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Julho de 2011
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Índice
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Sumário Executivo
O presente memorando apresenta o projecto Centros de Reclusão e Reintegração Juvenil, que, pela sua
natureza, poderá constituir-se como um instrumento de revitalização do tratamento dado aos
delinquentes juvenis pelo sistema prisional em Angola e do papel dos reclusos jovens no sistema
prisional e na sociedade.
O documento inicia o seu percurso, na Primeira Parte, com um breve resumo da situação actual da
criminalidade em Angola, em especial, entre a população juvenil, identifica as suas causas – de carácter
social e económico – e aponta o caminho da ressocialização como forma de combater o fenómeno e
reduzir os seus efeitos, em especial, após a institucionalização dos jovens no sistema prisional.
De seguida, é abordado enquadramento legal dado ao trabalho na prisão, bem como as nuances
relativas à sua aplicação aos menores de idade. Analisam-se os efeitos positivos do trabalho e da
formação profissional em contexto prisional, e contextualiza-se este tipo de procedimento numa visão
de reintegração, trabalho e formação profissional alargadas, a implementar, de harmonia com as
políticas correntemente seguidas pelo Ministério do Interior.
É contemplada uma breve descrição do modelo de gestão dos centros e das sinergias a criar, com
entidades públicas e privadas locais. Seguidamente, são apresentados casos de estudo internacionais
relativos às experiências de Portugal, Moçambique, Brasil e EUA em relação ao trabalho e formação de
reclusos, e à sua adaptação também numa vertente juvenil.
Na Segunda Parte, mais breve, é abordada, a nível legislativo e no terreno, a forma de concretização
das parcerias entre entidades públicas e privadas necessária para tornar o projecto CERRJ real. São
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apresentadas duas grandes alternativas: as Parcerias Público Privadas convencionais e outros modelos
de contratos entre entidades públicas e privadas adaptáveis ao projecto em questão. Recomendam-se
linhas de actuação para cada uma delas, bem como as condicionantes que afectam cada uma.
Enfim, em jeito de conclusão, efectua-se uma breve análise do trabalho efectuado, apontando alguns
cuidados a ter na sua transposição para o terreno.
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Introdução
A existência de um sistema prisional sobrelotado, aliada à debilidade das qualificações desta população,
cria um cenário em que é necessário intervir de forma integrada.
A criação de Centros de Reclusão e Reintegração Juvenil, que se apresenta neste memorando, poderá
representar o apport necessário para conseguir cumprir esse desígnio, pela combinação das
características disciplinares do ambiente prisional, com a valorização pessoal que a formação
profissional e a oferta de trabalho em ambiente protegido representam.
O presente trabalho pretende participar dessa tarefa, apresentando uma análise incisiva e conceptual
do tema em questão, abordando os seus pontos mais críticos e efectuando um reconhecimento de
estudos de caso relevantes.
Além disso, e visando a sua concretização no terreno, apontam-se caminhos legais para a realização dos
contratos necessários à colaboração entre o Ministério do Interior e as entidades privadas cujo
contributo se revele útil para o projecto em questão.
Pretende-se assim, com este memorando, inaugurar uma nova fase das relações entre os contextos
laboral, formativo e prisional, contribuindo para uma Angola mais justa, mais produtiva e próspera,
tendo sempre como preocupação maior a condução da população juvenil rumo a uma participação
activa e colaborante para com a sociedade angolana.
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Primeira Parte
1
Cf. http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/sociedade/2011/5/22/Policia-regista-mais-cem-crimes-cometidos-
por-menores,a0af5807-9761-4791-b3b7-132270787d81.html
2
Cf. http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/sociedade/2011/5/22/Policia-regista-mais-cem-crimes-cometidos-
por-menores,a0af5807-9761-4791-b3b7-132270787d81.html
3
Vd. De Carvalho, Paulo (2010); Gangues de Rua em Luanda – de passatempo a delinquência. In “Sociologia, Problemas e
Práticas, n.º 63”; pp.75-77.Disponível em http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/spp/n63/n63a05.pdf.
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1) O conflito armado em Angola entre1975 e 2002, que fez com que “uma parte considerável da
população (…) não tenha aprendido outra coisa senão a manejar armas, destruir e matar”4;
2) As elevadas taxas de desemprego (45% de desemprego urbano, 70% no caso dos jovens com menos
de 20 anos);
1) As desigualdade económicas, a quebra de valores morais (mais acentuada nos centros urbanos, a
necessidade de protecção nas ruas são algumas das causas. A possibilidade de obtenção de
rendimentos elevados (Akz 15 000 a 27 000 semanais, chegando por vezes a cerca de Akz 130 000
mensais6) em actividades criminosas são também causas prováveis.
Algumas das soluções apontadas7 para combater o fenómeno são “a acção social do estado e da
sociedade, em prol do aumento do acesso à instrução e ao emprego, no combate à corrupção
generalizada e à pobreza”, inseridas numa visão alargada de inclusão social.
Extrapolando para o caso da população-alvo do projecto que trata este memorando, esta acção social
pode ter lugar também nos estabelecimentos prisionais, com carácter reparatório em relação às
situações de exclusão que já existem, quer com carácter preventivo.
A legislação penal de Angola, à semelhança de muitas outras a nível mundial, efectua uma diferenciação
entre os crimes cometidos por menores e aqueles perpetrados por maiores de 18 anos (art. 7.º). No
4
Idem; p.74
5
In “Angola poverty levels reduce from 68 to 38 percent”, disponível em http://www.ao.undp.org/news149.htm
6
Conversão efectuada de acordo as taxas de câmbio registadas a 15-03-2011
7
Vd. De Carvalho, Paulo (2010); Idem.
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entanto, a diferenciação positiva, que consta do Código Penal em vigor, revela-se insuficiente para
garantir o correcto direccionamento dos jovens em questão.
Este este documento tem como linha orientadora a visão consciente e sensata que o tutelar deste
Ministério tem sobre a estratégia de longo prazo para o combate eficaz da delinquência nos grandes
centros urbanos.
Olhando para uma perspectiva global, quer a nível académico, quer ao nível das práticas utilizadas nos
estabelecimentos prisionais e correccionais de todo o mundo, a aplicação de programas de formação
académica e profissional, e de trabalho remunerado em actividades de cariz lucrativo (se adultos) têm
vindo a ser apontadas como as mais adequadas para tornar efectiva a ressocialização dos reclusos,
adultos e juvenis, desde os muros da prisão até depois do momento da libertação.
8
Cf. http://www.minjus.gov.ao/ServicosDoGovernoD.aspx?Codigo=202
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regular a vida diária no estabelecimento prisional, o próprio recluso adapta-se melhor às regras,
horários e à vida do estabelecimento prisional onde está inserido.
Na lei angolana, este espírito está já presente. Damos conta dos locais onde ele se revela mais intenso:
4) Código Penal, art. 58.º: “na execução das penas privativas de liberdade ter-se-á em vista, sem
prejuízo da natureza repressiva, a regeneração dos condenados e a sua readaptação social.”
Além disso, “o trabalho dos condenados em penas privativas de liberdade terá lugar, em regra,
em oficinas e explorações industriais ou agrícolas próprias dos estabelecimentos prisionais.
Poderá, porém, nos termos estabelecidos em legislação especial, ser permitida a ocupação dos
condenados fora das prisões”, determinando ainda que “o trabalho prisional é remunerado. O
produto da remuneração deve ser aplicado em conformidade com os regulamentos, de maneira
a reforçar a consciência dos deveres morais, familiares e sociais dos condenados e a facilitar a
sua readaptação à vida em liberdade, após o cumprimento da pena.”
5) Código Penal, art. 119.º: aos “condenados com exemplar comportamento na prisão, que derem
provas durante a execução da pena de grande aptidão para o trabalho, poderá ser concedido,
nos termos estabelecidos em regulamento, o resgate parcial da pena de prisão ou prisão maior,
até ao limite de um dia de prisão por três dias de trabalho particularmente pesado, efectuado
com notável diligência ou de excepcional importância, rendimento e perfeição”, sendo que “a
aprendizagem de um ofício ou mester, com diligência e reconhecida aptidão, constitui motivo
bastante para a apresentação ao tribunal competente de proposta de cessação da medida de
internamento em caso de trabalho ou colónia agrícola (…).”
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Para sustentar esta actividade laboral e a sua continuidade após o término do cumprimento das penas,
é fundamental implementar programas de formação académica e profissional, que visam dotar os
jovens de competências que lhes permitam vir a exercer algum tipo de profissão.
Esta formação pode concretizar-se através de programas orientados para a obtenção da escolaridade
obrigatória ou a frequência em cursos de formação profissional, ambos com vertentes práticas
intensificadas.
1.) atender às reais necessidades de procura existentes no mercado de trabalho onde o Centro
concretamente se insira, nomeadamente através da secção da oferta formativa de harmoniosa com
as actividades económicas predominantes ou a desenvolver na região em que cada centro e jovem
se inserem;
2.) ter em atenção as singularidades específicas de cada jovem. De acordo com essas especificidades,
os Centros deverão estar preparados para traçar um plano ou percurso formativo para cada jovem,
que visa, em última análise, que o mesmo se torne eficaz.
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O sistema prisional de Angola comporta hoje uma população de mais de 19 000 reclusos, distribuídos
por 34 estabelecimentos, em plena sobrelotação. Destes, 80 por cento tem idade inferior a 30 anos, e
68 por cento apresenta um nível de escolaridade abaixo do 6.º ano9.
Num cenário desta natureza, em que se vê o perfil da maior parte dos reclusos como jovens, pouco
qualificados e sem perspectivas de uma vida laboral ou familiar próspera, urge tomar medidas que
contrariem estas tendências, e que possam, pelo desvio dos jovens de ciclos recorrentes de
institucionalização em estabelecimentos prisionais e pelo estímulo à sua integração na sociedade.
1.) “Protecção”: visa proteger a sociedade do jovem recluso, bem como o recluso da sociedade.
Assenta na consciencialização do jovem para os seus limites, para a importância da organização
pessoal, através da disciplina, aquisição de hábitos de higiene, trabalho, ordem, serviços essenciais
de alimentação, alojamento e actividades sociais, e formação ao nível dos limites e autogestão.
9
Cf. http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2011/3/16/Reclusos-Viana-ganham-estabelecimento-
ensino,b102ae32-e223-4242-859c-910a226b72c1.html
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A aplicação destas etapas deverá ser supervisionada e executada por recursos humanos especializados.
A mesma linha de intenções é seguida pela Direcção dos Serviços Prisionais, que no memorando “Pela
melhoria dos serviços de reeducação com integridade, confiança e qualidade”10, estabelece como
objectivos principais daquele órgão a “reeducação e enquadramento no processo de ensino e
aprendizagem de artes e ofícios tendo em vista a reconversão do recluso após o cumprimento da pena”,
a “construção e reabilitação de novos Estabelecimentos Prisionais a nível do país”, “diversificar e
aumentar a capacidade produtiva nos domínios da agro-pecuária e pesca, nos estabelecimentos
prisionais a nível do país”, “melhorar as condições de habitabilidade dos reclusos com principal
incidência na rede de água e saneamento básico” e “programar seminários de capacitação profissional,
a nível dos estabelecimentos prisionais do país”.
Ao nível das práticas patentes, seleccionamos três casos recentes como exemplos de sucesso:
10
In “Pela melhoria dos serviços de reeducação com integridade, confiança e qualidade”, s/d: p.2. Disponível em
http%3A%2F%2Fwww.minint.gov.ao%2FabrirDownload.aspx%3Ftipo%3D2%26bdCampo1%3DPBFILE%26cod%3D442&rct=j&q=
direc%C3%A7%C3%A3o%20servi%C3%A7os%20prisionais%20angola&ei=4B_7TeytOIyDhQf82aWiAw&usg=AFQjCNGB0gTAKcdf
6abm2w2_1qrXlujpIQ&cad=rja
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1) A criação, pelo Ministério do Interior, através do Decreto Executivo conjunto n.º 147, de
estabelecimentos de ensino, de nível básico e secundário, nos estabelecimentos prisionais, através
do designado Programa Nacional de Alfabetização e Recuperação do Atraso Escolar.
2) A existência de acções promovidas pelo ministério do Interior que visam o fomento da realização
de experiências produtivas industrializadas, que poderão ser alcançadas através de protocolos ou
parcerias público-privadas, como já foi concretizado com os Ministérios da Educação e da
Juventude e do Desporto e com a FESA, optimizando recursos e reduzindo custos.
3) A nível regional, têm vindo a ser implementadas unidades penitenciárias com centros de
reeducação de reclusos, como na unidade penitenciária da Comarca de Malange, que visam a
dotação destes com competências profissionais em áreas profissional como a carpintaria, mecânica
e electricidade.
11
Cf. http://jornaldeangola.sapo.ao/18/0/fraternidade_prisional_internacional_promove_a_recuperacao_dos_reclusos
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de idade, com separação por género, e em cada estabelecimento, inclusão de um escalonamento por
nível etário.
Assentes num princípio agregador de proporcionar uma segunda oportunidade e um futuro estruturado,
os Centros constituem-se como estruturas de pequena dimensão, de carácter regional, que oferecem
uma solução de reclusão, aliada à formação académica e profissional, e ao trabalho. Além disso,
envolvidos em parcerias com empresas locais, permitem aliar o trabalho e a formação profissional dos
utentes à geração de lucro e à contribuição para a economia local.
3) Proporcionar uma solução penal alternativa à prisão tout court, assente numa vertente
pedagógica e formativa muito fortes;
5) Promoção da convivência sã dos utentes entre si, com as autoridades policiais e com as
comunidades envolventes;
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A concretização de tais objectivos depende de criação de planos estratégicos para todo o programa
educacional e laboral a desenvolver, de forma a mobilizar os recursos humanos, técnicos, materiais e
financeiros de forma optimizada, e tendo em consideração as singularidades de cada Centro.
Na disponibilização das actividades laborais e formativas aos jovens inclusos, deve ter-se igualmente em
consideração as necessidades de aprendizagem de uma forma que permita encontrar correspondência
com as necessidades do mercado local. Assim, deverá verificar-se uma constante adaptação dos
programas desenvolvidos às necessidades do País, e à realidade local, principalmente nas zonas rurais,
mas também às rápidas e incessantes transformações técnico-científicas e à complexidade da realidade
socioeconómica de Angola, factores que exigem destes Centros um contínuo ajustamento dos
conceitos, objectivos e métodos de actuação.
Visa-se, acima de tudo, proporcionar a estes jovens um ambiente físico e emocional fértil para a
aquisição de auto-estima e iniciativa pessoal, transmitindo-lhes as ferramentas necessárias à integração
numa sociedade moderna e democrática, criando hábitos e aptidões que não só os auxiliem na sua
reinserção social, como também sejam determinantes para o seu desenvolvimento.
Deve ser assegurado o direito de escolha e prática de uma profissão condigna aos jovens reclusos,
adaptada às necessidades das suas comunidades, com perspectivas de futuro.
Para assegurar a eficiência dos Centros, é necessária a adesão voluntária dos utentes em reclusão.
Tendo em conta o seu perfil, muitas vezes marcados por uma fraca familiaridade com o ambiente do
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disposição territorial destes Centros deve ter em conta o potencial, ao nível dos recursos naturais,
físicos e tecnológicos de cada área geográfica, com vista a maximizar a oferta formativa e de trabalho
disponível, bem como a adequação dos programas e actividades formativas e laborais às necessidades
da economia local.
A localização das estruturas em causa assume uma importância cimeira também pela sua
proximidade/distância dos locais de proveniência dos reclusos ou jovens condenados a penas em regime
aberto. No caso em apreço, preconiza-se neste memorando uma solução que mantenha, ao nível da
distribuição dos jovens, uma elevada proximidade às suas comunidades de origem e à sua zona de
residência. Esta poderá potenciar não só uma melhor adequação da formação ou trabalho a desenvolver
à sua vida em liberdade, como no caso do trabalho comunitário poderá existir uma maior proximidade
dos beneficiários, incrementando a eficácia da reabilitação dos jovens.
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3) Biblioteca: deverá contar, com manuais adequados às matérias leccionadas ao nível escolar e da
formação profissional, bem como uma selecção de jornais e revistas angolanas e internacionais.
7) Refeitório: assegura a alimentação dos utentes, até um máximo de 300, estejam em regime
interno ou aberto.
8) Anfiteatro: espaço com capacidade para cerca de 300 pessoas em condições de conforto,
equipado com uma tela de grandes dimensões poderá constituir-se como pólo de atracção
comunitária para a realização de eventos, como espectáculos musicais e teatrais, projecção de
filmes, conferências, festas. A sua multifuncionalidade poderá ainda garantir uma melhoria da
sustentabilidade financeira do centro, através do seu aluguer, a instituições e particulares.
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Consideramos que estes são os equipamentos necessários para garantir o funcionamento em pleno do
projecto dos Centros de Interacção Comunitários.
A dinamização dos Centros de Reclusão e Reintegração Juvenil deverá contar com recursos humanos de
qualificações diversas, que integrem a instituição, além de outros que serão contratados externamente.
1) Guardas: mantêm a disciplina e a segurança do centro e dos seus utentes. Deverão ser
alocados em proporção ao número de utentes, de modo semelhante ao utilizado em
estabelecimentos prisionais.
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Para que os recursos humanos possam desenvolver de forma eficaz tanto as tarefas que lhes são afectas
como contribuir activamente para o sucesso da política de reintegração de cada um dos jovens, é
essencial que recebam formação adequada.
A oferta formativa e de trabalho dos Centros de Reclusão e Reinserção de Jovens assenta em três
pilares:
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Nestes cursos deverão ser sempre introduzidas técnicas de aproximação entre as forças policiais e os
reclusos, no sentido da aculturação dos reclusos à capacidade de apoio, de proximidade e segurança
que representam as forças policiais no seio das comunidades.
De forma genérica, visa-se a implementação de uma educação global que visa o desenvolvimento
harmonioso da pessoa humana, nas suas dimensões individual, social, comunitária e transcendental.
Dotar os jovens reclusos de um sentido de liberdade responsável, capacidade de tomar decisões
pessoais, espírito de solidariedade com o mundo em que estão inseridos, de respeito e convívio são
metas a alcançar nos Centros.
Como já foi referido supra, as competências a adquirir pelos jovens nestes Centros deve ter em
consideração as reais necessidades de procura no mercado onde os mesmos se vão inserir aquando do
final do período de reclusão. Para tanto, é essencial implementar planos de aprendizagem que integrem
os conteúdos tecnológicos e técnicos definidos especificamente para cada profissão, ao mesmo tempo
que sejam ajustados às realidades de cada localidade.
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3. Casos de estudo
3.1. Portugal
12
http://www.addsolutions.pt/cvp_t/noticias/paineis_livroprisoes.pdf
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5) Em Tires, a marca Reklusa13, desenvolvida por designers do IADE, instituto superior de design
português, em 2010, conta com a mão-de-obra das reclusas daquele estabelecimento prisional
para comercializar acessórios que variam, em preços entre €35 e €85. Além da formação e
matérias-primas, a empresa remunera as reclusas.
Em todos estes casos, estão envolvidos cidadãos maiores de idade ou menores em regime de reclusão.
O trabalho efectuado é remunerado, revestindo, no caso dos menores, a forma de bolsa de formação.
3.2. Moçambique
13
Cf. http://www3.uma.pt/aauma/index.php?option=com_content&view=article&id=1384:projecto-reklusa-no-
iade&catid=72:informacoes
14
Cf. http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/09/reclusas-de-ndlavela-produzem-34-mil-frangos.html
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recuperou também 10 tanques para piscicultura, sendo cinco na província de Inhambane, dois em
Manica e os restantes em Niassa.
3.3. Brasil.
No caso brasileiro, o trabalho, associado ao regime prisional, tem também originado casos de sucesso. O
Projecto “Começar de Novo”, que conta com a colaboração de entidades empresariais de todo o país, e
foi desenvolvido pelo Conselho Nacional de Justiça, criou uma bolsa de empregos a que os reclusos se
podem candidatar, promovendo parcerias que assegurem o desenvolvimento de um trabalho produtivo
comum, ao nível da área da manufactura de produtos têxteis.
Em colaboração com a Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel, os serviços prisionais do estado de S.
Paulo desenvolveram o “Programa do Preso”, que tem atraído o interesse de muitas empresas locais.
Aqui ministra-se formação profissional, trabalha-se e estuda-se, em particular nos Centros de Educação
Penitenciários em áreas como a costura, marcenaria, mecânica. No total, são mais de 39.000 presos,
51,30% da população de presos condenados, trabalhando dentro e fora das Unidades Penais, conforme
o regime a que estão submetidos. Estas relações de trabalho são normalizadas e reguladas pela Lei de
Execuções Penais (LEP) e não pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Nos Estados Unidos, o Prison Industry Enhancement Certification Program (PIECP)15 tem-se revelado,
desde 1979, um caso de sucesso. O programa envolve, em média 2500 participantes por ano, conta com
a parceria de múltiplas empresas privadas e vários estabelecimentos prisionais.
O programa, lançado pelo senado norte-americano, tem permitido formar reclusos em diversas áreas
profissionais, em especial, na indústria. O resultado tem sido o estabelecimento de relações e de
15
http://www.nij.gov/journals/257/real-work-programs.html
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parceria que têm permitido obter um verdadeiro impacto económico: placas de alumínio para a Solar
Industries, Inc.; circuitos para a Joint Venture Electronics; escovas para a United Rotary Brush
Corporation; luvas para a Hawkeye Glove Manufacturing, Inc.; o fabrico e reciclagem de automóveis
para Shelby American Management Co, além da produção de alfafa para a Five Dot, embalamento de
papaia para a Tropical Hawaiian Products, entre outros.
O programa envolve formação e trabalho, destina-se a reclusos em regime de prisão, mas também
aberto. A taxa de reincidência em actos criminosos, de acordo com as estatísticas, é de 60% ao fim de
três anos após a libertação, entre os que participaram no programa.
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Segunda Parte
O modelo de gestão dos Centros de Reclusão e Reinserção Juvenil assenta em duas vertentes essenciais.
De um lado, uma componente de gestão pública, sob a alçada da Direcção dos Serviços Prisionais. Esta
determina a existência e modelo de gestão dos regimes de reclusão fechado e aberto, bem como a sua
interacção, no âmbito da formação e desenvolvimento de actividades laborais, em conjunto com as
respectivas direcções provinciais, municípios e comunas.
Por outro lado, as actividades laborais serão desenvolvidas em parceria com empresas locais, com vista
à produção de bens e prestação de serviços, cujos lucros reverterão, em parte para a empresa parceira,
que fornecerá a matéria-prima e instrumentos de trabalho, para o utente/formando, através de
transferência bancária para a sua família/encarregado de educação, e para o Centro de Reclusão e
Reinserção Juvenil, que reterá parte da produção para consumo próprio, e dos lucros, com vista ao seu
autofinanciamento.
No entanto, embora esta visão pareça eminentemente prática e fácil de implementar, ela tem
condicionantes legais, que importa analisar, propondo alternativas eficazes. Assim, abordamos de
seguida, a aplicabilidade do modelo clássico de Parcerias Público Privadas a projecto CERRJ e outras
alternativas contratuais, igualmente eficazes, complementares e até mais adequadas em alguns
aspectos da concretização do projecto.
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O Ministério do Interior, com o projecto CERRJ, tem vindo a reunir esforços no sentido de promover o
desenvolvimento de projectos que se consubstanciam como desafios de mudança e inovação dos
serviços prisionais, com reflexos na cultura organizacional, na formação dos diversos grupos prisionais,
na formulação de novos métodos de trabalho, que visam, em última análise, a reinserção social da
população reclusa.
Com efeito, a abertura do sistema prisional ao estabelecimento de relações com entidades privadas,
potencia a abertura dos estabelecimentos prisionais aos diversos sectores da sociedade. Através deste
tipo de relação, é possível atribuir às empresas oportunidades de trabalho num território fértil de
negócios, garantindo o Governo todas as condições necessárias à sua permanência em território
nacional bem como o estabelecimento de oportunidades de trabalho às quais se associa a
disponibilização de uma mão-de-obra barata e extremamente motivada. Ao mesmo tempo, através
deste mecanismo de cooperação, o Governo de Angola vê os desígnios de reabilitação dos seus reclusos
potenciada por via do exercício de uma actividade laboral com todas as vantagens a isso associadas.
Nesse espírito, foi recentemente aprovada a Lei da Contratação Pública e Lei das Parcerias Público-
Privadas.
De acordo com a lei n.º 2/2011, de 14 de Fevereiro, as parcerias Público-Privadas são contratos em que
as entidades privadas se obrigam, de forma duradoura, perante um parceiro público, a assegurar o
desenvolvimento de uma actividade tendente à satisfação de uma necessidade colectiva. Pressupõe-se,
nesse âmbito, uma partilha de riscos claramente identificada, devendo ser repartidos entre as partes, de
acordo com a sua capacidade de gerir os mesmos.
São finalidades essenciais destas parcerias, o acréscimo de eficiência na afectação de recursos públicos e
a melhoria qualitativa e quantitativa do serviço, sendo aplicável a projectos cujo desenvolvimento
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requer, da parte dos parceiros, elevadas capacidades financeira, técnica e de gestão de recursos e a
manutenção de condições de sustentabilidade adequadas durante a vida do contrato.
Para o efeito, as Parcerias Público Privadas podem ser constituídas mediante inúmeras formas e
tipologias contratuais, ficando excluídos os contratos seguintes:
De acordo com exposto, fica patente um ponto prévio: apenas poderão ser incluídos no modelo
Parcerias Público-Privadas os contratos de maior dimensão do projecto CERRJ, em especial os
respeitantes a infra-estruturas de grande escala, ou os contratos relativos a formação académica e
profissional que atinjam valores importantes pela sua escala de aplicação, no espaço ou no tempo.
Ao nível das obrigações de cada parte, destacam-se, do lado das entidades privadas:
2) Redução de custos com a mão-de-obra utilizada tendo em conta que os salários a liquidar aos
reclusos são significativamente inferiores aos dos restantes trabalhadores;
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Da parte das entidades públicas que possam celebrar a parceria em questão, sublinham-se as
obrigações que se seguem:
3) Selecção dos reclusos mais adequados para a realização das diversas actividades laborais;
2) Diminuição de custos;
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6) Fomento do investimento privado, ao permitir que este seja direccionado para áreas e segmentos
de mercado tradicionalmente entregues ao Estado;
Na verdade, o que acontece é que a repartição dos riscos do negócio em causa, entre os parceiros,
permite naturalmente, a obtenção das vantagens acima descritas. Esse facto adquire tanto maior
importância quanto algumas actividades económicas, em declínio noutros países, poderão conhecer em
Angola um crescimento notável com as repercussões ao nível do trabalho e do emprego. A título de
exemplo, referem-se a Construção Civil; Mecânica; Serralharia; Sapataria; Tipografia; Fotografia;
Encadernação; Agricultura; Horticultura; Jardinagem; Carpintaria; Marcenaria; Artesanato; Canalização;
Serralharia civil e/ou mecânica; Informática; Tratamento de dados; Telemarketing; Cestaria; Restauro.
Como alternativa ao modelo descrito atrás, e uma vez que, caso o investimento no projecto CERRJ se
configure em várias fase de escala mais reduzida que o limite mínimo de AKz 500.000.000,00, podem ser
também abordadas pelo Ministério do Interior outras formas de parceria com entidades privadas. O art.
3.º da Lei n.º2/2011 explicita que “quando a especificidade de determinado sector o justifique, podem
ser criados, por lei, regimes sectoriais especiais, nos termos dos quais serão definidas as normas que se
revelem necessárias ou convenientes, em virtude das características particulares do sector em causa,
para assegurar a prossecução dos fins e o cumprimento dos pressupostos gerais da constituição de
Parcerias Público-Privadas.
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De entre as alternativas, apresentam-se duas linhas principais: os protocolos com entidades públicas e
os contratos públicos:
2. Contratos Públicos: podem revestir múltiplas naturezas. No caso dos aplicáveis ao projecto CERRJ,
serão mais adequados os Contratos de Obras Públicas ou os Contratos de Aquisição de Serviços.
2.1 No caso dos Contratos de Obras Públicas, estes podem garantir, por exemplo, no caso em
apreço, a utilização de mão-de-obra prisional em obras públicas a que esta seja adequada,
como por exemplo, a construção de uma via ferroviária ou rodoviária, ou a construção de
uma escola pública. Para isso, e entidade contratante deverá celebrar um contrato de
empreitada, como tipificado na Lei de Contratação Pública, relativo à obra em questão.
2.2 Já para a situação em que se pretenda celebrar Contratos de Aquisição de Serviços, estes
poderão, por exemplo, resultar na contratação de entidades que possam ministrar
formação aos reclusos, para que estes possam vir a desempenhar uma actividade laboral,
mediante um pagamento.
No caso dos Contratos de Concessão, que partilham muitas das vantagens das Parcerias
Público-Privadas, poderiam ser utilizados Contratos de Concessão de Obras Públicas, o
concessionário, que será a entidade privada, obriga-se perante a entidade pública
contratante, a concedente, a executar ou a conceber e executar uma determinada obra
pública, mediante a contrapartida da exploração dessa obra, por um determinado período
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Por fim, e à margem dos elementos referidos, poderia ainda ser adoptada a possibilidade de se unirem
diversos tipos contratuais existentes, num único contrato, ou de se criarem modelos atípicos de
contratos, através dos quais as entidades públicas sectoriais poderão igualmente desenvolver a política
que ora se documenta.
Através da união de contratos, será possível, a título de exemplo, contratar uma determinada empresa
privada para a construção de uma escola, mas ao mesmo tempo adquirir os serviços dessa empresa no
que respeita à formação da mão-de-obra que vão utilizar nessa mesma construção.
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Paralelamente a este tipo de uniões contratuais, parece ser igualmente possível a criação de modelos
contratuais que não estejam concretamente tipificados na lei, mas que permitam adaptar as finalidades
objectivadas com o presente projecto, à contratação de uma empresa privada.
2. Conclusões
Em geral, é possível afirmar que o modelo, pelas suas características, se adapta da melhor forma ao
panorama da criminalidade juvenil angolana. A sua natureza pública, em conjunção com parcerias com
entidades privadas, faz deste projecto uma fonte de oportunidades valiosas para assegurar uma
correcta reintegração dos reclusos jovens e prevenção do seu regresso aos caminhos da criminalidade.
Com base nos casos de estudo analisados, verifica-se que o modelo preconizado para Angola já é
utilizado, em muitos países, como comum para reclusos juvenis adultos e menores, desde que
acautelada a nuance legal da adaptação dos currículos e remuneração para um modelo de formação.
Para além disso, mediante a análise dos vários modelos de parceria com entidades privadas, o presente
documento demonstra serem múltiplas e flexíveis as formas de colaboração que podem ocorrer no
projecto CERRJ, e que poderão, sem dúvida, proporcionar ganhos significativos com a sua concretização.
Acrescente-se, como nota final, que se trata de um modelo de âmbito local, que funciona melhor com
um número reduzido de utentes, e que não deve ser aplicado a quantidades massivas de pessoa, sob
pena de perder muita da sua eficácia.
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