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HOSPITAL GERAL ROBERTO SANTOS

SERVIÇO DE PEDIATRIA
ALEITAMENTO MATERNO
Adriana Silva

O incentivo e o apoio ao aleitamento materno devem ocorrer no pré-


natal, na sala de parto, no alojamento conjunto e após a alta hospitalar, bem
como nas unidades de alto risco que atendem o recém-nascido. Desde 1990,
com o objetivo de desenvolver mecanismos e ações de proteção, promoção e
apoio ao aleitamento materno, foram definidos os “dez passos para o sucesso
do aleitamento materno”, descritos na Iniciativa Hospital Amigo da Criança
(IHAC). Eles visam às modificações de rotinas hospitalares e à mobilização de
profissionais de saúde envolvidos, direta ou indiretamente, nos cuidados da
díade mãe-bebê.
1. Ter uma norma escrita sobre aleitamento, que deveria ser
rotineiramente transmitida a toda a equipe de cuidados de saúde.
2. Treinar toda a equipe de saúde, capacitando-a para implementar essa
norma.
3. Informar todas as gestantes sobre as vantagens e o manejo do
aleitamento.
4. Ajudar as mães a iniciar o aleitamento na primeira meia hora após o
nascimento.
5. Mostrar às mães como amamentar e manter a lactação mesmo se
vierem a ser separadas de seus filhos.
6. Não dar a recém-nascidos nenhum outro alimento ou bebida além do
leite materno, a não ser que tal procedimento seja indicado pelo médico.
7. Praticar o alojamento conjunto – ou seja, permitir que mães e bebês
permaneçam juntos – 24 horas por dia.
8. Encorajar o aleitamento sob livre demanda.
9. Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas ao seio.
10. Encorajar o estabelecimento de grupos de apoio ao aleitamento, aos
quais as mães deverão ser encaminhadas por ocasião da alta do hospital ou
ambulatório.

DEFINIÇÕES

É fundamental que haja uma uniformização com relação às definições


dos diversos padrões de aleitamento materno. Em 1991, a OMS estabeleceu
indicadores bem definidos de aleitamento materno, que têm sido utilizados no
mundo inteiro. São as seguintes as categorias de aleitamento materno
reconhecidas:
– Aleitamento materno exclusivo: a criança recebe somente leite
humano de sua mãe, ou leite humano ordenhado, sem outros líquidos ou
sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, suplementos
minerais ou medicamentos;
– Aleitamento materno predominante: a fonte predominante de nutrição
da criança é o leite humano. No entanto, a criança pode receber água ou
bebidas à base de água (água adocicada, chás, infusões), sucos de frutas,
solução de sais de reidratação oral, gotas ou xaropes de vitaminas, minerais e
medicamentos (em quantidades limitadas).
– Aleitamento materno: a criança recebe leite humano (direto da mama
ou ordenhado);
– Aleitamento materno complementado: a criança recebe leite materno e
outros alimentos sólidos, semi-sólidos ou líquidos, incluindo leites não
humanos.
As categorias aleitamento materno exclusivo e aleitamento materno
predominante, juntas formam a categoria, na língua inglesa, full breastfeeding,
ainda sem tradução consensual para o português.

POR QUE AMAMENTAR?

Vantagens para a criança (Afirmações baseadas em estudos):


 As crianças que mamam no peito são mais inteligentes.
 Na amamentação, o contato físico é maior e proporciona a mãe e
bebê um momento de proximidade diária. Essa ligação emocional muito
forte e precoce pode facilitar o desenvolvimento da criança e seu
relacionamento com outras pessoas. Mesmo com boas intenções, pais que
dão mamadeira têm a tendência de deixar a criança se alimentando
sozinhas (especialmente os bebês maiores), além da falta de contato físico,
a criança pode se engasgar ou ter outros problemas.
 O desenvolvimento psicomotor e social dos bebês amamentados
são claramente melhores
 Leite materno contém endorfina, substância química que ajuda a
suprimir a dor. É uma boa idéia amamentar o bebê logo após ele ser
vacinado. Ajuda a superar a dor e o leite materno também reforça a
eficiência da vacina.
 O leite materno contém todos os nutrientes de que a criança
precisa nos primeiros seis meses de vida. Mesmo em climas quentes, não é
necessário administrar nem mesmo água.
 O leite materno é facilmente digerido e absorvido. A criança em
aleitamento materno exclusivo pode querer uma nova mamada em intervalo
menor do que aquela que está tomando mamadeira.
 A introdução de leites de vaca muito cedo aumenta o risco de a
criança desenvolver diabete do tipo I (juvenil, insulina-dependente) e
obesidade.
 Crianças em aleitamento materno exclusivo têm menos
quadros infecciosos porque o leite materno é estéril, isento de bactérias
e contém fatores anti-infecciosos que incluem: leucócitos, anticorpos,
fator bífido (substância que facilita o crescimento de uma bactéria
especial - Lactobacíllus bifidus - no intestino da criança; essa bactéria
impede que outras cresçam e causem diarreia); Lactoferrina, que se
associa ao ferro impede o crescimento de bactérias patogênicas que
precisam deste nutriente.
 Nos bebês, o ato de sugar o seio é importante para o
desenvolvimento das mandíbulas. Bebês que mamam têm de usar 60
vezes mais energia para conseguir o alimento que aqueles que tomam a
mamadeira.
 Dificuldades de fala e com a língua são freqüentes em
bebês alimentados com mamadeira porque eles tentam fazer com que o
leite flua de um bico artificial.
 Crianças alimentadas com mamadeira têm maiores riscos
de desenvolver alergias. Essa questão é particularmente importante no
caso de famílias com histórico de asma e outras doenças alérgicas.
 Otite média é 3-4 vezes mais comum entre as crianças
alimentadas com mamadeira que as alimentadas ao seio.
 Crianças alimentadas artificialmente têm maiores riscos de
desenvolver certos linfomas. Bebês prematuros são especialmente
beneficiados com a amamentação. O leite produzido pelas mulheres que
tiveram bebês prematuros são diferentes do leite das mulheres que
tiveram toda a gestação. Especificamente, durante o primeiro mês pós-
parto, o leite de mães de bebês prematuros mantém a composição
similar ao colostro - que é um leite muito mais forte.
 Os bebês amamentados têm menores riscos de contrair
enterecolite necrotizante.
 As crianças amamentadas tiveram menos risco de contrair
artrite juvenil.
 A falta de amamentação está sendo associada com o
aumento na incidência de esclerose múltipla.
 Amamentação protege o bebê contra problemas de visão.
Um estudo em Bangladdesh mostrou que a amamentação foi um fator
importante de proteção para cegueira noturna entre crianças na idade
pré-escolar nas áreas rurais e urbanas. O leite materno é, em geral, a
maior, se não única, fonte de vitamina A nos primeiros 24 meses de vida
(ou durante o período de amamentação).
 Leite materno não contém materiais modificados
geneticamente. A maioria dos consumidores não sabe o que está
comendo e cada vez mais se utiliza transgênicos, que não estão sendo
devidamente controlados no Brasil.

Vantagens para a mãe


 A mãe que amamenta se sente mais segura e menos
ansiosa.
 Proporciona mais rapidez na diminuição do volume do
útero e evita a hemorragia no pós-parto, uma das principais causas de
mortalidade materna, no Brasil. A amamentação estimula a produção de
occitocina, que estimula as contrações que vão diminuir o tamanho do
útero e expulsar a placenta. Essas contrações também agem nos vasos
sanguíneos da mulher diminuindo o sangramento.
 A mulher que amamenta tem menos risco de contrair
câncer de mama
 A amamentação exclusiva protege contra anemia
(deficiência de ferro). Já que as mulheres amamentando exclusivamente
demoram mais tempo para menstruar, seu "estoque" de ferro não é
diminuído com sangramento mensal;
 A amamentação diminui o risco de osteoporose na vida
madura. A incidência de mulheres com osteoporose não amamentaram
foi 4 vezes maior.
 Amamentação diminui a necessidade de insulina entre as
mulheres que estão dando o seio ao bebê. A redução na dose de
insulina no pós-parto foi significante maior entre as mulheres que
amamentavam do que as que davam mamadeira.
 A amamentação estabiliza o progresso de endometriose
materna. Não amamentar aumenta o risco de desenvolver câncer de
ovário e câncer endometrial.
 Pode ajudar a espaçar o intervalo das gestações
 Amamentar ajuda a mulher voltar ao peso normal mais
rapidamente;
 O leite materno está sempre na temperatura ideal, não
precisa se preocupar se está frio ou vai queimar a boquinha do neném!
Além disso, nunca azeda ou estraga na mama.

Vantagens para a família


 A amamentação é mais econômica para a família. No
Brasil, um bebê pode custar metade de um salário mínimo por mês
(incluindo mamadeiras, bicos, leites infantis, complemento, gás,
remédios etc.);
 Como os bebês amamentados adoecem menos, os pais
desses bebês têm menos problemas cuidando de crianças doentes, isso
significa mais tempo para toda a família.
O PAPEL DO PAI NA AMAMENTAÇÃO
É necessário que os pais dêem apoio psicológico e assistência às mães.
Estudos efetuados provou-se ser o pai uma figura importante para a prática do
aleitamento materno. No entanto, muitos pais não sabem de que maneira
podem apoiar as mães, provavelmente devido à falta de preparação. O
profissional de saúde deve dar atenção ao novo pai e estimulá-lo a participar
neste período vital para a família.
Além dos pais, os profissionais de saúde devem tentar envolver as
pessoas que têm uma participação importante no dia-a-dia das mães e das
crianças, como avós, familiares, etc.
Pesquisas revelaram que é fundamental para a vida da criança que seu
nascimento seja desejado; sentir-se filho do pai é tão primordial para o
desenvolvimento do indivíduo como o próprio fato de sê-lo.
O papel do pai nos primeiros três meses é indireto, porém muito
importante para que a mãe proporcione segurança ao bebê. Durante as
primeiras semanas, quando a mãe e o bebê estão lutando para se conhecer,
para se adaptarem um ao outro, a atitude do pai pode ser de grande ajuda.
Como? Participando de algumas de suas ansiedades, ele poderá lhe dar o
apoio de que ela talvez esteja precisando para enfrentar uma situação difícil,
ajudando-a a ver as coisas com mais clareza.

COMPOSIÇÃO DO LEITE MATERNO

O leite materno é um líquido rico em gordura, minerais, vitaminas,


enzimas e imunoglobulinas que protegem contra doenças. Apesar de o leite
maduro ser formado em 87% por água, os restantes 13% são uma poderosa
combinação de elementos, fundamentais para o crescimento e
desenvolvimento da criança.
Recém-nascidos perdem 25% do calor do seu corpo através da
evaporação de água dos seus pulmões e pele. A maioria dos recém-nascidos
vai mamar entre 9 e 11 vezes por dia, mantendo, facilmente, o equilíbrio de
fluidos no corpo. A gordura no leite humano proporciona uma fonte de energia
para seu crescimento e desenvolvimento, proporciona o colesterol necessário e
ácidos essenciais de gordura. O leite materno é rico em ácidos graxos
insaturados de cadeia longa, importante para o desenvolvimento e mielinização
do cérebro. Ácido aracdônico e linoléico, gorduras poliinsaturadas, existem em
maiores concentrações no leite humano do que no leite de vaca, ambos
importantes na síntese de prostaglândinas.
As proteínas do leite humanas são estruturais e qualitativamente
diferentes das do leite de vaca. Do conteúdo protéico do leite humano 80% é
lactoalbumina, enquanto que no leite de vaca essa proporção é de caseína. A
relação proteínas do soro / caseína do leite humano é aproximadamente 80/20,
a do leite bovino é 20/80. A baixa concentração de caseína no leite humano
resulta na formação de coalho gástrico mais leve, com flóculos de mais fácil
digestão e com reduzido tempo de esvaziamento gástrico.
O leite humano contém, também, diferentemente do leite de vaca,
maiores concentrações de aminoácidos essenciais de alto valor biológico
(cistina e taurina) que são fundamentais ao crescimento do sistema nervoso
central. Isso é particularmente importante para o prematuro, que não consegue
sintetizá-los a partir de outros aminoácidos por deficiência enzimática.
O principal carboidrato é a lactose mais de 30 açúcares já foram
identificados no leite humano, como a galactose, frutose e outros
oligossacarídeos. A concentração de lactose é de 4% no colostro e de até 7%
no leite maduro. A lactose facilita a absorção de cálcio e ferro e promove a
colonização intestinal com Lactobacillus bifidus.
O leite materno nem sempre tem exatamente a mesma composição. Há
algumas modificações importantes e normais. A composição do leite também
apresenta pequenas variações com a alimentação da mãe, mas essas
alterações raramente têm algum significado.

Colostro:
Propriedade Importância

Rico em anticorpos Protege contra infecções e alergias.

Muitos leucócitos Protege contra infecções.

Laxante Expulsa o mecônio, ajuda a prevenir a icterícia.

Acelera a maturação intestinal, previne alergia


Fatores de crescimento
e intolerância.

Reduz a gravidade de algumas infecções


Rico em vitamina A (como sarampo e diarréia); previne doenças oculares
causadas por deficiência de vitamina A.
Nos primeiros dias depois do parto as mamas secretam colostro. O
colostro é amarelo e mais grosso que o leite maduro e é secretado apenas em
pequenas quantidades. Mas isto é suficiente para uma criança normal e é
exatamente aquilo de que precisa para os primeiros dias. Contém mais
anticorpos e mais células brancas que o leite maduro. Dá à primeira
“imunização” para proteger a criança contra a maior parte das bactérias e vírus.
O colostro é também rico em fatores de crescimento que estimulam o
intestino imaturo da criança a se desenvolver. O fator de crescimento prepara o
intestino para diferir e absorver o leite maduro e impede a absorção de
proteínas não digeridas. Se a criança recebe leite de vaca ou outro alimento
antes de receber o colostro, estes alimentos podem lesar o intestino e causar
alergias.
O colostro é laxativo e auxilia a eliminação do mecônio (primeiras fezes
muito escuras). Isto ajuda a evitar a icterícia.
O colostro é exatamente o que a criança precisa nos primeiros dias!

LEITE MADURO

Em uma ou duas semanas, o leite aumenta em quantidade e muda seu


aspecto e composição. Este é o leite maduro que contém todos os nutrientes
que a criança precisa para crescer. O leite materno maduro parece mais ralo
que o leite de vaca, o que faz com que muitas mães pensem que seu leite é
fraco. É importante esclarecer que esta aparência aguada é normal e que o
leite materno fornece água suficiente, mesmo em climas muito quentes.
Leite do começo e leite do fim: O leite materno é tão complexo e
impossível de ser imitado, que sua composição muda até mesmo durante a
mesma mamada!
Leite do Começo: O leite do começo surge no início da mamada.
Parece acinzentado e aguado. É rico em proteína, lactose, vitaminas, minerais
e água.
Leite do Fim: O leite que surge no final da mamada parece mais branco
do que o leite do começo porque contém mais gordura. A gordura torna o leite
do fim mais rico em energia. Fornece mais da metade da energia do leite
materno.
A criança precisa tanto do leite do começo quanto do fim para crescer e
se desenvolver. É importante deixar que ela pare espontaneamente de mamar.
A interrupção da mamada pode fazer com que receba pequena quantidade de
leite do fim (e, conseqüentemente, menos gordura).

Tabela com os Principais Componentes Imunológicos do Leite


Materno
Componentes Mecanismo

IgA Secretora Impermeabilização antisséptica das mucosas (digestiva,


respiratória, urinária).
Lactoferrina Ação Bacteriostática (retirada de ferro).

Lisozima Ação bactericida (Lise das bactérias).

Macrófagos Fagocitose (engloba as bactérias).

Fator bífido Lactobacilos – ácidos orgânicos: bactericida.

O leite de vaca, também contém fatores imunológicos de ótima


qualidade, mas para o bezerro. Esses fatores só funcionam para a própria
espécie, ou seja, não vale de um animal para outro de espécie diferente.
Contudo, alguns desses fatores até poderiam funcionar, mas eles são
destruídos pela armazenagem e pela fervura do leite.

Tabela de Comparação do leite materno com outros leites

Leite Humano Leite Animal Leites


artificiais
Proprieda
des Anti- Presente Ausente Ausente
infecciosas

Fatores
Presente Ausente Ausente
de Crescimento

Quantidade
Excesso, difícil Parcialmente
Proteína adequada, fácil de
de digerir. modificado
digerir.

Suficiente em Deficiente em Deficiente em


ácidos graxos ácidos graxos ácidos graxos
Lipídeos
essenciais, lipase para essenciais, não essenciais, não
digestão. apresenta lipase apresenta lipase

Quantidade Parcialmente
Minerais Em excesso
correta correto
Pouca Pouca
Adicionado, mal
Ferro quantidade, bem quantidade, mal
absorvido.
absorvido. absorvido.

Vitamina Quantidade Deficiente A e Vitaminas


s suficiente C adicionadas

Necessário Necessário
Água Suficiente
extra extra

De: OMS/CDR/93.6

Leite de Leite de
Nutriente Leite
mães de mães de crianças
Colostro maduro
(1- 5 dias) pré-termo
Calorias
58 70 67
(Kcal)
Carbohidrato
5,3 7,3 6,4
s (g)
Proteínas (g) 2,3 0,9 1,9
Gorduras (g) 2,9 4,2 3,8
Cálcio (mg) 23 28 28
Fósforo (mg) 14 15 15
Magnésio
3,4 3,0 3,0
(mg)
Sódio (mg) 48 15 32
Potássio
74 58 69
(mg)
Cloro (mg) 91 40 54
Ferro (mg) 0,08 0,08 0,1
Zinco (mcg) 540 166 375
Cobre (mcg) 46 35 52
Vitamina A
89 47 13
(mcg)
Vitamina C
4,4 4,0 4,2
(mg)
Vitamina D
- 0,04 005
(mcg)
Vitamina K
0,23 0,21 1,5
(mcg)
Tiamina
- 15 16
(mcg)
Riboflavina
25 35 36
(mcg)
Niacina (mcg) 75 200 147
Vitamina B6
12 28 10
(mcg)
Vitamina
200 26 -
B12(ng)
Ácido fólico
- - 5,2
(mcg)
Ácido
183 225 184
Pantotênico (mg)
Fonte: Riordan e Auerbach.
A TÉCNICA DA AMAMENTAÇÃO

Uma boa técnica de amamentação é indispensável para o seu sucesso,


uma vez que previne o trauma nos mamilos e garante a retirada efetiva do leite
pela criança. O bebê deve ser amamentado numa posição que seja confortável
para ele e para a mãe, que não interfira com a sua capacidade de abocanhar o
tecido mamário suficiente, de retirar o leite efetivamente, assim como de
deglutir e respirar livremente. A mãe deve estar relaxada e segurar o bebê
completamente voltado para si. Estudos com cinerradiografias e ultra-som
mostram que é importante a criança abocanhar cerca de 2cm do tecido
mamário além do mamilo para que a amamentação seja eficiente. A criança
que não abocanha uma porção adequada da auréola tende a causar trauma
nos mamilos e pode não ganhar peso adequadamente, apesar de permanecer
longo tempo no peito. As mamadas ineficazes dificultam a manutenção da
produção adequada de leite, e uma má estimulação do mamilo pode diminuir o
reflexo da saída do leite.
O bebê que pega incorretamente no peito é capaz de obter o chamado
leite anterior, mas tem dificuldade de retirar o leite posterior, mais nutritivo e
rico em gorduras. Os lábios do bebê devem ficar levemente voltados para fora,
se os lábios estão apertados indicam que ele não conseguiu pegar em todo o
tecido suficiente. É importante enfatizar que quando a criança é amamentada
numa posição correta e tem uma pega boa, a mãe não sente dor.
Quando a mama está muito cheia ou ingurgitada, o bebê não consegue
abocanhar adequadamente a auréola. Em tais casos, recomenda-se, antes da
mamada, a expressão manual da auréola ingurgitada.

Prevenção de fissuras:
As fissuras de mamilo são muito comuns e bastante dolorosas, podendo
culminar com a interrupção da amamentação. Todas as mulheres que
amamentam devem ser orientadas quanto à sua prevenção:
-Técnica correta de amamentação.
-Manter os mamilos sempre secos.
-Introduzir o dedo na boca do recém-nascido quando houver
necessidade de interromper a mamada.
-Evitar o ingurgitamento mamário por meio de mamadas
frequentes e expressão manual (ou por bomba de sucção) das mamas,
quando necessário.

Técnica correta de amamentação:


01. Roupas da mãe e do bebê adequadas, sem restringir
movimentos.
02. Mãe confortavelmente posicionada, bem apoiada, não curvada.
03. Corpo do bebê todo voltado para a mãe, o apoio do bebê deve ser
feito nos ombros e não na cabeça, que deve permanecer livre para inclinar-
se para trás.
04. Braço inferior do bebê ao redor da cintura da mãe, corpo flectido
sobre ela, quadris firmes, pescoço levemente estendido.
05. Bebê ao mesmo nível da mama, sustentada por fralda se
necessário, boca centrada em frente ao mamilo.
06. Comprimir a mama suavemente enquanto o bebé abocanha, entre
polegar e indicador, atrás da auréola, não entre indicador e dedo médio.
07. Encorajar abertura grande da boca, língua bem abaixada,
estimulando o lábio inferior com o mamilo; repetir até conseguir boa
abertura da boca.
08. Levar o bebê ao peito, não o peito ao bebê; tórax com tórax.
09. O bebê deve abocanhar uma boa porção da mama além do
mamilo.
10. Verificar se o queixo está bem de encontro à mama.
11. O bebê mantém a boca ampla colada na mama, lábios não
apertados.
12. Lábios do bebê curvados para fora, não enrolados.
13. Língua do bebê sobre a gengiva inferior, algumas vezes visível.
Verificar voltando-se suavemente o lábio inferior para baixo.
14. O bebê deve manter-se fixo sem escorregar ou largar o mamilo.
15. A mama não deve parecer esticada ou deformada.
16. Frequência rápida de sucção (>2 por segundo), caindo para cerca
de 1 por segundo, pois o volume de leite por sucção aumenta após o reflexo
da saída; pausas ocasionais; maior irregularidade no final da mamada.
17. Bochechas do bebê não se encovam a cada sucção; não deve
haver ruídos da língua; a deglutição, entretanto, pode ser barulhenta.
18. Bebê mamando activamente trabalha pesadamente mandíbulas e
frequentemente toda a cabeça se move; orelhas podem mexer-se.
19. Logo depois que o bebê larga a mama, o mamilo parecerá
alongado; o trauma é indicado por mamilo com estrias vermelhas ou áreas
esbranquiçadas ou achatadas.
20. Amamentação com posicionamento e pega bons não deverá doer.

Como retirar o leite materno


Retirada de Leite Manual
A melhor forma de retirar leite do seio é usando as próprias mãos. É
prático, barato e não machuca os seios. O uso de bombas manuais pode
prejudicar a amamentação. São várias as razões para a retirada do leite:
 Dar ao bebê, quando não estiver com a mãe;
 Aumentar a produção de leite;
 Prevenir ou aliviar a congestão mamária.
Algumas mães sentem dificuldade de ordenhar seu leite, mesmo quando
seus filhos são capazes de mamar todo o leite que necessitam. Não se deve
avaliar a produção de leite pela quantidade que se pode extrair. Muitas são as
razões para se ter dificuldade na retirada do leite, mas, principalmente, o
aspecto psicológico interfere na descida do leite.

Como retirar o leite:


 Antes de começar, lave bem as mãos;
 Se possível, ordenhe o leite em um local silencioso e
tranqüilo. Imagine-se num local agradável e tenha bons pensamentos
em relação a seu filho. Sua capacidade de relaxar se ajudará a obter um
melhor reflexo de ejeção de leite;
 Aplique compressas mornas nos seios por 3-5 minutos
antes de iniciar a ordenha.
 Faça uma massagem circular seguida de outra de trás para
frente até o mamilo.
 Estimule suavemente os mamilos estirando-os ou rodando-
os entre os dedos.
 Extraia o leite e despreze os primeiros jorros de leite de
cada lado.
 Ordenhe o leite para um recipiente limpo de plástico duro
ou vidro.
 Coloque o polegar sobre a mama, onde termina a aréola e
os outros dedos por debaixo também, na borda da aréola.

 Coloque a aréola entre o polegar e os outros dedos e


pressione para dentro, na direção da parede torácica. (Figura 2).

 Pressione atrás do mamilo e da aréola, entre os


seus dedos e polegar. (Figura 3).

 Pressione os lados para esvaziar todos os segmentos. (Figura 4).


 Repita o movimento de forma rítmica, rodando a posição dos
dedos ao redor da aréola para esvaziar todas as áreas.
 Alterne as mamas cada 5 minutos ou quando diminua o
fluxo de leite. Lembre-se de repetir a massagem e repetir o ciclo várias
vezes.
 A quantidade de leite que se obtenha em cada extração
pode variar. Não é raro que isto aconteça.
Atenção: Evite fazer isso:

1. Não aperte o mamilo, pois pode machucá-lo.


2. Passar as mãos por todo o seio, como na ilustração pode
machucar a pele.
3. Se você puxar o mamilo pode machucá-lo.

Variações da técnica
 A mãe pode assumir posição levemente inclinada para frente, na
tentativa de facilitar e aumentar o fluxo lácteo.
 Podem ser usadas ambas as mãos numa mesma mama para a
extração do leite (Técnica Bimanual). (Figura 5).
 Podem ser ordenhados os dois seios simultaneamente em um
único vasilhame de boca larga ou em 2 vasilhames separados, colocados
um embaixo de cada mama. (Figura 6).

Depois da extração:
 Depois da ordenha, passe umas gotas de leite nos mamilos
e deixe-os secar ao ar livre.
 A aparência do leite que se extrai cada vez é variável. Ao
princípio é claro e depois do reflexo de ejeção mais branco e cremoso.
Alguns medicamentos, alimentos ou vitaminas podem mudar levemente
a cor do leite. As gorduras do leite bóiam ao guardá-lo.
 Imediatamente depois de extraí-lo, feche e marque numa
etiqueta a data, hora e quantidade.
Não desanime! A extração manual requer prática. Seja paciente!

Como estocar o leite materno


Depois da ordenha, devem-se seguir cuidadosamente as
recomendações para guardar, congelar e descongelar o leite. A aparência do
leite pode mudar ao conservá-lo dado que os componentes com freqüência se
separam. Com uma ordenha adequada e conservação do leite, o lactente
receberá os benefícios deste, ainda que não possa ser amamentado.
Recomendações
 Lavar bem as mãos antes de manipular o leite;
 Extraia manualmente os primeiros jorros e descarte-os
(este leite contém uma maior quantidade de bactérias);
 Escolha do recipiente: ordenhe diretamente a um recipiente
limpo ou estéril.
 Bebê normal - pequenos recipientes de vidro ou plástico

duro (deve-se poder lavá-lo com uma escova ou à mão com água
quente e detergente enxugando-o bem).
 Bebê prematuro ou doente - recipiente de plástico duro

ou vidro, estéril.
 Imediatamente depois da ordenha, feche o recipiente e
coloque-o sob água com gelo por 1-2 minutos. Então está pronto para
guardá-lo na zona mais fria do refrigerador ou congelador (Nunca na
porta).
 Use sempre o leite mais antigo.

Exemplo de um recipiente com cálice coletor

Exemplos de bombas automáticas de sucção para uso doméstico


Conservação
Tente guardar mais ou menos as quantidades que o bebê recebe em
cada mamada. Marque cada rótulo com o nome, data, hora e quantidade. Caso
vá congelá-lo, deixe espaço no recipiente para algum aumento de volume.
Tempo de Conservação
BEBÊ PREMATURO
MÉTODO BEBÊ NORMAL
OU DOENTE
Temperatura
40 minutos Não se recomenda
ambiente
Refrigerador 24 horas 24 horas
Congelador
(refrigerador 1 Não se recomenda Não se recomenda
porta)
Congelador
(refrigerador 2 07 dias 07 dias
portas)
Congelador
profundo 03 meses 03 meses
(-20°)
Instruções para juntar leite fresco ao leite refrigerado
Bebê normal - esfrie bem o leite antes de juntá-lo ao ordenhado
anteriormente. Pode-se misturar com leite extraído durante um período de 24
horas.
Bebê prematuro ou doente - não se recomenda misturar leites. Use um
recipiente separado para cada ordenha.
Instruções para juntar leite fresco ao leite congelado
Bebê normal - esfrie bem antes de juntá-lo. O leite congelado não deve
descongelar-se e tornar a congelar.
Bebê prematuro ou doente - não se recomenda.
Recongelar
Não se recomenda, uma vez que o leite tenha sido total ou parcialmente
descongelado. Por esta razão é melhor esperar para congelar o leite em seu
destino final.
Reutilização da porção que o bebê não terminou
(Leite morno antes de oferecê-lo ao bebê)
Bebê normal - permite-se somente uma vez, se o leite for esfriado entre
cada alimentação. Não use o leite que ficou no copo, porque a saliva pode
contaminá-lo.
Bebê prematuro ou doente - não se recomenda.
Para descongelar o leite
 Descongele lentamente deixando-o no refrigerador na noite
anterior (o calor excessivo destrói enzimas e proteínas); Retirar do
freezer e descongelar em banho-maria na geladeira, não deve ser
deixado em temperatura ambiente. Manter depois de descongelado em
geladeira por até 24 horas. Atenção: não congelar este leite novamente
– a sobra após 24 horas na geladeira deve ser desprezada.
 Antes de retirar a quantidade de leite para oferecer ao bebê
em cada mamada, agitar bem o frasco para a mistura dos diversos
componentes do leite.
 Agite o recipiente com leite em água quente, não fervendo,
com o fogo desligado; Nunca ferver o leite.
 Descongele a quantidade total, já que as gorduras se
separam ao congelar;
 Nunca use o forno microondas;
 Depois de descongelado use-o dentro de 24 horas.
 Oferecer no copo ou com a colher. (Figura 8).

Fonte: Wellstart International - Milk storage guidelines for hospitalized


infants Tradução: Marcus Renato de Carvalho

Dificuldades na amamentação e seu manejo


1. Má técnica de amamentação.
2. Saciar a criança com suplementos líquidos, fazendo-a espaçar
mais as mamadas, com consequente diminuição da sucção dos
mamilos.
3. Uso de chupetas (bico) que podem funcionar como um
substituto para as mamadas frequentes.
4. Uso de protectores de mamilos, interferindo nos reflexos
produzidos pela sucção.
5. Horários fixos de mamadas, dificultando o ajuste da produção
do leite à exigência da criança.
6. Mamadas muito curtas ou num só seio, estimulando pouco os
mamilos.
7. Fadiga ou tensão materna, os quais interferem no reflexo de
descida do leite.
8. Uso de drogas que interferem na produção do leite
(anticoncepcionais orais, nicotina em excesso, bromocriptina).
AS SEGUINTES SITUAÇÕES SÃO BASTANTE COMUNS:
O médico deve estar preparado para diagnosticá-las e prevenir de forma
adequada

Ingurgitamento Mamário
O ingurgitamento mamário é mais comum em prímaras e costuma
aparecer no segundo dia pós-parto. Resulta do aumento da vascularização e
congestão vascular das mamas e da acumulação de leite. Pode atingir apenas
a auréola, o corpo da mama ou ambos.
Quando a auréola está ingurgitada, a criança não consegue uma boa
pega, o que pode ser doloroso para a mãe e frustrante para a criança, pois,
nestas condições, há dificuldade para a saída do leite.
Para o tratamento do ingurgitamento mamário, são úteis as seguintes
medidas:
- Manter as mamas elevadas; usar um soutien apertado.
- Compressas frias entre as mamadas para reduzir a
vascularização.
- Compressas quentes (ou duche de água morna) antes das
mamadas facilitam a saída do leite.
- Amamentar com frequência. Se necessário, extrair o leite
manualmente ou com bomba de sucção.
- Usar analgésicos, se necessário.

Hipogalactia
Queixa comum durante a amamentação é afirmar que se tem “pouco
leite ”, ou que o leite é fraco. Esta está relacionada, frequentemente, com a
insegurança materna quanto à sua capacidade de nutrir o seu filho, fazendo
com que interprete o choro da criança e as mamadas frequentes (normal no
bebé pequeno) como sinais de fome. A ansiedade que tal situação gera na
mãe e na família pode ser transmitida à criança, que responde com mais choro.
O complemento com leites artificiais muitas vezes alivia a tensão materna e
essa tranquilidade vai-se repercutir no comportamento da criança, que passa a
chorar menos, reforçando a ideia de que ela realmente estava passando fome.
A suficiência de leite materno é avaliada através do ganho ponderal da
criança e o número de micções por dia (no mínimo 6 a 8). Se a produção do
leite parecer insuficiente para a criança, pelo baixo ganho ponderal na ausência
de patologias orgânicas, cabe ao médico conversar com a mãe e tentar
determinar o que está a interferir com a produção do leite.
Nesse caso, é importante orientar a mãe a complementar a mamada ao
invés de substituí-la pelo leite artificial, mantendo assim o estímulo da sucção,
indispensável para a produção do leite.
Além da sucção dos mamilos, alguns fatores estão relacionados com o
aumento dos níveis séricos de prolactina, tais como o sono e o exercício físico.

Traumas Mamilares
As mães devem ser orientadas a procurar assistência médica quando
surgirem traumas dos mamilos. A amamentação não deve ser dolorosa.
Atuação:
- Manter os mamilos sempre secos.
- Após as mamadas, passar algumas gotas de leite sobre os
mamilos.
- Secar os mamilos.
- Expressão manual da auréola antes das mamadas.
- Iniciar a amamentação pelo lado menos lesado.
- Variar o posicionamento do bebe nas mamadas, evitando que
ele pressione as áreas traumatizadas.
- O uso de cremes com vitamina A e D ocasionalmente pode
ajudar.
- Usar creme com corticóide após as mamadas em casos de
fissuras graves.
- Analgésicos, se necessário.
Se o tratamento não surtir efeito e as fissuras forem suficientemente
dolorosas a ponto de pôr em risco a amamentação, recomenda-se a
suspensão da amamentação no seio mais comprometido por 24 a 48 horas, e
efectuar o esvaziamento (manual ou com bomba de sucção) da mama
comprometida, após cada mamada no outro seio. Após esse período, proceder
da mesma forma com a outra mama.
Mastite
São as fissuras, na maioria das vezes, a porta de entrada para os
germes (especialmente o Staphylococcus aureus) que provocam a mastite. Tal
patologia deve ser precocemente diagnosticada e tratada. A mastite, em geral,
compromete o estado geral da mulher, provocando dor local intensa, febre e
mal-estar. A mama apresenta-se com edema, hiperemia e calor.
O tratamento é conduzido com antibióticos antiestafilocócicos (como, por
exemplo, oxacilina e dicloxacilina) e esvaziamento suave e completo da mama
comprometida, prevenindo, assim, o ingurgitamento e mantendo o suprimento
do leite.
A amamentação não deve ser interrompida. Nos casos em que não
ocorrer melhora após 48 horas de tratamento, pode estar a haver a formação
de um abscesso, que pode ser palpado e identificado pela sensação de
flutuação. Em tais casos está indicada a drenagem cirúrgica e, frequentemente,
a interrupção temporária da amamentação no seio afetado.

CONTRA-INDICAÇÕES À AMAMENTAÇÃO
Doenças maternas
1. TUBERCULOSE
 O bacilo de Koch não é excretado pelo leite materno
 A transmissão se faz usualmente pela inalação de gotículas
de vias aéreas superiores de um indivíduo com infecção tuberculosa. A
porta de entrada é quase sempre o trato respiratório.
 Formas clínicas maternas:
Tuberculose extra-pulmonar: não contra-indica a amamentação
Tuberculose pulmonar:

Conduta para mãe contagiante ou bacilífera (não tratada ou com


tratamento iniciado a menos de três semanas do nascimento da criança):
 Não suspender a amamentação
 Diminuir o contato íntimo mãe-filho;
 Amamentar com máscara ou similar;
 Lavar, cuidadosamente, as mãos;
 Rastrear comunicantes, especificamente os domiciliares;
 Administrar, ao RN isoniazida (INH) na dose de 10
mg/kg/dia uma vez ao dia, durante três meses;
 Após três meses de isoniazida (INH), realizar um teste
tuberculínico (PPD), adotando as seguintes condutas:
Teste Positivo (criança reatora):
Rastrear doença:
Se necessário tratar de acordo com as normas do M.S.
Se não houver infecção ativa, manter a quimioprofilaxia até
o 6º mês.
Teste Negativo:

 Proceder a vacinação com BCG-ID e suspender a


isoniazida (INH).
Durante todas as etapas continuar com a amamentação.

Conduta para mãe não-contagiante ou abacilífera (com tratamento


iniciado a mais de três semanas do nascimento da criança):
 Não suspender a amamentação
 Proceder à vacinação com BCG-ID
Observações:
 Na impossibilidade de seguimento do R.N., proceder a variação
com BCG-ID e administrar isoniazida (INH) por um período de seis meses;
 Nos casos em que o diagnóstico de TB materno for realizado
após o início da amamentação, o lactente deve ser considerado potencialmente
infectado e rastreado. Não suspender a amamentação;
 A administração de drogas tuberculósticas à mãe não contra-
indica a amamentação.

2. HANSENÍASE
 Não contra- indica a amamentação;
 A transmissão pode ser feita através de contato interno-
humano, preferencialmente prolongado, secreções nasais e através da
pele intacta.
 Embora o bacilo possa ser excretado pelo leite materno
nos casos de hanseníase de forma virchowiana, não-tratada ou tratada
há menos de três meses com sulfona (diapsona) ou três semanas com a
rifampicina, não se sabe se esta é uma via significativa de infecção.
Conduta com mãe contagiante ou bacilífera (não-tratada ou tratada
há menos de três meses com sulfona ou três semanas com rifampicina):
 Evitar contato íntimo mãe-filho;
 Amamentar com máscara ou similar;
 Lavar cuidadosamente as mãos, antes de manipular a
criança;
 Desinfecção de secreções nasais e lenços.
Conduta com mãe não-contagiante ou abacilífera:

 Manter a amamentação.
Observação:
 Possível passagem das drogas utilizadas no tratamento da
Hanseníase não contra-indica a amamentação.

3. HEPATITE B
 Apesar do vírus de hepatite B ser excretado pelo leite
materno, com dados disponíveis até o momento, não contra-indica a
amamentação
 A transmissão perinatal pode ocorrer quando a mãe é
HBsAg Positivo (especialmente as HB e Ag Positivo) através do sangue
e secreções.
Conduta:
 Lavar bem o RN retirando todo o vestígio de sangue e/ou
secreção materna;
 Indicar a amamentação mesmo que haja sangramento em
fissura mamária;
 Administrar nas primeiras 12 horas (no máximo até 24
horas) IGBH (Imunoglobulina Específica contra Hepatite B) 0,5 ml/dose
única, via intramuscular ou 1,5 ml de imunoglobulina (I.M.);
 Administrar, até o 7º dia de vida, a 1º dose de vacina contra
hepatite B na dose de 0,5 via intramuscular.
Observações
 Caso aplicado concomitantemente com a IGHB
(Imuniglobulina Específica contra Hepatite B) utilizar seringas, agulhas e
locais diferentes de aplicação;
 O local ideal para aplicação I.M. das injeções na RN é a
face anterolateral na coxa;
 RNs com peso inferior a 2000 gr. devem ter a sua
vacinação adiada até atingirem esse peso. Se esse período prolongar-se
por mais de três meses, uma segunda dose de imunoglobulina deve ser
aplicada nas mesmas dosagens já referidas.
 Antes, com um mês de vida se fazia a 2º dose da vacina
contra Hepatite B e com 6 meses se fazia a 3º dose; Desde 2012, a
vacina combinada DTP/Hib/HB (denominada pelo Ministério da Saúde
de Penta) foi incorporada aos 2, 4 e 6 meses de vida. Assim, os
lactentes passaram a receber 4 doses vacina contra a Hepatite B.
 Durante todas estas etapas continuar com a amamentação.
Hepatite B diagnosticada durante a lactação em criança com menos
de um ano de idade
Conduta:
Manter a amamentação;
Administrar Imuniglobulina Específica contra Hepatite B na
dose de -0,04 ml/kg - I.M.
OU
 Administrar gamaglobulina “Standard” na dose de 0,12
ml/kg - I.M.
 Testar a criança para HbsAg. Se negativo, vaciná-la e
seguir as medidas profiláticas para o caso.
Hepatite diagnosticada durante a amamentação
Conduta
 Manter a amamentação;
 Aplicar Imunoglubolina Standard, na dose de 0,02 – 0,04
ml/Kg dose única IM o mais precocemente possível.
4. CITOMEGALOVÍROSE
Conduta:
 Manter a amamentação;
 A transmissão pós-natal pode ocorrer pelo leite materno
mas não costuma ocorrer doença, pois juntos com os vírus passam
também anticorpos maternos passivos.

5. MALÁRIA
 Não contra-indica a amamentação;
 O modo de transmissão mais comum é pela picada do
mosquito anopheles. Menos comumente, transfusão de sangue e
agulhas contaminadas;
 O uso de drogas antimaláricas à nutriz, não contra-indica a
amamentação.

6. HERPES SIMPLES
 Não contra-indica a amamentação, exceto quando as
vesículas herpéticas estiverem localizadas na mama;
 Cuidados adicionais devem ser tomados com vesículas em
face, dedos e mamas.
Conduta:
 Cobrir as lesões;
 Lavagem rigorosa das mães antes de manipular as
crianças;
 Uso de luvas ou proteção para as mãos (lesão dos dedos);
 Evitar contato íntimo mãe-filho (beijos e afagos) até que as
lesões estejam secas.

7. VARICELA
 Mães com varicela com início até cinco dias antes do parto
formam e passam anticorpos. O RN deverá ter uma forma leve de varicela e
a separação mãe-filho está contra-indicada: Amamentar a criança.
 Mães com varicela com cinco dias antes do parto ou até dois dias
depois: a criança poderá desenvolver uma forma grave de varicela estando
indicado o isolamento do RN e da mãe durante a fase contagiante materna
(até a fase de crosta). Durante este período o leite materno deverá ser
ordenhado e dado ao RN.
 Administrar, ao RN o mais precoce possível: Imunoglobulina
Standard = 2 ml/dose única/IM (de valor discutível) ou VZIG
((Imunoglobulina Específica contra Varicela) 125 unid./dose/I.M.
 O RN deverá ficar em observação até o 21º dia de vida. Se nesse
período desenvolver a doença, iniciar a administração de aciclovir.
 Mães com varicela a partir do 3º dia do pós-parto: o RN poderá
desenvolver forma leve de doença, não estando indicado nem o isolamento,
nem a profilaxia: amamentar a criança.

ALEITAMENTO MATERNO E O USO DE MEDICAMENTOS

INTRODUÇÃO
O aleitamento materno é uma prática de fundamental importância para a
mãe, a criança e a sociedade em geral, que deve ser sempre incentivada e
protegida, salvo em algumas situações excepcionais. Assim, não se justifica,
na maioria das vezes, a interrupção da amamentação quando a nutriz
necessitar algum tipo de tratamento farmacológico, impedindo
desnecessariamente que mãe e criança usufruam dos benefícios do
aleitamento materno. A indicação criteriosa do tratamento materno e a seleção
cuidadosa dos medicamentos geralmente permitem que a amamentação
continue sem interrupção e com segurança.
É importante lembrar que, enquanto a placenta permite a passagem de
drogas para o feto, o epitélio alveolar mamário funciona como uma barreira
quase impermeável. A maioria das drogas passa para o leite materno, mas em
pequenas quantidades; e, mesmo quando presentes no leite, as drogas
poderão ou não ser absorvidas no trato gastrointestinal do lactente. Só
excepcionalmente, quando a doença materna requer tratamento com
medicações incompatíveis com a amamentação, esta deve ser interrompida.
Embora o conhecimento sobre o uso de drogas durante o período da
amamentação tenha sido muito ampliado, ainda não se conhecem os efeitos no
lactente de muitas drogas utilizadas pela nutriz, principalmente de novos
fármacos que estão constantemente entrando no mercado. Mas, em geral, há
uma tendência em reduzir o número de drogas consideradas incompatíveis
com a amamentação.
Devemos estar cientes que a segurança de alguns medicamentos ou
drogas também depende da idade da criança. Bebês prematuros e de menos
de 1 mês tem uma capacidade diferente de absorver e excretar medicamentos,
comparado aos bebês maiores. Assim, uma maior precaução é necessária
para esses bebês.
Mães doadoras de leite humano em uso de medicamentos devem
considerar os mesmos critérios para nutrizes em uso de fármacos durante o
período de amamentação.

IDENTIFICAÇÃO DAS DROGAS SEGUNDO A CATEGORIA DE


RISCO
As categorias de risco das drogas abordadas neste Manual e seus
respectivos marcadores são os seguintes:
Uso compatível com a amamentação: Desta categoria, fazem parte os
fármacos cujo uso é potencialmente seguro durante a lactação, haja vista não
haver relatos de efeitos farmacológicos significativos para o lactente.
Uso criterioso durante a amamentação: Nesta categoria estão os
medicamentos cujo uso no período da lactação depende da avaliação do
risco/benefício. Quando utilizados, exigem monitorização clínica e/ou
laboratorial do lactente, devendo ser utilizados durante o menor tempo e na
menor dose possível. Novos medicamentos cuja segurança durante a
amamentação ainda não foi devidamente documentada encontram-se nesta
categoria.
Uso contraindicado durante a amamentação: Esta categoria compreende
as drogas que exigem a interrupção da amamentação, pelas evidências ou
risco significativo de efeitos colaterais importantes no lactente.
Amamentação e Medicação Materna
No caso de uso de drogas anticâncer
Amamentação é contra-indicada: (antimetabólicos). Substâncias radioativas
(pare a amamentação temporariamente)

Continue a amamentação:

Efeitos colaterais possíveis.


Drogas psiquiátricas e anticonvulsivas
Monitorize sonolência no bebê

Cloranfenicol, tetraciclinas, metronizadol, quinolona,


Use drogas alternativas, se possível.
antibióticos (ex. Ciprofloxacina)

Sulfomidas, dapsone,sulfametoxazole + trimetropim


Observe o bebê quanto à icterícia.
(cotrimoxazole), sulfadoxina + oirimetaprina (fansidar)

Estrógenos, incluindo contraceptivos que contém Use drogas alternativas (podem inibir
estrógenos. Diuréticos tiazídicos, ergometrina. a produção de leite).

A maioria das drogas comumente usadas: analgésicos e


antipiréticos: tratamentos curtos com paracetamol, ácido acetil
salicílico, ibuprofeno; doses ocasionais de morfina e petidina;
antibióticos: ampicilina, amoxacilina, cloxacilina e outras
penicilinas, eritromicina; anti-tuberculoses e anti-lepróticos (veja Seguros na dosagem usual.
dapsona acima), anti-malários (exceto mefloquine, Fansidar), Monitorize o bebê
antihelmínticos, anti-fúngicos; broncodilatadores (por exemplo:
salbutamol), corticosteróides, anti-histamínicos, anti-ácidos,
drogas para diabetes, a maioria dos anti-hipertensivos, digoxina,
suplementos nutricionais de lodo, ferro, vitaminas

(Adaptado de “Aconselhamento em Amamentação: Um Curso de


Treinamento", OMS/CDR/93.3-6)

O Ministério da Saúde lançou em 2010 a nova edição do material cujo


título é “Amamentação e Medicação Materna”, que é uma adaptação da 2ª
edição da publicação “Amamentação e uso de drogas”. Esse material traz está
disponível em:
bvsms.saude.br/bsv.../amamentacao_uso_medicamentos_2ed.pdf

ALIMENTAÇÃO DA MÃE

A alimentação materna é muito importante nos 3 a 4 primeiros meses de


vida da criança, pois vai interferir diretamente na amamentação. As regras
alimentares para amamentação devem começar logo após o parto. Se houver
certos cuidados com a alimentação, a incidência de cólicas será muito menor.
Uma alimentação equilibrada, balanceada é sempre mais importante.

Existem três grupos de alimentos: construtores, energéticos e


reguladores. É fundamental que todos eles estejam presentes em sua
alimentação:

 Alimentos construtores são responsáveis pela construção e


reparação de tecidos corporais. São as proteínas, tais como carnes em geral,
ovos, leite e derivados. As proteínas participam da multiplicação das células e,
por isso, são essenciais para o crescimento da criança.
 Alimentos energéticos (os carboidratos) são responsáveis pela
produção diária de energia necessária para as nossas atividades. São os pães,
massas, inhame, mandioca, cará, batata, mandioquinha, batata-doce, biscoitos,
mel, doces em geral, além de cereais (arroz, trigo, aveia) e farinhas.
 Alimentos reguladores (vitaminas e minerais) são importantes
para manutenção da saúde, já que regulam tão diversos quanto complicados
processos bioquímicos. Eles controlam o funcionamento do organismo e o
crescimento da criança. Como estão presentes nos alimentos em quantidades
bem pequenas, estes nutrientes são mais conhecidos como micronutrientes.
Frutas e hortaliças são as melhores fontes.
É muito importante mastigar bem os alimentos e beber água ou outros
líquidos antes ou depois das refeições.
Existem alguns alimentos cujo sabor e aroma pode ser identificado no
leite materno e, eventualmente provocar cólicas na criança ou ele pode "reduzir
ou mesmo rejeitar" a mamada por perceber um sabor diferente, como no caso
do alho.
Sugerimos que observe o que ingeriu antes da mamada. Se a criança
apresentar cólicas, evite esse alimento.

Procure comer: muitas frutas doces, muitas verduras e legumes, nozes,


castanhas – contém muita proteína. Queijo branco (minas, ricota), leite
desnatado, mel, pão integral, aveia, fibras em geral; tome muita água e, se
puder, água de coco; tome suco de laranja lima e de frutas doces.
 Frutas: melão, maçã, pêra, laranja, mamão e figo; com exceção
da manga, pinha (fruta-do-conde), goiaba e melancia, digeridas mais
demoradamente.
 Vegetais: taioba, aipo, gergelim, rúcula, alface, agrião.
Não coma: doces, chocolates, frituras, enlatados, condimentos,
alimentos gordurosos, alimentos que fermentam amendoim, pipoca, carnes
pesadas, carnes cruas, legumes que geram gazes: espinafre, repolho,
pimentão etc., camarão, lagosta, frutos do mar, tudo o que for de digestão difícil
para você; não tome refrigerantes, refrescos, gatorade ou similar, bebidas
industrializadas.
Evite: massas, pizzas, bolos, muitas carnes, feijão: tome só o caldo,
bebidas alcoólicas.

Cuidado: Leite de vaca integral, café, chocolate, chás de hortelã, mate e


capim-limão e álcool.
Os alimentos ricos em enxofre tais como a couve-flor, couve,
rabanete, repolho e espinafre, por causarem gases, podem perturbar o
processo de digestão da criança.
REFERÊNCIAS
1.Amamentação: um híbrido natureza-cultura. João Aprígio Guerra de Almeida;
Franz R. Novak; J Pediatr (Rio J) 2004; 80(8): s119
2.Aconselhamento em amamentação e sua prática Lais Graci dos Santos
Bueno; Keiko Miyasaki Teruya; J Pediatr (Rio J) 2004; 80(8): s126
3.Os benefícios da amamentação para a saúde da mulher Marina F. Rea; J
Pediatr (Rio J) 2004; 80(8): s142.
4.Influência da técnica de amamentação nas freqüências de aleitamento
materno exclusivo e lesões mamilares no primeiro mês de lactação. Enilda M.
L. Weigert; Elsa R. J. Giugliani; Maristela C. T. França; Luciana D. de Oliveira;
Ana Bonilha; Lílian C. do Espírito Santo; Celina Valderez F. Köhler; J Pediatr
(Rio J) 2005; 81(4): 310
5.Recomendações para alimentação complementar da criança em aleitamento
materno. Cristina M. G. Monte; Elsa R. J. Giugliani; J Pediatr (Rio J) 2004;
80(8): s131
6.O aleitamento materno na prática clínica. Elsa R. J. Giugliani; J Pediatr (Rio
J) 2000; 76(8): s238
7.Como ajudar as mães a amamentar, King, F. Savage 3º edição- Brasília –
Ministério da Saúde - 1998

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