DISCIPLINA: MATRIZES DO PENSAMENTO EM PSICOLOGIA - BEHAVIORISMO
DOCENTE: GABRIEL RODRIGUES
ATIVIDADE: CULTURA E LIBERDADE
DISCENTES:
ALINE JESSIKA SANTOS GONÇALVES DE SOUZA
LUANNA KAROLINA ALVES CORRÊA PEDRO PAULO DINIZ SOARES ROSYELLE PATRÍCIA SANTOS ARAÚJO
São Luís -MA
2024 CULTURA
Para entender o conceito de Cultura, precisamos primeiro entender como o Behaviorismo
Radical busca explicar o comportamento Humano. A Ciência do Comportamento proposta por B. F. Skinner (1904-1990) procura explicar os fenômenos comportamentais dos organismos. O objeto de estudo de sua ciência é o comportamento. Três tipos de comportamentos são descritos e explicados, são eles: o comportamento reflexo, o comportamento liberado e o comportamento operante. Dentre os operantes tipicamente humanos, têm-se o comportamento social e o comportamento verbal. De acordo com os pressupostos do Behaviorismo Radical, a evolução desses comportamentos ocorre por processos de variação e seleção em três níveis que se inter-relacionam: o nível filogenético, o nível ontogenético e o nível cultural (no caso da espécie humana). Esses processos de variação e seleção foram descritos por Skinner (1981) como o modo de causalidade que torna possível a evolução das espécies (por meio da seleção natural de Darwin), dos comportamentos de indivíduos e das culturas, isto é, de características biológicas, comportamentais e culturais. Esse modelo causal foi denominado explicitamente por Skinner em 1981 como o modelo de seleção pelas consequências (Skinner, 1981). Segundo Skinner (1981), o terceiro nível de seleção (nível III), dado na cultura, é o campo das contingências culturais, ou seja, das contingências especiais de reforçamento mantidas por um grupo. Ele argumentou que o fato primordial para o desenvolvimento dos ambientes sociais ocorreu quando a musculatura vocal na espécie humana passou a ser sensível ao controle operante, o que, por sua vez, possibilitou a evolução do comportamento verbal. Foi o comportamento verbal que tornou possível aos indivíduos da espécie humana desenvolver padrões comportamentais de cooperação, formação de regras e aconselhamento, aprendizagem por instrução, desenvolvimento de práticas éticas, técnicas de autogestão e, além disso, o desenvolvimento do autoconhecimento ou da consciência. Desse modo, investigar a cultura de acordo com a perspectiva da Análise do Comportamento implica entendê-la como um terceiro nível seletivo. A variação no terceiro nível de seleção refere-se às práticas culturais, ou seja, são as práticas culturais que constituem as unidades sujeitas à seleção. Segundo Skinner (1971/2002; 1981), as práticas de uma cultura compreendem a maneira como um povo cuida de suas crianças, cultiva seus alimentos, produz seu tipo de habitação ou vestuário, como se diverte, como forma seu governo, sua religião, suas instituições, como seus membros tratam uns aos outros, entre outras características. Portanto, de certo modo, a cultura pode ser entendida como os costumes de um grupo de indivíduos, e costumes ou práticas culturais são, em uma linguagem skinneriana, comportamentos de indivíduos em grupo. Um estudo abrangente que apontou alguns aspectos que diferenciam as práticas culturais do comportamento operante de um único indivíduo foi o de Dittrich (2004). Esse autor apontou 3 aspectos importantes na definição de uma prática cultural: primeiro — uma prática cultural pode ser definida como um conjunto de operantes reforçados pelos membros de um a cultura. Segundo - para que se tomem práticas culturais, os operantes devem ser transmitidos como parte de um ambiente social. Terceiro - para que um conjunto de operantes possa ser caracterizado como práticas culturais, a transmissão entre diferentes gerações deve ser assegurada. Isso ocorre quando os membros de uma cultura são ensinados a “praticar a prática” e, além disso, “ensinados a ensinar” a prática. Assim, esse autor destacou que a transmissão intergeracional de operantes é a marca principal do processo de variação e seleção no terceiro nível daí podermos falar em evolução da cultura propriamente dita. As práticas educacionais da grande maioria das culturas podem ser um bom exemplo de práticas culturais formadas pelo comportamento de indivíduos em contextos sociais e transmitidas entre diversas gerações. Embora cada cultura apresente maneiras diferentes de ensinar conhecimentos diversos aos seus membros, as práticas educacionais vem se mostrando efetiva, em certa medida, na resolução dos problemas das culturas em geral. É importante salientar que nos comportamentos operantes encontramos a “matéria-prima” para a construção das práticas culturais. Assim como no desenvolvimento ontogenético, as respostas inicialmente indiferenciadas dos organismos representam os alicerces na formação dos comportamentos operantes. Nas práticas culturais, por sua vez, os comportamentos operantes estabelecidos em uma determinada cultura assumem o papel de bases para a constituição das práticas culturais. Entretanto, apenas aqueles operantes que forem transmitidos entre gerações podem constituir as práticas de uma cultura e, ao se constituir como práticas culturais, tornam-se unidades sujeitas à seleção para o terceiro nível. Deste modo, práticas culturais surgem primeiramente de operantes, mas não são esses operantes que são selecionados, e sim as práticas já constituídas: elas são as unidades de seleção no terceiro nível. Segundo Dittrich (2004, p. 135), “a conjunção dessas características permite atribuir a um terceiro nível seletivo a configuração das culturas”. Além disso, esse autor salientou que frequentemente práticas culturais são executadas de modo coletivo: governar, educar, promover a saúde dos indivíduos, produzir bens de consumo, bens artísticos ou científicos. Tais atividades são as práticas de uma cultura. A partir da definição de comportamento social de Skinner (1953/1965), Glenn (1988, 1991) defendeu que, em contingências entrelaçadas de reforçamento, o comportamento do indivíduo teria tanto o papel de ação como o de ambiente (para o comportamento de outros). Esse “duplo papel” que o comportamento de cada indivíduo desempenha nos processos sociais define as “contingências entrelaçadas de reforçamento”. Passando às práticas culturais, Glenn (1988, p. 167) as define como um conjunto dessas contingências entrelaçadas: “Em resumo, uma prática cultural é um conjunto de contingências entrelaçadas de reforçamento no qual o comportamento e os produtos comportamentais de cada participante funcionam como eventos ambientais com os quais os comportamentos de outros indivíduos interagem.”
Deste modo, uma prática cultural envolve as contingências entrelaçadas entre os
comportamentos operantes de cada indivíduo; assim, produz consequências reforçadoras. Mas, além disso, uma prática cultural também produz feitos agregados como produtos de práticas culturais e esses produtos terão um papel sobre o fortalecimento ou não de uma cultura (Glenn, 1988). Glenn (1988) defendeu que no terceiro nível de variação e seleção são os produtos agregados que como “consequências de práticas culturais” selecionam tais práticas. Segundo Glenn e Malagodi (1991), o produto agregado, como consequência de uma prática cultural, causa mudanças ambientais que podem (imediatamente, gradualmente ou a longo prazo) fortalecer ou enfraquecer as contingências entrelaçadas de reforçamento (que envolvem necessariamente o comportamento social), e é nesse sentido que o produto agregado pode selecionar as práticas culturais. A Análise do Comportamento entende a cultura como um terceiro nível de seleção pelas consequências. “Práticas culturais podem ser consideradas como casos especiais de operantes, pois são comportamentos que são transmitidos entre indivíduos e através de gerações” (Mattaini, 1996b, p. 15). No entanto, para Mattaini, o marco divisório entre o segundo nível de seleção (do comportamento operante) e o terceiro nível (a cultura) parece ocorrer quando os comportamentos operantes são transmitidos entre as pessoas e mantidos por meio de reforçamento social. Mattaini (1996a) destaca que as práticas culturais, reforçadas pelos membros de uma cultura devido às vantagens que trazem ao grupo, são mantidas e selecionadas por apresentarem resultados favoráveis. Ele menciona as consequências que influenciam o fortalecimento das culturas como produtos resultantes de contingências entrelaçadas de reforçamento. A "contingência entrelaçada" refere-se a uma situação na qual as contingências de reforço para diferentes indivíduos estão interconectadas, de modo que o comportamento de um influencia diretamente o comportamento do outro. Esse conceito realça a natureza interativa e interdependente dos comportamentos em contextos sociais, nos quais as ações de uma pessoa têm implicações diretas nas ações de outras pessoas e vice-versa. E por meio desse conceito, surgem o comportamento cooperativo e o comportamento verbal. Outro conceito relacionado às "contingências entrelaçadas" é o de metacontingência. Este envolve a identificação de padrões de comportamento interdependentes que emergem em contextos sociais ou culturais específicos. Destaca-se, então, como os comportamentos de um grupo de indivíduos estão relacionados entre si e como essas relações influenciam o ambiente social e cultural em que ocorrem. Conforme definido por Glenn (1988), a metacontingência concentra-se na análise das interações comportamentais entre grupos de indivíduos e nas consequências dessas interações para a cultura e a sociedade como um todo. Diante dessa perspectiva, conforme destacado por Melo, Garcia, Rose e Faleiros (2012, p.178), a visão de Skinner ressalta que uma cultura se fortalece ao permitir a manutenção de práticas com valor de sobrevivência positivo e a extinção daquelas com valor negativo. Nesse contexto, é relevante abordar o planejamento cultural, que implica na identificação e implementação de contingências de reforço para promover os comportamentos desejados e desencorajar os indesejados. Dessa forma, as práticas culturais que contribuem para o fortalecimento de um grupo, de uma cultura ou mesmo da humanidade são reconhecidas por apresentarem um "valor de sobrevivência positivo". Portanto, elas geram o que Skinner denominou como o "bem" da cultura. Tais comportamentos fortalecem a cultura ao torná-la mais capaz de resolver seus desafios e adaptar-se às demandas do ambiente.