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3/30/2020

Psicologia da Memória P201

Sumário
• Memória Operatória (Working Memory):
• O modelo de memória operatória de componentes múltiplos. Perspetiva
geral do modelo e sua evolução:
a) o sistema diretivo central;
b) o ciclo fonológico;
c) o bloco de esboços espácio-visual;
d) o subsistema registo-tampão episódico;
• Implicações educativas da memória operatória
• Pode-se treinar a memória operatória?

Introdução

A Joana pegou no rato, pensou por uns momentos, passou a


mão pelo cabelo e abriu a pasta com um duplo clique

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Definição breve de Memória Operatória

É um sistema de armazenamento e manipulação temporária


da informação durante a realização de um conjunto de tarefas
cognitivas como a compreensão, a aprendizagem e o
raciocínio (Baddeley, 1986, p. 34).

O modelo de Memória Operatória (MO) de


Baddeley e colaboradores (1974 – 20?? )

Em 1999 existiam mais de 13 modelos diferentes de MO!

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O modelo de Memória Operatória (MO) de


Baddeley e colaboradores (1974 – 20?? )

Metáforas de MO:

1. Conjunto de caixas
2. Área de trabalho
3. Energia mental
4. Malabarista de informação

O paradigma da tarefa dupla (dual task paradigm)

1. Tarefa Primária (raciocínio, compreensão da linguagem, aprendizagem)

2. Tarefa Secundária (reter informação na memória)

A perturbação do desempenho na tarefa primária (v.g.,


raciocínio verbal) deve-se à realização da tarefa secundária
(v.g., repetição subvocal de dígitos)

Exemplo de uma tarefa simples de raciocínio verbal:


A precede B AB V ou F
B segue A BA V ou F
B precede A AB V ou F
A segue B AB V ou F
B não segue A BA V ou F
Resposta V, F, F, F, V 6

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O paradigma da tarefa dupla (dual task paradigm)

O efeito da carga de memória na tarefa que implica


processamento ativo ilumina a função que o
componente saturado desempenha no contexto da
memória operatória (Schacter, 1989)

O modelo de Memória Operatória (MO) de


Baddeley e colaboradores (1974 – 20??)
Bloco de Esboços Espácio-Visual

Sistema Directivo Central

Ciclo articulatório

Figura 1. Representação simplificada do modelo de memória operatória de Baddeley


e Hitch (1974). Adaptado de: Baddeley, A. D. (1986). Working Memory (p. 71). 8
New York: Oxford University Press.
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O modelo de Memória Operatória (MO) de


Baddeley e colaboradores (2000)
Sistema Directivo Central
SDC

Bloco de Esboços Registo-Tampão Ciclo Fonológico


Espácio-Visual Episódico CF
BEEV RTE

Semântica Visual MLP Episódica Linguagem

Figura 2. Modelo de memória operatória de componentes múltiplos. A parte a sombreado representa os sistemas
cognitivos «cristalizados» capazes de acumular conhecimento a longo prazo. As restantes áreas representam
capacidades «fluidas» tais como a atenção e o registo temporário de informação. Adaptado de: Baddeley, A. D.
(2000). The episodic buffer: A new component of working memory? Trends in Cognitive Sciences, 4, p. 421.

O modelo de Memória Operatória (MO) de


Baddeley e colaboradores (2000)
«Carro» Ciclo Fonológico

Bloco de esboços
SDC
espácio-visual

Registo-tampão episódico

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O Sistema Directivo Central

“Supervisor ou planeador, capaz de selecionar estratégias e


integrar informação proveniente de diversas fontes e que,
provavelmente, estaria relacionado com o controlo da atenção”

(Baddeley, 1986).

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O Sistema Directivo Central

Baddeley (1986) faz equivaler o sistema diretivo central ao modelo


de Norman e Shallice (supervisory attentional system SAS)

A maior parte das ações humanas são controladas por esquemas,


que representam ações que se realizam automaticamente perante
um ativador adequado.
Um processo de resolução automática de conflitos evita que os
esquemas entrem em conflito, selecionando um dos esquemas,
baseando-se nas prioridades e nas pistas fornecidas pelo meio, e
conferindo prioridade ao esquema selecionado.

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O Sistema Directivo Central


O SAS funciona como um controlador geral que pode enviesar a
ativação dos esquemas, conferindo prioridade a uns sobre
outros.

Tipos de situações que reclamam a ação do sistema supervisor


da atenção:

(a) tarefas que envolvem planeamento ou tomada de decisões;


(b) situações em que os processos automáticos revelem
dificuldades e que exijam resolução;
(c) situações nas quais sequências de ações novas ou mal
aprendidas estejam envolvidas;
(d) situações avaliadas como perigosas ou tecnicamente difíceis;
(e) situações em que respostas muito habituais ou tentações
estejam envolvidas. 13

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Exploração experimental e funções do Sistema


Directivo Central (SDC)

Experiências envolvendo a geração de sequências de letras


aleatórias (e.g. distribuição de cartas em 1,2,4,8 grupos e
geração de sequências de letras aleatórias);

Funções do SDC:

1. Desempenho de tarefas simultâneas


2. Alteração de planos de recuperação de informação
3. Atenção selectiva
4. Activação da memória a longo prazo

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O modelo de Memória Operatória (MO) de


Baddeley e colaboradores (2000)
Sistema Directivo Central
SDC

Bloco de Esboços Registo-Tampão Ciclo Fonológico


Espácio-Visual Episódico CF
BEEV RTE

Semântica Visual MLP Episódica Linguagem

Figura 2. Modelo de memória operatória de componentes múltiplos. A parte a sombreado representa os sistemas
cognitivos «cristalizados» capazes de acumular conhecimento a longo prazo. As restantes áreas representam
capacidades «fluidas» tais como a atenção e o registo temporário de informação. Adaptado de: Baddeley, A. D.
(2000). The episodic buffer: A new component of working memory? Trends in Cognitive Sciences, 4, p. 421.

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O Ciclo Fonológico

O ciclo fonológico, na altura designado ciclo


articulatório, representava um registo fonológico que
consistia, também, num sistema de repetição
articulatória. O registo fonológico seria capaz de
armazenar uma quantidade limitada de material (fala)
numa ordem serial apropriada.

Analogia com uma fita magnética de ciclo contínuo.

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O Ciclo Fonológico

• Efeito da similaridade fonológica


mad, man, mat, cad, cat, can
cow, day, bar, few, hot

• Efeito da supressão da articulação


• Murray (1967) the
• Murray (1968) desaparecimento do efeito da similaridade fonológica

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O Ciclo Fonológico
• Efeito da duração das palavras

Palavras curtas (monossilábicas) eram mais facilmente recordadas


comparativamente a palavras longas.

Observa-se uma vantagem das sequências compostas por palavras de


articulação mais rápida (bishop vs. friday) o que sugere uma degradação do
traço mnésico em função do tempo.

Assim a amplitude de memória foi estimada como sendo correspondente à


quantidade de palavras que um sujeito consegue ler durante 1,6 segundos ou
articular durante o período de 1,3 segundos. A capacidade da memória a
curto prazo foi perspectivada como sendo constante em termos de unidades
temporais e não em termos de unidades estruturais

(Baddeley, Thomson, & Buchanan, 1975)


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O Ciclo Fonológico
A série de estudos de Baddeley, Thomson & Buchanan, 1975
permitiu alcançar as seguintes conclusões gerais:
(1) A amplitude de memória é sensível à extensão das palavras
em diversos tipos de material verbal;
(2) Quando o número de sílabas e fonemas é mantido constante,
o efeito da duração das palavras permanece;
(3) Existe uma relação sistemática entre o tempo de articulação
e a amplitude de memória, tal que a amplitude de memória é
equivalente ao número de palavras que é possível ler em cerca
de 2 segundos;
(4) A amplitude de memória correlaciona-se positivamente com
a velocidade de leitura dos sujeitos;
(5) A supressão da articulação elimina o efeito da duração das
palavras quando a apresentação das palavras é visual.
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O Ciclo Fonológico

• Efeito de fala irrelevante (Colle e Welsh, 1976)

Verificou-se que a apresentação de fala irrelevante, durante a


exposição de informação visual, diminuía a evocação imediata
da informação visual (sequências de dígitos) e que essa
diminuição era tanto maior quanto maior fosse a proximidade
entre o som irrelevante e o som que correspondia à articulação
da informação visual apresentada. Por outro lado, a supressão
da articulação causava o desaparecimento deste efeito (Salame
& Baddeley, 1982).

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O Ciclo Fonológico

No seu conjunto os dados apontavam para a necessidade de atribuir o efeito


de similaridade a um componente diferente do sistema.

O efeito da duração das palavras parecia estar dependente da repetição


articulatória subvocal, desaparecendo quando esta era eficazmente prevenida
e o efeito da similaridade parecia depender de outro componente do sistema,
um registo a curto prazo, o registo fonológico, que era mantido e reavivado
pelo processo de articulação.

Este registo podia ser acedido por informação auditiva ou por informação
visual depois desta ter sido codificada articulatoriamente e não garantia per si
a repetição da informação (Baddeley, 1986, pp. 84-85).
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O modelo de Memória Operatória (MO) de


Baddeley e colaboradores (1974 - )

Repetição subvocal

Inputs auditivos (sem


Registo fonológico a
ser fala)
curto prazo

Inputs de fala

Figura 3. Modelo do ciclo fonológico de Baddeley (1986). Adaptado de: Gathercole, S. E.


(1997). Models of verbal short-term memory. In Martin A. Conway (Ed.). Cognitive
models of memory (p.21). Sussex, England: Psychology Press.

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O Ciclo Fonológico

O ciclo fonológico desempenha um papel muito importante na aquisição


da linguagem.

Baddeley, Gathercole e Papagno (1998) atribuíram ao ciclo fonológico um


papel crucial na aprendizagem da linguagem, sugerindo que a função do
ciclo fonológico não é a de recordar palavras familiares, mas a de ajudar a
aprender novas palavras.

A função do ciclo fonológico consiste em fornecer um armazenamento


temporário de formas fonológicas não familiares, enquanto são
construídas representações mnésicas mais permanentes

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O modelo de Memória Operatória (MO) de


Baddeley e colaboradores (2000)
Sistema Directivo Central
SDC

Bloco de Esboços Registo-Tampão Ciclo Fonológico


Espácio-Visual Episódico CF
BEEV RTE

Semântica Visual MLP Episódica Linguagem

Figura 2. Modelo de memória operatória de componentes múltiplos. A parte a sombreado representa os sistemas
cognitivos «cristalizados» capazes de acumular conhecimento a longo prazo. As restantes áreas representam
capacidades «fluidas» tais como a atenção e o registo temporário de informação. Adaptado de: Baddeley, A. D.
(2000). The episodic buffer: A new component of working memory? Trends in Cognitive Sciences, 4, p. 421.

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O bloco de esboços espácio-visual


Inicialmente designado por visuospatial scratchpad (bloco de
notas espácio-visual), pretendendo este nome sugerir um
sistema adequado ao armazenamento temporário de
informação espacial, como um bloco de folhas de papel que
pode ser utilizado por alguém para resolver um puzzle
geométrico.

Baddeley (1986, p. 109) considerou que a designação mais


adequada seria a de visuospatial sketchpad (bloco de esboços
espácio-visual), pois a designação anterior sugeria que, além de
formas visuais, também notas verbais pudessem ser registadas,
o que não acontece.

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O bloco de esboços espácio-visual

Desenhem mentalmente uma figura composta pelas letras J e D

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O bloco de esboços espácio-visual

Figura 4. Exemplo de um estímulo, usado no estudo de Brooks (1968). Adaptado de:


Baddeley, A. D. (1999). Essentials of human memory (p. 63). Sussex, England: Psychology
Press.

sim, sim, sim, não, não, não, não, não, não, sim 28

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O bloco de esboços espácio-visual

sim, sim, sim, não, não, sim, sim, sim, sim, não, não, sim

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O bloco de esboços espácio-visual

A poesia de Camões foi estudada na escola


não, sim, não, sim, não, não, não, sim

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O bloco de esboços espácio-visual

Tarefa de Brooks (1968) interfere com a tarefa de perseguição.


Tarefa de classificação de palavras não interfere com a tarefa de perseguição.

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O bloco de esboços espácio-visual

Efeito da similaridade visual


As palavras visualmente mais semelhantes foram pior
evocadas (Logie, Della Sala, Wynn, & Baddeley, 2000,
experiência 1).
v.g. pai, cai, sai

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O bloco de esboços espácio-visual

Figura 1.7. Versão do modelo de memória operatória apresentado por Logie. Adaptado de: Logie, R. H. (1995).
Visuo-spatial working memory (p. 127). Sussex, England: Lawrence Erlbaum Associates.

Escriba interior: tem a função de redesenhar os conteúdos do registo visual


permitindo, além da repetição visual e espacial, a manipulação e
transformação da informação 33

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O modelo de Memória Operatória (MO) de


Baddeley e colaboradores (2000)
Sistema Directivo Central
SDC

Bloco de Esboços Registo-Tampão Ciclo Fonológico


Espácio-Visual Episódico CF
BEEV RTE

Semântica Visual MLP Episódica Linguagem

Figura 2. Modelo de memória operatória de componentes múltiplos. A parte a sombreado representa os sistemas
cognitivos «cristalizados» capazes de acumular conhecimento a longo prazo. As restantes áreas representam
capacidades «fluidas» tais como a atenção e o registo temporário de informação. Adaptado de: Baddeley, A. D.
(2000). The episodic buffer: A new component of working memory? Trends in Cognitive Sciences, 4, p. 421.

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O registo-tampão episódico

(a) Sistema de armazenamento temporário e de capacidade


limitada
(b) Capaz de integrar informação de uma variedade de fontes
(c) Controlado pelo sistema directivo central que pode
recuperar informação a partir deste registo de forma
consciente, reflectir sobre essa informação e se necessário
manipulá-la e modificá-la;
(d) A designação episódico está relacionada com o facto deste
registo manter episódios pelos quais a informação é
integrada ao longo do espaço e potencialmente estendida no
tempo
(e) O registo usa um código comum multidimensional.

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O registo-tampão episódico

O registo-tampão episódico terá, segundo Baddeley (2000), um


papel importante no desempenho das seguintes funções:

1. Introduzir e recuperar informação na MLP episódica;

2. Servir de interface entre um leque de sistemas, cada um


envolvendo um conjunto diferente de códigos;

3. Apoiar a função de conjunção de propriedades na


consciência (binding);

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Implicações educativas da memória operatória

São usadas variantes da tarefa de amplitude de


memória operatória para prever problemas de
aprendizagem em crianças em idade escolar.

Crianças com identificadas com necessidades


educativas especiais têm geralmente pior
desempenho nestas provas.

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Pode-se treinar a memória operatória?


Klingberg --------- Cogmed™

https://www.youtube.com/watch?v=j-Pojkqekq0

https://www.pearsonclinical.co.uk/Cogmed/Cogmed-Working-
Memory-Training.aspx

https://mycogmed.com/

Parecem existir provas de eficácia do treino, com generalização a


tarefas de memória operatória não treinadas, mas com
poucas provas de que se generalize a tarefas do mundo real
(Baddeley, 2017)

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