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Vitória Mendes S.

e Melo - Odontologia UFPE

Parasitologia
Aula 1: Trichomonas e Giardia
TRICHOMONAS
● Família Trichomonadidae, da subfamília Trichomonadinae, da ordem Trichomonadida, da
classe Zoomastigophorea, e do filo Sarcomastigophora.
● As 3 espécies encontradas no homem são Trichomonas vaginalis, Trichomonas tenax,
Trichomonas hominis. A espécie T. vaginalis é patogênica, responsável pela tricomoníase
(infecção sexualmente transmissível não viral mais comum do mundo). O T. tenax, não
patogênico, vive na cavidade bucal humana e também de chipanzés e macacos, apesar de não
ser patogênico, existe uma discussão da participação dele na lesão periodontal. O T. hominis,
não patogênico, habita o trato intestinal humano.

Trichomonas vaginalis
Morfologia:
● É uma célula polimorfa, que se apresenta de diversas formas: podendo ser elipsóide,
piriforme ou oval e algumas vezes esférica.
● O protozoário altera sua morfologia com o intuito de aumentar a área de contato com as
células epiteliais genitais 🡪 existem proteínas de aderência na superfície do protozoário que
reconhecem resíduos glicídicos da mucina (o muco do trato genital) pra promover a fixação
dele. Após fixar, ele fagocita a microbiota, alcalinizando o pH genital (em benefício próprio)
e começa a se multiplicar, despertando a resposta imune do hospedeiro (o que causa a
manifestação clínica). O período de encubação é de 3 a 20 dias, mas em 90% dos casos, as
manifestações clínicas aparecem com 5 a 7 dias.
● Apresentam comprimento médio de 10 a 12 µm.
● O protozoário é muito plástico, tendo a capacidade de formar estruturas que remetem aos
pseudópodes, os quais são usados para capturar os alimentos e se fixar em partículas sólidas.
● Diferente dos outros protozoários, não possui forma cística (de resistência), somente
trofozoítos (fase patogênica).
● É mononucleado, apresentam 4 flagelos anteriores livres
desiguais em tamanho, um flagelo posterior, participando da
formação da membrana ondulante (que orienta o
deslocamento/direção do protozoário, apenas ele e o
tripomastigota possuem) e a costa, que se originam no
complexo citossomal, orientando a emergência dos flagelos. O
axóstilo é uma estrutura rígida e hialina do centro do
organismo até a extremidade posterior (análogo a coluna
vertebral). Apresenta também o aparelho parabasal.
● Não apresentam mitocôndrias, mas sim os hidrogenossomos
(produz ATP).
Contaminação/transmissão: contágio sexual direto, uma doença venérea. A transmissão por
superfície contaminada é rara, mas pode acontecer. O T. vaginalis habita o trato geniturinário do
homem e da mulher, onde produz a infecção e não sobrevive fora do sistema urogenital.
Reprodução: se dá por divisão binária longitudinal, e a divisão nuclear é do tipo criptopleuromitótica,
sendo o cariótipo constituído por seis cromossomos.
Fisiologia: o T. vaginalis é um organismo anaeróbio facultativo. Cresce perfeitamente bem na
ausência de oxigênio, em meios de cultura com pH entre 5 e 7,5 e em temperaturas entre 20 e 40°C.
Como fonte de energia, o flagelado utiliza glicose, frutose, maltose, glicogênio e amido. Sendo
desprovido de mitocôndrias, o parasito possui grânulos densos, os hidrogenossomos, portadores de
uma enzima capaz de transformar o piruvato em acetato e de liberar ATP e hidrogênio molecular (H2).
O T. vaginalis é capaz de manter em reserva o glicogênio e pode realizar a síntese de aminoácidos.
Patogênese: o estabelecimento de T. vaginalis no sítio de infecção se inicia com o aumento do pH,
visto que o pH normal da vagina é ácido (3,8-4,5) e o organismo desenvolve-se em pH maior que 5. A
interação entre T. vaginalis com seu hospedeiro é um processo complexo, no qual estão envolvidos
componentes associados a superfície celular do parasito e células epiteliais do hospedeiro e
também componentes solúveis encontrados nas secreções vaginal e uretral. A aderência e a
citotoxicidade exercidas pelo parasito sobre as células do hospedeiro são ditadas pelos fatores de
virulência, como adesinas, cisteína-proteinases e o cell-detaching factor (CDF). A expressão dos genes
que codificam as proteinases e as adesinas é modulada por fatores externos relacionados com
hospedeiro, como os níveis de cálcio e ferro. Além disso, o T. vaginalis pode se autorrevestir de
proteínas plasmáticas do hospedeiro, impedindo que o sistema imune reconheça o parasito como
estranho.
Em resumo: as células epiteliais genitais são colonizadas por um mecanismo contato-dependente.
Proteínas de citoaderência da superfície do protozoário reconhecem açúcares no muco do trato genital.
Ao haver esse reconhecimento, o protozoário começa a se modificar e induz as células epiteliais
genitais do hospedeiro a expor ferro e cálcio, por exemplo, pra que esses nutrientes entrem no
metabolismo do protozoário.

Patologia: o T. vaginalis é um dos principais patógenos do trato urogenital e pode causar


complicações como:
● Infertilidade: o T. vaginalis está relacionado com doença inflamatória pélvica pois causa
uma resposta inflamatória que destrói a tuba uterina e danifica as células ciliadas da mucosa
tubária, inibindo a passagem de espermatozóides ou óvulos através da tuba uterina. Mulheres
com mais de um episódio de tricomoníase têm maior risco de infertilidade do que aquelas que
tiveram um único episódio.
● Problemas relacionados com a gravidez: a infecção por T. vaginalis promove a ruptura
prematura da membrana, podendo gerar parto prematuro, baixo peso em recém nascidos,
endometrite pós parto e morte neonatal (raro).
● Transmissão do HIV: a infecção por T. vaginalis faz surgir uma agressiva resposta imune
celular local com inflamação do epitélio. Essa resposta inflamatória induz urna grande
infiltração de leucócitos, células-alvo do HIV, as quais o HIV pode se ligar e ganhar acesso.
Além disso, causa pontos hemorrágicos na mucosa, permitindo o acesso direto do vírus para
a corrente sanguínea. O T. vaginalis tem ainda capacidade de degradar o inibidor de protease
leucocitária, um produto conhecido por bloquear o ataque do HIV as células. A soroconversão
é muito mais provável quando existe uma coinfecção por HIV e T. vaginalis (o indivíduo tem
6x mais chances de se tornar HIV positivo numa coinfecção do que numa infecção só com
HIV).
Ciclo biológico
1 – O protozoário habita o baixo trato
genital feminino e a uretra e a próstata
masculina;
2 – Nos locais mencionados, o protozoário
se multiplica por fissão binária e gera
colônias. No ambiente externo ao corpo do
indivíduo, ele não é capaz de sobreviver;
3- A transmissão acontece apenas entre
humanos, que são seus hospedeiros naturais.

Sinais e sintomas:
🡪 Mulheres:
✔ A exocérvice é mais suscetível ao ataque, porém na endocérvice também pode ser encontrado;
✔ Vaginite: corrimento vaginal fluido abundante de cor amarelo-esverdeada, bolhoso, de odor
fétido, mais frequentemente no período pós-menstrual;
✔ Prurido ou irritação vulvovaginal de intensidade variável e dores no baixo ventre;
✔ Dor e dificuldade para as relações sexuais (dispareunia de introito)
✔ Desconforto nos genitais externos;
✔ Dor ao urinar (disúria) e frequência miccional (poliúria).
**Colpitis macularis: vagina e cérvice com erosão e pontos hemorrágicos.
🡪 Homens:
✔ Comumente assintomática ou apresenta-se como uma uretrite com fluxo leitoso ou purulento e
uma leve sensação de prurido na uretra;
✔ Desconforto ao urinar e as vezes hiperemia do meato uretral;
✔ Durante o dia, secreção escassa;
✔ Podem colonizar a próstata;
✔ Prostatite e balanopostite;
✔ Esse protozoário pode se localizar na bexiga e vesícula seminal.
Diagnostico:
🡪 Clínico: pode ser confundida com outras IST´s. Não é recomendado.
🡪 Exame microscópico: microscopia direta de lâminas confeccionadas com secreção vaginal, uretral
ou prostática é o procedimento mais comum, pode ser realizado a fresco ou de esfregaços fixados e
corados.
🡪 Imunológico: imunodiagnóstico através de reações de aglutinação, métodos de imunofluorescência
(direta e indireta) e técnicas imunoenzirnáticas (ELISA) têm contribuído para aumentar o índice de
certeza do resultado. Não é tão comum.
Tratamento: atualmente os fármacos usados são o metronidazol (Flagyl), eficaz contra as infecções
causadas por microrganismos anaeróbicos, e tinidazol (Fasigyn), que apresenta uma ação mais
localizada. Em gestantes esses medicamentos não devem ser usados via oral, somente pela aplicação
local de cremes, geleias ou óvulos.
GIARDIA
● O gênero Giardia inclui parasitas flagelados intestinais, tendo sido, possivelmente, o primeiro
protozoário intestinal humano a ser conhecido.
● A taxonomia é controversa e a determinação das espécies é feita levando em conta o
hospedeiro de origem e as características morfológicas.
● As espécies identificadas são: Giardia duodenalis, Giardia muris, Giardia agilis, Giardia
psittaci, Giardia ardeae e Giardia microti. A espécie infectante no humano é a Giardia
duodenalis (Giardia lamblia ou Giardia intestinalis são sinônimos).
Morfologia:
🡪 A Giardia apresenta duas formas evolutivas: cisto (infectante) e trofozoíto.
Trofozoíto
● O trofozoíto tem formato de pêra, com simetria bilateral.
● A face dorsal é lisa e convexa, enquanto a face ventral é côncava e apresenta o disco ventral,
adesivo ou suctorial (importante estrutura formada de microtúbulos e microfilamentos, que
promove a adesão do parasito à mucosa intestinal, apresenta proteínas contráteis que modulam
a forma e o diâmetro do disco).
● Abaixo do disco, há os corpos medianos (formato de vírgula). No interior do trofozoíto, e
localizados na sua parte frontal, são encontrados dois núcleos (é binucleado).
● O trofozoíto possui ainda quatro pares de flagelos (um par de flagelos anteriores, um de
flagelos ventrais, um par de flagelos posteriores e um de flagelos caudais) que se originam de
corpos basais.
● Abaixo da membrana citoplasmática do trofozoíto existem numerosos vacúolos que,
acredita-se, tenham papel na pinocitose de partículas alimentares.

Cisto
● Possui formato oval ou elipsoide.
● Apresenta de 2 a 4 núcleos no seu interior.
● Número variável de fibrilas (axonemas de flagelos) e os corpos
escuros com forma de meia-lua e situados no pólo oposto aos
núcleos.
● Tanto cisto quanto trofozoíto não apresentam mitocôndrias.
Ciclo biológico
● A contaminação se inicia pela ingestão de água ou alimento contaminados com cistos maduros
e viáveis (contaminação orofecal).
● Após a ingestão do cisto, ocorre o desencistamento, iniciado no meio ácido do estômago e
completado no duodeno e jejuno. Os trofozoítos se multiplicam por divisão binária
longitudinal, se aderem a mucosa intestinal, onde ocorre o atapetamento da mucosa,
causando alterações na arquitetura do epitélio e má absorção de alimentos e nutrientes.
● Após isso, por estímulos relacionados ao pH, aos altos níveis de bile e ao destacamento dos
trofozoítos da mucosa intestinal, ocorre o processo de encistamento no ceco. E esses cistos
são eliminados nas fezes. Alguns trofozoítos podem ser eliminados também.
● Os cistos são resistentes e, em condições favoráveis de temperatura e umidade, podem
sobreviver, pelo menos, dois meses no meio ambiente.
Ps.: em fezes liquidas se vê mais trofozoítos do que cisto pois não dá tempo dos trofozoítos
encistarem. Em fezes pastosas/sólidas se vê mais cisto.

Transmissão: água e alimentos contaminados com cistos maduros; veiculação de cistos por moscas e
baratas; mãos contaminadas e aglomeração humana.
Imunologia: anticorpos IgG, IgM e IgA anti-Giardia têm sido detectados no soro de indivíduos com
giardíase. Evidências sugerem que o IgA diminua a capacidade de adesão dos trofozoítos à superfície
das células do epitélio intestinal. Tem-se observado também a capacidade de monócitos, macrófagos e
granulócitos em participar da destruição de trofozoítos, em reações de citotoxicidade
anticorpo-dependentes (ADCC).
Sintomatologia: a giardíase apresenta um espectro clínico diverso, que varia desde indivíduos
assintomáticos (90% dos casos) até pacientes sintomáticos que podem apresentar um quadro de
diarreia aguda e autolimitante, ou um quadro de diarreia persistente, com evidência de má-absorção e
perda de peso. As principais complicações da giardíase crônica estão associadas à má absorção de
gordura e de nutrientes, como vitaminas lipossolúveis (A, D, E,K), vitamina B, ferro, xilose e lactose.
Patogênese
● Os trofozoítos de Giardia aderidos ao epitélio intestinal podem romper e distorcer as
microvilosidades do lado que o disco adesivo entra em contato com a membrana da célula.
● Além disso, o parasita produz, e possivelmente libera, substâncias citopáticas na luz
intestinal.
● Giardia contém várias proteases, algumas delas capazes de agir sobre as glicoproteínas da
superfície das células epiteliais e romper a integridade da membrana (lise dos enterócitos).
● Mas a hipótese patogênica mais aceita de alteração na arquitetura intestinal é devido aos
processos inflamatórios aí desencadeados pelo parasito, devido à reação imune do
hospedeiro.
Diagnóstico
🡪 Clínico: em crianças de oito meses a 12 anos, a sintomatologia mais indicativa de giardíase é
diarreia com esteatorréia, irritabilidade, insônia, náuseas e vômitos, perda de apetite e dor abdominal.
Embora os sintomas sejam muito característicos, é conveniente a comprovação por exames
laboratoriais.
🡪 Laboratorial (parasitológico): pelo exame microscópico de fezes formadas, baseando-se na
identificação das formas evolutivas do parasito 🡪 presença maior de cistos nas fezes solidas e presença
de trofozoítos nas fezes diarreicas. Um aspecto importante com relação ao diagnóstico da giardíase é o
fato de que indivíduos parasitados não eliminam cistos continuadamente. Há o "período negativo" que
pode durar em média dez dias e acabar gerando falsos-negativos.
🡪 Imunológico: os métodos imunológicos mais empregados são a imunofluorescência indireta e o
método ELISA (detecção de antígenos na amostra fecal – resultados satisfatórios). Técnicas baseadas
no reconhecimento do DNA de Giardia, como o PCR, estão sendo padronizadas para a detecção deste
parasita nas fezes.
Epidemiologia: a giardíase é encontrada no mundo todo, principalmente entre crianças de oito meses
a 10-12 anos. A alta prevalência observada em crianças pode ser devida à falta de hábitos
higiênicos nessa idade; quanto ao adulto, parece que uma infecção com esse parasito pode conferir
certo grau de resistência às infecções subsequentes. Altas prevalências são encontradas em regiões
tropicais e subtropicais e entre pessoas de baixo nível econômico.
Profilaxia: medidas de higiene pessoal (lavar as mãos), destino correto das fezes (fossas, rede de
esgoto), proteção dos alimentos e tratamento da água.
Tratamento: alguns medicamentos são indicados, principalmente derivados dos 5-nitrotiazóis
(metronidazol, tinidazol, ornidazol e secnidazol), dos nitrofuranos (furazolidona), dos corantes de
acridina etc. Outros quimioterápicos, como o anti-helmíntico albendazol, do grupo dos benzimidazóis,
têm sido empregados no tratamento da giardíase. Além deste, a nitazoxanida é outro medicamento
disponível.
Aula 2: Amebíase
● A amebíase é uma doença parasitária infecciosa, com ou sem sintomatologia clínica.
● Apresenta uma distribuição geográfica cosmopolita que infecta pessoas em todo o mundo, mas
apenas 10% desenvolvem sintomas clínicos, ou seja, há muitos casos de infecções
assintomáticas. Isso se deve a existência de duas espécies morfologicamente idênticas, com
diferenças bioquímicas, genéticas e imunológicas: Entamoeba histolytica e Entamoeba
dispar.
● Apesar disso, é a 3ª causadora de morte entre as doenças parasitárias (perde apenas para a
malária e esquistossomose).
● Apesar de ser cosmopolita, a infecção está intimamente relacionada à educação
sanitária/hábitos de higiene.
Explicação para diferentes comportamentos na amebíase
🡪 Hipótese 1: espécie única que provocaria lesões intestinais que poderiam ou não apresentar sintomas
clínicos reconhecíveis. Muito vaga.
🡪 Hipótese 2: espécie comensal no intestino humano e em determinada ocasião, poderia converter-se
em forma patogênica invasiva.
🡪 Hipótese 3: existência de duas espécies morfologicamente idênticas, com diferenças
bioquímicas, genéticas e imunológicas. O.M.S, - 1997.
E. histolytica – Patogênica invasiva
● Diferentes graus de virulência (depende da cepa, do estado imunológico do indivíduo etc).
● Infecção subclínica (ou não apresenta sintoma ou são sintomas brandos) - 10 a 40% dos
indivíduos infectados.
● Presença de antígeno no soro.
● Desenvolvem anticorpos antiamébicos.
● Amebíase invasiva (pode sair do intestino e ir pra outros órgãos).

E. dispar – Não patogênica ou comensal


● Não desenvolve amebíase invasiva.
● Não apresenta antígenos amébicos detectáveis.
● Não induzem produção de anticorpos.
Classificação:
● Reino: Protista; Filo: Sarcomastigophora (apresentam flagelos); Sub-filo: Sarcodina (formam
pseudópodes); Classe: Lobosea; Ordem: Amoebidae; Família: Entamoebidae; Gênero:
Entamoeba, Iodamoeba e Endolimax.
● O gênero Entamoeba é caracterizado por parasitas que vivem no intestino grosso de humanos
ou de animais (exceto a E. mashkoviskki, que é uma ameba de vida livre). Apresentam núcleo
esférico ou arredondado e vesiculoso com cromatina periférica dando o aspecto de roda de
carroça. As espécies desse gênero foram classificadas de acordo com o número de núcleos
dos cistos ou pelo desconhecimento dessa forma:
✔ 8 núcleos: E. coli (homem), E. muris (roedores) e E. gallinarum (aves domésticas).
✔ 4 núcleos: E. histolytica (homem), E. dispar (homem), E. ranarum (sapo e rã), E.
invadens (cobras e répteis), E. moshkoviskii (vida livre).
✔ 1 núcleo: E. polecki (porco, macaco e, eventualmente, humanos), E. suis (porco, para
alguns sinonímia de E. polecki).
✔ Não tem cisto ou não são conhecidos: E. gingivalis (humanos e macacos).
● Apenas a E. gengivalis vive na cavidade bucal. Ela é a única que não apresenta 4 fases
evolutivas, não possui forma cística. Forma de transmissão: beijo, saliva...
● As demais vivem no intestino grosso.
● A E. histolytica é a única que em determinadas situações pode ser patogênica.
Morfologia
● Trofozoíto ou forma vegetativa (encontrados no intestino, úlceras e fezes diarrêicas, cultura).
● Cisto ou forma de resistência (fezes normais).
🡪 As espécies diferenciam-se pelo:
a. Tamanho do trofozoíto e do cisto.
b. Estrutura e número dos núcleos nos cistos.
c. Número e formas das inclusões citoplasmáticas (vacúolos nos trofozoítos e corpos
cromatóides nos cistos).

E. histolytica/E. dispar
Apresenta 4 fases evolutivas, 2 principais e duas de “transição” e pode ser patogênica em cada uma
delas: trofozoíto, cisto, pré-cisto e metacisto.
Trofozoíto:
● São células grandes, que emitem pseudópodes de 2 tipos: lobópodes (mais largos, para
locomoção e alimentação) e filópodes (mais finos, que facilita a invasão nas células).
● O citoplasma apresenta-se em endoplasma, que é granuloso, e ectoplasma, que é claro e
hialino.
● Geralmente tem só um núcleo, bem destacado e normalmente esférico. Na parte central dele
encontra-se o cariossoma, que dá uma configuração, com a cromatina, de “roda de carroça”.
● Quando proveniente de casos de desinteria, é comum encontrar eritrócitos no seu
citoplasma.

Pré-cisto: é uma fase intermediária entre o trofozoíto e o cisto. É oval ou ligeiramente arredondado,
menor que o trofozoíto. O núcleo é semelhante ao do trofozoíto. No citoplasma podem ser vistos
corpos cromatóides, em forma de bastonetes, com pontas arredondadas.

Metacisto: é uma forma multinucleada que emerge do cisto no intestino delgado, onde sofre divisões,
dando origem aos trofozoítos.
Cisto
● Apresenta até 4 núcleos (com mesmas características do núcleo do trofozoíto)
● Os corpos cromatoides, quando presentes, tem forma de bastonete ou charuto

E. coli: no trofozoíto, o citoplasma não é diferenciado em endo e ectoplasma; o núcleo apresenta a


cromatina irregular e o cariossoma grande e excêntrico. O cisto apresenta-se como uma pequena
esfera medindo 15-20pm, contendo até oito núcleos, com corpos cromatóides finos, semelhantes a
feixes ou agulhas.

Endolix nana: é a menor ameba que uive no homem. Seu cisto é um oval, é o mais elipsóide.
Iodamoeba bustchlii: é uma ameba pequena, tanto o cisto como o trofozoíto. É comum entre nós,
mas não é patogênica. O cisto possui um grande vacúolo de glicogênio, cujo formato é associado a um
anel de bacharel.
Biologia da E. histolytica/E. dispar

Os trofozoítos vivem na luz do intestino grosso, podendo, ocasionalmente, penetrar na mucosa e


produzir ulcerações intestinais ou em outras regiões do organismo, como fígado, pulmão, rim e, mais
raramente, no cérebro. Carboidratos, lipídios e proteínas são constituintes da membrana plasmática.
Carboidratos, principalmente a glicose, fazem parte do metabolismo do parasito. A locomoção ocorre
por meio de pseudópodes, a alimentação ocorre por fagocitose e pinocitose (absorção através da
membrana). O metabolismo ocorre por microaerofilia (em baixas concentrações de oxigênio) e a
reprodução ocorre por divisão binária.
Transmissão: ingestão de cistos maduros por meio de alimentos contaminados, manipuladores de
alimentos contaminados, veiculação por insetos e baratas, água contaminada, falta de higiene
domiciliar e contato interpessoal.
Ciclo biológico
O ciclo biológico pode ser reprodutivo comensal ou patogênico. É um ciclo monoxênico (o parasito
utiliza apenas um hospedeiro), em que são encontradas as fases de trofozoíto, pré-cisto, cisto e
metacisto.
🡪 Ciclo comensal:

● O ciclo se inicia pela ingestão de cistos maduros. Esses cistos passam pelo estômago, resistem
a ação do suco gástrico e chegam na região final do intestino delgado, onde sofrem o
desencistamento, com a saída do metacisto através de uma pequena fenda na parede cística.
● O metacisto então sofre várias divisões dando origem a 4 e depois a 8 trofozoítos. Esses
trofozoítos migram para o intestino grosso onde se colonizam e vivem comensalmente.
● Sob certas circunstâncias, eles podem se desprender da parede intestinal e na luz do intestino
grosso sofrer a ação da desidratação e eliminar substâncias nutritivas citoplasmáticas,
transformando-se em pré-cistos. Em seguida, secretam uma membrana cística e se
transformam em cistos mononucleados e depois tetranucleados e são eliminados pelas fezes
(sobrevivem de 5 a 7 dias no ambiente).
🡪 Ciclo patogênico:

● Os trofozoítos podem invadir a mucosa intestinal, alcançando a submucosa, multiplicando-se


ativamente e causando a amebíase por meio de algumas etapas: colonização do epitélio
intestinal, aderência dos trofozoítos nos enterócitos, formação dos amebaporos, citólise e
ulceração.
● Isso ocorre pois a E. histolytica possui lectinas na membrana que reconhecem os carboidratos
(galactose) presentes na superfície do enterócito. A partir desse reconhecimento, o complexo
de adesão é formado e são liberados os amebaporos (peptídeos), que formam os poros pelo
processo de polimerização, esses poros permitem o fluxo de água e eletrólitos, a célula
começa a inchar e morre por intumescência.
● Além disso, após o reconhecimento, estímulos internos dentro dos enterócitos também são
desencadeados e a célula morre por citólise.
● O epitélio intestinal está fragilizado, os filópodes ampliam a adesão e a liberação de enzimas
proteolíticas, principalmente a cisteína proteinase, favorece ainda mais a destruição e degrada
a matriz extracelular. Tudo isso provoca úlceras no revestimento intestinal.
● Através da circulação porta, os trofozoítos podem atingir outros órgãos, como o fígado e,
posteriormente, pulmão, rim, cérebro ou pele, causando a amebíase extra-intestinal. O
trofozoíto presente nestas úlceras é denominado forma invasiva ou virulenta.
Ps.: a cisteína proteinase promove ainda a lise de IgA quando a Entamoeba alcança a corrente
sanguínea, portanto, a resposta imunológica é comprometida.
Manifestações clínicas
🡪 Amebíase intestinal

● Infecção assintomática: colonização do parasito no intestino (80 a 99%). A identificação é por


meio da eliminação de cisto nas fezes e por testes sorológicos positivos.
● Infecção sintomática:
✔ Colite não-disentérica: sintomas intermitentes, fezes moles ou pastosas (3 a 4x ao dia),
desconforto abdominal. (díspar)
✔ Colite disentérica: cólicas intestinais, diarreia mucossanguinolenta, febre moderada.
“Arrasta” até o que não deveria. As complicações da colite disentérica podem ser:
perfuração do intestino, peritonite, ameboma, apendicite e hemorragia.
● Ameboma (tecido granulomatoso - benigno)
● Apendicite amebiana (já que as ulceras ocorrem próximo ao apêndice vermiforme).
🡪 Amebíase extraintestinal: danificação de vasos que desembocam em outros órgãos devido a
circulação porta.
● Amebíase hepática: abscesso hepático (hepatócitos liquefeitos, tecido necrosado, sangue, bile,
amebas)
● Amebíase pleuropulmonar
● Abcesso cerebral
● Abcesso cutâneo
Diagnóstico
🡪 Laboratorial: exame de fezes a fresco. Nas fezes sólidas ou semissólidas são encontrados cistos e
pré-cistos, já nas diarreicas, os trofozoítos.
● Nas fezes formadas ou normais, o diagnostico laboratorial é feito utilizando-se métodos de
concentração: sedimentação espontânea (método de Hoffman); flutuação no sulfato de zinco
(método de Faust) e centrifugação em éter (método de Richie). Os dois últimos são mais
eficazes na determinação de cistos.
🡪 Testes imunológicos: anticorpos monoclonais igM e igG anti-lectinas podem ser detectados em
amostras de fezes, salivas, soro e fluido hepático.
● Como testes imunológicos, tem-se: ELISA (diagnóstico diferencial), imunodifusão em gel,
imunofluorescência indireta e hamaglutinação indireta. Além de testes imunocoprológicos
(detecção de antígenos nas fezes).
🡪 Testes bioquímicos: avalia padrões eletroforéticos de isoenzimas (zimodemos), detecção de
enzimas: GPI, PGM e ME. (diagnóstico diferencial)
🡪 Testes genéticos: PCR (ampliação de fragmentos de DNA, diagnóstico diferencial), DNA
provenientes de trofozoítos ou cistos e é possível observar uma diferença de 5% na sequência de
nucleotídeos entre as cepas patogênicas e não patogênicas, observadas através dos primers.
Profilaxia: educação e engenharia sanitária, combate a moscas, insetos e baratas, lavagem de
alimentos.
Tratamento:
● Amebicidas que atuam diretamente na luz intestinal: derivados de quinoleína
(diiodo-hidroxiquinoleína) e antibióticos (paramamicina).
● Amebicidas de ação tissular: atuam na parede do intestino e no fígado (cloroquina e cloridato
de diidroemetina).
● Amebicidas que atuam na luz intestinal e nos tecidos: derivados imidazólicos (metronidazol e
tinidazol). São os mais efetivos e usados.
Aula 3: Família Trypanossomatidae – gênero Leishmania
● A família Trypanossomatidae possui dois gêneros com importância clínica: Leishmania e
Trypanossoma.
● Os parasitas dessa família apresentam uma organela chamada cinetoplasto (DNA que se
acumula fora do núcleo), responsável por sintetizar proteínas que farão parte da respiração
celular. Apresentam também: um único núcleo, um flagelo e uma mitocôndria.
O gênero Leishmania:
● Pertence ao FILO: SARCOMASTIGOPHORA (flagelo ou pseudópodes), SUB-FILO:
MASTIGOPHORA (flagelo), ORDEM: KINETOPLASTIDA (cinetoplasto) e FAMÍLIA:
TRYPANOSOMATIDAE.
● Agrupa VÁRIAS ESPÉCIES de protozoários unicelulares, heteroxenos, encontradas nas
formas promastigota, flageladas livres ou aderidas ao trato digestivo dos hospedeiros
invertebrados, e amastigota, sem flagelo livre, parasito intracelular. A reprodução ocorre por
divisão binária em ambos os hospedeiros.
● A transmissão ocorre por um inseto conhecido como MOSQUITO PALHA, fêmeas do
gênero Lutzomyia (no continente americano), presentes majoritariamente em áreas de mata.
● A maioria das espécies de Leishmania pertencem ao Sistema Monocítico Fagocitário – é um
parasita intracelular obrigatório que precisa ser fagocitado (principalmente pelo macrófago).
A leishmaniose pode ser dividida nos seguintes tipos:
● LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA (LTA): caracterizada por alterações na
pele e nas mucosas, provocando uma ulceração. É uma doença antropozonótica (doença
primária de animais e que pode ser transmitida aos humanos). Manifesta-se nas formas:
leishmaniose tegumentar cutânea (ulcerações na pele), leishmaniose tegumentar
cutânea-mucosa (pacientes com comprometimento cutâneo e, posteriormente, com
acometimento de mucosas, a respiratória), leishmaniose tegumentar cutânea-difusa (não
forma ulceras típicas, mas forma lesões tegumentares tipo nódulos não-ulcerativos).
✔ A espécie que provoca a LTA no brasil é a Leishmania braziliensis, ela pode
eventualmente provocar uma metástase na mucosa nasobucofaringiana, causando a
leishmaniose cutâneo-mucosa.
✔ Há também a espécie Leishmania amazonensis, que provoca apenas a forma cutânea,
causa apenas ulceração. Porém, em alguns indivíduos, por conta da genética, ela pode
suprimir a imunidade e acabar gerando nódulos disseminados pelo corpo cheios de
parasitas, provocando a leishmaniose cutâneo difusa.
● LEISHMANIOSE TEGUMENTAR DO VELHO MUNDO: não existe no Brasil.
● LEISHMANIOSE VISCERAL (LV; CALAZAR): infecciosa generalizada; acomete os
aparelhos viscerais e é uma zoonose (primariamente de cães e raposas, mas o homem se
infecta quando entra nesse ciclo de transmissão).
✔ Causada pela espécie Leishmania infantum e Leishmania chagasi, que quando
transmitidas pelo inseto, em vez de ficar na derme, elas visceralizam 🡪 após a picada,
o parasito vai ser fagocitado pelo neutrófilo, vai pro linfonodo, ganha a circulação e
afeta órgãos importantes (baço, fígado, medula...). Tem alta mortalidade.
✔ Exploração silvestre x endemia: era considerada uma doença silvestre ou rural, mas
está em processo de URBANIZAÇÃO.
✔ Os cães são um reservatório (onde vive e multiplica-se o agente etiológico) de
Leishmaniose visceral: o cão apresenta intenso parasitismo cutâneo, que facilitam a
infecção do vetor (eles se infectam mias facilmente), sendo assim importantes na
manutenção da cadeia epidemiológica. Cães infectados podem desenvolver:
emagrecimento, queda de pelos, nódulos ou ulcerações, hemorragias e paralisia dos
membros. Eles precisam ser eutanasiados.
Leishmania spp. – morfologia
🡪 2 formas evolutivas: promastigota e amastigota.
Promastigota
● Forma infectante, presente no trato digestivo do inseto vetor
(hospedeiro invertebrado).
● São alongadas, com um flagelo, livre e longo, na porção anterior do
parasito.
● O núcleo é arredondado ou oval, e está situado na região central.
● O cinetoplasto, em forma de bastão, localiza-se anterior ao núcleo.
● Forma rosetas.
● Se multiplica por divisão binária.
Amastigota
● Forma intracelular, no interior de células fagocitárias
(normalmente o macrófago).
● Presente no hospedeiro vertebrado.
● São esféricas ou ovais e não apresentam flagelo livre,
mas sim um flagelo interno dentro de uma bolsa
flagelar.
● Núcleo grande e arredondado.
● Cinetoplasto em forma de bastão, ligado a única
mitocôndria presente na célula.
Ciclo biológico

● Os hospedeiros vertebrados são infectados quando formas promastigotas são injetadas pelas
fêmeas dos insetos vetores (do gênero Lutzomyia) através da saliva, durante o repasto
sanguíneo. Essa saliva possui propriedades inflamatórias e tem ação quimiotática para
monócitos/macrófagos, ou seja, atraem essas células para fagocitar a promastigota.
● Essa promastigota vai ser fagocitada pelo macrófago. Dentro do vacúolo fagocitário do
macrófago, ela se transforma em amastigota.
● Dentro do vacúolo fagocitário, essa amastigota inicia o processo de sucessivas multiplicações,
até estourar/romper a célula hospedeira (macrófago). As amastigotas expelidas vão ser
fagocitadas pelos macrófagos vizinhos.
● O inseto, por sua vez, se infecta quando, no momento do repasto sanguíneo, ingere essas
células contaminadas (as formas amastigotas). No trato digestivo do inseto, as amastigotas se
transformam em promastigotas.
Ps.: diferença da leishmaniose tegumentar para a visceral
1. O tipo de célula que é infectada: na tegumentar, vai ser preferencialmente o macrófago, já na
visceral, o parasito vai ser capturado e levado para o linfonodo, então é necessário um fagócito que se
locomova, como monócitos e neutrófilos.
2. Quem transmite a leishmaniose visceral não é qualquer tipo de Lutzomyia, é o Lutzomyia
longipalpis.
Resposta imune
🡪 O macrófago é uma célula de defesa que faz parte dos mecanismos de imunidade inata e também é
uma célula apresentadora de antígeno. Na sua superfície, há receptores de PAMP’s.
🡪 Os PAMP’s (padrões moleculares associados a patógenos) estão na superfície dos parasitas.
🡪 Quando ocorre a interação do PAMP com o receptor, o macrófago sofre uma sinalização para, por
exemplo, produzir substâncias líticas pra destruir aquele organismo.
🡪 Ou seja... quando o parasita (promastigota) infecta o macrófago, ele, teoricamente, deveria MATAR
o parasita. Porém, a leishmania tem um tipo de PAMP chamado LPG, que “desliga” o macrófago
quando há a interação e ele não produz substâncias líticas. Isso faz com que a promastigota se
transforme em amastigota e consiga se multiplicar dentro dele (isso que provoca o “calombo”).
🡪 O MHC de classe 2 vai apresentar o antígeno aos linfócitos T CD4+ (T helper). O primeiro linfócito
que vai reconhecer é o Th0 (virgem), que vai se diferenciar em Th1 e Th2. Quem vai determinar essa
diferenciação são as citocinas produzidas.
Se forem produzidos IFN-γ e IL-12 🡪 há
DIFERENCIAÇÃO EM TH1: produz as
citocinas IFN-γ, TNF-α e IL-2, que ativam o
macrófago para produzir substâncias líticas
como oxido nítrico, peróxido de hidrogênio
etc, “religando” os macrófagos que tinham
sido desligados. Células NK também são
ativadas. Ativa a imunidade celular e a
resposta pro-inflamatória (de defesa), o que
causa as ulcerações.
Porém, tem que ter cuidado para não inflamar
demais, se não vai existir muita ulceração.
Então em um momento, essa resposta precisa
parar para que haja a cicatrização. É aí que
entra a DIFERENCIAÇÃO EM TH2:
produz outro grupo de citocinas IL-10, IL-4
E IL-13, que inibe a Th1 e a produção de
substancias líticas. As IL-4 e IL-13 são
fatores de crescimento para linfócitos B,
então maior a produção de anticorpos. Além
disso, elas também estimulam a produção de
colágeno e, consequentemente, a cicatrização.
Ativa a imunidade humoral.
Algumas espécies de leishmania conseguem desviar a resposta Th1, e vão direto para a Th2, assim, os
MØ ficam inativados e a leishmania não morre, gerando vários calombos disseminados (é o que
acontece na forma cutâneo difusa). Já na forma cutâneo mucosa, o que acontece é a exacerbação da
resposta Th1 (há tanta inflamação que atinge a mucosa).
LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA (LTA)
● Agente etiológico no Brasil (6 espécies): Leishmania braziliensis (é a do Nordeste, pode
provocar a LCM), Leishmania guyanensis, Leishmania lainsoni, Leishmania naiffi,
Leishmania shawi e Leishmania amazonensis.
Formas clínicas
🡪 Classificação clínica de acordo com o tropismo tecidual e patogenicidade das espécies e resposta
imune do vertebrado.
Leishmaniose tegumentar/cutânea pode ser:
🡪 Localizada: lesão única, forma mais
comum.
🡪 Disseminada/difusa: lesões ulceradas
pequenas distribuídas por todo o corpo.
Causada pela ausência da resposta Th1 e
presença apenas da Th2. Ocorre
principalmente por ação da Leishmania
amazonensis.
🡪 Cutâneo mucosa: lesão destrutiva, que ocasiona destruição dos órgãos e provoca mudanças
anatômicas. Causada por uma exacerbação da resposta Th1. Ocorre por ação da Leishmania
braziliensis). Na leishmaniose cutâneo mucosa, pode haver também comprometimento de úvula, que
gera dificuldade pra se alimentar (desnutrição) e pra respirar (complicações respiratórias).
Diagnóstico laboratorial da LTA
Intradermorreação de Montenegro (método imunológico)
✔ Princípio: teste de hipersensibilidade tardia.
✔ Técnica: inoculação de um extrato antigênico de promastigotas.
✔ Interpretação: Reação Negativa: ausência de sinal local ou pápula com diâmetro < 5mm ou
Reação Positiva: nódulo com diâmetro >ou = 5 mm.

🡪 Leishmaniose cutânea: RM + e parasita –


🡪 Leishmaniose cutâneo mucosa: RM +++ e parasita –
🡪 Leishmaniose cutâneo difusa: RM – e parasita +
Pesquisa do parasito: punção aspirativa na borda da úlcera (pois no meio a inflamação está mais
intensa, então o parasito já morreu.
● As amostras de lesão são obtidas por: escarificação, exame histopatológico, inoculação em
animais de laboratório. Outros exames: Elisa, Imunofluorescência e PCR.
Tratamento: as drogas de primeira escolha no tratamento das leishmanioses de um modo geral são os
antimoniais penta-valentes (Sb+5), o glucantime. No caso de não fazer efeito, utiliza-se pentamidina
ou anfotericina B.
● Imunoterapia: Leishvacin + BCG Leishvacin + Glucantime.
LEISHMANIOSE VISCERAL (CALAZAR)
Agente etiológico:

Suscetibilidade a leishmaniose visceral


● As crianças são mais suscetíveis.
● 70% das infecções são assintomáticas ou limitadas 🡪 fazem Th1 (matam a leishmania). São
RESISTENTES.
✔ Tem a imunidade celular estimulada;
✔ Reação de Montenegro positiva (+);
✔ Produção de IFN-γ e IL-2 normais.
● 30% desenvolvem leishmaniose visceral 🡪 vão direto para Th2. São SUSCETÍVEIS.
✔ Perda de peso, febre, hepatoesplenomegalia.
✔ Parasitos abundantes na medula óssea, baço e fígado.
✔ Neutropenia, anemia e trombocitopenia.
✔ Diminuição de albumina e de complemento (síntese hepática).
Patogenia:
● Período de incubação de 2-7 meses.
● Alterações esplênicas: esplenomegalia – hiperplasia e hipertrofia do Sistema Monocítico
Fagocitário (pois aumenta a produção de macrófagos para tentar combater o parasita, então o
baço fica aumentado)
● Alterações hepáticas: hepatomegalia – hiperplasia das células do SMF, infiltrado
intraparenquimal de plasmócito, linfócitos; fibrose moderada. O fígado fica aumentado.
Formas clínicas
● Hipertrofia e hiperplasia do SMF:

● Alterações renais: inflmação nos rins, que causa perda de proteina pela urina (albuminúria).
● Alterações na medula: passa a produzir mais macrofago em detrimento das outras células
sanguíneas. Causa: hiperplasia histiocitária, hipoplasia do setor formador de sangue e aplasia
(anemia – cai o número de hemácias, plasmocitose, leucopenia e trombocitopenia).
● Alterações pulmonares: incidência de 76,9% de pneumonite intersticial.
Exames complementares
● Hemograma: anemia, leucopenia, neutropenia, linfocitose relativa, trombocitopenia e
plasmocitose.
● Sumário de urina: Albuminúria
● Eletroforese das proteinas séricas: inversão da relação albumina globulina (↓albumina
↑globulina)
● Bioquímica: elevação das aminotranferases (2 a 3x) e aumento das bilirrubinas, da uréia e da
creatinina.
Diagnostico laboratorial da LV
🡪 Punção de fígado, baço, linfonodos e medula.
Exames imunológicos: intradermorreação de Montenegro (negativa), sorologia, imunofluorescência
Indireta (IFI), ELISA, WESTERN-BLOT.
O tratamento é o mesmo da LTA.
Profilaxia
● Controle do vetor;
● Construção de moradias distantes da mata, telas de proteção e repelentes.
● Problemas: o vetor não é domiciliar, é capaz de desenvolver resistência aos inseticidas. Os
inseticidas apresentam efeito residual curto.
● Eliminação dos reservatórios domésticos.
● Problemas: os reservatórios selvagens não podem ser “eliminados” e o tratamento é longo,
existem efeitos colaterais, muitos pacientes não têm acesso ao tratamento.
Aula 4: Doença de Chagas
● Relembrando, a família Trypanossomatidae possui dois gêneros com importância clínica:
Leishmania e Trypanossoma.
● Os parasitas dessa família apresentam uma organela chamada cinetoplasto (DNA que se
acumula fora do núcleo), responsável por sintetizar proteínas que farão parte da respiração
celular. Apresentam também: um único núcleo, um flagelo e uma mitocôndria.
● Sistemática: FILO: SARCOMASTIGOPHORA (flagelo ou pseudópodes), SUB-FILO:
MASTIGOPHORA (flagelo), ORDEM: KINETOPLASTIDA (cinetoplasto), FAMÍLIA:
TRYPANOSOMATIDAE, GÊNERO: TRYPANOSOMA E ESPÉCIE: TRYPANOSOMA
CRUZI.
● O Trypanosoma cruzi é um protozoário agente etiológico da doença de Chagas (ou
tripanossomíase americana), que constitui uma antroponose frequente nas Américas,
principalmente na América Latina.
● O Trypanossoma brucei é o agente etiológico da tripanossomíase africana.

Descoberta da doença: em 1907 por Carlos Chagas - encontrou o trypanosoma em barbeiros e


infectou animais de laboratório, observando que esses animais passaram a ter o parasita em seu
sangue. Continuou procurando e encontrou aquele protozoário no sangue de pessoas e animais
residentes em casas infestadas por barbeiros (se entocam em casas de construção rudimentar,
galinheiros, chiqueiros - isso favoreceu o estabelecimento da doença de forma ENDÊMICA).
70% dos indivíduos desenvolvem uma relação de “equilíbrio” com o parasita → FASE
INDETERMINADA (sem manifestação clínica - ASSINTOMÁTICOS).
30% desenvolvem a DOENÇA CRÔNICA SINTOMÁTICA. Desses 30%, 10% é uma doença
exclusivamente cardíaca, 10% é uma doença exclusivamente digestiva e 10% doença mista. Na fase
mais grave da doença, há o desenvolvimento dos “MEGAS” → órgãos ocos que ficam muito grandes.

Hospedeiro invertebrado - triatomíneo (barbeiro)


● Insetos hematófogos (que se alimentam de sangue) e, após a ingestão, defecam no local.
● O problema da infecção não é a picada do inseto, mas sim as fezes.
● Macho ou fêmea podem transmitir.
● Com a porta de entrada aberta (lesão provocada pela picada ou mucosas), a tripomastigota
penetra na célula do hospedeiro invertebrado. Se transforma na amastigota, que se divide por
divisão binária e voltam a se transformar em tripomastigota, esse tripomastigota rompe a
célula e ganha a circulação para infectar outras células.
Existem 3 gêneros de barbeiros mais comuns de estarem infectados:
➢ Tritoma sp.: cabeça alongada,, antenas implantadas próximo num ponto médio entre os olhos e
o clípeo. A espécie Triatoma infestans é a mais importante, costuma estar positiva e através
dela se tentou controlar a doença de chagas - exterminado essa espécie.
➢ Panstrongylus: cabeça robusta, curta e subtriangular, antenas implantadas próximo aos olhos.
➢ Rhodnius sp.: cabeça alongada e delgada, antenas implantadas próximo ao clípeo.
Obs 1: no Pará, o consumo do açaí desencadeou muitos casos de doença de Chagas, pois o parasita se
entocavam nas palmeiras do açaí.
Obs 2: o Trypanossoma cruzi é um parasito eurixeno - de baixa especificidade parasitária -, ou seja,
infecta diferentes espécies de animais não relacionados, exceto aves. O tatu é um dos “reservatórios”
da doença de Chagas, por viverem em tocas, e o risco está relacionado ao ato da caça do animal. Uma
espécie específica de Gambá também foi observada como vetor da doença através de suas fezes.
Morfologia

O T cruzi possui em seu ciclo biológico nos hospedeiros vertebrado e invertebrado várias formas
evolutivas:

→ Tripomastigota (FORMA INFECTANTE)


● Presente nas fezes do barbeiro
● O barbeiro se infecta quando ingere sangue contendo tripomastigota, os
humanos se infectam quando entram em contato com o tripomastigota,
seja pelo sangue ou pelas fezes do barbeiro.
● Tem a capacidade de entrar dentro da célula ativamente ou ser
fagocitada.
● Se apresenta alongada, com um núcleo central e com o cinetoplasto na extremidade posterior
do parasito, de onde sai o flagelo margeando o corpo formando uma membrana ondulante. Há
também um flagelo livre na extremidade anterior do parasito.
● No hospedeiro vertebrado: TRIPOMASTIGOTA SANGUÍNEA.
● No hospedeiro invertebrado (barbeiro): TRIPOMASTIGOTA METACÍCLICA.

→ Epimastigota (NÃO INFECTANTE)


● A tripomastigota não tem a capacidade de se dividir, para isso, ela se transforma em
epimastigota.
● Quando o barbeiro (HOSPEDEIRO INVERTEBRADO) ingere o sangue contendo
TRIPOMASTIGOTA METACÍCLICA, essa tripomastigota vai alcançar o tubo digestivo do
inseto e se transformar em EPIMASTIGOTA para conseguir se dividir.
● Depois de um certo número de divisões binárias, a epimastigota VOLTA A SER
TRIPOMASTIGOTA.
● São eliminadas tripomastigotas e epimastigotas nas fezes do inseto. Só as tripomastigotas
infectam os hospedeiros vertebrados. As epimastigotas não são
infectantes pois são destruídas pelo nosso sistema imunológico.
● Se apresenta também alongada, com um núcleo central porém com o
cinetoplasto justaposto e anterior ao núcleo. O flagelo forma uma
pequena membrana ondulante e fica livre na extremidade anterior do
parasito.

→ Amastigota
● A tripomastigota entra nas células do HOSPEDEIRO VERTEBRADO e se transforma em
AMASTIGOTA para poder se dividir. Essa amastigota passa por inúmeras divisões, até que
ela VOLTA A SER TRIPOMASTIGOTA para poder sair da célula e ganhar a circulação,
infectando novas células.
● Se apresenta arredondada, com núcleo grande, cinetoplasto anterior ao núcleo e, como é
INTRACELULAR, não precisa de flagelo livre mas possui um flagelo interno dentro de uma
bolsa flagelada. É igual a amastigota de Leishmania.

Em resumo:
➢ No hospedeiro invertebrado (barbeiro): TRIPOMASTIGOTA METACÍCLICA (infectante) e
EPIMASTIGOTA (forma de divisão).
➢ No hospedeiro vertebrado: TRIPOMASTIGOTA SANGUÍNEA (infectante) e
AMASTIGOTA (forma de divisão).

Formas de transmissão: vetorial (com a participação do barbeiro), congênita (passado de mãe para
filho), transfusão sanguínea, transplante, acidental, oral (ex: através do consumo de açaí, que foi
triturado junto com o barbeiro) e *coito (só em animais de laboratório).
Ciclo evolutivo

→ Ciclo heteroxênico (envolve dois hospedeiros - vertebrado e invertebrado) → não se utiliza a


nomenclatura “definitivo” e “intermediário” pois há reprodução assexuada nos dois.

➢ 1° passo: a infecção - pelas fezes do barbeiro


➢ 2° passo: a invasão de células (inicialmente macrófagos)
➢ 3° passo: a disseminação no hospedeiro vertebrado - pra o SNC, coração e aparelho digestivo.

Quando o tripomastigota entra na célula, ele se


transforma em amastigota, que, com o passar
dos dias, passa por várias divisões. Esse grande
número de amastigotas vão se transformar
novamente em tripomastigotas, gerando o PICO
DE PARASITEMIA (muito tripomastigota no
sangue), o que caracteriza a fase aguda da
doença de Chagas.

→ FASE AGUDA: 90% das pessoas são assintomáticas, 10% são sintomáticas (processo inflamatório
mais intenso) - fase curta. Nessa fase, é onde a droga (benzonidazol) funciona melhor, com mais de
90% de chance de cura, pois ela mata principalmente os tripomastigotas. O problema é que nessa fase,
a maioria não tem sintomas, então não se trata.

→ FASE CRÔNICA: nessa fase, a parasitemia é controlada pelo sistema imunológico (que vai estar
hiperativado). 70% das pessoas são assintomáticas → podem passar a vida inteira com a doença
controlada; ninhos de amastigota nos tecidos; ausência de parasitemia e presença de anticorpos. 30%
são sintomáticas → a doença evolui e começa a infectar outros tecidos; cardiopatia chagasi,
caracterizada pela miocardite (inflamação das células cardíacas) e megassíndromes (megaesófago;
megacólon, megaestômago, megaduodeno, megabexiga, megajejuno).
Imunossuprimidos

→ Os imunossuprimidos não conseguem


controlar o início da doença.
→ Na fase crônica, como o indivíduo não
tem imunidade, há a reagudização (ocorre
um novo tipo de parasitemia).
→ Pode ocasionar uma meningoencefalite ou
encefalite aguda e uma miocardite aguda.
→ O paciente precisa tomar benzonidazol
para sobreviver.

Diagnóstico

→ Clínico e laboratorial.
→ Laboratorial: para o diagnóstico da doença de Chagas, é necessário 1 PARASITOLÓGICO
POSITIVO ou 2 IMUNOLÓGICOS POSITIVOS (de técnicas diferentes).
● Fase aguda
➢ Parasitológico: exame de sangue a fresco e em gota espessa, esfregaço sanguíneo
(Giensa), cultura de sangue ou material de biópsia(NNN, LIT) e inoculação em
camundongo.
➢ Imunológico: RIFI, ELISA(IgM), hemaglutinação indireta
● Fase crônica
➢ Parasitológico: xenodiagnóstico, hemocultura ou inoculação em camundongos
➢ Imunológico: ELISA (IgG), RIFI (IgG), hemaglutinação Indireta
➢ Outros: LMCo (Lise mediada por complemento) e PCR (Reação em cadeia da
Polimerase)

Profilaxia/controle da Doença de Chagas

● É fundamental controlar a transmissão vetorial → erradicação de Triatoma infestans. Medidas


profiláticas e controle químico (uso regular e sistemático de inseticidas de poder residual intra
e peridomiciliar).
● Melhorar habitação, através de reboco e fechamento de rachaduras e frestas;
● Telar portas e janelas; manter limpeza periódica nas casas e em seus arredores;
● Construir galinheiro, paiol, tulha, chiqueiro, depósito afastados das casas e mantê-los limpos;
● Retirar ninhos de pássaros dos beirais das casas;
● Prevenção da transmissão transfusional: fiscalização do controle da qualidade do sangue
transfundido, o que é feito pela triagem sorológica dos doadores.
● Prevenção da transmissão em laboratório: rigoroso uso das normas de biossegurança.
● Não existe forma de prevenção da forma congênita.
● Ainda não se dispõe de vacina.

Situação atual da doença de chagas no Brasil

1. Transmissão ativa praticamente controlada;


2. Mais ou menos ainda 3-4 milhões de chagásicos crônicos;
3. Transfusional - controle de qualidade do sangue pelos bancos de sangue;
4. Reagudização da infecção por infecção concomitante com HIV ou em transplantes ou terapia
imunossupressora;
5. Tratar ou não o crônico? É decisão do médico, vai depender do paciente.

Tratamento

● Principalmente na fase aguda;


● Nitroimidazóis - Benzonidazol (Rochagan).
● Nitrofuranos - Nifurtimox (Lampit-descontinuado). Pouca sensibilidade para parasitemias
baixas. Foi banida no Brasil.

→ Contra-indicado para gestantes, porque além de não impedir a infecção congênita, as drogas podem
causar danos ao concepto.
Aula 5: Malária

● Apesar da malária ser uma doença antiga, ela ainda é a doença infecto parasitária que mais
causa morte de crianças no mundo. É prevalente em lugares com altas desigualdades
econômicas.
● Frequentemente encontrada em áreas subtropicais e tropicais, como África, américas central e
do sul, sudeste asiático e Oceania. No Brasil, a região norte, principalmente a Amazônia,
apresenta uma maior quantidade de casos registrados.
● Em 2021, foi realizada a adoção de uma vacina (mosquirix) contra a malária para crianças em
regiões com alta ocorrência da doença, como a África - só funciona para o Plasmodium
falciparum e sua eficiência é em torno de 50%.
● Os parasitos causadores de malária pertencem ao filo Apicomplexa, família Plasmodiidae e ao
gênero Plasmodium. Atualmente são conhecidas cerca de 150 espécies causadoras de malária
em diferentes hospedeiros vertebrados. Destas, apenas cinco espécies parasitam o homem:
Plasmodium falciparum, P. vivax (mais comum no Brasil), P. malariae, P. ovale (restrito à
África) e P. knowlesi (no sudoeste asiático). São parasitas intracelulares obrigatórios.
● O que difere essas 5 espécies? A periodicidade dos sintomas, que depende do tempo de
duração dos ciclos eritrocíticos de cada espécie de plasmódio: 48 horas para P. falciparum, P.
vivax e P. ovale (malária terçã) e 72 horas para P. malariae (malária quartã).

Transmissão

● O parasito é transmitido 90% das vezes através da picada do inseto vetor → fêmeas de
mosquitos Anopheles darlingi infectadas (mosquito prego).
● A forma infectante que a fêmea introduz no homem é o ESPOROZOÍTO - forma infectante do
plasmodium para o homem. Estes esporozoítos vão sofrer um processo de reprodução
assexuada, chamado de esquizogonia. A esquizogonia ocorre em duas células: primeiro no
hepatócito e depois no eritrócito.
● Essa esquizogonia sanguínea (no eritrócito) gera a lise das próprias hemácias, isso faz com
que o principal sinal da malária seja a anemia.
● As fontes de infecção humana para os mosquitos são pessoas doentes ou mesmo indivíduos
assintomáticos, que albergam formas sexuadas do parasito.
● A transmissão do Plasmodium pode ocorrer também acidentalmente através da transfusão de
sangue.
● A infecção pela via congênita raramente ocorre.

Morfologia

Os plasmódios variam em tamanho, forma e aparência, de acordo com o seu estágio de


desenvolvimento. As FORMAS EVOLUTIVAS EXTRACELULARES (esporozoítos, merozoítos e
oocinetos) possuem um complexo apical formado por organelas na extremidade anterior do parasito, o
que faz com que eles possuam a capacidade de INVADIR a célula do hospedeiro. O complexo apical
está ausente nas formas intracelulares (trofozoítos, esquizontes e gametócito).

→ Esporozoíto: é alongado, apresenta núcleo central único. Possui duas camadas de membrana, sendo
a mais externa formada por uma proteína CS, a qual participa de diversas interações no ciclo
biológico.

→ Forma exo-eritrocítica: após a penetração do esporozoíto no hepatócito, ocorre a perda das


organelas do complexo apical e o parasito se torna arredondado. Esta forma é chamada trofozoíto e
após sucessivas divisões celulares dará origem ao esquizonte tissular, composto por uma massa
citoplasmática e milhares de núcleos filhos. O número de merozoítos formados varia entre as espécies
de plasmódios humanos, mas é, em geral, acima de 10.000 parasitos.
→ Merozoíto: independente da sua origem, se pré-eritrocítica ou sanguínea, os merozoítos são células
similares e capazes de invadir somente hemácias. Estruturalmente, assemelham-se aos esporozoítos,
sendo porém menores e arredondados.

→ Formas eritrocíticas: compreendem os estágios de trofozoítos jovem, trofozoíto maduro,


esquizonte e gametócitos.

→ Microgameta e macrogameta: o microgameta é uma célula flagelada originária do processo de


exflagelação. É constituída de uma membrana que envolve o núcleo e o único flagelo. Já o
macrogameta é uma célula que apresenta uma estrutura proeminente na superfície por onde o
microgameta penetra.

→ Oocineto: forma alongada de aspecto vermiforme, móvel, contendo núcleo volumoso e excêntrico.

→ Oocisto: estrutura esférica, que apresenta grânulos pigmentados em seu interior, os quais têm
características de cor e distribuição que variam entre as espécies.

Ciclo evolutivo - Patogenia

→ Hospedeiro vertebrado:

Quando os esporozoítos presentes na saliva do mosquito Anopheles são inoculados na pele do homem,
eles vão sofrer um processo chamado de ESQUIZOGONIA. Sendo uma forma evolutiva extracelular
com complexo apical, vai ser capaz de invadir as células do hospedeiro, dando início ao CICLO
ESQUIZOGÔNICO.

1ª FASE: ESQUIZOGONIA PRÉ-ERITROCÍTICA

● A primeira célula que o esporozoíto vai invadir é o hepatócito. Dentro do hepatócito os


esporozoítos se multiplicam pelo processo de reprodução assexuada (ESQUIZOGONIA), que
formam os ESQUIZONTES (semelhante ao termo meronte).
● O esquizonte se rompe e forma vários MEROZOÍTOS. Os merozoítos, que também possuem
o complexo apical, vão entrar na segunda fase do ciclo, invadindo os eritrócitos.
● O ciclo pré-eritrocítico não é patogênico e não determina sintomas.
2ª FASE: ESQUIZOGONIA ERITROCÍTICA

● Os merozoítos invadem os eritrócitos e vão sofrer uma nova esquizogonia, se diferenciando


em TROFOZOÍTOS jovens que depois evoluem para trofozoítos maduros.
● Nova esquizogonia forma esquizontes, com consequente formação de merozoítos que
invadirão novos eritrócitos.
● Depois de algumas gerações de merozoítos sanguíneos, ocorre a diferenciação em estágios
sexuados, os GAMETÓCITOS, que não mais se dividem e que seguirão o seu
desenvolvimento no mosquito vetor, dando origem aos esporozoítos.

→ Hospedeiro invertebrado (DEFINITIVO)

● A fêmea do mosquito Anopheles ingere as formas sanguíneas do parasito, mas somente os


GAMETÓCITOS serão capazes de evoluir no inseto, dando origem ao CICLO SEXUADO
OU ESPOROGÔNICO.
● No intestino médio do mosquito vai haver o processo de gametogênese (gametócitos se
transformam em gametas extracelulares) poucos minutos após a ingestão do sangue.
● O gametócito feminino transforma-se em MACROGAMETA e o gametócito masculino dá
origem a oito MICROGAMETAS.
● Um microgameta fecundará um macrogameta, formando o ovo ou zigoto. O zigoto passa a
movimentar-se por contrações do corpo, sendo denominado OOCINETO. Este possui
complexo apical e invade a parede do intestino do mosquito, onde se encista na camada
epitelial do órgão, passando a ser chamado OOCISTO.
● Inicia-se então o processo de divisão esporogônica dentro dos oocistos, depois vai ocorrer a
ruptura da parede do oocisto, sendo liberados os esporozoítos formados durante a
ESPOROGONIA.
● Estes serão disseminados por todo o corpo do inseto através da hemolinfa até atingir as células
das glândulas salivares. Estes esporozoítos serão injetados no hospedeiro vertebrado
juntamente com a saliva, durante o repasto sanguíneo infectante.

→ O quadro de anemia provocado na malária é decorrente da hemólise das hemácias. Essas hemácias
destruídas precisam ser retiradas da circulação, por isso, a medula óssea começa a produzir leucócitos
para realizarem a fagocitose. Se esperaria que a medula óssea produzisse mais células vermelhas, mas
ela não produz, pois essas células seriam cada vez mais infectadas. Ou seja, além da hemólise, a
produção das hemácias é menor, por isso há uma anemia mais grave nesses pacientes.

Malária cerebral:

● Surge decorrente de alterações na membrana da hemácia quando ela está infectada por
Plasmodium falciparum. Protuberâncias do parasito são expostas na membrana das hemácias,
que começam a se agregar, tornando o fluxo de sangue mais lento, impedindo a chegada do
sangue no cérebro, gerando uma anóxia.
● Durante o desenvolvimento esquizogônico sanguíneo, o P. falciparum induz uma série de
modificações na superfície da célula parasitada, que permitem a sua adesão à parede endotelial
dos capilares. Este fenômeno de citoaderência é mediado por proteínas do parasito expressas
na superfície dos eritrócitos infectados, formando protuberâncias ou knobs. A TNF-alfa e
outras citocinas podem estimular a expressão de moléculas de adesão, principalmente ICAM-1
nos capilares cerebrais. A citoaderência endotelial ocorre principalmente nas vênulas de
órgãos vitais (cérebro, coração, fígado, rins, intestino). Dependendo da intensidade, podem
levar a obstrução da microcirculação e redução do fluxo de oxigênio. São alvos dessa agressão
o cérebro, os rins e o fígado, cujos danos são responsáveis pelas complicações de malária
cerebral, insuficiência renal aguda e hepatite, comuns nos quadros de malária grave.
Hepatoesplenomegalia: aumenta a chegada de células do sistema fagocitico mononuclear (como os
macrofagos) principalmente no fígado e no baço.

Diagnóstico

● Clínico: os sintomas da malária são inespecíficos, não se prestando a distinção entre a malária
e outras infecções agudas do homem. Em áreas endêmicas, sempre se deve suspeitar da
possibilidade da doença a partir de sintomas como febre.
● Laboratorial: pesquisa do parasito no sangue periférico, pelo método da gota espessa ou pelo
esfregaço sanguíneo. Estes são os únicos métodos que permitem a diferenciação específica dos
parasitos a partir da análise da sua morfologia e alterações provocadas no eritrócito infectado.

Tratamento

● O tratamento visa a interrupção da esquizogonia sanguínea, a erradicação de formas latentes


do parasito no ciclo tecidual (hipnozoítos) das espécies P. vivax e P. ovale e a interrupção da
transmissão.
● Antes do surgimento da resistência do P falciparum a cloroquina, esta droga era utilizada para
as quatro espécies de plasmódios que parasitam o homem. Hoje, além da cloroquina, o P
falciparum apresenta resistência a diversos outros antimaláricos.

Drogas anti-maláricas:
● P. falciparum:
➢ Quinina (ECIDA hem rápido) + Doxiciclina (ECIDA tec lento)
➢ Mefloquina (ECIDA hem rápido)
➢ Artesunato (ECIDA hem rápido) + Doxiciclina*
● P. vivax:
➢ Cloroquina (ECIDA hem, GCIDA)
➢ Primaquina* (ECIDA tec, GCIDA)
● P. malariae:
➢ Cloroquina: tratar as malárias benignas, é ativa contra as formas sanguíneas e
gametócitos e de baixa toxicidade. Único usado em gestantes (a quinina também pode
ser usada em últimos casos com a clindamicina).

Profilaxia: a profilaxia da malária pode ser feita em níveis individual e coletivo.


Aula 6: Toxoplasmose

● A toxoplasmose é uma zoonose e a infecção é muito frequente em várias espécies de animais:


mamíferos e aves.
● O gato e alguns outros felinos são os hospedeiros definitivos (pois é no intestino desses
animais que o parasito passa pela reprodução assexuada e sexuada) e o homem e os outros
animais são os hospedeiros intermediários.
● O Toxoplasma gondii é um protozoário de distribuição geográfica mundial. No entanto, os
casos de doença clínica são menos frequentes. Nestes, a forma mais grave é encontrada em
crianças recém-nascidas e em pacientes imunocomprometidos.
● O parasito é intracelular obrigatório (tem mais afinidade pelos macrófagos e leucócitos e não
invade as hemácias).
● Desenvolve um processo ativo de endocitose (ficam dentro de uma membrana cística na célula
para “driblar” a imunidade do hospedeiro)
● Tem maior afinidade pelo cérebro, retina, rins e pulmões.

Morfologia

O T. gondii apresenta uma morfologia múltipla, dependendo do hábitat e do estágio evolutivo. As


formas infectantes que o parasito apresenta durante o ciclo biológico são: taquizoítos, bradizoítos e
oocistos (contendo esporozoítos).
O parasito entra na célula hospedeira inicialmente pela adesão do seu complexo apical na membrana
da célula hospedeira e, na sequência, secreta proteínas que formarão o vacúolo parasitário. Uma vez o
parasito estando dentro da célula, a membrana do hospedeiro é selada. O vacúolo parasitóforo é
derivado da membrana celular do hospedeiro invaginado. A membrana é permeável a moléculas
pequenas, tornando a composição iônica do vacúolo semelhante à do citoplasma da célula hospedeira,
o que torna esse compartimento metabolicamente ativo para o crescimento do parasito.

→ Taquizoíto:
● É a forma encontrada na fase aguda (sendo também chamada de forma proliferativa).
● É nessa fase que é possível tratar o paciente.
● Tem aspecto de arco, meia lua ou banana com uma das extremidades mais finas e a outra mais
arredondada, com o núcleo em posição mais ou menos central.
● Apresenta o complexo apical na parte mais fina do parasito.
● Forma móvel, de multiplicação rápida (por um processo denominado endodiogenia).

→ Bradizoíto:
● É a forma encontrada em vários tecidos (musculares esqueléticos e cardíacos, nervoso, retina),
durante a fase crônica da infecção.
● Nessa fase, não é possível tratar o paciente.
● São semelhantes aos taquizoítos, porém, são mais achatados.
● Dentro dos tecidos, formam os cistos.
● Se multiplicam lentamente dentro do cisto por endodiogenia ou endopoligenia.
● São resistentes à tripsina e pepsina podendo permanecer viáveis nos tecidos por anos.

→ Oocisto:
● É a forma de resistência que possui uma parede dupla bastante
resistente às condições do meio ambiente.
● Os oocistos são produzidos nas células intestinais de felinos
não-imunes e eliminados imaturos (não esporulados) junto com as
fezes.
● Os oocistos são esféricos e após esporulação no meio ambiente
contêm dois esporocistos, com quatro esporozoítos cada → aí sim se tornam infectantes.
Transmissão: ingestão de oocistos presentes em alimento ou água contaminadas, ingestão de cistos
encontrados em carne crua ou malcozida, especialmente do porco e de carneiro, transmissão congênita
(transplacentária e por meio do rompimento de cistos no endométrio).

Ciclo biológico

O ciclo biológico do T. gondii desenvolve-se em duas fases distintas:


➢ Fase Assexuada (por endodiogenia ou endopoligenia): nos linfonodos e nos tecidos de vários
hospedeiros (inclusive gatos e outros felinos)
➢ Fase Coccidiana ou Sexuada: nas células do epitélio intestinal de gatos jovens (e outros
felinos) não-imunes.

Desta forma, T. gondii apresenta um ciclo heteroxeno, no qual os gatos são considerados
hospedeiros definitivos por possuírem um ciclo sexuado dentro do vacúolo parasitóforo do
citoplasma, nas células epiteliais do intestino e um ciclo assexuado ocorrendo em outros tecidos. O
homem e outros mamíferos e aves possuem apenas o ciclo assexuado, por isso, são considerados os
hospedeiros intermediários.

→ O gato defeca no solo, os oocistos liberados no meio ambiente esporulam em até 5 dias,
contaminando vegetais, frutas e outros animais, incluindo o homem. Um hospedeiro suscetível ingere
oocistos maduros contendo esporozoítos (encontrados em alimentos ou água contaminada) ou cistos
contendo bradizoítos encontrados na carne crua, adquire o parasito e desenvolve a fase assexuada. Os
oocistos se transformam em taquizoítos dentro dos hospedeiros intermediários e, nos tecidos, se
transformam em cistos contendo bradizoítos.

Toxoplasmose congênita ou pré-natal:


● A transmissão congênita é frequentemente a mais grave.
● Para que haja uma toxoplasmose congênita é necessário que a mãe esteja na fase aguda da
doença ou tenha havido uma reagudização da mesma durante a gravidez.
● As gestantes na fase aguda (ou reagudizada) da doença podem abortar o feto, produzir partos
precoces ou a termo, dando origem a crianças sadias ou apresentando anomalias graves e até
mesmo levar à morte.
● No primeiro trimestre da gestação: aborto em praticamente 100% dos casos.
● No segundo trimestre da gestação: aborto ou nascimento prematuro, podendo a criança
apresentar-se normal ou já com anomalias graves, típicas.
● Terceiro trimestre da gestação: a criança pode nascer normal e apresentar evidências da
doença alguns dias, semanas ou meses após o parto.
Toxoplasmose pós-natal:
● Dependendo da virulência da cepa, estado de imunidade da pessoa etc, a toxoplasmose
pós-natal pode apresentar desde casos assintomáticos (a grande maioria) até casos de morte.

Toxoplasmose em imunossuprimidos:
● Extremamente grave, a toxoplasmose em imunossuprimidos é uma doença oportunista - ativa
o parasitas.
● Pode levar à morte.

Imunidade
● Os mecanismos imunes celulares são responsáveis pela destruição dos taquizoítos
extracelulares. Daí na fase crônica só persistem os bradizoítos.
● A imunidade adquirida é a mais importante na defesa contra o toxoplasma, tanto para destruir
as células parasitadas quanto para fazer com que os cistos do toxoplasma não se multipliquem
tão invasivamente de forma que o parasito conviva com o hospedeiro sem causar danos. É
mediada por linfócitos T, que atuam nos mecanismos de defesa contra os microrganismos que
sobrevivem nas células infectadas.
➢ Imunidade humoral: IgM (recém-nascidos produzem indicando infecção), IgG (curta
duração) e IgA (infecção via oral).
➢ Imunidade celular: quando ocorre a invasão dos macrófagos estimulando a IL-12 que
ativa as células NK produzindo IFN-Y e TNF que medeiam a morte de taquizoítos.

Diagnóstico

→ Clínico: não recomendado.


→ Laboratorial: fase aguda (líquido amniótico, sangue para esfregaço, centrifugação, coloração com
Giemsa e análise por microscopia ou PCR.) e fase crônica (biópsia tecidual para inoculação em
camundongos ou diagnóstico histopatológico).
→ Sorológicos ou imunológicos: teste do corante ou reação de Sabin Feldman (RSF),
imunofluorescência indireta (RIF), hemaglutinação indireta (HÁ), ELISA, imunoblot. Os mais usados
são: RIF e ELISA (detecção de IgM na fase aguda e IgG na fase crônica).
➢ São utilizadas técnicas não para identificar o parasita, mas sim a resposta do hospedeiro
quando infectado pelo toxoplasma.

Tratamento
● Ainda não existe um medicamento eficaz contra a toxoplasmose na fase crônica da infecção.
As drogas utilizadas atuam contra taquizoítos, mas não contra os cistos.
● Medicamentos: associação de pirimetamina com a sulfadiazina ou a sulfadoxina - antibióticos.
● Intolerância à sulfa: utiliza-se a clindamicina.
● Em gestantes: espiramicina.

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