser humano real. A cor do musgo ou esmeraldas ou alguma
outra merda poética assim.
Ele pigarreia quando não respondo à sua pergunta.
— Desculpa, o que é que você disse? — eu me ocupo com
outro gole rápido de café, me fazendo engasgar.
— Você disse que seu trabalho é a coisa menos interessante
sobre você? — sua atenção volta para a pasta de arquivos.
Forço uma risada falsa.
— Quero dizer, isso não é uma verdade para a maioria das
pessoas? — pelo menos aqueles que têm empregos. Diferente
de mim.
Ele franze a testa.
— Espero que não.
Certo, Senhor Certinho.
— Bem, o que você faz da vida, Jack?
Um rubor vermelho rasteja sobre o que posso ver de suas
bochechas.
— Nada — A palavra saiu quase inaudível, e ele fala suas
próximas palavras antes que eu tenha a chance de responder. —
Hobbies, então?
— Trabalhar, sair com meus amigos, trabalhar mais,
conversar com minhas plantas e trabalhar — estendo a mão
para o pequeno vaso de flores ao lado da mesa, reorganizando
os botões para me impedir de estender a mão e pegar aquela
pasta de arquivo idiota.
— E como você descreveria seu temperamento geral?
Minha boca cai aberta. Cruzo os braços, apoiando-me na
mesa, fechando o espaço entre nós para menos de trinta
centímetros, pronta para deixar esse cara saber o que está
acontecendo, porque eu tive uma semana daquelas e não estou
com humor para isso.
— Olha. Eu que não tenho um encontro há mais tempo do
que gostaria de admitir, mas sério? É isso que eu pedi? Porque
não foi, obrigado. Eu deveria ter ficado em casa assistindo
Netflix e minhas plantas, e sim, eu percebo o quão patético isso
me faz soar quando ouço essas palavras saindo da minha boca,
e sim, eu nem me importo neste momento, para você ver o
quanto isso é estranho.
Ele se recosta na cadeira como se não pudesse suportar
fisicamente dividir meu espaço.
— Uau. Quem falou em encontro?
— Você está brincando comigo agora, não é? Eu pareço
boba? Isso não pode ser a vida real — começo a empurrar
minha cadeira para trás e me levanto, mas Jack coloca a mão no
meu antebraço. É quente e macio, e seu aperto é
surpreendentemente gentil.
Há um momento de silêncio, durante o qual Jack parece
perceber que ainda está segurando meu braço. Assim que o faz,
ele o deixa cair como se eu o tivesse escaldado.
— Desculpe. Não vá embora. Eu não queria soar como um
idiota, só estou um pouco confuso — ele gesticula para que eu
retome o meu lugar.
Eu faço, mas eu o afasto da mesa e cruzo os braços sobre o
peito. Como a adulta madura que sou.
— Por que você achou que isso era um encontro? — sua voz
não contém nenhum julgamento, apenas curiosidade.
Puxando meu telefone, deslizo e clico no aplicativo.
— Eu dei match com você em um aplicativo de namoro. O
que mais seria isso? — eu levanto minha tela.
Ele franze os lábios enquanto estuda meu telefone.
— Isso não é um aplicativo de namoro.
— Hum, olá? É sim. Eu deslizei para a direita, você deslizou
para a direita, nos demos match, marcamos uma data — viro o
telefone de volta para mim, sentindo como se estivesse em
algum tipo de filme de terror. E então o verdadeiro horror toma
conta de mim.
ROOMMATEZ está salpicado no topo da minha tela, bem
ali em letras laranjas brilhantes.
— Ah meu Deus. Eu sou uma completa idiota — e embora
definitivamente não seja a primeira vez que penso nessas
palavras, pode ser a mais mortificante. — Em minha defesa, eu
estava completamente bêbada na hora.
— Eu não acho que isso seja uma defesa.
— Sinto muito por desperdiçar seu tempo — jogo minha
bolsa por cima do ombro, me preparando para sair apressada
porque, ah meu Deus, as coisas poderiam ficar piores?
— Não é perda de tempo se você está procurando um colega
de quarto — ele desliza um pedaço de papel sobre a mesa.
Eu não quero ser rude — ou muito rude — então eu aceito,
embora eu não tenha intenção de morar com um cara estranho
que eu nunca conheci antes, verificação de antecedentes do
aplicativo que se dane. Eu finjo ler as especificações em sua
folha antes de dar a notícia gentilmente.
— Eu gostaria de poder, mas minha carreira é baseada em
Midtown e honestamente, eu não poderia pagar em nenhum
lugar em Park Slope — as palavras mal saíram da minha boca
quando vejo o preço pedido. Seu preço ridiculamente baixo,
deve estar faltando um zero. — Espere, isso aqui diz…
Desta vez, deixei meus olhos realmente absorverem as
informações impressas na minha frente. As palavras saltam da
página. Palavras como “brownstone”. “Cozinha profissional.”
"Quintal."
Praticamente pornô imobiliário.
— Ok, agora eu sei que estou sendo uma boba — afasto
meus olhos dos detalhes tentadores para estudar Jack, a quem
de repente estou vendo sob uma luz totalmente nova. E eu
poderia viver com este homem.
Jack desvia o olhar do meu.
— Você não está sendo boba.
— Então você é um assassino em série? — não resisto a
voltar para dar outra olhada no folheto. Existe algo mais sexy
para um nova-iorquino do que uma lista de imóveis quente?
— Definitivamente não.
— Mas você está alugando um quarto em um brownstone
por um preço super barato e ainda quer que eu vá morar com
você? Por que eu? — Todos nós sabemos que não tem nada a
ver com a minha personalidade brilhante.
Ele toma um gole de seu café, e isso parece lhe dar a coragem
que lhe faltava até agora. Jack levanta os olhos.
— Honestamente? Você parece ser o tipo de pessoa que
gosta de rir. E eu preciso de um pouco de risada na minha vida.
E algo sobre essas palavras, a sinceridade em seu olhar
quando finalmente encontra o meu, bem, quase chega perto de
aquecer meu frio, frio coração.
Mas não posso deixar ninguém saber disso.
Jogo o cabelo por cima do ombro.
— Sou bastante espirituosa, como você provavelmente já
notou.
— Hum — sua resposta é evasiva, mas ele quase sorri. Ele
dobra o arquivo e o guarda na bolsa. — Então você quer ir ver
o lugar? Fica a apenas alguns quarteirões daqui.
— Certo — pegando meu telefone, tiro uma foto dele antes
de abrir meu grupo de mensagens.
— Você acabou de tirar uma foto minha? — a pouca cor
que havia se esvai de seu rosto, como se eu tivesse acabado de
esfaqueá-lo no peito.
— Sim, e agora estou enviando para meus três melhores
amigos. Uma delas é advogada, o outro é ex-atleta e a outra é
professora do ensino médio. Honestamente, não tenho certeza
de qual deles é mais assustador — Eu bato na tela. — Além de
sua foto, estou enviando a eles seu endereço e falando para eles
chamar a polícia se não tiverem notícias minhas em meia hora
— Eu me levanto e me viro para a porta. — Vamos?
Jack fica congelado no lugar por um minuto, como se não
pudesse decidir se deve me seguir ou fugir gritando. Ele deveria
realmente fugir gritando. Mas ele não faz, levantando-se de seu
assento e segurando a porta aberta para mim enquanto saímos
do café.
O ar lá fora é a perfeição absoluta, nem muito quente, nem
muito úmido, um daqueles raros dias em Nova York que nos
levam a pensar que tudo é possível na vida. Jack me leva por um
quarteirão e mais alguns, e meus olhos não param de olhar ao
redor. Gemma e Harley dividem um apartamento nas
proximidades de Windsor Terrace, então não estou totalmente
perdida na área, mas passo a maior parte do tempo na ilha de
Manhattan, quase exclusivamente no sem charme Midtown, e
há algo cativante nas brownstones que ficam a rua em nossa
caminhada.
Depois de apenas alguns minutos, Jack para na frente de um
desses brownstones.
— Chegamos.
Eu espio o edifício imponente, a fatia perfeita da história de
Nova York.
— Qual andar é o seu?
Ele limpa a garganta.
— Hum, tudo isso é meu.
Meu queixo cai e eu imediatamente me afasto da versão de
construção de tijolos de Chris Hemsworth para olhá-lo bem
nos olhos.
— Você aluga o brownstone inteiro?
— Eu tenho todo o brownstone.
Ele enfia as mãos nos bolsos e arrasta os pés.
— Merda, cara, você deve ser um serial killer. Sua hipoteca
deve ser de dez mil por mês. E mesmo por fora, este lugar é tão
bom que estou pensando seriamente em me mudar. Posso
aprimorar minhas habilidades de autodefesa e dormir com uma
faca debaixo do travesseiro.
Ele olha para os pés.
— Eu não tenho uma hipoteca. Eu o possuo
completamente.
Posso estar parada no lugar, mas literalmente tropeço e
quase caio.
Jack estende a mão, agarrando meu cotovelo e me mantendo
firme, soltando seu aperto no segundo em que recuperei o
equilíbrio.
— Você ainda quer ver por dentro?
— Você está brincando comigo? Eu daria a volta no
quarteirão sem camisa para ver por dentro.
Suas bochechas ficam rosadas e ele se vira para abrir o portão
de ferro da frente.
— Isso não será necessário.
— Você quem perde então — eu o sigo pelo curto lance de
escadas que leva à porta da frente vermelha brilhante. Deixei
escapar um suspiro de saudade, arrastando meus dedos sobre a
tinta cereja. — Eu amo um toque de cor na porta da frente.
Ele vira a chave na fechadura e abre a porta.
— Era marrom quando comprei. Resolvi pintá-la de
vermelho.
Espero pelo resto dessa história emocionante, mas Jack
apenas abre o braço desajeitadamente, gesticulando para que eu
entre. Respirando fundo, rezo para que o interior não seja
algum tipo de apartamento de solteiro nojento. Eu até fecho
meus olhos quando entro na sala da frente, cruzando os dedos
antes de abri-los, com medo de que todos os meus sonhos
recém-desenvolvidos possam ser frustrados. Eu aperto os olhos,
lentamente abrindo minhas pálpebras.
Oh Deus.
É bom.
Muito bom.
É tão tão tão bom.
Definitivamente melhor do que meus últimos cinco
encontros de uma noite só. Juntos.
A sala da frente é aberta e convidativa, as paredes de um
branco brilhante, moldura original ainda em forma fantástica.
Um sofá de aparência confortável fica em frente a uma lareira
de tijolos cercada por estantes embutidas, cheias até a borda.
No fundo do primeiro andar fica a maior cozinha nova-
iorquina que já vi, com armários brancos e balcões de
açougueiro. Bancos de bar se alinham na ponta e uma mesa de
fazenda de madeira que separa a área de estar da cozinha. Atrás
da cozinha, um par de portas francesas abrem para o que
suponho ser o quintal.
Minha boca está permanentemente aberta a partir deste
ponto.
Jack me deixa olhar ao redor, encostado no braço do sofá
enquanto eu exploro o primeiro andar sozinha.
Quando passo reverentemente meus dedos pelas bancadas
de madeira perfeitamente desgastadas, ele aponta para uma
escada que leva a um andar inferior.
— O porão é uma espécie de ponto de encontro. Sofá, TV,
mesa de bilhar.
— Console de videogame? — eu dou a sua camiseta nerd
um olhar aguçado antes de voltar para a frente e as escadas que
levam aos níveis superiores.
— Tudo o que você poderia pedir — ele diz isso como se
fosse algum tipo de conquista, gesticulando para que eu suba
as escadas.
O homem pode ser estranho, mas eu gosto que ele não vacile
com minhas palavras sarcásticas. Se vamos ser colegas de quarto
— e eu já decidi que vamos ser colegas de quarto — ele vai ter
que se acostumar com a minha língua afiada.
— Seu quarto seria o da esquerda.
Empurro a porta e, embora não tenha pensado que seria
possível, meu queixo cai ainda mais. O quarto é enorme. E não
pelos padrões de Nova York, mas pelos padrões das pessoas
reais. Uma cama queen-size fica no centro da parede oposta, há
uma grande janela saliente e uma maldita lareira. No quarto.
Tudo é branco, fazendo com que o espaço pareça ainda maior,
mas apesar da falta de cor, o ambiente fica quente e
aconchegante. Assim que minhas plantas vierem para cá, será o
espaço perfeito para mim.
— Este seria o seu banheiro.
— Meu? Esse banheiro para mim? — Na verdade, não
quero sair deste quarto, estou tentada a me enrolar sob a colcha
e me recusar a sair, mas o chamado de um banheiro só para mim
é muito bom. E sim, eu tenho meu próprio banheiro agora, mas
é meio chato, e nunca na minha vida de compartilhamento de
apartamento eu já tive um banheiro só para mim.
Espiando minha cabeça para dentro, tenho que me agarrar
à porta para não desmaiar.
— Isso é uma banheira clawfoot?
Jack encosta na parede do corredor.
— Isso mesmo.
— Acho que acabei de ter um orgasmo.
Um estrangulamento soando suspeitosamente como uma
risada sai dele, e é nesse momento que eu acho que isso pode
realmente funcionar.
Jack empurra a parede, apontando para duas portas
fechadas.
— Meu quarto e o outro quarto de hóspedes — ele começa
a descer as escadas.
Atravesso as escadas que levam a outro andar. Porque é claro
que há outro andar.
— O que há lá em cima?
Jack tropeça nos degraus, se segurando antes de cair.
— Ah nada. Apenas espaço para guardar coisas. Eu só peço
para você não subir lá.
— Muito Bela e a Fera — eu abaixo minha voz em um
estrondo profundo. — “A ala oeste é proibida”.
Ele nem mesmo abre um sorriso, apesar da minha
impressão. Em vez disso, ele continua andando, jogando por
cima do ombro.
— Você quer ver o quintal?
— Claro que sim! — eu desci os degraus, chegando antes
dele no primeiro andar e nas portas francesas que davam para
os fundos.
Não espero permissão; Eu os abro, esperando para tropeçar
em meu próprio Jardim do Éden pessoal, pronto para este
quintal ser a cereja no topo deste perfeito sundae de fantasia de
Nova York.
Paro no degrau mais alto.
Jack se junta a mim, com as mãos nos bolsos.
— Precisa de um pouco de limpeza.
Esse é o eufemismo do século.
Arbustos mortos e cobertos de vegetação revestem as cercas
de madeira. As ervas daninhas se espalham pelos canteiros
elevados do jardim. Todos os tipos de talos altos de grama verde
surgem entre o caminho de trampolim. É um crime absoluto
contra o quintal.
— Adorei — expiro, já mapeando o que vou plantar e o que.
Jack olha para mim como se eu fosse louca, a primeira vez
que ele me deu tal olhar, o que é estranho, considerando todas
as coisas.
— Nunca fui muito de cuidar de jardim.
— Você é tão sortudo que você passou direto para mim,
meu amigo. Quero dizer, isso já era um dado adquirido, mas
especialmente considerando todo esse potencial inexplorado.
Pego meu telefone, disco o número de Harley e não espero
que ela realmente me cumprimente antes de falar.
— Oi, sim, vou precisar que você e Gem venham me
encontrar no endereço que enviei.
— Ah merda, você está sendo sequestrada? Eles estão
vendendo você como escrava sexual? — Harley chama Gemma
ao fundo, e posso dizer que ela está entrando no modo
advogada por completo.
— Não, mas estou prestes a concordar em morar com um
cara que acabei de conhecer — dou uma piscadela para Jack
enquanto passo por ele e volto para casa.
— Jesus Cristo, Sadie, você será a causa da minha morte um
dia. Não assine nada! Estaremos aí em vinte minutos — Harley
desliga na minha cara e eu coloco meu telefone de volta na
minha bolsa.
Jack me encontra na cozinha, ele de um lado da península,
eu do outro.
— Então, o que você acha?
O que eu acho? Acho que minha fada madrinha deixou cair
no meu colo a solução de todos os meus problemas. Com
minhas economias e esse aluguel ridiculamente baixo, terei
muito tempo para procurar um novo emprego. Talvez até um
que eu realmente goste.
— Eu acho que é perfeito pra caralho e você provavelmente
está cometendo um grande erro me deixando morar na sua casa
perfeita, mas eu não me importo porque eu amo muito isso e
também é culpa sua por ter dado um match comigo — respiro
fundo, sabendo que não posso entrar neste acordo sem contar
a Jack toda a verdade. — Mas eu tenho que ser honesta sobre
algo. Acabei de ser despedida do meu emprego. Eu tenho
algumas economias e sou uma pessoa séria e ridícula que
trabalha muito. De verdade, meu trabalho era minha vida. E
prometo que vou encontrar algo em breve e sei que é pedir
muito, mas se você arriscar, juro que não serei o pior colega de
quarto — eu fecho minhas mãos como se estivesse em oração.
O que elas podem realmente estar fazendo.
Ele desliza um contrato de aluguel pelo balcão.
— Parece que você precisa de um tempo.
Eu puxo o papel para mim, sorrindo suavemente. Não me
incomodo em lê-lo, já que Harley vai examiná-lo daqui a pouco
assim que ela chegar aqui.
— Obrigado, Jack. — e antes que ele mude de ideia, eu
mando a conversa para longe do meu emprego. Ou falta dela.
— Agora é sério, como alguém da nossa idade acaba com um
brownstone livre e limpo no Park Slope? Fita de sexo mais
vendida? Ganhou na loteria? Drogas do mercado negro?
Sua boca puxa em uma linha reta.
— Morte dos pais.
— Ah porra. Oh meu Deus, Jack. Jesus Cristo, eu sou
horrível. Eu sinto muito. Quero dizer que fica melhor quando
você me conhece, mas meus amigos vão atestar o fato de que
sempre serei um grande idiota. Não ficarei totalmente ofendida
se você quiser me expulsar. Definitivamente vou chorar
durante todo o caminho para casa porque, sério, este lugar é
incrível, e eu realmente preciso dessa pausa para não ficar
completamente sem dinheiro, mas vou entender totalmente.
Porra.
Os cantos de sua boca se inclinam para cima no que pode
ser o início de um sorriso.
— Acho que você vai ser boa para mim, Sadie Green.
— Ah, eu definitivamente não vou. Tipo, literalmente,
ninguém que me conhece pensa assim — eu deixo escapar antes
de fechar meus lábios, não precisando cavar mais minha
própria cova.
— Quando você pode se mudar?
Uma hora depois, Harley, Gemma e eu estamos sentadas em
um café diferente e igualmente adorável, ainda mais perto da
casa de Jack. Que está prestes a virar meu colega de quarto.
Porque puta merda, como eu poderia sequer pensar em recusar
esta oportunidade?
— Tenho que dizer, Sade, eu definitivamente entrei nisso
pensando que você perdeu a cabeça mais uma vez, mas agora
estou chateada por você o ter encontrado primeiro — Gemma
rasga seu croissant de chocolate, me entregando um terço e
Harley um terço antes de enfiar sua própria porção na boca em
uma mordida. De alguma forma, ela também consegue tocar
na tela do telefone ao mesmo tempo. — Embora, ele não pareça
ter uma presença na mídia social. Nem mesmo no velho
Facebook. E quando eu pesquisei sobre ele, havia cerca de
oitenta bilhões de Jack Thomas, nenhum dos quais é seu
adorável hipster, o que parece um pouquinho superficial.
— Ok, primeiro, ele não é adorável. Segundo, pelo menos
isso significa que ele provavelmente não tem ficha. Certamente
um assassino estaria entre os primeiros Resultados do Google,
certo? — eu verifico meu próprio telefone, abrindo o aplicativo
de colega de quarto. — E o perfil dele aqui diz que ele não usa
redes sociais porque faz mal ao cérebro.
— Ele não está errado sobre isso — Harley morde sua parte
do croissant, sem tirar os olhos do contrato de aluguel. — Esses
termos parecem bastante justos. Tecnicamente, ele pode pedir
que você saia a qualquer momento, mas você também tem o
direito de rescindir o contrato e sair a qualquer momento, caso
as coisas fiquem estranhas. Cada um de vocês só precisa avisar
com duas semanas de antecedência, então tudo parece bastante
normal.
Gemma bebe seu café gelado.
— Jesus, você vai poder pagar seus empréstimos. Eu
literalmente cometeria um assassinato para pagar meus
empréstimos estudantis.
— Como professora de inglês, você não deveria ter mais
cuidado ao usar a palavra “literalmente”? — eu levanto uma
sobrancelha arqueada para ela, então me abaixo quando ela joga
o papel de seu canudo em mim. Agora que os estômagos foram
preenchidos com chocolate, carboidratos e cafeína, acho que
posso abordar o verdadeiro motivo pelo qual os trouxe aqui,
além de abusar dos serviços jurídicos gratuitos da Harley. —
Além disso, eu estive pensando.
— Uh-oh — diz Harley.
— O que? — Gemma geme.
— Ok, rude — rasgo meu próprio invólucro de papel ao
meio e jogo uma bola de papel amassada em cada um deles,
tentando não ser dissuadida por suas reações. — E se… — faço
uma pausa para efeito dramático e para trazer coragem. — Eu
não procurar um novo emprego?
Eles me encaram por um minuto inteiro sem dizer uma
palavra, e o silêncio sufoca. Não apenas o ar ao nosso redor, mas
a pequena centelha de esperança vibrando em meu peito.
Gemma aperta a ponta do nariz.
— Eu sei que seu novo aluguel é super baixo, mas você ainda
tem que pagá-lo, junto com todas as suas outras contas. E você
ainda vai morar em Nova York. Morar nessa merda não é
exatamente de graça.
Reviro os olhos, com sarcasmo protegendo minha dúvida.
— Dã. Então aqui está o que eu estava pensando. Encontro
algum tipo de trabalho como bartender, de preferência em um
bar esportivo onde posso mostrar meus seios e ganhar duzentos
dólares por noite. Eu poderia trabalhar às sextas e sábados e,
durante a semana, trabalharei na construção do meu negócio
de flores.
Harley engasga com o café. A cabeça de Gemma se inclina
para o lado como se ela fosse um cachorrinho confuso.
Suas reações sufocam completamente o que restou de um
pouco de esperança, tirando isso totalmente dos meus planos.
Planos que, imediatamente, só realmente foram criados na
última meia hora, mas também eram planos que sempre
estiveram no fundo da minha mente. Eles pareciam tão fora de
alcance e impraticáveis que nunca passei muito tempo
pensando neles porque, sério, qual é o sentido de insistir em um
sonho fora de alcance que nunca pode ser realizado? E, que
verdade seja dita, ter fé em mim mesmo e toda essa besteira de
autoajuda não é coisa que eu faço. Aparentemente com razão,
já que nem mesmo meus melhores amigos acham que eu posso
fazer isso.
— Ok, foi uma ideia estúpida. Esquece o que eu disse.
Pego o contrato de aluguel da Harley e finjo lê-lo. Ela já me
deu o resumo básico, então não preciso realmente ler, mas é um
bom motivo para não olhar para nenhum delas.
Harley coloca a mão espalmada sobre o contrato.
— Não é uma ideia estúpida. Não é essa a razão pela qual
você se formou em administração? Então você poderia
eventualmente abrir sua própria floricultura?
— Não é que achamos que é estúpida, só não ouvimos você
falar sobre ser florista desde muito tempo. Acho que todos nós
meio que imaginamos que você deixaria isso passar agora.
Gemma dá um tapinha no meu braço um tanto
desajeitadamente em sua tentativa de me confortar.
Dando de ombros, recosto-me na cadeira, afastando-me do
alcance do toque físico.
— Eu meio que fiz isso. Não parecia que era o tipo de plano
que iria se concretizar, então eu o deixei de lado. Mas agora eu
poderia realmente fazer isso funcionar, e com toda a situação
sem emprego, parece um sinal, sabe? Como se uma vez
houvesse tempo e esse tempo fosse esse. — Eu arrisco um
rápido olhar para elas, e ambas estão sorrindo para mim como
pais orgulhosos no primeiro recital de dança de seus filhos, e
pais orgulhosos são uma experiência tão estranha para mim que
reacende a menor das chamas esperançosas em meu peito.
— Este é o momento perfeito, e eu definitivamente acho
que você deveria fazer isso — Harley me entrega sua caneta. —
Mas primeiro você precisa assinar o contrato.
Pego a caneta e assino o contrato de aluguel antes que eu
possa me questionar.
— Então, quais são as chances de Jack ser um serial killer de
verdade?
— Uns cinquenta por cento — Gemma supõe.
— Oitenta por cento de que ele não vai tentar matar você
durante o sono — Harley pega a caneta de volta e a enfia na
bolsa. — Eu acho que ele parece ser um cara genuinamente
legal.
— E nós vamos estar naquela cozinha o tempo todo, então
espero que ele possa ficar conosco — Gemma adora cozinhar,
mas a cozinha do apartamento que ela e Harley dividem é do
tamanho de um guarda-roupa.
O telefone de Harley vibra e o rosto de Nick aparece em sua
tela. Ela nos mostra para que ele possa ver todos nós.
— Será que li as mensagens certo? Minha última amiga de
Manhattan está me abandonando? — Nick está na casa de seus
pais em Hamptons no fim de semana, porque sim, ele é
exatamente tão estereotipado quanto parece. Ele está no
enorme quintal, a piscina atrás dele e um copo rosé na mão.
— Não consigo nem olhar para você agora, você é tão clichê
— pego o telefone de Harley dela. — Vou precisar que você vá
lá pelo menos uma vez para garantir que esse cara saiba que não
pode mexer comigo.
— Espere, você está indo morar com um cara? — as
sobrancelhas definitivamente arrumadas de Nick encontram
uma linha fina perfeita.
— E ela está abrindo seu próprio negócio — Gemma entra
na conversa, pegando o telefone de mim.
— Que porra é essa? Você está finalmente fazendo a coisa da
flor? Preciso pegar um ônibus e voltar para casa?
Nós três rimos. Nick nunca pegaria um ônibus. Ele é tão pé
no chão e humilde quanto qualquer homem branco de classe
média alta pode ser, mas há certas coisas que nem mesmo ele
cruzará.
Harley pega o telefone de volta, de frente para que todos nós
estejamos à vista.
— O dia da mudança é em duas semanas, então você pode
conhecê-lo. Ele parece muito doce. E ele é meio fofo.
Eu mal consigo conter um revirar de olhos. Gem e Harley
podem achar a nerdidade de Jack atraente, mas eu
definitivamente não. E graças a Deus por isso, porque nada
poderia ser mais tolo do que cobiçar meu novo senhorio.
— Ah — Nick não parece muito animado com essa
descrição vinda dos lábios de Harley.
Gemma e eu trocamos um olhar compreensivo.
— Bem, eu tenho que dar ao meu novo colega de quarto este
contrato de aluguel. Vejo você mais tarde, Nicky.
Todos nós acenamos e Harley encerra a ligação.
— Você quer que voltemos com você? — Gemma se
levanta, já pegando a bolsa e o café.
— Nah, tudo bem. Se ele vai me matar, vai acontecer
eventualmente de qualquer maneira — Eu me levanto e pego o
contrato assinado. — Também tenho noventa e nove por cento
de certeza de que posso lidar com ele.
Harley me dá um abraço rápido.
— Me mande uma mensagem quando chegar em casa.
— Obrigada, meninas — eu puxo Gemma, fazendo-a se
juntar ao nosso abraço coletivo, embora ela odeie. — Não só
por hoje, mas por todo o fim de semana. Vocês são as melhores.
— Bora, bora. Vá fazer alguns planos incríveis para o seu
novo negócio, sua vadia sortuda — Gemma me afasta, mas seu
sorriso é genuíno.
Eu aceno para elas enquanto voltam para seus lugares, eu me
viro para ir na direção oposta, de volta para Jack. De volta à
minha nova casa.
Faz muito tempo desde que qualquer lugar me fez sentir em
casa.
Bato na porta e Jack aparece em trinta segundos, como se
estivesse esperando que eu voltasse.
— Tudo certo?
Eu entrego a ele o acordo assinado.
— Eu realmente espero que você não se arrependa disso,
Jack Thomas.
Ele folheia até o final do formulário, verificando minha
assinatura duas vezes, uma sugestão de sorriso brincando em
seus lábios.
— Então, vejo você em duas semanas?
— Ansiosa por isso — sinto que precisamos fechar o acordo
com um abraço ou um aperto de mão ou algo assim, então
levanto minha mão desajeitadamente para um high five. Jack,
desajeitadamente, tenta dar um tapa na palma da minha mão.
Mas ele não acerta. Depois de uma risada desconfortável, aceno
e desço as escadas da frente.
E assim, tenho um novo colega de quarto.

JACK: Ei, é o Jack. Peguei seu número no


contrato de aluguel, espero que esteja tudo
bem eu enviar mensagem para você. Esqueci
de perguntar se você queria que eu tirasse os
móveis do quarto ou não.

EU: Mensagens são legais. Eu não atendo


chamadas de qualquer jeito. Você está me
oferecendo o uso de todos esses lindos
móveis?

JACK: Por favor, me poupe do incômodo de


ter que tirá-lo antes de você se mudar.

JACK: Então você quer?

JACK: Merda. Não quis enviar esse emoji.

JACK: E com isso, quero dizer a mobília.


Apenas os móveis.

JACK: Você quer a mobília?

EU: Ah, eu definitivamente quero.

EU: Pessoal. Não tenho certeza se vocês


sabem disso, mas há muito para ver em Nova
York.

GEMMA: Sim, Sadie. Nós sabemos.

HARLEY: Está aproveitando suas férias em casa


por duas semanas?

EU: Estou absorvendo o máximo que posso de


Manhattan.

HARLEY: É apenas uma viagem de metrô até


lá, você sabe.
GEMMA: Não que você vá querer voltar
quando estiver no Brooklyn vivendo seu
pequeno sonho milenar hipster.

EU: Uau. Eu não sou uma hipster.

NICK: Sadie. Seu novo plano de vida é abrir


um negócio sustentável de design floral. Você
também pode mudar seu nome para Juniper
e iniciar um podcast.

EU: Em geral, o que você acha das plantas?

JACK: São boas, eu acho?

EU: Você tem alguma alergia relacionada a


flores?

JACK: Não que eu saiba.

EU: Bom.

JACK: Quantas plantas você está trazendo?

EU: É estranho eu já conseguir ouvir o


julgamento nessa mensagem?

EU: É mais estranho que eu esteja


impressionado com esse julgamento?
EU: Hey, vadias, certifique-se de seguir minha
nova conta no Insta, @bridgeandblooms

HARLEY: Segui! Fotos fofas até agora!

EU: Obrigada! Eu tenho feito tudo isso


explorando e continuo encontrando todas
essas ótimas fotos de inspiração floral.

NICK: Tudo o que posso ver na minha cabeça


é você brincando pelas ruas de Manhattan
como se fosse Maria von Trapp cantando
“Sound of Music”.

EU: Todos nós simplesmente nos apaixonamos


pelo Nicky ou só eu?

GEMMA: Só você. Segui sua conta. Mas se


você fizer uma no TikTok, estou fora.

EU: Você tem planos para este fim de


semana?

JACK: Você verá que a resposta a essa


pergunta é quase sempre um não da minha
parte.

EU: Essa pode ser a coisa mais triste que eu já


ouvi.

JACK: Puxa, obrigado.


EU: DE QUALQUER FORMA. Chega de você.
Posso passar por aqui e capinar no quintal? Já
estou começando tarde com a temporada de
plantio e quero chegar o mais rápido possível.

JACK: Claro. Existe alguma coisa para a qual


precisaremos contratar profissionais?

EU: Possivelmente remoção de arbustos, mas


eu cuido disso.

JACK: Apenas me avise e eu cobrirei o custo.


Já que você está fazendo todo o trabalho e
tudo mais.

EU: Parece bom, vejo você no sábado.

JACK: Vou fazer uma cópia da chave para


você antes disso.

EU:
Eu coloco minha bolsa de “mãe de planta” mais alta no meu
ombro enquanto bato na porta da frente vermelha brilhante do
brownstone.
Jack responde quase imediatamente, vestindo basicamente
a mesma coisa que vestiu em nosso “encontro”, só que hoje seu
jeans rasgado está coberto com uma camiseta do Super Mario
Bros., eu presumo que não seja uma ironia fashion. Seu cabelo
ainda está solto e despenteado, cobrindo as partes do rosto que
não estão escondidas pelos óculos.
Ele pisca para mim entre uma careta e um sorriso,
gesticulando para eu entrar.
— Bom dia — eu digo, uma vez que ele deixa claro que não
vai começar esta conversa.
— Bom dia. Achou o lugar bom? Quero dizer, você já esteve
aqui antes, obviamente, mas esta é a primeira vez que vem aqui
sozinha — ele dá alguns passos para trás e enfia as mãos nos
bolsos.
— Sim, muito bom. Não sou uma dessas habitantes de
Manhattan que nunca põe os pés nos outros bairros; Conheço
bem o Brooklyn. Mais ou menos.
— Legal.
— De fato — espero um segundo, com certeza de que ele
não pretende falar, mas não querendo dominar totalmente a
conversa. Estou com medo de que ele rasgue nosso contrato se
perceber que normalmente nunca calo a boca, especialmente
porque ele parece ser do tipo quieto. — Bem, acho que vou
para o quintal.
— Ah. Sim. É claro — ele limpa a garganta. — Você vai
precisar de ajuda com alguma coisa?
— Não. A maior parte será capina hoje, então devo ser capaz
de fazer isso. É basicamente uma terapia gratuita — com ênfase
no "gratuito" já que perder meu emprego também significava
perder meu plano de saúde. Um viva a América.
— Excelente. Bem. Me deixe saber se precisar de ajuda — ele
me dá um meio aceno estranho.
O que eu interpreto equivocadamente como uma tentativa
de um toca aqui. Vou dar um tapa na mão dele no momento
em que ele vira de costas e, meu Deus, isso é doloroso.
Eu passo por ele e sigo para as portas francesas que dão para
o quintal, desesperada por ir rápido.
— Está bem então.
Felizmente ele não me segue e não tenta tornar as coisas
ainda mais estranhas do que já estão. Eu empurro as portas e
percebo que praticamente passei a sentir a tensão sendo
drenada do meu corpo quando eu entro no jardim. Há muito
trabalho a fazer aqui, mas estou muito feliz com isso.
Eu coloco minha bolsa em uma mesa de metal desgastada
pelo tempo e descarrego meus suprimentos. Coloco minhas
luvas de jardinagem da cor rosa, pego as pás e espátulas, coloco
uma joelheira e monto a loja na frente da plantação nos fundos.
Acho que vou começar aqui e seguir em frente.
Assim que entro no ritmo, minha mente clareia
completamente. Esta é a minha meditação, o momento em que
posso desligar todos os pensamentos negativos do meu cérebro
e apenas existir. A maioria das crianças provavelmente não
gosta muito de jardinagem, mas para mim, o jardim sempre foi
um lugar tranquilo — tanto interno quanto externo. Isso me
trouxe uma paz de que eu precisava desesperadamente e,
embora não consiga enterrar minhas mãos na terra há algum
tempo, sou automaticamente transportada de volta ao meu
lugar feliz. Meu lugar tranquilo.
Trabalho por horas, cortando e arrancando, limpando e
capinando, até ter enormes pilhas de caules e galhos coletados e
vasos prontos para serem preenchidos com flores. Quando
finalmente chego ao ponto em que preciso de uma pausa, tiro
minhas luvas e volto para a cozinha. Um copo de água gelada
está sobre a mesa, ao lado de um prato coberto com papel
alumínio. Eu afundo em uma das cadeiras, bebendo
agradecidamente a água fria. Espiando sob o papel alumínio,
encontro um sanduíche esperando por mim. Sou uma pessoa
facilmente influenciada pela comida, e a oferta de Jack apaga
completamente qualquer dúvida que nosso estranho encontro
possa ter despertado. Eu devoro tudo, sem perceber como
estou com fome até dar a primeira mordida.
Examinando o trabalho que fiz, eu decidi parar um pouco.
Eu tiro minhas luvas e bato meus sapatos contra os degraus de
concreto antes de voltar para dentro de casa, não querendo
deixar um rastro de sujeira enquanto ando.
— Jack, estou indo embora — eu chamo, caminhando
rapidamente para a porta da frente, esperando evitar outro
encontro formal.
Passos ruidosos nas escadas do porão.
— Não esqueça sua chave — Jack cruza até a mesa da
entrada, entregando-me uma chave de ouro em um chaveiro de
plástico.
É um daqueles chaveiros antigos de hotel, rosa brilhante
com “Park Slope” gravado em letras retrôs brancas. Não sei por
que, mas o gesto atencioso traz um sorriso ao meu rosto. Um
genuíno sorriso.
— Obrigada, Jack. E obrigada pelo sanduíche.
— De nada. Obrigado por fazer todo esse trabalho no
quintal.
Eu enfio a chave no bolso interno da minha bolsa.
— Voltarei em algum dia dessa semana para limpar todos os
montes de sujeira. Vou te mandar uma mensagem quando
souber que dia.
— Tudo bem — dessa vez, ele deliberadamente levanta a
mão.
E eu, deliberadamente, faço um toca aqui para ele.
— Tchau, Jack.
— Tchau, Sadie.

Eu acordo facilmente com o toque do meu alarme no dia da


mudança, vestindo um short jeans rasgado e uma camiseta
velha da Columbia. Cabelo em coque bagunçado, tênis nos
pés, desço correndo para pegar um café para a turma, que é
apenas a primeira de muitas coisas que farei hoje. Estou
comendo apenas carboidratos pelo resto da semana.
Equilibrando nossa bandeja de cafés em cima de uma caixa rosa
de rosquinhas, volto para minha casa com bastante tempo de
comer muito antes que todos cheguem.
Harley e Gemma aparecem juntos e Nick bate na porta já
aberta alguns minutos depois.
Ele enfia a cabeça pela porta.
— O quanto você me ama?
— Eu não vou responder isso depois de você ter me
comparado a Maria von Trapp — eu derrubo outra rosquinha
no chão porque tudo o que está diante de mim são escadas.
Tantas escadas.
Nick entra na sala e faz um gesto amplo com o braço,
sinalizando a entrada de quatro rapazes em idade universitária.
— Eles são strippers? — Gemma olha cada um da cabeça aos
pés.
— Estagiários — Nick estala os dedos e os quatro garotos
pegam uma caixa e descem as escadas.
— Tenho noventa e nove por cento de certeza que isso é
ilegal — Harley entrega a Nick uma xícara de café e dois pacotes
de açúcar.
Dou um soco em Nick.
— Tenho cem por cento de certeza que não me importo
com isso.
— Isso significa que posso sentar e assistir? — Gemma pula
no meu balcão, posicionando-se para ter uma visão da porta.
Eu puxo seu braço, puxando-a de volta para baixo.
— Não confio em universitários com minhas plantas.
Vamos fazer isso.
Todos nós tomamos os goles finais de nosso café e
começamos a trabalhar. Como estou me mudando para uma
casa totalmente mobiliada, consegui vender meu sofá, cama,
cômoda e mesa de centro, o que aumentou minhas economias
e agora torna a mudança muito mais fácil. Com a ajuda dos
robustos jovens estagiários, conseguimos encher o lugar em
uma hora, o que deve ser algum tipo de recorde em Nova York.
Nós despedimos dos colírios para os olhos e entramos na cabine
da van de mudanças que Nick alugou porque ele é o único com
carteira de motorista válida.
Nem precisamos estacionar duas vezes quando finalmente
chegamos ao Brooklyn; há uma vaga aberta na rua bem em
frente ao brownstone. Eu tomo isso como um sinal dos deuses
do estacionamento de que esse momento deveria acontecer.
Nick assobia enquanto sai da van e cruza para a parte de trás
e abre a escotilha.
— Merda, Sadie. Tudo faz sentido agora. Até eu me
mudaria para o Brooklyn por isso.
— Aposto vinte dólares de que ele vai se mudar para o
Brooklyn dentro de seis meses — Gemma murmura em meu
ouvido.
— Não sou burra o suficiente para aceitar essa aposta.
Nick fala muito sobre Manhattan, mas ele nos ama demais
para estar a um bairro inteiro de distância de todas as suas
melhores garotas.
Puxando minha nova chave do bolso de trás, subi os degraus
da frente. Abro a porta da frente, gritando:
— Querido, cheguei! — em uma voz mais alta do que o
necessário, já que Jack está parado bem na entrada.
— Ah olá — ele me dá um sorriso de boca fechada. — Eu
ouvi a van estacionar.
Gemma e Harley cumprimentam Jack ao entrarem, cada
um carregando um vaso de plantas. Eles já sabem onde é meu
quarto, então eu aceno para eles subirem as escadas.
Nick chega carregando a maior caixa da van, seus músculos
contraindo as mangas de sua camiseta definitivamente muito
apertada, e tão casualmente a coloca na ponta da cozinha antes
de ir até Jack e estender a mão, mantendo os músculos
flexionados o tempo todo.
— Você deve ser Jack. Eu sou Nick — tenho certeza que a
voz dele baixou uma ou duas oitavas.
Eu franzo meus lábios enquanto observo essa troca. Nick
aperta a mão de Jack com tanta força que fico surpresa por não
ouvir ossos estalando, mas Jack não recua. E agora que vejo os
dois um ao lado do outro, Jack é realmente mais alto do que eu
pensei que ele fosse. Nick é definitivamente mais largo e mais
forte, enquanto Jack é magro, mas em termos de altura, eles
quase ficam iguais.
— Prazer em conhecê-lo, Nick — Jack gesticula para as
escadas que levam ao porão. — Você quer dar uma olhada no
lugar?
Nick dá de ombros, mas posso dizer que ele está morrendo
de vontade de olhar. Eu aceno para ele ir em frente, e ele
praticamente desce as escadas. Estou me virando para pegar
outra caixa quando o ouço exclamar:
— Ah merda, você sabia que há uma mesa de bilhar aqui,
Sade?
Reviro os olhos, sem me preocupar em responder. De volta
à van, pego uma braçada de roupas antes de me virar e correr
direto para Jack.
— Ah porra. Desculpe. Eu não sabia que você estava saindo.
Pode estacionar aqui?
Jack pega uma caixa do caminhão.
— É claro.
— Ah, você não precisa ajudar a descarregar as coisas, não
há muito de qualquer maneira, e nós conseguimos cuidar disso.
Entre nós quatro, alguém se muda a cada poucos meses, então
nós sabemos como fazer isso — começo a curta caminhada de
volta para casa, Jack seguindo atrás de mim.
— Como se eu fosse apenas ficar parado observando vocês
moverem coisas e não ajudar? — Jack verifica o rótulo da caixa
e a leva para a cozinha. — Espere, um novo colega de quarto
ficaria por perto e não ajudaria?
Faço uma pausa antes de ir para o meu quarto, meu pé no
degrau mais baixo.
— Bem, não, mas você certamente pode fazer qualquer
coisa que estava nos seus planos para hoje — subo um degrau e
paro novamente. — Você nunca teve um colega de quarto
antes?
— O que? Desculpe, não te ouvi — ele grita por cima do
ombro, voltando para a van.
E eu pensei que era o mestre da deflexão.
Mas não sou de dizer não ao trabalho gratuito, então não
apenas a van é descarregada em uma hora, que quando o jantar
chega, já consegui organizar todo o meu quarto. Lavo minhas
mãos em meu lindo banheiro novo antes de descer para ver se
todos estão prontos para comer pizza.
Harley e Gemma estão sentadas nas pontas, já com as
cervejas na mão.
— Onde estão os meninos?
Eles compartilham um sorriso malicioso e Gemma acena em
direção ao porão.
— Acho que Nick está apaixonado.
— Com o porão ou meu novo colega de quarto? — abro a
geladeira e pego uma cerveja para mim. Me inclinando sobre os
dois cotovelos no balcão opostos a elas. Se eu me sentar, tenho
certeza que não poderei me levantar depois.
— Os dois — elas respondem em uníssono.
Bebo metade da minha cerveja de um só gole.
— Vocês querem a pizza de sempre?
Eles acenam com a cabeça e Gemma pula para pegar outra
rodada de cervejas.
Eu ando até o topo da escada do porão.
— Meninos, vou sair para pegar pizza. Jack, que tipo de
sabor você gosta?
Um segundo depois, há uma batida nos degraus. Jack corre
até a metade, apenas o suficiente para me ver e não ter que
gritar.
— Já pedi. Espero que esteja tudo bem. Nick me contou do
que vocês gostam.
Sorrindo para este bromance de força total, eu cruzo meus
braços sobre o peito.
— Você não precisava fazer isso, eu estava planejando fazer
isso para todo mundo.
Ele dá de ombros e me dá um meio sorriso.
— Não tem problema. Tenho meu lugar favorito.
— Bem, obrigada. Eu agradeço — eu me viro para voltar
para as meninas.
— Estou muito feliz por você estar aqui, Sadie.
As palavras me param no meio do caminho, porque
honestamente, eu realmente não consigo imaginar por que
alguém ficaria feliz em me ter aqui. Mas o olhar em seus olhos
verdes brilhantes, mesmo escondidos atrás daqueles óculos
grandes, não passam de genuínos.
E o meu sorriso também.
— Eu também.

O domingo é passado como uma gloriosa névoa hipster do


Brooklyn, comigo passeando pelos quarteirões ao redor do
brownstone de Jack, explorando mercados de plantas e bebendo
dez xícaras de café para descobrir qual lugar é o meu favorito.
Alerta de spoiler: todos são deliciosos e, quanto mais atravesso
as ruas de Park Slope, mais apaixonada fico pelo meu novo
bairro.
Eu me dou o dia para fazer o que eu quiser porque amanhã
é segunda-feira. Amanhã é o primeiro dia do resto da minha
vida, e sim, estou abraçando o clichê e nem estou brava com
isso. Amanhã é dia para caçar meu emprego de bartender,
definir orçamento e descobrir como diabos alguém começa
uma empresa de design floral sustentável sem nenhuma
experiência real.
Você deve ser uma idiota por pensar que pode fazer isso.
As palavras param meus passos, a negatividade me pega de
surpresa no meio deste dia extremamente positivo. Por um
segundo, considero voltar para o brownstone, enfeitar meu
currículo e me candidatar a mais empregos financeiros
sugadores de alma. Seria mais fácil voltar ao conhecido do que
tentar algo completamente novo. Algo arriscado, algo que
pode realmente me deixar feliz.
Mas hoje é tudo sobre as coisas boas. Tem que ser.
Empurrando a dúvida para o fundo da minha mente, eu forço
um sorriso falso em meu rosto, até que o charme do meu novo
bairro o torne real. Eu pego cerca de uma centena de fotos para
minha nova conta no Instagram e compro muito mais mudas
de flores do que deveria no mercado dos agricultores, animada
para voltar para casa e arrumá-los em qualquer vaso que eu
consiga usar. Trouxe um pouco do meu dinheiro reserva
comigo, mas uma das coisas que mais gosto de fazer é criar
arranjos em vasos não tradicionais. Na verdade, um dos
primeiros princípios do meu plano de negócios ainda que não
esteja escrito não será comprar novos vasos, mas reaproveitar
itens reciclados e antigos.
Jack está longe de ser encontrado quando eu empurro a
porta da frente no final da tarde, um latte gelado em uma mão
e cinco mudas de flores embrulhados em papel dobrados uma
nas outras. Eu largo todas as minhas guloseimas no balcão da
cozinha antes de correr escada acima para tirar meus sapatos e
tirar tudo de dentro da minha bolsa. Eu escondo meus recibos
de minhas compras de flores em uma pasta chamada “Imposto
de merda” antes de pegar minha tesoura de corte de flores,
adicionando mentalmente um lindo avental de jardinagem à
minha lista de compras.
Antes de chegar ao arranjo de flores real, vasculho a cozinha
para ver o que posso usar como vasos. Pego quatro latas de
cerveja da lixeira, junto com uma velha lata de café, e tiro um
dos meus vasos de cerâmica favoritos de uma caixa de cozinha
ainda embalada. A tampa da lata de café é jogada de volta na
reciclagem e o vaso é desembrulhado, mas as latas de cerveja
exigem um pouco mais de trabalho. Eu tiro um dos topos com
minha tesoura, cortando as bordas até poder arrancar a aba e
arrancar tudo, deixando-me um cilindro perfeito.
Estou esfaqueando a lata de cerveja número dois quando
Jack me assusta e tira minha concentração.
— Hum, o que está acontecendo aqui?
Pulando cerca de trinta centímetros, mal consigo evitar me
esfaquear no processo.
— Jesus, cara, primeira regra de companheiro de quarto,
não assuste ninguém segurando uma tesoura. Ou uma faca. Ou
qualquer coisa afiada que possa literalmente arrancar os olhos
de alguém. E por “olhos de alguém”, quero dizer meus olhos,
que eu gostaria de manter na minha cabeça, muito obrigada.
Seu rosto se contrai como se ele estivesse fazendo algum tipo
de anotação mental.
— Desculpe. Sem sustos. Não vai acontecer de novo — ele
cruza para a ponta da cozinha, que parece uma loja de flores
explodida por toda parte, o que, para ser justo, foi o que
basicamente aconteceu. — O que está acontecendo aqui?
— Arranjos florais — eu olho para ele e pisco muito para
que ele saiba como me sinto sobre perguntas que ele já deveria
saber a resposta, porque olá, olhe para o balcão.
— Eu pensei que sua coisa era jardinagem.
— São as duas coisas. E sim, você está certo, o quintal já está
parecendo um milhão de vezes melhor do que antes de eu me
mudar — eu encontro seus olhos e sorrio docemente, logo
antes de perfurar o topo da próxima lata de cerveja.
Ele aponta para os montes de flores que atualmente cobrem
todo o espaço disponível em sua cozinha.
— Isso vai ser uma coisa diária?
Eu começo a trabalhar na lata de cerveja número quatro.
— Não muito, mas espero que assim que meu negócio
ganhe força, talvez sim. Talvez nesse ponto eu tenha o
suficiente para alugar um pequeno estúdio em algum lugar.
Embora eu obviamente tivesse que estar realmente pensando
nisso para que isso fosse uma possibilidade. Mas é totalmente
uma possibilidade, quero dizer, eu definitivamente tenho
potencial para a ser a próxima Martha Stewart, você não acha?
— volto a vestir minha máscara de mulher no trabalho sem
falhas, com uma confiança encantadora se encaixando em mim
como uma armadura para esconder todas as dúvidas que
naturalmente tenho sobre o sucesso desse empreendimento
comercial.
Jack pega uma peônia, examinando-a como se ela pudesse
mordê-lo.
— Eu pensei que você estava procurando um emprego em
finanças.
— Eu ia, mas você se lembra daquela coisa toda sobre meu
trabalho ser a coisa menos interessante sobre mim?
Jack abaixa cuidadosamente o botão, um olhar de terror
crescendo em seus olhos.
— Sim?
— Bem, em vez disso decidi abrir um negócio! — levando
minhas vasilhas até a pia para enchê-las de água, deixei o som do
líquido escorrendo abafar qualquer que fosse a resposta de
Jack.
A boca de Jack ainda está aberta quando volto para a ponta
da cozinha.
— Você está abrindo algum tipo de floricultura?
— Sim, tudo bem? Quero dizer, sei que não preciso de sua
permissão para mudar de carreira, desde que eu possa
continuar pagando o aluguel, o que prometo que farei. Mas
acho que talvez devesse ter perguntado como você se sente em
relação a flores e outras coisas antes de realmente me
comprometer com esse plano de longo prazo, já que precisarei
usar a cozinha de vez em quando e este é tecnicamente um
espaço comunitário — deslizo minha tesoura pelo papel pardo
ao redor de uma das mudas, soltando as flores e começando a
aparar os caules. — Acho que se você realmente se opuser a isso,
eu poderia fazer a maior parte do meu trabalho no quintal, nos
meses de primavera e verão de qualquer maneira, e então
poderíamos pensar em algo no outono. Supondo que você não
tenha me expulsado até agora… é porque tá tudo bem — abro
para ele o que espero ser um sorriso cativante.
Ele agarra a borda do balcão como se precisasse fisicamente
de apoio para se manter de pé.
— Eu não vou te expulsar, Sadie.
— Ah, querido, é o primeiro dia. Você vai encontrar tantos
motivos para me expulsar entre agora e o outono. Ainda é só
abril.
Um vez que todas as flores são aparadas, a parte divertida
começa. Olho para os vasos, decidindo quais receberão quais
flores, e então mergulho. Começo com gosto, disposta a correr
riscos, sabendo que todos os erros de arranjo floral podem ser
corrigidos. É uma das coisas que mais gosto nas flores: a
liberdade de cometer erros. Liberdade não encontrada em
muitas outras áreas da vida.
— Eu acho que contanto que você mantenha tudo limpo,
não deve ser um grande problema. Você usar a cozinha quando
precisar — Jack passa a mão pelo cabelo comprido e rebelde,
afastando-o do rosto.
É então que percebo que poderia ser um rosto bastante
bonito, se não estivesse tão escondido por cachos escuros e
óculos, que ainda não tenho certeza se são reais.
— Eu prometo que você nunca se sentirá incomodado com
um dinâmico e lucrativo estúdio de design floral sustentável
que agora reside em sua casa — dou um passo para trás,
observando os arranjos com uma ruga no nariz antes de voltar
e mudar as coisas.
— Dinâmico e lucrativo?
— Estou fazendo toda aquela besteira de “manifeste seu
destino”.
— Eu não acho que conta se você chamar isso de besteira
cinco segundos depois de dizer isso — Jack varre uma pequena
pilha de folhas soltas, jogando-as na lata de lixo.
— Que seja — dou mais um passo para trás, desta vez
satisfeita com o que vejo. Eu limpo cada um dos meus “vasos”,
limpando qualquer excesso de água ou pedaços de folhas
perdidas antes de colocá-los no quintal. A lata de café fica no
centro da mesa da sala de jantar, as latas de cerveja espalhadas
pelas estantes e o vaso de cerâmica encontra um lar na cozinha.
Vou esperar para tirar minhas fotos até amanhã durante o
meio-dia, mas no geral, estou muito satisfeita com o resultado
de cada arranjo.
Assim que termino de me dar um tapinha nas costas pelo
meu brilho floral, passo alguns minutos arrumando o balcão,
certificando-me de pegar até a última migalha de lixo, levando
tudo de volta para a pilha de lixo antes de limpar a bancada.
— Veja, novinho em folha — eu aceno minhas mãos pela
cozinha como se eu fosse Vanna White.
— Pode-se até falar que está melhor do que novo — Jack
agora está sentado em um dos banquinhos da ponta da cozinha,
me observando esvoaçar pela cozinha.
— Alguém poderia, de fato, falar isso — Vou até a geladeira.
— Cerveja?
— Com certeza.
Abro duas garrafas, já pensando em como cortar os gargalos
e usá-los nas flores da próxima semana. Entregando uma para
Jack, eu seguro a minha.
— Saúde, colega de quarto.
Ele bate sua garrafa contra a minha.
— Saúde.
Um silêncio incrivelmente constrangedor cai sobre nós, algo
que raramente permito que aconteça. Mas esta é a primeira vez
que Jack e eu estamos realmente sozinhos, sem nenhum
negócio guiando nossa conversa, e eu não sei o que dizer a ele.
Eu realmente não sei nada sobre ele, exceto que seus pais
morreram e aparentemente deixaram para ele muito dinheiro.
E enquanto eu certamente não tenho intimidade para fazer
perguntas embaraçosas, eu também não quero assustá-lo
muito. Afinal, é nosso primeiro dia completo.
Jack limpa a garganta.
— Eu só vou ficar lá embaixo. Grite se você não conseguir
encontrar algo ou precisar de uma toalha ou qualquer outra
coisa — um rubor vermelho sobe por suas bochechas, pelo
menos o que posso ver delas, e o efeito geral é bem cativante.
— Sim, legal. Até logo — observo suas costas descendo as
escadas do porão, tomando minha cerveja e começando a
questionar como esse cara vai conseguir viver comigo.

Não defino um alarme para segunda-feira de manhã, mas


acordo no meu horário habitual de qualquer maneira. Muito
obrigada, relógio interno! Mas eu não me importo com acordar
cedo, pois hoje é o primeiro dia do resto da minha vida. Fico
tentada a contar quantas vezes consigo dizer e pensar essa frase
hoje, mas depois decido que é melhor não saber.
Vestindo um short jeans confortável, uma camiseta branca
justa e tênis, pego meu laptop e minha bolsa e desço as escadas,
pronta para enfrentar o dia.
A cozinha está vazia, então Jack não deve ter saído para
trabalhar ainda. Paro por um segundo na porta da frente
quando percebo que não tenho ideia do que Jack faz no
trabalho. Nota mental: pare de ser uma idiota egoísta e faça
algumas perguntas sobre seu novo colega de quarto.
Ando até a Winner, uma das cafeterias que testei ontem.
Acho que se existe alguma verdade nessa bobagem de “se você
acreditar, você vai conseguir”, começar o primeiro dia do resto
da minha vida em um lugar chamado Winner certamente
ajudará. Também seus croissants são incríveis.
Croissant e café com leite na mão, pego um lugar em uma
das mesas ao ar livre e começo a criar a loja. No verdadeiro estilo
Sadie, mergulho nos meus planos para o dia. Primeiro, faço
uma lista de todos os bares a uma curta distância do brownstone.
Pretendo passar por todos eles pessoalmente ao longo da
semana, esperando encontrar um desesperado o suficiente para
me contratar, embora eu não tenha atendido em um bar desde
a faculdade. Não que isso tenha acontecido recentemente, veja
bem, aconteceu já faz alguns anos. Em segundo lugar,
mergulho nas presenças na internet de todos os principais
floristas do Brooklyn, fazendo anotações abundantes sobre o
que incluir em um site, como me promover no Instagram e
maneiras de me destacar da multidão. Fica claro rapidamente
que ser sustentável será o meu nicho, então faço uma lista
separada de todas as maneiras pelas quais quero fazer da Bridge
and Blooms a floricultura ecológica dos sonhos da Mãe Terra.
Conforme preencho página após página com itens da lista
de tarefas — uma atividade que geralmente me centra melhor
do que qualquer aplicativo de meditação jamais conseguiria —
começo a surtar um pouco. Isso é muita coisa. Tipo muita
muita mesmo, mais do que eu esperava. As palavras começam
a ficar borradas na página à minha frente, e eu coloco minha
caneta na mesa e fecho os olhos, forçando-me a respirar fundo
algumas vezes.
Você consegue fazer isso. Faça uma tarefa de cada vez, um dia
de cada vez.
A torcida do monólogo interno funciona por cerca de um
minuto.
Ei, pelo menos quando você falhar, você pode voltar para as
finanças e ser uma soldada pelo resto de sua vida.
— Não — meus olhos se abrem e, precisando de algo para se
concentrar, encontro uma garrafa de leite de vidro recheada
com uma única flor zínia. — Eu não vou falhar — eu sussurro
para a flor amarela brilhante.
Assim que resolvido, arrumo minhas coisas e volto para
dentro para pegar um café com leite gelado para levar.

EU: Vou pegar um café e depois voltar para


casa. Quer alguma coisa?

EU: Se você estiver em casa, quero dizer. Se


não, por favor, ignore essa mensagem.

EU: Na verdade, não ignore, porque estou aqui


no meio do café esperando sua resposta e
pareço um idiota, então me avise de qualquer
maneira.
JACK: Um café gelado seria ótimo. Obrigado.

EU: Você terá. Vejo você daqui a pouco!

— Querido, cheguei! — eu falo quando empurro a porta


da frente, um café em cada mão.
Jack está empoleirado na borda da cozinha, lendo uma
história em quadrinhos e comendo uma torrada.
— Você planeja falar isso toda vez que entrar?
— Hum, sim — entrego-lhe o café e jogo minha bolsa no
banquinho ao lado dele.
Ele limpa a garganta.
— Como foi sua primeira manhã de trabalho divertida?
— Sinto muito, você quis dizer, como foi a primeira manhã
do resto da sua vida? — acho que com isso, conta como cinco
vezes que pensei nessa frase. Talvez seis.
— Claro, isso também — ele se levanta e vai até a geladeira,
pegando o leite e colocando um pouco no café. — Por que você
está me olhando assim?
— Estou observando como você toma seu café, como um
bom colega de quarto — eu me levanto em seu banquinho
vazio. — Eu gosto de lattes de baunilha, a propósito. Gelado no
verão, quente no inverno.
— Bom saber.
— Então, Jack, esse é o seu nome completo ou um apelido?
Se for o seu nome completo, provavelmente terei que pensar
em outra coisa para chamá-lo, porque, embora Jack esteja
muito de acordo com o que sei sobre sua personalidade até
agora, não tem muito glamour para mim. Preciso de mais
algumas sílabas — faço uma pausa por um segundo para tomar
um gole do meu café com leite. — De qualquer forma, ocorreu-
me esta manhã enquanto eu estava elaborando os planos para
moldar o resto da minha vida em algo significativo e não
sugador de almas, não tenho ideia do que você faz da vida.
— Hum — ele pega sua torrada, que agora está na minha
frente desde que roubei seu lugar.
Eu empurro o prato sobre o balcão ao mesmo tempo em
que ele o pega, e nossas mãos roçam uma na outra. E não posso
deixar de notar que mãos bonitas ele tem. Seus dedos são
longos, sua pele macia. Elas se parecem com o tipo de mão que
um médico pode ter, ou talvez um escultor. Forte, mas gentil,
decidida, mas gentil.
Mas sim. De qualquer maneira.
— Então, o que você faz da vida, Jack Ligeiro1? — desviando
minha atenção de suas mãos bonitas, concentro-me em seus
olhos igualmente bonitos.
Ele olha para o café como se isso pudesse lhe dizer o futuro.
— Oh meu Deus, você é totalmente um traficante de drogas
do mercado negro, não é?

1
Do original, “Lightning Jack”, nome de um filme de faroeste dos anos 90.
Conhecido no Brasil como “Rapidinho no Gatilho”.
— Tecnicamente, acho que todos os traficantes de drogas
são traficantes do mercado negro.
— Se você acha que vou ser dissuadida desta conversa, então
você claramente não está prestando atenção. Não sei se você se
lembra ou não, mas atualmente não tenho emprego, então
posso literalmente sentar aqui e te atormentar o dia todo, ou
você pode apenas me contar alguns pequenos detalhes sobre
você. Apesar da minha natureza idiota, na maioria das vezes não
sou crítica.
Ele se inclina contra o balcão e cruza os braços sobre o peito.
— Atualmente não tenho emprego.
— Cara! Vamos nos divertir juntos? — eu levanto minha
mão para um toca aqui, mas ele me deixa no vácuo. Grosseiro.
— Na verdade, nunca tive um emprego. E no momento não
estou procurando por um. Ou planejando conseguir um.
Eu engasgo com meu café.
— Você nunca teve um emprego? Tipo nunca? Nem
mesmo um trabalho de babá ou bartender?
Ele encolhe os ombros, e outro daqueles rubores vermelhos
sobe por sua bochechas.
— Eu percebo o quanto isso me torna um idiota, mas nunca
precisei trabalhar em um emprego tradicional. E então eu
nunca trabalhei.
Eu — a pessoa que dirigiu minha própria versão ruim do
Baby-Sitters Club até ter idade legal suficiente para trabalhar —
não consigo nem imaginar como alguém nunca trabalhou.
Como simplesmente não ter um emprego. Eu sei que isso soa
como o tipo de coisa que a maioria das pessoas sonha, mas soa
como o meu pior pesadelo. Sentado o dia todo com nada além
de meus pensamentos íntimos? Não, obrigada.
— Então, o que você faz o dia todo? — a pergunta sai
voando da minha boca antes que eu pense.
Jack encolhe os ombros novamente.
— Eu jogo videogame, leio e faço muitas caminhadas.
— E as outras vinte e duas horas? — minha voz grita em um
nível que provavelmente só os cachorros da vizinhança podem
ouvir. — Desculpe, eu sei que prometi não julgar e não estou
julgando, de verdade, só estou tentando descobrir como você
faz isso, porque literalmente acho que enlouqueceria se não
tivesse algum tipo de trabalho para a minha vida.
Ele franze os lábios, afastando os olhos dos meus.
— Eu provavelmente perdi um pouco a cabeça. Talvez mais
do que um pouco — ele aperta os braços em volta do peito,
como se estivessem fisicamente se apoiando nele.
Bem, merda. Não quero nada além de pular da cadeira e dar
um grande abraço nele, mas acho que ainda não chegamos lá.
O homem acabou de negar meu toca aqui, pelo amor de Deus.
Mas isso é claramente muito mais do que simplesmente não
precisar trabalhar. Se toda essa segurança financeira veio com o
preço de perder os pais, só posso imaginar a culpa. E a dor. Não
sei até onde posso pressioná-lo, considerando todo o negócio
de conhecê-lo há duas semanas. Mesmo que estejamos
morando juntos agora, algo está me dizendo que é hora de
recuar.
Então faço o que faço de melhor: desvio a conversa
começando a falando sobre mim mesma.
— Bem, acho que minhas primeiras horas do primeiro dia
do resto da minha vida foram ótimas. Encontrei alguns bares
que vou tentar para um possível emprego de meio período...
veja, disse que conseguiria pagar meu aluguel. E fiz todos os
tipos de pesquisa sobre o que precisarei para obter Bridge and
Blooms — esse não é o nome mais perfeito? Estou obcecada -
demais. E agora vou fazer em uma das minhas coisas favoritas,
planilhas. Eu nem estou mentindo sobre isso. Finanças podem
ser chatas pra caralho na maioria das vezes, mas eu faço
planilhas incríveis.
Uma sugestão minúscula de um sorriso aparece no canto de
seus lábios.
— Algo me diz que você arrasa em qualquer coisa que você
coloca em sua mente.
Meu instinto é refutar o elogio, mas a experiência me
ensinou que isso nunca funciona. Então, em vez disso, prefiro
a arrogância casual e falsa.
— Viu como você já me conhece bem? — eu levanto minha
mão para outro high five, e desta vez ele bate a palma da mão
contra a minha em troca.
Durante o fim da minha segunda semana morando com Jack,
encontrei um emprego de bartender, ganhei trezentos novos
seguidores no Instagram e consegui limpar completamente o
quintal. E isso é apenas a parte divertida. Também consegui
montar um mini plano de negócios e construir um site,
sozinha. Ok, Nick realmente veio e ajudou um pouco com o
site, mas as ideias foram todas minhas.
Jack e eu mantivemos nossas conversas leves e simples, e
provavelmente não é nenhuma surpresa, mas elas consistiram
principalmente em falar sobre mim mesma e meus novos
objetivos de vida incríveis. Ainda não sei quase nada sobre Jack,
mas ele provavelmente poderia dar uma palestra sobre a vida de
Sadie Green. A vida superficial, pelo menos.
Eu acordo no sábado, pronta para levar meus planos de
quintal para o próximo nível. Hora de germinar algumas
sementes, filhos da puta!
Depois de vestir minha melhor roupa de jardinagem —
shorts cortados e a camiseta reserva da Columbia — saio
correndo para tomar um café, pegando um café com leite para
mim e um café com leite gelado para Jack, e estou de volta antes
mesmo que o homem desça as escadas.
Como vou precisar de fácil acesso à água, estou usando a
cozinha como loja mais uma vez, espalhando as bandejas de
plástico para sementes e carregando o grande saco de terra que
comprei em um viveiro próximo no início desta semana. Eu
coloco etiquetas nas bandejas antes de colocar o fertilizante em
cada um dos pequenos compartimentos, fazendo pausas
frequentes para tomar um gole de café enquanto trabalho.
Jack desce as escadas no momento em que estou enchendo
uma jarra de água.
— Bom dia! Seu café está na geladeira — eu aceno com a
cabeça na direção geral da geladeira; você sabe, apenas no caso
de ele ter esquecido onde está.
— Devo tentar lembrá-la de que você não precisa me trazer
café toda vez que sai? — Jack passa a mão pelo cabelo ainda
despenteado pelo sono. Embora, para ser honesto, quase
sempre pareça amarrotado pelo sono.
— Não. A menos que você tenha alguma alergia à cafeína
ou algo assim, nunca deixarei de trazer café para você — Que
tipo de colega de quarto faz isso? É claro que, no passado, meus
colegas de quarto também me ofereciam café, mas como não vi
Jack sair de casa nenhuma vez desde que me mudei, meio que
perdi as esperanças.
— Bem, obrigado. Eu agradeço — ele pega seu café na
geladeira e senta na ponta. — Eu vou querer saber o que é tudo
isso?
Eu bato palmas.
— Hoje é dia de germinação!
— Isso deveria soar como uma coisa boa?
— Sim. Porque é — eu seguro um dos minúsculos pacotes
de sementes que comprei no início desta semana. — Hoje
plantamos as sementes e, nas próximas semanas, elas germinam
e criam raízes. Então, quando esses bebês estão maiores, nós os
pegamos e os levamos para suas novas casas no jardim, onde eles
viverão vidas longas, saudáveis e nutridas.
— Devo ficar perturbado com o nível de reverência em sua
voz? — Jack cutuca um dos compartimentos e sai com um
dedo coberto de terra úmida.
— Hobbies são saudáveis, eu quero que você saiba —
abrindo o primeiro pacote de sementes, coloquei quatro
pequenas sementes na palma da minha mão.
— E quando você começou com a jardinagem?
Estou começando a entender o jogo de Jack aqui. Em vez de
me dar a oportunidade de fazer perguntas profundas e
investigativas, como “O que você faz da vida?”, ele encontrou
uma solução alternativa. Ele me faz um milhão de perguntas
sobre mim, já sabendo que fisicamente não posso me impedir
de respondê-las.
— Você quer a verdade ou a resposta superficial que
costumo dar às pessoas? — eu levanto minhas sobrancelhas
para ele em um desafio silencioso. Um desafio que diz “Eu sei o
que está fazendo”. Um desafio “Se você quer me fazer
perguntas pessoais esteja preparado para respostas reais”.
Jack toma um longo gole de café antes de responder.
— Vamos com a verdade.
— Minha família era muito tóxica enquanto crescia, e a
jardinagem me deu duas coisas: uma razão para estar fora de
casa e algo sobre o qual eu tinha controle — em uma nota não
relacionada, a terapia é ótima e todos deveriam experimentá-la.
— Uau.
Dou-lhe um sorriso e me certifico de que é real.
— Também gosto muito de cuidar de seres vivos,
conduzindo-os desde o início até a vida adulta.
Ele pigarreia, o que estou descobrindo ser seu tique nervoso.
— Não era isso que eu esperava.
— O que? Que eu me importo com algo diferente de mim
mesma? — eu rio um pouco alto demais, fingindo que suas
palavras não surtem efeito. — Eu sei que parece fora do
personagem, mas não me interprete mal, eu ainda sou uma
grande idiota, e a única coisa que cultivo são plantas. Então,
sim, isso cobre toda a obsessão da jardinagem — voltando ao
trabalho em mãos, continuo distribuindo sementes em seus
lugares, colocando-as em seus pequenos lugares para que
possam florescer e crescer.
— Não foi nada disso que eu quis dizer, Sadie.
Eu paro minha distribuição de sementes, arriscando um
olhar para ele. Pela primeira vez ele está olhando diretamente
para mim, como se precisasse que eu visse a verdade em suas
palavras. Abro a boca para responder, mas nada sai.
Ele limpa a garganta novamente.
— Algum outro plano para hoje? Além de plantar?
Volto-me para os plantadores, grata pela mudança de
assunto.
— Sim, tenho um turno de treinamento no bar mais tarde.
— Ah, legal. Bem, obrigado de novo pelo café. Acho que te
vejo mais tarde — ele me dá um daqueles acenos indiferentes e
desce as escadas para o porão, como se tivesse atingido sua cota
de conversa do dia e precisasse escapar. Este é o padrão que
estabelecemos. E faço o possível para não levar para o lado
pessoal. Então o homem não quer sair comigo e plantar
sementes. Não é como se fosse um insulto.

Quando acordo no domingo, levo um tapa na cara com a


lembrança de como é difícil ser bartender. Não sei se eu era
muito mais jovem na faculdade (cale a boca) ou se ser bartender
trouxe uma exigência física maior, mas me machuquei em
todos os lugares. Depois de fazer xixi, rastejo de volta para
debaixo das cobertas, puxando meu telefone para minha
pequena e aconchegante caverna comigo.

EU: O que que tá rolando?

GEMMA: Eu me recuso a responder a essa


mensagem.

HARLEY: Tecnicamente, isso é uma resposta.

NICK: Por que vocês estão me acordando tão


cedo em um domingo?

EU: É quase meio-dia, idiota.

EU: Jantar hoje à noite? Minha casa? Gem,


quer cozinhar?

GEMMA: Você acabou de me convidar para


sua casa para cozinhar para você?

EU: Sim, mas só porque sei que você está


morrendo de vontade de pôr as mãos no meu
fogão de seis bocas.

GEMMA: Infelizmente, você está certa sobre


isso. Também, infelizmente, tenho oito milhões
de redações para corrigir, mais quatro milhões
de questionários.

HARLEY: Na verdade, tenho planos para hoje.

Nick: Eu também.

EU: Que porra, traidores.


EU: Gem, venha. Eu posso corrigir os
questionários e podemos pedir algo para
comer.

GEMMA: Não precisa me dizer duas vezes. Eu


estarei lá em breve.

Penso em me vestir antes de descer, mas é domingo e tudo


dói e não quero. Então eu fico com meu short de pijama de
flanela e blusa rosa e imagino que Jack poderia encontrar um
milhão de outros motivos para me despejar além da minha falta
de roupas adequadas.
E eis que o homem não está apenas acordado, mas sentado à
mesa da sala de jantar quando desço as escadas. Ele está vestido
com seu uniforme típico de jeans e uma camiseta nerd, mas seu
cabelo parece um pouco menos rebelde hoje. Quase como se
ele o tivesse arrumado.
— Bom dia — ele toma um gole de café. De uma caneca.
Como se ele mesmo tivesse feito. O que é simplesmente
insondável para mim. — Como foi o treinamento de barra?
— Tudo dói e eu estou morrendo — pego meu telefone
para ver quanto uma entrega de café no horário de pico de um
domingo esgotaria minha conta bancária.
— Há um latte gelado para você na geladeira.
Eu largo meu telefone e praticamente corro para a geladeira,
até que me lembro de meus músculos.
— Você realmente saiu para tomar café? — percebo como
isso soa maldoso no momento em que as palavras saem da
minha boca, mas não me incomodo em corrigi-las. Não é como
se Jack não tivesse meu número agora.
— Eu fiz, na verdade — ele aponta para uma máquina de
café expresso, enfiada no canto do balcão da cozinha.
— Você esperou até este momento para me dizer que temos
uma máquina de café expresso?
Grosso.
— Chegou ontem. Achei melhor pedir um antes que você
gastasse todo o dinheiro do aluguel em café.
Eu tomo um gole de teste do meu café com leite caseiro, e
caramba, é delicioso. Quase delicioso o suficiente para
compensar sua presunçosa compra de uma máquina de café
expresso.
— Eu costumava trabalhar com finanças, sabe, sou
perfeitamente capaz de fazer orçamentos.
— Eu sei. Mas também sei que você está tentando abrir um
negócio, e qualquer coisa ajuda, certo? — um leve cenho puxa
para baixo em seus lábios, vincando uma ruga em sua testa. —
Sinto muito, eu definitivamente não queria passar dos limites.
Isso foi meio que uma suposição idiota, não foi?
Um pequeno pedaço do meu coração congelado derrete.
— De jeito nenhum. Obrigado — eu seguro minha xícara.
— E obrigado por isso. É perfeito — abro a boca para
finalmente fazer a pergunta mágica, aquela que fará com que
ele me revele algo sobre si mesmo. Ainda não sei que pergunta
é essa, mas tenho certeza que está aí na ponta da língua.
Mas não tenho a chance de perguntar porque há uma batida
na porta.
— Merda. Eu disse a Gemma que ela poderia vir para que
eu pudesse ajudá-la a corrigir os testes. Espero que esteja tudo
bem — levo meu café comigo até a porta, não querendo me
separar da tão necessária cafeína.
— Esta é a sua casa também, Sadie. Você pode convidar
quem quiser — ele pega sua própria xícara de café e se levanta.
— Vou sair do seu caminho.
Eu me viro para dizer que ele não está no nosso caminho, e
até que é bem-vindo, mas ele já desapareceu nas escadas do
porão.

— É possível que os globos oculares sangrem fisicamente?


Porque deve haver torrentes de sangue escorrendo pelo meu
rosto agora — eu jogo a caneta vermelha que está em minha
mão pelas últimas três horas e desabo em uma pilha de papel,
minha cabeça descansando em cima da mesa da sala de jantar.
— Vadia, por favor, isso não é nada — Gemma continua a
se mover através de papéis como uma espécie de animatrônico
professor de alta velocidade.
— Como você faz isso todo fim de semana? — me sento, e
passo as palmas das mãos em meus olhos doloridos.
— O salário é fantástico — a voz de Gemma goteja com
sarcasmo enquanto ela me entrega uma nova pilha de testes
para corrigir.
— Onde posso votar para dar aos professores muitos
aumentos? Tipo muitos aumentos. Vocês deveriam ser pagos
como malditos CEOs.
— Diga algo que essa pobretona não saiba, amiga — ela me
lança um sorriso maligno. — Você não está feliz por agora
morar a uma curta distância e poder me ajudar sempre que eu
precisar? — ela termina a redação que está corrigindo, marca
uma pontuação no topo do papel e passa para a próxima. Você
pensaria que nossas pilhas seriam menores depois de todo esse
tempo, mas eu juro, elas devem estar se multiplicando, porque
as pilhas continuam nos trazendo novos e torturantes papéis
para corrigir.
— Droga. Vocês ainda estão trabalhando? — Jack sai de sua
caverna no porão pela primeira vez desde que deixei Gemma
entrar. — Devo fazer mais café?
— Sim — nós dois dizemos ao mesmo tempo.
Meu estômago ronca tão alto que Gemma e Jack param o
que estão fazendo e olham para mim. — Talvez eu tenha
esquecido de comer hoje — pego meu telefone debaixo de uma
pilha de testes de gramática. — O que devemos pedir?
Jack mexe na máquina de café expresso, apertando vários
botões até que o líquido dourado escuro comece a escorrer.
— Por que você não me deixa ir buscar algo para vocês?
Gemma faz uma pausa em seus rabiscos intensos para me
olhar com o canto do olho.
— Obrigado, Jack, mas você não precisa fazer isso. Posso
pedir uma entrega. — abro o Postmates e vejo o que há por aí.
Ele despeja o café expresso em um copo alto com gelo,
adicionando aroma de baunilha e leite antes de colocá-lo na
minha frente.
— Eu não me importo. Na verdade, preciso de uma
desculpa para sair de casa por um minuto. Gemma, posso fazer
um café para você?
— Um café com leite gelado seria ótimo, obrigada —
Gemma dá um sorriso açucarado para Jack, enquanto ao
mesmo tempo me chuta com tanta força debaixo da mesa que
vou ter um hematoma amanhã.
— Qual é a porra do seu problema? — eu murmuro
baixinho.
Ela me dá uma olhada. Um olhar do tipo “nós vamos falar
sobre isso no momento que ele sair pela porta.”
Jack traz o café de Gemma.
— Vocês gostam de sushi?
Nós dois acenamos com a cabeça.
— Excelente. Sadie, você pode me mandar uma mensagem
dizendo o que vocês gostam, e eu vou sair correndo e comprar
alguma coisa? — ele enfia as mãos nos bolsos e cria esse efeito
discreto adorável-desajeitado.
— Ok.
— Vejo vocês logo — ele nos dá um de seus meio acenos
característicos antes de pegar as chaves e sair pela porta da
frente.
Gemma me encara por um minuto inteiro, redações e testes
totalmente esquecidos.
— Ele está apaixonado por você.
Reviro os olhos e tomo um longo gole do meu café com leite
gelado caseiro de baunilha.
— Não seja ridícula. O homem não está acostumado a viver
com uma mulher ou ter amigos ou sair de casa, então seus
comportamentos parecem desconcertantes, mas, na verdade,
ele simplesmente não conhece nada melhor.
— Sadie. O homem acabou de nos preparar lattes e agora
está saindo para pegar o jantar. E ele simplesmente se ofereceu
para fazer isso. Nem precisamos pedir — ela me cutuca com o
cotovelo. — No mínimo, ele quer transar com você.
— Não mais do que qualquer outra pessoa que gosta de
mulheres e tem bom gosto — eu puxo uma nova pilha de
papéis para o meu lado da mesa, tão desesperada para terminar
esta conversa que ficarei feliz em voltar a corrigir provas de
gramática dos alunos da sétima série. Porque não há como Jack
Thomas sentir algo próximo de amor por mim. Na maioria das
vezes, não tenho nem a certeza se ele gosta de mim. O homem
sai correndo da sala depois de apenas cinco minutos de
conversa. É como se ele só pudesse administrar o mínimo de
conversa antes de precisar sair de perto de mim. Ele
provavelmente vai para a cama todas as noites se perguntando
por que diabos ele me deixou morar aqui.
Gemma toma um gole de seu café, com um sorriso
malicioso estampado em seu rosto.
— Eu gosto dele.
— Jack é um ótimo colega de quarto.
— Ele é adorável.
— Ele definitivamente não é meu tipo.
— Te conhecendo, esse fato está ao favor dele.
Deixei escapar um suspiro longo e dramático.
— Gem. Eu não vou sair com meu colega de quarto nerd.
Nunca. Sério. Deixa para lá.
Ela dá de ombros e volta sua atenção para suas redações.
— Ok. Então talvez eu vá.
Minha caneta para no papel, resultando em uma longa linha
vermelha, atravessando todo o teste desse garoto.
— Eu realmente preferiria que você não fizesse isso — e eu
realmente preferiria que ela não o fizesse. — Mas só porque
meu colega de quarto saindo com uma das minhas melhores
amigas só poderia levar a problemas, certo? Quando vocês
inevitavelmente terminarem. Eu teria que me mudar de novo
e, realmente, este lugar é bom demais para se desistir dele. Então
eu teria que escolher, você ou a casa, e honestamente, Gem,
onde estou sentada agora, não parece bom para você. Então
você pode querer considerar se ficar com Jack vale a pena me
perder como sua amiga antes de tomar qualquer decisão
precipitada.
Gemma está lutando contra um enorme sorriso, e eu sei que
ela está prestes a entrar nessa história de que eu protesto demais,
o que obviamente não pode acontecer. Eu não posso nem me
questionar por que a ideia dela e Jack me faz querer vomitar
meu café.
— Mas falando em encontros, você acha que Nick e Harley
estão saindo sem a gente agora? — não sou nada senão uma
mestre defletora de coisas. — Eles finalmente perceberam e
foram para frente?
Gemma franze os lábios como se ela não pudesse me deixar
escapar, mas a chance de fofocar sobre nossos dois melhores
amigos e sua possível história de amor é tentadora demais para
resistir.
— Você realmente acha que eles fariam isso sem nos avisar?
— Hum, sim. Cem por cento de certeza. Na verdade, eles
seriam idiotas se nos contassem. Pelo menos no início.
Gemma franze a testa.
— Se eles forem morar juntos, posso vir morar aqui?
Eu esvazio o resto do meu café, de repente pronta para algo
muito mais forte.
— Você vai ter que resolver isso com Jack.
— Não há como aquele homem lidar com nós duas ao
mesmo tempo.
— Umas frase mais verdadeira que essa nunca foi dita — eu
levo nossas duas xícaras de café vazias para a pia e as lavo antes
de colocá-las na máquina de lavar louça. Sim. Isso mesmo.
Temos uma máquina de lavar louça.
Gemma marca uma pontuação em um trabalho final, então
reúne todas as suas inúmeras pilhas e as guarda em sua bolsa.
— Obrigado por ajudar, Sade. Isso teria sido um pesadelo
sem você.
— Espero não ter estragado tudo e você não ter pais
zangados ligando para gritar com você.
Ela suspira, se levantando e se espreguiçando.
— Isso vai acontecer independentemente de qualquer coisa.
Abro a geladeira e pego uma garrafa.
— Vinho?
— Sim, por favor.
Sirvo um copo para cada uma de nós e, quando chegamos
ao copo número dois, Jack está de volta com o sushi. Nós três
sentamos à mesa da sala de jantar, comendo, bebendo e
conversando sobre coisas nada importantes. Jack parece mais
leve perto dos meus amigos do que quando estamos só nós dois.
O grupo já apareceu algumas vezes aqui, e essas são as únicas
vezes que ele se envolve voluntariamente. Claro, quando
realmente conversamos individualmente, há momentos em
que parece fácil e natural, mas nossas conversas são sempre
curtas e ainda temos nossos encontros estranhos. Mas isso não
acontece quando meus amigos se juntam ao círculo, e
enquanto observo Jack e Gemma brincando de um lado para o
outro, sinto algo estranho no meu estômago. Como se tudo
ficasse torcido e mole.
Merda. Espero não ter comido sushi estragado.
Gemma pede um carro e vai para casa mais cedo, já que
precisa na verdade, se levantar e ir para um trabalho como uma
adulta pela manhã. Dou um abraço de despedida nela e fico na
varanda até ela entrar no carro. Anoto mentalmente o número
da placa porque, sim, nunca se sabe.
Fechando e trancando a porta, vou direto para a cozinha e
pego outra taça de vinho. Eu gravei todos os episódios de Bravo
desta semana e estou planejando ir para a cama e beber vinho
por três horas seguidas de embriaguez e libertinagem.
Jack guarda os últimos pedaços restantes de sushi e os
guarda na geladeira.
— Você sabe, se você quiser assistir TV ou algo assim, você
é mais do que bem-vinda para usar o porão quando quiser. Sei
que é meio que meu território, mas também é seu, se você
quiser.
Eu despejo as últimas gotas restantes do vinho no meu copo,
guardando a garrafa para um experimento que planejei para
esta semana.
— Isso é tudo de bom. Tenho um encontro com as Real
Housewives e nunca colocaria você nisso.
Ele pega uma cerveja na geladeira e dá de ombros.
— Eu não me importo. Mas não posso dizer que já assisti a
um episódio antes.
— Oh, então assista comigo. Você não tem ideia de onde
está se metendo — eu sigo para o porão, testando os limites, já
que presumo que ele não vai realmente se juntar a mim, dado
que ele costuma encurtar nossas interações para o mais rápido
possível. Não consigo imaginá-lo voluntariamente sentado ao
meu lado no sofá por três horas, especialmente para uma
maratona Bravo. Mas quando chego ao último degrau, ouço o
barulho de seus passos atrás de mim. Eu escondo meu sorriso.
Além de uma rápida espiada durante meu passeio inicial,
não coloquei os pés no porão do brownstone. Provavelmente
porque parece que uma fraternidade vomitou aqui. Uma casa
de fraternidade limpa, mas ainda assim uma casa de
fraternidade. Além da mesa de bilhar, há um enorme sofá
modular forrado com algum tipo de tecido de veludo que
pertence a um filme pornô dos anos setenta. A TV é maior do
que algumas telas de cinema e tem pelo menos mil fios saindo
dela como tentáculos alienígenas, cada um ligado a algum tipo
de aparelho de videogame.
— Devo ter medo de que tipos de fluidos estão nesse sofá?
— eu verifico se há manchas suspeitas, mas parece
relativamente limpo.
— Além de Nick e eu, ninguém se sentou nele, então acho
que isso é bom — Jack se joga em uma ponta do sofá.
Eu me enrolo no canto oposto.
— Devemos falar sobre por que você não trouxe ninguém
além de meus amigos para acompanhá-lo neste lugar que tem
todas as coisas que os adolescentes adoram?
Jack olha para mim, piscando lentamente.
— Isso é nojento.
— Minha linguagem descritiva é precisa ou a pergunta?
— Ambos — ele pega um controle remoto da mesa de
centro e liga a TV, mas tem uns cinco controles
Eu decido deixá-lo sozinho. Por agora. Este sofá é
extremamente confortável, e isso com certeza é melhor do que
assistir Housewives no meu iPad. Tomo um gole do meu vinho.
— Um dia desses, eu vou desvendar você, Jack Thomas.
E se não me engano, vejo um sorriso com o canto do meu
olho.

JACK: Estou sentindo cheiro de algo


queimando lá em cima, tá tudo bem?

EU: Se você estivesse realmente tão


preocupado, levantaria sua bunda daquele
sofá super confortável e veria você mesmo.

JACK: Isso é um não?


EU: Estou bem, obrigada pela preocupação.
Apenas cortando as tampas das garrafas de
vidro para poder usá-las como vasos.

JACK: Você está cortando vidro com


fogo?!?!?!?

EU: Relaxa, li uns dez tutoriais do Pinterest antes


de começar.

JACK: O extintor está embaixo da pia.

EU: Ó homens de pouca fé.

GEMMA: Sei que ainda tenho mais duas


semanas, mas vamos fazer algo para
comemorar meu último dia de aula?

GEMMA: Eu preciso de algo para viver.

EU: Vocês poderiam vir ao meu bar!

NICK: Há bebidas de graça envolvidas nesta


oferta?

EU: Talvez haja ofertas mais baixas do que o


normal envolvidos nessa nossa saída.

EU: Desde que as gorjetas sejam boas, óbvio.

GEMMA: Temos que dar uma gorjeta?!?!?!?

EU: Você sabe que eu ganho menos que um


salário mínimo agora, certo?
GEMMA: Eu também sei quanto você paga de
aluguel para morar em uma CASA INCRÍVEL
com seu adorável colega de quarto.

EU: Jack não é adorável.

HARLEY: Ele é totalmente adorável e você


sabe disso.

NICK: Então vamos beber no lugar da Sadie


(Sadie’s place)?

EU: Hummm. Lugar da Sadie (Sadie’s Place).


Gostei de como isso soa. Talvez eu devesse
abrir um bar...

EU: Cara, você está bem?

JACK: ?

EU: Isso não é uma resposta. Sério, você está


bem?

JACK: Estou bem, qual é o problema?

EU: Acabei de chegar em casa e você não


está aqui. Achei que talvez você tivesse sido
sequestrado ou algo assim.

JACK: Haha.

EU: Ok, só que essa última parte foi uma piada.


Quero que você saiba que realmente fiquei
preocupada.
JACK: ...

JACK: ...

JACK: Eu sou realmente um ermitão?

EU: Sim.

EU: Mas se você quiser ser menos solitário, toda


a turma vai ao meu bar na próxima sexta-feira
à noite para comemorar o último dia de aula
de Gemma. Adoraríamos que você viesse, se
estiver livre.

JACK: Vou pensar nisso.

EU: GALERA. Acabei de receber meu primeiro


pedido oficial!!!!!!!!!!!!!

HARLEY: Uau! Isso é tão emocionante, Sadie!

GEMMA: Sim, garota! Pegue esse dinheiro!!!

NICK: Em quanto você acabou deixando seu


preço? Como estão as margens de lucro?

GEMMA: *Bocejo*

HARLEY: Para quando?

EU: Tenho que entregar na sexta de manhã

GEMMA: Agora temos duas coisas para


comemorar no próximo final de semana!
JACK: Eu ia pedir pizza esta noite se você
quiser comer comigo.

EU: Você está mesmo me mandando


mensagens quando estou a um andar de
distância de você?

JACK: Você está no andar de cima, então


tecnicamente são dois andares.

EU: Uau.

EU: E sim para pizza. Obviamente.

JACK: Pepperoni e azeitonas pretas?

EU: Você é tão bem treinado.

JACK: Você estava planejando assistir Real


Housewives novamente esta noite?

EU: Sim, a menos que você tenha grandes


planos na TV.

JACK: Não. Sem planos…

EU: Você quer assistir comigo?

JACK: Eu realmente preciso ver o que


acontece com Porsha.

JACK: Se você não se importa.

EU: Eu não me importo, caixinha de surpresas


O bar está cheio na noite de sexta-feira, como é na maioria das
noites de sexta-feira, o que é bom para minha conta bancária
cada vez mais lenta, mas não tão bom para meus planos de sair
discretamente com meus amigos enquanto sou paga para fazer
bebidas. Ainda assim, consigo me esgueirar até a mesa de canto
mais alta do que provavelmente deveria ser, roubando goles
minúsculos das bebidas de Gemma e Harley enquanto faço
isso.
— Eu pensei que você disse que Jack viria — Gemma se
inclina perto do meu ouvido para não ter que gritar para a
multidão barulhenta.
Eu dou de ombros como se não estivesse olhando para a
porta nas últimas horas, esperando que ele aparecesse.
— Talvez ele esteja ocupado.
Fazendo o quê, não saberia dizer, porque até onde eu sei,
mesmo depois de quase dois meses morando juntos, o homem
ainda não fez nada de fato. É um estilo de vida que acho
desconcertante, mas pelo menos ele foi visto saindo de casa de
vez em quando desde que me mudei.
— Não se preocupe, ele virá — Nick toma um gole de
cerveja, enquanto consegue parecer super presunçoso.
— E como você sabe disso? — Harley desliza sua bebida
sobre a mesa para eu tomar um gole.
Nick dá de ombros, o sorriso ficando mais presunçoso a
cada segundo.
— Nós saímos hoje.
Faço uma pausa no meio de um gole.
— Sinto muito, você acabou de dizer que saiu hoje? Com
Jack? Meu colega de quarto que nunca quer sair com ninguém?
Desta vez, Nick sorri abertamente.
— Ele não parece se importar em sair comigo.
— Ah, então é só comigo que ele não suporta ficar por perto
por mais de cinco minutos.
Bebo o resto da bebida da Harley. Não sei por que a ideia de
Nick e Jack saindo sem mim me incomoda tanto, já que adoro
quando saímos todos juntos. Quero dizer, fico constantemente
perplexa com o isolamento de Jack, então deveria estar feliz por
ele estar fazendo amigos. É um pouco estranho que ele esteja
fazendo amizade com meus amigos. Especialmente quando às
vezes ainda parece que ele realmente não quer ser meu amigo.
O sorriso de Nick desaparece.
— Não foi isso que eu quis dizer. E acredite em mim, o
problema de Jack não é não querer estar perto de você.
— O que isso significa?
— Puta merda — a boca de Gemma cai aberta, seus olhos
fixos na porta.
Sua declaração é alta o suficiente para que todos nós giramos
nossas cabeças em direção à frente do bar.
E puta merda.
Fica imediatamente claro por que Jack está atrasado. Porque
Jack foi ao barbeiro. E algum tipo de tratamento fino que
vende roupas sem logotipos de videogame.
Seu cabelo castanho escuro rebelde foi aparado, não o
suficiente para tirar o cacho, mas apenas o suficiente para que
seu rosto agora esteja visível. Seus óculos de plástico preto ainda
descansam na ponta do nariz, mas sem a nuvem de cabelo ao
redor dele, eles parecem realçar em vez de diminuir. Porque
agora posso ver o queixo dele. É cinzelado e definido. Assim
como seus antebraços, perfeitamente emoldurados pelas
mangas arregaçadas de sua camisa branca de botão. Ele ainda
está usando jeans, mas eles são mais escuros do que o normal e
mais justos, e o Converse desta noite parece suspeitosamente
limpo.
— Você tem algo a ver com isso? — pergunto a Nick, minha
boca de repente seca como o deserto.
Seu sorriso de volta com força total, Nick ignora minha
pergunta e acena para Jack em nossa mesa.
Os olhos de Jack encontram os meus enquanto ele abre
caminho pela multidão para chegar até nós, um sorriso tímido
aparecendo no canto de seus lábios. Lábios que, de repente,
parecem mais cheios e quase beijáveis.
Quando ele chega até nós, ele me dá um forte abraço de lado
e eu sinto o cheiro dele. Em casa, ele cheira a café e papel fresco.
Mas hoje à noite ele colocou algum tipo de colônia, e um
almíscar amadeirado enche meu nariz.
Eu enrijeço completamente — assim como meus mamilos
— com o peso de seu braço em volta de mim. Minhas
bochechas queimam, provavelmente da cor da Casa dos
Sonhos da Barbie.
Gemma pula de seu banquinho e puxa Jack para longe,
envolvendo-o em um abraço, e não sei se quero socá-la ou beijá-
la.
— Você está maravilhoso!
Socá-la.
Ela me lança um olhar por cima do ombro de Jack, um que
diz: Se comporte, garota. Ela faz sinal para eu limpar a baba do
meu queixo.
Beijá-la. Definitivamente beijá-la.
Eu bati em um retirada apressada para trás do bar sem falar
uma palavra com Jack. Tenho 99% de certeza de que perdi o
poder da fala de qualquer maneira.
Nas duas horas seguintes, faço tudo o que posso para evitar
servir meus amigos, chegando a mandar o outro barman para a
mesa deles quando precisam de rodadas adicionais. E eles
pediram mais algumas rodadas adicionais.
Eu quase criei coragem para ir até eles e enfrentá-los, sob o
pretexto de finalmente conseguir uma pausa, quando dou uma
rápida olhada para a mesa deles. Gema desapareceu. Uma
olhada rápida no bar me mostra que ela está conversando com
um de nossos clientes. Um dos clientes que não é um
frequentador, então eu permito. Nick e Harley estão sentados
suspeitosamente próximos um do outro. Tento espiar por
baixo da mesa, mas não consigo uma visão clara. Mas se eu fosse
uma apostadora, apostaria dinheiro que suas mãos estão
entrelaçadas sob o tampo de mármore pegajoso.
Deixando todas essas revelações de lado, minha atenção se
volta para Jack. Ainda parecendo a versão posterior de algum
filme adolescente dos anos 90. E ele está sentado ao lado de uma
garota, com a cabeça baixa para que ela possa sussurrar em seu
ouvido.
Eu quero mentir e dizer que não tem efeito sobre mim,
porque claramente, não importa quão bem ele tenha se
arrumado, Jack e eu nunca estaremos juntos. Mas sinto uma
pontada de dor lancinante, bem no peito, ao vê-lo cair na
gargalhada de alguma coisa que a garota disse.
E sim. Eu definitivamente não estou aqui para ver isso.
Ele nunca ri comigo assim.
Então me afasto da mesa deles mais uma vez, concentrando
toda a minha energia em limpar alguns copos já sujos.
Gemma e sua nova amiga saem primeiro, Gem mandando
beijos para mim e me dando o sinal de mão: Me ligue amanhã.
Assim que ela deixa o prédio com segurança, Nick e Harley
saem logo depois, não enganando ninguém com o pequeno
espaço que existe entre eles enquanto saem pela porta da frente.
Eu olho discretamente para a mesa de Jack e definitivamente
não dou um suspiro de alívio quando o encontro sentado lá
sozinho.
Eu sirvo uma cerveja para ele e finalmente vou até lá. O resto
do bar está quase vazio, tudo terminado durante a noite. Meus
colegas de trabalho estão em modo de limpeza e todos estão
ansiosos para sair daqui o mais rápido possível.
Colocando seu copo em um novo descanso para copos,
empilho os vazios que ainda estão sobre a mesa.
— O que aconteceu com sua amiga?
Ele franze a testa.
— Todo mundo foi embora. Eles não se despediram?
Eu puxo um pano do meu avental e limpo o tampo alto de
mármore.
— Não eles. Sua amiga — eu mexo minhas sobrancelhas um
pouco para que ele entenda a dica.
— Ah — ele dá de ombros e toma um longo gole de sua
cerveja. — Na verdade, não tenho certeza.
— Ah — continuo limpando, embora a mesa agora esteja
impecável e sem sujeira. — Eu gostei do seu novo visual.
Ele olha para si mesmo e, quando levanta os olhos
novamente, suas bochechas estão coradas.
— É um visual antigo, na verdade. Acredite ou não, não
passei toda a minha vida adulta me vestindo como um
adolescente cheio de hormônios.
— Ah — é a única palavra que consigo formar agora porque
acho que Jack Thomas acabou de revelar algo sobre si mesmo.
E isso faz algo para aliviar o restinho de sentimento ruim que
sobrou em meu coração. — Bem, combina com você.
— Obrigado — ele gira seu porta-copos na mesa, sem me
olhar nos olhos. — Tudo bem se eu ficar aqui até você ir
embora?
— Vai demorar. Ainda tenho que limpar e outras coisas para
fazer — Aponto para as mesas ao meu redor, que de repente
estão todas vazias e limpas.
— Não me importo de esperar — seu olhar encontra o meu,
aqueles olhos verdes me perfurando.
E de repente, não consigo respirar. De repente, não me
importo de esperar, não parece uma frase casual entre amigos.
Eu me aproximo dele, como se houvesse algum tipo de força
magnética em suas palavras.
— Sadie! Pegue esse copo e vamos dar o fora daqui! — meu
parceiro de bar, Sam, grita do outro lado da sala, me tirando da
minha névoa.
Eu dou a Jack um sorriso hesitante. Ele o devolve com a
mesma hesitação.
Então ele dá um gole na cerveja e me entrega o copo.
Levo-o comigo para trás do bar, mergulhando-o em água
com sabão antes de enxaguá-lo e secá-lo à mão. Sam me entrega
uma pilha de dinheiro que não me incomodo em contar,
enfiando no bolso de trás da minha calça jeans apertada. Eu
bato o ponto, me despeço e faço um gesto para que Jack me
encontre na porta da frente.
As ruas estão quase vazias de caminhantes noturnos, ou tão
vazias quanto as ruas de Nova York podem realmente ficar. O
ar da noite é quente, não muito pegajoso, e há até uma leve brisa
enquanto seguimos alguns quarteirões de volta ao brownstone.
Jack anda com as mãos nos bolsos, como se não soubesse
exatamente o que fazer com elas.
— Como foi sua primeira entrega de flores hoje?
Um sorriso se abre em meu rosto. Eu pretendia contar a
história para toda a multidão, mas como passei a maior parte da
noite evitando-os, não tive chance.
— Foi fantástico. Ela adorou e me disse que definitivamente
pediria algo de mim novamente e contaria a todos os seus
amigos — Puxando meu telefone da minha bolsa crossbody, eu
abro o Instagram. — E a foto do arranjo ganhou uma tonelada
de curtidas.
— Essa é a medida oficial hoje em dia? — ele pega o telefone
de mim, apertando os olhos um pouco enquanto estuda a foto.
Coloquei o buquê em uma das garrafas que cortei algumas
semanas atrás, uma garrafa de gim com um rótulo antigo e legal.
As próprias flores são uma explosão de cor e textura, dálias rosa
brilhante e ranúnculo laranja e amarelo. Eu o fotografei
sentado na mesa em frente à janela saliente do meu quarto, e as
cores se destacam nas paredes brancas.
— Uau, Sadie, isso é impressionante.
— Por que você parece tão surpreso? — e por que essa
surpresa pica?
— Definitivamente não estou, é só… não são só as flores, essa
foto é ótima. A iluminação, o fundo, a estética. Você acertou
em cheio — ele me devolve meu telefone, nossos dedos roçando
um no outro, enviando um pequeno choque através de mim.
— Ah. Obrigado — eu guardei meu telefone, minhas mãos
flutuando inutilmente entre meus bolsos e a alça da minha
bolsa porque de repente elas anseiam por nada mais do que
outro roçar na pele de Jack. Outro toque de validação de Jack.
Finalmente, eu apenas os deixo pendurados desajeitadamente
ao meu lado.
— Parece que você sabe do que está falando. Como se você
tivesse um olho artístico.
Ele não responde à minha não-pergunta, deixando um
silêncio menos constrangedor do que o normal cair entre nós.
Quando subimos os degraus da frente da casa, ele quebra o
silêncio.
— Então, eu tenho que sair da cidade amanhã. Só por uma
noite, estarei de volta no domingo à tarde — ele abre a porta,
fazendo sinal para que eu entre primeiro.
— Ah. Que legal. Onde você está indo? — na verdade, não
parece nada legal. Mais como o oposto, mas parece algo que um
bom colega de quarto diria.
— Só uma coisa que eu tenho que cuidar.
— Eu realmente gostaria que você parasse de não querer
compartilhar mais sobre sua vida, você faz isso muito bem.
Sério. Não aguento mais nenhum dos seus segredos. Eles
simplesmente saem de você, e não tenho certeza se posso ouvi-
lo falar sobre si mesmo por mais um segundo — eu tiro meus
sapatos dentro da porta e os deixo lá, o que eu sei que o
incomoda pra caralho.
— Hilária como sempre — ele pega meus sapatos e os coloca
na escada, como se isso fosse me convencer a carregá-los para o
meu quarto — Vamos comer pizza e assistir Housewives no
domingo à noite?
— Você que sabe — vou para a cozinha e me sirvo de um
copo de água antes de subir. — Estou indo tomar um banho
porque estou com cheiro de cerveja e homens suados.
— Nojento.
Eu me inclino sobre a escada.
— Obrigado por ter ido esta noite.
Ele faz uma pausa no topo dos degraus do porão.
— Obrigado por me convidar.
— Boa noite, Jack.
— Boa noite, Sadie.
Sou grata por ter que trabalhar no sábado porque preciso de
uma distração. Apesar de Jack passar a maior parte do tempo
no porão, é estranho estar em casa sem ele. Eu não gosto disso.
E eu realmente não gosto do quanto eu não gosto disso. Algo
mudou essa última noite, nada sísmico ou devastador, mas
apenas o suficiente para me deixar inquieta.
Então eu saio para um café no final da manhã, colocando
alguns trabalhos em dia. Após minha postagem de sucesso no
Instagram, recebi três novos pedidos em minha caixa de entrada
do e-mail, então respondo, conversando com clientes em
potencial sobre o que eles podem estar procurando. Por
enquanto estou me atentando a arranjos individuais, já que
ainda não tenho espaço, mão de obra ou confiança para
qualquer tipo de evento. Mas, como estou reaproveitando
vasos e adquirindo todas as minhas flores localmente, consigo
manter os custos baixos e cada arranjo está gerando um lucro
sólido. E com meus turnos de bar cobrindo facilmente o
aluguel e minhas outras contas, financeiramente as coisas não
parecem tão ruins hoje em dia. Meus empréstimos estudantis
nunca serão pagos, mas isso é esperado para nós, falidos da
Geração Y.
Eu não volto para casa até a hora de colocar meu jeans
apertado e regata decotada para o trabalho, a casa silenciosa
ecoando ao meu redor. Na verdade, não tenho passado muito
tempo sozinha desde que fui morar com Jack e fico surpresa ao
descobrir que não sinto falta disso. Embora não me importe de
ficar sozinha, encontro conforto em saber que há mais alguém
comigo. Mesmo que eles não estejam fisicamente lá.
Felizmente, nada oferece uma distração como clientes
sedentos exigindo toda a sua atenção. Eu me jogo em meu
turno no bar e sou sinceramente recompensado por meu
trabalho duro no final da noite. Caminho para casa com as
chaves bem apertadas na mão, o telefone aberto e pronto para
discar o número de emergência. Embora faça essa caminhada
sozinha duas vezes por semana, parece um pouco mais sinistro
saber que não há ninguém esperando por mim em casa.
Mas eu sobrevivo, tirando meus sapatos assim que entro e
não me preocupo em movê-los diretamente da frente da porta.
Depois do meu banho, subo na cama e pego meu iPad. Estou
tentada a assistir a um novo episódio de Housewives, pois sei que
terei problemas para dormir aqui sozinha, mas não poderia
fazer isso com Jack. Agora que o viciei, não seria justo.
E falando do diabo.

JACK: Como foi seu turno?

EU: Bom. Como está sua missão super-mega


misteriosa?

EU: Ai merda! Você está na CIA?

JACK: Você consegue me sentir revirando os


olhos, mesmo em estados distantes?
EU: Ha! Então você deixou o estado de Nova
York!

JACK: Sim.

EU: Jersey?

EU: Boston?

EU: Filadélfia?

JACK: De qualquer forma. Só queria ter


certeza de que você chegaria em casa em
segurança.

EU: Arrependido disso agora?

EU: Vermont?

JACK: Estou colocando você em "não


perturbe".

EU: Não, você não está.

JACK: Você está certa. Boa noite.

EU: Boa noite.

Fico um tanto desapontada quando apenas uma das minhas


demandas se transforma em um pedido real. Lembro a mim
mesma que só estou no mercado há seis semanas e não posso
esperar ser um magnata da noite para o dia, mas não vou
mentir, uma pequena parte de mim esperava que as coisas
decolassem instantaneamente. Eu sei que foi uma suposição
ingênua, mas ainda dói um pouco.
Pelo menos posso passar a manhã de domingo da melhor
maneira que sei: tomando café e passeando pelo mercado dos
floristas. Eu pego mais flores do que preciso para meu único
pedido e faço planos para alguns arranjos extras para postar no
Instagram, na esperança de atrair um pouco mais de interesse
de minha presença on-line em constante crescimento.
Assim que chego em casa, preparo as flores, deixando-as em
um balde gigante de água no banheiro do andar principal. É
pequeno e tem saída de ar-condicionado, por isso é o lugar mais
fresco da casa além da geladeira. Com base nos florais que
selecionei, escolhi dois vasos diferentes, uma caneca vintage
que encontrei em uma venda na calçada e outra antiga garrafa
de álcool. Tenho roubado garrafas velhas da lixeira no trabalho
e inventado algumas cores e formas bem legais. E ainda não
deixei a casa com cheiro de queimado com meu corte de vidro
amador, então um bônus.
Vou para a zona de arranjos, feliz por me distrair enquanto
espero Jack voltar para casa.
E enquanto minto para mim mesma, repetindo sem parar o
quanto não estou esperando que Jack volte para casa.
Coloco os dois arranjos sobre a lareira, destacando o tijolo
aparente ao fundo. Ainda é início da tarde, então a iluminação
está perfeita. Não postarei o buquê encomendado até que as
flores tenham sido entregues ao seu legítimo dono — não
quero estragar a surpresa — mas entro no Insta e
imediatamente posto a outra foto, gastando meia hora
adicional no aplicativo para, com sorte, aumentar minha
visibilidade.
A porta da frente se abre no momento em que coloco o
arranjo extra no centro da mesa da sala de jantar, aquele para o
pedido já armazenado com segurança na geladeira.
Jack joga as chaves no pote na mesa de entrada e nem
menciona meus sapatos, que ainda estão bem no meio da
passarela.
— Querida, cheguei.
Eu o cumprimentei com um sorriso.
— Como foi sua viagem, querido?
Ele joga a bolsa na escada, e sei que vai levá-la consigo
quando for para o quarto, como um verdadeiro adulto.
— Foi bom.
— E você foi para onde mesmo?
Ele sorri e vai até a geladeira, pegando uma cerveja.
— Boa tentativa.
— Desculpe pelas flores na geladeira. Elas irão sair daí
amanhã.
Ele me entrega uma garrafa de cerveja antes de pegar outra
para si mesmo.
— Não tem problema. Elas parecem ótimas.
— Obrigada!
— Você já as fotografou? — ele abre a garrafa e se encostou
na borda. Ele está de volta em seu uniforme padrão de jeans e
uma camiseta nerd, mas sua camisa é ajustada no peito e nos
braços, mostrando seus músculos magros, e seu cabelo está
penteado para trás de seu rosto, como se ele estivesse passando
as mãos por ele e finalmente ficou assim. Ele tem um dia ou dois
de barba por fazer que o faz parecer um pouco corajoso, um
visual que eu gosto totalmente. Ou eu gostaria, em qualquer
outra pessoa.
— Sim — meu telefone está descansando ao lado dele. Para
pegá-lo, tenho que ir até ele e ficar em seu espaço, o que é
totalmente bom porque Jack é meu amigo e meu colega de
quarto e ficar perto dele definitivamente não é grande coisa. De
qualquer forma.
Ele cheira a colônia novamente. E seus bíceps ficam tensos
quando eu roço contra ele.
Não que eu perceba.
Abro meu telefone e mostro as fotos.
— Meu Deus. Estas são ainda melhores do que as primeiras.
Belíssimo trabalho — ele toca na minha tela por alguns
segundos.
Pego meu telefone, mas ele o segura bem acima da cabeça,
ainda digitando, fora do meu alcance.
— O que você está fazendo?
— Enviando para mim mesmo.
Eu pulo para cima e para baixo, sem fazer nenhum
progresso, até que ele finalmente termina e me devolve meu
telefone.
— Por que você está fazendo isso?
Ele dá de ombros, tomando um longo gole de sua cerveja.
— Porque elas são lindas e talvez eu queira olhar para elas
novamente.
As palavras me atingem. Bem no coração.
É um elogio melhor do que se ele me dissesse que eu era
bonita.
Isso é algo que eu meio que já sei.
Mas sua validação do meu trabalho significa algo totalmente
diferente. Isso me atinge bem no centro de todos os meus
sentimentos. Com força.
— Obrigada, pessoa que não conheço direito — eu faço um
esforço concentrado para remover todos os traços de sarcasmo
da minha voz, porque eu quero dizer isso, e de repente é
importante que ele saiba disso.
Ele limpa a garganta, desviando o olhar do meu.
— Está tudo bem jantar mais cedo? Vou pedir a pizza se
você ligar o DVR.
— Ok. — agarrando minha cerveja, vou para o porão,
sentando-me no meu assento de canto e ligando a TV.
Jack desce um minuto depois, com uma segunda rodada de
cerveja na mão. Ele não se senta ao meu lado, mas também não
desliza para o lado oposto do sofá como fazia no passado.
Mordo o lábio para não sorrir e volto minha atenção para
Bravo. Onde pertence.

EU: Vou precisar que você não use o banheiro


do andar principal, se estiver tudo bem.

JACK: E por que não posso usar o único


banheiro no andar principal da minha casa?

EU: Tornou-se meu depósito de flores. Eu sei


que é um saco, mas é a parte mais fria e está
começando a ficar quente.

EU: Além disso, tem um banheiro no porão,


que é onde você passa 99% do seu tempo.

JACK: Tudo bem. Mas eu preciso de uma


cerveja grátis da próxima vez que for ao bar.

EU: Vai se fuder.

EU:

GEMMA: Merda, Sade, seu Instagram está


crescendo muito! Você está recebendo
toneladas de pedidos?

EU: Sinceramente? Não. Meu IG está


arrasando, mas as curtidas não estão me
trazendo tantas vendas, infelizmente.
HARLEY: Tenho certeza que as coisas vão
melhorar em breve!

EU: Espero que sim.

NICK: Oi, alguns de nós temos empregos de


verdade e preferimos não ter nossos telefones
tocando a cada cinco segundos.

GEMMA: Harley tem um emprego de verdade.

EU: Gemma definitivamente tem um emprego


de verdade.

GEMMA: Sadie está construindo um negócio


próspero.

EU: Ownn, obrigada, amiga.

Nick: Sério?

EU:

GEMMA:

EU:

GEMMA:

NICK: Eu odeio vocês duas.

EU: DESCULPE!!!!!

JACK: Porra, você queimou minha casa?

EU: Não.
EU: Você acha mesmo que eu diria que
incendiei sua casa em uma mensagem?

JACK: Não, você provavelmente mudaria de


estado primeiro e depois me enviaria um
telegrama.

EU: Realmente deveríamos trazer de volta o


telegrama. Pare.

JACK: Você estava se desculpando por


alguma coisa?

EU: Ai merda. Sim. Desculpe, a cozinha está


uma bagunça. Tive que sair correndo para
fazer essa entrega a tempo, mas prometo que
limpo tudo assim que voltar.

JACK: Os negócios vão bem então?

EU: É. Poderia ser melhor. Mas eu tive mais


pedidos esta semana do que na semana
passada, então eu aceitei.

JACK: Me avise se houver algo que eu possa


fazer para ajudar.

EU: Já falei que você é o melhor colega de


quarto da história dos colegas de quarto?

JACK: Não o suficiente.

EU: Vou pegar o jantar quando voltar para


casa. Sushi?

JACK: Claro.
EU: Até breve!

NICK: Então, estamos todos bem para nossa


festa anual na praia de 4 de julho no
Hamptons?

GEMMA: Porra, sim.

HARLEY: Estou dentro!

EU: Acho que sim. Eu não tenho um turno de


trabalho, então, desde que eu não receba
nenhum pedido, devo ficar bem.

JACK: Eu acabei de… eu fui… acabei de ser


adicionado no grupo?

GEMMA: Ah, cara, isso significa que temos que


parar de falar sobre menstruação? Eu conto
com a Sadie para me dar um aviso de dois
dias antes de começar.

JACK: Não sei o que isso significa, mas, por


favor, não deixe de falar sobre sua
menstruação por minha conta.

NICK: Os ciclos delas estão todos


sincronizados. Me salve, Jack!

EU: Vocês dois são super adoráveis.

NICK: Então você pode ir no Hamptons para o


dia 4, J?
JACK: Não vejo por que não.

GEMMA: Hum. Jack em um traje de banho.

EU: Ele pode ver essa mensagem, você sabe.

GEMMA: Eu sei.
E sim. O Jack em traje de banho.
Quando chegamos à casa dos pais de Nick em Hamptons —
à beira-mar, obviamente —, estávamos com calor e mal-
humorados, então vestimos nossos trajes de banhos, pegamos
algumas cervejas e fomos direto para a piscina. Por que não ter
uma piscina com vista para o mar? Lógica de ricos.
Mas nem mesmo a vista intensamente espetacular consegue
desviar minha atenção dessa outra vista muito mais
interessante. Jack pode ter intensificado seu jogo de moda nas
últimas semanas, mas esta é a minha primeira vez dando uma
olhada real no que está escondido debaixo daquelas roupas
largas. E é, uh… não o que eu esperava.
Ele é longo e magro e musculoso como um nadador. Mesmo
que eu nunca o tenha visto vestir um traje de academia, ou,
você sabe, malhar, há leves saliências de abdômen revestindo
seu estômago. Um punhado de cabelo escuro roça seu peito,
descendo em uma linha fina que vai direto para a borda de sua
cintura. Seus braços são esculpidos sem serem musculosos.
Resumindo, ele é sensual. Muito quente. E eu,
definitivamente, não sou a única que percebe.
— Eu estava principalmente brincando naquela mensagem,
mas caramba — Gemma olha para ele de cima para baixo em
uma espreguiçadeira à beira da piscina.
— Sadie, você sabia que tudo aquilo estava embaixo das
roupas? — Harley inclina os óculos de sol até a ponta do nariz
para ter uma visão melhor.
Eu empurro meus próprios óculos de sol mais para cima no
meu nariz, esperando bloquear meus olhos para que ninguém
possa dizer o quanto estou olhando. Eu faço meus ombros se
moverem para cima e para baixo em algum tipo de movimento
ligeiramente parecido com um encolher de ombros.
— É... ele é... eu... é... o quê?
Gemma e Harley trocam um olhar antes de cair na
gargalhada.
— Eu odeio vocês duas — me levanto da minha própria
espreguiçadeira, puxo meu agasalho sobre a cabeça e jogo-o na
cadeira antes de mergulhar na piscina.
A água fria corre sobre mim, e eu aprecio o frio, embora faça
pouco para amortecer o calor da minha pele. Calor que é
puramente resultado de se sentar ao sol, é claro.
Porque Jack nada mais é do que um amigo. Um bom amigo
e um colega de quarto solidário e, sério, o que importa o quão
bem ele fica em um traje de banho? Não significa nada.
Mesmo que seja muito bom.
Eu empurro a superfície turquesa da piscina, deslizando em
um nado de peito fácil, esperando que algumas voltas ajudem a
clarear minha cabeça. No momento em que nado por toda a
extensão da piscina algumas vezes e volto para a parte rasa, o
resto do grupo se plantou em meu caminho. Nick espirra água
em mim, o que ele sabe que odeio, então pulo em suas costas e
tento forçá-lo a entrar na água.
Mas o homem pesa mais 45 quilos que eu, então meus
esforços são inúteis. Até Harley e Gemma pularem também.
Nós três administramos para mergulhar sua cabeça por alguns
segundos, pelo menos, e ele sai cuspindo.
Jack observa nossa briga de seu poleiro, encostado na parede
lateral da piscina, longe da briga. Seus lábios estão curvados em
seu sorriso confuso, mas quando seus olhos encontram os
meus, o sorriso desaparece e seus olhos escurecem. Ele engole
algumas vezes.
Eu começo a caminhar até ele, mas assim que ele me vê
chegando, ele pula para fora da piscina.
— Hora de beber? — Jack chama por cima do ombro
enquanto se dirige para o refrigerador que trouxemos para fora
conosco.
Gemma capta meus olhos e me dá um sorriso simpático. Eu
dou de ombros, mergulhando de volta na água para ter uma
desculpa para bloquear todos ao meu redor. Porque essa
rejeição realmente doeu. Mas não deveria. Não é como se ver
Jack em roupa de banho fosse tão devastador que mudasse
meus sentimentos totalmente platônicos por ele. E esses
sentimentos são apenas platônicos. Jack é totalmente errado
para mim. Mais importante, eu sou totalmente errada para ele.

Depois de nossa longa viagem, jantar com os pais de Nick e


nadar à noite, todos estão exaustos. Todos nos despedimos ao
pé da escada e nos dirigimos para nossos respectivos quartos.
Nick e Jack estão compartilhando, assim como Harley e
Gemma, o que me deixa sozinha. Eu deveria estar grata por não
ter que compartilhar, mas estou meio que desejando um
companheiro de festa do pijama. Eu preciso de uma distração.
Eu poderia dormir no quarto de Harley e Gemma, mas só tem
duas camas de solteiro e não quero dormir no chão.
Assim que minha cabeça bate no travesseiro, em vez de cair
em um sono tranquilo e sem sonhos, como se deve, meu
cérebro decide repetir os destaques desta tarde como um show
de esportes super irritante.
Jack saindo da piscina como um modelo de anúncio de
perfume dos anos 1990, jogando para trás o cabelo molhado,
gotas de água criando um rastro perfeito em sua barriga
cortada.
Os olhos de Jack visivelmente esquentam enquanto ele me
observa em meu biquíni fabuloso e definitivamente sexy.
Jack se virando e correndo da piscina, fazendo de tudo para
se afastar de mim o mais rápido possível.
Trinta minutos daquele carretel de tortura superdivertido é
o suficiente para me empurrar para fora da cama e me fazer
descer as escadas na ponta dos pés e ir para a cozinha.
A luz do luar entra o suficiente pelas oito milhões de janelas
desta casa chique que eu não preciso acender nenhuma luz. Eu
puxo suavemente a geladeira, procurando por um jarro de
água.
— Sadie!
— Que porra é essa? — eu pulo cerca de trinta centímetros,
minha voz no volume máximo.
— Shhh — Harley dá a volta na gigantesca ilha da cozinha,
me mandando calar e fechando a geladeira.
— Não me cale, você me assustou para um caralho — eu
sussurro. Ferozmente.
— Desculpe — ela me entrega um copo de água.
Eu aponto para os bancos de bar acolchoados ao redor da
ilha com tampo de mármore.
— O que você está fazendo acordada?
— A mesma coisa que você, suponho. Não consigo dormir.
Tomo um gole de água e minha frequência cardíaca
finalmente volta ao normal.
— Será que o seu não dormir tem algo a ver com um certo
homem no final do corredor?
Ela arqueia uma sobrancelha.
— O seu também?
— Eu perguntei primeiro — eu dou a ela um sorriso
perverso.
Ela sorri, mas não alcança seus olhos. E ela não responde à
minha pergunta.
— Não é exatamente um segredo, você sabe. Você e Nick.
Gem e eu já sabemos há algum tempo. E nunca te julgaríamos
por querer ficar juntos. Queremos que vocês sejam felizes.
Espero que você saiba disso.
— Eu sei — ela gira o assento, afastando-o do meu.
Respiro fundo porque sei que só há uma coisa a fazer nesta
situação particular com Harley. Preciso sentar em silêncio e
deixá-la falar quando estiver pronta. Eu literalmente tenho que
morder minha língua para não encher o silêncio com minha
tagarelice, mas eu faço isso, porque eu sei que é o que ela
precisa.
Finalmente, ela toma um gole de sua própria água,
movendo-se ligeiramente para trás em minha direção.
— Nick quer tornar isso oficial, tornar as coisas públicas.
Apertando meus lábios com força, eu mal consigo conter
um grito de alegria.
— Isso é uma coisa boa, certo? Quero dizer, você também
quer ser oficial?
— Eu quero — ela olha para mim e seus olhos estão
brilhando. Não com lágrimas, mas com algo parecido com pura
alegria. — Eu o amo, Sadie. Acho que o amo há muito tempo.
Estendo a mão e pego a mão dela.
— Também acho que sim. E eu estou tão, tão feliz por você.
E por ele. Provavelmente mais por ele, já que ele está realmente
se saindo bem aqui.
Ela revira os olhos, mas combina com um sorriso. Quando
seus dedos agarram os meus com tanta força que começa a doer,
percebo que há mais do que isso.
— Não sei o que faria se algo acontecesse ao nosso grupo.
Você e Gemma são minhas irmãs e estou com medo de que isso
vá estragar tudo — Harley apressa as palavras em uma única
respiração.
Puxando nossas mãos unidas, eu a puxo para mais perto de
mim.
— Ei. Nada disso. Nada vai estragar tudo, ok? Mesmo que
as coisas terminem mal com vocês dois, o que não vai acontecer,
nem posso dizer quantas vezes já imaginei o dia do seu
casamento, nada vai separar nós quatro — eu bato meu ombro
no dela. — Vocês são basicamente a única família que tenho
neste momento, não vou deixar nada acontecer conosco.
Ela me dá um pequeno sorriso.
— Promete?
— Prometo. É a única coisa que te prende? Quer saber o que
pode acontecer com o grupo na pior das hipóteses? — tomo
um gole da minha água, dando-lhe tempo para preencher o
silêncio, se ela quiser. Porque eu posso ver que ela quer.
Sentamo-nos por mais um minuto de silêncio.
Finalmente, ela respira fundo.
— Eu preciso que você ouça por um minuto e não diga
nada. Ok?
Eu faço a mímica fechando meus lábios e jogando a chave
fora.
Ela respira fundo e solta o ar lentamente.
— Estou preocupada sobre como os pais de Nick vão reagir
a ele namorando uma mulher negra.
Eu aperto minha mão com mais força, mas mantenho
minha promessa de apenas ouvir.
— Eu sei que os pais deles são liberais e doados a Obama e,
no papel, eles fazem e dizem todas as coisas certas. Mas há uma
grande diferença entre ser acordado no papel e aceitar que seu
filho está namorando uma mulher negra. E eu estou com medo,
Sade. Porque não sei como vou lidar se eles reagirem mal. E
também não sei como Nick vai lidar com isso. E então, neste
grande momento de relacionamento feliz e brilhante, eu
realmente não sei como me sentir, sabe? — Sua voz falha no
final, e eu sei que ela está segurando as lágrimas.
Eu puxo Harley em meus braços, envolvendo-a com força.
Estou tentada a dizer a ela que vai ficar tudo bem, que é claro
que os pais de Nick nunca iriam deixar de aceitá-la, mas eu não
faço isso, porque não sei se isso é verdade e a última coisa que
quero fazer é mentir para ela.
Espero que ela se solte do abraço antes de pegar sua mão de
volta na minha e apertar com força.
— Eu te amo. E eu estou aqui. Sempre.
Ela me dá um leve sorriso.
— Te amo também — ela engole o resto da água e se levanta
para colocar o copo vazio na pia. — Você vem?
— Em um minuto.
Harley para na beira da ilha.
— Eu gosto de Jack. Ele é bom.
— E aqui estava eu pensando que você era uma gatinha
apaixonada. Você já está de olho em outra pessoa?
Ela não se preocupa em reconhecer minha afirmação
estúpida porque é uma mulher inteligente e aprendeu muito ao
longo dos anos.
— Quando estiver pronta para falar sobre ele, você sabe
onde me encontrar — ela me manda um beijo e sobe as escadas.
Sento-me sozinha na escuridão por vários minutos antes de
finalmente poder admitir, nem que seja para as rosas amarelas
no balcão.
— Acho que também gosto dele.
— Sadie Jane, se você não desligar o telefone agora, eu juro por
Deus! — Nick joga essa ameaça vazia para mim enquanto ele
está até a cintura na água calma da baía.
Eu o desligo da minha mente enquanto estou em uma
cadeira de praia sob um guarda-chuva e volto minha atenção
para o meu telefone. Depois de postar outra foto de um arranjo
recente, verifico minhas DMs. Há um par de perguntas, que eu
respondo, mantendo meus dedos cruzados para que pelo
menos algumas delas se transformem em pedidos. Minhas
vendas têm crescido de forma constante, mas lenta. Realmente
lentas. E mesmo que seja um feriado e eu tenha certeza de que
a maioria das pessoas estará longe de seus telefones, quero
garantir que respondo a todas as perguntas dos clientes em
potencial o mais rápido possível.
Mas eu sei que Nick provavelmente está a apenas alguns
segundos de me jogar por cima do ombro e me carregar para a
água como o homem das cavernas que ele é lá no fundo, então,
uma vez que todos os DMs foram respondidos, eu desligo meu
telefone, segurando-o firmemente em minha mão como uma
espécie de rosário milenar, rezando por boas notícias do meu
negócio.
— Sadie! — dessa vez, o grito vem de meus três melhores
amigos e meu colega de quarto — o traidor — que
aparentemente têm pouca ou nenhuma consideração pela
minha vida de empresária.
— OK, tudo bem! Seus imbecis! — eu jogo meu telefone em
minha bolsa de praia de palha, fazendo uma anotação mental
para colocar um buquê nela mais tarde e tirar uma foto na
praia.
Eu tiro meu vestido esvoaçante, revelando meu biquíni
rosa-choque por baixo. Aumentando minha melhor impressão
de Baywatch, corro em câmera lenta pela areia e entro na água,
mergulhando no azul frio e ressurgindo no pequeno círculo
que a turma criou. E sim, posso dar uma olhada na direção de
Jack para ver se ele está observando.
Ele definitivamente está assistindo.
Nick puxa um rosé enlatado do refrigerador flutuante e o
abre antes de entregá-lo para mim.
— Você realmente acabou de trocar um trabalho com horas
intermináveis por um trabalho diferente com horas
intermináveis?
Tomo um longo gole do espumante, deixando esfriar o
calor que cora minhas bochechas desde que percebi que Jack
estava me observando.
— Sim. Mas essas são horas de trabalho para mim, então é
diferente.
Harley me bate com o quadril.
— Estou orgulhosa de você, garota. Sei que não tem sido
fácil, mas as coisas estão começando a melhorar.
— Como evidenciado pela constante variedade de flores em
toda a minha casa — Jack me dá um de seus sorrisos meio
engatilhados e pequenas bolhas flutuam em meu peito.
Mas isso pode ser o rosé.
— Talvez um dia eu consiga abrir minha própria loja —
supondo que eu não vá à falência primeiro.
Nick joga um pouco de água em mim.
— Já se passaram dois meses, vamos trazer uma dose de
realismo aqui.
— Faz dois meses e meio. E nunca fui fã de realismo — eu
discuto com ele não porque ele está errado, mas porque ele é o
Nick.
Gemma, atualmente empoleirada em uma jangada gigante
em forma de flamingo, rema de volta para nós depois de ter se
afastado por causa da corrente da água.
— Você é uma das pessoas mais reais que conheço, Sadie
Jane.
Eu a empurro para longe do grupo.
— Eu só gosto de falar merda, só isso.
Nick levanta sua cerveja no ar.
— E nós amamos você por isso. Desde que não sejamos o
assunto para isso.
— Vocês são perfeitos, que merda eu poderia falar sobre
vocês? — eu mando um beijo no ar para cada um deles.
Harley passa o braço pelo meu.
— Essa é a coisa mais legal que você já disse para qualquer
um de nós.
— O que posso dizer? Eu sou incrível — bebo o resto do
meu rosé e entrego a lata vazia a Nick. — Agora me dê mais um
pouco de vinho. Por favor.
Nick enfia uma lata em um porta-copos flutuante em forma
de abacaxi e a envia para mim.
Abrindo a tampa, eu levanto minha lata.
— Não posso dizer que sempre tive orgulho de ser
americana nos últimos anos, mas uma coisa é certa, estou
orgulhosa de todos vocês. Feliz quatro de julho, vadias!
Todos eles ecoam meu brinde, e batemos nossas latas juntos.
— Foda-se, Sade, o sentimentalismo está fora de cogitação
hoje — Gemma me joga um beijo e eu mostro o dedo para ela.
O resto da tarde passa em uma névoa de coquetéis enlatados
e flutuando nas ondas, até que nos cansamos da praia e
voltamos para casa para beber mais bebida e ficar na piscina. Os
pais de Nick convidaram um grupo de amigos para um
churrasco, então o quintal ficou lotado com pessoas, conversas,
música e a explosão ocasional de fogos de artifício das casas
vizinhas.
Nós enchemos nossos rostos com cachorros-quentes,
espigas de milho e frutas frescas dispostas na forma de uma
bandeira americana. E quando a companhia “adulta” se torna
muito chata para gente como nós, pegamos cobertores, s'mores
e algumas garrafas de vinho e voltamos para a praia.
Nick e Jack acendem uma fogueira enquanto Harley e
Gemma enfiam marshmallows na ponta de espetos. Abro uma
garrafa de vinho e a divido entre cinco copos plásticos. Não sei
nem dizer quantos drinques bebi ao longo do dia, mas, apesar
da agitação constante, não cruzei a linha da embriaguez. Pelo
menos ainda não. Em vez disso, minhas entranhas estão
quentes e moles, provavelmente devido à companhia e à bebida
que circula em minhas veias.
Nick e Harley se aconchegam em um cobertor, pela
primeira vez sem se preocupar em esconder sua óbvia afeição.
Gemma e eu trocamos um longo olhar, principalmente um
olhar alegre e feliz, mas tingido com apenas um pouquinho de
preocupação. Nos preocupamos com o que pode acontecer ao
nosso temível quarteto se as coisas não correrem como todos
queremos. Apesar da minha declaração para Harley ontem à
noite, não sei o que aconteceria com o grupo se as coisas
mudassem para a separação, e esse pensamento me apavora.
Mas esta noite não é a noite para pensar sobre isso. Esta noite é
para perceber que nunca vi dois dos meus melhores amigos tão
felizes e por eu estar mais feliz por eles.
Gemma se dobra ao meu lado em nosso cobertor,
entrelaçando nossos braços, compartilhando um aperto
reconfortante. Jack se senta bem na minha frente, do outro
lado do fogo. Eu encontro seu olhar verde brilhante e um
sorriso largo e genuíno se espalha em seu rosto. Tem sido bom
vê-lo relaxar um pouco desde que está aqui com o grupo. Ele
parece um pouco mais leve, um pouco mais jovem e muito mais
contente.
É bom olhar para ele.
Depois de nossa segunda garrafa de vinho e muitos s'mores
para contar, Nick e Harley jogam a toalha e encerram a noite,
voltando para casa de mãos dadas. A julgar pelas luzes e pelo
barulho, a festa no quintal continua grande. Eu me pergunto
se eles vão entrar juntos ou se vão continuar a esconder seu
relacionamento na frente da família de Nick. Aperto os olhos
para tentar ver o que eles decidem, mas as sombras tornam tudo
muito escuro para ter certeza.
Gemma termina sua taça de vinho e se levanta do cobertor.
— Vou para dentro também. Estou exausta.
— Você precisa que eu te acompanhe de volta para a casa?
— Jack começa a se levantar.
Gemma o enxota.
— Estou bem. Apenas ouça meus gritos.
Reviro os olhos.
— Vamos observá-la até chegar ao portão.
Ela se agacha um pouco para poder me olhar nos olhos.
— Você está bem?
Há muitas camadas nessa questão. Eu quero ficar aqui
sozinha com Jack? Vou fazer algo de que possa me arrepender
graças à quantidade abundante de bebida ao longo do dia?
Existe a chance de eu desmaiar neste cobertor?
Todas as perguntas são válidas.
Mas eu sorrio e dou-lhe um aperto de mão reconfortante.
— Estou bem.
Gemma fala boa noite e volta para casa. Nós a observamos
até que ela chegue ao portão dos fundos, como prometido.
Deito-me no cobertor, deito-me de costas para poder olhar
para cima e ver as estrelas. As estrelas são uma das poucas coisas
que a vida em Nova York não pode fornecer, mas aqui na praia,
uma tonelada delas é salpicada no céu da meia-noite, como um
pote de glitter explodido sobre uma faixa de veludo azul-
marinho.
— Traga sua bunda para cá, Jack — posso estar desafiando
o destino ao convidar meu colega de quarto repentinamente
sexy para compartilhar um cobertor comigo sob as estrelas, mas
não me importo muito. Eu gostaria de culpar o rosé, mas, sério,
eu só quero que Jack esteja perto de mim.
Ele ri, e alguns segundos depois se abaixa ao meu lado,
sentando-se com os joelhos puxados contra o peito, uma
garrafa de cerveja pendurada em seus dedos.
— Você está bem aí?
— Apenas olhando as estrelas.
Ele inclina a cabeça para cima.
— É uma das poucas coisas que sinto falta de crescer em
Connecticut.
— Você cresceu em Connecticut? — minha atenção é
puxada com sucesso do céu e focada em Jack. Que acabou de
revelar uma verdade.
Ele toma um longo gole de sua cerveja, como se não quisesse
realmente me dizer isso.
— Sim.
Eu deixo o silêncio permanecer, me perguntando se ele é
como Harley e precisa de espaço para falar em suas próprias
coisas. E é um silêncio que estou disposta a suportar, porque
quero que ele me conte mais. Não apenas para saciar minha
curiosidade, mas porque quero conhecê-lo.
Mas ele não diz nada, apenas termina sua cerveja e se deita
ao meu lado. Apenas alguns centímetros nos separam, e o calor
irradia dele, aquecendo minha pele já corada. Minha
frequência cardíaca aumenta e, por mais tonta que ainda esteja,
de repente estou ciente de cada molécula de detalhe nos
cobrindo neste momento. Meus olhos voltam para as estrelas,
a combinação distância próxima/contato visual é demais.
— Sade? — meu nome sai de sua língua como uma
promessa.
— Sim? — meus pulmões estão tão agitados que mal
consigo pronunciar uma palavra.
Ele limpa a garganta.
— Obrigado.
Seus olhos queimam em minha bochecha como a
queimadura de sol que sei que terei pela manhã, mas evito virar
a cabeça.
— Pelo quê?
Ele aproxima a mão um pouco mais da minha, deixando
apenas um pedacinho de espaço entre nossos dedos mindinhos.
— Por me incluir. E por me aceitar.
Eu escovo meu dedo mindinho contra o dele. É o mais leve
indício de contato, mas passa por cada centímetro de mim.
— Faz muito tempo que não me sinto incluído em algo —
seu dedo mindinho se move sobre o meu, travando-os juntos.
Eu me viro para encontrar seu olhar, mas seus olhos estão de
volta no céu acima.
— Isso nunca poderia funcionar entre nós, Jack.
Quero dizer isso como uma piada, uma alfinetada na
pequena bolha de tensão sexual que vem crescendo
constantemente entre nós. Mas a verdade das palavras as torna
pesadas. Ele é bom demais, puro demais, um cara legal de cima
para baixo e de trás para frente. E eu não sou nenhuma dessas
coisas. Eu sou o contrário dessas coisas. Somos duas pessoas
muito diferentes de mundos muito diferentes, com estilos de
vida que nunca poderiam se encaixar.
— Eu sei.
Eu respiro fundo, as palavras amassando meu coração como
se fosse um pedaço de papel amassado. Uma coisa é saber que
não sou boa o suficiente. Outra é ouvir isso direto dele.
Sua cabeça se afasta das estrelas, finalmente encontrando
meus olhos.
— Eu ainda estou em uma bagunça absoluta, Sadie. Eu
destruiria você. E eu nunca poderia me perdoar por isso.
Aperto nossos dedos mindinhos, imitando o aperto em meu
peito.
— Jack…
Ele traz nossas mãos unidas para cima, beijando minha
palma antes de soltar meu dedo.
— Devemos voltar.
Meus pulmões doem como se eu tivesse acabado de perder
o fôlego. O que eu fiz. Eu quero puxá-lo de volta para o
cobertor e exigir que conversemos sobre isso, porque
claramente este não pode ser o fim da conversa. Eu não posso
deixá-lo ir embora desta praia pensando que ele é o problema
quando eu sou tão claramente a destruidora de tudo entre nós.
Mas Jack já está juntando os cobertores, dobrando-os e
colocando-os debaixo do braço. Ele estende a mão para me
ajudar a ficar de pé, e eu a pego, embora a sensação de sua pele
na minha seja como fogo gelado.
Voltamos para casa em completo silêncio. No final da
escada, ele me dá um sorriso triste, apertando minha mão antes
de ir para seu quarto sem dizer mais nada.
Fico ali no escuro por alguns minutos antes de finalmente
forçar meus pés a me carregarem escada acima, onde caio na
cama e, felizmente, em um sono induzido por álcool e mágoa.

GEMMA: Então, quando você ia nos contar a


grande novidade, Sade?

EU: A notícia é que ainda estou na cama


porque fiquei no bar até as 3 da manhã
porque meu negócio é uma merda e vou ser
bartender pelo resto da minha vida?

HARLEY: Talvez você devesse verificar seu


Instagram, querida.

EU: Puta merda, tenho quase 500 novos


seguidores!

GEMMA: Sim, você tem! Olha quem te


marcou!

EU: AI MEU DEUS. ELA TEM 2 MILHÕES DE


SEGUIDORES!!!!!!!!!

EU: Gente, eu tenho umas 100 DMs!

EU: Espero que alguns deles não sejam idiotas!

GEMMA: Se te mandarem fotos de algum pau


bonito, sinta-se à vontade para mandá-lo para
mim.

HARLEY: Nojenta.
HARLEY: Parabéns, Sadie! Este pode ser um
grande ponto de que as coisas vão melhorar!

EU: Eu tenho que ir, hora de vender mais


algumas malditas flores!

JACK: Não tenho planos para o sábado, se


você precisar de ajuda para fazer as entregas.

JACK: Eu sei que não tenho o seu charme,


mas estou por perto se você precisar de mim.

EU: Isso é muito gentil, mas não posso pedir


que você trabalhe para mim de graça e não
tenho dinheiro para pagar você.

JACK: Eu realmente não me importo.

EU: Você já contribui bem mais para essa


amizade, cara. O desequilíbrio de poder é
selvagem.

JACK: Do que você está falando?

EU: Você é quem traz tudo para a mesa aqui.

JACK: Sadie.

JACK: Na verdade, você não pode pensar


assim.

EU: Esses são os fatos, Jack.


JACK: A oferta está de pé se você precisar de
mim.

HARLEY: Então, nós saímos para jantar com os


pais de Nick no fim na semana passada…

EU: E?

GEMMA: Você verificou duas vezes para ter


certeza de que ele não está nessa conversa?

HARLEY: Só umas dez vezes.

EU: OK, E????????

HARLEY: E foi ótimo. A mãe dele disse:


“Estávamos nos perguntando quando vocês
iriam nos contar isso”.

EU: AAAAAAAA!

GEMMA: Eu vou roubar sua batedeira


KitchenAid!

HARLEY: Haha.

GEMMA: Você acha que estou brincando. Um


dos amigos ricos de Nick pode comprar uma
nova para o seu casamento.

EU: Estou tão feliz por você, Harley!


GEMMA: Eu também! Eu prometo que não são
soluços de solidão e abandono que você
ouve vindo do meu quarto todas as noites.

EU: Entãooooooooooooo

EU: Lembra quando eu pensava que não


precisava da sua ajuda e era uma mulher forte
e independente e me recusava a confiar em
um homem?

JACK: Não me lembro dessas palavras exatas,


mas sim, me lembro da conversa geral.

EU: Preciso muito da sua ajuda.

EU: Por favor.

EU: Por favor.

EU: Um por favor, com uma cereja no topo.

EU: Te pago umas bebidas se vier ao bar esta


noite!

JACK: Só estou colocando uma camisa, já


estou indo.

EU: Hummm. Entrega floral sem camisa, você


pode ganhar algo a mais lá.
— Ok. Então, Harley, você vai entregar esses dois para os
endereços de Williamsburg. Gem, você nas entregas de Park
Slope. Há mais quatro, mas eles estão mais perto, pare de
choramingar. Eu tenho os três em Gowanus e, Jack, você tem a
entrega individual em Windsor Terrace — eu carrego os
pedidos finais em suas respectivas transportadoras, vagões para
mim e Gemma, pequenas caixas sobre rodas para Harley e Jack.
— Por que Jack ficou só com uma entrega? Ele que é o
homem — Gemma coloca a alça da sua bolsa com um beicinho.
— Isso é sexista. Além disso, Jack permite que eu viva nesta
linda casa, que você usa quase tanto quanto eu, praticamente
de graça, então cale a boca e mexa-se. — Eu a beijo na bochecha
antes de mandar todos em suas respectivas direções. —
Obrigada e eu te amo, não se esqueça de borrifar água enquanto
caminha!
Desde que uma das maiores influenciadoras de Nova York
não apenas encomendou um arranjo de mim, mas o
compartilhou no Instagram, as coisas na Bridge e Blooms
explodiram. Do jeito que eu estava orando, mas também tão
rápido que não tive tempo de me preparar. De repente eu estava
inundada com pedidos sem nenhuma maneira de atendê-los ou
entregá-los, o que, você sabe, não é bom para os negócios.
Felizmente, tenho amigos incríveis e anos de experiência
mantendo planilhas organizadas e respondendo a clientes
exigentes. Como um bônus adicional, minha vida anterior
centrada no trabalho significa que estou acostumada a dormir
só quatro horas por noite. Mas este é nosso terceiro fim de
semana de entregas ininterruptas e finalmente desativamos
nosso sistema. Dada a umidade pegajosa de agosto, as flores
precisam ser borrifadas com água fria durante o período de
entrega, caso contrário, elas murcham. Então, cada um dos
meus amigos agora está equipado com um avental super fofo
da Bridge e Blooms segurando tesouras, um frasco de spray e
algumas flores extras para substituições de última hora.
Estou apenas pagando meus amigos maravilhosos, incríveis
e solidários com refeições e bebidas gratuitas no bar, porque,
apesar do fluxo de pedidos e, portanto, dinheiro, comprar as
flores necessárias para todos esses arranjos, além de
suprimentos adicionais, não foi nada barato. Gemma vai voltar
para a escola em algumas semanas, o que significa que vou
perder seu trabalho quase totalmente gratuito, mas não posso
garantir que os pedidos continuarão nesse ritmo depois que o
burburinho da mídia social diminuir, e não quero contratar
alguém apenas para não ter trabalho suficiente para cumprir
suas horas.
Quem diria que administrar um negócio era difícil? A
geração Y da sitcom faz tudo parecer tão fácil, mas todos os dias
há uma nova decisão a ser tomada, mais novos fatores, números
e cenários a serem considerados. Eu só queria juntar algumas
flores bonitas, mas todo esse trabalho de empreendedora é
muito mais trabalhoso do que eu esperava, mesmo com meu
treinamento em negócios e finanças. E ainda estou trabalhando
em meus dois turnos por semana no bar, já que não estou
pronta para abrir mão de meu único fluxo de renda estável.
Quando chego em casa depois das minhas entregas, todos os
outros já devolveram seus suprimentos e suas generosas
gorjetas. Tenho tempo suficiente para tomar um banho rápido
e me trocar antes de sair novamente para o bar.
Jack está sentado na ponta da cozinha quando desço para
calçar os sapatos.
— Você vem ao bar hoje à noite? — calço meus tênis
brancos e dou uma última olhada no espelho acima da mesa da
entrada. Eu não uso muita maquiagem no bar, já que na
maioria das noites eu suo de qualquer maneira, mas ainda passo
um pouco de gloss nos lábios.
— Eu acho que sim. Eu ia ver se Nick estava por perto.
— Legal. Espero ver você lá — lhe dou um pequeno aceno
e saio pela porta da frente.
Superficialmente, parece que algo mudou entre mim e Jack,
mas por baixo há uma estranheza latente que está prestes a
transbordar toda vez que conversamos. Nunca discutimos
nossa conversa sob as estrelas na praia, nós dois fingindo que
estávamos mais bêbados do que realmente estávamos e que
perdemos a memória no dia seguinte.
Mas nas raras ocasiões em que ele realmente me olha nos
olhos agora, tudo o que ouço são essas palavras, repetidas na
minha cabeça.
Eu destruiria você.
Jack e eu estamos morando juntos há quatro meses e ainda
não tenho ideia do que o faria pensar isso. Ainda não sei como
seus pais morreram. Ou quando. Além de seu deslize sobre ter
sido criado em Connecticut, tudo que sei sobre meu colega de
quarto é que ele gosta de videogames e tem olhos perfeitos.
Ah, e ele faz um ótimo trabalho cuidando de mim. Fazendo
meu café da manhã. Pegando o café da manhã quando ele sabe
que trabalhei até tarde no bar. Esquentando as sobras do jantar
e praticamente as coloca na minha cara quando não consigo me
forçar a sair da minha caixa de entrada de e-mail.
Eu não o mereço. Nossa amizade é o exemplo perfeito de
quanto recebo sem me preocupar em retribuir. E por causa
disso, nunca seremos mais que amigos. Nunca poderei me
permitir tirar mais proveito de sua generosidade suprema.
E, quando ele empurra a porta da frente do bar algumas
horas depois da minha mudança, meu estômago dá uma
cambalhota para trás. Não consigo evitar que o sorriso se
espalhe pelo meu rosto. Seu sorriso de resposta envia minha
barriga para uma rotina completa de conquista de medalha de
ouro.
Ele encontra uma mesa vazia escondida no canto, perto do
bar.
— Ei — jogo um porta-copos de papelão sobre a mesa,
apoiando os dois cotovelos no tampo alto de mármore. —
Onde está o Nick?
— Ele está com Harley — Jack também apoia os dois braços
na mesa, deixando apenas alguns centímetros de espaço entre
nós.
— Ah, legal. Todo mundo está vindo, então? Acho que te
devo uma rodada — Eu uso essa breve pausa para alongar
minhas panturrilhas doloridas. Correr por todo o Brooklyn e
depois ir direto para o meu turno no bar tem sido um
assassinato para minhas pernas.
— Acho que todos vão ficar em casa. Então sou só eu esta
noite — um sorriso suave aparece no canto de seus lábios.
Eu me levanto.
— Ah.
Jack nunca veio aqui sozinho antes. Ele se junta ao resto do
grupo na maioria das noites quando eles saem, mas este é seu
primeiro empreendimento solo.
— Bem, o que posso fazer para você? O de sempre?
— Sim.
Voltando ao bar para servir sua cerveja, demoro mais do que
realmente preciso para que eu possa colocar minha cabeça no
lugar. Eu não vou fingir que ter a visão de Jack sentado no bar,
vindo aqui apenas para me ver (e também pegar sua cerveja
grátis, mas isso é um detalhe menor) não faz meu coração ficar
mole. Porque ele fica. O mais mole. Mesmo que não devesse.
Mas a coisa toda parece muito fora do comum para o meu
garoto aqui.
Eu entrego sua cerveja, mas não tenho a chance de conversar
antes de me chamarem de volta ao bar principal. O lugar enche,
a multidão de sábado à noite barulhenta e exigente, não me
deixando nem um minuto para recuperar o fôlego. Mas
consigo ficar de olho em Jack enquanto preparo as bebidas,
entrego as bebidas e limpo os respingos. Algumas pessoas
diferentes da persuasão feminina se aproximam dele e, embora
ele pareça se envolver em breves conversas, elas nunca
demoram, indo para pastos mais verdes depois de apenas alguns
minutos.
Eventualmente, Jack pega um livro, de alguma forma
conseguindo ler na penumbra do bar, e seu romance parece agir
como um escudo de interação social. Eu bato o ponto para meu
intervalo, dou outra cerveja para Jack e uma água para mim, e
me sento na cadeira em frente a ele, nossos joelhos roçando um
no outro sob a mesa.
Ele enfia um marcador entre as páginas de seu romance e o
coloca de lado.
— Oi.
— Oi.
Fica quieto por um minuto. Ou, pelo menos, o mais
silencioso possível no meio de um bar lotado em uma noite de
sábado.
— Obrigado pela cerveja — ele levanta o copo e bate no meu
copo d'água.
— Obrigada por toda a sua ajuda com as entregas.
— O prazer é meu — ele toma um longo gole. — Na
verdade, era sobre isso que eu queria falar com você.
Um punho frio de pavor me dá um soco no estômago. Eu
sabia que algo como isso aconteceria eventualmente. Jack está
cansado de viver no jardim botânico em que transformei a casa
dele e quer que eu vá embora. Claro que ele quer que eu saia.
Eu invadi sua vida tranquila e pacífica e, no verdadeiro estilo
Sadie, fiz tudo sobre mim.
Eu esfrego meus dedos sobre minha testa, tentando
massagear sutilmente a dor de cabeça que surgiu.
— Eu sinto muito. Posso tentar procurar um estúdio. Não
sei o que há por aí que possa pagar, mas tenho certeza de que
há algo. Posso tirar todas as minhas coisas da cozinha, do
banheiro e da geladeira. E com certeza vou procurar contratar
um funcionário de verdade para fazer as entregas — algo
embaça minha visão. Eu olho para os redemoinhos cinza no
tampo de mármore branco, piscando rapidamente para secar
qualquer indício de lágrimas antes que ele possa ver. — Só, por
favor, não me peça para me mudar, Jack.
Uma das mãos quentes de Jack cobre a minha.
— Sadie.
Sem pensar, viro a palma da mão e nossos dedos se
entrelaçam automaticamente.
— Você pode olhar para mim, por favor? — sua voz é suave,
mas mesmo em meio ao barulho do bar, cada palavra atinge
meu coração.
Respiro fundo e lentamente levanto a cabeça, os olhos agora
calmos e claros.
— Estou bem.
Jack me dá seu sorriso mais suave, aquele que enruga os
cantos de seus olhos.
— Eu não quero que você se mude.
— Ah — a simples declaração me traz um pouco de alívio.
Mas, em vez de focar no positivo, meu cérebro imediatamente
salta para os custos de aluguel de espaço e contratação de
funcionários.
— E você não precisa alugar um estúdio, nem contratar
ninguém, se ainda não estiver pronta para isso — ele aperta
minha mão. — Eu só queria avisar que não estarei por perto no
próximo fim de semana.
— Ah — e apesar das boas notícias, tudo em que posso me
concentrar é que Jack não estará por perto no próximo fim de
semana. A ardência em meu estômago ao pensar em sua partida
não tem nada a ver com a falta de entregadores também. —
Quanto tempo você vai ficar fora?
— Vou na quinta-feira, mas vou me certificar de voltar a
tempo no domingo para jantar e ver Real Housewives.
Três noites. A ardência se transforma em uma dor de
mastigar, devorar, comer uma fatia inteira de pizza em uma
mordida.
— Onde você está indo? — não espero que ele responda,
mas também não posso deixar de perguntar.
— De volta a Connecticut. Foi para lá que eu fui da última
vez também — ele pega a cerveja com a mão livre e dá um longo
gole, como se precisasse de coragem líquida. — Para a casa dos
meus pais, a antiga casa deles. Nossa velha casa. Eu ainda a
possuo e gosto de voltar a cada dois meses para verificar e
garantir que tudo esteja bem.
Cubro nossas mãos unidas uma com a outra, fazendo um
sanduíche de mão. Tenho medo de dizer qualquer coisa, e se eu
falar, isso o impeça de continuar por esse caminho e revelar
qualquer outra coisa. Esta é a primeira conversa real que
tivemos desde os Hamptons — para não mencionar a
informação mais pessoal que ele já compartilhou — e não
quero criar nenhum obstáculo.
— Estou pensando em vendê-la — ele empurra as palavras
rapidamente, quase como uma única palavra, como se ele não
as dissesse rápido o suficiente, ele nunca seria capaz de dizê-las.
— Ah, Jack — aproximo meu banquinho do dele, então
nossas coxas se roçam e nossos braços se pressionam. — Há
quanto tempo?
— Faz sete anos desde o acidente de carro. Há muito tempo,
você não acha? — o canto de seus lábios se inclina para cima,
mas não é nada como seu sorriso meio engatilhado normal.
Dando de ombros, eu mantenho um aperto firme em sua
mão.
— Nunca passei por nada parecido, mas acho que você deve
levar o tempo que precisar.
Ele toma outro gole de cerveja e franze os lábios.
— Tenho uma reunião marcada com um corretor de
imóveis no sábado, mas há cinquenta por cento de chance de
eu acabar cancelando isso.
— Se você chegar lá e sentir que precisa fazer isso, tudo bem.
Você não deve nada a ninguém — eu inclino minha cabeça em
seu ombro, o mais perto que posso chegar de dar-lhe um abraço
nestas cadeiras.
Ele coloca um beijo suave na minha testa.
Com um único toque de seus lábios, ele me destrói. E não
do jeito que ele estava tão preocupado. Minha respiração falha,
meu coração congela no peito com esta simples marca de
carinho.
— Você quer que eu vá com você? — eu me sento, olhando
de frente para aqueles olhos verdes. Embora eu possa prever o
que ele vai me dizer, seus olhos me darão uma resposta honesta.
— Não posso pedir que você perca um fim de semana
inteiro de trabalho. São dois turnos de bar e você pode perder
muitos pedidos — as palavras esperadas voam de sua boca, mas
o olhar suplicante naqueles olhos me permite saber o que fazer.
— E se eu fosse com você na quinta-feira e pegasse um trem
cedo para casa no sábado de manhã? Então eu só perderia um
turno de bar e ainda poderia fazer as entregas. Gemma e Harley
me cobrirão de qualquer jeito na sexta-feira. Honestamente,
nem sei por que estou fazendo isso parecer como se fosse uma
pergunta. Eu estou indo, e eu não vou desistir disso. Então, não
se preocupe com isso — prendo a respiração. — A menos que
você realmente não me queira lá e está apenas tentando ser
educado, caso em que obviamente não vou me intrometer,
porque isso seria muito, até para mim.
Uma pontada de tensão paira entre nós e, por um segundo,
acho que ele pode se inclinar e me beijar. Tenho certeza que
paro de respirar completamente.
Mas Jack não se inclina, apenas me oferece um pequeno
sorriso agradecido.
— Eu realmente ficaria muito feliz de ter você lá comigo. Se
você puder fazer tudo dar certo.
— Hum, olá, me chame de Tim Gunn. Fazer tudo dar certo
é o meu nome do meio — O alarme do meu telefone toca. —
Falando em trabalho, tenho que voltar.
Jack solta minha mão e sinto falta de seu toque calmante no
segundo que ele se foi.
— Obrigado, Sade.
— É claro. Para que servem os colegas de quarto? — eu enfio
meu telefone no bolso de trás da minha calça jeans. — Você está
indo para casa ou vai ficar por aqui? Não vou sair por algumas
horas.
Ele pega o livro novamente, abrindo as páginas no local
marcado.
— Eu vou esperar aqui, se você não se importa. Eu me sinto
melhor quando posso acompanhá-la até em casa — ele não está
olhando para mim enquanto diz isso, os olhos já examinando
as palavras à sua frente.
O que é bom, porque pode ser a coisa mais legal que um
homem já me disse e leva apenas uma respiração antes de eu
perceba que (A) os homens da minha vida são totalmente ruins
e (B) eu tenho uma queda super grande pelo meu colega de
quarto.
Porra.

— Ok, então a prateleira do meio da geladeira são as entregas


para sexta-feira. Cada um é rotulado com um nome e endereço.
Existem apenas quatro, então não deve ser muito difícil — viro
a tela do FaceTime da geladeira e para mim. — Vocês são as
melhores e eu amo muito vocês.
Harley acena com a mão. Como se tivesse falando: Oh, pare
com isso.
— Fico feliz por ajudar.
Gemma pula atrás dela no quadro.
— Você pode nos retribuir com todas as fofocas que você
vai saber sobre Jack quando você voltar — quando ela faz
caretas para mim, sei que ela realmente absorveu toda a energia
de seus alunos e não há mais esperança para ela.
— Cara, cala a boca. Ele mora aqui — eu procuro pela
cozinha como Jack poderia surgir de trás de um balcão, embora
eu saiba que ele está escondido em segurança no porão, como
sempre.
— Embora a Gem possa ter se expressado de forma errada,
ela tem razão. Isso é importante, Sadie. O homem passou de
não te dizer nada a te pedir para ir à casa dos pais dele com ele
— maldita Harley e sua estúpida lógica e razão.
— Primeiro, ele não pediu, eu me ofereci. Segundo, somos
apenas amigos. Terceiro, eu odeio vocês duas — olho
ansiosamente para o armário de vinhos. Mas é apenas meio-dia
e devemos sair em uma hora.
— Desculpe, mas o Jack é muito gostoso para toda essa
bobagem de apenas amigos — Gemma cutuca Harley para o
lado para que possam compartilhar a tela.
— Se ele é muito gostoso para apenas amigos, então como é
que você é apenas amiga dele? Por que sou apenas amiga de
Nick? — subo as escadas correndo para terminar de fazer as
malas enquanto conversamos.
— Ah, você acha que meu homem é gostoso?
— Nick praticamente tem o “meu tipo” estampado na testa.
Se ele não fosse tão legal, seria melhor. — apoiando meu
telefone em meus travesseiros, eu os forço a me ver dobrar
minhas roupas e guardá-las em minha bolsa de noite. — Que é
apenas outra razão pela qual toda essa coisa de Jack é apenas
uma bobeira.
Gemma levanta e desce as sobrancelhas.
— Então é este o fim de semana que você transa?
— Vocês são terríveis, e eu vou desligar agora. Me envie uma
mensagem se tiver algum problema de entrega. Amo vocês,
tchau!
Eu encerro a ligação antes que elas possam falar mais.
Termino de fazer as malas, jogando principalmente roupas
de descanso na minha bolsa, mas também colocando uma
roupa decente no caso de acabarmos saindo para jantar ou algo
assim. Hum. Jack e eu saindo para jantar. Apenas nós dois.
Minha mente divaga para imaginar como seria ir a um
encontro com Jack, mas volta quando o próprio homem chama
meu nome do pé da escada.
— Tô indo! — Coloco meu iPad, laptop e carregadores e
fecho minha bolsa antes de descer os degraus. Na cozinha,
levanto a sacola reutilizável que enchi de salgadinhos, mas assim
que ela cai no meu ombro, Jack a pega de mim.
Ele espia dentro da bolsa, remexendo para ver o que eu
trouxe.
— Você sabe que é uma viagem de duas ou três horas no
máximo, certo?
— Você nunca pode ter muitos lanches. Além disso, eles
têm que durar o fim de semana inteiro. Eu me recuso a ter
vergonha de levar um lanche.
— Southport tem mercados — Jack levanta a bolsa sobre o
braço, apontando para a porta da frente.
Nós vamos para a varanda da frente, Jack fechando atrás de
nós. Ele estacionou seu SUV compacto alugado na frente da
casa, e jogamos nossas malas no banco de trás. Eu
definitivamente vasculho a sacola de lanches em busca dos
ursinhos de gelatina antes de subir no banco do passageiro e
colocar o cinto de segurança.
Jack olha para mim com um sorriso tímido.
— Pronta?
— Prontinha.
Demorou cerca de cinco minutos apenas sentado e ouvindo
a estranha música emo no carro antes de ter que pegar meu
telefone e fazer alguma coisa. Aproveito o tempo para
responder alguns e-mails e DMs, bem como comentar e curtir
as fotos do Instagram de alguns floristas locais. Eu me pergunto
se chegará um dia em que pensarei em mim como uma florista.
No momento, sou uma barman que faz alguns arranjos florais
ao lado. E sim, as coisas estão melhorando para Bridge e Blooms,
mas ainda tenho um longo caminho a percorrer.
Assim que entramos na rodovia, tenho que guardar meu
telefone porque corro o risco de ficar enjoada. Eu inclino
minha cabeça para trás contra o encosto de cabeça e fecho meus
olhos, mantendo minha respiração estável para que meu
estômago fique calmo.
— Sadie…
Uma mão quente aperta minha coxa e eu pulo.
Levo um minuto para descobrir onde estou, ainda no banco
da frente do carro de Jack. Embora o carro não esteja mais em
movimento e não esteja mais no estado de Nova York.
Eu empurro meus óculos de sol em cima da minha cabeça e
esfrego meus olhos.
— Merda. O que aconteceu?
Jack sorri, abrindo o cinto de segurança.
— Você dormiu. Chegamos.
Eu sutilmente verifico meu queixo em busca de qualquer
sinal de baba, mas felizmente minha pele parece estar seca.
— Você me deixou dormir o caminho todo?
Ele abre a porta.
— Você apagou. Achei melhor deixar você descansar.
Soltando meu próprio cinto de segurança e abrindo a porta,
praticamente caio do carro, meus músculos estão tão rígidos. É
de tarde, ainda faltam algumas horas para o sol se pôr. A luz
dourada reflete na água à nossa frente e meu queixo cai. A casa
fica bem na enseada, uma grande extensão de azul ondulando
diante de nós.
— Puta merda — eu me viro para observar a própria casa.
— Puta merda.
Uma coisa é certa: a família Thomas tem um talento especial
para o mercado imobiliário. A casa — a mansão? — é enorme,
e toda de madeira cinza envelhecida e acabamentos brancos é
exatamente o que eu fantasiava se algum dia quisesse viver uma
vida suburbana em Connecticut.
Com base em suas viagens desde que me mudei, Jack só vem
aqui a cada dois meses, mas o jardim da frente é
impecavelmente cuidado. Roseiras perfeitamente cuidadas
revestem a passarela de ardósia e explosões de plantas perenes
enchem os canteiros de flores ao redor da própria casa. O
gramado é exuberante e verde, e meu californiano interior
praticamente morre pensando em quanta água deve ser
necessária para mantê-lo em perfeitas condições.
Jack está um pouco atrás de mim, segurando todas as nossas
malas.
— O que você acha?
Eu pego minha bolsa dele, ignorando seu protesto.
— Eu acho lindo pra caralho.
Ele me cutuca para frente, e seguimos pelo caminho até a
porta turquesa da frente.
Eu suspiro com saudade.
— Eu amo uma porta brilhante.
— Você mencionou — Jack coloca sua bolsa no chão para
poder destrancar a porta e abri-la.
— Isso vai ser uma experiência orgástica repetida? — as
palavras saem um pouco mais ofegantes do que eu pretendia,
mas eu atribuo isso à combinação de apenas acordar e um
jardim digno de uma revista.
Jack olha para mim, suas pupilas dilatadas, e ele engole em
seco.
— Oi?
— Como a primeira vez que você me mostrou o
brownstone? — eu dou a ele um pequeno sorriso perverso. —
Estou pronta para outra pitada de pornografia imobiliária?
— Ah — ele pigarreia, pega sua bolsa e me deixa para trás na
porta.
Rindo para mim mesma, eu o sigo, me preparando para ter
minha mente explodida mais uma vez.
E a casa é alucinante. Quero dizer, dado o seu tamanho e
localização, seria difícil não ser. Mas também parece que não é
reformada há pelo menos vinte anos. O que, considerando
quanto tempo se passou desde que os pais de Jack faleceram,
faz sentido.
Mas, embora os móveis e utensílios estejam antigos, tudo
está limpo e em perfeitas condições.
Largando minha bolsa ao pé da escada, sigo para os fundos
da casa. Nem deveria ser possível, mas o quintal também dá
para a água. Eu olho para Jack com uma pergunta em meus
olhos.
Ele dá de ombros.
— Existem algumas casas com vista para a enseada na frente
e atrás.
Eu faço um pouco de matemática mental sobre o que duas
vistas à beira-mar devem custar, mas então eu paro porque não
quero desmaiar.
Eu me dirijo para a sala principal, que é ancorada por um
enorme corte cinza empilhado com travesseiros em vários tons
de azul. Uma TV do tamanho da minha cama está pendurada
na parede oposta, sobre uma lareira de tijolos cinza. À esquerda
da sala de estar há uma parede inteira feita de vidro, a luz do sol
brilhando na água como diamantes. As paredes são todas de um
creme suave, sem nada pendurado nelas, embora eu perceba
várias manchas de tinta ligeiramente descoloridas, como as
fotos e obras de arte que uma vez penduradas lá foram todas
removidas. Eu franzo a testa um pouco para mim. Eu esperava
alguns retratos de família, qualquer coisa que me desse um
vislumbre da infância de Jack.
Jack sai da cozinha, onde ele escondeu todos os lanches da
viagem que eu nunca tive a chance de abrir.
— Pronta para ver o seu quarto?
— Com certeza sim. Vá na frente.
Ele me leva para cima e pelo corredor até o último cômodo
nos fundos da casa.
— Este é o meu quartos de hóspedes favorito.
Porque há mais de um quarto de hóspedes. Obviamente.
Abrindo a porta, eu imediatamente parei.
— Seria rude da minha parte perguntar se eu poderia me
mudar para cá em vez de morar no brownstone?
Jack ri baixinho e me cutuca ainda mais no espaço.
Os pisos de madeira são suavizados com um tapete branco
de pelúcia. A cama é maior do que qualquer outra em que
minha bunda já teve o privilégio de estar, vestida com lençóis
brancos supermacios e montes de travesseiros. As portas
francesas abrem para uma varanda com vista para a água, mas
quando eu entro completamente na sala, minha atenção não se
prende à vista matadora.
Em vez disso, vou até o pé da cama, deixando cair minha
bolsa e olhando para a pintura pendurada na cabeceira. É tão
detalhado que quase poderia passar por uma fotografia; na
verdade, tenho que apertar os olhos para ter certeza de que é
realmente uma pintura. É uma cena de praia, semelhante à do
lado de fora das janelas. A areia parece que eu poderia enfiar a
mão e pegá-la, deixá-la escorrer por entre meus dedos. As
facetas da água capturam todos os tons de azul. Mas o que
realmente me chama a atenção são as três figuras caminhando
pela praia, pés na água, mãos dadas. No meio está um
garotinho, provavelmente com cerca de seis ou sete anos, com
cachos escuros e olhos verdes brilhantes. A mulher à sua
esquerda tem cachos combinando, o homem com os mesmos
olhos esmeralda.
Minha respiração engata no meu peito. Eu posso sentir o
peso e o calor dele enquanto ele se move para ficar atrás de mim.
— É lindo.
— Era o preferido da minha mãe.
— Eu posso ver o porquê — alcançando para trás, encontro
sua mão, colocando a minha em seu aperto. — Tem certeza de
que quer que eu fique aqui?
— Sim — seus dedos apertam os meus.
Ficamos ali em silêncio por alguns minutos. Não consigo
tirar os olhos da obra de arte, mas o olhar de Jack oscila entre
mim e a pintura.
Ele quebra o feitiço primeiro.
— Que tal um mergulho?
Concordo com a cabeça, não tenho certeza se posso formar
palavras reais agora. Isso é muito. Estar aqui, nesta sala, vendo
os pais de Jack, vendo a casa em que ele cresceu. Este pedaço de
sua alma. Tudo pesa no meu peito, e fico grata quando ele se
afasta para me deixar trocar de roupa, dizendo que vai me
encontrar lá embaixo.
Eu finalmente arranco meus olhos da pintura, rapidamente
coloco meu maiô e jogo uma camiseta-vestido sobre ele.
Deslizando meus pés em chinelos, puxo meu cabelo em um
rabo de cavalo e desço as escadas.
Jack já está esperando por mim apenas de roupa de banho, e
estou feliz que não seja a primeira vez que o vejo sem camisa,
porque a sobrecarga de sentimentos pode me levar a algum tipo
de combustão espontânea. Ele tem duas toalhas debaixo do
braço. Ele estende a outra, e eu deslizo minha mão na dele.
Estou dizendo a mim mesma que todo esse contato físico
pode ser atribuído ao influxo de emoções de estar aqui, neste
espaço, e Jack precisa de meus cuidados e amizade.
Na realidade, eu realmente gosto do jeito que a mão dele
envolve a minha. É protetor e de suporte, e o simples roçar de
sua pele aquece todo o meu corpo.
Jack joga nossas toalhas em uma espreguiçadeira no pátio de
concreto em os fundos da casa.
— Você provavelmente vai querer deixar seus sapatos e
vestido aqui. Por que às vezes a maré sobe rápido.
Eu tiro meus chinelos e puxo o vestido sobre minha cabeça.
Os olhos de Jack me acompanham da ponta dos pés até o
topo do meu rabo de cavalo bagunçado, um sorriso caloroso
iluminando seu olhar.
Mas ele não diz nada, apenas oferece a mão novamente, me
levando por um pequeno conjunto de degraus de pedra até a
praia. A praia em si é uma fina faixa de areia, insuficiente para
se deitar ou fazer um piquenique, e como há apenas algumas
outras casas por perto, ela está vazia.
Entramos até a cintura, a água fria é um pouco cortante, mas
o sol da tarde ainda está quente, e o frio ajuda a me trazer de
volta aos meus sentidos. Um pouco pelo menos.
Jack deixou os óculos em casa, então, pela primeira vez,
minha visão de seus olhos está completamente desobstruída.
Presto atenção na maneira como eles mudam de cor com base
no tópico em questão, como uma espécie de anel de humor
permanente.
Por um tempo, conversamos sobre nada. Fofocas sobre
Bravo, como vão os negócios, se Jack precisa atualizar para a
edição mais recente de algum videogame.
Mas então o silêncio cai quando o sol começa a se pôr. Um
pouco de frio esfria o ar, causando arrepios ao longo dos meus
braços.
Jack passa um dedo do meu ombro até onde a água encontra
minhas mãos, sem fazer nada para ajudar a situação toda
arrepiada.
— Você quer voltar para dentro?
Balançando a cabeça, cruzo os braços em volta de mim para
trazer um pouco de calor.
— Está muito bonito para sair agora.
— Você deveria ver o nascer do sol.
— Acho que vou no sábado — eu faço uma nota mental
para me deixar bastante tempo pela manhã para realmente
apreciá-lo e aproveitá-lo antes de correr para pegar o trem. —
Como foi crescer aqui?
Jack desliza as mãos sobre a água, fazendo pequenas
ondulações circularem ao nosso redor.
— Sinceramente, na época eu meio que odiava.
— Sério? — não consigo imaginar Jack odiando nada,
muito menos algo tão bonito.
— Estamos muito isolados aqui, e era sempre uma longa
viagem para chegar à casa dos meus amigos. Sou filho único,
então muitas vezes me senti meio sozinho. Eu tive que
encontrar maneiras de me ocupar, me manter entretido — ele
encolhe os ombros e um pequeno sorriso começa no canto de
seus lábios. — Mas agora só penso nas partes boas. Verões na
praia, churrasco com meu pai e biscoitos com minha mãe.
— Engraçado como a memória funciona dessa maneira.
Tento não pensar em como minhas próprias memórias são
o balanço oposto do pêndulo. Tenho certeza de que houve
bons momentos, experiências positivas, em algum lugar da
minha infância, mas nenhum deles pareceu durar. Em vez
disso, meu cérebro se concentra no refrão constante singular
Você nunca será suficiente. Na maioria das vezes, encaixotei os
ditos refrões negativos, guardei-os em um canto da minha
mente, mas de vez em quando eles saltam para mim. Como
toda vez que começo a pensar em levar as coisas adiante com
Jack.
Você nunca será suficiente.
— Estou muito feliz por você estar aqui, Sadie — as palavras
são ditas tão suavemente que, se não estivéssemos apenas a
alguns centímetros de distância, acho que não as teria ouvido.
E eles se opõem tanto ao meu diálogo interno que quase os
ignoro.
Mas eu não o faço, e eles afugentam qualquer traço de frieza,
empurram as palavras ofensivas para um canto do meu cérebro.
— Eu também.
A tempo voltamos ao pátio, o sol começou a se pôr, o céu
ficando um azul profundo que se confunde com a água da
enseada. Há um frio no ar agora, um que eu não esperava, e eu
estremeço quando passo minha grande camiseta sobre minha
cabeça. Não me aquece em nada, então meio que corro de volta
para casa, já sonhando com um banho quente e meu pijama.
— Eu ia cozinhar um pouco de macarrão para o jantar, tudo
bem? — Jack liga o interruptor ao lado da lareira antes de ir para
a cozinha.
— Espere, você quer me dizer que só agora eu descobri que
você sabe cozinhar? — Eu paro na parte inferior da escada,
apenas o tempo suficiente para eu olhar para ele por ter me
escondido isso.
— Só macarrão. Esse é o meu único prato que eu sei fazer —
ele enfiou a toalha em volta da cintura, e de alguma forma eu
não consigo parar de olhar para seu peitoral e seu punhado de
cabelo. O conhecimento que descia até o cós de seu traje de
banho.
— Sempre estou afim de massa. Tudo bem se eu tomar
banho? — Eu realmente preciso de um banho frio neste
momento.
— É claro. Vou tomar um banho enquanto isso — ele acena
para mim e se retira para a cozinha.
Subindo as escadas e entrando no meu quarto, pego minha
necessaire e pijama antes de verificar como é o banheiro.
Embora não seja muito grande, há uma banheira de bom
tamanho na qual fico tentada a usar, mas até eu sei que massa
não demora tanto para cozinhar e não quero deixar Jack
esperando. Enrolo meu cabelo em um coque para não molhar
e tomo um banho rápido (mas bem quente). Visto um short de
algodão macio e uma camiseta velha, desejando ter trazido algo
um pouco mais quente para usar à noite, mas acho que a
combinação vinho e lareira deve ser capaz de cuidar disso.
Jack ainda está na cozinha quando desço. Ele trocou de
roupa e, pela aparência de seu cabelo úmido, também tomou
um banho rápido. Ele está vestindo uma camiseta branca justa
e calças de pijama de flanela que estão fazendo... coisas... para
sua visão traseira. Boas coisas.
Ele gesticula para uma taça cheia de vinho na ilha da
cozinha.
— Achei que você iria querer um pouco disso.
— Você me conhece tão bem — deslizando para o assento
em frente ao vinho, tomo um grande gole.
Ele aponta para a cadeira ao meu lado.
— Eu também trouxe isso. Não tenho certeza se você se
lembrou de trazer um moletom.
Eu viro para a minha direita. Um moletom azul marinho
com o escudo do Capitão América está em cima das costas do
banquinho. Eu imediatamente o puxo sobre minha cabeça,
saboreando seu calor e maciez instantâneos.
— Sabe, em algumas culturas, dar a uma mulher seu
moletom equivale a um pedido de casamento.
Jack mexe algo em uma panela grande posicionada em uma
das oito bocas do fogão do outro lado da enorme ilha.
— Essas culturas consistiram principalmente por alunos do
ensino médio?
— Talvez — enfio as mãos nas mangas, puxando-me mais
para o calor do algodão, na esperança de disfarçar a grande
inalação que tomo para respirar o cheiro embutido no tecido.
Café e papel. — Eu espero que você saiba que eu nunca vou te
devolver isso.
O canto de sua boca se contrai.
— Você está planejando andar pelo Brooklyn com um
moletom do Capitão América?
— Dificilmente. Nunca mais verá a luz do dia — eu falo
como uma supervilã do mal.
Ele desliga o fogo e joga o macarrão em uma peneira.
— Isso provavelmente não vai surpreendê-la, mas eu tenho
muitos moletons, então você pode ficar com esse.
— Bem, isso tira toda a diversão, então, não é?
— Então você vai devolver?
— Lógico que não — eu já sei que estarei pateticamente me
enrolando nele na próxima vez que Jack sair da cidade e me
deixar no brownstone para me defender sozinha.
Jack despeja o macarrão de volta na panela, coloca um
pouco de molho e mexe tudo algumas vezes. Ele coloca duas
porções em pratos separados, entregando-me um antes de
colocar o outro na frente do assento ao meu lado. Depois de
encher nossas duas taças de vinho, ele desliza para o banquinho.
Eu seguro meu copo.
— Obrigado por cozinhar.
Ele bate o dele contra o meu.
— Eu cozinharia a qualquer hora, mas sei que você vai
entender isso literalmente, então não vou entrar nisso.
— Você aprende rápido — enfio uma garfada de macarrão
na boca, sem saber o que esperar de um homem que em
nenhum momento nos últimos quatro meses foi visto em pé na
frente do nosso fogão. — Porra. Isso é realmente muito bom.
— Você duvidou de mim?
— Sim? — ou outra mordida. — Sim, você nunca deveria
ter feito isso para mim. Vou exigir esta refeição pelo menos uma
vez por semana a partir de agora.
Jack ri e toma um gole de vinho.
— E com que frequência você vai cozinhar?
Eu enfio outra mordida enorme na minha boca para evitar
responder.
— Pelo menos meus amigos vêm e cozinham — eu digo um
minuto depois.
— Verdade.
Terminamos a refeição em um silêncio quase sociável, além
de minhas explosões de “Droga, isso é bom” e “Você realmente
precisa cozinhar mais” espalhadas durante a refeição. Quando
terminamos, levo nossos pratos para a pia e os lavo antes de
colocá-los na máquina de lavar louça.
Eu giro para trás e encontro os olhos de Jack. Ele está me
observando com uma intensidade que sinto no fundo do meu
ser. Acende uma faísca na minha barriga, pegando fogo quando
ele me dá um sorriso lento. A faísca viaja para o sul.
— Você já quer ir dormir ou quer assistir a um filme? —
Jack se levanta e se espreguiça, sua camiseta subindo e revelando
apenas uma pontada de sua barriga.
— Você está me pedindo para ver Netflix e relaxar2? — a
pergunta sai antes que eu possa censurar minha língua solta
pelo vinho. E sejamos realistas, minha língua não precisa de
ajuda para se soltar. O que é um visual estranho depois de
perguntar a alguém se eles querem Netflix e relaxar. E graças a
Deus esses pensamentos estão ficando na minha cabeça. — Um
filme parece ótimo. — Algo sangrento e nojento. O que me
levará a me voltar para Jack enquanto grito de medo. — Ou
talvez algo idiota e engraçado. Sim. Idiota. Engraçado.

2
Eufemismo para atividades sexuais.
Como eu!
Jack nem tenta conter o riso.
— Mais vinho antes de sentarmos no sofá?
Isso provavelmente seria uma má ideia.
— Sim, por favor — estendo meu copo para reabastecer.
Seguimos para a sala de estar e sento no meu lugar de sempre
no canto do sofá. Percebi que o canto é de longe o melhor
assento em uma sofá, e não escapou da minha atenção que Jack
sempre me deixa ficar com ele. Ou que eu sempre tomo.
Eu coloco meu vinho na mesa lateral e enrolo um cobertor
macio em volta das minhas pernas. Não estou realmente com
frio, mas preciso de uma camada extra de proteção entre mim e
esses sentimentos.
Eca. Sentimentos.
Era mais fácil quando Jack estava na dele e silencioso e eu
podia fingir que éramos apenas colegas de quarto e não havia
nada entre nós.
Agora ele ainda está na dele, mas também sorridente e um
pouco menos silencioso, e está ficando cada vez mais difícil
fingir que esses formigamentos, como o fogo queimando
constantemente em meu estômago, como as palpitações em
meu peito, não têm nada a ver com o que quer que tenha
acontecido.
Mas mesmo que eu o pegue me observando de vez em
quando, mesmo que ele faça todas essas coisas inegavelmente
doces para mim, ainda há um muro constante em torno de Jack
Thomas. Eu nem comecei a quebrar todas as suas camadas.
E ele nunca insinuou qualquer tipo de interesse por mim,
afinal por que um homem com a bondade de Jack se
interessaria por mim?
Então eu provavelmente deveria ignorar esses
formigamentos e palpitações antes que eu estrague tudo e perca
a melhor situação de vida que já tive.
Jack se joga no sofá, não no extremo oposto como ele faz em
casa, mas ainda deixando vários metros de espaço entre nós.
Notavelmente, ele coloca o braço sobre o encosto do sofá.
Ainda não chega perto de me tocar, mas está quase.
Oh meu Deus. Eu sou péssima nisso.
OK. Bloqueando. Agora. Abafe esse fogo interior antes que
me queime.
Pego o controle remoto da mesa de centro. Ligo a TV, abro
o Netflix e procuro por As patricinhas de Beverly Hills.
— Tudo bem colocar esse? — eu sei que ele não vai dizer
não. Também sei que é o tipo de filme que ele odeia.
— Ok. Faz tempo que não vejo isso — ele levanta uma
sobrancelha para mim, como se pudesse ver dentro da minha
cabeça e soubesse o que estou fazendo.
Mas a piada é dele, porque nem eu sei o que estou fazendo.
Pela primeira vez em muito tempo, não me preocupo em
definir o alarme do meu telefone. A música “9 to 5” de Dolly
Parton permanece silenciosa e, em vez disso, acordo com a luz
do sol entrando pelas portas francesas, apesar das finas cortinas
brancas cobrindo as janelas. Tudo o que tenho a fazer é virar de
lado e posso ver a água ondulante da enseada lá fora. Eu pulo
para fora da cama por um segundo rápido para abrir as cortinas
antes de me esconder sob a colcha macia.
Eu não dormi com o moletom, embora eu com certeza
tenha pensado nisso. E posso ou não tê-lo trazido para a cama
comigo. Pode ou não estar debaixo do meu travesseiro.
Eu posso ou não estar perdendo a cabeça agora.
Não sei o que aconteceu comigo nos últimos meses, mas
nunca estive pensando tanto em um homem antes. Ok, talvez
“pensar” seja uma palavra forte para isso, mas definitivamente
há algo mexendo dentro do meu cérebro — e do meu coração
— isso é desconhecido e perturbador. Eu nunca estive em um
relacionamento, nunca senti a necessidade de um cara por mais
de uma ou duas noites. Eu tenho os melhores amigos do
mundo inteiro. Sempre tive um trabalho no qual era boa. E
nunca tive problemas para me dar prazer quando queria —
com um participante disposto ou um amigo movido a bateria.
Por que eu iria querer que isso mudasse?
Aí entra Jack Thomas com sua casa perfeita e sorriso
encantador e coração inegavelmente puro, e de repente há
coisas acontecendo dentro do meu corpo que eu simplesmente
não sei o que fazer. A luxúria está lá, o que é muito bom. Mas
não posso simplesmente perguntar ao meu colega de quarto se
ele quer transar, por que então o que acontece depois?
Ou, o que acontece se ele disser não?
E, tipo, não tenho certeza se quero transar com ele e pronto.
Essa é a sensação mais estranha de todas. Às vezes, quando me
deito sozinha na cama, penso em Jack deitado ao meu lado.
Não pré ou pós-coito, apenas deitado lá. Comigo. Às vezes
minha cabeça está descansando em seu peito, suas mãos
correndo pelo meu cabelo. Às vezes meus dedos traçam
pequenos padrões de flores em sua barriga. Às vezes a gente
conversa. E às vezes nós apenas apreciamos a conexão entre nós.
Eu deveria querer fazer com que esses sentimentos
parassem, desligá-los como uma torneira quando a banheira
está prestes a transbordar. Mas na verdade não quero fazer isso,
apenas sinto que deveria.
Eu me estico na cama, movendo meus braços em uma
grande estrela, alcançando meus dedos das mãos e pés o mais
longe possível nos cantos do colchão.
Então eu enterro minha cabeça no meu travesseiro, dando
uma última cheirada no moletom, antes de me levantar da cama
e descer as escadas. A casa está silenciosa e não vejo Jack quando
chego à cozinha, precisando de café como sempre.
Jack não está em lugar nenhum, mas há um latte gelado de
baunilha e um saco de papel no balcão com um bilhete.
Tive que ir até a cidade para falar com algumas pessoas, mas
não vou demorar. Sinta-se em casa, me mande uma mensagem
se precisar de alguma coisa. — Jack
Viu? Está vendo isso aqui? Essas merdas de namorado de
outro nível?
Sim. Isso não está ajudando.
Ainda assim, engulo metade do café com leite em um gole,
tirando um croissant da sacola e o comendo. Enquanto como,
mando uma mensagem para Harley e Gemma, certificando-me
de que estão saindo para as entregas, embora eu saiba que
nunca me decepcionariam porque são gentis, generosas e
altruístas, ao contrário de mim.
Harley me responde com uma série de fotos, uma de cada
arranjo que está entregando, na frente do endereço em que foi
entregue. Gemma envia de volta uma selfie onde ela se flagrou
revirando os olhos.

EU: Eu amo muito vocês. Harley, um pouco


mais, mas Gem, você também está lá em
cima. Bebidas e jantar por minha conta assim
que eu voltar!

HARLEY: Como vão as coisas?

EU: Bem. Esta casa é uma loucura. Como o


brownstone, mas maior e com vista para o
mar.

GEMMA: Vocês já transaram?


EU: Sério? Nós não estamos transando.

GEMMA: Mas você quer.

GEMMA: Não se preocupe em mentir porque


nós sabemos. Então apenas admita. Você
quer transar com Jack.

Eu não respondo por um minuto, tomando um longo gole


do meu café e, em seguida, mastigo meu lábio antes de
finalmente criar coragem para digitar as palavras reais.

EU: Ok, tudo bem. Eu quero transar com Jack.

Um monte de GIFs está aparecendo na minha tela. Felizes


dançarinas da Harley, e obscenas da Gemma.

EU: MAS.

EU: Não vou. Eu não quero estragar isso.

GEMMA: “Isso” é a sua situação de vida?

EU: Sim.

HARLEY: Ou “isso” seria sua chance de um


relacionamento real que inclua não apenas
sexo, mas também carinho genuíno pela outra
pessoa?

EU: Sim, talvez isso também.

GEMMA: Eu literalmente parei no meio do


caminho. Você está tentando dizer que
realmente gosta dele?
GEMMA: Não quero dizer que soe como se
você não devesse, porque você totalmente
deveria.

HARLEY: Eu acho que é uma surpresa que


você esteja disposta a admitir isso.

EU: Só por mensagem. E só para vocês duas.

Nenhuma delas responde, e nenhum pequeno balão de


digitação aparece. O que me leva a acreditar que agora elas
juntaram forças na sala de estar e estão tramando uma contra
mim. Vadias.

HARLEY: Você deveria falar com ele. Eu sinto


que há uma boa chance de ele se sentir da
mesma maneira.

GEMA: Sim. Isso.

EU: Eu não sei o que ele vai achar.

EU: E isso não é algo depreciativo. É legítimo,


eu não sei se ele gosta de mim.

EU: Deus. Cheguei aos 28 sem nunca ter tido


esse sentimento.

EU: É assim que é ser uma adolescente? Não é


à toa que eles são horríveis.

GEMMA: Bem-vindo ao meu mundo.

HARLEY: Se dê um tempo. Você não precisa


fazer nada agora.
GEMMA: Além de viver com o cara gostoso
com quem você está se apaixonando.

EU: E falando nisso, estou indo para a praia.

GEMMA: Não acredito que tivemos que


acordar de madrugada para que você
pudesse passar o dia na praia.

Envio a elas um GIF de beijos e termino o último gole do


meu café com leite. Jogando meu copo na lixeira, saio da
cozinha em busca de um banheiro neste andar para me salvar
de ter que subir as escadas. O corredor atrás da cozinha é
comprido e salpicado de portas fechadas. Estou tentada a
espiar, mas até eu sei que isso é cruzar uma linha importante.
Então eu mostro uma quantidade enorme de contenção e não
abro nenhum, até chegar a um cuja porta já está parcialmente
entreaberta.
Supondo que seja o banheiro, eu entro e paro
imediatamente. Isso definitivamente não é um banheiro. A sala
é ampla e revestida com painéis de madeira escura. Há uma
parede inteira de estantes embutidas e uma mesa enorme
domina o centro do espaço. É um estudo muito masculino, e
muito não-Jack. Obviamente, a sala pertencia a um de seus pais,
provavelmente seu pai, se estamos sendo estereotipados sobre
isso, e parece errado estar aqui.
Estou girando nos calcanhares para sair de lá quando algo
chama minha atenção. Além da pintura pendurada acima da
minha cama, o que vi da casa é completamente desprovido de
fotos ou obras de arte. Mas pendurada na parede à minha
direita está outra obra-prima e é um assunto familiar. Dando
alguns passos mais perto, deixei meus olhos absorverem todos
os detalhes, tudo, desde o portão de ferro até a porta da frente
vermelha brilhante. É um reflexo perfeito do brownstone. O
brownstone marrom de Jack.
Nosso Lar.
Eu o encaro pelo que parece uma hora, mas provavelmente
são apenas alguns minutos. Quando me afasto, saio do
escritório, deixando a porta na posição exata em que a
encontrei.

Quando Jack volta algumas horas depois, ele me encontra em


uma espreguiçadeira no pátio dos fundos, uma taça gelada de
sauvignon blanc em uma mão e meu telefone na outra.
— Estou oficialmente vivendo minha melhor vida —
declaro quando ele se senta na cadeira ao lado da minha.
Ele me dá aquele sorriso confuso dele.
— Parece que sim. Presumo que você conseguiu encontrar
tudo o que precisava?
Eu empurro meus óculos de sol para o topo da minha cabeça
para que eu possa olhar para ele desimpedido.
— Sim. Obrigada pelo café e a comida.
Ele dá de ombros como se não tivesse feito todo o possível
por mim.
— Não há máquina de café expresso aqui, e eu sei como
você é sensível sobre seus lattes.
— Você fez todas as suas tarefas? — mantendo meus olhos
treinados nele, eu inclino minha cabeça para trás contra a
espreguiçadeira acolchoada.
— Sim — ele enfia as mãos nos bolsos da calça jeans. Porque
é claro que ele não troca seu uniforme diário, apesar de ser um
lindo dia de verão.
— Tudo bem?
Espero que ele me dê uma resposta padrão de Jack. Leia: um
sem qualquer tipo de emoção ou contexto por trás dele. Mas
ele me surpreende.
— Não sei se consigo, Sade.
Eu me viro de lado, então todo o meu corpo está inclinado
em sua direção.
— Consegue o que?
— Vender esta casa — ele joga a cabeça para trás contra a
cadeira, mas depois se vira para olhar para mim. Mesmo que
seus olhos estejam escondidos atrás das lentes dos óculos, posso
ver a tristeza, o peso neles.
— Ok, vou fazer uma pergunta rude, o que obviamente
nunca me impediu no passado, mas quero que você fique alerta
porque sei como isso vai soar e gostaria que você se lembrasse
que sou sua amiga e me preocupo com você. Você como
pessoa.
Seus lábios se curvam um pouco.
— Ok. Estou um pouco apavorado agora, mas, por favor, vá
em frente.
Puxando meus joelhos para cima, coloco meus pés sob
minha bunda.
— Você precisa do dinheiro? É por isso que você acha que
deveria vender a casa? Porque você precisa, financeiramente
falando?
Ele nem mesmo se encolhe com a ousadia disso.
— Não. Eu não preciso do dinheiro. Isso realmente não tem
nada a ver com isso.
Eu quero estender a mão e tocá-lo, fechar este espaço físico
entre nós na esperança de acabar com a divisão emocional junto
com ele. Mas, exceto subir em sua cadeira, não há maneira
elegante de fazer isso. Então eu fico parada, mas mantenho
meus olhos fixos nos dele.
— Então por que agora?
Ele fica quieto por um minuto, mas parece diferente do
silêncio normal de Jack. Ele não está evitando a pergunta,
apenas pensando no que quer dizer. Finalmente, ele respira
fundo, deixando o ar escapar lentamente antes de começar a
falar.
— Eu tinha vinte e três anos. Quando eles morreram.
Embora eu já fosse um adulto e morasse no brownstone por
alguns anos, eu dependia muito deles. Orientação de carreira.
Conselho financeiro. Amor e apoio. Eles eram meus melhores
amigos. Não tenho nenhum familiar, então depois do acidente,
ficou só eu. Tudo por minha conta — ele desvia o olhar do
meu, como se não quisesse ver minha reação a esta próxima
parte. — E eu simplesmente congelei. Como se eu estivesse
neste bloco de gelo, preso neste momento no tempo. Eu não
sabia o que fazer sem eles. Ou como ser. Como crescer. Como
seguir em frente.
Foda-se. Eu saio da minha cadeira e sento no pé da dele. Ele
puxa as pernas para cima e ficou sentado de pernas cruzadas, e
eu faço o mesmo. Nossos joelhos se pressionam, e eu pego uma
de suas mãos.
— Quando descongelei, tomei muitas decisões ruins. Gastei
muito dinheiro, bebi demais, fiz uma tonelada de sexo sem
sentido.
Uau. Não estou adorando ouvir sobre essa parte, mas tento
manter minhas feições neutras, sabendo que está custando algo
a ele revelar tudo isso para mim.
— Não tenho certeza de como saí dessa, honestamente, mas
acho que provavelmente foi apenas a ideia de como meus pais
ficariam desapontados se pudessem ver o que eu estava fazendo
comigo mesmo. Então, depois de alguns anos difíceis, Eu parei
de fazer essas coisas e terminei de pagar o brownstone, e
enquanto eu não estava completamente congelado de novo, eu
estava vivendo neste mundo estranho em um estado de fuga.
Como se eu estivesse chapado o tempo todo. As únicas pessoas
com quem conversei foram pessoas on-line, pessoas aleatórias
ou empregados. — ele limpa a garganta. — Estou vazio por
dentro há muito tempo.
Ele pega nossas mãos unidas, passando o polegar sobre meus
dedos.
Meu peito dói quando penso em Jack sozinho e com dor,
sem ninguém a quem recorrer em busca de apoio.
— Você ainda se sente vazio?
Ele finalmente encontra meu olhar mais uma vez.
— Não mais, não.
— Como você saiu disso?
Seu rosto se abre em meu sorriso favorito, aquele que enruga
os cantos de seus olhos.
— Meu terapeuta recomendou que eu procurasse um
colega de quarto.
— Ah — a admissão é um soco direto no coração, e
qualquer pequena ilusão que eu tenha deixado sobre meus
sentimentos por Jack explode completamente como um balão
cheio de confete.
Jack se inclina um pouco para trás, colocando algum espaço
entre nós, embora mantendo um aperto firme na minha mão.
— Posso não ser mais vazio, mas também não estou nem
perto de ser inteiro, Sadie. Eu ainda estou fodido e fechado de
várias maneiras. Ainda estou me recuperando.
— Oh — sua declaração se conecta diretamente com meus
pulmões, e a única palavra sai de mim como um suspiro suave.
Falando sobre delírios destruídos. Meu queixo cai no meu
peito, e eu olho para nossas mãos entrelaçadas. Quero dizer a
ele que está tudo bem e eu entendo, porque está tudo bem e eu
entendo, mas suas palavras parecem ter um propósito mais
pesado. Como se ele estivesse me decepcionando com gentileza
antes mesmo de eu ter a chance de dizer a ele como me sinto.
Como eu definitivamente estou me sentindo.
Ele segura minha bochecha em sua mão, gentilmente
puxando meus olhos de volta para os dele.
— Nossa amizade significa mais para mim do que eu jamais
poderia colocar em palavras, Sade. E eu não posso arriscar, não
importa o quanto eu queira. Eu nunca poderia ser o suficiente
para você.
Engulo em seco.
— Eu não deveria ter a chance de decidir isso por mim
mesma?
Ele suspira e, por meio segundo, acho que ele pode se
inclinar e me beijar. Em vez disso, ele me solta, deixando cair a
mão do meu rosto, soltando a minha mão na dele.
— Talvez. Provavelmente. Mas eu sou muito egoísta para
deixar você fazer isso.
Eu zombo da ironia de suas palavras e quero mais do que
tudo voltar para minha própria cadeira, mas não confio em
minhas pernas para me sustentar no momento presente.
— Acho que todos nós sabemos que eu sou a egoísta desse
grupo.
— Você não poderia estar mais errada sobre isso — ele
levanta a mão para impedir o protesto que sabe que está por vir.
— Me deixei ter este cargo.
Reviro os olhos, virando-me e empurrando-me
desajeitadamente da cadeira dele para a minha.
Por alguns minutos, ficamos sentados em silêncio, os olhos
grudados na água e no sol que se põe lentamente.
— Acho que você deveria ficar com a casa.
— Sim, eu também — ele puxa o telefone do bolso e digita
uma mensagem rápida. — Agendamento do corretor de
imóveis cancelado.
— Isso significa que você pode vir para casa comigo
amanhã? — eu tento não deixar a quantidade obscena de
esperança que tenho colorir minha pergunta. — Não é grande
coisa se você não puder, é claro, e você deve ficar se precisar. Ou
se quiser.
— Eu definitivamente posso voltar para casa com você
amanhã — seu telefone vibra, provavelmente o corretor de
imóveis ligando para implorar que ele mude de ideia. Jack se
levanta. — Eu tenho que atender isso.
Eu aceno e aceno para ele entrar.
— É claro.
Ele hesita por um segundo, como se houvesse algo mais que
ele quisesse dizer.
Mas não sei se consigo ouvir mais. Meu coração parece um
pula-pula vazio.
— Vá, antes que ele decida aparecer na porta da casa.
Jack faz uma careta, passando o dedo na tela do telefone para
aceitar a ligação enquanto entra pela porta dos fundos.
Volto minha atenção para o oceano, perdendo meu foco no
fluxo e refluxo das ondas.
Essa merda de coração partido é superestimada.
O próximo mês passa como se fosse um borrão de evitação.
Evitando Jack. Evitando abordar o enorme problema
emocional sentado entre nós no sofá todo domingo à noite —
a única vez que não saio do meu caminho para não ver seu
rosto. E com certeza evitando lidar com meus sentimentos.
Porque os sentimentos são estúpidos e, com certeza, se eu
simplesmente ignorá-los, eles irão embora.
É assim que essas coisas funcionam, certo?
Felizmente, os negócios na Bridge e Blooms estão crescendo.
Eu estava preocupada que os pedidos diminuiriam após o hype
nas mídias sociais, mas eles continuam chegando. Ainda
trabalho em meus turnos no bar, não estou pronta para desistir
da minha única fonte de renda segura ainda, mas todas as outras
horas restantes da semana, passei respondendo e-mails e mídias
sociais, comprando flores e tentando me manter a par sobre isso
e, na verdade, criando e entregando os próprios arranjos. E além
de exaustivo, há vários dias em que acho que não consigo dar
mais conta disso. Mas eu continuo empurrando e empurrando,
determinada a provar que sou capaz de algum tipo de sucesso.
Com medo de que tudo desapareça a qualquer minuto.
Ainda não aceitei e não contratei nenhum funcionário, mas
agora que Gemma voltou a dar aulas em tempo integral, acho
que vou ter que fazer isso. E mesmo que Jack nunca tenha
reclamado do jardim que sua cozinha se tornou, talvez seja hora
de começar a procurar um estúdio. Bridge e Blooms está a
caminho de superar seu espaço. Também provavelmente não
seria uma ideia terrível para mim ter algum espaço longe de
Jack.
Porque nos raros momentos em que nos cruzamos durante
a semana, só de vê-lo me deixa murcha como uma hortênsia
cortada do caule e deixada sem água.
E aos domingos, quando ainda reservamos o tempo que
dedicamos a ficar juntos, sinto seus olhos em mim, quase
implorando. Eu quero tanto saber o que aqueles olhos estão
tentando me dizer, mas eu sou muito covarde para realmente
olhar para eles e ver.
Jack desliga a TV em uma noite de domingo em meados de
setembro, ajeitando-se no sofá para olhar diretamente para
mim em vez de para a tela.
Fico bem encolhida no meu canto, um cobertor enrolado ao
meu redor como um conforto e um escudo.
A intensidade de seu olhar está me queimando, me
aquecendo de dentro para fora como se eu fosse uma panela de
barro em um forno. Só que o calor aumentou demais e estou
prestes a desmoronar.
— Sadie.
Sim. Meu nome saindo de sua boca não faz nada para
acalmar meu núcleo ardente.
Ele suspira quando eu não respondo, chegando mais perto
da minha ponta do sofá.
— Olha, eu entendo que essa merda está estranha agora, mas
você pode olhar para mim, por favor?
Aperto os lábios com tanta força que fico surpresa por eles
não se colarem. Mas consigo olhar para ele sem gritar ou cair no
choro, o que considero uma vitória.
— Tenho algo que quero te mostrar. Se estiver tudo bem —
ele se levanta e estende a mão.
Não aceito porque tenho certeza de que qualquer contato
pele a pele resultaria em combustão, mas me levanto do sofá e
faço um gesto para que ele me mostre o caminho.
Ele o faz, sem reconhecer minha mão esnobada, subindo as
escadas. Em vez de parar no segundo andar, ele continua até a
escada que leva ao nível superior do brownstone.
— Se você vai me dar uma biblioteca, você realmente não
prestou muita atenção — o comentário sai mais alto e
sarcástico do que pretendia.
Jack para no meio da escada e se vira para mim.
— Por que eu daria uma biblioteca para você?
— Estamos indo para a ala proibida — eu franzo minha testa
com a confusão em seu rosto. — Você realmente nunca viu A
Bela e a Fera ?
— Eu gostava de super-heróis — ele dá de ombros e
continua subindo as escadas.
Agora estou totalmente intrigada. Não tenho ideia do que
esperar deste misterioso terceiro andar, mas quando Jack abre a
porta e gesticula para que eu entre no espaço, ainda consigo
ficar total e completamente chocada.
O espaço não é tão grande quanto a área total do brownstone,
mas é bem perto. Ou seja, é enorme. E totalmente aberto. O
chão é de bordo lavado que você pode encontrar em um
estúdio de dança, as paredes de tijolos expostos e pontilhadas
com janelas grandes e arejadas. O teto é quebrado com duas
enormes clarabóias. Já está escuro lá fora, mas o espaço deve
estar absolutamente inundado de luz solar durante o dia.
— É incrível — minha atenção está focada apenas nas
clarabóias no momento, então não vejo o que Jack está
apontando a princípio, até que ele puxa meus olhos do teto.
— Espero que esse jeito funcione para você, mas se não,
podemos reorganizá-lo como você quiser — ele me leva até uma
grande ilha de cozinha, armários brancos simples e um tampo
de açougueiro, assim como temos lá embaixo.
Há também uma pia no canto com mais espaço no balcão e,
ao lado, duas grandes geladeiras, do tipo que você pode
encontrar em uma floricultura de verdade.
Finalmente começa a entender o que está acontecendo aqui.
Isto é para mim. Ele organizou este espaço para mim, Bridge e
Blooms. Eu corro minhas mãos ao longo da bancada de madeira
gasta, levando um minuto para me recompor. Emoções
incômodas giram em minha mente como um maldito
redemoinho e sou pega em sua atração.
— Você fez tudo isso por mim? — minhas palavras são
grossas com lágrimas não derramadas, e foda-se, eu daria
qualquer coisa para não chorar agora, como se deixar minhas
lágrimas saírem fosse o mesmo que me abrir e desnudar minha
alma. O que é meio que isso.
— Eu realmente não tive que fazer muito. O espaço estava
parado aqui sem uso — ele se aproxima de mim, fechando a
distância entre nós para apenas alguns metros. — Estou
tentado a fingir que queria minha cozinha de volta, mas nós
dois sabemos como me sinto sobre cozinhar.
Aprecio sua tentativa de humor, mas isso não me faz rir. Ou
até mesmo sorrir. É muito. É demais.
A umidade escorre pelo meu rosto, e eu nem tento impedir.
Não tenho certeza se conseguiria.
— Merda, Sadie. Porque você está chorando? Eu estraguei
tudo? — ele estende a mão e cobre uma das minhas.
Eu me afasto, sob o pretexto de precisar enxugar os olhos,
mas principalmente estou com medo do que seu toque gentil
fará comigo.
Ele vai até a pia no canto e volta com um maço de toalhas de
papel.
— Quer falar comigo, por favor? Seja o que for que eu
estraguei, prometo que farei o que puder para consertar.
Esfregar meus olhos com o papel áspero os deixa mais crus
do que já eram.
— Você não fez nada de errado — eu gesticulo impotente
para o espaço ao nosso redor. — Esta é a coisa mais legal,
perfeita e atenciosa que alguém já fez por mim.
Ele dá um passo de volta para o meu espaço, e desta vez eu
deixo. Tirando as toalhas de papel da minha mão, ele
gentilmente enxuga minhas últimas lágrimas perdidas com a
ponta dos polegares.
Eu me forço a olhar em seus olhos, grata quando os meus
próprios lacrimejam novamente, borrando essa visão perfeita
na minha frente.
— Eu não mereço você, Jack. Não como colega de quarto,
ou amigo, ou… — eu não termino o pensamento, mas termina
com eu com certeza não te mereço como nenhum tipo namorado.
— Por que você diria isso? — ele continua a limpar minhas
lágrimas que caem, seus polegares gentis na minha pele
esfolada.
— Porque eu sou uma idiota egoísta, e você é o tipo de
pessoa que faz isso — eu abro meus braços para abranger todo
o espaço — para alguém que você conhece há cinco meses —
eu sei quanto essas geladeiras custam, sem falar na logística de
comprá-las e montá-las no andar de cima da casa sem que eu
percebesse o que estava acontecendo.
Jack tira as mãos do meu rosto e dá um passo para trás.
— Por que você continua pensando o pior de si mesma,
Sadie?
— Não é pensar o pior se for verdade — sei que pareço uma
adolescente boba, mas não me importo. Minha reação à sua
generosidade serve apenas como mais uma prova de como sou
terrível.
— Não — ele cruza os braços sobre o peito e me encara. —
Eu não vou deixar você fazer isso — Por que você acha que é
uma idiota egoísta?
— Você viveu comigo por meses; Eu pensei que você já
tinha visto o suficiente por si mesmo agora — as emoções
avassaladoras, muitas delas do tipo feliz e positivo, mas também
culpa, confusão e constrangimento, estão começando a se
fundir em uma grande emoção: a raiva. A raiva é muito mais
fácil de lidar do que todos aqueles outros sentimentos
sapateando dentro do meu coração. Rejeição e insegurança e
inferioridade e auto-aversão.
Jack se recusa a ser intimidado pelo veneno que estou
pingando em minha voz.
— Me dê um exemplo.
Eu imito sua pose, braços cruzados desafiadoramente sobre
meu peito.
— Forcei meus amigos a trabalhar para mim de graça
durante metade do verão.
— Seus amigos são adultos que ficaram felizes em ajudá-la
porque a amam. Eu mesmo me incluo nisso — um dardo passa
por aqueles olhos verdes na última frase. — Próximo.
Minha respiração engata no meu peito. Eu sei que ele não
quis dizer isso, e não vou recuar.
— Eu me mudei para a sua casa e ocupei todo o lugar sem
nem mesmo perguntar se estava tudo bem.
— Você já me ouviu reclamar sobre isso?
— Não, mas isso é só porque você é uma boa pessoa.
— E você não é? — parece que ele quer me estrangular e,
honestamente, não o culpo.
— Obviamente.
Jack empurra os óculos para cima na testa, apertando a
ponta do nariz entre o polegar e o indicador.
— Tenho uma pergunta real para você e gostaria de uma
resposta verdadeira.
Dando de ombros, pulo no balcão. Esta conversa está me
esgotando e estou prestes a desistir. Além disso, isso me dá uma
boa desculpa para não ter que olhar para ele.
— Por que você não consegue ver o que há de bom em si
mesma, o que todos nós vemos em você?
— Eu conheço minhas características positivas, Jack. Eu sou
uma trabalhadora esforçada. Eu sou esperta. Sou muito gostosa
e boa de cama — eu me inclino para trás em minhas mãos,
chutando meus pés como se eu fosse uma criança em um
balanço. — Eu também sou uma idiota egoísta.
Seus olhos queimam no lado do meu rosto.
— Quem te disse isso?
Eu estudo o xadrez da minha calça de pijama de flanela com
grande interesse.
— O que você quer dizer?
— Exatamente o que eu disse. Quem te disse que você é
egoísta? — ele se move para ficar bem na minha frente. — Você
não chegou a essa conclusão sozinha, então quem te disse isso?
— Você vai bater nele ou algo assim? — eu tento infundir
as palavras com sarcasmo e a boa e velha deflexão porque as
lágrimas estão vindo de novo. A pressão continua a crescer no
meu peito, e estou a mais um comentário pensativo de quebrar.
— Talvez.
Eu arrisco um olhar para cima, esperando ver um de seus
sorrisos peculiares. Mas ele está falando sério. E chateado.
Sobrancelhas franzidas e olhos escuros.
— Nós realmente temos que fazer isso, Jack? Não quero
falar sobre minha infância fodida, ok? Não preciso chorar com
você por causa dos meus pais.
Ele inspira uma respiração afiada.
— Você está brincando comigo agora? — ele balança a
cabeça levemente, e sua raiva se transforma em decepção e
mágoa.
E meu coração cai.
— Eu não quis dizer isso — estendo a mão para ele, mas ele
se afasta de mim. — Porra. Sinto muito, Jack.
E eu sou uma desculpa lamentável para um ser humano,
porque uma pequena parte de mim se sente justificada. Veja,
eu te avisei, eu sou um idiota total. Espero em silêncio que Jack
vá embora, porque é isso que as pessoas tendem a fazer quando
você as machuca repetidamente.
Mas mesmo mantendo o espaço entre nós, ele não sai.
— Sadie, eu poderia te dar uma centena de exemplos de
coisas que você faz diariamente que são ao contrário de
egoísmo. Você é uma das pessoas mais generosas que já conheci.
— seus lábios se inclinam em um sorriso confuso. — E sim, às
vezes essa generosidade vem com uma dose de honestidade
sarcástica, mas não nega a bondade. Nem um pouco. — Ele
coloca as mãos no balcão, uma de cada lado de mim. — Então
devo começar listando todas as coisas boas que você faz, te
provar que você é um grande marshmallow de sentimentos, ou
você quer me contar como acabamos aqui? — ele se inclina,
deixando seu calor me envolver.
Eu inspiro profundamente. Café e papel e o que passei a
considerar como lar. Temos a mesma altura nesta posição e ele
preenche completamente minha linha de visão. E eu não quero
que ele se mova. E de repente é imperativo que ele permaneça
exatamente onde está, como se ele fosse a única coisa que me
segurasse. Então eu começo a falar.
— Meu pai é um narcisista. E não do tipo que pensa que é
um figurão ou algo assim. Como a verdadeira definição clínica
e sociopática da palavra — por um segundo, eu me concentro
nos olhos de Jack, observando enquanto eles escurecem para
um tom esmeralda profundo, mas então a emoção neles me
domina e eu deixo meu olhar descer para seu peito, para a crista
do dragão impressa em sua camiseta de algodão macio. — Ele
era bastante abusivo, emocional e verbalmente. Gostava de me
chamar de estúpida se eu levasse para casa um A menos, me
dizer como meus sentimentos eram estúpidos e mesquinhos
quando eu contava uma história, e esse tipo de coisa — eu dou
a ele o mínimo, porque não consigo dizer o resto em voz alta.
— Na verdade, parei de falar em casa por um tempo, acredite
ou não. Eu nunca conseguia encontrar as palavras certas, as
palavras mágicas que o deixariam feliz, então parei de tentar —
Huh. Eu realmente nunca percebi até agora. Passei do medo de
abrir a boca para nunca calar a boca, uma característica que
realmente só começou quando me tornei amiga de Harley,
Nick e Gemma na faculdade.
— E sua mãe? — a voz de Jack é baixa, retumbante com raiva
reprimida.
— Ela ficou tão mal quanto eu — eu dou de ombros. — Eu
não a culpo. Não mais.
— Você deve. Ela deveria ter protegido você — o aperto de
Jack no balcão aumenta, aqueles lindos dedos ficando brancos
com a tensão.
— Ela fez o possível. Ela é tão vítima quanto eu — levei
muito tempo para chegar naquele lugar com minha mãe. Na
minha cabeça, quer dizer, já que nunca compartilhei isso com
ela, já que envolveria falar com ela, e isso não é uma coisa que
eu faço. Mas segurar toda aquela raiva não era bom para mim
(oba, pelo os serviços de saúde mental da faculdade!), e tive que
deixar um pouco disso antes que me consumisse por dentro. —
Além disso, está tudo no passado agora. Saí da Califórnia logo
após a formatura do ensino médio. Mudei-me para Nova York
e não voltei desde então. Nenhum dano duradouro causado.
— Exceto pelo dano duradouro que a impede de ver o quão
incrível você é.
Abro minha boca para discutir com ele, mas ele coloca um
único dedo ali, e o roçar de sua pele em meus lábios é suficiente
para interromper as palavras.
— Eu não fiz tudo isso como uma espécie de gesto da
bondade do meu coração, Sade. Fiz isso para reduzir um pouco
a dívida que tenho com você. Porque você fez mais por mim
nos últimos cinco meses do que jamais poderei retribuir — ele
traça seu polegar sobre meu lábio inferior.
E oh Deus, tenho certeza que minhas entranhas derreteram
em uma pilha de gosma real. E, por favor, Deus, que este seja o
momento em que ele me beija. Porque há uma boa chance de
eu morrer se ele não me beijar. Acho que nunca desejei tanto
uma coisa quanto desejo, neste momento, que Jack Thomas
me beijasse.
Ele remove o dedo e dá um passo para longe de mim.
— Sou eu quem não te merece. E estou tentando, juro que
estou tentando chegar lá. Só preciso de um pouco mais de
tempo.
Eu não sei quando exatamente, não sei o que chegar lá é,
mas sei que vou dar a ele todo o tempo que ele precisar. Eu
ainda não consigo entender o que Jack está pensando que é, ele
quem precisa estar de acordo com meus padrões; a ideia é
ridícula demais para fazer qualquer tipo de sentido em meu
cérebro.
Ele enfia as mãos nos bolsos da calça jeans.
— Eu não espero que você espere por mim ou algo assim.
— Eu nem olhei para outro cara desde que me mudei para
cá — eu deixo escapar as palavras antes de pensar
completamente nelas.
E eu nem percebo a veracidade da afirmação até que eu a
diga em voz alta. Já se passaram cinco meses e não consigo me
lembrar da última vez que passei tanto tempo sem flertar com
uma bebida. Mas ninguém despertou nem um pouco do meu
interesse desde que conheci Jack, mesmo quando eu ainda
pensava nele apenas como meu doce e nerd colega de quarto.
— Então isso significa que você acha que poderia me dar um
pouco mais de tempo? — há tanta esperança em sua voz que
minhas entranhas já derretidas se tornam completamente
líquidas.
Eu não posso fazer nada além de acenar e concordar. Porque
ele significa muito para mim para fazer qualquer outra coisa, e
eu quero que ele tenha esse tempo, para se sentir pronto para
qualquer que seja o próximo passo. Eu mantenho meus braços
abertos e ele entra em meu abraço. E já nos abraçamos antes,
principalmente sem jeito, mas isso é algo diferente. Seus braços
me envolvem, suas mãos fortes espalmadas nas minhas costas,
me puxando para perto. Eu enterro meu rosto na curva de seu
pescoço, deixando meus dedos emaranhados nos cachos de sua
nuca. Cheiro cada centímetro dele, segurando o máximo que
posso.
Quando ele finalmente se separa de mim, dou-lhe um
sorriso atrevido.
— Vamos transar neste balcão um dia.
Suas bochechas queimam em um vermelho brilhante, suas
pupilas explodindo, escurecendo seus olhos.
— Jesus, Sadie — finalmente, ele começa a rir. — Eu vou
cobrar você, para fazermos isso.

GEMMA: Hum, com licença, senhorita Sadie.


Que porra é essa que estou vendo no seu IG
agora?

HARLEY: O que tem no Instagram dela?

HARLEY: Espere, por que estou perguntando


isso se posso abrir e verificar eu mesma?

NICK: Oh merda. Onde fica isso?


GEMMA: POR QUE VOCÊ ESTÁ NOS
IGNORANDO AGORA.

GEMMA: Sadie.

GEMMA: Sadie.

GEMMA: Sadie, eu tenho literalmente 20


minutos entre as aulas para fazer xixi, enfiar
comida na minha cara e me reagrupar e
estou usando esses 20 minutos para te mandar
uma mensagem, então é melhor você
responder!

EU: Jesus. Eu estava ao telefone com um


cliente. Bom Deus.

EU: Olá, todos! O que vocês estão fazendo?

GEMMA: Eu vou te matar.

HARLEY: Minha quantidade de trabalho está


bem grande, então você pode querer
repensar o assassinato neste momento.

NICK: Meu Deus, Sadie. Diga a ela para que


meu telefone pare de explodir de mensagens,
por favor.

EU: Não é grande coisa, é apenas o nível


superior do brownstone.

GEMMA: O nível superior do brownstone tem


refrigeradores, uma pia e uma ilha perfeita
para arranjos de flores? Conveniente.
EU: Jack forneceu algumas dessas coisas. Obv.
Acho que ele estava cansado de eu tomar
conta da cozinha todos os dias.

HARLEY: Tenho certeza que é isso

NICK: Sim, essa merda parece cara. Ele quer


transar.

GEMMA: Ele quer fazer mais do que transar.

NICK: Verdade. Ele provavelmente está


apaixonado por você.

HARLEY: Provavelmente?

NICK: Quer dizer, definitivamente, mas


também não quero dar azar.

EU: Ele não está apaixonado por mim. Eu fiz


uma proposta direta a ele e ele ainda não me
tocou.

NICK: Oh merda, sim, então ele


definitivamente ama você.

EU: Isso não faz o menor sentido. Se ele me


amasse, ele iria querer dormir comigo.

GEMMA: Oh, sua doce criança de verão.

GEMMA: Eu tenho que ir, mas continuaremos


esta conversa mais tarde.

EU: Isso é como um daqueles textos de


telemarketing que posso recusar?
GEMMA: Não.

HARLEY: Definitivamente não.

NICK: Eu tenho tentado sair deste grupo por


ANOS.

JACK: É estranho eu sentir falta de ver a


cozinha cheia de flores todos os dias?

EU: Hum, não. Minhas criações são


impressionantes e você teve sorte de poder
contemplá-las.

EU: Além disso, este espaço é perfeito para


mim e eu já te agradeci?

JACK: Cerca de um milhão de vezes.

EU: Vamos para um milhão e um.

EU: OBRIGADA!!!!!!!!!!!

JACK: De nada.

EU: Se você sente tanta falta das flores, você é


bem-vindo aqui a qualquer hora. Obviamente.
Já que esta é a sua casa e tudo mais.

JACK: Posso aceitar isso.

JACK: Você tem algum plano para o almoço?

EU: No momento não.


JACK: Quer vir aqui pegar alguma coisa? Ou
posso pegar algo e trazer, se você estiver
ocupada.

EU: Eu poderia ir com você para comprar algo


rápido.

JACK: Legal. Me mande uma mensagem


quando estiver pronta.

EU: Então você conhece aquele sentimento


de quando você está secretamente
apaixonada por seu colega de quarto e ele
meio que sabe disso, mas você não discutiu
isso explicitamente, mas quando você discutiu
isso sutilmente, ele pediu para você dar a ele
algum tempo e esperar para que ele esteja
pronto e você concordou porque gosta muito
dele para dizer não, mas também está super
impaciente e agora, toda vez que você olha
para ele desde então — POR DUAS SEMANAS
INTEIRAS — seu estômago fica todo revirado e
você acha que pode estar perdendo o
controle se ele não te beijar logo, mas ele não
mostra sinais de que quer te beijar?

GEMMA: …

HARLEY: …
GEMMA: Que porra foi essa que eu acabei de
ler?

EU: Acho que posso estar perdendo a cabeça.

GEMMA: Você acha?

EU: Então, pergunta real: posso simplesmente


ter sexo casual com ele?

HARLEY: Consentimento verbal, Sade. Antes e


durante.

EU: Por que você tem que falar coisas no


sentido legal sobre isso?

HARLEY: Apenas tentando manter você fora


da prisão.

GEMMA: Praticamente um trabalho de tempo


integral por conta própria.

EU: Uau. Grossa.

HARLEY: Parece que você precisa de uma


noite de garotas.

EU: Sim, por favor.

EU: Deus, estou com tanto tesão.

GEMMA: Não esse tipo de noite das garotas.

EU: Ok, eu não aguento mais isso.


EU: O que está escondido debaixo daquela
lona gigante no canto do estúdio?

JACK: Primeiro de tudo, isso é maneira de


causar um ataque cardíaco em um cara.

JACK: Em segundo lugar, são apenas algumas


coisas do antigo estúdio. Posso me livrar dele
se você precisar de espaço.

EU: Tenho muito espaço, só fiquei curiosa.

EU: São coisas das quais você vai se livrar?


Posso vasculhar e ver se há algo que eu possa
reaproveitar?

JACK: Eu vou pegar isso. Eu realmente prefiro


que você não faça isso, se estiver tudo bem.

EU: Você sabe que me dizer que não quer que


eu veja o que está lá embaixo só me faz
querer olhar ainda mais, certo?

JACK: Posso ver isso como um problema para


você, mas também sei o quanto você respeita
seu companheiro de quarto muito gentil e
generoso e, portanto, não violará a
privacidade dele assim.

EU: Ugh. Respeito é o pior.

JACK: Se eu fizer macarrão para você esta


noite, isso fará você se sentir melhor?

EU: É um começo.
— Para a noite das garotas! — eu levanto minha margarita que
estava no centro da mesa, esperando Harley e Gemma
brindarem antes de tomar um grande gole da minha bebida
gelada.
— Não acredito que você nos convenceu a sair para beber
numa terça à noite — Gemma faz beicinho, mas isso não a
impede de engolir metade de sua margarita em um só gole.
— Sinto muito, gente, os fins de semana têm sido uma
loucura para mim. Além disso, você só trabalha até meio dia
amanhã — mergulho uma batata no molho e enfio na boca.
Não tive tempo de almoçar hoje e estou morrendo de fome.
— Você sabe que isso significa que ainda tenho que ver
adolescentes nas primeiras horas da manhã, certo? E então
tenho que me sentar e ver o desenvolvimento das equipes, que,
nove em cada dez vezes, é pior do que os adolescentes — ela
levanta a mão para sinalizar para o nosso garçom, pedindo
outra bebida antes que Harley e eu estejamos na metade de
nossa primeira rodada.
— Bem, se você gostaria de fazer uma mudança de carreira,
posso ter uma vaga como assistente de flores abrindo em breve
— minha oferta é uma piada, já que eu sei que Gemma não
quer um novo emprego. Embora eu esteja basicamente
trabalhando pra caralho, isso pode estar começando a me
prejudicar tanto mental quanto fisicamente.
Harley toma um gole delicado de sua bebida, que
provavelmente durará por toda a refeição. Ela é tão adulta.
— Isso é incrível, Sade! Não consigo acreditar como as coisas
cresceram tanto da noite para o dia — ela coloca uma batata
frita na boca. — Na verdade, isso não é verdade. Eu posso
acreditar totalmente, porque você arrasa em tudo que tenta.
— Ah, obrigada, amiga — tomo um gole de margarita. —
Isso não é verdade, mas agradeço sua confiança em mim.
— Então, eu deveria estar interessada em uma mudança de
carreira, o que estamos procurando? Pagamento? Benefícios?
Conte tudo — Gemma cruza os braços e se inclina sobre a mesa
de madeira polida.
— Hum, salário mínimo e meu amor eterno? — eu lambo
um pouco de sal da borda do meu copo antes de tomar outro
longo gole. Droga, isso é bom. Já faz um tempo desde que tirei
um tempo para me encontrar apenas com as meninas. E já faz
um tempo que não me sento para comer. Normalmente, enfio
comida na boca sempre que encontro uma sobra.
Gemma começa com a bebida número dois.
— Sadie. Você é uma empresária milenar. Você deveria se
preocupar mais com seus funcionários do que com um salário
mínimo e nenhum plano de saúde. Já devemos tocar na parte
da licença maternidade?
— Cara. Já se passaram seis meses, você precisa me dar um
pouco de tempo — eu a cutuco no braço com meu canudo não
usado. — Além disso, não sei dizer se você está brincando
comigo agora.
—Verdade, você realmente está pensando em procurar
outro emprego? — Harley me lança um olhar como se esta
fosse a primeira vez que ela ouvia falar disso também.
Gemma dá de ombros.
— Eu não sei, honestamente. Eu amo ensinar, eu adoro
meus alunos. Mesmo quando são idiotas hormonais. Mas tudo
que acontece fora da sala de aula é simplesmente cansativo,
sabe?
Harley dá um tapinha no braço dela.
— Nós sabemos, Gem. Aconteceu algo específico?
— Não. Apenas mais do mesmo. Só fico esperando que as
coisas melhorem, fiquem mais fáceis, mas parece que a cada ano
está pior. Expectativas mais altas e irrealistas. Menos suporte.
Menos dinheiro — Ela morde o lábio. — É muita coisa.
— Você está fazendo muitas coisas, Gem. Eu teria matado
vinte adolescentes no primeiro dia — sinalizando para o
garçom, peço outra rodada de bebidas para todas nós. Pelo
menos uma de nós vai realmente precisar. E que tipo de amigo
eu seria se deixasse Gemma beber sozinha em seu momento de
necessidade?
Ela me dá um sorriso triste.
— Eles são de longe a melhor parte do meu trabalho.
— Bem, se Bridge e Blooms explodirem no status de florista
de celebridades, terei o maior prazer em lhe oferecer um
emprego com o dobro do salário mínimo — bebo o resto da
margarita número um e passo para a número dois.
— E benefícios.
— Caramba, você faz uma barganha difícil para alguém que
nem sabe se quer o emprego ou não — eu jogo uma ficha nela.
— Mas suponho que também posso lhe dar benefícios. Porque
eu sou incrível.
— Falando em pessoas incríveis… — Harley levanta uma
sobrancelha para mim, e me arrependo de ter ensinado a ela
como aperfeiçoar esse movimento.
Eu levanto uma sobrancelha de volta. Eu não vou dizer nada
a elas nessa conversa. Se elas querem os detalhes, elas vão ter que
sair e perguntar.
— Você e Jack já transaram? — deixe isso para Gemma.
Apertando meus lábios, eu seguro o suspiro que ameaça
derramar do fundo dentro de mim.
— Não, ainda não transamos. Como já disse muitas vezes,
não é bem assim. Além disso, desde quando saímos e
perguntamos sobre transas?
— Hum, quando não fizemos isso? — Harley pergunta.
— Ok, você e Nick já transaram?
Harley gira seu canudo em sua margarita ainda na rodada.
— Obviamente.
Gemma cobre os ouvidos com as mãos.
— Eu não quero ouvir isso — um segundo depois, ela os
deixa cair e se aproxima de Harley. — Brincadeirinha, eu quero
muito ouvir isso.
— Como passamos de Sadie e Jack para mim e Nick?
— Não há nada acontecendo entre mim e Jack, então é a sua
vez — eu não menciono o quanto eu quero que haja algo para
relatar entre mim e Jack. Desde a noite em que ele me
presenteou com o estúdio, nada mudou muito. Houve mais
alguns longos olhares e carícias nas mãos e ele se senta mais
perto de mim no sofá agora, mas ele ainda age como um adulto
dentro do brownstone.
Harley toma um longo gole de sua bebida.
— É bom.
— A margarita ou o sexo? — Gemma pergunta.
— Ambos — Harley não consegue conter seu sorriso, a
atrevida.
Eu seguro meu copo no ar mais uma vez.
— Para Harley, provando que você pode ter um bom
homem e um bom emprego, tudo ao mesmo tempo.
— Não se esqueça do bom sexo, vadia sortuda — Gemma
bate seu copo contra o meu um pouco forte demais.
Olho para ela, mas ela voltou a beber margarita número três.
Harley me cutuca embaixo da mesa e trocamos um olhar.
Gemma teve muitos momentos de insatisfação com a carreira
desde que começou a lecionar, mas nunca ao ponto de querer
desistir. Gemma é brilhante e não tenho dúvidas de que ela teria
sucesso em qualquer carreira que tentasse. Mas espero que seja
apenas uma fase e ela encontre a alegria em ensinar novamente.
— Agora que passei pelo meu interrogatório, eu realmente
quero saber o que está acontecendo com você e Jack — Harley
desvia a atenção da angústia profissional de Gemma como a
melhor amiga que ela é. Ela sempre sabe quando atingimos
nosso limite de compartilhamento e precisamos passar para um
novo tópico.
E, só porque eu amo Gemma e quero ajudar a tirar sua
mente de seu trabalho de merda, eu cedo isso a elas.
— Ugh. Tudo bem. Ainda sem transas. O que mais vocês
querem saber?
— Algum beijo, pelo menos? — Gemma se anima agora que
a conversa está de volta ao território excitante.
Eu tento balançar minha cabeça enquanto também pego
meu canudo de margarita, o que não funciona como eu quero.
— Sem beijos. Alguns toques sutis e alguns olhares fodidos
ainda mais sutis, mas foi tudo até agora.
— O que ele está esperando? — Gemma levanta a mão
como uma de suas alunas, pronta para pedir outro drinque.
Em vez disso, Harley entrega sua segunda rodada ainda
intocada.
— Mais importante, como você está se sentindo sobre tudo?
Bleh. Provavelmente me faria bem falar sobre tudo isso. Na
verdade, sei que me faria bem falar sobre tudo isso. Mas
também não tenho ideia de como começar essa conversa,
mesmo com minhas melhores amigas. Infelizmente, não saber
exatamente o que dizer com certeza nunca me parou antes.
— Acho que gosto muito dele. Tipo, não apenas do jeito
que “eu quero transar com você” mas do tipo “oh merda,
realmente tem sentimentos ai”. Ele faz meu estômago revirar. E
ele me dá essas pequenas dores no peito. E toda vez que ele faz
algo legal para mim, e isso acontece o tempo todo, eu só quero
apertá-lo — eu bato no gelo na minha bebida com meu canudo.
— Gente, eu não flertei com outro cara desde que me mudei
para o brownstone. Eu nem tinha percebido isso. E tipo, eu não
sinto que estou perdendo nada, sabe?
— Você não está, confie em mim sobre isso — Gemma
estende o punho e eu dou um empurrão sem entusiasmo. —
Então, qual é o problema dele?
Franzo os lábios, não querendo divulgar muitos segredos de
Jack sem sua permissão.
— Acho que ele ainda não lidou totalmente com a morte de
seus pais. E ele está sozinho há muito tempo. Não apenas como
solteiro. Mas, realmente sozinho. Não consigo imaginar passar
pelo que ele passou sem vocês para me apoiar.
— Você nunca terá que descobrir — Harley dá um tapinha
na minha mão. — Imagino que grande parte de sua hesitação
vem de não querer acabar sozinho novamente. Você entrou na
vida dele, trouxe todos nós com você, e ele quer ter certeza de
que está pronto para não estragar tudo. Eu sei que é frustrante
para você, mas acho que é realmente uma maneira muito
inteligente de fazer as coisas.
— Sim, eu entendo — eu quebro uma batata em pedaços
minúsculos. — Não vou mentir, eu definitivamente sinto que
quanto mais esperarmos, mais provável é que ele nunca queira
levar as coisas para o próximo nível.
— Por que você diz isso? — Gemma diminuiu o consumo
de álcool e agora está enfiando batatas fritas na boca,
provavelmente na esperança de absorver um pouco da bebida.
— Quero dizer, você só consegue viver comigo por um
tempinho antes de começar a me odiar.
Harley e Gemma trocam um olhar, e Harley abre a boca,
tenho certeza com a intenção de dizer algo calmo e comedido.
— Por que diabos você diria isso? — Gemma deixa escapar
antes que Harley possa começar sua frase.
Eu ignoro os olhares de horror em seus rostos, sabendo que
eles são meus amigos e tentarão me aplacar, não importa o
quanto eles concordem com o sentimento.
— Vamos, gente, vocês me conhecem melhor do que
ninguém, sabem como posso ser uma idiota.
— Nós conhecemos você melhor do que ninguém, Sadie.
Você e eu vivemos juntas por anos e nunca cheguei nem perto
de te odiar — Harley cruza os braços sobre o peito, recostando-
se na cadeira e me estudando como se fosse minha terapeuta.
Com quem eu provavelmente deveria marcar uma consulta.
Desde que comecei Bridge e Blooms e fui morar com Jack, os
sentimentos de inadequação que sempre vivem no fundo da
minha mente têm sido muito mais ouvidos.
— Vocês são minhas amigas, então vocês têm que dizer isso
— eu cruzo meus próprios braços sobre o peito, dando-lhe um
olhar aguçado.
— Não, nós não devemos. E só para constar, concordo
plenamente com a parte idiota. Da maneira mais amorosa
possível, é claro — Gemma abre um novo canudo com a única
intenção de atirar o papel em mim. O que ela faz, o papel fino
caindo no meu copo de água intocado.
— Como você voltou a esse ponto de novo, Sadie? Achei
que você tinha lidado com todas essas coisas do seu pai na
faculdade. — Harley foi quem originalmente me encorajou a
visitar a clínica de saúde mental no campus, e sempre terei uma
dívida com ela por isso.
— Os problemas com meu pai nunca desapareceram de
verdade, não é? — É uma resposta malcriada, mas estou de mau
humor. Esta é a segunda vez que tenho essa conversa
ultimamente, e isso é duas vezes demais se você me perguntar,
o que ninguém se preocupou em fazer.
— Ah, então agora que você tem a opção de ter um
relacionamento com um homem, um homem bom e um
relacionamento real, todas as suas dúvidas estão voltando?
— Eu não preciso que você me analise, Harley.
— Eu acho que você meio que sabe, Sade. Porque ela está
totalmente certa. Pessoas egoístas não oferecem ajuda para seus
amigos para corrigir testes de gramática — Gemma estende a
mão e pega o papel encharcado do meu copo de água.
— E as pessoas egoístas não ficam acordadas até tarde
ouvindo seus amigos enlouquecerem sobre seus novos
relacionamentos — Harley cutuca meu cotovelo com o dela.
Malditos sejam as duas por se concentrarem na minha
palavra-chave sem que eu sequer a mencionasse.
— Ok, então eu fiz duas coisas legais recentemente. Um
grande viva. Sério, por que ninguém pode simplesmente deixar
isso de lado? Por que eu tenho que continuar a ter essa
discussão com as pessoas?
Gemma balança um pouco em seu assento e estou pensando
que ela pode ligar dizendo que está doente amanhã.
— Você faz coisas boas para as pessoas o tempo todo.
Apenas cale a boca e aceite. Porra, toda a sua carreira é fazer
coisas boas para as pessoas. Trazendo-lhes flores ou servindo-
lhes com bebidas. Coisas legais.
— Não acho que conta ser pago para fazer as coisas boas.
Mas, de qualquer forma, podemos voltar ao assunto real em
questão? — Isso mostra o quão desesperada estou para nunca
mais ter que ouvir sobre como sou legal; Vou mudar de assunto
de bom grado de volta para mim e Jack. — Eu pensei que vocês
duas se importassem muito com o quanto eu gosto de Jack e o
quanto ele não quer me beijar.
Gemma revira os olhos.
— Ele quer te beijar.
— Eu acho que está bem claro neste ponto, Sadie. Acho que
a verdadeira questão é: apenas um beijo será suficiente para
qualquer um de vocês?
Eu sei que não vai ser para mim. Eu nem preciso pensar
sobre isso ou considerar a pergunta de Harley. Eu quero mais
do que apenas um beijo de Jack. Mais do que apenas um sexo
casual de uma ou duas noites. Mas dizer isso em voz alta é uma
coisa totalmente diferente.
Gemma me entrega sua margarita restante.
— Beba isso e depois responda.
Eu engulo o restante de seu coquetel, embora seja
principalmente gelo derretido neste momento. Seja como for.
Coragem líquida é coragem líquida.
— Eu não quero apenas beijá-lo. Eu quero que ele seja
meu... Porra, eu literalmente nunca senti isso de verdade. Nem
uma vez.
— Você quer que ele seja seu namorado! — Gemma grita,
socando os dois braços no ar triunfantemente.
Eu enterro minhas mãos no meu cabelo.
— Eu quero que ele seja meu namorado.
Harley bate palmas e tenho certeza de que todo o
restaurante está olhando para nós.
— Isso é tão emocionante!
— Não é nem um pouco emocionante. É nauseante. É
assustador. Por que as pessoas se colocam neste tipo de
situação? — Minha cabeça cai em meus braços, cruzados em
cima da mesa pegajosa.
Harley passa a mão calmante pelo meu cabelo.
— Vale a pena.
— E se ele achar que eu não valho a pena? — Eu murmuro
na dobra dos meus braços, principalmente esperando que elas
não ouçam minha pergunta.
— Então ele é um idiota e vamos chutar o traseiro dele —
Gemma poderia fazer isso também.
Sento-me e olho para cada uma delas.
— Eu não mereço vocês. E estou com medo de não merecê-
lo também. Esse é o sentimento que eu estava tentando
transmitir a Jack na noite da surpresa no estúdio. Eu não sinto
que mereço ele, e eu não sei como poderia falar isso a ele, para
um homem como ele.
Harley agarra minha mão direita, segurando-a com força.
— Você absolutamente o merece. Ele teria sorte em ter você,
Sadie.
Gemma pega minha outra mão.
— E você nos merece. E sabemos como somos sortudas por
ter você.
— Vocês são as melhores, e eu amo vocês — aquela maldita
lágrima brota em meus olhos novamente, mas pelo menos desta
vez posso culpar as margaritas.
Eu acordo na manhã seguinte, não com uma ressaca. É uma
névoa estranha de muita conversa emocional combinada com
muita tequila e pouca água. Minha cabeça dói, mas não tanto a
ponto de ser debilitante. Serei capaz de funcionar, mas os
movimentos serão lentos hoje.
O tempo está começando a esfriar à medida que avançamos
em outubro, então visto meu jeans favorito e um suéter leve
antes de sair pela porta e ir direto para o Bagel World, para o
maior sanduíche de café da manhã que eles fazem e café para
mim e Jack. O ar está fresco e frio e na caminhada de volta para
casa, e as longas respirações purificadoras que inspiro ajudam a
limpar ainda mais a fumaça de álcool e emoção do meu cérebro.
Mesmo depois de conversar com Harley e Gemma, ainda
não consigo juntar as peças do quebra-cabeça que sou eu e Jack.
Eu sei que gosto dele. Tenho certeza que ele gosta de mim. Eu
sei que nós dois temos sérios bloqueios mentais devido a nossas
infelizes situações parentais. Acho que essas são coisas que
poderíamos resolver e trabalhar juntos.
Eu nunca quis avançar as coisas com ninguém, juntos ou
não, então esse pensamento por si só deve ser um bom
indicador de quão profundamente apaixonada eu estou. Mas
saber que esses sentimentos por Jack não é apenas uma
aventura movida a luxúria não faz muito por mim em termos
de preencher os espaços em branco. Ainda estou me
perguntando se ele se sente da mesma maneira. Se ele algum dia
for capaz de superar seus bloqueios.
O não saber e viver em um estado constante de O que diabos
está acontecendo aqui é demais. Provavelmente seria muito mais
fácil simplesmente pular a parte que eu perco e fugir agora, mas
toda a situação de morar juntos torna isso impossível. A menos
que eu me mude. O que eu definitivamente não faria.
Então acho que só tenho que aguentar firme e esperar, ver
se ele retribui meus sentimentos e se eventualmente quer ficar
comigo também. E eu só tenho que esperar que ele valha a pena
esperar.
Na verdade, essa é a única coisa pela qual não preciso me
preocupar em esperar. Eu sei que ele vale.
Deixo o café de Jack no balcão da cozinha, enviando-lhe
uma mensagem rápida para que ele saiba que está lá. Subir um
lance de escada adicional várias vezes ao dia para chegar ao
estúdio está fazendo maravilhas para minha bunda, porque
caramba, às vezes é difícil. Paro no meu quarto para vestir uma
camiseta velha que não me importo de sujar, tirando os sapatos
no processo. Uma das melhores partes de trabalhar em casa é
nunca mais ter que usar sapatos desconfortáveis.
Pego meu computador e vou até o espaço do estúdio, que
apelidei carinhosamente de BeBs (para Bridge e Blooms). Eu
jogo todas as minhas coisas no balcão e subo no banco de bar
que encontrei em um dos mercados locais. Examinando meu
calendário, e-mails e DMs, montei uma lista de tarefas para o
dia. Como não tenho nenhuma entrega agendada, hoje é
principalmente para colocar em dia as coisas administrativas,
que, não vai mentir, tem chutado minha bunda. Adoro
planilhas, mas estou tão atrasada na inserção de informações
que vou precisar do dia inteiro para recuperar desses atraso.
Quando meus olhos parecem que vão cair da cabeça,
empurro o banquinho para trás e vou dar uma volta pelos BeBs.
O espaço é grande o suficiente para eu dar algumas voltas
quando preciso de uma pausa. Normalmente é apenas um
passeio rápido para descansar os olhos e fazer o sangue fluir,
mas o passeio de hoje traz uma pequena surpresa.
A lona proibida de Jack ainda vive no canto do estúdio, e
normalmente eu passo por ela, continuamente impressionada
com minha restrição de não espiar. Mas hoje, a referida lona foi
substituída ao acaso, deixando exposto todo um canto do
conteúdo oculto.
Olho por cima do ombro, embora Jack raramente venha
aqui quando estou trabalhando e geralmente me envia uma
mensagem antes de subir, para me avisar. Rastejando na ponta
dos pés, eu avanço lentamente para o canto, discretamente
esperando algum quadro de cortiça estilo assassino em série
com barbante vermelho e fotos de suas vítimas.
Mas não é nada disso que encontro.
Minha testa franze enquanto eu pego a menor lasca do que
é revelado. E então eu jogo com cautela ao vento e empurro a
lona para o chão para obter a imagem completa.
A imagem completa são três pinturas, de três imagens muito
familiares. Imagens que eu reconheceria em qualquer lugar,
porque eu as fiz. Eu dou um passo mais perto do que está na
extrema esquerda, examinando cada centímetro. É quase uma
réplica exata de um dos meus arranjos florais, as cores, sombras
e detalhes das flores capturadas tão brilhantemente bem
quanto minha câmera as capturou. Sigo para a pintura do
meio, outra das minhas fotos de arranjos. Jack transformou a
imagem que postei no Instagram, do arranjo colocado em
frente à parede de tijolos da sala de estar, tão meticulosamente
perfeito que alguém poderia confundi-lo com uma fotografia.
A terceira pintura ainda não está terminada, mas posso dizer
pelo fundo e pelas marcas de esboço que será mais uma das
minhas fotos do Bridge e Blooms, completamente trazida à vida
por pinturas.
— Que porra é essa? — Eu murmuro.
— Meus pensamentos, exatamente.
Eu congelo, como se Jack fosse um dinossauro e que ele não
fosse capaz de me ver se eu não me mexesse.
— Merda.
— O que você está fazendo? — Ele atravessa a sala, cobrindo
a distância da porta até o canto em apenas alguns passos. A raiva
em sua voz é estranha e surpreendente.
— Olha, eu não fui bisbilhotar de propósito, mas a ponta da
lona estava escorregando e eu vi uma lasca da pintura e eu
realmente sinto muito por espiar, mas puta merda, Jack. Isso é
incrível.
Jack passa por mim, agarrando a lona e jogando-a sobre as
pinturas. Como se cobri-los me fizesse esquecê-los.
— Eles não foram feitos para serem vistos.
— Por que não? Nunca vi nada parecido com esses quadros
antes — ocorre-me que isso não é inteiramente verdade. —
Espera. A pintura no quarto de hóspedes? — E o do
brownstone, embora ele não saiba que eu vi esse.
Ele acena com a cabeça, puxando a ponta da lona,
certificando-se de que tudo está suficientemente escondido.
— Jack, esse quadros são realmente notáveis. Por que você
não me disse que era um artista?
— Eu não sou — ele se afasta de mim até a janela, enfiando
as mãos nos bolsos.
— Claramente, você é. Por que você iria querer manter esse
talento escondido? — Dou alguns passos hesitantes em direção
a ele, mas ele me interrompe com um olhar feroz.
— Não é nada. Esqueça que você viu isso — ele passa a mão
pelo cabelo.
Calei a boca por um minuto, usando o silêncio para me
aproximar dele. Quando chego perto o suficiente, estendo
minha mão, colocando-a suavemente em seu antebraço.
— Sinto muito por bisbilhotar, mas não peço desculpas por
ter visto as pinturas. Eu gostaria que você tivesse me contado
sobre elas.
Ele dá um passo para trás, saindo do meu alcance.
— Sim, bem, nem todo mundo gosta de falar sobre si
mesmo vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.
Eu congelo mais uma vez, o frio de suas palavras como um
picador de gelo perfurando meu coração. Minha cabeça cai e
eu pisco rapidamente, sugando respirações curtas e ásperas. Eu
forço meus pés a se moverem, tropeçando até o balcão para
pegar meu computador, abandonando meu café e meu
telefone, qualquer coisa para chegar à porta o mais rápido
possível.
— Sadie — Jack chama, mas eu o ignoro, desço as escadas
correndo e entro no meu quarto, fechando e trancando a porta
atrás de mim.

Ele bate na minha porta cinco minutos depois, mas continuo a


ignorá-lo, fingindo que estou trabalhando, embora eu não
consiga entender como seria capaz de inserir números em uma
planilha quando as lágrimas estão embaçando minha visão.
Suas palavras não foram uma surpresa. Qualquer coisa menos
isso. Acho que apenas me iludi acreditando que Jack realmente
gostava de mim, talvez até se importasse comigo como mais do
que um amigo. Mas é claro que ele sempre pensou que eu era
insuportável. Porque eu sou.
Espero uma hora antes de abrir a porta, e só me aventuro a
sair porque preciso fazer xixi. Meu telefone e meu café estão
esperando por mim do lado de fora da porta. Eu os pego e corro
para o banheiro.
Eu não verifico meu telefone até que eu esteja trancada em
segurança no meu quarto, enterrada sob minhas cobertas para
garantir.

JACK: Me desculpe. Eu não quis dizer isso, e foi


uma coisa horrível de se dizer, e eu gostaria de
me desculpar quando você estiver pronta
para ouvir isso.

Eca. Até suas desculpas são maduras.


Uma hora depois, meu telefone toca novamente.

JACK: Se você me deixar falar com você,


responderei a todas as suas perguntas…

Ele já sabe o que dizer para me fazer desistir de ignorar ele.


Espero mais meia hora antes de responder.

EU: Tudo bem. Estou descendo. Tenha vinho


pronto.

Deixei passar mais vinte minutos, aproveitando o tempo


para parar de chorar e arrumar o cabelo.
Quando desço as escadas, Jack já está esperando no sofá,
duas taças de vinho na mesa de centro. Sento-me o mais longe
possível dele e bebo metade do copo antes de voltar minha
atenção para ele.
— Sinto muito, Sadie. Isso foi uma merda de se dizer. A mais
merda possível. Eu nunca deveria ter dito isso, e com certeza
não quis dizer isso — ele aperta seu mãos juntas, os nós dos
dedos ficando brancos. — Isso provavelmente vai soar terrível,
mas adoro ouvir você falar sobre você, sua vida, seus amigos e
seu trabalho.
Eu franzo meus lábios.
— Isso é tudo?
Sua testa franze.
— Sim. Quero dizer, sinto muito. Novamente.
— Por que você não me disse que sabia pintar?
Ele solta as mãos cerradas, enxugando as palmas na calça
jeans.
— Eu não pintava. Não por muito tempo, de qualquer
maneira.
— Há quanto tempo você não pintava?
Ele encontra meu olhar de frente.
— Faz sete anos.
Eu respiro fundo, o impacto total de suas palavras me
lavando. Ele não pintava desde que seus pais morreram.
— Esses são os primeiros que você fez? Desde a minha
mudança?
Ele acena com a cabeça, deixando-me juntar o sentimento
não dito por conta própria.
A primeira coisa que Jack pintou desde a morte de seus pais
foram minhas flores.
— Se eu não tivesse bisbilhotado, você os teria mostrado
para mim? — As palavras saem em um guincho de um
sussurro, meus pulmões mal funcionando o suficiente para eu
respirar, muito menos falar.
Ele limpa a garganta.
— Eu não sei, Sade. Eu gostaria de poder lhe dar uma
resposta diferente, mas não vou mentir para você.
— Como você se sente? Voltar a pintar depois de tanto
tempo? — Ainda há muito que eu não sei sobre Jack e sua
história, mas isso obviamente não é apenas um hobby. Ou não
era apenas um hobby.
— Depois do que eu disse a você, você está preocupada com
meus sentimentos? — Ele passa a mão pelo cabelo, e desta vez
os cachos ficam puxados para trás de seu rosto.
— Você estava justificadamente chateado e disse algo idiota
com raiva. Não é o fim do mundo — não mencionei o quanto
o comentário dele dói, pois posso ver que ele realmente se sente
mal. E não é culpa dele que estou programada para executar
todos os insultos em um loop dentro do meu cérebro para
sempre até o fim dos tempos.
Ele chega mais perto de mim no sofá, perto o suficiente para
estender a mão e pegar na minha.
— Isso não é uma desculpa. Você não merecia isso, mesmo
que eu estivesse chateado. Você não deveria sofrer porque
ainda sou um desastre emocional.
Eu aperto sua mão.
— Você não é um desastre emocional.
— Eu sou. Mas talvez um pouco menos desde que você
apareceu — ele esfrega o polegar sobre os nós dos meus dedos.
— E é muito bom estar pintando de novo.
— Você pintou minhas flores.
— Sim.
— Elas são lindas — eu encontro seu olhar, minha
respiração vibrando em meu peito mais uma vez.
— Você me inspirou — ele se inclina e roça o beijo mais
suave na minha bochecha.
Mas antes que eu possa registrar totalmente a sensação de
seus lábios na minha pele, ele está se afastando, levantando-se
do sofá.
— Vou deixar você voltar ao trabalho — ele cruza para as
escadas do porão, parando no topo. — Quando fizermos isso,
Sade – e para mim, é um quando, não um e se – eu quero estar
totalmente dentro disso. Eu quero te dar tudo de mim. Ainda
não cheguei lá. Mas eu estou tentando — ele me dá um meio
sorriso antes de descer as escadas.
Como se eu pudesse trabalhar depois disso.
GEMMA: O Dia das Bruxas vai acontecer na
sua casa, não é, Sadie?

GEMMA: E Jack. Já que você também mora


lá.

JACK: E o que você quer dizer com “Dia das


Bruxas vai acontecer”?

JACK: Defina em uma escala de um desfile de


fantasias de jardim de infância a festa de
fraternidade.

HARLEY: Em algum lugar entre “beber muito


vinho e peça comida para viagem enquanto
distribui doces para crianças fofas que batem
na porta”.

NICK: Sabe, um cara do meu escritório está


dando uma festa de Dia das Bruxas de
verdade para a qual todos nós poderíamos ir.

EU: Não.

GEMMA: Com certeza, não.

HARLEY: Te amo, querido, mas não.

EU: MEU DEUS VOCÊ ACABOU DE DIZER EU TE


AMO NO GRUPO?!?!?!

HARLEY: Apenas uma expressão.

GEMMA: Eu posso praticamente ver suas


bochechas coradas do outro lado do
apartamento, Harley.
JACK: Vinho, comida para viagem e
distribuição de doces funcionam para mim,
gente!

HARLEY: Agora eu também te amo, Jack.

NICK: Nossa. Vamos reconsiderar vários


pontos.

EU: Sim, no que Nicky disse.

EU: Além disso, parabéns por me fazerem


concordar com o que Nick disse.

HARLEY: Oh meu Deus, eu amo todos vocês


igualmente, ok?

NICK: Mas eu só um pouco mais, certo?

HARLEY: Obviamente.

GEMMA: Eu, por outro lado, odeio todos


vocês. Vou me vestir de solteirona para o Dia
das Bruxas.

EU: Gemma, fala sério. Pode haver pais


solteiros gostosos por aí.

GEMMA: Serei bibliotecária sexy.

— Isso vai ser doce o suficiente? — Jack levanta três sacolas,


cada uma do tamanho da parte superior do meu corpo.
Aperto os lábios para conter o sorriso e, sim, noto como seus
braços ficam um pouco inchados, por ter carregado quilos e
quilos de açúcar.
— Por quantos Dias das Bruxas você passou no ano
passado?
Ele os joga na península da cozinha.
— Não sei. Normalmente apago as luzes e me escondo no
porão.
— Oh meu Deus, você é a casa do velho mal-humorado! —
Tirando algumas garrafas de vinho do armário, também pego
cinco taças e arrumo todas no balcão.
— Não sei se chego nesse nível — ele franze a testa,
franzindo a testa de uma forma adorável e também o faz parecer
um velhinho.
— Cada bairro tem um, cara, e parece que você é o do Park
Slope — vasculho os armários até encontrar uma tigela enorme.
— Se seus músculos de velho conseguirem, você pode abrir um
daqueles pacotes?
Jack me encara por trinta segundos antes de rasgar um dos
sacos de má vontade.
Transfiro o doce do saco para a tigela, parando apenas duas
vezes para dar uma mordida em um chocolate.
— Você vai se trocar ou essa é a sua fantasia? — Eu aceno
minha mão, atualmente segurando um Twix.
Ele pega meu pulso em sua mão, mordendo metade da barra
de chocolate.
E eu tenho que segurar o balcão para não cair de cara no
chão de madeira. Isso foi… foi… isso conta como uma
preliminar?
Jack solta meu pulso, um sorriso presunçoso aparecendo em
seus lábios. Ele puxa uma capa vermelha de um dos bancos do
bar, amarrando-a no pescoço. Ele aponta para sua camisa azul,
um grande S vermelho no centro do peito.
— Camisa, capa, óculos Clark Kent, acho que estou pronto.
— Bem, quem é você, Superman ou Clark Kent? — estou
discutindo apenas por discutir. E porque ele me pegou
desprevenido com aquela pegada no pulso/mordida e eu não
gostei.
Anda tendo muitas… brincadeirinhas… no brownstone
desde todo o fiasco “eu não pintei por sete anos até você
aparecer para ser minha musa.” Parece que passamos de uma
amizade fácil para um flerte quase inocente, embora a tensão
sexual ainda esteja definitivamente presente e explícita. Mesmo
que nunca vá além da tensão. Jack agarrando meu braço e
mastigando metade da minha barra de chocolate é a maior ação
que já vi em meses.
O que me lembra que preciso carregar meu vibrador.
— Como acontece com a maioria das coisas na minha vida,
Sadie — o estrondo da voz de Jack me distrai das necessidades
dos meus brinquedos sexuais — Eu me encontro preso em
algum lugar no meio.
— Que poético — pego uma garrafa de vinho, abro e me
sirvo de uma taça. Uma bem cheia.
— E você? — ele pega a garrafa da minha mão e se serve de
um copo.
— Eu o que?
— Essa é a sua fantasia? — Ele me olha de cima a baixo,
embora não haja muito o que absorver.
Isso não me impede de sentir cada centímetro de seu olhar
enquanto passa por cima do meu jeans e regata branca
apertada, Bridge e Blooms estampados em meu peito em letras
brilhantes. Abro a geladeira e pego a coroa floral rosa e lavanda
que fiz hoje cedo, colocando-a em cima dos meus cachos soltos.
Meu cabelo outrora com mechas loiras desbotou e cresceu,
voltando lentamente ao seu castanho natural, mas tenho estado
tão ocupada que nem tive tempo de pensar nisso. Coisas como
consultas regulares ao cabelo simplesmente não parecem mais
prioridades.
— Quer me dar minhas asas? — Eu aponto para a parte de
trás do banco do bar, onde Jack está de pé.
Ele me entrega um par de asas de fada brilhantes, que eu
deslizo sobre meus ombros.
— Voilà. Fada das flores — Girando, eu chuto meu
calcanhar em uma pose de princesa.
— Bonitinha e promocional — Jack ergue sua taça de vinho.
Eu bato o meu contra o dele.
— Feliz Dia das Bruxas, cabeça de abóbora.
Ele toma um longo gole de vinho.
— Tenho certeza que você já usou essa antes.
— Não importa, é apropriado para a ocasião — pego a tigela
de doces e a levo para a mesa da entrada, balançando meus
quadris um pouco mais do que o necessário quando sinto os
olhos de Jack na minha bunda. Estou checando minha coroa
de flores no espelho acima da mesa quando ele vem atrás de
mim, sua mão descansando no meu quadril, o calor de seus
dedos queimando sobre o jeans da minha calça jeans.
— Espero que nenhum desses pais solteiros gostosos apareça
— sua respiração faz cócegas no meu pescoço, enviando um
arrepio através de mim.
Eu encontro seu olhar no espelho.
— Você realmente quer azarar Gemma assim?
Ele sorri para mim, seus dedos apertando minha cintura.
— Não, acho que não.
O som da campainha vibra pela casa, e Jack se inclina para
frente para abrir a porta, o peso dele pressionando em mim e
roubando minha respiração.
— É melhor não ser nenhuma mãe solteira gostosa também
— murmuro.
Sua mão sobe pelas minhas costas, apertando suavemente a
minha nuca.
— Não importaria se fosse.
Eu me inclino em seu toque.
— Você percebe que quando diz merdas assim me dá
vontade de te jogar contra a parede e te beijar sem fim, certo?
Outra batida bate na porta e a voz de Gemma sangra através
da madeira.
— Estou carregando a porra de uma tonelada de vinho aqui,
abram a porta, idiotas!
— Ela realmente aproveita quando está de folga, não é? —
Jack sorri, passando por mim para abrir a porta para meus
amigos turbulentos e cheios de má vontade, que passam direto
por nós entrando em casa. — Vou aceitar essa oferta, no
entanto — seus lábios roçam a concha da minha orelha antes
de me deixar parada na porta para distribuir doces para as
primeiras pessoas que aparecem na nossa parta, enquanto o
resto da turma vai para a cozinha para começar a beber.
Eu coloco barras de chocolate nas sacolas de uma princesa,
um pirata e um bombeiro, enquanto tento conter a dor no
peito e entre as pernas, antes de fechar a porta e me juntar aos
meus amigos.
Passamos a noite distribuindo barras de chocolate de
tamanho normal (porque é claro que Jack comprou doces
bons) e bebendo vinho, nossas altas taxas de açúcar e zumbidos
de vinho nos mantendo rindo muito depois de que as crianças
pararam de bater na porta dizendo “doces ou travessuras”.
Gemma acaba passando a noite no brownstone depois que Nick
e Harley saírem juntos para voltar aos tropeções para o
apartamento compartilhado das meninas.
— Eles vão transar por horas — ela confidencia isso para
mim e Jack, nós três deitados no sofá no porão, com
Abracadabra passando na TV ao fundo. — Sério, não sei como
eles conseguem manter tanta energia.
Jack me lança um olhar, seus olhos encobertos, a luxúria
movida a vinho óbvia mesmo do lado oposto do sofá. Eu me
contorço um pouco no meu lugar, minhas roupas de repente
parecem muito apertadas, minha pele zumbindo com tesão e
antecipação. Eu mordo meu lábio, sentindo-me bastante certa
de que não deveria passar por cima de Gemma e pular em cima
dele, mas também não descarto totalmente a possibilidade.
Jack pigarreia e se levanta, ajustando o jeans antes de ir
dormir. Ele me dá um olhar de despedida que me permite saber
que eu definitivamente poderia entrar no quarto dele mais
tarde e acabar com esse impasse de meses.
Aparentemente, tudo que eu precisava fazer esse tempo
todo era embebedar o homem com vinho e chocolate.
— Oh Deus, vocês dois também. Onde diabos eu vou
dormir? — Gemma me dá uma cotovelada nas costelas.
Dou uma cotovelada nela de volta.
—Nada vai acontecer esta noite, relaxa.
— Quero dizer, não me interpretem mal, estou torcendo
muito para esta conexão, mas não enquanto estou na sala ao
lado, certo?
Eu ligo a TV, mudando meu foco para as irmãs Sanderson e
para longe do pedaço de bunda gostosa que acabou de sair do
quarto.
— Estou começando a achar que você tem razão.
— Obviamente — ela se senta reta no sofá. — Sobre o que?
— Talvez eu não seja completamente egoísta, porque você
viu o que acabou de sair daqui?
Ela me bate na cabeça com um travesseiro.
— Eu vi um homem que esperaria por você até o fim dos
tempos, então vá com calma aí — seu braço passa sobre meus
ombros e espero que ela me puxe para uma chave de braço, mas,
em vez disso, ela nos enfia sob o cobertor macio sob o qual está
aconchegada. — E eu estou feliz por você. Porque você, minha
amiga linda, generosa, totalmente não-egoísta, mas ainda assim
meio idiota, não merece menos do que isso.

EU: Então, como você se sente sobre o Dia de


Ação de Graças?

JACK: O quê, tipo o que eu acho em geral?


Ou como um feriado?

JACK: Provavelmente é uma coisa muito ruim


para comemorar, sabe, dado o genocídio em
massa e a destruição total do modo de vida
de um povo inteiro.
EU: Uau. OK. Então, sim, eu reconheço tudo
isso.

EU: Além disso, como você se sente sobre


receber todos no Dia de Ação de Graças!
Oba!

JACK: Ah.

JACK: Quem são todos?

EU: Nós, obv. Gemma, Nick, Harley.


Normalmente temos os pais de Harley
também. E eu acho que este ano
possivelmente os pais de Nick, se eles vão
querer fazer toda a besteira de ser uma
grande família feliz.

JACK: Eles não são uma grande família feliz?

EU: *Suspiro*. Eles são. Definitivamente.

JACK: Não me oponho à ideia, mas


definitivamente nunca deixei algo assim passar
pela minha casa.

EU: Gem e eu cuidaremos de tudo.

EU: Você só tem que aparecer e ficar bonito

JACK: Isso é pedir muito.

EU: Por favor. Você poderia fazer isso em seu


sono.
EU: Cara, aposto que você fica fodidamente
adorável quando dorme.

JACK: Eu definitivamente não ronco tão alto


quanto alguém que mora nesta casa…

EU: Vai se fuder, eu te odeio.

JACK: Eba Dia de Ação de Graças!

EU: OK, TODOS SABEM O QUE VÃO TRAZER?!?!?

GEMMA: POR QUE VOCÊ ESTÁ GRITANDO.

EU: Me desculpe, eu realmente quero que


tudo corra bem.

EU: Jack não disse nada explicitamente, mas


tenho certeza de que esta é a primeira vez
que ele comemora o Dia de Ação de Graças
desde, você sabe, a perda de toda a família
em um acidente terrível, e agora estamos
todos entrando e assumindo o controle dele e
da casa, quero que tudo seja perfeito.

NICK: Uma maneira de baixar o clima, Sade.

HARLEY: Nós entendemos e prometemos


tornar o dia o mais perfeito possível.

GEMMA: Quero dizer, estou cozinhando, vai


ficar tudo bem.
NICK: Estou trazendo uma tonelada de
bebida, então vai ser melhor do que bom.

HARLEY: Minha mãe está fazendo macarrão


com queijo e torta, então temos certeza de
que todas as nossas bases estão cobertas.

EU: E eu tenho as flores e a decoração feitas


por mim, obv.

EU: Acho que estamos tranquilos.

EU: Se vocês puderem prometer não ser


totalmente embaraçosos.

GEMMA: Não prometo nada.

NICK: Jack me ama, não importa o quão


embaraçoso eu seja.

HARLEY: Sadie. Vai ficar tudo bem. Agora vá


fazer seus pedidos para que você possa
relaxar.

EU: Rsrs. Relaxar.

EU: NÃO SEI O SIGNIFICADO DA PALAVRA.

GEMMA: Oh Deus, voltamos a gritar.

EU: Ok. Então, planejamento para esta


semana: segunda-feira irei colher flores, terça
irei organizar, quarta de manhã irei entregar, à
tarde irei limpar toda a casa então, por favor,
não deixe nada nojento por aí. Quarta à noite
estarei assando e arrumando flores para nós.
Gem terminará na manhã de quinta-feira para
começar a cozinhar.

EU: Não sei por que de repente você precisa


saber minha agenda detalhada para a
semana, mas parte dela envolve você, então
vamos lá.

JACK: Estou por perto se você precisar de


ajuda com entregas ou carregando coisas
escada acima.

JACK: Eu também agendei uma faxina na


casa para quarta-feira, então você pode
riscar isso da sua lista.

EU: Você agendou uma limpeza na casa?

EU: Tipo, pessoas que sabem limpar casas?

JACK: Geralmente é quem eu contrato para


vir limpar a casa, sim.

EU: EU PODERIA TE BEIJAR AGORA.

EU: Não vou, porque você não me deu


consentimento verbal explícito e Harley não
tem tempo para me representar, MAS O QUE
ESTOU TENTANDO DIZER É OBRIGADA!!

JACK: Nick estava certo, você está muito


barulhenta ultimamente.
EU: Meu Deus, você e Nick têm seu próprio
grupo de mensagens? Adorável.

JACK: Você poderia por favor me pedir ajuda


se precisar esta semana?

EU: Vou pensar nisso

GEMMA: Alguma atualização de beijo?

EU: Nós realmente temos que fazer isso todos


os dias?

GEMA: Sim.

HARLEY: Sim.

EU: Não houve nenhum beijo hoje ou qualquer


outro dia, muito obrigado pelo lembrete.

HARLEY: Aguente firme, amiga, isso vai


acontecer em breve!

GEMMA: Enquanto isso, me avise se precisar


que eu traga algumas baterias

EU: Eu te odeio.
— Ok, então o Sr. Roberts aqui, Sra. Roberts lá. Gem, Jack e
eu deste lado. Harley e Nick do outro lado — coloco o cartão
indicando o lugar de cada um - uma pequena garrafa de vidro
com o nome atribuído e preenchida com mini rosas laranja - no
topo do prato e me afasto para examinar meu trabalho.
A mesa do Dia de Ação de Graças está posta, embora seja
apenas quarta-feira à noite. Eu queria que tudo fosse feito com
antecedência para poder dedicar minhas horas matinais
ajudando Gemma a cozinhar e cuidar de emergências de última
hora. A peça central ainda está lá em cima da minha geladeira
floral, mas todo o resto está pronto para ir. A mesa parece ter
sido posta por uma Martha Stewart moderna, o que significa
que meu trabalho aqui está feito.
Jack sobe as escadas do porão no momento em que estou
indo para a geladeira para me servir de uma grande taça de
vinho.
— Uau, isso está ótimo, Sade.
— Obrigada — eu ergui uma taça de vinho como uma
oferenda silenciosa, e ele assentiu. — Eu sei que tecnicamente
você deveria estar sentado na ponta da mesa, já a casa é sua, mas
imaginei que os pais de Harley são os únicos adultos dispostos
a nos tolerar, então devemos deixar essa honra para eles. Se
estiver tudo bem por você.
Jack pega a taça de vinho que estendo para ele e dá de
ombros.
— O que você achar melhor. Definitivamente, não estou
atualizado sobre o protocolo de feriados.
— Sorte sua, não temos protocolo. Comemos muito,
bebemos muito, jogamos alguns jogos e encerramos o dia — eu
bato meu copo contra o dele antes de tomar um longo gole.
Mentalmente, repasso tudo o que deveria realizar hoje,
marcando caixas enquanto desço na lista.
— A que horas Gemma vem amanhã? — Jack inclina o
quadril contra o balcão da cozinha, o deixando com alguns
metros de distância de mim.
— Ela estará aqui às oito, mas durma a hora que quiser —
eu sutilmente me movo, deixando a distância entre um pouco
menor, apenas um pouquinho. — Só avisando de que
estaremos assistindo ao desfile e eu dançarei e cantarei junto em
momentos oportunos.
— Eu não esperaria nada menos — ele combina suas
palavras com um sorriso provocador. — Você terminou tudo
do dia ou planeja fazer mais alguma coisa hoje à noite?
Então, sim, posso ter enlouquecido um pouco com o
planejamento esta semana, mas realmente quero que tudo
corra bem amanhã. Quero que este seja o Dia de Ação de
Graças perfeito para todos. Eu quero que seja o primeiro de
muitos que este grupo passa junto. Bem, este grupo completo,
o grupo que agora inclui Jack. Tenho sido convidada para
passar o Dia de Ação de Graças com família Roberts desde o
primeiro ano da faculdade, quando Harley descobriu que eu
planejava passar o fim de semana sozinha no dormitório. Foi a
primeira vez que a vi bater o pé, insistindo para que eu fosse
para casa com ela e passasse o feriado de fim de semana com
seus pais. Desde então, Gemma também se juntou a nós quase
todos os anos. A presença de Nick é mais esporádica, um tanto
baseada nos impulsos aleatórios de viagem dos pais, mas acho
que agora que ele e Harley estão deixando as coisas mais sérias,
ele será uma presença permanente na mesa de festas, mesmo
que seus pais passem este ano na Itália.
Eu engulo o resto do meu vinho.
— Acho que já fiz tudo o que estava planejado hoje. Vou
tomar um banho rápido e ir para a cama. E você?
— Acho que vou pintar um pouco — ele termina seu vinho
e leva nossos copos para a pia.
Ele está pintando muito mais ultimamente, embora nunca
em um momento em que eu também esteja trabalhando no
BeBs. Eu posso ver como meu ritmo de trabalho frenético e
propenso para cantar alto e desafinado pode ser uma distração,
mas, ao mesmo tempo, estou morrendo de vontade de ver Jack
pintando. Embora algo me diga que podemos acabar rolando
no chão sem roupa, nossos corpos cobertos por tinta.
O que é algo que não me deixaria brava.
— Legal.. Até amanhã, então — eu passo por ele enquanto
saio da cozinha, saboreando o entusiasmo por termos tido o
menor toque que pele a pele traz.
Em algum lugar nas últimas semanas, parei de olhar para
essa tensão crescente como algo a ser derrotado. Uma coisa que
me deixa tensa e impaciente. Em vez disso, estou saboreando.
Permitindo que a antecipação aumente, deleitando-se com
cada quase falha, sabendo que o acúmulo disso tornará a
recompensa muito mais doce. O que, honestamente, parece
maduro pra caralho.

Quando desço as escadas na manhã do Dia de Ação de Graças,


apenas alguns minutos antes de Gemma chegar e assumir a
cozinha, um Jack de pijama e um latte de baunilha já estão
esperando por mim na península da cozinha.
— Eu ia fazer algo para Gemma, mas não consegui me
lembrar do que ela gosta — diz Jack como forma de saudação.
Pego a caneca da Mulher Maravilha cheia de café e respiro o
perfume celestial.
— Sem problemas. Eu faço para ela. Obrigada por isso — eu
me inclino e dou um beijo suave em sua bochecha. Sua pele é
macia e cheira a algum tipo de loção pós-barba amadeirada,
cujo cheiro logo desaparecerá sob sua fragrância normal de café
e papel.
As bochechas de Jack ficam rosadas, mas ele me prende com
um olhar que não é constrangido nem hesitante. É abrasador.
— De nada. Feliz Dia de Ação de Graças.
— Feliz Dia de Ação de Graças.
Para me distrair da vontade de subir em seu colo e enfiar
minha língua em sua garganta, encontro o controle remoto da
TV da sala e mudo para o desfile. Raramente assistimos TV
neste andar, já que o porão é maior e o sofá mais confortável,
mas o desfile é inegociável para mim. E Nick e o Sr. Roberts vão
querer assistir algum tipo de esporte mais tarde, tenho certeza.
Gemma bate na porta um minuto depois e, depois que
preparo um latte para ela, ela me põe para trabalhar como um
subchef. Ela imediatamente entra em sua zona, controlando a
cozinha com a prática de uma Chef de Ferro e com a graça de
uma bailarina. Eu corto e corto e verifico as coisas no forno,
seguindo as ordens da minha chef da melhor maneira possível,
para não levar bronca. Jack, enquanto isso, mantém nossas
xícaras cheias, primeiro com café e depois, em uma hora mais
apropriada, com vinho branco.
Meia hora antes do resto da equipe chegar, corro escada
acima para pegar a peça central do refrigerador. Eu juntei uma
coleção de vasos de vidro marrom — garrafas de cerveja, e até
mesmo uma garrafa antiga de alvejante — e coloco em cada um
punhados de flores laranjas, vermelhas e creme. Eu arrumo
todos no centro da mesa em um amontoado, levando apenas
um segundo para verificar tudo antes de tirar algumas fotos
rápidas e subir correndo para me trocar.
Somos um grupo casual, então fico com meu jeans, mas
coloco um suéter bonito e botas de camurça, antes de
despentear meu cabelo e passar um pouco de brilho labial.
Tenho usado o mínimo de maquiagem desde que deixei meu
emprego “real”, mas sempre me sinto melhor com um pouco
de brilho labial.
Quando volto para a cozinha, faço um check-in final com
Gemma, que está terminando de cozinhar/assar. Temos uma
vasilha prateada abastecida com gelo, cerveja e vinho branco.
Nick está trazendo o vermelho e outras coisas.
Eu me viro para Gemma e levanto minha mão para um toca
aqui.
— Nós nos tornamos adultos pra caralho neste Dia de Ação
de Graças.
Ela bate na minha mão.
— Isso quase nem faz sentido. Mas sim, nós acertamos em
cheio.
Jack se junta a nós na cozinha, pegando uma cerveja na
geladeira para não estragar nossa exibição perfeita.
— Tudo parece incrível. E está um cheiro incrível.
— Obrigado, Jackalope — dou-lhe um murro no braço.
Gemma revira os olhos.
— Você sabe que isso não é uma coisa real — ele abre a
tampa de sua cerveja, e estou tão cansada a essa altura que
observo a protuberância de seus bíceps magros mesmo durante
esse minúsculo movimento de flexão.
— Eu literalmente não poderia me importar menos —
estendendo a mão para a bandeja de aperitivos, pego um
biscoito e coloco na boca.
A campainha toca um segundo depois, e entramos a família
Roberts mais o Nick, pegando casacos e servindo bebidas e
colocando todos no lugar. Os homens vão naturalmente em
direção à TV, onde Jack passa o controle remoto para Nick.
Todos eles se acomodam no sofá e nas poltronas ao redor da
mesa de centro, onde um prato adicional de aperitivos está
pronto.
Gemma e a Sra. Roberts se amontoam na cozinha, passando
o tempo e as temperaturas e provavelmente resolvendo a fome
mundial entre as duas enquanto estão nisso. Harley e eu
sentamos nos bancos do bar na ponta da cozinha, o lugar
perfeito para observar os dois grupos e ter fácil acesso aos
aperitivos.
— Entãoooo — eu a cutuco com o cotovelo. — Primeiro
grande feriado como casal. Como tá indo?
Harley revira os olhos, mas um sorriso lento também se
espalha em seu rosto.
— Não é a primeira vez que Nick e eu passamos o Dia de
Ação de Graças juntos.
— Não, mas é a primeira vez desde que você está
apaixonadaaaaaa — sério, é um mistério eu sequer ter amigos.
— Deus, eu mal posso esperar para você e Jack finalmente
ficarem juntos. Você vai gostar tanto do que está vindo para
você — Harley pega uma garrafa de vinho do balde, servindo-
se de um copo antes de completar o meu.
Eu suspiro.
— Eu provavelmente deveria receber algum tipo de
recompensa por quão paciente e nobre eu tenho sido.
Harley bufa em seu copo de vinho.
— Primeiro, você e paciente são coisas que não combinam.
Dois, você receberá uma recompensa.
Eu olho para ela interrogativamente, minhas sobrancelhas
levantadas.
— Jack é a recompensa. — Ela me dá um tapinha na testa, e
eu esqueci o quanto isso dói.
— Você é tão idiota agora que está apaixonadaaaaaa.
Ela ri e me empurra, quase me derrubando do banco.
— Fale comigo daqui a um mês. Você vai ver.
Meu olhar vagueia até os homens, descansando na sala de
estar. Jack encontra meus olhos, me dando uma piscadinha fofa
e um sorriso adorável. O que me faz sorrir também,
provavelmente adoravelmente.
Harley me pega e ri.
— Esqueça isso, fale comigo amanhã e você verá.
Uma hora depois, todos se acomodam em seus lugares
designados e a comilança começou. Travessas são passadas,
taças de vinho cheias, carne sendo cortada. Uma vez que nossos
pratos estão cheios, nós quatro voltamos nossa atenção para a
Sra. Roberts, que nos conduz em uma rápida oração. A maioria
de nós realmente não tem uma religião, mas também sabemos
que é importante para os Roberts, então vamos em frente.
E então, por alguns minutos, não há nada além do barulho
de utensílios nos pratos, salpicado com um ocasional
“Mmmmm”. Porque caramba, Gem sabe mesmo cozinhar.
O Sr. Roberts finalmente quebra o silêncio.
— Gemma, você se superou. Está tudo delicioso.
Todos nós balançamos a cabeça em acordos com a boca
cheia de comida, não querendo parar de comer para agradecer
a chef. O que por si só é um elogio a ela. A comilança frenética
começa a diminuir pouco tempo depois, pois todos passamos a
saborear o que está no nosso prato, em vez de saborear cada
mordida o mais rápido possível.
— Acho que está na hora — diz a Sra. Roberts alguns
minutos depois.
Todos nós gememos, sabendo o que está por vir e fingindo
odiá-lo mesmo que seja minha parte favorita do Dia de Ação de
Graças. Além do macarrão com queijo.
Harley se senta um pouco mais reta em seu assento.
— Vou começar. O meu é fácil este ano — Ela se vira para
Nick, e o sorriso que eles compartilham quase me dá vontade
de vomitar tudo o que acabei de comer. — Estou muito
agradecida por você, Nick. Obrigado por me amar e por me
deixar amar você.
Nós os banhamos em um refrão de “Ownnnnn,” e Nick
realmente fica corado.
— Posso dizer o mesmo? — Nick pergunta depois de se
inclinar e dar um beijo em Harley que fez seu pai se contorcer
em seu assento.
— Sim, porque posso vomitar se tiver que ouvir mais
alguma coisa de vocês dois — Gemma arranca um pedaço de
seu pão e joga em Nick, que alegremente o pega e come.
— Minha vez — diz a Sra. Roberts. — Estou muito
agradecida por minha adorável filha, e estou tão agradecido por
ela ter vocês como amigos. E eu sou grata por vocês
continuarem deixando os velhos comemorarem com todos
vocês, ano após ano.
O Sr. Roberts pigarreia.
— Oh, e eu sou grata por meu marido. É claro — ela lhe dá
um sorriso deslumbrante.
— E eu sou grato por você, querida — ele dá um tapinha na
mão de Harley. — E você, querida.
Gemma toma um longo gole de seu vinho.
— Não vou mentir, pessoal, tem havido algumas vezes
ultimamente em que não me sinto tão grata.
Harley e eu trocamos um olhar pesado por cima da mesa.
— Mas mesmo que a merda às vezes seja uma merda, sei que
sempre posso contar com todos nesta sala para me apoiar e sou
muito grata por isso.
Eu chego na frente de Jack e aperto sua mão. Quando eu
puxo minha mão para trás, meu braço roça no peito de Jack e
sua respiração falha com o contato.
Tecnicamente, deveria ser a vez de Jack, já que ele está ao
lado de Gemma, mas decido entrar e ir primeiro.
— Tenho muito a agradecer este ano, a todos os que estão
sentados nesta mesa. Obrigada a todos por me apoiarem
quando decidi fazer o movimento definitivo e abrir meu
próprio negócio de floricultura. Obrigada por me ouvirem
planejar, lamentar e reclamar, e obrigado por fazerem as
entregas e ajudarem sempre que precisei — eu me inclino
ligeiramente para Jack. — E obrigada, Jack, por ser literalmente
o melhor proprietário do mundo e me deixar morar em sua bela
casa por uma ninharia que deveria ser um crime. Nada disso
teria acontecido sem você e sua generosidade, então obrigada.
Os cantos de seus lábios se curvam no sorriso mais doce e ele
me lança um olhar cheio de emoção tão poderosa que, se eu não
o conhecesse melhor, poderia chamar isso de amor.
Jack pigarreia, voltando sua atenção para a mesa como um
todo.
— Isso pode soar clichê, mas, honestamente, a coisa pela
qual sou mais grato neste momento é o Dia de Ação de Graças
— ele faz uma pausa, limpando a garganta novamente. — Faz
muito tempo que não comemoro nenhum tipo de feriado e, há
muitos anos, não participava de uma cena como essa, cercada
por uma família, não estava nos planos para mim.
Tento piscar muito, e disfarçadamente, mas acho que não
funciona. Meu coração está batendo em um ritmo acelerado no
meu peito, tão forte que quase dói.
Jack ergue a cabeça em minha direção.
— E então ela entrou na minha vida, alto e claro, sem parar
de falar o tempo todo — ele faz uma pausa enquanto todos na
mesa riem. — E ela mudou minha vida — ele se mexe em seu
assento, virando-se para mim. — Você mudou minha vida,
Sadie. Você trouxe família, amigos, risos, felicidade e uma
maldita loja de flores para minha casa. Nosso Lar. E com tudo
isso, você me trouxe de volta à vida — ele estende a mão e pega
minha mão na dele. — E por isso, serei eternamente grato por
você.
Eu quero abrir minha boca e dizer um milhão de coisas, mas
eu sei que se eu fizer isso, vou perder minha cabeça
completamente. Então, em vez disso, enxugo meus olhos com
um guardanapo, um tanto reconfortada ao notar Harley e a
Sra. Roberts fazendo o mesmo, e aperto sua mão como se não
quisesse soltá-la nunca mais. Porque eu não quero.
— Foda-se, cara, como alguém pode superar isso? — Nick
brinca com a emoção no ar como se fosse um ovo.
Jack sorri e dá de ombros.
— Pelo menos fui o último, e agora você tem um ano inteiro
para pensar nisso.
Todos nós rimos e secamos nossas lágrimas e bebemos mais
vinho e comemos outra rodada de macarrão com queijo. E o
tempo todo, Jack segura minha mão.

Todos se despedem algumas horas depois, bêbados de vinho e


com muitas risadas, sonolentos por causa do peru e de um
longo dia. Fecho a porta atrás de Gemma, que promete vir
amanhã para ajudar a lavar a louça, embora ela definitivamente
não vai. Não que eu me importe — eu lavaria um milhão de
pratos se isso significasse repetir esta noite.
Jack está na cozinha, examinando a montanha de porcelanas
e pratos.
Eu me inclino contra a ponta da cozinha.
— Nem se preocupe em começar agora, podemos lidar com
isso amanhã.
Ele joga fora o pano de prato que estava segurando.
— Não precisa me dizer duas vezes — ele vem até mim,
parando apenas alguns centímetros fora da minha bolha
pessoal.
Quando eu definitivamente o quero na minha bolha. Eu
estendo a mão, enganchando meu dedo no passador do cinto
de sua calça jeans.
— Obrigada pelo que você disse esta noite.
Ele passa os dedos pelo meu antebraço, segurando meu
cotovelo na palma da mão.
— Tudo o que eu disse era verdade.
Eu dou um pequeno puxão e ele chega alguns centímetros
mais perto.
— Você me deu mais do que eu jamais poderia retribuir,
Jack.
Sua mão sobe pelo meu braço e ele dá mais um passo, nossos
peitos agora pressionados juntos. Sua outra mão se estende, seu
polegar traçando ao longo da minha mandíbula.
— Você me deu tudo.
Nós dois respiramos fundo, o movimento trazendo nossos
corpos ainda mais próximos.
Ele gentilmente inclina minha cabeça para cima, sua boca
pairando a uma polegada de distância da minha.
— Eu quero apostar tudo nisso, Sadie.
— Eu também — respiro.
Ele sorri e fecha o espaço entre nós, com um roçar de seus
lábios tão gentil que nem sei se vou sentir.
Exceto que eu sinto isso.
A eletricidade corre em minhas veias e, por um momento,
fico sem fôlego.
Jack deixa o menor espaço de volta entre nós, por um
milésimo de segundos, antes de seus lábios caírem sobre os
meus, e o que era um raio de eletricidade se transformar em
uma tempestade de raios. Ele segura minha nuca com aqueles
dedos fortes e perfeitos, me agarrando como se nunca mais
quisesse me soltar. E eu espero que ele nunca me deixe ir.
Minhas mãos percorrem suas costas e seu peito, até que
deslizam sob sua camisa e ele geme em minha boca. Meus dedos
se agarram a esses músculos magros, traçando cada cume e
corte, contornando seu peito, finalmente alcançando os cachos
em sua nuca, torcendo neles. Eu me levanto na ponta dos pés,
precisando que cada centímetro meu seja pressionado em cada
centímetro dele.
O tempo todo ele me beija, seus lábios macios e doces antes
de ficarem duros e exigentes. Eu me abro para ele, aproveitando
cada respiração sua.
Quando finalmente nos separamos, é por pura necessidade,
nós dois ofegantes, corações batendo forte, nossos batimentos
batendo sincronizados entre nossos peitos pressionados juntos.
Jack me levanta no balcão, colocando-se entre minhas pernas,
sua testa descansando contra a minha.
Eu coloco um beijo suave de boca fechada em seus lábios.
— Isso definitivamente valeu a pena esperar.
Ele sorri, abaixando a boca e mordiscando minha
mandíbula.
— Com certeza — ele coloca seus lábios de volta aos meus,
envolvendo minhas pernas em volta de sua cintura e
pressionando em mim.
Seu beijo é intenso, queimando os meus lábios até a ponta
dos dedos dos pés, que estão se enrolando dentro das minhas
botas.
E eu o quero. Eu o quero de uma forma diferente de como
eu já quis alguém antes. Eu o quero ao meu redor e sobre mim
e dentro de mim. Mas também o quero perto de mim, ao meu
lado, e comigo.
Eu seguro suas bochechas em minhas mãos e arrasto meus
lábios dos dele.
— Seria totalmente hipócrita da minha parte perguntar se
podemos ir devagar?
Os olhos de Jack procuram os meus. Em algum momento
seus óculos desapareceram e o verde escureceu, uma floresta
sombreada.
— Quando digo que “estou dentro” significa “estou
dentro”, Sade. No entanto, o que você quiser. O que você
precisa.
Eu balanço minhas sobrancelhas.
— Não me interprete mal, eu quero e preciso disso — eu
pressiono meus quadris nos dele, sentindo a evidência de seu
próprio desejo e necessidade. — Mas também não quero
estragar tudo.
Ele entrelaça nossos dedos.
— Não vamos foder com isso.
— Eu poderia.
Ele planta um beijo suave na minha bochecha.
— Eu não vou deixar você fazer isso.
Eu passo meus braços em volta de seus ombros.
— Espero que você saiba no que está se metendo, Jack
Thomas.
— Você não é tão assustadora quanto pensa, Sadie Green —
ele segura minha bunda com aquelas mãos grandes, me
puxando do balcão. — Quer descer e assistir a um filme?
— Esse código é para “quer descer e dar uns amassos”?
— Talvez, sim? Tudo bem? — ele encontra seus óculos e os
coloca de volta, dando-me um sorriso tímido no processo. O
resultado é tão fofo que dá vontade de mordê-lo.
— Sim, tudo bem. Se eu puder colocar meu pijama primeiro
— já estou subindo as escadas, para me trocar. E quando o
encontro no porão, estou vestida com calças de pijama de
flanela e uma camiseta enorme. E ele olha para mim como se eu
fosse a coisa mais linda que ele já viu.
Não me lembro que filme colocamos ao fundo porque não
importa. A noite foi para beijos e carinhos e para adormecer nos
braços de Jack.

— Sadie — o sussurro suave de Jack faz cócegas em meu


ouvido.
Eu gemo e tento rolar, mas estou presa nos braços de Jack.
O que na verdade é uma coisa boa porque quase rolei do sofá.
— Que horas são?
— Super tarde e super cedo. Acho que é hora de ir para a
cama.
Eu me aninho em seu pescoço, plantando beijos sonolentos
em sua garganta.
— Acho que depende da cama de quem.
Ele vira a cabeça, seus lábios capturando os meus.
— Você tem alguma preferência?
Nunca tendo visto a cama de Jack, opto pelo conhecido.
— Minha, por favor.
Subimos as escadas, de mãos dadas. Saio para o banheiro
para escovar os dentes. Jack vai para seu próprio quarto para se
trocar.
Uma vez no meu quarto, puxo as cobertas e tiro as calças do
pijama. Me enfio debaixo das cobertas, puxando o edredom até
o queixo. Jack chega um minuto depois, tendo trocado o suéter
e a calça jeans por apenas uma calça de flanela. Ele desliza para
a cama, me puxando para seu abraço. Eu coloco uma perna
sobre a dele, nos enrolando completamente, enfiando minha
cabeça debaixo de seu queixo.
Ele passa a mão sobre a pele nua da minha panturrilha.
— Você realmente tinha que ficar aqui sem calça, hein?
Eu passo minha mão sobre seu peito nu.
— Eu quero que você saiba que eu odeio dormir de calça.
Tanto quanto você parece odiar dormir de camisa.
Seus dedos dançam na minha coxa.
— Você provavelmente não acreditaria quantas vezes eu
sonhei em ter essas pernas em volta de mim — Seus dedos fortes
me tocam no meu joelho, me puxando para mais perto dele.
— Acho que Acho que se iguala a quantas vezes sonhei com
aqueles dedos fazendo… coisas… para mim — eu inclino minha
cabeça para cima, colocando uma linha suave de beijos ao longo
de sua mandíbula. Onde estava liso esta manhã, agora está com
barba por fazer e áspera.
Ele traz sua boca até a minha. Este beijo é longo e lento, Jack
deliberadamente explorando as curvas dos meus lábios. Ele me
beija com a atenção aos detalhes que eu esperaria de um artista,
absorvendo tudo, percebendo quando seus movimentos me
fazem suspirar, me fazem gemer. Sua boca finalmente desce
pela curva do meu pescoço. Ele mordisca ao longo da minha
clavícula, deslizando a gola larga da minha camiseta do meu
ombro.
Eu quero rasgar minha camisa e implorar para ele mover sua
boca para baixo, mas eu disse que queria devagar e quero isso
mesmo. Mesmo que meus quadris pareçam rolar
involuntariamente contra a coxa de Jack, firmemente plantado
entre minhas pernas. Minha boceta está sedenta por toque, por
pressão. Nunca fiquei tão excitada com um beijo antes, e quero
mais. Eu preciso de mais.
— Jack — suspiro quando sua boca se move de volta para o
meu pescoço, me mordendo suavemente antes de lamber a leve
marca de seus dentes na minha pele.
Ele se afasta, e eu dou minha primeira boa olhada em seus
olhos, suas pupilas pretas e grandes, o verde quase tão escuro.
— Você quer que eu pare?
Eu balanço minha cabeça, toda e qualquer palavra é
meramente uma confusão incoerente em meu cérebro.
Ele coloca ainda mais espaço entre nós.
— Sinto muito, Sade. Você pediu devagar, e isso claramente
não é devagar.
Eu agarro seu quadril, puxando-o de volta para o meu
espaço, entrelaçando nossos membros o mais próximo possível.
— Eu ainda quero ir devagar, mas também quero que você
me toque.
Seu pau já duro, pressionado contra a minha barriga,
endurece visivelmente. Jack se abaixa para ajustar as calças.
Eu coloco minha mão levemente sobre a dele.
— Tudo bem?
Ele acena com a cabeça, removendo a mão e colocando-a em
cima da minha, guiando minha pressão enquanto acaricio seu
comprimento grosso, apenas uma camada de flanela nos
separando do contato pele a pele. Mas depois de um segundo,
ele pega minha mão, beija minha palma e a coloca de volta em
seu quadril. Ele traz sua boca de volta para a minha, seus lábios
ardentes e exigentes.
— Você primeiro — ele murmura em meu pescoço.
— Você descobrirá que não sou de discutir com esse
comando — eu rolo meus quadris, produzindo um rosnado
arrepiante de Jack.
Ele coloca um pedaço de espaço entre nós.
— Se eu for longe demais, apenas me diga para parar. Não
quero fazer nada para o qual você não esteja preparada.
Eu torço meus dedos nos cachos em sua nuca, trazendo seus
lábios aos meus.
— Eu sei. Eu confio em você, Jack.
Um lampejo de algo, brilhante como um raio, passa por seus
olhos.
— Sadie — meu nome é um sopro, um sussurro.
Eu não o deixo continuar, pressionando minha boca contra
a dele quase desesperadamente. Seus braços fortes me envolvem
completamente, suas mãos espalmadas nas minhas costas, nos
unindo. Ele me segura por um minuto, com força, como se
estivesse preocupado que eu fosse afastá-lo. Mas tudo que eu
quero é ele mais perto. Eu o quero em todos os lugares.
Suas mãos deslizam sob a borda da minha camisa, seus dedos
correndo pela extensão do meu estômago antes de circularem
pelas minhas costas.
Finalmente, eu penso, foda-se. Sento-me e puxo minha
camisa estúpida sobre a cabeça, jogando-a para o lado da cama
antes de cair dramaticamente de volta nos travesseiros.
Jack está empoleirado acima de mim, seus olhos deslizando
silenciosamente sobre minha pele nua.
— Você é linda — Ele estende um único dedo, traçando a
curva dos meus seios, antes de colocar a palma da mão contra a
minha barriga. — Eu sei que você já ouviu isso antes, o quanto
você é linda. Porque é verdade — Ele abaixa a cabeça,
colocando um único beijo na cavidade plana no centro do meu
peito. — Mas seu coração é a coisa mais linda em você, Sade.
Eu engulo o caroço que parece ter saltado direto para a
minha garganta. É de longe a coisa mais legal que alguém já me
disse quando eu estava nua, e não sei se consigo lidar com mais
de sua perfeição.
— Já estou seminua, Jack and the Beanstalk, não precisa me
bajular.
Ele arrasta a boca para a direita, colocando beijos sobre o
volume do meu seio.
— Um dia desses, vou fazer você admitir que é uma boa
pessoa — sua língua estala para fora, provocando meu mamilo,
antes de ele levá-lo totalmente em sua boca.
Meus quadris saltam e eu suspiro quando seus dentes roçam
minha carne sensível.
— Continue fazendo isso e eu me nomearei uma santa.
Ele ri, as vibrações me fazendo gemer. Suas atenções se
voltam para o meu outro seio enquanto eu emaranho meus
dedos em seu cabelo, minha outra mão segurando seu ombro.
Minha pele queima por toda parte, cada centímetro do meu
corpo iluminado por dentro. Eu sou uma represa prestes a
estourar, então eu puxo Jack de volta, minha língua varrendo
sua boca. O punhado de pelos em seu peito esfrega contra meus
mamilos tensos, e meus quadris continuam a rolar por vontade
própria.
Jack desliza a mão pela minha barriga, seus dedos dançando
ao longo da borda da minha calcinha.
— Ainda tá tudo bem?
— Porra, sim — eu coloco meus polegares no cós e e tiro ela,
jogando para longe.
Ele passa a mão pela minha coxa. Quando ele pousa no meu
joelho, ele me abre, me expondo para ele. Ele morde meu
queixo.
— Estou tentado a provocar você, fazer você implorar para
que eu toque em você.
— Há muito tempo para isso, literalmente, em qualquer
outra noite — eu o encaro até que ele move sua mão, pairando
sobre mim até que eu possa sentir o calor de sua palma.
— Eu deveria saber que você seria exigente na cama — ele
não me deixa responder, seus lábios devorando os meus ao
mesmo tempo em que ele passa um dedo sobre mim.
Eu gemo em sua boca e ele grunhe, seus quadris
empurrando, sua ereção presa entre nós. Ele me acaricia, nunca
tirando seus lábios dos meus, até que todo o meu corpo esteja
tenso. Quando estou oscilando no limite, ele puxa a mão para
trás e eu choramingo. Ele engole o som, um sorriso diabólico
em seus lábios implacáveis.
Quando penso que posso realmente chegar no limite, ele
coloca um único dedo dentro de mim. Eu tenho que me afastar
de sua boca para poder gritar, porque a tortura é requintada.
Seus movimentos são lentos, deliberados, e ele atinge cada
terminação nervosa do meu corpo, provocando meu clitóris
antes de mergulhar os dedos de volta para dentro de mim, desta
vez com os dois. E quando sua boca pousa de volta em meu
seio, lambendo e mordendo meu mamilo, eu gozo, apertando
seus dedos, meus quadris empurrando até eu descer.
Eu pego seu rosto em minhas mãos, arrastando seus lábios
nos meus. Seus dedos continuam a me provocar, acariciando
levemente enquanto nossas bocas se fundem. Minha mão viaja
por sua barriga lisa, sobre os cumes de seus músculos magros.
Empurro suas calças para baixo apenas o suficiente para que eu
possa envolver minha mão em torno dele sem impedimentos.
Ele está quente e duro na palma da minha mão, e o gemido que
ele solta em minha boca quase me faz gozar novamente.
— Tudo bem? — eu o acaricio uma vez, ao longo de seu
longo comprimento.
— Porra, sim.
Eu o agarro com mais força em minha mão e ele faz o
trabalho para mim, empurrando em meu punho, mesmo
enquanto continua a me acariciar, levando-me ao ápice antes
de recuar de novo e de novo até que eu queira gritar.
— Por favor — eu finalmente choramingo. — Não pare,
Jack.
E ele não para. Eu o aperto em torno de seus dedos pela
segunda vez, gritando em liberação. Jack bombeia em minha
mão com mais força, estremecendo um segundo depois.
Nós caímos de volta nos travesseiros, Jack pegando minha
mão na dele, entrelaçando nossos dedos enquanto
recuperamos o fôlego. Uma vez que sua respiração se
estabilizou, Jack sai da cama, desaparecendo no banheiro e
voltando um segundo depois com um pano úmido. Nós nos
limpamos e ele desliza de volta para debaixo das cobertas, me
colocando em seus braços.
Não dizemos mais nenhuma palavra. Não precisamos. Nós
apenas nos enrolamos um no outro e caímos em um sono feliz.

Eu acordo primeiro, me alongando devagar e com cuidado,


certificando-me de não acordar Jack do sono. Movendo-me um
centímetro de cada vez, saio de debaixo das cobertas, agarrando
minha camisa e calcinha antes de ir para o banheiro. Passo mais
tempo lá do que realmente preciso, surtando discretamente
sobre voltar para o meu quarto e encontrá-lo vazio.
Embora, mesmo que o fizesse, o mais longe que Jack poderia
ir é descer o corredor até seu próprio quarto.
Porque moramos juntos. Porra.
Passei a noite anterior com meus lábios aparentemente
permanentemente presos aos do meu colega de quarto. Não
apenas meu colega de quarto, meu senhorio. O homem que
pode decidir me expulsar de sua casa a qualquer momento. Se
e quando eu estragar tudo, ele pode fazer com que todo o meu
plano de vida de planilha financeira cuidadosamente
construída desse uma reviravolta.
E sim, eu percebo que Jack me conhece bastante bem agora
— não sou exatamente tímida — mas quais são as chances de
seu eu perfeito realmente lidar com meu eu idiota a longo
prazo?
Meu batimento cardíaco acelera e meu peito aperta.
Abro a tampa do vaso sanitário e desabo no assento,
enfiando a cabeça entre os joelhos.
Eu realmente fodi com tudo desta vez.
Tenho 1.000 por cento de certeza de que Jack está indo de
volta para seu quarto e passará o resto de seu dia — o resto de
sua vida — tentando me evitar, lamentando para sempre seu
lapso de julgamento que terminou com suas mãos na minha
calcinha.
Eu aperto minhas coxas juntas, a memória sozinha o
suficiente para me fazer doer.
Assim que dei a Jack bastante tempo para dar o fora do meu
quarto, volto sorrateiramente. Ele ainda está lá, ainda
dormindo, ainda escondido sob minhas cobertas. Ele está de
barriga para baixo, com as mãos debaixo do travesseiro. Se eu
não o conhecesse melhor, poderia pensar que ele está sorrindo
durante o sono. Mas isso não pode ser. Não há como ele
realmente estar feliz depois do que aconteceu entre nós.
Subindo de volta na cama, equilibro meu peso com cuidado
para não mexer no colchão. Eu deslizo até a borda mais
distante, colocando o espaço máximo absoluto entre nós,
trazendo as cobertas até o meu queixo e observando-o dormir
como a maldita pervertida que eu sou. Esta pode ser a última
vez que vejo seu rosto em paz. Certamente, uma vez que ele
abra os olhos e nos veja na mesma cama, esse belo rosto será
dominado pelo horror.
Enquanto Jack desfruta de seu sono tranquilo,
mentalmente começo a fazer uma lista de verificação de todas
as coisas que precisarei fazer quando ele me pedir para sair de
casa. Encontre um lugar para morar, obviamente, e terá que ser
barato. Pergunte ao bar sobre fazer alguns turnos extras, já que
nunca mais na minha vida terei a sorte de pagar tão pouco de
aluguel. Possivelmente veja sobre alugar um espaço de estúdio
também, já que qualquer apartamento que eu puder pagar com
meu salário de barman será minúsculo e definitivamente não
terá espaço para coisas como refrigeradores florais.
Estou tão perdida em pensamentos que nem percebo os
olhos de Jack se abrirem.
— Por que você está tão distante? — sua voz está grogue de
sono, toda baixa, estrondosa e sexy pra caralho.
O que é rude, já que sei que ele está prestes a me dizer para
deixar sua casa perfeita e nunca mais voltar.
— Sadie? — ele vira de costas e estende o braço. — O que
você está fazendo aí?
— Te dando espaço — eu me enrolo em uma pequena bola,
querendo ser o menor possível.
— Não quero espaço. Traga sua bunda sexy para cá — ele
sorri, mas desaparece rapidamente. — Merda. A menos que
você não queira isso. Eu posso ir — ele joga as cobertas,
revelando seu peito ainda muito nu.
— Jack, a casa é sua. Eu posso ir — tiro meus membros e
saio de debaixo das cobertas. — Posso ficar com Harley e Gem
até encontrar um novo lugar. Ou talvez Harley apenas vá morar
com Nick e eu possa ficar com o quarto dela. Na verdade, esse
seria o melhor cenário, embora eu não queira forçá-los para
algo para o qual não estão preparados, obviamente. Mas estou
desesperada por um lugar para morar, então, me conhecendo,
vou me afastar.
Jack está parado ao pé da cama enquanto começo a
vasculhar as gavetas da minha cômoda, nem mesmo certa do
que estou procurando.
— Você quer se mudar?
Eu paro de mexer, mas não me viro para olhar para ele.
— Claro que não quero sair. Mas também não quero que
você sinta que precisa me deixar ficar aqui.
— Por que eu me sentiria assim?
— Olha, ontem à noite,, as emoções estavam expostas, ok?
— eu me viro para encará-lo e o olhar em seus olhos - pura
tristeza sem filtro - quase me parte em dois. — Então eu
entendo que você disse algumas coisas e fez algumas coisas que
você normalmente não teria dito e feito, eu entendo. Não vou
me agarrar ao estágio cinco e cobrar de você promessas feitas no
calor do momento.
Ele me encara em silêncio por um minuto.
— Você realmente pensa tão pouco de mim?
Minha voz cai.
— Eu acho o mundo de você, Jack. Você é o melhor homem
que já conheci. E é assim que eu sei que você nunca iria querer
ficar com alguém como eu — eu mordo meu lábio, fazendo o
meu melhor para sufocar a enxurrada de palavras que ameaça
explodir da minha boca. Não vou recorrer à mendicância.
Ele cruza o quarto até mim, estendendo a mão para a minha
mão e entrelaçando nossos dedos.
— Tenho alguma opinião sobre isso, ou você apenas toma
todas as decisões aqui?
Meus lábios franzem, e eu balanço minha cabeça, incapaz de
abrir minha boca sem quebrar.
Ele puxa minha mão, puxando-me para seu abraço,
colocando minha cabeça sob seu queixo.
— Eu não tenho certeza do que você acha que “estou
dentro” significa, Sade, mas para mim com certeza não significa
acordar na manhã seguinte e me afastar da mulher por quem
estou me apaixonando.
Eu viro minha cabeça em seu peito, não querendo que ele
veja meu rosto.
— Como você poderia se apaixonar por uma idiota como
eu, Jack?
Ele nos separa, segurando meu queixo com a mão, me
forçando a olhar para ele.
— Pare de chamar minha namorada de idiota — ele tenta
manter um rosto sério, mas não funciona, um sorriso puxando
os cantos dos lábios. — Posso te chamar assim?
Alguma coisa nesta terra já soou tão doce quanto Jack
Thomas se referindo a mim como sua namorada?
Sinceramente, não sei o que fazer com sua declaração, ou o
afeto que ela implica, mas ajuda a acalmar minhas
preocupações. De alguma forma, o fato de Jack me chamar de
“namorada” parece mais íntimo do que sua mão dentro da
minha calça. Mas porque não posso simplesmente aceitar o
sentimento real por trás de suas palavras, faço o que sempre
faço e desvio.
— Você está perguntando se pode me chamar de “idiota”?
Ele move a mão para a minha nuca.
— Não. “Namorada”.
Não resisto quando ele me puxa para mais perto.
— Isso me faz sentir como se estivéssemos na sétima série.
Acho que foi a última vez que tive um namorado.
— Você quer que eu seja seu namorado, Sadie? — há um
brilho perverso brilhando em seus olhos.
Meus lábios puxam para baixo, fazendo o possível para lutar
contra o desejo crescente de sorrir.
— Você sempre vai ser tão cafona?
— Você sempre vai ser tão teimosa?
— Com certeza. Eu não posso acreditar que você ainda tem
que me perguntar isso.
Ele ri, inclinando-se para marcar uma linha de beijos ao
longo da minha mandíbula.
— Por favor, diga que você vai ser minha namorada, Sadie.
— Bem, já que você pediu tão bem — eu viro minha cabeça,
capturando sua boca com a minha, muito feliz por ter tirado
um tempo para escovar os dentes durante meu discreto ataque
de ansiedade no banheiro.
Jack se afasta muito antes que eu queira.
— Eu poderia fazer isso o dia todo, mas se eu não parar de te
beijar agora, vamos acabar de volta naquela cama, e não acho
que vamos sair pelo resto do dia.
Eu fico na ponta dos pés para poder mordiscar seu pescoço.
— Isso é um problema para você?
Ele envolve seus braços em volta da minha cintura, me
levantando do chão e me levando até a porta.
— Não. Mas temos uma pia cheia de pratos e tenho quase
certeza de que você tem pedidos que precisa atender.
Eu saio de seus braços no patamar, não confiando em
ninguém para me carregar por um lance de escadas, não
importa o quão perfeito ele pareça.
— Por que você tem que ser tão prático e lógico com as
coisas?
— Não quero distraí-la de seu negócio, minha rosa.
— Você acabou de me chamar de minha rosa? — o café está
chamando, então vou imediatamente para a máquina de café
expresso assim que chego à cozinha. — Acho que vou ter que
vetar esse apelido.
Jack bate seu quadril no meu, me empurrando para fora do
caminho da cafeína, preparando os ingredientes muito mais
rápido do que eu seria capaz.
— Isso tá vindo da mulher que me chama de tudo, de Jack
Ligeiro a Jack-o'-Lantern.
Eu subo no balcão ao lado dele, pegando duas canecas no
armário, saboreando essa coreografia matinal fácil entre nós.
— Sim, mas é engraçado quando eu faço isso.
Jack revira os olhos, girando um botão na máquina e
observando o café expresso pingar na minha caneca.
— Tudo o que você diz, minha boca de lobo.
— Oh Deus. Eu criei um monstro — eu me inclino e dou
um beijo suave em seus lábios. — Ainda bem que você conhece
uma máquina de café expresso, Jack of Hearts3.
Ele derrama cuidadosamente o leite quente sobre o meu café
expresso, entregando-me um latte perfeito e combinando-o
com outro beijo.

3
Valete de copas.
— Eu sei como lidar com muitas coisas, dente-de-leão.
— Tecnicamente isso é uma erva, não uma flor.
— Sim, sim — ele volta sua atenção para o café, fazendo um
latte para si também.
Levamos nossas canecas para o sofá da sala, sentamos e
conversamos sobre nada importante. Eventualmente, voltamos
para a cozinha, lidando com a montanha de pratos sujos antes
de ir para o BeBs para trabalhar nos arranjos que precisam ser
entregues no dia seguinte. Desço as escadas para me juntar a
Jack para um jantar de sobras, seguido de um “filme” no sofá
do porão. Quando chega a hora de dormir, nós
automaticamente vamos para o meu quarto, como se
estivéssemos fazendo a mesma rotina por anos. É fácil e
perfeito, e ainda não consigo aceitar totalmente que Jack quer
estar nisso, comigo, para qualquer coisa chamada de "longo
prazo". Mas meu coração está cheio e feliz, então decido surfar
na onda o máximo que puder.

EU: Entãooooooo

GEMA: Ai meu Deus. Finalmente.

EU: Você nem sabe o que vou dizer.

GEMMA: Nós sabemos perfeitamente o que


você vai dizer.
GEMMA: Harley, não sabemos o que ela vai
dizer?

HARLEY: Que tal deixá-la dizer?

EU: Obrigada, Harley.

EU: …

EU: Eu beijei o Jack.

GEMMA: Ok, admito, isso foi um pouco menos


gráfico do que eu esperava.

GEMMA: O dito beijo levou a sexo?

EU: Quem disse isso?

EU: E não. Isso não aconteceu. Estamos


levando as coisas devagar.

HARLEY: Acho que Gem acabou de cair da


cama.

GEMMA: Sim. Eu absolutamente cai. Você


acabou de dizer que está levando as coisas
devagar?

EU: Sim. E eu estou morrendo, eu o quero


tanto.

EU: Mas acho que esta é a melhor decisão.

HARLEY: Uau. Estou orgulhosa de você, Sade.


E feliz por você, obv. Jack é incrível!

EU: Ele é, não é? *suspiros*


GEMMA: Oh Deus. Ela foi substituída por uma
daquelas pessoas melosas. Está tudo acabado
agora.

JACK: Você vai trabalhar esta noite?

EU: Sim. Eu tenho o turno da manhã, então


espero conseguir dormir um pouco antes das
entregas amanhã.

JACK: A que horas você acha que estará em


casa?

EU: Talvez às dez.

JACK: Quer que eu pegue o jantar?

EU: Não, posso pegar alguma coisa lá quando


eu fizer minha pausa.

EU: Obrigada mesmo

JACK: Nesse caso, que tal a sobremesa?

EU: Que tal preparar um banho para mim


quando eu chegar em casa e conversamos.

JACK: Você terá, minha ervilha doce.

EU: Porra.

JACK: O quê?

EU: Eu meio que gostei dessa.


O bar está incrivelmente cheio, e embora eu esteja feliz com o
monte de gorjetas que está se acumulando no bolso do meu
avental, eu estava esperando que hoje fosse uma noite calma. A
temporada de férias está a todo vapor, tanto no bar quanto no
Bridge e Blooms. Tive várias entregas para fazer todos os dias
desta semana e tenho uma manhã inteira correndo pelo
Brooklyn pela frente amanhã. Meus pés já estão doendo. É
melhor Jack ter falado sério sobre aquele banho, porque vou
precisar dele.
Ainda falta uma hora para meu turno acabar quando vejo
uma cabeça de cabelo escuro e liso abrindo caminho no meio
da multidão.
Gem abre caminho até o único banquinho sem ninguém
sentado, me dando um sorriso tenso que não chega nem perto
de tocar em seus olhos.
Eu sirvo uma taça de vinho para ela e vou até o lado dela no
bar. Deixando o copo na mesa, inclino-me e dou-lhe um abraço
rápido.
— Eu não sabia que você viria hoje à noite.
Ela toma um longo gole de seu vinho.
— Eu também não. Mas Harley e Nick estão no
apartamento e eu precisava de uma pausa, sabe?
Assentindo, descanso os dois cotovelos na mesa à sua frente,
tirando um pouco do peso dos meus pés no processo.
Ela me olha com cautela.
— Jack não vai aparecer aqui, vai?
— Não que eu saiba.
— Bom. Eu só consigo lidar com tanta fofura em uma noite
— depois de outro gole, seu copo está quase vazio.
Pego um copo vazio e o encho com água, empurrando-o
para ela.
— O que está acontecendo, Gem?
— Uau, você se transformou em um daqueles bartender-
terapeutas? — suas palavras são cortantes, mas eu a conheço há
tempo suficiente para saber que não devo levar isso para o lado
pessoal.
— Não. Eu não dou a mínima para os problemas de outras
pessoas, a menos que essas outras pessoas sejam meus melhores
amigos. Então eu quero saber por que parece que acabei de te
dizer que o programa Top Chef foi cancelado — eu empurro o
copo de água para mais perto dela, e uma vez que ela toma um
gole relutante, eu torno a encher seu copo.
— Nem mesmo fale isso para o universo — ela murmura —
, eu realmente não quero sentar aqui e reclamar sobre como
meu trabalho é péssimo e como eu o odeio e como estou super
infeliz enquanto todos os meus melhores amigos estão se
juntando a seus parceiros e vivendo o felizes para sempre — ela
passa as duas mãos pelos cabelos, deixando-os cair na frente do
rosto como uma cortina.
Não me incomodo em dizer a ela que Jack e eu estamos
juntos há talvez cinco minutos e ainda não estamos nem perto
de viver o felizes para sempre. Ou que Harley e Nick se
preocuparam com seus sentimentos um pelo outro por meses
antes que finalmente tivessem coragem de tentar algo. Eu a
deixei ficar só por um minuto, atendendo a outros clientes até
vê-la saindo de seu lugar.
— Então — eu digo, como se nossa conversa nunca tivesse
parado. — Você não teria vindo aqui se não quisesse conversar.
Há pelo menos vinte bares entre sua casa e aqui. Claramente
você queria desabafar, e claramente, eu vou ouvir. Então faça
isso.
— Eu detesto minha profissão — ela bebe um pouco mais
de vinho, mas desta vez, em um gole razoável. — Não sei por
que continuo esperando, pensando que as coisas vão melhorar.
Eles não vão melhorar — conforme ela diz as palavras em voz
alta, é como se elas finalmente fossem absorvidas, e seu rosto
quase se enrugasse. Mas ela se recompõe antes de quebrar
completamente.
Vendo como ela está prestes a perder o controle, vou direto
para a solução de problemas.
— Ok. Se você pudesse fazer qualquer coisa no mundo
agora, se dinheiro e contas e toda essa merda não fossem um
problema, o que você gostaria de fazer?
— Não tenho certeza. Mas possivelmente algo na indústria
de restaurantes — ela não olha para mim quando diz isso, como
se estivesse admitindo algum tipo de segredo sujo.
— Eu acho que seria incrível para você — Porque dã, a
garota sabe cozinhar pra caralho.
— Mas seria super irresponsável da minha parte deixar um
emprego estável, com benefícios e aposentadoria, e tentar
entrar em um campo em que não tenho experiência.
Especialmente um que é tão instável quanto o negócio de
restaurantes — desta vez ela olha para mim, seus grandes olhos
castanhos quase implorando. — Certo? Isso seria super
irresponsável?
Eu gesticulo para o nosso entorno.
— Você não está exatamente perguntando para a pessoa
certa se você quiser ouvir que seria estúpido largar seu emprego,
Gem.
Ela toma outro grande gole de sua taça de vinho.
— Sim, bem, minha desistência definitivamente não viria
junto com um quarto em um brownstone por um preço de caixa
de sapatos.
— Bem, que tal isso? Você começa a procurar emprego em
um restaurante no final de maio, vê o que há por aí. Seja
contratada porque você é fodona. Trabalhe durante o verão e
veja como fica. Se você amar, pare de ensinar. Se não for para
você, volte para a escola no final do verão — paro de polir os
copos para poder me recostar no bar, nos colocando frente a
frente. — Não vou mentir para você e dizer que uma mudança
de carreira é fácil, porque não é. Tive muita sorte de ter vocês e
um aluguel estupidamente barato, e ainda tive muitos
momentos que tive vontade de jogar a toalha e voltar para a
estabilidade das finanças. Mas acho que a boa notícia sobre o
ensino é que você tem o verão de folga para fazer um teste.
Ela considera minhas palavras por vários momentos de
silêncio.
— Na verdade, não é uma ideia horrível.
— Dã. Desde quando tenho ideias terríveis? — Levanto
minha mão no segundo em que ela abre a boca para responder.
— Não responda a isso. Acha que pode sobreviver o resto do
ano letivo se souber que pode ser o último mês que terá de
suportar?
— Na verdade, pode ser a única coisa que os torna
suportáveis.
As engrenagens dentro da mente de Gemma estão girando;
Eu posso dizer pelo olhar sonhador em seus olhos e as linhas de
expressão que estão em sua testa.
— Você vai ficar com rugas.
— Sim, sim — ela revira os olhos, mas há um sorriso
verdadeiro pela primeira vez desde que ela entrou. — Obrigada
por me ouvir reclamar.
Girando minha mão, eu dou a ela uma reverência cortês.
— Foi uma honra e um privilégio.
Ela termina o último de seu vinho.
— Você vai sair daqui a pouco?
— Sim. Quer me esperar?
— Sim — ela ergue o copo para outro reabastecimento. —
E depois me traga minha conta para que eu não beba mais.
Eu aceno para ela.
— Por conta da casa. Assim como a terapia — ela começa a
empurrar uma nota de vinte no balcão de qualquer maneira,
mas eu estendo a mão e enfio em sua camisa. — Sério, Gemma.
Guarde isso para seu fundo quero-abandonar-meu-emprego.
Apresso-me nos restantes das minhas tarefas, guardando,
limpando e anotando os recibos. Gemma e eu saímos do bar
meia hora depois, de braços dados e juntinhas para nos aquecer.
As temperaturas de dezembro caíram aparentemente da noite
para o dia e o ar está frio ao nosso redor.
A cerca de um quarteirão do brownstone, Gemma para de
repente. Ela puxa meu braço, puxando-me para um prédio de
tijolos, pressionando o rosto muito perto de uma janela com
uma placa de Aluga-se pendurada nela.
— Olha esse espaço, Sade.
Eu dou uma espiada obrigatória.
— Sou totalmente a favor de parar de ensinar e seguir o que
você ama, mas até eu sei que restaurantes são um péssimo
investimento. Você pode querer trabalhar em um primeiro,
antes de pensar em abrir um.
Ela me dá uma cotovelada no estômago.
— Não para mim, idiota. Para você — ela me puxa para mais
perto, praticamente empurrando meu rosto contra o vidro
manchado. — Este seria um ótimo local para a primeira loja da
Bridge e Blooms.
Eu a afasto da janela.
— Eu definitivamente não tenho tanto dinheiro o suficiente
para poder pagar qualquer aluguel gigantesco que eles estão
pedindo — passo meu braço no volta no dela, eu a arrasto para
longe do prédio e em direção a a minha casa.
Casa. Ainda me faz cócegas, trazendo um sorriso
automático ao meu rosto quando penso no brownstone como
um lar. Quando penso em Jack como um lar.
Mas Gemma não deixa o assunto morrer.
— Você pelo menos tem que dar uma olhada. Pode ser
muito mais acessível do que você pensa. E quem sabe, talvez
você consiga investidores. Veja quantos negócios cresceram em
apenas alguns meses.
Eu rejeito sua sugestão porque parece loucura. Não posso
pagar o aluguel do Brooklyn. E transformar um espaço vazio
em uma loja que exige dinheiro, funcionários, licenças e todo
tipo de coisa em que não quero nem pensar.
— Eu só quero arranjar flores, Gem. E eu tenho a
organização perfeita em minha própria casa. Por que eu iria
querer gastar todo esse dinheiro abrindo uma loja quando
tenho este lindo estúdio bem no andar de cima?
Chegamos ao alpendre da frente e Gemma para no degrau
inferior.
— Isso seria todo seu, Sade.
Ela não diz isso, mas a implicação está lá. O que tenho agora
não é todo meu. Meu estúdio é do Jack. E muito do meu
sucesso se deve ao incrível acordo de aluguel, também
fornecido a mim por Jack. E embora eu certamente não planeje
criar uma barreira entre nós tão cedo, os fatos confirmam que
isso acontecerá em algum momento. Quase sem dúvida por
minha causa. E onde estará meu negócio então?
— Ok. Vou pensar sobre isso — aponto para a porta da
frente. — Você quer entrar?
— Passar de um casal feliz para o outro? Não, obrigado —
ela tira o telefone da bolsa, usando o app Lyft para pedir um
carro.
— Espero com você — eu jogo meu braço em volta dos
ombros dela, puxando-a perto de mim para me aquecer. E
porque sei que ela precisa de um abraço, mas nunca sonharia
em pedir um. — O que quer que você decida fazer, você sabe
que estaremos todos aqui para você. Com Jack ou sem Jack,
você é minha número um. Eu sempre te protejo.
— Eu digo o mesmo — o carro dela estaciona e nós nos
envolvemos em um abraço final. — Te amo.
— Amo você também. Me mande uma mensagem quando
chegar em casa.
Anoto mentalmente o número da placa do carro. Apenas
por precaução.
Eu pego meu próprio telefone enquanto espero ela entrar
no carro e sair.

EU: Estou na frente. Banho pronto?

JACK: Você sabe disso, peônia rosa.

EU: O que aconteceu com o ervilha doce?

JACK: Tenho que te deixar em alerta.

Meu telefone emite um bipe com uma foto recebida.


O banho está pronto. E Jack já está nele.
Subo correndo as escadas da varanda e empurro a porta da
frente.
— Lar Doce Lar!

Após as entregas no dia seguinte, eu me jogo no sofá da sala.


Tudo dói. Mesmo depois de um banho muito quente e muito
“relaxante” na noite anterior, meus músculos estão
protestando contra o movimento constante dos últimos dias.
Entre entregas e turnos de bar, sinto que estou de pé há uma
semana.
Jack desce as escadas um minuto depois.
— Eu pensei ter ouvido você entrar.
— Eu estou morta — jogo um braço sobre o rosto, o outro
pendurado na lateral do sofá. Se o negócio da floricultura não
der certo, talvez eu tenha futuro como atriz.
Ele se senta na ponta do sofá, pegando meus pés em seu colo.
Fazendo bom uso desses dedos fortes, ele pressiona as pontas
dos meus pés até que eu esteja literalmente gemendo alto. Ele
me dá um sorriso confuso.
— Outro banho ajudaria?
— Provavelmente. Mas só se você não estiver nele, e mesmo
assim não sei se poderei relaxar totalmente em um banho
novamente depois da noite passada. A água não era a única
coisa quente, se é que você me entende. — Sou como um dos
cachorros do Pavlov. Vejo banho, já fico excitada.
— E se eu prometer ficar fora do banho, e também prometer
cuidar do tesão resultante sempre que você estiver pronta para
mim? — ele move as mãos até minhas panturrilhas, os dedos
massageando meus músculos doloridos.
— Essa oferta parece boa demais para ser verdade — eu me
apoio nos cotovelos para poder olhar seu rosto adorável
corretamente. — Qual é o truque?
— Você me deixa levá-la para jantar hoje à noite.
— Então você está realmente me oferecendo uma
massagem, depois um banho, depois um orgasmo e depois o
jantar? — eu caio de volta no sofá. — Agora tenho certeza que
estou sonhando.
Ele se levanta, gentilmente substituindo meus pés de volta
no sofá, antes de subir as escadas para o meu banheiro.
— Eu geralmente gosto de ir para dois.
— Dois o quê?
Ele pisca para mim.
— Orgasmos.

Duas horas depois, vestidos com jeans confortáveis e


embrulhados em nossos casacos aconchegantes, saímos do
brownstone e vamos para a PDA Pizza, enquanto nos
entregamos a um pouco de afeto em público. Jack pega minha
mão no momento em que chegamos a rua, entrelaçando nossas
mãos, seu polegar esfregando meus dedos enquanto
caminhamos.
É estranho.
Bom, claro. Mas estranho. Na verdade, não estava
exagerando quando contei a ele que meu último namorado foi
no ensino fundamental. Eu não tenho relacionamentos,
certamente não vivo com namorados e com certeza não tenho
expressões de afeto em público. Mas o calor da palma da mão
de Jack pressionada contra a minha, e a sensação constante de
sua caminhada ao meu lado — me faz bem. Ele faz coisas. Para
o meu interior. Ele está consideravelmente mais quente e macio
do que nunca. E eu gosto. Eu gosto dele.
Nem mesmo as mãos de Jack são suficientes para me distrair
enquanto caminhamos pelo espaço que está para alugar, a
apenas um quarteirão de distância do brownstone, ainda vazio e
esperando alguém. Eu subconscientemente me aproximo do
prédio de tijolos, meus olhos vagando pela janela como se
pudesse ter havido alguma mudança em menos de 24 horas
desde a última vez que o vi.
Jack percebe meu olhar distraído e nos puxa para fora do
caminho do tráfego de pedestres.
— O que é isso?
Eu puxo sua mão, não querendo falar sobre tudo isso
enquanto estamos a caminho do jantar, mas ele não se move.
— Nada não. Apenas um espaço para alugar que Gem
notou ontem à noite quando estávamos voltando para casa.
Ele coloca a mão em concha contra o vidro manchado,
inclinando-se para ver melhor.
— Você não mencionou isso ontem à noite.
— Eu estava distraída por algum motivo — eu bato em seu
quadril com o meu. — E não é grande coisa. Realmente, nada
de interessante.
— Você tem pensado em abrir uma loja? — ele se afasta do
vidro, os olhos procurando os meus.
— Não — finjo estar olhando casualmente pela janela, mas
na verdade estou apenas evitando seu olhar. — Quer dizer, seria
um grande passo, e não um que eu possa pagar no momento.
Não sei se estou pronta para um salto tão grande.
— Você olhou para ver o que eles estão pedindo de aluguel?
— Não. Não há necessidade — eu puxo sua mão
novamente. — Vamos. Todos aqueles orgasmos me deixaram
com fome.
Mas o homem não será dissuadido. Ele nem mesmo cora
com a minha menção de orgasmos múltiplos. Em vez disso, ele
pega o telefone e digita o número listado na placa.
— Jack, o que você está fazendo? — Mudando meu peso
entre os pés, estou tentada a estender a mão e tentar pegar o
telefone dele. — Eu disse que não estou interessada.
— Não, você não disse. Você disse que não sabia se estava
pronta — ele levanta a mão para me impedir de responder,
voltando sua atenção para quem está do outro lado da linha. —
Oi, sim, meu nome é Jack Thomas, e estou interessado em seu
espaço para alugar na Sexta Avenida em Park Slope — Ele fica
quieto por um minuto, balançando a cabeça e me deixando
louca, dando me nenhuma indicação do que está sendo dito.
— Ah, ótimo. Sim, estamos bem na frente. Vejo você logo.
— Vejo você logo? Vê quem logo?
Ele enfia o telefone de volta no bolso da calça jeans.
— A corretora está terminando uma reunião a um
quarteirão daqui, ela disse que estará em cinco minutos.
— Jack, não deveríamos estar desperdiçando o tempo desta
pobre mulher quando não tenho intenção de alugar este espaço
— enfio as mãos nos bolsos do casaco, sob o pretexto de
precisar do calor, mas na verdade preciso de um pouco de
espaço.
— Qual é o problema em olhar, docinho? — ele dá de
ombros, enfiando as próprias mãos nos bolsos da jaqueta. — Se
você não gostar, não vai fazer diferença.
— Não estou preocupada em não gostar — murmuro. Dei
espaço suficiente para meus pensamentos no dia anterior para
saber que provavelmente vou gostar. Risca isso. Eu
definitivamente vou gostar.
— Então, qual é o problema? — Ele empurra os óculos para
cima, como se não conseguisse imaginar qual poderia ser o
problema.
E ele não consegue.
Às vezes eu esqueço, mas momentos como esse são um
lembrete gritante de uma das maiores diferenças entre nós. Jack
não precisa se preocupar com dinheiro. Pelo que posso dizer,
ele nunca teve que se preocupar com dinheiro. Ele é tão
discreto sobre isso que pode ser fácil deixar de lado o
conhecimento de que o homem é dono de um brownstone. Em
Nova York. E uma casa de dois milhões de dólares em
Connecticut. Quer ele abuse desse privilégio ou não, o simples
fato é que se Jack quer algo, ele tem os meios para adquiri-lo.
Eu organizo meus pensamentos antes de pisar nele,
inclinando meu queixo para cima, para que eu possa olhar em
seus olhos.
— Jack. Eu não posso pagar por isso. E o mal de olhar é que
pode me fazer querer coisas que sei que não posso ter. O que
pode me levar a tomar más decisões. E eu não gosto de tomar
más decisões. É por isso que não faço compras desde que fui
despedida. Eu conheço meus limites. Quando vejo alguma
coisa, vou em frente, mesmo que acabe me custando muito no
final.
Jack considera minhas palavras pensativamente.
— Se é puramente sobre dinheiro, há coisas que você pode
fazer, Sade. Você poderia procurar investidores.
— Eu nem tenho um plano de negócios real — eu coloco
minhas mãos sob seus braços, tentando não me fixar em como
ele e Gemma sugeriram investidores como se fossem uma
possibilidade real.
— Você tem um diploma de negócios, certo?
Eu concordo.
— Então escreva um plano de negócios. Pense em quão
longe a Bridge e Blooms chegou nos últimos meses. O quanto
você foi capaz de expandir seus negócios mesmo trabalhando
apenas em uma cozinha. Tenho certeza de que há muitos
investidores interessados — ele se inclina e planta um beijo
suave em meus lábios virados para cima. — E se não houver —
o que haverá — então você tem um bem aqui.
Eu dou um passo para trás.
— Não — eu balanço minha cabeça, como se a declaração
muito clara não fosse suficiente. — Não. Sem chance. Não
quero o seu dinheiro, Jack. Não quero que você compre esse
espaço para mim.
Ele levanta as mãos em sinal de rendição simulada.
— Em primeiro lugar, eu não estaria dando para você. Seria
um investimento. Em segundo lugar, acredito no seu negócio e
ficaria feliz em apoiá-lo. E terceiro, eu… — ele para, passando a
mão pelos cachos, fazendo-os ficarem eretos de uma forma
realmente estúpida.
— Terceiro? — Voltando para sua bolha, eu agarro a frente
de seu casaco.
— Eu quero que você seja feliz.
— Não preciso que você me compre um negócio para me
fazer feliz, Jack of Diamonds4.
— Eu sinto que esse é um pouco exagerado para este
momento em particular — ele envolve seus braços em volta da
minha cintura, me puxando para seu peito. — Vamos apenas
olhar para o espaço e pensamos a partir daí, ok? Você pode até
não gostar.
— Jack Thomas? — Uma voz animada, acompanhada pelo
clique-claque de saltos altos no concreto, nos interrompe. Uma
mulher de trinta e poucos anos, vestida com jeans skinny
fantástico, uma blusa de seda verde-esmeralda e um blazer
preto sob o casaco de lã estende a mão para Jack cumprimentá-

4
Valete de ouro.
la. — Kristen Sullivan. Prazer em conhecê-lo — ela estende a
mão para mim em seguida.
— Sadie Green.
Seu apertar de mão é firme e rápido. Ela aponta para a porta
da frente da loja.
— Vamos?
Jack e eu a seguimos para dentro do prédio, e percebo que
estava prendendo a respiração. Quando cruzamos a porta,
lentamente começo a derreter. Kristen acende as luzes do teto e
gesticula amplamente para o espaço aberto.
Jack fica ao lado de Kristen enquanto ela começa a contar
fatos sobre a propriedade. Tamanho, metragem quadrada, blá
blá blá.
Eu ando pela sala, tentando e falhando em não deixar minha
imaginação fugir de mim. Os coolers poderiam ficar no canto
de trás, fora do caminho o suficiente para não chamar a
atenção. As janelas da frente poderiam ser preenchidas com
flores sazonais, e a área em frente à parede de tijolos expostos
seria um ótimo cenário de exibição. Tem espaço para um
grande balcão no meio onde eu poderia trabalhar. Eu gosto da
ideia de que clientes possam ver os arranjos sendo feitos
enquanto fazem compras. A visão surge na minha cabeça com
clareza demais, já formada e se transformando para caber no
espaço.
Jack continua a fazer perguntas pertinentes e importantes
enquanto sigo para o corredor dos fundos. Há um pequeno
banheiro e um pequeno escritório, e uma porta que dá para
fora. Eu a destranco e abro, mal registrando a rajada de ar frio
quando entro novamente na noite de dezembro.
— Que porra é essa? — Murmuro para mim mesmo,
parando no meio de um espaço ao ar livre.
Eu estava esperando um beco cheio de lixo. Em vez disso,
estou de pé no centro de um grande (pelos padrões do
Brooklyn) terreno de terra. Está cercada e completamente nua
e basicamente me implorando para plantá-la cheia de lindas
flores. Com um espaço tão grande, eu seria capaz de obter
minhas próprias flores. Ou muitos deles de qualquer maneira.
Mas eu balanço minha cabeça com o pensamento. Eu não
prestei atenção quando Kristen baixou o preço, sabendo que
não importava o número que ela revelasse, seria demais para
mim.
— Sade? — Jack espia pela porta dos fundos antes de se
juntar a mim na ampla área externa. — Uau.
— Sim — minha mente está correndo, disparando em um
milhão de direções diferentes. Mas mantenho meu rosto
totalmente neutro, sem querer revelar o quanto gosto do
espaço. O quanto eu poderia realmente imaginar isso como
algum tipo de possibilidade real.
Como seria absolutamente perfeito.
Jack me estuda por um segundo.
— O que você acha?
Eu dou de ombros, enfiando as mãos nos bolsos de trás da
minha calça jeans, virando a cabeça para dentro.
— É tudo perfeito.
Ele franze os lábios, seguindo-me sem dizer uma palavra.
— O que você achou do espaço ao ar livre? — Kristen
levanta os olhos da digitação em seu telefone quando voltamos
para a sala principal.
— É grande.
Ela acena com a cabeça, seus olhos me examinando da
cabeça aos pés enquanto ela me avalia.
— Jack mencionou que você é uma florista. Há muitas
maneiras de utilizar essa sala.
— Sim. Só não tenho certeza se estou pronto para assumir
esse tipo de compromisso — ignorando o brilho constante dos
olhos de Jack em mim, estendo minha mão para apertar a de
Kristen enquanto me dirijo para a porta. — Muito obrigado
pelo seu tempo.
— Por favor, deixe-me saber se alguém mais tiver interesse
— Jack murmura para ela enquanto eu empurro meu caminho
para fora.
Ele não pega minha mão enquanto retomamos nossa
caminhada para o jantar. Espero uma enxurrada de perguntas,
uma ladainha de razões pelas quais devo alugar o espaço, por
que devo me esforçar e ir em frente. Mas ele fica quieto,
deixando-me mergulhar fundo em meus próprios
pensamentos.
É exatamente o que eu preciso.
Pegamos uma mesa na pequena pizzaria, pedimos vinho e
uma torta para dividir e não dizemos nada até que cada um de
nós tenha um copo cheio de vinho tinto à nossa frente.
— Quanto? — Eu finalmente cedi, deixando a pergunta
explodir de mim, sabendo que não seria capaz de me concentrar
em mais nada até que pudesse descartar completamente até
mesmo a remota possibilidade de isso acontecer.
Jack se recosta na cadeira.
— Não é barato, mas poderia ser pior.
— Quanto? — eu levanto minha mão e engulo metade do
meu vinho. — Ok, agora me diga.
— Você precisaria de pelo menos cem por cento do valor
para garantir o aluguel por um ano. Além disso, tudo o que
você precisa gastar para configurar o espaço como deseja — ele
me observa por cima da borda de sua taça enquanto toma um
gole bem menor de seu próprio vinho.
Um sorriso genuíno se espalha em meu rosto.
— Na verdade, estou meio aliviada.
Sua testa franze.
— Está.
— Sim. Quero dizer, não é um número inesperado, mas
definitivamente é alto o suficiente para que eu nem precise
pensar mais nisso. Não posso pagar nada perto disso, então
podemos colocar tudo de lado — se eu me deixasse pensar sobre
isso, poderia começar a ficar realmente chateada por ele ter me
feito ver o espaço, embora eu dissesse a ele que era demais.
Porque agora eu sei o quão incrível poderia ser. Agora vou
passar as próximas semanas pensando em que tipo de prateleira
comprar e como criar uma vitrine.
Estarei pensando em como as pinturas de Jack ficariam
lindas penduradas naquela estúpida parede de tijolos.
Eu nunca deveria ter ido lá. Mas, ao mesmo tempo, de
alguma forma parece que era para ser, para eu vê-lo.
Jack cruza os braços, apoiando-se na mesinha, colocando o
rosto a trinta centímetros do meu.
— Você percebe que esse número é uma ninharia para
muitos investidores, certo? Você pode conseguir isso em um
piscar de olhos, Sade.
Franzo os lábios para não repreendê-lo por se referir a mais
de cem mil dólares como uma ninharia.
— Eu não quero um investidor, Jack. Não quero estar em
dívida com ninguém além de mim mesma.
— Se você não aceita meu dinheiro, que tal perguntar a
Nick? — Ele se inclina para trás quando o garçom chega com
nossa pizza, colocando-a no meio da mesa e entregando um
prato a cada um de nós.
Puxando uma fatia da torta, coloco-a rapidamente no prato
antes que a crosta queime meus dedos.
— Misturar amizade e negócios é quase tão ruim quanto
misturar sexo e negócios.
Jack faz uma pausa no meio de liberar sua própria fatia.
— Eu realmente espero que você não esteja sugerindo que
isso é apenas sexo, docinho.
Revirar os olhos e bufar ao mesmo tempo não esconde o
pequeno sorriso puxando meus lábios com sua declaração.
— É obviamente mais do que sexo, Jack of Hearts.
— Você realmente ficou sem novas opções de apelidos,
hein?
— Acontece que gosto de Jack of Hearts e se encaixa no
momento, muito obrigado — soprando a pizza ainda quente,
dou uma grande mordida.
Nós dois sentamos em silêncio por um minuto. Minha
mente continua vagando de volta para a loja, e continuo
bebendo meu vinho, tentando apagar todas as imagens do meu
cérebro.
— Olha — Jack finalmente quebra o silêncio depois que o
garçom chega para encher nossas taças de vinho. — Eu não
quero empurrá-la para algo para o qual você realmente não está
pronta. Mas eu vi você entrar neste negócio com uma
ferocidade que me deixa sem dúvida que você faria uma loja de
sucesso. Você é imparável, Sadie, e não parece que você se
contenha quando realmente quer alguma coisa. — Ele estende
o braço por cima da mesa e segura minha mão. — Se você
realmente não quer isso, então esta é a última vez que vou
mencioná-lo. Mas se você acha que há uma chance de querer
fazer isso, posso colocar algumas sondagens, falar com meu
gerente financeiro e ver se ele conhece alguém que possa estar
interessado em se tornar um sócio oculto.
Estou tentado a atirar nele agora mesmo e acabar com nosso
sofrimento. Mas ele está tentando, e ele é tão legal que não
quero estragar a noite.
— Vou pensar sobre isso.
— E se você precisar pular o aluguel por alguns meses, ou
mais do que alguns meses…
— Jack. Pare — eu coloco minha fatia de pizza no prato. —
Estamos juntos há cinco minutos. Você é meu primeiro
namorado em quinze anos. Você vai precisar desacelerar a
merda, como vários pontos.
Ele sorri, seus olhos verdes brilhando mesmo por trás das
lentes dos óculos.
— Correndo o risco de soar como um idiota total, eu
realmente gosto quando você me chama de namorado.
Enrolo meu guardanapo e jogo nele.
— Você é um idiota total — mas eu me levanto em meu
assento e me inclino sobre a mesa para dar um beijo em seus
lábios à espera. — Ainda bem que você é fofo.
— Fofo o suficiente para você simplesmente pegar meu
dinheiro?
— Tão fofo que me recuso a aceitar seu dinheiro — volto
minha atenção para minha pizza. — Mas você pode pagar o
jantar.
Depois de outra garrafa de vinho, Jack paga a conta e pega
nosso resto de pizza. Voltamos para o brownstone e fico tensa
quando passamos pelo espaço. A possível localização física de
Bridge e Blooms. E eu definitivamente sinto um pouco de
possibilidade, mas fico grata quando passamos por ela sem que
Jack mencione uma palavra.
De volta a casa, colocamos nossos pijamas e entramos sob os
lençóis da minha cama, imediatamente nos envolvendo um no
outro. Jack adormece quase instantaneamente, o bastardo.
Passo as próximas horas sem dormir pensando todas as
possibilidades em meu cérebro. O que eu precisaria para a loja.
Os investidores que eu precisaria contratar. O plano de
negócios que eu precisaria criar.
Quando divido tudo em tarefas pequenas e aparentemente
factíveis, a ideia toda se torna muito menos opressiva. No
mínimo, pode valer a pena esboçar um orçamento. Vendo o
quanto eu realmente precisaria gastar. Calculando quanto eu
precisaria trazer a cada mês para empatar, quanto eu precisaria
para obter lucro. Essas são todas as coisas que sou capaz de
fazer. Merda, números e planilhas eram minha vida até alguns
meses atrás.
Eu finalmente me desvencilho do abraço de Jack, deslizando
para o lado da cama para que eu possa deitar de costas, olhando
para o teto. Eu sei que quando os números mudarem, não será
impossível. O custo inicial parecerá assustador e
definitivamente será arriscado, mas quando eu realmente o
analisar e comparar com o que tenho trazido nos últimos
meses, não estará totalmente fora de questão. Eu estaria
colocando tudo em risco, mas se funcionasse, poderia render
um grande lucro. A verdadeira questão seria se eu posso lidar
com a participação de outra pessoa em um negócio que se
enraizou — trocadilho intencional — dentro do meu coração.
— Você está bem? — O murmúrio rouco de Jack me tira
dos meus pensamentos.
Viro-me de lado para encará-lo, incapaz de conter um
sorriso quando vejo seu adorável rosto sonolento.
— Só pensando.
Ele estende um braço, envolvendo-o sobre a minha cintura
e me puxando de volta para ele.
— Você sabe o que quer que você decida, eu vou apoiá-la.
O que você precisar.
Eu me inclino e beijo sua bochecha.
— Eu sei — hesito antes de falar novamente, mas acredito
que ele esteja apenas meio acordado para esta conversa e,
portanto, não muito provável de se lembrar dos detalhes. —
Acho que estou com medo da ideia de outras pessoas confiarem
em mim. Empregados e investidores. Se eu estragar tudo, outras
pessoas perdem. Se eu mantiver as coisas pequenas, a única
pessoa que sai perdendo sou eu. E talvez você, se eu não puder
pagar o aluguel.
— Eu prometo não despejar você — ele me envolve em seus
braços, plantando um beijo suave em meu ombro. — Quero
ver você viver seus sonhos, Sade. Eu desisti do meu há muito
tempo; você não deveria ter que desistir do seu.
Eu me afasto dele, franzindo a testa com esse comentário
enigmático.
— Que sonhos você teve que desistir?
Mas ele já voltou a dormir. Deixando-me com mais
perguntas ainda mais intermináveis para me manter acordada.
Jack ainda está dormindo — sério — quando eu saio da cama
na manhã seguinte. Eu visto jeans, meu moletom roubado do
Capitão América e minhas botas; pego meu laptop; deixo um
bilhete para Jack no balcão da cozinha; e saio.
Preciso ver tudo isso — números, compromissos e um plano
de negócios real — em preto e branco. É a única maneira de
realmente ser capaz de tomar uma decisão informada, a única
maneira de finalmente fazer isso acontecer. Ou mergulhar de
cabeça.
Caminhando até o Café Regular, passo propositadamente
pelo imóvel mais uma vez. Não mudou muito desde a noite
anterior, obviamente. As janelas ainda estão manchadas, uma
placa de Aluga-se ainda presa lá dentro. O tijolo ainda é
moderno e legal. E mesmo que não o veja, o espaço exterior
continua praticamente a implorar por um jardim.
Entrei na cafeteria, pedindo um grande latte de baunilha e
me escondendo em uma mesa no canto, pronta para ficar aqui
pelo resto do dia.
A manhã é preenchida com números e pesquisas e descobrir
quanto custa ter funcionários. Assim que tiver uma estimativa
para despesas mensais, divido por semana e depois por dia. Eu
uso esse número para descobrir quantos arranjos eu precisaria
vender a cada dia e quanto eles precisam custar. Eu defino o
preço de serviços públicos, impostos, assistência médica e
decoração. E por mais que nunca tenha me arrependido de ter
deixado minha carreira em finanças, nunca fui tão grata por
isso.
Depois de pesquisar no Google uma centena de exemplos de
planos de negócios bem-sucedidos, faço edições e ajustes no
plano original que escrevi para a Bridge e Blooms para incluir a
loja e todos os novos números. Provavelmente é um pouco
mais atrevido do que o necessário, mas acho que qualquer um
que vai me passar um cheque de duzentos mil deve saber no
que está se metendo.
Por volta do meio-dia e do café com leite número três, meu
telefone vibra.

JACK: Não quero interrompê-la enquanto


estiver na sua bolha, só queria que soubesse
que estou aqui se precisar de alguma coisa.

Suas palavras me fazem sorrir. Ainda é meio alucinante


como ele é capaz de dizer exatamente o que eu preciso ouvir no
exato momento. Seja espaço, silêncio ou um abraço, é como se
ele pudesse ver dentro do meu cérebro e determinar a melhor
forma de me acalmar. Se é isso que significa ter um namorado,
estou amando.
Mas algo me diz que Jack não é um namorado comum.

EU: Obrigada, amor. Provavelmente vou ficar


fora por mais algumas horas, mas avisarei
quando estiver voltando para casa.

JACK: Tudo bem. Você está arrasando,


docinho.

EU: Obrigada, Jackpot.

EU: E sim, eu sei, já usei esse antes. Como posso


evitar se sinto que ganhei na loteria dos
namorados, também conhecido como
Jackpot?

JACK: Merda. Isso foi muito sentimental.

EU: Foi isso que você fez comigo.

JACK: Eu gosto.

EU:

Enfio meu telefone de volta na bolsa para não ficar tentada


a passar o resto do dia trocando mensagens de flerte com Jack.
Em vez disso, li todos os meus documentos e planilhas
novamente, antes de juntá-los em um arquivo e enviá-los por e-
mail para Nick. Eu o encontro no G-chat para não ser tentada
pelo meu telefone.

EU: Oi. Acabei de te enviar um arquivo inteiro


de merda. Você pode olhar para ele e me
dizer o que você acha?
NICK: Isso é sobre a loja?

EU: Meu Deus, não há mais segredos entre


nós?

NICK: Gem nos contou na outra noite e Jack


mencionou isso esta manhã.

EU: Jack mencionou isso? Como assim? O que


ele disse? Ele está tentando fazer alguma
coisa?

NICK: Oh meu Deus, calma. Ele apenas disse


que vocês encontraram um lugar legal ontem
à noite, mas que você parecia realmente
contra a ideia dele dar o dinheiro a você.

EU: Não vou aceitar o dinheiro dele.

NICK: Se você quer jogar fora $200 mil de um


homem que vai até o inferno quando se trata
de você, não é meu papel tentar mudar sua
mente.

EU: Veja, a maneira como você expressou isso


faz parecer que você quer mudar minha
mente.

NICK: Eu aceitaria o dinheiro dele.

EU: É porque você sempre teve dinheiro e não


sabe o sério desequilíbrio de poder que isso
criaria em um relacionamento.

NICK: Sim, sim. É dinheiro grátis.


EU: Não é de graça.

EU: Eu realmente gosto dele, Nicky. Eu não


quero estragar isso.

NICK: Eu também não quero que você


estrague tudo.

EU: Obrigado pelo voto de confiança. Você


pode olhar tudo, por favor?

NICK: Sim, me dê uma hora.

Passo a hora fazendo mais pesquisas. Tudo bem, grande


parte dessa pesquisa acontece no Pinterest, mas ainda conta.
Tentar encontrar as maneiras DIY mais fofas de enfeitar a loja
é um uso 100% produtivo do meu tempo.
Meu telefone toca quase exatamente sessenta minutos
depois da nossa conversa.

NICK: Existe alguma maneira de você marcar


um encontro com o corretor de imóveis para
esta tarde? Eu gostaria de encontrar vocês
dois lá, tirar algumas fotos, adicioná-las ao seu
plano de negócios para que eu possa repassar
para algumas pessoas.

EU: Hum, sim?

EU: Você acha que está bom o suficiente?


Você acha que eu estou pronta para isso?

NICK: Não vou mentir, é um risco, mas acho


que você tem uma apresentação sólida e
uma oportunidade de lucro decente. Me fale
quando posso te encontrar.

Duas horas depois, depois de correr para casa para mudar


para algo menos na semana das provas finais da faculdade,
encontro Nick e Kristen na frente da loja. Antes mesmo de ela
abrir a porta, Nick a enche de perguntas e, desta vez, eu
realmente escuto, anotando os serviços públicos, as restrições
de decoração e os requisitos de permissão.
Nick tira fotos enquanto caminhamos e conversamos,
fazendo anotações e até pegando uma fita métrica para verificar
os números. Depois de uma inspeção rápida, mas completa do
jardim ao ar livre, Nick pede a Kristen para nos dar um minuto.
Ela já está com o telefone pressionado contra a orelha enquanto
faz seu caminho de volta para a frente.
Ele não diz nada por um minuto, folheando as páginas do
meu plano de negócios na tela do iPad.
Mudo meu peso de um pé para o outro cerca de cem vezes
antes de finalmente não aguentar mais.
— Então? O que você acha?
Ele olha para cima de sua tela, dando-me um sorriso suave.
— Eu acho que você deveria tentar.
— Sério? — Com base em minha manhã de números,
cálculos e projeções, sei que um lucro está longe e certamente
não é garantido. Mas definitivamente aumenta minha
confiança ouvir que é possível de alguém que sabe do que está
falando. — E você acha que pode ter algumas pessoas que
poderiam estar interessadas? Acho que vamos ter que agir
rápido ou este lugar vai ser invadido.
— Tenho certeza de que podemos encontrar alguém.
— Ok. Podemos fazer tudo acontecer, como hoje, de
preferência? — Agora que tomei a decisão, preciso que este
lugar seja meu. Meu cérebro se apegou a todas as possibilidades
e quero contratos assinados e chaves em mãos.
— Eu poderia. Mas eu não vou — ele cruza os braços sobre
o peito, como se estivesse se preparando para um impasse. —
Deixe eu fazer isso com você, Sade.
Abro a boca para listar todos os motivos pelos quais é uma
péssima ideia.
— Pare. Apenas ouça por um minuto, ok?
Eu o encaro, mas franzo os lábios e bato no relógio
inexistente em meu pulso.
— Este é um bom investimento. Passei a tarde verificando
seus números, e está tudo certo. Você sabe que sempre tive
planos de investir em alguns pequenos negócios e, se vou
investir esse dinheiro na ideia arriscada de alguém, por que não
deveria ser na sua? — Ele deixa cair as mãos, colocando uma no
meu ombro. — Eu sei que você quer dizer não, mas…
— Claro que quero dizer não, Nicky. Não porque não sou
grata ou porque não confio em você, só me preocupo com o
que isso pode fazer com nossa amizade se as coisas não derem
certo.
Perder Nick pode realmente ser pior do que perder Jack
neste momento, ele tem sido uma âncora na minha vida por
tanto tempo. E mesmo que eu confie em Nick implicitamente,
o que eu confio, não há garantias nos negócios. Meu antigo
emprego queimou aquela lição em meu cérebro. Ele usaria isso
contra mim se eu acabasse perdendo seu dinheiro?
— Nada poderia mudar nossa amizade. Você é muito mais
para mim do que dinheiro, Sadie — ele me dá uma pequena
sacudida. — Eu tenho os meios, você tem a ideia. Você é da
família. Vamos fazer isso juntos.
Eca. Ele teve que ir e falar que eu sou da família. Ele sabe
como me sinto sobre isso. No entanto, funcionou. Porque o
lado positivo de abrir um negócio com um dos meus melhores
amigos pode ser ainda mais forte do que o lado negativo. Por
que não devo aproveitar esta oportunidade para colocar o
destino do meu negócio nas mãos de alguém em quem confio?
Alguém que conheço sempre terá minhas costas e meus
melhores interesses em mente. Alguém que eu conheço nunca
vai me ferrar ou me trair.
Mas não posso deixá-lo vencer tão facilmente.
— E se, e isso é um grande e se, eu concordasse, você estaria
agindo como um parceiro oculto. Uma ênfase no oculto.
— Não é como se você fosse me deixar fazer alguma coisa,
de qualquer maneira.
— E a amizade vem em primeiro lugar. Sempre. Se a merda
começar a ficar estranha, ou estou comprando sua parte ou
estou encontrando outra pessoa para comprar sua parte.
Porque a ideia de algo acontecer e acabar com nosso quarteto é
inaceitável.
— Eu posso viver com isso — ele começa a digitar no iPad,
como se estivesse redigindo o contrato enquanto conversamos.
— Quantos por cento você quer? — Prendo a respiração,
mesmo sabendo que ele vai ser mais do que justo.
— Duzentos mil por vinte por cento.
— Quinze por cento — eu estendo minha mão.
— Feito — Nick aperta minha mão na dele, me dando um
aperto firme antes de me puxar para um abraço. Ele então me
dá um abraço forte. — Eu teria aceitado dez.
Eu o empurro para longe de mim.
— E eu teria aceitado vinte.
Por um minuto, apenas olhamos um para o outro, sorrisos
de descrença em nossos rostos. Então Nick sai na frente para
falar com Kristen, e eu fico no centro do espaço vazio que agora
é meu. Minha loja. Meu negócio.
Eu não posso acreditar que esta é a minha vida.
Até que o armário na parte de trás do meu cérebro se abre e
aquela conversa negativa na maior parte empurrada para longe
começa a surgir.
Você acha que pode fazer isso?
Não tem como você fazer isso.
Você nunca poderia fazer algo assim.
— Sade, vamos — Nick acena para a porta da frente,
fechando a loja e minha voz interior atrás dele.
Kristen promete mandar os contratos em nosso e-mail até o
final do dia, e desde que nada de estranho aconteça, as chaves
devem estar em minhas mãos em duas semanas.
Nós nos despedimos e eu praticamente pulo pela calçada.
— Nicky, você acabou de se assinar algo para ficar ligado a
mim por toda a vida. Como se sente?
— Tenho certeza que você quer que eu dê algum tipo de
resposta sarcástica sobre como já estou em um profundo estado
de arrependimento, mas não vou fazer isso. Eu estou animado.
Você vai arrasar nisso, e estou feliz por estar junto nessa
jornada.
— Silenciosamente, é claro — combato minha maldade
passando meu braço pelo dele.
— É claro.
Chegamos ao brownstone um minuto depois — olá, melhor
trajeto de todos os tempos — e subimos os degraus da frente.
Estou pronta para berrar minha saudação habitual, mas
assim que abro a porta, ouço uma rolha estourando. Um dos
meus sons favoritos de todos os tempos.
Gemma, Harley e Jack estão esperando por nós na cozinha
com champanhe e felicidades. Todos nos juntamos para um
grande abraço coletivo e, depois de um brinde e do tilintar de
copos, puxo Jack para o lado.
Ele passa o polegar pela minha bochecha.
— Estou tão orgulhoso de você, docinho. Você vai arrasar.
Eu me inclino para um beijo rápido, cabeça e coração
igualmente reforçados por sua fé contínua em mim.
— Você não está bravo?
— Por que eu ficaria bravo? — sua testa franze.
Aliso as rugas com o dedo.
— Porque eu não aceitaria seu investimento, mas aceitei o
de Nick.
Ele passa os braços em volta da minha cintura.
— Você está feliz, Sadie?
Eu mordo meu lábio para controlar o sorriso insano que
ameaça tomar conta do meu rosto.
— Eu literalmente nunca estive mais feliz.
— Isso é tudo que importa para mim, docinho.

As chaves da loja são colocadas em minhas mãos cinco dias


antes do Natal. Todo o grupo está lá comigo para comemorar,
Gemma transmitindo toda a troca no meu Instagram. Meus
seguidores já estão pedindo atualizações de renovação, e a
transformação da loja vai ser ouro nas redes sociais.
Os dias seguintes consistem em limpeza e pintura, duas das
coisas que menos gosto, mas etapas necessárias para estar
pronto para as coisas boas que virão depois do feriado. Eu faço
muitas compras online, tentando encontrar peças
reaproveitadas e recicladas para a loja. E elaboro um plano
preliminar para o jardim dos fundos, mapeando quais flores
quero colocar. Vou tornar o BeBs em uma mini estufa para que
eu possa começar a germinar as sementes em janeiro e preciso
descobrir quais tipos de flores serão o melhor retorno para
meus investimentos.
São dias turbulentos e estou feliz por fazer uma pausa com
o resto da equipe na véspera de Natal. O Natal em si é um dos
poucos feriados que normalmente não passamos juntos.
Gemma volta para casa na Virgínia para a celebração da família
Kwon. Harley e seus pais geralmente viajam para fora da cidade
na semana entre o Natal e o Ano Novo. E a presença de Nick é
exigida na casa de sua avó sob a ameaça de perder sua herança.
Para mim, o Natal significa comida chinesa e donas de casa
antigas e, felizmente, quando apresento este plano a Jack, ele
concorda de todo o coração.
Chegamos em casa no brownstone tarde na véspera de Natal,
depois de passar a noite na casa de Gem e Harley, enchendo
nossos estômagos com comida italiana e bebendo uma boa
quantidade de vinho. O ar frio da noite nos deixou um pouco
sóbrios durante nossa caminhada para casa, e assim que a porta
da frente se fecha atrás de mim, Jack me pressiona contra ela,
sua boca cobrindo a minha. Nenhum beijo de Jack é igual ao
outro, e este é devorador.
— Feliz Natal — diz ele quando finalmente se afasta.
Preciso recuperar o fôlego antes de responder.
— Feliz Natal.
Ele me dá um sorriso perverso.
— Devemos trocar os presentes agora?
— Hum, sim. Obviamente — eu agonizei sobre o que
comprar para Jack porque, olá, o que se compra para o nerd
que tem tudo? Mas encontrei o presente perfeito quando
estava pilhando uma loja de antiguidades próxima e estou
desesperadamente animada para ver a reação dele. Também
estou um pouco apavorada. — No entanto, eu preciso que
você abra o seu primeiro. — Por mais legal que seja meu
presente para Jack, tenho 99% de certeza de que o dele vai ser
melhor…
Ele me beija na bochecha antes de ir para o sofá da sala.
Montamos uma pequena árvore em frente à janela e, como
acabamos de voltar de nossa principal reunião de férias, apenas
um presente sob ela.
— Isso é bom. De qualquer maneira, o seu está lá em cima.
— Você vai me pintar como uma de suas garotas francesas,
Jack? — Dou uma piscadela atrevida por cima do ombro.
— Bem, eu vou, com certeza.
Pego o pequeno pacote embrulhado e entrego a ele antes de
me sentar na extremidade oposta do sofá.
— Eu vou cobrar isso de você.
— Por favor, faça — ele olha para mim pedindo permissão,
e quando eu aceno, ele rasga o papel como uma criança sem
autocontrole.
E eu me pergunto quanto tempo faz desde que Jack ganhou
um presente de Natal. Eu aperto meus olhos fechados por
apenas um segundo para segurar a súbita onda de lágrimas. E
então eu os forço a abrir novamente, não querendo perder a
expressão em seu rosto.
Jack joga fora o papel, passando as mãos sobre a capa do
livro embrulhado em couro verde em suas mãos, seus dedos
traçando o título, A Sociedade do Anel, gravado em ouro. Ele
olha para mim como se estivesse pedindo confirmação.
— Não é a primeira edição nem nada, mas é uma das
primeiras e, para ser honesta, não tinha ideia do que comprar
para você, e vi isso um dia quando estava fora e pensei que você
poderia gostar. E você estava vestindo uma camiseta do Senhor
dos Anéis na primeira vez que nos encontramos, o que, não vou
mentir, eu o julguei seriamente, mas então parecia que
encontrar isso era um sinal, e eu realmente espero que você
goste.
— É perfeito, Sade — ele abre a capa e um pequeno pedaço
de papel cai.
— Eu, hum, queria lhe dar uma dedicatória, mas achei que
poderia ser uma blasfêmia escrever no próprio livro — prendo
a respiração enquanto seus olhos captam a frase de duas
palavras que escrevi. Ele não diz nada por um longo tempo, e
meu coração cai no meu estômago. — Isso significa…
— Eu sei o que isso significa.
— Oh — agora meu estômago está sendo socado.
Repetidamente. Por um boxeador peso-pesado. — Agora seria
uma boa hora para te criticar por saber falar élfico?
— Não sei falar élfico. Apenas esta frase — ele ainda não
olha para mim, os olhos grudados na tira de papel de três
polegadas como se ela contivesse a fórmula secreta para a vida
eterna. — Minha mãe costumava dizer isso para mim.
— Ah Merda. Jack. Eu não fazia ideia — começo a me
aproximar dele, mas depois penso melhor, já que ele
provavelmente quer algum espaço. Eu tento correr de volta
para o canto, mas ele aperta a mão em volta do meu pulso, me
puxando para ele. — Sinto muito — eu sussurro, pegando o
papel. — Me deixe jogar isso fora.
Jack enfia o papel de volta na capa do livro, colocando-o na
mesinha de centro.
— Eu também te amo, Sadie.
Meu coração para de bater forte no meu peito.
— Você me ama?
— Claro que sim. Este é o melhor presente que alguém já
me deu — ele pega meus quadris em suas mãos, deslocando-me
totalmente em seu colo, envolvendo minhas pernas em volta de
sua cintura.
Eu cavo meus dedos em seus cachos e trago seus lábios nos
meus, este beijo suave e gentil.
— Diga, Sadie. Por favor — ele murmura as palavras em
minha boca.
Coloco um pouco de espaço entre nós, para poder olhar
diretamente em seus olhos, que estão escurecendo com a
sombra da árvore de Natal atrás de nós.
— Eu te amo, Jack.
Seus lábios encontram os meus novamente, insistentes e
ofegantes. Meus quadris vão contra o dele; ele já está duro.
— Espero que você me conheça bem o suficiente para saber
que não vou esquecer minha parte nessa troca — pontuo
minhas palavras com uma linha de beijos ao longo de sua
mandíbula.
Ele se afasta de mim com um sorriso.
— Claro, claro — ele se levanta, colocando as mãos em volta
da minha bunda para me levantar com ele.
Eu deslizo para baixo, coloco um beijo rápido em seus lábios
e faço um gesto para que ele mostre o caminho. Ele me leva até
BeBs. Ele tem passado cada vez mais tempo aqui ultimamente,
e tenho certeza que uma parte dele ficará feliz em me ver
entregar o espaço para ele assim que a loja estiver pronta.
Ele me leva para o lado esquerdo da sala, onde estão seus
cavaletes e suprimentos. As três pinturas que ele fez dos meus
arranjos estão alinhadas sob uma das grandes janelas. Eles ainda
me tiram o fôlego toda vez que os vejo.
Jack me coloca diretamente na frente de um cavalete alto, a
coisa toda coberta com um grande pano cinza.
— Desculpe, não está embrulhado, mas terminei ontem e
precisava de tempo para secar.
Eu aceno minhas mãos em um movimento Quem se
importa. Porque realmente, quem se importa?
— Está pronta?
Concordo com a cabeça, juntando minhas mãos em
antecipação.
Jack lenta e cuidadosamente puxa o pano para longe do
cavalete.
E eu apenas encaro.
E eu encaro.
E eu encaro.
Dando as palmas das mãos nos olhos e piscando para afastar
a umidade que embaça minha visão, dou um passo mais perto.
É uma pintura, obviamente. E posso ser tendenciosa, mas é
possivelmente a pintura mais bonita que já vi.
O que soa muito egoísta, porque o tema da pintura sou eu.
Estou parado no meio de uma rua típica de Nova York, com a
Ponte do Brooklyn aparecendo atrás de mim. Meu corpo está
voltado para a ponte, e estou olhando por cima do ombro para
quem quer que esteja vendo a pintura, com um sorriso
provocador no rosto. Mas não é a ponte ou a rua ou mesmo eu
que torna a pintura de tirar o fôlego. É que o vestido que estou
usando é feito puramente de flores. Centenas delas, a textura
tão detalhada que quase posso sentir as pétalas aveludadas. Eles
envolvem minhas costas nuas, descendo em uma cauda que se
espalha pela metade inferior da tela.
É a perfeição absoluta.
— Bridge e Blooms — eu respiro quando finalmente consigo
fazer minha voz funcionar. Eu parei de tentar conter as
lágrimas, deixando-as fluir livremente sobre minhas bochechas.
— Bridge e Blooms — Jack se aproxima de mim, pegando
uma das minhas mãos nas dele. — Você gostou?
Eu sufoco uma risada.
— Se eu gostei? Jack, esta é a coisa mais linda que já vi. E não
só porque eu estou nela. Isso é a coisa menos bonita sobre isso.
Ele pega minha outra mão e me puxa para seus braços.
— Não tenho certeza se concordo com essa avaliação,
docinho.
Eu viro minha bochecha, descansando-a contra seu peito
para que eu possa olhar para a pintura um pouco mais.
— Falando sobre o melhor presente de todos os tempos.
Ele beija o topo da minha cabeça.
— Estou feliz que você gostou.
— Eu amei isso — eu inclino minha cabeça para beijá-lo. —
E eu te amo.
— Eu também te amo.
— Eca. Isso está me deixando enjoada — eu me afasto dele
um pouco, com um brilho perverso em meus olhos. — No
entanto, eu fiz outra coisa para você. — eu corro minhas mãos
por seus cachos antes de arrastá-los até seu peito.
— Sério? — Suas mãos deslizam até meus quadris,
pressionando-as nas dele.
— Fiz o teste há duas semanas. Tudo limpo — meus dedos
deslizam sob a borda de sua camisa de botão, subindo por suas
costas.
Sua respiração fica presa em seu peito e ele endurece contra
minha barriga.
— Ah, fez? — As duas palavras saem em um suspiro rouco.
— Eu também. Quero dizer, não foi há duas semanas, mas
estou limpo. Também limpo. Totalmente limpo.
Eu mordo meu lábio porque ele é adorável quando não
consegue formar uma frase coerente.
— E recomprei meus anticoncepcionais enquanto estava lá
— eu movo minhas mãos ao redor de seu estômago, traçando
levemente seu abdômen magro.
Seus quadris pressionam os meus.
— Por favor, me diga que isso significa o que eu acho que
significa.
Deixei minha mão vagar até a frente de sua calça jeans,
segurando seu comprimento na palma da minha mão.
— Vamos descer?
Ele agarra minha mão e me puxa para fora do estúdio.
Nós descemos as escadas e entramos no meu quarto, Jack
fechando a porta atrás de nós e me pressionando contra ela em
uma repetição de seu movimento anterior no andar de baixo. A
urgência é quente e desesperada, mas seu beijo é lento e
consumidor. Ele une nossas mãos, trazendo-as acima da minha
cabeça enquanto seus quadris empurram os meus até eu
choramingar.
Eu me liberto de seu aperto, meus dedos trabalhando
rapidamente através dos botões de sua camisa, empurrando-a
para baixo de seus braços e arrastando minhas mãos sobre os
ombros e passando pelos cachos. Ele puxa meu suéter pela
cabeça, parando por um minuto para admirar meu sutiã mais
chique, que coloquei na esperança de acabarmos aqui. Ele
abaixa a cabeça, lambendo ao longo das bordas da renda antes
de chupar meu mamilo através do tecido transparente.
Sua boca se move mais para baixo, lambendo e mordiscando
suavemente a pele da minha barriga, e ele segura minha bunda
em suas mãos requintadas antes de seus dedos ágeis
desabotoarem minha calça jeans e deslizar o tecido pelas minhas
pernas. Seus lábios embarcam em uma exploração para o norte,
beijando-me em todos os lugares enquanto ele volta para minha
boca.
Minhas mãos viajam para a frente de sua calça jeans,
apalpando seu comprimento duro mais uma vez, deliciando-se
com o rosnado que ele solta, retumbando contra meus lábios.
Eu me movo para desabotoar sua calça, mas ele cutuca minha
mão.
— Ainda não — ele murmura em meu pescoço. Seus braços
me envolvem e ele abre meu sutiã, seus dedos me provocando e
beliscando enquanto eu o jogo no chão. Sua língua substituiu
seus dedos, lambendo e chupando até que meus quadris se
empurrassem contra ele. É frenético e ofegante e quente pra
caralho.
Ele se ajoelha na minha frente, enganchando os polegares na
minha calcinha e arrastando-a pelas minhas pernas, ajudando-
me a tirar ela. Ele beija o caminho até que esteja exatamente
onde eu mais o quero. Uma das minhas pernas é jogada sobre
seu ombro e então sua boca está em mim, lambendo meu
centro, girando sobre meu clitóris.
Minha cabeça cai para trás contra a porta, e eu agarro a
maçaneta, qualquer coisa para me impedir de cair no chão
enquanto ele me devora. Os dedos da minha mão livre se
emaranham em seus cachos, e não consigo impedir que meus
quadris rolem contra sua boca. Assim que ele desliza um dedo
dentro de mim, meus nervos explodem e eu grito minha
libertação.
Jack se levanta, me pegando antes que eu caia no chão. Ele
coloca beijos suaves ao longo da minha clavícula e na minha
garganta, finalmente pousando de volta na minha boca. Desta
vez, quando eu me movo para desabotoar suas calças, ele me
deixa, chutando-as enquanto cambaleamos até a cama.
Puxo o edredom para trás e caímos sobre os lençóis, que são
frios contra minha pele aquecida. Deitamos um de frente para
o outro, as pernas entrelaçadas. Jack segura meu rosto em suas
mãos, me beijando como se fosse a primeira vez.
E desta vez, o acúmulo, a tensão, a explosão, acontece dentro
do meu peito. Deitado aqui, cara a cara com Jack, nós dois
completamente nus um para o outro, é uma sensação diferente
de tudo que já experimentei. Este homem está completamente
enterrado no fundo do meu coração e sei neste momento, além
de qualquer outra coisa, que o amarei para sempre. A certeza
me atinge tão fortemente quanto aquele orgasmo alucinante, e
os tremores secundários duram muito mais. Quando a onda de
emoções diminui dentro de mim, puxo Jack para cima de mim.
Ele pontilha beijos sobre minhas bochechas e pálpebras, ao
longo da borda da minha mandíbula e na minha garganta.
Eu fico entre nós, pegando-o em minha mão e envolvendo
minha palma em torno de sua dureza. Eu o guio até a minha
entrada.
— Você ainda quer isso?
Seus lábios roçam os meus.
— Mais do que posso colocar em palavras. E você?
— Absolutamente sim.
Ele enterra o rosto no meu pescoço, sua risada me fazendo
cócegas. E então ele está empurrando seu pau para dentro de
mim, lentamente, centímetro por centímetro.
Uma vez que ele está totalmente dentro de mim, eu o seguro
no lugar por um minuto, trazendo seus lábios aos meus,
beijando-o profundamente. Eu libero meu aperto, e ele gira os
quadris, lentamente, provocativamente, até que meu corpo
esteja tenso com a tensão.
— Porra, Sadie. Você é tão perfeita — ele deixa cair sua testa
na minha enquanto seu ritmo aumenta, suas estocadas me
acariciando mais e mais rápido.
Eu agarro seus ombros, envolvo minhas pernas em volta de
sua cintura.
— Estou perto — eu expiro, meus quadris levantando para
encontrar os dele.
Os dedos de Jack deslizam entre nossos corpos, acariciando
meu ponto sensível. A combinação de sensações é avassaladora
e, um minuto depois, estou chamando seu nome, apertando-
me ao redor dele enquanto meu corpo explode em liberação
mais uma vez.
Ele estremece sua própria liberação um minuto depois,
enterrando o rosto no meu cabelo e abafando seus gemidos.
Seus quadris continuam a rolar lentamente, enquanto nós dois
descemos.
Jack se apoia nos cotovelos enquanto recuperamos o fôlego.
Ele empurra uma mecha de cabelo atrás das minhas orelhas,
seus dedos traçando ao longo da minha mandíbula.
— Eu realmente te amo pra caralho.
Eu rio, puxando-o para um beijo rápido.
— Eu também te amo pra caralho.
Nós desabamos, deitados sobre os travesseiros, minha perna
jogada sobre a dele, nossos dedos entrelaçados.
Alguns minutos depois, Jack rola para o lado, puxando-me
para mais perto, então ficamos cara a cara.
— Não querendo matar totalmente a vibe ou algo assim,
mas eu realmente não posso deixar esta noite passar sem dizer o
quanto o último mês significou para mim. Provavelmente nem
é preciso dizer que as férias não foram a época mais fácil do ano
para mim desde o acidente. — Ele segura minha bochecha em
sua mão — Esta é a primeira temporada de férias em muito
tempo em que sinto que tenho uma família.
Eu inclino minha cabeça para beijá-lo, chegando mais perto
de seu abraço.
— Quando eu estava decidindo onde fazer faculdade, Nova
York se destacou entre as demais por um motivo específico.
Ele passa os dedos pelo meu cabelo.
— E qual motivo foi esse?
— Eu senti que Nova York era onde as pessoas vinham para
ter sua própria família. E era isso que eu queria mais do que
tudo. Mais do que dinheiro, um diploma ou um bom emprego.
Eu queria ter minha própria família — eu encontro seu olhar,
uma cachoeira de emoção espelhando a minha.
— Você fez uma muito boa, docinho — ele beija minha
testa, colocando minha cabeça em seu peito.
— E agora é sua também, Jackpot — eu envolvo meus braços
em torno dele, enterrando-me em seu calor e adormecendo.
No Natal, trocamos a maratona vintage Real Housewives por
uma maratona de ficar na cama e fazer muito sexo. Jack veste
um roupão para pegar a entrega de comida chinesa, mas é a
única vez que qualquer um de nós coloca roupas durante o dia.
No dia seguinte é quando o verdadeiro trabalho na Bridge e
Blooms começará, então eu aprecio este dia como descanso. As
horas que passamos aconchegados sob minhas cobertas, a
sensação de Jack entrando dentro de mim, as risadas e as
risadinhas, comendo restos de torta e bebendo vinho no centro
da minha cama como se fosse uma toalha de piquenique.
É o melhor Natal que já tive.

HARLEY: Como tudo está indo com a loja? Eu


posso passar aí este fim de semana para
ajudar!

EU: Seria ótimo!

EU: Um monte de móveis será entregue na


sexta-feira, então este fim de semana será
todo sobre a disposição das coisas.

HARLEY: Incrível, Nick e eu estaremos lá!

NICK: Nossa. Não me lembro de me oferecer


para isso.

HARLEY: Precisamos dos seus músculos,


querido.
EU: Além disso, é do seu interesse ajudar,
lembra?

NICK: Eu me lembro de você colocar muita


ênfase na parte silenciosa de "parceiro
silencioso”.

EU: Sim, precisamos que você mova as coisas


silenciosamente enquanto dizemos onde
colocá-las.

JACK: Nick. Por favor, venha. Me salve.

NICK: Tudo bem, mas gostaria que ficasse


registrado que estou aparecendo por causa
de Jack, e apenas pelo Jack.

EU: Sim, sim. Vocês se amam, nós sabemos.

GEMMA: Voltei à escola há dois dias e já


odeio minha vida, então estarei lá, mas só se
puder beber enquanto trabalhamos.

NICK: Sim, isso é uma responsabilidade


enorme, então vai ser um não.

GEMMA: O que aconteceu com o silêncio?

JACK: Estou levando o jantar, o que você


quer?

EU: Não precisa fazer isso, estou quase


terminando, juro.
JACK: Sim, eu sei como é. Quase pronto
significa mais duas horas.

JACK: Você almoçou?

EU: Eu comi um saco de pretzels e um tomei


um Gatorade, que são todos os principais
grupos alimentares.

JACK: …

EU: Pizza parece incrível, obrigada, querido!

JACK: Vejo você em vinte minutos.

EU: Você também poderia trazer para mim?


Estou tentando pendurar algumas prateleiras.

JACK: Tudo bem.

EU: E agora que você mencionou o jantar,


estou com fome. Você também poderia
pegar uma salada? E pão de alho com
queijo?

EU: E talvez um pouco de cheesecake?

JACK: Já pedi tudo isso

EU: Deus, você é incrível. Vamos transar essa


noite.

JACK: Haha. Nós dois sabemos que você vai


dormir antes que sua cabeça encoste no
travesseiro.
EU: Você provavelmente está certo. Porra.
Desculpe.

EU: Eu sou a pior nova namorada de todas.


Desculpe, eu sou uma idiota.

JACK: Pare de falar sobre minha namorada


incrível, determinada, motivada, engraçada
pra caralho e supergostosa.

EU: Eu te amo.

JACK: Eu também te amo. Vejo você daqui a


pouco.

EU: Olá, gente! Cansados de mim?

EU: Não responda isso!

EU: Eu prometo que a loucura está quase


acabando comigo. Mas preciso muito da sua
ajuda no sábado. Deve ser o final de tudo!

HARLEY: Estou dentro!

HARLEY: Nick também

JACK: Estarei lá, obviamente.

GEMMA: Se este for REALMENTE O ÚLTIMO


então é claro que estarei lá

EU: Eba! Vocês podem conhecer a primeira


funcionária oficial Bridge e Blooms, a Lucy!
GEMMA: O que nós somos?

EU: Desculpe, a primeira funcionária paga de


Bridge e Blooms!

EU: E prometo convidar todos vocês para


jantar e beber quando terminarmos!

NICK: Acho que você quer dizer jantar e beber


até tudo acabar.

EU: parceiro SILENCIOSO.


Eu coloco minha mão em torno de uma erva daninha perdida
e arranco-a da terra, usando tanta força que caio de costas. Me
endireitando, jogo o caule descartado na pilha de lixo e passo
para o próximo. Infelizmente, eu aparentemente cuido muito
bem do jardim do quintal do brownstone, porque quase não há
ervas daninhas, e preciso descontar minha raiva em alguma
coisa.
Talvez não raiva. Frustração. Exaustão. Ansiedade. Estou
exausta e cheia de dúvidas.
A loja está praticamente pronta e tudo está se encaixando,
mas as últimas semanas foram as mais difíceis da minha vida.
Passei mais tempo do que gostaria de admitir sentada no chão
no centro da loja, cabeça entre as mãos, lágrimas escorrendo
pelo meu rosto.
Achei que o sucesso recente da Bridge e Blooms havia me
preparado para administrar meu próprio negócio, mas tentar
abrir uma loja foi um milhão de vezes mais difícil do que eu
pensava. Estou tão, mas tão cansada. E não sei se consigo fazer
isso. Não sei por que pensei que conseguiria.
Tiro minhas luvas de jardinagem e enfio as mãos no solo
frio. A sujeira se aglomera em volta dos meus dedos, e o cheiro
da terra enche meu nariz, me deixando suja. Eu fecho meus
olhos e me forço a tomar três longas respirações.
Levantando-me do chão, sacudindo minhas mãos e desabo
em uma cadeira do pátio. A sujeira presa sob minhas unhas é
um afastamento bom da perfeição que eu sentia que precisava
manter em meu antigo emprego, mas conforme a loja se
aproxima de sua inauguração oficial, não posso deixar de me
perguntar se cometi algum erro deixando para trás uma
indústria estável para o enorme risco que é Bridge e Blooms.
Está frio lá fora, mas arrumar o jardim me aqueceu. Sei que
tenho uma lista de tarefas tão longa quanto meu braço, mas não
consigo me levantar e entrar, o conforto de estar do lado de fora
no jardim é como um cobertor aconchegante me envolvendo.
Uma caneca aparece na frente do meu rosto.
— Você está bem? — Jack cai na cadeira ao meu lado.
Tomo um pequeno gole do meu café com leite, sabendo
que a aparência de estar bem é mais importante agora do que o
café.
— Estou bem.
— O que posso fazer para ajudar, Sade? Me deixe trabalhar.
— Está tudo bem. Tenho tudo sob controle — meu aperto
na caneca aumenta, meus dedos suportando o peso da minha
tensão.
Jack se inclina para a frente.
— Está tudo bem se você não tiver tudo sobre controle, você
sabe disso.
— Não está, na verdade. Não tenho tempo para não ter tudo
sob controle porque minha loja abre daqui a uns dias e, de
alguma forma, consegui convencer um de meus melhores
amigos a investir uma grande quantia de dinheiro em um
negócio que não existe a tempo suficiente para justificar uma
quantia tão ridícula de dinheiro e tenho certeza de que estarei
fora do mercado em um ano, e então a Bridge e Blooms será um
fracasso total e terei que tentar encontrar um emprego no setor
financeiro para poder ser miserável pelo resto da vida, e eu sabia
que eu não estava pronta para isso — eu coloco minha caneca
na mesa e me inclino para frente, deixando minha cabeça cair
entre os joelhos e me forçando a respirar fundo. — Fui estúpida
em pensar que terminaria em algum lugar, que eu não fosse o
fracasso.
Ele não diz nada, mas sua palma quente pousa nas minhas
costas, esfregando círculos lentos e calmantes.
Eventualmente, eu me sento e a mão de Jack cai para pegar
a minha.
— Eu realmente consigo fazer isso, Jack?
Ele aproxima sua cadeira da minha, apertando minha mão.
— Eu não posso responder isso para você, docinho. A
dúvida é algo normal quando você está fazendo algo novo —
ele coloca um beijo suave em meus lábios. — Eu acredito que
você pode fazer isso, mas você tem que acreditar também.
Eu concordo.
— Eu acho que só preciso sentar aqui sozinha um pouco.
— Ok — ele se levanta e dá um beijo no topo da minha
cabeça. — Você sabe onde me encontrar.
Assim que ele volta para dentro, coloco minhas mãos em
volta da minha caneca, deixando o calor me acalmar de fora
para dentro.
É algo tentador jogar a toalha no chão agora. Desistir antes
que eu realmente tenha a chance de falhar. Nick perderia todo
o seu dinheiro, mas não é como se ele não tivesse o suficiente
para se apoiar.
Eu encaro meu café com leite por um longo tempo,
procurando respostas nos redemoinhos de espuma.
Depois de vários minutos, olho para os canteiros do jardim.
Estamos no inverno, então tudo está morto no momento, mas
mesmo sem as plantas terem flores, tenho orgulho do espaço
que criei aqui atrás, pegando uma monstruosidade e
transformando-a em algo bonito.
É uma pequena prova de que posso fazer isso. Eu posso fazer
algo do nada.
Bridge e Blooms pode ser como este jardim, só que em uma
escala maior.
Eu engulo os restos agora frio do meu café com leite, pego
as ervas daninhas e as jogo no lixo. De volta à casa, dou um beijo
na bochecha de Jack antes de subir as escadas para o BeBs para
voltar ao trabalho.
Jack descarrega cuidadosamente suas pinturas de um dos meus
vagões de entrega bem cedo no sábado de manhã, uma semana
antes da festa de inauguração da Bridge e Blooms e dois dias
antes de eu começar oficialmente a operar o negócio na loja.
Cada tela é embrulhada em pedaços de plástico bolha, o que eu
achei um pouco excessivo, considerando que a caminhada é de
apenas cinco minutos, mas ele insistiu. Ele está generosamente
me entregando as três pinturas que terminou dos meus arranjos
para ficar junto da minha pintura que ganhei de Natal, que
ficará centralizada atrás da caixa registradora.
— Eu gostaria que você me deixasse pagar por isso — eu
pego cada um enquanto ele desembrulha, colocando-as
cuidadosamente no longo balcão de madeira onde estarei
fazendo a maior parte da minha arrumação.
Ele me dá uma combinação de revirar os olhos e um
empurrar de óculos para cima do nariz.
— Onde mais eles iriam pendurar? Eles foram feitos para
ficar neste espaço.
— Sim, mas isso é como horas e horas de seu trabalho, e eu
estou apenas pegando para mim — examino o primeiro que ele
completou, ainda estou maravilhada com os detalhes que ele
capturou.
— Você não está pegando, estou dando a você — ele
desembrulha meu presente de Natal, agora oficialmente
intitulado Bridge e Blooms, como se estivesse manuseando O
Coração do Oceano do Titanic. — E eu nem estaria pintando
se não fosse por você. Então, algumas telas pequenas é o
mínimo que posso fazer.
Deixei que ele colocasse a tela no balcão da frente antes de
envolver meus braços em torno dele.
— Ainda não consigo acreditar que tudo isso está
acontecendo.
— Não está simplesmente acontecendo, docinho. Você fez
isso acontecer — ele beija minha testa.
Eu inclino minha cabeça para um beijo mais profundo.
Entre meus pedidos regulares, tentando deixar a loja pronta e
espremendo um turno de bar por semana, não houve muito
tempo para nós dois nas últimas semanas. E, Jack sendo Jack,
ele nunca reclama, nunca me faz sentir culpada. Ele está
esperando por mim todas as noites quando chego em casa e nas
raras noites em que não vem à loja comigo para me acompanhar
de volta ao brownstone. É como se eu tivesse sonhado com esse
namorado super perfeito e ele simplesmente apareceu.
— Ah meu Deus, eu não me inscrevi para isso — a voz de
Gemma interrompe nosso beijo.
Eu sorrio para Jack, plantando mais um beijo nele antes de
sair de seu abraço.
— Sim, sim.
Ela segura uma sacola.
— Eu trouxe rosquinhas e outras coisas.
Eu a envolvo em um abraço apertado, segurando por muito
mais tempo do que eu sei que ela quer.
— Você é a melhor.
Ela vasculha a sacola, me entregando um donut e pegando
um pouco para ela, antes de colocar na ponta do balcão.
Entregando a Jack um coquetel, eu inclino minha bunda
contra o balcão onde Gem se senta.
— Estou feliz que você chegou cedo, na verdade, porque eu
queria te perguntar uma coisa.
— Não, eu não vou entrar em um relacionamento a três.
Pelo menos não com vocês — ela me dá uma piscadela e um
sorriso.
— Bom saber, mas não é o que eu ia perguntar — lambo
uma gota de cobertura do meu donut. — O que você acha de
servir a festa de inauguração? Não é nada grande, apenas
algumas entradas e talvez aperitivos?
Ela pega um pedaço de sua rosquinha, mas não diz nada.
— Eu pagaria você, obviamente, e pensei que poderia ser um
bom teste, sabe? — eu estava confiante de que ela aproveitaria
a chance, mas ela parece tão infeliz que não consigo me impedir
de jogar meu braço em volta do ombro dela. — Ok, não se
preocupe, posso encontrar outra pessoa. Desculpa ter
perguntado, Gem. Eu não queria aborrecê-la.
Ela gentilmente se afasta do meu abraço.
— Eu não estou chateada com você, Sade. Estou com raiva
de mim mesma.
Jack me dá um olhar preocupado e lentamente começa a se
mover em direção ao escritório na parte de trás, gesticulando de
uma forma nada sutil para nos dar algum espaço.
Uma vez que ele limpou a sala, eu me movi para ficar bem
na frente dela.
— Por que você está com raiva de si mesma?
— Como conto a história? Tenho 28 anos, tenho um
emprego que desprezo e todos na minha vida são felizes e bem-
sucedidos, e ainda não consigo decidir que porra eu quero fazer
da minha vida — ela joga o donut de volta na sacola, mesmo
que esteja meio comido.
— Gemma, Deus, por onde eu começo? Um, você diz que
tem “vinte e oito” como se tivesse oitenta, o que me recuso a
aceitar, já que sou dois meses mais velha que você. Dois, olá, eu
era literalmente você há menos de um ano — eu jogo meus
braços bem abertos. — E veja onde acabei depois de também
odiar meu trabalho e não ter ideia do que queria fazer.
— Você sabia o que queria fazer, Sade, e fez. Essa é a
diferença.
— Pare com essa merda de vitimização agora. Você pode
fazer isso também. Você é uma das pessoas mais inteligentes
que conheço, e trabalha duro, Gem. Sem querer me gabar nem
nada, mas minha festa de inauguração vai arrasar nas redes
sociais, e você vai fazer o bufê porque o pior que pode acontecer
é você odiar e nunca mais querer fazer isso e então você não
precisa fazer de novo. E o melhor é que todos na festa vão
querer contratar você para fazer a festa deles — eu a puxo para
fora do balcão e a arrasto para o outro lado da sala, onde deixei
meu caderno de planejamento, abrindo-o na página da festa. —
Aqui está o seu orçamento. Eu confio em você para fazer um
bufê incrível, então vou enviar o dinheiro e você pode fazer o
que quiser.
Ela examina minhas anotações, seus olhos penetrantes não
fazem nada para esconder seu nervosismo.
— E se eu arruinar sua festa?
— Você não vai. Eu conheço você. Você não vai me
decepcionar — eu pego seu rosto em minhas mãos e dou um
beijo alto em sua bochecha. — Ok?
— Eu poderia fazer aquelas vieiras embrulhadas em bacon
que você adora, se eu conseguir um bom negócio — ela pega o
telefone, tirando uma foto da página do meu caderno. — E
talvez alguns guiozás.
— Sim. Adorei. Parece incrível. — Eu me viro. — Jack, você
pode sair agora! Vamos pendurar essas pinturas!
Ele espreita a cabeça para fora do escritório, com meio
donut enfiado na boca.
— Na verdade, vou esperar por Nick antes de pendurar
qualquer coisa. É muito mais fácil com pessoas altas ajudando.
— Você me chamou? — Nick abre a porta da loja,
segurando-a para Harley, que está carregando uma bandeja de
cafés.
Deus, eu amo meus amigos.
Harley coloca a bandeja na mesa e imediatamente se move
ao longo do balcão para onde as pinturas de Jack estão à
espreita.
— Puta merda — Ela se vira para Jack, boquiaberta. — Você
pintou isso?
Jack, que estava no meio de uma dança secreta de aperto de
mão com Nick, enfia as mãos nos bolsos.
— Ah sim. Eu que fiz.
— Se você acha que esses são bons, dê uma olhada nessa
daqui — faço um gesto para que os três venham olhar para
Bridge e Blooms.
Há um minuto de silêncio enquanto todos assimilam.
— Que porra é essa, mano? — Nick dá um soco no ombro
de Jack, fazendo-o recuar um passo. — Por que você não nos
disse que conseguia fazer isso?
Ele dá de ombros, suas bochechas ficando vermelhas
enquanto ele se encolhe em si mesmo.
— Eu realmente não conseguia. Não por um bom tempo,
de qualquer maneira.
Todos os três se voltam para encará-lo, e ele pode muito bem
ser uma tartaruga se escondendo em seu casco.
Eu enlaço meus dedos nos dele, me aconchegando ao seu
lado.
— Jack pintou muitos quadros quando era mais jovem, mas
parou por um tempo depois que seus pais morreram.
— Bem, você deveria estar vendendo essas merdas —
Gemma não tem pena, e nunca fiquei tão grata por isso.
Jack lhe dá um sorriso tímido.
— Não é realmente sobre o dinheiro hoje em dia.
Sua escolha de palavras atrapalha algo em meu cérebro por
um minuto, mas eu dou de ombros.
— E você me conhece, feliz por capitalizar o trabalho
gratuito de suas almas infelizes que estão presas me amando —
eu fico na ponta dos pés e dou um beijo em sua bochecha. —
Está falando demais. Fale menos. E trabalhe mais.
Várias coisas são lançadas em minha direção geral, mas todos
começam a trabalhar. As pinturas são penduradas, os
suprimentos organizados, a decoração montada. Lucy, minha
nova funcionária, se junta a nós por algumas horas. Ela está
com quase trinta anos e, por um minuto, temo que nossas
travessuras a irritem, mas ela se encaixa perfeitamente, dando o
melhor que pode. No final do sábado, Bridge e Blooms parece
quase completo. Você sabe, menos as flores.
Todos nós nos vestimos com nossos casacos e cachecóis
antes de sair, pois o clima de janeiro ficou terrivelmente frio nas
últimas duas semanas.
Tranco a porta da frente depois que todos saem do prédio,
então passo meu braço pelo de Jack enquanto nos dirigimos
para o jantar.
— Não acredito que amanhã vou trabalhar na minha loja.
— Já mencionei o quanto estou orgulhoso de você? — Jack
se inclina e dá um beijo no topo da minha cabeça.
— Uma vez ou duas — eu me aconchego mais ao seu lado,
precisando do calor e me deliciando com o conforto. — Você
já pensou em vender algumas de suas pinturas? Acho que a
reação da turma só reforça ainda mais minha afirmação de que
um monte de gente vai querer eles assim que os virem na loja
— eu inclino minha cabeça para cima para que eu possa ver seus
olhos.
E se já não estivesse escuro lá fora e limitando minha
visibilidade, eu poderia jurar que há um lampejo de algo como
pânico disparando pelo verde brilhante.
Mas Jack apenas dá de ombros.
— Eu nunca quis vender minhas pinturas antes. Não é sobre
dinheiro para mim.
— Estou totalmente feliz em ser seu cafetão de arte, se você
precisar de mim.
Ele ri.
— Eu acho que você quer dizer meu vendedor de arte.
— Não. Cafetão de arte. Esse será meu título oficial ou não
haverá acordo.
Chegamos ao restaurante e Jack abre a porta para mim.
— Você é outra coisa, docinho.
— É por isso que você me ama, Jackpot.
— Isso é verdade.
A última semana antes da festa de inauguração é uma névoa de
atividades e emoções. Ainda há trabalho a fazer na loja, montar
amostras e encher o espaço de flores, ao mesmo tempo que faço
as minhas encomendas da semana. Mas é uma correria ir até a
loja todas as manhãs, trabalhando nos arranjos no centro da
loja, fazendo com que o espaço realmente pareça meu. Vai levar
algum tempo até que as sementes que estão atualmente
crescendo na estufa produzam flores igual no BeBs, então, por
enquanto, estou comprando praticamente tudo de fazendas
locais. Também passo bastante tempo durante a semana
vasculhando vasos que possam ser reaproveitados. Não haverá
vasos transparentes quadrados curtos em minha casa. A menos
que eu encontre algum descartado na rua; então eu estou
aceitando totalmente.
Lucy trabalha comigo durante toda a semana, aprendendo
como organizar, mas também descobrindo o sistema de
pedidos e trabalhando na logística das entregas. Ainda não me
sinto confortável em participar de grandes eventos, mas vamos
em frente e agendamos algumas coisas para grupos menores, e
espero que isso me dê experiência suficiente para aumentar
minha confiança. Encontro uma velha mesa de bistrô super
fofa em um mercado e a coloco no canto de trás da loja
especificamente para reuniões de design de clientes.
Gemma fez um check-in aproximadamente oito milhões de
vezes durante a semana, revendo os itens do menu comigo,
perguntando se tenho certeza absoluta de que confio nela e me
enviando fotos de seus testes. O que realmente é apenas
maldade, porque eu não consigo realmente comer nenhum
desses testes. Eu sei que ela vai ser ótima e espero que a noite dê
a ela o impulso de que ela precisa.
E Jack, o que mais posso dizer sobre Jack? Eu mencionei
como ele é o namorado absolutamente perfeito? Eu
provavelmente estou enlouquecendo, porque não há como um
homem tão bom querer ficar por perto para gente como eu.
Mas, felizmente, não tenho tempo para esse tipo de
pensamento. Eu apenas permito que ele cuide de mim de uma
forma que ninguém jamais cuidou de mim antes. E estou
muito distraída para sabotar as coisa entre nós.
Na noite de sexta-feira antes da festa, volto para casa cedo,
sabendo que vou precisar de oito horas inteiras de sono, caso
contrário parecerei um monstro no dia do lançamento. Quem
eu estou enganando? Parecerei um monstro, não importa o
quanto durma, apenas em graus variados com base no descanso
e no consumo de café.
Jack tem vinho aberto e comida chinesa a caminho quando
chego em casa, dando-me tempo suficiente para tomar banho
e vestir meu pijama antes de comermos de pernas cruzadas no
sofá do porão, horas de programas Bravo atrasados passando na
TV.
Quando adormeço durante uma explosão épica de
Ramona/Sonja, Jack sabe que é hora de me levar para a cama.
Ele nos coloca debaixo das cobertas, me dá um beijo de boa
noite e adormece. Sério. Desgraçado.
Apesar da minha exaustão profunda, não consigo fazer
meus olhos ficarem fechados e olho para o teto, imaginando
todas as milhões de coisas que podem dar errado amanhã.
Finalmente, eu me forço a virar de lado, que se dane o teto.
Eu me empurro para o espaço de Jack, aninhando minha
bochecha contra seu peito nu.
Seus braços automaticamente me envolvem, sua voz
sonolenta e rouca.
— Você está bem?
— Não consigo dormir.
Ele passa os dedos pelo meu cabelo, me acalmando
instantaneamente.
— Tudo vai ficar perfeito, docinho. Você planejou cada
detalhe.
— E se ninguém aparecer? — eu traço círculos leves ao
longo de seu estômago, precisando de meus dedos para fazer
alguma coisa.
— Eu estarei lá. E seus amigos também. E muitas outras
pessoas também — ele segura minha bochecha em sua mão e
puxa meus lábios até os dele. — Vai ser incrível, Sade — ele
murmura contra minha boca, antes de aprofundar o beijo,
puxando-me para ele.
Eu suspiro nele, sua boca proporcionando uma distração
maravilhosa.
— Ei — eu quebro o beijo. — Eu sei o que você está fazendo,
senhor.
Ele move seus lábios até minha mandíbula, mordiscando até
eu expor meu pescoço para ele.
— Só estou tentando distrair sua mente para outras coisas.
— Você acha que se fizermos sexo isso me ajudara a não me
preocupar com o dia de amanhã? — Eu coloco minha perna
entre as dele, me deliciando com o quanto ele está duro.
— Não, mas acho que podemos tentar — ele envolve os
braços em volta da minha cintura, me rolando para que eu
fique em cima dele.
Ele me solta, dando-me apenas espaço suficiente para tirar
minha camisa, deixando-me com uma pequena calcinha de
algodão. Os dedos de Jack traçam a curva dos meus seios antes
de ele se sentar, eu em seu colo montando nele. Sua língua pisca
sobre um mamilo e depois o outro, antes que ele o sugue. Sua
boca, chupando e beliscando até que meus quadris estejam
balançando sobre seu pau, duro embaixo de mim.
Suas mãos cobrem minha bunda, levantando-me até que eu
esteja de pé na cama. Ele desliza minha calcinha pelas minhas
pernas, me segurando firme enquanto eu saio dela. Uma vez
que meus pés estão firmemente plantados no colchão, suas
mãos deslizam de volta para minha bunda, guiando-me para
mais perto de sua boca. Ele me dá um sorriso perverso antes de
sua língua sair para me provocar, lambendo suave e lentamente.
Eu olho para baixo, observando enquanto sua boca me
devora, e é possivelmente a coisa mais quente que eu já vi. Meu
primeiro orgasmo me atinge um minuto depois, e Jack me
acomoda em seu colo. Ele cai sobre os travesseiros, levantando
os quadris para que eu possa tirar a calça do pijama. Eu corro
minha língua sobre seu comprimento duro, lambendo-o da
base à ponta, mas ele engancha as mãos sob meus braços e me
puxa para cima, acomodando-se na minha entrada e
lentamente empurrando para dentro de mim.
Uma vez que estou totalmente sentada, Jack enfia as mãos
atrás da cabeça, dando-me um sorriso arrogante muito
diferente de Jack.
— Cavalgue em cima de mim, docinho.
— Porra, Jack. Por que isso é tão excitante? — Minhas mãos
cavam em seu peito, alavancando meu peso enquanto balanço
lentamente sobre ele.
— Você gosta de estar no comando, Sade. E esta não é uma
nova informação — ele sorri provocativamente, mas seus olhos
escurecem enquanto ele me observa rolar e girar meus quadris,
e eu sei que ele está gostando disso tanto quanto eu.
E ele não consegue manter as mãos longe de mim por muito
tempo. Uma mão vai até meus seios, acariciando e beliscando
meus mamilos, enquanto a outro desliza entre nossos corpos,
acariciando-me até que eu esteja com tanta tesão que mal
consigo me mover. Mas com mais algumas estocadas, a tesão
toma conta de mim e eu me aperto ao redor dele enquanto
grito.
Ele se senta então, seus braços me envolvendo, seus lábios
encontrando meu enquanto ele entra e sai de mim várias vezes
antes de finalmente grunhir enquanto goza.
Ele me beija suavemente até que ambos nos desfazemos
completamente, suas mãos acariciando minhas costas nuas até
que eu esteja 100% com cérebro de zumbi e os músculos
relaxando.
Jack me abaixa sobre os travesseiros, puxando as cobertas
para baixo do meu queixo. Ele se enfia atrás de mim, ele está
encostado em minhas costas, e seu braço em volta da minha
cintura.
— Não importa o que aconteça amanhã ou na próxima
semana ou em um mês ou em um ano, você é a melhor coisa
que já me aconteceu, Sadie Green — ele coloca um beijo suave
no meu ombro nu.
Eu me viro para retribuir o sentimento, mas ele já está
dormindo.
Desgraçado.
Surpreendentemente ou não, desde o que Jack disse, planejei
cada segundo do dia da festa de inauguração, tudo ocorreu
bem. Lucy e eu terminamos todos os preparativos para a festa
nas primeiras horas dessa manhã, guardando-os nos
refrigeradores até que esteja mais perto da hora de começar. Os
móveis estão sendo entregues no prazo, algumas mesas altas
estão sendo colocadas aleatoriamente ao redor da sala para que
as pessoas tenham um lugar para colocar suas bebidas e lanches.
Montamos um mini bar no balcão de trabalho e trouxemos
uma mesa muito longa para Gemma expor todas as suas
comidas gostosas. Contratei um barman e dois garçons para
cuidar de todo o preparo das bebidas e da entrega da comida e,
o mais importante, da limpeza.
Eu volto para o brownstone duas horas antes dos convidados
chegarem, para um banho rápido e para me arrumar. Eu usei
apenas o mínimo de maquiagem durante a maior parte dos
últimos meses, mas para esta noite, eu vou usar uma sutil
sombra dourada esfumado, cílios postiços e o lábios rosa
brilhante. Meu vestido para a noite é justo e preto, e quando
desço as escadas, Jack literalmente para de andar.
Meu coração palpita em meu peito enquanto ele me observa
descer, e me sinto como a porra de uma rainha. Uma rainha
chefona.
Ele beija minha bochecha quando eu o alcanço na parte
inferior da escada.
— Você está incrivelmente fantástica.
— Obrigada, Jackpot — eu puxo a lapela de seu blazer, que
está sobre jeans escuros e sob uma camisa branca de botão. —
Você também não está tão mal.
Ele passa a mão pelo cabelo, alisando os cachos que
cresceram um pouco.
— Não me lembro da última vez que usei uma combinação
de camisa de colarinho e jaqueta.
— Bem, fica bem em você — eu dou um beijo em sua
bochecha, limpando a leve mancha de rosa que deixei lá.
Ele me ajuda a vestir o casaco e enrolo um cachecol em volta
do pescoço, grata pela curta caminhada que é até a loja.
É um passeio rápido e tranquilo pelo frio intenso de janeiro,
e começo a repassar todas as tarefas de última hora que preciso
terminar antes que as pessoas comecem a chegar para a festa.
Jack aperta minha mão antes de estendê-la para abrir a porta
para mim.
— Você vai se sair muito bem, docinho.
Determinada a ficar ocupada para que meu surto interno
não tome conta de mim e me apague completamente, eu jogo
todas as minhas roupas no meu escritório, coloco Jack para
comandar meu telefone e então começo a trabalhar, fazendo
arranjos, verificando com a equipe e ajudando Gemma a
preparar a comida.
Inalando profundamente o cheiro de bacon, não posso
deixar de pegar uma vieira embrulhada em uma das travessas.
— Meu Deus, Gem. Estes são incríveis.
Ela dá um tapa na minha mão enquanto eu a alcanço por
um segundo.
— Guarde-os para os clientes que vão pagar, senhorita.
Afastando-me, aprecio a propagação. Não só a comida
cheira incrível, mas a apresentação está impressionante.
— Espero que você esteja pronta para ser inundada com
pedidos para bufê depois desta noite.
Ela dá de ombros com o elogio, mas há um inconfundível
brilho de orgulho em seus olhos.
— Obrigada por isso, Sade. De verdade. Significa muito
para mim que você confiou em mim para fazer isso por você.
Eu a puxo para um rápido abraço lateral.
— Na verdade, eu só queria comida de primeira qualidade a
um preço barato.
Ela passa o braço em volta da minha cintura.
— Não faça isso.
— Fazer o quê?
— Desconsiderar sua generosidade como se você tivesse
segundas intenções.
Revirando os olhos, eu gentilmente a afasto.
— Vamos, Gem, todos nós sabemos que meus motivos são
para meu próprio bem.
Ela balança a cabeça e me dá um sorriso triste.
— Você não poderia estar mais errada.
Abro a boca para responder, sarcasticamente é claro, mas
não sai nada.
— Vou levar algumas coisas para o lixo — e ela me deixa lá
sozinha no meio da loja, pensando por meio segundo se ela está
certa. Mas ela não está, obviamente, e logo minha atenção é
atraída para outro lugar.
Vinte minutos após o horário oficial de início da festa, meus
nervos assumiram totalmente o controle. Toda a minha equipe
está aqui, e alguns outros convidados, mas o espaço parece
assustadoramente vazio. Convidei um grupo de
influenciadores do Brooklyn, junto com todos os outros
floristas localizados na área geral, procurando construir
relacionamentos e, com sorte, uma rede de referência. Eu estava
contando com os influenciadores para ajudar a divulgar a
inauguração da loja, mas até agora nenhum deles entrou pela
porta.
— Eu disse a você que ninguém viria — eu sussurro para
Jack, tentando não torcer as mãos de preocupação.
Ele coloca um beijo calmante na minha têmpora.
— É cedo. Que tal um pouco de vinho?
Aceito alegremente um copo e tento me forçar a olhar para
qualquer lugar, menos para a porta da frente.
Mas felizmente, quinze minutos depois, a loja começa a
encher. Um fluxo lento de pessoas começa a entrar pela porta
e, quando não estou andando por aí e dizendo oi para todos,
tento captar suas reações quando veem o espaço pela primeira
vez. Há muitos uaus e uous, e cada sorriso faz meu coração
palpitar. Isso pode até ser melhor que sexo.
Jack passa a maior parte do tempo com Nick e Harley
enquanto eu corro para me apresentar aos convidados, e
Gemma fica de olho na mesa de comida, reabastecendo e
arrumando com o melhor zelo possível.
Eu converso com provavelmente cinquenta pessoas que eu
nunca conheci antes desta noite, todas elas falando sobre o
quão incrível Bridge e Blooms parece. Os influenciadores estão
transmitindo ao vivo e postando um monte de coisa, e estou
ansiosa para verificar meu telefone e ver como está o nosso
engajamento, mas sei que é mais importante fazer contato cara
a cara neste momento, enquanto eu os tenho aqui.
Os floristas são minhas pessoas favoritas que conheço
durante a noite, porque todos realmente entendem. Como é
ver algo crescer e depois transformá-lo em uma obra de arte,
com a garantia de trazer um sorriso ao rosto de alguém.
E por falar em arte, o queixo das pessoas cai quando elas
veem as pinturas de Jack. Todas elas, na verdade, mas
especialmente a do Bridge e Blooms, que está pendurado em seu
lugar de honra atrás do balcão principal. Jack me pediu
especificamente para não mandar ninguém para seu caminho,
caso eles perguntem, mas você pode apostar que com certeza
estarei postando algumas de suas pinturas no Instagram. Não
quero pressioná-lo a vender sua arte se ele realmente não quiser,
mas algo me diz que ele poderia arrecadar um dinheiro bom
fazendo isso.
Me aproximo de uma mulher mais velha, provavelmente
com sessenta e poucos anos, enquanto ela observa a pintura do
Bridge e Blooms, com os olhos fixos.
— Olá, muito obrigada por ter vindo. Eu sou Sadie.
Ela tira os olhos da obra de arte e me dá um sorriso caloroso.
— Sadie. Tão bom te conhecer. A loja está linda.
— Muito obrigada… — eu paro minha frase, já que ela ainda
não se apresentou a mim.
— Ah, sim, sinto muito. Sou Judy Taylor, da revista City
Life — ela estende a mão e me dá um aperto firme. — Desculpe,
acho que me distraí com esta impressionante obra de arte.
Eu sorrio com tanto orgulho como se eu mesmo o pintasse.
— Não é lindo?
Judy dá um passo mais perto, estudando a tela com os olhos
semicerrados.
— Se eu não o conhecesse melhor, eu juraria que era do
Jackson Bennett.
— Quem? — Tento encontrar Jack no meio da multidão.
Sei que ele disse que não queria conhecer ninguém, mas essa
mulher trabalha para uma revista de verdade e pode ser um
contato bom demais para se deixar passar.
— Jackson Bennett. Você pode ser jovem demais para se
lembrar. Ele era muito conhecido a cerca de uns dez a quinze
anos atrás. Vendeu suas pinturas por milhões, mas era um
recluso total e ninguém nunca viu seu rosto.
— Oh, bem, este quadro definitivamente não é do Jackson
Bennett. Eu não poderia pagar milhões em uma obra de arte —
ficando na ponta dos pés, procuro os cachos escuros de Jack no
meio da multidão.
— Não importaria se você pudesse. Ele desapareceu há cerca
de sete anos. Praticamente desapareceu da face da terra durante
a noite.
De repente, não me importo muito em encontrar Jack.
— Sinto muito, você disse que ele parou de pintar há sete
anos?
— Mais ou menos — ela dá à pintura um olhar final de
avaliação antes de me dar um tapinha no ombro. — Parabéns
pela inauguração, farei questão de mencioná-la na próxima
edição da revista. Agora, se você me der licença, vou pegar mais
daqueles guiozás.
Eu aceno em direção à mesa de comida enquanto aqueles
guiozás começam a se agitar dentro do meu estômago. Um
zilhão de pensamentos pingam em meu cérebro, mas antes que
eu possa começar a decifrá-los, sou abordada por um
influenciador para uma selfie. Nós tiramos a foto, e coloco um
sorriso falso no rosto porque não consigo tirar as palavras da
mulher da cabeça.
Jackson Bennet.
Sete anos.
Milhões.
Porra, não é possível.
Harley, a maga das emoções que ela é, vem até mim,
pegando meu cotovelo e me arrastando para o fundo da loja.
— Você está bem? Parece que você vai vomitar — ela coloca
a mão na minha testa.
Eu balanço minha cabeça, sabendo que não posso pensar
nisso agora.
— Estou bem. Acho que só preciso de um pouco de ar.
Eu me afasto dela, indo para a o lado de fora. O ar esfria
meus pulmões, mas não faz nada para parar meus pensamentos
acelerados. Não poderia ser possível. Não tem como meu
namorado perfeito ser uma fraude total. Mas isso explicaria
tudo. A logística — seu dinheiro, sua reclusão, sua falta de
amigos. E mais importante, explicaria como um homem como
ele acabou comigo. A coisa toda era uma mentira. É uma
mentira.
A porta se abre atrás de mim e eu sei quem é antes que ele
diga uma única palavra. E sem tomar uma decisão consciente,
eu me viro para encará-lo.
— Você é o Jackson Bennett?
Ele para a um metro de distância de mim, a cor
desaparecendo de seu rosto. Ele é pego de surpresa e não tem
tempo de esconder sua reação, seus olhos arregalados
entregando tudo.
— Me dá o meu telefone — eu estendo minha mão,
precisando procurar a verdade e ver por mim mesma.
Ele pigarreia, sua voz baixa e estrondosa com algo como dor.
— Vou te contar o que você quiser saber, Sadie.
Eu cruzo meus braços sobre o peito, porque realmente está
congelando e eu não trouxe meu casaco.
— Por que você mentiu para mim?
— Eu não menti. Faz muito tempo que não sou Jackson
Bennett. Jack Thomas é quem eu sou agora — ele começa a
tirar o casaco.
Eu levanto minha mão para detê-lo.
— Eu não quero sua jaqueta. Não quero que você se
esconda atrás de seus gestos cavalheirescos e sem sentido, Jack.
Eu quero que você me diga a porra da verdade.
Ele me encara por um minuto, mas já me conhece bem o
suficiente para saber que não vou recuar. Suspirando, ele ajeita
os óculos no nariz e começa a falar.
— Vendi meu primeiro quadro aos onze anos. Não por
muito, acho que algumas centenas de dólares, e apenas para um
amigo da família. Eles o penduraram na sala de estar, onde
todos os seus amigos ricos podiam ver e, aparentemente da
noite para o dia, todos queriam uma pintura do garoto
prodígio da arte. Ganhei meu primeiro milhão aos quinze.
Meus pais eram solidários, mas protetores. Eles não permitiam
que ninguém me fotografasse e nunca me deixavam fazer
aparições pessoalmente, então eu basicamente permaneci
escondido o tempo todo em que fui “famoso”. Continuei indo
para a escola, levando uma vida normal, pintando nos finais de
semana e durante as férias escolares, ganhando milhões em meu
tempo livre — ele encolhe os ombros como se não fosse grande
coisa, mas seus olhos caem. — Na época em que eles morreram,
eu já havia me mudado para o brownstone e não era mais menor
de idade, obviamente, mas ainda fiz toda a rotina de nunca
mostrar minha cara porque funcionou para mim até agora.
Ninguém nunca viu Jackson Bennett. E o dinheiro que ganhei
combinado com a herança de meus pais me preparou
financeiramente para o resto da minha vida.
É como se ele estivesse me contando a história de outra
pessoa. Ele parece tão distante de toda a experiência, como se
eu estivesse lendo uma página da Wikipédia.
— Jackson Bennett é seu nome verdadeiro? — Eu me apego
aos pequenos detalhes, ainda lutando para conectar os pontos
e ver tudo por completo.
Ele balança a cabeça.
— Não exatamente. Meu nome legal é Jackson Bennett
Thomas. Quando as coisas decolaram, meus pais não queriam
que eu usasse meu sobrenome verdadeiro, então optamos pelo
meu nome do meio — ele dá um passo mais perto de mim.
Dou um passo igual, mas para longe. Porque eu não posso
acreditar que isso está acontecendo esta noite. Eu sabia que
estava chegando, sabia que algo acabaria fazendo a gente
terminar, mas não estava pronta para que isso fosse esta noite.
— Sadie, eu não queria mentir. De verdade, Jackson
Bennett morreu naquele carro com meus pais. Não sou mais
aquela pessoa e nunca mais serei — seus olhos estão
implorando, e ele estende a mão para mim.
E eu quero ir até ele. Para dizer a ele que entendo. Estou
tentada a perdoá-lo, porque mesmo por ter feito essa traição,
ele ainda é o melhor homem que eu poderia conhecer.
Mas não posso me permitir ter isso, essa felicidade e esse
sucesso. É muito. E eu ainda não sou o suficiente.
— Eu posso entender isso, Jack, mas isso não muda o fato
de que você manteve esta grande parte de si mesmo, sua vida,
sua infância, em segredo — eu me abraço um pouco mais forte.
— Eu te disse coisas. Coisas reais. Quando você perguntou
sobre meus pais, eu contei toda a verdade.
— Você contou? — Sua pergunta corta o ar, embora não
haja malícia em seu tom. — Você me contou tudo sobre eles?
Sobre o seu relacionamento? Sobre as coisas que foram ditas a
você? Ou apenas o que você estava confortável em
compartilhar? — Ele puxa os cachos da nuca. — Eu te contei
coisas, Sadie. Coisas que não compartilhei com mais ninguém.
Ele tem razão. E o pior é que sei que ele está certo. As
pequenas coisas que Jack e eu revelamos um ao outro vieram
em lentidão, pequenos pedaços de memórias e experiências e
pequenos fragmentos de nossas almas. Mas eu não contei tudo
a ele. Nem mesmo perto disso. Eu certamente não contei a ele
como faço o meu melhor para afastar todas as coisas boas da
minha vida, antes que elas possam me machucar.
E assim, eu me afasto.
— Vou entrar agora, mas acho que você deveria ir. Não
consigo lidar com tudo isso, não esta noite — eu caminho de
volta para a porta, dando a Jack um amplo espaço para que eu
não pegue sua mão estendida.
— Não se afaste de mim porque você não acha que merece
ser feliz, Sade.
Eu me viro, seu tom condescendente apenas o suficiente
para me irritar.
— Como você ousa jogar isso em mim. Estou saindo porque
esta noite é importante para mim e não vou deixar você arruiná-
la. E você não pode me dizer como reagir quando você é quem
estragou tudo. Você fodeu com tudo, Jack. Eu não. E acredite
em mim, ninguém ficaria mais surpreso com esse fato do que
eu. Passei todo esse tempo pensando o quanto não mereço você
e, afinal, é você quem estava mentindo para mim — um
pequeno rio de alívio escorre através de mim. Ele me
presenteou com algo que nunca pensei que receberia dele: um
motivo justificável para sair.
— Isso é uma desculpa e você sabe disso — ele vai até mim,
me apoiando contra a porta. — Talvez eu tenha estragado tudo,
e sinto muito por ter te machucado, mas você não pode me
dizer como lidar com o luto.
— Uau, você realmente vai se esconder atrás de seus pais
mortos?
Jack se afasta de mim tão violentamente como se eu o tivesse
esbofeteado.
Eu me odeio no segundo em que as palavras saem da minha
boca, querendo pegá-las e implorar por seu perdão, o olhar de
dor absoluta em seus olhos é uma facada em meu coração.
Mas não tenho chance. Porque Jack se vira e vai embora sem
dizer mais nada.
Harley olha para mim quando volto para a loja e dou a Nick e
Gemma o sinal de que é hora de encerrar tudo. Entro no meu
escritório, incapaz de me despedir de todas as pessoas quando
elas estão saindo, gritando parabéns e prometendo
compartilhar suas fotos e contar aos amigos.
Gemma e Lucy ficam para trás para cuidar da limpeza com
a equipe contratada, enquanto Nick e Harley me levam de
volta ao brownstone. Quanto mais nos aproximamos, mais meu
estômago ameaça despejar seu conteúdo por toda a calçada
congelada. Eu não posso acreditar que eu disse aquilo para ele,
as palavras e a dor em seus olhos girando em minha mente
como um GIF que fica repetindo e repetindo.
— Você quer que a gente entre? — Harley me leva até a
porta da frente, segurando firmemente meus dois antebraços,
como se ela pudesse dizer que estou à beira de um colapso.
Balanço a cabeça, incapaz de fazer qualquer palavra sair da
minha boca.
— Me ligue amanhã — ela corre de volta para onde Nick
espera por ela.
Os dois ficam parados até eu entrar na casa. Assim que a
porta se fecha atrás de mim, subo direto para o meu quarto, não
querendo arriscar um desentendimento com Jack. Acho que
nós dois precisamos pensar nos acontecimentos dessa noite, o
que é, você sabe, uma grande desvantagem de morar com seu
namorado, quando você descobre que ele é um mentiroso e sua
resposta é dizer a pior coisa possível na cara dele. Muita coisa
aconteceu, muito foi dito, para que qualquer coisa produtiva
pudesse resultar de mais conversas esta noite.
Acontece que eu não precisava me preocupar. Há um
pedaço de papel dobrado, junto com meu telefone, no meu
travesseiro.
Indo passar um tempo em Connecticut. - Jack
Eu viro o papel na minha mão porque certamente isso não
pode ser tudo o que ele tem a dizer. Mas isso é.
Vou para o banheiro e ligo o chuveiro o mais quente
possível. Enquanto a água quente me queima, deixando minha
pele vermelha como lagosta, eu repasso a conversa, mais e mais
e mais uma vez, até que não tenho certeza pelo o que devo ficar
mais brava, comigo ou com Jack.
Com você, com certeza.
Como você pode dizer algo assim?
Isso deve ter machucado muito ele.
Você não o merece.
Fechando os olhos, tento abafar a voz. Mas desta vez, a voz
está certa.
De volta à minha cama, enfiada sob um edredom que cheira
ao Jack, abro meu laptop e começo a pesquisar no Google.
Não descubro muito mais do que deduzi da mulher na festa
e do próprio Jack. Jackson Bennett alcançou um nível insano
de popularidade em um período de tempo ridiculamente
curto. E enquanto houve várias postagens de blog e artigos
escritos após seu desaparecimento, especulando sobre sua
verdadeira identidade e por que ele desapareceu, ninguém
parece saber o que realmente aconteceu com o pintor.
Mas eu sim. Porque apesar dessa mentira, dessa omissão
mesmo, ele me deixou conhecê-lo. Tudo para eu transformar
sua dor em uma arma contra ele.
Passo a maior parte do meu tempo de pesquisa olhando as
imagens de suas pinturas. Há uma tonelada deles, todas lindas.
Posso ser tendenciosa, mas nenhum deles chega perto da Bridge
e Blooms.
Quando meus globos oculares parecem que podem
queimar, fecho o computador e me agacho para mais outra
noite sem dormir. E como eu suspeito, meus olhos nunca
conseguem ficar fechados.

Lucy está esperando por mim na loja na manhã seguinte,


digitando furiosamente, parecendo assustadoramente
atormentada e, honestamente, eu não poderia estar mais grata
pela distração. Eu não dormi nada, e tenho certeza que meu
visual esta manhã é um zumbi chique, só que menos a parte do
chique. Neste momento, nada parece mais atraente do que um
dia no trabalho, evitando todos os pensamentos da noite
anterior.
Entrego a Lucy uma xícara de café.
— Tudo bem?
Ela gira a tela do computador para que eu possa ver nosso
calendário totalmente lotado para as próximas duas semanas.
— Sadie, você deve ter sorte, porque ainda estou verificando
e-mails e pedidos do site, e veja quantos arranjos teremos que
fazer e entregar esta semana.
Minha primeira reação é euforia total. Meu segundo é, puta
merda, o que eu fiz.
— Oh meu Deus, nós nunca seremos capazes de fazer tudo
isso — pego meu telefone para enviar uma mensagem de SOS
para Jack. Lembro que não posso pedir ajuda a ele agora. É um
soco no estômago. — Porra.
— Quero dizer, este é um bom problema para se ter, certo?
— Ela levanta as sobrancelhas perfeitamente arqueadas,
voltando sua atenção para a tela.
— É, mas não acho que ninguém da minha equipe estará
por perto esta semana para ajudar. Você conhece alguém que
poderia pegar alguns turnos de entrega? — Eu olho a minha
lista de contatos, rolando como se alguma pessoa aleatória
qualificada fosse aparecer.
Os dedos de Lucy fazem uma pausa.
— Hum, talvez eu conheça alguém.
Enfio meu telefone no bolso de trás.
— Graças a Deus. Acha que eles poderiam entrar e me
encontrar hoje? Para preencher alguns papéis?
Ela assente, mordendo o lábio.
— Certo. É meu irmão, na verdade.
— Impressionante. Ele tem mais de dezoito anos, certo? —
Voltando para o escritório para despejar minhas coisas,
continuo a conversa em voz alta.
— Ele tem trinta anos, na verdade.
— Excelente. Você pode ligar para ele agora? — De volta à
bancada, começo a retirar as garrafas, colocando tudo sobre o
balcão para ver o que temos à mão.
— Certo — ela me dá um longo olhar. — Mas eu
provavelmente deveria deixar você saber de antemão que ele
tem uma ficha criminal.
— Ah merda — como eu sou eu, as palavras saem antes que
eu possa detê-las. — Eu sinto muito. Isso foi insensível. Posso
perguntar por que ele foi condenado?
— Posse de maconha — ela franze os lábios como se
houvesse mais na história.
— Isso foi há quinze anos ou algo assim? — Eu percebo que
Nova York está muito atrasado e ainda se ajustando a todo o
lance da legalização, mas não consigo imaginar ninguém sendo
condenado por um crime por estar com maconha.
— Uns cinco anos.
Minhas sobrancelhas disparam para o topo da minha testa.
— Que porra.
— Eu sei.
— Essa é uma história que eu realmente gostaria de ouvir,
mas honestamente, meu cérebro não consegue lidar com mais
nenhuma informação nova no momento. Pergunte se ele pode
vir. E se ele pode começar amanhã.
Ela me dá um pequeno sorriso.
— Perguntarei.
Paro de pegar garrafas aleatoriamente assim que percebo
que nem sei quantos arranjos preciso montar. Puxando o
cronograma que Lucy organizou perfeitamente, começo a
entender o que precisa ser feito. Estamos tão ocupados nos
preparando para a semana e conversando com o punhado de
clientes que aparecem para conferir a loja que não tenho tempo
para pensar em nada. O que é uma coisa bem-vinda, pois sei
que assim que abrir a porta para qualquer pensamento sobre
Jack, vou ficar triste e chorar, francamente, não posso me dar
ao luxo de fazer isso no momento. Eu não o vejo me
perdoando, por que ele o faria? E eu vou precisar que a loja
floresça para que eu possa realmente pagar um lugar para
morar.
É tarde da noite quando tenho todos os vasos e flores para
os pedidos de amanhã prontos para ir. O irmão de Lucy, Jason,
veio logo após o almoço, me encantando instantaneamente
com seu sorriso fácil e olhos castanhos calorosos. Preenchemos
seus formulários e o conduzimos através do protocolo básico
de entrega, e ele promete estar na loja amanhã à tarde.
Tranco a porta da frente, aceno rapidamente para Lucy e
sigo para a casa de arenito. Eu não dei dois passos antes que a
realidade desabe de volta ao meu cérebro. E meu coração. Os
acontecimentos da festa passam pela minha mente e, embora as
lágrimas venham imediatamente, consigo afastá-las, com medo
de que congelem em minhas bochechas no ar cortante da noite
de janeiro.
Mas quando viro a esquina e vejo três pessoas descansando
na minha varanda, as lágrimas transbordam. Eu pressiono
minhas mãos em meus olhos, mas tudo o que faço é molhar
minhas luvas.
Harley pega minhas chaves de mim, abrindo a porta e me
guiando para a sala de jantar. Todos nós tiramos nossas roupas
de inverno antes de ir para a mesa. Bem, eu desmorono; todos
eles se sentam como seres humanos normais.
— Isso é algum tipo de intervenção? — Eu esfrego minhas
têmporas, esperando aliviar um pouco da tensão provocada
pelo meu súbito ataque de choro.
— Sim — diz Gemma do assento à minha direita.
— Não — Harley coloca o braço em volta de mim do ponto
à minha esquerda. — Isso não é uma intervenção. Só queremos
ter certeza de que você está bem.
— Também é uma espécie de intervenção — Gemma dá a
Harley um olhar feroz.
Volto minha atenção para Nick.
— Ele te contou o que eu disse?
— Não. Não por falta de tentativas. Tudo o que ele me disse
foi que vocês brigaram e ele queria um espaço e foi para casa
dos pais.
Deixe que Jack me proteja mesmo depois de eu ser um
monstro.
— Ele contou como mentiu para mim? — Eu claramente
não sinto a necessidade de retribuir essa proteção. Porque olá,
sou um monstro.
— Ele me disse isso, sim. E eu disse a Gem e Harley, então
sabemos o que rolou — Nick cruza os braços, apoiando-se na
mesa.
— Mas nós meio que preferimos ficar fora de tudo isso —
Harley diz calmamente. — Jack mentiu, e ele tem suas razões, e
o que quer que você esteja sentindo sobre isso é justificado. Mas
isso é entre vocês dois.
A intervenção começa a fazer mais sentido.
— Ah. Então vocês estão aqui para me repreender pela coisa
horrível que eu disse a ele. Mesmo sem saber o que eu disse,
você me conhece bem o suficiente para saber que foi uma
merda. Porque, é claro, Jack é o namorado perfeito, e eu sou
um lixo humano e estraguei tudo porque é isso que eu faço.
Todos os três me encaram em silêncio. Gemma olha como
se estivesse com raiva. A boca de Nick fica ligeiramente aberta
em estado de choque. Harley tem um leve brilho de lágrimas
em seus olhos.
— Vocês não precisam me dizer o quão horrível eu sou,
pessoal. Eu já sei — as palavras saem, mas apenas mal.
Gemma limpa a garganta.
— Não sabemos não. E, francamente, poderíamos refutar
suas opiniões malucas e você não poderia estar mais errada
sobre você mesma. Poderíamos listar todas as coisas pelas quais
você nos ajudou e cuidou de nós, podemos falar infinitas coisas,
mas isso nunca será o suficiente.
Abro a boca, mas Harley me interrompe.
— Nós amamos você, Sadie. E achamos que você é gentil,
atenciosa e generosa. Mas nada do que dissermos pode desfazer
anos e anos de abuso, querida.
Suas palavras são duras e honestas e elas me dão um soco no
estômago. Luto para recuperar o fôlego, mesmo quando as
lágrimas voltam a crescer.
— O que ela está dizendo é que é hora de voltar à fazer
terapia — Gemma estende a mão e pega minha mão na dela.
E esse toque físico voluntário, essa demonstração de
conforto dela, junta várias peças em meu cérebro.
— Achei que eu estava curada — aperto a mão de Gemma,
olhando para nossos dedos entrelaçados para não ter que olhar
nenhum deles nos olhos. — Fiz o trabalho, compartilhei meus
sentimentos, consegui um diploma, um emprego, ganhei
algum dinheiro e nenhum de vocês me abandonou. Pensei que
estava melhor.
Harley chega mais perto de mim, me envolvendo em seus
braços enquanto eu desmorono completamente. Ela acaricia
meu cabelo enquanto eu encharco seu suéter, nunca soltando
a mão de Gemma. Quando sinto uma mão grande fazendo
círculos lentos nas minhas costas, sei que Nick também está
atrás de mim.
Meus soluços diminuem, lentamente, mas aumentam
novamente quando três pares de braços me envolvem
totalmente. Eventualmente, eu me esvaziei de lágrimas. Sem
dizer uma palavra, Gemma vai para a cozinha enquanto Harley
me leva para o andar de cima e para o chuveiro. Quando saio da
água fumegante, encontro um pijama limpo sobre a cômoda.
Eu me visto e entro no meu quarto antes de descer as escadas,
vestindo o moletom do Capitão América enquanto caminho.
Gemma me dá uma tigela de macarrão com queijo, Nick me
serve uma taça de vinho e todos nós sentamos e comemos
juntos. Nick lava a louça depois do jantar enquanto as meninas
descem para o porão para ver Real Housewives. Harley e Nick
voltam para casa logo depois, ambos acordando cedo na
segunda-feira. Mas Gem fica comigo, me dizendo que ela já
ligou para um professor substituto e vai ficar comigo na loja no
dia seguinte.
Ela e eu nos enrolamos na minha cama, eu com o moletom
ainda enrolado em mim, e com minha melhor amiga ao meu
lado, durmo melhor do que nas últimas semanas.

Marquei minha sessão de terapia para terça-feira, no final da


tarde, quando as entregas estarão quase todas feitas e Lucy pode
resolver quaisquer problemas que possam surgir na loja. Eu não
me permito entrar em contato com Jack até que meu trabalho
acabe, embora eu esteja desesperada para ouvir a voz dele. Me
desculpar. E deixá-lo se explicar e realmente ouvir desta vez.
Meu telefone é pressionado contra o meu ouvido no
segundo que entro no brownstone, mas ele não atende. Toca
duas vezes e vai para o correio de voz, ou telefone dele está
ligado ou ele só não quer falar comigo. O que é justo. Também
não sei se gostaria de falar comigo mesma. Mas não posso
simplesmente não dizer nada, então, em vez disso, mando uma
mensagem.

EU: Oi. Então, é totalmente justo que você não


esteja pronto para conversar. Eu entendo, e
certamente não culpo você.

EU: Ugh. Vou colocar tudo isso em um


parágrafo gigante, porque senão, seu telefone
vai bipar a cada dois segundos e você vai me
odiar ainda mais do que já odeia. Porque eu
sei que você me odeia, e isso é totalmente
justificável porque eu disse uma coisa horrível
para você. Tipo a pior coisa do mundo. E eu
sinto muito, Jackpot. Sim, fiquei brava porque
você meio que mentiu (o que é outra coisa,
mas vamos focar nas minhas desculpas por
enquanto, tá?), mas isso não é desculpa para
eu ter te dito aquilo. De qualquer maneira. Eu
sinto muito. Sinto muito. Quero falar com você.
E eu quero que você volte para casa. E posso
me mudar, é claro, mas realmente espero que
você encontre uma maneira de me perdoar
porque sinto sua falta, Jackpot. E eu te amo.
Muito.

EU: E eu sinto muito. Eu já mencionei isso?

JACK: Eu nunca poderia te odiar, docinho. E


me desculpe por não ter sido honesto com
você. Mas preciso de um pouco de espaço.
Algum tempo para colocar minha cabeça no
lugar e descobrir algumas coisas.

EU: Claro. Leve o tempo que precisar.

EU: Tudo bem se eu mandar mensagem de vez


em quando?

JACK: Claro. Posso não responder, mas estou


aqui. Sempre.
EU: A terapia foi muito boa hoje. Eu mencionei
que estou de volta à terapia? Claramente eu
precisava disso. Preciso disso. E a sessão de
hoje foi boa. Com isso quero dizer que chorei
horrores. Aparentemente, em termos
profissionais, isso é conhecido como um
avanço. Em termos de Sadie, significa que vou
beber muito vinho esta noite. Alguns podem
considerar isso um mecanismo de
enfrentamento doentio, mas prefiro pensar
nisso como uma recompensa por bom
comportamento. Não estou te contando isso
para que você sinta pena de mim porque eu
definitivamente não preciso ou quero isso. Eu
só queria te contar sobre o meu dia. Eu
gostaria de poder ouvir sobre o seu também.
Eu sinto sua falta. Tipo muito mesmo. Eu te
amo. Muito.

JACK: Estou orgulhoso de você, docinho. E eu


te amo também.

EU: Então, eu estraguei tudo na loja hoje. Nós


nos confundimos e uma pessoa acabou
perdendo uma entrega para um aniversário.
Eu me senti péssima. O cara me xingou de
tudo, o que eu merecia porque
definitivamente foi minha culpa. Mas quando
ele saiu da loja com um reembolso e um
acordo bombástico, Lucy me abraçou e me
disse que merdas acontecem. E eu
definitivamente me senti mal pelo resto do dia,
mas também meio que segui em frente.
Quando minha voz interna (eu o chamo de
Chad) começou a entrar em mim, eu disse
àquele idiota para calar a boca. Porque todo
mundo comete erros, e um pedido perdido
não vai afundar o negócio. Estou melhorando
a passos de bebê.

EU: Além disso, sinto sua falta e amo você.

EU: Então esta semana é o Dia dos


Namorados, também conhecido como super
Bum da loja, e estou super animada, mas
também assustada pra caralho. Não sei se
consigo, mas vou tentar. Todo mundo está
tirando o dia de folga para vir me ajudar nas
entregas e não sei o que fiz para merecer
todas essas pessoas incríveis em minha vida,
mas sou muito grata por elas. Você está
incluído nesse grupo, é claro. Mesmo que eu
não tenha visto seu rosto a duas semanas.
Deus, eu sinto falta de ver seu rosto. Eu nunca
tive um dia dos namorados antes porque,
honestamente, acho que a coisa toda é idiota
(exceto agora não é idiota porque vou
ganhar dinheiro essa semana), mas se eu fosse
ter um dia dos namorados, gostaria que fosse
com você. Só você, Jackpot.

EU: Além disso, assim que a correria desta


semana acabar, vou começar a procurar um
apartamento.

EU: Além disso, eu te amo. Muito.

JACK: Nem pense em se mudar.

JACK: Eu também te amo.

Acordo no dia seguinte ao Dia dos Namorados, quente e


aconchegante na minha cama. Meus músculos doem e tenho
bolhas em ambos os calcanhares, mas também me sinto melhor
do que há, digamos, duas semanas atrás. Felizmente, decidi
manter a loja fechada hoje. Se não tivesse feito isso, estaria
ligando dizendo que estava doente. Se é que você pode fazer
isso em seu próprio negócio.
Eu fico debaixo das cobertas por muito mais tempo do que
deveria, saboreando esses momentos de não fazer nada. Já faz
um tempo desde que eu simplesmente não fiz nada.
Eventualmente, minha bexiga cheia me força a sair da cama e
meu vício em cafeína me força a descer as escadas.
Onde há um homem muito acabado, de aparência muito
suja, sentado na ponta da cozinha. Com um latte grande e com
um saco de pãezinhos.
Ele se levanta quando me vê, e meu coração se despedaça.
Jack parece terrível. Pior até do que eu estou me sentindo.
Eu coloco minhas mãos sob meus braços, cruzando-as sobre
meu peito como se eu pudesse esconder o escudo estampado
em seu moletom. Um moletom que tenho usado todos os dias
em casa e ainda não lavei.
— Oi — eu finalmente consigo dizer depois de nos
encararmos por pelo menos dois minutos em completo
silêncio.
— Oi — ele aponta para o balcão — Eu trouxe o café da
manhã.
— Você não precisava fazer isso — eu odeio isso. Eu odeio
isso tanto. Parados aqui e olhando silenciosamente como se
fôssemos estranhos. Pior que estranhos. Não somos nem
capazes de bater um papo. É pior do que quando me mudei,
nós dois estamos empertigados e desajeitados.
Ele limpa a garganta.
— Bem, eu perdi o Dia dos Namorados, então o café da
manhã era o mínimo que eu podia fazer — ele gesticula
novamente, desta vez olhando para as cadeiras.
Sento-me, tomando um longo gole do meu café com leite,
esperando que isso magicamente faça meu cérebro voltar a
funcionar novamente.
— Jack, me des…
— Pare.
Franzo os lábios, estudando a tampa da minha xícara de café,
incapaz de olhar para ele sem cair no choro.
— Você poderia, por favor, olhar para mim, Sadie?
Balanço a cabeça, os lábios ainda bem fechados.
Ele suspira, e eu sinto mais do que o vejo se mover para o
meu lado.
— Venha, vamos sentar no sofá.
Eu o sigo sem dizer nada, afundando na extremidade oposta
do sofá. É um pouco mais fácil encontrar seu olhar aqui, com
mais espaço entre nós. Ainda parece um soco na garganta,
porém, vendo as olheiras marcando a pele sob seus olhos.
Ele se inclina um pouco para a frente, apoiando os cotovelos
nos joelhos.
— Eu deveria ter te contado tudo, Sade. Não havia
absolutamente nenhuma desculpa para ter me escondido de
você, não depois que ficou claro que isso era algo muito mais
do que apenas colegas de quarto que por acaso são amigos.
Você confiou em mim, e eu deveria ter lhe dado a mesma
confiança em troca, mas honestamente, eu estava com medo de
perder você. E eu sinto muito. Sinto muito.
Meu coração aperta. Também tenho medo de perdê-lo.
— Eu nem sempre fui um livro totalmente aberto com você
também — eu escondo meu olhar na minha xícara de café. —
Mas por que você não confiou em mim?
Ele solta um longo suspiro.
— Acho que não tenho uma boa resposta para isso. Tenho
certeza de que uma parte de mim temia me abrir para cuidar de
você. Eu sei como é perder as pessoas que você mais ama no
mundo, e não consigo imaginar passar por isso de novo. De
muitas maneiras, parecia mais fácil simplesmente isolar essa
parte da minha vida e fingir que nada aconteceu.
— Eu perdôo você.
Na verdade, eu o perdoei um dia depois de descobrir.
Porque não sei o que Jack passou e nunca saberei. Ele perdeu
dois pais amorosos e solidários e tudo o que ele pensou que sua
vida seria, e nunca vou conseguir entender a profundidade
dessa perda, especialmente em uma idade jovem. Não gosto
que ele guarde segredos de mim, mas entendo por que ele fez
isso.
E mesmo nas poucas sessões que tive com meu terapeuta,
percebi minha tendência de fugir quando as coisas ficam
difíceis, de pressionar as pessoas longe, em vez de lidar com o
menor dos conflitos. Jack me deu uma chance de escapar antes
que ele pudesse me deixar, e eu tentei aproveitá-la.
Seus olhos se arregalam.
— Você me perdoa?
— Claro que sim — Eu puxo meus ombros para trás,
trabalhando minha coragem. — Mas eu tenho que perguntar,
Jack: por que você ficou tanto tempo longe? — Eu me forço a
fazer essa pergunta, mesmo que seja muito mais fácil apenas
aceitar suas desculpas e seguir em frente. Mas eu mereço uma
resposta. Ele desistiu quando as coisas ficaram uma merda, o
que honestamente parecia pior do que sua ofensa original. E
não sei se vou aguentar a partida dele de novo.
— Coloquei a casa dos meus pais à venda.
Prendo a respiração e automaticamente me aproximo dele.
— Jack. Por que você não me contou? Eu teria saído para
ficar com você.
Ele pega minha mão e entrelaça nossos dedos.
— Eu sei que você teria. E honestamente, teria sido bom ter
você lá. Não foi fácil. Mas isso era algo que eu precisava fazer
sozinho.
— Tem certeza? — Eu só posso imaginar como deve ter sido
fazer isso. Cortar o último elo tangível com seus pais, sua
família, sua infância. A última ligação com Jackson Bennett e a
pessoa que ele era antes.
Ele beija minha mão e acena com a cabeça.
— Já era tempo. Quero focar no futuro, e não há razão para
ficar com uma casa vazia quando tenho uma cheia aqui.
Meu coração derrete em uma poça de gosma.
— Eu te amo. E eu sei que não tenho experiência no que diz
respeito a toda essa coisa de relacionamento, mas imagino que
vamos estragar tudo de vez em quando — eu paro. — Vou ser
eu na maioria das vezes, tenho certeza. Como provavelmente o
tempo todo. Supondo que você possa me perdoar pela coisa
hedionda que eu disse a você. Que é uma grande suposição.
Mas se você puder, eu adoraria fazer parte desse futuro que
você mencionou.
— Eu perdôo você.
— Perdoa?
— Claro que sim — ele fecha a distância final entre nós. —
Nós dois lidamos com alguma merda, Sadie. Merda traumática
que simplesmente não desaparece num piscar de olhos. Mas eu
quero estar com você. Eu te amo — ele segura minha bochecha
com a mão livre.
Eu viro minha cabeça, colocando um beijo suave em sua
palma, antes de me inclinar e pressionar meus lábios nos dele.
— Eu sinto que isso foi muito fácil. Eu não deveria ter
escrito um pedido de desculpas em um avião ou colocado uma
mensagem no placar de um estádio ou algo assim?
— Por favor, nunca faça isso — sua boca se move para o lado
do meu pescoço. — Mas se você precisar de um grande gesto,
ficarei feliz em fazê-lo.
— Que tal comida chinesa e assistir um filme? — Eu viro
minha cabeça mais uma vez, desta vez capturando sua boca
com a minha.
— Você faz uma barganha difícil, docinho.
— Mas há algo que quero fazer primeiro — eu gentilmente
o afasto.
— Diga.
— Vamos dar um passeio. Podemos pegar comida a
caminho de casa — eu me levanto, subindo as escadas para me
trocar rapidamente. Eu reaqueço meu café antes de sairmos,
mas acabo pegando um segundo café com leite em uma
cafeteria que passamos, um que eu nunca tinha ido antes.
Nós vagamos pela maior parte da tarde, invadindo pequenas
lojas vintage e algumas vendas na calçada para comprar coisas
que eu possa usar na loja. A loja em que tenho que pelo menos
espiar, embora estejamos oficialmente fechados, quase para me
lembrar de que ainda está lá e será por algum tempo. Temos
margaritas durante o happy hour e sorvete antes do jantar. No
caminho de volta ao brownstone, pegamos comida chinesa para
viagem.
Eu me coloco no abraço lateral de Jack enquanto voltamos.
— Hoje foi perfeito, mas não vou mentir, estou ansiosa para
chegar em casa.
Jack se inclina, plantando um beijo no topo da minha
cabeça.
— Estive em casa o dia todo.
Eu inclino minha cabeça para encontrar seu lindo olhar de
olhos verdes.
Ele sorri.
— Minha casa é você.
Eu terminei de colocar os cartões marcando o lugar de cada um
no início da manhã do Dia de Ação de Graças. De alguma
forma, criamos uma tradição, não que eu esteja absolutamente
brava com isso, e toda a turma chegará ao brownstone em apenas
algumas horas. E a equipe está ainda maior este ano, com os pais
de Nick se juntando a nós, junto com Lucy e seu irmão, Jason,
e a nova namorada de Gemma. Elas se conheceram no
restaurante onde Gem trabalha desde junho, e ainda é um
relacionamento novo, mas ela nos trata bem, então espero que
elas continuem juntas.
— A mesa está ótima, docinho — Jack envolve seus braços
em volta da minha cintura por trás de mim, aninhando-se em
meu pescoço.
Minha cabeça cai para trás em seu ombro, mas só desisto por
um segundo antes de empurrá-lo para longe de mim com meu
quadril.
— Não temos tempo para isso, Jackpot.
Ele me gira, capturando-me em um beijo ardente.
— Você se lembra do que aconteceu no Dia de Ação de
Graças do ano passado?
Reviro os olhos, mas isso não diminuo meu sorriso largo.
—Dã.
Ele me beija novamente, desta vez suave e sério.
— Este foi o melhor ano da minha vida, Sadie Jane.
— Digo o mesmo — estendo a mão para um beijo final antes
de sair de seu abraço. — Mas realmente, temos muita merda
para fazer.
Gemma e Taylor, a nova namorada, chegam alguns minutos
depois, indo direto para a cozinha com apenas um alô. Graças
a Taylor, estou livre das funções de subchefe este ano, então uso
meu tempo finalizando a decoração antes de ir até o BeBs para
responder alguns e-mails e postar algo no Instagram.
O estúdio está cheio de pinturas e, enquanto estou lá, dou
uma olhada em alguns dos trabalhos mais recentes de Jack. Ele
começou a receber algumas encomendas, embora não use o
nome Jackson Bennett. Algumas pessoas do mundo da arte
começaram a farejar a história, mas Jack fala apenas com seus
clientes, recusando-se a confirmar qualquer teoria. Todo o
dinheiro que ele ganha com suas pinturas é canalizado
diretamente para a fundação que ele criou com os lucros da
venda da casa em Connecticut. É um fundo de bolsa de estudos
para pessoas com vinte e poucos anos ou mais que desejam
voltar a estudar ou iniciar uma nova carreira, mas não têm os
meios. Jason foi o primeiro candidato e Gemma a segundo.
Quando ouço uma batida na porta da frente, corro para o
meu quarto para me trocar antes de descer as escadas para
cumprimentar nossos convidados. Logo a casa estará cheia de
risadas e copos tilintando, os cheiros estão tão tentadores que
considero dar uma mordida em tudo antes que Gemma
coloque no prato. Mas ela me mataria, então não faço isso.
Ajudo Gemma e Taylor a preparar o bufê na bancada da
cozinha. Todo mundo enche seus pratos e senta em seus
lugares, e aquele silêncio cai sobre a sala enquanto todos
comemos.
Este ano, é Jack quem faz a primeira interrupção.
— Correndo o risco de soar como um idiota total, esta foi a
minha parte favorita na refeição do ano passado - embora o
macarrão com queijo tenha quase sido a melhor parte - e espero
começar este ano, se você não se importa — ele estende sua mão
para alcançar a minha. — Mais uma vez, sou muito grato a
todos nesta mesa. Vocês nunca saberão o que significa para
mim ter uma casa cheia de amor e risos durante as férias, e não
estou exagerando quando digo que todos vocês mudaram
minha vida — ele se vira para mim e me dá uma piscadela
rápida. — Principalmente essa daqui, mas todos vocês
certamente ajudaram. Obrigado.
Nós passamos a vez ao redor da mesa, todos agradecendo
pelos amigos, família, oportunidades e amor. Finalmente,
chegamos a Nick, tendo manobrado propositalmente ao redor
da mesa, deixando-o para o final.
Nick pigarreia, levando um minuto para olhar os rostos na
sala antes de falar.
— Acho que não é segredo que tenho muito a agradecer na
vida. Tenho pais amorosos e os melhores amigos que um cara
poderia desejar. Nunca desejei nada e sou, e sempre fui, grato
por isso — ele se vira para Harley, sentada ao lado dele,
observando-o falar com nada além de puro amor em seus olhos.
— Mas mesmo com tudo o que tive, nunca soube o que estava
perdendo até você aparecer, Harley. Sou muito grato por você.
Seu amor e apoio, sua bondade e compaixão. Você é a mulher
mais incrível que já conheci, e estamos sentados em uma sala
com outras mulheres incríveis.
— Concordo! — Gemma fala, enviando uma onda de risos
pela sala.
Nick empurra a cadeira para trás, levantando-se antes de
ficar sobre um joelho. Ele enfia a mão no bolso e tira uma
pequena caixa preta, e a sala dá um suspiro coletivo. As mãos
de Harley voam para cobrir sua boca, e eu sei pelo olhar em seus
olhos que ela está realmente surpresa.
Jack aperta minha mão e trocamos um rápido olhar. Nós
dois sabíamos que isso estava chegando e, no entanto, há um
brilho de lágrimas em nossos olhos.
Nick abre a caixa e o anel reflete a luz, brilhando mesmo do
outro lado da sala.
— Harley, eu te amo mais do que tudo e quero passar o resto
da minha vida fazendo você tão feliz quanto você me fez. Você
quer casar comigo?
A sala explode antes mesmo dela aceitar, todos se levantando
de suas cadeiras e correndo para abraços. Gemma e Taylor
abrem duas garrafas de champanhe e todos brindam.
Quando finalmente chegamos ao casal feliz, envolvo Harley
em meus braços.
— Eu estou tão feliz por você. Não consigo pensar em uma
única pessoa que mereça isso mais que você.
Ela aperta de volta.
— Obrigada, Sade — ela balança o dedo anelar para mim.
— E obrigada.
Dou-lhe uma piscadela.
— Você sabe que sempre pode contar comigo.
Nick puxa Jack para um abraço de irmão, dando-lhe um
tapa nas costas.
— Desculpe roubar seu discurso de Ação de Graças, cara.
Boa sorte em tentar superar esse.
Jack chama minha atenção por cima do ombro de Nick,
dando-me uma ligeira elevação da sobrancelha. Eu sorrio e
aceno com a cabeça, não precisando ouvir sua pergunta; ele já
sabe minha resposta.
Já mal posso esperar pelo ano que vem.
Pode parecer exagerado, mas Lease on Love me salvou durante
alguns meses mais difíceis da pandemia. Eu me sentava para
escrever todas as noites depois de longas doze horas com meu
filho de seis anos, aproveitando o pouquinho de paz e sossego
que conseguia achar nas últimas horas do dia. Mergulhar na
escrita, viajar indiretamente para uma das minhas cidades
favoritas, viver através desses personagens, foi a fuga que eu
tanto precisava durante o pior da pandemia, e esta história ter
sido lida por outras pessoas é basicamente um sonho tornado
realidade. Um sonho que certamente não realizei sozinha.
Muito obrigada à minha agente, Kimberly Whalen.
Quando a pandemia começou, perguntei em que eu deveria
trabalhar e você me disse para escrever o que eu quisesse, o que
falasse comigo. Obrigada por me dar esse espaço e incentivo,
porque por causa dele nasceu este livro. Obrigada por sempre
me apoiar e por lutar tanto para encontrar a editora perfeita
para Lease on Love .
Para minha editora, Gaby Mongelli, me sinto muito sortuda
por ter chegado em suas mãos extremamente capazes. Obrigada
por levar este livro até a linha de chegada comigo. Sou muito
grata por sua visão e trabalhar com você tem sido um sonho
incrível. Obrigada por amar esses personagens tanto quanto eu.
Obrigada a todos da GP Putnam's Sons, especialmente Sally
Kim, Aja Pollock, Alison Cnockaert e toda a equipe de
marketing. Sanny Chiu, obrigada pela capa mais linda que já vi.
Alexa Martin e Suzanne Park, vocês me escolheram da pilha
de envios do Pitch Wars e literalmente mudaram minha vida.
Eu não poderia estar mais grata pela orientação e apoio que
vocês duas me deram nos últimos dois anos. Vocês se
inscreveram para me orientar por alguns meses, mas mal sabia
que ficaria comigo por toda a vida! Ganhei na loteria duas
mentoras incríveis e devo para vocês uma bebida (ou dez).
Obrigada a toda a equipe do Pitch Wars por todo o trabalho
duro que vocês fazem, ele é muito apreciado por mim.
Corey Planer, meu melhor amigo do Pitch Wars e crítico
extraordinário. Este livro não seria o mesmo sem suas críticas
ponderadas e honestas. Obrigado por sempre me forçar a ser
um pouco má com meus personagens. Você sempre será a
primeira pessoa a comprar meus livros e mal posso esperar para
fazer o mesmo por você. Vejo você em Palm Springs!
Allison Ashley e Eagan Daniels, muito obrigada por lerem
os primeiros rascunhos deste livro. Seus comentários foram
edificantes e perspicazes e exatamente o que eu precisava para
continuar escrevendo.
Haley Kral, obrigada por ser minha amiga escritora no
Twitter há mais tempo! Adorei poder compartilhar essa
experiência com você.
Katie Golding, você me trouxe coisas positivas quando eu
mais precisava. Obrigada por ser uma luz brilhante na
comunidade romântica. Rachel Lynn Solomon, Sarah Hogle,
Melonie Johnson, Denise Williams e Rosie Danan, obrigado
por seu entusiasmo por Lease on Love. Admiro muito todos
vocês; seu apoio significa muito!
Para o grupo das escritoras, mães escritoras do caralho,
#comunidadeescritora e #estreia22, obrigada por todo o apoio
de vocês.
Agradecimentos infinitos aos blogueiros, bookstagrammers,
revisores, bibliotecários e a comunidade literária. Seus apoios
têm sido muito grande, e eu sou muito grata. As horas
intermináveis que vocês dedicam para falar sobre livros e
escritores não passam despercebidas, obrigada, obrigada,
obrigada!
A todos os meus amigos da minha vida, obrigada por todo
o amor, mesmo que eu consiga ver seus rostos bonitos menos
do que gostaria! Brianna, obrigado por sempre falar sobre o
enredo comigo na fila da Disneylândia (e obrigado pelas fotos
do autor!). Ashley, obrigada pelo encorajamento sem fim
sempre que precisei de um incentivo para continuar (o que
acontecia com frequência) e obrigada por sempre estar lá para
abrir o champanhe comigo (literal e figurativamente).
Eu tenho literalmente os melhores sogros do mundo e não
poderia ter feito isso sem eles. Obrigada por tudo, desde levar a
criança para a festa do pijama até criar coquetéis personalizados
Lease on Love .
Minha mãe incentivou minha escrita desde o momento em
que segurei uma caneta pela primeira vez. Se você deixar, ela vai
te contar tudo sobre aquela peça que escrevi uma vez na terceira
série (por favor, não deixe ela te contar). Mãe, obrigada por
sempre me apoiar e me apoiar em meus sonhos.
Canonball, realmente espero que você nunca leia este livro
(embora, quando tiver idade suficiente, terei prazer em apontar
na direção dos muitos romances que você deveria ler), mas
espero deixá-lo orgulhoso. Obrigada por ser o melhor garoto de
todos. Eu te amo, goob!
Matt. Uma das minhas escritoras favoritas (Sarah Hogle)
disse: “Nós nos revezamos sendo corajosos.” Obrigada por
sempre me dar espaço para ser corajosa. Você nunca hesitou
quando eu criei um novo plano de vida ultrajante, nunca me
desencorajou de ir em frente, mesmo quando isso tornou as
coisas da vida mais difíceis para você. Você me ofereceu suporte
sempre que eu precisei, seja fazendo o jantar ou servindo uma
taça de vinho ou me dando um abraço super longo ou pegando
a criança e me deixando sozinha por algumas horas de trabalho
tranquilo. Eu literalmente não poderia ter feito isso sem você.
Eu te amo demais.
1. Quais foram suas primeiras impressões de Sadie e Jack?
Fica claro desde o início que são pessoas muito diferentes,
mas acabam convivendo surpreendentemente bem um com
o outro. Por que você acha isso?
2. Sadie encontrou uma família em Harley, Nick e Gemma.
Discuta como os amigos dela desempenharam papéis na
história de amor dela e de Jack. E quanto às suas próprias
jornadas individuais? Você tem um favorito entre os amigos?
3. Jack perdeu seus pais vários anos antes do início do
romance. Fale sobre as maneiras pelas quais ele internalizou e
processou sua dor. Como a morte de seus pais moldou o
homem que ele é hoje?
4. Começar Bridge e Blooms é um grande risco para Sadie. O
que ela aprendeu com essa experiência? Você já deu um salto
de fé semelhante? Se sim, qual tipo de apoio você usou?
5. O brownstone é quase um personagem em si. Você tem um
recurso ou elemento favorito dessa casa?
6. Sadie teve uma educação difícil, com seus pais impactando
significativamente seu senso de identidade. Que trabalho
Sadie faz ao longo do romance para superar isso? Como suas
próprias visões sobre si mesma são desafiadas por seus amigos
e por Jack?
7. Você acha que foi uma boa ideia que Sadie e Jack
esperaram para levar seu relacionamento para o próximo
nível? O elemento de romance slow-burn valeu a pena para
você?
8. Você ficou surpreso com o segredo de Jack? Como você
acha que você teria reagido se estivesse no lugar de Sadie
quando ela descobrisse a verdade?
9. Você gostaria de ter Sadie ou Jack como colega de quarto?
Por que ou por que não?
10. Temos um vislumbre do futuro da turma no epílogo, mas
o que você acha que vem a seguir para esses personagens?

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