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MATEMÁTICA

APLICADA À
ARQUITETURA

Humberto Vinício Altino Filho


Conjuntos numéricos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar conjuntos numéricos e operações com conjuntos.


 Representar subconjuntos dos números reais por meio de anotações
de intervalos.
 Resolver problemas por meio de conjuntos numéricos.

Introdução
Neste capítulo, você aprenderá sobre a linguagem dos conjuntos. Os
conjuntos sejam eles numéricos ou não, são formas de agrupar elementos
que possuam semelhanças. De acordo com Lima et al. (2012), toda ma-
temática atual é formulada em linguagem de conjuntos. Assim, a noção
de conjuntos é a mais importante, pois a partir dela, todos os conceitos
matemáticos podem ser expressos.
Em matemática, além de representar agrupamentos, é possível realizar
diversas operações com os conjuntos, como a união, a intersecção, a
diferença e o complementar. É possível, ainda, representar os conjuntos
numéricos por meio de intervalos, utilizando a reta real, realizando tam-
bém diversas operações.
Uma importante aplicação para as representações e operações com
conjuntos é a resolução de problemas. Nos problemas, pode-se agrupar
dados, encontrar intersecções e, assim, analisar situações, visualizando as
informações de forma geral e organizada.

Conjuntos e operações
“Um conjunto é formado por elementos que possuem características comuns
entre si [...]” (LIMA et al., 2012, p. 1). Pode-se representar um conjunto de
três formas:
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 Pela citação dos elementos: dessa forma, é necessário enumerar todos


os elementos, representando-os entre chaves. Veja os exemplos a seguir:
■ A = {1, 3, 6, 9, 12, 15} — conjunto dos múltiplos de três menores
ou iguais a 15.
■ B = {março, maio} — conjunto dos meses do ano que começam
com a letra m.
 Por uma propriedade: nesse caso, descreve-se um conjunto por meio de
uma propriedade característica P de seus elementos x. Veja os exemplos
a seguir:
■ C = {x|x é vogal}.
■ D = {x|x é divisor inteiro de 4}.
 Pelos diagramas de Venn: nesse caso, os conjuntos são representados
de forma gráfica e esquemática, escrevendo seus elementos numa região
delimitada. Veja o exemplo a seguir:
■ Seja o conjunto A = {1, 2, 3, 4, 6, 8, 12, 24}, sua representação pelo
diagrama é a seguinte (Figura 1).

Figura 1. Representação no diagrama.


Fonte: Adaptada de Barreto Filho e Silva (2000).

Na linguagem dos conjuntos, podem ser definidas duas relações:

 Relação de pertinência: essa relação é feita entre um elemento e um


conjunto, indicando se tal elemento pertence ou não ao conjunto. Para
isso, utilizam-se os símbolos ∈ (pertence) e ∉ (não pertence). Veja o
exemplo a seguir:
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■ Considere os conjuntos A = {1, 2, 3, 5, 9, 12} e B = {0, 3, 5, 8, 11}.


Sobre esses conjuntos, pode-se dizer que: 3 ∈ A; 8 ∈ B; 15 ∉ A; 12
∉ B.
 Relação de inclusão: essa relação é feita entre conjunto e subconjunto.
Dados dois conjuntos, A e B, se todo elemento de A é também elemento
de B, diz-se que A é subconjunto de B, isto é, A está contido em B ou B
contém A. Para isso, utilizam-se os símbolos ⊂ (está contido); ⊄ (não
está contido); ⊃ (contém); ⊅ (não contém).

É necessário chamar a atenção ainda para alguns conjuntos notáveis, como


os conjuntos vazio e unitário.

 O conjunto vazio é aquele que não possui elementos, sendo representado


por ∅ ou { }.
 O conjunto unitário é aquele que possui apenas um elemento, como o
conjunto dos meses do ano iniciados por f ou o conjuntos dos divisores
naturais de 1.

Não se deve representar o conjunto vazio com o símbolo ∅ entre chaves, uma vez
que este já designa um conjunto e apenas colocamos entre chaves os elementos de
um conjunto.

Operações com conjuntos


No trabalho com conjuntos, pode-se efetuar as operações de união, intersecção,
diferença e complementar.
A operação de união é assinalada pelo uso do símbolo ∪, e, nela, deve-se
reunir todos os elementos dos conjuntos que se deseja operar (Figura 2). Veja
o exemplo a seguir:

 Considerando os conjuntos A = {2, 4, 7, 8, 9} e B = {3, 5, 7, 9, 11, 15}


tem-se que A ∪ B = {2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 15}.
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Figura 2. Representação da união pelo diagrama.


Fonte: Adaptada de Barreto Filho e Silva (2000).

A operação de intersecção é representada pelo símbolo ∩, e, nela, deve-se


considerar apenas os elementos comuns entre os conjuntos (Figura 3). Veja
o exemplo a seguir:

 Considerando os conjuntos A = {2, 4, 7, 8, 9} e B = {3, 5, 7, 9, 11, 15},


tem-se que A ∩ B = {7, 9}.

Figura 3. Representação da intersecção pelo diagrama.


Fonte: Adaptada de Barreto Filho e Silva (2000).

A diferença entre dois conjuntos é formada pelos elementos que pertencem


ao primeiro conjunto deles, mas não pertencem ao segundo (Figura 4). Veja
o exemplo a seguir:
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 Considerando os conjuntos A = {2, 4, 7, 8, 9} e B = {3, 5, 7, 9, 11, 15},


tem-se que A – B = {2, 4, 8} e B – A = {3, 5, 11, 15}.

Figura 4. Representação da diferença (A – B) pelo diagrama.


Fonte: Adaptada de Barreto Filho e Silva (2000).

O conjunto complementar de B em relação a A representa os elementos


de A que não estão em B (Figura 5). Essa operação só é feita se B ⸦ A. Veja
o exemplo a seguir:

 Considerando os conjuntos A = {1, 2, 4, 7, 8, 9} e B = {4, 8, 9}, tem-se


que CAB = {1, 2, 7}.

Figura 5. Representação do complementar de B em relação


a A pelo diagrama.
Fonte: Adaptada de Barreto Filho e Silva (2000).
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As operações de diferença e complementar devem ser efetuadas na ordem em que


são solicitadas pelos exercícios. Observe, nos exemplos da diferença, que os conjuntos
encontrados nas duas operações são distintos. No caso do complementar, no exemplo
citado, não seria possível encontrar o complementar de A em relação a B, uma vez
que A não está contido em B.

Números reais e intervalos


O conjunto dos números naturais (ℕ), inteiros (ℤ), racionais (ℚ) e irracionais (𝕀)
faz parte do conjunto dos números reais (ℝ). Essa relação pode ser verificada
no esquema da Figura 6.

Figura 6. Representação do conjunto dos números reais.


Fonte: Adaptada de Barreto Filho e Silva (2000).

Sendo assim, o conjunto dos números reais engloba os números inteiros


positivos e negativos, os números decimais, as dízimas periódicas e os números
irracionais, como, por exemplo, os decimais infinitos e as raízes não exatas.
Além da notação por diagrama, os números reais também são notados
pela reta real: uma reta com centro em zero, que cresce infinitamente tanto
no sentido positivo quanto no sentido negativo.
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Intervalos reais
Os intervalos reais representam subconjuntos dos números reais por meio de
desigualdades. Podem ser representados entre colchetes, pela sentença mate-
mática (usando as chaves) ou na reta real (usando bolinhas fechadas e abertas).

Intervalo fechado

Diz-se que o intervalo entre a e b é fechado quando dele fazem parte todos os
números reais compreendidos entre a e b, incluindo a e b. Nota-se:

[a, b] = {x ∈ ℝ | a ≤ x ≤ b}

Exemplo: [2, 5] = {x ∈ ℝ | 2 ≤ x ≤ 5}

Intervalo aberto

Diz-se que o intervalo entre a e b é aberto quando dele fazem parte destes
todos os números reais compreendidos entre a e b, excluindo a e b. Nota-se:

]a, b[ = {x ∈ ℝ | a < x < b}

Exemplo: ]–3,1[ = {x ∈ ℝ | –3 < x < 1}

Intervalo fechado ou aberto em apenas um dos lados

Nesse caso, representa-se com a notação de intervalo fechado o lado que se


deseja incluir e com notação de intervalo aberto o lado que se deseja excluir.
Nota-se:

]a, b] = {x ∈ ℝ | a < x ≤ b}
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Exemplo: ]1, 7] = {x ∈ ℝ | 1 < x ≤ 7}

Ou ainda:

[a, b[ = {x ∈ ℝ | a ≤ x < b}

Exemplo: [–4, –1[ = {x ∈ ℝ | –4 ≤ x < –1}

Intervalos com infinito

Nesse caso, nota-se sempre o lado do infi nito como intervalo aberto, e,
para o outro lado, deve-se observar a notação adequada, seja ele aberto
ou fechado.

[2, +∞[ = {x ∈ ℝ | x ≥ 2}

]–∞, 3[ = {x ∈ ℝ| x < 3}
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Operações com intervalos reais


Também podemos efetuar as operações de união, intersecção e diferença
utilizando a notação com intervalos. Observe o exemplo a seguir.

Sejam os intervalos ]–6, 4] e [2, 6]:


a) ]–6 4] ∪ [2, 6]:

Logo, ]–6 4] ∪ [2, 6] = ]–6, 6].


b) ]–6 4] ∩ [2, 6]:

Logo, ]–6 4] ∩ [2, 6] = [2, 4].


c) ]–6 4] – [2, 6]:

Logo, ]–6 4] – [2, 6] = ]–6, 2[.

Resolvendo problemas com conjuntos numéricos


A resolução de problemas que envolvem dados pode ser feita utilizando-se a
linguagem de conjuntos, mais precisamente, a representação por diagramas de
Venn. Nessa representação, é possível organizar as informações, observando
as intersecções e tendo uma visão completa dos dados.
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Veja, no exemplo a seguir, a resolução de um problema desse tipo.

Em um projeto social com esportes, foi feita uma pesquisa com todas as crianças
participantes para saber quais esportes elas mais gostavam de praticar. Os resultados
encontrados foram:
 42 escolheram futebol;
 35 escolheram vôlei;
 32 escolheram basquete;
 18 escolheram futebol e vôlei;
 15 escolheram futebol e basquete;
 12 escolheram vôlei e basquete;
 5 escolheram os três esportes;
 15 não escolheram nenhum desses.
A partir dessas informações, determine:
a) Quantas crianças participam desse projeto?
b) Quantas crianças gostam apenas de basquete?
c) Quantas crianças gostam de futebol ou vôlei?
Primeiramente, organizaremos os dados nos diagramas de Venn, começando pelas
intersecções, até encontrarmos aquelas crianças que gostam de apenas um esporte.

Observe que, se não considerarmos as intersecções, encontraríamos as 5 crianças que


escolheram os três esportes três vezes, e cada uma que escolheu dois seria contada
duas vezes.
A soma dos valores em cada círculo é equivalente aos dados apresentados do
exercício. Por exemplo, no círculo que representa o futebol, tem-se:

14 + 13 + 10 + 5 = 42

Observe, ainda, que as 15 crianças que não escolheram nenhum dos três esportes
ficam representadas fora dos diagramas.
a) Agora, para saber quantos crianças participam do projeto, basta somar todos os
números que apareceram no diagrama, uma vez que o enunciado afirmou que
todas foram consultadas:

5 + 7 + 10 + 13 + 14 + 10 + 10 + 15 = 84 crianças
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b) 10 crianças escolheram apenas basquete.

c) As crianças que escolheram futebol ou vôlei são aquelas representadas pela união
entre esses dois conjuntos.

Somando os valores, tem-se:

5 + 7 + 10 + 13 + 10 + 14 = 59 crianças

BARRETO FILHO, B.; SILVA, C. X. Matemática: aula por aula. São Paulo: FTD, 2000.
LIMA, E. L. et al. A matemática do ensino médio. 10. ed. Rio de Janeiro: SBM, 2012. v. 1.

Leituras recomendadas
IEZZI, G.; MURAKAMI, C. Fundamentos de matemática elementar: conjuntos e funções.
9. ed. São Paulo: Atual, 2013.
LIMA, E. L. et al. A matemática no ensino médio. 2. ed. Rio de Janeiro: SBM, 2016. (Enun-
ciados e soluções dos Exercícios, v. 4).

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