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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA


DIREITO – BACHARELADO

EXAME DA LEGALIDADE E INVALIDADE DOS COMPONENTES DO NEGÓCIO


JURÍDICO: ATRAVÉS DA JURISPRUDÊNCIA

LAURA MORGADO DE ALMEIDA

CABO FRIO
2024
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LAURA MORGADO DE ALMEIDA

EXAME DA LEGALIDADE E INVALIDADE DOS COMPONENTES DO NEGÓCIO


JURÍDICO: ATRAVÉS DA JURISPRUDÊNCIA

Trabalho apresentado à Universidade Veiga de


Almeida como requisito para a obtenção de nota em
atividade avaliativa.

CABO FRIO
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INTRODUÇÃO

Nesse trabalho será analisado os negócios jurídicos, entendo por sua vez que os
negócios jurídicos se definem como atos bilaterais ou plurilaterais com a capacidade de
estabelecer, modificar, preservar ou extinguir relações jurídicas. Sua validade está
condicionada ao cumprimento de determinados requisitos legais, tais como a
capacidade das partes envolvidas, a licitude, possibilidade e determinabilidade do
objeto, além da observância da forma prescrita ou não proibida em lei.
Pontes de Miranda, explica:

"Os negócios jurídicos são atos de autonomia privada que se


refletem na sociedade, tendo a vontade das partes como
principal fundamento."

A citação de Pontes de Miranda mostra a essência dos negócios jurídicos como


expressões da autonomia privada dentro da sociedade. Ao descrever os negócios
jurídicos como manifestações da autonomia privada, Pontes de Miranda destaca o papel
fundamental que os indivíduos têm na criação, modificação, preservação ou extinção de
relações jurídicas. Essa autonomia permite que as partes exerçam sua liberdade dentro
dos limites legais estabelecidos, refletindo suas escolhas e interesses no âmbito jurídico.
Os negócios jurídicos representam uma manifestação da autonomia privada, onde a
vontade das partes desempenha um papel central na criação, modificação ou extinção
de direitos. Segundo os civilistas Cristiano Chaves, Felipe Braga Neto e Nelson
Rosenvald, esses atos são definidos como acordos de vontades que visam alcançar tais
objetivos, destacando-se a livre utilização da autonomia da vontade pelos particulares.
É interessante ressaltar que os negócios jurídicos contemplam quatro elementos, são
eles agente, objeto, forma, vontade. Por definição o agente é aquele que pratica o ato
jurídico, o objeto sendo este o conteúdo do negócio jurídico, a forma o modo de
externalização do negócio jurídico e a vontade acrescentada pela doutrina, é a vontade
intencionada internamente pelo agente, bem como à externada, devendo ambas serem
interpretadas de acordo com a boa-fé objetiva, segundo os artigos 112 e 113 do Código
Civil.

1. ELEMENTO DE FORMA
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A forma ou modo de externalização do negócio jurídico é um aspecto fundamental na


sua validade e eficácia. Refere-se à maneira como as partes manifestam sua vontade
de criar, modificar ou extinguir direitos, seguindo as exigências estabelecidas pela lei.
A forma pode ser tanto expressa quanto tácita. No caso da forma expressa, as partes
utilizam meios claros e objetivos para exteriorizar sua vontade, como por escrito,
verbalmente ou por meio de gestos. Por outro lado, a forma tácita ocorre quando a
manifestação da vontade não é direta, mas pode ser inferida a partir de determinadas
circunstâncias ou comportamentos das partes.
Clóvis Beviláqua, afirma:

"A forma é o molde da manifestação da vontade, que


confere solidez e clareza aos negócios jurídicos."

Nesta citação, Beviláqua destaca a importância da forma como um instrumento que


molda e dá estrutura à manifestação da vontade das partes nos negócios jurídicos. Ele
enfatiza que a forma não apenas confere solidez, mas também clareza aos negócios,
proporcionando segurança e certeza quanto aos seus efeitos e obrigações.

1.1 EMENTA ELEMENTO DE FORMA

EMENTA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER


NATUREZA (ISSQN). SUBITEM 9.01 DA LISTA DE SERVIÇOS ANEXA À LEI COMPLEMENTAR Nº 116, DE 2003.
CONTRATO DE HOSPEDAGEM. SETOR HOTELEIRO. PARCELAS QUE INTEGRAM O PREÇO DO SERVIÇO DE
HOTELARIA: TODAS COMPÕEM A BASE DE CÁLCULO DO ISS. 1. A questão constitucional suscitada em abstrato
nesta ação consiste em saber se a Lei Complementar nº 116, de 2003, extravasou a materialidade do Imposto sobre
Serviços de Qualquer Natureza prevista no art. 156, inc. III, da Constituição da República, ao prever a incidência
desse tributo sobre a hospedagem de qualquer natureza em hotéis, apart-service condominiais, flat, apart-hotéis,
hotéis residência, residence-service, suite service, hotelaria marítima, motéis, pensões e congêneres, além da
ocupação por temporada com fornecimento de serviço. Dito de outra forma, cuida-se de definir se os contratos que
veiculam hospedagem de qualquer natureza nos meios listados no objeto impugnado são preponderantemente
serviços para fins de tributação pelo ISSQN. 2. Preliminar. A satisfação do ônus argumentativo pelo legitimado ativo
no que diz respeito à prova da inconstitucionalidade consiste em matéria típica de mérito. No caso dos autos, da
exordial é possível depreender os elementos previstos no art. 3º da Lei nº 9.868, de 1999, bem como que mencionado
petitório satisfaz os requisitos emanados do repertório jurisprudencial deste STF. 3. Preliminar. É indevida a extinção
anômala da ação direta, em função de eventual defeito do instrumento de procuração que não impeça a compreensão
pelo juízo constitucional da controvérsia submetida ao controle abstrato de constitucionalidade, bem como é
despiciendo instar a requerente para ratificar seu desejo de propugnar pela inconstitucionalidade do objeto em
questão na hipótese em que parece ser inequívoca a manifestação formalizada de vontade do legitimado ativo. 4.
Fixada na lista anexa à LC nº 116, de 2003, que uma atividade veicula uma prestação de serviço, ainda que se trata
de relação contratual mista ou complexa, somente se mostra viável defender a inconstitucionalidade dessa opção
legislativa, quando a natureza jurídica do negócio jurídico em questão não corresponda, de fato, a um serviço. No
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contrato de hospedagem, a utilidade consiste, em essência, no alojamento temporário e a sua função típica é a
hospitalidade retribuída. Não há o que se confundir entre a relação negocial de hotelaria e o contrato de locação de
bem imóvel. 5. Não é devida a leitura da hospedagem como uma obrigação de dar, porquanto não se depreende dela,
para fins tributários, unicamente uma locação da unidade habitacional pelo preço vertido na diária. A interpretação
constitucional da materialidade tributária prevista no art. 156, inc. III, da Constituição da República, não se limita à
classificação obrigacional derivada da dogmática civilista. De acordo com o entendimento do Supremo Tribunal
Federal, o ISS incide sobre atividades que representam tanto obrigações de fazer quanto obrigações mistas, que
também incluem uma obrigação de dar. 6. É inadequado o decote da base de cálculo do Imposto sobre Serviços de
qualquer Natureza com a finalidade de excluir a parcela referente à locação da unidade habitacional, porque a
circulação econômica de serviço vertida no contrato de hospedagem tem caráter singular, justificando-se a partir de
sua visualização unitária, logo é inviável a cisão apriorística de modo a retirar da base imponível desse imposto
municipal a fração relativa à locação da unidade habitacional. Desse modo, é assente a orientação jurisprudencial
segundo a qual todas as parcelas que integram o preço do serviço de hotelaria compõem a base de cálculo do ISS.
7. Ação direta de inconstitucionalidade conhecida e julgada improcedente.

1.2 COMENTÁRIO DA EMENTA

A ementa trata da constitucionalidade da incidência do Imposto sobre Serviços de


Qualquer Natureza (ISSQN) sobre os contratos de hospedagem em diversos
estabelecimentos, incluindo hotéis, flats, apart-hotéis, motéis e pensões. A discussão
central se concentra em determinar se os contratos de hospedagem se enquadram na
base de cálculo desse imposto municipal, conforme previsto na Lei Complementar nº
116/2003.
Um dos pontos fundamentais destacados na ementa é a distinção entre os contratos de
hospedagem e os contratos de locação de imóveis. Argumenta-se que a hospedagem
não se limita a uma mera locação de unidades habitacionais, mas envolve uma
prestação de serviço que inclui a hospedagem temporária e a hospitalidade oferecida
aos hóspedes.
Além disso, a ementa aborda a questão da base de cálculo do ISSQN nos contratos de
hospedagem, defendendo que todas as parcelas que compõem o preço do serviço de
hotelaria devem ser consideradas na determinação do imposto. Isso inclui não apenas
a locação da unidade habitacional, mas também outras taxas e custos associados à
hospedagem, como serviços de limpeza, alimentação e lazer.
A decisão fundamenta-se em uma interpretação ampla da natureza jurídica dos
contratos de hospedagem e da legislação tributária aplicável, buscando garantir a
eficácia da tributação sobre serviços prestados no setor hoteleiro. No entanto, seria
necessário examinar o conteúdo completo da decisão para uma análise mais
aprofundada dos argumentos apresentados e das razões que levaram à conclusão de
improcedência da ação direta de inconstitucionalidade.
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2. ELEMENTO DE AGENTE

No contexto do Direito, o agente é de fato aquele que pratica o ato jurídico. Ele é a
pessoa física ou jurídica que realiza uma ação ou manifestação de vontade que tem
consequências jurídicas. O agente é uma parte fundamental em qualquer transação ou
situação jurídica, sendo responsável por expressar sua vontade de forma consciente e
voluntária, dentro dos limites estabelecidos pela lei. Seja em contratos, doações,
testamentos ou outras situações jurídicas, o agente desempenha um papel central na
formação e execução dos atos jurídicos.

Cristiano Chaves de Farias, Felipe Braga Netto, Nelson Rosenvald, dezem sobre:

"O agente é aquele que, dotado de capacidade e intenção,


realiza o movimento inicial que desencadeia os efeitos
jurídicos do ato."

Os autores resumem de forma sucinta e precisa o papel do agente no contexto dos atos
jurídicos. Ao destacar que o agente é aquele que, além de possuir capacidade legal,
também tem a intenção de realizar uma ação, ela enfatiza a importância da vontade e
da competência do indivíduo na formação dos efeitos jurídicos de um ato.

2.1 EMENTA DE AGENTE

Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AÇÃO POPULAR. DEMARCAÇÃO DA TERRA INDÍGENA RAPOSA


SERRA DO SOL. 1. Embargos de declaração opostos pelo autor, por assistentes, pelo Ministério Público, pelas
comunidades indígenas, pelo Estado de Roraima e por terceiros. Recursos inadmitidos, desprovidos, ou parcialmente
providos para fins de mero esclarecimento, sem efeitos modificativos. 2. Com o trânsito em julgado do acórdão
embargado, todos os processos relacionados à Terra Indígena Raposa Serra do Sol deverão adotar as seguintes
premissas como necessárias: (i) são válidos a Portaria/MJ nº 534/2005 e o Decreto Presidencial de 15.04.2005,
observadas as condições previstas no acórdão; e (ii) a caracterização da área como terra indígena, para os fins dos
arts. 20, XI, e 231, da Constituição torna insubsistentes eventuais pretensões possessórias ou dominiais de
particulares, salvo no tocante à indenização por benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé (CF/88, art. 231, § 6º).
3. As chamadas condições ou condicionantes foram consideradas pressupostos para o reconhecimento da validade
da demarcação efetuada. Não apenas por decorrerem, em essência, da própria Constituição, mas também pela
necessidade de se explicitarem as diretrizes básicas para o exercício do usufruto indígena, de modo a solucionar de
forma efetiva as graves controvérsias existentes na região. Nesse sentido, as condições integram o objeto do que foi
decidido e fazem coisa julgada material. Isso significa que a sua incidência na Reserva da Raposa Serra do Sol não
poderá ser objeto de questionamento em eventuais novos processos. 4. A decisão proferida em ação popular é
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desprovida de força vinculante, em sentido técnico. Nesses termos, os fundamentos adotados pela Corte não se
estendem, de forma automática, a outros processos em que se discuta matéria similar. Sem prejuízo disso, o acórdão
embargado ostenta a força moral e persuasiva de uma decisão da mais alta Corte do País, do que decorre um elevado
ônus argumentativo nos casos em se cogite da superação de suas razões.

2.2 COMENTÁRIO DA EMENTA

A ementa trata de embargos de declaração opostos em uma ação popular relacionada


à demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Os embargos foram interpostos
por várias partes envolvidas no processo, incluindo o autor da ação, assistentes,
Ministério Público, comunidades indígenas, Estado de Roraima e terceiros. O texto
destaca que esses recursos foram, em sua maioria, desprovidos ou parcialmente
providos apenas para fins de esclarecimento, sem efeitos modificativos.
Um dos pontos principais da ementa é a definição de premissas necessárias a serem
adotadas em todos os processos relacionados à Terra Indígena Raposa Serra do Sol
após o trânsito em julgado do acórdão embargado. Essas premissas incluem a validade
da Portaria/MJ nº 534/2005 e do Decreto Presidencial de 15.04.2005, sujeitas às
condições previstas no acórdão, bem como a caracterização da área como terra
indígena, o que torna insubsistentes eventuais pretensões possessórias ou dominiais de
particulares, exceto no que diz respeito à indenização por benfeitorias decorrentes da
ocupação de boa-fé.
Além disso, o texto ressalta a importância das condições ou condicionantes
estabelecidas para o reconhecimento da validade da demarcação da terra indígena.
Essas condições, consideradas pressupostos essenciais, integram o objeto da decisão
e têm força de coisa julgada material, o que significa que não podem ser questionadas
em novos processos relacionados à reserva.

3.ELEMENTO OBJETO

O objeto do negócio jurídico se refere ao conteúdo ou à finalidade da manifestação de


vontade das partes envolvidas. É aquilo sobre o qual recai a intenção das partes ao
celebrarem o negócio. Em outras palavras, o objeto é aquilo que se busca adquirir,
modificar ou extinguir por meio do negócio jurídico.

Para exemplificar, no contrato de compra e venda de um imóvel, o objeto do negócio


jurídico é o próprio imóvel em questão. No contrato de locação de um carro, o objeto é
o direito de uso do veículo durante determinado período de tempo. Em um contrato de
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prestação de serviços, o objeto pode ser a execução de determinada tarefa ou a entrega


de um produto específico.

No livro "Curso de Direito Civil", Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho
refletem:

"No negócio jurídico, o objeto é o conteúdo da vontade das partes.


É o elemento sobre o qual recai o efeito da declaração de vontade,
que se traduz em adquirir, modificar ou extinguir direitos."

Os autores destacam a importância do objeto no contexto dos negócios jurídicos. Ao


definir o objeto como o conteúdo da vontade das partes, os mesmos ressaltam que é
sobre ele que recai o efeito da manifestação de vontade, ou seja, é o objeto que
determina o que as partes buscam alcançar com o negócio jurídico.

3.1 EMENTA DE OBJETO

EMENTA Agravo regimental. Petição. Colaboração premiada. Fatos que envolvem senadores da
República e investigado sem prerrogativa de foro junto à Suprema Corte. Compartilhamento de
termos de depoimento do colaborador premiado com juízo de primeiro grau. Medida que importou
em cisão das investigações relativamente ao agravante. Inadmissibilidade. Imbricação de condutas.
Indícios da existência de um liame probatório entre os fatos, ou mesmo de continência (art. 77, I.
CPP). Necessidade de se preservarem a racionalidade e a higidez das investigações. Recurso
provido para se determinar que o agravante permaneça sob a jurisdição direta do Supremo Tribunal
Federal, sem prejuízo de posterior reanálise pelo Relator da possibilidade de desmembramento. 1.
Como já decidido pelo Supremo Tribunal Federal, o desmembramento do feito em relação a
imputados que não possuam prerrogativa de foro “deve ser a regra, diante da manifesta
excepcionalidade do foro por prerrogativa de função, ressalvadas as hipóteses em que a separação
possa causar prejuízo relevante” (Inq nº 2.903/AC-AgR, Pleno, Relator o Ministro Teori Zavascki,
DJe de 1º/7/14). 2. O agravante foi mencionado pelo colaborador premiado, em quatro termos de
colaboração, por fatos supostamente ilícitos que também envolvem titulares de prerrogativa de foro
junto ao Supremo Tribunal Federal. 3. Como assentado no voto condutor do HC nº 127.483/PR,
Pleno, de relatoria do Ministro Dias Toffoli, DJe de 4/2/16, “[a] colaboração premiada é
um negócio jurídico processual, uma vez que, além de ser qualificada expressamente pela lei
como ‘meio de obtenção de prova’, seu objeto é a cooperação do imputado para a investigação e
para o processo criminal, atividade de natureza processual, ainda que se agregue a
esse negócio jurídico o efeito substancial (de direito material) concernente à sanção premial a ser
atribuída a essa colaboração”. 4. A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova,
destina-se à “aquisição de entes (coisas materiais, traços [no sentido de vestígios ou indícios] ou
declarações) dotados de capacidade probatória”, razão por que não constitui meio de prova
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propriamente dito. 5. Enquanto o acordo de colaboração é meio de obtenção de prova, os


depoimentos propriamente ditos do colaborador constituem meios de prova, os quais somente se
mostrarão hábeis à formação do convencimento judicial se vierem a ser corroborados por outros
meios idôneos de prova. 6. Logo, uma investigação deflagrada por um acordo de colaboração tem
por escopo a obtenção de meios idôneos de prova que possam corroborá-lo. 7. Na espécie,
presente a imbricação de condutas, diante da existência de indícios de um liame probatório entre
os fatos, ou mesmo de continência (art. 77, I, CPP), não há como se cindir, por ora, uma
investigação em fase embrionária, inclusive pelo risco de o juízo de primeiro grau, ainda que de
forma indireta, promover a investigação de detentores de prerrogativa de foro, em usurpação da
competência do Supremo Tribunal Federal. 8. Recurso provido para se determinar que o agravante
permaneça sob a jurisdição do Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo de posterior reanálise pelo
Relator da possibilidade de desmembramento, vedando-se ao juízo de primeiro grau a deflagração,
em desfavor do agravante, de investigações lastreadas nos termos de colaboração em questão.

3.2 COMENTÁRIO DA EMENTA

A ementa trata de um agravo regimental relacionado à colaboração premiada em um


caso que envolve senadores da República e um investigado sem prerrogativa de foro
junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). O tema central da decisão é o
compartilhamento de termos de depoimento do colaborador premiado com um juízo de
primeiro grau, medida que resultou na cisão das investigações em relação ao agravante.
O Tribunal, ao analisar o caso, considerou que houve imbricação de condutas, ou seja,
indícios da existência de uma ligação entre os fatos investigados. Nesse contexto,
decidiu-se que o agravante deveria permanecer sob a jurisdição do STF, sem prejuízo
de posterior reanálise pelo relator da possibilidade de desmembramento do processo.
Destaca-se ainda a abordagem sobre a colaboração premiada como um negócio jurídico
processual, cujo objeto é a cooperação do imputado para a investigação e para o
processo criminal. Além disso, ressalta-se que a colaboração premiada é um meio de
obtenção de prova, não constituindo meio de prova propriamente dito. Assim, a
investigação busca obter meios idôneos de prova que possam corroborar os
depoimentos do colaborador.

3. ELEMENTO DE VONTADE

Essa definição da vontade, acrescida pela doutrina, ressalta a importância de considerar


tanto a vontade interna quanto a externada pelo agente em um negócio jurídico. A
vontade interna refere-se à intenção verdadeira e íntima do agente ao realizar o ato,
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enquanto a vontade externada é aquela manifestada através das palavras ou ações que
expressam essa intenção.

A interpretação dessas vontades deve ser feita de acordo com a boa-fé objetiva, um
princípio fundamental do Direito Civil que exige que as partes ajam de forma honesta,
leal e razoável em suas relações jurídicas. Isso significa que não basta analisar apenas
o que foi expresso ou declarado pelas partes, mas também é necessário considerar as
circunstâncias envolvidas e os objetivos que razoavelmente seriam esperados por um
observador imparcial.

4.1 EMENTA DE VONTADE

EMENTA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE


QUALQUER NATUREZA (ISSQN). SUBITEM 9.01 DA LISTA DE SERVIÇOS ANEXA À LEI
COMPLEMENTAR Nº 116, DE 2003. CONTRATO DE HOSPEDAGEM. SETOR HOTELEIRO.
PARCELAS QUE INTEGRAM O PREÇO DO SERVIÇO DE HOTELARIA: TODAS COMPÕEM A
BASE DE CÁLCULO DO ISS. 1. A questão constitucional suscitada em abstrato nesta ação consiste
em saber se a Lei Complementar nº 116, de 2003, extravasou a materialidade do Imposto sobre
Serviços de Qualquer Natureza prevista no art. 156, inc. III, da Constituição da República, ao prever
a incidência desse tributo sobre a hospedagem de qualquer natureza em hotéis, apart-service
condominiais, flat, apart-hotéis, hotéis residência, residence-service, suite service, hotelaria
marítima, motéis, pensões e congêneres, além da ocupação por temporada com fornecimento de
serviço. Dito de outra forma, cuida-se de definir se os contratos que veiculam hospedagem de
qualquer natureza nos meios listados no objeto impugnado são preponderantemente serviços para
fins de tributação pelo ISSQN. 2. Preliminar. A satisfação do ônus argumentativo pelo legitimado
ativo no que diz respeito à prova da inconstitucionalidade consiste em matéria típica de mérito. No
caso dos autos, da exordial é possível depreender os elementos previstos no art. 3º da Lei nº 9.868,
de 1999, bem como que mencionado petitório satisfaz os requisitos emanados do repertório
jurisprudencial deste STF. 3. Preliminar. É indevida a extinção anômala da ação direta, em função
de eventual defeito do instrumento de procuração que não impeça a compreensão pelo juízo
constitucional da controvérsia submetida ao controle abstrato de constitucionalidade, bem como é
despiciendo instar a requerente para ratificar seu desejo de propugnar pela inconstitucionalidade
do objeto em questão na hipótese em que parece ser inequívoca a manifestação formalizada
de vontade do legitimado ativo. 4. Fixada na lista anexa à LC nº 116, de 2003, que uma atividade
veicula uma prestação de serviço, ainda que se trata de relação contratual mista ou complexa,
somente se mostra viável defender a inconstitucionalidade dessa opção legislativa, quando a
natureza jurídica do negócio jurídico em questão não corresponda, de fato, a um serviço. No
contrato de hospedagem, a utilidade consiste, em essência, no alojamento temporário e a sua
função típica é a hospitalidade retribuída. Não há o que se confundir entre a relação negocial de
hotelaria e o contrato de locação de bem imóvel. 5. Não é devida a leitura da hospedagem como
uma obrigação de dar, porquanto não se depreende dela, para fins tributários, unicamente uma
locação da unidade habitacional pelo preço vertido na diária. A interpretação constitucional da
materialidade tributária prevista no art. 156, inc. III, da Constituição da República, não se limita à
classificação obrigacional derivada da dogmática civilista. De acordo com o entendimento do
Supremo Tribunal Federal, o ISS incide sobre atividades que representam tanto obrigações de fazer
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quanto obrigações mistas, que também incluem uma obrigação de dar. 6. É inadequado o decote
da base de cálculo do Imposto sobre Serviços de qualquer Natureza com a finalidade de excluir a
parcela referente à locação da unidade habitacional, porque a circulação econômica de serviço
vertida no contrato de hospedagem tem caráter singular, justificando-se a partir de sua visualização
unitária, logo é inviável a cisão apriorística de modo a retirar da base imponível desse imposto
municipal a fração relativa à locação da unidade habitacional. Desse modo, é assente a orientação
jurisprudencial segundo a qual todas as parcelas que integram o preço do serviço de hotelaria
compõem a base de cálculo do ISS. 7. Ação direta de inconstitucionalidade conhecida e julgada
improcedente.

4.2 COMENTÁRIO DA EMENTA

A ementa trata de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) relacionada à


incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) sobre contratos
de hospedagem no setor hoteleiro. A questão principal discutida é se a Lei
Complementar nº 116/2003 extrapolou os limites do artigo 156, inciso III, da Constituição
Federal ao prever a tributação do ISSQN sobre a hospedagem em diversos
estabelecimentos, como hotéis, motéis, apart-hotéis, entre outros.

A decisão aborda diversas questões preliminares, incluindo a análise dos requisitos de


admissibilidade da ação e a interpretação da legislação pertinente. Destaca-se a
discussão sobre a natureza jurídica do contrato de hospedagem e se este se enquadra
como prestação de serviço para efeitos de tributação pelo ISSQN.

O texto ressalta a importância de não confundir a hospedagem com a simples locação


de imóvel, enfatizando que a hospedagem envolve não apenas a disponibilização do
espaço físico, mas também a prestação de serviços relacionados à hospitalidade. Além
disso, discute-se a base de cálculo do ISSQN, argumentando que todas as parcelas que
integram o preço do serviço de hotelaria devem compor a base de incidência do imposto
municipal.

CONCLUSÃO

Ao longo desta discussão, exploramos uma série de questões fundamentais


relacionadas aos negócios jurídicos, desde sua definição básica até implicações práticas
em diversos contextos legais e sociais. Os negócios jurídicos são atos que refletem a
autonomia privada das partes, permitindo a criação, modificação, preservação ou
extinção de relações jurídicas.
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Destacamos que esses atos estão sujeitos a uma série de requisitos legais, incluindo a
capacidade das partes envolvidas, a licitude do objeto e a observância da forma prescrita
em lei. Além disso, a validade do negócio requer consentimento válido e a preservação
dos princípios da boa-fé e da função social do contrato.

A interpretação dos negócios jurídicos vai além da simples análise do texto legal; ela
demanda uma compreensão profunda do contexto em que são realizados. Renomados
civilistas, como Cristiano Chaves, Felipe Braga Neto e Nelson Rosenvald, enfatizam a
importância da autonomia da vontade, ressaltando que a consciência dos efeitos do ato
é mais relevante do que a compreensão da sua juridicidade.

No entanto, é crucial reconhecer que a autonomia da vontade não é absoluta. É


necessário considerar a existência de desequilíbrios entre as partes e a possibilidade de
divergências entre a vontade real e a vontade declarada. O Código Civil Brasileiro adota
uma abordagem intermediária, priorizando a intenção consubstanciada nas declarações
das partes, mas sem ignorar o contexto e os efeitos do negócio.

Em suma, a análise dos negócios jurídicos requer uma abordagem holística, que leve
em conta não apenas os aspectos formais, mas também os valores e princípios
subjacentes ao ordenamento jurídico. Essa compreensão é essencial para garantir a
efetividade dos contratos, promover a justiça nas relações privadas e contribuir para o
desenvolvimento de uma sociedade pautada na segurança jurídica e na equidade.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Beviláqua, Clóvis. Teoria Geral do Direito Civil. 6. ed., Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
2000.

Chaves de Farias, Cristiano, et al. Manual de Direito Civil – Volume Único. 4ª ed., rev.,
ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm, 2019. Miranda, Pontes de. Tratado de Direito
Privado: parte geral. 3. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018.

Farias, Cristiano Chaves de; Netto, Felipe Braga; Rosenvald, Nelson. Manual de Direito
Civil – Volume Único. 4ª ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm, 2019.

Pontes de Miranda, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito Privado: parte geral. 3. ed.,
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018.

Supremo Tribunal Federal (STF). ADI 3089 / DF. Relator: Min. Sepúlveda Pertence.
Julgamento em 01/06/2005. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2501222.
Acesso em: 26 de abril de 2024.

Supremo Tribunal Federal (STF). Agravo Regimental no Recurso Extraordinário com


Agravo 1.007.851. Relator: Min. Luiz Fux. Julgamento em 22/03/2018. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=1007851&cl
asse=RE&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M. Acesso em: 26 de abril de 2024.

Supremo Tribunal Federal (STF). Agravo Regimental no Recurso Ordinário em Habeas


Corpus 127483. Relator: Min. Dias Toffoli. Julgamento em 29/09/2016. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=127483&cla
sse=HC&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M. Acesso em: 26 de abril de 2024.

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