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Créditos:

Universidade Federal de Pelotas


Reitora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
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Pró-Reitor de Extensão e Cultura da UFPel


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Pró-Reitora de Ensino da UFPEL


Maria de Fátima Cóssio

Coordenador do Instituto de Biologia da UFPel


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Coordenadora Geral dos Cursos de Serviço em Atendimento Educacional


Especializado da UFPel
Rita de Cássia Morem Cóssio Rodriguez

Coordenadoras Adjuntas dos Cursos de Serviço em Atendimento


Educacional Especializado da UFPel
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Rita de Cássia Morem Cóssio Rodriguez

Equipe de Apoio à Coordenação dos Cursos de Serviço em Atendimento


Educacional Especializado da UFPel
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Maria Teresa Nogueira
Michele Peper Cerqueira
Nádia Porto
Verônica Porto Gayer

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Perspectiva Inclusiva
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Professoras Pesquisadoras
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Supervisor
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Apoio didático
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Equipe Técnica dos Cursos de Serviço em Atendimento Educacional


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Sumário
INTRODUÇÃO 7
ROTEIRO DE ATIVIDADES 8
QUEM É NORMAL E ANORMAL? 9
PEDAGOGIA DA DIFERENÇA, EDUCAÇÃO INCLUSIVA E ACOLHIMENTO NA
DIVERSIDADE E INCLUSÃO 13
DIVERSIDADE NA INCLUSÃO 15
CONSIDERAÇÕES FINAIS 24
REFERÊNCIAS 25
INTRODUÇÃO

Bem vindas, bem vindes e bem vindos a mais este encontro de


aprendizagem! É um prazer estar com vocês, trocar conhecimentos sobre
diversidade na inclusão, qualificando ainda mais a formação em educação especial
- algo muito importante nos dias de hoje, não só pelos direitos e pela cidadania das
pessoas com deficiência e/ou autistas, mas porque queremos uma escola melhor
em um mundo melhor, onde as diferenças são entendidas e vividas sem
preconceito e discriminação.
A disciplina ‘Diversidade e Inclusão’ discute a diversidade na vida dessas
pessoas, que muito além da acessibilidade, da deficiência e/ou do autismo, são
humanas e, portanto, também se experimentam no mundo: elas podem ser
homens e mulheres (ou não se encaixarem em nenhum desses gêneros); podem ser
brancas, negras, quilombolas e indígenas; ter diferentes classes sociais (ser pobres,
de classe média ou ricas); assim como orientações sexuais (ser homossexual,
bissexual, assexual e etc.), sem falar da cisgeneridade-transexualidade.
Expressões como ‘orientação sexual’, ‘transexualidade’, ‘gênero’ e ‘todes’
podem causar estranhamentos e até incomodar quem não entende ou não trabalha
diretamente com essas questões. Ainda mais quando nós pensamos na sexualidade
e na diversidade de pessoas com deficiência e/ou autistas, já que a nossa sociedade
ainda tem tabus ou desinformação sobre vida sexual, a sexualidade e o gênero
dessas pessoas - quem nunca ouviu algo como “ele tem muita libido por que é
deficiente” ou “ela não pode namorar porque tem Síndrome de Down”? Mas calma!
Nós vamos conversar sobre isso, já que essa disciplina apresenta conceitos e
generalidades sobre a diversidade na inclusão, considerando a educação especial.
ROTEIRO DE ATIVIDADES

Além do objetivo geral, essa disciplina possui 04 objetivos específicos: 1)


refletir como surgem as ideias de ‘normal’ e ‘anormal’; 2) conhecer elementos da
‘pedagogia da diferença’; 3) pensar na ‘educação inclusiva’ e no ‘acolhimento’
como parte do trabalho com a diversidade ou diferenças; d) conhecer palavras e
termos específicos de gênero, orientação sexual e outras diferenças que as pessoas
com deficiência e/ou autistas também vivem.
Pensando nisso, vocês têm acesso a uma aula assíncrona ou vídeo aula
gravada como introdução do assunto, na qual eu abordo o tema de uma forma mais
rápida e simples. Iniciada a discussão, nós vamos detalhá-la aqui, no caderno de
estudos, discutindo detalhes que são muito importantes, mas que ainda são pouco
falados na educação especial, como é o caso da sexualidade e da racialidade em
pessoas com deficiência e/ou autistas. Por fim, nós teremos uma aula síncrona, um
encontro online transmitido ao vivo e no qual poderemos conversar, responder
dúvidas e trocar experiências sobre a diversidade na inclusão.
Como forma de avaliar o desenvolvimento na disciplina, nós vamos
considerar o acesso e a interação com a vídeo aula (aula assíncrona), a presença e a
participação na aula síncrona, bem como a interação no fórum online; o que inclui
realizar uma atividade como forma de refletir e exercitar a aprendizagem nos
temas que nós vamos abordar aqui.
Por fim, eu acredito que as nossas trocas farão com que todas, todes e todos
saiamos provocadas e provocados de um jeito bom, com a cabeça cheia de ideias e,
por que não, de estranhamentos que nos fazem repensar as nossas práticas na
escola e na vida. Eu agradeço muito a atenção e a participação de vocês, bem como a
oportunidade de falar sobre ideias que são tão importantes. Vamos lá!
QUEM É NORMAL E ANORMAL?

Começamos o assunto com essa pergunta polêmica. Mas ao invés de


respondê-la, nós vamos pensar como as ideias de ‘normal’ e ‘anormal’ funcionam.
Como nós não estamos acostumadas e acostumados a pensar sobre isso, parece que
ser normal e anormal é natural, algo que acontece de uma forma neutra, sem
relação com aquilo que nós acreditamos e aprendemos ao longo da vida. Contudo,
existem “coisas” que já foram consideradas anormais no passado, mas que hoje
percebemos como normais. Assim como há situações que nós achamos anormais
hoje em dia, mas que já foram percebidas como normais. Basta lembrar que já foi
anormal ter mulheres votando nas eleições de presidente do seu país, ou que já foi
normal escravizar pessoas pela cor da sua pele.
Nesse sentido, nós podemos dizer que as ideias do que é normal e anormal
mudam, elas não são fixas, se modificando com o tempo, com os lugares, culturas e
pessoas. Mais do que isso, classificar alguém como normal e anormal não é algo
pronto: envolve juízo de valores, interesses e até manipulações sociais. Muitas
vezes, grupos ou pessoas que são mais poderosos e influentes orientam como as
sociedades definem quem é normal e quem não é. Ou seja, as ideias dominantes
podem reforçar o preconceito contra as pessoas que, sendo diferentes, são
percebidas como “anormais” segundo as formas dominantes de pensar - basta
pensar no preconceito contra povos ciganos, imigrantes, indígenas, gays, lésbicas e
pessoas com deficiência e/ou autistas ao longo da história.
Outro exemplo são as ideias dominantes do capitalismo, ideias que orientam
as práticas de produzir lucro com o que nós chamamos de “capacidade de
trabalhar”: ideias burguesas e, mais recentemente, de homens empresários e
empreendedores (quase sempre ricos) e que influenciam as nossas crenças sobre o
mundo do trabalho, tal como a educação que forma trabalhadoras e trabalhadores.
As ideias capitalistas podem criar e fortalecer o preconceito contra as pessoas que,
rotuladas como “anormais”, são entendidas como inadequadas, improdutivas ou
incapazes de trabalhar/estudar da forma que achamos normal. Esse preconceito é o
capacitismo, tendo a ver com as ideias de lucro, dinheiro, status e exploração no
mercado de trabalho (só é capaz quem produz do jeito que o patrão/professor
querem). Contudo, nós sabemos que as capacidades, assim como as pessoas,
também são diversas, assim como são diversas as formas de estudar e trabalhar,
com esse preconceito (o capacitismo) sendo útil às ideias dominantes de normal e
anormal que servem à exploração e à manipulação da sociedade.
Existe um jeito normal de estudar na escola? Ou, na maioria das vezes, nós
impomos o que achamos normal, já que atender a diversidade dá mais trabalho, é
mais incômodo ou questiona as formas da escola funcionar? Será que nós
percebemos e avaliamos as capacidades reais de estudantes com deficiência e/ou
autistas, ou limitamos a sua experiência ao que achamos normal ou correto? A
realidade mostra que o mundo do trabalho e as escolas podem ser adaptados e/ou
transformados para incluir todas as pessoas e as suas diferenças, mas ainda
(re)produzimos ações capacitistas, medindo e padronizando as pessoas segundo o
que a nossa sociedade acha normal.
Dessa forma, a norma (o que a maioria acha normal) pode ser usada para
discriminar e excluir as pessoas percebidas como diferentes. Ou seja, a norma tem a
ver com o conjunto de pessoas que, comparando umas às outras, chamam de
anormal quem tem diferenças que a maioria não gosta, não entende e/ou não quer.
Quando essa maioria acha que a diferença de alguém é excessiva ou insuportável,
essa diferença pode ser entendida, de forma preconceituosa, como um desvio, algo
indesejável ou doença (VEIGA-NETO, 2014). Basta lembrar que mulheres lésbicas e
homens gays já foram tratadas e tratados como “doentes mentais”; o que só
mudou oficialmente em 1990. Ou seja, o fato das pessoas não saber, entender e/ou
não querer lidar com a homossexualidade (a falta de informação e a ignorância) já
tornou essa sexualidade um problema, algo considerado “anormal”.
Assim, nós podemos dizer que o preconceito que sentimos e pensamos não
tem a ver com a verdade absoluta, nem com a vida real das pessoas que julgamos e
rotulamos sem conhecer de fato, sem saber como realmente pensam, sentem e
vivem. Quando agimos com preconceito, deixamos a falta de informação (a
ignorância) dominar as nossas ações, agindo por impulso ou malícia ao invés de
tentar conhecer a realidade do que julgamos diferente. Nesse sentido, a palavra
‘preconceito’ traz a idéia de “conceito prévio”- quando temos a certeza do que nós
pensamos e sentimos é verdade sem que, antes disso, saibamos ou conhecemos
aquilo que julgamos (a gente trata o nosso preconceito como se ele fosse um
conceito real). Em outras palavras, o preconceito é um tipo “achismo” que usamos
no julgamento das pessoas segundo o que acreditamos, sem buscar entender as
várias formas de ser e de viver no mundo.
Quando confundimos ‘diversidade’ com ‘adversidade’, nós distorcemos a
forma de entender as diferenças que encontramos, entendo as diferenças como se
fossem um problema - é quando nós entendemos que alguém, sendo diferente de
nós, é “anormal” ou ruim, fazendo isso sem conhecer a sua realidade. No
dicionário, a palavra ‘diversidade’ significa aquilo que é diverso, diferente, variado
(DIVERSIDADE, 2023), enquanto ‘adversidade’ significa aquilo que é adverso,
desfavorável (ADVERSIDADE, 2023).
Logo, quando nós entendemos as pessoas com deficiência e/ou autistas pela
diversidade, nós podemos entendê-las como pessoas que possuem diferenças, que
vivem uma vida diferente. Mas quando as percebemos pela adversidade, nós
podemos entendê-las como alguém anormal, que possui uma vida prejudicada ou
desfavorável - um entendimento equivocado, já que o que desfavorece ou limita a
vida das pessoas com deficiência e/ou autistas é a falta de direitos, de
acessibilidade, bem como as atitudes de discriminação e exclusão que elas sofrem.
Por isso, as pessoas com deficiência e/ou autistas podem ser percebidas
como normais e anormais, dependendo do que nós aprendemos sobre elas e/ou
como escolhemos entender e tratar as suas formas de ser e viver. Se por um lado
pensamos e sentimos preconceitos, o que muitas vezes acontece sem querer, já que
não controlamos tudo o que sentimos e pensamos, por outro lado nós podemos
escolher como agir, se vamos perceber e julgar essas pessoas pelo que sentimos e
achamos sem conhecê-las, ou se vamos ultrapassar os nossos preconceitos no
sentido de conhecer a sua realidade.
Considerando esse jogo de conceito e preconceito, quando nós analisamos a
história da civilização, podemos perceber que as formas de entender e tratar as
pessoas com deficiência e/ou autistas mudaram: elas já passaram por intensa
marginalização, pelo assistencialismo movido por caridade ou lógicas de favor e,
mais recentemente, estão vivendo a inserção e a inclusão em escolas e
universidades (MAZZOTTA, 1999 apud MARCHESAN, 2018); o que nos mostra
como a transformação do preconceito e das formas de uma sociedade perceber e
tratar quem é diferente produzir exclusão ou inclusão.
Por isso, movimentos sociais e ativistas da luta por direitos e cidadania de
pessoas com deficiência e/ou autistas reivindicam o reconhecimento das
identidades e diversidades dessas pessoas, algo que ultrapassa as diferenças
produzidas pela deficiência e/ou neurodivergência. É a forma com que as
sociedades entendem e tratam essas pessoas, e não a deficiência e o autismo em si,
que causa os problemas, a discriminação, a limitação e a exclusão. Ou seja, não se
trata de reconhecer a deficiência e as necessidades de acessibilidade de um
estudante cego, por exemplo, é preciso reconhecer e compreender, também, que
ele é alguém que percebe, que pensa, que sente, que tem vontades, gostos,
sexualidade, planos, família (ou não) e tudo aquilo que pode constituir a vida das
pessoas.
Se ainda precisamos discutir e reivindicar por acessibilidade, escolarização e
direitos de pessoas com deficiência e/ou autistas, nós também sabemos que essas
questões, apesar de fundamentais, formam a base, o alicerce da sua cidadania e dos
seus direitos. Mas essa base não alcança e nem expressa a complexidade da vida
dessas pessoas, sendo necessário a diversidade e as diferenças na sua inclusão
escolar e social, reconhecendo e legitimando a sua humanidade sem reduções -
considerar e respeitar tudo aquilo que faz parte da sua vida e que, por isso,
ultrapassa a sua condição de deficiência e/ou neurodivergência. Nós também
precisamos discutir e naturalizar o direito das pessoas com deficiência e/ou
autistas expressarem e viverem sua subjetividade, singularidade e/ou pessoalidade.
Em outras palavras, não basta pensar, reivindicar e promover os direitos
legais e a acessibilidade das pessoas com deficiência e/ou autistas: nós também
precisamos aceitar, entender, acolher e legitimar que elas têm sexualidade, podem
desejar namorar, casar, constituir famílias ou só fazer sexo se assim o quiserem.
Entender que a sua humanidade não está reduzida ao que nós entendemos sobre a
sua deficiência e/ou o seu autismo - elas são pessoas que também erram e acertam,
que têm experiências difíceis ou felizes, que correm os mesmos riscos e buscam a
mesma segurança, tal como qualquer pessoa com autonomia e que assume uma
vida no mundo. Por isso nós precisamos entendê-las, também, pela diversidade
que estar vivo nos coloca.

PEDAGOGIA DA DIFERENÇA, EDUCAÇÃO INCLUSIVA E


ACOLHIMENTO NA DIVERSIDADE E INCLUSÃO

A palavra ‘diferença’ tem destaque nessa discussão. No dicionário, seu


significado é extenso, cabendo destacar, aqui, a “qualidade do que é diferente;
dessemelhança (...) que há diversidade ou variedade” (DIFERENÇA, 2023). Mas o
dicionário propõe outros significados, como “sem igualdade (...) disparidade (...)
ausente de harmonia; sem concordância; desavença” (DIFERENÇA, 2023). Dessa
forma, podemos dizer que o significado da palavra ‘diferença’ varia tal como as
formas de entender e tratar a vida das pessoas com deficiência e/ou autistas - uma
sociedade pode entendê-las como diversas e singulares e/ou como vidas limitadas
(como se todo mundo não tivesse as próprias limitações na vida que vive).
Contudo, aqui, a palavra ‘diferença’ tem função de denunciar e desconstruir
as “amarras” que podem ser produzidas com as noções de adversidade,
anormalidade e limitação que o preconceito impõe na vida das pessoas socialmente
percebidas como diferentes. Continuando, quando nós analisamos tudo o que já
aprendemos na vida, percebemos que, na maioria das vezes, nós aprendemos com
situações e experiências que, na época, eram diferentes do que já sabíamos antes de
vivê-las. De alguma forma, a novidade nos desacomoda, nos faz sair da “zona de
conforto” e lidar com aquilo que a gente não conhecia, não queria e/ou não sabia
que existe no mundo. Além da aprendizagem pessoal, as grandes transformações
que observamos na história da humanidade vieram quando algo diferente foi
estudado, inventado, sentido e/ou experimentado.
Se a lida com as diferenças pode ensinar ou produzir aprendizagem,
podemos dizer que existe uma pedagogia nelas - daí a ‘pedagogia da diferença’,
uma pedagogia que tem relação com “o outro”, alguém diferente de nós, uma
relação capaz de construir novos conceitos e, portanto, de fazer entender e
aprender (CORREIA, 2004). Se trata do que podemos aprender quando nos
relacionamos com as outras pessoas, sendo que aprender significa produzir
diferenças (aprendemos quando produzimos pensamentos e comportamentos que
são diferentes de como a gente pensava e se comportava antes de aprender).
‘Encontro’, portanto, é a palavra-chave na aprendizagem quando nós
consideramos a pedagogia da diferença (os bons encontros). Um encontro é bom
quando promove as nossas habilidades de agir e escolher, sendo ruim quando faz
sofrer de forma passiva (não há ação produtiva, nem aprendizagem, só reação)
(TADEU, 2002). Por isso, o preconceito torna o encontro com o “ outro” ruim,
impede a nossa aprendizagem com as diferenças que encontramos nos outros, já
que encontrar alguém com preconceito causa sofrimento e não conhecimento.
Assim, a pedagogia da diferença permite que a gente se abra para conhecer e
aprender com as diferenças que encontramos na escola, qualificando as nossas
habilidades de acolher. O acolhimento, por sua vez, é uma estratégia na lida com a
diversidade ou diferenças: acolher permite encontrar e interagir de forma
produtiva, sem o compromisso de ter saber como agir, já que o encontro vai nos
ensinar como interagir com o outro sem precisar se defender, agredir, recusar ou se
afastar. Acolher significa parar e escutar/observar com fins de entender e aprender;
parar e escutar/observar ao invés de agir por impulso, por ansiedade ou com
preconceito. Parar e escutar/observar previne que a gente reaja de forma
improdutiva, sendo etapas importantes quando vamos avaliar situações diversas
ou diferentes no trabalho em educação.
É evidente que muitas escolas públicas têm sofrido com a falta de
financiamento, tendo uma infraestrutura ruim e condições de trabalho que
adoecem e desvalorizam profissionais da educação, sem falar da violência que
ameaça a segurança de quem frequenta a escola. Sem dúvida, isso tudo prejudica a
qualidade do ensino, do acesso e da permanência de estudantes com deficiência
e/ou autistas. Contudo, por mais difíceis que sejam as condições, elas não
conseguem justificar o preconceito que essas e esses estudantes encontram na
escola - se acolher pode ser qualificado nas boas condições de trabalho e
infraestrutura, o acolhimento vai além e conta, principalmente, com a
humanização das relações no ambiente escolar.
Desse modo, nós precisamos pensar como os nossos encontros com
estudantes com deficiência e/ou autistas têm sido: são encontros que aumentam a
nossa autonomia de fazer escolhas e agir ou, ao invés disso, causam mais
sofrimento e reação? E se for isto, por que esses encontros têm causado
sofrimento? O que a gente tem aprendido com esses encontros? Ou eles não têm
ensinado algo, servindo à manifestação de preconceito, somente?

DIVERSIDADE NA INCLUSÃO

Por fim, nós vamos pensar nas diferenças que, sendo parte de todo o
universo humano, obviamente também estão presentes na vida de pessoas com
deficiência e/ou autistas. Eu estou falando da diversidade ou diferenças que são
entendidas como pessoais (é o caso da orientação sexual e da identidade de gênero,
por exemplo), ou daquelas que são mais entendidas como sociais (é o caso da raça e
etnia).
Estas últimas costumam ser visíveis no corpo, sendo expressas na cor da
pele em conjunto com outras características e/ou fenótipos no rosto, no cabelo e
etc. Além da raça, a etnia envolve línguas, hábitos e tradições culturais que se
manifestam no dia a dia com diferentes culturas. A deficiência e o autismo são
elementos que fazem parte de todo o conjunto das diferenças que pessoas com
deficiência e/ou autistas experimentam na vida social; portanto, elas devem ser
socialmente concebidas a partir desse conjunto e não só pela deficiência e/ou
autismo.
É certo que uma criança branca que também é cega não sofrerá o racismo
que as crianças pretas e pardas, também cegas, podem sofrer, seja de forma direta
(as injúrias raciais, xingamentos e as agressões físicas motivados por raça), seja de
forma indireta pelo que chamamos de racismo estrutural - considerando o
atendimento em serviços públicos no Brasil, como as escolas, será que uma criança
com deficiência e pele negra sempre receberá o mesmo atendimento que as
crianças com deficiência e pele branca recebem?
Eu sei que esse tipo de pergunta causa estranhamento e até raiva, mas nós
precisamos entender que o mito da democracia racial é mesmo um mito (a
democracia racial não existe no Brasil). O racismo já foi e é intensamente
comprovado por pesquisas acadêmicas e/ou científicas, além das experiências reais
de quem vive os seus efeitos na pele - como pessoa negra, eu sei bem, através da
minha pele, do meu saber de pele, como a gente pode ser tratada e tratado com
(in)diferença pela cor da pele.
Nós ainda somos muito colonizadas e colonizados por modos de vida
europeus, os mesmos que foram impostos na invasão do território que hoje
chamamos de Brasil; os mesmos modos que trouxeram preconceitos de raça,
gênero e comportamento sexual, por exemplo. Basta pensar que, geralmente,
sequer imaginamos encontrar, na escola, crianças indígenas com deficiência e/ou
autistas. Certamente, os desafios seriam imensos, já que além dos nossos
preconceitos com a deficiência/neurodivergência (o capacitismo), a gente lidaria
com as “barreiras” pela diferença de língua e cultura, das formas de entender,
acolher e dialogar com a família dessas crianças, suas tradições e jeitos de aprender
e existir no mundo.
Deixando a diversidade etnicorracial, precisamos entender que
pré-adolescentes e adolescentes com deficiência e/ou autistas também
experimentam o que chamamos de puberdade, mesmo que falam isso do seu jeito
e/ou com suas diferenças. Desse modo, elas e eles podem se descobrir com uma
sexualidade, desejos e/ou identificações de orientação sexual e gênero. Contudo,
considerando os tabus que isso envolve, qual profissional da educação não teria
dúvidas se, por exemplo, um estudante de 12 fizesse uma pergunta simples,
questionando se a sua irmã, com Síndrome de Down, poderá fazer sexo quando
adulta? (VITAL, 2023, p.53).
No mais, as normas sociais que aprendemos e percebemos o mundo são tão
enraizadas e naturalizadas que nós não costumamos a pensar que pessoas com
deficiência e/ou autistas podem ser lésbicas, gays, bissexuais e transexuais
(LGBT+), tal como qualquer pessoa que sente, pensa e se experimenta nos campos
da sexualidade e dos papéis sociais de gênero (os papéis que nós consideramos
próprios de homens e de mulheres, apesar dessa divisão ser questionável).
Se a sexualidade faz parte da vida humana, as pessoas com deficiência e/ou
autistas podem sentir atração sexual, possuir necessidades afetivas e/ou vontade
de se relacionar para além das relações parentais e amizade. Desse modo, quando
achamos ou “aprendemos” (entre muitas aspas) que as pessoas com deficiência
e/ou autistas não sentem desejos ou necessidades sexuais, ou que elas sentem isso
em excesso ou de forma inadequada, isso não passa de preconceito e
desinformação. Sem falar que a sexualidade dessas pessoas também varia – por
exemplo, existem homens com autismo que são gays, mulheres cadeirantes que
são lésbicas ou pessoas com paralisia cerebral que são bissexuais (VITAL, 2023).
Por isso, quando pensamos na acessibilidade e na inclusão de pessoas com
deficiência e/ou autistas na escola, nós precisamos pensar, também, na sua
participação no que chamamos de educação sexual, considerando as suas
necessidades específicas, mas sem entender que a deficiência e o autismo são
critérios na decisão da sua participação nessas atividades. De toda forma, a
participação em quaisquer atividades escolares também não deve ser decidida
segundo o tipo de conteúdo ensinado, já que a deficiência e o autismo não elegem o
acesso do está previsto no currículo e no planejamento escolar - fazer isso seria
preconceito, capacitismo, uma situação que desrespeita o direito constitucional no
qual todas pessoas, sem exceção, devem ter acesso pleno à educação (VITAL, 2023).
Assim, o critério usado no planejamento e na participação de estudantes
com deficiência e/ou autistas, incluindo as atividades que envolvem informações
sobre sexo e sexualidade, deve ser o mesmo utilizado com todas as crianças e
adolescentes: a autonomia. É a autonomia o que garante que qualquer pessoa tenha
ou possa ter a consciência do que é sexo, a consciência do que elas querem, assim
como a consciência do que as outras pessoas querem com elas. A autonomia
permite que cada pessoa identifique o que ela mesma pensa, sente e quer, é o que
possibilita que ela faça escolhas conscientes (VITAL, 2023). Ou seja, ser pessoa com
deficiência e/ou autista não é suficiente para decidir o tipo de acesso a conteúdos
específicos na escola, já que essa decisão prevê a avaliação da autonomia,
independente da deficiência e do autismo - se a autonomia está de acordo com o
esperado para a idade e/ou com o previsto no currículo/planejamento escolar,
qualquer negativa será uma prática de exclusão.
Enquanto estudantes ditos sem deficiência ou neurotípicos tendem ao
acesso completo das atividades de uma escola, estudantes com deficiência e/ou
autistas podem ser impedidas e impedidos de ter o mesmo acesso, ressaltando as
atividades de educação sexual. Nesse sentido, é necessário que profissionais da
educação repensem o seu entendimento sobre as diferenças com relação aos temas
da sexualidade, por exemplo, considerando a diversidade que também está
presente nas pessoas com deficiência e/ou autistas (VITAL, 2023).
Nesse contexto, nós vamos revisitar aspectos da ‘educação inclusiva’, que
sendo mais inclusiva do que técnica ou especializada, considera a inclusão de todas
as pessoas, com e sem deficiência/neurodivergência, considerando as diferenças
que podem e devem compor os espaços educativos. A educação inclusiva nos
permite pensar na diversidade de raça, etnia, classe, orientação sexual, gênero e
várias outras diferenças que participam da vida social e os seus efeitos nos espaços
de educação.
Além da educação inclusiva qualificar as prátricas educativas sobre a
diversidade que existe na cultura, ela também qualifica o nosso entendimento
sobre o conjunto das diferenças que constituem uma pessoa - um garoto
adolescente pode ser autista, bissexual, negro e ser de classe média, por exemplo,
com o autismo sendo ‘uma’ das diferenças que compõem a sua identidade; esse
mesmo garoto autista, na escola, pode viver situações que ultrapassam o autismo,
bem como as práticas da educação especial, já que a sua cor de pele, sob a lógica do
racismo, também pode produz efeitos na sua socialização, assim como a sua
sexualidade aumenta as chances de sofrer bullying.
Podemos definir a ‘educação inclusiva’ como um caminho em construção e
cuja pretensão é promover e consolidar uma sociedade mais justa, solidária e apta a
garantir os direitos de todas as pessoas que vivem nela (MIRANDA, 2019). Sem
dúvida, concretizar o direito de todas, todes e todos à educação também implica em
considerar as várias formas de produzir exclusão, seja ela social, racial de gênero
ou de pessoas com deficiência e/ou autistas na sociedade e na escola (MAZZOTTA e
SOUZA, 2000 apud MIRANDA, 2019).
Incluir, portanto, também significa entender os efeitos do preconceito na
exclusão, entender como a supervalorização de pessoas brancas em relação a não
brancas (asiáticas, indígenas, pretas e pardas) fomenta o racismo (as práticas
sociais que inferiorizam, discriminam e violentam quem não atende os parâmetros
da branquitude); como o androcentrismo (a supervalorização de homens sobre as
mulheres) fomenta o sexismo, o machismo e a misoginia (práticas sociais que
inferiorizam, discriminam e violentam as mulheres pelo fato de serem mulheres).
Deve ser assim com a homofobia (a discriminação e a violência fomentadas na
supervalorização da heterossexualidade sobre as pessoas LGBT+), além da
trasnfobia (a discriminação e a violência de quem não se identifica com o
sexo/gênero imposto ao nascer, dada a supervalorização de homens que nasceram
com pênis e mulheres que nasceram com vulva/vagina).
Quando consideramos a combinação das diversas diferenças que constituem
uma pessoa, a inclusão se torna mais complexa, fazendo o acesso, a permanência e
a participação na escola ser incompatível com estratégias que consideram apenas
uma diferença na prática inclusiva; o que reduz e distorce a realidade de uma
pessoa e não resolve os desafios para a sua inclusão na educação (uma adolescente
cadeirante, lésbica e com altas habilidades não será incluída se considerarmos
somente as necessidades no uso da cadeira de rodas).
Incluir significa compreender o conjunto das diferenças que alguém
experimenta na vida social. Considerar esse conjunto significa torná-lo visível no
planejamento e execução das ações inclusivas. Dada a burocracia com que lidamos
e organizamos o trabalho nas instituições, só vai existir nesse trabalho quem ou o
que tem um nome reconhecido no sistema oficial da instituição. É o nome que torna
algo ou alguém considerável em um planejamento e, portanto, nas ações de uma
instituição como a escola. Tanto as pessoas como tudo aquilo que podemos sentir,
pensar e experimentar só existem, no sentido de ser considerável, se tiver o seu
nome ou termo legitimado na língua ou linguagem que usamos no coletivo.
Por isso, é fundamental usar os termos e os nomes que são considerados
politicamente ativos na luta por direitos e reconhecimento, não só para respeitar e
incluir as diferentes pessoas e suas experiências na vida, mas porque são com
nomes e termos que a gente se refere à vida de quem existe com a gente, se
referindo, muitas vezes, ao que pode ser sagrado à humanidade de quem
atendemos.
Vamos começar pelo autismo. Apesar de comum e não necessariamente
errado, falar que alguém “tem autismo” pode dar a entender o mesmo valor de
quando falamos que alguém tem depressão ou outro problema de saúde. Ou seja,
“ter autismo” pode transmitir a mensagem de que se trata de uma doença ou
transtorno, reforçando os aspectos médicos e clínicos em detrimento da pessoa no
espaço escolar. Por isso, os movimentos sociais e as/os ativistas problematizam
essa expressão, sugerindo que seja falado ‘pessoas autistas’, ‘crianças autistas’ e
etc., já que isso destaca a pessoa da qual se fala e não a sua características - para
saber mais, recomendo o vídeo da artista autista Amanda Beggs ((53) In My
Language - YouTube) e as obras do Professor Gustavo Henrique Rückert, da
Universidade Federal de Pelotas.
Quando pensamos nas pessoas com deficiência, essa discussão muda: são
anos falando e escutando termos como “alejado”, “especial”, “excepcional” e
“portador de deficiência”, como se a deficiência fosse uma doença ou algo a ser
portado, tal como um celular ou uma caneca. Por isso, movimentos sociais,
ativistas, profissionais e instituições reivindicam o uso do único termo
politicamente correto hoje em dia: ‘pessoas com deficiência’. Esta expressão
ressalta a pessoa antes da sua característica ou diferença frente ao conjunto da rede
de papéis ocupacionais que essas pessoas (re)produzem (mulher, pai, trabalhador,
religiosa, ativista, sobrinho, morador, etc.).
Indo para as questões etnicorraciais, falar que alguém é “índia”/“índio”
está equivocado e remete a processos de desigualdade e subalternização dos povos
originários - falas preconceituosas que nós herdamos da colonização do Brasil. A
mesma situação acontece com os termos “tribo” e “povos primitivos”, sendo mais
ético usar palavras e expressões como indígena, aldeia, comunidade indígena e
povos originários.
As palavras ‘negro’ e ‘negra’ podem ser pejorativas ou ofensivas em alguns
lugares do mundo, como os Estados Unidos. Mas essas palavras são politicamente
corretas no Brasil, se referindo à raça que, como já sabemos, não é biológica e sim
social. Negra e negro são palavras que remetem ao conjunto de pessoas que se
reconhecem e se autodeclaram com esta identidade racial, ou seja, as palavras
negra e negro, enquanto raça, se referem ao conjunto formado por pessoas com a
cor de pele preta e parda. Contudo, quando pensamos na legalidade dos direitos,
precisamos entender que nem toda pessoa que se reconhece e se autodeclara como
negra será entendida como sujeito de direito no contexto das leis.
Como exemplo, temos as cotas raciais nas universidades públicas e nos
concursos públicos, garantindo a reserva de vagas a pessoas pretas e pardas que,
independente de como se reconhecem e se autodeclaram, precisam ser assim
reconhecidas terceiros (para assumir essas vagas, precisam ser deferidas pela
banca de heteroidentificação racial). Ou seja, se reconhecer e se declarar como
negra/negro não significa, necesariamente, o direito legal de usar ações
afirmativas de reparação história e justiça social - segundo a Portaria Normativa
Nº 4/2018 do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, tem direito
quem possuir um conjunto de fenótipos específicos (cor de pele, marcadores
faciais, cabelo e/ou etc.), independente do parentesco (ascendência/descendência)
e da autodeclaração. Esse assunto é importante, já que existem cotas mistas, como
as que se destinam a pessoas com deficiência e/ou autistas que também são negras
ou indígenas, egressas de escola pública (as cotas do grupo L10).
Sobre o gênero, atualmente debatemos a exclusividade do modelo binário de
gênero que concebe as identidades que entendemos como homem e mulher. Esse
modelo binário homem-mulher, portanto, não reconhece as pessoas que se
identificam de outra forma, como as pessoas não binárias que, sendo assim, não
são homem nem mulher - são um gênero à parte ou não possuem necessariamente
um gênero. A palavra ‘todes’, usada neste caderno, se refere ao gênero neutro,
dando visibilidade e incluindo as pessoas não binárias na nossa língua (falada e
escrita). Além disso, vocês devem ter notado que esse caderno de estudos não usa a
padronização no masculino quando se refere ao conjunto de seres humanos
(homens, mulheres, etc.), como orienta a norma culta da língua. É o que nós
chamamos de linguagem inclusiva de gênero, algo que dá visibilidade às mulheres
na escrita, conforme tem sido reivindicado por ativistas e movimentos sociais que
combatem a desigualdade de gênero.
Falando em gênero, nós sabemos que se trata de um fenômeno social. Logo,
o gênero de uma pessoa não necessariamente tem a ver com o seu corpo ou sua
genitália. Logo, pessoas cisgêneras ou “cis” são quelas que se identificam com o
gênero que lhes foi designado no nascer (mulheres que nascem com vulva/vagina e
homens que nascem com pênis). Pessoas transexuais ou “trans” são aquelas que
não se identificam com o gênero que receberam nascer, independente da sua
genitália - sem falar das pessoas intersexuais, que nascem com genótipos,
produção hormonal e/ou genitálias ambíguas ou diferentes de pênis e vulva/vagina
(elas já foram chamadas de “hermafrodita”, mas essa palavra é pejorativa e
inadequada hoje em dia).
Por fim, as palavras ‘gay’ e ‘homossexual’ são usadas para homens que se
sentem sexualmente e/ou amorosamente atraídos por homens, enquanto as
palavras ‘lésbica’ e ‘homossexual’ o são para as mulheres que se sentem atraídas
sexualmente e/ou amorosamente por mulheres. Nessa lógica, bissexuais são
homens e mulheres que se sentem sexualmente e/ou amorosamente atraídas e
atraídos tanto por pessoas do mesmo gênero, quanto por pessoas com o gênero
considerado oposto, assim como a palavra ‘pansexual’ é usada de forma política -
ela se refere às pessoas que amam ou se sentem atraídas por qualquer pessoa,
independente do seu sexo, gênero e orientação sexual. Não podemos esquecer da
palavra ‘travesti’, que também tem função política no Brasil, se referindo a pessoas
transexuais que se dizem travestis (o jeito correto é ‘a travesti’, com a letra A -
dizer “O” travesti, com a letra O, é pejorativo e preconceituoso).
CONSIDERAÇÕES FINAIS

As vontades e os assuntos são muitos, mas o nosso caderno e tempo de


estudo são pequenos, considerando a grande dimensão que os temas discutidos
aqui envolvem. Sem querer me alongar mais, é importante dizer que assim como as
noções de normal e anormal mudam, as formas de ser e de existir no mundo
também vão mudando, assim como os nomes e as formas de falar sobre elas.
Na dúvida, você pode e deve perguntar, para a pessoa, como ela quer ser
chamada, como ela prefere ser tratada ou se ela quer ser ajudada (e como ela quer
ser ajudada, caso o queira). Perguntar pode ser constrangedor para quem pergunta
ou não sabe como agir, mas é bem menos nocivo e muito mais respeitoso do que
tentar adivinhar ou achar que sabe e, por causa do preconceito, causar situações de
sofrimento e discriminação.
Eu espero ter atingido o objetivo dessa disciplina, bem como eu espero que
tenhamos mais encontros de aprendizagem por aí. Eu agradeço novamente a
atenção de vocês e me despeço desejando uma boa vida e um bom trabalho nesse
mundo desafiador e essencial que chamamos de Educação.
REFERÊNCIAS

ADVERSIDADE. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2023.


Disponível em: <https://www.dicio.com.br/adversidade/>. Acesso em: 04/09/2023.

BRASIL. Portaria nº 4, de 6 de abril de 2018. Regulamenta o procedimento de


heteroidentificação complementar à autodeclaração dos candidatos negros, para
fins de preenchimento das vagas reservadas nos concursos públicos federais, nos
termos da Lei nº 12.990 de junho de 2014. Diário Oficial da União, Brasília, DF, p.
34. 6 de Abr. de 2018, Seção 1,

CORREIA, Paulo Petronilio. A Formação Est (Ética) do Educador: a aventura do


olhar em busca de uma pedagogia da Diferença. 2004. 165 f. Dissertação (Mestrado
em Educação) - programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2004. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/87325/212335.pdf?seque
nce=1&isAllowed=y>.

DIFERENÇA. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2023.


Disponível em: <https://www.dicio.com.br/diferenca/>. Acesso em: 04/09/2023.

DIVERSIDADE. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2023.


Disponível em: <https://www.dicio.com.br/diversidade/>. Acesso em: 04/09/2023.

MARCHESAN, Andressa. Discurso sobre deficiência e sua relação com os conceitos


o normal e o anormal, de Georges Canguilhem. Rev. de Linguagem, v. 9, n. 1, p. 1-14,
Jun. 2018. Disponível em: <https://core.ac.uk/download/pdf/230543299.pdf>.

MIRANDA, Fabiana Darc. Aspectos históricos da educação inclusiva no Brasil. Rev.


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