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DIAGNÓSTICO

SITUACIONAL
da Criança e do Adolescente
de Irará - Ba

Realização Apoio Parceria Técnica

Pesquisa, Formação e Intervenção Social


JOSÉ HUMBERTO DA SILVA
Org.

DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DA CRIANÇA E


DO ADOLESCENTE DE IRARÁ - BA

IRARÁ -BA
2023
Prefeito
DERIVALDO PINTO CERQUEIRA

Vice-Prefeito
JOSIAS NUNES DE MELO

Secretário de Assistência
JOSIAS NUNES DE MELO

Presidente do CMDCA
LILIAN DA SILVA SANTOS

FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Diagnóstico situacional da criança e do


adolescente de Irará - BA [livro eletrônico] /
org. José Humberto da Silva. -- Irará, BA :
Somos - Pesquisa, Formação e Intervenção
Social, 2023.
PDF

ISBN 978-65-982265-0-3

1. Assistência social - Brasil 2. Crianças e


adolescentes - Direitos 3. Políticas sociais
públicas I. Silva, José Humberto da.

23-186755 CDD-362.70981
Índices para catálogo sistemático:

1. Brasil : Crianças e adolescentes : Direitos :


Bem-estar social 362.70981

Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253


FICHA TÉCNICA

Coordenação Geral do Diagnóstico


JOSÉ HUMBERTO DA SILVA

Equipe Técnica Responsável pela Análise dos Indicadores


ELIENE MARIA DA SILVA E ALINE PIMENTA MOTA - O direito à Educação, Cultura, Esporte e Lazer
VANESSA FONSECA RIBEIRO E LEANDRO ALVES DA LUZ -O direito à Vida e Saúde
SHEILLA SANTOS OLIVEIRA ALBAN E TATIANE JESUS DA PAIXÃO DOS SANTOS - O direito à
Convivência Familiar e Comunitária, O direito à Liberdade, Respeito e Dignidade e O direito
à Profissionalização e Proteção no trabalho

Equipe Técnica Responsável pelas Escutas das Crianças e Adolescentes


GLÁUCIA LARA BORJA – Escuta de Crianças
JOSÉ HUMBERTO DA SILVA – Escuta de Crianças e de Adolescentes

Análise Estatística
ANTONIEL PINHEIRO BARROS

Equipe de Aplicação dos Questionários aos Estudantes


ÂNGELA DA SILVA BORGES
ANTONIEL PINHEIRO BARROS
JOSÉ HUMBERTO DA SILVA
JORDAN ALVES DOS SANTOS
MARCO ANTÔNIO DA SILVA BARBOSA
REIAN OLIVEIRA SANTOS

Apoio Administrativo
LUIS PAULO GOMES

Revisão Textual e Ortográfica


MAGDA MARQUES MELO

Projeto Gráfico
SIDNEY SILVA
SUMÁRIO
PREFÁCIO I..............................................................................................................................................9

PREFÁCIO II.......................................................................................................................................... 11

1. MARCOS LEGAIS, CONQUISTAS SOCIAIS E DESAFIOS


CONTEMPORÂNEOS PARA AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES .......................................... 13

2. O DIAGNÓSTICO SITUACIONAL: POR QUE CONHECER


AS CRIANÇAS E OS/AS ADOLESCENTES DE IRARÁ? ............................................................. 15

3. COMO FOI REALIZADO O DIAGNÓSTICO SITUACIONAL


DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES DE IRARÁ-BAHIA ................................................. 17
3.1 A METODOLOGIA ................................................................................................................ 18
3.2 ETAPAS DO PROCESSO DE COLETA DE DADOS CONTENDO
O QUADRO DE REFERENCIAL ORIENTADOR
DO DIAGNÓSTICO SITUACIONAL ....................................................................................... 18

4. QUANTOS SÃO E QUEM SÃO AS CRIANÇAS E OS


ADOLESCENTES DE IRARÁ - BA ................................................................................................... 21

5. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PARA QUE AS CRIANÇAS E OS ADOLESCENTES


SE DESENVOLVAM INTEGRALMENTE: A SITUAÇÃO EM IRARÁ - BA ................................ 27
5.1 O DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER...................... 27
5.2 O DIREITO À VIDA E SAÚDE ............................................................................................. 47
5.3 OS DIREITOS À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE;
À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA; À PROFISSIONALIZAÇÃO
E À PROTEÇÃO NO TRABALHO .............................................................................................. 64

6. AS VOZES DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES DE IRARÁ-BA................................ 87


6.1 ESCUTANDO O QUE AS CRIANÇAS DE IRARÁ TÊM A DIZER: ............................... 87
6. 2 ESCUTANDO O QUE OS/AS ADOLESCENTES
DE IRARÁ-BA TÊM A DIZER ...................................................................................................... 93

7. OS/AS ADOLESCENTES ESTUDANTES DE IRARÁ: QUEM SÃO, DILEMAS,


PERSPECTIVAS E O QUE DESEJAM PARA ELES......................................................................101
7.1 ANÁLISE DA POPULAÇÃO DA PESQUISA ...............................................................101
7.2 ABORDAGENS ....................................................................................................................108
108

8. RECOMENDAÇÕES .....................................................................................................................125

9. REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................131
PREFÁCIO I
A defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes é uma questão central da gestão
municipal e, especialmente, da Secretaria da Assistência Social de Irará - BA. Contudo,
garantir o bem-estar, a proteção e o desenvolvimento saudável dessa parcela da popula-
ção é um compromisso que deve ser compartilhado por todos os setores da sociedade.
A proteção da infância e da adolescência deve ser uma responsabilidade compartilhada
entre o governo, a sociedade civil, as famílias e a comunidade em geral, como preconiza a
nossa constituição Federal (1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990).
Os marcos legais existentes para a criança e o adolescente asseguram todos os direitos
fundamentais necessários ao seu desenvolvimento pleno e integral. No entanto, apesar
dos avanços legislativos, o Brasil ainda enfrenta diversos desafios na área da defesa da
infância e da adolescência, e Irará não foge à regra.
Nessa direção, a garantia e a defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes de Irará-Ba
é uma causa que exige esforços contínuos e colaborativos de todos, e uma agenda pública
prioritária, que saia do plano das ideias e se transforme em ações concretas e efetivas.
Garantir e proteger os direitos desses segmentos é cuidar do presente e do futuro de
nossas crianças e adolescentes.
Com o intuito de garantir um território protegido, o município de Irará/BA, por meio da
Secretaria de Assistência Social, juntamente com o Conselho Municipal dos Direitos da 9
Criança e do Adolescente - CMDCA, com o apoio do Itaú Social, investiu esforços na cons-
trução da análise situacional das crianças e dos adolescentes, de modo a compreender
quem são elas, como vivem, quais são os desafios que vivenciam, o que desejam para si e
para o município, além de buscar compreender em que medida seus direitos fundamen-
tais básicos estão sendo garantidos.
Para compreender esse cenário, os esforços foram inúmeros e gigantescos, que envolveu,
para além do apoio técnico do parceiro implementador - a SOMOS+ Pesquisa, Formação
e Intervenção Social - um conjunto de atores da rede de promoção, proteção e defesa
dos direitos das crianças e dos adolescentes de Irará. Somos gratos a todos vocês por
contribuírem para/com todo esse processo.
O resultado de todo esse movimento está organizado neste documento, o qual detalha o
contexto de avanços e desafios em que nos encontramos perante esta temática, consti-
tuindo-se como mais uma ferramenta de informações para a elaboração e o planejamento
das ações do município, destinadas à infância e à adolescência. Esperamos que os achados
neste diagnóstico contribuam para a construção de políticas públicas mais eficientes, para
a criação de metas e objetivos norteadores para a aplicação de recursos públicos.

JOSIAS NUNES DE MELO


Secretário Municipal de Assistência Social.
10
PREFÁCIO II
O Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Irará, como
órgão responsável pela formulação, controle e avaliação de políticas públicas referentes à
infância e adolescência, vem desenvolvendo suas ações em consonância com as diretrizes
estaduais e nacionais, no sentido de efetivação dos direitos da criança e do adolescente.
Desde quando assumi a presidência desse colegiado, tentei colocar em prática uma gestão
participativa, colaborativa e propositiva, e tendo como bússola orientadora – a defesa e a
garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes de irará.
Uma preocupação constante que perdurou por muito tempo em todos nós, atores do
Sistema de Garantia de Direitos, foi a necessidade e o dever de conhecer a situação da
infância e da adolescência em nosso município. Essa demanda também se articula com
a diretriz nacional determinada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CONANDA), a qual estipula que os municípios estabeleçam uma avaliação
sistemática sobre a situação da infância e adolescência, visando aproximar o Poder Público
Municipal e a Sociedade da realidade das crianças e adolescentes.
Esse desejo só se tornou realidade graças aos esforços depreendidos para construção do
projeto para concorrer ao edital do Itaú Social (FIA, 2023). Essa conquista do CMDCA de
Irará, em parceria com a Secretaria de Assistência Social, implementou o projeto Irará-
“Território protegido para as crianças e adolescentes”, cujo um dos objetivos foi
11
desenvolver o diagnóstico situacional das crianças e adolescentes de Irará.
Assim, consideramos esse diagnóstico como um marco zero, um ponto de partida nas
avaliações das políticas para infância e adolescência de Irará, que diagnostica as fortalezas
e os desafios enfrentados nesse âmbito, e estabelece diretrizes e reflexões para o desen-
volvimento de ações articuladas e efetivas. A partir dele será possível agir com maior asser-
tividade na busca de soluções para a promoção social, ponto fundamental da atuação
do município, o que renova o nosso compromisso de garantir um presente e um futuro
promissor para as novas gerações.
Ademais, o resultado desse rico documento é de fundamental importância para constru-
ção das ações no município para esse público, quer sejam as desenvolvidas pelo poder
público, quer sejam as desenvolvidas pela sociedade civil.
LÍLIAN SILVA SANTOS
Presidenta do CMDCA
12
1. MARCOS LEGAIS, CONQUISTAS
SOCIAIS E DESAFIOS
CONTEMPORÂNEOS PARA AS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A
Constituição Federal de 1988 marca uma reorganização na formulação das polí-
ticas públicas no Brasil. Houve, a partir dela, uma conquista significativa dos
direitos sociais, colocando o Estado como responsável por eles, juntamente com
as Organizações Sociais. Foi gatantido a descentralização político-administra-
tiva; a participação da sociedade civil na formulação e no monitoramento das ações por
meio de organizações representativas; e a corresponsabilidade da família, do Estado e da
sociedade na garantia desses direitos, em especial para a crianças e adolescentes.
Em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, conforme previsto no artigo 86,
incorpora tais princípios, estabelecento que as políticas de atendimento a essa população
sejam realizadas por meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não
governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios.
O ECA estabelece as linhas de políticas de atendimento que tratam dos interesses fun- 13
damentais da criança e do adolescente. Também define um conjunto de ações que deixa
claro que o Poder Público tem o dever de planejar e implementar estratégias variadas,
visando a proteção integral infanto-juvenil (conforme o Artigo 1º do ECA), abrangendo
desde políticas sociais básicas até as políticas de proteção especial, compreendendo os
mais variados programas de atendimento.
Apesar do ECA estabelecer um conjunto de leis e ações necessários à proteção integral
das crianças e adolescentes, sua efetivação na prática enfrenta uma série de desafios - sua
implementação exige recursos, o que é fato, e a falta de recursos públicos tem sido apon-
tadacomo obstáculo a ser transposto.
No entanto, a não realização de ações promotoras de direitos pode não ser resultado
direto da escassez dos recursos, mas de uma escolha política acerca da alocação desses
recursos. Criança e adolescente devem ter prioridade absoluta (Artigo 227 da CF/88 e
Artigo 4 do ECA); pois, antes de serem o futuro do país, vivem o presente, que requer a
implementação de diversos direitos para que um futuro próspero não seja comprometido.
Se é verdade que os desafios são inúmeros e recursos são poucos para a efetiva garantia
de direitos, também é verdade que muitas das ações desenvolvidas para as crianças e
adolescentes são feitas de forma setorizadas e sem um diagnóstico qualificado que possa
informar quem são de fato as crianças e adolescentes, quais as suas condições de vida,
quais são as políticas construídas para/com eles e quais são as prioridades necessárias para
o enfrentamento dos problemas por eles vividos.
Como já sabemos, os recursos públicos são limitados, o que torna imprescindível a defi-
nição de critérios que orientem o sequenciamento de sua aplicação. Na ausência de
diagnósticos que orientem a hierarquização de prioridades, é possível que programas ou
projetos que já estão estruturados, ou que atendam públicos com menor grau de vul-
nerabilidade, sejam financiados em detrimento de outros mais urgentes, que atendam
públicos em situações de risco ou de violência mais graves, que operem em territórios
precariamente alcançados pela política de atendimento e precisem ser fortalecidos, ou
que sequer chegaram a ser implementados a despeito de sua urgência
Assim, para intervir efetivamente nesse quadro e consolidar uma política eficaz de pro-
teção em Irará-Ba, faz-se necessário a adoção de uma série de ações integradas e que se
comunicam entre si - uma essencial e primário nesse processo foi o Diagnóstico Situacional
das crianças e adolescentes.

14
2. O DIAGNÓSTICO SITUACIONAL:
POR QUE CONHECER AS CRIANÇAS E
OS/AS ADOLESCENTES DE IRARÁ?
Se podes olhar, vê. E se podes ver, repara.
(José Saramago)

A
construção do Diagnóstico da Infância e Adolescência de Irará se inscreve
em uma diretriz nacional determinada pelo Conselho Nacional dos Direitos
da Criança e do Adolescente (CONANDA), que preconiza que os municípios
estabeleçam uma avaliação sistemática da situação da infância e adolescência,
visando aproximar o Poder Público Municipal e a Sociedade da realidade das crianças e
adolescentes, para assim poder elaborar e estabelecer ações e Políticas Públicas de modo
mais organizado e fundamentado nas reais necessidades, além de ter uma atuação plane-
jada a curto, médio e longo prazo.
O Diagnóstico da Infância e Adolescência de Irará é uma das ações do projeto em parceria
com o Itaú Social- “Território protegido: Diagnosticando a situação da criança e do adoles-
15
cente, formando agentes do SGD e empoderando famílias quilombolas para promoção
da vida e da saúde em Irará-Ba”. Ele é coordenado pelo Conselho Municipal da Criança
e Adolescente (CMDCA) e pela Secretaria de Assistência Social, cujo objetivo é ser um
marco zero nas avaliações das políticas para infância e adolescência, diagnosticando as
fortalezas e os desafios enfrentados nesse âmbito, e estabelecendo diretrizes e reflexões
para o desenvolvimento de ações articuladas e efetivas. Considera-se esse documento
como sendo um ponto de partida, na medida em que possibilita a avaliação e o monito-
ramento dos dados apresentados, permitindo o acompanhamento periódico dos dados
relacionados às crianças e adolescentes
Ao desvelar a realidade local, o diagnóstico criança-adolescente do município é um instru-
mental fundamental para subsidiar ações diversificadas que objetivam o fortalecimento
do Sistema de Garantia dos Direitos da população entre 0 e 18 anos incompletos, ao
mesmo tempo em que fortalece a implementação e redirecionamentos necessários de
políticas, programas e projetos que garantam a efetivação dos direitos das crianças e dos
adolescentes.
Para a concretização da garantia dos direitos desse segmento etário é importante que o
município conheça as condições de vida de suas crianças e de seus adolescentes, para que,
a partir dos ditames preconizados pela Constituição Federal brasileira, pela Convenção dos
Direitos da Criança da qual o Brasil é signatário e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente,
os segmentos responsáveis possam elencar e priorizar planos de ações que alcancem as
efetividades, as eficiências e as eficácias necessárias por meio de programas e políticas;
bem como direcionar a utilização de recursos de forma eficiente.
Assim, o diagnóstico municipal criança e adolescente permitirá que a gestão municipal de
Irará, as Organizações da Sociedade Civil (OSC) e, principalmente, o Conselho Municipal
dos Direitos da Criança e do Adolescente, de acordo com as suas atribuições legais, com
melhor precisão, poderão especialmente:

a. tomar melhores decisões sobre a política na área da criança e do adolescente


desta territorialidade, implantando, otimizando e/ou redimensionando ações,
projetos, programas e políticas;
b. redirecionar os recursos existentes para as áreas mais necessitadas, de modo a
evitar a violação dos direitos das crianças e adolescentes;
c. acompanhar, fiscalizar e avaliar a evolução ou involução dos dados e indicado-
res que expressam se os direitos fundamentais estão sendo garantidos ou não.
d. estabelecer as condições necessárias para a produção de conhecimentos e
planejamento de ações que assegurem os direitos das crianças e dos adoles-
centes (de zero a dezoito anos incompletos) no município.

Em suma, o presente Diagnóstico tem a finalidade de oferecer informações, dados e per-


cepções dos sujeitos pesquisados, sobre as dificuldades e potencialidades existentes no
município, visando formular e, principalmente, orientar melhor as escolhas de alocação de
16 recursos nos orçamentos para a implementação das ações, programas e políticas sociais
voltadas para essa população em Irará. .
3. COMO FOI REALIZADO O
DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DAS
CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES DE
IRARÁ-BAHIA

A
realização do diagnóstico municipal de Irará criou oportunidade de diálogo
e fortalecimento de vínculos de cooperação entre o Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), os conselhos setoriais, os demais
agentes do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA)
e a rede local de serviços e programas.
Por um lado, os diversos agentes do sistema que operam serviços, programas e projetos
de atendimento de crianças e adolescentes, associações de bairro e outras instituições e
movimentos sociais – foram importantes fontes de informação sobre a realidade local.
Além de fornecer informações relevantes para o diagnóstico, esses agentes puderam
participar da discussão sobre as necessidades locais, oferecendo contribuições para a
formulação das questões a serem investigadas no diagnóstico situacional das crianças e
adolescentes, bem como participando das entrevistas individuais e grupais, na condição
17
de informantes estratégicos do processo.
Para além desse atores supracitados, cabe destacar também a importância da participação
de crianças e adolescentes no processo de diagnóstico municipal. A escuta desses atores
concretiza o direito à participação, de dar voz aos beneficiários principais das políticas
públicas, favorecendo a aprendizagem da participação e o protagonismo em sua formula-
ção. A inclusão desses sujeitos também diolaga com o Objetivo Estratégico 6.1 da Política
Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, do
Conanda que inclui - Promover o protagonismo e a participação de crianças e adolescen-
tes nos espaços de convivência e de construção da cidadania, inclusive nos processos de
formulação, deliberação, monitoramento e avaliação das políticas públicas.
“A participação de crianças e adolescentes durante todo o processo de
implementação da Política e do Plano não pode ser esquecida. Desenvolver
um ambiente democrático, sem manipulação, que contribua para o
desenvolvimento pessoal e social da criança e do adolescente favorece a
formação para a sua autonomia, autoconfiança e autodeterminação, consi-
derando que, nesta fase da vida, eles estão especialmente empenhados na
construção da sua identidade pessoal e social. Trata-se de desencadear um
processo que proporcione o amadurecimento do conceito e da prática da
cidadania na vida de crianças e adolescentes do Brasil”1

1 Brasil. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). Documento básico.
Conceituação e operacionalização para realização da 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente. Brasília: Conanda, sem data
3.1 A METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi o diagnóstico social, uma ferramenta de investigação de territó-


rios que tem por objetivo o conhecimento da realidade local, identificando as demandas
e potencialidades da região investigada (DE TONI, 2009).
Realizar o diagnóstico social da situação da infância e adolescência do município de Irará
constituiu-se num processo de coleta de informações, sobretudo qualitativas, e de forma
participativa. “O diagnóstico social é uma dessas metodologias, pois visa retratar a reali-
dade de um território através de técnicas e estratégias de envolvimento da população
local, servindo assim como um instrumento “porta-voz” das demandas locais e fonte de
dados parafuturas decisões sobre o território (De TONI, 2009, p.12)
Ander Egg & Idáñez (2008) explicam que o diagnóstico social é uma ferramenta que per-
mite conhecer para atuar, em que a eficácia da atuação depende do conhecimento prévio
das questões.
Neste sentido, qualquer diagnóstico social representa uma das fases ini-
ciais e fundamentais do processo de intervenção social. Constitui um dos
elementos chave de toda a prática social, na medida em que procura um
conhecimento real e concreto de uma situação sobre a qual se vai realizar
uma intervenção social e dos diferentes aspectos que é necessário ter
em conta para resolver a situação-problema diagnosticada. Fazer isto (o
diagnóstico) oferece uma maior garantia de eficácia na programação e
18 execução de atividades (Ander Egg & Idáñez, 2008:16).

O processo da coleta dos dados, quanti e qualitativos, exigiu da equipe interdisciplinar


penetrar na densa e dinâmica realidade social do município de Irará, interagindo, ainda
que de forma pontual, com os gestores e profissionais das diversas políticas sociais e do
Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, por meio de entrevistas e
coleta de dados quantitativos.
Assim, realizar uma pesquisa a partir dessa concepção metodológica exigiu de toda a
equipe uma aproximação sucessiva e constante, nas etapas seguintes que se sucederam
de forma concomitante.

3.2 ETAPAS DO PROCESSO DE COLETA DE DADOS


CONTENDO O QUADRO DE REFERENCIAL ORIENTADOR
DO DIAGNÓSTICO SITUACIONAL

1. Levantamento e a análise de dados secundários e primários sobre a


situação das crianças e dos adolescentes no município. Os dados secundá-
rios foram levantados a partir de fontes oficiais, disponíveis em fontes públicas.
Além dos dados secundários, foi levantado dados e informações primárias junto
a diferentes órgãos e instituições do Sistema de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente (SGDCA) e da rede de organizações e serviços que atendem
crianças e adolescentes no município. Essa etapa permitiu o reconhecimento
e a quantificação dos problemas que atingem as crianças e os adolescentes no
município, bem como o mapeamento dos serviços, programas e condições
operacionais que o município dispõe para alcançar, proteger e garantir os
direitos desse público2. Os dados primários foram coletados, durante os meses
de abril a julho de 2023, nas seguintes secretarias e organizações que com-
põem o Sistema de Garantia dos Direitos: Secretaria Municipal de Assistência
Social; Secretaria Municipal de Educação, Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer,
Secretaria Municipal de Saúde, Conselho Tutelar, CMDCA, entre outros.
2. Realização das entrevistas em profundidade com os profissionais de
serviços, entidades e programas de atendimento à infância e adolescên-
cia. A partir dos objetivos propostos, foram elaboradas questões norteadoras
para a realização das entrevistas. As questões tinham a finalidade de provocar
e estimular os entrevistados a relatarem suas experiências e sua percepção
a respeito dos direitos (ou ausência deles). Essa etapa da coleta de dados
priorizou informantes significativos que atuam diretamente com as políticas
sociais voltadas para a criança e o adolescente, bem como as organizações
que compõem o Sistema de Garantia dos Direitos. Ou seja, parte-se do sujeito
que tem autoridade sobre a realidade a ser conhecida. Foram entrevistados
46 profissionais. As entrevistas foram aplicadas de maio a setembro de 2023.
3. Realização de Grupos de escuta ( grupos focais) com crianças e adoles- 19
centes de Irará. Os Grupos Focais são uma técnica de pesquisa qualitativa,
derivada das entrevistas grupais, a qual coleta informações por meio das inte-
rações grupais. Seu principal objetivo foi reunir informações detalhadas sobre
temas específicos, a partir de grupos de participantes que pudessem expressar
maior representatividade de sujeitos (meninas e meninas, zona rural e urbana,
entre outros critérios). Foram realizados 4 Grupos Focais com crianças e 1
com adolescentes, com um total aproximado de 54 pessoas ( 47 crianças e 7
adolescentes do NUCA), em julho de 2023.
4. Aplicação de questionarios às Organizações da Sociedade Civil (OSC)
vinculadas ao CMDCA e que atuam no município junto à infância e ado-
lescência. O mapeamento das organizações (OSC) da rede de atendimento foi
parte integrante desta etapa do diagnóstico3. Para tanto, foi considerado todas
as organizações sociais e os programas que estão inscritos, ou não, no CMDCA,
ampliando essa relação para contemplar os serviços e programas operados
pela Secretaria de Assistência Social, bem como outras instituições locais que,

2 É comum que os municípios registrem informações sobre a situação das crianças e dos adolescentes com
a finalidade principal de remetê-las aos órgãos federais, tendo em vista a busca de cofinanciamentos. Não
há dúvida que isto é importante. Porém, em muitos casos as informações repassadas não são plenamente
utilizadas em nível local para o planejamento de serviços e programas.
3 Essa etapa houve pouca adesão dos representantes das OSC para responder o questionário.
porventura, ainda não tenham seus programas de atendimento inscritos no
Conselho Municipal. Foram feitas ligações para as organizações comparece-
ram ao CMDCA, para responder ao instrumento de pesquisa, mas somente 3
foram responder ao questionário.
5. Aplicação de questionário aos adolescentes estudantes da rede pública e
privada de Irará-Ba. Com o objetivo de conhecer o perfil sociodemográfico,
anseios, dilemas, demandas e, sobretudo identificar de que modo os direitos
fundamentais estão sendo garantidos ou não aos estudantes adolescentes
de Irará, foi aplicado um questionário, para esse público. A aplicação do ques-
tionário foi por meio de leitura de Qrcode, eletronicamente, sem interferência
de nenhum adulto. Ao longo dos meses de julho a setembro de 2023, 1.130
adolescentes da rede pública e privada, da zona rural e urbana responderam o
instrumento, no período.
O resultado de todo o material coletado, sistematizado e analisado em todas as etapas e
processos acima descritos, está organizado em 8 seções. A organização dos resultados foi
feita e analisada conforme os cinco níveis de proteção previstos no Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), a saber:

• O Direito à Vida e Saúde;


• O Direito à Liberdade, Respeito e Dignidade;
• O Direito à Convivência Familiar e Comunitária;
20
• O Direito à Educação, Cultura, Esporte e Lazer;
• O Direito à Profissionalização e Proteção no trabalho.

A opção por organizar boa parte do Diagnóstico a partir dos direitos fundamentais estabe-
lecidos do ECA justifica-se pela centralidade do Estatuto no âmbito das Políticas Públicas
para a infância e adolescência. Para cada um dos cinco eixos foram selecionados dados
e indicadores que em sua totalidade compõem um panorama situacional das crianças e
adolescentes de Irará. Os indicadores e dados foram selecionados a partir de sua relevân-
cia e também pela possibilidade de monitoramento periódico, de modo a acompanhar a
evolução do município em cada eixo.
4. QUANTOS SÃO E QUEM SÃO AS
CRIANÇAS E OS ADOLESCENTES DE
IRARÁ - BA
O município de Irará, segundo os dados do Censo Demográfico, representa a composição
populacional majoritariamente de pessoas negras4 (91,0 % da população, Censo 2010). Com
a mais recente informação censitária, a população passou de 26.277 residentes em 2010 para
28.043 residentes em 2022, incremento de 6,7%, segundo o Censo Demográfico 2022.
Desta população, cerca de um quarto (24,7%) da população é composta por crianças e
adolescentes (Censo, 2022). Por mais que a população apresente incrementos popula-
cionais, observa-se uma sistemática redução no segmento de crianças e adolescentes,
variando de 43,4% em 2000 para 24,7% em 2022, quando comparado às informações
censitárias anteriores, conforme gráfico abaixo.

Gráfico 1: Percentual da população de crianças e adolescentes de Irará – 2000, 2010 e 2022

21

Fonte: IBGE, Censo Demográfico - 2000,2010 e 2022;


Elaboração Própria

A redução populacional infanto-juvenil ocorre em todos as faixas etárias, conforme tabela


a seguir,
4 Pretos e pardos
Tabela 1: População por Faixa Etária de Irará – 2000, 2010 e 2022

Faixa etária 2000 2010 2022


0 - 6 anos 3.833 3.059 2.385
7 - 11 anos 3.075 2.483 1.930
12 - 17 anos 4.006 3.657 2.624
18 anos e mais 14.249 18.267 21.104
Total 25.163 26.277 28.043
Fonte: IBGE, Censo Demográfico - 2000,2010 e 2022;
Elaboração Própria

Assim, em 2022, o município de Irará tem uma população infanto-juvenil (de 0 a 17 anos)
de 6.939 pessoas, o que representa 24,7% da população total. Em relação ao genêro, a
população infanto-juvenil de Irará é equilibrada, com 52,2% masculino e 47,8% feminino.
Ainda sobre a população infanto-juvenil de Irará, 8,5% está na primeira infância (0 a 6
anos), 6,9% está na segunda infância (7 a 11 anos) e 9,4% está na adolescência (12 a 17
anos, conforme Gráfico 2.

Gráfico 2: Distribuição da população de Irará por faixa etária - 2022.

22

Fonte: IBGE, Censo Demográfico - 2022;


Elaboração Própria

Nas últimas duas décadas (2000-2022), Irará também apresentou redução de nascimentos,
de 409 nascimentos, em 2000 para 244 em 2022, uma redução de mais da metade dos
nascimentos (59,7%, ver tabela 02). Este evento também é refletido na taxa de natali-
dade (por mil habitantes) do município que, já em 2012 aproximava-se da Bahia (14,0%
Irará; 14,7% Bahia), e em 2022 afastando-se para 8,7% em 2022 (12,4% Bahia).
Em contrapartida, os óbitos deste Município vêm incrementando-se, de 167 óbitos em
2000 para 280 em 2022, o que representou incremento nos óbitos de 67,7% superior,
sendo que este aumento se deve à população com 18 anos ou mais, Tabela 2.
Tabela 2: Nascimentos e óbitos de Irará – 2000, 2010 e 2022.
2000 2010 2022
Nascimentos 409 404 244
Óbitos 167 219 280
0 a 17 anos 8 1 1
18 e + 159 218 279
Fonte: SESAB – TABNET - SIM e SINASC - 2000,2010 e 2022;
Elaboração Própria

Sob o olhar das Mulheres em Idade Fértil (MIF), na faixa-etária de 10 a 49 anos,


os dados censitários indicam que nos anos 2000 tivemos 7.504 MIF (58,9% das
mulheres), chegando, em 2022, a 8.395 MIF (57,6% das mulheres), ou seja, houve
quase um equilíbrio no percentual das MIF, o que não justificaria este decréscimo
de nascimento na série analisada. Assim, pode-se afirmar que número de crianças
e adolescentes do Município de Irará tem reduzido, nos últimos 22 anos, seja pelo
déficit de nascimentos e/ ou pela ausência de óbitos, mesmo com o equilíbrio das
MIF. Com isso, pode-se inferir que este público de crianças e adolescentes pode
estar migrando para outras cidades.
Ao analisar as condições de vida das crianças e adolescentes no município, os
dados apresentados (IBGE, 2010) são preocupantes. De acordo com o censo, havia
3.731 pessoas nessa situação de extrema pobreza, sendo formada por 46% de 23
crianças e adolescentes com até 17 anos.

Gráfico 3 – População em extrema pobreza por faixa etária (pessoas) – Irará - 2010

Fonte: Censo Demográfico/IBGE


Elaboração Própria
A baixa renda é refletida na dependência da população por programas de transferência
de renda. Analisando os dados do Programa Bolsa Família, em outubro de 2021, 6.174
famílias foram beneficiadas, totalizando 18.630 pessoas com recebimento dos valores do
programa, isto representa uma estimativa de 63,57% de pessoas beneficiárias do Bolsa
Família no total da população de Irará. Fazendo um recorde por grupo de populações
tradicionais, 788 famílias cadastradas eram quilombolas.
A situação da criança e do adolescente, nos aspectos educacionais, em Irará apresenta
algumas estatísticas que merecem atenção, em 2010, 46,3% das crianças do município
viviam em domicílios em que nenhum dos moradores tinham o ensino fundamental com-
pleto e 52% das crianças de 0 a 5 anos de idade não frequentavam a escola. Ainda para
este ano, dentre as mulheres jovens de 15 a 24 anos de idade que não estudavam nem
trabalhavam, 48,5% eram mães. Em 2020, de acordo com o DATASUS, 1,35% das meninas
de 10 a 14 anos de idade tiveram filhos em Irará, percentual superior à média nacional e
estadual, 0,64% e 0,83% respectivamente. Neste ano, para o grupo dos adolescentes e
jovens (15 a19 anos), 16,6% tiveram filhos no município, índice superior ao nível nacional
e estadual, 13,3% e 15,2%, respectivamente.
A pandemia provocada pelo coronavírus impactou significativamente o município de
Irará. No viés econômico, ocorreu queda no estoque emprego formal de 71 postos de
trabalho, em 2020. O auxílio emergencial atingiu um total de 13 mil pessoas. Todavia, a
educação foi um dos aspectos mais atingidos. Em 2019 a taxa de abandono escolar no
ensino fundamental era de 2,8% e no ensino médio de 9,1%, em 2021 esse indicador
24 explodiu, passando 5,3% e 19,3%, respectivamente. Este percentual acende um sinal de
alerta, visto que o ensino médio é um nível educacional de suma importância para conse-
guir ingressar no mundo do trabalho formal.
Apesar dos dados educacionais negativos, quando se compara com as estatísticas de 2000,
tem-se uma melhora nos números, a exemplo do indicador que mede a expectativa de anos
de estudo que melhorou no período, registrando 7,41 anos, em 2000, e 8,23 anos, em 2010.
De acordo com os dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais)
no Município, a taxa de distorção idade-série em 2022 foi de 25,2% para o Ensino
Fundamental e 49,2% para Ensino Médio, quando avaliada a localização, a zona Rural
eleva-se para 27,1% no Ensino fundamental e 60,5% no ensino médio. Os anos finais do
Ensino Fundamental impactaram em 38,7%, enquanto que os anos iniciais esta taxa ficou
apenas 12,5%. Além disso, os dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais) sobre os rendimentos educacionais em Irará apresentaram a aprovação de
78,1%, 18,9% de reprovação e 3,0% de abandono no ensino fundamental, já no ensino
médio altera-se para 72,6%, 15,1% e 12,3% respectivamente.
Para aqueles alunos de 0 a 17 anos que estavam na Escola, inicialmente destaca-se queda
nas matrículas de 12,6% (de 7.501 matrículas em 2012 para 6.552 em 2022), Gráfico 4. Por
outro lado, as matrículas de 0 a 3 anos dobraram neste mesmo período (323, 2012; 629,
2022), mesmo as outras faixas etárias apresentando-se redução das matrículas.
Gráfico 4 – Distribuição das matrículas da Educação Básica 0 a 17 anos – Irará – 2012 - 2022

Fonte: INEP – Censo da Educação Básica, dados 2012-2022.


Elaboração Própria

Você
Focalizando a análise em indicadores de vulnerabilidade social das crianças e adolescentes, 25 Até
segundo as estatísticas presentes no “Observatório do Trabalho Decente nos Municípios Men
Brasileiros da OIT”, Irará chama para a necessidade de atenção ao público infantil. De os (a
acordo com os dados, em 2010, Irará possuía 1.379 crianças e adolescentes ocupadas com tono
idades entre 10 e 17 anos, este valor corresponde a um Nível de Ocupação de 29,8%, mais pala
que o dobro do observado quando se compara com as médias estadual e nacional, 13,5
e 12,4%, respectivamente. Ao detalhar as informações, percebe-se a criticidade do estado Am
municipal, que detinha o contingente de 402 crianças e adolescentes de 10 a 13 anos Gera
ocupadas em situação de trabalho a ser abolido, ficando na 30° ocupação em relação aos pelo
demais municípios baianos e 458° dentre os brasileiros. É importante frisar que nesta faixa
lesce
direi
etária o trabalho infantil é terminantemente proibido por lei. Para o mesmo ano haviam
traz
978 adolescentes ocupados fora da condição de aprendiz, sendo 440 com idades entre 14
até e
a 15 anos e 538 com 16 a 17 anos. Analisando apenas o trabalho doméstico de crianças e
Men
adolescentes entre 10 e 17 anos, Irará detinha 39 pessoas nessa faixa etária.
Diante dos dados apresentados sobre a infância e adolescência no município, principal-
mente quando se analisa os dados sociais, educacionais e de saúde, se faz necessária um
olhar mais analítico sobre esses e outros pontos a partir de indicadores específicos, sobre-
tudo à luz dos direitos fundamentais que são estabelecidos no ECA. Desse modo, a seção
a seguir objetiva explorar mais esses aspetos, com vistas a contribuir com uma melhor
cartografia da infância e da adolescência em Irará.
26
5. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS
PARA QUE AS CRIANÇAS E OS
ADOLESCENTES SE DESENVOLVAM
INTEGRALMENTE: A SITUAÇÃO EM
IRARÁ - BA
5.1 O DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE
E AO LAZER

O
s fundamentos para a garantia dos direitos essenciais da criança e do(a) ado-
lescente, enquanto pessoa humana, se assentam na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 1948, sendo fortalecidos por
sucessivos documentos legais, como a Declaração Universal dos Direitos da
Criança e do Adolescente (1959), a Constituição da República Federativa do Brasil (1988),
a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (1989), e de outros 27
documentos de igual importância que subsidiaram o advento do Estatuto da Criança e do
Adolescente (1990).
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é o conjunto de normas do ordenamento
jurídico que tem como objetivo a proteção dos direitos da criança e do adolescente. É o
marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes. O Estatuto
reconhece, em seu artigo 3º que a criança e o adolescente gozam de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, e assegura todas as oportunidades e facilida-
des, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e de dignidade.
Para tanto, estabelece competências tornando dever da família, da comunidade, da
sociedade em geral e do poder público, assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária (artigo 4º).
O Título II, que trata dos Direitos Fundamentais, está dividido em cinco capítulos, dentre
eles, o quarto, que versa sobre o Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, con-
templados nos artigos que vão do 53 ao 59. Em todos eles há uma centralidade em tomar
crianças e adolescentes como sujeitos de direito.
Portanto, há nesses artigos o reconheci- Você sabia?
mento de que a criança e o adolescente Até o início da década de 1990, no Brasil,
têm direito à educação, visando ao estava em vigor a Lei 6.697/1979 ou “Código
pleno desenvolvimento de sua pessoa, de Menores” – responsável por disseminar
preparo para o exercício da cidadania e o termo “de menor”. O Código encarava as
qualificação para o trabalho, assegura- crianças e os (as) adolescentes como objetos
dos através de garantias, dentre as quais de intervenção do Estado e dos pais, garan-
destacam-se: igualdade de condições tindo mínima autonomia a elas. Tratava-se de
para o acesso e permanência na escola; uma visão adultocêntrica, em que o adulto
bem como acesso à escola pública e tinha sempre a última palavra na hora de
dizer o que era melhor para essa criança.
gratuita, próxima de sua residência,
garantindo-se vagas no mesmo esta- A mudança surgiu com a Convenção sobre os
belecimento a irmãos que frequentem Direitos da Criança, adotada pela Assembleia
Geral da Organização das Nações Unidas
a mesma etapa ou ciclo de ensino da
(ONU), em 20 de novembro de 1989, e ratifi-
educação básica. Além disso, determina
cada pelo Brasil em 24 de setembro de 1990
que é direito dos pais ou responsáveis
pela Lei 8.069/1990, o Estatuto da Criança
ter ciência do processo pedagógico, e do Adolescente, ou simplesmente ECA.
bem como participar da definição das A partir daí crianças e adolescentes passam a
propostas educacionais. ser sujeitos de direitos e precisam ser ouvidas
Outro direito estabelecido pelo ECA e respeitadas em suas decisões. A expressão
28 está previsto no artigo 53-A, o qual “sujeito de direito” traz o direito para a cen-
determina que é dever da instituição de tralidade da discussão, contrapondo-se à
ensino, clubes e agremiações recreati- ideia do dever como centro, até então muito
vas e de estabelecimentos congêneres evidente no Código de Menores”. A própria
virada gramatical de Código de Menores
assegurar medidas de conscientização,
para Estatuto da Criança e Adolescente rei-
prevenção e enfrentamento ao uso ou
tera e induz a compreensão da centralidade
dependência de drogas ilícitas.
dessa expressão.
O artigo 54 prevê os deveres que o
Estado deve assegurar à criança e ao adolescente, dentre os quais ressalta-se: ensino
fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na
idade própria; atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, prefe-
rencialmente na rede regular de ensino; atendimento em creche e pré-escola às crianças
de zero a cinco anos de idade; oferta de ensino noturno regular, adequado às condições
do adolescente trabalhador; e atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
Assim como o artigo 54 prevê os deveres do Estado, o artigo 55 versa sobre a obrigatoriedade
dos pais ou responsáveis, que é de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
O artigo 56 efetiva a garantia dos direitos fundamentais aqui estabelecidos, ao determi-
nar que os dirigentes de estabelecimentos de Ensino Fundamental devem comunicar
ao Conselho Tutelar os casos de: maus-tratos envolvendo seus estudantes; reiteração de
faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; e os elevados
níveis de repetência.
O artigo 57 prevê que o poder público estimulará pesquisas, experiências e novas propos-
tas relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas
à inserção de crianças e adolescentes excluídos do Ensino Fundamental obrigatório.
Não obstante, o artigo 58 indica que, no processo educacional serão respeitados os valo-
res culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente,
garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura.
O capítulo encerra-se com o artigo 59, o qual designa que os municípios, com apoio dos
estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para pro-
gramações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude.
Sobre a Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, essa é dividida em dois
momentos, creche (de 0 a 3 anos) e pré-escola (de 4 a 5 anos). A pré-escola, a partir de
2009 (Constituição Federal (EC nº 59, de 2009), art. 208, inciso I.), passou a ser obrigatória
como medida para que as crianças brasileiras participem ao menos dos dois anos finais
da Educação Infantil. Devido a sua grande importância, a Educação Infantil é o tema da
Meta 1 do Plano Nacional de Educação (PNE) que determina; universalizar, até 2016, a
Educação Infantil na pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos de idade e ampliar a oferta
de Educação Infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por
cento) das crianças de até 3 anos até o final da vigência deste PNE (2024).
Nesse sentido, o direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer precisa ser garantido 29
por todos os agentes públicos e privados, para preparar crianças e adolescentes para o
exercício da cidadania, garantindo o seu pleno desenvolvimento.

a) Mapeamento da rede de atendimento à educação, à cultura, ao esporte, e ao lazer

A Educação como Direito Social na Constituição Federal, especificamente no Art. 205 é


direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a cola-
boração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. É, portanto, um direito público
subjetivo, e o acesso ao Ensino Fundamental é obrigatório e gratuito.
Quanto à competência, os municípios devem atuar prioritariamente no Ensino
Fundamental e na Educação Infantil. Já os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritaria-
mente no Ensino Fundamental e Médio.
Atualmente, os documentos que norteiam a educação básica no Brasil são a Lei nº
9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Básica e o Plano Nacional de Educação, aprovado
pelo Congresso Nacional em 26 de junho de 2014 com vigência até 2024. Além disso, a
partir de 22 de dezembro de 2017 foi implementada a Base Nacional Comum Curricular.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) representa uma mudança significativa no
cenário educacional, promovendo transformações fundamentais no processo de ensino
e aprendizagem no Brasil. Ao estabelecer competências e habilidades essenciais que
todos os estudantes devem desenvolver ao longo de sua formação, a BNCC busca garantir
uma educação mais alinhada com as demandas contemporâneas. A ênfase na formação
integral, o estímulo ao pensamento crítico, a promoção da diversidade e a integração de
tecnologias educacionais são alguns dos aspectos que marcam as inovações trazidas por
essa política. A BNCC não apenas redefine os conteúdos a serem ensinados, mas também
propõe uma abordagem pedagógica mais centrada no estudante, incentivando práticas
educacionais mais participativas e contextualizadas. Essas mudanças refletem o compro-
misso na preparação dos estudantes não apenas para o acúmulo de conhecimento, mas
também para a aplicação prática de habilidades que serão cruciais em um mundo em
constante evolução.
A Educação Básica, a partir da LDB, passou a ser estruturada por etapas e modalidades de
ensino, englobando:

I sobre as etapas:
a) Educação Infantil;
b) Ensino Fundamental
c) Ensino Médio,

II Sobre as modalidades:
a) Educação especial;
b) Educação de jovens e adultos;
c) Educação profissional;
30
d) Educação indígena;
e) Educação do campo.

b) Análise dos indicadores

A avaliação desse contexto perpassa a apresentação do universo a ser estudado. Desse


modo, a Tabela 3 traz o comparativo da população total e população em idade escolar,
no Brasil, na Bahia e no município de Irará. Observa-se que a população em idade escolar
é percentualmente proporcional na federação, estado e município.

Tabela 3 – Comparativo populacional – Brasil / Bahia / Irará5


POPULAÇÃO POPULAÇÃO EM IDADE % POPULAÇÃO EM
TOTAL ESCOLAR IDADE ESCOLAR
Brasil 203.080.756 54.505.203 27%
Bahia 14.141.626 3.932.030 28%
Irará 28.043 7.811 28%

Fonte: Censo IBGE 2022


Elaboração própria

5 Seria interessante fazer essa análise considerando a população rural e urbana, mas esse dado ainda não foi
divulgado no censo 2022.
Diante do artigo 54 do ECA, que garante o acesso ao Ensino Fundamental, obrigatório e
gratuito, e da Meta 1 do PNE, que trata da universalização na pré-escola e ampliação da
oferta em creches (no mínimo 50%), faz-se necessário analisar o percentual da população
em idade escolar que está matriculada em cada etapa de ensino.
A Tabela 4 traz o percentual da população em idade escolar matriculada em cada etapa
no Brasil, Bahia e Irará, calculado a partir da população em idade adequada para cada
etapa de ensino em relação à quantidade de matrículas na respectiva etapa.

Tabela 4 – Distribuição da população em idade escolar e quantidade de matrículas por etapa de


ensino e idade adequada – Brasil, Bahia e Irará

31
Calculo próprio: quantidade de matriculas / população
Elaboração própria

Observando a Tabela 4, é possível perceber que diferente do Brasil e da Bahia, Irará atende
mais de 50% das crianças em idade de creche (Meta 1 do PNE). Quanto à pré-escola, o
percentual da população em idade escolar matriculada é proporcional entre Brasil, Bahia
mudar esse dado e substituir a tabela acima
e Irará, ficando acima de 90% (próximo a universalização proposta na Meta 1 do PNE). O
percentual da população em idade escolar matriculada no Ensino Fundamental é acima
de 100% tanto para o Brasil, Bahia e Irará, diante da distorção idade-série provocada pelas
taxas de reprovação e abandono - o que impacta também nos percentuais da popula-
ção em idade escolar matriculada no Ensino Médio. Com foco em Irará, percebe-se que
a distorção idade-série é mais acentuada do que no Brasil e na Bahia, alcançando 117%
da população em idade escolar matriculada no Ensino Fundamental e apenas 57% da
população em idade escolar matriculada no Ensino Médio.
Além de prover a educação formativa e cidadã, a escola também tem a função, conforme
propõe o artigo 56, de comunicar ao Conselho Tutelar os casos de maus-tratos envol-
vendo seus estudantes, reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os
recursos escolares e elevados níveis de repetência. A Tabela 5 apresenta uma série histórica
de 2018 a 2022 acerca do comportamento discente, no que se refere à repetência e aban-
dono escolar. Na Tabela 5 é possível observar uma tendência de aumento no abandono
em Irará que alcançou a marca de 370 em 2021.
Tabela 5 – Reprovação e abandono escolar em Irará, Bahia
ANO REPROVAÇÃO ABANDONO
2018 849 207
2019 995 210
2020 0 237
2021 0 370
2022 947 254
Fonte: INEP, Taxas de Rendimento Escolar.
Elaboração própria

Deixar de frequentar as aulas durante o ano letivo caracteriza o abandono escolar. Já a


situação em que o estudante, seja reprovado ou aprovado, não efetua a matrícula para dar
continuidade aos estudos no ano seguinte é entendida como evasão escolar.
Detalhadamente, apresentam-se as taxas de reprovação e abandono, nas etapas do Ensino
Fundamental e no Ensino Médio, respectivamente nas Tabelas 06 e 07 a seguir::

Tabela 06 – Taxas de reprovação por etapa de ensino em Irará, Bahia


ANO ANOS INICIAIS ANOS FINAIS ENSINO MÉDIO
2018 10,3% 25,0% 7,8%
2019 13,1% 30,2% 8,9%
2020 0,0% 0,0% 0,8%
2021 0,0% 0,0% 1,5%
32
2022 11,2% 27,2% 15,1%
Fonte: INEP, Taxas de Rendimento Escolar.
Elaboração própria

É preciso observar que nos anos de 2020 e 2021 não existem dados de reprovação, em
razão da paralisação parcial ou total das atividades, em consequência da pandemia cau-
sada pelo Covid-19. Então, observando os dados de 2018, 2019 e 2022, as taxas apresen-
tam similaridade, à exceção da reprovação no ensino médio em 2022, que dobrou.
Tabela 07 – Taxas de abandono por etapa de ensino em Irará, Bahia
ANO ANOS INICIAIS ANOS FINAIS ENSINO MÉDIO
2018 1,2% 3,8% 9,9%
2019 1,2% 4,6% 9,1%
2020 1,9% 0,1% 1,3%
2021 2,8% 7,8% 19,3%
2022 0,8% 5,3% 12,3%

Fonte: INEP, Taxas de Rendimento Escolar.


Elaboração própria

Sobre as taxas de abandono, os índices apresentam linearidade, à exceção do ano de 2021,


em que houve a pandemia de Covid-19.
A tabela 08 demonstra que a maior parcela das matrículas da população realizadas em
2022 em Irará foi na rede pública de ensino e que a rede privada alcançou, no geral, apenas
12% das matrículas, com destaque para a Educação Profissional que na rede privada possui
54% das matrículas do município.

Tabela 08 – Total de matrículas no município de Irará, Bahia, em 2022, por etapa de ensino e
dependência administrativa

Fonte: Censo da Educação Básica, INEP, 2022


Elaboração própria

Ainda sobre as matrículas no município, os dados do INEP apontam que, em 2022, foram
realizadas 198 matrículas de estudantes que possuem algum tipo de deficiência ou
33
transtorno de aprendizagem, sendo este o maior quantitativo alcançado dentro da série
histórica de 2012 a 2022, conforme Tabela 09. Vale ressaltar que a distribuição dessas
matrículas nas zonas está bem equilibrada, sendo que 47,5% delas foram realizadas na
zona rural e 52,5% na zona urbana.

Tabela 09– Série histórica do número de matrícula de estudantes com deficiência


(Rede Pública e Privada, Irará-Ba)

MATRICULAS NA ZONA MATRÍCULAS NA ZONA


ANO TOTAL
RURAL URBANA
2012 55 62 117
2013 67 50 117
2014 53 59 112
2015 55 56 111
2016 44 61 105
2017 58 61 119
2018 63 57 120
2019 59 59 118
2020 58 57 115
2021 67 70 137
2022 94 104 198
Fonte: INEP, Microdados do Censo Escolar da Educação Básica (2012-2022).
Elaboração própria
O gráfico 5 destaca a distribuição das matrículas, conforme localização e etapas/modalidades
de ensino. É possível observar que há mais matrículas públicas nas creches da zona urbana
do que nas da zona rural, em contrapartida, há mais matrículas públicas nas pré-escolas e
nos anos iniciais do Ensino Fundamental na zona rural. Em relação aos anos finais do Ensino
Fundamental, a quantidade de matrículas públicas está equilibrada entre as zonas rural e
urbana, fenômeno também observado nas matrículas da EJA. Já as matrículas no Ensino
Médio e no Profissionalizante foram, em suas totalidades, realizadas na zona urbana.

Gráfico 5 - Distribuição das matrículas públicas de Ensino conforme a localização e etapas/moda-


lidades de ensino em Irará, Bahia

Fonte: INEP, Microdados do Censo Escolar da Educação Básica 2022.


Elaboração própria
34
A Tabela 10 visa verificar se a quantidade de docentes por estabelecimento, matrículas por
estabelecimento e matrículas por docente é similar, comparando Brasil, Bahia e o municí-
pio de Irará.

Tabela 10 – Docentes por escola, Estudantes por escola e Estudantes por Docentes
MATRÍCULA POR
MARTÍCULA POR DOCENTE
ESTABELECIMENTO
Brasil 266 20
Bahia 216 22
Irará 234 20
Fonte: Censo da Educação Básica, INEP, 2022
Fonte: Elaboração própria

Apresentando dados similares, quanto as matrículas por estabelecimento e as matrículas


por docente, ao estado e à federação, a pesquisa aplicada no município de Irará aprofunda
os dados, mapeando a rede de atendimento à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer,
por meio de dados estatísticos e também da percepção da amostra de entrevistados.
Ainda avaliando a distribuição das matrículas pelos estabelecimentos, vale destacar que
os Parâmetros Nacionais de Qualidade da Educação Infantil (2018) orientam quanto à
quantidade de crianças por turma. Orienta-se cinco crianças de até um ano por adulto;
oito crianças de um a dois anos por adulto; 13 crianças de dois a três anos por adulto; 15
alunos de três a quatro anos por professor, na creche ou pré-escola; e 25 alunos de quatro
a cinco anos, por professor, na pré-escola.
O Censo de Educação (2022) informa que haviam 73 docentes na creche regular e 42
docentes na pré-escola regular em Irará, o que resulta na média de 9,36 e 16 matrículas
por docentes, nas respectivas etapas da Educação Infantil. No geral, em Irará a distribuição
das matrículas por docente está de acordo com a orientação dos Parâmetros Nacionais de
Qualidade da Educação Infantil.
Os microdados da educação básica do INEP, em 2022, registraram 29 unidades escolares,
sendo 28 do município e uma do estado. Percebemos que a distribuição espacial, assegu-
rada pelo artigo 53, inciso V, se comporta da seguinte forma: 10 creches e escolas urbanas
e 19 creches e escolas rurais, conforme Quadro 1.

Quadro 1 – Distribuição das unidades escolares públicas do município de Irará, Bahia


ETAPAS E MODALIDADES
ESCOLA DEPENDENCIA LOCAL
DE ENSINO OFERECIDAS
Colégio Estadual Joaquim
Ensino médio, educação
Inácio de Carvalho - Tempo Estadual Urbana
profissional, EJA
Integral
Escola Municipal Amaro Creche, Pré-escola e Anos
Municipal Rural
Ferreira de Medeiros iniciais
35
Escola Municipal Ana Souza Creche, Pré-escola, Anos
Municipal Rural
Carneiro Iniciais e EJA
Escola Municipal Coronel Creche, Pré-escola, Anos
Municipal Rural
Balbino Felix Iniciais, Anos Finais e EJA
Escola Municipal Doce Lar Municipal Rural Pré-escola e Anos iniciais
Escola Municipal Felipa Creche, Pré-escola e Anos
Municipal Rural
Cerqueira Pinheiro iniciais
Escola Municipal Jose Ângelo
Municipal Rural Anos Iniciais e Anos Finais
Martins
Escola Municipal Manoel
Municipal Rural Anos Iniciais e Anos Finais
Joaquim da Silva
Escola Municipal Profª Maria Creche, Pré-escola, Anos
Municipal Rural
de Lourdes Campos Portela Iniciais e EJA
Escola Municipal São Creche, Pré escola, Anos
Municipal Rural
Cristovão Iniciais e EJA
Escola Municipal São Pedro Municipal Rural Pré-escola
Escola Municipal Santa Creche, Pré-escola, Anos
Municipal Rural
Barbara Iniciais, Anos Finais e EJA

6 Média de matrículas por docente = total de matrículas (Tabela 3) / total de docentes. Creche: 675/73 = 9,3.
Pré-escola: 672 / 42 = 16.
ETAPAS E MODALIDADES
ESCOLA DEPENDENCIA LOCAL
DE ENSINO OFERECIDAS
Escola Municipal Santo Creche, Pr- escola e Anos
Municipal Rural
Antônio de Pádua Iniciais
Escola Municipal Amaro Bispo Creche, Pré-escola, Anos
Municipal Rural
dos Santos Iniciais, Anos Finais e EJA
Escola Municipal Antonieta
Municipal Urbana Anos Iniciais e EJA
Antônia de Freitas
Escola Municipal Maria
Municipal Rural Anos Finais e EJA
Bacelar
Anos Iniciais, Anos Finais
Escola Municipal Irarazinho Municipal Urbana
e EJA
Escola Municipal Jorge Creche, Pré-escola, Anos
Municipal Rural
Martins da Silva Iniciais e EJA
Creche, Pré-escola e Anos
Escola Municipal São João Municipal Rural
iniciais
Escola Municipal São Jorge Municipal Rural Anos Iniciais e Anos Finais
Escola Municipal Mario
Municipal Rural Anos Finais e EJA
Campos Martins
Escola Municipal Profª Alzira
Municipal Urbana Anos Iniciais
36 Martins Dantas de Oliveira
Escola Municipal São Judas
Municipal Urbana Anos Finais e EJA
Tadeu
Creche Municipal Elysio
Municipal Urbana Creche
Santanna
Escola Municipal Allan Kardec Municipal Urbana Pré-escola e Anos iniciais
Escola Municipal Prof Antonio Pré-escola, Anos Iniciais
Municipal Urbana
José Ferreira de Souza e EJA
Creche Municipal Profª Maria
Municipal Urbana Creche
Eulália Freitas dos Santos
Creche Municipal Julieta
Municipal Rural Creche
Miranda Campos
Creche Municipal Profª
Municipal Urbana Creche
Ednalva Sueli da Silva Santos
Fonte: INEP, Microdados do Censo Escolar da Educação Básica 2022.
Elaboração própria
Para um melhor entendimento, o gráfico 6 apresenta o resumo da distribuição das unida-
des escolares públicas, por etapa, modalidade e localização.

Gráfico 6 - Distribuição das unidades escolares públicas de Ensino conforme a localização e


etapas/modalidades de ensino em Irará, Bahia, 2022

Fonte: INEP, Microdados do Censo Escolar da Educação Básica 2022.


Nota: Unidades de ensino ministram em mais de uma etapa/modalidade de ensino.
Elaboração própria

Considerando a distribuição de creches, pré-escolas e escolas por localização e etapa de


educação oferecida, temos :15 unidades com oferta de creche, sendo três na zona urbana 37
e 12 na zona rural. Atenta-se para as três da zona urbana que possuem o padrão MEC.
É denominada creche Padrão MEC, aquelas que seguem um projeto arquitetônico padrão.
O FNDE tem dois modelos de projetos a serem seguidos pelas prefeituras na construção de
escolas de Educação Infantil pelo Proinfância, segundo a quantidade de estudantes a ser
atendida em cada unidade, e construídas em blocos, distribuídos entre as funções admi-
nistrativa, de serviços e multiuso e blocos pedagógicos, um pátio coberto e área externa
para playground, torre de água e estacionamento. Destaca-se que o bloco da creche, para
crianças até três anos de idade, deve ter fraldário, sanitário e áreas de atividades, repouso,
alimentação e solário. Já o bloco da pré-escola, para crianças de quatro e cinco anos, deve
ter espaço de atividades, repouso e solário. A complementação dos espaços para esses
estudantes está no bloco multiuso que tem sala, sanitários para meninos e meninas, sani-
tários para adultos e para pessoas com deficiências, sala de informática e telefone. Além
de definir os espaços físicos, o projeto arquitetônico descreve os materiais de construção,
acabamento, forro, telhado, acessibilidade, rampas de acesso e piso tátil, entre outros itens.
Além do destaque das unidades que oferecem a etapa creche, destaca-se, de modo
comparativo, as duas etapas do ensino fundamental, através da análise do Gráfico 6 fica
evidente uma concentração de estabelecimentos que ofertam os Anos Inicias em detri-
mento da quantidade que ofertam Anos Finais do Ensino Fundamental.
Importante destacar que 14 instituições, das 19 que atendem creche e/ou pré-escola
em Irará, são escolas do Ensino Fundamental com salas de Educação Infantil. Esse é um
dado que pode revelar a priorização do Ensino Fundamental em detrimento da Educação
Infantil nessas instituições.
Sobre as unidades escolares, é fundamental observar a sua infraestrutura. A maior parte
delas foi construída nas décadas de 1970, 1980 e 1990 do século passado, apresentando,
portanto, uma infraestrutura dissonante da definida pelo projeto de arquitetônico do
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
A Tabela 11 apresenta a infraestrutura das unidades escolares em Irará.

Tabela 11 – Equipamentos de infraestrutura das unidades escolares em Irará, Bahia


ESCOLAS COM % DE ESCOLAS COM
EQUIPAMENTOS - INFRAESTRUTURA
INFRAESTRUTURA INFRAESTRUTURA
Área verde 17 59%
Parque infantil 4 14%
Quadra poliesportiva 5 17%
Auditório 2 7%
Biblioteca 8 28%
Laboratório 2 7%
Sala de leitura 2 7%
Sala de atendimento especial 3 10%
Acessibilidade - Banheiro adaptado 12 41%
38 Acessibilidade - Rampa 15 52%
Acessibilidade - Sala 8 28%
Refeitório 4 14%
Computador para aluno 3 10%
Internet 27 93%

Fonte: INEP, Microdados do Censo Escolar da Educação Básica 2022.


Elaboração própria

A maior parte das escolas tem área verde (59%) e 17% das escolas têm quadras polies-
portivas. De acordo com os dados do INEP, poucas escolas possuem auditório (7%) e 28%
possuem bibliotecas. Sobre laboratórios, identificou-se que apenas 7% das escolas os
possuem. Sobre acesso à tecnologia, 10% das escolas disponibilizam computadores para
estudantes, enquanto que em 93% das escolas, a internet está disponível. Registre-se que
apenas 14% das escolas possuem refeitório.
Sobre acessibilidade, foram observadas que 10% das escolas desfrutam de sala de aten-
dimento especializado, 41% possuem banheiros adaptados, 52% possuem rampas de
acesso e 28% tem salas adaptadas.
Observando os dados das unidades escolares acerca dos profissionais, constatou-se que
365 profissionais são contratados para diversas atividades pedagógicas e 655 profissionais
se ocupam estritamente das atividades docentes, conforme Tabelas 12 e 13, a seguir.
Esses profissionais atendem 6.912 crianças e adolescentes nas creches, pré-escolas e esco-
las do município.

Tabela 12 – Profissionais da área educacional em Irará, Bahia

PROFISSIONAIS QUANTIDADE
Administrativos 57
Serviços Gerais 139
Bibliotecário 10
Coordenador 3
Nutricionista 5
Merendeira 61
Pedagogo 29
Secretário 2
Segurança 24
Gestor 35
TOTAL 365

Fonte: INEP, Microdados do Censo Escolar da Educação Básica 2022.


Elaboração própria

Através da Tabela 12, observa-se que mais de um terço dos profissionais da área educa-
cional em Irará é do serviço geral, 16,7% são merendeiras e 15,6% são do administrativo.
39
Tabela 13– Professores por etapa e modalidade de educação em Irará, Bahia
PROFISSIONAIS QUANTIDADE
Ensino Infantil – Creche 70
Ensino Infantil – Pré-escola 35
Ensino Fundamental – Anos Iniciais 211
Ensino Fundamental – Anos Finais 77
Ensino Médio 142
Educação Profissional 44
EJA 76
TOTAL 655

Fonte: INEP, Microdados do Censo Escolar da Educação Básica 2022.


Elaboração própria

Segundo a Tabela 13, os anos iniciais do Ensino Fundamental é a etapa que possui mais
docentes em Irará, em contrapartida, a pré-escola é a que possui menos docentes. O
Ensino Médio possui cerca de 22% dos docentes do município e os anos finais do Ensino
Fundamental, quase 12%.
A Tabela 14 ocupa-se em destacar, comparativamente, a estrutura da educação fundamen-
tal, observando quantidade de escolas, docentes e matrículas nos anos iniciais e anos finais.

Tabela 14 – Estrutura Anos Iniciais e Anos Finais na Rede Pública em Irará, Bahia
QUANTIDADE DE QUANTIDADE DE QUANTIDADE DE
ETAPAS
ESCOLAS DOCENTES MATRÍCULAS
Anos Iniciais 20 211 1.791
Anos Finais 7 77 1.791
Fonte: INEP, Microdados do Censo Escolar da Educação Básica 2022.
Elaboração própria

Apesar de apresentarem exatamente a mesma quantidade de matrículas, os anos iniciais


do Ensino Fundamental possuem mais do que o dobro de escolas e docentes em compa-
ração aos anos finais do Ensino Fundamental, conforme Tabela 14.

Os dados estatísticos ora apresentados revelam algumas percepções, que serão afirmados
ou complementados, a partir da análise das informações trazidas na série de entrevistas
realizadas com pessoas do município, que segue na próxima seção.

c) Pesquisa de percepção dos atores que atuam na rede

A Pesquisa de Percepção se constitui como um instrumento de entrevistas semiestrutu-


40 radas e grupo focal com profissionais da Secretaria Municipal de Educação e da Secretaria
Municipal de Cultura, Esporte e Lazer do Município de Irará, com a finalidade de comple-
mentar os dados estatísticos e possibilitar uma leitura do atendimento do direito de crian-
ças e adolescentes à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, posto que o diagnóstico
não é um fim em si mesmo.
Ander Egg & Idáñez (2008) recorrem à etimologia do termo para definir a sua origem e
melhor significado, visto que a palavra grega diagnostikós é formada pelo prefixo dia, que
significa “através” e gnosis, referente a “conhecimento”, “apto para conhecer”. Dessa forma,
apresenta-se a seguir informações que não se esgotam em si mesmas, mas que poderão
se constituir como ponto de partida para subsidiar a elaboração/reelaboração de políticas
públicas que garantam o pleno acesso de crianças e adolescentes ao direito à educação,
cultura, esporte ao lazer.
Sobre acesso e permanência, na percepção dos entrevistados há o reconhecimento de
que a quantidade de creches ainda não é suficiente, pois identificou demanda reprimida,
inclusive considerando sua distribuição espacial, além de reconhecer a problemática da
adequação dos espaços, o que condiz com os dados secundários apresentados que infor-
maram que apenas 52% da população em idade escolar adequada para a creche estava
matriculada em 2020. Acrescente-se ainda que não são escolas construídas, são imóveis já
existentes que foram transformados em escolas, sem a infraestrutura adequada.
Os entrevistados destacaram que, considerando que o município possui 13 povoados e/
ou distritos, e que 12 unidades ofertem a etapa creche, ou seja, quase todas as localidades
possuem creches, ainda assim, a demanda identificada para ela é grande e requer amplia-
ção, principalmente em comunidades com maior população.
Alguns entrevistados relatam que na comunidade do Largo foi implantada recentemente
uma creche. A região da Caroba é outra comunidade que também tem creches parciais;
que é só um turno, portanto, necessita ampliação. De modo geral, é necessária a expansão
do número de creches na zona rural.
Ainda sobre a garantia de acesso e permanência, destaca-se que, embora haja um número
expressivo de crianças e adolescentes matriculados na modalidade de Educação Especial
no município, os entrevistados apontam que as atividades para esse público são reali-
zadas em sua maioria, em espaços (creches e escolas adaptadas), sem necessariamente
se constituírem como espaços educativos que possuem acessibilidade/recursos a fim de
permitir/favorecer a plena locomoção de crianças e adolescentes, sobretudo daqueles
com deficiência física ou mobilidade reduzida. Entretanto, apesar de não ter todas as
escolas com estrutura adaptadas às crianças e adolescentes com deficiência, existem duas
salas com recursos, que oferecem atividades no contraturno escolar.
Os entrevistados apontam que não existem dificuldades em relação à matrícula; não há
recusa da matrícula pela condição da deficiência. Porém, em relação às ações comple-
mentares, oferecidas pelo município, como, por exemplo, acesso à sala de recursos no
contraturno escolar, precisam de um trabalho de conscientização das famílias. Participar
dessas atividades complementares depende do interesse das famílias, e muitas não
compreendem a importância. De acordo com a com os dados das entrevistas é possível
41
mensurar que menos da metade do público-alvo participa dessas atividades.
Em seus depoimentos os entrevistados revelaram preocupação em garantir que todos
os profissionais da educação tenham formação adequada para trabalhar com crianças e
adolescentes com deficiência; compreendem que, para além do processo formativo, tais
profissionais “tem que ter a aptidão e a compreensão, enquanto educador, que aquela
criança, aquele adolescente, aquele adulto com deficiência ou transtorno, ele tem direito
à educação, ele tem direito de aprender e aprender no seu tempo”.
Além disso, foi criado um centro multidisciplinar (2023), com profissionais da educação e
também profissionais das outras áreas, a exemplo de profissionais da saúde, profissionais
da assistência. Com suporte financeiro do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), foi possível
contratar psicólogos, psicopedagogo e assistente social. E com a parceria da Secretaria de
Saúde do município agregou-se à equipe um neurologista e um neuropediatra.
Destaca-se que o centro multidisciplinar não é para atender apenas estudantes com defi-
ciência; é para atender as famílias, para atender aos que têm transtorno de aprendizagem
e é para atender todos os profissionais da educação que trouxeram como legado da pan-
demia muita dificuldade, sobretudo socioemocional.
Sobre a quantidade de matrículas, destaca-se que a oferta de vagas nos Anos Finais do
Ensino Fundamental também merece um destaque, uma vez que essa etapa é ofertada
em apenas uma escola na zona urbana e seis escolas na zona rural. Notadamente, há uma
redução de unidades da oferta, se comparando à oferta da etapa anterior, Anos Iniciais;
enquanto que o quantitativo de matriculados permanece similar entre as duas etapas do
Ensino Fundamental, cabendo avaliar a capacidade de atendimento nas unidades que
ofertam Anos Finais.
Sobre a infraestrutura, os entrevistados revelam que as escolas, em maioria, não possuem qua-
dras próprias, normalmente possuem uma construída ao lado, que não pertencem à escola,
mas à comunidade. Até 2022, apenas 14% das escolas possuíam parques infantis, entretanto,
no final do ano de 2022 foi feito um investimento em parques, que vêm sendo instalados,
principalmente nas escolas de Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Adicionalmente, os entrevistados apontaram a quase inexistência de auditórios nas uni-
dades escolares. São poucas que os possuem, sendo salas de aulas que estão ociosas, e
por serem maiores, são utilizadas para esse fim, considerando-os, portanto, inadequados.
Para os estudantes com deficiência ou transtorno de aprendizagem (Educação Especial)
foi revelado que existem duas salas de recursos que são utilizadas no contraturno escolar,
para complementar a educação oferecida pela rede.
Outra informação trazida pelos entrevistados é que a maior parte dos computadores dis-
poníveis nas escolas é para gestão. Seguindo a análise acerca da conectividade, 93% das
escolas têm internet, porém algumas com problema, em razão das dificuldades da oferta
de internet no município (infraestrutura lógica). Os entrevistados levantaram a necessi-
dade de ampliação da oferta de internet, considerando que boa parte dos estudantes têm
42 celular, e que este seria um instrumento para auxiliar nas pesquisas e estudos.
A infraestrutura voltada à saúde e bem-estar de crianças e adolescentes também foi pes-
quisada, atendendo ao recomendado no art. 54, inciso VII. Além do trabalho voltado ao
atendimento à saúde desenvolvida no Centro, para famílias, estudantes e docentes que
trabalham com as deficiências, há o cuidado com a alimentação, através da merenda esco-
lar. A percepção da pesquisa sobre a merenda escolar oferecida pelo município, acerca
de qualidade e acesso é de que ela é considerada muito boa e feita com muito cuidado.
Orientada por nutricionista, os insumos são enviados em carro refrigerado, advindos
da agricultura familiar, e seu desenvolvimento (higiene, limpeza e preparo) é feito com
acompanhamento frequente por nutricionistas exigentes que atuam frequentemente na
formação das merendeiras.
É realizado trabalho voltado à alimentação saudável. As crianças de creche e pré-escola
recebem uma alimentação diferenciada, com frutas e legumes. Além disso, o preparo do
lanche é feito de forma que seja mais saudável possível. Sem açúcar, com oferta de suco,
o café da manhã com opções. A pré-escola também tem um cardápio com variedade
de frutas e a possibilidade de escolher alguns itens do cardápio, aumentando o interesse
pela alimentação, mas sempre um cardápio saudável. A questão da retirada do açúcar nos
preparos é também estimulada nas famílias.
Nos Anos Iniciais e Finais o cardápio também é orientado por uma nutricionista. Com
relação aos valores nutricionais para as crianças maiores e para os jovens que estão na
escola, é feito de forma diferenciada, e também adequada com a retirada do açúcar,
observando, ainda, a quantidade de sal utilizado, porque já foi identificado que alguns
estudantes apresentam preocupação com a pressão. Os estudantes dos Anos Finais têm
uma alimentação mais reforçada, tendo em vista que eles muitas vezes saem do trabalho
direto para a escola.
Os entrevistados consideram que o município se revela cuidadoso em identificar as neces-
sidades de adaptação da merenda escolar, fazendo as devidas substituições no cardápio,
sobretudo para as crianças e os adolescentes que têm algum tipo de intolerância alimen-
tar, como intolerância à lactose, a glúten, dentre outras.
Destaca-se, ainda, que o município segue a determinação do Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) de adquirir a alimentação da agricultura familiar. Então, são
várias as cooperativas da zona rural que fornecem alimentos.
Nas entrevistas realizadas, os depoentes deram relevo de que o trabalho pedagógico da
Secretaria está organizado de acordo com as necessidades e especificidades formativas
das diferentes etapas e modalidades da Educação Básica, conforme estruturado na LDB.
Nesse sentido, o organograma abaixo auxilia nessa compressão:

Figura 1 – Organograma da Diretoria Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Irará, Bahia

43

Fonte: Secretaria Municipal da Educação de Irará – SEDUC. ( SOLICITAR AJUDA NA DIAGRAMAÇÃO)


Elaboração própria

Os entrevistados ressaltaram que a coordenação de Educação Escolar Quilombola


e do Campo é recém-criada, e ainda encontra dificuldades que devem ser ven-
cidas com o processo formativo que vem sendo desenvolvido. De acordo com
as informações trazidas nas entrevistas, uma das dificuldades encontradas diz
respeito aos professores, que mesmo aqueles oriundos das escolas do campo e
de comunidades quilombolas, têm, muitas vezes, a intenção de fazer o mesmo
trabalho que desenvolvem na escola urbana, esquecendo-se das especificidades
do povo do campo.
Além desses coordenadores, o município possui mais sete coordenadores, que são
chamados de articuladores, que estão nas escolas de sexto ao nono ano, fazendo
com que o que é tratado nas formações e nos Encontros de Coordenação - AC acon-
teça de fato, nas unidades escolares. Eles têm contato com pais, com os estudantes
e com demais profissionais da educação, a exemplo de seguranças e merendeiras.
Os entrevistados apontam que a Secretaria de Educação realiza, por meio da sua
diretoria pedagógica, constante processo de acompanhamento e formação. Há
um acompanhamento pedagógico que é feito semanalmente, através da forma-
ção de grupos de professores e coordenadores das áreas, junto com a diretora
pedagógica, de modo que haja um alinhamento frequente das ações, garantindo
que em todas as escolas seja dado o mesmo tratamento aos componentes curri-
culares e na condução dos diversos aspectos apresentados pelos discentes.
No entanto, os entrevistados destacam que a alta rotatividade de professores
para ministrar determinados componentes curriculares nos Anos Finais do Ensino
Fundamental compromete a qualidade do processo formativo e, portanto, impacta
na qualidade da aprendizagem escolar dos adolescentes. Foi possível perceber que
a maioria desses profissionais possuem regime/contrato de trabalho temporário
com o município, não dando assim, sequência ao trabalho realizado.
44 Em seus depoimentos associam que as altas taxas de reprovação e de abandono
nos Anos Finais podem ter relação com a rotatividade dos professores.
Identificou-se ainda, a partir das entrevistas, que A Secretaria de Educação desen-
volve atividades em parceria com a Secretaria de Cultura, a Secretaria de Saúde
e Secretaria de Assistência Social. Os entrevistados apontam esse trabalho desta-
cando atividades como: concurso de redação, falando sobre vivências, literatura e
memórias, torneios interescolares e a corrida estudantil.
Nas entrevistas foi evidenciado que há uma grande preocupação da Secretaria de
Cultura, Esporte e Lazer em relação à manutenção das festas e manifestações da
cultura local. O município percebe o desinteresse da nova geração pelas tradições,
ao mesmo tempo em que reconhece que não desenvolve ações específicas volta-
das às crianças e aos adolescentes.
As manifestações culturais desenvolvidas no município são o samba de roda, a
capoeira, as artes em cipó e barro, a burrinha e os artistas locais. Sobre os equi-
pamentos de cultura, o município sinaliza que possui a Casa do Samba e a Casa
do Artesão, porém ambas estão desativadas. Também possuem a biblioteca e o
arquivo público, pouco utilizados pela comunidade. Ainda há a sinalização acerca
da implantação do Centro de Memória de Irará, valorizando a cultura local.
Ainda a respeito dos equipamentos e serviços, só que voltados ao esporte e ao
lazer, identificou-se que o município possui sete quadras poliesportivas, sendo
quatro na zona urbana e três na zona rural. Compreendendo que o município
possui cerca de 13 bairros e povoados/distritos, considera-se que em cerca de
50% existe equipamento de esporte. Irará possui ainda cinco parques infantis e
uma praça de lazer. No entanto, nenhum equipamento de cultura, esporte e lazer
possui acessibilidade/recursos que permitam a locomoção de crianças e adoles-
centes com deficiência física ou mobilidade reduzida.
As narrativas que emergiram dos grupos focais sinalizam que, apesar da existên-
cia dos equipamentos, não há ações programadas desenvolvidas/propostas pela
Secretaria. Portanto, existe a preocupação com a continuidade da tradição cultural,
existem alguns equipamentos, mas faltam projetos a serem desenvolvidos volta-
dos à criança e ao adolescente, que sem estimulo, não utilizarão os equipamentos
e não terão consciência da importância em manter as tradições.
Os entrevistados reconheceram que não fazem uso dos espaços públicos. Porém, no
município existem três programas e projetos voltados ao esporte, que são projetos
particulares de escolinhas esportivas, o que reduz o acesso e também não ajudam a
despertar o interesse de crianças e adolescentes para prática esportiva. Nesse sentido,
faz-se importante destacar que os Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação
Brasileira, em 2003, já consideravam de forma clara a importância do lazer no espaço
pedagógico, identificando este como um dos meios gratuitos de acesso ao direito:
O lazer e a disponibilidade de espaços para atividades lúdicas e esporti-
vas são necessidades básicas e, por isso, direitos do cidadão. Os alunos
podem compreender que os esportes e as demais atividades corporais
45
não devem ser privilégios apenas dos esportistas ou das pessoas em
condições de pagar por academias e clubes. Dar valor a essas atividades e
reivindicar o acesso a elas para todos é um posicionamento que pode ser
adotado a partir dos conhecimentos adquiridos nas aulas de Educação
Física. (Brasil, 1997, p. 47).

Também não há ações voltadas ao patrimônio histórico e cultural, nem ao patrimônio


artístico, tampouco editais de fomento à cultura, voltados às crianças e adolescentes
sendo desenvolvidos pelo município, ainda que exista um Plano de Cultura de Irará. A
Secretaria expõe a situação da falta do investimento financeiro, já que é uma secretaria
que não possui orçamento próprio, além de ter uma equipe reduzida para trabalhar e
nem todos terem formação específica, embora revelem que o grupo possui muitas ideias
e projetos, que não são colocados em prática, sob esses dois argumentos: falta de recurso
financeiro, falta de pessoal.
Uma preocupação da sociedade civil de Irará, segundo os dependentes, refere-se às ações
desenvolvidas no município, nas festas populares, como modo de evitar o trabalho infan-
til. De acordo com o município, é oferecida uma ação, que é a entrada gratuita em parque
infantil, que necessita maiores esclarecimentos, como o tempo que cada criança pode
permanecer, qual a estrutura de apoio, se há profissionais para acompanhar as crianças
enquanto os pais trabalham, entre outras assistências.
46
5.2 O DIREITO À VIDA E SAÚDE
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Constituição Federal do Brasil estabe-
lecem direitos fundamentais relacionados à vida e à saúde de crianças e adolescentes.
Essas legislações são voltadas para a proteção e promoção dos direitos dessa população,
garantindo seu pleno desenvolvimento físico, mental e social (BRASIL, 1990; BRASIL, 1988).
A Constituição Federal, em seu artigo 5º, assegura o direito à vida como um dos direitos
fundamentais de todos os indivíduos, incluindo crianças e adolescentes (BRASIL, 1988).
O ECA, por sua vez, reforça essa garantia ao estabelecer em seu artigo 7º que criança e
adolescente têm o direito à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas públicas
que visem à redução da mortalidade infantil e garantam o acesso universal e igualitário à
saúde (BRASIL, 1990).
Já o direito à saúde é garantido pela Constituição Federal no artigo 196, que estabelece
que a mesma é um direito de todos e dever do Estado. No caso das crianças e adolescentes,
o ECA reforça esse direito ao estabelecer em seu artigo 14 que é dever do Estado assegurar
atendimento integral à saúde dessa população, mediante políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doença e de outros agravos, além de garantir acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Tanto a Constituição Federal quanto o ECA estabelecem que criança e adolescente têm
prioridade absoluta na efetivação de seus direitos. A Constituição, em seu artigo 227,
afirma que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar às crianças e adolescen- 47
tes, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária.
Nesse contexto, a política de saúde desempenha um papel fundamental na garantia dos
direitos sociais, incluindo o direito à vida e à saúde de crianças e adolescentes. A efetivação
desses direitos depende de uma abordagem abrangente que envolva não apenas ações
direcionadas à saúde, mas também políticas sociais e econômicas que visem à redução
das desigualdades e à promoção do bem-estar dessa população.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecido pela Constituição Federal, é res-
ponsável por garantir o acesso universal, igualitário e integral à saúde (BRASIL, 1988). O
SUS deve ser estruturado e fortalecido como um sistema integrado, capaz de oferecer
atendimento preventivo, curativo e de reabilitação, com enfoque na promoção da saúde
e na prevenção de doenças (PAIM, 2018).
Além disso, a política de saúde deve ser articulada com outras políticas públicas que
impactam diretamente na vida e na saúde de crianças e adolescentes, como a educação,
a assistência social, a cultura e o lazer (OLIVEIRA et al. 2016). Essa articulação permite uma
abordagem mais ampla e integrada, considerando as múltiplas dimensões do desenvol-
vimento humano.
Portanto, a priorização da política de saúde como um eixo estruturante é fundamental
para garantir o pleno exercício dos direitos sociais, especialmente no que se refere à vida
e à saúde de crianças e adolescentes, contribuindo para a construção de uma sociedade
mais justa e inclusiva e para tanto faz-se necessário o envolvimento e a participação ativa
da sociedade civil, incluindo organizações não governamentais, profissionais de saúde,
famílias e as próprias crianças e adolescentes (BRITO-SILVA et al. 2012).

a) Mapeamento da rede de atendimento Irará para promoção ao direito à vida e à


saúde

A estruturação da Rede de Atenção à Saúde (RAS) abrange os níveis primário, constituído


pela Atenção Primária à Saúde (APS), que desempenha papel principal na RAS, devendo
ser resolutiva, coordenadora e ordenadora do cuidado, capaz de solucionar mais de 85%
dos problemas de saúde da população; e níveis secundário e terciário, onde se ofertam
serviços especializados e de maior densidade tecnológica (MENDES, 2010). O funciona-
mento da RAS é fundamental para o cuidado integral de crianças e adolescentes, e sua
efetividade se dá através da implementação de políticas públicas de saúde que favoreçam
o crescimento e desenvolvimento e reduzam a morte prematura, com melhoras nos des-
fechos de saúde (ARAÚJO et al. 2014; HORTA et al. 2010).
Em âmbito internacional, desde a declaração de Alma Ata, em 1978, existe o esforço global
de garantir a saúde para todos na perspectiva da APS (BRASIL, 2002). Nessa mesma pers-
pectiva, o Brasil implementou estratégias para tornar a APS a estratégia central do sistema
público de saúde brasileiro (MACINKO J; MENDONÇA CS, 2018), o que tem proporcionado
a ampliação do acesso da população, produzindo efeitos positivos, reduzindo a mortali-
48
dade infantil, mortalidade cardio e cerebrovascular e de internações por causas sensíveis à
atenção básica (FAUSTO, ALMEIDA E BOUSQUAT, 2018; MACINKO J; MENDONÇA CS, 2018).
No município de Irará, o serviço da APS é ofertado por meio da atuação de profissionais
em 12 Unidades Básicas de Saúde, sendo 06 caracterizadas como rurais, 03 urbanas, 01
mista e 02 satélites7 (quadro 2). Este serviço é composto por 10 equipes de Saúde da
Família e 10 equipes de Saúde Bucal, o que corresponde a uma cobertura populacional de
APS de 100% em 2023 (29.305 indivíduos cadastrados), segundo Sistema de Informação
em Saúde para a Atenção Básica (SISAB).
Os demais serviços que compõem a RAS municipal, de gestão própria, estão descritos no
quadro abaixo:

7 Nas Unidades satélites são realizados atendimentos médicos - de forma semanal, odontológicos e de
enfermagem, procedimentos odontológicos, curativos, vacinas e medicações.
Quadro 2 – Distribuição das Unidades de Saúde do município de Irará, Bahia, 2023.

Nível
Unidade de Saúde Serviços ofertados
Atenção
10 Unidades Básicas de Saúde
Unidade de Saúde da Família de Boca
de Várzea
Unidade de Saúde da Família Mãe
Melania dos Reis
USF Adalberto Goncalves Pinto
Cada unidade com atendimento
USF Celina Maria Santos integral com 1 equipe de saúde
Primário
USF de Bento Simoes família (eSF) e odontológico com
USF Dr Gilberto Batista de Freitas 1 equipe de saúde bucal (eSB)
USF Dra. Jocelina Silva Gomes
USF João Falcão de Albuquerque
Brasileiro
USF Jose Severino de Jesus
USF Matilde Madalena de Jesus
02 Unidades Básicas de Saúde
- Satélite Atendimento com técnico de 49
Posto de Saúde Claudia Romana dos Primário enfermagem e atendimento médico
Santos semanal
Posto de Saúde da Boa Vista
Atende pessoas que apresentam
prioritariamente intenso sofrimento
psíquico decorrente de transtornos
mentais graves e persistentes,
Caps I Luiz Jorge de Jesus Zico Secundário incluindo aqueles relacionados ao
uso de substâncias psicoativas, e
outras situações clínicas que impos-
sibilitem estabelecer laços sociais e
realizar projetos de vida.
Oferta consultas e exames
Centro de Reabilitação de Irará Secundário
especializados.
Laboratório Municipal Secundário Realiza exames laboratoriais.
Nível
Unidade de Saúde Serviços ofertados
Atenção
Oferta acompanhamento às lesões
realizando curativos com equipa-
Ambulatório de Lesões Secundário mentos especiais, encaminhamento
na rede para equipe multi e realiza-
ção de exames
Realiza tanto internamentos
nas clínicas médica, pediátrica e
Hospital Maternidade Dr. Deraldo obstétrica como pequenas cirurgias.
Terciário
Miranda. Nesse equipamento também são
realizados procedimentos diagnósti-
cos e terapêuticos.
SAMU 192 Secundário Serviço de atendimento de urgência
Oferta serviço na moradia do
paciente com ações de promoção à
Equipe Multiprofissional de Atenção
saúde, prevenção e tratamento de
Domiciliar (EMAD) e Equipe Secundário
doenças e reabilitação, com garantia
Multiprofissional de Apoio (EMAP)
da continuidade do cuidado e inte-
grada à Rede de Atenção à Saúde.
50
Fonte: CNES, 2023
Elaboração própria

Assim, a atenção à saúde das crianças e adolescentes abrange uma ampla gama de ser-
viços, que vão desde a APS, como consultas de rotina e vacinações, até serviços de saúde
especializados para tratar condições específicas. Além disso, os serviços de urgência e
emergência desempenham um papel fundamental na garantia de cuidados imediatos
quando necessário. E todos esses serviços desenvolvem algumas das ações voltadas para
aspectos centrais na saúde de crianças e adolescentes, tais como: vacinação, prevenção
da gravidez na adolescência, atenção pré-natal, prevenção de violência e promoção de
cultura de paz, prevenção da obesidade infantil, atenção à saúde mental, dentre outros.
No município de Irará, as ações organizadas à saúde de crianças e adolescentes imple-
mentadas pelo nível central reverberam no processo de trabalho das Unidades de Saúde,
haja vista que 100% dos estabelecimentos com representantes nas entrevistas realizadas
para elaboração do diagnóstico relataram o desenvolvimento de tais ações.
Na análise, verificou-se além da realização de acolhimento de crianças e adolescentes nas
unidades de saúde, o desenvolvimento das seguintes atividades, serviços e programas:
puericultura
puericultura; atualização do calendário vacinal; Programa Saúde na Escola; Estratégia de
Prevenção e Atenção à Obesidade Infantil (PROTEJA); consulta odontológica, incluindo
escovação supervisionada; cultura da paz; educação permanente em saúde; pré-natal com
amor e responsabilidade; primeira consulta do recém-nascido; triagem de peso e altura;
consulta médica e de enfermagem; planejamento familiar; atendimento em psiquiatria,
ações de vigilância, incluindo dengue, zyka e chikungunya; levantamento de vulnerabi-
lidades, dentre outros. O desenvolvimento dessas ações pode reduzir as hospitalizações
pelas principais causas de internações por condições sensíveis à saúde (COSTA et al. 2017;
PEDRAZA; ARAÚJO, 2017)
Além das ações desenvolvidas pela Unidade de Saúde no município, observou-se a dispo-
nibilidade de outros equipamentos no território, que atende as crianças e aos adolescen-
tes, quando esses atendem a um conjunto de critérios, a exemplo da AABB (Associação
Atlética do Banco do Brasil).
Com relação à saúde da criança, a totalidade dos entrevistados se referiram sobre a exis-
tência de fluxo para realização da triagem Auditiva Neonatal Universal (Teste da Orelhinha),
avaliação do Reflexo Vermelho (Teste do Olhinho) e triagem para cardiopatias congênitas
críticas (Coraçãozinho). A oferta desses serviços se dá por meio da lista única, da regulação
municipal, com encaminhamento à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae)
do município de Feira de Santana ou na maternidade, sendo apenas o teste do pezinho
realizado nas unidades de saúde do município. Na análise observou-se dificuldade na
realização dos testes da orelhinha e coraçãozinho, que são fundamentais na saúde da
criança que tende a realizar detecção precoce de alterações no sistema ocular, auditivo
ou cardíaco, possibilitando diagnóstico e tratamento precoce, evitando evolução severa.
(JCIH, 2019; Aguiar et al. 2007; SBTEIM, 2022)
51
Uma outra importante ação se refere à busca ativa que é um conjunto de ações de vigilân-
cia no território, que visa à identificação precoce de casos suspeitos e uma rápida resposta
para aplicação de medidas de controle (BRASIL, 2017b). No município, as ações de busca
ativa para crianças e adolescentes, tanto para equipe dirigente quanto para profissionais
das Unidades de Saúde, são realizadas em sua totalidade, nas situações de calendário
vacinal atrasado; faltosos do planejamento familiar e das consultas; em caso de gravidez
na adolescência e gestante faltosa; realização do teste do pezinho, dentre outros. No
cotidiano do serviço essas ações são realizadas através de demandas apresentadas pelos
Agentes Comunitários de Saúde (ACS), em escolas, hospitais e por profissionais da APS.
Em Irará, a totalidade das entrevistadas se referiram à realização de ações do Programa
Saúde na Escola (PSE), que é uma política intersetorial da Saúde e da Educação, imple-
mentado desde 2007 pelo Ministério da Saúde, e tem suas ações desenvolvidas de forma
mensal ou semanal no município, a depender da Unidade de Saúde. Dentre as ações do
programa, inclui atividades de assistência, de vigilância e educação em saúde, com desfe-
cho positivo na prevenção do consumo de álcool, drogas e violências (Becker, 2020).
No tocante às ações e programas de iniciativa da gestão municipal ou de organização da
sociedade civil, destacam-se:
• Uso de álcool, drogas e outras substâncias, além das ações realizadas pelo
município através de grupo no Centro de Atenção Psicossocial, existem outras
iniciativas com os Alcoólicos Anônimos, mas que no momento não tem adesão
do público adolescente. Além disso, atividades da polícia pelo Programa
Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD8) e em igrejas.
• Proteja e gravidez na adolescência, que ocorre através da realização de reunião
com grupo de gestante para discussão sobre a gravidez na adolescência.
• Alteração de peso (sobrepeso/obesidade; baixo peso), vacina; saúde na escola;
População LGBTQIAP+.
• Projeto de prevenção de suicídio e automutilação coordenado pelo CAPS.
• Temáticas relacionadas ao trânsito através das blitz educativas.
• Gravidez e natalidade que conta com o programa pré-natal com amor e res-
ponsabilidade, além da realização de planejamento familiar, teste rápido de
gravidez, acompanhamento pré-natal, sendo todas as ações realizadas em sua
totalidade pelo município.
• Temática da deficiência, apesar de incipiente no município, existe o registro
de que foi realizado levantamento nominal e frequência de diagnóstico das
deficiências no município. Além disso, existe o projeto Institucional da Equipe
Multiprofissional de Atenção Especializada em Saúde Mental (AMENT) que
aborda essas temáticas relacionadas ao público-alvo.

Com alusão às datas que objetivam intensificar informações sobre determinada temática
e fortalecer as recomendações dos serviços de saúde para prevenção, promoção, diag-
52 nóstico precoce de determinadas condições de saúde, assim como de intensificação de
aumento das coberturas vacinais, como é o caso da multivacinação realizada a partir do
microplanejamento9, foram identificadas a realização de campanhas de saúde. Em geral,
para equipe dirigente, as ações são realizadas na própria unidade de saúde, sendo execu-
tada com cartazes, folders, sala de espera, etc., com maior intensificação na zona rural por
conta da distância.
As diretrizes das campanhas de saúde são encaminhadas para enfermeiras das unidades,
que discutem com as equipes e participam do planejamento de ações, mensalmente,
sobretudo nas datas comemorativas do mês. Em geral, as ações são definidas por microá-
reas, com grupo de adolescentes, realizadas de forma mensal, priorizando ações sobre
vacinação, gravidez na adolescência e Papilomavírus Humano (HPV) ou a partir das metas
e indicadores (prevenção de gravidez na adolescência e obesidade), ou campanhas do
Ministério da Saúde.
Apesar da literatura evidenciar a baixa procura de adolescentes aos serviços de saúde
(PEIXOTO et al. 2021), houve consonância entre os entrevistados da percepção de utili-
zação dos serviços pelas crianças e adolescentes. Em geral, para as crianças, as maiores
demandas de atendimento se referem ao cuidado com as síndromes gripais e virose; diar-
reia; vômito; vacina; tratamento de cárie; desnutrição; obesidade; baixa higienização; trans-
torno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH); e transtorno do espectro autista

8 Formatura do Proerd em Irará reúne 180 estudantes - Prefeitura de Irará (irara.ba.gov.br


9 Multivacinação — Ministério da Saúde (www.gov.br)
(TEA). Entre os adolescentes, as maiores demandas de atendimento estão relacionadas
ao planejamento reprodutivo; vacina; uso de abuso de álcool e outras drogas; tratamento
de cárie e gengivite; ansiedade e violência autoprovocada. Entre os serviços especializa-
dos, no caso do CAPS I, observa-se maior demanda de atendimento para situações de
depressão; ansiedade; violência autoprovocada; TDAH; TEA, atendimento psicoterápico;
e psiquiátrico. Além disso, cabe destacar a fragilidade no diagnóstico sobre o perfil de
acesso ao CAPS I por faixa etária, uma vez que 66,7% dos entrevistados relatam inexistir
tais dados.
Em relação à educação permanente, que é um componente das políticas de saúde, enten-
dida como prática de ensino-aprendizagem e política de educação na saúde (CECCIM; FERLA,
2009), deve ser desenvolvida no âmbito dos serviços de saúde com objetivo de aprendi-
zagem no trabalho, com vistas ao desenvolvimento profissional, ampliando a capacidade
resolutiva das ações e gestão das políticas de saúde, (BRASIL, 2009). Apesar da maior parte da
equipe dirigente informar que as atividades educativas com os profissionais são realizadas,
em sua maioria, de forma frequente (66,7%), 33% das Unidades de Saúde não identificaram
a realização dessas ações para o público-alvo. As temáticas de educação permanente são
comumente relacionadas à gravidez na adolescência e à vacinação.

b) Análise dos Indicadores

Perfil de Natalidade
A Taxa de Natalidade10, que expressa a frequência anual de nascidos vivos em um deter- 53
minado território, apresenta tendência de queda para residentes em Irará, no período de
2012 a 2022 (Gráfico 7).

Gráfico 7 - Taxa de natalidade (bruta) da população residente (por 1000 hab.) – Irará-BA,
2012–2022.

Fonte:SESAB/SUVISA/DIVEP/SINASC - Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos.


Elaboração própria

A gravidez na adolescência relaciona-se a diversos aspectos vinculados ao exercício da


sexualidade e da vida reprodutiva, às condições materiais de vida e às múltiplas relações
de desigualdades sociais (BRASIL, 2010). Ao analisar a proporção de nascidos de mães na
faixa etária de 10 a 19 anos residentes em Irará, no período de 2012 a 2022, observa-se

10 Representa o número de nascidos vivos, por mil habitantes, em determinado espaço geográfico, no ano
considerado.
redução de 16,8% em 2012, com 66 registros no sistema de informação, para 13,1% em
2022, com 32 registros (Gráfico 8). Apesar da redução, observou-se aumento em anos
específicos, diferentemente do verificado para o Estado da Bahia. Já ao verificar os dados
de nascidos de mães na faixa etária a partir de 20 anos, residentes em Irará, constata-se
elevação na proporção de 83%, com 326 registros, para 87% com 244 registros.

Gráfico 8 - Proporção de nascidos vivos de mães de 10 a 19 anos em Irará e na Bahia, 2012–2022.

Fonte: SESAB/SUVISA/DIVEP/SINASC - Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos.


Elaboração própria

A partir do recorte por faixa etária, é possível verificar que cerca de 96% das gestações
na adolescência ocorrem na idade de 15 a 19, com 572 casos ao longo de 2012 a 2022.
No entanto, ainda ocorrem gestação em mães de 10 a 14 anos de idade, um total de 23
54 no período analisado. Importante destacar que o Ministério da Saúde utiliza o mesmo
recorte de faixa etária, considerando adolescentes entre 10 e 19 anos de idade. Diferente
da referência utilizada no ECA, que considera adolescentes no recorte etário de 12 a 18
anos. Assim, as gestações até os 12 anos de idade também podem ser consideradas como
gravidez na infância.
O pré-natal é considerado um importante instrumento no ciclo gravídico-puerperal, com
resultados satisfatórios no desfecho da gestação (LUZ et al. 2019). Ademais, é fundamental
no cuidado com o binômio mãe-bebê desde a identificação da gravidez precoce até o
momento do parto, perpassando pelo cuidado da saúde física e mental, com orientações
sobre o período gestacional em relação à nutrição, os exercícios, o trabalho de parto, alei-
tamento, entre outros temas que a equipe de saúde, a adolescente e sua rede de apoio
achem necessário trabalhar (SILVA et al. 2019)
Em relação ao cuidado pré-natal na adolescência, a Sociedade Brasileira de Pediatria elabo-
rou um Guia Prático de Atualização sobre Prevenção de Gravidez na Adolescência em 2019,
no qual estão descritos riscos aumentados para gestações na adolescência, bem como para
os neonatos de mães adolescentes, bem como para o binômio mãe e bebê (SBP, 2019).
Analisando o acesso ao pré-natal, fundamental para reduzir os riscos gestacionais durante
a adolescência, destaca-se tendência crescente no percentual de gestantes entre 10 a 19
anos que realizaram 7 ou mais consultas de pré-natal, de 15,2% em 2012 para 75% em
2022, percentuais superiores aos da Bahia (Gráfico 9).
Gráfico 9 - Proporção de nascidos vivos de mães de 10 a 19 anos que realizaram 7 ou mais con-
sultas de pré-natal em Irará e na Bahia, 2012–2022.

Fonte: SESAB/SUVISA/DIVEP/SINASC - Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos.


Elaboração própria

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) apresenta como pri-
meiro eixo estratégico a atenção integral e qualificada à gestação, ao parto, ao nascimento
e ao recém-nascido. Nesse sentido, destaca-se o acompanhamento pré-natal qualificado
na identificação de fatores de risco relacionados aos desvios de crescimento e desenvolvi-
mento intrauterino, bem como na proposição de intervenções para prevenção de agravos
e promoção à saúde do binômio mãe-filho.
O peso ao nascer é um parâmetro que avalia as condições de saúde de um recém-nascido
e na literatura, existem evidências de que o que o baixo peso ao nascer é considerado um
relevante fator de risco para morte neonatal, e tem impacto para o bebê a curto e longo
55
prazo (TOURINHO; REIS, 2013).
No período de 2012 a 2016, nota-se um acelerado crescimento no percentual de mães
que tiveram 7 ou mais consultas de pré-natal, quando atingiu 76,7%. Nos anos seguintes
do período analisado, o valor percentual variou pouco ao longo dos anos, atingindo 76,2%
em 2022 (Gráfico 10).

Gráfico 10 - Proporção de nascidos vivos de mães que realizaram 7 ou mais


consultas de pré-natal em Irará, 2012–2022.

Fonte: SESAB/SUVISA/DIVEP/SINASC - Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos.


Elaboração própria

A proporção de nascidos vivos de mães residentes de Irará que apresentaram baixo peso
ao nascer variou de 7,7% em 2012 para 7,4% em 2022, apresentando maior valor percen-
tual em 2019, quando alcançou 10%.
Perfil de Mortalidade

A mortalidade infantil é um indicador relevante para avaliar a saúde e condições de vida


de uma população. Ele estima o risco de morte de uma criança menor de um ano, refle-
tindo, de maneira geral, as condições socioeconômicas e de saúde da mãe, bem como a
inadequada assistência pré-natal, ao parto e ao recém-nascido.
A análise do Sistema de Informação de Mortalidade demonstra um relevante aumento
na mortalidade infantil, com expressivo aumento no período de 2020 a 2021. No período
analisado variou de 12,8 óbitos por 1.000 nascidos vivos em 2012, chegando a 23,8 óbitos
por 1.000 nascidos vivos em 2020 (Gráfico 11).

Gráfico 11 - Mortalidade infantil por município de residência. Irará, 2012–2020.

Fonte: SESAB/SUVISA/DIVEP/SIM - Sistema de Informação sobre Mortalidade; SESAB/SUVISA/DIVEP/SINASC -


Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos. *Dados preliminares.
Elaboração própria
56
Esse aumento observado no período de 2020 a 2021, em Irará, provavelmente reflete efei-
tos da Pandemia pelo COVID-19, que teve impacto no acesso aos serviços de saúde, como
pode ser visto na redução da proporção de mães que realizaram 7 ou mais consultas de
pré-natal no mesmo período (Gráfico 10).
No período de 10 anos observa-se que, de 36 óbitos em menores de 01 ano ocorridos no
município, 15 foram no período de 0 a 06 dias de vida (componente neonatal precoce)
que geralmente estão relacionados aos cuidados prestados na assistência ao pré-natal,
parto, e aos primeiros dias de vida; 16 óbitos foram registrados no período de 28 dias a 1
ano (componente pós neonatal).
De maneira geral, a ocorrência de óbitos nessa faixa etária, denota o desenvolvimento
socioeconômico, infraestrutura hospitalar e qualidade do saneamento ambiental, que
condicionam a desnutrição infantil e as infecções associadas. Além disso, o acesso e a
qualidade dos recursos disponíveis para atenção à saúde materno-infantil são também
determinantes da mortalidade nesse grupo etário. Nesse sentido, quando a mortalidade
infantil é elevada, esse componente frequentemente apresenta-se em destaque. Destarte,
a elevada mortalidade infantil demonstra que as condições socioeconômicas e de sis-
tema de saúde local não foram suficientes para promover redução na mortalidade infantil
(MARINHO et al. 2020)
Se observados os óbitos maternos no período, há registros de 02 óbitos por município
de residência, nos anos 2019 e 2020, com 01 registro em cada um dos anos. Esses óbitos
tiveram como causas: aborto não especificado e transtornos da placenta.
Com relação à mortalidade na adolescência há registros de 40 óbitos no período de 2012
a 2021. A análise das causas dos óbitos por residência segundo grupo da Classificação
Internacional de Doenças (CID 10) demonstra que 32,5% estão relacionados à casos de
agressões, 30% a eventos (fatos) cuja intenção é indeterminada, 15% a acidentes, dentre
os quais 50% são acidentes de transporte, 10% estão como causas mal definidas e desco-
nhecidas e os demais 12,5% dos óbitos estão distribuídos entre outras causas.

Perfil de Morbidade

A análise dos dados de violência demonstra que entre 2012 e 2022 foram notificados 66
casos. Ao longo do período de 2012 a 2022 observa-se grande elevação no número de
registros de casos a partir de 2021, com maior destaque para 2022 (Gráfico 12). Pode-se
inferir que esse aumento seja consequência da melhoria na captação e registro dos casos,
todavia também pode refletir diretamente o aumento no número de casos.

Gráfico 12 - Número de casos de violência notificados em Irará, 2012–2022.

57

Fonte: SESAB/SUVISA/DIVEP/SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação.


Elaboração própria

Ao compararmos o número de casos de violência notificados da população na faixa etária


de 0 a 19 anos com a população geral, é possível verificar que em média 50% dos casos
estão entre crianças e adolescentes, com valor mínimo de 12,5% em 2020 e valor máximo
de 87,5% em 2019. Isso demonstra o grande impacto no cenário municipal do número de
casos de violência nesse público.
Ao observar a distribuição por faixa etária (Gráfico 13), 15 a 19 anos apresenta o maior
percentual de registros, com 41% (27 casos), seguida por 10 a 14 anos, com 32% (21 casos)
e 01 a 04 anos com 12% (08 casos).
Gráfico 13- Distribuição dos casos de violência notificados por faixa etária, de 0 a 19 anos. Irará,
2012–2022.

Fonte: SESAB/SUVISA/DIVEP/SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação.


Elaboração própria

A distribuição de 57 casos de violência notificados da população de 0 a 17 anos demons-


tra que apenas a opção heterossexual tem registros com 35,1% dos casos. Em relação aos
tipos de violência, 78,7% são de violência física, 14,1% são de negligência/abandono, lesão
autoprovocada e violência sexual presentaram um percentual de 12,8% cada uma, 6,4%
são de violência psicológica/moral, 1,3% é violência por tortura e 3,8% a outras violências

58 Dos casos de violência notificados de 0 a 17 anos, 06 casos informaram ter algum tipo de
deficiência ou transtorno, com 01 registro de deficiência mental, 01 de transtorno mental,
04 de transtorno de comportamento.
No mesmo período, há 52 registros com o tipo de agressão, dos quais constata-se que
agressão mais frequente é a força corporal/espancamento (28,9%), seguido de objeto
contundente (19,2%), arma de fogo (17,3%), outra agressão (17,3%).
O recorte de violência sexual demonstra que dos 12 casos registrados no período 66,7%
são por estupro (Gráfico 13).
Os casos de violência contra pessoas na faixa etária de 0 a 19 anos tiveram 53 registros de
vínculo ou parentesco com a pessoa envolvida, desses 20,8% estavam relacionados com a
mãe, 20,8% relacionados com a própria pessoa, 13,2% relacionados com o pai, 13,2% com
amigos/conhecidos, 13,2% com desconhecidos e 19% apresentaram outros vínculos.
Como descrito no material técnico do Ministério da Saúde sobre a implementação PNAISC
e que também se estende aos adolescentes:
“[...] é essencial que o poder público e a sociedade assumam compromis-
sos para difundir a promoção da cultura de paz e não violência, visando
ao pleno desenvolvimento saudável da criança, com a adoção de novos
modos de agir, de educar e de convivência familiar. Para superar as
adversidades é importante valorizar a construção e/ou manutenção dos
vínculos familiares, buscando reduzir danos e prevenir outras formas de
violação de direitos” (BRASIL, 2018, p. 84).
A análise dos agravos notificados na faixa etária de 0 a 9 anos demonstra que atendimento
antirrábico e acidente por animais peçonhentos têm apresentado maior frequência ao
longo do período de 2012 a 2022, totalizando 218 (36,0%) e 84 (13,9%) respectivamente.
Manteve-se esse comportamento com exceção do ano 2015 quando foram registradas
114 notificações para doença aguda pelo vírus zika. Destaca-se também o incremento de
notificações de transtornos falciformes apenas no ano de 2021. De maneira geral, a partir
de 2019 observa-se aumento no número de agravos notificados nessa população.
De maneira similar, os agravos notificados de maior prevalência na população de 10 a 19
anos, no período de 2012 a 2022 são atendimento antirrábico (26,2%) e acidentes por
animais peçonhentos (17,5%), com exceção de 2015 quando ocorreu um elevado número
de notificações de doença aguda do Zika Vírus. Nesta faixa etária, destaca-se o incremento
nas notificações de violência interpessoal/autoprovocada que apresentou média de 4,8
casos por ano no período de 10 anos, com destaque para os anos em 2021 e 2022 quando
foram notificados 9 e 16 casos respectivamente. O número total de notificações aumen-
tou a partir de 2019, e manteve-se crescente até 2022.
Ainda pela análise do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), do ano
2013 a 2022, identifica-se uma tendência crescente na taxa de detecção de sífilis em ges-
tantes por 1.000 nascidos vivos, saindo de 5 casos/1.000 NV em 2012 para 27,6 casos/1.000
NV em 2022, com queda em 02 anos específicos 2017 e 2019 (Gráfico 14). Ao observar os
números absolutos, é possível verificar uma média de 3,9 casos por ano, apresentando 1
como valor mínimo (2014 e 2017) e 7 (2021) como valor máximo. O expressivo aumento
de incidência no município pode estar relacionado a fatores que incluem o aumento do 59
número de casos da doença em âmbito nacional e também a maior detecção da doença
na assistência pré-natal através de oferta de teste rápidos nas UBS.

Gráfico 14 - Taxa de detecção (por 1.000 nascidos vivos) de gestantes com sífilis por ano de
diagnóstico. Irará, 2013–2022.

Fonte: SESAB/SUVISA/DIVEP/SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação; SESAB/SUVISA/


DIVEP/SINASC - Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos.
Elaboração própria

No caso da sífilis congênita, foram diagnosticados 13 casos e a taxa passou de 2,9


casos/1.000 NV em 2013 para 12,3 casos/1.000 NV em 2022. Ao analisar os dois indica-
dores, frente à sífilis em gestantes não se observou maior incidência de sífilis congênita
em 2018 e 2021, entretanto é verificado aumento de sífilis congênita em 2020 e 2022.
Essa variação ao longo do período sinaliza a importância de se observar a qualidade do
cuidado ofertado e da notificação dos casos de sífilis no município.
Ressalta-se que, apesar de todo o conhecimento e insumos disponíveis para diagnóstico
e tratamento das gestantes e seus parceiros, a sífilis permanece como problema de Saúde
Pública na região das Américas (RAMOS Jr 2022; OMS, 2021), o que indica deficiências na
atenção à saúde da mulher, especialmente na atenção pré-natal, pela falta de tratamento
oportuno nas Unidades Básicas de Saúde, ocasionando consequências como infertilidade
e complicações na gestação e no parto, morte fetal e diversos agravos à saúde da criança.
De acordo com os dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização,
disponibilizados através do Caderno de Avaliação e Monitoramento da Atenção Básica –
CAMAB, a proporção de vacinas selecionadas do Calendário Nacional de Vacinação para
crianças menores de dois anos de idade com cobertura igual ou maior que 95%, do muni-
cípio de Irará está em 100% no ano 2021.

a) Pesquisa de percepção dos atores que atuam na rede

No tocante à entrevista com a equipe dirigente e de profissionais das Unidades de Saúde,


se evidenciou que o planejamento anual das ações e atividades desenvolvidas para
crianças e adolescentes no município considera o planejamento ascendente, incluindo a
elaboração do plano de ação e posterior encaminhamento às Unidades de Saúde.
Embora a consonância das informações da equipe dirigente e das Unidades de Saúde
60 sobre a disponibilização de dados e indicadores de saúde, observou-se fragilidade no
monitoramento de dados, haja vista que 33% dos entrevistados informaram não realizar o
monitoramento da situação vacinal de crianças e adolescentes.
O matriciamento é uma ferramenta fundamental para a transformação gerencial dos
serviços de saúde, haja vista seu potencial em modificar a lógica hierarquizada da gestão
em saúde, incluindo a integração das ações de saúde especializada na APS (SANTOS et
al. 2020). Além disso, configura-se como arranjo organizacional que visa oferecer suporte
técnico-pedagógico em áreas específicas às equipes responsáveis pelo desenvolvimento
de ações básicas de saúde para a população (IGLESISAS; AVELAR, 2019). No município,
foram identificadas o desenvolvimento de apenas 33,3%, sendo em sua maioria para os
profissionais da APS, fragilizando a resolutividade dos casos na rede.
Ademais, destaca-se a inexistência de iniciativa local para a oferta de materiais técnicos
e fluxos institucionais que orientem a organização dos serviços. Estudo de abrangência
local evidenciou a coordenação do cuidado como desafio para os profissionais da assis-
tência, face à necessidade de organização de um sistema de referência e contrarreferência,
com fluxos e percursos definidos, organizados de acordo com a demanda populacional
(PROTÁSIO et al. 2014).
No município, os documentos orientadores para as atividades com crianças e adolescentes
são oriundos de cartilhas, protocolos, manuais técnicos e fluxos institucionais produzidos
pelo Ministério da Saúde ou Secretaria Estadual da Saúde do Estado da Bahia. Apesar de
apresentarem diretrizes gerais para organização e orientação dos serviços de saúde, não
consideram os contextos locais. Destaca-se que tal fragilidade não inviabiliza a definição
de fluxo nas unidades de saúde, uma vez que a totalidade dos profissionais reconhece a
existência do fluxo, que pode estar relacionado à realização de reuniões mensais com as
equipes de enfermagem, e bimestrais realizadas com os profissionais médicos, além das
capacitações para implantação e avaliação. Destaca-se ainda que, quando há necessidade
de encaminhamento de crianças e adolescentes para outros pontos de atenção à saúde,
os profissionais conhecem os fluxos, elaboram ficha de referência e, em sua maioria, rece-
bem a ficha de contrarreferência.
No tocante ao perfil das pessoas com deficiências, atendidas nas unidades de saúde, veri-
ficou-se alta prevalência referida de crianças e adolescentes com deficiência visual e física,
mas baixa e média frequência de atendimento, respectivamente. Dentre as condições,
chama atenção a alta frequência referida de atendimento de TEA e de deficiência mental/
intelectual. Essas percepções são corroboradas tanto pelos dirigentes da Secretaria de
Saúde, quanto pelos profissionais das Unidades de Saúde.
Segundo a Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal, a dos Direitos da Criança
e do Adolescente, a violação de direito “é toda e qualquer situação que ameace ou viole
os direitos da criança ou do adolescente, em decorrência da ação ou omissão dos pais ou
responsáveis, da sociedade ou do Estado, ou até mesmo em face do seu próprio compor-
tamento, incluindo abandono, negligência, conflitos familiares, convivência com pessoas
que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas, além de todas as formas de violência
(física, sexual e psicológica), configuram violação de direitos infantojuvenis” (TJDFT, 2013).
61
Além da discordância entre as principais violações, que pode estar relacionada à fragili-
dade de discussão e monitoramento dos dados em saúde, foi evidenciado a inexistência
de fluxo institucional estabelecido. Apesar disso, ressalta-se a orientação da notificação
no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) para vigilância epidemio-
lógica, encaminhamento ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social
(CREAS) e Conselho Tutelar, com emissão de cópia para ciência da gestão municipal. Além
disso, observou-se o relato de comunicação do fato às autoridades; encaminhamento
ao Departamento de Polícia Técnica (DPT) e o monitoramento junto a unidade de saúde
através da equipe de enfermagem.
Dentre as condutas estabelecidas quando observadas as situações de violações de direitos
das crianças e adolescentes, destacam-se: diálogo com a família; diálogo com a assistente
social do CREAS; informação à família da necessidade de resolução, senão será acionado o
conselho tutelar, etc.; captação das informações do paciente junto aos ACS; agendamento
das próximas consultas.
Os fluxos institucionais, nas situações de violações de direitos de crianças e adolescentes,
são trabalhados com os profissionais na abordagem sobre o conceito do direito e sua vio-
lação, incluindo a discussão sobre o encaminhamento do caso, sendo os fluxos discutidos
nas capacitações, seja de forma mensal com a equipe de enfermagem e com a assistência
social e trimestral com outras categorias. Além disso, a temática é discutida em reuniões
de equipe.
No tocante às ofertas municipais de atenção especializada que atendam demandas de
crianças e adolescentes, evidencia-se a existência de atendimento nas seguintes espe-
cialidades: neuropediatria, psiquiatria, clínica médica, ortopedia, nefrologia. Além disso,
psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, pediatria, terapia ocupacional - no centro de
especialidades e fonoaudiologia. Destarte, face à incapacidade dos municípios em ofertar
todas as especialidades, dado ao perfil epidemiológico, é admitido a complementaridade
da rede assistencial com a participação da iniciativa privada na prestação de serviços
públicos de saúde, desde que complementar ao SUS, nos termos do art. 2º, da Portaria nº
3277/2006, devendo esta ser formalizada através de contrato de direito público, convênio
ou outro instrumento previsto em lei, que os substitua.
A efetividade das políticas de saúde implementadas pelos municípios se dá através da
relação entre as programações de saúde e o seu orçamento. Com vistas à oferta de ser-
viços de média e alta complexidade, face à insuficiência destas em âmbito municipal, a
Programação Pactuada Integrada (PPI) se constitui como o instrumento que, em con-
sonância com o processo de planejamento, visa definir e quantificar as ações de saúde
(ambulatorial, hospitalar, vigilância sanitária e vigilância epidemiológica) para a população
residente em cada território, além de nortear a alocação dos recursos financeiros, a partir
de critérios e parâmetros pactuados entre os gestores, definindo parcela de recursos
destinados à assistência da própria população e da população referenciada, por outros
municípios (BRASIL, 2021)
Em Irará, a PPI possibilita utilização de serviços de média e alta complexidade da popula-
62 ção residente, em municípios como Feira de Santana e Salvador. A oferta de serviços inclui:
Pré-natal de alto risco, exames de alta complexidade, angiologia, oftalmologia, urologia,
oncologia, nefrologia, dentre outros, assim como exames de alta complexidade. Vale
destacar que o município consegue acessar todos os serviços ofertados pela Policlínica
Regional de Feira de Santana, como cardiologia, nefrologia e cuidado com o pé diabético,
sem dificuldade, através da central de regulação.
Os relatos apresentados pelas profissionais das Unidades de Saúde e dirigentes, diferem
de estudo de abrangência nacional que analisou a estrutura das unidades básicas de
saúde (UBS) e o processo de trabalho das equipes de atenção básica em saúde no cui-
dado à criança no Brasil evidenciou altos percentuais para indicadores estruturais para o
desenvolvimento de ações e menor para agendamento para especialistas (52%) (SANTOS
et al. 2021). Além disso, com relação à saúde do adolescente, em estudo realizado em uma
cidade do Nordeste, observou-se limitações relacionadas à ineficiência da rede, dos enca-
minhamentos e a falta de vagas para consultas especializadas em ambulatórios (BARROS
et al. 2021).
Por fim, no tocante às violências autoprovocadas, apesar do desconhecimento sobre a
existência organizações da sociedade civil que atuem com a temática e da relação com
Centro de Valorização da Vida (CVV), foi relatado sobre a existência de fluxo junto à comu-
nidade, face a existência de casos.
63
5.3 OS DIREITOS À LIBERDADE, AO RESPEITO
E À DIGNIDADE; À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E
COMUNITÁRIA; À PROFISSIONALIZAÇÃO E À
PROTEÇÃO NO TRABALHO

5.3.1 O DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE

O reconhecimento da criança e do adolescente brasileiro como sujeito de direito, através


da Lei Federal 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) possibilitou a com-
preensão dos direitos fundamentais para este grupo, concedendo-lhes proteção integral e
a garantia da absoluta prioridade para a efetivação desses direitos.
Ao longo da história, crianças e adolescentes tiveram privação aos direitos básicos, além
de serem expostas a abusos e violações dos mesmos, principalmente no que tange ao
direito à liberdade, ao respeito e à dignidade.
Adotada pela Assembleia Geral da ONU em 20 de novembro de 1989, e promulgada no
Brasil em 2 de setembro de 1990, através do Decreto Federal 99.710/1990, a Convenção
Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente reconhece que existem no mundo
crianças e adolescentes vivendo em condições de vulnerabilidade, necessitando de con-
siderações especiais, desde o momento de sua concepção e gestação, quanto após o seu
64 nascimento.
Por sua vez, a legislação pátria – CF/1988 – estabelece em seu Art. 227 que
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimen-
tação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, explora-
ção, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988)

Desta forma, compete legalmente às três esferas – família, sociedade e Estado - a res-
ponsabilidade legal de garantir o cumprimento da efetivação dos direitos para crianças e
adolescentes.
Dentre os direitos básicos, esse capítulo se destina abordar sobre o direito à liberdade,
ao respeito e à dignidade, que apesar de já estarem garantidos na CF/88, foram também
assegurados e fundamentados nos artigos 15, 16, 17 e 18 do ECA.
O Art. 16 do ECA discorre sobre o direito de crianças e adolescentes à liberdade, não res-
tringindo apenas ao direito de ir e vir nos logradouros públicos e espaços comunitários,
respeitando as restrições legais , mas também o direito à opinião e expressão, a sua própria
crença e participação em culto religioso, a brincar, praticar esportes e se divertir, à liber-
dade de participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação, bem como, participar
da vida política, na forma da lei e a liberdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.
A compreensão da liberdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitá-
rios permite que crianças e adolescentes possam ter acesso a diferentes espaços, de acordo
com suas idades e especificidades, como escolas, parques, praças, unidades de saúde,
teatros, cinemas, praias, entre outros, possibilitando o contato com diversos ambientes e a
convivência com diferentes pessoas, que vão além das que compõem suas famílias, oportu-
nizando o seu desenvolvimento em muitos aspectos, principalmente o social.
A legislação também estabelece que deve ser dado à criança e ao adolescente a possibili-
dade de opinar e expressar o que pensam ou desejam, em diferentes contextos, inclusive
em aspectos legais, como em situações da guarda de pais e/ou responsáveis e adoção
para maiores de 12 anos, quando estes podem participar das escolhas e expressar com
quem desejam ficar.
No que tange à crença e participação em culto religioso deve ser garantido aos mesmos
o acesso e conhecimento sobre diferentes crenças e religiões, de forma que possam cons-
truir suas próprias convicções e identidades ao escolherem o que crer e seguir.
A liberdade de participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação, permite à
criança e ao adolescente a vivência de papéis e trocas que possibilitarão a construção
de vínculos e o fortalecimento das relações interpessoais que darão base para o seu
desenvolvimento e identidade, assim como a ampliação do conhecimento de diferentes
culturas e práticas que vão além das conhecidas e exercidas pelo seu seio familiar.
Em relação à participação da vida política, na forma da lei, a legislação brasileira, de forma
facultada, permite ao adolescente a partir dos 16 anos de idade exercer o direito ao voto. 65
Todavia, é importante que crianças e adolescentes discutam a legislação e o sistema polí-
tico brasileiro e assim construam conhecimentos essenciais para sua formação cidadã.
A liberdade de buscar refúgio, auxílio e orientação deve ser observada em todos os
ambientes onde crianças e adolescentes se encontram, começando em sua própria casa.
É imprescindível também que estes compreendam que, caso não consigam esse refúgio,
auxílio e orientação em sua própria família, existem outros espaços que podem propiciar
essa ajuda, como escolas, igrejas, associações, Conselho Tutelar, dentre outros.
O direito ao respeito ultrapassa a integridade física, psíquica e moral da criança e do adoles-
cente, que devem estar a salvo de qualquer tipo de ameaça, negligência ou violência. Esse
direito compreende também a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos
valores, das ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais, um exemplo é em que seu Art.
247, o ECA estabelece ser crime “divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida,
por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial,
administrativo ou judicial relativo à criança ou adolescente a que se atribua ato infracional”.
O direito à dignidade estabelecido o Art. 18 do ECA, “diz que é dever de todos velar pela
dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desu-
mano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. ” , e a CF/1988 tem como um de
seus fundamentos, Art. 1º § III “a dignidade da pessoa humana”, o que pode ser compreen-
dido que este é um princípio que perpassa por todos os outros direitos, pois só é possível
uma vida digna para crianças e adolescentes quando todos os outros direito fundamentais
estejam sendo respeitados.
Vale ressaltar que conforme prevê o Art. 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente
Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos Fundamentais. (ECA/1990).

5.3.2 O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

No que tange à convivência familiar e comunitária, o Estatuto da Criança e do Adolescente-


ECA e a CF/1988 estabelecem direitos e garantias para as crianças e adolescentes no Brasil.
O ECA reconhece a importância de proporcionar um ambiente saudável e acolhedor para
o desenvolvimento integral desses indivíduos, o qual contribui para o desenvolvimento
emocional; aprendizado social; apoio no desenvolvimento; desenvolvimento de habili-
dades de vida; experiências de aprendizado; promoção da saúde mental; prevenção de
riscos sociais, identidade e pertencimento.
“O Art. 19 do ECA diz que “É direito da criança e do adolescente ser criado
e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substi-
tuta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que
garanta seu desenvolvimento integral”.

Contudo, apesar desse direito ser extensivo a toda criança e adolescente brasileiros,
muitos necessitam se afastar de suas famílias de origem, devido à situação de extrema
vulnerabilidade a que são expostos, precisando que sejam encaminhados para famílias
66 extensivas, ou até mesmo, em situações excepcionais, para programas de acolhimento ou
famílias substitutas.
Por isso, a convivência familiar é considerada um direito primordial, e o ECA preconiza que
a criança e o adolescente têm o direito de viver e crescer no seio de sua família natural,
sempre que possível. Em casos excepcionais em que isso não seja possível, existem as
alternativas para garantir a convivência familiar, como a adoção, família acolhedora, família
substituta e apadrinhamento.
A convivência comunitária possibilita que a criança e o adolescente participem ativamente
da comunidade em que estão inseridos. A integração social é fundamental para o desenvol-
vimento de habilidades interpessoais e para a construção de uma identidade cidadã, respei-
tando a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento e reconhecendo como sujeitos de
direitos. É importante garantir a convivência familiar e comunitária como prioridade máxima
nas ações e políticas voltadas para crianças e adolescentes, porque o Estado, a sociedade e a
família têm a responsabilidade compartilhada de assegurar um ambiente propício ao pleno
desenvolvimento e bem-estar desses indivíduos, respeitando sua dignidade e direitos.

5.3.3 O DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E A PROTEÇÃO NO TRABALHO

O Art. 60 do ECA proíbe qualquer tipo de trabalho para menores de 14 anos de idade. Já
para os adolescentes de 14 a 16 anos incompletos o trabalho é permitido, mas na condi-
ção de aprendiz, como preconiza o artigo em epígrafe.
Trabalho infantil é a submissão de qualquer criança ou adolescente menor de 14 anos a
qualquer situação de trabalho que irá privá-los de sua infância e interferir em sua frequên-
cia moral, além de gerar prejuízos em desenvolvimento cognitivo, físico e psicológico.
O direito do adolescente à profissionalização e proteção no trabalho visa assegurar o
pleno desenvolvimento e bem-estar desses indivíduos. A legislação brasileira, em espe-
cial o Estatuto da Criança e do Adolescente –ECA e a Lei Federal 10,097/2000 - Lei da
Aprendizagem - estabelecem diretrizes claras nesse sentido.
É importante destacar que a formação para o trabalho decente, quando devidamente
orientada e protegida, pode ser uma ferramenta estratégica para garantir o futuro desses
adolescentes. A inserção no mercado de trabalho contribui na formação dos aspectos
morais e sociais do cidadão. Além disso, durante esse processo de aprendizagem deve ser
respeitado, também, a faixa etária permitida pela legislação, garantindo que a atividade
não comprometa a saúde, a segurança, e nem a frequência e rendimento escolar.
Os programas de aprendizagem e estágio são formas legais de conciliar a profissionali-
zação com a educação formal, proporcionando experiência prática que não prejudica o
desenvolvimento físico, mental e educacional dos adolescentes.
A profissionalização não deve ser vista como uma alternativa à educação formal, mas como
um complemento que contribui para a formação integral dos adolescentes. É imprescin-
dível assegurar ambientes de trabalho saudáveis, que respeitem os direitos fundamentais,
contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade equitativa.
A proibição do trabalho infantil em atividades que comprometam a saúde, a moralidade 67
e a segurança, se faz necessária para colaborar com a construção de um ambiente seguro
e propício ao desenvolvimento saudável durante a profissionalização. Portanto, efetivar
a implementação e monitoramento das políticas públicas voltadas à profissionalização
e proteção no trabalho são passos necessários para assegurar um futuro com dignidade
para todas as crianças e adolescentes. No entanto, é preciso que o poder local crie políticas
públicas que facilitem a inserção dos adolescentes, na condição de aprendiz, gerando
oportunidades de qualificação profissional para o fortalecimento do Sistema de Garantias
de Direitos-SGD.

a) Mapeamento da Rede de atendimento relacionada à Promoção dos Direitos


- Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade; à Convivência Familiar e
Comunitária; à Profissionalização e a Proteção no Trabalho.

De acordo com o Art. 86 do ECA “a política de atendimento dos direitos da criança e do


adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-
-governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. ”, sendo
que a mesma deve ser municipalizada e integrada com os órgãos do Judiciário, Ministério
Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encarregados da execução das políticas sociais
básicas e de assistência social (ECA, Art.88, incisos I e VI).
Grande parte das ações governamentais para atendimento da criança e do adolescente estão
dentro da Política Nacional de Assistência Social - PNAS na perspectiva do Sistema Único de
Assistência Social – SUAS, uma vez que a Lei Federal 8.742, de 07 de dezembro de 1993 –
Lei Orgânica da Assistência Social – estabelece que a assistência social é uma Política de
Seguridade Social não contributiva, de responsabilidade do Estado, que tem como principal
objetivo garantir aos indivíduos, às famílias e aos grupos sociais a sobrevivência, a acolhida e
o convívio familiar e comunitário, por meio de programas, projetos, serviços e benefícios de
proteção social, hierarquizados em proteção social básica e proteção social especial.
O Art. 6º - A da referida Lei designa que a proteção social básica é um conjunto de servi-
ços, programas, projetos e benefícios da assistência social que visa a prevenir situações de
vulnerabilidade e risco social através do desenvolvimento de potencialidades e aquisições
e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Já proteção social especial é
um conjunto de serviços, programas e projetos que visa contribuir para a reconstrução
de vínculos familiares e comunitários, bem como a defesa de direito, o fortalecimento das
potencialidades e aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento
das situações de violação de direitos.
O Art. 6º - C da mesma Lei estabelece que os equipamentos da Assistência Social encar-
regados de ofertar os serviços são: para a proteção social básica o Centro de Referência
de Assistência Social - CRAS e para a proteção social especial o Centro de Referência
Especializado de Assistência Social – CREAS. O CRAS e o CREAS são responsáveis por
operacionalizar serviços e programas referentes ao Eixo da Promoção, estabelecido no
Eca, como o Serviço de Fortalecimento de Vínculos, atendimentos psicossociais, visitas
domiciliares, até programas de execução de medidas socioeducativas em meio aberto.
68
Dentre os principais órgãos que compõem o Sistema de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente – SGD, estabelecidos no ECA, em relação aos Eixos Controle Social e
Defesa, destacam-se:

• Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – CMDCA:


órgão consultivo, deliberativo e fiscalizador da política municipal de
promoção e defesa dos direitos da infância e da adolescência. É de
composição colegiada para assegurar a participação popular paritária
por meio de organizações representativas, segundo a legislação vigente
(ECA, Art. 88, inciso II).
• Conselho Tutelar: órgão permanente e autônomo, de caráter não
jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento
dos direitos da criança e do adolescente (ECA, Art. 131).
• Poder Judiciário: O ECA estabelece o acesso de toda criança ou adoles-
cente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário,
por qualquer de seus órgãos, bem como a possibilidade da criação varas
especializadas e exclusivas da infância e da juventude (ECA, Art. 141 e 145).
Para o início da construção desse diagnóstico foram mapeados os órgãos do Sistema de
Garantia de Diretos existentes no município, de acordo com informações da Secretaria
Municipal de Assistência Social.
Quadro 3 - Órgãos do Sistema de Garantia de Diretos existentes em Irará
QUANTIDADE NO QUANTIDADE DE TÉCNICOS/
EQUIPAMENTO
MUNICÍPIO MEMBROS
02 ASSISTENTES SOCIAIS
Centro de Referência de
1 01 PSICOLÓGA
Assistência Social - CRAS
01 ADVOGADA
02 ASSISTENTES SOCIAIS
Centro de Referência Especializado
1 02 PSICOLÓGAS
de Assistência Social - CREAS
01 ADVOGADA
Conselho Municipal de Assistência 04 TITULARES
1
Social - CMAS 04 SUPLENTES
Conselho Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente 06 TITULARES
1
- CMDCA 06 SUPLENTES

Conselho Tutelar 1 05 TITULARES


É a mesma Juíza para toda Vara
Vara da Infância e Juventude 1 Cível, e uma única para toda Vara
Criminal da Comarca.
Promotoria da Infância e É o mesmo Promotor para todas
1 69
Juventude as áreas da Comarca.
É a mesma Defensora para toda a
Defensoria Pública para Infância e
1 área cível, e um único criminal de
Juventude
toda a Comarca.
Fonte: Secretaria Municipal de Assistência Social de Irará e
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Irará
Elaboração própria

Ao analisar o mapeamento da rede de atendimento foi verificado que o município possui


os principais equipamentos do SGD funcionando e realizando atendimentos para garantir a
promoção, controle social e defesa dos direitos da criança e do adolescente.
É necessário frisar que o município não dispõe de órgãos do judiciário especializados
e exclusivos para atendimento à infância e a juventude, bem como não possui e nem
participa de fóruns e comitês que discutem temáticas referentes a este público
Outro ponto que merece destaque é que o município ainda está construindo a sua política
de acolhimento, por isso ainda não possui este tipo de serviço para criança e adolescente
que estão sob medida protetiva.
b) Análise dos indicadores relacionados ao Direitos - à Liberdade, ao Respeito, à
Dignidade; à Convivência Familiar e Comunitária, à Profissionalização e a Proteção
no Trabalho.
Os indicadores e estatísticas gerais coletados durante a pesquisa, apresentados a seguir,
referem-se a informações obtidas em base de dados de órgãos governamentais e não
governamentais, além dos fornecidos pelo próprio município através de questionário
aplicado à Secretaria de Assistência Social e Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
do Adolescente.
É importante registrar que os órgãos que compõem o SGD não utilizam o Sistema de
Informação para a Infância e Adolescência – SIPIA, que é o sistema nacional de registro e
tratamento de informações sobre a garantia e defesa dos direitos estabelecidos no ECA
para constituição de uma base única para formulação de políticas públicas no setor. O SIPIA
que tem como base o registro das informações dos atendimentos do Conselho Tutelar,
para onde se dirigem as demandas e denúncias sobre violação ou não atendimento aos
direitos assegurados e pode ser utilizado por Conselheiros Tutelares, Conselheiros de
Direito e pelos demais operadores do Sistema de Garantia de Direitos.

b.1) Do Direito à Liberdade, ao Respeito, à Dignidade

Espaços de Participação e de decisões que envolvem crianças e adolescentes nos assuntos


que lhes dizem respeito e interesse.
70 A Resolução de número 159/2013 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente delibera sobre o processo de participação de crianças e adolescentes nos
espaços de discussão relacionados aos direitos dos mesmo em aquiescência com o
Objetivo Estratégico 6.1 do Eixo 3 do Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e
Adolescentes – PNDDCA, sendo de responsabilidade do CMDCA local aprovar Resolução,
articular, acompanhar e monitorar tal participação.
Não foram encontrados registros de dados sobre o quantitativo de espaços que promo-
vem a participação de crianças e adolescentes nos assuntos que lhes dizem respeito e
interesse.

Jovens (12 -21 anos) em cumprimento de medidas socioeducativas.


Regulamentadas pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) a imple-
mentação do atendimento socioeducativo em meio aberto é de responsabilidade dos
municípios. No município de Irará o cumprimento de Medidas Sócio Educativas em Meio
Aberto (Liberdade Assistida/LA e Prestação de Serviço à Comunidade/PSC) é aplicado e
acompanhado no CREAS.
Não foram identificados registros de dados sobre o quantitativo do número de jovens (12
-21 anos) que cumpriram ou estão em cumprimento de medidas socioeducativas nos
últimos 10 anos no município e conforme o questionário aplicado à Secretaria Municipal
de Assistência Social, não há este registro no município.
Principais atos infracionais cometidos por adolescentes em Irará
Segundo o Art. 103 do ECA “Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime
ou contravenção penal. ” Isso significa que quando praticada por um adolescente, toda
infração prevista no Código Penal Brasileiro e em leis referentes a este, corresponde a um
ato infracional.
Como não foram localizados registros quantitativos sobre atos infracionais cometidos por
adolescentes em Irará, também não foi possível coletar informações sobre o indicativo dos
principais atos infracionais cometidos por este público.

Notificações de discriminação racial, gênero e orientação sexual.


O Art. 70 do ECA preconiza que “É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou
violação dos direitos da criança e do adolescente”.
Contudo, a discriminação ainda é algo muito recorrente no Brasil principalmente as que
ocorrem em função da raça/cor, da identidade de gênero ou da orientação sexual, pois
segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública/2023 os números de registros de crime
de injúria racial, racismo, homofobia e transfobia tiveram um aumento significativo no ano
de 2022.
Também não foram identificados registros quantitativos sobre notificações de discrimina-
ção racial, gênero e orientação sexual ocorridas no município em bases de dados.

Espaços públicos com acessibilidade garantida.


71
A Lei Federal 13.146/2015 – Estatuto da Pessoa com Deficiência – estabelece como direito
fundamental a acessibilidade da pessoa com deficiência e/ou mobilidade reduzida e em
seu Art. 53 diz que “A acessibilidade é direito que garante à pessoa com deficiência ou com
mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e
de participação social”.
Sobre este indicativo também não há dados quantitativos, nas bases pesquisadas, que
informassem sobre a garantia de acessibilidade no município e no questionário aplicado
à Secretaria de Assistência Social não foi informado se há a existência de algum espaço.

Registros de Negligência e abandono (faixa etária, região, sexo, cor, escolaridade, etc.)
A negligência e o abandono podem ser caracterizados como uma relação de omissão,
rejeição e falta de cuidado de um adulto para com uma criança/adolescente. Elas podem
ocorrer de forma física, quando não há o cuidado de fornecer alimentação, vestuário, cui-
dados de higiene, moradia adequada, entre outros; ou de forma emocional, quando não
há afeto, manifestações de carinho e respeito ou qualquer outro tipo de apoio emocional.
Este também foi um indicador que não teve registros numéricos encontrados nas bases
de dados pesquisadas e nem foi obtida informações sobre o número de casos no questio-
nário aplicado ao município.
Casos de violências (Violência física, Violência psicológica, Violência sexual- abuso sexual,
exploração sexual comercial, tráfico de pessoas) contra crianças e adolescentes.
Em relação a este indicador o município possui alguns registros de casos ocorridos na
gestão atual, conforme gráfico abaixo, atentando-se ao fato de que não houve registro
quanto exploração sexual e tráfico de pessoas nos últimos anos:

GRÁFICO 15 - Quantitativo de violência contra crianças e adolescentes

FONTE: Secretaria Municipal da Assistência Social de Irará


72
Elaboração própria

A Lei Federal 13.431/2017, em seu Art. 4º tipificou as formas de violência contra criança e
adolescente como: a) violência física; violência psicológica; violência sexual11, violência institu-
cional – que é aquela a praticada por instituição pública ou conveniada, inclusive quando
gerar revitimização; violência patrimonial – ação que configure retenção, subtração, destrui-
ção parcial ou total de seus documentos pessoais, bens, entre outros, incluídos os destinados
a satisfazer suas necessidades, desde que a medida não se enquadre como educacional.
Segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, o Brasil registrou mais de 17
mil violações sexuais contra crianças e adolescentes nos quatro primeiros meses deste
ano, através do Disque 100. Isto retrata o quanto são altos os índices de violência contra
criança e adolescente no país e um dos grandes desafios ainda é a subnotificação dos

11 qualquer ação de conduta que leve a criança e/ou adolescente a praticar ou presenciar conjunção carnal
ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em foto ou vídeo por meio eletrônico ou
não e se divide em: abuso sexual (toda ação que se utiliza da criança e/ou do adolescente para fins sexuais),
exploração sexual comercial (uso da criança ou do adolescente em atividade sexual em troca de remune-
ração ou qualquer outra forma de compensação), tráfico de pessoas (que é o recrutamento, o transporte, a
transferência, o alojamento ou o acolhimento da criança ou do adolescente, dentro do território nacional
ou para o estrangeiro, com o fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de
coação, rapto, fraude, engano, entre outros)
casos, que em sua maioria não são registrados porque acontecem dentro do seio familiar
ou são cometidos por pessoas muito próximas às famílias das vítimas12.
Os dados fornecidos pelo município indicam uma diminuição nos índices de violência
física e psicológica e aumento significativo em relação aos casos de abuso sexual. Porém,
não foram encontrados outros registros sobre este indicativo em bases de dados, o que
não permitiu uma análise maior destas informações.

Número de adolescentes que se autodeclaram LGBTQIAP+.


De acordo com dados do IBGE, 2,9 milhões de pessoas maiores de 18 anos no Brasil se
autodeclaram LGBTQIAP+. Paralelo a este dado, pesquisas também apontam o Brasil
como o país que mais mata pessoas LGBTQIAP+ no mundo e é também um dos países
mais homofóbicos do planeta.
Ainda não existem dados preciso do quantitativo do número de adolescentes LGBTQIAP+
no país, mas já se sabe que eles existem e que precisam ter seus direitos garantidos.
Em relação ao município de Irará não há registros em bases de dados de adolescentes
que se autodeclaram LGBDTQIAP+, dado confirmado no questionário aplicado junto à
Secretaria.

b.2) Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária


Famílias com crianças e adolescentes que sobrevivem com renda per capita de ¼ de salário
mínimo: 73

FONTE: Secretaria Municipal de Assistência Social


Elaboração própria

12 Os dados da UNICEF indicam que 2017 a 2020 no Brasil, 180 mil crianças e adolescentes sofreram
violência sexual, o que retrata uma média de 45 mil por ano. Para Florence Bauer, representante do UNICEF
no Brasil “A violência contra a criança acontece, principalmente, em casa. A violência contra adolescentes
acontece na rua, com foco em meninos negros...” (Nos últimos 5 anos, 35 mil crianças e adolescentes foram
mortos de forma violenta no Brasil, alertam UNICEF e Fórum Brasileiro de Segurança Pública. unicef.org.
Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/nos-ultimos-cinco-anos-35-mil-
-criancas-e-adolescentes-foram-mortos-de-forma-violenta-no-brasil>. Acesso em: 09 de out de 2023).
Em junho de 2021, foi publicada a Lei 14.176/2021 que incluiu algumas regras e critérios
para a concessão do BPC para idosos e pessoas com deficiência que tenham renda acima
de ¼ do salário mínimo. Em casos específicos o critério econômico para verificar a renda
per capita (por pessoa) será de ½ salário mínimo, sendo, então, equivalente a R$ 606,00.
Ao verificar a base de dados dos últimos dez anos sobre o número de família com crianças
e adolescentes que sobrevivem com renda per capita de ¼ de salário mínimo, pode-se
observar o crescimento da “linha de pobreza” (que calcula a relação entre o rendimento
familiar e o gasto mínimo em bens, serviços e alimentação). Quando não é possível pagar
o custo mínimo, estamos perante um caso de pobreza extrema, enquanto que, se o custo
for o dobro do rendimento, estaremos a falar de pobreza crítica.

Crianças e adolescentes em situação de rua


O Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA, art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será
objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais.
Não foram encontrados registros de dados sobre o quantitativo de crianças e adolescen-
tes em situação de rua e no questionário aplicado à Secretaria Municipal de Assistência
Social o município confirmou a inexistência dessas violações.

Famílias com crianças e adolescentes em situação de moradia de rua


74 O ECA preconiza no art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e
do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cul-
tura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Na base de dados disponibilizada pelo município não foram encontrados registros de
famílias com crianças e adolescentes em situação de rua e no questionário aplicado à
Secretaria Municipal de Assistência Social o município confirmou a inexistência dessas
violações na cidade.

Registros de casamento envolvendo crianças e adolescentes


A regra geral aplicada ao crime de estupro está prevista no artigo 213 caput do Código
Penal, que prevê como pena reclusão de 6 a 10 anos. Caso o estupro seja praticado contra
menor que tenha entre 14 e 18 anos (artigo 213, § 1º, do Código Penal), há aumento na
pena do criminoso, que pode ir de 8 a 14 anos de reclusão.
Na base de dados consultada não foram encontrados registros de casamento envolvendo
crianças e adolescentes. No questionário aplicado à Secretaria Municipal de Assistência
Social, o município confirmou a inexistência dessas violações.
Crianças e adolescentes em situação de mendicância
O Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA, estabelece no art. 232 que: “Submeter criança
ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos” (ECA,1990).
Embora na base de dados consultada não tenham sido encontrados registros de famílias
com crianças e adolescentes em situação de mendicância e no questionário aplicado, à
Secretaria Municipal de Assistência Social confirmou a inexistência dessas violações no
município. É importante destacar que se os pais ou responsáveis usarem seus filhos para
mendicância, eles estão ferindo a lei e descumprindo o exercício do poder familiar: a
guarda, o sustento e a educação.

Crianças e adolescentes beneficiárias do BPC

75

FONTE: Secretaria Municipal de Assistência Social


Elaboração própria

O Benefício de Prestação Continuada – BPC, visa a garantia de um salário mínimo por mês
ao idoso a partir de 65 anos ou à pessoa com deficiência de qualquer idade, conforme
previsto na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS e no Decreto Federal n° 6.214, de 26
de setembro de 201713.
Para a pessoa com deficiência, é necessário que sua condição lhe cause impedimentos
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial de longo prazo (com efeitos por pelo
menos 2 anos), e, assim, a impossibilite de participar de forma plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas.
De acordo com os números informados pela Secretaria de Assistência Social, o município
de Irará vem apresentando um aumento significativo de crianças e adolescentes benefi-
ciarias do BPC. Uma das hipóteses para este aumento é o acesso a informação que con-
tribuiu para que crianças e adolescentes com deficiência tivessem o benefício adquirido.
13 Destaca-se que o BPC não é uma aposentadoria e para que o beneficiário tenha direito a ele não é preciso
ter contribuído para o INSS, porém, para ter direito ao benefício é necessário que a renda por pessoa do
grupo familiar seja igual ou menor que 1/4 do salário-mínimo.
Crianças e adolescentes beneficiárias do BPC Trabalho
DECRETO Nº 6.214, DE 26 DE SETEMBRO DE 2007. Regulamenta o benefício de prestação
continuada da assistência social devido à pessoa com deficiência e ao idoso de que trata
a Lei n o 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e a Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003.
O BPC Trabalho atende prioritariamente beneficiários entre 16 e 45 anos que querem tra-
balhar, mas encontram dificuldades para obter formação profissional e qualificação para
inserção no mercado de trabalho.
Na base de dados consultada não foram encontrados registros quantitativos de crianças e
adolescentes beneficiárias do BPC Trabalho e nem informado a existência de beneficiários
no município no questionário aplicado à Secretaria Municipal de Assistência Social.

Famílias com crianças e adolescentes beneficiárias do bolsa família

76

FONTE: Secretaria Municipal de Assistência Social


Elaboração própria

O Programa Bolsa Família é o Programa Social do Governo Federal de maior transferência


de renda do Brasil, instituído atualmente pela Lei nº 14.601, de 19 de junho de 2023. São
elegíveis ao Programa Bolsa Família as famílias inscritas no Cadastro Único em situação de
pobreza, com renda per capita de até R$ 218,00 (duzentos e dezoito reais).
É possível observar, no gráfico com as informações fornecidas pela Secretaria Municipal de
Assistência Social de Irará, que a cada ano o número de famílias cadastradas no Programa
aumenta de maneira considerável, chegando a dobrar o número de cadastradas nos últi-
mos dez anos, o que demonstra, consequentemente, o aumento de famílias em situação
de pobreza no município.
Segundo o relatório do Programa, no site do Ministério da Cidadania, no mês de novem-
bro de 2023, o município de Irará contabilizou o número de 8.947 famílias atendidas pelo
Programa Bolsa Família, com 18.638 pessoas beneficiadas, e totalizando um investimento
de R$ 5.887.838,00 e um benefício médio de R$ 658,08. Dentre as famílias, 6.521 pessoas
são crianças e adolescentes.
Uma outra hipótese para justificar o aumento tão significativo é que após o momento
de crise econômica resultante da pandemia da COVID-2019 nos anos de 2020 a 2022,
muitas famílias se cadastraram para terem acesso aos recursos provenientes do mesmo,
bem como em outros programas de auxílios emergenciais disponibilizados nesse período,
o que levou muitas famílias a buscarem acesso aos mesmo e fazerem cadastramentos/
recadastramentos de seus membros.

Famílias com crianças e adolescentes beneficiárias do auxílio aluguel:

FONTE: Secretaria Municipal de Assistência Social


77
Elaboração própria

O Auxílio Aluguel é uma medida de assistência social destinada, de forma emergencial,


para as famílias em vulnerabilidade social que sofreram a perda por moradia devido a
desastres naturais ou outras situações de risco.
Regulado pela Lei Federal nº 8.742/1993 é um benefício disponibilizado pelo governo
federal com pagamentos mensais para as famílias que perderam a moradia por um tempo
determinado, até que a mesma consiga um novo local para morar ou seja incluída em
programas habitacionais.
A análise dos dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Assistência de Irará demons-
tra que poucas famílias utilizam o benefício no município, havendo, nos últimos dez anos,
períodos em que nenhuma família o acessou.

b.3) Do Direito à Profissionalização e a Proteção no Trabalho.

Crianças e adolescentes inseridas em trabalho Infantil


É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade. A partir de 14 anos
é permitida na condição de aprendiz, de acordo com legislação especifica, conforme
preconiza os Artigos 60 e 61 do ECA.
Na base de dados consultada não foram encontrados registros do número de crianças e
adolescentes inseridas em trabalho infantil. O mesmo ocorreu no questionário aplicado à
Secretaria Municipal de Assistência Social.

Adolescentes inseridos em emprego via lei de aprendizagem


Segundo o Art. 62 do ECA, é considerada aprendizagem toda a formação técnico-profis-
sional que é ministrada segundo a legislação da educação em vigor para adolescentes a
partir de 14 anos.
Este também foi um indicador que não teve registros numéricos encontrados nas bases
de dados pesquisadas e nem foi obtida informações sobre o número de casos no questio-
nário aplicado ao município.

Instituições municipais aptas para implementar a lei da aprendizagem


Garantida pela Lei nº 10.097/2000 – mais conhecida como Lei da Aprendizagem, segundo
a qual empresas de médio e grande porte devem contratar de 5% a 15% de aprendizes em
seu quadro de colaboradores.
Na base de dados consultada não foram encontrados registros de instituições municipais
aptas para implementar a lei da aprendizagem e no questionário aplicado à Secretaria
Municipal de Assistência Social, o município confirmou a inexistência.

Instituições e órgão que implementaram a lei da aprendizagem


78 A Lei Federal nº 10.097/2000 estabelece que empresas de médio e grande porte têm a
obrigação de contratar jovens com idade entre 14 e 24 anos, na condição de aprendizes,
com contrato que podem durar até dois anos e neste período devem ser instruídos em
instituições formadoras, registradas no CMDCA, para que esses tenham acesso a formação
teórica e prática.
Na base de dados consultada não foram encontrados registros do número de instituições
e órgãos que implementaram a lei da aprendizagem e no questionário aplicado ao muni-
cípio não houve o registro de dados.

c) Pesquisa de Percepção dos atores que atuam na rede dos direitos


Um dos pontos que ficou evidenciado nas entrevistas é que há pouco diálogo entre os
órgãos que compõem o SGD, no que tange às ações que são desenvolvidas por cada
um e acompanhamento das crianças e adolescentes que são atendidos nesses espaços.
Sendo um ponto comum a todos, a necessidade de uma maior comunicação, integração
e formação continuada.
Em 04 de dezembro de 2014, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
– CONANDA, publicou do Diário Oficial da União de nº 239, a resolução nº 171 que esta-
beleceu os parâmetros para a elaboração do Planos Decenais dos Direitos Humanos da
Criança e do Adolescente em âmbito estadual, distrital e municipal, em conformidade
com os princípios e diretrizes da Política Nacional de Direitos Humanos de Crianças e
Adolescentes e com os eixos e objetivos estratégicos do Plano Nacional Decenal dos
Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes.
Durante a aplicação das entrevistas foi constatado que o município de Irará não possui
seu Plano Decenal dos Direitos Humanos da Criança e do Adolescente - PNDDCA, um
documento de fundamental importância para estabelecer diretrizes da política da infância
e adolescência, pois além de orientador, de apoio, criação e implementação de políticas
de proteção aos direitos humanos das crianças e dos adolescentes, o plano se constitui em
um documento informativo.
Foi constatado também que o município não possui o Plano Municipal de Atendimento
Socioeducativo e nem o Plano Municipal de Convivência Familiar e Comunitária.
Sobre os espaços de participação de crianças e adolescentes na cidade, as entrevistas
realizadas aos atores do SGD demonstraram não haver, sendo apontado apenas por uma
entrevistada o Núcleo de Cidadania de Adolescentes - NUCA14 como um possível espaço
que realiza diálogos e incentivo a tal participação, mas a entrevistada considerou que o
mesmo ainda não ocorre de forma significativa, uma vez que as ações do NUCA ainda são
muito poucas no município.
Apesar do município não possuir Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo e nem
dados sobre a constatação de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducati-
vas, foi unânime o relato, durante as entrevistas aplicadas, de que há um número significa-
tivo de incidência de adolescentes/jovens em prática de atos infracionais, mas que estes
não chegam a ser registrados e/ou acompanhados pelos órgãos de competência. 79
Foi constatado também que a suspeita dos mesmos sobre os principais atos infracionais
cometidos por adolescentes é, em sua maioria, os que correspondem a furto e roubo.
Ainda segundo os entrevistados, tais atos acontecem por conta do alto índice de pobreza
no município e do envolvimento de alguns destes com substâncias ilícitas (uso e venda).
Desta forma, apesar da constatação de que há adolescentes que cometem atos infracio-
nais no município, como percebido nos indicadores, os casos não são registrados e não
seguem os protocolos estabelecidos no ECA e no SINASE, e por isso, não há como se aplicar
as medidas socioeducativas e assim responsabilizar o adolescente quanto aos seus atos e a
importância da reparação dos mesmos, o que contribuirá para a sua formação cidadã deste
sujeito e a potencial quebra de um ciclo de adolescentes em conflito com a lei.
Em relação ao indicador sobre número de notificações de discriminação racial, gênero
e orientação sexual foi de consentimento geral que ocorrem frequentemente em Irará,
apesar da ausência de registros quantitativos de atendimento, em relação a crianças e
adolescentes. Os entrevistados também frisaram que no município há uma predominân-
cia do pensamento conservador, muitas vezes racista, machista e homofóbico.
No que tange ao número de espaços públicos com acessibilidade garantida, os entre-
vistados consideraram que este é um indicador que precisa melhorar muito em Irará,

14 NUCA - Núcleo de Cidadania de Adolescentes é um grupo que dever ser formado por adolescentes e é
uma das atividades que integram as ações do Selo UNICEF.
principalmente na Zona Rural, onde os equipamentos que atendem crianças e adolescen-
tes são mais escassos.
Apesar de não haver registros numéricos no município sobre os índices de negligência
e abandono de crianças e adolescentes, nas entrevistas aplicadas a dois membros do
Conselho Tutelar, estes indicadores foram relatados como responsáveis pelo maior número
de atendimentos do referido órgão15.
Os outros atores entrevistados também relataram que ocorre um número significativo
de negligência e abandono dentro do município, principalmente nas áreas com menor
desenvolvimento socioeconômico, sendo citadas as localidades de: Brotas, Espinho,
Baixinha, Bento Simões. A Zona Rural também foi pontuada como tendo maior número
de casos de negligência e abandono em relação à Zona Urbana.
O serviço de convivência e fortalecimento de vínculo16 também foi pontuado nas entre-
vistas como uma grande ferramenta para evitar casos de violações de direitos de crianças
e adolescentes, principalmente em relação a casos de negligência e abandono. Todavia,
o serviço está desativado no município e umas das causas, segundo a entrevista a repre-
sentantes da Secretaria Municipal de Assistência Social é a ausência de espaço para sua
promoção. Contudo, representantes da sociedade civil que são membros e/ou dirigentes
de OSC’s demonstraram interesse em ofertar espaço para o desenvolvimento do serviço
em parceria com a prefeitura.
Em relação aos casos de violência contra crianças e adolescentes nas entrevistas aplicadas,
80 todos os entrevistados confirmaram que acontecem, e com frequência, casos de violência
contra crianças e adolescentes, principalmente a física e o abuso sexual, contudo não
souberam informar o quantitativo destas ocorrências.
No Brasil, registros comprovam que mais de 70% dos casos de violências cometidas contra
o público infanto-juvenil é praticada por pessoas da família e/ou de relação muito próxima
a suas vítimas e familiares, o que torna umas das grandes causas da dificuldade de denún-
cias. O que não parece ser diferente num município de menor proporção como Irará, no
qual a maioria das pessoas se conhecem e acabam omitindo tais situações, que na maioria
das vezes não chegam ao conhecimento dos órgãos competentes. Esta foi uma das hipó-
teses também levantada pelos entrevistados para justificar os números baixos de registros
de casos de violência, fornecidos pela Secretaria Municipal da Assistência Social.
Sancionada em 04 de abril de 2017, a Lei Federal 13.431 é a lei que estabelece o sistema de
garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e é consi-
derada por muitos pesquisadores um dos maiores marcos na garantia de direitos de crianças
e adolescentes após o ECA, contudo ainda é um desfio a implementação das mesmas nos
municípios brasileiros. Esta Lei também define que seja construído um fluxo de atendimento
e acompanhamento a criança e ao adolescente vítima e/ou testemunha de violência.

15 O ECA em seu Art. 5º diz que: “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negli-
gência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado,
por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. (ECA, 1990)
16 Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo é um serviço da Proteção Social Básica do SUAS
estabelecido na Lei Federal nº 8.742/1993 - LOAS e consolidado na Lei Federal nº 12.435/2011.
O município de Irará ainda não implementou a Lei da Escuta Especializada, mas já vem
discutindo sua implementação e construção de fluxos de atendimento, o que possibilitará
grandes avanços no enfretamento e combate à violência contra crianças e adolescentes.
No que concerne ao indicador “Número de adolescentes que se autodeclaram
LGBDTQIAP+”, foi citado apenas um caso, por alguns dos entrevistados, de um adoles-
cente que se autodeclarou após sofrer vários tipos de violências. Atualmente, segundo os
relatos, o mesmo é acompanhando por órgãos da rede de proteção.
Por fim, vale frisar a necessidade da promoção de diálogos sobre orientação sexual e iden-
tidade de gênero que possibilitem a identificação destes adolescentes no município e que
promovam ações e políticas públicas para garantias de direitos destes, que na maioria das
vezes são mais vulneráveis a sofrerem violências psicológicas, físicas e sexuais.
O Direito à Convivência Familiar e Comunitária é também um direito garantido constitu-
cionalmente (Art. 227, CF/1988) às crianças e aos adolescentes brasileiros, e tem como
princípio a garantia de que estes possam se desenvolver um núcleo familiar que lhes
possibilite cuidado, proteção, afetividade e bem-estar físico e psicológico.
Assim como no Art. 227, o Art. 226 da CF/1988 trata sobre a convivência familiar, pois o
mesmo diz que a família é a base da sociedade e tem especial proteção do Estado, e no
§8º desse mesmo artigo delibera que compete ao Estado o dever de dar assistência aos
membros da família, impedindo a violência dentro dela através da criação de mecanismos
que a impeçam (BRASIL, 1988).
O direito à convivência familiar e comunitária é fundamentado em três princípios. O 81
primeiro princípio é da proteção integral, pois o ECA estabelece que a criança e o ado-
lescente são sujeitos em desenvolvimento e por isso necessitam de orientação, cuidado,
afeto, entre outros; segundo princípio é o de melhor interesse da criança e do adolescente
também previsto no ECA, esse princípio estabelece que deve prevalecer sempre o melhor
interesse para criança e adolescente, mesmo quando isto confronte o interesse dos seus
genitores; o terceiro princípio é da prioridade absoluta que estabelece que a criança e
o adolescente sejam vistos pela família, Estado e sociedade sempre devem estar em pri-
meiro lugar. Isto também inclui a prioridade nas ações dos governos e na elaboração de
políticas públicas para garantia de direitos destes sujeitos.
Visando garantir e aprimorar o Direito à Convivência Familiar e Comunitária, foi aprovado
no ano de 2006 pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente –
CONANDA e no Conselho Nacional da Assistência Social – CNAS, o Plano Nacional de
Convivência Familiar e Comunitária. Este Plano tem como principal aspecto o rompimento
com a cultura da institucionalização de crianças e adolescentes e o fortalecimento do
princípio da proteção integral e da preservação dos vínculos familiares e comunitários
preconizados pelo ECA.
Todavia, apesar de todo esforço legal para a preservação dos vínculos e convivência fami-
liar no Brasil, muitas violações de direitos das crianças e adolescentes ainda acontecem
dentro das próprias famílias, das quais se destacam a negligência, abandono, violência
física e o abuso sexual.
Para Viviane Girardi:
o direito à convivência familiar e comunitária traz à luz o lado sombrio
que está no cerne desse direito: nem todas as crianças possuem uma boa
e saudável convivência familiar, e mais, muitas crianças não desfrutam
de qualquer grau de relacionamento e convivência familiar, pois vivem
excluídas, permanecendo em abandono”. (GIRARDI, 2003, p. 104).

A Resolução conjunta do CONANDA e do CNAS de nº 01 de 12 de junho de 2009


aprovou o documento “Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e
Adolescentes”. O referido documento aponta todas as informações sobre a implantação
e o funcionamento dos serviços de acolhimento e tipifica os quatro tipos de serviços de
acolhida para crianças e adolescentes, fundamentados no Art. 101 do ECA. São eles:

Abrigo Institucional, Casa – Lar, República e o Serviço de Acolhimento em Família


Acolhedora.17
Durante as entrevistas realizadas, os entrevistados, assim como os dados, mostraram que
não há crianças e adolescentes em situação de rua e/ou moradia de rua, nem em situação
de mendicância ou em programas de acolhimento no município de Irará, o que em uma
análise superficial pode demonstrar que o direito a convivência familiar e comunitária está
sendo garantido no município.
Contudo, os entrevistados também pontuaram que há um número muito grande de
crianças e adolescentes em situação de negligência e abandono, apesar de não haver
82
um número quantificado. O que leva ao levantamento da hipótese de que, apesar do
direito a convivência familiar estar sendo garantido, outros direitos estão sendo violados
já que muitas crianças e adolescentes estão sofrendo por negligência e abandono, uma
vez que não há como aplicar medidas protetivas já que o município não possui programas
de acolhimentos. Segundo os Conselheiros Tutelares entrevistados, por se tratar de um
município pequeno onde as pessoas se conhecem há uma dificuldade de aceitação da
família extensa18 por temerem a criação de conflitos com a família natural.
Vale frisar que a aplicação da medida protetiva com a colocação da criança e do adolescente
em qualquer programa de acolhimento é excepcional e de caráter provisório, conforme
prevê o ECA em seu Art. 19. Assim, a legislação brasileira prioriza sempre a família natural e
extensiva, resguardando o direito à convivência familiar e comunitária em condições dignas.

17 Para melhor aprofundamento sobre os serviços de acolhimento para crianças e adolescentes consultar as
“Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes”, em https://www.mds.gov.
br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhi-
mento.pdf
18 Conforme o Eca família natural e família extensa são:
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus
descendentes.
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade
pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente
convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.
Três dos entrevistados relataram que houve apenas um caso de necessidade de aplicação
da medida protetiva de acolhimento institucional a um adolescente nos últimos dez anos
no município. Neste caso, o adolescente precisou ser enviado a uma unidade de acolhi-
mento em Salvador, ferindo por sua vez o seu direito à convivência familiar e comunitária.
Mas, naquele momento, diante da situação vivenciada foi a melhor possibilidade existente
a ser seguida, de acordo como relato dos mesmos.
Nas entrevistas foi possível constatar, também, que o município já está discutindo a
implantação de instrumentos de acolhimento, realizando formação e pesquisas com fins
de obter conhecimento para definir o melhor programa a ser aplicado visando as ques-
tões de recursos e demandas do mesmo.
Em relação à Lei Federal 13.509 de 22 de novembro de 2017 – Lei da Adoção – não há no
município, segundo os entrevistados, casos de crianças e adolescentes que precisaram ter
suspensão do poder familiar dos seus genitores para que os mesmos fossem colocados
em famílias substitutas por meio da guarda, tutela ou adoção.
Foi possível constatar, na coleta de dados e entrevistas realizadas, que há no município um
número significativo de crianças e adolescentes que vivem abaixo da linha da pobreza e
são beneficiadas por programas sociais como o Bolsa Família. Ainda segundo os entrevista-
dos, este público precisa de uma atenção maior no que tange ao investimento de políticas
públicas, principalmente para os que são moradores da Zona Rural. Aqui também foi pon-
tuado pelos entrevistados a necessidade do funcionamento do Serviço de Fortalecimento
de Vínculos que precisa ser ofertado pelo CRAS.
83
Apesar de aparecer nas pesquisas quantitativas, por serem usuárias do BPC na escola, as crian-
ças e adolescentes PCD’s foram pouco citadas nas entrevistas aos atores do SGD. Contudo,
foi possível compreender a necessidade de mais ações, principalmente por parte do poder
público, que possibilitem a convivência familiar e comunitária para esse público com defi-
ciência, garantindo prioritariamente à acessibilidade e ao acompanhamento terapêutico.
Diante do exposto é importante frisar que a garantia do direito à convivência familiar e
comunitária em um ambiente estruturado e saudável é sempre o melhor lugar para o
pleno desenvolvimento da criança e do adolescente.
A legislação brasileira proíbe qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade,
com exceção na condição de aprendiz, a partir da idade mínima de quatorze anos, obser-
vando o que preconiza a Lei Federal 10.097, de dezembro de 2000 – Lei da Aprendizagem.
No mundo inteiro, o trabalho infantil19 é uma prática que retrata a falta de comprome-
timento e respeito com a infância e adolescência, uma vez que este é um problema de
19 A Organização Internacional do Trabalho – OIT, em sua 182 Convenção, realizada em 1º de junho de 1999,
estabeleceu as piores formas de trabalho infantil, sendo elas:
Artigo 3º. Para os fins desta Convenção, a expressão as piores formas de trabalho infantil compreende:
a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como venda e tráfico de crianças, sujei-
ção por dívida, servidão, trabalho forçado ou compulsório, inclusive recrutamento forçado ou obrigatório
de crianças para serem utilizadas em conflitos armados; b) utilização, demanda e oferta de criança para fins
de prostituição, produção de pornografia ou atuações pornográficas; c) utilização, recrutamento e oferta de
criança para atividades ilícitas, particularmente para a produção e tráfico de entorpecentes conforme defi-
nidos nos tratados internacionais pertinentes; d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas circunstâncias em
que são executados, são suscetíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da criança. (OIT, C182/1999)
cunho social e de saúde pública, e que provoca consequências negativas para o desenvol-
vimento físico, mental e social destes sujeitos, além de contribuir para um baixo desempe-
nho escolar, o roubo do tempo para o brincar, o lazer e o convívio social. Infelizmente, no
Brasil, apesar de toda uma legislação definida e condenatória, a prática do trabalho infantil
ainda é comum em todo território brasileiro.
De acordo com dados do Observatório do Trabalho da Bahia, em 2013 o município de Irará
estava na 12º posição em relação ao número de municípios que apresentaram mais altos níveis
de ocupação de trabalho de crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos, em relação aos 417
municípios baianos, com um percentual de 29,8% do quantitativo total para esta faixa etária.
O município de Irará não informou o quantitativo atual de crianças e adolescentes em
situação de trabalho infantil, todavia, nas entrevistas realizadas com integrantes do SGD
todos narraram ainda existir crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil no
território, mas que houve uma redução brusca nesse quantitativo nos últimos dez anos,
principalmente devido a diminuição das “casas de farinha. A maioria das situações eram
justamente oriundas da agricultara familiar com a produção de mandioca e posterior-
mente a confecção da farinha artesanal, nas chamadas “casas de farinha”.
Um ponto que chamou a atenção nas entrevistas aplicadas foi o desconhecimento, por
parte dos entrevistados, de políticas públicas para o combate e erradicação do trabalho
infantil no município, uma vez que nos últimos 10 anos, o mesmo apresentou dados tão
altos dessa violação aos direitos fundamentais de crianças e adolescentes.

84 Uma das políticas públicas para enfretamento ao trabalho infantil é o Programa Adolescente
Aprendiz, preconizado na Lei da Aprendizagem e na Consolidação das Leis do Trabalho –
CLT, que determinam que as empresas de grande e médio porte devem ter porcentagem
de 5% a 15% de suas vagas reservadas para a contratação de jovens aprendizes.
Nas entrevistas realizadas, foi observado que os entrevistados dizem haver adoles-
centes contratados como jovem aprendizes em empresas do município como: Cestão
Supermercado, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Contudo, não souberam infor-
mar o quantitativo, nem como se dá essa contratação, ou quem faz a indicação destes
adolescentes e jovens, tampouco quem é a instituição (ou instituições) formadora que
está acompanhando os mesmos. O que fere totalmente aquilo que está estabelecido na
supracitada Lei, cabendo a órgãos como CMDCA, Conselho Tutelar e Ministério Público do
Trabalho averiguar a veracidade desses fatos.
Ao analisar a atuação da atual gestão municipal, os entrevistados, em sua maioria, relata-
ram que houve avanços na garantia de direitos de crianças e adolescentes, todavia, ainda
precisam ser realizadas mais ações, deliberações e cumprimento de políticas públicas em
prol da garantia destes direitos.
Em relação à atuação do atual Colegiado do CMDCA, foi unanimidade por parte dos
entrevistados a afirmação que está é a melhor gestão que o CMDCA já teve em Irará,
pontuando as ações que estão sendo realizadas, principalmente em relação à formação
continuada que está sendo desenvolvida para toda rede de proteção. Entretanto, mais de
50% também afirmam que o órgão precisa realizar mais avanços na garantia de direitos de
crianças e adolescentes.
Já em relação à avaliação do atual Conselho Tutelar, os entrevistados também pontuam
ser um colegiado bem atuante e comprometido. Porém, existe uma queixa geral da falta
de registros e disseminação dos casos por parte do Conselho Tutelar aos outros órgãos do
SGD, principalmente a não utilização do SIPIA.
Por fim, todos os entrevistados frisaram a necessidade de fortalecimento do trabalho em
rede, melhorando a comunicação entre os órgãos e criando no município um programa
fixo de capacitação continuada para todos os atores do SGD, visando fortalecer o sistema
para garantir os direitos das crianças e dos adolescentes de Irará.

85
86
6. AS VOZES DAS CRIANÇAS E DOS
ADOLESCENTES DE IRARÁ-BA
6.1 ESCUTANDO O QUE AS CRIANÇAS DE IRARÁ TÊM
A DIZER:

“A criança é feita de cem. A criança tem cem mãos cem pensamentos cem
modos de pensar de jogar de falar. Cem sempre cem modos de escutar de
maravilhar e de amar. Cem alegrias para cantar e compreender. Cem mundos
para inventar cem mundos para sonhar. A criança tem cem linguagens (e
depois cem cem cem) mas roubam-lhe noventa e nove.” (Loris Malaguzzi)20

Escutar as crianças, mais do que um ato humano essencial e necessário, é um direito delas
para que possam se desenvolver de forma plena e integral e, ainda, para que possam
emitir suas opiniões de maneira livre e autônoma sobre qualquer decisão que lhe diga
respeito, seja dentro da família ou nas mais complexas políticas públicas de um Estado.
Este direito está expresso no artigo 12 da Convenção sobre os Direitos da Criança da
ONU – (Organização das Nações Unidas), o tratado internacional mais assinado em todo
o mundo. 87
Os Estados Partes assegurarão à criança que estiver capacitada a formular
seus próprios juízos o direito de expressar suas opiniões livremente sobre
todos os assuntos relacionados com a criança, levando-se devidamente em
consideração essas opiniões, em função da idade e maturidade da criança.
(ONU, 1989)

Para além da compreensão das crianças como sujeitos de direitos, essa pesquisa parte
da perspectiva de que elas são sujeitos históricos, produtoras de conhecimentos, ativas e
capazes de pensar, discutir e propor soluções – nas suas diferentes formas de expressão
– para assuntos que afetam sua vida e situações que participam direta e indiretamente.
Assim, esse diagnóstico parte do pressuposto que as crianças têm o que dizer e contribuir
para a sua realidade e podem e devem (com)viver em um espaço que atenda às suas
necessidades. Esse modo de compreender as crianças, muda a concepção tradicional, que
as considera como seres passivos, sem opinião, ideias ou vontades próprias, que devem
aguardar um momento no futuro distante para se tornarem cidadãos e, só então, pode-
rem participar ativamente da sociedade.
Reconhecendo a criança como sujeito de direitos, valorizando a criança como sujeito ativo
e assegurando suas vozes, olhares e participação nas decisões e nos assuntos, sobretudo

20 Fragmento do poema “As Cem linguagens da criança”. Fonte: EDWARDS. Carolyn; GANDINI, Lella e
FORMAN, George. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira
infância; trad. Dayse Batista. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda, 1999.
do lhes dizem respeito, o diagnóstico incluiu a escuta qualificada de crianças como estra-
tégia central para o levantamento dos problemas vividos por elas e a identificação do que
elas mais gostam, menos gostam e o que elas propõem para sua comunidade e para sua
cidade.
Para tanto, foi adotada uma metodologia qualitativa de escuta das crianças, fundamentada
nos pressupostos da psicologia e da sociologia das infâncias, que escutou 47 crianças21, de
4 escolas municipais (educação infantil e Ensino Fundamental) da zona rural e urbana,
entre as idades de 4 e 11 anos, sendo 24 do sexo masculino e 23 do sexo feminino.

6.1.1 O que as crianças mais gostam na escola, na comunidade e na cidade

Vários pontos foram apresentados nas rodas de conversas com as crianças. Contudo,
alguns pontos foram recorrentes em todas as rodas. Os itens a seguir estão em escala de
maior destaque e prevalência nas falas das crianças:
a) brincar;
b) escola; e
c) outros lugares da cidade.

A seguir, as vozes das crianças.

a) De brincar:

88 “Brincar em casa”
“Brincar na escola”
“Brincar com as meninas”
“Brincar de bicicleta na rua”
“Jogar bola com a irmã”
“Pular”
“Pular na piscina”
“Chutar bola”
“Eu brinco no quintal, tem um pé de abacate”
“Eu gosto de jogar em Gel”
“Eu brinco fora
“Jogar bola em casa”
Brinquedos na praça, pista, a minha casa, árvores e escorregadeira”
“Ir pro campo, treinar, ir pro recreio, gosto mais de jogar bola do que ir pra escola, de ir pro
box, de lavar a minha chuteira”
“Gosto de brincar no brinquedo da praça”
“Coreto, casa da árvore, porque é um lugar super alto e dá para brincar, fica no parquinho”

21 As escutas foram realizadas no mês julho de 2023


Andar de bicicleta, jogar, escrever o nome da escola e ir pro curso que fica perto do campo”
“Gosto do parque e da prima que vende geladinho”
“Eu gosto de brincar até na igreja, até na praça”
b) Da escola:
“A merenda é boa”
“Gosto da pró”
“Escola é boa, gosto de estudar”
“Gosto da escola, porque tem brinquedos para brincar e para nos ajudar a aprender e usar
a nossa imaginação”
“Gosto da escola, para estudar e a vida andar quando crescer”
“Gosto da escola, do sol, das nuvens, das árvores”
“Gosto de estudar e brincar”.
“Gosto da escola demais”
“A comida é muito boa”
“É maravilhosa”
“Ótima, melhor que de casa”
“As vezes dá macarrão com soja, cuscuz com calabresa”
“A comida da escola é muito boa”
c) De outros lugares da cidade (Igreja, da praça, mercadinho): 89
“Orar a Deus para ter saúde e paz”
“Orar para ter um dia bom”
“O que mais gosto é da igreja”
“Gosto da praça”
“Gosto do coreto, porque tem escada, dá para brincar e bandeirolas”
“Gosto do mercadinho, do restaurante porque tem um monte de coisas para ir com a minha
família, gosto do mercado porque dá pra comprar”

6.1.2 O que as crianças menos gostam na sua escola, na sua comunidade e em Irará

Vários pontos foram problematizados nas rodas de conversas com as crianças. Contudo,
alguns foram recorrentes em todas as rodas. Os pontos a seguir estão em escala de maior
destaque e prevalência nas falas das crianças.
a) As violências:
I. de trânsito;
II. doméstica e comunitária;
III. escolar; e
IV. violência contra os animais.
b) De alguns animas e da poluição do meio ambiente.

A seguir, as vozes das crianças com o que elas menos gostam.


a) Violências
I. Violência de trânsito:
“Eu não gosto da minha rua que passa muito carro avuado e já morreu gente”
“Tem muito acidente na pista, que o pneu furou”
“Ficam gritando, eu ouvi de madrugada”
“Não gosto de pista, dos carros, do mato e do parquinho. Eu gosto de ficar em casa. Não
pode passar como o carro passa, porque pode atropelar uma criança”
“Não gosto das pistas e dos carros porque pode acontecer algum acidente”
“Da pista, porque já aconteceu acidente com criança e ela ficou internada. Os carros passam
correndo”
“Eu não gosto do caminho, porque teve uma vez que eu fui passar e a bicicleta passou muito
rápido e me deixou muito ferida, precisei ir no médico e ficar lá um pouquinho. Ainda tenho
marca”
“Um dia uma mulher bêbada e um homem bêbado, bateram o carro na minha casa e
minha mãe ficou nervosa, teve que ir no médico, estava vasando gasolina e eu fiquei com
muito medo”
90 “[...] Uma moto correndo muito, aí eu corri muito, ainda bem que não me atropelou”

II. Violência Doméstica e comunitária:

“Tem bastante agressão com as crianças, o pai da minha prima, eu fui dormir lá com meu
pai e minha mãe e o pai dela grita muito é muito chatinho e eu não conseguia dormir”
“O meu pai fica gritando muito com minha avó, e ele jogou uma faca no pé dela, feriu e ela
teve que ir pro hospital”
“Meu irmão pega a moto da minha mãe e a moto sempre quebra né. Minha mãe falou
que a culpa é sempre dele... a gente não podia sair, a moto não ligava. Aí ela ligou pra ele ir
consertar a moto e ele começou a gritar e minha mãe ficou chorando e eu fui pra casa da
minha tia”
“O meu pai começou a gritar com minha mãe, jogou os brinquedos fora e eu não consegui
ficar em casa”
“As mães que batem nos meninos, que a gente sabe, não vê, mas sabe”
“Não gosto do meu tio, ele é muito estressado, já morreu, ele me bate, mas faz um monte de
miojo gostoso. Eu não gosto porque ele faleceu”
“Felipe que mora perto de mim, vi ele brigando lá”
III-Violência Escolar:

“Tem muita briga aqui. Meus coleguinhas brigam muito”


“É muita briga aqui na escola”
“As brigas é o que me deixa mais triste”
“Uma vez Maria machucou aqui (apontando para a sobrancelha), o menino do 3º ano
empurrou ela, teve que dar ponto, eu vi ela gritando e chorando fora da escola”
“Aqui perto do meu olho eu levei um soco”
“Um dia eu estava no banheiro, o menino entrou, ficou fazendo uma coisa comigo e eu
mandei ele sair, e ele não saiu”
“Para parar precisa falar com a professora e com a diretora, que o menino me olhou no
banheiro”
“No banheiro, ele olhou pela porta”
“Eu escrevi, não gosto da violência que tem na escola, um batendo no outro”
“O 3º ano fica segurando a porta do 1º ano que está no banheiro”

IV. Violência contra os animais:

“Matam bicho pra comer”


“Bate muito nos animais”
“Não gosto que maltrate os animais” 91

b) De alguns animais e da poluição do meio ambiente:

“Não gosto das cobras”


“Não gostos dos cachorros que ficam na rua”
“De cachorro solto que vem escarrerar”
“Cachorro que fica latindo”
“Das queimadas, quando passo vem um bocado de fumaça, vem no meu cabelo”

6.1.5 O que as crianças querem para suas escolas, comunidades e cidade

Vários pontos foram apontados nas rodas de conversas com as crianças. Contudo, alguns
pontos foram recorrentes em todas as rodas. Os pontos a seguir estão em escala de maior
destaque e prevalência nas falas das crianças quando apontaram o que desejam para elas.

a) Melhorar a estética da escola e da cidade.


b) Melhorar a infraestrutura das escolas e da cidade.
c) Mais recursos físicos, humanos e outras ações na escola.
d) Ações de cuidado e prevenção às violências escolar, doméstica e comunitária.
A seguir, as vozes das crianças com o que querem para suas escolas e para sua cidade.

a) Melhora a estética das escolas e da cidade:


“Deixaria a cidade ficar bonita demais”
“Pintava a escola”
“Só pintou lá fora”
“Pintava a escola de colorido”
“Pintava flores nas salas”
“Colocava flor na escola”
“Tem que ser tudo alegre”
“A cidade ficar limpa, sem poluição”

b) Melhorar a Infraestrutura da escola e da cidade:


“Colocava ar-condicionado na sala”
“Consertava os móveis da escola”
“Colocava mais brinquedos, pula pula na escola”
“Melhorar os filtros de água, colocar mais”
“Mudaria a pista”
“Fazia mais pistas”
92 “Consertava os buracos”
“Botava mais lojas”
“Botava escorregadeira na escola”
“Parquinho”
“Balanço”
“Consertar os parques da pista, os carros não ficarem passando rápido, precisa fazer alguma
coisa”
“Desenhei uma escola com as crianças, pode fazer um parque para eles brincarem, pode ter
alguns materiais, tipo lápis, borracha, hidrocor”
“Ali tem um parque que precisava consertar porque está balançando e a gente pode cair ou
cair em cima de uma criança. Precisa ter sempre um adulto perto”
“A escola pode melhorar, colocar algumas coisas no pátio para a gente se divertir, um parque”
“Bloco pra fazer o telhado22”
“Um quadro pra gente desenhar”

22 Observamos uma construção incompleta, talvez por este motivo um dos meninos disse que era preciso
bloco para fazer o telhado.
c) Recursos físicos, humanos e outras ações na escola:

“Caderno, estojo e mochila”


“Tinta, pincel, classificador, caderno de caligrafia e de tabuada”
“Professora, tem crianças que não têm professora”
“Colocaria cadeiras novas na escola”
“Aumentava o recreio pra 30 minutos”
“Botar filme no sábado”
“Melhorava a merenda, botava pizza, cachorro quente e refrigerante”

d) Ações de cuidado e prevenção às violências escolar , doméstica e comunitária:


“Blitz na pista, para parar todo mundo, botar a mão na cabeça e fazer a segurança melhor,
pra não ter assalto”
“A gente pode educar os outros também, para que possam crescer igual a gente, sem violên-
cia, sem essa maldade que possa ter...”
“Um respeitar o outro”
“Pode se educar, falar mais baixo e ter mais educação”
“Respeitar os mais velhos”
“Parar de ficar gritando, se comportar, fazer o que a mãe está falando e não sair sem a mãe
saber” 93
“A gente tem que saber o que o adulto fala pra gente, porque tem gente do mal e a gente
pode se perder”
“Precisa tomar cuidado com os outros, o meu avô estava bem doente e cansando e um
menino estava soltando balão que faz bem zoada, precisa respeitar os outros”
“Não bater nas pessoas, não xingar”
“Obedecer a professora, não falar que vai ao banheiro e ficar passeando”

6. 2 ESCUTANDO O QUE OS/AS ADOLESCENTES DE


IRARÁ-BA TÊM A DIZER

O reconhecimento dos adolescentes como sujeitos de direitos torna inerente a compreen-


são de que a cidadania deve ser exercida em qualquer fase do seu desenvolvimento, e não
apenas futuramente. Compreendemos que uma sociedade democrática deve garantir a
participação deles no processo de tomada de decisões coletivas, com vistas a contribuir
para que as políticas estejam em concordância com os desafios e com as demandas da
população e para que haja a promoção de “uma cultura cidadã e democrática, a partir da
qual todos e todas possam se comprometer com o fortalecimento do que é público, de
todas as pessoas. ” (AÇÃO EDUCATIVA, 2013, p.5).
Para isso, a participação dos adolescentes implica o rompimento de relações sociais
baseadas na autoridade e na subordinação e encontra-se como direito positivo dentro
do Sistema Global de Proteção aos Direitos Humanos, na Convenção Sobre os Direitos da
Criança (AÇÃO EDUCATIVA, 2013, p. 13), além de afirmar a autonomia deles como sujeitos
políticos.
Contudo, a participação de crianças e de adolescentes nos espaços de participação, mesmo
quando as questões lhes dizem respeito, visto que são espaços instituídos e pensados por
adultos, tornando-se necessário, então, que seja reconsiderada a sua organização, para
que sejam espaços atrativos aos interesses e às demandas desse grupo social.
Para que isso possa acontecer, concordamos com o relatório da UNICEF sobre a participa-
ção infantil que afirma que:

Os adultos precisam desenvolver novas competências. Nós precisamos


aprender como elucidar as questões de crianças e jovens de forma efetiva
e reconhecer as suas múltiplas vozes, as diversas maneiras que as crianças
e jovens se expressam e como interpretar as suas mensagens – verbal e
não verbal. E ainda, precisamos assegurar de que há oportunidades, espa-
ços seguros para que possam ser ouvidos e levados em consideração. E
precisamos desenvolver as nossas habilidades para responder de forma
apropriada para as mensagens e opiniões de crianças e jovens (UNICEF,
2003, p. 2).

Assim, foi imprescindível que o diagnóstico garantisse a escuta desse público sem que
94
seja necessário seu enquadramento nos padrões adultocêntricos de participação, para
que (os adolescentes) despertem o interesse pela participação e, assim, também possam
ter esse meio como uma forma de efetivação e de pleno exercício da cidadania.
Nessa direção, reconhecendo o adolescente como sujeito de direitos, valorizando como
sujeito ativo e assegurando suas vozes, olhares e participação nas decisões e nos assuntos,
sobretudo do lhes dizem respeito, o diagnóstico incluiu a escuta qualificada de adolescen-
tes como estratégia fundamental para o levantamento dos problemas vividos por elas e a
identificação, e o que elas propõem para Irará.
Para tanto, foi adotada uma metodologia qualitativa de Grupo Focal, que escutou 7 ado-
lescentes23 , todas do sexo feminino.

23 As adolescentes foram as participantes do O Núcleo de Cidadania de Adolescentes (NUCA). Ele foi cons-
tituído como parte da metodologia do Selo UNICEF. Todos os municípios participantes dessa iniciativa são
convidados a implantar Núcleos de Cidadania de Adolescentes. São grupos de adolescentes que se orga-
nizam em rede, discutem questões importantes para o seu desenvolvimento, implementam ações e levam
suas reivindicações à gestão pública municipal. Ele reúne adolescentes de diversas localidades do município,
com ou sem experiência em grêmios estudantis, grupos culturais, associações de moradores, entre outros
coletivos. O NUCA atua em diálogo com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
(CMDCA) de Irará para ampliar a participação de adolescentes nessa instância e garantir que suas decisões
levem em conta a opinião e propostas de adolescentes sobre questões ligadas aos seus direitos.
6.2.1 A cidade de Irará para os/as adolescentes

Para os adolescentes, Irará é uma cidade muito boa para viver, sobretudo ao longo infân-
cia. Para as adolescentes entrevistadas, é um território que quando criança, podiam tran-
sitar, andar e brincar na rua, com pouca violência - realidade muito diferentes de grandes
centros urbanos. Apesar de apontarem que o contexto tem mudado e a violência está
presente em todos os lugares, elas destacaram que ainda hoje conseguem viver a cidade.

“Em Irará a gente não vê violência, eu não tenho medo de sair aqui à
noite, às 21h. Ter, até tem, mas não com tanta frequência. Comparando
às cidades maiores aqui é muito mais calmo, muito mais seguro; seguro
porque todo mundo se conhece.
“É uma cidade boa para a sua infância, crescer aqui é confortável porque
as coisas são perto, é mais tranquilo”

Embora os adolescentes reconheçam que o município atende às expectativas quando


crianças e que ainda tem pouca violência urbana e isso tem “um lado bom se viver em
Irará”, todos foram enfáticos em afirmar que a cidade precisa ser pensada e organizada
para os adolescentes: “é muito ruim viver a adolescência aqui”. “Aqui não tem nada para
fazer”. As duas falas apontam para a escassez de ações de promoção à cultura e ao lazer:

“Eu diria que Irará apesar de toda riqueza cultural, digo isso porque eu
vejo uma cidade muito rica culturalmente, é uma cidade muito limitante,
por exemplo. Em questão de lazer, aqui nós temos praças, se a gente 95
quiser ir ao cinema, precisamos ir para fora porque Irará não é uma cidade
que proporciona esse tipo de lazer [...]”
“Aqui é uma cidade muito rica de cultura, mas acho que a cultura ainda
não está sendo feita de maneira certa. Lazer não temos muito, temos
praças e poderíamos ter mais eventos, promover atividades durante os
finais de semana para movimentar mais a cultura. Fora as festas de São
João e lavagens, o município não tem nada”
“Na adolescência, reclamamos o tempo todo porque não temos nada
para fazer e sentimos vontade de fazer outras coisas, usamos redes sociais
e observamos como são nos outros lugares e ficamos “nossa que legal”.
Aos finais de semana a gente compra açaí e vai para a praça, não tem
muito o que fazer. Por isso, quando tem festa na cidade e a galera vem pra
cá, a gente fica animado porque é uma coisa diferente. Todo adolescente
que mora aqui reclama o tempo todo por não ter muito o que fazer.
“A gente tem um clube [...], mas que não é tão legal. Não tem um clube
que oferece esporte, lazer, que faça coisas diferentes. Durante a semana
é a mesma rotina para todo mundo, a gente estuda, mas quando chega
sexta, sábado e domingo, a gente não quer ficar dentro de casa sem ter
o que fazer, a gente quer sair. E a gente tem tantas praças, tantos lugares
para promover projetos e eventos e os espaços não são utilizados. Nosso
passeio é esse, ficar andando de praça em praça, um final de semana
vamos em um, outro final de semana vamos a outro. A gente acha muito
chato viver aqui. Não é desmerecendo a nossa cidade, mas aqui não tem
muita opção do que fazer, a gente vive isso e se a gente não tiver oportu-
nidade de morar em outra cidade durante o ensino médio ou durante a
faculdade a gente vai perder a nossa adolescência nisso. ”

Apesar dos depoimentos anteriores, muitos reconhecem a riqueza cultural que o municí-
pio construiu ao longo dos anos e se orgulham disso. Contudo, é ponto comum a todos
que atualmente é um lugar que não é estruturado para eles. Da mesma forma que apon-
tam a pouca ou quase nenhuma ação de cultura, esporte e lazer, também evidenciam
problemas no campo da educação. Para eles, a educação precisa melhor a qualidade, ter
mais investimentos e geração de oportunidade de emprego, pois “aqui depois que termina
o ensino médio você precisa sair, não tem nada para nos oferecer”. As frases anteriores se
somam a todos que participaram do grupo focal:

“Para mim, ser jovem em Irará é muito difícil porque no que diz respeito
à educação a gente precisa sair da cidade para fazer uma faculdade, fazer
um curso, até mesmo em questão de trabalho você não tem muita opção
aqui em Irará”
“[...] na questão da educação mesmo, se a gente quer fazer uma facul-
dade, conhecer novos ares, questões maiores de fato, a gente precisa ir
para fora da cidade porque o município não nos oferece isso”
“Eu estava conversando isso com a minha tia esses dias, você vê a nova
geração onde os pais não educam os seus filhos, isso no futuro vai gerar
problemas e a gente também não está recebendo educação boa, claro,
96 que a gente precisa ter uma base para fazer Enem, vestibular”.

Para eles, a mentalidade “preconceituosa” de algumas pessoas também torna a cidade


muito difícil para viver a adolescência,

“Tem outra coisa que esqueci de falar, justamente por ser uma cidade
pequena, até para você (jovem) se expressar é muito difícil porque a men-
talidade das pessoas que moram aqui, por se conhecerem (terem algum
grau de parentesco, familiar ou de amizade) até mesmo para uma pessoa
se autodeclarar homossexual é muito difícil”
Outro problema recorrente apresentado pelos adolescentes foi a violência contra as ado-
lescentes. Segundo relato das adolescentes, elas e suas amigas muitas vezes vivenciam
seus corpos sendo assediados e muitas vezes invadidos.

“Quando eu falo de abuso eu falo de uma jovem colocar um short, sair na


rua e ser abusada sempre, e muitas vezes as pessoas não têm consciência
de que aquilo ali é um abuso. E, às vezes, muito jovem tem dificuldade
de se impor, de falar que não, que não quer, e eles são forçados a muitas
coisas que não querem”

Para as adolescentes escutadas, a escola, ao mesmo que é um espaço produtor de violên-


cias, também é esse equipamento que desenvolve pouco com ações de prevenção aos
fatos ocorridos e de formação dos adolescentes para a problemática existente. Para elas
essa questão e também do bullying deveria ser central no trabalho cotidiano da escola.
“A violência Psicológica acontece muito dentro da escola”
“ Acho que é trabalhado na escola muito pouco, mas é muito pouco, só
trabalha em uma data específica. Por exemplo, tem o dia do combate ao
abuso, aí só trabalha naquela data e pronto”
“Não só essa parte do combate ao abuso, mas o combate contra a violência”.
“Eu acho muito importante trabalhar a violência dentro da escola, falar
sobre psicologia, assuntos sociais são coisas importantes que parece que
as pessoas fecham os olhos para isso”.
“Tem o bullying também e quando falamos de criança, adolescente
e jovens devem ser faladas essas coisas desde novinho, são muitos os
assuntos. A gente sabe que tem as horas que os professores precisam
cumprir, o pessoal acha muito chato os eventos da cidade”

Além das violências cometidas contra as adolescentes de Irará, os participantes também


demarcaram a ocorrência das violências autoprovocadas e de problemas emocionais
vividos por eles.
“Antes eu estudava na escola particular, e eu tinha uma colega que fazia
muito isso, de se cortar, ela tinha o pai que era alcoólatra e brigava muito
dentro de casa, aí ela descontava nela mesma. A escola teve que intervir
porque foi uma situação bastante delicada”
“[...] chegam aos ouvidos de outras pessoas que se cortavam, mas muita
gente diz que é drama, que é besteira, que é frescura”.
“[...] meados de 2018/2019, esses assuntos estavam muito em alta, depres-
são, ansiedade e automutilação. Então, muitas pessoas demonstravam 97
semblante muito mais alegre e muito mais feliz depois dessa onda de
visualização, de informação que chegava até a gente, eu acho que elas
não souberam administrar, aí começaram a se automutilarem. Eu mesmo
percebi a partir de algumas pessoas que conviviam comigo [...]. Elas se
cortavam e chegavam para mim e mostravam “olha, me cortei”.
“Tem casos que acontecem que é para chamar atenção até mesmo de
outra situação que a pessoa possa estar passando, ele pode se mutilar
para chamar atenção”.

6.2.2 Mapa dos problemas vividos pelos adolescentes de Irará

OS PROBLEMAS NA CIDADE

Na Educação
1. Falta de investimento em educação,
2. Pouco direito de falar e participar da vida escolar;
3. Pouco suporte psicológico e social;
4. Falta de boa coordenação e apoio;
5. Precariedade estrutural das escolas e de materiais de apoio;
6. Não proporcionam cursos superiores obrigando o jovem a buscá-los fora;
7. Falta de investimento e de campanhas educativas.
Na Cultura, esporte e lazer
1. Falta de investimento para a população jovem;
2. Falta de projetos;
3. Falta de entretenimento para os jovens;
4. Não existe oportunidade de esporte para todos;
5. Falta de projetos e investimento em praças que podem ser utilizadas em projetos
e campanhas para os jovens.

Saúde
1. Campanhas / locomoção;
2. Equipamentos;
3. Pouco espaço e apoio;
4. Investimento precário em aparelhos para exames e procedimentos;
5. Falta de investimento e apoio em campanhas que abordem problemas mentais;

Segurança
1. Esconder casos;
2. Falta de apoio;
98
3. Falta de vigilância no município;
4. Direcionamento de centros de denúncia;
5. Falta de conscientização dos jovens para saber quando procurar e distinguir o
certo do errado;
6. Muita pressão psicológica;
7. Não conseguir desabafar.

Falta de Geração de Emprego


1. Falta de oportunidade de emprego.

6.2.3 Mapa das sugestões dos adolescentes escutadas para a cidade

Educação
1. Ensino de maior qualidade;
2. Promoção de cursos técnicos;
3. Investimento em educação;
4. Investimento para melhorar a qualidade dos educadores;
5. Investimento em materiais de apoio para ampliar o arcabouço dos alunos.
Cultura, esporte e lazer (cor amarela)
1. Incentivo à cultura;
2. Inauguração de clubes;
3. Eventos que buscam abrir mentes e conscientizar a população acerca de novos
assuntos e reformular pensamentos que já não se aplicam;
4. Investir em projetos;
5. Mais ações e projetos;
6. Projetos / eventos;
7. Investimento para abertura de novos espaços de lazer, como cinema, karaokê,
boliche e outros.

Saúde (cor rosa)


1. Capacitar / investimento;
2. Ir até a população jovem (colégios e praças);
3. Investimentos em aparelhos para exame e procedimentos com o objetivo de agi-
lizar o processo para obtenção da saúde.

Segurança
1. Apoio em rede; 99
2. Mostrar a realidade para a população ter cuidado e segurança;
3. Criação de campanhas contra a violência e de conscientização com o objetivo de
direcionar a população e reduzir índices negativos.

Falta de Geração de Emprego


1. Criação de oportunidade de emprego para os jovens em diversos setores para que
não precisem buscá-lo fora do município.
100
7. OS/AS ADOLESCENTES
ESTUDANTES DE IRARÁ: QUEM SÃO,
DILEMAS, PERSPECTIVAS E O QUE
DESEJAM PARA ELES
7.1 ANÁLISE DA POPULAÇÃO DA PESQUISA

Os/as adolescentes pesquisados(as) são estudantes do Ensino Fundamental Anos Finais e


Ensino Médio, “ditos ensino regulares”, e também estudantes adolescentes que estão na
Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Gráfico 20 - Anos e modalidade que os/as adolescentes estudam

101

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba, no ano de 2023.
Elaboração própria

Como podemos observar no Gráfico 21, mais da metade estuda no turno da manhã.
É expressivo o quantitativo de estudantes que não está na escola em tempo integral.
Gráfico 21- Turno que estudam

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba, no ano de 2023.
Elaboração própria

Dos 1.130 estudantes adolescentes do município de Irará que responderam ao questio-


nário, 57% tem idade de 11 a 14 anos, 43% idade entre 15 a 18 anos e 1% acima de 18
anos. Para efeito dessa pesquisa, denominaremos o primeiro grupo de adolescentes mais
novos (11-14 anos) e o segundo de adolescentes mais velhos (15 - 18 anos ). O terceiro
grupo etário desconsideramenos porque, segundo a legislação brasileira, não são mais
considerados/as adolescentes.

Gráfico 22 - Idade dos/as adolescentes

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba, no ano de 2023.
Elaboração própria

Dos conjuntos dos adolescentes estudantes respondentes, a grande maioria, 85,5% deles
se autodeclaram negros – a soma dos pardos (45,5%) com os pretos (40%), conforme
Gráfico 23.

Gráfico 23 - Cor dos/das adolescentes estudantes

102

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba, no ano de 2023.
Elaboração própria

A maioria dos/das adolescentes no momento da aplicação do questionário se declarou


solteiro/a – pessoas que não tinham namorado/a, não estavam “ficando”, nem tinham um
relaciomento sério e/ou casado e nem eram viúvos/as.

Gráfico 24 – Estado civil dos/das adolescentes

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba, no ano de 2023.
Elaboração própria
No que se refere ao local de moradia, a maioria dos respondentes reside na zona rural
(Gráfico 25) – o que expressa de um modo geral o perfil total dos adolescentes, do número
expresso no censo de 2022, conforme apresentado na seção 2 desse relatório.

Gráfico 25 - Local de moradia dos adolescentes estudantes

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba, no ano de 2023.
Elaboração própria

Segundo o critério “sexo”, houve um equilíbrio percentual de adolescentes estudantes que


se declaram masculino e feminino, conforme Gráfico 26:

Gráfico 26- Sexo dos/das estudantes adolescentes

103

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Três em cada quatro dos/das estudantes se identificam com o sexo biológico que nasceu,
conforme o Gráfico 27. Chama atenção o número de adolescentes que não souberam
responder à questão (13,5%).

Gráfico 27- Identificação sexual

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Com relação ao quesito “orientação sexual”, 69,8% do contigente pesquisado se declarou
heterosexual e quase 9% dos adolescentes estudantes não souberam responder (perto de
100 respondentes). São 10,1% ps que se identificaram como parte do grupo LGBTQIAP+24
no município de Irará, conforme gráfico 28::

Gráfico 28 - Orientação sexual

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Sobre o percentual de adolescentes com deficiência, 93,9% dos 1.130 declarou não pos-
suir nenhuma deficiência e 3,5% afirmou ser deficiente, conforme gráfico.

Gráfico 29 - Possui algum tipo de deficiência

104

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Dos 33 adolescentes que responderam ter alguma deficiência, 17% afirma ser deficiente visual,
13,5% apresenta deficiência intelectual, 11,1% deficente físico, 7,6% dificiente auditivo e
2,8% ter deficiências múltiplas, conforme Gráfico 30. Sendo que, destes que responderam ter
alguma deficiência, mais da metade (54%) expressa ter sido diagnósticada por laudo médico.

Gráfico 30 - Tipo de deficiência

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

24 Conforme o UNICEF (2023), a sigla se refere às pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais e Travestis,
Queer, Intersexo, Assexuais, Pansexuais e (+), sendo este referente às “outras orientações sexuais, identidades
e expressões de gênero não abraçadas pela sigla.” (UNICEF, 2023)
Do total dos entrevistados, quase 96% dos/das adolescentes afirmam ter acesso à internet,
conforme gráfico abaixo:
Gráfico 31- Acesso à internet

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Vale destacar que entre aqueles/as que responderam não ter acesso a internet, os adoles-
centes na zona rural são quase 80%.

105
Gráfico 32 - Onde você usa a Internet

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

O maior número de adolescentes disse ter acesso à internet em outros lugares - quase
37% dos respondentes. 32,7% dos respondentes afirmaram ter em casa e na escola e 28,
1% somente em casa (zona urbana 33,3% e zona rural 66,7%). Por fim, temos 2,6% dos
adolescentes que só tem acesso na escola, sendo que destes, a maioria se encontra na
zona rural 66%.
Quando perguntado para qual fim utilizam a internet, 28,1% dos/das adolescentes res-
ponderam que utilizam para o entretenimento. Pouco mais de 20% pontuaram que usam
para estudar, conforme gráfico abaixo:

Gráfico 33 - Para que usa a internet

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Os/as adolescentes estudantes da zona rural são os que mais utilizam a internet para o
entretenimento, sendo o maior número é das adolescentes (58%). São os adolescentes mais
jovens (11-14 anos) que mais usam para esse fim (61%). No recorte de gênero, são as adoles-
centes que mais utilizam a internet para o entretenimento (55%), já os adolescentes (44%).
Foi indagado aos/às 1.130 adolescentes, com quem residiam atualmente. Parte significa-
106 tiva reside somente com o pai e mãe (35%), somente com mãe (28%) com os pais e outro
familiar (12,6%).

Gráfico 34 - Com quem você mora / reside atualmente:

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Boa parte do grupo pesquisado se sente acolhido em seu ambiente familiar, conforme
gráfico a seguir. Contudo, é expressivo o número de adolescentes que afirmaram que isso
acontece “às vezes” e “nunca”.
Gráfico 35 - Se sente geralmente acolhido (a)

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

A maioria dos que se sentem acolhidos é da zona rural (60%) e constituída por adolescentes
mais novos 61%. Para os/as que disseram que às vezes se sentem acolhidos/as, um pouco
mais da metade é constituída por adolescentes mais velhos (51%), é da zona rural (59%) e
é mais no gênero feminino (61%). Já para aqueles/as que afirmaram que nunca se sentem
acolhidos, um pouco mais de 6%, a grande maioria também reside na zona rural (71%).
Boa parte dos/das adolescentes pesquisados tem o nome do pai no seu registro de nasci- 107
mento. Menos de 5% afirmou que não ter garantido esse direito - percentual quase igual
para aqueles/as adolescentes que assinalaram que não sabem informar se tem ou não o
nome do pai, conforme gráfico a seguir:

Gráfico 36 - Nome de seu pai no registro de nascimento

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Para esses que não têm o nome do pai no registro civil, mas informaram que que desejam
tê-lo, os/as adolescentes residentes da zona rural é maioria (61%) e do sexo masculino
(58%). Essa tendência também se observa para aqueles/as que não desejam inserir o
nome, a grande maioria é da zona rural (75%) de meninos (81,3%). Para aqueles que não
quiseram responder se querem ou não possuir o nome, a grande maioria é também da
zona rural (80%) e constituída por meninos (80%). Um pouco mais da metade desse grupo
(52%) externou o desejo de possuir o nome do pai. É expressivo o número de adolescen-
tes que não querem esse direito (25%).

Gráfico 37 - Se gostaria de ter o nome do pai no seu registro de nascimento

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

7.2 ABORDAGENS
108
I- Sobre o tema uso de álcool e drogas
O uso de drogas é um fenômeno bastante antigo na História e constitui um grave pro-
blema de saúde pública, com sérias consequências pessoais e sociais de toda a sociedade.
A fase da adolescência é marcada por transformações físicas, psíquicas, sociais, sendo um
período de mudanças comportamentais e de maior suscetibilidade às situações de risco
em saúde mental e a comportamentos que podem fragilizar a saúde, como o consumo de
álcool e outros tipos de drogas.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o álcool é o maior fator de risco
de morte entre adolescentes entre 15 e 19 anos, superando o uso de drogas. O álcool é a
droga mais utilizada nessa faixa etária e pode causar intoxicações agudas graves, convul-
sões e hepatites. O Brasil ainda carece de bancos de dados oficiais e dados epidemiológi-
cos específicos em saúde mental e uso de álcool e drogas, principalmente na faixa etária
da adolescência (12 a 17 anos) e da juventude (18 a 21 anos).
Considerando tal situação, a pesquisa de percepção buscou identificar a incidência e fre-
quência do uso das drogas lícitas e ilícitas. Dos 1.130 adolescentes que participaram da
pesquisa, 77% afirmaram nunca ter usado alguma das drogas apontadas. Dos 23% que já
afirmaram usar, 223 já consumiram o álcool e 44 o cigarro eletrônico.
Gráfico 38 - Se já fez uso de drogas

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Os/as adolescentes mais velhos (as) foram aqueles/aquelas que mais disseram já ter
feito uso de álcool; (66%). O usa da substância é mais frequente entre as meninas (53%).
A automutilação tem maior prevalência nas/nos adolescentes da zona urbana (63%), os/as
mais velhos (90%) e com as adolescentes (58%).
Já para aqueles/as que afirmaram ter usado ou usam a maconha, o seu uso é mais expressivo
nos adolescentes, com 85%, pelos/pelas adolescentes; da zona urbana (58%) e pelos/pelas
adolescentes mais velhos (73%). A mesma tendência é com relação ao uso do cigarro ele-
trônico. Ele é mais usado pelos adolescentes (62%), pelos/pelas adolescentes que vivem na
zona urbana e pelos/pelas estudantes adolescentes mais velhos o índice é de (77%).
109

II- Sobre a saúde mental dos/das adolescentes pesquisados (as)


A pesquisa de percepção oportunizou a escuta junto aos adolescentes entrevistados,
sobre questões sensíveis, especialmente de como se sentem no meio onde vivem. Como
sabemos, a adolescência, é um momento complexo na vida do indivíduo, sendo único e
formativo para a vida adulta, marca um período em que ocorrem diferentes mudanças no
aspecto físico, hormonal, psicológico, emocional e social que influenciam o comporta-
mento, e, portanto, demanda um olhar mais atento para saber diferenciar entre compor-
tamentos e dilemas próprios da idade, de fatores e comportamentos de risco que podem
indicar problemas da saúde mental. Em alguns casos, exigem também a atenção pro-
fissional especializada para reduzir os impactos resultantes dos problemas típicos dessa
etapa da vida, bem como da exposição a situações de violação de direitos, violência ou
qualquer outro tipo de situação que tornam os adolescentes vulneráveis a fatores de risco
que possam comprometer a sua saúde mental.
O conceito de saúde mental não se limita à definição da ausência de doença ou transtorno
mental, mas está relacionado à capacidade de o indivíduo administrar a própria vida e as
emoções dentro de um grande espectro de variações, sem, contudo, perder o valor do
que é real e precioso (OMS, 2012).
Desse modo, foi perguntado como aos/as estudantes adolescentes se sentem durante
boa parte do tempo. Apenas 30% indicaram que se sentem felizes e 24% indicaram que
estão tranquilos. Um dado que chama atenção é o número de adolescentes que afirmarm
estar ansiosos/as ( 16, 4%).

Gráfico 39 - Como se sente boa parte do tempo

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

O percentual entre os/as adolescentes que se declarou feliz, boa parte do tempo é quase
igual; meninas (50,2%) e meninos (48,9%). Contudo, em relação à ansiedade, as meninas
afirmaram se sentirem mais ansiosas (68%) do que os meninos (32%). O mesmo acon-
tece com relação a se sentir com raiva, as adolescentes são maioria (68%), contra 32% de
adolescentes do sexo masculino. A mesma tendência é com relação se sentir com raiva.
110 A maioria é constituída do sexo feminino (75%), já os adolescentes do sexo masculino são
de apenas 25%.
Observando o local de moradia dos adolescentes, a maioria dos/das adolescentes que dis-
seram se sentirem felizes boa parte do tempo, a maioria está na zona rural (60,7%), contra
(39,3%) da zona urbana. Já aqueles que declararam se sentir triste, a maioria também está
na zona rural (56%), sendo 44% dos respondentes da zona urbana. Com relação a sentir
com raiva boa parte do tempo, os/as adolescentes da zona urbana são maioria (53%),
contra 47% da zona rural.

III – Sobre ter sofrido algum tipo de violência


A Constituição Federal e o ECA atribuem como dever conjunto da família, do estado e da
sociedade manter crianças e adolescentes a salvo de toda e qualquer forma de negligên-
cia, discriminação, exploração, violência, crueldade, opressão e tratamento desumano.
No questionário aplicado na pesquisa com 1.130 adolescentes estudantes, foram inseridas
perguntas para identificar se o entrevistado já havia sofrido alguma situação de violência
(física, psicológica, sexual, patrimonial e/ou institucional) e em qual local sofreu (na família,
na rua, escola). Foram incluídas também questões sobre as violências autoprovocadas,
automutilação, tentativa de suicídio, fuga de casa, aborto e participação em jogos de
desafio. Ademais, também buscamos saber se os adolescentes estudantes já passaram
por algum tipo de preconceito e quais os tipos mais recorrentes.
a) Sobre violências interpessoais – cometidas no âmbito familiar e/ou comunitá-
ria (física, sexual, psicológica, institucional e patrimonial)
Quando perguntado aos/às adolescentes se já haviam sofrido algum tipo de violência, um
pouco mais de 20% dos respondentes disseram que sim, conforme gráfico a seguir:

Gráfico 40 - Se já sofreu algum tipo de violência

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
111
Para esses/essas adolescentes que afirmaram terem sofrido algum tipo de violência, os/as
adolescentes da zona rural são um pouco mais da metade (52%), contra os 48% dos/das
adolescentes da zona urbana. Ao analisar este dado, a partir do recorte de sexo, temos 52%
de respondentes do sexo feminino e 44% do sexo masculino.
Ao serem questionados sobre qual tipo de violência já haviam passado, as respostas estão
expressas no gráfico abaixo:

Gráfico 41 - Qual tipo de violência já sofreu

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

As adolescentes foram aquelas que mais afirmaram ter passado por violência psicológica
(67%). Já a violência física foi respondida pelos adolescentes (55%) e pelos/pelas adoles-
centes mais velhos (as) (53%).
No que se refere à violência sexual, é expressivo o percentual das adolescentes do sexo
feminino que assinalaram ter passado pela situação – 88%, já entre os do sexo masculino,
somente 8% afirmam ter sofrido esse tipo de violência. Os/as adolescentes mais velhos
também foram aqueles que mais passaram por violência sexual - 60%.
Para aqueles/aquelas que responderam já ter passado por algum tipo violência, as/os
adolescentes vítimas desse processo assinalaram que os principais autores foram os fami-
liares, os colegas, pessoas desconhecidas e por outros sujeitos não identificados, conforme
gráfico a seguir:

Gráfico 42 –Autores da violência

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

112 As adolescentes são aquelas que mais sofrem violência no interior da própria família (63%).
Já os adolescentes são um pouco mais que a metade quando a violência é cometida por
colegas (55%). Já a violência cometida por desconhecidos é majoritariamente frequente
com as meninas 68%.

b) Ações de autodepreciação
Segundo o Ministério da Justiça (2010), problemas de saúde mental em adolescentes
que não recebem tratamento estão associados a baixos níveis de realização educacio-
nal, desemprego, uso de drogas, comportamentos de risco, criminalidade, saúde sexual
e reprodutiva precárias, automutilação e cuidados pessoais inadequados. Esses fatores
intensificam o risco de morbidade e mortalidade prematura, e implicam em altos custos
sociais e econômicos, uma vez que frequentemente, evoluem para condições de maior
desadaptação social e práticas agressivas, como violação de regras.
Pensando nisso, foi perguntado aos adolescentes se eles/elas já haviam cometido alguma
ação de autodepreciarão. Do total dos 1.130 adolescentes que responderam ao questio-
nário, 80% nunca produziram uma ação de autodepreciação. Assim, os outros 20% dos
respondentes afirmaram já ter produzido, ou seja, 227 pessoas. Um total de 30,4% destes/
as declarou que já se automutilou, 27,5 já tentou suicídio e 23% já fugiram de casa, con-
forme gráfico abaixo:
Gráfico 43- Ações autodepreciantes

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

O número de adolescentes do sexo feminino que declarou ter se automutilado é expres-


sivo, mais de 85%, assim como para quem já tentou suicídio -73% do sexo feminino e 27%
do sexo masculino. As adolescentes também foram as que mais declararam ter partici-
pado de jogos de desafio, com 53%, já os meninos com 47%. Nesse aspecto é importante
destacar que são os/as adolescentes mais novos (11-14 anos) que mais participaram dos
jogos de desafios.
Já os/as adolescentes que mais disseram ter fugido de casa foram aqueles/as mais velhos
(56%) e um pouco mais da maioria foi constituído de meninos (52%).

c) Questões relacionadas ao preconceito


Foi perguntado aos 1.130 se eles já haviam passado por algum tipo de preconceito.
Conforme gráfico abaixo, 32, 5% afirmaram já ter passado por algum. 113

Gráfico 44 – Se já passou por algum tipo de preconceito

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

A maioria dos/das adolescentes que afirmaram ter passado por algum tipo de preconceito
está na zona rural (57%), contra 43% da zona urbana, sendo que as meninas são as que
mais afirmam ter passado por isso (meninas 60% e meninos 40%).
O maior tipo de preconceito apontado pelos respondentes tem a ver com a aparência
física (30%), seguido pela cor da pele (18,2%), conforme gráfico abaixo:
Gráfico 45 - Por qual tipo de preconceito já passou

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

A maioria dos que afirmaram ter passado por alguma situação de preconceito com relação
à aparência física (54%) é da zona rural, contra 46% da zona urbana. São as adolescentes as
maiores vítimas de preconceito 62%, sendo 38% dos adolescentes.
O preconceito em relação a cor também foi mais assinalado pelos/as adolescentes da zona
rural (55%), já os da zona urbana foi de 45%. As adolescentes também são a maioria a ter
passado por isso (meninas 53,8% e 43,4% dos meninos). Os/as adolescentes a partir de 15
anos são aqueles/as que mais assinalaram ter passado por algum tipo de preconceito, (56%).
114 Vale destacar que as adolescentes também são as maiores vítimas do preconceito com
relação ao peso. Por preconceito relacionado à obesidade, temos 76,3% do sexo feminino e
24% do sexo masculino. E por ser magro/a, temos 75% de meninas, contra 25% de meninos.

IV- Sobre a relação com a Escola


Dos 1.130 adolescentes participantes da pesquisa, 47, 5% disseram que gostam da escola (ver
gráfico a seguir), sendo que boa parte desse público são adolescentes da zona rural (64%).

Gráfico 46 - Se gostam da escola

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Para os quase 50% dos/das adolescentes dos/as 1.130 pesquisados – que afirmaram
que gostam da escola- quase 1/3 (26,5%) afirmaram gostar mais dos colegas (ver gráfico
abaixo), sendo que a maioria desses respondentes residem na zona rural (61%).

Gráfico 47 - O que mais gosta na Escola

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Os outros adolescentes que responderam gostar da escola, quer seja por causa das aulas
(24,9%), quer seja pelos professores (21,7%), somam quase 50% dos respondentes. Nas duas
situações apontadas, é expressivo o quantitativo de adolescentes que apontaram gostar da
escola, que residem na zona rural -56% por causa das aulas e 59% dos professores (59%).
Se foi expressivo o quantitativo de adolescentes que afirmaram gostar da escola, também
foi significativo o percentual daqueles/daquelas adolescentes que afirmaram gostar “às
vezes” - aproximadamente 42%, sendo a maioria deles/delas residentes na zona rural 115
(56%). Analisando a partir do critério de sexo, as meninas respondentes chegam a 55%, já
os meninos somam 42%.
Já para aqueles/as que afirmaram não gostar da escola (10,7%), os residentes da zona rural
foram a maioria (61%), sendo também expressivo o quantitativo de adolescentes do sexo
masculino que afirmaram não gostar da escola – 58%.
Analisando os motivos pelos quais os/as adolescentes às vezes gostam e/ou não gostam
da escola, é significativo o percentual de respondentes que atribuíram aos professores e às
aulas ministradas por eles como sendo os principais motivos (35%). Nas duas situações, o
maior número de adolescentes que responderam está na zona rural - com relação ao fato de
os professores serem chatos somam 63% e das aulas que não são interessantes chega a 53%.

Gráfico 48 - Motivos pelo qual as vezes gosta ou não gosta da escola

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Ao serem perguntados se desejariam que a escola oferecesse atividades no contra turno, a
maioria deles/delas respondeu que sim - 60,3%, conforme gráfico a seguir:

Gráfico 49 - Desejo que escola oferecesse atividades no contra turno

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Vale destacar que os adolescentes da zona rural são aqueles/aquelas que mais desejam
atividades no contra turno - 61%. Para aqueles que externaram o desejo da escola oferecer
algo no turno oposto, o gráfico a seguir indica as atividades apontadas:
116
Gráfico 50 - Atividades que desejam ser oferecidas nas escolas

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Os adolescentes mais novos (59,2%) desejam mais as atividades esportivas e culturais no


contra turno escolar (65%). A maioria que respondeu desejar que tivesse curso profissio-
nalizante está na zona rural (62%), sendo as meninas a grande maioria (67%). Elas também
foram aquelas que mais desejam atividades culturais.
O desejo pelo reforço escolar está concentrado nos/nas adolescentes da zona rural (68%)
e também pelos adolescentes mais novos - 57%.
Embora os indicadores municipais apontem para a pouca existência de atividades de cul-
tura, esporte e lazer, como já indicado nas seções anteriores, a grande maioria dos adoles-
centes estudantes da pesquisa afirmaram que participam de alguma atividade, conforme
gráfico a seguir:
Gráfico 51 - Participação em atividades esportiva ou de lazer regularmente

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Os/as adolescentes mais novos são aqueles/aquelas que mais participam (60%), a maioria
que participa está zona rural (59%) e os meninos são aqueles que mais participam (56%).
Já os/as adolescentes que afirmaram não participar, a maioria está também na zona rural
65% e as meninas são aquelas que menos participam - 70%.
Quando perguntado aos/às 28,5% dos adolescentes que responderam o porquê de não
participarem de alguma atividade no turno oposto ao da escola, o gráfico a seguir eviden- 117
cia o percentual:

Gráfico 52 - Motivos pelos quais não participam de atividades no contra turno escolar

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Foram os/as adolescentes da zona rural que mais sinalizaram que não participam de
alguma atividade “por falta de interesse” (68%), sendo a maioria dos/das respondentes do
sexo feminino (67%). Também é a maioria dos/das adolescentes da zona rural que não
participam de atividades no contra turno por “falta de opção no município” (55%), sendo
as meninas a maioria a apontar o motivo (69%).
A mesma tendência é percebida quando o motivo é “falta de tempo”. Os/as adolescentes
da zona rural foram maioria (61%) em apontar esse motivo, bem como as meninas foram
aquelas que mais apontaram a falta de tempo como sendo o fator responsável por não
participarem – 71%.

V- Sobre a relação com as atividades culturais


A maioria dos/das adolescentes estudantes não participa de atividades culturais com
frequência no município, conforme gráfico a seguir:

Gráfico 53 - Participação em alguma atividade cultural com frequência

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

118
A maioria dos/das que afirmaram não participar está na zona rural (61%), sendo eles/elas
os/as adolescentes mais novos (56%) e são as adolescentes (54%). Os motivos apontados
de sua não participação, seguem no gráfico a seguir:

Gráfico 54 - Motivos pelos quais os/as adolescentes não participam de atividades culturais

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Os quase 30% que apontaram não participar “por falta de interesse” é constituído pelos/as
adolescentes (47,0% da zona urbana e 53% da zona rural), pela maioria dos adolescentes
mais novos (59%) e de 47% de meninas e 52% de meninos.
Os/as adolescentes que apontaram a falta de opção no município como motivo princi-
pal (24,1%) são constituídos de maioria da zona rural (64%) e das adolescentes (67%). A
mesma tendência é percebida quando o motivo é “falta de tempo” - a maioria é do sexo
feminino, 45%, e de adolescentes que residem na zona rural, 54%.
Quando perguntado aos/às adolescentes se o município deveria investir em atividades de
cultura, esporte e lazer, quase todos afirmaram que sim, conforme gráfico a seguir:

Gráfico 55 - O município deveria investir mais nas atividades de cultura, esporte e lazer

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Essa grande maioria é constituída predominantemente por adolescentes da zona rural


(61%), pelos adolescentes mais novos (56%) e de meninas (52%).
A seguir, o gráfico com o percentual das áreas apontadas pelos/pelas adolescentes que o
119
município deveria investir.

Gráfico 56 - Atividade (s) que deveriam desenvolver no município

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

VI- Sobre a convivência familiar e comunitária


No âmbito do direito à convivência familiar e comunitária, quando perguntado aos/às
adolescentes se participam de algum grupo social e comunitário, a grande maioria res-
pondeu que não, conforme gráfico a seguir:
Gráfico 57 - Participa de algum grupo social ou comunitário

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Desses/as que responderam não participar, pouco mais da metade reside na zona urbana
(54%), é constituído majoritariamente pelas adolescentes (52%) e a maior parte é de ado-
lescentes mais novos (67%). Já para aqueles pouco mais de 12% - que afirmou participar
120 - a maioria é formada pelos/as adolescentes mais novos (70%), é da zona urbana (65%) e é
formada por meninos (61%).
Os grupos culturais e comunitários mais citados por esses respondentes foram o grupo
esportivo, religioso, seguido pelo cultural e, por último, o político, como evidência o grá-
fico a seguir:

Gráfico 58- Grupos que participam

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Para os/as que participam dos grupos esportivos, a grande maioria é de adolescentes do
sexo masculino (74,6%). Já os grupos culturais e religiosos é constituído na sua maioria
pelas meninas - 59% de meninas nos grupos culturais e 62% nos grupos religiosos.
VII- Sobre a relação entre trabalho e estudo
Em relação às suas atividades diárias desenvolvidas pelos adolescentes, podemos apontar
que poucos são aqueles que só estudam, conforme gráfico abaixo:

Gráfico 59 – Estudam e realizam alguma atividade no turno oposto

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Menos de 20% dos/as adolescentes entrevistados/as dedicam seu dia apenas para os
estudos. Mais da metade afirma que conciliam os estudados com a ajuda aos familiares
em casa (54,7%). Analisando esta questão à luz das relações sociais de gênero, observa-se
que do conjunto dos que afirmaram conciliar o estudo com a ajuda em casa, as estudantes
mulheres são a maioria, com 64%, já os adolescentes são minoria (36%). Esse percentual de 121
quase duas vezes de adolescentes que afirmaram ajudar em casa enquanto estudam, pode
informar a divisão sexual do trabalho. Ou seja, as meninas são aquelas que desde muito
cedo conciliam estudo com o trabalho reprodutivo não remunerado, fazeres domésticos
que são atribuídos historicamente às mulheres25.
Essa mesma tendência também é percebida entre aqueles/as que afirmaram estudar e tra-
balhar (recebendo alguma remuneração), sendo 76% dos respondentes do sexo feminino
reforçando a presença das mulheres nas atividades reprodutivas. A maioria que conciliam
estudo e trabalho remunerado estão na zona rural (57%).
Com vistas a compreender melhor essa relação “estudo e trabalho”, perguntou se os/as
adolescentes se desenvolvem com frequência algum tipo de trabalho no turno oposto ao
que estuda”. O percentual é expressivo daqueles que afirmaram sim, conforme gráfico a
seguir:

25 O trabalho reprodutivo, tomado aqui em seu sentido concreto, remete ao trabalho doméstico “que
ultrapassa amplamente as tarefas domésticas para incluir os cuidados corporais e afetivos com os filhos, o
seguimento de sua escolaridade e, mesmo, a produção física das crianças” (KERGOAT, 2018, p. 89). Trabalho,
invisível e desvalorizado, é não somente imposto às mulheres como tornado atributo natural da sua psique e
personalidade, como necessidade interna e aspiração inerentes à natureza feminina (FEDERICI, 2019)
Gráfico 60 - Desenvolve algum trabalho com frequência no turno em que não está na escola

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Os/as adolescentes da zona rural foram maioria (64%), sendo os meninos com maior pre-
valência (61%). Já para aqueles/as que afirmaram não realizar algum tipo de trabalho, as
meninas são maioria (58%) e os adolescentes mais novos - 61%.
Para os/as quase 40% de adolescentes que afirmaram desenvolver algum tipo de trabalho
com frequência, das questões apontadas no questionário, o percentual mais expressivo
identificado foi o trabalho na roça ajudando familiares, com quase 30%, conforme gráfico
122
a seguir. O percentual de adolescentes que afirmaram trabalhar no dia de feira (14,2%) e o
trabalho na casa de farinha (3,2%) parece expressar uma tendência de queda comparando
os dados do Censo (2010) que apontava percentuais expressivos de adolescentes traba-
lhando na casa de farinha e nas feiras livres de Irará.

Gráfico 61 - Que tipo de trabalho desenvolve

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

O trabalho na roça ajudando os familiares é majoritário entre os/as adolescentes estudan-


tes da zona rural (85%) e pelos meninos (66%). O mesmo acontece no trabalho em dias
de feira, em que a maioria de adolescentes é da zona rural (61%) e de meninos por (61%).
O trabalho na casa farinha é desenvolvido totalmente pelos adolescentes que residem na
zona rural e majoritariamente com meninos - 80%.
Para esses adolescentes que afirmam trabalhar e estudar, a grande maioria não quis infor-
mar o valor que recebe mensalmente, conforme evidencia o gráfico abaixo. Contudo, os
quase 20% dos que trabalham recebem até R$ 300,00 por mês.

Gráfico 62 - Quanto você recebe por seu trabalho durante um mês

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

Também buscamos saber se o grupo de adolescentes estudantes de Irará gostaria de


realizar algum curso de qualificação profissional no turno oposto ao escolar, dos 1.130
respondentes, 83,5% afirmaram que sim, conforme gráfico:

Gráfico 63 - Se gostaria de fazer algum curso de qualificação profissional

123

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

A maioria dos/das que desejam, residem na zona rural (62%) e um pouco mais da metade foi
constituída de meninas (53,1%). Já para o pequeno número que respondeu não desejar reali-
zar cursos, a maioria foi dos meninos (60%) e um pouco mais da metade da zona rural (52,4%).
A grande maioria dos adolescentes mais novos não querem curso profissional (73,3%).
Os/as adolescentes que externaram realizar cursos também sinalizaram qual(is) curso(os)
pretendiam fazer, se tivessem oportunidade. Ver o gráfico:
Gráfico 64 - Em qual área deseja o curso Profissional

Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria

As escolhas dos possíveis cursos também reiteram as relações sociais de gênero historica-
mente atribuídas. Os meninos foram aqueles que mais desejaram os cursos de informática/
robótica (58%) e na área Agropecuária / agroecologia (60,7%). Já as adolescentes foram aque-
las que mais assinalaram o curso de Escritório / administrativo (61%) e de cozinha (74,0%).

124
8. RECOMENDAÇÕES
O presente documento detalha o contexto de avanços e desafios em que as crianças e os
adolescentes de Irará estão inseridos constituindo-se, assim, como mais uma ferramenta
de informação para a elaboração e o planejamento das ações do município destinadas
à infância e juventude. Os achados encontrados nesta pesquisa podem contribuir para
a construção de políticas públicas mais eficientes, para a criação de metas e objetivos
norteadores da aplicação de recursos públicos, bem como expõem os avanços na oferta
de serviços, programas e projetos a essa prioritária parcela da população.
Nesse sentido, o objetivo dessa seção é contribuir com todas as pessoas que lidam coti-
dianamente com as crianças e adolescentes de Irará-Ba, destacadamente aquelas que
se ocupam na elaboração, implementação e avaliação das políticas públicas para/com
o público infanto-juvenil. As recomendações são oriundas das análises feitas ao longo de
toda pesquisa, resultante de um processo de triangulação de diferentes fontes - teóricas,
documentais e orais, priorizando sempre a criança e ao adolescente como protagonista
e sujeitos de direitos. Esse é o principal papel neste diagnóstico: criar diretrizes, um norte,
para que Irará se constituia enquanto um território protegido para as crianças e adolescen-
tes, sendo um espaço de promoção de direitos.
Assim sendo, recomendamos:

I. Recomendações gerais 125


1. Incluir as crianças e os adolescentes como protagonistas de todo o processo.
Escutá-las desde o planejamento à avalição de qualquer ação desenvolvida para/
com elas;
2. Sensibilizar, mobilizar e qualificar as OSCs que atuam com o público infantojuventil
para - compor a agenda de promoção da criança e do adolescente do município;
realizarem seu registro e inscrição no CMDCA e Conselho Municipal da Assistência;
e se capacitarem para garantir sustentabilidade nas ações desenvolvidas.
3. Incluir nas agendas, pautas e ações públicas e da sociedade civil as recomenda-
ções das escutas das crianças e dos adolescentes, realizadas nos grupos focais e
questionário aplicados aos estudantes de Irará;
4. Intensificar as ações de fortalecimento dos atores do SGD, de modo que as ações
desenvolvidas por eles sejam articuladas, qualificadas capazes promover ações
efetivas na promoção dos direitos das crianças e adolescentes;
5. Desenvolver um sistema de registro de dados municipais das ações e políticas
públicas desenvolvidas para as crianças e dos adolescentes, como uma forma de
registro, análise e avaliação do que está alcançando por meio delas;
6. Adotar o Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (SIPIA) como uma
forma de registro e tratamento de dados sobre a garantia e defesa dos direitos
Fundamentais preconizados no ECA. Vale destacar que esse é sistema que deve
ser usado por todos os atores que atuam do SGD, destacadamente os Conselheiros
Tutelares;
7. Criar um protocolo de registro de atendimentos à criança e ao adolescente no
município, garantindo informações de referência e contra referência, além da utili-
zação e alimentação de informações no SIPIA.
8. Promover e fortalecer as ações com a sociedade Civil, de modo que as mesmas
possam se qualificar para exercício de sua responsabilidade perante a as crianças
e adolescentes, como preconiza a constituição Federal, o ECA e demais marcos
legais vigentes no país para o público infanto-juveni;
9. Implementar o orçamento criança e adolescente em Irará. Somente com recursos
destinados nas peças e planejamentos orçamentários que se constroem ações
concretas, continuas e efetivas para esse público.
10. Construir o Plano Municipal da Infância e Adolescência.

II- Recomendações para efetivação dos direitos;

a) à Educação, Cultura, esporte e Lazer


1. Aumentar a quantidade de equipamentos/unidades escolares para a oferta dos
Anos Finais, a fim de evitar a superlotação das salas;
2. Ampliar o número de docentes que atuam nos anos finais do Ensino Fundamental,
126 através da realização de concurso público específico, garantindo a fixação de
docentes nos componentes curriculares nesta etapa educacional;
3. Realizar estudo acerca das altas taxas de reprovação nos Anos Finais do Ensino
Fundamental;
4. Instituir dispositivos e ações que ajudem na transição/passagem dos estudantes
dos anos iniciais para os anos finais do Ensino Fundamental, a fim de evitar/mini-
mizar os elevados índices de reprovação;
5. Expandir o investimento na infraestrutura de apoio ao ensino nas creches, pré-es-
cola e escolas, como a implantação de laboratórios, auditórios e seus equipamen-
tos e bibliotecas, aquisição de computadores e ampliação da rede de internet;
6. Investir na criação e aumento de espaços educativos que possuam acessibilidade/
recursos para a efetiva locomoção de crianças e adolescentes com deficiência
física ou mobilidade reduzida;
7. Equipar as escolas com recursos multifuncionais como piso tátil, mapa tátil, lousa
interativa e material didático na Língua Brasileira de Sinais (Libras) (dicionário, gramá-
tica), estimulando o aprendizado;
8. Ampliar a parceria com o Governo do Estado, aumentando a oferta do Ensino
Médio, principalmente na zona rural;
9. Tornar as escolas mais atrativas para os estudantes do Ensino Médio, em parceria
com o Governo do Estado, ampliando as perspectivas de empregabilidade, visto
que há uma redução significativa das matrículas, seja por falta de oferta, ou de
interesse;
10. Estabelecer projetos educativos multidisciplinares para prevenção ao uso de drogas;
11. Instituir na Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer um fluxo de ações que garantam
a realização de programas, projetos e demais iniciativas voltadas às crianças e aos
adolescentes, visando a manutenção das tradições de forma adequada e a amplia-
ção da formação cidadã;
12. Desenvolver ações culturais, esportivas e itinerantes, criando espaços em bairros
mais periféricos para as diversas manifestações culturais, fazendo o aproveitamento
dos espaços públicos, como praças, centros culturais e centros de convivência.
13. Induzir a efetiva participação/protagonismo de crianças e adolescentes nas festas
populares tradicionais;
14. Participar de editais de fomento à cultura, ao esporte e ao lazer voltados às crianças
e adolescentes;
15. Estabelecer parcerias entre as secretarias do próprio município para o desenvol-
vimento de ações educacionais articuladas, dado o caráter multifacetado que o
atendimento ao direito à educação, cultura, esporte e lazer exige;
16. Promover programas de formação continuada para os profissionais que atuam na
Educação Infantil, que sejam focados em metodologias pedagógicas atualizadas e
no desenvolvimento socioemocional das crianças, bem como respeito às necessi-
dades de interação e exploração dos ambientes; 127
17. Implementar políticas que visem aumentar o número de vagas nas creches muni-
cipais, garantindo um atendimento mais abrangente para crianças na faixa etária
da Educação Infantil; e
18. Investir na melhoria da infraestrutura das instituições de Educação Infantil, garan-
tindo ambientes seguros, lúdicos e propícios ao desenvolvimento integral das
crianças.

b) à vida e à saúde
1. Fortalecer as ações de Educação Permanente nas temáticas voltadas para crianças
e adolescentes, incluindo qualificações sobre as políticas e diretrizes voltadas a
esses públicos além de realização sobre temáticas relacionadas ao pré-natal, infec-
ções sexualmente transmissíveis, imunização, para o desenvolvimento de compe-
tências necessárias com vistas a prevenção, a identificação de sinais e sintomas de
violências e para o cuidado dessas situações;
2. Qualificar profissionais da Atenção Básica na estratégia “Atenção Integrada das
Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI)” para detecção precoce de doenças e
agravos que acometem essas populações vivendo em situação de vulnerabilidade
(principalmente diarreia e pneumonia), com o objetivo de contribuir para a redu-
ção da mortalidade infantil;
3. Fortalecer ações de gerenciamento de sistemas de informação utilizados pela
Secretaria Municipal de Saúde, utilizando espaços de compartilhamento de infor-
mações a partir das informações geradas nos serviços de saúde, para dar valor de
uso aos dados, bem como realizar a avaliação do cenário observado e construção
conjunta de planejamento de ações voltadas para potencializar os desempenhos
positivos e enfrentar os problemas observados;
4. Garantir atualização e educação permanente sobre os imunobiológicos;
5. Monitorar o avanço mensal das coberturas de cada vacina. O monitoramento
mensal das coberturas vacinais permite detectar oportunamente baixas cobertu-
ras, possibilitando a identificação de possíveis fatores responsáveis por essa situa-
ção, com o objetivo de adotar medidas para revertê-la;
6. Fomentar as ações de Vigilância em Saúde voltadas para a redução das infecções
sexualmente transmissíveis, incluindo a disponibilização de insumos necessários
à prevenção, diagnóstico e tratamento das infecções sexualmente transmissíveis;
7. Promover ações de educação permanente no âmbito da Vigilância em Saúde;
8. Promover estratégias para qualificação de profissionais no registro de dados que
alimentam os Sistemas de Informação em Saúde para viabilizar o adequado moni-
toramento dos indicadores de saúde e, consequentemente, o correto planeja-
mento das ações para a melhoria da qualidade de vida da população, em especial
de crianças e adolescentes;
9. Estimular o aleitamento materno até 2 anos ou mais, inclusive com o aleitamento
128 materno exclusivo nos primeiros 6 meses;
10. Intensificar as estratégias de vigilância alimentar e nutricional, com destaque para
a introdução da alimentação complementar, que terá impacto para todos os ciclos
de vida do indivíduo;
11. Garantir atenção pré-natal qualificada, incluindo a detecção de complicações ges-
tacionais, para que seja realizado referenciamento oportuno, e quando necessário
encaminhamento para serviço especializado e Atenção Hospitalar, respeito a diver-
sidades culturais, práticas e saberes no cuidado na gravidez, parto e nascimento;
12. Acompanhar o crescimento e o desenvolvimento de crianças, com registro ade-
quado na Caderneta, em relação ao peso, à altura, às vacinas, à suplementação de
ferro e vitamina A;
13. Acompanhar o crescimento e o desenvolvimento de adolescentes, com registro
adequado na Caderneta de Saúde do Adolescente;
14. Fortalecer e ampliar as ações realizadas para o público adolescente, com vistas a
garantir vinculação com os serviços de saúde e ponto estratégico de segurança
para esse público, enquanto indivíduos na sociedade;
15. Implementar as atividades educativas de promoção da saúde na escola, coerente
com a cultura local e a prevenção de violências;
16. Garantir a atenção humanizada e qualificada ao parto e ao recém-nascido no
momento do nascimento, com capacitação dos profissionais de enfermagem e
médicos;
17. Divulgar amplamente o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção
da Transmissão Vertical de HIV, Sífilis e Hepatites Virais nas unidades da rede básica
e maternidades;
18. Realizar atividades de educação permanente abordando o manejo da sífilis na
gestação, bem como a congênita e a vigilância epidemiológica desses agravos.
19. Organizar e qualificar os serviços especializados para atenção integral a crianças,
adolescentes e suas famílias em situação de violência sexual;
20. Implementar a “Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças,
Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violências”;
21. Realizar articulação de ações intrasetoriais e intersetoriais de prevenção de aciden-
tes, violências e promoção da cultura de paz;
22. Implementar protocolos, planos e outros compromissos sobre o enfrentamento às
violações de direitos de crianças e adolescentes pactuados com instituições gover-
namentais e não governamentais, que compõem o sistema de garantia de direitos;
23. Desenvolver ações intra e intersetoriais para o desenvolvimento integral de crian-
ças e adolescentes e a promoção da cultura de paz, visando ao empoderamento
e fortalecimento das competências familiares para bom vínculo afetivo e para
educação sem violência, e promover campanhas informativas e educativas sobre a
prevenção de violências contra crianças, adolescentes e estímulo à cultura de paz;
24. Fortalecer ações que busquem a inclusão de crianças e adolescentes com defi-
ciências, quilombolas, do campo e em situação de rua, entre outras, nos serviços
de atenção à saúde; 129
25. Implementar diretrizes para atenção integral à saúde de crianças e adolescentes
em situação de trabalho infantil;
26. Estabelecer espaços de diálogo entre equipes de referência, equipes matriciais e
gestores para a consolidação do matriciamento;
27. Fortalecer o trabalho para implementação da Política Nacional de Saúde Integral
dos integrantes da comunidade LGBTQIAP+;
28. Estabelecer diálogo e ações intersetoriais através do Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA); e
29. Implementar diretrizes para atenção integral à saúde de crianças na primeira infância.

c) à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade:


1. Fortalecimento e visibilidade do NUCA para garantir o direito de participação de
crianças e adolescentes nos espaços de discussão de assuntos que lhes dizem
respeito e interesse;
2. Construção do Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo e cadas-
tro do município no Sistema Nacional de Informações sobre o Atendimento
Socioeducativo, conforme preconiza o Art. 5º, inciso V do SINASE;
3. Criação de um protocolo de registros de atendimentos à criança e ao adolescente
no município, garantindo informações de referência e contra referência, além da
utilização e alimentação do SIPIA;
4. Garantir a acessibilidade em espaço públicos de convivência de crianças e adoles-
centes e aumento do número destes na Zona Rural;
5. Implantar mais serviços de acompanhamento terapêutico para crianças e adoles-
centes, inclusive os/as com deficiência;
6. Implementar a Lei Federal 13.431/2017 – Lei da Escuta Protegida; e
7. Promover ações de acompanhamento e deliberação de políticas públicas para
adolescentes que se autodeclaram LGBTQIAP+ no município.

d) à Conivência Familiar e Comunitária


1. Construir e implementar o Plano Municipal de Convivência Familiar e Comunitária.
2. Retornar o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos promovido pela
Proteção Social Básica da Assistência Social;
3. Verificar a possibilidade de estabelecer a parceria com OSC’s para promoção do
Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, da Proteção Social Básica
da Assistência Social, através de edital de chamamento público, como prevê o
MIROSC – Lei Federal 13.019 de 31 de julho de 2014; e
4. Implementar Programas de Acolhimento para crianças e adolescentes no muni-
cípio, dentro da proteção social especial de alta complexidade, e da Assistência
Social.

130 e) à Profissionalização e a Proteção no Trabalho


1. Intensificar ações de combate e prevenção ao trabalho Infantil;
2. Ampliar ações de contra turno escolar para as crianças e adolescentes no muni-
cípio, uma vez que a escola em tempo Integral é uma das ações mais eficazes de
prevenção ao trabalho infantil;
3. Desenvolver campanhas para adesão das empresas e poder público na participa-
ção do Programa de Aprendizagem;
4. Implementar cursos de qualificação socioprofissional para adolescentes a partir
das sugestões de cursos apontados por eles na subseção “VII - Sobre a relação
entre trabalho e estudo” neste diagnóstico;
5. Participação do município em fóruns e comitês estaduais como o FETIPA, FOBAP,
COMPETI, entre outros, visando discutir e receber orientações sobre o combate
e enfrentamento ao trabalho infantil e como implantar/implementar a Lei da
Aprendizagem.
6. Mapear e acompanhar os possíveis adolescentes contratados como aprendizes no
município, para cumprimento do que é estabelecido na Lei da Aprendizagem.
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