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UNIDADE CURRICULAR: LEITURA EM AMBIENTES DIGITAIS

CÓDIGO: 11073

DOCENTE: Maribel Pinto

A preencher pelo estudante

NOME: Cátia Filipa Domingues Correia Aires

N.º DE ESTUDANTE: 2103853

CURSO: Licenciatura em Educação

DATA DE ENTREGA: 09 de Abril de 2024.

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TRABALHO / RESOLUÇÃO:
A) Para nós, a leitura é hoje um ato natural e rotineiro, derivada do latim “lectura” com a acepção
do que se lê, os seus primeiros registos escritos, contam com mais de 5 mil anos de história, surgidos
pela necessidade humana, económica, organizacional e propagação da sociedade, desenvolvendo-se na
medida que a carência ia aumentando. Foi no Egipto que o impulso da comunicação adveio, através de
Escribos e Sacerdotes, em leituras públicas aos populares, iniciando-se grandes marcos, com o código
de Hamurabi (formalização da lei), a Pedra de Roseta (decifração de códigos), originando a leitura
silenciosa, na idade média pela imposição dos monges na concentração de manuscritos, promovida a
prática comum após a invenção da prensa de Gutenberg (símbolos moldados a chumbo, passados a
tinta de linhaça e impressos em papel), responsável pela Bíblia Sagrada. Este privilégio reservado
apenas às elites converteu-se a partir da Roma Antiga, passando a ser uma atividade oral e coletiva,
extremamente importante para a civilização, em diversas finalidades, crucial no processo educativo, na
estruturação e instauração dos sentidos do ser humano até aos dias de hoje.
A leitura é um “complexo processo cognitivo (…) uma interação entre o texto e o leitor, moldada
pelo conhecimento prévio, experiências, atitudes e comunidade linguística do leitor” (Wikipédia, cit in
Cerlalc, 2020, p.19), ensinada mas também trabalhada, uma habilidade desenvolvida na interpretação
(pessoal) de um composto de informações ou acontecimentos, armazenada e transmitida mediante
estabelecidos códigos, linguagem, visual, ótica e tátil, implicando a ativação dos diversos mecanismos,
atividade neurológica (fisiológica), capacidade de fixação da visão (biológica) e descodificação de
caracteres (psicológica), permitindo a história e a individualidade do individuo travessos à sua
ideologia. De acordo com o autor Alberto Manguel “ler é um ato de poder”, a autenticidade do leitor,
relaciona-se a cada época e segmento, estando suscetível a mudanças e adaptação em virtude de
transformações tecnológicas, sociais e culturais, nos múltiplos e variados modos de leitura, “identificar
novos leitores, cujas modalidades de leitura e escrita em ecrãs ganham estatuto de praxis quotidiana,
da mesma forma que a leitura de livros, revistas e a escrita em papel foi rotina para gerações
anteriores” (Cardoso, 2014, p.6), “esta diferença entre ler em papel e ler num ecrã de computador
aumentou nos últimos dez a quinze anos” (Delgado et al., 2018, cit in Cerlalc, 2020, p.32),
confrontemos então ambos.
A leitura em papel é especificamente voltada para a impressão de livros, revistas, jornais,
exercendo um papel centrado na dispersão da cultura e do conhecimento, como meio básico e
conceituado na educação, sobretudo os livros, que oferecerem traços topográficos orientadores, uma
capa coerente seguidos de texto fluido, sem interrupções de anúncios ou links de Internet, permitindo
escrever nas margens, sublinhar e destacar conteúdo de relevo, tornando-o mais próximo, transmitindo
tranquilidade, um género de meditação, permitindo uma maior capacidade de leitura menos exigente e
cansativa, atenciosa nos detalhes, mais concentrada e com maior qualidade, que para além de
colecionáveis e pensados minuciosamente para o público, constroem uma imagem de seriedade.

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“A vida de um livro não está na materialidade (…) que a sua publicação constitui. A sua vida está na
constante reinvenção que o ato de ler institui (…) aberto para a leitura que o transforma, no próprio
ato (…) sendo rescrito ao deixar-se ler, e ser lido, enquanto escrito” (Vogt, 2008).
Do ponto de vista de Cardoso (2014), “a leitura digital (…) ocupa à luz do novo objeto significa
desde logo ultrapassar a questão da simples leitura de textos impressos e referenciar um vasto corpus
analítico composto por sites, blogues, facebook, twitter, e-mails, e-books, a que acede por via de
diferentes dispositivos, computador, telemóvel, tablet ou e-reader” (p.5), menos dispendiosos, outros
gratuitos, fáceis de transportar para qualquer lugar, sem peso, adaptáveis ao nível de competência de
cada pessoa, flexíveis e propícios às necessidades e ao progresso de cada ledor, oportuniza várias
opções com apenas um toque, em simultâneo a ferramentas como complemento, consentido a
personalização de fontes e tamanhos de letra. No entanto “o aumento da exposição de nativos digitais
às telas não contribui para uma melhor compreensão geral dos textos lineares no digital” (Delgado et
al., 2018, cit in Cerlalc, 2020, p. 25), podendo até ser considerado excesso de confiança e superficial,
pela rapidez de absorção, tornando a cognição digital mais difícil que a impressa, afetando as ideias
principais, os detalhes, expondo o cérebro a conteúdos menos completos, perdendo-se o “controle
inibitório, pelos elementos distratores, atuando melhor quando estamos perante cara a cara com os
textos (…) dando a estes uma atenção e o foco bastante diferente entre ambos” (Rabelo, 2023).
O relatório PISA, evidência que não censura a leitura digital, mas realça que cada estilo tem um
público próprio, justificando o valor do papel em textos longos, quando acarreta a profunda retenção
de informações, adoptando uma “perspectiva pré-internet” (Cardoso, 2014, p.5), porém a digitação
funciona, mas a escrita à mão contínua até hoje a ser a melhor ferramenta de auxílio à memória. Na
verdade, mesmo com a existência desde sempre da conexão entre a leitura e a escrita, é benéfica a
união de ambos (papel e digital), todavia nenhuma tecnologia atual ou futura, poderá fazer com que o
papel perca a relevância, não existindo assim uma resposta certa, o que é certo é que os diferentes
formatos atendem a diferentes objetivos, e o que gera a diferença não está meramente no género mas
no individuo - para quem?, para quê? e quando?, “ser capaz de combinar a leitura aprofundada baseada
em papel com a velocidade da multitarefa online em processos de busca de informações pode levar a
habilidades mentais inteiramente novas e novas formas de pensar” (Van der Weel, 2011, cit in Cerlalc,
2020, p.27).

B) A leitura tem vivenciado grandes transformações com as novas práticas e costumes perante o
seio digital, com o enorme avanço tecnológico que se faz sentir, estas mudanças não só afetam os
inúmeros sentidos da vida em sociedade, como o ledor tem acesso a um mundo virtual com os diversos
textos produzidos, extramente veloz sem distâncias territoriais, pelo uso do computador, da Internet,
propiciando uma universalização das informações, abrindo um novo modelo de interlocução, de
interatividade, independente e inovador, com disponibilidade aleatória e informal na expansão do seu

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domínio, vista como difusão de conhecimento em massa, dando a qualquer individuo o poder de
navegar, ler e escrever, tornando-o mais ativo, conhecedor de ferramentas, prático e liberal, existindo a
quebra entre o elo físico com o produto impresso escrito.
Do ponto de vista de Chartier (1999), “o mundo contemporâneo está em tensão justamente pela
divulgação acelerada que a tecnologia possibilitou ao conhecimento, tornando-o universal”, são novos
hábitos, ações, expetativas criadas em torno de texto e da leitura, uma linguagem que ganha novos
valores, estruturas, mobilidade, imagens e até música na sua composição, evidenciando um conflito
entre o coletivo e o particular pela possibilidade de alterações e distribuições que podem ocorrer, por
serem facilmente copiados e modificados por qualquer internauta, até sem o próprio autor,
transportando consigo alterações comportamentais nas pessoas, tendo elas que se adaptar às novas
atitudes e técnicas de leitura (Chartier, 1999, p.93).
Como refere o autor do excerto “el problema que se mantiene es cómo estimular uma mejor
autoregulación” (Schillhab et al., 2020), a gestão da conduta online, é uma área que exige grande
dificuldade na autorregulação, é um desafio para qualquer família, especialmente nos adultos
(enquanto modelo dos seus filhos), mesmo que habituados a orientar outras áreas de aprendizagem
autorreguladora que acarretam princípios e medidas (alimentação, higiene), os “nascidos após 1984
(…) não têm nenhum conhecimento aprofundado da tecnologia (…) limitado, em habilidades básicas
no pacote Office, e-mails, mensagens de texto, facebook e navegação de Internet” (Kirschner e De
Bruyckere, 2017, p.99), “dando a imagem dos jovens, novas mídias e suas experiências vistas através
da lente adulta, não refletindo a realidade da situação” (Herring, 2008), dando a estes novos
comportamentos simplistas e superficiais, gerando desigualdade e uma problemática em diversos
aspetos. Sob outra perspetiva, “os cérebros mudam fisicamente” (Cerlalc, 2020, p.93), a infoexclusão
ou a iliteracia digital dos pais é igualmente uma oportunidade de concretizar uma mudança no sentido
de aprendizagem (os pais podem aprender com os filhos), contribuindo-se assim para uma construção
de um novo sentido, não só entre relação pessoa-família-tecnologia, como em conjunto um sistema de
orientação, evitando o consumo excessivo, por exemplo, uma negociação no acesso das TIC,
promoção de um dia sem tecnologia, supervisão de acesso aos conteúdos, utilização das TIC como
uma recompensa de um comportamento adequado, com vista a uma visão critica que favoreça a
autorregulação do comportamento, refletindo sobre os efeitos dos atos, “o ser humano aprende a
adaptar o seu comportamento, padronizando os seus estilos de pensamento e comportamento segundo
exemplos funcionais de outras pessoas” (Bandura, 2008, p.16), mostrando que não está na idade, mas
na preferência e familiaridade com os meios digitais, como cotação evolutiva, uma vez que estas novas
gerações consumidores passivos de informação, de formas próprias, criadores de conteúdo e ativos nas
ferramentas, tecnologias e aplicativos da Web 2.0, conferem à “literatura um ato de aprender um
carácter estratégico” (Silva, Simão, Sá, 2004).

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Referências Bibliográficas:
• Bandura, A. (2008). A evolução da teoria social cognitiva. In: Bandura, A.; Azzi, R.G.; Polydoro, S.
(Org.). Teoria social cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed. p.15-41.

• BRAINFACTS. Disponível em: https://www.brainfacts.org/neuroscience-in-society/tech-and-the-


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• Cameira, E. & Cardoso, G. (2014). A sociologia da leitura e o (novo) paradigma digital: uma relação
a explorar. In Cardoso, G. (org), O livro, o leitor e a leitura digital. Disponível em:
https://elearning.uab.pt/mod/resource/view.php?id=874099;

• CERLAC. (Abril de 2020). LECTURA EN PAPEL VS. LECTURA EN PANTALLA. Disponível em:
https://elearning.uab.pt/mod/resource/view.php?id=985466;

• Rabelo, L. (2023). Leitura no papel X leitura em telas, nosso cérebro processa da mesma forma.
BRAINSUPPORT. Disponível em: https://www.brainlatam.com/blog/leitura-no-papel-x-
leitura-em-telas-nosso-cerebro-processa-da-mesma-forma-1974. Acesso em: 04/04/2024;

• Schillhab, T., Balling, G., & Kuzmcová, A. (2020). La disminución de la materialidad en el tránsito
de la lectura impresa a la lectura en pantalla. Lectura En Papel VS Lectura En Pantalla, 106–
127. Disponível em:
https://cerlalc.org/wpcontent/uploads/2020/04/Cerlalc_Publicaciones_Dosier_Pantalla_vs_Pape
l_042020.pdf;

• Silva, A.L.; Simão, A.M.V.; Sá, I.(2004). A autorregulação da apren-dizagem: estudos teóricos e
empíricos. Intermeio:Revista do Mestrado em Educação, v.10, n.19, p.58-74;

• VOGT, C. (2008). O livro e as editoras universitárias. ComCiência: Revista Eletrônica de


Jornalismo Científico, n. 103. Disponível em:
<http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=40>. Acesso em:
08/04// 2024.

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