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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ-UECE

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL – UAB


SECRETARIA DE APOIO ÀS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS - SATE

LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

DISCIPLINA: METODOS E TECN. DE ENS. DE ARTES VISUAIS


POLO: SOBRAL
PROFESSOR(A): Ms. Andreia Vieira de Mendonça
ALUNO(A): MARCIO PAULO GONÇALVES TIBÚRCIO
DATA: 15 de outubro de 2022

ATIVIDADE 1

Quase toda pessoa que se envolve com a arte tem suas primeiras
experiências ou incentivos em casa. Pelo menos comigo aconteceu assim. Cresci
ouvindo minha mãe dizer que meu avô era um exímio tocador de “pife” e fabricador de
grajaus de cipó. Ela mesma (minha mãe) vivia a fazer crochê, arte que aprendi com ela
posteriormente na juventude. Minha avó paterna, por sua vez era a artista da família, já
que vivia a decorar a casa com flores feitas com garrafas pet e “redes tucun” feitas com
embalagens de café. E tenho uma irmã, a primeira filha de minha mãe, que sempre
reproduziu desenhos muito bem.

Cresci, por assim dizer, rodeado de arte e é por isso que sempre me achei
muito artista, sem me preocupar em ser modesto. Lembro-me que desenhava (copiando)
as ilustrações da Turma da Mônica que ambientavam a sala de aula da creche que
frequentei no bairro. Lá, nos primeiros anos da vida escolar, recordo-me do cheiro bom
do lápis de cor novo e das personagens que eu reproduzia, trilhando meus primeiros
passos no mundo da arte. Da creche à faculdade tenho alguns relapsos de aventuras pelo
mundo das artes, diversas artes. Caminhei pelo teatro, artes visuais e performance, tudo
durante a vida escolar. Hoje, fotógrafo, sou mais um poeta aprendiz, sempre fui de
observar a arte alheia e me encantar com as pequenezas que me cercavam.

A arte é sempre parte do ser humano. Convivemos com ela a todo instante e
ela passa por despercebida. Nas ruas, na TV, nos livros, na música. Tudo é arte e toda
arte nos faz, nos constrói. Lembro-me que por volta de 2004 comecei a escrever por
inspiração de outro escritor, que tive o prazer de conhecer pessoalmente. José Alcides
Pinto. Meus escritos nunca foram publicados. É uma arte minha. Sempre que escrevia,
via mais que as palavras, ia imaginando as cenas da poesia se formando em minha
mente como um vídeo ou como fotografia. Costumo dizer que sou muito imagético.

Muito do que vi e do imaginei durante a infância e adolescência se perdeu,


como um cheiro que se acaba no vento. Pouco guardei. Só rememoro as partes
marcantes e, muitas vezes, flashs desse período de fazedor de arte do ano 2000 pra cá.
Comparo isso com um HD externo que tive com muitas fotografias e filmes que ia
fazendo e guardando quando as câmeras digitais se popularizaram. Toda uma vida de
experimentação e vivência com a imagem se perderam. Muita coisa nem lembro, como
que se tivessem sido apagadas junto com o “bug” do HD.

Hoje em dia a arte que faço é publicizada online o que facilita a posteridade
dela, ou, pelo menos, penso que ela está eterna na “nuvem”. Ao menos hoje acostumei
guardar todas as minhas fotografias em dois HDs, com medo dos bugs.

Recentemente me achei profissional. Tive a oportunidade, quem sabe a


sorte, de ter projetos em arte aprovados em editais de incentivo. É muito estranha a
sensação de passar por um processo como esse. É um reconhecimento do seu trabalho,
das suas pesquisas, da sua vida. Antes disso eu havia participado de mostras de arte na
faculdade, como editor de vídeo e fotógrafo e antes quando visitava galerias ou
exposições de arte não me imaginava ali naqueles espaços. Hoje percebo que fazer arte
vai muito além de ter obras expostas ou do reconhecimento. Fazer arte é viver.

Quando às vezes entro em “crises existenciais” e me pergunto o porquê faço


arte não consigo outra resposta senão a da inquietação. Antes eu imaginava que a arte
servia ao ego, já que nos foi ensinado que ser artista é pop ou que se ganha muito
dinheiro vendendo arte, mas a arte é primeiramente ter as respostas para suas
inquietações, mesmo sem pretensões comerciais.

Agora, enquanto estudante de Artes Visuais, sempre me coloco no patamar


de alguém com o dever futuro de repassar conhecimento, de formar artistas ou, ao
menos, críticos, seres pensantes e conhecedores, que é isso que deve ser o papel da
educação como um todo. A arte é necessária, o fazer artístico é necessário. E a
necessidade da produção e reprodução da arte em nossa sociedade é importante para o
crescimento humano, afinal o que seria das pessoas, das sociedades, sem arte?
Nas primeiras aulas na faculdade estive muito ansioso e enquanto esperava
pela disciplina de História da Arte a ansiedade foi tamanha que comecei a ler
GOMBRICH (1999), que logo no início de sua A História da Arte, nos apresenta
reproduções de pinturas rupestres encontradas na Espanha e França e ele nos diz que

É impossível entender esses estranhos começos se não procurarmos penetrar


na mente dos povos primitivos e descobrir qual é o gênero de experiência que
os faz pensar em imagens como algo poderoso para ser usado e não como
algo bonito para contemplar. (p. 40)

E a partir disso me coloco na posição de pessoa, não mais de artista, que


utiliza diariamente objetos, que noutro contexto seriam obras de arte: chapéus de palha,
utensílios de barro, sandália de couro... Vivemos rodeados de arte! Comemos e
respiramos arte! E, apesar de necessário, não se precisa visitar galerias para vivenciar a
arte.

Pretendo sempre fazer arte, já até me imaginei velhinho fotografando,


lançando livros de fotografia e poesia. Com uma casa-galeria enorme com muitas obras
minhas e de outras pessoas. Já me imaginei também inexistindo, sendo anônimo, tendo
obras inacabadas, esquecidas em quartos de bagunça. E dói imaginar, assim como é
doloroso o processo de ser artista e de fazer arte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999.

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