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SITUACIONAL
da Criança e do Adolescente
de Irará - Ba
IRARÁ -BA
2023
Prefeito
DERIVALDO PINTO CERQUEIRA
Vice-Prefeito
JOSIAS NUNES DE MELO
Secretário de Assistência
JOSIAS NUNES DE MELO
Presidente do CMDCA
LILIAN DA SILVA SANTOS
FICHA CATALOGRÁFICA
ISBN 978-65-982265-0-3
23-186755 CDD-362.70981
Índices para catálogo sistemático:
Análise Estatística
ANTONIEL PINHEIRO BARROS
Apoio Administrativo
LUIS PAULO GOMES
Projeto Gráfico
SIDNEY SILVA
SUMÁRIO
PREFÁCIO I..............................................................................................................................................9
PREFÁCIO II.......................................................................................................................................... 11
8. RECOMENDAÇÕES .....................................................................................................................125
9. REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................131
PREFÁCIO I
A defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes é uma questão central da gestão
municipal e, especialmente, da Secretaria da Assistência Social de Irará - BA. Contudo,
garantir o bem-estar, a proteção e o desenvolvimento saudável dessa parcela da popula-
ção é um compromisso que deve ser compartilhado por todos os setores da sociedade.
A proteção da infância e da adolescência deve ser uma responsabilidade compartilhada
entre o governo, a sociedade civil, as famílias e a comunidade em geral, como preconiza a
nossa constituição Federal (1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990).
Os marcos legais existentes para a criança e o adolescente asseguram todos os direitos
fundamentais necessários ao seu desenvolvimento pleno e integral. No entanto, apesar
dos avanços legislativos, o Brasil ainda enfrenta diversos desafios na área da defesa da
infância e da adolescência, e Irará não foge à regra.
Nessa direção, a garantia e a defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes de Irará-Ba
é uma causa que exige esforços contínuos e colaborativos de todos, e uma agenda pública
prioritária, que saia do plano das ideias e se transforme em ações concretas e efetivas.
Garantir e proteger os direitos desses segmentos é cuidar do presente e do futuro de
nossas crianças e adolescentes.
Com o intuito de garantir um território protegido, o município de Irará/BA, por meio da
Secretaria de Assistência Social, juntamente com o Conselho Municipal dos Direitos da 9
Criança e do Adolescente - CMDCA, com o apoio do Itaú Social, investiu esforços na cons-
trução da análise situacional das crianças e dos adolescentes, de modo a compreender
quem são elas, como vivem, quais são os desafios que vivenciam, o que desejam para si e
para o município, além de buscar compreender em que medida seus direitos fundamen-
tais básicos estão sendo garantidos.
Para compreender esse cenário, os esforços foram inúmeros e gigantescos, que envolveu,
para além do apoio técnico do parceiro implementador - a SOMOS+ Pesquisa, Formação
e Intervenção Social - um conjunto de atores da rede de promoção, proteção e defesa
dos direitos das crianças e dos adolescentes de Irará. Somos gratos a todos vocês por
contribuírem para/com todo esse processo.
O resultado de todo esse movimento está organizado neste documento, o qual detalha o
contexto de avanços e desafios em que nos encontramos perante esta temática, consti-
tuindo-se como mais uma ferramenta de informações para a elaboração e o planejamento
das ações do município, destinadas à infância e à adolescência. Esperamos que os achados
neste diagnóstico contribuam para a construção de políticas públicas mais eficientes, para
a criação de metas e objetivos norteadores para a aplicação de recursos públicos.
A
Constituição Federal de 1988 marca uma reorganização na formulação das polí-
ticas públicas no Brasil. Houve, a partir dela, uma conquista significativa dos
direitos sociais, colocando o Estado como responsável por eles, juntamente com
as Organizações Sociais. Foi gatantido a descentralização político-administra-
tiva; a participação da sociedade civil na formulação e no monitoramento das ações por
meio de organizações representativas; e a corresponsabilidade da família, do Estado e da
sociedade na garantia desses direitos, em especial para a crianças e adolescentes.
Em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, conforme previsto no artigo 86,
incorpora tais princípios, estabelecento que as políticas de atendimento a essa população
sejam realizadas por meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não
governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios.
O ECA estabelece as linhas de políticas de atendimento que tratam dos interesses fun- 13
damentais da criança e do adolescente. Também define um conjunto de ações que deixa
claro que o Poder Público tem o dever de planejar e implementar estratégias variadas,
visando a proteção integral infanto-juvenil (conforme o Artigo 1º do ECA), abrangendo
desde políticas sociais básicas até as políticas de proteção especial, compreendendo os
mais variados programas de atendimento.
Apesar do ECA estabelecer um conjunto de leis e ações necessários à proteção integral
das crianças e adolescentes, sua efetivação na prática enfrenta uma série de desafios - sua
implementação exige recursos, o que é fato, e a falta de recursos públicos tem sido apon-
tadacomo obstáculo a ser transposto.
No entanto, a não realização de ações promotoras de direitos pode não ser resultado
direto da escassez dos recursos, mas de uma escolha política acerca da alocação desses
recursos. Criança e adolescente devem ter prioridade absoluta (Artigo 227 da CF/88 e
Artigo 4 do ECA); pois, antes de serem o futuro do país, vivem o presente, que requer a
implementação de diversos direitos para que um futuro próspero não seja comprometido.
Se é verdade que os desafios são inúmeros e recursos são poucos para a efetiva garantia
de direitos, também é verdade que muitas das ações desenvolvidas para as crianças e
adolescentes são feitas de forma setorizadas e sem um diagnóstico qualificado que possa
informar quem são de fato as crianças e adolescentes, quais as suas condições de vida,
quais são as políticas construídas para/com eles e quais são as prioridades necessárias para
o enfrentamento dos problemas por eles vividos.
Como já sabemos, os recursos públicos são limitados, o que torna imprescindível a defi-
nição de critérios que orientem o sequenciamento de sua aplicação. Na ausência de
diagnósticos que orientem a hierarquização de prioridades, é possível que programas ou
projetos que já estão estruturados, ou que atendam públicos com menor grau de vul-
nerabilidade, sejam financiados em detrimento de outros mais urgentes, que atendam
públicos em situações de risco ou de violência mais graves, que operem em territórios
precariamente alcançados pela política de atendimento e precisem ser fortalecidos, ou
que sequer chegaram a ser implementados a despeito de sua urgência
Assim, para intervir efetivamente nesse quadro e consolidar uma política eficaz de pro-
teção em Irará-Ba, faz-se necessário a adoção de uma série de ações integradas e que se
comunicam entre si - uma essencial e primário nesse processo foi o Diagnóstico Situacional
das crianças e adolescentes.
14
2. O DIAGNÓSTICO SITUACIONAL:
POR QUE CONHECER AS CRIANÇAS E
OS/AS ADOLESCENTES DE IRARÁ?
Se podes olhar, vê. E se podes ver, repara.
(José Saramago)
A
construção do Diagnóstico da Infância e Adolescência de Irará se inscreve
em uma diretriz nacional determinada pelo Conselho Nacional dos Direitos
da Criança e do Adolescente (CONANDA), que preconiza que os municípios
estabeleçam uma avaliação sistemática da situação da infância e adolescência,
visando aproximar o Poder Público Municipal e a Sociedade da realidade das crianças e
adolescentes, para assim poder elaborar e estabelecer ações e Políticas Públicas de modo
mais organizado e fundamentado nas reais necessidades, além de ter uma atuação plane-
jada a curto, médio e longo prazo.
O Diagnóstico da Infância e Adolescência de Irará é uma das ações do projeto em parceria
com o Itaú Social- “Território protegido: Diagnosticando a situação da criança e do adoles-
15
cente, formando agentes do SGD e empoderando famílias quilombolas para promoção
da vida e da saúde em Irará-Ba”. Ele é coordenado pelo Conselho Municipal da Criança
e Adolescente (CMDCA) e pela Secretaria de Assistência Social, cujo objetivo é ser um
marco zero nas avaliações das políticas para infância e adolescência, diagnosticando as
fortalezas e os desafios enfrentados nesse âmbito, e estabelecendo diretrizes e reflexões
para o desenvolvimento de ações articuladas e efetivas. Considera-se esse documento
como sendo um ponto de partida, na medida em que possibilita a avaliação e o monito-
ramento dos dados apresentados, permitindo o acompanhamento periódico dos dados
relacionados às crianças e adolescentes
Ao desvelar a realidade local, o diagnóstico criança-adolescente do município é um instru-
mental fundamental para subsidiar ações diversificadas que objetivam o fortalecimento
do Sistema de Garantia dos Direitos da população entre 0 e 18 anos incompletos, ao
mesmo tempo em que fortalece a implementação e redirecionamentos necessários de
políticas, programas e projetos que garantam a efetivação dos direitos das crianças e dos
adolescentes.
Para a concretização da garantia dos direitos desse segmento etário é importante que o
município conheça as condições de vida de suas crianças e de seus adolescentes, para que,
a partir dos ditames preconizados pela Constituição Federal brasileira, pela Convenção dos
Direitos da Criança da qual o Brasil é signatário e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente,
os segmentos responsáveis possam elencar e priorizar planos de ações que alcancem as
efetividades, as eficiências e as eficácias necessárias por meio de programas e políticas;
bem como direcionar a utilização de recursos de forma eficiente.
Assim, o diagnóstico municipal criança e adolescente permitirá que a gestão municipal de
Irará, as Organizações da Sociedade Civil (OSC) e, principalmente, o Conselho Municipal
dos Direitos da Criança e do Adolescente, de acordo com as suas atribuições legais, com
melhor precisão, poderão especialmente:
A
realização do diagnóstico municipal de Irará criou oportunidade de diálogo
e fortalecimento de vínculos de cooperação entre o Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), os conselhos setoriais, os demais
agentes do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA)
e a rede local de serviços e programas.
Por um lado, os diversos agentes do sistema que operam serviços, programas e projetos
de atendimento de crianças e adolescentes, associações de bairro e outras instituições e
movimentos sociais – foram importantes fontes de informação sobre a realidade local.
Além de fornecer informações relevantes para o diagnóstico, esses agentes puderam
participar da discussão sobre as necessidades locais, oferecendo contribuições para a
formulação das questões a serem investigadas no diagnóstico situacional das crianças e
adolescentes, bem como participando das entrevistas individuais e grupais, na condição
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de informantes estratégicos do processo.
Para além desse atores supracitados, cabe destacar também a importância da participação
de crianças e adolescentes no processo de diagnóstico municipal. A escuta desses atores
concretiza o direito à participação, de dar voz aos beneficiários principais das políticas
públicas, favorecendo a aprendizagem da participação e o protagonismo em sua formula-
ção. A inclusão desses sujeitos também diolaga com o Objetivo Estratégico 6.1 da Política
Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, do
Conanda que inclui - Promover o protagonismo e a participação de crianças e adolescen-
tes nos espaços de convivência e de construção da cidadania, inclusive nos processos de
formulação, deliberação, monitoramento e avaliação das políticas públicas.
“A participação de crianças e adolescentes durante todo o processo de
implementação da Política e do Plano não pode ser esquecida. Desenvolver
um ambiente democrático, sem manipulação, que contribua para o
desenvolvimento pessoal e social da criança e do adolescente favorece a
formação para a sua autonomia, autoconfiança e autodeterminação, consi-
derando que, nesta fase da vida, eles estão especialmente empenhados na
construção da sua identidade pessoal e social. Trata-se de desencadear um
processo que proporcione o amadurecimento do conceito e da prática da
cidadania na vida de crianças e adolescentes do Brasil”1
1 Brasil. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). Documento básico.
Conceituação e operacionalização para realização da 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente. Brasília: Conanda, sem data
3.1 A METODOLOGIA
2 É comum que os municípios registrem informações sobre a situação das crianças e dos adolescentes com
a finalidade principal de remetê-las aos órgãos federais, tendo em vista a busca de cofinanciamentos. Não
há dúvida que isto é importante. Porém, em muitos casos as informações repassadas não são plenamente
utilizadas em nível local para o planejamento de serviços e programas.
3 Essa etapa houve pouca adesão dos representantes das OSC para responder o questionário.
porventura, ainda não tenham seus programas de atendimento inscritos no
Conselho Municipal. Foram feitas ligações para as organizações comparece-
ram ao CMDCA, para responder ao instrumento de pesquisa, mas somente 3
foram responder ao questionário.
5. Aplicação de questionário aos adolescentes estudantes da rede pública e
privada de Irará-Ba. Com o objetivo de conhecer o perfil sociodemográfico,
anseios, dilemas, demandas e, sobretudo identificar de que modo os direitos
fundamentais estão sendo garantidos ou não aos estudantes adolescentes
de Irará, foi aplicado um questionário, para esse público. A aplicação do ques-
tionário foi por meio de leitura de Qrcode, eletronicamente, sem interferência
de nenhum adulto. Ao longo dos meses de julho a setembro de 2023, 1.130
adolescentes da rede pública e privada, da zona rural e urbana responderam o
instrumento, no período.
O resultado de todo o material coletado, sistematizado e analisado em todas as etapas e
processos acima descritos, está organizado em 8 seções. A organização dos resultados foi
feita e analisada conforme os cinco níveis de proteção previstos no Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), a saber:
A opção por organizar boa parte do Diagnóstico a partir dos direitos fundamentais estabe-
lecidos do ECA justifica-se pela centralidade do Estatuto no âmbito das Políticas Públicas
para a infância e adolescência. Para cada um dos cinco eixos foram selecionados dados
e indicadores que em sua totalidade compõem um panorama situacional das crianças e
adolescentes de Irará. Os indicadores e dados foram selecionados a partir de sua relevân-
cia e também pela possibilidade de monitoramento periódico, de modo a acompanhar a
evolução do município em cada eixo.
4. QUANTOS SÃO E QUEM SÃO AS
CRIANÇAS E OS ADOLESCENTES DE
IRARÁ - BA
O município de Irará, segundo os dados do Censo Demográfico, representa a composição
populacional majoritariamente de pessoas negras4 (91,0 % da população, Censo 2010). Com
a mais recente informação censitária, a população passou de 26.277 residentes em 2010 para
28.043 residentes em 2022, incremento de 6,7%, segundo o Censo Demográfico 2022.
Desta população, cerca de um quarto (24,7%) da população é composta por crianças e
adolescentes (Censo, 2022). Por mais que a população apresente incrementos popula-
cionais, observa-se uma sistemática redução no segmento de crianças e adolescentes,
variando de 43,4% em 2000 para 24,7% em 2022, quando comparado às informações
censitárias anteriores, conforme gráfico abaixo.
21
Assim, em 2022, o município de Irará tem uma população infanto-juvenil (de 0 a 17 anos)
de 6.939 pessoas, o que representa 24,7% da população total. Em relação ao genêro, a
população infanto-juvenil de Irará é equilibrada, com 52,2% masculino e 47,8% feminino.
Ainda sobre a população infanto-juvenil de Irará, 8,5% está na primeira infância (0 a 6
anos), 6,9% está na segunda infância (7 a 11 anos) e 9,4% está na adolescência (12 a 17
anos, conforme Gráfico 2.
22
Nas últimas duas décadas (2000-2022), Irará também apresentou redução de nascimentos,
de 409 nascimentos, em 2000 para 244 em 2022, uma redução de mais da metade dos
nascimentos (59,7%, ver tabela 02). Este evento também é refletido na taxa de natali-
dade (por mil habitantes) do município que, já em 2012 aproximava-se da Bahia (14,0%
Irará; 14,7% Bahia), e em 2022 afastando-se para 8,7% em 2022 (12,4% Bahia).
Em contrapartida, os óbitos deste Município vêm incrementando-se, de 167 óbitos em
2000 para 280 em 2022, o que representou incremento nos óbitos de 67,7% superior,
sendo que este aumento se deve à população com 18 anos ou mais, Tabela 2.
Tabela 2: Nascimentos e óbitos de Irará – 2000, 2010 e 2022.
2000 2010 2022
Nascimentos 409 404 244
Óbitos 167 219 280
0 a 17 anos 8 1 1
18 e + 159 218 279
Fonte: SESAB – TABNET - SIM e SINASC - 2000,2010 e 2022;
Elaboração Própria
Gráfico 3 – População em extrema pobreza por faixa etária (pessoas) – Irará - 2010
Você
Focalizando a análise em indicadores de vulnerabilidade social das crianças e adolescentes, 25 Até
segundo as estatísticas presentes no “Observatório do Trabalho Decente nos Municípios Men
Brasileiros da OIT”, Irará chama para a necessidade de atenção ao público infantil. De os (a
acordo com os dados, em 2010, Irará possuía 1.379 crianças e adolescentes ocupadas com tono
idades entre 10 e 17 anos, este valor corresponde a um Nível de Ocupação de 29,8%, mais pala
que o dobro do observado quando se compara com as médias estadual e nacional, 13,5
e 12,4%, respectivamente. Ao detalhar as informações, percebe-se a criticidade do estado Am
municipal, que detinha o contingente de 402 crianças e adolescentes de 10 a 13 anos Gera
ocupadas em situação de trabalho a ser abolido, ficando na 30° ocupação em relação aos pelo
demais municípios baianos e 458° dentre os brasileiros. É importante frisar que nesta faixa
lesce
direi
etária o trabalho infantil é terminantemente proibido por lei. Para o mesmo ano haviam
traz
978 adolescentes ocupados fora da condição de aprendiz, sendo 440 com idades entre 14
até e
a 15 anos e 538 com 16 a 17 anos. Analisando apenas o trabalho doméstico de crianças e
Men
adolescentes entre 10 e 17 anos, Irará detinha 39 pessoas nessa faixa etária.
Diante dos dados apresentados sobre a infância e adolescência no município, principal-
mente quando se analisa os dados sociais, educacionais e de saúde, se faz necessária um
olhar mais analítico sobre esses e outros pontos a partir de indicadores específicos, sobre-
tudo à luz dos direitos fundamentais que são estabelecidos no ECA. Desse modo, a seção
a seguir objetiva explorar mais esses aspetos, com vistas a contribuir com uma melhor
cartografia da infância e da adolescência em Irará.
26
5. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS
PARA QUE AS CRIANÇAS E OS
ADOLESCENTES SE DESENVOLVAM
INTEGRALMENTE: A SITUAÇÃO EM
IRARÁ - BA
5.1 O DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE
E AO LAZER
O
s fundamentos para a garantia dos direitos essenciais da criança e do(a) ado-
lescente, enquanto pessoa humana, se assentam na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 1948, sendo fortalecidos por
sucessivos documentos legais, como a Declaração Universal dos Direitos da
Criança e do Adolescente (1959), a Constituição da República Federativa do Brasil (1988),
a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (1989), e de outros 27
documentos de igual importância que subsidiaram o advento do Estatuto da Criança e do
Adolescente (1990).
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é o conjunto de normas do ordenamento
jurídico que tem como objetivo a proteção dos direitos da criança e do adolescente. É o
marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes. O Estatuto
reconhece, em seu artigo 3º que a criança e o adolescente gozam de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, e assegura todas as oportunidades e facilida-
des, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e de dignidade.
Para tanto, estabelece competências tornando dever da família, da comunidade, da
sociedade em geral e do poder público, assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária (artigo 4º).
O Título II, que trata dos Direitos Fundamentais, está dividido em cinco capítulos, dentre
eles, o quarto, que versa sobre o Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, con-
templados nos artigos que vão do 53 ao 59. Em todos eles há uma centralidade em tomar
crianças e adolescentes como sujeitos de direito.
Portanto, há nesses artigos o reconheci- Você sabia?
mento de que a criança e o adolescente Até o início da década de 1990, no Brasil,
têm direito à educação, visando ao estava em vigor a Lei 6.697/1979 ou “Código
pleno desenvolvimento de sua pessoa, de Menores” – responsável por disseminar
preparo para o exercício da cidadania e o termo “de menor”. O Código encarava as
qualificação para o trabalho, assegura- crianças e os (as) adolescentes como objetos
dos através de garantias, dentre as quais de intervenção do Estado e dos pais, garan-
destacam-se: igualdade de condições tindo mínima autonomia a elas. Tratava-se de
para o acesso e permanência na escola; uma visão adultocêntrica, em que o adulto
bem como acesso à escola pública e tinha sempre a última palavra na hora de
dizer o que era melhor para essa criança.
gratuita, próxima de sua residência,
garantindo-se vagas no mesmo esta- A mudança surgiu com a Convenção sobre os
belecimento a irmãos que frequentem Direitos da Criança, adotada pela Assembleia
Geral da Organização das Nações Unidas
a mesma etapa ou ciclo de ensino da
(ONU), em 20 de novembro de 1989, e ratifi-
educação básica. Além disso, determina
cada pelo Brasil em 24 de setembro de 1990
que é direito dos pais ou responsáveis
pela Lei 8.069/1990, o Estatuto da Criança
ter ciência do processo pedagógico, e do Adolescente, ou simplesmente ECA.
bem como participar da definição das A partir daí crianças e adolescentes passam a
propostas educacionais. ser sujeitos de direitos e precisam ser ouvidas
Outro direito estabelecido pelo ECA e respeitadas em suas decisões. A expressão
28 está previsto no artigo 53-A, o qual “sujeito de direito” traz o direito para a cen-
determina que é dever da instituição de tralidade da discussão, contrapondo-se à
ensino, clubes e agremiações recreati- ideia do dever como centro, até então muito
vas e de estabelecimentos congêneres evidente no Código de Menores”. A própria
virada gramatical de Código de Menores
assegurar medidas de conscientização,
para Estatuto da Criança e Adolescente rei-
prevenção e enfrentamento ao uso ou
tera e induz a compreensão da centralidade
dependência de drogas ilícitas.
dessa expressão.
O artigo 54 prevê os deveres que o
Estado deve assegurar à criança e ao adolescente, dentre os quais ressalta-se: ensino
fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na
idade própria; atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, prefe-
rencialmente na rede regular de ensino; atendimento em creche e pré-escola às crianças
de zero a cinco anos de idade; oferta de ensino noturno regular, adequado às condições
do adolescente trabalhador; e atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
Assim como o artigo 54 prevê os deveres do Estado, o artigo 55 versa sobre a obrigatoriedade
dos pais ou responsáveis, que é de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
O artigo 56 efetiva a garantia dos direitos fundamentais aqui estabelecidos, ao determi-
nar que os dirigentes de estabelecimentos de Ensino Fundamental devem comunicar
ao Conselho Tutelar os casos de: maus-tratos envolvendo seus estudantes; reiteração de
faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; e os elevados
níveis de repetência.
O artigo 57 prevê que o poder público estimulará pesquisas, experiências e novas propos-
tas relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas
à inserção de crianças e adolescentes excluídos do Ensino Fundamental obrigatório.
Não obstante, o artigo 58 indica que, no processo educacional serão respeitados os valo-
res culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente,
garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura.
O capítulo encerra-se com o artigo 59, o qual designa que os municípios, com apoio dos
estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para pro-
gramações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude.
Sobre a Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, essa é dividida em dois
momentos, creche (de 0 a 3 anos) e pré-escola (de 4 a 5 anos). A pré-escola, a partir de
2009 (Constituição Federal (EC nº 59, de 2009), art. 208, inciso I.), passou a ser obrigatória
como medida para que as crianças brasileiras participem ao menos dos dois anos finais
da Educação Infantil. Devido a sua grande importância, a Educação Infantil é o tema da
Meta 1 do Plano Nacional de Educação (PNE) que determina; universalizar, até 2016, a
Educação Infantil na pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos de idade e ampliar a oferta
de Educação Infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por
cento) das crianças de até 3 anos até o final da vigência deste PNE (2024).
Nesse sentido, o direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer precisa ser garantido 29
por todos os agentes públicos e privados, para preparar crianças e adolescentes para o
exercício da cidadania, garantindo o seu pleno desenvolvimento.
I sobre as etapas:
a) Educação Infantil;
b) Ensino Fundamental
c) Ensino Médio,
II Sobre as modalidades:
a) Educação especial;
b) Educação de jovens e adultos;
c) Educação profissional;
30
d) Educação indígena;
e) Educação do campo.
5 Seria interessante fazer essa análise considerando a população rural e urbana, mas esse dado ainda não foi
divulgado no censo 2022.
Diante do artigo 54 do ECA, que garante o acesso ao Ensino Fundamental, obrigatório e
gratuito, e da Meta 1 do PNE, que trata da universalização na pré-escola e ampliação da
oferta em creches (no mínimo 50%), faz-se necessário analisar o percentual da população
em idade escolar que está matriculada em cada etapa de ensino.
A Tabela 4 traz o percentual da população em idade escolar matriculada em cada etapa
no Brasil, Bahia e Irará, calculado a partir da população em idade adequada para cada
etapa de ensino em relação à quantidade de matrículas na respectiva etapa.
31
Calculo próprio: quantidade de matriculas / população
Elaboração própria
Observando a Tabela 4, é possível perceber que diferente do Brasil e da Bahia, Irará atende
mais de 50% das crianças em idade de creche (Meta 1 do PNE). Quanto à pré-escola, o
percentual da população em idade escolar matriculada é proporcional entre Brasil, Bahia
mudar esse dado e substituir a tabela acima
e Irará, ficando acima de 90% (próximo a universalização proposta na Meta 1 do PNE). O
percentual da população em idade escolar matriculada no Ensino Fundamental é acima
de 100% tanto para o Brasil, Bahia e Irará, diante da distorção idade-série provocada pelas
taxas de reprovação e abandono - o que impacta também nos percentuais da popula-
ção em idade escolar matriculada no Ensino Médio. Com foco em Irará, percebe-se que
a distorção idade-série é mais acentuada do que no Brasil e na Bahia, alcançando 117%
da população em idade escolar matriculada no Ensino Fundamental e apenas 57% da
população em idade escolar matriculada no Ensino Médio.
Além de prover a educação formativa e cidadã, a escola também tem a função, conforme
propõe o artigo 56, de comunicar ao Conselho Tutelar os casos de maus-tratos envol-
vendo seus estudantes, reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os
recursos escolares e elevados níveis de repetência. A Tabela 5 apresenta uma série histórica
de 2018 a 2022 acerca do comportamento discente, no que se refere à repetência e aban-
dono escolar. Na Tabela 5 é possível observar uma tendência de aumento no abandono
em Irará que alcançou a marca de 370 em 2021.
Tabela 5 – Reprovação e abandono escolar em Irará, Bahia
ANO REPROVAÇÃO ABANDONO
2018 849 207
2019 995 210
2020 0 237
2021 0 370
2022 947 254
Fonte: INEP, Taxas de Rendimento Escolar.
Elaboração própria
É preciso observar que nos anos de 2020 e 2021 não existem dados de reprovação, em
razão da paralisação parcial ou total das atividades, em consequência da pandemia cau-
sada pelo Covid-19. Então, observando os dados de 2018, 2019 e 2022, as taxas apresen-
tam similaridade, à exceção da reprovação no ensino médio em 2022, que dobrou.
Tabela 07 – Taxas de abandono por etapa de ensino em Irará, Bahia
ANO ANOS INICIAIS ANOS FINAIS ENSINO MÉDIO
2018 1,2% 3,8% 9,9%
2019 1,2% 4,6% 9,1%
2020 1,9% 0,1% 1,3%
2021 2,8% 7,8% 19,3%
2022 0,8% 5,3% 12,3%
Tabela 08 – Total de matrículas no município de Irará, Bahia, em 2022, por etapa de ensino e
dependência administrativa
Ainda sobre as matrículas no município, os dados do INEP apontam que, em 2022, foram
realizadas 198 matrículas de estudantes que possuem algum tipo de deficiência ou
33
transtorno de aprendizagem, sendo este o maior quantitativo alcançado dentro da série
histórica de 2012 a 2022, conforme Tabela 09. Vale ressaltar que a distribuição dessas
matrículas nas zonas está bem equilibrada, sendo que 47,5% delas foram realizadas na
zona rural e 52,5% na zona urbana.
Tabela 10 – Docentes por escola, Estudantes por escola e Estudantes por Docentes
MATRÍCULA POR
MARTÍCULA POR DOCENTE
ESTABELECIMENTO
Brasil 266 20
Bahia 216 22
Irará 234 20
Fonte: Censo da Educação Básica, INEP, 2022
Fonte: Elaboração própria
6 Média de matrículas por docente = total de matrículas (Tabela 3) / total de docentes. Creche: 675/73 = 9,3.
Pré-escola: 672 / 42 = 16.
ETAPAS E MODALIDADES
ESCOLA DEPENDENCIA LOCAL
DE ENSINO OFERECIDAS
Escola Municipal Santo Creche, Pr- escola e Anos
Municipal Rural
Antônio de Pádua Iniciais
Escola Municipal Amaro Bispo Creche, Pré-escola, Anos
Municipal Rural
dos Santos Iniciais, Anos Finais e EJA
Escola Municipal Antonieta
Municipal Urbana Anos Iniciais e EJA
Antônia de Freitas
Escola Municipal Maria
Municipal Rural Anos Finais e EJA
Bacelar
Anos Iniciais, Anos Finais
Escola Municipal Irarazinho Municipal Urbana
e EJA
Escola Municipal Jorge Creche, Pré-escola, Anos
Municipal Rural
Martins da Silva Iniciais e EJA
Creche, Pré-escola e Anos
Escola Municipal São João Municipal Rural
iniciais
Escola Municipal São Jorge Municipal Rural Anos Iniciais e Anos Finais
Escola Municipal Mario
Municipal Rural Anos Finais e EJA
Campos Martins
Escola Municipal Profª Alzira
Municipal Urbana Anos Iniciais
36 Martins Dantas de Oliveira
Escola Municipal São Judas
Municipal Urbana Anos Finais e EJA
Tadeu
Creche Municipal Elysio
Municipal Urbana Creche
Santanna
Escola Municipal Allan Kardec Municipal Urbana Pré-escola e Anos iniciais
Escola Municipal Prof Antonio Pré-escola, Anos Iniciais
Municipal Urbana
José Ferreira de Souza e EJA
Creche Municipal Profª Maria
Municipal Urbana Creche
Eulália Freitas dos Santos
Creche Municipal Julieta
Municipal Rural Creche
Miranda Campos
Creche Municipal Profª
Municipal Urbana Creche
Ednalva Sueli da Silva Santos
Fonte: INEP, Microdados do Censo Escolar da Educação Básica 2022.
Elaboração própria
Para um melhor entendimento, o gráfico 6 apresenta o resumo da distribuição das unida-
des escolares públicas, por etapa, modalidade e localização.
A maior parte das escolas tem área verde (59%) e 17% das escolas têm quadras polies-
portivas. De acordo com os dados do INEP, poucas escolas possuem auditório (7%) e 28%
possuem bibliotecas. Sobre laboratórios, identificou-se que apenas 7% das escolas os
possuem. Sobre acesso à tecnologia, 10% das escolas disponibilizam computadores para
estudantes, enquanto que em 93% das escolas, a internet está disponível. Registre-se que
apenas 14% das escolas possuem refeitório.
Sobre acessibilidade, foram observadas que 10% das escolas desfrutam de sala de aten-
dimento especializado, 41% possuem banheiros adaptados, 52% possuem rampas de
acesso e 28% tem salas adaptadas.
Observando os dados das unidades escolares acerca dos profissionais, constatou-se que
365 profissionais são contratados para diversas atividades pedagógicas e 655 profissionais
se ocupam estritamente das atividades docentes, conforme Tabelas 12 e 13, a seguir.
Esses profissionais atendem 6.912 crianças e adolescentes nas creches, pré-escolas e esco-
las do município.
PROFISSIONAIS QUANTIDADE
Administrativos 57
Serviços Gerais 139
Bibliotecário 10
Coordenador 3
Nutricionista 5
Merendeira 61
Pedagogo 29
Secretário 2
Segurança 24
Gestor 35
TOTAL 365
Através da Tabela 12, observa-se que mais de um terço dos profissionais da área educa-
cional em Irará é do serviço geral, 16,7% são merendeiras e 15,6% são do administrativo.
39
Tabela 13– Professores por etapa e modalidade de educação em Irará, Bahia
PROFISSIONAIS QUANTIDADE
Ensino Infantil – Creche 70
Ensino Infantil – Pré-escola 35
Ensino Fundamental – Anos Iniciais 211
Ensino Fundamental – Anos Finais 77
Ensino Médio 142
Educação Profissional 44
EJA 76
TOTAL 655
Segundo a Tabela 13, os anos iniciais do Ensino Fundamental é a etapa que possui mais
docentes em Irará, em contrapartida, a pré-escola é a que possui menos docentes. O
Ensino Médio possui cerca de 22% dos docentes do município e os anos finais do Ensino
Fundamental, quase 12%.
A Tabela 14 ocupa-se em destacar, comparativamente, a estrutura da educação fundamen-
tal, observando quantidade de escolas, docentes e matrículas nos anos iniciais e anos finais.
Tabela 14 – Estrutura Anos Iniciais e Anos Finais na Rede Pública em Irará, Bahia
QUANTIDADE DE QUANTIDADE DE QUANTIDADE DE
ETAPAS
ESCOLAS DOCENTES MATRÍCULAS
Anos Iniciais 20 211 1.791
Anos Finais 7 77 1.791
Fonte: INEP, Microdados do Censo Escolar da Educação Básica 2022.
Elaboração própria
Os dados estatísticos ora apresentados revelam algumas percepções, que serão afirmados
ou complementados, a partir da análise das informações trazidas na série de entrevistas
realizadas com pessoas do município, que segue na próxima seção.
43
7 Nas Unidades satélites são realizados atendimentos médicos - de forma semanal, odontológicos e de
enfermagem, procedimentos odontológicos, curativos, vacinas e medicações.
Quadro 2 – Distribuição das Unidades de Saúde do município de Irará, Bahia, 2023.
Nível
Unidade de Saúde Serviços ofertados
Atenção
10 Unidades Básicas de Saúde
Unidade de Saúde da Família de Boca
de Várzea
Unidade de Saúde da Família Mãe
Melania dos Reis
USF Adalberto Goncalves Pinto
Cada unidade com atendimento
USF Celina Maria Santos integral com 1 equipe de saúde
Primário
USF de Bento Simoes família (eSF) e odontológico com
USF Dr Gilberto Batista de Freitas 1 equipe de saúde bucal (eSB)
USF Dra. Jocelina Silva Gomes
USF João Falcão de Albuquerque
Brasileiro
USF Jose Severino de Jesus
USF Matilde Madalena de Jesus
02 Unidades Básicas de Saúde
- Satélite Atendimento com técnico de 49
Posto de Saúde Claudia Romana dos Primário enfermagem e atendimento médico
Santos semanal
Posto de Saúde da Boa Vista
Atende pessoas que apresentam
prioritariamente intenso sofrimento
psíquico decorrente de transtornos
mentais graves e persistentes,
Caps I Luiz Jorge de Jesus Zico Secundário incluindo aqueles relacionados ao
uso de substâncias psicoativas, e
outras situações clínicas que impos-
sibilitem estabelecer laços sociais e
realizar projetos de vida.
Oferta consultas e exames
Centro de Reabilitação de Irará Secundário
especializados.
Laboratório Municipal Secundário Realiza exames laboratoriais.
Nível
Unidade de Saúde Serviços ofertados
Atenção
Oferta acompanhamento às lesões
realizando curativos com equipa-
Ambulatório de Lesões Secundário mentos especiais, encaminhamento
na rede para equipe multi e realiza-
ção de exames
Realiza tanto internamentos
nas clínicas médica, pediátrica e
Hospital Maternidade Dr. Deraldo obstétrica como pequenas cirurgias.
Terciário
Miranda. Nesse equipamento também são
realizados procedimentos diagnósti-
cos e terapêuticos.
SAMU 192 Secundário Serviço de atendimento de urgência
Oferta serviço na moradia do
paciente com ações de promoção à
Equipe Multiprofissional de Atenção
saúde, prevenção e tratamento de
Domiciliar (EMAD) e Equipe Secundário
doenças e reabilitação, com garantia
Multiprofissional de Apoio (EMAP)
da continuidade do cuidado e inte-
grada à Rede de Atenção à Saúde.
50
Fonte: CNES, 2023
Elaboração própria
Assim, a atenção à saúde das crianças e adolescentes abrange uma ampla gama de ser-
viços, que vão desde a APS, como consultas de rotina e vacinações, até serviços de saúde
especializados para tratar condições específicas. Além disso, os serviços de urgência e
emergência desempenham um papel fundamental na garantia de cuidados imediatos
quando necessário. E todos esses serviços desenvolvem algumas das ações voltadas para
aspectos centrais na saúde de crianças e adolescentes, tais como: vacinação, prevenção
da gravidez na adolescência, atenção pré-natal, prevenção de violência e promoção de
cultura de paz, prevenção da obesidade infantil, atenção à saúde mental, dentre outros.
No município de Irará, as ações organizadas à saúde de crianças e adolescentes imple-
mentadas pelo nível central reverberam no processo de trabalho das Unidades de Saúde,
haja vista que 100% dos estabelecimentos com representantes nas entrevistas realizadas
para elaboração do diagnóstico relataram o desenvolvimento de tais ações.
Na análise, verificou-se além da realização de acolhimento de crianças e adolescentes nas
unidades de saúde, o desenvolvimento das seguintes atividades, serviços e programas:
puericultura
puericultura; atualização do calendário vacinal; Programa Saúde na Escola; Estratégia de
Prevenção e Atenção à Obesidade Infantil (PROTEJA); consulta odontológica, incluindo
escovação supervisionada; cultura da paz; educação permanente em saúde; pré-natal com
amor e responsabilidade; primeira consulta do recém-nascido; triagem de peso e altura;
consulta médica e de enfermagem; planejamento familiar; atendimento em psiquiatria,
ações de vigilância, incluindo dengue, zyka e chikungunya; levantamento de vulnerabi-
lidades, dentre outros. O desenvolvimento dessas ações pode reduzir as hospitalizações
pelas principais causas de internações por condições sensíveis à saúde (COSTA et al. 2017;
PEDRAZA; ARAÚJO, 2017)
Além das ações desenvolvidas pela Unidade de Saúde no município, observou-se a dispo-
nibilidade de outros equipamentos no território, que atende as crianças e aos adolescen-
tes, quando esses atendem a um conjunto de critérios, a exemplo da AABB (Associação
Atlética do Banco do Brasil).
Com relação à saúde da criança, a totalidade dos entrevistados se referiram sobre a exis-
tência de fluxo para realização da triagem Auditiva Neonatal Universal (Teste da Orelhinha),
avaliação do Reflexo Vermelho (Teste do Olhinho) e triagem para cardiopatias congênitas
críticas (Coraçãozinho). A oferta desses serviços se dá por meio da lista única, da regulação
municipal, com encaminhamento à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae)
do município de Feira de Santana ou na maternidade, sendo apenas o teste do pezinho
realizado nas unidades de saúde do município. Na análise observou-se dificuldade na
realização dos testes da orelhinha e coraçãozinho, que são fundamentais na saúde da
criança que tende a realizar detecção precoce de alterações no sistema ocular, auditivo
ou cardíaco, possibilitando diagnóstico e tratamento precoce, evitando evolução severa.
(JCIH, 2019; Aguiar et al. 2007; SBTEIM, 2022)
51
Uma outra importante ação se refere à busca ativa que é um conjunto de ações de vigilân-
cia no território, que visa à identificação precoce de casos suspeitos e uma rápida resposta
para aplicação de medidas de controle (BRASIL, 2017b). No município, as ações de busca
ativa para crianças e adolescentes, tanto para equipe dirigente quanto para profissionais
das Unidades de Saúde, são realizadas em sua totalidade, nas situações de calendário
vacinal atrasado; faltosos do planejamento familiar e das consultas; em caso de gravidez
na adolescência e gestante faltosa; realização do teste do pezinho, dentre outros. No
cotidiano do serviço essas ações são realizadas através de demandas apresentadas pelos
Agentes Comunitários de Saúde (ACS), em escolas, hospitais e por profissionais da APS.
Em Irará, a totalidade das entrevistadas se referiram à realização de ações do Programa
Saúde na Escola (PSE), que é uma política intersetorial da Saúde e da Educação, imple-
mentado desde 2007 pelo Ministério da Saúde, e tem suas ações desenvolvidas de forma
mensal ou semanal no município, a depender da Unidade de Saúde. Dentre as ações do
programa, inclui atividades de assistência, de vigilância e educação em saúde, com desfe-
cho positivo na prevenção do consumo de álcool, drogas e violências (Becker, 2020).
No tocante às ações e programas de iniciativa da gestão municipal ou de organização da
sociedade civil, destacam-se:
• Uso de álcool, drogas e outras substâncias, além das ações realizadas pelo
município através de grupo no Centro de Atenção Psicossocial, existem outras
iniciativas com os Alcoólicos Anônimos, mas que no momento não tem adesão
do público adolescente. Além disso, atividades da polícia pelo Programa
Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD8) e em igrejas.
• Proteja e gravidez na adolescência, que ocorre através da realização de reunião
com grupo de gestante para discussão sobre a gravidez na adolescência.
• Alteração de peso (sobrepeso/obesidade; baixo peso), vacina; saúde na escola;
População LGBTQIAP+.
• Projeto de prevenção de suicídio e automutilação coordenado pelo CAPS.
• Temáticas relacionadas ao trânsito através das blitz educativas.
• Gravidez e natalidade que conta com o programa pré-natal com amor e res-
ponsabilidade, além da realização de planejamento familiar, teste rápido de
gravidez, acompanhamento pré-natal, sendo todas as ações realizadas em sua
totalidade pelo município.
• Temática da deficiência, apesar de incipiente no município, existe o registro
de que foi realizado levantamento nominal e frequência de diagnóstico das
deficiências no município. Além disso, existe o projeto Institucional da Equipe
Multiprofissional de Atenção Especializada em Saúde Mental (AMENT) que
aborda essas temáticas relacionadas ao público-alvo.
Com alusão às datas que objetivam intensificar informações sobre determinada temática
e fortalecer as recomendações dos serviços de saúde para prevenção, promoção, diag-
52 nóstico precoce de determinadas condições de saúde, assim como de intensificação de
aumento das coberturas vacinais, como é o caso da multivacinação realizada a partir do
microplanejamento9, foram identificadas a realização de campanhas de saúde. Em geral,
para equipe dirigente, as ações são realizadas na própria unidade de saúde, sendo execu-
tada com cartazes, folders, sala de espera, etc., com maior intensificação na zona rural por
conta da distância.
As diretrizes das campanhas de saúde são encaminhadas para enfermeiras das unidades,
que discutem com as equipes e participam do planejamento de ações, mensalmente,
sobretudo nas datas comemorativas do mês. Em geral, as ações são definidas por microá-
reas, com grupo de adolescentes, realizadas de forma mensal, priorizando ações sobre
vacinação, gravidez na adolescência e Papilomavírus Humano (HPV) ou a partir das metas
e indicadores (prevenção de gravidez na adolescência e obesidade), ou campanhas do
Ministério da Saúde.
Apesar da literatura evidenciar a baixa procura de adolescentes aos serviços de saúde
(PEIXOTO et al. 2021), houve consonância entre os entrevistados da percepção de utili-
zação dos serviços pelas crianças e adolescentes. Em geral, para as crianças, as maiores
demandas de atendimento se referem ao cuidado com as síndromes gripais e virose; diar-
reia; vômito; vacina; tratamento de cárie; desnutrição; obesidade; baixa higienização; trans-
torno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH); e transtorno do espectro autista
Perfil de Natalidade
A Taxa de Natalidade10, que expressa a frequência anual de nascidos vivos em um deter- 53
minado território, apresenta tendência de queda para residentes em Irará, no período de
2012 a 2022 (Gráfico 7).
Gráfico 7 - Taxa de natalidade (bruta) da população residente (por 1000 hab.) – Irará-BA,
2012–2022.
10 Representa o número de nascidos vivos, por mil habitantes, em determinado espaço geográfico, no ano
considerado.
redução de 16,8% em 2012, com 66 registros no sistema de informação, para 13,1% em
2022, com 32 registros (Gráfico 8). Apesar da redução, observou-se aumento em anos
específicos, diferentemente do verificado para o Estado da Bahia. Já ao verificar os dados
de nascidos de mães na faixa etária a partir de 20 anos, residentes em Irará, constata-se
elevação na proporção de 83%, com 326 registros, para 87% com 244 registros.
A partir do recorte por faixa etária, é possível verificar que cerca de 96% das gestações
na adolescência ocorrem na idade de 15 a 19, com 572 casos ao longo de 2012 a 2022.
No entanto, ainda ocorrem gestação em mães de 10 a 14 anos de idade, um total de 23
54 no período analisado. Importante destacar que o Ministério da Saúde utiliza o mesmo
recorte de faixa etária, considerando adolescentes entre 10 e 19 anos de idade. Diferente
da referência utilizada no ECA, que considera adolescentes no recorte etário de 12 a 18
anos. Assim, as gestações até os 12 anos de idade também podem ser consideradas como
gravidez na infância.
O pré-natal é considerado um importante instrumento no ciclo gravídico-puerperal, com
resultados satisfatórios no desfecho da gestação (LUZ et al. 2019). Ademais, é fundamental
no cuidado com o binômio mãe-bebê desde a identificação da gravidez precoce até o
momento do parto, perpassando pelo cuidado da saúde física e mental, com orientações
sobre o período gestacional em relação à nutrição, os exercícios, o trabalho de parto, alei-
tamento, entre outros temas que a equipe de saúde, a adolescente e sua rede de apoio
achem necessário trabalhar (SILVA et al. 2019)
Em relação ao cuidado pré-natal na adolescência, a Sociedade Brasileira de Pediatria elabo-
rou um Guia Prático de Atualização sobre Prevenção de Gravidez na Adolescência em 2019,
no qual estão descritos riscos aumentados para gestações na adolescência, bem como para
os neonatos de mães adolescentes, bem como para o binômio mãe e bebê (SBP, 2019).
Analisando o acesso ao pré-natal, fundamental para reduzir os riscos gestacionais durante
a adolescência, destaca-se tendência crescente no percentual de gestantes entre 10 a 19
anos que realizaram 7 ou mais consultas de pré-natal, de 15,2% em 2012 para 75% em
2022, percentuais superiores aos da Bahia (Gráfico 9).
Gráfico 9 - Proporção de nascidos vivos de mães de 10 a 19 anos que realizaram 7 ou mais con-
sultas de pré-natal em Irará e na Bahia, 2012–2022.
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) apresenta como pri-
meiro eixo estratégico a atenção integral e qualificada à gestação, ao parto, ao nascimento
e ao recém-nascido. Nesse sentido, destaca-se o acompanhamento pré-natal qualificado
na identificação de fatores de risco relacionados aos desvios de crescimento e desenvolvi-
mento intrauterino, bem como na proposição de intervenções para prevenção de agravos
e promoção à saúde do binômio mãe-filho.
O peso ao nascer é um parâmetro que avalia as condições de saúde de um recém-nascido
e na literatura, existem evidências de que o que o baixo peso ao nascer é considerado um
relevante fator de risco para morte neonatal, e tem impacto para o bebê a curto e longo
55
prazo (TOURINHO; REIS, 2013).
No período de 2012 a 2016, nota-se um acelerado crescimento no percentual de mães
que tiveram 7 ou mais consultas de pré-natal, quando atingiu 76,7%. Nos anos seguintes
do período analisado, o valor percentual variou pouco ao longo dos anos, atingindo 76,2%
em 2022 (Gráfico 10).
A proporção de nascidos vivos de mães residentes de Irará que apresentaram baixo peso
ao nascer variou de 7,7% em 2012 para 7,4% em 2022, apresentando maior valor percen-
tual em 2019, quando alcançou 10%.
Perfil de Mortalidade
Perfil de Morbidade
A análise dos dados de violência demonstra que entre 2012 e 2022 foram notificados 66
casos. Ao longo do período de 2012 a 2022 observa-se grande elevação no número de
registros de casos a partir de 2021, com maior destaque para 2022 (Gráfico 12). Pode-se
inferir que esse aumento seja consequência da melhoria na captação e registro dos casos,
todavia também pode refletir diretamente o aumento no número de casos.
57
58 Dos casos de violência notificados de 0 a 17 anos, 06 casos informaram ter algum tipo de
deficiência ou transtorno, com 01 registro de deficiência mental, 01 de transtorno mental,
04 de transtorno de comportamento.
No mesmo período, há 52 registros com o tipo de agressão, dos quais constata-se que
agressão mais frequente é a força corporal/espancamento (28,9%), seguido de objeto
contundente (19,2%), arma de fogo (17,3%), outra agressão (17,3%).
O recorte de violência sexual demonstra que dos 12 casos registrados no período 66,7%
são por estupro (Gráfico 13).
Os casos de violência contra pessoas na faixa etária de 0 a 19 anos tiveram 53 registros de
vínculo ou parentesco com a pessoa envolvida, desses 20,8% estavam relacionados com a
mãe, 20,8% relacionados com a própria pessoa, 13,2% relacionados com o pai, 13,2% com
amigos/conhecidos, 13,2% com desconhecidos e 19% apresentaram outros vínculos.
Como descrito no material técnico do Ministério da Saúde sobre a implementação PNAISC
e que também se estende aos adolescentes:
“[...] é essencial que o poder público e a sociedade assumam compromis-
sos para difundir a promoção da cultura de paz e não violência, visando
ao pleno desenvolvimento saudável da criança, com a adoção de novos
modos de agir, de educar e de convivência familiar. Para superar as
adversidades é importante valorizar a construção e/ou manutenção dos
vínculos familiares, buscando reduzir danos e prevenir outras formas de
violação de direitos” (BRASIL, 2018, p. 84).
A análise dos agravos notificados na faixa etária de 0 a 9 anos demonstra que atendimento
antirrábico e acidente por animais peçonhentos têm apresentado maior frequência ao
longo do período de 2012 a 2022, totalizando 218 (36,0%) e 84 (13,9%) respectivamente.
Manteve-se esse comportamento com exceção do ano 2015 quando foram registradas
114 notificações para doença aguda pelo vírus zika. Destaca-se também o incremento de
notificações de transtornos falciformes apenas no ano de 2021. De maneira geral, a partir
de 2019 observa-se aumento no número de agravos notificados nessa população.
De maneira similar, os agravos notificados de maior prevalência na população de 10 a 19
anos, no período de 2012 a 2022 são atendimento antirrábico (26,2%) e acidentes por
animais peçonhentos (17,5%), com exceção de 2015 quando ocorreu um elevado número
de notificações de doença aguda do Zika Vírus. Nesta faixa etária, destaca-se o incremento
nas notificações de violência interpessoal/autoprovocada que apresentou média de 4,8
casos por ano no período de 10 anos, com destaque para os anos em 2021 e 2022 quando
foram notificados 9 e 16 casos respectivamente. O número total de notificações aumen-
tou a partir de 2019, e manteve-se crescente até 2022.
Ainda pela análise do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), do ano
2013 a 2022, identifica-se uma tendência crescente na taxa de detecção de sífilis em ges-
tantes por 1.000 nascidos vivos, saindo de 5 casos/1.000 NV em 2012 para 27,6 casos/1.000
NV em 2022, com queda em 02 anos específicos 2017 e 2019 (Gráfico 14). Ao observar os
números absolutos, é possível verificar uma média de 3,9 casos por ano, apresentando 1
como valor mínimo (2014 e 2017) e 7 (2021) como valor máximo. O expressivo aumento
de incidência no município pode estar relacionado a fatores que incluem o aumento do 59
número de casos da doença em âmbito nacional e também a maior detecção da doença
na assistência pré-natal através de oferta de teste rápidos nas UBS.
Gráfico 14 - Taxa de detecção (por 1.000 nascidos vivos) de gestantes com sífilis por ano de
diagnóstico. Irará, 2013–2022.
Desta forma, compete legalmente às três esferas – família, sociedade e Estado - a res-
ponsabilidade legal de garantir o cumprimento da efetivação dos direitos para crianças e
adolescentes.
Dentre os direitos básicos, esse capítulo se destina abordar sobre o direito à liberdade,
ao respeito e à dignidade, que apesar de já estarem garantidos na CF/88, foram também
assegurados e fundamentados nos artigos 15, 16, 17 e 18 do ECA.
O Art. 16 do ECA discorre sobre o direito de crianças e adolescentes à liberdade, não res-
tringindo apenas ao direito de ir e vir nos logradouros públicos e espaços comunitários,
respeitando as restrições legais , mas também o direito à opinião e expressão, a sua própria
crença e participação em culto religioso, a brincar, praticar esportes e se divertir, à liber-
dade de participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação, bem como, participar
da vida política, na forma da lei e a liberdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.
A compreensão da liberdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitá-
rios permite que crianças e adolescentes possam ter acesso a diferentes espaços, de acordo
com suas idades e especificidades, como escolas, parques, praças, unidades de saúde,
teatros, cinemas, praias, entre outros, possibilitando o contato com diversos ambientes e a
convivência com diferentes pessoas, que vão além das que compõem suas famílias, oportu-
nizando o seu desenvolvimento em muitos aspectos, principalmente o social.
A legislação também estabelece que deve ser dado à criança e ao adolescente a possibili-
dade de opinar e expressar o que pensam ou desejam, em diferentes contextos, inclusive
em aspectos legais, como em situações da guarda de pais e/ou responsáveis e adoção
para maiores de 12 anos, quando estes podem participar das escolhas e expressar com
quem desejam ficar.
No que tange à crença e participação em culto religioso deve ser garantido aos mesmos
o acesso e conhecimento sobre diferentes crenças e religiões, de forma que possam cons-
truir suas próprias convicções e identidades ao escolherem o que crer e seguir.
A liberdade de participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação, permite à
criança e ao adolescente a vivência de papéis e trocas que possibilitarão a construção
de vínculos e o fortalecimento das relações interpessoais que darão base para o seu
desenvolvimento e identidade, assim como a ampliação do conhecimento de diferentes
culturas e práticas que vão além das conhecidas e exercidas pelo seu seio familiar.
Em relação à participação da vida política, na forma da lei, a legislação brasileira, de forma
facultada, permite ao adolescente a partir dos 16 anos de idade exercer o direito ao voto. 65
Todavia, é importante que crianças e adolescentes discutam a legislação e o sistema polí-
tico brasileiro e assim construam conhecimentos essenciais para sua formação cidadã.
A liberdade de buscar refúgio, auxílio e orientação deve ser observada em todos os
ambientes onde crianças e adolescentes se encontram, começando em sua própria casa.
É imprescindível também que estes compreendam que, caso não consigam esse refúgio,
auxílio e orientação em sua própria família, existem outros espaços que podem propiciar
essa ajuda, como escolas, igrejas, associações, Conselho Tutelar, dentre outros.
O direito ao respeito ultrapassa a integridade física, psíquica e moral da criança e do adoles-
cente, que devem estar a salvo de qualquer tipo de ameaça, negligência ou violência. Esse
direito compreende também a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos
valores, das ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais, um exemplo é em que seu Art.
247, o ECA estabelece ser crime “divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida,
por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial,
administrativo ou judicial relativo à criança ou adolescente a que se atribua ato infracional”.
O direito à dignidade estabelecido o Art. 18 do ECA, “diz que é dever de todos velar pela
dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desu-
mano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. ” , e a CF/1988 tem como um de
seus fundamentos, Art. 1º § III “a dignidade da pessoa humana”, o que pode ser compreen-
dido que este é um princípio que perpassa por todos os outros direitos, pois só é possível
uma vida digna para crianças e adolescentes quando todos os outros direito fundamentais
estejam sendo respeitados.
Vale ressaltar que conforme prevê o Art. 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente
Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos Fundamentais. (ECA/1990).
Contudo, apesar desse direito ser extensivo a toda criança e adolescente brasileiros,
muitos necessitam se afastar de suas famílias de origem, devido à situação de extrema
vulnerabilidade a que são expostos, precisando que sejam encaminhados para famílias
66 extensivas, ou até mesmo, em situações excepcionais, para programas de acolhimento ou
famílias substitutas.
Por isso, a convivência familiar é considerada um direito primordial, e o ECA preconiza que
a criança e o adolescente têm o direito de viver e crescer no seio de sua família natural,
sempre que possível. Em casos excepcionais em que isso não seja possível, existem as
alternativas para garantir a convivência familiar, como a adoção, família acolhedora, família
substituta e apadrinhamento.
A convivência comunitária possibilita que a criança e o adolescente participem ativamente
da comunidade em que estão inseridos. A integração social é fundamental para o desenvol-
vimento de habilidades interpessoais e para a construção de uma identidade cidadã, respei-
tando a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento e reconhecendo como sujeitos de
direitos. É importante garantir a convivência familiar e comunitária como prioridade máxima
nas ações e políticas voltadas para crianças e adolescentes, porque o Estado, a sociedade e a
família têm a responsabilidade compartilhada de assegurar um ambiente propício ao pleno
desenvolvimento e bem-estar desses indivíduos, respeitando sua dignidade e direitos.
O Art. 60 do ECA proíbe qualquer tipo de trabalho para menores de 14 anos de idade. Já
para os adolescentes de 14 a 16 anos incompletos o trabalho é permitido, mas na condi-
ção de aprendiz, como preconiza o artigo em epígrafe.
Trabalho infantil é a submissão de qualquer criança ou adolescente menor de 14 anos a
qualquer situação de trabalho que irá privá-los de sua infância e interferir em sua frequên-
cia moral, além de gerar prejuízos em desenvolvimento cognitivo, físico e psicológico.
O direito do adolescente à profissionalização e proteção no trabalho visa assegurar o
pleno desenvolvimento e bem-estar desses indivíduos. A legislação brasileira, em espe-
cial o Estatuto da Criança e do Adolescente –ECA e a Lei Federal 10,097/2000 - Lei da
Aprendizagem - estabelecem diretrizes claras nesse sentido.
É importante destacar que a formação para o trabalho decente, quando devidamente
orientada e protegida, pode ser uma ferramenta estratégica para garantir o futuro desses
adolescentes. A inserção no mercado de trabalho contribui na formação dos aspectos
morais e sociais do cidadão. Além disso, durante esse processo de aprendizagem deve ser
respeitado, também, a faixa etária permitida pela legislação, garantindo que a atividade
não comprometa a saúde, a segurança, e nem a frequência e rendimento escolar.
Os programas de aprendizagem e estágio são formas legais de conciliar a profissionali-
zação com a educação formal, proporcionando experiência prática que não prejudica o
desenvolvimento físico, mental e educacional dos adolescentes.
A profissionalização não deve ser vista como uma alternativa à educação formal, mas como
um complemento que contribui para a formação integral dos adolescentes. É imprescin-
dível assegurar ambientes de trabalho saudáveis, que respeitem os direitos fundamentais,
contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade equitativa.
A proibição do trabalho infantil em atividades que comprometam a saúde, a moralidade 67
e a segurança, se faz necessária para colaborar com a construção de um ambiente seguro
e propício ao desenvolvimento saudável durante a profissionalização. Portanto, efetivar
a implementação e monitoramento das políticas públicas voltadas à profissionalização
e proteção no trabalho são passos necessários para assegurar um futuro com dignidade
para todas as crianças e adolescentes. No entanto, é preciso que o poder local crie políticas
públicas que facilitem a inserção dos adolescentes, na condição de aprendiz, gerando
oportunidades de qualificação profissional para o fortalecimento do Sistema de Garantias
de Direitos-SGD.
Registros de Negligência e abandono (faixa etária, região, sexo, cor, escolaridade, etc.)
A negligência e o abandono podem ser caracterizados como uma relação de omissão,
rejeição e falta de cuidado de um adulto para com uma criança/adolescente. Elas podem
ocorrer de forma física, quando não há o cuidado de fornecer alimentação, vestuário, cui-
dados de higiene, moradia adequada, entre outros; ou de forma emocional, quando não
há afeto, manifestações de carinho e respeito ou qualquer outro tipo de apoio emocional.
Este também foi um indicador que não teve registros numéricos encontrados nas bases
de dados pesquisadas e nem foi obtida informações sobre o número de casos no questio-
nário aplicado ao município.
Casos de violências (Violência física, Violência psicológica, Violência sexual- abuso sexual,
exploração sexual comercial, tráfico de pessoas) contra crianças e adolescentes.
Em relação a este indicador o município possui alguns registros de casos ocorridos na
gestão atual, conforme gráfico abaixo, atentando-se ao fato de que não houve registro
quanto exploração sexual e tráfico de pessoas nos últimos anos:
A Lei Federal 13.431/2017, em seu Art. 4º tipificou as formas de violência contra criança e
adolescente como: a) violência física; violência psicológica; violência sexual11, violência institu-
cional – que é aquela a praticada por instituição pública ou conveniada, inclusive quando
gerar revitimização; violência patrimonial – ação que configure retenção, subtração, destrui-
ção parcial ou total de seus documentos pessoais, bens, entre outros, incluídos os destinados
a satisfazer suas necessidades, desde que a medida não se enquadre como educacional.
Segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, o Brasil registrou mais de 17
mil violações sexuais contra crianças e adolescentes nos quatro primeiros meses deste
ano, através do Disque 100. Isto retrata o quanto são altos os índices de violência contra
criança e adolescente no país e um dos grandes desafios ainda é a subnotificação dos
11 qualquer ação de conduta que leve a criança e/ou adolescente a praticar ou presenciar conjunção carnal
ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em foto ou vídeo por meio eletrônico ou
não e se divide em: abuso sexual (toda ação que se utiliza da criança e/ou do adolescente para fins sexuais),
exploração sexual comercial (uso da criança ou do adolescente em atividade sexual em troca de remune-
ração ou qualquer outra forma de compensação), tráfico de pessoas (que é o recrutamento, o transporte, a
transferência, o alojamento ou o acolhimento da criança ou do adolescente, dentro do território nacional
ou para o estrangeiro, com o fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de
coação, rapto, fraude, engano, entre outros)
casos, que em sua maioria não são registrados porque acontecem dentro do seio familiar
ou são cometidos por pessoas muito próximas às famílias das vítimas12.
Os dados fornecidos pelo município indicam uma diminuição nos índices de violência
física e psicológica e aumento significativo em relação aos casos de abuso sexual. Porém,
não foram encontrados outros registros sobre este indicativo em bases de dados, o que
não permitiu uma análise maior destas informações.
12 Os dados da UNICEF indicam que 2017 a 2020 no Brasil, 180 mil crianças e adolescentes sofreram
violência sexual, o que retrata uma média de 45 mil por ano. Para Florence Bauer, representante do UNICEF
no Brasil “A violência contra a criança acontece, principalmente, em casa. A violência contra adolescentes
acontece na rua, com foco em meninos negros...” (Nos últimos 5 anos, 35 mil crianças e adolescentes foram
mortos de forma violenta no Brasil, alertam UNICEF e Fórum Brasileiro de Segurança Pública. unicef.org.
Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/nos-ultimos-cinco-anos-35-mil-
-criancas-e-adolescentes-foram-mortos-de-forma-violenta-no-brasil>. Acesso em: 09 de out de 2023).
Em junho de 2021, foi publicada a Lei 14.176/2021 que incluiu algumas regras e critérios
para a concessão do BPC para idosos e pessoas com deficiência que tenham renda acima
de ¼ do salário mínimo. Em casos específicos o critério econômico para verificar a renda
per capita (por pessoa) será de ½ salário mínimo, sendo, então, equivalente a R$ 606,00.
Ao verificar a base de dados dos últimos dez anos sobre o número de família com crianças
e adolescentes que sobrevivem com renda per capita de ¼ de salário mínimo, pode-se
observar o crescimento da “linha de pobreza” (que calcula a relação entre o rendimento
familiar e o gasto mínimo em bens, serviços e alimentação). Quando não é possível pagar
o custo mínimo, estamos perante um caso de pobreza extrema, enquanto que, se o custo
for o dobro do rendimento, estaremos a falar de pobreza crítica.
75
O Benefício de Prestação Continuada – BPC, visa a garantia de um salário mínimo por mês
ao idoso a partir de 65 anos ou à pessoa com deficiência de qualquer idade, conforme
previsto na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS e no Decreto Federal n° 6.214, de 26
de setembro de 201713.
Para a pessoa com deficiência, é necessário que sua condição lhe cause impedimentos
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial de longo prazo (com efeitos por pelo
menos 2 anos), e, assim, a impossibilite de participar de forma plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas.
De acordo com os números informados pela Secretaria de Assistência Social, o município
de Irará vem apresentando um aumento significativo de crianças e adolescentes benefi-
ciarias do BPC. Uma das hipóteses para este aumento é o acesso a informação que con-
tribuiu para que crianças e adolescentes com deficiência tivessem o benefício adquirido.
13 Destaca-se que o BPC não é uma aposentadoria e para que o beneficiário tenha direito a ele não é preciso
ter contribuído para o INSS, porém, para ter direito ao benefício é necessário que a renda por pessoa do
grupo familiar seja igual ou menor que 1/4 do salário-mínimo.
Crianças e adolescentes beneficiárias do BPC Trabalho
DECRETO Nº 6.214, DE 26 DE SETEMBRO DE 2007. Regulamenta o benefício de prestação
continuada da assistência social devido à pessoa com deficiência e ao idoso de que trata
a Lei n o 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e a Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003.
O BPC Trabalho atende prioritariamente beneficiários entre 16 e 45 anos que querem tra-
balhar, mas encontram dificuldades para obter formação profissional e qualificação para
inserção no mercado de trabalho.
Na base de dados consultada não foram encontrados registros quantitativos de crianças e
adolescentes beneficiárias do BPC Trabalho e nem informado a existência de beneficiários
no município no questionário aplicado à Secretaria Municipal de Assistência Social.
76
14 NUCA - Núcleo de Cidadania de Adolescentes é um grupo que dever ser formado por adolescentes e é
uma das atividades que integram as ações do Selo UNICEF.
principalmente na Zona Rural, onde os equipamentos que atendem crianças e adolescen-
tes são mais escassos.
Apesar de não haver registros numéricos no município sobre os índices de negligência
e abandono de crianças e adolescentes, nas entrevistas aplicadas a dois membros do
Conselho Tutelar, estes indicadores foram relatados como responsáveis pelo maior número
de atendimentos do referido órgão15.
Os outros atores entrevistados também relataram que ocorre um número significativo
de negligência e abandono dentro do município, principalmente nas áreas com menor
desenvolvimento socioeconômico, sendo citadas as localidades de: Brotas, Espinho,
Baixinha, Bento Simões. A Zona Rural também foi pontuada como tendo maior número
de casos de negligência e abandono em relação à Zona Urbana.
O serviço de convivência e fortalecimento de vínculo16 também foi pontuado nas entre-
vistas como uma grande ferramenta para evitar casos de violações de direitos de crianças
e adolescentes, principalmente em relação a casos de negligência e abandono. Todavia,
o serviço está desativado no município e umas das causas, segundo a entrevista a repre-
sentantes da Secretaria Municipal de Assistência Social é a ausência de espaço para sua
promoção. Contudo, representantes da sociedade civil que são membros e/ou dirigentes
de OSC’s demonstraram interesse em ofertar espaço para o desenvolvimento do serviço
em parceria com a prefeitura.
Em relação aos casos de violência contra crianças e adolescentes nas entrevistas aplicadas,
80 todos os entrevistados confirmaram que acontecem, e com frequência, casos de violência
contra crianças e adolescentes, principalmente a física e o abuso sexual, contudo não
souberam informar o quantitativo destas ocorrências.
No Brasil, registros comprovam que mais de 70% dos casos de violências cometidas contra
o público infanto-juvenil é praticada por pessoas da família e/ou de relação muito próxima
a suas vítimas e familiares, o que torna umas das grandes causas da dificuldade de denún-
cias. O que não parece ser diferente num município de menor proporção como Irará, no
qual a maioria das pessoas se conhecem e acabam omitindo tais situações, que na maioria
das vezes não chegam ao conhecimento dos órgãos competentes. Esta foi uma das hipó-
teses também levantada pelos entrevistados para justificar os números baixos de registros
de casos de violência, fornecidos pela Secretaria Municipal da Assistência Social.
Sancionada em 04 de abril de 2017, a Lei Federal 13.431 é a lei que estabelece o sistema de
garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e é consi-
derada por muitos pesquisadores um dos maiores marcos na garantia de direitos de crianças
e adolescentes após o ECA, contudo ainda é um desfio a implementação das mesmas nos
municípios brasileiros. Esta Lei também define que seja construído um fluxo de atendimento
e acompanhamento a criança e ao adolescente vítima e/ou testemunha de violência.
15 O ECA em seu Art. 5º diz que: “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negli-
gência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado,
por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. (ECA, 1990)
16 Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo é um serviço da Proteção Social Básica do SUAS
estabelecido na Lei Federal nº 8.742/1993 - LOAS e consolidado na Lei Federal nº 12.435/2011.
O município de Irará ainda não implementou a Lei da Escuta Especializada, mas já vem
discutindo sua implementação e construção de fluxos de atendimento, o que possibilitará
grandes avanços no enfretamento e combate à violência contra crianças e adolescentes.
No que concerne ao indicador “Número de adolescentes que se autodeclaram
LGBDTQIAP+”, foi citado apenas um caso, por alguns dos entrevistados, de um adoles-
cente que se autodeclarou após sofrer vários tipos de violências. Atualmente, segundo os
relatos, o mesmo é acompanhando por órgãos da rede de proteção.
Por fim, vale frisar a necessidade da promoção de diálogos sobre orientação sexual e iden-
tidade de gênero que possibilitem a identificação destes adolescentes no município e que
promovam ações e políticas públicas para garantias de direitos destes, que na maioria das
vezes são mais vulneráveis a sofrerem violências psicológicas, físicas e sexuais.
O Direito à Convivência Familiar e Comunitária é também um direito garantido constitu-
cionalmente (Art. 227, CF/1988) às crianças e aos adolescentes brasileiros, e tem como
princípio a garantia de que estes possam se desenvolver um núcleo familiar que lhes
possibilite cuidado, proteção, afetividade e bem-estar físico e psicológico.
Assim como no Art. 227, o Art. 226 da CF/1988 trata sobre a convivência familiar, pois o
mesmo diz que a família é a base da sociedade e tem especial proteção do Estado, e no
§8º desse mesmo artigo delibera que compete ao Estado o dever de dar assistência aos
membros da família, impedindo a violência dentro dela através da criação de mecanismos
que a impeçam (BRASIL, 1988).
O direito à convivência familiar e comunitária é fundamentado em três princípios. O 81
primeiro princípio é da proteção integral, pois o ECA estabelece que a criança e o ado-
lescente são sujeitos em desenvolvimento e por isso necessitam de orientação, cuidado,
afeto, entre outros; segundo princípio é o de melhor interesse da criança e do adolescente
também previsto no ECA, esse princípio estabelece que deve prevalecer sempre o melhor
interesse para criança e adolescente, mesmo quando isto confronte o interesse dos seus
genitores; o terceiro princípio é da prioridade absoluta que estabelece que a criança e
o adolescente sejam vistos pela família, Estado e sociedade sempre devem estar em pri-
meiro lugar. Isto também inclui a prioridade nas ações dos governos e na elaboração de
políticas públicas para garantia de direitos destes sujeitos.
Visando garantir e aprimorar o Direito à Convivência Familiar e Comunitária, foi aprovado
no ano de 2006 pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente –
CONANDA e no Conselho Nacional da Assistência Social – CNAS, o Plano Nacional de
Convivência Familiar e Comunitária. Este Plano tem como principal aspecto o rompimento
com a cultura da institucionalização de crianças e adolescentes e o fortalecimento do
princípio da proteção integral e da preservação dos vínculos familiares e comunitários
preconizados pelo ECA.
Todavia, apesar de todo esforço legal para a preservação dos vínculos e convivência fami-
liar no Brasil, muitas violações de direitos das crianças e adolescentes ainda acontecem
dentro das próprias famílias, das quais se destacam a negligência, abandono, violência
física e o abuso sexual.
Para Viviane Girardi:
o direito à convivência familiar e comunitária traz à luz o lado sombrio
que está no cerne desse direito: nem todas as crianças possuem uma boa
e saudável convivência familiar, e mais, muitas crianças não desfrutam
de qualquer grau de relacionamento e convivência familiar, pois vivem
excluídas, permanecendo em abandono”. (GIRARDI, 2003, p. 104).
17 Para melhor aprofundamento sobre os serviços de acolhimento para crianças e adolescentes consultar as
“Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes”, em https://www.mds.gov.
br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhi-
mento.pdf
18 Conforme o Eca família natural e família extensa são:
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus
descendentes.
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade
pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente
convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.
Três dos entrevistados relataram que houve apenas um caso de necessidade de aplicação
da medida protetiva de acolhimento institucional a um adolescente nos últimos dez anos
no município. Neste caso, o adolescente precisou ser enviado a uma unidade de acolhi-
mento em Salvador, ferindo por sua vez o seu direito à convivência familiar e comunitária.
Mas, naquele momento, diante da situação vivenciada foi a melhor possibilidade existente
a ser seguida, de acordo como relato dos mesmos.
Nas entrevistas foi possível constatar, também, que o município já está discutindo a
implantação de instrumentos de acolhimento, realizando formação e pesquisas com fins
de obter conhecimento para definir o melhor programa a ser aplicado visando as ques-
tões de recursos e demandas do mesmo.
Em relação à Lei Federal 13.509 de 22 de novembro de 2017 – Lei da Adoção – não há no
município, segundo os entrevistados, casos de crianças e adolescentes que precisaram ter
suspensão do poder familiar dos seus genitores para que os mesmos fossem colocados
em famílias substitutas por meio da guarda, tutela ou adoção.
Foi possível constatar, na coleta de dados e entrevistas realizadas, que há no município um
número significativo de crianças e adolescentes que vivem abaixo da linha da pobreza e
são beneficiadas por programas sociais como o Bolsa Família. Ainda segundo os entrevista-
dos, este público precisa de uma atenção maior no que tange ao investimento de políticas
públicas, principalmente para os que são moradores da Zona Rural. Aqui também foi pon-
tuado pelos entrevistados a necessidade do funcionamento do Serviço de Fortalecimento
de Vínculos que precisa ser ofertado pelo CRAS.
83
Apesar de aparecer nas pesquisas quantitativas, por serem usuárias do BPC na escola, as crian-
ças e adolescentes PCD’s foram pouco citadas nas entrevistas aos atores do SGD. Contudo,
foi possível compreender a necessidade de mais ações, principalmente por parte do poder
público, que possibilitem a convivência familiar e comunitária para esse público com defi-
ciência, garantindo prioritariamente à acessibilidade e ao acompanhamento terapêutico.
Diante do exposto é importante frisar que a garantia do direito à convivência familiar e
comunitária em um ambiente estruturado e saudável é sempre o melhor lugar para o
pleno desenvolvimento da criança e do adolescente.
A legislação brasileira proíbe qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade,
com exceção na condição de aprendiz, a partir da idade mínima de quatorze anos, obser-
vando o que preconiza a Lei Federal 10.097, de dezembro de 2000 – Lei da Aprendizagem.
No mundo inteiro, o trabalho infantil19 é uma prática que retrata a falta de comprome-
timento e respeito com a infância e adolescência, uma vez que este é um problema de
19 A Organização Internacional do Trabalho – OIT, em sua 182 Convenção, realizada em 1º de junho de 1999,
estabeleceu as piores formas de trabalho infantil, sendo elas:
Artigo 3º. Para os fins desta Convenção, a expressão as piores formas de trabalho infantil compreende:
a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como venda e tráfico de crianças, sujei-
ção por dívida, servidão, trabalho forçado ou compulsório, inclusive recrutamento forçado ou obrigatório
de crianças para serem utilizadas em conflitos armados; b) utilização, demanda e oferta de criança para fins
de prostituição, produção de pornografia ou atuações pornográficas; c) utilização, recrutamento e oferta de
criança para atividades ilícitas, particularmente para a produção e tráfico de entorpecentes conforme defi-
nidos nos tratados internacionais pertinentes; d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas circunstâncias em
que são executados, são suscetíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da criança. (OIT, C182/1999)
cunho social e de saúde pública, e que provoca consequências negativas para o desenvol-
vimento físico, mental e social destes sujeitos, além de contribuir para um baixo desempe-
nho escolar, o roubo do tempo para o brincar, o lazer e o convívio social. Infelizmente, no
Brasil, apesar de toda uma legislação definida e condenatória, a prática do trabalho infantil
ainda é comum em todo território brasileiro.
De acordo com dados do Observatório do Trabalho da Bahia, em 2013 o município de Irará
estava na 12º posição em relação ao número de municípios que apresentaram mais altos níveis
de ocupação de trabalho de crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos, em relação aos 417
municípios baianos, com um percentual de 29,8% do quantitativo total para esta faixa etária.
O município de Irará não informou o quantitativo atual de crianças e adolescentes em
situação de trabalho infantil, todavia, nas entrevistas realizadas com integrantes do SGD
todos narraram ainda existir crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil no
território, mas que houve uma redução brusca nesse quantitativo nos últimos dez anos,
principalmente devido a diminuição das “casas de farinha. A maioria das situações eram
justamente oriundas da agricultara familiar com a produção de mandioca e posterior-
mente a confecção da farinha artesanal, nas chamadas “casas de farinha”.
Um ponto que chamou a atenção nas entrevistas aplicadas foi o desconhecimento, por
parte dos entrevistados, de políticas públicas para o combate e erradicação do trabalho
infantil no município, uma vez que nos últimos 10 anos, o mesmo apresentou dados tão
altos dessa violação aos direitos fundamentais de crianças e adolescentes.
84 Uma das políticas públicas para enfretamento ao trabalho infantil é o Programa Adolescente
Aprendiz, preconizado na Lei da Aprendizagem e na Consolidação das Leis do Trabalho –
CLT, que determinam que as empresas de grande e médio porte devem ter porcentagem
de 5% a 15% de suas vagas reservadas para a contratação de jovens aprendizes.
Nas entrevistas realizadas, foi observado que os entrevistados dizem haver adoles-
centes contratados como jovem aprendizes em empresas do município como: Cestão
Supermercado, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Contudo, não souberam infor-
mar o quantitativo, nem como se dá essa contratação, ou quem faz a indicação destes
adolescentes e jovens, tampouco quem é a instituição (ou instituições) formadora que
está acompanhando os mesmos. O que fere totalmente aquilo que está estabelecido na
supracitada Lei, cabendo a órgãos como CMDCA, Conselho Tutelar e Ministério Público do
Trabalho averiguar a veracidade desses fatos.
Ao analisar a atuação da atual gestão municipal, os entrevistados, em sua maioria, relata-
ram que houve avanços na garantia de direitos de crianças e adolescentes, todavia, ainda
precisam ser realizadas mais ações, deliberações e cumprimento de políticas públicas em
prol da garantia destes direitos.
Em relação à atuação do atual Colegiado do CMDCA, foi unanimidade por parte dos
entrevistados a afirmação que está é a melhor gestão que o CMDCA já teve em Irará,
pontuando as ações que estão sendo realizadas, principalmente em relação à formação
continuada que está sendo desenvolvida para toda rede de proteção. Entretanto, mais de
50% também afirmam que o órgão precisa realizar mais avanços na garantia de direitos de
crianças e adolescentes.
Já em relação à avaliação do atual Conselho Tutelar, os entrevistados também pontuam
ser um colegiado bem atuante e comprometido. Porém, existe uma queixa geral da falta
de registros e disseminação dos casos por parte do Conselho Tutelar aos outros órgãos do
SGD, principalmente a não utilização do SIPIA.
Por fim, todos os entrevistados frisaram a necessidade de fortalecimento do trabalho em
rede, melhorando a comunicação entre os órgãos e criando no município um programa
fixo de capacitação continuada para todos os atores do SGD, visando fortalecer o sistema
para garantir os direitos das crianças e dos adolescentes de Irará.
85
86
6. AS VOZES DAS CRIANÇAS E DOS
ADOLESCENTES DE IRARÁ-BA
6.1 ESCUTANDO O QUE AS CRIANÇAS DE IRARÁ TÊM
A DIZER:
“A criança é feita de cem. A criança tem cem mãos cem pensamentos cem
modos de pensar de jogar de falar. Cem sempre cem modos de escutar de
maravilhar e de amar. Cem alegrias para cantar e compreender. Cem mundos
para inventar cem mundos para sonhar. A criança tem cem linguagens (e
depois cem cem cem) mas roubam-lhe noventa e nove.” (Loris Malaguzzi)20
Escutar as crianças, mais do que um ato humano essencial e necessário, é um direito delas
para que possam se desenvolver de forma plena e integral e, ainda, para que possam
emitir suas opiniões de maneira livre e autônoma sobre qualquer decisão que lhe diga
respeito, seja dentro da família ou nas mais complexas políticas públicas de um Estado.
Este direito está expresso no artigo 12 da Convenção sobre os Direitos da Criança da
ONU – (Organização das Nações Unidas), o tratado internacional mais assinado em todo
o mundo. 87
Os Estados Partes assegurarão à criança que estiver capacitada a formular
seus próprios juízos o direito de expressar suas opiniões livremente sobre
todos os assuntos relacionados com a criança, levando-se devidamente em
consideração essas opiniões, em função da idade e maturidade da criança.
(ONU, 1989)
Para além da compreensão das crianças como sujeitos de direitos, essa pesquisa parte
da perspectiva de que elas são sujeitos históricos, produtoras de conhecimentos, ativas e
capazes de pensar, discutir e propor soluções – nas suas diferentes formas de expressão
– para assuntos que afetam sua vida e situações que participam direta e indiretamente.
Assim, esse diagnóstico parte do pressuposto que as crianças têm o que dizer e contribuir
para a sua realidade e podem e devem (com)viver em um espaço que atenda às suas
necessidades. Esse modo de compreender as crianças, muda a concepção tradicional, que
as considera como seres passivos, sem opinião, ideias ou vontades próprias, que devem
aguardar um momento no futuro distante para se tornarem cidadãos e, só então, pode-
rem participar ativamente da sociedade.
Reconhecendo a criança como sujeito de direitos, valorizando a criança como sujeito ativo
e assegurando suas vozes, olhares e participação nas decisões e nos assuntos, sobretudo
20 Fragmento do poema “As Cem linguagens da criança”. Fonte: EDWARDS. Carolyn; GANDINI, Lella e
FORMAN, George. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira
infância; trad. Dayse Batista. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda, 1999.
do lhes dizem respeito, o diagnóstico incluiu a escuta qualificada de crianças como estra-
tégia central para o levantamento dos problemas vividos por elas e a identificação do que
elas mais gostam, menos gostam e o que elas propõem para sua comunidade e para sua
cidade.
Para tanto, foi adotada uma metodologia qualitativa de escuta das crianças, fundamentada
nos pressupostos da psicologia e da sociologia das infâncias, que escutou 47 crianças21, de
4 escolas municipais (educação infantil e Ensino Fundamental) da zona rural e urbana,
entre as idades de 4 e 11 anos, sendo 24 do sexo masculino e 23 do sexo feminino.
Vários pontos foram apresentados nas rodas de conversas com as crianças. Contudo,
alguns pontos foram recorrentes em todas as rodas. Os itens a seguir estão em escala de
maior destaque e prevalência nas falas das crianças:
a) brincar;
b) escola; e
c) outros lugares da cidade.
a) De brincar:
88 “Brincar em casa”
“Brincar na escola”
“Brincar com as meninas”
“Brincar de bicicleta na rua”
“Jogar bola com a irmã”
“Pular”
“Pular na piscina”
“Chutar bola”
“Eu brinco no quintal, tem um pé de abacate”
“Eu gosto de jogar em Gel”
“Eu brinco fora
“Jogar bola em casa”
Brinquedos na praça, pista, a minha casa, árvores e escorregadeira”
“Ir pro campo, treinar, ir pro recreio, gosto mais de jogar bola do que ir pra escola, de ir pro
box, de lavar a minha chuteira”
“Gosto de brincar no brinquedo da praça”
“Coreto, casa da árvore, porque é um lugar super alto e dá para brincar, fica no parquinho”
6.1.2 O que as crianças menos gostam na sua escola, na sua comunidade e em Irará
Vários pontos foram problematizados nas rodas de conversas com as crianças. Contudo,
alguns foram recorrentes em todas as rodas. Os pontos a seguir estão em escala de maior
destaque e prevalência nas falas das crianças.
a) As violências:
I. de trânsito;
II. doméstica e comunitária;
III. escolar; e
IV. violência contra os animais.
b) De alguns animas e da poluição do meio ambiente.
“Tem bastante agressão com as crianças, o pai da minha prima, eu fui dormir lá com meu
pai e minha mãe e o pai dela grita muito é muito chatinho e eu não conseguia dormir”
“O meu pai fica gritando muito com minha avó, e ele jogou uma faca no pé dela, feriu e ela
teve que ir pro hospital”
“Meu irmão pega a moto da minha mãe e a moto sempre quebra né. Minha mãe falou
que a culpa é sempre dele... a gente não podia sair, a moto não ligava. Aí ela ligou pra ele ir
consertar a moto e ele começou a gritar e minha mãe ficou chorando e eu fui pra casa da
minha tia”
“O meu pai começou a gritar com minha mãe, jogou os brinquedos fora e eu não consegui
ficar em casa”
“As mães que batem nos meninos, que a gente sabe, não vê, mas sabe”
“Não gosto do meu tio, ele é muito estressado, já morreu, ele me bate, mas faz um monte de
miojo gostoso. Eu não gosto porque ele faleceu”
“Felipe que mora perto de mim, vi ele brigando lá”
III-Violência Escolar:
Vários pontos foram apontados nas rodas de conversas com as crianças. Contudo, alguns
pontos foram recorrentes em todas as rodas. Os pontos a seguir estão em escala de maior
destaque e prevalência nas falas das crianças quando apontaram o que desejam para elas.
22 Observamos uma construção incompleta, talvez por este motivo um dos meninos disse que era preciso
bloco para fazer o telhado.
c) Recursos físicos, humanos e outras ações na escola:
Assim, foi imprescindível que o diagnóstico garantisse a escuta desse público sem que
94
seja necessário seu enquadramento nos padrões adultocêntricos de participação, para
que (os adolescentes) despertem o interesse pela participação e, assim, também possam
ter esse meio como uma forma de efetivação e de pleno exercício da cidadania.
Nessa direção, reconhecendo o adolescente como sujeito de direitos, valorizando como
sujeito ativo e assegurando suas vozes, olhares e participação nas decisões e nos assuntos,
sobretudo do lhes dizem respeito, o diagnóstico incluiu a escuta qualificada de adolescen-
tes como estratégia fundamental para o levantamento dos problemas vividos por elas e a
identificação, e o que elas propõem para Irará.
Para tanto, foi adotada uma metodologia qualitativa de Grupo Focal, que escutou 7 ado-
lescentes23 , todas do sexo feminino.
23 As adolescentes foram as participantes do O Núcleo de Cidadania de Adolescentes (NUCA). Ele foi cons-
tituído como parte da metodologia do Selo UNICEF. Todos os municípios participantes dessa iniciativa são
convidados a implantar Núcleos de Cidadania de Adolescentes. São grupos de adolescentes que se orga-
nizam em rede, discutem questões importantes para o seu desenvolvimento, implementam ações e levam
suas reivindicações à gestão pública municipal. Ele reúne adolescentes de diversas localidades do município,
com ou sem experiência em grêmios estudantis, grupos culturais, associações de moradores, entre outros
coletivos. O NUCA atua em diálogo com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
(CMDCA) de Irará para ampliar a participação de adolescentes nessa instância e garantir que suas decisões
levem em conta a opinião e propostas de adolescentes sobre questões ligadas aos seus direitos.
6.2.1 A cidade de Irará para os/as adolescentes
Para os adolescentes, Irará é uma cidade muito boa para viver, sobretudo ao longo infân-
cia. Para as adolescentes entrevistadas, é um território que quando criança, podiam tran-
sitar, andar e brincar na rua, com pouca violência - realidade muito diferentes de grandes
centros urbanos. Apesar de apontarem que o contexto tem mudado e a violência está
presente em todos os lugares, elas destacaram que ainda hoje conseguem viver a cidade.
“Em Irará a gente não vê violência, eu não tenho medo de sair aqui à
noite, às 21h. Ter, até tem, mas não com tanta frequência. Comparando
às cidades maiores aqui é muito mais calmo, muito mais seguro; seguro
porque todo mundo se conhece.
“É uma cidade boa para a sua infância, crescer aqui é confortável porque
as coisas são perto, é mais tranquilo”
“Eu diria que Irará apesar de toda riqueza cultural, digo isso porque eu
vejo uma cidade muito rica culturalmente, é uma cidade muito limitante,
por exemplo. Em questão de lazer, aqui nós temos praças, se a gente 95
quiser ir ao cinema, precisamos ir para fora porque Irará não é uma cidade
que proporciona esse tipo de lazer [...]”
“Aqui é uma cidade muito rica de cultura, mas acho que a cultura ainda
não está sendo feita de maneira certa. Lazer não temos muito, temos
praças e poderíamos ter mais eventos, promover atividades durante os
finais de semana para movimentar mais a cultura. Fora as festas de São
João e lavagens, o município não tem nada”
“Na adolescência, reclamamos o tempo todo porque não temos nada
para fazer e sentimos vontade de fazer outras coisas, usamos redes sociais
e observamos como são nos outros lugares e ficamos “nossa que legal”.
Aos finais de semana a gente compra açaí e vai para a praça, não tem
muito o que fazer. Por isso, quando tem festa na cidade e a galera vem pra
cá, a gente fica animado porque é uma coisa diferente. Todo adolescente
que mora aqui reclama o tempo todo por não ter muito o que fazer.
“A gente tem um clube [...], mas que não é tão legal. Não tem um clube
que oferece esporte, lazer, que faça coisas diferentes. Durante a semana
é a mesma rotina para todo mundo, a gente estuda, mas quando chega
sexta, sábado e domingo, a gente não quer ficar dentro de casa sem ter
o que fazer, a gente quer sair. E a gente tem tantas praças, tantos lugares
para promover projetos e eventos e os espaços não são utilizados. Nosso
passeio é esse, ficar andando de praça em praça, um final de semana
vamos em um, outro final de semana vamos a outro. A gente acha muito
chato viver aqui. Não é desmerecendo a nossa cidade, mas aqui não tem
muita opção do que fazer, a gente vive isso e se a gente não tiver oportu-
nidade de morar em outra cidade durante o ensino médio ou durante a
faculdade a gente vai perder a nossa adolescência nisso. ”
Apesar dos depoimentos anteriores, muitos reconhecem a riqueza cultural que o municí-
pio construiu ao longo dos anos e se orgulham disso. Contudo, é ponto comum a todos
que atualmente é um lugar que não é estruturado para eles. Da mesma forma que apon-
tam a pouca ou quase nenhuma ação de cultura, esporte e lazer, também evidenciam
problemas no campo da educação. Para eles, a educação precisa melhor a qualidade, ter
mais investimentos e geração de oportunidade de emprego, pois “aqui depois que termina
o ensino médio você precisa sair, não tem nada para nos oferecer”. As frases anteriores se
somam a todos que participaram do grupo focal:
“Para mim, ser jovem em Irará é muito difícil porque no que diz respeito
à educação a gente precisa sair da cidade para fazer uma faculdade, fazer
um curso, até mesmo em questão de trabalho você não tem muita opção
aqui em Irará”
“[...] na questão da educação mesmo, se a gente quer fazer uma facul-
dade, conhecer novos ares, questões maiores de fato, a gente precisa ir
para fora da cidade porque o município não nos oferece isso”
“Eu estava conversando isso com a minha tia esses dias, você vê a nova
geração onde os pais não educam os seus filhos, isso no futuro vai gerar
problemas e a gente também não está recebendo educação boa, claro,
96 que a gente precisa ter uma base para fazer Enem, vestibular”.
“Tem outra coisa que esqueci de falar, justamente por ser uma cidade
pequena, até para você (jovem) se expressar é muito difícil porque a men-
talidade das pessoas que moram aqui, por se conhecerem (terem algum
grau de parentesco, familiar ou de amizade) até mesmo para uma pessoa
se autodeclarar homossexual é muito difícil”
Outro problema recorrente apresentado pelos adolescentes foi a violência contra as ado-
lescentes. Segundo relato das adolescentes, elas e suas amigas muitas vezes vivenciam
seus corpos sendo assediados e muitas vezes invadidos.
OS PROBLEMAS NA CIDADE
Na Educação
1. Falta de investimento em educação,
2. Pouco direito de falar e participar da vida escolar;
3. Pouco suporte psicológico e social;
4. Falta de boa coordenação e apoio;
5. Precariedade estrutural das escolas e de materiais de apoio;
6. Não proporcionam cursos superiores obrigando o jovem a buscá-los fora;
7. Falta de investimento e de campanhas educativas.
Na Cultura, esporte e lazer
1. Falta de investimento para a população jovem;
2. Falta de projetos;
3. Falta de entretenimento para os jovens;
4. Não existe oportunidade de esporte para todos;
5. Falta de projetos e investimento em praças que podem ser utilizadas em projetos
e campanhas para os jovens.
Saúde
1. Campanhas / locomoção;
2. Equipamentos;
3. Pouco espaço e apoio;
4. Investimento precário em aparelhos para exames e procedimentos;
5. Falta de investimento e apoio em campanhas que abordem problemas mentais;
Segurança
1. Esconder casos;
2. Falta de apoio;
98
3. Falta de vigilância no município;
4. Direcionamento de centros de denúncia;
5. Falta de conscientização dos jovens para saber quando procurar e distinguir o
certo do errado;
6. Muita pressão psicológica;
7. Não conseguir desabafar.
Educação
1. Ensino de maior qualidade;
2. Promoção de cursos técnicos;
3. Investimento em educação;
4. Investimento para melhorar a qualidade dos educadores;
5. Investimento em materiais de apoio para ampliar o arcabouço dos alunos.
Cultura, esporte e lazer (cor amarela)
1. Incentivo à cultura;
2. Inauguração de clubes;
3. Eventos que buscam abrir mentes e conscientizar a população acerca de novos
assuntos e reformular pensamentos que já não se aplicam;
4. Investir em projetos;
5. Mais ações e projetos;
6. Projetos / eventos;
7. Investimento para abertura de novos espaços de lazer, como cinema, karaokê,
boliche e outros.
Segurança
1. Apoio em rede; 99
2. Mostrar a realidade para a população ter cuidado e segurança;
3. Criação de campanhas contra a violência e de conscientização com o objetivo de
direcionar a população e reduzir índices negativos.
101
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba, no ano de 2023.
Elaboração própria
Como podemos observar no Gráfico 21, mais da metade estuda no turno da manhã.
É expressivo o quantitativo de estudantes que não está na escola em tempo integral.
Gráfico 21- Turno que estudam
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba, no ano de 2023.
Elaboração própria
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba, no ano de 2023.
Elaboração própria
Dos conjuntos dos adolescentes estudantes respondentes, a grande maioria, 85,5% deles
se autodeclaram negros – a soma dos pardos (45,5%) com os pretos (40%), conforme
Gráfico 23.
102
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba, no ano de 2023.
Elaboração própria
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba, no ano de 2023.
Elaboração própria
No que se refere ao local de moradia, a maioria dos respondentes reside na zona rural
(Gráfico 25) – o que expressa de um modo geral o perfil total dos adolescentes, do número
expresso no censo de 2022, conforme apresentado na seção 2 desse relatório.
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba, no ano de 2023.
Elaboração própria
103
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Três em cada quatro dos/das estudantes se identificam com o sexo biológico que nasceu,
conforme o Gráfico 27. Chama atenção o número de adolescentes que não souberam
responder à questão (13,5%).
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Com relação ao quesito “orientação sexual”, 69,8% do contigente pesquisado se declarou
heterosexual e quase 9% dos adolescentes estudantes não souberam responder (perto de
100 respondentes). São 10,1% ps que se identificaram como parte do grupo LGBTQIAP+24
no município de Irará, conforme gráfico 28::
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Sobre o percentual de adolescentes com deficiência, 93,9% dos 1.130 declarou não pos-
suir nenhuma deficiência e 3,5% afirmou ser deficiente, conforme gráfico.
104
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Dos 33 adolescentes que responderam ter alguma deficiência, 17% afirma ser deficiente visual,
13,5% apresenta deficiência intelectual, 11,1% deficente físico, 7,6% dificiente auditivo e
2,8% ter deficiências múltiplas, conforme Gráfico 30. Sendo que, destes que responderam ter
alguma deficiência, mais da metade (54%) expressa ter sido diagnósticada por laudo médico.
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
24 Conforme o UNICEF (2023), a sigla se refere às pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais e Travestis,
Queer, Intersexo, Assexuais, Pansexuais e (+), sendo este referente às “outras orientações sexuais, identidades
e expressões de gênero não abraçadas pela sigla.” (UNICEF, 2023)
Do total dos entrevistados, quase 96% dos/das adolescentes afirmam ter acesso à internet,
conforme gráfico abaixo:
Gráfico 31- Acesso à internet
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Vale destacar que entre aqueles/as que responderam não ter acesso a internet, os adoles-
centes na zona rural são quase 80%.
105
Gráfico 32 - Onde você usa a Internet
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
O maior número de adolescentes disse ter acesso à internet em outros lugares - quase
37% dos respondentes. 32,7% dos respondentes afirmaram ter em casa e na escola e 28,
1% somente em casa (zona urbana 33,3% e zona rural 66,7%). Por fim, temos 2,6% dos
adolescentes que só tem acesso na escola, sendo que destes, a maioria se encontra na
zona rural 66%.
Quando perguntado para qual fim utilizam a internet, 28,1% dos/das adolescentes res-
ponderam que utilizam para o entretenimento. Pouco mais de 20% pontuaram que usam
para estudar, conforme gráfico abaixo:
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Os/as adolescentes estudantes da zona rural são os que mais utilizam a internet para o
entretenimento, sendo o maior número é das adolescentes (58%). São os adolescentes mais
jovens (11-14 anos) que mais usam para esse fim (61%). No recorte de gênero, são as adoles-
centes que mais utilizam a internet para o entretenimento (55%), já os adolescentes (44%).
Foi indagado aos/às 1.130 adolescentes, com quem residiam atualmente. Parte significa-
106 tiva reside somente com o pai e mãe (35%), somente com mãe (28%) com os pais e outro
familiar (12,6%).
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Boa parte do grupo pesquisado se sente acolhido em seu ambiente familiar, conforme
gráfico a seguir. Contudo, é expressivo o número de adolescentes que afirmaram que isso
acontece “às vezes” e “nunca”.
Gráfico 35 - Se sente geralmente acolhido (a)
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
A maioria dos que se sentem acolhidos é da zona rural (60%) e constituída por adolescentes
mais novos 61%. Para os/as que disseram que às vezes se sentem acolhidos/as, um pouco
mais da metade é constituída por adolescentes mais velhos (51%), é da zona rural (59%) e
é mais no gênero feminino (61%). Já para aqueles/as que afirmaram que nunca se sentem
acolhidos, um pouco mais de 6%, a grande maioria também reside na zona rural (71%).
Boa parte dos/das adolescentes pesquisados tem o nome do pai no seu registro de nasci- 107
mento. Menos de 5% afirmou que não ter garantido esse direito - percentual quase igual
para aqueles/as adolescentes que assinalaram que não sabem informar se tem ou não o
nome do pai, conforme gráfico a seguir:
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Para esses que não têm o nome do pai no registro civil, mas informaram que que desejam
tê-lo, os/as adolescentes residentes da zona rural é maioria (61%) e do sexo masculino
(58%). Essa tendência também se observa para aqueles/as que não desejam inserir o
nome, a grande maioria é da zona rural (75%) de meninos (81,3%). Para aqueles que não
quiseram responder se querem ou não possuir o nome, a grande maioria é também da
zona rural (80%) e constituída por meninos (80%). Um pouco mais da metade desse grupo
(52%) externou o desejo de possuir o nome do pai. É expressivo o número de adolescen-
tes que não querem esse direito (25%).
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
7.2 ABORDAGENS
108
I- Sobre o tema uso de álcool e drogas
O uso de drogas é um fenômeno bastante antigo na História e constitui um grave pro-
blema de saúde pública, com sérias consequências pessoais e sociais de toda a sociedade.
A fase da adolescência é marcada por transformações físicas, psíquicas, sociais, sendo um
período de mudanças comportamentais e de maior suscetibilidade às situações de risco
em saúde mental e a comportamentos que podem fragilizar a saúde, como o consumo de
álcool e outros tipos de drogas.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o álcool é o maior fator de risco
de morte entre adolescentes entre 15 e 19 anos, superando o uso de drogas. O álcool é a
droga mais utilizada nessa faixa etária e pode causar intoxicações agudas graves, convul-
sões e hepatites. O Brasil ainda carece de bancos de dados oficiais e dados epidemiológi-
cos específicos em saúde mental e uso de álcool e drogas, principalmente na faixa etária
da adolescência (12 a 17 anos) e da juventude (18 a 21 anos).
Considerando tal situação, a pesquisa de percepção buscou identificar a incidência e fre-
quência do uso das drogas lícitas e ilícitas. Dos 1.130 adolescentes que participaram da
pesquisa, 77% afirmaram nunca ter usado alguma das drogas apontadas. Dos 23% que já
afirmaram usar, 223 já consumiram o álcool e 44 o cigarro eletrônico.
Gráfico 38 - Se já fez uso de drogas
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Os/as adolescentes mais velhos (as) foram aqueles/aquelas que mais disseram já ter
feito uso de álcool; (66%). O usa da substância é mais frequente entre as meninas (53%).
A automutilação tem maior prevalência nas/nos adolescentes da zona urbana (63%), os/as
mais velhos (90%) e com as adolescentes (58%).
Já para aqueles/as que afirmaram ter usado ou usam a maconha, o seu uso é mais expressivo
nos adolescentes, com 85%, pelos/pelas adolescentes; da zona urbana (58%) e pelos/pelas
adolescentes mais velhos (73%). A mesma tendência é com relação ao uso do cigarro ele-
trônico. Ele é mais usado pelos adolescentes (62%), pelos/pelas adolescentes que vivem na
zona urbana e pelos/pelas estudantes adolescentes mais velhos o índice é de (77%).
109
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
O percentual entre os/as adolescentes que se declarou feliz, boa parte do tempo é quase
igual; meninas (50,2%) e meninos (48,9%). Contudo, em relação à ansiedade, as meninas
afirmaram se sentirem mais ansiosas (68%) do que os meninos (32%). O mesmo acon-
tece com relação a se sentir com raiva, as adolescentes são maioria (68%), contra 32% de
adolescentes do sexo masculino. A mesma tendência é com relação se sentir com raiva.
110 A maioria é constituída do sexo feminino (75%), já os adolescentes do sexo masculino são
de apenas 25%.
Observando o local de moradia dos adolescentes, a maioria dos/das adolescentes que dis-
seram se sentirem felizes boa parte do tempo, a maioria está na zona rural (60,7%), contra
(39,3%) da zona urbana. Já aqueles que declararam se sentir triste, a maioria também está
na zona rural (56%), sendo 44% dos respondentes da zona urbana. Com relação a sentir
com raiva boa parte do tempo, os/as adolescentes da zona urbana são maioria (53%),
contra 47% da zona rural.
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
111
Para esses/essas adolescentes que afirmaram terem sofrido algum tipo de violência, os/as
adolescentes da zona rural são um pouco mais da metade (52%), contra os 48% dos/das
adolescentes da zona urbana. Ao analisar este dado, a partir do recorte de sexo, temos 52%
de respondentes do sexo feminino e 44% do sexo masculino.
Ao serem questionados sobre qual tipo de violência já haviam passado, as respostas estão
expressas no gráfico abaixo:
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
As adolescentes foram aquelas que mais afirmaram ter passado por violência psicológica
(67%). Já a violência física foi respondida pelos adolescentes (55%) e pelos/pelas adoles-
centes mais velhos (as) (53%).
No que se refere à violência sexual, é expressivo o percentual das adolescentes do sexo
feminino que assinalaram ter passado pela situação – 88%, já entre os do sexo masculino,
somente 8% afirmam ter sofrido esse tipo de violência. Os/as adolescentes mais velhos
também foram aqueles que mais passaram por violência sexual - 60%.
Para aqueles/aquelas que responderam já ter passado por algum tipo violência, as/os
adolescentes vítimas desse processo assinalaram que os principais autores foram os fami-
liares, os colegas, pessoas desconhecidas e por outros sujeitos não identificados, conforme
gráfico a seguir:
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
112 As adolescentes são aquelas que mais sofrem violência no interior da própria família (63%).
Já os adolescentes são um pouco mais que a metade quando a violência é cometida por
colegas (55%). Já a violência cometida por desconhecidos é majoritariamente frequente
com as meninas 68%.
b) Ações de autodepreciação
Segundo o Ministério da Justiça (2010), problemas de saúde mental em adolescentes
que não recebem tratamento estão associados a baixos níveis de realização educacio-
nal, desemprego, uso de drogas, comportamentos de risco, criminalidade, saúde sexual
e reprodutiva precárias, automutilação e cuidados pessoais inadequados. Esses fatores
intensificam o risco de morbidade e mortalidade prematura, e implicam em altos custos
sociais e econômicos, uma vez que frequentemente, evoluem para condições de maior
desadaptação social e práticas agressivas, como violação de regras.
Pensando nisso, foi perguntado aos adolescentes se eles/elas já haviam cometido alguma
ação de autodepreciarão. Do total dos 1.130 adolescentes que responderam ao questio-
nário, 80% nunca produziram uma ação de autodepreciação. Assim, os outros 20% dos
respondentes afirmaram já ter produzido, ou seja, 227 pessoas. Um total de 30,4% destes/
as declarou que já se automutilou, 27,5 já tentou suicídio e 23% já fugiram de casa, con-
forme gráfico abaixo:
Gráfico 43- Ações autodepreciantes
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
A maioria dos/das adolescentes que afirmaram ter passado por algum tipo de preconceito
está na zona rural (57%), contra 43% da zona urbana, sendo que as meninas são as que
mais afirmam ter passado por isso (meninas 60% e meninos 40%).
O maior tipo de preconceito apontado pelos respondentes tem a ver com a aparência
física (30%), seguido pela cor da pele (18,2%), conforme gráfico abaixo:
Gráfico 45 - Por qual tipo de preconceito já passou
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
A maioria dos que afirmaram ter passado por alguma situação de preconceito com relação
à aparência física (54%) é da zona rural, contra 46% da zona urbana. São as adolescentes as
maiores vítimas de preconceito 62%, sendo 38% dos adolescentes.
O preconceito em relação a cor também foi mais assinalado pelos/as adolescentes da zona
rural (55%), já os da zona urbana foi de 45%. As adolescentes também são a maioria a ter
passado por isso (meninas 53,8% e 43,4% dos meninos). Os/as adolescentes a partir de 15
anos são aqueles/as que mais assinalaram ter passado por algum tipo de preconceito, (56%).
114 Vale destacar que as adolescentes também são as maiores vítimas do preconceito com
relação ao peso. Por preconceito relacionado à obesidade, temos 76,3% do sexo feminino e
24% do sexo masculino. E por ser magro/a, temos 75% de meninas, contra 25% de meninos.
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Para os quase 50% dos/das adolescentes dos/as 1.130 pesquisados – que afirmaram
que gostam da escola- quase 1/3 (26,5%) afirmaram gostar mais dos colegas (ver gráfico
abaixo), sendo que a maioria desses respondentes residem na zona rural (61%).
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Os outros adolescentes que responderam gostar da escola, quer seja por causa das aulas
(24,9%), quer seja pelos professores (21,7%), somam quase 50% dos respondentes. Nas duas
situações apontadas, é expressivo o quantitativo de adolescentes que apontaram gostar da
escola, que residem na zona rural -56% por causa das aulas e 59% dos professores (59%).
Se foi expressivo o quantitativo de adolescentes que afirmaram gostar da escola, também
foi significativo o percentual daqueles/daquelas adolescentes que afirmaram gostar “às
vezes” - aproximadamente 42%, sendo a maioria deles/delas residentes na zona rural 115
(56%). Analisando a partir do critério de sexo, as meninas respondentes chegam a 55%, já
os meninos somam 42%.
Já para aqueles/as que afirmaram não gostar da escola (10,7%), os residentes da zona rural
foram a maioria (61%), sendo também expressivo o quantitativo de adolescentes do sexo
masculino que afirmaram não gostar da escola – 58%.
Analisando os motivos pelos quais os/as adolescentes às vezes gostam e/ou não gostam
da escola, é significativo o percentual de respondentes que atribuíram aos professores e às
aulas ministradas por eles como sendo os principais motivos (35%). Nas duas situações, o
maior número de adolescentes que responderam está na zona rural - com relação ao fato de
os professores serem chatos somam 63% e das aulas que não são interessantes chega a 53%.
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Ao serem perguntados se desejariam que a escola oferecesse atividades no contra turno, a
maioria deles/delas respondeu que sim - 60,3%, conforme gráfico a seguir:
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Vale destacar que os adolescentes da zona rural são aqueles/aquelas que mais desejam
atividades no contra turno - 61%. Para aqueles que externaram o desejo da escola oferecer
algo no turno oposto, o gráfico a seguir indica as atividades apontadas:
116
Gráfico 50 - Atividades que desejam ser oferecidas nas escolas
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Os/as adolescentes mais novos são aqueles/aquelas que mais participam (60%), a maioria
que participa está zona rural (59%) e os meninos são aqueles que mais participam (56%).
Já os/as adolescentes que afirmaram não participar, a maioria está também na zona rural
65% e as meninas são aquelas que menos participam - 70%.
Quando perguntado aos/às 28,5% dos adolescentes que responderam o porquê de não
participarem de alguma atividade no turno oposto ao da escola, o gráfico a seguir eviden- 117
cia o percentual:
Gráfico 52 - Motivos pelos quais não participam de atividades no contra turno escolar
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Foram os/as adolescentes da zona rural que mais sinalizaram que não participam de
alguma atividade “por falta de interesse” (68%), sendo a maioria dos/das respondentes do
sexo feminino (67%). Também é a maioria dos/das adolescentes da zona rural que não
participam de atividades no contra turno por “falta de opção no município” (55%), sendo
as meninas a maioria a apontar o motivo (69%).
A mesma tendência é percebida quando o motivo é “falta de tempo”. Os/as adolescentes
da zona rural foram maioria (61%) em apontar esse motivo, bem como as meninas foram
aquelas que mais apontaram a falta de tempo como sendo o fator responsável por não
participarem – 71%.
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
118
A maioria dos/das que afirmaram não participar está na zona rural (61%), sendo eles/elas
os/as adolescentes mais novos (56%) e são as adolescentes (54%). Os motivos apontados
de sua não participação, seguem no gráfico a seguir:
Gráfico 54 - Motivos pelos quais os/as adolescentes não participam de atividades culturais
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Os quase 30% que apontaram não participar “por falta de interesse” é constituído pelos/as
adolescentes (47,0% da zona urbana e 53% da zona rural), pela maioria dos adolescentes
mais novos (59%) e de 47% de meninas e 52% de meninos.
Os/as adolescentes que apontaram a falta de opção no município como motivo princi-
pal (24,1%) são constituídos de maioria da zona rural (64%) e das adolescentes (67%). A
mesma tendência é percebida quando o motivo é “falta de tempo” - a maioria é do sexo
feminino, 45%, e de adolescentes que residem na zona rural, 54%.
Quando perguntado aos/às adolescentes se o município deveria investir em atividades de
cultura, esporte e lazer, quase todos afirmaram que sim, conforme gráfico a seguir:
Gráfico 55 - O município deveria investir mais nas atividades de cultura, esporte e lazer
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Desses/as que responderam não participar, pouco mais da metade reside na zona urbana
(54%), é constituído majoritariamente pelas adolescentes (52%) e a maior parte é de ado-
lescentes mais novos (67%). Já para aqueles pouco mais de 12% - que afirmou participar
120 - a maioria é formada pelos/as adolescentes mais novos (70%), é da zona urbana (65%) e é
formada por meninos (61%).
Os grupos culturais e comunitários mais citados por esses respondentes foram o grupo
esportivo, religioso, seguido pelo cultural e, por último, o político, como evidência o grá-
fico a seguir:
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Para os/as que participam dos grupos esportivos, a grande maioria é de adolescentes do
sexo masculino (74,6%). Já os grupos culturais e religiosos é constituído na sua maioria
pelas meninas - 59% de meninas nos grupos culturais e 62% nos grupos religiosos.
VII- Sobre a relação entre trabalho e estudo
Em relação às suas atividades diárias desenvolvidas pelos adolescentes, podemos apontar
que poucos são aqueles que só estudam, conforme gráfico abaixo:
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Menos de 20% dos/as adolescentes entrevistados/as dedicam seu dia apenas para os
estudos. Mais da metade afirma que conciliam os estudados com a ajuda aos familiares
em casa (54,7%). Analisando esta questão à luz das relações sociais de gênero, observa-se
que do conjunto dos que afirmaram conciliar o estudo com a ajuda em casa, as estudantes
mulheres são a maioria, com 64%, já os adolescentes são minoria (36%). Esse percentual de 121
quase duas vezes de adolescentes que afirmaram ajudar em casa enquanto estudam, pode
informar a divisão sexual do trabalho. Ou seja, as meninas são aquelas que desde muito
cedo conciliam estudo com o trabalho reprodutivo não remunerado, fazeres domésticos
que são atribuídos historicamente às mulheres25.
Essa mesma tendência também é percebida entre aqueles/as que afirmaram estudar e tra-
balhar (recebendo alguma remuneração), sendo 76% dos respondentes do sexo feminino
reforçando a presença das mulheres nas atividades reprodutivas. A maioria que conciliam
estudo e trabalho remunerado estão na zona rural (57%).
Com vistas a compreender melhor essa relação “estudo e trabalho”, perguntou se os/as
adolescentes se desenvolvem com frequência algum tipo de trabalho no turno oposto ao
que estuda”. O percentual é expressivo daqueles que afirmaram sim, conforme gráfico a
seguir:
25 O trabalho reprodutivo, tomado aqui em seu sentido concreto, remete ao trabalho doméstico “que
ultrapassa amplamente as tarefas domésticas para incluir os cuidados corporais e afetivos com os filhos, o
seguimento de sua escolaridade e, mesmo, a produção física das crianças” (KERGOAT, 2018, p. 89). Trabalho,
invisível e desvalorizado, é não somente imposto às mulheres como tornado atributo natural da sua psique e
personalidade, como necessidade interna e aspiração inerentes à natureza feminina (FEDERICI, 2019)
Gráfico 60 - Desenvolve algum trabalho com frequência no turno em que não está na escola
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Os/as adolescentes da zona rural foram maioria (64%), sendo os meninos com maior pre-
valência (61%). Já para aqueles/as que afirmaram não realizar algum tipo de trabalho, as
meninas são maioria (58%) e os adolescentes mais novos - 61%.
Para os/as quase 40% de adolescentes que afirmaram desenvolver algum tipo de trabalho
com frequência, das questões apontadas no questionário, o percentual mais expressivo
identificado foi o trabalho na roça ajudando familiares, com quase 30%, conforme gráfico
122
a seguir. O percentual de adolescentes que afirmaram trabalhar no dia de feira (14,2%) e o
trabalho na casa de farinha (3,2%) parece expressar uma tendência de queda comparando
os dados do Censo (2010) que apontava percentuais expressivos de adolescentes traba-
lhando na casa de farinha e nas feiras livres de Irará.
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
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Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
A maioria dos/das que desejam, residem na zona rural (62%) e um pouco mais da metade foi
constituída de meninas (53,1%). Já para o pequeno número que respondeu não desejar reali-
zar cursos, a maioria foi dos meninos (60%) e um pouco mais da metade da zona rural (52,4%).
A grande maioria dos adolescentes mais novos não querem curso profissional (73,3%).
Os/as adolescentes que externaram realizar cursos também sinalizaram qual(is) curso(os)
pretendiam fazer, se tivessem oportunidade. Ver o gráfico:
Gráfico 64 - Em qual área deseja o curso Profissional
Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes e estudantes do município de Irará-Ba no ano de 2023.
Elaboração própria
As escolhas dos possíveis cursos também reiteram as relações sociais de gênero historica-
mente atribuídas. Os meninos foram aqueles que mais desejaram os cursos de informática/
robótica (58%) e na área Agropecuária / agroecologia (60,7%). Já as adolescentes foram aque-
las que mais assinalaram o curso de Escritório / administrativo (61%) e de cozinha (74,0%).
124
8. RECOMENDAÇÕES
O presente documento detalha o contexto de avanços e desafios em que as crianças e os
adolescentes de Irará estão inseridos constituindo-se, assim, como mais uma ferramenta
de informação para a elaboração e o planejamento das ações do município destinadas
à infância e juventude. Os achados encontrados nesta pesquisa podem contribuir para
a construção de políticas públicas mais eficientes, para a criação de metas e objetivos
norteadores da aplicação de recursos públicos, bem como expõem os avanços na oferta
de serviços, programas e projetos a essa prioritária parcela da população.
Nesse sentido, o objetivo dessa seção é contribuir com todas as pessoas que lidam coti-
dianamente com as crianças e adolescentes de Irará-Ba, destacadamente aquelas que
se ocupam na elaboração, implementação e avaliação das políticas públicas para/com
o público infanto-juvenil. As recomendações são oriundas das análises feitas ao longo de
toda pesquisa, resultante de um processo de triangulação de diferentes fontes - teóricas,
documentais e orais, priorizando sempre a criança e ao adolescente como protagonista
e sujeitos de direitos. Esse é o principal papel neste diagnóstico: criar diretrizes, um norte,
para que Irará se constituia enquanto um território protegido para as crianças e adolescen-
tes, sendo um espaço de promoção de direitos.
Assim sendo, recomendamos:
b) à vida e à saúde
1. Fortalecer as ações de Educação Permanente nas temáticas voltadas para crianças
e adolescentes, incluindo qualificações sobre as políticas e diretrizes voltadas a
esses públicos além de realização sobre temáticas relacionadas ao pré-natal, infec-
ções sexualmente transmissíveis, imunização, para o desenvolvimento de compe-
tências necessárias com vistas a prevenção, a identificação de sinais e sintomas de
violências e para o cuidado dessas situações;
2. Qualificar profissionais da Atenção Básica na estratégia “Atenção Integrada das
Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI)” para detecção precoce de doenças e
agravos que acometem essas populações vivendo em situação de vulnerabilidade
(principalmente diarreia e pneumonia), com o objetivo de contribuir para a redu-
ção da mortalidade infantil;
3. Fortalecer ações de gerenciamento de sistemas de informação utilizados pela
Secretaria Municipal de Saúde, utilizando espaços de compartilhamento de infor-
mações a partir das informações geradas nos serviços de saúde, para dar valor de
uso aos dados, bem como realizar a avaliação do cenário observado e construção
conjunta de planejamento de ações voltadas para potencializar os desempenhos
positivos e enfrentar os problemas observados;
4. Garantir atualização e educação permanente sobre os imunobiológicos;
5. Monitorar o avanço mensal das coberturas de cada vacina. O monitoramento
mensal das coberturas vacinais permite detectar oportunamente baixas cobertu-
ras, possibilitando a identificação de possíveis fatores responsáveis por essa situa-
ção, com o objetivo de adotar medidas para revertê-la;
6. Fomentar as ações de Vigilância em Saúde voltadas para a redução das infecções
sexualmente transmissíveis, incluindo a disponibilização de insumos necessários
à prevenção, diagnóstico e tratamento das infecções sexualmente transmissíveis;
7. Promover ações de educação permanente no âmbito da Vigilância em Saúde;
8. Promover estratégias para qualificação de profissionais no registro de dados que
alimentam os Sistemas de Informação em Saúde para viabilizar o adequado moni-
toramento dos indicadores de saúde e, consequentemente, o correto planeja-
mento das ações para a melhoria da qualidade de vida da população, em especial
de crianças e adolescentes;
9. Estimular o aleitamento materno até 2 anos ou mais, inclusive com o aleitamento
128 materno exclusivo nos primeiros 6 meses;
10. Intensificar as estratégias de vigilância alimentar e nutricional, com destaque para
a introdução da alimentação complementar, que terá impacto para todos os ciclos
de vida do indivíduo;
11. Garantir atenção pré-natal qualificada, incluindo a detecção de complicações ges-
tacionais, para que seja realizado referenciamento oportuno, e quando necessário
encaminhamento para serviço especializado e Atenção Hospitalar, respeito a diver-
sidades culturais, práticas e saberes no cuidado na gravidez, parto e nascimento;
12. Acompanhar o crescimento e o desenvolvimento de crianças, com registro ade-
quado na Caderneta, em relação ao peso, à altura, às vacinas, à suplementação de
ferro e vitamina A;
13. Acompanhar o crescimento e o desenvolvimento de adolescentes, com registro
adequado na Caderneta de Saúde do Adolescente;
14. Fortalecer e ampliar as ações realizadas para o público adolescente, com vistas a
garantir vinculação com os serviços de saúde e ponto estratégico de segurança
para esse público, enquanto indivíduos na sociedade;
15. Implementar as atividades educativas de promoção da saúde na escola, coerente
com a cultura local e a prevenção de violências;
16. Garantir a atenção humanizada e qualificada ao parto e ao recém-nascido no
momento do nascimento, com capacitação dos profissionais de enfermagem e
médicos;
17. Divulgar amplamente o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção
da Transmissão Vertical de HIV, Sífilis e Hepatites Virais nas unidades da rede básica
e maternidades;
18. Realizar atividades de educação permanente abordando o manejo da sífilis na
gestação, bem como a congênita e a vigilância epidemiológica desses agravos.
19. Organizar e qualificar os serviços especializados para atenção integral a crianças,
adolescentes e suas famílias em situação de violência sexual;
20. Implementar a “Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças,
Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violências”;
21. Realizar articulação de ações intrasetoriais e intersetoriais de prevenção de aciden-
tes, violências e promoção da cultura de paz;
22. Implementar protocolos, planos e outros compromissos sobre o enfrentamento às
violações de direitos de crianças e adolescentes pactuados com instituições gover-
namentais e não governamentais, que compõem o sistema de garantia de direitos;
23. Desenvolver ações intra e intersetoriais para o desenvolvimento integral de crian-
ças e adolescentes e a promoção da cultura de paz, visando ao empoderamento
e fortalecimento das competências familiares para bom vínculo afetivo e para
educação sem violência, e promover campanhas informativas e educativas sobre a
prevenção de violências contra crianças, adolescentes e estímulo à cultura de paz;
24. Fortalecer ações que busquem a inclusão de crianças e adolescentes com defi-
ciências, quilombolas, do campo e em situação de rua, entre outras, nos serviços
de atenção à saúde; 129
25. Implementar diretrizes para atenção integral à saúde de crianças e adolescentes
em situação de trabalho infantil;
26. Estabelecer espaços de diálogo entre equipes de referência, equipes matriciais e
gestores para a consolidação do matriciamento;
27. Fortalecer o trabalho para implementação da Política Nacional de Saúde Integral
dos integrantes da comunidade LGBTQIAP+;
28. Estabelecer diálogo e ações intersetoriais através do Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA); e
29. Implementar diretrizes para atenção integral à saúde de crianças na primeira infância.