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Memorando de Reflexão sobre o


Projecto CERRJ
- Centros de Reclusão e
Reintegração Juvenil -

Julho de 2011

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Índice

Sumário Executivo .........................................................................................................................................3


Introdução .....................................................................................................................................................5
Primeira Parte

1. Delinquência juvenil, sistema prisional e reinserção social. ................................................................6


1.1. Delinquência juvenil em Angola ....................................................................................................6
1.2. Lei penal, delinquência e reinserção social ...................................................................................7
1.3. Reinserção Social através do trabalho – o papel da formação .................................................. 10
1.4. O sistema prisional angolano e as ambições de uma reabilitação assente no trabalho e na
formação ................................................................................................................................................ 11
2. Centros de Reclusão e Reintegração Juvenil ..................................................................................... 13
2.1. Conceito e objectivos ................................................................................................................. 13
2.2. Factores de eficiência ................................................................................................................. 15
2.3. Disposição territorial estratégica ............................................................................................... 16
2.4. Recursos Físicos e Tecnológicos ................................................................................................. 17
2.5. Recursos Humanos ..................................................................................................................... 19
2.6. Recursos Programáticos ............................................................................................................. 20
3. Casos de estudo ................................................................................................................................. 22
3.1. Portugal ...................................................................................................................................... 22
3.2. Moçambique .............................................................................................................................. 23
3.3. Brasil. .......................................................................................................................................... 24
3.4. Estados Unidos da América ........................................................................................................ 24
1. Parcerias entre o Ministério do Interior e entidades privadas: dois caminhos complementares .... 26
Segunda Parte

1.1 O Modelo de Parcerias Publico-Privada e a sua aplicabilidade aos CERRJ................................. 27


1.2 CERRJ e modelos alternativos de parcerias com investidores privados .................................... 30
2. Conclusões ......................................................................................................................................... 33

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Sumário Executivo

O presente memorando apresenta o projecto Centros de Reclusão e Reintegração Juvenil, que, pela sua
natureza, poderá constituir-se como um instrumento de revitalização do tratamento dado aos
delinquentes juvenis pelo sistema prisional em Angola e do papel dos reclusos jovens no sistema
prisional e na sociedade.

O documento inicia o seu percurso, na Primeira Parte, com um breve resumo da situação actual da
criminalidade em Angola, em especial, entre a população juvenil, identifica as suas causas – de carácter
social e económico – e aponta o caminho da ressocialização como forma de combater o fenómeno e
reduzir os seus efeitos, em especial, após a institucionalização dos jovens no sistema prisional.

De seguida, é abordado enquadramento legal dado ao trabalho na prisão, bem como as nuances
relativas à sua aplicação aos menores de idade. Analisam-se os efeitos positivos do trabalho e da
formação profissional em contexto prisional, e contextualiza-se este tipo de procedimento numa visão
de reintegração, trabalho e formação profissional alargadas, a implementar, de harmonia com as
políticas correntemente seguidas pelo Ministério do Interior.

Os Centros de Reclusão e Reintegração Juvenil são então apresentados. É desenvolvido o conceito,


enumerados alguns factores de eficiência a desenvolver, bem como os traços de uma política inclusiva
a implementar. Enfatiza-se a importância de uma disposição territorial dos equipamentos estar
enquadrada numa estratégia adaptada a cada realidade económica local, e enumerados os múltiplos
recursos a alocar ao mesmo, a nível físico, humano e programático.

É contemplada uma breve descrição do modelo de gestão dos centros e das sinergias a criar, com
entidades públicas e privadas locais. Seguidamente, são apresentados casos de estudo internacionais
relativos às experiências de Portugal, Moçambique, Brasil e EUA em relação ao trabalho e formação de
reclusos, e à sua adaptação também numa vertente juvenil.

Na Segunda Parte, mais breve, é abordada, a nível legislativo e no terreno, a forma de concretização
das parcerias entre entidades públicas e privadas necessária para tornar o projecto CERRJ real. São

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apresentadas duas grandes alternativas: as Parcerias Público Privadas convencionais e outros modelos
de contratos entre entidades públicas e privadas adaptáveis ao projecto em questão. Recomendam-se
linhas de actuação para cada uma delas, bem como as condicionantes que afectam cada uma.

Enfim, em jeito de conclusão, efectua-se uma breve análise do trabalho efectuado, apontando alguns
cuidados a ter na sua transposição para o terreno.

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Introdução

Os jovens representam em Angola uma percentagem muito importante da população. O seu


envolvimento nas malhas da criminalidade representa um fenómeno muito negativo que importa
combater e prevenir com firmeza.

A existência de um sistema prisional sobrelotado, aliada à debilidade das qualificações desta população,
cria um cenário em que é necessário intervir de forma integrada.

A criação de Centros de Reclusão e Reintegração Juvenil, que se apresenta neste memorando, poderá
representar o apport necessário para conseguir cumprir esse desígnio, pela combinação das
características disciplinares do ambiente prisional, com a valorização pessoal que a formação
profissional e a oferta de trabalho em ambiente protegido representam.

O presente trabalho pretende participar dessa tarefa, apresentando uma análise incisiva e conceptual
do tema em questão, abordando os seus pontos mais críticos e efectuando um reconhecimento de
estudos de caso relevantes.

Além disso, e visando a sua concretização no terreno, apontam-se caminhos legais para a realização dos
contratos necessários à colaboração entre o Ministério do Interior e as entidades privadas cujo
contributo se revele útil para o projecto em questão.

Pretende-se assim, com este memorando, inaugurar uma nova fase das relações entre os contextos
laboral, formativo e prisional, contribuindo para uma Angola mais justa, mais produtiva e próspera,
tendo sempre como preocupação maior a condução da população juvenil rumo a uma participação
activa e colaborante para com a sociedade angolana.

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Primeira Parte

1. Delinquência juvenil, sistema prisional e reinserção social.

1.1. Delinquência juvenil em Angola

O fenómeno da criminalidade perpetrada por jovens é um fenómeno que preocupa as autoridades de


Angola. De acordo com as estatísticas do primeiro trimestre de 2011, verificaram-se 137 crimes
cometidos por menores na província de Luanda1, e 34 na província de Benguela2. A amostra, relativa às
duas províncias mais populosas do país, permite extrapolar números preocupantes.

A delinquência juvenil em Angola tem vindo a evoluir de um cenário de delinquência esporádica e de


iniciativa individual para formações colectivas hierarquizadas e de organização complexa, semelhantes a
“gangues”. De acordo com o sociólogo Paulo de Carvalho3, os grupos reúnem, por vezes dezenas de
elementos, jovens entre os 14 e os 35 anos, e crianças entre os 7 e os 13 anos de idade, de classes
desfavorecidas, mas também de classe média. O seu quotidiano concretiza-se na prática de crimes como
os roubos na via pública, agressões e até homicídios.

As causas deste fenómeno social, referem os especialistas, são estruturais:

1
Cf. http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/sociedade/2011/5/22/Policia-regista-mais-cem-crimes-cometidos-
por-menores,a0af5807-9761-4791-b3b7-132270787d81.html
2
Cf. http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/sociedade/2011/5/22/Policia-regista-mais-cem-crimes-cometidos-
por-menores,a0af5807-9761-4791-b3b7-132270787d81.html
3
Vd. De Carvalho, Paulo (2010); Gangues de Rua em Luanda – de passatempo a delinquência. In “Sociologia, Problemas e
Práticas, n.º 63”; pp.75-77.Disponível em http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/spp/n63/n63a05.pdf.
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1) O conflito armado em Angola entre1975 e 2002, que fez com que “uma parte considerável da
população (…) não tenha aprendido outra coisa senão a manejar armas, destruir e matar”4;

2) As elevadas taxas de desemprego (45% de desemprego urbano, 70% no caso dos jovens com menos
de 20 anos);

3) A incidência da pobreza (38% em 2009, de acordo com a ONU)5;

1) As desigualdade económicas, a quebra de valores morais (mais acentuada nos centros urbanos, a
necessidade de protecção nas ruas são algumas das causas. A possibilidade de obtenção de
rendimentos elevados (Akz 15 000 a 27 000 semanais, chegando por vezes a cerca de Akz 130 000
mensais6) em actividades criminosas são também causas prováveis.

Algumas das soluções apontadas7 para combater o fenómeno são “a acção social do estado e da
sociedade, em prol do aumento do acesso à instrução e ao emprego, no combate à corrupção
generalizada e à pobreza”, inseridas numa visão alargada de inclusão social.

Extrapolando para o caso da população-alvo do projecto que trata este memorando, esta acção social
pode ter lugar também nos estabelecimentos prisionais, com carácter reparatório em relação às
situações de exclusão que já existem, quer com carácter preventivo.

1.2. Lei penal, delinquência e reinserção social

A legislação penal de Angola, à semelhança de muitas outras a nível mundial, efectua uma diferenciação
entre os crimes cometidos por menores e aqueles perpetrados por maiores de 18 anos (art. 7.º). No

4
Idem; p.74
5
In “Angola poverty levels reduce from 68 to 38 percent”, disponível em http://www.ao.undp.org/news149.htm
6
Conversão efectuada de acordo as taxas de câmbio registadas a 15-03-2011
7
Vd. De Carvalho, Paulo (2010); Idem.
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entanto, a diferenciação positiva, que consta do Código Penal em vigor, revela-se insuficiente para
garantir o correcto direccionamento dos jovens em questão.

Note-se, como aspecto favorável em perspectiva, ao nível da intenção do legislador, a inclusão no


anteprojecto do novo Código Penal8, ainda por aprovar, no art. 17.º, da inimputabilidade criminal aos
menores de 14 anos, reservando aos menores de 16 anos uma pena máxima de prisão de 3 anos, e
recomendando que esta seja substituída, sempre que possível, por “pena não detentiva adequada”. A
inclusão de uma recomendação para que os menores de 18 anos cumpram “penas privativas de
liberdade em estabelecimentos próprios de detenção, educação e formação” potencia a criação de
estruturas correccionais diferenciadas para jovens, e que poderão marcar uma nova fase no tratamento
dado aos criminosos juvenis. O presente memorando partilha do mesmo espírito diferenciador, e
pretende conjugar esforços para aproveitar o enquadramento legal que se avizinha para melhorar
substancialmente o cenário penal aplicável à criminalidade juvenil e contribuir de forma activa para a
prevenção da reincidência.

Este este documento tem como linha orientadora a visão consciente e sensata que o tutelar deste
Ministério tem sobre a estratégia de longo prazo para o combate eficaz da delinquência nos grandes
centros urbanos.

Olhando para uma perspectiva global, quer a nível académico, quer ao nível das práticas utilizadas nos
estabelecimentos prisionais e correccionais de todo o mundo, a aplicação de programas de formação
académica e profissional, e de trabalho remunerado em actividades de cariz lucrativo (se adultos) têm
vindo a ser apontadas como as mais adequadas para tornar efectiva a ressocialização dos reclusos,
adultos e juvenis, desde os muros da prisão até depois do momento da libertação.

O trabalho prisional é ainda um importante instrumento da manutenção da ordem e da segurança na


prisão, nomeadamente atenuando as consequências negativas da inactividade, tais como o consumo de
drogas, os jogos ilícitos ou a violência. Para além de ser mais fácil para o corpo de guardas prisionais

8
Cf. http://www.minjus.gov.ao/ServicosDoGovernoD.aspx?Codigo=202
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regular a vida diária no estabelecimento prisional, o próprio recluso adapta-se melhor às regras,
horários e à vida do estabelecimento prisional onde está inserido.

Na lei angolana, este espírito está já presente. Damos conta dos locais onde ele se revela mais intenso:

4) Código Penal, art. 58.º: “na execução das penas privativas de liberdade ter-se-á em vista, sem
prejuízo da natureza repressiva, a regeneração dos condenados e a sua readaptação social.”
Além disso, “o trabalho dos condenados em penas privativas de liberdade terá lugar, em regra,
em oficinas e explorações industriais ou agrícolas próprias dos estabelecimentos prisionais.
Poderá, porém, nos termos estabelecidos em legislação especial, ser permitida a ocupação dos
condenados fora das prisões”, determinando ainda que “o trabalho prisional é remunerado. O
produto da remuneração deve ser aplicado em conformidade com os regulamentos, de maneira
a reforçar a consciência dos deveres morais, familiares e sociais dos condenados e a facilitar a
sua readaptação à vida em liberdade, após o cumprimento da pena.”

5) Código Penal, art. 119.º: aos “condenados com exemplar comportamento na prisão, que derem
provas durante a execução da pena de grande aptidão para o trabalho, poderá ser concedido,
nos termos estabelecidos em regulamento, o resgate parcial da pena de prisão ou prisão maior,
até ao limite de um dia de prisão por três dias de trabalho particularmente pesado, efectuado
com notável diligência ou de excepcional importância, rendimento e perfeição”, sendo que “a
aprendizagem de um ofício ou mester, com diligência e reconhecida aptidão, constitui motivo
bastante para a apresentação ao tribunal competente de proposta de cessação da medida de
internamento em caso de trabalho ou colónia agrícola (…).”

O enquadramento legal actual e futuro avizinha-se favorável ao posicionamento progressivo do trabalho


como forma de reintegração social, quer ao nível do combate à delinquência (secção anterior) quer
enquanto pena aplicável a delitos menores por adultos.

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1.3. Reinserção Social através do trabalho – o papel da formação

Para sustentar esta actividade laboral e a sua continuidade após o término do cumprimento das penas,
é fundamental implementar programas de formação académica e profissional, que visam dotar os
jovens de competências que lhes permitam vir a exercer algum tipo de profissão.

Esta formação pode concretizar-se através de programas orientados para a obtenção da escolaridade
obrigatória ou a frequência em cursos de formação profissional, ambos com vertentes práticas
intensificadas.

Aqui, há dois aspectos essenciais a ter em conta:

1.) atender às reais necessidades de procura existentes no mercado de trabalho onde o Centro
concretamente se insira, nomeadamente através da secção da oferta formativa de harmoniosa com
as actividades económicas predominantes ou a desenvolver na região em que cada centro e jovem
se inserem;

2.) ter em atenção as singularidades específicas de cada jovem. De acordo com essas especificidades,
os Centros deverão estar preparados para traçar um plano ou percurso formativo para cada jovem,
que visa, em última análise, que o mesmo se torne eficaz.

Além da vertente profissional, os programas devem compreender valências relacionadas com a


valorização de Princípios Éticos e Morais, a aquisição de regras de convivência em família e em
comunidade, a apreensão das regras de trato social e de natureza comunitária, a aquisição de
competências de gestão e empreendimento de forma a que se consigam adaptar à complexidade do
mercado, mas também regras básicas de higiene, alimentação, entre outras, fundamentais aos desígnios
de ressocialização destes Centros. A Educação Cívica deve ser um foco prioritário, transmitindo-se aos
jovens valores e perspectivas que estimulem o estabelecimento de boas relações no ambiente prisional
e posteriormente com todos os elementos da sociedade aquando do término do período reclusivo.

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1.4. O sistema prisional angolano e as ambições de uma reabilitação assente no


trabalho e na formação

O sistema prisional de Angola comporta hoje uma população de mais de 19 000 reclusos, distribuídos
por 34 estabelecimentos, em plena sobrelotação. Destes, 80 por cento tem idade inferior a 30 anos, e
68 por cento apresenta um nível de escolaridade abaixo do 6.º ano9.

Num cenário desta natureza, em que se vê o perfil da maior parte dos reclusos como jovens, pouco
qualificados e sem perspectivas de uma vida laboral ou familiar próspera, urge tomar medidas que
contrariem estas tendências, e que possam, pelo desvio dos jovens de ciclos recorrentes de
institucionalização em estabelecimentos prisionais e pelo estímulo à sua integração na sociedade.

Como factores potenciadores deste fenómeno, identificam-se a ausência de casa, alimentação,


protecção, valores, sentido de responsabilidade, iniciativa e motivação para a progressão, falta de auto-
estima, solidão, entre muitos outros. Para os combater, é fundamental inserir os jovens em círculos de
referência alterem a imagem que têm de si mesmos e da sociedade.

Assim, torna-se essencial o estabelecimento de um processo de recuperação e educação que foque o


seu desenvolvimento em três etapas principais:

1.) “Protecção”: visa proteger a sociedade do jovem recluso, bem como o recluso da sociedade.
Assenta na consciencialização do jovem para os seus limites, para a importância da organização
pessoal, através da disciplina, aquisição de hábitos de higiene, trabalho, ordem, serviços essenciais
de alimentação, alojamento e actividades sociais, e formação ao nível dos limites e autogestão.

2.) “Promoção e Desenvolvimento”: contempla o tratamento psico-didático e a instrução


educacional, social e profissional, tendo como pontos de referência os estudos, a profissão, a
vertente prática das competências adquiridas, a actividade social, o tratamento psicológico e social.

9
Cf. http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2011/3/16/Reclusos-Viana-ganham-estabelecimento-
ensino,b102ae32-e223-4242-859c-910a226b72c1.html
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3.) “Introdução à Sociedade”: aqui, a dependência à equipa de trabalho do Centro é eliminada


gradualmente e o jovem torna-se apto a viver de forma independente e reintegrada. Esta etapa
tem como pontos de referência programas de trabalho em empresas ou instituições, a possibilidade
de acomodação por tempo determinado, o apoio emocional para enfrentar a nova realidade.

A aplicação destas etapas deverá ser supervisionada e executada por recursos humanos especializados.

Actualmente, a estratégia do Governo de Angola, nomeadamente do Ministério do Interior, integra já


essa tónica. Em Maio de 2011, ficou patente no Conselho Consultivo Alargado daquele ministério, o
empenho em apostar na área da educação, nomeadamente na formação profissional.

A mesma linha de intenções é seguida pela Direcção dos Serviços Prisionais, que no memorando “Pela
melhoria dos serviços de reeducação com integridade, confiança e qualidade”10, estabelece como
objectivos principais daquele órgão a “reeducação e enquadramento no processo de ensino e
aprendizagem de artes e ofícios tendo em vista a reconversão do recluso após o cumprimento da pena”,
a “construção e reabilitação de novos Estabelecimentos Prisionais a nível do país”, “diversificar e
aumentar a capacidade produtiva nos domínios da agro-pecuária e pesca, nos estabelecimentos
prisionais a nível do país”, “melhorar as condições de habitabilidade dos reclusos com principal
incidência na rede de água e saneamento básico” e “programar seminários de capacitação profissional,
a nível dos estabelecimentos prisionais do país”.

O documento preconiza a individualização do tratamento reeducativo dos reclusos, e a sua inserção em


actividades como actividades laborais, escolarização e alfabetização, aprendizagem de artes e ofícios,
desporto e recreação, a educação cívico-moral e actividade religiosa, assistência psicológica, e a inclusão
em programas específicos de intervenção.

Ao nível das práticas patentes, seleccionamos três casos recentes como exemplos de sucesso:

10
In “Pela melhoria dos serviços de reeducação com integridade, confiança e qualidade”, s/d: p.2. Disponível em
http%3A%2F%2Fwww.minint.gov.ao%2FabrirDownload.aspx%3Ftipo%3D2%26bdCampo1%3DPBFILE%26cod%3D442&rct=j&q=
direc%C3%A7%C3%A3o%20servi%C3%A7os%20prisionais%20angola&ei=4B_7TeytOIyDhQf82aWiAw&usg=AFQjCNGB0gTAKcdf
6abm2w2_1qrXlujpIQ&cad=rja
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1) A criação, pelo Ministério do Interior, através do Decreto Executivo conjunto n.º 147, de
estabelecimentos de ensino, de nível básico e secundário, nos estabelecimentos prisionais, através
do designado Programa Nacional de Alfabetização e Recuperação do Atraso Escolar.

2) A existência de acções promovidas pelo ministério do Interior que visam o fomento da realização
de experiências produtivas industrializadas, que poderão ser alcançadas através de protocolos ou
parcerias público-privadas, como já foi concretizado com os Ministérios da Educação e da
Juventude e do Desporto e com a FESA, optimizando recursos e reduzindo custos.

3) A nível regional, têm vindo a ser implementadas unidades penitenciárias com centros de
reeducação de reclusos, como na unidade penitenciária da Comarca de Malange, que visam a
dotação destes com competências profissionais em áreas profissional como a carpintaria, mecânica
e electricidade.

4) Paralelamente à acção do Governo, na sociedade civil, a organização Fraternidade Angolana para os


Reclusos (FAR)11, tem desenvolvido programas relacionados com a educação moral e cívica,
capacitação em artes e ofícios, assistência social e enquadramento espiritual.

Conjugando todos os elementos apresentados anteriormente, passamos a apresentar uma proposta,


assente numa visão estratégica do cenário descrito anteriormente, e que procura fornecer uma resposta
integrada às necessidades de várias ordens que se fazem sentir em Angola, no que à reclusão e
reintegração de jovens diz respeito.

2. Centros de Reclusão e Reintegração Juvenil

2.1. Conceito e objectivos

Os Centros de Reclusão e Reintegração Juvenil assumem-se como solução integrada de reeducação e


reintegração social de jovens condenados a penas de prisão ou serviço comunitário, maiores e menores

11
Cf. http://jornaldeangola.sapo.ao/18/0/fraternidade_prisional_internacional_promove_a_recuperacao_dos_reclusos
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de idade, com separação por género, e em cada estabelecimento, inclusão de um escalonamento por
nível etário.

Assentes num princípio agregador de proporcionar uma segunda oportunidade e um futuro estruturado,
os Centros constituem-se como estruturas de pequena dimensão, de carácter regional, que oferecem
uma solução de reclusão, aliada à formação académica e profissional, e ao trabalho. Além disso,
envolvidos em parcerias com empresas locais, permitem aliar o trabalho e a formação profissional dos
utentes à geração de lucro e à contribuição para a economia local.

São objectivos estratégicos dos Centros de Reclusão e Reintegração Juvenil:

1) Assegurar a correcta reintegração dos jovens na sociedade e prevenir a existência de ciclos


de institucionalização recorrente, e prevenir a criminalidade a médio prazo;

2) Proporcionar condições de vida física e mental saudáveis, que potenciem o


desenvolvimento das aptidões dos jovens reclusos;

3) Proporcionar uma solução penal alternativa à prisão tout court, assente numa vertente
pedagógica e formativa muito fortes;

4) Desenvolvimento de programas de educação curricular (académica), não-curricular


(formação cívica) e profissional aos jovens institucionalizados ou em regime aberto de
cumprimento de penas, a par das transformações socioeconómicas experienciadas na
sociedade

5) Promoção da convivência sã dos utentes entre si, com as autoridades policiais e com as
comunidades envolventes;

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6) Melhorar a relação custo/benefício existente no sistema prisional, minimizando o efeito da


despesa com os reclusos e gerando valor e receitas que assegurem uma melhor sustentabilidade
dos estabelecimentos e do sistema no seu todo.

A concretização de tais objectivos depende de criação de planos estratégicos para todo o programa
educacional e laboral a desenvolver, de forma a mobilizar os recursos humanos, técnicos, materiais e
financeiros de forma optimizada, e tendo em consideração as singularidades de cada Centro.

Na disponibilização das actividades laborais e formativas aos jovens inclusos, deve ter-se igualmente em
consideração as necessidades de aprendizagem de uma forma que permita encontrar correspondência
com as necessidades do mercado local. Assim, deverá verificar-se uma constante adaptação dos
programas desenvolvidos às necessidades do País, e à realidade local, principalmente nas zonas rurais,
mas também às rápidas e incessantes transformações técnico-científicas e à complexidade da realidade
socioeconómica de Angola, factores que exigem destes Centros um contínuo ajustamento dos
conceitos, objectivos e métodos de actuação.

Visa-se, acima de tudo, proporcionar a estes jovens um ambiente físico e emocional fértil para a
aquisição de auto-estima e iniciativa pessoal, transmitindo-lhes as ferramentas necessárias à integração
numa sociedade moderna e democrática, criando hábitos e aptidões que não só os auxiliem na sua
reinserção social, como também sejam determinantes para o seu desenvolvimento.

Deve ser assegurado o direito de escolha e prática de uma profissão condigna aos jovens reclusos,
adaptada às necessidades das suas comunidades, com perspectivas de futuro.

2.2. Factores de eficiência

Para assegurar a eficiência dos Centros, é necessária a adesão voluntária dos utentes em reclusão.
Tendo em conta o seu perfil, muitas vezes marcados por uma fraca familiaridade com o ambiente do

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sistema de ensino, a obediência à autoridade, e a convivência sã em relações sociais duradouras, devem


ser garantidos alguns pressupostos:

1) O fomento de consenso entre todos os colaboradores da Instituição, de forma a implementar de


forma unitária e eficaz a política prosseguida;

2) A existência de um sistema de avaliação de resultados de cada jovem que facilite o seu


acompanhamento durante todo o período reclusivo;

3) Criação de um ambiente de profissionalismo, mediante a integração de uma cultura e filosofia


coesas, direccionadas para a melhoria da eficácia do projecto reintegrativo durante todo o seu
período de duração;

4) Planeamento sistemático e bem concedido de um plano de trabalhos.

A implementação de factores de eficácia depende da existência de uma liderança específica,


direccionada e com objectivos claros. É essencial fomentar discussões profundas sobre a política
reintegradora subjacente a cada Centro, de forma a transmitir uma verdadeira compreensão dos
objectivos pretendidos, idónea a fomentar uma base sólida de apoio e desenvolvimento.

De igual essencialidade assume-se uma abordagem dinâmica e interactiva da política a implementar,


dentro de parâmetros e directrizes globais estabelecidos a um nível nacional, dentro das quais os
diversos Centros terão alguma margem de discricionariedade para a implementação de projectos e
políticas conducentes com a realidade regional onde se inserem

2.3. Disposição territorial estratégica

Os Centros de Reclusão e Reintegração Juvenil têm uma finalidade essencialmente pedagógica e


formativa, que deve adequar-se às características dos territórios em que sejam implementados. A
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disposição territorial destes Centros deve ter em conta o potencial, ao nível dos recursos naturais,
físicos e tecnológicos de cada área geográfica, com vista a maximizar a oferta formativa e de trabalho
disponível, bem como a adequação dos programas e actividades formativas e laborais às necessidades
da economia local.

A localização das estruturas em causa assume uma importância cimeira também pela sua
proximidade/distância dos locais de proveniência dos reclusos ou jovens condenados a penas em regime
aberto. No caso em apreço, preconiza-se neste memorando uma solução que mantenha, ao nível da
distribuição dos jovens, uma elevada proximidade às suas comunidades de origem e à sua zona de
residência. Esta poderá potenciar não só uma melhor adequação da formação ou trabalho a desenvolver
à sua vida em liberdade, como no caso do trabalho comunitário poderá existir uma maior proximidade
dos beneficiários, incrementando a eficácia da reabilitação dos jovens.

2.4. Recursos Físicos e Tecnológicos

A construção dos Centros de Reclusão e Reinserção de Juvenil depende, em grande medida da


adequação e qualidade dos edifícios ao dispor do projecto. Assim, idealizam-se os Centros como
instalações para um número limitado de pessoas, até ao limite de 300, distribuídas por regime de
reclusão (até 250) e regime semiaberto ou aberto (até 50). Com estes limites, pretende-se criar uma
rede de cariz capilar, que potencie, por um lado, uma maior proximidades entre os utentes e entre si e
com as comunidades, e por outro lado uma maior eficácia, ao nível dos resultados, pela maior
produtividade da formação ministrada (melhor em grupos reduzidos) e um controlo mais rigoroso e
eficaz das condutas dos jovens utentes.

1) Salas de formação teórica: espaços para o leccionamento de matérias académicas e teóricas da


área profissional, equipada com os materiais necessários para o estudo e a aprendizagem:
mesas, cadeiras, quadro (de ardósia, branco ou interactivo), computadores. Pode ser alugada
para formação, por empresas privadas, captando rendimentos adicionais.

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2) Mediateca: sala de acesso condicionado, reservado a situações de formação e aos momentos


pontuais de convívio que possam ser programados, deverá dispor de computadores, impressora
ligada em rede aos computadores, mesas e cadeiras. Poderá, caso se pretenda, incluir
equipamentos, como leitores de DVD e televisão.

3) Biblioteca: deverá contar, com manuais adequados às matérias leccionadas ao nível escolar e da
formação profissional, bem como uma selecção de jornais e revistas angolanas e internacionais.

4) Oficinas: módulo de maior dimensão do centro, deverá albergar os formandos em regime de


reclusão e regime aberto, bem como os trabalhadores, separadamente. Deverá dispor das
condições técnicas para a aprendizagem de cursos técnico-profissionais e o desempenho de
trabalho produtivo, de carácter profissional, pelos elementos com formação avançada. Deverá
possuir áreas diferenciadas para as várias actividades económicas desenvolvidas, que deverão
variar, como referido atrás, com a economia da região em questão.

5) Materiais: desenvolvimento de manuais especialmente criados para este tipo de prática


formativa, disponibilizados em formato papel e digital e disponibilização de meios audiovisuais,
bem como de todos os outros materiais necessários.

6) Dormitórios: deverão ter capacidade para albergar, em condições de conforto, higiene e


segurança, a população de utentes que ser encontram em permanência no centro.

7) Refeitório: assegura a alimentação dos utentes, até um máximo de 300, estejam em regime
interno ou aberto.

8) Anfiteatro: espaço com capacidade para cerca de 300 pessoas em condições de conforto,
equipado com uma tela de grandes dimensões poderá constituir-se como pólo de atracção
comunitária para a realização de eventos, como espectáculos musicais e teatrais, projecção de
filmes, conferências, festas. A sua multifuncionalidade poderá ainda garantir uma melhoria da
sustentabilidade financeira do centro, através do seu aluguer, a instituições e particulares.

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9) Polivalente desportivo: a construir com proximidade ao bloco onde se encontram os


equipamentos supra referidos, deve incluir piso aborrachado, balizas de futebol de salão,
tabelas de basquetebol e respectivas marcações. Pode ser alugado, em algumas situações, para
fins particulares, captando assim um rendimento que garante a sua sustentabilidade financeira.

Consideramos que estes são os equipamentos necessários para garantir o funcionamento em pleno do
projecto dos Centros de Interacção Comunitários.

2.5. Recursos Humanos

A dinamização dos Centros de Reclusão e Reintegração Juvenil deverá contar com recursos humanos de
qualificações diversas, que integrem a instituição, além de outros que serão contratados externamente.

Neste âmbito, enumeramos as três classes de recursos humanos essenciais ao funcionamento os


Centros de Interacção Comunitários:

1) Guardas: mantêm a disciplina e a segurança do centro e dos seus utentes. Deverão ser
alocados em proporção ao número de utentes, de modo semelhante ao utilizado em
estabelecimentos prisionais.

2) Formadores/professores: em número e qualificações variáveis, de acordo com o tipo de


currículos e actividades económicas desenvolvidas deverão possuir qualificações profissionais
nas áreas em questão, bem como competências de formação. Serão responsáveis pela
elaboração do programa de actividades, dinamização da formação,

3) Voluntários: oriundos de Organizações Não-Governamentais como a Fraternidade Angolana


para com os Reclusos, e das comunidades envolventes, podem desempenhar papéis de apoio
às actividades e ajudar a humanizar as relações entre utentes, guardas e a comunidade local.

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Estes elementos podem ainda servir de importantes mediadores e prospectores de mercado


na busca de novas oportunidades de parcerias entre os centros e empresas locais.

Formação de Recursos Humanos Prisionais e sucesso na ressocialização dos reclusos

Para que os recursos humanos possam desenvolver de forma eficaz tanto as tarefas que lhes são afectas
como contribuir activamente para o sucesso da política de reintegração de cada um dos jovens, é
essencial que recebam formação adequada.

É importante a realização de seminários para os colaboradores destes Centros e acções de formação


regulares relacionadas com os temas que concretamente se inserem nesta realidade específica, como
sejam a psicologia deste tipo de jovens, os problemas mentais normalmente associados, os problemas
sociológicos, o núcleo familiar onde se inserem, entre outros. Paralelamente a estas acções de âmbito
geral para todos os colaboradores, devem ser igualmente organizadas outras de âmbito mais
direccionado para cada função desempenhada, de forma a preparar estes funcionários para conhecer e
entender a realidade sociopsicológica dos jovens, bem como a forma comportamental adequada neste
tipo de espaços, e que fomente um ambiente de cooperação e compreensão.

2.6. Recursos Programáticos

A oferta formativa e de trabalho dos Centros de Reclusão e Reinserção de Jovens assenta em três
pilares:

1) Formação académica: centrada em currículos simplificados dos ensinos básico e secundário,


proporcionará conhecimentos essenciais aos utentes em áreas como a língua portuguesa, a
matemática e as ciências sociais, bem como formações de alfabetização. Será complementada
com formação profissional.

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2) Formação profissional: cursos de carácter teórico-prático, em áreas chave como a educação


infantil, as tecnologias da informação (especialização), a culinária, call-center, as artes plásticas,
a música, a costura, a serralharia, a mecânica, a agricultura, a pecuária as pescas e a carpintaria,
além de outras de possam obter sucesso em parcerias com empresas locais.

3) Formação genérica: conjunto de formações de carácter essencial para a vida em comunidade,


devem versar sobre temas necessários à vida quotidiana dos utentes e a uma sã convivência em
sociedade com a promoção de bons hábitos de vida. As matérias poderão ser a literacia
financeira, educação cívica, formação para a segurança – com a colaboração das autoridades
policiais locais - e tecnologias da informação.

Nestes cursos deverão ser sempre introduzidas técnicas de aproximação entre as forças policiais e os
reclusos, no sentido da aculturação dos reclusos à capacidade de apoio, de proximidade e segurança
que representam as forças policiais no seio das comunidades.

De forma genérica, visa-se a implementação de uma educação global que visa o desenvolvimento
harmonioso da pessoa humana, nas suas dimensões individual, social, comunitária e transcendental.
Dotar os jovens reclusos de um sentido de liberdade responsável, capacidade de tomar decisões
pessoais, espírito de solidariedade com o mundo em que estão inseridos, de respeito e convívio são
metas a alcançar nos Centros.

Como já foi referido supra, as competências a adquirir pelos jovens nestes Centros deve ter em
consideração as reais necessidades de procura no mercado onde os mesmos se vão inserir aquando do
final do período de reclusão. Para tanto, é essencial implementar planos de aprendizagem que integrem
os conteúdos tecnológicos e técnicos definidos especificamente para cada profissão, ao mesmo tempo
que sejam ajustados às realidades de cada localidade.

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3. Casos de estudo

3.1. Portugal

Em Portugal, são múltiplos os exemplos de trabalho profícuo desenvolvido em estabelecimentos


prisionais e/ou correccionais, em parceria com empresas privadas. O Ministério da Justiça português,
em colaboração com o Ministério da Administração Interna e as prisões, têm desenvolvido múltiplos
projectos com resultados muito positivos12:

1) Em 2007, a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, por intermédio do Estabelecimento Prisional


de Paços de Ferreira, instituição com tradição na manufacturação de madeiras, iniciou uma
parceria com a empresa Homes in Heaven. O projecto resultou de diversas parcerias de trabalho
que têm vindo a ser estabelecidas previamente entre o Estabelecimento Prisional de Tires e um
conjunto de designers e empresários portugueses e que passou a envolver também o
estabelecimento do norte de Portugal.

2) Em 2008, a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais e o Grupo Os Mosqueteiros, da área da


distribuição, começaram a colaborar, a partir de um protocolo que prevê a colocação de
reclusos em Regime Aberto Voltado para o Exterior na cadeia de logística daquela empresa.

3) Em Dezembro de 2008, a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais e a Delta Cafés celebraram um


protocolo que tem como objecto a formação de reclusos na reparação da avaria de máquinas de
café e respectivos moinhos, bem como a limpeza, descalcificação e substituição de peças.

4) O Estabelecimento Prisional do Linhó tem vindo a promover, anualmente, cursos de formação


profissional na área da panificação e da pastelaria, fornecendo estabelecimentos locais.

12
http://www.addsolutions.pt/cvp_t/noticias/paineis_livroprisoes.pdf

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5) Em Tires, a marca Reklusa13, desenvolvida por designers do IADE, instituto superior de design
português, em 2010, conta com a mão-de-obra das reclusas daquele estabelecimento prisional
para comercializar acessórios que variam, em preços entre €35 e €85. Além da formação e
matérias-primas, a empresa remunera as reclusas.

Em todos estes casos, estão envolvidos cidadãos maiores de idade ou menores em regime de reclusão.
O trabalho efectuado é remunerado, revestindo, no caso dos menores, a forma de bolsa de formação.

3.2. Moçambique

Em Moçambique, abundam também os casos de sucesso de aplicação de modelos de formação


profissional e trabalho a reclusos, adultos e jovens. O Serviço Nacional das Prisões (SNAPRI)14 tem
desenvolvido iniciativas para potenciar o factor produção nos estabelecimentos prisionais, para
assegurar a sustentabilidade da população prisional (14 mil pessoas) e, em segundo, comercializar o
excedente:

1) Na Cadeia Feminina de Ndlavela, iniciou-se em 2010 a produção industrial de frangos, visando o


consumo interno e a venda para suportar determinadas despesas internas. A produção de frangos
é desenvolvida em quatro pavilhões com capacidade para 34 mil frangos de uma só vez. A
produção é repartida entre a cadeia feminina e a empresa de produção de frangos, Higest,
parceira neste projecto. A actividade envolve várias dezenas de reclusas.

2) Noutra região, o Centro Prisional de Muxúnguè, na província de Sofala, desenvolveu trabalho na


área agrícola, plantando em 2010 50 mil pés de ananás, tendo a primeira colheita ocorrido em
Novembro desse ano. Na Penitenciária Industrial de Nampula, têm sido desenvolvidas actividades
na área do corte e venda de madeira, explorando uma área de 15 mil hectares. O SNAPRI já

13
Cf. http://www3.uma.pt/aauma/index.php?option=com_content&view=article&id=1384:projecto-reklusa-no-
iade&catid=72:informacoes
14
Cf. http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/09/reclusas-de-ndlavela-produzem-34-mil-frangos.html
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recuperou também 10 tanques para piscicultura, sendo cinco na província de Inhambane, dois em
Manica e os restantes em Niassa.

3.3. Brasil.

No caso brasileiro, o trabalho, associado ao regime prisional, tem também originado casos de sucesso. O
Projecto “Começar de Novo”, que conta com a colaboração de entidades empresariais de todo o país, e
foi desenvolvido pelo Conselho Nacional de Justiça, criou uma bolsa de empregos a que os reclusos se
podem candidatar, promovendo parcerias que assegurem o desenvolvimento de um trabalho produtivo
comum, ao nível da área da manufactura de produtos têxteis.

Em colaboração com a Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel, os serviços prisionais do estado de S.
Paulo desenvolveram o “Programa do Preso”, que tem atraído o interesse de muitas empresas locais.
Aqui ministra-se formação profissional, trabalha-se e estuda-se, em particular nos Centros de Educação
Penitenciários em áreas como a costura, marcenaria, mecânica. No total, são mais de 39.000 presos,
51,30% da população de presos condenados, trabalhando dentro e fora das Unidades Penais, conforme
o regime a que estão submetidos. Estas relações de trabalho são normalizadas e reguladas pela Lei de
Execuções Penais (LEP) e não pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

3.4. Estados Unidos da América

Nos Estados Unidos, o Prison Industry Enhancement Certification Program (PIECP)15 tem-se revelado,
desde 1979, um caso de sucesso. O programa envolve, em média 2500 participantes por ano, conta com
a parceria de múltiplas empresas privadas e vários estabelecimentos prisionais.

O programa, lançado pelo senado norte-americano, tem permitido formar reclusos em diversas áreas
profissionais, em especial, na indústria. O resultado tem sido o estabelecimento de relações e de

15
http://www.nij.gov/journals/257/real-work-programs.html

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parceria que têm permitido obter um verdadeiro impacto económico: placas de alumínio para a Solar
Industries, Inc.; circuitos para a Joint Venture Electronics; escovas para a United Rotary Brush
Corporation; luvas para a Hawkeye Glove Manufacturing, Inc.; o fabrico e reciclagem de automóveis
para Shelby American Management Co, além da produção de alfafa para a Five Dot, embalamento de
papaia para a Tropical Hawaiian Products, entre outros.

O programa envolve formação e trabalho, destina-se a reclusos em regime de prisão, mas também
aberto. A taxa de reincidência em actos criminosos, de acordo com as estatísticas, é de 60% ao fim de
três anos após a libertação, entre os que participaram no programa.

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Segunda Parte

1. Parcerias entre o Ministério do Interior e entidades privadas:


dois caminhos complementares

O modelo de gestão dos Centros de Reclusão e Reinserção Juvenil assenta em duas vertentes essenciais.
De um lado, uma componente de gestão pública, sob a alçada da Direcção dos Serviços Prisionais. Esta
determina a existência e modelo de gestão dos regimes de reclusão fechado e aberto, bem como a sua
interacção, no âmbito da formação e desenvolvimento de actividades laborais, em conjunto com as
respectivas direcções provinciais, municípios e comunas.

Por outro lado, as actividades laborais serão desenvolvidas em parceria com empresas locais, com vista
à produção de bens e prestação de serviços, cujos lucros reverterão, em parte para a empresa parceira,
que fornecerá a matéria-prima e instrumentos de trabalho, para o utente/formando, através de
transferência bancária para a sua família/encarregado de educação, e para o Centro de Reclusão e
Reinserção Juvenil, que reterá parte da produção para consumo próprio, e dos lucros, com vista ao seu
autofinanciamento.

No entanto, embora esta visão pareça eminentemente prática e fácil de implementar, ela tem
condicionantes legais, que importa analisar, propondo alternativas eficazes. Assim, abordamos de
seguida, a aplicabilidade do modelo clássico de Parcerias Público Privadas a projecto CERRJ e outras
alternativas contratuais, igualmente eficazes, complementares e até mais adequadas em alguns
aspectos da concretização do projecto.

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1.1 O Modelo de Parcerias Publico-Privada e a sua aplicabilidade aos CERRJ

O Ministério do Interior, com o projecto CERRJ, tem vindo a reunir esforços no sentido de promover o
desenvolvimento de projectos que se consubstanciam como desafios de mudança e inovação dos
serviços prisionais, com reflexos na cultura organizacional, na formação dos diversos grupos prisionais,
na formulação de novos métodos de trabalho, que visam, em última análise, a reinserção social da
população reclusa.

Com efeito, a abertura do sistema prisional ao estabelecimento de relações com entidades privadas,
potencia a abertura dos estabelecimentos prisionais aos diversos sectores da sociedade. Através deste
tipo de relação, é possível atribuir às empresas oportunidades de trabalho num território fértil de
negócios, garantindo o Governo todas as condições necessárias à sua permanência em território
nacional bem como o estabelecimento de oportunidades de trabalho às quais se associa a
disponibilização de uma mão-de-obra barata e extremamente motivada. Ao mesmo tempo, através
deste mecanismo de cooperação, o Governo de Angola vê os desígnios de reabilitação dos seus reclusos
potenciada por via do exercício de uma actividade laboral com todas as vantagens a isso associadas.

Nesse espírito, foi recentemente aprovada a Lei da Contratação Pública e Lei das Parcerias Público-
Privadas.

De acordo com a lei n.º 2/2011, de 14 de Fevereiro, as parcerias Público-Privadas são contratos em que
as entidades privadas se obrigam, de forma duradoura, perante um parceiro público, a assegurar o
desenvolvimento de uma actividade tendente à satisfação de uma necessidade colectiva. Pressupõe-se,
nesse âmbito, uma partilha de riscos claramente identificada, devendo ser repartidos entre as partes, de
acordo com a sua capacidade de gerir os mesmos.

São finalidades essenciais destas parcerias, o acréscimo de eficiência na afectação de recursos públicos e
a melhoria qualitativa e quantitativa do serviço, sendo aplicável a projectos cujo desenvolvimento

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requer, da parte dos parceiros, elevadas capacidades financeira, técnica e de gestão de recursos e a
manutenção de condições de sustentabilidade adequadas durante a vida do contrato.

Para o efeito, as Parcerias Público Privadas podem ser constituídas mediante inúmeras formas e
tipologias contratuais, ficando excluídos os contratos seguintes:

1) As empreitadas de obras públicas;

2) Os contratos públicos de aprovisionamento;

3) As Parcerias que envolvam um investimento ou um valor contratual inferior a AKz


500.000.000,00;

4) Os contratos de fornecimento de bens ou prestação de serviços, com prazo de duração igual ou


inferior a 3 (três) anos e que não envolvam a assunção automática de obrigações para o
parceiro público no termo ou para além do termo do contrato.

De acordo com exposto, fica patente um ponto prévio: apenas poderão ser incluídos no modelo
Parcerias Público-Privadas os contratos de maior dimensão do projecto CERRJ, em especial os
respeitantes a infra-estruturas de grande escala, ou os contratos relativos a formação académica e
profissional que atinjam valores importantes pela sua escala de aplicação, no espaço ou no tempo.

Ao nível das obrigações de cada parte, destacam-se, do lado das entidades privadas:

1) As entidades disponibilizam unicamente os seus equipamentos e recursos, bem como o seu


Know-how;

2) Redução de custos com a mão-de-obra utilizada tendo em conta que os salários a liquidar aos
reclusos são significativamente inferiores aos dos restantes trabalhadores;

3) Obtenção de mão-de-obra motivada, adequada ao exercício dos trabalhos a executar, e


disponível;

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4) Montagem de linhas de produção, com turnos ininterruptos, tendo em consideração a


disponibilidade total dos reclusos e a concentração destas linhas nos locais onde os reclusos se
encontram 24 horas por dia;

5) Disponibilidade de áreas e locais para a implementação do seu negócio, não necessitando de


adquirir ou arrendar armazéns, terrenos ou escritórios para o efeito.

Da parte das entidades públicas que possam celebrar a parceria em questão, sublinham-se as
obrigações que se seguem:

1) Disponibilização de espaços para o exercício das actividades laborais;

2) Pesquisa e obtenção de clientes e negócios para as entidades privadas desenvolverem nas


prisões;

3) Selecção dos reclusos mais adequados para a realização das diversas actividades laborais;

4) Vigília e segurança de todos os equipamentos, materiais e recursos das entidades privadas


existentes nas prisões, através de guardas prisionais para o efeito.

Como vantagens, para ambas as partes este modelo de parceria apresenta:

1) Maior nível de rentabilidade financeira e estrutural para a entidade privada;

2) Diminuição de custos;

3) Ganhos de eficiência e economicidade;

4) Sustentabilidade orçamental dos projectos adjudicados;

5) Garantia de pagamento durante a vigência do Contrato;

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6) Fomento do investimento privado, ao permitir que este seja direccionado para áreas e segmentos
de mercado tradicionalmente entregues ao Estado;

7) Expansão de novas áreas de negócio;

8) Troca de experiências e Know-how, bem como de importantes conhecimentos respeitantes à


inovação técnica operativa ou tecnológica.

Na verdade, o que acontece é que a repartição dos riscos do negócio em causa, entre os parceiros,
permite naturalmente, a obtenção das vantagens acima descritas. Esse facto adquire tanto maior
importância quanto algumas actividades económicas, em declínio noutros países, poderão conhecer em
Angola um crescimento notável com as repercussões ao nível do trabalho e do emprego. A título de
exemplo, referem-se a Construção Civil; Mecânica; Serralharia; Sapataria; Tipografia; Fotografia;
Encadernação; Agricultura; Horticultura; Jardinagem; Carpintaria; Marcenaria; Artesanato; Canalização;
Serralharia civil e/ou mecânica; Informática; Tratamento de dados; Telemarketing; Cestaria; Restauro.

1.2 CERRJ e modelos alternativos de parcerias com investidores privados

Como alternativa ao modelo descrito atrás, e uma vez que, caso o investimento no projecto CERRJ se
configure em várias fase de escala mais reduzida que o limite mínimo de AKz 500.000.000,00, podem ser
também abordadas pelo Ministério do Interior outras formas de parceria com entidades privadas. O art.
3.º da Lei n.º2/2011 explicita que “quando a especificidade de determinado sector o justifique, podem
ser criados, por lei, regimes sectoriais especiais, nos termos dos quais serão definidas as normas que se
revelem necessárias ou convenientes, em virtude das características particulares do sector em causa,
para assegurar a prossecução dos fins e o cumprimento dos pressupostos gerais da constituição de
Parcerias Público-Privadas.

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De entre as alternativas, apresentam-se duas linhas principais: os protocolos com entidades públicas e
os contratos públicos:

1. Protocolos: utilizados internacionalmente, apontam geralmente, em projectos como o


apresentado, para que as prisões cedam em determinadas condições os recursos humanos e infra-
estruturais de que dispõem, ou mesmo produtos já finalizados, às entidades privadas, que se
comprometem na sua utilização ou aquisição em regime de exclusividade, em contrapartida da
atribuição de determinadas condições mais vantajosas. No entanto, este instrumento não oferece
as vantagens próprias de um contrato, nem tão-pouco o seu nível de vinculação entre as partes. É
aconselhável a sua celebração para situações mais pontuais ou mesmo de menor importância
relativa.

2. Contratos Públicos: podem revestir múltiplas naturezas. No caso dos aplicáveis ao projecto CERRJ,
serão mais adequados os Contratos de Obras Públicas ou os Contratos de Aquisição de Serviços.

2.1 No caso dos Contratos de Obras Públicas, estes podem garantir, por exemplo, no caso em
apreço, a utilização de mão-de-obra prisional em obras públicas a que esta seja adequada,
como por exemplo, a construção de uma via ferroviária ou rodoviária, ou a construção de
uma escola pública. Para isso, e entidade contratante deverá celebrar um contrato de
empreitada, como tipificado na Lei de Contratação Pública, relativo à obra em questão.

2.2 Já para a situação em que se pretenda celebrar Contratos de Aquisição de Serviços, estes
poderão, por exemplo, resultar na contratação de entidades que possam ministrar
formação aos reclusos, para que estes possam vir a desempenhar uma actividade laboral,
mediante um pagamento.

No caso dos Contratos de Concessão, que partilham muitas das vantagens das Parcerias
Público-Privadas, poderiam ser utilizados Contratos de Concessão de Obras Públicas, o
concessionário, que será a entidade privada, obriga-se perante a entidade pública
contratante, a concedente, a executar ou a conceber e executar uma determinada obra
pública, mediante a contrapartida da exploração dessa obra, por um determinado período

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de tempo. Por exemplo, na edificação de um centro de formação, de uma central de


limpeza e tratamento de resíduos públicos, as empresas deveriam utilizar mão-de-obra
disponibilizada pelos centros prisionais, e posteriormente deverão utilizar essa mesma mão-
de-obra para a manutenção e prestação do serviço público, dentro do possível, e sempre
com condições de rentabilidade para as entidades privadas.

Já no caso dos Contratos de Concessão de Serviços Públicos, a entidade privada obriga-se


perante a entidade pública a gerir, em nome próprio, sob sua responsabilidade e em
respeito pelo interesse público, por um determinado período de tempo, uma actividade de
serviço público, sendo remunerado ou directamente pela entidade pública contratante
concedente ou através da totalidade ou parte das receitas geradas pela actividade
concedida. A título de exemplo, na criação de uma oficina dentro do estabelecimento
prisional, e que visasse reabilitar e formar os seus reclusos, em que interviesse uma
entidade privada, o trabalho desenvolvido poderia partilhar das técnicas de produção,
materiais, know-how, conhecimentos empresariais e de mercado, entre outros, que
permitissem que os produtos aí originados sejam efectivamente vendidos, gerando receitas
garantidas para as entidades privadas, ao mesmo tempo que garantiam a ocupação laboral
e formação dos utentes do estabelecimento.

Por fim, e à margem dos elementos referidos, poderia ainda ser adoptada a possibilidade de se unirem
diversos tipos contratuais existentes, num único contrato, ou de se criarem modelos atípicos de
contratos, através dos quais as entidades públicas sectoriais poderão igualmente desenvolver a política
que ora se documenta.
Através da união de contratos, será possível, a título de exemplo, contratar uma determinada empresa
privada para a construção de uma escola, mas ao mesmo tempo adquirir os serviços dessa empresa no
que respeita à formação da mão-de-obra que vão utilizar nessa mesma construção.

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Paralelamente a este tipo de uniões contratuais, parece ser igualmente possível a criação de modelos
contratuais que não estejam concretamente tipificados na lei, mas que permitam adaptar as finalidades
objectivadas com o presente projecto, à contratação de uma empresa privada.

2. Conclusões

Ao longo deste memorando de reflexão, analisámos as várias vertentes do modelo de Centros de


Reclusão e Reintegração Juvenil, bem como o cenário em que este projecto poderá crescer.

Em geral, é possível afirmar que o modelo, pelas suas características, se adapta da melhor forma ao
panorama da criminalidade juvenil angolana. A sua natureza pública, em conjunção com parcerias com
entidades privadas, faz deste projecto uma fonte de oportunidades valiosas para assegurar uma
correcta reintegração dos reclusos jovens e prevenção do seu regresso aos caminhos da criminalidade.

Com base nos casos de estudo analisados, verifica-se que o modelo preconizado para Angola já é
utilizado, em muitos países, como comum para reclusos juvenis adultos e menores, desde que
acautelada a nuance legal da adaptação dos currículos e remuneração para um modelo de formação.

Para além disso, mediante a análise dos vários modelos de parceria com entidades privadas, o presente
documento demonstra serem múltiplas e flexíveis as formas de colaboração que podem ocorrer no
projecto CERRJ, e que poderão, sem dúvida, proporcionar ganhos significativos com a sua concretização.

Acrescente-se, como nota final, que se trata de um modelo de âmbito local, que funciona melhor com
um número reduzido de utentes, e que não deve ser aplicado a quantidades massivas de pessoa, sob
pena de perder muita da sua eficácia.

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